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Produção Didático-Pedagógica Título: Literatura de Cordel: Um mote para a variação

linguística

Autora: Albertina Mezavila

Disciplina/Área: Língua Portuguesa

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Marília Faria Pirotelli – Rua Minas Gerais,1555.

Município da escola: Cascavel -Pr

Núcleo Regional de Educação:

Cascavel -Pr

Professor-Orientador: Dr. Antônio Donizeti da Cruz

Instituição de Ensino Superior:

Unioeste

Relação Interdisciplinar: Arte

Resumo:

O presente trabalho tem como objetivo principal

apresentar a Produção Didático-Pedagógica

voltada para o 9°Ano do Ensino Fundamental do

Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli de

Cascavel-Pr. Nela, focar-se-á a necessidade do

ensino da variação linguística por meio do estudo

e da apreciação da Literatura de cordel. Parte-

se, então, do pressuposto de que é possível

estudar e descrever a variação, pois ela está

intimamente relacionada a fatores históricos,

sócio-culturais e geográficos. Além de ser

possível conhecer as idiossincrasias e riquezas

culturais de uma determinada região do país, no

caso, o Nordeste, por meio da literatura,

especificamente a de Cordel. O referencial teórico

que embasa esta Produção apoia-se

principalmente em Bortoni-Ricardo (1984), Fiorin

(2011), Labov (1983), Luyten (2005), Zumthor (

1993; 1997), entre outros.

Palavras-chave: Literatura de Cordel; variação linguística; oralidade.

Formato do Material Didático: Unidade didática

Público: Alunos do 9°Ano do Ensino Fundamental

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Apresentação

Atualmente, tem sido amplamente discutido o estudo da variação linguística

em pesquisas científicas. No entanto, ainda há muito a se divulgar, principalmente,

no contexto escolar do Ensino Fundamental e Médio.

Essa necessidade surge pelo fato de que a sociedade como um todo, bem

como, muitos educadores, consideram determinadas construções da linguagem

como erro, o que favorece o preconceito linguístico.

Assim, para desmitificar tal pensamento, é preciso combatê-lo e, como aponta

a Sociolinguística, é necessário estudar as diferenças, divulgá-las adequadamente e

constatar que elas precisam ser respeitadas.

É claro que a escola não pode ignorar a gramática normativa, assim como o

fato de existir o certo e o errado, apenas porque é possível a comunicação.

Entretanto, é preciso reconhecer a diversidade linguística de nosso país para que,

com isto, o ensino da língua portuguesa realmente se efetive de maneira satisfatória.

Por essa razão, optou-se por estruturar uma Produção Didático-Pedagógica,

no formato de uma Unidade didática, a ser implementada no Colégio Estadual

Marilis Faria Pirotelli, no 9°ano do Ensino Fundamental, cujo objeto de estudo

pautar-se-á na Literatura de Cordel. Assim, ao transitar pela literatura brasileira

poder-se-á apresentar aos nossos alunos as idiossincrasias da Língua Portuguesa

presentes na cultura popular.

É um trabalho que apontará a importância do ensino de Língua Portuguesa no

Ensino Fundamental, pois os alunos prestam exames em diferentes contextos e

precisam estar preparados e atentos a diversidade e às mudanças que acontecem

na língua, sobretudo, no que diz respeito às leituras, às interpretações, às análises e

às produções escritas.

Por assim ser, pretende-se trabalhar a variação linguística, bem como a

oralidade através da literatura de cordel, pois é uma poesia de cunho popular que,

na contemporaneidade, tem perpassado pelo meio acadêmico. Criada por pessoas

de várias classes sociais e de diversos níveis de escolaridade, não privilegia o

formalismo e o rebuscamento, o que a torna conhecida. Além disso, pode ser lida de

forma cantada, apresentando marcas da oralidade, principalmente, da linguagem

nordestina; e tem como característica as figuras ilustrativas (xilografias) que

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representam personagens, lugares ou momentos dos textos, sendo este dividido por

quadras e rimas.

Logo, planejo aliar duas vertentes a prática da Língua portuguesa – prática da

oralidade e da variação linguística - e a literatura, sem deteriorar nenhuma delas. E

aí está o meu questionamento: Pode a Literatura de Cordel contribuir para o estudo

da Variação Linguística?

