Livro 40 anos do iel

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  • 1. 40 anos do IELna trajetria daindstria no Brasil

2. CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA CNICoordenao EditorialAcervosMaylena Clcia Link Design Agncia JBPresidenteNeusa Cavalcante Arquivo NacionalArmando de Queiroz Monteiro Neto Banco de Mdia do Sistema IndstriaPesquisa Histrica e Texto Biblioteca da Cmara dos DeputadosNeusa Cavalcante Biblioteca da CNIINSTITUTO EUVALDO LODI IEL / NCLEO CENTRAL Biblioteca da FirjanAssistente de Pesquisa Biblioteca do INEP/MECConselho Superior do IELViviane AronowiczBiblioteca NacionalArmando de Queiroz Monteiro NetoHelena Moreira SchielCorreio Braziliense EmbraerDiretor-GeralProjeto Grfico e DiagramaoFundao Getlio VargasPaulo Afonso FerreiraLeticia Brasileiro Furnas Centrais Eltricas S. A. Link DesignSuperintendenteCopidesque e Reviso Museu Histrico da USPCarlos Roberto Rocha CavalcanteIrene Ernest DiasPetrobrs Universidade de BrasliaPesquisa IconogrficaUniversidade de CampinasIna Quirino SantosMaylena ClciaCoordenao InstitucionalViviane AronowiczJlio Cezar de Andrade Miranda Instituto Euvaldo LodiLegendas IEL/Ncleo CentralReviso TcnicaIna Quirino SantosSetor Bancrio Norte, Quadra 1, Bloco BOto Morato lvares Edifcio CNC CEP 70041-902-BrasliaMaria Jos M. SouzaEditorao EletrnicaTel (61) 3317-9080Didier Max NogueiraFax (61) 3317-9360Apoio TcnicoLeticia Brasileiro www.iel.org.brAna Amlia Ribeiro BarbosaThiago Endres da Silva GomesTratamento de Imagens 2009. IEL Instituto Euvaldo LodiVtor de Lara Medina BoaventuraDidier Max NogueiraTodos os direitos reservados. NenhumaMaylena Clcia parte deste livro poder ser reproduzida,SUPERINTENDNCIA DE SERVIOS COMPARTILHADOS SSC de qualquer forma ou por qualquer meio,rea Compartilhada de Informao e Documentao ACINDProduo Grfica sem autorizao expressa do IEL.Maylena Clcia As idias e opinies contidas naNormalizao publicao so de responsabilidade doGabriela LeitoImpressoautor, no refletindo necessariamenteGrfica Brasil o posicionamento das Entidades doApoio Tcnico Sistema Indstria.Ana Suely Pinho LopesGabriela LeitoMrcia Alencar Almeida C376qSuzana Curi GuerraVitor Emanuel Ramos Cavalcante, Neusa. 40 anos do IEL na trajetria da indstria no Brasil / Neusa Cavalcante. Braslia: IEL, 2009.Selo comemorativo aos 40 anos do IEL 177 p. : il.Pgina 1 ISBN 978-85-87257-42-0 1. Indstria Brasil 2. Histria da Indstria Brasil I. Ttulo CDU: 338.1(81) 3. 40 anos do IELna trajetria daindstria no Brasil Neusa CavalcanteBraslia 2009 4. Os primrdios da indstria no Brasil airtsdni11A revoluo industrial brasileiralairtsudni oculover31Internacionalizao da produo industrial ocudorp67 A criao do IEL ocairc85A revoluo tcnico-cientfica da informaooamrofni 113Avanos edesafios sofiased 145 5. Apresentao oatneserpAO Instituto Euvaldo Lodi IEL completa 40 anos no momento em que o Brasil discute a retomada do crescimento eco-nmico. O pas quer uma indstria forte e preparada para se inserir no cenrio internacional. Para isso, os dirigentes dasempresas devem ser qualificados e orientados em relao aos riscos e oportunidades do mundo globalizado. Ao longodas ltimas quatro dcadas, o IEL tem dado a sua contribuio para o pas ao formar profissionais capazes de inovar nagesto de seus negcios.Euvaldo Lodi a inspirao para o trabalho da entidade que leva seu nome. O lder industrial que ajudou a fundar aConfederao Nacional da Indstria CNI tinha uma clara viso sobre a funo social da indstria e a sua importncia naformao dos recursos humanos. Identificou a vinculao entre a educao e a indstria como base para o desenvolvi-mento da nao e tornou-se um defensor do processo de formao profissional.A proposta inicial da entidade era aproximar os alunos universitrios do ambiente profissional ao coordenar programasde estgios nas fbricas. Era uma forma de levar o conhecimento acadmico para dentro das empresas e atualizar o pen-samento da universidade em relao aos desafios enfrentados pelo setor produtivo, o que levava criao de soluesinovadoras para os problemas da indstria.A interao entre empresas e centros de conhecimento continua sendo um dos principais instrumentos do IEL para in-centivar a inovao no setor produtivo, considerada estratgica para o crescimento sustentvel do pas. No entanto, semperder os rumos traados por seus fundadores, a atuao desse instituto foi diversificada nos ltimos anos e suas linhasde ao voltadas para o desenvolvimento empresarial foram ampliadas. A nova misso institucional da entidade inclui oaperfeioamento da gesto e a capacitao de empresrios.O contato freqente com experincias internacionais levou o IEL a ser procurado por empresrios que buscam melho-rar a gesto de seus negcios, inovar em processos e produtos, e modernizar as prticas empresariais. Para suprir essademanda, alm de incrementar os produtos tradicionais de estgio e bolsas educacionais, o instituto passou a oferecerprogramas destinados a capacitar empresrios de micro e pequenas empresas e tambm altos executivos. Parceriasinovadoras com universidades brasileiras e os mais avanados centros de estudos internacionais permitem a oferta deprodutos e servios de qualidade e adequados realidade do pas.O dilogo permanente com as empresas torna o Instituto Euvaldo Lodi uma das principais entidades de promoo dodesenvolvimento e do aumento da competitividade da indstria nacional. Ao interpretar a dinmica das mudanas dian-te dos avanos tecnolgicos, o IEL consolida-se como uma instituio moderna e capaz de oferecer as condies funda-mentais para fortalecer o setor industrial. A capacitao empresarial, o aperfeioamento da gesto e o suporte inovaoso o caminho para o pas criar mais emprego e renda para o trabalhador brasileiro.Armando Monteiro NetoPresidente da Confederao Nacional da Indstria CNI 6. O IEL Instituto Euvaldo Lodi chega maioridade dos 40 anos sendo o elo do Sistema CNI ConfederaoNacional da Indstria, que est com um grande desafio atual da indstria brasileira em suas mos. Hoje, en-quanto algumas empresas nacionais apresentam excelncia internacional, muitas no esto sequer inseridasno processo para atingi-la, no inovam nem desenvolvem aes na rea de tecnologia, no estudam o mer-cado nem praticam a administrao estratgica. Mas no se pode ancorar a economia de um pas apenas naeficincia das grandes corporaes. Se as pequenas e micro empresas que giram em torno das grandes no semodernizarem, a gerao de emprego e de benefcios para o entorno ser limitada.O pas s poder se desenvolver e ganhar competitividade neste mundo globalizado se a maioria de suasempresas, inclusive as mdias e pequenas, conseguirem avanar na capacidade de gesto, de agregao devalor e no desenvolvimento tecnolgico. Para desenvolver o Brasil, preciso capacitar o trabalhador empre-srio de todos os portes, de todas as reas e regies do pas, para levar a inovao para dentro das empresas.Esta foi a concluso do Encontro Nacional da Indstria (Enai), promovido pela CNI em 2008: temos de priorizarfortemente a gesto e a inovao nas empresas.O IEL a instituio que tem a misso, a competncia e a capilaridade para empreender essa tarefa. oinstrumento de modernizao da gesto empresarial brasileira; suas quatro dcadas de trajetria o lapidarampara isso.Muitas pequenas e mdias empresas ainda norteiam suas decises pelo que as outras do setor esto fazen-do. Modernizar a gesto significa nortear-se por elementos objetivos, informaes, prospeces de mercado,diagnstico de fragilidades e potenciais, estudos de regio, de cadeias produtivas, trabalhos que favorecemuma viso mais ampla do negcio e do setor. O IEL tem capacitao para coordenar esses estudos e habilitarempresas e sindicatos para a prtica da administrao estratgica. No basta mais capacitar o trabalhador ope-rrio ensinando-o a pescar, preciso capacitar o trabalhador empresrio para que planeje a pesca, percebaas melhores oportunidades e trace estratgias de mercado. A China percebeu isso e est investindo pesado noaprimoramento da gesto dos negcios. Isso vai nos afetar, se no conseguirmos dar saltos nessa rea.Aprimorar a gesto contribui tambm para elevar o desenvolvimento sindical, que hoje imprescindvelpara a competitividade. Antes, muitas questes podiam ser resolvidas pela negociao direta entre grandesempresas e governo. Hoje, a economia e suas cadeias produtivas so muito mais complexas, exigindo solu-es que passam pela coletividade, pela negociao, pelo associativismo de viso ampla, no corporativa. aorientao estratgica que os gestores capacitados aprendem a ter.Esse grande desafio que se coloca hoje se articula perfeitamente com as atividades tradicionais do IEL narea de estgios e de outras aes de promoo da interao universidade-indstria, uma vez que essas aesestimulam a inovao nas empresas. Com mais de 100 mil estgios desenvolvidos a cada ano em parceria commais de 50 mil empresas e 11 mil instituies de ensino, logramos transformar essa prtica numa forma efetivade aperfeioar a formao profissional e oxigenar as empresas com o esprito inovador dos estudantes. O mes- 7. mo ocorre com os programas de bolsas, nos quais os estudantes vo para dentro das empresas desenvolverprojetos especficos para solucionar gargalos do negcio. Aprimorar a gesto hoje prioridade, por estimulara capacidade empresarial de inovar, com foco naquilo que efetivamente amplia a competitividade. Nesse pro-cesso a interao da indstria com os centros de conhecimento, reconhecida vocao do IEL, essencial.Paulo Afonso FerreiraDiretor-Geral do Instituto Euvaldo Lodi IEL 8. 10 9. Os primrdios da indstria no Brasil airtsdni 11 10. 12 11. Os primeiros anos da vida brasileira foram marca- Essa prosperidade deveu-se tambm aos progres-1. Liceu de Artes e OfciosDesenho, 1916dos pelas atividades de extrao dos produtos natu- sos tcnicos que foram sendo introduzidos no pro- Detalherais da terra custa do trabalho indgena em regimecesso produtivo. Depois da construo da casa daPgina 10de escambo. Tratava-se ento de tirar proveito dosmoenda, que reunia as diversas fases do processo de 2. Chegada da famlia realmoagem da cana, introduziu-se a moenda de trs ci-portuguesa ao Rio de Janeirogneros disponveis que constitussem valor no mer-em 7 de maro de 1808cado europeu. lindros e, em seguida, o uso da gua como fora mo- Geoff Huntleo sobre tela, 1999Somente mais de trs dcadas depois, devido triz, em substituio s juntas de bois. A metalurgia Detalhenecessidade de defesa do imenso territrio, vieram apara a produo da maquinaria desenvolveu-se prin-partilha das terras e o verdadeiro incio do processo cipalmente com base nas tcnicas que, aprendidasde colonizao. A partir da, imps-se a ocupao e dos rabes na frica, foram trazidas pelos escravoscultivo nas faixas litorneas, cujas paisagens naturais (AMARAL, 1958).seriam substitudas paulatinamente pelas plantaes A colaborao holandesa na adoo de moendasde cana-de-acar.metlicas e tachos de ferro fundido veio contribuirCom o estabelecimento do trfico de escravospara a inaugurao, no pas, das primeiras unida-africanos, a cultura canavieira, iniciada no final do s- des industriais, as quais passavam a requerer umaculo XVI, assistiu a um desenvolvimento vertiginoso.forma de organizao do trabalho sem parmetrosEm meados do sculo seguinte, incentivos ao culti-na Europa. Enquanto no canavial o processo de tra-vo e iseno de impostos contriburam para tornar balho era determinado pelas condies do clima eo Brasil o maior produtor de acar do mundo, num das estaes, no engenho o ritmo no era o da na-empreendimento to rentvel que o produto passoutureza, mas um ritmo de um processamento regulado,a ser chamado de ouro branco. elaborado. O trabalho no era regulado por relgios13 12. 