Literatura em Hq: Interações Entre Textos e Leitores na...

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84 UNISUAM | Centro Universitário Augusto Motta Revista Semioses | Rio de Janeiro | Vol. 01 | N. 06 | Fevereiro de 2010 | Semestral Artigos Literatura em Hq: Interações Entre Textos e Leitores na Contemporaneidade Patrícia Kátia da Costa Pina - UNEB RESUMO: Este artigo discute alguns dos desafios que cercam a leitura de literatura, efetuada por crianças e jovens, na contemporaneidade, em face das novas, diferentes e sedutoras mídias que nos cercam, tendo como objeto de estudo a narrativa lobate- ana Dom Quixote das crianças, em sua versão literária e em HQ. Preocupam-me o lugar que o texto literário ocupa no cotidiano de jovens e adultos hoje, bem como as estratégias autorais e,ou editoriais para torná-lo prazeroso e competitivo, em rela- ção aos games, à TV, ao cinema etc. O objetivo é investigar como a leitura do texto literário, publicado em outra mídia que não o livro, enfatiza o lúdico, podendo funcio- nar como forma de apreensão do mundo e construção simbólica de identidades. Para tanto, discutir-se-ão as teorias de Scholes, Iser, Huizinga, bem como as afirmações de Yunes, Pondé, Lajolo, entre outros, no sentido de se definir o ato da leitura como ação lúdica, como jogo, que envolve uma interação autor/editor-texto/imagem-leitor e que prevê inúmeras possibilidades de mediação. Palavras-chave: Leitura, Literatura Infantil, HQ, Livro. ABSTRACT: This article discusses some challenges faced by the act of reading lit- erature by children and teenagers, in the advent of seducing and varied new media. The object of study is Lobato’s Dom Quixote das crianças, in both versions, literary and comic strips. What interests me is the place occupied by literary text in teenagers’ and adults’ daily life, as well as the strategies of authors and/or publishers to make them pleasant and appealing when compared to games, TV, movies, etc. My objective is to investigate how the reading of literary text published in a media other than the book emphasizes the act of playing, being able to function as means to apprehend the world and as tool to build symbolic identity. I am going to discuss Scholes’s, Iser’s and, Huizinga’s theories as well as Pondé’s, Lajolo’s among others, trying to define the act of reading as playful act, as game which involves an interaction between au- thor/publisher-text/imago-reader with a great number of possible mediation. Keywords: Reading, Children’s literature, Comic strips, Book.

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Literatura em Hq: Interações Entre Textos e Leitores na Contemporaneidade

Patrícia Kátia da Costa Pina - UNEB

RESUMO: Este artigo discute alguns dos desafios que cercam a leitura de literatura, efetuada por crianças e jovens, na contemporaneidade, em face das novas, diferentes e sedutoras mídias que nos cercam, tendo como objeto de estudo a narrativa lobate-ana Dom Quixote das crianças, em sua versão literária e em HQ. Preocupam-me o lugar que o texto literário ocupa no cotidiano de jovens e adultos hoje, bem como as estratégias autorais e,ou editoriais para torná-lo prazeroso e competitivo, em rela-ção aos games, à TV, ao cinema etc. O objetivo é investigar como a leitura do texto literário, publicado em outra mídia que não o livro, enfatiza o lúdico, podendo funcio-nar como forma de apreensão do mundo e construção simbólica de identidades. Para tanto, discutir-se-ão as teorias de Scholes, Iser, Huizinga, bem como as afirmações de Yunes, Pondé, Lajolo, entre outros, no sentido de se definir o ato da leitura como ação lúdica, como jogo, que envolve uma interação autor/editor-texto/imagem-leitor e que prevê inúmeras possibilidades de mediação.

Palavras-chave: Leitura, Literatura Infantil, HQ, Livro.

ABSTRACT: This article discusses some challenges faced by the act of reading lit-erature by children and teenagers, in the advent of seducing and varied new media. The object of study is Lobato’s Dom Quixote das crianças, in both versions, literary and comic strips. What interests me is the place occupied by literary text in teenagers’ and adults’ daily life, as well as the strategies of authors and/or publishers to make them pleasant and appealing when compared to games, TV, movies, etc. My objective is to investigate how the reading of literary text published in a media other than the book emphasizes the act of playing, being able to function as means to apprehend the world and as tool to build symbolic identity. I am going to discuss Scholes’s, Iser’s and, Huizinga’s theories as well as Pondé’s, Lajolo’s among others, trying to define the act of reading as playful act, as game which involves an interaction between au-thor/publisher-text/imago-reader with a great number of possible mediation.