Para isso, tenho como objetivo geral esboçar a relevância da literatura de

cordel, a fim de promover a valorização da cultura popular nordestina, bem como o

aprimoramento da análise da Variação Linguística. E os objetivos específicos

buscam caracterizar o cordel como gênero da literatura popular; desenvolver a

musicalidade, a oralidade e a performance a partir da leitura interpretativa de

cordéis; esboçar os traços fonéticos, morfossintáticos e lexicais próprios do

português falado no Nordeste brasileiro que se apresenta na literatura; refletir sobre

a língua e suas variações.

Escolhi, então, trabalhar com a literatura de cordel por ser uma expressão

artística que me causa um profundo encantamento, ao mesmo tempo, em que

necessita ser mais conhecida no sul do Brasil para que os estereótipos sejam

desmitificados e novos olhares sejam lançados.

Material Didático

Primeiro momento

Os alunos serão convidados a assistir ao vídeo que apresenta a música “Literatura

de cordel” do cordelista paraibano Francisco Diniz disponível em

https://m.youtube.com/watch?v=bQt1dxETW-8. Acesso em: 24/08/2016

Após a apresentação, é preciso questioná-los oralmente acerca do conhecimento

que já possuíam ou não sobre cordel. Para isso, é importante saber se eles já

tinham tido contato com essa literatura; o que eles sabem sobre ela; se conhecem

algum cordelista; quais são, geralmente, os assuntos tratados; se já ouviram falar de

xilografia ou isogravura. Enfim, discutir-se-á as particularidades dessa literatura.

Os alunos serão convidados a visitarem uma sala ambiente, onde terá a exposição

de vários cordéis nordestinos expostos em varal. Música ambiente com temas bem

típicos do nordeste (som ambiente).

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Os alunos terão a oportunidade de visualizar, escolher e ler o material escolhido.

Serão convidados a apresentar aos colegas a história lida, seguindo ou não o roteiro

de leitura sugerido.

Segundo momento

Propor uma pesquisa no laboratório de informática.

Dividir a turma em 4 grupos. Cada grupo se responsabilizará por pesquisar e

apresentar aos colegas uma temática.

Grupo 1- Histórico da Literatura de Cordel.

Grupo 2- Características poéticas, literárias e da oralidade da Literatura de Cordel.

Grupo 3- Autores brasileiros da Literatura de Cordel (biografias e obras);

1. Título e autor da obra.

2. Narre a história para os seus colegas, sem expor o final.

3. Qual o tema do cordel lido?

4. Onde e quando se passa a história?

5. Quais são as personagens do texto, caracterize-as.

6. O que mais chamou sua atenção nesse texto.

7. Apresenta descrições dos personagens em cena e os monólogos com

queixas, súplicas, rogos e preces por parte do protagonista?

8. Têm como ponto central uma problemática a ser resolvida através de

inteligência e astúcia para atingir um objetivo?

9. Retrata um tema de relevância social?

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Grupo 4 – Xilogravura (isogravura).

Terceiro momento

Propor aos alunos a leitura do cordel “A seca do Ceará” de Leandro Gomes de

Barros “O rei do Cordel” que nasceu no sítio Melancia, município de Pombal (PB),

em 19 de novembro de 1865, morrendo em Recife (PE), em 4 de março de 1918. Foi

o primeiro a escrever e editar histórias versadas em folhetos. Até os 15 anos viveu

em Teixeira, centro de poesia. Mudou-se em 1880 para Pernambuco, tendo vivido

em Vitória de Santo Antão, Jaboatão e Recife. Começou a escrever em 1889 e,

sobrevivendo de folhetos, sustentou uma numerosa família.

A seca do Ceará está disponível em:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co

_obra=21397 acessado em 24/08/2016

A Seca do Ceará Leandro Gomes de Barros

Seca as terras as folhas caem, Morre o gado sai o povo, O vento varre a campina, Rebenta a seca de novo; Cinco, seis mil emigrantes Flagelados retirantes Vagam mendigando o pão, Acabam-se os animais Ficando limpo os currais Onde houve a criação. Não se vê uma folha verde Em todo aquele sertão Não há um ente d’aqueles Que mostre satisfação Os touros que nas fazendas Entravam em lutas tremendas, Hoje nem vão mais o campo É um sítio de amarguras Nem mais nas noites escuras Lampeja um só pirilampo. Aqueles bandos de rolas Que arrulavam saudosas

