Liquefação de Resíduos - Técnico Lisboa · Liquefação de Resíduos Otimização de Unidade...
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Liquefao de Resduos
Otimizao de Unidade Semi-Industrial e Valorizao dos
Seus Produtos
Flvio Miguel Rocha Oliveira
Dissertao para obteno do Grau de Mestre em
Engenharia Qumica
Orientadores: Dr. Maria Margarida Pires dos Santos Mateus
Dr. Rui Miguel Galhano dos Santos Lopes
Orientador externo: Eng. ngela Maria Jesus de Sequeira Serra Nunes
Jri Presidente: Professor Joo Carlos Moura Bordado
Orientador: Eng. ngela Maria Jesus de Sequeira Serra Nunes
Vogal: Professor Francisco Manuel da Silva Lemos
Julho 2016
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I. Agradecimentos
Quero agradecer aos meus orientadores Dr. Maria Margarida Pires dos Santos Mateus
e Dr. Rui Miguel Galhano dos Santos Lopes, bem como ao Professor Doutor Joo Carlos Moura
Bordado pela orientao, disponibilidade, comentrios e sugestes que me fizeram desenvolver
o melhor trabalho possvel.
Eng. ngela Maria Jesus de Sequeira Serra Nunes o meu muito obrigado por tudo,
desde a oportunidade que me deu de ter estagiado numa grande empresa como a Secil bem
como todo o apoio que me prestou, confiando sempre em mim. Estou-lhe grato por ter tido esta
oportunidade.
Eng. Diana Correia agradeo toda a ajuda que me concedeu. Foi fundamental o seu
contributo no desenvolvimento do meu trabalho.
Uma palavra tambm para o Eng. Vtor Vermelhudo, Eng. Jorge Galvo, bem como
para todo o pessoal do Centro de Desenvolvimento de Aplicaes de Cimento e do Laboratrio
de Qualidade do Outo pela rpida integrao que me proporcionaram e pela disponibilidade
demonstrada.
Agradeo tambm a todos os meus colegas que me acompanharam durante o percurso
acadmico, especialmente Raquel e ao Felipe por todos os momentos que passmos ao longo
do mestrado, os quais nunca esquecerei. Muito obrigado.
Por fim, um enorme obrigado aos meus pais. Sem vocs nada disto teria sido possvel.
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II. Resumo
Neste trabalho estudou-se a otimizao e valorizao do bio-leo obtido numa instalao
piloto semi-industrial de liquefao de biomassa, tendo como finalidade a utilizao deste produto
como biocombustvel no forno de produo de clnquer branco da empresa CMP, pertencente
ao Grupo Secil.
De forma a melhorar a qualidade do produto foram feitos diversos melhoramentos
instalao piloto tais como um novo agitador, aumento de potncia de agitao e nova disposio
das serpentinas no reator. Os resultados destas alteraes ainda no so conhecidos.
Com o intuito de legalizar o bio-leo foram estudados diversos enquadramentos
normativos, sendo a norma ASTM D 7544 e a especificao nacional do fuelleo presente no
Decreto-Lei N142/2010 os mais adequados devido similaridade de aplicaes. Para estes
enquadramentos foi feito um guia de caracterizao de propriedades fsicas com descrio dos
mtodos de ensaio, sendo que o LQLO apenas consegue realizar dois mtodos: poder calorfico
(ASTM D 240) e teor de gua (ASTM E 203). A nvel nacional apenas a especificao do fuelleo
pode ser satisfeita pelas entidades laboratoriais acreditadas. Foi feito o enquadramento do bio-
leo industrial (cortia e CDR) nas normas do fuelleo nacional, gasleo (EN 590) e biodiesel
(EN 14214), tendo a do fuelleo gerado melhores resultados.
Nos ensaios laboratoriais fez-se um estudo da influncia das variveis operatrias,
sendo que o melhor rendimento obtido foi de 72%, considerando como condies timas estilha
de pinho seca, maior granulometria e 30 minutos de swelling a quente. Fez-se um pr-tratamento
com soluo de Al2(SO4)3, tendo-se obtido melhores resultados utilizando biomassas hmidas.
Palavras-chave: liquefao, bio-leo, instalao piloto, combustvel, normas, enquadramento.
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III. Abstract
In this work it was studied the optimization and upgrading of bio-oil obtained in an semi-
industrial pilot plant biomass liquefaction, with the purpose to use this product as biofuel in furnace
for white clinker production from CMP company, which belongs to Secil Group.
In order to improve the quality of the product, several improvements to the pilot plant were
made such as a new stirrer, increased stirring power and new arrangement of the coils in the
reactor. The results of these changes are not yet known.
In order to legalize bio-oil, different regulatory frameworks were studied, with the ASTM
D 7544 and the national specification of fuel oil (Decree 142/2010) proving to be the most suitable
standards due to the similarity of applications. For these standards it was made a guide for
physical property characterization with description of test methods wherein LQLO can only
perform two methods: calorific value (ASTM D 240) and water content (ASTM E 203). Nationally,
only the fuel oil specification can be met by accredited laboratory entities. It was made the
framework of industrial bio-oil (cork and RDF) in the national fuel oil, diesel fuel (EN 590) and
biodiesel (EN 14214) standards, generating better results in the framework of fuel oil standard.
In laboratory tests, a study on the influence of operational variables in the process was
made, in which the best yield was 72%, given as optimal conditions large dried pine chips and 30
minutes of swelling under heat. A pre-treatment with aluminum sulfate solution was made, yielding
best results using wet biomass.
Keywords: liquefaction, bio-oil, pilot plant, fuel, standards, framework.
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IV. ndice
I. Agradecimentos ................................................................................................................... iii
II. Resumo ................................................................................................................................ v
III. Abstract ............................................................................................................................... vii
IV. ndice ..................................................................................................................................... ix
V. ndice de Figuras ................................................................................................................. xii
VI. ndice de Tabelas ................................................................................................................ xiv
VII. Abreviaturas ......................................................................................................................... xv
1. Introduo .............................................................................................................................. 1
Energias Renovveis ......................................................................................................... 1
Biomassa ............................................................................................................................ 2
Definio ...................................................................................................................... 2
Tipos de Biomassa ...................................................................................................... 3
Produtos da Biomassa ................................................................................................ 4
Processos de Converso de Biomassa ............................................................................. 4
Combusto .................................................................................................................. 5
Gaseificao ................................................................................................................ 5
Pirlise ......................................................................................................................... 6
Liquefao ................................................................................................................... 7
Tipos de Liquefao ............................................................................................. 7
Etapas Fsico-qumicas do Processo de Liquefao Direta ................................ 8
Parmetros que Influenciam a Performance da Liquefao Direta ..................... 8
Solventes ............................................................................................................ 12
Liquefao versus Pirlise Rpida ................................................................................... 13
2. Projeto Energreen ............................................................................................................... 14
Enquadramento do Projeto .............................................................................................. 14
Reviso Bibliogrfica ........................................................................................................ 14
Instalao Piloto Semi-Industrial ...................................................................................... 15
Descrio do Processo .................................................................................................... 16
Alteraes Futuras ao Projeto .......................................................................................... 19
3. Enquadramento Normativo do Produto ............................................................................... 20
Processo de Normalizao do Bio-leo ........................................................................... 20
Normas de Combustveis ................................................................................................. 22
Combustveis Fsseis ............................................................................................... 22
GPL .................................................................................................................... 23
GPL Carburante ................................................................................................. 23
............................................................................................................ 23
Petrleos ............................................................................................................ 24
Gasleos ............................................................................................................ 24
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Gasleo de Aquecimento ................................................................................... 25
Fuelleo .............................................................................................................. 25
Jet A-1 ................................................................................................................ 26
Biocombustveis ........................................................................................................ 26
............................................................................................................. 26
Bioetanol............................................................................................................. 27
leos Vegetais ................................................................................................... 27
Bio-leo de Pirlise (FPBO) ............................................................................... 28
....................................................... 30
Guia de Caracterizao de Propriedades Fsicas do Bio-leo Para Enquadramento
Normativo ................................................................................................................................ 32
Homogeneidade e Amostragem ............................................................................... 32
Homogeneizao ............................................................................................... 32
Amostragem ....................................................................................................... 33
......................................................................... 33
Homogeneizao por Adio de Solvente ......................................................... 34
Mtodos de Ensaio .................................................................................................... 35
Entidades Acreditadas a Nvel Nacional que Realizam Mtodos de Ensaio para os
Enquadramentos Escolhidos ................................................................................................... 40
Bio-leo de Pirlise (ASTM D 7544) ......................................................................... 41
Fuelleo (Decreto-Lei N142/2010)........................................................................... 42
Resultados do Enquadramento Normativo ...................................................................... 43
Economia Circular ............................................................................................................ 45
4. Atividade Laboratorial .......................................................................................................... 47
Procedimento Experimental ............................................................................................. 47
