Linha Direta em Revista - O lixo que não é lixo - outubro/2011

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OUTUBRO 2011 - 13ª edição - ANO V - TRIMESTRAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA www.sintetel.org [email protected] Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo EM REVISTA Governo busca popularizar e expandir o acesso à internet de alta velocidade. De um lado, a inclusão digital, de outro, a qualidade da navegação para grandes eventos esportivos PNBL: A banda se alarga ENTREVISTA Secretário de Emprego e Relações de Trabalho do Estado, Davi Zaia fala sobre o trabalho à frente da pasta.

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  • 1. Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicaes no Estado de So Paulowww.sintetel.org [email protected] REVISTA OUTUBRO 2011 - 13 edio - ANO V - TRIMESTRALDISTRIBUIO GRATUITA - VENDA PROIBIDAPNBL: A banda se alarga Governo busca popularizar e expandir o acesso internet de alta velocidade. De um lado, a incluso digital, de outro, a qualidade da navegao para grandes eventos esportivosENTREVISTA Secretrio de Emprego e Relaes de Trabalho do Estado, Davi Zaia fala sobre o trabalho frente da pasta.

2. J retirou o novo Guia de Convnios do Sintetel? O Departamento de Imprensa lanou a stima edio do livrinho mais procurado pelos associados. Agora voc encontra de forma fcil e prtica todos os nomes, endereos e telefones para contato dos convnios firmados pela entidade com o intuito de trazer mais benefcio e comodidade aos nossos trabalhadores mais fiis. So academias, escolas de idiomas, despachantes, clnicas de esttica, alm de uma vasta gama de profissionais especializados nas mais diversas reas da sade e beleza. E no s isso! Se voc associado da regio de So Jos do Rio Preto, Bauru e Ribeiro Preto, agora voc conta com o Guia de Convnios do Interior, que est em sua primeira edio. A iniciativa promete facilitar ainda mais o manuseio da publicao e, em breve, dever ser expandida para as demais regies. Ainda no retirou o seu exemplar? Solicite agora mesmo junto ao seu representante sindical ou na subsede mais prxima. Aproveite! 3. NDICEEM REVISTAEntrevista - Do sindicalismo para o governo ........................ 5 O Secretrio de Emprego e Relaes de Trabalho, Davi Zaia, apresenta o panorama do Estado de So Paulo.10Educao - Bullying: agresso no diverso ...................... 10 Falta respeito e compaixo com o prximo. Isso inaceitvel, afirma a psicloga Maria Tereza Maldonado.13Comportamento - Adeus, Barbie ...................................... 13 Crianas amadurecem cada vez mais cedo e trocam os brinquedos tradicionais por equipamentos eletrnicos.Capa - Banda Larga para todos .................................................. 20 A implantao do Plano Nacional de Banda Larga abre oportunidade para a incluso digital da populao de olho na Copa do Mundo e nas Olimpadas.20Sade - A sade que depende de planos ............................... 26 O Brasil est muito distante de oferecer servio de qualidade para sua populao, apesar de convnios privados o setor est em crise.Cultura - Cinema para pensar ................................................ 3026Filmes menos comerciais passam pelas salas brasileiras gerando reaes diversas.ArtigosEditorias 4 Editorial24 Mulher8 Meio ambiente28 Notas16 Tecnologia33 Passatempo32 Protocolo do bem - Joo Guilherme Vargas Netto 34 Gosto de voc e Vivi um sonho - Artigo do Leitor18 Aposentados LINHA DIRETA em revista 3 4. EditorialO brasileiro quer se comunicar Ol, caros leitores! Chegamos nossa ltima edio deste ano, mas com uma boa matria de capa que envolve um dos assuntos muito discutidos na sociedade e que afeta diretamente a nossa categoria: a banda larga. Ns, da direo do Sintetel, somos a favor da democratizao da inAlmir Munhoz * formao e isso s se d por meio da comunicao em grande escala. Ainda mais que o Brasil ser sede de dois grandes eventos internacionais nos prximos anos. Falo da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpadas de 2016. Entendemos que tem que haver investimentos na expanso das redes, em novas tecnologias e em qualificao e requalificao dos trabalhadores para que possamos ampliar nossa comunicao.DIRETORIA DO SINTETEL Presidente: Almir Munhoz Vice-Presidente: Gilberto Rodrigues Dourado Diretoria Executiva: Cristiane do Nascimento, Fbio Oliveira da Silva, Jos Carlos Guicho e Marcos Milanez Rodrigues. Diretores Secretrios: Alcides Marin Salles, Ana Maria da Silva, Aurea Meire Barrence, Germar Pereira da Silva, Jos Clarismunde de Oliveira Aguiar, Maria Edna Medeiros e Welton Jos de Arajo. Diretores Regionais: Elsio Rodrigues de Sousa, Eudes Jos Marques, Jorge Luiz Xavier, Jos Roberto da Silva, Ismar Jos Antonio, Genivaldo Aparecido Barrichello e Mauro Cava de Britto. Jurdico: Humberto Viviani [email protected] OSLT: Paulo Rodrigues [email protected] Recursos Humanos: Sergio Roberto [email protected] COORDENAO EDITORIAL Diretor Responsvel: Almir MunhozPara que tudo isso acontea, certamente sero contratadas novas empresas e novos servios sero terceirizados. Pensando nisso tudo foi que ns assinamos, representados pela Fenattel, um protocolo de aes conjuntas com a Febratel (Federao Brasileira das Empresas de Telecomunicaes) ante a questo da terceirizao e precarizao das relaes trabalhistas no setor de Telecom no Brasil. O documento, assinado em 30 de setembro de 2011, estabelece marcos comuns ticos, sociais e profissionais capazes de preservar as relaes de trabalho e sindicais contra os efeitos nocivos dessas prticas que podem levar deteriorao social dos contratos trabalhistas. A formalizao deste protocolo uma ao concreta que adotamos para combater a terceirizao e a precarizao do trabalho. Boa leitura! * Almir Munhoz presidente do Sintetel.Cartas Voc pode enviar as suas sugestes, opinies e comentrios para a redao de Linha Direta em Revista. Basta encaminhar um e-mail para [email protected], ligar para (11) 3351-8892 ou mandar uma carta para o seguinte endereo: Rua Bento Freitas, 64 Vila Buarque - CEP: 01220-000 - So Paulo - SP. A/C do Depto. de Comunicao.4 LINHA DIRETA em revistaJornalista Responsvel: Marco Tirelli MTb 23.187 Reviso Geral: Amanda Santoro MTb 53.062 Redao: Amanda Santoro, Emilio Franco Jr. (MTb 63.311), Marco Tirelli Estagiria: Renata Sueiro Diagramao: Agncia Uni (www.agenciauni.com) Fotos: F.F. Fotografia Colaboradores: Joo Guilherme Vargas Netto, Paulo Rodrigues e Theodora Venckus Impresso: Grfica Unisind Ltda. (www.unisind.com.br) Distribuio: Sintetel Tiragem: 10.000 exemplares Periodicidade: Quadrimestral Linha Direta em Revista uma publicao do Sindicado dos Trabalhadores em Telecomunicaes no Estado de So Paulo | Rua Bento Freitas, 64 Vila Buarque | 01220-000 | So Paulo SP | 11 3351-8899 www.sintetel.org | [email protected] SUBSEDES ABC: (11) 4123-8975 [email protected] Bauru: (14) 3231-1616 [email protected] Campinas: (19) 3236-1080 [email protected] R.Preto: (16) 3610-3015 [email protected] Santos: (13) 3225-2422 [email protected] S.J.Rio Preto: (17) 3232-5560 [email protected] V. Paraba: (12) 3939-1620 [email protected] O Sintetel filiado Fenattel (Federao Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicaes), UNI (Rede Sindical Internacional) e Fora Sindical. Os artigos publicados nesta revista expressam exclusivamente a opinio de seus autores. 5. ENTREVISTADo sindicalismo para o governo O Secretrio de Emprego e Relaes de Trabalho, Davi Zaia, apresenta o panorama do Estado de So Paulo Marco Tirelli Filsofo formado pela PUC de Campinas e funcionrio de carreira do extinto Banco Nossa Caixa, Davi Zaia luta h mais de 30 anos no movimento sindical, sobretudo por melhores condies de vida e de trabalho. Em 15 de maro de 2007, aos 51 anos de idade, assumiu na Assembleia Legislativa de So Paulo o mandato de deputado estadual pelo PPS. Reeleito em 2010, hoje est licenciado para exercer o cargo de Secretrio de Emprego e Relaes do Trabalho do Estado de So Paulo, que exerce desde janeiro de 2011. Linha Direta em Revista foi ouvir a opinio do sindicalista que hoje desempenha uma importante funo no governo paulista. Sua escolha, acredita, o reconhecimento da importncia de o movimento sindical participar de questes de interesse do Estado e da populao e disse, ainda, que o governador Geraldo Alckmin quer dilogo com as centrais sindicais.aqui esto instalados parques tecnolgicos de excelente nvel, indstrias de ponta e com o atual ritmo da economia temos uma srie de desafios a serem enfrentados no mbito do emprego e das relaes de trabalho. LDR: De que forma o Banco do Povo Paulista auxilia no crescimento do Estado? DZ: O Banco do Povo Paulista (BPP), desde a sua criao em 1998, j realizou mais de 243 mil operaes de crdito, em parcerias com as prefeituras municipais, estimulando eLinha Direta em Revista: Quais os desafios em assumir a Secretaria de Emprego e Relaes de Trabalho de um Estado to importante como So Paulo? Davi Zaia: Os desafios so muitos levando em considerao a dimenso do Estado, sua importncia econmica, o grau de tecnologia alcanado. So Paulo responsvel por aproximadamente 45% das vagas de trabalho geradas no Pas,So Paulo responsvel por cerca de 45% das vagas de trabalho geradas no Pas LINHA DIRETA em revista 5 6. ENTREVISTA apoiando os empreendedores formais e informais do nosso Estado. O montante de recursos emprestados at o momento de R$ 774 milhes. So investimentos em atividades microeconmicas que vm transformando a vida de pequenos empreendedores que pouco acesso possuem s linhas de crdito tradicionais. Como resultado, ns incorporamos milhares de pessoas que no tinham essa oportunidade para crescer e se desenvolver. Estamos ampliando a cada ano os recursos disponveis para emprstimos, sendo que em 2011, contamos com R$ 120 milhes para estimular a nossa economia por meio do microcrdito. LDR: No plano de ao da Secretaria existe algum projeto que vise exclusivamente a gerao de empregos? DZ: O Governo do Estado tem uma preocupao especial com essa questo e mantm para esse fim o Investe So Paulo, criado especialmente para atrair e apoiar as empresas que desejam se instalar no Estado de So Paulo, no sentido de movimentar a economia, gerar renda, mais empregos e inovao tecnolgica. O programa facilita a interlocuo dos investidores com os rgos pblicos do estado, com as demais instituies pblicas nos nveis federal e municipal, identifica reas para investimento, disponibiliza informaes estratgicas sobre as melhores condies para investir, apoia os municpios em suas polticas de atrao de empresas, recepciona misses de investidores estrangeiros, entre outros servios. A Secretaria do Emprego e Relaes do Trabalho tambm desenvolve um conjunto de polticas visando melhorar o acesso do trabalhador ao mercado de trabalho, como o Programa de Qualificao Profissional (PEQ), o Time do Emprego e O Emprega So Paulo. Tais programas ajudam as pessoas a encontrar o emprego que necessitam. Temos ainda o Banco do Povo Paulista que, como j mencionamos, ajuda a gerar emprego e renda para a populao. 