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Gemem hoje coitadinhas Mal satisfeitas, queixosas, Aqueles lindos tetéus Com penas da cor dos céus. Onde algum hoje estiver, Está triste mudo e sombrio Não passeia mais no rio, Não solta um canto sequer. Tudo ali surdo aos gemidos Visa o aspectro da morte Como a nauta em mar estranho Sem direção e sem Norte Procura a vida e não vê, Apenas ouve gemer O filho ultimando a vida Vai com seu pranto o banhar Vendo esposa soluçar Um adeus por despedida. Foi a fome negra e crua Nódoa preta da história Que trouxe-lhe o ultimatum De uma vida provisória Foi o decreto terrível Que a grande pena invisível Com energia e ciência Autorizou que a fome Mandasse riscar meu nome Do livro da existência. E a fome obedecendo A sentença foi cumprida Descarregando lhe o gládio Tirou-lhe de um golpe a vida Não olhou o seu estado Deixando desemparado Ao pé de si um filinho, Dizendo já existisses Porque da terra saísses Volta ao mesmo caminho. Vê-se uma mãe cadavérica Que já não pode falar, Estreitando o filho ao peito Sem o poder consolar Lança-lhe um olhar materno Soluça implora ao Eterno Invoca da Virgem o nome Ela débil triste e louca

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Apenas beija-lhe a boca E ambos morrem de fome. Vê-se moças elegantes Atravessarem as ruas Umas com roupas em tira Outras até quase nuas, Passam tristes, envergonhadas Da cruel fome, obrigadas Em procura de socorros Nas portas dos potentados, Pedem chorando os criados O que sobrou dos cachorros. Aqueles campos que eram Por flores alcatifados, Hoje parecem sepulcros Pelos dias de finados, Os vales daqueles rios Aqueles vastos sombrios De frondosas trepadeiras, Conserva a recordação Da cratera de um vulcão Ou onde havia fogueiras. O gado urra com fome, Berra o bezerro enjeitado Tomba o carneiro por terra Pela fome fulminado, O bode procura em vão Só acha pedras no chão Põe-se depois a berra, A cabra em lástima completa O cabrito inda penetra Procurando o que mamar. Grandes cavalos de selas De muito grande valor Quando passam na fazenda Provocam pena ao senhor Como é diferente agora Aquele animal de que outr’ora Causava admiração, Era russo hoje está preto Parecendo um esqueleto Carcomido pelo chão. Hoje nem os pássaros cantam Nas horas do arrebol O juriti não suspira Depois que se põe o sol

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Tudo ali hoje é tristeza A própria cobra se pesa De tantos que ali padecem Os camaradas antigos Passam pelos seus amigos Fingem que não os conhecem. Santo Deus! Quantas misérias Contaminam nossa terra! No Brasil ataca a seca Na Europa assola a guerra A Europa ainda diz O governo do país Trabalha para o nosso bem O nosso em vez de nos dar Manda logo nos tomar O pouco que ainda se tem. Vê-se nove, dez, num grupo Fazendo súplicas ao Eterno Crianças pedindo a Deus Senhor! Mandai-nos inverno, Vem, oh! grande natureza Examinar a fraqueza Da frágil humanidade A natureza a sorrir Vê-la sem vida a cair Responde: o tempo é debalde. Mas tudo ali é debalde O inverno é soberano O tempo passa sorrindo Por sobre o cadáver humano Nem uma nuvem aparece Alteia o dia o sol cresce Deixando a terra abrasada E tudo a fome morrendo Amargos prantos descendo Como uma grande enxurrada. Os habitantes procuram O governo federal Implorando que os socorra Naquele terrível mal A criança estira a mão Diz senhor tem compaixão E ele nem dar-lhe ouvido É tanto a sua fraqueza Que morrendo de surpresa Não pode dar um gemido.

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Alguém no Rio de Janeiro Deu dinheiro e remeteu Porém não sei o que houve Que cá não apareceu O dinheiro é tão sabido Que quis ficar escondido Nos cofres dos potentados Ignora-se esse meio Eu penso que ele achou feio Os bolsos dos flagelados. O governo federal Querendo remia o Norte Porém cresceu o imposto Foi mesmo que dar-lhe a morte Um mete o facão e rola-o O Estado aqui esfola-o Vai tudo dessa maneira O município acha os troços Ajunta o resto dos ossos Manda vendê-los na feira.

