Linguagem e Tecnologia - Apostila-bio

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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS CURSO: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Elaborada pela professora Mestra Rosangela do Nascimento Costa EMENTA: EMENTA: Linguagem, processos comunicativos, formas e tecnologias. Práticas de leitura e interpretação de textos. Tipos e gêneros textuais. Produção de textos: planejamento, estrutura (microestrutura coesão e macroestrutura coerência) e construção (clareza, concisão, progressão). Aspectos gramaticais da produção de textos. LINGUAGEM, TECNOLOGIAS E PRODUÇÃO TEXTUAL Discente: ____________________________________________________________ Quirinópolis 2015

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Apostila de linguagem e produção de texto.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

CURSO: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Elaborada pela professora Mestra Rosangela do Nascimento Costa

EMENTA: EMENTA: Linguagem, processos comunicativos, formas e tecnologias. Práticas de

leitura e interpretação de textos. Tipos e gêneros textuais. Produção de textos: planejamento,

estrutura (microestrutura – coesão e macroestrutura – coerência) e construção (clareza, concisão,

progressão). Aspectos gramaticais da produção de textos.

LINGUAGEM, TECNOLOGIAS E PRODUÇÃO TEXTUAL

Discente: ____________________________________________________________

Quirinópolis

2015

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SUMÁRIO

1 Linguagem, língua, signo e fala ................................................................................................. 4 1.1 Signos Verbais e Signos Não-Verbais........................................................................................ 4

1.2 Língua ....................................................................................................................................... 4 1.3 Elementos Estáveis e Instáveis da Língua .................................................................................. 5

1.4 Fala ........................................................................................................................................... 6 1.5 Língua Falada e Língua Escrita ................................................................................................. 6

2 Variedade e Unidade da Língua Portuguesa ............................................................................. 7 ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM: ............................................................................................ 8

3 Os Níveis de Linguagem ............................................................................................................. 8 4 TEXTO E TEXTUALIDADE.................................................................................................. 10 4.1 O que é texto ........................................................................................................................... 10 4.2 O que é textualidade ................................................................................................................ 10

4.2.1 Coerência e coesão ............................................................................................................... 11 4.2.2 Os fatores pragmáticos da textualidade ................................................................................. 13

5 Coesão e Coerência – Devem - se distinguir ? ......................................................................... 15 5.1 Os Elementos de Transição – Conectivos ................................................................................ 15

5.2 Como analisar a coesão ........................................................................................................... 16 5.3 Coesão Referencial .................................................................................................................. 17

5.4 Coesão Recorrencial ................................................................................................................ 17 5.5 Coesão Sequencial .................................................................................................................. 17

5.5.1 Sequenciação por conexão .................................................................................................... 18 Atividades coesão textual .............................................................................................................. 18

6 Reformulando a noção de coerência ........................................................................................ 19 6.1 As estruturas Cognitivas .......................................................................................................... 19

6.1.1 modelos cognitivos globais ................................................................................................... 19 Atividades Coerência .................................................................................................................... 20

7 O Parágrafo .............................................................................................................................. 21 ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM: ....................................................................................... 23

7.1 A PARAGRAFAÇÃO NO/DO TEXTO DISSERTATIVO ................................................. 24 7.2 FORMAS DISCURSIVAS DO PARÁGRAFO ....................................................................... 25

8 O PARÁGRAFO COMO UNIDADE DE COMPOSIÇÃO ........................................................ 25 8.1 Parágrafo-padrão ..................................................................................................................... 25

8.2 Importância do parágrafo......................................................................................................... 26 8.3 Extensão do parágrafo ............................................................................................................. 26

8.4 Tópico frasal ........................................................................................................................... 27 8.4.1 Diferentes feições do tópico frasal ........................................................................................ 28

8.5 Outros modos de iniciar o parágrafo ........................................................................................ 29 8.5.1 Alusão histórica .................................................................................................................... 29

8.5.2 Omissão de dados identificadores num texto narrativo .......................................................... 30 8.5.3 Interrogação ......................................................................................................................... 31

8.6 Tópico frasal implícito ou diluído no parágrafo ....................................................................... 31

9 Como desenvolver o parágrafo ................................................................................................ 31 9.1 Enumeração ou descrição de detalhes ...................................................................................... 32 9.2 Confronto ................................................................................................................................ 32

9.3 Analogia e comparação ........................................................................................................... 33 9.4 Citação de exemplos ................................................................................................................ 34

9.5 Causação e motivação ............................................................................................................. 36 9.5.1 Razões e consequências ........................................................................................................ 37

9.5.2 Causa e efeito ....................................................................................................................... 38 9.6 Divisão e explanação de ideias "em cadeia" ............................................................................. 39

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9.7 Definição ................................................................................................................................ 40 Exercícios ..................................................................................................................................... 51

10 Gêneros de texto, o que é isso? ............................................................................................... 53 10.1 Qual a diferença entre texto e gênero de texto? ...................................................................... 54

11 As diversas formas de texto.................................................................................................... 54 11.1 Resumo ................................................................................................................................. 54

11.1.1 Sublinhado: ........................................................................................................................ 55 11.1.2 Esquema: ............................................................................................................................ 55

9.1.3 Resumo: ............................................................................................................................... 55

11.2 RELATÓRIO NARRATIVO, DESCRITIVO E DISSERTATIVO .................................. 55 11.2.1 Objetivos ............................................................................................................................ 56 11.2.2 Estrutura ............................................................................................................................. 56

11.2.3 Introdução .......................................................................................................................... 56 11.2.4 Desenvolvimento ................................................................................................................ 57

12 Diretrizes para elaboração de resumos, resenhas e artigos Científicos ................................ 58 12.1 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE RESUMOS, SÍNTESES E SINOPSES............... 59

12.2 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE RESENHAS ...................................................... 60

13 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE ARTIGO CIENTÍFICO

..................................................................................................................................................... 61 13.1 Elementos Pré-Textuais ......................................................................................................... 61

13.2 Acerca dos Títulos dos Artigos Científicos ............................................................................ 62 13.3 Acerca dos Agradecimentos .................................................................................................. 62

13.4 Acerca da Autoria dos Artigos Científicos ............................................................................. 62 13.5 Acerca do Resumo Acadêmico e do Abstract ........................................................................ 62

13.6 Elementos Textuais ............................................................................................................... 63 13.7 A Introdução ......................................................................................................................... 63

13.8 O Desenvolvimento ............................................................................................................... 63 13.9 A Conclusão do Artigo .......................................................................................................... 64

13.10 Elementos Pós-Textuais ...................................................................................................... 64 14 Referências .............................................................................................................................. 64

15 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 64

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1 Linguagem, língua, signo e fala

Na origem de toda atividade comunicativa do ser humano está a linguagem, que é a

capacidade de se comunicar por meio de uma língua. Língua é um sistema de signos convencionais

usados pelos membros de uma mesma comunidade. Em outras palavras: um grupo social

convenciona e utiliza um conjunto organizado de elementos representativos.

1.1 Signos Verbais e Signos Não-Verbais

Considera-se que os sinais ou signos classificam-se em dois tipos: os signos verbais e os

signos não verbais.

Os signos verbais são as palavras que constituem uma língua. Por exemplo:

QUANDO REDIGIMOS UM TEXTO, NÃO DEVEMOS MUDAR O REGISTRO, A NÃO

SER QUE O ESTILO O PERMITA. ASSIM, SE ESTAMOS DISSERTANDO - E NESSE TIPO DE

REDAÇÃO, USA-SE, GERALMENTE, A LÍNGUA PADRÃO-, NÃO PODEMOS PASSAR DESSE

NÍVEL PARA OUTRO, COMO A GÍRIA, POR EXEMPLO.

Os signos não verbais referem-se à qualquer outro signo que não seja a palavra falada ou

escrita. Esses signos são criados com desenhos, sons, cores etc.

Considera-se que uma linguagem não é um simples amontoado de signos, mas um conjunto

de signos que se relacionam entre si, de forma organizada, formando um sistema. Quando os signos

se organizam, afirma-se que eles constituem uma linguagem. Por isso, é possível falar em

linguagem do trânsito, linguagem da matemática, linguagem dos gestos, linguagem da música e

outras.

1.2 Língua

A língua é um tipo de linguagem; é a única modalidade de linguagem que utiliza palavras.

Observe um fragmento do romance ―Gabriela, cravo e canela‖ em quatro versões. O

romance escrito em português por Jorge Amado, foi traduzido para inglês, italiano e espanhol, entre

outras línguas.

- Trecho do romance “Gabriela, cravo e canela” em Português

Naquele ano de 1925, quando floresceu o idílio da mulata Gabriela e do árabe Nacíb, a

estação das chuvas tanto se prolonga além do normal, e necessário, que os fazendeiros, como um

bando assustado, cruzavam-se nas ruas a perguntar uns aos outros, o medo nos olhos e na voz:

-Será que não vai parar?

Trecho do romance “Gabriela, cravo e canela” em Inglês

In that year of 1925, when the idyll of the mulatto girl Gabriela and Nacíb

the Arab began, the rains continued long beyond the proper and necessary season. Whenever

two planters met in the street, they would ask each other, with fear in their eyes and voices:

―How long can this keep up?‖

Linguagem é todo sistema organizado de

signos que serve como meio de comunicação entre os indivíduos.

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Trecho do romance “Gabriela, cravo e canela” em Espanhol

En aquel año de 1925, cuando floreció el idilio de la mulata Gabriela y del árabe Nacib, la

estación de las lluvias habíase prolongado más allá de lo normal y necessario, a tal punto que los

plantadores, como un rebaño asustado, al entrecruzarse en las calles se perguntaban unos a otros,

con miedo en los ojos y en la voz:

- ¿No parará nunca?

O português, o inglês e o espanhol são línguas diferentes. Cada povo utiliza determinada

língua para se comunicar.

1.3 Elementos Estáveis e Instáveis da Língua

A língua é um fenômeno dinâmico e apresenta os seguintes elementos:

ELEMENTOS ESTÁVEIS - São estáveis as características básicas de cada língua.

Graças à essa estabilidade no tempo, consegue-se entender hoje, ainda que com alguma

dificuldade, um texto escrito há muito tempo em uma língua conhecida. O fato de um

brasileiro de Porto Alegre comunicar-se com um brasileiro de Manaus sem dificuldades,

por exemplo, demonstra a estabilidade da língua no espaço geográfico.

ELEMENTOS INSTÁVEIS - São os elementos da língua que se modificam no tempo e

no espaço. Em relação à modificação no tempo considera-se que há termos que deixam de

ser empregados ou passam a ser empregados em um só sentido, sem contar as palavras

novas que se incorporam à língua, enriquecendo-a. Televisor, por exemplo, é uma palavra

que só passou a fazer parte do vocabulário no início de 1931, quando esse aparelho foi

inventado. O mesmo observa-se com o celular. Destaca-se que também ocorrem mudanças

no espaço, no local em que se emprega a língua. Dessas mudanças surgem diferenças que

no entanto, não chegam à impossibilitar a comunicação entre falantes da mesma língua que

vivam em locais diversos. Vale ressaltar que a gíria consiste no exemplo mais evidente da

instabilidade da língua.

Leia o fragmento:

Me olhando assim, cara? Eu relaxei numa boa e fechei os olhos, ela começou a levar um

som em inglês que num sacava, cara, era um lance da gente se falar sem se falar que durou até

o céu ficar pretão.

No texto acima identifica-se a presença de várias gírias. Observa-se que as gírias variam

de acordo com o período, pois as gírias de uma época não servem para outra, pela rápida

modificação que sofre. Há também gírias que são empregadas apenas em determinadas regiões,

principalmente em Estados e países mais desenvolvidos.

Língua é a linguagem verbal utilizada por

um grupo de indivíduos que constituem uma comunidade.

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1.4 Fala

A seleção brasileira feminina de vôlei conquistou importante título em um torneio

internacional. Veja como três jornais noticiaram o fato:

Seleção derrota EUA e fica com título

Brasil bate EUA e ganha torneio de vôlei

Brasil mata EUA e ganha título histórico

Comparando os textos, conclui-se:

a) Os três títulos tratam do mesmo assunto; b) Os três redatores empregaram o mesmo código: a língua portuguesa; c) Os redatores obedeceram às regras de funcionamento do português, como qualquer

falante da língua que deseje comunicar-se adequadamente. Apesar dessas semelhanças, os textos não são iguais, porque cada emissor empregou a

língua a sua maneira, com seu estilo próprio, individual.

Cada usuário da língua faz uso individual do código. A essa utilização pessoal, particular da

língua, dá-se o nome de fala. ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:

Qual a distinção entre Língua, Linguagem, Signo e Fala?

Boa sorte!

1.5 Língua Falada e Língua Escrita

A língua falada mantém uma profunda vinculação com as situações em que é usada. A

comunicação oral normalmente se desenvolve em situações em que o contato entre os interlocutores

é direto: na maioria dos casos, eles estão em presença um do outro, num lugar e momento que, por

isso, são claramente conhecidos. Dessa forma, quando conversam sobre determinado assunto,

elaboram mensagens marcadas por fatos da língua falada. O vocabulário utilizado é fortemente

alusivo: o uso de pronomes como eu, você, isto, isso, aquilo ou de advérbios como aqui, cá, já,

agora ou lá, possibilita indicar os seres e fatos envolvidos na mensagem sem nomeá-los

explicitamente.

Na língua escrita, a elaboração da mensagem requer uma linguagem menos alusiva. O uso

de pronomes e certos advérbios, eficientes e suficientes na língua falada, obedecem à outros

critérios, pois essas palavras passam principalmente a relacionar partes do texto entre si e não mais

a designar dados da realidade exterior. Em seu lugar, são utilizadas formas de referência mais

precisas, como substantivos e adjetivos, capazes de nomear e caracterizar os seres.

Assim, a língua escrita demanda um esforço maior de precisão: devem-se indicar datas,

descrever lugares e objetos, bem como identificar claramente os interlocutores no caso de

representação de diálogos. Toda essa elaboração gera textos cuja compreensão não depende do

lugar e do tempo em que são produzidos ou lidos: como a língua escrita busca ser suficiente em si

mesma, redator e leitor não precisam mais da proximidade física para que a mensagem se transmita

satisfatoriamente.

Não pense, entretanto, que qualquer uma dessas duas formas de língua é melhor ou pior do

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que a outra: são apenas diferentes, cada uma delas é apropriada à uma determinada forma de

comunicação.

Até agora, tem-se falado da diferença essencial entre a língua escrita e a língua falada. Dessa

diferença se originam outras, igualmente importantes e em alguns casos, tão significativas que se

pode mesmo falar na existência de dois códigos distintos: o código falado e o código escrito, cada

um com suas regras próprias de funcionamento. Entre elas destaca-se:

A língua falada se concretiza por meio da emissão dos sons da língua, os fonemas. Na

escrita, utilizam-se as letras, que não mantêm uma correspondência exata com os fonemas: há letras

que representam fonemas diferentes (a letra x, por exemplo, em exame, xadrez e sintaxe); há

fonemas representados por mais de uma letra; há até casos em que a letra não representa nenhum

fonema (h em homem, por exemplo). Fatos como esses fazem com que a ortografia se torne

complexa; ora, é óbvio que essa questão afeta diretamente o manejo da língua escrita, tendo

reduzida influência sobre o código falado.

O código oral conta com elementos de expressividade que o código escrito não consegue

reproduzir com muita eficiência. Destaca-se a acentuação e a entonação, capazes de modificar

completamente o significado de certas frases e que só são parcialmente recuperáveis por certas

construções da língua escrita. Há, por exemplo, várias formas de falar a palavra sim, podendo-se até

atribuir-lhe significação oposta à usual.

Na escrita, o que se pode fazer são construções do tipo:

―Sim!‖, disse ela, alvoroçada.

―Sim...‖, respondeu uma voz debilitada. ―Sim?‖, irrompeu, indignado.

―Sim!‖, observou ele, com profunda ironia.

Além disso, a língua utiliza a pontuação para sugerir certas características da língua falada.

Não se deve esquecer, entretanto, que a pontuação tem antes de tudo uma função organizadora dos

enunciados, permitindo uma disposição das ideias de forma lógica. Essa função antecede uma

eventual tentativa de reproduzir de forma escrita a melodia própria da língua falada.

O uso de algumas estruturas gramaticais é bastante diferente nos dois códigos. Enquanto a

língua falada utiliza exclamações e onomatopeias e produz frases muitas vezes inacabadas ou com

rupturas de construção, a língua escrita desenvolve frases mais logicamente construídas, evitando a

repetição de termos, comum durante a fala. Além disso, certos tempos verbais (como o pretérito

mais-que-perfeito simples: cantara, bebera e sentira, por exemplo) e certas construções (com o

pronome relativo cujo, por exemplo) são praticamente exclusivos da língua escrita. (Texto de Ulisses Infante. Do texto ao texto. São Paulo. Ed. Scipione.)

2 Variedade e Unidade da Língua Portuguesa

O conceito de língua é bastante amplo, englobando as manifestações da fala, com suas

incontáveis possibilidades. Dentro desse extenso universo, há também variações que não são

decorrentes do uso individual da língua, mas sim, de outros fatores. Esses fatores podem ser:

geográficos, sociais, profissionais e situacionais.

a) Geográficos: há variações entre as formas que a língua portuguesa assume nas diferentes regiões

em que é falada. Basta pensar nas evidentes diferenças entre o modo de falar, por exemplo, de

um lisboeta (natural ou habitante de Lisboa) e de um carioca ou na expressão de um gaúcho em

contraste com a de um paraense. Essas variações regionais constituem os falares e os dialetos;

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:

Escreva um texto argumentativo expositivo,

dizendo por que a escrita veio depois da fala. Boa sorte!

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b) Sociais: o português empregado pelas pessoas que têm acesso à escola e aos meios de instrução

difere daquele empregado pelas pessoas privadas de escolaridade. Algumas classes sociais,

assim, dominam uma forma de língua que goza de prestígio, enquanto outras, são vítimas de

preconceito por empregarem formas menos prestigiadas. Cria-se, desta maneira, uma

modalidade de língua – a norma culta -, que deve ser adquirida durante a vida escolar e cujo

domínio é solicitado como forma de ascensão profissional e social. O idioma é, portanto, um

instrumento de dominação e discriminação. Também são socialmente condicionadas certas formas de língua que alguns grupos

desenvolvem a fim de evitar a compreensão por parte daqueles que não pertencem ao grupo. O

emprego dessas formas de língua proporciona o reconhecimento fácil dos integrantes de uma

comunidade restrita, seja um grupo de estudantes, seja uma quadrilha de contrabandistas. Assim

se formam as gírias, variantes linguísticas sujeitas à contínuas transformações;

c) Profissionais: o exercício de certas atividades requer o domínio de certas formas de língua

chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas variantes têm seu uso

praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, médicos, químicos, linguistas e

outros especialistas;

d) Situacionais: em diferentes situações comunicativas, um mesmo indivíduo emprega diferentes

formas de língua. Basta pensar nas atitudes assumidas em situações formais (um discurso numa

solenidade de formatura, por exemplo) e em situações informais (uma conversa descontraída

com amigos). Em cada uma dessas oportunidades, emprega-se formas de língua diferentes,

procurando adequar o nível vocabular e sintático ao ambiente linguístico em que o sujeito se

encontra.

Quando o uso da língua abandona as necessidades estritamente práticas do cotidiano

comunicativo e passa a incorporar preocupações estéticas, surge a língua literária. Nesse caso, a

escolha e a combinação de elementos linguísticos subordinam-se à atividades criadoras e

imaginativas. Código e mensagem adquirem uma importância elevada, deslocando o centro de

interesse para aquilo que a língua é em detrimento daquilo para que ela sirva. (Texto de Ulisses Infante. Do texto ao texto. São Paulo. Ed. Scipione.)

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:

1) Pesquise e identifique as regiões das respectivas linguagens:

a) Ei. Bichim.. Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem faça fumaça...

b) Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim, se não enfio a pexeira no teu bucho e boto

teu fato de fora. Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tou com uma fome da moléstia...

c) Ô sô, prestenção... Isso é um assarto, uai... Levanta os braço e fica quetin quié mió procê...

Esse trem na minha mão tá chei de bala... Mió passá logo os trocados que eu num tô bão

hoje... Vai andando, uai!... Ta esperando que, sô ??

d) Ô guri, fica atento báh... Isso é um assalto... Levanta os braço e te aquieta, tchê!...

e) Não tente nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê... Passa as pilas pra cá!

E te manda a lá cria, senão o quarenta e quatro fala.

3 Os Níveis de Linguagem

Para que se efetue a comunicação é necessário haver um código comum. Diz-se, em termos

mais gerais, que é preciso ―falar a mesma língua‖: o português, por exemplo, enquanto língua

materna. Mas trata-se de uma língua portuguesa ou de várias línguas portuguesas? O português do

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Maranhão é o mesmo português do Rio Grande do Sul? Não está cada um deles sujeito à influências

diferentes – linguísticas, climáticas, ambientais? O português de um médico é igual ao de seu

cliente? O ambiente social e o cultural não determinam a língua? Estas questões levam à

constatação de que existem níveis de linguagem. O vocabulário, a sintaxe e mesmo a pronúncia

variam segundo esses níveis.

Inicialmente se distingue a língua escrita da língua falada. Admitem os linguistas que no

interior da língua falada existe uma língua comum, conjunto de palavras, expressões e construções

mais usuais, língua tida geralmente como simples, mas correta. A partir desse nível tem-se em

ordem crescente do ponto de vista da elaboração, a linguagem cuidada (ou tensa) e a linguagem

oratória. E no sentido contrário, da informalidade, tem-se a linguagem familiar e a linguagem

informal ou ―popular‖.

Língua Falada Língua Escrita

Linguagem

Oratória Discursos, Sermões

Linguagem literária, cartas e

documentos oficiais. Linguagem Cuidada Cursos, Comunicações Orais

Linguagem Comum Conversação, Rádio, Televisão. Comunicações escritas

comuns.

Linguagem

Familiar Conversação informal “não-elaborada”

Linguagem descuidada,

incorreta, linguagem literária

que procura imitar a língua

falada.

Essas distinções são um pouco fluidas, uma vez que se estabelecem segundo critérios heterogêneos.

