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ATENO SADE DO IDOSO

1 Edio SECRETARIA DE ESTADO DE SADE DE MINAS GERAIS Belo Horizonte, 2006

GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador Acio Neves da Cunha SECRETARIA DE ESTADO DE SADE DE MINAS GERAIS Secretrio Marcelo Gouva Teixeira SUPERINTENDNCIA DE ATENO SADE Superintendente Benedito Scaranci Fernandes GERNCIA DE ATENO BSICA Gerente Maria Rizoneide Negreiros de Arajo GERNCIA DE NORMALIZAO DE ATENO SADE Gerente Marco Antnio Bragana de Matos COORDENADORIA DE ATENO AO IDOSO Coordenadora Eliana Mrcia Fialho de Sousa BandeiraAporte financeiro Este material foi produzido com recursos do Projeto de Expanso e Consolidao da Sade da Famlia - PROESF Projeto grfico e editorao eletrnica Casa de Editorao e Arte Ltda. Ilustrao Mirella Spinelli Produo, distribuio e informaes Secretaria de Estado de Sade de Minas Gerais Rua Sapuca, 429 Floresta Belo Horizonrte MG CEP 30150 050 Telefone (31) 3273.5100 E-mail: [email protected] Site: www.saude.mg.gov.br 1 Edio. 2006Aut

MINAS WT 100 MI AT a

GERAIS. sade do

Secretaria idoso.

de Belo

Estado

de

Sade. SAS/MG,

Ateno 2006.

Horizonte:

186 p. 1. Sade do idoso - Ateno. 2. Sade da famlia - competncia. I.Ttulo.

AUTORESEliana Mrcia Fialho de Sousa Bandeira Fausto Alosio Pedrosa Pimenta Miraneide Carmo de Souza

APRESENTAOA situao da sade, hoje, no Brasil e em Minas Gerais, determinada por dois fatores importantes. A cada ano acrescentam-se 200 mil pessoas maiores de 60 anos populao brasileira, gerando uma demanda importante para o sistema de sade (MS, 2005). Somando-se a isso, o cenrio epidemiolgico brasileiro mostra uma transio: as doenas infecciosas que respondiam por 46% das mortes em 1930, em 2003 foram responsveis por apenas 5% da mortalidade, dando lugar s doenas cardiovasculares, aos cnceres, aos acidentes e violncia. frente do grupo das dez principais causas da carga de doena no Brasil j estavam, em 1998, o diabete, a doena isqumica do corao, a doena crebro-vascular e o transtorno depressivo recorrente. Segundo a Organizao Mundial de Sade, at o ano de 2020, as condies crnicas sero responsveis por 60% da carga global de doena nos pases em desenvolvimento (OMS, 2002). Este cenrio preocupante impe a necessidade de medidas inovadoras, que mudem a lgica atual de uma rede de servios voltada ao atendimento do agudo para uma rede de ateno s condies crnicas. Para responder a essa situao, a Secretaria de Estado de Sade de Minas Gerais estabeleceu como estratgia principal a implantao de redes de ateno sade em cada uma das 75 microrregies do estado que permitam prestar uma assistncia contnua populao. E a pr-condio para a eficcia e a eqidade dessa rede que o seu centro de coordenao seja a ateno primria. O programa Sade em Casa, em ato desde 2003, tendo como objetivo a melhoria da ateno primria, est construindo os alicerces para a rede de ateno sade: recuperao e ampliao das unidades bsicas de sade, distribuio de equipamentos, monitoramento atravs da certificao das equipes e avaliao da qualidade da assistncia, da educao permanente para os profissionais e repasse de recursos mensais para cada equipe de sade da famlia, alm da ampliao da lista bsica de medicamentos, dentro do programa Farmcia de Minas. Como base para o desenvolvimento dessa estratgia, foram publicadas anteriormente as linhas-guias Ateno ao Pr-natal, Parto e Puerprio, Ateno Sade da Criana e Ateno Hospitalar ao Neonato, e, agora, apresentamos as linhas-guias Ateno Sade do Adolescente, Ateno Sade do Adulto (Hipertenso e Diabete, Tuberculose, Hansenase e Hiv/aids), Ateno Sade do Idoso, Ateno em Sade Mental e Ateno em Sade Bucal e os manuais da Ateno Primria Sade e Pronturio da Famlia. Esse conjunto de diretrizes indicar a direo para a reorganizao dos servios e da construo da rede integrada. Esperamos, assim, dar mais um passo na consolidao do SUS em Minas Gerais, melhorando as condies de sade e de vida da nossa populao. Dr. Marcelo Gouva Teixeira Secretrio de Sade do Estado de Minas Gerais

PREFCIOO rpido processo de envelhecimento da populao brasileira se d em razo da transio de uma situao de alta mortalidade e alta fecundidade, para uma de baixa mortalidade e gradualmente baixa fecundidade como justificam as projees estatsticas para os prximos anos. Tal mudana se configura num desafio para as autoridades sanitrias, especialmente para a implantao de novos modelos e mtodos para o enfrentamento do problema. O Idoso consome mais servios de sade, as internaes hospitalares so mais freqentes e o tempo de ocupao do leito maior do que o de outras faixas etrias sem que isto se reverta em seu benefcio. Em geral as doenas dos idosos so crnicas e mltiplas, perduram por vrios anos e exigem acompanhamento mdico e de equipes multidisciplinares permanentes e internaes freqentes. A maioria dos quadros de dependncia desta populao est associada a condies crnicas que podem ser adequadamente manipuladas, muitas vezes, fora de instituies hospitalares ou asilares. A efetiva organizao dos sistemas de sade pressupe o fortalecimento do nvel primrio de ateno reforando a necessidade de ruptura da viso piramidal. fundamental a organizao dos servios em aes bsicas de ateno a sade do Idoso na produo do cuidado em defesa da vida. Tal enfoque ser norteado por uma concepo de sade que incorpora os determinantes sociais e coletivos, ressaltando a importncia da singularidade do Idoso e tornando sujeito de sua prpria condio de sade. Este trabalho um documento que explicita a proposta da Secretaria Estadual de Sade/Coordenadoria de Ateno ao Idoso, no que se refere implementao das polticas de Ateno Sade do Idoso, no mbito do Estado de Minas Gerais. Seu objetivo servir de subsdio tcnico, orientando sobre a assistncia sade do Idoso. tambm, um dispositivo importante no agenciamento das informaes por pautar uma nova lgica de discusso do cuidado a de conceber as aes de sade como um direito de cidadania desta parcela da sociedade. Nesse contexto, pretende-se unificar condutas e subsidiar a implementao e a qualificao das aes na assistncia sade do Idoso. H necessidade da organizao do sistema de servios de sade em trs nveis: os centros primrios de ateno sade, os centros secundrios de ateno sade e os hospitais de ensino, visando ao conhecimento e operacionalizao dos princpios ordenadores da ateno primria. Busca tambm, orientar os profissionais da rede de ateno primria, no entendimento de suas aes essenciais, visando a adequao dessas realidade de cada municpio , assim como os elementos essenciais ateno primria a sade, tais como: a educao sanitria, imunizao, a preveno de endemias, o tratamento apropriado das doenas e dos danos mais comuns, a preveno de doenas, a orientao da promoo de alimentao saudvel e de micro nutrientes entre outros. Coordenadoria de Sade do Idoso

AGRADECIMENTOS

uma tarefa difcil nomear todos as pessoas envolvidas na elaborao deste trabalho. Agradecemos, portanto, aos profissionais que direta ou indiretamente participaram desta Linha Guia que explicita a proposta da Secretaria Estadual de Sade do Estado, atravs da Coordenadoria de Ateno ao Idoso, no que se refere implementao das polticas de Ateno Sade do Idoso, no mbito do Estado de Minas Gerais. Este documento tem como objetivo servir de subsdio tcnico aos profissionais da Ateno Primria, orientando-os sobre a ateno sade do idoso. , tambm, um dispositivo importante no agenciamento das informaes, por pautar uma nova lgica de discusso do cuidado, concebendo as aes de sade enquanto um direito de cidadania desta parcela da sociedade. Em especial os nossos agradecimentos aos profissionais do Centro de Referncia em Ateno ao Idoso Prof. Caio Benjamin Dias / HC-UFMG, pela competncia e disponibilidade em nos fornecer subsdios tcnicos que muito enriqueceram este trabalho nossa colega Ana Lcia dos Santos Moura, figura presente durante todas as etapas da elaborao deste documento, pela prontido e apoio.

MENSAGEM DE VALIDAO

A abordagem do idoso representa o maior desafio da Medicina moderna. O grau de vulnerabilidade desse novo organismo envelhecido extremamente heterogneo. Reconhecer essas diferenas exige amplo conhecimento. Esta Linha-Guia aborda os aspectos essenciais para compreenso de como deve ser realizada a abordagem do idoso. O Brasil est num processo de envelhecimento populacional e, a cada dcada, o percentual de idosos aumenta significativamente. Como resultado, estamos vivenciando um perodo de crescente demanda de recursos voltados para atender as necessidades desta nova populao. Nesse processo de preparao e adaptao da sociedade a essa realidade demogrfica, deve-se incluir a capacitao dos profissionais que tero a funo de cuidar da sade dos idosos, pois, atualmente, h uma carncia significativa de profissionais com essa habilitao. Evidncias demonstram que o atendimento ao idoso de forma fragmentada, sem avaliao da sua funcionalidade e sem a compreenso das repercusses do envelhecimento nos processos sade-doena repercutem negativamente na sua sade, entendida como o maior bem estar bio-psico-social, e no simplesmente a ausncia de doenas. Desta forma, a Linha-Guia busca trabalhar os aspectos bsicos do processo de envelhecimento e como eles interferem na abordagem do idoso. Pretende-se descortinar problemas que, at ento, eram atribudos ao processo de envelhecimento per si (da idade) e, portanto, no abordados de forma adequada. Prof Edgar Nunes de Moraes Diretor do Centro de Referncia em Ateno ao Idoso Prof. Caio Benjamin Dias/UFMG

SUMRIOIntroduo .......................................................................13 I. As diretrizes ..................................................................19 II. A avaliao de risco .....................................................23 2.1 Situaes de risco/ idoso frgil .............................25 2.2. Identificao, acompanhamento e demanda .......26 III. As medidas de promoo sade e preveno de doenas e agravos .................................................27 3.1 3.2 3.3 3.4 A educao em sade ..........................................29 Os usurios como agentes produtores de sade ...29 A sade nutricional ..............................................33 A sade bucal do idoso ........................................37

IV A coordenadoria de ateno ao idoso .........................49 . 4.1. A humanizao da ateno ao idoso ....................51 4.2 4.3 4.4 4.5 V . 5. 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 O atendimento ao idoso na rede pblica assistencial ...........................................................51 O acolhimento do idoso na ateno primria .......52 A competncia da unidade bsica de sade / equipe de sade da famlia ......................62 A rede de ateno ao idoso ..................................64 As grandes sndromes geritricas/ gigantes da geriatria ...............................................................81 A instabilidade postural e as quedas no idoso ......82 A incontinncia urinria e fecal ..........................104 Insuficincia cerebral - Incapacidade cognitiva ...117 Iatrogenia ..........................................................126 Imobilidade ......................................................132 As principais patologias: os gigantes da geriatria .........79