Após a leitura do texto, os alunos serão convidados a contemplar as obras de

Cândido Portinari. A primeira obra é Criança morta disponível em:

http://www.proa.org/exhibiciones/pasadas/portinari/salas/id_portinari_crianca_morta.

html acessado em 07/02/2017.

E a segunda, Os retirantes disponível em:

http://www.proa.org/exhibiciones/pasadas/portinari/salas/id_portinari_retirantes.html

acessado em 07/02/2017. Responder as seguintes questões:

Assistir ao curta-metragem “Vida Maria” disponível em:

https://m.youtube.com/watch?v=zD_kmO8u1Xg acessado em 24/08/2016.

A partir da visualização do curta-metragem os alunos irão responder as seguintes

questões:

1. Qual é a realidade retratada pelas obras?

2. Em qual região do país esse problema ocorre? Qual é a causa e as

consequências dessa situação?

3. Quais as semelhanças e as diferenças entre as obras?

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Propor a leitura do poema Pedra só de José Inácio Vieira de Melo e assistir ao vídeo

que apresenta por meio da performance o mesmo poema. O vídeo está disponível

em: https://m.youtube.com/watch?v=zZ9a2OtVLVY acessado em 05/10/2016.

1. O curta apresenta um ambiente. Que ambiente é esse?

2. Explique o título. Que relação existe entre ele e o filme?

3. O que representa a cena em que a pequena Maria é arrancada do seu

caderninho e é obrigada a trabalhar em casa?

4. Será que a mulher que nasce naquele lugar, naquelas condições, está

condenada a ter uma "vida Maria". Qual é o papel desempenhado pela

mulher que vive nessa situação?

5. A realidade exposta pelo filme é atual? Comente.

6. Essa realidade poderia ser superada? De que modo?

7. O caderninho traz a figura de linguagem metáfora. Explique-a.

8. Explique a metáfora presente na cerca que separa Maria do mundo.

9. Que sentimentos o filme provoca?

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A partir da audição desse poema correlacionar com os alunos as particularidades de

cada obra, bem como as semelhanças existentes entre elas.

Quarto momento

Propor um estudo sobre a Variação linguística.

Expor por meio de cópias e oralmente algumas particularidades da variação

linguística.

Variação linguística

A língua é usada de modo heterogêneo por todos os seus

falantes. O uso de uma língua varia de época para época, de região

para região, de classe social para classe social, e assim por diante.

Por assim ser, dependendo da situação, uma mesma pessoa pode

usar diferentes variedades de acordo com o contexto em que está

interagindo.

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Ao trabalhar com o conceito de variação linguística,

pretende-se demonstrar:

que a língua portuguesa, como todas as

línguas do mundo, não se apresenta de

maneira uniforme em todo o território

brasileiro;

que a variação linguística manifesta-se em

todos os níveis de funcionamento da

linguagem;

que diversos fatores, como região, faixa etária,

classe social e profissão, são responsáveis pela

variação da língua;

que não há hierarquia entre os usos variados

da língua, assim como não há uso

linguisticamente melhor que outro. Em uma

mesma comunidade linguística, portanto,

coexistem usos diferentes, não existindo um

padrão de linguagem que possa ser

considerado superior. O que determina a

escolha da variedade é a situação concreta de

comunicação.

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Variação dialetal Cada pessoa traz em si uma série de características que se traduzem no seu

modo de se expressar: a região onde nasceu, o meio social em que foi criada e/ou

em que vive, a profissão que exerce, a sua faixa etária, o seu nível de escolaridade.

Os exemplos a seguir ilustram esses diferentes tipos de variação.

a região onde nasceu (variação regional/geográfica) - aipim,

mandioca, macaxeira (para designar a mesma raiz); tu e

você (alternância do pronome de tratamento e da forma verbal que o

acompanha); o s chiado carioca e o s sibilado mineiro. Nesta

dimensão, incluem-se as diferenças linguísticas observadas entre

pessoas de regiões distintas, onde se fala a mesma língua. Exemplos

claros desta variação são as diferenças encontradas entre os diversos

países de língua portuguesa (Brasil, Portugal, Angola, por exemplo) ou

entre regiões do Brasil (região sul, com os falares gaúcho, catarinense,

por exemplo, e região nordeste, com os falares baiano, pernambucano,

etc.).

