Literatura 3º ano do Ensino Médio - … · são versos inteiros, ... polifonia poética: um poema...

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* Literatura 3º ano do Ensino Médio Prof. Andréia Campos

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Literatura

3º ano do Ensino Médio

Prof. Andréia Campos

Início – 1922 ( Semana da Arte Moderna)

Término – 1930 (publicação de Alguma poesia de

Carlos Drummond de Andrade).

Pano de fundo: irracionalismo (negação do

racionalismo burguês.

Fase chamada de: heroica, guerreira, caracterizada

pela combatividade e pela pluralidade de linguagens

e perspectivas.

Um período rico em manifestos e revistas de vida

efêmera: são grupos em busca de definição.

Fundação do Partido Comunista Brasileiro (1922).

A economia mundial caminha para um colapso – a quebra

da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em1929.

O Brasil vive os últimos anos da República Velha.

Revolução de 1930.

O país caminhava para o fim desse período de convulsões

sociais com a ocorrência da Revolução de 1930 e a

ascensão de Getúlio Vargas ao poder, iniciando-se uma

nova era da história brasileira.

Burguesia Industrial Dominante X Classe Operária

marginalizada.

Proposta: literatura capaz de conciliar as

influências das vanguardas europeias com um novo

nacionalismo – ora romântico, ufanista e patriótico –

ora polêmico e paródico (satirizando o próprio

nacionalismo romântico).

PRODUÇÃO LITERÁRIA:

Forma: destruição de todo academismo (a

linearidade, linguagem de dicionário, rima, métrica,

sentimentalismo romântico, o racionalismo realista-

naturalista).

Conteúdo: nacionalismo ufanista (Verde-

amarelismo e Grupo da Anta) e crítico (Pau-Brasil e

Antropofagia).

Oswald de Andrade

Mário de Andrade

Manuel Bandeira

NACIONALISMO CRÍTICO

Poesia PAU-BRASIL (1924)

Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral

Tom de paródia e de festa.

Busca o original e espontâneo e não imitações

afirmando que a poesia tem de ser revolucionária.

O Brasil deve ser visto de "dentro para fora“.

Redescoberta do Brasil: linguagem natural,

originalidade nativa.

ANTROPOFAGIA (1928)

Aprofundamento das propostas da poesia Pau-Brasil.

“Comer carne humana” – metáfora da deglutição,

devoração simbólica e crítica das vanguardas e

cultura europeia (defendida por Oswald de

Andrade), recriando-a, tendo em vista a

redescoberta do Brasil, em sua autenticidade

primitiva.

Abaporu (1928),

de Tarsila do Amaral

Abaporu:

aba (homem), pora(gente)

e ú (comer), significando

"homem que come gente"

Verde-amarelismo (1925-1926) e o Grupo da Anta

(1926-1929): oposição ao Pau-Brasil e Antropofagia.

Exaltação do primitivismo e da ingenuidade da

“mãe-pátria”

Postura direitista, aproximação ao nazifascismo

brasileiro.

Poemas patrióticos, tendência ufanista,

nacionalismo estético e pitoresco.

PAULICEIA DESVAIRADA (1922), por Mário de Andrade

Prefácio interessantíssimo

Leitor:

Está fundado o Desvairismo.

Este prefácio, apesar de interessante, inútil.

Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a

seriedade. Nem eu sei.

E desculpe-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou

passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que

bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação

moderna que ainda não compreende bem.

Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com

o Futurismo.

Tom irônico e de blague (piada),

aproximando o texto do Dadaísmo

Revelação de Mário de que ainda está

ligado ao passado, relativizando sua

inserção no Futurismo e reafirmando a

honestidade intelectual, que sempre o

manteve na liderança do Modernismo

brasileiro.

Um pouco de teoria?

Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, (...) cria frases que

são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com

acentuação determinada.

(...) Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em

prejudicar a doida carreira do estado lírico (...). Deixe que tropece,

caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema de repetições

fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis

ou inexpressivos (...)

Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório - questão de moda.

Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que

a natureza tiver.

