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    IRACI DEL NERO DA COSTA

    MINAS GERAIS: ESTRUTURAS POPULACIONAIS TPICAS

    SO PAULO - 1982

    Este trabalho recebeu apoio financeiro daFundao Instituto de Pesquisas Econmicas (FIPE)

    e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)

    SUMRIO

    I - INTRODUO

    II - ESTRUTURAS POPULACIONAIS TPICAS: CARACTERIZAO1. Urbana2. Rural-Mineradora3. Intermdia4. Rural de Autoconsumo

    III - ESTRUTURAS POPULACIONAIS TPICAS: ANLISE COMPARATIVA

    IV - CONSIDERAES FINAIS

    NOTAS

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    APNDICE ESTATSTICO

    I - INTRODUO

    Em trabalho de nossa autoria intitulado Vila Rica: Populao (1719-1826) (1)determinamos, entre outros elementos, a estrutura populacional vigente em Ouro Pretona primeira dcada do sculo XIX. Para tanto, servimo-nos de dados propiciados pelorecenseamento efetuado, em 1804, na capitania de Minas Gerais..

    A partir da metodologia desenvolvida no aludido estudo e com base no mesmo censo,visamos -- na pesquisa Sobre a Estrutura Populacional de Alguns Ncleos Mineiros no

    Alvorecer do Sculo XIX (2) -- , basicamente, a encontrar resposta para a questo: aquais fatores e/ou eventos poder-se-iam atribuir as similitudes e discrepncias

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    evidenciadas pelo confronto das estruturas populacionais de centros que, emboraespacialmente distanciados, derivaram de razes formativas assentadas numa matrizsocioeconmica comum?Dentre os resultados que se nos colocaram, ao procurarmos solver o problema acimaposto, ressalta a identificao de estruturas populacionais distintas, cuja existncia nos

    foi sugerida pela anlise pormenorizada da populao de dez localidades mineiras.Assim, estabelecemos quatro tipos bsicos de estruturas populacionais: urbana, rural-mineradora, intermdia e rural de autoconsumo. (3)Em face do escopo do aludido estudo, vimo-nos obrigados a operar em nvel delocalidade; no nos foi dado, portanto, reunir os efetivos populacionais dos ncleosenquadrados em cada uma das estruturas supracitadas. Tal operao efetuaremos nestetrabalho, no qual pretendemos confrontar -- com base em dados agregados -- asestruturas populacionais mencionadas. A caracterizao definitiva e o assentamento daespecificidade de tais estruturas representa, pois, o objetivo central desta pesquisa.

    Antes de passarmos anlise acima delineada, impem-se algumas consideraes

    preliminares. Primeiramente, conforme evidenciar-se- no corpo deste trabalho, cabelembrar termos aceito, implicitamente, a hiptese de que se pode referir dada estruturademogrfica s condies socioeconmicas subjacentes, as quais a teriam,condicionalmente, engendrado. Este suposto decorre do reconhecimento de que asvariveis demogrficas no sobrepairam a realidade socioeconmica da qual, admitida arelativa autonomia do fato biolgico, apresentam-se, em ltima instncia, comoexpresso. Evidentemente, no queremos, com tal assertiva, relegar a plano meramentepassivo as aludidas variveis; pelo contrrio, ao advogarmos papel determinante para omeio socioeconmico envolvente, reconhecemos, concomitantemente, a ao daquelasvariveis sobre este ltimo. Acreditamos, pois, na interdependncia destescomponentes da vida em comunidade. Assim, no mbito deste estudo, o conceitoestrutura populacional define-se em termos demogrfico-econmicos; vale dizer, as

    variveis com as quais trabalhamos trazem implcita e simultaneamente duas dimensesinter-relacionadas e no dissociveis: a demogrfica e a econmica.

    Por fim, cumpre notar que o critrio orientador da escolha dos ncleos aquiconsiderados, sua histria, assim como o tratamento dispensado aos dados e adiscriminao das fontes primrias utilizadas, acham-se minudentemente descritos emnosso trabalho denominado Sobre a Estrutura Populacional de Alguns Ncleos Mineirosno Alvorecer do Sculo XIX. (4)

    II - ESTRUTURAS POPULACIONAIS TPICAS: CARACTERIZAO

    Referimos, neste tpico, os elementos bsicos das estruturas populacionais acimanomeadas. Por ora, cingir-nos-emos, portanto, determinao das caractersticas geraisde cada estrutura populacional tpica; em captulo subseqente cotejaremos osresultados aqui arrolados, indicaremos as discrepncias verificadas e evidenciaremos aespecificidade das aludidas estruturas populacionais.

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    1. URBANA

    Enquadraram-se nesta categoria: Vila Rica, Mariana e Passagem. Para efeitos analticos,como avanado, consideraremos o efetivo populacional resultante da reunio doshabitantes destas trs localidades.

    Em Vila Rica centralizava-se a vida poltico-administrativa da capitania. Entre seushabitantes encontrava-se grande nmero de funcionrios, clrigos, militares, artesos,profissionais liberais, mineradores e negociantes. O carter citadino da urbe refletia-se,particularmente, na presena altamente significativa das atividades vinculadas aossetores secundrio e tercirio, ressaltando daquele, o grande peso relativo e amploespectro coberto pelas ocupaes artesanais. As ocupaes agrcolas, por seu turno,eram de pequena monta.

    Mariana apresentava corte caracteristicamente urbano. No censo utilizado neste trabalhoos fogos vm arrolados por ruas, a indicar que a prpria organizao espacial do ncleoobedecia a padres tpicos de centros citadinos. Infelizmente no nos foi dado

    contemplar todo o permetro urbano de Mariana, pois localizamos, to-somente, olevantamento censitrio referente a um dos distritos ento existentes na cidade. Nodistrito de Passagem, colocado estrategicamente entre Mariana e Vila Rica, a lidemineratria estabeleceu-se desde os primrdios da ocupao de Minas. Tributrio dosdois centros aludidos, Passagem apresentava grande similitude com respeito a ambos.

    Estrutura por Sexos e Condio Social

    Marca-se, desde logo, o predomnio numrico dos livres sobre os escravos: 68,3% emface de 31,7%. Os agregados, por seu turno, correspondiam a 15,3% dos livres.

    Quanto ao sexo, preponderava, ligeiramente, o feminino: 50,8%. Este relativo equilbriorompe-se caso contemplemos, separadamente, livres e escravos. Para os ltimosobservava-se domnio dos homens (59,3%), entre os primeiros computava-se maiornmero de mulheres: 55,4%. O sexo masculino, ademais, revelava participao modestaentre os agregados: 39,6% (Cf. Tabela 1 do Apndice Estatstico, doravante indicadopela sigla A.E.).

    A razo de masculinidade concernente aos cativos (145,9 homens para cada grupo de100 escravas) explica-se pelo prprio destino a que se os fadava -- desempenho deatividades produtivas relativamente exigentes em mo-de-obra masculina. O mesmoindicador, para os livres (80,4), decorria, certamente, do processo de emigrao

    verificado na rea mineradora ao tempo da decadncia econmica, cujos primrdiosremontam segunda metade do sculo XVIII. Entre os agregados contavam-se, apenas,65,6 homens para cada conjunto de 100 mulheres; tudo parece indicar -- ao menos paraMinas Gerais -- que, no segmento populacional referente aos agregados, ocorriasistemtica superioridade numrica do sexo feminino. Conforme se nota imediatamente,a harmonia vigente para a populao total -- 97,0 homens para 100 pessoas do sexooposto -- derivava da interao de grupos dissmeis.

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    GRFICO 1RAZO DE MASCULINIDADE POR GRUPOS DE IDADE

    (VR, PA, MR - 1804)

    No Grfico 1 indicamos a razo de masculinidade por grupos de idades. Note-se que,para os livres, o valor mnimo corresponde faixa etria relativa aos indivduos comidades a variar dos vinte aos vinte e nove anos. Ademais, a observao dos dadosconstantes do A.E. sugere-nos que os homens entre 15 e 34 anos apresentavam maiortendncia para emigrar. A fim de ilustrar o mesmo fenmeno elaboramos a Tabela 1, da

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    qual depreende-se, claramente, a inferioridade numrica do elemento masculino entre ossolteiros adultos.

    TABELA 1RAZO DE MASCULINIDADE ENTRE SOLTEIROS LIVRES

    (VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS RAZO DE MASCULINIDADE-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0 - 4 105,885 - 9 99,76

    10 - 19 97,9820 - 29 62,1730 - 39 68,7640 - 49 59,73

    50 - 59 63,6760 - 69 68,2170 - 79 60,2180 e mais 95,55-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: VR (Vila Rica), PA (Passagem), MR (Mariana).

    Repartio dos Habitantes Segundo Grandes Grupos Etrios

    Contemplemos os estratos populacionais referentes a escravos e livres, repartidos

    segundo dois critrios de grandes faixas de idade. O primeiro toma em conta: crianas(0-14 anos) , indivduos em idade ativa (15-64 anos) e ancios (65 e mais anos). O outroconsidera: jovens (0-19 anos), adultos (20-59 anos) e velhos (60 e mais anos). (1)

    Atenhamo-nos, inicialmente, aos dados pertinentes populao como um todo, a qualmostrava-se relativamente "jovem": aos velhos cabia o peso relativo de 9,1%, aosadultos 54,0% e aos jovens 36,9%. Na faixa dos 15 aos 64 anos encontravam-se 65,7%dos moradores dos trs ncleos.

    Como esperado, tais cifras assumiam valores distintos quando considerados ossegmentos populacionais atinentes a livres e escravos. A participao dos jovens entreos escravos mostrava-se muito inferior: 29,4% em face de 40,4%. Quanto aos velhos,

    observava-se maior ndice para os livres -- 10,1% -- vis--vis os escravos 7,0%. Comrespeito faixa etria concernente idade ativa, a divergncia tambm atingiapropores significativas: 61,6% para livres e 74,4% para escravos.