Materiais .................................................................................................................... 47
....................................................................................... 48
Procedimento ............................................................................................................ 48
Pr-ensaio .......................................................................................................... 48
Determinao da Humidade da Biomassa ......................................................... 48
Pesagem de Reagentes ..................................................................................... 50
Pr-tratamento ................................................................................................... 50
Ensaio Reacional ............................................................................................... 51
Separao .......................................................................................................... 52
Resultados Experimentais................................................................................................ 54
Anlise da Influncia das Condies Operatrias .................................................... 54
Caracterizao dos Liquefeitos e Resduos .............................................................. 60
5. Concluses .......................................................................................................................... 62
6. Bibliografia ........................................................................................................................... 65
7. Anexos ................................................................................................................................. 74
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xi
Normas de Combustveis Fsseis ................................................................................... 74
Normas de Biocombustveis............................................................................................. 86
Entidades Acreditadas ..................................................................................................... 88
Caracterizao de Amostras Laboratoriais ...................................................................... 91
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xii
V. ndice de Figuras
Figura 1.1 - Procura total de energia primria na Unio Europeia.4 ............................................. 1
Figura 1.2 Quotas de consumo de fontes de energia renovveis na Unio Europeia.6 ............ 2
Figura 1.3 - Produo de energia renovvel em Portugal no ano de 2014.7 ................................ 3
Figura 1.4 - Tipos de biomassa produzidos em Portugal para fins energticos em 2014.7 ......... 4
Figura 1.5 - Processos de converso de biomassa, produtos e aplicaes.11 ............................. 4
Figura 1.6 - Passos reacionais bsicos para a liquefao direta de biomassa.24 ........................ 8
Figura 2.1 - Instalao piloto semi-industrial (alado principal). ................................................. 15
Figura 2.2 - Instalao piloto semi-industrial (conjunto em perspetiva). ..................................... 16
Figura 2.3 Etapas gerais do processo de liquefao cida. .................................................... 16
Figura 2.4 Interior do reator serpentinas e agitador. ............................................................. 18
Figura 2.5 Display do processo. ............................................................................................... 19
Figura 3.1 - Princpios base do processo de normalizao.51 .................................................... 21
Figura 3.2 Intervalos de destilao com exemplos de pontos de corte (temperaturas
fronteira).53 ................................................................................................................................... 22
Figura 3.3 Exemplo de um dispositivo de mistura (Inotec VISCO JET VJ350) adequado para
o lquido de pirlise em contentores de 1m3.86 ........................................................................... 32
Figura 3.4 Exemplo de amostra de bio-leo homogneo (uma fase), observado por
microscopia Leica DM LS.86 ........................................................................................................ 34
Figura 3.5 - Exemplo de amostra de bio-leo no homogneo (separao de fases), observado
por microscopia Leica DM LS.86 .................................................................................................. 34
Figura 3.6 - Dissoluo do material extrativo na matriz de liquefeito. Note-se que alguns dos
extrativos no se dissolvem em lcoois.86 .................................................................................. 35
Figura 3.7 Esquema resumo do processo de acreditao.102.................................................. 40
Figura 3.8 Economia circular.105 ............................................................................................... 45
Figura 4.1 - Montagem laboratorial de ensaio reacional. ............................................................ 52
Figura 4.2 - Montagem de filtrao a vcuo. ............................................................................... 52
Figura 4.3 Efeito do tempo de swelling a quente na converso de estilha de pinho com
proporo DEG:2EH de 1:3. ....................................................................................................... 54
Figura 4.4 Estilha de pinho. Granulometria (da esquerda para a direita): grossa, mdia e
fina ........................................................................................................................................... 55
Figura 4.5 Efeito da granulometria na converso de estilha de pinho, sem swelling e com
proporo DEG:2EH de 1:3. ....................................................................................................... 55
Figura 4.6 Efeito da humidade na converso de estilha de pinho, sem swelling e com
proporo DEG:2EH de 1:3. ....................................................................................................... 56
Figura 4.7 Ensaios com otimizao das condies operatrias .............................................. 56
Figura 4.8 Efeito do tempo de pr-tratamento, com posterior swelling de 30 minutos. ........... 57
Figura 4.9 Condensado obtido pelo pr-tratamento com soluo de Al2(SO4)3 ...................... 57
Figura 4.10 Efeito do tempo reacional na converso de estilha de pinho, utilizando pr-
tratamento. .................................................................................................................................. 58
Figura 4.11 Efeito da humidade na converso de dregs e grits, sem swelling e com proporo
DEG:2EH de 3:1. ......................................................................................................................... 58
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xiii
Figura 4.12 Efeito da humidade e do pr-tratamento na converso de biomassa de
desmatamento sem swelling e com proporo DEG:2EH de 1:3. .............................................. 59
Figura 4.13 Resduo obtido aps liquefao. ........................................................................... 60
Figura 4.14 Liquefeito de estilha de pinho.. ............................................................................. 60
-
xiv
VI. ndice de Tabelas
Tabela 1.1 Tipos de biomassa e seus exemplos.9 ..................................................................... 3
Tabela 1.2 Parmetros fsicos e qumicos que influenciam a performance da liquefao
direta.1,16 ........................................................................................................................................ 9
Tabela 1.3 Vantagens e desvantagens dos tipos de solventes utilizados na liquefao.24 .... 12
Tabela 3.1 Processos comerciais de produo de bio-leo por pirlise rpida.77 ................... 28
Tabela 3.2 - Norma ASTM D 7544-12 para bio leo produzido a partir de pirlise
rpida.48,79,80,81,82,83 ....................................................................................................................... 28
Tabela 3.3 Composies do bio-leo.84,85 ................................................................................ 30
Tabela 3.4 Lista de normas que no se enquadram nas caractersticas do bio-leo
produzido.. ................................................................................................................................... 30
Tabela 3.5 Enquadramento final do bio-leo produzido. ......................................................... 31
Tabela 3.6 Mtodos de ensaio, normas aplicveis, viabilidade e recomendaes para uso em
bio-leo. ....................................................................................................................................... 35
Tabela 3.7 Propriedades e condies operatrias do bio-leo industrial utilizado no
enquadramento. .......................................................................................................................... 43
Tabela 3.8 Resultado do enquadramento do bio-leo na norma EN 590 (gasleo). .............. 43
Tabela 3.9 Resultado do enquadramento do bio-leo na norma EN 14214 (biodiesel
FAME).. .................................................................................................................................... 44
Tabela 3.10 Resultado do enquadramento do bio-leo na especificao do fuelleo n4 BTE,
presente no DL N142/2010. ....................................................................................................... 45
Tabela 4.1 Caracterizao da biomassa (estilha de pinho), liquefeito e seu resduo. ............ 60
Tabela 7.1 - Norma nacional de especificao do GPL.54 .......................................................... 74
Tabela 7.2 - Norma nacional de especificao do GPL carburante.54 ........................................ 75
Tabela 7.3 - Norma nacional de especificao das gasolinas.54 ................................................ 76
Tabela 7.4 - Norma nacional de especificao dos petrleos.54 ................................................. 78
Tabela 7.5 - Norma nacional de especificao dos gasleos.54 ................................................. 79
Tabela 7.6 - Norma nacional de especificao do gasleo de aquecimento.54 .......................... 80
Tabela 7.7 Norma nacional de especificao dos fuelleos.48,54 ............................................. 80
Tabela 7.8 - Especificaes de combustvel para turbinas de gs.66 ......................................... 81
Tabela 7.9 Especificaes para combustveis navais destilados.67......................................... 82
Tabela 7.10 Especificaes para combustveis navais residuais.67 ........................................ 83
Tabela 7.11 Norma de especificao do Jet A-1.70.................................................................. 84
Tabela 7.12 Norma europeia de especificao do biodiesel (FAME) EN 14214:2012.72 ..... 86
Tabela 7.13 Norma europeia de especificao do bioetanol EN 15376:2014.74 .................. 87
Tabela 7.14 Norma alem de especificao do leo vegetal de colza DIN 51605:2010.76 .. 87
Tabela 7.15 - Entidades acreditadas em diversas reas de interveno que realizam os
mesmos mtodos de anlise impostos pela norma. ................................................................... 88
Tabela 7.16Atribuio das entidades a cada propriedade imposta pela norma ASTM D7544 89
Tabela 7.17 Atribuio das entidades a cada propriedade imposta pelo DL N142/2010 para o
fuelleo. ....................................................................................................................................... 90
Tabela 7.18 Caracterizao de liquefeitos laboratoriais feita no LQLO. ................................. 91
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xv
VII. Abreviaturas
(m/m) Percentagem em massa
(v/v) Percentagem em volume
2EH 2-Etilhexanol
5-HMF Hidroximetilfurfural
Al2(SO4)3 Sulfato de alumnio
AlCl3 Cloreto de alumnio
AFQRJOS - Aviation Fuel Quality
Requirements for Jointly Operated Systems
AFNOR Association Francaise de
Normalisation
ASTM American Society for Testing and
Materials
ATE Alto Teor de Enxofre
BtL Biomass to Liquid
BOCLE - Ball-on-Cyhder Lubricity Evaluator
BTE Baixo Teor de Enxofre
Cn Hidrocarbonetos com n tomos de
carbono
Ca Clcio
CH4 Metano
CO Monxido de carbono
CO2 Dixido de carbono
CDR Combustveis Derivados de Resduos
CE Comisso Europeia
CEN European Committee for
Standardization
CENELEC European Committee for
Electrotechnical Standardization
CFBE Consumo Final Bruto de Energia
CHN Carbon, Hydrogen, Nitrogen
CLC Companhia Logstica de
Combustveis
CMP Cimentos Maceira e Pataias
DCN - Derived Cetane Number
DEF STAN United Kngdom Defence
Standard
DEG Dietilenoglicol
DIN Deutsche Institut Fur Normung
DL Decreto-Lei
EG Etilenoglicol
EIA - Eletrnica Industrial de Alverca
EM | URF - Ensaios e Metrologia | Unidade de
Reao ao Fogo
EMPYRO - Energy & Materials from Pyrolysis
EN European Standard
ETAR Estao de Tratamento de guas
Residuais.
