livro 7 - os pilares da criação - espada da verdade
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A ESPADA DA VERDADE
Livro Sete
Os Pilares da Criação
( The Pillars of Creation )
Terry Goodkind
Tradução Não Oficial:
Eduardo A. Chagas Jr
— Os olhos à espreita ainda estavam lá . Ele não t inha imaginado aquilo. Olhos
amarelos, gêmeos , c int i lando, observando da escuridão na f lor esta . No meio da calmaria , ele ouviu um rosnado baixo quando a besta saltou das sombras para dentro da luz suave
entr e a flor esta e o lago. Era enorme. . . ta lvez duas vezes o tamanho de um lobo, com u m
peito mass ivo e pescoço grosso. . . . —
1
C A P Í T U L O 1
Vasculhando nos bolsos do homem morto , Jennsen Daggett encontrou a últ ima coisa no mundo que ter ia esperado encontrar . Assustada , ela sentou sobre os
calcanhares . A br isa agitava seu cabelo enquanto ela observava com os olhos
arregalados as palavras escr itas em letras grossas precisas no pequeno pedaço
quadrado de papel. O papel havia sido dobrado ao meio duas vezes , cu idadosamente, para que as bordas f icassem bem a linhadas . Ela piscou, meio que esperando as
palavras desaparecerem, como alguma ilusão horr ível . Elas permaneceram sólidas e
bastante r eais . Embora soubesse o quanto o pensamento er a tolo , a inda sent ia como se o
soldado morto pudesse estar observando-a esperando qualquer r eação. Sem mostrar
reação, pelo menos, externamente, ela arr iscou uma espiada nos olhos dele. Eles estavam opacos e vidrados. Tinha ouvido pessoas dizerem que os mortos parecia m
estar apenas dormindo. Ele não parecia . Seus olhos pareciam mortos . Seus lábios
pálidos estavam r ígidos , seu rosto estava parecido com cera . Havia uma mancha
púrpura atrás do pescoço grosso dele. Claro que ele não a estava observando. Não estava mais observando coisa
alguma. Porém, com a cabeça dele virada para o lado, em dir eção a ela , quase parecia
como se est ivesse olhando para ela . Ela podia imaginar que ele estava . Lá em cima da colina rochosa atrás dela , ga lhos sem folhas faziam barulho
como ossos batendo uns nos outros . O papel nos dedos tr êmu los dela parecia estar
agitado junto com eles . O coração dela , já ba tendo em um passo acelerado, começou a
bater mais for te. Jennsen orgulhava-se de seu bom senso. Es tava deixando levar -se por sua
imaginação. Mas nunca t inha visto uma pessoa morta , uma pessoa tão grotescament e
r ígida . Era horr ível ver alguém que não r espirava . Ela engoliu em seco procurando controlar sua própria respiração, se não os seus nervos .
Mesmo que ele est ivesse morto, Jennsen não gostava que ele f icasse olhando
para ela , então ela levantou, ergueu a bainha da longa saia , e deu a volta no corpo. Cuidadosamente dobrou o pequeno pedaço de papel duas vezes , do jeito que ele estava
dobrado quando ela o encontrou , e enf iou no bolso dela . Ter ia que preocupar -se com
aquilo ma is tarde. Jennsen sabia como sua mãe r eagir ia diante daquelas duas pa lavras
no papel. Determinada a t erminar sua busca , agachou do outro lado do homem. Com o
rosto dele para o outro lado, quase parecia como se est ivesse olhando de volta subindo
a tr ilha de onde ele ha via ca ído, como se pudesse estar imaginando o que ter ia acontecido e como acabara no fundo do desfi ladeiro rochoso com o pescoço quebrado .
A capa dele não t inha bolso. Duas bolsas estavam presas no cinto . Uma
bolsa t inha óleo, pedras de amolar , e uma fa ixa de couro ut i l izada para afiar . A outra estava cheia de carne seca . Nenhuma cont inha um nome.
Se ele t ivesse pensado bem, como ela pensava , ter ia seguido o caminho
longo pelo fundo do penhasco, ao invés de cruzar a tr ilha pelo topo, onde pedaços de
gelo negro tornavam o caminho traiçoeiro nesta época do ano . Mesmo se ele não quisesse voltar pelo caminho através do qua l t inha vindo para descer dentro do
desf i ladeiro, t er ia s ido ma is inteligente da par te dele t er seguido através da f lor esta , a
despeito dos arbustos espessos que tornavam a viagem dif ícil lá em cima entr e as folhas mortas .
O que estava feito estava feito . Se ela conseguisse encontrar algo que
informasse quem ele era , ta lvez pudesse encontrar parentes dele , ou alguém que o
conhecesse. Eles desejar iam saber . Ela agarrou -se na segurança dessa desculpa . Quase contra sua vontade, Jennsen voltou a imaginar o que ele estar ia
fazendo ali. Temia que o pedaço de papel cu idadosamente dobrado estivess e
2
informa ndo bem demais . Ainda assim, poder ia haver alguma outra razão.
Se ao menos ela conseguisse encontrá -la .
Teve que mover o braço dele um pouco se quer ia olhar dentro do outro bols o
dele.
— Quer idos espír itos me perdoem. — e la sussurrou quando segurou o
membro morto .
O braço r ígido dele moveu -se com dif icu ldade. Jennsen franziu o nar iz com
nojo. Ele estava tão fr io quanto o chão sobre o qua l jazia , tão fr io quanto as gotas de
chuva esporádicas que ca iam do céu de ferro . Nesta época do ano, quase sempre havia neve sendo carregada diante de um vento de oeste. A incomum neblina intermitente e
a garoa cer tamente t inham feito os lugares gelados da tr ilha no topo ainda ma is
escorregadios . O homem morto era uma prova disso . Ela sabia que se f icasse muito ma is t empo ser ia alcançada pela chuva de
inverno que se aproximava. Estava bastante consciente de que pessoas expostas a u m
tempo assim arr iscavam suas vidas . Felizmente, Jennsen não estava terr ivelmente
longe de casa . Porém, se ela não chegasse logo em casa , sua mãe, preocupado com o que poder ia estar demor ando tanto, provavelmente sair ia atrás dela . Jennsen não
quer ia que sua mãe f icasse molhada também.
A mãe dela estar ia esperando pelo peixe que Jennsen havia recolhido das l inhas no lago. Pela pr imeira vez, uma das l inhas que elas enf iavam através de bura cos
no gelo estava cheia . Os peixes jaziam mortos do outro lado do cadáver , onde ela os
depos itara após rea lizar sua horr ível descoberta. Ele não estivera a li ma is cedo, ou ela o ter ia visto quando seguia para o lago .
Soltando um for te suspiro para reforçar sua determinação, Jennsen fez um
esforço para retornar à sua busca . Ela imaginou que provavelmente alguma mulher
estava imaginando onde estava seu grande, belo soldado , pr eocupada se ele estava em segurança , aquecido, e seco.
Ele não estava .
Jennsen gostar ia que alguém falasse para sua mãe, se fosse ela quem t ivesse caído e quebrado o pescoço. Sua mãe entender ia se ela demorasse um pouco para
tentar descobr ir a ident idade do homem. Jennsen r econs ider ou. Sua mãe podia
entender , mas ela a inda não ir ia qu erer Jennsen per to de a lgum desses soldados . Mas
ele estava morto. Agora, não podia machucar ninguém, muito menos ela e sua mãe. Sua mãe f icar ia ainda ma is pr eocupada uma vez que Jennsen mostrasse a ela
o que estava escr ito no pequeno pedaço de papel .
Jennsen sabia que aquilo que r ealmente guiava sua busca era a esperança por alguma outra explicação. Ela quer ia desesperadamente que fosse alguma outra coisa .
Essa necess idade fr enét ica a manteve ao lado do cadáver dele quando ela não quer ia
nada mais do que sair correndo para casa . Se ela não encontrasse alguma coisa para explicar a pr esença dele , então
ser ia melhor cobri- lo e esperar que ninguém o encontrasse. Mesmo que ela t ivesse qu e
ficar do lado de fora na chuva , ela o cobrir ia tão rápido quanto possív el . Não devia
esperar . Então ninguém jama is saber ia onde ele estava . Fez um esforço para enf iar a mão no bolso da ca lça dele , a té o fundo. A
carne da coxa dele estava r ígida . Os dedos dela pegaram rapidamente o punhado de
pequenos objetos no fundo. Arfando com a tarefa horr ível , ela ret irou tudo em seu punho. Curvou-se, aproximando-se na escuridão que aproximava -se e abr iu os dedos
para dar uma olhada .
No topo havia uma pederneira , botões de osso, uma pequena bola de fio, e um lenço dobrado. Com um dedo, ela empurrou o f io e o lenço para o lado, expondo
um punhado de moedas, prata e ouro . Soltou um leve assovio com a visão de tamanha
for tuna. Não achava que soldados fossem r icos , mas esse homem t inha cinco moedas
de ouro entr e um grande número de moedas de prata . Uma for tuna pela ma ior ia dos padrões. Todas as moedinhas de prata , não cobre , prata , pareciam ins ignificantes em
contraste, mesmo que apenas elas provavelmente fossem mais do que ela havia gasto
em todos os seus vinte anos .
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Ocorreu- lhe o pensament o de que era a pr imeira vez em sua vida em que ao
menos t inha segurado moedas de ouro, ou até mesmo de prata . Ela imaginou que iss o
podia ser uma pilhagem.
Não encontrou coisa alguma de uma mulher , como esperava , para suavizar a sua preocupação sobre que t ipo de homem ele ter ia sido.
Lamentavelmente, nada dentro do bolso indicou qua lquer coisa sobre quem
ele podia ser . Ela franziu o nar iz quando começou a tar efa de devolver as coisas dele para dentro do bolso. Algumas das moedinhas de prata escapuliram do punho dela .
Juntou-as todas do chão congelado, úmido, e enf iou a mão dentro do bolso
dele novamente para devolver tudo ao seu devido lugar . A mochila dele poder ia dizer mais , mas ele estava deitado sobre ela , e ela
não t inha cer teza se quer ia dar uma ol hada tentar dar uma olhada , uma vez qu e
provavelmente ela só conter ia provisões. Os bolsos dele guardar iam tudo que ele
cons iderasse va lioso. Como o pedaço de papel .
Ela ju lgou que toda evidência que r ealmente pr ecisava estava bem à vista .
Ele usava armadura de couro sob a sua capa e túnica escuras . Em sua cintura estava uma simples espada de soldado amolada em uma bainha de couro negro surrado . A
espada estava par tida no meio, sem dúvida na longa queda da tr ilha .
Os olhos dela des lizaram ma is cu idadosamente sobre a faca extraordinár ia enf iada no cinto dele. O cabo da faca , c inti lando na luz fraca , foi o que chamara sua
atenção desde o pr imeiro instante . A visão daquilo a deixara congelada até ela
perceber que seu dono estava morto . Tinha cer teza de que nenhum s imples soldado
possuir ia uma faca produzida tão per feitamente . Ela devia ser ma is cara do que qua lquer faca que ela já t inha visto .
No cabo de prata estava a letra ornamentada ―R‖ . Até isso era uma cos ia
bela . Desde pequena , sua mãe t inha ens inado a usar uma faca . Ela gostar ia qu e
sua mãe pudesse ter uma faca tão bela como essa .
Jennsen.
Jennsen deu um pulo ao ouvir a palavra sussurrada .
Agora não. Queridos espíri tos , agora não. Não aqui .
Jennsen.
Jennsen não era uma mulher que odiava muita coisa na vida , mas odiava a
voz que às vezes surgia para ela .
Agora, ela ignorou, como sempre, forçando os dedos a moverem-se, para
tentar descobr ir se havia mais alguma outra coisa sobre o homem que ela devia saber . Checou as faixas de couro procurando bolsos ocultos mas não encontrou .
A túnica t inha um corte l iso, sem bolsos.
Jennsen , surgiu novamente a voz.
Ela cerrou os dentes . — Me deixe em paz. — falou em voz alta, mesmo qu e
fosse em um tom tranquilo.
Jennsen.
Dessa vez, ela soou difer ente. Quase como se a voz não est ivesse em sua
cabeça, como sempre est ivera .
— Me deixe em paz. — e la rosnou .
Entregue. — surgiu o murmúr io.
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Levantou os olhos e viu os olhos do cadáver olhando f ixamente para ela .
A pr imeira cor t ina de chuva fr ia , formando um vagalhão ao vento, pareceu
os dedos gelados de espír itos acar iciando o rosto dela . Seu coração galopou ainda ma is rápido . A r espiração dela f icou presa , como
seda colando em pele seca . Com os olhos arrega lados travados no rosto do soldado
morto, ela empurrou com os pés , r ecuando através do casca lho. Estava sendo tola . Sabia que estava . O homem estava morto. Ele não estava
olhando para ela . Não podia estar . O olhar dele estava f ixo por causa da morte , só
isso, como os peixes mortos dela , eles não estava m olhando para nada. Nem el e estava . Ela estava sendo tola . Apenas parecia que ele estava olhando para ela .
Mas ainda que os olhos mortos não est ivessem olhando para nada , ela
prefer ia que eles não f izessem isso em sua direç ão.
Jennsen.
Além, acima da projeção de granito, os pinheiros oscilavam de um lado para outro ao vento e os bordos e carva lhos pelados balançavam seus braços esquelét icos ,
mas Jennsen manteve seu olhar fixo no homem morto enquanto prestava atenção na
voz. Os láb ios do homem estavam imóveis . Ela sabia que eles estar iam. A voz estava na cabeça dela .
O rosto dele a inda estava virado para a tr ilha de onde ele havia caído para
sua morte. Ela pensara que aquele olhar sem vida também est ivesse voltado naquela
dir eção, mas agora os olhos dele pareciam virados ma is em dir eção a ela . Jennsen fechou os dedos em volta do cabo de sua faca .
Jennsen.
— Me deixe em paz. Eu não vou entregar nada .
Ela não sabia o que a voz quer ia que ela ent regasse . Apesar de acompanhá -
la durante quase toda a sua vida, a voz nunca dissera . Ela encontrava refúgio nessa
ambiguidade.
Como se r espondesse ao pensamento dela , a voz retornou.
Entregue sua carne, Jennsen.
Jennsen não conseguia respirar .
Entregue sua vontade.
Ela engoliu em seco, apavorada . Ela nunca t inha falado isso, nunca t inha
falado a lgo que ela conseguisse entender .
Geralmente, ela escutava levemente, como se est ivesse longe demais para ser compreendida claramente. Às vezes ela pensava que conseguia ouvir as palavras ,
mas elas pareciam em uma língua estranha .
Frequentemente ela escutava quando estava dormindo , chamando-a naquele distante sussurro morto. Ela falava outras palavras , ela sabia , mas nunca de modo qu e
ela conseguisse entender ma is do que o seu nome e aquela assustadoramente sedutor a
palavra que ordenava sua rendição. Aquela palavra sempre era mais for te do que qua lquer outra . Ela sempre conseguia ouvi-la mesmo quando não conseguia ouvir
qua lquer outra .
A mãe dela disse que a voz era do homem que , durante quase toda a vida de
Jennsen, desejara matá - la . Sua mãe disse que ele quer ia atormentá - la .
— Jenn, — geralmente sua mãe falava. — está tudo bem . Estou aqui com
você. A voz dele não pode machucá-la. — sem querer preocupar sua mãe , com
frequência Jennsen não contava para sua mãe sobre a voz.
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Mas, mesmo se a voz não pudesse machucá -la , o homem podia , se ele a
encontrasse. Nesse momento, Jennsen desejou desesperadamente o confor to protetor
dos braços de sua mãe.
Um dia , ele vir ia atrás dela . As duas sabiam que ele vir ia . Até lá , ele enviava sua voz. Pelo menos, isso era o que a mãe dela pensava .
Independente do quanto essa explicação a assustasse , Jennsen prefer ia isso
do que pensar que estava louca . Se não t ivesse a sua própria mente, não t inha nada .
— O que aconteceu aqui?
Jennsen soltou um gr ito de susto quando virou , segurando sua faca . Ela
agachou parcialmente, pés afastados , a faca bem f irme na mão. Essa não era uma voz sem corpo. Um homem estava caminhando em dir eção
a ela . Com o vento nos ouvidos , e a distração do cadáver e da voz, ela não ouviu ele
chegando. Grande como ele era , tão per to como ele estava , ela sabia que se corr esse, e
se ele desejasse, ele poder ia alcançá -la facilmente.
6
C A P Í T U L O 2
O homem reduziu a velocidade quando viu a reação dela , e a faca .
— Eu não pretendia assustá- la .
A voz dele era bastante agradável .
— Bem, você assustou.
Embora o capuz da capa dele est ivesse levantado e ela não conseguisse ver
seu rosto claramente, ela parecia estar observando o cabelo vermelho dela do modo
como a maior ia das pessoas faziam quando avistavam ela .
— Posso ver isso . Peço desculpas .
Ela não afrouxou sua postura defens iva aceitando o pedido de desculpas , mas ao invés disso desviou seu olhar para os lados , checando para ver se ele estava
sozinho, para ver se ma is alguém estava com ele e poder ia estar aproximando -s e
sorrateiramente.
Ela sent iu-se uma tola por ter s ido pega de surpresa desse jeito . No fundo de sua mente ela sabia que nunca poder ia realmente f icar segura . Não ser ia
necessar iamente pr eciso agir sorrateiramente . Mesmo o simples descuido de sua par te
poder ia a qualquer momento causar o fim. Ela sentiu uma espécie de impotência por causa do modo como isso podia ter acontecido com tanta facil idade . Se esse homem
podia caminhar em plena luz do dia e assustá -la tão facilmente, o que poderia ser dito
a respeito do sonho extravagante dela de que um dia sua vida poder ia ser sua ? A escura parede de rocha do penhasco cint i lava na umidade . O cana l exposto
ao vento estava deser to a não ser por ela e os d ois homens, o cadáver e aquele qu e
estava vivo. Jennsen não costumava imaginar rostos s inistros espreitando nas sombras
da f lor esta , como f izera quando cr iança . Os lugares escuros entr e as árvores estavam vazios.
O homem parou a doze passos de distância . Pela postura dele, não foi medo
da faca que fez ele parar , mas o medo de assustá -la ma is a inda . Ele olhava f ixamente para ela aber tamente, aparentemente perdido em algum pensamento par ticu lar .
Rapidamente ele r ecuperou-se de fosse lá o que fosse que t ivess e chamado sua atenção
no rosto dela .
— Posso entender porque uma mulher t er ia mot ivo para ficar assustada
quando um estranho aproxima -se dela r epent inamente. Eu ter ia passado por você sem
causar alarme, mas vi aquele homem no chão e você ali , curvada sobr e ele. Pensei que você podia precisar de a juda , então eu vim rapidamente.
O vento fr io pr ess ionou sua capa verde escura contra o corpo vigoroso dele
e levantou o outro lado r evelando suas roupas bem cortadas mas simples . O capuz da
capa dele protegia sua cabeça das pr imeir as rajadas de chuva , deixando o rost o indist into em sua sombra . O sorr iso dele mostrava intenção cor tês , nada ma is . O
sorr iso f icava bem nele .
— E le está morto. — fo i tudo que ela conseguiu pensar para dizer .
Jennsen não estava acostuma da a falar com estranhos . Ela não estava
acostumada a fa lar com ninguém além de sua mãe . Não t inha cer teza do que dizer ,
sobre como r eagir , especia lmente sob as circunstâncias .
— Oh. Sinto muito. — e le est icou um pouco o pescoço , sem chegar ma is
per to, t entando ver o homem no chão. Jennsen pensou que isso era uma coisa sensata a fazer , não tentar chegar
ma is per to de alguém que claramente estava nervosa .
Ela odiava ser tão óbvia . Sempre esperou parecer para os outros um tant o
quanto inescrutável. O olhar dele afastou-se do cadáver , para a faca , para o rosto dela .
— Suponho que você teve mot ivo .
7
Perplexa durante um segundo, ela f inalmente entendeu o que ele quer ia dizer
e disparou.
— Eu não fiz isso !
Ele balançou os ombros . — S into muito . Daqui eu não cons igo ver o que
aconteceu.
Jennsen sent iu-se estranha apontando uma faca para o homem. Aba ixou o braço com a arma .
— Eu não quer ia parecer . . . parecer uma louca . Você apenas me assustou
pra valer .
O sorr iso f icou caloroso.
— Entendo . Não f iquei ofendido. Então, o que aconteceu?
Jennsen apontou com a mão vazia em dir eção ao rosto do penhasco .
— Acho que ele caiu da t rilha lá em cima . O pescoço dele está quebrado.
Pelo menos eu acho que está . Acabei de encontrá -lo. Não vejo qua lquer outra pegada . Meu pa lp ite é que ele morreu em uma queda .
Enquanto Jennsen devolvia sua faca para a bainha no cinto , ele observou o
penhasco.
— Fico feliz por ter esco lhido o fundo , ao invés da tr ilha lá em cima .
Ela inclinou a cabeça apontando para o homem morto .
— Estava procurando por alguma co isa que pudesse dizer quem era ele .
Pensei que talvez eu devesse. . . avisar para alguém. Mas não encontr ei nada .
As botas do homem f izeram barulho at ravés das pedras quando ele aproximou-se. Ajoelhou do outro lado do corpo, evitando o lado dela , ta lvez para
fornecer a mulher louca empunhando uma faca um pouco de espaço para que ela
ficasse um pouco menos nervosa .
— Acho que você t inha razão. — e le disse , após observar a curvatura
anormal da cabeça . — Parece que ele esteve aqui pelo meno s parte do dia .
— Passei por aqui mais cedo . Aqueles a li são meus rastros. Não vi outro
nas proximidades . — e la apontou para os peixes logo atrás dela. — Quando fu i
até o lago para checar minhas linhas , mais cedo, ele não estava aqui.
Ele inclinou a cabeça para estudar melhor o rosto imóvel .
— Alguma ideia de quem ele era?
— Não. Não tenho p ista , a não ser que ele é um soldado.
O homem levantou os olhos . — Alguma ideia de que t ipo de so ldado ?
Jennsen franziu a testa .
— De que t ipo? Ele é um soldado D'Haran. — e la abaixou para o lhar
para o est ranho mais d iretamente . — De onde você é para não reconhecer um
so ldado D'Haran?
Ele enf iou a mão sob o capuz e es fr egou o lado do pescoço .
— Sou apenas um via jante , de passagem. — e le pareceu tão cansado
quando soava .
A r esposta deixou ela perp lexa .
— Já andei por aí durante toda minha vida e não sei de ninguém que
que não conhecer ia um so ldado D'Haran quando via um. Como você não consegue?
— Eu sou novo em D'Hara.
— Isso não é possível . D'Hara cobre a maior par te do mundo.
Dessa vez, o sorr iso dele mostrou diversão.
— É mesmo ?
Ela podia sent ir o rosto esquentar e sabia que devia estar f icando vermelho
por causa do quanto ela mostrava ser ignorante a respeito do mundo .
— Bem, não cobre?
Ele ba lançou a cabeça . — Não. Eu sou de longe ao sul . Além da terra que é
D'Hara.
Ela f icou olhando f ixamente, maravilhada , seu desgosto evaporando em luz
8
das implicações que surgiram na mente dela com uma noção tão surpreendente . Talvez
o sonho dela pudesse não ser tão extravagante.
— E o que você está fazendo aqui , em D'Hara?
— Eu disse . Via jando. — e le soou cansado . Ela sabia como viajar podia
ser cansativo. O tom dele f icou ma is sér io. — Eu sei que ele é um so ldado D'Haran.
Você me entendeu ma l. O que eu estava querendo diz er era , que t ipo de soldado? Um
homem que per tence a um regimento local ? Um homem pos icionado aqui? Um soldado
à caminho de casa para uma vis ita ? Um soldado seguindo até uma cidade para beber ? Um batedor?
A sensação de alarme dela aumentou .
— Um batedor? O que ele estar ia explorando em sua própria terra natal ?
O homem olhou para as baixas nuvens escuras.
— Não sei. Só estava imaginando se você sabia qua lquer coisa sobre ele .
— Não, é claro que não. Eu só encontr ei ele.
— Esses so ldados D'Haran são per igosos? Quer dizer , eles per turbam as
pessoas? Pessoas que estão apenas viajando? O olhar dela desviou dos olhos questionadores dele.
— Eu.. . eu não sei . Acho que poder iam ser .
Ela temia falar demais , mas não quer ia que ele acabasse tendo problemas
porque ela falou pouco.
— O que você imagina que um so ldado solit ár io es tava fazendo aqui?
Geralmente soldados não f icavam sozinhos .
— Não sei . Porque você acha que uma s imples mulher saber ia ma is sobre
soldados do que um homem do mundo que viaja bastante ? Não t em suas própr ias ideias? Talvez ele apenas est ivesse seguindo para casa , para fazer uma vis ita , ou
alguma coisa parecida . Talvez ele est ivesse pensando em uma garota em casa , e assim
não estava prestando atenção como dever ia ter feito . Talvez seja por isso que ele escorregou e caiu .
Ele esfr egou o pescoço outra vez , como se es tivesse sent indo dor .
— S into muito . Acho que não estou fazendo muito sent ido . Estou um pouco
cansado. Talvez eu não esteja pensando claramente . Talvez eu est ivesse apenas
preocupado com você.
— Comigo? O que você quer dizer ?
— Quero dizer que so ldados pertencem a unidades de um t ipo ou outro .
Outros soldados os conhecem e sabem onde eles deviam estar . Soldados s implesmente não saem sozinhos quando querem. Não são como algum caçador que solitár io qu e
poder ia desaparecer e ninguém saber ia .
— Ou algum viajante so litár io ?
Um sorr iso suavizou a expressão dele .
— Ou algum via jante so litár io . — o sorr iso desapareceu . — A ponto é
que provavelmente outros so ldados irão procurar ele . Se encontrarem o corpo dele
aqui, irão trazer tropas para evitar que a lguém saia da área . Uma vez que r eunir em
todos que puderem encontrar , começarão a fazer perguntas .
— Pelo que ouvi a respeito de so ldados D'Haran, eles sabem como fazer
perguntas . Desejarão saber cada detalhe sobre cada pessoa que eles interrogarem.
O estômago de Jennsen r evirou de consternação. A ú lt ima coisa no mundo que ela quer ia era soldados D'Haran fazendo perguntas sobre ela ou sua mãe. Aquele
soldado morto podia acabar sendo a morte de las.
— Mas quais são as chances. . .
— Só estou dizendo que eu não gostaria que os amigos desse homem
aparecessem e decidissem que alguém deve pagar pela morte dele . Podem não
cons iderar isso como um acidente. Soldados ficam revoltados com a morte de u m
colega, mesmo que tenha s ido um acidente. Você e eu somos os únicos por per to . Não
gostar ia que um punhado de soldados encontr asse ele e decidisse m nos culpar .
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— Está querendo dizer , que mesmo se fosse um acidente, eles poder iam
prender uma pessoa inocente e cu lpá- la por isso?
— Não sei, mas de acordo com minha exper iência os soldados são assim .
Quando estão fur iosos eles encontram alguém para culpar .
— Mas eles não podem nos culpar . Você nem estava aqui , e eu só estava
procurando cuidar das minhas l inhas de pesca .
Ele p lantou um cotovelo sobre o joelho e inclinou sobre o cadáver em
dir eção a ela .
— E esse so ldado , cuidando de seu trabalho para o grande Império
D'Haran, viu uma linda jovem exib indo-se e ficou tão distraído com ela qu e
escorregou e caiu .
— Eu não estava me exibindo !
— Não quer ia suger ir que você estava . Só quer ia mostrar a você como as
pessoas podem encontrar uma forma de culpar alguém quando elas decidem qu e
querem fazer isso.
Ela não havia pensado nisso. Eles eram soldados D'Haran. Um comportamento assim dif ici lmente estar ia for a de questão .
O resto daquilo que ele falou f icou r egistrado na mente dela . Nunca u m
homem t inha chamado Jennsen de l inda . Isso a deixou confusa , surgindo tão
inesperadamente e fora de lugar , como aconteceu, no meio de uma grande preocupação. Uma vez que ela não t inha ideia sobre como r eagir ao elogio , e já qu e
havia tantos pensamentos ma is importantes comandando suas emoções , ela ignorou.
— Se eles o encontrarem, — o homem disse. — então , no mínimo eles
reunirão qualquer pessoa que est iver nas proximidades e interrogarão elas durant e
longo tempo e com f irmeza .
Todas as terr íveis implicações estavam f icando r eais demais . De r epente o dia da desgraça estava aproximando -se.
— O que você acha que dever íamos faze r?
Ele pensou durante um momento.
— Bem, se eles r ea lmente aparecerem, mas não encontrá -lo, não terão razão
para quest ionarem as pessoas aqui. Se não encontrarem ele, seguirão para outro lugar para cont inuarem procurando.
Ele levantou e olhou ao r edor .
— O chão é duro demais para fazermos uma cova . — e le puxou mais
para frente seu capuz para proteger os olhos da neblina enquanto procurava .
Apontou para um loca l per to da base do penhasco . — Ali. T em uma rachadura qu e
parece grande o bastante. Poder íamos colocá-lo a li dentro e cobr ir com terra e pedras .
O melhor enterro que podemos fazer nesta época do ano .
E provavelmente ma is do que ele merecia . Em breve ela o deixar ia , mas iss o não ser ia uma coisa sábia . Cobrir ele era o que ela havia p lanejado fazer antes que o
estranho surgisse. Esse ser ia um modo melhor de fazê - lo. Haveria menos chance para
que anima is o descobrissem para que soldados de passagem o encontrassem. Vendo ela t entando avaliar rapidamente as vár ias ramif icações , e
confundindo isso com relutânc ia , ele falou para tranquilizá - la . — O homem está
morto . Nada pode ser feito a respeito disso . Foi um acidente. Porque deixar que u m
acidente cause problemas? Não f izemos nada errado. Nem estávamos aqui quando
aconteceu. Eu digo para enterrarmos ele e cont inuarmos com nossas vidas, sem qu e
soldados D'Haran sejam envolvidos injustamente . Jennsen levantou. o homem podia estar cer to a respeito de soldados
encontrando um colega morto e decidindo questionar pessoas . Havia bastante razão
para preocupar -se a respeito do soldado D'Haran morto sem essa nova poss ib il idade. Ela pensou novamente no pedaço de papel que encontrou no bolso dele . Iss o
já ser ia razão suficiente, sem qualquer outra .
Se o pedaço de papel fosse o que ela pensava que podia ser , então o
interrogatór io ser ia apenas o começo da prova ção.
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— Concordo , — e la falou . — se vamos fazer isso , vamos depressa .
Ele sorr iu, ma is a liviado do que qua lquer co isa , ela pensou. Então, virando
para encará -la mais dir etamente, ele abaixou o capuz, do jeito que homens fazem por respeito a uma mulher .
Jennsen ficou chocada em ver , a inda que no máximo ele fosse apenas seis ou
sete anos ma is velho do que ela , que o cabelo cor tado dele era branco como neve . ela ficou olhando para ele com a mesma espécie de surpresa que as pessoas ao
contemplarem o cabelo vermelho dela . Sem as sombras do capuz , ela viu que os olhos
dele eram tão azuis quanto os dela , tão azuis quanto as pessoas diziam que os olhos do
pai dela foram. A combinação do cabelo branco cur to dele e aqueles olh os azuis era
arrebatadora . O modo como os dois combinavam com o rosto l iso dele era
singularmente atraente. Tudo encaixava com os traços dele de um jeito que parecia completamente cer to.
Ele levantou a mão sobre o homem morto .
— Meu nome é Sebast ian.
Ela hesitou por um momento, mas então ofer eceu a mão em resposta . Ainda
que ele fosse grande e sem dúvida for te , ele não espremeu a mão dela para provar
isso, do jeito que a lguns homens faziam. O calor incomum da mão dele a surpreendeu .
— Você vai dizer o seu nome?
— Eu sou Jennsen Daggett .
— Jennsen. — e le sorr iu mostrando prazer com o som .
Ela sentiu o rosto f icando vermelho outra vez . Ao invés de notar , ele
imediatamente concentrou-se na tarefa agarrando embaixo dos braços do soldado e aplicando um puxão. O corpo moveu-se apenas uma cur ta distância com cada puxão. O
soldado era um homem grande. Agora era um grande peso morto.
Jennsen agarrou a capa no ombro do soldado para ajudar . Sebastian moveu a mão para a capa no outro ombro e juntos eles arrastaram o peso morto, que parecia tão
per igoso para ela na morte quando ter ia parecido em vida , a través do casca lho e
trechos l isos de rocha . Ainda ofegando por causa do es forço , e antes de empurrar o soldado para
dentro da fenda que que ser ia o local f inal de de scanso dele, Sebastian virou o corpo
dele. Pela pr imeira vez Jennsen viu que ele estava com uma faca cur ta presa sobre o
ombro, sob a mochila . Não t inha visto isso antes porque ele estava deitado sobre ela . Presa no cinto de armas em volta da cintura dele , na par te baixa das costas dele ,
estava um machado de batalha com lâmina em forma de lua cr escente . O nível de
apreensão de Jennsen aumentou ao ver como o soldado estava for temente armado . Soldados comuns não carregavam tantas armas . Ou uma faca como a que ele t inha .
Sebast ian puxou as alças da mochila dos braços dele . Retirou a espada cur ta
e colocou-a ali per to. Removeu o cinto de armas e jogou sobre a espada .
— Nada tão incomum na mochila , — e le falou depo is de uma breve
inspeção . Ele colocou a mochila junto com a espada cur ta , o cinto de armas , e o
machado. Sebast ian começou a vasculhar os bolsos do cadáver . Jennsen estava prestes
a perguntar o que ele estava fazendo quando lembrou que f izera a mesma coisa . Ela
ficou ma is inquieta quando ele devolveu os outros it ens depois de pegar o dinheiro. Cons iderou que aquilo era uma coisa bastante fr ia , roubar dos mortos .
Sebast ian ofer eceu o dinheiro para ela .
— O que você está fazendo ? — e la perguntou .
— Pegue . — e le o fereceu o dinheiro novamente , com mais ins istência
dessa vez. — Quem bem ele fará dentro da terra? O dinheiro tem ut i lidade para
aliviar o sofr imento dos vivos , não dos mortos . Você acha que os bons espír itos
pedirão a ele o pr eço de uma eternidade br ilhante e agradável ?
Ele era um soldado D'Haran. Jennsen imaginava que o Guardião do Submundo ter ia algo ma is sombr io reservado para a eternidade desse homem .
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— Mas . . . isso não é meu.
Ele fez uma careta mostrando uma expressão reprovadora .
— Considere isso como uma compensação parcial por tudo que você
so freu .
Ela sent iu a carne f icar gelada . Como ele saber ia? Elas sempre foram tão cuidadosas .
— O que você quer dizer?
— Os anos que foram ret irados de sua vida pelo susto que esse suje ito
aplicou em você ho je .
Finalmente Jennsen conseguiu soltar a respiração com um suspiro
si lencioso. Precisava para r de temer o pior naquilo que as pessoas diziam.
Ela deixou Sebastian colocar as moedas na sua mão.
— Está certo , mas acho que você devia f icar com a metade por me ajudar .
— e la entregou t rês moedas de ouro .
Ele agarrou a mão dela com a outra mão e aper tou as três moedas na palma dela .
— Pegue . Agora isso é seu.
Jennsen pensou naquilo que tanto dinheiro ass im podia s ignif icar . Ela assent iu.
— Minha mãe tem uma vida difícil . Ela poder ia usá - lo. Entregar ei para
minha mãe.
— Então, espero que isso ajude vocês duas . Permita que esse seja o
últ imo ato bom desse homem ajudando você e sua mãe .
— Suas mãos estão quentes . — pela expressão nos o lhos dele , ela
imaginou que sabia o mot ivo. Não falou ma is .
Ele assent iu e confirmou a suspeita dela .
— Tenho um pouco de febre . Ela apareceu esta manhã . Quando
terminarmos esse assunto eu espero chegar até a próxima cidade e descansar algu m tempo em um quarto seco. Só preciso de um pouco de descanso para recuperar minha
força .
— A cidade fica longe demais para que você chegue ho je .
— Tem certeza? Cons igo andar bem rápido. Estou acostumado a via jar .
— Eu também, — Jennsen falou. — e levei a maior par te do dia . Só r esta m
cerca de duas horas de luz, e ainda temos que acab ar esse serviço. Nem mesmo u m
cavalo veloz o levar ia per to de uma cidade hoje .
Sebast ian soltou um suspiro.
— Bem, acho que ter ei de aceitar isso.
Ele ajoelhou outra vez e virou o soldado parcia lmente para soltar a faca . A
bainha, de f ino couro negro, estava enfeitada com prata para combinar com o cabo e decorada com o mesmo emblema enfeitado . Sobre um joelho, Sebastian ofer eceu a
faca cint i lante na bainha para ela .
— Tolice enterrar uma arma tão fina . Aqui está . Melhor do que aquele
pedaço de ferro velho que você mostrou para mim.
Jennsen levantou surpresa e confusa .
— Mas , você devia ficar com ela .
— Ficarei com as outras armas . De qua lquer modo, elas são ma is do meu
gosto. A faca é sua . Regra de Sebastian.
— Regra de Sebastian?
— Uma co isa bela pertence a uma bela .
Jennsen ficou vermelha com o elogio intenciona l . Mas essa não era uma
coisa bela . Ele não t inha ideia da coisa horr ível que isso r epresentava .
— Alguma ideia do que significa o ―R‖ no cabo?
Oh, s im, ela quer ia dizer . Ela sabia muito bem o que aquilo r epresentava .
Essa era a coisa horr ível .
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— Representa a Casa de Rahl.
— Casa de Rahl?
— Lorde Rahl, o governante de D'Hara . — e la falou explicando um
pesadelo de forma simples .
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C A P Í T U L O 3
No momento em que eles t erminaram a labor iosa tarefa de esconder o corpo do soldado D'Haran morto, os braços de Jennsen estavam fracos com a fadiga . O vento
úmido através das roupas delas parecia cor tar a té o osso . Os ouvidos, nar iz e os dedos
dela estavam dormentes .
O rosto do Sebastian estava coberto de suor . Mas finalmente o cadáver estava enterrado sob cascalho e pedras que era m
abundantes na base do penhasco. Provavelmente Anima is não conseguir iam cavar
através de todas as pedras para chegar até o corpo . Os vermes far iam um banquete sem serem incomodados .
Sebast ian t inha profer ido a lgumas pa lavras simples , pedindo ao Criador qu e
desse as boas vindas para a alma do homem na eternidade . Ele não pediu miser icórdia no ju lgamento, e Jennsen também não.
Quando acabou de espa lhar cascalho com um ga lho grosso e os pés ,
disfarçando as marcas deixadas pelo trabalho deles, ela fez um exame cr ít ico na ár ea e
ficou a liviada em ver que ninguém jama is suspeitar ia que uma pessoa jazia enterrada ali. Se soldados aparecessem eles jama is perceber iam que um do s colegas deles havia
encontrado seu f im aqui . Eles não ter iam razão para quest ionar pessoas loca is , a não
ser , ta lvez, perguntar se alguém t inha visto ele . Essa ser ia uma ment ira simples o bastante pa ra satisfazê- los e uma que ser ia
facilmente engolida .
Jennsen press ionou a mão contra a testa de Sebastian. Isso confirmou os
medos dela .
— Você está ardendo em febre .
— Agora nós acabamos . Eu posso descansar ma is facilmente , sem ter qu e
me preocupar que soldados irão me arrancar da minha cama para fazer pe rguntas na
ponta de uma espada .
Ela ficou imaginando onde ele dormir ia . A garoa estava engrossando. Ela imaginava que logo estar ia chovendo . Devido a persistência das nuvens qu e
escureciam, uma vez que aquilo iniciasse provavelmente chover ia durante a noi te toda .
A chuva fr ia ensopando ele apenas aumentar ia a febre dele . Uma chuva de inverno assim podia facilmente matar alguém que não t ivesse abr igo adequado .
Ela observou enquanto Sebastian colocava o cinto de armas em volta da
cintura . Ele não colocou o machado na par te baixa das costas do jeito como o soldado
fizera , mas ao invés disso pos icionou o mesmo no quadril dir eito . Depois de testar o fio dela e cons iderar satisfatór io , ele pr endeu a espada cur ta no lado esquerdo do
cinto. As duas armas estavam pos icionadas para estarem sempre à mão.
Quando ele t erminou de colocar sua grossa capa verde sobre tudo . Ele pareceu novamente um s imples viajante.
Ela suspeitou que ele era ma is do que isso . Ele t inha segredos . Ele os
guardava de modo casual , quase aber tamente. Ela carregava os dela de forma inquieta , e bem escondida .
Ele manuseava a espada com o t ipo de facil idade que ocorr ia apenas com
longa familiar idade. Ela sabia porque ela manuseava uma faca com graça sem esforço ,
e ta l capacidade surgiu apenas co m exper iência e prática cont ínua . Algumas mães ensinavam suas f i lhas a costurar e cozinhar . A mãe de Jennsen não pensava qu e
costurar salvar ia sua fi lha . Não que uma faca salvasse, tampouco, mas era uma
proteção melhor do que agulha e l inha . Sebast ian ergueu a mochila do homem morto e abr iu .
— Divid iremos as provisões . Você quer a mochila?
— Você devia ficar com os supr imentos e a mochila. — Jennsen falou
enquanto pegava sua linha com peixes .
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Ele concordou balançando a cabeça . Observou o céu enquanto fec hava a
mochila .
— Então, é melhor eu seguir meu caminho .
— Para onde?
As pálpebras cansadas dele p iscaram com a pergunta .
— Nenhum lugar especia l . Viajando. Acho que vou caminhar algum tempo e
então ser ia melhor t entar encontrar algum abrigo .
— A chuva está chegando. — e la disse . — Não é preciso um Pro feta
para saber disso .
Ele sorr iu. — Acho que não .
Os o lhos dele carregavam o prospecto daquilo que jazia ad iante co m
resignada ace itação. Ele passou a mão sobre os cur tos cabelos brancos molhados ,
então levantou o capuz.
— Bem, cu ide-se, Jennsen Daggett . Transmita meus agradecimentos para
sua mãe. Ela cr iou uma fi lha adorável .
Jennsen sorr iu e agradeceu as palavras dele com um s imples aceno com a
cabeça. Ela f icou encarando o vento úmido enquanto observava ele virar e começar a
caminhar pela grande extensão de cascalho . Paredes rochosas erguiam-se ao r edor , os ombros cobertos de neve delas desaparecendo dentro da tempo nublado que ocultava
montanhas e os altos picos quase inf initos .
Parecia engraçado, tão esquis ito, tão fút i l que em toda essa vasta t erra seus caminhos cruzassem tão brevemente, naquele instante do tempo, em um trágico
momento como o de uma vida terminada , e então que eles seguissem novamente para
dentro daquele esquecimento inf inito da vida . O coração de Jennsen pulsava em seus ouvidos enquanto ela escutava os
passos dele sobre o cascalho, observava os longos passos dele que o levavam para
longe. Com uma sensação de urgência , ela pensou no que dever ia fazer . Será que ela
sempre ir ia virar as costas para as pessoas? Para se esconder ? Será que ela sempre dever ia perder até mesmo os pequenos fragmentos do
que era viver a vida por causa de um cr ime que ela não cometeu ? ousar ia arr iscar?
Sabia o que a sua mãe dir ia . Mas sua mãe a amava muito, e ass im não dir ia isso por crueldade.
— Sebast ian? — e le o lhou para t rás por cima do ombro , esperando qu e
ela falasse. — Se você não t iver abr igo , pode não sobreviver para ver o amanhecer .
Eu não gostar ia de saber que você estar ia aqui fora com febre ficando todo molhado.
Ele f icou parado olhando para ela , a garoa deslizando entr e eles .
— Eu também não gostaria disso . Lembrarei das suas palavras e farei o
melhor que puder para encontrar algum abrigo .
Antes que ele pudesse virar outra vez , ela levantou a mão, apontando para a outra dir eção. Ela viu que seus dedos estavam tr emendo.
— Você podia vir para casa junto comigo.
— A sua mãe não se importaria?
A mãe dela f icar ia em pânico. Sua mãe nunca permit ir ia que um estranho ,
independente da ajuda que ele t ives se fornecido, dormisse na casa . Sua mãe não dormir ia durante toda a noite com um estranho por per to. Mas se Sebastian f icasse ao
ar livr e com febre ele poder ia morrer . A mãe de Jennsen não desejar ia isso para ess e
homem. Sua mãe t inha um bom coração. Aquela car inhosa preocupação, não ma lícia ,
era a razão para que ela fosse tão protetora com Jennsen.
— A casa é pequena , mas tem espaço na caverna em que guardamos os
anima is. Se você não se importar , poderia dormir lá . Não é tão ruim quanto parece. Eu mesma já dormi lá , em cer ta ocasião, quando a casa parecia aper tada demais . Eu far ia
uma fogueira para você per to da entrada . Você f icar ia aquecido e poder ia conseguir o
descano que precisa .
Ele pareceu relutante. Jennsen levantou sua l inha com peixes .
— Poder íamos alimentar você. — e la disse , adoçando a ofer ta . — Pelo
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menos você ter ia uma boa refeição junto com um bom descanso . Acho que você
precisa das duas coisas . Você me a judou. Va i permit ir que eu ajude você?
O sorr iso dele, um de gratidão, retornou.
— Você é uma mulher gent il , Jennsen. Se a sua mãe va i permit ir , eu
aceitar ei a sua ofer ta .
Ela abr iu a capa , ex ib indo a bela faca em sua bainha , que ela havia enf iado por trás do cinto.
— Vamos o ferecer a faca para ela . Ela vai gostar .
O sorr iso dele, caloroso e r epent inamente cheio de a legr ia , era o sorr iso
ma is agradável que Jennsen já t inha visto.
— Não acho que duas mulheres empunhado facas precisa m perder o
sono por causa de um estranho com febre .
Esse era o pensamento de Jennsen, mas ela não admit iu . Tinha esperança de
que sua mãe também enxergasse isso desse modo .
— Então está decidido . Venha antes que a chuva nos alcance.
Sebast ian trot ou para alcançá - la quando ela começou a andar . Ela pegou a mochila da mão dele e pendurou no ombro . Com a sua própr ia mochila , e suas novas
armas, ele já t inha bastante coisa para carregar em sua condição debilitada .
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C A P Í T U L O 4
— Espere aqui, — Jennsen fa lou em voz baixa . — Vou avisar para ela
que temos um convidado .
Sebast ian sentou pesadamente em uma baixa projeção de rocha que formava um conveniente assento.
— Apenas diga para ela o que fa lei , que entenderei se ela não quiser u m
estranho passando a noite na casa de vocês . Sei que esse ser ia um medo compreens ível.
Jennsen ava liou ele com um comportamento calmo e melancólico.
— Minha mãe e eu não temos razão para temer um vis itante .
Ela não estava insinuando armas comuns , e pelo tom dela ele sabia disso.
Pela pr imeira vez desde que encontrou com ele , ela viu uma centelha de incer teza nos
olhos azuis f irmes de Sebast ian, uma sombra de inquietação que não era causada pela habil idade dela com uma faca .
Um leve sorr iso surgiu nos lábios de Jennsen enquanto ela olhava para ele
avaliando que espécie de per igo obscuro ela podia representar .
— Não fique preocupado . Somente aqueles que trazem problemas ter ia m
mot ivo para temer estar aqui .
Ele levantou as mãos em um gesto de r endição .
— Então eu estou tão seguro quanto um bebê nos braços da mãe dele .
Jennsen deixou Sebastian esperando sobre a rocha enquanto su bia o caminho
sinuoso, a través do abr igo de abetos , usando raízes r etorcidas como degraus , em dir eção à casa dela construída entr e um punhado de carva lhos sobre uma pequena
protuberância no lado de uma montanha . O trecho plano de terreno gramado era , em
um dia melhor , um ensolarado local aber to entr e as enormes árvores ant igas . Havia espaço suf iciente para manter as cabras junto com a lguns patos e ga linhas . Rochas
íngremes ao fundo evitava que vis itantes surgissem sobre eles daquela dir eção .
Apenas o caminho subindo na par te dianteira permit ia uma aproximação. Caso elas fossem ameaçadas , Jennsen e sua mãe t inham construído um
conjunto de apoios para os pés bem escondido nos fundos , levando até uma passagem
estreita , e sa indo em um caminho lateral s inuoso pe las profundezas que as levar ia
através de um ravina e para longe. De cer to modo, a rota de fuga f icava quase inacess ível a não ser que você conh ecesse o curso preciso pelo labir into de paredes
rochosas , f issuras, e p lataformas estr eitas , e assim mesmo elas cer t if icaram-se de qu e
as passagens pr incipa is estavam todas bem escondidas colocando estrategicament e madeira e arbustos que elas p lantaram.
Desde que Jennsen era pequena elas mudaram com fr equência , nunca
ficando em um lugar tempo demais . Aqui, porém, onde elas sentiam-se seguras ,
ficaram por mais de dois anos . Via jantes nunca descobriram o esconder ijo nas montanhas, como a lgumas vezes acontecera em outros lugares nos qua is elas ficaram,
e o povo em Briar ton, a cidade ma is próxima , nunca aventurou-se tão longe em ta l
flor esta escura e proib ida . A raramente usada tr ilha em volta do lago , de onde o soldado t inha caído,
ficava tão próxima quanto qualquer tr i lha que chegava até eles . Jennsen e sua mã e
entraram em Br iar ton somente uma vez. Era improvável que alguém ao menos soubesse que elas estavam vivendo a li nas vastas montanhas sem tr i lhas longe de
qua lquer fazenda ou cidade. A não ser pela coincidência de encontrar com Sebastian lá
emba ixo ma is per to do lago, elas nunca viram a lguma pessoa per to da casa delas. Esse
era o local ma is seguro que ela e sua mãe já t iveram, e então Jennsen ousou começar a pensar nele como um lar .
Desde que t inha seis anos , Jennsen foi caçada . Tão cuidadosa como sua mã e
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sempre foi, vár ias vezes elas chegaram assustadoramente pe r to de ser em capturadas .
Ele não era um homem comum, aquele que a caçava ; ele não estava preso a meios
comuns de busca . Pelo que Jennsen sabia , a coruja que olhava para ela de um ga lho
alto enquanto ela subia pelo caminho rochoso poder ia ser os olhos dele observando-a. Justamente quando Jennsen chegou até a casa , encontrou sua mãe, jogando a
capa sobre os ombros quando cruzava o portal . Tinha a mesma altura de Jennsen, com
o mesmo cabelo volumoso passando dos ombros mas ele era ma is castanho do qu e vermelho. Ela ainda não t inha tr inta e cinco, e era a mulher ma is bonita que Jennsen já
t inha visto, com aparência que o próprio Criador ficar ia maravilhado em ver . E m
outras circunstâncias , a vida da mãe dela t er ia sido uma com incontáveis pr etendentes, a lguns, dispostos a ofer ecer uma for tuna por sua mão . Porém, o coração da mãe dela
era tão adorável e belo quanto seu rosto , e ela des ist ira de tudo para proteger sua
fi lha .
Quando Jennsen às vezes sent ia pena de s i mesma , por causa da coisas norma is na vida que não podia ter , ela pensava em sua mãe, que havia des ist ido de
todas aquelas mesmas coisas e mais pelo bem da sua f i lha . Sua mãe era o ma is
próximo poss ível de um espír ito guardião em carne e osso .
— Jennsen! — sua mãe correu até ela e agarrou -a pelos ombros. — Oh,
Jenn, estava começando a f icar tão preocupada . Onde você estava? Já estava sa indo
para procurar você. Pensei que você podia estar com a lgum t ipo de problema e eu estava. . .
— Eu estava , Mãe. — Jennsen declarou.
Sua mãe fez uma pausa apenas moment aneamente; então, sem ma is
perguntas, abraçou Jennsen em braços protetores . Após um dia tão assustador , Jennsen
deu boas vindas ao bálsamo do abraço de sua mãe . Fina lmente, com um braço
confor tador envolvendo os ombros de Jennsen, sua mãe conduziu -a em dir eção a por ta .
— Entre e procure ficar seca . Vejo que você fez uma boa pescar ia .
Teremos um bom jantar e você pode me contar . .. Jennsen estava arrastando os pés .
— Mãe, eu trouxe alguém comigo.
A mãe dela parou, rapidamente observando o rosto de sua fi l ha em busca de qua lquer sina l externo da natureza e profundidade do problema .
— O que você quer dizer? Com quem você estar ia?
Jennsen balançou uma das mão em dir eção ao caminho .
— E le está esperando lá embaixo . Pedi a ele para esperar . Falei para ele
que perguntar ia a você se ele poder ia dormir na caverna junto com os anima is. . .
— O quê? Ficar aqui? Jenn, o que você estava pensando? Não podemos. . .
— Mãe, por favor , escute. Algo terr ível aconteceu hoje. Sebastian. . .
— Sebastian?
Jennsen assent iu.
— O homem que eu t rouxe comigo . Sebastian me ajudou. Encontr ei um
soldado que ca iu do tr i lha, da alta tr ilha ao redor do lago .
O rosto da mãe dela f icou pálido. Ela não falou.
Jennsen soltou um suspiro procurando aca lmar -se e começou novamente.
— Encontrei um so ldado D'Haran morto no desf i ladeiro abaixo da alta
tr ilha . Não havia outras tr i lhas, eu ver if iquei . Ele era um soldado extraordinar iament e grande, e ele estava for temente armado. Machado de batalha , espada na cintura ,
espada presa sobre o ombro.
A mãe dela inclinou a cabeça com uma expressão de r eprovação .
— O que você não está me dizendo , Jenn?
Jennsen quer ia guardar aquilo até que explicasse Sebastian, pr imeiro, mas
sua mãe podia ler nos olhos dela , ouvir em sua voz. A terr ível ameaça daquele pedaço
de papel com as duas palavras nele parecia estar quase gr itando sua presença do bols o dela .
— Mãe, por favor , permita que eu conte do meu jeito?
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A mãe dela colocou uma das mão no lado do rosto de Jennsen.
— Então conte . Do seu jeito, se você precisa .
— Eu estava revistando o so ldado , procurando qua lquer coisa importante .
E encontr ei uma coisa . Mas então, esse homem, um via jante, apareceu per to de mim.
Sinto muito, Mãe, eu estava assustada porque o soldado estava ali e com aquilo que
encontr ei e não estava prestando atenção como devia . Sei que agi tolamente. A mãe dela sorr iu .
— Não, quer ida , todos sofr emos des lizes . Nenhum de nós consegue ser
perfeito. Às vezes, todos nós cometemos erros . Isso não transforma você em uma tola .
Não diga isso de s i mesma .
— Bem, eu me sent i tola quando ele fa lou alguma co isa e eu virei e l á
estava ele . Porém, eu estava com a minha faca na mão . — a mãe dela estava
assent indo com um sorr iso de aprovação. — Então ele viu que o homem t inha caído
para a morte . Ele, Sebastian, esse é o nome dele, ele disse que se nós simplesmente
deixássemos ele a li , então, provavelmente, outros soldados o encontrar iam e
começariam a interrogar todos nós e ta lvez nos acusar pela morte do colega deles .
— Esse homem, Sebastian, parece saber do que está falando.
— Eu também pensei assim. Eu estava com a intenção de cobr ir o soldado
morto, para tentar escondê- lo, mas ele era gr ande, eu jama is conseguir ia arrastá -lo até
uma fenda sozinha . Sebast ian ofer eceu a juda para enterrar o corpo. Juntos nós
conseguimos arrastá -lo e jogá -lo dentro de uma fenda profunda na rocha . Cobr imos ele muito bem. Sebast ian colocou algumas pedras pesadas sobre a t erra que eu joguei lá
dentro. Ninguém vai encontrar ele.
A mãe dela parecia mais aliviada .
— Isso fo i inteligente.
— Antes de enterrarmos ele , Sebast ian achou que dever íamos pegar
qua lquer coisa de va lor , ao invés de deixar tudo emba ixo da terra .
Ela levantou uma sobrancelha . — Ele fez isso?
Jennsen assentiu. Tirou o dinheiro do bolso, o bolso que não estava com o pedaço de papel nele .
Colocou todo o dinheiro na mão da mãe dela .
— Sebast ian ins ist iu que eu f icasse com tudo. Tem moedas de ouro. Ele não
quer ia nenhuma.
A mãe dela observou a for tuna em sua mão , então olhou rapidamente para a
tr ilha onde Sebastian esperava. Inclinou o corpo chegando ma is per to .
— Jenn, se ele veio com você, então talvez ele pense que poder ia pegar o
dinheiro de volta a qualquer momento que desejar .
Isso dar ia a ele a oportunidade de parecer generoso e ganhar sua confiança, e a inda esta r ia per to o bastante de f icar com o dinheiro no fina l quando ele quiser .
— Eu também pensei nisso .
O tom da mãe dela suavizou com s impat ia .
— Jenn, não é culpa sua, eu a mant i ve tão protegida, mas você
simplesmente não sabe como os homens podem ser . Jennsen desviou o olhar dos olhos da mãe.
— Suponho que isso poder ia ser verdade , mas acho que não.
— E porque não?
Jennsen olhou para trás, mais sér ia , dessa vez.
— E le tem febre , Mãe. Não está bem. Estava par tindo, sem pedir para vir
comigo. Ele disse adeus. Tão cansado e febr il como ele está , t ive medo que ele
morresse lá fora na chuva esta noite . Eu o impedi, falei que se est ivesse tudo bem para
você ele poder ia dormir na caverna junto com os anima is onde pelo menos ele poder ia ficar seco e aquecido.
Após um momento de s ilêncio, Jennsen adicionou.
— E le falou que se você não quiser um estranho perto , ele entenderá e
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seguirá seu caminho.
— E le falou? Bem, Jenn, ou este homem é muito honesto, ou muito esper to.
— ela f ixou um olhar atento em Jennsen.
— O que você acha , humm?
Jennsen torceu os dedos .
— Não sei , Mãe. Honestamente eu não sei . Eu pensei as mesmas coisas que
você, rea lmente pensei .
Então ela lembrou. — E le disse querer que você ficasse com isso , para
não ter que sentir medo que um estranho dormisse nas proximidades .
Jennsen t ir ou a faca em sua bainha do cinto e ofer eceu para sua mãe . O cabo de prata cint ilou na fraca luz amarela que vinha da pequena janela atrás da mãe dela .
Olhando surpresa , a mãe dela lentamente ergueu a arma nas duas mãos
enquanto sussurrava.
— Quer idos espír itos . . .
— Eu sei, — Jennsen disse. — eu quase gr ite i assustada quando vi isso .
Sebast ian disse que essa era uma bela arma , bela demais para enterrar , e que ele quer ia que eu f icasse com ela . Ele f icou com a espada cur t a e o machado do soldado.
Falei para ele que dar ia isso a você. Ele disse que esperava que isso ajudasse você a
sentir -se segura . A mãe dela balançou a cabeça lentamente .
— Isso não faz com que eu me sint a segura de je ito nenhu m, sabendo
que um carregava isso tão perto de nós . Jenn, eu não gostei disso nem um pouco.
Nem um pouco.
Os olhos da mãe dela mostravam que ela estava concentrada em preocupações ma iores do que o homem que ela trouxe .
— Mãe, Sebastian está doente. Ele pode f ica r na caverna ? Eu f iz ele pensar
que tem ma is a temer de nós do que nós dele. A mãe dela levantou os olhos com um leve sorr iso .
— Boa garota .
As duas sabiam que para sobreviverem precisavam trabalhar como uma equipe, com papéis bem tr einados que elas usavam sem a necess idade d e discussão
formal.
Então, ela soltou um suspiro, como se est ivesse sent indo o fardo de saber todas as coisas que sua f i lha estava perdendo na vida . Ela passou uma das mãos
suavemente pelo cabelo de Jennsen, deixando ela pousar no ombro dela .
— Está certo , quer ida , — ela disse f ina lmente. — deixaremos ele passar
a no ite .
— E alimentá- lo . Eu disse que ele r eceber ia uma refeição quente por t er me
ajudado.
O sorr iso caloroso da mãe dela aumentou .
— Então, uma refeição quente também .
Tirou a lâmina de sua bainha, f ina lmente. Fez uma avaliação cr ít ica dela ,
girando-a para um lado e para o outro, inspecionando suas formas . Testou o f io, e
então o peso. Girou-a entr e os dedos f inos dela para ver ificar a sensação , o equil íbr io. Finalmente a manteve sobre a pal ma aber ta , contemplando a letra ―R‖
enfeitada . Jennsen não conseguia imaginar que pensamentos terr íveis e lembranças
deviam estar passando na mente de sua mãe enquanto ela contemplava si lenciosament e o emblema que r epresentava a Casa de Rahl.
— Quer idos espír itos. — a mãe dela sussurrou para si mesma novamente.
Jennsen não falou nada . Entendia inteiramente. Essa era uma horr ível coisa ma ligna .
— Mãe, — Jennsen sussurrou quando sua mãe t inha olhado para o cabo
durante uma eternidade. — está quase escuro . Posso ir buscar Sebastian e levá - lo
para a caverna?
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A mãe dela enfiou a lâmina dentro de sua bainha , procurando afastar um
panorama de memór ias dolorosas .
— S im, imagino que ser ia melhor você buscar ele . Leve ele para a caverna .
Faça um fogueira para ele. Vou preparar um pouco de peixe e vou trazer algumas
ervas para ajudá- lo a dormir com sua febre . Espere lá junto com ele até eu voltar .
Fique de olho nele. Comeremos lá , junto com ele. Não quero ele dentro da casa . Jennsen assentiu. Ela tocou no braço da mãe dela , fazendo ela para antes
que pudesse entrar na casa . Jennsen t inha ma is uma coisa para dizer . Ela rea lment e
gostar ia de não ter que fa lar . Não quer ia causar essa preocupação para sua mãe , mas
t inha que falar .
— Mãe, — ela falou com uma voz pouco ma is alta que um sussurro. —
precisaremos ir embora desse lugar .
Sua mãe pareceu assustada .
— Encontrei uma co isa no so ldado D'Haran.
Jennsen t ir ou o pedaço de papel do bolso, desdobrou, e mostrou em sua
palma aber ta .
O olhar de sua mãe avistou as duas palavras no papel .
— Quer idos espír itos . . . — foi tudo que ela disse, foi tudo que ela
conseguiu dizer .
Ela virou e olhou para a casa , contemplando tudo, seus olhos repent inamente cheios de lágr imas . Jennsen sabia que sua mãe também passara a
cons iderá-la como um lar .
— Quer idos espír itos, — a mãe dela sussurrou novamente , por causa da
perda de ma is coisas .
Jennsen pensou que o peso daquilo poder ia superá -la , e que sua mãe podia
explodir em lágr imas . Foi o que Jennsen teve vontade de fazer . Nenhuma delas fez isso.
Sua mãe esfr egou um dedo emba ixo de cada olho quando olhou de volta para
Jennsen. E então ela realmente chorou, engolindo em gemido de impotência . — S into
muito , quer ida .
Partia o coração de Jennsen ver sua mãe em tal angúst ia . Tudo que Jennsen
t inha perdido na vida , sua mãe t inha perdido duas vezes . Uma por s i mesma , e outra por sua fi lha . Acima de tudo, sua mãe precisava ser for te.
— Part iremos ao amanhecer , — a mãe de la falou em um
pronunciamento simples . — via jar durante a no ite , e na chuva, só nos fará mal.
Teremos que encontrar um novo lugar para nos escondermos . Ele está chagando per to
demais desse aqui. Os próprios olhos de Jennsen estavam cheios de lágr imas e sua voz sa iu com
grande dif icu ldade.
— S into muito , mamãe, que eu seja tanto problema.
Suas lágr imas flu íam em uma do lorosa torrente . Ela esmagou o pedaço
de papel quando sua mão fechou com força .
— S into muito , mamãe. Gostar ia que você pudesse f icar livr e de mim.
Então sua mãe abraçou-a, emba lando a cabeça de Jennsen contra um ombro
enquanto ela chorava .
— Não, não, quer ida . Nunca diga isso. Você é minha luz, minha vida . Esse
problema é causado por outros . Nunca use uma capa de culpa porque eles são
ma lignos. Você é minha vida maravilhosa . Eu entr egar ia tudo ma is mil vezes por você e então ma is uma vez e f icar ia alegre em fazer isso.
Jennsen estava feliz porque nunca ter ia cr ianças , pois sabia que não t inha a
força de sua mãe. Dedicava sua vida para a única pessoa no mundo que era u m confor to para ela .
Mas então ela afastou-se do abraço de sua mãe.
— Mamãe, Sebast ian é de longe. Ele disse. Falou que é de fora de D'Hara.
Tem outros lugares, outras terras . Ele sabe sobre elas . Isso não é maravilhoso? Exist e
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um lugar que não é D'Hara.
— Mas esses lugares além de barre iras e fronte iras que não podem ser
cruzadas .
— Então como ele pode estar aqui? Deve ser poss ível, caso contrár io ele
não poder ia t er viajado até aqui .
— E Sebastian é de uma dessas outras terras?
— Ao sul, ele diss .
— Sul? Não vejo como isso ser ia poss ível . Tem cer teza que foi isso que ele
disse?
— S im. — Jennsen adicionou um f irme balanço de cabeça confirmando . —
E le disse ao sul. Mencionou isso apenas casualmente. Não tenho cer teza de como iss o
é poss ível, mas e se for? Mãe, ta lvez ele pudesse nos guiar até lá . Talvez, se nós
pedíssemos, ele nos guiasse para fora dessa terra de pesadelo .
Tão equil ibrada quanto sua mãe era , Jennsen podia ver que ela estava
cons iderando essa ideia louca . Não era louca, sua mãe estava cons iderando nela , então não podia ser louca . De r epente Jennsen estava cheia de uma sensação de esperança de
que ta lvez ela pudesse ter aparecido com a lgo que as salvar ia .
— Porque ele far ia isso por nós?
— Não sei . Não sem nem se ele pensar ia nisso, ou o que ele pedir ia em
troca. Não perguntei a ele. Não ousei ao menos mencionar isso até conversar com você pr imeiro. Em par te é por isso que eu quer ia que ele f icasse aqui para que você pudess e
fazer perguntas para ele. Temi perder essa chance de descobrir se isso r ealmente é
poss ível.
A mãe dela olhou ao r edor para a casa novamente. Era pequena , apenas u m quarto, e não era nada bonita , construída com toras e madeira que elas mesmas
cor taram, mas era quente, confor tável e seca . Era assustador imaginar sair no meio do
inverno. A alternativa de ser em captu radas, porém, era muito pior . Jennsen sabia o que acontecer ia se elas fossem capturadas . A morte não
chegaria rapidamente . Se fossem capturadas , a morte chegar ia apenas depois de uma
tor tura quase inf inita . Finalmente, sua mãe r ecuperou a compostura e fa lou.
— Esse é um bom pensamento , Jenn. Não sei se alguma coisa pode surgir
de uma ideia assim, mas fa laremos com Sebastian e veremos. De uma coisa eu tenho cer teza . Temos que par tir . Não podemos ousar esperar até a pr imavera, não se eles
estiverem tão per to assim. Par tiremos ao amanhecer .
— Mãe, para onde ir emos , dessa vez, se Sebastian não nos levar para longe
de D'Hara?
A mãe dela sorr iu .
— Quer ida , o mundo é um lugar bem grande. Somos apenas duas pequenas
pessoas. Simplesmente vamos desaparecer outra vez . Sei que isso é dif íci l , mas
estamos juntas . Tudo ficará bem. Teremos novas vistas , não é mesmo? Um pouco ma is
do mundo.
— Agora , vá buscar Sebastian e leve ele para a caverna . Vou começar a
preparar o jantar . Todos nós pr ecisamos de uma boa refeição . Jennsen beijou a bochecha da sua mãe rapidamente antes de correr pela
tr ilha . A chuva estava começando, e estava ficando tão escuro entr e as árvores que ela
ma l conseguia enxergar . Para ela todas as árvores eram enormes soldados D'Haran,
largos, poderosos, cruéis . Ela sabia que ter ia pesadelos depois de ver um verdadeiro soldado D'Haran de per to.
Sebast ian ainda estava sentado sobre a pedra , esperando. Ele levantou
quando ela aproximou -se dele.
— Minha mãe disse que está tudo bem você dormir na caverna com os
animais . Ela está começando a prepara o peixe para nós . Ela quer falar com você.
Ele parecia cansado demais para estar feliz , mas conseguiu mostrar um lev e
sorr iso. Jennsen agarrou o pulso dele e fez s inal para que ele a seguisse . Ele já estava
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tremendo. Entr etanto, seu braço estava quente. A febre era assim, ela sabia . Você
tremia mesmo que est ivesse ardendo. Mas com um pouco de comida, ervas e uma boa
noite de descanso, t inha cer teza que logo ele estar ia bem.
O que ele não t inha cer teza era se ele as ajudar ia .
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C A P Í T U L O 5
Betty, a cabra marrom delas , observava atentamente do curral dela , ocasiona lmente vociferando seu desgosto em comparti lhar o lar dela , enquanto
Jennsen rapidamente juntava palha em um canto para o estranho no santuár io de Betty.
Balindo sua inquietação, Betty f inalmente s i lenciou quando Jennsen coçou as or elhas
da cabra nervosa car inhosamente, deu tapinhas no pelo que cobria sua barr iga , e então deu a ela metade de uma cenoura da caixa que f icava sobre uma prateleira alt a . A
cauda cur ta levantada de Betty balançou fur iosamente.
Sebast ian t irou a capa e a mochila , mas manteve o cinto com suas novas armas. Tirou o pequeno colchão que estava preso emba ixo da sua mochila e abr iu ele
sobre a palha . Independente do encorajamen to de Jennsen, ele não deitar ia e
descansar ia enquanto ela ajoelhava per to da entrada da caverna e pr eparava o buraco para a fogueira .
Enquanto ele ajudava a empilhar gravetos secos , ela conseguiu ver na fraca
luz que vinha da janela da casa do outro lado da clareira que suor cobria o rosto dele .
Ele es fr egou sua faca r epet idamente em um ga lho , rapidamente juntando u m amontoado de f ibras . Ele golpeou um metal contra a pederneira diversas vezes ,
lançando fagulhas através da escur idão dent ro do monte que t in ha feito. Protegeu o
monte com as mãos e com sopros suaves est imulou as chamas lentas até elas ganharem força , então colocou a substância em chamas sob os gravetos , onde as chamas
cresceram rapidamente e ganharam vida entr e os ramos secos. Os gravetos l iberavam
uma agradável fragrância de bá lsamo enquanto pegavam fogo .
Jennsen est ivera planejando correr até a casa , não muito longe, para buscar algumas brasas e iniciar o fogo, mas ele r esolveu aquilo antes mesmo que ela pudess e
suger ir . Pelo modo como ele t remia , ela imaginou que ele estava impaciente para ter
calor , a inda que est ivesse ardendo em febre. Ela podia sent ir o aroma do peix e fr itando que vinha da casa , e quando o vento entr e os galhos dos p inheiros r eduzia de
vez em quando, ela podia ouvir o chiado.
As galinhas afastaram-se da luz crescente para dentro das sombras no fundo da caverna . As orelhas de Betty f icavam em pé, a tentas enquanto ela observava
Jennsen em busca de quaisquer s inais de que outra cenoura pudesse estar chegando . A
cauda dela ba lançava com esperança .
A aber tura na montanha era s implesmente um lugar onde , em a lguma época passada distante, uma p laca de rocha havia caído, como a lgum dente de granito
gigante solto, mergulhando na ladeira e deixando uma aber tura seca para trás . Agora ,
árvores abaixo cr esciam entr e uma coleção de rochas caídas assim . A caverna t inha apenas cer ca de vinte pés de profundidade, mas a saliência de rocha acima na entrada
fornecia ma ior abr igo para ela e ajudava a mantê - la seca . Jennsen era alta , mas o tet o
da caverna era alto o bastante para que ela pudesse f icar em pé na maior par te dela , e uma vez que Sebast ian era apenas um pouco ma ior do que ela , as pontas do cabelo
branco de neve dele, agora levemente alaranjados na luz do fogo , não tocavam o teto
quando ele foi a té o fundo para buscar um pouco da madeira seca empilhada lá . As
galinhas cacarejaram ao ser em incomodadas , mas rapidamente f icaram quietas novamente.
Jennsen agachou do outro lado da fogueira em r elação a Sebastian, com as
costas para a chuva que havia começado, en tão ela podia ver o rosto dele na luz do fogo enquanto os dois aqueciam as mãos no calor das chamas cr epitantes .
Após um dia no fr io t empo úmido, o calor do fogo parecia luxurioso. Ela
sabia que ma is cedo ou ma is tarde o inverno r eto rnar ia com uma vingança . Fr io e
desconfor tável como est ivesse agora , ficar ia pior . Ela t entou não pensar em ter que abandonar sua casa confor tável ,
especia lmente nessa época do ano. Porém, ela soube desde o pr imeiro instante em qu e
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viu o pedaço de papel , que elas precisavam fazer isso.
— Você está com fome? — ela perguntou.
— Faminto . — e le disse , par ecendo tão ans ioso pelo peixe quanto Betty
estava pela cenoura . Os aromas maravilhosos estavam fazendo o estômago dela roncar
também.
— Isso é bom. Minha mãe sempre diz que se você está doente , e t em
apet it e, então não pode ser tão sér io.
— Ficarei bem em um dia ou dois .
— Um descanso fará bem a você .
Jennsen sacou a faca da bainha no cinto .
— Nunca permit imos que alguém ficasse aqui . Você entenderá que
tomaremos precauções .
Ela conseguiu ver nos olhos dele que ele não sabia do que ela estava falando, mas ele ba lançou os ombros mostrando que entendia a prudência dela .
A faca de Jennsen não era nada parecida com a f ina arma que o soldado
carregava . Elas não podiam bancar nada parecido com aquela faca . A dela t inha u m cabo s imples feita de chifr e e a lâmina não era grossa , mas ela mant inha sei f io bem
amolado.
Jennsen usou a faca para fazer um corte superficial na par te interna do
antebraço. Fazendo uma careta , Sebastian começou a levantar , para protestar . O olhar desafiador dela fez ele parar antes de levantar . Ele sentou novamente e observou com
crescente pr eocupação enquanto ela es fregava os lados da lâmina nas gotas vermelhas
de sangue que escorr iam do c or te. Ela olhou nos olhos dele deliberadamente outra vez antes de virar as costas para ele e aproximar-se da entrada da caverna onde a chuva
umedecia o chão.
Com a faca molhada com sangue, pr imeiro Jennsen desenhou um grande círculo. Sentindo os olhos de Sebastian nela , em seguida esfr egou a ponta da lâmina
ensanguentada através da terra úmida em linhas r etas para desenhar um quadrado , seus
cantos tocando a par te interna do círculo . Quase sem pausa , ela desenhou um círculo
menor que tocava as par tes internas do quadrado. Enquanto ela trabalhava , murmurou orações , pedindo aos bons espír itos para
guiar a sua mão. Parecia a coisa cer ta a fazer . Ela sabia que Sebastian podia ouvir o
canto suave dela , mas não dist inguia as palavras . Inesperadamente ocorreu a ela qu e isso devia ser alguma coisa parecida com as vozes que ela ouvia em sua própr ia
cabeça.
Às vezes, quando ela desenhava o círculo externo , ouvia o sussurro daquela
voz morta chamar o seu nome. Abr indo seus olhos depois da oração, ela desenhou uma estre la de oito
pontas, seus raios perfurando todo o caminho através do círculo inter ior , do quadrado,
e então o círculo exter ior . Cada outro raio cor tava ao meio um canto do quadrado . Diziam que os raios r epresentavam o Dom do Criador , então ao desenhar a
estrela de oito pontas , Jennsen sempre sussurrava uma oração de agradecimento po r
sua mãe. Quando ela t erminou e levantou os olhos , sua mãe estava parada diante dela ,
como se houvesse surgido das sombras , ou mater ializado-se da borda do própr io
desenho, para ser i luminada pelas chamas crepitantes da fogueira atrás de Jennsen. Na
luz daquelas chamas , sua mãe era como uma visão de algum espír ito impossivelment e belo.
— Você sabe o que esse desenho representa , meu jovem? — a mãe de Jennsen perguntou com uma voz pouco ma is alta que um sussurro.
Sebast ian f icou olhando para ela , do jei to que as pessoas geralmente
olhavam quando avistavam ela pela pr imeira vez , e balançou a cabeça .
— Isso é chamado Graça . Elas são desenhadas por pessoas com o Dom da
magia durante milhares de anos, a lguns dizem que desde o início da própria Criação .
O círculo externo r epresenta o início da eternidade do Submundo , o mundo dos mortos
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do Guardião. O círculo interno é a extensão do mundo dos vivos . O quadrado
representa o véu que separ a os dois mundos, a vida da morte. Ele toca ambos algumas
vezes. A estrela é a luz do Dom que vem do Criador , magia, espa lhando -se através da
vida e cruzando para dentro do mundo da morte . O fogo estalava e chiava enquanto a mãe de Jennsen, como a lguma f igura
espectral, agigantava-se sobre os dois .
Sebast ian não falou. A mãe dela t inha falado a verdade, mas era verdade usada para transmitir uma impressão específ ica que não era verdade .
— Minha filha desenhou essa Graça como uma proteção para você
enquanto você descansa esta no ite , e como uma proteção para nós . T em outra diant e
da porta da casa . — e la deixou o silêncio arrastar -se antes de adic ionar. — Não
ser ia uma co isa sábia cruzar qualquer uma delas sem o nosso consent imento .
— Entendo , Senhora Daggett . — na luz do fogo , o rosto dele não exib iu
emoção. Seus olhos azuis desviaram para Jennsen. O esboço de um sorr iso surgiu nos
lábios dele, embora sua expressão cont inuasse sér ia .
— Você é uma mulher surpreendente , Jennsen Daggett . Uma mulher de
muitos mistér ios . Dormirei em segurança, esta noite.
— E bem. — a mãe de Jennsen falou. — Além do jantar , eu trouxe
algumas ervas para ajudá - lo a dormir .
A mãe dela , segurando a t igela cheia de peixe fr ito em uma das mãos ,
segurou Jennsen com uma das mãos no ombro dela e conduziu-a dando a volta na fogueira para sentar ao lado dela , do lado oposto a Sebastian.
Pela aparência do rosto dele, a demonstração delas t eve o efeito desejado .
A mãe dela olhou para Jennsen e lançou para ela um sorr iso que Sebastian
não conseguiu ver . Jennsen t inha feito bem. Esticando o braço com a t igela , sua mãe ofer eceu um pouco de peixe para
Sebast ian, dizendo.
— Eu gostar ia de agradecer , meu jovem, pela a juda que deu para Jennsen,
hoje.
— Sebastian, por favor .
— Assim Jennsen fa lou.
— Eu fiquei feliz em ajudar . Na verdade, também estava ajudando a mi m
mesmo. Não gostar ia de ter soldados D'Haran me perseguindo.
Ela apontou.
— Se você aceitar , esse que está no topo está cober to com as ervas qu e
ajudarão você a dormir .
Ele usou sua faca para espetar o pedaço de peixe ma is escuro coberto com as
ervas. Jennsen pegou outro pedaço com a faca dela depois de pr imeiro l impar a lâmina na saia .
— Jennsen fa lou que você e de fora de D'Hara.
Ele levantou os olhos enquanto mastigava . — Isso mesmo .
— Acho isso difíc il de acred itar . D'Hara está cercada por barreiras
intransponíveis . Em toda minha vida ninguém conseguiu entrar , ou sair de D'Hara. Então como é poss ível que você tenha feito isso ?
Com seus dentes , Sebastian arrancou um pedaço do p eixe com ervas de sua
faca . Ele inalou entr e os dentes para esfr ia r o pedaço . Fez um movimento giratór io com a lâmina enquanto mast igava.
— Quanto tempo vocês est iveram sozinhas aqui nesta grande floresta?
Sem ver pessoas? Sem not ícias?
— Vár ios anos .
— Hum. Bem, então, acho que faz sent ido que vocês não saibam, mas
desde que vocês est iveram aqui , as barreiras caíram.
Jennsen e sua mãe r eceberam essa not ícia incr ível , quase incompreens ível,
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em s ilêncio. Naquele s i lêncio, as duas ousaram começar a imagina r as poss ib il idades .
Pela pr imeira vez na vida de Jennsen, escapar parecia concebível . O sonho imposs ível
de uma vida para elas repent inamente pareceu apenas a uma jornada de distância . Elas
estiveram via jando e se escondendo durante toda sua vida . Agora parecia que a jornada poder ia f inalmente estar próxima de um f im.
— Sebastian, — a mãe de Jennsen falou. — porque você ajudou Jennsen
hoje?
— Gosto de ajudar pessoas . Ela pr ecisava de a juda . Eu pude perceber o
quanto aquele homem assustou ela , mesmo que est ivesse morto. — e le sorr iu para
Jennsen. — E la parec ia muito bem . Quis ajudá-la . Além disso, — e le finalmente
admit iu. — não me importo muito com so ldados D'Haran.
Quando ela gest icu lou apontando a t igela para ele , ele espetou outro pedaço
de peixe.
— Sra. Daggett , estou pronto para dormir em breve. Porque s implesmente
não diz o que tem em mente?
— Nós somos caçadas por so ldados D'Haran.
— Por quê?
— Essa é uma história para outra no ite . Dependendo do desenrolar dessa
noite, você ainda poderá ouvir ela , mas por enquanto tudo o que r ealmente importa é
que nós somos caçadas, Jennsen ma is do que eu. Se os soldados D'Haran nos
capturarem, ela será assassinada . A mãe dela fez isso parecer simples . Ele não deixar ia a coisa ser tão
simples. Isso ser ia muito ma is horr ível do que qualquer mero assassinato . A mort e
ser ia um prêmio ganho apenas depois de agonia inconcebível e súplicas inf initas . Sebast ian olhou para Jennsen.
— Eu não gostaria disso .
— Então nós três pensamos da mesma forma. — a mãe dela murmurou .
— É por isso que vocês duas são boas amigas dessas facas que de ixam
sempre ao alcance. — e le disse .
— É por isso. — a mãe dela confirmou .
— Então , — fa lou Sebast ian. — vocês temem que so ldados D'Haran as
encontr em. Soldados D'Haran não são exatament e uma rar idade. Aquele soldado de
hoje assustou bastante vocês . O que faz vocês duas temerem tanto esse soldado ?
Jennsen adicionou uma um ga lho grosso na fogueira , contente por deixar que sua mãe falasse. Betty baliu pedindo uma cenoura , ou pelo menos atenção. As galinhas
reclamaram por causa do barulho e da luz .
— Jennsen, — a mãe dela falou. — mostre para Sebastian o pedaço de
papel que você encontrou no soldado D'Haran.
Pega de surpresa , Jennsen esperou até que os olhos da mãe dela desviaram
em sua dir eção. Elas trocaram um olhar que disse a Jennsen que sua mãe estava determinada a correr esse r isco, e se ela tentar ia , então elas t inham que contar ao
menos uma par te.
Jennsen t irou o pedaço de papel amassado do bolso e entregou passando por
sua mãe até Sebast ian. — Encontrei isso no bo lso daquele so ldado D'Haran. — ela
engoliu em seco com a lembrança de ver uma pessoa morta .
— Pouco antes de você aparecer .
Sebast ian abr iu o papel amassado, al isando ele entr e um dedão e o indicador
enquanto ele lançava um olhar desconfiado para as duas . Virou o papel em dir eção a luz do fogo para ver as duas palavras .
— Jennsen Lindie. — e le disse , lendo o pedaço de papel . — Não entendi .
Quem é Jennsen Lindie?
— Eu. — Jennsen falou. — Pelo menos eu fui durante algum te mpo .
— Durante algum tempo ? Não entendo.
— Esse era o meu nome , — Jennsen falou . — pelo menos, o nome que
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eu usei, faz alguns anos , quando morávamos longe ao norte . Nos mudamos com
frequência , para evitar sermos capturadas . Mudamos nossos nomes toda vez para
tornar mais dif ícil seguir em nosso rastro .
— Então . .. Daggett também não é um nome verdadeiro?
— Não.
— Bem, então qual é o seu nome verdadeiro ?
— Isso também é parte da história para outra no ite . — o tom da mãe
dela disse que ela não quer ia fala r sobre isso .
— O que importa é que o soldado de hoje t inha aquele nome . Isso só
pode s ignif icar o pior .
— Mas você disse que esse é um nome que você não usa mais . Você usa
um nome difer ente, aqui : Daggett . Ninguém conhece você por aquele nome, Lindie.
A mãe dela inclinou em dir eção a Sebastian. Jennsen sabia que sua mãe
estava mostrando para ele um olhar que ele achar ia desconfor tável . Sua mãe t inha u m
jeito de fazer as pessoas f icarem nervosas quando olhava para elas com aquele olhar atento, penetrante.
— Pode não ser mais o nosso nome , um nome que usamos apenas bem
longe ao norte, mas ele t inha aquele nome escr ito , e ele estava aqui, a meras milhas de onde estamos agora . Isso s ignif ica que de algum jeito ele conectou aquele nome
conosco, com duas mulheres em a lgum lugar nesse lugar remoto . De algum modo, ele
fez uma ligação, ou, mais pr ecisamente, o homem que nos caça fez a ligação, e enviou ele atrás de nós . Agora , eles procuram por nós aqui .
Sebast ian quebrou o olhar dela e soltou um suspiro .
— Entendo o que você quer dizer . — e le vo ltou a comer o pedaço de
peixe espetado na ponta da faca .
— Aquele so ldado morto teria outros junto com ele , — d isse a mãe
dela . — enterrando ele , vocês ganharam tempo para nós . Eles não saberão o qu e
aconteceu com ele. Nós temos essa sor te. Ainda estamos a lguns passos na fr ente deles . Devemos usar nossa vantagem para fugirmos aper tem o laço . T eremos que par tir ao
amanhecer .
— Tem certeza? — e le gest iculou ao redor com sua faca . — Vocês
possuem uma vida aqu i. Suas vidas estão r emotas , escondidas, eu jamais t er ia
encontrado vocês se não t ivesse visto Jennsen com aquele soldado morto. Como eles
poder iam encontrar vocês ? Vocês tem uma casa, um bom lugar .
— Vida é a palavra que importa em tudo que voc ê disse . Conheço o
homem que nos caça . Ele tem milhares de anos de herança sangrenta como guia ao nos caçar . Ele não descansará . Se ficarmos, ma is cedo ou ma is tarde ele nos encontrará
aqui. Devemos escapar enquanto podemos.
Ela t ir ou do cinto a bela faca do soldado mor to que Jennsen trouxe para ela .
Ainda na bainha , girou-a nos dedos, apresentando-a, com o cabo voltado para Sebast ian.
— Essa let ra ―R‖ no cabo r epresenta a Casa dos Rahl. Nosso caçador . Ele
só dar ia uma arma tão boa assim de presente para um soldado muito especial . Não
quero uma arma que foi dada de presente por aquele homem maligno .
Sebast ian olhou para a faca ofer ecida , mas não pegou-a. Ele lançou um olhar
para as duas que inesperadamente congelou Jennsen até os ossos . Foi um olhar qu e ardia com poderosa determinação.
— De onde eu venho , nós acreditamos em usar aquilo que está ma is per to
de um inimigo, ou que vem dele, como uma arma contra ele.
Jennsen nunca t inha ouvido a lgo assim. A mãe dela não se moveu . A faca
ainda jazia na mão dela .
— Eu não.. .
— Você esco lhe usar aquilo que inadvert idamente ele deu a você , e
virar isso contra ele? Ou ao invés disso escolhe ser uma vít ima ?
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— O que você quer dizer?
— Porque você não mata ele ?
Jennsen f icou de boca aber ta . Sua mãe pareceu menos surpresa .
— Não podemos, — e la ins ist iu . — e le é um homem poderoso . É
protegido por incontáveis pessoas , de s imples soldados, soldados de grande habil idade em matar , como aquele que você enterrou hoje, a té pessoas com o Dom que podem
usar magia . Somos apenas duas mulheres simples .
Sebastian não foi convencido pela declaração dela .
— E le não vai parar até matar vocês . — e le levantou o pedaço de
papel, observando os olhos dela sobre ele. — Isso prova . Ele nunca va i parar . Porqu e
não mata ele antes que ele mate você, mate sua filha ? Ou prefer em ser cadáveres qu e
ele ainda va i coletar ?
A voz da mãe dela aqueceu .
— E como você sugere que matemos Lorde Rahl?
Sebast ian espetou outro pedaço de peixe.
— Para começar , dever ia ficar com a faca . É uma arma super ior comparada
com aquela que você carrega . Use o que é dele para combatê- lo. A sua objeção
sentimentalista em f icar com ela serve apenas a ele , não a você, ou Jennsen.
A mãe dela f icou senta da imóvel como pedra . Jennsen nunca t inha ouvido alguém falar desse jei to. As palavras dele t inham uma maneira de fazer com que ela
enxergasse as coisas de modo difer ente da que sempre enxergara .
— Devo admit ir que aquilo que você diz faz sent ido . — a mãe dela
disse . Sua voz saiu suavemente e carregada de dor , ou talvez arrependimento. —
Você abr iu meus o lhos . Um pouco, pelo menos . Não concordo com você que
dever íamos tentar matá - lo, pois eu conheço ele muito bem. Na melhor hipótese uma
tentat iva assim ser ia s implesmente su icídio , ou r ea lizar o objet ivo dele, na pior . Mas
eu guardarei a faca e usarei e la para defender a mim mesma e minha f i lha . Obrigada , Sebast ian, por dizer algo sensato quando eu não quer ia ouvir .
— Fico feliz que você aceit e a faca , pelo menos. — Sebastian arrancou
com uma mordida um pedaço de peixe da faca dele. — Espero que ela possa ajudá-
la . — com a parte de t rás da mão , enxugou o suor da testa . — Se você não quer
tentar matá- lo para salvar-se , então o que você propõe fazer ? Cont inuar correndo?
— Você diz que as barreiras caíram. Eu proponho par tir de D'Hara.
Tentaremos chegar até outra terra , onde Darken Rahl não possa nos caçar .
Sebast ian levantou os olhos enquanto arrancava outro pedaço de peixe . — Darken Rahl? Darken Rahl está morto.
Jennsen, que fugia do homem desde pequena , que acordava incontáveis
vezes de pesadelos com os olhos azuis dele observando-a de cada sombra ou com ele
saltando para agarrá -la quando os pés dela não se moviam rápido o bastante , que viveu
todos os dias imaginando se esse ser ia o dia em que ele fina lmente a pegar ia , qu e imaginou mil vezes e depois ma is mil que coisa brutais tor turante ele far ia com ela ,
que r ezava aos bons espír itos todos os dias pedindo para ficar l ivr e de seu caçador
impiedoso e dos servos implacáveis dele , f icou aturdida . Só então ela percebeu qu e sempre pensara no homem como a lgo quase imorta l. Tão imortal quanto o próprio ma l .
— Darken Rahl. . . morto?. . . não pode ser . — Jennsen disse enquant o
lágr imas de l iber tação brotavam e escorr iam por suas bochechas . Ela estava cheia com uma feroz sensação de ans iosa esperança . . . e ao mesmo t empo uma inexplicável
sombra de pavor sombr io.
Sebast ian assent iu.
— É verdade . Faz aproximadamente dois anos , pelo que ouvi.
Jennsen vocalizou a esperança .
— Então , ele não é ma is a ameaça que pensávamos . — e la fez uma pausa .
— Mas , se Darken Rahl está morto.
— Agora o filho de Darken Rahl é o Lorde Rahl. — Sebastian fa lou.
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— Filho dele? — Jennsen sent iu sua esperança sendo eclipsada por aquela
ameaça sombria .
— O Lorde Rahl nos caça , — sua mãe disse , sua voz, calma e f irme, não
mostrando evidência de a o menos um momento de exaltada esperança . — O Lorde
Rahl é Lorde Rahl. É agora , como sempre foi . Como sempre será . Tão imortal quanto o própr io mal .
— Richard Rahl, — Sebastian declarou. — agora ele é o Lorde Rahl.
Richard Rahl. Então agora Jennsen sabia o novo nome do caçador delas . Um pensamento aterror izante espalhou -se sobre ela . Nunca antes ela ouvira
a voz dizer qualquer coisa além de ― entr egue‖ e o nome dela , e ocasiona lment e
aquelas estranhas palavras que ela não entendia . Agora exigia que ela en tregasse sua carne, sua própr ia vontade. Se essa era a voz daquele que a caçava , como sua mãe
dissera , então esse novo Lorde Rahl deve ser ainda ma is assustadoramente poderoso
do que seu ma ligno pa i . A sa lvação passageira havia deixado para trás o pavoroso desespero.
— Esse homem , Richard Rahl, — sua mãe disse , procurando compreender
todas as not ícias surpreendentes. — então ele assumiu o governo como o Lorde
Rahl de D'Hara quando o pai dele morreu ?
Sebast ian inclinou para frente, uma fúr ia oculta inesper adamente surgindo
em seus olhos azuis .
— Richard Rahl tornou-se o Lorde Rahl de D'Hara quando ele assassinou o
pai dele e tomou o poder . E se você vai dizer em suger ir em seguida que ta lvez o f i lho seja uma ameaça menor que o pa i dele , então permita que eu esclar eça .
— Fo i Richard Rahl quem derrubou as barreiras.
Ouvindo isso, Jennsen levantou as mãos, confusa .
— Mas , isso apenas dar ia aber tura para aqueles que desejam f icar l ivr es
escaparem de D'Hara, escaparem dele.
— Não. Ele derrubou aquelas ant igas barreiras protetoras para conseguir
expandir seu governo t irano para as terras que estavam além do a lcance até mesmo de
seu pai. — Sebastian bateu no peito com um punho. — E le quer a minha terra !
Lorde Rahl é um homem louco. D'Hara não é o bastante para el e governar . Ele anseia
dominar o mundo todo.
A mãe de Jennsen f icou olhando f ixamente dentro das chamas , parecendo desanimada .
— Sempre pensei. . . t ive esperança , eu acho. . . que se Darken Rahl
estivesse morto, então talvez pudéssemos ter uma chance. O peda ço de papel qu e Jennsen encontrou hoje com o nome dela escr ito nele diz que o f ilho é a inda mais
per igoso do que o pa i , e que eu só estava me i ludindo. Nem mesmo Darken Rahl
jama is chegou tão per to assim de nós . Jennsen sent iu -se dormente depois de ser ag itada por um turbulento tufão de
emoções, apenas para ficar mas apavorada e impotente do que antes . Mas ver ta l
desespero no rosto da mãe dela macucava seu coração .
— Ficarei com a faca .
A decisão da mãe dela declarou o quanto ela temia o novo L orde Rahl, e
como a situação delas era assustadora.
— Bom.
Luz fraca vindo da casa ref let ia nas poças de água além da entrada da caverna , mas a chuva transformava a luz em milhares de fagulhas , como as lágr imas
dos próprios bons espír itos . Em um dia ou dois , o conjunto de poças transformar iam-
se em gelo. Viajar ser ia mais fácil naquele fr io do que na chuva fr ia .
— Sebast ian, — Jennsen perguntou. — você acha , bem, você acha que nós
poder íamos escapar de D'Hara? Talvez irmos para a sua terra natal . .. fugir do alcance
desse monstro? Sebastian balançou os ombros .
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— Talvez . Mas, a té que esse homem louco seja morto , haverá algum lugar
além do a lcance voraz dele?
A mãe dela enf iou a bela faca atrás do cinto e então cruzou os dedos ao redor de um joelho curvado.
— Obr igado , Sebastian. Você nos ajudou. Ficar escondidas ,
lamentavelmente, as manteve no escuro. Pelo menos você nos trouxe um pouco de luz .
— S into muito que não sejam not ícias melhores .
— A verdade é a verdade . Ela nos ajuda a saber o que fazer . — sua mãe
sorriu para e la . — Jennsen sempre foi a lguém que procurava saber a verdade das
coisas. Nunca escondi nada dela . A verdade é o único meio de sobrevivência ; é tão simples assim.
— Se você não quer tentar matá- lo para eliminar a ameaça , ta lvez
cons iga pensar em algum jeito de fazer o novo Lorde Rahl perder o inter esse em você, em Jennsen.
A mãe de Jennsen ba lançou a cabeça .
— Tem mais co isas envo lvidas do que podemos dizer para você esta
no ite, co isas sobre as quais você está no escuro . Por causa delas , ele jama is
descansará , nunca vai parar . Você não entende até onde Lorde Rahl, qualquer Lorde Rahl, irá para conseguir matar Jennsen.
— Se é assim, então talvez você tenha razão . Talvez vocês duas tenham que
fugir .
— E você nos ajudar ia, ajudar ia e la , a fugir de D'Hara?
Ele olhou de uma para a outra . — Se eu puder , acho que posso tentar . Mas
estou avisando, não existe lugar onde se esconder . Se vocês desejam algum dia
ficarem livr es , terão que matá - lo.
— Eu não sou assassina. — Jennsen disse, não tanto em protesto quanto
em aceitação de sua própria fragil idade em face de tal força brutal . — Quero viver ,
mas eu s implesmente não tenho a natureza para ser uma assassina . Eu me defenderei, mas não acho que conseguir ia efet ivamente matar alguém. O fato tr iste é, que eu não
ser ia de grande a juda nisso. Ele é um assassino de nascimento . Eu não.
Sebast ian encarou ela com um olhar gelado. Seu cabelo branco avermelhado
pela luz do fogo emoldurado por fr ios olhos azuis .
— Você ficar ia surpresa com o que uma pessoa pode fazer , se t iver a
mot ivação adequada . A mãe dela levantou a mão para interromper aquele t ipo de conversa . Ela
era uma mulher prática , não costumava desperdiçar tempo valioso com esquemas
loucos.
— Nesse momento ,a coisa importante é fugirmos . Os servos de Lorde Rahl
estão per to demais . Essa é a simples verdade. Pela descr ição, e essa faca , o homem
morto que você encontrou hoje provavelmente fazia par te de um Q uad. Sebast ian levantou os olhos com a testa franzida .
— Um o quê?
— Um grupo de quatro assassinos . Em cer ta ocas ião, vár ios Quads
trabalharão juntos, se o alvo provar ser par t icu larmente esquivo ou de va lor
inest imável. Jennsen é as duas coisas .
Sebast ian descansou um braço sobre o joelho .
— Para alguém em fuga e que se esconde durante todos esses anos ,
você parece saber bastante sobre esses Quads . Tem cer teza que está cer ta ? A luz do fogo dançou nos olhos da mãe dela . A voz dela tornou -se ma is
distante.
— Quando eu era jovem , costumava viver no Palácio do Povo. Costumava
ver aqueles homens , os Quads. Darken Rahl usava eles para caçar pessoas . Eles são
cruéis além de qualquer coisa que você cons iga imaginar .
Sebast ian pareceu inquieto.
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— Bem, acho que você saber ia melhor do que eu . Então, ao amanhecer nós
par tiremos. — e le bocejou enquanto espreguiçava . — Suas ervas já estão
t rabalhando , e essa febre me deixou exausto. Depois de uma boa noite de sono
ajudarei vocês duas a escaparem daqui , escaparem de D'Hara, e seguir em seu caminho
para o Mundo Ant igo, se isso é o que desejam.
— É isso . — a mãe dela levantou . — Vocês do is comam o resto do
peixe . — quando ela passou , seus dedos car inhosos des lizaram atrás da cabeça de
Jennsen. — Vou juntar algumas das nossas coisas , juntar o que podemos carregar .
— Entrarei logo , — Jennsen falou. — Assim que eu apagar a fogueira .
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C A P Í T U L O 6
A chuva estava f icando p ior . Água des lizava em forma de uma cor tina sobre a projeção na entrada da caverna . Jennsen acar icio Betty atrás das or elhas para tentar
fazer ela parar de balir . A cabra sempre nervosa r epent inamente estava inconsolável .
Talvez ela sent isse que elas par tir iam. Talvez est ivesse apenas infeliz porque a mãe de
Jennsen t inha voltado para dentro da casa . Betty amava aquela mulher , e frequentemente a seguia pelo terr eno como um f ilhot inho . Betty f icar ia muito feliz em
dormir na casa junto com elas duas , se eles deixassem.
Sebast ian, estando cheio de peixe, enrolou-se em sua capa . As pálpebras dele fecharam enquanto ele t entava observar ela apagar a fogueira . Ele levantou a
cabeça e fez uma careta para a cabra que andava de um lado para outro .
— Betty vai se acalmar quando eu entrar na casa. — Jennsen falou.
Sebast ian, já dormindo parcialmente, r esmungou a lguma coisa sobre Betty
que Jennsen não conseguiu ao menos começar a ouvir no meio do barulho da chuva .
Ela sabia que não era importante o bastante para pedir que ele r epetisse . Ele pr ecisava dormir .
Ela bocejou. Independente da ans iedade dela com tudo que acontecera ness e
dia , e de sua preocupação com o que o dia seguinte trar ia , o som da chuva estava deixando ela sonolenta também.
Independente do quanto ela est ivesse ans iosa para perguntar a ele a respeito
do que estava além de D'Hara, ela desejou a ele uma boa noite de sono, embora
duvidasse que ele t ivesse ouvido com o barulho da chuva . Ela ter ia bastante t empo para fazer todas as suas perguntas para ele .
A mãe dela estar ia esperando por ajuda para escolher o que levar e
empacotar . Não t inham muita coisa , mas ter iam que deixar uma par te do que t inham. Pelo menos o desajeitado soldado D'Haran morto havia fornecido dinheiro
para elas justamente quando elas ma is precisar iam.
Era dinheiro suf iciente para comprar cavalos e suprimentos que ajudar ia m
elas a sair de D'Hara. O novo Lorde Rahl, o f i lho bastardo de um f i lho bastardo em uma longa cadeia cont ínua de f i lhos bastardos , havia inadvert idamente fornecido a
elas os meios para escaparem das suas garras .
A vida era tão preciosa . Ela só quer ia que ela e sua mãe pudessem viver suas próprias vidas . Em algum lugar , a lém do distante hor izonte escuro, jaziam as
novas vidas delas .
Jennsen jogou a capa sobre os ombros . Levantou o capuz para proteger -se da chuva, mas a despeito do quanto estivesse chovendo for te ela já esperava f icar
molhada na corr ida até a casa . Tinha esperança que a manha estivesse limpa para o
pr imeiro dia de viajem para que pudessem colocar alguma distância entr e elas e seus
perseguidores . Ela estava feliz em ver que Sebastian parecia morto para o mundo. Ele precisava de um bom sono. Estava agradecida que no meio de todo o tormento e
injust iça , pelo menos ele t inha surgido em suas vidas .
Jennsen pegou a t igela com os restos de peixe , enf iou emba ixo da capa , prendeu a respiração, e, abaixando a cabeça contra o temporal , mergulhou no meio da
chuva que rugia . O choque fr io do aguaceiro fez ela ar far enquanto p isava através das
poças escuras em sua corr ida até a casa . Ela chegou até a casa , seus cíl ios molhados transformando a fraca luz das
lamparinas a óleo e da fogueira que vinha através da janela em um borrão . Sem
levantar os olhos , ela abr iu a por ta enquanto corr ia .
— Está fr io como o coração do Guardião ! — e la gr itou para a mãe
quando entrou correndo .
O ar deixou os pulmões de Jennsen com um grunhido quando ela bateu em uma sólida parede que nunca est ivera ali .
33
Recuando com o impacto da col isão, ela levantou os olhos para ver uma
costa larga virando, para ver uma enorme mão est icando -se até ela .
A mão pegou apenas sua capa . A grossa capa de lã escapuliu enquanto ela
recuava . A t igela bateu no chão, girando como um pião louco. A porta voltou ao bater na parede, fechando-se atrás dela , apr isionando-a, pouco antes de sua costa bater nela .
Arfando, Jennsen r eagiu.
Foi por inst into selvagem, não pensamento deliberado.
Jennsen .
Por terror , não técnica .
Entregue.
Por desespero, não planejamento.
O rosto atarracado do homem estava iluminado claramente pelo fogo da
lareira . Ele mergulhou em dir eção a ela . Um monstro com cabelo molhado f ibroso . Tendões f lex ionados e músculos tufados em fúr ia . A faca no punho dela girou ,
impuls ionada pelo terror .
O gr ito dela foi um rugido de esforço em pânico . Sua faca acer tou no lado da cabeça dele. A lâmina par tiu no meio de sua extensão quando atingiu o osso logo
abaixo do olho dele. A cabeça dele girou com o impacto. Sangue espalhou-se por seu
rosto.
Girando loucamente, a mão carnuda dele golpeou o rosto dela . O ombro dela atingiu a parede. Um choque de dor penetrou seu braço. Ela tr opeçou em a lgo. Perdeu
o equil íbr io, ca iu perdendo o passo.
O rosto dela bateu no chão ao lado de outro dos homens enormes . Ele era como o soldado morto que ela enterrou .
Sua mente captou r elances daquilo que ela estava vendo , t entando
compreender o sent ido daquilo. De onde eles vieram? Como eles estavam dentro da
casa dela? A perna dela estava sobre as pernas imóveis do home m. Ela se esforçou para
levantar . Ele estava encostado contra a parede. Seus olhos mortos olhavam f ixament e
para ela . O cabo com a letra ―R‖ , de lado abaixo da orelha dele, r ef let iu fa íscas de luz do fogo. A ponta da faca projetava -se do out ro lado do pesc oço grosso dele. Ele usava
uma camisa vermelha molhada .
Entregue .
Com fr io pavor , ela viu um homem aproximando-se dela .
Agarrando sua faca quebrada , ela levantou com dif icu ldade, virando em dir eção da ameaça . Viu a mãe dela no chão. Um homem a segurava pelo cabelo. Havia
sangue por toda par te.
Nada parecia real . Em uma visão de pesadelo, Jennsen viu o braço par tido da sua mãe no chão ,
dedos f lácidos e aber tos . Fer imentos vermelhos de facadas .
Jennsen .
O pânico dominou a mente dela . Ela ouviu seus próprios gr itos
entr ecortados . Sangue úmido, espalhado pelo chão, br i lhava na luz do fogo. Movimento de giro. Um homem bateu contra ela , jogando-a contra a parede. Ela
perdeu o ar . A dor esmagou seu peito.
Entregue .
34
— Não! — a própr ia voz dela parecia ir real. Ela golpeou com sua faca quebrada , rasgando o braço do homem. Ele berrou
uma praga . O homem que segurava a mãe de Jennsen largou-a e avançou atrás Jennsen.
Ela golpeou loucamente, fr enet icamente, em dir eção aos homens ao r edor dela . Mãos
esticaram-se rapidamente em direção a ela de todos os lados . Uma grande mão segurou o braço dela com a faca .
Entregue .
Jennsen engoliu um grito. Lutou de forma selvagem. Chutou. Mordeu.
Homens soltaram pragas . O segundo homem agarrou a garganta dela com dedos de
ferro. Sem ar . Sem ar . Ela t entou. . . não conseguia respirar . .. tentou
desesperadamente. . . mas não conseguia respirar .
Ele sorr iu com desprezo enquanto aper tava a garganta dela . A dor disparou através das têmporas dela . A bochecha dele, cor tada pela faca dela , estava aber ta da
orelha até a boca , soltando gotas de sangue. Ela podia enxergar dentes vermelhos
br ilhando através do fer imento.
Jennsen lutou, mas não conseguia respirar . Um punho golpeou o estômago dela . Chutou ele. Ele segurou o joelho dela ant es que ela conseguisse chutar
novamente. Um estava morto. Dois seguravam ela . Sua mãe derrubada .
A visão dela estava estreitando em um túnel negro . Seu peito ardia . Estava doendo tanto. Tanto.
O som estava abafado.
Ela ouviu o barulho de osso quebrando.
O homem na fr ente dela , espremendo sua garganta , tremeu uma vez quando a cabeça dele sacudiu .
Isso não fazia sent ido algum para ela . O aper to dele afrouxou . Ela r espirou
de forma urgente. A cabeça dele inclinou para frente. Um machado com lâmina em forma de meia lua estava enterrado atrás do pescoço do homem, par tindo sua espinha .
O cabo do machado moveu-se em um arco quando o homem ca iu . Sebast ian,
fúr ia calculada com cabelo branco, estava em pé atrás dele. O últ imo homem soltou o braço dela . O outro punho dele levantou uma
espada manchada de sangue. Sebastian foi ma is rápido do que o homem.
Jennsen foi a inda ma is rápida que Sebastian.
Entregue .
Ela gr itou, um som anima l, selvagem, desenfreado, t error e fúr ia . A lâmina quebrada dela cor tou o lado do pescoço do homem.
Sua meia lâmina cor tou fundo, cor tou a ar tér ia , par t iu músculos . Ele gr itou.
Sangue pareceu f lutuar , suspenso no meio do ar , quando o homem bateu contra a parede enquanto seguia em sua queda . Ela moveu-se com tanta força que caiu junto
com ele. A espada cur ta de Sebastian golpeou como um raio, per furando através do
grande peito com poder de par tir osso .
Jennsen camba leou sobre os corpos , escorregando no sangue. Viu apenas sua mãe no chão, parcia lmente sentada , apoiada contra a parede. Sua mãe observou
enquanto ela aproximava -se. Jennsen não conseguia parar de gr itar , não conseguia
respirar no meio dos gr itos histér icos . A mãe dela , cober ta de sangue, pálpebras semicerradas , parecia como s e
estivesse adormecendo. Mas ela estava com aquela centelha de a legr ia ao ver Jennsen.
Sempre aquela centelha nos olhos. O rosto dela t inha manchas de sangue de grandes
dedos na lateral. Ela mostrou seu belo sorr iso ao ver Jennsen.
— Quer ida . . . — e la sussurrou .
Jennsen não conseguia parar de gr itar , t remendo. Ela não olhou para os
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horr íveis fer imentos vermelhos .
Viu apenas o rosto da sua mãe.
— Mãe , mãe, mãe. . .
Um braço abraçou -a. O outro havia desaparecido. O braço dela com a faca
estava perdido.
Aquele que envolvia Jennsen era amor, confor to e abr igo. Sua mãe exib iu um sorr iso cansado.
— Quer ida . . . você fez muito bem. Agora , escute.
Sebast ian estava a li, t rabalhando fr enet icamente para amarrar alguma coisa em volta do que sobrou do braço dir eito da mãe dela , tentando conter o f luxo do
sangue. A mã e dela só enxergava Jennsen.
— Estou aqui, Mamãe. Tudo va i f icar bem. Estou aqui. Mamãe. . . não
morra. . . não morra . Aguente f irme, Mamãe. Aguente f irme.
— Escute . — sua voz era pouco mais do que um sussurro .
— Estou ouvindo , Mamãe, — Jennsen gr itou. — estou ouvindo .
— Para mim acabou . Estou cruzando para encontrar com o s bons espír itos .
— Não, Mamãe, não, por favor , não.
— Não posso evitar , quer ida . . . Está tudo bem. Os bons espír itos tomarão
conta de mim.
Jennsen segurou o rosto da sua mãe com as duas mãos, t entando enxergá- lo
através do mar de lágr imas que não conseguia conter . Jennsen arfou com for tes
soluços.
— Mãe.. . não me deixe sozinha . Não me deixe. Por favor , oh por favor não.
Oh, Mamãe, eu te amo.
— Amo você quer ida . Mais do que tudo. Ens inei a você tudo que pude.
Agora, escute.
Jennsen assent iu, temendo perder ao menos uma preciosa palavra .
— Os bons espír itos estão me levando . Você deve entender isso. Quando
eu for , esse corpo não será mais eu . Entendeu? Não preciso ma is dele . Não dói nem
um pouco. Nem um pouco. Não é maravilhoso? Estou com os bons espír itos . Agora você deve ser for te e deixar esse corpo que não é ma is meu
— Mamãe, — Jennsen só conseguia soluçar em agonia enquanto segurava o
rosto que ela amava mais do que a própria vida .
— E le está vindo atrás de você , Jenn. Corra . Não fique com esse corpo
que não é ma is meu depois que eu est iver com os bons espír itos . Entendeu?
— Não, Mamãe. Não posso deixar você. Não posso.
— Você deve . Não arr isque sua vida tolamente apenas para enter rar esse
corpo inút i l . Ele não é mais meu. Estou no seu coração e com os bons espír itos . Esse
corpo não é meu. Entendeu, quer ida ?
— S im, Mamãe. Não é seu. Você f icará com os bons espír itos . Não aqui.
A mãe dela assent iu nas mãos de Jennsen.
— Boa garota . Pegue a faca . Eu derrubei um deles com ela . É uma arma
valiosa .
— Mamãe, eu te amo. — Jennsen desejou ter melhores palavras mas não
encontrou. — Eu te amo .
— Amo você . . . é por isso que você deve correr , quer ida . Não quero qu e
você jogue sua vida fora por causa desse corpo que não é ma is meu . Sua vida é preciosa demais . Deixe esse vasilhame vazio . Corra, Jenn. Ou ele pegará você. Corra .
— os olhos dela viraram em direção a Sebastian. — Pode ajudar ela?
Sebast ian, logo a li, assent iu.
— Juro que ajudarei .
Ela olhou para Jennsen e mostrou seu doce amor com um sorr iso .
— Sempre estarei no seu coração , quer ida . Sempre. Amo você, sempre.
— Oh, Mamãe, você sabe que eu te amo. Sempre.
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A mãe dela sorr iu enquanto observava sua fi lha . Os dedos de Jennsen
acar iciaram o belo rosto da mãe dela .
Por uma breve eternidade sua mãe observou -a.
Até Jennsen perceber que sua mãe não estava ma is enxergando nesse mundo . Jennsen caiu sobre a mãe, dissolvendo em lágr imas e t error . Tremendo com
soluços. Tudo estava acabado. O mundo louco insens ível havia acabado.
Os braços dela est icaram-se em dir eção a sua mãe quando ela foi afastada .
— Jennsen. — a boca dele estava perto do ouvido dela . — Temos que
fazer o que ela quer ia .
— Não! Por favor , oh, por favor , não. — e la gemeu .
Ele puxou gent i lmente.
— Jennsen, faça o que ela pediu . Nós devemos.
Jennsen bateu os punhos contra o chão manchado de sangue .
— Não! — o mundo t inha acabado. — Oh, por favor , não. Não, não pode
ser .
— Jenn, t emos que ir .
— Você vai , — e la fungou . — eu não me importo . Eu des isto.
— Não, Jenn, você não des iste. Não pode.
O braço dele em volta da cintura dela levantou -a, colocou-a sobre as pernas
cambaleantes dela . Anestes iada , Jennsen não conseguia mover -se. Nada era rea l. Tudo
era um sonho. O mundo estava transformando-se em cinzas.
Segurando-a pelos antebraços , ele balançou-a.
— Jennsen, t emos que sair daqui.
Ela virou a cabeça e olhou para sua mãe no chão .
— Temos que fazer alguma co isa . Por favor . Temos que fazer alguma
coisa .
— S im, nós temos. Temos que par tir antes que mais homens apareçam.
O rosto dele estava pingando. Ela imaginou se aquilo ser ia chuva . Como s e
ela est ivesse observando a si mesma de uma gran de distância desconectada , seus
próprios pensamentos pareciam loucos para ela .
— Jennsen, escute. — a mãe dela t inha falado isso . Isso era importante .
— Escute . Temos que sair daqui. Sua mãe es tava cer ta . Temos que par tir .
Ele virou para a mochila ao lado da lamparina sobre a mesa no lado da sala .
Jennsen desmoronou no chão.