    Estas disparidades, atribumo-las a trs fatores principais: taxa de mortalidade infantilmais elevada para os es cravos, ocorrncia de entrada de escravos africanos jcrescidos e menor esperana de vida dos cativos. (2)

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    Pirmides de Idades

    A amplitude dos degraus inferiores da pirmide de idades, construda para a populaototal, corrobora a afirmativa de que estamos a tratar de uma populao relativamente

    jovem. Ilustra-se, ademais, o predomnio do sexo feminino nas faixas etriasintermedirias.

    O departimento dos habitantes segundo a situao social (livres e escravos) propicianovas evidncias. Destarte, para os livres, a dominncia do sexo feminino mostra-sepalmarmente -- o equilbrio rompe-se aos 20 anos, ocorrendo ligeira recuperao noltimo intervalo etrio. Por outro lado, a base da pirmide amplia-se, de sorte a reforar ocarter de "populao jovem".

    Para os escravos encontramos uma configurao tpica de populao "velha". Almdisto, os homens comparecem majoritariamente em todas as faixas etrias. Devem-senotar, ainda, as "quebras" verificadas a partir da faixa dos 40 aos 49 anos, para asmulheres, e dos 50 aos 59 para o sexo oposto. Tais "rupturas" deviam-se,provavelmente, ao eventual acrscimo da taxa de alforrias para pessoas com idades

    mais avanadas.

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    GRFICO 2PIRMIDES DE IDADES

    (VR, PA, MR - 1804)

    Origem dos Escravos

    A distribuio dos escravos segundo a origem e grandes faixas etrias permite-nos o

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    entendimento mais profundo da composio da massa escrava existente nos ncleosem estudo.

    Os cativos nascidos no Brasil ("coloniais") sobrepujavam, numericamente, os oriundosda frica: 58,0% em face de 41,4%, com 0,6% de origem indeterminada (Cf. Tabela 7 doA.E.).

    Por outro lado, conforme se infere da Tabela 2, enquanto os coloniais apresentamcaracteristicas de "populao jovem" -- 44,9% deles encontravam-se na faixa 0-19 anos--, os africanos revelavam-se como u'a massa relativamente "velha" -- apenas 9,1% delescontavam dezenove ou menos anos de idade.

    TABELA 2REPARTIO PORCENTUAL DOS ESCRAVOS AFRICANOS E COLONIAIS, SEGUNDO

    GRANDES FAIXAS ETRIAS(VR, MR - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    FAIXAS AFRICANOS COLONIAIS .ETRIAS SUDANESES BANTOS TOTAL CRIOULOS PARDOS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0- 19 2,67 10,21 9,09 43,94 48,77 44,9420- 59 67,92 80,98 79,05 51,40 49,59 51,0260 e mais anos 29,41 8,81 11,86 4,66 1,64 4,04TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Os nmeros absolutos constam da Tabela 8 do A.E.

    Os escravos africanos, como sabido, podem ser distribudos segundo dois grandesgrupos tnicos e/ou lingsticos: Bantos e Sudaneses. Em 1804 ocorria franco

    predomnio numrico dos primeiros: 85,2% vis--vis 14,8%. Os sudaneses cujaparticipao, ao tempo do apogeu da lida exploratria, chegara a sobrepujar a dosbantos (3) mostravam idades mais avanadas em face das idades destes ltimos. Assim,enquanto 8,8% dos bantos contavam sessenta ou mais anos, 29,4% dos sudanesesenquadravam-se na mesma faixa etria. Estas evidncias expressam, a nosso ver, oprocesso de "substituio" dos sudaneses por bantos, o qual decorreu da decadnciada atividade mineradora (4)

    Sobre a Filiao dos Menores de 14 Anos

    Em face do significativo peso relativo assumido na sociedade colonial brasileira pela

    parcela de filhos ilegtimos, impe-se o estudo quantitativo referente filiao. Deve-senotar, desde logo, que a existncia de elevado porcentual de filhos naturais e expostos,alm de se apresentar como um problema em si, condicionava a configurao daestrutura populacional quando analisada segundo o estado conjugal ou vista sob aperspectiva das unidades familiares.

    Por outro lado, a condicionar a freqncia relativa de filhos naturais e, sobretudo, a decrianas enjeitadas estava, a par de outros fatores, a situao econmica defrontadapelas comunidades pretritas.

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    Neste trabalho consideramos a filiao das crianas com quatorze ou menos anos deidade. Vimo-nos obrigados a limitar a faixa etria a analisar porque nos censos de quenos servimos a filiao indicou-se, apenas, para indivduos com poucos anos de idade;por outro lado, pareceu-nos conveniente o limite superior de quatorze anos porqueselecionamos o grupo aqui identificado como o correspondente s "crianas". Tal

    conjunto somou 3.044 indivduos -- exclusive 120 para os quais foi impossveldeterminar a filiao --, assim distribudos: 1.152 (37,84%) legtimos e 1.892 (62,16%)naturais. Entre estes ltimos contamos 162 expostos, os quais correspondiam a 8,5%dos bastardos.

    Quando tomamos em conta a condio social revelaram-se expressivas discrepncias.Destarte, apenas 0,56% dos escravos aparecem como filhos legtimos, contra 49,16%entre os livres (Cf. Tabela 3).

    Como esperado, a legitimidade associava-se ao posicionamento social das pessoas.

    TABELA 3

    FILIAO, EM PORCENTAGEM, DAS CRIANAS COM 14 OU MENOS ANOS(VR, PA, MR - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FILIAO LIVRES ESCRAVOS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos 49,16 0,56 37,84Naturais 50,84 99,44 62,16

    TOTAL 100,00 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Os nmeros absolutos constam da Tabela 9 do A.E.

    Mesmo entre os livres podemos distinguir dois grupos: um relativo aos agregados, outroreferente aos "independentes" (entendidos aqui como livres no agregados). A maioriadestes ltimos (56,08%) compunha-se de filhos legtimos; para os agregados oporcentual correspondente alcanava, to-somente, 12,43% (Cf. Tabela 4). V-se, pois,que a condio de legitimidade condicionava-se, tambm, pelo status econmico dospais.

    TABELA 4FILIAO, EM PORCENTAGEM, DAS CRIANAS LIVRES -- COM 14 OU MENOS ANOS --

    REPARTIDAS EM "INDEPENDENTES" E AGREGADAS(VR, PA, MR - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FILIAO "INDEPENDENTES" AGREGADAS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos 56,08 12,43 49,16Naturais 43,92 87,57 50,84

    TOTAL 100,00 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Os nmeros absolutos constam da Tabela 10 do A.E.

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    Estrutura Segundo o Estado Conjugal

    Como sabido, vrios fatores afetam a distribuio populacional segundo o estadoconjugal; alm do sexo e da idade ressaltam variveis de carter econmico e cultural.

    Com respeito aos ncleos em estudo, as diferenas mais marcantes inferem-se dosimples confronto das Tabelas 3 e 4 do A.E., nas quais os habitantes das trslocalidades em pauta apresentam-se distribudos segundo o sexo, faixas etrias, estadoconjugal e estratos sociais relativos a escravos e livres. Entre os escravos, o nmero decasados no chegava a um por cento do total de cativos; quanto aos vivos anotou-seapenas um caso para u'a massa de 3.489 pessoas.

    Quanto aos livres -- para os quais encontramos 16,55% de casados e 2,90% de vivos deambos os sexos -- marcavam-se distines entre os sexos. Assim, 17,72% dos homenseram casados enquanto para o sexo feminino a mesma relao alcanava 15,61%.Lembrem-se aqui, como elementos explicativos desta disparidade, a predominncia dasmulheres entre os solteiros com filhos e a significativa emigrao de homens solteiros.

    J para os vivos o peso relativo apresentava-se maior entre as mulheres (4,24%) do queentre os homens (1,22%).

    GRFICO 3PIRMIDE DE IDADES - POPULAO LIVRE

    (VR, PA, MA - 1804)

    A apreciao da pirmide de idades na qual se indica, para os livres, o estado conjugal(Grfico 3) permite-nos visualizar outras discrepncias existentes entre os sexos.Evidencia-se o casamento relativamente tardio dos homens -- na faixa dos 20 aos 29anos o peso relativo dos homens casados ou vivos sobre o total de indivduos do sexomasculino enquadrados na mesma faixa etria era de 15,09%, enquanto que a mesmarelao, para as mulheres, apontava 24,01%. Note-se que estes porcentuais minimizam adiscrepncia apontada, pois, era justamente a partir da adolescncia, como j

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    indicamos, que se verificava significativa emigrao de elementos do sexo masculino.Por outro lado, o fato de observarmos -- marcadamente a partir da faixa dos 40-49 anos-- pesos relativamente mais elevados para os homens casados vis--vis mulheres emmesma situao, aparece como indicador de que os homens que emigravam deveriamestar, majoritariamente, na faixa etria dos 20 aos 40 anos e eram, predominantemente,solteiros; no nos esquecemos aqui de outro fator explicativo desta desproporo: o

    grande nmero de mes solteiras.

    As mesmas concluses decorrem da Tabela 5, na qual indicamos a proporo desolteiros sobre o total da populao masculina e feminina, respectivamente.