Keywords: Reading, Children’s literature, Comic strips, Book.

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1. Primeiras Palavras

Outro aspecto importante a salientar é o fato de que é a estrutura do texto, por seu caráter dialógico, que determina a polifo-nia, problematizando o leitor, na medida que reage ao seu código. O autor vê a literatura, portanto, como uma provoca-ção ao leitor, levando-o a constituir novos sentidos e, conseqüentemente, crescer como ser humano.

Vera Teixeira de Aguiar, 2008, p.24

No fragmento em epígrafe, Vera T. de Aguiar começa por referir-se ao fato de que a estrutura textual problematiza o leitor. A que noção de leitor estaria a pesquisadora se re-ferindo? Pela leitura de seu artigo, percebe-se que ela traz duas noções básicas de leitor, as quais assumo na redação deste trabalho: a de leitor empírico e a de leitor implícito, e esta última remete a ela e a mim à já antiga Teo-ria do Efeito de Wolfgang Iser – antiga, mas extremamente relevante para os estudiosos da leitura literária.

Iser investiga os mecanismos textuais que conduzem a interação da obra com o leitor empírico. A obra responde às necessidades de uma dada época, de uma dada cultura, segundo a ótica de um indivíduo que responde por sua autoria. O leitor de carne e osso nem sempre partilha esse mesmo contexto original e, mes-mo que o faça, constitui-se em um indivíduo outro, uma subjetividade diferente daquela que engendrou o texto.

Há, portanto, entre ambos – o texto com seu leitor implícito e o mundo com seus lei-tores históricos – uma assimetria que, longe de impedir o trânsito de sentidos, viabiliza o diálogo, pois provoca o desejo de interação: o leitor real sempre quer entender o que lê, con-seqüentemente, sempre envida esforços para

aproximar-se do mundo que lhe é dado pelo impresso. Nesse processo, vai negociando com a obra e com as suas próprias expectativas.

Para Iser, por meio da ficção, o leitor em-pírico pode atravessar as fronteiras do mundo instituído, uma vez que ele o refaz, antro-pofagizando a realidade. Segundo o teórico alemão, o texto ficcional carrega lacunas que desenham uma implicitação do leitor imagi-nado pelo autor e pelos editores, ilustradores etc., essa projeção tem um forte potencial de provocação.

Parece-me que as brechas textuais que promovem o diálogo da obra com esse leitor de verdade constroem uma representação de leitor – o referido leitor implícito – que se quer e que se sabe imprecisa, incompleta, ape-nas textual, exatamente para gerar sensações e sentimentos surpreendentes no leitor de carne, osso, óculos, levando-o a aproximar-se mais e mais da obra.

Essa representação, ou melhor, o leitor implícito, viabiliza um outro tipo de repre-sentação: a das cenas e práticas de leituras, as quais balizam a interação da palavra impressa com o leitor real. Essas representações, nem sempre explícitas, ensinam o leitorado, em sua heterogeneidade de repertórios, a entrar no texto e a dialogar com ele. Elas aparecem, por exemplo, em cenas em que algumas persona-gens lêem e discutem livros, ou, no caso que me interessa diretamente, o dos quadrinhos, na ordem dos quadros e dos balões na página. Nos jornais e revistas, essas representações podem ser percebidas a partir da relação entre texto e anúncios, ou entre textos e fotos.

