Literatura Prof. Henrique Modernismo 2º Tempo - Brasil.

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Literatura Prof. Henrique

Modernismo

2º Tempo - Brasil

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Modernismo – 2º tempo

Contexto Histórico Anos 30: Getúlio Vargas Ditadura Nacionalismo Crise de 29 Fortalecimento das ideologias totalitárias

Fascismo / nazismo

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Modernismo – 2º tempo

Contexto Histórico Anos 30: Comunismo Ascensão dos movimentos comunistas no

mundo em oposição ao nazifascismo Desencanto: Totalitarismo Repressão cultural Denúncia da URSS

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Contexto Histórico Questionamento da existência Comunismo deixa de ser “salvação” da

humanidade Busca do sentido de uma vida humana na

modernidade

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Modernismo – 2º tempo

Carlos Drummond de Andrade MG. Itabira Rio de Janeiro: funcionário público Contato com os modernistas paulistas –

viagem a MG Temas:

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Carlos Drummond de Andrade Temas: 1.infância/ formação Busca pela raiz da sua existência

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Modernismo – 2º tempoConfidência do Itabirano – sentimento do mundo, 1940 – voz de Drummond

Alguns anos vivi em Itabira.Principalmente nasci em Itabira.Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.Noventa por cento de ferro nas calçadas.Oitenta por cento de ferro nas almas.E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,é doce herança itabirana.De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;este orgulho, esta cabeça baixa...Tive ouro, tive gado, tive fazendas.Hoje sou funcionário público.Itabira é apenas uma fotografia na parede.Mas como dói!

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Poema de sete faces – Alguma Poesia – 1930

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa.

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Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do -bigode, Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.

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Carlos Drummond de Andrade Temas: 2. dilema Eu X Mundo Significado da existência perante as

dificuldades da vida moderna O sentimento do mundo - 1940

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E agora José? – O sentimento do mundo-1940E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, Você? Você que é sem nome,

que zomba dos outros, Você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José?

Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?

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Modernismo – 2º tempoE agora, José? sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?

Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José!

Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, José! José, para onde?

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Modernismo – 2º tempo

Carlos Drummond de Andrade Temas: 3.questão social Fase militante, em busca de uma nova

sociedade Sem perder o sentido existencial Rosa do Povo – 1945

Denúncia social Contexto da guerra e da luta ideológica Carta a Stalingrado

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Stalingrado...Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!O mundo não acabou, pois que entre as ruínas outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora, e o hálito selvagem da liberdade dilata os seus peitos, Stalingrado,seus peitos que estalam e caem, enquanto outros, vingadores, se elevam.A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.Os telegramas de Moscou repetem Homero.Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novoque nós, na escuridão, ignorávamos.Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída, na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas, na tua fria vontade de resistir.

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Saber que resistes.Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.Saber que vigias, Stalingrado,sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantesdá um enorme alento à alma desesperadae ao coração que duvida. Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.Débeis em face do teu pavoroso poder, mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta, aprendem contigo o gesto de fogo.Também elas podem esperar.

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Stalingrado, quantas esperanças!Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!Que felicidade brota de tuas casas!De umas apenas resta a escada cheia de corpos; de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas, todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,ó minha louca Stalingrado!

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Modernismo – 2º tempo

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?Uma criatura que não quer morrer e combate, contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate, e vence.As cidades podem vencer, Stalingrado!Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres, a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

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Modernismo – 2º tempoA morte do leiteiro – Rosa do Povo, 1945- voz de Drummond

Há pouco leite no país,é preciso entregá-lo cedo.Há muita sede no país,é preciso entregá-lo cedo.Há no país uma legenda,que ladrão se mata com tiro.Então o moço que é leiteirode madrugada com sua latasai correndo e distribuindoleite bom para gente ruim.Sua lata, suas garrafase seus sapatos de borrachavão dizendo aos homens no sonoque alguém acordou cedinhoe veio do último subúrbiotrazer o leite mais frioe mais alvo da melhor vacapara todos criarem forçana luta brava da cidade.

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Na mão a garrafa brancanão tem tempo de dizeras coisas que lhe atribuonem o moço leiteiro ignaro,morador na Rua Namur,empregado no entreposto,com 21 anos de idade,sabe lá o que seja impulsode humana compreensão.E já que tem pressa, o corpovai deixando à beira das casasuma apenas mercadoria.

