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    ________________________________________________________________________________________Curso de Formao para o Ensino de Histria e Cultura Afro-brasileiras (CEAO/UFBA)

    Mdulo III Literatura Afro-brasileira

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    Unidade 4 Literatura Afro-brasileira contempornea: contra

    discurso e resistncia

    Cadernos Negros: resistncia literria entre a prosa e apoesia

    Na unidade III, percorremos os meandros do cnone e vimos que aproposio Tal Brasil, qual cnone? questiona a tendncia de seconstruir um cnone a partir de pressupostos de uma nacionalidadeexcludente. Uma das fissuras nesse projeto pode ser observada notensionamento e na consequente ruptura que a literatura afro-brasileira vem, paulatinamente, provocando no cnone brasileiro.

    Para comeo de conversa...

    O que vamos fazer nesta unidade? Conheceremos parte da produo dos Cadernos Negros e sua importncia para a

    afirmao da literatura afro-brasileira na cena da literatura brasileira;

    incursionaremos pelas representaes poticas das mulheres negras, dos escritores daperiferia e dos movimentos de Hip Hop e Rap.

    Ao fim desta unidade voc poder:

    interpretar o discurso de ruptura e resistncia nas produes literrias contemporneasafro-brasileiras;

    refletir sobre a contribuio da escrita feminina afro-brasileira e da escrita perifrica emdilogo com movimentos culturais como o Rap e o Hip-Hop.

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    Nesse afrontamento esttico, poltico e cultural, o projeto literrioCadernos Negros, lanado em 1978 por oito poetas que dividiam oscustos da edio em formato de bolso, marcou a histria artstica dosnegros e a literatura afro-brasileira ao atualizar a extensa trajetria deluta dos intelectuais/escritores negros do passado. Somando-se aisso, o pas passava naquele perodo por uma transio democrtica,instaurando um momento frtil para o preenchimento de uma lacunanas publicaes direcionadas comunidade negra. o mestre Abdiasdo Nascimento quem vai demonstrar a amplitude e o vulto que tomaa escrita literria negra:

    O que revela a histria da humanidade que povos seexpressam pela sua cultura; se hoje falamos e fazemosliteratura afro-brasileira, porque a literatura nacional noexpressa o que somos - afro-descendentes - na culturabrasileira. Nenhum negro aquela coisa bestializada doromantismo brasileiro, nenhuma negra uma vertente de fogo,luxria ou subservincia como descrito nas pginas dessesafamados romancistas contemporneos ou no.

    Nos contos, como neste nmero, e nas poesias publicados pelosCadernos Negros, encontrei mais que arte nos textosprovocativos, sinceros, lapidados e vibrantes. Encontrei umaliteratura que s por ser afro-brasileira espelha os meus

    sentimentos, os meus dramas, as minhas sortes, o meu jeito deamar, as minhas alegrias e as minhas formas de dizer no. Todaa nossa intimidade escrita, com uma cor que s ns podemosdar, porque faz parte do nosso ser. No com modstia queafirmo que a literatura brasileira est marcada por um vis quea distingue das literaturas construdas pelo mundo afora. Aquiexiste literatura negra, literatura afro-brasileira, como existe osamba, a feijoada e o candombl. (Nascimento, 2010)

    Abdias do Nascimento expressa com exatido o sentimento queacompanhou o povo negro diante de uma literatura que no orepresentava em seus dramas, e em particular, em sua subjetividade.Sob essa perspectiva, sem dvida os Cadernos Negros so ummomento de ruptura, pois desde sua primeira publicao em 1978,sua linha editorial tem como objetivo primordial dar visibilidade literatura afro-brasileira, legitimando sua voz, propondo uma revisodo cnone e colocando em cena escritores que no conseguempublicar nos circuito oficial das editoras.

    No primeiro e histrico nmero dos Cadernos Negros, os poetasapresentam uma espcie de potica-programa, ou seja, marcos

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    identitrios do projeto literrio: a assuno do eu enunciador negro,o mergulho nas questes tnicas identitrias e a denncia do racismona sociedade brasileira, como revela o poema de Jamu Minka:

    Identidade

    Nasci de pais mestiosFui registrado como brancoMas com o tempo a cor escura se fixou

    Negro, negrinhoVoc negro sim,A primeira ofensa!