    TABELA 5PORCENTAGEM DE SOLTEIROS LIVRES, SEGUNDO SEXO E FAIXA ETRIA

    (VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    10-19 99,56 95,8620-29 84,91 75,9830-39 62,19 66,9540-49 51,57 61,3450-59 57,75 69,0360-69 63,78 71,1970-79 60,87 74,4080 e mais anos 89,58 83,33-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Estrutura das Famlias e Domiclios

    Para o Brasil -- como j salientamos em outros trabalhos --, o estudo da estruturafamiliar vincula-se, necessariamente, quele concernente aos domiclios, pois,sistematicamente, encontramos vrias famlias coabitantes a guardar vnculos desubordinao ou dependncia; vale dizer, podiam viver num mesmo domiclio famlias"independentes" (5), de agregados e de escravos. Sem dvida, tal fato influa nacomposio das famlias, no seu relacionamento com o corpo social, bem como nadiviso do trabalho e da renda. Assim, tanto do ponto de vista econmico como dosocial, parece-nos altamente relevante distinguirmos estes trs tipos bsicos defamlias. Destarte, o estudo da unidade familiar dever referir-se, sempre, sua posiorelativa no domicilio. (6)

    * * *

    Para efeito deste estudo consideramos trs categorias de famlia: independentes, deagregados e de escravos. Por Famlia entenderemos o casal (unido ou no perante aIgreja) com seus filhos, caso existissem; os(as) solteiros(as) com filhos e os(as)vivos(as) com filhos. Em qualquer dos casos os filhos devero ser solteiros, sem prolee coabitar junto aos pais. PorChefe de Famlia entende-se o "cabea de casal".

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    Para as famlias independentes, como explicitado no Quadro 1, admitimos quatrosubcategorias: a) famlia do chefe de domiclio; b) famlias de filhos do chefe dedomicilio; c) famlias de parentes do chefe de domiclio; d) famlias de empregados dochefe de domiclio.

    Como categorias distintas aparecem as dos agregados e escravos. Os vivos ou vivassolitrios, bem como aqueles a viver junto a filho(s) com prole, no constituem famlia eenquadram-se no grupo "Pseudo Famlias", dividido em quatro subcategorias: umarelativa aos vivos a viver ss, outra referente aos que moravam com filho(s) erespectiva prole, uma terceira composta de vivos(as) -- agregados ou escravos -- queno constitussem famlia e, por ltimo, a subcategoria concernente aos solteiros(as) emvivncia com filho(s) que constitua(m) famlia.

    QUADRO 1

    FAMLIAS: POR CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    CATEGORIAS SUBCATEGORIAS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1. Independentes a. do chefe de domiclio (C.D.);

    b. de filhos do C.D.;c. de parentes do C.D.;d. de empregados do C.D.

    2. De Agregados

    3. De Escravos

    4. Pseudo Famlias a. vivos(as) solitrios(as);

    b. vivos(as) em vivncia com filho(s) que constitua(m)famlia;c. vivos(as), agregados ou escravos, que no constituam

    famlia;d. solteiros(as) em vivncia com filho(s) que constitua(m)

    famlia.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Os resultados numricos (veja-se Tabela 6) indicam a larga predominncia das famliasindependentes, em geral, e das de chefes de domiclio, em particular. Tais evidnciasrevelam que as famlias nucleares tendiam a estabelecer-se em domiclios prprios.

    Como se verifica, o peso relativo das famlias de agregados equilibrava-se com oreferente s de filhos e de parentes dos chefes de domiclios. Os porcentuais modestosexplicam-se pela tendncia acima anotada e por predominarem, entre os agregados,indivduos que no constituam famlia.

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    TABELA 6FAMLIAS: POR CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS

    (VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------CATEGORIAS E Nmeros Absolutos Porcentagem % Por CategoriaSUBCATEGORIAS

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1. Independentes- do Chefe de Domiclio (C.D.) 1.154 78,77- de filhos do C.D. 80 5,46- de parentes do C.D. 18 1,23 85,46

    2. De Agregados 101 6,89 6,89

    3. De Escravos 37 2,53 2,53

    4. Pseudo Famlias- vivos(as) que no constituam famlia 61 4,16

    - vivos(as) em vivncia com filho(s)que constitua(m) famlia 8 0,55

    - vivos(as) agregados ou escravos queno constituam famlia 5 0,34

    - solteiros(as) em vivncia com filho(s)que constitua(m) famlia 1 0,07 5,12

    TOTAL 1.465 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Quanto aos escravos, a precariedade das informaes (7) aliada aos bices colocados

    ao estabelecimento de famlias regulares de cativos, aparecem como elementosexplicativos do baixo peso relativo observado.

    * * *

    J enunciamos a definio de Domicilio assumida neste estudo; resta-nos lembrar queestabelecemos a caracterizao da entidade em tela -- quanto a categorias esubcategorias -- em nosso trabalho intitulado Sobre a Estrutura Populacional de AlgunsNcleos Mineiros no Alvorecer do Sculo XIX. (8) Restringir-nos-emos aqui, pois, areproduzir o universo categrico proposto naquele estudo (Cf. Quadro 2), ao qualremetemos o leitor interessado em conhecer pormenorizadamente os critrios adotados

    em sua elaborao.

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    QUADRO 2COMPOSIO DOS DOMICLIOS: CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS

    As evidncias observadas (Cf. Tabela 11 do A.E. e a Tabela 7 abaixo) indicam a

    predominncia dos domiclios do tipo simples (categorias 1, 2 e 3) sobre os domiclioscomplexos (grupos 4 e 5): os primeiros correspondiam a 91,14% do total, enquanto osltimos representavam menos de um dcimo (8,32%).

    TABELA 7

    DISTRIBUIO DOS DOMICLIOS, SEGUNDO CATEGORIAS(VR, PA, MR - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Categorias de Domiclios N. ABSOLUTO PORCENTAGENS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1 859 38,83

    2 142 6,423 1.015 45,894 117 5,295 67 3,036 12 0,54TOTAL 2.212 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    Dentre as categorias entendidas como do tipo simples cabe realce especial scategorias 1 ("domiclios singulares") e 3 ("domiclios simples"). A esta ltimacorrespondeu 45,89% do total de domiclios computados e os "domiclios singulares"compreenderam 38,83%.

    Outra perspectiva analtica para caracterizao da maior ou menor complexidade das

    unidades domiciliares prende-se presena de escravos e/ou agregados.

    Quanto aos cativos, registramo-los em 39,33% dos domiclios. Verificou-se, por outrolado, que em 26,94% apareciam agregados. Computados os domiclios nos quaiscompareciam escravos ou agregados chega-se cifra 51,63%. Vale dizer, em mais dametade dos domiclios encontravam-se escravos ou agregados, 12,30% apenas comagregados, 24,68% s com escravos e 14,65% com ambos os grupos em foco.

    Em concluso, pode-se afirmar que de acordo com o critrio alternativoconsubstanciado na presena de escravos e/ou agregados a maioria dos domiclios emanalise apresentava composio complexa.

    Os nmeros mdios de agregados e escravos, por domiclio -- computados somenteaqueles nos quais eles se faziam presentes -- corresponderam, respectivamente, aosvalores 1,9 e 4,0. O nmero mdio de pessoas livres por domiclio alcanava o valor 3,4 eo de pessoas em geral alava-se a 5,0.

    Estrutura Segundo Profisses e Atividades Produtivas

    O estudo das atividades produtivas e da estrutura profissional define-se como elementodo mais alto interesse para o entendimento das caracteristicas econmicas de uma dadacomunidade.

    A distribuio dos indivduos em termos de sexo, posicionamento social, cor e porsetores produtivos revela-se como subsidio indispensvel ao conhecimento dosprocessos de integrao econmica e diviso do trabalho; permite-nos, igualmente,estabelecer o delineamento do quadro da vida material das sociedades consideradas.

    Por outro lado, o papel desempenhado pelos indivduos e grupos populacionais mostra-se essencial para o conhecimento da histria das comunidades, pois, alm de propiciara viso do momento pesquisado, d-nos elementos do processo pretrito que ocondicionou e sugere-nos as linhas bsicas explicativas do desenvolvimento ulterior docorpo social.

    Tal ordem de razes fundamenta a anlise ora empreendida, com referncia qual

    impem-se algumas qualificaes preliminares. Distingue-se, desde logo, o problemarepresentado pela massa escrava. Entendemos ser errneo desconsider-la no estudodas atividades produtivas; no entanto, esbarramos aqui numa primeira limitao, pois,no censo em pauta aparece numeroso contingente de cativos cuja nica qualificao eraa de prestarem-se aos "servios domsticos". A prpria ambigidade do termo, comrespeito s possveis tarefas que cabiam a estas pessoas, levou-nos a exclu-las denossa analise. Por outro lado, a simples indicao "escravo", sem qualquer outroqualificado, impede-nos, como bvio, a inferncia de que tais elementosdesempenhassem atividades homogneas no largo espectro de atribuies produtivas

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    da sociedade mineira.

    Tais consideraes levaram-nos a considerar, neste trabalho, apenas os escravos paraos quais explicitaram-se atividades bem determinadas. Lembramos, ademais, visando aevitar qualquer mal-entendido quanto s nossas concluses, que, da massa total doshabitantes dos trs ncleos em tela, pouco menos de um tero (31,7%) constitua-se de

    escravos. Estes cativos, certamente, suportavam o peso maior das atividadeseconmicas da urbe; no entanto, apenas para 5,3% deles explicitaram-se ocupaeseconmicas. Em contraposio, anotaram-se atividades para 27,4% dos livres. Estamos,portanto, a tomar apenas parte dos membros economicamente ativos. A lacuna maiorrefere-se massa escrava que -- excludos os cativos de tenra idade, os incapazes e osde idade avanada -- deveria estar integrada, na totalidade, ao processo produtivo.

    Cabe-nos notar ainda que algumas das ocupaes acusadas nos censos aqui utilizadosno puderam receber tratamento estatstico, dada a ambigidade da terminologia dosrecenseadores. Deste rol figuram atividades como: "vive de sua agncia" e "homemparticular", por ns qualificadas como "indeterminadas". Tambm computamos parte-- por no se referirem a atividades econmicas propriamente ditas -- atribuies tais

    como: "estudantes", "vive do aluguel de suas casas", "do jornal de seus escravos" etc.