Fórmula que ilustra a incorporação crítica das vanguardas, uma vez que

nela o Lirismo constitui apenas uma das faces da criação artística,

antecipando o conceito de “escrita automática”, do surrealista André

Betron (1924). A outra face consiste no trabalho de “polimento” dos versos,

via interferência da razão.

Distinção que retoma a influência vanguardista,

agora vista em termos genéricos.

Sei construir teorias engenhosas. Quer ver? A poética está muito

mais atrasada que a música. Esta abandonou (...) o regime da

melodia (...)para enriquecer-se com os infinitos recursos da

harmonia.

A poética (...) foi essencialmente melódica. Chamo de verso

melódico o mesmo que a melodia musical: arabesco horizontal

de vozes (sons) consecutivas, contendo pensamento inteligível.

Ora, si em vez de unicamente usar versos melódicos horizontais

(...) fizermos que se sigam palavras sem ligação imediata entre

si: estas palavras (...) se sobrepõem umas às outras, para nossa

sensação, formando, não mais melodias, mas harmonias.

Harmonia: combinação de sons simultâneos.

Exemplo:

"Arroubos.. Lutas... Setas... Cantigas... Povoar!..."

Estas palavras não se ligam. (...) Cada uma é frase, período

elíptico, reduzido ao mínimo telegráfico. Assim: em vez de

melodia (frase gramatical) temos acorde arpejado, harmonia, - o

verso harmônico.

Mas, si em vez de usar só palavras soltas, uso frases soltas: mesma sensação de

superposição, não já de palavras (notas) mas de frases (melodias). Portanto:

polifonia poética. Assim, em "Paulicéia Desvairada" usam-se o verso melódico: "São

Paulo é um palco de bailado russos"; o verso harmônico: "A cainçalha... A Bolsa...

As jogatinas..." e a polifonia poética (um e às vezes dois e mesmo mais versos

consecutivos): "A engrenagem trepida... Abruma neva..." Que tal? (...)

Pronomes? Escrevo brasileiro. Si uso ortografia portuguesa é porque, não alterando

o resultado, dá-me uma ortografia.

E está acabada a escola poética "Desvairismo".

Próximo livro fundarei outra.

E não quero discípulos. Em arte: escola=imbecilidade de muitos para vaidade dum

só. Mário de Andrade

Criação, a partir de conhecimentos musicais emprestados à literatura, conceito de

polifonia poética: um poema deve combinar melodias (estruturas gramaticais,

lineares) e harmonias (estruturas associativas, que dão a impressão de

simultaneidade), tornando-se polifônico.

Proposta de criação de uma linguagem brasileira, por meio

da incorporação de elementos da oralidade, da fala popular,

ao texto literário.

Ênfase no tom niilista da vanguarda dadaísta (“desvarismo”, por meio da negação da

criação de escolas poéticas, discípulos, etc.

O Manifesto da Poesia Pau-Brasil defende uma poesia de

exportação, a partir das seguintes ideias:

A valorização dos estados brutos da cultura coletiva.

A decomposição irônico-paródica dos suportes

intelectuais da cultura brasileira.

A conciliação da “floresta e da escola”, ou seja, imbricar

a cultura nativa com outra atitude, intelectualizada.

Bananal (1927), de Lasar Segall

"A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de

ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos

estéticos. (...)

Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. (...)

A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e

neológica. A contribuição milionária de todos os erros.

Como falamos. Como somos. (...)

O trabalho contra o detalhe naturalista - pela síntese;

contra a morbidez romântica - pelo equilíbrio geômetra e

pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e

pela surpresa. (...)

Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do

mundo. Ver com olhos livres. Oswald de Andrade

Defesa da liberdade

temática e da ampliação

dos temas poéticos,

destacando as paisagens

nacionais pobre e anônimas.

Crítica à cultura

elitista, que se

isola das massas

nos gabinetes e

academias.

Defesa da

liberdade

linguística, por

meio da

aproximação

entre fala –

cujos “erros”

na verdade são

possibilidades

expressivas – e

escrita.

Rejeição ao passadismo

literário e à mentalidade de

cópia; defesa da conciliação

entre a cultura primitiva e a

atitude intelectualizada (a

síntese, o equilíbrio, a invenção e a

surpresa).

Tropical (1917), de Anita Malfatti