3. Dana dos ndios Tapuias (...) mas pela capacidade da tecnologia (SCHWARTZ,Methuen conhecido popularmente como TratadoAlbert Eckhoutleo sobre tela, sculo 172001, p. 95).de Panos e Vinhos , pelo qual Portugal compro-DetalheMais que uma unidade fabril, o engenho do Brasilmetia-se a comprar os produtos manufaturados daColnia era um conjunto completo e auto-suficiente.Inglaterra, que, por sua vez, deveria adquirir a pro-Em torno do canavial, desenvolviam-se uma agricul- duo de vinhos portugueses. Outro empecilho eratura e uma pecuria destinadas a suprir as demandasresultante da baixa qualificao da mo-de-obra,da casa-grande, da senzala e da pequena parcela de pois, em geral, a aprendizagem dos ofcios, tanto detrabalhadores livres. Ao lado da mandioca, do milho, escravos quanto de homens livres, era desenvolvida nodo feijo e do gado, responsveis pela dieta de sub- prprio ambiente de trabalho, sem padres ou regu-sistncia, o algodo despontava como matria-prima lamentaes, sem atribuio de tarefas prprias parafundamental para a fabricao dos panos grosseiros aprendizes (CUNHA, 2000, p. 32).destinados a cobrir a nudez dos escravos.Enquanto isso, na Europa do sculo XVIII, onde o Na poca, a fiao e a tecelagem eram feitas comsistema familiar de produo havia sido superado hauxlio de instrumentos rsticos, como as rocas e os tempos pelas corporaes de ofcio, eram reunidos,primitivos fusos, sendo o trabalho executado no am-sob o mesmo teto, os tarefeiros assalariados. Grada-biente domstico pelas senhoras e escravas. Devido tivamente, a independncia e o controle individual demanda resultante da Revoluo Industrial inicia- dem sobre a produo cediam lugar ao parcelamento dosda na Inglaterra e prosperidade alcanada pelo cul-processos de trabalho, que visava suprir as exign-tivo do algodo, este viria a se transformar, no sculodcias de um mercado cada vez mais amplo e estvel.XVIII, no terceiro produto brasileiro de exportao, No Brasil, as poucas corporaes de ofcio exis-ficando atrs apenas do acar e do tabaco.cand tentes decaram, a partir de 1759, em decorrncia Embora os vice-reis e fidalgos se apresentassem Emda Reforma Pombalina que expulsou os jesutasquase sempre vestidos de seda de Gnova e de linhodo pas. At essa poca, os lucros da Coroa portu-e algodo vindos da Holanda e da Inglaterra, a dificul- algoguesa advinham do comrcio de especiarias com adade de acesso a esses sofisticados artigos na colnia d sia. O Brasil era visto ento apenas como um forne-estimulou uma produo de fios e tecidos de algodoestimu cedor de produtos que no podiam ser encontradosvoltados tambm para as necessidades da casa-gran-voltad na Europa, ou seja, um grande territrio aberto sde (FREYRE, 2002, p. 112). A abundncia da matria-FR atividades extrativistas de pau-brasil, ouro e diaman-prima e a introduo da mecanizao no processo de te, e produo do acar. Essa condio explica oproduo levaram a uma rudimentar indstria txtilprodudesinteresse da metrpole pela produo industrialque, forando o preo para baixo, contribuiu para f brasileira, oficialmente explicitado no final do scu-ampli o mercado consumidor do produto.ampliarlo XVIII, mais especificamente no dia 5 de janeiro de Um dos obstculos prosperidade da atividade 1785, com o alvar de d. Maria I que proibia o estabe-industrial brasileira na poca decorria do Tratado deindust lecimento de fbricas e manufaturas no Brasil:14 13. Eu a rainha. Fao saber aos que este alvar virem queDos Autos de Devassa da Inconfidncia Mineira14. Dom Joo com a carta deabertura dos portos s naes (...) excetuando to somente aqueles ditos teares e ma- constam passagens que demonstram o inconformis-amigas, 1808, de Antnio nufaturas, em que se tecem ou manufaturam fazendasmo dos inconfidentes com a falta de liberdade e de Baeta; Negra Monjolo e NegroQuilga, de Johann Moritz grossas de algodo, que servem para o uso e vestu- indstrias no pas. Segundo as palavras da testemu-Rugendas, 1835 rio dos negros, para enfardar e empacotar fazendas,Computao grfica nha capito Vicente Vieira da Mota, o alferes Joaquim e para outros ministrios semelhantes; todas as maisJos da Silva Xavier, Tiradentes, sejam extintas, e abolidas em qualquer parte onde se acharem nos meus domnios do Brasil... (ARQUIVO NA-comeou a exagerar a beleza, formosura deste pas, CIONAL). asseverando que era o maior do mundo, porque tinhaem si ouro e diamantes acrescentando que bem podiaAlm da extino de muitos teares pelo Brasil afo-ser uma repblica livre e florente (...) que no mesmora, a Carta Rgia de 5 de julho de 1802 proibia que podiam levantar grandes utilssimas fbricas, escusa-os governadores recebessem em audincia pessoas dos na maior parte os gneros de fora (CMARA DOSvestindo roupas feitas com tecidos no fabricados naDEPUTADOS, 1976, p. 156-157).metrpole. Antes disso, a Carta Rgia de 20 de feve-reiro de 1690 j havia determinado que os sapateiros Ironicamente, em 1807, a exportao do algodo,no trabalhassem em couro que no viesse de Por- superando a do acar, atingiu o auge em Pernam-tugal (JOFFILLY, 1999). Para Roberto Simonsen, o ato buco, e a guerra anglo-americana contribuiu parada rainha teve dois objetivos: no distrair os braos quintuplicar o valor da fibra brasileira. As vozes queda lavoura e assegurar uma diferenciao na produo se erguiam a favor da atividade industrial no pasentre a Metrpole e a Colnia, que permitisse o fomen- continuariam a se fazer ouvir por muito tempo: Erato do comrcio e o aumento do consumo dos produtos para lamentar que sendo o Brasil to abundante deindustriais da Metrpole (1969, p. 375).metais em toda espcie, carecesse de pedir aos confinsAlm da proibio real, que obrigava o Brasil a im-do Norte da Europa o ferro que deve rasgar as veias doportar os gneros de que necessitava, a Coroa portu- seu terreno, e que deve firmar a sua segurana (IDADEguesa intensificou a taxao dos produtos vindos daDO OURO, 1819 apud RENAULT, 1939, p. 15).metrpole. E, a despeito do anunciado esgotamentoSomente com a chegada da famlia real a vida naprogressivo das jazidas de ouro e metais preciosos,colnia sofreria transformaes importantes, queinstituiu a derrama, um imposto compulsrio queprenunciavam esperanas para a produo indus-obrigava a populao da regio das Minas Gerais atrial. A Carta Rgia de 28 de janeiro de 1808 abria oscompletar a cota anual de ouro quando esta no era portos do Brasil para o comrcio exterior com as na-atingida. Esses fatos culminaram com a conspirao dees amigas, com exceo dos gneros estancados:21789, que pretendia eliminar a dominao portugue- Que sejam admissveis nas Alfndegas do Brasil todossa das Minas Gerais, estabelecendo ali um pas livre.e quaisquer gneros, fazendas e mercadorias transpor-15 14. 5. Banco do Brasil e Paotados, ou em navios estrangeiros das Potncias, que seEntretanto, o Tratado de Aliana e Comrcio,Imperial, de Pedro GodofredoBertichem, 1856; Teatro Soconservam em paz e harmonia com a minha Real Co-firmado em 1810, prejudicaria mais uma vez a pro-Joo, de Thomas Ender, 1856roa (ARQUIVO NACIONAL).duo brasileira, e tambm a lusitana. Enquanto osComputao grfica No mesmo ano, o alvar de 1 de abril permitia odemais pases estavam submetidos taxao de livre estabelecimento de fbricas e manufaturas no24% em nossas alfndegas, a Inglaterra havia as- pas: segurado o direito de colocar suas mercadorias no Brasil mediante a taxa de 15% ad valorem, enquan-Eu o Prncipe Regente fao saber aos que o presenteto os produtos portugueses pagavam 16%. Os jor-Alvar virem que desejando promover e adiantar a nais da poca davam conta dos novos tecidos queriqueza nacional, e sendo um dos mananciais dela aspassaram a circular no Rio de Janeiro, como linhosmanufaturas e a indstria que multiplicam e melhoram de todas as qualidades, cambraias, tafets, sedas, le do mais valor aos gneros e produtos da agricultura etc., sendo que eram enviadas anualmente ao Brasile das artes e aumentam a populao (...) sou servido cerca de 3.000.00 de produtos das manufaturas ingle-abolir e revogar toda e qualquer proibio que haja asas (apud SIMONSEN, 1969, p. 397). Para neutralizareste respeito no Estado do Brasil e nos meus Domniosessa invaso de produtos importados, sobretudo daUltramarinos...Inglaterra, sobrevieram medidas que visavam impul- sionar a produo manufatureira no Brasil e nos do-Essas medidas, que marcaram uma nova fase da mnios ultramarinos portugueses. Foram concedidos economia colonial, faziam parte de uma poltica deprivilgios aos inventores de mquinas e prmios s cunho liberal defendida por intelectuais como Josmanufaturas de l, algodo, seda, ferro e ao. da Silva Lisboa, o visconde de Cairu. Dois anos depoisA transferncia da Corte para o Rio de Janeiro, da abertura comercial, a cidade do Rio de Janeiro em 1808, levou constituio de uma srie de ins- contava com mais de cem manufaturas, e recebia um tituies: a Imprensa Rgia, um passo decisivo para nmero cinco vezes maior de navios estrangeiros,a difuso de idias, informao e cultura, o Banco do quase todos ingleses. Brasil, que inaugurou o sistema financeiro, e a Escola 16 15. No ano seguinte, um edital da Real Junta da Fa-6. Diploma da SociedadeAuxiliadora da Indstriazenda estimulava a vinda de trabalhadores estran- Nacional (SAIN)geiros, para suprir a falta de mo-de-obra qualifica- Jean Baptiste Debret, meadosdo sculo XIXda. Enquanto os novos trabalhadores no chegavam, Litografiaas manufaturas valiam-se da fora de trabalho livreexistente no pas, potencialmente mobilizvel massem qualquer formao tcnica. Como parte da poltica de valorizao do ensinodas cincias, da economia e da tcnica, enfatizadaaps a elevao do Brasil categoria de Reino Unidode Portugal e Algarves em 1815, foi fundada, no anoseguinte, a Escola Real de Cincias, Artes e Ofcios.Destinava-se ao ensino das belas-artes e das artesmecnicas, sendo que os filhos dos pobres deveriamCirrgica de Salvador (1808). Nos anos seguintes se-ser encaminhados para este ltimo a fim de se tor-riam criados a Academia Militar (1810), a Bibliotecanarem artfices. Embora as aulas tivessem iniciadoNacional (1810), o Real Teatro de So Joo4 (1810), a somente em 1820, e com um nico foco voltado paraAcademia Mdico-Cirrgica do Rio de Janeiro (1813), as belas-artes, as idias sobre o papel da educaoo Jardim Botnico (1818) e o Museu Imperial (1818). na formao social e no trabalho sensibilizaram Ig-Uma importante iniciativa foi a criao, em 23 de ncio lvares Pinto de Almeida, que em 1816 come-agosto de 1808, da Real Junta do Comrcio, Agricul- ou a coletar assinaturas para a constituio de umatura, Fbricas e Navegao, que deveria funcionar entidade voltada para a produo de conhecimentoscomo rgo regulador da implementao das fbri-teis ao desenvolvimento do pas.cas e manufaturas no Brasil. No entanto, a Proclamao da IndependnciaE foi nesse contexto que surgiu a Real Fbrica de em 1822 no produziu alteraes significativas nasFerro So Joo do Ipanema, numa localidade