A distinção linguagem popular/linguagem cuidada, por exemplo, apoia-se num critério

sociocultural, ao passo que a distinção linguagem informal/linguagem oratória se apoia, sobretudo,

numa diferença de situação. O mesmo indivíduo não empregará a mesma linguagem ao fazer um

discurso e ao conversar com os amigos num bar.

Ademais, na expressão oral, as incorreções gramaticais são geralmente em função de

restrições materiais: dificilmente poderá um comentarista esportivo manter uma linguagem cuidada

ao descrever e comentar uma partida de futebol ao vivo.

De modo geral, a linguagem cuidada emprega um vocabulário mais preciso, mais raro, e

uma sintaxe mais elaborada que a da linguagem comum. A linguagem oratória cultiva os efeitos

sintáticos, ritmos e sonoros e utiliza imagens.

As linguagens familiar e popular recorrem às expressões pitorescas, à gíria e muitas de suas

construções são tidas como ―incorreções graves‖ nos níveis de maior formalidade.

A língua escrita é geralmente, mais elaborada que a língua falada. Aí os níveis são menos

numerosos e diretamente relacionados com o condicionamento sociocultural.

Os vocabulários próprios de determinadas regiões, determinadas profissões, ciências ou

técnicas levam ainda à definição de outros níveis, segundo critérios diferentes. Vê-se, então, que a

noção não é muito precisa. O essencial é ter consciência desses níveis de linguagem na medida em

que determinam o bom funcionamento da comunicação. Tentar adaptar a própria linguagem à do

interlocutor já é efetuar um ato de comunicação.

É difícil imaginar como um professor daria suas aulas se não empregasse uma linguagem

acessível às crianças; entretanto, a preocupação de levar os alunos à utilização da linguagem

comum obriga o mestre a recorrer a uma linguagem um pouco mais trabalhada que a de seus

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ouvintes, tanto no vocabulário quanto na sintaxe. A comunicação envolve, neste caso, uma

reelaboração.

Texto de Francis Vanoye. Usos de Linguagem.)

4 TEXTO E TEXTUALIDADE

COSTA VAL, M. G., Redação e Textualidade.

S. Paulo, Martins Fontes: 1991.

4.1 O que é texto

Para se compreender melhor o fenômeno da produção de textos escritos, importa entender

previamente o que caracteriza o texto, escrito ou oral, unidade linguística comunicativa básica, já

que o que as pessoas têm a dizer umas às outras não são palavras nem frases isoladas, são textos.

Pode-se definir texto ou discurso como ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer

extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal.

Antes de mais nada, um texto é uma unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função

identificável num dado jugo de atuação sociocomunicativa. Tem papel determinante em sua

produção e recepção uma série de fatores pragmáticos que contribuem para a construção de seu

sentido e possibilitam que seja reconhecido como um emprego normal da língua. São elementos

desse processo as peculiaridades de cada ato comunicativo, tais como: as intenções do produtor; o

jogo de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro e do outro com relação

a si mesmo e ao tema do discurso; e o espaço de perceptibilidade visual e acústica comum, na

comunicação face a face. Desse modo, o que é pertinente numa situação pode não o ser em outra. O

contexto sociocultural em que se insere o discurso também constitui elemento condicionante de seu

sentido, na produção e na recepção, na medida em que delimita os conhecimentos partilhados pelos

interlocutores, inclusive quanto às regras sociais da interação comunicativa (uma certa ―etiqueta‖

sociocomunicativa, que determina a variação de registros, de tom de voz, de postura, etc.).

A segunda propriedade básica do texto é o fato de ele constituir uma unidade semântica.

Uma ocorrência linguística, para ser texto, precisa ser percebida pelo recebedor como um todo

significativo. A coerência, fator responsável pelo sentido do texto, será estudada no próximo item.

Finalmente, o texto se caracteriza por sua unidade formal, material. Seus constituintes

linguísticos devem se mostrar reconhecivelmente integrados, de modo a permitir que ele seja

percebido como um todo coeso.

De acordo com o conceito adotado, um texto será bem compreendido quando avaliado sob

três aspectos:

a) o pragmático, que tem a ver com seu funcionamento enquanto atuação informacional e

comunicativa;

b) o semântico-conceitual, de que depende sua coerência;

c) o formal, que diz respeito à sua coesão.

4.2 O que é textualidade

Chama-se textualidade ao conjunto de características que fazem com que um texto seja um

Atividade de Aprendizagem:

Escreva um texto narrativo, no qual são criadas

situações que simulem fatos que necessitem usar níveis de

linguagem diferenciados

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texto, e não apenas uma sequência de frases. Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores

responsáveis pela textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão, que se relacionam

com o material conceitual e linguístico do texto, e a intencionalidade, a informatividade, a

aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade, que têm a ver com os

fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo.

4.2.1 Coerência e coesão

A coerência resulta da configuração que assumem os conceitos e relações subjacentes

à superfície textual. É considerada o fator fundamental da textualidade, porque é responsável

pelo sentido do texto. Envolve não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos, na

medida em que depende do partilhar de conhecimento entre os interlocutores.

Um discurso é aceito como coerente quando apresenta uma configuração conceitual

compatível com o conhecimento de mundo do recebedor. Essa questão é fundamental. O texto não

significa exclusivamente por si mesmo. Seu sentido é construído não só pelo produtor como

também pelo recebedor, que precisa deter os conhecimentos necessários à sua interpretação. O

produtor do discurso não ignora essa participação do interlocutor e conta com ela. É fácil verificar

que grande parte dos conhecimentos necessários à compreensão dos textos não vem explicita, mas

fica dependente da capacidade de pressuposição e inferência do recebedor.

Assim, a coerência do texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados que sua

rede de conceitos e relações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede

conceitual – o mundo textual – e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso.

A coesão é a manifestação linguística da coerência; advém da maneira como os conceitos e

relações subjacentes são expressos na superfície textual. Responsável pela unidade formal do texto,

constrói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais.

Entre os primeiros estão os pronomes anafóricos, os artigos, a elipse, a concordância, a

correlação entre os tempos verbais, as conjugações, por exemplos. Todos esses recursos expressam

relações não só entre frases e sequências de frases dentro de um texto.

Já a coesão lexical se faz pela reiteração, pela substituição e pela associação. A reiteração se

dá pela simples repetição de um item léxico e também por processos como a nominalização (ex.: a

retomada, através de um substantivo cognato, da ideia expressa por um verbo, como em

adiar/adiamento ou promover/promoção). A substituição inclui a sinonímia, a antonímia, a

hiponímia (quando o termo substituído representa uma parte ou um elemento e o substituidor

representa o todo ou a classe – ex.: carroça/veículo), e a hiperonímia (quando o termo substituído

representa o todo ou a classe e o substuidor uma parte ou elemento – ex.: objeto/caneta).

Finalmente, a associação é o processo que permite relacionar itens do vocabulário pertinentes a um

mesmo esquema cognitivo (por exemplo, se falamos aniversário, podemos em seguida mencionar

bolo, velinha, presentes, e esses termos serão interpretados como alusivos ao mesmo evento).

A coerência e a coesão têm em comum a característica de promover a interrelação

semântica entre os elementos do discurso, respondendo pelo que se pode chamar de conectividade

textual. A coerência diz respeito ao nexo entre os conceitos e a coesão, à expressão desse nexo no

plano linguístico. É importante registrar que o nexo é indispensável para que uma sequência de

frases possa ser reconhecida como texto. Entretanto, esse texto nem sempre precisa estar explicito

na superfície do texto por um mecanismo de coesão gramatical. Vejamos um exemplo:

(1) O Pedro vai buscar as bebidas. A Sandra tem que ficar com os meninos. A Tereza

arruma a casa. Hoje eu vou precisar da ajuda de todo mundo.

Uma fala como (1) é perfeitamente aceitável, tem coerência, faz sentido. Entretanto não

apresenta marcadores sintáticos específicos que denotem sua coesão. O nexo entre as frases se

constrói não no nível gramatical, mas no nível semântico-cognitivo.

Page 12: Linguagem e Tecnologia - Apostila-bio

12

Por outro lado, uma sequência de frases interligadas por marcadores linguísticos de coesão

que não correspondessem a relações efetivas estabelecidas na estrutura lógico-cognitiva subjacente

não seria um texto. É possível forjar artificialmente um exemplo para ilustrar (normalmente, a

competência textual intuitiva impede que as pessoas produzam sequências desse tipo):

(2) No rádio toca um rock. O rock é um ritmo moderno. O coração também tem ritmo. Ele é

um músculo oco composto de duas aurículas e dois ventrículos.

Em (2), a presença de recursos coesivos interfrasais (a recorrência deitem lexical assinalada

por artigo definido, o articulador também e o pronome ele) não é suficiente para garantir

textualidade à sequência, já que ela não funciona como um todo significativo coerente.

Entretanto, é inegável a utilidade dos mecanismos de coesão como fatores da eficiência do

discurso. Além de tornar a superfície textual estável e econômica, na medida em que fornecem

possibilidades variadas de se promover a continuidade e a progressão do texto, também permitem a

explicitação de relações que, implícitas, poderiam ser de difícil interpretação, sobretudo na escrita.

Nas sequências (3) e (4) abaixo, por exemplo, o nexo é facilmente recobrável pelo leitor,

embora não manifesto na superfície:

(3) A máquina parou. Está faltando energia elétrica.

(4) Choveu. O chão está molhado.

O mesmo não acontece, porém, com as frases de (5a) a (5f). Nestes casos, se a relação

pretendida não vier expressa, o recebedor poderá atribuir ao enunciado sentido diferente do que o

autor queria, sobretudo se, não se tratando de produção oral, não for possível depreender as

intenções do produtor através da entonação. Veja-se:

(5a) Paulo saiu. João chegou.

(5b) Paulo saiu assim que João chegou.

(5c) Paulo saiu, João chegou.

(5d) Paulo saiu, porque João chegou.

(5e) Paulo saiu, apesar de João ter chegado.

(5f) Se Paulo saiu, João deve ter chegado.

Casos similares a (3) e (4) foram estudados por Isenberg (1986), que os interpretou como

possibilidades de ―textualização‖ entre frases assindéticas. O primeiro exemplifica a textualização

por ―conexão causal‖ (a máquina parou porque está faltando energia elétrica) e o segundo, por

―interpretação diagnóstica‖ (pode-se verificar que choveu pelo fato de o chão estar molhado).

Ao contrário, os exemplos (5b-f), inspirados em Garcia (1977: 18-20, 262-264), não podem

dispensar a conjunção, porque o nexo conceitual entre as informações é, digamos, mais frouxo e,

portanto, de processamento não imediato. Há diferentes possibilidades de articulação e, por isso, a

opção por uma delas precisa ser explícita.

Além disso, os recursos coesivos, quando presentes, devem obedecer a padrões prévios,

caso contrário seu emprego será percebido como ―infração textual‖, tornando ―irregular‖ a

sequência em que ocorrem. Alguns dos princípios que orientam o emprego desses recursos serão

lembrados mais adiante.

Resumindo o que foi dito, o fundamental para a textualidade é a relação coerente entre as

ideias. A explicitação dessa relação através de recursos coesivos é útil, mas nem sempre obrigatória.

Entretanto, uma vez presentes, esses recursos devem ser usados de acordo com regras específicas,

sob pena de reduzir a aceitabilidade do texto.

Page 13: Linguagem e Tecnologia - Apostila-bio

13

4.2.2 Os fatores pragmáticos da textualidade

Entre os cinco fatores pragmáticos estudados por Beaugrande e Dressler (1983), os dois

primeiros referem-se aos protagonistas do ato comunicativo: a intencionalidade e a aceitabilidade.

A intencionalidade concerne ao empenho do produtor em construir um discurso coerente,

coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação

comunicativa. A meta pode ser informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou

ofender, etc., e é ela que vai orientar a confecção do texto. (...)

O outro lado da moeda é a aceitabilidade, que concerne à expectativa do recebedor de que o

conjunto de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz

de levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor.

Grice (1975, 1978) estabelece máximas conversacionais, que seriam estratégias

normalmente adotadas pelos produtores para alcançar a aceitabilidade do recebedor. Tais estratégias

se referem à necessidade de cooperação (no sentido de o produtor responder aos interesses de seu

interlocutor) e à qualidade (autenticidade), quantidade (informatividade), pertinência e relevância

das informações, bem como à maneira como essas informações são apresentadas (precisão, clareza,

ordenação, concisão, etc.). Mas é possível que, deliberadamente, o produtor queira apresentar um

texto que desrespeite alguma(s) dessas máximas. Tal intenção, reconhecida pelo recebedor, ganhará

função significativa e resultará em efeito de sentido importante no jogo interativo. É o que Grice

chama de ―implicatura conversacional‖: o recebedor prefere supor que a infração aos princípios

conversacionais seja intencional e tenha alguma significação do que simplesmente aceitar que seu

interlocutor possa produzir um discurso impertinente e sem sentido.

Charolles (1978:38) afirma que, em geral, o recebedor dá um ―crédito de coerência‖ ao

produtor: supõe que seu discurso seja coerente e se empenha em captar essa coerência, recobrindo

lacunas, fazendo deduções, enfim, colocando a serviço da compreensão do texto todo conhecimento

de que ele dispõe.

Assim, a comunicação se efetiva quando se estabelece um contrato de cooperação entre os

interlocutores, de tal modo que as eventuais falhas do produtor são percebidas como significativas

(às vezes, o sentido do texto está na sua aparente falta de sentido – cf. a piada), ou são cobertas pela

tolerância do recebedor. A margem de tolerância é tanto maior quanto mais conhecido é o assunto e

mais informal é a situação. O produtor sabe da existência da tolerabilidade e conta com ela, assim

como conta com a capacidade de pressuposição e inferência do recebedor. Essa ―cumplicidade‖ do

recebedor para com o texto é que possibilita que a produção não seja tarefa excessivamente difícil e

tensa e, assim, viabiliza o jogo comunicativo.

O terceiro fator de textualidade, segundo Beaugrande e Dressler (1983), é a

situacionalidade, que diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência e relevância do texto

quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto à situação sociocomunicativa.

O contexto pode, realmente, definir o sentido do discurso e, normalmente, orienta tanto a

produção quanto a recepção. Em determinadas circunstâncias, um texto menos coeso e

aparentemente menos claro pode funcionar melhor, ser mais adequado do que outro de

configuração mais completa. Servem de exemplo as inscrições lacônicas das placas de trânsito,

mais apropriadas à situação específica em que são usadas do que um longo texto explicativo ou

persuasivo que os motoristas sequer tivessem tempo de ler.

A conjunção dos três fatores já mencionados resulta numa série de consequências para a

prática comunicativa.

Em primeiro lugar, é importante para o produtor saber com que conhecimentos do

recebedor ele pode contar e que, portanto, não precisa explicitar no seu discurso. Esses

conhecimentos podem advir do contexto imediato ou podem preexistir ao ato comunicativo. Assim,

uma informação aparentemente absurda como o exemplo a seguir, extraído de Elias (1981: 45), fará

sentido para quem souber que Maria sofre de problemas gástricos de fundo nervoso e que passa mal

sempre que come tensa, preocupada com o horário:

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(6) Maria teve uma indigestão embora o relógio estivesse estragado.

Daí vem a noção de coerência pragmática, ou seja, a necessidade de o texto ser reconhecido

pelo recebedor como um emprego normal da linguagem num determinado contexto.

Outra consequência da conjugação desses três fatores de textualidade é a existência dos

diversos tipos de discurso. A praxe acaba por estabelecer que, numa dada circunstância, tendo-se

em mente determinada intenção ilocucional, deve-se compor o texto dessa ou daquela maneira.

Assim, há convenções que regem o funcionamento da linguagem na interação social e que

determinam, especificamente, qual o tipo particular de discurso adequado a cada ato comunicativo.

Essa questão é da maior importância para quem trabalha com o ensino de redação, pois vem daí o

fato de que a textualidade de cada tipo de discurso envolve elementos diferentes. O que é qualidade

num texto argumentativo formal poderá ser defeito num poema, ou numa estória de suspense, ou

numa conversa de botequim, por exemplo. .

O interesse do recebedor pelo texto vai depender do grau de informatividade, de que o

último é portador. Esse é mais um fator de textualidade apontado por Beaugrande e Dressler (1983)

e diz respeito à medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não,

no plano conceitual e no formal. Ocorre que um discurso menos previsível é mais informativo,

porque a sua recepção, embora mais trabalhosa, resulta mais interessante, mais envolvente.

Entretanto, se o texto se mostrar inteiramente inusitado, tenderá a ser rejeitado pelo recebedor, que

não conseguirá processá-lo. Assim, o ideal é o texto se manter num nível mediano de

informatividade, no qual se alternam ocorrências de processamento imediato, que falam do

conhecido, com ocorrências de processamento mais trabalhoso, que trazem a novidade.

Para mim, o texto com bom índice de informatividade precisa ainda atender a outro

requisito: a suficiência de dados. Isso significa que o texto tem que apresentar todas as informações

necessárias para que seja compreendido com o sentido que o produtor pretende. Não é possível nem

desejável que o discurso explicite todas as informações necessárias ao seu processamento, mas é

preciso que ele deixe inequívocos todos os dados necessários à sua compreensão aos quais o

recebedor não conseguirá chegar sozinho.

Beaugrande e Dressler (1983) falam ainda de um outro componente de textualidade: a

intertextualidade, que concerne aos fatores que fazem a utilização de um texto dependente do

conhecimento de outro(s) texto(s). De fato, "um discurso não vem ao mundo numa inocente

solitude, mas constrói-se através de um já-dito em relação ao qual ele toma posição". Inúmeros

textos só fazem sentido quando entendidos em relação a outros textos, que funcionam como seu

contexto. Isso é verdade tanto para a fala coloquial, em que se retomam conversas anteriores,

quanto para os pronunciamentos políticos ou o noticiário dos jornais, que requerem o conhecimento

de discursos e notícias já divulgadas, que são tomados como ponto de partida ou são respondidos.

Há aqui uma questão interessante que não é mencionada pelos autores. É que o mais

frequente interlocutor de todos os textos, invocado e respondido consciente ou inconscientemente, é

o discurso anônimo do senso comum, da voz geral corrente. Assim, avaliar a intertextualidade, em

sentido lato, pode significar analisar a presença dessa fala subliminar, de todos e de ninguém, nos

textos estudados1. Por outro lado, como esse discurso é de conhecimento geral, pode-se também

considerá-lo como informação previsível e avaliar sua presença como elemento que faz baixar o

grau de informatividade. Foi essa a minha opção na análise de redações que apresento adiante.

Relacionando os conceitos de texto e textualidade, poder-se-ia dizer, em princípio, que a

unidade textual se constrói, no aspecto sociocomunicativo, através dos fatores pragmáticos

(intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade); no aspecto

semântico, através da coerência; e, no aspecto formal, através da coesão.

É possível, no entanto, repensar esse arranjo, se se considerar que a informatividade e a

intertextualidade dizem respeito, também, à matéria conceitual do discurso, na medida em que

lidam com conhecimentos partilhados pelos interlocutores. Ao mesmo tempo que contribuem para a

1 Para maior aprofundamento, ver Koch (1986) e Guimarães (1986).

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eficiência pragmática do texto, conferindo-lhe interesse e relevância, esses dois fatores também se

colocam como constitutivos da unidade lógico-semântico-cognitiva do discurso, ao lado da

coerência. Assim, poder-se-ia situá-los a cavaleiro, parte no plano sociocomunicativo, parte no

plano semântico-conceitual. Foi dessa maneira que os considerei neste trabalho.

5 Coesão e Coerência – Devem - se distinguir ?

As noções de coesão e coerência costumam ser abordadas pelo campo da linguística como

fatores que garantem a textualidade, aquilo que diferencia um texto de uma mera sequência de

palavras. A distinção entre os dois conceitos não é unânime na área há um intenso debate sobre as

inter-relações que conectam esses dois termos, havendo inclusive quem defenda se tratar de um só

fator da textualidade.

Há autores que distinguem dois níveis de análise, correspondendo a coesão e coerência,

embora a terminologia possa ser diferente; outros não distinguem e outros ou fazem referência a

apenas um desses fenômenos ou estudam vários de seus aspectos sem qualquer rotulação .

A coesão e a coerência textuais constituem níveis diferentes de análise. Isso porque pode

haver um sequenciamento coesivo de fatos isolados que não têm condição de formar um texto. Por

outro lado, também pode poder haver textos destituídos de coesão mas cuja textualidade se dá no

âmbito da coerência.

A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante de uma língua, quando não se

encontra nenhum sentido lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito. É a

competência linguística, tomada em sentido amplo, que permite a esse falante reconhecer de

imediato a coerência de um discurso. A competência linguística combina-se com a competência

textual para possibilitar certas operações simples ou complexas da escrita literária ou não literária:

um resumo, uma paráfrase, uma dissertação a partir de um tema dado, um comentário a um texto

literário, etc.

O sistema linguístico está organizado em três niveis: O semântico, o léxico – gramatical, e o

fonológico – ortográfico. Os significados estão codificados como formas e realizadas como

expressões, porém a coesão é obtida através da gramática e parcialmente através do léxico.

5.1 Os Elementos de Transição – Conectivos

A manutenção do tema em uma redação é fundamental para a progressão textual. O

conhecimento de certos termos de transição - conhecidos como conectivos - ajudam a fazer esta

progressão de forma clara, coesa e coerente. Entretanto, há um meio termo para o uso destes

articuladores: não se deve iniciar cada frase com um, mas também não se deve ignorá-los. O redator

deve ter bom senso para perceber quando é necessário usá-los e estabelecer as relações textuais,

sem deixar o texto cansativo – ou seja, exige certa sutileza que só com leitura e treino se adquire. E

lembre-se de que não se escreve um texto bem articulado e uno sem os termos de transição.

Nesse sentido, considera-se que é fundamental saber a ideia que cada um destes conectores

quer passar, visando a utilização adequada. Alguns são para somar uma informação, outros para dar

ênfase, outros são para opor ideias e assim por diante. Abaixo, segue uma lista de alguns destes

termos e suas respectivas funções:

1. ADIÇÃO: e, nem, também, não só... mas também.

2. AFETIVIDADE: felizmente, pudera, ainda bem (que).

3. AFIRMAÇÃO: certamente, com certeza, indubitavelmente, de fato, por certo.

4. ALTERNÂNCIA: ou... ou, quer...quer, seja...seja.

5. CAUSA: porque, já que, visto que, graças a, em virtude de, por (+infinito).

6. COMPARAÇÃO: com, assim como.

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7. CONCESSIVO: mesmo que, ainda que, embora, posto que.

