Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág.1

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GERAIS 6 BELÉM, DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2015 LINHA CHILENA : MAIS uatro vezes mais perigosa do que as linhas com cerol, as chamadas linhas chilenas, fabricadas com uma espécie de cerol industrializado, começam a se tornar comuns nos céus de Be- lém, onde a tradição de empinar pipas e papagaios ganha força no verão. Sem uma legislação específi- ca que proíba ou regule a comer- cialização, a venda do item, em carretéis, se populariza. É fácil encontrar na internet anúncios que enfatizam o poder de corte e a resistência da linha chilena, que potencializa o risco de acidentes já comuns pelo uso do cerol. Só este ano, na ilha de Mosqueiro, 17 pessoas sofreram ferimentos por causa de linhas cortantes, principalmente nos braços e no pescoço. Outro risco potencializado pela linha com cerol industrial é o de choque elétrico por con- tato com a rede de distribuição de energia. Alguns dos materiais utilizados na fabricação da linha chilena são condutores de eletri- cidade. Ainda são escassos os levan- tamentos sobre acidentes atribu- ídos às linhas cortantes no Pará. Mas estudo feito pelo Corpo de Bombeiros do Espírito Santo in- dicou que, no Brasil, mais de 500 acidentes por ano podem ser atri- buídos ao uso do cerol. Outro dado: a Defesa Civil de Belém estima que 30% das pesso- as que empinam pipas em Mos- queiro usam as linhas com cerol industrializado. Venda - Além de ganhar es- paço nas praias, os anúncios de venda do item pela internet se proliferam. Nas redes sociais, pi- peiros trocam informações sobre os tipos de linha e indicam haver vários pontos de venda em Be- lém, com pagamento em cartão de crédito e prazo de entrega de dois dias. “Linha mais barata você en- contra em vários cantos de Belém, porém com qualidade ruim. Digo isso porque já fiz o teste com uma linha que um rapaz vende lá na Pedreira por R$ 10. Uma porcaria, não corta nem seu dedo. Se por acaso comprarem de mim e não cortarem 10 pipas seguidas sem perder (isso claro, tem que entrar no laço de forma certa), eu devol- vo metade do dinheiro”, anuncia um vendedor de linha chilena na sua página no Facebook. Em outro perfil, também no Facebook, denominado “Preço R.L Vendas” a propaganda diz que todas as linhas são feitas com “três passadas no carbeto (de silício) cristalizado e no óxido” e os pre- ços variam: R$ 25 para 400 jardas, R$ 40 para 800 jardas, R$ 60 para 1.800 jardas, R$ 135 para 6 mil jar- das e R$ 200 para 12 mil jardas. QUATRO VEZES MAIS CORTANTE, FIO É VENDIDO LIVREMENTE EM BELÉM Q FOTOS: FÁBIO COSTA/AMAZÔNIA CLEIDE MAGALHÃES Da Redação Defesa Civil registrou 17 acidentes causados por linhas cortantes em Mosqueiro no mês de julho Pelo risco que as linhas chi- lenas oferecem às pessoas, em 2012 foi sancionada lei no Rio de Janeiro que proíbe a comer- cialização do produto. Segundo a vereadora Vera Lins (PP), au- tora do projeto, mesmo quando molhada, a linha não perde a propriedade de corte, e repre- senta riscos para motociclistas e crianças. “Essas linhas são verdadeiras armas, pois são compostas por óxido de alumínio e algodão, tendo um poder de corte quatro vezes maior que as demais. Elas colocam em risco a vida princi- palmente de motociclistas. Di- ferente do tradicional cerol, feito de cola de madeira e vidro que, quando molhado, perde o cor- te”, explica Vera. O projeto determina ainda que o infrator, em se tratando de pessoa jurídica, poderá so- frer sanções que vão desde ao pagamento de multa no valor de R$ 2 mil (multiplicado por 50 em caso de reincidência), até o fechamento do estabe- lecimento que comercializa o produto. No caso da comercia- lização da linha chilena em fei- ras-livres ou camelódromos, o responsável pela venda pode ter sua permissão de funciona- mento cassada. Em março, Manaus (AM), também sancionou lei que pro- íbe a venda de cerol e da linha chilena. A lei prevê a proibição da venda, armazenamento, transporte e distribuição de ce- rol (mistura de cola e vidro moí- do) da linha chilena de óxido de alumínio e silício ou de qualquer material cortante utilizado para empinar/soltar pipas. MANAUS E RIO DE JANEIRO PROÍBEM COMERCIALIZAÇÃO DO PRODUTO Segundo Claudionor Correa, coordenador de Operações da De- fesa Civil de Belém, além do uso de linha com cerol, o órgão identifica já há alguns anos a utilização das chamadas linhas chilenas no pe- ríodo das férias nas praias de Mos- queiro e Outeiro. Neste veraneio, nas de Mosqueiro já foram regis- trados 17 atendimentos a pessoas que tiveram cortes no corpo, em especial no pescoço e braço, oca- sionados pelas linhas de pipas. Há também situações de ferimentos nos dedos, estas envolvem os pipei- ros. Em 2014, foram registrados um total de 10 casos. “Felizmente, os casos não fo- ram graves, porque as pessoas se assustaram com a linha com ce- rol e conseguiram se livrar delas, mas pode levar à morte, em ques- tão de minutos, caso atinja uma artéria, e as crianças estão mais suscetíveis a serem vítimas dessa prática”, alerta Correa. “Das pessoas que empinam pi- pas na praia pelo menos 30% uti- lizam linhas chilenas e os demais são linhas com cerol. Em um do- mingo nas praias de Mosqueiro, há pelo menos 40 pessoas usando linhas chilenas. A gente percebe que a cada ano o uso aumenta e dá para ver a diferença pelo mate- rial e tipo de carretel que o pipeiro carrega”, completa o represen- tante da Defesa Civil, que explica que as linhas chilenas são de fácil identificação, pois são comercia- lizadas em rolos grandes nas co- res azul, rosa e vermelho. EM MOSQUEIRO, FORAM 17 ACIDENTES; DEFESA CIVIL MONITORA CASOS Soltar pipa é uma opção de lazer que exige responsabilidade Acionada, a Prefeitura de Be- lém informou não existir nenhu- ma lei municipal que proíba a uti- lização ou a venda das chamadas linhas chilenas, “A prefeitura tra- balha na orientação e prevenção dos acidentes, além dos primeiros socorros, por meio da Defesa Civil Municipal, que atua em parceria com a Guarda Municipal e Corpo de Bombeiros”, informa a prefei- tura em nota. “O fato de não haver uma le- gislação específica nos preocupa bastante. Nessa ação nas praias de Mosqueiro e Outeiro, que re- alizamos com 44 voluntários nos finais de semana, desde 3 de julho até 2 de agosto, procuramos orien- tar a população sobre os riscos, a fim de que evitem o contato com o material de ambas as linhas”, esclarece o coordenador de Ope- rações da Defesa Civil de Belém, Claudionor Correa. Quando de- tectado o uso da linha cortante, agentes de segurança podem re- colher o material. RMB NÃO TEM LEGISLAÇÃO PARA COIBIR USO