    Finalmente, cumpre notar que as atividades foram enquadradas nos trs setoreseconmicos bsicos classicamente distinguidos pelos economistas: primrio,secundrio e tercirio. (9)

    * * *

    O setor primrio absorvia, apenas, 6,4% dos indivduos para os quais indicaram-seatividades econmicas. Este porcentual modesto reflete o carter urbano da populaoem anlise. O secundrio aparecia com preeminncia -- 56,4% -- e as atividadesrelacionadas aos servios tambm ocupavam posio de realce: 37,2%.

    Quanto distribuio segundo o sexo, evidenciou-se a predominncia dos homens:79,8% em face de 20,2% de elementos do sexo oposto.

    Tomadas isoladamente, verificou-se no haver disparidade muito acentuada (exclusivepara o setor primrio) nas distribuies de homens e mulheres segundo os setoresconsiderados. Assim, 4,5% do total de homens vinculava-se ao primrio, 58,2% aosecundrio e 37,3% ao tercirio; para o sexo oposto as cifras correlatas foram,respectivamente: 13,9%, 49,5% e 36,6% (Cf. Tabela 8). Evidentemente, tais valores nopermitem a inferncia de que as mesmas atribuies coubessem a homens e mulheres;como veremos adiante, existiam marcantes diferenas de natureza nas ocupaescorrespondentes a cada sexo.

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    TABELA 8DISTRIBUIO PORCENTUAL DE HOMENS E MULHERES, SEGUNDO SETORES

    (VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Primrio 4,49 13,88Secundrio 58,17 49,52Tercirio 37,34 36,60

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Por outro lado, como se depreende das Tabelas 9 e 10, observam-se significativasdiscrepncias quanto participao de homens e mulheres nos setores aludidosquando computados, conjuntamente, ambos os sexos.

    TABELA 9

    DISTRIBUIO PORCENTUAL DOS INDIVDUOS POR SETORES, SEGUNDO O SEXO(VR, PA, MR - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES H+M-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 3,58 2,81 6,39Secundrio 46,40 10,02 56,42Tercirio 29,78 7,41 37,19

    TOTAL 79,76 20,24 100,00

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Tabela 10DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE HOMENS E MULHERES

    (VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 56,06 43,94 100,00Secundrio 82,23 17,77 100,00

    Tercirio 80,08 19,92 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Assim, enquanto no primrio ocorria relativo equilbrio entre os sexos -- 56,1% dehomens contra 43,9% de mulheres --, no secundrio a discrepncia revelava-se degrande monta -- 82,2% de indivduos do sexo masculino em face de 17,8% de mulheres.Com respeito ao tercirio verificou-se divergncia igualmente acentuada: 80,1% dehomens versus 19,9% de mulheres. Evidentemente, os diferenciais apontados devem-se,sobretudo, aos nmeros absolutos de indivduos de cada sexo.

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    O parcelamento da populao segundo o posicionamento social -- livres e escravos --permite-nos verificar que, tomadas as duas categorias isoladamente, existia francodesequilbrio nos setores primrio e tercirio. Assim, 19,0% dos cativos vinculavam-seao primrio, enquanto apenas 5,2% dos livres a se colocavam; por outro lado, enquanto38,2% de livres enquadravam-se no tercirio, apenas 26,6% dos escravos ocupavam

    posio idntica. Quanto ao secundrio, o equilbrio mostrava-se patente (Cf. Tabela 11).

    TABELA 11DISTRIBUIO PORCENTUAL DE LIVRES E ESCRAVOS, SEGUNDO SETORES

    (VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES LIVRES ESCRAVOS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 5,16 19,02Secundrio 56,62 54,35Tercirio 38,22 26,63

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Analogamente ao caso anterior, no qual distribumos a populao segundo o sexo, asdiscrepncias devidas ao maior contingente de livres em face do nmero de escravosrevelaram-se altamente significativas quando computamos, conjuntamente, os doisestratos sociais (Cf. Tabela 12).

    TABELA 12

    DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE LIVRES E ESCRAVOS(VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES LIVRES ESCRAVOS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 73,48 26,52 100,00Secundrio 91,42 8,58 100,00Tercirio 93,62 6,38 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Assim, os livres -- com larga maioria no primrio -- praticamente monopolizavam o

    secundrio e o tercirio, independentemente, como j afirmamos, da natureza dasocupaes desempenhadas.

    Na Tabela 13, v-se claramente a predominncia numrica dos livres e as divergnciasacima referidas.

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    Caracterizavam-se pela especializao exigida para seu desempenho -- armeiros,funileiros, fundidores etc. -- e/ou pelo maior esforo fsico requerido -- capineiros,ferradores etc. -- e/ou pelo tradicional relacionamento estabelecido entre algumasatividades e o sexo: alfaiates e costureiras, por exemplo. (10)

    TABELA 14DISTRIBUIO DAS ATIVIDADES DO SECUNDRIO, SEGUNDO O SEXO

    (VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ATIVIDADES EXERCIDAS NMERODE ATIVIDADES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Exclusivamente por homens 37Exclusivamente por mulheres 5Por homens e mulheres 5

    Total de Atividades 47-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Como se pode verificar na Tabela 12 do A.E., havia larga diversidade de ocupaes.Dentre elas ocupavam papel de realce os alfaiates (133), carpinteiros (88), ferreiros (68),latoeiros (57) e sapateiros (181); conjuntamente, estas ocupaes absorviam mais dametade (55,0%) dos homens relacionados no secundrio.

    Com respeito ao posicionamento social, observou-se apenas uma atribuio exercidaexclusivamente por escravo (esteireiro). Predominaram as atividades exclusivas delivres (em nmero de 32), enquanto 14 eram desempenhadas tanto por livres como porcativos.

    Estes ltimos, em termos absolutos, apenas exerciam majoritariamente a funo decapineiros. Por outro lado, encontramo-los representados entre os alfaiates, costureiras,carpinteiros, carvoeiros, faiscadores, ferreiros, latoeiros, pedreiros, relojoeiros,sapateiros, seleiros e serralheiros, afora um cativo que foi anotado como mineiro. Asimples enunciao destas atividades expressa eloqentemente a variedade das tarefasdesenvolvidas pelos escravos e, ademais, mostra-nos os cativos a exercerem atividadesque exigiam razovel nvel de especializao.

    No tercirio encontramos maiores discrepncias, tanto com respeito ao sexo como norespeitante ao posicionamento social (Cf. Tabela 15).

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    TABELA 15DISTRIBUIO DAS ATIVIDADES DO TERCIRIO, SEGUNDO O SEXO

    (VR, PA, MR - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Atividades Exercidas . N. Total de

    S por H. S por M. Por H. e M. Atividades

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Profisses Liberais 7 1 1 9Igreja 2 -- -- 2Administrao Civil 9 -- -- 9Comercio 3 -- 4 7Transporte 3 -- 1 4Outros Servios 5 1 4 10

    TOTAL 29 2 10 41-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: H=Homens; M=Mulheres.

    Os escravos somente apareciam representados entre os quitandeiros, barbeiros,cozinheiros, jornaleiros (ocupao que exerciam com exclusividade) e lavadeiras, aforaum cativo identificado como vinculado ao comrcio de molhados.

    Quanto ao sexo, o predomnio dos homens apresentava-se macio. Nas atividadeseclesisticas e da administrao civil no apareciam mulheres. Relativamente sprofisses liberais, contvamos com enfermeiras (em nmero de 2, vis--vis 5 homens) eparteiras.

    No comrcio, o sexo feminino encontrava-se mais representado -- considerados osnegociantes de secos e/ou molhados, contamos 55 mulheres de um total de 178. Com

    respeito aos quitandeiros, computamos 43 mulheres e apenas 2 homens.

    Nos transportes, a participao feminina mostrava-se das mais modestas. Quanto aos"outros servios", computamos 2 caixeiras (de um total de 21), 4 criadas (a superar oshomens, em nmero de 3), 12 cozinheiras (entre 20) e 28 lavadeiras -- funo exclusivado sexo feminino.

    Com referncia aos homens, cabe realce particular aos msicos, funcionrios daadministrao civil, eclesisticos, negociantes e, sobretudo, aos militares. Estes ltimos,em nmero de 125, representavam cerca de um quinto (20,3%) do total de homensenquadrados no tercirio.

    A repartio das pessoas para as quais indicou-se a ocupao, segundo faixas etriascorrespondentes a crianas (0 a 14 anos), em idade ativa (15 aos 64 anos) e velhos (65 emais anos), mostrou a eficcia dos intervalos etrios considerados. Assim, pouco maisde 3% colocaram-se no primeiro intervalo, pouco mais de 6% situaram-se no terceiro,enquanto mais de 90% apareceram na faixa correspondente idade ativa (Cf.Tabela 16),

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    TABELA 16DISTRIBUIO, SEGUNDO FAIXAS ETRIAS, DOS INDIVDUOS PARA OS QUAIS

    INDICOU-SE "ATIVIDADE ECONMICA"(VR, PA, MR - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXA ETRIA NMERO ABSOLUTO PORCENTAGENS

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    0 - 14 73 3,4715 - 64 1.899 90,1765 e mais anos 134 6,36

    TOTAL 2.106 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Excludas 57 pessoas para as quais no constou a idade.

    2. RURAL-MINERADORA

    A estrutura populacional rural-mineradora caracterizou-se em trs ncleos: Gama, AbreCampo e Capela do Barreto. Como indicamos, consideraremos a reunio doshabitantes das trs localidades; restringir-nos-emos, ademais, descrio doselementos bsicos da estrutura populacional em epigrafe, deixando para capituloprprio sua qualificao.

