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    On-line http://revista.univar.edu.br/ Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n. 6 p. 236 - 241ISSN 1984-431X

    1. INTRODUÇÃO

    Ao longo de nossa história o ser humano vemse construindo enquanto indivíduo, por meio de umcontexto histórico – social e cultural que o circunda. Ainfluência de determinadas heranças culturais envereda

    o homem tanto como sujeito individual, como sujeitocoletivo.As tranformações e as escolhas que cada

    indivíduo faz, proporciona a formação de sujeitosdentro da sociedade. Essa construção é alicerçadaatravés de conhecimento, passado de geração parageração. Desde a antiguidade grega, que oconhecimento humano intriga a muitos filósofos. Mas éa partir da época moderna que a discussão sobreconhecimento adquire grande importância. Esse

     processo de valorização a cerca do conhecimentoganha enorme proporção com o estudo da literaturacapaz de transformar o sujeito socialmente e

     psicologicamente em um ser melhor.Para mostrarmos essa contribuição partiremosem primeiro plano para a compreensão do termoliteratura e suas variadas manifestações, em seguidadiscutiremos a crítica e a reflexão que esse estudo podenos proporcionar dentro da sociedade e finalisaremoscom o processo do estudo literário em que nos

     propusemos a analisar um poema no campo social esemântico.

    2. A LITERATURA

    A literatura é a arte que, por meio das

     palavras, cria um universo de magia e esplendor, umuniverso autônomo onde poetas, romancistas e outros

    artistas transformam-se em deuses criando vidas,forma, espaço e tempo, um universo autônomo realistaou fantástico que transformados em linguagemassumem dimensões além do comum, um universochamado de ficção. É uma arte antiga que influenciougerações, e nos deixou uma herança repleta de

    tradições que encanta e canta a todos. No livro  Alguma Prosa, de FernandoPessoa [S.d.], Álvaro de Campos, um de seusheterônimos diz: toda arte é uma forma de literatura,

     porque toda arte é dizer qualquer coisa. Por isso, asartes que não são literatura, expressam um silêncio aser desvendado e há que procurar nesse silêncio umafrase que esta arte contém.

    Como linguagem de arte ou comoexpressão artística, a literatura revive o velho sentidoetimológico do verbo “considerar” – mirar os astros -

     pois a palavra arte muitas vezes evoca um caráter enigmático de distanciamento do que se considera

    comum, um sentido de intangibilidade de supremacia perante o causal, como toda arte a literatura também possui seus códigos, traça suas leis desenhando suahistória composta de textos, artistas, temas, e estilos.

    As palavras escritas em um poema ou umtexto qualquer pode se distinguir de uma unidade emtrês coisas distintas; o sentido que tem, os possíveissentidos que evoca e o ritmo que envolve esse sentidoe estes possíveis sentidos. A palavra  Alma por exemplo, contém um sentido direto em si própria que éa designação da essência mental do homem. Por outrolado, a palavra sugere um grande número de sentidosacessórios que variam de pessoa para pessoa

    dependendo de seu grau cultural, emocional e outroselementos que contribuam para a associação de ideias

    O ENSINO DA LITERATURA NA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO NA SOCIEDADE MODERNA

    Leory William Macedo Vitória1

    Resumo:

     Nosso artigo tem como proposta a discussão do ensino literário na construção do homem na sociedade. Sabemos daimportância que o conhecimento tem em nossas vidas e da contribuição que ele nos oferece e é por esse viés queenveredamos nosso trabalho. Tentando mostrar que o ensino literário bem orientado pode contribuir para o crescimentointelectual, cultural e social de um indivíduo.

     Palavras-chave: Literatura, conhecimento, sociedade.

    AbstractOur article aims to discuss the literary education in the construction of man in society. We know the importance thatknowledge plays in our lives and help he gives us and it is this bias that we set our work. Trying to show thateducation-oriented literature and may contribute to the intellectual growth, cultural and social development of anindividual.

    Keywords: Literature, knowledge, society.

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    implícitas na palavra, e em sequência seu som, queconstitui seu ritmo que atribuído a outras palavrascolaboram para a formação do poema ou texto.

    A palavra como literatura ou a arte da palavra que vive da palavra, se põe a si mesma a forçae a transparência de si mesma se tornado uma entidade

     por si, pois a força a dizer o que está nela, sendo que o

    que está nela é só a força que está nela e não o queestá para além. (FERNANDO PESSOA, ALGUMAPROSA [S.p.], [S.d.]).

