Linguistic A

11
DEPARTAMENTO DE LETRAS SOLETRAS, Ano VII, N° 13. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2007 118 PRECONCEITO: LINGÜÍSTICO OU SOCIAL? Luciana Morais da Silva Acreditar na linguagem como importante instrumento de co- municação deveria ser um dos principais motivos de a aquisição da fala ser tão essencial e precoce, pois a fala é um aprendizado igual aos primeiros passos no ambiente familiar, natural e incontrolável. Há aqui a responsabilidade de estabelecer o conhecimento como algo essencial, porém este deve respeitar os limites do próximo no que diz respeito à formação lingüística do mesmo, visto que um ser humano de origem humilde tem a mesma capacidade de outro, que desfrute das oportunidades mais coerentes com qualquer bom desenvolvimento. Cada descrição de “erro” necessita de prévia análise e inves- timento de quem as observa, pois a forma mais vil de discriminar e olhar para o “caipira” e diagnosticá-lo como um diferente, não devi- do à maneira como ele se expressa, mas por sua origem, mesmo que este consiga expor as suas idéias de modo brilhante. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo discutir o preconceito lingüístico, isto é, um conceito que se forma antes do conhecimento real, o qual corrobora para desestruturar uma organização social, pois uma simples imposição acaba desestimulando o educando que cercado pelo medo do “erro”, ou não apreende o conhecimento ne- cessário ou se entrega à visão de que não pode fugir de seu fracasso escolar. A norma culta, tida como norma padrão, deveria auxiliar na formação de uma sociedade monolíngue e consciente da estrutura funcional da língua, no entanto, em uma sociedade como a brasileira, tem se tornado um problema, pois esta norma que deveria ter por ob- jetivo a inserção acaba segregando, além de agravar cada vez mais os preconceitos que se disfarçam em forma de língua.

description

Preconceito: Linguistico ou social?

Transcript of Linguistic A

DEPARTAMENTO DE LETRAS SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007118PRECONCEITO: LINGSTICO OU SOCIAL? Luciana Morais da Silva Acreditar na linguagem como importante instrumento de co-municao deveria ser um dos principais motivos de a aquisio da fala ser to essencial e precoce, pois a fala um aprendizado igual aos primeiros passos no ambiente familiar, natural e incontrolvel. Haquiaresponsabilidadedeestabeleceroconhecimento como algo essencial, porm este deve respeitar os limites do prximo no que diz respeito formao lingstica do mesmo, visto que um ser humano de origem humilde tem a mesma capacidade de outro, quedesfrutedasoportunidadesmaiscoerentescomqualquerbom desenvolvimento. Cada descrio de erro necessita de prvia anlise e inves-timento de quem as observa, pois a forma mais vil de discriminar e olhar para o caipira e diagnostic-lo como um diferente, no devi-do maneira como ele se expressa, mas por sua origem, mesmo que este consiga expor as suas idias de modo brilhante. INTRODUO Opresentetrabalhotemporobjetivodiscutiropreconceito lingstico, isto , um conceito que se forma antes do conhecimento real,oqualcorroboraparadesestruturarumaorganizaosocial, pois uma simples imposio acaba desestimulando o educando que cercado pelo medo do erro, ou no apreende o conhecimento ne-cessrio ou se entrega viso de que no pode fugir de seu fracasso escolar. A norma culta, tida como norma padro, deveria auxiliar na formaodeumasociedademonolngueeconscientedaestrutura funcional da lngua, no entanto, em uma sociedade como a brasileira, tem se tornado um problema, pois esta norma que deveria ter por ob-jetivo a insero acaba segregando, alm de agravar cada vez mais os preconceitos que se disfaram em forma de lngua. FACULDADE DE FORMAO DE PROFESSORES SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007119Para estabelecer um incio de conversa sobre como se d o preconceito