Os joelhos dela bateram com um som abafado. Ela estava vazia de tudo a não ser as brasas da agonia das qua is ela não conseguia fugir . Porque tudo tem que ser
tão errado?
Jennsen rastejou até sua mãe adormecida . Ela não podia morrer . Não podia . Jennsen a amava demais para que ela morresse.
— Jennsen! Lamente mais tarde! Temos que cair fora daqui !
Do lado de fora da porta aber ta , a chuva caia .
— Não vou deixá- la !
— A sua mãe fez um sacr ifíc io por você, para que voc ê pudesse ter
uma vida . Não jogue fora o ato f ina l de c oragem dela .
Ele estava enf iando tudo que podia encontrar em uma mochila .
— Você tem que fazer o que ela disse . Ela ama você e quer que você
viva. Ela disse para você fugir . Eu jur ei que ajudar ia . Temos que par tir antes que eles
nos peguem aqui. Ela f icou olhando para a por ta . A porta t inha s ido fechada . Lembrava de
bater contra ela . Agora ela estava aber ta . Talvez o tr inco tenha quebrado. . .
Uma sombra enorme mater ializou -se surgindo da chuva , cruzando o portal
para dentro da casa . Os olhos do homem mus culoso estavam fixos nela . Um pavor feroz
espalhou-se nela . Ele moveu-se em dir eção a ela . Mais e mais rápido.
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Jennsen viu a faca com a letra ― R‖ projetando-se do lado do pescoço de um
homem morto. A faca que sua mãe falou para ela levar . Não estava longe. Sua mã e
t inha perdido o braço, sua vida, para matá -lo.
O homem, aparentemente ignorando Sebastian, mergulhou atrás de Jennsen. Ela mergulhou até a faca . Os dedos dela , manchados de sangue, agarraram o cabo. O
meta l trabalhado fornecia uma boa pegada . Arte, com propós ito. Arte mortal. Com
dedos cerrados , ela arrancou a lâmina e girou . Antes que o homem a alcançasse, Sebast ian grunhiu com o es forço de
enterrar seu machado atrás da cabeça do homem. O soldado caiu no chão ao lado dela ,
seu braço grosso ca indo sobre a barr iga dela . Jennsen, gr itando, saiu de baixo do braço enquanto sangue brotava em uma
piscina escura sob a cabeça dele .
Sebast ian levantou-a.
— Pegue qualquer co isa que você quiser levar . — e le ordenou .
Ela moveu-se através da sala , caminha ndo em um sonho. O mundo t inha
ficado louco. Talvez fosse ela quem f inalmente f icara louca . A voz na cabeça dela sussurrou para ela , em sua l íngua estranha . Ela
percebeu que estava escutando, quase sent indo-se confor tada por aquilo.
Tu vash misht. Tu vask misht. Grushdeva du kalt misht.
— Temos que ir . — Sebastian falou. — Pegue aquilo que qu iser levar .
Ela não conseguia pensar . Não sabia o que fazer . Ela bloqueou a voz e diss e
a si mesma para fazer o que sua mãe fa lou .
Ela foi a té o armário e rapida mente começou a juntar coisas que elas sempre levavam quando via javam, coisas que estavam sempre preparadas . Roupas de viagem
ficavam guardadas na mochila dela , prontas para a par tida imediata .
Ela jogou ervas , temperos, e comida seca por cima de tudo. Enfiou outras roupas, uma escova , um pequeno espelho, de um baú simples de galhos trançados .
Sua mão fez uma pausa quando ela começou a pegar as roupas de sua mãe .
Ela parou, dedos tr emendo, concentrada nas ordens da sua mãe. Não conseguia pensar ,
então moveu-se como uma anima l tr einado, fazendo como foi ens inada . Elas já t iveram que fugir em outras ocasiões .
Observou o quar to. Quatro D'Harans mor tos. Um naquela manhã . Isso
somava cinco. Um Quad ma is um. Onde estavam os outros tr ês ? Na escuridão do lado de fora da porta? Nas árvores? Na f lor esta escura , esperando? Esperando para levá - la
para Lorde Rahl, para que ela fosse tor turada até a morte ?
Com as duas mãos , Sebastian segurou o pulso dela .
— Jennsen, o que você está fazendo?
Ela percebeu que estava golpeando o ar com a faca .
Ficou olhando enquanto ele t irava a faca da mão dela e colocava ela de volta na bainha . Ele a colocou atrás do cinto. Ele r ecolheu a capa dela , que o enorme
soldado D'Haran t inha arrancado dela quando ela caiu pela pr imeira vez no pesadelo.
— Depressa , Jennsen. Pegue qualquer outra coisa que você quiser .
Sebast ian vasculhou os bolsos do homem morto , t irando dinheiro que
encontrou, enf iando ele nos próprios bolsos . Desamarrou todas as quatro facas ,
nenhuma tão boa quanto aquela que ele colocara no cinto dela , aquela com a letra ―R‖ enfeitada no cabo, aquela do homem morto caído, aquela que a mãe dela usara .
Sebast ian colocou as quatro facas no lado da mochila enquanto gr itava para
ela agir rápido. Quando ele pegava a melhor espada de um dos homens , Jennsen foi a té
a mesa . Pegou velas e enfiou-as na mochila . Sebast ian prendeu a bainha da espada no cinto de armas dele . Jennsen coletou pequenos implementos, utens íl ios de cozinha ,
t igelas, colocando na mochila . Não estava realmente cons ciente do que estava
fazendo. Estava simplesmente pegando tudo que via e colocando lá dentro . Sebast ian levantou a mochila dela , pegou um dos pulsos delas , e enf iou na
alça , como se estivesse manuseando uma boneca de pano . Colocou o outro braço dela
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na outra alça que segurava para ela , então jogou a capa em volta dos ombros dela .
Depois de levantar o capuz sobre a cabeça dela , ele enf iou o cabelo vermelho dela nos
lados.
Ele segurou a mochila da mãe dela em uma das mãos . Puxou duas vezes e soltou o machado do crânio do soldado. Sangue escorr eu pelo cabo quando ele enf iou
o machado no cinto de armas . Com o cabo da espada contra as costas dela , ele fez com
que ela avançasse.
— Mais alguma co isa? — e le perguntou enquanto eles segu iam até a
porta . — Jennsen, você quer ma is alguma coisa da sua casa antes de par tirmos?
Jennsen olhou por cima do ombro para sua mãe no chão .
— E la se fo i , Jennsen. Agora os bons espír itos estão tomando conta dela .
Agora ela está sorr indo para você lá de cima . Jennsen olhou para ele.
— Verdade? Você acha mesmo?
— S im. Agora ela está em um mundo melhor . Ela falou para irmos embora
daqui. Temos que fazer o que ela disse.
Em um mundo melhor . Jennsen agarrou-se àquela ideia . O mundo dela guardava apenas angúst ia .
Ela moveu-se até a por ta , fazendo como Sebastian disse para fazer . Ele
ver if icou em todas as dir eções . Ela s implesmente seguia , pisando sobre corpos , sobre braços e pernas ensanguentados . Estava assustada demais para sent ir qualquer coisa,
tr iste demais para se importar . Os pensamentos dela pareciam completament e
confusos. Ela sempre teve orgulho de seu pensamento claro . Para onde foi o
pensamento claro dela ? Na chuva , ele puxou-a pelo braço em dir eção ao caminho.
— Betty. — e la falou , enterrando os calcanhares no chão. — Temos que
pegar Betty.
Ele olhou para o caminho, e então para a caverna .
— Não acho que precisamos nos preocupar com a cabra , mas eu devia
pegar minha mochila , minhas coisas .
Ela viu que ele estava parado na chuva sem a capa . Ele estava encharcado.
Ocorreu a ela que não era a única pessoa que não estava pensando claramente . Ele estava tão concentrado em escapar que quase deixou suas coisas . Isso s ignif icar ia a
morte dele. Ela não podia deixar ele morrer . Betty ajudar ia , mas havia outra coisa qu e
ela lembrou. Jennsen correu de volta para dentro da casa . Ela ignorou os gr itos de Sebast ian. Lá dentro, ela não perdeu tempo
seguindo até um pequeno baú de madeira logo atrás da porta . Não olhou para mais
nada quando t irou duas capas de pele de ovelha enroladas, uma dela , uma da sua mãe. Elas as mantinham ali , enroladas e amarradas , preparadas , caso t ivessem que par tir
rapidamente. Ele observava do portal , impaciente, mas s ilencioso quando viu o que ela
estava fazendo. Sem olhar nos olhos da mor te, ela correu outra vez para fora de sua
casa pela últ ima vez. Juntos, eles correram até a caverna . A fogueira ainda estava ardendo. Betty
andava de um lado para outro e tremia mas de forma incomum estava si lenciosa , como
se ela soubesse que algo estava terr ivelmente errado .
— Enxugue-se um pouco pr imeiro. — e la falou .
— Não temos tempo ! Precisamos sa ir daqui. Os outros podem aparecer a
qua lquer momento.
— Você congelará até a morte se não fizer isso . Então que bem far ia
correr? Morto é morto. — suas própr ias palavras rac io nais a surpreenderam.
Jennsen t ir ou as duas capas de pele de ovelha enroladas de ba ixo da capa de
lã e começou a desfazer os nós nas corr eias .
— Essas ajudarão a bloquear a chuva , mas você precisa enxugar o corpo
pr imeiro, caso contrár io não f icará quente o suficiente.
Ele estava assent indo enquanto tremia e esfr egava as mãos diante do fogo , o
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sentido daquilo que ela disse f ina lmente superando a urgência dele em par tir . Ela
ficou imaginando como ele conseguiu fazer tudo que t inha feito com febre e depois
das ervas. Medo, ela imaginou. Medo absoluto. Isso, ela entendia .
Todo o corpo dela estava doendo . Ela não havia apenas sofr ido com as pancadas, mas agora ela via que seu ombro estava sangrando . O cor te não estava ruim,
mas ele la tejava . O nível de terror prolongado t inha deixado ela exausta .
Queria apenas deitar e chorar , mas sua mãe t inha fa lado para ela fugir . Agora somente as palavras de sua mãe a mot ivavam. Sem aquelas ú lt imas ordens ,
Jennsen não conseguir ia funcionar . Agora ela s implesmente fazia o que sua mã e
dissera para ela fazer . Betty estava frenética . A cabra per turbada tentou escalar o cercado para
chegar até Jennsen. Enquanto Sebastian pa irava sobre o fogo, Jennsen amarrou uma
corda em volta do pescoço de Betty. A cabra estava tão feliz em par tir quanto uma
cabra podia estar . Eles dar iam a Betty uma chance de r etr ibuir o favor . Quando t ivessem
escapado e encontrassem pelo menos um abrigo s imples , eles não conseguir iam fazer
uma fogueira ou algo parecido em uma noite molhada assim . Se consegu issem encontrar um buraco seco, um local sob uma projeção rochosa , ou emba ixo de árvores
caídas, eles deitar iam junt inho da cabra . Betty manter ia os dois aquecidos para que
não congelassem até a morte. Jennsen entendia os gr itos de queixa que Bet ty emit ia em dir eção a casa . Os
ouvidos da cabra estavam atentos .
Betty estava preocupada com a mulher que não estava par tindo . Jennsen
pegou todas as cenouras e frutos da prateleir a , enf iando tudo em bolsos e mochilas . Quando Sebast ian estava tão seco quanto ele achava que conseguir ia f icar ,
eles colocaram as capas de lã e cobriram elas com as peles de ovelha . Com Jennsen
guiando Betty pela corda , eles avançaram dentro da escuridão. Sebastian seguiu para a tr ilha descendo pela fr ente, o caminho pelo qual ele t inha entrado.
Jennsen agarrou o braço dele, fazendo ele parar .
— E les podem estar esperando ali .
— Mas temos que sair daqui .
— Tenho um caminho melhor . Nós f izemos uma rota de fuga .
Ele olhou para ela durante um momento através da queda de chuva gelada
que os separava , então, sem protestar novamente, seguiu-a para dentro do
desconhecido.
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C A P Í T U L O 7
Oba Schalk segurou a galinha pelo pescoço e r etir ou -a da caixa ninho. A cabeça da ga linha parecia pequena sobre o punho carnudo dele . Com a outra mão, ele
recolheu um ovo marrom do fundo da depressão na palha . Colocou gent i lmente o ovo
na cesta junto com os outros .
Oba não colocou a galinha de volta . Ele sorr iu quando levantou-a ma is per to do rosto, observando a cabeça dela
balançar de um lado pa ra outro, seu b ico abr indo e fechando, abr indo e fechando. Ele
colocou os láb ios dele per to, de modo que o bico est ivesse tocando seus láb ios , então, com toda sua força , ele soprou dentro da boca aber ta da galinha .
A ga linha cacarejou e bateu as asas , tentando loucamente escapar do punho
parecido com um torno. Uma for te r isada emergiu da garganta de Oba.
— Oba! Oba, onde está você!
Quando ouviu sua mãe gr itando por ele, Oba colocou a ga linha de volta em
seu ninho. A voz da mãe dele vinha do celeiro ali p er to. Cacarejando de terror , a galinha fugiu do galinheiro. Oba seguiu-a para fora do galinheiro e então foi a té a
por ta para o celeiro.
Na semana anter ior , eles t iveram uma rara chuva de inverno . No dia seguinte, a água parada t inha congelado e a chuva t i nha virado neve. Agora a neve
exposta ao vento escondia o gelo , tornando a caminhada traiçoeira . Independente do
seu tamanho, Oba movimentava-se sobre o gelo sem muita dif icu ldade . Oba
orgulhava-se de ter pés leves . Era importante para uma pessoa não deix ar seu corpo ou a mente se tornass e
uma coisa lenta e enferru jada . Oba acreditava que era importante aprender coisas
novas. Ele acr editava que era importante cr escer . Ele cons iderava que era importante para uma pessoa usar o que t inha aprendido. Era assim que as pessoas cresciam.
O celeiro e a casa eram uma pequena estrutura feita de caniços e galhos
entr elaçados cobertos com uma mistura de barro , palha , e estrume. A casa e o celeiro
ficavam separados por uma parede de pedra . Depois que ele construiu a cas a, Oba t inha feito a parede dentro empilhando rochas cinzentas planas do campo . Tinha
aprendido a t écnica observando um vizinho empilhar pedras ao lado do campo dele . A
parede era um luxo que a ma ior ia das casas não t inha. Ouvindo a mãe dele gr itar seu nome outra vez, ele t entou pensar no que
podia ter feito de errado. Enquanto ele consultava sua l ista menta l das tarefas que ela
disse para ele fazer , ele não conseguia lembrar de uma no celeiro que ele falhou em fazer .
Oba não era esquecido, e a lém disso, elas eram tarefas que ele fazia com
frequência . Não devia haver nada no celeiro para deixar ela ir r itada .
Mesmo que tudo isso fosse verdadeiro, nada disso o protegia de ser alvo da ira de sua mãe. Ela podia pensar em coisas que eram necessár ias para fazer que nunca
foram necessár ias .
— Oba! Oba! Quantas vezes eu preciso chamar você !
Em sua mente, ele podia ver a pequena boca ma lvada dela toda franzida
quando ela falava o nome dele , esperando que ele aparecesse no instante em que ela
gr itava chamando ele. A mulher t inha uma voz que podia par tir uma boa corda . Oba virou de lado para enf iar os ombros através da pequena porta la teral no
celeiro. Ratos guincharam e corr eram aos pés dele . O celeiro, com um pa lheiro acima ,
guardava a vaca leiteira deles , dois porcos, e dois bois. A vaca ainda estava no celeiro . Os porcos foram soltos no cercado de
carvalho para fuçarem atrás de frutos debaixo da neve . Oba podia ver as par tes
traseiras dos dois bois através da porta mais larga do celeiro para o terreno do outro
lado.
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Sua mãe estava sobre o monte baixo de l ixo congelado, com as mãos nos
quadris , a fumaça gelada da respiração dela subindo das nar inas dela como bufadas
ferozes de um dragão.
A mãe era uma mulher de ossos grandes , larga nos ombros e quadris . Larga em toda par te. Até mesmo a testa dela era la rga . Ele t inha ouvido pessoas fa larem qu e
quando sua mãe era jovem ela fora uma mulher bonita , e r ealmente, quando ele era um
garot inho, ela possuía vár ios pr etendentes . Porém, ano após ano, as lutas da vida acabaram com a aparência dela , deixando para trás profundas marcas e montes de
carne f lácida . Fazia muito tempo que os pr etendentes deixaram de aparecer .
Oba seguiu pelo chão negro congelado dentro do celeiro e f icou diante dela , com as mãos nos bolsos .
Ela bateu no lado do ombro dela com uma vara grossa . — Oba. — e le se
enco lheu quando ela bateu mais t r ês vezes , cada golpe enfatizando o nome dele . — Oba. Oba. Oba.
Quando ele era pequeno, pancadas assim o ter iam deixado machucado .
Agora, ele era grande e for te demais para que a vara o fer isse . Isso também a deixava com raiva .
Embora ele não se incomodasse muito com a vara agora que estava cr escido ,
a condenação na voz dela sempre que fa lava o nome dele ainda fazia as or elhas dele queimarem. Ela fazia ele lembrar de uma a ranha com uma boquinha ma lvada . Uma
viúva negra .
Ele curvou-se, t entando não parecer tão grande.
— O que fo i, Mamãe?
— Por onde você fica vad iando quando a sua mãe chama ? — o rosto
dela contorceu , uma ameixa tornou-se uma ameixa seca .
— Oba, o idiota . Oba, o estúpido. Oba, o imbecil. Onde você estava !
Oba levantou o braço de forma defens iva quando ela bateu nele com a vara
outra vez.
— Estava pegando os ovos , Mamãe. Pegando os ovos .
— Olha essa bagunça ! Nunca pensou em fazer qualquer coisa por aqui
apenas quando alguém com cérebro disser pa ra você fazer ?
Oba olhou ao r edor , mas não viu o que precisava ser feito, a lém do trabalho regular , que t ivesse deixado ela tão zangada . Sempre havia trabalho a fazer . Ratos
colocavam seus nar izes para fora sob as tábuas nos estábulos , com os b igodes
sacudindo enquanto farejavam, observando com pequenos olhos negros br i lhantes , escutando com pequenas orelhas .
Ele olhou para sua mãe, mas não t inha r esposta . De qualquer modo, não
haver ia r esposta que fosse suf iciente para ela . Ela apontou para o chão.
— Olhe para esse lugar ! Nunca pensou em ret irar o l ixo? Logo que iss o
derr eter ele vai começar a passar por baixo da parede para dentro da casa onde eu durmo. Acha que eu te al imento para nada ? Não acha que precisa merecer o seu
sustento, seu louco estúpido? Oba, o estúpido.
Ela já havia usado o ú lt imo insulto . Oba, ficava surpreso, às vezes , que ela
não fosse ma is cr iativa , não aprendesse novas coisas . Quando ele era pequeno ela parecia para ele uma leitora de mentes de impenetrável habil idade, com uma língua
talentosa que podia cor tar ele com golpes de sabedor ia . Agora que ele f icara ma ior do
que ela , às vezes ele imaginava se outros aspectos de sua mãe eram menos formidáveis do que uma vez ele t emera , imaginava se o poder dela sobre ele não era de algu m
modo. . . ar t if ic ial. Uma ilusão. Um espanta lho com uma pequena boca malvada .
Mesmo assim ela ainda possuía algo nela que podia reduzir ele a nada . E ela era mãe dele. Uma pessoa devia pr esta r a tenção em sua mãe. Essa era
a coisa ma is importante que uma pessoa podia fazer . Ela ens inara essa l ição para ele
muito bem.
Oba não achava que podia fazer muito ma is para merecer o sustento dele .
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Trabalhava no nascer ao pôr do sol . Orgulhava-se de não ser pr eguiçoso. Oba era u m
homem de ação. Ele era for te, e trabalhava tão duro quanto dois homens .
Podia ser melhor do que qua lquer homem que ele conhecia . Homens não
causavam nenhum problema para ele. Mulheres, porém, frustravam ele. Ele nunca sabia o que fazer per to de mulheres. Grande como era , as mulheres t inham um jeito de
fazer ele sent ir -se pequeno.
Ele es fr egou a bota contra o monte escuro, ondulado, liso, embaixo dos pés , a lcançando a massa dura como rocha . Os anima is juntavam-se a ela cont inuamente,
muitos deles congelando antes que conseguissem cavar a sua saída , permit indo qu e
camadas fossem cr iadas através do longo e fr io inverno . Per iodica mente, Oba espalhava palha sobre o topo para melhorar o apoio para os pés . Não quer ia que sua
mãe escorr egasse e sofr esse um tombo. Porém, não ir ia demorar muito para que a
camada de palha fosse coberta e chegasse a hora para outra camada .
— Mas Mamãe, o chão está todo congelado.
No passado, ele sempre cavava quando aquilo derr et ia e podia ser
trabalhado. Na pr imavera , quando f icava ma is quente e as moscas enchiam o celeir o com seus zumbidos constantes , aquilo espalhava-se em camadas onde estava a palha .
Mas agora . Agora aquilo estava unido em uma massa sólida .
— Sempre tem uma desculpa . Não é mesmo, Oba? Sempre tem uma
desculpa para sua mãe. Seu bastardo inút il .
Ela cruzou os braços , f ixando um olhar raivoso nele. Ele não podia
esconder -se da verdade, não podia fingir , e ela sabia disso. Oba espiou em volta no celeiro escuro e viu a pesada pá de aço encostada
contra a parede.
— Eu vou limpar isso , Mamãe. Volte para sua fiação, e eu vou l impar o
celeiro.
Ele não sabia exatamente como r emover ia o l ixo sólido , apenas qu e
precisava fazer isso.
— Comece agora mesmo. — e la bufou . — Use o que r esta da luz do dia .
Quando f icar escuro, então quero que você vá até a cidade para buscar um pouco de
remédio de Lathea. Agora ele sabia porque ela veio até o celeiro procurando por ele .
— Meus joelhos estão doendo outra vez. — e la reclamou , como se
desejasse eliminar qua lquer objeção que ele pudesse fazer , mesmo que ele nunca fizesse isso. Porém, ele pensava nisso. Ela sempre parecia saber o que ele estava
pensando.
Hoje você pode começar no celeiro , e amanhã pode voltar a raspar o lixo por todo o caminho até l impar tudo. Mas antes que o dia acabe, quero que você vá buscar
meu r emédio.
Oba puxou sua orelha enquanto olhava em direção ao chão . Ele não gostava
de encontrar com Lathea, a mulher das curas . Não gostava dela . Ela sempre olhava para ele como se ele fosse um verme. Ela era muit o perversa .
Pior , era uma feit iceira .
Se Lathea não gostava de alguém, essa pessoa sofr ia por causa disso . Todos t inham medo de Lathea, então Oba não sentia -se o único. Porém, mesmo assim, ele
não gostava de falar com ela .
— Eu ire i, Mamãe. vou buscar seu remédio. E não se pr eocupe, vou cuidar
do trabalho de raspar o lixo, exatamente como você falou .
— Eu tenho que dizer toda co isinha para você , não tenho, Oba? — o
olhar dela queimou dentro dele . — Não sei porque eu me importo em cr iar um
bastardo inút il. — e la completou falando baixo . — Devia ter feito o que Lathea
disse, no início.
Oba ouvia sua mãe dizer isso com fr equência , quando ela sentia pena de s i
mesma, desgostosa que nenhum pretendente aparecesse ma is , desgostosa que nenhu m
tivesse desejado casar com ela . Oba era uma maldição que ela carregava com amargo
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arrependimento. Uma cr iança bastarda que trouxe problemas desde o início . Se não
fosse por Oba, ta lvez ela t ivesse arrumado um marido para sustentá -la .
— E não fique na cidade fazendo alguma t olice .
— Não , Mamãe. Sinto muito que os seus joelhos estejam ruins hoje .
Ela bateu nele com a vara .
— E les não estar iam tão ruins se eu não t ivesse que andar at rás de um
grande idiota para garant ir que ele faça o que já devia estar fazendo .
— S im, Mamãe.
— Você pegou os ovos?
— S im, Mamãe.
Ela observou ele desconfiada , então t ir ou uma moeda do avental de l inho
dela .
— Diga para Lathea fazer um remédio para você também, junto com o meu.
Talvez ainda possamos livrá - lo do mal do Guardião. Se nós pudéssemos t irar o ma l de
você, ta lvez você não fosse tão inút i l . A mãe dele, de tempos em tempos , t entava purif icá - lo do que ela acr editava
ser a natureza vil dele. Ela t entou todos os t ipos de poções . Quando ele era pequeno
ela fr equentemente o forçava a beber p ó efervescente que ela misturava com água de sabão; então ela o trancava em um cercado no celeiro , na esperança de que o ma l de
outro mundo não gostasse de ser queimado e trancado , e par t isse do corpo terreno
apr isionado dele.
O cercado dele não t inha fendas, como os cercados para anima is . Era feito de tábuas sólidas . No verão ele era como um forno. Quando ela fazia com que ele
tomasse o pó efervescente e então o arrastava pelo braço e o trancava no cercado , ele
quase morr ia de terror que ela nunca mais o deixasse sair , ou nunca deixasse ele tomar um pouco de água . Ele recebia com muita alegr ia as pancadas que ela aplicava nele
para tentar silenciar os gr itos dele , só para sair dali .
— Compre meu remédio de Lathea, e um remédio para você. — a mãe
dele levantou a pequena moeda de prata enquanto os olhos dela est reitavam
mostrando uma expressão sér ia . — E não gaste nem um pouco disso com mulheres .
Oba sentiu as or elhas esquentarem. Toda vez que sua mãe mandava ele
comprar alguma coisa , fosse r emédio, trabalho em couro, cerâmica ou suprimentos, ela
sempre o aler tava para não gastar o dinheiro com mulheres . Ele sabia que quando ela falava para não gastar com mulheres , estava
zombando dele.
Oba não t inha coragem para dizer muito ou qualquer coisa para mulheres . Ele sempre comprava o que sua mãe dizia para comprar . Nunca gastou nenhuma vez
em qua lquer coisa, ele t emia a fúr ia da mãe dele .
Ele odiava que ela sempre falasse para ele não gastar o dinheiro quando ele
jama is fizera isso. Fazia ele sentir como se ela pensasse que ele pr etendia fazer algo errado mesmo que ele não est ivesse com essa intenção . Isso fazia ele sent ir -se culpado
mesmo que não t ivesse feito nada de errado . Transformava o que estava em seus
pensamentos , mesmo se ele não os t ivesse, em um cr ime. Ele coçou uma orelha ardente.
— Não vou gastar , Mamãe.
— E vista-se de forma respeitável, não como algum idiota . Você já causa
má impressão suf iciente para mim.
— Farei isso , Mamãe. Você verá .
Oba corr eu até a casa e pegou seu gorro de feltro e o ca saco de lã marrom
para sua jornada até Gretton, umas duas milhas a nordeste. Ela observou ele pendurar
tudo cuidadosamente em um gancho, onde f icar iam limpas até que ele est ivesse pronto para ir até a cidade.
Com a pá , ele começou a trabalhar no l ixo endu recido. A pá de aço emit iu
um som parecido com o toque de um s ino cada vez que ele bateu com ela no solo
congelado. Ele grunhiu com cada golpe poderoso. Fragmentos de gelo negro voavam,
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espirrando nas ca lças dele. Cada um era uma par tícu la inf inites ima l da montanha
escura de l ixo. Isso levar ia um longo tempo e bastante trabalho . Porém, ele não se
importava com o trabalho duro. Tempo ele t inha em abundância .
A mãe observou do portal do celeiro durante alguns minutos para cer t ificar -se de que ele estava trabalhando duro enquanto cuidava do monte congelado . Quando
estava satisfeita , ela desapareceu do portal para voltar ao seu própr io trabalho ,
deixando ele pensar a respeito de sua vis ita a Lathea.
— Oba .
Oba fez uma pausa , os ratos em seus buracos , ficaram imóveis . Os pequenos
olhos negros de ratos o lhavam ele observando-os. Os ratos voltaram à sua busca por comida. Oba f icou esperando a voz familiar . Ele ouviu a por ta para a casa fechar . A
mãe, uma solteirona , estava retornando ao seu trabalho de f iar lã . O Sr. Tuchmann
trouxe lã para ela , que ela f iava transformando em linha para ele usar na tecelagem
dele. O baixo pagamento ajudava a sustentar ela e seu f i lho bastardo .
— Oba .
Oba conhecia a voz muito bem. T inha ouvido ela desde que podia lembrar .
Nunca falou para sua mãe a respeito . Ela f icar ia zangada e pensar ia que era o ma l do Guardião chamando ele . Ela
ir ia querer forçá - lo a engolir a inda mais poções e r emédios . Ele estava grande demais
para ser trancado novamente no cercado . Mas não era grande demais para beber os remédios de Lathea.
Quando um dos ratos gordos passou correndo , Oba pisou na cauda dele ,
prendendo o bicho.
— Oba .
O rato soltou um pequeno guincho de rato . Pequenas pernas de rato
agitaram-se, t entando fugir . Pequenas garras de rato arranharam contra o gelo negro.
Oba est icou o braço e segurou o corpo peludo gordo . Olhou para o rosto com bigodes. A cabeça balançava fut i lmente.
Pequenos olhos negros br ilhantes observavam ele .
Aqueles olhos estavam cheios de medo .
— Entregue .
Oba achava que era vitalmente importante aprender coisas novas .
Rápido como uma raposa , ele arrancou a cabeça do rato com uma mordida .
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C A P Í T U L O 8
De onde parecia para ela o canto ma is tranquilo sala , Jennsen manteve u m olho na porta assim como na multidão barulhenta . A cerca de metade da sala de
distância , Sebastian inclinou sobre o balcão de grossas tábuas , falando com a dona da
hospedar ia . Ela era uma mulher grande, e com um com uma expressão sér ia que fazia
ela parecer estar tão acostumada com problemas quanto estava preparada para l idar com eles.
A sala cheia de pessoas , em sua maior parte homens , formava um grupo
alegre. Alguns dos homens jogavam dados ou outros jogos de tabuleiro. Alguns queda de braço. A ma ior ia estava bebendo e contando p iadas qu e
deixavam mesas cheias de for tes gargalhadas .
As r isadas pareciam obscenas para Jennsen. Não exist ia alegr ia no mundo dela . Não podia exist ir .
A semana passada era apenas um borrão . Ou será que foi ma is de uma
semana? Ela não conseguia lembrar exatamente quanto tempo eles estiveram viajando .
O que importava? O que importava qualquer coisa ? Jennsen estava desacostumada com pessoas . Pessoas sempre representaram
per igo para ela . Grupos delas a deixavam nervosa, pessoas em uma hospedaria ,
bebendo e jogando, mais ainda . Quando homens notavam ela parada no f im do ba lcão per to da pared e, eles
esqueciam as piadas , ou faziam uma pausa nos dados , e observavam ela . Ao encontrar
com os olhares deles , ela puxava o capuz para trás , deixando os tufos de cabelo
vermelho espa lharem-se sobre a fr ente dos ombros . Isso era o bastante para fazer com que eles desviassem os olhos para seus próprios assuntos, o cabelo vermelho de
Jennsen assustava as pessoas , especialmente aquelas que eram supersticiosas . Cabelo
vermelho era incomum o bastante para levantar suspeitas . Isso fazia as pessoas ficarem preocupadas que ela pudesse ser dotada , ou talvez que pudesse até mesmo ser
uma feit iceira . Jennsen, encarando os olhares deles de forma audaciosa , jogava com
esses medos. No passado isso a judou a protegê- la , muitas vezes melhor do que uma faca poder ia ter feito.
Lá em sua casa , isso não ajudou nem um pouco.
Depois que os homens desviaram sua atenção dela e voltaram aos dados e
bebidas, Jennsen olhou de volta para o ba lcão. A robusta dona da hospedaria estava olhando para ela , para o cabelo vermelho dela . Quando Jennsen encarou o olhar dela , a
mulher rapidamente desviou sua atenção de volta para Sebastian. Ele fez outra
pergunta para ela . Ela chegou ma is per to enquanto falava com ele. Jennsen não conseguia ouvir eles com o barulho de todas as conversas , piadas, apostas , r isadas,
pragas, e gargalhadas . Sebastian assent iu r espondendo as palavras que a mulher fa lou
per to do ouvido dele . Ela apontou sobre as cabeças dos clientes dela , aparent ement e fornecendo instruções .
Sebast ian endir eitou o corpo e t irou uma moeda do bolso , então fez ela
deslizar pelo balcão até em dir eção à mulher .
Depois de pegar a moeda , ela tr ocou-a por uma chave de uma caixa qu e estava atrás dela . Sebastian r ecolheu a chave do balcão gasto por incontáveis canecas
e mãos. Ele pegou a caneca dele, e despediu -se da mulher .
Quando chegou ao f inal do balcão , inclinou per to de Jennsen para que ela pudesse escutá - lo e fez um s inal com sua caneca .
— Tem certeza que não gostaria de uma bebida ?
Jennsen balançou a cabeça . Ele manteve um olho na sala cheia de pessoas . Todos estavam mais uma vez
enga jados em seus próprios assuntos .
— Fo i uma boa co isa você afastar seu capuz . Até que a mulher da casa
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visse o seu cabelo vermelho, ela estava fazendo-se de idiota . Depois disso, a l íngua
dela f icou solta .
— A mulher conhece ela? Ela ainda está morando aqui em Gretton, como a
minha mãe falou? A dona da hospedar ia tem cer teza ?
Sebast ian tomou um longo gole , observando o rolar de dados causar alegr ia
para o vencedor .
— E la forneceu inst ruções .
— E você conseguiu os quartos?
— Apenas um quarto . — enquanto tomava outro gole , ele viu a reação
dela . — Melhor estarmos juntos em caso de problemas . Achei que ser ia ma is
seguro f icarmos em apenas um quarto.
— Eu prefer ia dormir com Betty. — percebendo como aquilo deve ter
soado , ela desviou o olhar , envergonhada e completou. — Do que em uma
hospedar ia , eu quero dizer . Eu prefer ia f ica r sozinha do que onde tem tantas pessoas
tão per to. Eu me sent ir ia ma is segura na f loresta do que trancada em um quarto , aqui. Eu não estava querendo dizer . . .
— Entendo o que você quer ia dizer . — os olhos azuis de Sebastian
combinaram com o sorr iso dele. — Fará bem para você dormir do lado de dentro,
vai ser uma no ite fr ia . E Betty f icará melhor abr igada no estábulo .
O homem que cuidava do estábulo ficou um pouco surpreso com o pedido de
colocar uma cabra para passar a noite no estábulo , mas cava los gostam da companhia
de cabras , então ele concordou.
Naquela pr imeira noite, provavelmente Bet ty t inha salvo as vidas deles . Sebast ian, com sua febre, podia não ter sobrevivido se Jennsen não t ivesse encontrado
um lugar seco emba ixo de uma sa liência . A par te traseira da pequena fenda sob a
projeção estreitava em um ponto, mas era grande o bastante para os dois . Jennsen t inha cor tado ga lhos de bálsamo e abeto para cobrir a depressão, para que a rocha fr ia
não sugasse o ca lor dos corpos deles . Então ela e Sebast ian agasalharam-se no fundo.
Com o incent ivo de Jennsen e ajuda da corda , Betty ajoelhou atrás dos ga lhos de
pinheiro posicionados sobre a aber tura e en tão deitou per to na fr ente deles . Com o corpo de Betty contra eles , b loqueando o fr io e fornecendo o calor dela , eles t inham
uma cama seca e quente.
Jennsen chorou baix inho durante toda a longa noite miserável . Pelo menos ela f icou aliviada que Sebast ian, febr il, conseguiu dormir . De manhã , a febre dele
havia cedido. Aquela manhã foi o pr imeiro dia da fr ia nova vida de Jennsen sem a mã e
dela . Deixar o corpo de sua mãe lá na casa , sozinho, constantemente assombrava
Jennsen. A lembrança da horr ível visão sangrenta causava pesadelos . O fato de qu e
sua mãe se fora gerava lágr imas inf initas e deixava Jennsen arrasada com o
sofr imento. A vida parecia desolada e sem sent ido. Mas Sebastian e Jennsen escaparam. Eles sobreviveram. Esse inst into para
sobreviver , e saber tudo que sua mãe t inha feito para dar uma vida para Jennsen, fazia
com que ela seguisse adiante . Às vezes ela desejava não ser uma covarde e conseguir simplesmente encarar o f im e acabar com isso. Outras vezes o terror de ser perseguida
a mantinha com um pé na fr ente do outro . Em outros momentos ela sent ia uma
sensação de feroz compromisso com a vida , em não permit ir que todos os sacr if íc ios de sua mãe fossem em vão.
— Dever íamos comer um pouco , — Sebas tian falou. — eles t êm carneiro
cozido. Então talvez você devesse aproveitar uma boa noite de sono em uma cama quente antes que par tamos para encontrar essa amiga sua . Montarei guarda enquanto
você dorme.
Jennsen balançou a cabeça .
— Não. Vamos fa lar com ela agora . Podemos dormir ma is tarde. — e la viu
pessoas comendo cozido em t igelas de madeira . Pensar em comida não t inha
atrativo para ela .
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Sebast ian estudou a expressão no rosto dela e percebeu que não con seguir ia
convencê- la . Ele esvaziou a caneca e colocou -a sobre o balcão.
— Não fica longe . Estamos do lado cer to da cidade.
Do lado de fora, na escur idão cr escente, ela perguntou .
— Porque você quer ficar aqui , nessa hospedaria? Havia outros lugares
muito melhores, onde as pessoas não pareciam tão. . . rudes. Os olhos azuis dele observaram as construções , os por tais escuros , os becos,
enquanto os dedos dele tocavam em sua capa , buscando a segurança do cabo de sua
espada.
— Uma mult idão rude faz menos pergunt as , especia lmente os t ipos de
perguntas que não queremos r esponder .
Para ela ele pareceu um homem acostumado a evitar perguntas . Ela pisou pelo estreito su lco de uma raiz congelada , seguindo ela descendo a
estrada em dir eção da casa da mulher , uma mulher que Jennsen lembrava apenas
vagamente. Ela agarrava-se f irmemente na esperança de que a mulher pudesse ser capaz de a judar . A mãe dela devia ter a lguma razão para não procurar essa mulher
novamente, mas Jennsen não conseguia pensar em outra coisa para te ntar a não ser
buscar a ajuda dela . Sem a sua mãe, Jennsen precisava de a juda . Certamente os outros tr ês
membros do Quad estavam caçando ela .
Cinco homens mortos diziam a ela que havia pelo menos dois Quads . Isso
signif icar ia que pelo menos três daqueles assassinos ainda estavam atrás dela . Era inteiramente poss ível que houvesse ma is . Era provável até mesmo que se não houvess e
ma is, logo haver ia .
Eles escaparam usando a tr i lha escondida para longe da casa dela , provavelmente os homens não estar iam espera ndo isso, então ela e Sebastian ganharam
a segurança temporár ia da distância . A chuva ter ia feito um bom trabalho cobr indo os
rastros deles . Era poss ível que os dois t ivessem escapado de forma limpa e est ivessem seguros por enquanto. Mas uma vez que o pers eguidor dela era o próprio Lorde Rahl,
também era poss ível que os assassinos est ivessem, através de a lgum meio mister ioso e
sombrio, momento a momento, aproximando-se dela .
Depois do terr ível encontro com os enormes soldados na casa dela , o t error daquela poss ib il idade sempre surgia nos medos de Jennsen.
Em um canto deser to, Sebastian apontou para a dir eita .
— Descendo a rua .
Eles caminharam passando por prédios escuros , quadrados e sem janelas ,
que suger iam a ela que talvez fossem usados apenas para arma zenagem. Parecia qu e
ninguém vivia descendo a rua . Em pouco tempo, eles deixaram os pr édios para trás . Árvores, peladas diante do vento fr io , formavam grupos . Quando eles
chegaram a uma estrada estr eita , Sebastian apontou.
— De acordo com as informações , é a casa descendo essa rua , descendo
até o f inal, naquele grupo de árvores .
A estrada parecia pouco usada . Luz fraca de uma janela distante escapava
através de galhos de carva lho nus . A luz, ao invés de caloroso convite, br i lhava mais como um aler ta cint i lante para manter distância .
— Porque você não espera aqui , — e la falou . — poder ia ser melhor se
eu fosse sozinha .
Ela estava ofer ecendo a ele uma desculpa . A maior par te das pessoas não
quer ia chegar per to de uma feit iceira . A própria Jennsen gostar ia de ter a lguma outra opção.
— Eu vou com você .
Ele havia mostrado uma vis ível desconfiança a respeito de qualquer coisa relacionada com magia . Pelo modo como seus olhos observavam o lugar escuro através
dos galhos e arbustos nos lados , ele podia apenas es tar tentando soar mais corajoso do
que era .
48
Jennsen censurou a s i mesma por ao menos pensar ta l coisa . Ele lutou contra
soldados D'Haran que não eram apenas maiores do que ele , mas que estavam em maior
número. Ele podia s implesmente ter f icado lá fora na caverna e não ter arr iscado sua
vida. Podia ter abandonado a cena daquela carnif icina e seguido com sua vida . Temer a magia apenas provava que ele t inha mente sã . Ela , entr e todas as pessoas , podia
entender o medo da magia .
A neve era esmagada sob as bota s deles enquanto os dois , após a lcançarem o fina l da estrada , seguiam caminho pelo caminho estr eito entr e as árvores . Sebastian
olhava para os lados enquanto a atenção dela estava concentrada na casa . Por trás do
pequeno loca l, a f lor esta marchava subindo os sopés das montanhas . Jennsen imaginou que somente aqueles com grande necess idade ousavam andar no caminho em dir eção a
essa porta .
Jennsen conclu iu que se a feit iceira morava tão per to ass im da cidade , então
ela devia ser alguém que a judava pessoas , a lguém em quem as pessoas confiavam. Era inteiramente poss ível que a mulher fosse um valioso e r espeitado membro da
comunidade, uma curandeira , devotada a ajudar os outros . Não alguém para temer .
Enquanto o vento gemia pelas árvores que erguiam -se ao r edor dela , Jennsen bateu na porta . O olhar de Sebast ian estudou a flor esta de cada lado. Atrás deles as
luzes das casas e lojas pelo menos forneciam luz suf iciente para que eles
encontrassem o caminho de volta . Enquanto aguardava , o olhar de Jennsen também foi a traído pela escuridão
ao redor .
Ela imaginou olhos na escuridão observando -a. Os cabelos na nuca dela
ficaram er içados . Finalmente a por ta abr iu , mas apenas o bastante para encaixar o rosto da
mulher que espiava eles .
— S im?
Jennsen não conseguia dist inguir c laramente os traços sombreados do rosto ,
mas de acordo com a luz que escapava através da porta parcialmente aber ta , a mulher
podia enxergar Jennsen muito bem.
— Você é Lathea? — e la perguntou . — Lathea, a . . . feit iceira?
— Porquê?
— Fomos informados de que Lathea, a feit iceira , mora aqui . Se é você,
podemos entrar?
Ainda assim a porta não abr iu ma is . Jennsen aper tou a capa por causa do ar fr io da noite, assim como pela fr ia r ecepção. O olhar firma da mulher observou
Sebast ian, e depois a forma de Jennsen escondida dentro de uma capa grossa .
— Não sou uma parteira . Se querem sa ir do problema em que se meteram,
não posso a judar . Procurem uma par teira .
Jennsen estava espantada .
— Não estamos aqui po r causa disso !
A mulher espiou durante um momento, avaliando os dois estranhos na sua
porta .
— Então, que t ipo de remédio vocês precisam?
— Nenhum remédio. Um.. . feit iço. Já encont rei com você, uma vez. Preciso
de um feit iço como aquele que uma vez você lançou para mim, quando eu era pequena .
O rosto nas sombras franziu a testa .
— Quando? Onde?
Jennsen l impou a garganta .
— Lá no Palácio do Povo . Quando eu morava lá . Você me ajudou quando
eu era pequena .
— Ajudei com o quê? Fale, garota .
— Ajudou . . . a me esconder . Com algum t ipo de feit iço, acredito. Eu era
pequena na época , então eu não lembro exatamente.
— Esconder você?
49
— De Lorde Rahl.
Houve um s ilêncio horr ível na casa .
— Você lembra? Meu nome é Jennsen. Eu era muito pequena na época .
Jennsen baixou o capuz para que a mulher pudesse ver os cachos de cabelo
vermelho i luminados pela luz que vinha da porta .
— Jennsen. Não lembro do nome, mas do cabelo eu lembro. Não é comu m
ver cabelo como o seu .
O ânimo de Jennsen aumentou, com a lívio.
— Faz algum tempo . Fico tão feliz em ouvir que. . .
— Eu não t rabalho com pessoas como você . — a mulher disse. — Nunca fiz isso. Não lancei feit iço para você.
Jennsen ficou sem voz. Não sabia o que dizer . Tinha cer teza que a mulher
uma vez lançara um feit iço para ajudá - la .
— Agora , vão embora . Os dois . — a porta começou a fechar .
— Espere ! Por favor . . . eu posso pagar .
Jennsen enf iou a mão em um bolso e t irou uma moeda rapidamente . Soment e depois que entr egou pela por ta ela viu que era de ouro .
A mulher inspecionou a moeda de ouro durante algum tempo , ta lvez
avaliando se va lia à pena envolver -se novamente naquilo que cer tamente ser ia um alt o cr ime, mesmo em troca de uma pequena for tuna .
— Agora você lembra? — Sebastian perguntou.
Os olhos da mulher desviaram para ele .
— E quem é você?
— Apenas um amigo .
— Lathea, pr eciso da sua a juda novamente. Minha mãe. Jennsen não
conseguia dizer , e r ecomeçou seguindo uma dir eção difer ente . — Lembro de minha
mãe falando sobre você , e como você nos ajudou um dia . Eu era muito pequena na
época, mas lembro do feit iço sendo lançad o sobre mim. Faz anos. Preciso daquela ajuda outra vez.
— Bem, você procurou a pessoa errada .
Os punhos de Jennsen aper taram sua capa de lã . Ela não teve outras ideias . Essa era a única coisa na qua l ela conseguiu pensar .
— Lathea, por favor , eu estou no l imite. Preciso de ajuda .
— Ela deu a você uma boa soma , — Sebastian declarou. — se você diz
que procuramos a pessoa errada , e você não quer ajudar , então acho que dever íamos
guardar o ouro para a pessoa cer ta . Lathea mostrou um leve sorr iso para ele .
— Oh, eu falei que ela estava falando com a pessoa errada , mas eu não diss e
que não podia receber o pagamento ofer ecido .
— Não entendo . — Jennsen fa lou, segurando a capa bem fechada na
garganta enquanto tremia de fr io. Lathea olhou para ela durante um momento, como se est ivesse esperando
para ter cer teza de que eles estavam prestando bastante atenção .
— Você está procurando a minha irmã , Althea. eu sou La. . . thea. Ela é
Al. . . thea. Foi ela quem a judou você, não eu. Provavelmente a sua mãe confundiu
nossos nomes, ou você lembra dele errado. Isso costumava ser um erro comum, na
época em que estávamos juntas . Althea e eu temos talentos com o Dom difer entes . Foi ela quem ajudou você e sua mãe, não eu.
Jennsen estava surpresa e desapontada , mas pelo menos não derrotada .
Ainda havia um f io de esperança .
— Por favor , Lathea, você podia me a juda r dessa vez? No lugar da sua
irmã?
— Não. Não posso fazer nada por você . Eu sou cega para pessoas como
você. Somente Althea consegue enxergar os buracos no mundo. Eu não cons igo.
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Jennsen não sabia o que aquilo s ignif icava, buracos no mundo .
— Cega . . . para pessoas como eu ?
— S im. Eu falei o que podia . Agora , vá embora .
A mulher começou a afastar -se da porta .
— Espere ! Por favor ! Então pode ao menos dizer onde a sua irmã mora?
Ela olhou novamente para o rosto ans ioso de Jennsen.
— Isso é um assunto per igoso.. .
— Esse assunto , — Sebastian falou, sua voz tão fr ia quanto a noite , —
vale uma moeda de ouro . Por esse pr eço nós dever íamos pelo menos saber o lugar
onde podemos encontrar sua irmã .
Lathea ponderou as palavras dele , então, com uma voz tão fr ia quanto a dele
falou para Jennsen.
— Não quero ter nada a ver com pessoas do seu t ipo . Entendeu? Nada.
Se Althea faz isso, isso é assunto dela . Pergunte no Palácio do Povo.
Jennsen pareceu lembrar de viajar a té uma mulher que não f icava muito
longe do Palácio. Tinha pensado que era Lathea, mas deve ter s ido a irmã dela , Althea.
— Mas você não pode dizer mais do que isso ? Onde ela mora , como
posso encontrá -la?
— A ú lt ima fez que a vi ela morava perto dali com o mar ido dela . Você
pode perguntar lá pela feit iceira Althea. As pessoas a conhecerão, se ela ainda estiver viva.
Sebast ian colocou a mão contra a por ta antes que e mulher pudesse fechá - la .
— Isso é uma quant idade de informação muito pequena . Dever íamos
receber ma is do que isso pelo preço ofer ecido .
— Pelo que fa lei a vocês o preço é um valor pequeno . Dei a informação
que precisam. Se a minha irmã quiser arr iscar a desgraça dela , isso depende dela . O
que eu não preciso, por qualquer pr eço, é problema.
— Não queremos causar problema , — Jennsen falou. — só precisamos
da ajuda de um fe it iço , se você não pode ajudar com isso , então agradecemos pelo
nome da sua irmã . Vamos procurá - la . Mas tem algumas coisas importantes que eu
preciso saber . Se você puder dizer . . .
— Se você t ivesse um pouco de decência , deixar ia Althea em paz.
Pessoas do seu t ipo só causarão problemas para nós . Agora afaste-se da minha porta antes que eu lance um pesadelo sobre você .
Jennsen olhou f ixamente para o rosto nas sombras .
— Alguém já fez isso. — e la disse enquanto afastava-se .
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C A P Í T U L O 9
Oba, sent indo-se na moda em seu casaco de lã marrom com gorro , caminhou descendo os lados das ruas estr eitas , assoviando uma melodia que ouvira ser toc ada
em uma f lauta em uma hospedaria pela qual passou . Teve que esperar um cavaleir o
passar antes de virar descendo a rua de L athea. As orelhas do cavalo voltaram-se em
dir eção a ele quando o anima l passava . Oba teve um cava lo, um dia , e gostava de cavalgar , mas a mãe dele decidiu que eles não podiam manter um cavalo . Bois era m
ma is úteis e faziam mais trabalho, mas não er am tão sociáveis .
Enquanto ele caminhava pela estrada escura , suas botas esmagando a crosta de neve, um casal passou vindo na dir eção oposta , da dir eção da casa de Lathea. Ele
imaginou se eles foram até a feit iceira em busca de uma cura . A mulher lançou u m
olhar desconfiado na dir eção dele . Em uma estrada escura , uma r eação como essa não era incomum, e Oba também sabia que o tamanho dele as sustava algumas mulheres .
Ela deu um passo para o lado afastando-se dele. O homem com ela encarou o olhar de
Oba, muitos homens não faziam isso.
O modo como eles se olharam fez Oba lembrar do rato. Ele sorr iu com a lembrança , por aprender coisas novas . O homem e a mulher pensaram que ele estava
sorr indo para eles . Oba inclinou o gorro dele para a mulher . Ela devolveu um lev e
sorr iso. Foi o t ipo de sorr iso vazio que Oba via com fr equência em mulheres . Isso fazia ele sent ir -se como um bufão. O casal desapareceu nas ruas escuras .
Oba enf iou as mãos nos bolsos do casaco e virou novamente em direção à
casa de Lathea. Ele odiava ir a té ali no escuro. A feit iceira já era bastante assustadora
sem a caminhada no caminho escuro até ela . Ele soltou um suspiro no ar f r io de inverno.
Ele não t inha medo de confrontar a força de homens , mas ele sabia que
estava indefeso contra os mistér ios da magia . Sabia quanta misér ia as poções dela causaram a ele. Elas o queimavam quando entravam e quando saíam.
Elas não apenas machu cavam, faziam ele perder o controle de s i mesmo,
fazendo parecer como se ele fosse apenas anima l . Isso era humilhante. Porém, ele t inha ouvido falar de outros que enfureceram a feit iceira e
sofreram dest inos p iores, febres , cegueira , uma morte lenta . Um homem f icou louco e
saiu correndo nu dentro de um pântano. As pessoas diziam que ele deve ter enfurecido
a feit iceira , de algum modo. Encontraram ele p icado por uma cobra e morto , todo inchado e roxo, f lutuando no meio do mato viscoso. Oba não conseguia ima ginar o que
o homem t inha feito para merecer ta l castigo da feit iceira . Ele devia ter pensado duas
vezes e ser mais cu idadoso com a velha perversa . Às vezes, Oba t inha pesadelos sobre o que ela poderia fazer a ele com a
magia dela . Ele imaginava que os poderes de Lathea podiam fer ir ele com mil cor tes ,
ou até mesmo arrancar a carne dos ossos dele . Ferver os olhos dele em sua cabeça . Ou fazer a língua dele inchar até que ele engasgasse e sufocasse em uma morte lenta e
agonizante.
Ele acelerou o passo no ca minho. Quanto mais cedo começasse, mais cedo
terminar ia . Oba aprendera isso. Quando ele chegou até a casa bateu na porta .
— É Oba Schalk. Minha mãe mandou buscar o r emédio dela .
Ele observou a respiração formar uma nuvem no ar enquanto aguardava .
Finalmente a por ta abr iu em uma fenda para que ela pudesse espiar ele. Ele pensou
que, sendo uma feit iceira , ela dever ia ser capaz de enxergá - lo sem precisar abr ir a
por ta para dar uma olhada pr imeiro . Às vezes quando ele estava ali esperando Lathea preparar o remédio, a lguém aparecia e ela s implesmente abr ia a por ta . Entretanto, toda
vez que Oba vinha, ela sempre espiava pr imeiro para ver se era ele .
— Oba. — a voz dela estava tão amarga ao reconhecê - lo quanto sua
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expressão .
A porta abr iu para ele entrar . Cuidadosamente, r espeitosamente, Oba entrou.
Ele espiou ao r edor , embora conhecesse bem o lugar . Ele tomava cuidado para não agir apressadamente com ela . Sem exibir medo algum dele, ela bateu no ombro dele
para incent ivá- lo a ir mais fundo na sala para consegui r espaço para fechar a por ta .
— Os joelhos da sua mãe, outra vez? — a feit iceira perguntou , fechando
a por ta contra o ar fr io.
Oba assentiu enquanto olhava fixamente para o chão .
— E la diz que eles estão doendo , e ela gostar ia de um pouco do seu
remédio. — e le sabia que precisava contar a ela o resto . — Ela pediu a você
para . . . para enviar alguma coisa para mim também.
Lathea sorr iu daquele jeito dela .
— Alguma co isa para você , Oba?
Oba sabia que ela sabia muito bem o que ele quer ia dizer . Só havia duas
curas pelas quais ele a procurava. . . um para sua mãe e a outra para ele. Porém, ela
gostava de fazer ele dizer . Lathea era tão ruim quanto uma dor de dente.
— Um remédio para mim também , Mamãe falou.
O rosto dela aproximou-se. Ela olhou para ele, o sorr iso astuto ainda no seu
rosto.
— Um remédio para a perversidade ? — a voz dela saiu em um sibilo .
— É isso , Oba? É isso que a Mãe Scha lk quer que você leve?
Ele l impou a garganta e assent iu . Ele sent iu -se fraco diante do leve sorr iso
dela , então ele olhou nova mente para o chão.
O olhar de Lathea cont inuou sobre ele . Ele ficou imaginando o que estava naquela mente esper ta dela , que pensamentos per turbadores , que esquemas terr íveis .
Ela f inalmente afastou -se para buscar os ingredientes que guardava no a lto armár io. A
porta grosseira de p inheiro rangeu quando ela abr iu . Ela colocou garrafas sobre o
outro braço e carregou-as até a mesa no meio da sala .
— E la cont inua tentando , não é mesmo, Oba? — a voz dela ficara
indiferente , como se est ivesse fa lando para si mes ma. — Cont inua tentando mesmo
que isso nunca mude as co isas .
— Oba .
Uma lamparina a óleo sobre a mesa i luminava a coleção de garrafas
enquanto ela as colocava ali , uma de cada vez, seus olhos observando cada uma . Ela
estava pensando em alguma coisa . Talvez qual mistura horr ível ela far ia para ele dessa
vez, que t ipo de condição doent ia ela inf l igir ia sobre ele em uma tentativa de pur if icá -lo de sua sempre presente, não especif icada, ma ldade .
As toras de carvalho na lar eira estavam color idas no br ilho al aranjado
ondulante do fogo, lançando um bom calor assim como luz pela sala . No meio da sala deles, Oba e sua mãe t inham um buraco para fogueira . Ele gostava do modo como a
fumaça na lareira de Lathea subia pela chaminé e seguia para fora da casa , ao invés de
ficar dentro da sala antes de eventualmente seguir seu caminho sa indo por um pequeno buraco no teto. Oba gostava de uma lareira apropriada , e pensava que devia fazer uma
para ele e sua mãe. Toda vez que ele vis itava a casa de Lathea, estudava a maneira
como a lar eira dela era constru ída . Era importante aprender coisas .
Ele também f icava de olho nas costas de Lathea enquanto ela derramava l íquidos de garrafas dentro de uma jarra de boca larga . Ela misturava o pr eparo com
um bastão de vidro enquanto cada novo ingrediente era adicionado lentamente .
Quando estava satisfeita , ela derramou o r emédio em uma pequena garrafa e tampou -a com uma rolha .
Entr egou a pequena garrafa para ele.
— Para a sua mãe .
Oba entr egou a ela a moeda que a mãe dele deu . Ela observou os olhos dele
53
enquanto seus dedos ossudos enf iavam a moeda dentro de um bolso no vestido . Oba
fina lmente soltou a respiração depois que ela virou de volta para a mesa , para o
trabalho dela .
Ela levantou algumas garrafas , analisando-as na luz do fogo, antes de começar a misturar o remédio dele . O ma ldito r emédio dele.
Oba não gostava de fa lar com Lathea, mas o si lêncio dela fr equentemente o
deixava ainda mais desconfor tável , fazia ele sent ir comichão. Não conseguia pensar em a lgo que r ealmente valesse à pena dizer , mas fina lmente ele decidiu que precisava
dizer alguma coisa .
— Mamãe f icará feliz com o r emédio . Ela espera que isso a jude os joelhos
dela .
— E ela espera que algo cure o filho dela?
Oba balançou os ombros , arrependido de sua tentat iva de uma conversa
casual.
— S im, ma dame.
A feit iceira olhou para trás cima do ombro.
— Fale i para a mãe Scha lk que não acredito que isso faça algum bem.
Oba também achava que não, porque não acreditava que r ea lmente t ivess e alguma coisa que precisava de cura . Quando era pequeno, pensava que sua mãe sabia o
que era melhor , e não dar ia o remédio para ele se ele não precisasse , mas ele passou a
duvidar daquilo. Ela não parecia mais tão esper ta quanto um dia ele acr editara .
— Porém, ela deve se importar comigo. Ela cont inua tentando.
— Talvez ela tenha esperança de que o remédio possa livrá - la de você.
— Lathea falou, quase distraidamente, enquanto trabalhava .
— Oba .
A cabeça de Oba levantou. Ele f icou olhando para as costas da feit iceira . Nunca t inha cons iderado tal pensamento. Talvez Lathea t ivesse esperança de que o
remédio l ivrasse as duas do bastardo. Às vezes a mãe dele vis itava Lathea. Talvez ela s
t ivessem conversado sobre isso. Será que ele acr editava, de forma ignorante, que as duas mulheres
estivessem tentando fazer o bem para ele, a judá- lo, quando na verdade era o oposto?
Talvez as duas mulheres t ivessem planejado algo. Talvez elas est ivessem o tempo todo unidas para envenená - lo.
Se a lguma coisa acontecesse com ele , a mãe dele não ter ia ma is que ajuda r a
sustentá- lo. Com fr equência ela reclamava como ele comia demais . De vez em quando
ela falava que trabalhava mais para alimentá -lo do que a si mesma , e que por causa dele ela nunca podia economizar qualquer dinheiro . Talvez se ao invés disso ela
t ivesse economizado o dinheiro que gastou nos remédios dele durante anos , agora
t ivesse um ninho confor tável . Mas se algo acontecesse com ele , sua mãe ter ia que fazer todo o trabalho .
Talvez as duas mulheres simplesmente desejassem fazer isso por simples
avareza.
Talvez não t ivessem pensado bem nisso tudo , como Oba far ia . Diversas vezes a mãe dele o surpreendia com a ingenuidade dela . Talvez as duas mulheres
estivessem sentadas um dia e s implesmente decidiram f icar más .
Oba observou a luz bruxuleante dançar sobre os f ios do cabelo l iso da feit iceira .
— Hoje a Mamãe disse que ela devia ter feito o que você sempre disse para
ela fazer , desde o começo. Lathea, derramando um líquido marrom espesso dentro da jarra , olhou por
cima do ombro novamente.
— E la disse, agora?
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Oba .
— O que você dizia que Mamãe devia fazer desde o começo?
— Isso não é óbvio?
Oba .
A gélida percepção causou formigação na carne dele .
— Está querendo dizer que ela devia ter acabado comigo .
Ele nunca t inha fa lado algo tão audacioso . Nunca havia, de qua lquer forma,
ousado confrontar a feit iceira , ele a t emia demais . Mas, dessa vez, as palavras simplesmente surgiram na mente dele, de forma parecida como a voz fazia , e t inha
pronunciado elas antes que t ivesse tempo de avaliar se era uma coisa sábia ou não
fazer isso. Ele surpreendeu Lathea ma is ainda do que t inha surpreendido a si mesmo .
Ela hes itou com suas garrafas , observando ele como se ele houvesse transformado -s e
diante dos olhos dela . Talvez ele t ivesse.
Então ele percebeu que gostava da sensação de falar o que estava em sua mente.
Nunca t inha visto Lathea hes itar . Talvez porque ela achasse que estava
segura dançando ao r edor do assunto , segura nas sombras das pa lavras , sem que elas fossem apresentadas na luz do dia .
— Isso era o que você sempre quis que ela fizesse , Lathea? É isso?
Matar o fi lho bastardo dela ? Um sorr iso abr iu caminho no rosto f ino dela .
— Não fo i como você faz parecer , Oba. — toda a baixa , lenta , entonação
arrogante t inha evaporado da voz dela . — Não mesmo . — e la fa lou d ir ig iu-se a ela
como um homem mais do que jamais fizera antes , ao invés de como um bastardo
que ela tolerava . Ela pareceu quase doce. — Às vezes as mulheres ficam melhores
sem um bebê recém-nascido . Isso não é t ão ruim, quando o bebê é r ecém-nascido.
Eles não são uma . . . uma pessoa, a inda .
Oba. Entregue .
— Está querendo dizer que ser ia mais fácil .
— Isso mesmo. — e la fa lou , destacando as palavras dele. — Ser ia mais
fácil. A própria voz dele f icou ma is lenta e assumiu um tom que ele mesmo não
sabia possuir dentro de s i .
— Quer dizer que ser ia mais fácil . . . antes que ele cresça o bastante para
lutar .
O alcance dos ta lentos la tentes dele o deixaram surpreso . Essa era uma noite
de novas maravilhas .
— Não, não, não foi isso que eu quis dizer .
Mas ele achava que era . A voz dela , r ef let indo um fr esco respeito por ele ,
acelerou, tornou-se quase urgente.
— Eu só quis dizer que é mais fácil ant es que uma mulher comece a
amar a sua cr iança . Você sabe, antes que a cr iança torne-se uma pessoa . Uma pessoa
de ver dade, com uma mente. Então, é ma is fácil , e às vezes é a melhor coisa para a
mãe.
Oba estava aprendendo algo novo, mas ainda não t inha conectado tudo . Sent iu que todo o seu novo conhecimento era profundamente importante , que ele
estava à margem da verdadeira compreensão.
— Como poderia ser melhor ?
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Lathea parou de derramar o l íquido e abaixou a garrafa .
— Bem, às vezes é dif íci l t er um bebê novo . Dif ícil para os dois . É melhor
para os dois , realmente, às vezes. . . Ela caminhou rapidamente até o armário . Quando voltou com uma nova
garrafa, deu a volta para o outro lado da mesa e sua costa não f icava mais voltada para
ele. A ma ior ia dos ingredientes para o r emédios dele eram pós ou l íquidos e ele nã o sabia o que eles eram. A garrafa que ela trouxe cont inha u ma das poucas coisas qu e
ele r econhecia , a base seca de Rosas da Febre da montanha . Elas pareciam pequenos
círculos enrugados com uma estr ela no cent ro. Frequentemente ela colocava uma no
remédio dele. Dessa vez, ela colocou um punhado na mão, cerrou o punho para esmagá-las, e jogou os fragmentos marrons no r emédio que estava misturando.
— Melhor para os do is? — Oba perguntou.
Os dedos dela pareciam procurar algo para fazer .
— S im, às vezes . — parecia que ela não quer ia mais falar sobre isso ,
mas não conseguia encontrar um jeito de fazer o assunto encerrar . — Às vezes é ma is
dif icu ldade do que uma mulher consegue suportar , só isso, uma dif icu ldade que apenas
coloca ela e o resto das cr ianças dela em per igo .
— Mas a Mamãe não teve outras cr ianças .
Lathea f icou em s ilêncio durante um momento .
Oba. Entregue .
Ele escutou a voz, a voz que de a lgum modo tornara -se difer ente. De algum
modo vastamente ma is importante.
— Não, mas do mesmo jeito você era uma dif icu ldade para ela . É dif íci l
para uma mulher cr iar uma cr iança sozinha .
Especia lmente uma cr iança. . . — e la parou , então recomeçou. — Eu só
quer ia dizer que ser ia difíc il .
— Mas ela conseguiu . Acho que você estava errada . Não é mesmo, Lathea?
Você estava errada . Não Mamãe, você. Mama quis f icar comigo.
— E ela nunca casou. — Lathea disparou. O lampejo de fúr ia dela colocou
de volta nos olhos dela a chama da autor idade arrogante . — Talvez se ela . . . ta lvez s e
ela t ivesse casado t ivesse chance de ter uma família completa , ao invés de apenas . . .
— Um garoto bastardo?
Lathea não r espondeu dessa vez . Ela pareceu estar arrependida por assumir
uma pos ição f irme. A centelha de fúr ia abandonou os olhos dela . Com dedos levemente tr êmulos , ela colocou outro punhado das f lor es secas na pa lma da mão ,
esmagou-as rapidamente no punho, e jogou dentro do r emédio . Ela virou e ocupou -se
estudando as chamas na lareira através de um líquido dentro de uma garrafa de vidro azul.
Oba deu um passo em dir eção à mesa. A cabeça dela levantou , seus olhos
encontrando com os dele.
— Quer ido Cr iador. — ela sussurrou enquanto olhava dentro dos olhos
dele . Ele percebeu que ela não estava falando com ele , mas cons igo mesma . — Às
vezes , quando olho dentro desses olhos azuis , eu cons igo ver ele. . .
Oba franziu a t esta .
A garrafa escorregou da mãe dela , bateu sobre a mesa , e rolou até cair no chão, onde est i lhaçou.
Oba. Entregue. Entregue sua vontade .
Isso era novidade. A voz nunca t inha falado isso.
— Você quer ia que Mamãe me matasse, não quer ia , Lathea?
Ele deu outro passo em dir eção à mes a.
Lathea f icou r ígida .
56
— Fique onde está , Oba.
Havia medo nos olhos dela . Pequenos olhos de rato. Isso def init ivamente era
novidade. Ele estava aprendendo coisas novas quase ma is rápido do que conseguia perceber .
Viu as mãos dela , as armas de uma feit ice ira , levantando. Oba fez uma
pausa . Ele f icou parado, cauteloso, a tento .
— Entregue, Oba, e você será invencível .
Isso não era apenas novo, era assustador .
— Acho que você quer me matar com seus ―remédios‖ , não quer ,
Lathea? Quer me ver morto.
— Não. Não, Oba. Isso não é verdade. Juro que não é.
Ele deu outro passo, t estando o que a voz prometera . As mãos dela levantaram, um brilho de luz ganhou vida ao r edor dos dedos
dela . A feit iceira estava conjurando magia.
— Oba, — a voz de la estava mais firme , mais decidida. — fique onde
está .
Entregue, Oba, e você será invencível .
Oba sent iu as coxas bater em na mesa quando avançou . As jarras tremeram e bateram umas nas outras . Uma delas balançou . Lathea observou ela balançar e quase
voltar a sua pos ição c orr eta , apenas para cair e derramar seu espesso l íquido
vermelho.
Repent inamente o rosto de Lathea contorceu de ódio, com fúr ia , com esforço. Ela projetou as mãos em forma de garras para frente , em dir eção a ele, lançou
toda a força do seu poder contra ele .
Com um estalo trovejante, a luz explodiu, o clarão fazendo tudo na sala ficar branco por um instante.
Ele viu um jato de luz branco amarelada rasgar através do ar em dir eção a
ele, um raio mortal enviado para matar . Oba não sent iu nada .
Atrás dele, a luz abr iu um buraco do tamanho de um homem através da
parede de madeira , lançando fragmentos f lamejantes dentro da noite . T odo o fogo
emit iu um chiado na neve. Oba tocou em seu peito, para onde toda a força do poder dela havia sido
dir ecionado. Nenhum sangue. Nenhuma carne machucada . Ele estava intacto.
Pensou que Lathea estava ainda ma is surpresa com isso do que ele . Ela f icou de boca aber ta .
Os olhos arregalados dela estavam f ixos nele .
Durante toda a sua vida ele t emeu esse espantalho .
Lathea recuperou-se rapidamente, e novamente o seu rosto contorceu com o esforço quando ela levantou as mãos. Dessa vez um estranho chiado de luz azul
formou-se. O ar parecia estar com cheiro de cabelo queimado . Lathea virou as palmas
para cima, lançando adiante sua ma gia mortal , enviando a morte para ele. Um poder ao qua l ninguém conseguir ia res ist ir seguiu em dir eção a ele .
O raio azul queimou as paredes atrás , mas outra vez ele não sent iu nada .
Oba sorr iu. Novamente, Lathea moveu os braços , mas dessa vez ela também sussurrou
um canto com palavras confusas que ele não conseguiu entender , recitando uma
ameaça de magia . Uma coluna de luz surgiu , ondulando no ar diante dele, uma víbora
de extraordinár io poder . Sem dúvida , o objetivo da coisa era matar , Oba levantou as mãos para sentir a onde mortal serpenteante que ela cr iou . Ele passou os dedos através
dela , mas não conseguiu sentir nada . Era como olhar para algo em um mundo
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difer ente. Estava ali, mas não estava .
Era como se ele fosse. . . invencível.
Com um rugido de fúr ia , as mãos dela levantaram outra vez .
Rápido como o pensamento, Oba segurou -a pela garganta.
— Oba! — ela gemeu. — Oba, não! Por favor !
Isso era novidade. Nunca t inha ouvido Lathea dizer por favor . Com o pescoço dela em sua garra , ele arrastou-a através da mesa em dir eção
a ele. Garrafas espalharam-se, caindo no chão. Algumas bateram e rolaram, algumas
quebraram como ovos .
Oba fechou um punho no cabelo de Lathea. Ela agarrou nele , invocando desesperadamente seus ta lentos . Ela falou palavras que deviam ser uma súplica
míst ica no uso da magia , do seu Dom, do poder de feit iceira dela . Embora não
reconhecesse as palavras , entendia a intenção letal delas . Porém, Oba havia entr egue sua vontade, e tornara-se invencível.
Tinha observado ela l iberar a fúr ia dela ; agora ele liberava a dele.
Bateu com ela contra o armário . A boca de Lathea abr iu em um gr ito si lencioso.
— Porque você quis que Mamãe se l ivrasse de mim?
Os olhos dela , grandes e arredondados , es tavam f ixos no objeto do seu terror : Oba. Toda a vida dele, ela sent ira prazer em aterror izar os outros . Agora todo
aquele terror t inha r etornado para assombrá -la .
— Porque você quis que Mamãe se l ivrasse de mim?
Uma sér ie de pequenos gr itos foram a única resposta dela .
— Porque? Porque?
Oba rasgou o vest ido do corpo dela . Moedas caíram do bolso, espa lhando-s e
pelo chão.
— Porque?
Ele agarrou a combinação branca que ela usava por baixo do vest ido.
— Porque?
Ela t entou segurar a combinação sobre o corpo, mas ele arrancou do mesmo jeito, lançando ela ao chão, com braços magros e pernas aber tas . Os seios
envelhecidos dela f icavam pendurados como tetas de vaca . Agora essa poderosa
feit iceira estava nua diante dele , e não era nada . Os gr itos dela , c laros e for tes , f inalmente surgiram. Com os dentes cerrados,
ele agarrou-a pelo cabelo e fez ela levantar . Oba bateu com ela no armário. Madeira
esti lhaçou. Garrafas caíram em cascata . Ele pegou uma garrafa quando ela rolava e
quebrou-a contra o armário.
— Porque , Lathea? — aproximou o gargalo de uma garrafa q uebrada
contra o corpo dela . — Porque? — e la gr itou mais alto ainda . Ele torceu a garrafa
na barr iga macia dela . — Porquê?
— Por favor . . . quer ido Criador . . . por favor , não.
— Porque , Lathea?
— Porque.. . — e la gemeu. — você é o filho bastardo daquele mons tro ,
Darken Rahl.
Oba hes it ou. Essa era uma novidade surpreendente, se fosse verdade .
— Mamãe foi for çada . Ela falou para mim. Disse que o meu pai era algu m
homem que ela não conhecia .
— Oh, ela conhecia ele, conhecia . Ela trabalhava no Palácio quando era
jovem. A sua mãe t inha seios grandes e ideias ma iores a inda naquela época . Ideias
pobremente concebidas . Não suf icientemente esper ta para perceber que não era ma is
do que uma noite de diversão para um homem com um suprimento i l imitado de mulheres ansiosas daquele jeito, como ela , e de outras que não estavam.
Isso def init ivamente era algo novo. Darken Rahl foi o homem mais poderoso
no mundo. Aquele sangue nobre de Rahl podia f lu ir nas veias dele? As implicações
emocionantes f izeram a cabeça dele girar .
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Se a feit iceira est ivesse fa lando a verdade.
— Minha mãe ter ia f icado no Palácio do Povo se ela carregasse o f i lho de
Darken Rahl.
— Você não é o herdeiro dotado dele .
— Mas assim mesmo, se eu fosse filho dele. . .
Independente da dor dela , ela conseguiu exibir aquele sorr iso dizendo que
ele era apenas poeira para ela .
— Você não é dotado . Pessoas como você eram apenas vermes para ele .
Ele exterminou brutalmente todos que descobriu . Ele t er ia tor turado você e sua mã e
até a morte se ele soubesse de você . Ass im que ela descobriu isso, a sua mãe fugiu .
Oba estava impress ionado com todas as coisas novas . Elas estava m começando a cr iar uma confusão em sua mente .
Ele puxou a feit iceira bem per to.
— Darken Rahl era uma mago poderoso. Se o que você diz é verdade , ele
ter ia nos caçado. — e le bateu com ela no armár io outra vez . — E le ter ia me
caçado ! — sacudiu ela para extrair uma resposta . — Ele ter ia !
— E le fez isso , mas não conseguiu enxergar os buracos no mundo .
Os olhos dela estavam girando. O corpo fr ágil dela não era páreo para a força de Oba. Sangue escorr eu do ouvido dir eito dela .
— O quê? — Oba conclu iu que agora Lathea estava resmungando
baboseiras .
— Só Althea pode. . .
O que ela falava deixou de ter sent ido . Ele f icou imaginando quanto do que
ela falou era verdade. A cabeça dela caiu para o lado.
— Eu devia ter . . . salvo todos nós . . . quando t ive chance. Althea estava
errada . . . Ele a balançou, t entando fazer ela dizer mais . Uma espuma vermelha
borbulhou do nar iz dela . Independente dos gr itos dele , das exigências , que ele f icasse
sacudindo ela , não conseguiu ma is nenhuma palavra. Ele segurou-a bem per to, a
respiração dele pesada, quente, erguendo f ios de cabelo dela enquanto ele contemplava seus olhos vazios .
Tinha aprendido tudo que poder ia conseguir d ela .
Ele lembrou de todos os pós ardentes que teve de engolir , das poções qu e ela misturou para ele, dos dias que passou no cercado. Lembrou de todas as vezes qu e
vomitou e assim mesmo suas entranhas não paravam de queimar .
Oba rosnou quando ergueu a mulher magra. Com um rugido de fúr ia ele bateu com ela contra a parede. Os gr itos dela eram combust ível para a chama da
vingança dele. Ele sent ia prazer na agonia dela .
Esmagou-a contra a pesada mesa , quebrando-a, e quebrando ela . Com cada
impacto, ela tornava-se ma is f lácida , ensanguentada , incoerent e. Mas Oba t inha apenas começado a l iberar seu ódio contra ela .
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C A P Í T U L O 1 0
Jennsen não quer ia voltar para a hospedaria , mas estava escuro e fr io e ela não sabia mais o que fazer . Era desanimador que Lathea não t ivesse r espondido as
perguntas deles . Jennsen estava depos itando suas esperanças na ajuda da mulher .
— O que faremos amanhã? — Sebastian perguntou.
— Amanhã ?
— Bem, você a inda quer que eu ajude a sair de D'Hara, como você e a sua
mãe pediram?
Ela rea lmente não t inha pensado nisso. Em vista do que a pequena Lathea
falou para ela , Jennsen não t inha cer teza do que fazer . Ela f icou olhando distraidamente dentro da noite vazia enquanto eles
andavam com dif icu ldade pela neve encrostada .
— Se nós fôssemos até o Palácio do Povo , eu ter ia algumas r espostas , —
e la falou , pensando em voz alta . — e , com sor te, a ajuda de Althea.
Ir a té o Palácio do Povo era de longe a alternativa ma is per igosa . Mas não
importava para onde ela corresse, onde ela se escondesse, a magia de Lorde Rahl assombrar ia ela . Althea podia ser capaz de ajudar . Talvez, de algum modo, ela fosse
capaz de esconder Jennsen dele e permit ir que ela t ivesse sua própria vida .
Ele pareceu pensar com ser iedade nas palavras dela , uma longa nuvem da respiração dele espalhando-se ao vento.
— Então iremos até o Palácio do Povo . Encontrar essa mulher Althea.
De cer to modo ela sent iu -se inquieta quando percebeu que ele não estava dando espaço para discussão, ou tentando fazer ela mudar de ideia .
— O Palácio do Povo é o coração de D'Hara. Não apenas o coração de
D'Hara, mas a casa de Lorde Rahl.
— Então ele não estar ia esperando que você fosse até lá , estar ia?
Esperando o ou não, eles ainda estar iam caminhando dentro d o covil do inimigo. Nenhum predador demorava muito tempo para notar a presa em seu meio .
Eles estar iam expostos diante das pr esas dele .
Jennsen olhou para a forma sombreada caminhando ao lado dela .
— Sebastian, o que você está fazendo em D'Hara? Parece que você não
sente amor algum pelo lugar . Porque você viajar ia para um lugar que não gosta ?
Sob o capuz dele, ela viu um sorr iso.
— Eu sou assim tão óbvio ?
Jennsen balançou os ombros .
— Já encontrei com viajantes . Eles falam sobre lugares onde est iveram,
coisas que viram. Maravilhas . Lindos va les . Montanhas de t irar o fôlego. Cidades
fascinantes . Você não fa la de lugar algum onde esteve, ou qualquer coisa que viu .
— Você quer a verdade? — e le perguntou , agora sua expressão estava
sér ia .
Jennsen desviou o olhar . De r epente ela sent iu-se envergonhada , intrometida, especialmente diante daquilo que ela não fa lava para ele .
— S into muito . Não tenho direito de perguntar uma coisa assim . Esqueça
que eu mencionei isso.
— Eu não me importo . — o lhou para ela com um sorr iso t riste . —
Acho que você não me entregar ia para os so ldados D'Haran.
Ela f icou chocada com a simples ideia .
— Claro que não .
— Lorde Rahl e o Impér io D'Haran dele desejam governar o mundo. Estou
tentando impedir isso. Eu sou do su l de D'Hara, como eu fa lei para você . Fui enviado
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por nosso l íder , o imperador do Mundo Ant igo, Jagang, o justo. Eu sou o estrategista
do Imperador Jagang.
— Então você é alguém de alta autoridade , — e la sussurrou, surpresa .
— um homem de alta posição .
A surpresa rapidamente t ransformou-se em int imidação . Ela teve medo
de imaginar a importância dele, a pos ição dele. Na mente dela essa sensação cr esceu a
cada momento, pouco a pouco.
— Como devo me dir igir a alguém como você ?
— Como Sebastian.
— Mas , você é um homem importante. Eu sou uma ―ninguém‖ .
— Oh, você é alguém, Jennsen Daggett . O Lorde Rahl em pessoa não caça
uma ―ninguém‖ . Jennsen sent iu uma estranha e inesperada sensação de inquietação . Ela não
sentia amor por D'Hara, é claro, mas ainda sent ia -se um tanto desconfor tável em saber
que Sebastian estava ali para ajudar na derrota da terra dela .
A sensação de lea ldade a confundiu . Afinal de contas , o Lorde Rahl enviou os homens que assassinaram a mãe dela .
O Lorde Rahl caçava Jennsen, quer ia ela morta .
Mas era o Lorde Rahl que a quer ia mor ta , não necessar iamente o povo da terra dela . As montanhas , os r ios , as vastas planícies , as árvores e a vida vegeta l
sempre abr igaram e alimentaram ela . Nunca pensou nisso desse jei to, que ela podia
amar sua terra natal , e a inda assim odiar aqueles que a governavam. Porém, se esse Jagang, o justo, t ivesse sucesso, ela ficar ia l ivr e de seu
perseguidor . Se D'Hara fosse derrotada , Lorde Rahl ser ia derrotada, o governo de
homens maus acabar ia . Pelo menos ela ficar ia livr e para viver sua própria vida .
Na luz do quanto ele estava aber to com ela , ela também sent ia -se tola , a té mesmo envergonhada , por não contar a Sebastian quem ela era e porque Lorde Rahl a
caçava. Ela mesma não sabia tudo, mas sabia o bastante para saber que Sebastian
comparti lhar ia o mesmo dest ino que ela se eles o capturassem junto com ela . Quando ela pensava nisso, começou a fazer sent ido porque ele podia não
fazer objeção a respeito de seguir a té o Palácio do Povo , porque ele poderia estar
disposto a arr iscar uma jornada per igosa assim. Como estrategista do Imperador Jagang, ta lvez Sebastian não achasse outra coisa melhor do que dar uma espiada
dentro do covil do inimigo .
— Aqui estamos. — e le falou .
Ela levantou os olhos e viu as tábuas brancas da fr ente da hospedar ia . Uma
caneca de metal pendurada em um suporte acima rangeu quando balançou para frente e
para trás ao vento. Os sons da cantor ia e dança espa lharam-se dentro do s i lêncio coberto de neve da noite. Com um braço ao redor dos ombros dela , Sebastian abr igou-
a enquanto eles seguiam caminho pela grande sala , protegendo-a dos olhos cur iosos , e
conduziu -a até a escada do outro lado.
Se era poss ível, o lugar estava ainda mais cheio e barulhento do que antes . Sem pausa , os dois subiram os degraus rapidamente . Descendo parcialment e
o corredor , ele destrancou a por ta a dir eita . Lá dentro, Sebast ian fez subir o pavio na
lamparina a óleo sobre uma pequena mesa . Ao lado da lamparina estava um jarro e uma bacia e per to da mesa um banco . De um lado do quar to havia uma alta cama
coberta de forma tor ta com um cobertor marrom escuro .
O quar to era melhor do que a casa que ela deixara , mas Jennsen não gostava
dele. Uma parede estava coberta por uma tela de l inho p intada . As paredes engessadas estavam manchadas e descascadas. Uma vez que o quar to f ica va no segundo andar , o
único caminho para voltar era descendo por dentro hospedaria . Ela odiava o fedor do
quar to, uma mistura de fumaça de cachimbo e ur ina . O penico debaixo da cama não foi esvaziado.
Enquanto Jennsen t irava algumas coisas da mochila dela e seguia até a mesa
para lavar o rosto, Sebastian deixou-a cuidar daquilo e desceu as escadas . Na hora em
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que ela t erminou de lavar -se e t inha passado a escova no cabelo , ele r etornou com
duas t igelas de cozido de carneiro . Ele também trazia pão marrom, e canecas de
cerveja . Eles comeram sentando juntos no banco cur to , curvados sobre a mesa , per to
da luz bruxuleante da lampa rina a óleo. O gosto do cozido não era tão bom quando parecia . Ela pegou os pedaços de
carne mas deixou os vegeta is sem cor , sem sab or . Ela ensopou um pedaço do pão no
caldo. Ela entr egou a cerveja dela para Sebast ian e bebeu água . Não estava acostumada a beber cerveja . Para ela o gosto da cerveja era tão desagradável quanto o
da lamparina a óleo. Sebastian parecia gostar daquilo.
Quando acabou de comer , Jennsen andou de um lado para outro no quar to pequeno do jeito que Betty fazia no cercado dela .
Sebast ian jogou uma perna para cada lado do banco e apoiou as costas
contra a parede. Os olhos azuis dele a seguiram da cama até a parede c om linho e de
volta , enquanto ela começava a formar um rastro no chão de madeira .
— Porque você não deita e dorme um pouco , — e la fa lou com uma voz
suave . — eu tomarei conta de você .
Ela estava sent indo-se como um anima l apr is ionado. Observou ele tomar u m
longo gole da caneca .
— E o que faremos amanhã?
Não era apenas seu desgosto com a hospedaria , com o quar to. A consciência
dela a estava devorando. Não deixou ele r esponder .
— Sebastian, preciso contar a você quem eu sou . Você foi honesto comigo.
Não posso f icar com você e colocar sua missão em per igo . Não sei nada sobre as
coisas importantes que você faz , mas f icar comigo apenas fará você correr grande r isco. Você já me a judou ma is do que eu podia ter imaginado , mas do que eu podia
pedir .
— Jennsen, já estou corr endo r isco por estar aqui . Estou na terra do meu
inimigo.
— E você é a lguém de alt a posição . Um homem importante. — e la
esfregou as mãos , t entando gerar algum calor aos seus dedos gelados . — Se eles
capturassem você porque está comigo . . . bem, eu não conseguir ia suportar .
— Assumi o r isco de vir até aqui .
— Mas eu não tenho s ido honesta com você, eu não menti para você, mas
não falei aquilo que devia ter falado faz muito tempo . Você é um homem importante demais para arr iscar f icar comigo quando nem
ao menos sabe porque estou sendo caçada, ou do que se tratava aquele ataque na
minha casa . — ela engo liu em seco o bolo do loroso na garganta . — Porque a
minha mãe perdeu a vida .
Ele não fa lou nada , simplesmente deu tempo para ela recuperar o controle e contar do própr io jeito dela . Desde o pr imeiro momento que ela o conheceu , e ele não
aproximou-se quando ela estava com medo , ele sempre deu a ela o espaço que ela
precisava para sent ir -se segura . Ele merecia ma is do que ela deu em troca . Jennsen f ina lmente parou de caminhar e olhou para ele , para os olhos azuis
dele, olhos azuis como os dela , como os do pai dela .
— Sebastian, Lorde Rahl. . . o ú lt imo Lorde Rahl, Darken Rahl. . . era meu
pai.
Ele r ecebeu a not ícia sem expressar qualquer r eação externa . Ela não
conseguia imaginar o que ele estava pensando . Quando ele olhou para ela , de modo tão calmo quanto fez quando ela não estava transmit indo novidades terr íveis , ela sent iu-s e
segura na companhia dele.
— Minha mãe trabalhou no Palácio dos Profetas . Era par te da equipe do
Palácio. Darken Rahl. . . ele notou a presença dela . Essa é a prerrogativa de Lorde Rahl
para possuir qua lquer mulher que ele quer .
— Jennsen, você não. . .
Ela levantou uma das mãos , s i lenciando-o. Queria colocar para fora a coisa
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toda antes que perdesse a coragem. Uma vez que sempre est ivera com sua mãe, agora
ela t emia f icar sozinha . Temia que ele a abandonasse, mas precisava contar para ele o
que sabia .
— E la estava com quatorze anos , — Jennsen fa lou, iniciando a histór ia
tão calmamente quanto conseguia . — Jovem demais para realmente entender sobre
os costumes do mundo, sobre os homens. Você viu como ela era bonita . Naquela idade, ela já era tão bonita quanto poder ia ser , transformando-se em mulher ma is cedo
do que qualquer outra de sua i dade. Tinha um sorr iso br i lhante e uma inocência
exuberante diante da vida .
— Porém, ela era uma ninguém , e de cer ta forma f icou excitada em ser
notada, desejada, por um homem com tanto poder , um homem que poder ia t er qua lquer
mulher que ele desejasse. Isso foi tolice, é claro, mas na idade e pos ição dela foi a lgo bastante lisonjeiro, e, em sua inocência , eu suponho que pode até mesmo ter parecido
encantador .
— E la fo i banhada e mimada por mulheres mais velhas entre os
empregados do Palácio . Seu cabelo ar rumado como o de uma verdadeira dama. Ela
usou um belo vest ido para seu encontro com o grande homem em pessoa . Quando fo i levada até ele, ele fez reverência e gent ilmente beijou a mão dela , dela , uma serva no
grande Palácio dele , e ele beijou a mão dela .
Para todos os efeitos , ele era tão bonito que causava vergonha nas estátuas de mármore ma is refinadas .
— E la jantou com ele , em um grande salão, e saboreou comidas raras e
exóticas, que ela nunca provara . Só os dois em uma longa mesa de jantar com pessoas servindo-a pela pr imeira vez na vida dela .
— E le era encantador . Ele a complementava na beleza dela , na graça dela .
Serviu vinho para ela , o Lorde Rahl em pessoa . Quando f ina lmente f icou sozinha com ele, ela foi confrontada com a r ealidade do mot ivo pelo qual estava lá . Ela estava
assustada demais para res ist ir . É claro que, se ela não t ivesse se submet ido
obedientemente, ele t er ia feito o que desejasse de qualquer jeito . Darken Rahl era u m mago poderoso. Ele facilmente era tão cruel quanto era encantador . El podia ter
qua lquer mulher sem a mínima dif icu ldade. Só precisava ordenar , e aquelas qu e
res ist iam a sua vontade eram tor turadas até a morte .
— Mas ela nunca pensou em resist ir . Durante algum tempo, independent e
da sua apreensão, aquele mundo, no centro de tanto esplendor , tanto poder ,
provavelmente pareceu excitante. Quando transformou-se em um terror para ela , ela suportou si lenciosamente.
— Não fo i um estupro no sent ido de ser tomada contra sua vontade ,
com uma faca na garganta dela , mas foi um cr ime apesar de tudo. Um cr ime selvagem. Jennsen desviou o olhar dos olhos azuis de Sebastian.
— E le levou a minha mãe para a cama dele durante algum tempo antes
de ficar cansado dela e part ir para outra mulher . Havia tantas mulheres quanto ele
podia querer . Mesmo naquela idade, minha mãe não teve qua lquer tola i lusão de que
signif icava alguma coisa para ele . Ela sabia que ele estava apenas tomando o qu e desejava , pelo tempo que ele quer ia , e que no momento em que ele t erminasse com
ela , logo ela ser ia esquecida. Ela estava fazendo o que uma serva fazia . Uma serva
bajulada, ta lvez, mas ainda assim uma inocente serva jovem, assustada, que sabia muito bem que era melhor não r es ist ir a um homem acima de qualquer lei a não ser a
própria lei dele.
Ela não suportava olhar para Sebastian. Em voz baixa , ela adicionou uma
últ ima par te na histór ia .
— Eu fu i o result ado daquela breve experiência na vida dela , e o início
de uma exper iência muito maior .
Jennsen nunca havia contado para alguém a terr ível histór ia , a t err ível verdade. Ela sent iu-se fr ia e su ja . Sent iu -se enjoada . Mais do que tudo, sent iu
profunda angúst ia por causa daquilo que sua mãe deve ter passado , por causa da
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juventude destru ída dela .
A mãe dela nunca contou a histór ia toda como Jennsen acabara de fazer .
Jennsen t inha juntado fragmentos e pedaços durante toda sua vida , a té que iss o
fina lmente formasse uma imagem completa em sua mente . Ela também não estava contando para Sebastian todos os fragmentos, a verdadeira extensão do horror com a
forma que sua mãe foi tratada por Darken Rahl. Jennsen sent ia grande vergonha por
ter nascido para lembrar sua mãe a cada dia daquela terr ível s ituação que ela nunca conseguiu contar de forma completa .
Quando Jennsen olhou para ele em meio às lágr imas , Sebastian estava em p é
diante dela . As pontas dos dedos dele tocaram gent i lmente o lado do rosto dela . Foi uma coisa suave como ela jama is sent iu .
Jennsen enxugou as lágr imas dos olhos .
— As mulheres e suas cr ianças não significavam nada para e le . O Lorde
Rahl elimina todos os descendentes que não são dotados . Uma vez que ele toma muitas
mulheres, cr ianças daquelas uniões não são incomuns . Ele quer apenas uma , sua
herdeira , a única cr iança nascida da semente dele que carregue o Dom.
— Richard Rahl. — Sebastian falou.
— Richard Rahl, — e la confirmou . — o meu meio- irmão .
Richard Rahl, o meio– irmão dela , que a caçava como o pa i dele havia
caçado antes . Richard Rahl, o meio- irmão dela , que mandou os Quads dele para matá -
la . Richard Rahl, o meio- irmão dela , que mandou os Quads que assassinaram a mãe
dela . Mas porque? Ela não podia ter r epresentado ameaça para Darken Rahl, e
menos ameaça ainda para o novo Lorde Rahl. Ele era um mago poderoso qu e
comandava exércitos , legiões de dotados , e incontáveis outros seguidores lea is . E ela? Ela não era nada além de uma mulher solitár ia que conhecia poucas
pessoas e quer ia apenas viver sua própria vida simples em paz . Dif icilmente ela
representava ameaça ao governo dele . Até mesmo a verdade da histór ia dela não causar ia surpresa . Todos sabia m
que qualquer Lorde Rahl vivia de acordo com suas próprias leis . Ninguém duvidar ia
da histór ia dela , mas ninguém se importar ia também. No máximo, eles podiam piscar
um olho ou bater levemente com o ombro uns nos outros com a cumplicidade em qu e viviam os homens poderosos , e Darken Rahl foi o homem vivo ma is poderoso.
Toda a vida de Jennsen r epent inamente parecia estar resumida a uma
pergunta pr incipal : porque o pai dela , um homem que ela não conheceu , desejar ia matá- la tão desesperadamente? E porque o f i lho dele, R ichard Rahl, o própr io meio-
irmão dela e agora o Lorde Rahl, também estar ia tão decidido a matá - la? Isso não
fazia sent ido.
O que ela poder ia fazer que pudesse pr ejudicar qua lquer um deles ? Que ameaça ela poder ia representar para ta l poder ?
Jennsen ver if icou se a faca no cinto, a faca que exib ia o emblema da Casa
de Rahl, estava f irme. Ela levantou a lâmina para cer t if icar -se que ela estava l ivr e na bainha. O aço emit iu um agradável cl ique metá lico quando encaixou . Ela recolheu a
capa de cima da cama e jogou em volta dos ombros .
Sebast ian passou uma das mãos pelo cabelo cur to enquanto observava ela amarrar a capa rapidamente.
— O que você acha que está fazendo?
— Voltarei logo . Eu vou sa ir .
Ele moveu-se para pegar as armas e a capa .
— Está certo , eu vou. . .
— Não. Deixe que eu cuido disso, Sebastian. Você já correu r isco bastante
por minha causa . Eu quero ir sozinha . Voltarei logo que terminar .
— Terminar o que?
Ela seguiu apressada até a por ta .
— Aquilo que eu preciso fazer .
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Ele f icou no centro do quar to, com os punhos abaixados , aparentement e
hesitando em agir contra os desejos explícitos dela .
Jennsen fechou a por ta rapidamente atrás de si , cor tando a visão dele . Ela
desceu dois degraus por vez , com intenção de sa ir rapidamente da hos pedaria e par tir antes que ele mudasse de ideia e a seguisse .
A mult idão lá emba ixo cont inuava tão grosseira quanto antes . Ela ignorou os
homens, os jogos deles , as danças , as r isadas , e foi a té a por ta . Entretanto, antes que ela chegasse até lá , um homem barbado passou o braço em volta da cintura dela e
puxou-a de volta para o meio das pessoas . Ela soltou um pequeno gr ito que perdeu-s e
no meio da barulheira . O braço esquerdo dela ficou preso contra a cintura . Ele a girou, segurando a mão dir eita dela , dançando com ela pela sala .
Jennsen tentou a lcançar o capuz, para soltar o cabelo vermelho e assustá -lo,
mas não conseguia l iber tar o braço. Ele pr endia a outra mão dela com uma garra de
ferro. Ela não apenas não conseguia soltar o cabelo , também não consegu ia alcançar a sua faca para defender -se. A r espiração dela estava ofegante de pavor .
O homem r ia com os amigos dele, e girava ela conforme a música ,
segurando-a bem f irme para não perder sua dança com ela . Os olhos dele mostravam alegr ia , não ameaça, mas ela sabia que era apenas porque ainda não havia mostrado
grande r es istência . Sabia que quando ele descobrisse que ela não estava concordando ,
o comportamento alegre dele cer tamente mudaria . Ele soltou a cintura dela e girou -a. Com apenas uma das mãos ainda presa
nos dedos calejados dele , ela estava com esperança de romper a união . Com a mão
esquerda , ela procurou a faca , mas ela estava sob a capa , e não facilmente acess ível . A
mult idão bat ia palmas acompanhando o r itmo das f lautas e tambores . Quando ela virou e afastou -se um passo, outro homem agarrou-a pela cintura , chocando-se contra ela
com força suficiente para fazer o ar escapar dos pulmões dela com um grunhido . Ele
ret irou a mão dela da garra do colega . Ela desperdiçara a chance de baixar o capuz tentando alcançar a faca .
Ela encontrava-se à der iva em um mar de homens . As outras poucas
mulheres, a ma ior ia servindo, f icavam ali por vontade própria ou r iam e conseguia m
uma breve pausa , e então afastavam-se, como insetos que conseguiam caminhar sobre a água.
Jennsen não sabia como elas faziam o truque ; ela estava em per igo de
afogar-se entr e ondas de homens que a transfer iam de um para outro . Quando ela avistou a por ta , afastou-se repent inamente, quebrando o aper to
do ú lt imo homem que a segurava . Ele não estava esperando que ela se l iber tasse de
repente. Todos os homens r iram do colega que a perdeu . A alegr ia dele, como ela esperava , morreu. O r esto dos homens estavam com melhor humor a respeito disso do
que ela esperava , e soltaram um grito de comemoração com a fuga dela .
Ao invés de mostrar raiva , o homem do qual ela havia escapado fez uma
reverência .
— Obr igado , minha l inda jovem, pela dança graciosa . Foi uma gent i leza
com uma alma velha desajeitada como eu. O sorr iso dele r etornou e ele p iscou para e la antes de virar de costas para
bater palmas junto com os colegas dele no r itmo da música .
Jennsen f icou surpresa , percebendo que aquilo não havia sido o per igo qu e
ela esperava . Os homens estavam se diver t indo, e r ea lmente não pretendiam causar algum da no. Nenhum deles a tocou de maneira incomum, ou ao menos falou qualquer
palavra rude para ela . Eles apenas sorr iram, r iram, e dançaram com ela . Mesmo assim,
Jennsen seguiu rapidamente até a por ta . Antes que ela sa ísse, outro braço segurou -a pela cintura . Jennsen começou a
lutar e empurrar.
— Não sabia que você gostava de dançar .
Era Sebastian. Ela relaxou, e permit iu que ele a levasse para fora da
hospedar ia .
Do lado de fora na escuridão da noite , o ar fr io era um a lívio. Ela inspirou
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profundamente, fel iz em estar longe do cheiro não familiar de cerveja , fumaça de
cachimbo, e homens suados , feliz em estar longe do barulho de tanta gente.
— Fale i para deixar eu cuidar disso. — e la disse .
— Deixar você cuidar do quê?
— Eu vou até a casa de Lathea. Fique aqui, Sebastian. Por favor?
— Se você disser porque não quer que eu vá .
Ela levantou uma das mãos mas deixou ela cair novamente .
— Sebastian, você é um homem importante. Eu me s into terr ível com o
per igo que você já corr eu por minha causa . Isso é um problema meu, não seu. A minha
vida está . . . eu não sei. Eu não tenho uma vida . Você tem. Não quero que você f iqu e envolvido na minha bagunça .
Ela começou a caminhar pela neve.
— Apenas espere aqui .
Ele enf iou as mãos nos bolsos enquanto caminhava ao lado dela .
— Jennsen, Eu sou um homem crescido. Não decida por mim o que eu devo
fazer , está cer to? Ela não respondeu quando virava em uma esquina descendo por uma rua
deser ta .
— Diga porque você quer ver Lathea, está bem?"
Então ela parou ao lado da rua , per to de um prédio desabitado não muit o
longe do canto da estrada que conduzia até a casa de Lathea.
— Sebastian, durante toda minha vida estive fugindo. Minha mãe passou a
melhor par te da vida dela fugindo de Darken Rahl, me escondendo. Ela morreu
fugindo do f i lho dele, R ichard Rahl. Era atrás de mim que Darken Rahl estava , eu quem Darken Rahl quer ia matar , e agora é Richard Rahl que está atrás de mim, qu e
deseja me matar , e eu não sei porque.
— Estou cansada disso . Minha vida não é nada a não ser fugir , me
esconder , e sent ir medo. Isso é tudo que faço. Tudo em que eu penso. Minha vida é
isso, fugir de um homem que tenta me matar . Tentar f icar um passo adiante dele e
continuar viva . Ele não discut iu com ela .
— Então , porque você quer fa lar com a feit iceira ?
Jennsen enf iou as mãos sob a capa , sob os braços dela , para aquecê- las. Ela olhou em dir eção a estrada escura que conduzia até a casa de Lathea, para a cober tura
de ga lhos pelados movendo-se ao vento. Alguns deles estalavam e rangiam quando
esfr egavam uns nos outros .
— Eu até fugi de Lathea, ma is cedo. Não sei porque Lorde Rahl está me
caçando, mas ela sabe. Tive medo de insist ir para que ela fa lasse . Eu far ia uma
viagem até o Palácio do Povo para encontrar a irmã dela , Althea, com esperança de que ta lvez se eu ficasse docilmente na porta dela ela poder ia acabar decidindo falar ,
me ajudar .
— E se ela não fizer isso ? E se ela também mandar que eu vá embora ? E
então? Que per igo ma ior poder ia haver para mim do que ir a té lá , a té o Palácio do
Povo? E porquê? Pela esperança vazia de que alguém f inalmente fosse escolher a judar
uma mulher solitár ia caçada pela poderosa força de uma nação l iderada pelo assassino fi lho bastardo de um monstro?
— Não está vendo? Se eu parar de aceitar ―não‖ como r esposta , e ins ist ir
que Lathea fale, então talvez eu pudesse evitar uma jornada ainda ma is per igosa até o coração de D'Hara, e ao invés disso, par t ir . Então pela pr imeira vez na minha vida , eu
poder ia ser l ivr e. Mas eu estava prestes a jogar fora essa chance porque estava com
medo de Lathea também. Estou cansada de sent ir medo.
— Sob a luz fraca , ele f icou imóvel avaliando as opções deles .
— Então , vamos par tir . Permita que eu a leve para longe de D'Hara, se é
isso que você quer .
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— Não. Não até que eu descubra porque Lorde Rahl quer me matar .
— Jennsen, que difer ença faz se. . .
— Não! — os punhos dela ficaram cerrados . — Não até que eu descubra
pr imeiro porque minha mãe teve que morrer !
Ela podia sent ir lágr imas fr ias como gelo enquanto desciam pelas bochechas.
Finalmente, Sebast ian assent iu.
— Entendo . Vamos falar com Lathea. Ajudarei você a conseguir uma
resposta dela . Talvez então você permita que eu a leve para longe de D'Hara, para um
lugar onde você f ique segura .
Ela enxugou as lágr imas .
— Obr igada , Sebastian. Mas, mas você não tem a lgum t ipo de trabalho para
fazer aqui? Não posso deixar mais os meus problemas no seu caminho . Esse problema
é meu. Você deve viver a sua própria vida . Então ele sorr iu .
— O guia espir itual de nosso povo , Irmão Narev, diz que o trabalho ma is
importante nessa vida é ajudar aqueles que precisam de ajuda .
Tal sent imento elevou o espír ito dela quando ela achava que isso não podia
acontecer .
— E le parece um homem maravilhoso .
— E le é .
— Mas você ainda tem uma tarefa a executar para o seu líder , Jagang, o
justo, não tem?
— Irmão Narev também é amigo próximo e guia espir itual do Imperador
Jagang. Os dois desejar iam que eu ajudasse você, sei que eles desejar iam isso. Afinal
de contas , o Lorde Rahl também é nosso inimigo. Lorde Rahl causou dif icu ldades
indescr it íveis para nosso povo. Os dois , Irmão Narev e o Imperador Jagang, ins ist ir iam que eu ajudasse você. Essa é a verdade.
Ela f icou engasgada de emoção, e não conseguia falar . Deixou que ele
colocasse o braço em volta da cintura dela e a cond uzisse descendo a estrada . Compartilhando a tranquila escur idão com ele , Jennsen escutou o som suave das botas
deles esmagando a camada de neve .
Lathea t inha que ajudar . Jennsen pretendia garantir isso.
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C A P Í T U L O 1 1
Oba odiava que isso terminasse, mas sabia que devia terminar . Ter ia qu e voltar para casa. Sua mãe ficar ia fur iosa se ele f icasse tempo demais na cidade . Além
disso, ele não conseguia arrancar ma is nenhuma diversão de Lathea. Ela fornecera a
ele toda a satisfação que fornecer ia .
Isso foi fascinante, enquanto durou. I l imitadamente fascinante. E ele t inha aprendido muitas coisas novas.
Animais s implesmente não entr egavam o mesmo t ipo de sensação qu e
aquelas que ele conseguiu de Lathea. Era verdade que, observar uma pessoa morrer , de muitas formas era muito parecido com observar um anima l morrer , mas ao mesmo
tempo era tão difer ente. Oba aprendeu isso.
Quem sabia o que um rato r ealmente estava pensando, ou se ratos ao menos podiam pensar? Mas pessoas podiam pensar . Você podia ver a mente delas através dos
olhos, e você sabia . Saber que eram pensamentos de pessoas de verdade, não a lgu m
pensamento de galinha, coelho ou rato, por trás daqueles olhos humanos , por trás
daquele olhar que dizia tudo, era intoxicante. Testemunhar a exper iência de Lathea foi um êxtase. Especialmente enquanto
ele aguardava aquele instante inspiracional singular de angúst ia def init iva quando a
alma dela deixava sua forma humana , e o Guardião dos Mortos a recebia dentro do reino eterno dele.
Porém, anima is r ealmente causavam nele uma excitação, mesmo se neles
faltasse aquele elemento humano. Havia tr emenda a legr ia em pregar um anima l em
uma cerca , ou na parede de um celeiro, e arrancar a pele deles enquanto ainda estava m vivos. Mas ele não achava que eles t inham a lma. Eles apenas . . . morr iam.
Lathea também morreu, mas foi uma exper iência completamente nova .
Lathea fez ele sorr ir como nunca sorr ira . Oba abr iu o topo da lamparina , ret irou o pavio trançado, e derramou óleo de
lamparina pelo chão, sobre os pedaços quebrados da mesa , em volta do armário de
remédio de Lathea caído no centro da sala . Independente do quanto ele soubesse que gostar ia disso , não podia
simplesmente deixar ela ali para ser descoberta . Haver ia perguntas , se ela foss e
encontrada desse jei to. Ele olhou para ela . Especia lmente se ela fosse encontrada
desse jeito. Aquela ideia r ealmente guardava uma cer ta fascinação . Ele adorar ia escutar
todas as conversas histér icas . Adorar ia ouvir as pessoas contarem para ele todos os
deta lhes macabros da morte monstruosa que Lathea sofr eu. A s imples ideia de u m homem que pudesse ter derrubado a poderosa feit iceira de um modo tão horr ível
causar ia sensação.
As pessoas desejar iam saber quem t inha feito isso . Para alguns, ele ser ia um herói vingador . Pessoas em toda par te f icar iam agitadas . Quando a notícia a respeit o
do sofr imento e do terr ível f inal de Lathea se espalhasse, a fofoca aumentar ia até um
nível febr il. Isso ser ia diver tido.
Enquanto derramava o ú lt imo r esto de óleo da lamparina , ele viu sua faca , onde ele havia deixado, ao lado do armário virado. Ele jogou a lamparina vazia sobre
a pilha de ru ínas e curvou-se para pegar sua faca . Aquilo estava uma bagunça . Não
conseguir ia fazer um omelete sem quebrar os ovos , a mãe dele sempre fa lou . Ela falou muito isso. Nesse caso, Oba achou que o velho ditado dela se encaixava .
Com uma das mãos , ele pegou a cadeira favorita de Lathea e atirou-a no
centro da sala , então começou a l impar cuidadosamente a lâmina dele n a capa
acolchoada da cadeira . Sua faca era uma fer ramenta va liosa , e ele a mantinha afiada . Estava aliviado em ver o br ilho r etornando quando o sangue e a sujeira eram
removidos. Ele ouviu dizer que a magia podia ser preocupante de formas incontáveis .
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Durante algum tempo Oba f icou preocupado que a feit iceira pudesse ser feita de algu m
tipo de ácido de feit iceira , sangue que uma vez derramado comer ia atravessando o aço .
Ele olhou ao redor . Não, apenas sangue comum. Montes dele.
Sim, a sensação que isso cr iar ia ser ia excitante . Mas, ele não gostou da ideia de soldados aparecendo para fazerem
perguntas . Soldados eram pessoas desconfiadas .
Eles enf iar iam os nar izes nisso, tão cer to quanto vacas fornecem leite . Estragar iam tudo com as suspeitas e perguntas deles . Ele não achava que soldados
apreciavam omeletes.
Não, era melhor se a casa de Lathea queimasse. Isso não fornecer ia a mesma alegr ia que todas as conversas e o escândalo , mas também não causar ia tanta suspeita .
As casas de pessoas queimavam o tempo todo, especialmente no inverno . Lenha rolava
de lar eiras, espirrando brasas flamejantes ; centelhas atingiam cortinas e ateavam fogo
em casas; velas derr et iam e caíam, colocando fogo em coisas . Acontecia o tempo todo. Não era algo r ealmente suspeito , um incêndio no meio do inverno. Com todos os raios
e centelhas que a feit iceira lançava , era surpreendente que o lugar ainda não t ivesse
queimado. A mulher era uma ameaça. É claro, a lguém poder ia notar o incêndio descendo até o f ina l da estrada ,
mas até lá já ser ia tarde demais .
Até lá o fogo estar ia quente demais para que alguém conseguisse chegar per to do lugar . Amanhã, se ninguém encont rasse o lugar ardendo, não haver ia nada
além de cinzas .
Ele soltou um suspiro tr iste pela fofoca que nasceu morta , pelo que poder ia
ter acontecido, se não fosse o trágico incênd io que ser ia o culpado pelo f im de Lathea. Oba sabia a respeito de incêndios . Através dos anos , vár ios dos lares dele
queimaram. Os anima is deles foram queimados vivos . Isso aconteceu quando eles
viveram em outras cidades , antes de mudarem para o local on de moravam agora . Oba gostava de observar um lugar queimar , gostava de ouvir os anima is
gr itar em. Gostava quando as pessoas apareciam correndo , todas em pânico. Elas
sempre pareciam pequenas diante daquilo que ele havia cr iado . As pessoas f icava m
com medo quando havia um incêndio. A agitação causada por um prédio queimando sempre inundava ele com uma sensação de poder .
Às vezes, enquanto eles gr itavam pedindo mais a juda , homens jogava m
baldes de água no fogo ou batiam nas chamas com cobertores , mas isso nunca parava um incêndio que Oba cr iava . Ele não era desmazelado. Sempre fazia um bom trabalho.
Ele sabia o que estava fazendo.
Finalmente terminando de limpar e polir sua faca , ele lançou a capa acolchoada ensanguentada sobre a madeira encharcada de óleo a o lado do armário
virado.
O que r estava de Lathea estava pregado sobre o armário deitado no chão.
Ela olhava para o teto. Oba sorr iu. Em breve, não haver ia t eto para ela olhar . O sorr iso dele
aumentou. E nenhum olho para observar .
Oba viu um brilho de luz no chão ao lado do armário . Curvou-se e r ecolheu o pequeno objeto. Era uma moeda de ouro. Oba nunca t inha visto uma moeda de ouro
antes daquela noite. Devia ter caído do bolso do vestido de Lathea, junto com as
outras. Enfiou a moeda de ouro no bolso dele, onde colocara as outras que juntou do chão. Ele também t inha encontrado uma bolsa gorda sob o cama dela .
Lathea o tornara r ico. Quem saber ia que a feit iceira era tão r ica ? Uma par te
daquele dinheiro, ganho por sua mãe com a fiação dela e usado para os remédios
odiosos dele, f ina lmente r etornaram para Oba. A just ice f inalmente estava feita . Quando Oba caminhava até a lareira , ouviu o suave mas inconfundível som
de passos esmagando a neve do lado de fora .
Ele congelou no meio do passo. Os passos estavam chegando ma is per to. Es tavam aproximando-se da porta
da casa de Lathea.
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Quem vir ia até a casa de Lathea tão tarde da noite? Isso era simplesment e
imprudente demais . Não poder iam esperar até o amanhecer para buscarem seus
remédios? Não podiam deixar a pobr e mulher descansar? Algumas pessoas pensava m
apenas em s i mesmas . Oba pegou o atiçador encostado contra a lareira e rapidamente jogou a lenha
de carvalho flamejante para fora da lareira e sobre o chão encharcado de óleo . O óleo,
os pedaços de madeira , os t ecidos da cama , e a capa acolchoada pegaram fogo com um rugido. Densa fumaça branca rodopiou ao r edor da pir e de Lathea.
Rápido como uma raposa , Oba correu para fora através do buraco que a
feit iceira t inha convenientemente aber to na parede dos fundos qu ando tentou matá - lo com a magia dela .
Ela não sabia que ele tornara -se invencível .
Jennsen tomou um susto quando Sebastian segurou o braço dela . Ela virou
para ver o rosto dele na luz fraca que vinha da única janela . Aquele br i lho laranja dançou nos olhos dele. Ela soube imediatamente pela expressão sér ia dele que devia
permanecer em s ilêncio.
Sebast ian sacou sua espada si lenciosamente quando passava por ela seguindo em dir eção à por ta . Naquele movimento ágil, exper iente, ela viu u m
prof iss ional, um homem familiar izado com assuntos assim.
Ele inclinou para o lado, t entando dar uma olhada através da janela sem pisar dentro da neve profunda sob ela . Ele virou para trás e sussurrou .
— Fogo!
Jennsen corr eu até ele.
— Depressa . Ela pode estar dormindo. T emos que avisá - la .