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E como a porta dos fundostambém escondesse genteque aspira ao pouco de leitedisponível em nosso tempo,avancemos por esse beco,peguemos o corredor,depositemos o litro...Sem fazer barulho, é claro,que barulho nada resolve.

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Meu leiteiro tão sutilde passo maneiro e leve,antes desliza que marcha.É certo que algum rumorsempre se faz: passo errado,vaso de flor no caminho,cão latindo por princípio,ou um gato quizilento.E há sempre um senhor que acorda,resmunga e torna a dormir.

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Mas este acordou em pânico(ladrões infestam o bairro),não quis saber de mais nada.O revólver da gavetasaltou para sua mão.Ladrão? se pega com tiro.Os tiros na madrugadaliquidaram meu leiteiro.Se era noivo, se era virgem,se era alegre, se era bom,não sei,é tarde para saber.

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Mas o homem perdeu o sonode todo, e foge pra rua.Meu Deus, matei um inocente.Bala que mata gatunotambém serve pra furtara vida de nosso irmão.Quem quiser que chame médico,polícia não bota a mãoneste filho de meu pai.Está salva a propriedade.A noite geral prossegue,a manhã custa a chegar,mas o leiteiroestatelado, ao relento,perdeu a pressa que tinha.

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Da garrafa estilhaçada,no ladrilho já serenoescorre uma coisa espessaque é leite, sangue... não sei.Por entre objetos confusos,mal redimidos da noite,duas cores se procuram,suavemente se tocam,amorosamente se enlaçam,formando um terceiro toma que chamamos aurora.

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Carlos Drummond de Andrade O livro A Rosa do Povo deve ser considerado

apenas um livro de poesia social, militante?

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Carlos Drummond de Andrade O livro A Rosa do Povo deve ser considerado

apenas um livro de poesia social, militante? Não: Questão social = questão individual, Poesia = necessidade de “olhar” o mundo

contemporâneo Guerra, utopias igualitárias, avanços

tecnológicos, desumanização da cultura...

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Carlos Drummond de Andrade O livro A Rosa do Povo deve ser considerado

apenas um livro de poesia social, militante? Poesia = necessidade de “olhar” o mundo

contemporâneo: reformar a própria poesia Metalinguagem: qual o tipo de poesia que o

homem contemporâneo precisa?

O homem contemporâneo precisa de poesia?

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Carlos Drummond de Andrade O homem contemporâneo precisa de poesia? Busca do sentido da existência diante de um mundo

em violenta mudança Ler/fazer poesia é pensar sobre a vida, a poesia é

sobre a vida Crítica ao Parnasianismo e aos “temas clássicos” Crítica a idéia de Arte pela Arte Crítica da vida burguesa ideal: medíocre, banal,

guiada apenas pelo consumo máximo que relega a cultura a mero artefato de luxo.

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Carlos Drummond de Andrade: A Rosa do Povo

É preciso tirar da boca urgenteO canto rápido, ziguezagueante, rouco,Feito da impureza do minutoE de vozes em febre, que golpeiamEsta vida desatinada no chão, no chão

Compare este trecho da poesia “Mário de Andrade desce aos infernos”,Com o célebre poema parnasiano de Olavo Bilac,”Profissão de Fé”.

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Carlos Drummond de Andrade Temas: 4.existência : realidade e pessimismo Não há transcendência Poesia: busca do real e do ser Metalinguagem : poesia que fala de poesia,

mas poesia que fala da existência Claro Enigma - 1951

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Memória

Amar o perdidodeixa confundidoeste coração.Nada pode o olvidocontra o sem sentidoapelo do Não.As coisas tangíveistornam-se insensíveisà palma da mãoMas as coisas findasmuito mais que lindas,essas ficarão.