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GERAIS6

BELÉM, DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2015

LINHA CHILENA: MAIS uatro vezes mais perigosa do que as linhas com cerol, as chamadas linhas chilenas,

fabricadas com uma espécie de cerol industrializado, começam a se tornar comuns nos céus de Be-lém, onde a tradição de empinar pipas e papagaios ganha força no verão.

Sem uma legislação especí� -ca que proíba ou regule a comer-cialização, a venda do item, em carretéis, se populariza. É fácil encontrar na internet anúncios que enfatizam o poder de corte e a resistência da linha chilena, que potencializa o risco de acidentes já comuns pelo uso do cerol. Só este ano, na ilha de Mosqueiro, 17 pessoas sofreram ferimentos por causa de linhas cortantes, principalmente nos braços e no pescoço.

Outro risco potencializado pela linha com cerol industrial é o de choque elétrico por con-tato com a rede de distribuição de energia. Alguns dos materiais utilizados na fabricação da linha chilena são condutores de eletri-cidade.

Ainda são escassos os levan-tamentos sobre acidentes atribu-ídos às linhas cortantes no Pará. Mas estudo feito pelo Corpo de Bombeiros do Espírito Santo in-dicou que, no Brasil, mais de 500 acidentes por ano podem ser atri-

buídos ao uso do cerol. Outro dado: a Defesa Civil de

Belém estima que 30% das pesso-as que empinam pipas em Mos-queiro usam as linhas com cerol industrializado.

Venda - Além de ganhar es-paço nas praias, os anúncios de venda do item pela internet se proliferam. Nas redes sociais, pi-peiros trocam informações sobre os tipos de linha e indicam haver vários pontos de venda em Be-lém, com pagamento em cartão de crédito e prazo de entrega de dois dias.

“Linha mais barata você en-contra em vários cantos de Belém, porém com qualidade ruim. Digo isso porque já � z o teste com uma linha que um rapaz vende lá na Pedreira por R$ 10. Uma porcaria, não corta nem seu dedo. Se por acaso comprarem de mim e não cortarem 10 pipas seguidas sem perder (isso claro, tem que entrar no laço de forma certa), eu devol-vo metade do dinheiro”, anuncia um vendedor de linha chilena na sua página no Facebook.