VI. Distrbios da presso arterial e peculiaridades em diabetes mellitus no idoso .........................................143 6.1 6.2 Distrbios da presso arterial no idoso ...............145 Peculiaridades em diabetes no idoso ..................151

VII. Atendimento ao paciente frgil: cuidados paliativos ....161 VIII. Informao gerencial ..............................................169 8.1 8.2 9.1 9.2 Planilha de programao ...................................171 Os indicadores da ateno sade do idoso ......172 Sistemas informatizados do Ministrio da Sade....177 Os endereos eletrnicos ....................................177

IX. Sistema de informao .............................................175

Referncias bibliogrficas ..........................................178

INTRODUO

INTRODUOO envelhecimento, aspirao de qualquer sociedade, s representar uma conquista social quando for traduzido por uma melhor qualidade de vida. A ateno se volta para a rapidez da mudana do perfil epidemiolgico que vem ocorrendo no Brasil e que no estamos preparados para enfrentar. A perspectiva de crescimento da populao acima de 60 anos colocar o Brasil, dentro de 25 anos, como a 6 maior populao de idosos no mundo em nmeros absolutos. Atualmente, contamos com o nmero de 16 milhes de indivduos com 60 anos ou mais, que passar a ser 32 milhes em 2025, que representar 15% de nossa populao total, segundo fontes do IBGE. Em 1980, para cada 100 crianas, existiam 16 idosos e atualmente calcula-se que essa proporo chegue a 30 crianas para 100 idosos. Segundo dados estatsticos, em 1991 havia 13,1 mil centenrios no Brasil sendo que a maior parte se encontrava no Estado de So Paulo (4,4 mil), seguido por Bahia (2,8 mil), Minas Gerais (2,7 mil) e Rio de Janeiro (2 mil). Contaremos no ano de 2020 com uma populao que crescer 16 vezes contra 05 vezes o crescimento da populao geral, o que implica na necessidade de ajustar o atual modelo de ateno sade do idoso, reformulando e aprimorando a participao dos atores que esto inseridos nesse contexto O conceito de sade nessa faixa populacional abrangente e no se restringe presena ou ausncia de doena ou agravo e estimada pelo nvel de independncia e autonomia. A avaliao deve ser multidimensional,levando-se em conta o bem-estar biopsicossocial e a necessidade de aes integradas da equipe multidisciplinar. Todo cidado tem direito ao acesso a servios adequados s necessidades de sade individuais e coletivas. nesse contexto que um novo olhar volta-se para a Sade do Idoso como uma das atuais prioridades das Polticas Pblicas de Sade. A utilizao de novos instrumentos, ferramentas e tecnologias surge como uma nova perspectiva para essa abordagem. Da a necessidade de melhorar a qualidade das prestaes de servios ofertadas pelo sistema pblico, repensar o modo como as aes so ofertadas e o papel de cada profissional dentro do novo contexto, organizar fluxos e diretrizes e renovar o papel da assistncia em ateno ao idoso na condio de um processo de assistncia integrado. Dessa forma e considerando a necessidade de dispor de uma poltica devidamente expressa relacionada sade do Idoso, bem como a concluso do processo de elaborao da referida poltica, aps consultas a diferentes segmentos e aprovao pelos rgos competentes, o Ministrio da Sade resolveu aprovar a Poltica Nacional de Sade do Idoso, Portaria GM/MS N 1395/99. . A Coordenadoria de Ateno ao Idoso foi criada em agosto de 2002 e explicita a proposta da Secretaria Estadual no que se refere elaborao, coordenao e execuo de projetos e implantao das polticas pblicas para a populao idosa no Estado de Minas Gerais. 13

ATENO SADE DO IDOSO

BASE LEGAL PARA O DESENVOLVIMENTO DAS POLTICAS EM ATENO AO IDOSO Lei n 8.842 de 04/01/1994 Poltica Nacional do Idoso. . Portaria n 1.395 de 09/12/1999 Poltica Nacional de Sade do Idoso. . Portaria n 249 de12/04/2002 Normas para cadastramento de centros de . referncia em assistncia sade do Idoso. Portaria n 702 de 12/04/2002 Organizao e implantao de redes estaduais . de assistncia sade do idoso. Portaria n 703 de 12/04/2002 Assistncia aos portadores da Doena de . Alzheimer. Portaria n 738 de 12/04/2002 Assistncia domiciliar geritrica. . Resoluo SES n. 1.141 de 26/08/2002 Cria a Coordenadoria de Ateno ao Idoso. Lei n 10.741 de 01/10/2003 Estatuto do Idoso. . RDC n 283 de 26/09/2005 Regulamento Tcnico que define Normas de . funcionamento para as Instituies de Longa Permanncia para Idosos _ ILPI, de carter residencial.

CONCEITUANDO A SADE DO IDOSO SadeA OMS define sade como o estado de completo bem-estar fsico, psquico e social, e no somente a ausncia de doenas. O estado de completo bem-estar fsico, mental e social depende de fatores mdicos e sociais. Dessa forma, o estado de sade das pessoas depende de forma significativa da alocao de recursos em setores como a educao, alimentao, infra-estrutura sanitria e habitacional, incentivos ao trabalho, promoes ao estilo de vida saudvel com atividades de lazer e cuidados com o meio ambiente.

O envelhecimentoComo a criana no pode ser considerada uma miniatura do adulto, o idoso tambm no deve ser tratado como se fosse a sua continuao. (Y. Moriguchi). Definir envelhecimento algo muito complexo, biologicamente considerado um processo que ocorre durante toda a vida. Existem vrios conceitos de envelhecimento, variando de acordo com a viso social, econmica e principalmente com a independncia e qualidade de vida do idoso. A populao de baixo poder aquisitivo envelhece mais cedo, resultado de uma diversidade de fatores biopsicossociais. O envelhecimento acontece logo aps as fases de desenvolvimento e de estabilizao, 14

INTRODUO

sendo pouco perceptvel por um longo perodo, at que as alteraes estruturais e funcionais se tornem evidentes. No ser humano, a fase de desenvolvimento alcana sua plenitude no final da segunda dcada, seguida por um perodo de certa estabilidade, sendo que as primeiras alteraes do envelhecimento so detectadas no final da terceira dcada de vida. Confort caracterizou o envelhecimento natural como a progressiva incapacidade de manuteno do equilbrio homeosttico em condies de sobrecarga funcional. No nosso corpo, os mecanismos mantenedores da homeostase, desde os mais simples aos mais complexos, compem-se fundamentalmente de sensores. Para manter o corpo em equilbrio, por exemplo, existem os responsveis pela deteco do desequilbrio, os encarregados da modulao da resposta (centros reguladores), e os efetores que so capazes de executar as correes necessrias. Durante o envelhecimento, ocorrem alteraes do nmero e da sensibilidade dos sensores, do limiar de excitabilidade dos centros reguladores e da eficincia dos efetores, facilitando principalmente as quedas, que so muito freqentes nos idosos. O envelhecimento no uniforme, portanto no possvel escolher um indicador nico, pode-se dizer que o conjunto das alteraes estruturais e funcionais do organismo que se acumulam progressiva e especificamente com a idade.

Aspectos gerais do envelhecimentoAlm de alteraes estruturais e funcionais, a composio corporal vai sofrendo modificaes importantes com o envelhecimento: A gordura corporal vai aumentando com o avanar da idade (aos 75 anos, praticamente o dobro daquela aos 25 anos); No tecido subcutneo, ocorre a diminuio do tecido adiposo dos membros e aumento no tronco, caracterizando a chamada gordura central; A gua corporal total diminui (15% 20%), principalmente s custas da gua intracelular, com reduo dos componentes intra e extracelulares, principalmente os ons sdio e potssio, provocando maior susceptibilidade a graves complicaes conseqentes das perdas lquidas e maior dificuldade reposio do volume perdido; A retrao do componente hdrico, associado ao aumento da gordura corporal (20% 40%) poder contribuir para a alterao da absoro, metabolizao e excreo das drogas no idoso. A reduo da albumina altera o transporte de diversas drogas no sangue; O metabolismo basal diminui de 10% a 20% com o progredir da idade, o que deve ser levado em conta quando calculamos as necessidades calricas dirias do idoso; A tolerncia glicose tambm se altera, criando, s vezes, dificuldade para se diagnosticar o diabetes, apesar de ser uma doena que incide com muita freqncia no idoso. 15

ATENO SADE DO IDOSO

Senescncia X Senilidade de suma importncia para os profissionais de sade que lidam com pacientes idosos conhecer e distinguir as alteraes fisiolgicas do envelhecimento, denominadas senescncia, daquelas do envelhecimento patolgico ou senilidade. Conhecer o considerado normal e o patolgico e fazer a distino entre eles pode ser difcil, pois muitas vezes essas condies se superpem e, portanto, no se deve atribuir VELHICE, sinais e sintomas de doenas muitas vezes passveis de tratamento e cura. Por outro lado, no devemos considerar o processo natural do envelhecimento como sinais e sintomas de doenas ou solicitar exames e instituir tratamento em idosos que apresentem sinais apenas compatveis com o envelhecimento fisiolgico.

MobilidadeCapacidade de um indivduo se mover em um dado ambiente, funo bsica para a execuo de tarefas, realizar atividades de vida diria AVDs e manter sua independncia.

IndependnciaCapacidade de autocuidar e realizar as atividades da vida diria AVDs sem auxlio de outra pessoa.

DependnciaIncapacidade de realizar uma ou mais atividade da vida diria AVDs, sem auxlio. definida em graus, leve, moderada e avanada.

AutonomiaCapacidade e direito do indivduo de poder eleger, por si prprio, as regras de conduta, a orientao de seus atos e os riscos que est disposto a correr durante sua vida. Conceito amplo: inclui poder decisrio (integridade cognitiva)

Capacidade FuncionalDefine-se como a manuteno plena das habilidades fsicas e mentais desenvolvidas ao longo da vida, necessrias e suficientes para uma vida com independncia e autonomia. o grau de preservao da capacidade de realizar as Atividades Bsicas de Vida Diria AVDs ou autocuidado e o grau de capacidade para desempenhar Atividades Instrumentais de Vida Diria AIVDs. Relao estreita com a avaliao funcional (Neri, 2001). 16

INTRODUO

A sade da pessoa mais velha entendida como a interao entre sade fsica, sade mental, independncia na vida diria, integrao social, suporte familiar e independncia econmica (Ramos, 2002).

