Lisboa

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1 Introdução A identidade de Lisboa está diretamente comprometida com sua vinculação com o mar. Desde o período das grandes navegações até a consolidação da cidade pós-industrial, seu contexto de cidade portuária dita suas especificidades e padrões de crescimento. Em tempos de globalização econômica não seria diferente, suas características geográficas e suas potencialidades culturais afirmam o desenvolvimento de uma metrópole, que em frente às águas se estabelece solidamente. Em busca de sua afirmação no cenário europeu, Portugal valoriza e constantemente re-planeja Lisboa como seu expoente nacional, e se torna impossível compreender os projetos contemporâneos sem compreender a história, com os desenvolvimentos e entraves que caracterizam a conformação urbana. “O porto, mais especificamente, a água, justifica a fundação da cidade, bem como o seu desenvolvimento, impondo a sua lógica no espaço urbano e marcando não apenas o território, como a própria sociedade. De uma forma geral, pode-se afirmar que as cidades portuárias se distinguem de todas as outras pela dinâmica da sua economia e pela maior abertura às relações com o exterior, o que origina uma também maior abertura à inovação social e tecnológica, bem como à transferência de conhecimento” (OCHOA, 2005). Através do enfoque de Lisboa como uma área portuária, constatamos que este é um aspecto primordial para o início de uma leitura que contempla o sítio e sua sobreposição urbana, desse modo, o primeiro e mais pungente ponto levantado indica para a ocorrência de um desequilíbrio físico e social na cidade, como uma divisão bipartida, aonde uma parte parece acolher o desenvolvimento urbano de forma mais “natural” e outra parece ser constantemente subestimada ao longo da história. Fica nítido que na zona mais deprimida estão determinadas atividades urbanas: áreas industriais relacionadas com infra-estruturas portuárias e de transporte, geralmente em estado de inutilização. Estas zonas têm sido atualmente objeto de reconversões urbanas, com vista ao reequilíbrio físico e social da cidade. Como refere Mario Fabre, “falar de ‘cidade porto’ é explicar a sua origem e designar o fator essencial do crescimento urbano, como

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Análise sobre a conjunção urbana de Lisboa com ênfase na conformação contemporânea da cidade e sua conurbação metropolitana.

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Introdução

A identidade de Lisboa está diretamente comprometida com

sua vinculação com o mar. Desde o período das grandes navegações

até a consolidação da cidade pós-industrial, seu contexto de cidade

portuária dita suas especificidades e padrões de crescimento. Em

tempos de globalização econômica não seria diferente, suas

características geográficas e suas potencialidades culturais afirmam o

desenvolvimento de uma metrópole, que em frente às águas se

estabelece solidamente. Em busca de sua afirmação no cenário

europeu, Portugal valoriza e constantemente re-planeja Lisboa como

seu expoente nacional, e se torna impossível compreender os projetos

contemporâneos sem compreender a história, com os

desenvolvimentos e entraves que caracterizam a conformação urbana.

“O porto, mais especificamente, a água, justifica a

fundação da cidade, bem como o seu desenvolvimento,

impondo a sua lógica no espaço urbano e marcando não

apenas o território, como a própria sociedade. De uma forma

geral, pode-se afirmar que as cidades portuárias se distinguem

de todas as outras pela dinâmica da sua economia e pela

maior abertura às relações com o exterior, o que origina uma

também maior abertura à inovação social e tecnológica, bem

como à transferência de conhecimento” (OCHOA, 2005).

Através do enfoque de Lisboa como uma área portuária,

constatamos que este é um aspecto primordial para o início de uma

leitura que contempla o sítio e sua sobreposição urbana, desse modo,

o primeiro e mais pungente ponto levantado indica para a ocorrência

de um desequilíbrio físico e social na cidade, como uma divisão

bipartida, aonde uma parte parece acolher o desenvolvimento urbano

de forma mais “natural” e outra parece ser constantemente

subestimada ao longo da história. Fica nítido que na zona mais

deprimida estão determinadas atividades urbanas: áreas industriais

relacionadas com infra-estruturas portuárias e de transporte,

geralmente em estado de inutilização. Estas zonas têm sido

atualmente objeto de reconversões urbanas, com vista ao reequilíbrio

físico e social da cidade.

Como refere Mario Fabre, “falar de ‘cidade porto’ é explicar a

sua origem e designar o fator essencial do crescimento urbano, como

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eventualmente da sua crise” (1992). Se no início a cidade mantinha

uma estreita relação de interdependência funcional com o porto isso

se rompe através da industrialização do território, que desequilibra a

organização física e simbólica da cidade. O isolamento industrial na

margem empurra o desenvolvimento urbano para o interior, o que é

historicamente demarcado em Lisboa no século XIX.

O segundo momento, caracterizado pela desindustrialização

corresponde ao afastamento dos portos da cidade, em busca de águas

mais profundas e de terrenos mais amplos, para responder às novas

necessidades da tecnologia portuária, arrastando consigo as indústrias.

Com a crise econômica dos anos 70-80 e com a tendência para a

terceirização, núcleos industriais esvaziam-se de funções, surgindo

assim toda uma rede de ‘espaços devolutos’ – terrenos residuais,

edifícios desativados, infra-estruturas obsoletas.

E, por fim, um terceiro momento que se concretiza

atualmente, que é marcado pela reconversão das áreas industriais e

portuárias que corresponde à procura de soluções para a ocupação

dos vazios resultantes da desindustrialização, com conseqüente

aproximação da cidade e dos cidadãos com as margens.

“Aquelas que foram outrora zonas de grande

prosperidade industrial, localizando-se nas periferias urbanas e

alojando as classes trabalhadoras, constituem atualmente

espaços de abordagem incontornável nas políticas urbanas e

uma “mais-valia” nas estratégias de revitalização da cidade,

pela sua localização (agora) central e pela sua proximidade à

água” (OCHOA, 2005).

Nesse contexto se inscreve, entre outros, a Expo’98, que será o

alvo de diversas análises sobre o urbanismo de Lisboa e que serve

como conceituação global das atuais ações de renovação de grandes

centros urbanos. A substituição de uma extensa área de espaços

obsoletos por um pedaço de cidade novo, dotado de equipamentos

planejados para a escala da cidade, de espaços públicos de qualidade e

beneficiando das condições paisagísticas da frente rio. Mas que

também é um lugar que reserva suas contradições, como a extrema

densidade de construção que de certo modo tende até a desvirtuar

aquele espaço através de sua falha ao agir sobre o reequilíbrio urbano,

funcional e social da cidade. A simetrização que se propunha se indicia

ainda como uma realidade distante.

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Contexto Histórico e Político de Portugal

Portugal é um país que desde o princípio de sua fundação,

pelos romanos como Lusitânia no século I antes de Cristo, possui

peculiaridades em relação às demais nações européias. Sua localização

única foi o que orientou seu desenvolvimento e até hoje podemos

perceber claramente diversas distinções sociais, econômicas e

culturais em relação ao restante da União Européia, instituição esta

que é responsável por um verdadeiro salto desenvolvimentista do país,

que passa hoje por um intenso processo de modernização no qual há

um interesse especial nas políticas de renovação urbana das principais

cidades portuguesas.

O país foi a primeira nação européia centralizada

politicamente, fato este ocorrido no século XII em detrimento da

expulsão dos mouros da Península Ibérica, e no século XV passa a ser

uma grande potência econômica, militar e política do continente

devido às Grandes Navegações que, com o objetivo de uma intensa

expansão comercial, formam o Império Colonial Português. As

invasões espanhola e francesa, o terremoto de Lisboa de 1755, a perda

de suas maiores possessões ultramarinas dentre outras adversidades

foram fundamentais na desestabilização econômica do país e na perda

de sua posição privilegiada dentre os demais países europeus. Tais

fatores conjuminaram-se na queda da monarquia e na proclamação da

república em 1910 e a partir de então os processos políticos do país

seriam marcados por diversas turbulências.

No início foi instaurada uma república parlamentarista de leve

inclinação esquerdista que adotou leis liberais e anticlericais e, após

um longo período de instabilidade nesta primeira tentativa de

governo, a situação financeira do país chega ao limite e um golpe de

Estado é deflagrado estabelecendo, em 1926, o chamado Estado Novo.

Antônio de Oliveira Salazar torna-se primeiro-ministro em 1932 e seu

regime, inspirado no fascismo italiano e fortemente conservador, cria

já desde seu primeiro ano a União Nacional, um partido único

antiliberal que simbolizava o princípio nacionalista do governo. O

Estado Novo se caracterizou basicamente por seu caráter autoritário e

tradicionalista, sua forte vinculação com a Igreja Católica e sua

estrutura própria de governo que criou instrumentos de repressão e

censura.

A ditadura de Salazar se fundamentou no corporativismo, que

determina estruturas de governo baseados na normativa

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corporativista, subdividindo os nichos estatais segundo categorias

profissionais e sindicatos, limitando, entretanto, a capacidade de

autorregulação da sociedade bem como reduzindo muito a

participação dos setores privados em tais processos. A centralização

do governo no Presidente do Conselho de Ministros se demonstra na

união dos poderes executivo e legislativo nesta figura que é capaz de

sobrepor suas decisões a qualquer determinação da Assembléia

Nacional. As eleições foram mantidas por sufrágio universal até 1958 e

sempre elegeram presidentes (figura meramente necessária por

questões cerimoniais) que apoiavam Salazar e quando esta condição

foi ameaçada a eleição foi tornada indireta. Basicamente o governo

calcava sua aprovação popular na defesa da “moral e bons costumes”

vide sua intensa associação com o catolicismo que legitima seu caráter

repressor, sem classificar abertamente o governo como totalitário.

Uma policia política de amplos poderes e uma organização paramilitar

(a Legião Portuguesa) juntamente a grandes prisões políticas e campos

de concentração (como Tarrafal) eram pilares do regime.

O intenso controle do processo de modernização do país, com

vias a proteger os valores defendidos por Salazar fez com que com o

passar dos anos e especialmente após a Guerra, o país se tornasse

cada vez mais estagnado em relação aos outros países europeus. Isso,

juntamente com a intensa repressão – que não se restringia apenas às

questões políticas, mas que devido à “defesa da moral” acabava por

limitar manifestações culturais – e principalmente a Guerra do

Ultramar, deflagrada pela revolta das colônias africanas com o apoio

internacional, foram motivos fundamentais para a rápida queda do

prestígio do Governo. Com a saída de Salazar em 1968 e a entrada de

seu sucessor, o governo perde seu líder e encontra cada vez mais

resistência dos democratas portugueses (já que os partido de oposição

passam a ser permitidos) até que em 1974 oficiais das Forças Armadas

(uma das maiores prejudicadas com a guerra colonial) se rebelam

derrubam o governo de Marcello Caetano. O movimento que ficou

conhecido como Revolução dos Cravos se deu através da tomada de

pontos estratégicos por Lisboa pelos militares, grupo este composto

inclusive pelas forças que supostamente apoiavam o governo, desta

maneira o regime foi derrubado quase sem resistência e violência,

sendo uma revolução relativamente pacífica.

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Figura 1: Soldado recebendo um cravo, símbolo do país

A Revolução, mais do que dar fim a um período de quase 500

anos de colonialismo português, o governo imediatamente posterior a

tomada de poder instaura o pluripartidarismo e país passa a tomar um

rumo esquerdista. É iniciada a reforma agrária, indústrias e bancos são

estatizados e passa a existir um forte movimento migratório para a

América, milhares de portugueses vêm para o Brasil. A predominância

da produção rural enquanto motor econômico do país gerou uma

grande estagnação do modo de vida de uma substantiva parte da

população, que passou a emigrar para as cidades, totalmente

despreparadas para um intenso processo de expansão, e os problemas

urbanos passaram a ser fundamentais para se discutir a nova realidade

política do país.

Após alguns anos de um governo de triunvirato, é eleito Mário

Soares como novo presidente da República em 1986 e no mesmo ano

Portugal é admitido como membro da Comunidade Econômica

Européia, atual União Européia. Posteriormente os partidos mais

conservadores passar a ter maioria no Congresso e os processos de

estatização e a reforma agrária foram lentamente revertidos, desta

maneira os governos de esquerda têm seus planos de inclinação

comunista sufocados pelo parlamento que reafirma as posturas rígidas

do governo português, ainda marcado pelos anos de ditadura.

Em 1996 Jorge Sampaio vence as eleições para presidente da

república e suas propostas de preocupação social passam a ter forte

apelo com a população portuguesa visto que o país encontrava-se

marcado por amplo desemprego e ausência de programas de cunho

social. Portugal passa ainda por um período de altos índices de

pobreza, sobretudo em comparação aos outros países europeus.

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Houve uma intensa privatização dos serviços públicos e devido ao

Pacto de Estabilidade e Crescimento, imposto pela União Européia e

ocorreram corte abruptos em investimentos nos programas sociais ao

mesmo tempo em que se ampliaram as bases de arrecadação do

governo para evitar déficits públicos superiores a 3%. Quando o

primeiro ministro Durão Barroso abandona o cargo para assumir a

presidência da Comissão Européia em 2005 há uma crise financeira no

país, elites neoliberais e grandes empresas retiram seu apoio aos

partidos governistas e novas eleições são convocadas. Quando os

partidos de esquerda finalmente assumem a maioria na Assembléia

havendo a valorização dos governos participativos, dentro outros

aspectos definidos inicialmente pelo plano da União Européia

conhecido como Estratégia de Lisboa. Portugal hoje baseia seu plano

de desenvolvimento no Plano Nacional de Reformas que procura

valorizar as cidades do país enquanto lugar favorável para grandes

transações financeiras, a regulação das despesas públicas, o combate

às alterações climáticas e a valorização estratégica do território

português.

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A História de Lisboa

A fundação da cidade de Lisboa se dá em algum momento do

primeiro século antes de Cristo e é realizada pelo povo Celta, a

conquista pelos romanos acontece aproximadamentes em 140 a.C..

Quando a queda do Império se dá, Lisboa passa a ser invadida por

diversos povos até que se reduz a uma pequena vila no século VII e

assim fica suscetível às invasões muçulmanas, povo este que domina a

cidade o início do século XII, quando é reconquistada pelos cristãos,

sendo eleita como capital um século depois. A cidade se desenvolve

muito devido ao seu posicionamento estratégico que permite o

comércio entre o Mar Mediterrâneo e o Norte da Europa. Cada um dos

povos e reis que ocuparam a cidade construíram uma nova muralha,

havendo uma sobreposição de traçados urbanos que ainda hoje é

visível em algumas partes da cidade.

Figura 2: As muralhas de lisboa

Com as navegações Lisboa torna-se o principal pólo de

comércio da Europa e é sem dúvida a cidade mais rica do mundo no

período, diversos bairros de luxo são construídos, reformas urbanas

são efetuadas (quando surge o famoso e caro mosaico português de

pavimentação de calçadas) e a população passa a crescer. O início da

dominação econômica da Inglaterra sobre o comércio marítimo e a

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União Ibérica faz com a que a cidade entre em declínio e a população

se reduz em 25%, a criminalidade é extremamente alta e a Igreja

Católica passa a dominar boa parte da cidade, quando mais de 70

conventos se localizam nas diversas freguesias. Com a descoberta de

ouro no Brasil o dinheiro passa a se concentrar cada vez mais em uma

reduzida elite e o governo passa a construir obras faraônicas como o

Aqueduto das Águas Livres, mas o declínio da cidade se mostra

inevitável.

Em 1755 se deu o terremoto que destruiu praticamente toda a

cidade e matou 10.000 pessoas e que abriu espaço para as reformas

de caráter iluminista promovidas por Marquês de Pombal, que

modificam as estruturas políticas, tributárias, produtivas e sociais da

cidade além de reconstruí-la baseado nas novas teorias de

urbanização. O centro chamado de Zona da Baixa é reconstruído com

um novo desenho, o traçado medieval é substituído por ruas largas e

retilíneas, a vocação comercial da cidade foi valorizada na elaboração

do novo traçado e é criada uma nova estrutura construtiva para as

novas residências que passam a abrigar, em sua maioria,

estabelecimentos comerciais em seu térreo, famílias de padrão social

mais alto nos pavimentos mais baixos e mais pobres nos pavimentos

mais altos. Há uma standartização das fachadas e a reforma é

concluída em 1806 quando a cidade volta a apresentar crescimento.

Figura 3: A cidade após o terremoto e as intervenções do Marquês de Pombal

A perda do Brasil como colônia faz com que a cidade entre

novamente em decadência e em meados do século XIX são elaborados

os primeiros planos urbanísticos para a expansão e remodelação da

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cidade, assim medidas sanitaristas são tomadas para deter o grande

surto de cólera do período e grandes obras de saneamento são

realizadas. Dá se, então, a expansão da cidade em direção ao planalto,

plano hoje conhecido como Avenidas Novas, que se caracteriza a partir

da abertura de grandes eixos dotados de infra-estruturas inovadoras

para a época, segundo princípios da escola de “Ponts et Chaussées” de

Paris. Um exemplo deste plano é a Avenida da Liberdade que se

estende pelas áreas rurais, antevendo o crescimento da cidade e

ordenando todo o eixo central urbano que organiza a cidade. Neste

período o centro cultural e comercial da cidade passa a ser o Chiado e

novos bairros são construídos à semelhança da baixa pombalina,

Lisboa então afirma-se enquanto centro industrial do país embora sua

estrutura produtiva estivesse muito aquém das outras capitais

européias neste sentido.

Na Revolução de 1910 foi fundamental a participação dos

lisboetas que lutaram armados pela proclamação da Primeira

República, um período de cerca de 20 anos extremamente turbulentos

devido às diversas disputas políticas. Neste meio tempo é construída

grande parte dos edifícios de habitação que se localizam ao longo do

norte da cidade próximos às Avenidas Novas que são abertas em eixos

de expansão e, concomitantemente, verificou-se uma intensa

proliferação de bairros clandestinos devido ao grande número de

migrações para a cidade, que chegou a ter 594.000 habitantes.