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o meio social em que foi criado e/ou em que vive; o nível de

escolaridade (no caso brasileiro, essas variações estão

normalmente interrelacionadas (variação social) : substituição

do l por r (crube, pranta, prástico); eliminação do d no gerúndio

(correndo/correno); Sob esse ponto de vista, os dialetos

correspondem às variações que existem em função da classe social

a que pertencem os indivíduos. Incluem-se neste tipo de variedade

linguística os jargões profissionais (linguagem dos advogados, dos

locutores de futebol, dos policiais, etc.) e as gírias, que identificam

muitos grupos sociais. Na sociedade, os dialetos sociais podem ter

um papel de identificação, pois é através deles que os diferentes

grupos se reconhecem e até mesmo se protegem em relação aos

demais.

a faixa etária (variação etária) : irado, sinistro (termos usados pelos jovens para elogiar, com conotação positiva, e pelos mais velhos, com conotação negativa). Essas diferenças correspondem ao uso da língua por pessoas de diferentes faixas etárias, fazendo com que, por exemplo, uma criança apresente uma linguagem diferente da de um jovem, ou de um adulto. Ao longo da vida, as pessoas vão alternando diferentes modos de falar conforme passam de uma faixa etária a outra.

tempo (variação histórica): refere-se aos estágios de desenvolvimento de uma língua ao longo da História. Como por exemplo, a palavra “Você”, que antes era Vossa Mercê e passou a vosmicê e que agora, diante da linguagem reduzida no meio eletrônico, é apenas VC.

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Pelos exemplos apresentados, podemos concluir que há dialetos de dimensão

territorial, social/profissional, de idade, de sexo, histórica. Nem todos os autores

apresentam a mesma divisão para estas variedades, porque elas não têm os limites

bem definidos.

Propor a leitura da obra As palhaçadas de João Grilo de João Ferreira de Lima,

escrito em 1948 num folheto de oito páginas, com estrofes de seis versos que mais

tarde, a obra foi ampliada por João Martins de Ataíde para 32 páginas, em sextilhas

sob o título de Proezas de João Grilo. Disponível em:

http://blogkairu.blogspot.com.br/2015/11/palhacadas-de-joao-grilo.html ou

http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/JoaoFerreira/joaoFerreiradeLima_acervo.ht

ml acessado em 24/08/2016

Após a leitura do texto, responder as seguintes questões:

1. O texto “As palhaçadas de João Grilo” pertence a qual gênero textual? Cite

características desse gênero presentes no texto.

2. Há personagens na história? Quais?

3. Quais características são mais marcantes na personagem principal?

Justifique a resposta.

4. Qual a sua opinião sobre as atitudes de João Grilo?

5. Há palavras que caracterizam a variedade linguística regional, como “

sambudo”, “coité”, “garapa”, “popa”, “ turututu”, “timbu”, “caviloso”, “croado”,

“ cangalha”. Você conhece o significado? Vamos descobrir.

6. Na sua opinião, ao utilizar marcas linguísticas regionais, o autor consegue

caracterizar melhor a cultura local, bem como os sentidos do textos?

Justifique a resposta.

7. Há a preocupação por parte do escritor com a norma padrão da Língua

Portuguesa?

8. Há excessos na utilização das rimas? Comente.

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Após assistir ao trecho do filme O auto da compadecida ( o julgamento de João

Grilo) disponível em: https://m.youtube.com/watch?v=CAvIyprhDco

Responder as seguintes questões.

Leia o verso recitado por João Grilo para invocar Nossa Senhora.

“Valha-me Nossa Senhora,

Mãe de Deus de Nazaré!

A vaca mansa dá leite,

A braba dá quando quer.

A mansa dá sossegada,

A braba levanta o pé.

Já fui barco, fui navio,

Mas hoje sou escalar.

Já fui menino, fui homem,

Só me falta ser mulher.

Valha-me Nossa Senhora,

Mãe de Deus de Nazaré!”

1. Há diferenças entre o modo de João Grilo e os padres demonstrarem a sua

fé. Comente e compare essas duas formas de cultivar a religiosidade..

2. Leia um trecho da fala da Compadecida em favor de João.

“João foi um pobre como nós, meu filho. Teve de suportar as maiores

dificuldades, numa terra seca e pobre como a nossa. Não o condene, deixe

João ir para o purgatório.”

3. Responda:

a) Há características de João que lembram o lugar onde viveu, ou seja ele

apresenta características típicas da região nordestina. Cite-as.

b) Quais os efeitos das condições do meio na conduta de João.

c) Atualmente, de que forma a população do Nordeste enfrenta a seca?

d) Você conhece alguém que veio para o sul do Brasil fugindo da seca?

e) Quem são os migrantes na atualidade. De onde eles vêm. Por que fogem de

sua terra natal?