SADE DO IDOSO: SADE MENTAL + SADE FSICA (INDEPENDNCIA FUNCIONAL E AUTONOMIA) + INDEPENDNCIA FINANCEIRA + SUPORTE FAMILIAR + INTEGRAO SOCIAL

Avaliao Funcional um mtodo para descrever habilidades e atividades e mensurar a forma de realizao individual de uma srie de aes includas no desempenho de tarefas necessrias na vida diria, nos compromissos vocacionais, nas interaes sociais, de lazer e outros comportamentos requeridos no cotidiano Granger (1984). A avaliao funcional foi definida por Lawton e Brody como uma tentativa sistematizada de mensurar, objetivamente, os nveis nos quais uma pessoa se enquadra numa variedade de reas, tais como: integridade fsica, qualidade de auto-manuteno, qualidade no desempenho dos papis, estado intelectual, atividades sociais, atitudes em relao a si mesmo e ao estado emocional Lawton e Brody (1969). Incapacidade funcional e limitaes fsicas, cognitivas e sensoriais no so conseqncias inevitveis do envelhecimento. A prevalncia da incapacidade aumenta com a idade, mas a idade por si s no prediz incapacidade (Lollar & Crews,2002). A incapacidade predispe a maior risco de problemas de sade e afins. Sua presena nus para o indivduo, para a famlia, para o sistema de sade e para a sociedade (Giacomin & al., 2002). A independncia e autonomia nas atividades de vida diria esto intimamente relacionadas ao funcionamento integrado e harmonioso das seguintes grandes funes ou domnios: Cognio Humor Mobilidade Comunicao O comprometimento das atividades de vida diria pode ser o reflexo de uma doena grave ou conjunto de doenas que comprometam direta ou indiretamente essas quatro grandes funes ou domnios, de forma isolada ou associada. Dessa forma, a perda de uma funo no idoso previamente independente nunca deve ser atribuda velhice e sim representar sinal precoce de doena ou conjunto de doenas no tratadas, caracterizadas pela ausncia de sinais e sintomas tpicos. A presena de dependncia funcional, definida 17

ATENO SADE DO IDOSO

como a incapacidade de funcionar satisfatoriamente sem ajuda, devido a limitaes fsicas ou cognitivas, deve desencadear uma ampla investigao clnica, buscando doenas que, na sua maioria, so total ou parcialmente reversveis. A avaliao do idoso deve contemplar todas as dimenses envolvidas no processo sade-doena. Deve ser, portanto, multidimensional. Apresenta como principal objetivo a definio do diagnstico funcional global e etiolgico (disfunes/doenas) e elaborao do Plano de Cuidados (Moraes EN, 2006).AVALIAO MULTIDIMENSIONAL DO IDOSO Dimenses a serem avaliadas Identificao Queixa(s) Principal(is) Sistemas Fisiolgicos Principais Avaliao da Cavidade Oral Atividades de Vida Diria Bsicas (Autocuidado) Atividades de Vida Diria Instrumentais Mobilidade Avaliao Cognitiva Avaliao do Humor Comunicao: Acuidade visual Comunicao: Acuidade auditiva Comunicao: Voz Avaliao Nutricional Avaliao de Medicamentos Histria Pessoal Atual e Pregressa Avaliao Sociofamiliar Avaliao Ambiental Anamnese Anamnese Anamnese e exame fsico dos aparelhos/sistemas Exame da cavidade oral ndice de Katz Escala de Lawton-Brody / Escala de Pfeffer Timed up and go test e Get up and go test Teste de Romberg - Nudge test - Suporte unipodlico Mini-Mental - Fluncia Verbal - Lista de 10 palavras Reconhecimento de Figuras - Teste do Relgio Escala Geritrica de Depresso Snellen simplificado Teste do sussurro Avaliao da voz Mini-Avaliao Nutricional Listagem dos Medicamentos Anamnese familiar Anamnese familiar Avaliao de riscos ambientais DIAGNSTICO FUNCIONAL GLOBAL PLANO DE CUIDADOS Aes preventivas/promocionais, curativas/paliativas e reabilitadoras Instrumentos de avaliao

A literatura mdica considera a capacidade funcional como um indicador de sade dos idosos e a dependncia como um sinal de falncia da habilidade fsica, psicolgica ou social - seja por doena, por uso de medicamentos, por trauma ou pelo processo contnuo do envelhecimento (Agree,1999). 18

I. AS DIRETRIZES

AS DIRETRIZES

No processo de implementao das polticas de sade do Idoso, o Estatuto do Idoso Lei N 10.741/2003 veio definir a diretriz norteadora para a promoo, preveno e . recuperao da sade desta parcela populacional. Sendo este um aspecto de relevncia no que diz respeito melhoria da qualidade de vida, promoo e recuperao da sade da populao idosa, o Estatuto do Idoso, veio consolidar a legitimidade do direito do cidado de 60 anos ou mais, com direito ateno sade ntegra, o direito social sade em um sentido mais amplo, que implicar garantia de outros direitos sociais e dependente da adequada articulao de polticas econmicas e sociais.

A POPULAO ALVO/ADSCRITA Idosos de 60 anos e mais, sexo masculino e feminino residentes no estado de Minas Gerais.

OS OBJETIVOS PRINCIPAIS Promover o envelhecimento ativo e saudvel bem-sucedido. Estruturar a ateno integral e integrada sade da pessoa idosa. Fortalecer a participao social. Monitorar o processo de envelhecimento. Identificar os fatores de risco de doenas e agravos. Envolver a famlia e a comunidade no processo do cuidado. Promover a formao e a educao permanente para os profissionais de sade que trabalham com idosos no SUS. Identificar e promover os fatores de proteo e recuperao da sade. Melhorar a qualidade de vida da populao idosa do Estado.

OS PROJETOSTem como finalidade primordial manter e promover a autonomia e a independncia dos indivduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de sade para esse fim tendo como base a integralidade da assistncia e a avaliao global e interdisciplinar visando o aumento do nmero de anos de vida saudvel, diminuindo as diferenas entre diversos grupos populacionais, assegurando o acesso a servios preventivos de sade, incentivando e equilibrando a responsabilidade pessoal e a solidariedade entre geraes. Descentralizar o atendimento sade da populao idosa. Elaborar e implantar os fluxos de atendimento da populao adscrita na rede de atendimento. 21

ATENO SADE DO IDOSO

Promover o acesso e garantir o atendimento da populao idosa nos diversos pontos de ateno. Humanizar o atendimento priorizando-o de acordo com o risco individual. Implantar as linhas-guia e os protocolos para o atendimento ao Idoso na Ateno primria Sade. Capacitar os profissionais da rede pblica de sade do Estado de Minas Gerais, para avaliao global da sade do Idoso, atravs do Programa de Educao Permanente/PEP; Elaborar e implantar o pronturio para o atendimento ao Idoso na Ateno Primria. Elaborar e implantar as Normas de funcionamento de Instituies de Longa Permanncia para Idosos ILPI capacitando os profissionais para o atendimento a essa parcela populacional. Adequar o elenco da Farmcia de Minas adaptando-o s necessidades da populao idosa, tendo como base a essencialidade (RENAME) e a adequao (Critrios de Beers). Garantir o fornecimento de medicamentos de uso contnuo para a populao idosa na Ateno Primria Sade. Elaborar e implantar as normas para aquisio de medicamentos para tratamento de portadores de Demncia por Doena de Alzheimer, pelo SUS. Adequar os fluxos para dispensao de medicamentos excepcionais populao idosa. Direcionar medidas coletivas e individuais abordando vrios aspectos referentes ao acesso aos servios de sade e informaes de mbito educativo visando o envelhecimento ativo e bem-sucedido.

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AS DIRETRIZES

II. A AVALIAO DE RISCO

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A AVALIAO DE RISCO

A velhice deve ser encarada como uma fase natural de desenvolvimento humano e no uma doena ou um castigo. A avaliao do idoso tem por objetivo bsico melhorar a qualidade de vida e no apenas acrescentar anos a sua vida. A ateno pessoa idosa deve basearse na melhoria da qualidade da assistncia e no aumento de sua resolutividade com envolvimento de todos os profissionais da rede. Deve estar baseada na realidade assistencial caracterizada por carncia de mdicos especialistas em idosos, ou seja, o profissional a ser utilizado prioritariamente no dever ser o geriatra. A assistncia dever ser exercida pelo mdico clnico e equipe, tendo como objetivo a avaliao funcional visando independncia e a autonomia, reservando apenas para casos bem definidos e criteriosamente selecionados o atendimento do geriatra e da equipe especializada atravs do referenciamento para os Ncleos ou Centros de Referncia de acordo com critrios estabelecidos nesta Linha-guia.

2.1 SITUAES DE RISCO/ IDOSO FRGILA identificao do risco na populao idosa pode ser detectada atravs da avaliao da presena de um perfil de fragilizao, que tambm reduz progressivamente, a capacidade funcional levando maior demanda por servios de sade, em todos os nveis.

So considerados situaes de risco idosos frgeis Idosos com 80 anos Idosos com 60 anos apresentando: Polipatologias ( 5 diagnsticos) Polifarmcia ( 5 drogas/dia) Imobilidade parcial ou total Incontinncia urinria ou fecal Instabilidade postural (quedas de repetio) Incapacidade cognitiva (declnio cognitivo, sndrome demencial, depresso, delirium) Idosos com histria de internaes freqentes e/ou ps alta hospitalar Idosos dependentes nas atividades bsicas de vida diria bsica (ABVDs) Insuficincia familiar: Idosos em situao de vulnerabilidade social, tanto nas famlias, como institucionalizados (ILPI)

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Hierarquizao dos fatores de riscoVem facilitar o atendimento por meio da identificao dos idosos que devem ser atendidos prioritariamente pelos profissionais da Ateno Primria Sade, assim como o encaminhamento para os demais pontos de ateno. Os usurios sero submetidos a instrumentos de avaliao funcional pela equipe e posteriormente sero examinados pelo mdico que interpretar os testes realizados e proceder as avaliaes e os encaminhamentos. Os usurios sero submetidos avaliao pelo mdico que atende o idoso, escuta a demanda, analisa sua necessidade de ateno e faz a identificao do risco priorizando as aes e/ou atividades. Risco 0 Habitual Risco 2 Alto Idosos de risco habitual sero cadastrados e convidados a retornar ao servio dentro de trs meses para nova avaliao, j que no momento no apresentam um perfil de risco que justifique uma ao imediata. Sero realizados o agendamento de consultas de rotina (mdicas, enfermagem, odontolgica e outros) grupos educativos, visitas domiciliares, reabilitao e o monitoramento. Idosos identificados como de risco alto, obedecero ao estabelecido no fluxograma desta Linha-guia com atendimento imediato e gil, orientando os encaminhamentos ou outros procedimentos .

2.2 IDENTIFICAO, ACOMPANHAMENTO E DEMANDA Aspectos gerais de sadeAplicar Protocolo de Avaliao multidisciplinar (Pronturio do Idoso) e Plano de Cuidados: Ver Pronturio da Famlia / Idoso.