pensar-se- a respeito das consideraes de Bagno em seu livro A lngua de Eullia, no qual h um dilogo com o objeti-vo de conscientizar as pessoas sobre as implicaes de um precon-ceito to ou mais cruel do que os considerados em sociedades como errados, porque disfara de erro a averso que um membro da so-ciedade tem a origem do outro. Odebateaquiapresentadopropeumapreocupaocomo quanto linguagem influencia e influenciada pela convivncia en-tre as pessoas, ou seja, h a necessidade de estabelecer o quanto s escolhas e as conseqncias das mesmas transformam o cotidiano e a vivncia em comum. O objetivo principal desta abordagem ser demonstrar as im-plicaes de um preconceito to arraigado para a convivncia, visto que por ser um assunto que se passa no meio social enfatizado por pressupostos tericos, os quais se baseiam na histria da lngua ou na comparao com outras lnguas para fomentar uma anlise das im-plicaes de se considerar um uso como errado e no como uma marca social, quando na verdade tem sua lgica explicitada na evo-luo da lngua, ou seja, uma maneira diferente do padro pode ter uma explicao mais correta que o uso considerado certo. OBJ ETO Este trabalho tratar do preconceito lingstico, que nada mais que um preconceito social, o qual distingue e separa classes soci-ais,estigmatizandoouprestigiandofalantesdalnguaportuguesa brasileira, ou seja, sua lngua materna. ntida a influncia que a lngua, um fator social, tem na vida de ns seres humanos. O modo de falar e escrever diz, ou pode dizer at mesmo de onde o falante se origina e em qual classe est inseri-do. Assim como o modo de se vestir, o modo de andar, a cor do ca-belo, a cor da pele designam o nvel social do falante. A fala e a es-crita fazem parte de nosso cotidiano, e no devem ser confundidas como sendo a mesma coisa, porque a fala inerente pessoa, en-quanto a escrita pode ou no ser aprendida. DEPARTAMENTO DE LETRAS SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007120O preconceito lingstico um tema freqentemente aborda-do por alguns lingistas com a inteno (dentre outras) de valorizar e conscientizar a existncia das variedades dialetais brasileiras, pois a lngua portuguesa como qualquer outra lngua heterognea e mu-tvel. Tais mudanas no so bem aceitas por alguns membros da sociedade, uma minoria pertencente a classes privilegiadas, a partir do momento em que essas variedades passam a ser utilizadas por fa-lantes oriundos da zona rural ou dos subrbios dos centros urbanos, o que se encontra tambm nas escolas, as quais desrespeitam seus alu-nos tentando impor uma unidade lingstica existente apenas na ima-ginao, ou seja, apesar da enorme diversidade e variabilidade apre-sentadapelalngua,nousocotidiano,faladanoBrasilaspessoas tendem a transformar o idioleto11 (Pretti: 2000: 23) do outro em erro. Sabe-se que o Brasil historicamente foi uma colnia de Por-tugal, adquirindo sua lngua e at mesmo alguns hbitos, contudo clara a existncia de diferenas entre o portugus do Brasil e o de Portugal. Na maioria das sociedades, as pessoas com poder poltico e aquisitivo acham que tem uma lngua mais correta, porm os brasi-leiros letrados discriminam a si mesmos e aos seus compatriotas po-bres (analfabetos ou semi-analfabetos) achando que no falam bem o portugus,poisacreditamqueapenasosportuguesesconhecema lngua, isto , devido constituio da identidade do povo brasileiro, ter sido historicamente cercada de represso, h uma falsa viso na qual o portugus de Portugal se torna algo distante, quando na ver-dade sabe-se que apenas evoluiu de maneira diferente. Da mesma forma alguns puristas da lngua receiam que o am-plo uso de variedades estigmatizadas em detrimento de normas e pa-dres estabelecidos pela gramtica, propiciar a decadncia da lngua portuguesa, visto que essa variedade, em geral, apresentada com maior proximidade as crianas, seja ela de qualquer classe social, po-