    Eu era negro sem saber

    Adolescente, ainda recusava minha origemAprendi a ser negro o passivo, inferiorReagi: sendo esta raa assim,No sou negro no!Recusei a herana africanaDesejei a brancura

    Mais tarde soubeA inferioridade era um mitoA passividade uma mentira

    O conhecimento trouxe a conscinciaAceitei minha negriceMe assumi!

    Encontrei uma bandeiraNegritude!Identidade resgatadaSer negro importante se identificar com minhas razes.

    (Jamu Minka, CN 1, 1978, p. 35)

    Em 1980, nos Cadernos Negros n 3, Lus da Silva Cuti, um dosfundadores do projeto, associa a palavra negro ao desconforto dasociedade em pronunci-la, ao mesmo tempo em que demonstra aintensa carga semntica de militncia que ela carrega:

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    Parte do poema Tocaia

    A palavra negro pulando de boca em boca

    como se fosse uma pimenta acesa

    os olhos queimando as vendaso fogo

    o vento das lembranas gerando o elodas palavras-lanas

    o batuqueas lanas afiadas em dias de pedra-limodias de cisma

    de plvora que j t prontae palavras que se reencontram para reportar

    um futurosem algemas.(CN 3, 1980, p.50)

    Nos Cadernos Negros n 8, encontramos um dos poemas maisemblemticos sobre a reverso do sentimento de inferioridade emrelao ao vocbulo negro, pois a constante repetio do verso Apalavra negro funciona como afrontamento ao mundo que v e

    pronuncia a palavra com desconforto e preconceito. J o poeta,seguindo a trilha de Aim Csaire e Lopold Senghor, os precursoresda negritude e da concepo de ressemantizar a palavra NEGROextraindo sua carga negativa ao assumi-la, converte o poema embandeira da negritude brasileira:

    Palavra Negro1

    A palavra negrotem sua histria e segredoveias do So Franciscoprantos do Amazonase um mistrio Atlntico

    A palavra negrotem grito de estrelas ao longesons sob as retinasde tambores que embalam as meninasdos olhos

    1 Este poema podeser encontrado

    tambm na pginapessoal do poeta nainternet, no stiohttp://www.cuti.com.

    br/poesia2.htm

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    A palavra negrotem chaga tem chega!tem ondas fortesuaves nas praias do apego

    nas praias do aconchego

    A palavra negroque muitos no gostamtem gosto de sol que nasce

    A palavra negrotem sua histria e segredosagrado desejo dos doces vos da vidao trgico entrelaadoe a mgica d'alegria

    A palavra negrotem sua histria e segredoe a cura do medodo nosso pas

    A palavra negrotem o sumotem o soloa raiz.

    (CN 8, 1985, p.21)

    Ao longo das trs dcadas de publicao dos Cadernos Negros, umade suas temticas mais marcantes, em funo de assumir o valor docorpo, dos cabelos negros, enfim da aparncia, so os poemas deafirmao esttica, como podemos vislumbrar em O retrato de ClvisMaciel:

    Retrato

    O pra-brisaDa minha cabea bruma espessade carapinhaplanta daninhao nariz chato o retratoem melaninaNegros matizesso os meus pulsosos meus impulsos,

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    minhas razes,so cicatrizesno meu viver..

    (CN 5, 1982, p. 7)

    Os editores dos Cadernos Negros, ao longo de sua histria, utilizarama seguinte metodologia na publicao dos textos, em anos parespublicam-se contos e em anos mpares publicam-se poesias.

    Na prosa, podemos encontrar o dilogo entre a linguagem literria,jornalstica e cinematogrfica, como no conto Quando o malandrovacila de Mrcio Barbosa nos Cadernos 10. O autor incursiona pelouniverso da favela, da oralidade, movimentando o enredo a partir de

    manchetes jornalsticas, ao mesmo tempo em que explora a tcnicado roteiro cinematogrfico: De como ele quase deixou a pretinha,A, otrio, segura... Eu avisei voc pra largar a Kizzy, otrio., Queest acontecendo, preto? (CN 10, 1987, 85)