8. CONCLUSÃO: em suma, em síntese, em resumo, logo, portanto, por fim.

9. CONDIÇÃO: se, caso, desde que, a não ser que, a menos que.

10. CONSEQUÊNCIA: com efeito, assim, consequentemente, de modo que, de

sorte que, de forma que, de maneira que.

11. CONTINUIDADE: além de, ainda por cima, bem como, outrossim, também;

12. DÚVIDA: talvez, provavelmente.

13. ÊNFASE: até, até mesmo, no mínimo, no máximo, só.

14. EXCLUSÃO: apenas, exceto, menos, salvo, só, somente, senão.

15. EXPLICAÇÃO: a saber, isto é, por exemplo, pois, porque, porquanto, ou seja.

16. FINALIDADE: para que, afim de que, para (+ infinito).

17. INCLUSÃO: inclusive, também, mesmo, até.

18. OPOSIÇÃO: mas, porém, contudo, entretanto, todavia, mesmo que, apesar de

(+infinito), pelo contrário, ao contrário, diversamente.

19. PRIORIDADE: inicialmente, antes de tudo, acima de tudo, em primeiro lugar.

20. PROPORÇÃO: à medida que, à proporção que, quanto mais, quanto menos.

21. RESTRIÇÃO: apenas, só, somente, unicamente.

22. RETIFICAÇÃO: aliás, ou melhor, digo, retificando.

23. TEMPO: antes, depois, já, posteriormente, quando, logo que, assim que, toda

vez que, enquanto.

OBS: Não é demais lembrar que o contexto onde estiver o texto é que reservará a noção que

se quer dar ao mesmo. A expressão das ideias, portanto, do pensamento, é que irá determinar quais

os elementos mais indicados e que devem ser utilizados para que de fato seja transmitida uma

mensagem clara.

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:

Pesquise um texto, relacionado à sua área de estudo. Após a definição

do texto, leia-o atentamente, destacando os elementos de coesão textual.

Após destacá-los, classifique-os.

5.2 Como analisar a coesão

Para sistematizar o conceito de coesão Halliday e Hasan (1976) propõem a distinção dos

mecanismos coesivos em cinco categorias, divididas de acordo com o modo como os itens lexicais

e gramaticais relacionam-se com o texto e no texto: referência, Substituição, elipse, conjunção e

coesão lexical.

Para se obter a coesão, é importante a escolha de conectivo adequado para expressar as

diversas relações semânticas, o mesmo conectivo pode expressar relações semânticas diferentes,

pois é preciso saber reconhecê-las. Embora a omissão de conectivos, será admissível, quando a

relação semântica estiver bem clara para evitar ambiguidade (a não ser que seja intencional).

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17

Os mecanismos de coesão introduzem os argumentos e organizam sua retomada na

sequência do texto: são realizados por um subconjunto de unidades que chamarmos de anáforas

esse procedimento concorrem, portanto, sobretudo para a produção de um efeito de estabilidade e

de continuidade.

A coesão relaciona-se com o modo como os componentes do universo textual conectam-se

numa relação de dependência para a formação de urna sequência linear. Em outras palavras, a

coesão diz respeito aos processos de sequêncialização que asseguram urna ligação linguística entre

os elementos da superfície textual.

5.3 Coesão Referencial

Pode ser caracterizada pela alta repetição do texto falado e é perceptível com facilidade isso

acontece para facilitar o sentido da fala.

Certos itens na língua que tem função de estabelecer referência, ou seja, não são

interpretados semanticamente por um sentido próprio, mas referem-se a alguma coisa necessária a

sua interpretação.

O leitor/alocutário relaciona determinado signo a um objeto tal como ele percebe dentro da

cultura em que vive. A coesão referencial pode ser obtida por substituição e por reiteração.

A proforma (elemento gramatical representante de uma categoria), ligada na substituição,

podem ser pronominais, verbais, adverbiais, numerais e exercem função de pró – sintagma, pró –

constituinte, ou pró – oração.

Analisando a reiteração que se baseia na repetição de expressões no texto, ou a recorrência

de termos, produz o que se chama de coesão sequencial parafrástica. Nessa repetição, um novo

sentido vai sendo impresso à palavra que está sendo repetida. Não é, portanto, uma repetição pura e

simples, mas adquire um novo significado, pois vai contribuindo para intensificar os diferentes

efeitos.

Manifesta-se também através da anáfora (algo que será dito posteriormente)

E também o estabelecimento das referências pode se dar tanto pela referência endofórica

(entre elementos do próprio texto) como pela referência exofórica (entre elementos do texto e

outros dados da realidade exterior – situação).

Podemos então citar alguns exemplos:

Carla e André namoram há um ano. Eles se conheceram no segundo colegial (endofórica).

Você se arrependerá por não ter feito aquela prova anterior (exóforica).

5.4 Coesão Recorrencial

Caracteriza-se pela repetição de algum tipo de elemento anterior que não funciona, a

exemplo do caso da coesão referencial, como uma alusão ao mesmo referente, mas como uma

―recordação‖ de um mesmo padrão. Ela pode aparecer de várias formas:

a) A recorrência de termos: Rosa falava, falava, falava...

b) O paralelismo, que consiste na recorrência da mesma estrutura sintática: Pão no

forno, água na garrafa e fruta na geladeira não alimentam.

c) A paráfrase, que se refere à recorrência de conteúdos semânticos, marcada por

expressões introdutórias como, isto é: Ela não compareceu, ou seja, sumiu.

d) Recursos fonológicos, ou sons, caso da rima: A bola não ficou triste, a bola alegre

resiste.

5.5 Coesão Sequencial

É estabelecida por elementos que fazem o texto progredir, a partir da conexão por eles

operacionalizada. Esses elementos são os conectivos, termos que estabelecem uma relação

semântica a partir do sentido que expressam. Esse tipo de mecanismo de coesão se refere ao

desenvolvimento textual propriamente dito, ora por procedimentos de manutenção temática, com o

emprego no mesmo campo semântico, ora por meio de processos de progressão temática.

A progressão temática pode realizar-se por meio da satisfação de compromissos textuais

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anteriores ou por meio de novos acréscimos ao texto.

5.5.1 Sequenciação por conexão

Está interdependência semântica ou programática é expressa por operadores do tipo lógico,

operadores discursivos e pausas.

Os operadores do tipo lógico podem estabelecer relações de:

Disjunção, Condicionalidade, Causalidade, Mediação, complementação, e restrição ou

delimitação.

Já os operadores do discurso, podem ser, por exemplo, de: Conjunção, Disjunção,

contrajunção, conclusão, explicação e comparação.

Atividades coesão textual

1. Nestas questões, apresentamos alguns segmentos de discurso separados por ponto final. Retire o

ponto final e estabeleça entre eles o tipo de relação que lhe parecer compatível, usando para isso os

elementos de coesão adequados.

a) O solo do Nordeste é muito seco e aparentemente árido. Quando caem as chuvas, imediatamente

brota a vegetação.

b) Uma seca desoladora assolou a região Sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimento e os

preços vão disparar.

c) Inverta a posição dos segmentos contidos na questão 2 e use o conectivo apropriado:

Vai faltar alimento e os preços vão disparar. Uma seca desoladora assolou a região sul, principal

celeiro do país.

d) O trânsito em São Paulo ficou completamente paralisado dia 15, das 14 às 18 horas. Fortíssimas

chuvas inundaram a cidade.

2. Estas questões apresentam problemas de coesão por causa do mau uso do conectivo, isto é, da

palavra que estabelece a conexão. A palavra ou expressão conectiva inadequada vem em destaque.

Procure descobrir a razão dessa impropriedade de uso e substituir a forma errada pela correta.

a) Em São Paulo já não chove há mais de dois meses, apesar de que já se pense em racionamento de

água e energia elétrica.

b) As pessoas caminham pelas ruas, despreocupadas, como se não existisse perigo algum, mas o

policial continua folgadamente tomando o seu café no bar.

c) Talvez seja adiado o jogo entre Botafogo e Flamengo, pois o estado do gramado do Maracanã

não é dos piores.

d) Uma boa parte das crianças mora muito longe, vai à escola, com fome, onde ocorre o grande

número de desistências.

3. Os parágrafos apresentados a seguir têm problemas estruturais devido à falta de coesão entre as

orações que os constituem. Procure reescrevê-los fazendo apenas as alterações necessárias para

eliminar os problemas identificados.

a) Embora ele seja conhecido por todos e apesar de conviverem com João há dez anos ninguém

sabe se ele gosta de futebol.

b) Depois que surgiu a internet, a impressão que se tem é de que o mundo diminuiu de tamanho,

não no sentido literal, apenas porque as distâncias parecem não existir mais.

c) Fiquei decepcionado com os resultados do jogo e quando meu irmão me disse que eu não iria

poder sair com ele aquela noite.

d) Escutamos uma pessoa forçando a janela da sala e um barulho.

4. Na elaboração dos períodos, a mesma palavra foi utilizada várias vezes. Reescreva-os utilizando-

se de outros mecanismos coesivos que não seja a repetição.

a) Eu falei com ele que você não queria que os pintores ficassem trabalhando o dia todo porque eles

não sabem que o silêncio é indispensável para que você possa se concentrar e trabalhar.

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b) Muitos alunos confessaram que não haviam estudado a matéria que caiu na prova de Matemática

que foi marcada para aquele dia pelo professor que a elaborou.

c) Pediram que eu devolvesse o filme que me foi emprestado pela biblioteca da escola no fim do

bimestre que passou para que ele pudesse ser emprestado a outro aluno.

6 Reformulando a noção de coerência

É a harmonia das informações. É ligar as ideias de forma linear e sequencial de modo à

formar um texto equilibrado. Portanto:

Coloque apenas as ideias que interessam;

Selecione os tópicos mais importantes e procure detalhá-los;

A coerência é o oposto da imprecisão e das ideias soltas, sem qualquer ligação entre

elas.

A palavra chave da coerência é lógica. À clareza, à concisão e à coerência acrescenta-se mais três elementos de suma importância

para a comunicação escrita: musicalidade, leitura e elegância.

Os fatores de coesão são os que dão conta da estruturação da sequência superficial do texto,

e os de coerência, os que dão conta do processo do texto, emitindo uma análise mais profunda do

mesmo.

Deste modo, um texto não é em si, coerente ou incoerente, ele é o objetivo principal para um

leitor/alocutário numa determinada situação, pois sabemos que texto exige um pouco de

conhecimento e modernismo.

A coerência opera dois níveis de aquisição de conhecimentos: razão e experiência. Nela

distingue-se dois tipos de conhecimento: o declarativo e o procedimental.

Conhecimento declarativo: é aquele dado por sentenças e preposições, que organizam os

conhecimentos a respeito de situações, eventos e fatos do mundo real e entre as quais se

estabelecem relações do tipo lógico como de generalização, especificação, causalidade etc.

Conhecimento procedimental: é aquele dado pelos fatos ou convicções num determinado

formato, para um uso determinado. Tal conhecimento, armazenado na memória episódica através de

determinados modelos globais, é culturalmente construído através da experiência e trazido na

memória ativa.

Esses conhecimentos determinam a produção de sentido e consequentemente a coerência, e

estão armazenados na memória em estruturas cognitivas:

6.1 As estruturas Cognitivas

Trata-se de uma constelação de conhecimentos armazenados, na memória semântica e na

memória episódica, em unidades consistentes, porém não monolíticas ou estanques. Embora não

exaustiva dos conceitos, distingue-se como primários e secundários.

As estruturas cognitivas mudam através dos processos de adaptação: assimilação e

acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas

existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para

compreender o meio. O desenvolvimento cognitivo consiste de um esforço constante para se

adaptar ao meio em termos de assimilação e acomodação.

6.1.1 modelos cognitivos globais

Entre os modelos cognitivos globais, os frames funcionam como um tipo básico auxiliar na

compreensão de textos. São modelos globais que contêm o conhecimento do senso comum sobre

um conceito central, por exemplo: Natal, viagem aérea, estabelecem quais as coisas que, em

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20

princípio, são componentes de um todo, mas não estabelecem entre eles uma ordem ou sequência

(lógica ou temporal).

A teoria dos frames foi proposta por Minsky,dentro de uma perspectiva cognitiva, e como o

próprio titulo da obra o indica, trata-se de um mecanismo de armazenagem de conhecimento por

computadores, ou seja, como representar o conhecimento na linguagem artificial de forma que se

aproxime da linguagem natural .

Atividades Coerência

EMBALADA (autor desconhecido)

Oi que lá vinha pelo rio uma pedra boiano

em riba dessa pedra, três navegador

um deles era cego, nada enxergando

o outro não tinha braço, pois o trem cortou,

mas deles o terceiro era o mais sem-vergonha,

pois estava nuzinho como Deus criou

eis que chegando adiante o cego num berreiro

olhando para o fundo, "olha um tostão" gritou

e ouvindo isso o tal que era aleijado

metendo a mão no fundo o tostão apanhou

e o tal que estava nu tendo o tostão tomado

mais que ligeirinho no bolso guardou...

EXERCÍCIOS

01. No poema popular há 4 erros de coerência. Encontre-os:

a)..................................................................................................

b)..................................................................................................

c)..................................................................................................

d)..................................................................................................

02.Há também 3 erros de coesão. Encontre-os:

a)...................................................................................................

b)...................................................................................................

c)...................................................................................................

03.Dizer se há erro de coerência ou coesão nas orações abaixo:

a) Uma seca desoladora assolou a região sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimentos e os

preços vão disparar. (...............................................)

b) Paulo comprou um carro. O freio esta pifado. Assim que ele desceu a serra de São Vicente, um

boi atravessou a estrada e ele teve que dar uma freada brusca (.......................)

c) Carlos ganha um salário mínimo por mês. Como dia 15 de outubro foi o seu aniversário, ele deu

uma grande festa a seus amigos e gastou todo o salário do mês, ou seja, 900 reais. (..........)

d) A partir do mês de agosto os Estados Nordestinos vão exportar maçãs para a Argentina.

(..........................................)

04.Dizer se há erro de coesão ou coerência:

a) Como Joana não sabia ler, comprou um livro (Erro de coerência)

b) Paulo falou a verdade, ninguém acreditou (Erro de coesão)

c) O acidente foi provocado pelo cego que dirigia (..................................)

Page 21: Linguagem e Tecnologia - Apostila-bio

21

d) O rapaz comeu um bolo, ficou doente (................................)

e) Cheguei lá já era tarde (....................................)

f) Vamos o sul hoje (...................................)

g) Entrei saí logo (......................................)

h) Deus fez o mundo em um dia e descansou sete (.......................................)

i) Falei a verdade ele não entendeu (.................................................)

j) Mário pegou um avião e foi resolver um problema em São Paulo. Como a estrada estava muito

ruim, Mário começou a sentir-se mal.(...........................................)

m) Pedro precisa de dinheiro tem muitos filhos criar (..............................................)

n) Jonas não tem dinheiro comprou uma fazenda com mil cabeças de gado e começou a exportar

computadores. (.................................................)

o) Macela estava grávida. Sentindo-se muito mal o marido foi internado rapidamente e teve um

robusto filho.(..........................................)

p) Carlos não estuda, tira notas boas na escola (........................................)

q) Cheguei, todos tinham saído (................................................)

r) Como é fresquinho o continente africano. No Saara o rio Nilo corre suavemente. (................)

s) Como Carlos não tinha caneta começou a escrever um belo poema (....................................)

t) Um grupo de alunos chegou e começaram o trabalho (................................)

u) Quando José morreu, convidei todos os meus amigos e fomos lá comemorar a sua partida.

(..................................................)

7 O Parágrafo

Ninguém chega à escrita sem antes ter passado pela leitura. Mas leitura aqui não significa

somente a capacidade de juntar letras, palavras, frases. Ler é muito mais que isso. É compreender a

forma como está tecido o texto. Ultrapassar sua superfície e aferir da leitura seu sentido maior, que

muitas vezes passa despercebido a uma grande maioria de leitores. Só uma relação mais estreita do

leitor com o texto lhe dará esse sentido. Ler bem exige tanta habilidade quanto escrever bem.

Leitura e escrita complementam-se. Lendo textos bem estruturados, podemos apreender os

procedimentos linguísticos necessários a uma boa redação.

Numa primeira leitura, temos sempre uma noção muito vaga do que o autor quis dizer. Uma

leitura bem feita é aquela capaz de depreender de um texto ou de um livro a informação essencial.

Tudo deve ajustar-se a elas de forma precisa. A tarefa do leitor é detectá-las, a fim de realizar uma

leitura capaz de dar conta da totalidade do texto.

Por adquirir tal importância na arquitetura textual, as palavras-chave normalmente aparecem

ao longo de todo o texto das mais variadas formas: repetidas, modificadas, retomadas por

sinônimos. Elas pavimentam o caminho da leitura, levando-nos a compreender melhor o texto.

Além disso, fornecer a pista para uma leitura reconstrutiva porque nos levam à essência da

informação.

Após encontrar as palavras-chave de um texto, devemos tentar reescrevê-lo, tomando-as como

base. Elas constituem seu esqueleto.

Muitas vezes temos dificuldades para chegar à síntese de um texto só pelas palavras-chave.

Quando isso acontece, a melhor solução é buscar suas ideias-chave. Para tanto é necessário

sintetizar a ideia de cada parágrafo. Um parágrafo padrão inicia-se por uma introdução em que se encontra a ideia principal

desenvolvida em mais períodos. Segundo a lição de Othon M. Garcia em sua Comunicação em prosa

moderna (p. 192), denomina-se tópico frasal essa introdução. Depois dela, vem o desenvolvimento e

pode haver a conclusão. Um texto de parágrafo:

“Em todos os níveis de sua manifestação, a vida requer certas condições dinâmicas

Page 22: Linguagem e Tecnologia - Apostila-bio

22

, que atestam a dependência mútua dos seres vivos. Necessidades associadas à alimentação,

ao crescimento, à reprodução ou a outros processos biológicos criam, com frequência, relações

que fazem do bem-estar, da segurança e da sobrevivência dos indivíduos matérias de interesse

coletivo”.

FERNANDES, Florestan. Elementos de sociologia teórica 2. ed. São Paulo: Nacional, 1974, p. 35.

Neste parágrafo, o tópico frasal é o primeiro período (Em .... vivos). Segue-se o desenvolvimento

especificando o que é dito na introdução. Se o tópico frasal é uma generalização, e o desenvolvimento constitui-se de especificações, o

parágrafo é, então, a expressão de um raciocínio dedutivo. Vai do geral para o particular: Todos devem

colaborar no combate às drogas. Você não pode se omitir. Se não há tópico frasal no início do parágrafo e a síntese está na conclusão, então o método é

indutivo, ou seja, vai do particular para o geral, dos exemplos para a regra: João pesquisou, o grupo

discutiu, Lea redigiu. Todos colaborando, o trabalho é bem feito.

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23

Noções de Parágrafo (Comunicação e Socialização)

Lembre-se o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, seus amigos. A

comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, através

do qual aprendeu a ser ―membro‖ de sua sociedade – de sua família, de seu grupo de amigos, de sua

vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua ―cultura‖, isto é, os modos de pensamento e

de ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por ―instrução‖, pelo menos

antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade

e o que pensa e sente a sua cultura. Isso aconteceu indiretamente, pela experiência acumulada de

numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com

diversas pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que ―convinha‖.

Tudo isso foi possível graças à comunicação. Não foram os professores na escola que lhe ensinaram

sua cultura: foi a comunicação diária com os pais, irmãos e/ou amigos, na casa, na rua, nas lojas, no

ônibus, no jogo, no botequim, na igreja, que lhe transmitiu as qualidades essenciais da sociedade e a

natureza do ser social.

Contrariamente ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais do que os meios de

comunicação social. Esses meios são tão poderosos e importantes na vida atual, que as vezes se

esquece que eles representam apenas uma mínima parte da comunicação total.

Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer realiza

desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de

comunicação é simplesmente inacreditável, desde o ―bom-dia‖ à sua mulher, acompanhado ou não

por um beijo, passando pela leitura do jornal, à decodificação de números e cores dos ônibus, que o

leva ao trabalho. O pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os

cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões

e entrevistas. A visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo

durante o almoço, a escolha do prato do menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de

televisão, o diálogo amoroso com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia

cheio dela: ―boa-noite‖.

A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Somente se percebe a sua essencial

importância quando, por um incidente ou uma doença, se perde a capacidade de se comunicar. A

comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social. (Texto de Juan Díaz Bordenave)

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:

Analisando o texto acima ―Comunicação e socialização‖ observe que no primeiro

parágrafo, o desenvolvimento segue três etapas:

a) uma introdução, que vai de ―Lembre-se o leitor...‖ até ―... de sua nação‖. É o ponto em que o

autor apresenta o assunto: a aquisição da cultura via comunicação.

b) um desenvolvimento, que vai de ―Foi assim que...‖ até ―... para o que ‗convinha‘‖. Nessa

altura, o autor expõe como o cotidiano comunicativo forma o ser social.

c) uma conclusão, que vai de ―Tudo isso foi possível...‖ até o final. O autor explicita sua

colocação: é a comunicação cotidiana que transmite à criança os valores sociais.

Prezado estudante, considera-se que o desenvolvimento desse parágrafo pode servir de

modelo para muitos dos seus próprios parágrafos. Note como a sequência lógica

introdução/desenvolvimento/conclusão permite uma exposição clara e precisa dos aspectos

discutidos. Nesse sentido, a sua tarefa é: Elabore um parágrafo, devidamente estruturado, conforme

orientações acima. O tema é: ―A importância da leitura e da escrita‖.

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24

7.1 A PARAGRAFAÇÃO NO/DO TEXTO DISSERTATIVO

(Partes deste capítulo foram adaptados/tirados de PACHECO, Agnelo C. A dissertação. São Paulo:

Atual, 1993 e de SOBRAL, João Jonas Veiga. Redação: Escrevendo com prática. São Paulo: Iglu,

1997)

O texto dissertativo é o tipo de texto que expõe uma tese (ideias gerais sobre um

assunto/tema) seguida de um ponto de vista, apoiada em argumentos, dados e fatos que a

comprovem.