ETSI - European Telecommunications
Standards Institute
FAME Fatty Acid Methyl Esters
FER Fontes de Energia Renovveis
FPBO - Fast Pyrolysis Bio-Oil
GPL Gs de Petrleo Liquefeito
GtL Gas to Liquid
H/C Rcio Hidrognio/Carbono
H2 Hidrognio molecular
H2O gua
HCl cido clordrico
H2SO4 cido sulfrico
HTL Hydrothermal Liquefaction
HTU - Hydrothermal Upgrading
I&D Investigao e Desenvolvimento
IEA Internacional Energy Agency
IEC - International Electrotechnical
Commission
INEGI - Instituto de Cincia e Inovao em
Engenharia Mecnica e Engenharia Industrial
IP Instalao Piloto
IP Institute of Petroleum
IPA lcool Isoproplico
IPAC - Instituto Portugus de Acreditao
ISO International Organization for
Standardization
IST Instituto Superior Tcnico
IT L Instruo Tcnica
JFTOT - Jet Fuel Thermal Oxidation Tester
https://en.wikipedia.org/wiki/European_Committee_for_Standardizationhttps://en.wikipedia.org/wiki/European_Committee_for_Standardizationhttp://www.empyroproject.eu/index.php%3Fid%3D10
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xvi
JIG - Joint Inspection Group
JIS Japan Industrial Standards
K Potssio
K2CO3 Carbonato de potssio
KF Karl Fischer
KOH Hidrxido de potssio
LAB-MI Laboratrio de Materiais Isolantes
LBK - Labcork (Laboratrio Central do Grupo
Amorim)
LCE - Laboratrio de Calibraes e Ensaios
LFF - Laboratrio de Fumo e Fogo
LNEC - Laboratrio Nacional de Engenharia
Civil
LQLO - Laboratrio de Qualidade do Outo
LRM - Laboratrio da Refinaria de
Matosinhos
LUFAA - Laboratrio da Unidade Fabril de
Adubos de Alverca
Mg Magnsio
MON Motor Octane Number
MSEP Micro-Separometer
Mtoe - Million Tonnes of Oil Equivalent
Na Sdio
Na2CO3 Carbonato de sdio
NaOH Hidrxido de sdio
ppm Partes por milho
ppmv Partes por milho em volume
prEN - Draft European Standard
PCI Poder Calorfico Inferior
PCS Poder Calorfico Superior
PEG Polietilenoglicol
PG Propilenoglicol
PTSO - cido p-toluenosulfnico
PTFE Politetrafluoretileno
RDF Residue Derived from Fuel
Rh Rdio
RON - Research Octane Number
RSU Resduos Slidos Urbanos
S/B Rcio Solvente/Biomassa
S/S Rcio Solvente/Solvente
SGS - Sociedade Geral de Superintendncia
TAN Total Acid Number
TS - Technical Specification
TSE - Total Sediment Existent
http://www.jigonline.com/
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1
1. Introduo
Energias Renovveis
As reservas de energia primria fssil encontram-se limitadas, sendo que necessitam de
ser substitudas num futuro muito prximo. neste contexto que surgem as energias renovveis
que, como o prprio nome indica nunca se esgotam, uma vez que esto constantemente a ser
restabelecidas. Energia elica, solar, geotrmica, hidrulica e biomassa so alguns exemplos de
fontes de energias renovveis (FER).1,2
O aumento da utilizao de energias renovveis imprescindvel, tanto por questes de
natureza ambiental como a diminuio das emisses de CO2 responsvel pelo efeito de estufa,
bem como por questes econmicas e demogrficas como o aumento do preo do petrleo e o
crescimento da populao que fazem aumentar a procura de energia e de bens de consumo. 2,3
Figura 1.1 - Procura total de energia primria na Unio Europeia.4
Conforme se pode ver na Figura 1.1, existe um crescimento significativo da procura e
produo de energia a partir de FER, sendo este uma consequncia da evoluo do tratamento
legislativo na Unio Europeia desde o incio do sculo XXI sobre esta temtica (Diretivas
2001/77/CE e 2003/30/CE).
A diretiva mais recente (2009/28/CE) pretende estabelecer um objetivo comum para a
promoo de energia proveniente de FER, fixando objetivos nacionais para a quota global de
energia proveniente destas fontes no consumo final bruto de energia (CFBE) e tambm para a
quota consumida de FER (biocombustveis) no setor dos transportes. Tambm estabelece
critrios de sustentabilidade para os biocombustveis e biolquidos usados na produo de calor
e electricidade.5
0 100 200 300 400 500 600 700
Carvo
Petrleo
Gs
Nuclear
Hidro
Bioenergia
Outras renovveis
Mtoe
1990
2013
2030
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2
Figura 1.2 Quotas de consumo de fontes de energia renovveis na Unio Europeia.6
Em termos nacionais, esta diretiva fixou como objetivo de incorporao a percentagem
de 31% de FER no consumo final bruto de energia (CFBE) at 2020 (Figura 1.2). Este contributo
advm do setor de produo de eletricidade (55%), aquecimento e arrefecimento nos setores
da industria, de servios e domstico (30%) e ainda nos transportes (10%) sendo apenas esta
ltima vinculativa.6 Em 2014 o peso das FER no CFBE foi de 27%.7
A produo de energia a partir de FER dever ser sustentvel (ambientalmente,
economicamente e socialmente), sendo que as disposies na diretiva promovem:
Formas de produo que reduzam substancialmente as emisses de gases com efeito
de estufa (ambiental);
Produo a partir de resduos, detritos, material celulsico no alimentar, material
lignocelulsico e algas (ambiental);
Investigao e desenvolvimento de tecnologias de energias renovveis (econmico);
Disponibilidade de gneros alimentcios a um preo acessvel (social).5
Biomassa
Definio
De acordo com a Diretiva 2001/77/CE de 27 de Setembro de 2001, a biomassa constitui
a frao biodegradvel de produtos e resduos da agricultura (incluindo substncias vegetais e
animais), da floresta e das indstrias conexas, bem como a frao biodegradvel dos resduos
industriais e urbanos.8
Este tipo de matria-prima um promissor substituto das matrias-primas fsseis para
produo sustentvel de combustveis e de produtos qumicos, tendo como principais vantagens
o seu baixo custo e ser considerado um recurso natural renovvel, contribuindo desta forma para
a diminuio da pegada de carbono.
-
3
Em Portugal, nos ltimos anos, cerca de 50% da produo de energias renovveis
provm da biomassa, sendo que 60% desta foi transformada em outras formas de energia,
nomeadamente em centrais termoeltricas e centrais de cogerao.7
Figura 1.3 - Produo de energia renovvel em Portugal no ano de 2014.7
Tipos de Biomassa
Existem vrios tipos de biomassa que, devido sua enorme diversidade tm de ser
tratadas de maneiras especficas para produzirem os mais diversos tipos de produtos. Muitas
fontes de biomassa so produtos sazonais, sendo a madeira lenhocelulsica uma das excees.9
Os principais tipos de biomassa e respetivos exemplos encontram-se evidenciados na Tabela
1.1, sendo de referir que a biomassa verde no pode ser armazenada.
Tabela 1.1 Tipos de biomassa e seus exemplos.9
Tipo de Biomassa Exemplos
Lenhocelulsica Madeira e plantas lenhocelulsicas
Oleaginosas Soja e colza
Culturas de acar Beterraba sacarina e cana-de-acar
Culturas de amido Milho e trigo Biomassa verde Erva, luzerna e trevo
Culturas aquticas Algas, ervas daninhas aquticas e
jacinto-de-gua
Bio resduos
Resduos e subprodutos agrcolas, palha, resduos urbanos e domsticos, bio lamas,
guas residuais com matria orgnica, leos vegetais usados e gorduras animais
Em territrio nacional, os principais tipos de biomassa utilizados para fins energticos
so as lenhas e resduos vegetais/florestais (maior quota), licores sulfitivos (provenientes da
indstria papeleira), pellets e briquetes, biogs e outros tipos de biomassa como fraes
renovveis de resduos slidos urbanos (RSU).7
44%
5%
49%
2%
Energia eletrica
Biocombustveis
Biomassa
Outros renovveis (incluisolar trmico e geotermia debaixa entalpia)
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4
Figura 1.4 - Tipos de biomassa produzidos em Portugal para fins energticos em 2014.7
Produtos da Biomassa
Podem ser produzidos trs tipos de combustvel primrio a partir da biomassa:
Lquido (Etanol, biodiesel, metanol, leo vegetal e bio-leo);
Gasoso (biogs (CH4, CO2), gs de produo (CO, H2, CH4, CO2), gs de sntese (CO,
H2) e gs natural (CH4));
Slido (carvo e biomassa torrificada).
Destes, podem ser definidas quatro categorias principais de produtos para aplicao:
Qumicos (metanol, fertilizantes e fibras sintticas);
Energia (calor);
Eletricidade;
Combustvel para transporte (gasolina e diesel).10
Processos de Converso de Biomassa
A biomassa necessita de ser convertida a combustveis slidos, lquidos ou gasosos que
sero usados para gerar eletricidade, fornecer calor ou para mover automveis. Essa converso
feita atravs de processos termoqumicos, bioqumicos e/ou mecnicos. Na Figura 1.5 so
mostrados os diversos processos de converso e seus possveis produtos.
Figura 1.5 - Processos de converso de biomassa, produtos e aplicaes.11
44%
34%
15%
3%
4%Lenhas e resduosvegetais/florestaisLicores sulfitivos
Pellets e briquetes
Biogs
Outra biomassa
-
5
Os processos mecnicos no so exatamente um processo de converso, uma vez que
eles no alteram o estado fsico da biomassa, apresentando como exemplos a compactao de
resduos na forma de pellets, extrao mecnica de leo em filtro prensa e moagem de palha.