antiga-prticas de aprendizagem dos ofcios vigentes nomente chamada Campo Largo, prximo a Sorocaba,Brasil, pois no era aspirao da liderana que fezem So Paulo. Mais tarde, a cidade viria a ter o nome a Independncia qualquer reforma econmica oude Araoiaba, em tupi esconderijo do sol. A empresa social (XAVIER, 1992, p. 82). Somente quando ospioneira foi criada por meio de Carta Rgia de 4 de investimentos industriais passaram a se sobrepordezembro de 1810, como uma sociedade acionistaqueles voltados para as atividades comerciais,de capital misto, com 13 aes pertencentes Coroa foram lanadas as bases para uma lenta transfor-portuguesa e 47 a acionistas particulares de So Pau- mao em direo modernizao das estruturaslo, do Rio de Janeiro e da Bahia. produtivas brasileiras. A Constituio de 1824 de-17 16. terminou a extino das corporaes at ento res- ininterrupta dO Auxiliar da Indstria Nacional, cujoponsveis pela prtica e aprendizagem de algunsobjetivo eraofcios manufatureiros (Constituio Poltica do Im-prio do Brasil, 1824, XXV, art. 179). As limitaesconvencer os scios a tomarem o caminho da civiliza-da economia colonial, o diminuto mercado internoo segundo os modelos europeus, especialmente noe a falta de incentivos decorrentes da existncia que se referia substituio do trabalho escravo pelodo trabalho escravo foram considerados fatoreslivre (...) os nmeros iniciais da revista j indicam que aresponsveis pela decadncia das corporaes, re- Sociedade Auxiliadora da Indstria Nacional utilizou oduzidas ento a irmandades de carter religioso e Auxiliador para difundir os conhecimentos que consi-assistencial (CUNHA, 2000). derava teis e introduzir novos costumes preparando,Por no permitirem a livre negociao entre em- deste modo, a populao para instaurar a moderniza-pregadores e trabalhadores, as corporaes cons-o do Estado brasileiro (MURASSE, p. 3; 6).tituam empecilhos plena vigncia das relaesde trabalho prprias da sociedade capitalista: AsNa poca, o mundo ocidental inspirava-se nascorporaes fixavam os padres de produo, o preoidias de Adam Smith, que, em sua importante obrados produtos e os salrios dos oficiais. Por essa razo, A Riqueza das Naes, publicada em 1776, sistemati-a doutrina econmica liberal (...) pregava a sua extin-zava o conhecimento da poca sobre economia e de-o... (CUNHA, 2000, p. 54).senvolvimento. Para ele, a riqueza das naes resul-Finalmente, em 19 de outubro de 1827, foi fun- tava da necessidade de uma transformao contnuadada a Sociedade Auxiliadora da Indstria Nacional e o progresso tcnico era um elemento intrnseco do(Sain), que, pelos seus estatutos, aprovados em 1831,modo de produo capitalista:tinha como meta promover, por todos os meios queestiverem ao seu alcance, o melhoramento e a prospe-o aumento de produo (...) resultante de trs circuns-ridade da indstria no Imprio do Brasil (MURASSE, tncias diferentes: primeiro, do aumento da destreza2006). Em respeito produo brasileira do perodo,de cada trabalhador; segundo, da economia de tempo,as primeiras aes da Sain voltaram-se para a me- que antes era perdido ao passar de uma operao paracanizao das atividades agrcolas, como forma de,outra; terceiro, da inveno de um grande nmero deaumentando a produtividade no campo, criar est-mquinas que facilitam o trabalho e reduzem o tempomulos para a aquisio das mquinas necessrias a indispensvel para o realizar, permitindo a um s ho-impulsionar as atividades industriais.mem fazer o trabalho de muitos (SMITH, 1976, p. 11).Tendo como filiados os polticos mais importan-tes da poca, a Sain, que tinha uma preocupao Mas essas idias de progresso chegaram ao Brasilexplcita com a educao e a formao profissional,com certo atraso, e num momento em que as finan-seria responsvel, entre 1833 e 1892, pela edioas do Imprio no iam bem: o valor das importaes18 17. superava em muito o das exportaes. Em 1828 a si- em Minas Gerais e na Bahia, e estimulou o setor de 7. Etiqueta para tecidosregistrada pela Companhiatuao agravou-se com a lei que estendia a todas asmetalurgia em Pernambuco. Com isso, fez diminuir o Petropolitana, Rio de Janeiroimportaes brasileiras a tarifa de 15%, diminuindodficit pblico e aliviar as finanas do Brasil. Litografia, 10 de setembrode 1888ainda mais a arrecadao e contribuindo para o de-Mas os novos ventos sopravam em cenrios mar- Detalhesequilbrio da balana comercial. Visando solucionar cadamente antagnicos: enquanto no Nordesteo grave dficit, o governo imperial adotou algumas desenvolvia-se uma indstria movida pelo trabalhomedidas alfandegrias que no surtiram o efeito de-escravo, no Sul vrias tentativas de industrializaosejado.eram beneficiadas pelo favorecimento entradaNesse meio-tempo, por proposta apresentada de colonos estrangeiros, com doao de sesmariaspor Janurio da Cunha Barbosa e Raimundo Jos da aos que nelas quisessem trabalhar e a iseno, emCunha Mattos aos 27 scios fundadores da Sain, foi 1846, de taxas alfandegrias para as matrias-pri-criado em 21 de outubro de 1838 tendo como pa- mas aproveitveis nas manufaturas, sobretudo natrono D. Pedro II o Instituto Histrico e Geogrfico indstria txtil. Essa disparidade entre o trabalho es-Brasileiro (IHGB) com o propsito de coligir, metodi- cravo e o trabalho livre, que dividia o pas em dois,zar, publicar ou arquivar os documentos necessriospassou a aquecer as discusses entre os intelectuaispara a Histria e a Geografia o Brasil... (artigo 1 do abolicionistas da poca, para os quais a escravidoEstatuto do IHGB, www.ihgb.org.br/ihgb.php). Mar-contribua para retardar o desenvolvimento tcnicocado pela tradio iluminista, o IHGB deveria levar do pas.a cabo um projeto dos novos tempos, cuja marca asoberania do princpio nacional enquanto critrio fun-Para provar (...) que a escravatura deve obstar a nossadamental definidor de uma identidade social (GUIMA-indstria, basta lembrar que os senhores que possuemRES, 1988).escravos vivem, em grandssima parte, na inrcia, poisA partir de 1844, em conseqncia da Tarifa Alves no se vem precisados pela fome ou pobreza a aper-Branco, que conferia certa proteo produo bra- feioar sua indstria (...) as mquinas que poupam bra-sileira, o desenvolvimento do pas teve um impulso. os pela abundncia extrema de escravos nas povoa-Com o trmino da validade do tratado assinado com es grandes so desprezadas. Causa raiva ou riso vera Inglaterra em 1810, e renovado em 1827 por mais vinte escravos ocupados em transportar vinte sacos15 anos, cerca de trs mil artigos importados passa-de acar que podiam conduzir uma ou duas carretasriam a pagar taxas que variavam de 20 a 60%, sendobem construdas com dois bois ou duas bestas mua-que as tarifas mais altas referiam-se s mercadoriasres. (JOS BONIFCIO DE ANDRADA E SILVA, 1822 apudestrangeiras com similares no Brasil. Apesar de de- DOLHNIKOFF, 2000, p. 29)safiar a Inglaterra, violando o acordo vigente entreos dois pases, a medida promoveu o surgimento deO discurso de Jos Bonifcio encontrava eco nouma srie de fbricas de tecidos no Rio de Janeiro,pensamento de Joaquim Nabuco (1999, p. 77), para 18. 8. Embarque de caf no quem a escravido, espalhando-se por um pas, mata pregavam mais de mil operrios e produziam navios,Porto de Santos antes daconstruo do cais, SP cada uma das faculdades humanas, de que provm acaldeiras para mquinas a vapor, engenhos de a-Marc Ferrezindstria: a iniciativa, a inveno, a energia individual. car, guindastes, prensas, alm de artilharia etc. Des-Fotografia, 1880DetalheO tema no passou despercebido pela Sain. Emse complexo saram mais de 72 navios em 11 anos, 1848, o conselho da entidade, na poca presididoentre os quais as embarcaes brasileiras utilizadas por Miguel Calmon du Pin de Almeida, visconde denas intervenes platinas e as embarcaes para o Abrantes, instituiu, com apoio da recm-criada So-trfego no Rio Amazonas. ciedade Contra o Trfico de Africanos e Promotora da Colonizao e Civilizao dos Indgenas, um prmio Era j ento, como hoje ainda, minha opinio que o para quem apresentasse, at 1850, a melhor propos- Brasil precisava de alguma indstria dessas que me- ta sobre a forma de substituir o trabalho escravo pelo dram sem grandes auxlios, para que o mecanismo de trabalho livre.sua vida econmica possa funcionar com vantagem Da em diante, empurrado pelo progresso da pro-(...) e a indstria de ferro, sendo a me das outras, me duo cafeeira, o Brasil iria mudar. Ao mesmo tempoparecia o alicerce dessa aspirao. (MAU, 1996, p. 8) que se consolidava como principal produto brasi- leiro de exportao, o caf provocava uma onda deA fundio dedicava-se tambm ao fabrico de pe- crescimento econmico nunca antes visto no Brasil,as teis ao abastecimento de gua, como se depre- e, cada vez mais, a mo-de-obra escrava cedia espa- ende do aviso do ministro do Imprio, publicado no o para o trabalhor assalariado imigrante. Cinco anos Correio Mercantil de 15 de dezembro de 1854: ontem depois do ato ingls conhecido como Bill Aberdeen,o Imperador correu gua pela primeira vez em um cha- a Lei Eusbio de Queirs, de 1850, proibia o trficofariz que acaba de ser construdo na praia de Botafogo negreiro no Brasil. Com isso, parte do capital despen-(...) segundo o desenho e risco que enviei fabrica da dido na compra de escravos passou a ser investida Ponta da Areia (apud RENAULT, 1939, p. 34). E logo na indstria. surgia tambm a motivao para transformao do Irineu Evangelista de Souza, mais tarde intituladosistema brasileiro de transporte: como se tornava baro de Mau, deu os primeiros passos em direo impraticvel carregar a produo cafeeira em lom- modernizao da economia brasileira. Uma viagem bo de burro, o Brasil ingressava na era da ferrovia. Inglaterra em 1840, onde conheceu fbricas, fun- Em 1852, o governo imperial promulgou a lei que dies de ferro e o mundo dos empreendimentos,concedia isenes e garantias de juros sobre o capi- impulsionou-o em direo industrializao.tal investido s empresas, nacionais ou estrangeiras, Poucos anos depois, Mau tomava para si a incum-que se interessassem em construir e explorar estra- bncia de colocar em funcionamento a Fundio e a das de ferro no pas. Dois anos depois, graas aos Companhia Estaleiro da Ponta da Areia, que, forman- esforos do visionrio Irineu Evangelista de Souza, do o maior empreendimento industrial do pas, em- que subscreveu a quase totalidade do capital neces- 20 19. se juntar aos italianos. Graas ao caf, a capital do 9. Construo de ferroviaFotografia, 1870pas civilizou-se, ganhou iluminao a gs e bonde,e experimentou o luxo. E se no foi o Rio de Janei-ro a ptria brasileira mais prspera do caf, foi de lque partiram as sementes que, disseminadas pelosestados de Minas Gerais, Esprito Santo, Paran e SoPaulo, viriam gerar as riquezas e garantir o progressoe a modernizao do pas.No Brasil, a transio da escravido para o traba-lho livre, o deslocamento das plantaes do Rio deJaneiro para So Paulo, a construo de uma infra-estrutura para o escoamento da produo e a recu-srio construo, foi inaugurada a Estrada de Ferro perao da crise inflacionria e especulativa deman-Mau, primeira linha ferroviria do Brasil, que esta- daram tempo. Somente em 1870, quando a ferroviabeleceu a ligao entre o Porto da Estrela (interior da cruzou o planalto paulista e se iniciou a macia imi-baa da Guanabara) e a raiz da Serra (Petrpolis). Dezgrao europia, uma