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AS MEDIDAS DE PROMOO SADE E PREVENO DE DOENAS E AGRAVOS

III. AS MEDIDAS DE PROMOO SADE E PREVENO DE DOENAS E AGRAVOS

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3.1 A EDUCAO EM SADEA promoo da Sade tenta resgatar um dos principais objetivos da Sade Pblica, ou da sade coletiva, tendo como meta no apenas afastar a doena do indivduo, mas tomar como seu objetivo fundamental a atuao sobre os determinantes das doenas. Existe uma diferena conceitual em relao preveno e promoo, conceitos muitas vezes considerados sinnimos ou equivalentes. Preveno: provisria, tem um carter de interveno diante de alguns agravos que podem acometer indivduos ou coletividades, utilizando determinadas tecnologias para evitar que tal condio mrbida diminua sua probabilidade de ocorrncia, ou ocorra de forma menos grave nos indivduos ou nas coletividades. Promoo da Sade: adquire um carter permanente e visa a erradicao de ocorrncia da mesma. O termo prevenir tem a base de ao no conhecimento epidemiolgico moderno e o seu objetivo o controle da transmisso de doenas infecciosas e a reduo do risco de doenas degenerativas ou outros agravos especficos. A pequena diferena entre preveno e promoo que vai delimitar duas caractersticas importantes. Para que se possa desenvolver, de forma adequada, cuidados ao idoso, alguns caminhos necessitam ser considerados, tais como: Manuteno do bem-estar e da autonomia no ambiente domiciliar onde tais cuidados centram-se no idoso, nas suas necessidades, de sua famlia e de sua comunidade e no em sua doena; Desenvolvimento de um trabalho multidisciplinar e interdisciplinar procurando partilhar responsabilidades e defendendo os direitos dos idosos/ famlia/ comunidade; Ampliao dos conhecimentos profissionais para alm da rea geronto-geritrica, considerando as inter-relaes, pois o idoso exige cuidado direcionado a aes complexas e interdisciplinares; Realizao de visitas domiciliares regulares; Garantia de consultas, tratamentos, medicamentos, exames laboratoriais e outros de acordo com as necessidades individuais; Orientaes que envolvam o usurio e comprometam a famlia; Garantir o atendimento nos diversos pontos de ateno.

3.2 OS USURIOS COMO AGENTES PRODUTORES DE SADEO envelhecimento saudvel exige a adoo de um estilo de vida que inclua alimentao equilibrada, atividade fsica e mental e, ainda, o convvio social. O Idoso poder participar como um agente produtor de sade e de sua comunidade 29

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integrando grupos operativos das mais diversas atividades relacionadas, principalmente, preveno, promoo, manuteno e ao tratamento das diferentes patologias. A participao do idoso torna-se importante na deteco de problemas e at de acontecimentos que possam benefici-los e transform-los em multiplicadores das aes de produo de sade junto aos familiares e comunidade. O fenmeno do envelhecimento populacional tem impacto significativo sobre diversas dimenses do desenvolvimento e do funcionamento das sociedades bem como sobre o bem-estar relativo no s dos idosos como das populaes mais jovens. A Carta de Ottawa define essencialmente a Promoo Sade como um processo que consiste em: proporcionar s pessoas os meios necessrios para melhorar sua sade e exercer um maior controle sobre a mesma. Outra definio, aprovada pelos Ministros de Sade dos pases membros da Organizao Mundial da Sade e da Organizao Panamericana da Sade, em 1990, portanto quatro anos depois, estabelece: A Promoo da Sade concebida, cada vez mais, como a soma das aes da populao, dos servios de sade, das autoridades sanitrias e outros setores sociais e produtivos, voltados para o desenvolvimento de melhores condies de sade individual e coletiva. O documento afirma claramente que a promoo da sade transcende a idia de formas de vida saudveis para incluir as condies e requisitos para a sade, assim definidos: a paz, moradia, educao, alimentao, renda, um ecossistema estvel, recursos sustentveis, justia social e eqidade. Esse amplo quadro de reorientao sublinha o componente da ao comunitria pelos cidados. O eixo do processo gira em torno de trs postulados: Ao intersetorial, para o alcance de polticas pblicas saudveis alm das polticas de sade pblica (setoriais). Afirmao da funo ativa da populao no uso de seus conhecimentos sobre sade para eleger prticas saudveis (basicamente prticas de autocuidado) e obter maior controle sobre sua prpria sade e sobre o seu ambiente. Ao comunitria pelos cidados, no nvel local. O fortalecimento da participao popular e a direo dos temas relacionados com a prpria sade a essncia do paradigma da promoo da sade. O enfoque da Promoo da Sade possibilita identificar seis princpios relativos sade dos idosos: A velhice no doena, mas sim uma etapa evolutiva da vida; A maioria das pessoas de 60 anos e mais esto em boas condies fsicas e sua sade boa, mas ao envelhecer perdem a capacidade de recuperar-se das doenas rapidamente e de forma completa tornando-se mais debilitados e propensos a necessitar de ajuda para seu cuidado pessoal. 30

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Pode-se fortalecer a capacidade funcional na velhice mediante capacitao e estmulos ou prevenindo agravos sade; Do ponto de vista social e psicolgico, as pessoas idosas so mais heterogneas que os jovens; A Preveno Sade na velhice deve ter seu foco no bom funcionamento fsico, mental e social assim como na preveno das enfermidades e incapacidades; Muitas das medidas que afetam a sade das pessoas idosas transcendem o setor sade. Entretanto, os profissionais do setor social e de sade esto em condies de propiciar essa ateno. Nesse contexto, a necessidade de avaliar a capacidade funcional introduziu uma nova rea de estudos epidemiolgicos e estimulou pesquisas utilizando escalas de avaliao da capacidade funcional para as atividades de vida diria e atividades instrumentais da vida diria. Nesses estudos, o autocuidado est includo no domnio dessas atividades. H interlocuo entre capacidade funcional, autocuidado e autonomia. Evidencia-se um domnio maior sobre suas questes de sade, tais como: A oferta de informaes sobre questes de sade e doena, por meio de veculos populares como a televiso, revistas e outros; O aumento do nvel de instruo e de conhecimentos da populao; O foco, cada vez mais aceito pela populao, sobre os direitos do consumidor; O crescente movimento de interesse por formas de auto-ajuda e autodesenvolvimento veiculadas por meio de pocket-books, bibliografia de fcil leitura, geralmente apresentada na forma nominal eu, voc e inmeras outras formas de comunicao, quase sempre coloquial, tendo como objetivo mudanas no estilo de vida da pessoa; O julgamento cada vez mais difundido sobre a falibilidade do sistema de sade; O aumento dos custos dos cuidados mdicos; As crticas ao sistema de cuidado centrado no hospital. No resta dvida que se considera o autocuidado um comportamento autnomo mesmo na presena de algum grau de dependncia. Sua adoo como estratgia de cuidado na velhice harmoniza-se com as atividades propostas para a efetivao da promoo da sade em termos de desenvolvimento de atitudes pessoais e da aquisio de habilidades e conhecimentos que permitam adotar condutas favorveis sade. Deve-se reconhecer que a maioria dos idosos vivendo em comunidade, no s tm a capacidade fsica e cognitiva para aprender formas de autocuidado e pratic-las, mas tambm so capazes de transmiti-las a outrem. Entretanto, os profissionais de sade e mesmo os idosos questionam algumas vezes 31

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essa competncia devido a concepes equivocadas e esteretipos que relacionam velhice com incapacidade e perda de interesse pela vida. O que faz de um idoso um paciente no a identificao de necessidades teraputicas, mas sim a presena de incapacidades que impedem aes independentes para satisfazer essas demandas. Por outro lado, subtramos das pessoas idosas a capacidade de autocuidado, em nome da eficincia e proteo. Em favor da importncia do autocuidado para os idosos, enquanto o nmero de doenas tende a aumentar com o envelhecimento, a correlao da capacidade funcional com a idade no considerada to importante. Muitos idosos permanecem em seus lares e mantm sua capacidade funcional para o autocuidado mesmo com idade muito avanada. (WHO, 1980). Ainda que no haja dvidas sobre a capacidade de aprendizagem dos idosos, no se pode ignorar o impacto que o envelhecimento produz sobre os rgos dos sentidos, o sistema nervoso e algumas funes cognitivas como a memria, entre outras, e que podem interferir ou constituir-se em barreira para a aprendizagem. Os profissionais de sade podero identificar essas dificuldades e estabelecer estratgias de ensino alternativas para cada caso. H discusses quanto a influncia da idade no autocuidado, j que exerce uma pequena influncia direta e um grande efeito indireto na percepo da gravidade de episdios de doenas. Fatores que no sofrem influncia da idade por si s, mas que emergem da estrutura social, cultural ou de vida pessoal moldam o autocuidado atravs da experincia de adoecer e conclui-se que no a idade, mas os valores adquiridos ao longo da vida e a prpria histria de vida que influenciam nas decises das pessoas no que diz respeito ao seu prprio cuidado. O fato de necessitar de ajuda para as atividades de vida diria no est associado obrigatoriamente falta de engajamento do idoso no autocuidado. Como j foi dito, no se pode ignorar o impacto que o envelhecimento produz sobre os rgos dos sentidos, o sistema nervoso e algumas funes cognitivas que podem interferir ou constituir-se em obstculo para o autocuidado. O que h comumente uma forte associao entre a quantidade e o tipo de incapacidade e o autocuidado praticado. Dificuldades para mobilidade e para as atividades de vida diria podem ser barreiras para o autocuidado, mas podem ser minimizadas pelo uso de equipamentos, tais como bengala, andador, caladeiras, adaptaes no ambiente e mudanas de comportamento. O autocuidado uma expresso do saber acumulado pela pessoa ao longo da vida e tambm um instrumento de adaptao s limitaes e s perdas na velhice. O conhecimento da histria de vida do idoso, sua posio no seu meio social e na famlia e o significado que ele d sua existncia so, ao lado da avaliao da sua capacidade funcional, formas de presumir seu potencial para um determinado grau de autonomia e participao na sociedade.

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3.3 A SADE NUTRICIONALOs distrbios nutricionais so comuns entre os idosos e o estado nutricional representa tanto um fator de risco como um marcador de doenas. A avaliao do estado nutricional dos idosos fundamental na avaliao geritrica, sendo descrita como um dos sinais vitais em geriatria. A alimentao uma atividade bsica para a sobrevivncia, sendo influenciada por inmeros fatores: aspectos socioculturais, idade, estado fsico e mental, situao econmica e estado geral de sade. A promoo da sade da populao pode minimizar o impacto que o envelhecimento populacional causa no sistema de sade. A identificao precoce de indivduos em risco nutricional para doenas crnicas e o estabelecimento de programas de interveno para a reduo desse risco preveno primria, assim como a preveno secundria, permite a deteco precoce e o tratamento das doenas ou condies assintomticas. A desnutrio calrica e protica mais prevalente em pacientes idosos com doenas crnicas, com baixa renda e que moram ss. A forma de se alimentar, os tipos de alimentos, a reunio em torno das refeies refletem aspectos sociais e culturais importantes para a interao e convivncia comunitria. Para o idoso, essa atividade assume um papel relevante, uma vez que as doenas podem influenciar e alterar sua habilidade e independncia para a alimentao. medida que o indivduo envelhece, ocorre uma reduo das necessidades de energia e ao mesmo tempo um aumento da demanda de alguns nutrientes. O estado nutricional do idoso o reflexo de hbitos alimentares consolidados no passado e pode ser influenciado por diversos efeitos de longo prazo. As doenas crnicas,o consumo de medicamentos que podem gerar interaes indesejveis, alteraes no apetite, olfato e paladar, dificuldades na habilidade mastigatria, dentio, processo de deglutio (hipossalivao, disfagias orofarngeas, dentre outros), autonomia para realizar as refeies dirias e mesmo a percepo sensorial podem interferir no estado nutricional. O cuidado nutricional ultrapassa as orientaes restritamente relacionadas alimentao, exigindo muita ateno no ambiente em que o idoso est inserido. O aumento da idade no altera os indicadores antropomtricos nem os indicadores nutricionais bioqumicos e se conclui que o processo de envelhecimento, sozinho, no tem conseqncias importantes sobre o estado nutricional dos idosos saudveis. Prothro, compilou dados sobre alteraes fisiolgicas na composio corporal ocorridas durante o processo de envelhecimento. Os dados obtidos indicam que durante um perodo de 50 anos (dos 20 aos 70 anos), ocorre uma diminuio significativa da massa muscular seguida de um aumento gradativo no porcentual de gordura corporal. Os homens perdem aproximadamente 11 kg de massa muscular e as mulheres, aproximadamente 4kg. O declnio observado na massa muscular dos idosos pode ser parcialmente atribudo 33