    A arte da escrita se distingue das demaisformas de arte e tipos de conhecimentos da realidade

     pelo fato de exprimir-se por meio de palavras polivalentes que correspondem às metáforas, em que a polivacidade do signo1 abrange todos os significadosdos objetos, da mesma forma que a metáfora seestrutura pela comparação, explicita ou não, de váriosobjetos. Vale salientar que as metáforas representamuma realidade, mas uma realidade indireta refletida deum signo. Aplicar uma metáfora em um texto implica

    em mentir ,  fingir a realidade que se mostra, de modoque a realidade espelhada na representação não é a quese deseja conhecer, mas como aparece na mente doartista, ou seja, como se reflete na sua imaginação.

    O escritor francês Charles Du Bos tece aseguinte reflexão sobre a literatura:  A literaturaconecta-se com a alma, a luz, a beleza, é o

     pensamento acendendo a beleza na luz , é encarnação,que não se pode produzir senão por intermédio da

    carne viva(Du Bosapud ULISSES INFANTE, 2001).A literatura opera como transformadora

    social do ser, que é de sua natureza de linguagem dearte, transparecer em uma análise psicológica elevando

    o ser humano a um brilho astral dentro de seu habitar social. Um exemplo disto está na  A Metamorfose deFranz Kafka em que o ser metamorfoseado representaa sociedade em seu declínio transcendental. Nesta obraa literatura faz a união do ser do homem com alinguagem, do ser para com o mundo espiritual e realelevando-se em supremacia ficcional. Mais do quenunca, consolida a assertiva Nietzscheana (1984) deque só a arte justifica a existência.

    De acordo com Latuf Isaias Mucci(2007) pode-se pensar em literatura pelo menos emduas vertentes, a primeira como  Fenômeno Social , e asegunda como  Fato Social. A primeira propõe a

    literatura como produto da sociedade ou como objetode consumo. Nesta vertente a literatura é vinculada aum mercado que determina seus valores, a umainstituição que cria não só academias de letras,organizam círculos literários, cria concursos literáriose outros prêmios, mas também estabelece critérios deavaliações para obras literárias. A segunda vertente daliteratura é como FatoSocial , que se entrega de corpo ealma ao mercado consumidor tornando-se assim umaverdadeira mercadoria, cujo princípio é de ser comercializada, seu valor é regido estritamente pelas

    1Polivacidade do Signo: Variedade de sentidos queum lexema pode tomar.

    leis desse mercado capitalista, que se apropria de suaestética, características e peculiaridades.

    A literatura tomada como instituição(fenômeno social) estigmatiza-se com traços deideologia, ou seja, marca-se profundamente pelosvalores regentes e vigentes da sociedade em que seengendra e, mesmo podendo articular um discurso

    contra ideológico, ela não escapa ao discursoideológico propriamente dito, e que confirma, de certamaneira, o tautológico axioma Marxista, de que  Aideologia dominante é a ideologia da classe

    dominante.A literatura como instituição inclui-se no

     profundo contexto da sociedade, ainda que ligada aoutras instituições. Ela toma partido de críticas, numsentido a arte, a literatura em particular se estruturacomo um discurso anti-ideológico, assumindo uma

     postura denunciadora, como em Jean-Paul Sartre e suacontundente categoria do Engajement 2. No entanto nãose nega que a literatura na condição de instituição ou

    de linguagem de arte instaure uma ideologia.É a partir desse contexto que daremoscontinuidade em nossa pesquisa, em que a arte literáriaconstrói junto ao indivíduo uma ideologia crítica,reflexiva capaz de transformar o ser humano dentro dasociedade.

    3. A REFLEXÃO E A CRÍTICA POR MEIO DALITERATURA

    Por meio do ensino literário um aluno bem preparado pode refletir sobre os acontecimentoshistóricos e psicológicos de cada época, mas para isso

    cabe ao professor a orientação e preparo do discente para que o mesmo possa compreender taisacontecimentos através da leitura.

    O ato de analisar criticamente os textosliterários ganha forte expressão com a modernidade,uma vez que a crítica como exercício criativo torna aautorreflexão uma das maiores fontes de conhecimentodo sujeito. Uma obra literária ao ser analisada apontanão só o contexto histórico de sua época mais tambématitudes e ações promovidas pelo ser humano naqueletempo. Essas atitudes contribuem significativamente

     para a compreensão de costumes e hábitos dos gruposdescritos na obra que automaticamente cria um

    contraste com os aspectos culturais de nossa época. Neste contexto Ezequiel T. da Silva  APUD

    William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhãesnos diz que:

    [...] o processo de leitura, apresenta-secomo a atividade que possibilita a participaçãodo homem na vida em sociedade, em termos decompreensão do presente e passado e emtermos de possibilidades de transformação

    2Engajement: expressão que serviu durante a segundametade do século XX para catalogar todos osintelectuais que se comprometeram com uma

     participação ativa na vida política de seu país.

