LINGÜÍSTICA GERAL E LINGÜÍSTICA ROMÂNICA
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8/3/2019 LINGSTICA GERAL E LINGSTICA ROMNICA
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LINGSTICA GERAL E LINGSTICA ROMNICA:
FUSO E CONFUSO ENTRE OBJETOS E MTODOS DA ( S )
LINGSTICAS E DA ( S ) FILOLOGIA ( S )
Pretendemos, aqui, levantar as diversas conceituaes, em diversos autores, das cincias que
se ocupam da Linguagem Humana, nos diversos aspectos:
Sincrnico e Diacrnico;
Textual, Contextual e Intertextual:
Descritivo, Prescritivo / Proscritivo e Produtivo.
Estando as tarefas dos fillogos e lingistas em regime de interseo e de interdepndencia, torna-
se interessante observar como autores em diferentes pocas e em diferentes escolas as delimitaram,ou procuraram delimitar. Sendo esse um aspecto dos mais controvertidos em nossos tempos,
cumpre-se fazer levantamento, ao menos sumrio, da abrangncia dos termosFilologia Romnica e
Lingstica Romnica.
O ttulo desse artigo fez-me lembrar texto apresentado pelo Prof. Celso Cunha, em 1973,
em CONGRESSO INTERNACIONAL DE FILOLOGIA PORTUGUESA. Por diversas razes, s
recentemente esse texto chegou-me s mos, em forma mimeografada.
Logo no primeiro pargrafo, manifestou o prof. Cunha sua estranheza, pelo ttulo do
Congresso, pois j estava se habituando diminuio do prestgio, no Pas, dos termos filologia e
fillogo, diminuio por ele atribuda (lembremo-nos, em 1973) influncia da lingstica
monocrnica americana, de tcnica descritiva e no explicativa.
Ressalta, ainda, o prezado mestre, estar, mesmo na Frana, o campo semntico de filologia
restrito aos estudos dos textos literrios e sua transmisso, revestido, at certo ponto, de carter
pejorativo, pela rudeza com que alguns semilogos ou formalistas da nova crtica, ridicularizavam
os mtodos de alguns de seus cultores.
Tambm em outros pases, onde o termo filologia j gozou de grande prestgio, (que em
parte ainda conserva ) como Itlia, Espanha, Alemanha, o aspecto tradicionalista da disciplina tem
dado ocasio a crticas de lingistas erroneamente fixados apenas hora presente e que, por sua
vez, acusam os fillogos de no se utilizarem de conquistas recentes, mantendo uma anacrnica
fidelidade a mtodos superados. No mesmo texto, o Prof. Cunha cita Hammarstrm, 1959: A bem
dizer, h um abismo entre a descrio dos fillogos e dos lingistas. A primeira no faz progressos
h cincoenta anos. Ela , ainda, pr-saussuriana. Quanto tempo os fillogos, eruditos, ecompetentes em domnios distintos da descrio lingstica, prosseguiro nas maneiras de proceder
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que hoje pertencem ao diletantismo? J no seria tempo de escolher: ou a renovao, ou o
silncio?
Como no situao para se provocar brigas, muito pelo contrrio, sou levada a pensar que
Hammarstrm via na filologia apenas a conservao e transmisso de textos medievais de lnguas
europias, com o registro de formas fonticas arcaizadas e o seu possvel timo, latino ou no, oque j no seria pouco trabalho, pois incluiria o levantamento, dos documentos, sua autenticao, o
desdobramento de abreviaturas etc. So operaes delicadas que exigem domnio dos grafemas em
relao aos fonemas, nem sempre fcil de ser obtido. Deve o fillogo reconstituir a lngua de seu
autor, como um sistema em si, a um tempo sincrnico, sintpico, sinstrtico e sinfsico e, por outro
lado, deve estar em condies de observ-lo dentro do diassistema, ou seja, de um panorama que se
desenrola em sua amplitude diacrnica, diatpica, diastrtica e diafsica.
A uma filologia atomstica, linear, amesquinhadora, opem-se, tambm, os bons fillogos,
como, da mesma forma, os bons lingistas. Faamos todos o exame da lngua oral, no seu dia-a-
dia, no seu sobreviver e renovar-se, assim como tambm da lngua escrita, conservada nos textos
mais ou menos antigos, como comprovantes de diversidades, de supostas modernidades, de
formas regionais, tidas como desaparecidas. Se no os explicarmos, na totalidade, teremos, ao
menos, a sua saborosa fruio como recompensa.
Situando a questo nos dias de hoje ( lingstica x filologia ), consultamos algumas obras,
aleatoriamente, a ver como os diversos autores dividem, se que dividem, as tarefas que competem
ao lingista e as tarefas que competem ao fillogo.Segue-se, logo nesse ponto, por razes prticas, a bibliografia consultada, a qual ser
codificada para melhor manuseio:
CAMARA Jr, J. Mattoso. Princpios de lingstica geral.Rio: Acadmica, 1964. (CAM)
FARACO, Carlos Alberto. Lingstica histrica. S. Paulo: tica, 1991. (FAR)
IORDAN, Iorgu. Introduo lingstica romnica. Lisboa: Ed. Fundao Calouste Gulbenkian,
1962. (IOR)
MELO, Gladstone C. de. Iniciao filologia e lingstica portuguesa. Rio: Acadmica, 1971.