Com o advento da ditadura, Lisboa se tornou pólo de

investimentos do governo, cresceu e foi valorizada às custas do

restante do país que estagnava-se cada vez mais. Isso se deu devido

aos moldes nacionalistas e monumentais que o governo defendia para

sua capital em detrimento de uma economia rural e precária para o

restante do país:

“reorganizou-se Lisboa como capital de um vasto império colonial,

construindo o aeroporto, ampliando o porto, implantando grandes

equipamentos públicos, como o novo campus universitário e o

estádio nacional, rasgando novas vias urbanas, plantando o grande

parque de Monsanto e expropriando para o domínio municipal

vastíssimas áreas de terreno que ainda hoje constituem as grandes

reservas de expansão da cidade” (SALGADO, 1999)

É lançada por Salazar uma vigorosa campanha de obras

públicas cujos projetos são encomendados aos arquitetos portugueses

mais renomados da época e então se assiste o florescimento de uma

arquitetura de vanguarda, inspirada no Movimento Moderno europeu

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que o regime permitiu que se desenvolvesse por um período. Em 1940

realiza-se a Exposição do Mundo Português e esta se torna uma

grande propaganda do regime Salazarista e ao mesmo tempo em que

reabilita uma vasta área da cidade e acaba por fazer com que o

exacerbado nacionalismo do partido reconhecesse na arquitetura

moderna do International Style, que era realizada pelos novos

arquitetos portugueses, como anti-nacional e portanto foi recusada

qualquer manifestação arquitetônica, em obras públicas ou

particulares, que não remetesse às tradicionais aldeias portuguesas ou

aos palácios do século XVIII, este estilo de arquitetura de fachada ficou

conhecido como “português suave”.

Na década de 40 se realizaram diversas obras de construção de

frente urbanas a fim de regular o crescimento da cidade e evitar a

popularização da arquitetura “não-nacional”, assim milhares de

lisboetas foram alojados nas periferias, em bairros como Encarnação e

Madre de Deus, em casas geminadas ornamentadas inspiradas na

arquitetura de Raul Lino. O urbanismo do Estado Novo é fortemente

calcado nos modelos clássicos com grandes eixos, monumentos e

praças tradicionais, assim como o modelo arquitetônico que se baseia

nos cânones, eruditos, mas a também vernaculares. Em 1948 realiza-se

o 1ºCongresso Nacional de Arquitetura e assim o movimento moderno

novamente toma força, a arquitetura passa a ser rediscutida e na

década de 60 as questões arquitetônicas tomam nova força devido ao

enfraquecimento do regime.

As grandes obras públicas realizadas por Salazar foram

fundamentais na conexão de diferentes regiões de Lisboa, bem como a

conexão de Lisboa com o restante das cidade ao seu redor, como foi o

caso da ponte sobre o rio Tejo.

O período do Estado Novo foi marcado por uma precária

industrialização e portanto um parco crescimento urbano, assim as

políticas de habitação social foram basicamente necessárias para

resolver problemas de salubridade da cidade já existente, havendo

menores iniciativas de construção efetiva de novos bairros. Houve um

grande esforço de realocar família desabrigadas ou em situação de

risco e foram lançados diversos planos para atingir estas pessoas,

todos eles pouco eficazes.

Com a Revolução dos Cravos há um período de grande

instabilidade política na década de 70 e o país só retomou seu

crescimento após a década de 80 com a entrada na, hoje chamada,

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União Européia. A partis da década de 80 Portugal passa a receber um

grande número de imigrantes e a situação urbana se complica

novamente. Lisboa sofre ainda outro golpe com o grande incêndio do

Chiado em 1988 que destrói uma parte histórica fundamental da

cidade e cuja reconstrução é feita por Álvaro Siza.

Assim podemos perceber que ao longo da história de Lisboa,

diversos planos urbanísticos marcaram importantes momentos de

alteração da estrutura da cidade, estes, por sua vez, foram ditados,

segundo Manoel Salgado (1999) por períodos mais ou menos longos

de lenta consolidação, crescimento orgânico e, por vezes, mesmo

estagnação. As intervenções urbanas em Lisboa foram, em grande

parte, despertadas por demandas bastante especificas e ditadas pelo

contexto de cada momento histórico. A exemplo disso estão as

intervenções ligadas a catástrofes naturais, como no caso de 1755;

como também, as demandas de modernização das classes em

ascensão a partir do crescimento econômico e, em alguns momentos,

questões de afirmação do poder político vigente.

Segundo Salgado, “na década de oitenta, Lisboa era uma

cidade degradada com uma rede de infra-estruturas e comunicações

inoperante, em processo de desindustrialização e implantação

anárquica do setor terciário”.

A dinâmica social emergente daquele momento levou Lisboa,

no fim da década de oitenta, a ser capaz de delinear uma estratégia de

desenvolvimento que levava em conta suas características que lhe dão

especificidade, como o fato de ser uma antiga capital colonial com

estreita ligação com o oceano Atlântico. Isso lhe garantiria um norte

para poder se localizar no contexto das demais cidades européias.

Junto ao desenvolvimento da base econômica se demonstrou

possível e imprescindível a recuperação dos atrasos verificados na

construção dos sistemas de transporte e de comunicações, na

modernização do sistema de telecomunicações, no saneamento de

graves situações poluentes, na localização de novos equipamentos

estruturantes e na previsão de áreas para atividades com novas

exigências de espaço. Paralelamente uma nova consciência exige a

recuperação do patrimônio histórico, arquitetônico e paisagístico da

cidade.

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A metropolização de Lisboa

Nas duas últimas décadas do século XX, as cidades européias

foram afetadas pela emergência de um novo ciclo urbano, associado à

globalização da economia e à afirmação da sociedade da informação e

do conhecimento. O modelo centro-periferia da cidade fordista,

responsável pelo fenômeno dos subúrbios é marcado por uma

“explosão” urbana, gerando uma periferia alargada, a partir de uma

rede rodoviária densa que confere grande mobilidade ao automóvel.

Esse processo é caracterizado por uma desconcentração da população

e pela dispersão de atividades menos qualificadas como da indústria e

de um terciário enfraquecido ligado aos serviços locais. Desse modo,

“os padrões de uso do solo daí resultantes, globalmente de

baixas densidades, são agora mais complexos, onde convivem

áreas habitacionais de diferentes tipologias, atividades

diversificadas, muitas qualificadas, que suscitam a emergência

de centralidades periféricas, gerando movimentos relacionais

cada vez mais multidirecionais”. (PEREIRA e SILVA, 2008)

A Área Metropolitana de Lisboa tem um papel hegemônico no

sistema urbano nacional. Ocupando cerca de 3% da superfície do

território nacional, já no ano de 2007 concentrava 3,1 milhões de

habitantes (26,2% da população do país), desigualmente repartidos

por 18 municípios que ocupam as margens, direita e esquerda do Tejo,

para além se sua importância econômica com uma concentração de

35% do PIB nacional.

A cidade como metrópole emerge nos anos 50 e a sua

consolidação prolonga-se até a década de 80. O crescimento urbano

associado à industrialização do pós-guerra ocorre segundo um modelo

monocêntrico e radial que é funcionalmente dependente de Lisboa.

No final dos anos 60, a ocupação suburbana tem duas marcas

distintas: por um viés, aglomerados articulados com os principais eixos

radiais de ligação ao centro da cidade e por outro, urbanizações e

terrenos remanescentes dispersos pelo território, frutos de produção

legal e ilegal.

Na década de setenta, acontecimentos diversos, como o início

da recessão industrial desencadeada pela crise energética, o

incremento da expansão urbana ilegal depois da “liberdade” pós 25 de

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Abril, o regresso de milhares de antigos residentes das ex-colônias,

introduzem dados novos na dinâmica territorial. Tais alterações não

interferem nas bases do modelo de crescimento metropolitano, mas

intensificam o processo de ocupação territorial, desse modo, as

grandes urbanizações legais persistem, mas as urbanizações ilegais

alargam e adensam o perímetro da metrópole, estimuladas pela

instabilidade política.

O poder local democrático, viabilizado através da Constituição

da República Portuguesa (CRP) em 1976, se responsabiliza por um

território onde os problemas se avolumam. A cidade legal, repleta de

núcleos suburbanos e de urbanizações isoladas no campo, apresenta

infra-estruturas insuficientes, equipamentos básicos escassos e um

espaço urbano pouco qualificado. “A cidade ‘clandestina’, alimentada

pelo mercado ilegal de solo, é majoritariamente construída em baixa

ou média densidade, com tipologias unifamiliares, e sem as infra-

estruturas mínimas intrínsecas ao estatuto de ‘urbano’” (PEREIRA e

SILVA, 2008). A periferia permanece muito dependente de Lisboa,

onde se concentram o emprego terciário, os equipamentos de

hierarquia superior, o comércio e os serviços mais especializados e

qualificados.

Os anos 80 marcam a transição para o ciclo urbano que se

afirmará na década seguinte, a integração de Portugal na União

Européia desencadeia a convergência de diversos fatores, como a exe-

cução da rede de infra-estruturas rodoviárias prevista no Plano Diretor

da Região de Lisboa (1964), o reforço do investimento estrangeiro

induzido pela abertura das fronteiras, o aumento do rendimento das

famílias e das facilidades de crédito. A passagem do modelo rodoviário

radial para um modelo radioconcêntrico mais estruturado altera as

condições de mobilidade, potencia alterações acentuadas no uso do

solo; multiplica e dispersa as frentes de urbanização.

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Segundo Pereira (2008), o crescimento da população na Área

Metropolitana de Lisboa, de 1980 para 2001, diminui 7,2%,

semelhante ao período anterior, porém as distinções internas se

ampliam claramente: enquanto a população de Lisboa se reduz em

30%, o crescimento da periferia norte é de 26,9% e o da periferia sul

22,2%.

Nos anos 90, a relação entre a população residente e o

número de habitações ajuda a explicar a explosão da mancha urbana,

o acréscimo das edificações vagas ultrapassou 47% na Área

Metropolitana e os 60% em Lisboa.

Apesar do baixo crescimento populacional, a sua reor-

ganização interna é relevante: Lisboa perde 15% dos seus residentes,

absorvidos pela periferia. O setor bancário privado sofre uma grande

expansão e é em parte responsável pelo desenvolvimento do

imobiliário (GEORGE, 2004).

Os movimentos de desconcentração e realocação de

atividades para a periferia deixam de ser exclusivos da indústria, sendo

registradas expansões das atividades terciárias, como a construção de

grandes centros comerciais, centros de escritórios e parques

tecnológicos. O poder político e o poder econômico permanecem em

Lisboa, mas o modelo monocêntrico vai-se diluindo. “A metrópole é

marcada pelo alastramento da mancha urbana, pela fragmentação

Figura 4: Diagrama da expansão viária de Lisboa

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(física, funcional e social), e começa a emergir uma estrutura

policêntrica mais equilibrada” (PEREIRA e SILVA, 2008).

Figura 5: Mapa: divisão espacial dos empregos por setores. 1991.

Apesar de Lisboa continuar a perder população e atividades, uma

tentativa de ‘recentralização’, associada à valorização de áreas na

cidade, ganha outra dimensão, e mesmo diferentes formas, através da

reabilitação de áreas antigas e do reaproveitamento de áreas

subutilizadas ou abandonadas por obsolescência física e funcional. O

congestionamento do tráfego e o imobilismo do mercado imobiliário

hiper-inflacionado são questões pesadas que inibem mudanças

estruturais.

Para apoiar a gestão municipal é criado, em 1982, o plano diretor

municipal (PDM), porém, por ser facultativo, tem de início uma fraca

adesão e, em alguns casos dá prosseguimento a planos ainda do

regime autoritário. Decisões sem muito crivo passam a desencadear

dispersões nas áreas urbanas, através, dentre outras coisas, da

aprovação de urbanizações particulares e ilegais. A integração de

Portugal na UE obriga à definição de um plano eficaz dos

investimentos. Este fato leva à revisão do enquadramento legal do

Plano Diretor Municipal e à sua obrigatoriedade. Em função disso todo

o território metropolitano é assolado por orientações de ordenamento

a partir da escala municipal.

Page 16: Lisboa

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Nos modelos territoriais então propostos identifica-se um

conjunto de tendências comuns, como a perspectiva de crescimento

em áreas de extensas dimensões; a falta de atenção à cidade

existente; a admissão de construções em espaço rural (áreas agrícolas,

florestais, agro-florestais), de vários usos (habitação, indústria,

equipamentos, turismo), referenciados a uma dimensão mínima da

parcela. E os planos posteriores a 1995 tendem ainda a integrar nos

perímetros urbanos as áreas urbanas de gênese ilegal.

O super dimensionamento das áreas de expansão é resultado

da incapacidade política de dominar a ação dos detentores da

propriedade particular. A escassez de objetivos e ações para intervir na

cidade consolidada conduz a uma progressiva degradação física e

conseqüente desqualificação, o que motiva a saída de muitos

residentes (ou a não fixação de outros). Outro grande conflito contido

nesta questão está conferido no fato de que “cada município pretende

concentrar no seu território as tendências da dinâmica metropolitana,

sendo pouco freqüente a adequação de soluções intermunicipais,

mesmo nos territórios de fronteira”. Desse modo a visão regionalista

tenta abarcar as questões da metrópole, porém, sem se utilizar de

uma visão geral unificadora do plano. Assim, “o investimento público

central na rede rodoviária de grande capacidade, sem preocupações

sobre os impactes territoriais induzidos, estimula o afastamento e

pulverização das frentes de urbanização”. (PEREIRA e SILVA, 2008).

A alteração introduzida através da lei das áreas

metropolitanas, em 2003, persistiu num modelo baseado na

associação dos municípios (agora voluntária), mas nem o reforço de

competências trouxe alterações ao modo funcionamento, persistindo

a ausência de posições sobre o território metropolitano

Nos anos 80, ocorre a elaboração do plano regional de ordena-

mento do território da área metropolitana (PROT-AML), que sofre o

amplo atraso de mais de uma década para se estabelecer. Só em 2002

a área metropolitana tem aprovado um plano, de natureza estratégica,

para seu território. A proposta, em função das múltiplas variações no

território, marcado por um urbanismo expansivo e desorganizado

pleno de problemas ambientais graves, com forte pressão sobre

ecossistemas frágeis (orla costeira, estuários, rede hidrográfica), adota

a sustentabilidade como o conceito base para estabelecer seu plano.

Page 17: Lisboa

17

Figura 6: Esquema do modelo territorial para a AML (PROT-AML)

Page 18: Lisboa

18

As prioridades do novo plano se orientam para o

estabelecimento de uma sustentabilidade ambiental, onde se destaca

a valorização e a revitalização do meio rural como elemento do

equilíbrio metropolitano; a reordenação metropolitana, através da

contenção de expansão urbana e de um modelo de estrutura

metropolitana; a organização do sistema metropolitano de transportes

e da logística. Essas estratégias visam como objetivos específicos a

recentralização da área metropolitana no Estuário do Tejo,

salvaguardando os valores naturais e as áreas protegidas; o

desenvolvimento da “Grande Lisboa”, cidade das duas margens,

ancorada na cidade de Lisboa; “policentrar” a região; valorizar a

diversidade territorial, corrigindo desequilíbrios existentes.

Contrariamente daquilo que vinha sendo praticado, a estrutura

do modelo territorial se estrutura no pensamento de cidade compacta,

na recentralização no núcleo central (agora alargado à margem

esquerda do Tejo, com a integração de Almada, Seixal e Barreiro),

contenção das áreas urbanas periféricas, restrições à dispersão e

valorização e salvaguarda dos corredores ecológicos e das áreas

agrícolas, florestais e naturais. São identificadas áreas homogêneas,

para as quais são dadas orientações sempre no sentido da

“contenção”, “requalificação”, “revalorização”, estando ausente o

termo “expansão”. A grande dificuldade de implantação do plano

regional de ordenamento é sua falta de convergência com os planos

diretores municipais, desse modo o município não consegue aplicar

políticas urbanas importantes para o contexto metropolitano, e

continua a esbarrar em questões como a incapacidade de coibir a

expansão territorial fruto do mercado imobiliário.

Page 19: Lisboa

19

Planos Urbanos de Lisboa

Lisboa foi objeto de diversos planos de urbanização, todos com

o objetivo de controlar o desenvolvimento da cidade. O primeiro deles

se deu em 1948 com o Plano Geral de Urbanização e Expansão de

Lisboa, elaborado por Etienne de Groer, cujo principal objetivo era

tornar a cidade uma capital dotada de monumentalidade de acordo

com as determinações de Salazar de re-caracterizar Lisboa como

exemplo dos valores nacionalistas. Este plano foi entregua ao governo

em 1948 e definiu principalmente pelos seguintes objetivos:

Criar, a partir do eixo determinado pela Avenida Augusto de

Aguiar, uma rede viária radiocêntrica que se prolonga até a

estrada Lisboa-Porto;

Criar uma zona industrial associada ao porto na zona oriental

da cidade;

Distribuir densidades populacionais decrescentes do centro

para a periferia;

Construir um aeroporto internacional no norte da cidade;

Construir uma ponte sobre o rio Tejo ligado à rede

radiocêntrica;

Criar o Parque Monsanto com 900 hectares associado a um

cinturão verde que se estende desde a cidade de Loures

(vizinha à Lisboa) até o Tejo;

Percebe-se que este plano teve por seu instrumento principal o

zoneamento e ele se inspira claramente nas elaborações da cidade

jardim de Howard, além disso é neste plano que se estabelece a

padronização construtiva baseado no “português suave” e a

urbanização de bairros ao norte da cidade para tentar reduzir o déficit

habitacional que existia naquele momento.

Page 20: Lisboa

20

Figura 7: Plano de 1948

Em seguida foi criado o Gabinete de Estudos de Urbanização

(GEU) de 1959 cuja função principal era a revisão e atualização do

Plano de 1948, assim alterações importante foram introduzidas, como

por exemplo, a construção da Ponte sobre o Tejo de Alcântara a

Almada (cidades da Zona Metropolitana de Lisboa), a criação de uma

autoestrada que contornaria o parque Monsanto e duas estradas de

grande porte para Norte e outra para sul como continuação da ponte.

Em 1967 foi criado o Plano Geral de Urbanização de Lisboa,

publicado em 1977, cuja necessidade surgiu a partir de uma nova

realidade urbana que se mostrava com o enfraquecimento do regime e

uma política mais liberal. Isto permitiu uma nova situação

caracterizada pelo aumento do fluxo de automóveis, o início da rede

de metrô, a maior conexão entre a cidade e o restante da Zona

Metropolitana com a ponte sobre o Tejo, o processo de terciarização

do centro, além do crescimento periférico. Assim o arquiteto e

urbanista Meyer-Heine elaborou a revisão do Plano de 1959, cujas

resoluções foram as seguintes:

Estabelecer um eixo-distribuidor, compreendendo a

ponte a estrada de sua extensão, como elemento

fundamental da circulação da cidade, passando inclusive

pelo aeroporto;

Prolongar a Avenida da Liberdade como eixo

monumental da cidade, mas conferir-lhe funções de

autoestrada para descongestionar a Baixa e criar um

novo pólo de atração longe do centro da cidade;

Dividir a cidade em “unidades base de planejamento”,

designadas como Unidades de Ordenamento do

Território.