A leitura surge, então, como uma atividade comandada, sim, pelo texto, mas dependente das possibilidades de interlocução do leitorado histórico que com ele entra em contato:

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...a relação entre texto e leitor só pode ter êxito mediante a mudança do leitor. Assim o texto constantemente provoca uma multiplicidade de representações do leitor, através da qual a assimetria come-ça a dar lugar ao campo comum de uma situação. Mas a complexidade da estrutu-ra do texto dificulta a ocupação completa desta situação pelas representações do leitor. O aumento da dificuldade significa que as representações devem ser abando-nadas. Nesta correção, que o texto impõe, da representação mobilizada, forma-se o horizonte de referência da situação. Esta ganha contornos, que permitem ao próprio leitor corrigir suas projeções. Só assim ele se torna capaz de experimentar algo que não se encontrava em seu hori-zonte. (ISER, 1979, p.88-89)

Tal problematização do leitor empírico, empreendida pela obra em sua própria gênese e em seu processo de interação com o mundo, através da divulgação e da leitura, provoca uma relação texto/leitor que abre incontáveis possibilidades de comunicação, as quais de-pendem de alguns mecanismos textuais de controle como os vazios, as negações, as su-pressões, as cesuras, as imagens, os cerzidos do texto, enfim, todos construindo o lugar do leitor de verdade, através dessa implicitação de um leitor desejado pelos autores e editores, quebrando o fluxo textual, interrompendo a ar-ticulação discursiva seqüencial. Dessa forma, o texto pode provocar o imaginário de seu in-terlocutor, dinamizando o impresso, por meio de elementos capazes de suscitar uma leitura ativa.

É aqui que entra o segundo aspecto do trecho em epígrafe a ser discutido: o autor pro-voca o leitor para transformá-lo pelo processo da leitura. Essa provocação me remete ao con-ceito de jogo de Huizinga, o qual investiga a importância do jogo na vida social:

As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde início, inteiramente marcadas pelo jogo. Como por exemplo, no caso da linguagem, esse primeiro e supremo instrumento que o homem forjou a fim de poder comunicar, ensinar e comandar. É a linguagem que lhe permite distinguir as coisas, defini-las e constatá-las, em resumo, designá-las e com essa designação elevá-las ao domí-nio do espírito. Na criação da fala e da linguagem, brincando com essa maravi-lhosa faculdade de designar, é como se o espírito estivesse constantemente saltan-do entre a matéria e as coisas pensadas. Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado do da nature-za. (HUIZINGA, 2001, p.7)

Refletir, então, acerca das relações entre a obra literária e o leitor empírico, através desse conceito de jogo, permite pensar que a tensão que o preside é que funcionaria como instru-mento de provocação e de sedução dos inter-locutores textuais, transformando-os a partir da interação com o lido. Tal tensão própria do jogo literário remete às estratégias textuais de implicitação do leitor – e de provocação de sua face empírica –, bem como de condução da leitura, discutidas por Iser.

Essa ludicidade da linguagem literária abriria caminho para que o leitor, histórica e socialmente localizado, interagisse com o texto. Alargando as bases dessa reflexão, res-tritas por Iser ao texto literário, penso que a ludicidade da linguagem quadrinhística tam-bém faz isso e, talvez, de forma mais eficaz, dependendo do público e do repertório de que dispõe, uma vez que é uma linguagem híbrida, que mescla recursos verbais e não-verbais,

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brincando com os mais diferentes sentidos daquele que joga com ela.

Retomando Huizinga, o mistério do jogo preside o ato da leitura: entramos sozinhos no texto e saímos dele modificados, mesmo quando a leitura é coletiva, pois cada um joga com a sua individualidade, ainda que de acor-do com regras gerais. E melhor, cada um joga porque quer jogar.

Relação transitiva, dialógica, cada ato de leitura deve processar uma pessoalização do lido: “Não nos é possível penetrar nos tex-tos que lemos, mas estes podem entrar em nós; é isso precisamente o que constitui a leitura”(SCHOLES, 1991, p.22). Ler literatu-ra, então, parece poder ser definido como um momento em que o leitor inscreve, em si, o texto, tornando-se seu interlocutor. O ato da leitura, portanto, não se constrói por um mero processo de decodificação do impresso, pois esse trânsito entre texto e leitor está situado histórica, cultural, politicamente, envolvendo, ainda, condicionamentos menores, de ordem psicológica, social, econômica, enfim.

Aguiar propõe, ao debruçar-se sobre as contribuições das Estéticas da Recepção e do Efeito, que a conquista do prazer estético no ato de ler é capaz de construir o gosto pela leitura literária:

O prazer estético nasce, pois, da com-preensão do sujeito com respeito à prática que vive, envolve participação e apropriação. Na atitude estética, o leitor deleita-se com o objeto que lhe é exterior. Descobre-se, apropriando-se de uma ex-periência do sentido do mundo. Diante da obra percebe sua própria atividade criativa de recepção da vivência alheia. (AGUIAR, op. cit., p.21)

Ao compreender-se interagindo com o

texto, o leitor empírico se percebe numa in-timidade dantes inimaginada, intimidade esta que pode levá-lo a querer repetir a experiência e a gostar do desafio.

