Literatura

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Obra analisada: Lavoura Arcaica,Raduan Nassar

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Análise da obra "Lavoura Arcaica" de Raduan Nassar, a partir da teoria de Tzvetan Todorov no texto "Categorias da Narrativa Literária"

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Obra analisada:Lavoura Arcaica,Raduan Nassar

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Raduan Nassar de origem libanesa, nasceu em 1935 na cidade de Pindorama, interior de São Paulo. Em 1970, Raduan escreve a primeira versão da novela Um copo de cólera e os contos O ventre seco e Hoje de madrugada. Lavoura arcaica, só viria a ser finalizada em 1974, sendo mais tarde publicado em outras línguas. O livro ganha em 1976, o prêmio Coelho Neto para romance, da Academia Brasileira de Letras, e o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (na categoria de Revelação de Autor) e Menção Honrosa e também Revelação de Autor da Associação Paulista de Críticos de Arte — APCA.Em 1997 foi publicada a obra Menina a caminho, a qual reúne seus contos dos anos 60 e 70.

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Era a época da crise do campo, da explosão do êxodo rural. A vida

rural passava a ter uma visão deteriorada pela sociedade

progressista. A ordem do crescimento do país exigia uma vida mais

“urbana”, corrente na década de 70 e focalizando o chamado “fim

do mundo imigrante”. Famílias de imigrantes eram dominantes na

zona rural dos estados brasileiros, a principal mão-de-obra e ao

mesmo tempo os maiores proprietários de terras produtivas

durante o auge da atividade.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

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O núcleo familiar neste romance é o ponto central no qual se

dinamiza uma estrutura de base patriarcal e conservadora a

exemplo do que ainda são hoje as tradições libanesas.

Considerando o contexto histórico da obra podemos fazer uma leitura

da estrutura familiar de “Lavoura Arcaica” como sendo a

representação da sociedade atravessada, a época, por um regime

ditatorial e excludente.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

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A narrativa nos é lançada através dos olhos de André,

narrador/protagonista da história que nos conta de forma peculiar,

sua vida, suas amarguras, seus anseios e dúvidas todas guardadas

em segredo pela ética e moral imposta pela família, religião, cultura

e tradição.

As páginas de Lavoura Arcaica são para serem lidas

continuamente; não há parágrafos, poucos senão raros pontos

finais.

DETALHES DA NARRATIVA

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“As categorias da narrativa literária”, Todorov, Tzetan

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Tzvetan Todorov (Sófia, 1939) é um filósofo e linguista búlgaro radicado na França desde 1963.

É um dos grandes teóricos do Estruturalismo. Publicou um número considerável de obras na área de

pesquisa linguística e teoria literária.

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Categorias da Narrativa

Todorov propõe distinguir preliminarmente duas noções:

a) sentido = função de um elemento dentro da obra, sua

possibilidade de ligar-se a outros elementos da mesma obra ou

com a obra inteira;

b) interpretação = multiplicidade de leituras possíveis, baseadas

no olhar do crítico ou do leitor. Não é o mais importante, porque

vem de fora da obra.

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Categorias da Narrativa

Os formalistas russos isolaram, como aspectos da obra literária a

noção de:

Fábula = o que efetivamente ocorreu

Assunto = trama.

E. Benveniste. (Estruturalista Francês), introduziu os termos

"história" e "discurso"

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Tipos principais de paralelismo:

1º) ligado aos fios que relacionam as grandes unidades da obra e

possibilitam seu sentido total;

2º) relacionado às formas verbais, os detalhes.

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Modelo Homólogico

"A narrativa inteira é constituída pelo encadeamento ou

encaixamento de narrativas. São micronarrativas compostas por

três (por vezes de dois) elementos cuja presença é obrigatória (...)

situações essenciais da vida: (...) 'trapaça', 'contrato' e 'proteção'".

"A narrativa representa a projeção sintagmática de uma rede de

relações paradigmáticas. Descobre-se pois no conjunto da

narrativa uma dependência entre certos elementos, e procura-se

encontrá-la na sucessão".