Em outro per� l, também no Facebook, denominado “Preço R.L Vendas” a propaganda diz que todas as linhas são feitas com “três passadas no carbeto (de silício) cristalizado e no óxido” e os pre-ços variam: R$ 25 para 400 jardas, R$ 40 para 800 jardas, R$ 60 para 1.800 jardas, R$ 135 para 6 mil jar-das e R$ 200 para 12 mil jardas.

QUATRO VEZES MAIS CORTANTE, FIO É VENDIDO LIVREMENTE EM BELÉM

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CLEIDE MAGALHÃESDa Redação

Defesa Civil registrou17 acidentes causadospor linhas cortantes em Mosqueiro no mês de julho

Pelo risco que as linhas chi-lenas oferecem às pessoas, em 2012 foi sancionada lei no Rio de Janeiro que proíbe a comer-cialização do produto. Segundo a vereadora Vera Lins (PP), au-tora do projeto, mesmo quando molhada, a linha não perde a propriedade de corte, e repre-senta riscos para motociclistas e crianças.

“Essas linhas são verdadeiras armas, pois são compostas por óxido de alumínio e algodão, tendo um poder de corte quatro vezes maior que as demais. Elas

colocam em risco a vida princi-palmente de motociclistas. Di-ferente do tradicional cerol, feito de cola de madeira e vidro que, quando molhado, perde o cor-te”, explica Vera.

O projeto determina ainda que o infrator, em se tratando de pessoa jurídica, poderá so-frer sanções que vão desde ao pagamento de multa no valor de R$ 2 mil (multiplicado por 50 em caso de reincidência), até o fechamento do estabe-lecimento que comercializa o produto. No caso da comercia-

lização da linha chilena em fei-ras-livres ou camelódromos, o responsável pela venda pode ter sua permissão de funciona-mento cassada.

Em março, Manaus (AM), também sancionou lei que pro-íbe a venda de cerol e da linha chilena. A lei prevê a proibição da venda, armazenamento, transporte e distribuição de ce-rol (mistura de cola e vidro moí-do) da linha chilena de óxido de alumínio e silício ou de qualquer material cortante utilizado para empinar/soltar pipas.

MANAUS E RIO DE JANEIRO PROÍBEM COMERCIALIZAÇÃO DO PRODUTO

Segundo Claudionor Correa, coordenador de Operações da De-fesa Civil de Belém, além do uso de linha com cerol, o órgão identifica já há alguns anos a utilização das chamadas linhas chilenas no pe-ríodo das férias nas praias de Mos-queiro e Outeiro. Neste veraneio, nas de Mosqueiro já foram regis-trados 17 atendimentos a pessoas que tiveram cortes no corpo, em especial no pescoço e braço, oca-sionados pelas linhas de pipas. Há também situações de ferimentos

nos dedos, estas envolvem os pipei-ros. Em 2014, foram registrados um total de 10 casos.

“Felizmente, os casos não fo-ram graves, porque as pessoas se assustaram com a linha com ce-rol e conseguiram se livrar delas, mas pode levar à morte, em ques-tão de minutos, caso atinja uma artéria, e as crianças estão mais suscetíveis a serem vítimas dessa prática”, alerta Correa.

“Das pessoas que empinam pi-pas na praia pelo menos 30% uti-

lizam linhas chilenas e os demais são linhas com cerol. Em um do-mingo nas praias de Mosqueiro, há pelo menos 40 pessoas usando linhas chilenas. A gente percebe que a cada ano o uso aumenta e dá para ver a diferença pelo mate-rial e tipo de carretel que o pipeiro carrega”, completa o represen-tante da Defesa Civil, que explica que as linhas chilenas são de fácil identi� cação, pois são comercia-lizadas em rolos grandes nas co-res azul, rosa e vermelho.

EM MOSQUEIRO, FORAM 17 ACIDENTES; DEFESA CIVIL MONITORA CASOS

Soltar pipa é uma opção de lazer que exige responsabilidade

Acionada, a Prefeitura de Be-lém informou não existir nenhu-ma lei municipal que proíba a uti-lização ou a venda das chamadas linhas chilenas, “A prefeitura tra-balha na orientação e prevenção dos acidentes, além dos primeiros socorros, por meio da Defesa Civil Municipal, que atua em parceria com a Guarda Municipal e Corpo de Bombeiros”, informa a prefei-tura em nota.

“O fato de não haver uma le-gislação especí� ca nos preocupa

bastante. Nessa ação nas praias de Mosqueiro e Outeiro, que re-alizamos com 44 voluntários nos � nais de semana, desde 3 de julho até 2 de agosto, procuramos orien-tar a população sobre os riscos, a � m de que evitem o contato com o material de ambas as linhas”, esclarece o coordenador de Ope-rações da Defesa Civil de Belém, Claudionor Correa. Quando de-tectado o uso da linha cortante, agentes de segurança podem re-colher o material.

RMB NÃO TEM LEGISLAÇÃO PARA COIBIR USO