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    cultural futura. E, por ser um instrumento deaquisição e transformação do conhecimento, aleitura, se elevada a efeito crítica ereflexivamente, levanta-se como um trabalhode combate à alienação (não racionalidade),capaz de facilitar ao gênero humano arealização de sua plenitude (liberdade).(2003).

    O processo de dialogar entre autor e leitor dar-se-á por meio da palavra, objeto a ser analisadocomo instrumento de comunicação e de interaçãosocialque, por sua vez, passa a obter o papel social detransmitir os conhecimentos e cultura de umasociedade.

    O escritor e poeta norte-americano EzraPound em seu ABC da Literatura (1977) disserta sobreliteratura como linguagem carregada de significado.Para ele a literatura tem a capacidade a um graumáximo de exprimir significados. Mesmo fazendo ouso da linguagem verbal, a arte literária não pode ser 

    vista como presa a esta, pois a mesma serve comosuporte para a sua comunicação que ultrapassa emdimensão e significado a esses artifícios quechamamos de palavras. Em outros termos podemosconcluir que a ideia de Pound está ligada a

     plurissignificação3.Alice Vieira APUD William Roberto Cereja e

    Thereza Cochar Magalhães fala que:

    A literatura tem sido, ao longo da história,uma das formas mais importantes de que dispõeo homem, não só para o conhecimento domundo, mas também para expressão, criação e

    recriação desse conhecimento. Lidando com oimaginário, trabalhando a emoção, a literaturasatisfaz sua necessidade de ficção, de busca de

     prazer. Conhecimento e prazer fundem-se naliteratura, e na arte em geral, impelindo ohomem ao equilíbrio psicológico, e faz reunir as necessidades primordiais da humanidade: aaprendizagem da vida, a busca incessante, agrande aventura humana. (2003).

    À medida que o indivíduo se dispõe para aleitura e para a escrita, o homem passa a se enriquecer,

     pois além de conhecer o mundo, passa também a

    transmitir conhecimento colaborando com atransformação da realidade exterior. Para EzraPound(1977) a maior contribuição que um escritor 

     pode dar a sua comunidade é o conhecimento que por sua vez combate a ignorância.

    A literatura não existe no vácuo. Osescritores, como tais, têm uma função socialdefinida, exatamente proporcional à suacompetência COMO ESCRITORES. Essa éa sua principal utilidade. Todas as demaissão relativas e temporárias e só podem ser 

    3Plurissignificação: nos textos literários as palavrasassumem diferentes significados.

    avaliadas de acordo com o ponto de vista particular de cada um. [...]

    A linguagem é o principal meio decomunicação humana. Se o sistema nervosode um animal não transmite sensações eestímulos, o animal se atrofia.

    Se a literatura de uma nação entra em

    declínio, a nação se atrofia e decai.(EzraPound  APUD William Roberto Cereja eThereza Cochar Magalhães, 2003).

    Outro papel importante que podemos atribuir à literatura é o equilíbrio psicológico do ser humano,

     pois ao mesmo tempo em que lhe oferececonhecimento e prazer pode retirar o homem de umestado de isolamento.

    A literatura é o retrato vivo da almahumana; é a presença do espírito na carne.Para quem, às vezes, se desespera, ela

    consola, mostrando que todo ser humano éigual, e que toda dor parece ser a única.A moléstia é real, os sintomas são

    claros, a síndrome está completa: o homemcontinua cada vez mais incomunicável(porque deturpou o termo Comunicação),incompreendido e/ou incompreensível,

     porque voltou-se para dentro e seautoanalisa, continuamente, mas não trocacom os outros estas experiênciasindividuais; está “desaprendendo” a falar,usando somente o linguajar básico,essencial e os gestos. Não lê, não se

    enriquece, não transmite. Quem não lê, nãoescreve. Assim o homem do século XX,

     bicho de concha, criatura intransitiva, seenfurna dentro de si próprio, ilhando-secada vez mais, minado pelas duas doençasde nosso tempo: individualismo e solidão.(Ely Vieitez APUD William Roberto Cerejae Thereza Cochar Magalhães, 2003).

    É comum nos dias de hoje os jovens trocar livros por celulares, TV, internet e outros meios, tudoisso para não lerem e fugirem das leituras obrigatóriasimpostas pelas escolas e vestibulares. O propiciar a

    leitura deve ser visto como algo prazeroso, gostoso enão como uma obrigação. A leitura deve ser vistacomo a busca incessante pelo conhecimentoinstrumento de lazer e ascensão intelectual.