2. HQ E LEITURa na COnTEMPORanEIdadE

A leitura não é prática neutra. Ela é cam-po de disputa, é espaço de poder.Márcia Abreu, 2002, p.15

O espaço da leitura é um espaço de poder: é fruto de um confronto entre a obra e o leitor, entre o imaginário da obra e o de seus interlo-cutores. Na verdade, a leitura é o próprio con-fronto. Que poder estaria em jogo? Entendo que não é apenas uma única esfera de poder: há o poder da circulação da obra impressa no mercado, o poder de dominar e formar padrões de gosto e de consumo do impresso, o poder de determinar sentidos privilegiados para a obra etc.

Esse processo tenso não tem nada de ino-cente: autores, editores e demais mediadores do livro e de outros bens culturais impressos desenham simbolicamente seus alvos - os lei-tores -, introjetando-os, de diversas maneiras, nas páginas que lhes são destinadas.

O jogo de desafio/sedução construído pelas variadas instâncias autorais e editoriais que circundam o impresso é sempre lançado sobre o público de maneira estratégica. As armadilhas do texto/livro/revista/jornal são engendradas de forma a interagir com o seg-mento do leitorado que as citadas instâncias de poder desejam transformar em consumidores do produto oferecido. Há, portanto, uma cons-trução simbólica – e, claro, ideológica – de um mercado consumidor e essa construção se dá através de estratégias textuais e editoriais que se mascaram.

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Este artigo se propõe a estudar como a adaptação do livro Dom Quixote das crianças, de Monteiro Lobato, para HQ, suporte cuja linguagem híbrida joga com as habilidades do jovem leitor contemporâneo, pode funcio-nar como instrumento de formação do gosto pela leitura literária, ou seja, como a referida adaptação pode virar o jogo do descaso pelo impresso, tão alardeado nas diferentes instân-cias sociais.

O Dom Quixote das crianças da Editora Globo é uma apropriação do livro lobatiano, o qual, por sua vez, é uma apropriação do livro de Cervantes. Não há, na capa, indicação do nome do roteirista nem do ilustrador. Nas indi-cações bibliográficas, a ilustração é atribuída a uma equipe, a da Cor e Imagem, e o roteiro a André Simas. Essas informações não são su-pérfluas: ela indiciam que a Editora, até pelo título geral da publicação – Monteiro Lobato em quadrinhos – quer enfatizar a autoria de Lobato, talvez como garantia de boas tiragens e boas vendas.

A Editora da obra aqui estudada tem uma estratégia básica: quer convencer o consumi-dor infantil ( e seus pais ou responsáveis, claro) de que aquele volume de HQ está intimamente ligado a toda a obra de Lobato que a criança conhece, seja pela TV, seja pelo livro. É um processo de múltiplas e variadas referências ao limitado repertório infantil.

Essas estratégias de escrita e publicação balizam o processo de leitura, ainda que não o constranjam, mas direcionam possíveis apropriações, tanto por parte de leitores com vasto repertório, como por parte dos neófitos das letras impressas.

As adaptações constituem apropriações que cristalizam determinadas formas de inte-ração do escritor/editor com o texto-fonte. Isso significa que as adaptações trazem sentidos e

valores agregados ao texto original, os quais o atualizam e transformam-no em um novo texto.

O adaptador é uma espécie de consumidor primeiro do texto e, como afirma Martín-Barbero, em Dos meios às mediações (2003, p. 302), o consumo é o lugar de uma luta que implica mais que a posse do objeto, implica seus usos sociais e as competências culturais com que objeto e consumidor interagem. O consumo é objeto de discursos/atos de poder...

A apropriação lobatiana da obra de Cer-vantes conta com uma cúmplice poderosa: Dona Benta, a encantadora avó de Narizinho e Pedrinho, que toma para si a dificultosa tarefa de educar os netos brincando, exatamente nos períodos de férias de Pedrinho, menino urba-no, que escapole poucos dias por ano para seu Sítio.