Sebast ian pensou apenas durante um instante , então arrombou a porta .
Jennsen estava logo atrás dele. Ela teve dif iculdade para encontrar sentido no que viu lá dentro. O lugar estava cheio de luz ondulante laranja que lançavam sombras
monstruosas subindo pelas paredes . Naquela luz ondulante , tudo parecia surreal , fora
de esca la , e fora de lugar . Quando ela avistou os detr itos no centro da sala , aquilo tornou -se r ea l
dema is. Ela viu a mão aber ta de uma mulher para fora do topo daquilo que pa recia ser
um alto armário de madeira ca ído. Jennsen toss iu com a fumaça e o cheiro do óleo de
lamparina . Penando que talvez o armário t ivesse caído e machucado a velha feit iceira , Jennsen corr eu para ajudar .
Quando ela contornava ao r edor dos pés do baú d espedaçado, obteve uma
visão completa do que r estara de Lathea. O choque a deixou r ígida . Ela não conseguia mover -se, não conseguia p iscar
os olhos arrega lados . Ela sentiu vontade de vomitar com o fedor do massacre e do
sangue. Enquanto Jennsen olhava f ixamente, o gr ito angust iado dela f icou perdido no rugido das chamas ondulantes e no estalar da madeira ardente .
Sebast ian olhou brevemente os r estos de Lathea presos sobre a par te traseira
do armário, apenas um deta lhe de muitos enquanto o olhar dele varr i a a sala . Pelos
movimentos ca lculados dele, ela imaginou que ele t inha visto coisas assim o bastant e para que o elemento humano não chamasse mais a sua atenção como fazia com ela .
Jennsen .
Os dedos de Jennsen aper taram no cabo da faca . Ela podia sent ir os su lcos
trabalhados no metal press ionados contra sua palma , os altos-r elevos e os traços qu e formavam a letra ―R‖ . Enquanto procurava respirar e controlar a náusea , ela sacou a
lâmina.
Entregue .
— E les est iveram aqu i, — e la sussurrou . — Os so ldados D'Haran
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estiveram aqui.
O que ela detectou nos olhos dele foi ma is como surpr esa, ou confusão, do
que qua lquer outra coisa .
Ele fez uma careta enquanto olhava ao redor novamente.
— Você acha mesmo que fo i isso ?
Jennsen .
Ela ignorou o eco da voz morta na cabeça dela e pensou novamente no
homem que eles encontraram na estrada depois da pr imeira vez em que viera m procurar a feit iceira . Ele era grande, louro, e de boa aparência , como a maior ia dos
soldados D'Haran. Naquele momento ela não havia pensado que ele era um soldado.
Será que ele podia ser um soldado? Não, na verdade, ele pareceu ma is int imidado por eles do que eles por causa
dele. Soldados não se comportavam da maneira que aquele homem comportou -se.
— Quem mais? Não vimos todos eles da out ra vez . Deve ter sido o r esto do
Quad que foi a té a minha casa . Quando fugimos pelo caminho dos fundos , de a lgu m
jeito eles devem ter nos seguido.
Ele ainda estava observando ao r edor enquanto as chamas cr esciam , agora lambendo o teto.
— Acho que você pode t er razão .
Entregue .
— Sebastian, t emos que sair daqui, agora , ou ser emos os próximos . —
Jennsen agarrou a capa no ombro dele , afastando-o. — E les podem estar perto,
agora mesmo .
— Mas , como eles podiam saber ?
— Quer idos espír itos , Lorde Rahl é um mago! Como ele faz tudo que faz?
Como ele encontrou minha casa ?
Sebast ian a inda estava olhando, r evirando os entu lhos com a espada . Jennsen puxou novamente a capa dele, levando ele até a por ta aber ta .
— A sua casa . . . — e le falou , franzindo a testa . — S im, entendo o que
você quer dizer .
— Temos que sair daqui antes que eles nos alcancem !
Ele assent iu , acalmando-a.
— Para onde você quer ir ?
Os dois observaram o portal escuro por cima dos ombros assim como o
crescente incêndio do outro lado.
— Agora não temos esco lha , — Jennsen falou. — Lathea era nossa única
esperança de encontrar uma r esposta . Temos que ir a té o Palácio do Povo, agora .
Encontrar a irmã dela , Althea. Ela é a única com respostas . Ela também é uma feit iceira , e a única que pode enxergar os buracos n o mundo, seja lá o que iss o
signif ique.
— Tem certeza que é isso que você quer faze r?
Ela pensou a respeito da voz . Ela soava tão fr ia e sem vida na cabeça dela .
Ela f icou surpresa . Não escutara a voz desde o assassinato da sua mãe .
— Que outra escolha temos agora? Se algum dia quero saber porqu e
Lorde Rahl quer me matar , porque ele assassinou minha mãe, porque sou caçada , e
ta lvez como escapar das garras dele para sempre , então eu tenho que encontrar essa mulher , Althea. Eu preciso!
Ele cruzou a por ta com ela rapidamente saindo para a noite fr ia .
— É melhor vo ltarmos e juntar mos nossas co isas . Podemos par tir bem
cedo.
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— Com eles tão perto , tenho medo de ficarmos presos na hospedar ia
enquanto dormimos. Eu tenho o dinheiro da minha mãe. Você tem o que pegou dos
homens. Podemos comprar cavalos . Temos que par tir esta noite e torcer para qu e ninguém tenha visto que viemos até aqui ma is cedo , ou novamente, agora .
Sebast ian emba inhou a espada . A r espiração dele espa lhava -se dentro da
noite enquanto avaliava a s opções deles . Ele olhou para trás através da porta .
— Com o incêndio , pelo menos não haverá qua lquer evidência do que
aconteceu aqui. Pelo menos temos isso a nosso favor . Ninguém viu quando viemos aqui ma is cedo, então ninguém fará perguntas para nós . Ninguém saberá que est ivemos
aqui novamente. Não terão qualquer razão para falar aos soldados sobre nós .
— Assim que sairmos daqui, antes que isso seja descoberto e todos
fiquem desconfiados , — Jennsen falou. — antes que so ldados comecem a fazer
perguntas a respeito de est ranhos na c idade .
Ele segurou o braço dela . — Está certo . Então, vamos fazer isso rápido.
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C A P Í T U L O 1 2
Ora , isso não era mesmo uma coisa? . Tudo estava cada vez ma is estranho. Essa noite estava cheia de coisas novas , uma logo após a outra .
Do seu esconder ijo fazendo a curva logo no canto da casa , Oba conseguiu
ouvir grande par te da conversa entr e os dois . No início, ele t inha cer teza que eles
correr iam para buscar ajuda . Oba não achava que o fogo poder ia ser apagado , mas durante a lgum tempo ele ficou preocupado, t emendo que o homem e a mulher
pudessem retirar Lathea da casa, resgatá -la do incêndio para que pessoas pudessem dar
uma olhada . Ser ia praticamente como se a feit iceira encontrasse um jeito de voltar para atormentá - lo, e depois de todo o trabalho dele.
Mas o homem e a mulher escolheram deixa r Lathea no fogo. Eles também
esperavam que o fogo cobr isse a evidência do verdadeiro f ina l da feit iceira . Eles quase soavam como ladrões , a mulher falando sobre pegar dinheiro da mãe dela e ele
pegar o dinheiro de homens . Isso pareceu suspeito.
Se eles t ivessem encontrado ouro e prata ali , eles podiam ter pego. Será qu e
eles trabalharam e foram escravizados durante toda a sua vida, como ele, para fina lmente r ecuperarem o dinheiro que lhes era devido? Ou será que eles foram
forçados a sofr er o abuso de engolir os ma lditos r emédios de Lathea durante a vida
toda? Oba achava que não. Foi difer ente com ele. Ele s implesmente havia recuperado dinheiro que era dele por dir eito . Ele sent iu uma leve indignação por quase estar na
companhia de ladrões comuns .
Essa noite estava acontecendo uma coisa surpreendente atrás da outra .
Pareceu incr ível para ele como a sua vida havia cont inuado , dia após dia , mês após mês, ano após ano, sempre a mesma, as mesmas tarefas , o mesmo trabalho, tudo do
mesmo jeito. Agora , em uma noite, tudo aquilo parecia ter mudado.
Pr imeiro, ele tornara-se invencível e fazendo isso l iberou seu eu inter ior , apenas para descobrir que o sangue ama ldiçoado de Rahl corr ia em suas veias , e agora
esse estranho par apareceu para ajudá - lo a esconder o verdadeiro f inal de Lathea.
Mais e ma is estranho. A assustadora notícia de que ele era de fato o f i lho de Darken Rahl ainda
deixava ele em um estado de grande surpresa .
Ele, Oba Scha lk, como acabou acontecendo , era alguém bastante importante ,
a lguém de sangue nobre, a lguém que nasceu da nobreza . Ele f icou imaginando se agora dever ia ou não pensar em si mesmo como
Oba Rahl. Imaginou se era , de fato, um pr íncipe.
Essa era uma ideia intr igante. Infelizmente, a mãe dele o cr iou de forma simples, então ele não sabia muito sobre esse t ipo de coisa , que posição oi t ítu lo era
seu dir eito.
Ele também percebeu que a mãe dele era uma mentirosa . Ela escondeu a verdadeira ident idade dele do própr io f i lho, a carne e sangue dela . A carne e sangu e
de Darken Rahl. Provavelmente ela estava com raiva e com inveja e não quer ia qu e
Oba soubesse da sua grandeza . Isso ser ia bem t íp ico dela . Ela estava sempre tentando
rebaixá- lo. A vadia . A fumaça que sa ia da porta aber ta não estava mais com o cheiro de óleo de
lamparina . Agora ela carregava o aroma de carne assada . Oba sorr iu enquanto espiava
através do portal a mão de Lathea projetando-se do armário, negra no meio das chamas, acenando para ele do mundo dos mor tos.
Rastejando sorrateiramente pela neve para esconder -se atrás do gordo tronco
de um carva lho, Oba observou enquanto a dupla descia rapidamente o caminho , entr e
as árvores , em dir eção à estrada . Quando eles sa íram da vista , ele seguiu no rastro deles, permanecendo escondido. Ele era um homem bem grande para ficar escondido
atrás de uma árvore, mas na escuridão isso não era dif íci l .
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Ele estava confuso, e pr eocupado, com cer tos aspectos do encontro . F icou
surpreso que a dupla não t ivesse procurado c hamar ajuda , e ao invés disso fugisse. A
mulher , especialmente, estava ans iosa para fugir , pensando que por causa da morte de
Lathea, a lguém estava atrás deles . Um Quad, ela fa lou. Isso era par te do que o deixava preocupado.
Oba já t inha ouvido fa lar de Quads vagamente. Algum tipo de assassinos .
Assass inos enviados pelo própr io Lorde Rahl. Assass inos enviados atrás de pessoas importantes . Ou pessoas que eram especialmente per igosas . Talvez fosse isso, eles
eram pessoas per igosas e não ladrões comuns , afina l de contas .
Oba t inha ouvido o nome dela . Jennsen. Mas o que r ealmente chamou atenção dos ouvidos dele foi que Lathea t inha
uma irmã chamada Althea , outra maldita feit iceira , e Althea era a única que conseguia
ver os buracos no mundo. Isso era o ma is preocupante de tudo, porque era a mesma
coisa que Lathea falou para ele. Naquele momento, ele pensou que a velha feit iceira já estava conversando com os espír itos no mundo dos mortos , ou talvez com o própr io
Guardião do Submundo, mas como acabou acontecendo, ela estava falando a verdade.
De algum modo, essa mulher Jennsen e Oba eram o que Lathea chamava de buracos no mundo. Isso soava importante. De a lgum modo essa Jennsen era como ele.
De algum jeito eles estavam conectados . Isso o deixou fascinado.
Ele gostar ia de ter dado uma olhada melhor nela . O pr imeiro encontro foi no escuro. Na segunda vez que a viu , agor inha mesmo, o fogo forneceu luz suf icient e
apenas para uma visão fraca e sombreada. Quando ela se afastou , ele só conseguiu dar
uma rápida olhada . Com aquela rápida olhada , ele t inha visto que ela era uma mulher
jovem muito bonita . Ele fez uma pausa atrás de uma árvore antes de seguir caminho através da
neve em campo aber to até o esconder ijo de uma árvore ma is distante . Essas pessoas ,
como Jennsen, como Oba, que eram buracos no mundo, eram importantes . Quads eram enviados atrás de pessoas importantes, pessoas que eram especia lmente per igosas para
Lorde Rahl. Lathea disse que se ele soubesse de Oba, o Lorde Rahl desejar ia
exterminá- lo.
Oba não sabia se acr editava em Lathea. Ela ter ia inveja de qualquer um mais importante do que ela . Mesmo assim, ele podia estar corr endo algum t ipo de per igo
sem ao menos saber , sendo caçado porque era um homem importante . Parecia dif íci l
de acr editar , mas em vista de todas as outras coisas novas que ele aprendera esta noite, imaginava que isso não estava completamente fora de questão . Um homem
importante, um homem inter essado em aprender coisas novas , não deixava de lado uma
informação nova como essa sem cons iderá -la devidamente. Oba ainda estava tentando juntar todas as coisas que aprendeu . Era tudo
muito complicado, isso ele sabia muito bem. Ele t inha que levar tudo em consideração
se pretendia juntar todas as peças .
Quando corr ia até a próxima árvore, ele decidiu que podia ser melhor se ele fosse até a hospedar ia e desse uma olhada melhor em Jennsen e Sebast ian, o homem
com ela . Os olhos dele os seguiam enquanto eles alcançavam a estrada que levava até
a cidade. Embora os dois cont inuassem olhando ao redor , não era dif íci l em tal
escur idão para Oba segui- los sem ser visto. Ass im que eles estavam de volta entr e os
prédios, isso f icou a inda ma is fácil . Do canto de uma construção, Oba viu a luz na estrada quando eles abr iram a porta sob uma caneca de metal que balançava ao vento.
Risadas e música também escaparam, como uma comemoração pela morte da feit iceira .
Uma pena ninguém saber que Oba era o herói que acabou com a ma ldição sobre as
vidas deles . Se as pessoas soubessem o que ele conseguiu fazer , provavelmente ele ter ia todas as bebidas que desejasse.
Ele observou quando Jennsen e Sebastian foram engolidos ao entrarem. A
porta fechou batendo. A calmar ia da noite de inverno r etornou . Oba nunca teve chance de entrar em uma hospedaria para beber . Nunca teve
dinheiro. Agora ele t inha dinheiro. Ele t eve uma noite dif íci l , mas emergiu como u m
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novo homem. Um homem r ico. Esfr egando o nar iz na manga do casaco , ele seguiu at é
a por ta . Estava na hora dele ir a té uma aconchegante hospedar ia e tomar uma bebida .
Se alguém merecia uma bebida , era Oba Rahl.
Jennsen observou os rostos na hospedaria , desconfiada , procurando por qua lquer s inal que pudesse indicar desejo a ssassino . Ela estava sent indo-se enjoada
com a visão do que f izeram a Lathea. Esta noite, havia monstros nas r edondezas .
Homens olhavam na dir eção dela , mas o br i lho nos olhos deles parecia de a legr ia , não assassino. Mas como ela poder ia t er cer teza , antes que fosse tarde demais ?
Estava louca de vontade de subir os degraus correndo .
— Calma , — Sebast ian sussurrou, aparent emente acr editando que ela
estava no l imiar do pânico. Talvez est ivesse. A força do aper to dele no braço dela
aumentou. — não vamos deixar as pessoas desconfiadas . — e les subiram os
degraus um de cada vez , movendo-se em um passo controlado, apenas um casal indo
para seu quar to.
No quar to deles , Jennsen entrou rapidamente em ação, juntando os poucos it ens que eles t inham ret irado das mochilas , colocando-os de volta , aper tando as a lças
e fivelas . Até Sebastian, checando suas armas sob a capa , parecia per turbado com o
que aconteceu a Lathea. Jennsen cer t if icou-se de que a faca estava l ivr e na bainha .
— Tem certeza que não gostaria de dormir um pouco ? Lathea não podia
ter falado nada para eles, ela não sabia que estávamos aqui na hospedar ia . Pode ser
melhor inic iar descansados ao amanhecer . Ela lançou um olhar para ele quando colocava a mochila no ombro .
— Certo , — e le disse . Ele segurou o braço dela . — Jennsen, ma is devagar .
Se você corr er , as pessoas podem querer saber porque você está correndo . Ele estava em terr itór io inimigo. Ele saber ia a respeito do assunto de não
levantar suspeita . Jennsen assentiu.
— O quê dever íamos fazer?
— Apenas finja como se fôssemos descer para tomarmos uma bebida ,
ou escutar a música . Se você ins iste em seguir dir eto para a saída, caminhe. Não chame atenção para nós corr endo. Talvez nós apenas estejamos sa indo
para vis itarmos um amigo ou parente, quem pode saber ? Mas não queremos que as
pessoas f iquem imaginando que tem alguma coisa errada. As pessoas esquecem as coisas normais . Elas lembram das coisas que parecem erradas .
Envergonhada , ela assent iu outra vez .
— Acho que não sou muito bo a nisso . Quero dizer , fugir discr etamente .
Estive fugindo e me escondendo durante toda minha vida , mas não desse jeito, quando
eles estão tão p er to que quase cons igo sent ir a respiração no meu pescoço .
Ele mostrou aquele sorr iso ca loroso dele , aquele que f icava tão bem nele .
— Você não fo i t reinada nesse t ipo de coisa . Eu não poder ia esperar qu e
você soubesse como agir . Mesmo ass im, não acho que já encontr ei outra mulher tão
boa quanto você sob tal pressão. Você está muito bem, rea lmente está . Jennsen sent iu-se um pouco melhor sabendo que não estava agindo como
uma tola . Tinha algo nele que transmitia confiança para ela , acalmava , fazia com qu e
fosse capa de r ealizar coisas que não achava que ela poder ia conseguir . Ele permit ia
que ela decidisse sozinha o que ela quer ia fazer , e então ele apoiava sua decisão. Não eram muitos homens que faziam isso para uma mulher .
Descendo os degraus novamente, pela últ ima vez, ela podia sentir a por ta do
outro lado da sala , como se ela est ivesse se afogando e aquilo fosse o único ar . As pessoas tão próximas , esbarrando nela , a inda a deixavam inquieta , faziam ela sent ir a
necessidade desesperada de ar .
Porém, ela aprendera ma is cedo, que os homens não eram a ameaça qu e havia pensado. De cer to modo ela estava sent indo -se envergonhada pela forma como
olhara para eles . Onde antes ela viu ladrões e cor tadores de gargantas , agora ela via
fazendeiros , ar tesãos, trabalhadores, r eunindo-se em busca de companhia, e um pouco
de diversão inofens iva .
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Assim mesmo, havia assassinos em algum lugar esta noite . Depois que viram
Lathea, não havia dúvida nisso.
Jennsen jamais t er ia imaginado que a lguém p udesse ser tão perver t ido. Ela
sabia que se eles a capturassem, eventualmente far iam coisas daquele t ipo com ela também, antes que deixassem ela morrer .
Ela sent iu o estômago revirar com a náusea da lembrança vívida do que
t inha visto. Ela conteve as lágr imas , mas precisava do ar l ivr e e da solidão da noite. No momento em que ela e Sebast ian seguiam através da mult idão na dir eção
daquela ar , ela colidiu com um homem grande quando eles cruzaram os caminhos .
Bloqueada pela parede humana , ela olhou para o rosto bonito. Lembrou dele. Era aquele homem que eles viram na estrada que conduzia até a casa de Lathea.
Ele levantou o chapéu fazendo uma saudação .
— Boa no ite . — e le sorr iu para ela .
— Boa no ite. — e la disse . Fez um esforço para sorr ir , e fazer com qu e
isso fosse verdadeiro, normal. Não t inha cer teza se estava fazendo um bom trabalho ,
mas ele pareceu achar convincente. Ele não agiu de forma tão t ímida quanto ela havia pensado que ele parecia
agir anter iormente. Até mesmo o modo como ele se comportava , seus movimentos ,
eram ma is s eguros. Talvez fosse apenas porque o sorr iso est ivesse funcionando como ela esperava .
— Parece que vocês do is precisam de uma bebida . — quando Jennsen
fez uma careta , sem saber o que ele quer ia dizer , ele apontou para o rosto dela , e
depois para Sebastian. — Os nar izes de vocês estão vermelhos por causa do fr io .
Talvez eu possa pagar uma cerveja para vocês nesta noite gelada ? Antes que Sebastian pudesse aceitar , o que ela t emia que ele pudesse fazer ,
ela disse.
— Obr igada , não. T emos que sa ir . . . para cuidarmos de alguns negócios .
Mas a sua ofer ta foi muito gent i l . — e la forçou um sorr iso outra vez . — Obr igada .
O modo como o homem olhava para ela a deixava nervosa . A verdade é que
ela percebeu estar olhando dentro dos olhos azuis dele da mesma forma intensa , e não sabia porque. F inalmente ela desviou o olhar e, após acenar com a cabeça para
despedir -se do homem, seguiu em dir eção à por ta .
— Alguma coisa nele parece familiar ? — e la sussurrou para Sebastian.
— S im. Vimos ele ma is cedo, na rua , quando estávamos a caminho da casa
de Lathea. Ela olhou para trás por cima do ombro, esp iando através da mult idão.
— Então acho que talvez seja apenas isso .
Antes que ela saísse , o homem, como se t ivesse sent ido que ela estava
olhando para ele, virou. Quando os olhos deles se encontraram, e ele sorr iu , foi como
se ninguém mais ex ist isse para ambos. O sorr iso dele foi educado, nada ma is , mas fez ela sent ir fr io e ficar toda arrepiada , do jeito que a voz morta em sua cabeça fazia às
vezes. Tinha algo assustadoramente famil iar a respeito daquela sensação quando ela
olhava para ele, e no modo como ele olhava para ela . Algo nos olhos dele fazia ela
lembrar da voz. Era como se ela lembrasse dele de um sonho que ela havia esquecido
completamente até aquele instante.
Ver ele, na vida rea l dela , a deixou. . . chocada . Ela f icou aliviada em a lcançar a noite vazia e que eles est ivessem par tindo .
Ela ajeitou o capuz da capa em volta do rosto , protegendo-se contra o vento fr io,
enquanto eles avançavam rapidamente pela neve descendo a r ua. As coxas dela
estavam formigando com o fr io . Ela estava feliz que o estábulo não f icava longe, mas sabia que isso ser ia apenas uma breve pausa . Ser ia uma longa noite fr ia , mas não
havia escolha . os homens de Lorde Rahl estavam per to demais . Eles pr ecisavam
correr . Enquanto Sebast ian foi acordar o homem do estábulo , Jennsen espremeu o
76
corpo através da porta do celeiro . Uma lanterna pendurada em uma viga fornecia luz
suficiente para que ela chegasse até o cercado onde Betty estava presa durante a noite.
O abr igo do vento, junto com os corpos quentes dos cava los e o doce cheiro
de feno e serragem, transformava o estábulo em um paraíso aconchegante . Betty ba liu last imosamente quando viu Jennsen, como se est ivesse com
medo de ter s ido abandonada para sempr e.
A cauda erguida de Betty formava um alegre borrão quando Jennsen abaixou sobre um joelho e abraçou o pescoço da cabra . Jennsen levantou e passou a mão nas
or elhas sedosas , um toque que causou grande prazer em Betty. Quando a égua na baia
seguinte colocou a cabeça por cima da madeira para observar a colega de estábulo dela , Betty levantou sobre as patas traseiras , fel iz por estar reunida com sua amiga de
longa data e ansiosa para chegar ma is per to .
Jennsen acar iciou os pelos na barr iga de Betty.
— Aqui está minha boa garota . — e la fez a cabra descer . — Também
estou feliz em ver você , Betty.
Jennsen, aos dez anos , esteve presente no nascimento de Betty, e colocou esse nome nela . Betty foi a única amiga de infância de Jennsen, e t inha ouvido
pacientemente toda quant idade de preocupações e medos . Quando os cur tos chifr es
dela começaram a surgir , Betty es fr egou e confor tou sua cabeça em sua f iel amiga . Além da preocupação de ser abandonada por sua companheira de toda a vida , os medos
de Betty eram poucos.
Jennsen tateou em sua mochila até que seus dedos localizaram uma cenoura para a cabra sempre faminta . Betty dançou enquanto observava , então, com a cauda
balançando de excitação aceitou o banquete . Para ter confor to, após o tormento de
uma separação incomum, ela esfr egou o topo da cabeça contra a coxa de Jennsen
enquanto mast igava a cenoura . A égua na ba ia seguinte, com os br ilhantes olhos inteligentes observando ,
relinchou suavemente e balançou a cabeça . Jennsen sorr iu e deu uma cenoura para a
égua junto com um toque car inhoso na mancha branca dela . Jennsen ouviu o som de arreios quando Sebastian ret ornou, junto com o
homem do estábulo, ambos carregavam selas .
Cada homem depos itou sua carga sobre o corr imão da ba ia de Betty. Betty,
a inda desconfiada com Sebast ian, recuou alguns passos .
— S into muito em perder a companhia da sua amiga ali. — o homem
falou , apontando para a cabra , quando aproximou-se ao lado de Sebast ian.
Jennsen coçou as or elhas de Betty.
— Agradeço pelo seu cuidado .
— Não fo i muito cuidado . A noite ainda não acabou. — o olhar do
homem desviou de Sebast ian para Jennsen. — Porque vocês do is querem part ir
durante a no ite? E porque querem comprar cavalos ? Especia lmente a uma hora dessa ?
Jennsen congelou em pânico. Não esperava que alguém per guntasse e então
não estava com resposta preparada .
— É a minha mãe. — Sebastian fa lou em um tom confidencia l . Ele soltou
um suspiro convincente. — Acabamos de receber not ícia de que ela está doente .
Eles não sabem se ela conseguirá aguentar até chegarmos lá . Eu não conseguir ia me
perdoar se não. . . bem, s implesmente ter emos que chegar em tempo, só isso.
A expressão desconfiada do homem suavizou com a compaixão . Jennsen estava surpresa pelo modo como Sebastian pareceu s incero. Ela tentou imitar a
expressão de preocupação dele .
— Eu entendo , fi lho. S into muito. . . eu não sabia . O que eu posso fazer para
ajudar?
— Quais são os do is cavalos que você pode nos vender? — Sebastian
perguntou.
O homem coçou o queixo barbado. — Vocês deixarão a cabra?
Sebast ian fa lou ―Sim‖ ao mesmo tempo em que Jennsen falou ―Não‖ .
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Os grandes olhos escuros do homem olharam para cada um deles .
— Betty não va i nos atrasar , — Jennsen falou. — e la consegue
acompanhar . Chegaremos até a sua mãe em tempo.
Sebast ian encostou um dos quadris no corr imão.
— Acho que a cabra virá cono sco .
Com um suspiro de desapontamento, o homem gest iculou para a égua da
qua l Jennsen coçava a orelha .
— A Rusty aqui aceitou muito bem a cabra de vocês . Acho que ela será tão
boa quanto qualquer um dos outros . Você é uma moça alta , ela va i servir bem.
Jennsen assent iu, mostrando que concordava . Betty, como se t ivess e
entendido cada palavra, baliu aceitando também.
— Eu tenho um garanhão forte que ser ia melhor para carregar o seu
peso , — e le disse para Sebast ian. — É o Pete, bem ali, do lado dir eito. Eu poder ia
deixar vocês levarem ele junto com Rusty.
— Porque ela é chamada de Rusty? — Jennsen perguntou.
— Escuro como está aqu i dentro , você não consegue ver muito bem, mas
ela t em cor vermelho ferrugem, tão vermelho quanto pode ser , a não ser por aquela
mancha branca na testa dela . Rusty encostou o focinho em Betty. Betty lambeu o focinho de Rusty. A
égua bufou suavemente em r esposta .
— Então que seja Rusty, — Sebastian falou. — e o outro .
O homem do estábulo coçou o a barba rala ma is uma vez e assent iu para
selar o acordo.
— Vou buscar Pete.
Quando eles voltaram, Jennsen f icou contente em ver Pete fazer uma
saudação encostando o focinho no ombro de Rusty. Com o per igo bem per to nos
calcanhares deles , a últ ima coisa com o que ela quer ia t er que se pr eocupar era ter qu e l idar com cavalos que br igam, mas esses dois eram bastante amigos . Os dois homens
foram cuidar do trabalho deles rapidamente . Afinal de contas, uma mãe estava em seu
leito de morte. Cavalgar com um cobertor sobre o colo promet ia ser um alívio muito bem
vindo em comparação a viajar a pé. Um cavalo a manter ia aquecida e tornar ia a noit e
adiante ma is tolerável . Eles t inham uma corda longa para Betty, que costumava f icar
distraída por coisas dura nte o caminho, especialmente por coisas comest íveis . Jennsen não sabia o que Sebastian teve que pagar pelos cava los e arreios ,
nem se importava . Era dinheiro que t inha vindo dos assassinos da mãe dela , e que
levar ia eles para longe. Fugir era tudo que importava . Acenando para o homem do estábulo enquanto ele segurava a grande porta
aber ta para eles , eles cava lgaram dentro da noite fr ia . Os dois cavalos , aparent ement e
contentes com a poss ib il idade de atividade , independente da hora , cavalgaram rapidamente pela rua .
Rusty virou a cabeça para trás, cer if icando-se de que Betty, à esquerda
deles, estava acompanhando.
Não levou muito tempo até que eles passaram pelo ú lt imo prédio a seu caminho para fora da cidade. Nuvens f inas corr iam diante da lua nascente , mas
deixavam luz suf iciente para transformar a estrada coberta de neve em uma faixa
prateada entr e a escur idão da f lor esta de cada lado . De r epente a corda de Betty est icou. Jennsen olhou por cima do ombro,
esperando ver a cabra tentando mordiscar um ramo j ovem. Ao invés disso, Betty, com
as pernas r ígidas , estava com os cascos enter rados no chão , res ist indo ao progresso.
— Betty, — Jennsen sussurrou com dureza. — vamos lá ! Qual é o
problema com você? Vamos lá . — o peso da cabra não era páreo para a égua , então
ela foi arrastada pela estrada cheia de neve contra sua vontade . Quando o cava lo de Sebast ian aproximou-se, empurrando Rusty, Jennsen viu
qua l era o problema . Eles estavam assustados com um homem que caminhava descendo
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a estrada . Com aquela roupa escura, eles não t inham avistado ele do lado direito ,
contra a escur idão das árvores . Sabendo que cavalos não gostavam de surpresas ,
Jennsen deu tap inhas no pescoço de Rusty para tranquilizá - la indicando que o homem
não era alguma coisa para temer . Betty, porém, ainda não estava convencida , e usou toda a corda disponível para girar em um largo arco .
Jennsen viu que era o grande homem louro da hospedar ia , o homem qu e
t inha ofer ecido comprar uma bebida para eles , o homem que ela pensou , por alguma razão, que devia res idir apenas nos sonhos dela ao invés da vida real .
Jennsen manteve um olho no homem quando eles passavam por ele . Fr io
como estava , pareceu como se uma por ta t ivesse aber to para a noite eterna inf initamente ma is fr ia do Submundo.
Sebast ian e o estranho trocaram uma breve saudação na passagem . Ass im
que passou do homem, Betty correu adiante, puxando a corda , ansiosa para aumentar a
distância entr e ela e o homem.
Grushdeva du kalt misht .
Jennsen, com a respiração acelerada após engolir em seco , vir ou olhando de
olhos arregalados para o homem descendo a estrada logo atrás . Pareceu como se foss e
ele quem havia pronunciado as pa lavras . Isso era imposs ível ; aquelas eram as palavras estranhas dentro da cabeça dela .
Sebast ian não notou, então ela não fa lou nada ou ele pensar ia que ela estava
louca.
Com aprovação de Betty, Jennsen est imulou o cava lo para que acelerasse o passo.
Pouco antes de fazerem uma curva e afastarem-se, Jennsen olhou para trás
uma últ ima vez. Sob a luz do luar ela viu o homem sorr i ndo para ela .
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C A P Í T U L O 1 3
Oba estava jogando um pacote de feno do sótão quando ouviu a voz da mã e dele.
— Oba! Onde está você? Desça aqui!
Oba desceu a escada rapidamente . Limpou feno do corpo quando f icava er eto diante do olhar fur ioso dela .
— O que fo i, Mamãe?
— Onde está o meu remédio ? E o seu? — o olhar dela varreu o chão . —
Vejo que você ainda não t irou o lixo do celeiro . Não ouvi você chegar em casa
noite passada . O que fez você demorar tanto? Olhe para aquele corr imão! Ainda não conser tou aquilo? O que você esteve fazendo todo esse tempo? Será que eu preciso
explicar cada cois inha para você?
Oba não t inha cer teza sobre qual pergunta ele devia r esponder pr imeiro . Ela sempre fazia isso com ele, deixava ele confuso antes que pudesse r esponder . Quando
ele hes itava , então ela insultava e r idicular izava ele . Depois de tudo que ele t inha
aprendido na noite anter ior , e tudo que aconteceu , ele pensou que poder ia sent ir -se ma is confiante quando encarasse a mãe dele .
Na luz do dia , r ecuado no celeiro, com sua mãe diante dele como um como
uma nuvem de tempestade, ele sent iu -se do mesmo jeito que sempre sent iu -se diante
do ataque dela , envergonhado, pequeno, sem valor . Ele estava sent indo-se grande quando voltou para casa . Important e. Agora ele sent ia como se est ivesse encolhendo .
As palavras dela faziam ele murchar .
— Bem, eu estava. . .
— Você estava vadiando ! Era isso que você estava fazendo, vadiando !
Aqui estou eu esperando por meu r emédio , meus joelhos doendo, e meu f i lho Oba, o idiota , está chutando pedras na estrada , esquecendo o que eu mandei ele fazer .
— Eu não esqueci. . .
— Então onde está meu reméd io ? Onde está?
— Mamãe, eu não peguei ele. . .
— Eu sabia ! Sabia que estava gastando o dinheiro que dei para você .
Trabalhei a té que os oss os dos meus dedos ficassem dolor idos f iando para ganhar
aquilo, e você va i gastar com mulheres ! Prostitu ição! Era isso que você estava fazendo, prost itu ição!
— Não, Mamãe, eu não gastei com mulheres .
— Então onde está o meu remédio ! Porque não pegou ele como falei para
você fazer !
— Não consegui porque.. .
— Quer d izer que não far ia isso , sem idiota inút il ! Só precisava ir a té a
casa de Lathea . . .
— Lathea está morta .
Ali estava , ele fa lou. Aquilo sa iu e na luz do dia .
A mãe dele ficou de boca aber ta , mas nenhuma palavra saiu . Ele nunca t inha visto ela f icar em s ilêncio desse jeito, f icar tão chocada que sua boca f icasse aber ta .
Ele gostou disso.
Oba t irou uma moeda do bolso, uma que ele havia separado para devolver
de modo que ela não f icasse pensando que ele gastou o dinheiro. No meio do drama de um silêncio tão raro, ele entr egou a moeda para ela .
— Morta . .. Lathea? — e la ficou o lhando para a moeda na palma . — O
que você quer dizer , morta? Ela f icou doente?
Oba balançou a cabeça , sent indo sua conf iança crescer enquanto pensava no
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que t inha feito com Lathea, como cuidou da feit iceira causadora de problemas .
— Não, Mamãe. A casa dela pegou fogo. Ela morreu no incêndio.
— A casa dela queimou . . . — a testa da mãe dele franziu . — Como você
sabe que ela morreu? Lathea não ser ia pega de surpresa por um incêndio . A mulher é
uma feit iceira . Oba balançou os ombros .
— Bem, tudo que eu sei é que quando eu fu i a té a cidade , ouvi um tumulto.
Pessoas estavam corr endo até a casa dela . Nós todos encontramos o luga r ardendo. Uma grande mult idão reuniu-se ao redor da casa , mas o fogo estava tão quente que não
houve chance de sa lvar o lugar .
Essa par te, a té cer to ponto, era verdade. Ele havia deixado a cidade, seguido para casa , porque ele percebeu que se ninguém viu o incêndio, ta lvez eles não vissem
até de manhã . Ele não quer ia ser aquele quem começar ia a gr itar ―fogo‖ . Na luz da
histór ia , isso poder ia parecer suspeito, especia lmente para a mãe dele. Ela era uma mulher desconfiada, uma das muitas caracter íst icas ir r itantes dela . Oba t inha
planejado s implesmente contar para sua mãe a histór ia daquilo que sabia que
acontecer ia de qua lquer modo, as ru ínas em chamas, o corpo carbonizado.
Mas quando ele estava caminhando para casa depois de sua vis ita até a hospedar ia , não muito tempo depois que aquela mulher Jennsen e o homem com ela ,
Sebast ian, passaram saindo da cidade na jornada deles para encontrar Althea, ele
ouviu pessoas gr itando que havia um incêndio na casa de Lathea. Oba correu pela longa estrada escura com o r esto das pessoas , em direção ao br ilho laranja nas
árvores. Ele era apenas um observador , assim como todos os outros . Não havia razão
para suspeitar dele.
— Talvez Lathea tenha escapado das chamas. — a mãe de le pareceu mais
tentar convencer a si mesma do que ele .
Oba balançou a cabeça .
— Eu fiquei, desejando o mesmo que você, Mamãe. Eu sabia que você ir ia
querer que eu a judasse se ela est ivesse fer ida . Eu fiquei para fazer o que pudesse. Foi por isso que cheguei tão tarde.
Isso também era parcialmente verdade; ele t inha f icado, junto com a
mult idão, observando o fogo, escutando a conversa . Tinha saboreado a expectativa da mult idão. A fofoca . A especulação.
— E la é uma feit iceira . Um incêndio não pegar ia uma mulher assim.
A mãe dele estava começando a parecer desconfiada . Oba t inha percebido isso. Ele inclinou um pouco o corpo em dir eção a ela .
— Quando o fogo baixou o sufic iente , a lguns de nós jogaram neve para
conseguirmos entrar passando pelos destroços fumegantes . Lá dentro, encontramos os ossos de Lathea.
Oba t irou um osso de dedo enegrecido do bolso. Est icou o braço,
ofer ecendo-o para sua mãe. Ela ficou olhando para a terr ível evidência , mas cruzou os braços sem pegá - lo. Satisfeito com o efeito que isso teve , Oba fina lmente devolveu o
tesouro para o bolso.
— E la estava no meio da sala , com uma das mãos levantada acima da
cabeça, como se tentasse chegar até a por ta mas fosse sufocada pela fumaça . Os
homens disseram que a fumaça de um incêndio era o que derrubava as pessoas , e então
o fogo pega elas . Deve ter s ido isso que aconteceu com Lathea. A fumaça derrubou ela . Então, deitada ali no chão, est icando o braço em dir eção a por ta , o fogo queimou -
a até a morte.
A mãe dele olhou zangada para ele, sua pequena boca ma lvada toda
enrugada , mas em s ilêncio. Pela pr imeira vez, ela não t inha palavras . Porém, ele descobr iu que o olhar dela cont inuava raivoso. Nas garras daquele olhar , ele podia
dizer que ela estava pensando que ele não era uma pessoa boa . O bastardo dela .
O fi lho bastardo de Darken Rahl. Quase da realeza . Os braços dela escorregaram daquela pos ição quando ela virou para afastar -
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se.
— Tenho que vo ltar ao t rabalho de fiar para o Sr . Tuchmann. Tir e ess e
l ixo do chão, está ouvindo?
— Vou t irar , Mamãe.
— E é melhor consertar aquele poste antes que eu vo lte e veja que
você esteve vadiando durante o dia .
Durante vár ios dias Oba trabalhou no l ixo congelado no chão, mas fez pouco
progresso. O clima havia permanecido bas tante fr io , então o l ixo congelado, no mínimo, apenas ficou ma is duro. Os esforços dele para acabar com aquilo parecia m
intermináveis , como tentar arrancar lascas de uma placa de granito . Ou da disposição
de rocha da mãe dele . Ele t inha suas outras tarefas , é claro, e não podia deixá - las de lado.
Conser tou o poste do corr imão e uma dobra diça quebrada na porta do celeiro . Os
anima is precisavam de cuidados , junto com centenas de outras coisas menores . Em sua cabeça , enquanto trabalhava , ele p lanejava a construção da lar eira
deles. Usar ia a parede dos fundos entr e a casa e o celeiro , uma vez que ela já ex ist ia .
Menta lmente, ele empilhou pedras contra ela , cr iando a forma da caixa para o fogo. Já
estava de olho em uma pedra comprida para usar na padieira . Ele cimentar ia tudo adequadamente. Quando Oba concentrava sua mente em fazer algo , ele colocava todo
o seu es forço nisso. Não podia fazer qua lquer trabalho que iniciava no meio do
caminho. Na mente dele, imaginava como sua mãe f icar ia surpresa e feliz quando
visse o que ele havia construído para eles . Então ela r econhecer ia o va lor dele .
Finalmente ela enxergar ia o va lor dele. Mas t inha outro trabalho a fazer antes que pudesse começar a construir uma lareira .
Um trabalho, em par ticu lar , crescia diante dele . A superf ície do monte de
l ixo congelado no celeiro exib ia as cicatr izes da batalha . Agora estava cheia de
buracos, lugares onde ele conseguiu encontrar pontos fracos , um local com ar ou palha seca embaixo daquilo permit iu a ele quebrar um pedaço . Cada vez que um pedaço
emit ia um esta lo e f icava solto, ele t inha cer teza que f inalmente encontrara um
caminho para dentro daquela formidável tumba de gelo , mas em cada vez isso tornara -se uma falsa esperança . Arrancar lascas com a pá era lento , mas Oba não era alguém
que des ist ia .
Surgiu nele a pr eocupação de que ta lvez um homem da importância de le não
devesse desperdiçar seu tempo em um trabalho infer ior assim. Estrume congelado dif ici lmente parecia ocupação de um homem que provavelmente t inha algo r elacionado
a um pr íncipe. Pelo menos, agora ele sabia que era um homem importante . Um homem
com sangue de Rahl em suas veias . Um descendente dir eto, o f i lho do homem qu e governava D'Hara, Darken Rahl. Provavelmente não havia uma pessoa que não t ivess e
ouvido fa lar de Darken Rahl. O pai de Oba.
Mais cedo ou ma is tarde, ele confrontar ia a mãe dele com a verdade que ela esteve escondendo dele, a verdade do homem que ele era r ealmente . Ele s implesment e
não conseguia imaginar como fazer isso sem que ela descobrisse que Lathea havia
cuspido a novidade antes de cuspir o sangue dela .
Perdendo o fôlego com um ataque par ticu larmente impetuoso contra o monte congelado, Oba descansou os antebraços sobre o cabo da pá enquanto se r ecuperava .
Independente do fr io, o suor escorr ia do cabelo louro dele.
— Oba o idiota , — falou a mãe dele enquanto caminhava entrando no
celeiro . — perambulando por aí, sem fazer nada , sem pensar em nada , sem va ler
nada. Esse é você, não é? Oba o idiota . — e la parou repent inamente , a pequena boca
ma lvada dela toda enrugada enquanto olhava para ele de nar iz empinado .
— Mamãe. Eu só estava recuperando meu fôlego. — e le apontou para os
pedaços de gelo espalhados no chão , evidência dos esforços dele . — Est ive
t rabalhando nisso , Mamãe. Eu est ive.
Ela não olhou. Estava observando ele. Ele esperou, sabendo que ela t inha
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mais a lguma coisa na ment e além do monte de l ixo congelado. Ele sempre sabia
quando ela estava em uma missão para per turbá -lo, para fazer ele sentir -se como o
l ixo no meio do qual ele estava . Das fendas escuras e buracos pelo celeiro , os ratos
observavam com seus pequeninos olhos de rato. Com o olhar cr ít ico dela f ixo sobre ele , sua mãe mostrou uma moeda .
Segurava ela entr e o indicador e o dedão , não apenas para exib ir a moeda em si , mas
sua importância . Oba ficou um pouco surpreso. Lathea es tava morta . Não havia outra
feit iceira per to dali, pelo menos, nenhuma que ele conhecesse, que pudesse fornecer o
remédio da mãe dele, ou o dele . De qualquer modo, ele ofer eceu a palma da mão de forma obediente.
— Olhe para isso. — e la ordenou , soltando a moeda na mão dele.
Oba segurou-a na luz do portal, examinando-a com cuidado. Sabia que ela esperava que ele descobrisse algo, o quê, ele não sabia . Girou a moeda enquanto
lançava um olhar cauteloso para ela . Ele inspecionou cuidadosamente do outro lado ,
mas ainda não enxergava nada fora do c omum.
— S im, Mamãe?
— Notou alguma co isa incomum ne la , Oba?
— Não, Mamãe.
— E la não tem uma marca na borda .
Oba ficou pensando naquilo durante um momento , então olhou novament e
para a moeda , dessa vez inspecionando cuidadosamente a borda .
— Não, Mamãe.
— Essa é a moeda que você entregou para mim .
Oba assentiu, sem ter qua lquer razão para duvidar dela .
— S im, Mamãe. A moeda que você me entregou para dar a Lathea. Mas eu
disse, Lathea morreu no incêndio , então não consegui comprar o seu remédio . Foi por
isso que devolvi a moeda para você. O olhar ardente dela estava homicida , mas sua voz estava suave e
controlada .
— Essa não é a mesma moeda , Oba.
Oba sorr iu.
— Claro que é , Mamãe.
— A moeda que dei para você t inha uma marca na borda . Uma marca qu e
eu f iz.
O sorr iso de Oba enfraqueceu enquanto a mente dele disparava . Tentou pensar em algo para dizer , no que poder ia dizer , em que ela acr editasse. Não poder ia
afirmar que colocou a moeda em um bolso e então t irou uma moeda difer ente quando
devolveu para ela , porque ele nunca teve dinheiro. Ela sabia muito bem que ele não
t inha dinheiro; ela não permit ir ia . Ela pensava que ele não era uma boa pessoa , e que poder ia desperdiçá - lo.
Mas agora ele t inha dinheiro. Tinha todo o dinheiro de Lathea , uma for tuna .
Lembrou de r ecolher rapidamente todas as moedas que ca íram do bolso de Lathea, inclu indo a moeda que acabara de entr egar a ela . Quando ma is tarde ele separou uma
moeda para devolver para sua mãe, não sabia que ela marcou a moeda que entr egou
para ele. Oba teve a má sor te de entr egar uma moeda difer ente daquela que ela
or igina lmente entr egou a ele.
— Mas , Mamãe. . . você tem cer teza? Talvez você apenas tenha pensado que
marcou a moeda . Talvez tenha esquecido.
Ela balançou lentamente a cabeça .
— Não. Eu a marquei de modo que se você a gastasse com bebidas e
mulheres eu saber ia porque eu poder ia procurar por ela se fosse necessár io , e ver o
que você t inha feito.
A vadia diss imulada . Ela não confiava nem mesmo em seu próprio f i lho .
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Afinal de contas que t ipo de mãe ela era?
Que prova t inha além da falta de uma pequena marca na borda de uma
moeda? Nenhuma. A mulher era lunática .
— Mas , Mamãe, você deve estar enganada . Não tenho nenhum dinheiro,
você sabe que não. Onde eu conseguir ia uma moeda difer ente?
— É isso que eu gostar ia de saber . — os o lhos dela estavam
assustadores . Ele ma l conseguia r espirar sob o olhar examinador . A voz dela ,
entr etanto, permanecia controlada . — Eu disse para comprar remédio com aquele
dinheiro .
— Como eu poderia? Lathea morreu. Eu devolvi a moeda para você.
Ela parecia tão grande e poderosa parada ali diante dele , como um espír ito
vingador em carne e osso que vinha falar pelos mortos . Talvez o espír ito de Lathea
t ivesse r etornado para entr egar ele. Não havia cons iderado essa poss ib il ida de. Isso ser ia bem do feit io da feit iceira encrenqueira . Ela era sorrateira . Isso podia ser
justamente o que ela f izera , desejando negar a ele sua importância , seu devido
prest ígio.
— Você sabe porque dei para você o nome de ―Oba‖?
— Não Mamãe
— É um ant igo nome D'Haran. Sabia disso, Oba?
— Não, Mamãe. — a cur iosidade era a melhor parte dele . — O que
significa?
— S ignifica duas co isas . Servo, e Rei. Dei o nome de ―Oba‖ para você ,
esperando que um dia você pudesse ser um Rei , e se não fosse, então pelo menos ser ia
um servo do Criador . Raramente tolos são transformados em Reis . Você nunca será um
Rei. Isso foi apenas um sonho idiota de uma jovem mãe . Isso deixa apenas ―servo‖. A
quem você serve Oba? Oba sabia muito bem a quem ele servia . Ao fazer isso, ele tornara-se
invencível.
— Onde você conseguiu essa moeda Oba?
— Eu disse , Mamãe, eu não peguei o seu remédio porque Lathea morreu no
incêndio na casa dela . Talvez a marca de sua moeda apagou -se esfr egando em alguma coisa no meu bolso.
Ela pareceu avaliar as palavras dele.
— Tem certeza , Oba?
Oba assentiu, esperando que talvez ele finalmente est ivesse conseguindo
desviar a mente dela da moeda .
— Claro , Mamãe. Lathea morreu. Foi por isso que eu devolvi a sua moeda .
Não consegui pegar o seu remédio.
A mãe dele levantou uma sobrancelha .
— Verdade , Oba?
Lentamente ela t ir ou a mão do bolso do vestido . Ele não conseguia ver o qu e
ela segurava , mas estava aliviado que f ina lmente est ivesse fazendo ela mudar de ideia .
— Isso mesmo , Mamãe. Lathea estava morta . — e le descobr iu que
adorava dizer isso .
— É mesmo . Oba? Você não conseguiu pega r o remédio ? Não ment ir ia para
sua mãe, mentir ia , Oba?
Ele balançou a cabeça enfat icamente .
— Não, Mamãe. — Então o que é isso ? — e la virou a mão e mostrou
uma garrafa de remédio que Lathea entr egou para ele antes que ele t ivesse cuidado
dela . — Encontrei isso no bo lso do seu casaco , Oba.
Oba ficou olhando para a ma ldita garrafa , para a vingança da feit iceira . Ele devia ter acabado com a mulher imediatamente , antes que ela entr egass e a garrafa de
remédio. Tinha esquecido completamente que havia colocado no bolso do casaco dele ,
com intenção de jogar ela na f lor esta durante o caminho para casa naquela noite . Com
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todas as coisas novas importantes que ele aprendera , esqueceu completamente sobre a
ma ldita garrafa de r emédio .
— Bem, eu acho. . . acho que deve ser uma ga rrafa velha. . .
— Uma garrafa velha? Ela está cheia ! — a voz afiada dela estava de
vo lta . — Como você conseguiu receber uma garrafa de remédio de uma mulher
que estava morta, dentro da casa dela que já estava toda queimada ? Como, Oba?
E como você me entr egou uma moeda difer ente daquela que eu dei para fazer o
pagamento? Como! — e la aproximou um passo . — Como , Oba?
Oba recuou um passo. Ele não conseguia desviar os olhos do ma ldit o
remédio. Não conseguia olhar nos olhos ferozes da mãe dele . Se olhasse, ele sabia qu e ela far ia com que ele chorasse diante o olhar morta l dela .
— Bem, eu. . . eu. . .
— Bem eu o quê , Oba? Bem eu o quê, seu bastardo desprezível? Seu
bastardo ment iroso preguiçoso inút i l . Seu desgraçado, trambiqueiro, bastardo vil, Oba
Scha lk.
Os olhos de Oba levantaram. Ele estava cer to, ela estava com ele pr eso no olhar mortal dela .
Mas ele havia tornado-se invencível.
— Oba Rahl. — e le disse .
Ela não fraquejou. Então ele percebeu que ela est ivera tentando fazer ele
admit ir que sabia . Tudo era par te do esquema dela . Aquele nome, Rahl, que ele f icou
sabendo através de um gr ito, entr egou tudo para a mãe dele. Oba congelou, sua ment e em um estado louco de turbilhão, como um rato com a cauda presa sob um pé.
— Que os espír itos me amaldiçoem , — e la falou baixinho. — eu devia
ter fe ito o que Lathea sempre fa lou. Devia ter poupado todos nós . Você a matou. Seu
bastardo abominável. Seu ment iroso desprezível. . .
Rápido como uma raposa, Oba girou a pá , colocando todo o seu peso e força no movimento. A pá de aço ecoou como um s ino no crânio dela .
Ela caiu como um saco de grãos empurrado para fora do porão .
Oba recuou um passo rapidamente , com medo que ela pudesse sa ltar em dir eção a ele, como uma aranha , e com sua pequena boca ma lvada morder o tornozelo
dele. Ele acr editava que ela era bastante capaz disso . A vadia ardilosa .
Rápido como um raio, ele disparou adiante e bateu nela outra vez com a pá ,
bem no mesmo lugar da larga testa dela , então recuou saindo do alcance dos dentes dela , antes que ela pudesse mordê- lo como uma aranha . Frequentemente ele pensava
nela como uma aranha . Uma viúva negra .
O som do aço no crânio ecoou pelo ar outrora parado do celeiro, lentamente, lentamente, lentamente desaparecendo . Silêncio, como uma pesada mortalha , caiu
sobre ele.
Oba ficou em pos ição, a pá inclinada para trás sobre o ombro dele , pronto para golpear novamente . Ele observou-a cuidadosamente.
Um f lu ido rosado quase transparente escorr ia dos ouvidos dela , por cima do
l ixo congelado.
Em um fr enes i de medo e fúr ia , ele corr eu e bateu a pá na cabeça dela , de novo e de novo. Os sons dos golpes ecoaram pelo celeiro , cr iando um longo barulho
de metal. Os ratos , observando com seus pequeninos ol hos negros de rato, corr eram
para suas tocas . Oba recuou em choque, r espirando pesadamente depois do violento esforço
para silenciá - la . Ele ofegou enquanto olhava para a forma imóvel espa lhada sobre o
monte de l ixo congelado. Os braços dela estavam est ica dos para os lados , como se
estivesse pedindo um abraço. A vadia sorrateira . Ela devia estar planejando a lgo. Tentando fazer uma r eparação. Oferecendo um abraço, como se isso pudesse
compensar por todo o tempo que ele passou no cercado .
O rosto dela parecia difer ente. Estava com uma expressão estranha . Ele caminhou na ponta dos pés aproximando-se para dar uma olhada . O crânio dela estava
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todo deformado, como um melão maduro quebrado no chão .
Isso era algo tão novo que ele não conseguia organizar os pensame ntos.
A Mamãe, com sua cabeça de melão, toda aber ta.
Só para garant ir , ele bateu nela ma is tr ês vezes , o mais rápido que conseguia , então r ecuou até uma distância segura , com a pá preparada , caso ela
saltasse r epent inamente para começar a gr itar com ele . Isso ser ia algo t íp ico dela .
Sorrateira . A mulher era uma lunática . O celeiro cont inuava s i lencioso. Ele enxergava a respiração formando uma
nuvem no ar fr io. A mãe dele não r espirava . O peito dela estava imóvel . A poça
vermelha em volta da cabeça dela escorr ia sobre o monte de l ixo. Alguns dos buracos que ele abr iu estavam cheios com o l íquido da cur iosa cabeça de melão dela par tida
sobre o chão.
Então, Oba começou a sent ir -se ma is confiante, pelo fato de que a sua mã e
não falar ia mais coisas odiosas p ara ele. A mãe dele, não sendo muito esper ta , provavelmente deixou -se levar pelas
besteiras de Lathea, e foi convencida a odiá -lo, o único f i lho dela . As duas mulheres
governaram a vida dele. Ele não r epresentou nada além de um servo indefeso das duas aves de rapina .
Felizmente, f ina lmente ele tornara -se invencível e r esgatou a si mesmo das
duas.
— Você quer saber a quem eu s irvo , Mamãe? Eu sou um servo da voz qu e
me deixou invencível. A voz que me l ivrou de vocês !
A mãe dele não t inha mais coisa alguma a dizer . Após muito tempo, não t inha mais coisas alguma a dizer .
Então, Oba sorr iu.
Sacou a faca dele. Era um novo homem. Um homem que perseguia inter esses
intelectua is quando eles surgiam. Pensou que devia dar uma olhada em que outras coisas estranhas e cur iosas poder ia encontrar dentro da sua mãe lunát ica .
Oba gostava de aprender coisas novas .
*****
Oba estava comendo uma bela r efeição feita com ovos na lareira que havia começado a constru ir para si mesmo, quando ouviu o som de uma carroça entrando no
terr eno. Fazia ma is de uma semana desde que a mãe sorrateira dele abr iu a pequena
boca malvada dela pela últ ima vez .
Oba foi a té a por ta , abr iu levemente, e f icou comendo seus ovos enquanto espiava lá fora para ver a traseira de uma carroça pos icionada bem per to. Um homem
desceu.
Era o Sr . Tuchmann, que trazia lã regularmente. A mãe de Oba era uma fiadora que fazia l inha par ta o Sr . Tuchmann. Ele usava a linha no tear dele. Com
tantas coisas novas exigindo sua atenção u lt imamente , Oba esqueceu completament e
sobre o Sr . Tuchmann. Oba olhou para um canto para ver quanta l inha sua mãe t inha pronta . Não era muita . Pacotes de lã estavam em um canto , aguardando para ser em
transformados em linha . O mínimo que sua mãe podia ter feito era cuidar do trabalho
dela antes que ela t ivesse começado a causar problemas .
Oba não sabia o que fazer . Quando olhou de volta para o portal , o Sr . Tuchmann estava bem a li, olhando para dent ro. Era um homem a lto, magro, com nar iz
e or elhas grandes . O cabelo dele estava gr isalho e tão enrolado quanto a lã com a qua l
ele trabalhava . Ele f icara viúvo r ecentemente . Oba sabia que a mãe dele gostava do Sr . Tuchmann. Talvez ele pudesse ter sugado um pouco do veneno das presas dela .
Suavizado ela um pouco. Era uma teor ia inter essante para pensar .
— Boa tarde , Oba. — os o lhos dele , olhos que Oba sempre achara
cur iosamente l íquidos , estavam espiando pela aber tura , vasculhando a casa . — A sua
mãe está?
Oba, sent indo-se um pouco int imidado pelos olhos do homem, f icou parado
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segurando o prato com ovos, t entando pensar no que fazer , no que dizer . O olhar do
Sr . Tuchmann pousou na lar eira .
Oba, pouco à vontade atrás da porta , lembrou a si mesmo que era um novo
homem. Um homem importante. Homens importantes não f icavam inseguros . Homens importantes aproveitavam o momento, e cr iavam sua própria grandeza .
— Mamãe? — Oba colocou o prato de lado enquanto olhava para a lareira .
— Oh, ela está per to, em algum lugar .
O Sr . Tuchmann com cabeça de lã , f icou olhando f ixamente o sorr iso de Oba
durante a lgum tempo.
— Você ouviu a respeito de Lathea? O que eles encontraram na casa dela?
Oba pensou que o homem t inha uma boca meio parecida com a boca da mã e
dele. Malvada . Sorrateira .
— Lathea? — Oba sugou um pedaço de ovo preso entr e os dentes . — E la
está morta . O que eles conseguiram encontrar?
— Acho que você poder ia dizer, mais precisamente , o que eles não
encontraram. Dinheiro. Lathea t inha dinheiro, todos sabiam disso. Mas não encontraram nenhum na casa dela .
Oba balançou os ombros .
— Deve ter queimado . Derret ido.
O Sr . Tuchmann grunhiu mostrando cept icismo.
— Talvez . Talvez não. Alguns dizem que talvez ele t enha desaparecido
antes do incêndio. Oba sent iu -se indignado com o fato de que as pessoas não deixavam as
coisas s implesmente como estavam. Eles não t inham seus próprios assuntos ? Porque
não podiam deixar isso em paz ? Deviam comemorar que a feit iceira est ivesse fora das vidas deles e deixar as coisas assim. Entretanto, eles t inham que f icar remexendo
nisso. Bicando, bicando, b icando, como gansos caçando grãos .
Intromet idos , isso que eles eram.
— Avisare i para Mamãe que você esteve aqui .
— Preciso da linha que ela fiou . Tenho outra carga de lã para ela . Preciso
seguir meu caminho. Tenho outras pessoas esperando.
O homem t inha todo um grupo de mulh eres que f iavam lã para ele. Será qu e
ele nunca dava para suas pobres f iadoras uma chance de r ecuperar o fôlego ?
— Bem, eu temo dizer que Mamãe não teve tempo para . ..
O Sr. Tuchmann estava olhando para a lareira novamente , só que ma is
atentamente, dessa vez. A expressão no ros to dele era ma is do que cur iosa ; estava parecendo quase raiva . O homem, acostumado a dar ordens para as pessoas ao r edor e
sempre ma is audacioso do que Oba sent iu-se confor tável no lugar , cruzou a por ta
entrando na casa , a té o centro da sala , a inda olhando fixamente para a lareira . O braço
dele levantou, apontando.
— O que é . . . o que é aquilo? Quer ido Criador . ..
Oba olhou para onde ele estava apontando, para a nova lareira sendo construída encostada na parede de pedra que separava a c asa do celeiro. Oba pensou
que o trabalho dele estava muito bem feito , robusto e corr eto. Estudou outras lar eiras
e aprendeu como elas eram feitas . Mesmo que a chaminé ainda não estivess e
construída até a par te de cima , ele estava usando ela . Ele t inha feito um bom trabalho mesmo.
Então Oba viu para o que o Sr . Tuchmann estava realmente apontando.
O osso do maxilar da Mamãe. Bem, isso não era mesmo uma coisa? Oba não estava esperando vis itas ,
especia lmente vis itas intromet idas . O que dava a esse homem o d ir eito de enf iar o
nar iz dele dentro das casas das outras pessoas , só porque elas f iavam lã para ele?
O Sr . Tachmann começou a recuar em dir eção à por ta . Oba sabia que o Sr . Tuchmann fa lar ia sobre aquilo que viu . O homem era fofoqueiro, já estava batendo a
l íngua para qualquer um que escutasse sobre o dinheiro desaparecido de L athea, qu e
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afinal de contas , na verdade era de Oba, quando cons iderávamos a vida de problemas
que suportou para merecê- lo. Quem eram todas essas pessoas que surgiam para
defender a feit iceira encrenqueira?
Quando o Sr . Tuchmann começasse a fa lar sobre o que viu na lareira , cer tamente haver ia perguntas .
Todos ter iam que enf iar os nar izes nisso e desejar iam saber de quem era .
Provavelmente eles ir iam começar a ficar preocupados com a mãe dele, agora , exatamente como estavam fazendo com a feit iceira .
Oba, um novo homem, um homem de ação, dif ici lmente podia deixar iss o
acontecer . Oba era um homem importante, ele aprendeu. Afinal de contas, o sangue de Rahl corr ia em suas veias . Homens
importantes agiam, cuidavam dos problemas conforme eles apareciam.
Rapidamente. Com ef iciência . De forma decisiva .
Oba agarrou o Sr . Tuchmann por trás do pescoço, interrompendo o r ecuo dele. O homem lutou ferozmente . Ele era alto e for te, mas não era páreo para a força
ou a velocidade de Oba.
Com um grunhido de esforço, Oba enf iou a faca na barr iga do Sr . Tuchmann. A boca do homem f icou aber ta .
Os olhos dele, sempre tão l íquidos , sempre cur iosos , ficaram arregalados ,
agora cheios de uma expressão de terr or . Oba seguiu o insolente Mr. Tachmann até o chão. Eles t inham trabalho a
fazer . Oba nunca t inha medo do trabalho duro. Pr imeiro, t inha que cuidar do
intrometido com cabelo de lã que lutava . Então, havia a carroça dele . Provavelmente
pessoas vir iam procurar por ele. A vida de Oba estava f icando complicada . O Sr . Tuchmann gr itou por ajuda . Oba enf iou a faca na parte macia emba ixo
do queixo do Sr . Tuchmann. Oba inclinou sobre ele, observou a luta do homem,
sabendo que ele morrer ia . Oba não t inha nada contra o Sr . Tuchmann, de verdade, mesmo que o homem
fosse impert inente e mandão. Isso era tudo culpa daquela feit iceira encrenqueira . Ela
ainda estava deixando a vida d e Oba dif íci l. Provavelmente ela enviara alguma
mensagem do além no Submundo para a mãe de le e depois para o Sr . Tuchmann. A vadia . Então a mãe dele t eve que f icar toda sorrateira e desconfiada . E agora essa
peste ir r itante, o Sr . Tuchmann. Eles eram como um enxame de gafanhotos , surgindo
do nada para atormentá - lo. Isso porque ele era important es, ele sabia .
Provavelmente era hora de mudanças . Oba não podia f icar por aqui e
continuar enfr entando pessoas que o conheciam, que incomodavam ele com perguntas . De qualquer modo, ele era importante demais para ficar nesse lugarzinho.
O Sr . Tuchmann grunhiu em seu esforço inút i l para escapar . Estava na hora
do viúvo infeliz juntar -se com a mãe lunát ica de Oba e a feit iceira encrenqueira ao
lado do Guardião do Submundo, o mundo dos mortos . E então, havia chegado a hora para Oba assumisse a sua vida important e
como um novo homem e de mudar -se para lugares melhores.
Justamente quando percebeu que jama is t er ia que entrar no celeiro e ver novamente o monte de l ixo congelado que não conseguiu r emover com a pá ,
independente da insistência louca de sua mãe lunática , ocorr eu a ele que se t ivess e
usado a picareta , isso ter ia transformado aquilo em um serviço rápido . Bem, isso não era mesmo uma coisa?
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C A P Í T U L O 1 4
Com um movimento do pulso fácil mas impecavelmente pr eciso, Fr iedr ich Gilder levantou uma folha de ouro nos finos pelos do seu pincel e depos itou -a na
superfície. O ouro, leve o bastante para flutuar na ma is suave rajada de ar , des lizou
sobre o gesso molhado como se fosse por magia . Inclinado sobre a sua bancada de
trabalho, concentrado, Fr iedr ich usou um chumaço de lã de ovelha para esfregar cuidadosamente a superf ície r ecém dourada da pequena escultura de uma ave,
procurando qua isquer falhas .
Lá fora , a chuva batia ocasiona lmente contra a janela . Embora fosse o meio do dia , quando as nuvens que rondavam passaram carregando chuva, isso fez o dia
escurecer como se fosse o f im do dia .
Da sala dos fundos onde ele trabalhava , Fr iedr ich levantou os olhos , espiando a sala pr incipal a través do portal, observando os movimentos familiares de
sua esposa lançando as pedras dela sobre a Graça. Fazia muitos anos que ele havia
dourado as l inhas da Graça dela , a estr ela de oito pontas dentro de um círculo , dentro
de um quadrado, dento de outro círculo, depois que ela havia desenhado tudo adequadamente, é c laro. A Graça ser ia inút i l se ele t ivesse desenhado. Uma Graça,
para ser real, precisava ser desenhada por alguém com o Dom.
Ele gostava de fazer qualquer coisa que pudesse para tornar as coisas na vida dela um pouco ma is bonitas . Ela era o que tornava a vida dele ma is bonita . Ele
achava que o sorr iso dela havia s ido retocado pelo própr io Criador .
Fr iedr ich também viu a mulher que aventurou-se até a casa deles para uma
consulta curvar -se para frente, ans iosa , absorvida olhando o dest ino dela . Se elas r ea lmente pudessem ver coisas assim, as pessoas não vir iam até
Althea para uma consulta , assim mesmo elas sempre observavam atentamente enquant o
as pedras rolavam dos longos dedos f inos da esposa dele e des lizavam sobre o tabuleiro onde a Graça estava desenha da.
Essa mulher , de meia- idade e viúva , era de um t ipo agradável , e t inha
vis itado Althea duas vezes , mas isso já fazia muitos anos . Enquanto estava concentrado em seu trabalho, ele ouviu dist raidamente ela falando para Althea sobre
as vár ias cr ianças crescidas dela que estavam casadas e moravam per to dela , e que o
pr imeiro neto dela estava a caminho. Porém, agora, era o lançar das pedras, e não uma
cr iança, que dominava o inter esse da mulher .
— Outra vez? — e la perguntou . Não foi tanto uma pergunta quant o fo i
uma expressão de assombro. — E les fizeram outra vez .
Althea não falou nada . Fr iedr ich poliu o ouro r ecém aplicado enquant o
ouvia os sons familiar es de sua esposa recolhendo as pedras do tabuleiro .
— E les fazem isso com frequênc ia? — a mulher perguntou , os olhos
arregalados dela desviando da Graça para o rosto de Althea. Althea não r espondeu. A
mulher esfr egou as ar t icu lações dos dedos com tanta força que Fr iedr ich pensou que a
pele poder ia sair .
— O que isso significa?
— Calma. — Althea murmur ou enquanto agitava as pedras .
Fr iedr ich nunca ouvira sua mulher sendo tão pouco comunicativa com uma
cliente. As pedras sendo agitadas no punho frouxo de Althea pareciam apresentar
urgência com o som de ossos . A mulher es fr egou as ar t iculações , aguardando o dest ino dela .
Novamente, as sete pedras rolaram pelo tabuleiro , para divulgar os segredos
sagrados dos destinos . Do lugar onde estava sentado, Fr iedr ich não conseguia ver as pedras caindo,
mas podia ouvir o som das formas ir regular es delas rolando pelo t abuleiro. Após todos
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esses anos, ele raramente observou Althea praticar a prof issão dela , quer dizer , nunca
observou as pedras . Porém, independente dos anos , ele sempre apreciou observar
Althea. Quando ele olhou, vendo o lado da mandíbula for te dela , o cabelo em sua
ma ior par te uma curva dourada que passava da altura do queixo , caindo como a luz do sol sobre os ombros dela , ele sorr iu.
A mulher arfou.
— Outra vez !
Como que para reforçar a exclamação da mulher , um trovão ecoou ao
longe por cima da casa .
— Senhora Althea, o que isso poder ia significar ? — a voz dela carregava
o inconfundíve l tom de apreensão .
Althea, sobre o travesseiro dela no chão, inclinada sobre um braço, com as
pernas dobradas para o lado, usou o braço apoiado no chão para endir eitar o corpo.
Finalmente ela olhou para a mulher .
— S ignifica , Margery, que você é uma mulher de espír ito for te. . .
— Essa é uma daquelas duas pedras ? Eu? Um espír ito for te?
— Isso mesmo. — Althea confirmou acenando com a cabeça .
— Então, e a outra? Não pode ser bom. Não ali. Só pode s ignif icar o pior .
— Eu estava prestes a dizer para você , que a outra pedra , que segue junto
com cada jogada , também é um espír ito for te. Um homem de espír ito for te.
Margery olhou novamente para as pedras no tabuleiro. Ela esfr egou as ar t iculações dos dedos .
— Mas , mas elas duas . . . — e la apontou . — as duas cont inuam indo . . . a té
ali. Além do outro círculo. Até o Submundo. — os o lhos preocupados dela
checaram o rosto de Althea.
Althea puxou os joelhos , arrastando as pernas diante de s i para cruzá-las. Embora as pernas dela est ivessem dormentes e quase inúteis , cruzá-las diante do
travesseiro dela no chão ajudou-a a sentar er eta .
— Não, não, minha quer ida . De modo a lgum. Não está vendo? Isso é bom.
Os dois espír itos for tes juntos atr avés da vida , e juntos depois dela . Esse é o melhor
resultado poss ível de uma consulta .
Margery lançou outro olhar preocupado para o tabuleiro .
— Verdade? Verdade, Senhora Althea? Então você acha que é bom, qu e
elas cont inuem.. . fazendo isso?
— Claro , Margery. Isso é bom. Dois espír itos for tes unidos .
Margery encostou um dedo no lábio infer ior enquanto olhava para Althea.
— Então quem é? Quem é esse homem mister ioso que vou conhecer ?
Althea balançou os ombros .
— Cedo demais para dizer . Mas as pedras dizem que você conhecerá um
homem. — e la fez um gesto colocando o dedo indicador e o médio juntos . — e
vocês do is estarão um com o outro rapidamente . Parabéns, Margery. Parece qu e
você está prestes a encontrar a felic idade que busca .
— Quando? Quanto tempo fa lta?
Novamente, Althea balançou os ombros .
Cedo demais para dizer . As pedras dizem apenas ―estarão‖ , não ―quando‖ .
Talvez amanhã , ta lvez no ano que vem. Mas a coisa importante é que você está pr estes a encontrar um homem que será bom para você , Margery.
Agora você deve manter os olhos aber tos . Não f ique escondida em sua casa ,
ou perderá ele.
— Mas se as pedras dizem. . .
— As pedras dizem que ele é forte e que está aberto para você , mas elas
não garantem isso. Depende de você e do homem. Mantenha-se r ecept iva para ele quando ele entrar em sua vida , ou ele poderá passar sem enxergar você.
— Farei isso , Senhora Althea. — a convicção na voz dela ficou mais
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forte . — Farei isso . Estarei pr eparada para o momento em que ele aparecer na minha
vida, enxergarei ele, e ele va i me enxergar , exatamente como as pedras profet izam.
— Bom. A mulher remexeu na bolsa de couro pendurada no cinto dela até encontrar
uma moeda . Entr egou-a ans iosa , fel iz com o resultado da consulta .
Fr iedr ich observara Althea fazer pr evisões durante quase quatro décadas . Nesse tempo todo, nunca t inha visto ela ment ir para alguém.
A mulher levantou, est icando a mão. — Posso ajudá- la , Senhora Althea?
— Obr igada , minha quer ida , mas Fr iedr ich va i me ajudar , ma is tarde.
Quero f icar com meu tabuleiro por enquanto.
A mulher sorr iu , ta lvez sonhando acordada com a vida nova que esperava
por ela . — Bem, então acho melhor seguir meu caminho antes que f ique tarde . . . antes
do anoitecer . E a cava lgada de volta é longa . — e la inclinou para um lado e acenou
at ravés do portal. — Bom dia , Mestre Fr iedr ich.
A chuva tamborilou contra a janela com mais força . O céu, ele notou,
escurecera , lançando uma sombra cinzenta sobre a casa deles no pântano . Levantando do banco, Fr iedr ich acenou.
— Permit a que eu a acompanhe a té a porta , Margery. Você tem alguém
esperando para levá - la de volta , não tem?
— Meu genro está lá em cima na margem do desf i ladeiro , onde a tr ilha
começa a descer , esperando com os nossos cavalos . — e la fez uma pausa no portal e
apontou para o t rabalho dele sobre o banco . — Essa é uma bela peça que você
fez .
Fr iedr ich sorr iu.
— Espero encontrar um comprador no Palácio que também pense
assim.
— Encontrará , você encontrará . Você faz um belo trabalho. Todos dizem
isso. Aqueles que possuem uma peça do seu tra balho cons ideram a si mesmos como
sor tudos.
Margery fez r everência alegremente para Althea, agradecendo-a novamente, antes de r et irar sua capa de pele de ovelha do gancho per to da porta . Ela sorr iu para o
céu raivoso e colocou a capa , levantando o capuz s obre a cabeça dela , ansiosa para
seguir seu caminho e encontrar seu novo homem. Ser ia uma longa jornada de volta .
Antes de fechar a por ta , Fr iedr ich aler tou Margery para cer t if icar -se de permanecer no caminho e para tomar cuidado onde p isava ao sair do des fi ladeiro. Ela falou qu e
lembrava das instruções e prometeu segui - las com cuidado.
Ele observou-a par tir apressada , desaparecendo dentro das sombras e da neblina , antes de fechar a por ta diante do clima tempestuoso. O s ilêncio dominou ma is
uma vez dentro da casa . Do lado de fora , um trovão ecoou parecendo uma voz rouca ,
como se est ivesse descontente. Fr iedr ich aproximou-se atrás da esposa dele.
— Aqui, permita que eu ajude você a chegar até sua cadeira .
Althea havia recolhido suas pedras . Mais uma vez, elas sacudiram na mão dela como os ossos de espír itos . Tão atenta como ela sempre fora, não era costume
dela não r esponder quando ele falava . Era ma is incomum ainda que ela jogasse suas
pedras novamente depois que um cliente par tia . Lançar as pedras para fa zer uma previsão usava o Dom dela de formas que eles jamais conseguir ia entender
completamente, mas ele entendia como isso a deixava cansada . Lançar as pedras para
fazer uma previsão sugava as forças dela de modo que isso a deixava desconectada do
mundo e sem querer outra coisa além de lançá -las outra vez durante a lgum tempo. Porém, agora ela estava sob o feit iço de a lguma necessidade tácita .
Ela girou o pulso e abr iu a mão, lançando as pedras no tabuleiro dela tão
facilmente, tão graciosamente, quanto ela manuseava as folhas de ouro etér eas dele. Pedras l isas, escuras, de formas ir regular es rolaram, quicando no tabuleiro, ca indo
dentro da Graça dourada .
91
Na vida deles juntos , Fr iedr ich t inha visto ela jogar as pedras dezenas de
milhares de vezes . Houve algumas vezes em que, de forma muito parecida como os
clientes dela , ele t entou discernir um padrão na queda das pedras . Ele nunca
conseguiu. Althea sempre conseguiu .
Ela enxergava signif icado que nenhum mero mortal conseguia enxergar .
Enxergava algum presságio obscuro na queda aleatór ia das pedras que apenas uma feit iceira podia decifrar . Padrões de magia .
Não havia padrão algum expressado através do ato de jogá - las; era a queda
da pedras que era tocada pelos poderes que ele não ousava cons iderar , poderes qu e falavam apenas com a feit iceira através do Dom dela . Naquele tema aleatór io de
desordem, ela conseguia ler os f luxos de poderes através do mundo dos vivos , e at é
mesmo, ele t emia , do mundo dos mortos , embora ela jama is falasse a respeito disso .
Independente do quanto eles est ivessem próximos em corpo e a lma , essa era uma coisa que não podiam comparti lhar em sua vida juntos .
Dessa vez, quando as pedras rolaram e quicaram através do tabuleiro , uma
delas parou exatamente no centro . Duas pararam nos cantos opostos do quadrado onde ele tocava o círculo externo. Duas acabaram nos pontos opostos onde o quadrado e o
círculo interno tocavam-se. As duas últ imas pedras descansaram além do círculo
externo, que r epresentava o Submundo. Um raio br i lhou, e segundos ma is tarde um trovão r ibombou .
Fr iedr ich ficou olhando f ixamente sem acreditar . Imaginou qual era a chance
de que as pedras parassem no f ina l de seu movimento naqueles pontos específ icos
sobre a Graça . Ele nunca t inha visto elas assumirem qua lquer padrão d iscernível. Althea também estava olhando para o tabuleiro dela .
— Você já viu alguma co isa assim? — e le perguntou .
— Temo que sim. — ela falou baix inho enquanto movia as pedras com os
dedos graciosos .
— Verdade? — e le t inha certeza que ter ia lembrado um evento
incomum assim , uma ordem tão surpreendente. — Quando isso aconteceu?
Ela agitou as pedras no punho frouxo.
— Os quatro pr imeiros lançamentos . Esse arremesso completou cinco,
todos do mesmo jeito, cada uma das pedras repousando no lugar idênt ico ao de antes .
Outra vez, ela jogou as pedras no tabuleiro . Ao mesmo tempo, o céu pareceu abr ir , deixando a chuva descer sobre o telhado . O som reverberou pela casa .
Involuntar iamente, ele olhou em dir eção ao teto rapidamente antes de observar junto
com Althea enquanto as pedras rolavam e quicavam pelo tabuleiro . A pr imeira pedra parou exatamente no centro da Graça . Um raio br i lhou. As
outras pedras , rolando de um jeito que parecia completamente natural , acabaram
parando de um modo que parecia perfeitamente no rma l, exceto que pararam nos
mesmos lugares de antes .
— Seis. — Althea fa lou sussurrando. Um trovão ecoou.
Fr iedr ich não sabia se ela estava falando com ele , ou com ela mesma .
— Mas os pr imeiros quatro lançamentos foram para aquela mulher ,
Margery. Você estava jogando as pedras para ela . Isso é uma previsão dela .
Até para si mesmo, isso soou ma is como um pedido do que uma afirmação .
— Margery veio para uma consulta . — Althea disse. — I sso não significa
que as pedras esco lheram fornecer uma previsão par a ela . As pedras decidiram qu e
essa previsão é para mim.
— Então o que isso significa?
— Nada. — e la falou . — Pelo menos, ainda não . Nesse ponto é apenas
algo em potencial, uma nuvem de tempestade no horizonte . As pedras ainda podem
dizer que essa tempes tade va i passar por nós . Observando quando ela r ecolhia as pedras , ele foi dominado por uma
sensação de pavor .
92
— Já chega d isso, você precisa descansar . Porque não deixa que eu ajude
a levantar agora , Althea? Vou prepara alguma coisa para você comer . — e le
observou-a ret irar a últ ima pedra do tabuleiro , a que estava no centro. — Deixe as
suas pedras por enquanto . Vou preparar um pouco de chá quente para você .
Ele jama is pensou nas pedras como algo sinistro. Agora sentia como se de
algum modo elas est ivess em convidando a ameaça para dentro das vidas deles .
Ele não quer ia que ela jogasse as pedras outra vez .
Sentou ao lado dela .
— Althea . . .
— Calma , Fr iedr ich. — e la pronunciou as palavras com um tom vazio ,
não com raiva ou r eprovação, mas s imples necessida de. A chuva tamborilou contra o
teto com violenta intens idade. Água rugia descendo em cascata . A escur idão fora das
janelas fraquejou em jatos de luz . Ele ouviu o ruído das pedras , como os ossos dos mortos falando com ela .
Pela pr imeira vez em sua vida ju ntos, ele sent iu uma espécie de ódio defens ivo diant e
das sete pedras que ela segurava , como se elas fossem a lgum amante que surgia para roubá-la dele.
Do seu assento em cima da almofada dourada e vermelha dela no chão ,
Althea lançou as pedras sobre a Gra ça.
Enquanto elas rolavam pelo tabuleiro , ele observou com res ignação até qu e elas parassem, de forma tão natural quanto podiam, exatamente nos mesmos lugares .
Ele t er ia ficado surpreso apenas se elas t ivessem parado em locais difer entes .
— Sete. — e la sussurrou . — Sete vezes, sete pedras .
Um trovão r ibombou com um tom ressoante , como a voz do
descontentamento de espír itos no Submundo.
Fr iedr ich pousou uma das mãos no ombro da esposa dele . Uma presença surgira na casa deles, invadira suas vidas . Não conseguia enxergá- la , mas sabia qu e
estava ali. Ele sent iu um grande cansaço, como se todos os anos dele t ivessem caído
de uma só vez sobre ele, fazendo com que ele se sent isse muito velho . Ele f icou imaginando se isso era de alguma maneira o que ela sent ia o tempo todo quando f icava
tão cansada após rea lizar uma previsão . Estremeceu só de pensar em contemplar
sempre nadar em águas tão emociona lmente turbulentas . O mundo dele, seu trabalho de dourar , pareceu tão s imples , tão maravilhoso, em sua ignorância do r edemoinho de
forças tempestuosas ao r edor .
O pior disso, porém, era que ele não podia protegê- la dessa ameaça
invis ível. Nisso, ele estava impotente.
— Althea, o que isso s ignif ica?
Ela cont inuava imóvel . Estava olhando para as pedras escuras lisas sobre a Graça dela .
— Alguém que escuta as vozes está vindo .
Um raio explodiu em brilho fur ioso cegante , i luminando a sala com uma incandescência branca . O contraste br i lhante entr e a luz clara e a sombra sufocante era
estonteante. O fu lgor intenso tr emeluziu quando um trovão ca iu gerando um impacto
que estr emeceu o chão. Um som de esta lo seguiu no calcanhar dele , o clamor
adicionou uma confusão de som equiparado ao br i lho de luz.
Fr iedr ich engoliu em seco. — Você sabe quem?
Ela est icou o braço e deu tapinhas na mão dele que r epousava sobre o ombro dela .
— Chá , você disse? A chuva me deu um calafr io. Eu gostar ia de um pouco
de chá . Ele desviou o olhar do sorr iso nos olhos dela para as pedras na Graça . Seja
lá qua l fosse a razão, ela não responder ia aquela pergunta , por enquanto. Ao invés
disso, ele fez outra pergunta .
— Porque as suas pedras caíram desse jeit o , Althea? O que s ignif ica uma
coisa assim?
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Um raio caiu per to da li . O esta lo do trovão pareceu par tir o ar como se ele
fosse feito de rocha sólida . Jatos de chuva golpearam a janela em ataques violentos .
Althea f inalmente desviou os olhos da janela , da fúr ia do Criador , e virou
para o tabuleiro. Ela est icou o braço e colocou o dedo indicador na pedra que estava no centro.
— O Cr iador? — e le arr iscou em voz alta antes que ela pudesse falar .
Ela balançou a cabeça . — Lorde Rahl.
— Mas , a estr ela no centro r epresenta o Criador , o Dom dele .
— Representa , dentro da Graça . Mas você não deve esquecer , que isso é
uma previsão. Isso é difer ente. Uma previsão usa apenas a Graça , e nessa pr evisão a
pedra no centro r epresenta aquele com o Dom dele.
— Então poderia ser qualquer um , — Friedr ich falou. — qualquer um
com o Dom.
— Não. As l inhas vindo das oito pontas da estr ela r epresentam o Dom
enquanto ele passa através da vida , a través do véu entr e os mundos , e a lém do círculo
exter ior para dentro do Submundo. Desse modo isso r epresenta o Dom em um sent ido que não se aplica a qualquer outra pessoa : o Dom para magia de ambos os mundos , o
mundo dos vivos , e o mundo dos mortos: Adit ivo e Subtrativo. Essa pedra no centro
toca nos dois . Ele olhou para a pedra no centro da Graça .
— Mas porque isso significar ia Lorde Rahl?
— Porque em três mil anos ele é o único nasc ido com os do is aspectos
do Dom. Durante todo esse tempo, até que ele tocasse o seu Dom, nenhum pedra que
eu lancei jama is parou naquela pos ição . Nenhuma podia .
— Quanto tempo faz? Dois anos agora , desde que ele subst ituiu o pa i dele?
Menos, desde que o Dom ganhou vida nele, o que deixa questões com respostas apenas per turbadoras .
— Mas eu me lembro de você falando anos at rás que Darken Rahl usava
ambos os lados do Dom. Contemplando lembranças sombr ias , Althea balançou a cabeça .
— E le também usou poderes Subtrativos, mas ele não fez isso de
nascimento. Ele ofer eceu as a lmas puras de cr ianças para o Guardião do Submundo em troca dos favores do Guardião. Darken Rahl t eve que negociar para obter o uso
l imitado de poderes assim. Mas esse homem, esse Lorde Rahl, nasceu com os dois
lados do Dom, como os ant igos . Fr iedr ich não t inha cer teza de como interpretar aquilo , qua l poder ia ser o
per igo que ele sentia com tanta força . Ele lembrava claramente do dia em que o novo
Lorde Rahl subiu ao poder . Fr iedr ich est ivera no Palácio para vender suas pequenas esculturas douradas
quando o grande evento tomou lugar . Naquele dia , ele viu o novo Lorde Rahl, Richard.
Foi um daqueles momentos na vida que jama is ser ia esquecido, apenas o
terceiro Rahl a governar durante a vida de Fr iedr ich. Ele lembrava claramente do novo Lorde Rahl, a lto, for te, com olhar feroz, caminhando através do Palácio , parecendo
completamente des locado, e ao mesmo tempo per tencendo ao lugar . E então havia a
espada que ele carregava , uma espada lendár ia que não era vista em D'Hara desde quando Friedr ich era garoto, antes que as fronteiras fossem cr iadas , isolando D'Hara
do r esto do Novo Mundo.
O novo Lorde Rahl caminhara pelos corr edores do Palácio do Povo junto com um homem idoso, um mago, as pessoas disseram, e uma bela mulher . A mulher ,
com cabelo longo e bonito, usando um vest ido branco de cet im, fazia a grandeza e
glór ia do Palácio parecerem algo pá lido e comum em comparação .
Richard Rahl e aquela mulher juntos pareciam uma coisa cer ta . Fr iedr ich reconheceu o modo especia l como eles olhavam um para o outro . O compromet imento,
lea ldade, e a conexão nos olhos cinzentos daquele homem e nos olhos verdes daquela
mulher eram tão profundos quanto inconfundíveis .
94
— E quanto às outras pedras? — e le perguntou .
Althea apontou indicando além do círculo mais largo Graça, onde apenas os
raios dourados do Dom do Criador ousavam penetrar , para as duas pedras escuras pos icionadas no mundo dos mortos .
— Aqueles que escutam as vozes. — Althea falou.
Ele assent iu ao ter as suspeitas dele confirmadas . Em coisas assim relacionadas com magia , não era com muita frequência que ele conseguia deduzir a
verdade daquilo que parecia ser óbvio .
— E o resto?
Observando as quatro pedras repousando nas cúspides das l inhas , a voz dela
saiu suavemente, misturando-se com a chuva .
— Estes são protetores .
— E les protegem Lorde Rahl?
— E les protegem a todos nós .
Então ele viu as lágr imas descendo pelas bochechas dela .
— Reze , — e la sussurrou. — para que eles sejam o suficiente , ou o
Guardião terá todos nós .
— Você está querendo dizer , que só temos esses quatro para nos proteger ?
— Tem outros , mas esses quatro são os pr incipais . Sem eles, tudo está
perdido.
Fr iedr ich lambeu os lábios , t emendo o des tino dos quatro sent inelas que enfr entam o Guardião dos mortos .
— Althea, você sabe quem são eles?
Então ela virou, colocando os braços em volta dele , encostando o lado do rosto contra o peito dele . Foi um gesto tão inocente quanto ele podia imaginar , um qu e
tocou o coração dele e fez com que sent isse grande amor por ela . Gent ilmente ele
passou braços protetores ao r edor dela , confor tando-a, independente do fato de que na verdade ele não poder ia fazer nada para protegê - la desses t ipos de coisas que ela
temia com razão.
— Você me carrega até a minha cadeira , Fr iedr ich?
Ele assent iu , erguendo-a nos braços enquanto ela abraçava o pescoço dele .
As pernas inúteis dela balançaram. Uma mulher com tanto poder que podia forçar um
pântano quente e varr ido por chuva ao r edor deles no inverno, e assim mesmo ela precisava dele para carregá - la até uma cadeir a . Ele, Fr iedr ich, um s imples homem que
ela amava, um homem sem o Dom. Um homem que a amava .
— Não respondeu minha pergunta , Althea.
Os braços dela aper taram mais no pescoço dele .
— Uma das quatro pedras protetoras , — e la sussurrou. – sou eu .
Os olhos arregalados de Fr iedr ich desviaram para a Graça com as pedras
sobre ela . Ele f icou de boca aber ta quando viu que uma das quatro pedras t inha virado
cinzas.
Ela não precisou olhar .
— Uma era minha irmã , — Althea disse. Embalada nos braços dele, ele
sentiu o gemido dela . — e agora temos apenas t rês .
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C A P Í T U L O 1 5
Jennsen saiu do caminho da onda de pessoas que vinham do su l que flu ía subindo a estrada . Aconchegando-se em Sebastian para proteger -se do vento, por um
momento ela cons iderou s implesmente enrolar -se sobre o chão congelado ao lado e
dormir . O estômago dela rosnou de fome.
Quando Rusty moveu-se para o lado, Jennsen afrouxou a pegada nas rédeas , ma is per to do fr eio. Betty, com os olhos , ouvidos, e cauda aler tas , encostou mais per to
da coxa de Jennsen buscando confor to. A cabra com as patas dolor idas ocasiona lment e
declarava sua ir r itação com a multidão que passava . Quando Jennsen deu tapinhas na barr iga dela , a cauda empinada de Betty t ransformou-se em um borrão sacudindo
instantaneamente. Ela olhou para Jennsen, colocou a língua para fora lambendo
rapidamente o focinho de Rusty, e então dobrou as pernas para deitar aos pés de Jennsen.
Enquanto os braços dele envolviam os ombros dela , Sebastian observou as
carroças, car r inhos, e as pessoas que passava m seguindo seu caminho em dir eção ao
Palácio do Povo. O som do movimento das carroças , pessoas conversando e r indo, pés arrastando, e cava los trotando misturavam-se em um burburinho pontuado por meta l
batendo e o chiado de eixos . As nuvens de poeira levantadas por todo o movimento
carregavam o aroma de comida junto com o fedor de pessoas e anima is e deixava o sabor de areia na l íngua dela .
— O que você acha? — Sebast ian perguntou em voz baixa .
O fr io nascer do sol banhou os penhascos distantes do enorme p la nalto com cint i lante luz púrpura . Parecia que os penhascos erguiam-se milhares de pés das
Planícies Azrith, mas aquilo que o homem t inha construído sobre elas erguiam-se ma is
alto ainda . Incontáveis t elhados atrás de muros imponentes reuniam -se em uma estrutura massiva que era uma cidade fundada sobre o p lana lto. A fraca luz do sol de
inverno concedia às paredes alt ivas de mármore e colunas um brilho caloroso.
Jennsen era pequena quando sua mãe a levou embora . A lembrança de
infância a respeito de ter morado aqui não havia preparado suas sens ib il idades adultas para o esplendor atual do Palácio . O coração de D'Hara repousava nobre e orgulhoso,
tr iunfante acima da terra ár ida . O respeito dela diante daquilo foi r eduzido somente
pelo fato de que esse também era o lar ancest ral de Lorde Rahl. Jennsen passou uma das mãos sobre o rosto , fechando os olhos br evemente
por causa de sua dor de cabeça , por causa do que s ignif icava ser a presa do Lorde
Rahl. Havia s ido uma jornada difíci l e exaus tiva . A cada noite, pouco depois que eles paravam, Sebast ian usava a cober tura da escuridão para fazer reconhecimento e
enquanto ela começava a montar acampamento . Várias vezes ele voltou corr endo com
a not ícia apavorante de que os perseguidores deles estavam se aproximando . A
despeito do cansaço e das lágr imas de frustração dela , eles t inham que juntar tudo e continuar fugindo.
— Acho que viemos até aqui por uma razão , — fina lmente ela
respondeu . — agora é um péssimo momento para perder a coragem .
— Agora é a últ ima chance para perder a coragem.
Ela estudou a nota de cautela nos olhos azuis dele durante apenas u m
momento antes de r esponder através do seu r etorno ao mar de pessoas em movimento .
Betty levantou rapidamente, olhando para os estranhos enquanto encostava bem per t o
da perna esquerda de Jennsen. Sebastian aproximou-se do outro lado. Uma mulher ma is velha em um carr inho ao lado deles sorr iu para Jennsen.
— Importa-se de vender sua cabra , quer ida?
Jennsen, com uma das mãos segurando a corda de Betty junto com as r édeas
de Rusty, a outra segurando o capuz de sua capa protegendo -se contra uma rajada fr ia
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de vento, sorr iu, mas balançou a cabeça para recusar com f irmeza . Quando a mulher
no carr inho puxado por um cava lo devolveu um sorr iso desapontado e começou a
afastar -se, Jennsen viu uma placa no carr inho proclamando a venda de l inguiças .
— Senhora? Hoje você está aqui vendendo l inguiças ?
A mulher est icou o braço para trás , empurrou para o lado uma tampa , e
enf iou a mão dentro de uma das panelas aninhadas em cobertores e toalhas. A mão dela saiu segurando uma espiral de l inguiças .
— Fresquinhas, preparadas esta manhã . Isso pode inter essar a vocês ?
Apenas uma moeda de prata e muito bem gasta . Quando Jennsen assent iu, ans iosa , Sebastian entr egou a moeda solicitada
para a mulher . Ele cor tou a l inguiça em duas e entr egou metade para Jennsen. Ela
estava maravilhosamente quente. Rapidamente ela devorou algumas mordidas , ma lmente gastando tempo para mastigar . Foi um alívio r eduzir a dor causada pela
fome. Somente depois que aquelas mordidas desceram ela começou a apreciar o sabor .
— Está delic iosa. — e la falou para a mulher .
A mulher sorr iu , parecendo não estar surpresa com o elogio . Caminhando ao
lado do carr inho, Jennsen perguntou.
— Por acaso você conhece uma mulher chamada Althea?
Sebast ian lançou um olhar fur t ivo ao r edor para as pessoas que caminhava m
dentro do alcance do ouvido. A mulher , sem ficar chocada com a pergunta , inclinou o
corpo em dir eção a Jennsen.
— Então você veio para uma consult a?
Embora não pudesse ter cer teza, Jennsen achou que era bastante fácil
imaginar o que a mulher quer ia dizer .
— S im, isso mesmo. Você sabe onde podemos encontrá -la?
— Bem, quer ida , eu não a conheço, mas sei do marido dela , Fr iedr ich. Ele
vem até o Palácio para vender as esculturas dour adas dele.
Muitas das pessoas que andavam na estrada pareciam ter em vindo para
vender suas mercadorias . Jennsen lembrava vagamente que, quando era muit o pequena, o Palácio era uma confusão de atividade , com mult idões vindo todos os dias
para vender tudo desde comida até jóias . Muitas cidades próximas de onde Jennsen
morou quando estava um pouco ma is velha t inham um dia de mercado. O Palácio do Povo, porém, era uma cidade com a compra e venda de mercador ias acontecendo todos
os dias. Ela lembrava de sua mãe levando-a até barracas para comprar comida e , uma
vez, t ecido para um vest ido.
— Sabe onde podemos encontrar esse homem , Fr iedr ich, ou a lguma outra
pessoa que conheça o caminho?
A mulher fez um s inal apontando adiante em dir eção ao Palácio .
— Friedr ich tem uma pequena barraca no mercado. Lá em cima. Conforme
ouvi dizer em, você precisa ser convidado pa ra falar com Althea. Eu aconselhar ia que
você fa lasse com Friedr ich, lá em cima. Sebast ian colocou uma das mãos nas costas de Jennsen quando curvou o
corpo passando ao lado dela .
— Lá em cima? — e le perguntou para a mulher .
Ela assent iu . — Você sabe . Lá em cima, onde f ica o Palácio. Eu mesma não
subo até lá .
— Então onde você vende as suas linguiças? — e le perguntou .
— Oh, eu tenho meu carr inho e o cava lo , então eu f ico na par te de ba ixo na
estrada , vendendo para aqueles que entram e saem do Palácio . Eles não deixarão qu e
vocês levem seus cavalos até lá em cima , se a intenção de vocês for procurar o marido
de Althea. Para dizer a verdade, a sua cabra também não. Tem rampas para cavalos lá
dentro para os soldados e aqueles com assuntos of icia is , mas carroças com suprimentos e coisas assim gera lmente usam a estrada do penhasco no lado leste . Eles
não permitem que alguém suba cavalgando. Somente os soldados f icam com cava los lá
em cima.
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— Bem, — Jennsen fa lou. — acho que precisaremos co locá- las em u m
estábulo , se vamos subir para encontrar o irmão de Althea.
— Friedr ich não aparece com muita fr equência . Terão sor te se encontrarem
ele em um dia que esteja aqui . Porém, ser ia melhor se conseguissem fa lar com ele .
Jennsen engoliu outro punhado de l inguiça .
— Sabe se ele estar ia aqui ho je? Ou em que dias ele vem até o Palácio ?
— S into muito , quer ida , mas eu não sei. — a mulher co locou um xale
vermelho grande demais sobre a cabeça e amarrou fazendo um nó bem aper tado
emba ixo do queixo. — Vejo ele de vez em quando , isso é tudo que eu sei . Vendi
l inguiças para ele uma vez ou duas para que ele levasse para a esposa .
Jennsen olhou para cima, para o Palácio do Povo.
— Então acho que teremos de ir até lá dar uma o lhada .
Eles ainda nem estavam lá dentro , e o coração de Jennsen estava pulsando
ferozmente. Ela viu os dedos de Sebastian deslizarem sobre a capa dele, tocando o
cabo da espada . Não conseguiu r es ist ir e esfr egou o antebraço contra o lado do corpo , buscando a presença tranquilizadora de sua faca sob a capa . Jennsen esperava não
ficar no lugar muito tempo. Quando eles descobrissem onde Althea morava , poderia m
seguir seu caminho. Quanto ma is cedo melhor . Ela imaginou se Lorde Rahl estava no Palácio, ou fora em uma guerra na
terra natal de Sebastian. Ela sent ia grande empatia com o povo dele que estava sob a
mercê de Lorde Rahl, um homem que ela sabia não possuir nem um pouquinho de
piedade. Durante a jornada deles até o Palácio do Povo, perguntara a Sebastian sobr e
a terra natal dele. Ele compartilhara com ela algumas das convicções e cr enças das
pessoas do Mundo Antigo, a sens ib il idade deles pelo bem dos colegas homens , e os desejos deles pelas bênçãos do Criador . Sebastian falou apaixonadamente sobre o
adorado l íder esp ir itua l do Mundo Ant igo , Irmão Narev, e os discípulos da Ordem
dele, que ensinavam que o bem-estar dos outros não era apenas a responsabil idade mas também o dever sagrado de todas as pessoas . Ela nunca imaginou um lugar com
pessoas que mostravam tanta compaixão .
Sebast ian disse que a Ordem Imper ial estava combatendo valentemente os
invasores de Lorde Rahl. Ela , entr e todas as pessoas , entendia o que era temer o homem. Era esse medo que deixava Jennsen preocupada a respeito de entrar no
Palácio. Ela temia que se Lorde Rahl est ivesse lá , os poderes dele de algum modo
pudessem indicar que ela estava próxima . Uma coluna ordenada de soldados usando cota de ma lha e armadura de couro
escuro saiu cava lgando, seguindo na dir eção oposta . As armas deles, espadas ,
machados, lanças, br i lhavam ameaçadoramente na luz do sol da manhã . Jennsen manteve os olhos voltados para o chão adiante e t entou não encarar os soldados .
Temeu que eles pudessem perceber a presença d ela no meio da mult idão, como se ela
estivesse br i lhando com a lgum t ipo de marca que só eles podiam enxergar . Manteve o
capuz da capa em pos ição para cobrir o cabelo vermelho , t emendo que isso pudess e atrair a tenção não desejada .
Conforme eles chegavam ma is per to dos grandes portais para dentro do
planalto as mult idões aumentavam. Espalhados nas Planícies Azrith ao su l dos penhascos, vendedores t inham montado suas barracas em ruas provisór ias . Aqueles
recém chegados ajeitavam-se em qualquer lugar que encontrassem espaço. A despeito
do fr io, todos pareciam de bom humor enquanto arrumavam suas mercadorias . Muitos
já estavam efetuando rápidos negócios . Soldados D'Haran pareciam estar em toda par te. Todos eram homens
grandes, todos usando os mesmos uniformes d e couro e lã , com cota de ma lha . Todos
estavam armados com pelo menos uma espada , mas a maior ia carregava armas adicionais, um machado, maçã com espinhos , ou facas . Enquanto os soldados estava m
aler tas e cautelosos , eles não pareciam dar importância aos mercadores ou atrapalhar
os negócios deles .
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A mulher que vendia l inguiças acenou despedindo -se de Jennsen e Sebastian
antes que afastar seu carr inho para fora da es trada em um espaço vazio ao lado de tr ês
homens colocando barr is de vinho sobre uma pequena me sa. Os tr ês homens, com as
mesmas mandíbulas for tes , ombros largos , e cabelo louro desgrenhado, obviament e eram irmãos.
— Tomem cuidado com quem vocês deixam seus animais. — e la gr itou
para eles .
Muitas das pessoas que montavam suas ba rracas ali embaixo no terr eno
t inham anima is e parecia bastante fácil conduzir os negócios ali mesmo onde estavam , ao invés de subir em até o Palácio . Outras pessoas perambulavam pelas mult idões ,
ofer ecendo it ens aos transeuntes . Talvez as mercador ias simples deles vendessem
melhor para aqueles que vinham até o mercado a céu aber to . Alguns, como a mulher com o carr inho, vinham para vender comida qu e
preparavam, e uma vez que havia muitas pessoas ali embaixo eles não precisava m
seguir a té lá em cima . Jennsen suspeitou que outros estavam contentes em ficarem
longe do que cer tamente ser iam olhares ma is examinadores dos of icia is e ma is guardas ainda dentro do Palácio.
Sebast ian observava tudo sem parecer óbvio. Ela imaginou no olhar dele
uma lista corr ida de tropas . Para outros podia parecer que ele estava apenas olhando para os mercadores ao r edor , seduzido pela var iedade de mercadorias à venda , mas
Jennsen via que a visão dele focava além , até os grandes portais entr e enormes
colunas de pedra .
— O que dever íamos fazer com os cavalos? — e la perguntou . — E
Betty?
Sebast ian apontou para uma das áreas delimitadas onde cavalos estava m presos.
— Teremos que deixá- los .
Além de estar tão per to do lar do homem que tentava matá - la , Jennsen não gostava de estar no meio de tantas pessoas . Sent ia-se tão incomodada com a sensação
de per igo que não conseguia pensar dir eito . Deixar Betty em um estábulo em uma
cidade era uma coisa , mas deixar sua amiga de toda uma vida ali fora , no meio daquelas pessoas , era outra coisa .
Ela apontou com o queixo para os homens sujos vigiando os anima is . Eles
estavam ocupados em um jogo de dados .
— Acha que podemos confiar em deixar os animais com pessoas como
aquelas? Pelo que sabemos, eles podiam ser ladrões . Talvez você pudesse f icar com
os cavalos enquanto eu vou procurar o marido de Althea. Sebast ian desviou sua atenção da análise dos soldados per to da entrada .
— Jenn, não acho que seja uma boa ideia nos separarmos em um lugar
como esse. Além disso, não quero que você entr e ali sozinha .
Ela mediu a preocupação nos olhos dele.
— E se t ivermos problemas? Acha mesmo que poder íamos abr ir caminho
lutando?
— Não. Você precisa usar a sua cabeça, mante o controle . Eu trouxe você
até aqui, não vou abandoná-la agora e deixar você entrar ali sozinha .
— E se eles sacarem as espadas contra nós?
— Se chegar a esse ponto , lutar não ir ia nos salvar em um lugar como
esse. É mais importante dar um mot ivo de preocupação para as pessoas , fazer com qu e
elas pensem duas vezes sobre o quanto você pode ser per igoso , para que você não
acabe tendo que lutar em pr imeiro lugar . Você precisa blefar .
— Não sou boa nesse t ipo de co isa .
Ele grunhiu soltando uma r isada .
— Você faz isso muito bem . Fez isso comigo naquela pr imeira noit e
quando desenhou a Graça .
— Mas aquilo fo i apenas co m você , e com a minha mãe lá . Isso é
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difer ente de um lugar com tantas pessoas .
— Você fez isso na hospedar ia pe lo modo como mostrou o seu cabelo
vermelho para a dona . A sua ação soltou a l íngua dela . E você manteve os homens
afastados apenas com seu comportamento e um olhar . Sozinha você deu para todos
aqueles homens preocupação suf iciente para que eles a deixassem em paz .
Ela nunca havia pensado naquilo desse jeito . Ela enxergava isso ma is como simples desespero do que ca lculada encenação.
Quando Betty es fr egou o topo da cabeça contra a perna de Jennsen, ela
coçou distraidamente a or elha da cabra e observou enquanto os homens deixavam o jogo de dados para pegarem cavalos de via jantes . Ela não gostou do jeito rude como
os homens tratavam dos cavalos , usando varas ao invés da mão f irme.
Jennsen olhou para a mult idão de pessoas até que avistou o xale vermelho . Ela enrolou a corda frouxa de Betty e começou a andar , puxando Rusty junto com ela .
Surpreso, Sebastian caminhou rapidamente para alcançá - la .
A mulher com o xale vermelho estava arrumando potes com suas l inguiças
quando Jennsen aproximou-se dela .
— Senhora?
Ela forçou os olhos por causa da luz do sol .
— S im, quer ida? Mais um pouco de l inguiça ? — e la levantou uma tampa .
— E las são muito boas , não são?
— Deliciosas , mas eu estava imaginando se você aceitar ia um pagamento
para tomar conta de nossos cava los , e minha cabra .
A mulher recolocou a tampa .
— Os animais? Eu não sou dona de estábulo , quer ida .
Jennsen, segurando a corda e as rédeas em uma das mã os, descansou o
antebraço no lado do carr inho. Betty dobrou as pernas e deitou ao lado da roda .
— Pensei que você poder ia gostar da companhia de minha cabra
durante algum tempo . Betty é uma boa cabra e não causar ia nenhum problema .
A mulher sorr iu quando olhou por ciam da borda do carr inho.
— Betty, não é? Bem, acho que poder ia tomar conta da sua cabra .
Sebast ian entr egou uma moeda de prata para a mulher .
— Se nós pudéssemos prender nossos cavalos junto com os seus ,
ficar íamos ma is tranquilos porque eles estar iam em boas mãos , e porque você estar ia de olho neles .
A mulher inspecionou a moeda cuidadosamente , então avaliou Sebastian de
modo ma is cr ít ico.
— Quanto tempo vocês levarão ? Afinal de contas, quando eu vender todas
as minhas l inguiças eu vou querer seguir para casa.
— Não muito. — Jennsen fa lou. — Nós só queremos encontrar o homem
sobre o qual você falou , Friedr ich.
Sebast ian, de improviso, apontou para a moeda que a mulher ainda estava segurando.
— Quando vo ltarmos , dar ei outra para você como agra decimento por tomar
conta de nossos anima is . Se não voltarmos até depois que todas as suas linguiças estejam vendidas , então darei duas por t er esperado por nós.
Finalmente, a mulher assent iu .
— Então está certo . Ficarei aqui vendendo minhas l inguiças . Amarre sua
cabra na roda , a li, e eu f icarei de olho nela até vocês voltarem. — e la apontou por
cima do ombro . — e vocês podem colocar os seus cavalos junto com os meus , a l i.
Minha velha garota vai gostar da companhia .
Betty pegou o pequeno pedaço de cenoura dos dedos de Jennsen
ansiosamente. Rusty encostou o focinho no ombro dela , ins ist indo para ela não fosse deixada de fora , então Jennsen deixou o cavalo pegar um pedaço do raro banquete ,
então entr egou um pedaço a Sebastian, para que um Pete sempre ans ioso não f icass e
100
de fora .
— Se vocês perderem o meu rast ro , simplesmente perguntem por Irma, a
senhora das linguiças .
— Obr igada , Irma. — Jennsen acar iciou as or elhas de Betty. — Agradeço
sua ajuda . Voltar emos antes que você perceba .
Quando eles entraram no meio da multidão que afunilava em dir eção ao
grande p lanalto, Sebastian colocou um braço em volta da cintura dela para mantê - la
per to ao lado dele enquanto a escoltava para dentro da bocarra aber ta do Palácio de Lorde Rahl.
Jennsen podia ouvir ao longe os balidos de Betty reclamando por ser
abandonada .
101
C A P Í T U L O 1 6
Soldados em armaduras polidas , todos carregando p iques erguidos com pontas amoladas cint i lando na luz do sol , estudaram s ilenciosamente as pessoas qu e
passavam entr e as grandes colunas. Quando os olhares examinadores deles voltaram-se
para Jennsen e Sebastian, ela cer t if icou-se de não olhar nos olhos deles . Manteve a
cabeça abaixada e moveu-se no mesmo passo das outras pessoas que seguia m lentamente passando pelas fi leiras de soldad os. Ela não sabia se eles pr estaram
qua lquer atenção par ticu lar nos dois , mas nenhum deles est icou o braço para segurá -
la , então ela cont inuou em movimento. A enorme entrada parecida com uma caverna estava cheia de rochas de cores
claras, fazendo Jennsen ter a sensação de que passava dentro de um grande corr edor ao
invés de um túnel para dentro de um planalto do tamanho de uma montanha . Tochas sib ilantes em suportes de ferro pos icionados nas paredes i luminavam o caminho com
uma fi leira de luz pont ilhada . O ar t inha cheiro de p iche queimando, mas lá dentro
parecia acolhedor , longe do vento de inverno .
Os lados, cor tados na rocha , eram colunas de quar tos . A ma ior ia eram simples aber turas com uma pequeno muro frontal a trás do qua l vendedores vendia m
suas mercadorias . Paredes em muitas das pequenas sa las estavam decoradas com pano
color ido ou tábuas pintadas , ofer ecendo um toque acolhedor . Parecia que qualquer u m do lado de fora podia montar uma loja e vender suas mercadorias . Jennsen imaginou
que os vendedores do lado de dentro precisavam pagar aluguel pelas salas , mas, em
retorno, eles t inham um lugar quente e seco fora do tempo para fazerem negócios ,
onde clientes estavam mais dispostos a ficar . Grupos de pessoas conversando aguardavam per to do sapateiro par a que seus
sapatos fossem reparados , enquanto outros formavam f ila para comprarem cerveja , pão
ou t igelas fumegantes de cozido. Outro homem, com uma voz melodiosa que atraia mult idões até a t enda dele, vendia tor tas de carne. Em um lugar barulhento e aper t ado,
mulheres estavam com seus cabelos sendo arrumados , cacheados, ou enfeitados com
pedaços de vidro color ido em f inas corr entes . Em outro, seus rostos estavam sendo maquiados, ou as unhas eram pintadas . Outros lugares vendiam belas f itas , a lgumas
cor tadas para parecerem f lor es frescas , para enfeitar vestidos . Pela natureza de muitos
dos negócios , Jennsen percebeu que muitas das pessoas quer iam apresentar a melhor
aparência antes de subir em até o Palácio , onde quer iam ser vistas , tanto quanto quer iam obser var .
Sebast ian pareceu achar tudo isso tão surpreendente quanto ela achava .
Jennsen parou em uma tenda sem clientes , onde um homem pequeno com um sorr is o estava arrumando canecas de peltre.
— Poderia dizer , Senhor , se você conhece um dourador com o nome
Friedr ich?
— Nenhum homem com esse nome aqui embaixo. Trabalho ma is f ino como
esse geralmente é vendido lá em cima . Quando eles foram engolidos ma is fundo dentro da entrada subterrânea , o
braço de Sebastian voltou a envolver a cintura dela . Ela encontrava confor to na
presença dele, no rosto bonito dele , e naquelas vezes em que ele sorr ia para ela . O
cabelo branco espetado dele o tornavam diferente de todos os outros, único , especial. Os olhos azuis dele pareciam guardar tantas respostas para os mistér ios do mundo
ma is amplo que ela jama is t inha visto . Ele quase fazia ela esquecer o sofr imento por
ter perdido sua mãe. Uma secessão de mass ivas portas de ferro estavam aber tas , permit indo o
avanço da mult idão. Era int imidador cruzar por tas assim, sabendo que se elas
fechassem ela f icar ia presa lá dentro. Além, largos degraus de mármore, ma is claros
do que pa lha e cor tados por veias brancas , conduziam até grandes p lataformas
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margeadas por massivas balaustradas de pedra . Em contraste com as imensas portas de
ferro de entrada para o plana lto, por tas de madeira ta lhadas f inamente isolava m
algumas das salas . Corredores caiados bem iluminados por lamparinas ref letoras
distraíram a atenção deles da sensação de estarem dentro do planalto . Os degraus pareciam inf initos , em alguns lugares ramificando em difer entes
dir eções. Algumas das plataformas abr iam dentro de passagens espaçosas , o destino
para muitas das pessoas . Era como uma cidade em noite eterna , i luminada pelas lamparinas com ref letor es nas paredes e lamparinas em postes em centenas . Pelo
caminho estavam belos bancos de pedra onde as pessoas podiam descansar . Em alguns
níveis estavam mais lojas pequenas vendendo pão , queijos, carnes, a lgumas com mesas e bancos do lado de fora . Ao invés de parecer um lugar sombri o, a l i dentro parecia
agradável, ta lvez até mesmo românt ico.