nova expanso da cafeiculturaferrovias seriam construdas nos vinte anos seguin- brasileira se tornou possvel.tes, tendo sido o desenvolvimento dessa rede uma A fase do capitalismo que se iniciou no ltimodas conseqncias do crescimento e da diversifica-quartel do sculo XIX no Brasil encontrou setores dao das atividades econmicas.economia cafeeira capazes de promover uma inten-Em 1874, a antiga Escola Central do Rio de Janeiro, sa incorporao do trabalho assalariado, em diversosantes voltada para as atividades militares, passou mbitos do sistema produtivo. Entretanto, a luta pelaalada do ministro do Imprio. Com o nome de Esco-industrializao dividia mais uma vez o pas: de umla Politcnica, voltava-se para o ensino da engenha-lado estavam os grandes proprietrios de terra e es-ria civil. Um ano depois, foi criada a Escola de Minascravos; de outro, os que sonhavam com a mquina.de Ouro Preto, na provncia de Minas Gerais. DesdeO primeiro grupo repelia a idia da industrializao,ento, o ensino superior no Brasil iria se desenvolversob a alegao de que o Brasil era incapaz de concor-com a multiplicao de faculdades isoladas criadasrer com a indstria estrangeira. Os progressistas, porpor iniciativa estatal. sua vez, combatiam a escravido e exigiam a defesaNessa poca, os imigrantes europeus sentiam-sede nossos interesses comerciais.atrados pela prosperidade do caf. As convulses Conspiravam contra os defensores do surto desen-polticas e sociais que despontaram na Itlia fize- volvimentista a ausncia de capitais e investimentosram com que milhares de colonos desembarcassemem infra-estrutura, alm da concorrncia com a in-no pas em 1876. E outros contingentes logo viriamdstria europia. Juntavam-se a esses fatores a preca-21 20. 10. Liceu de Artes e Ofciosriedade dos transportes e a interrupo do trabalhodo Rio de JaneiroMarc Ferrez em virtude das epidemias intermitentes. Alm disso,Fotografia, 1890a Reforma Sousa Franco (1857), pela qual as moedas11. Oficina de sapatariainglesas passaram a ser recebidas nas reparties p-da Escola de Artfices doEsprito Santoblicas, e a Reforma Silva Ferraz (1860), que reduziu asFotografia, 22 de dezembrotaxas de importao sobre mquinas, ferramentas ede 1910ferragens, alterando os direitos e o protecionismo daTarifa Alves Branco,6 favoreceram novamente a con-corrncia estrangeira e deixaram a indstria nacionalmais uma vez desprotegida. 22 21. Imensas eram tambm as dificuldades com a mo-acompanhar o programa de ensino. O idealizador da12. Escola de AprendizesArtfices de Natal, RNde-obra, agravadas pelo fato de o Brasil no contarEscola de Adultos, Antnio de Almeida Oliveira, lan- Fotografia, 1913com escolas prticas de ensino industrial. O ensinoou, nesse mesmo ano, a obra O Ensino Pblico, ondee a educao, calcados no contedo humanstico e se l: a instruo dos povos governa-se por certas leiseclesistico, no supriam as demandas apresentadas em grande nmero fixas e invariveis, e que no podempela produo. sem dano ser quebrantadas, por terem carter de leis Apesar disso tudo, vivia-se um tempo de prospe- naturais (apud OLIVEIRA, 2003, p. 60).ridade, pois o caf continuava a equilibrar a balanaNessa poca, as mudanas sociais avanavam,de pagamentos. Entre 1850 e 1860, o pas viveu uma tendo como importante suporte os correligionriostransformao poltica e econmica importante. Fo- do movimento pela abolio da escravatura, que iriaram instaladas empresas industriais e companhias ocorrer de forma lenta e gradual. Em 1871, a Lei dode navegao, seguro, minerao; transporte urba-Ventre Livre tornava libertos os filhos de escravosno, sistema de distribuio de gs, alm de ferrovias, que nascessem a partir de sua promulgao.8 Maisbancos e caixas econmicas; Mau estava frente detarde, a Lei Saraiva-Cotegipe, ou dos Sexagenrios,quase todas essas iniciativas. passou a beneficiar os negros de mais de 65 anos.9 Data dessa poca a criao dos liceus de ofcios, Mas somente em 13 de maio de 1888 seria concedi-destinados principalmente a amparar e treinar os da a liberdade para os negros. Assinada pela princesarfos para o trabalho. Os recursos para manter es-Isabel, a Lei urea, que aboliu a escravido no Brasil,sas entidades provinham dos membros de socieda-decorreu de presses internas e externas.10des civis organizadas ou de doaes de benfeitores,Com a fora do movimento abolicionista, torna-geralmente membros da burocracia do Estado, no-va-se cada vez mais difcil conter a fuga de escravos,bres, fazendeiros e comerciantes. Nos liceus, os cur-principalmente considerando que o Exrcito se re-sos eram gratuitos, porm, em geral, vedados aos cusava a participar da captura e devoluo dos cati-escravos.vos. Tambm era economicamente invivel manter O Liceu de Artes e Ofcios do Rio de Janeiro, pre-o trabalho escravo diante da concorrncia com acursor do ensino profissionalizante do Brasil, foi cria- mo-de-obra imigrante, barata, abundante e edu-do em 9 de janeiro de 1858 pela Sociedade Propaga- cada. Alm disso, a Inglaterra forava a abolio nadora das Belas Artes, como uma instituio de ensino tentativa de abrir mercado para os seus produtos in-voltada para uma populao economicamente des- dustrializados.favorecida. Em 1873, por iniciativa da Sain, que jEntre as circunstncias favorveis ao desenvolvi-mantinha uma Escola Noturna de Adultos,7 comeou mento industrial havia as dificuldades para pagar osa funcionar a Escola Industrial, destinada a jovensmanufaturados produzidos no exterior, o aumentomaiores de 14 anos que, selecionados por meio de progressivo das tarifas alfandegrias, a significativaexame de admisso, apresentassem condies deproduo nacional de algodo e a disponibilidade23 22. 13. Alunos no ptio da EscolaProfissional Masculina,So PauloFotografia, dcada de 1910de mo-de-obra, cuja precariedade era compensada trial no se sustentaria. Na poca, as instituies depelo baixo preo (PRADO JNIOR, 1976). medida quepesquisas cientficas no tinham propostas objetivascrescia o nmero de estabelecimentos industriais,e as universidades encontravam-se muito distantesconsolidavam-se as relaes capitalistas de produ- dos requerimentos da indstria.o. O aspecto filantrpico presente nas iniciativas Mas a resposta necessidade de gerar conheci-associadas ao ensino dos ofcios foi sendo parcial-mentos teis ao setor produtivo no foi a mesma paramente substitudo por um discurso baseado na ra- todas as naes que se industrializavam. Na Inglater-cionalidade da produo, ou seja, no clculo dos cus-ra, a Royal Society of Arts priorizou o intercmbiotos e benefcios do ensino para a formao da forade conhecimentos produzidos em escolas tcnicasde trabalho. Ao mesmo tempo, o ensino dos ofcios, e laboratrios particulares, muitos dos quais sedia-antes destinado aos menores menos favorecidos, foi dos em fbricas. Na Frana, tentou-se desenvolver asendo transferido para os filhos dos trabalhadores,pesquisa em escolas tcnicas e universidades, com asem que, no entanto, ocorressem mudanas signifi-mediao do Instituto da Frana, o que levou a umacativas no sistema educacional vigente:burocratizao dos meios de informao e impediu o seu xito. A Alemanha optou por vincular a pesquisa A proposta de um ensino profissional para as massas, de ao ensino, construindo um modelo posteriormente modo a moraliz-las e a desenvolver a produo para adotado por muitos pases. A pesquisa cientfica sis- transformar a sociedade sem quebrar suas molas foi, tematizada e a oferta satisfatria de pesquisadores talvez, o ncleo de todo o pensamento elaborado nofoi um dos fatores que levaram a indstria alem a Brasil Imperial sobre o assunto (CUNHA, 2000, p. 157).passar ao primeiro plano na escala mundial. Nos Estados Unidos, pas em franco processo deDesde o final do sculo XVIII, havia entre os cien-industrializao, o governo empenhava-se na cons-tistas e empresrios dos pases mais desenvolvidos a truo de uma nova civilizao que dependia basica-idia de que se a indstria e o Estado no voltassem mente da escola na preparao dos americanos parasuas atenes para a cincia, o crescimento indus- as muitas ocupaes (BOMENY, 2001, p. 79). Em 186224 23. o ento presidente Abraham Lincoln promulgou o A Proclamao da Repblica em 1889 no provo-14. Capa da primeiraConstituio da Repblica,Morrill Act, que criou os Land-Grant Colleges, com o cou mudanas imediatas na conjuntura econmico-promulgada no Rio depropsito de social brasileira. Sob forte ideologia positivista, os Janeiro em 24 de fevereirode 1891 governos republicanos continuaram opondo resis- no excluindo outros estudos clssicos e cientficos, tncia criao de universidades. No entanto, as15. Escola de AprendizesArtfices de Sergipe incluindo ttica militar, ensinar os ramos do conheci-reformas de 1891 equipararam os estabelecimentos Fotografia mento relacionados agricultura e s artes mecnicas de ensino secundrio e superior ao Ginsio Nacional (...) a fim de promover a educao liberal e prtica, das e s faculdades mantidas pelo governo federal. Em classes industriais nas diversas atividades e profisses1901, alm de a equiparao ter se estendido ao en- da vida (TEIXEIRA, 1969, cap. 12).sino particular, as escolas poderiam outorgar diplo- mas que autorizavam o exerccio de certas profissesCom a inteno de disseminar faculdades indus- regulamentadas em lei. O resultado dessas medidastriais e/ou agrcolas por todo o territrio, o governo,foi a grande expanso do ensino superior no pas: dealm de transferir imensos terrenos federais para os 1891 at 1910, foram criadas 27 escolas superiores.estados, permitia que estes vendessem terras devo- Alm disso, o complexo montado em torno dalutas, desde que aplicassem os recursos assim obti-produo cafeeira, que inclua ferrovias, bancos, em-dos na educao superior.presas exportadoras e uma mecanizao crescente,Pouco depois, o mundo encontraria nas teoriascontribuiria para fomentar a base de um crescimen-de Karl Marx uma explicao para o necessrio de-to industrial, sugerindo uma ruptura com as formassenvolvimento das foras produtivas. Publicado em1867, O Capital alertava para o fato de que a indstriacapitalista somente poderia subsistir com a condiode revolucionar incessantemente os instrumentos eos modos de produo e, com isso, todas as relaessociais.No Brasil, a educao para o trabalho no acom-panhou as propostas adotadas na Europa e nos Es-tados Unidos da Amrica. Oriundo de uma matrizsociocultural diferenciada, o pas carregava as con-seqncias de ter sido uma colnia de explorao,e no de ocupao, como os EUA. O nico referen-cial de universidade, instituio proibida no pas nostempos coloniais, vinha do ensino medieval e esco-lstico de Coimbra.25 24. 