11 H em Pretti referncias ao significado de idioleto, entretanto fez-se a opo der utilizar Hoc-kett, porm na pgina apresentada ele cita diversos estudiosos da lngua, que em seus textos tm uma definio para este termo. Segundo Hockett o termo idioleto poderia ser definido co-mo: a totalidade de hbitos da fala de um indivduo num tempo determinado. FACULDADE DE FORMAO DE PROFESSORES SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007121rm est no aceitao por parte de um grupo corroborada por uma idia preconcebida que pretende disfarar o politicamente incorre-to, passando a uma anlise distanciada das verdadeiras razes para debochar e rir de uma maneira diferente da padro, principalmente quando esta utilizada por algum que no pertena ao mesmo grupo. ANLISE DO OBJ ETO Marcos Bagno, lingista brasileiro considera a lngua como um elemento de insero social, com um valor concreto, da mesma forma que os seres humanos falantes dessa lngua. No entanto, o que deveriaunir,acabasegregando,motivadaporumpreconceitoque exterioriza a lngua, tornando-a algo mstico, inacessvel, visto que transforma um falante de sua lngua materna em um aprendiz desti-nado ao fracasso em sua prpria lngua. A norma oculta, aludindo ao autor apresentado acima e, utili-zada por falantes letrados, est permeada por um preconceito que diz respeito s classes mais estigmatizadas, as quais quase no tm aces-so educao, pois ele consiste na idia de que existe apenas uma maneira correta de falar, esta aparece no conjunto de regras e precei-tos das gramticas que em geral, se baseiam nas grandes obras liter-rias escritas no passado, mostrando um padro a ser seguido. Muitas pessoas tentam aprender a norma culta a fim de obter uma ascenso social, entretanto tal tentativa uma utopia, pois dominar as regras da norma padro no algo prometedor de mobilidade social, seno a maioria dos professores de lngua seriam ricos. H um preconceito nos brasileiros, em que eles descriminam o prximo por sua opo sexual, cor, sexo, por no saberem portu-gus etc., no entanto combater o preconceito lingstico nem passa pelas suas cabeas, pois como se no existisse, j os outros tipos de preconceitos so enquadrados dentro dos politicamente incorretos como j citados anteriormente. Bagno em seu livro Preconceito lingstico o que , como se faz, procura fazer a desconstruo desse preconceito, reconhecendo os motivos deste problema como o analfabetismo, pouco hbito de leitura,gramticatradicionalincoerente...Bagnobuscatambmas mudanasnas atitudes dos falantes,na noo de erro, enfim, da DEPARTAMENTO DE LETRAS SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007122maneira como os professores e pessoas de modo geral devem encarar a produo de sua lngua materna. Os erros, consoante a sociedade e descritos pelo autor, respei-tam uma estranha regra, na qual o que determina a gravidade de um erro ou umacerto estnas caractersticas sociais dos falantes. Elessedividememdoistipos,querecebemonomedegraduais quando ocorre mais nas variedades prestigiadas do que nas estigma-tizadas, sendo, menos combatidos e tornando-se certos em poucas geraes, e traos descontnuos, quando aparecem mais nas varieda-des estigmatizadas, sendo ridicularizado pelos falantes de prestgio e pressionado pelos professores nas escolas, com intuito de eliminar essestraosdescontnuosdeseusalunosprovenientesdasclasses consideradasinferiores,demonstrandoumpreconceitosocioeco-nmico e cultural. Mrio Perini em sua Gramtica Descritiva, afirma que o jo-vem brasileiro tem um tipo de averso ao estudo da gramtica. A in-tenodePeriniaoescreverestagramticaconstruirumpensa-mento crtico e suscitar debates a respeito da lngua. Pois, para ele a gramtica no garantia de escrever bem, ou seja, mesmo uma pes-soa que conhece bem as normas da gramtica pode ser um mau escri-tor. Perini, Bagno, alm de outros autores concordam no que diz respeito