Algumas passagens , fechadas por enormes portas e b loqueadas por guardas ,
pareciam como se pudessem ser barracas . Em um lugar Jennsen avistou uma rampa em espiral com tropas movendo -s e
sobre cavalos.
De sua infância , Jennsen lembrava apenas vagamente da cidade sob o Palácio. Agora , com as novas visões inf initas , esse era um lugar de maravilhas .
Quando suas pernas começavam a cansar por causa do es forço de subir os
degraus e cruzar passagens , ocorreu a ela o mot ivo pelo qua l muitas pessoas pr efer ia m ficar lá emba ixo no terreno para fazerem seus negócios ; era um longo caminho de
subida , tanto em distância quanto em tempo, e trabalho. Das conversas que ela ouviu ,
muitas das pessoas que vinham ampliavam sua estadia no Palácio que era uma cidade
alugando quar tos . Jennsen e Sebastian f inalmente foram recompensados por seus es forços
quando emergiram ma is uma vez na luz do dia .
Três f i leiras de sacadas diante de colunas amarradas suportando aber turas arqueadas forneciam uma visão do sa lão de mármore. Acima, janelas envidraçadas
deixavam a luz entrar , cr iando um corredor br ilhante difer ente de tudo que ela já t inha
visto.
Se Jennsen estava encantada com aquela maravilha , Sebastian parecia estupefato.
— Como alguém poder ia construir um lugar como esse? — e le
sussurrou . — Porque ao menos desejar iam fazer isso ?
Jennsen não t inha resposta para as duas perguntas . Mesmo ass im, a despeit o
do quanto ela detestava aqueles que governavam a terra dela , o Palácio ainda a deixava cheia de admiração. Esse era um lugar construído por pessoas com visão e
imaginação além de qua lquer coisa que ela poder ia conceber .
— Com toda a necessidade no mundo , — e le murmurou para si mesmo.
— a Casa de Rahl constrói esse monumento de mármore para eles mesmos .
Ela pensou que parecia haver muitos milha res de outros além do própr io Lorde Rahl que eram beneficiados com o Palácio do Povo , aqueles que ganhavam a
vida a par tir daquilo que o Palácio juntava , pessoas de todos os t ipos , a té mesmo para
Irma, a Senhora das l inguiças , mas nesse momento Jennsen não quer ia quebrar o
feit iço de admiração tentando explicar isso . O corredor , que est icava-se em ambas as dir eções , estava ladeado por
fi leiras de lojas posicionadas sob as sacadas .
Algumas estavam aber tas , com apenas um ar tesão, mas muitas t inham fr ent e de vidro e bastante enfeitadas , com portas , placas penduradas , e vár ias pessoas
trabalhando dentro. A var iedade era impress ionante. Donos de lojas cor tavam cabelo,
extraiam dentes , pintavam retratos , faziam roupas , e vendiam todo t ipo de coisas imagináveis , desde produtos comuns e ervas até perfumes caros e jóias . Os aromas da
grande var iedade de comidas causavam distração . As placas eram estonteantes .
Enquanto ela estava saboreando aquelas visões e procurava a casa do
dourador , Jennsen avistou duas mulheres usando uniformes de couro marrom . Cada uma com o longo cabelo louro em uma trança . Ela agarrou o braço de Sebastian e
103
arrastou ele até uma passagem lateral . Sem dizer uma palavra , saiu puxando ele,
tentando não avançar rápido demais para evitar que as pessoas f icassem desconfiadas ,
mas ao mesmo tempo procurando afastá-los do campo de vista o ma is rápido poss ível .
Ass im que ela alcançou o pr imeiro dos enormes p ilar es alinhados ao corredor l a teral, ela agachou atrás dele, puxando Sebast ian com ela . Quando pessoas olharam na
dir eção deles , os dois sentaram no banco de pedra encostado no muro, t entando agir de
forma tão natural quanto possível . Uma estátua de um homem nu do outro lado do caminho olhava para eles enquanto apoiava -se em uma lança .
Cuidadosamente, casualmente, os dois esp iaram apenas o bastante para
checar . Jennsen observou as duas mulheres vest idas em couro passarem pelo cruzamento; os olhares delas , fr ios, penetrantes, inteligentes, ava liavam as pessoas de
ambos os lados .
Esses eram os olhos de mulheres que em um instante e sem remorsos
poder iam decidir entre a vida e a morte . Quando uma mulher olhou em dir eção ao cor redor la teral , Jennsen encolheu-
se atrás do p ilar , espremendo-se contra o muro. Ela ficou aliviada em f ina lmente ver
as costas das duas enquanto elas cont inuavam descendo o corr edor pr incipal .
— O que fo i isso? — Sebastian perguntou quando ela soltou um suspiro de
alívio.
— Mord-Sith.
— O quê?
— Aquelas duas mulheres . Elas eram Mord-Sith.
Sebast ian espiou cautelosamente para dar ma is uma olhada , mas as duas
desapareceram.
— Não sei muita co isa sobre elas , a não ser que elas são algum t ipo de
guardas.
Então ela percebeu, que sendo de outra terra ele podia não saber muito sobre aquelas mulheres .
— S im, de cer to modo. As Mord-Sith são guardas muito especiais . São as
guardas pessoais de Lorde Rahl, eu acho. Elas o protegem, e mais . Elas conseguem obter informação de pessoas dotadas através de tor tura .
Ele avaliou a expressão nos olhos dela .
— Está querendo dizer aqueles que possuem magia simples .
— Qualquer magia . Até mesmo uma feit icei ra . Até um mago.
Ele parecia duvidar .
— Um mago comanda magia poderosa . Poder ia simplesmente usar o
poder dele para esmagar aquelas mulheres.
A mãe de Jennsen falou sobre as Mord-Sith, sobre como elas eram per igosas, e que ela devia evitá - las a todo custo. A mãe dela jama is t entou esconder a
natureza de ameaças mortais .
— Não. Mord-S ith possuem um poder que as permite dominar a magia d e
outra pessoa, a té mesmo de um mago ou de uma feit iceira . Elas capturam não apenas a
pessoa , mas a magia dela também. Não pode há como escapar de uma Mord-Sith a não
ser que ela l iber te a pessoa . Sebast ian pareceu apenas mais confuso.
— O que você quer d izer com ―elas dominam a magia de outra
pessoa‖? Isso não faz sent ido. O que elas conseguir iam fazer com essa magia se ela
fosse o poder de outra pessoa ? Ser ia como arrancar os dentes de outra pessoa e t entar
comer com eles . Jennsen passou a mão sobre a cabeça, sob o capuz, arrumando os tufos de
cabelo que escaparam.
— Não sei, Sebastian. Só ouvi dizer que elas usam a própr ia magia da
pessoa contra ela , para machucá- la , para causar dor .
— Então porque dever íamos ter medo delas?
— E las podem conseguir informações dos inimigos dotados de Lorde
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Rahl, mas podem machucar qualquer pessoa . Viu a arma que elas carregam?
— Não. Não vi arma nenhuma com elas . Elas carregavam apenas u m
pequeno bastão vermelho de couro.
— Aquela é a arma delas . É chamada de Agiel. Elas a carregam em uma
corrente em volta do pulso para que ela es teja sempre ao alcance . É uma arma de
magia . Ele cons iderou aquilo que ela disse , mas claramente ainda não entendeu .
— O que elas fazem com aquilo , com o Agiel delas?
O comportamento dele havia mudado de incredulidade para um
questionamento ma is calmo, analít ico, para obter informação . Mais uma vez ele estava
executando o trabalho que, Jagang, o Justo, t inha enviado ele para fazer .
— Não sou espec ialista no assunto , mas de acordo com o que ouvi, o
simples toque de um Agiel pode fazer qua lquer coisa desde causar dor inconcebível ,
quebrar ossos , a té a morte instantânea . A Mord-Sith decide quanta dor , se os ossos vão quebrar , e você vai morrer ou não com o toque dele .
Ele f icou olhando para o cruzamento enquanto pensava no que ela fa lou .
— Por que você tem tanto medo delas ? E se apenas ouviu falar em essas
coisas, porque as t eme tanto?
Agora era ela quem estava incrédula .
— Sebastian, Lorde Rahl esteve me caçando durante toda minha vida .
— Essas mulheres são as assassinas pessoais dele . Não acha que elas ir ia m
adorar me levar até os pés do mestr e delas ?
— Imagino que sim .
— Pelo menos elas estavam usando couro marrom . Elas vestem couro
vermelho quando cons ideram que existe uma ameaça , ou quando elas tor turam a lguém.
No couro vermelho o sangue não aparece tanto .
Ele passou as duas mãos sobre os olhos e depois novamente sobre o cabelo
branco espetado.
— Essa terra na qual você vive é uma terra de pesadelo , Jennsen
Daggett . Jennsen Rahl, ela quase o corr igiu sent indo pena de s i . Jennsen de sua mãe,
Rahl do seu pai.
— Você acha que eu não sei disso?
— E se essa feit ice ira não quiser ajudar você?
Ela puxou um f io sobre o joelho dela .
— Não sei.
— E le virá at rás de você . Lorde Rahl nunca deixará você em paz. Você
nunca será l ivr e. . . — ―a não ser que você o mate‖ foram as palavras não
pronunciadas que ela podia ouvir .
— Althea tem que me ajudar . . . estou tão cansada de sent ir medo, — Jennsen
falou, quase chorando. — tão cansada de fugir .
Ele colocou a mão gent i l sobre o ombro dela . — Eu entendo .
Duas palavras não podiam ter ma is s ignif icado do que aquelas nesse
momento. Ela só conseguiu balançar a cabeça, agradecendo .
O tom dele ficou ma is ardente . — Jennsen, nós temos mulheres dotadas
como Althea. Elas são de um grupo, as Irmãs da Luz, que costumava morar no Palácio
dos Profetas no Mundo Ant igo. Richard Rahl, quando ele invadiu o Mundo Antigo ,
destruiu o Palácio delas . Dizem que era um lugar belo e especial , mas ele o destruiu . Agora as Irmãs estão com o Imperador Jagang, ajudando ele. Talvez nossas feit iceiras
também fossem capazes de a judá - la .
Ela olhou dentro dos olhos afetuosos dele . — Verdade? Talvez aquelas qu e
estão com o Imperador conheçam uma maneira de me esconder da feit içar ia do meu
meio irmão assassino?. . . Mas ele está sempre a meio passo atrás de mim , esperando
que eu tropece para que ele possa atacar . Sebast ian, não acho que eu conseguir ia
105
chegar tão longe ass im. Althea ajudou a me esconder de Lorde Rahl uma vez. Eu devo
convencê- la a me ajudar novamente. Se ela não ajudar , eu temo não ter chance a lguma
antes de ser capturada .
Ele inclinou o corpo novamente, checando, então mostrou um sorr is o confiante para ela .
— Encontraremos Althea. A magia dela esconderá você e então poderá
escapar .
Sent indo-se melhor , ela devolveu o sorr iso.
Julgando que as Mord-S ith estavam longe e era seguro, eles r etornaram ao
corredor para procurarem Friedr ich. Cada um deles perguntou em vár ios lugares antes que Jennsen encontrasse a lguém que sabia do dourad or . Com esperança r enovada , ela
e Sebastian moveram-se ma is fundo dentro do Palácio, seguindo as or ientações qu e
receberam, até uma junção de grandes passagens . Ali, no centro do cruzamento de dois corredores centrais , ela f icou surpresa
em ver uma praça pública tranquila com uma piscina quadrada de água escura .
Ladrilhos, ao invés do mármore usual , cer cava a p iscina . Quatro colunas na borda externa dos ladr ilhos suportavam a aber tura que ascendia ao céu , cober ta , uma vez que
era inverno, por painéis de vidro. O vidro chanfrado transmit ia uma qua lidade l íquida
cint i lante para a luz que banhava os ladr ilhos .
Na piscina , fora do centro de uma maneir a que parecia correto sem qu e Jennsen entendesse exatamente porque parecia assim, estava uma rocha escura cheia
de marcas com um s ino sobre ela . Era um santuár io incr ivelmente tranquilo no centro
de um lugar tão agitado. Ver a praça com o s ino acendeu nela uma lembrança de lugares s imilar es .
Quando o s ino tocou, ela lembrou, as pessoas vinham até praças assim para baixarem
as cabeças e entoar uma devoção a Lorde Rahl. Ela suspeitou que ta l r espeito era u m
preço pago pela honra de permanecer no Palácio dele. Pessoas sentavam no muro baixo ao redor da borda , conversando em tons
apressados, observando peixes a laranjados deslizarem através da água escura . At é
mesmo Sebastian olhou por alguns minutos antes de seguir adiante . Por toda par te, havia soldados a ler tas . Alguns pareciam pos icionados em
loca is estratégicos . Esquadrões de guardas moviam-se pelos corr edores , obser vando
todos, parando a lgumas pessoas para falarem com elas . O que os soldados perguntavam, Jennsen não sabia , mas isso a deixou bastante preocupada .
— O que diremos se nos interrogarem? — e la perguntou .
— É melhor não falar co isa alguma a não ser que seja preciso .
— Mas se for necessár io , e então?
— Diga a eles que moramos em uma fazenda ao sul . Fazendeiros são
isolados e não sabem muito sobre qualquer coisa a não ser as suas vidas na fazendas ,
então não parecer ia algo suspeito se falássemos que não sabemo s sobre qua lquer outra
coisa . Viemos para ver o Palácio e ta lvez comprar algumas cois inhas, ervas e coisas assim.
Jennsen conhecera fazendeiros , e não achava que eles fossem tão ignorantes
sobre as coisas quanto Sebastian parecia pensar .
— Fazendeiros plantam ou colhem suas próprias ervas , — e la falou . — não
acho que eles precisar iam vir até o Palácio para comprá - las .
— Bem, então. . . viemos comprar algumas tecidos bonitos para que você
pudesse fazer roupas para o bebê.
— Bebê? Que bebê?
— O seu bebê . Você é minha esposa e apenas r ecentemente descobrimos
que você está grávida . Você carrega uma cr iança . Jennsen sent iu o rosto f icar vermelho . Não podia dizer que estava grávida,
isso apenas causar ia mais perguntas .
— Está certo . Somos fazendeiros , aqui para comprar algumas cois inhas,
ervas e coisas assim. Ervas raras que nós mesmos não p lantamos .
106
A única resposta dele foi um olhar atravessado e um sorr iso . O braço dele
retornou até a cintura dela , como se tentasse banir a vergonha dela .
Além de outro cruzamento de largas passagens , seguindo as or ientações que
eles r eceberam, eles f izeram a curva descendo outro corredor para a dir eita . Ele também estava carregado de vendedores . Imediatamente Jennsen avistou a barraca com
uma estr ela dourada pendurada na fr ente. Ela não sabia se isso era intencional ou não,
mas a estrela dourada t inha outo pontas , como a estr ela em uma Graça . Ela desenhara a Graça vezes o bastante para saber .
Com Sebast ian ao seu lado, ela andou rapidamente até a barraca. O coração
dela murchou quando eles encontraram o lugar ocupado apenas por uma cadeira vazia , mas a inda era manhã , e ela conclu iu que talvez ele ainda não t ivesse chegado . A loja
ma is próxima também ainda não estava aber ta .
Ela parou em um lugar que vendia canecas de couro .
— Você sabe se o dourador está aqui ho je ? — e la perguntou ao homem
que t rabalhava at rás do banco .
— Sinto muito, eu não sei, — e la disse sem levantar os o lhos do seu
t rabalho enquanto cortava enfe ites com um fino cinzel . — acabei de chegar aqui .
Ela segu iu rapidamente até a próxima barraca ocupada , um lugar que vendia tecidos com cenas color idas costuradas .
Ela virou para falar a lgo a Sebastian, mas viu ele perguntando em outra
barraca não muito longe. A mulher atrás do pequeno ba lcão estava cos turando um r iacho azul através
de montanhas alinhavadas sobre um quadrado de tecido est icado trançado
grosseiramente. Algumas das cenas eram feitas em travesseiros exib idos sobre uma prateleira nos fundos .
— Senhora , será que você sabe se o dourador está aqui hoj e?
A mulher sorr iu para ela .
— Sinto muito, mas até onde eu sei , ele não virá hoje.
— Oh, entendo. — frust rada pela not ícia desapontadora , Jennsen hesit ou,
sem saber o que fazer em seguida . — Pelo menos você saber ia quando ele vo ltará ?
A mulher enf iou a agulha , cr iando um f io azul de água .
— Não, não posso afirmar . Na últ ima vez em que o vi, faz ma is de uma
semana, ele disse que poder ia não voltar durante a lgum tempo .
— Porque? Você sabe?
— Não posso dizer que sei . — e la puxou a longa linha da água par a
fora . — Às vezes ele fica longe para fazer um feit iço , t rabalhando no douramento
dele, fazendo o bastante para valer à pena o seu tempo de viagem até o Palácio .
— Por acaso você saber ia onde ele mora ?
A mulher lançou um olhar debaixo de uma testa enrugada.
— Porque você quer saber ?
A mente de Jennsen disparou. Ela falou a única coisa em que conseguiu pensar , o que t inha aprendido com Irma, a senha das l inguiças que tomava conta de
Betty para ela .
— Quero fazer uma consult a .
— Ah, — a mulher falou , sua desconfiança desaparecendo enquanto fazia
outro ponto na costura . — então na verdade quem você quer ver é Althea.
Jennsen assent iu.
— Minha mãe me levou até Althea quando eu era jovem. Desde que a minha
mãe. . . fa leceu, eu gostar ia de vis itar Althea novamente. Pensei que poder ia ser u m
confor to se eu fosse procurar uma consulta .
— S into muito por sua mãe , quer ida . Sei o que você quer dizer . Quando
perdi minha mãe, também foi um momento difíci l para mim.
— Pode dizer como encontrar a casa de Althea?
Ela baixou a costura e foi a té o muro baixo na frente da barraca dela .
107
— É um bom caminho até a casa de Althea , para oeste, a través de uma
terra desolada .
— As Planícies Azrith.
— Isso mesmo . Seguindo para oeste, a terra fica acidentada , com
montanhas. Fazendo a volta pelo outro lado da ma ior montanha com o p ico coberto de neve a oeste daqui, se você virar ao norte , permanecendo logo do outro lado dos
penhascos que você encontrará, seguindo a terra baixa mais ba ixa ainda , você entrará
em um lugar horr ível. Um lugar pantanoso. Althea e Fr iedr ich moram lá .
— Em um pântano? Mas não no inverno.
A mulher inclinou o corpo chegando ma is per to e baixou a voz .
— S im, a té mesmo no inverno, as pessoas dizem. O pântano de Althea.
Aquele também é um lugar sinistro . Alguns dizem que não é um lugar natural , se você
entende o que eu quero dizer .
— A. . . magia dela , você quer dizer ?
Ela balançou os ombros .
— Alguns dizem .
Jennsen assent iu agradecendo e repet iu as ins truções .
— Do outro lado do maior pico coberto de neve a oeste daqui, f icar
abaixo dos penhascos e seguir para nor te . Descer em um lugar pantanoso.
— Um horr ível e per igoso lugar pantanoso . — a mulher usou uma
longa unha para coçar a cabeça . — Mas não vai querer entrar lá a não ser que
você seja convidada .
Jennsen olhou ao r edor br evemente, para fazer um sina l a Sebast ian, mas ela não enxergou ele.
— Como alguém consegue ser convidado ?
— A maior ia das pessoas pedem a Friedr ich. Vejo elas aparecerem aqui
para falarem com ele e par tir em sem ao menos olhar o trabalho de le. Acho que ele
pergunta para Althea se ela va i r ecebê- los, e no dia seguinte ele volta com as peças douradas dele, ele os convida .
Às vezes, as pessoas entr egam a ele uma car ta para ele levar até sua esposa .
— Algumas pessoas viajam até lá e esperam . Ouvi dizer em que às vezes
ele sai do pântano para encontrar essas e transmit ir o convite de Althea.
Algumas pessoas r etornam da borda do pântano sem serem convidadas , a
longa espera deles acaba não valendo à pena . Porém, ninguém ousa aventurar -se entrando sem convite. Pelo menos,
ninguém jama is voltou para contar a histór ia , se você entende o que estou querendo
dizer .
— Está dizendo que eu terei que ir até lá e simplesmente esperar ?
Esperar até que ela ou o marido dela apareça para nos convidar a entrar ?
— Acho que sim . Mas não será Althea quem vai sair . Ela nunca sa i do
pântano dela , pelo que ouvi dizer em. Você poder ia voltar aqui todo dia até Fr iedr ich
fina lmente r etornar para vender as peças dele . Ele nunca fica longe ma is de um mês .
Eu dir ia que ele voltará até o Palácio dentro de poucas semanas , no máximo. Semanas. Jennsen não podia ficar em um lugar , esperando semanas ,
enquanto os homens de Lorde Rahl a caçavam, chegando ma is per to dia após dia . Pelo
modo como Sebastian fa lou que eles estavam próximos, ela não acreditava que ao menos t ivesse dias , muito menos semanas , antes que eles a capturassem.
— Então obr igada , por toda a sua ajuda . Acho que voltar ei outro dia para
ver se Fr iedr ich voltou e perguntar a ele se posso aparecer para uma consulta . A mulher sorr iu quando sentou novamente e pegou sua costura .
— Isso pode ser a melhor co isa . — e la levantou os olhos .
— S into muito por sua mãe , quer ida . É dif íci l, eu sei.
Ela assentiu , os olhos úmidos , t emendo testar a voz nesse momento . A
vívida cena surgiu em sua mente.
108
Os homens, o sangue por toda par te, o t er ror deles avançando para cima
dela , ver sua mãe jogada no chão, es faqueada , o braço dela amputado. Com esforço,
Jennsen afastou a lembrança , caso contrár io ela a consumir ia com a tr isteza e raiv a.
Tinha preocupações imediatas . Eles f izeram uma jornada longa e dif íci l no inverno para encontrarem Althea, para conseguir a ajuda dela . Não podiam f icar
esperando, esperando ser em convidados para vis itar Althea , os homens de Lorde Rahl
restavam nos ca lcanhares deles . Na últ ima vez em que Jennsen vacilou em sua determinação ela perdeu a chance, e Lathea foi assassinada . A mesma coisa poder ia
acontecer outra vez. Precisava chegar até Althea antes daqueles homens , pelo menos
para contar a ela sobre a sua i rmã, pelo menos, para avisá - la . Jennsen observou o vasto corredor , procurando Sebastian. Ele não podia ter
ido muito longe. Então ela o viu , de costas para ela , do outro lado de um largo
corredor , no momento em que se afastava de um lugar que vendia jóias prateadas.
Antes que ela desse dois passos , viu soldados aparecerem e cer cá - lo. Jennsen congelou.
Sebast ian também. Um dos soldados usou a espada para levantar
cuidadosamente a capa de Sebastian, descobrindo o conjunto de armas dele . Ela estava assustada demais para mover -se, para dar outro passo.
Meia dúzia de p iques com pontas amoladas cint i lantes baixaram em dir eção
a Sebastian. Espadas foram sacadas das ba inhas . Pessoas nas proximidades r ecuaram, outros viraram para olhar . No centro de um anel de so ldados D'Haran, Sebastian
esticou os braços para os lados em s ina l de r endição .
Entregue .
Exatamente nesse momento, um s ino, aquele que estava na praça , tocou.
109
C A P Í T U L O 1 7
O longo r epique do s ino chamando as pessoas para a Devoção ecoou através dos corr edores cavernosos quando dois dos grandes homens seguraram Sebastian pelos
braços e começavam a levá - lo. Jennsen observou impotente quando o r esto dos
soldados D'Haran o cer caram em uma cerrada formação carregada de aço não apenas
para manter o pr isioneiro deles sob controle, mas para impedir qualquer t entat iva de resgatá-lo. Imediatamente f icou claro para ela que esses guardas estavam preparados
para qualquer eventua lidade e não corr iam r iscos , não sabendo que esse homem
armado poder ia signif icar uma força prestes a invadir o Palácio . Jennsen viu que havia outros homens , vis itantes do Palácio como Sebastian,
também carregando espadas . Talvez fosse o fato de que Sebastian carr egava uma
var iedade de armas de combate, e elas estavam todas escondidas, que levantou as suspeitas dos soldados . Mas ele não estava fazendo nada . Era inverno, é claro que ele
estava usando uma capa . Ele não estava causando ma l algum. A vontade de Jennsen
foi de gr itar para que os soldados o deixassem em paz , a inda assim ela t emia que s e
fizesse isso eles a levar iam também. As pessoas que espalharam-se para afastarem-se do problema em potencia l ,
junto com todos os outros que andavam pelos corr edores , começaram a seguir em
dir eção a praça . As pessoas nas lojas deixaram seus trabalhos para juntarem-se a elas . ninguém prestou muita atenção ao assunto dos soldados . Em resposta para aquele
único som que que ainda perdurava no ar , r isadas e conversas transformaram-se em
sussurros respeitosos .
O pânico tomou conta de Jennsen quando ela viu os soldados empurrando Sebast ian por um corredor la teral . Ela podia enxergar o cabelo branco dele entr e as
armaduras escuras . Não sabia o que fazer . Isso não devia acontecer . Eles viera m
apenas achar um dourador . Ela quer ia gr itar para os solda dos que parassem. Porém, ela não ousava .
Jennsen .
Jennsen manteve pos ição contra a corrente de corpos , t entando manter
Sebast ian e os captores dele ao alcance da vista .
O Lorde Rahl estava atrás dela , e agora eles estavam com Sebastian. A mã e dela foi assassinada , e agora eles estavam levando Sebastian. Isso não era justo.
Enquanto ela observava , com medo de fazer qualquer coisa para deter os
soldados, seu próprio medo a deixou envergonhada . Sebast ian t inha feito muito por ela . Tinha feito tantos sacr if íc ios por ela . Arr iscou sua vida para salvar a dela .
A r espiração de Jennsen estava dif íci l . mas o que ela podia fazer ?
Entregue .
Não era justo o que eles estavam fazendo com Sebastian, com ela , com
pessoas inocentes . A raiva aumentou através do medo .
Tu vash misht .
Ele só estava ali por causa dela . Ela pediu a ele que viesse.
Tu vask misht .
Agora , ele estava com problemas .
110
Grushdeva du kalt misht .
As pa lavras pareciam tão cer tas . Elas f lu íram através dela , carregando
chamas e disparando a fúr ia . Pessoas a empurravam. Ela grunhiu com os dentes cerrados enquanto abr ia
caminho no meio da mult idão de pessoas , tentando seguir os soldados que estava m
com Sebast ian. Não era justo. Ela quer ia que eles parassem. Simplesmente parassem. Parassem.
A impotência dela a deixava frustrada . Estava cansada disso. Quando eles
não paravam, quando continuavam avançando , isso apenas aumentou a fúr ia dela .
Entregue .
A mão de Jennsen des lizou dentro da capa . O toque do aço fr io a recebeu com boas vindas . Seus dedos aper taram em volta do cabo da faca . Ela conseguiu sentir
o metal trabalhado do s ímbolo da Casa de Rahl pr ess ionado contra a carne da sua
palma. Um soldados empurrou-a genti lmente, fazendo ela virar na dir eção do r esto
da mult idão.
— A Praça de Devoção fica daquele lado , senhora .
Aquilo foi pronunciado como uma sugestão , mas estava envolto com u m
cer to toque de comando.
Através da fúr ia , ela olhou dentro dos olhos dele sob o capuz . Viu os olhos do homem morto. Viu os soldados na casa dela , homens no c hão mortos , homens
avançando atrás dela , homens agarrando ela . Viu r elances de movimento através de
uma cor tina vermelha de sangue .
Quando ela e o soldado olharam um nos olhos do outro , ela sent iu a lâmina na cintura dela sair da bainha .
A mão sob o braço dela puxou-a.
— Por aqui, quer ida . Eu vou mostrar onde fica .
Jennsen p iscou. Era a senhora que forneceu instruções sobre o caminho até a
casa de Althea. A mulher que f icava sentada no Pa lácio do bastardo assassino Lorde
Rahl e costurava as pacíf icas cenas de montanhas e r iachos . Jennsen olhou f ixamente para a mulher , pa ra o sorr iso inexplicável dela ,
tentando entendê- la . Jennsen achava tudo ao r edor dela estranhamente
incompreens ível. Sabia apenas que sua mão estava no cabo da faca e desejava que a lâmina f icasse l ivr e.
Mas, por alguma razão, a faca teimosamente continuava onde estava .
Jennsen, inicialmente convencida de que a lguma magia ma lévola a dominara , viu então que a mulher estava com um braço bem aper tado em volta dela .
Sem perceber isso, a mulher estava mantendo a lâmina de Jennsen na bainha .
Jennsen travou os joelhos , res ist indo para não ser arrastada .
Agora os olhos da mulher ex ib iam um s inal de a ler ta .
— Ninguém perde uma Devoção, quer ida . Ninguém. Permita que eu mostr e
onde acontece. O soldado, com expressão amarga , observou enquanto Jennsen entr egou-se,
deixando-se ser levada pela mulher .
Jennsen e a mulher , arrastadas na corrente de pessoas que seguiam em
dir eção à praça, deixaram o soldados para trás . Ela olhou para o rosto sorr ident e da mulher . Para Jennsen o mundo todo
parecia estar ondulando em uma estranha luz . As vozes ao r edor dela formavam uma
onda de som que na mente dela era cor tada pelos ecos de gr itos da casa dela .
Jennsen .
Através do murmúrio em volta dela , a voz, aguda e dist inta , chamou sua
111
atenção. Jennsen escutou, a ler ta para o que ela poder ia dizer .
Entregue sua vontade, Jennsen.
Isso fez sent ido, de uma forma visceral .
Entregue sua carne.
Nada mais parecia importar . Nada que ela t entou em toda sua vida trouxe a
salvação, ou segurança , ou paz. Pelo contr ár io, tudo parecia perdido. Parecia não haver nada mais a perder .
— Aqui estamos , quer ida. — a mulher disse .
Jennsen olhou ao r edor .
— O quê?
— Aqui estamos .
Jennsen sent iu os joelhos tocarem o chão ladr ilhado quando a mulher fez ela
abaixar . Pessoas estavam por todo lado. Diante delas estava a praça com a p iscina de
água tranquila no centro. Ela quer ia somente a voz.
Jennsen. Entregue.
A voz t inha f icado rude , ex igente. Isso vent i lou as chamas da raiva dela , da raiva dela , da ira dela .
Jennsen curvou-se para frente, tr emendo, nas garras da ira . Em a lgum lugar ,
nos cantos ma is distantes de sua mente , um terror distante gr itou . Independent e daquela remota sensação de mau presságio , era a fúr ia que estava leva ndo sua vontade.
Entregue!
Ela viu fi letes de sa liva pendurados , pingando, enquanto ela arfava entr e
lábios afastados . Lágrimas pingavam nos ladr ilhos bem per to sob o rosto dela . O nar iz
dela escorr ia . Sua respiração estava dif íci l . Os olhos tão arrega lados que estava m doendo. Ela tr emia toda , como se est ivesse sozinha na noite de inverno ma is escura e
ma is fr ia . Não conseguia parar .
Pessoas f izeram reverência , as mãos contra os ladr ilhos . Ela quer ia a faca l ivr e.
Jennsen sent ia desejo pela voz.
— Mestre Rahl seja nosso guia .
Não era a voz. Eram as pessoas ao r edor , em uma só voz, entoando a
Devoção. Quando começaram, todos abaixaram o corpo para frente mais ainda até qu e
as testas tocaram o chão ladr ilhado . Um soldado passou bem per to logo atrás , patrulhando, observando enquanto ela a joelhava , curvada , as mão no solo, tr emendo
incontrolavelmente.
Polegada por polegada , enquanto ela ofegava , tremia , a cabeça de Jennsen
abaixou até que a sua testa tocou o solo .
— Mestre Rahl nos ensine .
Não era isso que ela quer ia ouvir . Ela quer ia a voz. Estava fur iosa por ela . Queria sua faca. Queria sangue.
— Mestre Rahl nos proteja. — todas as pessoas entoavam .
Jennsen, lutando para respirar , consumida pelo ódio, quer ia apenas a voz, e sua lâmina l ivr e.
Mas as palmas dela estavam sobre os ladr ilhos .
Ela procurou escutar a voz , mas ouviu apenas o canto da Devoção .
— Em sua luz prosperamos . Na sua miser icórdia nos abrigamos . Em sua
sabedoria, nos humilhamos . Vivemos só para servir . Nossas vidas são suas .
112
No início, Jennsen lembrava aquilo apenas vagamente de sua infância , de
quando ela morava no Palácio. Ouvindo aquilo agora , aquela lembrança retornou com
força total. Ela conhecia as palavras . Pronunciou elas quando era pequena . Quando
foram embora do Palácio, fugindo de Lorde Rahl, ela havia banido as palavras da Devoção ao homem que tentava matá -la e ma tar a mãe dela .
Agora , desejando a voz que quer ia a rendição dela , quase sem o
conhecimento dela , quase como se fosse outr a pessoa fazendo isso , os láb ios trêmu los dela começaram a mover -se com as palavras .
— Mestre Rahl seja nosso guia . Mestre Rahl nos ensine. Mestre Rahl nos
proteja. Em sua luz, prosperamos . Na sua misericórdia, nos abrigamos . Em sua sabedoria, nos humilhamos . Vivemos só para servir . Nossas vidas são suas .
A cadência daquelas palavras murmuradas encheram o grande sa lão, muitas
pessoas e uma só voz r essoando poderosamente nas paredes . Ela procurou escutar com toda sua força a voz que fora sua companheira durante quase tanto tempo quanto ela
conseguia lembrar , mas ela não estava ali .
Agora , Jennsen estava sendo arrastada impotente junto com todas as outras pessoas. Ouviu claramente a si mesma pronunciando as palavras .
— Mestre Rahl seja nosso guia. Mestre Rahl nos ensine. Mestre Rahl nos
proteja. Em sua luz, prosperamos. Na sua misericórdia, nos abrigamos. Em sua sabedoria, nos humilhamos. Vivemos só para servir. Nossas vidas são suas .
Repet idas vezes Jennsen falou suavemente as palavras da Devoção junto
com todos. De novo e de novo, sem pausa a não ser para respirar . De novo e de novo, e a inda assim sem pressa .
O canto encheu sua mente. Ele acenava para ela , fa lava com ela . Era tudo
que preenchia seus pensamentos enquanto ela cantava, de novo e de novo . Isso a
preenchia tão completamente que nã o deixava espaço para mais nada . De algum modo, isso acalmou-a.
O tempo arrastou-se, casual, discr eto, sem importância .
De alguma forma , o suave canto trouxe uma sensação de paz . Fez ela lembrar de como Betty acalmava-se quando suas or elhas eram acar icia das. A fúr ia de
Jennsen estava sendo aliviada . Ela lutou contra isso, mas, pouco a pouco, ela foi
sugada para dentro do canto, para dentro da promessa dele , suave e gent il .
Então ela entendeu porque isso era chamado Devoção . A despeito de tudo, isso a dr enou, e então preencheu -a com uma ca lma
profunda , uma serena sensação de integração.
Não lutava ma is contra as palavras . Permit iu-se sussurrá -las, deixando-as levarem embora as fragmentos de dor . Durante aquele tempo, enquanto ficava
ajoelhada , com a cabeça encostada nos ladr ilhos , sem fazer nada a não ser pronunciar
as palavras , ela estava l ivr e de qualquer coisa e de tudo . Enquanto ela cantava junto com todos , a sombra lançada no chão pelas
barras que dividiam os vidros acima passaram por ela , deixando-a sob o br i lho total do
sol do meio-dia . Aquilo pareceu ca loroso e protetor . Pareceu como o caloroso abraço
de sua mãe. O corpo dela pareceu leve. O br ilho suave ao r edor fez Jennsen lembrar de como imaginava os bons espír itos .
Um instante ma is tarde, as horas do canto terminaram.
Jennsen levantou o corpo, afastando lentamente do solo, para sentar junt o com os outros . Sem aviso, um gemido escapou.
— Tem alguma co isa errada aqui?
Havia um soldado parecendo um gigante sobre ela . A mulher ao lado colocou u m braço em volta dos ombros de Jennsen.
— A mãe dela faleceu recentemente. — a mulher explicou suavemente.
O soldado jogou o peso do corpo sobre a outra perna, parecendo pouco à
vontade.
— S into muito , senhora . Meus profundos pêsames por você e sua família .
Jennsen viu naqueles olhos azuis que ele fa lou com s incer idade cada
palavra .
113
Impress ionada, sem palavras, ela observou quando ele virou , grande e
musculoso, cober to por couro, um assassino de Lorde Rahl cont inuando em sua
patrulha . Empatia dentro de uma armadura . Se ele soubesse quem ela era , entr egar ia
ela nas mãos daqueles que providenciar iam para que ela sofr esse uma morte lenta e dolorosa .
Jennsen enterrou o rosto no ombro da estranha e chorou por sua mãe, cu jo
abraço parecia tão bom. Sent ia fa lta de sua mãe além do que era possível suportar . E agora , estava
apavorada por Sebastian.
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C A P Í T U L O 1 8
Jennsen agradeceu a mulher que costurava cenas do campo e que forneceu or ientações . Somente depois que Jennsen começou a descer o corr edor ela percebeu
que não sabia ao menos o nome da mulher . Isso r ealmente não importava . As duas
t iveram mãe. Ambas entendiam e compartilhavam os mesmos sent imentos .
Agora que a Devoção acabou , o barulho de todas as pessoas no Palácio aumentou novamente até r essoar nas paredes de mármore e colunas . Risadas podiam
ser ouvidas através do corr edor . Pessoas t inham retornado para suas próprias
preocupações , comprando, negociando, discutindo seus desejos e necess idades . Guardas patrulhavam, e pessoas do Palácio, a ma ior ia usando mantos de cores claras ,
cuidavam de seus afazeres , levando mensagens , tratando de assuntos que Jennsen
podia apenas imaginar . Em um lugar , trabalhadores executavam a tarefa de r eparar as dobradiças em uma enorme porta dupla de carvalho que conduzia a uma passagem
lateral.
A equipe de l impeza também estava de volta , ocupada varrendo, lavando,
polindo. Um dia a mãe de Jennsen foi uma daquelas mulheres , cu idando do trabalho nas seções do Palácio fechadas ao público , salões of iciais onde assuntos de governo
eram conduzidos , as seções que abr igavam os of iciais e empregados do Palácio, e
claro, os aposentos de Lorde Rahl. Após cantar a devoção durante horas , a mente de Jennsen estava tão clara
como se t ivesse desfrutado de um longo e necessár io de scanso. Nesse estado de ca lma
mas r efr escada disposição, uma solução lhe ocorreu . Sabia o que precisava fazer .
Moveu-se rapidamente, de volta pelo caminho que t inha vindo. Não havia tempo a perder . Nas sacadas acima , pessoas que moravam no Palácio do Povo
contemplavam o corr edor abaixo enquanto cuidavam do seu trabalho , observando
aqueles que vieram para ficarem maravilhados com o grande Palácio . Jennsen concentrou -se em manter a cabeça funcionando enquanto seguia através das mult idões .
Sebast ian t inha avisado a ela para não corr er e fazer as pessoas pensarem s e
havia algo errado. Tinha avisado a ela para agir normalmente , não fornecer razão para que as pessoas a notassem. Mesmo que o per igo de estar no Palácio fosse tão sér io ,
que ele t ivesse s ido capturado independente de saber como agir . Se ela levantasse
suspeita , então cer tamente soldados a deter iam. Se os soldados colocassem as mãos
nela , e descobrissem quem ela era . . . Jennsen estava ans iosa para ter Sebastian de volta . Seu medo por ele a
impuls ionava para descer o corredor . Precisava afastá -lo dos soldados D'Haran antes
que eles f izessem a lgo terr ível com ele . Sabia que a cada minuto em que ele estava com eles , ele corr ia per igo mortal .
Se eles o tor turassem, ta lvez ele não conseguisse suportar . Se confessass e
quem ele era , eles o condenar iam à morte. O pensamento de Sebastian sendo executado quase fez os joelhos dela cederem. Sob tor tura , uma pessoa confessar ia
qua lquer coisa , fosse verdade ou não. Se eles decidissem tor turá -lo para fazer ele
confessar algo, ele estava condenado. A imagem menta l de Sebastian sendo tor turado a
deixou enjoada e tonta . Precisava resgatá -lo.
Mas para fazer isso, ela precisava conseguir a ajuda da feit iceira . Se Althea
ajudasse, cr iasse sobre Jennsen um feit iço protetor , então ela podia tentar resgatar Sebast ian. Althea t inha que ajudar . Jennsen a convencer ia .
A vida de Sebastian estava na balança .
Ela alcançou a escada pela qual eles subiram. Pessoas ainda estavam
chegando ao corredor , a lgumas suadas e bufando com o es f orço da subida . Ainda estavam descendo poucas pessoas . Parada na borda , com a mão no corr imão de
mármore, ela deu uma olhada ao r edor , cer t if icando-se de que não estava sendo
115
seguida ou observada . A despeito de sua vontade de corr er , ela fez um esforço par a
olhar ao redor de modo casual . Algumas pessoas olharam para ela , mas não durante
muito ma is tempo do que olhavam para qualquer outra pessoa . Soldados em patrulha
estavam a uma boa distância . Jennsen começou a descer . Ela avançou o ma is rápido poss ível s em parecer que est ivesse corr endo para
salvar sua vida, para salvar a vida de Sebastian. Mas ela estava . Se não fosse Jennsen,
ele poder ia não estar com esse problema . Ela pensou que descer ser ia fácil , mas após centenas de degraus descobriu
que descer cansava as pernas . Sua pernas ardiam com o es forço. Disse a s i mesma que
se não podia corr er , pelo menos não ir ia parar mas cont inuar em fr ente, desse modo aproveitando melhor o tempo.
Nas plataformas , ela cor tava as esquinas , economizando degraus . Quando
ninguém estava olhando, descia os degraus dois de cada vez . Quando precisava cruzar
passagens, t entava esconder -se atrás de grupos de pessoas para evitar guardas vigilantes . Pessoas sentadas em bancos , comendo pão e tor tas de carne, bebendo
cerveja , conversa ndo com amigos , a notavam casualmente junto com todos os qu e
passavam, apenas outros vis itantes passando. A meia irmã de Lorde Rahl entr e eles .
Sobre os degraus novamente, ela avançava rapidamente, suas pernas
tremendo por causa do esforço ininterrupto . Os músculos ardiam com a necess idade de um descanso, mas ela não fornecia isso. Ao invés disso, forçava ma is velocidade
quando t inha chance. Sobre um lance de degraus vazios entr e duas p lataformas ocultas
da visão porque dobravam em dir eções difer entes , Jennsen correu de forma
descuidada . Reduziu novamente quando um casal , de braços dados , suas cabeças encostadas enquanto r iam com palavras sussurradas , a lcançaram a plataforma abaixo e
levantaram as cabeças .
O ar ficou ma is fr io enquanto ela descia . Em um nível, com uma quantidade de guardas tão grande quanto moscas em um celeiro na pr imavera , um dos soldados
olhou dir etamente nos olhos dela e sorr iu. Surpresa ao parar durante um instante , ela
percebeu que ele estava sorr indo para ela como um homem sorr ia pa ra uma mulher ,
não como um assassino sorr ia para sua vít ima . Ela devolveu o sorr iso, educado, caloroso, mas não tanto para dar a impressão de que est ivesse encorajando ele .
Jennsen aper tou ma is a capa e virou descendo o lance seguinte de degraus . Quando
espiou por cima do ombro ao fazer a curva em uma plataforma , ele estava parado acima, com uma das mãos no corr imão, observando-a. Ele sorr iu novamente e acenou
despedindo-se antes de virar para cuidar dos seus deveres .
Incapaz de conter seu medo , Jennsen disparou descendo os degraus dois de cada vez e correu descendo o corredor , passando por pequenas bancas vendendo
comida, broches, e adagas f inamente decoradas , passando por vis itantes sentados em
bancos de pedra pos icionados diante da balaustrada de mármore , seguindo em dir eção
até o próximo lance de degraus , a té perceber que pessoas estavam olhando para ela . Ela parou de correr e começou a andar casualmente , t entando fazer parecer como se
estivesse apenas exib indo vivacidade juvenil . A tát ica funcionou. Viu pessoas qu e
estavam olhando para ela aparentemente cons iderar aquilo como nada mais do que uma garota animada em movimento. Elas voltaram a cuidar dos seus próprios assuntos .
Uma vez que aquilo funcionou , Jennsen usou o mesmo truque de forma
alternada e conseguiu ganhar melhor t empo. Ofegante com a longa descida , ela f ina lmente chegou até a entrada parecida
com a de uma caverna com as tochas .
Já que havia tantos soldados no portal de ent rada para o grande p lana lto , ela
reduziu a velocidade e caminhou per to atrás de um casal ma is velho para fazer parecer como se ela pudesse ser uma fi lha com seus pais . O casal estava engajado em u m
caloroso debate sobre as chances de um amigo fazer uma tentat iva com sua nova loja
vendendo perucas lá em cima no Pa lácio. A mulher pensava que esse era um bom negócio. O homem pensava que o amigo dele f icar ia sem vendedores de cabelos e
acabar ia gastando tempo demais procurando ma is .
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Jennsen não conseguia imaginar uma conver sa mais tola quando um homem
tinha sido levado pr is ioneiro e estava prestes a ser tor turado e provavelment e
condenado à morte. Para Jennsen, o Pa lácio D'Haran não era nada além de uma vil
armadilha mortal. Precisava t irar Sebastian dali. Ela ir ia t irar ele. Nenhum dos dois notou Jennsen logo atrás , de cabeça abaixada ,
acompanhando o passo lento deles . O olhar dos guardas passou pelos três . Na boca da
aber tura , o vento fr io entrava para t irar o ar dos pulmões de Jennsen. Depois de estar na escur idão i luminada por lamparina durante tanto tempo , ela teve que cer rar
parcialmente os olhos por causa da grande luminos idade da luz do dia . Ass im que eles
estavam no mercado a céu aber to , ela virou em uma das ruas provisór ias , apressando-se para encontrar Irma, a Senhora das Linguiças .
Esticando o pescoço, ela olhou ao r edor procurando o xa le vermelho
enquanto passava rapidamente pelas f i leiras de estábulos . O lugar que antes parecera
tão esplêndido agora parecia pobre depois que ela est ivera dentro do Palácio . Em toda sua vida , Jennsen nunca t inha visto nada como o Palá cio do Povo. Não conseguia
imaginar como um lugar de tanta beleza podia guardar ta l coisa vil como a Casa de
Rahl. Um vendedor ambulante aproximou -se.
— Enfeites , para a dama? Boa sor te com cer teza . — Jennsen cont inuou
andando. O há lito dele fedia . — Enfe ites especiais com magia . Não pode dar errado,
por uma moeda de prata .
— Não , obr igada .
Ele caminhou de lado, logo na frente dela mas um pouco para o lado .
— Apenas uma moeda de prata , minha dama.
Ela pensou que p isar ia nos pés do homem.
— Não, obr igada . Por favor me deixe em paz , agora .
— Então uma moeda de cobre .
— Não.
Jennsen empurrava ele toda vez que ele encostava nela quando chegava ma is per to, falando sobre os Amuletos dele. Ele continuou enf iando o rosto na fr ente do
rosto dela , olhando para ela enquanto inclinava e caminhava , sorr indo para ela .
— E les são bons enfeit es , minha dama. — e le cont inuava batendo contra
ela enquanto ela tentava andar , enquanto ela est icava o pescoço, procurando pelo
xale vermelho. — Boa sorte para você .
— Eu disse, não . — quase caindo sobre o homem , ela deu um for te
empurrão nele. — Por favor , me deixe em paz!
Jennsen suspirou a liviada quando um homem mais velho veio passando na
dir eção oposta e o vendedor virou para ele . Ela conseguia ouvir a voz dele
desaparecendo lá atrás , tentando vender um enfeite mágico para o homem por uma moeda de prata . Ela pensou na ironia de que aqui esse homem estava ofer ecendo
magia , e ela r ecusou porque estava com pressa para tentar conseguir magia de outra
pessoa . Ao passar por um espaço vazio, diante de uma mesa com vinho e barr is de
vinho, Jennsen parou r epent inamente. Levantou os olhos e viu os três irmãos . Um
estava derramando vinho dentro de um cá lice de couro para um cliente enquanto os
outros dois estavam erguendo um barr il chei o da traseira da carroça deles . Jennsen virou e olhou para o lugar vazio . Foi al i que Irma est ivera . Pareceu
que o coração dela subiu até a garganta . Irma estava com os cavalos deles . Irma estava
com Betty. Em pânico, ela agarrou o braço do homem atrás da mesa quando o cliente
par tiu.
— Por favor , poderia dizer onde Irma está?
Ele levantou os olhos , parcialmente cerrados por causa da luz do sol .
— A Senhora das Lingu iças?
Jennsen assent iu.
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— S im. Onde ela está? Ainda não poderia ter ido embora . Tinha as
l inguiças dela para vender .
O homem sorr iu .
— E la fa lou que ficar do nosso lado , enquanto vendemos nosso vinho,
ajudou ela a vender as linguiças mais rápido do que já conseguiu vender .
Jennsen só conseguiu f icar olhando para ele .
— E la fo i embora?
— Uma pena também. T er as linguiças dela sendo vendidas per to de nós
realmente a judou a vender vinho. Pessoas comiam aquelas l inguiças de cabra
apimentadas dela e precisavam beber um pouco do nosso vinho .
— As o quê? — Jennsen sussurrou.
O sorr iso do homem enfraqueceu.
— As linguiças dela . Qual é o problema senhora ? Parece que um espír ito
do Submundo acabou de tocar no seu ombro .
— O que você disse que ela vende ?. . . Linguiças de cabra?
Ele assent iu , parecendo preocupado.
— Entre outras . Eu provei todas , mas gostei ma is das l inguiças de cabra
apimentadas . — e le levantou um dedão sobre o ombro , indicando seus dois irmãos.
— Joe gostou mais das l inguiças de boi , e C layton, bem, ele gostou das de porco, mas
eu gostei ma is das l inguiças de cabra dela . Jennsen esta va tremendo e não era por causa do fr io .
— Onde ela está? Preciso encontrá -la !
O homem coçou a cabeça de cabelos louros desgrenhados .
— S into muito , mas eu não sei. Ela vem até aqui para vender l inguiças . A
ma ior ia das pessoas por aqui já viu ela antes . Ela é uma boa senhora , sempre com u m
sorr iso e uma boa palavra . Jennsen sent iu lágr imas geladas descerem por suas bochechas .
— Mas onde ela está? Onde ela mora? Preciso encontrá -la .
O homem segurou o braço de Jennsen, como se temesse que ela pudesse ca ir .
— Sinto muito, senhora , mas eu não sei. Por quê? Qua l é o problema ?
— E la está com meus animais . Meus cavalos . E Betty.
— Betty?
— Minha cabra . Ela está com eles . Pagamos para ela vigiá -los até
voltarmos.
— Oh. — e le pareceu t riste por não ter melhores not ícias para ela . —
S into muito . As l inguiças dela venderam bastante até acabarem. Geralmente leva o
dia todo para que ela venda o que prepara , mas às vezes as coisas f icam melhores , eu acho. Depois que as l inguiças dela acabaram, ela f icou sentada e conversou com a
gente durante bastante t empo. Fina lmente, ela soltou um suspiro, e disse que precisava
ir para casa.
A mente de Jennsen acelerou. Parecia que o mundo estava girando ao r edor dela . Não sabia o que fazer . Sent iu-se tonta , confusa. Jennsen nunca sent ira-se tão
sozinha.
— Por favor , — e la falou , sua voz embargada pelas lágr imas. — por favor ,
será que eu poder ia alugar um dos seus cava los ?
— Nossos cavalos? Então como levar íamos nossa carroça para casa ? Além
disso, eles são cavalos de carga . Não temos sela ou arreios para cavalgar ou
qua lquer . . .
— Por favor ! Eu tenho ouro. — Jennsen tateou no cinto. — Eu posso
pagar .
Procurando em volta da cintura , ela não conseguia encontrar sua pequena
bolsa de couro com o ouro e as moedas de prata . Jennsen jogou para trás a capa , procurando. Ali, no cinto dela , ao lado da faca , encontrou apenas um pequeno pedaço
de uma tira de couro, cor tada .
118
— Minha bo lsa . . . minha bolsa sumiu. — ela não conseguia r espirar . —
Meu dinhe iro . . .
O rosto do homem abaixou de tr isteza enquanto olhava ela t irar o resto da
t ira de couro do cinto.
— Tem pessoas ruins rondando por aqui, procurando roubar. . .
— Mas eu preciso dela .
Ele f icou em s ilêncio. Ela olhou para trás , procurando o vendedor ambulant e
que vendia Amuletos. Tudo passou pela sua mente rapidamente. Ele esbarrou nela , encostou nela . Na verdade estava cor tando a bolsa dela . Não conseguia nem lembrar
qua l era a aparência dele, apenas que ele er a sujo e ma l cuidado . Ela não quis olhar
para o rosto dele, encarar os olhos dele . Parecia que ela não conseguia recuperar o fôlego enquanto procurava fr enet icamente de um lado e de outro, t entando encontrar o
homem que roubou seu dinheiro.
— Não. . . — e la gemeu , abalada de ma is para saber o que dizer . — Não, oh,
por favor , não. — e la agachou , sentando no chão ao lado da mesa . — Preciso de um
cavalo . Quer idos espír itos , eu preciso de um cavalo.
Rapidamente o homem colocou vinho em uma caneca e agachou ao lado dela
enquanto ela chorava .
— Aqui, beba isso.
— Não tenho dinheiro. — ela conseguiu falar enquanto chorava .
— É por minha conta. — e le disse , mostrando um simpát ico sorr iso tor to
com dentes brancos . — Isso vai ajudar . Beba tudo.
Os outros dois irmãos louros , Joe e Clayton, ficaram parados atrás da mesa , as mãos dentro dos bolsos , cabeças abaixadas lamentando pela mulher da qual o irmão
deles cu idava .
O homem levantou a caneca , t entando fazer ela beber enquanto ela chorava . Um pouco derramou pelo queixo dela , um pouco entrou em sua boca e ela t eve qu e
engolir .
— Porque você precisa de um cava lo? — o homem perguntou .
— Preciso chegar até a casa de Althea.
— Althea? A velha feit iceira?
Jennsen assentiu enquanto l impava vinho do queixo e lágr imas das
bochechas.
— Você fo i convidada para ir até lá?
— Não, — Jennsen admit iu. — mas eu preciso ir .
— Por quê?
— É uma questão de vida ou morte. Eu preciso da ajuda de Althea ou um
homem pode morrer . Agachado ao lado dela , a inda segurando a caneca que usou para servir uma
bebida para ela , os olhos dele desviaram dos olhos dela para obser var os tufos de
cabelos vermelhos sob o capuz dela .
O grande homem colocou as mãos sobre os joelhos e levantou , r etornando até seus irmãos para deixá- la em paz enquanto ela t entava, mas falhava em conter as
lágr imas de desespero. Jennsen chorou de preocupação com Betty também. Betty era
amiga e companheira de Jennsen, e uma conexão com sua mãe. A pobre cabra provavelmente sent ia -se abandonada e desprezada . Nesse momento Jennsen dar ia
qua lquer coisa , para ver a pequena cauda empinada de Betty balançando.
Ela disse a si mesma que não podia simplesmente f icar sentada ali agindo como uma cr iança . Isso não r esolver ia nada . Precisava fazer alguma coisa . Não
poder ia haver ajuda alguma sob a sombra do Palácio de Lorde Rahl, e ela não t inha
dinheiro para ajudá - la .
Não podia depender de ninguém, a não ser Sebast ian, e ele não t inha esperança alguma de ajuda a não ser dela . Agora a vida dele dependia apenas das
ações dela . Não podia f icar sentada ali sent indo pena de s i mesma . Se a mãe dela t inha
119
ensinado algo, t inha ens inado Jennsen a fazer algo melhor do que isso.
Não t inha ideia do que fazer para resgatar Betty, mas pelo menos ela sabia o
que precisava tentar para ajudar Sebastian. Isso era o ma is importante, e o que ela
devia fazer . Estava desperdiçando tempo precioso. Jennsen levantou, enxugando fur iosamente as lágr imas do rosto , e então
colocou uma das mãos na testa para proteger os olhos do sol . Esteve no Palácio
durante um longo tempo, então era difíci l julgar , mas ela imaginou que devia ser uma hora avançada da tarde. Levando em conta a pos ição do sol no céu nessa época do ano,
ela avaliou em qua l dir eção f icava oeste . Se ao menos t ivesse Rusty, poder ia ganhar
um bom tempo. Se ao menos t ivesse o seu dinheiro , poder ia alugar ou comprar outro cavalo. Não fazia sent ido f icar pensando no que estava perdido e não podia ser
recuperado. Ter ia que caminhar .
— Obr igada pelo vinho. — Jennsen disse para o homem louro parado ali,
inquieto, enquanto a observava .
— De nada. — ele fa lou quando baixou o olhar .
Quando ela começou a se afastar , ele pareceu ganhar coragem. Ele caminhou entrando na estr ada poeir enta e segurou-a pelo braço.
— Espere um pouco , Senhora . O que está pensando em fazer ?
— A vida de um homem depende de que eu chegue até a casa de Althea. Não
tenho escolha. Preciso caminhar .
— Que homem? O que está acontecendo para que a vida dele dependa de
que você fale com Althea?
Jennsen, olhando dentro dos olhos azuis do homem, afastou o braço
genti lmente. Grande e loura , com sua mandíbula for te e constitu ição mus culosa , ele fez com que ela lembrasse dos homens que assassinaram a mãe dela .
— S into muito , mas não sei dizer .
Jennsen segurou o capuz da capa com f irmeza por causa de uma fr ia rajada
de vento quando voltou a caminhar . Antes que ela t ivesse avançado uma dúzia de
passos, ele deu vár ios passos largos e segurou-a gent i lmente pelo braço novament e
para fazer ela parar .
— Veja , — e le falou com uma voz suave quando ela o lhou com
expressão zangada para ele. — você ao menos tem algum supr imento ?
O olhar zangado de Jennsen suavizou e ela teve que lutar para conter as
lágr imas de frustração.
— Tudo está com nossos cavalos .
A Senhora das Linguiças , Irma, está com tudo. A não ser o meu dinheiro, o
ladrão está com ele.
— Então, você não tem nada . — aquilo não fo i uma pergunta e
representava mais uma cr ít ica a um plano tão ingênuo .
— Eu tenho a mim mesma e sei o que devo fazer .
— E você pretende caminhar até a casa de Althea, no inverno, à pé, sem
qua lquer suprimento?
— Vivi toda minha vida em florestas . Eu cons igo me vir ar .
Ela puxou o braço, mas a mão grande dele segurou-a com f irmeza .
— Talvez , mas as Planícies Azrith não são f lor estas . Não tem nada para
ajudá-la a construir um abrigo. Nem uma var inha para fazer uma fogueira . Depois qu e
o sol desce f icará tão fr io quant o o coração do Guardião. Você não tem supriment o algum ou qualquer outra coisa . O que você vai comer ?
Desse vez ela puxou o braço com mais força e t eve sucesso em liber tá - lo.
— Não tenho esco lha . Você pode não entender isso, mas tem coisas qu e
você precisa fazer , mesmo que isso s ignif ique arr iscar sua própria vida , caso contrár io
a vida não signif ica nada e não vale à pena ser vivida .
Antes que ele pudesse impedir outra vez , Jennsen corr eu dentro do r io de pessoas que moviam-se pelas ruas improvisadas . Ela abr iu caminho através da
mult idão, passando por pessoas que vendiam comida e bebida que ela não podia
120
comprar . Tudo isso servia para lembrá -la de que não comera desde aquela linguiç a de
manhã. O pensamento de que Sebastian podia não viver para saborear outra refeição
acelerou os passos dela .
Ela virou descendo a pr imeira rua seguindo para oeste . Com o sol de inverno no lado esquerdo do rosto dela , ela pensou na luz do sol dentro do Palácio quando
estivera na Devoção, e como aquilo pareceu com o abraço de sua mãe.
121
C A P Í T U L O 1 9
Jennsen fez seu caminho entr e as pessoas abaixo do p lanalto , seguindo pela s ruas desordenadas , imaginando que estava caminhando entr e árvores , movendo nas
flor esta onde sent ia -se ma is em casa . Era ali que ela desejava es tar , em uma f lor esta
tranquila , abr igada entr e as árvores , com sua mãe, as duas observando Betty mordiscar
a vegetação macia . Algumas das pessoas faziam uma pausa em estábulos , os comerciantes atrás de mesas , ou aqueles que perambulavam, lançavam olhares em
dir eção à Jennsen, mas ela mant inha a cabeça abaixada e cont inuava em passo
acelerado. Ela estava bastante pr eocupada com Betty. A Senhora das Linguiças , Irma,
vendia carne de cabra . Sem dúvida foi por is so que ela quer ia comprar Betty. A pobr e
cabra provavelmente estava tr iste e assustada por ser levada por uma estranha . Porém, independente do quanto Jennsen est ivesse preocupada com Betty, e a despeito do
quanto sofr ia com vontade de encontrá -la e trazê- la de volta , ela não podia colocar
esse desejo na fr ente da vida de Sebastian.
Passar por mesas que vendiam comida apenas servia para lembrar a ela de como estava com fome, especia lmente após o esforço de subir todos os degraus até o
Palácio. Ela não comeu desde aquela manhã e gostar ia de poder comprar algo para
comer , agora , mas não havia esperança alguma disso . Pessoas cozinhavam sobr e fogueiras feitas com madeira que sem dúvida trouxeram com elas . Fr igideiras chiava m
com manteiga , a lho, e t emperos. Fumaça das carnes assando des lizava pelo ar . Os
aromas eram intoxicantes e tornavam a fome dela quase insuportável .
Quando a mente dela perdia o foco por causa da fome , Jennsen pensou em Sebast ian. Cada momento que ela demorava podia signif icar outra chibatada para ele ,
outro cor te, outra torsão de um membro, outro osso quebrado.
Outro momento de agonia . Pensar nisso fez bile subir na garganta dela . Não era surpresa que ele est ivesse aqui para ajuda r na luta para derrotar D'Hara.
Um pensamento a inda ma is aterror izante surgiu r epent inamente : Mord-S ith.
Sempre que Jennsen via jara com sua mãe através de D'Hara, ninguém temia ma is qua lquer coisa ou qualquer pessoa do que temia as Mord-S ith. A habil idade delas em
causar dor e sofr imento era lendár ia . Diziam que esse lado da mão do Guardião , uma
Mord-Sith, ex ist ia s em que houvesse a lgo igual .
E se os D'Harans t ivessem usado uma daquelas mulheres para tor turar Sebast ian? Mesmo que ele não t ivesse magia , isso não far ia difer ença . Com aquele
Agiel delas, e quem sabe o que ma is , as Mord-Sith poder iam fer ir qualquer um. Elas
apenas t inham também a habilidade de capturar uma pessoa que t ivesse magia . Uma pessoa sem magia , com Sebastian, não ser ia ma is do que uma breve diversão para uma
Mord-Sith.
As mult idões r eduziam enquanto ela alcançava a margem do mercado ao ar l ivr e. A viela t emporár ia na qual ela estava desapareceu quando ela alcançou a últ ima
barraca , ocupada por um homem magro que vendia arreios de couro e p ilhas de
acessór ios para carroças . Não havia nada além da pesada carroça dele cheia de peças e
par tes a não ser desolada terra aber ta . Uma fila inf inita de pessoas movia -se pela estrada seguindo para o sul . Ela podia ver uma nuvem de pó no ar marcando os tr echos
ma is distantes da estrada ao su l, junto com outras que ramif icavam-se para sudoeste e
sudeste. Nenhuma estrada seguia para oeste. Algumas pessoas na borda do mercado olharam em dir eção a ela quando ela
saiu, sozinha , em dir eção ao sol poente. Embora algumas pessoas pudessem ter olhado
em dir eção a ela , nenhuma a seguiu dentro da terra desolada das Planície s Azrith.
Jennsen estava a liviada em f icar sozinha . Estar per to de pessoas provou ser tão per igoso quanto ela sempre temeu . A cena do mercado foi rapidamente deixada para
trás enquanto ela marchava para oeste.
122
Jennsen enf iou a mão sob a capa , sent indo a confor tadora presença da faca .
Encostada contra seu corpo, ela estava quente ao toque, como se fosse uma coisa viva ,
ao invés de prata e aço.
Pelo menos o ladrão t inha levado seu dinheiro e não a faca . Se ela t ivess e que escolher entre as duas coisas , escolher ia ficar com a faca . Viveu toda sua vida
sem muito dinheiro, ela e sua mãe cuidando uma da outra .
Mas uma faca era vita l para aquele meio de sobrevivência . Se você morasse em um Palácio, pr ecisava de dinheiro. Se vivesse em terras aber tas , precisava da faca ,
e ela jamais viu uma faca melhor do que essa , independente da usa proveniência .
Os dedos dela traçaram distraidamente a let ra ―R‖ sobre o cabo prateado . Algumas pessoas pr ecisavam de uma faca até mesmo se morassem em um Palácio, ela
imaginou.
Ela virou para olhar , e f icou a liviada em ver que ninguém a seguiu . O
planalto t inha encolhido ao longe, a té que todas as pessoas abaixo pareciam como formiguinhas lentas andando de um lado para outro . Era bom estar longe do lugar , mas
ela sabia que ter ia de voltar , após ver Althea, se quer ia resgatar Sebastian.
Enquanto ela caminhava de costas durante algum tempo para aliviar o efeit o do vento gelado no rosto, seu olhar observou a estrada subindo e descendo os
penhascos escarpados , a té o muro de pedra massivo cercando o Palácio.
Vindo do su l, não t inha visto a estrada . Em um cer to ponto de sua extensão uma ponte cruzava uma aber tura par ticularmente traiçoeira na rocha . A ponte estava
levantada . Como se o próprio penhasco já não fosse desencorajador o bastant e, os
altos muros de pedra em volta do Palácio do Povo impedir iam qua lquer t entativa de
chegar ali dentro a não ser que você r ecebesse permissão . Ela esperava que não fosse tão dif íci l assim entrar para falar com Althea.
Em algum lugar naquele vasto comp lexo, Sebastian estava pr is ioneiro. Ela
ficou imaginando se ele achava que foi abandonado para sempre , assim como Bett y provavelmente achava . Ela sussurrou uma oração aos bons espír itos pedindo que ele
não des ist isse da esperança , e que os bons espír itos de algum modo deixassem ele
saber que ela ir ia t irar ele de lá .
Quando ela cansou de caminhar de costas , e de ver o Palácio do Povo, ela virou. Então, teve que suportar o vento contra ela , às vezes t irando o seu fôlego .
Fortes rajas lançavam grãos de areia dentro dos olhos dela .
A terra era plana , seca , e sem caracter íst icas marcantes , a maior par te t erra ár ida cor tada aqui e al i por uma fa ixa de solo ar enoso . Em a lguns lugares , a paisagem
marrom amarelada estava manchada por um marrom mais escuro , como se chá for te
t ivesse s ido derramado. Havia vegetação apenas ocas ional , e essa era formada por uma planta baixa , agora marrom e quebradiça por causa do inverno .
Reunidas a oeste jazia uma fi leira ir regular de montanhas . A do centro
parecia que podia ter uma c obertura de neve no topo, mas era dif ícil af irmar olhando
contra o sol. Ela não t inha ideia alguma sobre quão longe estava . Não estando familiar izada com esse terr eno, ela achou dif íci l ju lgar distâncias ali fora naquel e
terr eno. Pelo que ela sabia, poder ia levar horas , ou até mesmo dias . Pelo menos ela
não precisava andar através de neve, como eles fr equentemente t iveram que fazer durante o caminho até o Palácio do Povo .
Jennsen percebeu que, mesmo no inverno, ela precisar ia de água. Ela
imaginou que em u m pântano haver ia água em abundância . Também percebeu que a mulher que transmit iu as or ientações falou que o caminho era longo , mas não
descreveu o que s ignif icava para ela um longo caminho. Talvez para ela um longo
caminho fosse o que Jennsen cons iderar ia apenas uma rápida caminhada de algumas
horas. Talvez a mulher est ivesse r efer indo -se a dias . Jennsen sussurrou uma oração pedindo que isso não levasse dias , mesmo que ela não saboreasse a ideia de entrar em
um pântano.
Quando um som aumentou através do vento, ela virou e viu uma nuvem de poeira elevando-se ao longe atrás dela . Ela forçou os olhos , fina lmente r econhecendo
que era uma carroça vindo em sua dir eção .
123
Jennsen girou olhando para todos os lados , vasculhando o terr eno ár ido
tentando ver se havia algum lugar onde ela pudesse se esconder . Ela não gostava da
ideia de ser encontrada sozinha em terr eno aber to . Ocorreu- lhe que aqueles homens lá
do mercado a céu aber to poder iam ter observado ela par tir , e então p lanejaram esperar até que ela est ivesse sozinha, sem ninguém por per to, para virem atrás e atacá -la .
Ela começou a correr . Uma vez que a carroça estava vindo do Palácio , ela
correu na dir eção na qual est ivera caminhando, oeste, em dir eção às montanhas escuras. Enquanto corr ia , engoliu ja tos de ar tão fr ios que faziam a garganta doer . O
terr eno est icava-se diante dela , sem ao menos uma fenda para se esconder . Ela
concentrou -se na escura fi la de montanhas , correndo em dir eção a elas com toda sua força , mas mesmo enquanto corr ia , sabia que elas estavam longe demais .
Após pouco tempo, Jennsen parou. Estava agindo como uma idiota . Não
conseguir ia vencer a corr ida contra cavalos . Ela curvou o corpo, com as mãos nas
coxas, procurando r ecuperar o fôlego, observando a carroça aproximar -se. Se alguém estava chegando para atacá -la , antão corr er , gastando sua força , era a coisa mais
estúpida que ela podia fazer .
Ela virou de costas para encarar o sol e cont inuou andando , mas em um passo que não a deixar ia cansada . Se ter ia que lutar , pelo menos não estar ia es gotada .
Talvez fosse apenas a lguém indo para casa , e far ia uma curva em uma dir eção
difer ente. Só t inha avistado ele por causa do barulho da c arroça e da poeira que ela levantava . Provavelmente eles nem mesmo a ver iam caminhando .
O pensamento assustador espa lhou-se sobre ela : ta lvez uma Mord-Sith já
t ivesse conseguido uma confissão de Sebastian através de tor tura . Talvez uma
daquelas mulheres impiedosas já t ivesse vencido ele . Ela t eve medo de pensar no qu e far ia se alguém fosse par tir os ossos dela metodicamente. Jennsen não poder ia afirmar
com honest idade o que ela far ia sob tor tura tão excruciante .
Talvez, sob agonia insuportável , ele t ivesse entr egue o nome de Jennsen. Ele sabia tudo a respeito dela . Sabia que Darken Rahl era pai dela . Sabia que Richard
Rahl era meio irmão dela . Ele sabia que ela quer ia procurar a feit iceira em busca de
ajuda.
Talvez t ivessem promet ido a ele que ir iam parar se Sebastian a entr egasse. Será que ela poder ia culpá - lo por uma traição sob tais condições ?
Talvez a carroça correndo em dir eção a ela est ivesse cheia de grandes
soldados D'Haran que vinham capturá -la . Talvez o pesadelo est ivesse apenas pr estes a iniciar . Talvez esse fosse o dia que ela viveu temendo .
Enquanto lágr imas de medo faziam seus olhos arderem, Jennsen enf iou a
mão sob a capa e checou para ter cer teza de que sua faca estava l ivr e na ba inha . Levantou-a levemente, então empurrou-a de volta , ouvindo o confor tador som
metá lico quando ela encaixou.
Os minutos arrastavam-se enquanto ela caminhava , esperando que a carroça
chegasse. Lutou para manter seu medo sob controle e t entou r ever na mente tudo qu e sua mãe ens inara sob usar uma faca .
Jennsen estava só, mas não estava indefesa . Ela sabia o que fazer . Disse a s i
mesma para lembrar disso. Porém, se houvesse homens demais , nada a ajudar ia . Lembrou com bastant e
nit idez como os homens na casa a seguraram, e como ela est ivera indefesa . Eles a
pegaram de surpresa , mas, é claro, na verdade não importava como, eles a pegaram. Isso era tudo que importava . Se não fosse Sebastian. . .
Quando virou novamente para checar , a carroça estava per to dela . Ela
plantou os pés no chão, mantendo a capa aber ta levemente para que pudesse enf iar a
mão e pegar a faca , surpreendendo seu atacante. A surpresa também poder ia ser uma valiosa aliada , e a única que podia esperar conseguir invocar .
Então, ela viu um sorr iso tor to com dentes brancos br i lhando. O grande
homem louro conduziu a carroça bem per to, lançando cascalho e levantando poeira . Quando ele puxou o fr eio, a poeira desapareceu . Era o homem do mercado, o homem
ao lado da casa de Irma, o homem que deu o vinho para ela . Ele estava sozinho.
124
Sem ter cer teza das intenções dele, Jennsen manteve o tom breve e sua faca
preparada .
— O que você está fazendo aqui?
Ele a inda exib ia o sorr iso.
— Vim para dar uma carona a você .
— E os seus irmãos?
— Deixei eles lá no Palácio .
Jennsen não confiava nele. Ele não t inha r azão alguma para ofer ecer uma carona.
— Obr igada , mas acho que ser ia melhor você voltar ao seu trabalho .
Ela começou a caminhar .
Ele desceu da carroça , pousando com um baque surdo. Ela virou para ficar
preparada , caso ele corr esse para cima dela .
— Veja , eu não f icar ia me sent indo bem com isso. — e le disse .
— Com o quê?
— Jamais conseguir ia me perdoar se ficasse apenas olhando e deixasse
você sair daqui caminhando para sua morte , pois é isso que vai acontecer sem
comida, sem água , sem nada . Pensei naquilo que você fa lou , que existe a lgumas
coisas que você precisa fazer , caso contrár io a vida não signif ica nada e não va le à pena ser vivida . Não conseguir ia viver em paz sabendo que você estava aqui seguindo
para sua morte. — a tenacidade dele vacilou e sua voz tornou -se mais suplicante .
— Vamos lá , suba na carroça e permita que eu dê uma carona ?
— E os seus irmãos? Antes que eu descobrisse que perdi meu dinheiro ,
você não alugar ia um cava lo porque falou que precisava voltar . Ele enf iou um dedão atrás do cinto , r es ignado em ter que explicar -se.
— Bem, est ivemos tão bem vendendo o vinho hoje que levantamos uma boa
soma. De qua lquer modo, Joe e Clayton estavam querendo f icar no Pa lácio , e aproveitar um pouco de diversão em troca . Foi aquela Irma, vendendo as l inguiças
apimentadas dela do nosso lado, que fez isso. — ele balançou os ombros . — Então ,
uma vez que ela nos ajudou a ficarmos tão bem, isso nos fornece uma chance de a judar
você. Já que ela levou os seu cava los e suprimentos , imaginei que dar uma carona a
você é o mínimo que posso fazer . Isso meio que equil ibra as coisas um pouco. É s ó
uma carona . Não é como se eu est ivesse arr iscando minha vida ou algo assim. Estou apenas ofer ecendo uma ajudinha para alguém que eu sei que está precisando .
Certamente Jennsen achava que um pouco de a juda ser ia bem vinda , mas
estava com medo de confiar nesse estranho .
— Eu sou Tom, — e le disse , como se lesse os pensamentos dela . — eu
ficar ia agradecido se você permit i r que eu faça isso para ajudá- la .
— O que você está querendo dizer ?
— Como você disse, algumas co isas nós temos de fazer p ara dar um
pouco mais de sent ido à vida . — o mais breve o lhar observou os cabelos
vermelhos dela sob o capuz da capa antes dele f icar sér io. — É assim que isso
far ia eu me sent ir . . . agradecido por t er feito algo como isso .
Ela desviou o olhar pr imeiro.
— Eu sou Jennsen. Mas eu não. . .
— Então venha . eu tenho um pouco de vinho. . .
— Não gosto de vinho . Ele só faz eu f icar com sede.
Ele ba lançou os ombros .
— Tenho muito água . Também trouxe algumas tor tas de carne. Elas ainda
estão quentes , eu aposto, se você andar rápido e comer um pouco agora .
Ela avaliou os olhos azuis dele, azuis como os do pa i bastardo dela . Mesmo
assim, os olhos desse homem exib iam uma simples sincer idade . O sorr iso dele não parecia arrogante, e s im modesto.
125
— Você não tem que vo ltar para uma esposa?
Dessa vez, foi Tom quem desviou o olhar para encarar o chão.
— Não, Senhora . Eu não sou casado. Eu viajo bastante. Não imagino que
uma mulher aceitar ia muito bem esse t ipo de vida . Além disso, isso não dá muita
chance para que eu conheça alguém bem o bastante para pensar em casamento . Porém,
algum dia , eu r ealmente espero encontrar uma mulher que desejar ia comparti lhar a vida comigo, uma mulher que me faça sorr ir , uma mulher pela qua l eu possa viver .
Jennsen estava surpresa em ver que a simples pergunta fez o rosto dele f icar
vermelho. Para ela parecia que a coragem dele em oferecer uma carona podia ser algo ma is ousado do que sua conduta costumeira .
Gent il como era , ele parecia dolorosamente t ímido. Algo nesse homem tão
grande e for te sendo int imidado por ela , uma mulher sozinha no meio do nada , com sua pergunta a respeito de assuntos do coração , fez ela relaxar .
— Se eu não est iver prejudicando você , o seu negócio onde ganha a
vida. . .
— Não, — e le declarou . — não, não está , de modo a lgum. — e le apontou
para t rás em direção ao planalto . — Fizemos um bom lucro ho je e podemos
bancar um breve descanso . Meus irmãos não se importam de jeito nenhum. Via jamos
por toda par te e compramos qualquer mercadoria que conseguimos encontrar a um
preço razoável, tudo desde vinho, tapetes , a té galinhas , e então carregamos tudo até aqui para vendermos . Dar um descanso para meus irmãos r ealmente ser ia um favor a
eles.
Jennsen assent iu.
— Uma carona ser ia muito bom , Tom.
Ele f icou sér io.
— Eu sei. A vida de um homem está em jogo.
Tom subiu na carroça e ofer eceu uma das mãos.
— Cuidado , Senhora .
Ela segurou a mão grande dele e colocou uma bota no degrau de ferro .
— Eu sou Jennsen.
— Se você diz , Senhora . — e le a conduziu gent ilmente até o assento .
Logo que ela estava sentada , ele puxou um cobertor da par te de trás e
colocou dobrado sobre o colo dela , aparent emente não querendo ser tão presunços o colocando-o sobre ela . Enquanto ajeitava ele sobre o colo , ela sorr iu mostrando
gratidão pela cober ta de lã quente. Est icando o braço para trás outra vez , ele r emexeu
sob uma pilha de cobertor es e t irou um pequeno embrulho. Tom mostrou o sorr iso tor to dele quando presenteou -a com a tor ta embrulhada em um pano branco . Ele era
tão bom quanto sua pa lavra ; ela ainda estava quente. Ele pegou também um canti l , e
colocou sobre o assento entr e eles .
— Se prefer ir , pode via jar lá atrás . Eu trouxe vár ios cober tor es para mantê -
la aquecida , e eles pode ser mais confor tável sentar neles do que em um assento de
madeira .
— Estou bem aqui em cima por enquanto . — e la disse . Levantou a tor ta
fazendo um sina l. — Quando eu t iver de volta meus supr imentos , e meu dinheiro,
quero pagar a você por tudo. Mantenha tudo anotado, e eu pagarei por tudo.
Ele soltou o fr eio e sacudiu as rédeas .
— Se é isso que você quer , mas eu não espero por isso.
— Eu quero. — e la falou quando a carroça avançou .
Ass im que eles estavam à caminho, ele desviou do curso oeste dela para um
curso ma is a noroeste. Imediatamente ela voltou a suspeitar .
— O que você está fazendo ? Para onde acha que está seguindo?
Ele pareceu um pou co surpreso com a desconfiança renovada dela .
— Você falou que quer ia ir até a casa de Althea, não foi?
126
— S im, mas disseram para seguir a oeste até a lcançar a montanha ma is alta
com o p ico coberto de neve, e então do outro lado virar ao norte e seguir penhascos. . .
— Oh, — e le disse , per cebendo então o que ela estava pensando e por que.
— Isso se você quiser levar um dia a mais .
— Porque aquela mulher indicar ia um caminho que levar ia mais
tempo?
— Provavelmente porque esse é o caminho que todos fazem a té a casa
de Althea e ela não sabia que você estava com pressa .
— Porque enviar pessoas por aquele caminho , se leva ma is t empo?
— As pessoas seguem aquele caminho porque sentem medo do p ântano .
No f ina l aquele caminho coloca você ma is per to da casa de Althea, s ignif icando que você precisa atravessar um espaço muito menor do pântano. Provavelmente esse era o
único caminho que ela conhecia .
Jennsen teve que segurar no corr imão quando a carroça sa ltou em uma ondulação no terr eno pedregoso. Ele t inha razão, o assento de madeira era dureza e
com uma carroça feita para transporte de cargas pesadas , ela saltava ma is quando
estava vazia .
— Mas , eu também não dever ia t er medo do pântano ? — e la perguntou
finalmente .
— Suponho que sim .
— Bem, então porque eu dever ia se guir por esse outro caminho ?
Ele olhou para ela outra vez , efetuando uma rápido olhada para o cabelo
dela . Era um comportamento com o qua l ela estava acostumada . A ma ior ia das pessoas
não conseguia evitar olhar .
— Você disse que a vida de um homem estava em jogo , — e le fa lou ,
sua t imidez desaparecendo. — leva muito menos tempo por esse caminho , cor tando
a curva da rota indo por esse lado daquele p ico sobre o qual ela falou e não tendo que subir por aquele desf i ladeiro s inuoso sob os penhascos . O problema é que você
precisará entrar no pântano pelos fundos , en tão terá que atravessar mais pântano para
chegar até Althea.
— E isso não leva mais tempo , atravessar ma is pântano?
— S im, mas até mesmo tendo que atravessar ma is pântano , estou apostando
que você ainda economizará um dia a cada viagem. São dois dias economizados .
Jennsen não gostava de pântanos . Para ser ma is claro, ela não gostava dos
t ipos de coisas que viviam em pântanos .
— É muito mais per igoso ?
— Você não far ia isso sozinha sem supr imentos se não fosse bastante
importante, uma questão de vida ou morte . Se você estava disposta a arr iscar a sua
vida para fazer isso, então eu imaginei que você estar ia procurando economizar o
tempo que puder . Porém, se não esse o caso , posso levá- la pelo caminho ma is longo, com muito menos distância através do pântano . Depende de você, mas se o tempo é
importante, são ma is dois dias seguindo por aquele caminho .
— Não, você tem razão. — a torta de carne no co lo dela estava quente .
Era uma sensação boa f icar com dedo s em volta dela . Ele foi um homem atencioso por
trazê- la . — Obr igada , Tom, por pensar em economizar tempo.
— Quem é que está nessa situação de vida ou morte ?
— Um amigo. — e la falou .
— Deve ser um bom amigo .
— Eu estar ia morta agora , se não fosse por ele .
Ele estava si lencioso enquanto eles seguiam em dir eção à escura faixa de
montanhas ao longe. Ela f icou pensando sobre o que poder ia haver no pântano. Pior ,
estava preocupada com o que poder ia acontecer a Sebast ian se ela não conseguisse a
ajuda de Althea em tempo suf iciente.
— Quanto tempo? — Jennsen perguntou. — Quanto tempo até
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chegarmos ao pântano?
— Depende de quanta neve tem na passagem, e de a lgumas outras coisas .
Não s igo por esse caminho com fr equência , então não posso dizer com cer teza . Mas s e
cavalgarmos durante toda a noite, t enho razoável cer teza de que podemos estar nos
fundos do pântano ao amanhecer .
— Então quanto tempo para chegar até a casa de Althea. Quer dizer ,
a travessando o pântano.
Ele olhou com expressão envergonhada .
— Sinto muito, Jennsen, mas não tenho cer teza . Nunca est ive no pântano de
Althea.
— Algum palpite?
— Apenas considerando a forma do terreno , acho que não deve levar
ma is de um dia para entrar e voltar , mas estou apenas fazendo uma supos ição . E isso
não leva em conta quanto tempo você passará com Althea. — a inquietação dele
retornou . — Levare i você até a casa de Althea o ma is rápido que eu puder .
Jennsen precisava conversar com Althea sobre Lorde Rahl, tanto o f i lho
quanto o pai dele, e o Lorde Rahl atual, Richard, o meio irmão dela . Não ser ia bom s e
Tom descobrisse quem ela era , ou o objet ivo dela . No mínimo, a dispos ição dele para ajudá-la desaparecer ia . Ela também cons iderou uma razão para que ele f icasse para
trás, caso contrár io ele f icar ia desconfiado .
Ela balançou a cabeça .
— Acho que ser ia melhor se você ficasse com a carroça e os cavalos .
Se conduzir durante a noite toda , então precisará descansar um pouco para ficar
pronto assim que eu sair . Isso vai economizar tempo. Ele assent iu enquanto cons iderava as palavras dela .
— Isso faz sent ido . Mas eu ainda poder ia . . .
— Não. Agradeço pela carona , pela comida e água , e o cobertor quente, mas
não deixarei você arr iscar sua vida ali dentro também. Ajudaria muito se você
esperasse com a carroça e estivesse pronto para conduzir de volta quando eu sair .
Ela observou o vento no cabelo louro dele enquanto ele pensava . — Está
certo , se esse é o seu desejo. Fico feliz que você permita que eu a jude fazendo minha
par te nisso. Para onde va i depois que fa lar com Althea?
— De vo lta ao Palácio. — e la falou .
— Então, com boa sorte , farei com que você esteja de volta ao Palácio
depois de amanhã .
Isso signif icava três dias para Sebastian. Ela não sabia se ele t inha três dias ,
ou tr ês horas . Ou ao menos três minutos . Porém, enquanto a inda houvesse uma chance de que ele ainda est ivesse vivo, ela precisava entrar no pântano.
Independente dos temores de Jennsen sobre a tarefa adiante, a tor ta de carne
estava com sabor maravilhoso. Faminta como ela estava , quase qualquer coisa ter ia bom sabor . Tirou um grande pedaço de carne da tor ta , e, segurando entr e o indicador e
o dedão, colocou na boca de Tom.
Depois que mast igou , ele disse.
— A lua subirá pouco tempo após o pôr do sol , então na hora em que eu
chegar até a passagem através das montan has, acredito que conseguir ei enxergar bem
o bastante para cont inuar . Tem muitos cobertor es ali a trás . Quando a noite chegar , provavelmente você dever ia rastejar a té lá e, se conseguir , dormir um pouco para ficar
pronta amanhã. Precisará descansar . De manhã, vou t irar um cochilo enquanto você
fala com Althea. Quando você voltar , vou conduzir durante a noite e levarei você de
volta dir eto ao Palácio. Espero que desse jeito nós possamos economizar t empo suficiente para que você ajude o seu amigo .
Ela sacudiu no assento junto com o homem que acabara de conhecer , qu e
estava fazendo tudo isso por uma estranha .
— Obr igada , Tom. Você é um homem bom.
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Ele sorr iu. — Minha mãe sempre disse isso.
Justamente quando ela deu outra mordida , ele adicionou.
— Espero que Lor de Rahl também pense assim. Va i falar isso para ele
quando encontrá -lo, não vai?
Ela não sabia o que ele podia estar querendo dizer , e t eve medo de
perguntar . Enquanto a mente dela acelerava , mastigou, usando sua boca como uma desculpa para demorar . Dizer algo poder ia inadvertidamente causar problemas para
ela . A vida de Sebastian estava em jogo. Jennsen decidiu sorr ir e mostrar alegr ia .
Finalmente engoliu.
— É claro .
Pelo leve mas sublime sorr iso que fez uma curva na linha da boca dele
enquanto cuidava das rédeas e observava o caminho adiante, essa foi a resposta cer ta .
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C A P Í T U L O 2 0
De r epente a luz machucou os olhos dela . Jennsen levantou uma das mãos protegendo-se contra a clar idade e viu que Tom estava puxando os cobertor es qu e
estavam sobre ela . Ela espreguiçou e bocejou , mas então, percebendo completamente
porque estava no fundo de uma carroça , onde eles estavam, e porque estavam ali , o
bocejou foi interrompido. Ela sentou. A carroça estava parada na beira de uma campina gramada .
Jennsen colocou uma das mãos no lado da carroça , sobre a l isa madeira
gasta na borda super ior , e piscou enquanto olhava ao redor . Atrás deles , erguiam-se rochas cinzentas , contendo em suas rachaduras e f issuras pequenos arbustos robustos ,
retorcidos e inclinados, como se enfr entassem for te vento. O olhar dela subiu a rocha
envelhecida até onde ela desaparecia dentro da neblina . Mato entr elaçado jazia aos pés dos muros a lém das bordas da campina e ao lado do estr eito precip ício que cor tava
através da rocha . De algum modo T om havia manobrado a carroça entr e aqueles
penhascos íngremes . Os dois grandes cavalos de carga , a inda em seus arreios ,
mordiscavam a baixa vegetação. Adiante, a lém da campina , o chão descia dentro da escuridão entr e as
árvores espalhadas , trechos de videiras , e musgo pendurado. Gr itos estranhos , estalos,
e assobios vinham daquela mortalha verdejante .
— No meio do inverno . . . — fo i tudo que ela conseguiu pensar para
dizer .
Tom levantou as sacolas de comida do fundo da carroça .
— Também podia ser um belo lugar para passar o inverno, — e le
apontou descendo a colina com um movimento da cabeça , para baixo da vegetação
emaranhada. — se não fossem as co isas que as pessoas dizem que saem dali . Se
isso não fosse verdade, eu apostar ia que agora algum tolo já t er ia tentado arr iscar entrar aqui. Mas, se t entou, foi puxado ali pa ra dentro por alguma cr iatura de pesadelo
e jama is conseguiu sair .
— Você está querendo dizer , que r ealmente acha que tem.. . monstros, ou
alguma coisa assim, ali dentro?
Ele descansou os antebraços sobre os lados da carroça enquanto inclinava o
corpo para frente, chegando bem per to dela .
— Jennsen, eu não costumo assustar moças . Quando era garoto, a lguns dos
outros garotos gostavam de ba lançar uma cobra na frente das garotas só para ouvi r em
elas gr itar em. Eu nunca f iz isso. Não estou tentando assustar você, mas não
conseguir ia me perdoar se eu simplesmente deixasse você entrar salt itando ali
como se isso fosse algum t ipo de br incadeira e então você acabasse não saindo
mais . Talvez seja ap enas conversa ; eu não sei; nunca entr ei a l i . Não conheço a lguém
que já t enha entrado ali sem ser convidado, e isso pelo outro lado . As pessoas dizem
que você não consegue entrar pelos fundos e viver para contar . Se a lguém poder ia
ins ist ir em tentar , esse a lguém ser ia você. Sei que você está aqui por uma razão
importante, então não imagino que f icará sentada por aqui durante dias , esperando um convite.
Jennsen engoliu em seco. Sua língua estava azeda . Ela assent iu agradecendo ,
sem saber o que dizer . Tom empurrou o cabelo louro para trás .
— Só quer ia dizer para você a verdade sobre aquilo que eu sei . — e le
carregou as saco las de comida quando seguiu em direção aos cavalos .
Seja lá o que fosse que estivesse a li dentro, estava ali dentro . Ela precisava
entrar , isso era tudo. Ela não t inha escolha ; se quer ia levar Sebastian para longe dos
captores dele, pr ecisava entrar . Se algum dia quer ia f icar l ivr e de Lorde Rahl,
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precisava entrar .
Enfiou a mão sob a capa e tocou no cabo da faca . Ela não era alguma garota
da cidade, com medo da própria sombra , incapaz de defender -se.
Era Jennsen Rahl. Jennsen empurrou o r esto dos cobertores que a inda estavam sobre ela e
desceu da carroça , usando uma das barras de uma roda traseira como degrau . Tom
estava voltando carregando um cant i l.
— Quer beber? É água. Deixei pendurada sobre uma das peças dos arreios
para que os cava los impedissem que ela congelasse .
O fr io a deixara seca e ela bebeu avidamente. Viu Tom enxugar suor da testa e somente então percebeu o quanto realmente es tava quente. Ela concluiu que nenhum
pântano de r espeito cheio de monstros permit ir ia que fosse congelado .
Tom desdobrou o pano de algo que carregava em uma das mãos .
— Café da manhã?
Ela sorr iu ao ver uma tor ta de carne.
— Você é um homem atencioso , a lém de ser um bom homem.
Ele sorr iu quando entr egou a tor ta e então virou para t irar as correntes dos
arreios dos cava los.
— Não esqueça , você prometeu falar para Lorde Rahl. — e le gr itou para
ela .
Ao invés de ser envolvida em qua lquer t ipo de conversa rela cionada com seu
caçador , ela o desviou do assunto.
— Então você estará bem aqui? Quero dizer . . . quando eu voltar ? Ficará
esperando, para que possamos voltar ?
Ele olhou para trás enquanto levantava a correia do fr eio sobre a traseira do
cavalo.
— Tem minha palavra , Jennsen. Não vou abandoná-la aqui.
Pela expressão dele, ele estava fazendo um juramento. Ela sorr iu mostrando
gratidão.
— Você devia descansar um pouco . Conduziu durante a noite toda .
— Vou tentar .
Ela deu outra mordida na tor ta de carne. Estava f r ia , mas estava boa , e
estava preenchendo o vazio. Enquanto mast igava , ela olhou para o muro verde a lém da
campina , para a escur idão lá dentro, então observou o céu cinzento de ferro .
— Alguma ideia sobre a hora?
— O so l subiu faz uma hora, no máximo. — e le disse enquanto checava
as juntas das correias de couro . Fez um sinal apontando para trás em dir eção ao
caminho pelo qual eles vieram.
— Antes de começarmos a descer dentro desse lugar baixo , nós
estávamos lá em cima dessa neblina . Estava ensolarado lá em cima.
Independente do quanto estivesse sombr io embaixo da cobertura escura , ta l
noção a deixou surpresa . Parecia como se a madrugada ainda est ivesse para chegar . Era dif íci l acr editar que o sol est ivesse br ilhando não muito longe , mas ela viu
pesados cobertor es de neblina assim antes, quando olhou para baixo de lugares altos .
Depois que terminou de comer a tor ta de carne e t inha l impado os r estos de sua palma, Jennsen f icou esperando até que Tom acabasse de desaf ivelar a correia do
cinturão que f icava em volta do peito poderoso de um dos cava los dele . Os dois
anima is, grandes, bem cuidados , eram cinzentos com cr inas e caudas negras . Eram os ma iores cavalos que ela já t inha visto . Pareciam fora de escala , a té ela ver Tom
trabalhando ao lado deles . Ele fazia com que eles não parecessem tão imponentes ,
especia lmente quando dava palmadinhas car inhosas neles . Parecia que eles r ecebia m
muito bem o toque familiar dele. Os dois cavalos olhavam para trás ocasiona lmente, para Tom, enquanto ele
removia todas as coisa s deles , ou viravam um olho escuro em dir eção a Jennsen, mas
ambos mant inham atenta vigília nas sombras além da borda da campina . Seus ouvidos
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estavam atentos , e f ixos no pântano.
— É melhor eu ir andando . Não há tempo a perder . — e le fez apenas um
aceno com a cabeça . — Obr igada , Tom. Se eu não t iver outras chance de dizer isso ,
obr igada por me a judar . Não são muitas as pessoas que ter iam feito o que você fez .
O sorr iso t ímido dele surgiu novamente para exibir seus dentes .
— A maior ia ter ia ajudado você . Mas f ico feliz por ser aquele que podia
fazer isso.
Ela estava cer ta de que ele quer ia dizer alguma coisa que ela não entendeu muito bem. Seja lá o que fosse, ela estava com preocupações ma iores .
Os olhos dela desviaram em dir eção dos gr itos que vinham de d entro do
pântano. Não havia como a f irmar qua l era o tamanho das árvores porque os topos
delas desapareciam dentro da neblina. Tão largos quanto pareciam, os tr oncos devia m ser enormes. Videiras desciam para fora da neblina , junto com var iado número de
outras plantas tr epadeiras enroladas nos galhos das árvores enormes , como se
tentassem ganhar uma queda de braço para derrubá-las dentro da escuridão abaixo. Jennsen procurou a borda e achou uma cr ista descendo da margem da
campina , como a espinha de alguma b esta enorme sob o solo. Ela descia sob os galhos
espalhados. Não era uma tr i lha , exatamente, mas um lugar para começar . Ela viveu em flor estas toda sua vida e conseguia encontr ar uma tr ilha que outros jama is saber iam
que exist ia . Não havia tr ilha nesse lugar . Nada, assim parecia , que a lgum t ivess e
entrado a li. Ter ia que encontrar seu próprio caminho.
Jennsen virou para trás da borda da campina e trocou um demorado olhar com os olhos azuis do grande homem.
Ele mostrou um leve sorr iso, em r espeito por aquil o que ela estava fazendo.
— Que os Bons Espír itos estejam com você , e tomem conta de você.
— E de você , Tom. Durma um pouco. Quando eu voltar , precisaremos
cavalgar firme de volta até o Palácio . Ele fez uma reverência .
— Ao seu comando .
Ela sorr iu diant e do comportamento surpreendente dele , e então virou para a escur idão e começou a descer .
O pântano mant inha calor concentrado . A humidade era como uma presença
aguardando para empurrar os intrusos de volta . A cada passo f icava ma is escuro. A quietude era tão pesada quanto o ar abafado, e os leves gr itos r everberando através da
escuridão além apenas acentuavam a solidão e a vasta distância que jazia abaixo .
Jennsen seguiu a espinha formada pela cr ista enquanto ela dobrava para um
lado e para outro, ficando cada vez ma is baixa . Galhos de árvores de cada lado estavam curvados com o peso de musgo e videiras enrolavam-se neles . Em alguns
lugares, conforme p isava na rocha exposta da cr ista , ela precisou agachar para
atravessar sob os galhos . El outros lugares , ela t eve que empurrar videiras abr indo caminho para progredir . O fedor de decadência chegava até ela através do ar parado .
Virando, olhando para trás, ela viu um túnel de luz lá atrás, subindo até a
campina . No centro do círculo de luz fraca no f ina l , ela podia ver a si lhueta de u m homem grande, em pé, com as mãos nos quadris , observando-a. Escuro como estava ,
ele não t inha esperança de enxergá - la . Ela só conseguia enxergá - lo porque ele estava
contra a luz.
Mas, de qualquer modo, ele continuava observando . Jennsen não conseguia decidir o que pensava a respeito dele . Era dif íci l
entendê- lo. Parecia um homem de bom coração, mas ela não confiava em ninguém. A
não ser Sebastian. Ela confiava nele . Quando seus olhos ajustaram-se com a luz fraca , ela viu, olhando para trás,
que o caminho pelo qual seguira era o único modo para entrar , pelo menos o único qu e
ela conseguia ver por per to. Havia paredes escarpadas onde a rocha mergulhava . A campina era como uma mera protuberância na descida do lado da montanha dentro do
pântano. Abaixo da campina , as paredes cont inham abundância de p lantas que usavam
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a rocha como suporte enquanto subiam par tindo do pântano abaixo . A projeção que ela
usava para sua descida era uma s imples tr i lha de rochas que fornecia um caminho para
sua descida . Sem ela , as paredes eram íngremes demais .
Respirando profundamente para reunir coragem enquanto olhava ao r edor , Jennsen r einiciou a descida , seguindo a tr ilha de rochas enquanto ela serpenteava ,
ma is e ma is fundo entr e as árvores . Em a lguns lugares, havia abismos apavorantes de
cada lado do local por onde ela caminhava . Em cer to ponto, havia apenas escuridão de cada lado abaixo, como se aquela fosse uma linha formada por rochas costurando uma
ruptura no mundo. Após dar uma espiada dentro das p rofundezas , e imaginar o
Guardião do Submundo lá emba ixo aguardando os descuidados , ela pisou com mais atenção.
Logo ela percebeu que todas aquelas árvores que t inha visto nos locais ma is
altos eram apenas o topo de enormes carva lhos ant igos que elevavam -se de bordas na
rocha. Percebeu que confundira alguns de seus ga lhos super ior es com troncos . Jennsen nunca t inha visto árvores tão grandes . Seu medo quase foi subst itu ído por admiração .
Ficou boquiaber ta diante de cada camada sobre camada de ga lhos mass ivo s enquant o
descia passando por eles . Ao longe ela enxergou ninhos , grandes amontoados de pequenos galhos e ta los drapejados com musgo e l íquen, empoleirados em forquilhas
de ga lhos. Se os ninhos estavam ocupados , ela não conseguia ver que t ipo de aves
podiam ter constru ído abr igos tão imponentes , mas imaginou que deviam ser aves de rapina .
Quando ela inclinou-se ao escalar sobre rocha para espremer -se sob u m
aper tado emaranhado de galhos que desciam bem per to sobre a espinha da saliência , a
vista abr iu-se em uma vasta t erra escondida sob as espessas camadas de folhas da cobertura super ior . Era como um mundo novo escondido, jama is vis itado por qualquer
pessoa . Feixes de luz mal ousavam penetr ar tão longe assim . Aqui e a li videiras
pendiam surgindo da escura vegetação acima . Pássaros des lizavam s ilenciosament e através da obscuridade cavernosa . Um animal que ela nunca t inha ouvido gr itou bem
longe. Uma r esposta mais distante surgiu de outra dir eção .
Independente do quanto o lugar parecia pr imi tivo e assustador , ela também o
cons iderou sombriamente belo . Isso colocou em sua mente a ideia de estar em u m jardim do Submundo, onde p lantas aqueciam-se em sombras eternas . O Submundo
podia ser o fr io domínio do Guardião , mas a luz eterna do Criador nutr ia e aquecia as
a lmas boas. De cer to modo, o pântano fazia com que ela lembrasse muito D'Hara ,
escuro, ameaçador , e per igoso, mas ao mesmo tempo incr ivelmente belo . Do mesmo
modo como sua faca personif icava a feiura da Casa de Rahl, e mesmo assim era inegavelmente r ef inada.
Árvores agarravam a ladeira rochosa ao r edor dela com raízes parecidas com
garras, como se temessem serem arrastadas para baixo, a té aquilo que pudess e
espreitar nos r ecantos ma is infer ior es . Alguns dos p inheiros ant igos , mortos fazia muito tempo, jaziam parcia lmente ca ídos , seguros por seus irmãos antes que pudessem
alcançar o chão. As árvores próximas os abraçavam, como se tentassem a judá - los a
levantar . Madeira morta cinzenta era vis ível em alguns lugares sob a cober ta de vegetação que escalava os tr oncos castigados . Porém, muitas desabaram no chão. Uma
árvore velha estava deitada cor tando o caminho dela , com se est ivesse colada ali ,
seguindo cada contorno, cada elevação e descida do caminho. A madeira em decomposição estava esponjosa sob os pés , e carregada de insetos .
Lá em cima nos galhos , uma coruja observava enquanto ela cont i nuava
sempre descendo. Formigas marchavam pelo chão, carregando pedaços de tesouros da
flor esta úmida . Baratas, grandes, ásperas, e de cor marrom lustrosa , agitavam-se entr e os r es íduos de folhas . Coisa no meio da densa vegetação balançavam galhos quando
moviam-se para longe dela .
Jennsen passara uma vida em f lor estas e t inha visto de tudo desde ursos enormes até cervos r ecém nascidos , pássaros a té insetos, morcegos a té salamandras.
Havia coisas que a deixavam preocupada , como cobras e ursos com filhotes , mas ela
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conhecia os anima is muito bem. Em sua ma ior par te, eles t emiam as pessoas e
geralmente quer iam apenas ser em deixados em paz , então na ma ior ia das vezes eles
não assustavam ela . Mas ela não sabia que t ipo de anima is podiam estar na espreita
nesse lugar escuro e úmido, quais as coisas venenosas com presas . Não sabia qua is as bestas conjuradas podiam perambular nas áreas mais infer ior es desse covil da
feit iceira , bestas que não temiam coisa alguma .
Viu aranhas , gordas, escuras, e peludas, suas pernas cruzando lentamente o ar abafado, descendo habil idosamente sobre f ios ancorados em algum lugar acima .
Elas desapareceram no meio das samambaias que cr esciam em pelo terr eno . A despeito
do quanto est ivesse quente e úmido , Jennsen mant inha sua capa bem fechada em volta do corpo e o capuz cobrindo sua cabeça para proteger -se melhor das coisas como
aranhas.
A p icada de uma aranha podia ser tão morta l quanto a mordida de qua lquer
anima l. Um morto era um morto, não importava a causa . O Guardião dos mortos não fornecia dispensa especial porque o veneno morta l vinha de algo pequeno e
aparentemente insignif icante. O Guardião dos mortos abraçava com a escuridão eterna
aqueles que penet ravam em seu domínio, independente de qual fosse a razão. Nenhum privilégio era concedido por causa da forma como você morr ia .
Independente do quanto Jennsen sent isse que estava em casa ao ar l ivr e , e
independente do quanto o pântano fosse assustadorament e belo, o lugar ainda fazia com que os olhos dela f icassem arrega lados e seu pulso acelerado . Cada videira ou
cois inha verde que ela tocava parecia ameaçadora , e ma is de uma vez fez com que ela
desse um pulo.
O lugar todo causava a sensação de que a morte estava à espreita nas proximidades .
E então, diante dela , a esp inha de rochas , seu único caminho para descer ,
terminou em um loca l de água estagnada, escura, podre, chei a de musgo carregada de um emaranhado de raízes . Parecia como se as árvores t ivessem medo da área úmida
turva, e t entassem manter suas raízes fora dali . Dos lados, o chão estava coberto por
todo t ipo de vegetação.
Ela avistou a forma dist inta do osso de uma perna projetando -se do terr eno lamacento ao lado. O osso estava coberto por mofo v erde, mas a forma gera l
permanecia r econhecível . De que t ipo de anima l ele podia ser , ela não sabia . Pelo
menos, ela esperava que fosse o osso de um anima l . Ficou surpresa por encontrar pontos lamacentos que na verdade parecia m
conter lama fervendo. Bolhas grudentas de lama escura marrom brotavam como s e
houvesse uma lenta fervura , lançando gotas da lama e l iberando fumaça. Nada cr escia nas áreas submersas com lama efervescente . Em alguns locais ,
a lama havia endurecido formando grupos de pequenos cones d os quais surgia vapor
amarelado.
Quando Jennsen seguia caminho entr e o emaranhado de raízes , entr e aber turas fumegantes e lama fervente , caminhando ma is fundo dentro das sombras lá
emba ixo, ela viu que trechos lamacentos começavam a ser em subst itu ídos por água.
No início, eram poças e tr echos que ferviam, chiavam, e l iberavam nuvens de vapor . Quando ela deixou as fontes quentes para trás , a água aumentou formando poças
cercadas por altos juncos que subiam em dir eção a nuvens de pequeninos insetos
voando juntos rapidamente formando bolas . Água estagnada f ina lmente deu lugar a um chão de f lor esta que era escuro e
l íquido. Troncos mortos surgiam de dentro da água escura , sent inelas vigiando uma
terra ma l cheirosa de podr idão. Os gemidos e gr itos de anima is er am carregados
através da água vindo de lugares a inda mais sombrios . Plantas aquáticas cresciam em alguma áreas per to das margens , sob bancos cobertos de folhas , dando boas vindas
para os descuidados com a aparência de ter reno verde para cruzar mais facilme nte.
Jennsen notou olhos surgindo entr e as plantas aquáticas , observando quando ela passava .
O terreno cheio de musgo tornou -se esponjoso, a té que ele também desceu
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gradua lmente sob a água parada . No começo, ela conseguia enxergar o fundo,
polegadas abaix o da super fície espelhada , mas ele seguia ma is fundo até que ela s ó
conseguia ver escur idão lá embaixo. Através daquela escuridão, ela percebeu formas ,
ma is escuras ainda , que passavam des lizando . Jennsen p isou de raiz em raiz , tentando manter o equil íbr io sem ter qu e
colocar as mãos para conseguir apoio nos troncos de árvores geralmente cheios de
l imo. Permanecendo sobre as curvas projetadas de raízes , ela não precisava p isar dentro da água . Temia que a água pudesse esconder um buraco que poderia engolir ela .
A cada passo, enquanto as raízes acima da superfície da água f icavam mais e
ma is afastadas , o nó em seu estômago f icava mais for te . Ela hes itou, com medo de ir longe demais , que chegasse a um lugar onde não conseguisse dar meia volta . Ela
realmente não podia questionar seu ju lgamento de que esse era o melhor caminho para
entrar , porque não houve oportunidade de fazer uma escolha ; esse era o único
caminho. Ela inclinou o corpo, forçando os olhos dentro da obscur idade , esp iando adiante além de fa ixas de musgo e videiras . Através do nevoeiro, das sombras, e
pequenos arbustos , pensou que não muito longe o chão subia novamente , ofer ecendo
um caminho ma is seco. Respirando profundamente o ar quente , Jennsen est icou a perna para pisar
na raiz seguinte, mas nã o conseguiu alcançá - la . Agachou levemente e esticou-se mais ,
tentando evitar o tr echo de água parada , mas estava longe demais . Endir eitou o corpo para recons iderar .
Ter ia que pular até a grossa raiz distante. Na verdade, era mais um pequeno
salto do que um grande pulo.
Ela apenas não gostava do que poder ia estar emba ixo dela se escorregasse e caísse. Também não quer ia t er que equil ibrar -se sobre a raiz solitár ia no meio daquela
extensão de água . Se ela saltasse com velocidade suf iciente e acer tasse a raiz do jeito
cer to, poder ia saltar a té a margem do outro lado . Colocou as pontas dos dedos contra o tronco l iso mas pega joso de uma
árvore para conseguir apoio. Pelo menos ele não estava escorr egadio , o que poderia
fazer a sua mão escorregar no p ior momento poss ível. Avaliou a distância . A despeit o
do quanto estava longe, era o lugar mais próximo que ofer ecia um f irme terreno seco . Com impulso suf iciente ela conseguir ia salta r sobre a próxima raiz além, sobre terr eno
ma is seco.
Jennsen respirou fundo e então com um grunhido de esforço afastou o corpo da árvore, saltando sobre a água .
Justamente quando ela posou sobre a curva da raiz de árvore , a raiz moveu-
se sob os pés dela . O peso dela estava no comando, ela não conseguiu mudar a dir eção.
A raiz, ma is grossa do que o tornozelo dela , r epent inamente curvou-se
emba ixo dela e desapareceu . Em um instante, uma grossa espir al girou ao r edor ,
envolvendo a panturr ilha dela enquanto outr a extensão de fr ias escamas saltava para agarrá-la pelo joelho.
Foi tão rápido que uma par te dela ainda estava seguindo para a raiz qu e
segurou-a enquanto outra par te tentava afastar -se. Presa entr e o local onde est ivera e o lugar para onde estava seguindo, ela não t inha nada para ajudá -la a ficar em pé.
Instint ivamente, Jennsen tentou pegar sua faca , mas quando fez isso a coisa
contorceu violentamente, derrubando-a com o rosto para baixo. Ela abr iu os braços para evitar a queda . Água espumou sob ela . Conseguiu agarrar as raízes distantes na
margem da água , raízes de verdade, molhadas, mas ásperas e de madeira em seus
dedos.
Mas, a inda que t ivesse interrompido sua queda ao agarrar desesperadament e as raízes que ma l estavam no l imite do seu alcance , foi r ecebida dentro do abraço de
uma cobra enorme emergindo de baixo dela através da águ a espumante.
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C A P Í T U L O 2 1
Jennsen lutou com toda sua força , usando as raízes para tentar liber tar -se. Gritou quando anéis vivos a espremeram, acabando com seu apoio nas raízes , e
fizeram ela virar sobre as costas . Ela est icou o braço para t rás frenet icamente,
espirrando água , ta teando, t entando encont rar outro ponto de apoio para as mãos .
Esticou-se, então est icou-se novamente, segurando em grossas raízes pr imeiro com uma das mãos e então a outra no momento cer to para evitar ser arrastada pa ra baixo da
água.
A cabeça saiu das profundezas para subir deslizando pelo estômago dela , como se est ivesse inspecionando sua presa teimosa . Essa era a maior cobra qu e
Jennsen já t inha visto. O corpo, cober to por escamas verdes ir idescentes , c int i lava na
luz fraca enquanto músculos ao longo do poderoso tronco f lexionavam. A luz gerava faixas br i lhantes de modo intermitente sobre aquele corpo . Faixas negras qu e
envolviam os ferozes olhos amarelos faziam parecer como se ela est ivess e usando uma
máscara . Com a l íngua vermelha vibrando, a cabeça verde escura des lizava subindo
entr e os seios dela , aproximando-se do seu rosto. Gritando, ela empurrou a cabeça . Em respos ta , o corpo musculoso torceu e
contraiu, puxando-a, arrastando-a para dentro da água profunda . Rapidamente as
pontas dos dedos de Jennsen agarraram as raízes . Com toda sua força ela t entou puxar o corpo para fora da água , mas a cobra era pesada demais e for te demais .
Ela t entou golpear com as pernas, mas agora a cobra estava segurando as
duas. Os anéis compr imiam, puxavam, e arrastavam ela ma is fundo. Toss indo água ,
Jennsen combateu o pânico que enterrava suas garras nela , de forma tão feroz, tão persistente, como se ele também fosse uma coisa viva .
Precisava de sua faca . Mas para pegar a faca , ter ia que largar das raízes .
Mas se largasse, a besta a levar ia para dentro da água negra e afogar ia ela . Apenas uma das mãos , ela falou para si mesma . Isso era tudo que ela
precisava , uma das mãos . Podia pegar a faca se largasse uma das mãos . Mas enquanto
a cobra f irme ondulava , subindo pelo corpo dela , agora segurando-a pela cintura , o pânico travou os dedos dela nas raízes com mais firmeza ainda .
Quando a larga cabeça achatada da cobra emergiu da água e ma is uma vez
começou a subir pelo corpo dela , Jennsen segurou a raiz o ma is f irme que podia com a
mão esquerda . Com desesperada determinação, soltou a mão dir eita e enf iou sob a capa. A roupa molhada embolou quando ela empurrou . Não conseguia enfiar a mão por
baixo.
A mandíbula da cobra press ionou contra o peito dela , como se desejasse qu e ela soubesse que em seguida ir ia compr imir os seus pulmões para que ela não
conseguisse r espirar .
Ela encolheu o estômago e empurrou com os dedos , t entando enf iá - los por baixo da cobra , mas o corpo pesado aper tava com pod er paralisante o torso dela ,
impedindo que ela conseguisse enf iar a mão sob a capa para pegar a faca .
Enquanto ela lutava loucamente para alcançar a arma , contorcendo, forçando
com os dedos , r epent inamente a cobra moveu-se, levando os anéis ma is a lto ainda, prendendo o braço dela contra o corpo.
Com apenas uma das mãos , ela ainda segurava com f irmeza na raiz logo
atrás. Porém, o peso da coisa , parecia estar prestes a arrancar o braço dela do lugar se ela não largasse. Tinha absoluta cer teza de que largar era a pior coisa que poder ia
fazer . Mas o peso era demais . A cobra estava puxando com tanta força que ela estava
com medo que a pele fosse arrancada de seus dedos .