As histórias em quadrinhos que se apro-priam de obras literárias promovem certo direcionamento do ato de ler, exatamente por concretizarem, no papel impresso, uma leitura já feita. Mas, também, permitem que os leito-res, que ainda não têm um grande repertório a ser posto em ação no ato da leitura, se identifi-quem mais intensamente com as personagens e suas ações, com a trama e suas idéias.

As obras-fonte imprimem aos jovens lei-tores contemporâneos uma série de obstáculos que os quadrinhos relativizam. A representa-ção visual é uma alternativa muito interessante nesse sentido. Segundo Martine Joly,

Seja ela expressiva ou comunicativa, é possível admitir que uma imagem sempre constitui uma mensagem para o outro, mesmo quando esse outro somos nós mesmos. Por isso, uma das precauções necessárias para compreender da melhor forma possível uma mensagem visual

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é buscar para quem ela foi produzida. (JOLY, 1996, p. 55)

A adaptação da obra lobatiana para HQ foi criada para um público entre os oito e os doze anos de idade, isso implica entender que todos os recursos da linguagem quadrinhística estarão voltados para a interlocução com o pequeno repertório desse público, acostumado a ver TV, ir ao cinema, assistir a videoclipes, jogar brincadeiras eletrônicas, navegar pela Internet.

Sua capa traz a imagem do Dom Quixo-te, representado pelo Visconde de Sabugosa, ocupando todo o lado direito, sendo o lado esquerdo destinado a alguns dos quadros que marcam as partes da história escolhidas pelos editores para comporem o volume.

Logo após, há uma apresentação verbal-imagética denominada “Aventuras Quixo-tescas” (ANEXO 1). A apresentação dessa adaptação é feita por Emília, vestida de Dom Quixote, com uma bacia na cabeça e uma vassoura na mão. Sorridente, a bonequinha de macela começa apelando para o caráter aventureiro das narrativas que envolvem as personagens da obra lobatiana. A seguir ela dá a motivação dessa empreitada editorial: "Claro que eu não podia deixar vocês de fora dessa. Foi por isso que fizemos este livro, para que todo mundo pudesse conhecer o grande cavaleiro andante."(LOBATO, 2007, p. 3)

"Todo mundo" deve ler, "todo mundo" deve conhecer Lobato e Cervantes. "Todo mundo" deve aprender a gostar de ler. Na mesma página, logo abaixo, Emília pergunta: "Ficou com sede de aventura? Então, está no lugar certo!"(Ibidem). O livro de HQ é o lugar certo, talvez aquele em que as crianças de hoje poderão morar, como as de ontem moraram nos livros de Monteiro Lobato.

Segundo Nelyse Salzedas e Pedro Padovi-ni,

O texto de Lobato foi adaptado primeira-mente no período inaugural da televisão brasileira e, desde então, suas narrativas são editadas sob novos contextos histó-ricos e sociais, com intervalos entre uma produção e outra. Em todos os casos de edição, abrem-se novas audiências, que determinam novas interpretações. (SAL-ZEDAS e PADOVINI, 2008, p. 247)

Trazendo a reflexão dos pesquisadores para o campo da produção impressa atual, com as histórias em quadrinhos abrem-se novos modos e tipos de leitura da obra lobatiana, tal-vez não tão amplos geográfica e socialmente quanto os abertos pela TV, que chega aos mais distantes vilarejos do país, mas, ainda assim, os quadrinhos agregam ao texto-fonte novos segmentos de consumidores.

DJota Carvalho, em A educação está no gibi, afirma:

Seja pela atraente mistura de texto e dese-nho, seja pelos diversos tipos de histórias ou, ainda, por heróis (e super-heróis) inesquecíveis, os quadrinhos sempre fo-ram uma mídia sedutora para o público infanto-juvenil. Assim, naturalmente, as HQs são também um instrumento poten-cial para educar. (CARVALHO, 2006, p. 31)

A adaptação criada pela Editora Globo não traz exatamente um super-herói, mas coloca como centro das atenções Emília e o Visconde Sabugosa, dando às demais personagens um espaço secundário. Eleger essas duas perso-nagens para a condução da narrativa verbal-visual é uma intervenção tanto na obra-fonte, como nas adaptações televisivas e parece-me apontar o caminho da apropriação quadrinhís-

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tica: são duas personagens-boneco, mas que associam a irreverência do lúdico à seriedade do conhecimento, valores fundamentais para a formação infantil.