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diminuio da atividade fsica, alimentao inadequada, diminuio no contedo de gua corporal e perda generalizada de massa celular. Ao longo do processo de envelhecimento, o tamanho dos msculos pode reduzir em at 40%; os rins 9%, o fgado 18% e os pulmes 11%. Essas alteraes tm efeitos sobre o metabolismo de nutrientes e aumentam o risco de morbidade e mortalidade. Durante a desnutrio, as mudanas na composio corporal dos idosos so mais intensas, podendo provocar uma diminuio acentuada na capacidade metablica do organismo. A avaliao clnica do estado nutricional o primeiro passo do processo de interveno nutricional e pretende, mediante tcnicas simples, obter uma aproximao da composio corporal de um indivduo, permitindo a identificao de problemas e estratgias para sua soluo. Importante informao pode ser obtida conhecendo a dieta habitual, histria clnica, dados antropomtricos, dados bioqumicos, informaes psicossociais, exame clnico, uso de medicamentos, estado mental/cognitivo, estado funcional e sade oral. Dessa forma, uma avaliao do estado nutricional completo deve incluir antropometria, avaliao de padres alimentares e a ingesto de energia e nutrientes, complementados com alguns parmetros bioqumicos e indicadores de independncia funcional e atividade fsica. AVALIAO NUTRICIONAL Aplicar Protocolo de Avaliao Nutricional descrita no Pronturio do Idoso. Metodologia: Dever ser aplicada a Avaliao Nutricional descrita no Pronturio do Idoso e registrada a pontuao de cada item. Escore: Subtotal: mximo de 14 pontos 12 pontos ou mais: normal; desnecessrio continuar a avaliao. 11 pontos ou menos: possibilidade de desnutrio; continuar a avaliao. Total: mximo de 30 pontos 24 pontos: Bom estado de nutrio 17 a 23,5 pontos: Risco de desnutrio < 17 pontos: Desnutrido Observao: Verificar fatores dificultadores: Avaliao global: vive em sua prpria casa ou instituio, uso de medicamentos, leses de pele ou lceras de presso, nmero de refeies, tipo, ingesto de lquidos, autonomia para alimentao, problemas nutricionais e de sade, circunferncias do brao e da panturrilha, Fazer o recordatrio alimentar. 34

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Sinais e sintomas relacionados a deficincias nutricionais especficasDEFICINCIAS NUTRICIONAIS ESPECFICAS (NUTRIENTES) Calorias Protenas cidos graxos essenciais Clcio Fsforo Potssio Magnsio Ferro SINAIS E SINTOMAS Perda de peso, perda de gordura subcutnea, perda muscular. Perda muscular, edema, pele seca, alopecia, despigmentao. Descamao, eczema cutneo, hepatomegalia. Tetania, convulses, retardo do crescimento, cifose, osteopenia. Fraqueza. Fraqueza, arritmia. Fraqueza, tremor, tetania, arritmia. Palidez, anemia, fraqueza, dispnia, atrofia da lngua. Hipogeusia, acrodermatite, retardo na cicatrizao. Supresso da medula ssea. Intolerncia glicose. Fadiga, apatia, anorexia, irritabilidade, depresso, anormalidades no ECG, parestesia, insuficincia cardaca. Estomatite angular, queilose, glossite, dermatose, vascularizao crnea (eritema e edema na crnea). Pelagra, glossite, dermatose, demncia, diarria. Dermatite seborrica, atrofia da lngua, perda de peso, fraqueza muscular, irritabilidade, depresso, neuropatia perifrica. Fraqueza, parestesia, apatia, alterao cognitiva, lngua atrfica, anemia. Macrocitose, anemia magaloblstica, glossite, depresso.

Zinco Cobre Cromo Vitamina B1(Tiamina)

Vitamina B12(Riboflavina) Niacina

Vitamina B6 (Piridoxina)

Vitamina B12 cido flico

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Fatores comuns que causam desnutrio no idoso

Psicolgicos e Sociais

Isolamento social Depresso Falta de transporte Alcoolismo Baixo nvel educacional Negligncia / maus-tratos Assistncia inadequada ao comer Mau hbito alimentar Pobreza Reduo do gasto energtico e conseqentemente da ingesto calrica Reduo do paladar e olfato; problemas dentrios Imobilidade Doenas neurolgicas comprometendo a mastigao e a deglutio (AVE, Parkinson) Reduo da memria e ateno (demncia, transtornos psiquitricos) Doenas crnicas (DPOC, ICC) Gastrite atrfica Desordens da motilidade intestinal (constipao, gastroparesia) Sintomas associados alimentao (hrnia de hiato, refluxo, intolerncia lactose, hipoxia, angina) Medicamentos (digoxina, fluoxetina, laxativo, anticidos, diurticos, quimioterpicos, anticonvulsivantes, antibiticos) Necessidades aumentadas (estados hipermetablicos) Fumo Hipertenso arterial sistmica Osteoartrose Dislipidemia lceras de presso Resistncia insulnica e Diabetes Mellitus Cncer de tero, mama, ovrio e crvice uterino, prstata e colon Doena arterial coronariana Trombose venosa profunda Apnia do sono Embolia pulmonar Declnio funcional Gota

Fsicos

Condies associadas A sobrepeso e obesidade

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Medicaes mais consumidas por idosos e seus efeitos sobre a nutrioGRUPO FARMACOLGICO Cardiotnico Anti-hipertensivos Vitamnas Analgsicos/ Antiinflamatrios Hipnticos e sedativos Laxantes Anticidos MEDICAMENTO Digoxina Diurtico Vitamina K Antinflamatris no esteride Benzodiazepnicos/ Diazepan leo mineral Ranitidina Anorexia Desidratao e anorexia Interao com anticoagulantes Anorexia Anorexia M absoro de vitaminas lipossolveis Hipocloridria EFEITO SOBRE A NUTRIO

3.4 A SADE BUCAL DO IDOSOA sade bucal , segundo Kay e Locker (1999), um padro de sade das estruturas bucais que permite ao indivduo falar e socializar sem doena ativa, desconforto ou embarao e que contribui para o bem-estar geral. A partir desse conceito ampliado de sade, 47,8% dos idosos avaliados no levantamento epidemiolgico de sade bucal de 2003 (SB Brasil, 2003) consideravam sua capacidade mastigatria como ruim. Doenas bucais, embora geralmente no sejam ameaadoras da vida ou produzam graves conseqncias, podem contribuir para uma piora do quadro de sade de indivduos idosos, pois problemas mastigatrios podem levar a deficincias nutricionais. A enfermidade periodontal est associada a doenas cardiovasculares, sendo que alguns estudos sugerem uma possvel relao entre pneumonia aspiratria e doena periodontal. Os aspectos psicolgicos tambm devem ser considerados. A ausncia de dor e desconforto na boca, a capacidade de alimentar e falar confortavelmente e uma boa aparncia restabelecida pela reabilitao dentria contribuem para a interao social e a preservao da auto-estima (CHALMERS et al., 2001).

3.4.1 Condies bucais mais comuns no idosoAlteraes fisiolgicas dos elementos dentais se processam durante o envelhecimento, por exemplo: Desvio mesial dos dentes provocado pela fora de ocluso. Os dentes se tornam mais escurecidos, com tonalidade amarelada, castanha ou cinza. Ocorre desgaste no esmalte devido ao atrito provocado pela mastigao ou por hbitos viciosos como o bruxismo, assim, a superfcie dentria se torna lisa e polida, devido ao atrito de alimentos e da escovao ao longo da vida (PINTO, 1982). 37

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O esmalte dentrio apresenta-se mais maturado em decorrncia da maior deposio de fluoretos em sua superfcie, conseqentemente mais resistente ao ataque de cidos e ao processo de crie, reduzindo a eficincia do cido fosfrico na sua desmineralizao, quando sistemas adesivos esto sendo utilizados (WERNER, 1998). Os canalculos dentinrios sofrem alteraes com a idade, pois h, tambm, uma calcificao progressiva na dentina perifrica, na juno amelo-dentinria e dentinacemento, progredindo em direo polpa e aos espaos interglobulares. H uma reduo na permeabilidade dos canalculos dentinrios, o que ocasiona o aumento do limiar de sensibilidade dor, devido ao menor fluxo em seu interior (COMARK, 1999). A polpa dentria apresenta-se reduzida, fibrtica e com diminuio de sua celularidade. Paralelamente, ocorre reduo do nmero e da qualidade dos vasos sanguneos e da atividade vascular, tornando-a mais susceptvel ao dano irreversvel, o que limita o sucesso de tratamentos conservadores. Pode ainda ocorrer calcificao, decorrente de processos cariosos ou traumticos. H tambm reduo no nmero de fibras nervosas o que acarreta um alto limiar de reao dor. Essa reduo faz com que haja respostas alteradas a estmulos do ambiente e a testes de sensibilidade (FRARE et al., 1997; WERNER, 1998). A diminuio da vascularidade leva menor capacidade de reparao e proliferao tecidual, tendo como conseqncia predisposio gengivite e a periodontite (BERG, 1998). A capa queratinizada da gengiva torna-se fina ou ausente (tendo uma aparncia de cera), e ocorrem com freqncia feridas e enfermidades gengivais. Em lugar de uma gengiva pontilhada com aspecto de casca de laranja, encontra-se uma gengiva com aspecto liso e brilhante, com perda de seu contorno (BIRMAM et al., 1991). A reduo do fluxo salivar em pessoas de idade avanada resultado de alteraes regressivas nas glndulas salivares, especialmente a atrofia das clulas que cobrem os ductos intermedirios. A funo reduzida das glndulas tambm provoca alterao na qualidade da saliva (BIRMAM et al., 1991). A xerostomia (sensao boca seca) pode estar associada a doenas sistmicas e/ou ao efeito colateral de alguns medicamentos (80% dos pacientes idosos fazem uso de alguma medicao e 90% destes frmacos podem produzir xerostomia). Os sinais e sintomas da xerostomia incluem queimao dos tecidos bucais, alteraes na superfcie lingual, disfagia, queilite angular, alteraes do paladar, dificuldade de falar e desenvolvimento enfermidade periodontal e leses de crie (CARRANZA,1997). Segundo Boraks (1998), com a diminuio do volume salivar h uma alterao no equilbrio bacteriano da cavidade bucal devido ao aumento da quantidade de Streptococcus mutans e Lactobacilos. Durante o envelhecimento, a mucosa bucal sofre mudanas de sua estrutura. Essas alteraes correspondem atrofia epitelial, perda de elasticidade e diminuio da espessura tanto da lmina prpria do epitlio de revestimento como da camada de queratina, o que torna a mucosa da cavidade bucal dos idosos mais susceptveis a leses (SHAY, 1997).