6 LINHA DIRETA em revistaForam criados em torno de 617 mil novos postos formais de trabalho no Estado LDR: Como se encontra a situao real de emprego formal em So Paulo? DZ: Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministrio do Trabalho e Emprego, foram criados aproximadamente 617 mil novos postos formais de trabalho no Estado de So Paulo, no perodo de abril de 2010 a abril de 2011, com crescimento mdio de 11% no salrio real dos admitidos, passando de R$ 913 em abril de 2010 para R$ 1.013 em abril do ano seguinte. Anlises dos dados nos indicam que os setores de servios e comrcio so responsveis por 70% das vagas criadas. Podemos resumir a situao do emprego formal nos ltimos 12 meses da seguinte maneira: expressiva criao de novos postos de trabalho e aumento significativo do salrio mdio real dos admitidos. LDR: O Programa Estadual de Qualificao Profissional tem trazido bons resultados?O governo do Estado tem disponvel R$ 140 milhes para programas de qualificao profissionalDZ: Os resultados tm sido bastante positivos, pois o governo estadual procura identificar quais so as reais demandas pelas profisses que esto sendo mais requisitadas nas diferentes regies do Estado. Isso porque trabalhamos com as comisses municipais de emprego, que so constitudas pelo poder pblico municipal, empresas e trabalhadores. Tambm estamos criando parcerias com diferentes setores da sociedade. O governo do Estado tem disponvel este ano R$ 140 milhes para programas de qualificao profissional. Mas independente dos recursos, o que importa como eles sero empregados. Dessa forma, temos procurado maximizar o que dispomos de recursos focando os investimentos nas principais necessidades. LDR: Pelo fato de ter sido sindicalista, acredita que esta experincia ajude-o a ver a atuao da Secretaria de outra forma? DZ: De uma maneira geral, a secretaria sempre esteve muito prxima dos sindicatos e do mundo do trabalho e o fato de ter uma vida praticamente toda dedicada aos sindicatos me ajuda a ter uma compreenso mais ampla das necessidades de diferentes setores. A prtica sindical me ensinou a resolver situaes de impasse pela via da negociao, do dilogo, a praticar o exerccio da democracia. Assim mais fcil encontrar solues que atendam aos interesses do Estado e da populao. LDR: A sua nomeao tem algum significado poltico? DZ: O governo reconhece que importante que o movimento sindical participe das questes que dizem respeito aos interesses do Estado e da populao. Quando assumimos, os secretrios de Estado receberam como recomendao do governador Geraldo Alckmin que deveriam continuar desenvolvendo os programas de governo, sem interrupes. A mim, particularmente, ele pediu que fizesse um convite especial aos dirigentes 7. ENTREVISTA das centrais sindicais para um encontro no Palcio dos Bandeirantes, a fim de iniciar um dilogo com o governo. Essa foi uma das suas primeiras aes, o que demonstra o seu interesse em construir uma relao positiva com os sindicatos. A partir da, iniciamos um canal permanente de dilogo, que continua aberto e ativo. LDR: Quais reas da economia paulista necessitam de maior qualificao da mo de obra? DZ: O setor de comrcio e servios o que mais demanda cursos de qualificao profissional, seguido pela indstria e a construo civil. Em muitos casos, a pessoa j sai empregada dos nossos cursos profissionalizantes, graas parceria que mantemos com as empresas e identificao que fazemos dos setores onde h mais oportunidades de emprego nos municpios. LDR: Com relao aos imigrantes ilegais (sobretudo coreanos, peruanos e bolivianos), a Secretaria est fazendo algo para que eles se tornem parte da mo de obra legal em So Paulo? DZ: Os estados no tm competncia constitucional para resolver essa questo porque a soluo depende do governo federal, que tem a responsabilidade pelo controle da entrada de imigrantes e por sua legalizao no Pas.A prtica sindical me ensinou a resolver situaes de impasse pela via da negociao Ministrio do Trabalho e Emprego? DZ: Ns mantemos 237 Postos de Atendimento ao Trabalhador (PAT) no Estado de So Paulo, 13 deles na capital, 29 na Regio Metropolitana, 161 no Interior do estado, 18 no Vale do Paraba e nove no litoral paulista. Em convnio com o Ministrio do Trabalho, ns distribumos perto de 80 mil carteiras de trabalho por ms. Tambm intermediamos o servio de solicitao do seguro desemprego. Alm desses servios, no PAT a pessoa tambm pode se inscrever nos programas da Secretaria do Trabalho, como o Emprega So Paulo, que faz intermediao de mo de obra, Programa Estadual de Qualificao Profissional (PEQ) e no Programa de Apoio Pes-soa com Deficincia (PADEF). Desde 2000, as unidades do PAT j atenderam a cerca de 11 milhes de pessoas. LDR: Como funciona a relao de intermediao da Secretaria, se por um lado ela tem que ouvir os trabalhadores e por outro lado tambm tem que ouvir os empresrios? DZ: Questes como empregabilidade, qualificao profissional e empreendedorismo passam necessariamente pela participao de todos os segmentos da sociedade civil. No h contradio, antes, uma necessidade a participao tanto do mundo do trabalho quanto o do capital. O governo precisa da parceria desses setores e ela tem funcionado muito bem como indicam os trabalhos da Comisso Estadual de Emprego, que tem em sua composio a participao do poder pblico, assim como dos trabalhadores e dos empregadores. Essa composio reproduzida nas comisses municipais de trabalho e tem alcanado resultados bastante satisfatrios. A parceria com as prefeituras tambm muito importante, como se pode constatar em programas como o Banco do Povo Paulista e no funcionamento dos Postos de Atendimento ao Trabalho (PAT).LDR: H dois anos no existia quantidade de fiscais do trabalho necessrios para atender toda a demanda do Estado. Hoje essa situao mudou? DZ: Essa competncia do Ministrio do Trabalho, o que no exclui a secretaria de acionar os canais competentes, quando constatar alguma irregularidade. Mas por estar impedida de fiscalizar, a Secretaria no dispe de fiscais entre os seus quadros de servidores. LDR: Existe algum trabalho em conjunto da Secretaria Estadual com o LINHA DIRETA em revista 7 8. MEIO AMBIENTELixo que no lixo Debate sobre a reciclagem de produtos eletroeletrnicos ganha importncia Emilio Franco Jr. Reciclar o lixo faz cada vez mais parte do dia a dia dos brasileiros. Muitos condomnios j possuem coleta seletiva de materiais, retirados uma vez por semana por caminhes destinados exclusivamente para essa finalidade. Com tantas campanhas educativas ao longo dos anos, a conscincia da importncia de se reaproveitar materiais como plstico, papel e metal passou a ser realidade, mas ainda so poucos, se considerada a totalidade da populao, os que assumiram o compromisso de separar adequadamente aquilo que no serve mais para o uso domstico. O caso das latinhas de alumnio parece ser a nica exceo positiva, j que, mesmo destinadas de forma errada pelos consumidores, acabam sendo reaproveitadas em 100% graas ao trabalho dos coletores de material reciclvel, que futucam as lixeiras em busca do objeto. Mas, se existe esse bom cenrio, tambm h outro, no qual muita coisa ainda precisa ser feita, mesmo com a existncia de legislaes de abrangncia federal e estadual. o caso dos resduos eletrnicos, que ainda so destinados de forma incorreta aps serem descartados pelos usurios. A Lei promulgada no estado de So Paulo em 2006 ainda engatinha pela falta de consenso entre poder pblico e indstria, que discor8 LINHA DIRETA em revistadam de pontos fundamentais da norma. Em ampla discusso realizada ao longo dos anos, e que parece estar prxima do fim com as ordens do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para que haja entendimento com o setor produtivo, ao invs de uma imposio do poder pblico, muitas questes polmicas foram levantadas. Primeiramente, preciso esclarecer o que so os resduos eletroeletrnicos. Essa definio abrange produtos eletrnicos geridos a eletricidade com limite de voltagem determinada. Isso engloba aparelhagem distinta: geladeira, fogo, celular, notebooks, ferro de passar, entre outros. A grande questo como dar o devido fim a objetos de descarte espordico e, em algumas situaes, de transporte complicado, como no caso dos eletrodomsticos da linha branca. Pensando nisso, tanto as legislaes estadual quanto a nacional, ambas relatadas pelo deputado Arnaldo Jardim (PPS/SP), determinaram a obrigao da logstica reversa. Como o nome sugere, a ideia que o prprio produtor, responsvel por botar a mercadoria no mercado, fique incumbido de retirla aps a utilizao. A indstria, por sua vez, contesta essa norma, por achar que ela injusta ao colocar toda a responsabilidade nos empresrios, alm de dobrar o preo do produto, j que o custo de 9. MEIO AMBIENTE coleta, ou seja, do caminho reverso, tambm alto. O problema convencer a indstria a entrar nesse programa, assume o secretrio adjunto de meio ambiente do estado de So Paulo, Rubens Rizek. A verdade que estamos muito atrasados na implantao efetiva da lei de resduos. O secretrio, apesar de mostrar compreenso em relao s demandas dos empresrios, ressalta que tentar mudar a Lei apontando problemas no uma estratgia frutfera, j que o Ministrio Pblico cobra constantemente a secretaria sobre o cumprimento da legislao. O mais relevante, no entanto, que algumas empresas j largaram na frente e se adaptaram e elas no vo querer nenhuma alterao, mas sim mais rigor na fiscalizao. O prprio consumidor no vai aceitar essa mudana, completa Rizek. Entretanto, Andr Luis Saraiva, diretor do departamento de responsabilidade socioambiental da Abinee (Associao Brasileira de Indstria Eltrica e Eletrnica), faz consideraes relevantes. Ele logo questiona: quantas pessoas comprariam um carro de peas 100% recicladas se pudessem pagar o mesmo preo por um totalmente novo?. A lgica, para ele, vale para a indstria eletrnica e prova que o brasileiro ainda no tem essa cultura. Primeiro preciso educar e a secretaria de educao tem que fazer parte do debate para criar uma gerao comprometida com o tema, acredita. Poucas pessoas tm a real conscincia do risco a que esto expostas ao no destinarem esses materiais para o reuso, alm dos danos mais bvios ao meio ambiente. Aparelhos eletroeletrnicos, como geladeiras e outros da mesma linha, possuem gases que agridem a camada de oznio. Mais grave do que isso so os problemas que televisores, micro-ondas e computadores podem causar. Esses aparelhos tm, por exemplo, chumbo ou mercrio na composio que, se manipulados de forma errada durante a decomposio, danificam as clulas cerebrais, causam fraqueza muscular e problemas no corao, rins e nos sistemas nervoso e sanguneo. Outro grande risco que, destinados aos aterros sanitrios, esses produtos contaminam o solo e as guas, e que, de alguma maneira, podem atingir as pessoas mesmo que essas no tenham contato direto com esses objetos, in-clusive muitos anos depois. Caso simbolicamente emblemtico o do Shopping Center Norte, em So Paulo, que virou alvo da Prefeitura por no dar vazo correta ao gs metano emitido pelo terreno sobre o qual o empreendimento foi construdo, um lixo desativado na dcada de 80. Anos depois, ainda existia o risco de exploso da rea. O debate sobre a retirada de objetos no utilizados de circulao est em sintonia com o fim dos aterros sanitrios, o que deve ocorrer em 2014, de acordo com a legislao brasileira. J existem postos de recolhimento para objetos como baterias de celulares e pilhas, mas isso ainda no acontece em larga escala. Quando um aparelho ainda tem condies de uso, mas o dono no tem mais interesse, a recomendao tentar revender ou doar