Os processos bioqumicos envolvem a utilizao de enzimas, bactrias e outros
microrganismos para decompor a biomassa. A fermentao para converter acares em etanol
e a digesto anaerbia para produo de biogs so alguns exemplos deste tipo de processos.11
Os processos termoqumicos utilizam calor para converter a biomassa. Possuem
eficincias maiores face aos processos biolgicos em virtude de apresentarem menores tempos
de reao e serem capazes de degradar um maior nmero de compostos orgnicos, sendo por
isso preferenciais em termos industriais. A combusto, gaseificao, pirlise e liquefao so
considerados os principais processos termoqumicos.11,12
Como exemplo da aplicao de alguns destes processos termoqumicos tem-se a
converso de biomassa lenhocelulsica em combustveis lquidos, a produo de etanol obtido
a partir da hidrlise da biomassa, que produz monmeros de acar, seguida de fermentao, o
processo BtL (biomass to liquid), obtido a partir da gaseificao da biomassa seguida da sntese
de Fischer-Tropsch, e a produo de bio-leo atravs de pirlise rpida ou liquefao de
biomassa.13
Combusto
A combusto representa, talvez, a utilizao mais antiga da biomassa, uma vez que a
civilizao se iniciou com a descoberta do fogo. Quimicamente a combusto originada por uma
reao qumica entre oxignio e matria orgnica, originando dois compostos muito estveis:
dixido de carbono (CO2) e gua (H2O).10
Este processo largamente utilizado na produo de calor para o aquecimento de
ambientes e na gerao de vapor em caldeiras que pode ser usado para movimentar turbinas a
vapor com o intuito de gerar eletricidade.14
Tem como principal vantagem a aplicao de tecnologia bem desenvolvida
comercialmente, possuindo inmeros casos de sucesso na Europa e Amrica do Norte,
utilizando resduos florestais, agrcolas e industriais. Por outro lado, a queima de combustvel
com alto teor de humidade, emisses de monxido de carbono devido queima incompleta, o
manuseio de cinzas e dificuldade de fornecer e salvaguardar o fornecimento suficiente de
biomassa para centrais termoeltricas modernas ainda so problemas tcnicos passveis de
serem melhorados.14,15
Gaseificao
A gaseificao um processo em que um lquido ou slido base de carbono, como
biomassa, carvo, bio-leo ou gasleo, reage com o ar, oxignio puro ou vapor, produzindo um
gs intitulado por gs de sntese ou de produo, podendo conter diversos compostos como
monxido de carbono, dixido de carbono, hidrognio, metano e azoto nas mais variadas
propores.13
-
6
A gaseificao com o ar produz gs de produo, possuindo baixo poder calorfico
(5MJ/m3) devido diluio com azoto, sendo por isso utilizado na queima em turbinas de vapor
para gerar eletricidade ou em caldeiras de vapor.14 A gaseificao com oxignio puro ou com
vapor origina gs de sntese. Este gs constitudo principalmente por monxido de carbono e
hidrognio, possui um poder calorfico mdio (12 a 20 MJ/m3 com oxignio e 15 a 20 MJ/m3 com
vapor), sendo que pode ser convertido em hidrognio, combustveis como gasolina, diesel e
outros qumicos de valor acrescentado como metanol e fertilizantes.14,16
A gaseificao de biomassa compreende as seguintes etapas sequenciais: secagem
para evaporao da humidade; pirlise para obteno de gases, vapores do alcatro ou leos e
resduos slidos de carvo; gaseificao ou oxidao parcial do carvo, alcatro e gases gerados
na pirlise.
As tecnologias de gaseificao de biomassa tm sido demonstradas com sucesso em
larga escala e em vrios projetos, contudo, o seu custo ainda elevado quando comparado com
a energia produzida a partir dos combustveis fsseis. A integrao da gaseificao com outros
sistemas processuais como por exemplo, uma biorrefinaria, fundamental para viabilizar
economicamente este processo termoqumico.14
Pirlise
A pirlise um processo que envolve a decomposio trmica de matria na ausncia
de oxignio. Trata-se da primeira etapa dos processos de combusto e gaseificao. A pirlise
da biomassa produz gs, lquido e slido em vrias propores, dependendo do tipo e das
condies do processo de pirlise. O gs constitudo por monxido de carbono, dixido de
carbono e hidrocarbonetos leves. O lquido de colorao escura denominado de bio-leo e o
slido de carvo vegetal.14
Dependendo das condies operatrias utilizadas, o processo de pirlise da biomassa
pode operar em condies rpidas ou lentas. Na pirlise lenta so utilizados longos tempos de
residncia, favorecendo a produo de carvo vegetal ou de gases conforme se opere a baixas
ou altas temperaturas respetivamente. Temperaturas moderadas e baixos tempos de residncia
favorecem a produo de bio-leo atravs de reaes homogneas que ocorrem na fase gasosa,
sendo este designado por processo de pirlise rpida.14,16
As principais caractersticas do processo de pirlise rpida so:
Elevadas taxas de aquecimento e de transferncia de calor, requerendo uma biomassa
finamente moda;
Temperatura de reao controlada em torno de 500C na fase de vapor, com tempos de
residncia curtos, tipicamente menores que 2 segundos;
Rpido arrefecimento e condensao dos vapores (quenching) de forma a originar o bio-
leo.17
-
7
Liquefao
Neste processo termoqumico, a biomassa convertida em produtos liquefeitos atravs
de uma complexa sequncia de estruturas fsicas e mudanas qumicas, resultando em
molculas mais pequenas. Estas pequenas molculas so instveis e reativas e podem
repolimerizar em compostos oleosos (bio-leo) com uma vasta gama de distribuio molecular.
No caso da liquefao, as macromolculas presentes na matria-prima so decompostas em
fragmentos de molculas leves na presena de um catalisador adequado. As mudanas durante
o processo de liquefao envolvem vrios tipos de reaes tais como solvlise,
despolimerizao, descarboxilao, hidrogenlise, hidrogenao entre outras.18
A matria lenhocelulsica o tipo de biomassa mais utilizado para a produo de bio-
leo atravs do processo de liquefao.19
Tipos de Liquefao
Existem dois principais tipos de liquefao:
Liquefao Indireta (GtL) A biomassa gaseificada, obtendo-se gs de sntese que
posteriormente convertido em combustveis lquidos pelo processo de Fischer-Tropsch
com consequente refinao.1,20
Liquefao Direta Converso completa da biomassa em combustveis lquidos sem a
existncia do passo de gaseificao.1
Dependendo do tipo de condies operatrias empregues, existem duas variantes
principais para o processo de liquefao direta, nomeadamente:
Liquefao Hidrotrmica (HTL) - utiliza gua ou solvente em estado aquoso a
temperaturas entre 180 e 370C e presses elevadas variando entre 4 e 25 MPa.16 Uma
das variantes mais conhecidas deste processo, chegando mesmo fase de
demonstrao comercial o mtodo Hydrothermal Upgrading (HTU), que utiliza
presses elevadas (120 a 180 bar), temperaturas entre 300 e 350C e tempos de
residncia entre 5 e 20 min.13
Solvlise Processo que dissolve a biomassa em solventes orgnicos reativos tais como
fenol, lcoois polihdricos, carbonato de etileno, entre outros. So aplicadas
temperaturas moderadas (100 a 250C), podendo ser utilizado com e sem catalisador.21
Este processo tem atrado uma ateno considervel devido a no ser necessrio impor
elevadas presses nem processos de secagem, sendo realizado a temperaturas
moderadas.22
-
8
Etapas Fsico-qumicas do Processo de Liquefao Direta
A converso de biomassa lenhocelulsica em hidrocarbonetos lquidos compreende os
seguintes passos bsicos:
1. Preparao da matria-prima com adequado teor de humidade e tamanho de partcula
(tipicamente
-
9
Tabela 1.2 Parmetros fsicos e qumicos que influenciam a performance da liquefao direta.1,16
Parmetros Fsicos Parmetros Qumicos
Temperatura Presso
Rcio mssico solvente/biomassa (S/B) Concentrao de catalisador
Tempo de residncia
Tipo/composio da biomassa Solvente
Catalisador Atmosfera
De seguida so explicitados alguns aspetos e recomendaes a utilizar em relao a
cada um destes parmetros, baseados em diversos artigos cientficos publicados nesta rea.
Tipo/composio da biomassa
Biomassa com elevados teores de celulose e hemicelulose favorece altos rendimentos
em bio-leo.19 Pelo contrrio, altos teores de lenhina fazem decrescer o rendimento em bio-leo
e aumentam a formao de carvo. Isto deve-se ao facto de a lenhina ser uma macromolcula
com uma estrutura complexa, que por decomposio trmica acima de 252C forma radicais
livres de fenol atravs de reaes de condensao e repolimerizao, formando desta forma
resduos slidos.25
A quantidade de celulose e hemicelulose no muito relevante visto que so compostos
com estruturas relativamente mais simples face lenhina e, so por isso, mais facilmente
despolimerizados (hemicelulose 120 a 180C, celulose > 240C).1
Os compostos aromticos presentes na biomassa so relevantes no que toca ao
aumento da densidade e viscosidade do bio-leo.26
Alguns tipos de biomassa como algas e desperdcios animais so constitudos por
lpidos, protenas e hidratos de carbono. A eficincia da converso deste tipo de compostos em
bio-leo exibida na ordem de lpidos > protenas > hidratos de carbono, levando a que maiores
teores de lpidos e protenas originem maiores rendimentos em bio-leo.27,28
Solvente
Existe menos resduo slido utilizando lcoois simples, tais como metanol e etanol. Tm
como principal desvantagem o seu baixo ponto de ebulio, evaporando-se antes da biomassa
ser liquefeita.1
Os lcoois polihdricos (polilcoois) promovem a formao de produtos de elevado peso
molecular, bem como de uma maior formao de resduos. Isto deve-se ao facto de uma nica
molcula de polilcool poder-se combinar com diversos fragmentos intermedirios resultantes
decomposio da biomassa, originando assim produtos de maior peso molecular, promovendo
a formao de resduos.29
Solventes quimicamente semelhantes tais como propilenoglicol (PG), etilenoglicol (EG)
e dietilenoglicol (DEG) apresentam distintos comportamentos na liquefao, pelo que o
rendimento pode variar significativamente (entre 16 e 32% (m/m)).1
-
10
O uso de polietilenoglicol (PEG) na liquefao promove reaes de recondensao dos
produtos lquidos, aumentando desta forma o teor de resduos slidos.30
A adio de glicis de baixo peso molecular (10 a 30% de glicerol) previne as reaes
de recondensao, s sendo estas observadas aquando da presena de celulose e lenhina na
mistura reacional.31
Catalisador
So utilizados normalmente catalisadores cidos, orgnicos ou inorgnicos na liquefao
por solvlise.