16. Abaporu, tela que poca, escolas comerciais em So Paulo, no Rio deinspirou Oswald de Andradea escrever o ManifestoJaneiro e na Bahia etc., tendo sido reorganizado tam-Antropfago e criar obm o ensino agrcola.Movimento Antropofgico,com a inteno de deglutirCom a morte do presidente Affonso Pena, o proje-a cultura europia etransform-la em algo bem to no foi mais adiante. Somente no governo de NilobrasileiroPeanha seriam criadas 19 escolas de aprendizes eTarsila do Amaralleo sobre tela, 1928 artfices, que tinham como objetivos habilitar os fi-lhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensvelpreparo tcnico e intelectual, e faz-los adquirir hbitosde trabalho profcuo, que os afastar da ociosidade, es-cola do vcio e do crime....12Apesar de seu carter predominantemente assis- tradicionais de produo no pas. Um marco da cons-tencialista, essas escolas determinaram o incio de truo dessa nova ordem econmico-social republi-uma presena mais explcita, embora moralizadora, cana, estabelecida com base no setor cafeeiro, foi a do governo com relao ao ensino profissional no fundao, em 1904, do Centro Industrial do Brasilpas, at ento sustentado por iniciativas privadas. A (CIB).11 Reforma Rivadvia Corra e a Reforma Carlos Maximi-Da mesma forma que a alta dos preos do cafliano, respectivamente de 1911 e 1915, buscaram re- ensejou o desenvolvimento de plantaes da Ve- gulamentar o ensino secundrio e superior no pas.13 nezuela, Haiti e Costa Rica e o surgimento de novasMas essa prosperidade econmica, dependente reas produtoras na Guatemala, El Salvador, Mxico da produo cafeeira, iria mudar de rumo. A ativida- e Colmbia, o aumento da oferta mundial do pro-de industrial, que, a despeito dos esforos dos pio- duto fez despencar os preos no mercado interna- neiros, no havia conseguido sobrepujar as barreiras cional. A crise de superproduo levou os cafeicul-ao seu crescimento, iria galgar novos patamares a tores a forarem a assinatura, em 1906, do Convniopartir de 1914. de Taubat, pelo qual o governo se comprometia a Com a ecloso da I Guerra Mundial, o comrcio in- comprar o excedente da produo e esperar melho- ternacional sofreu um drstico desaquecimento, im- res condies de mercado. Com isso, o preo voltou pondo dificuldades exportao do caf brasileiro. a subir e os altos lucros estimularam os cafeicultores Os fazendeiros e comerciantes, impossibilitados de a continuar produzindo caf. aplicar seus capitais na expanso da lavoura cafeeira,O ensino profissional, que passou a ser respon- sentiam-se atrados a investir na indstria, favorecida sabilidade do Ministrio da Agricultura, Indstria e tambm pelo crescimento do mercado interno de Comrcio, buscava incentivar o desenvolvimento bens de consumo durveis txteis, vesturio, m- industrial, comercial e agrcola. Foram fundadas, veis etc. e no durveis bebidas, alimentos etc. 26 25. Os sinais de progresso, extravasando as fronteiras e elabor-la. At ento, as vrias iniciativas no cam-de uma promissora atividade industrial, traduziam- po da educao profissional no Brasil haviam sidose, ento, em mudanas na vida brasileira. A auroraespordicas, descontnuas, e sem um planejamentodo novo sculo coincidia com as aes do movimen-nacional efetivo. Com isso, no final do sculo XIX ato sanitarista voltadas para o controle das endemias,formao do trabalhador brasileiro ainda lembrava oque punham em risco o desenvolvimento nacional.processo de aprendizagem das antigas corporaesMas se deparava tambm com as manifestaes de medievais:trabalhadores que, inspirados nos operrios norte-americanos e europeus, lutavam por melhores con-O aluno era admitido na oficina como aprendiz, pas-dies de vida e trabalho.sando a receber as noes gerais sobre o ofcio esco-Em 1917, ao mesmo tempo que um grande mo- lhido, no prprio trabalho. O aprendiz era colocadovimento grevista praticamente paralisou a cidadeao lado de um operrio adulto a quem comeava porde So Paulo, uma orgulhosa e ascendente elite em-auxiliar, terminando por se tornar um operrio efetivopresarial inaugurava a Primeira Exposio Industrialcomo ele (CUNHA, 2000, p. 124).no suntuoso Palcio das Indstrias, edifcio especial-mente construdo para este fim:Para permitir a pesquisa referente disponibili- dade de matria-prima no territrio brasileiro, foram No ptio da Exposio Industrial de gua Branca, foifundadas a Estao Experimental de Combustveis e exposto o primeiro automvel brasileiro, o PINAR si-Minrios (1921) e a Comisso Nacional de Siderurgia gla de Pioneiro da Indstria Nacional de Automveis (1923), esta ltima integrada pelos engenheiros Er- Reunida todo construdo mo, com materiais e pe-nesto Lopes da Fonseca Costa e Euvaldo Lodi. Alm as nacionais, inclusive o motor (GATTS, 1981, p. 65). disso, o Brasil abria-se para as novidades que, trazi- das da Europa, adaptavam-se s expectativas da re-Alm de principal centro econmico do pas, Sofinada elite cosmopolita, desejosa de se diferenciarPaulo tornava-se tambm o maior plo de organiza-culturalmente dos segmentos sociais locais tidoso de trabalhadores brasileiros. E a sociedade brasi- como incultos.leira entrava efetivamente no sculo XX. Promovida pelos cafeicultores e novos indus-Somente em 1920 a Repblica reuniu as escolastriais paulistas, a Semana de Arte Moderna de 1922,profissionais existentes em sua capital sob o nome reunindo muitos intelectuais da poca, foi um refle-de Universidade do Rio de Janeiro. Com isso, o pasxo dos desejos de modernizao e transformaopassaria a contar com uma educao superior volta- cultural do pas. Todavia, se algumas manifestaes,da para a formao para o exerccio das profisses.como as artes plsticas, a literatura e o teatro, repro-At ento, segundo Ansio Teixeira (1989), julgava-seduziam os ideais modernistas europeus, o Brasil ain-que o Brasil poderia importar cultura, mas no cri-la da no apresentava um desenvolvimento industrial 26. maduro, capaz de absorver os princpios defendidoso Profissional (CFESPs), criados por diversas com-pelas vanguardas reunidas em torno de centros depanhias frreas do estado de So Paulo. Esses cursosensino como a Bauhaus. Herdeira, ao mesmo tempo,nasceram ligados aos projetos de uma gerao dedo movimento ingls Arts and Crafts e da Deutscherengenheiros da Escola Politcnica que, influenciadosWerkbund, a escola, fundada em 1919 na Alemanha,pelos princpios tayloristas introduzidos no pas porpretendia, pela valorizao da produo industrialRoberto Simonsen em 1919, apostavam na prepara-e do desenho de produtos, estabelecer uma asso- o racional e metdica da mo-de-obra.ciao definitiva entre a arte e a tecnologia da m- A fundao da Escola Profissional de Mecnica noquina.Liceu de Artes e Ofcios de So Paulo, em 1924, re-O Brasil estava ainda comeando a assimilar aspresentou a oportunidade para que Roberto Mange,idias desenvolvidas pelo engenheiro norte-ameri- uma das figuras mais relevantes na aplicao da psi-cano Frederick Winslow Taylor. Sua obra Princpios da cologia s questes do trabalho, colocasse em prti-Administrao Cientfica, publicada em 1911, referia- ca seus princpios de aprendizagem racional, que sese s novas formas de gerenciar e organizar as in-caracterizava pela rapidez, economia e eficincia.dstrias. Convencido da ineficincia do trabalho dosoperrios fabris, Taylor empenhou-se em identificarDesde ento, mediante a utilizao da psicotcnica, oos eventuais problemas que atrasavam os tempos ensino de ofcios no se destinava apenas a dar instru-de produo. Inventou aparelhos e criou uma srieo aos pobres, mas cuidava de aproveitar os mais ap-de implementos para aperfeioar as formas de tra-tos, deixando em segundo plano sua antiga dimensobalho da maquinaria e agilizar as operaes huma-assistencial (CUNHA, 2000, p. 133).nas. Ele instituiu tambm a remunerao por produ-o, princpio baseado na idia de que a atividadeEm 1925, a Reforma Rocha Vaz buscava dar maiorhumana influenciada pelas recompensas salariais eficincia ao ensino superior pela diminuio do n-ou materiais. mero de estudantes em certos cursos e sua recon-Nessa mesma poca, uma srie de debates na C-duo para os cursos menos procurados, nos quaismara dos Deputados propunha a expanso do ensi- havia vagas disponveis.14 No ano seguinte, um in-no profissional, estendendo-o a pobres e ricos, e no qurito foi elaborado por Fernando de Azevedo comapenas aos desafortunados. Como conseqncia daso objetivo de conhecer a situao educacional do an-discusses foi criada uma comisso especial que, co-tigo Distrito Federal. Com base nesse levantamento,nhecida como Servio de Remodelagem do Ensino seria feito o primeiro projeto educacional no BrasilProfissional Tcnico, daria origem aos ministrios da que, alm de abranger o ensino primrio, o secun-Educao e Sade Pblica e do Trabalho, Indstria e drio, o normal e o superior, dava nfase ao ensinoComrcio. As primeiras escolas profissionais corpora- tcnico-profissional e ao papel da administrao p-tivas foram os Centros Ferrovirios de Ensino e Sele- blica nesse campo.28 27. O amadurecimento da indstria paulista ficouto Simonsen, demonstrava uma mentalidade nova, 17. Primeira diretoria do Ciesp marca a presena dedemonstrado com a criao, em 1928, do Centro das que iria se refletir nas vrias aes em direo a uma importantes industriais doIndstrias do Estado de So Paulo (Ciesp),15 que, sob modernizao das condies fabris e educacionais.pas poca. Da esquerda para a direita, sentados:a presidncia de Francisco Matarazzo, originou-se de Assim, a segunda dcada do sculo XX encer- Horcio Lafer, Jorge Street, Francisco Matarazzo,uma mobilizao histrica que constituiria um passo rava-se deixando as bases para o desenvolvimen- Roberto Simonsen e Plcidoimportante em direo primeira revoluo indus-to econmico que seria experimentado nos anosMeirelles. Em p: Antnio Devisate, Jos Ermnio detrial brasileira.seguintes. O trabalho passava a ser depositrio da Moraes, Carlos von Bulow eO perodo, marcado pela ascenso de grandes in- educao e da pesquisa cientfica, que, por sua vez, Alfredo Weisflog Fotografia, 1928dustriais, tais como Francisco Matarazzo, Jos Erm-adaptavam-se s necessidades da produo, pro-rio de Moraes, Carlos von Bulow, Plcido Meirelles, movendo um encontro que favorecia a racionalida-Manuel Guilherme da Silveira, Horcio Lafer, Pandi de necessria construo de uma moderna socie-Calgeras, Jorge Street, Antnio Devisate e Rober-dade industrial. 29 28. 30 29. A revoluo industrial brasileiralairtsudnI oculover 31 30. 