A despeito do seu melhor esforço, ela sent iu os dedos escorr egando da raiz . Quando lágr imas de dor queimavam seus olhos , ela não teve escolha . Largou da raiz.
Mergulhou dentro das profundezas escuras da água . Seus pés fina lment e
136
entraram em contato com o fundo. Usou seu impulso para ir na dir eção em que estava
sendo puxada , deixando suas pernas curvarem, e então com força amplif icada pelo
terror , empurrou-se nas raízes submersas . Quando seu corpo girou , ela agarrou as
raízes do outro lado. A cobra girou com ela , virando-a de costas . Ela gr itou quando seu ombro
torceu, mas em todo aquele moviment o, contorcendo, girando, dentro da água
sufocante, houve uma breve aber tura no aper to da cobra . Ela não desperdiçou isso. Agarrou o cabo prateado.
Quando a larga cabeça , com a f ina l íngua vermelha ba lançando, estava
subindo novamente em dir eção ao seu ros to, ela levantou a faca , encostando a ponta da lâmina sob a mandíbula da cobra . A cobra fez uma pausa , aparentement e
reconhecendo a ameaça que a ponta afiada representava . As duas estavam imóveis ,
olhando uma para a outra . Ela sentiu grande alívio por fina lmente estar com a faca na
mão, mesmo que esse fosse um impasse. Ela estava deitada sobre as costas , na água com a pesada cobra enrolada
nela . Não conseguir ia equil ibrar -se ou usar o peso do corpo em seu benef ício . O braço
dela estava fraco por causa do esforço e dolor ido por t er sido torcido. Estava exausta . Com tudo isso trabalhando contra ela , não ser ia fácil acabar
com um anima l tão grande e poderoso. Mesmo se estivessem em terra seca , uma tarefa
como essa ser ia dif íci l . Os olhos amarelos a observava m. Ficou imaginando se essa era uma cobra
venenosa . Ainda não t inha visto as presas dela . Se ela desse o bote em seu rosto , f icou
pensando se conseguir ia ser rápida o bastante para detê - la .
— S into muito pro ter pisado em você. — ela disse. Na verdade não
acreditava que a cobra pudesse entender ; ela estava , de cer to modo, fa lando cons igo
mesma, pensando em voz alta . — Nós duas nos assustamos .
A cobra cont inuou imóvel como pedra enquanto observava . A língua
permanecia dentro da boca . Sua cabeça , erguida vár ias polegadas pela ponta da faca ,
provavelmente podia sent ir a ponta afiada . Talvez ela interpretasse a ameaça da lâmina como se fosse uma presa . Jennsen não sabia , sabia apenas que ser ia melhor não
lutar contra uma cr iatura assim.
Estava na água , o domínio da cobra , e fora do dela . Com faca ou sem faca , o
resultado não era cer to. Mesmo se conseguisse matá -la , o peso da cr iatura , com seus anéis enrolados
nela em um for te aper to, a inda poder ia arrastá -la para o fundo e afogá - la . Melhor
par tir sem travar uma batalha , se fosse poss ível.
— Agora, vá embora , — e la sussurrou com mortal ser iedade . — ou
serei obr igada a tentar matá- la . — levantou a ponta da faca para garant ir que
ser ia entendida em uma linguagem na qual ela estava mais confiante que a cobra
possivelmente ser ia capaz de compreender .
Suas pernas começaram a latejar quando sentiu o aper to afrouxar . Polegada
por polegada , a cabeça r ecuou. Anéis escamosos afrouxaram e afastaram-se do corpo e
pernas dela , permit indo que ela sent isse o corpo repent inamente leve. Jennsen acompanhou a cabeça enquanto ela r ecuava , mantendo a ponta da faca sob a mandíbula
da coisa, pr eparada para, ao menor sina l de ameaça, enterrá-la com toda sua força .
Finalmente, ela des lizou retornando para dentro da água .
Logo que estava l ivr e do peso, ela rastejou para terreno sólido. F icou de quatro descansando, a faca no punho, ofegante, r ecuperando o fôlego, permitindo que
seus nervos tensos acalmassem. Não t inha ideia do que a cobra podia ter pensado , ou
porque, ou se a mesma coisa poder ia funcionar em outro momento e lugar , mas hoje funcionou e ela sussurrou uma oração de agradecimento aos Bons Espír itos . Se
realmente eles t ivessem algo a ver com sua l iber tação do aper to escamoso morta l, ela
não quer ia falhar em expressar sua gratidão. Com a costa da mão trêmula , Jennsen enxugou lágr imas de medo das
bochechas antes de levantar sobre pernas bambas . Virou e olhou para a água negra
137
parada que jazia sob as folhas e o musgo pendurado acima . Em retrospecto, lembrou
de seus pés tocando na s raízes submersas . Olhando novamente para a extensão de água
que havia cruzado, ela conseguiu ver que talvez a água t ivesse subido a lguns pés para
cobrir o t err eno ali . Talvez a terra t ivesse cedido . De um jeito ou de outro, se ela simplesmente
t ivesse caminhado através da ár ea rasa , ao invés de tentar pular em cima da ―cobra
transformada em raiz‖ , provavelmente a coisa ter ia sido muito menos problemática . No caminho de volta , planejou cor tar um galho para ajudá- la a mover -s e
pelo lugar baixo, para sent ir o t err eno adiante, e tomar ia cu idado para não p isar em
uma cobra . Ainda r ecuperando o fôlego, Jennsen virou de volta para o caminho sombr io
em fr ente. Ainda precisava chegar até a casa da feit iceira , e ela estava desperdiçando
tempo parada ali , sent indo pena de s i mesma. Sebastian precisava da ajuda dela , não
que ela sent isse pena de s i mesma. Voltou a caminhar ma is uma vez , ensopada até os ossos . Felizmente, embora
fosse inverno, estava quente no pântano.
Pelo menos ela não congelar ia . Lembrou de estar molhada quando ela e Sebast ian fugiram da casa depois que o Quad assassinou a mãe dela .
O chão estava a meras polegadas acima das extensões de água estagnada ,
mas, com uma profusão de raízes entr elaçadas ali , f irmes o bastante para aguentar em o peso dela . Os pontos onde a água cobria o solo, eram apenas em áreas cur tas e rasas .
Mesmo que a água t ivesse apenas a lgumas polegadas de profundidade , Jennsen p isava
cuidadosamente, observando para ter cer teza de que as raízes logo abaixo da
superfície não eram cobras. Sabia que as cobras da água eram algumas das ma is per igosas. Uma cobra venenosa , mesmo se t ivesse apenas um pé de comprimento ,
podia matar uma pessoa . Como uma aranha , o tamanho não importava se o veneno
fosse mortal. Ela chegou a outra área onde vap or escapava de f issuras no solo . Depós itos
color idos, em sua maior par te amarelos , formavam crostas ao redor de aber turas onde
o vapor subia . O cheiro a sufocava , e ela t eve que procurar um caminho contornando
aquilo que a permit isse r espirar . Os galhos er am espinhosos e grossos . Com a faca , conseguiu cor tar vár ios dos ga lhos ma is pesados e abr ir
caminho até uma tr i lha de rochas ao lado de uma parede rochosa . Seguindo o estr eito
caminho, ela passou por uma piscina com água escura . A super fície moveu -se com lentas ondulações quando algo submerso seguiu o movimento dela . Ela cont inuou com
a faca na mão, t entando ver onde p isava e manter um olhar atento a qua lquer coisa qu e
pudesse sa ltar sobre ela sa indo da água . Quando tentou apoiar -se e uma pedra solta saiu, quase fazendo ela perder o equil íbr io , ela atirou a pedra dentro da água, na coisa
que não conseguia enxergar . Aquilo cont inuou acompanhando-a até que ela chegass e
do outro lado, onde conseguiu subir em terreno ma is alto que a levou para dentro de
uma vegetação densa e alta com folhas largas . Isso fez com que lembrasse de uma travess ia por um campo cheio de milho .
Adiante, a través da alta vegetação, ela conseguiu ver um lento movimento. Não sabia
o que poder ia ser , mas pelo tamanho daquilo, não quer ia descobr ir , e acelerou o passo. Em pouco tempo, ela estava corr endo através da vegetação espessa , desviando de talos
e agachando por baixo de galhos .
As árvores f icaram mais próximas novamente , e logo ela estava caminhando outra vez entr e o emaranhado de raí zes. Elas pareciam inf initas , e o progresso era
agonizantemente lento. O dia estava acabando. Quando chegou até áreas aber tas , ou
pelo menos aber tas o bastante, ela acelerou para ganhar tempo. Esteve no pântano
durante horas . Tinha que ser quase o meio do dia . Tom falou para ela que achava que poder ia levar um dia de viagem para
entrar no pântano e voltar . Mas ela est ivera nele durante tanto tempo que começou a
ficar preocupada que pudesse ter passado pela casa da feit iceira . Afinal de contas , não havia como dizer qual era a largura do pântano . Poder ia t er passado por ela facilmente
e não ter visto. Começou a temer que fosse exatamente isso que t ivesse acontecido .
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E se ela não conseguisse encontrar a casa ? O que far ia então? Não gostava
da ideia de ter que passar a noite dentro do pântano. Não havia como af irmar que t ip o
de cr iatura sair ia durante a noite . Não acreditava que houvesse chance de fazer uma
fogueira . O pensamento de estar nesse lugar no escuro , sem esperança de ter ao menos a luz da lua ou das estr elas, carregou-a de medo.
Quando f inalmente ela emergiu na margem de um grande lago , Jennsen fez
uma pausa para recuperar o fôlego. Árvores, gordas na par te infer ior onde emergia m da água , pareciam um conjunto de postes suportando um ba ixo telhado ver de.
A luz era levemente ma is br ilhante sobre o lago. Do lado dir eito havia uma
parede rochosa que não fornecia apoio para as mãos , muito menos um caminho para atravessar . Ela mergulhava dir eto dentro da água , suger indo a profundidade qu e
poder ia haver ali .
Observando a margem do lado esquerdo , f icou assustada em ver pegadas .
Jennsen corr eu e abaixou sobre um joelho para inspecionar as depressões no solo macio. Pelo tamanho delas , pareciam feitas por um homem, Mas não estavam fr escas .
Seguiu as pegadas pela margem e em alguns lugares encontrou escamas de peixe que
foi l impo naquele loca l. A vegetação além era espessa e emaranhada , mas a grama e o terr eno seco na borda do lago fornecia um bom caminho , e as pegadas , esperança .
Do outro lado do lago tranquilo , ela seguiu as pegadas por um caminho bem
gasto através de um denso grupo de salgueiros e subindo até solo ma is elevado. Quando espiou pro uma aber tura na vegetação , avistou, entr e as árvores , a lém dos
arbustos e o manto de videiras , sobre uma elevação ad iante, uma casa distante.
Fumaça de madeira escapava de uma chaminé para misturar -se com a neblina cinzenta
acima, quase como se a própr ia fumaça estivesse cr iando a melancolia cinzenta . Na fraca luz do pântano escuro, a luz que vinha de uma janela do lad o da
casa br ilhava como uma joia dourada , um farol para dar boas vindas aos perdidos ,
desesperados, abandonados e indefesos . A visão do f ina l de sua jornada , depois de tanto terror e tr isteza , causou lágr imas de a lívio. As lágr imas poder iam ser de a legr ia ,
se não fosse pela t err ível necessidade dela .
Jennsen seguiu rapidamente pelo caminho entr e o salgueiro e carva lho ,
subindo através dos arbustos emaranhados , passando por cor tinas de vinhas , e logo alcançou a casa . Ela estava constru ída sobre uma fundação de rochas , cuidadosament e
encaixadas sem argamassa . As paredes era feitas de toras de cedro . O teto sobressaia
acima de uma varanda estr eita que corr ia pelo lado, com degraus que desciam até o caminho que conduzia ao lago próximo do qual ela t inha vindo.
Subir os degraus dois de cada vez até a varanda estr eita e seguir nela ao
redor da casa levou-a a uma porta f lanqueada por p ilar es de robustas toras que suportavam um pórtico simples mas acolhedor . Da porta , descendo degraus largos ,
surgia um largo e bem cuidado caminho através do pântano na parte da frente. Aquele
era o caminho pelo qual as pessoas vinham quando eram convidadas para vis itar a
feit iceira . Depois do caminho que ela usou , aquele parecia uma estrada . Sem desperdiçar t empo, Jennsen bateu. Impaciente, ela bateu novamente.
Suas batidas foram interrompidas quando a por ta moveu -se para o lado de dentro. Um
homem com mais idade do que ela f icou parado observando -a, surpreso. Cabelo gr isa lho estava tomando conta do castanho escuro e parecia ter recua do um pouco, mas
ainda estava bem volumoso. Ele não era magro nem gordo, e t inha altura mediana . As
roupas dele não eram as roupas de um caçador ou de um homem do pântano , mas as de um ar tesão; sua calça marrom, l impa e bem cuidada , não era grosseira , e s im de u m
tecido ma is caro bem costurado. Raios de luz dourados br i lhavam na camisa verde
dele. Ele era o dourador , Fr iedr ich.
O rosto sagaz dele avaliou-a ma is cu idadosamente, observando o cabelo vermelho sob o capuz dela .
— O que você está fazendo aqui? — e le perguntou . Sua voz grossa
combinava muito bem com o resto dele, mas não era muito amigável .
— Eu vim para falar com Althea, se for possível.
Os olhos dele desviaram para o caminho, e então voltaram para ela .
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— Como você chegou aqui?
Pela expressão desconfiada dele após checar , ela conclu iu que ele devia ter
a lgum jeito de saber se alguém t inha subido pelo caminho . Jennsen conhecia coisas assim; ela e sua mãe usavam esse t ipo de r ecurso o tempo todo para terem cer teza de
que ninguém chegasse per to delas sorrateiramente.
Jennsen apontou pelo lado da casa .
— Eu vim pelo outro lado . Pelos fundos. Do lugar além do lago.
— Ninguém consegue andar além do lago, nem mesmo eu. — as
sobrancelhas de fios grossos negros e gr isalhos abaixou sem que ele ao menos
considerasse as palavras dela ou perguntasse mais alguma co isa a respeito . —
Você está ment indo .
Jennsen estava surpresa .
— Não estou . Eu vim pelo caminho nos fundos . Preciso falar urgente com
sua esposa , Althea.
— Você não fo i convidada para vir aqui . Deve par tir . Dessa vez, não
perambule fora da tr i lha , se por acaso souber o que é bom para você . Agora , vá
embora !
— Mas é uma questão de vida ou morte . Eu preciso. . .
A porta bateu diante da cara dela .
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C A P Í T U L O 2 2
Jennsen f icou imóvel com a porta fechada repent inamente a polegadas do seu rosto. Não sabia o que fazer . Naquele momento, ela estava surpresa demais para
qua lquer outra emoção que a inda surgir ia .
Do lado de dentro, ela ouviu a voz de uma mulher .
— Quem é , Fr iedr ich?
— Você sabe quem era . — a voz de Friedr ich não estava nem um pouco
como estivera quando ele falou com Jennsen. Agora estava suave, respeitosa , familiar .
— Bem, deixe ela entrar .
— Mas , Althea, você não pode. . .
— Deixe ela entrar , Fr iedr ich. — a voz dela saiu firme mas não foi rude.
Jennsen sent iu grande a lívio. O nó de argumentos que f lor escia dentro dela enquanto preparava -se para bater mais uma vez desapareceu . A porta abr iu , ma is
lentamente dessa vez.
Fr iedr ich olhou para ela , não como um homem derrotado ou repreendid o,
mas como um homem que vinha encarar o des tino com dignidade .
— Por favor , entr e, Jennsen. — ele fa lou com uma voz ma is suave, ma is
genti l.
— Obr igada. — Jennsen fa lou baix inho, de cero modo surpresa e levement e
inquieta com o fato dele saber o seu nome.
Ela observou tudo enquanto seguia ele dentro da casa . Independente do quanto estivesse quente no pântano, a pequena chama na lar eira de pedra transmit ia ao
ar um doce cheiro junto com uma seca sensação de boas vindas . Essa era a sensação,
ma is do que a secura . Os móveis eram s imples mas bem feitos e enfeitados com f iguras enta lhadas .
A sala pr incipal t inha apenas duas pequenas janelas , em paredes opostas . Havia
quar tos nos fundos e dentro de um deles uma bancada de trabalho , com ferramentas
bem organizadas, dispostas diante de outra pequena janela . Jennsen não lembrava da casa , se r ealmente esse fosse o mesmo lugar . Sua
lembrança de quando foi a té a casa de Althea era mais uma impressão de rostos
amigáveis do que uma r ecordação de um lugar . As paredes, decoradas com coisas para o deleite dos olhos , pareciam familiar es . Quando cr iança , ela t er ia notado tal festa
visual. Havia esculturas de aves, peixes, e anima is por toda par te, pendurados
sozinhos, ou agrupados em pequenas pratelei ras . Isso ser ia a coisa mais cativante para uma cr iança pequena .
Algumas da esculturas estavam pintadas , a lgumas deixadas sem pintura , mas
as penas, escamas, e pelo foram entalhados com textura tão r ef inada que eles parecia m
anima is transformados em madeira através de magia . Outras esculturas eram ma is esti l izadas e douradas belamente. Um espelho em uma parede, baixo, t inha uma
moldura em forma de raios de uma estr ela , e cada raio estava pintado, a lt ernadamente,
de dourado e prateado. No chão, voltado para a lareira , estava um grande travesseiro vermelho e
dourado. Os olhos de Jennsen foram atraídos para um tabuleiro quadrado com uma
Graça dourada sobre ele colocado no chão diante do travesseiro . Era exatamente como
a Graça que ela frequentemente desenhava , mas essa , ela sabia , era verdadeira . Pequenas pedras repousavam em uma pilha de um lado .
Em uma cadeira construída de forma bela , com encosto alto e braços
enta lhados, sentava uma mulher magra com grandes olhos escuros que tornavam -s e ainda ma is impress ionantes p or causa do cabelo dourado sa lp icado por f ios gr isalhos .
O cabelo cercava o rosto dela e descia até os ombros dela . Seus pulsos descansavam
sobre os braços da cadeira enquanto seus longos dedos f inos traçavam graciosamente a
141
curva da espiral entalhada na pontas .
— Eu sou Althea. — a voz dela era gent il , mas carregava um claro tom de
autor idade. Ela não levantou. Jennsen fez uma r everência .
— Senhora , por favor perdoe minha vis ita sem convite e inesperada desse
jeito.
— Sem convite talvez , mas não inesperada , Jennsen.
— Você sabe o meu nome? — Jennsen percebeu tarde demais o quanto a
pergunta soara tola . A mulher era uma feit iceira . Não havia como saber o que os
poderes dela podiam enxergar .
Althea sorr iu, e isso teve aparência muito agradável nela .
— Eu lembro de você . Uma pessoa não esquece de ter encontrado com
alguém como você.
Jennsen não t inha cer teza do que ela quer ia dizer , mas de qua lquer modo,
agradeceu. — Obr igada .
O sorr iso no rosto de Althea aumentou, cer cando seu olhos de rugas .
— Nossa , mas você parece exatamente com sua mãe. Se não fosse o cabelo
vermelho, eu pensar ia que t inha voltado no tempo para quando eu a vi pela ú lt ima vez ,
quando ela estava justamente com a idade que você tem agora . — e la levantou uma
das mão . — E você era apenas desse tamanho .
Jennsen sent iu o rosto f icar vermelho como o cabelo dela . Sua mãe era muito bonita , não apenas sábia e car inhosa .
Jennsen não acreditava que pudesse ser comparada com uma mulher tão
atraente, ou pelo menos mostrar o t ipo de exemplo que sua mãe represento u.
— E como ela está?
Jennsen engoliu em seco.
— Minha mãe . . . minha mãe se foi. — com angúst ia , o olhar de Jennsen
desviou para o chão. — E la fo i assassinada .
— Eu sinto muito . — Friedr ich disse, parado atrás dela . Ele colocou uma
das mãos no ombro dela mostrando s impatia . — Realmente sinto . Eu a conhecia , u m
pouco, do Palácio. Era uma boa mulher .
— Como aconteceu? — Althea perguntou.
— E les fina lmente nos alcançaram .
— Alcançaram vocês? — a testa de Althea franziu. — Quem?
— Ora , os soldados D'Haran. Os homens de Lorde Rahl. — Jennsen
empurrou a capa para trás, mostrando para os dois o cabo da faca . — Isso era de um
deles .
O olhar de Althea observou a faca , então r etornou para o rosto de Jennsen.
— Eu sinto muito , quer ida .
Jennsen assent iu.
— Mas tenho que alertar você . Fui falar com a sua irmã , Lathea . . .
— Falou com ela antes que ela morresse?
Jennsen f icou surpresa .
— S im, fa lei.
Althea balançou a cabeça com um sorr iso tr is te .
— Pobre Lathea. Como ela estava? Quer dizer , ela t eve uma boa vida?
— Não sei. Tinha uma bela casa , mas eu a vi rapidamente. Tive a impressão
de que ela vivia sozinha . Fui procurá-la porque precisava de ajuda . Lembrei que minha
mãe mencionando o nome da feit iceira que nos ajudou , mas acho que confundi os nomes. Acabei falando com sua irmã. Ela nem quer ia falar comigo. Disse que não
podia fazer nada , que foi você quem me ajudou daquela vez . Foi por isso que eu
precisei vir a té aqui.
— Como você entrou? — Friedr ich perguntou enquanto apontava para o
142
caminho da frente. — Você deve ter saído do caminho .
— Não por esse caminho . Eu vim pelo caminho dos fundos .
Agora, a té mesmo Althea f icou surpresa .
— Não existe caminho dos fundos .
— Bem, não havia caminho, exatamente, mas eu f iz o meu.
— Ninguém consegue entrar por aquele lado , — Althea ins ist iu. — tem
co isas lá at rás que protegem aquela área .
— Eu sei. Eu t ive um encontro com uma cobra enorme. . .
— Você viu a cobra? — Friedr ich perguntou.
Jennsen assent iu.
— P isei nela acidentalmente . Pensei que fosse uma raiz . Tivemos u m
encontro tenso e eu t ive que nadar .
Os dois estavam olhando para ela de um jeito que deixava Jennsen nervosa.
— S im, s im, — Althea falou, parecendo indifer ente a respeito da cobra ,
balançando uma das mãos como se desejasse colocar de lado uma not ícia
ins ignif icante ass im, — mas , cer tamente, você viu as outras coisas?
Jennsen desviou o olhar dos olhos arregalados de Fr iedr ich para o rost o
desconfiado de Althea.
— Não vi nada além da cobra .
— A cobra é apenas uma cobra . — Althea disse, descons iderando a besta
horr ível com outro movimento impaciente da mão. — Tem coisas per igosas lá atrás .
Coisas que não deixar iam ninguém passar . Ninguém. Como, em nome da Criação, você
conseguiu passar por elas?
— Que t ipo de coisas?
— Co isas de magia. — Althea fa lou com um tom sombrio.
— S into muito , mas tudo que posso dizer é que eu passei , e eu não vi nada
além da cobra . — e la fez uma careta em direção ao teto quando pensou outra vez .
— Porém, eu realmente vi co isas dentro da água, co isas escuras embaixo da
água .
— Peixes. — Friedr ich zombou.
— E nos arbustos, eu vi co isas nos arbustos . Bem, eu não vi, exatamente,
mas vi os arbustos se moverem e eu sei que t inha alguma coisa lá . Mas elas f icaram escondidas .
— Aquelas co isas , — Althea disse. — não se escondem em arbustos .
Elas não temem nada . Não se escondem de nada . Elas t er iam sa ído e rasgado você em pedaços.
— Não sei por que elas não fizeram isso , — Jennsen fa lou. Seu olhar
disparou através da janela ao lado que f icava voltava para as áreas estagnadas de
águas turvas sob um sombr eado emaranhado de vinhas , sent indo uma pontada de
preocupação a respeito de sua jornada de volta . Com a vida de Sebastian em per igo,
ela sent iu frustração com a conversa sem propós ito da feit iceira sobre o que estava no pântano. Afina l de contas , ela conseguiu passar , então não era tão imposs ível quanto
os dois quer iam fazer ela acreditar . — Porque você mora aqui? Quer dizer , se você é
tão sábia e tudo ma is , então porque vive aqui em um pântano junto com cobras ?
Althea levantou uma sobrancelha.
— Eu prefiro minhas cobras que não possuem braços e pernas .
Jennsen suspirou e começou novamente .
— Althea, eu vim aqui porque tenho desesperada necess idade da sua ajuda .
Althea balançou a cabeça como se não desejasse escutar .
— Não posso ajudá- la .
Jennsen f icou surpresa por t er seu pedido negado tão rapidamente .
— Mas , você tem que. . .
— É mesmo?
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— Por favor , você me a judou antes . Preciso daquela ajuda outra vez . Lorde
Rahl está chegando cada vez mais per to. Escapei por pouco em ma is de uma ocas ião .
Estou f icando lou ca e não sei mais o que fazer . Rea lmente nem sei por que meu pai quer ia me matar em pr imeiro lugar .
— Porque você é uma descendente não dotada .
— Isso mesmo . Você acabou de falar exatamente a razão porque isso não
faz sent ido: eu não sou dotada . Então, que ameaça eu poder ia representar ? Se ele era
um mago poderoso, que ma l eu poder ia causar para ele? Que ameaça eu poder ia representar? Porque ele quer ia tanto me matar ?
— O Lorde Rahl destr ói qua lquer descendente que ele descobre não ser
dotado.
— Mas por quê? O fato de ele fazer isso é o r esultado, não a razão. Deve
exist ir uma razão. Se ao menos eu soubesse isso, ta lvez eu pudesse imaginar como
poder ia fazer algo a respeito. Ela balançou a cabeça outra vez .
— Não sei. Não é como se o Lorde Rahl viesse discut ir os negócios dele
comigo.
— Depo is que fa lei com sua irmã e descobr i que ela não me ajudar ia,
eu voltei para perguntar a ela exatamente isso , mas ela foi assassinada pelos mesmos homens que estão atrás de mim. Eles devem ter sent ido medo que ela pudesse dizer
alguma coisa , então assassinaram ela . — Jennsen a lisou o cabelo para trás . — Sinto
muito a respeito de sua irmã , rea lmente sinto. Mas você não está vendo? Você
também está em per igo, por causa daquilo que você sabe sobre isso .
— Não consigo imaginar porque eles a machucar iam . — fazendo uma
careta , Althea f icou olhando para o vazio enquanto pensava . — Isso que você está
dizendo , que ela podia saber alguma coisa , não faz sent ido. Ela nunca esteve
envolvida nisso. Lathea sabia menos do que eu . Ela não saber ia nada sobre porqu e
Darken Rahl ir ia querer l ivrar o mundo de você. Ela não poder ia ter falado nada para
você.
— Bem, mesmo se ele considerasse que aqueles, nascidos sem o Dom,
fossem infer ior es e s implesmente inúteis, se ele quisesse exterminar os r ef ugos da
ninhada, por assim dizer , porque o f i lho dele , o meu meio- irmão, ir ia querer tanto me matar? Eu não podia machucar meu pa i , e não posso machucar o f i lho dele, e mesmo
assim Richard também envia Quads para me caçarem.
Althea ainda não parecia convencida .
— Tem certeza que são homens do Lorde Rahl fazendo isso?
Simplesmente não vejo nas pedras. ..
— E les entraram na minha casa . Mataram minha mãe. Eu vi eles, lutei
com eles. Eram soldados D'Haran.
Ela sacou a faca da bainha no cinto e mostrou -a para que a mulher visse.
— Um deles carregava isso .
O olhar de Althea observou com cuidado, da maneira como alguém olhar ia
para qualquer coisa mortal , mas ela não falou nada .
— Porque Lorde Rahl ir ia querer matar minha mãe? Porque e Casa de Rahl
quer que eu morra?
— Não sei a resposta . — Althea levantou as mãos e deixou-as caír em de
volta sobre o colo. Sinto muito, mas essa é a verdade.
Jennsen ca iu de joelhos diante da mulher .
— Althea, por favor , mesmo se você não souber por que, eu ainda preciso
da sua ajuda . A sua irmã não me a judar ia , falou que só você poder ia . Disse só você
consegue ver os buracos no mundo. Não sei o que isso s ignif ica , mas sei que tem alguma coisa a ver com tudo isso, com magia . Por favor , eu preciso de a juda .
A feit iceira pareceu confusa.
— E o que você quer que eu faça?
144
— Me esconda . Como fez quando eu era pequena . Lance um feit iço sobr e
mim para que eles não saibam quem eu sou ou onde me encontrar , então eles não
poderão me seguir . Só quero ser deixada em paz . Preciso do feit iço que me esconderá do Lorde Rahl.
— Mas isso não é só para mim . Também preciso a judar um amigo. Preciso
do feit iço para esconder minha verdadeira ident idade e conseguir voltar ao Palácio do Povo e t irar ele de lá .
— T irar ele de lá? O que você quer dizer ? Quem é esse amigo?
— O nome dele é Sebastian. Ele me ajudou quando os homens atacaram e
assassinaram minha mãe. Ele sa lvou minha vida .
Ele me trouxe para cá , para falar com você. A sua irmã disse qu e dever íamos perguntar no Palácio onde poder íamos encontrar voc ê. Ele via jou todo
esse caminho comigo, me ajudou a chegar até aqui , para que eu pudesse vir aqui falar
com você para conseguir a ajuda que eu preciso . Fomos até o Palácio para encontrar Fr iedr ich para sabermos onde você morava , e enquanto estávamos lá os guardas
levaram Sebastian pr is ioneiro.
— Não está vendo? Ele me ajudou e, por causa disso, eles o pegaram. Com
cer teza irão tor turá -lo. Ele estava me ajudando, é culpa minha que ele esteja com
problemas. Por favor , Althea, eu preciso da sua ajuda para t ir ar ele de lá . Preciso de
um feit iço para me esconder e para que eu cons iga voltar e r esgatar ele . Incr édula , Althea f icou olhando para ela .
— Porque você acha que um feit iço conseguir ia fazer isso ?
— Não sei . Não sei nada sobre como a magia funciona . Só sei que precis o
da ajuda dela , que eu preciso de um feit iço para esconder minha verdadeira
ident idade.
A mulher balançou a cabeça , como se ela est ivesse l idando com uma completa lunática .
— Jennsen, o que você está imaginando não é como a magia funciona . Você
acha que eu posso lançar uma teia e então você conseguirá entrar no Palácio e os
guardas, de a lgum modo, ficarão sob o efeito desse feit iço e começarão a destrancar as
por tas para você?
— Bem, eu não sei. . .
— Claro que não sabe . É por isso que es tou falando para você que não
funciona desse jeito. A magia não é uma chave que abre portas para você . A magia não é algo que, ―puf‖ , r esolve problemas instantaneamente. A magia só ir ia aumentar os
problemas. Se tem um urso dentro da sua tenda , você não convida outro. Dois ursos
não serão melhores do que um.
— Mas Sebastian precisa da minha ajuda. Preciso da ajuda de magia para
conseguir essa ajuda para ele.
— Se você entrasse lá , como está pensando, e usasse algum t ipo de. . . —
e la balançou uma das mãos como se t entasse pensar em uma palavra para
descrever aquilo. — eu não sei, pó mágico ou algo ass im, para abr ir por tas de
pr isões para t irar seu amigo de lá , o que você imagina que acontecer ia ? Que então
vocês dois poder iam sair a legremente e que esse ser ia o f im ?
— Bem, eu não sei. . . exatamente. . .
Althea inclinou para frente sobre um cotovelo .
— Você não acha que as pessoas que tomam conta do Palácio
dese jar iam saber como isso aconteceu , para que pudessem evitar que acontecess e
outra vez? Não imagina que alguma pes soa perfeitamente inocente cujo trabalho é guardar por tas ter ia grandes problemas por t er permit ido que um pr is ioneiro escapasse
e que ele poder ia sofr er por causa disso ? Não acha que os of icia is do Palácio ir ia m
querer seu pr is ioneiro fugit ivo de volta ? Não acha que, uma vez que tais medidas foram usadas para t irá-lo de lá , seja qua l fosse a ameaça que eles t emiam que esse seu
amigo pudesse r epresentar , após uma fuga dessas , que eles poder iam cons iderar ele
145
ainda ma is per igoso do que acreditavam inicialmen te? Não imagina que a lguma pessoa
perfeitamente inocente poder ia se machucar durante as medidas extremas para capturar
ta l pr isioneiro fugit ivo? Não imagina que eles enviar iam um exército e os dotados
para varrer as redondezas antes que ele pudesse ir muit o longe?
— Você nem ao menos supõe , — a feit iceira finalmente falou com a
mais grave das entonações. — que um mago tão poderoso como Lorde Rahl, entr e
todos em D'Hara , poder ia t er a lguma surpresa decididamente terr ível e
prolongadamente fatal reservada pa ra qualquer um que ousasse usar o feit iço patét ico
de uma pobre feit iceira velha contra ele, e acima de tudo, dentro dos muros do própr io Palácio dele?
Jennsen f icou olhando dentro dos olhos escuros f ixos nela .
— Nunca pensei em nada disso .
— Você está dizendo algo que eu já sei.
— Mas . . . como eu posso r esgatar Sebastian? Como posso a judá- lo?
— Suponho que você dever ia encontrar uma maneira de t irá - lo de lá, se
for possível t irá- lo de lá em pr imeiro lugar, mas isso deve ser feito de uma
maneira que leve tudo que eu disse , e ma is, em conta . Abr ir um buraco na parede
para que ele pudesse sair para a l iberdade ir ia trazer os cães de caça , não é mesmo? Isso causar ia problema de forma muito parecida como a magia causar ia . Ao invés
disso você deve pensar em um je ito que convença eles a soltá -lo. Ass im eles não
perseguirão você para pegarem ele de volta .
Tudo aquilo fez sent ido para ela .
— Como eu consigo fazer uma co isa assim?
A feit iceira balançou os ombros .
— Se isso pode ser fe ito , eu apostar ia que você consegu e. Afina l de
contas, você viveu até agora para tornar -se uma bela jovem, escapou de Quads, me
encontrou, e chegou até aqui, não foi mesmo? Você r ea lizou muita coisa . Só precisa foca r a sua mente nisso . Mas não
comece pegando uma vara e batendo em um ninho de vespas.
— Mas não consigo ver como posso conseguir fazer isso sem a ajuda
da magia . Eu sou uma ninguém.
— Uma ninguém. — Althea fa lou com desprezo quando r ecostou na
cadeira . Estava transformando-se em uma professora impaciente com uma aluna que
interpretava de maneira pobre uma lição. — Você é alguém ; você é Jennsen, uma
garota esper ta com um cérebro. Não devia ajoelhar diante de mim e alegar ignorância ,
dizer o que não consegue fazer enquanto ao invés disso pede para outros fazerem por
você.
— Se você quer ser uma escrava na vida , então cont inue andando por aí
pedindo para que outros façam as coisas por você . Eles farão um favor , mas você
descobr irá que o pr eço é o seu poder de escolha , sua l iberdade, a sua própria vida . Eles farão isso por você, e como r esultado você estará em débito com eles para
sempre, t endo entr egado a sua ident idade por um preço baixo demais . Então, e
somente então, você será uma ninguém, uma escrava , porque você mesma, e ninguém
mais, foi responsável por isso.
— Mas , ta lvez, nesse caso, seja difer ente. . .
— O Sol levanta ao leste ; não existe exceção especial , só porque você
quer isso. Eu sei do que estou fa lando, e estou dizendo a você, magia não é a resposta .
O que você está pensando? Se você t ivesse um feit iço para que eles nã o soubessem
que você era f i lha de Darken Rahl, então eles abr ir iam as por tas para você ? Eles não abr irão a por ta da cela do seu amigo para ninguém a não ser que pensem que ela deve
ser aber ta . Não far ia difer ença se houvesse um feit iço que transformasse vo cê em u m
coelho de seis pernas, eles a inda não abr ir iam as por tas que você quiser aber tas só porque agora você era um coelho de seis pernas pelas mãos da magia .
— Mas a magia. . .
146
— A magia é uma ferramenta , não uma solução.
Jennsen procurou manter o control e mesmo que desejasse agarrar a mulher
pelos ombros e balançar ela até ela concordar em a judar . Difer ente do que aconteceu com Lathea, ela não pretendia perder essa chance de conseguir a juda .
— O que você quer dizer com ―magia não é uma so lução‖ ? A magia é
poderosa .
— Você tem uma faca . Mostrou ela para mim.
— Isso mesmo .
— E quando você está com fome você balança a sua faca no rosto de
alguém e exige que entregue o pão dele ? Não. Você faz com que ele entr egue o pão
dando para ele uma moeda em troca.
— Está querendo dizer que você acha que eles podem ser subornados ?
Outro suspiro.
— Não. Pelo que sei, posso dizer a você que eles não podem ser subornados,
pelo menos não do modo convencional . Entretanto, o pr incíp io não é inteirament e desprovido de um cer to paralelo.
— Quando Friedr ich quer pão, ele não sua a faca para tomar o pão daqueles
que possuem o pão, pelo menos não com o mesmo sent ido que você quer usar a magia . Ele usa a faca como uma ferramenta para esculpir f iguras e então ele as pinta . Ele
vende o que fez com a faca , e então troca aquela moeda pelo pão.
— Está vendo? Se ele usasse a faca, a ferramenta, para resolver
dir etamente o problema de conseguir o pão , no f ina l isso causar ia mais problemas para
ele. Ser ia um ladrão e como tal ele ser ia caçado . Ao invés disso, ele usa a cabeça , e
usa a faca como uma ferramenta para cr iar a lgo com a ajuda da sua mente , r esolvendo assim o problema de conseguir o pão com a faca .
— Então, você está querendo dizer que eu preciso usar a magia
indiretamente? Que de alguma forma eu devo usar a magia como uma ferramenta para
me ajudar?
Althea suspirou profundamente.
— Não, cr iança . esqueça a magia . Você deve usar a sua cabeça . Magia é
problema. Use a sua cabeça .
— Eu fiz isso , — Jennsen falou. — não fo i fácil, mas eu usei a minha
cabeça para vir a té você buscar ajuda . Agora é de um feit iço que eu preciso para usar
como uma ferramenta para me ajudar , para me esconder . Desse jei to ele será uma ferramenta , como você sugere.
Althea desviou o olhar para a lareira , observando as chamas ondulantes .
— Não posso ajudá- la desse jeito .
— Acho que você não está entendendo . Estou sendo caçada por homens
poderosos. Só preciso de um feit iço para esconder a minha ident idade, como aquele
que você fez quando eu era pequena , quando eu morava no Palácio com a minha mãe. A mulher idosa ainda cont inuava olhando dentro da lar eira .
— Não posso fazer isso . Não tenho o poder .
— Mas você tem. Já fez isso uma vez. — uma vida toda de frustração ,
medo, perda , e futi l idade emergiu , trazendo lágr imas junt o com ela . — Não fiz toda
essa viagem , sofr endo com toda essa dif icu ldade, para ouvir você dizer não! Lathea
disse não, disse que só você consegue ver os ―buracos no mundo‖ , e que só você
poder ia me ajudar . Preciso da sua ajuda , do seu feit iço, para me esconder . Por favor , Althea, estou implorando pela minha vida .
Althea não olhava nos olhos dela .
— Não posso lançar um fe it iço como esse para você .
Jennsen conteve as lágr imas .
— Por favor , Althea, eu só quero ser deixada em paz . Você tem o poder .
— Eu não tenho aquilo que você inventou em sua mente para mim .
Ajudei você da única maneira que eu posso .
147
— Como pode focar sentada aqui sabendo que outras pessoas estão
so frendo e morrendo, e não ajudar ? Como você pode ser tão egoísta , Althea? Como
pode negar ajuda quando eu preciso tanto?
Fr iedr ich colocou uma das mãos sob o braço de Jennsen, fazendo ela
levantar .
— S into muito , mas você pediu o que desejava . Ouviu o que Althea tem
para dizer . Se for esper ta , usará o que aprendeu para ajudar a si mesma. Agora , está na
hora de você par tir . Jennsen puxou o braço.
— Tudo que eu quero é a ajuda de um feit iço ! Como ela pode ser tão
egoísta! Os olhos de Fr iedr ich arderam com fúr ia , mesmo que sua voz não mostrasse
isso.
— Não tem o direito de falar conosco dessa maneira . Não sabe nada a
respeito disso, a respeito dos sacr if íc ios que ela fez . está na hora de você. . .
— Friedr ich, — Althea falou com uma voz suave. Porque não faz um pouco
de chá para nós ?
— Althea, não há razão alguma para você ter que explicar alguma coisa
disso, muito menos para ela .
Althea sorr iu para ele. — Está tudo bem.
— Explicar o quê? — Jennsen perguntou.
— Meu mar ido pode parecer rude para você , mas é porque ele não quer
que eu coloque um fardo sobre você. Ele sabe que algumas pessoas saem daqui
infelizes com o conhecimento que eu forneço para eles . — os o lhos escuros dela
desviaram para o mar ido .
— Faz um pouco de chá para nós?
O rosto de Fr iedr ich contorceu com uma longa expressão de sofr imento
antes que ele concordasse com res ignação .
— O que você quer dizer? — Jennsen perguntou. — Que conhecimento?
O que você não está dizendo para mim?
Quando Friedr ich foi a té um armário e pegou uma cha leira e x ícaras , colocando as x ícaras sobre a mesa , Althea fez um s inal pedindo para que Jennsen
sentasse no t ravesseiro diante dela .
148
C A P Í T U L O 2 3
Jennsen colocou-se em uma posição confor tável sobre o travesseir o vermelho e dourado no chão diante da feit iceira .
— Há muitos anos , — Althea começou, cruzando as mãos no colo sobre o
vestido preto e branco. — mais do que você pode acreditar , eu via jei com minha irmã
até o Mundo Ant igo, a lém da grande barreira ao sul .
Jennsen decidiu que, por enquanto, ser ia melhor apenas continuar quieta e
aprender o que pudesse, ao invés de fa lar o que já sabia, que o n ovo Lorde Rahl, buscando a conquista , havia destruído a grande barreira ao su l para invadir o Mundo
Ant igo, e que Sebastian t inha vindo do Mundo Antigo para tentar encontrar um jeito
de ajudar o Imperador , Jagang, o justo, a deter os invasores D'Harans. Pensou qu e talvez, se ela entendesse tudo um pouco melhor , então poder ia descobr ir um modo de
convencer Althea a ajudá- la .
— Eu fui até o Mundo Ant igo para ir a té um lugar chamado Palácio dos
Profetas. — Althea disse. Isso Jennsen também ouviu de Sebastian. — eu tenho um
Dom para uma forma bastante pr imit iva de pro fecia . Quer ia aprender o qu e
pudesse sobre isso, enquanto a minha irmã quer ia aprender sobre curas e coisas assim .
Eu também quer ia aprender coisas sobre pessoas como você . — Como eu? —
Jennsen fa lou. — O que você quer dizer?
— Os ancestrais de Darken Rahl não eram difer entes dele . Todos eles
eliminavam qualquer descendente não dotado que descobriam ter nascido . Lathea e eu
éramos jovens e cheias de fogo para ajudar aqueles que precisavam, e também aqueles
que nós cons iderávamos injustamente perseguidos . Quer íamos usar o nosso Dom para
ajudar a mudar o mundo para melhor . Enquanto cada uma de nós esperava estudar coisas difer entes , nós duas compartilhávamos as mesmas razões .
Jennsen pensou que isso parecia muito próximo de como ela se sent ia e era
justamente desse t ipo de ajuda que ela estava falando , mas também sabia que esse não era o momento para dizer isso. Ao invés disso, ela perguntou.
— Porque você teve que via jar todo esse caminho até o Palác io dos
Profetas para aprender essas co isas ?
— As feit iceiras lá são famosas por terem exper iência com muitas
co isas , com magos, e magia , e acima de tudo, em assuntos que possuem relação com
esse mundo e os mundos além.
— Mundos além? — Jennsen apontou para o espaço do lado de fora do anel
dourado externo na Graça pos icionada não muito longe . — Está querendo dizer , o
mundo dos mortos? Althea r ecostou enquanto r ef letia .
— Bem, s im, mas não exatamente. Você entende a Graça? — Althea
esperou que Jennsen confirmasse com a cabeça . — As feit iceiras no Palácio dos
Profetas possuem conhecimento sobre as int erações do Dom, o Véu entr e mundo,
e o r elacionamento interdependente entr e eles, como isso tudo se encaixa . Elas são chamadas ―Irmãs da Luz‖ .
Jennsen lembrou que Sebastian ha via fa lado que agora as Irmãs da Luz
estavam com o Imperador Jagang. Sebastian ofer eceu-se para levar Jennsen até as Irmãs da Luz. Ele disse que elas podiam ser capazes de ajudá -la . Devia ser porque elas
t inham alguma coisa a ver com a Luz do Criador , e especia lmente com o Dom, no
centro da Graça .
Outro pensamento lhe ocorr eu .
— Isso tem alguma co isa a ver com o que Lathea disse? Que você podia
ver os. . . buracos no mundo, como ela chamou ?
149
Althea sorr iu com o prazer de uma professora vendo uma a luna f ler tando
com a descoberta .
— Isso é a ponta do dente . Veja bem, os descendentes não dotados de
Lorde Rahl, de cada Lorde Rahl r ecuando milhares de anos, são difer entes das outras
pessoas. Vocês são ―buracos no mundo‖ para aqueles de nós que possue m o Dom.
— O que significa, exatamente , ―buracos no mundo‖?
— Nós somos cegos em relação a vocês .
— Cegos? Mas você está me enxergando. Lathea também conseguia me
enxergar . Eu não entendo.
— Não cegos com os nossos o lhos . Cegos com o nosso Dom. — e la
moveu um braço apontando Friedr ich per to da lar eira com uma chaleira de ferro , e
então em dir eção a janela . — Tem co isas vivas por toda parte ao redor . Você as
enxerga com os olhos. . . enxerga Fr iedr ich, as árvores e coisas assim, exatamente como
eu, exatamente como todos fazem. — e la levantou um dedo para destacar seu
comentár io . — Mas at ravés do meu Dom, eu também as enxergo.
— Enquanto nossos olhos podem perceber você , aqueles de nós qu e
possuem o Dom não conseguem enxergá - la com essa caracter íst ica nossa . Darken Rahl não conseguia ver você mais do que eu consigo . Nem o novo Lorde Rahl consegue.
Para aqueles que possuem o Dom, você é um ―buraco no mundo‖ .
— Mas.. . mas. . . — Jennsen gaguejou, confusa. — isso não faz sent ido .
Ele esteve me caçando. Enviou homens atrás de mim, eles t inham o meu nome em u m
pedaço de papel.
— E les podem caçar você , mas apenas no sent ido convencional . Não
podem encontrar você com magia . O Dom dele é cego diante de você. Ele pr ecisa usar
espiões, subornos, e ameaças para localizá - la , junto com a inteligência e a esper teza .
Se não fosse ass im, ele podia enviar alguma besta com a magia para esmagar os seus ossos e acabar com isso, ao invés de mandar homens com o seu nome escr ito em u m
pedaço de papel.
— Está dizendo , que eu já sou invis ível para ele?
— Não. Eu conheço você. Lembro do seu cabelo vermelho. Reconheci você
porque lembro da sua mãe, e você parece com ela . Conheço você dessas maneiras, das maneiras que qualquer um conhece e r econhece a lguém . Darken Rahl, se est ivess e
vivo, poder ia reconhecê- la se ele lembrasse da sua mãe. outros que o conhecem
poder iam muito bem enxergar algo dele em você, assim como eu vejo, junto com a aparência da sua mãe. Ele poder ia conhecê- la de todas essas maneiras comuns para
alguém sem o Dom. Poder ia encontrá-la através de meios comuns . É claro, se ele ou
alguém com o Dom colocasse os olhos sobre você , perceber iam que você é uma
descendente não dotada de um Rahl, porque poder iam enxergar você.
— Mas , ele não poder ia encontrar você com magia . Isso ele não pode fazer .
Para aqueles com o Dom, você é, de muitas formas, como todos os outros , exceto qu e você é um ―buraco no mundo‖ .
Jennsen estava fazendo uma careta . Só percebeu isso quando Althea juntou
os dedões, pensando, em r esposta para aquela expressão.
— Quando eu estava no Palácio dos Profetas , — Althea f inalmente fa lou.
— conheci uma mulher , uma feit iceira , como eu, chamada Adie. Ela via jara sozinha
até o Mundo Ant igo par tindo de uma terra distante para aprender o que pudesse conseguir . Mas Adie era cega.
— Cega? Ela conseguiu via jar sozinha mesmo cega ?
Althea sorr iu ao lembrar da mulher .
— Oh, sim. Usando o Dom dela , ao invés dos olhos . Todas as feit iceiras,
todas as pessoas com o Dom possuem habilidades únicas . Além disso, em algumas o Dom é ma is for te, como as pessoas com músculos grandes são ma is for tes do que eu.
Como Friedr ich. Ele é ma is for te em músculos . Você tem cabelo como outras pessoas ,
mas o seu é vermelho . O cabelos de alguns é louro, ou preto , ou castanho.
150
Independente das coisas que as pessoas possuem em comum, cada pessoa tem
difer entes atr ibutos .
— É desse je ito com o Dom . Ele não é apenas difer ente em seus aspectos ,
mas o poder desses aspectos são difer entes . Com a lguns, isso é muito for te, com
alguns, fracos. Cada um de nós é dif er ente. Somos todos únicos em nossa habil idade ,
em nosso Dom, do mesmo jeito como você é única de outras maneiras .
— E quanto a sua amiga , Adie?
— Adie, bem, os olhos de Adie eram completamente brancos, cegos, mas ela
aprendeu o truque de enxergar com o Do m dela . O Dom dizia para ela ma is a respeito
do mundo ao r edor dela do que os meus olhos diziam para mim. Adie conseguia ver
pessoas melhor com o Dom dela do que podia com os meus olhos . De forma muito
parecida como acontece quando pessoas sem o Dom f icam cegas, elas dependem maus da audição, então aprendem a ouvir melhor do que você ou eu .
— Adie fazia isso com o Dom dela . Ela enxergava sentindo aquela centelha
inf inites ima l do Dom do Criador que tudo possui, a própria vida , e ma is : a Criação.
— A questão é que, para mim , para Darken Rahl, para Adie, você não
existe. Você é um ―buraco no mundo‖ . Por razões que no início Jennsen não conseguiu compreender , o t error
espalhou-se através dela . E então a sensação do seu terror começou a ganhar forma .
Conseguiu sent ir os olhos encherem de lágr imas .
— O Cr iador não deu vida para mim , como para todos os outros? Eu
comecei a exist ir de alguma outra forma ? Eu sou algum t ipo de. . . monstro? Meu pa i
quer ia me matar porque eu sou alguma monst ruosidade da natureza ?
— Não, não, cr iança , — Althea disse quando inclinou para frente e
acar iciou o cabelo de Jennsen com a mão confor tadora. — não fo i isso que eu quis
dizer .
Jennsen t entou com toda força conter a nova forma do terror . Através de sua
visão úmida , ela viu o rosto pr eocupado de Althea que olhava para ela .
— Eu não sou nem mesmo parte da Cr iação . É por isso que o Dom não
consegue sent ir minha presença . Lorde Rahl só quer ia l ivrar o mundo de um erro da natureza , de uma coisa ma ligna .
— Jennsen, não coloque palavras que eu não falei em minha boca . Agora
escute. Jennsen assent iu enquanto enxugava os olhos .
— Estou escutando .
— Só porque é diferente , isso não transforma você em algo ma ligno .
— Então, o que eu sou , se não for uma monstruosidade que não foi tocada
pela Criação?
— Minha cr iança , você é um P ilar da Criação.
— Mas você disse. . .
— Eu disse que aqueles que possuem o Dom não conseguem enxergá - la
com ele . Não falei que você não existe, ou que você não é como o r esto de nós , uma
par te da Criação.
— Então porque eu sou uma dessas . . . coisas? Um desses ―buracos no
mundo‖?
Althea balançou a cabeça .
— Não sei , cr iança . Mas a nota falta de conhecimento não prova que a lgo
seja ma ligno. Uma coruja consegue enxergar durante a noite . Isso a torna ma ligna
porque as pessoas não conseguem enxerga r você enquanto a coruja consegue ? A
limitação de uma pessoa não confere pervers idade para outra . Isso mostra apenas uma coisa : a ex istência de l imitações .
— Mas todos os descendentes de Lorde Rahl são assim?
Ela pensou cuidadosamente antes de r esponder .
— Aqueles que são genuinamente não dotados são . Aqueles que nascem
151
com pelo menos algum pequeno aspecto do Dom não são . Esse aspecto pode ser tão
inf inites ima l e inut i l izável que sua existência não ser ia ao menos r econhecida por
alguém de qua lquer outra forma além dessa . Para todos os efeitos práticos , esses
descendentes ser iam considerados como não dotados , exceto que eles t er iam essa qua lidade que impedir ia que eles fossem como você, ―buracos no mundo‖ . Isso
também os torna vulneráveis . Esse t ipo de descendente pode ser encontrado através de
magia e assim eliminado.
— Poderia ser que a maior ia dos descendentes de Lorde Rahl seja m
assim, e aqueles como eu, ―buracos no mundo‖ , na verdade sejam os ma is raros?
— S im. — Althea admit iu suavemente.
Jennsen sent iu uma sut i l corrente de tensão na r esposta s imples com apenas
uma palavra .
— Está suger indo que tem mais alguma co isa nisso tudo além de que
simplesmente somos ―buracos no mundo‖ para os dotados ?
— S im. Essa foi uma das razões pelas qua is eu fu i estudar com as Irmãs da
Luz. Queria entender melhor o corr elação do Dom com a vida como nós conhecemos,
com a Criação.
— Descobr iu alguma co isa ? As Irmãs da Luz foram capazes de a judar
você?
— Infelizmente , não. — Althea f icou olhando para o va zio, em r ef lexão.
— Poucos concordam, se é que alguém concordar ia comigo , mas eu comecei a
suspeitar que todas as pessoas , apenas com a exceção daqueles como você, descendentes de um Lorde Rahl nascidos completamente sem o Dom, possuem essa
centelha imperceptível de magia que, embora seja intangível de todas as outras
formas, os conecta aos dotados , e assim ao mundo ma is amplo da Criação .
— Não entendo o que isso significar ia para mim , ou para qualquer outra
pessoa .
Althea balançou a cabeça lentamente.
— Tem mais co isa nisso do que eu conheço , Jennsen. Suspeito que existe
algo muito ma is importante envolvido . Jennsen não conseguia imaginar o que poder ia ser .
— Quantos descendentes nasceram completamente sem o Dom?
— Até onde aprendi, é extr emamente raro que ma is de um descendente de
cada Lorde Rahl nasça com o Dom, do jeito como nós o conhecemos, a semente dele
concebe apenas um herdeiro verdadeiro . — Althea levantou um dedo enquanto curvava
o corpo para frente. — Mas é possíve l que , enquanto os outros sejam não dotados no
sentido convenciona l, muitos t enham esse centelha invis ível e estér i l do Dom de modo
que eles são detectados e destruídos antes que outros , como eu, saibam a r espeito deles.
— É inteiramente possível que aqueles como você se jam os realme nte
raros , assim como o único herdeiro formalmente dotado , e foi por isso que você
sobreviveu para que aqueles como eu notassem, desse modo modif icando a nossa ideia
de qual espécie é rara , e qua l é comum. Como eu disse, acho que tem muito mais nisso do que eu sei ou posso compreender . Mas aqueles que são r ealmente como você,
desprovidos até mesmo dessa quase imperceptível centelha do Dom, todos são. . .
— Pilar es da Criação. — Jennsen falou, de modo sarcástico.
Althea r iu.
— Talvez isso soe melhor .
— Mas para os dotados , nós somos ―buracos no mundo‖ .
O sorr iso de Althea desapareceu.
— Isso mesmo . Se Adie est ivesse aqui, cega como ela é, com os olhos, e
enxergando apenas com o Dom dela , caso você f icasse parada na fr ente dela , ela
enxergar ia tudo, menos você. Estar ia cega para você. Para Adie, capaz de ver apenas
com o Dom, você r ealmente ser ia um ―buraco no mundo‖ .
152
— Isso não faz com que eu me sinta muito bem a respe ito de mim
mesma .
O sorr iso de Althea retornou.
— Não está vendo , cr iança? Isso prova apenas a limitação. Para alguém
que é cego, todos são ―buracos no mundo‖ . Jennsen r ef letiu sobre aquilo.
— Então , é apenas uma questão de percepção. Algumas pessoas
simplesmente não possuem a habil idade de perceber a minha existência de uma forma limitada .
Althea confirmou balançando a cabeça uma vez .
— Isso mesmo . Mas pelo fato de que aqueles com o Dom geralmente usa m
sua habilidade sem pensamento consciente , como você usa a sua visão, é muito
per turbador para aqueles que possuem o Dom encontrar alguém como você .
— Perturbador? Porque isso é per turbador ?
— É uma co isa est ranha quando os seus sent idos discordam .
— Mas eles a inda podem me enxergar , então porque eu per turbo eles ?
— Bem, imagine se você escutasse uma voz mas não conseguisse ver a
fonte dela . Jennsen não precisava imaginar isso. Entendia muito o quanto isso era
per turbador .
— Ou imagine , — a feit iceira disse. — se você conseguisse me
enxergar , mas quando est icasse o braço para me tocar , a sua mão atravessasse por
mim como se eu não est ivesse aqui . Isso não per turbar ia você?
— Acho que sim. — Jennsen concordou. — Tem mais alguma co isa a
respeito de nós que é diferente ? Além de sermos ―buracos no mundo‖ para aqueles
que possuem o Dom?
— Não sei . É extr emamente raro encontrar alguém como você que ainda
esteja vivo. Embora seja poss ível que outros existam, e uma vez ouvi um rumor de qu e
um vivia com os Curandeiros chamados Raug'Moss, sei apenas de você com cer teza .
Quando Jennsen era muito jovem, ela vis itou os Curandeiros , os Raug'Moss,
com sua mãe.
— Você conhece o nome?
— Drefan foi o nome que disseram, mas eu não sei se isso é verdade.
Mesmo que seja , a probabil idade de que ele ainda esteja vivo ser ia remota . O Lorde
Rahl é o Lorde Rahl. Ele é a sua própria lei . Darken Rahl, como a ma ior ia dos seus
ancestrais , provavelmente gerou muitas cr ianças . Esconder o conhecimento da paternidade de uma cr iança assim é per igoso .
Poucos correm esse r isco, então a ma ior ia da sua espécie foi descoberta e
imediatamente condenada à morte. Os restantes eventualmente acabam sendo
encontrados. Pensando em voz alta , Jennsen perguntou.
— O fato de sermos ass im poder ia ser um t ipo de proteção ? Quando
nascem, a lguns anima is mostram caracter íst icas especiais que a judam eles a
sobreviverem. Cervos, por exemplo, apresentam manchas que os escondem, para qu e
fiquem invis íveis para predadores, isso transforma eles em ―buracos no mundo‖ .
Althea sorr iu cons iderando a ideia .
— Imagino que essa poder ia ser uma explicação tão boa quanto
qualquer outra . Porém, conhecendo a magia , eu dir ia que a razão deve ser ma is
complexa. Tudo busca equil íbr io. O cervo e os lobos encontram equilíbr io, as manchas
dos cervos ajudam eles a sobreviverem, mas isso ameaça a ex istência de lobos qu e
precisam de comida . Coisa assim apresentam ida e retorno . Se os lobos devorassem todos os cervos , então os cervos ser iam extintos e os lobos , se não t ivessem outra
fonte de alimento, também ser iam ext intos porque a lteraram o equil íbr io entr e eles e
os cervos. Eles coexistem em um equilíbr io que permite que as duas es pécies
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sobrevivam, mas ao custo de a lguns indivíduos .
— Com a magia , o equil íbr io é cr ít ico. O que na super f ície pode parecer
simples geralmente acaba apresentando causas muito ma is complexas . Eu suspeit o que, com pessoas como você, uma elaborada forma de equil íbr io esteja sendo
alcançada , e que ser um ―buraco no mundo‖ é meramente uma indicação secundária .
— E talvez uma parte do equilíbr io seja que , da mesma forma como os
cervos são capturados independente de suas manchas , a lguns com o Dom conseguem
me enxergar? A sua irmã falou que você consegue ver os ―buracos no mundo‖ .
— Não, na verdade eu não cons igo. Eu simplesmente aprendi alguns truques
com o Dom, de modo parecido como Adie fez. — Jennsen franziu a t esta , sent indo-s e
confusa novamente, então Althea perguntou. — Você consegue enxergar uma ave
em uma no ite sem lua?
— Não. Se não houver pelo menos a lua , isso é imposs ível.
— Imposs ível? Não, não completamente. — Althea apontou para o céu ,
movendo sua mão como se est ivesse suger indo algo passando logo acima. — Você
verá as est relas ficarem escuras no lugar onde a ave passa . Se observar os buracos
no céu, de cer to modo você estará vendo as aves .
— Apenas uma maneira diferente de enxergar . — Jennsen sorr iu ao
perceber uma noção tão inteligente . — Então , é assim que você vê pessoas como eu ?
— Essa comparação é o jeito mais fácil que eu posso explicar isso para
você. Entr etanto, as duas coisas possuem limitações . Isso só funciona para ver as aves
durante a noite se elas est iverem voando contra um fundo de es tr elas, se não houver
nuvens, e assim por diante. Com pessoas como você, acontece coisa parecida . Eu
simplesmente aprendi um truque para me ajudar a ver pessoas como você , mas isso é bastante l imitado.
— Quando você fo i até o Palácio dos Profetas , aprendeu sobre a sua
habil idade para profecia ? Talvez isso pudesse, de a lgum modo, ajudar com aquilo qu e eu preciso fazer?
— Nada relacionado com profecia ser ia de a lguma ut i l idade para você .
— Mas porque não?
Althea jogou a cabeça para frente, como que para quest ionar se Jennsen
estivera ou não prestando atenção.
— De onde a pro fecia vem?
— De Profetas .
— E Profetas são fortemente dotados nessa habilidade . A profecia é uma
forma da magia . Mas os dotados não conseguem enxergar você com o Dom, está
lembrada? Para eles, você é um ―buraco no mundo‖ . Sendo assim, a profecia , uma vez que ela surge através de Profetas , também não consegue enxergar você.
— Eu tenho uma leve habilidade para a profecia , mas eu não sou Profeta .
Quando eu estava com as Irmãs da Luz , uma vez que coisa assim eram um dos meus
campos de inter esse, eu passei décadas nas câmaras delas estudando profecia . Elas
foram escr itas por grandes Profetas através das eras . Posso dizer a você tanto por
exper iência própria , quanto por tudo que l i , que as profecias são tão cegas em r elação a você quanto Adie ser ia . De acordo com as profecias , a sua espécie nunca exist iu ,
não existe agora , e jamais exist irá .
Jennsen sentou sobre os calcanhares .
— Realmente um ―buraco no mundo‖ .
— No Palácio dos Profetas , eu conheci um Profeta , Nathan, e, a inda que
não tenha aprendido nada sobre pessoas como você , aprendi um pouco a r espeito do
meu talento. Em maior par te, apenas aprendi o quanto ele é l imitado . Eventualmente,
as coisas que eu aprendi al i vieram me assombrar .
— O que você quer dizer?
— O Palácio dos Profetas fo i cr iado há muitos milhares de anos e não
é como nenhum outro Palácio. Um feit iço único cerca todo o terr eno do Palácio . Ele
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distorce a maneira como aqueles que estão sob o feit iço envelhecem.
— Então, de algum modo, ele mudou você ?
— Oh, sim. Ele muda todos . O envelhecimento é r etardado para aqueles que
vivem sob o feit iço do Palácio dos Profetas .
Enquanto as pessoas fora do Palácio seguem suas vidas e envelhecem,
grosso modo, dez ou quinze anos , aqueles que estão no Palácio envelhecem apenas u m ano.
Jennsen exib iu uma careta desconfiada .
— Como uma co isa assim poder ia acontecer?
— Nada jama is permanece do mesmo jeito . O mundo está sempre mudando.
O mundo durante a grande guerra três mil anos atrás era muito difer ente. o mundo mudou desde então. Quando a grande barreira ao sul de D'Hara foi erguida , os magos
eram difer entes . Tinham vasto poder , naquela época .
— Darken Rahl t eve vasto poder .
— Não. Darken Rahl, independente do quanto foi poderoso , era nada
comparado aos magos daquele tempo. Eles podiam controlar poderes com os quais Darken Rahl apenas sonhava .
— Então , magos como aqueles , com aquele t ipo de vasto poder , morreram
todos? Não houve o nascimento de magos como eles desde aquela época ? Althea olhou para o vazio enquanto r espondia com um tom grave .
— Desde aquela grande guerra não houve o nascimento de algum mago
como aqueles . Até mesmo os própr ios magos passaram a nascer com menos e menos
frequência . Mas pela pr imeira vez em três mil anos , um como aqueles nasceu. O seu
meio- irmão, Richard, é um homem assim. Acabou que o perseguidor dela era ma is terr ível do que Jennsen ha via
acreditado, a té mesmo em sua tão vívida imaginação . Não era surpresa que sua mãe foi
assassinada e os homens de Lorde Rahl estivessem tão per to nos calcanhares de
Jennsen. Esse Lorde Rahl era muito ma is poderoso e per igoso do que seu pai havia sido.
— Já que esse era um evento especial em uma época , a lgumas das
pessoas no Palácio dos Profetas sabiam de Richard muito tempo antes de ele nascer .
Havia grande expectativa com esse indivíduo , esse Mago Guerr eiro.
— Mago Guerreiro? — Jennsen não gostou nem um pouco do som daquilo .
— S im. Havia muita controvérs ia sobre o s ignif icado da profecia do
nascimento dele, a té mesmo a r espeito do s ignif icado do termo ―Mago Guerr eiro‖ .
Enquanto eu estava no Palácio , eu t ive uma chance em duas breves ocasiões de encontrar o Profeta que mencionei , Nathan. Nathan Rahl.
Jennsen f icou de boca aber ta .
— Nathan Rahl? Está querendo dizer , um verdadeiro Rahl?
Althea sorr iu não apenas por causa da lembrança , mas com a surpresa de
Jennsen.
— Oh, sim, um verdadeiro Rahl. Controlador , poderoso, esper to, charmoso,
e inconcebivelmente per igoso. Eles o mant inham preso atrás de escudos de magia
impenetráveis , onde não podia causar danos , e mesmo assim, às vezes ele conseguia . Sim, um verdadeiro Rahl. Ele também t inha ma is de novecentos anos .
— Isso é impossível. — Jennsen insist iu antes que t ivesse tempo de pensar
melhor a respeito. Fr iedr ich, parado per to dela , emit iu um som com a garganta . Ele entr egou
uma xícara fumegante de chá para sua esposa e então entr egou uma para Jennsen. Com
a pergunta nos olhos , Jennsen olhou de volta para Althea.
— Eu tenho quase duzentos anos. — Althea disse.
Jennsen f icou apenas olhando. Althea parecia idosa , mas não tão idosa .
— Em parte , essa coisa a respeito de minha idade e o feit iço que r eduziu
meu envelhecimento foi como eu acabei envolvida com você e sua mãe , quando você
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era pequena . — Althea suspirou pesadamente e bebeu um gole de chá . — O que me
t raz de vo lta para a histór ia em questão , para aquilo que você quer saber , porque eu
não posso a judá- la com magia .
Jennsen bebeu, então olhou para Fr iedr ich, que parecia quase tão velho
quanto Althea.
— Você também tem essa idade ?
— Não, — e le br incou. — Althea me roubou do berço.
Jennsen viu os olhares entr e eles , o t ipo de olhares ínt imos entr e duas pessoas que eram próximas . Jennsen podia ver nos olhos desses dois que eles
conseguiam ler cada leve expressão um do outro . Ela e sua mãe eram assim, capazes
de ver pensamentos no ma is leve movimento dos olhos uma da outra . Era o t ipo de comunicação que ela pensava ser facil itada não apenas pela familiar idade , mas através
do amor e do r espeito.
— Conheci Friedr ich quando r etornei do Mundo Ant igo. Eu t inha
envelhecido aproximadamente o menos que Fr iedr ich. Vivi um tempo muito ma is
longo, é claro, mas o meu corpo não t inha envelhecido para mostrar isso porque eu
estivera sob o feit iço do Palácio dos Profetas .
— Quando eu vo ltei , f iquei envolvida em vár ias coisas , e uma delas era
como eu poder ia ajudar pessoas como você.
Jennsen captava cada palavra .
— Fo i quando conheceu minha mãe ?
— S im. Veja bem, o feit iço no Palácio, o feit iço que alterou o tempo, fez
surgir uma ideia sobre como eu poder ia ajudar pessoas como você. Eu sabia que os
meios comuns de lançar teias, magia, ao redor de pessoas da sua espécie parecia nunca
funcionar . Outros tentaram mas falharam; os descendentes eram mortos . AO invés
disso, eu t ive a ideia , de lançar uma teia , não sobre você, mas naqueles que entrava m
em contato com você e com sua mãe. Jennsen inclinou para frente, na expectativa , sentindo a cer teza de que
fina lmente ela estava chegando ao núcleo daquilo que poder ia provar ser a ajuda que
ela buscava .
— O quê você fez? Que t ipo de magia?
— Usei magia para alt erar a percepção das pessoas do próprio tempo .
— Não entendo . O que isso fez?
— Bem, a única maneira com que Darken Rahl podia procurar você era
como eu expliquei, usando meios comuns . Eu alter ei esses meios comuns. F iz com qu e aqueles que sabiam a respeito de você percebessem o tempo de modo difer ente .
— Ainda não entendo . Como.. . o quê. . . você fez eles perceberem? O tempo
é o tempo.
Althea curvou-se para frente com um sorr iso de esper teza .
— Fiz eles pensarem que você t inha acabado de nascer .
— Quando?
— O tempo todo . Sempre que eles achavam alguma not ícia sobre você ,
como uma cr iança gerada por Darken Rahl, eles percebiam você, e r eportavam você,
como r ecém nascida . Quando você t inha dois meses , dez meses, quatro anos, c inco
anos, seis anos de idade, todos eles ainda estavam procurando por uma r ecém nascida , a despeito de quanto tempo eles f icavam sabendo de você . O feit iço r etardava a
percepção deles sobre o tempo, apenas em relação a você , de modo que eles estava m
sempre procurando por um bebê r ecém nascido , ao invés de uma em crescimento.
— Desse modo , a té você completar seis anos , escondi você bem debaix o
dos nar izes deles . Isso alterou os cálculos de todos em seis anos . Naquele tempo,
qua lquer um que susp eitasse da sua existência acreditar ia que você estava com aproximadamente quatorze anos , quando na verdade estava com mais de vinte , porqu e
eles pensavam que você era uma r ecém nascida quando o feit iço acabou , quando você
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estava com seis anos . Foi quando eles começaram a marcar a sua idade.
Jennsen levantou sobre os joelhos .
— Mas isso poder ia func ionar . Só precisa fazer isso outra vez . Se você
lançasse um feit iço como aquele para mim agora , como fez quando eu era pequena ,
funcionar ia da mesma maneira , não funcionar ia? Então eles não saber iam que eu
estava cr escida . Não estar iam me caçando. Estar iam procurando por uma r ecém nascida . Por favor , Althea, s implesmente faça aquilo de novo. Faça o que você fez
antes.
Com o canto dos olhos , Jennsen viu Fr iedr ich, agora sentado em seu banco
em um quarto dos fundos , olhar para outro lado. Pela expressão no rosto de Althea, Jennsen soube que de a lgum modo t inha fa lado a coisa errada , e precisamente o que a
feit iceira planejara que ela fa lasse. Jennsen percebeu que isso foi a lgum tipo de
armadilha , e ela acabara de cair dir eto nela .
— Eu era jovem e mestra em minha habil idade com a magia , — Althea
disse. Em seus olhos escuros br i lhava a centelha da r ecordação daquela grande época
em sua vida . — Em milhares de anos , poucos haviam cruzado a grande barreira e
retornado. Eu fiz isso, havia estudado com as Irmãs da Luz , t ive audiências com a
Prelada delas , e com o grande Profeta . Rea lizei coisas que poucos t inham feito . Estava com mais de cem anos de idade e a inda era jovem , com um belo e charmoso marido
que acreditava que eu podia caminhar até a lua e voltar se assim eu desejasse .
— Estava com mais de cem anos de idade , e a inda jovem, com toda uma
vida diante de mim; sábia com a idade, e ainda jovem. Eu era tão esper ta , oh, tão
esper ta , e poderosa com meu Dom. Eu era experiente, sábia , e atraente, com muitos
amigos e um círculo de pessoas que valor izavam cada pronunciamento meu. Com longos dedos graciosos , Althea levantou a bainha da saia , descobrindo
suas pernas .
Jennsen r ecuou diante daquela visão.
Então, ela viu , porque Althea não levantara ; suas pernas estavam secas , deformadas, ossos enrugados cobertos com uma seca forma de carne pálida , como s e
elas t ivessem morr ido anos atrás , mas não foram enterradas porque o r esto de la a inda
estava vivendo. Jennsen não sabia como a mulher conseguia evitar gr itar em constant e angúst ia .
— Você t inha seis anos , — a feit iceira disse com uma voz terr ivelment e
calma e suave. — quando Darken Rahl f inalmente descobriu o que eu t inha feito . Ele
era um homem muito engenhoso. Muito ma is esper to, como acabou mostrando, do que
uma jovem feit iceira com cem anos de idade.
— Só t ive tempo de pedir para minha irmã avisar a sua mãe , antes qu e
ele me pegasse.
Jennsen lembrou da fuga . Quando era pequena, ela e sua mãe fugiram do Palácio. Era noite. oi pouco depois que um visitante apareceu na porta delas . No
corredor escuro, houve sussurros .
E então elas fugiram.
— Mas , ele. . . não matou você? — Jennsen engoliu em seco. — Mostrou
miser icórdia, poupou a sua vida .
Althea r iu sem mostrar humor . Foi uma r isada vazia por encontrar uma noção profundamente ingênua .
— Nem sempre Darken Rahl acredita em s implesmente matar aqueles que o
desagradam. Ao invés disso, ele pr efer ia que eles vivessem um longo tempo ; a mort e
ter ia sido uma liber tação, você entende. Se estivessem mortos , como poder iam sent ir o
arrependimento, como poder iam sofr er , como poder iam servir de exemplo para outros ?
— Você não consegue imaginar , e eu não conseguir ia ao menos começar a
falar , sobre o terror de tal captura , da longa caminhada para ser levada diante dele ,
daquilo que r epresentava estar nas garras daquele homem, sobre como foi olhar no rosto calmo dele, em seus fr ios olhos azuis , e saber que você estava dependendo da
piedade de um homem que não t inha piedade a lguma . Você não pode imaginar como
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foi saber naquele s imples e t err ível instante, que tudo que você era , tudo que t inha ,
tudo por que t inha esperança na vida , estava prestes a mudar para sempre.
— A dor era o que você poder ia esperar , eu suponho. Talvez minhas
pernas possam atestar parcialmente isso .
— S into muito , — Jennsen sussurrou em meio às lágr imas , com as mãos
sobre o coração.
— Mas a dor não fo i o pior . Nem de longe foi o p ior . Ele t irou tudo que eu
t inha, mas t irou de verdade. Fez com o meu poder , com o meu Dom, p ior do que fez com minhas pernas . Você s implesmente não consegue ver isso, você é cega para isso .
Todos os dias , eu vejo. Isso dói, eu garanto, você não pode ao menos começar a
imaginar .
— Porém, mesmo tudo isso não era o bastante para Darken Rahl. O
desgosto dele com aquilo que eu t inha feito para esconder você estava apenas
começando. Ele me baniu, aqui, para esse lugar alagado, horr ível, de nascentes ardentes e vapores nauseantes . Apr is ionou-me aqui, espalhando ao meu r edor u m
pântano com monstruos idades cr iadas pelo mesmo poder que arrancou de mim . Ele
quer ia que eu f icasse per to. Várias vezes ele me visitou , só para me contemplar em
minha pr isão.
— Estou à mercê daquelas co isas que receberam vida de meu pró pr io
Dom, um Dom ao qual eu não tenho ma is acesso . Eu nunca poder ia me arrastar para
fora daqui usando apenas meus braços , mas mesmo se eu tentasse, ou se t ivesse a juda
de outra pessoa , aquelas bestas , cr iadas a par tir do meu próprio poder , me rasgar ia m
em pedaços. Não posso chamar eles de volta nem mesmo para salvar a minha vida .
— E le deixou um caminho, lá na frente , para que provisões e supr imentos
pudessem entrar , para que eu cer tamente r ec ebesse as coisas de que preciso. Fr iedr ich
teve que constru ir uma casa para nós, aqui , porque eu jamais posso par tir . Darken Rahl desejou para mim uma longa vida, uma vida que eu pudesse passar sofr endo por
desagradá- lo.
Jennsen tr emeu enquanto escutava , incapaz de dizer qua lquer cos ia . Althea levantou uma das mãos par a aponta com um longo dedo em dir eção ao quar to nos
fundos.
— Aquele homem , que me ama, teve que assist ir tudo isso. Fr iedr ich
também foi condenado a uma vida cuidando de uma esposa invá lida que ele amava ,
que não podia mais ser uma esposa para ele no sen t ido da carne.
Ela passou uma das mãos sobre os membros ossudos , car inhosamente, como se estivesse vendo eles como foram um dia .
— Nunca mais t ive a alegr ia de estar com meu mar ido do jeito como
uma mulher fica com um homem . Meu marido nunca mais foi capaz de comparti lhar
e aproveitar os encantos ínt imos da mulher que ele ama .
Ela fez uma pausa para recuperar a compostura antes de prosseguir .
— Como parte da minha punição , Darken Rahl me deixou com o poder
para usar o meu Dom da única maneira que me assomb rar ia todos os dias : profecia .
Jennsen não conseguiu evitar perguntar , achando que aquilo devia ser uma fagulha de possível confor to que r estara para a mulher .
— Isso é parte do seu Dom. Isso não pode t razer alguma alegr ia para
você?
Olhos escuros fixaram-se nela outra vez.
— Você gostou do últ imo dia com a sua mãe, o dia anter ior ao dia em
que ela morreu?
— S im. — Jennsen fa lou com f irmeza .
— Você riu e conversou com ela?
— S im.
— E se você soubesse que no dia seguinte ela ser ia assassinada ? E s e
você visse tudo isso, muito antes de acontecer ? Dias, semanas, ou até mesmo anos
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antes? Saber o que acontecer ia , quando, cada horr ível deta lhe?
Ver , a través do poder da sua magia , essa visão horr ível , o sangue, a agonia ,
a morte. Isso alegrar ia você? Você ainda exper imentar ia aquela alegr ia , aquelas
r isadas?
Jennsen r espondeu baix inho. — Não.
— Então, você está vendo , Jennsen Rahl, que não posso ajudá - la , não
porque sou egoísta , como você af irmou, mas porque mesmo se eu desejasse, não ter ia
poder r estante para lançar um feit iço para você . Deve encontrar dentro de s i a
habil idade para ajudar a si mesma , o desejo de r ealizar aquilo que deve. Apenas dess e jeito você pode verdadeiramente obter sucesso na vida .
— Não posso dar a você um feit iço para reso lver seus probl emas .
Passei grande par te da minha vida sofr endo por causa do ú lt imo feit iço que lancei para você. Se fosse apenas eu , suportar ia isso sem reclamar , pois estava fazendo aquilo em
que acreditava ; isso é culpa de um homem maligno, não de uma cr iança inocente .
Mesmo ass im eu sofro todos os dias porque não foi apenas a minha vida pena lizada , mas a de Fr iedr ich também. Ele deve ter . . .
— Eu não devo ter nada . — e le t inha aparecido at rás de Jennsen. —
Tenho considerado cada dia da minha vida um pr ivilégio porque você faz parte
dele . O seu sorr iso é o sol , dourado pelo próprio Criador , e i lumina a minha pequena
existência . Se esse é o pr eço por tudo que eu ganhei , então eu pago com prazer . Não desvalor ize a qualidade da minha a legr ia , Althea, minimizando-a ou tornando-a
tr ivia l.
Althea olhou de volta para Jennsen.
— Está vendo? Essa é a minha tor tura diária : saber o que não tenho s ido
capaz de ser , de fazer , para esse homem.
Jennsen murchou, soluçando, aos pés da mulher .
— A magia , — Althea sussurrou lá de cima. — é um problema do qua l
você não precisa .
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C A P Í T U L O 2 4
Os pensamentos de Jennsen estavam perdidos em um nevoeiro miserável . O pântano só estava ali porque ele estava sob os seus pés , ao r edor dela , acima dela , mas
sua mente estava em uma confusã o ma is emaranhada do que todas as coisas r etorcidas
em volta dela . Tantas coisas nas qua is acr editava acabaram mostrando ser em erradas .
Isso signif icava não apenas que muitas das suas esperanças estavam perdidas , mas qu e as soluções também estavam.
Pior a inda, Jennsen est ivera cara a cara com a dor , desgraça, e o sofr iment o
que sua existência acabou causando a outros que tentaram ajudá - la . Através das lágr imas ela mal conseguia ver o caminho . Movia-se quase
cegamente no meio da lama .
Tropeçou a lgumas vezes , rastejou quando caiu , soluçando com grande agonia quando fazia uma pausa , apoiada pelo ga lho de uma velha árvore r etorcida . Era
como o dia do assassinato de sua mãe r epet indo, a angúst ia , a confusão, a insanidade
de tudo isso, o amargo desespero, mas des sa vez pela vida tor turada de Althea.
Camba leando pela densa vegetação, Jennsen agarrou vinhas para conseguir apoio enquanto chorava . Desde a morte de sua mãe, encontrar as feit iceiras e
conseguir a ajuda delas deu uma dir eção para a vida de Jennsen, um objet ivo. Agora
ela não sabia o que fazer . Sent ia-se perdida , no meio de sua vida . Jennsen seguiu caminho através de uma á rea onde fumaça escapava de
fissuras. Ao redor dela , vapores fur iosos emergiam enquanto eram liberados do solo
em nuvens. Passou com dif icu ldade ao r edor dos r espiradouros e r etornou para dentro
da vegetação espessa . Arbustos espinhosos arranhavam suas mãos , largas folhas chicoteavam em seu rosto. Alcançando uma escura poça da qual lembrava vagamente ,
Jennsen arrastou os pés pela projeção, segurando em pedras como apoio , chorando
enquanto seguia caminho pela borda . Pedras esfarelaram e soltaram nas mãos dela . Ela lutou para manter o equil íbr io enquanto tentava alcançar outro ponto de apoio para as
mãos, agarrando em um lugar bem em tempo de evitar uma queda .
Espiou por cima do ombro, a través da visão borrada , a extensão de água escura . Jennsen imaginou se poder ia ser melhor se ela caísse , melhor ser engolida nas
profundezas e acabar com isso. Parecia um doce abraço, um f ina l suave para tudo isso.
Parecia a paz que ela buscava . Paz finalmente.
Se ela pudesse s implesmente morrer ali , naquele exato lugar , a batalha imposs ível estar ia acabada . A dor e a tr isteza estar iam acabadas . Talvez então, ela
pudesse estar com sua mãe e os outros bons esp ír itos no Submundo.
Porém, ela duvidava que os bons espír itos aceitassem pessoas que comet ia m suicídio. Tirar uma vida , a não ser para defender a vida , era errado. Se Jennsen
desist isse, tudo que sua mãe t inha feito, todos os sacr if íc ios dela , ser ia por na da. A
mãe dela , aguardando na eternidade, poder ia não perdoar Jennsen por jogar sua vida fora .
Althea também havia perdido quase tudo para ajudá - la . Como Jennsen
poder ia ignorar ta l bravura, não somente de Althea, mas de Fr iedr ich também? A
despeito do quanto estivesse sent indo-se miseravelmente r esponsável , não poder ia jogar sua única vida fora .
Entr etanto, ela sent iu como se t ivesse roubado a chance de viver de Althea.
Independente do que a mulher disse, Jennsen sent iu uma sensação de ardente vergonha por causa do que Althea sofr era . Althea ficar ia apr isionada nesse pântano miserável
para sempre, a cada dia pagando o preço de ter t entado esconder Jennsen de Darken
Rahl. A mente de Jennsen podia estar dizendo a ela que isso era feito de Darken Rahl,
mas seu coração dizia o contrár io. Althea jama is t er ia sua própr ia vida de volta , nunca ma is ser ia l ivr e para caminhar , livr e para ir aonde desejasse, l ivr e para ter a alegr ia de
seu próprio Dom.
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Afinal de contas que dir eito Jennsen t inha de esperar que os out ros a
ajudassem? Porque outros dever iam sacr if icar sua vida , sua l iberdade, pelo bem dela ?
O que dava a ela o dir eito de pedir ta l sacr ifíc io deles ? A mãe de Jennsen não foi a
única a sofr er por causa dela . Althea e Fr iedr ich estavam acorr entados ao pântano, Lathea foi assassinada , e agora Sebastian estava pr isioneiro. Até mesmo Tom,
esperando por ela lá em cima na campina , colocou de lado o seu ganha pão para vir
a judá-la . Tantas pessoas tentaram a judá - la e pagaram um preço terr ível . De onde ela
t irou a ideia de que podia comprometer out ras pessoas por causa dos seus desejos ?
Porque eles dever iam abrir mão de suas vidas e necess idades por causa das necessidades dela ? Mas como poder ia seguir adiante sem a ajuda deles ?
Livre da projeção e da profunda p iscina , Jennsen andou com dif icu ldade por
um inf inito emaranhado de raízes . Parecis que elas prendiam seus pés
deliberadamente. Duas vezes , ela ca iu esparramada . Duas vezes ela levantou e continuou.
Na terceira vez em que ela caiu , bateu com o rosto tão for te qu e a dor a
deixou tonta . Jennsen passou os dedos sobro o osso da bochecha , na testa , pensando que cer tamente a lguma coisa devia estar quebrada . Não encontrou sangue, nem
qua lquer osso saliente. Deitada ali entr e raízes que pareciam tantas cobras enroladas
ao redor dela , sent iu vergonha por todos os problemas que causou para as vidas daquelas pessoas .
E então ela sentiu raiva .
Jennsen.
Lembrou das pa lavras de sua mãe : “Nunca use uma capa de culpa porque
eles são, malignos” . Jennsen levantou apoiada sobre os braços. Quantos outros deviam ter
tentado ajudar pessoas como Jennsen, descendente de um Lorde Rahl, e pagaram com
suas vidas? Quantos ma is pagar iam? Porque deviam pagar , como Jennsen, sem ter em
suas próprias vidas? Era Lorde Rahl quem carregava a resp onsabil idade por vidas arruinadas .
Jennsen. Entregue.
Isso não va i parar nunca?
Grushdeva du kalt misht.
Sebast ian era apenas o ma is recente. estar ia ele sendo tor turado naquele
exato momento por causa dela ? Estar ia ele também pagando com sua vida , por a judá-la?
Entregue.
Pobre Sebastian. Sentiu uma pontada de saudade dele . Ele foi tão bom para
ela . Tão corajoso. Tão for te.
Tu vash misht. Tu vask misht. Grushdeva du kalt misht.
A voz, ins istente, dando ordens , ecoava na cabeça dela , sussurrando as palavras que não faziam sent ido.
Ela levantou. Ela nunca conseguir ia t er sua própria vida, nem mesmo sua
própria mente? Ela devia ser perseguida sempre, por Lorde Rahl, pela voz?
Jenn. . .
161
— Me deixe em paz !
Precisava ajudar Sebastian.
Ela estava em movimento outra vez, colocando um pé na fr ente do outro ,
empurrando videiras, folhas e galhos , cor tando através dos arbustos . A neblina
espessa e a densa cobertura de folhas deixava tudo escuro como o anoitecer . Não t inha ideia alguma da hora . Deve ter leva do muito tempo para chegar até a casa de Althea.
Ela esteve lá durante um longo tempo. Pelo que Jennsen sabia , poder ia estar per to do
fina l do dia . Na melhor hipótese, não podia estar mais cedo do que o f inalzinho da tarde. Tinha horas antes de conseguir v oltar a té a campina onde Tom esperava .
Veio buscar ajuda , mas aquela a juda foi uma ilusão inventada em sua
própria mente. Contou com sua mãe durante toda sua vida , e então esperou que Althea fosse ajudá- la . Tinha que aceitar que dependia dela fazer o que e ra necessár io para
ajudar a si mesma .
Jennsen. Entregue.
— Não! Me deixe em paz !
Estava tão cansada de tudo isso. Agora também estava fur iosa .
Jennsen precipitou -se adiante através do pântano, esp irrando água , pisando
em raízes e pedras quando elas estavam disponíveis . Precisava ajudar Sebast ian. Tinha que voltar para buscá -lo. Tom estava esperando. Tom a levar ia de volta .
Mas e depois? Como ir ia t irar ele de lá ? Estava dependendo de Althea para
ajudá-la com algum tipo de magia . Agora ela sabia que não poder ia haver ta l a juda . Ofegante com o es forço de corr er pelo pântano , ela parou repent inamente
quando chegou até o local com a água onde a cobra est ivera . Jennsen observou a
si lenciosa extensão de água , mas não viu coisa alguma . Nenhuma raiz que na verdad e
fosse uma cobra projetava -se acima da superfície. Estava f icando escuro. Não conseguia dizer se a lguma coisa espreitava nas sombras sob folhas que pendiam acima
dos bancos de terra .
A vida de Sebastian estava na balança . Jennsen entrou na água . Quando estava na metade do caminho ali dentro , lembrou que prometera a si
mesma que usar ia uma vara para manter o equil íbr io quando r etornasse pela água . Fez
uma pausa , decidindo se devia ou não voltar para cor tar uma vara . Retornar levar ia a
mesma distância que s eguir adiante, então ela cont inuou avançando. Sent indo com os pés, ela encontrou um fundo f irme de raízes , raízes de verdade, e p isou
cuidadosamente por elas . Surpreendentemente, enquanto ela permanecia sobre as
raízes a água subia apenas até seus joelhos e ela conseguia segurar a saia levantada para mantê- la seca enquanto caminhava pela água escura .
Alguma coisa bateu na perna dela . Jennsen encolheu-se. Ela viu o br ilho de
escamas. O pé dela escorregou . Viu com grande alívio que era apenas um peixe afastando-se rapidamente.
Tentando manter o equil íbr io, r ecuperar seu apoio com o pé, Jennsen p isou
pesadamente dentro da profundezas negras sem fundo .
Só teve tempo de uma rápida respirada antes que est ivesse embaixo d’água . A escuridão cercou-a. Ela viu um monte de bolhas enquanto descia .
Surpresa , ela chutou fr enet icamente, t entando encontrar o fundo, a lguma coisa ,
qua lquer coisa , para deter a sua descida . Não havia . estava em águas profundas , sendo arrastada pelo peso das roupas molhadas . Agora, ao invés de fornecer apoio, suas
botas pesadas a arrastavam para baixo .
Jennsen sacudiu os braços , agitando a superf ície apenas tempo bastante para inspirar um pouco de ar antes de f icar submersa novamente . O choque foi apavorante.
Com toda sua força , ela moveu os braços, tentando nadar até a superf ície, mas suas
roupas eram como uma r ede em volta dela , a trapalhando qualquer ação efet iva . Olhos
arregalados de pavor , cabelo vermelho f lutuando. Ela conseguia enxergar feixes da luz fraca ondulando e cint i lando, penetrando as profundezas turvas ao redor dela .
162
Tudo estava acontecendo tão chocantemente rápido . Independente do quanto
tentava agarrar -se à vida , ela estava escorregando através de seus dedos . Não parecia
real.
Jennsen.
Formas moviam-se bem per to em volta dela . Seus pulmões ardiam pedindo ar , Althea disse que ninguém conseguir ia entrar através do pântano por aquele
caminho dos fundos . Havia bestas aqui atrás que rasgar iam pessoas em pedaços .
Jennsen teve sor te uma vez. Nas garras do terror , ela viu uma forma escura mover -s e ma is per to. Ela não ter ia sor te duas vezes .
Não quer ia morrer . Sabia que havia pensado que quer ia , mas agora ela sabia
que não quer ia . Era sua única vida . Sua preciosa vida . Não quer ia perdê- la .
Tentou nadar em dir eção a superf ície , em dir eção a luz, mas tudo parecia tão lento, tão espesso, tão pesado.
Jennsen.
A voz soava urgente.
Jennsen.
Alguma coisa encostou nela . Ela viu br i lhos de verde ir idescente.
Era a cobra . Se pudesse, ela t er ia gr itado. Debatendo-se, mas incapaz de afastar -se, só
conseguia observar enquanto a coisa escura enrolava -se ao r edor dela . Jennsen estava
exausta demais para lutar . Seus pulmões a rdiam pedindo ar enquanto ela via a si mesma afundando através dos feixes de luz , ficando ma is e ma is longe da super f ície ,
da vida . Tentou nadar até aquela luz e ar , mas seus braços pesados apenas balançavam,
como plantas des lizando dentro da água . Isso era surpreendente para ela , uma vez qu e
sabia nadar .
Jennsen.
Agora ela se afogar ia .
Anéis escuros a cercaram.
Com todas as suas roupas , sua grossa capa , sua faca , botas, e tão cansada como estava , sem mencionar a surpresa e seu pouco oxigênio quando r espirou
parcialmente antes de afundar , sua habil idade para nadar havia sido sobrepujada .
Estava doendo.
Tinha pensado que afogar-se ser ia o doce abraço de águas gent is . Não era . Estava doendo ma is do que qua lquer coisa já doera . A sensação de sufocar impotent e
era aterror izante. A dor esmagando seu peito era lancinante e insuportável . Queria que
desesperadamente que isso para sse. Lutou dentro da água combatendo a dor , o pânico, consumida com a urgente necess idade de ar . Sua garganta estava b loqueada , assustada
ela poder ia engolir água , era muito ruim que ela pr ecisasse r espirar .
Estava doendo. Jennsen sent iu os anéis da cobra emba ixo dela , tocando-a, acar iciando-a.
Imaginou se devia ter tentado matá- la quando teve chance. Imaginou que conseguir ia
sacar a sua faca, agora mesmo. Mas ela estava tão fraca .
Estava doendo. Os anéis empurraram contra ela . Na s i lenciosa escuridão, ela havia parado
de lutar . Não havia razão para isso.
Jennsen.
163
Imaginou porque a voz não pedia que ela se entr egasse , do jei to que sempre
fazia . Achou irônico, uma vez que ela f inalmente estava disposta , que a voz não
pedisse, mas apenas chamasse o seu nome.
Jennsen sent iu algo bater em seu ombro. Algo duro. Outra batida em sua cabeça. Então em sua coxa .
Estava sendo empurrada contra o banco de terra onde as raízes mergulhava m
dentro da água . Quase sem perceber o que estava fazendo, agarrou as raízes e puxou com súbito desespero. A coisa embaixo dela cont inuava a empurrá -la para cima
suavemente.
Jennsen a lcançou a superf ície. A água escorreu de sua cabeça em meio a uma repent ina explosão de sons . Com a boca aber ta , ela arfou loucamente absorvendo
o ar . Puxou o corpo para cima o suf iciente para jogar os ombros sobre as raízes
retorcidas . Não conseguiu arrastar o resto do corpo para fora da água , mas pelo menos
sua cabeça estava acima da água , e ela conseguia respirar . Suas pernas balançavam, deslizando, f lutuando na água. Ofegante, de olhos fechados , Jennsen agarrou as raízes
com dedos tr êmulos para impedir que escorregasse de volta para dentro da água . Os
desesperados jatos de ar causaram uma sensação maravilhosa enquanto enchiam os pulmões dela . A cada respirada , ela conseguia sent ir a força retornando.
Finalmente, polegada por polegada , mão diante de mão, puxando-se nas
raízes, ela conseguiu arrastar -se para cima do banco. Caiu de lado, ofegando, toss indo, tremendo, observando a água que es tava apenas a p olegadas de distância .
Sent iu -se inebr iada com a simples alegr ia de respirar .
Então ela viu a cabeça da cobra emergir na superf ície , lentamente,
graciosamente, s i lenciosamente. Olhos amarelos na faixa negra a observaram. Elas olharam uma para a outra dur ante algum tempo.
— Obr igada. — Jennsen sussurrou.
A cobra , t endo visto ela ali na margem, vendo que ela r espirava , vendo qu e ela estava viva , des lizou mergulhando de volta na água .
Jennsen não t inha ideia do que ela pensava , ou porque não tentou matá - la ,
de novo, quando t inha uma chance muito fácil de fazer isso . Talvez, depois da pr imeira vez, pensou que ela ser ia grande demais para comer , ou que r epent inament e
poder ia revidar .
Mas porque ajudá - la? Isso podia ter s ido um s inal de r espeito? Talvez ela simplesmente a enxergasse como uma concorrente por alimento , e queira ela fora do
seu terr itór io mas não quer ia lutar com ela novamente . Jennsen não t inha ideia sobr e
porque ela empurrou-a para a superf ície, mas a cobra salvou a vida dela . Odiava
cobras, e esse salvou-a de morrer afogada . Uma das coisas que ela ma is t emia foi a sua salvação .
Ainda tentando recuperar o fôlego, para não dizer nada a respeito de
recuperar seu raciocínio depois de chegar tão per to de cruzar o Véu para a morte , ela começou a mover -se outra vez, de quatro, rastejando para um lugar mais alto . Água
escorr ia das suas roupas e do cabelo . Não conseguia levantar , a inda, não confiava nas
suas pernas, a inda, então ela rastejou . Pareceu muito bom ser capaz de mover -se. E m pouco tempo, recuper ou-se o bastante para ficar em pé. Precisava cont inuar .
O tempo dela estava esgotando.
Caminhar reviveu-a ma is rápido. Ela sempre gostou de caminhar . Isso fez
ela sent ir -se viva novamente, como a ant iga versão dela . Sabia que quer ia viver . Queria que Sebastian também vivesse.
Bufando através do emaranhado de vinhas e arbustos espinhosos, sobre as
raízes retorcidas e entr e as árvores , a preocupação dela aliviou quando f inalmente chegou ao local onde a rocha começava a subir do terreno lamacento .
Começou a subir a esp inha de pedra , a l iviada por t er encontrado o marco no
pântano sem rastros e por estar saindo da umidade pantanosa ali emba ixo . Nesse
momento estava f icando cada vez ma is escuro e ela lembrou que era uma longa subida . Jennsen desesperadamente nã o quer ia passar a noite no pântano, mas também não
quer ia subir a esp inha de rochas no escuro .
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Aqueles medos est imularam ela a cont inuar . Enquanto ainda houvesse luz
suficiente, pr ecisava seguir em fr ente. Quando tropeçou, ela lembrou como o chão
descia de forma íngreme para os lados em alguns locais . Aler tou a si mesma para ser
ma is cu idadosa . Nenhuma cobra ajudar ia segurando -a se ela ca ísse de um penhasco no escuro.
Enquanto subia , cont inuou pensando em tudo que Althea disse, com
esperança de que a lguma coisa nisso tudo pudesse ajudar . Jennsen não sabia como conseguir ia resgatar Sebastian, mas sabia que precisava tentar , era a única esperança
dele. Ele sa lvou a vida dela , antes; ela precisava salvar a vida dele agora .
Queria desesperadamente ver o sorr is o dele , seus olhos azuis , seu cabelo branco espetado. Não conseguia suportar o pensamento de que eles o est ivessem
tor turando. Precisava t irar ele das garras deles .
Mas como r ealizar ia uma tarefa imposs ível como essa ? Pr imeiro, precisava
voltar lá , ela decidiu. Com sorte, a té lá , ter ia pensado em um jeito.
Tom a levar ia de volta até o Palácio . Tom estar ia esperando, preocupado.
Tom. Porque Tom a judou ela? Essa pergunta surgiu em sua mente como um ponto de r efer ência para uma
resposta , como a espinha de rochas que conduzia para fora do pântano . Ela apenas não
sabia para onde isso conduzia . Tom ajudou-a. Por quê?
Concentrou sua mente nessa pergunta enquanto andava com dif icu ldade na
elevação escarpada . Ele disse que não conseguir ia perdoar a si mesmo se f i casse
observando ela entrar nas Planícies Azrith sozinha , sem supr imentos . Ele disse que ela morrer ia e que ele não poder ia deixar isso acontecer . Esse pareceu um sent imento
bastante decente.
Porém, ela sabia que t inha mais alguma coisa . Ele pareceu determinado em ajudá-la , quase como se est ivesse comprometido com um dever . Ele r ealmente nunca
questionou o que ela precisava fazer , apenas o método dela para fazer isso , então fez o
que podia para ajudá - la .
Tom disse que ela devia fa lar para Lorde Rahl sobre a ajuda dele, que ele era um bom homem. Essa lembrança ficou incomodando ela . Mesmo que fosse u m
comentár io não p lanejado, ele falou sér io. Mas o que ele estava querendo dizer ?
Ela cont inuou r evirando isso em sua mente enquanto subia pelas rochas , entr e as árvores, entr e os galhos e folhas . Anima is, cr iaturas estranhas distantes ,
gr itavam através do ar úmido. Outros, mais distantes ainda , r espondiam com os
mesmos gr itos e assobios que ecoavam. O fedor do pântano subia até ela em ondas quentes de ar .
Jennsen lembrou que T om t inha visto sua faca quando ela estava procurando
a bolsa que foi roubada .
Ela afastou a capa apenas para descobrir que a t ira de couro da sua bolsa de moedas havia sido cor tada . Então ele t inha visto a faca .
Jennsen fez uma pausa na subida e endir eitou o corpo. Será que T om pensou
que ela era algum t ipo de. . . a lgum tipo de r epresentante, ou agente, de Lorde Rahl? Será que Tom pensou que ela estava em uma missão importante em nome de Lorde
Rahl? Será que Tom pensou que ela conhecia Lorde Rahl?
A faca ter ia feito ele pensar que ela era alguém especial ? Talvez fosse a for te determinação dela de prosseguir em uma jornada aparentemente imposs ível .
Certamente ele sabia o quanto ela cons iderava isso importante .
Talvez fosse porque ela disse a el e que essa era uma questão de vida ou
morte. Jennsen cont inuou, agachando sob grossos ga lhos que desciam per to, sobre a
rocha. Do outro lado, ela levantou e olhou ao redor , percebendo que a escur idão
estava descendo rapidamente. Com uma r enovada sensação de urgência , ela subiu a ladeira íngreme.
Lembrou de como Tom olhou para o cabelo vermelho dela . Pessoas
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geralmente f icavam preocupadas a r espeito dela por causa do cabelo vermelho dela .
Muitos pensavam que ela possuía o Dom por causa do cabelo. Muitas vezes encontrou
pessoas que a t emeram por causa do cabelo vermelho . Ela usou esse medo
deliberadamente para ajudar a manter -se em segurança . Na pr imeira noite, com Sebast ian, ela fez ele pensar que t inha algum t ipo de habil idade mágica para protegê-
la se ele t ivesse alguma intenção hosti l . Tinha usado o medo das pessoas para afastar
os homens na hospedar ia . Todas aquelas coisas giravam na mente de Jennsen enquanto ela subia ,
resp irando ofegante com o grande esforço. A escuridão a estava envolvendo. Ela não
sabia se a inda conseguir ia ir adiante em tais condições , mas sabia que precisava tentar . Por Sebastian, t inha que cont inuar em movimento.
De r epente, a lgo escuro levantou , bem diante do rosto dela . Jennsen soltou
um gr ito e quase ca iu quando a coisa escura a fastou-se agitada . Morcegos. Colocou
uma das mãos sobre o coração acelerado . Ele estava batendo tão rápido quanto as assas deles .
As pequenas cr iaturas estavam saindo para caçar os insetos que estavam em
grande quant idade no ar . Então, ela percebeu que devido a sua surpresa , podia facilmente ter recuado
a caído. Era aterror izante pensar como um lapso de atenção no escuro , um susto, uma
pedra solta , ou um escorr egão, podia jogá- la de uma borda da qua l não poder ia haver retorno. Entr etanto, ela sabia que permanecer no pântano poder ia ser tão fatal quant o
isso.
Cansada dos es forços do dia , dos medos r epent inos , ela escalou, tropeçando
no escuro, sentindo as pedras , ta teando seu caminho, t entando permanecer na projeção e não desviar para aquilo que ela sabia que ser iam quedas profundas em ambos os
lados.
Ela também estava preocupada com que t ipo de cr iaturas ainda poder iam sair na escuridão para agarrá -la justamente quando pensava estar quase l ivr e do
pântano.
Althea t inha fa lado que ninguém podia entrar no pâ ntano pelos fundos . Uma
nova preocupação tomou conta dela : ta lvez depois do escurecer , Tom f icasse em per igo. Sob o manto da noite, uma das cr iaturas poder ia aventurar -se para fora do
pântano para agarrar ele. E se ela chegasse a té a campina apenas para descobrir Tom e
seus cavalos mortos pelos monstros cr iados com a magia de Althea? O que ela far ia então?
Tinha preocupações suf icientes . Falou para si mesma que não devia cr iar
novas. Repent inamente Jennsen encontrou campo aber to. Havia uma fogueira
ardendo. Ela f icou olhando f ixamente , t entando ver melhor .
— Jennsen! — Tom pulou e correu até ela . Ele colocou o braço grande em
volta dos ombros dela para apoiá - la . — Queridos espír itos , você está bem?
Ela assent iu , exausta demais para falar . Ele não viu o movimento dela com a
cabeça, ele já estava correndo até a carroça . Jennsen agachou para sentar pesadament e no chão cheio de grama , procurando r ecuperar o fôlego, surpr esa por f inalmente estar
a li, e a l iviada além das palavras por estar livre do pântano .
Tom corr eu de volta com um cobertor .
— Você está toda molhada. — e le falou quando jogava o cobertor em
vo lta dela . — O que aconteceu?
— Eu nadei um pouco .
Ele fez uma pausa no ato de esfr egar o rosto dela com a ponta do cobertor
para exib ir uma careta .
— Não quero fa lar sobre os seus assuntos , mas não acho que isso foi uma
boa ideia .
— A cobra concordar ia com você .
A expressão de surpresa dele aumentou quando seu rosto aproximou do rost o
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dela .
— Cobra? O que aconteceu ali dentro? O que você quer dizer com ―a cobra
concordar ia comigo‖? Ainda lutando para recuperar o fôlego , Jennsen ba lançou uma das mãos ,
colocando o assunto de lado. Ela est ivera com tanto medo de ser capturada lá emba ixo
no escuro que praticamente havia subido correndo a encosta íngreme durante a últ ima hora , a lém do cansaço de todo o r esto . Ela es tava exausta .
O medo de tudo aquilo estava alcançando ela . Seus ombros começaram a
tremer . Então ela percebeu que estava agarrando bem for te o braço musculoso de T om.
Ele pareceu não notar , ou se notava, não falou nada a respeito. Ela afastou -se, independente do quanto parecia bom sent ir a força dele , a
sólida forma confiável dele, a sincera preocupação dele .
Tom aper tou ma is o cobertor em volta dela de modo protetor .
— Conseguiu chegar até a casa de Althea?
Ela assent iu , e quando ele entr egou um cant i l , bebeu avidamente.
— Eu juro , nunca ouvi falar de a lguém já t er r etornado do pântano, a não
ser entrando pelo outro lado quando foi convidado . Viu alguma das bestas?
— Fiquei com uma cobra , ma is grossa do que a sua perna , enrolada em
mim. Dei uma boa olhada nela , uma olhada maior do que eu desejava, na verdade .
Ele soltou um assobio baixo.
— Então, a feit iceira ajudou você? Conseguiu o que precisava dela ? Está
tudo cer to então? — e le parou repent inamente , e pareceu controlar sua cur ios idade.
— Sinto muito. Você está com fr io e molhada . Eu não devia fazer tantas perguntas .
— Althea e eu t ivemos uma longa conversa . Não posso dizer que consegui
aquilo que precisava , mas saber a verdade é melhor do que perseguir i lusões. A preocupação surgiu nos olhos dele e no modo como ele procurava
cer t if icar -se de que o cobertor a estava cobr indo bem.
— Se não conseguiu a ajuda que precisava , então o que irá fazer agora ?
Jennsen sacou a faca , soltando um suspiro pa ra junta r as forças . Segurando a
faca pela lâmina , segurou-a diante do rosto de Tom, para que o cabo fosse i luminado
pela luz do fogo. O metal trabalhado que formava a letra ― R‖ c int i lou como se estivesse coberto de joias. Segurou-a diante de si como um talismã , como uma
proclamação of icia l pronunciada em prata , como um pedido de uma alta pos ição qu e
não poder ia ser negado.
— Preciso vo ltar ao Palácio .
Sem pausa, Tom levantou-a em seus braços grossos , como se ela não foss e
ma is pesada do que um cordeiro, e carregou-a até a carroça . Levantou-a por cima da lateral e colocou-a suavemente na traseira , no meio dos cobertor es .
— Não se preocupe, levarei você de vo lta até lá . Você fez a par te dif íci l .
Agora, apenas descanse nesses cobertor es quentes e deixe que eu a leve de volta . Jennsen estava aliviada em ter as suas suspeitas confirmadas . Porém, de
cer to modo, isso fez com que ela se sent isse su ja , como se caísse no pântano outra
vez. Estava ment indo para ele, usando ele. Isso não era cer to, mas ela não sabia ma is o que fazer .
Antes que ele se afastasse, ela segurou o braço dele .
— Tom, você não tem medo de me ajudar , quando estou envolvida em algo
tão. . .
— Per igoso? — e le concluiu para ela . — O que eu estou fazendo não é
nada comparado com o risco que você correu ali dentro .
Ele apontou para o cabelo vermelho dela .
— Não sou especia l, como você, mas f ico feliz que você permita que eu
faça a pequena par te que eu poder ia fazer .
— Eu não sou nem um pouco especial como você pensa que sou . —
repent inamente ela sent iu-se muito pequena . — Só estou fazendo aquilo que
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devo fazer .
Tom puxou os cobertor es do fundo em dir eção a ela .
— Eu conheço muit as pessoas . Não preciso ter o Dom para dizer que você
é especial.
— Você sabe que isso é um assunto secreto , e que não posso contar a
você o que estou fazendo . Sinto muito, mas não posso.
— É claro que não pode . Apenas pessoas especiais carregam uma arma tão
especia l. Não espero que você diga uma palavra e não peço isso.
— Obr igada , Tom.
Sent indo-se ainda mais detestável por estar usan do ele como estava , e
quando ele era um homem sincero, Jennsen aper tou o braço dele mostrando gratidão .
— Posso dizer que isso é muito importante , e que você está sendo de
grande a juda nisso tudo.
Ele sorr iu.
— Enro le-se nesses cobertores e fique seca . Logo estaremos de volta nas
Planícies Azrith. Caso você tenha esquecido , é inverno lá fora . Molhada como você
está , vai congelar .
— Obr igada , Tom. Você é um bom homem.
Jennsen deitou novamente nos cobertor es , cansada demais com a provação
para ficar sentada mais t empo.
— Conto com você para relatar a Lorde Rahl, — e le disse so ltando sua
r isada fácil. Tom apagou o fogo rapidamente e subiu no assento da carroça .
Sem esperar nada , ele a estava ajudando, em algo que ele t inha de acr editar haver pelo menos a lgum r isco. Ela temia pensar naquilo que eles poder iam fazer com
ele se ele fosse pego ajudando a f i lha de Darken Rahl. Aqui ele pensava que estava
ajudando o Lorde Rahl, e estava fazendo o oposto sem ao menos saber o r isco que estava correndo.
Antes que isso terminasse, ela o colocar ia em um r isco ma ior ainda .
A despeito do medo dela por eles estar em correndo de volta ao Palácio do
homem que desejava matá - la , da ans iedade revirando seu estômago por causa do qu e estava adiante, do desapontamento de fa lhar em obter a ajuda que esperava , da tr isteza
ao aprender tudo que aprendeu com Althea, do fr io que estava fazendo a sua roupa
molhada parecer gelo, e da carroça salt itante, logo Jennsen estava dormindo.
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C A P Í T U L O 2 5
Balançando sobre o assento da carroça, Jennsen observou o imenso p lanalt o aproximando-se cada vez mais . O sol da manhã i luminava os muros de pedra do
Palácio do Povo, transmit indo a eles um brilho pastel . Embora o vento houvess e
diminuído, o ar da manhã cont inuava gelando os ossos . Depois da horr ível podr idão do
pântano, ela dava boas vindas ao cheiro pedregoso do terr eno aber to, seco . Com as pontas dos dedos , Jennsen esfr egou a testa , t entando aliviar a sua
dor de cabeça . Tom conduziu durante toda a noite e ela dormiu nos fundos da carroça
salt itante, mas não muito bem e nem per to do suficiente. Pelo menos ela dormiu u m pouco, e eles voltaram.
— É muito ruim que Lorde Rahl não esteja ali .
Ret irada de seus pensamentos par ticu lares , Jennsen abr iu os olhos .
— O quê?
— Lorde Rahl. — T om apontou para a dir eita , para o su l. — É muito ruim
que ele não esteja aqui para ajudá- la .
Ele apontou para o su l , na dir eção do Mundo Ant igo. Em cer ta ocasião, a mãe de Jennsen t inha falado sobre a l igação que conectava o povo D'Haran com o
Lorde Rahl. Através de sua magia antiga e arcana , os D'Harans de algum modo era m
capazes de sent ir onde o Lorde Rahl estava . Embora a força da l igação var iasse entr e
o povo D'Haran, todos eles comparti lhavam dela em um cer to nível . O que o Lorde Rahl ganhava com a l igação, Jennsen não sabia . Ela achava
que isso era ma is uma forma de corrente de dominação sobre o povo dele . Porém, no
caso da mãe dela , isso a judou elas a evitar as garras de Darken Rahl. De acordo com as descr ições da mãe dela , Jennsen estava ciente da l igação,
mas por alguma razão jamais sent iu nada dela . Talvez aquilo fosse tão fraco nela ,
como acontecia com a lgumas pessoas D'Haran, que ela s implesmente não conseguia sentir . Sua mãe falou que isso não t inha nada a ver com o nível de devoção de uma
pessoa para com o Lorde Rahl, que isso era puramente uma conexão de magia , e, como
tal, isso ser ia governado por cr it ér ios difer entes dos sent imentos dela a respeito do
homem. Jennsen lembrou de algumas vezes quando sua mãe f icava parada na porta
da casa delas , ou na fr ente de uma janela , ou parava na f lor esta , e olhava para o vazio
em dir eção ao horizonte. Jennsen sabia que naqueles momentos sua mãe estava sentindo Darken Rahl através da l igação, onde ele estava , e qual a distância . Era uma
pena que isso indicasse a ela somente onde estava o Lorde Rahl, e não os brutos qu e
ele enviava atrás delas .
Tom, sendo D'Haran, reconhecia aquela l igação com o Lorde Rahl, e acabara de fornecer a Jennsen uma va liosa informação: Lorde Rahl não estava em seu Palácio.
Essa not ícia aumentou as esperanças dela . Era um obstáculo a menos , uma coisa a
menos com a qua l se pr eocupar . Lorde Rahl estava ao su l, provavelmente no Mundo Antigo fazendo guerra
com pessoas de lá , assim como Sebastian falou.
— S im, — e la disse finalmente. — ruim demais .