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3.4.2 Fatores que presdispem os idosos a doenas bucais1) Dificuldade de higiene bucal e das prteses devido a declnio na sade geral, distrbios cognitivos, dificuldades motoras e diminuio da acuidade visual (MELLO, 2001). 2) Efeitos colaterais de medicamentos levando diminuio de saliva, hiperplasia gengival, reaes liquenides, discinesia tardia e problemas na fala, deglutio e paladar (HANDELMAN et al.,1989). 3) Efeitos colaterais da terapia de doenas sistmicas como: radioterapia, terapia com oxignio e aspiradores bucais que promovem o ressecamento, a reduo ou a falta de produo de saliva. 4) Alteraes sistmicas que reduzem o fluxo salivar como: Sndrome de Sjogrens, artrite reumatide, sarcoidose, sndrome da imunodeficincia adquirida (AIDS), menopausa, bulimia, anorexia nervosa, desidratao, diabetes, doena de Alzheimers, depresso (NAUNFTOTE et al., 2005). 5) Comportamento e atitude: indivduos que tiveram experincias anteriores de doenas bucais e no conseguem realizar a higiene bucal adequadamente, hbitos dietticos cariogncios e a no realizao de visitas regulares aos dentistas por longos perodos de tempo (CHALMERS, 2002).

3.4.3 A crie no paciente idosoA crie dentria uma doena multifatorial caracterizada por perda de mineral, que ocorre devido a um desequilbrio prolongado entre a superfcie dentria e o fluido da placa, resultante da metabolizao de carboidratos fermentveis pelos microrganismos (MAGALHES et al., 2004). A crie radicular mais comum em idosos e caracteriza-se por uma leso progressiva, de consistncia amolecida, que envolve a participao da placa dental com conseqente invaso bacteriana (UZEDA,2002). Os estudos tm mostrado que Streptococos mutans podem ser isolados com mais freqncia e em altos nmeros de vrias leses, embora algumas leses avanadas geralmente produzam uma microbiota mais diversa, incluindo espcies acidognicas e proteolticas trabalhando em conjunto (MARSH e NYVARD, 2005). A leso de crie radicular usualmente se inicia na juno cemento-esmalte ou ligeiramente abaixo dela. Em seu estgio inicial, consiste em um ou mais pontos ligeiramente amolecidos, de colorao alterada, formas arredondadas e rasas. As leses tendem a se estender lateralmente, ao longo da juno cemento-esmalte, e a coalescer com leses vizinhas de menor tamanho, podendo circundar o dente. Em sua forma avanada, caracteriza-se por extensas reas amolecidas, em geral, de colorao marrom-escura ou 39

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preta, envolvendo quase toda a superfcie radicular exposta. Uma leso raramente se estende no sentido apical, medida que a gengiva sofre recesso, mas, ao contrrio, novas leses se iniciam no nvel da margem gengival (MAGALHES et al., 2004). Na determinao do diagnstico diferencial entre leses ativas e paralisadas deve-se considerar sua colorao, localizao, consistncia sondagem e presena de placa: Leses ativas em seu estgio inicial so amolecidas, cobertas por placa bacteriana de espessura variada, de colorao amarela ou marrom-clara; Leses ativas de progresso lenta apresentam consistncia coricea, colorao mais escura, marrom ou preta, podendo ser cavitadas ou no; Leses paralisadas apresentam colorao marrom escura ou preta, consistncia endurecida, superfcie brilhante, polida, livre de placa bacteriana e, quando cavitadas, suas margens so bem definidas;

Leses mais prximas da margem gengival demonstram maior atividade que as mais distantes, devido maior espessura da placa imediatamente adjacente a essa regio.. Nas faces proximais, leses radiculares demonstram maior atividade que as faces vestibulares ou linguais, sendo o exame radiogrfico importante auxiliar na deteco e na determinao do seu estgio de desenvolvimento (MAGALHES et al., 2004). As leses de crie radicular so freqentemente observadas na prtica, exigindo do cirurgio-dentista um adequado conhecimento de seu tratamento. Estratgias de controle de leses cariosas de raiz, tais como regimes teraputicos voltados ao uso de antimicrobianos, uso de dentifrcios com alto teor de flor, suplementos de flor, uso freqente de enxaguatrios com solues fluoretadas, medidas de educao em sade bucal e superviso profissional com reavaliaes freqentes, podem ser implementadas (ANUSAVICE , 2002).

3.4.4 Enfermidade periodontal nos pacientes idosos:O termo enfermidade periodontal um termo geral utilizado para descrever um grupo de afeces das gengivas e das estruturas de suporte do dente (periodonto): raiz dentria, ligamento e tecido sseo alveolar. Sua sintomatologia mais comum sangramento gengival e mobilidade dentria. considerada a segunda causa de perda dental. A periodontite aguda no comum nos idosos. Entretanto, sua agudizao pode ocorrer devido presena de vrias enfermidades sistmicas presentes nesta faixa etria. A enfermidade periodontal, em razo da proliferao bacteriana que propicia a sua passagem para a corrente sangunea (bacteremia), reconhecida como fator contribuinte ao agravo do quadro clnico de doenas crnico-degenerativas como a doena cardiovascular, respiratria e diabetes. 40

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A doena periodontal no mais considerada contnua e progressiva, mas entendida em forma de surtos de atividade e inatividade, quando nem sempre h necessidade de interveno. Numa viso tradicional, o diagnstico era feito a partir de sinais avanados de alteraes de forma e funo. Atualmente, dentro de uma viso de promoo sade, a doena entendida como uma doena infecciosa, na qual as alteraes de forma e funo so consideradas sinais. Deve ser vista como um processo de desequilbrio entre as aes de agresso e defesa sobre os tecidos de sustentao do dente, sendo importante no seu tratamento uma abordagem integral, envolvendo as aes de promoo sade e preveno (para controle da atividade da doena) e de tratamento cirrgico-restaurador e reabilitador (para tratamento de seus sinais e seqelas). Com a evoluo do conceito do entendimento das doenas periodontais, concluiu-se que gengivite e periodontite so processos independentes, isto , gengivite no necessariamente evolui para uma periodontite, a gengivite o estgio inicial nessa evoluo. A gengivite uma manifestao inflamatria na gengiva marginal desencadeada pelo acmulo de placa bacteriana supragengival e rompimento do equilbrio agresso/defesa. a doena bucal de maior prevalncia desde que haja acmulo de placa sobre os dentes por um certo perodo de tempo. As condies inflamatrias presentes na gengivite favorecem o surgimento da placa bacteriana subgengival, mais virulenta que a supragengival, que causa a inflamao dos tecidos de suporte. A periodontite , portanto, a inflamao dos tecidos de sustentao dos dentes, acompanhada de perda de insero de tecido conjuntivo, conseqente da agresso promovida pela placa bacteriana subgengival. O desenvolvimento da periodontite ocorre por um processo agudo, que pode ficar crnico por um longo perodo ou apresentar melhoras. A grande maioria da populao apresenta uma progresso moderada para as periodontites, com uma minoria apresentando progresso rpida. O principal fator para preveno da gengivite e periodontite o controle da placa. A eliminao completa da formao da placa no possvel pelos mtodos mecnicos individuais, e nem necessria, pois a sade periodontal compatvel com baixos nveis de placa. fundamental a atuao prioritria em usurios que apresentam maior risco em relao doena, como diabticos, gestantes, imunodeprimidos, usurios com histria de doena passada, tabagistas e famlias sob risco social. Ateno especial deve ser dada para o controle da doena atravs de aes educativas, profilaxia e raspagem, remoo de fatores retentivos de placa, adequao do meio bucal, tipo de dieta e uso do tabaco. Quando existirem fatores sistmicos ou medicamentos que possam contribuir para as doenas bucais, deve-se entrar em contato com o mdico para tentar minimizar os efeitos desses fatores na cavidade bucal.

3.4.5 Alteraes na mucosa nos pacientes idososAchados freqentes como hiperqueratoses e leucoplasias se manifestam constantemente na mucosa dos lbios e das bochechas de pacientes idosos (BORAKS, 1998). 41

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A candidase constitui um problema freqente na velhice. Sua incidncia elevada devido presena de condies debilitantes, deficincias vitamnicos, traumas e, em muitos casos, higiene diminuda. A estomatite por prtese pode ser causada por Cndida (mais comum), infeco bacteriana, irritao mecnica ou outras reaes alrgicas, provocadas por constituintes do material de base da prtese. Esses sintomas podem ser classificados em trs tipos: reas vermelhas discretas sob as prteses, vermelhido generalizada em toda a rea de suporte da prtese e vermelhido associada com hiperplasia papilar. A resposta dos tecidos a uma injria por prtese pode tanto tomar a forma de uma resposta tecidual ulcerosa ou hipertrfica. Quando essa injria grave o suficiente para destruir a integridade da mucosa, a ulcerao ocorre (FRARE et al., 1997). Na lngua, a regio de maior freqncia de alteraes a dorsal, onde se observam atrofia das papilas linguais, bem como o aspecto fissurado da superfcie e depsitos que configuram lngua saburrosa. As varicosidades so encontradas na poro ventral e esto relacionadas com a diminuio da espessura da mucosa. A lngua o local de maior incidncia do cncer bucal, e, portanto, medidas de preveno so importantes (HANCKE, 1982). A atrofia de dois teros das papilas e fissurao da lngua, particularmente aps os 60 anos, associados ao desenvolvimento de varicosidades nodulares na sua superfcie ventral, provocam diminuio do paladar, principalmente, devido diminuio das terminaes nervosas (LORANDI, 1990). A m higiene bucal pode determinar considervel diminuio da percepo gustativa pela simples presena fsica de matria alba, fragmentos e restos de alimentos sobre os corpsculos gustativos, dificultando, assim, a estimulao dos quimiorreceptores bucais. As alteraes gustativas podem tambm ser causadas por efeitos colaterais temporrios pelo uso de medicamentos. Devido a esses fatores, muitas vezes, o idoso sente necessidade de aumentar o sal e o acar dos alimentos predispondo ao desenvolvimento de doenas sistmicas e bucais. A queilite angular se manifesta como uma prega junto das comissuras labiais que se mantm constantemente umedecida por saliva. Pode ter como causas a perda da dimenso vertical de ocluso, deficincia de vitaminas B, doena de Parkinson, desidratao, ressecamento da mucosa labial e de rachaduras. O sintoma clnico a ardncia nos cantos da comissura labial, muitas vezes com presena de sangramento a um esforo maior na abertura de boca. A colorao branca devido presena de Candida albicans (ELIAS, 1999). O aumento na incidncia de cncer com a idade, a tendncia de muitos idosos, especialmente os edentados, de no realizarem visitas regulares aos dentistas e a importncia do diagnstico precoce dessa patologia, aumentam a responsabilidade profissional na preveno dessa doena na cavidade bucal. A preveno do cncer bucal deve estar voltada para o uso do tabaco e do lcool, orientao para hbitos dietticos saudveis, realizao de um controle odontolgico regular para a reduo de irritaes e injrias mecnicas nas mucosas. 42

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No exame da mucosa, a ateno deve ser dada para edemas, ndulos ou crescimentos; reas brancas e escamosas; dor de garganta persistente; dor ou dormncia persistente e sangramento contnuo. Pacientes expostos luz solar por longos perodos devem estar protegidos com protetores labiais e faciais. Leses suspeitas que no regridem aps a remoo dos fatores que a causaram devem ser biopsiadas.