    Como qualquer outra obra de arte a literaturaestá empregada na sociedade em que se origina. Nãoexistem artistas ao lado opostos da realidade, nãocompletamente, pois todos fazem parte dos problemasvividos pela sociedade, mesmo não compartilhando deseus interesses. A partir de suas experiências sociais e

     pessoais é que criam e recriam a realidade e é por essa problemática que se origina a ficção. E nessemomento o artista é capaz de transmitir suas ideias e

    sentimentos ao mundo real.

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    Sendo assim, a literatura é o resultado dessasrelações entre escritor, leitor e sociedade. Ela possui acapacidade de interferir na realidade auxiliando no

     processo de transformação social.Para tanto iremos dar continuidade a nossa

     pesquisa analisando um poema de Manuel Bandeira partindo de uma compreensão semântica.

    4. O ESTUDO LITERÁRIO

    4.1 Análise do poema Rondó do CapitãoO poema Rondó do Capitão de Manuel

     bandeira foi escrito em outubro de 1940 e lançado noseu livro  Poesias Completas junto com novos poemasque o autor denominou  Lira dos cinqüent’ anos. Elefoi musicado pelo músico e compositor João Ricardocriador do conjunto musical Secos& Molhados nadécada de 70. O poema foi lançado como canção em1973 no primeiro LP, Secos & Molhados com uma

     pequena alteração em seu titulo que de Rondó do

    capitão passou a ser chamado de Senhor Capitão.Quanto à compreensão ou nívelsemântico do poema, é importante que façamos algunsapontamentos pertinentes da obra de Manuel Bandeira

     para guiar nossa análise.Uma das características da obra de

    Manuel Bandeira é a voz lírica do eu, que ao construir os poemas, nos acompanha a cada passo, dando a cadaverso seu timbre e sua vida. Ela cria uma espécie detranscendência do eu, uma ressonância misteriosa quealarga o âmbito normal do poema. Manuel Bandeiraorganiza um universo poético único, que percorre por influência de várias escolas literárias indo do

    classicismo ao modernismo.Após expor algumas características que

    norteiam a produção poética de Manuel Bandeira, podemos partir para a compreensão do poema.

     Rondó do capitão trabalha com o tema dadepressão, da frustração e do conflito entresensibilidades, sentimentos do coração. Aoanalisarmos o título do poema de Manuel Bandeira,observamos que a palavra  Rondó, equivale segundo odicionário, ao sentido de retorno, no caso,  Retorno doCapitão, a palavra rondó também é um gênero da

     poesia usado no período Barroco passando do Clássico para o Romantismo e foi muito utilizado em clássicos

    musicais, principalmente em sonatas. O poema éconstituído de quinze versos e rimas dispostas naseguinte ordem: AABACACACCAAADA.

    Seus primeiros versos são eufóricos elembram cantigas de rodas, em que as crianças sedivertiam cantando e brincando com outras crianças. Avoz lírica apresenta a musicalidade através dosfonemas ão e a, a palavra balalão dá a impressão deuma criação de um neologismo entre os lexemas bala e

     balão, e que servem de motivos para exaltação dealegria nas crianças. No segundo verso a palavracapitão pode ser observada como o núcleo da

     brincadeira onde as crianças cantam para o retorno do

    capitão para junto de seus amigos e entes queridos.Lembrando que no poema o sentido do vocábulo

    capitão pode ser visto como uma patente militar oucomo patente utilizada para chamar o líder dos piratas.Mas ignoremos esse sentido lógico e aparente da

     poesia para atentarmos a um plano onírico, outracaracterística de Manuel Bandeira, e passamos aobservar o Capitão como uma alegoria de umsalvador. A volta do capitão pode ser tomada como

    algo de bom e um novo tempo que se espera.

    Bãobalalão,Senhor capitão.

     No terceiro e quarto verso a uma suplicaao capitão para que ele afaste os tormentos do coraçãoe leve-os para longe.

    Tirai este pesoDo meu coração.

    Do quinto ao oitavo verso, apresentam de

    forma enumerada e angustiada os elementos que seatribui ao motivo da tormenta que o envolve, atambém uma comparação entre a esperança à tristeza ea aflição, que segundo o eu-lírico a esperança é a pior tormenta que um ser humano pode carregar. Um fardo

     para o coração. A voz lírica se sente mais angustiada pela esperança que possui do que a própria tristeza eaflição que a rodeia. Nestes versos a sensibilidade do

     poeta se condensa a esperança que faz com que eleentre em conflito com seu próprio eu, apesar daesperança ser um pressentimento bom, ela cauda dor ao coração pelo motivo da espera e que este lhe trástristeza e aflição.