O mercado abaixo do p lanalto já estava movimentado. Nuvens de poeira
levantavam acima das mult idões reunidas ali e na estrada para o sul . Ela imaginou s e
Irma, a Senhora das Linguiças, estava ali . Jennsen sent ia saudade de Betty. Queria tanto ver a pequena cauda da cabra balançando fur iosamente , ouvir
ela balindo com alegr ia por encontrar -se com sua amiga de uma vida .
Tom direcionou os cava los dele em dir eção ao mercado , para o local onde ele estivera instalado vendendo sua carga de vinho. Talvez Irma fosse para o mesmo
lugar . Jennsen ter ia que deixar Betty novamente para subir pela entrada até o p lana lto.
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Seria uma longa subida em todos aqueles degraus , e então ela precisar ia descobrir
onde Sebastian estava sendo mant ido preso.
Enquanto a carroça sacudia pelo terreno duro das Planícies Azr ith, Jennsen
olhava fixamente para a estrada vazia que serpenteava subindo o lado do planalto.
— Pegue aquela est rada. — e la disse .
— O quê?
— Pegue aquela est rada subindo até o Palácio .
— Tem certeza , Jennsen? Não acho que isso seja uma boa ideia . Ela é
somente para assuntos of iciais .
— Pegue a est rada .
Em resposta , ele fez os cavalos desviarem para esquerda , para longe do
curso deles em dir eção ao mercado, e ao invés disso, em direção à base da estrada .
Com o canto do olho ela viu ele lançar olhadelas para sua passageira inescrutável.
Soldados pos icionados na base do p lanalto, onde a estrada começava sua subida , observaram a aproximação deles . Quando a carroça chegou ma is per to ,
Jennsen sacou a sua faca .
— Não pare. — e la falou para Tom.
Ele olhou para ela .
— O quê? Eu tenho que parar . Eles estão com arcos , você sabe.
Jennsen cont inu ou olhando para frente.
— Apenas cont inue avançando .
Quando chegaram até os soldados , Jennsen exibiu a faca , segurando-a pela lâmina para que o cabo f icasse vis ível acima do punho. Manteve o braço est icado e
firme, apontado para baixo em dir eção ao grupo de homens , para que eles pudessem
ver o que ela estava anunciando. Ela não olhou para eles , mas observou a estrada adiante, mostrando para eles a faca como se não pudesse incomodar -se em falar com
eles.
Cada par de olhos observou o cabo daquela faca com a letra ― R‖ sobre ele quando ele passava br i lhando por seus olhos .
Nenhum deles moveu-se para deter a carroça , ou para preparar uma f lecha .
Tom soltou um assobio ba ixo. A carroça balançou e tremeu enquanto avançava .
A estrada serpenteava enquanto ela seguia seu caminho subindo o p lanalto. Em a lguns lugares havia amplo espaço , mas ocas ionalmente a estrada estr eitava ,
forçando a carroça a des lizar per to da queda estonteante. Cada curva ofer ecia a eles
uma nova vista , uma nova vista da extensão das Planícies Azrith longe lá embaixo. Bem longe as planícies estavam cercadas por montanhas de um azul escuro .
Quando chegaram até a ponte , f ina lmente foram obr igados a parar ; a pont e
estava erguida . A fé dela em s i mesma , e em seu p lano, fraquejou quando percebeu que isso, e não o seu ousado b lefe, provavelmente foi a razão pela qual os soldados lá
emba ixo deixaram ela passar tão facilmente . Sabiam que ela não poder ia cruzar o
abismo a não ser que os guardas baixassem a ponte . Eles sabiam que ela não poderia
simplesmente ir entrando no Palácio, e ao mesmo tempo eles não precisavam desaf iar uma mulher que t inha o que poder ia muito bem ser um passe of icial , de algum t ipo, do
próprio Lorde Rahl. P ior ainda , agora ela via como os soldados também t inha m
isolado, em um lugar sem fuga ou esperança de resgate por reforços , pessoas qu e cons ideravam intrusos em potencial . Qualquer invasor host il ser ia det ido, aqui , e
muito provavelmente, capturado ou morto ali mesmo.
Não era de surpreender que T om t ivesse avisado que ser ia melhor não subir
a estrada . Estimulados pelo esforço da subida , os grandes cava los balançaram as
cabeças com aquela interrupção. Um homem deu um passo adiante e segurou os fr eios
dos cavalos para mantê- los parados. Soldados aproximaram-se pelo lado da carroça. Jennsen estava sentada do lado que f icava para o penhasco , e a inda que tenha vist o
homens guardando a par te traseira do lado em que ela estav a, a maior par te dos
homens aproximaram-se do lado de Tom.
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— Bom dia , Sargento. — Tom fa lou.
O homem olhou o inter ior da carroça e , após ver que ela estava vazia , olhou
para os dois no assento.
— Bom dia .
Jennsen sabia que essa não era hora para que ela f icasse t ímida . Se falhass e
aqui, tudo estar ia perdido. Não apenas Sebastian f icar ia sem esperança , mas ela provavelmente juntar ia -se a ele em uma masmorra . Não podia permit ir -se a perder o
controle. Quando os soldados estavam per to o bastante , ela esticou o braço passando
pela frente de Tom para segurar a faca em direção ao Sargento dos guardas , mostrando a ele o cabo como se est ivesse exib indo um passe r eal .
— Baixe a ponte. — e la falou antes que ele t ivesse chance de
perguntar alguma co isa .
O Sargento olhou para o cabo da faca antes de encarar o olhar sér io dela .
— Qual é o seu assunto ?
Sebast ian disse para ela como blefar . Explicou como ela fizera isso durante
toda sua vida , que ela possuía ta lento natural para isso. Agora ela pr ecisava fazer isso
com deliberada f irmeza se quer ia salvá- lo, e sair viva dali . A despeito do quanto seu coração batia acelerado, ela mostrou ao homem uma expressão f irme, mas vazia .
— Assunto do Lorde Rahl. Baixe a ponte.
Ela achou que ele f icou um pouco surpreso com o tom dela , ou poss ivelmente estava preocupado com as palavras inesperadas .
Conseguiu ver o nível de cautela dele aumentar , causando tensão no rosto
dele. Entr etanto, ele manteve sua pos ição.
— Preciso de mais do que isso , Senhora .
Jennsen girou a faca , balançando-a e movendo ela entr e os dedos , o meta l
polido br ilhando na luz do sol quando girava , a té que ela parou r epent inamente com o cabo para cima no punho dela ma is uma vez , a letra ―R‖ voltada para o soldado. E m
um movimento deliberado, ela abaixou o capuz da c apa, expondo seu cabelo vermelho
para a luz do sol da manhã e para os olhares dos homens . Conseguiu ver nos olhos deles que a sugestão dela havia sido claramente entendida .
— Sei que você tem um trabalho a fazer , — Jennsen falou com terr ível
calma. — mas eu também tenho . Estou em assunto of icial para Lorde Rahl. T enho
cer teza de que você consegue imaginar como Lorde Rahl f icar ia descontente comigo
caso eu discutisse os assuntos dele com todos que perguntam, então, eu não tenho intenção alguma de fazer isso, mas posso dizer a você que eu não estar ia aqui se não
fosse uma questão de vida ou morte. Você está desperdiçando o meu precioso tempo ,
Sargento. Agora , baixe a ponte.
— E qual ser ia o seu nome , Senhora?
Jennsen inclinou o corpo na fr ente de T om para dir ecionar melhor um olhar
fur ioso para o Sargento.
— A não ser que você baixe aquela ponte , Sargento, e agora mesmo, você
lembrará para sempre de mim com o nome de ―problema‖ , enviado pelo Lorde Rahl em
pessoa. O Sargento, apoiado por uma dúzia de homens com piques, junto com arcos ,
espadas, e machados, não fraquejou.
Ele olhou para Tom.
— E qual é a sua part icipação nisso ?
Tom balançou os ombros .
— Só estou conduzindo a carroça . Se eu fosse você, Sargento, essa ser ia
uma mulher que eu não gostar ia de atrasar .
— É isso mesmo?
— É mesmo. — Tom disse com convicção.
O Sargento durante um longo tempo nos olhos de Tom. Finalmente, ele
avaliou Jennsen novamente, então virou e balançou a mão, indicando a um homem para baixar a ponte.
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Jennsen fez um s ina l com a faca em dir eção ao Palácio subindo a estrada .
— Como eu consigo encontrar o lugar onde nós mantemos os
pr isioneiros?
Quando as engrenagens começaram a fazer barulho e a ponte começou a
descer , ele virou para Jennsen.
— Pergunte aos guardas lá em cima . Eles podem or ientar você, Senhora .
— Obr igada. — Jennsen fa lou decidida , endir eitando o corpo no assento e
voltando os olhos para frente, esperando a ponte descer . Somente quando ela bateu encaixando no lugar , o Sargento s ina lizou para que eles seguissem adiante . T om
agradeceu com um s ina l da cabeça e bateu as rédeas .
Jennsen t inha que fazer seu papel durante o caminho todo, se quer ia que isso t ivesse chance de funcionar . Descobr iu que sua performance teve ajuda de sua raiva
verdadeira . Porém, estava preocupada que Tom t ivesse assumido uma cer ta
par ticipação no sucesso do b lefe. Não ter ia a ajuda dele durante tudo isso . Decidiu qu e ser ia melhor manter sua raiva bem vis ível para os outros guardas .
— Você quer ver os pr isioneiros ? — Tom perguntou.
Ela percebeu que nunca falou porque precisava retornar ao Palácio .
— S im. Eles pr enderam um homem por engano. Eu vim providenciar para
que ele seja l iberado.
Tom controlou os cavalos com as r édeas , mantendo eles afastados para melhor conduzir em a carroça por um caminho em zigue-zague.
— Pergunte pelo Capitão Lerner . — fina lmente ele disse .
Jennsen olhou para ele, surpresa por ele t er ofer ecido um nome ao invés de
uma objeção.
— Um amigo seu?
As r édeas moviam-se ainda ma is levemente, com exper iente pr ecisão,
guiando os cava los na curva .
— Não sei se eu o chamaria de amigo . Negociei com ele uma ou duas
vezes.
— Vinho?
Tom sorr iu.
— Não. Outras coisas .
Aparentemente ele não pretendia dizer que outras coisas . Jennsen observou a extensão das Planícies Azrith e as montanhas distantes enquanto eles subiam o lado do
planalto. Em algum lugar além daquelas planícies , daquelas montanhas , estava a
l iberdade. No topo, a estrada nivelou diante de um grande portão através do mass ivo
muro externo do Palácio. Os guardas pos icionados diante do portão acenaram para que
eles entrassem, e então sopraram apitos em uma curta sér ie de notas para ouros,
invis íveis , a lém dos muros . Jennsen percebeu que eles não chegaram sem que fossem anunciados.
Ela quase engasgou quando eles cruzaram o cur to túnel a tra vés do mass ivo
muro externo. Do lado de dentro, grandes terr enos estendiam-se diante deles . Gramados e cer cas vivas ladeavam a estrada que fazia uma curva em dir eção a uma
colina de degraus provavelmente com mais de meia milha de extensão . Os terrenos
dentro dos muros estavam carregados de soldados em uniformes de couro e cota de ma lha cobertos com mantos de lã . Muitos, com piques levantados precisamente no
mesmo ângulo, a linhavam-se pela rota . Esses homens não estavam à toa . Não eram do
t ipo de homens que ser iam surpreendidos por qualquer coisa que subisse a estrada .
Tom olhou para tudo de modo casual . Jennsen tentou manter os olhos dir ecionados para frente. T entou parecer indifer ente no meio de tanto esplendor .
Diante da colina de degraus um grupo de r ecep ção com mais de cem guardas
aguardava . Tom guiou a carroça para dentro do semicír culo que eles formava m bloqueando a estrada . Jennsen viu, parado sobre os degraus observando os guardas ,
três homens usando mantos . Dois usavam mantos cor de prata . Entre eles , um degrau
172
mais acima, estava um homem idoso vest ido de branco , as duas mãos enf iadas nas
mangas opostas enfeitadas com f itas douradas que cint i lavam na luz do sol.
Tom puxou o fr eio da carroça quando um soldado assumiu o controle dos
cavalos para evitar que eles se movessem. Antes que T om pudesse começar a descer , Jennsen colocou a mão no braço dele para impedir .
— Aqui é o mais longe que você vai .
— Mas você.. .
— Você já fez o bastante . Ajudou na par te em que eu precisava . Posso
cuidar disso sozinha daqu i em diante.
Os olhos azuis dele contemplaram os guardas parados ao r edor da carroça .
Ele pareceu relutante em aceitar .
— Não acho que far ia algum mal se eu fosse junto .
— Achar ia melhor você vo ltar para seus irmão .
Ele olhou para a mão dela no braço dele antes de olhar nos olhos dela .
— Se é isso que você quer . — a voz dele baixou virando menos do que
um sussurro . — Verei você outra vez ?
Aquilo soou ma is como um pedido do que uma pergunta . Jennsen não
poder ia negar uma coisa tão simples , não depois de tudo que ele fez por ela .
— Precisaremos descer até o mercado para comprar alguns cava los .
Farei uma parada com você, pr imeiro, logo depois que eu t iver acabado em
providenciar a liber tação do meu amigo.
— Promete?
Ela falou baix inho.
— Tenho que pagar a você por seus serviços, lembra?
O sorr iso tor to dele r eapareceu .
— Nunca encontrei alguém como você , Jennsen. Eu. . . — e le notou os
guardas , lembrando então de onde estava , e limpou a garganta . — fico agradecido
por você ter permit ido que eu fizesse a minha pe quena parte, Senhora . Deixarei
que você cuide do resto.
Ele arr iscou o bastante trazendo-a tão longe, um r isco que ele não sabia qu e
estava assumindo, Jennsen esperava fervorosamente que no breve sorr iso dela ele
enxergasse o quanto ela estava genuinamente agradecida pela a juda dele, uma vez qu e ela não imaginava que conseguir ia manter a promessa de encontrar com ele antes deles
par tirem.
Com a poderosa mão dele segurando o braço dela fazendo ela para uma últ ima despedida , ele falou com voz baixa mas solene.
— Aço contra aço , que ele seja a magia contra a magia .
Jennsen absolutamente não fazia ideia do que ele quer ia dizer . Olhando nos olhos dele, ela respondeu com um simples movimento da cabeça .
Sem querer deixar os soldados suspeitarem de que ela r ealment e não era
educada , Jennsen virou e desceu da carroça para ficar diante do homem que parecia estar no comando. Permit iu que ele desse apenas uma olhada superficial na faca antes
de colocá- la de volta na bainha no cinto .
— Preciso ver o homem responsável po r qualquer pr is ioneiro que
vocês estejam mantendo . Capitão Lerner , se a minha memór ia não falha .
Ele levantou as sobrancelhas .
— Você quer ver o Capitão dos guardas da pr isão ?
Jennsen não sabia qual era a patente dele. Não sabia muito sobre qualquer
coisa a respeito de militares , a não ser que durante a maior par te da sua vida soldados como esses estiveram tentando matá - la . Ele podia ser um General , ou, de acordo com
o que ela sabia , um Cabo. Enquanto avaliava o homem, a roupa dele, sua idade, seu
comporta mento, ela conclu iu que ele def init ivamente parecia ma is do que um Cabo . Teve medo de cometer um engano com a patente dele , entr etanto, e decidiu que ser ia
ma is saudável ignorar isso.
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Jennsen colocou a pergunta dele de lado com um balanço da mão . — Eu não
tenho o dia todo . Precisar ei de uma escolta , é claro. Você e alguns dos seus homens
servirão, eu acredito.
Quando ela começou a subir os degraus , olhou por cima do ombro e viu Tom
piscar para ela . Isso alegrou seu coração. Os soldados haviam afastado para deixarem
a carroça dele par tir , então ele agitou as rédeas e fez seus grandes cavalos saír em. Jennsen odiou ver a presença confor tadora dele ir embora . Ela afastou a mente dos
seus medos.
— Você , — e la disse , apontando para o homem de manto branco. — leve-
me até o local onde vocês guardam os pr isioneiros .
O homem, com o topo da cabeça aparecendo através de seu f ino cabelo gr isa lho, levantou um dedo, enviando a maior ia dos guardas de volta a seus postos . O
oficial de patente mister iosa e uma dúzia de seus soldados permaneceram atrás dela .
— Posso ver a faca? — o homem de manto branco pediu com uma voz
suave .
Jennsen suspeitava que esse homem, capaz de dispensar guardas de a lta patente, devia ser alguém importante. Pessoas importantes no Palácio de Lorde Rahl
podiam ter o Dom. Ocorr eu a ela que se ele r ea lmente t ivesse o Dom, ele a ver ia como
um ―buraco no mundo‖ . Também lhe ocorreu que essa era uma péssima hora para fazer
uma confissão, e uma hora p ior ainda para tentar corr er até o por tão . Ela pr ecisou ter esperança de que ele fosse um oficial do Palácio e que não era dotado .
Muitos dos soldados ainda estavam observando . Jennsen t ir ou a faca da
bainha no cinto casualmente . Sem falar uma palavra , mas exib indo uma careta que claramente dizia qu e
ela estava ficando sem paciência , ela levantou a faca diante dos olhos do homem para
que ele pudesse ver a letra ― R‖ no cabo. Ele olhou para baixo por cima do nar iz, para a arma, antes de r etornar sua
atenção para ela .
— E isso é de verdade?
— Não, — Jennsen disparou. — eu a fundi enquanto estava sentada
diante da fogueira no acampamento no ite passada . Você va i me levar até o lugar
onde vocês guardam os pr is ioneiros, ou não ?
Sem mostrar reação, o homem est icou uma das mãos graciosamente .
— Se você me seguir por aqui , Senhora.
174
C A P Í T U L O 2 6
O manto branco do of icial do Palácio des lizava atrás dele enquanto ele subia a colina de degraus , flanqueado pelos dois homens de manto prateado. Jennsen
permaneceu a uma distância atrás dos homens que ju lgou ser arrogan te. Quando o
homem de branco notou o quanto ela f icara para trás , reduziu a velocidade para que
ela pudesse a lcançá - los. Ela reduziu o passo de acordo, ma ntendo a distância . Ele checou olhando para trás nervosamente , então r eduziu ma is a velocidade. Ela reduziu
ma is ainda , a té que os tr ês homens de manto, Jennsen, e os soldados atrás dela ,
estavam todos fazendo uma pausa a cada degrau . Quando chegaram até a p lataforma seguinte nos largos degraus de mármore
i luminados pela luz do sol , o homem olhou por cima do ombro outra vez. Jennsen
gesticu lou impaciente . Fina lmente ele entendeu que ela não t inha intenção de caminhar junto com ele , mas esperava que ele conduzisse a procissão . O homem
concordou, acelerando seus passos , permit indo que ela t ivesse a distância que exigia ,
res ignado a executar o papel humilde diante dela .
O of icial de patente desconhecida e seus doze soldados subiram os degraus com passos cadenciados , t entando reproduzir a distância que ela mant inha . Isso era
inesperado e estranho para sua esco lta . Ela quer ia que fosse ass im; como acontecia
com o seu cabelo vermelho , a distração dava algo para eles pensarem, algo com o qu e se preocuparem.
Em intervalos , a suave subida de degraus em mármore era interrompida por
largas plataformas que forneciam u m descanso para as pernas antes de cont inuar a
subir . No topo da escadar ia , a ltas por tas de latão com adornos em a lto r elevo estava m além de colunas colossais . Toda a fr ente do Palácio elevando-se diante deles foi uma
das visões ma is grandiosas que Jennsen já contemplara , mas sua mente não estava
concentrada na complexa arquitetura da entrada . Ela estava pensando no que estava lá dentro.
Eles passaram pelas sombras das enormes colunas e cruzaram o portal ; os
doze soldados ainda seguiam no rastro dela , suas armas, c intos, e cotas de ma lha emit indo som metá lico. O som das botas deles sobre o p iso de mármore polido ecoava
nas paredes de uma grande entrada alinhada com pilar es que t inham sulcos .
Mais fundo dentro do Palácio, pessoas cuidando de seus assuntos , parados
em duplas ou tr ios conversando, ou caminhando nas sacadas , f izeram uma pausa para observarem o cor tejo incomum, fizeram uma pausa para verem os of iciais em seus
mantos branco e prata , e uma dúzia de guardas a uma distância r espeitosa escoltando
uma mulher com cabelo vermelho . Pela roupa dela , especialmente em comparação com as roupas l impas dos outros , estava óbvio que ela acabara de chegar em viagem . Ao
invés de f icar envergonhada por causa de suas roupas , Jennsen f icou satis feita qu e
elas adicionass em mistér io ao senso de urgência . A r eação do povo, também, afetar ia a escolta dela .
Depois que o homem de manto branco sussurrou para os outros dois de
manto prateado, ele assent iram e avançaram na fr ente com mais velocidade,
desaparecendo em uma esquina . Os guardas seguiam mantendo a distância dela . A procissão seguiu por um labir into de pequenas passagens e desceram por
estreitas escadas de serviço.
Jennsen e sua escolta fizeram vár ias curvas através de corr edores inter l igados, junto a corr edores fracamente i luminados que conduziam a portas para
dentro de largos corr edores , e descendo a lternadamente uma var iedade de escadas , a té
que ela não conseguia ma is dist inguir a rota deles . Pela condições poeir entas de
algumas da su jas escadas, e dos corr edores com cheiro de mofo, aparentemente pouco usados, ela percebeu que o homem de manto branco a estava levando em um atalho
através do Palácio para levá -la até onde ela quer ia ir o ma is rápido poss ível .
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Isso também era um bom s ina l, porque s ignif icava que eles a l evaram a
sér io. Isso ajudava em sua confiança para cont inuar fazendo o papel . Disse a s i mesma
que era importante, era uma r epresentante do própr io Lorde Rahl, e que não ser ia
dissuadida por ninguém. Eles estavam aqui por nenhum outro propós ito a não ser o de fornecer assistência para ela . Esse era o trabalho deles . Seu dever .
Já que era inút i l t entar gravar todas as curvas e desvios que eles faziam , ao
invés disso ela concentrou sua mente na questão momentânea , o que far ia e o que dir ia , repassando tudo em sua cabeça .
Jennsen lembrou que não importava em que condições Sebastian est ivesse,
ela pr ecisava manter o seu plano. Parecer surpresa , explodir em lágr imas , a t irar -se sobre ele, gemendo, não
far ia bem algum a nenhum deles . Ela esperava que ao enxergar ele, conseguiss e
lembrar de tudo isso.
O homem de branco ver if icou se ela estava seguindo ele antes de descer uma escada de pedra . Ferrugem vermelha estava vis ível a través da pintura lascada do
corr imão de ferro. O desconfor tável lance de degraus íngremes descia em caracol,
fina lmente terminando em uma passagem baixa i luminada pela assustadora luz bruxuleante de tochas em pequenos suportes no chão , ao invés das lamparinas e
ref letor es que eram usados para iluminar o caminho acima .
Os dois homens de manto pr ateado que seguiram na fr ente estava m aguardando por eles no fundo. Fumaça pairava per to das baixas vigas do teto ,
deixando o lugar fedendo a p iche queimado. Ela podia ver a respiração dela no ar fr io .
Jennsen sent iu, visceralmente, o quanto eles estavam fundo no Palácio do Povo. T eve
uma breve e desagradável lembrança de qua l era a sensação de mergulhar na escura água sem fundo do pântano. Sent iu uma pressão similar no peito nas profundezas do
Palácio quando imaginou o peso inconcebível acima .
Descendo o escuro corr edor de pedra à direita ela achou que podia ver por tas espaçadas igualmente. Em algumas das portas , parecia que podia haver dedos
agarrando as bordas de pequenas aber turas . Lá de ba ixo naquele corredor , da
escuridão, surgiu o eco de uma tosse seca. Quando olhou em dir eção à fonte invis ível
do som, ela t eve uma sensação de que este era um lugar para o qual homens eram enviados não para receberem punição, mas para morrer em.
Diante de uma porta revest ida com ferro que selava o corredor à esquerda
estava um homem de const itu ição poderosa , pés afastados , mãos cruzadas atrás das costas, queixo erguido. O comportamento dele , seu tamanho, o modo como o olhar
cor tante dele travou nela , fez Jennsen perder o fôlego.
Ela quer ia correr . Porque ela pensou que conseguir ia fazer isso? Afinal de contas, que era ela? Apenas uma ninguém.
Althea disse que isso não era verdade a não ser que ela mesma transformass e
isso em verdade. Jennsen gostar ia de ter tanta fé em suas próprias habil idades quanto
Althea parecia ter nela . Olhando nos olhos de Jennsen, o homem de manto branco levantou uma das
mãos fazendo uma apresentação. — Capitão Lerner . Como você pediu. — e le virou
para o Capit ão e levantou a outra mão em direção a Jennsen. — Uma enviada de Lorde Rahl. Assim ela diz.
O Capitão mostrou um sorr iso sinistro para o homem de branco .
— Obr igada , — e la falou para os homens que a esco ltaram . — isso é
tudo .
O homem de branco abr iu a boca para falar , então, quando viu o olhar dela ,
pensou melhor e fez uma reverência . Com os braços est icados como uma galinha
conduzindo p intinhos , ele fez os outros dois com roupa prateada e então os soldados ir em embora junto com ele .
— Estou procurando por um homem, que ouvi dizer, fo i levado como
pr isioneiro. — e la falou para o grande homem parado na frente da porta .
— Por qual razão?
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— Alguém cometeu um erro . Ele foi levado pr isioneiro por engano.
— Quem d iz que isso fo i um engano ?
Jennsen t ir ou a faca da bainha no cinto e segurou -a pela lâmina , ex ib indo
fr iamente o cabo para o homem.
— Eu digo .
Os olhos de ferro dele observaram brevemente a letra no cabo . Ainda assim,
ele cont inuou na mesma pos ição r elaxada , bloqueando a por ta de ferro para a
passagem a lém. Jennsen girou a faca pelos dedos , segurando-a pela lâmina , e devolveu-a para sua bainha no cinto.
— Eu também costumava carregar uma , — e le disse apontando com a
cabeça para a faca que ela co locou de vo lta na bainha . — não faz muitos anos .
— Mas não carrega mais? — e la aplicou suave pressão na guarda até
sent ir a faca encaixar com um cliq ue . O som suave ecoou de volta da escuridão
atrás dela .
Ele balançou os ombros . — Fica cansat ivo , colocar sua vida em r isco por
Lorde Rahl o tempo todo.
Jennsen temeu que ele pudesse perguntar alguma coisa sobre o Lorde Rahl,
a lguma coisa que ela não cons eguisse r esponder , mas que devia ser capaz . Ela tentou evitar essa poss ib ilidade.
— Então você serviu a Darken Rahl. Isso foi antes do meu tempo. Deve ter
sido uma grande honra ter conhecido ele .
— Obviamente , você não conheceu o homem.
Ela sent iu medo de que t ivesse fa lhado em seu pr imeiro teste . Havia
pensado que todos que serviram a ele ser iam seguidores lea is . Achou que ser ia seguro continuar com aquela supos ição. Não era .
O Capitão Lerner virou a cabeça e cuspiu . Olhou de volta para ela de forma
desafiadora .
— Darken Rahl era um bastardo louco. Ter ia adorado enf iar a faca dele
entr e as suas costelas e torcer ela bem.
A despeito e sua inquietação, ela mostrou a ele nada ma is além de uma expressão fr ia .
— Então porque não fez isso ?
— Quando o mundo todo está louco , não faz bem ser uma pessoa sã .
Finalmente eu disse para eles que estava f icando velho demais e peguei um trabalho
aqui embaixo. Alguém muito melhor do que eu já fu i fina lmente mandou Darken Rahl para o Guardião.
Jennsen foi pega de surpresa por um sent imento tão inesperado. Ela não
sabia se o homem rea lmente t inha odiado Darken Rahl, ou se estava apenas dizendo que odiava na fr ente dela para mostrar lealdade ao novo Lorde Rahl, Richard, qu e
matou o pai dele e assumiu o poder . Ela tentou pensar r ápido sem parecer óbvia .
— Bem, Tom disse que você não era estúpido. Acho que ele sabia do qu e
estava falando.
O Capitão r iu , um som for te, espontâneo, que inesperadamente fez Jennsen
sorr ir com a discordância daquilo vir de um homem que parecia o companh eiro da morte.
— Tom saber ia .
Ele bateu com um punho sobre o coração fazendo uma saudação . O
rosto dele suavizou com um sorr iso . Tom t inha ajudado ela novamente.
Jennsen bateu com um punho sobre o coração, devolvendo a saudação .
Pareceu a coisa cer ta a fa zer .
— Eu sou Jennsen.
— É um prazer , Jennsen. — e le so ltou um suspiro . — Talvez se eu
t ivesse conhec ido o novo Lorde Rahl, como você conhece, eu ainda pudesse estar
servindo junto com você. Mas eu já t inha des ist ido disso nesse momento e descido até
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aqui. O novo Lorde Rahl mudou tudo, todas as regras, ele mudou o mundo todo de
cabeça para baixo, eu acho.
Jennsen temeu estar tr ilhando terr eno per igoso . Ela não sabia o que o
homem quer ia dizer e t eve medo de fa lar a lguma coisa em r esposta . Simplesment e assent iu e seguiu adiante para a razão pela qual estava ali .
— Posso ver porque Tom disse que você ser ia a pessoa cer ta com quem
falar .
— Do que se t rata , Jennsen?
Ela soltou um suspiro for te, casual , pr eparando-se. Tinha pensado nisso em centenas de modos dif er entes, avançado e r etornado. Estava pronta para fazer isso de
qua lquer ângulo.
— Você sabe que aqueles como nós que servem a Lorde Rahl nessa
pos ição nem sempre pode permit ir que todos saibam o que estamos fazendo , ou quem
nós somos.
O Capitão Lerner estava assent indo.
— É claro .
Jennsen cruzou os braços , t entando parecer relaxada , independente do seu
coração acelerado. Tinha conseguido superar a supos ição ma is arr iscada ; t inha feit o uma supos ição corr eta .
— Bem, eu t inha um homem trabalhando comigo , — Jennsen cont inuou. —
ouvi dizer que ele fo i levado como pr isioneiro . Isso não me surpreender ia . O
colega destacou -se em uma mult idão, mas para aquilo que estávamos fazendo , isso era
o que precisávamos . Infelizmente, os guardas também o notaram. Por causa da missão e das pessoas com quem estávamos l idando , ele estava bem armado, então isso ter ia
colocado os homens que o det iveram em a ler ta .
— E le nunca esteve aqui , então não saber ia em quem confiar , e a lém
disso, são traidores que estamos caçando.
O Capitão estava com a testa franzida, pensativo, enquanto esfr egava o
queixo.
— Traidores? Dentro do Palácio?
— Não sabemos com certeza . Suspeitamos que inf i ltrados estejam nas
proximidades, eram eles que estamos caçando , então ele não ousar ia confiar em
qua lquer um aqui. Se os ouvidos errados escutassem quem ele r ealmente era , iss o
colocar ia em per igo o resto de nós . Duvido que ele dar ia a você até mesmo o nome verdadeiro dele, embora ele possa ter falado que era Sebast ian . Com o per igo em que
estamos, ele saber ia que quanto menos ele disser , então menos r isco existe para os
outros do nosso grupo.
Ele f icou olhando f ixamente , parecendo estar envolvido pela histór ia dela .
— Não. . . nenhum pris ioneiro deu esse nome. — e le fez um careta em
reflexão . — Qual é a aparência dele?
— Alguns anos mais velho do que eu . Olhos azuis . Cabelo branco cur to.
O Capitão reconheceu a descr ição instantaneamente .
— Esse .
— Então a minha informação estava correta ? Vocês estão com ele .
Ela quer ia agarrar o homem pelo couro da roupa e sacudi- lo. Queria
perguntar se eles t inham fer ido Sebastian. Ela quer ia gr itar para que ele soltass e
Sebast ian.
— S im, nós estamos com ele. Se esse for o mesmo homem do qual você está
falando, é isso mesmo. Pelo menos, combina com a sua descr ição .
— Bom. Eu preciso dele de volta . Tenho negócios urgentes para ele. Não
posso demorar . Precisamos par tir imediatamente antes que a p ista esfr ie . Ser ia melhor
se não chamássemos muita atenção com a l iber tação dele . Precisamos escapulir da
forma mais sut i l poss ível , com o mínimo de contato com os soldados quanto poss ível . O anel de inf i ltrados pode ter conseguido colocar pessoas deles no exército .
O Capitão Lerner cruzou os braços e suspirou quando inclinou em dir eção a
178
ela um pouco, olhando para ela como um irmão ma is velh o poder ia olhar para uma
irmãzinha .
— Jennsen, t em cer teza que ele é um dos seus homens ?
Jennsen teve medo de exagerar no blefe.
— E le fo i esco lhido para essa missão especificamente porque os
so ldados não suspeitar iam que ele era um de nós . Olhando para ele, você jama is
dir ia isso. Sebastian possui uma comprovada habil idade em ser capaz de aproximar -se
dos inf i ltrados sem que eles suspeitem que ele é um dos nossos homens .
— Mas você tem certeza a respeito do coração desse homem ? Tem
cer teza mesmo de que ele não vai colocar Lorde Rahl em per igo?
— Sebastian é um dos meus, isso eu sei, mas não tenho cer teza que o
homem que você tem é o meu Sebastian. Acho que eu ter ia de ver ele para ter cer teza .
Por quê?
O Capitão f icou olhando para o vazio enquanto balançav a a cabeça .
— Não sei. Eu passei vár ios anos carregando a faca , como você está
começando a fazer , e indo a lugares onde você não pode carregar a faca , para que não seja reconhecido como a pessoa que você r ealmente é.
Não preciso dizer a você como estar em tal per igo o tempo todo às vezes dá
a você uma cer ta percepção sobre as pessoas . Alguma coisa naquele homem de cabelos
brancos faz eu f icar com os meus er içados . Jennsen não sabia o que dizer . O Capitão t inha duas vezes o tamanho de
Sebast ian, então não s er ia a presença f ís ica de Sebastian que preocuparia o homem. É
claro, o tamanho não era um indicador válido de potencial ameaça . Jennsen poder ia muito bem vencer o Capitão em uma luta com faca . Talvez
o Capitão Lerner sent isse o quanto Sebastian era mortal com as armas dele . Os olhos
do Capitão estiveram atenciosos no modo como os dedos dela manuseavam a faca . Talvez o Capitão foss e capaz de perceber através de vár ios pequenos
deta lhes que Sebastian não era D'Haran. Issopoder ia ser um problema , mas Jennsen
havia pensado em um plano para explicar isso também, só para garantir .
— Tom ainda está causando problemas? — o homem perguntou .
— Oh, você conhece Tom. Ele está vendendo vinho, com a juda de Joe e
Clayton. O Capitão f icou olhando para ela , incr édulo .
— Tom, e seus irmãos ? Vendendo vinho? — ele balançou a cabeça
enquanto um grande sorr iso aparecia . — Gostaria de saber o que ele está
aprontando realmente .
Jennsen balançou os ombros .
— Bem, isso é apenas o que ele está vendendo no momento , é claro. Os tr ês
viajam por aí, comprando mercador ias , trazendo elas para venderem. Ele r iu daquilo, e deu um tapinha no ombro dela .
— Isso soa como ele dese jar ia que fosse contado . É uma maravilha que
ele confie em você. Jennsen estava completamente confusa e desesperadamente não quer ia ser
arrastada ma is longe dentro de uma per igosa discussão a respeito de T om, ou logo ela
poder ia ser descoberta . Ela r ealmente não sabia muito sobre Tom; aparentemente ess e homem sabia .
— Acho que é melhor dar uma o lhada nesse suje ito que você tem . Se
for Sebastian, preciso chutar o traseiro dele e e colocá - lo a caminho.
— Certo , — o Capitão Lerner falou com um f irme aceno da cabeça . — Se
ele for o seu homem, pelo menos eu f inalmente saberei o nome dele . — ele virou
para a por ta cober ta de ferro enquanto vasculhava no bolso procurando uma chave . —
Se for ele , ele t em sor te de você ter vindo at rás dele antes que uma daquelas mulheres
de vermelho t ivesse aparecido para fazer algumas perguntas . Ele t er ia cuspido ma is do
que o nome. Ele ter ia poupado a si mesmo e a você bastante trabalho se t ivesse
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contado o que ele estava fazendo desde o início .
Jennsen sent iu grande a lívio em ouvir que uma Mord-S ith não havia
tor turado Sebast ian.
— Quando você está t ratando dos assuntos de Lord Rahl, você mantém a
boca fechada , — e la falou . — Sebastian conhece o pr eço do nosso trabalho.
O Capitão grunhiu concordando quando girava a chave. O tr inco abr iu com um som cavernoso.
— Por esse Lord Rahl, eu manter ia minha boca fechada. . . mesmo que foss e
uma Mord-S ith fazendo as perguntas . Mas você deve conhecer o novo Lord Rahl
melhor do que eu, então acho que não preciso dizer isso a você .
Jennsen não entendeu, mas também não perguntou nada . Quando o Capitão
empurrou a por ta , ela abr iu lentamente, r evelando um longo cor r edor iluminado por algumas velas por toda sua extensão . De cada um dos lados havia por tas com pequenas
aber turas com barras de ferro. Quando eles passavam por algumas daquelas aber turas ,
cerca de meia dúzia de braços est icaram-se para fora , implorando, t entando a lcançá-los, t entando agarrá-los. Da escuridão de outras surgiu o clamor de vozes gr itando
horr íveis pragas e juramentos . Por causa das mãos que est icavam e dos conjuntos de
vozes, ela soube que cada sala guardava grupos de homens . Jennsen seguiu at rás do Capitão, mais fundo dentro da pr isão da for taleza .
Quando olhos espiavam do lado de fora e viam que era uma mulher , os homens
gr itavam obscenidades para ela . Ficou chocada com as coisas grosseiras e vulgares
que gr itavam para ela , as r isadas zombeteiras. Ela escondeu seus sent imentos , seus medos, e mostrou uma máscara de ca lma .
O Capitão Lerner manteve-se no centro da passagem, ocas ionalmente
batendo uma das mãos que est icavam.
— Tenha cuidado. — ele adver t iu .
Jennsen estava prestes a perguntar por que quando alguém atirou alguma
coisa lamacenta em sua dir eção. Aquilo errou o alvo, espalhando-se na parede do outro lado. Ela f icou assustada ao ver que er am fezes . Muitos outros f izeram o mesmo.
Jennsen teve que agachar e esquivar -se. De repente o Capitão chutou a por ta de u m
homem que estava prestes a atirar mais . O com do chute ecoou subindo e descendo o corredor , servindo como aviso suf iciente para fazer com que os homens r ecuassem
dentro das profundezas das celas . Somente quando o Capitão teve cer teza de que a sua
ameaça estava compreendida ele começou a andar novamente .
Jennsen não conseguiu evitar perguntar em um sussurro.
— De que são acusados todos esses homens?
O Capitão olhou para trás por cima do ombro .
— Vár ias co isas . Assassinato, estupro, coisas assim. Alguns são espiões, o
t ipo de homens que você está caçando.
O fedor do lugar a deixava com náuseas . O ódio dos pr is ioneiros era compreens ível, ela imaginou, mas não importava o quanto ela s impatizasse com
prisioneiros dos soldados de Lorde Rahl, homens que lutavam contra o governo brutal
dele, seu comportamento servia apenas para dar suporte a qua isquer acusações de pervers idade. Jennsen f icou per to dos ca lcanhares do Capitão Lerner quando ele virou
descendo por uma passagem lateral .
De uma prateleira construida na rocha , ele pegou uma lamparina , então
acendeu-a em uma vela a li per to. A luz da lamparina serviu apenas para lançar um pouco ma is de luz em um pesadelo e torná - lo ainda mais assustador . Ela teve visões
aterradoras de ser encontradae acabar nesse lugar . Não conseguiu evitar imaginar ser
trancada em uma sala com homens desse t ipo . Sabia o que eles far iam com ela . Jennsen teve que fazer um esforço para desacelerar a respiração .
Outra por ta teve que ser destrancada , levando eles a lém até uma passagem
baixa com portas muito ma is próximas . Ela imaginou que ser iam celas com apenas um homem. Uma das mãos , su ja e
cober ta de fer idas aber tas , saiu por uma aber tura para agarrar a capa dela . Ela afastou-
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se e cont inuou andando.
O Capitão Lerner destrancou outra por ta no f ina l e eles entraram em um
espaço ainda menor , ma lmente mais largo do que os ombros dele . A aber tura sinuosa ,
estreita , como uma f issura na rocha , causou arrepios na pele de J ennsen. Mão alguma esticou-se das aber turas nas por tas nes se lugar . O Capitão parou e levantou a
lamparina para olhar através do pequeno buraco na porta à dir eita . Satisfeito com
aquilo que viu, ele entr egou a lamparina para ela e então destrancou a por ta .
— Co locamos pr is ioneiros espec iais nesta seção. — e le explicou .
Ele t eve que usar as duas mãos e todo o seu peso para empurrar a por ta . Ela
abr iu com um rangido de protesto . Lá dentro, Jennsen f icou surpresa em ver que era apenas uma pequena sa la vazia com uma segunda porta . Era por isso que nenhuma das
mãos est icavam-se para fora nesse corredor . As celas t inham portas duplas , para
tornar a fuga ainda ma is improvável . Após destrancar a segunda porta , ele pegou a lamparina de volta .
O Capitão agachou passando pelo baixo por tal , levando a luz diante dele ,
seu corpo enorme na porta lançou-a na escuridão momentâneamente. Ass im qu e passou, ele est icou uma das mãos para ajudá -la , evitando que ela tropeçasse no alto
batente. Jennsen segurou a grande mão do homem e entrou na cela . Era maior do qu e
ela esperava . Parecendo ter s ido escavada na rocha sólida do p lanalto . Cortes
ir regular es nas paredes de rocha atestavam o quanto o trabalho t inha s ido dif ícil . Nenhum pris ioneiro cavar ia para fora de um lugar seguro assim.
Sobre um banco ta lhado na parede oposta estava Sebastian. Os olhos azuis
dele estavam f ixos nela desde o instante em que ela entrou. Naqueles olhos ela pensou que podia ver o quanto ele quer ia sair . Porém, ele não mostrou emoção alguma e não
falou nada . Pelas aparências exter ior es , ninguém ao menos dir ia que el e a conhecia .
Ele havia dobrado sua capa e usado como um travesseiro na rocha fr ia . Ali
per to estava uma caneca com água . As roupas dele estavam em ordem, nãomostrando qua lquer evidência de que t ivessem abusado dele .
Era tão bom ver novamente o rosto dele , seus olhos, seu cabelo branco
espetado. Ele lambeu os lábios , seus belos lábios que tantas vezes sorr iram para ela . Entr etanto, agora , ele não ousou sorr ir . Jennsen estava cer ta . Ela r elamente desejou
atirar -se sobre ele, colocar os braços em volta dele, chorar de alívio por vê- lo vivo e
inteiro. O Capitão fez um s inal com a lamaparina .
— Esse é ele?
— S im, Capitão.
Os olhos de Sebastian estavam f ixos nela quando ela caminhou adiante . Ela
teve que fazer uma pausa para cer t ificar -se de que a voz estava sob controle.
— Está tudo bem , Sebastian. O Capitão Lerner aqui, sabe que você é u m
dos homens da minha equipe. — e la bateu levemente no cabo da faca . — Pode
confiar nele para manter a sua ident idade em segredo .
O Capitão Lerner est icou uma das mãos .
— Fico feliz em conhecê- lo , Sebastian. S into muito pela confusão. Não
sabíamos quem você era . Jennsen explicou a sua missão. Eu costumava servir , então
eu entendo a necess idade da discr ição.
Sebast ian levantou e aper tou a mão do homem.
— Sem problema , Capitão. Não posso culpar nossos homens por fazerem o
trabalho deles .
Sebast ian não conhecia o plano dela . Parecia que ele estava esperando a or ientação dela . Ela fez um gesto de impaciência e fez uma pergunta que sabia que ele
não conseguir ia responder e, desse jeit o, fez com que ele soubesse o que ela quer ia
que ele fa lasse.
— Fez contato com algum dos infilt rados antes que você fosse det ido
pelos guardas? Descobriu quem é qualquer um deles e ganhou a confiança deles ? Pelo
menos conseguiu alguns nomes?
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Sebast ian seguiu a deixa dela e suspirou de modo convincente .
— S into muito , não. Eu t inha acabado de chegar e não t ive chance antes
que os guardas . . . — o olhar dele desviou para o chão . — Sinto muito .
Os olhos do Capitão Lerner moveram-se olhando para os dois .
Jennsen assumiu um tom controlado.
— Bem, nãoposso culpar os guardas por não arr iscarem dentro do Palácio .
Entr etanto, precisamos seguir nosso caminho . Eu fiz algum progresso em nossa busca
e descobri a lguns contatos novos importantes . Isso não pode esperar . Esses homens estão desconfiados e pr eciso que você aproxime -se deles . Não estão acostumados a
deixar que uma milher pague bebidas, eles ficar iam com a ideia errada, então vou
deixar isso por sua conta . Tenho que preparar outras armadilhas .
Sebast ian estava balançando a cabeça como se est ivesse inteiramente familiar izado com o trabalho imaginár io.
— Está certo .
O Capitão est icou um braço. Então vamos colocar vocês dois a caminho .
Sebast ian, seguindo Jennsen, olhou para trás .
— Precisarei das minhas armas , Capitão. E de todas as moedas qu e
estavam na bolsa . Aquele é dinheiro do Lorde Rahl, e pr eciso dele para cumpr ir as
ordens dele.
— Estou com todo ele . Não está faltando nada, tem a minha palavra .
Do lado de fora , na passagem estr eita , o Capitão Lerner fechou a por ta da
cela . Ele estava com a luz , então Jennsen e Sebast ian aguardaram por ele. Quando ela
começou a andar , o Capitão est icou o braço passando por Sebastian para segurá-la , fazendo ela parar .
Jennsen congelou, t emendo até mesmo r espirar . Ela sent iu a mão de
Sebast ian des lizar pela cintura dela até o cabo da faca .
— É verdade aquilo que as pessoas dizem ? — o Capitão perguntou .
Jennsen olhou para trás, nos olhos dele.
— Do que você está falando ?
— Quero dizer , sobre Lorde Rahl. Sobre ele ser . . . eu não sei, difer ent e.
Ouvi os homens fa larem, homens que encont raram com ele , lutaram ao lado dele. Eles falam sobre como ele manuseia aquela espada dele , como ele luta e tudo ma is , mas
além de tudo isso, falam sobre ele como um homem. É verdade o que eles dizem?
Jennsen não sabia o que ele estava querendo dizer . Teve medo de fazer u m movimento, de dizer qua lquer coisa , sem saber como r esponder uma pergunta assim.
Não sabia o que as pessoas , especia lmente soldados D'Haran, falavam sobre o novo
Lorde Rahl.
Ela sab ia que ela e Sebastian poder iam matar esse homem, aqui, agora . Eles ter iam o elemento da surpresa .
Sebast ian, com a mão na faca dela , cer tamente estava pensando na mesma
coisa . Mas eles ainda ter iam que sair do Palácio . Se matassem ele, provavelmente
o corpo ser ia encontrado em breve. Os soldados D'Haran podiam ser qua lquer coisa
menos r elaxados . Mesmo se eles escondessem o Capitão morto dos guardas da pr isão ,
uma checagem dos pr is ioneiros logo r evelar ia que Sebastian estava ausente. Então, as chances de fuga deles tornar iam-se remotas .
Porém, p ior ainda , ela não achava que conseguir ia matar esse homem .
Independente do fato de que ele era um oficial D'Haran, ela não possuía nenhu m sentimento ruim a respeito dele . Ele parecia decente, não um monstro. Tom gostava
dele, e o Capitão r espeitava Tom. Esfaquear um homem que estava tentando matá - los
era uma coisa . Isso ser ia inteiramente difer ente. Ela não conseguir ia fazer isso .
— Nós entregar íamos nossas vidas pelo homem. — Sebastian falou com
uma voz decidida . — Eu prefer ia deixar você me torturar e me matar antes que eu
t ivesse falado uma palavra , por t emer que isso colocasse em per igo Lorde Rahl.
— Eu também, — Jennsen adicionou com uma voz suave. — penso em
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pouca coisa além de Lorde Rahl. Até sonho com ele.
Ela estava falando a verdade, mas uma verdade calculada para enganar . O
Capitão sorr iu , observando com satis fação quando seus dedos soltaram o braço dela . Jennsen sent iu a mão de Sebastian afastar -se da faca .
— Acho que isso deixa bem claro. — o Capitão falou no meio da quase
escuridão. — Servi durante um longo tempo . Tinha perdido a esperança de ousar
sonhar com a lgo ass im. — e le hesitou, então falou outra vez . — E a esposa dele?
Ela r ealmente é uma Confessora , como eles dizem? Ouvi histór ias sobre sobre as confessoras , de antes das barreiras , mas nunca soube se isso era mesmo verdade.
Esposa? Jennsen não sabia nada a respeito de Lorde Rahl t er uma esposa .
Jennsen não conseguia imaginá -lo com uma esposa , ou imaginar como ser ia uma mulher como essa . Jennsen não conseguia ao menos conceber porque Lorde Rahl, um
homem que podia possuir qualquer mulher que desejasse e então descar tá -la conforme
sua vontade, importar ia -se em arranjar uma esposa . E o que poder ia ser uma ― Confessora‖ era completamente um mistér io pa ra
Jennsen, mas o pequeno t ítu lo ―Confessora‖ cer ta mente soava ameaçador .
— Sinto muito, — Jennsen disse. não encont rei com ela .
— Nem eu, — falou Sebastian. — mas ouvi dizer sobre ela co isas muito
parecidas com as que você ouviu .
O Capitão sorr iu levemente.
— Estou fe liz em viver para ver um Lorde Rahl como esse f ina lment e
surgir para comandar D'Hara como ela devia ser comandada . Jennsen voltou a caminhar , per turbada com as palavras do homem,
per turbada que ele est ivesse feliz que esse novo Lorde Rahl fosse conquistar e
governar o mundo todo em nome de D'Hara. Jennsen estava ans iosa para sair da pr isão e sair do Pa lácio . Os tr ês
seguiram rapidamente de volta através das passagens estr eitas , de volta por por tas de
ferro e passando pelos pr is ioneiros . O Capitão rosnou avisando para que eles f icassem em s ilêncio, dessa vez.
Quando cruzaram a ú lt ima porta de ferro antes das escadas , todos pararam
repent inamente. Uma mulher alta , a traente , com uma longa trança loura , estava
esperando por eles , b loqueando sua rota de fuga . A expressão no rosto dela era como um raio aguardando para atingir o alvo.
Ela estava usando couro vermelho .
Não podia ser outra coisa além de uma Mord-Sith.
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C A P Í T U L O 2 7
As mãos da mulher estavam cruzadas atrás das costas de la de modo casual. Sua expressão podia ser qualquer coisa menos casual . O som das botas ecoaram nas
paredes de pedra quando ela avançou , uma nuvem negra de tempestade aproximando -
se, uma nuvem de tempestade que não conhecia o medo .
Uma onda de arrepios espalharam-se pelo corpo de Jennsen subindo dos joelhos até a nuca onde pequenos f ios de cabelo ficaram er içados .
Com um passo, firme, ca lculado, a mulher caminhou fazendo uma volta
completa ao r edor deles , observando-os de cima abaixo, um falcão circulando, inspecionando os ratos . Jennsen viu um Agiel, a arma de uma Mord-Sith, pendurado
em uma fina corr ente no pulso direito da mulher . Lethal como Jennsen sabia que ta l
arma podia ser , ele não parecia mais do que um f ino bastão de couro que não t inha u m pé de comprimento.
— Um oficia l muito agitado apareceu para falar comigo . — a Mord-S ith
disse com uma voz tranquila , suave. Seu olhar mortal moveu -se deliberadamente de
Sebast ian para Jennsen. — E le pensou que eu precisava vir aqui embaixo e ver o
que estava acontecendo . Mencionou uma mulher com o cabelo vermelho . Parece qu e
ele achava que ela podia r epresentar algum tipo de problema . Com o quê você acha
que ele estava tão preocupado?
O Capitão, que estava atrás de Jennsen, deu um passo para o lado.
— Não há nada acontecendo com o que você precise ficar
preocupada.. .
Com ummovimento do pulso, o Agiel girou até o punho dela e estava
apontando para o rosto do Capitão .
— Não perguntei a você . Perguntei a essa jovem.
O olhar feroz r etornou para Jennsen.
— Porque você acha que ele dir ia que eu precisava vir até aqu i
embaixo ? Humm?
Jennsen.
— Porque , — Jennsen falou, incapaz de desviar o olhar dos fr ios olhos
azuis. — e le é um to lo pomposo e não gostou que eu não fing isse que ele não
era , só porque ele veste manto b ranco.
A Mord-S ith sorr iu. Não com bom humor , mas com sombr io r espeito pela
veracidade daquilo que Jennsen t inha falado.
O sorr iso evaporou quando ela olhou para Sebastian. Quando seu olhar
voltou para Jennsen, parecia como se ele pudesse cor tar o aço .
— Pomposo ou não, isso não muda o fato de que existe um pr is ioneiro sendo
l iber tado por nada mais além da sua palavra .
Jennsen.
— Minha palavra é suf iciente. — Jennsen levantou a faca no cinto ir r itada e
mostrou o cabo para a mulher . — Isso dá suporte para minha palavra .
— Isso , — a Mord-S ith disse com o suave s ibilar . — não significa nada .
Jennsen podia sent ir o rosto dela f icando vermelho .
— Isso significa. . .
— Acha que somos estúpidos? — a roupa de couro da Mord-S ith rangeu
quando ela inclinou o corpo c hegando ma is per to. — Que se você entrasse aqui e
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simplesmente balançasse esse cabo de faca diante dos nossos rostos, que nossa
faculdade de razão ir ia evaporar ?
A roupa de couro justa revelava um corpo tão formoso quanto poderoso . Jennsen sent iu -se pequena e feia diante dessa cr iatura . Pior , sent iu-s e
totalmente inadequada inventando uma histór ia na fr ente de uma mulher tão confiant e
quanto essa , uma mulher que parecia capaz de enxergar através da histór ia inventada deles, mas Jennsen sabia que se ousasse hesitar agora , ela e Sebast ian estar ia m
praticamente mortos.
Jennsen colocou tanta força em sua voz quanto conseguia .
— Carrego essa faca por Lorde Rahl, em nome dele, e você vai respeitar
isso.
— Verdade . Porque?
— Porque essa faca mostra a confiança que Lorde Rahl depos itou em
mim.
— Ah. Então só porque acontece de você estar carregando ela , devemos
acreditar que Lorde Rahl entr egou ela para você? Que ele confia em você? Como
podemos saber que você não encontrou essa faca ? Hum?
— Encontrei? Você está f icando. . .
— Ou talvez você e esse pr is ioneiro aqui , t enham emboscado o verdadeiro
dono da faca, assassinado ele, por nenhuma outra razão a não ser colocar as mãos em
um objeto cobiçado, esperando que isso desse cr edib il idade a vocês .
— Não sei como você pode acreditar em uma.. .
— Ou talvez você seja uma covarde e t enha assassinado o dono da faca
enquanto ele dormia? Ou talvez você nem tivesse essa coragem, e comprou-a de cor tadores de gargantas que assassinaram ele . Foi isso que você fez? S implisment e
conseguiu isso com o verdadeiro assassino ?
— Claro que não !
A Mord-Sith aproximou-se ma is ainda , a té que Jennsen podia sent ir a
respiração da mulher no rosto.
— Talvez você tenha seduzido o homem ao qual ela pertencia para que
ele de itasse ente as suas doces per nas enquanto o seu parceiro aqui, roubou ela .
Ou talvez você apenas seja uma prostituta e isso foi o presente de um ladrão assassino em troca por seu favores femininos ?
Jennsen r ecuou.
— Eu.. . eu não far ia. . .
— Mostra para nós essa arma nçao prova nada . O fato é que não sabemos
a quem a faca per tence.
Entregue.
— E la é minha ! — Jennsen ins ist iu.
A Mord-Sith endir eitou o corpo e levantou uma sobrancelha .
— É mesmo?
O Capitão cruzou os braços . Sebastian, ao lado de Jennsen, não se moveu.
Jennsen lutou para conter lágr imas de pânico que tentavam surgir . Fez um esforço
para, ao invés disso, ex ib ir um rosto desaf iador .
Jennsen. Entregue .
— Tenho um assunto importante em nome de Lorde Rahl. — Jennsen
falou com dentes cerrados . — Não tenho tempo para isso .
— Ah, — a Mord-S ith zombou. — assuntos em nome de Lorde Rahl.
Bem, isso parece importante. — ela cruzou os braços . — Que assuntos?
— Isso é assunto meu , não seu.
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O sorr iso fr io r etornou . — Assunto sobre magia? É isso? Magia?
— Isso não é da sua conta . Estou seguindo ordens de Lorde Rahl e você
lembrar ia muito bem disso. Ele não ficar ia feliz em saber que você estava s e
intrometendo.
A sobrancelha levantou outra vez . — Int rometendo? Minha quer ida jovem,
é imposs ível para uma Mord-S ith intrometer -se. Se você fosse quem diz que é, pelo
menos saber ia muito bem. Mord-Sith existem apenas para proteger Lorde Rahl. Ser ia
uma falta com meu dever , você não acha , se eu ignorasse tais acontecimentos cur iosos?
— Não. . . eu falei para você. . .
— E se Lorde Rahl estivesse sangrando até a morte, e me perguntasse o qu e
aconteceu, e antes que ele moresse eu conseguisse dizer a ele que uma garota com uma
faca bonita entrou dançando aqui e ex igiu que um pris ioneiro de lábios grossos e
bastante suspeito fosse l iberado e, bem, nós ficamos tão fascinados com a faca dela e com os seus grandes olhos azuis que todos pensamos que s implesmente dever íamos
deixar ela passar . Que tal isso?
— É claro que você precisa. . .
— Faça alguma magia para mim . — a Mord-S ith est icou o braço e
segurou um pouco do cabelo vermelho de Jennsen entr e o polegar e o indicador . — Humm? Um pouquinho de magia para prova r . Um feit iço, um encanto, uma amostra
surpreendente da sua habil idade. Invoque algum raio, se desejar . Se não f izer isso,
ta lvez apenas uma simples chama f lutuando no meio do ar ?
— Eu não.. .
— Faça alguma magia , feit iceira . — a voz dela saiu como um comando
ameaçador .
Entregue.
Fur iosa com aquele tom, mas fur iosa ma is ainda com a Mord-Sith, Jennsen
afastou a mão dela do cabelo com um tapa .
— Pare com isso !
Mais rápido do que parecis poss ível , Sebastian saltou sobre a mulher . Ma is rápido ainda , o Agiel dela surgiu em sua mão. Ela encostou a ponta contra o ombro de
Sebast ian enquanto ele a inda estava voando.
Sebast ian gr itou quando a arma o deteve imediatamente. A mulher
press ionou o Agiel calmamente contra o ombro dele , levando ele até o chão. Sebastian gr itou quando desabou no solo.
Jennsen moveu-se até a Mord-S ith. Com um movimento l igeiro, a mulher
levantou e estava com o Agiel diante do rosto de Jennsen, fazendo ela parar . Aos pés delas, Sebast ian contorcia em agonia .
Pensando somente em Sebast ian, somente em chegar até ele, somente em
ajudá-lo, Jennsen agarrou o Agiel, empurrando ele e a mão da mulher . Ela ajoelhou sobre um joelho ao lado de Sebastian. Ele havia rolado para o lado, abraçando o
próprio corpo, tremendo, como se t ivesse s ido atingido por um raio .
Ele aca lmou-se sob o toque gent il dela quando ela disse para que ele f icasse
parado. Quando r ecuperou-se um pouco ele tentou sentar , Jennsen colocou um braço atrás dos ombros dele e ajudou . Ele inclinou contra ela , ofegando, clarament e
sofrendo com o efeito r es idua l da dor causada pela arma . Piscou, tentando clar ear os
olhos lacr imejantes , lutando para focar a visão. Jennsen, apavorada com aquilo que o toque do Agiel podia fazer , passou uma das mãos no rosto de Sebast ian. Levantou o
queixo dele, t entando ver se ele a reconhec ia , se ele estava bem. Ele ma l conseguia
sentar sozinho, mas acenou para ela levemente com a cabeça .
— Levantem . — a Mord-S ith agigantava-se acima deles . — Os do is .
Sebast ian ainda não conseguia . Jennsen levantou rapidamente , encarando a
mulher desaf iadoramente.
186
— Não vou tolerar isso ! Quando eu contar para Lorde Rahl sobre isso, ele
mandará chicoteá - la !
A mulher estava com a testa franzida . Levantou o Agiel.
— Toque nele.
Novamente, Jennsen segurou a arma e empurrou -a para o lado.
— Pare com isso !
— E le funciona , — a Mord-S ith r esmungou para si . — eu sei que
func iona.. . consigo sent ir. . .
Ela virou e pr ess ionou de forma exper imental a coisa terr ível no braço do
Capitão. Ele gr itou e caiu de joelhos .
— Pare !
Jennsen agarrou o bastão vermelho , afastando-o do Capitão.
A Mord-Sith f icou olhando assustada .
— Como você faz isso ?
— Faço o quê?
— Tocá- lo sem machucar-se? Ninguém é imune ao toque de um Agiel ,
nem mesmo o própr io Lorde Rahl.
Então Jennsen percebeu que a lgo sem precedentes t inha acontecido . Não entendeu, mas sabia que enquanto a s ituação estava confusa , pr ecisava aproveitar a
oportunidade.
— Quer ia ver magia. . . você viu .
— Mas como.. .
— Acha que Lorde Rahl would permit ir ia que eu carregasse a faca se eu
não fosse competente?
— Mas um Agiel. . .
O Capitão estava levantando.
— Qual é o seu problema ? Eu luto pela mesma causa que você.
— E essa causa é proteger Lorde Rahl. — a mulher disparou . Ela
levantou o Agiel. — Essa é a minha maneira de protegê-lo . Tenho que saber o que
está errado ou fa lharei com ele.
Jennsen est icou o braço e fechou os dedos em volta da arma , segurando-a
com f irmeza enquanto encarava o olhar da Mord-S ith. Disse a s i mesma que precisava
lembrar quem ela dever ia ser e para manter a farsa . Tentou pensar no que far ia se rea lmente fosse alguém da elit e de Lorde
Rahl.
— Entendo a sua preocupação. — Jennsen falou decidida , determinada a
não perder sua chance inesperada , mesmo se ela mesma não comprendesse aquilo . —
Sei que você quer proteger Lorde Rahl. Nós compartilhamos essa devoção e dever
sagrado. Nossas vidas são dele. T enho assuntos vitais para fazer o mesmo que você,
proteger Lorde Rahl. Você não sabe tudo que está envolvido nessa histór ia e eu não
tenho tempo para começar a explicar .
— Já estou cansada disso . A vida de Lorde Rahl está em per igo. Não tenho
ma is t empo a perder . Se não deixar que eu faça meu trabalho de protegê - lo, então está
colocando ele em r isco e acabarei com você como far ia com qualquer ameaça para a vida dele.
A Mord-S ith avaliou as palavras de Jennsen. O que ela poder ia estar
pensando, Jennsen não fazia ideia , mas esta simples noção, pensar , era uma coisa qu e Jennsen jamais associara com as Mord-S ith. Sempre as cons iderou assassinas sem
mente. Nos olhos dessa mulher , Jennsen conseguia enxergar conhecimento.
Finalmente, a Mord-Sith est icou o braço e com uma das mãos embaixo do braço de Sebastian, a judou-o a levantar . Quando ele estava f irme, ela virou para
Jennsen.
— Eu receber ia o chicote com alegr ia, e co isa pior, se isso ajudasse a
proteger esse Lorde Rahl. Pross igam, e sejam rápidos . — e la mostrou para Jennsen
187
um sorr iso leve, mas caloroso, e deu um firme tapinha no lado do ombro . — Que
os bons espír itos estejam com você . — e la hesitou . — Mas , eu pr eciso saber como
você não sente o poder de um Agiel. Uma coisa assim s implesmente não é poss ível .
Jennsen f icou surpresa que uma pessoa tão má ousasse invocar o nome dos
bons espír itos . Agora a mão de Jennsen era um dos bons espír itos .
— S into muito , mas isso faz par te daquilo que não tenho tempo de começar
a explicar , e a lém disso, a segurança de Lorde Rahl depende que eu mantenha isso em
segredo. A mulher f icou olhando durante um longo tempo.
— Eu sou Nyda. — e la disse finalmente . — Jure para mim ,
pessoalmente, que fará como diz, e vai protegê- lo.
— Eu juro , Nyda. Agora, preciso ir . Não posso perder ma is t empo, por
nada.
Antes que Jennsen pudesse fazer um movimento, a Mord-S ith agarrou o vestido dela junto com a capa no ombro.
— Esse é um Lorde Rahl que não podemos perder , ou todos nós perderemos
tudo. Se a lgum dia eu descobrir que está ment indo para mim , prometo duas coisas .
Pr imeiro, jama is haverá um buraco fundo o bastante para você s e esconder onde eu
não cons iga encontrá -la , e, segundo, a sua morte estará além do p ior pesadelo de
qua lquer um. Estou sendo clara? Jennsen conseguiu apenas assent ir diante da expressão de feroz
determinação nos olhos de Nyda.
A mulher virou e começou a subir os degraus .
— Então, vamos embora .
— Você está bem? — o Capitão perguntou a Sebastian.
Sebast ian l impou a poeira dos joelhos e moveu -se em direção aos degraus .
— Eu prefer ia ter recebido as chicotadas ao invés disso , mas acho que
vou sobreviver . O Capitão sorr iu mostrando simpatia enquanto massageava o própr io braço .
— Suas co isas estão t rancadas lá em cima . Suas armas e o seu dinheiro.
— O dinheiro de Lorde Rahl. — Sebastian corr igiu.
Jennsen não quer ia outra coisa além de cair fora do Palácio . Subiu os
degraus rapidamente, lutando para não sair correndo.
— Oh, — a Mord-Sith exclamou nos degraus . Ela havia parado, sua mão
sobre o corr imão enferrujado enquanto eles seguiam rapidamente atrás dela . — eu
esqueci de falar para vocês.
— Esqueceu de nos fa lar o quê? — Jennsen perguntou. — estamos co m
pressa .
— Aquele o ficial que fo i me chamar ? Aquele com o manto branco
branco?
— S im? — Jennsen perguntou quando chegou per to da mulher .
— Depo is que ele fo i me chamar , foi procurar o Mago Rahl, para trazê-lo
aqui embaixo para falar com vocês também.
Jennsen sent iu o sangue desaparecer do rosto .
— Lorde Rahl está bem longe ao su l . — o Capitão disse enquanto subia
os degraus at rás deles .
— Não Lorde Rahl, — falou Nyda. — o Mago Rahl. O Mago Nathan Rahl.
188
C A P Í T U L O 2 8
Jennsen lembrou daquele nome, Nathan Rahl. Althea t inha fa lado qu e encontrou com ele no Mundo Ant igo, no Palácio dos Profetas . Ele era um verdadeiro
Rahl, ela disse. Disse que ele era poderoso e inconcebivelmente per igoso , então eles o
mant inham trancado atrás de barreiras de magia onde ele não poder ia causar ma l
algum, e mesmo assim, às vezes ele ainda conseguia . Althea falou que Nathan Rahl t inha mais de novecentos anos de idade.
De a lgum modo, o velho mago havia escapado daquelas bar reiras de magia
impenetráveis . Jennsen agarrou a Mord-Sith pelo cotovelo.
— Nyda, o que ele está fazendo aqui?
— Não sei. Não encontr ei com ele.
— É importante que ele não nos veja . — Jennsen empurrou Nyda adiante,
procurando apressá - la . — Não tenho tempo para explicar , mas ele é per igoso.
No topo da escadar ia , Nyda olhou para os dois lados antes de encarar o
olhar de Jennsen.
— Per igoso? Tem cer teza disso?
— S im!
— Está certo . Então venham comigo.
— Preciso das minhas co isas. — Sebast ian falou.
— Aqui. — o Capitão apontou para uma porta não muito longe .
Enquanto Nyda montava guarda , Sebast ian seguiu o Capitão Lerner para
dentro. Jennsen, com os joelhos tremendo , ficou no portal observando enquanto o Capitão colocava a lamparina no chão e destrancava uma se gunda porta do lado de
dentro. Ele e Sebastian entraram na sala além, levando a lamparina . Jennsen conseguiu
ouvir palavras cur tas e os sons de coisas sendo r et iradas de prateleiras . A cada momento que passava , Jennsen quase podia ouvir os passos do mago
trazendo-o cada vez ma is per to. Se ele os pegasse, as armas de Sebast ian não ter ia m
uti l idade. Se o Mago Rahl os visse, ele r econhecer ia Jennsen por causa do que ela era ,
um ―buraco no mundo‖ , a descendente não dotada de Darken Rahl. Não haver ia como blefar para escapar disso. Finalmente eles a ter iam.
Sebast ian emergiu na frente do Capitão.
— Vamos lá .
Ele parecia s implesment e um homem com uma capa verde escura , do mesmo
jeito que antes . Poucos suspeitar iam da coleção de armas que ele carregava . Seus
olhos azuis e cabelos brancos espetados faziam ele t er aparência difer ente das outras pessoas; ta lvez fosse por isso que os guardas o f izeram parar .
O Capitão segurou Jennsen pelo braço.
— Como ela disse, — e le indicou a Mord-Sith apontando com a cabeça.
— que os bons espír itos estejam com vocês, sempre .
Entr egou para ela a lamparina . Jennsen sussurrou a sua sincera gratidão antes de seguir rapidamente atrás dos outros dois pela passagem, deixando o Capitão
dos guardas para trás .
Nyda os conduziu por corredores escuros e através de salas vazias . Eles passaram através de uma aber tura estr eita sem teto. Pelo menos, quando Jennsen olhou
para cima, ela não conseguiu enxergar nada além de escuridão acima. O chão parecia
ser de rocha pura . A parede a dir eita , ao invés disso, era de pedras comuns
encaixadas . À esquerda , porém, a passagem estava ladeada por colossais b locos de granito rosados com manchas . Cada bloco de face polida era maior do que qualquer
casa na qua l Jennsen já t inha morado, e assim mesmo as juntas eram tão aper tadas qu e
nenhuma lâmina poder ia passar entr e elas .
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No fina l da passagem ao lado dos enormes b locos de pedra , eles agacharam
passando por uma porta baixa e saíram em uma estr eita passarela feita de ferro e com
tábuas como piso. As cordas de uma ponte cruzava m um largo abismo na rocha do
planalto. Com a luz da lamparina Jennsen podia ver que as paredes rochosas íngremes mergulhavam, desaparecendo a uma grande distância lá embaixo . A luz da lamparina
não era suficiente para que ela enxergasse o fundo . Ficar parada ali na f ina extensão
da passarela suspensa acima do enorme vazio fez com que ela se sent isse tão pequena quanto uma formiga .
A Mord-S ith, com uma das mãos no corr imão de ferro enquanto seguia na
ponte, fez uma pausa e olhou para trás por cima do ombro.
— Porque o Mago Rahl é per igoso? — era óbvio que a pergunta est ivera
girando em sua mente . — Que problemas ele pode causar a vocês? — o frág i l
tom da voz dela reverberou nas paredes rochosas ao redor .
Parada ali no centro da passarela sobre o abismo negro, Jennsen podia sent ir
a ponte ba lançando sob os pés . Isso a estava deixando tonta . A Mord-S ith esperou. Jennsen tentou pensar em algo para dizer . Um rápido olhar para trás, na expressão
vazia de Sebastian disse a ela que ele não t inha ideias . Rapidamente ela decidiu
misturar um pouco da verdade, caso Nyda soubesse alguma coisa a respeito do homem.
— E le é um Pro feta . Escapou de um lugar onde estava preso , um lugar
onde ele não poder ia machucar ninguém. Ele era mant ido ali porque é per igoso .
A Mord-S ith puxou a longa trança loura sobre o ombro , des lizando a mão por ela enquanto cons iderava as palavras de Jennsen. Ela claramente ainda não
pretendia mover -se.
— Ouvi dizerem que ele é um homem bem int eressante . — nos olhos
dela o desafio havia despertado .
— E le é per igoso. — Jennsen ins ist iu.
— Porquê?
— E le pode prejudicar a minha missão .
— Como?
— Eu já falei, ele é um Profeta .
— A profecia pode ser um benefício . Pode ajudá- la em sua missão de
proteger Lorde Rahl. — a expressão da Mord-S ith f icou sombr ia . — Porque você
não desejar ia tal ajuda ?
Jennsen lembrou do que Althea falou sobre profecia .
— E le poder ia dizer para mim como eu vou morrer , a té mesmo o dia . E
se você t ivesse que proteger Lorde Rahl cont ra uma ameaça que est ivesse chegando, e
soubesse que no dia seguinte morrer ia de alguma forma terr ível ? Soubesse a hora exata , os detalhes agonizantes . Isso poder ia deixá - la em um estado de medo
paralisante, e nesse pânico de saber exatamente quando e como você morrer ia ,
naturalmente você não ser ia a dequada para proteger a vida de Lorde Rahl. A expressão de Nyda aliviou apenas levemente.
— Você realmente acha que o Mago Rahl dir ia uma coisa assim?
— Porque acha que mant inham ele iso lado ? Ele é per igoso. A profecia
poder ia ser per igosa para pessoas co mo eu que protegem Lorde Rahl.
— Ou talvez pudesse ajudar. — Nyda disse. — Se você soubesse que
algo ruim acontecer ia , poder ia impedir .
— Então isso não ser ia profecia, ser ia?
Nyda des lizou a mão pela trança enquanto cons iderava as implicações .
— Mas se você soubesse de algo medonho antecipadamene , então talvez
conseguisse burlar a profecia e evitar o desastre .
— Se você conseguisse bur lar a profecia , isso far ia com que ela est ivesse
errada . Se ela est ivesse errada , se ela fosse uma profecia não cumprida , então tornar ia-se apenas as tolas palavras vazias de um velho , não é mesmo? Então como a
profecia poder ia ser dist inguida das palavras loucas de um lunático qualquer qu e
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afirmava ser um profeta?
— Mas essas não são palavras vazias , — Jennsen ins ist iu. — É profecia .
Se esse profeta desejasse pr ejudicar minha missão , poder ia dizer algo terr ível para mim sobre o meu futuro. Se eu soubesse de algo terr ível , poderia falhar com Lorde
Rahl.
— Está querendo dizer , — Nyda perguntou. — que acha que ser ia como
se eu acertasse alguém com meu Agiel? Isso far ia essa pessoa hes itar ?
— S im. Só que se nós soubéssemos de uma profecia , e t ivéssemos medo, do
modo como ela era , ser ia Lorde Rahl quem estar ia em r isco por causa de nossa
fraqueza e medo.
Nyda soltou a trança e coloc ou a mão de volta no corr imão.
— Mas eu não hesit ar ia , sabendo como eu morrer ia , especialmente se fosse
a vida de Lorde Rahl que eu est ivesse salvando. Como uma Mord-S ith, estou sempre
preparada para morrer . Toda Mord-S ith deseja morrer lutando por Lorde Rahl, não velha e desdentada em uma cama .
Jennsen f icou imaginando se a mulher era louca, ou se r ea lmente poder ia ser
tão dedicada .
— Uma bela declaração , — Sebastian interveio. — mas você está
disposta em apostar a vida de Lorde Rahl nisso?
Nyda olhou nos olhos dele.
— Se fosse a minha vida no caminho ? Sim. Eu não hes itar ia sabendo
como e quando eu morrer ia .
— Então eu admito que você é uma mulher muito melhor do que eu. —Jennsen fa lou.
Nyda assentiu de forma sombr ia .
— Eu não poderia esperar que você fo sse comparável a mim . Você pode
carregar a faca , mas você não é Mord-S ith. Jennsen gostar ia que Nyda seguisse adiante. Se não conseguisse convencer a
mulher , e t ivesse que lutar contra ela , esse ser ia um lugar muito ruim para ter qu e
fazer isso. A Mord-Sith era for te e rápida . Com Sebastian lá atrás , ele poder ia ser de pouca ajuda . Além disso, balançando na ponte ondulante sobre o abismo, a cabeça de
Jennsen estava girando.
Ela não gostava de lugares altos , e nunca t inha se orgulhado do seu senso de
equil íbr io.
— Eu far ia o melhor que pudesse para não falhar com Lorde Rahl em
uma situação como essa , — Jennsen falou. — mas não posso jurar que não falhar ia .
Eu não gostar ia que a vida de Lorde Rahl dependesse dessa resposta .
Nyda assentiu, res ignada .
— Isso é uma co isa sábia . — finalmente ela virou e começou a andar
mais uma vez sobre a ponte . — Entretanto, mesmo assim eu ainda tentar ia mudar
a profecia .
Jennsen emit iu um leve suspiro enquanto caminhava , seguindo bem per t o
dela . De cer to modo ela não entendeu , suas palavras estavam mexendo com a Mord-
Sith mais do que parecia poss ível . Espiou por cima da extr emidade mas ainda não enxergava fundo.
— Profecia não pode ser alterada , ou deixar ia de ser uma profecia . A
profecia vem de profetas , que possuem o Dom pa ra ela .
Nyda estava com a trança sobre o ombro novamente , acar iciando-a.
— Mas se ele é um pro feta , então conhece o futuro, e, como você disse,
isso não pode ser alterado ou não ser ia profecia . . . então ele estar ia apenas dizendo o
que acontecer ia . Ele não pode mudá-lo, você não pode mudá-lo. Isso já va i acontecer
quer ele conte a você ou não. Se contar a você far ia com que você falhasse em proteger Lorde Rahl, então ele já ver ia ta l evento, assim isso está pr edef inido a
acontecer e ser ia par te da profecia d esde o início.
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Jennsen afastou umpunhado de cabelo dos olhos enquanto avançava sobre a
ponte, segurando o corr imão com f irmeza . Em sua mente, ana lisava a questão
fur iosamente para apresentar uma resposta lógica . Não fazia iddeia se as coisas que
ela falava eram verdadeiras ou não, mas pensou quee soavam convincentes e pareciam estar funcionando. O problema era quee Nyda cont inuava fazendo perguntas qu e
Jennsen t inha ma is e ma is dificu ldade em responder . Sent ia quase como se est ivesse
mergulhando dentro do vazio abaixo, e cada tentat iva de subir apenas f izesse com qu e ela escorregasse ma is fundo. Fez o melhor que podia para esconder qualquer traço de
desespero em sua voz.
— Mas você não entende? Profetas não enxergam tudo a r espeito de
qua lquer pessoa , como se o mundo todo e cada cois inha que acontece faça par te de
uma grande peça a ser encenada de acordo com um roteiro que o profeta já t enha l ido .
Um profeta ver ia somente a lgumas coisas. . . ta lvez até mesmo apenas algumas coisas daquilo que ele escolha. Mas outras coisas , coisas que ele não vê, ele possa tentar
inf luenciar .
Nyda olhou para trás franzindo a testa .
— O que você quer dizer?
Jennsen sent iu que a única segurança era manter Nyda preocupada com a
segurança do seu Lorde Rahl.
— Quero dizer que , se ele desejasse fer ir Lorde Rahl, poder ia dizer a lgo
para mim que f izesse com que eu hes itasse , só para fazer com que eu hes itasse, mesmo
se ele não t ivesse visto um evento assim. A expressão de Nyda f icou ainda ma is sér ia .
— Quer dizer que ele poder ia ment ir ?
— S im.
— Mas porque o Mago Rahl deseja ia fer ir Lorde Rahl? Que razão ele
poder ia t er?
— Eu já disse , ele é per igoso. Era por isso que mant inham ele isolado no
Palácio dos Profetas . Quem sabe que outras coisas sabiam sobre ele que não sabemos , coisas que causaram a sensação da necessidade de manter um homem assim preso.
— Isso ainda não responde porque o Mago Rahl ir ia querer fer ir Lorde
Rahl. Jennsen sent iu como se est ivesse em uma luta com facas. . . tentando
proteger -se da lâmina verba l afiada dessa mulher .
— Não é só a profec ia. . . e le é um mago . Tem o Dom. Não sei se ele está
inter essado em fer ir Lorde Rahl. . . ta lvez não esteja . . . mas não quero arr iscar a vida de
Lorde Rahl para descobrir . Sei o bastante sobre magia para saber que não gosto de
mexer com as coisas de magia que estão além de mim. Tenho que colocar a vida de Lorde Rahl em pr imeiro lugar . Não estou dizendo que acredito que Nathan Rahl esteja
inclinado a causar danos, só estou dizendo que é meu trabalho proteger Lorde Rahl e
não quero arr iscar com uma magia assim, magia com a qua l eu não consigo l idar . A mulher abr iu a por ta no f inal da ponte empurrando com o ombro .
— Não posso discut ir isso . Não gosto de nada que tenha r elação com
magia . Mas se Lorde Rahl está em per igo por causa de um mago profeta , ta lvez foss e melhor você f icar aqui para podermos ver if icar isso .
— Não sei se Nathan Rahl representa uma ameaça , mas tenho um assunto
urgente que sei com cer teza r epresentar um um grave per igo para Lorde Rahl. Minha
responsabilidade é cu idar disso.
Nyda testou uma porta mas encontrou -a fechada . Ela cont inuou descendo o
corredor escuro.
— Mas se a sua suspeita a respeito de Nathan Rahl est iver correta , então
dever íamos. . .
— Nyda, eu espero que você possa ficar de olho nesse Nathan Rahl para
mim. Não posso fazer tudo isso sozinha . Vigia ele para mim?
— Quer que eu o mate?
192
— Não. — Jennsen estava surpresa com a forma que a Mord-S ith pareccia
preparada para fazer algo ass im. — Claro que não . Só estou dizendo para prestar
a tenção, manter os olhos nele, só isso.
Nyda testou outra por ta . Dessa vez a maçaneta levantou . Antes que ela
abr isse, virou novamente para eles . Jennsen não gostou da expressão nos olhos dela
enquanto seu olhar desviava de um para o out ro .
— Isso tudo é loucura , — falou Nyda. — tem co isa demais que não faz
sent ido . Coisas demais não se encaixam. Não gosto quando as coisas não fazem
sentido.
Essa era uma cr iatura per igosa que poder ia voltar -se contra eles a qua lquer
momento. Jennsen t inha que encontrar um jeito de encerrar o assunto de u ma vez.
Lembrou daquilo que o Capitão Lerner t inha falado, do quanto ele estava cheio de
convicção, e pronunciou as palavras suavemente para Nyda.
— O novo Lorde Rahl mudou tudo, todas as regras. . . ele virou o mundo
todo de cabeça para baixo.
Finalmente Nyda soltou um suspiro profundo. Um leve sorr iso surgiu em seus láb ios .
— S im, ele mudou, — e la disse com uma voz suave . — Maravilha das
maravilhas . É por issoque eu dar ia minha vida para protegê - lo, é por isso que me
preocupo tanto.
— Eu também . Preciso fazer meu trabalho.
Nyda virou e conduziu-os por uma sombria espiral de degraus que desciam
formando um túnel através da rocha . Jennsen sabia que a teia que estava tecendo não
era inteiramente convincente . Estava surpresa de que funcionasse mesmo ass im. Uma longa jornada descendo degraus aparentemente inf initos e corr edores
escuros, ocas ionalmente cor tando passagens cheias de soldados , levou-os ainda mais
fundo no p lanalto abaixo do Palácio do Povo. A mão de Sebast ian nas costas dela durante grande par te da jornada era algo
confor tavelmente encorajador , e um a lívio. Jennsen mal podia acr editar que conseguiu
l iber tá- lo. Em breve, estar iam fora do Palácio e seguros bem longe.
Em algum lugar no inter ior do p lanalto, eles emergiram dentro da área pública centra l. Nyda levara-os por uma rota mais dir eta e poupou a eles t empo.
Jennsen prefer ia t er f icado dentro das passagens ocultas, mas , aparent emente, aqueles
atalhos terminaram nesse local dentro da área comum . Eles t er iam que conclu ir sua descida entr e as mult idões.
Pequenas bancas vendendo comida alinhavam-se pelo caminho durante a
rota enquanto mult idões de pessoas passavam desordenadamente em sua longa subida até o Palácio. Jennsen lembrou de ter passado pelos vendedores do lado oposto aos
balaústres de pedra com vista panorâmica para o nível abaixo em sua pr imeira vis ita
ao Palácio. Os odores , depois dos lugares empoeirados em que est iveram, eram uma
tentação quase além do suportável . Soldados patrulhando nas proximidades notaram eles em sua descida ,
movendo-se contra a mult idão. Como todos os soldados que ela viu dentro do Palácio ,
esses eram homens grandes , musculosos, pr eparados, olhos aler tas . Em suas armaduras de couro e cota de ma lha , armas penduradas nos cintos , eles formavam uma visão
int imidadora . Ass im que eles perceberam que Nyda os estava escoltando, os soldados
desviaram seus olhares para outras pessoas .
Quando Jennsen viu Sebast ian levantar o capuz, percebeu que ser ia uma boa ideia esconder os cabelos e seguiu o exemplo . O ar dentro do p lana lto estava fr io e
vár ias pessoas estavam com as cabeças cober tas po capuzes ou chapéus , então isso não
levantar ia suspeitas . Quando chegaram até a extremidade de um longo patamar nos l imites mais
baixos dentro do p lanalto, justamente quando eles f izeram a cur va para descerem o
lance de escada seguinte, Jennsen levantou os olhos . Do outro lado do patamar , um
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alto homem mais velho com cabelo l iso branco caindo sobre os ombros largos estava
acabando de descer os degraus . Embora fosse idoso, ele a inda era um homem
surpreendentemente belo. Independente de sua idade, movia-se com vigor .
Ele levantou os olhos . Seu olhar encontrou o de Jennsen. Parecia que o mundo havia parado nos olhos azuis escuros do homem.
Jennsen congelou. Tinha alguma coisa nele que parecia va gamente familiar ,
a lgo naqueles olhos que prendeu a ateção dela . Sebast ian havia parado dois degraus abaixo dela . Nyda estava ao lado dela .
O olhar da Mord-Sith seguiu o de Jennsen.
O olhar semelhante ao de um falcão estava fixo em Jennsen, como se eles fossem as únicas duas pessoas em todo aquele lugar .
— Quer idos espír itos , — Nyda sussurrou. — esse deve ser Nathan Rahl.
— Como você sabe? — Sebastian perguntou .
Ela deu um passo ao lado de Jennsen, sua atenção f ixa no homem.
— E le tem os olhos de um Rahl, de Darken Rahl. Tenho visto aqueles
olhos muitas vezes em pesadelos .
O olhar de Nyda desviou para Jennsen. Sua testa estava franzida .
Jennsen percebeu onde t inha visto os olhos do homem.. . no espelho.
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C A P Í T U L O 2 9
Naquela distância , na outra extr emidade do patamar , Jennsen viu os olhos do mago f icar em arregalados . A mão dele levantou, apontando através do amontoado
de pessoas .
— Pare ! — e le gr itou com uma voz poderosa . Mesmo com o barulho ao
redor , Jennsen conseguiu ouvir claramente aquela voz soar . — Pare!
Nyda estava olhando fixamente para ela , como se uma centelha de
reconhecimento est ivesse apenas a um instante de distância . Jennsen agarrou o braço dela .
— Nyda, você tem que deter ele.
Nyda desviou o olhar para observar por cima do ombro o homem que seguia
apressadamente em dir eção a el es. Olhou de volta para Jennsen.
Jennsen lembrou de Althea dizendo que podia ver um pouco de Rahl na
fis ionomia de Jennsen, e que outros que conheciam Darken Rahl poder iam r econhecê-la .
Jennsen aper tou o couro vermelho.
— Detenha ele ! Não escute qualquer coisa que ele diz !
— Mas talvez ele apenas. . .
Apertando o couro vermelho com f irmeza , Jennsen sacudiu a mulher .
— Não escutou nada do que eu falei? Ele pode me impedir de a judar
Lorde Rahl. Pode tentar enganá- la . Detenha ele. Por favor , Nyda. . . a vida de Lorde
Rahl está em grande per igo. Invocar o nome de Lorde Rahl fez a balança mudar novamente.
— Vá. — Nyda falou. — Depressa .
Jennsen assent iu e acelerou nos degraus . Só teve tempo para dar uma breve
olhada. Viu as pernas longas do profeta caminhando em dir eção a eles, sua mão
esticada , gr itando para que eles parassem. Nyda, com o Agiel empunho, corr eu até ele.
Jennsen observou a área procurando guardas , então virou para trás para dar uma olhada, tentando ver se Nathan Rahl ainda estava aproximando-se, t entando ver s e
Nyda estava parando ele . Sebastian segurou a mão dela , puxando-a rapidamente pelos
degraus. Jennsen não teve chance de dar outra espiada em seu parente mago. Não t inha percebido como s er ia afetada ao ver alguém que t inha parentesco
com ela . Não t inha esperado ver isso nos olhos dele . Antes, sempre houve apenas sua
mãe e ela . Foi a sensação ma is estranha. . . uma espécie de for te l igação. . . ver esse homem que de cer to modo era do sangue de la .
Mas se ele a capturasse, a ruína dela estar ia garantida .
Juntos, ela e Sebast ian desceram os degraus rapidamente, desviando de
pessoas que subiam. Algumas pessoas r esmungavam para eles dizendo que devia m olhar para onde estavam indo, ou praguejavam contra eles por estarem corr endo. Em
cada patamar, ela e Sebastian cor tavam as multidões e desciam o lance de escada
seguinte. Quando chegaram até um nível onde so ldados estavam pos icionados ,
reduziram a velocidade. Jennsen levantou um pouco ma is o capuz , cer t if icando-se de
que o cabelo estava escondido, junto com uma par te do seu rosto , t emendo que as
pessoas pudessem reconhecê- la por ser a f i lha de Darken Rahl. Ans iedade r evirou suas entranhas com a descoberta de que agora também havia a necess idade de pr eocupar -se
com isso.
O braço de Sebast ian ao redor da cintura dela a mant inha bem per to enquanto ele seguia caminho através do r io de pessoas . Para evitar soldados em
patrulha que moviam-se per to dos ba laústres , ele pr ecisou guiar Jennsen para o lado
com os bancos, fazendo com que f icassem mais per to no meio das bancadas,
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serpenteando através de fi leiras de pessoas .
O patamar estava apinhado de pessoas comprando bugigangas e lembranças
de sua vis ita ao Palácio do Povo. O ar estava carregado com o aroma de carnes e
temperos de algumas das bancadas . Casais estavam sentados m bancos comendo , bebendo, sorr indo, conversando animadamente. Outras simplesmente observavam as
pessoas passarem. Havia lugares sombreados entr e bancadas e pilar es onde alguns
casais sentados bem próximos em bancos ou , onde não havia bancos , bem junt inhos no escuro, trocavam car ícias , beijando.
Quando Jennsen e Sebast ian alcançaram a extremidade do patamar , prestes a
descerem, avistaram uma grande patrulha de soldados subindo os degraus . Sebast ian hesitou. Ela sabia que ele devia estar pensando na ú lt ima vez que soldados o notaram .
Esse era um grupo bem grande; ser ia imposs ível passar por eles sem estar a um braço
de distância . Enquanto marchavam subindo os degraus , os homens olhavam
cuidadosamente para todos . Jennsen duvidou que conseguir ia novamente resgatar Sebastian de uma cela
de pr isão. Era como se, uma vez que ela estava com ele, dessa vez eles pudessem levá -
la para ser interrogada. Se eles a det ivessem, Nathan Rahl selar ia o dest ino dela . Sent iu a sensação de pânico, da perdição, fechando o cerco sobre ela .
Jennsen, não querendo separar -se de Sebast ian, ao invés disso seegurou o
braço dele e puxou-o de volta pelo patamar , passando por casais em bancos , passando por aqueles que forma vam f ileiras em ba lcões , passando por pessoas em pé nas
sombras, abraçanddo-se, para dentro de um dos espaços escuros vazios . Ofeganddo
com o esforço da corr ida deles , ela colocou os ombros dentro do espaço entr e a par te
traseira de uma bancada e uma coluna. Girou Sebastian na frente dela , de forma qu e suas costas estar iam voltadas para os soldados .
Com o capuz levantado como estava , eles não enxergar iam muita coisa dele .
Se eles ao menos os notassem, ver iam apenas o bastante para notar que ela era uma mulher . Eles pareciam com nada mais além de um casal completamente comum .
Jennsen colocou os braços em volta da cintura de Sebastian e assim eles parecer iam
como qua lquer um dos outros casais comuns passando alguns momentos sozinhos .
Era tranquilo ali a trás no pequeno santuár io deles . O som das respirações pesadas deles abafavam as vozes não muito distantes . A ma ior ia das pessoas não
conseguir iam enxergá - los, e aqueles que poder iam estavam concentrados em outras
coisas. Jennsen f icara desconfor tável e inquieta ao observar casais unidos como ela e Sebast ian estavam agora , então ela imaginou que ser ia a mesma coisa para outras
pessoas. Parecia que ela estava cer ta ; ninguém prestava qua lquer atenção a um jovem
casal abraçando-se e obviamente desejando f icar sozinho. As mãos de Sebastian estavam na cintura dela . As mãos dela seguravam as
costas dele, assim eles far iam o papel enquanto esperavam os soldados passarem . Ela
estava agradecida a lém das palavras quee os bons espír itos t ivessem ajudado a l iber tar
Sebast ian.
— Pensei que jamais a ver ia novamente. — e le sussurrou , pela pr imeira
vez sozinho com ela desde que havia sido l iber to , pela pr imeira vez capaz de dizer o que desejava .
Jennsen desviou os olhos das pessoas que passavam, para dentro dos olhos
dele, e viu o quanto ele estava ardente.
— Não podia deixar você aqui .
Ele ba lançou a cabeça .
— Não cons igo acreditar no que você fez . Não cons igo acreditar no modo
como você abr iu caminho até aquele lugar . Deve ter enganado eles muito bem. Como
você conseguiu fazer isso?
Jennsen engoliu em seco, sent indo que estava à beira das lágr imas com a explosão de emoções , o medo, a alegr ia , o pânico, o tr iunfo.
— T ive que fazer a lgo , só isso. Precisava t irar você de lá . — Ela ver if icou
para ter cer tez de que ninguém estava p er to antes de prosseguir . — Não consegui
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suportar o pensamento de você ficando ali , ou do que eles podiam fazer com você .
Procurei Althea, a feit iceira , para buscar ajuda. . .
— Então fo i assim que você conseguiu ? Com a magia dela ?
Jennsen balançou a cabeça enquanto olhava dentro dos olhos dele .
— Não. Althea não podia me a judar . . . é uma longa histór ia . Ela contou
como esteve na sua terra natal , no Mundo Ant igo. — ela sorr iu. — Como eu disse , é
uma longa histór ia , para outra hora . Tem a ver com os Pilar es da Criação.
Uma sobrancelha levantou .
— Quer dizer , que ela r ealmente esteve lá ?
— O quê?
— Os Pilares da Cr iação.. . e la realmente fo i até lá quando estava no
Mundo Ant igo? — o olhar dele seguiu um soldado distante por um momento . — Você
disse que isso tem algo a ver com a forma que ela ajudou . Ela rea lmente viu o
lugar?
— O quê . . . ? Não. . . ela não podia me ajudar . Falou que eu t inha de fazer
isso sozinha . Fiquei apavorada por causa de você. Não sabia o que fazer . Então, eu
lembrei daquilo que você fa lou sobre blefar . Jennsen franziu a testa mostrando cur iosidade.
— O que você quer dizer sobre e la ver o . . .
Mas suas palavras , seu próprio pensamento, perdeu-se quando ele olhou
dentro dos olhos dela e abr iu aquele sorr iso maravilhoso dele .
— Nunca vi ninguém realizar uma proeza como essa .
Foi inesperadamente maravilhoso para ela saber que o surpreendera , qu e
agradara ele.
Os baços dele pareciam tão bons , tão poderosos . Mergulhados nas sombras ,
ele a estava segurando bem per to . Ela podia sent ir a respiração quente d ele na bochecha .
— Sebastian. . . eu estava com tanto medo. Sent i tanto medo de jama is vê- lo
novamente. Sent i tanto medo por você .
— Eu sei.
— Você também sent iu medo ?
Ele assent iu .
— Só conseguia pensar em como jamais ver ia você de novo .
O rosto dele estava tão per to que ela podia sent ir o calor ir radiando da pele
dele. Podia sent ir todo o tamanho do corpo dele , suas pernas , seu tronco, pr essionado
contra ela enquanto seus láb ios es fr egvam suavemente nos dela . O coração dela pulsava em um r itmo fur ioso.
Mas então ele afastou -se, como se t ivesse pensado melhor . Ela estava
agradecida pelo apoio dos braços dele porque , ao perceber que ele quase a beijara , não
t inha cer teza se as suas pernas a manter iam de pé nesse momento . Que sensação estonteante um beijo roubado nas sombras como esse ter ia causado . Quase um beijo.
Sent iu os movimentos ali per to , mas as pessoas pareciam a milhas de
distância . Jennsen sent iu-se completamente sozinha com Sebast ian, fraca em seus braços. Segura em seus braços .
Então, ele puxou-a mais per to, como se est ivesse dominado, como se
estivesse nas garras de algo que não conseguia mais controlar . Ela enxergou nos olhos dele uma espécie de entr ega completa .
Ele a beijou.
Jennsen f icou imóvel como rocha , surpresa de que ele r ea lmente est ivess e
fazendo isso, beijando-a, segurando-a com f irmeza nos braços , exatamente como ela vira amantes fazendo.
E então os braços dela aper taram e ela também o estava abraçando ,
beijando-o. Nunca imaginara que algo pudesse ser tão maravilhosamente intoxica nte.
Em toda sua vida , Jennsen nunca pensou que uma coisa dessa pudess e
197
acontecer com ela . Tinha sonhado com isso , é claro, mas sabia que era apenas uma
fantasia , uma coisa para outras pessoas . Jamais pensou que isso pudesseacontecer com
ela . Com Jennsen Rahl.
E agora , magica mente, estava . Um gemido escapou da garganta dela enquanto ele a aper tava com força ,
abraçando-a ferozmente, beijando-a com apaixonado abandono. Ela estava bastante
consciente do braço dele por trás de suas costas , do outro braço por trás dos ombros dela , dos seios dela esmagados contra os músculos r ígidos do peito dele , sua boca
press ionada contra a dela , do próprio gemido gemido de necess idade dele em r esposta
ao dela . Inesperadamente, aquilo acabou. Foi quase como se ele t ivesse r ecuperado
sua compostura e feito um esforço para recuar .
Jennsen ofegou, r ecuperando o fôlego. Ela gostou da sensação de
serabraçada por ele. A polegadas de distância , olharam dentro dos olhos um do outro . Foi tudo tão assustador , tão rápido, tão inesperado. Tão confuso. Tão cer to.
Ela quer ia derr eter dentro de outro abraço , de outro beijo delicioso, mas
quando ver ificou quem estava ao r edor , quem podia estar observando , r ecuperou o controle, lembrando do lugar onde estavam e porque estavm escondidos no l oca l
escuro.
Nathan Rahl estava atrás deles. Apenas Nyda ficara entr e eles . Se ele falass e para ela quem era Jennsen, e ela acr editasse nele , então todo o exército estar ia atrás
deles.
Precisavam dar o fora do lugar .
Quando S ebastian afastou-se dela , as dúvidas desapareceram. O olhar dele vasculhou a mult idão enquanto procurava ter cer teza de que
ninguém estava observando.
— Vamos .
A mão dele encontrou a dela e r epent inamente ele a estava puxando para
longe do santuár io no espaço sombreado no Palácio .
Jennsen sent iu -se tonta com uma torr ente de emoções confusas, tudo desdeo medo e vergonha até a ver tiginosa excitação . Ele a beijara . Um beijo de verdade. Um
beijo homem-mulher . Ela , Jennsen Rahl, a mulher ma is caçada em D'Hara.
Ela quase não notava os degr aus enquanto desciam. T entou parecer norma l, parecer como qualquer outra pessoa que s implesmente deixava o Palácio após uma
vis ita . Porém, ela não estava sent indo-se norma l. Estava sentindo como se todos qu e
olhassem para ela fosse saber que ele acabara de beijá- la .
Quando inesperadamente um soldado virou na dir eção deles , ela segurou obraço de Sebast ian com as duas mãos , encostando a cabeça no ombro dele , e sorr iu
para o homem como se fosse uma saudação casual . Isso foi distração suf iciente para
que eles t ivessem passado por ele e est ivessem longe antes que ele ao menos t ivess e pensado em olhar para Sebastian.
— Aquele fo i um pensamento rápido. — Sebastian sussurrou, soltando
um suspiro. Ass im que passou pelo soldado, eles r etomaram o passo novamente. As
coisas que ela viu no caminho de entrada agora eram um borrão . Não se importava
com nada disso. Só quer ia sair dali . Quer ia afastar -se do lugar onde apr is ionaram Sebast ian, onde os dois estavam em constante per igo . Ela estava ma is exausta com a
tensão pers istente de estar nesse lugar do que est ivera com os per igos do pântano .
Finalmente, os degraus terminaram. A luz que entrava na enorme aber tura da grande entrada tornava dif íci l enxergar , mas o espaço amplo do lado de fora era uma
visão bem vinda . Juntos, de mão dadas , eles correram em dir eção a luz .
Mult idões de pessoas andavam de um lado para outro , parando em bancas ,
observando transeuntes , contemplando admiradas o tamanho do lugar , enquanto outros ainda passavam em seu caminho para subir em os degraus . Soldados nas la terais
observavam as pessoas , então ela e Sebastian moveram-se para o meio. Os soldados
não pareciam mostrar inter esse tanto naqueles que par tiam quanto naqueles qu e
198
entravam.
A fr ia luz do dia os recebeu do lado de fora da torre de rocha . O mercado
abaixo do p lana lto era uma explosão de atividade, exatamente como est ivera
anter iormente. As ruas improvisadas que passavam pelas t endas e bancas fervilhavam com pessoas procurando a lgo ou às vezes parando para efetuar uma compra . Outras
seguiam em dir eção a entrada para o Palácio do Povo , com trabalhos , com esperanças ,
com pequenas mercadorias, com dinheiro . Vendedores ambulantes caminhavam entr e os vis itantes , gr itando as maravilhas de suas mercadorias .
Ela fa lara ue os cavalos e Betty desapareeram, então Sebastian conduziu -a
até uma área cercada ali per to cheia de cavalos de toda var iedade . O homem qu e tomava conta dos cava los estava sentado em um caixote que fazia par te da cerca de
corda , esfr egando os braços por causa do fr io . Selas estavam em uma f i leira seguindo
a extensão da cer ca improvisada .
— Gostaríamos de comprar alguns cavalos. — Sebast ian falou enquant o
aproximava-se, checando as condições dos anima is .
O homem levantou os olhos , fechando-os levemente na luz do sol .
— Bom para vocês .
— Bem, você está vendendo ou não?
— Não. — o homem disse . Ele virou e cuspiu . Enxugou o queixo com a
costa da mão. — Esses cava los pertencem a outras pessoas . Estou sendo pago para
tomar conta deles, não para vendê- los. Se eu vender o cavalo de a lguém, poderei t er a
minha pele arrancada enquanto ainda est iver vivo.
— Você sabe quem pode vender cavalos ?
— S into muito , não posso dizer que sei . Dê uma checada por aí .
Eles agradeceram e seguiram adiante pelas ruas , procurando áreas aber tas
onde poder iam encontrar cavalos . Jennsen não se importava em andar , geralmente er s assim que ela e sua mãe viajavam, mas ela entendia a urgência de S ebastian em
encontrar um cava lo. Com uma fuga tão aper tada , e com o mago, Nathan Rahl,
tentando detê- los, eles precisavam afas tarem-se do Palácio do Povo o ma is rápido qu e pudessem.
Em um segundo lugar , receberam a mesma r esposta que t iveram no pr imeiro .
Jennsen estava faminta , e gostar ia de conseguir a lguma coisa para comer , mas sabia que era melhor concentrarem-se na fuga do qu e cont inuarem aqui para fazerem uma
refeição e acabarem morrendo com os estômagos cheios . Sebast ian, segurando a mã o
dela com f irmeza , a puxava entr e bancas , cor tando por ruas cheias em dir eção a
cavalos presos em um espaço poeir ento .
— Você está vendendo cavalos? — Sebastian perguntou para um homem
que tomava conta deles . O homem, seus braços cruzados , estava encos tado em um poste.
— Não.Não tenho nenhum para vender .
Sebast ian assent iu. — Obr igado de qualquer jeito .
O homem segurou a capa de Sebastian antes que eles seguissem em fr ente .
Inclinou chegando mais per to.
— Vocês estão saindo dessa área ?
Sebast ian balançou os ombros .
— Vo ltando para o sul . Pensamos em arrumar um cavalo enquanto
estávamos vis itando o Palácio.
O homem inclinou um pouco e olhou par a os dois lados .
— Depo is que escurecer , venh falar comigo. P laneja f icar por aqui tanto
tempo? Talvez eu possa ajudá - lo.
Sebast ian assent iu.
— Tenho alguns negócios que farão com que eu fique aqui o dia todo .
Voltar ei depois que escurecer .
Ele segurou o braço de Jennsen e conduziu-a descendo a rua cheia . Tiveram
que sair do caminho de duas irmãs acar iciando colares que compraram enquanto o pa i
199
delas caminhava atrás com vár ios it ens que eles compraram. A mãe observava suas
garotas enquanto puxava um par de ovelhas. Isso causou em Jennsen uma pontada de
dor por causa de Betty.
— Você está maluco? — e la sussurrou para Sebastian, confusa a r espeit o
do mot ivo pelo qua l ele dir ia para o homem que eles voltar iam depois do anoitecer . —
Não podemos ficar aqui o dia todo .
— É claro que não podemos . O homem é um cortador de gargantas . Uma
vez que eu t ive de perguntar se ele estava vendendo cava los , ele sabe que eu tenho o dinheiro para comprar um e gostar ia de aliviar -me dele. Se voltarmos lá depois do
escurecer provavelmente ele t erá amigos escondidos nas sombras esperando para nos
atacar .
— E le é um ladrão? Está falando sér io?
— Esse lugar está cheio de ladrões . — Sebast ian inclinou com uma
expressão sér ia . — Essa é D'Hara , uma terra onde os ganaciosos e os perversos
atacam os fracos , onde as pessoas não se importam com mais nada além do bem estar
de seus colegas , e muito menos com o futuro da humanidade. Jennsen entendeu o que ele quer ia dizer . No caminho até o Palácio do Povo ,
Sebast ian t inha falado sobre o Irmão Narev e suas l ições , sua esprança por um futuro
onde a humanidade não estivesse sofr endo, um futuro onde não houvesse fome, doença ou crueldade. Onde cada homem cuidasse do próximo. Sebastian disse isso, com a
ajuda de Jagang, o Justo, e com a boa vontade da s pessoas boas e decentes , a
Sociedade da Ordem a judar ia a tornar isso rea lidade. Jennsen teve dif icu ldade em imaginar um mundo maravilhoso assim, um mundo longe de Lord Rahl.
— Mas , se aquele homem era um ladrão, porque você falar ia para ele qu e
voltar ia?
— Porque se eu não falasse isso , se falasse que não podia esperar , então
ele poder ia fazer um s inal para seus parceiros . Nós não saber íamos quem ser iam eles
mas eles nos conhecer iam e encontrar iam um lugar onde pudessem nos surpreender .
— Você acha mesmo?
— Como eu disse , o lugar está cheio de ladrões . Tome cuidado ou pode ter
a sua bolsa cor tada do cinto sem ao menos perceber .
Ela estava prestes a confessar que extamente isso t inha mesmo acontecido
quando ouviu seu nome sendo chamado.
— Jennsen! Jennsen!
Era Tom. Grande como era , destacava-se como uma montanha entr e
pequenas colinas , e mesmo assim estava com a mão levantada , acenando para ela , como se t ivesse medo que ela pudesse ter dif iculdade em avistá -lo.
Sebast ian chegou ma is per to.
— Conhece ele?
— E le me ajudou a resgatar você .
Jennsen não teve tempo para explicar mais do que isso antes de mostrar um sorr iso de r econhecimento para o grande homem b alançando o braço para ela . Tom,
feliz como um f ilhot inho ao vê- la , corr eu pa ra encontrá - la no meio da rua. Ela viu os
irmãos dele lá atrás na banca deles . Tom exib ia um largo sorr iso.
— Sabia que você vir ia , exatamente como prometeu . Joe e Clayton
disseram que eu estava louco por achar que você vir ia , mas fa lei para eles que você cumpr ir ia sua promessa de aparecer antes de par tir .
— Eu . . . acabei de vir do Palácio. — e la bateu levemente na capa onde
ela cobr ia cobr ia a faca . — Eu temo dizer que estamos com pressa e precisamos
seguir nosso caminho.
Tom assent iu, aceitando. Ele segurou a mão de Sebastian e bala nçou-a como se fossem amigo afastados fazia muito tempo .
— Eu sou Tom. Você deve ser o amigo que Jennsen estava ajudando.
200
— Isso mesmo . Eu sou Sebastian.
Tom balançou a cabeça fazendo um gesto em dir eção a Jennsen.
— E la é mesmo uma co isinha , não é?
— Nunca vi ninguém como ela. — Sebastian garant iu a ele.
— Um homem não poder ia querer mais do que uma mulher como essa
ao seu lado. — Tom falou.
Caminhou f icando entr e eles , colocando um braço sobre o ombro de cada u m deles, evitando qua lquer escapatór ia , e gu iou-os até sua banca .
— Tenho uma co isa para vocês do is .
— O que você quer dizer? — Jennsen perguntou.
Eles não t inham tempo para qualquer demora . Precisavam fugir antes que o
mago surgisse procurando por eles. . . ou enviasse tropas atrás deles . Agora que Nathan Rahl t inha visto ela , podia descrevê- la para os guardas . Todos saber iam como era a
aparência deles .
— Oh, uma coisa. — d isse Tom, fazendo mistér io.
Ela sorr iu para o grande homem louro .
— O que você tem?
Tom enfiou a mão no bolso e mostrou uma bolsa . Entr egou-a para ela .
— Bem, em pr imeiro lugar , peguei isso de volta para você.
— Meu dinhe iro?
Tom sorr iu enquanto observava a surpresa nos olhos dela quando seus dedos
tocaram sua familiar bolsa de couro gasto .
— Você ficará feliz em saber que o cavalhe iro que estava com isso
estava relutante em separar -se dela , mas uma vez que não per tencia a ele , no f ina l
ele enxergou a luz da razão, junto com a lgumas estrelas . Tom bateu levemente no ombro dela como se desejasse indicar que ela podia
entender o que ma is ele quer ia dizer com aquilo.
O olhar de Sebastian acompanhou quando ela afastou a capa e amarrou a bolsa no cinto. A expressão dele declarava que ele não teve dif icu ldade em imaginar o
que t inha acontecido com ela .
— Mas como encontrou ele ? — Jennsen perguntou.
Tom balançou os ombros .
— O lugar parece grande para aqueles que visitam , mas quando você
está aqui com fr equência , aprende quem são as pessoas comuns da área e sabe quais são os negócios delas . Eu o r econheci pela sua descr ição do ladrão . Cedo esta manhã
ele apareceu, jogando sua conversa , tentando enganar uma mulher e t irar seu dinheiro .
No momento em que ele passava , eu vi a mão dele emba ixo dos pacotes dela , deslizando dentro da roupa dela , então agarrei ele pela gola . Meus irmãos e eu
t ivemos uma longa conversa com o colega sobre devolver coisas que ele ―encontrou‖
que não per tenciam a ele.
— Esse lugar está cheio de ladrões. — Jennsen falou.
Tom balançou a cabeça .
— Não julgue um lugar por causa de um homem . Não me entenda ma l,
eles estão ao redor . Mas a maior ia das pessoas aqui são bastante honestas . Do modo
como eu vejo, onde quer que você vá sempre tem ladrões. Sempre houve, sempr e
haverá . O homem que eu ma is t emo é aquele que que prega a vir tude e uma vida melhor enquanto usa as boas intenções das pessoas para cegar os olhos delas sobre a
luz da verdade.
— Acho que está certo. — disse ela .
— Talvez a virtude e uma vida melhor seja um objet ivo quee faça va ler
tais meios. — Sebast ian fa lou.
— De acordo com o que tenho visto na vida , um homem que prega um
caminho melhor ao custo da verdade é um homem que deseja nada mais do que ele mesmo ser o mestr e e você o escravo.
201
— Entendo o que você quer dizer. — Sebast ian cedeu. — Acho que
tenho sorte por não fazer negócios com pessoas assim .
— Agradeça por isso. — falou Tom.
Na banca dele, Jennsen segurou as mãos de Joe e Clayton.
— Obr igada por ajudarem . Não acredito que vocês pegaram minha bolsa
de volta .
Os sorr isos deles t inham muito em comum com o de T om.
— Fo i a maior diversão que t ivemos já faz algum tempo. — falou Joe.
— Não apenas isso, — Clayton adicionou. — não podemos agradecer o
bastante a você por manter Tom ocupado de maneira que conseguimos passar dois
dias vis itando o Palácio. Já estava na hora de Tom nos dar uma folga .
Tom colocou uma das mãos nas costas de Jennsen, fazendo ela dar a volta na banca, a té a carroça dele ma is adiante. Sebastian seguiu os dois entr e os barr is de
vinho e a banca ao lado deles que vendia it ens de couro , onde, anter iormente, Irma
estivera vendendo as suas linguiças.
Atrás da carroça de Tom, Jennsen viu os grandes cava los dele . Então, mais além, viu os outros .
— Nossos cavalos ! — Jennsen f icou boquiaber ta . — Você pegou nossos
cavalos?
— Com certeza. — falou T om, radiante de orgulho. — Encontrei Irma
esta manhã quando ela veio até o mercado com outra carga de linguiças . Ela estava
com os cavalos . Falei para ela que você prometeu aparecer hoje antes de par tir , então
ela f icou feliz em ter uma chance de devolvê - los para você. T odos os suprimentos
estão com eles.
— Isso é boa sorte. — Sebastian disse. — Não podemos agradecer o
suficiente . Estamos com muita pressa .
Tom apontou para a cintura de Jennsen, onde ela mantinha a faca sob a capa .
— Eu percebi. Jennsen olhou ao r edor , sent indo uma cr escente sensação de tr isteza .
— Onde está Betty?
Tom fez uma careta .
— Betty?
Jennsen engoliu em seco. — Minha cabra , Betty. — era um grande
esforço manter a voz fir me . — Onde está Betty?
— Sunto muito , Jennsen. Não sei nada sobre uma cabra . Irma só estava
com os cava los . — Tom ba ixou o rosto. — Não pensei em perguntar sobre qualquer
outra coisa .
— Sabe onde Irma mora?
A cabeça de T om continuou abaixada .
— Sinto muito, não. Ela apareceu esta manhã e estava com os seus cavalos e
as coisas . Vendeu as l inguiças dela e esperou du rante a lgum tempo antes de dizer qu e
precisava voltar para casa . Jennsen agarrou a manga dele .
— Quanto tempo faz?
Tom balançou os ombros .
— Não sei . Umas duas horas? — e le o lhou por cima do ombro para os
irmãos . Os dois assent iram.