gramtica como forma de mistificao da norma culta, ela deve fazer parte do material didtico de nossa escola, todavia no deve ser vista como detentora de todas as verdades do portugus, mas sim como um meio de orientao. Segundo Bagno, h a necessidade de se produzir uma gram-tica do portugus brasileiro que descreva e explique, servindo para sanar dvidas, quando um aluno precisar construir um texto coeso e coerente, defendendo depois a diviso entre uma gramtica descriti-va que descreva as variedades do portugus brasileiro (urbana, rural, regional, das classes sociais etc.) e uma de referncia que tenha no apenas opes tradicionais, mas opes de igual validade, dando po-der de escolha ao falante, quando esse precisar utilizar uma gramti-ca para a construo de um texto mais monitorado. FACULDADE DE FORMAO DE PROFESSORES SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007123TalafirmaodeBagnocorroboraaintenoeducativade Bechara (1993: 14 e 15), quando este diz: No fundo a grande misso do professor de lngua materna no ensi-no da lngua estrangeira o problema outro transformarseualuno num poliglota dentro de sua prpria lngua, possibilitando-lhe escolher a lngua funcional adequada a cada momento de criao e at, no texto em que isso se exigir ou for possvel, entremear vrias lnguas funcionais para distinguir, por exemplo, a modalidade lingstica do narrador ou as modalidades praticadas por seus personagens. Assim sendo, haver opressoem impor, indistintamente, tanto a lngua funcional da modalidade culta a todas as situaes de uso da lin-guagem, como a lngua funcional da modalidade familiar ou coloquial, nas mesmas circunstncias, a todas as situaes de uso da linguagem, pois que ambas as atitudes no recobrem a complexa e rica viso da ln-gua como fator de manifestao da liberdade de expresso do homem. Por outro lado, haver liberdade quando se entender que uma ln-gua histrica no um sistema homogneo e unitrio, mas um diassis-tema, que abarca diversas realidades diatpicas ( isto , a diversidade de dialetos regionais), diastrticas ( isto , a diversidade de nvel social) e diafsicas ( isto , a diversidade de estilos de lngua), e que cada poro da comunidade lingstica realmente possui de direito sua lngua fun-cional, que resulta de uma tcnica histrica especfica. Das afirmaes realizadas por Evanildo Bechara, nota-se que o professor argumento sobre o respeito que deve-se ter para com a lngua, pois esta tem um valor comunicativo, alm da necessidade de se estabelecer uma relao de confiana com o aluno que ao entrar em uma sala de aula no se sinta oprimido nem desestimulado a a-prender,massimcompletoporemsituaesdecomunicaoter pleno conhecimento e oportunidade de escolha do uso de sua lngua. Alm disso, h a necessidade de se pensar a lngua como um conjunto heterogneo e dinmico, pois com o tempo e a continua va-riao, esta sofre mudanas que, em geral, no esto presentes nas prescriesquesoapresentadasnasGramticasNormativas,as quais utilizadas de forma impositiva pelo professor, acabam tornan-do o aluno um mero receptor, como se este fosse uma tbula rasa, na qual o discente, no constri, mas apenas reproduz o seu prprio co-nhecimento com base na repetio. Historicamente, o portugus de Portugal passou de clssico a moderno, devido a transformaes sociais, provenientes da ascenso da burguesia, a qual se tornou a nova classe prestigiada impondo, as-DEPARTAMENTO DE LETRAS SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007124sim, sua maneira de falar s outras classes, formando com suas ca-ractersticaslingsticasoportugusmodernofaladoathojeem Portugal. J no Brasil, o portugus passou por processos de variao e mudana diferentes dos que ocorreram no territrio original, mos-trando desta forma que o portugus de Portugal bem diferente do portugus do Brasil, pois este preserva traos gramaticais clssicos que at hoje se observa na fala. O portugus do