Page 21: Lisboa

21

Figura 8: Plano de 1977

Com o fim do regime ditatorial e a intensa e rápida

industrialização e financeirização das cidades portuguesas, Lisboa

passa a apresentar uma transformação social, política, econômica e

urbana que criou uma necessidade urgente de readequação das

políticas públicas de planejamento da cidade à nova realidade do país,

agora membro ativo da União Européia. Os métodos urbanísticos

desenvolvidos ao longo da década de 70 não mais se adequavam às

realidade urbanas e em 1990 a Câmara Municipal de Lisboa aprovou as

bases para a elaboração do Plano Estratégico e do Plano Diretor

Municipal. Assim foi aprovado em 1992 o Plano que determinava a

longo prazo – 10 anos – os princípios orientadores da atuação

municipal no desenvolvimento e ordenamento de Lisboa sendo que

uma das principais diretrizes seria a partilha da responsabilidade sobre

a cidade entre o governo e os setores privados.

O Plano Estratégico de Lisboa (PEL) seria um sistema de

planejamento através dos diversos instrumentos urbanísticos

articulados a Plano Diretor Municipal (PDM), que define o suporte

técnico e normativo para a intervenção na cidade. Assim se

determinaram objetivos gerais a partir das deficiências e

potencialidades de Lisboa:

Criar atrativos para o turismo, para a vivência e o para

trabalho na cidade;

Page 22: Lisboa

22

Tornar Lisboa uma cidade competitiva e capaz de se

inserir nos sistemas das cidades européias;

Reafirmar a posição de Lisboa como capital metrópole;

Modernizar a administração e torná-la participativa.

Figura 9: Plano Estratégico de Lisboa

Page 23: Lisboa

23

Estas propostas se colocavam com a finalidade de sanar as

graves carências da cidade, sobretudo nas áreas de habitação e

infraestrutura, através principalmente da reurbanização dos chamados

“bairros de lata”, as favelas que abrigavam cerca de 150 mil

portugueses distribuídos pelas principais cidades do país, em especial

Porto e Lisboa. Estes bairros foram remodelados em alguns casos com

os recursos na União Européia, mas em muitos outros através de

operações urbanas, onde o capital privado se associa ao Estado para

realizar grandes revitalizações, se beneficiando através da valorização

imobiliária dos locais. Este foi o caso da Alta de Lisboa, onde serão

realocadas não só as famílias que viviam nas favelas, mas também

prevê-se um grande número de residências de classe média.

Estes bairros eram ocupados majoritariamente por pessoas

vindas do campo e em muitos casos por imigrantes, principalmente do

Norte da África da região do Magreb, de onde vieram

aproximadamente 600.000 ex-colonos. O intenso ritmo de

reconstrução do país pós-Salazar fez com que o mercado de trabalho,

sobretudo para mão-de-obra pouco qualificada, tornasse-se

efervescente, proporcionando uma elevada oferta de empregos, o que

agrava inda mais o déficit habitacional, visto que esta população

passou a se instalar precariamente em quaisquer espaços vazios da

cidade. A revitalização destes locais, iniciada com o PEL, hoje se

encontra em etapa avançada (ao menos em Lisboa) de

desenvolvimento e os bairros de lata remanescentes, os que ainda não

foram demolidos e cujas populações foram realocadas, se encontram

principalmente na outras cidades da Região Metropolitana.

Figura 10: Azinhaga dos Besouros, um dos bairros de lata da Região Metropolitana de Lisboa

Page 24: Lisboa

24

A questão dos bairros de lata expressa outra preocupação

fundamental nos Planos urbanos contemporâneos: a questão

ambiental, fundamental no que diz respeito ao reconhecimento da

cidade enquanto “global”, visto que a supervalorização das questões

ecológicas tornou as iniciativas de revitalização urbana

intrinsecamente conectadas à preocupação com a recuperação e

preservação de corpos d’água e matas remanescentes.

Figura 11: Projeto da revitalização da Alta de Lisboa, antigo bairro de lata

Para a concretização dos objetivos propostos pelo PEL foi criado

um modelo urbanístico que dividiu a cidade em quatro unidades

territoriais, relativamente homogêneas no que diz respeito à suas

características sócio-econômicas, espaciais, suas problemáticas e

potencialidades. A primeira delas é a Área Central de Lisboa, a segunda

é a Charneira Urbana que são as áreas que circundam o centro, a

terceira é a Coroa de Transição que é a periferia que articula Lisboa

com a área metropolitana e a última delas é o Arco Ribeirinho que

compreende a ligação entre a cidade e o rio. Através desta setorização

pretende-se que seja possível realizar intervenções pontuais em cada

uma das áreas, de maneira a se estabelecer modificações urbanas

como um todo, trabalhando-se os diversos níveis e escalas de

intervenção.

Foram criadas também duas estruturas fundamentais: o

Conselho do Plano, constituído por representantes de instituições,

agentes e operadores para revisão e aprofundamento do Plano, e a

Agência de Desenvolvimento para a Modernização da Base Econômica

de Lisboa. A idéia seria que o PEL apresentasse um horizonte de

realização para o ano de 2000 e diversas melhorias foram realizadas

neste período nas áreas de infra-estrutura, saneamento, rede viária,

Page 25: Lisboa

25

coleta de resíduos, foram ampliadas as redes de áreas verdes e

construídos diversos equipamentos públicos de lazer. Foi fundamental

também a requalificação da Zona Ribeirinha realizada pela

Administração do Porto de Lisboa e da Zona Oriental da cidade através

da realização da Exposição Mundial de 1998.

O Plano Diretor Municipal tem um caráter misto de Plano de

Estruturas e Plano de Zoneamento, elaborado a partir de definições

jurídicas que regulam as intervenções em diversas escalas distintas.

Foram elaboradas Cartas de Patrimônio e do Ambiente e o PDM foi

constantemente revisto na medida em que persistiram diversas

dicotomias como entre o centro e a periferia, a necessidade de

revitalização do centro, déficits de equipamentos coletivos e

habitacionais em determinadas áreas da cidade, dificuldades de

integração entre os diversos meios de transporte, entre outros.

Basicamente o PDM se pauta, ou pretende se pautar, por uma

nova compreensão do papel das grandes cidades, que passam por um

processo de complexização dos processos urbanos devido a diversos

fatores como, por exemplo, a crise do fordismo, do planejamento

centralizador e generalista, das idéias liberais dos anos 80, da

desagregação dos centros históricos e do surgimento de novas formas

de exclusão. O caráter inovador deste plano se expressa justamente na

medida em que valoriza “uma visão eclética e sistêmica da cidade,

capaz de compatibilizar lógicas distintas de “fazer” e “viver” a cidade”

(Ferrão, 1994: p.12). Este PDM em especial estabelece para si os

objetivos de conciliar a gestão eficaz do bem público que é a cidade,

criar condições favoráveis à competitividade econômica, buscar

equidade sócio-espacial e estimular a participação democrática.

Analisaram-se assim os agentes que intervêm na cidade e os domínios

desta intervenção, suas expectativas, estratégias e impacto urbano, e

embora esta análise não diferencie por si só este plano de qualquer

outro de outra cidade, houve uma preocupação em ajustar tais

princípios às especificidades locais. Assim são realizadas duas análises,

de escalas distintas que resultaram, na divisão da cidade nas quatro

áreas já citadas, ao mesmo tempo em que determinam 29 unidades

operativas de gestão e planejamento dispersas. Isso é reflexo das

políticas marqueteiras de valorização da cidade global em consonância

ao pensamento local, numa tentativa de se inserir Lisboa no “mundo

globalizado” ao mesmo tempo em que preserva a cidade enquanto

única sócio-culturalmente.

Page 26: Lisboa

26

Ao contrário do zoneamento do Plano de 1948 este PDM

pretende a articulação de atividades distintas colocando a

sociabilidade como fundamental na construção da urbanidade e para

isso utiliza-se de uma Planta de Componentes Ambientais que

delimitam a cidade em unidades de significado urbano distintos, não

prezando apenas por sua funcionalidade, mas também pelos valores

agregados que um espaço pode representar. Outro trunfo deste Plano

Diretor seria sua tentativa de prever os conflitos gerados pela sua

aplicação incluindo a resolução destes enquanto seu próprio objetivo,

além de estimular uma intervenção mais cívica de agentes urbanos de

grande força, como grandes corporações, através, por exemplo das

operações urbanas de revitalização de favelas (obviamente este tipo

de questão não se soluciona de maneira tão simplista, mas o discurso

do plano se justificava pela crença no sucesso de tais iniciativas). Além

disso, pretende-se também melhor compreender a relação da cidade

com sua Região Metropolitana e pensar um planejamento de alcance

maior.

Page 27: Lisboa

27

Reconstrução dos Armazéns do Chiado

Figura 12: Localização do Chiado, Lisboa.

A região do Chiado fica em uma região de transição entre a

“Baixa Pombalina” e a “Colina do Bairro Alto”, uma das zonas mais

importantes da antiga Lisboa, no que diz respeito ao espaço cívico e ao

comercial.

Em agosto de 1988, um incêndio iniciado nos armazéns do

Chiado, propagou-se por alguns quarteirões da região e destruiu

parcialmente dezessete edifícios situados na área de interação das

ruas do Carmo, Nova do Almada e Almeida Garrett. Essas edificações

eram da Era Pombalina e datavam do final do século XVIII, quando o

marquês de Pombal reurbanizou várias regiões de Lisboa que haviam

sido devastados pelo terremoto de 1755.

Figura 13: Vista da Rua do Carmo em meados do século XX.

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28

Excetuando-se os edifícios Chiado e Grandella, todas as

construções são do tipo Pombalino. A arquitetura austera, assinalada

pela ausência de ornamentos, é a marca dos numerosos desenhos

originais da fachada. “Os desenhos acompanhavam o decreto,

continham algumas outras indicações: o traçado, as fachadas tipo,

para ruas principais e secundárias, curiosamente indicadas por

configurações; plantas tipo das ruas, criando uma faixa de circulação

para carros e dois passeios para pedestres, separado por guardas; e

finalmente o corte para a rua, definindo a tipologia do quarteirão, a

sua ocupação em altura, o número de pisos e profundidade, a relação

à própria rua. De notar que o pequeno pátio interno é usado apenas

para iluminação e drenagens de água, de modo a tornar a ocupação

do quarteirão o mais rentável possível. O modelo normativo acaba

obviamente por delimitar diretamente a densidade e outros índices

quantitativos, num processo aonde a representação parece os

indicadores abstratos.”3 Acerca dos dois edifícios que não faziam

parte do Plano Pombalino, não existem documentações referentes a

plantas tipo, em que presume-se que as únicas condições propostas

limitavam-se à dimensão do lote e à modelação dos vãos.

O edifício Chiado, também conhecido por Palácio Barcelinhos,

apesar de inúmeras transformações sofridas, da variação da utilização

e dos desastres aos quais esteve exposto, mantém basicamente a

estrutura material e espacial correspondente a um projeto tardo-

barroco nunca completado. A agitada e complexa história do que foi o

Convento do Espírito Santo da Pedreira, desde a fundação medieval

até as instalações dos Armazéns do Chiado, passando pela destruição

do terremoto e pela construção parcial do projeto de José Joaquim

Ludovici, traduz a especificidade e persistência da sua condição de

majestoso monumento, construído pela geografia e pela história.

O edifício Grandella data de 1906, e foi construído segundo o

projeto de Georges Demay, mesmo arquiteto que projetou os

Armazéns Printemps de Paris. Esse edifício traz algo curioso e raro em

Lisboa, a introdução simultânea de uma nova tipologia e de uma nova

técnica de estruturas em ferro ao estilo “art noveau”, fachadas em

pedra com decoração figurativa e enormes espaços sem desenho

algum, certamente contaminados pela austeridade dos edifícios de

estilo Pombalino e condições locais das construções ao redor. Assim

como os Armazéns do Chiado, é uma importante plataforma de ligação

entre a Baixa e a rua do Carmo.

Page 29: Lisboa

29

Figura 14: Incêndio no Chiado em 1988.

O Chiado, antes mesmo do incêndio, já caminhava para um

estado de decadência e obsolescência. A crise dos Grandes Armazéns,

à inauguração do centro comercial Amoreiras, a dificuldade de

reconversão e atualização de alguns estabelecimentos comerciais e o

quase desaparecimento do uso como habitação, juntamente com a

concorrência de grandes centros comerciais de outras áreas da cidade,

conduziram a um estado de progressivo empobrecimento da região,

que de certa forma também se estendeu a toda a Baixa. Entretanto,

apesar dessas condições de abandono e das dificuldades de trânsito, o

Chiado não perdeu seu fascínio poder evocativo. Antes do incêndio, o

edifício exibia uma construção bastante elegante, mas como função

comercial exigia um interior bastante compartimentado. O edifício

partilhava de um pátio com o edifício Armazém Grandella, onde se deu

inicio ao incêndio. Essa região comum permitiu a passagem do fogo

através dos vãos comuns aos dois edifícios, permitiu que o fogo se

alastrasse e tomasse grandes proporções e destruísse por completo

todo o interior do armazém.

Entretanto, a catástrofe trouxe um novo e importante passo no

que diz respeito a um novo ciclo da Baixa do Chiado. A reação ao

incêndio situou-se entre a nostalgia e a manifestação de um desejo de

mudança radical e trouxe a tona a polêmica entre ruptura e reposição.

Do incêndio que atingiu fortemente a integridade dos edifícios,

subsistiu apenas as fachadas e a estrutura. Os trabalhos de

organização do local foram iniciados de imediato, sendo que em

alguns casos foi impossível não demolir algumas fachadas devido ao

alto grau de degradação das mesmas.

Page 30: Lisboa

30

Poucos dias depois do incêndio, Álvaro Siza Vieira foi convidado

a dirigir a intervenção no Chiado. Essa escolha certamente evitou uma

possível luta entre modernos e pós-modernos. A intervenção de Siza

não deixou de evocar os valores tradicionais que marcaram sempre as

características principais do Chiado, reconstruindo, essa forma, o

passado como algo privilegiado sem deixar de lado as necessidades de

um edifício contemporâneo. Para ele o projeto não tinha o objetivo de

levantar a polêmica sobre arquitetura de recuperação ou uma nova

arquitetura, defendendo que o sucesso surgiria com o

restabelecimento das relações entre o interior e o exterior do edifício,

com a solução dos problemas que apontam numa edificação que se

assenta em um terreno de topografia peculiar e na resolução

adequada à degradação que o interior desses quarteirões apresentava.

“Dificilmente se pode enquadrar a sua obra nos diferentes ismos que o

Movimento moderno da arquitetura tem engendrado. O seu trajeto é

de tal modo singular que não se encaixa nas classificações habituais.

Podem-se tratar as suas referências, estudar a sua metodologia, ou

imitar o formalismo dos seus desenhos, mas não se conseguirá, apesar

disso, refazer o sentido profundo da sua criação.” 4

Figura 15: Vista da reconstrução do edifício na fachada principal.

Na obra de intervenção nos Armazéns do Chiado, a cargo do

arquiteto Álvaro Siza, a análise do edifício não se restringe unicamente

Page 31: Lisboa

31

ao edifício, mas o estudo da obra divide-se entre exterior, ao nível da

fachada e interior que teve que ser adequado para receber todas as

infra-estruturas necessárias para receber o programa proposto. “Não

se trata do jogo do gato e do rato, nem da procura a qualquer preço da

originalidade espetacular. Trata-se, sim, de ajustar todo um aparelho

mental solidamente estruturado, mas nem por isso menos flexível, às

condicionantes que cada encomenda, lugar, programa ou forma

contêm. Não há, portanto, pressupostos ou receitas em estoque,

prontos a serem utilizados conforme as situações. Cada caso é sempre

um caso único. Apreendido desde o início por um esboço rápido,

detonador das principais linhas de força que serão posteriormente

sujeitas a um rigoroso controle.”5 Como o objetivo da intervenção era

fazer com que a parte afetada fosse como uma parte do todo, manter

o equilíbrio do centro histórico era fundamental. A opção pela ruptura

do espaço não fazia o menor sentido e não tinha fundamento para se

opor à opção escolhida. A seleção errada da forma poderia ter como

conseqüência a destruição do espaço todo, não só do Chiado em si,

mas talvez até toda a Baixa, poderia originar uma certa fragmentação

na região. Entretanto, Siza teve a sensibilidade de usar a linguagem

que marca as características principais do Chiado em detrimento da

sua linguagem particular.“O trabalho do arquiteto torna-se, portanto,

um trabalho de detetive, que procura restabelecer correspondências

antigas e vitais, traumaticamente cortadas e mal perceptíveis.” 6

A primeira proposta que Álvaro Siza sugeriu consistia em adaptar

o espaço do edifício a um hotel, já que, segundo o arquiteto, era a

função que melhor se adequava à planta pré-existente. Para ele, as

grandes dimensões e o caráter extraordinário que a edificação possuía

tornava do Chiado um edifício único e deveria satisfazer a apenas uma

única função que se adequasse às necessidades da região. No entanto,

houve um certo receio de que o edifício tivesse como único e exclusivo

uso um hotel, principalmente pelas dificuldades de acesso,

insegurança, e trânsito da área, que não teria capacidade de abarcar

tal programa. Visto que o início da reconstrução do Chiado era

urgente, após alguns estudos e negociações, a melhor opção foi de

mudar um pouco o programa da edificação. O hotel manteve-se,

entretanto, ocupou apenas os três últimos pisos em benefício da

criação de uma área comercial.

Sendo descartada a idéia de programa inicial, era primordial que

fosse estudada uma estratégia programática para garantir a vivacidade

e trazer de volta a região da Baixa do Chiado um uso intenso. Decidiu-

se então, que o Chiado manteria as atividades previamente existentes

Page 32: Lisboa

32

relacionadas a comércio e que as mesmas substituíssem as antigas

funções de habitação, que foram outrora abandonadas.

Uma preocupação intensa de Siza era resolver os problemas de

circulação, porque havia uma transição acentuada em vários pontos do

projeto. Para tanto, cria percursos, patamares, escadas e rampas para

solucionar a questão, o que acaba por contribuir para o aumento a

comunicação das pessoas que estão do lado de fora com o interior do

prédio. “Recordo que, passeando pela cidade e observando a sua

paisagem e topografia, me parecia necessário um percurso que ligasse

a plataforma Chiado à Igreja do Carmo.” 7 Mais tarde entretanto,

depois de muita pesquisa a documentos antigos da cidade descobriu-

se que essa preocupação com o percurso já existia antes do terremoto

de 1755. “Numa planta da cidade, com os edifícios em perspectiva, na

realidade está representada a Igreja do Carmo, com uma escadaria

que chega ao Chiado.” 8 Esse problema do traçado não foi apenas mais

um problema de traçado, mas um grande impulso para a realização do

projeto todo. O Chiado não poderia ser um prédio isolado do entorno,

mas deveria ser um ponto de ligação entre a Baixa e o Bairro Alto, dois

bairros essenciais para a cidade de Lisboa.

Figura 16: Região do chiado.