    Os habitantes do Serto do Abre Campo, distrito de pequena expresso numrica,ocupavam-se na minerao e cultivo de gneros necessrios prpria subsistncia. Osmoradores congregavam-se em trs propriedades de tamanho relativamente grande e amaioria esmagadora constitua-se de escravos e agregados. Capela do Barreto nochegou a constituir ncleo urbano tpico, pois seus moradores viviam disseminados em

    casas construdas s margens do Gualacho do Norte. Escravos e agregadosrepresentavam a parcela majoritria de seus habitantes, os quais dedicavam-se,principalmente, ao cultivo e venda de gneros alimentcios. Os residentes no Gamadedicavam-se, majoritariamente, minerao, ao plantio de roas para produzir gnerosde subsistncia ou tarefa de faiscar. Havia um reduzido nmero de propriedadesrelativamente grandes nas quais congregava-se a maioria dos escravos e agregados,ocupados, precipuamente, em minerar ou cultivar; nas residncias de propores maismodestas compareciam forros -- expressivamente representados nesse distrito -- oulivres -- certamente detentores de parcas posses -- voltados, sobretudo, a umas poucasatividades artesanais ou faiscao.

    Estrutura por Sexos e Condio Social

    Numericamente evidencia-se, desde logo, a preponderncia dos escravos (55,8%) sobreos livres (44,2%). Os agregados representavam expressiva parcela dos livres: 55,4%.

    Quanto ao sexo verificava-se o predomnio quantitativo dos homens: 60,0% em face de40,0%. Tal supremacia decorria do grande peso relativo dos homens entre os escravos --72,1% vis--vis 27,9% -- e da participao majoritria, j referida, dos cativos no conjuntodos habitantes. Para os livres marcava-se, contrariamente, maior presena feminina:

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    55,35% contra 44,65%. Entre os agregados tambm dominavam as mulheres: 58,9% emface de 41,1% de homens (Cf. Tabela 15 do A.E.).

    A razo de masculinidade observada para os cativos (258,3 homens para cada grupo de100 escravas) decorria, a nosso ver, das caractersticas das fainas econmicasdesenvolvidas nos centros em apreo. Para os livres, o mesmo indicador (80,7) derivava,

    certamente, do processo emigratrio caracterizado no tpico concernente "estruturapopulacional urbana". Entre os agregados computamos, to-somente, 69,7 homenspara cada conjunto de 100 mulheres. V-se, pois, que a razo de masculinidade dapopulao total (149,8) decorria, sobretudo, do grande peso relativo das pessoasreduzidas escravido (Cf. Grfico 4).

    GRFICO 4RAZO DE MASCULINIDADE POR GRUPOS DE IDADES

    (AC, CB - 1804)

    Conforme se observa na tabela abaixo, para os livres, o predomnio das mulheres dava-se em quase todas as faixas etrias; para os escravos, reversamente, marcava-se apreponderncia dos homens na maioria esmagadora das faixas de idades. (11)

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    TABELA 17RAZO DE MASCULINIDADE, SEGUNDO FAIXAS ETRIAS E SITUAO SOCIAL

    (AC, CB - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    FAIXAS ETRIAS ESCRAVOS LIVRES TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0 - 9 59,09 84,00 72,34

    10 - 19 130,77 69,23 100,0020 - 29 175,00 65,38 113,0430 - 39 188,89 60,00 121,0540 - 49 312,50 128,57 226,6750 - 59 214,29 66,67 170,0060 - 69 300,00 42,86 100,0070 - 79 80,00 75,00 76,9280 e mais anos 100,00 220,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    OBS.: AC (Abre Campo), CB (Capela do Barreto), excludo o Distrito GA (Gama) pelasrazes apontadas na nota 11 deste trabalho.

    Repartio dos Habitantes, Segundo Grandes Grupos Etrios e Pirmides de Idades

    A distribuio dos moradores do Abre Campo e Capela do Barreto segundo a condiosocial e grandes faixas etrias -- obedecidos ambos critrios adotados neste estudo --evidencia as discrepncias dos dois segmentos populacionais bsicos da sociedadecolonial brasileira: escravos e livres. Assim, a participao dos jovens entre os escravosmostrava-se inferior observada entre os livres: 26,0% em face de 34,3%. O mesmoocorria quanto aos velhos: 12,1% para livres, 9,2% para cativos. Com respeito faixa

    etria concernente idade ativa (15-64 anos) a divergncia tambm vincava-seclaramente: 56,1% para livres, 72,0% para mancpios.

    As discrepncias acima referidas, assim como a maior participao de homens entre osescravos e de mulheres entre os livres, vem-se refletidas nas pirmides de idadesrelativas populao total e aos estratos de livres e cativos (Cf. Grfico 5).

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    GRFICO 5

    PIRMIDES DE IDADES(AC, CB - 1804)

    Origem dos Escravos

    Os escravos nascidos no Brasil ("coloniais") compunham a parcela majoritria doscativos: 52,2%. Para 1,7% foi impossvel determinar a origem e os restantes 46,1%

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    haviam sido deslocados da frica (Cf. Tabela 19 do A.E.).

    Conforme se infere da Tabela 18, os coloniais apresentavam caractersticas de"populao jovem": 38,4% deles colocava-se na faixa 0-19 anos. Os Africanos, por seuturno, apareciam como uma "populao velha" -- apenas 2,3% contavam dezenove oumenos anos de idade.

    TABELA 18REPARTIO PORCENTUAL DOS ESCRAVOS AFRICANOS E COLONIAIS,

    SEGUNDO GRANDES FAIXAS ETRIAS(AC, CE - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS AFRICANOS COLONIAIS .ETRIAS SUDANESES BANTOS TOTAL CRIOULOS PARDOS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0 - 19 -- 2,47 2,32 32,00 58,98 38,4120 - 59 40,00 83,95 81,40 61,60 38,46 56,10

    60 e mais anos 60,00 13,58 16,28 6,40 2,56 5,49

    TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Os nmeros absolutos constam da Tabela 20 do A.E.

    Entre os cativos oriundos da frica predominavam maciamente os Bantos (94,5%)sobre os Sudaneses (5,5%). Estes ltimos mostravam idades mais avanadas em facedos Bantos. Destarte, enquanto 13,6% destes ltimos contavam sessenta ou mais anos,60,0% dos Sudaneses enquadravam-se nesta faixa etria. O processo de "substituio"ao qual j aludimos no tpico anterior explica, a nosso ver, a divergncia ora apontada.

    Sobre a Filiao dos Menores de 14 Anos

    Os filhos legtimos compunham, apenas, cerca de um tero (32,2%) da massa decrianas com 14 ou menos anos de idade. Entre os filhos naturais encontravam-se osenjeitados, que compreendiam 7,4% dos bastardos.

    Entre os escravos no computou-se filho legtimo algum; j para os livres os legtimosrepresentavam a maioria: 53,7% (Cf. Tabela 19).

    TABELA 19FILIAO, EM PORCENTAGEM, DAS CRIANAS COM 14 OU MENOS ANOS

    (AC, GA, CB - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FILIAO LIVRES ESCRAVOS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos 53,70 -- 32,22Naturais 46,30 100,00 67,78

    TOTAL 100,00 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    OBS.: Os nmeros absolutos constam da Tabela 21 do A.E.Outra discrepncia significativa diz respeito s crianas "independentes" (livres noagregados) e "agregadas". Assim, enquanto a condio de legitimidade observava-separa 64,0% das primeiras, apenas 44,8% destas ltimas eram filhos legtimos (Cf. Tabela20). A legitimidade associava-se, portanto, no s condio social mas, tambm, aostatus econmico dos pais.

    TABELA 20FILIAO, EM PORCENTAGEM, DAS CRIANAS LIVRES, COM 14 OU MENOS ANOS,

    REPARTIDAS EM "INDEPENDENTES" E AGREGADOS(AC, GA, CB - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FILIAO "INDEPENDENTES" AGREGADOS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos 64,00 44,83 53,70Naturais 36,00 55,17 46,30

    TOTAL 100,00 100,00 100,00

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Os nmeros absolutos constam da Tabela 22 do A.E.

    Estrutura das Famlias e Domiclios

    O alto peso relativo dos agregados, levou ao predomnio de famlias identificadas como"de agregados" (50,8%). As famlias "independentes" representavam pouco mais de umtero do total (37,0%); s de escravos (6,1%) e s "pseudo famlias" (6,2%) cabiaporcentual modesto (Cf. Tabela 21).

    TABELA 21FAMLIAS POR CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS

    (AC, GA, CB - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Categorias e N. Absolutos Porcentagens PorcentagensSubcategorias por Categoria-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1. Independentes- do Chefe de Domiclio (C.D.) 22 33,84- de Empregados do C.D. 2 3,08 36,92

    2. De Agregados 33 50,77 50,77

    3. De Escravos 4 6,15 6,15

    4. Pseudo Famlias- Vivos(as) que no constituam famlia 1 1,54- Vivos(as) em vivncia com filho(s) que

    constitua(m) famlia 1 1,54- Vivos(as) agregados ou escravos que

    no constituam famlia 2 3,08 6,16

    TOTAL 65 100,00 100,00

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    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------As participaes relativas acima discriminadas decorriam, certamente, das atividadeseconmicas desenvolvidas nos ncleos estudados. A distribuio das famlias, segundoas categorias adotadas neste estudo, refletia, portanto, a forte presena dos agregados,a qual devia-se s caractersticas das fainas produtivas prevalecentes nas localidadesem apreo. Voltaremos a este ponto no correr deste trabalho.

    * * *

    Os domiclios do tipo simples (categorias 1, 2 e 3) predominaram largamente sobre oscomplexos (categoria 4): 87,80% em face de 9,76%. categoria 6, conforme se observana Tabela 22, coube pequena participao (2,44%).