3.4.6 Tratamento das principais doenas bucais3.4.6.1 Tratamento das leses cariosas A restaurao dos dentes comprometidos por leses de crie poder ser realizada por restauraes plsticas (amlgama, resina ou cimento ionmero de vidro), metlicas, metalocermicas ou com resina modificada. Os dentes perdidos podero ser repostos com pontes fixas, prteses parciais removveis ou prteses totais. A indicao do material restaurador ou do tipo de prtese para a reposio dentria dever levar em conta a habilidade do paciente para realizar a higiene bucal adequadamente (ou se existe algum que possa realizar a higiene para ele), a condio sistmica e cognitiva e a necessidade mastigatria. 3.4.6.2 Tratamento da doena periodontal A manuteno da sade periodontal e o sucesso do tratamento dependem fundamentalmente da capacidade de controle de placa pelo binmio indivduo/ profissional. O tratamento ir consistir basicamente de aes ligadas a uma fase de controle da doena, e de uma fase de tratamento das manifestaes clnicas. Sua conduo ir depender principalmente do tipo de evoluo da doena, da presena de fatores modificadores e da complexidade das manifestaes clnicas. De maneira geral, o tratamento poderia ser conduzido da seguinte forma: Periodontite crnica e periodontite relacionada a fatores sistmicos Fase I Tratamento da gengivite, comum a todos os usurios com a doena, como descrito acima realizado pelo periodontista. Fase II Tratamento da periodontite, atravs do controle da placa subgengival. Enquanto o controle da placa supragengival pode ser feito pelo usurio, o controle da placa subgengival responsabilidade do cirurgio dentista, uma vez que o usurio no consegue atingi-la com a escovao.

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Esse controle feito atravs da raspagem e do alisamento subgengival, podendo ser feita a raspagem no cirrgica em bolsas com at 6 milmetros de profundidade. necessrio atingir o fundo da bolsa com a raspagem, para que ocorra o sucesso da mesma, e o uso de anestesia necessrio. As limas periodontais tipo Hierschfeld e tipo Dunlop so bastante adequadas para a raspagem subgengival, enquanto as curetas Gracey realizam o alisamento radicular. Ao final do procedimento, pode-se realizar a irrigao da rea com clorexidina a 2%, o que permite a obteno de melhores resultados. Em caso de estar relacionada com fatores sistmicos, deve ser avaliada a possibilidade de interveno sobre esses fatores. 3.4.7 Manuteno peridica preventiva A freqncia da consulta de manuteno deve ser determinada individualmente, de acordo com as diferentes variveis relacionadas ao processo sade/doena. Deve-se levar em considerao a severidade da doena, a motivao, o grau de controle de placa, fatores de risco modificadores, entre outros. Na rotina de manuteno importante, que sejam avaliados: os aspectos relacionados s placas supragengival IPV (ndice de placa visvel) e ISG (ndice de Sangramento Gengival) e presena de fatores retentivos de placa e subgengival: presena de sangramento e exsudato e verificao do nvel de insero, que estaro indicando a ocorrncia ou no de progresso da doena desde a ltima consulta odontolgica. A partir dos dados obtidos na avaliao, sero definidos os encaminhamentos. Importante: sangramentos e exsudatos gengivais que de imediato no se enquadram nas condies clnicas anteriormente descritas para diagnstico de gengivite e doena periodontal ou no respondem aos tratamentos mencionados, devem ser investigados atravs de exames de sangue ou encaminhamento para Estomatologia.

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ANAMNESE: AVALIAO DA SADE BUCAL DO IDOSO

Aplicar o questionrioNos ltimos 3 meses o(a) senhor(a) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Diminuiu a quantidade de alimentos ou mudou o tipo de alimentao por causa dos seus dentes? Teve problemas para mastigar os alimentos? Teve dor ou desconforto para engolir os alimentos? Mudou o jeito de falar por causa dos problemas de sua boca? Teve algum desconforto ao comer algum alimento? Evitou encontrar com outras pessoas por causa de sua boca? Sentiu-se insatisfeito(a) com a aparncia de sua boca? Tomou remdio para dor ou desconforto de sua boca? Algum problema bucal o deixou preocupado(a)? Nunca Algumas vezes Sempre

10 Chegou a se sentir nervoso(a) por problemas na sua boca? 11 Evitou comer com outras pessoas por problemas bucais? 12 Teve dentes ou gengivas sensveis a alimentos ou lquidos?Fonte: ATCHINSON e DOLAN, 1990

E mais: 13-Trata-se de usurio que se enquadra nos critrios de Idoso frgil acima descrito? Interpretao do questionrio: SIM a qualquer dessas questes o encaminhamento deve ser imediato equipe de sade bucal.

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FLUXOGRAMA DE ASSISTNCIA ODONTOLGICA AO PACIENTE IDOSO

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SINAIS DE ALERTA EM SADE BUCAL Dor Hemorragia Abscesso, edema e outros quadros infecciosos ou inflamatrios agudos Traumatismo dentrio, sseo, de tecidos moles ou articulao tmporo mandibular, limitao de movimentos mandibular Leso de tecidos moles Necessidade de interveno esttica urgente (avaliada em conjunto pelo usurio /cirurgio dentista) ou reparo da pea prottica.

PRINCIPAIS SINAIS DE RISCO EM SADE BUCAL DE IDOSOS Cavidade nos dentes Falta de escovao diria com escova e dentifrcio fluoretado Sangramento, secreo, mobilidade dentria. Limitaes estticas, sociais ou funcionais decorrentes de problemas bucais. Portador de prtese removvel e ausncia de relato de ida ao dentista h mais de um ano. Idoso frgil.

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IV A COORDENADORIA DE . ATENO AO IDOSO

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4.1 A HUMANIZAO DA ATENO AO IDOSOA humanizao das instituies de sade passa pela humanizao da sociedade como um todo. A iniqidade, a violncia, a excluso social interferem no contexto dessas instituies. Os ambientes so tecnicamente perfeitos, mas a pessoa vulnervel deixou de ser o centro de atenes. O desenvolvimento tecnolgico com todos os benefcios trouxe o incremento da desumanizao, quando reduz a pessoa a objetos despersonalizados, da prpria tcnica, de uma investigao fria e objetiva. A abordagem do paciente no inclui a escuta de seus temores, angstias e suas expectativas assim como informaes precisas sobre os procedimentos que devero ser realizados. A essncia do ser humano e o respeito sua individualidade e dignidade deve ser considerada direcionando-lhe o cuidado solidrio da dor e do sofrimento, com competncia tcnica cientfica e humanidade. As aes direcionadas ao idoso devem estimular a inter-relao e o convvio social, respeito individualidade, autonomia, independncia, o fortalecimento dos laos familiares, numa perspectiva de preveno ao asilamento, melhoria da qualidade de vida, o acesso aos direitos de cidadania e a efetiva participao social do idoso, assegurando o envelhecimento ativo e saudvel. Segundo Guimares, R. M. ... Modernamente existe uma excessiva valorizao de procedimentos, principalmente diagnsticos e a utilizao de tecnologia avanada como se toda a causa de sofrimento pudesse ser visualizada, medida e pesada. A bandeira da cura o estandarte do sucesso, enquanto o cotidiano de cuidados parece ser considerado quase uma rendio doena... e ... Valoriza-se, merecidamente, a atuao mdica que conseguiu evitar que o paciente morra na fase aguda, mas ignora-se a necessidade de uma abordagem especializada para este mesmo paciente, dependente de cuidados contnuos, que poder viver anos com complexos problemas fsicos, psquicos e sociais. No se pode restringir o conceito de sucesso apenas ao adiamento da morte resultante do cuidado intensivo, mas estend-lo tambm aos progressos em relao qualidade de vida que o paciente possa vir a usufruir nos anos subseqentes. A participao em programas integrados e articulados nas diversas modalidades deve ser incentivada com acessibilidade, recursos humanos e logsticos adequados, dinamizando as aes assim como programas permanentes de atividades fsicas, lazer e orientaes aos usurios e familiares.

4.2 O ATENDIMENTO AO IDOSO NA REDE PBLICA ASSISTENCIALO idoso requer dos profissionais de ateno primria um enfoque que englobe a preveno e a deteco precoce dos agravos sade. O atendimento a essa parcela da populao j existe de forma desordenada e fracionada com abordagem centrada na 51

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doena. A proposta tem como objetivo a mudana do olhar para a busca da manuteno da capacidade funcional e a autonomia do indivduo idoso, preferencialmente junto famlia e comunidade em que vivem. Prope-se uma forma de organizao das aes em sade do Idoso com a descentralizao do atendimento e o fortalecimento das aes em Ateno Primria, onde se solucionam 85% dos problemas de sade dessa populao. A utilizao racional da rede de servios j existentes com a implantao da Rede de atendimento e a criao dos Ncleos Regionais em Ateno ao Idoso, localizados nas microrregies, podendo tambm estar localizados em cada municpio e dos Centros de referncias em ateno ao Idoso na macro regies do Estado. Os Ncleos Regionais contaro com equipe formada por mdico e enfermeiro, capacitados pelo Centro de Referncia, para atendimento populao idosa. A equipe poder ser ampliada conforme demanda regional e integrar os programas implementados pelo Centro de Referncia, atuando como suporte tcnico para os profissionais da Rede de Ateno Primria Sade. O usurio ser inicialmente atendido pela equipe de Sade da Famlia ou Unidade Bsica de Sade / UBS que estaro capacitados para o atendimento da populao de sua rea de adscrio. Aps a atendimento pela equipe e realizao da propedutica, o paciente poder, segundo critrios predeterminados (falha teraputica, complicaes ou dvida diagnstica), ser encaminhado para avaliao pelos profissionais do Ncleo de Referncia. Quando houver necessidade e seguindo os mesmos critrios, o usurio poder ser encaminhado para atendimento pela equipe do Centro de Referncia. A avaliao multidimensional ser aplicada em todos os usurios atendidos no ncleo de Referncia e Centro de Referncia em Ateno ao Idoso pela equipe multidisciplinar. Aps o atendimento, ser elaborado o Plano de Cuidados, remetido com o usurio, para a referncia regional, mdico assistente da equipe nas Unidades Bsicas de Sade/UBS ou Estratgia de Sade da Famlia /ESF. Caber ao mdico assistente/equipe, viabilizar a implantao do Plano de Cuidados sugerido pelo Ncleo ou Centro de Referncia.