    A construo textual fragmentada oferece ao leitor um andamentodinmico, como se ele estivesse acompanhando cenas de um filme,inclusive pela plstica descritiva que o autor prope. Nessa tcnicasurpreendente, as posies se invertem e flagram o negro frente aomarginal branco:

    1. De como ele quase deixou a pretinha

    Tudo parecia irreal. O exagerado silncio noturno, as mortiasluzes amareladas despejando-se violentamente dos postes, asensao da pele de Kyzzy muito forte em suas mos. E eleteve a impresso de que nunca tomaria o nibus para voltarpr casa. Mesmo aquele Volkswagen todo estourado, pintadonum brilhante azul de ofuscar os olhos parecia trazer a mortesubindo a rua em sua direo. E ele estava certo. O carrotrazia Mezinha, o branco da favela, que parou ao seu ladocom um revolver calibre 38 na mo: Ai, otrio, segura... (CN

    10, 1987, p. 85)

    No resta dvida de que Os Cadernos Negros, ao longo das mais detrs dcadas, divulgaram e continuam divulgando a cultura negra emseus mais diversos aspectos. Alm disso, consolidou a presena daliteratura afro-brasileira, seja pelo nvel dos escritores, seja pelarecuperao memorialstica da ancestralidade e religiosidadeafricanas, ou ainda por driblar os circuitos oficiais de publicao,conseguindo manter um pblico fiel e crescente.

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    O volume de poetas, contistas, assim como da prpria produoliterria, bastante extensa e no caberia no nosso Mdulo. Por isso,sugiro que acessem a pgina oficial do grupo Quilombhoje(http://www.quilombhoje.com.br/) para conhecer melhor esteprojeto de extrema importncia para a comunidade negra e para ahistria da literatura brasileira oficial e sua vertente afro.

    Acredito que voc sentiu a ausncia da produo feminina, isso nosignifica que as mulheres no tenham publicado, ao contrrio, temosuma galeria de mulheres que contriburam de forma significativa nosCadernos. A seguir, vamos conhecer a escrita feminina negra e seusdesafios frente legitimao de uma voz duplamente marginalizada,o ser mulher e ser negra.

    Vozes femininas na escrita afro-brasileira

    Historicamente, as mulheres tm sido vtimas do preconceito, dosilenciamento social e intelectual e da violncia em seus mais diversosmatizes. Como bem assinala Heloisa Toller Gomes,

    A escrita afrodescendente de mulheres advm de culturas

    estilhaadas pela dispora, pelo colonialismo e peladiscriminao scio-econmica nas sociedades coloniais eps-coloniais. Mostra-se, assim, cortada e recortada naviolncia das fragmentaes e ruturas. Convivendo com arealidade do racismo e do preconceito, ela tem sido sujeita marginalizao, ao desconhecimento e desvalorizaointelectual, por vezes dentro da prpria comunidade negra.No obstante, carrega em si a positividade de um projetocultural. (Gomes, 2010, p.9)

    Assim, a escrita literria vem se configurando como forma dedenncia, de afirmao identitria de gnero e etnia, e por que nodizer de salvao, no sentido da superao dos limites impostos pelomundo machista e branco. Segundo Mirian Alves, a escrita da mulhernegra libertao:

    Em geral, a tendncia da escritora negra se engajar na lutado homem, chamada de geral. A especificidade de ser mulherescritora que aflora nos trabalhos passa ento desapercebida.(...) A arte liberdade, libertao. A minha arte engajada

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    comigo. Eu sou o qu? Eu sou negra, mulher, me solteira,empresria, filha, funcionria, militante. (...) Se eu no consigofalar num conto, eu vou falar num poema. Se eu no consigo no

    poema, eu escrevo uma novela. Se eu no consigo numa novela,eu tento um romance. Se eu no conseguir em nada disso,quem sabe uma histria em quadrinhos resolva? So os meusinstrumentos. A literatura o meu instrumento. Se eu conseguirme comunicar enchendo o papel de vrgula, e o leitor entenderque eu estou falando do lugar onde o Brasil se instala, damiserabilidade em que a populao negra se encontra, se euconseguir falar com vrgulas, eu vou encher o papel de vrgula(Alves, apud Martins, 2002, p. 220).