Modelo Triático

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Narrativa como história

A história contém frequentemente muitos 'fios' e é apenas a partir

de um certo momento que estes fios se reúnem". O autor

distingue, sem se afastar da tradição, dois níveis de história:

a) Lógica das ações: Repetições que concernem às ações,

personagens ou mesmo detalhes da descrição:

Antíteses, que colocam parte idêntica em cada um de dois

termos;

gradação, que evita a monotonia; a lógica de uma informação

decorre desse crescendo informacional;

Paralelismo, onde pelo menos dois elementos idênticos

apresentam dissemelhanças.

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"Parece evidente que, na narrativa, a sucessão das ações não é

arbitrária, mas obedece a uma certa lógica.

A aparição de um projeto provoca a aparição de um obstáculo, o

perigo provoca uma resistência ou uma fuga";

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A Narrativa como discurso

O tempo da narrativa, onde se exprime a relação entre o tempo

da história;

O tempo do discurso, os aspectos da narrativa, ou a maneira

pela qual a história é percebida pelo narrador;

Modos da narrativa,

Dependem do tipo de discurso utilizado pelo narrador para nos

fazer conhecer a história".

Tempo do discurso = linear;

Tempo da história = pluridimensional.

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(...) É preciso dar-se conta que existem duas interpretações

morais, de caráter realmente diferente: uma interior ao livro (em

toda obra de arte imitativa), e outra que os leitores dão em se

preocupar com a lógica da obra". (…)

"A imagem do narrador não é uma imagem solitária; desde a

primeira página, ela é acompanhada do que se pode chamar 'a

imagem do leitor'".

Nas "infrações", tanto à história quanto ao discurso, aparecem as

duas "ordens": a do livro  (ordem da narrativa) e a do contexto

social do universo narrado (ordem da vida)..

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os personagens e suas relações.

"A partir deles é que se organizam os outros elementos da

narrativa".

Regras de derivação: por oposição -

a relação que se opõe ao predicado de base "amor" é o "ódio"; a

relação que se opõe ao predicado de base "confidência" é a

"publicação"; a relação que opõe ao predicado de "ajuda" é a de

"oposição") e a que se dá pela passagem da voz ativa para a voz

passiva (regra do passivo): "cada ação tem um sujeito e um

objeto".

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os personagens e suas relações.

Todorov propõe então a existência de doze relações possíveis

entre os personagens, estabelecidas a partir dos predicados de

base e das regras de derivação {(3X2)X2)}.

"O Ser e o parecer".

Dois níveis possíveis para uma mesma relação: o da aparência e

o da essência, sempre a partir do ponto de vista dos próprios

personagens. Fazer parecer que sente amor ou ódio, por

exemplo. Esta duplicidade pode se operar por meio da hipocrisia

ou da má-fé dos personagens.

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O texto “As Categorias da Narrativa Literária”,“As Categorias da Narrativa Literária”, segundo as

classificações apresentadas por Salvatore D'Onófrio,

enquadra-se nas que estudam o caráter intrínseco das obras

literárias, como uma análise de dentro para fora.

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HISTÓRIA E DISCURSO (TODOROV)

I- Narrativa como história:

Os níveis da história:

a) Lógica das ações = repetições:  na forma de antíteses, na forma de gradação, que evita a monotonia, de modo que a lógica de uma informação decorre desse crescendo informacional; na

forma de paralelismo, provocando comparação, diferenciação.

Ao analisar encontramos, por exemplo, a antítese formada pelos

1. Personagens André x Iohána ao tempo a mãe é o ponto de referência que une a arbitrariedade;

2. Ações de Iohána e a Mãe

Para a gradação temos os diversos membros de uma família que exibem os mesmos traços de caráter, porém em graus diferentes. André situa-se no nível mais inferior em relação ao irmão Pedro

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b) Predicados de Base

Reduzimos a quatro os predicados:

Desejo

Religiosidade

Confidências

Obediência

As relações entre todos os personagens, em toda narrativa, podem sempre ser reduzidas a um pequeno

número e esta rede de relações tem um papel fundamental para a estrutura da obra.

.

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c) Regras de Oposição

Cada um dos predicados possui um predicado oposto (noção de negação):

Desejo X penitência

Religiosidade X Pecado

Confidências X Revelações

Obediência X Revolta

.

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d) Ser e Parecer

Embora a narrativa seja sempre contada por personagens alguns deles podem nos revelar o que os outros pensam ou sentem. Noutras vezes o protagonista revela intenções divergentes de sua conduta para com os demais personagens.