para instituies de caridade. O mais importante no misturar esse lixo especfico com o comum. A lei tem quatro princpios bsicos: o da precauo, das responsabilidades ps-consumo e compartilhada e do poluidor pagador. Os itens so complementares e lgicos, a ideia a de que colocou no mercado, tambm tem de tirar. Assim, todos os agentes (fabricante, transportadora e comrcio) so culpados por possveis danos por conta da poluio gerada pelos produtos. Isso aumenta a importncia de cooperativas que reaproveitam o lixo eletroeletrnico descartado de forma incorreta. O nico problema, aponta Tereza Cristina Carvalho, diretora do centro de descarte e reuso de resduos de informtica da Universidade de So Paulo (Cedir), que essas associaes de catadores so especializadas e no aproveitam o todo do material que recebem. Parte reciclada e o resto jogado fora, conta. por isso que essa discusso precisa envolver todos os setores da sociedade e o poder pblico, por meio das prefeituras, precisa investir tambm nessa logstica reversa, alm da parte que cabe, obviamente, indstria, por mais que essa relute, s vezes, em aceitar o seu papel. LINHA DIRETA em revista 9 10. EDUCAOBullying: agresso no diverso Falta respeito e compaixo com o prximo. Isso inaceitvel, afirma a psicloga Maria Tereza MaldonadoRenata SueiroProvocar, apelidar, discriminar, agredir, isolar, humilhar, amea-da amizade, de Gabriel Chalita, o bullying pode ser dividido emar e perseguir so prticas recorrentes do bullying. Quem j pre-dois tipos: direto e indireto.senciou atitudes como essa, em que um indivduo coagido por um ou mais valentes, conhece bem essa violncia psicolgica, fsica e social presente na sociedade. Emergentes de relaes interpessoais, essas aes acontecem em ambientes como escolas, e clubes. No entanto, no existem registros de quando esse tipo de comportamento comeou a ser praticado. Acredita-se que sempre tenha existido no meio social. O termo bullying, derivado do verbo ingls bully, uma terminologia recentemente criada para definir o comportamento agressivo, repetitivo e contnuo de uso de poder por um ou mais indivduos com a inteno de causar constrangimento, danos materiais, intimidao, humilhao ou de agredir fisicamente outro indivduo sem condies de defesa. Conforme publicado no livro Pedagogia 10 LINHA DIRETA em revistaO primeiro praticado geralmente por meninos por meio de insultos, agresses fsicas e danos materiais. J o segundo, um comportamento predominante em meninas com aes de isolamento social, humilhao, perseguio e difamao. Nessas situaes no existe um comportamento menos agressivo, tanto o bullying direto quanto o indireto podem causar transtornos irreversveis, resultando em traumas permanentes e at a morte. Claro que existem situaes de bullying nos locais de trabalho, porm a forma mais violenta e prejudicial continua sendo a exercida sobre as crianas, porque atingem na fase de formao da personalidade, e isso pode causar danos irreparveis de forma perptua, expe Chalita. Alm disso, existe o cyberbullying, relacionado ao meio virtual, que 11. EDUCAO utiliza a tecnologia e a comunicao como subsdio para a prticaEstados Unidos. Jamey Rodemeyer, de 14 anos, cometeu suicdiode atitudes com a inteno de causar danos ao outro. Segundo ano dia 21 de setembro aps postar um vdeo na internet confes-psicloga e escritora Maria Tereza Maldonado, o comportamentosando que era vtima de bullying devido sua homossexualidade.agressivo no meio virtual pode ser ainda mais terrvel. O cyber-Em seu blog dirio, Jamey relatou as humilhaes que sofria roti-bullying pode chegar a 24 horas por dia nos sete dias da semana.neiramente no colgio. Eu sempre falo o quanto eu sofro bullying,Nesse caso, a vtima atacada por mensagens, vdeos ou imagensmas ningum escuta. O que eu tenho que fazer para vocs medifamatrias, relata.escutarem?.Para Gabriel Chalita, o cyberbullying pode ser ainda mais grave,Apesar dos altos ndices de violncia escolar, os resultados depois, quando as situaes de constrangimento, apelidos e difamao caem na rede, a informao ganha mais fora, repercusso e abrangncia ilimitada. Dependendo da idade, isso pode ser destruidor para a criana ou adolescente, afirma. H algum tempo, pouco se falava sobre bullying, brincadeiras que envolviam esse comportamento eram ignoradas por pais e professores. Mas com os crescentes casos de violncia escolar e at suicdio, o assunto ganhou proporo e passou a ser prioridade na agenda da educao mundial. Tragdias desoladoras resultantes de algum tipo de constrangimento se tornaram frequentes nas escolas ao redor do globo.Casos Marcantes Quem no se lembra do massacre de Columbine? Em 20 de abril de 1999, quando os estudantes Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17 anos, do Instituto Columbine, nos Estados Unidos, comearam a atirar almejando diversos colegas e professores. Em quarenta e nove minutos de tiroteio, os estudantes chegaram a matar 13 pessoas, deixaram 21 feridos e posteriormente cometeram suicdio. Contudo, aps doze anos da tragdia, acredita-se que Eric e Dylan foram vtimas de bullying na escola e isso seria apontado como a real motivao da retaliao, culminando no massacre. Em 2003, a pequena cidade de Taiva, no interior de So Paulo, tambm assitiu a uma tragdia semelhante. Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, sofria bullying no colgio desde os sete anos, constantemente chacoteado devido sua obesidade. Aps concluir o ensino mdio, Edmar comprou um revlver 38 e decidiu retornar a escola para se vingar dos colegas. Durante o intervalo, atirou em nove pessoas e depois se matou. Um caso recente de perseguio tambm acabou em tragdia nosbullying aparecem em menores propores no Brasil. O relatrio divulgado em 2008 pela Plan - organizao inglesa no-governamental que atua em 66 pases em defesa dos direitos da criana e do adolescente -, mostra que 70% dos 12 mil estudantes brasileiros entrevistados, em seis estados, afirmaram j ter sofrido bullying no colgio. A pesquisa ainda revelou que cerca de 1 milho de crianas da populao mundial sofrem algum tipo de violncia nas escolas por dia. O promotor de vendas H.S.R. sabe bem o que sofrer bullying na infncia. Eu era perseguido e tomava tapas de dois meninos da minha sala de aula, consequentemente, eu ficava com medo e perdia a vontade de ir para o colgio, declara. A psicloga Maria Tereza Maldonado explica que o comportamento pode repercurtir de maneira diferente para cada indivduo. Enquanto alguns encontram mecanismos para desarmar os ataques, outros se sentem profundamente atingidos, estigmatizados, resultando em sentimentos de baixa-estima, ansiedade, angstia e desmotivao para frequentar a escola. Para se ter ideia, os danos causados por ataques de bullying podem ir de baixo rendimento escolar, evaso, dficits de ateno, depresso, at ideaes suicidas. Normalmente, os pais sem informao no conseguem identificar esses sintomas, o que pode se agravar ainda mais, j que a vtima tende a se isolar e no falar sobre o que est acontecendo. Nunca comentei sobre o bullying com meus pais e eles sequer percebiam. Busquei alternativas para me livrar dos ataques, evitei algumas brigas e me defendi muitas vezes, conta H.S.R. LINHA DIRETA em revista 11 12. EDUCAO O grande problema que o sentimento de opresso reprimidopanhas de combate ao bullying de extrema importncia. Ela res-pode levar as vtimas a responder de maneira violenta e desen-salta que o trabalho de conscientizao deve acontecer em todos osfreada. Infelizmente, quando a pessoa resolve responder ao bul-nveis, na escola, no trabalho e com a famlia. preciso mostrarlying a ao sem medida, ainda mais com a facilidade de acesso apara os pais que os filhos aprendem a linguagem da agresso earmas, completa H.S.R.depois reproduzem em outros ambientes sociais afirma. Tambm necessrio conscientizar os co-autores de que no se podeCombate ao bullying Em busca de erradicar esse tipo de comportamento, diversos programas so desenvolvidos no Brasil, exemplo disso a campanha Aprender sem Medo, desenvolvido pela Plan desde 2008, com o objetivo de combater a violncia contra crianas e adolescentes no perodo escolar. Ainda mais focado no combate ao bullying o projeto Educao para paz em parceria com a ONG Aliana pela Infncia. Atividades como ioga, prticas de concentrao, harmonizao, oficinas de artes, msica e ikebana so oferecidas gratuitamente para as crianas.aceitar ou incentivar esse tipo de comportamento. Como protagonista, o ser humano sempre poder mudar o rumo da sua histria. Para quem j sofreu bullying, a psicloga indica que as vtimas faam uma reviso na vida e no deixem que esse comportamento influencie no cotidiano. Devemos sempre reescrever nossa vida, se libertar das dores passadas e se posicionar em busca da felicidade, aconselha.Legislao Parlamentares preocupados com a educao de crianas e adoles-Maeze Vida, co-autora do programa, explica que o projeto pro-centes desenvolveram alguns meios de combate ao bullying. Ummove atividades para mudar a conscincia e os valores humanosdeles o Projeto de Lei do deputado Gabriel Chalita (PMDB/das crianas e busca desenvolver os sentimentos de compaixo,SP) que prope a criao de um programa para conscientizao,tolerncia, simplicidade e no violncia. Buscamos resgatar umapreveno e capacitao dos pais e professores em relao pro-infncia saudvel, afastar a sociedade do consumo com incenti-blemtica escolar. Chalita acredita que o tema merece a ateno davos simplicidade e tolerncia. Essa conscientizao de valores esociedade e das autoridades. Cabe s autoridades e ao poder le-virtudes essencial para combater comportamentos como o bul-gislativo refletir sobre esse problema da educao e regulamentarlying, acredita.o combate desse tipo de comportamento, ressalta.Para a psicloga Maria Tereza Maldonado, a construo de cam-Em paralelo, a deputada Maria do Rosrio (PT-RS) conseguiu no ano passado a aprovao da proposta que altera o Estatuto da Criana e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases da Educao e que obriga lugares pblicos e privados a adotarem medidas de conscientizao e combate ao problema e comunicar os casos ao Conselho Tutelar para possveis providncias. Alm disso, a Cmara analisa a incluso do bullying na relao de crimes contra a honra, prevista pelo Cdigo Penal Brasileiro. O bullying um crime de desamor. Para combater esse conflito social, o trabalho deve ser desenvolvido em todas as bases da lei em conformidade com as familias, sempre com o objetivo de educar as crianas numa cultura de amor e respeito, afirma Gabriel Chalita.12 LINHA DIRETA em revista 13. COMPORTAMENTOAdeus, Barbie Crianas amadurecem cada vez mais cedo e trocam os brinquedos tradicionais por equipamentos eletrnicos Amanda SantoroBonecas e carrinhos so coisas do passado. Quem assistiu Toy Story 3, longa-metragem da Pixar que mostra como o adolescente Andy se desfaz dos seus velhos brinquedos, ilustrativamente acompanhou o processo de troca imputado s Barbies e miniaturas de super-heris por aqueles que deixam a infncia. E como a arte imita a vida isso que tem se observado nas crianas da atualidade mesmo que haja uma diferena de faixa etria evidente entre elas e o personagem do filme. Na era da informao e da automatizao, nada mais justo que os eletrnicos ganhem espao e mudem os padres de diverso. Difcil mesmo encontrar criana que no saiba