A adio de catalisador em baixas concentraes acelera as reaes de degradao da
biomassa. Para concentraes acima da concentrao crtica, as reaes de condensao e de
repolimerizao so favorecidas, implicando uma diminuio do rendimento da liquefao.1
Na liquefao por solvlise (glicerol/EG) de resduos de madeira utilizou-se cido
sulfrico como catalisador, sendo que a concentrao tima alcanada foi de 3%.32
A adio de catalisadores alcalinos como K2CO3, KOH, Na2CO3 e NaOH podem melhorar
o rendimento, suprimindo a formao de carvo.23
Catalisadores cidos, incluindo cidos inorgnicos (HCl e H2SO4) e sais cidos (AlCl3)
podem aumentar a formao de compostos solveis em gua, tais como cidos carboxlicos e
hidroximetilfurfural (5-HMF).33
Catalisadores homogneos exibem maior atividade cataltica face aos heterogneos.
cidos orgnicos levam a menores resduos e sais como fosfatos, sulfatos e carbonatos exibem
menor atividade cataltica face ao NaOH. So utilizados usualmente como catalisadores diversos
metais como cobre, nquel, cloreto de zinco e hidrxido de ferro, alguns carbonatos e
bicarbonatos como carbonato de sdio, e catalisadores heterogneos de nquel e rutnio que
auxiliam na hidrogenao preferencial.13
Atmosfera
Tem um menor impacto em termos de capacidade redutora face ao uso de solventes,
pois foram obtidos resultados similares tanto na presena de hidrognio como de azoto.34
Menores propores entre solvente e biomassa podem tornar o tipo de gs usado mais
relevante.1
Temperatura
Uma temperatura intermdia a mais recomendada. A desfragmentao dos polmeros
aumenta com o incremento de temperatura at atingir um ponto crtico, sendo este diferente
consoante o tipo de biomassa utilizada.1 A partir deste ponto a competio entre as reaes de
hidrlise e de repolimerizao mais evidente, sendo que a biomassa decomposta e
despolimerizada (hidrlise) em fragmentos mais pequenos que, ao subir em demasia a
temperatura os leva a repolimerizar e formao de resduo, diminuindo assim a converso.25
-
11
A temperatura tambm influencia outras propriedades do bio-leo tais como a
viscosidade, valores hidroxilo e cido.35
Presso
Quanto maior for a presso no sistema, menor a probabilidade de componentes do
liquefeito serem gaseificados (como os solventes empregues).1
A presso influencia a densidade do solvente, modificando a sua densidade. Em regio
subcrtica, com o aumento de presso a densidade do solvente (gua) aumenta, podendo
penetrar na estrutura da biomassa de forma mais eficiente, o que aumenta a sua degradao e
consequente produo de bio-leo.36
Rcio Solvente/Biomassa (S/B) e Solvente/Solvente (S/S)
Com a utilizao de maiores rcios S/B obtm-se menos resduo slido, o que pode ser
explicado pela maior facilidade de despolimerizao da biomassa em virtude de uma maior
quantidade de solvente.1 O aumento da quantidade de biomassa (diminuio do rcio S/B)
conduz a um aumento da viscosidade do bio-leo, dificultando a agitao, mistura, limitando
assim a velocidade da reao.35
A mudana no rcio S/S influencia propriedades como a viscosidade do bio-leo. Numa
mistura de solventes DEG/glicerol, o aumento de concentrao de DEG diminui a viscosidade,
permitindo o uso do bio-leo em motores de pisto ou de turbina de combusto interna. Maiores
quantidades de glicerol aumentam a viscosidade do bio-leo, podendo este ser apenas usado
em motores de combusto externa com maior tolerncia baixa qualidade do combustvel.37
Concentrao do catalisador homogneo
O aumento da concentrao privilegia a menor formao de resduo slido, pois acelera
a reao de degradao da biomassa, mas apenas at um certo valor (concentrao crtica).
Acima da concentrao crtica, as reaes de condensao e repolimerizao so favorecidas,
levando a um decrscimo da converso.1
Tempo de residncia
Tal como a concentrao do catalisador, tambm existe um limite de tempo reacional
para o qual o rendimento da liquefao mximo. Passando desse tempo, o rendimento diminui
devido ocorrncia de reaes de condensao e repolimerizao decorrentes de um maior
grau de fragmentao da biomassa em compostos gasosos, sendo repolimerizados de seguida
para formao de resduo slido.1
O impacto dos parmetros fsico-qumicos no rendimento da liquefao direta s pode
ser analisado em termos qualitativos, uma vez que existem grandes dificuldades em obter
comparaes quantitativas entre diferentes experincias de liquefao direta devido a fatores
como:
-
12
Definies de rendimento slido e lquido podem variar;
A presso do sistema durante a liquefao muitas vezes no se encontra documentada;
O tratamento do produto antes da sua anlise difere significativamente entre os
diferentes grupos de pesquisa (diferentes tipos de separaes slido-lquido, extrao
com diferentes solventes, entre outros).1
Solventes
A principal diferena entre a tecnologia de liquefao e os restantes processos de
converso termoqumicos reside na utilizao de solventes como meio reacional durante o
processo de liquefao, sendo considerado um dos parmetros-chave que determinam o
rendimento e a composio do bio-leo, o que faz com que se torne necessrio abordar este
tema.24
Em meio orgnico, a qumica da liquefao ir depender da natureza das interaes
substrato-solvente. Como primeiro passo para a liquefao, a solvatao ocorre por via de
aceitao/doao de pares de eletres entre o solvente e substrato, sendo que em sistemas
aquosos necessria uma boa penetrao do solvente na estrutura microfibrilar das cadeias
celulsicas para alcanar uma boa solvatao.20
Visto que a celulose o principal componente da biomassa, os solventes devem ser
escolhidos com base na sua capacidade de interagir com a celulose, facilitando a sua
solubilizao, promovendo assim as reaes de solvlise, hidrataes que ajudam a alcanar
uma melhor fragmentao da biomassa bem como reforar a dissoluo dos intermedirios
reativos.20,24
De acordo com a sua polaridade, os solventes podem ser classificados em trs
categorias: polares prticos, dipolares aprticos e apolares. Geralmente, e neste processo
termoqumico especfico, os solventes podem ser divididos em duas classes principais, gua e
solventes orgnicos, apresentando cada uma delas vantagens e desvantagens (Tabela 1.3).24
Tabela 1.3 Vantagens e desvantagens dos tipos de solventes utilizados na liquefao.24
Tipos de Solventes
Vantagens Desvantagens
gua
- Recurso natural, fcil de obteno e baixo custo; - Evita o passo de secagem da biomassa; - Facilita a recuperao de inorgnicos contidos na biomassa.
- Pontos crticos elevados, provocando condies reacionais severas; - Baixos rendimentos em bio-leo insolvel em gua; - Bio-leo com teor elevado em oxignio e baixo poder calorfico (a gua promove a repolimerizao do bio-leo, tornando-o instvel).
Solventes Orgnicos
- Baixo ponto crtico, permitindo condies reacionais mais suaves; - Altos rendimentos em bio-leo insolvel em gua; - Bio-leo com baixo teor em oxignio e elevado poder calorfico.
- So materiais sintticos, implicando custos de aquisio elevados se comparados com a gua; - Pode resultar em alguns problemas ambientais quando no reciclado.
-
13
Na liquefao por solvlise, so utilizados preferencialmente solventes que possam ser
reciclados e, por conseguinte, provavelmente estes encontram-se limitados aos derivados de
hidratos de carbono ou lenhina. Nesta categoria foram encontrados fenis, derivados fenlicos,
lcoois simples e polilcoois.20
Liquefao versus Pirlise Rpida
Os dois processos termoqumicos mais relevantes para obter bio-leo a partir de
biomassa so a liquefao hidrotrmica e a pirlise rpida. Contudo, existem diferenas entre
ambos os processos que influenciam a qualidade do produto final. Algumas dessas diferenas
so:
Pirlise Rpida
Como vantagem, o processo de pirlise rpida realizado com tempos de residncia
baixos (30ms a 1,5s), elevadas taxas de transferncia de calor (1000 a 10.000C/s),
originando bio-leos com baixa viscosidade, baixos teores de cinzas e de enxofre devido
a ser utilizado apenas calor para decompor a biomassa.13,16,38
Como desvantagem necessita de passo de secagem da biomassa (devido ao calor de
vaporizao da gua).13 Requer temperaturas operatrias elevadas (450 a 550C).16 O
elevado teor em oxignio concede ao bio-leo menor poder calorfico, m estabilidade
trmica, menor volatilidade, maior corrosividade e tendncia de polimerizao ao longo
do tempo, originando problemas de armazenamento e transporte.39 O bio-leo miscvel
em gua.40
Liquefao Hidrotrmica
O bio-leo produzido por liquefao hidrotrmica no necessita do passo de secagem
da biomassa, apresenta maior poder calorfico, menor teor de humidade e de oxignio e
no miscvel em gua. Temperaturas operatrias relativamente baixas (250 a 450C).