(MEL)
MIAZZI, Maria Lusa Fernandez. Introduo lingstica romnica. S. Paulo: Cultrix, 1976 .
(MIA)
SILVA NETO, Serafim, Manual de filologia portuguesa: histria, problemas, mtodos. Rio:
Presena / Braslia: INL, 1988. (SIL)
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Excetuando-se a obra de Mattoso Cmara, que se prope e, de fato , uma lingstica geral,
nos demais s temos o ttulo filologia, nas obras dos mestres Gladstone e Silva Neto, sendo que,
com exclusividade, apenas nesse ltimo.
Faremos, comparativamente, o traado das definies e tarefas, atribudas, por esses vrios
autores s disciplinas em questo:
FILOLOGIA GERAL / ROMNICA LINGSTICA GERAL / ROMNICA
CAM A lingstica prope-se a estudar a lngua e no o
discurso, a fala, (a parole);nos discursos individuais,
s devem interessar os elementos vocais coletivos e
a sua organizao normal. Se os discursos, que a
cada passo, se nos apresentam observao so atos
mentais individuais, o indivduo no cria a sualinguagem, apenas faz aplicao daquela que lhe foi
passada e, at mesmo imposta no interior de uma
sociedade . , portanto a lngua o objeto de estudo
da lingstica. Ressalte-se a hiptese de depreender
do ato lingstico, o que h nele de individual, isto ,
o esforo do falante em expressar-se da maneira
mais adequada situao em que se encontra,
fugindo a automatizao. A lngua ser, ento, de
maneira geral, coletiva; ter peculiaridades, ou, ao
menos, preferncias, constituindo assim, de certo
modo, mltiplas lnguas individuais, ou idioletos,
mais adequadamente estudados pela estilstica . O
estilo , em princpio, individual, mas os traos
estilsticos coincidem, em grande parte, nos
indivduos pertencentes a uma sociedade. Em
resumo, cada ato de linguagem se fundamenta num
sistema lingstico, que , propriamente, a lngua , e
tambm sistematiza os recursos lingsticos usados
nas peculiaridades individuais e coletivas dos
membros de uma comunidade. (p 12 e seguintes)FAR A lingstica histrica lida com o fato de que as
lnguas mudam com o passar do tempo: no so
estticas, pelo contrario, sua configurao se altera
continuamente, no tempo e, tambm, no espao.
Essa dinmica o objeto de estudo da lingstica
histrica. A maioria dos falantes, ou no tem
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conscincia das mudanas, ou as tm como erros ,
com base num padro , que deveria ser permanente,
uma vez que no sofre variaes uniformes, num
mesmo ritmo. Culturas que possuem lngua escrita
tendem a desejar para essa uma uniformidade, cuja
rutura s observada e perdoada em textos muito
antigos ou regionalistas O autor faz, ainda,
distino entre historia da lingstica e lingstica
histrica, ressaltando ser a tarefa dessa ltima
estudar as mudanas que ocorrem na lngua medida
em que o tempo passa. (p. 7 e seguintes) .IOR Embora s h algumas dcadas se fale de
filologia romnica, como uma cincia
histrica, necessria ao estudo da lnguaromnica escrita e falada, o certo que ela
no descoberta das ltimas geraes. J na
Idade Mdia se tinha desenvolvido o seu
estudo, com fins prticos e tericos,
maneira do que se fazia em Grcia e Roma
com a lngua e a literatura gregas e latinas. A
partir do sculo XVIII, os estudos sobre as
lnguas e as literaturas romnicas apoiaram-se nas cincias aparentadas, tidas como
exatas, na poca, compartimentada e
enfileirada, alimentada e delimitada como o
determinismo, o evolucionismo, o
naturalismo, etc. Por outro lado, enquanto o
nacionalismo favorecia o estudo dos falares
locais, no deixando de op-los aos falares
padro, o imperialismo tomava emconsiderao as lnguas ditas selvagens.
Tambm o estudo da histria do pas e das
cincias jurdicas obrigava coleta e
determinao do significado de palavras
arcaicas existentes nas obras da histria e do
direito. A filologia passou a trabalhar sobre
textos j existentes e ter a tarefa de separar a
palavra dialetal da expresso equivalente dalngua culta. J, no sculo XIX, graas aos
irmos Grimm, Friedrich Diez e Franz Bopp,
Considerando Friedrich Diez como o pai da
lingstica romnica, o autor afirma ter sido esse
estudioso o primeiro a dedicar-se ao estudosistemtico das lnguas romnicas, analisando e
comparando, pela primeira vez, seu patrimnio, sua
evoluo fontica, seu sistema de flexo, de
derivao e de sintaxe, servindo o mtodo histrico-
comparativo de elemento de confirmao de fatos j
evidentes a muitos estudiosos do assunto. (p.7 e
seguintes)
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formou-se uma viso histrica da lngua, com
mtodo e objetos prprios ( p. 8 e seguintes ).MEL A filologia, confundida com a pior
deformao da gramtica, andou .entregue a
indivduos corregedores de erros. A
conseqncia que se foi filtrando entre os
leigos um conceito bem pouco lisonjeiro de
ser a filologia especulao de desocupados.