    TABELA 22PARTICIPAO DAS CATEGORIAS DE DOMICLIOS

    (AC, GA, CB - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------CATEGORIAS DE DOMICLIOS NMEROABSOLUTO PORCENTAGEM-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1 17 41,462 2 4,883 17 41,464 4 9,765 -- --6 1 2,44

    TOTAL 41 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Dentre os domiclios com estrutura simples realaram-se duas categorias queapresentaram idntico peso relativo (41,4%): "domiclios singulares" e "domicliossimples".

    Como avanado, categoria 4 ("domiclio familiar ampliado") correspondeu menos dedez por cento do nmero total de domiclios computados. Evidencia-se, pois, tambm nocaso da estrutura populacional rural-mineradora, a pequena participao dos domiclioscomplexos.

    Caso admitssemos a presena de escravos e/ou agregados como critrio paracaracterizar o grau de complexidade dos domiclios, chegaramos a resultados muito

    distintos daqueles apresentados acima. Assim, os cativos compareciam em 63,4% dosdomiclios. Os agregados, por seu turno, apareciam em 21,95% dos domiclios. Como emtodos os domiclios nos quais computaram-se agregados tambm havia escravos, pode-se afirmar que pouco menos de dois teros dos domiclios (63,4%) apresentavacomposio complexa.

    O nmero mdio de escravos por domiclio, considerados apenas aqueles nos quais oscativos faziam-se presentes, alcanava o valor 18,2. Para os agregados, o mesmoindicador alava-se a 23,6. O nmero mdio de pessoas livres por domiclio era de 9,1 e

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    o de pessoas em geral atingia 20,7.

    Estrutura Segundo Profisses e Atividades Produtivas

    O estudo das atividades produtivas restringe-se aos dados concernentes Capela do

    Barreto e ao Gama, pois, para o distrito do Abre Campo faltaram indicaes explcitassobre a ocupao das pessoas recenseadas. Assim, considerado o conjunto dehabitantes daqueles dois ncleos, observa-se que discriminaram-se atividades ouocupaes para 37,2% dos livres e 2,2% dos cativos. A anlise que segue baseia-se,portanto, em pequena parcela dos indivduos efetivamente vinculados ao processoprodutivo; luz deste irrecorrvel condicionamento deve-se, pois, entender asconcluses abaixo reportadas.

    O setor de servios absorvia, apenas, 11,2% das pessoas para as quais indicaram-seatividades econmicas. A participao modesta do tercirio , alis, caractersticamarcante da estrutura populacional rural-mineradora uma vez que -- a depender doprimado da agricultura ou da minerao -- observava-se, em cada ncleo que

    apresentava tal estrutura populacional, participao mais expressiva do primrio ou dosecundrio. (12)

    A distribuio segundo o sexo indicou a preponderncia dos homens: 61,9% em face de38,1% de elementos do sexo feminino.

    Consideradas separadamente, observou-se haver divergncia muito larga (exclusivepara o setor primrio) nas distribuies de homens e mulheres segundo os trs setoresprodutivos. Assim 26,5% do total de homens vinculavam-se ao primrio, 56,6% aosecundrio e 16,9% ao tercirio; para as mulheres as cifras correlatas alcanaram osseguintes valores: 27,4%, 70,6% e 2,0% (Cf. Tabela 23).

    TABELA 23DISTRIBUIO PORCENTUAL DE HOMENS E MULHERES, SEGUNDO SETORES

    (CB, GA - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 26,50 27,45Secundrio 56,63 70,59Tercirio 16,87 1,96

    TOTAL 100,00 100,00

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Doutra parte, conforme se infere das Tabelas 24 e 25, verificam-se significativasdivergncias quanto participao de homens e mulheres nos referidos setores quandoconsiderados, juntamente, ambos os sexos.

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    TABELA 24DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE HOMENS E MULHERES

    (CB, GA - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES TOTAL

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 61,11 38,89 100,00Secundrio 56,63 43,37 100,00Tercirio 93,33 6,67 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Assim, enquanto no secundrio dava-se relativo equilbrio entre os sexos -- 56,6% dehomens, 43,4% de mulheres --, no primrio a preponderncia do sexo masculinorevelava-se acentuada (61,1% em face de 38,9%). J no tercirio, o domnio numricodos homens era absoluto: 93,3% vis--vis 6,7% (Cf. Tabela 24). Obviamente asdiscrepncias ora indicadas decorriam, em grande parte, dos nmeros absolutos

    referentes a cada sexo (Cf. Tabela 25).

    TABELA 25

    DISTRIBUIO PORCENTUAL DOS INDIVDUOS, POR SETORES, SEGUNDO O SEXO(CB, GA - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES H+M-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 16,42 10,45 26,87Secundrio 35,07 26,87 61,94Tercirio 10,45 0,74 11,19

    TOTAL 61,94 38,06 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    O departimento da populao de acordo com a condio social (livres e escravos)indica-nos que, tomados separadamente os dois posicionamentos sociais, ocorriamarcado desequilbrio nos setores primrio e tercirio. Quanto ao secundrio,observava-se relativo equilbrio (Cf. Tabela 26).

    TABELA 26DISTRIBUIO PORCENTUAL DE LIVRES E ESCRAVOS, SEGUNDO SETORES

    (CB, GA - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES LIVRES ESCRAVOS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 28,80 --Secundrio 60,80 77,78Tercirio 10,40 22,22

    TOTAL 100,00 100,00

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    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Por outro lado, tomados conjuntamente livres e escravos, revelam-se grandesdiscrepncias, devidas, sobretudo, aos nmeros absolutos de cativos e livres. Assim, oslivres praticamente empolgavam todos os setores: 100,00% do primrio, 91,6% dosecundrio e 86,7% do tercirio (Cf. Tabelas 27 e 28).

    TABELA 27DISTRIBUIO PORCENTUAL DOS INDIVDUOS, POR SETORES,

    SEGUNDO O POSICIONAMENTO SOCIAL(CB, GA - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES LIVRES ESCRAVOS LIVRES+ESCRAVOS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 26,87 -- 26,87Secundrio 56,71 5,23 61,94Tercirio 9,70 1,49 11,19

    TOTAL 93,28 6,72 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    TABELA 28DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE LIVRES E ESCRAVOS

    (CB, GA - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES LIVRES ESCRAVOS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 100,00 -- 100,00Secundrio 91,57 8,43 100,00

    Tercirio 86,67 13,33 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Contemplemos as atividades adstritas a cada setor, em ternos de condio social e desexo.

    No primrio os homens sobrepujavam as mulheres: entre os "agricultores em geral"contamos 20 homens e 14 elementos do sexo feminino e entre os "agricultores emineiros" encontravam-se apenas homens, em nmero de dois. No computamosescravo algum neste setor.

    No secundrio, homens e mulheres compartiam duas atividades (faiscadores e"faiscadores e fiandeiros"), as mulheres exerciam com exclusividade outras duasatividades: fiandeiras e "fiandeiras e tecedeiras". Estas duas ltimas ocupaesabsorviam 86% das mulheres vinculadas ao setor. Nove outras atividades eramdesempenhadas somente por homens (Cf. Tabela 29). Dentre elas realam-se duas:faiscao e carpintaria. A primeira envolvia 51% dos homens vinculados ao secundrio,a segunda, 17%. Tomados conjuntamente ambos os sexos, observa-se o grande pesorelativo da fiao e tecelagem (38,6% do total de pessoas adstritas ao setor) e dosfaiscadores: 34,9% (Cf. Tabela 24 do A.E.).

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    TABELA 29DISTRIBUIO DAS ATIVIDADES DO SECUNDRIO, SEGUNDO O SEXO

    (CB, GA - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    ATIVIDADES EXERCIDAS NMERO DE ATIVIDADES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Exclusivamente por homens 9Exclusivamente por mulheres 2Por homens e mulheres 2

    Total de atividades 13-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    No setor em tela os escravos faziam-se representar em numerosas atividades. Trs delas(arrieiro, capineiro e lambiqueiro) cabiam exclusivamente aos cativos, trs outras

    (carpinteiros, faiscadores e ferreiros) compartilhavam livres e cativos, e as demais, emnmero de sete, exerciam-nas apenas pessoas livres. Em termos numricos, no entanto,a presena dos mancpios revelava-se bem modesta: representavam menos de umdcimo (exatamente 8,4%) dos indivduos arrolados no secundrio.

    No tercirio, o setor menos expressivo em termos quantitativos, contamos apenas umamulher (negociante) e quatorze homens, a maioria dos quais enquadrava-se nasseguintes ocupaes: feitores e administradores (4) , tropeiros (3) e jornaleiros (2). Osescravos, em nmero de dois, exerciam duas das nove atividades do setor (Cf. Tabela 24do A.E.).

    A distribuio, segundo faixas etrias, das pessoas para as quais indicaram-se

    atividades econmicas (tomada apenas a Capela do Barreto), vai colocada na Tabela 30.

    TABELA 30

    DISTRIBUIO, SEGUNDO FAIXAS ETRIAS, DOS INDIVDUOS PARA OS QUAISINDICOU-SE "ATIVIDADE ECONMICA"

    (CB - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXA ETRIA NMERO ABSOLUTO PORCENTAGENS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0 - 14 2 3,17

    15 - 64 51 80,96

    65 e mais anos 10 15,87

    TOTAL 63 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Excluda 1 pessoa para a qual no constou a idade.

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    3. INTERMDIA

    Trs dos ncleos estudados enquadravam-se nesta categoria: Furquim, Santa Luzia deSabar e So Caetano. Dada a no uniformidade das informaes correspondentes aestes trs centros, (13) nem sempre tornou-se possvel estabelecer a anlise para o

    conjunto de seus habitantes. Assim, em alguns casos consideraremos a populaoagregada destas localidades, em outros adotaremos, apenas, os dados de um ou doisncleos. Tal modo de agir justifica-se pelo fato de pretendermos, em captulosubseqente, cotejar as caractersticas gerais das quatro estruturas populacionais quedefinimos.