    Inserida neste universo, marcado pela violao dos direitos maisbsicos, o anseio da mulher ser ouvida e ser aceita em suasubjetividade, como sinaliza o poema de Conceio Evaristo2:

    Eu-mulher

    Uma gota de leiteme escorre entre os seios.Uma mancha de sangueme enfeita entre as pernas.Meia palavra mordida

    me foge da boca.Vagos desejos insinuam esperanas.Eu-mulher em rios vermelhosinauguro a vida.Em baixa vozViolento os tmpanos do mundo.Antevejo.Antecipo.Antes-vivo.Antes- agora o que h de vir.Eu fmea-matriz.

    Eu fora-motriz.Eu-mulherabrigo da sementemoto-contnuodo mundo.(CN 13, 1990, p.30)

    2 A escritora mineiraConceio Evaristotambm romancista, seu livroPonci VicncioPonci VicncioPonci VicncioPonci Vicnciopublicado em 2003,teve boa acolhida decrtica e de pblico. Olivro foi includo nas

    listas de diversosvestibulares deuniversidadesbrasileiras e vemsendo objeto deartigos e dissertaesacadmicas. Em2007 foi traduzidopara ingls epublicado nosEstados Unidos pela

    Host Publications.

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    http://www.palmares.gov.br/sites/000/2/informe/11/11fotoip07.jpg

    Uma das questes mais importantes sinalizadas no mbito da poesiafeminina negra a condio de ser sujeito e no mais objeto no planodo texto e da vida. Nesta perspectiva, a mulher negra avana comosujeito de sua histria e de seu tempo, ao conscientizar-se de seulugar no mundo, reverberando em um mergulho no protesto emrelao ao papel histrico legado s mulheres, como disparapoeticamente Cristiane Sobral:

    No vou mais lavar os pratos

    No vou mais lavar os pratos.Nem vou limpar a poeira dos mveis.Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro dia um livro

    e uma semana depois decidi.No levo mais o lixo para a lixeira. Nem arrumoa baguna das folhas que caem no quintal.....No lavo mais pratos.Li a assinatura da minha lei ureaEscrita em negro maisculo,em letras tamanho 18, espao duplo.Aboli.No lavo mais os pratos.Quero travessas de prata,

    Cozinha de luxoe jias de ouro. Legtimas.Est decretada a lei urea...............(CN 23, 2000, p. 18)

    Uma das figuras smbolo da lutaliterria e existencial da mulhernegra Carolina Maria de Jesus, queousou na dcada de 1950 narrar suaexperincia na favela do Canind em

    So Paulo, por meio do livro Quartode despejo: dirio de uma favelada,expondo ali a subjetividade de umamulher negra e oprimida pelamisria social. A condio deCarolina de Jesus apresenta umatrade excluso na sociedadebrasileira, mulher, negra e favelada

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    (quando este espao ainda era pouco discutido e invisibilizado peloEstado e pela sociedade), surpreendentemente seu livro foi umsucesso editorial em 1960 e traduzido em 13 idiomas.

    Na escavao de sua interioridade por meio da forma do dirio,Carolina relata seu cotidiano marcado pela falta de condies de umavida cidad digna. A escrita ntima de Carolina expe as mazelas dessemundo, como no trecho em que seu filho passa mal por ter comidouma melancia podre, o episdio a motiva no plano das confisses adenunciar os comerciantes que jogavam lixo na favela e terminavasendo recolhido pelos moradores: 19 de setembro Na minhaopinio os atacadistas esto se divertindo com o povo igual aos Cezardo passado. Antes o povo era perseguido pela f. E ns, pela fome(Jesus, 1995, p. 42).

    A elasticidade esttica do dirio de receber as mais diversasanotaes permite que a autora expresse sua opinio quanto aosacontecimentos histricos do pas, particularmente aquele que a tocamais diretamente:

    13 de Maio... dia simptico para mim. o dia da Abolio.Dia que comemoramos a libertao dos escravos. Nas prisesos negros eram bode expiatrio. Mas os brancos agora somais cultos. E no nos trata com desprso (sic). Que Deus

    ilumine os brancos para que os pretos sejam felis (sic). (Jesus,1995, p.28).

    possvel vislumbrar na produo de Carolina Maria de Jesus aantecipao na literatura afro-brasileira do tema da afirmaoesttica, relembrando a bandeira do movimento Black Beautiful(Beleza Negra), como revela nesta confisso: Adoro a minha pelenegra, e o meu cabelo rstico. Eu acho o cabelo negro mais educadodo que o cabelo branco. A minha (vida), at aqui tem sido preta. Preta a minha pele. Preto o lugar onde moro (Jesus, 1995, p.65).