39,40
As condies operatrias implicam altas presses (50 a 200 atm) e tempos de residncia
elevados.13,39 O bio-leo apresenta maiores viscosidades.13 Os custos de capitais
associados a este processo so maiores.39
Em alternativa a estes dois processos, os trabalhos de (Kunaver et. al., 2012) propem
um mtodo alternativo de liquefao de biomassa na presena de polilcoois (solvlise), sendo
realizado a temperaturas entre 160 e 200C, presso atmosfrica e na presena de um
catalisador cido.37,38
Estas condies operatrias suaves acabam por simplificar este processo em
comparao com os outros acima mencionados, servindo como base ao processo industrial e
laboratorial de produo do bio-leo, descritos nesta tese nos captulos que se seguem.
-
14
2. Projeto Energreen
Enquadramento do Projeto
A CMP (Cimentos Maceira e Pataias), pertencente ao Grupo Secil, uma empresa
produtora de cimento e, como tal, preocupa-se no s com a qualidade dos seus produtos, bem
como a forma como a consegue.
Entre os objetivos estratgicos da empresa destacam-se a qualidade e a maximizao
da utilizao de combustveis alternativos (resduos slidos) nos fornos de cimentos. Contudo,
esta combinao no tem sido possvel de conciliar na fbrica CMP de Pataias no que diz
respeito linha de produo de cimento branco (clnquer), pois tratando-se de um processo com
um grau de complexidade superior face produo de clnquer cinzento, o clnquer branco sofre
facilmente contaminaes de cor, nomeadamente pela presena de cinzas provenientes da
queima, alterando desta forma os ndices de brancura impostos bem como a qualidade do
produto final, no sendo por isso utilizado qualquer combustvel alternativo slido nesta linha.
neste mbito que surge o Projeto Energreen. Situado na fbrica CMP de Pataias, este
projeto consiste na obteno de um novo biocombustvel (bio-leo) atravs de um processo de
liquefao cida de diversos tipos de biomassa para ser posteriormente utilizado somente no
forno de produo de clnquer branco.
Este biocombustvel destaca-se por ser limpo (lquido e com baixo teor de cinzas),
estvel quimicamente (baixo teor em oxignio) e apresentar maior poder calorfico face
utilizao de resduos slidos, aumentando assim a eficincia de combusto, resultando numa
minimizao de eventuais alteraes na qualidade do produto, nomeadamente de cor.
Assim sendo, a possibilidade de utilizar um combustvel processado quimicamente a
partir de resduos, normalmente no utilizveis neste processo, econmicos, permite minimizar
efetivamente as emisses de CO2, bem como a utilizao de combustveis fsseis, contribuindo
assim para uma reduo significativa da pegada ecolgica deste tipo de cimento.
Reviso Bibliogrfica
Aproximadamente metade do CO2 resultante da produo de cimento resulta das
reaes qumicas que convertem a pedra calcria em clnquer, o ingrediente ativo no cimento.41
Esta reao qumica responsvel por cerca de 540 kg de CO2 por tonelada de clnquer.42 Cerca
de 40% das emisses resultam da queima de combustvel e os restantes 10% so devido ao
transporte e eletricidade.43
O clnquer feito por aquecimento do calcrio, argila, bauxite e ferro a temperaturas de
mais de 1400C em fornos rotativos que requerem grandes quantidades de energia. O
combustvel utilizado nos fornos responsvel por cerca de 86% de toda a energia necessria
no processo produtivo. Neste processo, os combustveis mais utilizados so o carvo e o coque
de petrleo, e a sua combusto responsvel pela maioria das emisses, sendo crucial a curto
prazo a sua substituio por combustveis alternativos para diminuio das emisses.
-
15
Os produtores de cimento na Unio Europeia obtm 66% da energia trmica a partir de
combustveis fsseis, com taxas baixas em pases como a ustria (34%) e na Alemanha (38%).
Nos Estados Unidos, a mdia em 2011 foi de 84%.41
De acordo com relatrios da Agncia Internacional de Energia (IEA) e da Comisso
Europeia (CE), os combustveis alternativos tpicos usados na indstria do cimento incluem
resduos municipais e industriais pr-tratados, leos residuais, solventes, plsticos no-
reciclveis, resduos de papel e txteis, bem como biomassa como farinhas de origem animal,
resduos de madeira, casca de arroz, serradura, lodo de esgoto, pneus no reciclveis e resduos
de construo e demolio.44
Devido aos controlos de fabrico requeridos ao produzir cimento, nem todos os materiais
so adequados para substituio do combustvel. Combustveis adequados so aqueles com
elevado poder calorfico, com constituio qumica consistente e conhecida, e com
disponibilidade previsvel. Os riscos e os impactos no transporte, descarregamento, e
armazenamento dos combustveis so tambm consideraes relevantes. Os impactos dos
combustveis sobre a produo do clnquer e as emisses das instalaes devem ser avaliados.45
Instalao Piloto Semi-Industrial
A instalao piloto semi-industrial de liquefao encontra-se atualmente nas instalaes
da CMP de Pataias, apresentando-se tal como na Figura 2.1.
Figura 2.1 - Instalao piloto semi-industrial (alado principal).
Esta instalao encontra-se dentro de um contentor com 12,24 metros de comprimento,
sendo que apenas uma parte se encontra protegida pelo toldo, nomeadamente a zona de
abastecimento de matrias-primas e reteno de condensados de forma a evitar ao mximo a
interferncia de humidade provocada pelas guas pluviais. Existem diversos equipamentos que
integram esta instalao, sendo descritos pela Figura 2.2.
-
16
Figura 2.2 - Instalao piloto semi-industrial (conjunto em perspetiva).
Legenda:
1. Caldeira (utiliza leo Transcal N como fluido para transferncia de calor);
2. Reator (volume til de 5 m3);
3. Parafuso sem fim (caudal volmico de 3,2 m3/h);
4. Tremonha de alimentao de biomassa tremonha 1 (caudal volmico at 2,5 m3/h);
5. Tremonha de alimentao de catalisador tremonha 2 (caudal volmico de 0,018 m3/h);
6. Reservatrio de solventes (volume til de 3,6 m3);
7. Condensador (volume til de 0,05 m3);
8. Tanque de condensados (volume til de 1m3).
Como descrito anteriormente, o objetivo central deste projeto reside na obteno de um
combustvel lquido para substituio dos combustveis fsseis atualmente utilizados na
produo de clnquer branco, matria-prima central da produo de cimento branco. Com este
objetivo em mente, durante os ltimos anos as entidades participantes no projeto Energreen
(CMP/SECIL e IST), tm vindo a desenvolver um novo processo de liquefao cida de diversos
tipos de biomassa lenhocelulsica sobre a forma de materiais residuais, pelo que todos os
equipamentos da instalao foram dimensionados com base neste propsito.
Nestas condies e tendo em considerao os volumes estimados para cada
equipamento, pretende-se produzir cerca de 8 toneladas de bio-leo por 8 horas de trabalho,
considerando resduos com baixo teor em humidade.
Descrio do Processo
O esquema global de liquefao cida desenvolvido durante o projeto pode ser descrito
segundo as seguintes etapas gerais:
Figura 2.3 Etapas gerais do processo de liquefao cida.
Resduo com componente
lignocelulsico
Resduo pr-tratado
Combustvel lquido em
crude
Pr-tratamento Liquefao Filtrao Combustvel lquido
-
17
Alimentao do resduo
Nesta instalao piloto, o processo ser iniciado com a descarga e armazenamento dos
resduos previamente sua valorizao.
Os resduos utilizados atualmente so resduos florestais, p de cortia, combustveis
derivados de resduos (CDR), estando tambm previsto a utilizao de lamas de suinicultura,
lamas secundrias provenientes da produo de papel e lamas de ETAR.
Posteriormente os resduos, com granulometria mxima de 30 mm, sero alimentados
tremonha 1 que alimenta um desagregador em parafuso. Em simultneo, acrescentado o
catalisador cido na tremonha 2.
Pr-tratamento
Atravs de uma vlvula rotativa, o catalisador doseado e acrescentado ao resduo na
proporo pretendida. De seguida, a mistura resduo/catalisador alimentada ao parafuso sem
fim principal, onde lhe injetada uma mistura de solventes.
O parafuso sem fim uma pea de equipamento muito relevante porque a responsvel
pelo transporte da mistura reacional at ao reator, ocorrendo em simultneo um pr-aquecimento
da mesma atravs da passagem em contracorrente dos vapores formados na reao (gua
maioritariamente). Aps a injeo de solventes no parafuso sem fim tambm efetuado neste o
pr-tratamento da mistura designado por swelling, consistindo na pulverizao do resduo
(maioritariamente de origem lenhocelulsica) com o solvente para que este o absorva,
provocando um aumento de volume das clulas, quebrando assim a estrutura (principalmente
da lenhina) para facilitar o acesso do catalisador a todos os componentes do resduo.
Para ocorrer a injeo de solventes no parafuso sem fim principal, necessrio ter um
tanque de solventes e uma serie de injetores capazes de introduzir a mistura de atravs de um
sistema de common-rail para que a pulverizao seja feita de forma automtica.