4.3 O ACOLHIMENTO DO IDOSO NA ATENO PRIMRIAO acolhimento requer um atendimento a todos com ateno, postura eficaz, segurana e tica, reorganizando o processo de trabalho e melhorando o vnculo entre equipe e usurio. O Idoso dever ter um espao onde suas dores, alegrias, aflies e todas suas queixas morais, sociais e psquicas sero ouvidas e devero dispor da mais completa ateno por parte dos profissionais da equipe. Todos os profissionais da unidade devero estar integrados neste contexto, visando estabelecer um vnculo de respeito, solidariedade com segurana e responsabilidade. 52

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4.3.1 As particularidades do acolhimento ao idosoConsiderando-se as particularidades do Idoso como conseqncia do prprio envelhecimento e seus mitos, devemos trat-los como pessoas que necessitam da ateno individual que esta fase da vida exige. O conceito de Leonardo Boff sobre cuidado: Ao pensar em sade e acolhimento o cuidado significa uma relao amorosa para com a realidade, importa um investimento de zelo, desvelo, solicitude, ateno e proteo com aquilo que tem valor e interesse para ns. De tudo que amamos, tambm cuidamos e vice-versa. Pelo fato de sentirmo-nos envolvidos e comprometidos com o que cuidamos, o cuidado comporta tambm preocupao e inquietao. O cuidado e a cura devem andar de mos dadas, pois representam dois momentos simultneos de um mesmo processo. Ao acolher o Idoso, os profissionais de sade devem fazer uma profunda avaliao. A vida do Idoso sofre o efeito de numerosos fatores, entre eles, os preconceitos dos profissionais e dos prprios idosos em relao velhice. O dono da vida, o idoso, deve ter participao ativa na avaliao do que melhor e mais significativo para ele, pois o padro de qualidade de vida um fenmeno altamente pessoal. Sabemos que o consenso sobre a qualidade de vida envolve as dimenses fsicas, sociais, psicolgicas e espirituais. Esta uma questo no apenas tica, mas metodolgica. Outros imperativos ticos devem ser atendidos pelo profissional que cuida de idosos, entre eles o direito autonomia e dignidade. H que se enfatizar que o acolhimento deve ser um ato facilitador do acesso, que permita a continuidade do cuidado garantindo ateno integral e monitoramento alm das fronteiras da ateno primria e o seu retorno unidade de origem.

4.3.2 Os objetivos do acolhimento Facilitar o aceso aos servios por meio de mecanismos geis e mais confortveis de agendamento e garantir oferta adequada e suficiente em ateno primria, como porta de entrada dos demais servios. Humanizar as relaes entre profissionais de sade e usurios na forma de receber este usurio e de escutar seus problemas e/ou demandas. Humanizar o atendimento garantindo o acesso. Exigir mudanas no cotidiano dos servios de sade.

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FLUXO DE ATENDIMENTO DO IDOSO NA ATENO PRIMRIA SADE

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FLUXOGRAMA ACOLHIMENTO DO IDOSO 1. O Idoso na Ateno Primria Sade na rea de abrangncia da Unidade Bsica de Sade/ UBS ou Estratgia de Sade da Famlia /ESF procura a unidade da sua regio adscrita, atravs do agendamento, demanda espontnea, contato telefnico ou visita domiciliar pela equipe. 2. O acolhimento feito atravs da equipe de sade com recepo tcnica, escuta qualificada e priorizao das aes ou atividades. 3. O idoso encaminhado para avaliao de risco. 4. O profissional de sade atende o idoso individualmente ou com o acompanhante. Cadastra Escuta a demanda Analisa sua necessidade de ateno Identifica o risco RISCO HABITUAL Constri vnculo. Orienta e resolve situaes. Oportuniza aes de preveno e diagnstico precoce. Informa sobre atividades da unidade. Realiza aferio de presso, imunizao ou outras aes, educao em sade. Realiza a Avaliao multidimensional do idoso pela equipe se sade e procede a identificao dos Gigantes da Geriatria. Elabora Plano de Cuidados. Agiliza encaminhamentos ou outros procedimentos. Realiza atendimento de quadros agudos (virose, pneumonia), pela equipe, seguindo o estabelecido no fluxograma desta Linha-guia e implementa o plano de cuidados. Realiza aes de ateno bsica tais como cuidados de enfermagem, cuidados de fisioterapia e reabilitao, cuidados de terapia ocupacional, cuidados nutricionais, cuidados de promoo da sade, cuidados com a sade bucal, assistncia farmacutica. Realiza aes de promoo da sade, autocuidado, controle social, direitos de cidadania. Avalia outras necessidades. Mantm retaguarda imediata para casos agudos: consultas mdica, enfermagem, odontolgica, social, psicolgica e outras, agilizando e orientando os encaminhamentos ou outros procedimentos com segurana e responsabilidade. 55

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RISCO ALTO Realiza consultas: mdica, enfermagem, odontolgica, social, psicolgica e outras que se fizerem necessrias. Realiza a Avaliao multidimensional do idoso pela equipe de sade e procede a identificao dos Gigantes da Geriatria. Elabora e implementa o Plano de Cuidados. Encaminha o idoso para o Ncleo de Referncia para atendimento especializado por profissional capacitado, em caso de dvida diagnstica, falha teraputica ou complicaes. Caso persistam os critrios anteriormente referidos, o Idoso ser encaminhado para o Centro de Referncia para atendimento pela equipe multidisciplinar que far a avaliao do paciente e elaborao do Plano de Cuidados. Implementa o Plano de Cuidados atravs do acompanhamaneto pela equipe responsvel na UBS ou ESF na Ateno Primria Sade. Encaminhar para urgncia ou outros pontos de ateno quando se fizer necessrio atravs do acionamento de transporte sanitrio. Retaguarda imediata para casos agudos. Agiliza e orienta encaminhamentos ou outros procedimentos, com segurana e responsabilidade.

4.3.3 A operacionalizao do acolhimentoA captao A captao do Idoso pode ser feita a partir da demanda espontnea na Unidade bsica de Sade, Equipes de Sade da Famlia, nas unidades de ateno ambulatorial das diversas especialidades mdicas ou em qualquer servio da rede pblica ou privada que preste assistncia a pacientes externos. A identificao do idoso de maior risco deve ser feita, preferencialmente, no guich de entrada, previamente ao seu atendimento que poder funcionar como estmulo a uma ordenao do servio, visto que todos os usurios sero cadastrados na unidade com um breve perfil de risco. Os Agentes Comunitrios de Sade/ACS so de grande importncia para a captao e identificao de Idosos de risco no s por suas atividades desenvolvidas e o contato direto com a famlia na prestao do atendimento domiciliar, mas tambm pela capacidade destes agentes de identificar o Idoso em outras estruturas sociais dentro da comunidade. 56

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O ACS na visita domiciliar identifica o Idoso e o encaminha Equipe de Sade da Famlia. Cuidado imediato deve ser prestado ao Idoso aps alta Hospitalar. O contato telefnico O contato telefnico uma forma de captao bastante vivel nos centros urbanos, onde se encontra a maioria da populao brasileira, cujos domiclios em sua maioria tm telefone. A possibilidade de alta cobertura nos grandes e mdios centros urbanos com maior grau de desenvolvimento torna esta forma de contato bastante atraente pela facilidade de acesso ao usurio, centralizao das aes e menor deslocamento do profissional de sade. A avaliao Ao usurio captado em uma unidade ambulatorial de sade, deve ser identificado o risco, ainda no espao da recepo, antes de qualquer outro atendimento, No segundo modo, os agentes comunitrios de sade do Programa de Sade da Famlia aplicam o instrumento no domiclio visitado ou em qualquer outro espao da comunidade que possa ser utilizado pelo programa. No caso do contato telefnico, o instrumento proposto aplicado por qualquer profissional de sade da equipe desde que treinado para tal. Este instrumento pode ser respondido pelo prprio usurio e/ou seu cuidador e a avaliao dever ser feita pelo profissional mdico. O cadastramento O Idoso dever ser cadastrado com base territorial visando identificao e ao encaminhamento para avaliao do profissional da equipe. Conforme a avaliao, aps triagem breve pela Equipe de Sade, o atendimento seguir o fluxo da linha-guia.

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URGNCIA E EMERGNCIA Pontos de ateno em emergncia clnicaClassificao 4

UBS Usurio PORTA DE ENTRADA SAMU

PA 24 horas Hospital

Classificao 2 Classificao 3

Pronto-socorro

Classificao 1

APOIO: Transporte Sanitrio Bombeiros SAMU Outros

REGULAMENTADA POR CENTRAL CALL CENTER Grupo de enfermeiros e mdico para a retaguarda utilizando Protocolos e Fluxogramas

SUPORTE: Apoio diagnstico Leitos de observao Medicamento Ambulncia / SAMU Internamentos

Classificao do risco1- Vermelho: Atendimento mdico imediato Paciente no ser submetido classificao de risco; Casos de ressucitao sero levados para a sala de ressucitao aps o acionamento do sinal sonoro; Demais emergncias, tambm casos vermelhos, iro para a sala de emergncias sem sinal sonoro ou sero priorizados nos consultrios. 2- Amarelo: Atendimento mdico priorizado Paciente classificado como amarelo aguardar atendimento mdico em cadeira, em local prdeterminado. 3- Verde: Atendimento mdico no priorizado Paciente classificado como verde tambm aguardar atendimento mdico em cadeira, mas ser informado que o tempo para atendimento ser maior, e que pacientes mais graves sero atendidos antes; Em caso de superlotao, este paciente poder, eventualmente, ser encaminhado para UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) de sua referncia, aps contato telefnico prvio ou por documento escrito(a pactuar), com garantia de atendimento. 4- Azul: Atendimento aps agendamento Pacientes classificados como azuis sero orientados a procurar o Centro de Sade de sua referncia, com encaminhamento por escrito ou contato telefnico prvio (a pactuar) com garantia de atendimento.

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URGNCIA E EMERGNCIA Avaliao

QUEIXA

Avaliao Inicial

SINAL DE ALERTA

Classificao

1 Vermelho: Emergncia

2 Amarelo: Urgncia

3 Verde: Prioridade

4 Azul: Ateno programada

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FLUXO DE ATENDIMENTO EM EMERGNCIA

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4.3.4 Identificao dos casosSer feita atravs do Gerenciamento da queixa com a identificao dos sinais de alerta em urgncias, emergncia, prioridade e atendimento programado com a classificao de risco. um processo dinmico a identificao dos usurios que necessitam de tratamento imediato e de acordo com o potencial de risco, agravo sade ou grau de sofrimento podem sofrer mudanas nos nveis durante a espera. A prioridade da assistncia mdica e de enfermagem ser feita categorizando os usurios nos nveis de 1 a 4. Nvel 1 Emergncia ser identificada pela cor vermelha Nvel 2 Urgncia: ser identificada pela cor amarela Nvel 3 Encaminhamentos rpidos: ser identificado pela cor verde Nvel 4 No urgncia: ser identificado pela cor azul Objetivos da identificao dos sinais de alerta Avaliar o usurio logo na sua chegada humanizando o atendimento. Descongestionar as UBS, PS, PA. Reduzir o tempo para atendimento, fazendo com que o usurio seja visto precocemente de acordo com sua gravidade. Determinar a rea de atendimento primrio devendo o usurio ser encaminhado ao setor ou ponto de ateno adequado. Informar o tempo de espera. Retornar informaes ao usurio/familiares. Fatores a serem considerados na estruturao do servio Nmero de atendimentos por dia. Horrios de pico dos atendimentos. Recursos humanos disponveis. Qualificao das equipes de sade recepo, enfermagem. Sistema de redirecionamento de consultas ambulatoriais para outras reas de atendimento. Espaos fsicos e logsticos. 61

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FLUXOGRAMA DO ATENDIMENTO AO IDOSO Classificao de risco

CUIDADOS DE ENF