    Carolina Maria de Jesus suscitou algumas polmicas em torno de suafigura, especialmente pelo no engajamento nos movimentos negros,ainda que estes tenham tentado traz-la para suas fileiras, ao mesmotempo em que no se engajou tambm no universo literriocannico, tornando-se assim uma espcie de outsiderno dizer de JosCarlos Gomes da Silva:

    A autora de Quarto de despejo, embora tenha participadode eventos promovidos por lideranas negras no se

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    engajou no movimento negro. Tambm no obteve oreconhecimento no campo da literatura hegemnica. O livroainda em forma de dirio, Casa de alvenaria, no repetiu o

    sucesso anterior e o romance Pedaos dafome (1963), em queimaginava obter reconhecimento como escritora resultou emenorme fracasso editorial. A poetisa negra foi, portanto, umaoutsider. Viveu enquanto cidad margem da economia e dacultura urbana dominantes. Seus escritos ocupam uma posiomarcada por uma dupla excluso. Por isso talvez o rtulo deliteratura marginalizada talvez lhe seja mais adequado (Silva,2008, p. 79).

    Ser que os detratores, crticos de Carolina, especialmente os

    acadmicos no analisam com muita severidade sua produo? Talposicionamento deixa de levar em considerao os lugares sociais quefermentaram a escrita de Carolina: mulher, negra, me, catandopapel para sustentar a famlia, vivendo abaixo da linha da pobreza,semi-analfabeta e ainda assim conseguir no plano literrio utilizarestratgias discursivas em que se engendram crticas identitrias etnico-raciais? Acredito que a escritora fez muito mais do que muitasmulheres em sua condio faria, sem falar no testemunho literriodeixado por ela, aberto ainda a muitas pesquisas e revises.

    No h duvida de que as vozes das mulheres negras na luta contra o

    racismo sob o nome de Conceies, Cristianas, Llias, Esmeraldas,Carolinas - construram e constroem uma memria da escritafeminina afro-brasileira, projetando um conjunto de vozes que puxamos fios da ancestralidade africana, das lutas pela afirmao identitriaao longo da excludente histria brasileira. Nada melhor que a vozpotica de Conceio Evaristo para reafirmar esta memria em

    Vozes-mulheres:

    A voz de minha bisav ecoou

    criananos pores do navio...........A voz de minha avecoou obedinciaaos brancos-donos de tudo.A voz de minha meecoou baixinho revoltano fundo das cozinhas alheias...........

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    A minha voz aindaecoa versos perplexoscom rimas de sangue

    efome.

    A voz de minha filharecolhe todas as nossas vozes..............recolhe em sia fala e o ato.O ontem o hoje o agora.

    (CN, 13, 1990, p.32-33)

    Escritas da periferia e movimentos culturais afro-

    brasileiros

    No tpico anterior, conhecemos a escrita de mulheres negras quelanaram mo da literatura como forma de expresso desubjetividades, superao de preconceitos, insero social erepresentao identitria. Apesar das polmicas em torno de Carolina

    Maria de Jesus, no resta dvida de que ela expe, pela primeira vez,de forma contundente, os percalos do favelado no Brasil. A favelaque um espao pouco frequentado ou mesmo abandonado peloEstado, varrido para baixo do tapete da sociedade, emerge nosdirios de Carolina de Jesus trazendo uma carga de sofrimento dosexcludos urbanos, num momento em que o nmero de favelados emSo Paulo e no Brasil era bem tmido se comparado aos dias de hoje.