Liquefao
No parafuso, a mistura reacional encaminhada para o reator. O reator fabricado em
ao inox 316L para resistir corroso provocada pela presena do catalisador cido. de cabea
torisfrica e de fundo duplamente copado ou auto-limpante. Este tipo de fundo prende-se com a
necessidade de evitar a acumulao de matria slida ao longo da reao, promovendo a sua
constante movimentao atravs da utilizao de um agitador. O agitador usado mecnico do
tipo turbina de 6 ps em ao inox, permitindo uma boa homogeneizao da mistura reacional.
(Figura 2.4).
Sendo que a reao endotrmica, existe a necessidade de fornecer calor para que ela
ocorra, por isso existe no interior do reator um sistema de serpentinas onde passa leo trmico,
proveniente de uma unidade de fornecimento de calor (caldeira).
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Figura 2.4 Interior do reator serpentinas e agitador.
Para um maior aproveitamento do calor proveniente da caldeira, o reator tem uma camisa
externa onde circulam os gases de combusto antes de serem enviados para atmosfera.
Este processo ocorre sempre presso atmosfrica, por isso existem vlvulas de
segurana de alvio de presso no reator que sero acionadas sempre que exista aumento de
presso.
Dependendo do teor em humidade dos resduos, vai ocorrer a libertao de vapor, sendo
este utilizado para pr-aquecer a alimentao no parafuso antes de ser adicionada ao reator.
Consoante esta humidade, existe um condensador que utiliza gua industrial com um caudal
mximo de 5 m3/h para condensao do restante vapor.
Filtrao
Para remoo do contedo no reator, no fundo deste existe uma vlvula de cogumelo,
sendo que a sua abertura feita com a tampa a abrir para o interior do reator, por forma a evitar
que o peso do contedo dificulte o manuseamento da vlvula. Aps a abertura desta vlvula, o
contedo do reator passa por um filtro de partculas, do tipo cestas auto-limpantes. Este filtro
um equipamento fundamental, no s para separar o material que ainda no foi liquefeito do seio
reacional, mas tambm porque permite dar indicaes acerca da extenso da reao, isto , se
ainda existir muito material slido significa que a converso de liquefao ainda no ocorreu
totalmente. Neste caso, o resduo que ainda no est liquefeito realimentado ao reator,
enquanto a fase lquida injetada no parafuso, de forma a provocar o swelling do resduo
entretanto adicionado.
Quando a liquefao do resduo slido atingir a converso pretendida (reao completa),
o bio-leo obtido bombeado para cubas de 1 m3, para posterior caracterizao fsica e qumica
(avaliao do potencial como combustvel). As cubas so armazenadas em local coberto e
pavimentado (com meios de conteno de eventuais derrames).
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Controlo do processo
Todo o controlo de variveis operatrias associadas ao processo tais como caudais,
temperaturas, potncia de agitao, feito atravs de um display, que se encontra no
compartimento da caldeira (Figura 2.5).
Figura 2.5 Display do processo.
Alteraes Futuras ao Projeto
Tal como foi projetada e construda, esta instalao piloto consegue realizar a liquefao
de resduos, mas, nos diversos ensaios efetuados, houve diversas dificuldades associadas
obteno de bio-leo como produto final para armazenamento. Algumas dessas dificuldades so:
Bio-leo muito espesso e viscoso, contendo elevado teor de slidos, provocando a
colmatao imediata do filtro;
Fraca potncia de agitao, provocando encravamentos frequentes do agitador;
Acumulao de resduos entre as serpentinas e a parede do reator, afetando a sua
agitao e liquefao;
Temperatura de reao controlada atravs da temperatura dos gases de sada.
Face a todas estas dificuldades, nos ltimos meses foram planeadas e efetuadas
diversas intervenes na instalao piloto com vista melhoria do processo. Algumas das
alteraes efetuadas foram:
Alterao do modelo do agitador para um do tipo helicoidal com vista melhoria do
processo de mistura;
Aumento do nvel de potncia de agitao;
Alterao da posio das serpentinas no reator, estando agora dispostas junto parede
do reator para evitar a acumulao de resduo;
Colocao de sonda de temperatura para medio da temperatura de reao.
Todas estas alteraes ainda no tiveram efeitos prticos pois ainda no foram
efetuados quaisquer ensaios, estando previsto serem feitos num futuro prximo.
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3. Enquadramento Normativo do Produto
Processo de Normalizao do Bio-leo
O Projeto Energreen embora se trate apenas de uma unidade piloto industrial de
investigao e desenvolvimento (I&D), esta carece de vrios licenciamentos, nomeadamente ao
nvel do produto obtido (bio-leo).
Este produto pode ser usado diretamente nos fornos de produo de clnquer cinzento,
mas no no de clnquer branco (aplicao principal) pois, sendo considerado um produto
inovador, este apresenta diferentes propriedades face aos combustveis lquidos convencionais
(usados na produo de clnquer branco) e at mesmo aos biocombustveis presentes no
mercado. Posto isto, para este bio-leo ser utilizado no forno de produo de clnquer branco,
seria necessria uma alterao da sua licena de queima (no possui licena para queimar
resduos), pois o bio-leo produzido , para todos os efeitos, considerado um resduo. Como a
alterao de licena de queima invivel devido a diversos fatores tais como a morosidade do
processo, necessrio encontrar alternativas tais como o licenciamento do produto.
Tanto para a finalidade proposta, bem como para uma subsequente comercializao,
(implementao no mercado como um novo biocombustvel), necessrio licenciar o bio-leo.
Este processo iniciado atravs da uniformizao da sua qualidade, sendo por isso necessrio
adotar especificaes e mtodos de anlise adequados que culminam na formulao de normas
tcnicas.
As normas tcnicas incluem-se na definio de documento normativo, que se designa
por todo o documento que fornece regras, linhas de orientao ou disposies para a realizao
de ensaios, calibraes ou exames, incluindo-se nesta definio, nomeadamente normas,
especificaes tcnicas, regulamentos, diplomas legais ou procedimentos internos.46 O seu
desenvolvimento inclui as seguintes etapas:
Recolha de feedback dos produtores e dos utilizadores finais sobre a qualidade do bio-
leo;
Definio de qualidade e das especificaes para o bio-leo;
Definio de normas e padres para mtodos de amostragem e de anlise;
Normalizao do bio-leo como combustvel.47
O desenvolvimento e publicao de normas tcnicas feito por organismos de
normalizao reconhecidos. Estes organismos podem ser internacionais, como a ISO
(Organizao Internacional para Padronizao), ASTM (Sociedade Americana de Testes e
Materiais), EN (Normas Europeias) ou nacionais como a IP no Reino Unido, AFNOR em Frana,
DIN na Alemanha e JIS no Japo.48
As normas EN so documentos que foram ratificados por um dos trs Organismos
Europeus de Normalizao (OEN): CEN (Comit Europeu de Normalizao), CENELEC (Comit
Europeu de Normalizao Eletrotcnica) ou ETSI (Instituto Europeu de Normas de Telecomunicaes), organismos esses que so reconhecidos como competentes na rea da
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normalizao tcnica voluntria, como descrito pelo regulamento sobre normalizao Europeia
N1025/2012.49,50
Para determinao de uma dada propriedade podem existir diversas normas
equivalentes entre si (como por exemplo a ASTM D 240 e ISO 1716 para determinao do calor
de combusto por bomba calorimtrica), sendo indiferente a que se aplicar pois, mesmo que
difiram em algum detalhe de esperar que, se forem adequadamente seguidas, ambas
produzam resultados equivalentes.
Ultimamente as normas nacionais esto sendo integradas nas normas ISO (mais
especificamente EN-ISO), isto porque existe uma exigncia legal da Unio Europeia em publicar
todas as normas EN como sendo padres nacionais, retirando assim todas as normas
conflitantes existentes.48
Em suma, para um processo de normalizao ser bem-sucedido tem que existir o
contributo de quatro fatores. A normalizao tem que ter a aprovao por unanimidade dos
membros do grupo de trabalho (consenso), todas as partes interessadas podem participar na
tarefa (democracia), o organismo de normalizao sinaliza as etapas do processo de aprovao,
dividindo o projeto em si com as partes interessadas (transparncia) e os padres so a
referncia que todas as partes assumem espontaneamente (voluntariedade).51
Figura 3.1 - Princpios base do processo de normalizao.51
Embora existam algumas tecnologias de liquefao direta com instalaes piloto
implantadas (processo HTU), as suas variveis operatrias diferem significativamente no que
toca ao Projeto Energreen (solventes, presso), o que faz com que este seja um projeto pioneiro
nas suas condies atuais, estando por isso sujeito a limitaes de implantao e
desenvolvimento da sua tecnologia produtiva.
Devido a todas estas restries no existem, presentemente, dados empricos
suficientes para permitir o desenvolvimento de normas especficas para este tipo de
biocombustvel, tendo que ser enquadrado normativamente noutro tipo de combustvel lquido
existente no mercado para poder ser utilizado para o propsito que foi concebido: utilizao como
combustvel nos fornos de produo de clnquer branco.
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Normas de Combustveis
Existem diversos tipos de combustveis fsseis e biocombustveis cujas normas foram
equacionadas para fazer o enquadramento do bio-leo produzido, tendo sido considerados
diversos parmetros para a sua escolha, nomeadamente:
Campo de aplicao (combustveis);
Tipo de produto (combustveis fsseis e biocombustveis);
Estado fsico (combustveis lquidos);
Legislao nacional (prioritrio);
Legislao internacional (no caso de inexistncia de legislao nacional).
Combustveis Fsseis
Nesta seco apresentam-se as normas dos combustveis produzidos em refinarias a
partir do petrleo bruto, formado lentamente durante milhes de anos atravs da decomposio
a alta presso de matria vegetal, sendo estes combustveis considerados fontes de energia
no-renovveis tendo em conta o perodo da humanidade.52
Os tipos de produtos obtidos so ordenados e classificados em funo do seu intervalo
de destilao.