     Não é de tristeza, Não é de aflição:É só esperança,Senhor capitão!

    Já no nono e décimo verso mostra-se ograu de esperança obtida no poema, mesmo aesperança sendo representada de forma sutil, ela é oalgoz do coração que não suporta a sua pressão. Odécimo verso é terminado com reticências que dá aintenção de continuidade, quando se fala em aérea,

     podemos entender como distância ou como o

    movimento da angústia em torno de si próprio.

    A leve esperança,A aérea esperança...

     No décimo primeiro verso encontramosuma antítese, onde se contradiz com o verso anterior,enquanto no verso anterior sua frustração éclassificada como aérea. Neste, sua classificação tomauma posição contrária a anterior.

    Aérea, pois não!

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     Nos verso subsequente, a confirmarão dacontradição do parágrafo anterior é mais clara. Hátambém a intenção do eu-lírico de reforçar a frustraçãoque este possui pela esperança.

    - Peso mais pesado Não existe não.

     Novamente o pedido de súplica, masdesta vez com mais intensidade.

    Ah, livrai-me dele,Senhor capitão!

    Além da depressão causada pelafrustração identificada no poema, temos a sensação deincompletude, que pode ser explicada pela falta docitado Capitão, tratando-se de um poema de ManuelBandeira, a alegoria pode também tomar a forma damulher desejada.

    Após o poema ter sido musicado por João Ricardo e lançado em 1973 ao cenário musical brasileiro, ele toma uma posição crítica, pois foilançado pelo conjunto musical Secos& molhados emépoca de ditadura militar. As músicas nessa épocaeram censuradas pelo governo e o Senhor Capitãoassim chamado pelo grupo musical, faz uma crítica aogoverno militar onde o Senhor Capitão iria retornar com a paz e acabar com todos os tormentos impostos

     pela ditadura. O Senhor Capitão era tido como umaespécie de salvador da pátria, que resolveria todos os

     problemas vividos numa época de transitoriedade.

    5.CONSIDERAÇÕES FINAISTemos que reconhecer e aprender a

    importância que a literatura tem para o crescimento doindivíduo dentro da sociedade. O ato de ler perpassa atodas as atividades, tanto individuais como coletivas, alinguagem se modifica ao longo do tempoacompanhando e ajudando nas transformações sociais.É por meio dela que nos informamos e informamos,expressamos opiniões e ideias – criam-se ideologias eformam-se cidadãos conscientes, críticos capazes demudar o mundo.

    A literatura representa implicitamente eexplicitamente a cultura de um povo, expressa

    histórias, sentimentos e inquietações humanas. Paratanto faz-se necessário seu estudo para o crescimentointelectual e social do homem. Não podemos viver amargem do conhecimento e se isolar culturalmente, é aliteratura que nos proporciona uma fuga da realidade eao mesmo tempo uma caminhada pela pura realidade eseus ensinamentos.

    Para tanto, o enaltecer da literatura éimprescindível no mundo em que vivemos, adedicação e a interpretação de obras literárias vêm acontribuir para com a sociedade que a cada dia torna-se incapaz de compreender a si própria.

    6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    BANDEIRA, Manuel. Antologia Poética. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.

    BRASIL, Assis. O Livro de Ouro da LiteraturaBrasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 1980.

    CEREJA, Willian Roberto. MAGALHÃES, TerezaCochar. Português: linguagens. São Paulo: Atual,2003.

    INFANTE, Ulisses. Curso de Literatura, LínguaPortuguesa. São Paulo: Scipione, 2001.

    MOISÉS, Massaud. Dicionário de TermosLiterários. São Paulo: Cultrix, 1997.

    MUCCI, Latuf Isaias. Construção Crítica daModernidade.São Paulo: Atual,2007.

     NIETZCHE, Friedrich Wilhelm. A Origem daTragédia. São Paulo: Editora Moraes, 1984.

    PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de janeiro:nova Aguilar s.a, 1983.

    PESSOA, Fernando. Alguma Prosa. 6° impressão.[S.l.]: Nova Fronteira, [S.d.].

    SILVA, Vitor Manuel de Aguiar e. Teoria daLiteratura. São Paulo: Almedina, 2004.

    7. ANEXO

    Rondó do Capitão

    Bãobalalão,Senhor capitão.Tirai este pesoDo meu coração.

     Não é de tristeza, Não é de aflição:É só esperança,Senhor capitão!A leve esperança,

    A aérea esperança...Aérea, pois não!- Peso mais pesado

     Não existe não.Ah, livrai-me dele,Senhor capitão!(Manuel Bandeira).