32 31. O perodo que se convencionou chamar aqui deUm dos setores menos afetados pela conjuntura 18. Desfile de operriosda Companhia Siderrgicarevoluo industrial brasileira representou a tran- mundial foi a indstria. A emisso de moedas para Nacional, 1 de maio de 1942sio definitiva da manufatura para uma economiaatenuar as dificuldades da agricultura fez com que oComputao grficaPgina 30predominantemente industrial. A consolidao do mercado interno, destino de quase toda a produo19. Propaganda do Simcaprocesso produtivo no Brasil adveio das significativasfabril da poca, se tornasse o fator mais dinmico daChambord publicada natransformaes que marcaram os cenrios nacional eeconomia. Com isso, houve uma progressiva substi- revista O Cruzeiro, dezembrode 1960internacional nos anos 30 do sculo XX. tuio das atividades agroexportadoras pelas indus- DetalheO mundo vivia ento sob o efeito da crise defla-triais, que prosperavam impulsionadas pelas pos-grada com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. sibilidades de lucro e pela atrao de capitais antesEntre outras coisas, o desequilbrio econmico pro- dirigidos exportao.vocava a ausncia de um mercado para a produo O movimento revolucionrio de 1930, deflagradoagrcola, a runa dos produtores rurais e o desempre- depois de uma srie de levantes militares, represen-go urbano.tou uma reao contra o predomnio poltico do setorA conjuntura internacional, que se refletia no Bra- cafeeiro. E, muito embora depois da Revoluo Cons-sil impondo obstculos s exportaes brasileiras e titucionalista de 1932 o governo provisrio tivesseprovocando um aumento significativo dos preosconcedido benefcios para os produtores de caf, osdos produtos importados, obrigou o governo a to-quadros oligrquicos tradicionais seriam substitu-mar medidas efetivas. E embora o controle cambial,dos no poder pelos militares, pelos jovens polticos e,os emprstimos especiais, a moratria e a queimamais adiante, pelos novos industriais.dos estoques de caf tenham conseguido minimizarNum primeiro momento, a expanso do setor in-os efeitos da crise, no foram suficientes para evitardustrial valeu-se da capacidade j instalada no pas:uma onda de falncias.a produo da indstria txtil, por exemplo, aumen-33 32. tou substancialmente nos anos que se seguiram leo por indstrias nacionais passou a ser bandeira deDepresso. Outro fator determinante do crescimen- luta dos grupos que rechaavam a participao es-to industrial poca foi a possibilidade de adquirir trangeira na gerncia das indstrias de base.equipamentos de segunda mo dos pases mais A viso da formao profissional para o exercciofortemente atingidos pela crise. Mais adiante, a ele- de funes nos postos de trabalho, segundo os pa-vao dos preos dos produtos importados e o cres-dres do regime industrial e do trabalho assalariadocimento da demanda criaram as condies para acapitalista, tornava-se hegemnica, em funo dainstalao de indstrias de bens de capital:crescente demanda por mo-de-obra qualificada eda apropriao das novas teorias relativas eficin- a economia no somente havia encontrado estmulo den-cia e produtividade do trabalho. tro dela mesma para anular os efeitos depressivos vindos Duas medidas importantes vieram efetivar, em de fora, mas tambm havia conseguido fabricar parte1930, a poltica voltada para o fortalecimento do se- dos materiais necessrios manuteno e expanso de tor industrial. Em 14 de novembro, o governo insti- sua capacidade produtiva (FURTADO, 1977, p. 199).tuiu o Ministrio dos Negcios da Educao e SadePblica (Mesp), que alm de representar uma res-O governo provisrio de Getulio Vargas deu incio posta tardia aos anseios do movimento sanitaristaa um perodo marcado pelo aumento gradual da cen- da Primeira Repblica, prenunciava uma reformula-tralizao do poder e pela interveno estatal na eco-o do ensino destinado promoo da educaonomia e na organizao da sociedade. O Estado que sobre novas bases.1 Poucos dias depois, foi criado osurgia aps 1930 distinguia-se tambm dos demaisMinistrio do Trabalho, Indstria e Comrcio (MTIC),governos republicanos pela prioridade conferida marcando o incio de uma efetiva atuao estatal no industrializao. Entre as estratgias de governo,processo produtivo.2constava o estabelecimento de uma nova relaoConstituram marcas desse perodo as iniciativascom os trabalhadores urbanos, que deveriam inte-de estatizao das reservas minerais do pas e o pa-grar uma aliana de classes promovida pelo poderpel das Foras Armadas como fator de garantia daestatal.ordem e de suporte para a criao das indstrias de medida que avanava a industrializao, au- bens de produo.mentava a polmica sobre a participao do inves- Nos Estados Unidos, o desenvolvimento industrialtimento estrangeiro na economia. Se, por um lado, ganhou importante impulso a partir das propostas eesses capitais poderiam contribuir para impulsionar aes de Henry Ford, o primeiro empresrio a aplicaro crescimento, por outro o discurso nacionalista en-a montagem em srie e a produzir automveis emcarava as empresas estrangeiras como exploradoras massa, em menos tempo e com menor custo. Inven-e no como parceiras do Brasil. Com a ascenso de tor da linha de montagem, Ford foi um pioneiro doVargas ao poder, a explorao do ferro e do petr-capitalismo do bem-estar social, concebido para me-34 33. lhorar a situao dos seus trabalhadores e reduzir aO sistema de proteo ao trabalho foi aprimora- 20. Presidente Getulio VargasFotografia, 1937alta rotatividade de mo-de-obra. do com o advento dos Institutos de AposentadoriaDetalheReunidas sob a denominao de modelo fordis-e Penses (IAPs),6 que tratavam da assistncia previ-ta, as idias desse empreendedor norte-americano, denciria aos trabalhadores. Depois dos ferrovirios,alm de revolucionarem o pensamento da poca, outras categorias seriam beneficiadas, inclusive a doscontriburam para desenvolver a mecanizao doindustririos, com a criao do Instituto de Penso etrabalho, a produo em srie, a padronizao doAposentadoria dos Industririos, o IAPI. 7maquinrio e do equipamento e, por conseqncia,Alm dessas iniciativas estatais foi fundado, emo design dos novos produtos. Com a separao entre23 de julho de 1931, em So Paulo, o Instituto de Or-o trabalho intelectual e o trabalho manual, o oper-ganizao Racional do Trabalho (Idort), que, estrutu-rio no era estimulado a pensar, e sim a realizar a sua rado nos moldes da Taylor Society8 norte-americana,tarefa de forma a garantir maior produtividade. E o passou a divulgar no Brasil o processo racionalistaBrasil de 1930 no estava alheio a essa nova ordem: de trabalho. Liderada pelo engenheiro Armando deO Taylorismo[-fordismo] foi introduzido em nossas f-Salles Oliveira e pelo professor Roberto Mange, abricas, sem o alarde e a propaganda das dcadas an- instituio resultou da juno de dois grupos: de umteriores: a prtica industrial substituiu o discurso (VAR- lado, havia os empresrios paulistas interessados naGAS, 1985, p. 182)administrao cientfica do trabalho, de outro, os es-No tardou para que a educao, que adquiria umatudiosos da psicofsica, que buscavam estabelecer adimenso efetiva no novo contexto histrico, fosseinterao entre homens e mquinas.objeto dos vrios instrumentos legais institudos emNo Brasil de ento, o processo de inovao deve-1931. Primeiramente foi criado o Conselho Nacionalria estar a cargo de instituies formadas por tcnicosde Educao (CNE),3 e trs dias depois, o documento capacitados a desenvolver atividades que pudessemconhecido como Estatuto das Universidades Brasilei- combinar o aperfeioamento e racionalizao dasras dispunha sobre o ensino superior, determinan- tcnicas de produo com a distribuio eficientedo a investigao cientfica em todos os domnios dos produtos no mercado interno.do conhecimento humano.4 Em seguida a Reforma medida que as relaes capitalistas de produ-Francisco Campos passou a regulamentar o ensino o iam se consolidando, foram sendo implementa-secundrio.5dos tambm os meios de conjugar os interesses dosNo mbito do ensino profissional, surgiu a Inspe- trabalhadores com as exigncias da produo. Astoria do Ensino Profissional e Tcnico, que, destinadaantigas associaes, criadas nas primeiras duas dca-a exercer um controle sobre as escolas de aprendi-das do sculo XX, davam lugar s organizaes sindi-zes-artfices, seria transformada, em 1934, na Supe-cais controladas pelo Ministrio do Trabalho. Couberintendncia do Ensino Profissional, vinculada ao Mi- ao ento ministro Lindolfo Collor dar andamento anistrio da Educao. um conjunto de medidas que visavam alterar as re-35 34. 21. Segunda sesso do laes de trabalho. Essa poltica teve incio com a LeiConselho Universitrioda USP, posse do reitor de Sindicalizao, que fazia com que as organizaesReynaldo Porchatsindicais de empresrios e trabalhadores desempe-Fotografia, 1934nhassem a funo de rgos de colaborao com oEstado.9 Aps instituda a carteira profissional comodocumento obrigatrio para registro dos contratosde trabalho, foram constitudas as Juntas de Conci-liao e Julgamento para arbitrar os conflitos traba-lhistas.Nessa poca, inspirados pelas teorias de JohnDewey10 e mile Durkheim,11 26 intelectuais brasilei-ros, sob a liderana de Fernando de Azevedo, apre-sentaram, na IV Conferncia Nacional de Educao(1932), o Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova, somar s trs universidades federais existentes atque tinha como principais metas a laicizao, gra-ento: a do Rio de Janeiro (1920), a de Minas Geraistuidade, obrigatoriedade e co-educao do ensino. (1927) e a do Rio Grande do Sul (1934).Esse documento acabou se tornando a base para osUm marco importante no processo da construodecretos que, promulgados entre 1932 e 1934, mini-pblico-institucional seria a Constituio de 1934.mizavam as distines curriculares entres as escolasPela primeira vez na histria do pas, a educaops-primrias, dirigidas aos futuros operrios, e asmereceu destaque: o governo tomou para si a res-escolas secundrias, destinadas aos futuros adminis-ponsabilidade pelo estabelecimento das diretrizes etradores e profissionais liberais.12 Alm disso, forampela fixao do Plano Nacional de Educao (artigoinstitudas escolas tcnicas, que ofereciam cursos in-1 da Constituio promulgada em 16 de julho dedustriais e comerciais. 1934). No mesmo ano, surgiu o Conselho Federal de Por iniciativa das federaes das indstrias deComrcio Exterior (CFCE), um organismo pioneiro deSo Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de planejamento econmico, ao qual cabia decidir so-Janeiro, foi criada, em 25 de janeiro de 1933, a Confe- bre o dispndio dos recursos internos. Euvaldo Lodiderao Industrial do Brasil (CIB), com o objetivo de foi escolhido por Vargas para integrar o recm-criadocongregar os sindicatos e as associaes industriaisconselho, rgo diretamente ligado ao presidente,existentes. Esses estados, que apresentavam ento que tinha como misso colaborar na definio daum maior desenvolvimento econmico e social, se-poltica econmica do governo.diaram tambm as primeiras instituies universit- A teoria desenvolvimentista defendia a priorida-rias do pas. Em 1934, foi fundada, em mbito esta- de dos financiamentos e subsdios para a indstria, adual, a Universidade de So Paulo, USP,13 que veio se garantia de infra-estrutura bsica (energia, transpor-36 35. tes) e a proteo aos produtos nacionais diante damesmo ano foi fundada a Aliana Nacional Liberta-22. O presidente Getulio Vargas recebeu a primeiraconcorrncia externa. E no tardou para que as pro- dora (ANL), que, integrada por correligionrios como carteira de trabalho davidncias estatais se voltassem para o setor siderr- Lus Carlos Prestes e Carlos Lacerda, promoveu a in- histria do Brasil, 1931gico. O Departamento Nacional da Produo Mineral surreio de 1935. Embora o movimento tenha sido 23. Presidente Getulio Vargas com Euvaldo Lodi(DNPM) foi criado em 1934 para coordenar todo o sufocado, os conflitos polticos que se sucederam ge-Fotografia, 1940sistema de extrao de minrios do pas.14raram um clima de insegurana. Temerosas de umaMas o governo enfrentava oposies de direita contra-revoluo, as elites e a classe mdia apoiarame de esquerda. Diversos acontecimentos polticos, Getulio Vargas no golpe que implantou o Estadotais como movimentos grevistas, choques entre in- Novo em 1937.tegralistas e antifascistas ocorridos no Brasil entreContando com o respaldo poltico para desen-1934 e 1937, culminaram na promulgao, em abrilvolver os programas de governo, Vargas fortaleceu ode 1935, da Lei de Segurana Nacional (LSN). Nesseprocesso de substituio das importaes, por meiode investimentos na indstria local e do controle doEstado sobre as indstrias de base e os setores res-ponsveis pela infra-estrutura. Depois do fechamen-to do Congresso e do cancelamento das eleiespresidenciais previstas para 1938, Getulio Vargas ou-torgou, em 10 de novembro de 1937, a quarta Cons-tituio do pas, que, conhecida como Polaca por tersido baseada na Constituio autoritria da Polnia,tinha como caracterstica principal a concentraode poderes nas mos do chefe do Executivo.Embora desconsiderasse as matrias sobre edu-cao constantes da Carta Magna anterior, a Cons-tituio de 1937, em seu artigo 129, dava nfase sescolas pr-vocacionais: O ensino pr-vocacional profissional destinado s clas- ses menos favorecidas em matria de educao o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execuo a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Muni- cpios e dos indivduos ou associaes particulares e profissionais.15 37 36. 