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Cecília Meireles RJ, professora universitária Viagens constantes ao exterior

Elegia a Gandhi Doze noturnos de Holanda

Morte precoce dos pais e suicídio do 1º marido

Morte em 1964

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Cecília Meireles “nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três

meses depois da morte de meu pai e perdi minha mãe antes dos três anos. (...) em toda minha vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha existência”

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Cecília Meireles Temática: Espiritualista / intimista / mística Pouco deve ao Modernismo 1º tempo Influência do Simbolismo

Música e poesia Sutileza, solidão, melancolia, indefinido,

ausência Poesia universal : afastada das tendências

nacionalistas e contemporâneas

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Cecília Meireles Temática: Solidão = universal Sentimentos humanos que são

compartilhados por todos Influência do misticismo oriental Versos curtos, leves, de conteúdo musical

Poesia engajada politicamente? Poesia nacionalista? Não em Cecília Meireles

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Cecília Meireles

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,assim calmo, assim triste, assim magro,nem estes olhos tão vazios,nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,tão paradas e frias e mortaseu não tinha este coraçãoque nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,tão simples, tão certa, tão fácilEm que espelho ficou perdida a minha face?

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Cecília Meireles

PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA

Pergunto-te onde se acha a minha vida.Em que dia fui eu. Que hora existiu formadade uma verdade minha bem possuída

Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludidapor esperanças hereditárias? E de cadapergunta minha vai nascendo a sombra imensaque envolve a posição dos olhos de quem pensa.

Já não sei mais a diferençade ti, de mim, da coisa perguntada,do silêncio da coisa irrespondida.

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Modernismo – 2º tempoMotivo

Eu canto porque o instante existee a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento.

Se desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,— não sei, não sei. Não sei se ficoou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.Tem sangue eterno a asa ritmada.E um dia sei que estarei mudo:— mais nada.

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MURMÚRIO

Traze-me um pouco das sombras serenasque as nuvens transportam por cima do dia!Um pouco de sombra, apenas,- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luaresque a noite sustenta no teu coração!A alvura, apenas, dos ares:- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,aroma perdido, saudade da flor!- Vê que nem te digo - esperança!- Vê que nem sequer sonho - amor!

Aponte neste poema deCecília Meireles, elementos, temáticos eformais,que a colocamcomo herdeira doSimbolismo.

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Cecília Meireles Romanceiro da Inconfidência Poema: romances Pesquisa histórica Menos a questão política... Mais a dimensão mítica, humana, sensível Ambientação das Minas oitocentistas e

revisitadas pela poetisa: alta sensibilidade

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Através de grossas portasSentem-se luzes acesasE há indagações minuciosas dentre das casas fronteirasOlhos colados aos vidros mulheres e homens a espreitacaras disformes de insônia vigiando as ações alheias.Pela greta das janelas, pelas frestas das esteirasagudas setas atiram a inveja e a malediscência.Palavras conjecturadas oscilam num ar de surpresacom peludas aranhas nas gosmas das teias tensas,rápidas, envenenadas, engenhosas, sorrateiras.

Atrás de portas fechadas, a luz de velas acesasbrilham fardas e casacas junto com batinas pretas.E há finas mãos pensativas entre galões, sedas, rendas.E há grossas mãos vigorosas de unhas fortes, duras veias.E há mãos de púlpitos e altares, de evangelhos, cruzes, bençãos(...)

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Modernismo – 2º tempo

Cecília Meireles Metalingüística: busca da expressão poética,

busca de uma poesia que expresse com exatidão absoluta o sentimento humano.

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Modernismo – 2º tempoAi, palavras, ai palavrasque estranha potência a vossa!Ai, palavras, ai palavrassois de vento, ides ao vento.No vento que não retornaE em tão rápida existênciaTudo se forma e transforma

sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova!ai, palavras, ai, palavras,que estranha potência, a vossa!todo o sentido da vidaprincipia à vossa porta;o mel do amor cristalizaseu perfume em vossa rosa;sois o sonho e sois a audácia,calúnia, fúria, derrota...

a liberdade das almas,ai! com letras se elabora...e dos venenos humanossois a mais fina retorta:frágil, frágil como o vidroe mais que o aço poderosa!reis, impérios, povos, tempos,pelo vosso impulso rodam (...)ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! éreis um sopro na aragem...- sois um homem que se enforca!

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Modernismo – 2º tempo

Cecília Meireles e Carlos Drummond, Metalingüística: por que o ponto em

comum? Poesia

Expressão

Busca de uma expressão, busca de uma poesia