―A leitura auxilia o desenvolvimento da escrita, pois, lendo, o indivíduo tem contato com

modelos de textos bem redigidos que, ao longo do tempo, farão parte de sua bagagem

lingideiaística; e também porque entrará em contato com vários pontos de vista de intelectuais

diversos, ampliando, dessa forma, sua própria visão em relação aos assuntos. Como a produção

escrita se baseia praticamente na exposição de ideias por meio de palavras, certamente aquele que lê

desenvolverá sua habilidade devido ao enriquecimento linguístico adquirido através da leitura de

bons autores.‖

No texto acima temos uma ideia defendida pelo autor:

TESE/TÓPICO FRASAL: ―A leitura auxilia o desenvolvimento da escrita.‖Em seguida o autor

defende seu ponto de vista com os seguintes argumentos:

ARGUMENTOS:

(1)―...lendo o indivíduo tem contato com modelos de textos bem redigidos

que ao longo do tempo farão parte de sua bagagem linguística e, também, porque entrará em

contato com vários pontos de vista de intelectuais diversos, ampliando, dessa forma, a sua própria

visão em relação aos assuntos.‖

E por fim, comprovada a sua tese, veja que a ideia desta é recuperada:

CONCLUSÃO: ―Como a produção escrita se baseia praticamente na exposição de ideias por meio

de palavras, certamente aquele que lê desenvolverá sua habilidade devido ao enriquecimento

linguístico adquirido através da leitura de bons autores.‖

Observe como o texto dissertativo tem por objetivo expressar um determinado ponto de

vista em relação a um assunto qualquer e convencer o leitor de que este ponto de vista está correto.

Poderíamos afirmar que o texto dissertativo é um exercício de cidadania, pois nele o indivíduo

exerce seu papel de cidadão, questionando valores, reivindicando algo, expondo pontos de vista,

etc.

Pode-se dizer que:

A paragrafação com tópico frasal seguido pelo desenvolvimento é uma forma de organizar o raciocínio e

a exposição das ideias de maneira clara e facilmente compreensível. Quando se tem um plano em que os tópicos

principais foram selecionados e dispostos de modo a haver transição harmoniosa de um para outro, é fácil redigir.

O TÓPICO FRASAL DO PARÁGRAFO: geralmente vem no começo do parágrafo, seguida de

outros períodos que explicam ou detalham a ideia central e podem ou não concluir a ideia deste

parágrafo.

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25

O DESENVOLVIMENTO DO PARÁGRAFO: é a explanação da ideia exposta no tópico frasal.

Devemos desenvolver nossas ideias de maneira clara e convincente, utilizando argumentos e/ou

ideias sempre tendo em vista a forma como iniciamos o parágrafo.

A CONCLUSÃO DO PARÁGRAFO encerra o desenvolvimento, completa a discussão do assunto

(opcional)

7.2 FORMAS DISCURSIVAS DO PARÁGRAFO

A) DESCRITIVO: a matéria da descrição é o objeto. Não há personagens em movimento (atemporal).

O autor/produtor deve apresentar o objeto, pessoa, paisagem etc, de tal forma que o leitor consiga

distinguir o ser descrito.

B) NARRATIVO: a matéria da narração é o fato. Uma maneira eficiente de organizá-lo é

respondendo à seis perguntas: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?

C) DISSERTATIVO: a matéria da dissertação é a análise (discussão).

ELABORAÇÃO/ PLANEJAMENTO DE PARÁGRAFOS

a) Ter um assunto

b) Delimitá-lo, traçando um objetivo: o que pretende transmitir?

c) Elaborar o tópico frasal; desenvolvê-lo e concluí-lo

8 O PARÁGRAFO COMO UNIDADE DE COMPOSIÇÃO

8.1 Parágrafo-padrão

O parágrafo é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em

que se desenvolve determinada ideia CENTRAL, ou NUCLEAR, a que se agregam outras,

SECUNDÁRIAS, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.

Trata-se, evidentemente, de uma definição, ou conceito, que a prática nem sempre confirma,

pois, assim como há vários processos de desenvolvimento ou encadeamento de ideias, pode haver

também diferentes tipos de estruturação de parágrafo, tudo dependendo, é claro, da natureza do

assunto e sua complexidade, do gênero de composição, do propósito, das idiossincrasias e

competência (COMPETENCE) do autor, tanto quanto da espécie de leitor a que se destine o texto. De

forma que esse conceito se aplica a um tipo de parágrafo considerado como padrão, e padrão não

apenas no sentido de modelo, de protótipo, que se deva ou que convenha imitar, dada a sua eficácia,

mas também no sentido de ser frequente, ou predominante, na obra de escritores — sobretudo

modernos — de reconhecido mérito. Tal critério nos leva, por conseguinte, a resistir à tentação de...

de... tentar sistematizar o que é assistemático, quer dizer, de procurar características comuns e

constantes em parágrafos carentes de estrutura típica. Isso, todavia, não nos impede de apontar e/ou

comentar exemplos tanto dos que, fugindo à norma, se distinguem pela eficácia dos recursos de

expressão e do desenvolvimento de ideias, quanto dos que, também atípicos — mas atípicos por

serem produto da inexperiência ou do arbítrio inoperante —, denunciam desordem de raciocínio

(incoerências, incongruências, falta de unidade, hiatos lógicos, falta de objetividade e outros

defeitos) e, por isso, revelam-se ineficazes como forma de comunicação.

Page 26: Linguagem e Tecnologia - Apostila-bio

26

8.2 Importância do parágrafo

Indicado materialmente na página impressa ou manuscrita por um ligeiro afastamento da

margem esquerda da folha, o parágrafo facilita ao escritor a tarefa de isolar e depois ajustar

convenientemente as ideias principais da sua composição, permitindo ao leitor acompanhar-lhes o

desenvolvimento nos seus diferentes estágios.

Como unidade de composição "suficientemente ampla para conter um processo completo de

raciocínio e suficientemente curta para nos permitir a análise dos componentes desse processo, na

medida em contribuem para a tarefa da comunicação‖, o parágrafo oferece aos professores

oportunidades didáticas de aproveitamento, em certa medida, mais eficaz do que todo o contexto de

uma composição, pelas razões que apontaremos em tópicos subsequentes.

8.3 Extensão do parágrafo

Tanto quanto sua estrutura, varia também sua extensão: há parágrafos de uma ou duas linhas

como os há de página inteira. E não é apenas o senso de proporção que deve servir de critério para

bitolá-lo, mas também, principalmente, o seu núcleo, a sua ideia central. Ora, se a composição é um

conjunto de ideias associadas, cada parágrafo — em princípio, pelo menos — deve corresponder a

cada uma dessas ideias, tanto quanto elas correspondem às diferentes partes em que o Autor julgou

conveniente dividir o seu assunto.

É, pois, da divisão do assunto que depende, em grande monta, a extensão do parágrafo,

admitindo-se, por evidente, que as ideias mais complexas se possam desdobrar em mais de um

parágrafo.

É verdade, como já assinalamos, que idiossincrasias pessoais nem sempre levam em

consideração esse critério, do que resulta, muitas vezes, uma paragrafação arbitrária: a ideia-núcleo

fragmentada em grupos de linhas que do parágrafo só têm a disposição tipográfica, como se pode

ver no seguinte exemplo:

Consideremos, por ora, apenas as dez primeiras linhas. Trata-se de um trecho descritivo,

Page 27: Linguagem e Tecnologia - Apostila-bio

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passível de nova disposição tipográfica, pois, na realidade, encontramos nele matéria para apenas

um parágrafo e não cinco.

Se o núcleo do parágrafo de dissertação e de argumentação é uma determinada ideia, se o da

narração é um incidente (episódio curto), o da descrição é ou deve ser um quadro, i. e., um

fragmento de paisagem ou ambiente num determinado instante, entrevisto de determinada

perspectiva.

Ora, o núcleo dessas dez linhas é o amanhecer, entrevisto de certa perspectiva; esse é o seu

quadro , a que, em princípio, deveria corresponder um só parágrafo, admitindo-se apenas que a

primeira linha se isolasse das restantes como uma espécie de introdução posta em realce com o

propósito de enunciar, de saída, o aspecto geral da paisagem. Na realidade, "Estávamos em plena

seca" nada mais é do que uma espécie de subtítulo de toda a narrativa, a que o Autor dá o nome de

"O bebedouro‖.

Dando ao trecho essa disposição tipográfica em pequenos blocos, o Autor fracionou o que já

era um fragmento da paisagem, separando das ideias secundárias correlatas a ideia-núcleo de

"amanhecer", cuja característica principal é o cambiar de cores e luzes (crepúsculo fulvo, claridade

de incêndio, pretidão da noite, luz mais viva, assomo de Sol, ausência de nuvens) e o delinear-se

gradativo do perfil da paisagem (contorno da floresta, silhueta das montanhas, ramaria seca das

árvores).

Entretanto, as linhas 11, 12 e 13 correspondem realmente a um parágrafo, pois seu núcleo já

não é o amanhecer, mas a "floresta despida", focalizada mais de perto, com outra perspectiva. Se,

nas dez linhas iniciais, o que o Autor pretendeu realçar foi a impressão visual da paisagem, a sua

intenção nas três seguintes foi traduzir-lhe a repercussão emotiva: "a floresta completamente

despida... era de uma eloquência trágica‖.

As restantes (14 a 19) deveriam por sua vez agrupar-se num só parágrafo: seu quadro ainda

é o amanhecer, mas o propósito do Autor é, agora, traduzir não as impressões visuais e sim as

predominantemente auditivas (trinado, zumbir, silêncio, gemidos, crocitar).

Estamos vendo assim que não é apenas o núcleo (no caso da descrição, o quadro) que

justifica a paragrafação, mas também a perspectiva em que se coloca o Autor e a prevalência das

impressões (visual, no primeiro parágrafo; auditiva, no último, de acordo com a estruturação que

estamos propondo).

Em certos casos específicos, a brevidade do parágrafo decorre da própria natureza do

assunto. É o que acontece nos diálogos, nas cartas comerciais, nos sumários, conclusões, instruções

ou recomendações (parágrafos geralmente numerados), na redação oficial de um modo geral

(ofícios, avisos, editais, etc.) e nos propriamente ditos parágrafos, itens e alíneas de leis e decretos.

8.4 Tópico frasal

Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais eficaz — o que

justifica seja ensinado aos principiantes —, consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de duas

e, ocasionalmente, de três partes: a introdução , representada na maioria dos casos por um ou dois

períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo (é o que

passaremos a chamar daqui por diante de Tópico frasal), o desenvolvimento, isto é, explanação

mesma dessa ideia-núcleo; e a conclusão , mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou

naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.

Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal encerra de

modo geral e conciso a ideia-núcleo do parágrafo. E, como vimos em 2. Voe, 2.0 uma generalização

, em que se expressa opinião pessoal, um juízo, se define ou se declara alguma coisa. É certo que

nem todo parágrafo apresenta essa característica: algumas vezes a ideia-núcleo está como que

diluída nele ou já expressa num dos precedentes, sendo apenas evocada por palavras de referência

(certos pronomes) e partículas de transição (ver 4.4.4). Mas a maioria deles é assim construída.

Pesquisa que fizemos em muitas centenas de parágrafos de inúmeros autores permite-nos afirmar

com certa segurança que mais de 60% deles apresentam tópico frasal inicial. Essa proporção vem

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28

sendo ainda confirmada praticamente todos os dias em nossas aulas, principalmente particulares,

quando damos como exercício aos nossos alunos a tarefa de estudar a estrutura de parágrafos por

eles mesmos escolhidos nas mais variadas fontes (livros, editoriais da imprensa diária, artigos de

revista).

É provável que tal estrutura, predominante também em muitas línguas modernas, todas indo-

europeias, todas marcadas pela herança greco-latina, decorra de um processo de raciocínio

dedutivo. De fato, que é o tópico frasal, quando inicial, se não uma generalização a que se seguem

as especificações contidas no desenvolvimento? esse modo de assim expor ou explanar ideias é, em

essência, o método dedutivo: do geral para o particular . Quando o tópico frasal vem no fim do

parágrafo — e neste caso é, realmente, a sua conclusão —, precedido pelas especificações, o

método é essencialmente indutivo: do particular para o geral.

Se a maioria dos parágrafos apresenta essa estrutura, é natural que a tomemos como padrão

para ensiná-la aos nossos alunos. Assim fazendo, haveremos de verificar que o tópico frasal

constitui um meio muito eficaz de expor ou explanar ideias. Enunciando logo de saída a ideia-

núcleo, o tópico frasal garante de antemão a objetividade, a coerência e a unidade do parágrafo,

definindo-lhe o propósito e evitando digressões impertinentes. É isso que se vê no seguinte exemplo

de Gilberto Amado: O Brasil é a primeira grande experiência que faz na história moderna a espécie humana

para criar um grande país independente, dirigindo-se por si mesmo, debaixo dos trópicos.

Somos os iniciadores, os ensaiadores, os experimentadores de uma das mais amplas,

profundas e graves empresas que ainda se acharam em mãos da humanidade. Os

navegadores das descobertas que chegaram até nós impelidos pela vibração matinal da

Renascença, cumpriram um feito que terminava com o triunfo na luz da própria glória; belo

era o país que descobriam, opulenta a terra que pisavam, maravilhoso o mundo que em

redor se desdobrava; podiam voltar, contentes, que tudo para eles se cumprira. (Três livros,

p. 332)

O primeiro período — grifado, aliás, pelo próprio Autor, com a intenção de mostrar que se

trata de ideia central do parágrafo — constitui o tópico frasal, que traduz uma declaração sobre o

Brasil como país independente. O rumo das ideias a serem desenvolvidas já está aí traçado:

seria desconcertante se o Autor não explanasse, justificando, fundamentando , nas linhas

seguintes, o que anunciou nas três primeiras. O seu propósito já está definido. Se o Autor julgasse

oportuno fazer digressões, o próprio tópico frasal o controlaria, impedindo-o de ultrapassar certos

limites, além dos quais elas se tornariam descabidas, e forçando-o a voltar antes do fim ao mesmo

rumo de ideias que tomara no princípio.

Na hipótese de o trabalho ter sido composto à base de um plano ou esquema, mais ou menos

minucioso, pode o conteúdo do parágrafo já estar aí previsto como um dos seus itens, até mesmo na

sua forma definitiva de tópico frasal, se não for muito extenso. Assim sendo, na redação final,

poderá o autor limitar-se a desenvolver cada um desses itens do seu plano, com o que estará

garantida a coerência entre as diferentes partes da composição. Demais, a presença do tópico

facilita o resumo ou sumário, bastando para isso destacá-lo de cada parágrafo.

Por isso tudo, principalmente por ser um excelente meio de disciplinar o raciocínio,

recomenda-se aos principiantes que se empenhem em seguir esse método de paragrafação, até que

maior desenvoltura e experiência na arte de escrever lhes deixem maior liberdade de ação.

8.4.1 Diferentes feições do tópico frasal

Admitindo-se como recomendável essa técnica de iniciar o parágrafo com o tópico frasal,

resta-nos mostrar algumas das suas feições mais comuns. Há vários artifícios, que a leitura dos bons

autores — contemporâneos de preferência — nos pode ensinar. Conhecê-los talvez contribua para

abreviar aqueles momentos de indecisão que precedem o ato de redigir as primeiras linhas de um

parágrafo, pois, com frequência, o estudante não sabe como começar. Ora, o tópico frasal lhe

facilita a tarefa, porque nele está a síntese do seu pensamento, restando-lhe fundamentá-lo.

a) Declaração inicial — Esta é, parece-nos, a feição mais comum: o autor afirma ou nega

alguma coisa logo de saída para, em seguida, justificar ou fundamentar a asserção,

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29

apresentando argumentos sob a forma de exemplos, confrontos, analogias, razões, restrições

— fatos ou evidência, processos de explanação que veremos a seguir em 2.0. Vivemos numa época de ímpetos. A Vontade, divinizada, afirma sua preponderância, para

desencadear ou encadear; o delírio fascista ou o torpor marxista são expressões pouco

diferentes do mesmo império da vontade. À realidade substituiu-se o dinamismo; à

inteligência substituiu-se o gesto e o grito; e na mesma linha desse dinamismo estão os

amadores de imprecações e os amadores de mordaças (...) (Gustavo Corção, dez anos , p.

84)

O Autor abre o parágrafo com uma declaração sucinta, que, no caso, é uma generalização

("Vivemos numa época de ímpetos"), fundamentando-a a seguir por meio de exemplos e

pormenores (delírio fascista , torpor marxista, império da vontade, dinamismo, gesto e grito ,

imprecações são termos que sugerem a ideia de ímpeto).

As vezes, a declaração inicial aparece sob a forma negativa, seguin-do-se-lhe a contestação

ou a confirmação, como faz Rui Barbosa no trecho abaixo:

b) Definição — Frequentemente o tópico frasal assume a forma de uma definição. E método

preferentemente didático. No exemplo que damos a seguir, a definição é denotativa, L E .,

didática ou científica (ver 5. Ord., 1.3):

Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimentos . Resulta de um conjunto de dotes

externos ou internos, que se fundem num todo harmônico e se manifestam por modalidades

de expressão a que se dá o nome de figuras (Augusto Magne, Princípios..., p. 39).

c) Divisão — Processo também quase que exclusivamente didático, dadas as suas características

de objetividade e clareza, é o que consiste em apresentar o tópico frasal sob a forma de

divisão ou discriminação das ideias a serem desenvolvidas: O silogismo divide-se em silogismo SI MPLES e silogismo composto (isto é, feito de

vários silogismos explícita ou implicitamente formulados). Distinguem-se quatro espécies

de silogismos compostos (...) (Jacques Maritam. Lógica menor, p. 246)

Via de regra, a divisão vem precedida por uma definição, ambas no mesmo parágrafo ou em

parágrafos distintos.

8.5 Outros modos de iniciar o parágrafo

Além do tópico frasal, há outros — na verdade, inúmeros — meios de se iniciar o parágrafo,

pois tudo depende das ideias que inicialmente se imponham ao espírito do escritor, das associações

implícitas ou explicitas, da ordem natural do pensamento e de outros fatores imprevisíveis. Todavia,

alguns deles podem ser devidamente caracterizados, como os seguintes, para servirem de exemplo

aos principiantes, até a posse da autonomia de expressão, até atingirem sua maioridade estilística.

8.5.1 Alusão histórica

Recurso que desperta sempre a curiosidade do leitor é o da alusão a fatos históricos, lendas,

tradições, crendices, anedotas ou a acontecimentos de que o Autor tenha sido participante ou

testemunha. É artifício empregado por oradores — principalmente no exórdio — e por cronistas,

que, com frequência, aproveitam incidentes do cotidiano como assunto não apenas de um parágrafo

mas até de toda a crônica.

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30

No exemplo seguinte, Rui Barbosa tira grande partido da alusão a uma tradição americana

— a do Sino da Liberdade — para tecer considerações sobre a importância da justiça e do poder

judiciário na vida política de um povo:

Conta uma tradição cara ao povo americano que o Sino da Liberdade, cujos sons

anunciaram, em Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos, inopinadamente se fendeu,

estalando, pelo passamento de Marshall. Era uma dessas casualidades eloquentes, em que a

alma ignota das coisas parece lembrar misteriosamente aos homens as grandes verdades

esquecidas (...). (R. B., op. cit., p. 41)

O padre Manuel Bernardes é, entre os clássicos da língua, quem talvez com mais habilidade

e mais frequência se serve desse recurso. Em sua nova floresta, obra cuja leitura é ainda hoje

motivo de prazer, oferece-nos inúmeros e excelentes exemplos, como o seguinte: Orando uma vez Demóstenes em Atenas sobre matérias de importância, e advertido que o

auditório estava pouco atento, introduziu com destreza o conto ou a fábula de um

caminhante que alquilara [alugara] um jumento e, para se defender no descampado da força

da calma [calor], se assentara à sombra dele, e o almocreve [condutor ou proprietário de

bestas de carga para aluguel] o demandara para maior paga, alegando que lhe alugara a

besta mas não a sombra dela. (Nova floresta, "Curiosidade").

Nesse trecho — que vem a calhar pois nele já se reconhece desde Demóstenes o mérito

desse recurso à alusão —, a anedota, além de despertar a curiosidade do leitor, prepara-lhe também

o espírito para o desenvolvimento das ideias que se seguem. Todo o parágrafo constitui uma espécie

de introdução ao capítulo onde o Autor condena o vício da curiosidade e a mania das novidades.

João Ribeiro, em Floresta de exemplos — obra em que, não só pelo título mas também pela

técnica da narrativa, se nota clara influência da Nova floresta — favorece-nos com grande número

de exemplos, muitos de imitar pelos principiantes. A maior parte das suas crónicas-narrativas abre-

se com um parágrafo encabeçado por uma alusão histórica (anedota, lenda ou episódio real ou

imaginário):

Na floresta vizinha de Cenci Assisa, no tempo de São Francisco de Assis, tal foi a

maravilha das prédicas do santo, que os animais, perdendo a ferocidade dos instintos,

abraçavam as leis divinas que governavam o mundo. (Floresta de exemplos, "O novo

Esopo")

Aqui também o Autor usa o parágrafo, todo ele constituído pela alusão, como introdução à

narrativa inspirada na tradicional astúcia da raposa.

8.5.2 Omissão de dados identificadores num texto narrativo

Não encontramos outra expressão menos rebarbativa para designar essa técnica de iniciar

um parágrafo de tal modo que a atenção do leitor se mantenha suspensa durante largo tempo,

técnica que consiste em omitir certos dados necessários a identificar a personagem e apreender a

verdadeira intenção do autor. É um artifício, um truque, em geral eficaz nas mãos de um cronista ou

contista hábil. Veja-se o exemplo: Vai chegar dentro de poucos dias. Grande e boticelesca figura, mas passará despercebida. Não terá fotógrafos à espera, no Galeão. Ninguém, por mais afoito que seja, saberá prestar-

lhe essa homenagem epitelial c difusa, que tanto assustou Ava Gardner. Estará um pouco

por toda parte, e não estará em lugar nenhum. Tem uma varinha mágica, mas as coisas por

aqui não se deixam comover facilmente, ou, na sua rebeldia, se comovem por conta própria,

em horas indevidas, de sorte que não devemos esperar pelas consequências diretas do seu

sortilégio. (Carlos Drummond de Andrade, Fala, amendoeira , p. 121)

O Autor anuncia um fato, de chofre, mas não nos fornece nenhuma indicação clara sobre a

personagem de que se trata, mantendo o leitor na expectativa, não apenas até o fim do parágrafo,

mas até o fim da própria crônica. É processo muito eficaz para prender a atenção, mas exige certa

habilidade, sem a qual o autor acaba tentando, a seu modo, tapar o sol com a peneira ou esconder-se

deixando o rabo de fora.