A primeira página da HQ traz exatamente a cena em que Emília convoca a ajuda do Vis-conde (ANEXO 2). É curioso observar a cons-trução da página: trata-se de um único quadro, plano geral, vista frontal, com colorido vivo, balões de fala com letras normais. A estante escalada por Emília traz títulos preciosos para a formação de um sólido e canônico gosto pela leitura literária: Moby Dick, Bambi, Peter Pan, Hércules e, pasmem, Urupês, do próprio Lobato, dividem a prateleira com o Dom Qui-xote. A gradação de cores é sugestiva: Urupês em azul, com letras em forte tom amarelo, e Dom Quixote em forte vermelho, com grandes letras amarelas. Essa última prateleira é muito significativa: os demais livros são coloridos em azul escuro, marrom escuro, as letras das lombadas estão em amarelo ou branco, ga-nhando grande destaque.

Nas prateleiras inferiores, surgem títulos como Odisséia, Ilha do Tesouro, Cinderela, Iracema, Alice no país das Maravilhas, O Alienista, O morro dos ventos uivantes etc. A construção estratégica da imagem segue o mesmo padrão: os mais relevantes para o cânone ocidental, como a Odisséia, trazem as letras mais visíveis, os menos relevantes, mas também considerados necessários pela Editora, suponho, trazem o título visível, mas truncado pela escada, ou pelas perninhas de Emília. Vale ressaltar que o título Cinderela se repete, em outra cor e meio oculto pelos cabelos da boneca.

Como sugere Núbio Delanne Ferraz Mafra, "O enquadramento, o lugar e o olhar de quem narra são fundamentais numa HQ"(MAFRA, 2003, p. 98). Embora plano de fundo, a imagem da estante parece desenhar

o cânone ocidental e brasileiro, como afirmei acima. Estranho isso, se pensarmos como os preconceituosos estudiosos do impresso, que relegam as HQs ao domínio da marginalidade; mas não é estranho, se pensarmos no propósi-to lobatiano de construir um país de cidadãos leitores, tendo a criança como base dessa sociedade desejada. A Editora Globo mostra, aí, que todo mundo pode subir os degraus da escadinha da Emília...

Esse quadro inicial direciona o leitor, inserindo-o de imediato num ambiente em que a literatura viável é aquela referendada pela Escola, pela Academia. Estariam os editores usando a HQ como simples trampolim para a criança leitora se sentir interessada pela litera-tura de verdade?

De acordo com Ianonne e Ianonne, “Os tipos de plano variam de acordo com o des-taque que o artista quer dar ao cenário ou aos personagens. Parece que o desenhista usa uma lente zoom, como no cinema ou na fotografia, para aproximar uma figura ou mostrar uma vi-são geral da cena”(IANONNE e IANONNE, 1994, p.63). A equipe de ilustração, ao compor esse primeiro quadro da adaptação destaca o saber das elites, o cânone ocidental e brasilei-ro, levando o leitor a imaginar que ler é ler essa literatura. A organização da imagem traz os elementos que traçam o jogo saber/poder: as cores intensas que alternam com os tons pastéis podem ser estratégias provocadoras do imaginário do leitor.

Retomando o livro de Monteiro Lobato, Dona Benta, na tentativa de saciar a curiosi-dade de Emília e a dos meninos, se propõe a fazer uma leitura seletiva da obra de Cervan-tes, na verdade, a fazer uma interpretação das histórias de D. Quixote e Sancho Pança. Ela conta os episódios que julga mais interessantes e adequados ao tipo de repertório e de expecta-tivas que seus netos e os bonecos teriam - ela

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reduplica o processo de censura e controle da leitura observado na arrumação da estante.

A mediação necessária de Dona Benta en-fatiza a distância que o mundo da escrita e do impresso ainda guarda em relação ao auditório composto pelos meninos, pela cozinheira e pe-los bonecos. Talvez de forma bastante crítica, Lobato metaforize, aí, a ação dos escritores e demais intelectuais, no que tange à divulgação da cultura impressa: ele facilita o acesso à obra. Essa marca da adaptação é responsável pelo preconceito que a cerca. Mas, por outro lado, essa facilitação do acesso ao texto pode funcionar como instrumento de formação do gosto pela leitura literária.