A mandíbula de Jennsen tr emeu. Ela teve medo de testar a sua voz outra
vez. Sabia que ela e Sebastian não podiam f icar por aqui esperando. Com o mago tão
per to, t entando detê- la , sabia que ter iam sor te de escaparem vivos . Retornar estar ia fora de questão.
Um olhar para o rosto de Sebastian confirmou isso.
Lágrimas faziam os olhos dela arderem.
— Mas . . . você não descobr iu onde ela morava ?
202
O olhar de Tom ba ixou quando ele balançou a cabeça .
— Não perguntou se ela estava com mais alguma co isa que nos
pertencia?
Ele ba lançou a cabeça novamente.
Jennsen quis gr itar e bater os punhos contra o peito dele .
— Ao menos pensou em perguntar quando ela vo ltar ia ?
Tom balançou a cabeça .
— Mas prometemos a ela dinheiro pora tomar conta de nossos cava los , —
falou Jennsen. — e la dir ia quando vo ltar ia para poder receber .
Ainda olhando para os pés , Tom disse.
— Ela falou que r eceber ia por tomar conta dos cavalos . Eu paguei.
Sebast ian t irou dinheiro, contou moedas de prata , e ofer eceu-as a Tom. Tom
recusou-as, mas Sebastian ins ist iu, f ina lmente jogando o dinheiro sobre a banca para saldar a dívida .
Jennsen engoliu o desespero. Betty estava perdida .
Tom pareceu arrasado.
— S into muito .
Jennsen só conseguiu assent ir . Esfregou o nar iz enquanto observava Joe e
Clayton selando os cava los para eles . Os sons do mercado pareceram distantes . Em u m estado dormente, ela mal sent iu o fr io. Quando t inha visto os cava los ela pensou . . .
Agora , só conseguia pensar em Betty ba lindo nervosa . Se ao menos Betty
ainda est ivesse viva .
— Não podemos ficar aqui , — Sebastian respondeu suavemente diante do
olhar que ela lançou para ele implorando. — sabe disso tão bem quanto eu . Temos
de seguir nosso caminho.
Ela olhou de volta para Tom.
— Mas eu falei para você , a r espeito de Betty. — o desespero surgiu e m
sua voz . — Eu fale i que Irma estava com nossos cava los e minha cabra , Betty. Eu
falei. . . sei que fa lei .
Tom não conseguia olhar nos olhos dela .
— Você falou , Senhora . Sinto muito, mas eu s implesmente esqueci de
perguntar para ela . Não posso ment ir para você dizendo ou tra coisa ou inventando uma desculpa. Você fa lou. Eu esqueci.
Jennsen assent iu e colocou uma das mãos no braço dele .
— Obr igada por recuperar nossos cavalos , e por toda aquela ajuda . Não
conseguir ia ter feito isso sem você.
— Temos que ir andando , — Sebast ian falou, ver if icando os a lforges e
aper tando as corr eias . — Vai levar a lgum tempo para abr irmos caminho no meio
das mult idões e sa irmos daqui.
— Esco ltaremos vocês. — falou Joe.
— As pessoas saem do caminho de nossos grandes cavalos de carga , —
Clayton explicou. — Vamos lá . Conhecemos o caminho ma is rápido para sair . Sigam-
nos e passaremos pelas mult idões .
Os dois homens puxaram um cavalo para que pudessem pisar sobre um barr il e montar . Eles guiaram habil idosamente os enormes cavalos para fora do cami nho
estreito e entr e as bancas e barr is sem esbarrar em nada .
Sebast ian ficou esperando por ela , segurando as rédeas dos cavalos deles ,
Rusty e Pete. Quando passavam, Jennsen fez uma pausa e olhou dentro dos olhos de Tom,
comparti lhando com ele um momento par ticular sem pa lavras no mei o de todas as
pessoas que estavam ao r edor . Ela est icou -se e beijou a bochecha dele , então encostou a própria bochecha contra a dele durante um momento . As pontas dos dedos dele
apenas tocaram o ombro dela . Enquanto ela se afastava , o olhar tr iste dele cont inuou
fixo no rosto dela .
203
— Obr igada por me a judar , — e la sussurrou . — eu estar ia perdida sem
você. "
Então Tom sorr iu.
— O prazer fo i meu, senhor ita .
— Jennsen. — e la disse .
Ele assent iu.
— Jennsen. — e le limpou a garganta . — Jennsen, eu sinto muito. . .
Jennsen, contendo as lágr imas , encostou os dedos nos lábios dele para si lenciá- lo.
— Você a judou a salvar a vida de Sebast ian. Você foi um herói para mim
quando eu precisei de um. Obrigada do fundo do meu coração.
Ele enf iou as mãos nos bolsos quando seu olhar deviou para o chão ma is
uma vez.
— Faça uma jornada segura , Jennsen, onde quer que você vá em sua vida .
Obrigado por deixar que eu me juntasse a você durante uma pequena par te dela .
— Aço contra aço. — e la falou , sem ao menos entender porque, mas de
algum modo aquilo pareceu correto. — Você me ajudou nisso .
Então Tom sorr iu, com uma expressão de intenso orgulho e gratidão .
— Que ele consiga ser a magia contra a magia . Obrigado, Jennsen.
Ela deu tapinhas no pescoço musculoso de Rusty antes de enf iar uma bota
em um estr ibo e subir na sela com um salto . Lançou um últ imo olhar para o grande homem por cima do ombro. Permanecendo com suas coisas , Tom observou enquanto
Jennsen e Sebastian seguiam Joe e Clayton dentro do mar de pessoas. As duas grandes
escoltas deles , r el inchando e bufando, afa stavam pessoas para fora do caminho , cr iando um caminho claro adiante. Pessoas paravam e olhavam quando escutavam a
comoção chegando, então caminhavam para o lado diante da visão dos enormes
cavalos.
Sebast ian, ex ib indo uma expressão de surpresa , inclinou em dir eção a ela .
— O que o idiota grandão estava balbuciando sobre magia? — e le
sussurrou para ela .
— Não sei, — e la fa lou com uma voz baixa . Soltou um suspiro. — Mas
ele me ajudou a salvar você .
Ela quer ia dizer a ele que T om podia ser grande, mas não era um idiota .
Entr etanto, não fa lou . Por alguma razão, ela não quer ia falar a respeito de Tom para
Sebast ian. Mesmo que Tom a t ivesse a judado no r esgate de Sebast ian, aquilo que eles t inham feito juntos, por algum motivo, pareceu algo par ticu lar para ela .
Quando eles f ina lmente chegaram ao limite do mercado , Joe e Clayton
acenaram em despedida enquanto Jennsen e Sebastian moviam seus cavalos adiante em um galope, saindo nas fr ias Planícies Azrith.
204
C A P Í T U L O 3 0
Jennsen e Sebastian cava lgaram ao norte e a oeste, cruzando as Planícies Azrith, não muito longe de onde, naquela manhã mesmo, ela cavalgara de volta com
Tom na carroça dele vindo do pântano em volta da casa de Althea. Sua vis ita a Althea
no dia anter ior , junto com sua jornada traiçoeira através do pântano , agora parecia
algo distante. Tinha passado a ma ior par te do dia entrando no Palácio , abr indo caminho por guardas e oficiais , liber tando Sebastian, blefando com a Mord-S ith,
Nyda, para que ela os a judasse, e descendo do p lanalto com o Mago Rahl nos
calcanhares deles . Com grande par te do dia para trás , não conseguiram viajar uma grande distância antes que a escur idão chegasse e t iveram que montar acampamento na
planície aber ta .
— Com aqueles cortadores de gargantas não muito longe , não podemos
ousar fazer uma fogueira , — Sebastian disse quando a viu tremendo. — e les
poder iam nos avistar a milhas de distância e se est ivéssemos cegos por causa de
uma fogueira no meio da no it e jamais saber íamos que eles estavam se
aproximando .
Acima, o céu sem lua era um vasto manto de estr elas cint i lantes . Jennsen
pensou naquilo que Althea falou, que um pássaro podia ser visto em uma noite sem lua
ao notar as estr elas que ele b loqueava enquan to passava. Ela disse que era assim qu e conseguia ver a lguém que era um ―buraco no mundo‖ . Jennsen não viu pássaro algum,
apenas tr ês coiotes bem longe , trotando em uma patrulha noturna de seu terr itór io . Na
terra plana, vazia , era bastante fácil avistá -los apenas sob a luz das estr elas enquant o continuavam sua caçada de pequenos anima is noturnos.
Com dedos dormentes , Jennsen desamarrou seu pequeno colchão da traseira
da sela e colocou -o no chão.
— E de qualquer modo, onde você poder ia suger ir que conseguís semos
lenha para fazermos uma fogueira ?
Sebast ian virou e f icou olhando para ela . Um sorr iso surgiu no rosto dele .
— Não t inha pensado nisso . Acho que não poder íamos ter uma fogueira
mesmo se quiséssemos uma . Ela observou a planície vazia enquanto t irava a sela das costas de Rusty e a
colocava no chão per to de Sebastian. Mesmo apenas com a fr ia luz das estr elas , ela
conseguia enxergar as coisas bem o bastante .
— Se alguém se aproximasse , conseguir íamos ver ele chegando. Acha qu e
um de nós dever ia vigiar durante a noite?
— Não. Sem uma fogueira e parados , jama is nos encontrar iam nes sa grande
extensão escura . Acho que ser ia melhor dormir um pouco para que pudéssemos
aproveitar bem o tempo amanhã .
Com os cava los pr esos , ela usou a sela como assento. Enquanto desenrolava seu colchão, Jennsen encontrou dois embrulhos brancos a li dentro . Sabia que não t inha
colocado essas coisas no seu colchão . Desamarrou o nó de um dos embrulhos e
descobr iu um pedaço de carne lá dentro . Então ela viu Sebastian fazendo a mesma descoberta .
— Parece que o Criaddor forneceu alimento para nós. — e le disse .
Jennsen sorr iu quando olhou para o pedaço de tor ta de carne no colo .
— Tom deixou isso.
Sebast ian não perguntou como ela sabia .
— O Cr iador forneceu alimento para nós at ravés de Tom. Irmão Narev
diz que mesmo quando pensamos que alguém forneceu algo para nós , na verdade é o
Criador trabalhando através dele. Nós do Mundo Ant igo acreditamos que quando
damos algo para alguém com necess idade , na verdade estamos fazendo os bons
205
trabalhos do Criador .
É por isso que o bem estar dos outros é nosso dever sagrado .
Jennsen não fa lou nada , com medo que se fa lasse, ele pudesse achar que ela
estava cr it icando Irmão Narev, ou até mesmo o Criador . Ela não podia questionar a palavra de um grande homem como o Irmão Narev. Nunca t inha feito qua lquer bom
trabalho como o Irmão Narev t inha feito. Nunca t inha ao menos deixado tor tas de
carne para alguém ou feito qua lquer outra coisa para ajudar . Para ela , parecia que s ó conseguia causar problemas e sofr iment o para as pessoas, sua mãe, Lathea, Althea,
Fr iedr ich, e quem sabe quantos outros ma is . Se alguma força trabalhava através dela ,
cer tamente não era do Criador . Sebast ian, ta lvez enxergando alguma coisa dos pensamentos dela em sua
expressão, falou com suavidade.
— É por isso que estou ajudando você.. . eu acredito que é isso que o
Cr iador ir ia querer que eu fizesse . É assim que eu sei que o Irmão Narev e o
Imperador Jagang aprovariam que eu esteja a judando você . É exatamente por isso que
estamos lutando. . . para que as pessoas se importem com os outros comparti lhando seus fardos.
Ela sorr iu não apenas mostrando seu apreço , mas também por causa da
noção de intenções tão nobres . Intenções nobres , porém, as quais , por razões que ela nem ao menos entendia completa mente, pareciam com uma faca nas costas .
Jennsen desviou os olhos da tor ta de carne no colo .
— Então , é por isso que você está me ajudando. — o sorr iso dela era
forçado . — Porque esse é o seu dever .
Sebast ian quase pareceu como se t ivesse recebido um tapa .
— Não. — E le chegou mais perto , a joelhando sobre um joelho. — Não.
Eu. . . no começo, é claro, mas. . . não é apenas por dever .
— Você faz parecer como se eu fosse uma leprosa que você t ivesse
que.. .
— Não. . . de modo algum. — enquanto ele procurava as palavras , aquele
sorr iso radiante dele su rgiu em seu rosto, aquele sorr iso que fazia o coração dela
aper tar . — Jamais conheci alguém como você , Jennsen. Eu juro, jama is coloquei os
olhos em uma mulher tão bela quanto você, ou inteligente. Você faz eu me sentir como
se eu fosse um.. . como um ninguém. Mas então quando você sorr i para mim, s into
como se eu fosse alguém importante. Jama is conheci a lguém que f izesse eu me sent ir desse jeito. No início era dever , mas agora , eu juro. . .
Jennsen f icou em choque ao ouvir el e dizer aquelas coisas , ao escutar a
sincer idade tão suave, a expressão tão ardente, na voz dele.
— Eu não sabia .
— Nunca devia ter beijado você . Sei que foi errado. Eu sou um soldado
no exército contra a opressão. Minha vida é devotada a causa de a judar meu povo. . . todos os povos . Não tenho nada para ofer ecer a uma mulher como você .
Ela não conseguia imaginar porque ele pensar ia que t inha de ofer ecer
alguma coisa para ela . Ele salvou a vida dela .
— Então , porque me beijou?
Ele olhou dentro dos olhos dela , par ecendo como se t ivesse de puxar
palavras de alguma enorme profundeza dolorosa .
— Não consegui me controlar . Sinto muito. Tentei evitar . Sabia que era
errado, mas quando estávamos tão per to , e eu estava olhando dentro dos seus belos olhos, e os seus braços estavam me abraçando, e eu estava abraçando você. . . nunca
desejei tanto a lgo em minha vida . . . simplesmente não consegui me conter . Tive qu e
fazer isso. Sinto muito.
O olhar de Jennsen desviou. Ela f icou olhando para a tor ta de carne . Sebast ian exibiu a familiar máscara de compostura e a jeitou o corpo novamente na
sela .
— Não sinta , — e la sussurrou sem levantar os olhos . — eu gostei do
206
beijo .
Ele inclinou para frente, na expectat iva .
— Você gostou?
Jennsen assent iu.
— Fico feliz em ouvir que não fez aquilo por causa do dever .
Aquilo fez ele sorr ir e al iviou a tensão.
— Não, o dever nunca pareceu tão bom assim. — d isse ele .
Juntos, ele r iram.. . a lgo que ela não conseguia lembrar de ter feito . Pareceu bom r ir .
Enquanto Jennsen devorava uma das tor tas de carne, saboreando os temperos
e os deliciosos pedaços de carne, ela sent iu -se bem novamente. Esperava não ter s ido dura demais com Tom por ele esquecer a respeito de Betty. Tinha deixado suas
frustrações , medo, e raiva explodir em sobre ele . Ele era um bom homem. Ajudou ela
quando ela mais pr ecisava . Os pensamentos dela concentraram em T om, no quanto ela sent ira -se bem
quando estava per to dele . Ele a fizera sent ir -se importante, sent ir confiança em s i
mesma, enquanto Sebast ian fr equentemente fizera com que ela se sent isse humilde.
Tom t inha um belo sorr iso. . . um t ipo de belo sorr iso difer ente do sorr iso de Sebast ian. Tom t inha um sorr iso s incero. Sebast ian t inha um sorr iso inescrutável . O sorr iso de
Tom fazia ela sent ir -se segura e for te. O sorr iso de Sebastian fazia ela sent ir -s e
indefesa e fraca . Depois que ela havia comido cada miga lha da tor ta de carne , Jennsen
enrolou-se usando cobertor es por cima da capa . Ainda tr emendo, ela lembrou como
Betty os mant ivera aquecidos durante a noite . No s ilêncio, a sensação de inquietação voltou para assombrá -la , recusando-se a permit ir que ela dormisse , independente da
exaustão por causa de tudo que ela passou nos últ imos dois dias .
Não estava ansiosa para encarar o prospecto terr ível do que o futuro podia
reservar para ela . Podia prever apenas uma caçada sem f im até que os homens de Lorde Rahl f ina lmente a capturassem. Sent ia-se vazia sem a sua mãe, sem Betty.
Percebeu que não t inha ideia a lguma para onde dever ia ir agora , a não ser
continuar correndo. Desejara conseguir a ajuda de Althea, mas até mesmo aquilo provou ser um sonho vazio. Em a lgum canto distante da sua mente , Jennsen t inha
mant ido uma centelha de esperança ir racional de que ir para seu lar de infância, no
Palácio do Povo, poder ia de alguma forma apresentar uma solução favorável .
Ela tremeu não apenas com o fr io , mas com o gélido prospecto daquilo que o futuro guardava .
Sebast ian aproximou suas costas dela , protegendo-a do vento. A ideia de
que isso era ma is do que um dever para ele era um confor to . Ela pensou a r espeito da sensação de ter o corpo dele pr essionado cont ra ela .
Pensou na intoxicante sensação da boca dele contra a dela .
As palavras dele que tanto a surpreenderam, ―Jamais coloquei os olhos em
uma mulher tão bela quanto você‖ , ainda ecoavam na cabeça dela . Não t inha cer teza
se acreditava nele. Talvez estivesse com medo de acreditar nele . No dia em que o conheceu ele fizera vár ios comentár ios l isonjeiros , o
pr imeiro sobre como as pessoas podiam dizer que o soldado morto viu uma linda
jovem caminhando e assim tropeçou, ca indo para sua morte , e então ―a r egra de
Sebast ian‖ , como ele a chamara , entr egando a ela a faca ornamentada do soldado morto, dizendo que a beleza devia f icar junto com a beleza . Ela nunca confiara em
palavras ofer ecidas assim tão f acilmente.
Ela pensou novamente a respeito da s incer idade nos olhos dele , dessa vez, e como ele parecera surpreendentemente estranho e com a língua presa . Geralmente a
falta de s incer idade era entr egue de modo claro , mas assuntos do coração eram mais
dif íceis de expressar porque tanta coisa estava em jogo . Ouvir que o sorr iso dela fazia com que ele se sentisse importante a
surpreendera . Ela não suspeitava que ele pudesse sent ir os mesmos t ipos de emoções
207
que ela sent iu . Não t inha suspeitado de como ser ia boa a sensação de que um homem
como Sebast ian, um homem do mundo, um homem importante, achasse que ela era
bonita . Jennsen sempre sent iu-se sem graça e comum comparada com sua mãe . Gostou
de saber que alguém a cons iderava bonita . Ficou imaginando como ser ia se ele girasse, bem ali, e a envolvesse nos
braços outra vez, a beijasse outra vez, dessa vez sem ninguém ao r edor . Podia sent ir o
coração pulsando com a simples poss ib ilidade .
— S into muito por sua cabra. — ele sussurrou em meio ao s i lêncio, suas
costas ainda contra o corpo dela .
— Eu sei.
— Mas com o Mago Rahl atrás de nós e a inda tão per to , a cabra só ir ia nos
atrasar . Independente do quanto ela amasse Betty, Jennsen sabia que precisava
pr ior izar outras coisas . Mesmo ass im, ela dar ia quase qualquer coisa para ouvir o
singular balido de Betty, ou ver a pequena cauda dela erguida ba lançando em um borrão enquanto todo o seu corpo tr emia com a excitação de r eceber o car inho de
Jennsen. Jennsen podia sent ir os montes de cenouras sob a cabeça no pacote que el a
estava usando como travesseiro. Sabia que eles não podiam f icar e procurar Betty, mas saber que eles a
estavam deixando para sempre não tornou isso ma is fácil . Par tiu o seu coração.
Jennsen olhou para trás por cima do ombro na escur idão .
— E les machucaram você? Estava tão preocupada que eles o
machucassem.
— Aquela Mord-Sith ter ia feito isso. Você apareceu bem na hora .
— Qual fo i a sensação quando ela tocou você com o Agiel?
Sebast ian pensou durante um momento.
— Como ser at ingido por um raio , eu acho.
Jennsen deitou a cabeça de volta no pacote . Ficou imaginando porque não
t inha sent ido nada do poder da arma da M ord-Sith. Ele devia estar pensando a mesma coisa , mas se estava , não perguntu. De qualquer modo, ela não ter ia resposta para ele .
Nyda também t inha f icado surpresa , e disse que seu Agiel funcionava em todos . Nyda
estava errada . Por alguma razão, Jennsen achou aquilo estranhamente pr eocupante .
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C A P Í T U L O 3 1
Rígida e dolor ida da noite fr ia no chão , Jennsen acordou justa mente quando o céu estava começando a assumir um leve br ilho rosado . O céu a oeste ainda exib ia
manto de estr elas . Ela não havia dormida muito, e gostar ia de poder dormir ma is , mas
eles não podiam arr iscar ficar . Poder ia ser fatal serem encontrados em terreno aber to
como eles estavam, caso eles pudessem ser avistados a milhas de distância . Esticando os braços acima da cabeça , a pr imeira coisa sobre a qua l Jennsen
pousou os olhos foi a forma negra do p lanalto contra o leve rubor do céu ao leste .
Enquanto ela observava , o Palácio do Povo sobre ele ganhou um brilho ao r edor de suas extr emidades quando os pr imeiros raios dourados do sol da manhã , a inda além do
horizonte, tocou-o por trás . Parada ali, olhando para o Palácio, Jennsen sent iu uma
nostalgia peculiar . Essa era sua terra natal. Ela quer ia tanto ter a lgum senso de seu lugar no mundo. Mas sua terra natal guardava apenas terror e morte para ela .
Temendo o quanto a inda est ivessem próximos do Palácio e do Mago Rahl,
eles rapidamente juntaram seus per tences e selaram os cava los. Subir em uma sela
fr ígida foi uma exper iência miserável . Jennsen colocou um cobertor sobre o colo para que o calor de Rusty ajudasse a aquecê- la . Ela deu tapinhas e esfr egou o pescoço do
cavalo, tanto por afeição quanto para aquecer os dedos . O calor do corpo de Rusty
impedir ia que a segunda tor ta de carne dela , enrolada no colchão amarrado na costa da sela , congelasse.
Eles cavalgaram duro, de vez em quando trotando para dar em um descanso
aos cava los , mas o es forço deles os r ecompensou , quando, mais tarde do dia , o t err eno
começou a mostrar evidências de que estavam alcançando os l imites das Planícies Azrith. O objet ivo deles era escaparem dent ro da parede de montanhas que cercava o
horizonte oeste. A vista clara através das planícies atrás deles não r evelava nenhum
perseguidor , pelo menos, a té agora . No f im da tarde eles cavalgaram entrando em uma ár ea com baixas colinas ,
ravinas, vegetação ir regular , e árvores atrofiadas . Foi como se a t erra sólida das
Planícies Azrith não conseguisse ma is manter -se p lana e por causa do tédio t ivesse que f inalmente transformar -se em um terr eno com elevações e ondulações .
Os cavalos famintos abocanharam os arbustos e montes de grama seca no
caminho. Mesmo que os cava los est ivessem com fr eios na boca , Jennsen não teve
coragem de negar a eles algo para comer . Ela também estava faminta . As tor tas de carne forneceram um bom café-da-manhã para eles mas t inham acabado fazia muit o
tempo.
Antes do escurecer , a lcançaram a base de pequenas colinas que conduziam a um terr eno ma is pedregoso, onde eles montaram acampamento na proteção de uma
projeção rochosa . Na base de um pedaço de rocha Jennsen encontrou um lugar qu e
fornecer ia abr igo contra o vento e , para os cava los , ao menos vegetação suf icient e para pastarem. Ass im que as selas dos cavalos foram ret iradas , eles começaram a
deslizar ávidamente nos punhados de mato.
Jennsen t ir ou algumas das coisas deles e suprimentos enquanto Sebastian
caçou nas proximidades , voltando com restos de a lgumas árvores pequenas , mortas fazia muito tempo e secas em um tom cinza prateado . Ele usou o machado de batalha
para cor tar a madeira seca e constru iu uma pequena fogueira per to do fragmento de
rocha, onde ela não ser ia avistada com facil idade . Enquanto ela esperava que a fogueira esquentasse ma i s, ele colocou
genti lmente um cobertor em volta dos ombros dela . Sentada diante da fogueira , com
Sebast ian per to ao lado dela , Jennsen enfiou porco sa lgado em espetos e descansou -os
sobre rochas para que o porco pudesse assar sobre o fogo.
— Fo i difícil chegar até a casa de Althea? — e le fina lmente perguntou .
Ela percebeu que, estando preocupada com tudo que t inha acontecido , não
209
t inha contado a ele muita coisa sobre o que aconteceu enquanto ele estava sendo
mant ido pr is ioneiro.
— T ive que at ravessar um pântano , mas eu consegui.
Ela realmente não quer ia reclamar sobre as dif icu ldades , os medos, sua
batalha com a cobra , ou quase ter se afogado. Aquilo era passado. Tinha sobrevivido.
Sebast ian est ivera o tempo todo sentado em uma pr isão , sabendo que a qua lquer momento eles poder iam condená - lo a morte, ou tor turá-lo. Althea era para sempre uma
pr isioneira no pântano.
Outros passaram coisas piores do que ela .
— O pântano parece maravilhoso . Devia ser melhor do que esse fr io
miserável. Nunca vi uma coisa como essa em toda minha vida .
— Está querendo dizer que não é fr io de onde você vem ? No Mundo
Ant igo?
— Não. Os invernos são fr ios, nada como isso, é claro, e às vezes também
chove, mas nunca t ivemos essa neve terr ivel e não é como esse fr io miserável do
Mundo Novo. Não sei porque alguém ir ia querer viver aqui .
Ela estava assustada com a ideia de um inverno sem neve e fr io . Teve
dif icu ldade até mesmo em imaginar isso .
— Onde mais poder íamos viver ? Não temos escolha .
— Acho que não. — e le admit iu com um suspiro .
— O inverno está acabando . A pr imavera chegará antes que você perceba .
Você verá .
— Assim espero . Eu achar ia melhor até mesmo estar naquele lugar que
você mencionou, a Fornalha do Guardião, do que nesse deser to congelado.
Jennsen franziu a testa .
— No lugar que eu mencionei? Nunca mencionei nenhum lugar chamado
de Forna lha do Guardião.
— Com certeza mencionou . — Sebastian usou sua espada para arrumar a
lenha de modo que as chamas pudessem aumentar . Centelhas rodopiaram subindo na
escuridão. — Lá no Palácio . Pouco antes de nos beijarmos .
Jennsen est icou as mãos , aquecendo os dedos diante do ca lor glor ioso .
— Eu não lembro .
— Você disse que Althea esteve lá .
— Onde?
— Os Pilares da Cr iação .
Jennsen enviou as mãos de volta dentro da capa e f icou olhando para ele.
— Não, eu nunca disse isso. Ela estava falando sobre outra coisa. . . não
algum lugar onde ela est ivera .
— Então, do que ela estava falando ?
Jennsen colocou de lado a pergunta dele com um balanço impaciente da
mão.
— Fo i apenas uma conversa boba . Isso não é importante.
Afastou um punhado de cabelo vermelho do rosto .
— Os Pilares da Cr iação é um lugar ?
Ele assent iu enquanto amontoava os carvões em brasa com sua espada .
— Como eu disse , a Fornalha do Guardião.
Frustrada, ela cruzou os braços .
— O que isso significa?
Ele levantou os olhos , confuso com o tom dela .
— Você sabe , quente. Como, quando a lguém diz, ―hoje está tão quent e
quanto a Fornalha do Guardião‖ . É por isso que ocasiona lmente as pessoas refer em -s e
ao lugar como a Forna lha do Guardião , mas o nome dele é P ilares da Criação.
— E você esteve lá?
— Está br incando? Nem ao menos sei de alguém que tenha ido até lá . As
210
pessoas temem o lugar . Alguns pensam que ele r ealmente é a província do Guardião , e
que a li ex iste apenas a morte.
— Onde fica?
Ele apontou para o sul com a espada .
— Em um lugar deso lado no Mundo Ant igo . Você sabe como é. . .
geralmente as pessoas são superstic iosas a respeito de lugares remoto s. Jennsen olhou de volta para as chamas , ten tando enca ixar tudo aquilo em
sua cabeça . Havia alguma coisa nisso que não estava cer ta . Alguma coisa que deixou-a
alarmada .
— Porque ele é chamado assim? Os Pilares da Criação?
Sebast ian balançou os ombros , fazendo uma careta diante do tom dela .
— Como eu fale i, é um lugar deser to, quente como a Fornalha do
Guardião, então é por isso que a lgumas pessoas chamam o lugar assim, por causa do
calor do lugar . Por causa do nome, dizem que o lugar . . .
— Se ninguém vai até lá , então como alguém sabe tudo isso?
— Com o tempo houve algumas pessoas que foram até lá , ou pelo menos,
foram per to de lá , e elas contaram aos outros . Palavras se espa lham, o conhecimento é
acumulado. Fica em um lugar meio pareecido com as planícies aqui. . .
— As Planícies Azrith?
— S im, deser to como as Planícies Azrith, mas muito ma ior . E é sempre
quente lá . Seco, e mortalmente quente . Tem a lgumas poucas rotas de comércio qu e
cruzam as bordas ár idas . Sem a roupa adequada para proteger você do sol esca ldante e dos ventos fur iosos , você assar ia vivo em pouco tempo. Sem água suf iciente você não
ir ia durar muito tempo.
— E esse lugar é chamado de Pilares da Criação?
— Não, essa é apenas a t erra que você precisa atravessar , pr imeiro. Per to do
centro dessa vasta terra vazia , dizem que há um lugar baixo, um largo va le, que é ainda ma is quente, morta lmente qu ente, tão quente quanto a Forna lha do Guardião . Os
Pilar es da Criação.
— Mas porque esse lugar é chamado de Pilares da Cr iação ?
Sebast ian juntou ar eia com sua bota para conter para conter as brasas
vermelhas que desciam da lenha no meio do calor ondulante.
— Dizem que descendo os penhascos , descendo as paredes rochosas ao
redor e declives , descendo naquele vasto vale, t em enormes pilar es de rocha . É por
causa daquelas formações rochosas que o lugar tem esse nome .
Jennsen girou os espetos com o porco salgad o.
— Isso far ia sent ido . Pilares de rocha .
— Já vi torres parecidas com essas , em outros lugares , onde a rocha f ica
empilhada como desordenadas colunas de moedas em uma mesa . Dizem que essas são
ma is extraordinár ias do que quaisquer outras , como se o própr io mundo est ivesse se
esticando r espeitosamente em dir eção ao Criador , então a lguns acham que aquele é u m lugar sagrado. Mas também é um lugar de calor mortal , então enquanto ele é
cons iderado por algguns como a Forja do Criador , também é associado ao Guar dião,
assim alguns o chamam de Fornalha do Guardião . Juntamente com o calor , todos possuem razão suf iciente para temer ir a té lá . Para todos ele cont inua sendo um loca l
de conflito sobrenatural que ser ia melhor deixar em paz .
— Criação e destruição, vida e morte, juntas?
A luz do fogo dançou nos olhos dele quando olhou para ela .
— Isso é o que as pessoas dizem .
— Está querendo dizer , que alguns acham que esse é um lugar onde a
própria morte está tentando consumir o mundo dos vivos ?
— A morte está sempre perseguindo os vivos . O Irmão Narev ens ina que
o próprio ma l do homem é o que traz a sombra do Guardião para escurecer o mundo .
Se nós cedermos aos costumes vis , isso dará poder ao ma l no mundo dos vivos , então
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o Guardião será capaz de derrubar os Pilar es da Criação, e o mundo acabará.
As palavras fizeram Jennsen gelar até os ossos , como se a mão da própria
morte a t ivesse tocado. Isso ser ia exatamente como uma feit iceira praticando o engodo
com palavras . A mãe de Jennsen t inha aler tado que feit iceiras nunca diziam o qu e sabiam, e que gera lmente guardavam coisas importantes .
Qual t er ia sido a verdadeira intenção de Althea quando casualmente nomeou
Jennsen como um dos ―Pilar es da Criação‖ ? Embora Jennsen não t ivesse entendido , agora parecia claro demais que Althea podia ter a lgum motivo oculto para plantar a
semente daquele nome na mente de Jennsen.
— Então , o que aconteceu com Althea? Porque ela não podia ajudá - la?
Jennsen foi r etirada de seus pensamentos pela voz dele. Ela girou os espetos
com o porco salgado, vendo que ele a inda precisava assar mais , enquanto avaliava
como r esponder a pergunta de forma simples .
— E la disse que tentou me ajudar , uma vez, quando eu era pequena .
Darken Rahl descobriu e aleijou ela por causa disso .
Ele também distorceu o Dom dela , para que ela não pudesse usar sua própria magia . Agora, ela não poder ia lançar um feit iço para mim nem se quisesse .
— Talvez , mesmo sem saber , Darken Rahl estivesse fazendo o trabalho do
Criador .
Jennsen fez uma careta , surpresa .
— O que você quer dizer?
— A Ordem Imper ial quer e liminar a magia do mundo. Irmão Narev diz
que é o trabalho do Criador que nós fazemos , porque a magia é maligna .
— E o que você acha? Rea lmente acha que o Dom do Criador poder ia ser
ma ligno?
— Como a magia é usada? — o olhar dele sob o capuz estava fixo nela ,
a raiva claramente evidente em seus olhos . — E la é usada para ajudar as pessoas ?
Ajudar as cr ianças do Criador nessa vida ? Não. Ela é usada por razões egoístas . Você só preccisa olhar para a Casa de Rahl. Eles usam o Dom, durante milhares de anos ,
para governar D'Hara. E como tem s ido esse? Ele tem s ido para ajudar ou benef iciar as
pessoas? Ou tem s ido de tor tura e morte.
A ú lt ima par te não foi uma pergunta , mas uma afirmação, e uma que Jennsen não podia discut ir .
— Talvez , — Sebastian adicionou. — o Criador est ivesse trabalhando
através de Darken Rahl para retirar a mácula da magia de Althea , para
miser icordiosamente l iber tá - la disso.
Jennsen descansou o queixo sobre os joelhos enquanto observava a carne
assando. Althea disse que foi deixada apenas com o Dom da profecia , reclamando qu e isso era uma tor tura para ela .
A mãe de Jennsen t inha ens inado a ela como desenhar uma Graça e falou
que o Dom era fornecido pelo Criador . Nas mãos adequadas , a Graça era mágica . Embora Jennsen não t ivesse magia , aquele símbolo mágico a protegera em diversas
ocasiões. Mesmo sabendo que as pessoas podiam fazer coisas más , Jennsen não
gostava da ideia de pensar que o Dom era ma ligno . Ainda que ela não conseguiss e
fazer magia , sabia que ela podia ser uma coisa maravilhosa . Gent ilmente ela t entou uma aproximação diferente .
— Você disse que o Imperador Jagang tem feit iceiras com ele , as Irmãs da
Luz, que podem ser capazes de me a judar . Elas usam magia . Se aa magia é maligna. . .
— E las usam magia em nossa causa , para que um dia a magia possa ser
el iminada do mundo.
— Como isso pode fazer sent ido ? Se vocês r ea lmente acr editam que a
magia é ma ligna , então como poderiam pensa r em se a liarem com aquilo que declaram
ser ma ligno? Sebast ian ver if icou o porco sa lgado quando ela ofer eceu um dos espetos
para ele, então arrancou um pedaço na ponta da faca . Ele levantou a faca e balançou -a
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para que ela olhasse.
— Pessoas matam outras pessoas com facas e espadas . Se nós
quiséssemos eliminar facas e espadas para que a matança acabasse, dif ic i lment e conseguir íamos fazer isso apenas com pa lavras . Ter íamos que r et irar as facas e
espadas das pessoas usando a força para acabarmos com a loucura da violência pelo
bem de todos. As pessoas apegam-se ao ma l. Ter íamos que usar facas e espadas na luta para livrar o mundo daquelas coisas ma lignas . Então o mundo estar ia em paz . Sem
os meios para o assassinato, os ânimos das pessoas es fr iar iam e o Guardião deixar ia
seus corações .
Jennsen cor tou um pedaço de carne fumegante e soprou par a esfr iá- lo u m pouco.
— Então vocês usam a magia desse jeito ?
— Isso mesmo . — Sebast ian mast igou, soltando um gemido de aprovação
do sabor antes de engolir e continuar .
— Nós queremos eliminar o mal da magia , mas para fazermos isso temos
que usar magia na luta , caso contrár io o ma l vencer ia .
Jennsen arrancou uma mordida da carne de porco , mostrando com u m
gemido que concordava com a opinião dele a respeito do sabor . Era maravilhoso ter a lgo quente para comer .
— E o Irmão Narev e o Imperador Jagang acham que facas e espadas
também são ma lignas?
— É claro , porque o objet ivo delas é mut ilar é matar . . . naturalmente não
estamos falando de ferramentas como facas para cor tar pão , mas armas, cer ta mente, são coisas malignas . Porém, eventua lmente a s pessoas f icarão l ivr es de seus f lagelos ,
e então a praga do assassinato e morte será uma coisa do passado .
— Você está querendo dizer que até mesmo soldados não terão armas ?
— Não, soldados sempre terão que andar armados para defenderem um povo
l ivr e e pacíf ico.
— Mas , então como as pessoas poderão proteger a si mesmos ?
— Do quê? Apenas os soldados carregarão armas mortais .
Jennsen inclinou a cabeça em dir eção a ele como advertência .
— Se não fosse a faca que eu carrego , os soldados ter iam me assassinado
facilmente junto com a minha mãe.
— So ldados malignos . Nossos soldados lutam somente pelo bem, pela
defesa e segurança do povo, não para escr avizá - lo. Quando derrotarmos as forças
D'Haran, então haverá paz.
— Mas até mesmo quando.. . Ele inclinou em dir eção a ela .
— Não está percebendo? Eventualmente, com a magia eliminada , armas
não serão ma is necessár ias . São as paixões corruptas das pessoas que são
transformadas em coisas letais porque elas possuem acesso a armas que r esultam em cr imes e assassinatos .
— Soldados possuem pa ixões.
Ele colocou de lado o pensamento com um balanço da mão .
— Não se eles forem treinados adequadamente e est iverem sob a
supervisão de bons o fic iais .
Jennsen f icou olhando para o domo cint i lante de estrelas . O mundo que ele
imaginava cer tamente soava c onvidat ivo. Mas se aquilo que ele alegava fosse verdade ,
então a magia , como eles a usavam, estava sendo ut i l izada para um bom f im, então isso s ignif icar ia que ela não podia ser nem boa nem má , mas que, de forma parecida
com a sua faca , o objet ivo da pessoa usando a magia na verdade carregava a condição
mora l, não a magia em s i . Ao invés de falar isso, ela fez outra pergunta .
— Como ser ia um mundo sem magia ?
Sebast ian sorr iu.
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— Todos ser iam igua is . Ninguém ter ia uma vantagem injusta . — e le
cortou outro pedaço de carne e ret irou do espeto com a ponta da faca . — Então,
todos t rabalhar iam unidos , porque ser íamos todos semelhantes . Ninguém ter ia o uso
injusto da magia e não ser ia capaz de obter vantagem sobre outros . Você, por
exemplo, estar ia l ivr e para viver a sua vida sem Lorde Rahl caçando-a com a magia dele.
Althea disse que Richard Rahl nascera com poderes jama is vistos em
milhares de anos . Afina l de contas , ele t inha chegado ma is per to dela do que Darken Rahl chegara . Tinha enviado aqueles homens que assas sinaram sua mãe. Mas Althea
também t inha falado que Jennsen era um ―buraco no mundo‖ para aqueles que t inham
o Dom; Lord Rahl podia caçá-la , mas não com magia .
— Nunca estará livre , — finalmente Sebastian completou com uma voz
suave, — até você eliminar Richard Rahl.
Os olhos dela voltaram-se para ele.
— Porque eu? Com todos aqueles que lutam contra ele , porque você diz até
que eu elimine ele? Mas até mesmo enquanto ela estava fazendo a pergunta , começou a enxergar
a terr ível r esposta .
— Bem, — e le disse , r ecostando. — acho que aquilo que eu realmente
quer ia dizer era que você não estará livre até que Lorde Rahl seja eliminado.
Ele virou e puxou um cant i l com água . Ela observou enquanto ele tomava
um longo gole, então mudou o assunto.
— O Capitão Lerner fa lou quee Lorde Rahl estava casado.
— Com uma Confessora. — Sebastian confirmou. — Se Richard Rahl
desejava encontrar uma esposa que combinasse com ele na maldade , ele encontrou.
— Então você sabe a respeito dela?
— Apenas as poucas co isas que ouvi do Impera dor . Posso dizer o qu e
sei, se você quiser .
Jennsen assent iu. Com oo dedão e o indicador , ela ret irou ma is um pouco do porco sa lgado do longo espeto, comendo enquanto observava a luz do fogo dançar nos
olhos dele enquanto falava .
— A barreira entre o Mundo Ant igo ao sul e o Mundo Novo ao norte
esteve de pé por milhares de anos. . . a té que Lorde Rahl a destruiu para que ele possa
conquistar nosso povo. Provavelmente não muito tempo antes que sua mãe t ivess e
nascido, eu acho, o Mundo Novo estava dividido em tr ês t erras . A oeste f icava West land. D'Hara fica ao leste. Após matar seu pai e tomar o poder , R ichard Rahl
destruiu aquelas fronteiras separando as três terras do Mundo Novo.
— Entre West land e D'Hara está Midlands, um lugar maligno onde dizem
que a magia comanda e onde vivem as Confessoras . Midlands é governada pela Madre
Confessora . O Imperador Jagang me disse isso, embora seja jovem, talvez da minha
idade, ela é tão esper ta quanto morta l . Jennsen estava assustada com as palavras sinistras dele .
— Você sabe o que é uma Confessora? O que significa ―Confessora‖?
Segurando o cant i l , Sebastian pousou um antebraço sobre o joelho dobrado .
— Não sei, a não ser que ela é dotada com poder assustador . O simples
toque dela destrói a mente de um homem, t ransfomando-o em um escravo dela sem mente.
Jennsen escutava , surpresa , apavorada com tal ideia .
— E eles rea lmente fazem tudo que ela diz. . . simplesmente porque ela
os tocou?
Sebast ian entr egou a ela o cant i l .
— Tocou eles com sua magia vil . O Imperador Jagang falou que a magia
dela é tão poderosa que se ela disser para um homem escravizado tão profundament e
que ela quer que ele morra ali mesmo , ele morrerá .
214
— Quer d izer . . . que ele ir ia t irar a própria vida bem na fr ente dos olhos
dela?
— Não. Quero dizer que ele s implesmente cair ia morto porque ela ordenou .
O coração dele ir ia parar , ou algo assim. Ele simplesmente ca ir ia morto.
Nervosa com a simples ideia daquilo , Jennsen colocou de lado o cant i l .
Levantou ma is o cobertor sobre o corpo. Estava exausta , e estava cansada de aprender novas coisas sobre Lorde Rahl. Toda vez que ela aprendia alguma coisa nova, era mais
terr ível do que a anter ior . O meio irmão mostro dela , depois de matar o pai deles ,
parecia não ter perdido tempo algum para assumir o dever da família de caçá - la . Depois que comeram e cuidaram dos cava los , Jennsen enrolou-se emba ixo
do cobertor e da capa . Ela gostar ia que pudesse ir dormir e acordar para descobrir qu e
tudo fosse um sonho ruim. Quase desejou jama is acordar para ter que encarar o futuro . Uma vez que eles t inham uma fogueira , Sebastian não dormiu com as costas
contra o corpo dela . Ela sentia falta do confor to daquilo . Com pensamentos
angust iantes des lizando através da sua mente, ela olhava dentro das chamas , de olhos
bem aber tos , enquanto Sebastian dormia . Jennsen f icava imaginando o que poder ia fazer agora . Sua mãe estava morta ,
então não t inha um verdadeiro lar . O lar exist ia com sua mãe, aonde quer que elas
estivessem. Imaginava se a sua mãe estava observando-a do mundo dos mortos , junt o com todos os outros bons espír itos . Esperava que sua mãe est ivesse em paz , e
fina lmente t ivesse a felic idade.
Jennsen sent iu uma vazia tr isteza por Althea . Não poder ia r eceber a juda da feit iceira , e não quer ia ajuda dela . Jennsen sent iu -se envergonhada com os problemas
que havia causado aos outros que tentaram ajudá - la . Sua mãe t inha morr ido pelo cr ime
de dar a luz a Jennsen. A irmã de Althea, Lathea, foi assassinada pelos caçadores
implacáveis de Jennsen. A pobre Althea es tava presa para sempre naquele pântano horr ível pelo cr ime de tentar proteger Jennsen quando ela era apenas uma cr iança .
Fr iedr ich era quase tão pr is ioneiro quanto Althea, sua vida desprovida de muitas
alegr ias . Jennsen lembrou da sensação causada pelo beijo de Sebastian. Althea e
Fr iedr ich t inham perdido o prazer de compartilhar a paixão . Era como se t ivess e
acontecido aquele beijo para Jennsen, o desper tar da descoberta , a centelha de
poss ib il idade, e então não pudesse acontecer ma is nada, nunca ma is . Ela estava em seu próprio t ipo de pântano, também uma pr is ioneira das ações de Lorde Rahl, presa em
uma fuga sem f im dos assassinos .
Pensou no que Sebastian t inha falado, que ela jama is estar ia livr e até qu e ela eliminasse Richard Rahl.
Jennsen observou Sebastian enquanto ele dormia. Ele t inha entrado
inesperadamente em sua vida . Tinha salvo a vida dela . Nunca podia ter imaginado, na pr imeira vez em quee o viu , ou na pr imeira noite quando olhou dentro dos olhos dele
do outro lado da fogueira , depois que havia desenhado a Graça na entrada da caverna,
que um dia ele acabar ia beijando -a.
O cabelo espetado dele estava com um suave br ilho dourado por causa da fogueira . O rosto dele era um prazer para ela .
O que ma is havia para eles ? Ela não sabia a resposta para isso . Não sabia o
que aquele beijo s ignif icara , ou para onde isso poder ia conduzí - los, se os levar ia para algum lugar . Não t inha cer teza se desejava isso . Não t inha cer teza se ele desejava .
Temia que ele não desejasse.
215
C A P Í T U L O 3 2
Em pouco tempo ma is t err eno aber to per to das pla nícies estava atrás deles , e eles começaram uma dif íci l jornada através de neve profunda e t err eno ir regular
levando-os lentamente, mas inexoravelmente, subindo em terr eno montanhoso .
Sebast ian t inha concordado em levá -la aonde ela quer ia ir , ao Mundo
Ant igo. Ali, ela esperava f icar segura , ficar l ivr e, pela pr imeira vez em sua vida . Sem Sebast ian, um sonho assim não ter ia sido ao menos poss ível .
Ele fa lou que o conjunto de montanhas no qua l eles estavam entrando ,
juntamente com suas vastas tr ilhas de f lo r estas, percorr ia a borda oeste de D'Hara, seguramente fora do caminho da maior ia das pessoas , e eventua lmente os levar ia m
descendo em dir eção ao Mundo Ant igo. Enquanto eles entravam na acolhedora solidão
entr e as sombras de grandes p icos , f inalmente começaram a seguir caminho ma is ao sul, seguindo as montanhas na rota da liberdade distante .
O clima era brutal nas montanhas . Tiveram de caminhar durante vár ios dias ,
caso contrár io matavam os pobres cavalos .
Rusty e Pete estavam famintos , e a pesada cobertur a de neve tornava dif íci l a lcançarem alguma vegetação.
As grossas capas deles estavam f icando imundas . Pelo menos eles ainda
estavam bem, mesmo que fracos . O mesmo podia ser dito dela e Sebast ian. Quando o céu escurecia ameaçadoramente e uma leve nevasca começou a
cair no f ina l de uma tarde, ele t iveram a sor te de encontrarem um pequeno vilarejo .
Passaram a noite lá , deixando os cavalos no pequeno estábulo , onde eles comeram boa
aveia e t inham camas l impas . Não havia hospedaria na cidade. Sebastian e Jennsen pagaram algumas moedas de cobre para dormirem no palheiro . Após ter em f icado em
campo aber to tanto tempo, Jennsen sent iu que aquilo era um palácio .
O amanhecer trouxe uma tempestade com vento e neve , mas p ior ainda , a neve era interca lada com uma geada que vinha em rajadas . Viajar em tais condições
não ser ia algo apenas miserável , mas per igoso. Ela estava agradecida , especia lment e
pelos cavalos , que isso os mant ivesse no estábulo ma is um dia e outra noite . Os cavalos comeram e descansaram enquanto Sebastian e Jennsen contavam um para o
outro histór ias da juventude .
Ela adorava ver o br ilho nos olhos dele quando contava para ela algumas das
suas desventuras de pescar ia quando era um garoto . O outro dia amanheceu l impo, mas com um vento for te. Mesmo ass im, eles não ousavam f icar mais t empo.
Eles seguiram caminho por estradas ou tr i lhas , uma vez que as pessoas eram
poucas e bastante afastadas . Sebastian sempre era cautelosos , mas estava bastant e confiante de que eles estar iam suf icientemente seguros . Com o confor to sempr e
presente da faca no cinto, Jennsen também sent iu que era melhor arr iscar nas estradas
e tr i lhas ao invés de tentar cruzar terr itór io r emoto e desconhecido coberto por u m grosso manto de neve. Via jar entr e t err itór ios sempre era dif íci l , de vez em quando
per igoso, e com a barreira de enormes montanhas ao redor , frequent ement e
imposs ível. O inverno apenas tornava uma viagem ass im ma is dif íci l a inda , mas o qu e
era pior , ele escondia per igos que espreitavam sob a neve . Eles t emiam que um cava lo quebrasse uma perna sem necessidade.
Naquela noite, enquanto ela começava a construir um abrigo para eles
entr elaçando uma dúzia de ga lhos de árvore soltos e cobrindo -os com ramos de bálsamo, Sebastian r etornou cambaleando ao acampamento deles , ofegante com o
esforço. Suas mãos estavam pega josas de sangue.
— Soldado. — e le disse, t entando r ecuperar o fôlego.
Jennsen sabia a que t ipo de soldado ele estava se refer indo .
— Mas como eles poder iam ter nos seguido ? Como poder iam!
Sebast ian desviou o olhar da fúr ia dela , da pergunta frenética dela .
216
— São os dotados de Lorde Rahl nos caçando. — e le so ltou um forte
suspiro . — O mago Nathan Rahl viu você, lá no Palácio.
Isso não fazia sent ido. Ela era um ―buraco no mundo‖ para os dotados .
Como a lgum dotado conseguir ia seguir um ―buraco no mundo‖?
Ele viu a expressão de dúvida dela .
— Não é tão difícil seguir os rast ros pela neve .
Neve. É claro. Ela assent iu com res ignação, sua fúr ia transformando-se em
medo.
— Um integrante de um Quad?
— Não tenho certeza . Era um soldado D'Haran. Ele apareceu do nada em
cima de mim. Tive que lutar por minha vida . Matei ele, mas devemos nos apressar e
sair daqui caso tenha outros nas proximidades .
Ela estava assustada demais para discut ir . Precisavam cont inuar em
movimento. O pensamento em homens surgindo da escuridão para atacá -los forneceu agil idade para as ações dela enquanto eles selavam os cava los . Rapidamente eles
estavam montados e cavalgando f irme enquanto ainda havia luz suf iciente para
enxergarem. Então, eles t iveram que desmon tar e caminhar para deixarem os cavalos descansarem.
Sebast ian estava cer to de que t inham ganho uma boa distância de qualquer
um que est ivesse atrás deles . A neve os a judou a enxergar , de forma que mesmo com nuvens des lizando sobre uma lua parcial , eles conseguiram seguir a estrada .
Na noite seguinte, estavam tão exaustos que t iveram de parar , mesmo com o
r isco de ser em capturados . Dormiram sentados , encostados juntos diante de uma
pequena fogueira com as costas voltadas para um emaranhado de árvores caíd as. Eles f izeram um progresso lento mas constante nos dias seguintes e não
viram sina is de que alguém os estivesse seguindo .
Jennsen sent iu pouco confor to nisso. Sabia que eles não des ist ir iam. Alguns dias ensolarados permit iram que eles avançassem a uma boa
velocidade. Isso não era consolo para ela porque eles deixaram rastros claros e os
soldados que os perseguiam conseguir iam igualmente fazer um bom avanço . Eles ficaram em estradas que t inham s ido usadas , sempre que as encontravam, para despitar
e atrasar qualquer um que os seguisse.
Mas então as t empestades r etornaram. Eles forçaram o avanço durante cinco
dias independente das condições de quase nevasca . Enquanto conseguiam enxergar os caminhos e estradas estreitas , e eram capazes de colocar um pé na f r ente do outro, não
podiam gozar do luxo de parar , porque o vento e a neve cobriam os rastros deles quase
no mesmo instante em que eles os cr iavam. Jennsen havia passado o suf iciente de sua vida em terr eno aber to para saber que rastreá -los ser ia imposs ível em condições assim.
Era a pr imeira chance r eal deles de t irarem os laços dos pescoços .
Selecionaram estradas ou tr i lhas aleator iamente . Cada vez que chegavam a
uma encruzilhada ou bifurcação, Jennsen ficava aliviada em ver aquilo, porque signif icava outra chance de seus perseguidores escolherem o caminho errado . Várias
vezes eles cruzaram terr itór ios , a neve que descia tornando imposs ível para qualquer
um saber para onde eles foram. Independente do quanto est ivesse inquieta , Jennsen começou a respirar com mais facil idade.
Era exaustivo viajar em tais condições e parecia como se o mau tempo
jama is fosse aliviar , mas então isso aconteceu . No fina l da tarde, quando o vent o fina lmente cedeu, permit indo que a calmar ia do inverno se estabelecesse novamente ,
eles encontraram uma mulher que andava com dif iculdade em uma das estradas .
Quando aproximaram-se cavalgando por atrás dela , Jennsen viu que a mulher estava
carregando algo pesado. Mesmo que o tempo t ivesse começado a aliviar , gordos f locos de neve ainda
deslizavam pelo ar . O sol br i lhava através de uma aber tura laranja nas nuvens ,
transmitindo ao dia cinzento um peculiar br ilho dourado . A mulher ouviu eles se chegando e afastou para o lado . Quando a lcançaram
ela , ela levantou um braço.
217
— Me ajudem, por favor?
Para Jennsen parecia como se a mulher est ivesse carregando uma pequena
cr iança toda embrulhada em cobertores . Pela expressão no rosto de Sebastian, Jennsen temeu que ele t ivesse a
intenção de passar dir eto. Ele dir ia que não poder iam parar quando t inham ass assinos
e ta lvez até mesmo o Mago Rahl em seus calcanhares . Jennsen sent iu-se confiante de que, pelo menos por enquanto, eles t iveram sucesso em escapulir de seus caçadores .
Quando Sebastian lançou para ela um olhar atravessado , ela falou
suavemente antes que ele t ivesse chance de dizer qua lquer coisa .
— Parece que o Cr iador cuidou dessa mulher necess itada nos enviando
para ajudá- la .
Se Sebast ian foi convencido pelas palavras dela , ou não ousava desaf iar as intenções do Criador , Jennsen não sabia , mas ele parou dando a volta no cava lo.
Quando ele desmontou e pegou as rédeas dos dois cavalos, Jennsen desceu de Rusty.
Caminhou com dif icu ldade através da neve até a altura dos joelhos para chegar até a mulher .
Ela esticou os braços com sua carga , aparentemente esperando que iss o
explicasse tudo. Parecia que ela estava pronta a aceitar a juda do própr io Guardião . Jennsen levantou uma ponta do cobertor branco de lã e viu um garoto, ta lvez com tr ês
ou quatrro anos , com um rosto de bochechas avermelhadas . Ele estava imóvel . Seus
olhos estavam fechados . Estava ardendo de febre.
Jennsen t irou o fardo dos braços da mulher . A mulher , com aproximadamente a idade de Jennsen, parecia exausta .
Ela f icou bem per to, a preocupação marcando seu rosto .
— Não sei o que pegou ele , — a mulher falou , quase chorando. — e le
simplesmente ficou doente .
— Porque vocês estão aqui fora nesse tempo ? — perguntou Sebastian.
— Meu mar ido saiu para caçar fazem do is dias . Não espero que ele volte
durante vár ios dias . Não podia simplesmente esperar ali sem ajuda .
— Mas o que vocês estão fazendo aqui fora ? — Jennsen perguntou. —
Para onde estão seguindo ?
— Para os Raug'Moss.
— Os o quê? — Sebastian perguntou nas cos tas de Jennsen.
— Curandeiros. — Jennsen sussurrou para ele.
Os dedos da mulher des li zaram pela bochecha do garoto. Seus olhos
raramente desviavam do pequeno rosto dele , mas f ina lmente ela levantou os olhos .
— Podem me ajudar a levar ele até lá ? T enho medo que ele esteja
piorando.
— Não sei se nós. . .
— Qual a distância? — Jennsen perguntou, cor tando Sebastian.
A mulher apontou descendo a estrada .
— Por aquele caminho , o caminho que vocês estão seguindo. Não f ica
longe.
— A que distância? — Sebast ian perguntou.
A mulher , pela pr imeira vez, começou a choramingar .
— Não sei. Eu esperava chega r lá até esta noite, mas logo f icará escuro.
Tenho medo de que seja ma is longe do que eu cons igo chegar . Por favor , me ajudem?
Jennsen embalou o garoto adormecido nos braços enquanto sorr ia para a mulher .
— É claro que ajudaremos você .
Os dedos da mulher aper taram o braço de Jennsen.
— S into muito causar problema para vocês .
— Tenha calma . Uma carona não é problema .
— Não podemos deixar você aqui fora com uma cr iança doente. —
218
Sebast ian concordou. — Levaremos vocês até os curandeiros .
— Deixe eu subir no meu cavalo , e então entr egue o seu garoto para mim.
— Jennsen fa lou quando devolveu a cr iança aos braços da mãe .
Ass im que estava montada , Jennsen est icou os braços para baixo. A mulher
hesitou, com medo de separar -se de sua cr iança , mas então entr egou -o rapidamente. Jennsen acomodou o garoto adormecido no colo , cer t if icando-se de que ele estivess e
bem equilibrado e seguro, enquanto Sebastian segurava o braço da mulher e ajudava
ela a subir a trás dele. Quando par tiram, a mulher segurou bem f irme em volta da cintura de Sebast ian, mas os olhos dela estavam em Jennsen e o garoto.
Jennsen assumiu a l iderança para dar para a mulher o confor to de poder ver
a estranha que agora segurava o seu bebê, e suas esperanças . Ela incitou Rusty adiant e
através da neve profunda , pr eocupada que a cr iança na verdade não estivess e dormindo, mas inconsciente por causa da febre.
O vento lançava neve ao redor deles enquanto aceleravam pela estrada na
luz que enfraquecia . A preocupação com o garoto, de querer levá- lo para receber ajuda, fez a estrada parecer inf inita . Cada elevação r eveleva apenas ma is f lor esta
adiante, cada curva na estrada outra vast idão de flor esta vazia . Jennsen também estava
preocupada que seus cava los não pudessem ser forçados tanto assim pela neve profunda sem um descanso ou cair iam. Mais cedo ou ma is tarde, a despeito da luz
fraca , eles t er iam que r eduzir o passo para dar aos cavalos um descanso .
Jennsen olhou para trás por cima do ombro quando Sebastian assoviou.
— Por ali. — a mulher gr itou , apontando em dir eção a um desvio para
uma tr ilha menor .
Jennsen guiou Rusty para a dir eita , subindo a tr i lha . Ela erguia-s e abruptamente, desviando para trás e para frente para ascender na for te elevação . As
árvores no lado da montanha eram enormes , com troncos tão grossos quanto a largura
do cavalo dela , subindo até uma grande a ltura antes que galhos se espalhassem acima
para bloquearem o céu cor de chumbo. A neve não havia sido tocada por qualquer pessoa antes deles , mas a dispos ição da tr ilha , a área plana na superf ície da neve, a
l inha ondulante mas suave que ela fazia subindo através da f lor esta , entr e rochas e
galhos cobertos de neve, e o caminho que ela seguia sob projeções deparedes rochosas e por extr emidades tornava suf icientemente fácil segui- la .
Jennsen ver if icou o garoto dormindo em seu colo e encontrou -o do mesmo
jeito. Observou a flor esta em volta deles procurando qualquer sina l de pessoas , mas
não viu nenhuma. Após estar no Palácio, no pântano de Althea, e no campo aber to das Planícies Azr ith, era confor tador estar na flor esta novamente. Sebastian não gostava
especia lmente das f lor estas . Ele também não gostava da neve , mas ela achou pacíf ico
o modo como a neve transmit ia um silêncio sagrado para a flor esta . O cheiro de fumaça de lenha pa irando no a r disse a el a que eles estava m
per to. Um olhar por cima do ombro para o rosto da mãe disse o mesmo . Passar pelo
topo de uma elevação r evelou vár ias construções de madeira que seguiam por uma suave rampa de madeira . Em uma clar eira logo atrás havia um pequeno celeiro com
uma área de pastagem cercada . Um cava lo no corr imão da cerca , com seus ouvidos
aler tas, observava a aproximação deles . O cavalo ergueu a cabeça , soltando um leve
relincho em dir eção a eles . Rusty e Pete bufa ram brevemente em r etorno. Jennsen colocou dois dedos entr e os dentes e assoviou quando Rusty moveu-
se através dos montes de neve em dir eção a pequena cabana na extr emidade super ior
do caminho, a única com fumaça saindo da chaminé . A porta abr iu quando chegaram até a casa . Um homem vestiu uma capa de
l inho ao sair para recebê- los.
Não era velho. Podia ter uma cer ta idade. Ele levantou o largo capuz da capa para proteger -se do fr io antes que ela conseguisse dar uma boa olhada em seu
rosto.
— Estamos com um garoto doente. — falou Jennsen quando o homem
segurou as r édeas de Rusty. — Você é um dos curande iros conhecidos como os
219
Raug'Moss?
O homem assent iu .
— Tragam ele para dentro .
A mãe já t inha descido do cava lo de Sebastian e estava parada ao lado de
Jennsen para receber seu garoto nos braços que aguar davam.
— Graças ao Cr iador você está aqui ho je .
O curandeiro, pousando uma confor tadora mão nas costas da mulher ,
conduziu -a em dir eção a por ta , inclinou a cabeça fazendo um s ina l para Sebastian.
— Vocês podem co locar seus cavalos nos fundos junto com o me u e
então entrar .
Sebast ian agradeceu e levou os cavalos enquanto Jennsen seguiu os outros
dois até a por ta . Na luz fraca , ela ainda não conseguira dar uma boa olhada no rosto do homem.
Era demais t er esperança , ela sabia , mas em últ imo caso, esse homem era u m
Raug'Moss e poder ia responder a pergunta dela .
220
C A P Í T U L O 3 3
Dentro da cabana , uma grande lareira feita de pedras arredondadas ocupava a ma ior par te da parede à dir eita . Cortinas de tecido grosseiro estavam penduradas em
ambos os lados de dois por tais para quar tos nos fundos . Uma prateleira rudement e
ta lhada sobre a lar eira t inha uma lamparina , assim como o tampo de madeira da mesa ,
nenhuma das lamparinas estava acesa . Toras de carvalho estalavam na lareira , espalhando na sala um aroma fumacento mas convidativo, bem como a suave luz
ondulante das chamas . Um braço de ferro, negro de fu ligem, segurava um chaleira com
tampa ao lado do fogo. Após tanto tempo lá fora , Jennsen sent ia que estava quase quente demais ali dentro.
O curandeiro colocou o garoto sobre uma das vár ias camas pela parede do
lado oposto a lareira . A mãe ajoelhou sobre um joelho , observando enquanto ele abr ia o cobertor . Jennsen deixou que eles examinassem a cr iança enquanto checava o local
de modo casual, cer t if icando-se de que não havia surpresas espreitando . Não havia
fumaça de chaminé sa indo das outras cabanas , e ela não t inha visto rastros através da
neve fr esca , mas isso não s ignificava que não podia haver pessoas dentro daquelas outras cabanas .
Jennsen cruzou a sala , passando pela mesa no centro, para aquecer as mãos
na lar eira . Isso deu a chance para dar uma olhada dentro dos dois quar tos nos fundos . Cada um deles era pequeno, com uma cama e a lgumas peças de roupas penduradas em
cabides. Não havia ma is ninguém no lugar . Entr e os por tais estavam armários simples
de p inho.
Enquanto Jennsen mantinha as mãos levantadas diante do calor do fogo e a mãe do garoto cantava para ele suaves canções , o curandeiro correu até o armário e
t irou vár ios jarros de argila .
— Você t raz um pouco de fogo para acender a lampar ina, por favor ? —
e le pediu quando colocava os itens sobre a mesa .
Jennsen t ir ou um longo pedaço de uma das toras empilhadas em um canto , então segurou dentro das chamas ondulantes até acender . Enquanto ela acendia a
lamparina e então r ecolocava a alta cober tura de vidro , ele pegou p itadas de pó de
vár ias das jarras e juntou-as em uma xícara branca .
— Como está o garoto ? — ela perguntou com um sussurro .
Ele olhou para o outro lado da sala .
— Nada bem.
— O que posso fazer para ajudar? — Jennsen perguntou depois que t inha
ajustado o pavio. Ele torceu a tampa de um jarro.
— Bem, se você não se importar , traga o almofar iz e o p ist ilo do armário do
centro. Jennsen pegou o pesado almofar iz cinzento de pedra e o p ist i lo para ele e
colocou sobre a mesa ao lado da lamparina. Ele estava adicionanddo um pó cor de
mostarda na x ícara . Ele estava tão concentrado em sua tarefa que não t inha r emovido a capa, mas quando ele baixou o capuz ela f inalmente conseguiu dar uma boa olhada
nele.
O rosto dele não mexeu com ela , do modo como o rosto do Mago Rahl tão inesperadamente t inha feito. Não viu nada nos olhos arredondados desse homem, testa
reta , ou na l inha suf icientemente agradável da boca dele que parecesse familiar . Ele
apontou para uma garrafa feita de vidro verde.
— Poderia fazer o favor de moer uma dessas para mim?
Enquanto ele seguia rapidamente até o canto para pegar um pote de barro
marrom de uma prateleira alta , Jennsen soltou a pres ilha de arame e r emoveu a tampa
221
de vidro do jarro. Ela estava surpresa em ver as cois inhas ma is estranhas ali dentro .
Foi o formato daquelas coisas que deixou -a tão surpresa . Ela girou uma com um dedo .
Era escura , chata , e circular .
Ela podia ver com a luz da lamparina que era algo que havia secado . Balançou o jarro. Todas t inham a mesma aparência, como um jarro cheio de pequenas
Graças.
Exatamente como o s ímbolo mágico, essas coisas t inham um círculo externo , par tes que suger iam um quadrado dentro dele , e um círculo menor dentro do quadrado.
Cobrindo tudo isso, juntando tudo, havia outra estrutura muito parecida com uma
gorda estrela . Embora não fosse exatamente uma Graça , do modo como ela sempre viu desenhada, t inha uma incr ível semelhança .
— O que é isso? — e la perguntou .
O curandeiro afastou sua capa e levantou as mangas do manto simples .
— Parte de uma f lor . . . a base seca do f i lamento de uma Rosa da Febre da
Montanha
— Cois inhas muito bonitas , elas são. Tenho cer teza de que você as viu
antes. Elas surgem em vár ias cores , dependendo de onde elas crescem, mas elas são
ma is conhecidas pela comum cor vermelha . O seu mar ido nunca trouxe para você u m buquê de Rosas da Febre da Mntanha?
Jennsen sent iu o rosto f icar vermelho.
— E le não é. . . só estamos viajando juntos . Somos amigos, só isso.
— Oh. — e le disse , não parecendo surpreso, nem curioso. Ele apontou. —
Está vendo ali? As pétalas estão conectadas aqui , e aqui. Quando as pétalas e o
estame são r emovidos e essa par te selecionada da cabeça é seca, elas f icam com essa
aparência .
Jennsen sorr iu.
— Parece com uma pequena Graça .
Ele assent iu , devolvendo o sorr iso.
— E como a Graça , ela pode ser benéf ica , mas também pode ser mortal .
— Como é possível ser tanto benéfica como mortal?
— Uma dessas cabeças de flor secas , moída e misturada com essa bebida ,
a judará o garoto a dormir profundamente para que possa lutar contra a febre , a judará a
afastá-la dele. Porém, mais de uma , na verdade causa febre.
— É mesmo ?
Parecendo como se t ivesse antecipado a pergunta dela , ele levantou um dedo
enquanto inclinava, aproximando-se.
— Se você tomasse duas dúzias , t r inta com cer teza , não haver ia cura .
Uma febre ass im é velozmente fatal . É por causa do seu efeito que a p lanta r ecebeu
seu nome. — e le exibiu um leve sorr iso . — De muitas formas, um nome
adequado para uma flor tão associada ao amor .
— Imagino que sim. — e la disse , pensando naquilo. — Mas se você
comesse mais de uma , mas menos do que duas dúzias , a inda morrer ia?
— Se você fosse tolo o bastante para amassar dez ou doze e colocá - las
no seu chá , acabar ia derrubado com uma febre.
— E então eventualmente você morrer ia , apenas se comesse ma is ?
Ele sorr iu diante da expressão de preocupação no rosto dela .
— Não. Se comesse uma quant idade dessa , isso causar ia uma suave febre.
Em um dia ou dois você vencer ia ela .
Jennsen espiou cuidadosamente toda a coleção ali dentro das pequenas
coisas parecidas com uma Graça e então abaixou o jarro.
— Tocar em uma não irá fer ir você. — e le falou , vendo a reação dela
diante do jarro cheio . — Ter ia que comê- las para ser afetada . Mesmo assim, como
eu disse, uma delas em conjunto com out ras coisas ajudará com a febre do garoto.
Jennsen, embaraçada, sorr iu e enf iou dois dedos para pegar uma . Ela jogou-
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a no fundo do almofar iz , onde ela não parecia com outra coisa a não ser uma Graça .
— Se fosse para um adulto que est ivesse acordado, eu s implesmente a
esmagaria entr e os dedos , — o curandeiro disse enquanto derramava mel dentro da
xícara. — mas ele é pequeno e além disso está dormindo . Preciso fazer ele beber
isso com facil idade, então moa até virar um pó. Quando havia terminado, ele adicionou o pó escuro da pequena cabeça de
Rosa da Febre que Jennsen t inha moído pa ra ele. Como a Graça que ela lembrava ,
poder ia ser uma salvadora de vidas , ou letal. Ela pensou no que Sebastian achar ia de uma coisa assim. Imaginou se o
Irmão Narev ir ia querer que essas Rosas da Febre da Montanha fossem erradicadas
porque podiam ser potencialmente letais .
Jennsen guardou os jarros para o curandeiro enquanto ele levava a bebida para o garoto. Com a ajuda da mãe, eles colocaram a xícara nos pequenos lábios dele e
genti lmente f izeram com que ele bebesse. Gota após preciosa gota , est imularam o
garoto adormecido a engolir cada pouquinho que derramavam em sua boca . Não conseguiram levantá -lo, então foram obr igados a despejar den tro da boca dele u m
pouco de cada vez, esperando até ele engolir enquanto dormia , então faziam ele beber
ma is um pouco. Enquanto eles trabalhavam, Sebastian r etornou do celeiro. Anttes que ele
fechasse a por ta , ela viu escadas do lado de fora . Uma onda de arr fr io passou pelas
pernas dela , espa lhando um calafr io pelos ombros dela . Quando o vento morr ia desse
jeito enquanto o céu clar eava , isso geralmente s ignif icava uma noite fr ia de gelar os ossos.
Sebast ian seguiu até o fogo, ansioso para aquecer o corpo. Jennsen colocou
outra tora , usando o atiçador procurando pos icioná - la para que ela pegasse bem. O curandeiro, com a mão pousada gent ilmente no ombro da mulher , assent iu tentando
confor tá -la enquanto ela dava a bebida para sua cr iança doente . Ele deixou que ela
cuidasse da tarefa, e, após pendurar sua capa em um gancho atrás da porta mais próxima da lareira , reuniu-se a Jennsen e Sebastian per to do fogo.
— Essa mulher e essa cr iança são parentes seus? — e le disse .
— Não. — Jennsen falou.
Com o calor do fogo, ela também ret irou a capa , e colocou-a sobre o banco
per to da mesa .
— Nós a vimos na est rada , e ela precisava de ajuda . Só demos a ela uma
carona até aqui.
— Ah, — falou ele . — e la será bem vinda para dormir aqui com seu
garoto . Preciso f icar de olho nele durante a noite. — e la havia esquecido da
natureza singular da faca que carregava no cinto at é que ele a notou .
— Por favor , — e le falou. — s irva-se do cozido que estou preparando ;
sempre temos bastante para aqueles que aparecem aqui . Está tarde para via jar . Vocês dois podem usar as cabanas esta noite . Elas estão todas vazias no momento , então cada
um pode f icar com uma.
— Isso ser ia uma grande gent ileza. — falou Sebastian. — Obr igado .
Jennsen estava prestes a dizer que eles podiam dividir uma cabana , quando
percebeu que ele t inha fa lado aquilo porque ela falou que Sebastian não era seu
mar ido. Percebeu como parecer ia se falasse algo para mudar o plano , então não fa lou. Além disso, a idea de dormir com Sebast ian em terreno aber to era natural e
bastante inocente. Juntos em uma cabana de alguma forma parecia difer ente . Lembrou
que vár ias vezes em sua longa jornada pa ra o norte, a té o Pa lácio do Povo eles
abr igaram-se em hospedarias . Mas isso foi antes que ele a t ivesse beijado . Jennsen fez um gesto para inclu ir a área toda .
— Essa é a casa dos Raug'Moss?
Ele sorr iu para ela diante da pergunta , como se achasse aquilo diver t ido mas não desejasse zombar da ignorância dela .
— De modo algum. Esse é apenas um dos vár ios pequenos postos qu e
223
usamos quando via jamos, nos abr igamos, e um lugar onde as pessoas que precisam de
nossos serviços podem nos encontrar .
— Então o garoto teve sorte de você estar aqui. — Sebastian falou.
O Raug'Moss estudou os olhos de Sebastian por um momento.
— Se ele viver, f icar ei fel iz em ter estado aqui para ajudá- lo.
Frequentemente nós temos um irmão nessa es tação .
— Porquê? — Jennsen perguntou.
— Postos como esse ajudam a fornecer rendimentos para os Raug'Moss
ao servir em as necess idades das pessoas que não possuem outro acesso aos
curandeiros.
— Rendimentos? — Jennsen perguntou. — Eu achava que os Raug'Moss
ajudassem as pessoas por car idade, não para ter em lucro.
— O cozido , a lar eira , o t eto que nós ofer ecemos , essas coisas não
aparecem magicamente só porque existe uma necessidade. Ser ia natural que as pessoas
que nos procuram por causa do conhecimento que passamos uma vida adquir indo
contr ibuam com a lgo em troca por essa ajuda . Afina l de contas , se nós f icássemos passando fome até a morte , então como poderíamos a judar alguém? Caridade, se você
t iver os meios para isso, é uma escolha pessoal , mas car idade que é s implesment e
esperada ou obrigatór ia é apenas uma palavra educada para escravidão .
O curandeiro não estava falando a r espeito dela , é claro, mas ainda ass im Jennsen sentiu-se at ingida pelas palavras dele. Será que ela sempre esperava que os
outros a ajudassem, sent indo-se merecedora da a juda deles s implesmente porque ela
quer ia? Como se o desejo dela em r eceber assistência t ivesse pr ecedência acima do inter esse das própr ias vidas deles ?
Sebast ian r emexeu em um bolso, t irando uma moeda de prata . Ele ofer eceu-a
para o homem.
— Nós gostar íamos de compart ilhar o que temos em compensação por
você compart ilhar o que tem.
Após um breve olhar para a faca de Jennsen, ele falou.
— No caso de vocês , isso não é necessár io.
— Nós insist imos. — Jennsen falou, sent indo-se desconfor tável sabendo
que esse dinheiro nem ao menos era dela , a lgo que t inha ganho em troca por comida ,
abr igo, e o cuidado de seus cava los , mas que havia sido tomado dos mortos.
Com um aceno da cabeça , ele aceitou o pagamento.
— Tem t igelas no armár io a direita . Por favor , sirvam-se. Devo cuidar do
garoto. Jennsen e Sebastian sentaram em um banco diante da mesa e comeram duas
t igelas cada um do cozido de carneiro da grande panela . Foi a melhor r efeição qu e
t iveram desde… desde as tor tas de carne que Tom deixara para eles .
— Isso acabou t ransformando -se em uma vantagem para nós. —
Sebast ian fa lou em voz baixa .
Jennsen olhou para o lado da sa la para ver o curandeiro e a mãe curvados sobre o garoto. Ela inclinou chegando ma is per to enquanto ele mexia uma colher no
cozido dele.
— Como assim?
Os olhos azuis dele viraram para ela .
— Dá aos cavalos boa comida e um bom descanso . Para nós também.
Isso nos dá uma vantage sobre qua lquer um que esteja nos perseguindo.
— Acha mesmo que eles poder iam ter alguma ideia de onde estamos ?
Ou até mesmo estarem per to? Sebast ian balançou os ombros enquanto comia mais cozido . Ele observou o
outro lado da sala antes de fa lar .
— Não consigo imaginar como poder iam, mas eles já nos surpreendera m
antes, não foi mesmo?
Jennsen admit iu a verdade daquilo com um aceno da cabeça e voltou a
224
comer sua refeição em silêncio.
— De qualquer modo , — e le disse. — isso fornece para nós e os
cavalos comida e descanso necessár io s . Isso só pode nos a judar a colocar mais
distância deles . Fico feliz que você tenha me lembrado de como o Criador ajuda
aqueles com necess idade.
Jennsen foi aquecida pelo sorr iso dele . — Espero que isso ajuda aquele pobre garoto .
— Eu também. — d isse ele .
— Vou lavar tudo e ver se eles precisam de ajuda .
Ele assent iu enquanto comia o u lt imo pedaço de carneiro em sua colher . — Você fica com a cabana perto da últ ima . Eu ficarei com a seguinte, no
fina l. Pr imeiro farei uma fogueira para você enquanto você ter mina aqui.
Depois que ele a fastou sua colher e a t igela vazia , Jennsen colocou uma das mãos sobre a dele.
— Durma bem.
Ela confor tou -se com o sorr iso dele e então observou enquanto ele sussurrava algo para o curandeiro . Pelo aceno de cabeça do homem, ela imaginou qu e
Sebast ian t inha agradecido a ele e desejado uma boa noite . A mãe, sentada ao lado do
garoto dela , acar iciando a testa dele , também agradeceu Sebastian pela ajuda , e ma l notou o ar gelado que entrou quando ele saiu pela por ta .
Jennsen levou uma tigela de cozido fumegante até a mulher . Ela aceitou
educadamente, mas de forma distraída , sua atenção concentrada em sua pequena preocupação dormindo junto ao seu quadril . Com o chamado de Jennsen, o curandeir o
suspirou concordando e sentou -se a mesa enquanto ela servia para ele uma t igela
quente do cozido.
— Muito bom, mesmo que eu tenha feito . — e le falou com bom humor
quando ela t razia para ele uma caneca com água .
Jennsen r iu, mostrando que comparti lhava da convicção dele . Deixou ele comer , ocupando-se em lavar as t igelas sujas em um balde de madeira e então
colocando vár ias toras no fogo. As toras ardentes lançaram chuveiros de centelhas .
Carvalho fazia um bom fogo, mas era uma sujeira sem uma tela . Enquanto ela arrumava as toras , novas centelhas subiram rodopiando pela chaminé no meio da
fumaça. Com uma vassoura que estava em um canto , ela varreu as cinzas mortas de
volta para dentro da lareira . Quando ela viu que o curandeiro já estava quase acabando sua refeição, ela
sentou no banco, per to dele, para poder falar em par ticu lar com ele.
— Nós devemos part ir cedo , então caso eu não fa le com você de manhã ,
quer ia agradecê- lo por toda a sua ajuda esta noite, penas para o garoto, mas para nós
também.
Embora ele não t ivesse baixado os olhos , ela sabia pela expressão no rost o dele que ele interpretava a necess idade dela em estar longe cedo como a lgo
relacionado com a faca em seu cinto . Ela não falou nada para mudar aquela ideia .
— Nós agradecemos a generosa contr ibuição com nossa doutrina . Isso
ajudará em nossos esforços de a judar nosso povo.
Jennsen sabia que ele só estava ganhando tempo até que ela falasse o qu e
realmente estava em sua mente, então ela f inalmente o fez . — Eu gostar ia de perguntar sobre um homem que eu fique i sabendo
que vive com os Raug'Moss. Ele pode até ser um curandeiro, não tenho cer teza .
Gostar ia de saber se você sabe a lguma coisa a respeito dele .
Ele ba lançou os ombros .
— Pergunte . Eu dir ei o que sei.
— O nome dele é Drefan.
Pela pr imeira vez naquela noite, os olhos do homem revelaram o fogo da
emoção. — Drefan foi uma prole ma ligna de Darken Rahl.
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Jennsen teve que se esforçar para não mostrar qualquer r eação diante do
poder das pa lavras dele . Lembrou a s i mesma que ele t inha visto sua faca com o
símbolo da Casa de Rahl, e isso podia es tar color indo suas palavras . Mesmo assim, ele
soou enfático. — Sei muito bem disso . Ainda preciso muito encontrá -lo.
— Chegou tarde demais . — um sorr iso sat isfeito surgiu no rosto dele .
— Mestre Rahl nos protege. — ele citou baseado na Devoção.
— Eu não entendo .
— Lorde Rahl, o novo Lorde Rahl, matou ele… poupou todos nós daquele
fi lho bastardo de Darken Rahl.
Jennsen .
Jennsen f icou tensa , sent indo quase como se garras invis íveis est ivessem surgindo de um céu escuro vindo em dir eção de sua garganta .
— Tem certeza? — fo i tudo que ela consegu iu pensar em dizer . —
Quer dizer , t em cer teza de que foi Lorde Rahl quem fez isso?
— Embora houvesse palavras educadas sendo faladas a respeito da
morte de Drefan, sobre como ele t inha morr ido em serviço do povo de D'Hara, eu
acredito, assim como o r esto dos Raug'Moss, que Lorde Rahl matou Drefan.
Jennsen .
Palavras educadas . Palavras educadas para um assassinato . Jennsen imaginou que ninguém s implesmente aparecer ia e chamaria aquilo de assassinato na
cara de Lorde Rahl. Era comum as pessoas serem assassinadas. As vít imas de Lorde
Rahl morr iam em serviço ao povo de D'Hara.
Jennsen sent iu um aper to no peito com o pavor de Lorde Rahl ser u m assassino próximo a ela . Darken Rahl não t inha encontrado Drefan. Richard Rahl
encontrou. Richard Rahl a encontrar ia também.
Ela aper tou as mãos tr êmulas sobre o colo , emba ixo da mesa . Esperava qu e seu rosto não mostrasse o que sent ia . Obviamente esse homem era lea l a Lorde Rahl.
Ela não ousava revelar sua verdadeira repulsa , seu verdadeiro terror .
Entregue .
Sua verdadeira raiva .
Entregue .
Aquela s imples palavra ecoou em sua cabeça por trás dos pensamentos tumultuados, de sua frustração, de sua tr isteza sem esperança , de sua raiva crescente.
226
C A P Í T U L O 3 4
Jennsen estava sentada sozinha diante da robusta fogueira que Sebastian fizera para ela , olhando dentro das chamas , seu olhar distraidamente f ixo nas brasas
cint i lantes amarelo a laranjadas que de vez em quando ca íam das toras fumegantes . Ela
lembrava apenas vagamente das despedidas para o curandeiro e para a mãe do garoto . Ela estava ma lmente consciente da lenta caminhada através da neve e do fr io que a
levara até sua cabana vazia .
Não sabia quanto tempo est ivera sentada ali , olhando para o nada , enquanto pensamentos sombrios des lizavam de forma incessante através de sua mente . Em seu
incansável es forço para chegar até ela , Richard Rahl havia tomado a mãe de Jennsen,
deixando-a sem qua lquer senso de família ou lar . Jennsen sent ia fa lta de sua mãe até o
inter ior de seus ossos, sent ia tanta falta dela que a agonia parecia insuportável , e a inda ass im não t inha escolha a não ser suportar . Não lhe sobrara mais nenhuma
lágr ima.
Às vezes, mesmo a dor da perda parecia f icar distante . Desde o momento em que Althea t inha falado sobre Drefan, Jennsen pensara
que se conseguisse encontrar essa outra cr iança de Darken Rahl, seu meio- irmão, u m
―buraco no mundo‖ como ela , ela poder ia encontrar forças através daquela conexão . Pensou que possivelmente eles poder iam ter um senso de parentes co e, em
sua luta em comum, juntos poder iam encontr ar uma solução para a sua comparti lhada
pos ição na vida . Se aquilo poder ia ou não ter acontecido, agora ela jamais saber ia .
Sua esperança era que aquilo acontecesse . Aquela esperança estava morta . Richard Rahl t inha assassinado Drefan. Richard Rahl cer tamente a matar ia quando a
encontrasse. E ele a encontrar ia . Agora ela sabia disso. Realmente sabia . Ele a
encontrar ia .
Jennsen .
Uma louca torrente de pensamentos espalhav a-se em cascata por sua mente, tudo desde a esperança ao desespero, terror até a fúr ia .
Tu vash misht. Tu vask misht. Grushdeva du kalt misht.
A voz, também, estava ali , a lém dos pensamentos r evoltos , a lém do
turbilhão de emoções , a lém da confusão da desordem, sussurrando para ela naquela s palavras estranhamente sedutoras .
No f im, todos os outros pensamentos desapareceram no cr escente calor da
raiva dela .
Jennsen. Entregue.
Tinha tentado tudo. Não restara ma is opções . O Lorde Rahl havia acabado com qua lquer outra esperança dela .
Não t inha escolha .
Agora ela sabia o que devia fazer . Jennsen levantou, sent indo a estranha sensação de paz inter ior por t er
tomado uma decisão. Jogou a capa em volta dos ombros e marchou saindo na noit e
ainda gelada, tranquila . O ar estava tão fr io que machucava respirá - lo. A neve esta lava
enquanto ela abr ia caminho através dos rastros fr escos . Tremendo por causa do fr io, ou talvez da enormidade daquilo que havia
decidido, ela bateu suavemente na porta da últ ima cabana . Sebast ian abr iu a por ta o
suficiente para ver que era ela , e então, rapidamente, abr iu-a para recebê- la . Ela
227
cruzou pela aber tura rapidamente, para dent ro da luz do fogo do ca loroso casulo . O
delicioso calor envolveu-a.
Sebast ian estava sem camisa . Pelo cheiro de l impeza dele e a toalha jogada
sobre o ombro, ela percebeu que devia ter pego ele quando estava lavando -se. Provavelmente ele t inha enchido uma bacia na cabana dela também , embora ela não
tenha notado.
A preocupação marcava a testa de S ebas tian enquanto ele permanecia imóvel , a postura tensa , esperando para ver o que havia trazido ela até ali .
Jennsen aproximou-se dele, tão per to que podia sent ir o calor dele . Com os
braços est icados ao lado do corpo, ela encarou os olhos dele audaciosamente . — Pretendo matar Richard Rahl.
Ele estudou o ros to dela , aceitando com tranquilidade as palavras
determinadas dela , como se ele soubesse o tempo todo que algum dia ela enxergar ia a indiscutível necessidade. Ele continuou em s ilêncio, esperando para ouvir dela o r est o
daquilo que t inha para dizer .
— Agora eu sei , você estava cer to, — e la falou . — tenho de eliminar ele
ou jamais estarei segura . Nunca estar ei l ivre para viver a minha própr ia vida . Eu sou
a única para fazer isso. . . aquela que deve fazer isso . Ela não disse para ele porque t inha de ser ela .
A mão dele levantou para segurar o braço dela . Seu olhar intenso jama is
deixou o dela .
— Será difíc il chegar perto de um homem assim para você fazer o que
deve . Eu disse que temos feit iceiras com o Imperador , feit iceiras lutando para colocar
um f im no r eina do de Lorde Rahl. Permita que eu a leve até elas pr imeiro . Jennsen est ivera focada na decisão e não nos deta lhes de como fazer isso .
Não t inha pensado na aproximação ou como lidar com todas as camadas de pessoas
que estar iam protegendo ele . Ter ia que chegar per to o bastante para a matança . Só t inha visua lizado em sua mente atingir ele com o punho segurando a faca , gr itando
para ele, gr itando o quanto odiava ele , o quanto quer ia que ele sofr esse por tudo qu e
t inha feito. Estivera concentrada apenas no feito , não em como chegaria tão per to dele. Havia questões práticas que ela precisava levar em conta se queira t er sucesso .
— Acredita que essas mulheres poder iam me ajudar com aqu ilo que
você falou.. . magia usada para acabar com a mag ia . Acredita que elas poder ia m
fornecer os meios para ir a trás dele?
Sebast ian assent iu.
— Não ir ia suger ir isso se não acreditasse . Conheço o poder destrut ivo
da magia ao lado de Lorde Rahl. Já vi com meus próprios olhos. E sei como nossas
feit iceiras foram capazes de nos ajudar a contra atacar . A magia não pode fazer tudo, mas acredito que elas possam fornecer uma
ajuda valiosa .
Jennsen f icou er eta , o queixo erguido.
— Agradecer ia muito isso . Aceitarei a legremente qualquer assistência qu e
elas possam oferecer .
Um leve sorr iso cur vou a l inha da boca dele .
— Mas fique sabendo disso , — ela adic ionou . — com ou sem a ajuda
delas , eu pr etendo matar Richard Rahl. Se eu t iver de ir sozinha e de mãos nuas , eu
pretendo matá -lo. Não descansarei a té fazer isso , porque não tenho vida até matá -lo. . .
por escolha dele, não minha . Estou no fim de minha fuga . Nunca mais fugir ei .
— Entendo . Então eu a levarei a té nossas feit iceiras .
— Quanto você acha que falta até o Mundo Ant igo ? Até podermos
alcançá- las?
— Não iremos para o Mundo Ant igo agora . De manhã precisar emos
começar a procurar uma passagem para o oeste , sobre as montanhas . Temos qu e
começar a procurar um caminho para entrar em Midlands.
Jennsen afastou um tufo de cabelo do rosto quando notou que ele estava
228
olhando.
— Mas , eu pensei que o Imp erador e as Irmãs da Luz est ivessem no Mundo
Ant igo. A expressão de Sebastian alterou-se com um leve sorr iso.
— Não. Não podemos permit ir que Lorde Rahl leve a guerra até o nosso
povo sem responder a agressão dele, sem fazer ele pagar um preço. Pretendemos lutar , e vencer… da mesma maneira como você f inalmente decidiu . O Imperador Jagang está
com nossas tropas , montando um cerco ao assento de governo em Midlands, a cidade
de Aydindr il. É lá que f ica o Palácio das Confessoras. . . o palácio da esposa de Lorde Rahl. Nós estamos par tindo o Mundo Novo. Quando a pr imavera chegar , tomaremos
Aydindr il e quebraremmos a coluna do Mundo Novo.
— Eu não t inha ideia. Você sabia o tempo todo que o Imperador Jagang
tentar ia algo tão audacioso?
Sebast ian r iu parcia lmente.
— Eu sou o est rategista dele .
Jennsen f icou de queixo caído.
— Você? Você pensou nisso?
Ele colocou de lado a surpresa dela .
— O Imperador chegou ao governo do Mundo Ant igo porque ele é um
gênio . Ele t inha duas alternativas , duas recomendações difer entes… ata car Midlands,
ou atacar pr imeiro D'Hara. O Irmão Narev declarou que o cer to está do nosso lado , e
que o Criador nos garantir ia a vitór ia de um jeito ou de outro , então ele não t inha prefer ência , nenhum conselho mili tar a ofer ecer .
— O própr io Imperador já t inha em mente como objet ivo Aydindr il,
embora mat ivesse s ilêncio a respeito disso até ouvir as recomendações . A minha recomendação decidiu por ele. Nem sempre o Imperador Jagang usa a minha
estratégia , mas eu f iquei feliz porque nisso ele viu o que eu vi… que tomar a cidade e
o Palácio da esposa de L orde Rahl não ser ia apenas uma vitór ia militar momentânea , mas que também aplicar ia um grandioso golpe no próprio coração de nosso inimigo .
Jennsen o estava enxergando novamente como enxergara na pr imeira vez ,
admirada com o quanto ele r ea lmente era importante . Esse era um homem que, em
par te, dir ec ionava o próprio curso da histór ia . O dest ino de nações , e de incontáveis vidas, dependiam da palavra de Sebast ian.
— Você não acha que nesse momento o Imperador já p ode ter tomado o
Palácio das Confessoras?
— Não. — e le falou com toda certeza . — Nós não desperdiçaremos
nossos bravos homens t entando conquistar um objet ivo tão importante até que o
clima esteja a nosso favor . Tomaremos Aydindril na pr imavera , quando esse inverno
ma ldito t iver acabado. Acho que a inda podemos alcançá - los em tempo de estarmos lá para o grande evento.
Jennsen estava encantada com a s imples ideia de testemunhar um evento tão
importante… as forças de um povo l ivr e efetuando um poderoso golpe contra Lorde Rahl. Ao mesmo tempo, ela sabia que isso signif icava o começo do f im de D'Hara.
Mas na verdade isso s ignif icava apenas o fim do governo ma lignno .
Na luz bruxuleante do fogo, essa parecia uma noite memorável em ma is de
uma forma. O mundo estava mudando e ela ser ia uma par te disso . Ela também havia mudado esta noite.
O fogo estava ca loroso no lado do rosto dela . Ela percebeu que nunca t inha
visto Sebastian sem uma camisa . Ela gostou da visão.
A outra mão dele subiu gent i lmente para segurar o outro braço dela .
— O Imperador Jagang gostará de conhece- la .
— Eu? Mas, eu não sou ninguém importante.
— Oh, s im, Jennsen, Jagang, O Justo, ficará ansioso para conhecê- la , poss o
prometer isso a você, para conhecer a mulher corajosa que deseja aplicar um golp e
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assim por nosso corajoso povo, pelo futuro de uma humanidade l ivr e, e f ina lment e
trazer um f im para a escór ia da Casa de Rahl. Para um evento histór ico como a tomada
de Aydindr il e do Palácio das Confessoras, o próprio Irmão Narev pretende via jar
vindo do Mundo Ant igo para testemunhar a grande vitór ia em benefício de noss o povo. Tenho cer teza de que ele também f icará muito feliz em conhecê - la .
— Irmão Narev…
Jennsen pensou a respeito da onda de eventos que, a té agora , ela não t inha
ideia que estavam acontec endo. Agora ela fazia par te desses eventos maravilhosos .
Sent iu uma espécie de entus iasmo porque conhecer ia Jagang, O Justo. . . um verdadeiro
Imperador , e ta lvez até mesmo Irmão Narev, que Sebastian dissera ser o l íder espir itual ma is importante que já vivera .
Sem Sebastian, nada disso ser ia poss ível . Ele era um homem incr ívell… em
tudo desde os seus maravilhosos olhos azuis e seus exóticos cabelos brancos espetados, a té o seu belo sorr iiso e intelecto extraordinár io .
— Uma vez que você tomou parte no planejamento da campanha , f ico
feliz que você estará lá para ver o tr iunfo da sua estratégia . Também admito que ficar ia honrada em estar na presença de homens tão grandiosos e nobres .
Muito embora Sebastian parecesse tão modesto quanto sempre, ela ainda
pensou t er visto uma centelha de orgulho em seus olhos , mas então ele f icou sér io. —
Quando encontrarmos com o Imperador , você não deve f icar alarmada com o que
verá . — O que você quer dizer
— O Imperador Jagang foi marcado pelo Criador com olhos que enxerga m
mais do que os homens norma is conseguem.
Pessoas tolas f icam assustadas com a aparência dele . Quero avisá - la com
antecedência . Você não deve f icar com medo de um homem tão grandioso simplesmente porque ele parece difer ente.
— Não ficarei .
— Então está decidido .
Jennsen sorr iu.
— Concordo com a sua nova est ratégia . Podemos par tir ao amanhecer
para Midlands, o Imperador , e as Irmãs da Luz.
Pareceu que ele ma l escutara . O olhar dele vagou pelo rosto dela , o cabelo,
fina lmente r etornando para os olhos. — Você é a mulher mais bonit a que eu já conheci .
Jennsen sent iu os dedos dele aper tando em seus braços , puxando-a para mais
per to. — Você me deixa lisonjeada com tais palavras. — ela ouviu a si mesma
dizendo. Ele era um conselheiro confiável de um Imperador . Ela era apenas uma
garota que cr esceu nas f lor estas . Ele inf luenciava a histór ia ; ela simplesmente fugia dela . Até agora .
E mesmo ass im, ele era apenas Sebast ian. Um homem com quem ela
conversou, com quem via jou, com quem comeu. Tinha visto ele bocejar exausto e ca ir no sono incontáveis vezes .
Ele era uma fascinante mistura de nobreza e homem comum. Parecia ir r itar -
se ao ser tratado com admiração, e ainda assim pelos meus modos ele parecia va lor izar isso, se não, ex igir isso.
— S into muito pelo modo como essas pala vras soam inadequadas , —
e le sussurrou , parecendo muito humilde . — quero dizer muito mais do que dizer
apenas que você é bela .
— Você quer? — as palavras dela eram mais do que uma pergunta . Elas
representavam uma maravilhosa expectativa .
A boca de Sebastia n encontrou com a dela rapidamente. Os braços dele a
envolveram. Ela manteve as mãos para os lados , t emendo abraçá -lo porque se o f izess e teer ia de tocar na carne nua dele . Ficou imóvel nos braços dele , seus próprios braços
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esticados, r ígidos, sua coluna a rqueada sob a pressão dele .
A boca dele parecia deliciosa contra a dela . Os braços dele faziam ma is do
que envolvê- la . Eles abr igavam-na. Os olhos dela fecharam enquanto ela vergava no
beijo dele. Todo o corpo dele parecia tão f irme contra o dela . O punho dele agarrou o cabelo dela na nuca, segurando-a enquanto ele gemia contra os láb ios dela , enquanto a
l íngua ca lorosa dele inesperadamente preenchia sua boca. A cabeça de Jennsen estava
girando com as deliciosas sensações . O mundo parecia estar desfazendo -se, e ela sent ia como se est ivesse
pendurada nos braços dele. Ela sent iu a repent ina pressão da cama contra o corpo . O
choque de estar deitada de costas , com ele sobre ela , subitamente deixou -a confusa e sem saber o que fazer ou como r eagir .
Ela quer ia detê- lo antes que ele fosse ma is longe. Ao mesmo tempo, t emia
fazer qua lquer coisa que fizesse ele parar , acreditar que ela o estava rejeitando.
Ocorreu a ela o quanto estavam sozinhos . Tal isolamento a pr eocupava . E mesmo ass im, a excitava também. Com os dois completamente sozinhos , somente ela
poder ia fazê- lo parar . As escolhas que ela fazia não decidiam apenas seu próprio
caminho, mas também t inham inf luência no coração de Sebast ian. Isso deu a ela uma confor tável sensação de poder .
Mas foi apenas um beijo. Um beijo maior do que o beijo no Palácio , mas
ainda ass im, apenas um beijo. Um beijo de fazer a cabeça girar e o coração pulsar for te.
Ela entr egou-se ao abraço dele, ousando usar a língua como ele f izera comm
a dele, e ficou muito feliz com a r esposta ar dente dele. Sent iu -se como uma mulher . . .
uma mulher desejável . Suas mãos subiram pela suave pele nas costas dele , sent indo as formas de seus ossos e músculos , l ivr es de uma camada de roupa , sent indo ele
flex ionar o corpo enquanto comprimia -se contra ela . Ela ma l conseguia recuperar o
fôlego com a maravilha de ta is sensações . — Jenn, — e le sussurrou no ouvido dela. — eu te amo .
Jennsen estava sem voz. Isso não parecia r eal . Parecia que ela devia estar
sonhando, ou vivendo no corpo de outra pessoa . Sabia ter ouvido ele dizer aquilo, mas simplesmente não parecia real para ela .
Seu curacao estava batendo tão acelerado que ela t emia que ele explodisse .
A respiração de Sebastian também ocorr ia com desesperada dificu ldade , como se o desejo dele estivesse deixando e le louco. Ela agarrou-se a ele, ans iosa para sent ir o
calor das palavras dele em seu ouvido novamente .
Porém, ela t emia acr editar nele, permit ir -se acreditar nele, saber se isso eera
real, se isso rea lmente estava acontecendo com ela , ou se ela estava apenas imaginando.
— Mas . . . não pode estar falando sér io. — suas palavras eram um muro
para protege-la .
— Eu falo , — e le o fegou . — eu falo . Não cons igo me conter . Eu te amo,
Jennsen.
A r espiração quente dele a deixava er içada de um modo que fazia subir u m
calafr io dentro dela .
Por alguma razão, a lembrança de Tom surgiu em sua mente. Ela enxergou-o, em seu pensamento, sorr indo para ela daquele jei to dele . Esse não ser ia o
comportamento de T om. Ela não sabia como sabia disso , mas sabia . Tom não entrar ia
no assunto do amor desse jeito. Por alguma razão, ela sentiu uma pontada de tr isteza por Tom.
— Sebastian. . .
— Amanhã , nós par timos para seguirmos nosso dest ino . . .
Jennsen assent iu contra o ombro dele, maravilhada pelo modo como aquelas
plavras de algum modo soa ram apaixonadas . O dest ino deles . Ela segurou-o com firmeza, sent indo o ca lor das costas dele, sent indo ele empurrar o corpo contra sua
perna, sentindo o braço dele sobre o estômago dela enquanto sua mão acar iciava o
231
quadril dela , de cer to modo esperando que ele falasse algo para assustá -la , ao mesmo
tempo em que r ezava que ele não f izesse isso .
— Mas essa no ite é nossa , Jenn, se você apenas aproveitá - la .
Jennsen .
— Sebastian. . .
— Eu te amo , Jennsen. Eu te amo.
Jennsen .
Ela desejou que a imagem de Tom abandonasse a sua mente.
— Sebastian, eu não sei o que. . .
— Eu nunca deseje i. Não era minha intenção permit ir que eu me sent iss e
desse jei to, mas eu s into. Eu te amo, Jenn. Eu não esperava isso. Quer ido Criador , não
cons igo me conter . Eu te amo. Os olhos dela fecharam enquanto ele beijava seu pescoço . Parecia tão bom
sentir esses sussurros ínt imos no ouvido , um sussurro que de cer to modo próximo de
uma confissão dolorosa , envolta com arrependimento, raiva , e mesmo assim cheia de
desesperada esperança . — Eu te amo. — e le sussurrou outra vez .
Jennsen .
Jennsen estr emeceu com o prazer da sensação , com o prazer de sent ir -s e
como uma mulher , de saber que sua mera existência atiçava um homem . Nunca sentira-se par ticu larmente atraente. Nesse momento, sent ia-se ma is do que bela ,
sentia-se sedutoramente bela .
Entregue .
Ela beijou o pescoço dele enquanto ele mudava de pos ição. Beijou a or elha dele e des lizou a l íngua por ela como ele t inha feito . O corpo todo dele parecia pegar
fogo.
Ela congelou quando a mão de le subiu por baixo do vest ido dela . Os dedos
dele des lizaram sobre o joelho nu dela , sobre a coxa dela . Isso era uma escolha dela , disse a si mesma . Era mesmo.
Ela arfou, de olhos arregalados , olhando f ixamente para cima, para as vigas
escuras. A boca dele cobr iu a dela antes que pudesse dizer a palavra que desejava sair . Seu punho bateu no ombro dele , uma vez, com a frustração de não poder dizer aquela
única, cur ta, palavra importante.
Ela segurou o rosto dele para afastá -lo, para permit ir que ela fa lass e. Mas
esse era o homem que salvara sua vida . Se não fosse por ele, ela t er ia sido morta junt o com sua mãe naquela noite chuvosa . Devia a ele sua própria vida .
Permit ir que ele a tocasse desse jei to não era nada em troca disso . Que ma l
havia? Era uma coisa pequena comparada com a maneira que ele t inha aber to seu coração para ela .
Além disso, ela se importava com ele . Ele era um homem que qua lquer
mulher desejar ia . Ele era bonito, esper to, e importante. Mais ainda , ela estava excitada com o
fato de que ele se importava com ela . Estava .
O que ma is ela poder ia querer
Forçadamente ela baniu a indesejada imagem de T om de sua mente concentrando toda sua atenção em Sebastian e naquilo que ele estava fazendo com ela .
O toque dele enfraqueceu -a de um jeito que fazia ela sent ir dor .
232
Os dedos dele pareciam tão bons que lágr imas rolaram pelas bochechas dela .
Ela esqueceu a palavra, imaginando porque ter ia desejado pronunciá - la
Seus dedos agarraram atrás da cabeça dele , segurando como se a vida
dependesse diisso. A outra mão dela pr ess ionou os lados das costelas dele enquanto ela gr itava por causa do que ele estava fazendo com ela . Tudo que conseguiu fazer foi
ofegar enquanto contorcia , indefesa , com o prazer indecente daquilo.
— Sebastian. . . — e la gemeu . — Oh, Sebastian. . .
— Eu te amo tanto , Jenn. — e le forçou os joelhos dela a se afastarem .
Empurrou o corpo entr e as pernas trêmulas dela . — Preciso de você , Jennsen. Precis o
tanto de você. Não posso viver sem você. Juro que não posso.
Era suposto que isso devia ser es colha dela . Ela disse a si mesma que era .
— Sebastian. . .
Entregue .
— S im, — e la sussurrou . — queridos espír itos , me perdoem, s im.
233
C A P Í T U L O 3 5
Oba inclinou um ombro contra o lado p intado de vermelho de uma carroça que estava recuada fora do caminho. Com as mãos enf iadas nos bolsos , ele observava
casualmente o agitado mercado. As pessoas amontoadas entr e barracas aber tas ao ar
l ivr e pareciam em um clima fest ivo, poss ivelmente porque f inalmente a pr imavera estava próxima , mesmo se o inverno ainda não est ivesse pronto para recolher suas
garras. A despeito do fr io atroz , pessoas conversavam e r iam, barganhavam e
discutiam, compravam e examinavam. Mal sabiam as mult idões que se espremiam encarando o vento fr io que
alguém importante estava entr e eles. Oba sorr iu. Um Rahl estava entr e eles . Um
membro da família governante.
Desde que ele havia decidido tornar -se invencível , e durante o curso de sua longa jornada para o norte, Oba transformara-se em um novo homem, um homem do
mundo. No início, após a morte da incômoda feit iceira e sua mãe lunática , ele estava
rodopiando em uma liberdade recém descoberta , e não t inha pensado em vir a té o Palácio do Povo, porém, quanto ma is ele cons iderou os eventos que tomaram lugar e
todas as coisas novas que aprendera, mais ele passou a perceber que a jornada era
vital. Ainda faltavam pedaços , pedaços que poder iam conduzir a problemas . Aquela mulher Jennsen t inha fa lado que Quads a caçavam. Quads só
caçavam pessoas importantes . Oba estava preocupado que eles pudessem começar a
caçá-lo também, uma vez que ele era importante. Como Jennsen, ele também era um
daqueles buracos no mundo. Lathea não explicou para ele o que aquilo s ignif icava , mas isso tornava Oba e Jennsen especia is de algum jeito. De algum modo os
conectava .
Era possível que Lorde Rahl t ivesse descoberto a respeito de Oba, ta lvez através daquela Lathea traiçoeira , e ele t emia ter um r iva l de dir eito que poder ia
desafiá- lo. Afinal de contas, Oba também era um f i lho de Darken Rahl. Um igua l, de
muitas maneiras . Lorde Rahl t inha magia , mas Oba era invencível.
Com todo o problema em potencia l fermentando , Oba achou melhor ir a trás de seus próprios inter esses via jando até seu lar ancestral para aprender o que
conseguisse.
Mesmo antes de decidir via jar para o norte , Oba t inha suas preocupações . Mesmo ass im, ele gostava de suas visitas a lugares novos , e t inha aprendido muitas
coisas novas. Mantinha l istas delas em sua cabeça . Lugares, vistas , pessoas.
Tudo s ignif icava algo. Em momentos tranquilos ele r epassava essas l istas menta is , ver if icando se as coisas se encaixavam, que r evelações ele podia descobr ir .
Era importante manter a mente ativa , ele sempre dizia . Agora ele era um homem qu e
estava por sua conta , tomando suas próprias decisões , escolhendo sua própria estr ada,
fazendo o que achava melhor , mas ainda precisava aprender e cr escer . Mas Oba não t inha mais que alimentar os anima is , cu idar do jardim,
conser tar cercas, celeiros e casas . Não t inha ma is que carregar , ir buscar , e obedecer
cada desejo tolo de sua mãe ma luca. Não t inha mais que suportar os remédios horr íveis da incômoda feit iceira , os olhares fur t ivos dela . Não t inha mais que ouvir as
ins inuações de sua mãe, os deboches dela , ou f icar sujeito a venenosa humilhação
dela . E pensar que um dia ela t eve a a udácia de mandar ele r emover um monte de
l ixo congelado. . . ele, o f i lho do próprio Darken Rahl. Como Oba aguentou isso, ele
não sabia . Imaginou que era um homem de incr ível paciência , uma de suas muitas
qua lidades. Já que a mãe maníaca dele sempre foi tão exigente que ele jamais gastasse
dinheiro com mulheres , Oba t inha comemorado sua l iberdade da t irania dela , logo qu e
chegou a uma cidade de bom tamanho, vis itando a prost ituta ma is cara que conseguiu
234
encontrar . Então, ele entendeu porque sua mãe sempre er a tão f irme contra ele f icar
com mulheres. . . isso era prazeroso.
Entr etanto, ele descobr iu que aquelas mulheres também podiam ser cruéis
com um homem da sens ib il idade dele. Às vezes, elas também tentavam fazer ele sentir -se pequeno e ins ignif icante. Elas também lançavam sobre ele aquele olhar
calculista , duro, condescendente, que ele odiava tanto.
Oba suspeitou que isso era culpa de sua mãe. Suspeitou que mesmo do mundo dos mortos , ela ainda podia conseguir a lcançar esse mundo , através do coração
fr io de uma prost ituta , para per turbá-lo em seus momentos ma is tr iunfantes . Suspeitou
que a voz morta dela sussurrava coisas horr íveis nos ouvidos das mulheres . Ser ia bem do feit io dela fazer isso; mesmo em seu descanso eterno, ela não ficar ia contente em
permit ir que ele t ivesse qualquer paz ou satis fação.
Oba não era um esbanjador… de jeito nenhum… mas o dinheiro que por
dir eito era dele r ea lmente tr ouxe alguns prazeres bem merecidos , como camas l impas , boa comida e bebida , e a companhia de mulheres atraentes . Porém, ele cu idava de seu
dinheiro com cuidado, caso contrár io f icar ia sem ele . As pessoas , ele sabia, cobiçava m
demais a r iqueza dele . Ele aprendera que somente ter dinheiro , entr etanto, gerava favores para ele,
especia lmente de mulheres . Se comprasse para elas bebidas ou pequenos presentes. . .
um belo pedaço de tecido para um lenço , uma bugiganga para o pulso, um prendedor br ilhante para o cabelo. . . elas ficavam mais gent is com ele . Geralmente elas o levava m
para algum lugar tranquilo, onde podiam f icar sozinhas com ele. Às vezes era u m
beco, às vezes uma f lor esta deser ta , às vezes era um quarto.
Ele suspeitava que a lgumas delas só quer iam o dinheiro dele . Mesmo assim, ele nunca deixava de f icar surpreso com o entr etenimento e a satisfação que podia
obter de uma mulher . Frequent emente com a ajuda de uma faca afiada .
Sendo um homem do mundo, agora Oba conhecia as mulheres . Est ivera com muitas. Agora , ele sabia como fa lar com mulheres , como tratar mulheres , como
satisfazer mulheres .
Havia muitas mulheres que a inda esperavam, t inham esperança , rezando para
que um dia ele r etornasse para elas . Várias t inham até mesmo abandonado seus mar idos, esperando que pudessem conquistar o coração dele .
As mulheres não conseguiam res ist ir a ele . Elas o baju lavam, encantadas
com a aparência dele, maravilhadas com sua força , gemiam com a forma que ele lhes fornecia prazer . Elas gostavam especia lmente quando ele as machucava . Qualquer u m
menos sens ível do que ele fa lhar ia em r econhecer as lágr imas de alegr ia delas como
aquilo que elas r ealmente eram. Enquanto Oba apreciava a companhia de mulheres , ele sabia que sempre
poder ia t er outra , então ele não f icava envolvido em longos casos de amor . A ma ior ia
era br eve. Alguns muito br eves . No momento, ele t inha assuntos mais importantes em
sua mente do que mulheres . Mais tarde, ele t er ia todas as mulheres que podia desejar . Exatamente como seu pai t eve .
Agora , finalmente, ele podia contemplar o esplendor alt ivo do seu
verdadeiro lar : o Palácio do Povo. Algum dia , isso ser ia dele. A voz t inha falado isso.
Um vendedor ambulante aproximou -se dele , per turbando os pensamentos
agradáveis de Oba, sua imaginação a respeito do que estava adiante para ele . — Amuletos , para você, Senhor? Amuletos mágicos . Boa sor te com cer teza .
Oba franziu a t esta para o vendedor curvado.
— O quê?
— Amuletos especia is com magia . Não pode dar errado por uma moeda de
prata . — O que eles fazem?
— Bem, senhor , os Amuletos são mágicos , com cer teza . Você não gostar ia
de um pouquinho de magia para aliviar as terr íveis batalhas da vida?
Fazer as coisas seguir em no seu caminho, para var iar ? Apenas uma moeda
235
de prata .
As coisas rea lmente seguiam no caminho dele , agora que a sua mãe lunática
não estava per to para atormentá - lo e fazer com que ele ba ixasse a cabeça . Ainda
assim, Oba gostava mesmo de aprender coisa s novas . — O que essa magia fará? Que t ipo de coisas?
— Grandes co isas , senhor . Grandes coisas . Dará força a você, dará mesmo.
Força , e sabedoria . Força e sabedoria além de qualquer homem mortal comum.
Oba sorr iu. — Eu já tenho isso .
O homem f icou sem pa lavras durante um momento . Olhou por cima de cada
um dos ombros , cer t if icando-se de que ninguém estava per to antes de chegar ma is
per to, encostando ao lado de Oba, para falar de forma confidencial . Ele p iscou para
Oba. — Esses Amuletos mágicos a judarão você a conquistar garotas , Senhor .
— As mulheres já não conseguem resist ir a mim .
Oba estava perdendo o inter esse. Essa magia promet ia somente o que ele já
t inha. O homem podia muito bem dizer que os Amuletos dar iam a Oba dois braços e
duas pernas . O sujo homenzinho l impou a garganta , cheio de tranquilidade, quando
inclinou aproximando-se novamente.
— Bem, Senhor , nenhum homem consegue ter r iqueza suf iciente ou a ma is
bela . . .
— Darei a você uma moeda de cobre se puder dizer ond e consigo
encontrar a feit iceira Althea.