Pai - para os filhos, é um homem justo que mantém a união da família sob as leis religiosas porém para André e Lula apenas um tirano, dominador que usa da religião como forma de dominar todos a volta sob seu controle em um mundo paralelo.

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(continuação) Ser e Parecer

Ana – espelho da obediência e submissão. Na tradição oriental as filhas devem obediência e respeito tanto aos irmãos, ainda que mais novos, rebela-se no final ao colocar-se de forma escandalosa em meio a festa deixando claro a marca de sua vergonha ao vestir-se com os objetos "ditos" mundanos de André.

André – jovem atormentado pelos sentimentos incestuosos que tem pela mãe os quais transfere à irmã; Através do furor de adolescente imprimi na casa, na mesa, a negligência o temor, os rituais pervertidos e destituídos de mito e o discurso profanado.

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e) Regras de Ação

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HISTÓRIA E DISCURSO (TODOROV)

I- Narrativa como Discurso:

Consideramos a narrativa unicamente enquanto discurso, fala (parole) dirigida pelo narrador ao leitor.

a) Tempo da Narrativa:Em Lavoura Arcaica o tempo da história é pluridimensional e

possivelmente transcorre, desde o inicio ao término da narrativa, em pouco mais de 24 horas e está dividido em duas partes: A Partida e O Retorno. Já o discurso da narrativa é organizado de forma Linear, no entanto é interrompido de tempos em tempos por flashbacks de memória do narrador ou em seus monólogos internos vai nos expondo aos poucos as razões de sua fuga.

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b) Encadeamento, Alternância e Encaixamento:

As páginas de Lavoura Arcaica são para serem lidas

continuamente; não há parágrafos, poucos senão raros pontos

finais. A princípio pode parecer não haver encadeamento entre os

pensamentos do narrador e seu discurso, mas essa ligação está

presente no desenvolver da estória. Esse traço da escrita,

angustiante para alguns leitores, é o que vai nos levar de encontro

à alma de André seu mais profundo e obscuro; nos colocamos

empaticamente na angustia de quem já se encontra tanto no fim da

linha de seus pensamentos, em meio ao seu impróprio e complexo

amor e sua revolta pelas imposições da religião e da moral

presentes na figura do pai.

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c) Tempo da Escritura (enunciação), Tempo da Leitura(percepção):

xxxxxxxxx.

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c) Tempo da Escritura (enunciação), Tempo da Leitura(percepção):

Os aspectos mais ligados ao discurso são os possíveis "olhares" por meio dos quais tomamos conhecimento do que é narrado.

Em Lavoura Arcaica o narrador = personagem (visão "DE FORA")

André sabe menos que qualquer outro personagem, não pode nos

explicar o que acontece, por exemplo, no íntimo de cada um,

possui suas próprias impressões e julgamentos sobre os demais,

baseado naquilo que vê, ouve, ou simplesmente percebe, nem

sempre essas impressões serão semelhantes ao que percebe o

leitor (ser e parecer) ;

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Objetividade e Subjetividade na Linguagem:

A linguagem se dá das duas formas de forma poeticamente

subjetiva através de subterfúgios comparativos: “(...) haveria

também de derramar o orvalho frio sobre os cabelos de Lula,

quando ele percorresse o caminho que levava da casa para a

capela”

Também se dá de forma objetiva “(...) aturdido, mostrei-lhe a

cadeira do canto, mas ele nem se mexeu (...)”

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Atividade para sala de aula

Observar a obra e o filme e relata as diferenças entre eles. Prestar

a atenção no papel das imagens ao longo de todo o filme; atentar

para descrições visuais de cenários, personagens e

acontecimentos; analisar o papel de todos os personagens na

construção da narrativa.

Todos os pontos devem ser considerados e possíveis

considerações devem ser anotadas, já que ambos, livro e filme são

ricos em detalhes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Lavoura Arcaica – Nassar, Raduan, 3ª ed. São Paulo: Companhia

das Letras, 1989

As Categorias da Narrativa Literária – Tzvetan Todorov

Forma e sentido do texto literário – D'Onófrio, Salvatore, São Paulo:

Ática, 2007

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Detalhe da obra de James Barry, “Jupiter and Juno on Mount Ida”.

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