Linguagem e Cognição

download Linguagem e Cognição

of 7

description

Conteúdo da aula de linguagem e cognição da universidade veiga de almeida, no rio de janeiro, de 2014.2.

Transcript of Linguagem e Cognição

LINGUAGEM, COGNIO E SUBJETIVIDADE

Resumo das aulas sobre o tema subjetividade para preparao para prova A2.

Professor Dr. Carlos Sodr Silva de Abreu

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

Campus Cabo Frio, 2015.

Temas das aulas: Fatores de coerncia; intertextualidade; Leis e Princpios do discurso; Lgica; Lugares da argumentao; Subjetividade; Princpio da alteridade; Dialogismo; Heterogeneidade discursiva.

Fatores de coerncia

O Conhecimento de MundoSegundo Maria G. C. Val (1999: 6), a coerncia do texto deriva da sua lgica interna, resultante dos significados que pe em jogo, mas tambm da compatibilidade entre a rede que compe o mundo textual e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso, ou seja, o leitor. O Conhecimento PartilhadoO mundo textual, do emissor e do receptor, deve conter um certo grau de similaridade, o que vai constituir o conhecimento partilhado. Esse conhecimento determina a estrutura informacional do texto em termos do que se pode chamar de dado e novo. O conhecimento de mundo deve ter pontos em comum, resultado da experincia cotidiana ou cientfica. A diferena entre os dois pode afetar a compreenso e criar problemas de coerncia. A dependncia de conhecimento partilhado precede a coerncia.InfernciasSegundo Koch (2000: 23), as inferncias constituem estratgias cognitivas extremamente poderosas, que possibilitam o estabelecimento de pontes entre o material lingstico presente na superfcie textual e os conhecimentos prvios e/ou partilhados pelos interlocutores, sendo em grande parte responsvel pela reconstruo dos sentidos que o texto explicita. A inferncia estabelece ligao entre o material e o sentido.SituacionalidadeA coerncia se estabelece pelo nvel de insero do texto numa determinada situao de comunicao, e a situacionalidade refere-se ao conjunto de fatores que tornam um texto relevante para uma dada situao comunicativa. Quando a condio de situacionalidade no ocorre, o texto tende a parecer incoerente, porque o clculo de seu sentido se torna difcil ou impossvel. Dilogo coerente, s na situao certa.Intencionalidade e aceitabilidadeO produtor quer sempre produzir um texto que faa sentido para o leitor. Portanto, a noo de intencionalidade trata da inteno do emissor de produzir uma manifestao lingustica coesiva e coerente. Para Koch (1999: 39), o sentido da frase absurda est justamente em ser absurda. Quando o leitor no consegue calcular a significao, logo conclui que o autor o fez incoerente de propsito e que a no-coerncia justamente o que lhe d o sentido.A aceitabilidade diz respeito atitude cooperativa dos receptores de aceitarem uma dada expresso lingustica como um texto coerente, que apresente alguma relevncia. O autor pressupe que seus leitores cooperem com ele no processo de construo de sentido. Koch (2000: 18) usa a expresso jogar o jogo como se referindo aos interlocutores aceitarem, em princpio, a contribuio do parceiro como coerente e adequada realizao dos objetivos visados. InformatividadeA informatividade diz respeito medida na qual as ocorrncias de um texto so esperadas ou no, conhecidas ou no, no plano conceitual e formal. O texto ser tanto menos informativo quanto maior a previsibilidade; e tanto mais informativo quanto menor a previsibilidade. Um discurso menos previsvel mais informativo, porque a sua recepo, embora mais trabalhosa, resulta mais interessante, mais envolvente.RelevnciaA relevncia governa as estratgias de compreenso. Um conjunto de enunciados ser relevante para um determinado tpico discursivo se eles forem interpretveis como predicando algo sobre um mesmo tema e que esse tema seja do conhecimento do leitor. A relevncia no se d linearmente entre pares de enunciados, mas entre conjuntos de enunciados e um tpico discursivo.

FocalizaoA focalizao tem relao direta com a questo do conhecimento de mundo e do conhecimento partilhado. As diferenas de focalizao causam problemas de compreenso, a focalizao no s torna a comunicao mais eficiente, como, na verdade, a torna possvel.IntertextualidadeA intertextualidade concerne s diversas maneiras pelas quais a produo e a recepo de dado texto depende do conhecimento de outros textos. Inmeros textos s fazem sentido quando entendidos em relao a outros textos, que funcionam como seu contexto.

Dialogismo

Refere-se natureza dialgica da fala. No se deve confundir com o conceito de dilogo (conversa entre duas pessoas). Segundo Bakhtin, a seleo de palavras passa sempre pelo crivo do outro. Selecionamos formas de dizer de acordo com o que sabemos sobre o outro, principalmente, sobre seus anseios informativos.