Assistir ao vídeo do teatro “João Grilo de Mossoró” disponível em:

https://m.youtube.com/watch?v=Vqf-QLit1rM

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Responder as seguintes questões:

Propor a leitura do texto “Tipos de assaltantes” disponível no site:

http://www.piadas.com.br acessado em 03/10/2016

Após a leitura responder as questões:

1. O que você percebeu no texto acima? Comente:

2. Transcreva de cada uma das cenas duas palavras ou expressões próprias do:

nordestino:

mineiro:

gaúcho:

carioca:

baiano:

paulista:

3. Além da linguagem, o texto também revela comportamentos ou hábitos que

supostamente caracterizam o povo de diferentes estados ou regiões. Diga o que

caracteriza, por exemplo, o nordestino, o baiano e o paulista.

Quinto momento

Produção de literatura de cordel em grupo.

Assistir ao vídeo “O cangaceiro” disponível em

https://m.youtube.com/watch?v=PXa3eYOh96I acessado em 22/08/2016. Para

observar as marcas da oralidade, da variação linguística e da xilogravura.

1. Quais as diferenças mais marcantes entre o texto “As palhaçadas de João

Grilo” e o teatro produzido a partir da obra?

2. Há no vídeo do teatro e no trecho do filme “O auto da compadecida”

marcas da oralidade nordestina. Enquanto que no texto “As palhaçadas de

João Grilo” isso não acontece. Como se explica esse acontecimento.

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Propor a leitura de trechos dos poemas de Ismael Gaião que tratam sobre o fazer

literatura de cordel. Os poemas estão disponíveis em

http://www.recantodasletras.com.br/cordel/4767354 acessado em 03/10/2016

Assistir ao vídeo em que é apresentada A Lei Maria da Penha disponível em

https://www.youtube.com/watch?v=8G9Ddgw8HaQ acessado em 16/11/2016, a fim

de que os alunos possam observar que a Literatura de Cordel aborda inúmeras

temáticas.

Realizada as atividades anteriores será sugerida à dupla de alunos a escrita de um

poema de Literatura de Cordel cujo tema será livre.

Sexto momento

Oficina de xilogravura (isogravura).

Questionar os alunos se eles observaram que as gravuras dos cordéis são

diferentes? Por que são diferentes? E como são produzidas?

Informar aos alunos que faremos uma oficina de xilogravura, porém de uma forma

adaptada (pois na forma original são usados materiais cortantes e que não seriam

adequados na sala de aula).

Para isso, assistir ao vídeo que ensina como se faz a isogravura disponível em:

https://m.youtube.com/watch?v=aJODGw9MeV4 acessado em 05/10/2016.

Entregar para os alunos placas de isopor (as bandejinhas que embalam frios), pincel

(rolo) e tinta de variadas cores, tesouras sem pontas e seguir os seguintes passos:

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Posteriormente, será proposto um recital de poesias de cordel para os colegas da

turma a fim de aprimorar a leitura expressiva, a poética e a performance.

Referências Bibliográficas

ARRAES, Guel. O auto da compadecida ( o julgamento de João Grilo).

Disponível em: https://m.youtube.com/watch?v=CAvIyprhDco Acesso em:

01/09/2016.

a) Cortar as bordas das bandejinhas de isopor;

b) Escolher o desenho que pretende fazer ou pode desenhar livremente;

c) Com uma caneta ou lápis da ponta arredondada (por fazer) ir dando

profundidade as lindas dos desenhos;

d) Despejar um pouco da tinta numa superfície plana e umedecer o

pincel de forma que não fique muito úmido e tirar o excesso numa pedaço de

jornal usado;

e) Passar o pincel levemente sobre a superfície desenhada;

f) Agora é pegar a folha de papel oficio e como se fosse carimbá-la

colocar o isopor cuidadosamente e sem que ele se mova depois que estiver

em contato com a folha e pressionar com as mãos e ir deslizando por toda

superfície (levemente).

g) Retirar o isopor e pronto, a gravura está pronta.

h) Colocar no varal para secar e ser apreciada pela turma.

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BARROS, Leandro Gomes de. A seca do Ceará. Disponível em:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co

_obra=213973 Acesso em: 24/08/2016.

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