Brasil e o de Portugal com o passar do tempo foram sendo adaptados por seus falantes, estes cometendo erros ou no. Tais diferenas dificultam at mesmo a compreenso entre fa-lantes, no entanto, parece que os ditos cultos no enxergam essas diferenas e teimam em dizer que o brasileiro deixou o portugus ca-ir em decadncia. Desde sua colonizao foram tomadas medidas de represso quanto diversidade de lnguas aqui existentes, principal-mente lnguas indgenas. Isso significa dizer que o Marqus de Pom-bal ao decretar o uso da lngua portuguesa como majoritria utilizan-do-se at mesmo da fora contra os falantes de outras lnguas, enrai-zou os problemas freqentes na poltica lingstica atual. Tais pro-blemas lingsticos demonstram a insegurana que um falante brasi-leiro tem a respeito de sua lngua de origem, acarretando dificulda-des para o aprendizado de variantes privilegiadas pela sociedade. Atualmente alguns puristas, como Dora Kramer, tm acredi-tado que a lngua est sendo destruda. No entanto, isto s ocorreria caso seus falantes estivessem em extino ou adotassem outras ln-guas, fato que ocorre no Brasil, como descrito antes, com as lnguas indgenas e no com a lngua portuguesa. A crise da lngua portugue-sa se d em relao ao seu ensino, que inadequado com a realidade social, cultural e econmica na qual se encontra a maioria dos estu-dantes, acarretando grandes dificuldades no aprendizado e at mes-mo decepes por parte de alunos mais curiosos e conscientes que se deparam com as incoerncias presentes nas gramticas normativas. Uma pergunta crucial para o nosso entendimento : Por qu o brasileiro que aos cinco anos falando sua lngua materna, pode ser considerado errado por um colega de classe mdia ou alta que teve mais acesso a cultura letrada? Talvezningumcompreendaesta pergunta,masbuscarrespostasqueasexpliqueimprescindvel, pois o menos letrado conhece bem o portugus do meio em que vive, FACULDADE DE FORMAO DE PROFESSORES SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007125no entanto ao chegar escola tudo que aprendeu com os membros de sua famlia cai por terra e a criana obrigada a rever seus conceitos. Ascrianasaprendemaandar,afalaremsuascasas,com seuspais,avs,irmosetc.Issosignificaqueelasadquiriramsua lngua materna, sua gramtica da lngua falada, o que se ope a gramtica normativa de origem portuguesa utilizada nas escolas para o ensino do que certo e errado. Assim quando a criana obser-va que o ensino de seus familiares est errado, acaba se confun-dindo e aps passar em mdia onze anos estudando sentem-se inca-pazes de usar os recursos de seu prprio idioma. Dessa forma, o por-tugus culto se torna lngua de poucos privilegiados. CONSIDERAES FINAIS Concluir penoso, pois significa que se conseguiu deduzir al-guma coisa e idealizar-se- um desfecho. No entanto, o preconceito lingstico entranhado na sociedade no pode apenas ser entendido, pois buscar respostas para ele tambm tentar encontrar as questes que o causam. O preconceito algo que encontramos em nosso cotidiano, e ele se disfara para tornar a variabilidade lingstica um erro. H estudos sociolingsticos os quais mostram que essas idi-as preconcebidas sobre o portugus do Brasil so em sua maioria fa-lhas e tanto quanto autoritrias, pois no tentam explicar a fala dos brasileiros, apenas ditam regras e normas, desprezando (ou menos-prezando) seus falantes, no s por cometerem os ditos erros, mas tambm e principalmente, por no pertencerem mesma camada social. As escolas, que deveriam ser um meio de insero social, so na verdade reprodutoras das diferenas entre classes sociais, pois en-sinam portugusno como forma de aprimorar a fala, mas princi-palmente com o intuito de valorizar a norma culta, no a utilizada no cotidiano, mas uma norma que tem seu valor representado por uma minoria, a qual presa no apenas a prescrio faz uso desta, da gra-mtica,comointuitodecoagiredemonstrarpoder,ouseja,por