Figura 3.2 Intervalos de destilao com exemplos de pontos de corte (temperaturas fronteira).53
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Quase todos os combustveis fsseis lquidos possuem legislao nacional, estando
compiladas todas as suas especificaes no Decreto-Lei N142/2010. Este Decreto-Lei (DL)
rene as especificaes tcnicas dos combustveis, nomeadamente de gases de petrleo
liquefeitos (GPL), GPL carburante, gasolinas, petrleo de iluminao e carburante), gasleos,
gasleo de aquecimento e fuelleo1.54
GPL
Os gases de petrleo liquefeitos (GPL) so misturas derivadas do petrleo bruto,
constitudas por hidrocarbonetos C3 e C4 (principalmente propano, n-butano, isobutano, propileno
e butilenos), gasosos temperatura ambiente, mas que so facilmente liquefeitos atravs da
aplicao de presses moderadas, normalmente at sua presso de vapor (entre 200 e 900
kPa). O GPL obtido nas refinarias atravs de processos de destilao, craqueamento e
reforming, sendo armazenados e distribudos em recipientes sob presso.52,55
A principal aplicao do GPL a nvel mundial na cozedura de alimentos, sendo tambm
utilizado no setor petroqumico (fabrico de borracha, polmeros, lcoois e teres), como
combustvel industrial (nas etapas de secagem na indstria do papel e da cermica), siderrgico
(na fundio, corte e solda de metais) e agropecurio (na secagem de gros, controle de pragas
e queima ervas daninhas, aquecimento e esterilizao de ambiente de criao de animais).56
As especificaes do GPL a nvel nacional so dadas em anexo pela Tabela 7.1. Estas
especificaes envolvem a determinao de propriedades como a composio (compostos C3,
C4 ou de mercaptanos), podendo este fator constituir um entrave ao enquadramento do bio-leo
segundo esta norma.
GPL Carburante
O GPL carburante uma variante do GPL, tendo como principal aplicao o seu uso
como combustvel automvel, sendo a mistura entre propano (C3) e butano (C4) feitas em
percentagens variveis consoante o clima do pas (maior percentagem de propano em pases
frios e de butano em pases quentes) e tambm para que o ndice de octano (indicador de
resistncia detonao) seja sempre superior ao valor presente na norma. 52,57
Devido sua limitada aplicabilidade, todos os limites de especificao presentes na
norma (dada em anexo pela Tabela 7.2) foram pensados de forma a cumprir com os requisitos
em termos de combustvel automvel, podendo no ser satisfeitos pelo bio-leo (nomeadamente
ndice de octano) em virtude do seu distinto uso.
Gasolinas
a primeira frao lquida a ser destilada do petrleo bruto presso atmosfrica (entre
20 a 210C), tendo composies de hidrocarbonetos entre C4 a C12.58
1 Algumas normas possuem notas associadas, pelo que podem ser consultadas no respetivo documento normativo.
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Tem como principal aplicao o uso em motores de combusto interna de ignio por
fasca.59
Os tipos de gasolinas comercializadas na Europa so designados por Euro super e
Super plus (anexo Tabela 7.3). Diferenciam-se entre si principalmente pelo valor de RON
(Research Octane Number), parmetro importante nos motores de ignio por fasca, uma vez
que d a medida da resistncia autoignio por parte do combustvel (maior valor, melhor
resistncia, melhor qualidade do combustvel), fundamental no processo de compresso do
mesmo antes da sua ignio.53
Tal como o GPL carburante, o seu uso encontra-se limitado aos motores de combusto
internos, podendo ser invivel o enquadramento do bio-leo neste tipo de combustvel.
Petrleos
uma frao estilada do petrleo bruto, mais pesada em relao s gasolinas, sendo
comercializada em Portugal sob a forma de petrleo carburante e queroseno.
Petrleo Carburante
Tambm designado por Tratol, este combustvel lquido, de cor vermelho-rosada
apresenta um ndice inferior de octanas face gasolina e uma menor capacidade de vaporizao
e queima. principalmente utilizado como carburante na agricultura, em alguns motores de
combusto interna.60
Queroseno
um combustvel lquido de cor vermelho-rosada obtido entre 180 e 250C durante a
destilao fracionada do petrleo bruto. Os uso mais comum do queroseno em iluminao,
sendo tambm usado em combustvel para avies aps outras etapas de tratamento/upgrading
do queroseno. Apresenta a particularidade da caracterstica ponto de fumo estar limitada a um
valor mnimo (25 mm).59,60
As especificaes dos petrleos destinados ao mercado interno nacional esto
presentes em anexo na Tabela 7.4, no existindo diferenciao entre petrleo carburante e
queroseno.
O aspeto visual pode ser um dos fatores limitantes ao enquadramento do bio-leo
segundo esta norma.
Gasleos
O gasleo, vulgarmente tambm conhecido por diesel, obtido entre 180 a 370C
durante a destilao fracionada do petrleo bruto, contendo hidrocarbonetos entre C12 e C24.58
Tem como principal aplicao o uso em motores de combusto interna de ignio por
compresso, que requerem presses de injeo muito altas e baixas temperaturas de
autoignio e respetivo atraso, dado pelo ndice de cetano (maiores valores, menor atraso,
melhor qualidade do combustvel).59
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As suas especificaes encontram-se em anexo (Tabela 7.5). Devido a requerer o teste de
propriedades especficas para o uso nos motores de combusto internos como ponto de
congelamento (temperatura limite de filtrabilidade), ndice de cetano, pode no ser fcil o
enquadramento normativo nestas especificaes.
Gasleo de Aquecimento
Este tipo de gasleo, similar ao diesel, distingue-se pela sua colorao vermelha
conferida pela adio de corante e marcador. As suas caractersticas definidas para o mercado
nacional (anexo, Tabela 7.6) no permitem a sua utilizao em motores de combusto interna,
destinando-se por isso exclusivamente a equipamentos de aquecimento industrial, comercial e
domstico.61,62
Algumas das suas vantagens so melhor combusto, promovendo a eficincia
energtica (preserva o meio ambiente e reduz custos), maior limpeza do sistema de aquecimento
(devido ao seu poder dispersante, funcionando tambm como detergente), melhor preveno
contra a corroso no sistema de alimentao e restante equipamento, maior economia de
manuteno, o que faz com que prolongue o tempo de vida da instalao que o utiliza.63
Este tipo de combustvel pode resultar num bom enquadramento do bio-leo, pois no
existem qualquer tipo de restries a caractersticas como a aparncia e composio, muitas
vezes limitativas do bio-leo.
Fuelleo
O fuelleo constitui das fraes mais pesadas a serem destiladas do petrleo bruto,
podendo tambm ser obtido sob a forma de fuelleo residual, existindo muitas vezes uma mistura
de ambos os tipos para obter a viscosidade pretendida. Embora seja um combustvel de
qualidade constante, econmico (mais barato que o diesel) e de elevado poder calorfico, apenas
usado para aplicaes industriais e marinhas devido ao seu difcil manuseamento (precisam
de ser decantados, pr-aquecidos e filtrados, deixando uma lama no fundo dos tanques).52,64
Existem vrios tipos de fuelleo, diferenciados pelo nvel de viscosidade requerido por
cada uma das aplicaes destinadas ao uso deste combustvel. Assim sendo, para o uso do
fuelleo como combustvel destinado marinha existem as categorias de fuelleos destilados e
residuais, especificados pela norma ISO 8217. Para produo de energia eltrica a partir de
motores estacionrios de cogerao (turbinas de gs) utiliza-se fuelleo de cogerao
especificado pela norma ASTM D 2880. Para instalaes de queima em fornos ou caldeiras para
produo de gua quente ou vapor utilizam-se os fuelleos n3 - Thin Fuel e n 4 ATE e BTE,
dados pela norma nacional presente em anexo (Tabela 7.7).65
O campo de aplicao deste combustvel bem como as suas caractersticas (aspeto
irrelevante, elevada viscosidade) so similares s do bio-leo produzido, constituindo por isso
uma boa possibilidade de enquadramento.
As especificaes referentes aplicao do fuelleo como combustvel destinado
marinha e em turbinas de gs encontram-se em anexo (Tabelas 7.8, 7.9 e 7.10).66,67 Como estas
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normas apresentam aplicaes diferentes de esperar um enquadramento mais difcil de se
obter, mas a variedade de classes existentes em cada uma destas normas permite alargar o
leque de opes, diminuindo a probabilidade de no adaptao.
Jet A-1
O Jet A-1 um combustvel de aviao utilizado em aeronaves comerciais com motor a
jato. composto essencialmente por queroseno (compreendendo cadeias de hidrocarbonetos
entre C9 e C15), alm de conter tambm alguns aditivos especiais que lhe conferem uma
qualidade superior tais como inibidores de corroso, anticongelantes, anti-incrustantes e
antiestticos.52
Os combustveis para aviao obedecem s mais rigorosas especificaes
internacionais, entre elas as previstas pelo Aviation Fuel Quality Requirements for Jointly
Operated Systems (AFQRJOS).68 Esta uma lista conjunta emitida pelo grupo de inspeo
conjunto (JIG), responsvel pelo estabelecimento de padres para o manuseamento seguro e
controlo da qualidade dos combustveis de aviao a nvel global, sendo reconhecidos e
aprovados por todas as partes com participao na indstria.69
A lista conjunta AFQRJOS para o Jet A-1 incorpora as exigncias conjuntas da norma
britnica DEF STAN 91-91 e da norma americana ASTM 1655-15, estando especificada na
Tabela 7.11 presente em anexo.70 Os aditivos e as propriedades que apenas necessitam de
reportar o valor