Mecanismos de manifestao da subjetividade

Com base nos estudos da anlise do discurso, podemos apontar alguns fenmenos discursivos pertinentes observao da subjetividade em uma dada situao discursiva. Na anlise do discurso, o ato de falar sempre um ato subjetivo, pois como lembra Possenti (1988)O simples fato de falar (...), por exigir a escolha de certos recursos expressivos, o que exclui outros, e por instaurar certas relaes entre locutor e interlocutor (...), j indica a presena da subjetividade na linguagem.

Toda situao discursiva, segundo a perspectiva clssica, implica a observao de trs elementos fundamentais: aquele que fala; o assunto sobre o qual se fala e aquele a quem se fala. Chamamos de enunciador, aquele que fala ou escreve, e de enunciado, o material sonoro ou grfico que produzido em uma ao discursiva. Atribui-se a Bakhtin (1992), a incluso no estudo da enunciao do estudo do dilogo e, nele, a investigao da relao entre sujeitos, o que chamou de intersubjetividade. A partir das contribuies de Bakhtin, o estudo da lngua ficaria em segundo plano, como esclarece Oliveira (op.cit): Para ele (Bakhtin), a comunicao s existe na reciprocidade do dilogo e a noo de intersubjetividade pressupe que o sujeito se constitui como tal somente na relao com o outro. Mas at que ponto esta noo poderia satisfazer nossos anseios sobre subjetividade? Uma perspectiva positiva est na relao psicolgica que existe ao redor da comunicao entre duas pessoas. que ambas cooperam mutuamente para que haja uma inteligibilidade mnima no que produzido verbalmente, porm, considerando a existncia de leis discursivas e que elas so invisveis em uma situao discursiva, at que ponto que esta relao entre sujeitos e natural quando as leis se manifestam. Imaginemos, por exemplo, que voc esteja com seu carro e haja uma vaga, uma nica vaga, em um estacionamento. Entretanto, ao dirigir seu carro para ela, voc verifica que trata-se de vaga para deficientes fsicos. Se voc estacionar ali, saber que est violando uma regra, conscientemente. Mas se no, estar observando a ao invisvel da regra e, naturalmente, reagindo aos seus efeitos. Quando voc interage verbalmente com outra pessoa, voc est agindo/reagindo naturalmente as leis e princpios que rondam o discurso[endnoteRef:1] [1: ]

Marcas enunciativas do sujeito: autodesignao.

Trata-se da identificao de formas de manifestao do sujeito que fala no discurso que realiza. H trs formas gerais: Eu individual: o sujeito identifica-se com o narrador. Neste caso, os pronomes pessoal do caso reto, eu (Eu acredito que...), ocorre na fala, juntamente a pronomes possessivos de primeira pessoa (Na minha opinio...). Eu genrico: o sujeito projeta-se sobre o interlocutor como um voc que no coincide com o interlocutor: Eles querem que voc trabalhe... Eu coletivo: o sujeito abriga-se em uma classe maior de pessoas, passando-se por um grupo ao invoc-lo: Ns no podemos deixar que isso acontea.

Heterogeneidade discursivaA heterogeneidade se d, segundo Authier Revuz, quando o sujeito situa o seu discurso no discurso do outro, e ocorre no plano da enunciao; pode ser do tipo marcada ou do tipo no marcada. Ser marcada, quando o enunciador utilizar, em seu enunciado, o discurso direto, aquele que reproduz fielmente a fala do/a personagem, ou o discurso indireto, quando o locutor reelabora o discurso do outro para ento utiliz-lo no seu texto. Ser no marcada quando a fala do narrador confundir-se com a fala do personagem; nesse caso, o discurso do tipo indireto livre. Mandou vir o tio nosso, irmo dela, para auxiliar na fazenda e nos negcios. Mandou vir o mestre, para ns, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que no valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ningum se chegar pega ou fala. Mesmo quando foi, no faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, no venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejo, de lguas, que h, por entre juncos e mato, e s ele conhecesse, a palmos, a escurido, daquele.Pensando em lngua numa abordagem interacional, foi possvel constatar no conto em anlise, que o narrador fala a partir do discurso dos outros personagens e que, por isso, seu discurso pr-construdo. Discurso esse que s possvel a partir das diversas vozes: dos vizinhos, da me, dos irmos e do prprio homem da canoa. Todo esse dialogismo aparece marcado no texto atravs de discursos, ora diretos, ora indiretos, ou seja, vez o protagonista reproduz o prprio discurso dos outros e vez o altera atravs do seu discurso.