Page 33: Lisboa

33

O primeiro passo para iniciar a intervenção nos destroços do

incêndio foi a estabilização provisória das fachadas que restaram e a

destruição de todo o interior que restava. Mais tarde, as fachadas

foram reedificadas segundo o traçado tradicional pombalino, sempre

sujeitas a debate sobre a sua verdadeira autenticidade. Por de trás das

fachadas foram feitas paredes de betão, criando uma estrutura

bastante flexível para depois permitir uma maior liberdade aos

arquitetos (um dos elementos construtivos do século XVIII que o

projeto recupera, a “gaiola”, que tratava de uma estrutura flexível de

madeira em que eram encostadas paredes de pedra, livre de

fundações e muitas vezes mal construídas. Ela era importante porque

no caso de um terremoto, os usuários permaneceriam na gaiola

enquanto as paredes ruíam para fora sem danificar os outros edifícios,

sendo que a largura das ruas era calculada para que tal façanha fosse

possível). O projeto lançou mão da idéia de “gaiola” novamente, agora

substituída por uma estrutura de betão que permite criar grandes vãos

de forma a fazer com que as cargas caminhem para essas paredes, e

agora a fachada adquire apenas um uso decorativo, como se fosse

uma pele solta do edifício, livre de qualquer função estrutural.

Essa obra abre espaço para a discussão sobre “fachadismo”, ou

seja, a fachada se torna um mero objeto decorativo, sempre no

propósito de conservar os sinais urbanos mais notáveis, com uma

separação nítida entre interior e fachada. Ela surge como algo

reciclado em um edifício praticamente novo, sendo usado como

adorno e referência no exterior e limitante para o interior. A presença

de uma torre na área central do edifício é um aspecto marcante para a

edificação. Esta incorpora grandes clarabóias que perpassa todo o

interior, trazendo aos espaços coletivos uma agradável iluminação

natural. As fachadas exteriores são de alvenaria de pedra, procurando

reconstituir os valores da Baixa Pombalina, trazendo uma preocupação

em recuperar as formas e proporções originais. Já no interior, as

fachadas das lojas e serviços são resolvidas com mais simplicidade,

mesclando iluminação e marcas características do edifício original, mas

sempre observando em manter a aparência maciça da construção.

Sobretudo na recuperação de edifícios antigos, o tema e a

prática da recuperação de fachadas é bastante recorrente. Não apenas

recentemente, mas durante toda a história da arquitetura, incontáveis

edifícios funcionaram como uma espécie de contenedores de

programas, mantendo apenas sua “casca” e internamente se

Page 34: Lisboa

34

adaptando às novas exigências de uso e segurança. Essa casca se

mantém por que a fachada corresponde à leitura mais direta que se

faz do edifício, quase sempre associada a uma idéia que se quer

passar, uma identidade do edifício ou uma relação com a pré-

existência local. É interessante notar que ao longo de toda a história,

opções de conservar a fachada de maneira que pouco se alterasse da

sua imagem permite que sejam feitas apenas pequenas intervenções

de restauro que mantém as memórias históricas dos edifícios e das

áreas em que estão inseridos. As fachadas de uma cidade, sem dúvida,

desempenham um papel muito importante nas cidades, na sua

imagem, e sobretudo no meio urbano no qual está inserida. Elas

acabam trabalhando como ambiente cenográfico que caracterizam as

cidades e muitas vezes, lhes transmitem uma identidade excepcional,

como no caso do Chiado.

Ao evocar as imagens originais do local, Siza teve de atuar sobre

elementos que associavam o Chiado com uma forte memória coletiva.

Para tal, contrariou a substituição e destruição da imagem urbana

definida pelo tempo, e procurou adaptar o prédio às necessidades

presentes, cuidando sempre para que o interior contemporâneo e

exterior histórico não fosse um confronto problemático.

A planta dos edifícios não se alterou completamente, mas segue

uma disposição histórica de acordo com as imposições do Marquês de

Pombal. Ela mantém os pátios adjacentes à torre central e aos acessos

verticais ligados por escadas rolantes duplas que se cruzam entre si.

Esses acessos permitem a entrada para o centro comercial e também

asseguram uma passagem mais adequada entre as várias cotas da rua

para as pessoas que circulam nessa área da cidade. A torre central

funciona como ambiente de distribuição de fluxos e situa-se em um

espaço privilegiado do prédio, local em que se pode usufruir

visualmente toda a Baixa. Na base da torre encontra-se a entrada mais

importante do edifício, que corresponde à antiga entrada dos

armazéns, que fica à rua Garrett, e se destaca do restante da fachada

por manter as mesmas características de linguagem que tinha naquele

tempo. Essa torre central funciona como um marco da cidade, e por

isso mantém suas características plásticas e sua geometria peculiar,

distinguindo-se de todo o resto do conjunto do edifício, formando um

grande espaço panorâmico. Existem outras entradas secundárias para

o edifício além desse acesso da torre, os quais permitem uma

permeabilidade total no Chiado, uma das primazias do projeto.

Nomeadamente as entradas são as que se destinam ao hotel, ao

metropolitano e às lojas de comércio. Essas várias entradas marcam as

Page 35: Lisboa

35

diferentes combinações de usos, diferentes comércios, hotel,

restaurantes e grandes terraços que dão vista para a cidade e o rio.

Na parte superior do edifício, localiza-se o Hotel do Chiado,

possui um bar e um restaurante que desfrutam de um amplo terraço

sobre a Baixa. Esse terraço-jardim funciona como uma faixa de

transição entre as áreas privativas do hotel com as áreas públicas do

bar e do restaurante. As partes comerciais nos outros pisos são

distribuídas de acordo com suas dimensões, as grandes lojas

encontram-se nos extremos dos edifícios, enquanto as lojas de menor

dimensão rodeiam os pátios e suas passagens.

Outro edifício que também participou do plano de reconstrução

do Chiado é o Edifício Castro & Mello, com uma escala reduzida em

relação aos outros edifícios, entretanto, não menos importante. Ele

surge no projeto do arquiteto Álvaro Siza como um resumo de toda a

estratégia de recuperação e reconstrução da região assolada pelo

incêndio. O edifício trata-se diretamente de um resumo de todo o

plano pela maneira que aborda todos os conteúdos programáticos

estabelecidos na revitalização da zona, abrigando programas como

comércio, escritórios e residências, destacando como a forma como ali

impõe a delimitação entre os espaços públicos e privados.

Page 36: Lisboa

36

Contexto da década de 80: fatores globais que levaram à

EXPO 98

O século XX pode ser destacado urbanisticamente como um

momento histórico em que a relação entre Cultura, Cidade e

Arquitetura foi fator imprescindível nas transformações político-

sociais. Um fenômeno cada vez mais generalizado, principalmente a

partir da década de 80, foi a utilização de espaços urbanos e

arquitetônicos para a realização de manifestações culturais através da

iniciativa do poder público, numa tentativa de aliar o exercício político

e o espaço físico num contexto de globalização cultural e de ênfase dos

contextos locais. Podemos inscrever nosso recorte nesse campo de

realização de grandes eventos de alcance mundial como Exposições

Universais, Festivais, eventos esportivos como as Olimpíadas, Bienais

de Arte, entre outros, algo que se tornou, contemporaneamente,

imediatamente associável às estratégias de planejamento urbano das

grandes cidades.

A cultura como fator fundamental e que engendra discussões

no campo crítico entre a produção das cidades e a arquitetura estará

por sua vez subjugada às praticas públicas e privadas de intervenção.

Nas últimas décadas o fenômeno cultural estabeleceu uma nova

relação social, mas também não se pode negar que se concretizou

claramente como motor econômico. De acordo com Nuno Grande

(2003), financiamentos privados de empresas, fundações e bancos

procurando se beneficiar da projeção midiática e de benefícios fiscais

concedidos pelo Estado passam, então, a criar galerias e espaços

dedicados à arte e à produção cultural.

A partir da década de 80, no cenário de crise de

superprodução e desemprego, de desconcentração industrial em

muitas cidades européias e também norte-americanas, e de alta

competitividade, a possibilidade de alavancar parcerias milionárias

com o setor privado para a construção de pólos urbanos capazes de

atrair grandes empresas e negócios globais mostrou-se uma via de

salvação para prefeitos submersos em graves crises de

governabilidade. Portugal, nesta década, já democratizado passa por

momentos de maior internacionalização cultural, como aconteceu na

XVII exposição Européia de Arte, Ciência e Cultura, em 1983 e a

Europália de 1991, que foram, ao mesmo tempo, eventos que

permitiram a redescoberta de espaços simbólicos da cidade e da

arquitetura portuguesas. Na década de 90 se desvela a vocação do

Page 37: Lisboa

37

poder público em conformar a cultura, a cidade e a arquitetura como

formas de expressão claramente globalizadas.

Segundo Otília Arantes (2000), grandes investimentos culturais

tornaram-se uma ótima oportunidade de se construir as infra-

estruturas necessárias para transformar cidades quase falidas em

pólos de atração do grande capital global. Assim ocorre também com

os grandes eventos internacionais, como jogos olímpicos e exposições

universais. Centros de convenções, modernos aeroportos, rede

hoteleira de primeira linha, atrações turísticas e culturais, segurança,

são justamente os atributos que os teóricos exigem das “cidades-

globais”, e que de repente tornaram-se objetivos a alcançar,

justificados por algum grande evento, em uma simbiose de interesses

políticos e imobiliários.

O planejamento estratégico urbano tornou-se especialmente

útil, para tais fins e, de Paris a Nova York, passando por Londres,

Atlanta, Bilbao ou Lisboa, são inúmeras as cidades que

experimentaram essa receita de sucesso, que tem em Barcelona, palco

de uma gigantesca operação de reurbanização por conta dos jogos

olímpicos de 1992, seu maior paradigma. Em todos esses casos, vale

notar, os interesses privados foram alavancados por incentivos

governamentais, através de importantes investimentos públicos.

Os objetivos de Portugal quanto a realização da exposição de

98 mostram-se bastante parecidos com os objetivos da Espanha e a

realização da Exposição Universal de Sevilha em 1992. Isto na medida

em que Portugal também entrava para a Comunidade Européia e

queria mostrar aos demais países e ao mundo sua capacidade

econômica e cultural. Desejava celebrar igualmente sua posição

geográfica e seu legado histórico. E, por que não, também, toda sua

capacidade urbanística e arquitetônica. O projeto de regeneração

urbana permitiu criar uma estrutura organizativa e econômico-

financeira capaz de acolher todos os valores implicados na realização

da exposição.

Desse modo, podemos caracterizar Portugal como um país que

não fugiu á regra da realidade das remodelações urbanas que se

estenderam por toda a Europa, embora acusando muitas vezes a sua

localização periférica. A reestruturação institucional na área cultural

foi apoiada político e financeiramente através das Secretarias de

Estado da Cultura e de um Ministério criado exclusivamente para essa

área em 1996 com reforço dos institutos de arqueologia e patrimônio

Page 38: Lisboa

38

e a criação de novos Institutos para as Artes. Por sua vez, os

municípios candidataram-se a fundos estruturais para construírem

espaços próprios de incentivo á Cultura.

Na presente década, com a consolidação da Indústria Cultural,

o crescimento e impulso econômico gerado pelo turismo se tornam

inseparáveis a globalização da cultura e a globalização econômica. Se

difundem as Capitais Européias da Cultura, os Fóruns e Bienais de Arte

e Arquitetura, as Candidaturas e classificações UNESCO, as

Reestruturações de Museus públicos e privados; nesse contexto,

Portugal tornou-se em 2001, palco de um interessante debate entre

Políticas Culturais e políticas Urbanas, a partir do Porto, Capital

Européia da Cultura. A cidade vencera o título, apresentando-se a si

mesma como um “evento cultural” de natureza estruturante,

apostando na renovação urbanística do seu centro tradicional.

Essa estratégia de globalização cultural, muito baseada em

ações locais de reestruturação, especialmente no que concernem os

espaços públicos e equipamentos urbanos, ditam a nova forma de

intervenção urbana que se coloca contemporaneamente na pauta de

Portugal. Ícones artísticos, obras do star-system arquitetônico, roteiros

turísticos, exaltação do poder cultural do Estado e das Fundações

privadas, se equilibram nessa dinâmica público-privada e publicizada

de produção de urbana.

Page 39: Lisboa

39

Contexto da década de 80: fatores locais que levaram à

EXPO 98

A década de oitenta representou um momento decisivo para

aquilo que veio a se consolidar na década de noventa, e que culminou

com a EXPO 98. Foi um momento muito especifico para a história de

Lisboa, que passava por transformações muito importantes em

diversas esferas e categorias de análise.

Demograficamente se constata que a cidade de Lisboa, após

um período de estabilidade durante as décadas de sessenta e setenta,

passou na década de oitenta por um acentuado decréscimo

demográfico, de aproximados 18%, que atingiu principalmente as

famílias jovens e foi espacialmente caracterizado pelo esvaziamento

do Centro Histórico e Avenidas Novas. Em 1991 a população de Lisboa

era de 670.000 habitantes. Paralelamente a isso, a área metropolitana

passou por um processo inverso, ocorreu um acelerado crescimento

(em cerca de 60%) nas décadas de sessenta e setenta, e um leve

acréscimo de 2% na década de oitenta, que levou a população da área

metropolitana a um expressivo número de 2,5 milhões de habitantes

em 1994. A partir disso Lisboa passou a se caracterizar pelo

envelhecimento de sua população e um afastamento das classes

médias e jovens para regiões metropolitanas.

Quanto à conjuntura econômica de Lisboa na década de

oitenta, era notável a forte obsolescência da estrutura industrial, com

a decadência e o abandono das áreas industriais no arco ribeirinho e

um marcado processo de realocação em dois sentidos principais, o

primeiro era a transição das pequenas indústrias e oficinas do Centro

Histórico rumo às periferias da cidade, e o segundo, da periferia para a

região metropolitana, caracterizado pela indústria pesada.

Com relação ao setor terciário, verificava-se uma excessiva

concentração dos empregos desse setor na área central da cidade, isso

veio a ocasionar fortes pressões para a mudança de usos e para a

substituição da estrutura edificada. O efeito dessas pressões foi um

processo de desertificação do centro tradicional com um esvaziamento

em cerca de 15% das ocupações por serviços.

Do ponto de vista urbanístico varias questões referentes à

configuração da cidade ajudam a compreender a situação geral de

ordenação da cidade. Naquele momento obstáculos físicos como o Rio

e a topografia, dificultavam as ligações entre as duas principais zonas

Page 40: Lisboa

40

da cidade. Um eixo perpendicular ao rio demarcava o isolamento e a

segregação entre a região leste e a região mais enriquecida, a oeste. A

“fronteira” natural era reforçada pela ausência de eixos viários e meios

de transporte que facilitassem as ligações entre as áreas e também por

fatores políticos como a concentração de habitação de interesse social

e indústrias naquela localidade, o que ajudava a desenvolver uma

imagem de uma zona pobre e isolada, pouco atrativa a investimentos.

Outro fenômeno decorrente daquele período foi a consolidação de

residências de lazer nos municípios da margem sul do Tejo, e em

particular nos mais próximos ao mar.

Na década de oitenta o sistema de transportes e circulação se

encontrava bloqueado em função do atraso em obras há tempos

planejadas, e também em função da insuficiência dos transportes de

massa, como metrô e ferrovias. A estrutura radial de Lisboa

implantada a sudeste pelo rio Tejo obrigava a abertura de vias

circulares que começaram a ser construídas apenas na década de

noventa. Em continuidade a estes fatos, outros desequilíbrios eram

desencadeados, por exemplo, a falta de centralidades que atendessem

também às áreas metropolitanas, o que realçava essa divisão entre as

duas margens do Tejo, assim como a má distribuição de equipamentos

culturais e de lazer que privilegiava a zona ocidental de Lisboa.

A cidade, sem nenhuma política de defesa do patrimônio

consolidada, sofria um processo de forte destruição da memória

histórica urbana e de suas edificações, que eram demolidas

indiscriminadamente. O descaso político tinha prosseguimento através

do crescente bloqueio na relação da cidade com o rio, enquanto no

passado a relação com o porto, os rios e o mar era uma questão infra-

estrutural essencial e prioritária nas relações de Portugal com suas

colônias, ao longo dos séculos, essa relação passa a ser de

esvaziamento de funções e obsolescência pela rápida transformação

dos transportes marítimos e demandas geradas pelos novos tipos de

cargas recebidas nos portos. Como coloca Sofia Margado:

“Se os principais rios foram, anteriormente, o motivo de

localização dos primeiros assentamentos urbanos o fato é que,

com o crescimento urbano, os seus leitos e áreas aluviais

adjacentes imediatamente se tornam limites muito claros das

ocupações urbanas menos programadas, obrigando e

Page 41: Lisboa

41

justificando a existência de espaços abertos ou originando

conflitos relevantes”. (MORGADO, p.5, 2007)

A tradicional cultura do desenho e do embelezamento da

cidade se perdeu em função das exigências técnicas da circulação e

estacionamento de automóveis, sem cuidar dos aspectos culturais

arquitetônicos e ambientais. As áreas verdes possuíam uma relação

territorial completamente desequilibrada que era subutilizada dada a

falta de acessos e equipamentos, e a pouca articulação entre as áreas

qualificadas. Situação muito distinta daquilo que ocorreu no fim do

século XIX em Lisboa, onde o processo de modernização da cidade é

entendido num quadro de competição internacional entre metrópoles

e capitais, naquele momento era possível constatar que:

“As exigências de «embelezamento» da cidade retêm esta

componente mais etérea da importação de novos padrões de

qualidade de vida e de civilidade urbana. Mobilizavam um ideal

de modernidade que unia a revolução sanitária ao desenho

urbano reticular, os novos espaços de lazer público aos novos

padrões de conforto doméstico a que atrás se fazia referência.

Na tradução territorial do embelezamento da cidade, assumida

pelo ordenamento trazido pela disciplina do urbanismo,

encontrava-se o denominador comum que permitia unir as

várias componentes do projeto oitocentista de modernização

das cidades: salubridade, circulação e ideais estéticos”. (SILVA

e MATOS, 2000)

Esse processo viria a culminar na carência e obsolescência das

infra-estruturas com problemas na rede primária de esgotos, redes de

distribuição de energia elétrica, gás e de telecomunicações. Assim, no

inicio da década de noventa se mostrava urgente a necessidade de

intervenções a fim de obter maior equilíbrio interno da cidade e da

área metropolitana na distribuição das principais funções; bem como,

estancar o decréscimo e o envelhecimento populacional fixando

jovens, atraindo novos residentes e revalorizando a função

habitacional; e também, potencializar a requalificação das atividades

econômicas, culturais e cientificas através de sua melhor inserção na

cidade.