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31

8.5.3 Interrogação

As vezes, o parágrafo começa com uma interrogação, seguindo-se o desenvolvimento sob a

forma de resposta ou de esclarecimento:

Sabe você o que é manhosando? Bem, eu lhe explico, que você é homem de asfalto,

e esse estranho verbo só se conjuga pelo sertão nordestino.

Talvez o amigo nem tenha tempo para manhosar, ou quem sabe se dorme tanto, que

ignora esse estado de beatitude, situado nos limites do sono e da vigília. O espírito está

recolhido, mas o ouvido anda captando os sons, que não mais interferem, todavia, com a

quietude, com a paz interior. Nesses momentos somos de um universo de sombras, em que

o nosso pensamento flutua livre, imitando aquele primeiro dia de Criação, quando a

vontade de Deus ainda era a única antes de separadas as trevas e a luz. (...). (Dinah Silveira

de Queiroz, "Manhosando" In : Quadrante 2, p. 109)

Como artifício de estilo, a interrogação inicial frequentemente camufla um tópico frasal por

declaração ou por definição, como no exemplo supra. Seu principal propósito é despertar a atenção

e a curiosidade do leitor. Se D.S.Q. tivesse começado com a definição inicial de "manhosando",

grande parte do interesse do parágrafo seguinte estaria prejudicada. Admitamos que dissesse:

"Manhosar é ficar naquele estado de beatitude, situado nos limites do sono e da vigília." Seria uma

definição meio didática, inadequada ao clima da crônica e, além de tudo, insatisfatória, pois,

segundo a Autora, "manhosar" é mais do que a sua simples definição nos pode sugerir. Então, lança

ela mão desse artifício de interrogar primeiro o leitor para ir dando depois as respostas "aos

pouquinhos" a fim de prender-lhe a atenção, espicaçada desde a primeira linha.

8.6 Tópico frasal implícito ou diluído no parágrafo

Conforme já assinalamos em 1.4, a maioria dos parágrafos tidos como padrão (cerca de 60%

deles) se iniciam com uma declaração sumária, declaração de ordem GER AL , seguindo-se as

especificações, os dados particulares , do que resulta uma estrutura que, em linhas gerais, reflete o

processo de raciocínio dedutivo (do geral para o particular; ver 4. Com., 1.5.1 e 1.5.2, e 6. Id.,

1.5.2.1). Quando ocorre o contrário (tópico frasal no fim), o desenvolvimento das ideias segue,

também em linhas gerais, o método indutivo. Mas não são raros os casos em que o tópico frasal está

implícito ou diluído no parágrafo, sendo este, então, constituído apenas pelo desenvolvimento

(detalhes, exemplos, fatos específicos), e constituído de tal forma que se possa deduzir (ou induzir)

claramente a ideia nuclear. E o que se observa no seguinte exemplo: "O Grande São Paulo — isto é, a capital paulista e as cidades que a circundam — já

anda em torno da décima parte da população brasileira. Apesar da alta arrecadação do

município e das obras custosas, que se multiplicam a olhos vistos, apenas um terço da

cidade tem esgotos. Metade da capital paulista serve-se de água proveniente de poços

domiciliares. A rede de hospitais é notoriamente deficiente para a população, ameaçada por

uma taxa de poluição que técnicos internacionais consideram superior à de Chicago. O

trânsito é um tormento, pois o acréscimo de novos veículos supera a capacidade de dar solução de urbanismo ao problema. Em média, o paulista perde três horas do seu dia para ir

e voltar, entre a casa e o trabalho." (De um editorial do Jornal do Brasil.)

A ideia-núcleo desse parágrafo (o tópico frasal nele diluído ou implícito) não é "o Grande

São Paulo... já anda em torno da décima parte da população brasileira", mas a série de fatos que

refletem os seus graves problemas urbanos . Explicitado no início, o tópico frasal poderia assumir a

seguinte feição: "Graves problemas urbanos enfrenta o Grande São Paulo." Posta no fim, essa

declaração viria naturalmente introduzida por uma partícula conclusiva (portanto, assim, por

conseguinte) ou frase de transição equivalente. ("Esses são alguns dos graves problemas urbanos

que enfrenta o Grande São Paulo.")

9 Como desenvolver o parágrafo

Desenvolvimento é a explanação mesma da ideia principal do parágrafo. Há diversos

processos, que variam conforme a natureza do assunto e a finalidade da exposição; mas, qualquer

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que seja ele, a preocupação maior do autor deve ser sempre a de fundamentar de maneira clara e

convincente as ideias que defende ou expõe, servindo-se de recursos costumeiros tais como a

enumeração de detalhes, comparações, analogias, contrastes, aplicação de um princípio, regra ou

teoria, definições precisas, exemplos, ilustrações, apelo ao testemunho autorizado, e outros.

Os exemplos que a seguir comentamos talvez ajudem o estudante a estruturar o seu

parágrafo de maneira mais satisfatória. Mas, advirta-se, nossos ocasionais comentários valem

menos do que os modelos que apresentamos.

9.1 Enumeração ou descrição de detalhes

O desenvolvimento por enumeração ou descrição de detalhes é dos mais comuns. Ocorre de

preferência quando há tópico frasal inicial explícito, como no exemplo já citado de Aluísio Azevedo

(2. Voc., 2.0):

É um parágrafo descritivo bastante bom. Note-se a ideia-núcleo, expressa no tópico frasal

inicial (em itálico) e desenvolvida ou especificada através dos pormenores: as pedras, os lampiões,

as paredes, as folhas, etc. São detalhes que tornam mais viva a generalização "era um dia abafadiço

e aborrecido". (O trecho pode servir de modelo para exercícios do mesmo gênero: basta mudar o

quadro da descrição e seguir o mesmo processo de desenvolvimento.)

9.2 Confronto

Processo muito comum e muito eficaz de desenvolvimento é o que consiste em estabelecer

confronto entre ideias, seres, coisas, fatos ou fenômenos. Suas formas habituais são o contraste

(baseado nas dessemelhanças), e o paralelo (que se assenta nas semelhanças).

A antítese é, de preferência, uma oposição entre ideias isoladas. A analogia, que também faz

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parte dessa classe, baseia-se na semelhança entre ideias ou coisas, procurando explicar o

desconhecido pelo conhecido , o estranho pelo familiar (ver 2.3, a seguir).

Exemplo clássico de desenvolvimento por confronto e contraste é o paralelo que A. F. de

Castilho faz entre Vieira e Bernardes: Lendo-os com atenção, sente-se que Vieira, ainda falando do céu, tinha os olhos nos seus

ouvintes; Bernardes, ainda falando das criaturas, estava absorto no Criador. Vieira vivia

para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo, e Bernardes para a cela, para si, para o

seu coração. Vieira estudava graças a louçainhas de estilo (...); Bernardes era como essas

formosas de seu natural que se não cansam com alinhamentos (...) Vieira fazia a

eloquência; a poesia procurava a Bernardes. Em Vieira morava o gênio; em Bernardes, o amor, que, em sendo verdadeiro, é também gênio (...). (Apud Fausto Barreto e Carlos de

Laet, Antologia nacional , p. 186).

E um parágrafo sem tópico frasal explícito , pois a ideia-núcleo é o próprio confronto entre

Vieira e Bernardes. O Autor poderia iniciar o parágrafo com um tópico frasal mais ou menos nestes

termos: "Vejamos o que distingue Vieira de Bernardes" ou "Muito diferentes (ou muito parecidos)

são Vieira e Bernardes". Mas seria inteiramente supérfluo, pois essa ideia está clara no

desenvolvimento.

Exemplo, também muito conhecido, de parágrafo com desenvolvimento por é o de Rui

Barbosa sobre política e politicalha:

Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a

outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente (tópico frasal). A política é a

arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou

tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de o explorar a benefício de interesses

pessoais. Constitui a política uma função, ou conjunto das funções do organismo nacional:

é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A

politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos

pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente

sadios. A politicalha. a malária dos povos de moralidade estragada. (Apud Luís Vianna Filho, op. c it., p. 32)

Vê-se logo pelo tópico frasal que se trata de um contraste, e não propriamente de um

paralelo ou confronto (como no exemplo de Castilho), pois o que o Autor ressalta entre política e

politicalha é o seu antagonismo e não a sua identidade. Ora, o valor do contraste — de que a

antítese é a figura típica — reside precisamente na sua capacidade de realçar certas ideias, pela

simples oposição a outras, contrárias. (Rever 1. Fr., 1.6.7 a 1.6.7.3.)

9.3 Analogia e comparação

A analogia é uma semelhança parcial que sugere uma semelhança oculta, mais completa. Na

comparação, as semelhanças são reais, sensíveis, expressas numa forma verbal própria, em que

entram normalmente os chamados conectivos de comparação (como, quanto, do que, tal qual),

substituídos, às vezes, por expressões equivalentes (certos verbos como "parecer", "lembrar", "dar

uma ideia", "assemelhar-se": "Esta casa PARE CE um forno, de tão quente que é."). Na analogia, as

semelhanças são apenas imaginárias. Por meio dela, se tenta explicar o desconhecido pelo

conhecido , o que nos é est ranho pelo que nos é familiar ; por isso, tem grande valor didático. Sua

estrutura gramatical inclui com frequência expressões próprias da comparação (como, tal qual,

semelhante a, parecido com, etc. Rever 1. Fr., 1.6.8). Para dar à criança uma ideia do que é o Sol

como fonte de calor, observe-se o processo analógico adotado pelo Autor do seguinte trecho: O Sol é muitíssimo maior do que a Terra, e está ainda tão quente que é como uma enorme

bola incandescente, que inunda o espaço em torno com luz e calor. Nós aqui na Terra não

poderíamos passar muito tempo sem a luz e o calor que nos vêm do Sol, apesar de

sabermos produzir aqui mesmo tanto luz como calor. Realmente podemos acender uma

fogueira para obtermos luz e calor. Mas a madeira que usamos veio de árvores, e as plantas

não podem viver sem luz. Assim, se temos lenha, é porque a luz do Sol tornou possível o

crescimento das florestas. (Oswaldo Frota Pessoa. Iniciação à ciência , p. 35)

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Sol tão quente , que é como uma enorme bola incandescente é, quanto à forma, uma

comparação, mas, em essência, é uma analogia: tenta-se explicar o desconhecido (Sol) pelo

conhecido (bola incandescente), sendo a semelhança apenas parcial (há outras, enormes, diferenças

entre o Sol e uma bola de fogo).

No trecho seguinte, o Autor torna mais clara a ideia de "paixão da verdade", estabelecendo

uma analogia com a de "cachoeiras da serra":

O tópico frasal (primeiro período) assume a forma gramatical de uma comparação, mas o

desenvolvimento se faz por analogia. Na primeira parte do parágrafo, que vai até "espuma", o Autor

descreve, em linguagem parcialmente metafórica, os "borbotões d'água". Este é o primeiro termo da

analogia, o termo conhecido, familiar, através do qual se vai tornar mais clara a ideia do segundo, o

desconhecido, o menos familiar: "a paixão da verdade", "a convicção do bem". Como se vê, a

semelhança aparente é parcial, mas oculta uma outra mais completa, concebida apenas como

abstração e não como realidade sensível. E é isso exatamente o que distingue a analogia da

comparação, como já assinalamos. Note-se ainda que, entre o termo desconhecido e o conhecido, o

Autor aponta somente as semelhanças, e não os contrastes ou diferenças. Por isso é analogia. A esse

tipo de analogia chamavam os retóricos "comparação oratória", que não se deve confundir com a

"comparação poética" (metáfora, símile). São distinções mais ou menos bizantinas — é certo —

pois, na realidade, comparação e analogia são em geral consideradas, se não como sinônimas, pelo

menos como equivalentes.

No seguinte trecho, ainda de Rui Barbosa, não há, legitimamente, analogia nem

comparação, nem contraste mas simples paralelo ou confronto: Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é

o íntimo sublimar-se da alma pelo contato com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver,

o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua sobre si mesmos e

sobre o mundo onde labutamos. (Antologia nacional , p. 128)

Não há comparação porque lhe falta a estrutura gramatical peculiar (como, parece, semelha,

etc.); não é analogia porque a aproximação entre "oração" e "trabalho" não se baseia numa

semelhança, e, ipso facto , não há um termo mais conhecido com o qual se tenta explicar como

menos conhecido ; não ocorre tampouco nenhum contraste porque não se assinala qualquer

oposição de sentido entre os dois termos. O que existe, portanto, é um paralelo ou confronto.

9.4 Citação de exemplos

Para sermos coerentes, deveríamos incluir este caso na categoria do desenvolvimento por

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analogia. Entretanto, a explanação por exemplo(s) pode assumir duas feições típicas: uma

exclusivamente didática, e outra, digamos, literária. Na primeira, a citação de exemplos não

constitui, propriamente, o desenvolvimento, mas uma espécie de comprovante ou elucidante. Nesse

caso, assume uma forma gramatical típica gradas a certas partículas explicativas peculiares (por

exemplo, ex. g.; v. g.). E, como todos reconhecem, um processo eminentemente didático. Na

maioria das vezes, segue-se, uma definição denotativa (i .e ., didática ou científica, em oposição à

conotativa ou metafórica, que não admite aposição de exemplo), à enunciação de um princípio,

regra ou teoria, ou, ainda, a uma simples declaração pessoal. Vejamos um exemplo, didático e

muito a propósito: Analogia é um fenômeno de ordem psicológica, que consiste na tendência para nivelar

palavras ou construções que de certo modo se aproximam pela forma ou pelo sentido,

levando uma delas a se modelar pela outra. Quando uma criança diz fazi e cabeu, conjuga

essas formas verbais por outras já conhecidas, como dormi e correu. (Rocha Lima,

Português no colégio , 1º ano, p. 94)

A definição de analogia restringe-se, como não podia deixar de ser, ao âmbito

exclusivamente linguístico. O exemplo (fazi, cabeu), que o Autor, para maior realce, deixou num

parágrafo à parte, é tão evidente por si mesmo, que pode prescindir das partículas ou expressões

próprias ("como, por exemplo"). Mas no trecho seguinte julgou oportuno fazê-lo, e no mesmo

parágrafo:

As consoantes duplas, dobradas ou geminada s constituíam, em latim, dois sons distintos,

assim, uma palavra como, por exemplo, gutta pronunciava-se gut-ta; lia-se os-s u, carru

proferia-se car-ru ; os-su. (Ibid. , p. 45)

No parágrafo abaixo, o Autor desenvolve o tópico frasal (resignação e sobriedade dos

bandeirantes) através de exemplos mais literários do que propriamente didáticos:

Como as caravanas do deserto africano, a primeira virtude dos bandeirantes é a resignação,

que é quase fatalista, é a sobriedade levada ao extremo. Os que partem não sabem se voltam

e não pensam mais em voltar aos lares, o que frequentes vezes sucede. As provisões que levam apenas bastam para o primeiro percurso da jornada; daí por diante, entregues à

ventura, tudo é enigmático e desconhecido. (João Ribeiro, História do Brasil , p. 225)

O leitor sente a diferença entre os dois tipos de desenvolvimento: o exemplo que chamamos

"literário" (por falta de melhor termo) raramente admite a introdução daquelas partículas que lhe

são peculiares, como se pode ver no trecho de João Ribeiro.

Em muitos casos, a enumeração de exemplos confunde-se com a enumeração de detalhes.

No trecho seguinte, em que Eça de Queirós evoca a virilidade física de Antero de Quental, o

desenvolvimento da ideia-núcleo faz-se ao mesmo tempo por detalhes e por exemplos, não sendo

muito fácil distinguir uns dos outros:

Toda esta alma de Santo [Antero] morava, para tornar o homem mais estranhamente

cativante, num corpo de Alcides [sobrenome patronímico de Hércules]. Antero foi na sua

mocidade um magnífico varão (tópico frasal constituído por dois períodos de sentido

equivalente). Airoso e leve (detalhe), marchava léguas (exemplo geral), em rijas

caminhadas (exemplo específico) que se alongavam até à mata do Bussaco: com a mão seca

e fina, de velha raça (detalhe), levantava pesos (exemplo específico) que me faziam gemer

a mim, ranger todo, só de o contemplar na façanha; jogando o sabre para se adestrar

(exemplo) tinha ímpetos de Roldão (detalhe por comparação), os amigos rolavam pelas

escadas, ante o seu imenso sabre de pau, como mouros desbaratados: — e em brigas que fossem justas o seu murro era triunfal (detalhe). Conservou mesmo até à idade filosófica

este murro fácil: e ainda recordo uma noite na rua do Oiro, em que um homem carrancudo,

barbudo, alto e rústico como um campanário, o pisou, brutalmente, e passou, em brutal

silêncio... O murro de Antero foi tão vivo e certo, que teve de apanhar o imenso homem do

lajeado em que rolara...

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(Notas contemporâneas. Col. Nossos Clássicos, Agir, v. 9, p. 83)

As vezes, a enumeração de exemplos não serve de esclarecer, mas de provar uma

declaração, teoria ou opinião pessoal, como ocorre habitualmente nos estudos filosóficos, na análise

estilística e em todo trabalho de pesquisa de um modo geral:

Todo de antítese é o estilo do padre Antônio Vieira. Eis aqui três exemplos, com as

antíteses sublinhadas:

a) "Com razão comparou o seu evangelho a divina providência de Cristo a um tesouro

escondido no campo. U M A coisa é a que todos veem na superfície; outra a que se oculta

no interior da terra, e, O NDE ME NOS se imaginam as riquezas, ali depositadas. (...);

b) ................................. ;

c) ................................. ;

(José Oiticica, MANU AL DE EST ILO , p. 111)

Quando cada exemplo é muito extenso ou extensa é a série deles, e se lhes quer dar maior

realce, é costume abrir-se parágrafo para cada um, como se faz no trecho citado, de que omitimos,

por desnecessários à nossa argumentação, os exemplos b) e c) além de parte de a), no qual, diga-se

de passagem, o Autor deixou de assinalar a antítese entre superfície e interior da terra.

9.5 Causação e motivação

Legitimamente, só os fatos ou fenômenos físicos têm causa ; os atos ou

atitudes praticados ou assumidos pelo homem têm razões, motivos ou explicações, da

mesma forma, os primeiros têm efeitos , e os segundos, consequências. Não cremos que seja

linguagem adequada perguntar quais foram os de ato praticado ou atitude assumida por alguém; dir-

se-á certamente "quais as consequências ou o(s) resultados (s )" . E comum ouvir-se: "Está vendo o

resultado do que você fez?" ou "Viu as consequências da sua atitude (ou do que você fez)?" Quem

diria "efeito" ou "efeitos" em lugar de "consequências" ou de "resultado(s)"? Similarmente, dever-

se-á perguntar qual foi o MOT IVO ou RAZ ÃO (e não a causa) que levou alguém a agir desta ou

daquela forma: "Qual o motivo (ou razão) da sua atitude?" Embora possa dizer "qual a CAUS A da

sua atitude?", "sente-se" que não se deve, que, pelo menos, não é comum. Tampouco se dirá que "o

MOT IVO da dilatação dos corpos é o calor" ou que "RAZ ÃO da queda dos corpos é a atração

exercida pelo centro da Terra". Dir-se-á, sem dúvida, "causa", pois trata-se de fatos ou fenômenos

físicos.5 É certo, entretanto, que a palavra "causa", dado o seu sentido mais amplo e mais claro, se

emprega também para explicar outros fatos que não apenas os da área das ciências exatas, das

ciências naturais ou físico-químicas; as ciências ditas sociais ou humanas (história, sociologia,

política e outras) dela se servem com a mesma acepção. E assim que se fala em "causas históricas"

ou "causas políticas": "Quais foram as causas da Guerra do Paraguai?" "Quais são as causas do

congestionamento das cidades modernas?"

Mas, além disso, é preciso estar alerta para não confundir "causa" (ou motivo) com "efeito"

(ou consequência), tomando uma coisa pela outra. Dizer, por exemplo, que o analfabetismo de

cerca de 30% dos brasileiros é a causa do subdesenvolvimento do Brasil é dar como causa o que é,

na verdade, efeito. Tampouco se deve confundir causa com outras circunstâncias (simples

antecedentes — post hoc, ergo propter hoc —, condições ocasionais, casuais ou propícias, mas não

causais , o momento em que ocorre o fato com a causa desse fato). Seria absurdo dizer que a

chegada de D. João VI ao Brasil em 1808 foi a causa da fundação da Imprensa Régia ou da criação

da Biblioteca Nacional.

Há que se distinguir ainda as causas remotas ou subjacentes das imediatas. A grande

depressão de 1929-30 teria sido uma das causas remotas ou subjacentes da Segunda Grande Guerra.

(Para outras informações a respeito de causa, ver 4. Com., 2.2.5.)

Baseados nessas distinções, que podem parecer ao leitor tão bizantinas quão sibilinas, mas

na verdade não são, vamos mostrar a seguir como se desenvolve um parágrafo por apresentação de

razões ou motivos e por indicação de causas . São dois processos muito comuns de

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desenvolvimento ou explanação de ideias, isto porque não apenas a curiosidade inata do espírito

humano mas também o seu estado de permanente perplexidade em face do mundo objetivo o levam

a querer saber sempre a causa ou o motivo de tudo quanto o cerca, cerceia, alegra ou aflige. Não

será exagero dizer que o homem vive a maior parte dos seus dias querendo saber por que as coisas

acontecem. O modo e o tempo dos atos e dos fatos parecem preocupá-lo menos do que a causa ou

motivo deles.

9.5.1 Razões e consequências

O desenvolvimento de parágrafo pela apresentação de razões é extremamente comum,

porque, não raro, as razões, os motivos, as justificativas em que se assenta a explanação de

determinada ideia se disfarçam sob várias formas, nem todas explicitamente introduzidas por

partículas explicativas ou causais, confundindo-se muitas vezes com detalhes ou exemplos.