    Os habitantes do Furquim dedicavam-se, basicamente, agricultura, faiscao e avariada gama de atividades artesanais; os servios viam-se expressivamenterepresentados, sobretudo por causa do significativo nmero de "jornaleiros". SoCaetano, dos mais antigos centros mineratrios, integra hoje o municpio de Mariana.Ao abrir-se o sculo passado, conforme testemunho de viajantes estrangeiros, SoCaetano mostrava-se decadente e com populao apoucada, dentre a qual realavam-se

    faiscadores e mineradores. Os faiscadores sobrepujavam largamente a estes ltimos,fato a denunciar a decadncia da lida exploratria. Santa Luzia, parquia situada smargens do rio das Velhas e pouco distante de Sabar, apresenta-se como dos maisantigos centros mineratrios. Em 1751 suas lavras de ouro j se mostravam decadentes,porm, seus habitantes devem ter continuado a usufruir os benefcios decorrentes daposio geogrfica privilegiada do ncleo e das atividades agrcolas e artesanaisvoltadas ao abastecimento de outros centros mineiros. Em Santa Luzia, ao que nosparece, o "rural" sobrepunha-se ao "urbano". O avultado nmero de pequenaspropriedades sugere, ademais, a existncia de culturas de subsistncia voltadas para aproduo destinada ao autoconsumo. Por outro lado, a significativa quantidade defazendas relativamente "grandes" parece indicar o desenvolvimento de atividadesagrcolas cujo produto comercializava-se.

    Estrutura por Sexos e Condio Social

    O nmero de livres apresentava-se pouco superior ao dos escravos. Os agregados, porsua vez, representavam cerca de 13,0% dos livres (Cf. Tabelas 31 e 32).

    TABELA 31REPARTIO DOS HABITANTES, SEGUNDO A CONDIO SOCIAL

    (SL - 1790, FU - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    CONDIO SOCIAL NMERO

    ABSOLUTO PORCENTAGEM-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Livres 6.786 50,32Escravos 6.701 49,68

    TOTAL 13.487 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: Contamos 924 agregados que representam 13,62% dos livres.

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    TABELA 32REPARTIO DOS HABITANTES, SEGUNDO O SEXO E A CONDIO SOCIAL

    (FU - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    LIVRES ESCRAVOS TOTAL .

    H M H+M H M H+M H M H+M-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------609 659 1.269(a) 700 340 1.040 1.309 999 2.309(a)48,03% 51,97% 100% 67,31% 32,69% 100% 56,72% 43,28% 100%

    54,96% 45,04% 100%-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) Para uma pessoa no constou o sexo. Contamos 170 agregados -- 69 homens(40,59%) e 101 mulheres (59,41%) -- que correspondem a 13,40% dos livres.

    Quanto ao sexo, preponderava o masculino: 56,7% em face de 43,3% de mulheres (Cf.Tabela 32). Tal participao mostra-se distinta caso consideremos, isoladamente, livres e

    escravos. Assim, para os livres, o nmero de mulheres superava o de homens: 51,97%contra 48,03% (Cf. Tabela 32); situao reversa observava-se entre os escravos: 67% dehomens contra 33% de elementos do sexo oposto (Cf. Tabelas 32 e 33).

    TABELA 33REPARTIO DOS ESCRAVOS SEGUNDO O SEXO

    (FU, SC - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------VALORES HOMENS MULHERES TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Nmeros Absolutos 1.157 567 1.724

    Porcentagens 67,11% 32,89% 100%-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Entre os agregados, o sexo masculino via-se superado pelo feminino: 40,6% vis--vis59,4%(Cf. Tabela 32).

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    GRFICO 6RAZO DE MASCULINIDADE POR GRUPOS DE IDADE

    (SC, FU - 1804)

    vista dos resultados acima anotados, chega-se a razes de masculinidadegrandemente divergentes quando as calculamos para a populao total (131,03 - FU),para livres (92,41 - FU) e para escravos (204,05 - FU e SC). J indicamos em tpicoprecedente os condicionantes destas discrepncias. A razo de masculinidade paraagregados (68,32), por seu turno, aproximava-se dos valores observados nas duasestruturas populacionais j analisadas neste captulo.

    Entre os livres, conforme ilustrado no Grfico 6, o predomnio das mulheres marcava-senos grupos etrios intermedirios; especificamente, como pode ser verificado na Tabela

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    28 do A.E., o equilbrio rompia-se na faixa dos 20 aos 24 anos para recompor-se na dos60 aos 64 anos. A mesma indicao nos traz a Tabela 34, na qual calculamos a razo demasculinidade para solteiros livres.

    TABELA 34

    RAZO DE MASCULINIDADE ENTRE SOLTEIROS LIVRES(FU - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS RAZO DE MASCULINIDADE-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0 - 4 125,865 - 9 120,00

    10-19 130,2120-29 75,2830-39 60,8740-49 43,4050-59 41,86

    60-69 100,0070-79 120,0080 e mais anos 66,67-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Infere-se, do exposto, a maior tendncia emigratria dos homens solteiros colocados nafaixa dos 20 aos 60 anos.

    REPARTIO DOS HABITANTES SEGUNDO GRANDES GRUPOS ETRIOS

    A distribuio de escravos e livres segundo grandes faixas etrias permite aidentificao inequvoca das discrepncias existentes entre estes dois estratos sociais.Assim, enquanto para os livres o peso relativo dos jovens alcanava 40,3%, entre osescravos a cifra correlata mostrava-se muito inferior: 27,1%. Para estes ltimos aparticipao dos adultos alava-se a 60,9%, significativamente superior observadapara os livres: 48,3%. Com respeito aos velhos observamos pequena divergncia: 11,4%para livres, 12,0% para escravos. Na faixa concernente idade ativa (15-64 anos)encontravam-se 61,3% dos livres e 75,2% dos escravos. Destarte, enquanto para osprimeiros evidenciava-se uma estrutura etria caracteristicamente "jovem", o mesmono ocorria quanto massa de cativos.

    PIRMIDES DE IDADES

    As configuraes das pirmides de idades (Cf. Grfico 7) confirmam e ilustram saciedade as assertivas acima colocadas. Nota-se, ademais, para todas faixas etrias, opredomnio dos homens entre os mancpios e a preponderncia das mulheres entre oslivres, marcadamente nas faixas etrias intermedirias.

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    GRFICO 7PIRMIDES DE IDADES

    (SC, FU - 1804)

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    ORIGEM DOS ESCRAVOS

    Os escravos nascidos no Brasil sobrepujavam largamente, em termos quantitativos, osdeslocados da frica: 56,7% em face de 37,4% (Cf. Tabela 31 do A.E.).

    Alm disto, como se pode observar na Tabela 35, enquanto os coloniais apresentavamcaracteristicas de "populao jovem" -- 42,1%deles encontravam-se na faixa 0 - 19 anos--, a massa dos cativos africanos revelava-se "velha" apenas 6,7% deles contavadezenove ou menos anos.

    TABELA 35REPARTIO PORCENTUAL DOS ESCRAVOS AFRICANOS E COLONIAIS,

    SEGUNDO GRANDES FAIXAS ETRIAS(FU, SC - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS AFRICANOS COLONIAIS .ETRIAS SUDANESES BANTOS OUTROS TOTAL CRIOULOS PARDOS TOTAL

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0-19 -- 3,47 30,12 6,73 39,15 52,53 42,14

    20-59 48,65 79,00 60,24 74,80 54,50 42,40 51,8060 e mais 51,35 17,53 9,64 18,47 6,35 5,07 6,06TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS: Os nmeros absolutos constam da tabela 32 do A.E.

    Dos mancpios originrios da frica 81,4% correspondia aos Bantos e 5,7% aosSudaneses. (14) Estes ltimos revelavam-se como u'a massa relativamente"envelhecida" em face dos primeiros: 51,4% dos Sudaneses contavam 60 ou mais anosenquanto apenas 17,5% dos Bantos encontravam-se em mesmo grupo etrio.

    SOBRE A FILIAO DOS MENORES DE 14 ANOS

    Nossa anlise relativa filiao dos menores de 14 amos restringe~se aos dadosreferentes a Furquim, pois faltaram informaes concernentes s demais localidadesnas quais caracterizou-se a estrutura populacional intermdia.Na populao infantil encontramos 41,7% de legtimos e 58,3% de filhos naturais. Osexpostos, por seu turno, representavam 17,2% dos naturais.

    TABELA 36FILIAO, EM PORCENTAGEM, DAS CRIANAS COM 14 OU MENOS ANOS

    (FU - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FILIAO LIVRES ESCRAVOS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos 59,15 13,65 41,67Naturais 40,85 86,35 58,33

    TOTAL 100,00 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    OBS.: Os nmeros absolutos constam da Tabela 33 do A.E.Conforme indicado na Tabela 36, entre os livres predominavam os filhos legtimos(59,15%), j para os escravos prevaleciam os naturais (86,35%). Para os escravosencontramos uma participao relativamente elevada de legtimos: 13,7%. Tal eventodecorreu do fato de concentrarem-se em um nico domicilio trinta e trs dos trinta equatro cativos legtimos; esta situao refletia, a nosso ver, a postura do senhor dos

    mesmos, o qual, contrariamente s prticas ento vigentes detinha uma escravaria naqual o intercurso sexual devia pautar-se pela legitimao religiosa. Mesmo assimobserva-se que a condio de legitimidade estava associada condio social dosindivduos. Para os livres, ademais, podem-se identificar dois grupos: agregados e "noagregados" ou "independentes". Para estes ltimos, o peso dos filhos legtimos alava-se a 65,56%; relativamente aos agregados a mesma condio verificava-se, apenas, para27,94% das crianas com 14 ou menos anos de idade (Cf. Tabela 37). A legitimidade daprole condicionava-se, pois, pela situao social e pelo status econmico dosprogenitores.