    O romance Quarto de despejo abre uma linha de escrita que seexpandiu nos ltimos decnios a escrita marginal oriunda dasfavelas, dos subrbios, criando vozes narrativas de resistncia frente

    opresso poltica e cultural do sistema.A representao literria da favela, cuja maioria de habitantes denegros, torna-se espao romanesco novamente em 2000 na obraCidade de Deus de Paulo Lins, que mergulha o leitor num universo deextrema violncia, do crime e do trfico. O autor traz cena astransformaes ocorridas no conjunto habitacional Cidade de Deus,que ao longo das dcadas de 1960, 70 e 80, vai se tornando uma dasfavelas mais violentas do Rio de Janeiro:

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    Por dia, durante uma semana, chegavam de trinta a cinqentamudanas, do pessoal que trazia no rosto e nos mveis as marcas dasenchentes. Estiveram alojados no estdio de futebol Mano Filho e

    vinham em caminhes estaduais cantando: Cidade Maravilhosa cheiade encantos mil...

    Em seguida, moradores de vrias favelas e da Baixada Fluminensechegavam para habitar o novo bairro, formado por casinhas fileiradasbrancas, rosas e azuis. Do outro lado do brao esquerdo do rio,construram Os Aps, conjunto de prdios de apartamentos de um edois quartos, alguns com vinte e outros com quarenta apartamentos,mas todos com cinco andares (Lins, 2000, p.7-8).

    Paulo Lins, escritor negro, formado em Letras, no discute

    particularmente o drama do negro excludo no espao urbano,restando-lhe por isso ocupar as zonas marginais e excludas da cidade,o que no deixa de ser a consequncia do passado colonial eescravista; o foco do autor propriamente o espao da favela Cidadede Deus e suas radicais transformaes com o acirramento dapobreza e do trfico de drogas e das personagens, frutos desteentorno.

    A favela do Canind, onde residiu Carolina de Jesus, quase tomadapor um ar romntico perto da crueza e violncia da Cidade de Deusnarrada no livro homnimo. No entanto, o que a sociedade enxergacomo espao do medo e da misria, vem ganhando vozes de protestodestas condies, constitudas a partir de movimentos culturaisligados ao hip hop, ao rap e aos escritores da literatura marginal:

    Cena do filme Cidade de Deus, baseado no livro de Paulo Linshttps://reader009.{domain}/reader009/html5/0522/5b039ff3376a6/5b039ff91b1e3.jpg?w=417&h=217

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    Contemporaneamente, o movimento hip hop e a literatura

    marginalizada que se elabora na periferia paulistana tmproduzido narrativas urbanas que nos permitem o acesso aouniverso simblico dos excludos (SILVA, 2008, p.80).

    Tal perspectiva nos leva refletir sobre um dos grandes desafiosenfrentados pela maior parte dos professores de escolas pblicaslocalizadas nas zonas perifricas das cidades: penetrar no universodos alunos a fim de construir um ambiente de educao dialgico,visto que a ausncia da representao destes na maioria dos livrosdidticos, aliada pretenso de homogeneizao das culturas e das

    diferenas, impede a aproximao entre professores e alunos. Umobstculo a precariedade na formao dos professores,despreparados e sem instrumentos pedaggicos para o mergulho nacompreenso do universo cultural e simblico dos alunos moradoresdas periferias.

    Diversos estudiosos da questo observam que o caminho para que ojovem da periferia comece a ver possibilidades de superao pormeio da arte em suas mltiplas manifestaes, como aponta oprofessor e DJ Nelson Maca:

    Para os interesses imediatos dos jovens afrodescendentesbrasileiros, o rap mais familiar que os filmes subjetivos, osromances eruditos ou as novelas televisivas (....) O rapestabelece, conscientemente, uma postura calcada ematitudes descolonizadas. As letras e a postura dos artistas dohip hop se fundem na tentativa de anulao das fronteirasentre a realidade e a representao (Maca, 2005, p. 7).

    Segundo os pesquisadores, o hip hop se constitui a partir de quatroelementos: o break(dana de passos quebrados), o grafite (a pintura

    com spray pintada nos muros da cidade), o DJ (Disc Jquei) e o rapper(ou MC, mestre de cerimnias que canta ou declama as letras). Aparte musical deriva do rap (abreviao de rythym and poetry, ritmo epoesia em ingls), o que aproxima esta manifestao musical, culturale de contestao da literatura afro-brasileira, em sua vertentemarginal3.

    3Rap um elemento

    integrante do Hip Hop.O Hip Hop surgiu naperiferia dos bairrospobres de Nova York,Estados Unidos, nadcada de 1970.