Entrava também em discussão naquele momento a

recuperação das margens ribeirinhas, abrindo a cidade ao rio,

requalificando os espaços públicos e reequilibrando as áreas verdes

Page 42: Lisboa

42

em toda a cidade, com vista a uma melhor qualidade urbanística e

ambiental. E por fim, era inadiável a melhoria das infra-estruturas de

suporte a fim de suprir as carências do sistema de transportes e

telecomunicações, “sob a pena de se agravarem as rupturas do

sistema”. (SALGADO, 1999)

A EXPO surge nesse contexto de transformações e demandas

por mudanças qualitativas da cidade, com um projeto e prazo fixo, se

mostrava capaz de mobilizar os meios necessários para acelerar a

modernização da cidade. Desse modo em fevereiro de 1990 o governo

decide dar início ao processo de candidatura de Portugal para a

realização da EXPO, com o objetivo de apontar e dar relevância ao

passado de descobrimentos portugueses explorando o mote da

chegada de Vasco da Gama à Índia, considerando que: “A exposição

contribuiria decisivamente para transformar Lisboa numa cidade do

século XXI, constituindo o ponto de partida para uma mudança

global”. (idem)

Os três pontos principais, vistos como inegáveis oportunidades

trazidas pela EXPO foram a dinamização e a renovação urbana de

Lisboa; a promoção de turismo em Portugal e em sua capital; e o

estimulo ao desenvolvimento econômico da região. Como coloca

Antônio Mega Ferreira, “até certo ponto o sucesso póstumo de uma

exposição, a sua posteridade, está mais ligada às peças arquitetônicas

que deixa ao futuro do que ao especialíssimo ambiente que convoca

ou à atmosfera cultural por que faz festa no coração dos visitantes”

(FERREIRA, 2000), o que ressalta o caráter transcendental de um

evento como este para uma cidade.

Em termos urbanísticos, a EXPO deveria contribuir em diversos

aspectos, como: modernizar e reabilitar uma parte significativa da

idade; recompor espacialmente a cidade numa perspectiva do reforço

da mobilidade e da requalificação das áreas periféricas; acelerar a

execução dos grandes sistemas viários e de comunicações que já

estavam na pauta de projetos em vias de execução; relançar a

discussão sobre a ligação da cidade ao rio e o ordenamento da frente

portuária; proporcionar a construção de um importante conjunto de

equipamentos de nível metropolitano, reequilibrando-a

urbanisticamente e tornando-a mais competitiva em termos nacionais

e internacionais.

Page 43: Lisboa

43

A decisão pelas áreas de intervenção em Lisboa buscou por

localidades que desenvolvessem um maior efeito catalizador das ações

de projeto, que pudessem irradiar suas melhorias num caráter mais

amplo. As três principais propostas foram: a periferia da área

metropolitana; a zona ocidental de Lisboa (Pedrouços e Belém); e a

zona oriental, desde sempre a área mais pobre e isolada da cidade.

As soluções periféricas foram logo excluídas, por se verificar a

difícil exeqüibilidade naquele local. A opção pela zona ocidental de

Lisboa parecia a mais óbvia, porém, para além das objeções que

surgiam em função da falta de áreas disponíveis, estava a certeza de

que uma intervenção ali causaria, ou melhor, acentuaria fortes

desequilíbrios na cidade. A opção pela zona oriental foi a escolhida por

ser aquela que maiores benefícios traria à modernização e reequilíbrio

da cidade, para além de ser aquela que apresentava mais

disponibilidade de área para implantação e que implicaria um menor

investimento na sua realização.

Essa opção era a defendida pelo município de Lisboa, cujo

Plano Estratégico estabelecia para a transformação urbanística da zona

industrial/portuária oriental, alguns parâmetros que deveriam se

assentar nos seguintes princípios, ou melhor, nos chamados projetos

âncoras: (SALGADO, 1999)

1. Um centro de apoio às empresas voltado à

importação/exportação, integrando escritórios, áreas

comerciais, hotelaria, parques de feiras e de lazer.

2. A criação de uma área de investigação e formação

profissional e a instalação de novas empresas industriais e

de serviços voltadas para as novas tecnologias.

3. A reorganização e modernização da Plataforma Logística

de Lisboa, como a grande interface da região para

passageiros e mercadorias.

4. A criação do Espaço Público Ribeirinho Oriental,

integrando área de lazer, equipamentos coletivos e

estruturas de apoio à náutica desportiva e amadora.

Foram diversas as implicações práticas de curto prazo geradas

pela EXPO, para tornar viável a exposição, foi necessário acelerar a

construção de todo o sistema viário e de transportes de escala regional

e local, de forma a garantir a acessibilidade dos milhões de visitantes

esperados na exposição. Foi necessário completar ou antecipar a

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44

construção de auto-estradas regionais; da nova ponte sobre o Tejo; da

ferrovia ligando as duas margens do rio; a extensão da rede do

metropolitano de Lisboa; o complemento da rede viária principal da

cidade, rompendo as barreiras que historicamente dividiam a cidade

em duas.

A liberação do terreno para a implantação do projeto

demandou o arrasamento da refinaria de Lisboa, à realocação do

terminal petrolífero do Tejo, à demolição do matadouro de Lisboa, à

transferência de um grande depósito de material de guerra e o

fechamento de um incinerador de lixo, que foi transferido para o norte

de Lisboa.

Foi necessário um grande trabalho de descontaminação dos

solos e de despoluição do rio Trancão, afluente do Tejo, que deságua

junto à área de intervenção. A reabilitação da área, cujo

enquadramento natural é considerado notável, permitiu retirar do

interior da cidade atividades poluidoras e perigosas, oferecendo à

cidade uma área que veio a enriquecer Lisboa em termos ambientais.

A engenharia financeira do projeto da EXPO tinha como

objetivo cobrir os custos da exposição com os lucros resultantes da

produção imobiliária dos 350 ha postos à disposição da empresa

pública ‘Parque EXPO’98, S.A.’. Praticamente todas as infra-estruturas

e espaços públicos construídos para a exposição foram projetados e

construídos levando em conta o seu uso após 1998, o mesmo ocorreu

com 60% de todos os pavilhões e outros edifícios construídos no

recinto da exposição. As restantes estruturas provisórias foram

projetadas com previsão de realocação uma vez terminada a

exposição.

O Recinto de Exposição, com cerca de 70 ha, constitui o centro

deste novo bairro que se fundou em Lisboa em função da EXPO e já se

constitui hoje como uma das áreas centrais mais importantes da

região. Um significado muito particular foi dado ao espaço público que

foi projetado e construído como o grande sistema integrador e

estruturante que já pretendia manter a coerência do conjunto urbano

ao longo dos anos necessários para a consolidação dessa zona da

cidade. Assim, podemos compreender como partido daquela

intervenção urbana que,

Page 45: Lisboa

45

“A dialética entre o efêmero e o definitivo, a analogia entre o

local de festa e de mistério no qual circula uma enorme

quantidade de informação e o centro onde se estratifica a

história da cidade, estão na base da idéia de projetar o Recinto

da Exposição como se tratasse de um “Centro Histórico”,

metáfora que resume com eficácia as principais características

do espaço público”. (SALGADO, 1999)

Todas as Exposições Mundiais procuram se distinguir das

anteriores, tal como as cidades procuram acentuar o caráter que as

individualiza. A EXPO’98 não é exceção, e Lisboa tem uma história

ligada aos oceanos e ao cruzamento de culturas, expressas na forma

como se implantou no sitio e foi construída, que constituem a sua

característica mais marcante e o seu maior patrimônio. Desse modo, o

espaço público é entendido como um “um tecido conectivo” contínuo,

que liga as arquiteturas entre elas, “com articulações e variações que

pontualmente gera tensões e, em geral, assegura continuidades,

superando a rigidez da idéia de rua, praça, quarteirão e jardim

público”. (SALGADO, 1999)

A diversidade de linguagens arquitetônicas é articulada através

de um discurso que se procura coerente, alcançado pela adoção de

regras de implantação e composição volumétrica que estabelecem um

diálogo claro entre as partes. As poucas preexistências, a torre da

antiga refinaria, a doca e a muralha de pedra na margem do rio,

funcionam como reminiscências da história do local. O projeto urbano,

em sua complexidade, não só estabelece as relações entre o espaço

público, semi-público e privado, como adéqua as características dos

‘materiais’ que o compõem aos diferentes usos e funções, tornando-se

o instrumento essencial para a articulação entre as estruturas visíveis e

as invisíveis.

Page 46: Lisboa

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A EXPO98

Parque das Nações

Figura 17: Mapa de Lisboa com destaque para a área da EXPO´98.

O desenho da Expo98 retoma a idéia de criar uma grande

praça sobre o rio, em uma área um pouco maior que o Terreiro do

Paço e uma quadrícula, na tradição da Baixa lisboeta. As portas da

exposição, a doca dos Olivais, o percurso junto ao rio, os pavilhões

temáticos, são elementos que, dentro de uma geometria definida,

organizam o espaço público e a ocupação construída.

Figura 18: Parque das Nações.

Page 47: Lisboa

47

O recinto da exposição foi concebido principalmente para a

circulação de pedestres, e o seu desenho se assentou numa imagem

articulada para toda a exposição, em que os diferentes edifícios

fossem integrados num discurso coerente, proposto pelo arquiteto

Manuel Salgado.

O Parque é composto por dois eixos ortogonais, um na direção

norte-sul, coincidente com a Alameda dos Oceanos, nos extremos dos

quais se localizam as Portas do Norte e do Mar (atual Porta Sul), e o

outro, que passa pela Estação do Oriente, na direção leste-oeste, com

extremos as Portas do Sol (atual Centro Vasco da Gama) e do Tejo.

Neste contexto a Alameda dos Oceanos configura-se como a

rua principal do espaço, paralela aos trilhos do trem da Estação do

Oriente e a costa, cruzando a área e organizando as diversas

edificações. No centro ficam o Pavilhão de Portugal, o Oceanário, junto

da Doca dos Olivais, e outros Pavilhões Temáticos, também a Área de

Organizações Nacionais e a Estação Oriente. Ao sul ficam a Área

Internacional Sul, que abriga alguns dos países participantes, o Teatro

Camões e a marina com os moles e as réplicas de embarcações

históricas. E ao norte a Área Internacional Norte, com o restante dos

países participantes, a área de serviços administrativos, a Área das

Organizações Internacionais, a Praça Sony, espaço de diversão

noturna, e a Torre Vasco da gama, de onde é possível obter uma vista

panorâmica de todo o recinto, além da ponte de mesmo nome

cruzando o rio Tejo. Figuravam também durante a exposição, espaços

de lazer e animação cultural, praças de alimentação e espaços

comerciais, serviços públicos, bem como diversos serviços de apoio ao

visitante.

Figura 19: Alameda dos Oceanos.

Page 48: Lisboa

48

A água constituiu o elemento chave da Expo98, assumindo

funções lúdicas e estéticas, manifestando-se em jogos de água, fontes

e lagos, integrados em alamedas, largos e jardins.

Dentre as edificações, a intermodal Estação Oriente, principal

meio de chegada a exposição, através do metrô, trem ou ônibus,

compreende uma grande estrutura que delineia um dos principais

acessos ao recinto da Expo98. As peças mais emblemáticas da

exposição são as que foram construídas de forma a permanecerem. Ao

contrário de Sevilha, onde cada país construiu seu próprio pavilhão de

maneira mais ou menos livre, em Lisboa as representações

estrangeiras ficaram abrigadas em duas grandes construções, as Áreas

Internacionais Norte e Sul. A primeira é uma macro-estrutura de tubos

de ferro, de forte cunho descontrutivista, em torno de 100.000 m2,

projetada por António Barreiros e França Doria, cujo destaque é a

cobertura ondulada das quatro grandes naves interceptadas no

perímetro por uma passarela de seção circular. A segunda, por sua vez,

foi concebida através de uma modulação de 18x18 metros e 9 de

altura, projeto do escritório Risco. A primeira permaneceu abrigando a

Feira Internacional de Lisboa (FIL).

Os pavilhões temáticos, por sua vez, compreendem as

seguintes edificações: o Pavilhão do Futuro, o Pavilhão do

Conhecimento dos Mares, o Oceanário ou Pavilhão dos Oceanos, o

Pavilhão da Utopia, e o Pavilhão de Portugal.

Entre as construções efêmeras destacam-se os equipamentos

urbanos, projetos do escritório Risco e de Manuel Salgado além de

João Carrilho da Graça. São exemplos os pequenos pavilhões que

abrigam restaurantes e outros serviços e que apresentam a necessária

descrição e unidade para não sobrecarregarem e nem poluírem

visualmente o recinto.

Os espaços públicos foram realizados para cada área de acordo

com os planos pormenorizados. Todavia, os elementos de arte urbana

e de sinalização mereceram atenção especial. A arte urbana é o

resultado do trabalho de diversos artistas portugueses e estrangeiros,

de diferentes correntes, e teve um de seus maiores destaques nos

jogos de água. A sinalização ficou a cargo, após concurso, de Pedro

Silva Dias e procurou apresentar uma imagem que fornecesse uma

clara identidade para a Expo’98 e fosse de fácil compreensão.

Page 49: Lisboa

49

Figura 20: Mapa de usos da EXPO´98.

A arquitetura da Expo’98 sobressai-se mais pela qualidade do

conjunto dos projetos do que pela particularidade de algum em

especial. Apesar da justaposição de estéticas dominantes tão distintas

como a tecnológica, a metafórica ou a minimalista, a arquitetura

assegurou um resultado global. Isto foi conseguido em grande parte

pela distinção feita entre os edifícios de caráter permanente e as

estruturas desmontáveis, especificas para o tempo de duração do

evento.

Espaços Públicos

Desde o início, a Expo98 foi pensada também como uma

exposição em que a arquitetura deveria desempenhar papel relevante.

Queria-se um diálogo de arquitetura, mais do que uma proposta

homogênea que indicassem um caminho: o final do século é pouco

propicio às - grandes sínteses ou aos sistemas-totalizantes de

representação e/ou produção do real. Pelo contrário, é na diversidade

de expressões arquitetônicas que se encontra o melhor eco das

produções estéticas contemporâneas.

Figura 21: Parque das Nações.

Page 50: Lisboa

50

Porém, uma exposição é um recinto, um território, - ao mesmo

tempo mais e menos que uma cidade. Fazer coexistir essas diversas

expressões, da exuberância tecnológica de Peter Chermayeff à

majestosa serenidade de Álvaro Siza, colocava um feixe de problemas

técnicos de primeira grandeza: como organizar os edifícios no espaço,

como fazê-los respeitar um traçado essencial que é a garantia da

funcionalidade de um recinto destinado a acolher milhões de visitantes

quantos fazê-los respirar e conviver, sem mútuas agressões nem

protagonismos desmesurados? Tudo isso se colocava como o desafio

maior da conexão do recinto expositivo.

Coube a Manuel Salgado a tarefa de pensar esse espaço não

como um deserto no qual os arquitetos pudessem implantar obras a

seu bel-prazer, mas como uma teia virtual, nos quais, na maior parte

das vezes, o seu olhar alento e sobriamente requintado encontrou

motivos de inspiração mais do que escolhas inultrapassáveis. Daí nasce

uma concepção do espaço urbano com um plano muito simples,

marcado por um eixo longitudinal, a Alameda dos Oceanos: e outro, de

rasgada visão, que aponta da Estação do Oriente até ao rio,

estruturando aquilo que, em gesto de homenagem a todos os rossios

de Lisboa, decidiram que fosse o Rossio dos Olivais.

Deste esquema muito simples extraiu o arquiteto uma

variedade de efeitos que equivalem a declinações de um mesmo

padrão, por vezes em equilíbrio apertado entre a funcionalidade e o

espaço disponível, como aconteceu, por exemplo, na tardia decisão de

construir o Teatro Camões/Sala Júlio Verne, com projeto de sua

autoria.

Em outros casos, no entanto, a mão do arquiteto soube

desenhar volumes que entre eles estabelecessem alguma ligação,

como é o caso do Pavilhão de Exposições, que articula por

interposição, a imponente massa do Pavilhão do Conhecimento dos

Mares, de João Luis Carrilho da Graça, com a pala do Pavilhão de

Portugal, concebida por Álvaro Siza.

Enfim, Manuel Salgado compreendeu que a tematização do

recinto, a sua narrativa, constantemente referenciada á água e aos

oceanos, ganharia em ser entendida na transitividade funcional das

propostas de ornamento e decoração do espaço. Pensados como

espaços para as pessoas o jardim da Água, os vulcões da Alameda, a

Page 51: Lisboa

51

frente ribeirinha norte, paralela aos jardins Garcia de Orla,

transformaram-se em outras tantas referências urbanas e lúdicas da

Expo98.

Em todos os detalhes, como no apuro do projeto de

iluminação, Manuel Salgado está presente. Se a Exposição de Lisboa

pudesse alguma vez ser atribuída autoria (e não pode, porque foi obra

coletiva, tão dos que a freqüentaram, como dos que a conceberam), o

nome de Manuel Salgado figuraria na primeira linha. Porque a sua

presença nota-se, às vezes nos mínimos pormenores, se exuberância

nem protagonismo.

Habitualmente, espaço público é entendido como o espaço

que sobra entre os edifícios. O espaço público é o local onde as

pessoas vivem grande parte do tempo. É o espaço onde circulam, seja

de automóvel ou a pé, é o espaço onde se encontram, onde se sentam,

onde conversam. É onde se fazem as manifestações e as procissões, as

grandes festas e os funerais, são onde se expressam coletivamente as

grandes alegrias e as grandes dores. Vendo bem, o espaço público é a

essência da cidade e é através dela que ela é representada. Havia uma

tradição até há cem ou cinqüenta anos em que o espaço público era

desenhado, plantado e embelezado a pensar nas pessoas. Este

conceito perdeu-se em conseqüência da primazia dada á circulação

dos automóveis, á ditadura da engenharia de tráfego. Agora se volta a

falar de espaço público, fruto da necessidade que se sente em

reconquistar a cidade para as pessoas tornando-a aberta, permeável,

acessível a todos. Considera-se o espaço público não como o negativo

do que está edificado, mas exatamente ao contrário: é algo que tem

consistência em si própria, tem uma estrutura definida pelas ruas,

praças, jardins, becos e passagens. É um todo que se desenha e se

define com os edifícios, as árvores que o conformam, tendo também

em conta o chão que se pisa, a iluminação pública que o modela, o

mobiliário e a arte urbana que o com põem.

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52

Figura 22: Fonte de água.