mexer em celulares, computadores e dispositivos da mais alta tecnologia. A Malu sempre brinca no iPod Touch, principalmente com os jogos da Barbie e Angry Birds, afirmou a me e produ-tora Bia Tabosa. Ela no gosta de boneca, mas adora jogo da memria, pintura e desenho, em geral tudo que envolva lgica, completou. Falando nisso, so poucos aqueles que se atrevem a criticar o estmulo que a tecnologia proporciona desde cedo criatividade e inteligncia. O que os profissionais da rea questionam se esse bombardeio digital no seria decisivo para o aparecimento de um fenmeno novo e ainda desconhecido: o encurtamento da infncia. Para Ana Maria Blanques, doutora em Psicologia Social pela USP, os eletrnicos no so os nicos viles da histria. No mundo contemporneo tudo acelerou e os modelos que tnhamos para a compreenso da infncia no funcionam mais, disse a psicloga em tom conclusivo. A criana utiliza as tecLINHA DIRETA em revista 13 14. COMPORTAMENTO nologias do mundo informatizado de forma ldica. Ela brinca com os novos equipamentos como faz com os objetos com os quais se relaciona, s outra forma de aprender a viver, explicou. O resultado da insero eletrnica na vida desses jovens ainda no pode ser mensurado com preciso mesmo porque o boom digital ganhou contornos mais slidos s em meados dos anos 90. Ainda cedo para concluir alguma coisa, essas so as primeiras geraes que passam por isso e s poderemos verificar a repercusso dos acontecimentos quando ficar socialmente perceptvel, acrescentou Ana Maria Blanques. Os adultos se assustam porque a mudana visvel demais, mas como ela inevitvel, teremos que viv-la para conseguirmos avaliar melhor, finalizou.Crianas & Moda O universo fashion tambm gera debates acalorados quando se fala no amadurecimento precoce das meninas e meninos que ingressam na rea ainda sob a tutela dos pais. Alm de serem condicionadas a uma rotina atribulada e de adquirirem responsabilidades de trabalho desde cedo, essas crianas e adolescentes esbarram no culto que a sociedade contempornea faz juventude mesmo que nem sempre se relacione ao vis sexual. Quem no quer ser jovem? A indstria se apoia nessa vontade de bilhes e, assim, enriquece seus cofres, afirmou Ludmila Batista, consultora de Moda e Imagem. Isso sem mencionar o incentivo dado a campanhas que mexem com o psicolgico, especialmente das mulheres, que eventualmente tambm so mes, complementou. Recentemente a revista Vogue polemizou ao lanar um ensaio de moda produzido pelo conceituado Tom Ford e estrelado por uma menina de apenas 10 anos. No material divulgado, Thylane Lena-Rose Blondeau aparece ao lado de outras crianas em trajes adultos e poses sensuais. No tardou para que Veronika Loubry, me da top model mirim, fosse crucificada, inclusive por representantes mais cautelosos do mundo fashion. Aps o assdio no Facebook e diversos sites dedicados ao culto da meterica new face, a progenitora da garota retrocedeu. Thylane no sabe deste buzz todo e prefiro proteg-la. Por isso vamos fechar essa conta por um tempo, declarou Veronika minutos antes de encerrar o perfil de Thylane na rede social. Com gancho na polmica, a consultora de moda Ludmila Batista explica por que as marcas optam por jovens para vender conceitos que nem sempre se relacionam diretamente aos seus expoentes mirins de visibilidade. O que vemos a fidelizao precoce e subliminar de clientes, as grifes apostam nesse 14 LINHA DIRETA em revistapblico para que no futuro haja a contnua compra dos seus produtos, pontuou. Quem tambm est dando o que falar a miss mirim Eden Wood, de apenas seis anos, que usou roupas e danou de forma provocante na ltima Semana de Moda de Nova Iorque, realizada em setembro. A loirinha, que j venceu mais de 300 concursos de beleza, participou tambm do programa Toddlers & Tiaras reality show que mostra o dia a dia de crianas que participam de concursos infantis sempre revelando casos polmicos, como o da me que vestiu de prostituta a filha de trs anos para homenagear Julia Roberts em Uma Linda Mulher. Outro recente caso polmico aconteceu com a Jour Aprs Lunes, marca de lingerie para meninas a partir de trs meses. No ousado e controverso ensaio fotogrfico da nova coleo, meninas aparecem adornadas com muitas joias e cabelo montado, em uma clara imitao de mulheres adultas refinadas. Trabalhei sete anos com moda juvenil e posso afirmar que vende mais adequar roupas do vesturio adulto para o infantil. A me a primeira a optar por esse tipo de pea, explica.Crianas & Internet Sempre apontada como uma das responsveis pelo encurtamento da infncia, a internet ao menos nesse caso pode no ser to culpada assim. Isso porque, ao contrrio do que se imagina, pequena a taxa de crianas brasileiras com acesso web ainda mais se comparada a pases europeus. Em pesquisa divulgada no ano passado pelo NIC.br (Ncleo de Informao e Coordenao do Brasil), 57% das crianas brasileiras com idade entre cinco e nove anos j usaram o computador, mas apenas 28% afirmam ter navegado na internet. Do total de pequenos navegantes, 46% tm contato com a rede em casa, 17% em lan houses e somente 14% nas escolas. O ndice nada animador no que se refere ao uso de internet nas instituies de ensino acaba por deflagrar a dificuldade que h no Brasil de se fazer a ponte entre contedo pedaggico e tecnologia, principalmente quando o assunto incorpor-la para facilitar a aprendizagem. Desde a dcada passada, e cada vez mais, as crianas e os adolescentes esto plugados 24 horas por dia e o que a escola oferece em nvel de tecnologia coletiva no supera o que eles tm em casa, afirmou a pedagoga Elisatebes Carlini. justamente essa dificuldade do setor de ensino que gera uma contradio interessante: 20% das crianas entrevistadas confirmaram que aprenderam a usar a internet na escola, e no nos seus domiclios como era de se esperar. Para que no ocorra 15. COMPORTAMENTO essa lacuna entre ensino regular e informao automatizada, precisamos treinar os professores a empregar no cotidiano as novidades tecnolgicas, embora grande parte deles tenha acesso restrito tecnologia existente no mercado, explica a pedagoga. O que acontece na prtica que os responsveis pela didtica so os mesmos que inviabilizam a evoluo da convergncia entre as plataformas, justamente por no estarem familiarizados com os produtos tecnolgicos que surgem de maneira natural para as novas geraes. Douglas Adams, autor do Guia do Mochileiro das Galxias, retratou muito bem a questo em seus textos. Tudo o que j existia no mundo antes de nascermos absolutamente normal; tudo o que surge enquanto somos jovens uma oportunidade e, com sorte, pode at vir a ser uma carreira; mas o que aparece depois dos 30 anos o fim do mundo como conhecemos, at que permanea vigente por uma dcada quando comea a parecer normal, escreveu. Dentre as principais atividades realizadas pelas crianas na internet lidera a prtica de jogos (97%), seguida pelo acesso a sites de desenhos (56%), estudo (46%) e conversas em chats e comunicadores instantneos (31%). Caberia escola propiciar que esse jovens gerassem interesse por sites e ferramentas no ligadas diretamente diverso, para ampliar o leque de opes em um futuro no to distante, finalizou Elisatebes.Dinheiro, o fator decisivo As mudanas comportamentais abordadas nesta reportagem no podem ser encaradas isoladamente; uma srie de fatores atua direta e indiretamente no curso delas. Uma das variveis mais importantes o poder aquisitivo que acaba por garantir a acessibilidade tecnolgica. Famlias que garantem condies de compra so peas-chave neste processo. Isso no vale para todos, no um fator homogneo, e a constatao mais evidente que grande parte das crianas dos pases pobres ainda improvisa seus brinquedos, afirmou a psicloga Ana Maria Blanques. Ao se fazer uma anlise especfica da Amrica Latina, os estudos lanados em 2007 pela TNS empresa britnica de pesquisas customizadas apontam tambm o crescimento do poder de compra dessas crianas. Atualmente o que est fazendo toda a diferena que as marcas se comunicam com elas sem a mediao de um adulto, especialmente em categorias em que a criana conta com alto poder de deciso e legitimidade, observou Ivani Rossi, diretora de planejamento da TNS InterScience, subsidiria brasileira da empresa, em comunicado imprensa. Embora no controlem as finanas, as crianas interferem diretamente nas escolhas dos pais no apenas quanto aos produtos a elas destinados, mas tambm elegem categorias e marcas posicionadas para o segmento adulto. At os entrevistados mais novos, com apenas trs anos de idade, mostraram noo do valor do dinheiro e do seu papel como moeda de troca. Mas independentemente da idade e da classe social consenso que esses jovens consumidores tm conscincia da interferncia que exercem em casa para a realizao das suas vontades. As crianas de hoje tm um perfil bem diferente das que nasceram na dcada de 90. Elas comeam a ter noes de pobreza, riqueza e dinheiro e revelam preocupao com o aquecimento global e aes predatrias da natureza. Em contrapartida, so hedonistas e acompanham a tendncia comportamental dos adultos voltada aos prazeres individuais, finalizou Ivani. LINHA DIRETA em revista 15 16. TECNOLOGIANovos hbitos A nova classe mdia entra no mercado tambm por meio da tecnologia Emilio Franco Jr. A ascenso de milhes de brasileiros condio de classe mdia durante o governo Lula abriu os olhos do mercado que antes ignorava essa grande parcela da populao. Com mais acesso informao e ao crdito, cresceram os interesses por produtos de boa qualidade, bom atendimento e bens materiais mais caros. Essas pessoas passaram a concretizar o que antigamente era apenas sonho de consumo, conta Renato Meirelles, scio-diretor do Data Popular, que como o prprio nome diz se dedica a estudar o comportamento das classes menos abastadas. O mais curioso o que esse enriquecimento ocasionou em termos de avanos tecnolgicos. justamente no ambiente digital que as empresas enxergam potencial para conquistar as classes E, D e C, esta ltima principalmente, j que responde por metade da populao - e ser cerca de 60% em apenas quatro anos. por isso que Meirelles afirma que a classe mdia deixou de ser um nicho e passou a ser o verdadeiro mercado. Nenhuma empresa ser lder se no conquist-los, alerta. Para se ter ideia da dimenso, os internautas emergentes movimentam R$ 273 bilhes por ano. As mulheres jovens e negras so maioria nesse novo retrato da classe C e, ao contrrio do que o senso comum prega, a maior parte reside no sul do pas. O nordeste, por exemplo, ainda continua concentrando 16 LINHA DIRETA em revistaconsidervel parcela da populao carente que no conseguiu alcanar esse novo patamar. De acordo com dados da Fundao Getlio Vargas, do incio do mandato do ex-presidente Lula at o seu penltimo ano de governo, 29 milhes migraram para a classe C, o que representa mais gente gastando. E at 2014 mais 15 milhes devem sair da classe D em direo C, gerando ainda mais oportunidades de negcio. Outros tantos devem chegar para integrar a D, j que a E, de acordo com pretenso do governo, deve deixar de existir. Aps ser eleita presidenta da Repblica, Dilma Rousseff assumiu o compromisso pblico de erradicar a misria no pas por meio de programa batizado como Brasil sem Misria, cujo foco resgatar 16, 267 milhes da pobreza extrema. Renato Opice Blum, presidente do Conselho de Tecnologia da Informao e Comunicao da Fecomercio, explica que quando um mercado est em ascenso, natural que a ateno se volte para ele. Ele acrescenta que no caso brasileiro se d muito valor quilo que colocado nas redes sociais e que esse o filo que est conquistando as classes altas e, principalmente, a emergente. impossvel pensar hoje em qualquer estratgia online que desconsidere as classes C e D, enfatiza Meirelles. Nessa faixa, so cerca de 36 milhes que acessam as redes sociais, principalmente o Orkut. 