meio das regras ditadas s classes mais abastadas oprimem os menos DEPARTAMENTO DE LETRAS SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007126afortunados.Essasinstituies,reproduzindoahierarquiasocial, dogmatizam a ortografia a tal ponto que acabam estigmatizando e a-gravando a falta de prestgio social da maioria dos alunos brasileiros. As idias preconcebidas sobre a lngua so nocivas e coerci-vas a uma convivncia em sociedade, porque elas em geral, se utili-zam da norma culta para encontrar erros na fala de uma pessoa se baseando no no conhecimento da mesma, mais em sua cor, sexo, re-ligio, regio etc. Talvez procurar as causas deste preconceito e tax-lo de er-rado tambm no seja certo, pois o que h no uma tentativa de concertar os erros lingsticos de nossa sociedade, mais um medo de no conseguir continuar impondo suas vontades sobre os demais. Bagno, Scherre, Perini e outros devem ser aplaudidos por ten-tarem conscientizar com brilhantismo a respeito do nosso problema, noapenaslingstico,massocial,oqualvemsendoalicerado quando dizemos a pessoa ao nosso lado, ou at mesmo um aluno que falam errado e no sabem portugus, palavras estas preconceituo-sas, faladas algumas vezes sem termos conscincia, no entanto car-regadas de uma ideologia que deve ser combatida. O conhecimento da gramtica normativa realmente necess-rio, no para ditar o certo e o errado, mas para ter o poder de des-construiramistificaoexistenteaoredordestadisciplinaque causa tanto medo e repulsa aos seus estudantes, ou seja, deve-se bus-car maneiras de ampliar o horizonte do educando, contudo sempre levando em conta a experincia do mesmo. H aqui a necessidade de propor uma concordncia com Bag-noquandoesteexplicitaocarteremergencialdesecomporuma gramtica descritiva que sirva de arcabouo terico no momento da elaborao de um texto escrito, porm deve-se ponderar com Becha-ra, que enquanto no temosummeiomais eficaz que a gramtica normativa, esta pode ser utilizada no para ditar regras, mas com o intuito de estimular no aluno a noo de quo essencial construir conhecimento de modo a tornar o professor um facilitador e no de-tentor do conhecimento mistificado, que tem se tornado o estudo da lngua nas instituies de ensino. FACULDADE DE FORMAO DE PROFESSORES SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007127No momento que se entra em uma sala de aula para aprender ou ensinar deve-se ter prazer e no medo. No se pode continuar a observaralnguacomoseelafossesimplesmenteumaabstrao, como se seus usurios fossem seus destruidores, sua decadncia. Ela parte do povo e necessrio viver sentindo na alma a essncia da prpria lngua materna. Como brasileiros e cidados do pas, deve-se zelar pelo que do povo e tentar melhorar o futuro. DEPARTAMENTO DE LETRAS SOLETRAS, Ano VII, N 13. So Gonalo: UERJ, jan./jun.2007128REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BAGNO,Marcos.Anormaoculta:lngua&podernasociedade brasileira. 2 ed. So Paulo: Parbola, 2003. . Preconceitolingstico: o que , como se faz. 34 ed. So Paulo: Loyola, 2004. .AlnguadeEullia:novelasociolingstica.15ed.So Paulo: Contexto, 2006. BECHARA, Evanildo. Ensino da Gramtica. Opresso? Liberdade? 7 ed. So Paulo: tica, 1993. Srie Princpios. CMARA J r., J oaquim Mattoso: Manual de expresso oral e escri-ta. 13 ed. Rio de J aneiro: Vozes, 1993. J ferson Assuno. Lngua solta contra a norma que exclui www.sinpro-rs.org.br/extra/mai01/educacao1.asp REIS, Maria da Gloria Costa. Escola, Instituio de tortura. So Pau-lo: Scortecci. 2004. www.leialivro.sp.gov.br/texto.php?uid=2994 PERINI,MrioA.Gramticadescritivadoportugus.4ed.So Paulo: tica, 2001. . Para uma nova gramtica do portugus. 10 ed. So Paulo: tica, 2000. . Sofrendo a gramtica. So Paulo: tica, 2002. POSSENTI, Srio. HumoresdaLngua. Campinas: Mercado de Le-tras, 1997. PRETTI, Dino. Sociolingstica: os nveis da fala. So Paulo: Edusp, 2000.