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    A relao bsica do rap com aliteratura a transposio dospersonagens musicados empersonagens de fico, queganham uma textualidadepoltica e ideolgica,anteriormente difundida nasletras do rap, como se pode

    observar no rap Dirio de um detento de Mano Brown, quetematiza o massacre do Carandiru em 1992, a composio se baseounos dirios escritos pelo detento Jocenir, que aps sua libertao teveo livro publicado.

    na letra do rap que se imbrica a experincia pessoal do preso,traduzidos pelos versos da msica que anunciam o horror do diaanterior ao massacre do Carandiru, ao mesmo tempo em quedenuncia o silenciamento do sistema e dos meios miditicos emrelao ao universo subjetivo do presidirio:

    Era a brecha que o sistema queria / Avisa o IML chegou ogrande dia [...]Cachorros assassinos, gs lacrimognio / Quem mata maisladro ganha medalha de prmio [...]O ser humano descartvel no Brasil, como modess usado ou

    bombril [...]Cadeia apaga o que o sistema no quis / Esconde o que a novelano diz [...]Cadveres no poo, no ptio interno / Adolf Hitler sorri noinferno [...]Ratatat / Fleury e sua gangue vo nadar numa piscina desangue [...]Mas quem que vai acreditar no meu depoimento? Dia 3 deoutubro, dirio de um detento (ZENI, 2004, p. 234).

    Diante dessa narrativa contundente, visceral, voc pode estar seindagando, de que maneira o rap e a literatura marginal podemcontribuir na transformao do cotidiano de jovens negrosdiscriminados, moradores da periferia, que por vezes olham comdesesperana para o futuro que a excluso desenha em seuhorizonte. Para alguns estudiosos do tema como Lourdes Carril,

    As letras [de rap] contendo denncias e recuperando a voz donegro na periferia repercutem na elevao da auto-estima dojovem da periferia, uma vez que lhe permitem elaborar uma

    B-girls, danarinas debreak, um dos

    elementos do Hip Hophttp://deco-

    01.slide.com/r/1/0/dl/mJQ-Ecvf6T9SqBL1jvL2l3I4SWFDj5

    GK/zoomer.fpg

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    interpretao sobre a sua realidade social, de se ver e secompreender parte de uma histria e de se territorializar noespao de forma representativa, dada pela recuperao da

    auto-estima, pelo sentimento de pertencer a algo, de formaconcreta por fazer parte de uma posse, e transmitir a suamensagem a outros pares, o que lhes permite ser ouvidos(Carril, 2003, p. 196-197)

    No mbito do projeto da literatura marginal, uma diversidade deautores e linhas de criao surge a cada dia, desafiando a hegemonialiterria dos circuitos fechados e oficiais da literatura brasileira eampliando assim as estratgias discursivas da literatura afro-brasileira, como revelam os versos do cordel urbano do Gato Preto

    em Favelfrica:

    ........................... pra voc ouvir, eu vou lhe repetirQuero a parte que me cabe, quero a parte que me cabeCriaram novos termos, camuflando o preconceitoFingindo encobrindo, o desastre que causou

    Pretinho, moreninho, mulato homem de corNo aceito eu sou negro, eu sou afro-brasileiroHerdeiros de Zumbi, eu tambm sou guerreiroCartola, Mandela, Portela, Marcus Garvey, Marighela

    Revolta da Chibata, a Revolta dos MalsDesmontutu minha nao gegeMeu Black, minhas tranas, um exemplo pras crianasMinhas tranas, o meu Black, um exemplo pros moleques

    Candombl, capoeira, feijoada caseiraFoi minha me quem criouBesteira muita asneira, o livro j falouPrincesa Isabel nunca libertou.(FRREZ, 2005, p.61)

    A partir destas e de outras manifestaes culturais e artsticas, aliteratura da periferia constri um campo discurso permeado pelomundo simblico dos excludos, que conquistam o direito voz naescavao da interioridade individual e por meio da memria coletivados afro-brasileiros em suas lutas histricas pelo direito liberdade e justia social.

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    Referncias

    ALVES, Miriam. "Pedaos de Mulher", Entrevista de 1995. Apud Leda Maria MartinsArabescos do Corpo Feminino, In: Gnero e Representao na Literatura Brasileira. BeloHorizonte: Editora da UFMG, 2002.