No Brasil do primeiro novecentos, ainda eram poucos os que podiam ter em mãos os grandes livros da humanidade. Dona Benta tinha, era uma senhora culta, versada em dife-rentes assuntos. E esse saber erudito dava-lhe uma autoridade mascarada sobre os netos e os demais habitantes das páginas lobatianas, bem como sobre a criança que se debruçasse sobre a obra em questão.

Se, por um lado, ela relativiza a simbólica arrumação da estante e cede aos desejos dos netos e da boneca, ao adaptar o livro para seu auditório, por outro lado, coloca todos em seus lugares, apontando a necessidade da media-ção, por não terem os interlocutores o repertó-rio que lhes permitiria compreender o livro e ressaltando, de forma indireta, a relevância de uma assimetria entre leitores comuns, leitores preparados e obra, implicitamente definindo o ato da leitura como uma atividade adequada apenas a iniciados.

A vantagem é que sua intervenção é lúdica e interativa: Dona Benta interpreta, na ver-dade, o que lê. Essa apropriação/adaptação é passada aos netos e aos demais ouvintes. Em-bora a associação entre leitura, interpretação

e poder fique clara, através das intervenções das crianças e das diferentes formas de apro-priação das histórias representadas no livro, ressalta nesse processo a viabilização de certa liberdade imaginária.

Cirne afirma que “Transpor uma obra de uma dada prática estética para outra prática estética implica assumir semiologicamente os signos de uma nova linguagem”(CIRNE, 1972, p. 93). A adaptação do texto lobatiano para HQ implica, então, é claro, uma leitura terceira, feita após a tradução e a adaptação do próprio Lobato, uma apropriação do que já foi lido e já foi objeto de apropriação, e uma “tradução” dos sentidos produzidos para as es-tratégias que as novas mídias/suportes, e suas respectivas linguagens, envolvem.

As HQ’s concretizam palavras em imagens, hibridizando essas duas linguagens. Logo no início dessa adaptação, aqueles que conhecem a obra-fonte reconhecem Emília e o Visconde de Sabugosa, reconhecem, pela expressão da boneca, que ela está dando ordens ao Viscon-de, está sendo irreverente como sempre. Uma das estratégias dos adaptadores, para jogar com as expectativas dos que conhecem e dos que não conhecem o texto-fonte, é já iniciar toda a narrativa quadrinizada pela percepção dessa irreverência. E já centralizarem, desde a capa e da Apresentação, a ação na Emília e no Visconde.

Na HQ aqui enfocada, a imagem de Dom Quixote corresponde à imagem do Visconde Sabugosa (ANEXO 3), o que me sugere um apelo à memória da criança que viu as séries de TV e a seu imaginário, construindo um he-rói tão ou mais cativante que o de Cervantes e o de Lobato.

A página apresenta três quadros de forma-to irregular, sendo menores os dois de cima, em formato de peças de quebra-cabeça – o que

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propõe a junção dos quadros, dando a seqüên-cia da leitura –, e o de baixo, maior, apenas com um balão contendo o título das aventuras, sendo que este balão corresponde à fala das personagens lobatianas que habitam o quadro superior.

O quadro maior da página traz um Dom Quixote/Visconde de Sabugosa de formas um pouco arredondadas, e com um grande sorriso, convidando os pequenos à aventura de ler. O uso das cores entre os quadros muda explici-tamente: nos quadros em que as personagens lobatianas mantêm sua identidade, as cores são intensas, girando entre vermelho, amarelo, azul, verde etc. Nos quadros correspondentes à história narrada, as cores surgem apagadas, constituindo-se em tons pastéis.

De acordo com Mendo, “Em muitas das pessoas, na maioria das culturas, o vermelho tende a causar excitação e o verde denota um sentimento mais relacionado à calma. A gama de vermelhos e amarelos é mais ‘quente’ que a dos azuis e verdes. O autor faz-se va-ler desse princípio para construir o clima da narrativa”(MENDO, 2008, p.53). É possível, então, observarmos que os ilustradores fize-ram uma seleção cromática capaz de ensinar sutilmente aos pequenos leitores como devem ler os diferentes níveis da ficção quadrinhís-tica: cores vivas e fortes indicam o mundo de Lobato, cores fracas apontam o mundo de Cervantes. Essa distinção cromática me pare-ce uma estratégia pedagógica dos ilustradores para formarem modelos de leitura – uma es-pécie de implicitação do leitor desejado pela Editora e sua equipe.