17. TECNOLOGIA Isso se deve s profundas mudanas pela quais o pas passou nos ltimos anos, quando a inflao foi finalmente controlada e, por consequncia, houve aumento do poder de escolha do consumidor, que no precisa mais se desesperar para comprar bens e servios e ainda pode poupar dinheiro. Com a internet, e com o acesso cada vez mais facilitado, aumentou esse poder de escolha. De cada 100 domiclios com acesso rede mundial de computador, 56 so da classe C. Do total de internautas desse segmento da populao, 38% tm conexo banda larga, entre os que esto nas reas metropolitanas. Meirelles ressalta que esses consumidores desenvolvem jeito prprio de ter acesso internet de alta velocidade. Isso no acontece necessariamente de forma legal, afirma. Ele cita o exemplo de muitos moradores de conjuntos habitacionais ou reas menos favorecidas, que rateiam o custo de assinar a internet banda larga entre eles para que todos possam utilizar, pagando pouco, uma mesma rede de acesso. Tambm jurista, Opice Blum pondera que a atitude crime e que a condenao recairia sobre o assinante primrio, ou seja, sobre o proprietrio do local de onde parte o sinal.O mercado de telecomunicaes, alis, foi abastecido com esses novos hbitos de consumo. A banda larga cresceu nove vezes nos ltimos anos e a telefonia mvel ficou 4,6 vezes maior. Meirelles, do Data Popular, conta que as classes C e D inovaram no jeito de lidar com as novas tecnologias. Esse grupo, por exemplo, soma operadoras de telefonia, com aparelhos que comportam mais de um chip, para aproveitar as promoes eAndr Torretta, scio-diretor de A Ponte Estratgia, consultoria especializada na base da pirmide social, explica que esses novos consumidores esperam, querem e gostam de produtos e estratgias de vendas diferentes daquelas voltadas para as classes A e B. As campanhas segmentadas so fundamentais para que as empresas consigam passar ao pblico o recado que realmente desejam.falar de graa com os amigos de acordo com a empresa. Com aCaso emblemtico o de uma marca de caf que trazia em suas propagandas e na embalagem a imagem de um rapaz abrindo a camisa de forma semelhante ao super-homem e, na camiseta por baixo, a imagem do produto. Em pesquisas, percebeu-se que a mensagem foi corretamente apreendida pelas classes A e B, que afirmaram que aquele caf era mais forte em comparao aos demais. J as classes C, D e E entenderam de outra maneira. Para eles, a imagem mostrava que o caf tinha chegado ao estmago do consumidor ou, ainda, que havia cado bem.tura suficiente para, em pouco tempo, suprir a demanda porAt mesmo nas redes sociais da internet os gostos so diferentes e, por isso, as empresas tm que saber onde ach-los e como abord-los. Enquanto a classe alta opta pelo Facebook, por exemplo, os emergentes apontam preferncia pelo Orkut por acharem de navegao mais fcil. As redes sociais so fundamentais para monitorar o comportamento dos consumidores, conta Pedro Guasti, diretor geral da consultoria de compras online e-bit. Chama a ateno, tambm, a projeo de que o acesso banda larga dobrar no pas at 2015. A internet, para esse grupo ascendente, no significa s novas e diferentes formas de informaes, mas tambm a busca de emprego e comunicao com que mora longe.Tablets para todosmassificao da internet e dos celulares, Meirelles profetiza: a nova grande revoluo se dar pela internet mvel. O pas e as tecnologias crescem em ritmo acelerado e as novidades para o mercado, consumidor ou provedor, se adaptar so muitas e mutveis. Resta saber se o Brasil ter infraestruservios ligados s telecomunicaes e, tambm, se a economia est forte o suficiente para responder com vitalidade nova crise internacional que deve abalar os mercados nos prximos meses. um ciclo em que a necessria reteno de investimentos para poupar as finanas pode, l na frente, gerar colapsos em servios cada vez mais essenciais para a populao, de A a E.Dentro desse processo de incluso social e aquecimento do mercado por meio da tecnologia, o governo acertou a reduo de 31% no custo de produo de tablets feitos em solo nacional. Isso foi possvel porque, agora, so enquadrados pela Lei do Bem, a mesma dos computadores regulares. De olho nos emergentes, a fabricante Positivo, por exemplo, pretende inundar as lojas, no natal, com seus aparelhos similares aos iPads, da Apple, mirando os consumidores da classe C. LINHA DIRETA em revista 17 18. APOSENTADOSUma vida de categoria Na sua Carteira de Trabalho consta o registro nmero 12.565 datado de 1 de fevereiro de 1947. De l para c, j passaram 64 anos e Dona Las ainda tem uma forte ligao com a categoria Marco Tirelli Caminhando a passos lentos, porm determinados, ao longo de uma estreita rua, Las Vieira, no auge dos seus 87 anos, veio ao nosso encontro para dar incio sua entrevista para Linha Direta em Revista. Por determinao mdica, Dona Las, como conhecida, comeou a fazer caminhadas pelo bairro aps ter sofrido um acidente ao descer de um nibus h alguns meses. Tenho que andar porque o mdico solicitou, mas as ruas por aqui esto muito esburacadas, reclama, com razo, do descaso da prefeitura com a manuteno do calamento das ruas de Vila Nova Vieira, bairro operrio da regio sul de Campinas construdo para abrigar os trabalhadores da ferrovia Mogiana, da Companhia Telefnica Brasileira e da Companhia de Fora e Luz. A sua histria comea muito longe da. Aos 23 anos de idade, Dona Las ingressou no mercado de trabalho na extinta companhia de Caf So Joaquim, no setor de atendimento ao pblico. Pouco tempo depois, por intermdio de seu irmo Jos Vieira, Las ingressou na Companhia Telefnica Brasileira CTB. Ocupei o cargo de telefonista no trfego durante muitos anos, relembra. Caula de uma famlia composta por mais cinco irmos, Las nasceu em Campinas e trabalhou por 38 anos na Companhia Telefnica. Naquela poca era muito bom trabalhar l, era uma maravilha!, recorda-se. Na vida pessoal, optou por no se casar, o que permitiu a ela se dedicar a outras atividades. Dona Las conta que havia grande preocupao por parte da empresa com a formao de seus funcionrios. Fazamos diversos cursos de relaes humanas. A empresa nos dava muita instruo, tinha respeito, tnhamos que saber conversar com os assinantes, salienta. Se por um lado havia investimento no capital humano, por outro, as regras na CTB eram rgidas. Os funcionrios no podiam namorar entre si. Certa vez, os chefes descobriram um casal que se relacionava e, por final, os dois foram demitidos, lembra-se. Alm disso, as mulheres no podiam usar cala comprida, minissaia, cabelo comprido ou unhas grandes. Tnhamos que nos vestir adequadamente e de forma impecvel, eu gostava muito, completa. Naquela poca, as telefonistas cumpriam um turno de oito ho18 LINHA DIRETA em revistaras dirias, dividido em dois perodos de quatro, das 8h s 12h e das 16h s 20h. Ficvamos na empresa quando o trfego era maior, explica. Vale lembrar que no ano de 1960, o Sintetel organizou grande mobilizao das telefonistas da CTB e conquistou a jornada de trabalho de seis horas. Mais tarde, o benefcio foi estendido para telefonistas de todas as empresas do Estado de So Paulo. Este item faz parte do histrico das principais conquistas do Sindicato. Agradeo muito ao Sintetel, pois a partir daquele ano passamos a trabalhar seis horas e sobrou mais tempo para organizarmos as festas diverte-se.Construindo o clube dos funcionrios Organizadora frequente de festas na empresa, Las conta uma passagem que ficou para a histria. Na poca fizemos um con- 19. APOSENTADOS para ser mais bem conservada, havia sido tratada com piche. A Ponte Preta contava com a simpatia de muita gente, inclusive da chefia do trfego, setor no qual trabalhava Dona Las. Nossa encarregada trocava nosso horrio para que pudssemos ir ao jogo da Ponte. At hoje eu acompanho os jogos, mas, pela minha idade, no consigo mais ir ao estdio, ento ouo pelo rdio ou assisto na televiso, conclui.Atuao popular no bairro As festas eram constantes e, muitas delas, organizadas por Las Vieira (na foto a 4 pessoa)curso de Miss Simpatia. A moa a qual eu assessorava foi a vencedora. Com o dinheiro do prmio, compramos o terreno do Telesp Clube de Campinas [TCC], na estrada de Indaiatuba, que existe at hoje. Fundadora do TCC, dona Las relata que as festas organizadas por ela tinham um objetivo muito claro: arrecadar dinheiro para a construo do clube. Alm das comemoraes, os associados contribuam financeiramente para a obra. Construmos o TCC para que todos tivessem um lugar para o lazer e, depois que me aposentei, em 1985, passei a dar expediente na secretaria do clube, local que trabalhei at algum tempo atrs, relata.Corao pontepretanoEm fevereiro de 2000, Dona Las encampou uma luta comunitria. A Praa das Andorinhas, prxima sua residncia, estava s moscas. Entrei em contato com a Prefeitura de Campinas e organizei um abaixo-assinado reivindicando a reurbanizao da praa e a iluminao da rua, conta com orgulho. De pronto, a administrao da poca acatou a reivindicao e instalou postes de luz, urbanizou a praa, podou as rvores, recapeou a rua e aumentou o policiamento. Dez anos se passaram e, atualmente, Dona Las est decepcionada com a prefeitura da cidade. Tudo que havamos solicitado foi atendido na poca e hoje est tudo destrudo. A prefeitura no deu continuidade manuteno, enfatiza aliando-se s vozes de milhares de brasileiros que esto decepcionados com o poder pblico.Alm de adorar fazer tric e viajar, Dona Las nutre uma enorme paixo pela Associao Atltica Ponte Preta. Ela conta que seu pai e seus irmos mais velhos ajudaram a construir o estdio do clube. Eu nasci ao lado do campo da Ponte Preta e desde cedo me apaixonei pelo clube. Dona Las enfatiza que Moiss Lucarelli, junto com mais dois amigos, doou o terreno e os torcedores ajudaram a construlo. Os torcedores voltavam noite dos seus respectivos trabalhos e iam ajudar na construo. Eu mesma ajudei a fazer os canteiros dos jardins levando plantas, relata. A histria conta que o material de construo foi conseguido junto a amigos empresrios e a edificao veio dos apaixonados torcedores que puseram a mo na massa, literalmente, e ergueram a edificao em sistema de mutiro. O estdio Moiss Lucarelli, conhecido como Majestoso, foi inaugurado oficialmente em 12 de setembro de 1948. A Ponte Preta o primeiro time do Brasil, fundado em 11 de agosto de 1900 por estudantes que jogavam bola em campos improvisados no bairro da Ponte Preta, batizado assim em virtude de uma ponte de madeira que passava pela ferrovia e que,Na poca do trfego, Las chegou a substituir a monitoraLINHA DIRETA em revista 19 20. CAPABanda Larga para todos A implantao do Plano Nacional de Banda Larga abre oportunidade para a incluso digital da populao de olho na Copa do Mundo e nas Olimpadas Amanda Santoro, Emilio Franco Jr. e Marco Tirelli Ouvir aquele barulho cheio de chiados do computador