    Cadernos Negros1. So Paulo: Edio dos autores, 1978.

    Cadernos Negros 3. So Paulo: Edio dos autores, 1980.

    Cadernos Negros 5. So Paulo: Edio dos autores, 1982.

    Cadernos Negros 8. So Paulo: Edio dos autores, 1985.

    Cadernos Negros10. So Paulo: Edio dos autores, 1987.

    Cadernos Negros13. So Paulo: Edio dos autores, 1990.

    Cadernos Negros23. So Paulo: Edio dos autores, 2000.

    CARRIL, Lourdes. Quilombo, favela e periferia: a longa busca da cidadania . Faculdade deFilosofia, Letras e Cincias Humanas, So Paulo, Universidade de So Paulo, 2003. (Tese,Doutorado em Geografia Humana)

    CUTI, Lus da Silva. Palavra negro. Disponvel em http://www.cuti.com.br/poesia2.htmAcesso em 18 de junho de 2010.

    FERRZ (Org.). Literatura marginal: talentos da escrita perifrica. Rio de Janeiro: Agir,

    2005.GOMES, Helosa Toller. Visveis e invisveis grades: vozes de mulheres na escritaafrodescendente contempornea. Disponvel emhttp://www.letras.ufmg.br/literafro/artigoheloisa.pdf Acesso em 18 de junho de 2010.

    LINS, Paulo. Cidade de Deus. So Paulo: Companhia das Letras, 2000.

    MACA, Nelson. Algumas reflexes sobre hip hop e baianidades. Revista Palmares. Ano 1,n2, dez de 2005.

    Nascimento, Abdias do. Sobre os cadernos negros Disponvel emhttp://www.quilombhoje.com.br/sobrecadernos/orelhaabdias.htm . Acesso em 25 de

    maio de 2010.SILVA, Jos Carlos Gomes da. Carolina Maria de Jesus e os discursos da negritude:literatura afro-brasileira, jornais negros e vozes marginalizadas. Histria & Perspectivas,Uberlndia (39): 59-88, jul.dez.2008.

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    Leitura bsica:

    SILVA, Jos Carlos Gomes da. Carolina Maria de Jesus e os discursos da negritude.

    Disponvel em: www.historiaperspectivas.inhis.ufu.br/include/getdoc.php

    Para saber mais:

    EVARISTO, Conceio. Da representao auto-representao da mulher negra naliteratura brasileira. Revista Palmares, ano1, n.1, 2005.

    GUERRA, Denise. Sons e dana dos negros no Brasil Disponvel emhttp://www.geledes.org.br/afrobrasileiros-e-suas-lutas/sons-e-dancas-dos-negros-no-

    brasil-18.htmlMOREIRA, Gilberto Passos Gil. Diversidade cultural, identidade e resistncia. RevistaPalmares, ano 1, n.1, 2005.

    PALMEIRA, Francineide Santos. Conceio Evaristo e Esmeralda Ribeiro: intelectuaisnegras, poesia e memria. Terra roxa e outras terras Revista de Estudos Literrios, vol.17-A, Londrina, (dez. 2009). (verso online)

    PRUDENTE, Celso Luiz. Cinema negro: aspectos de uma arte para a afirmao ontolgicado negro brasileiro. Revista Palmares, ano 1, n.1, 2005.

    SOUZA, Ana Lcia. Hip Hop novos gestos e espaos de fala, leituras e imagens negras.

    Revista Palmares, ano 1, n.2, 2005.

    Sobre a Autora

    Elizabeth Gonzaga de Lima

    Doutora em Teoria e Histria Literria pelaUniversidade Estadual de Campinas, Mestre em

    Letras pela Universidade Estadual de Campinas,especialista em Literatura Brasileira pela PontifciaUniversidade Catlica de Minas Gerais, graduadaem Letras Vernculas pela Pontifcia UniversidadeCatlica de Minas Gerais. Possui experincia e atuanas reas de Teoria da Literatura, Literaturainfanto-juvenil, Literatura Brasileira, LiteraturaPortuguesa e Literaturas africanas de lngua

    portuguesa nas modalidades presencial e a distncia.