24. Escritor Jos Bento Tratava-se de fazer frente demanda do processo negro, merecendo por isso o reconhecimento entreMonteiro LobatoFotografia, 1940de industrializao desencadeado no incio da dca-os campees da grande causa. Um dos primeiros ci-Detalhe da, que, cada vez mais, exigia profissionais especiali-dados a ver o petrleo jorrar em territrio brasileiro,zados para os setores primrio, secundrio e tercirio Lobato apresentou, em sua obra O Poo do Viscondeda economia. O documento comprometia tambm(1937), um relato bem-humorado e proftico daso setor empresarial: dever das indstrias e dos sin-caractersticas e da importncia do recurso mineraldicatos econmicos criar, na esfera da sua especialida-para o desenvolvimento do Brasil e do mundo.de, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus Com a Constituio de 1937, o aproveitamentooperrios ou de seus associados.16de jazidas minerais passou a ser restrito a brasileirosNo novo regime, os militares tinham um impor-ou empresas constitudas por brasileiros. No ano se-tante papel na definio de prioridades e formula- guinte, alm de criar o Conselho Nacional do Petr-o polticas de governo, sobretudo no que se refe-leo (CNP),17 o governo, substituindo a livre iniciativaria aos setores estratgicos, como o siderrgico e o nas atividades de pesquisa e prospeco de petrleopetrolfero. A inteno de Getulio Vargas era cons-e gs natural, determinou o monoplio estatal do se-truir uma nao forte e independente. E, para isso tor. O produto passou, assim, a figurar como recursoera mister ter o controle sobre os recursos minerais de utilidade pblica, tendo sido regulados todo ose hidreltricos, bem como sobre a produo de ao, passos do seu processo de produo e venda.mquinas e equipamentos, insumos importantes Ao mesmo tempo que atuava junto com os or-para o desenvolvimento econmico, industrial e so- ganismos governamentais emitindo pareceres e fa-cial brasileiro. zendo propostas concretas sobre os diversos temas,As primeiras propostas para a criao de um or-Euvaldo Lodi trabalhava para consolidar as entidadesganismo que estudasse as questes referentes aorepresentativas das classes industriais. E, em 1937,petrleo, carvo mineral, minas e metalurgia parti-durante a gesto de Roberto Simonsen, ele defendeuram do Conselho Federal de Comrcio e Exportao a sindicalizao da Confederao Industrial do Brasil(CFCE). O conselho, que contava com a participao (CIB). Contrrios s prticas destruidoras da ordemativa de Euvaldo Lodi, insistia tambm na necessida- social como o lucro fcil, a competio desenfreadade de uma grande siderrgica, que seria construda e a ausncia de esprito de servio, os engenheirospor meio de acordos comerciais com os pases es- e empresrios Euvaldo Lodi e Roberto Simonsen trangeiros.pioneiros da representatividade industrial no BrasilUm personagem dedicado s causas nacionalistas eram favorveis construo social em bases maisfoi o escritor Jos Bento Monteiro Lobato. Conhecido justas. Alm disso, os empresrios compartilhavamcomo autor de histrias infantis, ele, alm de contri- da viso de que a educao era uma das chaves parabuir para o progresso da indstria editorial brasileira, o desenvolvimento do pas, devendo, portanto, estarengajou-se na luta em favor da explorao do ourono centro da agenda da indstria brasileira.38 37. Euvaldo LodiEuvaldo Lodi nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, pelo CIB, que atuou intensamente na organizao deem 9 de maro de 1896, filho dos imigrantes italianossindicatos patronais e na mobilizao da indstria emLus Lodi e Anunciata Lodi. Formou-se engenheiro, em todo o pas.1920, pela Escola de Minas e Metalurgia, e j nessaEm 25 de janeiro de 1933, representando o Centropoca comeou a se destacar como lder empresarial Industrial de Juiz de Fora, foi designado para incentivarem seu estado. a fundao de sindicatos patronais junto FederaoTrabalhou na construo de rodovias e ferrovias, nadas Indstrias de Minas Gerais. Essa misso estava re-explorao de minas de ferro e carvo e na instalaolacionada com a convocao, pelo governo provisrio,de fomos metalrgicos em Minas Gerais, at ser convi-da Assemblia Nacional Constituinte, que incluiria emdado, em 1923, para participar da Comisso Nacionalsua composio, alm dos eleitos pelo sufrgio univer-de Siderurgia, dirigida por Lus Gonzaga de Campos.sal, representantes classistas indicados pelos sindicatosEngajando-se na Revoluo de 1930, colaborou nolegalmente reconhecidos. Como delegado do Sindicatoplanejamento da movimentao de contingentes. De-das Indstrias de Ferro de Minas Gerais na Convenopois da vitria, ingressou no Clube 3 de Outubro, orga-dos Sindicatos Patronais, Lodi foi eleito como um dosnizao nacional que se propunha a defender os ideaisrepresentantes dos empregadores na Assemblia Cons-tenentistas de aprofundamento das reformas iniciadas tituinte.pela revoluo vitoriosa.Lder da bancada dos empregadores na AssembliaEm 1931 Lodi integrou, juntamente com Robertoe membro da chamada Comisso dos 26, encarregadaSimonsen e Vicente de Paulo Galiez, uma comisso,de elaborar o anteprojeto da Constituio, Euvaldo Lodiformada no mbito do Centro Industrial do Brasil (CIB),foi relator dos captulos intitulados Ordem econmicaencarregada de formular uma sntese das opinies doe social, Famlia e Educao e cultura; angariousetor sobre as propostas da Comisso Revisora das Ta-fama de hbil negociador, apesar de sempre ter man-rifas Aduaneiras, instituda pelo Ministrio do Traba- tido uma posio autnoma em relao s propostaslho, Indstria e Comrcio (MTIC). Durante os trabalhos,do governo.o grupo de industriais manteve contato permanenteCom a promulgao da nova Constituio em 16 decom Getulio Vargas e com Jos Maria Whitaker, minis- julho de 1934 e a eleio de Getulio Vargas para a Pre-tro da Fazenda.sidncia da Repblica, os mandatos dos congressistasTransferindo-se para o Rio de Janeiro, entre 1931 eforam prorrogados at a expedio dos diplomas dos1936 Lodi tornou-se membro do Conselho Diretor danovos deputados, que seriam eleitos ainda naqueleFederao Industrial do Rio de Janeiro (Firj), entidadeano. Na mesma poca, Lodi foi escolhido por Vargasrecm-fundada, criada por exigncia da legislao sin- para integrar o recm-criado Conselho Federal de Co-dical em vigor. Considerado elemento representativomrcio Exterior (CFCE), rgo diretamente ligado aoda indstria, integrou, junto com Horcio Lafer e Vicen- presidente, cuja misso era colaborar na definio date Galiez, uma comisso de coordenao, designadapoltica econmica do governo. 38. Euvaldo LodiEleito em 1935 para a Cmara Federal, Lodi foi um Firj, e da Confederao Nacional de Indstria (CNI), en-dos sete deputados classistas, representantes da inds- tidade recm-criada com a participao das federaestria. Sua afinidade com o governo fez com que partici-industriais de So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais epasse, junto com Roberto Simonsen, Valentim Bouas eRio Grande do Sul. Embora possuindo a mesma direto-outros, de um crculo de representantes da indstria eria, o Cirj e a Firj tinham estatuto jurdico diferenciado,do comrcio ligado ao presidente. sendo o primeiro registrado como instituio privadaCom a implantao do Estado Novo em 10 de no- para que os representantes patronais pudessem esca-vembro de 1937 e a conseqente dissoluo do Legis- par s limitaes da legislao sindical, que proibia ati-lativo, Lodi perdeu seu mandato parlamentar, assu-vidades e pronunciamentos no vinculados a assuntosmindo, pouco depois, o cargo de vice-presidente daprofissionais.Confederao Industrial do Brasil (CIB) durante a ges-Em 1941, os industriais propuseram ao governo fe-to de Roberto Simonsen. Na poca, iniciou-se o en- deral a criao de um servio de ensino profissional naquadramento da entidade na lei sobre sindicalizao,forma de uma organizao autnoma, dirigida pelasque, apesar de apoiada por Lodi, encontrou resistncias federaes industriais sob controle da CNI. Em resposta,entre os empregadores. Em 12 de agosto de 1938, a CIB o ministro da Educao, Gustavo Capanema, instituiuse transformaria na Confederao Nacional da Inds- uma comisso integrada por Lodi, Valentim Bouas etria (CNI), rgo mximo de representao do setor in-outros, que veio a criar, em 1942, o Servio Nacional dedustrial brasileiro, que teve como primeiro presidenteAprendizagem Industrial (Senai), do qual Lodi se tornouEuvaldo Lodi. presidente.Durante esse mesmo ano, o CFCE desenvolveu in-Nessa poca, passou a integrar, junto com Robertotensa atividade, elaborando pareceres sobre a criao Simonsen e outros, o Conselho Consultivo da Coorde-de uma grande indstria siderrgica e a exportaonao de Mobilizao Econmica, que, criado depoisde minrios, sugerindo acordos comerciais com pasesdo ingresso do Brasil na II Guerra, visava estabelecerestrangeiros e apresentando propostas de criao de uma mobilizao completa dos recursos econmicosorganismos especializados nas questes de petrleo, existentes no territrio nacional.carvo mineral, siderurgia, minas e metalurgia. AlmMembro fundador e vice-presidente da Legiode participar nesses trabalhos, Lodi colaborou no pro-Brasileira de Assistncia (LBA), em julho de 1943, najeto de nacionalizao dos bancos de depsito, concre-qualidade de presidente da CNI, Lodi escreveu um ma-tizado em 1941. nifesto aos industriais brasileiros apoiando o esforoEntre 1938 e 1940, Lodi acumulou as presidnciasdesenvolvido pelo governo para que todas as classesda Federao das Indstrias do Rio de Janeiro, que mais se organizassem em sindicatos, pedindo aos empre-tarde receberia o nome de Centro Industrial do Rio de srios que se sindicalizassem sem demora e dessemJaneiro (Cirj); da Federao dos Sindicatos Industriais preferncia ao trabalhador sindicalizado nos serviosdo ento Distrito Federal, que tomou o nome da antiga de sua empresa. 