tentandoEntretanto, um pas to desigual como o Brasil ainda apresentase conectar rede mundial de computadores algo quase impen-muitas deficincias na banda larga, seja na velocidade real de co-svel atualmente. Ter a linha telefnica ocupada para poder nave-nexo ou no nmero de lares que dispem da tecnologia.gar pelos sites da internet ento, nem se fala. H menos de vinte anos, o uso domstico da rede mundial de computadores era bemOs dados revelam com clareza essa disparidade em relao a ou-restrito, hoje cada vez mais difundido. Difcil encontrar algumtros pases com condies e caractersticas semelhantes s brasi-que ainda no tenha se rendido a pelo menos uma rede social, ouleiras. O governo afirma, com razo, que a banda larga aqui que no tenha e-mail para contatos pessoais ou profissionais.cara, concentrada e lenta. Apenas 21% dos domiclios dispem do servio e esto localizados principalmente no Sul, Sudeste eCom a mesma velocidade que a internet se desenvolveu, cresceu aCentro-Oeste, afirmou Marcello Miranda, especialista em tele-necessidade de conexes mais eficientes e independentes da linhacomunicaes do Instituto Telecom. E para piorar, o brasileirotelefnica. Foi assim que as conexes discadas foram deixadaspaga cinco vezes mais do que os japoneses, 2,7 vezes mais do quepara trs e as de alta velocidade passaram a dominar o mercado.os russos e 2,5 vezes mais do que os mexicanos, completou.20 LINHA DIRETA em revista 21. CAPA Atualmente, a referncia nacional de velocidade de 512 Kbps; na Europa o ndice fica acima dos 2 Mbps ou seja, quase quatro vezes maior. Avanando um pouco, j dentro das metas futuras estabelecidas pelo Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), a velocidade continua fora do que se pode considerar banda larga. O plano estipula 5 Mbps para 2015, mas no finca qualquer obrigao ou garantia de que isso v de fato acontecer. No PNBL norteamericano, por exemplo, pretende-se a universalizao da internet, com 75% da populao recebendo velocidade de 100 Mbps em 2020 e ndice mnimo de 4 Mbps que quase chega ao valor mximo previsto para o Brasil em 2015. Mas para falar sobre o desenvolvimento da banda larga no Pas h que se analisar as circunstncias que envolvem o assunto. Deve-se olhar a realidade no mundo, inserindo o Brasil e a sociedade neste contexto global. Desde os primrdios, h uma necessidade intrnseca ao ser humano de se comunicar. Essa carncia criou uma demanda muito grande de troca de informaes. Com o advento da internet, no final da dcada de 80, essa troca se tornou mais frequente e facilitou a vida das pessoas nesse intercmbio. Assim, ao longo do tempo, vrios outros servios surgiram, como o correio eletrnico, os programas de troca instantnea de mensagens, mecanismos para baixar filmes e msicas, compras deA realidade brasileira O Brasil passa por um ciclo de crescimento econmico e o acesso internet tem aumentado de forma muito rpida. Quer seja por terminais mveis, modens 3G colocados nos computadores, WiFi, TV a cabo, dentre muitas outras tecnologias. Para se ter uma ideia, o Pas contava com 14,7 milhes de acessos de banda larga fixa no final de 2010, um crescimento de cerca de 9% em relao a 2009. Quanto banda larga mvel, os nmeros so ainda mais significativos e chegaram a 20,6 milhes.produtos online, as redes sociais, entre outros. Isso tudo exige dasIsso faz com que o descompasso entre a demanda e a tecnologiaredes alta capacidade de transportar informaes. O crescimentoseja maior e, por isso, exige mais investimentos com maior partici-das taxas de transmisso e da quantidade de dados mais rpidopao do Estado consorciado com a iniciativa privada, acreditado que a tecnologia consegue atender, ou seja, h um descom-Luiz Salomo, presidente da Padtec, empresa brasileira especia-passo entre a necessidade da sociedade e aquilo que a tecnologializada em sistemas de transmisso de alta capacidade. Para ele, ooferece para solucionar o problema de demanda. A Lei de Moore (engenheiro norte-americano e co-fundador do grupo Intel) diz que a capacidade de transmisso multiplicase por dez enquanto no mesmo perodo a tecnologia conseguepanorama no Brasil de enorme demanda, possui grande potencial de investimento e oferece rentabilidade vivel, mas isso exige a participao tanto da iniciativa privada quanto do governo. No existe outro jeito. Tem que somar todos os esforos e recursos do pas, afirma de forma taxativa.um aumento de apenas duas vezes. No mundo inteiro, existe umO Plano Nacional de Banda Larga uma resposta s necessidadesponto de estrangulamento decorrente das limitaes tecnolgicasda sociedade brasileira. As escolas precisam estar conectadas, ex-para se prover acessos de alta capacidade e, com isso, fazer comiste uma gerao de pessoas que precisa ser integrada aos demais,que as pessoas consigam trocar informao com maior rapidezacredita Salomo. Foi pensando nisso que o governo federal lan-e eficincia.ou em 2008, ainda no governo Luiz Incio Lula da Silva, o ProLINHA DIRETA em revista 21 22. CAPA grama Banda Larga nas Escolas (PBLE), cujo objetivo oferecer conexo gratuita internet para todas as instituies de ensino pblicas do Pas, de nvel fundamental e mdio.Banda Larga Popular A implantao da banda larga popular j comeou a ser realizada como parte do PNBL. At o final do ano, cerca de 150 cidadesDe acordo com o ltimo balano divulgado pela Agncia Nacio-devem contar com acesso rpido internet, mesmo com a es-nal de Telecomunicaes (Anatel), em dezembro de 2010, 91,6%trutura pblica de fibras ticas sendo suficiente para mais que odas escolas pblicas urbanas j contam com a tecnologia, nmerotriplo desse nmero. Por isso, o governo ainda acredita em 544que, a essa altura, est ainda mais prximo dos 100%. A promessamunicpios contemplados. Entretanto, nem todas as localidades que at o final deste ano todas as escolas estejam atendidas pelopossveis sero atendidas j em 2011 porque no fazem parte dosprograma, desenvolvido em parceria com os ministrios das Co-contratos firmados entre a estatal Telebrs e as operadoras priva-municaes e da Educao e com as operadoras de telefonia. Essedas de telefonia, responsveis pela comercializao do produto amesmo levantamento mostrou que o estado de So Paulo o prin-preos mais baixos. At o final de 2012, mil municpios devem tercipal favorecido, com mais de sete mil unidades beneficiadas.acesso tecnologia.Ao contrrio do que poderia se supor, o programa no estarA cidade de Santo Antnio do Descoberto, em Gois, foi acompleto quando todas as escolas tiverem acesso banda larga.primeira a receber a internet de alta velocidade a custos popu-Conforme novas instituies de ensino surgirem, a tecnologia tambm dever ser disponibilizada. Como a vigncia do PBLE se estende at 2025, at l os envolvidos tm o compromisso de ampliar periodicamente a velocidade de conexo da internet. O prximo passo do governo popularizar os tablets, mais conhecidos pela marca da Apple iPad, levando os dispositivos para todos os alunos de escolas pblicas de forma gratuita. Na poca do lanamento do programa, o ministro das Comunicaes, Paulo Bernardo, afirmou que a inteno substituir os livros nas salaslares. Desde 23 de agosto, os moradores j podem contratar a conexo rpida de 1 megabit por R$ 35 ao ms. Contudo, existe a necessidade de comprar o modem, vendido a R$ 300. O ministro das Comunicaes, Paulo Bernardo, prometeu negociar a reduo desse preo, mas a empresa fabricante, a Sadnet, disse que s seria possvel diminuir o valor, em aproximadamente cem reais, caso o governo corte impostos. Outra soluo oferecer o aparelho para que o usurio utilize enquanto mantiver contrato com a empresa, tendo que devolver caso cancele o servio ou migre para outra fornecedora. A TIMde aula, e exemplo do que j acontece na Coreia do Sul, at o finalfoi a primeira a oferecer banda larga popular dentro dos parme-do mandato da presidenta Dilma Rousseff.tros estipulados pelo PNBL. Pouco tempo depois, a Claro anunciou participao no programa por meio da comercializao de pacotes 3G, com 1 Megabit de velocidade, por R$ 29,90 ao ms. Assim como no servio oferecido pelas outras empresas, como a TIM, o usurio ter de comprar o modem de acesso, neste caso, o aparelho 3G da Claro. A Oi e a Telefnica tambm comearam a disponibilizar o servio por preos semelhantes. O Palcio do Planalto, por sua vez, j sinalizou com a reduo dos tributos federais. O incentivo fiscal dever aumentar em R$ 20 bilhes os investimentos em redes de alta velocidade. O governoMinistro das Comunicaes, Paulo Bernardo, acredita que o projeto essencial para o Pas22 LINHA DIRETA em revistadever deixar de arrecadar R$ 4 bilhes com a medida. Tendo em vista o investimento planejado, parece bom negcio. 23. CAPA Mas para o especialista em telecomunicaes Marcello MirandaCopa e das Olimpadas, porm ainda no fizemos a lio de casa preciso cautela quanto aos procedimentos estabelecidos pelodo ponto de vista de infraestrutura em telecomunicaes, avaliaPNBL. Como podemos notar sem muita dificuldade, os termosSalomo. Ainda falta construir as novas redes de backbone [ ode compromisso foram moldados a partir da disposio das em-termo utilizado para identificar a rede principal pela qual os dadospresas e, como consequncia, so bons para as teles e completa-de todos os clientes passam], de acesso de alta performance e umamente insuficientes para os usurios, evidenciou. Alm disso, orede que seja transparente ao servio, esclarece.instrumento jurdico de termo de compromisso bastante precrio e expressa dificuldade do governo em impor metas mantendo a prestao do servio em regime privado, continuou Miranda.A presidenta Dilma assegurou a liberao de mais R$ 200 milhes do oramento da Telebrs para garantir a infraestrutura da rede nas 12 cidades-sede da Copa, o que inclui o Rio de Janeiro, queNo h discordncia quanto necessidade do Plano Nacional desediar os Jogos dois anos mais tarde. Esse regime diferenciado deBanda Larga, que tem como principais objetivos o desenvolvi-tributao para obras de implantao, expanso e modernizaomento econmico, social e estratgico do Pas. O impasse se dda banda larga durar, justamente, at 2016.por conta da superficialidade pregada em torno da discusso, que deve ultrapassar os limites do acordo formal e focar no engajamento da sociedade. O que se espera que o governo perceba que a banda larga to necessria quanto sade, educao e segurana pblica, pontuou. preciso entender que o servio tambm se trata de telecomunicao e que to fundamental quanto discutir a banda larga, debater um plano nacional integrado a esse contexto todo, reforou.Aos crticos do alto volume de investimento pblico para receber competies internacionais com tantos outros problemas no pas, sem considerar que as obras de infraestrutura que incluem as do setor de telecomunicaes tambm so urgentes, Salomo responde. Precisamos melhorar nosso nvel de sade e segurana pblica, enfim, precisamos melhorar nossa cidadania e isso s ser possvel por intermdio dos sistemas que fazem com que a informao seja distribuda de forma igualitria.Para aplacar esse anseio social quase generalizado, em dezembro de 2009 aconteceu a Conferncia Nacional das ComunicaesPara o presidente da Padtec, o atual momento muito interes-(Confecom), mas as decises obtidas na ocasio no foram le-sante, pois integra o Pas na sociedade como um todo, assim ovadas adiante. Fato semelhante