Se ningum pergunta a um matemtico qual
sua opinio sobre determinado ponto de sua
matria, no falta quem pergunte ao fillogo
o que ele acha disso ou daquilo . O objeto da
filologia nitidamente estabelecido, com
seus mtodos prprios, seguros e apurados,com suas concluses definitivas. Esse objeto
a forma de lngua atestada por documentos
escritos. Trata-se de uma cincia muito
antiga e pode abranger um tipo de lngua ou
uma famlia de lnguas. , sem dvida, uma
cincia aplicada, onde se pode, ainda, incluir
a histria da literatura , j que, quem estuda
cientificamente a lngua culta portuguesa,tem que conhecer, muito bem seus
monumentos literrios. (p. 20 a 23)
Se a filologia stricto-sensu o estudo cientfico de
uma lngua, atestada em seus documentos escritos,
logo se deduz que, onde no h documentos
escritos, no pode haver filologia. No , portanto,
possvel, umafilologiacaraj . Cumpre ressaltar ser
a filologia uma cincia aplicada, seu papel fixar,
interpretar e comentar os textos.
A lingstica, porm, ou glotologia, cincia
especulativa.
O seu objeto a lngua em si mesma, a lngua como
fato social. No a lngua A ou B, mas o fenmeno-
lngua, sua estrutura, seu contedo, sua essncia,seus processos, suas relaes com o pensamento,
com o sentimento, com a vontade, com a sociedade,
com a cultura, sua desagregao, causas de
estabilidade e fatores de diferenciao, interao
lingstica, etc. Onde houver atividade lingstica,
haver matria para a curiosidade cientfica do
lingista: lnguas de minorias, grias , falar de
crianas, jarges tcnicos, etc. ( p. 20 a 23)
MIA Costuma-se chamar filologia romnica o
estudo das lnguas romnicas, desde os
tempos mais remotos at s fases atuais. A
rigor, deve-se estabelecer diferena entre
filologia e lingstica romnica, ou seja,
estudo de textos neolatinos (no apenasliterrios, como de ordem pragmtica) e o das
vrias lnguas oriundas do latim, tanto
sincrnica como diacronicamente. Do ponto
de vista filolgico, portanto, cabe ao
romanista a pesquisa e publicao de textos. (
p. 15 a 17) (A autora cita ainda o Prof. Slvio
Elia, que considera a filologia um aspecto da
lingstica histrica, do plano diacrnico, em
oposio ao plano sincrnico que seria a
gramtica) - (parnteses meus)
No plano lingstico estudam-se os vrios aspectos
da histria das lnguas neolatinas, sua evoluo a
partir do latim vulgar, as influncias externas que
receberam, os contatos que mantiveram entre si, a
sua fragmentao dialetal, enfim todos os fenmenos
concernentes ao lxico, fonmica, morfo-sintaxe,considerados dentro do conjunto neolatino. ( p. 15 a
17)
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SIL No absoluta e impermevel a distino
entre sincronia e diacronia . Cada estado de
lngua continuao de um anterior e, por
sua vez, encerra os germens que o tornaro
um novo estado lingstico . Se a filologia
encerra os estudos possveis sobre uma
lngua ou grupo de lnguas, para tanto vai
necessitar, muitas vezes, do fio condutor
constitudo por slida base lingstica. Nas
atividades filolgicas h Marta e h Maria.
H o trabalho de campo, os estudos
dialetolgicos, a geografia lingstica, como
h concentrao na anlise de antigo texto
da lngua, ou nas vrias fases evolutivas dela.
( p. 15 a 18)
A lingstica uma cincia de princpios gerais,
aplicveis a quaisquer lnguas. Desse modo, no
podemos falar em lingstica francesa, lingstica
inglesa, etc.; lingstica ser sempre geral. Por sua
vez, o lingista tem que conhecer os fatos da histria
de vrias lnguas, para poder alcanar seus princpios
gerais. (p. 15 a 18)
Fizemos, aqui, transcries no aspeadas dos autores citados, pois vimo-nos na necessidade
de resum-las, na esperana de no ter faltado fidelidade ao que foi dito.
Podemos observar, assim diversos pontos de vista, ou diversas colocaes, como se diz mais
modernamente. Podemos escolher entre elas, ou somar umas com as outras, no todo ou em parte,
ou ficarmos numa atitude, to conciliatria como vida de trabalho, com todas elas.
Espero que os senhores lingistas/fillogos, assim como os senhores fillogos/lingistas
tenham material que nos leve a meditar e a unir cada vez mais nossos esforos.
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