No seguinte trecho, extraído de trabalho de aluno, as razões são indicadas de maneira

explícita:

Tanto do ponto de vista individual quanto social, o trabalho é uma necessidade, não só

PORQUE D IGN IF IC A o homem e o provê do indispensável à sua subsistência, mas também

PORQUE lhe evita o enfado e o desvia do vício e do crime.

A declaração inicial, contida na primeira oração (que é o tópico frasal) seria inócua ou

gratuita, porque inegavelmente óbvia, como verdade reconhecida por todos, se o Autor não a

fundamentasse, não a desenvolvesse, apresentando-lhe as razões na série das orações explicativas

(ou causais?) seguintes.

Carlos Drummond de Andrade apresenta no trecho abaixo uma série de razões ou

explicações para a sua declaração inicial, sem indicá-las expressamente como tais:

E sina de minha amiga penar pela sorte do próximo, se bem que seja um penar jubiloso

(tópico frasal). Explico-me. Todo sofrimento alheio a preocupa, e acende nela o facho da ação, que

a torna feliz. Não distingue entre gente e bicho, quando tem de agir, mas, como há inúmeras

sociedades (com verbas) para o bem dos homens, e uma só, sem recurso, para o bem dos animais, é

nesta última que gosta de militar. Os problemas aparecem-lhe em cardume, e parece que a escolhem

de preferência a outras criaturas de menor sensibilidade e iniciativa (...)

(F AL A , AME NDOE IR A , p. 178)

A declaração inicial fundamenta-se nas duas razões ou motivos que se lhe seguem: é sina de

minha amiga penar pela sorte do próximo PORQUE todo sofrimento alheio a preocupa, porque não

distingue gente de bicho... As razões não estão suficientemente introduzidas por meio de partículas

cujas próprias (porque, em virtude de, por causa de...), mas são facilmente subentendidas como tais.

Mas o Autor não expressa apenas os motivos: indica também as consequências; o período

final "os problemas aparecem-lhe em cardume, e parece que a escolhem de preferência a outras

criaturas..." enuncia certamente duas consequências (não seria cabível dizer aqui "efeitos" pois

trata-se de atos, atitudes ou comportamento humano) do penar da amiga do Poeta pela "sorte do

próximo". É como se dissesse: "preocupa-se tanto com a sorte do próximo, que os problemas lhe

aparecem em cardume". Normalmente, entretanto, os parágrafos desenvolvidos por apresentação de

razões já têm enunciada(s) a(s) consequência(s) no tópico frasal.

Não é raro confundirem-se razões com pormenores descritivos, o que facilmente se explica.

Se faço uma declaração a respeito de alguém ou alguma coisa e considero necessário justificá-la ou

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fundamentá-la para que mereça fé, apresento a seguir alguns detalhes característicos que

justifiquem a minha opinião ou impressão. Querendo provar que a cidade do Rio de Janeiro

continua a ser a capital do povo brasileiro, embora já não seja a capital oficial do País, Augusto

Frederico Schmidt apresenta, após a declaração inicial em que expressa a sua opinião, uma série de

pormenores que funcionam como razões convincentes: Esta Cidade já não é mais a capital oficial do País, mas continua sendo a capital do povo

brasileiro, quer queiram, quer não. E a capital política, embora as Câmaras (alta e baixa)

estejam em Brasília, de onde nos vêm, diluídos e distantes, amortecidos e mudados, os ecos

das agitações parlamentares. Aqui funcionou o Brasil; aqui encontrou a sua síntese, o seu

centro de gravidade, esse complexo que é o nosso País unificado e íntegro. Aqui, ainda

hoje, está a capital brasileira, sensível, viva, martirizada, crivada de setas como o seu

próprio padroeiro. Nas ruas, nas casas, nos locais de encontro concentra-se a mais

politizada das populações brasileiras. Aqui se sente, em profundidade, o desabar das terras

que os nossos maiores constituíram em Nação. Aqui se ouve mais nitidamente o ruído das

raízes do Brasil irem sendo pouco a pouco arrancadas. É um singular, um constrangedor

espetáculo. Todas as mudanças são tristes quando significam não apenas novas folhagens

ou florações, mas a grande mudança do essencial, da alma, a transmutação do que deveria ser permanente em nós. (A. F. Schmidt, Prelúdio à revolução , p. 131)

Com exceção dos dois últimos períodos, os demais, a partir do segundo, são, de fato, razões

com que o Autor fundamenta a declaração de que o Rio de Janeiro continua sendo a capital do povo

brasileiro.

A apresentação de razões é processo típico da argumentação propriamente dita, isto é,

daquela variedade de composição em prosa ou de exposição oral, cuja finalidade é não apenas

definir, explicar ou interpretar (dissertação) mas principalmente convencer ou persuadir. Ora, só

convencemos ou persuadimos quando apresentamos razões . Se os fatos provam, as razões

convencem. Mas os fatos quase sempre constituem as verdadeiras razões; é com eles que

argumentamos mais frequentemente. Um folheto de propaganda que se limite a descrever o

funcionamento de uma enceradeira faz apenas explanação ou descrição. Explica mas não convence.

Só nos convence a partir do momento em que começa a mostrar as vantagens do objeto: o preço, as

facilidades de pagamento, a facilidade do manejo, a resistência e a qualidade do material, o seu

acabamento, etc. Isso são fatos e são razões , ou são razões porque são fatos. Grande parte do que

escrevemos ou dizemos é essencialmente argumentação, pois, mesmo explicando, explanando ou

interpretando, estamos sempre procurando convencer.

9.5.2 Causa e efeito

Parece ter ficado claro no tópico 2.5 que o desenvolvimento do parágrafo por apresentação

de razões e consequências ocorre quando se trata de justificar uma declaração ou opinião pessoal a

respeito de atos ou atitudes do homem , e que se deve falar em relação de causa e efeito, quando se

procura explicar fatos ou fenômenos , quer das ciências naturais, quer das sociais.

O seguinte parágrafo mostra-nos o que é desenvolvimento por indicação de causa e efeito,

partindo deste para aquela: Pressões nos líquidos — A pressão exercida sobre um corpo sólido transmite-se

desigualmente nas diversas direções por causa da forte coesão que dá ao sólido sua rigidez.

Num líquido, a pressão transmite-se em todas as direções, devido à fluidez. Um líquido

precisa de apoio lateral do vaso que o contém, porque a pressão do seu peso se exerce em

todas as direções. Se um corpo for mergulhado num líquido, experimentará o efeito das

pressões recebidas ou exercidas pelo líquido. (Irmãos Maristas, Física, v. I, p. 536)

Note-se que as causas estão claramente indicadas por partículas próprias (por causa de,

devido a, porque), forma comum, posto que não exclusiva desse processo de explicação ou de

demonstração. A exposição nesse trecho faz-se a partir do efeito para a causa; no primeiro período,

por exemplo, a transmissão desigual da pressão exercida sobre um corpo sólido é o EFEITO da

forte coesão que dá ao sólido a sua rigidez. O período final, por sua vez, é uma inferência ou

conclusão, vale dizer, uma generalização, decorrente dos fatos anteriormente indicados.

No exemplo a seguir, o desenvolvimento faz-se a partir da causa para o efeito:

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Os foguetes — Tais engenhos são movidos pela força da reação (generalização, tópico

frasal). Assim, quando um moleque solta um foguete-mirim ou um busca-pé em festas

juninas, a pólvora química encerrada no tubo ou no cartucho queima rapidissimamente,

praticamente num átimo. Da combustão de tal pólvora resultam gases que determinam

pressão alta dentro do tubo. A força da ação atira continuamente os gases para fora do tubo.

Então, uma força de reação , igual e oposta ação, é exercida sobre o tubo pelos gases. Destarte o foguete-mirim sobe. E conceito EIR ADO pensar que os gases empurram o ar,

produzindo a força. No vácuo, os foguetes funcionam melhor. (Id . Ibid. ., p. 441)

Note-se: a combustão da pólvora provoca (causa) o aparecimento de gases, e estes

determinam (causam) a pressão dentro do tubo; a pressão provoca (causa) a eliminação dos gases

(ação); esta provoca (causa) uma força de reação , que, por sua vez, faz com que o foguete suba

(causa a sua ascensão). A subida do foguete é efeito dessas causas.

No parágrafo abaixo, enuncia-se primeiro o efeito, enumerando-se em seguida as causas: Cinco ações ou concursos diferentes cooperaram para o resultado final [a abolição da

escravatura]: L Q , a ação motora dos espíritos que criavam a opinião pela ideia, pela

palavra, pelo sentimento, e que a faziam valer por meio do Parlamento, dos MEET INGS ,

da imprensa, do ensino superior, do púlpito, dos tribunais; 2 Q , a ação coercitiva dos que se propunham a destruir materialmente o formidável aparelho da escravidão, arrebatando os

escravos ao poder dos senhores; 3e, a ação complementar dos próprios proprietários [...];

45, a ação política dos estadistas [...]; 5P, a ação dinástica. (J. Nabuco, Minh a formação , p.

227)

O parágrafo poderia ter assumido feição mais banal ou mais didática, partindo do efeito —

"a escravidão foi abolida pela ação motora... ou porque a ação motora... etc." — onde a causa: "as

causas da abolição da escravatura foram: Ia..., 29..., etc."

A indicação das causas ou razões antes dos efeitos ou consequências é em essência um

processo de raciocínio dedutivo, ao passo que o inverso implica raciocínio indutivo.

9.6 Divisão e explanação de ideias "em cadeia"

Frequentemente, o Autor, depois de enunciar a ideia-núcleo no tópico frasal, divide-a em

duas ou mais partes, discutindo em seguida cada uma de per si , para o que poderá servir-se de

alguns dos processos já referidos, principalmente da enumeração de detalhes e exemplos e da

definição (ver tópico seguinte), pondo tudo no mesmo parágrafo ou em parágrafos diferentes, se a

complexidade e a extensão do assunto o justificarem.

Para nos dar ideia das manifestações concretas da vocação literária, Alceu Amoroso Lima

adota o critério da divisão da ideia-núcleo em diferentes partes, definindo-as sucessiva e

sucintamente no mesmo parágrafo: A vocação literária é sempre concreta. Manifesta-se como tendência, não só à atitude geral,

mas ainda a este ou àquele gênero de atitude. Entre as inúmeras posições possíveis (e neste

terreno as classificações chegam às maiores minúcias), há cinco a marcar bem nitidamente

inclinações diferentes do gênio criador — o lirismo, a epopeia, o drama, a crítica e a sátira.

O lirismo é a expressão da própria alma. A epopeia, a representação narrativa da vida. O

drama, a representação ativa dela. A crítica, o juízo sobre a criação feita. E a sátira, a caricatura dos caracteres (...) (A. A. Lima, Estética literária , p. 99)

No resto do parágrafo (omisso na transcrição), o Autor retoma a mesma ideia-núcleo,

dividindo-a, segundo novo critério, em lirismo, epopeia e crítica, e conclui com algumas

considerações sobre os gêneros literários.

No exemplo seguinte, o mesmo Autor destina um parágrafo à divisão e outros, sucessivos,

mas não transcritos aqui, a cada uma de suas partes:

De várias espécies são as condições susceptíveis de influir sobre a literatura. Podemos

mencionar quatro ordens principais de condições desse gênero — geográficas, biológicas,

psicológicas e sociológicas .

Esse parágrafo encerra apenas a ideia-núcleo, cuja complexidade justifica venha a ser

desenvolvida em outros, um ou mais para cada uma das partes em que o Autor a dividiu. Assim é

que só as condições geográficas— como diz o Autor — vão ser desenvolvidas em três longos

parágrafos, ocorrendo o mesmo com as demais.

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Esse processo de expor a ideia-núcleo num parágrafo isolado e fazer o desenvolvimento em

outros, sucessivos, é muito comum nas explanações alongadas, pois juntar tudo num só não apenas

prejudica a clareza mas também impede se dê o necessário relevo a outras ideias decorrentes da

principal.

Portanto, se os fatos, exemplos, detalhes, razões que constituem o desenvolvimento

merecem destaque, dada a sua relevância, é sempre recomendável destinar-lhes parágrafos

exclusivos. Isso se faz, tomando cada um desses elementos do desenvolvimento como tópico frasal

de outros parágrafos. É o que nos mostra A. A. Lima, ao tratar dos fatores sociológicos, por

exemplo, incluídos no parágrafo anteriormente transcrito como uma das "condições susceptíveis de

influir sobre a literatura": Os fatores sociológicos , enfim, influem de modo inequívoco sobre o movimento e as

instituições literárias (tópico frasal constituído pelo que era , no parágrafo da ideia - núcleo

de toda a explanação , apenas u m dos elementos do desenvolvimento ). Foi Bonald, creio,

o primeiro sociólogo a chamar formalmente a atenção sobre esse aspecto da literatura como

"expressão da sociedade". Sendo a literatura atividade tipicamente humana e o homem um

ser naturalmente social, não pode a literatura deixar de ter aspecto acentuadamente social. Manifesta-se esse societismo literário do modo direto e indireto. (O autor prossegue

mostrando esses dois modos de manifestar-se o societismo literário .) (Id . ibid. . , p. 167)

Mas esse parágrafo sugere ainda outro, em que o Autor mostra as diferentes espécies de

fatores sociológicos:

Esses fatores sociológicos, em sua dupla modalidade, são de quatro tipos principais:

históricos , culturais , políticos e econômicos. (Id . Ibid. p. 168)

Desencadeiam-se assim, pelo mesmo processo, novos parágrafos sugeridos pelo que contém

a ideia-núcleo: o Autor vai destinar um ou mais deles a cada um dos tipos de fatores sociológicos,

começando por defini-los ou caracterizá-los:

Os fatores históricos influem na literatura pelo simples fato de não existir esta fora do tempo (tópico frasal cuja ideia-núcleo é uma das especificações indicadas no parágrafo

anterior). Incorpora-se o passado no presente, como também o futuro, sob a forma de

rememorações, tradições e aspirações. O artista vive no tempo, e o problema da herança é

sempre um dos primeiros a se apresentar em seu esforço criador. (seguem-se outros

detalhes e exemplos com que o autor justifica a sua declaração inicial.) (Id . Ibid., p. 168)

Esse é, sem dúvida, um processo muito eficaz — e, por isso, muito comum — de se

desenvolver determinada ideia rica de implicações. O raciocínio funciona "em cadeia", as ideias se

vão desenrolando umas das outras como que "em espiral", e a explanação se vai alargando e

aprofundando cada vez mais. O método fertiliza a própria imaginação, fazendo com que de uma

ideia surjam outras, numa espécie de explosão em cadeia.

Em suma: a explanação de ideias por esse processo consiste em tomar os fatos, detalhes,

exemplos, razões contidos no desenvolvimento de um parágrafo e transformá-los, todos ou apenas

alguns, de preferência na mesma ordem, em ideias-núcleos de outros, e assim sucessivamente.

9.7 Definição

O desenvolvimento por definição — que pode envolver também outros processos, como a

descrição de detalhes, a apresentação de exemplos e, sobretudo, confrontos ou paralelos — é muito

frequente na exposição didática:

Os dois tropos ou figuras de designação mais comuns — "as duas figuras polares do estilo",

como as chama R. Jakobson — são a metáfora e a metonímia. A primeira consiste em dizer

que uma coisa (A) é outra (B), em virtude de qualquer semelhança percebida pelo espírito

entre o traço característico de A e o atributo predominante, o atributo por excelência, de B,

A metonímia consiste em designar uma coisa (A) pelo nome de outra (B), em virtude de

uma relação não de semelhança ou similaridade mas de contiguidade, de interdependência

real entre ambas.

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Se a clareza o recomenda, não é raro, no estilo didático pelo menos, alongar-se a definição

em verdadeira descrição ou justaporem-se-lhe alguns exemplos.

Com frequência, a definição exerce o papel de justificativa, constitui uma razão de

declaração expressa no tópico frasal. No seguinte exemplo, a definição conotativa de "martírio" e de

"suicídio" poderia vir expressamente introduzida por uma conjunção explicativa (pois , porque): Na verdade, o mártir não despreza a vida. Ao contrário, valoriza-a de tal modo que a torna

digna de ser oferecida a Deus. Martírio é oblação, oferecimento, dádiva; suicídio é

subtração e recusa. O mártir é testemunha de Cristo; o suicida será testemunha de Judas.

(G. Corção, dez anos , p. 248)

Aí, o tópico frasal, constituído pelo primeiro período — de que o segundo é apenas um

reforço —, vem desenvolvido pelas definições (metafóricas) de "martírio", "mártir", "suicídio" e

"suicida" e simultaneamente pelo contraste ou confronto entre esses quatro termos, dois a dois.

São esses os processos mais comuns de desenvolvimento do parágrafo. Haverá certamente

outros, mas difíceis de distinguir e classificar, pois o raciocínio, ainda que sujeito a dois métodos

básicos — a indução e a dedução —, não pode ser bitolado em moldes rígidos e esquemáticos. É

certo, entretanto, que os outros processos ou são variantes desses ou resultam da conjugação de

vários deles.

Mas o que nos parece incontestável — e a longa prática do magistério disso nos convenceu

— é o valor didático do estudo do parágrafo como uma unidade de composição. Na realidade da

sala de aula, onde se encontram por vezes mais de quarenta alunos, é difícil corrigir e comentar ao

mesmo tempo, com relativo proveito, mais de duas ou três composições, a menos que o professor se

limite a assinalar apenas errinhos gramaticais de acentuação, grafia, regência e concordância. A

estrutura da frase e a ordenação das ideias só podem ser ensinadas, transcrevendo-se trechos no

quadro-negro. Mas que trechos? Fragmentos apenas? Só os trechos que apresentem certo caráter de

individualidade podem oferecer margem a comentários razoáveis no que respeita à organização das

ideias e à sua expressão eficaz. Ora, o parágrafo, dada a sua relativa extensão e a sua feição de

unidade de composição, permite-nos transcrição no quadro-negro para comentários adequados.

Tomando-o como uma espécie de composição em miniatura, é possível ensinar aos alunos como

fazer uma descrição ou dissertação (o parágrafo de narração tem outras características que devem

ser exploradas de forma diversa; ver adiante 3.2). Pode haver descrições ou dissertações

constituídas apenas por um parágrafo. Mas, ainda que assim o fosse, pode-se ensinar com relativa

facilidade a ordenar os vários parágrafos de uma composição através de exercícios de planejamento.

Um dos exercícios de maior rendimento didático que conhecemos, e de que nos servimos

habitualmente, consiste em tomar apenas o tópico frasal de determinado parágrafo e pedir aos

alunos que o desenvolvam segundo determinado processo. Em seguida — tudo no quadro-negro —

transcreve-se o desenvolvimento do parágrafo original para que os alunos façam o confronto.

Variante desse processo é o que consiste em apresentar determinado modelo de parágrafo,

principalmente de descrição, mostrar como se faz o seu desenvolvimento e, em seguida, dar outro

tópico frasal para que seja desenvolvido da mesma forma; feito isso, o professor transcreve então no

quadro-negro o restante do parágrafo. Do confronto entre o que os alunos fizeram e o que está

transcrito no quadro, resultam ensinamentos memoráveis. Se a sala dispõe de quadro-negro

espaçoso, ou de mais de um, o melhor é que todo o exercício seja aí feito.

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Exercícios

1. Desenvolva também estes tópicos frasais dissertativos:

a) A prática do esporte deve ser incentivada e amparada pelos órgãos públicos.

b) O trabalho dignifica o homem, mas o homem não deve viver só para o trabalho.

c) A propaganda de cigarros e de bebidas deve ser proibida.

e) O direito à cultura é fundamental a qualquer ser humano.

2. Desenvolva os tópicos frasais seguintes, considerando os conectivos:

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a) O jornal pode ser um excelente meio de conscientização das pessoas, a não ser que ...

b) As mulheres, atualmente, ocupam cada vez mais funções de destaque na vida social e

política de muitos países; no entanto ...

c) Um curso universitário pode ser um bom caminho para a realização profissional de uma

pessoa, mas...

d) Se não souber preservar a natureza, o ser humano estará pondo em risco sua própria

existência, porque...

e) Muitas pessoas propõem a pena de morte como medida para conter a violência que existe

hoje em várias cidades; outras, porém ...

f) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, porque ...

g) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, no entanto ...

h) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura, pois

...

i) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura,

entretanto ...

j) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, porque ...

l) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, embora ...

3.Grife o tópico frasal de cada parágrafo apresentado. Não deixe de observar como o autor

desenvolve.

a) ―O isolamento de uma população determina as características culturais próprias. Essas sociedades

não têm conhecimento das ideias existentes fora de seu horizonte geográfico. É o que acontece na

terra dos cegos do conto de H.G. Welles. Os cegos desconhecem a visão e vivem tranquilamente

com sua realidade, naturalmente adaptados, pois todos são iguais. Esse conceito pode ser

exemplificado também pelo caso das comunidades indígenas ou mesmo qualquer outra comunidade

isolada.‖ (Redação de vestibular)

b) ―O desprestígio da classe política e o desinteresse do eleitorado pelas eleições proporcionais são

muitos fortes. As eleições para os postos executivos é que constituem o grande momento de

mobilização do eleitorado. É o momento em que o povão se vinga, aprovando alguns candidatos e

rejeitando outros.

Os deputados, na sua grande maioria, pertencem à classe A. É com os membros dessa classe que os

parlamentares mantêm relações sociais, comerciais, familiares. É dessa classe com a qual mantêm

maiores vínculos, que sofrem as maiores pressões.

Desse modo, nas condições concretas das disputas eleitorais em nosso país, se o parlamentarismo

não elimina inteiramente a influência das classes D e E no jogo político, certamente atua no sentido

de reduzi-la.‖ (Leôncio M. Rodrigues)

4. Apresentamos a seguir alguns tópicos frasais para serem desenvolvidos na maneira sugerida.

a) Anacleto é um detetive trapalhão. (por enumeração de detalhes: forneça a descrição física e

psicológica do personagem).

b) As novelas transmitidas pela televisão brasileira são muito mais atraentes que nossos filmes. (por

confronto)

c) As cidades brasileiras estão se tornando ingovernáveis. (por razões)

d) Há três tipos básicos de composição: a narração, a descrição e a dissertação. (por análise) e) Nunca diga que algum ser humano é uma ilha: tudo que acontece a um semelhante nos

atinge. (por exemplificação)

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ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM:

10 Gêneros de texto, o que é isso?

Gêneros de texto são as variadas formas que as pessoas e as organizações utilizam para se

comunicar, para orientar, ordenar, interagir. Segundo Mikhail Bakhtin 2003), o autor mais citado

quando se trata de gêneros textuais, a prender a falar e a escrever significa aprender a construir

textos, porque não nos comunicamos por meio de frases isoladas. E também não nos comunicamos

por meio de redações, narrações, descrições (mais da escola que da vida), e sim por meio de textos.