Manuel Salgado pretendia tornar o espaço público do Parque

das Nações, uma estrutura de muito fácil leitura, perceptível num

primeiro relance. Há uma sobreposição entre um projeto imobiliário,

uma malha residencial e um projeto para exposição de grandes

dimensões. A malha residencial que estava desenhada era ortogonal e

relativamente clara. Porém, havia um pouco a idéia de que uma

exposição teria de ter uma estrutura bastante orgânica e um pouco

desorganizada, criando muitas situações diferenciadas. O primeiro

esboço foi exatamente o contrario: tornar legível a estrutura do

recinto da exposição, apesar de manter o mistério. O mistério que está

nas perspectivas surpreendentes que furam os edifícios e não se

confinam á malha ortogonal das ruas, na relação inesperada com o rio,

um jacto de água, o nevoeiro ou como um pavimento é desenhado.

Uma parte do trabalho foi a definição da forma do espaço

tanto em planta a variação de alturas. Para isso foi definido em

princípio uma quadrícula de 7,5m x 7,5m para toda a área. Tudo foi

planejado, das zonas só para pedestres e das zonas só para carros, das

áreas de convivência entre ambos. Mas também das texturas, cores e

resistência dos pavimentos, dos espaços ajardinados e do plantio de

árvores, das fontes e dos jogos de água. As cabines telefônicas, os

quiosques, os postes de sinalização e tudo o que passa por baixo do

chão do recinto. No Parque das Nações, está debaixo do chão o dobro

das redes técnicas que costuma existir numa cidade, além disto, está

ainda o habitual tubo para águas, esgotos, gás, eletricidade, rede de

som, rede de fibra óptica, rede de rega, rede de drenagem de árvores.

Era fundamental que isso aparecesse á superfície de maneira lógica.

Page 53: Lisboa

53

Figura 23: Desenho da quadrícula de 7,5 x 7,5m.

Apenas um mês antes da exposição é que foi possível observar

como ficariam os espaços públicos. O resultado agradou a todos, pois

ficou claro que não era apenas um simples colocar de bancos de

praças nos espaços vazios. Era um local cheio de detalhes e mensagens

subliminares, que talvez os visitantes mais desatentos nem tenham

notado, mas dão a sensação de bem-estar a todos no local.

Em relação à preservação dos materiais empregados, alguns

apresentaram defeitos depois de alguns anos, como o concreto que

ficou cheio de buracos. Entretanto, num local que foi feito para

permanecer após a exposição, necessita de manutenção que deve ser

feita pela prefeitura de Lisboa.

Figura 24: Vista noturna do Parque das Nações.

Page 54: Lisboa

54

Parque do Tejo

Figura 25: Desenho de João Nunes para o Parque do Tejo.

O Parque do Tejo, projetado pelo arquiteto João Nunes, cobre

aproximadamente uma área de 90 ha de frente ribeirinha da margem

direita do Rio Tejo, desde a Torre Vasco da Gama, situada no limite a

sul do parque, até ao Rio Trancão, que limita a norte, cercando a área

de intervenção da EXPO’98. A pré-existência definia uma

desqualificação territorial e ambiental excepcionais, convergindo no

sítio um conjunto de atividades profundamente marcantes e

tristemente características de uma situação geográfica, de fronteira

intermunicipal, caracterizada por unidades industriais desativadas.

Figura 26: Parque do Tejo

A proposta procurou estabelecer uma organização do espaço

de grande diversidade cênica, visual e sensitiva, suportada por uma

estrutura que traduz unidade formal onde as formas de modelação de

Page 55: Lisboa

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terreno constituem o elemento estruturante fundamental,

determinando conseqüências ecológicas, cênicas e vivenciais que

estabelecem o fundamento da paisagem que se pretende criar uma

paisagem tridimensional, diversificada e ritmada. Estas formas de

modelação de terreno definem, pela sua disposição relativa e

orientação, não apenas uma marcação formal, mas, sobretudo, um

ritmo ecológico que se repete ao longo do território do Parque,

essencialmente pela oposição entre taludes suaves expostos a sul e

taludes mais abruptos voltados a norte.

Figura 27: Frente ribeirinha do Parque do Tejo.

O zoneamento de plantações e revestimento vegetal acentua o

contraste entre taludes fazendo coincidir tipologias e elencos

florísticos específicos a situações ecológicas correspondentes,

antecipando, em termos de imagem, o resultado que o tempo e a

natureza se encarregariam de estabelecer. Dado que se pretende um

Parque intensamente vivido, os sistemas a introduzir são

necessariamente artificiais de forma a poderem apresentar uma

capacidade de carga ecológica adequada. O sistema de caminhos

Page 56: Lisboa

56

constitui uma rede hierarquizada que define, ele próprio, uma

estrutura autônoma, funcional, subsidiária da estruturação

tridimensional de base com a qual se articula de forma indissociável.

Para além do sentido ecológico, funcional e imagético da estrutura

proposta, a solução serve paralelamente uma intenção essencial ao

conceito desenvolvido para o Parque: a potenciação do sistema cênico,

suportada projetualmente em duas ações fundamentais: a criação de

corredores visuais, consumados como os negativos do conjunto

estruturante, e a criação de formas de modelação e faixas arborizadas,

que vão se abrindo no sentido da aproximação pedonal ao Rio.

Figura 28: Parque do Tejo.

Page 57: Lisboa

57

Ponte Vasco da Gama

A Ponte Vasco da Gama construída sobre o rio Tejo fez

a ligação de Lisboa a Montijo e Alcochete, constituindo-se uma

alternativa a ponte 25 de Abril para o trânsito que circula entre

o norte e o sul do país na zona da capital portuguesa.

Este projeto, que foi concluído num apertado prazo de

construção tinha a função de permitir o fácil acesso à Expo'98,

incluiu igualmente o projeto de expropriações e realojamento,

que pela primeira vez em Portugal, ficou a cargo de uma

entidade privada.

Uma das grandes preocupações deste projeto foi

sempre a preservação do meio ambiente em que se inseriu,

dando origem a um vasto programa ambiental implementado

desde o inicio da construção e que incluiu, entre outras coisas,

a recuperação das Salinas do Samouco localizadas na Zona de

Proteção Especial.

A construção da Ponte Vasco da Gama sobre o Rio Tejo pela

Lusoponte, está agora escrita nos anais da história da engenharia civil

como um dos maiores e mais bem sucedido projetos do Séc. XX.

“Os acionistas da Lusoponte formaram um consórcio em ‘joint

venture”, a Novaponte, ACE, liderado pela Campenon Bernard SGE,

que ficou responsável pela concepção e construção da Ponte e dos

seus ramos de acesso. A construção da Ponte foi dividida em sete

frentes:

Os nós de Sacavém e da Variante à EN10, que dá acesso a

Lisboa e ao local da Expo' 98. O Viaduto Norte, com 488 m de

comprimento que atravessa a linha ferroviária do Norte e várias

estradas locais. Tem um tabuleiro de largura variável que recebe vias

secundárias de acesso e saída à ponte. O Viaduto da Expo, com um

comprimento de 672 m cujo tabuleiro foi construído a partir de

aduelas pré-fabricadas e colocadas de modo eqüidistante de cada lado

dos pilares. A Ponte Principal, que é uma estrutura de concreto com o

tabuleiro atirantado por cabos às torres principais. O seu vão central é

de 420 m e os vãos laterais têm 203 m. As torres centrais medem 150

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58

metros de altura e o tabuleiro está 47 metros acima do nível da água

na zona do canal de navegação denominado Cala do Norte.

O tabuleiro é uma estrutura mista composta por lajes de concreto

assentes em carlingas de aço ligadas em duas vigas de concreto

laterais de onde partem os tirantes para as torres.

As torres Norte e Sul, em forma de H, apoiam-se em fundações

também concebidas para suportarem o impacto de um navio de

30.000 toneladas que se desloca a uma velocidade de 12 nós.

Cada fundação destas torres assenta em 44 estacas moldadas com 2,2

m de diâmetro e atingem profundidades superiores a 65 m.O viaduto

Central com 6.351m aplicando sobre 81 pilares duplos vigas pré-

fabricadas com 78 m de comprimento e 2.200 toneladas de peso. aos

30 metros sobre os dois canais navegáveis, a Cala das Barcas e a Cala

de Samora, cujos vãos de 130 m permitem a passagem de navios de

médio porte.

O Viaduto Sul, com 3.825 metros de comprimento, é constituído por

um tabuleiro duplo com vãos de 45 metros construído com recurso a

dois pares de vigas de lançamento.

O Acesso Sul, ligam a Ponte Vasco da Gama ao nó rodoviário Sul por

terrenos agrícolas, na sua maioria. As ligações locais mais próximas

são com Setúbal e com Alcochete e Montijo.

Figura 29: Vão Principal.

Figura 30: Ponte Vasco da Gama.

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Estação do Oriente

Escolhido para construir a Estação do Oriente após uma

competição limitada na qual participaram também Terry Farrel,

Nicholas Grimshaw, Rem Koolhaas e Ricardo Bofill, Santiago Calatrava

fez uma abordagem da construção diferente da dos seus colegas que

se basearam apenas na arquitetura como disciplina para conceber o

projeto. Baseando-se em conceitos intelectuais diversos, justifica sua

obra através do impacto proporcionado pelo novo ícone urbano que

muda a imagem da cidade. Tal qual um câncer, esta obra quer

contagiar o entorno, transformando-o.

Figura 31: Vista Geral da Estação do Oriente.

Calatrava estudou arte e arquitetura em Valência e freqüentou

o Instituto Federal Suíço de Tecnologia (ETH), em Zurique. Sendo ao

mesmo tempo arquiteto e engenheiro, também se interessa pelo

desenho e pelas formas naturais, que revelam claramente que as suas

construções têm muitas vezes origem no desenho de uma ave ou de

uma figura humana, embora a obra final quase nunca seja

especificamente antropomórfica.

Page 60: Lisboa

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A Estação do Oriente é, inegavelmente, a par do Pavilhão de

Portugal de Álvaro Siza, a estrutura arquitetônica mais significativa da

EXPO´98. Com seus duzentos mil visitantes por dia é, claramente a

peça fulcral do plano para revitalizar a frente ribeirinha no oriente da

cidade.

O aspecto espetacular dado ao projeto se deve a cobertura

com 78 por 238 metros sobre as oito linhas férreas elevadas cuja

tipologia recorda a de um conjunto de árvores. Em lugar de acentuar a

ruptura entre a cidade e o rio que a estação implicaria, Calatrava

procurou abrir passagens e restabelecer ligações. Este propósito é

evidenciado pelo fato do arquiteto ter escavado a elevação do terreno

onde correm as linhas, de modo a construir a estação por baixo delas.

O complexo inclui dois grandes toldos em metal e vidro sobre as

entradas, um deles com cento e vinte metros de comprimento e onze

metros de largura. Existe uma estação rodoviária e um parque de

estacionamento, uma estação de metrô por baixo (não concebida por

Calatrava), e uma galeria longitudinal com espaços comerciais que

estavam incluídos nas instruções do arquiteto. As bilheterias e outros

serviços localizam-se cinco metros abaixo das linhas, e a galeria

longitudinal, cinco metros mais abaixo, é marcada por um átrio em

que a abertura que dá para o rio foi pensada como um acesso

principal.

Figura 32: Corte Longitudinal.

Vista de longe, ou mesmo de seu interior, o aspecto mais

visível da Estação do Oriente é a sua forma de árvore. Quando

Calatrava fala da concepção da plataforma da estação, refere-se a

“árvores numa colina”. A “colina” é, neste caso, o plano superior por

onde o comboio passa. Para explicar a metáfora da árvore, ele se

refere as suas visitas a Lisboa durante o concurso. “Na cidade, há

numerosos parques arborizados. Imediatamente senti que a colocação

da via férrea num plano superior pedia uma encosta arborizada. Quis

acentuar a transparência da estação. Num meio urbano que irá, sem

dúvida, tornar-se mais populoso, a Estação do Oriente irá parecer um

oásis. Será um lugar aonde as pessoas irão para descansar”.

Page 61: Lisboa

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Figura 33: Croqui inicial com a inserção da paisagem urbana.

Para vencer o concurso, Calatrava salienta como fator principal

o caráter urbano do projeto. A Estação do Oriente servia como uma

das principais portas de entrada para o complexo da EXPO´98.

Entretanto, além da exposição, até a estação ser construída, os

comboios não atravessava Lisboa diretamente. Chegavam à estação de

Santa Apolônia, a cerca de quatro quilômetros de distância, e eram

obrigados a seguir na direção oposta para prosseguirem viagem. Um

dos quesitos do concurso para a Estação do Oriente era que a sua

construção, permitisse aos comboios parar na capital sem serem

obrigados a fazerem o retorno. Pretendia-se desde o principio, que

fosse “intermodal”, combinando caminhos de ferro, metropolitano,

autocarros e automóveis, para evitar a criação de áreas que não

tivessem qualquer finalidade depois da feira, como havia acontecido

em Montreal e em Sevilha.

As estações férreas, como tipo de arquitetura pode ser vista

como uma porta de entrada já que é, seguramente, o ponto onde

começa ou acaba uma viagem. A Estação do Oriente serve

naturalmente as funções tradicionais de chegada e partida, embora as

vantagens do complexo sejam multiplicadas através da ligação a outras

formas de transporte: comboio, ônibus, carro e metropolitano. Mas a

par destas semelhanças com outras estações, tem diferenças notáveis.

A estação situa-se, na realidade, por baixo da via férrea e não lhe é

perpendicular, como é usual. Segundo Calatrava, para compreender a

estação é necessário saber que as linhas de caminhos férreos já tinham

sido colocadas numa espécie de monte com 8 metros de altura, sendo

que uma das intenções principais era diminuir a fratura entre a cidade

e área em construção. Para isso, Calatrava escavou o monte para

construir a estação e criou um passeio que vai de um lado a outro,

perpendicular a via férrea. Ao contrário das estações tradicionais, com

uma fachada monumental de pedra, geralmente com um abrigo de

vidro e ferro, a Estação do Oriente é composta por uma série de

aberturas e de passagens, não tendo uma fachada propriamente dita.

Page 62: Lisboa

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Figura 34: Croquis de implantação.

Outra peculiaridade da Estação é o fato de não haver uma,

mas duas entradas, em lados opostos da linha, cada uma assinalada

por vasta cobertura que acentua a idéia de passagem, de uma galeria.

É também um gesto para o público, uma maneira de dizer que não é

apenas um lugar para quem conhece, mas para todos.

O comércio, considerado um âncora do sistema urbano – razão

que levou à localização de um complexo multiusos, com uma grande

superfície associada a outros fins, integrada na estrutura urbana e

articulada com a Estação do Oriente – localiza-se nas praças e nas

arcadas de ligação às ruas – com o seu valor funcional e de imagem

urbana nas frentes da Via Principal e Alameda Central.

Figura 35: Imagem do período da construção.

Apesar do tamanho considerável e do fato das plataformas se

situarem oito metros acima do solo, a Estação do Oriente não é, de

modo algum, monumental. É um elemento que se distingue na

paisagem citadina, mas a quase inteiramente transparente estrutura

de metal branco das plataformas consegue dar a impressão do oásis

imaginado por Calatrava.

Page 63: Lisboa

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Pavilhão de Portugal

Edificado no âmbito da Expo '98, o Pavilhão de Portugal,

projetado pelo arquiteto Álvaro Siza, deveria constituir um espaço

simbólico, para desempenhar no decorrer da Expo as funções de

recepção e de espaço expositivo, mas que, após o seu encerramento,

pudesse ser compatível com outras funções à época ainda não

definidas. É o próprio arquiteto quem refere às dificuldades colocadas

por um programa que se pautava pela inexistência de referências, pois

se assistia, em simultâneo, ao nascimento de toda uma nova área

urbana.

Figura 36: Pavilhão de Portugal.

“Um arquiteto, normalmente, trabalha com um programa e

uma série de condicionantes. Uma das condicionantes é o sítio.

O fato de ser uma paisagem natural ou o interior de uma

cidade tem as suas implicações, mas é também aqui que se

procura o estímulo para iniciar o trabalho. A primeira idéia

Page 64: Lisboa

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com possibilidade de ser desenvolvida, tendo em vista

determinados objetivos e limitada por certas condicionantes, é

muitas vezes impossível de se materializar. Outras vezes não.

No caso da Expo98, os arquitetos começaram a trabalhar ao

mesmo tempo nos diversos pavilhões sem saber exatamente

que construções é que iam ter por vizinhos. Sabia-se que ia ter

um futuro, mas o futuro era um esquema. Faltavam

informações sobre os elementos exteriores: o sítio, as grandes

construções vizinhas, a utilização futura, os conteúdos. Com

essas dificuldades especiais – não é a situação normal – era

fundamental estabelecer uma estratégia de funcionamento e

deixar ao edifício várias possibilidades de aproveitamento. No

futuro, este edifício podia ser um museu, mas também podia

ser um escritório” (Álvaro Siza)

O aspecto fundamental do trabalho inicial foi a implantação do

sítio. Inicialmente deveria se fazer um edifício no eixo da doca. Essa

posição do eixo faz lembrar o Terreiro do Paço com o Arco do Triunfo

da Rua Augusta como elemento dominador e dois braços laterais

relacionados com a quadrícula da Parte Baixa. Um grande espaço

sobre o rio, mas que nesse caso não se previam braços. Dessa maneira,

Siza moveu o edifício, retirou-o do eixo da doca e colocou-o numa

posição de assimetria, ancorando-o de um lado da doca, como se fosse

um barco. A partir daí estabeleceu-se uma relação que já não é de

simetria, mas de tensão com o que sabia já existir na doca: o

Oceanário. Essa implantação possibilitou uma maior liberdade aos

arquitetos, criando uma situação de tensão, mas também de

dinamismo, aberta a utilização futura do edifício.

Figura 37: Vista do Pavilhão de Portugal através do Parque das Nações.

Page 65: Lisboa

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O edifício é formado por dois corpos - uma praça coberta,

denominada por Praça Cerimonial e um edifício de dois pisos e cave

estruturado em função de um pátio interior, apresentando outro pátio

a Norte. O primeiro é definido por dois pórticos de concreto, entre os

quais se desenvolve uma lâmina de concreto armado, suspensa por

cabos de aço. O segundo, um pouco mais elevado, caracteriza-se por

uma abertura regular dos vãos. Virado para o rio, um pórtico de

colunas, que suportam uma pala, e que se articulam com a varanda

que percorre toda a fachada. Do lado oposto, destacam-se as janelas

do piso superior, caracterizando-se todos os vãos por linhas

depuradas. Já a fachada Norte, na diagonal, "acentua a abertura do

eixo urbano da Estação do Oriente à Doca dos Olivais. Mas

curiosamente, os muretes, que parecem referir-se a alinhamentos de

“buxos” dos jardins de solares e de palácios, contrariam parcialmente

esta afirmação de abertura.

A versão de Siza para definir o desenho do Pavilhão de

Portugal não apresenta uma justificativa, mas recorre à memória.