aconteceu com o Frum BrasilPNBL inserir o Brasil no mundo. Temos que estar conectadosConectado, criado pelo mesmo decreto que instituiu o PNBLao hemisfrio norte e sul, ou seja, no se pode mais ver as coisase reativou a Telebrs. A plenria, que deveria discutir os passosfechadas, pois a informao e conhecimento so base da nossado projeto a cada 60 dias e reuniria 56 instituies, no acontecesociedade.desde o comeo do ano. O Frum Brasil Conectado no surgiu para se reunir uma nica vez em 2011. Toda a negociao teve como nica referncia e interlocuo o mercado, e isso pode ser a ponta de um iceberg que destruir a universalizao da banda larga e o prprio PNBL, finalizou.Os grandes eventos esportivos O governo, com todas as medidas, mostra dupla preocupao: alm de levar a internet de forma democrtica a todos os brasileiros, precisa ainda garantir a qualidade dos servios tendo vista a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpadas de 2016. Em minha opinio o Brasil no vai fazer feio na transmisso daPresidente da Padtec acredita na necessidade da parceria pblico-privadaLINHA DIRETA em revista 23 24. MULHERMuito alm da roupa ntima Campanha da Hope retoma o debate sobre o valor da mulher na sociedade Amanda Santoro com colaborao de Renata Sueiro A expresso lugar de mulher no fogo mostra-se cada vez mais distante da realidade brasileira, mesmo que ainda seja fortemente considerada por alguns segmentos sociais. , alis, essa discrepncia de valores que vem esquentando debates sobre casos emblemticos, como o da marca de lingeries Hope, que quis satirizar o cotidiano de um casal, mas acabou por rotular a mulher como objeto sexual. Na contramo do pensamento conservador, o sexo feminino revela que, na verdade, o seu lugar outro. As universidades so um bom exemplo disso. No ltimo Censo da Educao Superior, divulgado em janeiro de 2011, as taxas de alunas em cursos presenciais e de Ensino Distncia (EAD) foram mais elevadas. Elas so 55,1% do total na primeira modalidade e, pasmem, 69,2% na segunda. No esporte elas tambm esto em trajetria crescente, impulsionadas pelas conquistas em recentes torneios mundiais. O fato pde ser comprovado pela delegao formada para a disputa dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no Mxico. As mulheres somaram 240 atletas em 43 das 49 modalidades, 24 LINHA DIRETA em revistacorrespondendo a 46% do total de brasileiros inscritos na competio. Esse nmero s foi maior no Pan do Rio-2007, quando o Pas ocupou mais vagas justamente por sediar os jogos. Acrescente a isso a evoluo em termos qualitativos. No toa que Maurren Maggi (salto em distncia), Fabiana Beltrame (remo), Fabiana Murer (salto com vara) e a seleo feminina de vlei tenham chegado competio como favoritas. Outro lugar onde as mulheres mostraram pertencer de fato e de direito, e talvez seja o mais representativo deles, no mercado de trabalho no s brasileiro, pois a tendncia mundial. Elas j compem 50% da mo de obra dos Estados Unidos e aqui ostentam o ndice de 45% da Populao Economicamente Ativa (PEA). Alis, os homens que se cuidem, pois estudos apontam para uma ocupao mercadolgica majoritariamente feminina j para o ano de 2020. Brincadeiras parte, mulheres e homens no devem competir 25. MULHER Ainda h muito a ser combatido conjuntamente, como as desigualdades salariais entre pessoas que desempenham a mesma funo com o mesmo grau de escolaridade. Em mdia, o gnero feminino recebeu salrios 25,3% inferiores em relao ao masculino em 2010, revelando uma das disparidades mais grotescas e preocupantes entre os sexos. Tambm merece ateno redobrada a luta contra o preconceito de uma sociedade predominantemente machista, at mesmo entre as mulheres. Quem nunca ouviu de uma me, tia ou av a frase isso no coisa de menina? Ou ainda a justificativa simplista de que ele pode porque homem? O que em um primeiro momento pode parecer inofensivo acaba por revelar o pensamento intrnseco cultura do brasileiro. preciso discutir essas questes na escola e na mdia, somar esforos para que todos possam repensar seus conceitos ultrapassados, afirmou a psicloga Rachel Moreno, coordenadora do Observatrio da Mulher. Quando todos perceberem que s se ganha com o reconhecimento da igualdade e dos direitos, as coisas estaro mudando de verdade, complementou.Outro bom exemplo ganhou contornos no comeo de outubro, quando a Secretaria de Polticas para Mulheres (SMP) sugeriu mudanas em Fina Estampa, novela tambm exibida pela Rede Globo. A ministra Iriny Lopes assinou e enviou um ofcio cadeia televisiva dizendo que a fico tem fora para alertar a sociedade, em aluso direta ao personagem Baltazar (Alexandre Nero) que humilha e bate na esposa Celeste (Dira Paes). O documento tambm pedia que, na fico, o homem sofresse as implicaes da Lei Maria da Penha. Mas sem sombra de dvida a nova campanha da Hope, protagonizada por Gisele Bndchen, foi o caso da atualidade que gerou mais bafaf. Nos comerciais, a top model ensina como as esposas devem agir em situaes complicadas diante dos maridos, sempre apelando ao vis sexual. As primeiras reclamaes surgiram tambm por meio da Secretaria de Polticas para Mulheres (SMP), mas foram indeferidas pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentao Publicitria), que investigou a srie de vdeos.Qualquer publicidade boa publicidadeA propaganda reproduz o esteretipo da mulher consumidoraRecentemente alguns casos com mensagem subliminar de desrespeito mulher ganharam notoriedade na mdia justamente por envolverem grandes marcas, programas e emissoras de televiso. Uma das repercusses mais destacadas refere-se ao quadro Metr Zorra Brasil, exibido no humorstico Zorra Total, da Rede Globo. Na pea de entretenimento, Janete (Thalita Carauta) conversa com a transexual Valria (Rodrigo SantAnna) em um vago de metr lotado, e sempre sofre abuso de um homem que se aproxima por conta da superlotao. Segundo a Secretaria de Assuntos da Mulher do Sindicato dos Metrovirios de So Paulo, a atrao estimula o assdio sexual e, por isso, deve ser retirada do ar. Em sua defesa, a emissora divulgou uma nota imprensa dizendo que o programa Zorra Total no incita qualquer comportamento, e que o objetivo dele entreter o espectador finalidade que acredita ter sido atingida.incentiva a ideia da mulher-objeto e sugere factides que noA mdia tem impacto na formao da subjetividade das pessoas e uma poderosa educadora informal. Ela mostra imagens positivadas de valores que a sociedade preza e o bombardeio dessas mensagens acaba por ser incorporado como desejo pessoal, explicou a psicloga Rachel Moreno. As mulheres avanaram muito nos ltimos anos e essas conquistas ficam simbolicamente neutralizadas quando algo indica que o caminho certo diferente, completa.e irresponsvel, que no sabe dirigir e tem um homem para pagar suas contas, pontuou Rachel Moreno. A pea publicitria condizem com a realidade, afirmou a psicloga em referncia s recentes pesquisas que revelaram que as mulheres aplicam melhor o dinheiro, se envolvem em menos acidentes de carros e sustentam 35% das famlias brasileiras. Deixando de lado a superficialidade da polmica sexista, o que fica evidente que o jargo falem bem ou mal, mas falem de mim ganha fora. A campanha Pneis Malditos, da Nissan, sofreu com o veto do Conar, mas os seus cofres mostraram lucro inversamente proporcional represlia as vendas da marca aumentaram 81% em agosto, ms em que o caso ganhou espao. O mesmo aconteceu com a Hope, que assistiu de camarote as suas vendas alavancarem em 43% durante o perodo em que a marca foi duramente criticada nas redes sociais. Como diria o empresrio norte-americano Phineas Taylor Barnun, any publicity is good publicity, que em traduo literal para o portugus significa qualquer publicidade boa publicidade. E, assim, enquanto a sociedade envolve-se numa suposta discusso sobre a temtica, as grandes marcas riem toa com o crescimento da vendagem e da repercusso dos seus produtos. LINHA DIRETA em revista 25 26. SADEA sade que depende de planos O Brasil est muito distante de oferecer servio de qualidade para sua populao, apesar de convnios privados o setor est em crise Marco Tirelli Hoje em dia depender do sistema pblico de sade no Brasil um verdadeiro tormento. Faltam leitos, o atendimento precrio e pessoas morrem mngua. Aqueles que podem pagar possuem convnio mdico com instituies particulares. Os planos de sade com frequncia fazem parte da cesta de benefcios de muitos acordos e convenes coletivas negociados pelos sindicatos. Apesar de conseguir atendimento melhor, em comparao ao desrespeito que a populao carente submetida nos hospitais pblicos, ainda existem vrios problemas, principalmente no que se refere aos reajustes das mensalidades e na espera no atendimento. Ao contrrio do que acontece na maioria dos pases desenvolvidos, onde a administrao pblica financia grande parte das despesas em sade, no Brasil, de cada R$ 10 gastos no setor, as famlias pagam R$ 6,02 e o governo R$ 3,88, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). O restante vem de instituies sem fins lu26 LINHA DIRETA em revistacrativos. O padro nos pases da Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico de, no mnimo, 70% de financiamento pblico, com exceo dos Estados Unidos e Mxico, onde o percentual fica em torno de 45%. Os dados sobre despesa mdia mensal familiar com sade revelam que os 10% mais ricos da populao gastam R$ 376, quase 13 vezes mais do que os 40% mais pobres, que consomem R$ 28. A pesquisa indica tambm uma diferena na forma de gastar esse recurso. A maior despesa no grupo dos mais ricos foi com planos e seguros de sade (R$ 144,41), remdios (R$ 97,78), consultas e tratamentos dentrios (R$ 43,98). J os mais pobres gastaram com remdios (R$ 19,19).Planos de Sade cobrem 18,5% da populao De acordo com o estudo do IBGE, o nmero de beneficirios dos planos privados de assistncia mdica chegou a18,5% da populao do Pas. A maior taxa de cobertura foi registrada em So Paulo, com 35,7% de sua populao com planos privados de sade; e a menor em Roraima, com 2,3%. No ano passado, as 15 operadoras privadas mdico-hospitalares filiadas Fenasade tiveram receita de R$ 73 bilhes e despesa de R$ 58 bilhes, o que representa um gritante lucro lquido de 20%. O governo, por intermdio da Agncia Nacional de Sade Complementar (ANS), criou novas regras para os planos com o intuito de melhorar a relao com seus associados. Assim, desde junho de 2011, as operadoras deveriam incluir em seu rol de atendimento 70 novos procedimentos mdicos e odontolgicos na cobertura bsica e ainda ampliar o limite de consultas em algumas especialidades, de acordo com a Resoluo Normativa n 211 da ANS. A medida visa beneficiar cerca de 46 milhes de usurios com planos de sade contratados a partir de 2 de janeiro de 1999. 