Jean-Paul Bronckart, outro autor que trata de gêneros de texto, afirma que [...] os textos são produto da linguagem em funcionamento permanente nas formações

sociais: em função de seus objetivos, interesses e questões específicas, essas

formações elaboram diferentes espécies de textos, que apresentam características

relativamente estáveis (justificando-se que sejam chamados de gêneros de texto

(BRONCKART, 2004, p. 137) (grifo do autor).

São realmente inúmeros os ―objetivos, interesses e questões específicas‖ que a sociedade

necessita satisfazer. E, para cada objetivo a ser satisfeito, a sociedade, as pessoas selecionam o

gênero de texto apropriado. Assim, por exemplo, os jornais, para expressar sua opinião, servem-se

do gênero editorial. Para informar fato novo, utilizam o gênero notícia. Um cidadão busca obter

junto a um órgão público o que julga ser seu direito por meio do gênero requerimento. Já se o

objetivo for registrar o que ocorre de importante durante uma reunião de pessoas seleciona-se o

gênero ata, ou memória de reunião. E as empresas, para se comunicarem a fim de atingir variados

objetivos podem e servir das cartas, dos e-mails, etc. Enfim, quando necessitamos alcançar

algum propósito comunicativo, escolhermos o gênero de texto adequado para aquele propósito.

E por que, para atingir esses – e outros variados propósitos comunicativos –servimo-

nos dos gêneros de texto? Para responder a essa indagação, o apoio vem novamente de Bakhtin: Se os gêneros do discurso [de texto] não existissem e nós não os dominássemos, se

tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo do discurso, de construir livremente e

pela primeira vez cada enunciado, a comunicação discursiva seria quase impossível.

(Bakhtin, 2003, p. 283)

Em outras palavras, quem necessita de se comunicar não precisa, a cada vez, inventar a

roda‖. Se não existisse essa relativa padronização, teríamos dificuldade de nos comunicar, tanto por

escrito como na linguagem oral. É por isso que existem os gêneros de texto. Para facilitar a vida de

quem quer se comunicar. Ao passar os olhos em um texto, mesmo antes de começar a sua leitura, o

leitor já vai antecipando sua expectativa sobre o gênero de texto, observando a superestrutura, os

contextualizadores e outros elementos linguísticos e não linguísticos. Depois, essa expectativa vai

se confirmando, por meio da leitura, pelo estilo do texto e pelo modo de utilização da linguagem.

Assim acontece com todos os gêneros de texto: ata, notícia, carta, convite, e-mail, conto,

romance, etc.

Após ter selecionado o gênero de texto adequado para o propósito que se quer satisfazer,

tem-se um conjunto de informações que auxiliam e orientam na elaboração do texto. Essas

informações compreendem desde a estrutura do texto global (pré-texto, texto, pós-texto) até as

estratégias linguísticas (como escrever o texto) e os mecanismos de textualização (como

organizar o texto) próprios do gênero. Isso tudo porque as pessoas têm guardadas em suas

memórias coletivas as informações sobre os gêneros de texto que lhes são conhecidos. Bronckart

denomina de arquitexto essa memória coletiva: ―O arquitexto é constituído pelo conjunto de

gêneros de textos elaborados pelas gerações precedentes, tais como são utilizados e eventualmente

reorientados pelas formações sociais contemporâneas.‖ (BRONCKART, 2004, p.100) (Grifo do

Elabore um texto com 4 parágrafos: 1 para

introdução; 2 para o desenvolvimento e 1 para conclusão.

Tema: Sustentabilidade: um sonho possível.

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54

autor).

Disso se depreende que aprender a escrever significa também conhecer, entre outras

coisas, os gêneros de texto. E se depreende também que, se solicitarmos a alguém que elabore

determinado texto, somente conseguirá atender ao que lhe foi solicitado se conhecer aquele gênero.

10.1 Qual a diferença entre texto e gênero de texto?

Textos são unidades concretas, produtos finais, orais ou escritos. Gêneros de texto são

modelos abstratos, protótipos que orientam a produção de textos. A carta de Pero Vaz de Caminha é

um texto que pertence ao gênero carta. O Hino Nacional Brasileiro é um texto que pertence ao

gênero hinos. Uma receita específica que ensina como fazer churrasco é um texto que pertence ao

gênero receita culinária.

Sob o aspecto didático, e com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), tem-se

hoje que ser proficiente em linguagem, ou, dito de maneira um tanto simplória, saber português,

significa dominar, cada vez, mais gêneros de texto.

Significa saber produzir e ―decifrar‖ cartas, relatórios, notícias, contratos, leis, bulas, avisos,

contos, romances e outras centenas de gêneros que acompanham as pessoas em todas as esferas de

suas atividades e em todos os momentos de suas vidas.

11 As diversas formas de texto

11.1 Resumo

―Resumo é a apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto em sequência de frases

articuladas. (...) O tema principal vem na primeira frase. Use a terceira pessoa do singular, com

verbo na voz ativa, de prefer6encia em frases afirmativas. (...) Num resumo, é necessário decidir o

que é fundamental e o que é acessório. É a procura da ideia principal.(...) Como o resumo é uma

operação de síntese, pressupõe uma análise que decompõe o texto, possibilitando agrupar os

elementos semelhantes e distinguir os que são diferentes‖.

(Fonte: Nadólskis, 2004)

Passos a seguir num resumo:

1) Ler o texto e procurar palavras desconhecidas;

2) Reler;

3) Sublinhar; 4) Esquematizar; 5) Resumir.

OBS: O resumo não deve ultrapassar a 20% do texto original.

Exemplo:

Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender

a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se

pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Quando nós, professores, nos

limitamos a dar aos nossos alunos temas para redação sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para

fontes de ideias, sem, por assim dizer, lhes ―fertilizarmos‖ a mente, o resultado é quase sempre

desanimador: um aglomerado de frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de

palavras que se atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir ideias que

não tinham ou que foram mal pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não tinham,

mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de dicionário, e de noções

razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam ideias; estas, se existem, é que,

forçosamente, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las e

concatená-las, fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer,

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porque pensou, e pensou com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.

(GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 6 ed. Rio de Janeiro: Getúlio Vargas, 1977, p. 275)

11.1.1 Sublinhado:

Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender

a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se

pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. Quando nós, professores, nos

limitamos a dar aos nossos alunos temas para redação sem lhes sugerirmos roteiros ou rumos para

fontes de ideias, sem, por assim dizer, lhes ―fertilizarmos‖ a mente, o resultado é quase sempre

desanimador: um aglomerado de frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de

palavras que se atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir ideias que

não tinham ou que foram mal pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não tinham,

mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer dizer, palavras de dicionário, e de noções

razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam ideias; estas, se existem, é que,

forçosamente, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las e

concatená-las, fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer,

porque pensou, e pensou com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.

11.1.2 Esquema:

Aprender a escrever = aprender a pensar

Não se transmite o que não se criou ou guardou

Temas sem roteiro = mau resultado

Não bastam palavras e conhecimentos gramaticais

Se pensar com clareza, a expressão é satisfatória

9.1.3 Resumo:

Aprender a escrever é aprender a pensar, encontrar ideias e ligá-las. Só se pode transmitir o

que a mente criou ou guardou. Se o professor dá o tema e não sugere roteiros, o resultado é

desanimador, mesmo que o aluno tenha as palavras e conhecimentos gramaticais. Se pensar com

clareza, a expressão será satisfatória.

(Fonte: NADÓLSKIS, Hêndricas. Comunicação Redacional Atualizada. 10ª ed. São Paulo: Saraiva,

2004.)

Agora, o aluno deve parafrasear o trecho acima, ou seja, reescreve-lo com suas palavras

sema alterar o sentido original.

11.2 RELATÓRIO NARRATIVO, DESCRITIVO E DISSERTATIVO

Exposição geral de uma pesquisa, desde o planejamento às conclusões, incluindo os

processos metodológicos empregados. Deve ter como base a lógica, a imaginação e a precisão e ser

expresso em linguagem simples, clara, objetiva, concisa e coerente. Tem a finalidade de dar informações sobre os resultados da pesquisa, se possível, com detalhes,

para que eles possam alcançar a sua relevância. São importantes a objetividade e o estilo, mantendo-se a expressão impessoal e evitando-se

frases qualificativas ou valorativas, pois a informação deve descrever e explicar, mas não pretender

convencer. Selltiz (1965:517) aponta quatro aspectos que o relatório deve abranger:

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1) Apresentação do problema ao qual se destina o estudo. 2) Processos de pesquisa: plano de estudo, método de manipulação da variável

independente (se o estudo assumir a forma de uma experiência), natureza da atmosfera,

técnicas de coleta de dados, método de análise estatística.

3) Os resultados.

4) Consequências deduzidas dos resultados.

Relatório é a exposição feita a partir da análise de um fato, acontecimento ou fenômeno que

apresenta soluções para um problema.

11.2.1 Objetivos

Providenciar o registro do trabalho executado, de modo que toda a informação possa ser

aproveitada posteriormente;

Apresentar e discutir informações e ainda fornecer recomendações que possam guiar os

responsáveis nas tomadas de decisões e definições;

Manter os demais membros da organização informados sobre investigações, ocorrências,

etc.

Tipos de Relatórios

Relatórios de Estudos e Relatórios de Relatório de Atividades:

Pesquisa: Ocorrência:

- de Visitas;

- técnico; - de Manutenção;

- de Viagem;

- de Experiências; - de Acidentes.

- de Trabalho;

- de estágios.

- de Produção.

11.2.2 Estrutura

O grau de complexidade de cada uma das partes do relatório depende diretamente das

informações que serão apresentadas. Como um estudo, o texto deve ser escrito em terceira pessoa.

11.2.3 Introdução

A introdução, preferencialmente titulada, deve apresentar claramente: O objetivo, a finalidade que se pretendeu ou pretende alcançar com o trabalho que foi ou que será

desenvolvido.

Exemplificando: ―O objetivo deste trabalho consiste em apresentar conclusões sobre...‖

―Este projeto objetiva explicitar o processo utilizado em ...‖

É importante ressaltar que a introdução deve despertar o interesse imediato do leitor – leigo

ou especialista – a fim de orientá-lo quanto à verdadeira natureza do assunto. Para tanto seria

interessante fazer referências a questões que se relacionem com o assunto em pauta ou que o

tenham diretamente provocado ou sugerido, essa postura evidencia a relevância do estudo. Outro

ponto interessante é deixar claro se as conclusões apresentadas são definitivas ou se constituem

apenas subsídios com dados preliminares ou provisórios

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57

11.2.4 Desenvolvimento

Ë o relato da experiência ou do trabalho. Pode aparecer titulada como

DESENVOLVIMENTO ou discriminada em três tópicos:

a) Método

É o caminho adotado para o desenvolvimento do trabalho, porém não compreende apenas a

indicação dos procedimentos adotados na apuração e análise dos fatos, mas também a própria descrição

da experiência ou pesquisa e aparelhagem e material empregados. Consiste essencialmente numa típica

descrição de processo, feita em ordem lógica ou cronológica. Neste tópico devem constar:

Materiais, ferramentas, instrumentos e equipamentos utilizados no trabalho;

Tempo de execução que compreende a referência ao período de tempo exigido para

a realização do trabalho ( podem constar apenas as datas de início e fim, ou então,

em caso de trabalho mais complexo, um cronograma com as várias fases do

processo.

Custos. Este item é opcional, porque nem sempre é necessário calcular os custos

de um trabalho. Caso surja a necessidade dos cálculos, devem ser considerados:

materiais empregados, equipamentos e horas-homem trabalhadas, multiplicadas

pelo tempo de execução.

A redação desse tópico deve enunciar o assunto objetivamente:―O método adotado consistiu

em ...”

b) Resultados

O resultado é o efeito, a consequência que se visava ou se visa alcançar – o que realmente se

apurou ou pretende apurar. Pode ser também o ganho e ou o produto.

c) Discussão

A discussão é a interpretação dos resultados – da investigação, da experiência ou do trabalho

– e a indicação da sua importância e consequências. Alguns autores incluem os resultados neste

tópico.

O estilo desta parte é essencialmente argumentativo, trata-se de convencer pela apresentação

de razões que são os próprios fatos obtidos e interpretados. O parágrafo inicial deve ser bastante objetivo. Sugestões:

“O principal interesse destas experiências reside no fato de que...”

“A interpretação dos resultados é...”

d) Características do desenvolvimento

Apresentação objetiva de fatos, de modo a constituírem fortes argumentos

para as recomendações e conclusões;

Caracterizar-se pela exatidão das definições e das descrições através da utilização

de vocabulário técnico; Seguir o encadeamento lógico e objetivo de ideias; Observar o uso dos elementos correlacionais (coesão – coerência); Documentar ou ilustrar, quando necessário, com gráficos, mapas, tabelas, figuras em

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58

lugar adequado ou em apêndices.

e) Conclusão

Nesta parte é retomada a ideia-núcleo do relatório. A conclusão pode consistir em:

a) Uma série de inferências a partir dos fatos apresentados, discutidos e interpretados. Nesse

caso, aparece com frequência em forma verbal própria:

―Conclui-se, assim, que... ou Conclui-se, portanto, que... ou conclui-se, em vista do

exposto, que... :

b) Na repetição, em outros termos, do que já tenha sido apresentado na introdução; c) Na retomada de conclusões parciais já apresentadas nos tópicos do Desenvolvimento.

f) Outras partes que, eventualmente, podem compor o relatório:

Agradecimentos

Muitos trabalhos de pesquisa sob forma de relatório, quando recebem subvenção ou

patrocínio de instituições, ou ainda, auxílio de pessoas da área técnica específica, podem trazer,

logo após a conclusão, os agradecimentos do autor.

Apêndices e anexos

Os relatórios podem conter apêndices e anexos, constituídos por gráficos, mapas, tabelas,

dados estatísticos e outras espécies de documentação, além das que possam ser inseridas no próprio

texto. Os anexos têm paginação própria, não sequêncial à do relatório.

Bibliografia

Todo trabalho que exija pesquisa deve ser acompanhado de referências bibliográficas que

são feitas de acordo com as convenções, levando-se em consideração as normas adotadas pela

ABNT.

12 Diretrizes para elaboração de resumos, resenhas e artigos Científicos

Nos últimos anos o número de artigos científicos publicados por brasileiros cresceu

significativamente: ―19% entre 2004 e 2005: passou de 13.313 para 15.777. Contudo, não foi

suficiente para tirar o país da 17ª posição mundial. A explicação é clara: todos cresceram com o

Brasil; alguns menos, como Rússia (5%), outros mais, como a China (29%) e a Índia (21%).‖ .

Apesar de o número de artigos ser relativamente alto, ele não tem o reflexo esperado na geração de

riquezas. Isso porque produção científica não se converte em produtos e serviços. Enquanto no

Brasil a cada trinta artigos existe um registro de patentes, nos EUA a cada artigo publicado há dois

registros de patentes. A Unicamp (Universidade de Campinas), em São Paulo, é a instituição com

mais pedidos no país, tendo ultrapassado recentemente a Petrobrás.

O aumento significativo de publicações nos últimos anos deve-se à rigidez que a Capes

(Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior) aplicou na avaliação dos cursos de mestrado

e doutorado que obrigou os programas a criarem meios para a publicação dos trabalhos realizados

pelos alunos: sem cobrança e sem avaliação, a tese ficava na prateleira.

O presente artigo pretende discutir o artigo científico como resultado do trabalho de

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59

pesquisa científica. Uma das dificuldades do estudante brasileiro é a de redigir relatórios objetivos e

consistentes dos trabalhos de pesquisa realizados. Não queremos com isso dizer que se resolve o

problema da produção científica apenas a partir dos modelos de artigos. São várias as aplicações de

guias e modelos. Nosso pensamento sem eles estagnaria. Mas, o pensamento cristaliza-se também

se transformamos os guias e modelos em camisas de força. Quando se trata do trabalho intelectual o

cuidado deve ser redobrado. Qualquer tentativa de enclausurar o pensamento, o entendimento, o

estudo, a interpretação, a crítica, irá resvalar no oposto: na falta de criatividade. Se a linha de

produção fechada já exauriu suas possibilidades produtivas na ―indústria pesada‖, na produção de

ideias, no aprendizado e principalmente na pesquisa essa lógica nunca deveria ter sido assumida

como possibilidade.

As diretrizes aqui apresentadas devem ser entendidas como um modelo didático e

circunstancial. Didático porque uma resposta a solicitações de diversos alunos em cursos de

graduação e pós-graduação no sentido de terem um modelo referencial. Circunstancial porque

acreditamos que muito em breve a nossa própria prática docente irá suscitar novos modelos. Esse é

o motivo pelo qual não pretendemos substituir quaisquer outros modelos apresentados por outros

professores, mas, tão somente, acrescentar as presentes diretrizes ao debate atual acerca do tema.

12.1 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE RESUMOS, SÍNTESES E SINOPSES

Primeiramente devemos diferenciar aqui um resumo de estudo de um resumo acadêmico ou

abstract4, que é um resumo feito pelo próprio autor e colocado nas primeiras páginas de um artigo,

uma monografia, uma dissertação ou uma tese. Trataremos do abstract na discussão sobre o artigo

científico, nas próximas páginas. No momento trataremos do resumo como um instrumento de

estudo e um auxiliar à leitura e compreensão de textos.

Um resumo aplica-se sempre aos textos. Um resumo é uma apresentação sempre mais curta

do conteúdo de um texto. Não é apropriado falar do resumo do pensamento de um autor. Deve-se

falar ou escrever a síntese do pensamento de um autor. Devemos pedir um resumo de um texto

como um todo e a síntese do pensamento de um determinado autor contida em um determinado

texto ou obra, assim é mais apropriado.

Deve-se diferenciar a síntese de um resumo porque a síntese busca a apresentação do

pensamento de um autor de forma lógica buscando partir dos elementos mais simples do mesmo,

criando as condições para a compreensão do essencial daquele pensamento. Ex.: podemos dizer

sinteticamente que, o pensamento de Marx parte da mercadoria enquanto elemento mais

representativo da sociedade capitalista e, por isso mesmo, rica em determinações. A partir dos

elementos constitutivos e contraditórios que compõem o fenômeno ―mercadoria‖, a saber, capital e

trabalho, o referido autor demonstra a contradição fundamental que explica a essência mesma das

modernas sociedades capitalistas industriais. Com isso busca apanhar a realidade em suas múltiplas

determinações. Essa é uma síntese das ideias econômicas de Marx contidas em ―O Capital‖, tomo I,

volume I.

Uma síntese não é fácil de ser compreendida por não iniciados naquele pensamento,

exatamente porque expõe em poucos conceitos o essencial de uma doutrina. O objetivo da síntese é

trazer presente ao debate, rapidamente, o pensamento daquele autor. É uma composição rápida dos

elementos constitutivos de uma doutrina. Academicamente não é apropriado solicitar uma síntese

de um texto. Deve-se solicitar o resumo de um texto. É mais apropriado solicitar a síntese de uma

doutrina ou do pensamento de determinado autor. Por outro lado, uma sinopse (do latim Synopsis:

igual forma em grego sym, junto; opsis, vista: vista de conjunto) diferentemente da síntese, visa

apresentar em conjunto uma obra ou uma doutrina. A síntese é a obra vista de baixo para cima, dos

conceitos mais simples para os mais complexos. A sinopse é a obra vista de cima para baixo, é uma

apresentação mais panorâmica do pensamento de determinado autor, ou uma visão de conjunto, de

determinada doutrina. Senão vejamos: Freud a partir da análise do desenvolvimento da sexualidade

infantil, notadamente de filhos e filhas com os pais, sistematiza uma série de observações empíricas,

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60

às quais denominou ―Complexo de Édipo‖, e, a partir da sexualidade como centro gerador,

estabelece que esse complexo está na base de diversas neuroses que se manifestam na vida adulta,

impedindo que os indivíduos se relacionem de forma plena e satisfatória nas diversas relações que

experimentam durante a vida. A esse conjunto denominou psicanálise. Isso é uma síntese. Vejamos

agora: Freud, fundador da psicanálise, realiza em sua obra uma análise das bases da sexualidade

humana, além de criar as condições para a compreensão do inconsciente através da análise dos

sonhos. No conjunto de sua obra estabelece as bases para o entendimento da angústia do homem

moderno diante de sua própria existência. Isso é uma sinopse. Tanto a síntese quanto a sinopse são

formas auxiliares no momento de elaboração de resumos e de resenhas.

Um resumo pode trazer em sua abordagem tanto uma síntese como uma sinopse das ideias

do autor, isso dependerá do objetivo a que se destina o resumo. Em geral os resumos acadêmicos

(Abstract), devem conter uma síntese das ideias do autor. Uma síntese, neste caso, presta-se melhor

que a sinopse para compor o abstract.

O resumo é um grande instrumento de estudo, na medida em que, é o meio ideal para

registrar nossas leituras durante um curso de graduação ou pós-graduação. Neste caso, devem-se

estruturar os resumos seguindo-se o seguinte esquema:

Citação bibliográfica do texto lido de acordo com a ABNT (NBR 6023), com

inclusão do número de páginas do texto que está sendo resumido.

Caso seja longo, e estruturado em capítulos o texto a ser resumido, descrever a

organização dos capítulos e os temas abordados pelos mesmos. Em se tratando de

um texto curto descrever apenas o tema abordado pelo autor.

Descrição clara do problema abordado pelo autor no texto.

Descrição das conclusões apresentadas pelo autor (ideias centrais) e os argumentos

por ele utilizados.