“Não sei se a pala surgiu como analogia dos toldos da praia,

considerando a proximidade com a água. Não sei. Quando

estamos na fase nebulosa de pré-criação vamos

experimentando, procurando idéias, formas, aparecem muitas

referências sem termos consciência do porquê de determinada

idéia. Na tentativa de encontrar um caminho não dizemos:

vamos experimentar A ou B. É um processo mais instantâneo e,

portanto passa por certo inconsciente. Um dos aspectos

importantes na formação de um arquiteto é desenvolver essa

capacidade de registrar experiências e de recorrer a elas

naturalmente. Na minha opinião, um arquiteto não pode saber

a fundo nada. O arquiteto é especialista em não ser

especialista em coisa nenhuma. Não é possível criar uma

plasticidade em que vão entrando todos os aspectos técnicos e

outros se for um especialista. Não sei dizer qual o significado

da pala, terá muitos, não sinto necessidade de justificar sua

existência. A arquitetura não é como um texto pragmático ou

explicativo. ” (Álvaro Siza)

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Figura 38: Vista do vão do Pavilhão de Portugal.

Muito se tem escrito sobre esta obra de Siza Vieira, vencedora,

aliás, do Prêmio Valmor de Arquitetura em 1998, sendo uma constante

a referência aos traços históricos que a mesma encerra, se bem que

"combinados com rasgos modernos, como o lençol de concreto". Se,

por um lado, se observam referências à tradição clássica nos pórticos e

ritmos das janelas, a organização interna em função de uma espécie de

claustro recorda a arquitetura religiosa conventual.

Por sua vez, Kenneth Frampton, numa das mais completas

monografias sobre o arquiteto português, alude à escala monumental

do Pavilhão de Portugal, onde, segundo este autor, Siza fez confluir

duas imagens imperiais antitéticas. Mas as referências a arquitetos

como Le Corbusier, Oscar Niemayer, a Giuseppe Terragni ou mesmo ao

programa da Nova Monumentalidade de 1943, são algumas das linhas

interpretativas sugeridas por Frampton.

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Figura 39: Croquis do Pavilhão de Portugal.

Durante a Expo'98, o projeto expositivo, que deveria evocar os

descobrimentos portugueses e a conquista dos Oceanos, esteve a

cargo de Eduardo Souto Moura, funcionando um restaurante, café e

bar no restante espaço.

Para pensar o espaço expositivo, havia dois caminhos, o fácil

seria pegar o patrimônio do tempo dos Descobrimentos e fazer mais

uma exposição. O mais difícil seria pegar o tema de uma forma

abrangente e universalista. Aproveitar a ocasião para deixar alguma

coisa que perdurasse além da efemeridade obrigatória do evento.

Descobrir fontes iconográficas menos divulgadas e dá-las a conhecer

do grande público, usar as novas tecnologias e trazer á luz peças novas

do tempo dos Descobrimentos.

O tema desenvolvido na exposição tinha a idéia de não

apresentar uma versão passadista da História, saudosa de glórias

antigas, mas — pelo contrário — dar ao público a idéia de um país com

um passado que sabe preparar o futuro.

Para fazer esse espaço, Souto de Moura precisava fazer um

lugar onde a luz natural não entrasse. O visitante veria o edifício na

parte externa, mas ao entrar em seu interior ficaria inebriado na

exposição. Apesar de ter pensado um interior clássico para o espaço

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museológico, Siza foi bastante receptivo e um tanto ressabiado com a

“exposição-espetáculo” que iria se concretizar.

As linhas simples do pavilhão podem pressupor certa frieza.

Mas se for pensado que a apreciação de uma arquitetura crua é

apenas acadêmica, a grande variedade de usos para que foi projetado

o pavilhão, já trás a luz vida ao edifício.

O edifício foi, posteriormente, palco de várias exposições e,

desde então, muitos têm sido os destinos apontados para este imóvel

que permanece, todavia, sem uma função específica. O que não

impede que se mantenha como um dos mais representativos edifícios

desta área da capital, marcando fortemente a paisagem e constituindo

um símbolo para Lisboa e para o país.

Pavilhão do Futuro

O projeto para o Pavilhão do Futuro começou a ser pensado

com base no pressuposto de o que é importante numa exposição,

objeto de visita e de investimento do ponto de vista conceitual e

criativo, é o conteúdo e o discurso expositivo. Os edifícios são

“depósitos” desse conteúdo. Com base nisso foi desenhada uma

secessão de salas, todas fortemente caracterizadas, com funções

predestinadas e com contornos muito marcados, que sugestionassem

o projetista da exposição temática.

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Figura 40: Pavilhão do Futuro.

Essa foi na origem a fórmula utilizada para defender o projeto,

mas, de fato, embora o tema da exposição e as necessidades

funcionais e discursivas implícitas tenham sido objeto de reflexão

sobre o que concretamente se pretendia que o edifício representasse,

a exposição sobre o futuro dos oceanos ou o seu conteúdo não foram

a principal motivação na concepção geral do projeto e não

condicionaram a realização e o desenvolvimento do mesmo em

nenhuma das fases, tanto mais que o Parque Expo optou por

distinguir, desde o início, edifício e conteúdos, orientando ambos os

projetos independente e individualmente.

Com o amadurecimento do processo e a sua consolidação, foi

crescendo uma idéia de edifício, de forma e conceito, que marginalizou

progressivamente a idéia do depósito de uma exposição. O desenho

ganhou autonomia e passou a ter uma expressão individual,

relativamente independente dos temas e dos discursos que se lhe

poderiam justapor ao mesmo tempo em que começou a definir-se

numa idéia de concepção diversa e estruturada.

A exposição trata o futuro dos oceanos, mas poderia tratar

qualquer outro tema relacionado com os oceanos, tema central da

Expo98. Mantendo-se as premissas do programa e as áreas previstas,

provavelmente o objeto construído seria semelhante na forma e no

significado.

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O tema do mar foi, no entanto, fundamental na sugestão de

uma expressão para o alçado principal e para a fachada falsa. É a

maneira que Paula Santos, Rui Ramos e Miguel Guedes, justificam as

lâminas onduladas e a tonalidade metálica do edifício.

O fato de o edifício ser efêmero foi outro pressuposto, desde o

início fortemente discutido e amplamente avaliado pelos arquitetos. O

Pavilhão do Futuro funcionaria somente durante o período de abertura

da Expo98, e isso obrigou a algumas opções de principio,

principalmente as que se relacionavam com sistemas construtivos e

custos.

Outra condicionante foi o número de visitantes previstos, que

exigiam todos os espaços amplos e de grandes dimensões, quase

monumentais. Pela sua dimensão e escala, os edifícios tendem a ser

interpretados como monumentos, e isso teve algum peso na idéia, na

concepção da imagem e nos princípios orientadores da solução, já que

nesse caso o local é contemporâneo a construção dos edifícios.

Um retângulo de 122 x 55 m com uma altura máxima de 22 m

foram as restrições para uma correta integração. Com isso, todo o

perímetro do quarteirão foi ocupado e elevado até a altura máxima,

massificando exteriormente, embora com sobreposição de planos e

fachadas, fachadas falsas e vazios interiores. Conseqüentemente, o

esta precondição para a elaboração do projeto - a da sua dimensão -

sobrepôs outra, a da imagem e da aparência do edifício. Os arquitetos,

interessados desde o início com o contraste de texturas e materiais

diversos, escolheram sucessivamente um cilindro de madeira, um cubo

em vidro, um trapézio e um paralelepípedo de concreto, a medida que

o desenho ia se consolidando e que os materiais iam respondendo a

cada uma das solicitações; o concreto para grandes cargas e grandes

vãos, para áreas fechados e obscuras; a madeira para o volume

cilíndrico, área de recepção e passagem dos visitantes a dois níveis,

criando algum contraste com a frieza do aço e do concreto utilizados

no restante das áreas; e o vidro, envolvendo toda a área expositiva,

criando a noção de água, de grande aquário, de invólucro para a

grande curiosidade do edifício: a exposição sobre o futuro dos

oceanos.

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Figura 41: Elevações e Cortes.

Sobre tudo isto e numa espécie de saturação do discurso e na

procura de criação de ambientes e espaços diferenciados com

diferentes tonalidades de luz e sombra dentro da área de intervenção,

uma fachada falsa, ondulada, metálica, que se desenvolve em tiras

horizontais, delimitando todo, ou quase todo, o edifício.

O discurso formal e a aparência exterior são ilustrados por

uma série de elementos que são supérfluos, estranhos a arquitetura

que desenhamos habitualmente e de alguma forma extraordinários

pela sua falta de necessidade e excesso. A sua justificativa é a

experiência formal, a criação de paredes e de contornos falsos e,

conseqüentemente, de espaços intersticiais entre estes e os espaços

com utilizações determinadas.

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Figura 42: Plantas 1° e 2° pavimento.

É uma arquitetura que se expõe e que se sobrepõe á tradição

meramente literal da relação entre espaço e função. Não há outra

explicação para a criação das fachadas onduladas e planas e para a

criação de estruturas metálicas complementares que suportam estes

elementos senão supor que o desenho não seja estritamente funcional

e possa desempenhar um papel igualmente figurativo e fortemente

expressionista.

A aproximação ás ondas do mar ou aos reflexos da água são

expressões meramente sensitivas e profundamente cúmplices da

vontade de ensaiar uma imagem diferenciada e expressiva.

Figura 43: Estrutura para a exposição.

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O programa é bastante simples e desenvolve-se em contínuo,

o que é vantajoso para a leitura do edifício: rampas de entrada a partir

da alameda da Expo, grande cilindro para recepção dos visitantes,

acesso ao designado pré-show com uma apresentação em audiovisual

do que se vai passar no interior do pavilhão, entrada para o teatro de

500 lugares onde se vê um filme de oito minutos, saída à cota superior

do anfiteatro novamente para o cilindro, travessia em passarelas

suspensas e entrada no observatório, sala de 40 x 50 m e 18 m de

altura, que foi deixada livre para a intervenção dos projetistas dos

conteúdos expositivos, saída para o exterior, possibilidade de visita a

loja temática e novamente subida em rampa até a abertura para a

alameda principal.

Pavilhão dos Oceanos

O Pavilhão dos Oceanos — novo Oceanário de Lisboa — foi

concebido pelo arquiteto norte--americano Peter Chermayeff para

expressar, de forma inovadora, o fato de que os mares e oceanos do

nosso planeta formam um único oceano global — conceito

fundamental para a gestão e conservação do próprio planeta, numa

visão unificada dos diversos sistemas e recursos.

Figura 44: Oceanário de Lisboa.

Page 74: Lisboa

74

Enquanto parte integrante dos projetos temáticos da

Exposição Mundial de Lisboa de 1998 — Os Oceanos, Um Patrimônio

para o Futuro - o Pavilhão dos Oceanos celebra a vida na Terra através

de uma visão deslumbrante da vasta e complexa diversidade de seres

vivos que habitam este Oceano Global, evocando o papel vital que este

exerce na saúde e na evolução planetária.

Figura 45: Planta de localização.

O projeto quer no nível da arquitetura, quer no nível da

engenharia, da biologia e do próprio conceito expositivo, foi

estruturado com base em dois temas principais que, em conjunto,

compõem uma história rica em pormenor cientifico e em valores

Page 75: Lisboa

75

humanísticos, acentuando os benefícios de uma relação harmoniosa

entre o homem e a natureza.

Figura 46: Planta do edifício.

Nesta perspectiva, o Pavilhão dos Oceanos tem uma

mensagem importante a partilhar com o mundo, mensagem que se

centra na capacidade do homem para conhecer o meio oceânico e na

sabedoria para reconhecer a responsabilidade que lhe cabe na sua

defesa e conservação.

O Oceanário de Lisboa foi aberto ao publico no final de 1998,

dotado de exposições permanentes e temporárias e de atividades

educativas que proporcionaram uma experiência cultural

incomparável no domínio dos aquários e da educação ambiental.

Figura 47: Corte do edifício.

A edificação levanta-se sobre as águas da Doca dos Olivais e

tem como planta um tanque central em torno do qual se distribuem

quatro espaços expositivos que abrigam a reconstrução dos

ecossistemas dos Oceanos Atlântico, Pacífico, Índico e Antártico,

configurando-se no maior aquário da Europa. Sua arquitetura, com

clara referencia náutica não será desmontada após a exposição.

Page 76: Lisboa

76

Pavilhão do Conhecimento dos Mares

Quando em 1995, João Carrilho da Graça foi convidado para o

primeiro concurso que daria acesso a uma das exposições temáticas da

Expo 98, estava longe de suspeitar a tremenda complexidade do

processo em que foi envolvido. Ao longo de dois anos, o projeto

evoluiu e foi obrigando a uma atitude de permanente autocrítica e

revisão, tanto conceitual como dos próprios processos, ou,

simplesmente, investigação metodológica.

Figura 48: Vista externa do Pavilhão do Conhecimento dos Mares.

O ponto de partida foi um guia previamente preparado pela

Expo 98. A exposição encontra aí o princípio da sua fundamentação

como evento comunicativo, narrativo, composto por diversos

capítulos. Tratava-se de contar a história da evolução do

“Conhecimento” do Homem, como reflexo do seu progressivo

conhecimento dos mares. Havia ainda que levar em consideração a

natureza singular do edifício-suporte, hoje chamado Museu do

Conhecimento, cuja concepção seguia em paralelo com a da

exposição. Salvo poucas exceções, era pensado como uma seqüência

de espaços-caixa relativamente neutros, obscurecíveis e que, no limite,

poderiam ser encarados como palcos de um espetáculo. Por fim, uma

afluência máxima estimada de 2100 pessoas/hora (atingiu 2400),

oriundas dos mais diversos países, faixas etárias, extratos sociais,

percorreria a seqüência de espaços em 45 minutos, numa média de 6-

7 minutos por sala.

Page 77: Lisboa

77

Figura 49: Rampa de acesso.

A comunicação escrita e a interatividade, usuais em exposições

convencionais, estavam forçosamente excluídas. Mantendo a sua

estrutura inicial, o guia foi sofrendo sucessivas adaptações, evoluções

emergentes do debate, muitas vezes polêmicos, em torno de cada

solução expositiva. Poucos projetos levantariam tanto a questão da

linguagem como comunicação, como esta exposição temática que

pretendia veicular um conjunto de noções e de eventos. Através da

natureza dos cenários, da luz, do som, dos estímulos criados e dos

objetos expostos, sem recurso a texto ou a qualquer explicação, a

atmosfera de cada sala deveria “submergir“ o visitante num

determinado tema. Mais do que tentar descrever ou dissecar a

exposição em si, que poderia resultar em leituras falhas, pobres e

redutoras do texto-exposição, neste projeto interessa, sobretudo

referir as questões levantadas pelo ato de projetar e tudo aquilo que o

envolveu ou o determinou. O texto que o arquiteto deixa, é a própria

exposição. As leituras desta deverão emergir naturalmente da

experiência (individual) do próprio evento. Só assim se compreendem

verdadeiramente, ganham sentido ou significado.

O Pavilhão do Conhecimento dos Mares apresenta uma área

em que os portugueses foram reis, a descoberta dos mares. A

edificação consiste em uma forma tectônica em que um volume

vertical, assentado diretamente no solo, é interceptado por outro,

horizontal, que é acessado através de uma grandiosa rampa que quer

dizer movimento e tensão.

Page 78: Lisboa

78

O edifício é esquelético e nu por fora e por dentro. Apenas na

sala de entrada – um paralelepípedo alongado com uma faixa de

portas de acesso envidraçadas viradas a sul e uma linha de janelas

junto do teto voltadas para o norte – existe luz natural. A nave é o

espaço central. A luz É zenital, com Ianternins orientadas a nascente. É

nesta sala que, talvez de uma maneira mais evidente se sente que a

escala do edifício é difícil de referir. O simples fato de tocar e medir o

edifício parecem não nos garantir nada em relação ao jogo consciente

da aparente desconexão das medidas.

Figura 50: Plantas.

Figura 51: Corte longitudinal.

Figura 52: Corte transversal.

Page 79: Lisboa

79

Pavilhão da Utopia

A idéia de construir o Pavilhão da Utopia ou Pavilhão Atlântico,

remonta às primeiras discussões sobre o Plano de Urbanização da

EXPO’98.

Ao contrário de outras cidades européias, Lisboa não possuía uma sala

polivalente para acolher espetáculos, congressos e acontecimentos

desportivos de grande envergadura.

Figura 53: Vista geral.

As salas existentes, tanto na capital como em outros pontos do

país, ou tinham lotação limitada - até 4 mil lugares -, ou eram

dificilmente adaptáveis a eventos não convencionais, como o desporto

de alta competição em recinto coberto. Além disso, não dispunham do

aparato tecnológico exigido para coberturas televisivas modernas ou

pelos grandes espetáculos musicais ou teatrais.

Existia um vazio entre as salas até quatro mil lugares, como o

Coliseu ou os pavilhões construídos para outros fins e adaptados, e os

grandes recintos abertos. Esta circunstância fazia com que o país

ficasse fora dos campeonatos de desporto “indoor” e fosse difícil

realizar grandes concertos nas estações frias e chuvosas. Daí ter-se

optado por construir um equipamento deste tipo, no quadro do plano

de urbanização para a zona da EXPO’98.

Esta localização tinha a vantagem de servir não só a população

da maior área metropolitana portuguesa, mas também o país no seu

conjunto, dado a proximidade da Estação do Oriente (onde se

interligam os principais meios de transporte público) e dos principais

nós rodoviários.

Page 80: Lisboa

80

Para o projeto foi escolhido o arquiteto português Regino Cruz,

associado a um grande gabinete internacional: Skidmore, Owings &

Merril (SOM). Regino Cruz é autor de diversos projetos no Brasil e em

Portugal, nomeadamente de edifícios institucionais e de escritórios em

Lisboa.

A SOM obteve o primeiro prêmio nos concursos para os estádios

Olímpicos de Manchester e Berlim, para além de acumular projetos de

grandes pavilhões desportivos nos EUA (Portland, Filadélfia, Oakland

ou Minneapolis).

É também co-projetista da Torre Vasco da Gama, situada no topo

norte do recinto do Parque das Nações. A configuração do Pavilhão

Atlântico lembra uma nave espacial, mas a sua forma é também a do

caranguejo-ferradura, espécie surgida há 200 milhões de anos. Misto

de animal marinho e nave espacial, esta forma merecia uma estrutura

que a suportasse, física e simbolicamente.

Assim surgiu a idéia do travamento em madeira para sustentar

a cobertura, à maneira de uma nau quinhentista. Numa exposição

mundial que evoca os oceanos e as Descobertas, a madeira, melhor

que o aço ou o concreto, é a matéria-prima ideal.