27. SADE Na opinio do gerente mdico Eider Soares Cardoso, as novas regras quanto aos prazos de consultas e de procedimentos servem para organizar o fluxo de atendimento e regular a demanda versus a rede de cobertura. Por outro lado, cada assistncia mdica tem a sua peculiaridade e o impacto poder ser grande, principalmente nos custos, ndice de satisfao do associado e condies de cobertura. A nossa classe mdica est achatada pelos valores de consulta, o que gera uma insatisfao profissional, conta Eider. Estudos demonstram que quase 100% dos mdicos atendem convnios e as novas regras impostas pela ANS podem comprometer isso, pois interferem na autonomia profissional para definir, por exemplo, a necessidade de consulta fora de prazo. Isso uma questo de sade e no de matemtica, acrescenta.Mdicos x Planos de Sade Em meio crise do setor de sade que coloca em xeque a qualidade e a capacidade de atendimento aos usurios do sistema particular, planos e mdicos tiveram outra queda de brao. No ms de setembro, em mais um dia de protestos, os profissionais suspenderam o atendimento, reeditando a paralisao nacional de 7 de abril. A medida foi tomada contra os convnios que no negociaram reajuste no valor das consultas. Os profissionais decidiram radicalizar o movimento e no aceitam receber pelas consultas menos que o valor estabelecido como mnimo pela Associao Mdica Brasileira (AMB). No fogo cruzado fica o consumidor. A ANS informa que a operadora deve garantir o atendimento, mas no o que tem ocorrido. As assistncias tm procurado negociar os honorrios, entretanto esto bastante defasados, explica Eider. Segundo estudo do Conselho Federal de Medicina (CFM), o valor da consulta no ultrapassa R$30. um absurdo para o profissional que lida com vidas, faz seis anos de faculdade, mais trs anos de especializao e mais oito anos, caso opte pelo mestrado e doutorado, revolta-se Eider.Apesar de pagar pelo convnio, a longa espera inevitvelA tenso na sade vem se agravando. Segundo a ANS, existem cerca de 30 mil processos administrativos contra as operadoras, iniciados com denncias de clientes sobre procedimentos negados. Apesar dos reajustes s mensalidades serem anuais e acima da inflao oficial do pas, e o setor experimentar crescimento recorde, usurios chegam a comparar o servio particular ao atendimento pblico. A espera nas urgncias de hospitais pode superar trs horas. Levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) tambm mostrou que o tempo de espera para ir ao mdico pode chegar a seis meses. Os planos de sade se tornaram o SUS particular, comenta a usuria do sistema Rosngela Fraga Santana. Segundo ela, sempre que precisa levar sua filha ao hospital, difcil esperar menos de trs horas. J a marcao de consulta pode demorar trs meses, comenta ela, que j teve de esperar esse tempo para ir ginecologista. O tempo foi ainda maior parao dermatologista. Apesar de considerar que o movimento dos mdicos recai sobre os usurios, ela concorda com o protesto. Pagamos caro. E o valor que os mdicos recebem baixo pelo trabalho que oferecem. Em recente entrevista, o diretor de sade suplementar da Federao Nacional dos Mdicos (Fenam), Mrcio Bichara, informou que houve movimento de algumas operadoras para reajustar os honorrios, mas nenhuma atingiu o piso. Outras nem mesmo negociaram. H 10 anos, a remunerao representava 40% dos custos das operadoras, hoje representa 18%. Ele tambm apontou que o nmero de usurios vem crescendo, ao contrrio da capacidade de atendimento. Ampliar a rede significa crescer o custo para as empresas. Nesta queda de brao entre os planos de sade, os mdicos e o governo no existem vencidos e nem vencedores, apenas prejudicados: o povo brasileiro.Existem inmeros planos mdicos que oferecem seus serviosLINHA DIRETA em revista 27 28. NOTASTrabalhadores aprovam Acordo Coletivo da Telefnica/Vivo Durante as assembleias realizadas em setembro, os trabalhadores da Telefnica/Vivo (Telefnica Brasil) aprovaram a proposta para o Acordo Coletivo 2012. Essa foi a primeira vez que o documento foi negociado de forma conjunta e trouxe avanos importantes para os trabalhadores. Entre as principais clusulas esto reajuste salarial de 7,40% em 1 de setembro para trabalhadores da Telefnica e em 1 de novembro para os da Vivo, com possvel ganho real, a depender da inflao para o perodo de doze meses que se encerra em novembro, alm da eliminao do teto salarial. Os vales-refeio e alimentao da Telefnica foram reajustados para R$ 689,22 retroativos de 1 de setembro. Em 1 de novembro, o valor passou a ser de R$ 735,40 para ambas as empresas. O trabalhador tambm conta, agora, com um modelo flexvel na hora de receber o VR e VA, possibilitando novas divises na quantia de cada. Ainda chama a ateno no caso da Vivo o expressivo aumento no Auxlio Creche Especial, que passar dos atuais RS 220,13para R$ 774,56, reajuste de mais de 250%. O mesmo valor ser concedido na Telefnica. O Plano de Sade ser alinhado ao modelo da Vivo at o final do primeiro trimestre de 2012, entretanto, est sujeito aprovao da Agncia Nacional de Sade Complementar (ANS). Alm disso, haver reduo no prazo de compensao do banco de horas de 120 para 60 dias. O reembolso de quilometragem rodada da Telefnica sobe de R$ 0,59 para R$ 0,85, acrscimo de 44%. O auxlio creche/bab passa a ser extensivo aos homens e o limite de 80% foi eliminado. Assim como na Vivo, o valor para esse benefcio agora de R$ 253.Lojas Vivo O Sindicato tambm j conquistou diversos benefcios para os trabalhadores das lojas da Vivo, como o Programa de Participao nos Resultados (PPR), proporcional ao dos funcionrios do administrativo. O prximo passo igualar os acordos coletivos nacionais.Entidades representativas assinam protocolo de combate terceirizao e precarizao No final de setembro, a Fenattel (Federao Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicaes) e a Febratel (Federao Brasileira das Empresas em Telecomunicaes) entidades representativas do setor assinaram o protocolo de aes conjuntas ante a questo da terceirizao e da precarizao das relaes trabalhistas do setor. A assinatura do documento aconteceu na sede da empresa Vivo, em So Paulo, e contou com a presena de Almir Munhoz, presidente do Sintetel e em exerccio da Fenattel, eleito tambm 28 LINHA DIRETA em revistapara liderar o prximo mandato desta que comea em fevereiro de 2012. Antnio Carlos Valente, presidente da Vivo/Telefnica, representou a Febratel na ocasio. A formalizao deste protocolo uma ao concreta que a Fenattel e a Febratel adotaram para combater essas prticas que tanto repudiamos, destacou Almir Munhoz. O documento que estabelece como prioridade a preservao das relaes deValente e Munhoz assinam protocolotrabalho e sindicais, seguiu para debate na audincia pblica sobre o tema no TST (Tribunal Superior do Trabalho), realizada no incio de outubro. 29. NOTASSintetel e Centrais renem milhares em passeata por melhorias trabalhistasAs centrais sindicais realizaram grande passeata em So Paulo para reivindicar avanos no campo trabalhista. O ato, que comeou em frente ao Estdio do Pacaembu, passou pela Avenida Paulista e terminou na Assembleia Legislativa, no Ibirapuera, reuniu aproximadamente 80 mil pessoas, entre as quais se destacou a delegao do Sintetel.reivindicadas so a regulamentao da terceirizao e a ratificao, pelo Congresso, das Convenes 151, 158 e 189 da OIT (Organizao Internacional do Trabalho), que preveem, respectivamente, o direito de organizao e negociao coletiva dos servidores pblicos, a proibio da demisso imotivada e a regulamentao dos trabalhos domsticos.Alm da jornada de trabalho, os manifestantes pediam o fim do fator previdencirio, que altera para baixo o valor dos rendimentos dos que se aposentam por tempo de contribuio. Outras questesNo campo estritamente econmico, o movimento sindical pede a reduo dos juros e a destinao de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a educao, alm de 50% dos recursos do pr-sal.Sindicatos elegem nova diretoria da Fenattel Representantes dos 22 sindicatos do setor elegeram a nova diretoria da Federao Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicaes. Almir Munhoz foi eleito presidente da Fenattel por unanimidade e ficar frente do cargo pelos prximos quatro anos. De acordo com Almir, dedicao e comprometimento sero as metas desta nova diretoria. a nossa obrigao dar aos trabalhadores melhores condies de vida e de trabalho. Vamos dar Fenattel a caracterstica de uma federao nica e que represente todos da categoria, concluiu.Sintetel elege e indica representantes para Conferncias de Mulheres e da Juventude Realizada no incio de setembro, a 4 Conferncia Municipal de Mulheres reuniu cerca de 1.300 participantes em So Paulo. Na ocasio, a diretora do Sintetel Maria Edna Medeiros foi eleita delegada para a etapa seguinte. Ela fez parte da comisso organizadora da 3 Conferncia Estadual de Polticas para as Mulheres do Estado de So Paulo. Em dezembro, ocorre a Conferncia Nacional. J em meados de setembro, aconteceu a 2 Conferncia Municipal de Juventude. O evento abriu espao para debate sobre problemas e novas medidas para a melhoria das polticas pblicas. O Sintetel foi representado pela delegao de jovens composta pelos diretores Fbio Oliveira e Maria Edna Medeiros, alm dos jovens Alexandre Candido, Anselmo Delgado, Diogenes Garcia, Jhonatas Malta, J. Gregrio Jr, Vagner Cardoso, Mariangela Pires e Anderson Reis. Posteriormente, os representantes foram indicados como delegados para a Conferncia Estadual, realizada em outubro. Detalhes sobre as Conferncias no realizadas at o fechamento desta edio sero publicados no jornal Linha Direta e no site do Sintetel. LINHA DIRETA em revista 29 30. CULTURACinema para pensar Filmes menos comerciais passam pelas salas brasileiras gerando reaes diversas Emilio Franco Jr. O cinema nasceu como arte, rotulado como a stima, mas tambm sempre esteve cercado pelo entretenimento. Desde o surgimento, provoca em plateias de todo o mundo reaes contraditrias pela explorao de distintas possibilidades lingusticas e por histrias que geram reflexo ou que apenas servem de passatempo. Os termos arte e entretenimento, contundo, desagradam o professor e crtico de cinema Srgio Rizzo, para quem o correto fazer a diviso entre industrial e de autor. O primeiro envolve investimentos mais elevados e tem o compromisso econmico de se dirigir a grandes pblicos. Assim, explica Rizzo, tende a ser pasteurizado, pouco ousado e repetidor de frmulas. O autoral, por sua vez, custa menos e, porisso, pode falar com um nmero menor de pessoas para se pagar. Isso permite o tratamento de temas mais difceis e alguma dose de ousadia formal, afirma. Essa ousadia formal pde ser vista, com maior repercusso do que o usual, em obras que chegaram s telas brasileiras entre o fim do primeiro semestre e o incio do segundo, todas pelas mos de diretores consagrados, e queridinhos de grupos cinfilos, mas que nem sempre tm a devida ateno dos demais espectadores. So filmes de propostas intelectuais mais sofisticadas e que, muitas vezes, s o tempo mostra o valor. Dentro dessa temtica, o cinema trouxe esse ano Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, fortssimo candidato ao Oscar 2012. O enredo prope uma viagem pelo tempo e pela histria da prpria arte tendo como pano de fundo a cidade de Paris atual e da dcada de 20. Essa premissa pressupe certo conhecimento do pblico, que v confrontado na tela o presente com o passado por meio de um escritor que em suas noites bomias pelas ruas da capital francesa consegue, sempre ao badalar da meia-noite, encontrar figuras consagradas da literatura, pintura e do cinema que viveram em pocas passadas. Questes como o saudosismo e a supervalorizao do antigo em relao ao novo so discutidas em encontros da personagem principal com personalidades como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e Pablo Picasso. Rizzo acredita que o