39. Em fins de 1943, participou do I Congresso Brasileiro depois para Washington, na qualidade de delegado dade Economia, realizado no Rio de Janeiro, sob o patro-IV Reunio de Consulta dos Chanceleres Americanos.cnio do governo federal. No ano seguinte, Lodi presidiuDeputado federal por Minas Gerais, pela legenda doo Congresso Brasileiro da Indstria promovido pela CNIPartido Social Democrtico (PSD), exerceu o mandatoe organizado pela Federao das Indstrias do Estadode 1947 at 1951. Em 1948 foi presidente da Comis-de So Paulo (Fiesp), que, alm da presena de Vargas so de Desenvolvimento Industrial da Comisso Mistae outras autoridades governamentais, contou com re- Brasileiro-Americana de Estudos Econmicos, chamadapresentantes do comrcio. Misso Abbink. Integrou ainda a delegao brasileira Nesse mesmo ano, junto com Joo Daudt dOliveira, Conferncia Pan-Americana de Chanceleres, realizadaHeitor Grilo e Francisco Clementino de San Tiago Dan- em Washington em 1951, onde combateu a posiotas, Lodi integrou a comisso do Conselho Nacional de norte-americana de conferir prioridade defesa do con-Poltica Industrial e Comercial (CNPIC), rgo do Minis-tinente em detrimento do desenvolvimento econmico.trio do Trabalho, que apresentou um projeto de plani-Partidrio da criao de um mercado interno capaz deficao da economia brasileira. A proposta foi rejeitadagarantir a expanso da indstria, Lodi defendia a subor-pela Comisso de Planejamento Econmico, cujo rela- dinao do capital estrangeiro aos interesses das naestor era o economista Eugnio Gudin, partidrio do libe- que o recebiam e a apropriao estatal das riquezas doralismo econmico.subsolo. Cumpriu um novo mandato legislativo entreEuvaldo Lodi e Joo Daudt dOliveira chefiaram, em1951 e 1955, tendo sido membro, em 1953, da Comissonovembro de 1944, a delegao brasileira Confern-de Bem-Estar Social, presidida por Josu de Castro.cia de Bretton Woods, nos Estados Unidos, que reuniuNa iniciativa privada, foi fundador e proprietriorepresentantes de 44 pases aliados para tratar da re-da usina siderrgica Gorceix, em Caet, Minas Gerais.organizao econmica e financeira depois da vitriaE presidente das seguintes empresas: Companhia Ferrosobre os pases do Eixo. A conferncia deu os primeiros Brasileiro; Companhia Industrial de Ferro S.A., Compa-passos para a formao do Fundo Monetrio Interna-nhia Carbonfera Metropolitana, Eletrometal S.A., F-cional (FMI) e do Banco Internacional de Reconstruo brica de Tecidos de Seda Santa Helena e Fbrica Reheme Desenvolvimento (Bird). Metalrgica S.A. Foi ainda vice-presidente da Elevado-Em agosto de 1945, Lodi foi um dos signatrios de res Swiss do Brasil S.A. e diretor da Sociedade Siderrgi-um memorial dirigido ao chefe do governo, que protes- ca Limitada, no Rio de Janeiro.tava contra o Decreto-Lei n. 7.666, conhecido como Lei Publicou A Indstria e a Economia Nacional, emMalaia, voltado para coibir a ao de trustes, e consi- 1949, e Discursos e Conferncias, em 1954.derado antidemocrtico pelos empresrios. Como re-Reeleito deputado federal por Minas Gerais em 1954,presentante dos empregadores na Comisso de Enqua-Euvaldo Lodi faleceu em acidente automobilstico entredramento Sindical em 1946, Lodi representou o BrasilJundia e So Paulo, no dia 19 de janeiro de 1956, emna Conferncia de Paz, realizada em Paris, seguindo pleno exerccio do mandato. 40. Roberto SimonsenRoberto Cochrane Simonsen nasceu no dia 18 de Em 1938, participou com Euvaldo Lodi e outros dafevereiro de 1889, em Santos, So Paulo, filho dos esco-criao da Confederao Nacional da Indstria, tendoceses Sidney Martins Simonsen e Robertina da Gama sido seu primeiro vice-presidente. Foi um dos idealiza-Cochrane Simonsen. Ingressou na Escola Politcnica de dores do Servio Nacional de Aprendizagem IndustrialSo Paulo, formando-se em engenharia. Logo depois (Senai), do Servio Social da Indstria (Sesi) e do Institu-de formado trabalhou na Companhia Ferroviria Sou-to de Organizao Racional do Trabalho (Idort).thern Brazil Railway, da qual saiu para ocupar o cargoAps a II Guerra Mundial, elegeu-se senador, tendode diretor-geral de obras na Prefeitura de Santos.sido ainda presidente da Fiesp e integrante do ConselhoFundou a Companhia Construtora de Santos, dan-Superior da Escola de Sociologia e Poltica de So Pau-do incio sua carreira de empresrio. Assumiu posi- lo. Como atividade empresarial presidia a Companhiao de lder empresarial aos 33 anos, como presidente Construtora de So Paulo e da Cermica So Caetano.do Sindicato Nacional dos Combustveis Lquidos. Em Foi membro de vrias entidades: Academia Paulista1928, ao lado de Francisco Matarazzo e Jos Ermrio dede Letras (ABL), Instituto Histrico e Geogrfico de SoMoraes, criou o Centro das Indstrias do Estado de SoPaulo (IHGSP), Instituto Histrico e Geogrfico de San-Paulo (Ciesp), o embrio da Federao das Indstriastos (IHGS) e Instituto Histrico e Geogrfico Brasileirodo Estado de So Paulo (Fiesp). (IHGB), National Geographic Society (NGS), nos EstadosEm 1919 ingressou na carreira diplomtica, tendoUnidos, Royal Geographic Society (RGS), em Londres, eintegrado vrias misses comerciais. No governo deAcademia Portuguesa de Histria (APH).Epitcio Pessoa, sua companhia executou a constru-Simonsen publicou numerosos estudos sobre aso de quartis para o Exrcito em diversos estados doquestes econmicas e educacionais, entre os quaispas. os livros A Orientao Industrial Brasileira; As Crises noParticipou ativamente do Movimento Constitucio- Brasil; As Finanas e a Indstria; Aspectos da Economianalista paulista, em 1932, em resistncia ao golpe de Es- Nacional; Histria Econmica do Brasil; A Indstria emtado articulado por Getulio Vargas em 1930. Integrou oface da Economia Nacional; A Evoluo Industrial domovimento pela fundao da primeira escola superior Brasil; As Indstrias e as Pesquisas Tecnolgicas; As Clas-que ofereceria cursos de sociologia e poltica no Brasil, a ses Produtoras de So Paulo e o Momento Nacional; En-atual Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo, ondesaios Sociais Polticos e Econmicos; As Indstrias e aslecionou histria econmica do Brasil.Pesquisas Tecnolgicas; O Plano Marshall e a AmricaEm 1933 ingressou na poltica. Eleito pelo estado deLatina.So Paulo, exerceu o mandato de deputado federal en-Faleceu no dia 25 de maio de 1948, no Rio de Janeiro,tre 1933 e 1937. Nesse perodo, Simonsen aproximou- de ataque cardaco, durante o pronunciamento de umse de Getulio Vargas e, juntamente com Euvaldo Lodi,discurso para o ministro da Blgica na Academia Brasi-conseguiu sensibilizar o governo para as questes daleira de Letras. Em sua homenagem, a data do anivers-indstria brasileira. rio de sua morte foi escolhida como o Dia da Indstria. 41. Para a concretizao da confederao industrial, 25. Primeira logomarca da CNItornava-se necessrio seguir alguns trmites esta- Desenhobelecidos no decreto-lei que regulamentou a cons- 26. Euvaldo Lodi e Robertotituio de sindicatos.18 Embora os estatutos tives- Simonsen recebem o presidente Getulio Vargassem sido aprovados em 1933, a entidade dependiaem escola do Senaido reconhecimento, pelo Ministrio do Trabalho, de Fotografia, 1943pelo menos trs federaes. Cumpridas as exignciaslegais, a CIB transformar-se-ia, em 12 de agosto de1938, na Confederao Nacional da Indstria (CNI),rgo mximo de representao do setor industrialbrasileiro, que teve como primeiro presidente Eu-valdo Lodi. A entidade passou, ento, a integrar osistema corporativo estabelecido pela Constituio,embora s tenha sido reconhecida oficialmente em30 de abril de 1943.19 Com a Confederao Nacional da Indstria aglutinam-de escolas pr-vocacionais, que visavam a uma for- se as vontades industriais dispersas, ganham consci- mao genrica em cincias aplicadas produo. ncia de sua prpria fora, da sua origem comum e Sem esperar o pronunciamento das entidades encontram um instrumento atravs do qual formulampatronais, o governo emitiu, em 2 de maio de 1939, e exprimem comunidade e ao poder pblico uma in- o Decreto-lei n. 1.238, determinando que as empre- terpretao autntica do processo de industrializao. sas com mais de quinhentos operrios mantivessem (LODI, 1954, p. 10)um refeitrio para atender o seu pessoal e cursos deaperfeioamento para jovens e adultos. O texto legal Em 1938, a recm-fundada CNI recebeu, junta- motivou o envio, Comisso Ministerial, de um do-mente com a Federao das Indstrias do Estado de cumento redigido por Roberto Simonsen, cujo me-So Paulo (Fiesp), ento sob a presidncia de Rober-morial criticava o nus que o governo tentava importo Simonsen, um documento do Ministrio de Edu- indstria. No entanto, a conjuntura internacionalcao relativo aprendizagem industrial de adoles- apresentava forte tendncia ao comprometimentocentes trabalhadores. O governo havia elaborado direto das indstrias na formao da mo-de-obra.dois anteprojetos: um estipulava a criao de escolasEm junho de 1939, a XXV Conferncia Geral da Or-de aprendizes, que deveriam ser mantidas e dirigidasganizao Internacional do Trabalho (OIT), realizadapelos sindicatos dos empregadores e pelos estabele- na Sua, tinha a aprendizagem como principal pon-cimentos industriais. O outro versava sobre a criao to de pauta. Integraram a Comisso do Ensino Tc- 43 42. nico Francisco Montojos, como delegado do gover- teresses nacionais, como o caso do aperfeioamentono Vargas, e Oscar Saraiva, como representante dos da mo-de-obra entre ns (SIMONSEN, 1940).empregadores brasileiros. Durante o evento, foramrecomendadas diretrizes que, logo absorvidas pela Outra comisso interministerial foi formada paralegislao brasileira, previam a coordenao das ati- realizar uma pesquisa de opinies, por meio da apli-vidades num programa nacional, conduzido median-cao de questionrios. Os industriais reivindicavamte a colaborao entre o governo e as entidades dea participao dos empregados e do Estado no cus-classe de empregados e empregadores.teio dos cursos profissionais; os operrios defendiamEmbora determinasse que os Estados nacionaisa extenso dos cursos aos trabalhadores de empresasdevessem prover escolas em nmero suficiente e lo-pequenas e mdias, que empregavam a maior partecalizao adequada para satisfazer s necessidadesda fora de trabalho. Paralelamente, essa comissoeconmicas, a Recomendao 57 da referida confe-buscou conhecer a experincia dos cursos ferrovi-rncia fazia uma ressalva:rios. Na ocasio, o Instituto de Organizao Racionaldo Trabalho apresentou o projeto Cursos de Aperfei- nos pases que no dispem de um nmero suficiente oamento para as Indstrias, elaborado por Roberto de escolas profissionais e tcnicas seria convenienteMange. que as empresas, cuja importncia o permita, assumam Com base na concluso dos trabalhos das comis- os gastos de formao de um certo nmero de traba- ses, Getulio Vargas promulgou, em 1940, o decreto lhadores jovens, em relao ao total de trabalhadoresque regulamentava a instalao e o funcionamento empregados na empresa (apud PRONKO, 2003, p. 48).de cursos profissionais em empresas com mais dequinhentos trabalhadores.20 Embora mantivesse oNo ano seguinte, a despeito das crticas feitas an- mesmo modelo de cursos proposto pela Comissoteriormente ao teor do Decreto-lei n. 1.238, Roberto Interministerial de 1939, havia inovaes: enquantoSimonsen, em documento encaminhado comisso os jovens aprendizes deveriam receber salrios, osinterministerial formada para regulamentar o referi-empregadores teriam que arcar com o nus da for-do instrumento legal, afirmava: mao profissional.Com o objetivo de promover a infra-estrutura ne- nenhuma objeo maior apresenta a indstria de So cessria ampliao do parque industrial brasileiro, Paulo que tem plena conscincia do novo e pesado foi criado, em maro de 1939, o Conselho Nacional nus com que vir a ser sobrecarregada. Isto ela salien- de guas e Energia Eltrica (CNAEE), que tinha a fi- ta, no para mostrar os sacrifcios que faz e esperar van- nalidade de estudar o problema da explorao e uti- tagens compensatrias, mas para que o lcido espritolizao da energia eltrica no pas, em especial a de de V. Exa. possa aquilatar de quanto capaz a indstria origem hidrulica. No mesmo ano, como