Definida a forma, a implantação do edifício fez-se para tirar

partido da exposição solar da fachada virada a sul, para aumentar os

ganhos solares durante a estação mais fria e prevenir a sua incidência

direta por meio de sombreados durante o Verão. Desta forma

racionalizaram-se custos de climatização. No mesmo sentido, foram

colocadas aberturas no topo de edifício que facilitam a ventilação

natural da atmosfera interior e garantem o seu arrefecimento entre

eventos A organização interna do espaço foi pensada em função de 3

grandes objetivos: 1) minimizar o impacto visual de uma construção de

grandes dimensões como é esta; 2) contribuir para um uso racional da

energia; 3) simplificar a entrada e saída do público.

Assim, o piso das salas de competição e espetáculos foi enterrado a 6,4

m abaixo do nível do solo. Apesar do generoso pé-direito do edifício,

este apresenta uma imagem exterior à escala humana. As entradas e

saídas fazem-se facilmente através de uma pequena escadaria exterior

que circunda o edifício. A inércia térmica foi melhorada, já que a

superfície de contacto com o exterior é reduzida. O desenho e

construção do exterior contribuem também para os objetivos de

otimização ao nível energético/ambiental do edifício. A cobertura é

revestida a chapa de zinco. Sob esta existem diversas camadas de

isolante (lã mineral), e espaços livres, para que a circulação e

Page 81: Lisboa

81

refrigeração do ar se façam. Os vidros das fachadas são protegidos

com palas. As suas dimensões foram estudadas para que o sol incida

diretamente apenas no Inverno e somente na zona em torno da arena.

O sistema de persianas dos grandes lanternins da cobertura é móvel e

de acionamento elétrico. Uma forma engenhosa de tirar partido da luz

natural, ao aumentar o conforto visual e reduzir o gasto de

eletricidade na iluminação artificial.

Figura 54: Maquete em corte longitudinal.

Conforme se realçava nos Termos de referência do concurso

para a seleção dos projetistas, “O edifício deve ser projetado por

forma a ter um bom comportamento energético, uma vez que um dos

principais custos de gestão é o da energia”. Havia também que ter em

conta a Estratégia Global para a Energia e o Ambiente, no quadro do

plano de urbanização para a área da EXPO’98, levada à prática no

âmbito do protocolo celebrado entre o Parque EXPO’98 SA, o Centro

para a Conservação de energia e a Comissão Européia, sob

coordenação do Professor Doutor Oliveira Fernandes. A concepção do

edifício permite otimizar a sua exploração o que veio a assegurar o

êxito das candidaturas ao Programa de Financiamento Joule/Thermie e

SIURE, a que corresponderam financiamentos a fundo perdido da

ordem dos 180 000 euros.

A responsabilidade pelo projeto de climatização e pelos

aspectos energéticos é de Luís Malheiro da Silva – Projeto e Gestão de

Instalações Especiais. Os elevados níveis de conforto e os baixos

consumos de energia previstos para o Pavilhão Atlântico estão ligados

à forma como o ar é insuflado na zona ocupada pelo público: por

detrás das cadeiras, a baixa velocidade e a uma temperatura não

muito defasada da ambiente, otimizando a climatização da zona

Page 82: Lisboa

82

ocupada pelo público. A opção pelo uso a 100% de ar exterior

promove elevados padrões de qualidade ambiental: as partículas

contaminantes em suspensão são arrastadas para o exterior,

conseguindo-se a diluição dos cheiros e odores. No verão, aproveita-

se a água do Tejo para o pré-arrefecimento do ar insuflado. No inverno

a energia térmica de ar de extração (mais quente), é aproveitada por

recuperadores de calor.

De tudo isto resulta um bom desempenho energético do Pavilhão.

Para o cumprimento deste objetivo concorrem também a utilização da

ventilação e iluminação naturais e a iluminação artificial controlada,

bem como o tipo de construção e revestimentos exteriores escolhidos.

Calcula-se que, por comparação com um edifício semelhante onde

estas estratégias não tivessem sido consideradas, poupa-se de energia

na ordem dos 36% de inverno e 63% no verão.

Durante a realização da Expo’98, o edifício foi designado

Pavilhão da Utopia, albergando o espetáculo “Oceanos e Utopias”.

Enquanto noutros grandes pavilhões da EXPO’98 (como os de Portugal,

Conhecimento dos Mares ou do Futuro) a abordagem do tema

“oceanos” foi pensada numa perspectiva histórica, científica e

artística, neste caso privilegiou-se o lado mágico, onírico e simbólico.

Assim, durante os 132 dias da exposição, o Pavilhão da Utopia foi um

espaço aberto à imaginação, refletindo os medos, mitos e lendas que,

ao longo da História, se foram associando aos oceanos.

Assistiu-se ao desfile de figuras como Dédalo, o primeiro homem-

pássaro, Deuses do Olímpio, heróis míticos como Hércules numa

colorida sucessão de quadros: o nascimento do Homem e dos Deuses,

o Big Bang, o Dilúvio, a Atlântida, os Descobrimentos, a Conquista do

Espaço, etc. Um espetáculo, repetido quatro vezes ao dia, da autoria

de François Confino e Philipe Genty e produzido pela empresa Razon.

Concebido através da conjugação de efeitos teatrais clássicos com as

modernas tecnologias multimídia.

Figura 55: Personagens do teatro "Oceanos e Utopias".

Page 83: Lisboa

83

Este espaço, construído entre 1996 e 1998, foi um dos palcos

da Expo’98 e recebeu no período da exposição, quatro meses, 440

sessões do Espetáculo da Utopia e perto de quatro milhões de

espectadores.

Composto por três áreas integradas, todos os espaços são

facilmente adaptados às necessidades e características de cada

evento. A Sala Atlântico, com uma arena de 5 200 m2 e capacidade

para 12 500 pessoas sentadas abriga, todo o tipo de eventos. A Sala

Tejo, banhada por luz natural, dispõe de 2 200 m2 preparados para a

concretização de todas as idéias. E o Centro de Negócios, com o seu

auditório de 100 lugares e 11 salas integráveis estão aptos a receber

eventos de menor dimensão.

Consequências da Expo98 para a cidade

A Exposição Internacional de Lisboa de 1998 mostra a

possibilidade de qualificação, decorrente da intervenção e

revitalização, de determinadas áreas urbanas, que acompanham a

realização de um evento dessa estatura. O Parque das Nações é o

legado da Expo’98. Sustentado por grandes infra-estruturas e pelas

edificações deixadas entre as ruas e avenidas e que dinamizaram o

processo de ocupação futuro. Entretanto, essa ocupação foi sempre

pensada tendo em vista um público alvo que tivesse condições

financeiras para residir e aproveitar as oportunidades desta nova área,

apesar dos organizadores e promotores do evento, disserem visar a

todos os portugueses e cidadãos do mundo.

O plano de urbanização foi dividido em setores, estruturando-

se uma intervenção que se baseou no futuro do recinto e não apenas

no acontecimento efêmero em si. Assim, distribui-se as edificações do

evento compatibilizando sua futura utilização. Neste contexto,

procurou que as edificações fizessem parte de um conjunto

harmônico, compondo os equipamentos de um bairro integrado a

cidade. Não se assemelhando a um parque urbano cheio de elementos

cujo destaque poderia interferir na unidade do conjunto. A distribuição

Page 84: Lisboa

84

dos usos dominantes foi do total de 2.320.000 m² área construída,

1.240.000 m² para habitação, 610.000 m² para escritórios, 170.000 m²

para comércio e 300.000 m² para outros usos.

Portugal demonstrou a Comunidade Européia, bem como aos

demais países, que possuía capacidade para abrigar uma exposição

internacional e ainda realizar uma operação urbana como a realizada.

Constituindo um exemplo a ser estudado e seguido. Lisboa ganhou

com esta intervenção na criação e no melhoramento de um grande

número de infra-estruturas e equipamentos. Além da implantação de

uma extensa área verde com o Parque do Tejo.

Outro grande ganho para a cidade foi promover o reencontro

da cidade com o rio, dos visitantes do evento com a aprendizagem e o

lúdico da exposição, dos moradores da cidade com as qualificadas

áreas urbanas, mostrando que grandes eventos, ainda que efêmeros,

possuem a capacidade de promover profundas mudanças na maneira

pela qual a cidade relaciona-se com seus cidadãos e vice-versa.

Assim a década de 1990 se encerra com uma grande

transformação urbana para Lisboa, havendo, entretanto, a

necessidade de se rediscutir os planos de renovação urbana da cidade

como um todo. A EXPO se mostra como reflexo das políticas urbanas

desenvolvidas no final da década de 1980 que, com o passar dos anos

devem ser revistas e atualizadas de acordo com a nova realidade

potuguesa.

Page 85: Lisboa

85

Visão Estratégica – Lisboa 2012

A revisão e reiteração de ações propostas pelo Plano

Estratégico de 1992 é colocada no ano de 2002, na tentativa de

reconhecer as dificuldades políticas e culturais da concretização dos

objetivos, bem como a reformulação de idéias cujos diagnósticos se

alteraram com o passar dos anos. A nova proposta mantém-se fiel ao

Modelo de Estrutura Espacial do Território Municipal contido no Plano

Diretor ao mesmo tempo em que revê seus princípios, não se

tratando, entretanto de um segundo PEL visto que não envolve todos

os agentes e setores econômicos e sociais da cidade. Algumas

questões mais contemporâneas são discutidas como o envelhecimento

da população, a segurança pública, a sustentabilidade e

principalmente a “globalização” Possui também a importante tarefa de

garantir a permanência no tempo e no espaço de políticas

fundamentais de ordenamento e desenvolvimento do território,

independentemente de mudanças de mandato.

Esta revisão estabelece quatro eixos segundo os quais pensará

a cidade nos próximos 10 anos: “Lisboa, Cidade de Bairros”, “Cidade de

Empreendedores”, “Cidade Cultura” e “Cidade de Modernidade e

Inovação”. Estabelecendo alguns princípios e valores (Reabilitação

urbana, harmonia, integração, mistura de funções, ocupação seletiva

dos vazios urbanos, democratização, cosmopolitismo e intervenção

diferenciada), mais do que re-planejar, a Visão Estratégica tem

objetivos claramente mais propagandísticos do que os Planos já vistos

e tenta atrair investimentos a uma cidade que ainda representa ao

mundo – principalmente no que diz respeito ao turismo – o ideal de

cidade de menor escala, fortemente marcada por tradições e

arcaísmos.

Page 86: Lisboa

86

ÍNDICE DE IMAGENS

Figura 1: Soldado recebendo um cravo, símbolo do país ········· 05

Fonte: www.pcp.pt/actpol/temas/25abril/25anos/foto14.jpg

Figura 2: As muralhas de Lisboa ·············································· 07

Fonte:http://3.bp.blogspot.com/_bfgH8fgEfUw/TGUNB5UYRYI/A

AAAAAAAAys/x2QUtFWfUtk/s1600/muralha.jpg

Figura 3: A cidade após o terremoto e as intervenções do

Marquês de Pombal ································································ 08

Fonte: http://www.wdl.org/en/item/926/zoom.html

Figura 4: Diagrama da expansão viária de Lisboa ···················· 14

Fonte: CHOA, Ana Rita. “Dinâmicas de crescimento em

metrópoles portuárias – Tensões a oriente da cidade de

Lisboa”, On the waterfront 7, 30-41. 2005

Figura 5: Mapa de divisão espacial dos empregos por setores.

(1991) ····················································································· 15

Fonte: TENEDÓRIO, José Antônio. “Atlas da área Metropolitana

de Lisboa”. Área Metropolitana de Lisboa, Lisboa. 2003

Figura 6: Esquema do modelo territorial para a AML (PROT-AML)

······························································································· 17

Fonte: SALGADO, Manuel. “O rio e a renovação urbana expo 98.

O seu papel como catalizador do rejuvenescimento de

Lisboa”. Ciudades 5. Lisboa, 1999

Page 87: Lisboa

87

Figura 7: Plano de 1948 ·························································· 20

Fonte: http://pdm.cm-lisboa.pt/img/GEU1959_Web.png

Figura 8: Plano de 1977 ·························································· 21

Fonte: http://pdm.cm-lisboa.pt/img/Carta_PDM_2.png

Figura 9: Plano Estratégico de Lisboa ······································ 22

Fonte: http://pdm.cm-lisboa.pt/img/1992_Planta_Web.jpg

Figura 10: Azinhaga dos Besouros, um dos bairros de lata da

Região Metropolitana de Lisboa ·············································· 23

Fonte:http://www.antropodocus.com/blog/wpcontent/uploads/

2008/06/azinhaga-jpg.jpg

Figura 11: Projeto da revitalização da Alta de Lisboa, antigo

bairro de lata ·········································································· 24

Fonte:http://farm4.static.flickr.com/3551/3526458464_8992369

00e_o.jpg

Figura 12: Localização do Chiado, Lisboa ································ 27

Fonte: Google Earth

Figura 13: Vista da Rua do Carmo em meados do século XX ··· 27

Fonte: Domus, nº714, março, 1990, pag. 54

Figura 14: Incêndio no Chiado em 1988. ································· 29

Fonte: Casabella, nº628, novembro, 1995, pag. 19

Foto do Arquivo Oficial do Chiado

Page 88: Lisboa

88

Figura 15: Vista da reconstrução do edifício na fachada principal

······························································································· 30

Fonte: Casabella, nº628, novembro, 1995, pag. 31

Foto de Rui Morais de Sousa

Figura 16: Região do chiado ··················································· 32

Fonte: Casabella, nº628, novembro, 1995, pag.18

Foto de Filipe Jorge – Argomentum

Figura 17: Mapa de Lisboa com destaque para a área da EXPO´98

······························································································· 46

Fonte: http://www.mapas-portugalcom/City_LisbonMap

_Portugal_2.htm

Figura 18: Parque das Nações ················································· 46

Fonte: http://www.destinosdeviagem.com/portugal-lisboa/

Figura 19: Alameda dos Oceanos ············································ 47

Fonte: Google Street

Figura 20: Mapa de usos da EXPO´98 ······································ 49

Fonte:http://www.ebropolis.es/files/File/Encuentros/2007/lisbo

a.pdf.

Figura 21: Parque das Nações ················································· 49

Fonte: http://www.destinosdeviagem.com/portugal-lisboa/

Page 89: Lisboa

89

Figura 22: Fonte de água························································· 52

Fonte: Arquivo Parque Expo

Figura 23: Desenho da quadrícula de 7,5 x 7,5m ····················· 53

Fonte: Arquivo Parque Expo

Figura 24: Vista noturna do Parque das Nações ······················ 53

Fonte: Arquivo Parque Expo

Figura 25: Desenho de João Nunes para o Parque do Tejo ······ 54

Fonte: http://www.proap.pt/

Figura 26: Parque do Tejo ······················································· 54

Fonte: http://www.proap.pt/

Figura 27: Frente ribeirinha do Parque do Tejo ······················· 55

Fonte: http://www.proap.pt/

Figura 28: Parque do Tejo ······················································· 56

Fonte: http://www.proap.pt/

Figura 29: Vão Principal ·························································· 58

Fonte:http://actiontur.selfip.com/html/index.php?option=com_

content&view=article&id=26:arrabida-sesimbra-setubal-e-2-

pontes&catid=17:1-dia&Itemid=49&lang=pt

Page 90: Lisboa

90

Figura 30: Ponte Vasco da Gama ············································· 58

Fonte:http://actiontur.selfip.com/html/index.php?option=com_

content&view=article&id=26:arrabida-sesimbra-setubal-e-2-

pontes&catid=17:1-dia&Itemid=49&lang=pt

Figura 31: Vista Geral da Estação do Oriente ·························· 59

Fonte: “Estação do Oriente”.

Figura 32: Corte Longitudinal ·················································· 60

Fonte: “Estação do Oriente”

Figura 33: Croqui inicial com a inserção da paisagem urbana ·· 61

Fonte: “Estação do Oriente”

Figura 34: Croquis de implantação ········································· 62

Fonte: “Estação do Oriente”

Figura 35: Imagem do período da construção ························· 62

Fonte: “Estação do Oriente”

Figura 36: Pavilhão de Portugal ·············································· 63

Fonte: http://alvarosizavieira.com/category/projects/1998-

portugal-pavilion

Figura 37: Vista do Parque das Nações do Pavilhão de Portugal ·· 64

Fonte: http://alvarosizavieira.com/category/projects/1998-

portugal-pavilion

Page 91: Lisboa

91

Figura 38: Vista do vão do Pavilhão de Portugal ······················ 66

Fonte: http://alvarosizavieira.com/category/projects/1998-

portugal-pavilion

Figura 39: Croquis do Pavilhão de Portugal ····························· 67

Fonte: http://alvarosizavieira.com/category/projects/1998-

portugal-pavilion

Figura 40: Pavilhão do Futuro ················································· 69

Fonte: Pavilhão do Futuro – Catálogo Oficial

Figura 41: Elevações e Cortes ·················································· 71

Fonte: Pavilhão do Futuro – Catálogo Oficial

Figura 42: Plantas 1° e 2° pavimento ······································ 72

Fonte: Pavilhão do Futuro – Catálogo Oficial

Figura 43: Estrutura para a exposição ····································· 72

Fonte: Pavilhão do Futuro – Catálogo Oficial

Figura 44: Oceanário de Lisboa ··············································· 73

Fonte: http://www.peterchermayeff.com/

Figura 45: Planta de localização ·············································· 74

Fonte: http://www.peterchermayeff.com/

Page 92: Lisboa

92

Figura 46: Planta do edifício ···················································· 75

Fonte: http://www.peterchermayeff.com/

Figura 47: Corte do edifício ····················································· 75

Fonte: http://www.peterchermayeff.com/

Figura 48: Vista externa do Pavilhão do Conhecimento dos Mares

······························································································· 76

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai8.jpg/

Figura 49: Rampa de acesso ···················································· 77

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai2.jpg/

Figura 50: Plantas ··································································· 78

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai6.jpg/

Figura 51: Corte longitudinal ·················································· 78

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai6.jpg/

Figura 52: Corte transversal ···················································· 78

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai6.jpg/

Figura 53: Vista geral ······························································ 79

Fonte: Catálogo Oficial

Page 93: Lisboa

93

Figura 54: Maquete em corte longitudinal ······························ 81

Fonte: Catálogo Oficial

Figura 55: Personagens do teatro "Oceanos e Utopias” ·········· 82

Fonte: Catálogo Oficial

Page 94: Lisboa

94

BIBLIOGRAFIA

1. AFONSO, Simonetta. “Álvaro Siza e Eduardo Souto de

Moura – Pavilhão de Portugal”. Critério – Produção

Gráfica Ltda.

2. AFONSO, Simonetta. “João Nunes e PROAP/Hargreaves

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Ltda.

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4. ARANTES, Otilia. “Uma estratégia fatal: a cultura nas

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