    TABELA 37

    FILIAO, EM PORCENTAGEM, DAS CRIANAS LIVRES, COM 14 OU MENOS ANOS DEIDADE, REPARTIDAS EM "INDEPENDENTES" E AGREGADAS

    (FU - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FILIAO "INDEPENDENTES" AGREGADAS TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos 65,56 27,94 59,15Naturais 34,44 72,06 40,85

    TOTAL 100,00 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs.: Os valores absolutos constam da Tabela 34 do A.E.

    ESTRUTURA SEGUNDO O ESTADO CONJUGAL

    O contingente de solteiros atingia 84,8%, o dos casados 13,0% e o dos vivos 2,2%. (15)Como j afirmamos repetidas vezes, escravos e livres representavam dois segmentospopulacionais distintos; fato observvel, tambm, com respeito ao estado conjugal.Assim, entre os escravos no contamos vivo algum e os solteiros sobrepujavamlargamente os casados: 97,6% em face de 2,4%. Quanto aos livres, os solteirosalcanavam peso relativo menos expressivo -- 74,3% -- os casados 21,6% e os vivos4,1%.

    Entre os sexos tambm verificavam-se discrepncias. Assim, tomados apenas os livres,o peso dos homens casados mostrava-se mais elevado do que o concernente ao sexooposto: 22,8% vis--vis 20,5%. Por outro lado, observava-se maior participao dosvivos entre as mulheres: 5,1% em face de 2,9%. O casamento relativamente tardio doselementos do sexo masculino patenteia-se pelo diferencial dos pesos que cabiam, nafaixa dos 20 aos 29 anos, a homens e mulheres casados: 13,0% e 27,6%,respectivamente. Por outro lado, a menor proporo (a partir da faixa dos 30 aos 39anos) dos homens solteiros sobre o total de homens do que a das mulheres solteirassobre o nmero total delas, corrobora a afirmativa de que os homens solteiros

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    compunham a maior parcela das pessoas emigradas da rea (Cf. Tabela 38 e Grfico 8).

    TABELA 38PORCENTAGEM DE SOLTEIROS LIVRES, SEGUNDO SEXO E FAIXA ETRIA

    (FU - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    FAIXAS ETRIAS HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------10-19 100,00 95,0520-29 87,01 72,3630-39 45,16 56,7940-49 38,33 61,6350-59 43,90 62,3260-69 37,21 45,7170-79 48,00 66,6780 e mais anos 36,36 46,15-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    GRFICO 8PIRMIDE DE IDADES: POPULAO LIVRE

    (FU - 1804)

    ESTRUTURA DAS FAMLIAS E DOMICLIOS

    Conforme indicado na Tabela 39, dominavam largamente as famlias "independentes"(87,3%), as de agregados representavam 7,7% do numero total, as de escravos apenas

    1,3% e s pseudo famlias cabia peso relativo igualmente modesto: 3,7%.

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    TABELA 39FAMLIAS: POR CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS

    (FU - 1804, SL - 1790)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Categorias e N. Absolutos Porcentagens Porcentagens

    Subcategorias por Categoria-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1. Independentes- do Chefe de Domiclio (C.D.) 1.215 81,93- de filho do C.D. 22 1,48- de parentes do C.D. 44 2,97- de empregados do C.D. 13 0,88 87,26

    2. De Agregados 115 7,75 7,75

    3. De Escravos 19 1,28 1,28

    4. Pseudo Famlias- Vivos(as) que no constituam famlia 49 3,31- Vivos(as) em vivncia com filho(s)que constitua(m) famlia 3 0,20

    - Vivos(as) agregados ou escravosque no constituam famlia 3 0,20 3,71

    TOTAL 1.483 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    As famlias de chefes de domiclios representavam mais do que quatro quintos do total(81,9%), as de seus filhos (1,5%) e parentes (2,9%) apresentavam participao das maismodestas. Marca-se claramente, portanto, a tendncia de as famlias nuclearesestabelecerem-se em domiclios prprios.

    * * *

    Quanto aos domiclios, os valores observados (Cf. Tabela 35 do A.E. e a Tabela 40)indicam o macio predomnio das categorias 1, 2 e 3 (domiclios do tipo simples) sobreas categorias 4 e 5 (domiclios complexos). Os primeiros representavam mais de nove

    dcimos (exatamente 91,13%) do nmero total de domiclios; aos complexos cabia amodesta participao de 7,57%.

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    TABELA 40DISTRIBUIO DOS DOMICLIOS, SEGUNDO CATEGORIAS

    (SL - 1790, FU - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    CATEGORIAS NMERO ABSOLUTO PORCENTAGENS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1 682 32,872 120 5,783 1.089 52,484 123 5,935 34 1,646 27 1,30TOTAL 2.075 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Dentre as categorias do tipo simples realavam-se a categoria 3 ("domiclios simples"),que representava mais da metade do total (52,48%), e a categoria 1 ("domicliossingulares"), cuja participao alava-se a cerca de um tero (32,87%) do nmero totalde unidades domiciliares.

    Obedecida a outra perspectiva analtica proposta para caracterizao da complexidadedos domiclios, chegamos a resultados discrepantes daqueles anotados acima.

    Assim, registravam-se escravos em 44,10% dos domiclios e em 16,29% compareciamagregados. Computados os domiclios nos quais havia cativos ou agregados chega-se cifra 49,64%. Ou seja, em pouco menos da metade das unidades domiciliaresencontravam-se escravos ou agregados: 5,54% apenas com estes ltimos, 33,35% s

    com mancpios e 10,75% com estes dois segmentos sociais.

    De acordo com este critrio alternativo, marcava-se o equilbrio entre os domiclioscomplexos e os do tipo simples.

    Os nmeros mdios de agregados e escravos, por domiclio -- tomados somente aquelesnos quais eles se faziam presentes -- corresponderam, respectivamente, a 2,8 (SC, FU,SL) e 7,17 (SC, FU, SL). O nmero mdio de pessoas livres por domiclio correspondia a3,3 (SL, FU) e o de pessoas em geral alcanava 6,5 (SL, FU).

    ESTRUTURA SEGUNDO PROFISSES E ATIVIDADES PRODUTIVAS

    Para a anlise das atividades produtivas, vimo-nos obrigados a considerar, to-somente,os dados concernentes a Furquim e a So Caetano, pois faltaram indicaes pertinentesa Santa Luzia. Por outro lado, dadas as caractersticas do levantamento referente a SoCaetano, (16) exclumos as poucas informaes relativas s atividades econmicasdesempenhadas pelos cativos ali residentes. Quanto ao Furquim anotou-se a ocupaoou atividade econmica para 27,89% dos livres e 10,38% das cativos.

    As concluses ora apresentadas devem ser entendidas, pois, vista das limitaes

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    acima apontadas.

    O setor primrio aparece como o menos representativo. Absorvia 21,6% das pessoaspara as quais constaram indicaes de atividades econmicas desenvolvidas. Aosecundrio cabia a maior participao (46,1%) e o tercirio via-se expressivamenterepresentado: 32,3%.

    A distribuio segundo o sexo revelou o predomnio dos homens: 74,9% em face de25,1%. Consideradas isoladamente, as distribuies de homens e mulheresapresentaram discrepncias significativas para os trs setores. Assim, 23,3% doshomens vinculava-se ao primrio, 38,9% ao secundrio e 37,8% ao tercirio; comrespeito s mulheres as participaes correlatas atingiam as seguintes valores: 16,4%,67,9% e 15,7% (Cf. Tabela 41).

    Conforme indicado nas Tabelas 42 e 43, tambm observavam-se grandes divergnciasquanto participao de homens e mulheres nos aludidos setores, quandocontemplados, juntamente, ambos os sexos. Assim, mais de quatro quintos dosindivduos vinculados ao primrio e ao tercirio pertenciam ao sexo masculino; com

    referncia ao secundrio mostrava-se, igualmente, o predomnio dos homens: 63,1% emface de 36,9% (Cf. Tabela 42).

    TABELA 41DISTRIBUIO PORCENTUAL DE HOMENS E MULHERES, SEGUNDO SETORES

    (FU, SC - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 23,32 16,35Secundrio 38,87 67,93

    Tercirio 37,81 15,72

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    TABELA 42DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE HOMENS E MULHERES

    (FU, SC - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Primrio 81,02 18,98 100,00Secundrio 63,14 36,86 100,00Tercirio 87,80 12,20 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    TABELA 43DISTRIBUIO PORCENTUAL DOS INDIVDUOS, POR SETORES, SEGUNDO O SEXO

    (FU, SC - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    SETORES HOMENS MULHERES HOMENS+MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 17,48 4,09 21,57Secundrio 29,13 17,01 46,14Tercirio 28,35 3,94 32,29

    TOTAL 74,96 25,04 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Tais divergncias decorriam, em larga escala, do grande peso relativo dos homens nototal de indivduos para os quais indicou-se atividade econmica (Cf. Tabela 43).

    Tomadas separadamente, as distribuies referentes a livres e escravos, apresentam-sedistintas. Assim, enquanto ocorria equilbrio no secundrio, observavam-se grandesdiferenciais nos dois outros setores (Cf. Tabela 44).

    TABELA 44DISTRIBUIO PORCENTUAL DE LIVRES E ESCRAVOS SEGUNDO SETORES

    (FU, SC - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES LIVRES ESCRAVOS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Primrio 24,29 8,33Secundrio 46,11 46,30Tercirio 29,60 45,37

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Por outro lado, dada a preponderncia quantitativa dos livres, verifica-se que revelavam-se largas divergncias quando tomadas conjuntamente os dois segmentos sociais emfoco. Assim, os livres praticamente monopolizavam o primrio e o secundrio,comparecendo com mais de trs quartos dos indivduos relacionados no tercirio (Cf.

    Tabela 45).

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    TABELA 45DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE LIVRES