Se, no livro de Monteiro Lobato, encontra-mos vozes narrativas que conduzem a leitura, mostrando aos pequenos como as associações devem ser feitas para que se potencializem e relacionem as brechas textuais, destacando-se a voz de Dona Benta dentre todas as outras, na

adaptação da Cor e Imagem e de André Simas, as vozes narrativas se dissolvem em estraté-gias múltiplas, que jogam com o incipiente repertório do público desejado pela Editora, tais como a organização dos quadros como peças de quebra-cabeças, o colorido mutante, os balões que invadem os diferentes planos narrativos. São instrumentos da linguagem quadrinhística que as crianças de hoje, exa-tamente por terem seus padrões de gosto for-mados pela TV, pelo cinema, pelos desenhos, pela internet, pela HQ, conhecem e dominam.

3. PaRa PROvOCaR dISCUSSõESLer é um comportamento integrado aos diversos aspectos da vida e que é aprendi-do através deles...

Jean Foucambert, 2008, p. 154

Como se pode deduzir do fragmento em epígrafe, para ser leitor, o indivíduo não tem que apenas ler o livro, ele pode ler gibis, cordel, jornal, bulas de remédio, anúncios de jornais e revistas etc. Ler é exigência da vida contemporânea. Nesse contexto, ler literatura, seja em livro, seja em adaptações quadrinhís-ticas, pode ser visto como ato de prazer, como atividade de lazer, que se oporia a um mundo de leituras obrigatórias diárias.

A leitura é uma atividade criativa, criado-ra, aberta. Ela...

[...] tem duas faces e orienta-se para duas direcções distintas, uma das quais visa a fonte e contexto original dos sinais que se decifram, baseando-se a outra na situação textual da pessoa que procede à leitura. Pelo facto de a leitura constituir sempre matéria de, pelo menos, dois tempos, dois locais e duas consciências, a interpreta-ção mantém-se infinitamente fascinante, difícil e essencial.(SCHOLES, op. cit., p.23)

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Assim, a leitura é centrípeta e centrífuga, tanto implica compreender e incorporar, como implica ceder e doar. Ler é trocar com o lido as experiências, as do leitor empírico com as da obra e vice-versa. As associações que estabelecemos ao ler nos constroem para nós mesmos, nos moldam no e a partir do texto lido.

Na adaptação do livro de Monteiro Lobato para quadrinhos, a Editora Globo introjetou em cada página o pequeno leitor contempo-râneo, jogando com suas expectativas e com seu repertório em construção, sem abandonar o projeto do escritor de Taubaté - ele mostra à criança quem ela é na HQ e a partir da HQ.

A leitura desse volume de HQ me parece estabelecer um saudável confronto entre a lite-ratura, os seus diferentes suportes e o leitorado de agora, imerso num mundo que transita en-tre a concretude do impresso e a virtualidade da Internet. As novas mídias, dentre as quais a TV, o cinema, os quadrinhos, entram no circuito da formação do gosto pela leitura li-terária construindo um espaço paradoxal, mas eficiente. Os quadrinhos invadem a criança e deixam-se invadir por ela, estabelecendo ca-minhos alternativos, lúdicos, de ler a ficção, o mundo e a si mesmo no mundo.

Assim, entendo que as adaptações dos clássicos para HQ podem, sim, entrar com grandes vantagens no infinito jogo da forma-ção do gosto pela leitura literária na contem-poraneidade, acercando-se não apenas dos pe-quenos leitores, mas viabilizando a interação com diferentes segmentos etários e sociais do potencial leitorado brasileiro.

SOBRE O aUTOR

Doutora em Literatura Comparada, UERJ, 2000

Pós-Doutorado, UFRJ, 2010

Professora Adjunta de Literatura Brasileira

UNEB, Universidade do Estado da Bahia, Campus XX, Brumado

[email protected]

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