Um resumo não deve conter um julgamento crítico das ideias do autor (mesmo sendo um

abstract elaborado pelo próprio autor do texto). O resumo deve ao máximo ser fiel na descrição das

ideias e na argumentação do autor. O objetivo é de registro e não de julgamento. Um resumo deve,

necessariamente, ser bem mais curto que o texto original, seu objetivo é servir de memória do texto

lido. A sugestão é que um resumo de estudo também tenha um tamanho de 400 palavras ou 3800

caracteres com espaço (considerando-se um texto escrito em times new roman 12, com

espaçamento de 1,5).

Quando utilizado com o objetivo de ajudar na qualidade da leitura de um texto, visa outro

propósito, pelo maior cuidado com as palavras e com a ideia geral provocado pela escritura. Neste

caso é possível solicitar-se em um curso / disciplina que o estudante faça um resumo com algum

detalhamento, fixando-se também, em algo que vai além dos argumentos que busca o encadeamento

das ideias e figuras de apoio, busca as premissas, a compreensão das metáforas através do conjunto.

Assim sendo, o tamanho do resumo pode variar e ser maior que o padrão sugerido, pois, se

pretendem maiores detalhes. É preciso se aproximar, dar um zoom nos detalhes buscando captar a

expressão do significado do texto como um todo.

12.2 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE RESENHAS

A resenha é um resumo com um comentário crítico. A resenha ideal, também como um

resumo, é sempre curta. A resenha terá sempre que ser escrita por outra pessoa, que emitirá um

julgamento crítico acerca das ideias e conclusões contidas no texto. Um bom julgamento dependerá

sempre da capacidade de ser fiel às ideias e aos argumentos apresentados pelo autor do texto

original; deste modo, a primeira parte de uma resenha seguirá sempre o mesmo modelo estabelecido

para o resumo. Para uma boa resenha estabelecemos os seguintes passos: Citação bibliográfica do texto lido de acordo com a ABNT (NBR 6023), com

inclusão do número de páginas do texto que está sendo resenhado.

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61

Caso seja longo e estruturado em capítulos, o texto a ser resumido, descrever a

organização dos capítulos e os temas abordados pelos mesmos. Em se tratando de

um texto curto descrever apenas o tema abordado pelo autor.

Descrição clara do problema abordado pelo autor no texto.

Descrição das conclusões apresentadas pelo autor (ideias centrais) e os argumentos

por ele utilizados.

Julgamento crítico das ideias e da argumentação do autor. Podemos observar que uma resenha segue o mesmo caminho do resumo apenas

acrescentando-se um julgamento crítico no final.

Entretanto, uma resenha pode prescindir do resumo se o texto já é conhecido pelo público

alvo, podendo o autor da resenha apenas expressar a sua opinião crítica sobre o pensamento do

autor contido no texto. Do ponto de vista didático, o professor pode e deve especificar qual a forma

e o conteúdo que pretende quando solicita uma resenha aos seus alunos. Caso não o faça cabe aos

alunos solicitar esclarecimento sobre o objetivo do pedido e pactuar claramente o resultado

esperado. Se o objetivo é um seminário, uma discussão em sala, um debate, a resenha pode

prescindir do resumo atendo-se apenas no comentário crítico. Do mesmo modo, resenhas destinadas

a revistas temáticas onde o público geralmente conhece o texto original como dever de ofício, as

resenhas veiculam somente o julgamento crítico do texto.

Quanto à questão do tamanho da resenha, não podemos ser tão objetivos quanto o do

resumo. Uma resenha pode conter apenas uma lauda e estar resenhando um texto de 500 páginas. O

tamanho da resenha deve ser determinado sempre pelo espaço disponível para a sua divulgação. Em

se tratando de uma resenha acadêmica com o objetivo de cumprimento de exigência de uma

disciplina é sempre de bom tom que o professor da mesma determine claramente com os seus

alunos o tamanho esperado. O mais importante é que o autor da resenha consiga expressar com

clareza e segurança a avaliação crítica que ele faz do pensamento do autor expresso no texto. Caso

ele utilize outras ideias do mesmo autor, mas, que não estão presentes naquela obra, deixar isso bem

claro para evitar incompreensões por parte de quem ler a resenha.

13 DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE ARTIGO CIENTÍFICO Um artigo científico (NBR 6021 e NBR 6022 da ABNT) é um tipo de relatório de pesquisa

elaborado com o objetivo de tornar público o resultado de uma pesquisa num periódico

especializado. Um artigo deve ser estruturado com os elementos textuais, a saber, introdução

(descrevendo a temática a ser tratada e o problema central da pesquisa realizada, além de como

foram desenvolvidas a metodologia e as técnicas de pesquisa) desenvolvimento (descrevendo as

principais ideias e os argumentos) e conclusão (contendo uma síntese tema-problema-resultados e o

possível efeito multiplicador das formulações alcançadas pela pesquisa).

Como o objetivo do artigo é a divulgação em revista científica, em geral com limitação de

espaço, o tamanho do artigo deve sempre ser menor que um relatório monográfico (monografia),

situando-se entre 57.000 a 95.000 caracteres. Em um texto escrito em times new Roman 12, com

espaçamento de 1,5; isso será equivalente, em média, em papel A4, a um total de 15 a 25 páginas.

Um artigo científico tem sua estrutura composta dos seguintes elementos: elementos pré-

textuais e elementos textuais e elementos pós-textuais.

13.1 Elementos Pré-Textuais

São os elementos que antecedem o texto propriamente dito. São importantes porque

compõem informações que tangenciam o texto e que se fossem colocadas diretamente no texto

iriam interferir na compreensão da temática desviando o leitor das informações essenciais. São eles:

Cabeçalho:

Título do Artigo

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62

Nome do(s) autor(es), com alinhamento à direita

.Currículo dos autores em nota de pé de página

Agradecimentos (opcional)

Resumo

13.2 Acerca dos Títulos dos Artigos Científicos

Um título de um artigo científico deve ser preferencialmente temático, ou seja, buscar

exprimir o conteúdo do artigo, seja em termos do tema em se tratado pelo artigo, em termos de

exprimir o problema de pesquisa que gerou o artigo, seja o próprio ponto de vista do autor acerca

dos resultados da pesquisa ou de sua investigação temática. Entretanto, mesmo se tratando de um

artigo científico, há espaço para o exercício da criatividade e da inventividade no momento de

construir o título. As metáforas, os silogismos, as comparações são processos que podem chamar a

atenção do leitor para aspectos do texto que na linguagem direta você poderia parecer maçante ou

repetitivo. Pode-se perder um pouco na linearidade, mas, ganhar-se na graça e na arte. Pode-se

perder na objetividade, mas, atrair o leitor através da imagem metafórica. Portanto, a regra geral diz

que o título de um artigo científico deve ser temático, mas, a criatividade, desde que não se

distanciando demasiadamente do tipo de texto em questão, será sempre um meio de cativar os olhos

do leitor.

13.3 Acerca dos Agradecimentos

Os agradecimentos são pessoais e não caberia aqui nenhuma observação. Afinal a quem

cabe decidir a quem agradecer e a quem cabe decidir o que realmente foi decisivo na consecução

daqueles objetivos? Somente ao autor. Entretanto, apenas algumas observações. Alguns autores,

principalmente os concluintes de cursos de especialização, de mestrado e de doutorado,

transformam a secção de agradecimentos em um verdadeiro rol de agradecimentos, agradecem a

Deus, aos pais, aos tios, aos irmãos, ao querido marido, aos filhos, aos amigos, e até, já vimos isso

concretamente, aos inimigos. Entendemos que é um momento emocionante, devemos a muitos,

mas, se agradecemos a todos, banalizamos tanto os agradecimentos, que não estamos agradecendo a

ninguém. Portanto, apenas sugerimos que cada um seja capaz de organizar um pequeno critério a

fim de estabelecer a separação dos agradecimentos pela vida em geral, dos agradecimentos àqueles

que concretamente contribuíram para a realização intelectual daquela obra.

13.4 Acerca da Autoria dos Artigos Científicos

Um artigo científico, claro, deve ser sempre assinado pelo seu autor. Entretanto, há uma

tendência crescente tanto de revistas de divulgação científica, quanto de instituições de indexação

de revistas, que os artigos sejam assinados coletivamente pelas pessoas que participaram da

pesquisa que sustenta a produção do artigo. Trata-se de um reconhecimento de que a produção do

conhecimento é sempre um processo coletivo. As universidades, apesar de continuarem a exigir

assinatura individual nas dissertações de mestrado e nas teses de doutorado, reconhecem a

supremacia da produção coletiva em comparação à produção individual, na medida em que, a

maioria das pesquisas em andamento é assumida por grupos de pesquisa. Também os institutos de

apoio à pesquisa, cada vez mais, dão preferência em subsidiar grupos de pesquisa e não pesquisas

individuais. Ora se reconhecemos que a pesquisa é uma atividade de grupo, a divulgação da

pesquisa deve ser assumida preferencialmente pelo grupo que a realizou. Claro que no caso em que

um artigo seja efetivamente produzido por uma iniciativa individual o autor deve assinar

individualmente.

13.5 Acerca do Resumo Acadêmico e do Abstract

O resumo é um importante instrumento da escrita acadêmica, pois, através dos resumos

podemos decidir a oportunidade de ler ou não um texto integral. Os programas de especialização

stricto senso exigem a inclusão de um resumo e alguns a sua tradução para o inglês, o abstract, nas

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63

primeiras páginas do texto integral de uma dissertação ou tese (ver norma NBR 6028 da ABNT).

Neste caso o resumo é feito pelo próprio autor e deve conter em torno de 400 palavras ou 3800

caracteres com espaço (considerando-se um texto escrito em times new Roman 12, com

espaçamento de 1,5), com os quais se contextualiza o problema de pesquisa, a metodologia

utilizada, os principais resultados e a conclusão do estudo, bem como, três ou quatro palavras-chave

para indexação científica de busca setorial.

Em se tratando de resumo, a ser apresentado nas primeiras páginas de um artigo,

monografia, dissertação ou tese, devem-se seguir as seguintes diretrizes para uma boa apresentação:

o resumo deve preceder o texto, e estar escrito na mesma língua deste; deve incluir

obrigatoriamente um resumo em português, no caso de artigos em língua estrangeira publicados em

periódicos brasileiros; o resumo deve ser redigido em um único parágrafo, com espaçamento entre

linha simples e sem recuo de parágrafo; o resumo deve conter em seu primeiro parágrafo, o assunto

tratado, situando-o no tempo e no espaço; o resumo deve conter os objetivos, os métodos, os

resultados e as conclusões do trabalho e ser escrito, como já falamos expressamos acima com no

máximo 400 palavras.

13.6 Elementos Textuais

Constituem o texto propriamente dito: introdução, desenvolvimento, e conclusão. Nos

tópicos seguintes discutiremos cada um deles.

13.7 A Introdução

A introdução é como a sala de visitas de uma casa. Tomar muito cuidado com as primeiras

palavras escritas. Ali o leitor decidirá se continuará ou não a leitura. Deve conter claramente já nas

primeiras linhas o tema do artigo, sua contextualização teórico-histórico-geográfica. Se for o caso,

explicitar o problema prático que gerou a pesquisa, a sua construção enquanto problema de

pesquisa, ou seja, o problema circunstanciado em sua empiria (constituição empírica) e em sua

teoria: o objeto de pesquisa. Descrever as principais questões de pesquisa e o seu desenvolvimento

em ideias centrais e secundárias. Descrever a organização estrutural do texto em partes, capítulos e

subcapítulos, permitindo que o leitor, vislumbre o que encontrará se decidir pela continuidade da

leitura. Deve-se buscar convencer o leitor pela opção de continuar a leitura sem, entretanto,

prometer o que não se poderá cumprir.

Do ponto de vista da estrutura lógica do texto, a introdução é o primeiro elemento textual,

porém, do ponto de vista cronológico deve ser o último a ser escrito, exatamente para ser possível

retratar com propriedade tanto a estrutura do texto quanto a síntese das ideias defendidas pelo autor.

Lembre-se que você já apresentou um resumo nas páginas iniciais, nesse momento você deverá

apresentar uma síntese.

Finalmente apresentam-se também breves palavras de como o artigo é concluído. Não há

nenhum problema, lembre-se que você estará escrevendo um artigo científico e não uma novela

policial. Aqui você poderá dizer já na introdução que quem matou foi o mordomo, o essencial será

você apresentar as provas no desenvolvimento e a articulação final, o encadeamento entre as

evidências que provam que foi o mordomo como um ápice em sua conclusão.

13.8 O Desenvolvimento

Aviso aos navegantes: nunca, mas, nunca escrevam depois da introdução do seu artigo:

Desenvolvimento. O desenvolvimento é o corpo de texto do seu artigo. Ele é composto pelas partes,

capítulos e parágrafos do seu texto. Mas o título das partes e dos capítulos é que comporão o

desenvolvimento do artigo (Ver Exemplo de Organização dos Elementos Textuais de Um Artigo

Científico).

O desenvolvimento é o lugar de tratar da explicitação do problema que gerou a pesquisa, do

aprofundamento das questões de pesquisa que permitiram o surgimento ideias e as argumentações.

Os capítulos podem e devem ser organizados dos elementos mais simples para os mais complexos

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64

permitindo ao leitor o acompanhamento do eixo de argumentação que levará à afirmação contida na

ideia ou nas ideias centrais.

A depender da complexidade do tema o autor poderá decidir pela subdivisão em partes ou

em capítulos. Em se tratando de um artigo baseado em uma pesquisa é importante descrever a

metodologia e as técnicas utilizadas no planejamento e execução da pesquisa.

É no desenvolvimento, em sua estruturação em capítulos que o autor do artigo desenvolverá

o debate das ideias e apresentará os resultados da pesquisa organizando sistematicamente a

discussão para o desfecho de sua conclusão.

13.9 A Conclusão do Artigo

A conclusão de um artigo científico é o momento de retomada dos elementos anunciados na

introdução e desenvolvidos nos capítulos, e deve ser clara e concisa. O autor deve retomar os

elementos essenciais abordados, as ideias principais, a articulação dos argumentos e apresentar de

forma direta a opinião do autor.

Além de destacar os resultados obtidos pode, ao mesmo tempo, conter elementos de

autocrítica onde o autor aponta lacunas não preenchidas nos procedimentos de pesquisa,

possibilidades de novas pesquisas ou estudos, enfim, múltiplas possibilidades de dar seguimento ao

trabalho realizado.

13.10 Elementos Pós-Textuais

Alguns artigos podem incluir também elementos pós-textuais, como bibliografias,

apêndices, anexos, tabelas, gráficos. Em se tratando de artigos curtos, exceto a bibliografia

pensamos que o mais prático, principalmente para facilitar a leitura, é incluir esses elementos no

próprio corpo do texto.

14 Referências

É muito importante incluir a lista de textos (livros, artigos impressos, artigos eletrônicos,

etc.) efetivamente citados no final do artigo. Esta lista de textos usados na elaboração do artigo,

deve conter somente os textos que foram lidos e que serviram de base para a elaboração do artigo,

tendo sido citados no corpo do artigo (na forma de citação literal, ou na forma de paráfrase). O

nome recomendado para esse tópico é referências; no caso de conter apenas referências de livros

(mas não de artigos eletrônicos, por exemplo), podem ser denominado referências bibliográficas.

15 CONCLUSÃO

Como anunciamos na introdução, as diretrizes apresentadas são mais uma contribuição para

o avanço do estudo e da pesquisa em nossas instituições de ensino e pesquisa. Entendemos que o

momento da produção de conhecimento deve ser um processo contínuo do ―que fazer‖ da educação

em geral. Estudar, pesquisar, escrever, publicar como passos de um mesmo processo que se assim

assumido o resultado final será sempre o melhor: a produção e transmissão de conhecimento.

Para finalizar, um alerta de que a busca de clareza e de simplicidade, devem sempre nortear

o processo de produção desde um simples resumo, de uma resenha e principalmente de um artigo

científico. Aquilo que não puder ser expresso de forma clara e simples é porque não foi

compreendido com profundidade pelo estudante ou pelo pesquisador e, portanto, não se deixará

transmitir com clareza. A elaboração de um artigo é o momento em que o pesquisador assume o

papel de autor de suas ideias. A simplicidade e a clareza na exposição das ideias é função direta da

profundidade na compreensão dos conceitos estudados ou dos fenômenos pesquisados.

O objetivo da pesquisa científica é a publicação. Os cientistas, estudantes, pesquisadores em

geral, são avaliados atualmente não por suas habilidades, mas, por suas publicações. O que quer a

sociedade da informação é que toda atividade humana converta-se em conhecimento e a pesquisa é

a atividade por excelência de produção de conhecimento. É através do artigo científico e de sua

publicação que o conhecimento enquanto resultado da atividade humana ganha valor, torna-se bem

de consumo, converte-se em riqueza social.

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65

Referências

APOLINÁRIO, Fábio. Dicionário de Metodologia Científica: um guia para a produção do

conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2004.

DEMO, Pedro. Ciência. Ideologia e poder: uma sátira às Ciências Sociais. São Paulo: Atlas,

1998.

SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2003.

UFPR / IPARDES. Normas para apresentação de documentos científicos: periódicos e artigos

de periódicos. Vol. 4. Curitiba: Editora da UFPR, 2002.

16 MAPA CONCEITUAL

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Exemplo de aplicação de mapa conceitual.

A teoria a respeito dos Mapas Conceituais foi desenvolvida na década de 70 pelo

pesquisador e navegador norte-americano Joseph Novak, com vistas à facilitar a administração, ao

nível de Comando e Estado Maior, de uma companhia de navegação. Ele define mapa conceitual

como uma ferramenta administrativa, para organizar e representar o conhecimento, de forma geral,

sendo basicamente um aperfeiçoamento do conhecido organograma, somente que, bastante, e muito

detalhado, com fins de ser utilizado em trabalho de equipe e/ou em colegiado.

O então chamado mapa conceitual, foi originalmente baseado na teoria da aprendizagem

significativa de David Ausubel. A aprendizagem pode ser dita significativa quando uma nova

informação adquire significado para o aprendiz através de uma espécie de ‗ancoragem‘ em aspectos

relevantes da estrutura cognitiva preexistente do indivíduo. Na aprendizagem significativa há uma

Page 66: Linguagem e Tecnologia - Apostila-bio

66

interação entre o novo conhecimento e o já existente, na qual ambos se modificam. À medida que o

conhecimento prévio serve de base para a atribuição de significados à nova informação, ele também

se modifica. A estrutura cognitiva está constantemente se reestruturando durante a aprendizagem

significativa. O processo é dinâmico; o conhecimento vai sendo construído.

Podemos dizer que mapa conceitual é uma representação gráfica em duas ou mais

dimensões de um conjunto de conceitos construídos de tal forma que as relações entre eles sejam

evidentes. Os conceitos aparecem dentro de caixas enquanto que as relações entre os conceitos são

especificadas através de frases de ligação nos arcos que unem os conceitos. As frases de ligação têm

funções estruturantes e exercem papel fundamental na representação de uma relação entre dois

conceitos. A dois conceitos, conectados por uma frase de ligação chamamos de proposição. As

proposições são uma característica particular dos mapas conceituais se comparados a outros tipos de

representação como os mapas mentais.

Técnica de construção de Mapas Conceituais

Uma possível técnica de construção de um mapa conceitual pode seguir as seguintes etapas:

a) ter, antes, uma boa inteligencia inicial cuja resposta estará expressa no mapa geográfico

construído;

b) escolher um conjunto de conceitos (palavras-chave) dispondo-os no final do espaço onde

o mapa será elaborado;

c) escolher um conceito para estabelecimento da(s) relação(ões) entre eles;

d) decidir qual o par e escrever uma frase de ligação para esse par de conceitos escolhido;

e) a repetição das etapas c) e d) tantas vezes quanto se fizer necessário (em geral até que

todos os conceitos escolhidos tenham, ao menos, uma ligação com outro conceito).

Resumidamente, os conceitos se relacionam da seguinte forma:

"conceito" - verbo - "conceito".

Podendo um mesmo conceito estar relacionado a diversos outros.

White e Gunstone,1997, propõem uma seqüência de etapas que auxiliam a construção de um

mapa conceitual:

• Escreva os termos ou conceitos principais que você conhece sobre o tópico selecionado.

Escreva cada conceito ou termo em um cartão.

• Revise os cartões, separando aqueles conceitos que você NÃO entendeu. Também coloque

de lado aqueles que NÃO ESTÃO relacionados com qualquer outro termo. Os cartões restantes são

aqueles que serão usados na construção do mapa conceitual.

• Organize os cartões de forma que os termos relacionados fiquem perto uns dos outros.

• Cole os cartões em um pedaço de papel tão logo você esteja satisfeito com o arranjo. Deixe

um pequeno espaço para as linhas que você irá traçar.

• Desenhe linhas entre os termos que você considera que estão relacionados.

• Escreva sobre cada linha a natureza da relação entre os termos.

• Se você deixou cartões separados na etapa 3, volte e verifique se alguns deles ajustam-se

ao mapa conceitual que você construiu. Se isto acontecer, assegure-se de adicionar as linhas e

relações entre estes novos itens.

Avaliação de mapas conceituais

A ideia principal do uso de mapas na avaliação dos processos de aprendizagem é a de

avaliar o aprendiz em relação ao que ele já sabe, a partir das construções conceituais que ele

conseguir criar, isto é, como ele estrutura, hierarquiza, diferencia, relaciona, discrimina e integra os

conceitos de um dado minimundo em observação, por exemplo.

Isso significa que não existe mapa conceitual ―correto‖. Um professor e/ou administrador

nunca deve apresentar aos alunos o mapa conceitual de um certo conteúdo e sim um mapa

conceitual para esse conteúdo segundo os significados que ele atribui aos conceitos e às relações

significativas entre eles. Da mesma maneira, nunca se deve esperar que o aluno e/ou

aprendizes/pares, apresentem na avaliação o mapa conceitual ―correto‖ de um certo conteúdo. Isso

não existe. O que o irão apresentar é o seu mapa e o importante não é se esse mapa está certo ou

não, mas sim se ele dá evidências de que estejam aprendendo significativamente o conteúdo.

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A análise de mapas conceituais é essencialmente qualitativa. O apresentador, ao invés de

preocupar-se em atribuir um escore ao mapa traçado pelos participantes, deve procurar interpretar a

informação dada pelo interessado no mapa a fim de obter evidências de aprendizagem significativa.

Explicações do interessados, orais ou escritas, em relação a seu mapa facilitam muito a tarefa do

orientador nesse sentido.