LÍNGUA PORTUGUESA - MORFOSSINTAXE II - Frase e Oração

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Antes de serem apresentados a qualquer conceito de frase e oração originado em uma teoria lingüística, os alunos já têm uma noção intuitiva de frase, seja vinda dos tempos de escola, seja formada no contato com a língua escrita, seja pelo fato da palavra frase, antes de ser usada como designativo de um conceito teórico, é uma palavra normal da língua, com toda o grau de multissemia que as palavras normalmente contêm. Além disso, na literatura gramatical “escolar”, até mesmo às vezes na usada nos cursos superiores de Letras, os termos frase e oração, nem sempre são bem diferenciados. Frase e Oração: Conceitos Evanildo Cavalcante Bechara Segundo o Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa, a frase tem uma estrutura interna diferente da oração porque não apresenta relação predicativa. Ou seja, frases seriam somente coisas do tipo: Depressa! Que calor! Choveu muito! Vamos logo! Esses enunciados são frases, já que Bechara se refere a frase como “simples palavras”, forma de enunciado que “não apresenta relação predicativa”, ao contrário de oração, que apresenta essa relação. Celso Ferreira Cunha Celso Cunha, não define explicitamente oração, mas mostra que esta se pode definir pela ocorrência de um verbo ou de uma locução verbal numa sequência de palavras. Frase é um conceito mais vasto, pois constitui um enunciado de sentido completo, a unidade mínima de comunicação, acompanhada de entoação e correspondente a uma sequência de uma ou mais palavras, podendo não incluir verbos. Deste ponto de vista, “Fogo!” é uma frase. Joaquim Mattoso Câmara Júnior Mattoso Câmara declara ser a frase um discurso. Quando há um falante dirigindo-se a um ou mais ouvintes, numa situação concreta. Acrescenta poder ser a frase representada por uma palavra ou grupo de palavras. Distingue, esse autor, a palavra em estado de dicionário da palavra frase, pela entonação e pelo propósito definido. Na linguagem escrita a entonação é

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Antes de serem apresentados a qualquer conceito de frase e oração originado em uma teoria lingüística, os alunos já têm uma noção intuitiva de frase, seja vinda dos tempos de escola, seja formada no contato com a língua escrita, seja pelo fato da palavra frase, antes de ser usada como designativo de um conceito teórico, é uma palavra normal da língua, com toda o grau de multissemia que as palavras normalmente contêm. Além disso, na literatura gramatical “escolar”, até mesmo às vezes na usada nos cursos superiores de Letras, os termos frase e oração, nem sempre são bem diferenciados.

Frase e Oração: Conceitos

Evanildo Cavalcante Bechara

Segundo o Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa, a frase tem uma estrutura interna diferente da oração porque não apresenta relação predicativa.Ou seja, frases seriam somente coisas do tipo: Depressa! Que calor! Choveu muito! Vamos logo! Esses enunciados são frases, já que Bechara se refere a frase como “simples palavras”, forma de enunciado que “não apresenta relação predicativa”, ao contrário de oração, que apresenta essa relação.

Celso Ferreira Cunha

Celso Cunha, não define explicitamente oração, mas mostra que esta se pode definir pela ocorrência de um verbo ou de uma locução verbal numa sequência de palavras. Frase é um conceito mais vasto, pois constitui um enunciado de sentido completo, a unidade mínima de comunicação, acompanhada de entoação e correspondente a uma sequência de uma ou mais palavras, podendo não incluir verbos. Deste ponto de vista, “Fogo!” é uma frase.

Joaquim Mattoso Câmara Júnior

Mattoso Câmara declara ser a frase um discurso. Quando há um falante dirigindo-se a um ou mais ouvintes, numa situação concreta. Acrescenta poder ser a frase representada por uma palavra ou grupo de palavras. Distingue, esse autor, a palavra em estado de dicionário da palavra frase, pela entonação e pelo propósito definido. Na linguagem escrita a entonação é assinalada, tanto quanto possível pela pontuação; ainda assim, o assunto deve ser mais explicitado, mesmo em prejuízo do falante e do ouvinte (o falante e o ouvinte diminuem de importância na linguagem escrita, em favor do assunto). Desde de sempre tem-se a noção de que a frase completa apresenta sujeito e predicado, embora ocorram frases sem sujeito (fenômenos naturais). Ele lembra que a língua é o sistema que organiza os discursos, e que ela tem padrões para a formação de frases, os quais seriam obedecidos pelas frases que ele chama de integralmente lingüísticas, que segundo ele corresponderiam ao que habitualmente se chama de oração ou proposição.

Flávia de Barros Carone

Flávia Carone, caracteriza a frase como “…unidade de comunicação – quaisquer que sejam suas dimensões e sua estrutura, desde que essa unidade ‘escale a pauta em modulação adequada’.

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Ela não define claramente o que é oração, mas deixa a entender que frase e oração são basicamente a mesma coisa, na mesma linha do Mattoso Câmara.

Comparação

Evanildo Bachara e Celso Ferreira cunha têm uma visão parecida sobre o que são frase e oração: ambos concordam que uma expressão formada por apenas uma única palavra pode ser um frase, mas quanto a oração, o primeiro se prende à relação predicativa e o segundo prefere analisar a ocorrência de verbo/locução verbal na sentença de palavras. Já Mattoso Câmara e Flávia Carone propõem idéias mais complexas, com definições implícitas ou explícitas, sobre o que seriam frase e oração, baseadas na entonação, e sugerem, ainda, que ambos são a mesma coisa.

Conclusão

A proposta de Evanildo Bechara me parece a mais adequada, dentro de sua simplicidade, define bem o que é oração e o que é frase: a diferença entre frase e oração estaria, portanto na forma: “Socorro!” - é uma frase, pois expressa um sentido, mas não é uma oração, já que não se pode biparti-la em sujeito e predicado. “Quero que você venha.” - o segundo membro do período é oração, pois apresenta sujeito e predicado, mas não é frase, já que não funciona isoladamente.

Bibliografia

Carone, F. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 1986.Mattoso Câmara, J. Dicionário de Filologia e Gramática. 2ª ed. Riode Janeiro: J. Ozon, 1964.––––––. Princípios de Lingüística Geral. 4ª ed. Rio de Janeiro: LivrariaAcadêmica, 1969.BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª Edição Revista e Ampliada. Rio de Janeiro : Lucerna, 1999.