O há lito do homem fedia . Oba empurrou-o para trás . O vendedor levantou
um dedo ossudo. Ele também levantou as sobrancelhas finas . — Você , Senhor , é um homem sábio, exatamente como disse. Sabia qu e
t inha visto algo de sagaz em você. Você, senhor , encontrou o homem nesse mercado
que pode dizer o que você precisa saber . — e le bateu no peito . — Eu . Posso dizer
tudo que você precisa saber sobre o assunto . Mas, como um homem de sua sabedoria
sem dúvida perceber ia , ta l informação obscura e pr ivilegiada custará muito mais do que uma moeda de cobre. Sim, senhor , muito ma is , e valerá isso.
Oba fez uma careta .
— Quanto mais?
— Uma moeda de prata .
Oba grunhiu soltando uma r isada e começou a caminhar . Tinha o dinheiro,
mas não gostava de ser tratado como um tolo . — Vou perguntar por aí. Pessoas decentes podem oferecer uma ajuda
simples como or ientações para chegar até a feit iceira e não estarão esperando ma is do que um aceno de agradecimento.
O vendedor seguiu apressado ao lado de Oba, ansioso para renegociar ,
fa lando rapidamente enquanto se esforçava para acompanhá -lo. Pontas soltas de sua
roupa rasgada ondulavam como bandeiras ao vento enquanto ele desviava das pessoas que desviavam de Oba.
— S im, eu posso ver que você é mesmo um homem sábio. T emo não estar
ao seu nível, Senhor . Você me venceu… essa é a s imples verdade . Mas tem ma is
algumas coisas sobre as qua is você não sabe , coisas que um homem com sua rara
sensibil idade dever ia saber , coisas que poder iam muito bem s ignif icar a s ua segurança
em uma aventura tão per igosa quanto aquela que eu acho que você está pr estes a iniciar , coisas que poucas pessoas podem dizer para você .
Oba era sens ível, isso era mesmo verdade. Ele olhou para baixo, para o
homem rastejando ao lado dele, como um cão implorando por miga lhas . — Então,
uma moeda de prata . Isso é tudo que ofer eço.
— Uma moeda de prata , — e le concordou com um suspiro. — pela
valiosa informação de que você precisa, Senhor , que eu garanto, não ouvirá em
236
outro lugar .
Oba parou, satisfeito com o fato de que o homem havia s ido vencido pelo
intelecto super ior . Com as mãos nos quadris , ele f icou olhando para o sujeit o
esperançoso que lambia os láb ios rachados . Era contra a natureza de Oba separar -se do dinheiro com tanta facil idade, mas ele t inha muito, e a lguma coisa nisso o deixava
intr igado. Ele r emexeu no bolso, enf iando dois dedos dentro da bolsa de couro qu e
guardava ali , e t ir ou uma moeda de prata .
At irou-a para o sujeito. — Então está certo . — quando o homem pegou a
moeda , Oba agarrou o pulso ossudo do vendedor . — Darei a você o preço que
pediu . Mas se eu achar que não está falando a verdade , ou se eu suspeitar que você
está escondendo a lgo de mim, pegarei a moeda de volta , e t er ei que l impar o seu
sangue dela antes de colocá - la de volta no meu bolso. O homem engoliu em seco ao ver a expressão ameaçadora no rosto de Oba.
— Senhor , Eu não enganaria você. . . especialmente uma vez que dei minha
palavra .
— É melhor não tentar . Então, onde ela está? Como posso encontrar
Althea? — Em um pântano , ela mora . Mas posso dizer a você como chegar até ela ,
por apenas. . .
— Você acha que eu sou um idiota ! — Oba torceu o pulso. — Já ouvi
que as pessoas vão encontrar com essa feit iceira , que ela r ecebe vis itantes em seu
pântano, então ser ia melhor que a lgo ma is do que o caminho até a casa dela esteja inclu ído no preço justo que paguei a você.
— S im! — o vendedor ambulante gemeu de dor . — É claro que está .
Oba aliviou o aper to. Ainda gemendo, o homem foi rápido em prosseguir .
— Eu ir ia dizer que contarei a você o caminho secreto para chegar até
ela através do pântano pelo generoso preço que você já pagou . Não apenas a entrada comum, que as pessoas conhecem, mas a ent rada secreta também. Poucos sabem dele ,
se é que a lguém sabe. Tudo inclu ído no preço. Não esconder ia nada de um homem
justo como você, senhor . Oba mostrou raiva .
— Caminho secreto? Se existe um caminho comum, um caminho que as
pessoas usam para ver Althea, porque eu me importar ia com esse outro caminho ? — As pessoas procuram falar com a fe it icei ra Althea para conseguir em
uma previsão. Ela é poderosa , essa feit icei ra . — ele chegou mais perto . — Mas
você prec isa ser convidado antes de procurá - la para uma previsão . Ninguém ousa
ir sem ser convidado. Todas as pessoas entr am pelo mesmo caminho , assim ela pode
ver elas chegando. . . depois que ela os convida e afasta suas bestas sedentas de sangue
que guardam o caminho. — um sorr iso surgiu no rosto distorcido do homem . —
Parece que se você fo i convidado, não precisar ia perguntar para as pessoas como
chegar lá . Você foi convidado, senhor?
Oba empurrou suavemente para trás o vendedor fedorento . — Então , existe outro caminho de entrada ?
— Existe . Um caminho de entrada por trás . Um caminho para aproximar -s e
dela sorrateiramente, se você quiser , enquanto suas b estas guardam a porta da fr ente.
Um homem inteligente pode escolher não aproximar -se de uma feit iceira poderosa nos
termos dela .
Oba olhou para os lados , ver if icando se as pessoas não estavam escutando . — Não preciso entrar por um caminho secreto pelos fundos . Não tenho
medo da feit iceira . Mas já que paguei o pr eço por toda a informação , escutarei toda ela . Os dois caminhos de entrada , e tudo ma is sobre ela também.
O homem balançou os ombros .
— Se achar melhor , pode s implesmente cavalgar para oeste , como as
pessoas que foram convidadas até a casa de Althea fazem. Você viaja para oeste
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cruzando as p lanícies até chegar na ma ior montanha com o p ico coberto de neve . Além
da montanha , você vira para o norte e segue pela base dos penhascos . A terra ficará
ma is baixa até que f ina lmente entrará no pântano . Apenas s iga o caminho bem mant ido
entrando através do pântano. Fique naquele caminho. . . não perambule fora dele . Ele leva até a casa da feit iceira Althea.
— Mas o pântano estará congelado , nesta época do ano.
— Não, Senhor . Essa é a morada mais horr ível de uma feit iceira e sua magia
ameaçadora . O pântano de Althea não se curva ao inverno.
Oba torceu o pulso do homem até ele gr itar . — Acha que eu sou um tolo ? Nenhum lugar é um pântano no inverno.
— Pergunte a qualquer um! — o homem gemeu . Ele moveu seu outro
braço apontando ao r edor . — Pergunte a qualquer um e ele dirá que o lar de A lthea
não se curva para o inverno do Criador , mas fica quente e lamacento durante todo o
ano. Oba afrouxou a torção no pulso do homem.
— Você falou que existe um caminho de entrada pelos fundos . Onde
fica?
Pela pr imeira vez, o homem hes itou. Ele lambeu os lábios rachados .
— É difícil de encontrar . Tem poucas marcas de r efer ência , e elas são
dif íceis de avistar . Eu poder ia dizer como encont rar o lugar , mas você pode passar por
ele, e então pensará que eu ment i quando o caso é que é dif íci l encontrar apenas com
as or ientações se você não est iver familiar izado com o terreno naquelas bandas . — Já estou pensando em pegar de vo lta minha moeda .
— Só estou pensando na sua segurança , Senhor . — e le mostrou um
rápido sorriso de desculpas . — Não gosto de dar a um homem como você apenas
uma parte daquilo que ele precisa , por medo que eu possa viver para me arrepender
disso. Eu acredito em valor izar tota lmente a minha palavra .
— Cont inue .
O vendedor ambulante l impou a garganta e então cuspiu para o lado . Ele l impou a boca com a costa da manga suja .
— Bem, senhor , o melhor modo de encontrá -lo é se eu levá- lo até lá .
Oba ver if icou um casal de idosos passando ali per to, então puxou o homem pelo pulso.
— Certo . Vamos lá .
O vendedor ambulante enterrou os ca lcanhares no chão.
— Espere um pouco . Concordei em falar para você, e posso fazer isso.
Porém, como eu disse, é dif íci l de encontrar . Mas não pode esperar qu e eu des ista do meu negócio para sair por aí como um guia . São vár ios dias que f icarei longe de um
ganho.
Fazendo uma careta , Oba inclinou o corpo. — E quanto você quer para me guiar até lá ?
O homem soltou um for te suspiro enquanto avaliava , resmungando cons igo
mesmo como se estivesse ver if icando números em sua cabeça . — Bem, senhor , — d isse ele fina lmente , levantando um dedo da mão l ivr e
que escapava através de um pequeno buraco em uma luva de lã . — Acho que poder ia
ficar fora por alguns dias se recebesse uma moeda de ouro .
Oba r iu.
— Não dar ia a você uma moeda de ouro, nem mesmo uma de prata,
pelo t rabalho de me guiar durante alguns dias . Estou disposto a pagar outra moeda
de prata , mas isso é tudo. Aceite ou devolva a minha pr imeira moeda de prata e desapareça .
O vendedor ambulante balançou a cabeça enquanto r esmungava cons igo
mesmo. Finalmente, ele olhou para Oba com uma expressão de r es ignação. — Meus Amuletos não estão vendendo bem ult imamente . Para dizer a
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verdade, esse dinheiro poder ia ser út il . Você conseguiu me vencer outra vez , Senhor .
Então, vou guiá - lo por uma moeda de prata .
Oba soltou o pulso do homem.
— Vamos lá .
— Fica do outro lado das Planícies Azrith. Precisaremos de cavalos .
— Agora , quer que eu compre um cavalo para você? Você f icou louco?
— Bem, caminhando não será nada bom. Mas conheço pessoas, aqui , qu e
farão um bom preço por um par de cava los . Se tratarmos bem os anima is , t enho cer teza que eles concordarão em comprá -los de volta assim que voltarmos. . . menos um
pequeno va lor pelo uso deles.
Oba pensou naquilo. Quer ia subir a té o Palácio para dar uma olhada ao redor , mas achou que ser ia melhor se vis i tasse a irmã de Lathea pr imeiro. Havia
coisas para aprender .
— Isso parece justo . — Oba assent iu para o vendedor curvado. — Então
vamos pegar alguns cavalos e part ir .
Eles saíram da rota la teral mais tranquila ent rando em uma estrada pr incipa l cheia de mult idões em movimento. Havia grande número de mulheres atraentes em
volta . Algumas delas olharam na direção de Oba, o convite e o desejo claro em seus
olhos. Elas encaravam o olhar dele, faminta s por ele. Oba ofer ecia sorr isos para elas
um toque suger indo a possibil idade de ma is , ma is tarde. Ele conseguia ver que até iss o as deixava agitadas .
Entr etanto, ocorr eu a ele, que essas mulheres vagando pelo mercado
provavelmente eram apenas camponesas . Lá em cima no Palácio deviam estar o t ipo de mulheres que Oba quer ia conhecer : mulheres de pos ição. Ele não merecia menos .
Afinal de contas , ele era um Rahl, praticamente um príncipe, ou algo
comparável. Talvez até mesmo a lgo ma is do que aquilo . — Qual é o seu nome? — Oba perguntou. — Já que estaremos viajando
juntos .
— Clovis.
Oba não fa lou seu nome. Ele gostava de ser chamado de "Senhor". Afina l,
isso era adequado. — Com todas essas pessoas , — Oba falou enquanto seu olhar varr ia as
mult idões. — como é que os seus Amuletos não estão vendendo? Porque você está
enfr entando dif icu ldades ?
O homem suspirou mostrando aparente sofr imento .
— É uma história t riste , mas não é um fardo para você, senhor .
— É uma pergunta bastante simples, eu acho .
— Suponho que seja . — e le protegeu os olhos contra a luz do so l com
uma das mãos, parcialmente coberta em uma luva sem dedos , enquanto levantava os
olhos para Oba. — Bem, Senhor , faz algum tempo, no alto do inverno, conheci uma
linda jovem.
Oba olhou para o homem curvado, encolhido , desgrenhado, caminhando ao
lado dele. — Conheceu ela?
— Bem, senhor , a verdade seja dita , eu estava ofer ecendo a ela u m
Amuleto. . . — a sobrancelha de Clovis levantou cur iosamente, como se de r ep ente ele
t ivesse notado algo inesperado. — Eram os olhos dela que prendiam sua atenção .
Grandes olhos azuis . Azuis como você raramente vê . . . — Clovis olhou para Oba. —
Na verdade, senhor , os olhos dela pareciam muito com os seus .
Foi a vez de Oba mostrar surpresa .
— Com os meus?
Clovis assent iu fervorosamente. — Pareciam, Senhor . Ela t inha olhos como os seus . Imagine isso. Algo
nela . . . em você também.. . que parece. . . de a lgum modo familiar . Porém, não cons igo
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dizer o que é.
— O que isso tem a ver com as sua s dificuldades? Deu para ela todo o
seu dinheiro e não conseguiu entrar no meio das pernas dela? Clovis pareceu chocado com a simples ideia .
— Não Senhor , nada disso. T entei vender para ela um Amuleto. . . para que
ela t ivesse boa sor te. Ao invés disso, ela roubou todo o meu dinheiro. Oba grunhiu, duvidando.
— Aposto que ela estava piscando e sorrindo para você enquanto
estava com o braço no seu bo lso até o cotovelo , e você estava ans ioso demais para
suspeitar daquilo que ela realmente estava fazendo .
— Nada disso , Senhor . Nada disso mesmo. — a voz dele ficou mais
amarga . — e la mandou um homem para cima de mim e ele pegou tudo para ela .
Ele fez isso, mas foi sob o comando dela . . . tenho cer teza disso . Os dois roubaram todo o meu dinheiro. Roubaram tudo que eu t inha ganho durante o ano todo.
Alguma coisa mexeu com a memór ia de Oba. Ele ver if icou sua l ista menta l
de coisas estranhas e não r elacionadas . Algumas daquelas coisas começavam a s e encaixar .
— Qual era a aparência dessa mulher de olhos azuis ?
— Oh. Ela era linda , senhor , com grossos anéis de cabelos vermelhos .
Mesmo que essa mulher t ivesse roubado as economias do homem , a
expressão distante nos olhos dele dizia para Oba que ele claramente a inda estava enfeit içado por ela .
— O rosto dela era como a visão de um bom espír ito , era mesmo, e sua
figura era o suficiente para t irar o fôlego . Mas eu devia ter percebido, por aquele ma ligno cabelo vermelho enfeit içador , que t inha algo ma is surpreendente nela do qu e
sua beleza .
Oba parou e segurou o homem pelo braço. — O nome dela era Jennsen?
Clovis apenas balançou os ombros .
— S into muito , Senhor . Ela não fa lou o seu nome. Mas não acho que tenha
muitas mulheres que pareçam com ela . Não com aqueles olhos azuis , sua aparência
incomum, e aqueles anéis de cabelo vermelho . Oba também achava que não. A descr ição combinava com Jennsen
perfeitamente.
Bem, aquilo não era mesmo uma coisa?
Clovis apontou. — Ali, Senhor . Ali embaixo está o homem que pode nos
vender cava los .
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C A P Í T U L O 3 6
Oba cerrou parcialmente os olhos na luz fraca sob a espessa vegetação . Era dif íci l acr editar no quanto era escuro embaixo das árvores enormes , descendo no
fundo da espinha r etorcida de rocha , quando havia um brilhante sol da manhã no
terr eno acima. Também parecia úmido a li adiante. Ele desviou do caminho que seguia sob as videiras e tr i lhas suspensas de
musgo, para olhar para trás, para a rampa rochosa íngreme , em dir eção ao loca l onde
deixara Clovis junto a uma calorosa fogueira , tomando conta dos cavalos e dos per tences deles . Oba estava feliz por f ina lmente estar l ivr e do homenzinho nervoso .
Ele estava enchendo a paciência , como uma mosca incômoda zumbindo ao r edor o
tempo todo. Durante todo o caminho pelas Planícies Azrith, o homem tagarelou e
tagarelou sobre tudo e nada . Oba ter ia prefer ido l ivrar -se do vendedor ambulante e t er par t ido sozinho, mas o homem estava cer to sobre como ser ia dif íci l t er encontrado
esse lugar que descia pelos fundos do pântano de Althea.
Pelo menos o homem não teve intenção de entrar no pântano com Oba. Porém, Clovis pareceu nervoso a r espeito de cer t if icar -se que seu cliente entrasse.
Provavelmente ele estava preocupado que Oba não acreditasse nele e estava ans ioso
para provar seu va lor . Ele aguardava no topo , observando, fazendo s inal com as mãos cobertas por luvas desgastadas sem dedos , impaciente para que Oba entrasse e viss e
que estava fazendo va ler o seu dinheiro .
Oba suspirou e começou a andar novamente , avançando através da
vegetação, curvando-se sob ga lhos baixos . Ele caminhou na ponta dos pés atrav és de raízes onde conseguia , e patinou
por água parada onde era necessár io . O ar estava parado e tão estagnado quanto a
água. Também parecia úmido, além do cheiro ruim. Pássaros estranhos gr itavam longe entre as árvores , dentro das sombras onde
provavelmente a luz nunca alcançou , além das videiras , espessos montes de folhas , e
troncos apodrecendo encostados como bêbados contra companheiros for tes . Cr iaturas
moviam-se através da água também. O que poder iam ser , peixes, r épteis ou bestas conjuradas , não havia como dizer . Oba não gostou do lugar . Nem um pouco.
Ele lembrou a si mesmo que haver ia uma mir íade de coisas novas para
aprender assim que chegasse até a casa de Althea. Nem mesmo isso o animou . Ele pensou nos estranhos besouros, doninhas, e salamandras que via , e aqueles que ainda
ver ia . Isso também não conseguiu animá -lo; ele ainda não gostava do lugar .
Agachando sob ga lhos , ele afastou teias de aranha . A aranha ma is gorda qu e ele já t inha encontrado ca iu ao chão e correu procurando um esconder ijo . Oba, mais
rápido a inda , esmagou-a. Pernas peludas agitaram-se no ar em sua morte antes de
ficarem r ígidas . Oba sorr iu enquanto prosseguia . Estava começando a gostar do lugar .
Seu nar iz contorceu . Quanto ma is longe ele seguia , p ior o cheiro f icava , fedendo com uma estranha , pungente, podr idão.
Ele viu fumaça subindo através das árvores , e começou a detectar um odor
parecido com o de ovos podres , mas ainda ma is ácido. Oba estava começando a não gostar do lugar , outra vez .
Ele avançou, sem ter cer teza de que t inha s ido uma boa ideia ir fa lar com
Althea, especialmente usando a rota suger ida pelo vendedor ambulante de mãos agitadas. Oba suspirou enquanto p isava com dif icu ldade entr e os espessos arbustos .
Quanto ma is cedo ele entrasse e t ivesse uma conversa com Althea , mais cedo poder ia
sair do lugar nojento.
Além disso, a voz t inha ficado agitada , inquieta que ele cont inuasse. Quanto mais cedo ele t erminasse com a irmã de Lathea, ma is cedo ele podia
vis itar seu lar ancestral , o Palácio do Povo. Ser ia sábio aprender o que pudesse,
pr imeiro, para que pudesse saber o que antecipar do seu meio - irmão.
241
Oba ficou imaginando se Jennsen já t inha visto Althea, e se t ivesse, o qu e
ela t er ia descoberto. Oba estava ma is e ma is convencido de que seu dest ino estava de
algum modo liga do com a mulher Jennsen. Coisas demais f icavam levando de volta até
ela para que isso fosse uma conexão sem signif icado . Oba era muito cuidadoso a respeito de como as coisas nas l istas que ele mant inha conectavam -se. Outras pessoas
não eram tão observadora s, mas não precisavam ser , elas não eram importantes .
Ele e Jennsen eram um ―buraco no mundo‖ . Poss ivelmente ainda ma is inter essante, os dois t inham algo nos olhos que Clovis t inha notado.
O que era, exatamente, o homem não t inha cer teza . Oba havia pr ess ionado
ele, mas ele não sabia dizer . Conforme a manhã prosseguia , Oba fez o melhor t empo que podia pelo
emaranhado de raízes que cruzava um caminho , até ele mergulhar adiante dele em uma
grande ár ea com água escura parada . Oba fez uma pausa , suor escorr endo por seu
rosto, checando os lados , procurando por outra forma de cruzar até onde o chão parecia elevar -se novamente. Parecia que o caminho adiante afunilava através da
espessa vegetação cheia de vapor . Mas pr imeiro, t inha que atravessar a água . Quent e
como ele estava , isso não soava tão ruim. Não viu nenhuma videira pendurada que pudesse atrapalhá - lo, então
rapidamente ele cor tou um galho for te e arrancou suas folhas para fazer um cajado qu e
ajudar ia a equil ibrar -se enquanto cruzava o lugar baixo. Com o ca jado na mão, Oba entrou na água . Isso não fez r es fr iar tanto quant o
ele esperava ; ela estava com um cheiro horr ível e cheia de sanguessugas marrons .
Enquanto ele movia -se pela água , gerando uma ondulação que desalojava detr itos dos
bancos de terra , ele t inha que cont inuar abanando as nuvens de insetos do rosto. Ele continuou checando, mas a não ser que ele recuasse para procurar outro caminho , ele
viu que esse era o único até a t erra seca além. Somente esse pensamento convenceu -o
a cont inuar avançando. Havia raízes suf icientes sob a superf ície para apoiar os pés , mas logo Oba
encontrou-se mergulhado até o peito e ele ainda não estava no meio . Tão fundo como
estava , a água fazia ele boiar , o que s ignificava que o apoio para os pés não adiantava
muito. As raízes no fundo eram escorr egadias e um pobre apoio para o cajado , mas pelo menos ele o ajudava a manter o equil íbr io .
Era um bom nadador , mas não gostava do pensamento do que ma is poder ia
estar nadando junto com ele, e pr efer ia manter -se sobre os pés . Quase no banco de terra mais distante, Oba estava prestes a descar tar o cajado e nadar o r esto do caminho
para lavar o suor , quando alguma coisa pesada es fr egou contra sua perna . Antes que
ele conseguisse pensar o que fazer a r espeito , a coisa bateu nele com força suf icient e para derrubá-lo, mergulhando-o na água . Logo que ele entrou na água profunda , a
coisa envolveu as pernas dele.
Instantaneamente ele pensou nos monstros que diziam vagar pelo pântano .
Durante a longa cava lgada deles , Clovis t inha alegrado ele com histór ias das bestas , avisando para que ele fosse cuidadoso , mas Oba t inha zombado daquilo, confiante em
sua própria força .
Agora , Oba gr itava com medo do monstro que o capturava . Lutou frenet icamente, em pânico, t entando l iber tar as pernas , mas a besta cuspidora de fogo
estava com ele bem seguro e não largar ia . Isso o fez lembrar de estar trancado no
cercado quando era pequeno, pr eso e impotente. O gr ito de Oba ecoou através da água espumante, r etornando tr iplicado da escur idão além. O único pensamento claro que lhe
ocorreu foi que era jovem demais para morrer . . . especialmente de uma forma tão
horr ível. Tinha tanto adiante pelo que viver . Não era justo que isso acontecesse com
ele. Ele gr itou novamente enquanto debatia -se e lutava para fugir . Queria
escapar , exatamente como quisera escapar da terr ível sensação de f icar trancado no
cercado. Seus gr itos nunca ajudaram naquela época, e não a judavam agora ; o eco deles era uma companhia vazia .
De r epente a coisa forçou fazendo ele virar , girando ele, e arrastou-o para o
242
fundo.
Oba encheu os pulmões de ar bem na hora . Quando afundou, de olhos
arregalados com o medo , ele viu pela pr imeira vez as escamas do seu captor . Era a
ma ior cobra que ele já t inha visto , mas ele também sent iu alívio porque aquilo a inda era uma cobra . Podia ser grande, mas er a apenas um anima l. . . não um monstro
cuspidor de fogo.
Antes que seus braços pudessem f icar presos , Oba agarrou a faca em uma bainha no cinto e sacou -a. Ele sabia que na água ser ia dif íci l usar a mesma força qu e
em terr eno seco. Mesmo ass im, es faquear a coisa ser ia sua única chance , e pr ecisava
fazer isso antes de afogar -se. Com o pescoço est icando em busca de ar , mas a superf ície fornecedora da
vida f icando ma is e ma is longe enquanto o peso em volta dele cont inuava a arrastá-lo
ma is fundo, os pés dele inesperadamente encontraram algo sólido . Ao invés de
continuar a lutar para alcançar a superf ície por causa do ar , deixou as pernas curvarem enquanto afundava . Quando suas pernas estavam dobradas como as de um sapo pront o
para saltar , ele t ensionou os poderosos músculos das pernas e empurrou com um for t e
pisão no fundo. Oba explodiu sa indo da água , anéis da cobra enrolados em volta dele . Ele
pousou de lado, metade do caminho para fora da água , sobre raízes r etorcidas . A
cobra , seu corpo espremendo o peso de Oba quando eles bateram no chão, c larament e não ficou muito feliz com isso. Escamas verdes ir idescentes cint ilaram na fraca luz
enquanto a água fedorenta escorr ia dos dois combatentes .
A cabeça da cobra ergueu -se acima do ombro de Oba. Olhos amarelos
espiaram ele através de uma máscara escura . Uma língua vermelha sa iu balançando, sentindo sua presa impert inente.
Oba sorr iu.
— Chegue ma is per to, minha bela amiguinha .
A cobra ondulou o corpo enquanto os olhos fixavam -se nele com um olhar
ameaçador . Se uma cobra podia f icar zangada , essa estava . Veloz como um raio, Oba
agarrou a coisa por trás da cabeça verde escura , segurando-a em seu punho for te. Isso o fez lembrar das lutas corpo-a-corpo que já t inha feito em raras ocas iões. Ele gostava
de lutas corpo-a-corpo. Oba nunca perdia .
A cobra fez uma pausa, sib ilando. Com músculos poderosos , cada um deles imobilizava o outro. A cobra tentou envolver Oba em ma is anéis e ganhar vantagem
espremendo-o. Era uma poderosa batalha de for ça enquanto cada um tentava subjugar
o outro.
Oba lembrou que desde o momento em que t inha escutado a voz , ele f icara invencível. Lembrou como sua vida costumava ser governada pelo medo , medo de sua
mãe, medo da poderosa feit iceira . A ma ior ia das pessoas t emia a feit iceira , assim
como a ma ior ia t emia cobras . Só que Oba t inha vencido a per igosa magia dela . Ela havia lançado fogo e raio sobre ele , magia capaz de abr ir caminho através de paredes
e eliminar qua lquer opos ição, e ass im mesmo ele t inha sido invenc ível . O que era uma
pequena cobra diante desse t ipo de oponente ? Sentiu-se um pouco envergonhado porque t inha gr itado com medo. O que t inha ele, Oba Rahl, a temer , muito menos de
uma simples cobra?
Oba rolou subindo mais no terreno sólido , levando a cobra com ele. Ele
sorr iu quando levantou a faca encostando -a embaixo da mandíbula escamosa . O enorme anima l f icou imóvel .
Com deliberado cuidado, segurando a coisa por trás da cabeça com uma das
mãos, Oba press ionou a lâmina para cima com a outra . As duras esca mas, como uma pálida armadura branca , res ist iram a penet ração. A cobra, agora sob a ameaça da
lâmina mortal de Oba, repent inamente começou a lutar , dessa vez, não para dominar ,
mas para escapar . Anéis musculosos desenrolaram das pernas de Oba, ondulando pelo
chão, t entando encontrar raízes e árvores , procurando qua lquer coisa para segurar -se. Com o pé, Oba puxou uma par te do corpo verde cint i lante de volta em dir eção a ele ,
evitando qualquer fuga .
243
A lâmina af iada , com os poderosos músculos de Oba empurrando-a,
a travessou r epent inamente as grossas escamas sob a mandíbula . Oba observou,
fascinado, quando sangue escorreu por seu punho. A cobra ficou louca de medo e dor .
Quaisquer pensamentos de conquistas há muito já estavam esquecidos . Agora , ela quer ia desesperadamente fugir . O animal colocou toda sua cons iderável
força apenas nesse es forço.
Mas Oba era for te. Nada jama is escapava dele. Tenso com o es forço, ele arrastou o corpo que contorcia , girava , debatia ,
para solo a inda ma is alto e seco. Ele grunhiu quando ergueu a pesada fera . Mantendo-
a no a lto, gr itando de fúr ia , Oba correu para fr ente. Com uma poderosa estocada , ele enterrou sua faca em uma árvore, pr egando a cobra ali com a lâmina atravessada por
sua mandíbula infer ior e o céu da boca , como uma longa terceira presa .
Os olhos amarelos da cobra observaram, impotentes , quando Oba sacou
outra faca de sua bota . Ele quer ia ver a vida desaparecer daqueles horr íveis olhos amarelos enquanto eles o observavam.
Oba fez um corte na barr iga pálida, no espaço entr e f i leiras de escamas . Não
um corte longo. Não um corte para matar . Apenas um corte grande o bastante para sua mão.
Oba sorr iu.
— Você está pronta? — e le perguntou para a co isa . Ela observou,
incapaz de fazer qualquer outra coisa .
Oba levantou a manga no braço o máximo que podia , então enf iou a mã o
através do cor te. Era uma aber tura aper tada , mas ele enterrou a mão, então o pulso, e então o braço dentro do corpo vivo, ma is e mais fundo enquanto a cobra chicoteava de
um lado para o outro, não apenas em um fú ti l es forço para escapar , mas agora em
agonia . Com um joelho, Oba prendeu o corpo ao tronco da árvore e com um pé ele
imobilizou a cauda ondulante. Para Oba, o mundo pareceu desaparecer ao redor enquanto ele sent ia como
era ser uma cobra . Imaginou que estava transformando-se no anima l, em seu corpo
vivo, sent indo sua pele em volta da própria pele enquanto empurrava o braço para dentro. Sent iu as úmidas entranhas comprimidas ao r edor da carne dele . Enterrou a
mão ma is fundo. T eve que chegar mais per to, para conseguir enf iar o braço ma is
fundo, até que seus olhos estavam apenas a polegadas dos olhos da cobra . Olhando dentro daqueles olhos , ele estava loucamente extasiado ao ver não
apenas dor brutal, mas o mais maravilhoso terror .
Oba sent iu o seu objet ivo pulsando através das vísceras escorregadias .
Então, ele encontrou. . . o coração. Ele bateu fur iosamente em sua mão, pulsando e saltando. Enquanto contemplavam dentro dos olhos um do outro , Oba esmagou com
seus dedos poderosos . Em uma espessa, quente, gosma ú mida, o coração explodiu . A
cobra estr emeceu com a súbita , louca, força da morte . Mas enquanto Oba segurava o coração em pedaços , cada um dos movimentos da cobra tornaram-se progress ivament e
ma is penosos , ma is lentos , a té que com um últ imo tr emor de sua ca uda, ela f icou
imóvel . O tempo todo, Oba olhou f ixamente nos olhos amarelos , a té que soube qu e
eles estavam mortos . Não foi a mesma coisa que observar uma pessoa morrer , porque
faltava aquela conexão singular da ident idade humana. . . não houve complexos
pensamentos humanos com os quais ele podia r elacionar -se. . . mas ainda era entusiasmante ver a morte tomar os vivos .
Ele estava gostando do pântano cada vez ma is .
Vitor ioso e ensopado de sangue, Oba agachou na beira da água , lavando-se e lavando sua faca . Todo o encontro fora inesperado, excitante, e gratif icante, embora
ele t ivesse de admit ir que não chegou ao menos per to do quanto era excitante com uma
mulher . Com uma mulher , havia o prazer do sexo adicionado na exper iência , o prazer
de ter ma is do que sua mão dentro dela enquanto a morte também a tomava , de comparti lhar o corpo dela com ele.
Não podia exist ir int imidade ma ior do que essa . Isso era sagrado.
244
A água escura t inha f icado vermelha quando Oba terminara . A cor fez ele
pensar no cabelo vermelho de Jennsen.
Quando ele levantou , ver if icou para ter cer teza de que t inha todos os seus
per tences e não t inha perdido algo na batalha . Tateou no bolso para ter a confor tant e sensação da presença de sua duramente conquistada r iqueza .
A bolsa com o dinheiro não es tava lá .
No meio do fr io pânico, ele enf iou a mão no bolso , mas a bolsa t inha desaparecido. Percebeu que devia ter perdido ela dentro da água enquanto lutava com
a cobra . Mantinha a bolsa na ponta de uma t ira de couro que amarrou no cinto para ter
cer teza de que ela estava segura e não pudesse ser perdida acidenta lmente . Não via como isso era poss ível , mas o nó na t ira de couro deve ter sido desfeito durante a luta .
Ele dir ecionou um olhar fur ioso para a coisa morta formando um amontoado
na base da árvore. Em uma fúr ia louca , Oba ergueu a cobra pela garganta e bateu a
cabeça sem vida contra a árvore até que as escamas começaram a cair . Ofegando e exausto por causa do es forço , Oba finalmente parou. Ele deixou
a massa sangrenta escorr egar até o chão .
Desanimado, ele decidiu que ter ia de mergulhar de volta na água e procurar seu dinheiro desaparecido.
Antes de fazer isso, ele fez uma últ ima checagem desesperada no bolso .
Olhando ma is de per to, ele viu, então, que a t ira de couro que mant inha amarrada no cinto ainda estava ali . Ela não t inha desamarrado, af inal de contas . Ele levantou a
pequena t ira de couro nos dedos .
Ela foi cor tada .
Oba virou, olhando de volta pelo caminho que t inha vindo . Clovis. Clovis estava sempre bem per to, tagarelando, como uma mosca ir r itant e
zumbindo em volta dele . Quando Oba comprou os cavalos , Clovis t inha visto a bolsa
com o dinheiro. Com um rosnado, Oba olhou fur ioso de volta através do pântano . Uma leve
chuva começara a cair , gerando um sussurro contra a cober tura viva de folhas . As
gotas pareciam fr ias no rosto quente dele .
Ele matar ia o ladrãozinho. Lentamente. Sem dúvida Clovis f ingir ia inocência . Implorar ia para ser revistado
provando que não t inha a bolsa com dinheiro desaparecida . Oba conclu iu qu e
provavelmente o homem enterra r ia o dinheiro em a lgum lugar , planejando voltar mais tarde e pegá - la .
Oba far ia ele confessar . Não havia dúvida em sua mente quanto a isso .
Clovis pensou que era esper to, mas nunca t inha conhecido alguém como Oba Rahl. Caminhando de volta pelo pântano para torcer o pescoço do vendedor
ambulante, Oba não chegou muito longe antes de parar . Não. Levou um bom temp o
para ele chegar tão longe. Agora devia estar per to da casa de Althea. Não podia deixar
sua raiva governá - lo. Precisava pensar . Ele era esper to. Mais esper to do que sua mãe, ma is esper to do que Lathea , a feit iceira , e ma is esper to do que um ladrãozinho
magrelo. Agir ia com deliberado objet ivo, não com fúr ia cega .
Podia cuidar de Clovis quando t ivesse terminado com Althea. Com humor sombrio, Oba começou a caminhar novamente em dir eção a
feit iceira .
245
C A P Í T U L O 3 7
Observando de uma cer ta distância através da leve chuva , Oba não viu ninguém do lado de fora da casa feita com toras de cedro que jazia a lém da vegetação
emaranhada e árvores . Havia rastros. . . as marcas de botas de um homem pela margem
de um pequeno lago. Os rastros não estavam frescos , mas t inham levado Oba subindo por um caminho até a casa . Fumaça da chaminé subia pr eguiçosamennte no ar úmido
estagnado.
A casa logo adiante, quase escondida sob fi leiras de musgo e videiras , t inha de ser o lar da feit iceira .
Ninguém mais ser ia tolo o bastante para morar em em um lugar tão
miserável.
Oba caminhou suavemente na ponta dos pés , subindo os degraus dos fundos , a té o alpendre estr eito. Contornando a f rente, colunas feitas de grossas toras
suportavam um baixo telhado projetado. Além dos lagos degraus da frente havia um
largo caminho. . . sem dúvida o caminho pelo qua l vis itantes aproximavam -s e t imidamente da feit iceira para uma previsão.
Nas gar ras da fúr ia , e bem acima de qualquer f ingimento de ser educado o
bastante para bater , Oba abr iu a por ta . Uma pequena chama ardia na lareira . Com apenas o fogo e duas pequenas
janelas, o lugar era fracamente i luminado. As paredes estavam cobertas por escul turas
deta lhadas, a ma ior ia de anima is , a lgumas sem pintura , a lgumas p intadas , e algumas
douradas. Essa dif ici lmente era a maneira como Oba escolhia esculp ir anima is . Os móveis eram melhores do que qualquer um com o qual ele havia cr escido , mas não
eram tão bons quanto aos que acostumara -se.
Per to da lar eira , uma mulher com grandes olhos escuros estava sentada em uma cadeira esculp ida elaboradamente. . . o ma is f ino dos móveis. . . como uma rainha
em seu trono, observando ele tranquilamente por cima da borda de uma xícara
enquanto ela bebia . Muito embora seu longo cabelo dourado fosse difer ente e ela não
t ivesse aquele tom assombrosamente austero no rosto , Oba ainda reconheceu seus traços. Olhando dentro daqueles olhos , não podia haver dúvida . Era a irmã de Lathea.
Olhos. Isso era algo em uma das l istas menta is que ele guardava .
— Eu sou Althea . — e la disse , afastando a xícara dos láb ios .
Sua voz não era mesmo como a da irmã . Cont inha uma espécie de
autor idade, assim como a voz de Lathea, mas ainda ass im não t inha o tom insolent e
que a acompanhava . Ela não levantou. — Temo que você tenha chegado muito mais cedo do que eu esperava.
Procurando neutralizar rapidamente qua lquer ameaça em potencial , Oba ignorou-a e seguiu depressa até as salas nos fundos , checando pr imeiro a sala onde viu
uma bancada de trabalho. Clovis fa lou que Althea t inha um marido, Fr iedr ich, e, é
claro, havia marcas de botas de um homem do lado de fora . Cinzeis , facas, e macetes
estavam dispostos de forma organizada . Cada um deles podia ser uma ar ma mortal nas mãos cer tas . O lugar t inha a l impa aparência de trabalho encerrado fazia algum tempo .
— Meu marido foi a té o Pa lácio. — e la gr itou da cadeira perto do fogo .
— Estamos sozinhos.
De qualquer modo ele checou por s i mesmo, olhando no quar to, e encontrou-
o vazio. Ela estava fa lando a verdade . Mas a não ser pela chuva no teto , o lugar estava si lencioso. Os dois estavam mesmo sozinhos .
Finalmente confiante de que não ser iam per turbados , ele voltou até a sala
pr incipal. Sem um sorr iso, sem franzir a testa , sem preocupação, ela observou ele aproximando-se. Oba pensou que se ela t ivesse um pouco de cérebro , dever ia pelo
menos estar preocupada . No máximo, ela parecia res ignada , ou talvez sonolenta . Um
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pântano, com seu pesado ar úmido, cer tamente podia deixar uma pessoa sonolenta .
Não muito longe da cadeira dela , no chão de um lado, r epousava u m
tabuleiro quadrado com um elaborado símbolo dourado nele . Fazia ele lembrar de algo
em uma das suas listas de coisas . Uma pilha de pequenas, l isas, pedras escuras, estava ao lado sobre o tabuleiro. Um grande travesseiro vermelho e dourado jazia per to dos
pés dela .
Oba fez uma pausa , repent inamente percebendo a conexão entr e uma das coisas em suas l istas e o símbolo dourado sobre o tabuleiro . O s ímbolo lembrava a
base seca de uma Rosa da Febre da Montanha. .. uma das ervas que Lathea costumava
colocar nos remédios dele . A ma ior ia das ervas de Lathea já estavam tr ituradas , mas aquela nunca foi. Ela amassava apenas uma das f lor es secas pouco antes de adicioná -
la ao r emédio dele. Uma conjunção tão agourenta só podia ser um s inal de aler ta de
per igo. Ele estava cer to; essa feit iceira era a ameaça que ele estivera pr eocupado qu e
ela pudesse ser . Com os punhos f lex ionados nos lados do corpo , Oba ergueu-se sobre a
mulher enquanto olhava para baixo, para ela .
— Quer idos espír itos , — e la sussurrou parra si mesma. — pensei que
jamais ter ia de encarar novamente esses olhos .
— Que olhos?
— Olhos de Darken Rahl. — e la disse . Sua voz carregava um fio de
alguma qua lidade distante, ta lvez arrependimento, ta lvez impotência , ta lvez até mesmo terror .
— Olhos de Darken Rahl. — um sorr iso surgiu no rosto de Oba. — É
muito generoso de sua parte mencionar isso .
Nenhum traço de sorr iso vis itou -a.
— Isso não fo i um elogio .
O sorr iso de Oba desapareceu.
Ele f icou apenas brevemente surpreso que ela soubesse que ele era fi lho de
Darken Rahl. Afinal de contas, ela era uma feit iceira . Também era irmã de Lathea. Quem sabia o que aquela mulher impertinent e
podia ter tagarelado de seu lugar eterno no m undo dos mortos .
— Você é aquele que matou Lathea.
As pa lavras dela não foram uma pergunta soando ma is como uma acusação .
Embora Oba sent isse confiança , porque er a invencível , ele permaneceu cauteloso.
Ainda que t ivesse temido a feit iceira Lathea durante t oda sua vida , no f ina l ela acabara mostrando ser menos formidável do que ele havia cons iderado . Mas Lathea
não era comparável a essa mulher , de jei to nenhum .
Ao invés de r esponder a acusação dela , Oba fez sua própria pergunta . — O que é um ―buraco no mundo‖?
Ela exib iu um sorr iso par ticu lar , então levantou uma das mãos .
— Não vai sentar e tomar um pouco de chá comigo ?
Oba imaginou que t inha tempo. Ele cuidar ia dessa mulher . . . t inha cer teza
disso. Não havia pr essa para terminar isso . De cer to modo, ele estava arrependido de
ir apressadamente direto ao ponto com Lathea, antes de pensar em pr imeiro obter respostas para tudo. O que estava feito, estava feito, ele sempre dizia .
Althea, porém, r esponder ia todas as suas perguntas. Ele aproveitar ia o
tempo e cer t if icar ia-se disso. Ela ens inar ia a ele muitas coisas novas antes que eles terminassem. Uma gratif icação tão esperada dever ia ser saboreada , não apressada . Ele
sentou cautelosamente na cadeira . Um bule estava sobre a mesa s imples entr e as duas
cadeiras , mas não havia segunda x ícara .
— Oh, s into muito. — e la falou quando no tou os olhos dele procurando
e percebeu a omissão . — Por favor , você pode ir a té o armário bem ali e pegar uma
xícara? — Você é a anfit r iã dessa festa do chá , porque não vai pegar para mim?
Os dedos delgados da mulher traçaram as curvas espirais no fina l dos braços
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da cadeira . — Temo que eu seja uma ale ijada . Não cons igo andar . Sou capaz apenas
de arrastar minhas pernas inúteis pela casa e fazer algumas coisas simples sozinha .
Oba f icou olhando para ela , sem saber se acreditava nela . Ela estava suando profusamente. . . um cer to sina l de alguma coisa.
Certamente ela estava apavorada na presença do homem poderoso o bastant e
para acabar com sua irmã feit iceira . Talvez est ivesse tentando distraí - lo, esperando correr logo que ele virasse as costas .
Althea segurou a saia com as duas mãos e levantou a bainha de maneira
delicada , permit indo que ele visse os joelhos dela e um pouco ma is alto . Ele inclinou
o corpo para dar uma olhada . Suas pernas estavam s ecas e enrugadas . Parecia como se elas t ivessem morr ido eras atrás e não t ivessem s ido enterradas . Oba achou a visão
fascinante.
Althea levantou uma sobrancelha . — Ale ijada , como eu disse.
— Como?
— Trabalho do seu pai. Bem, isso não era mesmo uma coisa?
Pela pr imeira vez, Oba sent iu uma conexão bastante tangível com seu pai . Ele t eve uma manhã dif íci l e desafiadora e foi convidado para uma r elaxant e
xícara de chá . De fato, ele achou a ideia provocativa . O que ele t inha em mente para
ela ser ia um trabalho que dar ia sede. Oba cruzou a sala e pegou a maior xícara entr e a coleção que encontrou em uma prateleira . Quando ele colocou a xícara , ela encheu
com um escuro chá grosso.
— Chá especial. — e la explicou quando notou a expressão no rosto
dele . — Pode ser terr ivelmente desconfor tável aqui no pântano , com o ca lor e a
umidade. Isso também a juda a clarear a mente , depois do ônus de uma manhã de dif íceis tarefas . Entre outras coisas, isso fará você suar extraindo a tensão dos
músculos cansados. . . como de uma longa caminhada .
A cabeça dele estava latejando após sua durra manhã . Ainda que suas roupas
fina lmente est ivessem secas depois do seu nado, e o sangue todo t ivesse sido lavado, ele f icou imaginando se de alguma forma ela podia sent ir as horas difíceis que ele
passou. Não havia como dizer o que essa mulher podia fazer , mas ele não estava
preocupado. Ele era invencível, como o f im de Lathea t inha provado. — O seu chá vai ajudar com tudo isso ?
— Oh, sim. É um tônico muito poderoso. Va i curar muitos problemas . Verá
por si mesmo.
Oba viu que ela estava bebendo o mesmo chá grosso . Ela estava suando, com
cer teza , então ele percebeu que ela estava cer ta a respeito disso . Ela bebeu todo o resto da xícara e serviu ma is para si mesma .
Ela levantou a xícara em um brinde .
— À uma doce vida , enquanto nós a temos .
Oba achou esse um brinde estranho. Parecia quase como se ela est ivess e
admit indo que sabia estar prestes a morrer .
— À vida. — Oba falou, erguendo sua xícara para encostar levemente na
dela . — Enquanto nós a temos .
Oba tomou um gole do chá escuro. Fez uma careta ao reconhecer o gosto . Era isso que o s ímbolo no tabuleiro r epresentava. . . a Rosa da Febre da Montanha . Ele
t inha aprendido a ident if icar o gosto amargo das vezes em que Lathea esmagava uma e
colocava no remédio dele.
— Beba tudo , — sua companheira disse . A respiração dela parecia dif íci l .
Ela tomou ma is alguns goles . — Como eu falei, isso r esolverá vár ios problemas . —
e la bebeu o resto em sua xícara .
Ele sabia que Lathea, a despeito de seu traço ma ligno, às vezes misturava
remédios para ajudar pessoas doentes . Enquanto esperava que ela f izesse r emédios
para ele e sua mãe, t inha visto ela amassar uma Rosa da Febre da Montanha em u m
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preparado que fazia para outros . Agora, Althea estava bebendo uma xícara cheia
daquilo, então obviamente ela também t inha fé na erva desagradável . Umidade tão
for te assim sempre causava dor de cabeça em Oba. Independente do gosto amargo, ele
tomou outro gole, esperando que isso ajudasse seus músculos dolor idos ao mesmo tempo em que clareasse a sua cabeça .
— Tenho algumas perguntas .
— Você mencionou isso , — Althea falou, espiando ele por cima da borda
da xícara . — E você espera que eu forneça respostas .
— Isso mesmo .
Oba tomou outro gole do for te chá . Fez outra vez uma careta . Não sabia
porque a mulher chamava isso de ―chá‖ . Não havia nada de ―chá‖ ali . Era apenas Rosa da Febre da Montanha seca em um pouco de água quente . Os olhos escuros dela
seguiram o movimento quando ele colocou a grande x ícara sobre a mesa .
O vento t inha aumentado, lançando a chuva contra a janela . Oba achou qu e t inha chegado até a casa dela bem na hora . Pântano horr ível. Ele voltou novamente sua
atenção para a feit iceira .
— Quero saber o que é um ―buraco no mundo‖ . A sua irmão fa lou qu e
você conseguia enxergar ―buracos no mundo‖ .
— E la falou? Não sei porque ela falar ia ta l coisa .
— Oh, eu fu i obr igado a convencê- la . — Oba disse. — Terei que
convencer você também?
Ele esperava que s im. Estr emecia com a ans iedade de chegar ao trabalho com a lâmina . Mas não estava com pressa . Tinha tempo. Gostava de fazer jogos com
os vivos. Isso o a judava a entender como eles pensavam, de forma que, quando a hora
chegasse, e ele olhasse nos olhos deles , fosse ma is capaz de imaginar o que estava m pensando quando a morte pa irava bem per to .
Althea inclinou a cabeça fazendo um sina l para a mesa entr e eles .
— O chá não ajudará se não tomar o bastante . Beba tudo.
Oba colocou de lado a preocupação dela com um aceno da mão e inclinou
ma is per to sobre um cotovelo.
— Viajei um longo caminho . Responda minha pergunta .
Althea f inalmente desviou o olhar e usou os braços para descer o seu peso
da cadeira até o chão. Foi um belo es forço. Oba não ofer eceu ajuda . Ficava fascinado
ao observar pessoas fazendo esforço . A feit iceira puxou o corpo até o travess eiro vermelho e dourado, arrastando suas pernas inúteis atrás . Colocou-se em uma pos ição
sentada e cruzou as pernas mortas diante de s i . Foi dif íci l, mas ela conseguiu com
movimentos pr ecisos e ef icientes que pareciam bem praticados . Todo o es forço deixou ele confuso.
— Poque você não usa a sua magia?
Ela olhou para ele com aqueles grandes olhos escuros tão cheios de si lenciosa condenação.
— O seu pai fez com a minha magia a mesma co isa que fez com minhas
pernas .
Oba estava surpreso. Imaginou se o seu pai também t inha sido invencível .
Talvez Oba sempre estivesse dest inado a ser o verdadeiro herdeiro de seu pa i . Talvez o dest ino f ina lmente t ivesse agido e r esgatado Oba para coisas melhores .
— Está querendo dizer , que você é uma fei t iceira , mas não consegue fazer
magia? Quando um trovão distante r ibombou através do pântano , ela apontou para
um local no chão. Enquanto Oba sentava diante dela , ela arrastava o tabuleiro com o
símbolo dourado e colocou-o entr e eles . — Fui deixada apenas com uma habilidade parcial de prever co isas. —
ela disse. — Nada ma is . Se você quisesse, poder ia me estrangular com uma das mãos
enquanto terminava o seu chá com a outra . Eu não poder ia fazer nada para detê -lo.
Oba pensou que aquilo podia roubar uma parte da diversão . A luta era par te
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de qualquer encontro genuinamente satis fatór io. O quanto uma mulher aleijada poderia
lutar? Pelo menos ainda havia o terror , a agonia , e o t estemunho da chegada da morte .
— Mas , você ainda consegue fazer profecia ? Foi assim que você soube qu e
eu estava chegando?
— De certo modo .
E la suspirou pesadamente , como se o es forço de puxar o corpo até o
travesseiro vermelho e dourado dela a t ivesse deixado exausta . Quando ela voltou sua
atenção para o tabuleiro diante dela , ela pareceu colocar o cansaço de lado . — Quero mostrar uma co isa para você . — agora ela estava falando
como uma confidente . — Isso pode finalmente explicar algumas co isas para
você .
Ele inclinou para frente ans ioso, feliz que ela finalmente t ivesse sabiamente
decidido r evelar segredos . Oba gostava de aprender coisas novas . Ele observou enquanto ela arrumava sua pequena p ilha de pedras . Ela
inspecionou vár ias cu idadosamente antes de encontrar aquela que quer ia . Colocou as
outras para um lado, aparent emente em alguma ordem que ela entendia , embora ele achasse que todas pareciam igua is .
Ela virou de volta para ele e levantou a pedra na frente dos olhos dele .
— Você. — e la falou .
— Eu? O que você quer dizer ?
— Essa pedra representa você .
— Porquê?
— E la esco lheu .
— Está querendo dizer que você decid iu que ela me representar ia .
— Não. Quero dizer que a pedra decidiu representá - lo. . . ou, melhor , qu e
aquilo que controla as pedras decidiu .
— O que controla as pedras?
Ele f icou surpreso em ver um sorr iso aber to no rosto de Althea. O sorr iso
aumentou per igosamente. Nem mesmo Lathea t inha conseguido parecer tão fr iament e
ma lévola .
— A magia decide. — e la sibilou .
Oba teve que lembrar a si mesmo que era invencível . Ele apontou, tentando
parecer despreocupado.
— E aquelas outras? Quem elas são, então?
— Pensei que você queira aprender sobre si mesmo , não sobre os outros .
— e la inclinou em direção a ele com um semblante de suprema autoconfiança .
— Outras pessoas rea lmente não importam para você agora, importam ?
Oba olhou zangado para o sorr iso dela .
— Acho que não. Ela balançou a pedra no punho frouxo. Sem desviar o olhar dos olhos dele ,
lançou a pedra sobre o tabuleiro . Um raio cint i lou . A pedra rolou pelo tabuleiro,
parando além do círculo dourado externo . Um trovão r ibombou longe.
— Então , — e le perguntou. — o que isso significa?
Ao invés de r esponder , e sem olhar para baixo, ela recolheu a pedra . Seu
olhar não desviou do rosto dele quando balançou a pedra novamente . Outra vez, e sem
dizer uma pa lavra, lançou-a no tabuleiro. Um raio br ilhou. Surpreendentemente, a pedra pousou no mesmo lugar que t inha parado na
pr imeira vez. . . não apenas per to do mesmo lugar , mas exatamente no mesmo lugar . A
chuva tambor ilou contra o telhado enquanto t rovão ecoava no pântano .
Althea rapidamente pegou a pedra e atir ou -a uma terceira vez, novament e acompanhada pelo br i lho de um raio, só que desta vez o raio estava ma is per to . Oba
lambeu os láb ios enquanto esperava a queda da pedra que r epresentava ele.
Calafr ios correram nos braços dele quando ele viu a pedrinha escura rolar e parar no mesmo lugar do tabuleiro em que parou nas duas vezes anter ior es . No
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instante em que ela parou , um trovão estourou.
Oba colocou as mãos sobre os joelhos e inclinou o corpo para trás .
— É algum truque .
— Não é um truque. — d isse ela . — Magia.
— Pensei que você não conseguisse fazer magia .
— Não consigo .
— Então como você está fazendo isso ?
— Eu disse , não estou fazendo. As pedras es tão fazendo sozinhas .
— Bem, então, o que dever ia signif icar a meu respeito quando ela para , a li,
naquele lugar?
Ele percebeu que em a lgum lugar durante o rolar da pedra , o sorr iso dela
desaparecera . Um dedo gracioso, i luminado pela luz do fogo, apontou para onde a pedra dele estava .
— Aquele lugar representa o Submundo , — e la falou com uma voz
sombria . — o mundo dos mortos .
Oba tentou parecer apenas levemente inter essado .
— O que isso tem a ver comigo ?
Os grandes olhos escuros dela não paravam de observar a alma dele .
— É de lá que vem a voz , Oba.
Calafr ios percorreram os braços dele .
— Como você sabe meu nome ?
Ela inclinou a cabeça , mergulhando metade do rosto nas sombras . — Uma vez, faz muito tempo, eu comet i um erro .
— Que erro?
— Ajudei a salvar a sua vida . Ajudei a sua mãe a fugir do Palácio antes
que Darken Rahl pudesse descobrir que você exist ia e matá - lo.
— Ment irosa ! — Oba pegou a pedra do tabuleiro. — Eu sou filho dele !
Porque ele desejar ia me matar !
Ela não afastara dele o olhar penetrante . — Talvez porque ele soubesse que você escutar ia as vozes , Oba.
Oba quis arrancar os t err íveis olhos dela . Ele os arrancar ia . Porém, ele
pensou que ser ia melhor , se descobr isse mais , pr imeiro, se r eunisse sua coragem, pr imeiro.
— Você era uma amiga da minha mãe ?
— Não. Na verdade eu não a conhecia . Lathea a conhecia melhor . Sua mã e
era apenas uma jovem entr e vár ias que estavam com prob lemas e em grande per igo. Eu
as ajudei, só isso. Por isso, Darken Rahl me aleijou. Se prefer ir não acreditar na verdade sobre as intenções dele a respeito de
você, então deixo por sua conta satisfazer -se com uma resposta difer ente em sua
própria concepção.
Oba avaliou as palavras dela , procurando qualquer conexão que pudesse ter a lgo a ver com suas l istas . Não encontrou quaisquer l igações imediatas .
— Você e Lathea ajudaram as cr ianças de Darken Rahl?
— Uma vez minha irmã Lathea e eu fomos muito próximas. Nós duas
estávamos compromet idas , cada uma de sua própria maneira , em a judar aqueles que
necessitavam. Mas ela passou a t er aversão por aqueles como você , descendentes de Lorde Rahl, por causa da agonia que me causou ter t entado a judar . Ela não conseguiu
ter forças para testemunhar minha punição e minha dor . Ela par tiu .
— Fo i uma fraqueza da parte dela , mas eu soube que ela não conseguiu
evitar t er esses sent imentos . Eu a amava , então não ir ia implorar que ela me vis itasse ,
aqui, desse jeito, independente do quanto sentia t err ivelmente a fa lta dela . nunca ma is
a vi. Essa foi a única genti leza que eu podia fazer por ela . . . deixar ela fugir . Eu poder ia imaginar que ela não olhava com bons olhos para você . Tinha suas razões ,
mesmo que fossem mal dir ecionadas .
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Oba não estava disposto a ser convencido a sent ir qua lquer s impatia por
aquela mulher odiosa . Ele inspecionou a pedra escura durante algum tempo e então
devolveu-a para Althea.
— Aquelas t rês vezes foram apenas sorte . Faça de novo.
— Você não acreditar ia em mim se eu fizesse isso uma centena de
vezes . — e la entregou a pedra de vo lta . — Você faz isso . Jogue-a você mesmo.
Oba balançou a pedra no punho frouxo desa fiadoramente , como t inha visto
ela fazer . Ela r ecostou contra a cadeira enquanto o observava . Os olhos dela estava m ficando murchos .
Oba atirou a pedra no tabuleiro com força suficiente para ter cer teza que ela
rolar ia bem a lém do tabuleiro e provar que ela estava errada . Quando a pedra deixou
sua mão, um raio br i lhou tão for te que ele se encolheu e olhou para cima, t emendo que ele varasse o teto. Um trovão estalou per to dele , balançando a casa . O impacto
pareceu estr emecer os ossos dele . Mas então acabou e o único som era da chuva
tambor ilando contra o teto e janelas intactos . Oba sorr iu aliviado e olhou para baixo, apenas para ver a pedra amaldiçoada
exatamente no mesmo lugar que t inha pousado nas três vezes anter ior es .
Ele deu um pulo como se t ivesse s ido p icado por uma cobra . Esfregou as palmas suadas contra as coxas .
— Um truque , — e le falou . — isso é só um truque. Você é uma feit iceira
e está apenas fazendo truques mágicos . — Fo i você quem fez o t ruque , Oba. Você é aquele que convidou a
escuridão dele para dentro da sua alma .
— E se eu t iver feito isso !
Ela sorr iu com a confirmação dele .
— Você pode ouvir a voz , Oba, mas não é o escolhido. Você é merament e
um servo dele, nada ma is . Ele deve escolher outro se deseja trazer a escur idão sobre o
mundo.
— Você não sabe do que está falando !
— Oh, mas eu sei. Você pode ser um ―buraco no mundo‖ , mas não tem um
ingrediente necessár io. — E o que ser ia isso?
— Grushdeva .
Oba sent iu o cabelo da nuca er içando. Embora não r econhecesse a palavra
específ ica , a fonte era indiscut ível . A natureza idioss incrática da pa lavra era
unicamente da voz. — Uma palavra sem sent ido . Não signif ica nada .
Ela o contemplou durante um tempo com um olhar que ele t emeu porqu e
parecia guardar um mundo de conhecimento proibido . Pela expressão de determinação férrea nos olhos dela , ele soube que nenhuma s imples lâmina conquistar ia para ele
aquele conhecimento.
— Faz muito tempo , em um lugar distante, — e la falou com uma voz
t ranquila. — outra feit iceira revelou a mim um pouco da língua do Guardião .
Essa é uma das palavras dele, em sua l inguagem pr imordial . Você não ter ia escutado ela a não ser que fosse o escolhido. Grushdeva . Signif ica ―vingança‖ . Você não é
aquele que ele escolheu .
Oba pensou que ela podia estar zombando dele .
— Você não sabe que palavras eu ouvi ou qualquer coisa sobre isso. Eu
sou o f i lho de Darken Rahl. Um herdeiro por dir eito. Não sabe nada sobre o que eu
escuto. Terei poder que você só pode imaginar . — O livre arbít r io é perdido quando você está negociando com o
Guardião . Você vendeu aquilo que é somente seu e não tem preço . . . por nada além de
cinzas.
— Vendeu a si mesmo para o pior t ipo de escravidão , Oba, em troca de
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nada ma is do que uma ilusão de valor próprio . Você não tem voz naquilo que está por
vir . Você não é o escolhido. É outra pessoa . — e la enxugou o suor da testa . — E , a
ma ior par te de tudo isso ainda está para ser decidido. — Agora você presume achar que pode alterar o curso daquilo em que
eu t rabalhei? Ditar o que será? — as própr ias palavras de Oba o surpreenderam.
Elas pareceram sair antes que ele t ivesse pensado em pronunciá - las.
— Tais co isas não cabem a pessoas como eu. — e la admit iu . —
Aprendi no Palácio dos Pro fetas a não mexer naqu ilo que está acima de mim e é
ingovernável . O grande esquema da vida e da morte é o terr eno por dir eito do Cr iador
e do Guardião. — e la pareceu lutar por t rás de uma expressão astuta . — Mas não
estou acima de exercer meu livre arbít r io .
Ele já t inha ouvido o bastante. Ela só estava tentando enrolar , confundi- lo.
Por alguma razão, ele não conseguia fazer o coração acelerado dele r eduzir a
velocidade.
— O que são ―buracos no mundo‖?
— E les são o fim para aqueles como eu , — e la falou . — são o fim de
tudo que eu conheço .
Era t ípico de uma feit iceira responder com uma charada sem sentido .
— Quem são as outras pedras ? — e le perguntou .
Finalmente, ela desviou os formidáveis olhos dele para olhar as outras
pedras. Os movimentos dela pareciam estranhamente tr êmulos . Seus dedos esguios
selecionaram uma das pedras . Quando levantou -a, fez uma pausa para colocar a outra mão sobre a barr iga . Oba percebeu que ela sent ia dor . Estava tentando es conder isso o
melhor que podia , mas agora não conseguia. O suor molhando a testa dela era por
causa da dor . A agonia saiu em um gemido baixo. Oba observou com fascinação.
Então, aquilo pareceu baixar um pouco. Com grande es forço ela endir eitou a postura e r etornou sua atenção para o que es tava fazendo . Ela est icou a mão, a palma
para cima, com a pedra no centro.
— Esta aqui, — e la disse , agora com sua respiração pesada. — sou eu .
— Você? Essa pedra é você?
Ela assent iu quando lançou-a no tabuleiro sem ao menos olhar . A pedra rolou e parou, dessa vez, sem o acompanhamento do raio e do trovão . Oba sent iu-s e
aliviado, a té mesmo um pouco tolo, porque t inha f icado tão nervoso com aquilo antes .
Agora, ele sorr iu . Era apenas um jogo de tabuleiro idiota , e ele era invencível. A pedra havia parado em um canto do quadrado que jazia dentro dos dos
círculos.
Ele apontou.
— Então , o que isso s ignif ica?
— Protetora. — ela conseguiu fa lar em meio a um for te suspiro .
Seus dedos tr êmulos pegaram a pedra . Ela levantou a mão diante dele e abr iu seus dedos f inos . A pedra , a pedra dela , repousava no centro da palma . Seus
olhos estavam f ixos nos dele.
Enquanto Oba observava , a pedra transformou-se em cinzas na palma dela . — Porquê ela fez isso ? — e le sussurrou , seus olhos arregalados.
Althea não r espondeu. Ao invés disso, ela amoleceu e então desabou . Seus
braços esticados na fr ente dela , as pernas para o lado. A cinza que t inha s ido uma pedra espalhada em uma mancha escura no chão .
Oba levantou em um sa lto. Os calafr ios dele estava m de volta . Ele t inha
visto bastante pessoas morrer em para saber que Althea estava morta . Rastros de raios trovejantes br i lharam, cor tando o céu com violentos clarões
de luz que invadiram as janelas , lançando uma luz branca cegante sobre a feit iceira
morta . Suor escorreu pela t êmpora dele e sobre a bochecha . Oba ficou olhando para o corpo durante um longo momento .
E então ele correu.
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C A P Í T U L O 3 8
Ofegante e quase exausto pelo es forço , Oba saiu camba leante da espessa vegetação entrando no prado. Ele cerrou os olhos parcia lmente por causa da repent ina
clar idade da luz e olhou ao r edor . Ele estava assustado, faminto, sedento, cansado, e
com vontade de arrancar membro por membro do ladrãozinho . O prado estava vazio.
— Clovis ! — o rugido retornou para ele em um eco vazio . — Clovis !
Onde está você? Apenas o gemido do vento entre as enormes paredes de rocha r espondeu .
Oba imaginou se o ladrão podia estar nervoso , podia estar relutante em aparecer ,
preocupado que Oba pudesse ter descoberto que sua for tuna estava desaparecida e e suspeitasse da verdade sobre o que t inha acontecido .
— Clovis, venha aqui! Precisamos par tir ! Tenho de voltar ao Palácio
imediatamente! Clovis ! Oba esperou, seu peito pulsando, procurando escutar uma resposta . Com os
punhos abaixados, ele gr itou outra vez o nome do ladrãozinho no ar fr io da tarde.
Quando não veio resposta , ele caiu de joelhos ao lado da fogueira qu e Clovis fizera naquela manhã . Ele enf iou oos dedos dentro do pó de cinza . Não choveu
no prado, mas as cinzas estavam fr ias como gelo.
Oba levantou, olhando para o estr eito caminho pelo qua l cava lgaram cedo naquela manhã . A br isa fr ia soprando no prado vazio agitou o cabelo dele . Com as
duas mãos, Oba des lizou os dedos para trás através do cabelo , quase como se quisess e
evitar que sua cabeça explodisse quando a ter r ível verdade apareceu .
Percebeu que Clovis não t inha enterrado a bolsa de dinheiro que roubou . Esse nunca fora seu plano. Ele pegou o dinheiro e corr eu logo que Oba entrou
descendo no pântano. Tinha fugido com a for tuna de Oba, não enterrado ela .
Com uma profunda sensação de vazio, desgosto , Oba entendeu, então, a completa extensão daquilo que acontecera realmente . Ninguém jama is entrava no
pântano por esse caminho nos fundos . Clovis o convenceu e guiou-o até ali porqu e
acreditava que Oba morrer ia no pântano traiçoeiro. Clovis est ivera confiante que Oba
ficar ia perdido e o pântano o engolir ia , se os monstros que supostamente guardava m as costas de Althea não acabassem com ele pr imeiro.
Clovis não sent iu necess idade de enterrar o dinheiro. . . ele imaginou que Oba
estava morto. Clovis foi embora , e t inha a for tuna de Oba. Mas Oba era invencível. Sobrevivera ao pântano. Tinha vencido a cobra .
Nenhum monstro ousou aparecer para desaf iá -lo depois disso.
Provavelmente Clovis pensou que mesmo se o pântano não acabasse com seu benfeitor , havia dois outros per igos mortais com os qua is ele podia contar , Althea não
t inha convidado Oba; Clovis devia ter imaginado que ela não receber ia gent i lmente u m
vis itante não convidado. . . fe it iceiras raramente faziam isso . E, elas t inham reputações
morta is . Mas Clovis não t inha antecipado que Oba fosse invencível.
Isso deixava o ladrão com apenas uma salvaguarda contra a ira de Oba, e
essa era um problema. . . as Planícies Azrith. Oba estava em um lugar desolado. Não t inha comida , havia água nas
proximidades , mas ele não t inha meios para levá - la cons igo. Não t inha cavalo. Tinha
deixado até mesmo seu casaco de lã , desnecessár io em um pântano, com o vendedorzinho de mãos leves . Sair desse lugar caminhando, sem suprimentos , expost o
ao clima de inverno, acabar ia com qualquer um que de a lguma forma t ivess e
conseguido sobreviver ao pântano e Althea.
Oba não conseguia fazer os pés moverem-se. Sabia que, dada a sua situação, se ele t entasse r etornar ca minhando, morrer ia . Independente do fr io, ele podia sent ir
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suor escorr endo pelo pescoço. Sua cabeça estava latejando.
Oba virou e olhou de volta para o pântano . Haver ia coisas na casa de
Althea . . . comida , roupas, e cer tamente alguma coisa na qua l ele podia carregar água .
Oba t inha passado sua vida fazendo coisas . Poder ia preparar uma mochila , pelo menos uma mochila boa o bastante para ajudá -lo a voltar a té o Palácio. Poder ia juntar um
suprimento de comida da casa da feit iceira . Ela não estar ia ali sozinha e a leijada sem
comida ao a lcance. Seu marido voltar ia , mas talvez não antes de a lguns dias . Ele t er ia deixado comida .
Oba poder ia vest ir camadas de roupas para manter -se suf icientement e
aquecido para fazer a viagem pelas planícies fr ias. Althea falou que o mar ido dela foi a té o Palácio. Ele t er ia roupas quentes para cruzar as Planícies Azrith, e podia ter
deixado roupas extras na casa . Mesmo se elas não servissem, Oba poder ia fazer com
que elas servissem. Haveria cober tor es que ele podia juntar em um monte e usar como
uma capa . Porém, sempre havia a possib il idade de que o marido pudesse voltar mais
cedo. Pela falta de tr i lha desse lado, provavelmente ele vir ia pelo caminho largo do
outro lado do pântano. Podia até já estar lá e t er descoberto o corpo de sua esposa . Entr etanto, Oba r ealmente não estava preocupado com isso . Poderia l idar com a
inconveniência de um marido em luto . Talvez o homem f icasse até mesmo feliz em
estar l ivr e da obr igação de ter que cuidar de uma esposa aleijada petu lante . Para quê ela servia , af inal de contas? O homem f icar ia alegre em estar l ivr e dela . Podia
ofer ecer uma bebida para Oba para ajudá- lo a celebrar sua liber tação.
Mas Oba não sent ia vontade de comemorar . Althea t inha feito algum truqu e
ma ligno e negou a ele o prazer por que est ivera tão ans ioso. . . o prazer que ele merecia depois de sua longa e dif íci l jornada . Oba suspirou por causa do quanto as feit iceiras
podiam ser desaf iadoras . Pelo menos ela conseguiu fornecer a ele o que ele pr ecisava
para retornar ao seu lar ancestral . Mas quando ele retornasse ao Palácio do Povo , não ter ia dinheiro, a não ser
que ele conseguisse encontrar Clovis. Oba sabia que essa era uma esperança tênue.
Clovis estava com a duramente conquistada for tuna de Oba, agora , e pode ter decidido
viajar para belos lugares, querer apenas gastar seu dinheiro adquir ido de forma vil . O ladrãozinho devia ter par t ido fazia muito tempo .
Oba não t inha uma moeda de cobre. Como sobreviver ia? Não podia voltar
para a vida de pobreza , uma vida como aquela que t inha com su a mãe, não agora , não depois que havia descoberto que era um Rahl. . . quase da rea leza .
Não podia voltar para sua vida antiga . Não voltar ia .
Fervendo de raiva , Oba desceu de volta a espinha de rochas . Estava f icando tarde. Ele não t inha tempo a perder .
*****
Oba não tocou no cadáver .
Não f icava nem um pouco enjoado diante dos mortos . Na verdade era o
contrár io, os mortos o fascinavam. Tinha passado muito tempo com mortos . Mas essa mulher causava ca lafr ios nele. Mesmo mor ta , ela parecia observá - lo enquanto ele
vasculhava a casa, jogando roupas e supr imentos em uma pilha no meio da sala .
Havia algo profano, pecaminoso, a r espeito da mulher espa lhada no chão . Nem mesmo as moscas voando pela sala pousavam nela . Lathea t inha s ido u m
incômodo, mas essa mulher era difer ente. Althea t inha feito algum t ipo de truque vil e
negou a ele as respostas que merecia após sua longa e dif íci l jornada .
Oba estava fur ioso por causa de como as feit iceiras podiam ser desaf iadoras . Pelo menos ela conseguiu dizer para ele o que el e pr ecisava para retornar ao seu lar
ancestral. Tinha algo profano nessa mulher . Ela conseguiu olhar dir eto dentro dele .
Lathea nunca t inha conseguido fazer isso . É claro, uma vez ele pensara que ela podia , mas ela não podia . Não de verdade. Essa mulher podia .
Ela conseguia ver a voz nele.
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Oba não t inha cer teza se estava seguro per to dela , mesmo se ela est ivesse
morta . Uma vez que ele era invencível , provavelmente isso era apenas sua imaginação
fér t i l, ele sabia , mas uma pessoa nunca podia ser cautelosa de mais.
No quar to, ele encontrou camisas de lã . Elas não eram suf icientement e grandes, mas rasgando algumas das costuras um pouquinho aqui , ou um pouquinho ali ,
ele podia fazer elas caberem. Ass im que estava satisfeito com suas a lterações , ele
jogava a peça de roupa sobre a pilha . Elas ser iam boas o bastante para mantê -lo aquecido. Adicionou cobertor es e camisas sobre a pilha no centro da sala pr incipa l .
Aborr ecido que o mar ido lento não t ivesse retornado , e para distrair sua
mente da mulher morta que estava deitada ali observando ele trabalhar , Oba fez p lanos de matar alguém antes que f icasse louco . Talvez uma mulher maliciosa . Uma qu e
t ivesse aquelas l inhas infames em volta dos olhos como sua mãe t inha . Ele pr ecisava
fazer alguém pagar por todos os problema s que t inha enfr entado. Não era justo. Não
era . Já estava escuro do lado de fora . Ele t eve que acender uma lamparina a óleo
para cont inuar sua busca . Oba estava com sor te; em um armário baixo ele encontrou
um canti l. De quatro, ele r evirou uma coleção de estranhos pedaços de tecido, xícaras com rachaduras , apetrechos de cozinha quebrados , e um supr imento de cera e pavio.
Do fundo ele t ir ou um pequeno rolo de lona . Testou a força da lona e decidiu qu e
podia fazer uma mochila com ela . Havia mater ia l de roupas ao r edor que ele podia usar para fazer correias . Um kit de costura estava bem à mão em uma prateleira baixa
ali per to.
Ele t inha percebido que as coisas úteis estavam em prateleiras baixas , onde
a feit iceira aleijada com os olhos ma lignos podia alcançá -las. Uma feit iceira sem magia . Improvável. Ela estava com inveja porque a voz escolheu ele e não ela . Ela
estava tramando a lguma coisa .
Ele sabia que levar ia algum tempo para coletar tudo e costurar uma mochila para os suprimentos . Não poder ia par tir durante a noite. Ser ia imposs ível ver alguma
coisa no pântano de noite . Ele era invencível , não estúpido.
Com a lamparina a óleo bem per to , ele sentou na bancada de trabalho e
começou a costurar uma mochila . Althea o observava do chão na sala pr incipa l . Ela era uma feit iceira , então ele sabia que não adiantar ia nada jogar um cobertor sobre a
cabeça dela . Se pudesse observá - lo do mundo dos mortos , um s imples cobertor não
cegar ia os olhos mortos dela . Ele s implesmente ter ia que f icar satisfeito com a vigíl ia dela enquanto trabalhava .
Quando estava satisfeito com a mochila t erminada e t estada , colocou-a sobre
o banco e começou a enchê- la com comida e roupas . Tinha frutas secas e charque, junto com linguiças e queijo. Havia biscoitos que ser iam fáceis de carregar . Ele não
estava preocupado com panelas ou comida que t ivesse de ser cozinhada porque sabia
que não havia nada nas Planícies Azrith com o que fazer uma fogueira , e cer tamente
ele não ser ia capaz de viajar carregando lenha. Viajar ia com pouco peso e velozmente . Esperava levar poucos dias para chegar ao Palácio .
O que far ia assim que chegasse ao Pa lácio , como sobreviver ia sem dinheiro,
ele não sabia . Considerou brevemente roubar , mas rejeitou a ideia ; não era um ladrão e não ir ia descer tão baixo tornando-se um cr iminoso. Não t inha cer teza de como
chegaria até o Palácio. Sabia apenas que precisava chegar lá .
Quando terminou de colocar o que levar ia , seus olhos estavam murchos e ele estava bocejando a cada minuto. Estava suando por causa de todo o trabalho , e do
calor do pântano asqueroso. Mesmo a noite o lugar era miserável . Ele não sabia como
a feit iceira ―sabe tudo‖ conseguia suportar viver em um lugar assim .
Não era surpresa que o marido dela t ivesse par tido até o Palácio . O homem provavelmente estava bebendo cer vejas e pr aguejando para seus companheiros sobre
ter que voltar para sua esposa do pântano .
Oba não gostava da ideia de dormir na mesma casa com a feit iceira , mas, afinal de contas, ela estava morta . Porém, ele a inda não confiava nela . Ela podia estar
aprontando algum truque. Ele bocejou novamente e l impou suor da testa .
256
Havia duas camas bastante estofadas bem próximas no chão dentro do
quar to. Uma estava bem arrumada , a outra estava menos ordenada . Ajulgar pela
bancada de trabalho bem organizada , a cama bem arrumada devia ser do marido, e a
outra de Althea. Já que ela estava morta no chão da sala , ele não sentiu-se tão incomodado quanto a dormir em uma bela cama macia .
O marido não voltar ia para casa no escuro , então Oba não estava preocupado
em acordar com um homem louco aper tando sua garganta . Ass im mesmo, achou qu e ser ia melhor se colocasse uma cadeira contra a maçaneta da porta antes de r ecolher -s e
para dormir . Com a casa toda segura , ele bocejou, pronto para a cama . No caminho,
Oba mostrou indifer ença balançando os ombros para Althea. Oba dormiu imediatamente, mas não foi um repouso adequado. Sonhos o
assombraram. Estava quente na casa do pântano.
Uma vez que era inverno em todos os outros lugares , ele não estava
acostumado com esse r epent ino ca lor sufo cante. Do lado de fora , insetos mant inha m um zumbido constante enquanto animais noturnos piavam e gr itavam . Oba toss iu e
virou, tentando desviar -se do olhar fantasmagórico e do sorr iso confiante da feit iceira .
Pareciam que eles o seguiam não importava para que lado virasse, observando-o, não permit indo que ele dormisse dir eito .
Ele acordou def init ivamente pouco depois que a luz do dia começara a
surgir . Estava na cama de Althea.
Na pressa para desvencilhar -se das cobertas e escapar da cama dela , ele
rolou f icando de quatro.
Seu peso abruptamente enterrou a mão dele nas colchas . Assustado, Oba jogou longe as colchas e virou a cama pra ver que truque vil ela ap licara nele . Ela
sabia que ele vinha fa lar com ela . Ela estava tramando algo.
Embaixo do loca l onde a cama estava , ele viu que uma tábua do assoalho estava solta . Tinha sido isso. . . uma tábua do assoalho que cedeu . Oba fez uma careta ,
suspeitando daquilo. Uma inspeção ma is próxima r evelou que a tábua t inha pregos no
meio então balançar ia como uma gangorr a .
Com um dedo cuidadoso, ele empurrou a ponta baixa fazendo ela descer ma is a inda . A outra ponta da tábua levantou . Um compartimento embaixo da tábua
continha uma caixa de madeira . Ele pegou a caixa e t entou abr i - la , mas ela estava
trancada , de algum jeit o. Não havia buraco para uma chave, e nenhuma tampa aparente, então provavelmente t inha algum truque para abr i -la . Era pesada . Quando
ele ba lançou-a, ela emit iu apenas um som abafado lá de dentro. S implesmente podia
ser uma arma pesada que a mulher aleijada mant inha emba ixo da cama caso ela foss e atacada durante a noite por uma cobra ou alguma coisa parecida .
Com a caixa em sua mão carnuda , Oba moveu-se até a bancada de trabalho.
Ele sentou no banco e inclinou aproximando -se. Quando selecionava um cinzel e um
maço, ele notou que a feit iceira ainda estava no chão da outra sala , observando. — O que tem na caixa? — e le gr itou para ela .
Claro que ela não r espondeu . Não t inha intenção de ser cooperativa . Se ela t ivesse s ido cooperativa , t er ia respondido todas as perguntas dele, ao invés de cair
morta depois de r ealizar seu truque de ―pedra para cinza‖ . Só lembrar daquilo causava
arrepios nele. Alguma coisa sobre todo o encontro foi ma is do que ele quer ia
contemplar . Oba usou o cinzel para abr ir a caixa à força . Testou cada junta , mas ela não
abr ia . Bateu nela com o maço, mas só conseguiu quebrar o cabo do maço . Ele
suspirou, decidindo que provavelmente isso era apenas uma arma pesada que Althea mant inha para defesa .
Ele levantou do banco para recolher os suprimentos e checar se estava com
tudo. Já estava far to dos acontecimentos es tranhos e das coisas enigmát icas que ela
deixou. Precisava seguir seu caminho. Então Oba parou, e virou de volta sent indo algum t ipo de aler ta inter ior . Se
a caixa pesada era uma arma , ela a ter ia mantido facilmente ao alcance. Algo nessa
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caixa era importante, ou ela não estar ia escondida embaixo do assoa lho .
Algo dentro dele dizia isso.
Decidindo que conseguir ia abr ir a caixa , ele sentou no banco outra vez e
escolheu um cinzel ma is f ino e outro maço. Encostou a lâmina af iada no meio de uma junta longitudinal , per to da borda .
Com suor pingando da ponta do nar iz , ele grunhiu com o es forço de bater na
extremidade do cabo do cinzel , t entando abr ir a junta para ver se havia apenas um peso lá dentro.
Repent inamente, madeira est i lhaçou com um a lto estalo e a caixa abr iu .
Moedas de ouro e de prata espalharam-se como as entranhas de uma carpa . Oba ficou olhando para o monte de ouro empilhado na bancada . A ca ixa não t inha feito muit o
barulho só porque estava bem cheia . Havia uma for tuna. . . uma verdadeira for tuna .
Bem, isso não era mesmo uma coisa?
Devia ter vinte vezes a quantidade de ouro que a pequena doninha, Clovis, roubara dele. Oba t inha pensado que a pobreza havia sido infl igida sobre ele pel o
covarde ladrãozinho, e acabou que ele estava mais r ico do que nunca, mais r ico até do
que os seus sonhos ma is loucos . Ele rea lmente era invencível . Tinha sofr ido através da adversidade e desventura que ter iam derrotado um homem infer ior , e o dest ino acabara
de r ecompensá- lo por todos os seus es forços .
Sabia que isso não podia ser outra coisa a não ser des ígnio divino. Oba sorr iu para a mulher que jazia ali na sala observando o tr iunfo dele .
Nas gavetas da bancada de trabalho , ele encontrou ferramentas gua rdadas
em bolsas. Havia tr ês belas bolsas de couro contendo p la inas feitas finamente. As
bolsas de couro provavelmente eram usadas para evitar que as bordas afiadas das lâminas fossem manchadas e arranhadas . Um bolsa de tecido cont inha um jogo de
compassos. Outra bolsa t inha res ina , enquanto outras ainda guardavam vár ias
ferramentas esquis itas . O mar ido era excepciona lmente organizado . A vida com sua esposa do pântano provavelmente o deixara louco .
Oba enxugou suor dos olhos e então juntou todas as moedas n o centro da
bancada . Dividiu-as em pilhas igua is , contando cuidadosamente cada pilha para saber
exatamente quanto dinheiro havia ganho. Terminada a contagem, ele encheu as bolsa s de couro e t ecido , colocando
uma em cada bolso. Por questão de segurança , ele amarrou cada bolsa com duas t iras
que seguiam as dir eções difer entes para difer entes pontos no cinto . Amarrou uma bolsa menor em cada perna , deixando-as r epousarem dentro da par te super ior das suas
botas. Abriu as calças e guardou vár ias das bolsas ma is p esadas dentro, onde ninguém
poder ia pegá- las. Lembrou a si mesmo que ter ia de ser cu idadoso com damas apaixonadas de mãos amigáveis , senão elas acabar iam recebendo ma is do que ele
desejava entr egar a elas .
Oba aprendera sua l ição. De agora em diante , não manter ia sua for tuna toda
junta . Um homem tão r ico como ele t inha de proteger suas posses . O mundo estava cheio de ladrões .
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C A P Í T U L O 3 9
Oba finalmente caminhou entrando nos l imites exter ior es do mercado a céu aber to. Após o isolamento das planícies á r idas , o rouco barulho de atividade era
desor ientador . Normalmente, ele estar ia int r igado com todos os acontecimentos ao
redor , mas dessa vez ele pr estava pouca atenção.
Aprendera que quar tos podiam ser alugados lá em cima no Palácio . Era isso que ele quer ia . . . subir a té o Palácio do Povo e arranjar um quarto adequado. Um qu e
fosse tranquilo. Depois de um pouco de boa comida descanso para recuperar a força ,
ele comprar ia algumas roupas novas e então dar ia uma olhada ao r edor . Mas agora , só quer ia o quar to tranquilo e o descanso. Por algum motivo, pensar em comida o deixava
enjoado.
Parecia meio inapropriado para ele que um Rahl t ivesse que sujeitar -se a alugar um quarto em seu próprio lar ancestral , mas ter ia que l idar com essa questão
ma is tarde. Agora, ele só quer ia deitar . Sua cabeça estava latejando. Seus olhos doía m
toda vez que os virava para olhar alguma coisa , então, enquanto caminhava com
dif icu ldade com a cabeça baixa , tentou l imitar seu foco no rastro de terra suja imediatamente diante de seus pés .
Tinha feito a longa jornada do pântano miserável até o Palácio por pura
força de vontade. A despeito do fr io, ele estava suando. Provavelmente estivera preocupado demais com o clima fr io que encontrar ia ao cruzar as Planícies Azrith e,
com todas as camisas que estava usando, t inha exagerado na quantidade de roupas .
Afinal, com a pr imavera aproximando-se, não estava tão fr io quanto est ivera nas
profundezas do inverno quando sua mãe lunát ica o havia encarregado com a humilhante tar efa de jogar fora montes de l ixo congelado.
Oba aper tou um chumaço de tecido que acumulava -se desconfor tavelment e
emba ixo da axila dele . As camisas eram pequenas demais para ele , então ele t eve de rasgar algumas costuras aqui e al i para vest ir todas . Algumas das mangas r asgaram em
sua longa jornada através da planície varr ida pelos ventos , e t inham rasgado subindo
nos braços dele sob as camadas externas que agora estavam penduradas como bandeiras esfarrapadas . Sua mochila de lona , feita tão apressadamente, também estava
caindo aos pedaços , de modo que os cantos do cobertor de lã escura pendiam, agitando
atrás dele enquanto caminhava .
Com todas as difer entes cores de roupa aparecendo pelas camadas de vár ios tons, e o cobertor marrom de lã que usava como capa , ele achou que devia parecer u m
mendigo. Provavelmente ele era suf icientemente r ico para comprar o mercado todo
uma dúzia de vezes . Comprar ia algumas roupas boas ma is tarde . Pr imeiro, pr ecisava de um quarto tranquilo e um bom e longo descanso .
Porém, nada de comida . Ele def init ivamente não estava com vontade de
comer . Estava todo dolor ido. . . a té mesmo piscar era doloroso. . . mas eram as entranhas dele que estavam em par ticu lar agonia .
Quando esteve aqui antes , os saborosos aromas de comida deixaram sua
boca cheia de água . Agora os t entáculos de fumaça dos fornos cozinhando o deixava m
com náuseas . Imaginou se isso acontecia porque agora t inha gostos ma is refinados . Pensou que talvez, se ele subisse entrando no Palácio , conseguisse arrumar
algo suave para comer . O pensamento fa lhou em atiçar o seu apet it e. Não estava com
fome, apenas cansado. Com os olhos pesados , Oba avançou lentamente pelas ruas improvisadas do
mercado a céu aber to. Dir ecionou o corpo para o planalto que agigantava-se sobr e
eles. Parecia como se a mochila em sua cos ta estivesse com o peso de tr ês homens .
Provavelmente a lgum truque da bruxa do pântano, algum feit iço que ela t inha lançado, Sabendo que ele estava a caminho da casa dela , provavelmente ela havia colocado
alguma magia de peso nas l inguiças dela . Pensar em linguiças fez o estômago dele
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revirar .
Olhando para cima, para o Palácio cint i lando longe na luz do sol enquant o
caminhava , ele acidentalmente chocou -se com alguém, arrancando um grunhido de
ambos. Oba estava prestes a chutar o obstáculo ir r itant e para fora do caminho, quando o monte de trapos curvado virou para rosnar uma praga .
Era Clovis.
Antes que Oba conseguisse pegá- lo, C lovis cambaleou afastando-se e mergulhou entr e dois homens ma is velhos que passavam. Oba, logo atrás dele, mas
sendo ma is largo, jogou os homens para os lados . Quando os dois homens ca íram, Oba
passou, lutando para manter o equil íbr io , e seguiu atrás do ladrãozinho. C lovis parou derrapando. Olhou para a esquerda e depois para a dir eita . Vendo sua chance, Oba
saltou para capturar o ladrão vest ido com roupas es farrapadas , mas o homem ligeir o
conseguiu descer por outra rua bem em tempo de escapulir dos braços est icados de
Oba. Oba caiu, pegando somente um pequeno e su jo pedaço do pano da manga do homem.
Quando Oba levantou, ele viu Clovis saltar uma fogueira para um lado onde
pessoas estavam assando t iras de carne enfiadas em espetos , e corr er de volta entr e cavalos presos . Para um homem com as cos tas curvadas , ele conseguia correr como
fumaça em uma ventania . Mas Oba era grande e for te. . . e rápido. Oba sempr e
orgulhara-se de ter os pés leves . Ele passou pela fogueira com folga e correu de volta entr e os cavalos , t entando não perder de vista sua presa .
Os cavalos assustaram-se com homens correndo loucamente entr e eles .
Vários anima is em pânico empinaram, puxando cordas , e dispararam. O homem qu e
tomava conta deles , gr itando pragas e ameaças que Oba na verdade não ouviu ou com as quais não se importou , saltou na frente dele . Com sua atenção f ixa no homem qu e
estava perseguindo, Oba empurrou o su jeito irado para fora do caminho . Mais cava los
empinaram. Sem fazer pausa , Oba correu atrás do ladrão. Na verdade Oba não precisava do seu dinheiro de volta . Agora ele t inha uma
for tuna . Tinha mais dinheiro do que provavelmente conseguir ia gas tar .. . mesmo s e
fosse cuidadoso apenas parcialmente. Mas não tratava -se de dinheiro. Tratava-se de
um cr ime, uma traição. Oba havia pago ao homem, confiado nele, e fora enganado por isso.
Pior , foi tratado como um tolo. Sua mãe sempre dizia que ele era um tolo.
Oba, o idiota , ela sempre o chamava . Oba não permit ir ia que ninguém mais o f izess e de tolo. Não permit ir ia que provassem que a sua mãe estava cer ta .
O fato de Oba ter tr iunfado e saído do pântano ma is r ico do que nunca não
era graças a Clovis. Não, era graças apenas ao próprio Oba. Justamente quando ele pensou que era pobre novamente , conseguiu encontrar o segredo para uma for tuna qu e
era , afina l de contas , devida a ele por vár ias razões , a últ ima das quais foi sua longa e
dif íci l jornada para ver Althea, apenas para que ela também o enganasse sem fornecer
respostas por razão alguma a não ser pura maldade . Clovis t inha tramado tudo e deixou ele para morrer . A intenção dele era
matá- lo. O fato de Oba ter sobrevivido não foi graças a Clovis. O homem era u m
assassino, quando você pensava bem a r espeito . Um assassino. O povo de D'Hara ter ia com Oba Rahl uma dívida de gratidão depois que ele ap licasse a rápida e justa
retr ibuição no ma ldito fora da lei .
Clovis disparou contornando uma banca de esquina que ex ib ia centenas de it ens feitos com chifr e de ovelha . Oba, sendo ma is pesado, passou acelerado pela
esquina e, quando tentou fazer a curva , escorregou em esterco de cavalo . Através de
poderoso es forço e grande habil idade, ele conseguiu manter o equil íbr io e permanecer
em pé. Oba t inha passado anos nesse t ipo de su jeir a , carregando pesadas cargas , cuidando de anima is , e correndo quando sua mãe chamava . Também teve que fazer
isso em todos os t ipos de condições , inclu indo o clima gelado.
De cer to modo, todos aqueles anos de esforço foram um tr eino que havia preparado Oba para fazer a curva quando nenhum outro homem do tamanho e pes o
dele t er ia chance. Ele conseguiu, e de uma forma habil idosa e veloz que foi chocant e
260
para o ladrão. Quando Clovis olhou para trás com um sorr iso zombeteiro,
aparentemente esperando que Oba est ivesse caído com cer teza , ele pareceu surpres o
em ver ao invés disso todo o peso de Oba aproximando-se dele a toda velocidade.
Clovis, obviamente est imulado pelo terror de saber que a justiça em p essoa estava descendo sobre ele, acelerou descendo por outra das ruas improvisadas , uma
passagem menor e com menos pessoas . Mas dessa vez, Oba estava logo atrás dele . Ele
agarrou os trapos esvoaçantes em um ombro , fazendo Clovis girar . O homem tropeçou. Seus braços agitaram estranhamente enquanto tentava manter o equil íbr io e escapar ao
mesmo tempo.
Os olhos de Clovis f icaram arregalados . Pr imeiro com a surpresa , e então com a pressão da mão que fechara -se em volta da garganta dele. Seja lá qual fosse o
gr ito ou pedido que estava tentando sair não conseguiu escapar pelos dedos
semelhantes a um torno de Oba.
Com a fadiga esquecida , Oba arrastou o ladrãozinho assassino, chutando e contorcendo-se, de volta entr e duas carroças .
Os topos das lonas das carroças de ixavam na sombra o estr eito espaço entr e
elas. No fundo do aper tado espaço havia uma alta parede de ca ixotes . As costas de Oba bloqueavam a estr eita aber tura entr e as frentes da duas carroças , isolando o loca l
da vista de forma tão efet iva quanto a por ta de uma pr isão.
Oba podia ouvir pessoas atrás dele cuidando de seus assuntos , r indo e conversando enquanto seguiam apressadas no ar for te . Outras, ao longe, discut iam e
barganhavam com mercadores sobre o preço de produtos. Cavalos passaram trotando,
seus arreios fazendo barulho. Bufar inheiros cruzavam as ruas , gr itando os benef ícios
de suas mercador ias em uma alta cantor ia , tentando atrair compradores . Apenas Clovis estava em s ilêncio, mas não por escolha . A boquinha
ment irosa do vendedor ambulante abr iu par a dizer alguma coisa . Mas quando Oba
levantou ele do chão e os olhos do homem giraram de um lado para outro , era claramente um grito pedindo ajuda tentando escapar sem sucesso. Com os pés
chutando apenas o ar , Clovis espiou os poderosos dedos ao r edor do p escoço dele.
Suas unhas su jas quebraram enquanto ele enfiava os dedos em desespero no punho de
ferro da just iça . Os olhos dele f icaram tão grandes quanto as moedas de ouro que ele t inha roubado de Oba.
Segurando ele no alto com uma das mãos , press ionando ele contra um dos
pesados ca ixotes nos fundos , Oba ver if icou os bolsos do homem, mas nada encontrou . Clovis apontou para o peito desesperadamente . Oba sent iu um volume sob as camadas
de trapos e da camisa . Rasgando a camisa , ele viu sua familiar bolsa gorda pendurada
por uma tira de couro em volta do pescoço do ladrão . Um poderoso puxão enterrou a t ira de couro na carne do homem até o couro
arrebentar .
Oba enf iou sua bolsa de volta em um bolso . Clovis t entou sorr ir , ex ib ir um
rosto que pedia desculpas como s e est ivesse dizendo que agora tudo estava acer tado . Fazia muito tempo que Oba deixara o perdão para trás . Sua cabeça latejava
com a fúr ia l iberada . Segurando os ombros de Clovis contra os pesados caixotes , Oba
bateu com o punho no estômago do homenzinho . Clovis estava ficando roxo. Oba aplicou um for te soco no rost inho sujo . Ele sent iu osso quebrar .
Golpeou com o cotovelo na pequena boca ment irosa, diss imulada, e quebrou todos os
dentes da fr ente. Oba rosnou enquanto acer tava mais três golpes rápidos na pe quena doninha. A cada golpe, a cabeça de Clovis balançava para trás, seu cabelo sebos o
lançando sangue cada vez que a par te traseira do crânio batia nos ca ixotes .
Oba estava fur ioso. Tinha sofr ido a indignidade de ser uma vít ima impotente
de um ladrão que o t inha deixado para morrer . Foi atacado por uma cobra gigante . Quase afogou-se. Tinha sido insultado e
enganado por Althea. Ela olhou dentro da alma dele sem permissão . Pr ivou ele de suas
respostas , rebaixou ele por t er feito algo de si mesmo, e além disso morreu antes qu e ele pudesse matá - la . Ele sofr era durante uma longa marcha pelas Planícies Azrit h
vestido em trapos. . . ele, Oba Rahl, praticamente da rea leza . A completa indignidade
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foi humilhante.
Ele estava fur ioso e decidido. Mal conseguia acr editar que ele fina lment e
t inha ao alcance o objeto daquela just if icada fúr ia . Não ter ia negada sua justa
retr ibuição. Segurando Clovis deitado no chão, com um joelho press ionado contra o
peito do homem, Oba f ina lmente deixou a completa e justa fúr ia da vingança l ivr e.
Ele não sent iu os golpes ma is do que sentiu os sofr imentos e as dores com os quais t inha vindo. Amaldiçoou o ladrãozinho assassino enquanto aplicava just iça ,
transformando Clovis em uma massa sangrenta .
Grande quant idade de suor escorr eu pelo rosto de Oba. Ele lutou para respirar enquanto levantava -se lentamente. Seus braços pareciam chumbo. Conforme
tornava-se exausto, sent iu a cabeça latejando tão for te quanto seus punhos . Teve
dif icu ldade de focar no alvo de sua ira .
O chão estava cheio de sangue . O que t inha sido Clovis não era ma is remotamente r econhecível . A mandíbula dele estava estraçalhada e pendia
completamente frouxa de um lado. Um olho estava afundado.
O joelho de Oba quebrara o esterno do homem e esmagara seu peito. Foi glor ioso.
Oba sentiu mãos agarrando suas roupas e br aços , puxando-o para trás . Não
t inha a força r estante para tentar res ist ir . Quando foi arrastado para trás do meio das carroças, viu uma multidão de pessoas formando um semicírculo. . . todas dominadas
pelo terror . Oba estava feliz com isso, porque s ignificava que que Clovis t inha
recebido o que merecia . Punição adequada por cr imes deviam deixar as pessoas
apavoradas para servir de exemplo. Isso era o que seu pa i dir ia . Oba olhou para cima , mais per to, para os homens arrastando ele do meio das
carroças. Uma parede de armadura em couro, cota de ma lha, e aço, t inha espalhado-s e
para cercá- lo. Piques, espadas e machados cint i laram na luz do sol. Todos estava m apontados para ele. Ele só conseguiu piscar , esgotado demais para levantar uma das
mãos para empurrá -los.
Exausto, sem fôlego, e molhado de suor , Oba não conseguiu manter a cabeça
erguida . Quando ele começou a pender nos braços dos homens que o seguravam , a escur idão o envolveu .
262
C A P Í T U L O 4 0
Em uma sombr ia confusão, Fr iedr ich us ou a pá para firmar -se enquanto caía de joelhos. Sentado sobre os ca lcanhares , ele deixou a pá ca ir no chão fr io . O vento
gelado agitou seu cabelo assim do mesmo jeito que a comprida grama ao redor do solo
recém mexido. O mundo dele transformara-se em cinzas .
Ofuscada pelo sofr imento, sua mente não conseguia focar em nenhum outro
pensamento. Um soluço o dominou. Ele estava preocupado que podia não ter feito a coisa
cer ta . Estava fr io aqui. Estava preocupado que Althea f icasse gelada . Fr iedr ich não
quer ia que ela f icasse gelada .
Mas também estava ensolarado. Althea adorava a luz do sol . Ela sempre dizia que gostava de sent ir o sol em seu rosto .
Independente do calor no pântano, a luz do sol raramente a lcançava até o
chão, pelo menos em qualquer lugar per to de onde ela conseguia enxergar de seu confinamento.
Porém, para Fr iedr ich, o cabelo dela era dourado como a luz do sol . Ela
sempre fazia pouco caso de ta l sent imento , mas ocasiona lmente, se ele não t ivess e mencionado isso durante algum tempo, ela perguntava inocentemente se ele achava
que seu cabelo estava penteado o bastante e parecia bem para vis itantes que vinha m
para uma previsão. Ela sempre conseguia manter o rosto impass ível quando estava
buscando aquilo que quer ia . Então, ele dir ia para ela que seu cabelo parecia com a luz do sol. Ela f icar ia vermelha como uma adolescente e dir ia , ―Oh, Fr iedr ich‖.
Agora , o sol jama is br ilhar ia para ele novamente .
Ele t inha cons iderado o que fazer , e t inha decidido que ser ia melhor para ela estar aqui em cima, no prado, fora do pântano. Se ele jamais conseguiu levá - la para
fora daquele lugar em vida , pelo menos ele podia levá - la para fora agora . O prado
ensolarado era um lugar melhor parra colocá -la para repousar do que em sua anter ior
pr isão. Ele t er ia dado qualquer coisa para ter levado ela para fora antes , para
mostrar a ela lugares belos outra vez , para ver o sorr iso dela , despreocupado, na luz
do sol. Mas ela não podia sair . Para todos os outros , inclu indo ele, somente o caminho na fr ente podia ser cruzado em segurança . Não havia outro caminho para passar pelas
coisas escuras cr iadas com o poder dela . Para ela , não havia nem mesmo aquela
passagem segura . Fr iedr ich sabia que as t err íveis consequências para qualquer um que s e
aventurasse em qualqu er outro lugar no pântano não eram imaginár ias . Várias vezes
durante os anos , os imprudentes ou os aventureiros t inham vagado fora do caminho , ou
tentaram atravessar pelo caminho dos fundos , onde nem ele ousava ir . Tinha sido tor turante Althea, saber que s eu poder havia terminado com vidas inocentes . Como
Jennsen conseguiu entrar pelo caminho dos fundos i lesa , nem mesmo Althea soube.
Para a últ ima jornada dela , Fr iedr ich t inha carregado Althea para fora por aquele caminho dos fundos como um símbolo da recla mada l iberdade dela .
Os monstros dela sumiram. Agora ela estava com os bons espír itos .
Agora , ele estava sozinho. Fr iedr ich curvou-se para fr ente em agonia , soluçando sobre o túmulo fr esco
dela . De repente o mundo era um lugar vazio, solitár io , morto. Seus dedos agarraram a
terra fr ia que cobria seu amor . Sent iu esmagadora culpa por não estar lá para protegê -
la . Tinha cer teza de que se est ivesse lá , ela ainda estar ia viva . Isso era tudo que ele quer ia . Althea viva . Althea de volta . Althea com ele.
Ele sempre f icara feliz em r etornar para casa , por mais humilde que essa
fosse, para contar a ela sobre qua lquer cois inha que t inha visto. . . uma ave pairando
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sobre um campo, uma árvore com suas folhas cint i lando na luz do sol , uma estrada
espalhando-se como uma f ita sobre colinas ondulantes , qualquer coisa que ter ia
trazido um pouco do mundo para ela em sua pr isão .
No começo, ele não fa lava sobre o mundo a lém. Pensava que se falasse para ela sobre as coisas que t inha visto do lado de fora do pântano dela , sobre aqu ilo qu e
repent inamente estava fora do alcance dela , ela ir ia apenas sent ir -se ma is confinada ,
ma is isolada , mais tr iste. Althea mostrou aquele sorr iso especia l dela e disse qu e quer ia ouvir cada detalhe daquilo que ele viu, porque dessa forma ela poder ia n egar a
Darken Rahl o desejo dele de confiná - la . Disse que Fr iedr ich era os olhos dela , e
através deles , ela poder ia escapar de sua pr isão. Com as descr ições que Fr iedr ich trazia para ela , a mente de Althea voava para longe do confinamento.
Desse jeito, Fr iedr ich a judou-a a negar para aquele homem vil seu desejo de
que ela jamais poder ia ver o mundo novamente .
Até aquele ponto, Fr iedr ich podia sentir -se bem em deixar o pântano quando ela t inha que f icar para trás . Ele não t inha cer teza de quem estava fornece ndo para
quem o presente. Althea era assim.. . fazia ele pensar que estava fazendo algo para ela ,
quando era ela quem rea lmente o estava ajudando a viver sua vida da melhor maneira que podia .
Agora , Fr iedr ich não sabia o que far ia . Sua vida parecia suspensa. Ele não
t inha vida sem Althea. Ela era uma presença que t inha dado a ele vida , dado a ele s i mesmo, tornado ele completo. Sem ela em sua vida , a vida não t inha propós ito.
Como a vida dela havia terminado, Fr iedr ich não sabia com cer teza . As
coisas que ele encontrou faziam pouco sent ido para ele . Ela não t inha sido tocada , mas
a casa fora saqueada . As coisas ma is estranhas foram levadas ; as economias deles de uma vida inteira , junto com comida , a lguns suprimentos estranhos, e roupas velhas de
pouco va lor . E ainda, outros it ens va liosos foram deixados, esculturas douradas , folha
de ouro, e ferramentas . Por ma is que tenta sse, Fr iedr ich não conseguia ver sent ido algum ou ordem nisso.
A coisa que ele entendera foi que Althea envenenou-se. E, havia outra
xícara .
Ela t entou envenenar outra pessoa. Talvez alguém que t ivesse vindo para uma previsão, a lguém que não fora convidado.
Porém, Fr iedr ich percebeu, que Althea devia estar esperando quem quer qu e
fosse e t inha escondido esse conhecimento dele, encorajando-o a fazer uma viagem até o Palácio para vender suas esculturas douradas . Ela fora bastante ins istente, e ele
pensou que, uma vez que ela não convidara nenhum vis itante , ela devia querer f icar
um pouco sozinha , o que não era inteiramente incomum, ou talvez ela est ivesse apenas impaciente para que ele f izesse uma pequena jornada lá fora no mundo e visse a lgumas
coisas já que ele não t inha feito isso fazia algum tempo . Ela havia segurado o rosto
dele enquanto o beijava naquela ú lt ima vez, saboreando a sensação dele.
Agora ele sabia a verdade. Aquele longo bei jo t inha sido a despedida dela . Ela quer ia que ele estivesse seguro fora do caminho .
Fr iedr ich enf iou a mão em um bolso e t ir ou a car ta que ela deixara para ele .
Às vezes ela escr evia bilhetes para ele. . . coi sas em que pensava enquanto ele estava longe, coisas que ela quer ia lembrar para dizer a ele . Ele t inha checado na vas ilha
dourada que esculp ira para ela , que ela mantinha no chão sob a sua cadeira atrás do
travesseiro sobre o qua l sentava , e f icou surpres o ao encontrar uma car ta para ele . Desdobrou-a cuidadosamente e leu-a ma is uma vez, mesmo que já t ivesse l ido tantas
vezes que sabia cada palavra de cor .
Meu amado Friedrich,
Sei que você não consegue entender nesse momento , mas quero que saiba
que eu não abandonei meu dever com a santidade da vida. . . ao contrário , eu estou cumprindo ele. Percebo que não será fáci l para você , mas deve confiar em mim
quando eu digo que t ive de fazer isso .
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Estou em paz. Tive uma vida longa. . . muito mais longa do que quase
qualquer outra pessoa pode ser afortunada o bastante para ter .
Mas o melhor foi a parte em que vivi com você . Amei você quase desde o dia
em que você entrou em minha vida e despertou meu coração . Não permita que o pesar esmague o seu coração ; estaremos juntos no mundo seguinte e para sempre.
Mas nesse mundo, você, como eu, é um dos Protetores. . . as quatro pedras
nos cantos da minha Graça . Você lembra. Perguntou quem eram eles e eu disse que Lathea e eu éramos duas das pedras em minha últ ima previsão . Gostaria de poder ter
falado naquele momento que você também é uma , mas não ousei. Estou cega para
grande parte do que está acontecendo , mas de acordo com aquilo que sei , eu devo fazer o que posso ou a chance para que os outros vivam e amem estaria perdida para
sempre.
Saiba que você está sempre em meu coração , e estará até mesmo quando eu
cruzar o véu para f icar com os bons espíri tos . O mundo dos vivos precisa de você , Friedrich. A sua parte nisso ainda está
para começar. Imploro a você que, quando você for cha mado, cumpra o seu propósito .
Eternamente sua,
Althea.
Friedr ich enxugou as lágr imas das bochechas e então leu as palavras de
Althea novamente. Quando l ia , ele podia ouvir a voz dela em sua cabeça , falando com
ele, quase como se ela est ivesse bem ao seu lado. Ele teve medo de acabar com aquela voz, mas f ina lmente, ele dobrou cuidadosamente a car ta e colocou -a de volta no bolso.
Quando levantou os olhos , um homem alto estava parado diante dele . — Eu era um
conhecido de Althea. — sua voz poderosa era so le ne e firme . — S into
terrivelmente por sua perda . Eu vim prestar meus r espeitos e ofer ecer minha
simpatia .
Fr iedr ich levantou lentamente, observando os olhos azuis escuros do homem
mais velho.
— Como você poder ia saber ? Como sabe o que aconteceu ? — a raiva de
Fr iedr ich também elevou-se. — Que papel você teve nisso?
— O papel de uma t r iste testemunha daquilo que não posso mudar . — o homem, muito ma is velho mas de aparência vigorosa , pousou uma das mãos no
ombro de Fr iedr ich, aper tando de forma gent i l . — Eu conhecia Althea de muit o
tempo atrás , quando ela foi estudar no Palácio dos Profetas.
— Você não respondeu minha pergunta . Como você sabia?
— Eu sou Nathan, o profeta .
— Nathan, o profeta . . . Nathan Rahl? Mago Rahl?
O homem assentiu quando afastava a mão , deixando seu braço deslizar de
volta para baixo da borda aber ta de sua capa marrom escura . Fr iedr ich baixou a cabeça
em r espeito, mas não conseguiu transmit ir a preocupação de fazer ma is , fazer
reverência , mesmo se estivesse na presença de um mago, mesmo que esse mago foss e um Rahl.
O homem usava calça marrom de lã e botas altas , não o manto de um mago.
Em maior par te, ele não parecia com o que Fr iedr ich esperava de um mago, e ele não parecia de jeito algum com um homem que, Althea t inha falado, estava per to de mi l
anos de idade. Sua mandíbula for te estava barbeada . Seu cabelo branco l iso era longo
o bastante para tocar os ombros largos . Ele não estava curvado pela idade, t inha a
postura flu ida de um espadachim, porém não carregava espada , e por te de autor idad e sem esforço.
Contudo, seus olhos , tão penetrantes em sua expressão parecida com a de u m
falcão, eram o que Fr iedr ich poder ia espera r de um homem ass im. Eram os olhos de um Rahl.
265
Friedr ich sent iu uma pontada de ciúme. Esse homem conheceu Althea muito
tempo antes de Fr iedr ich conhecê- la , quando ela era jovem e incr ivelmente bela , uma
feit iceira no auge do seu poder e habil idade , uma mulher r equis itada , uma mulher
cor tejada por muitos homens grandes . Uma mulher que sabia o que quer ia e que par tia atrás disso com feroz paixão. Fr iedr ich não era tão ingênuo para acreditar que ele foi
o pr imeiro homem na vida dela .
— Fale i com ela brevemente algumas vezes. — Nathan disse, como qu e
em resposta para perguntas não pronunciadas , fazendo Friedr ich imaginar se u m
homem dessa habil idade também podia ler mentes . — E la possuía um Do m
incr ivelmente talentoso para a profecia. . . pelo menos para uma fe it ice ira . Porém,
comparada a um verdadeiro profeta , ela er a apenas uma cr iança tentando jogar em
jogos de adultos . — o mago suavizou suas palavras com um sorr iso gent il . — Não
digo isso para desconsiderar todo o coração ou intelecto dela , mas apenas para
colocar em uma cer ta perspect iva . Fr iedr ich desviou o olhar dos olhos do homem, de volta para o túmulo.
— Você sabe o que aconteceu? — quando nenhuma resposta surgiu ,
olhou de volta para o homem alto que observava ele . — E se você sabia , podia ter
impedido ela?
Nathan cons ider ou a pergunta durante um momento. — Alguma vez você soube que Althea fosse capaz de alterar aquilo qu e
ela via quando lançava suas pedras ?
— Acho que não. — Fr iedr ich admit iu.
Algumas vezes , ele a abraçara enquanto ela chorava com a tr isteza de
desejar que pudesse mudar algo que viu . Com fr equência ela disse para ele quando ele perguntava a respeito daquilo ,
ou perguntava o que podia ser feito , que tais coisas não eram tão s imples quanto
pareciam para aqueles sem o Dom. Embora Fr iedr ich não conseguisse entender muito
das complexidades da habil idade dela , ele sabia que às vezes o fardo da profecia quase a esmagava com a angústia .
— Sabe porque ela ter ia feito isso ? — Friedr ich perguntou, com
esperança de a lguma explicação que pudesse tornar a dor mais suportável . — Ou quem
fez isso com ela?
— E la fez a esco lha de como morrer ia , — Nathan disse em um s imples
resumo. — Você deve confiar que ela fez essa esco lha por sua própria vontade e
por razões corretas . Deve entender que aquilo que ela fez não foi feito porque era o
melhor para ela , e para você, mas para os out ros também.
— Outros? O que você quer dizer ?
— Vocês do is sabem o que o amor t raz para a vida . Por escolha dela , ela
estava fazendo o que podia para que outros possam ter a chance deles de conhecerem a
vida e o amor . — Eu ainda não entendo .
Nathan f icou olhando para o vazio enquanto balançava a cabeça lent amente. — Sei apenas de fragmentos do que está acontecendo , Fr iedr ich. Nisso,
eu me s into cego de uma forma que jama is sent i .
— Está querendo dizer , que isso tem a ver com Jennsen?
A testa de Nathan franziu quando seus olhos focaram repent ina e
intensament e em Friedr ich.
— Jennsen? — a voz dele estava carregada com a suspeita .
— Uma dos ―buracos no mundo‖ . Althea disse que Jennsen é uma f i lha de
Darken Rahl. O mago afastou sua capa e colocou uma das mãos no quadril .
— Então , esse era o nome dela . Jennsen. — a boca dele curvou com um
sorriso part icular . — Nunca ouvi fa lar desse termo , ―buraco no mundo‖ , mas
cons igo ver o quanto isso parecer ia adequado para o Dom limitado de uma feit iceira .
266
— e le balançou a cabeça . — A despeito de seu talento , Althea não podia ao menos
começar a compreender o que está envolvido com pessoas como Jennsen. A
inabil idade dos dotados em r econhecer aspectos da existência deles , e assim chamá-los de ―buracos no mundo‖ , é apenas a cauda do touro. A cauda é a par te menos
importante. ―Buraco‖ não é ao menos um termo preciso. Eu pensar ia que ―vazio‖ ser ia
melhor . — Não tenho certeza se você está certo a respeito dela não
compreender . Althea estava envolvida com aqueles como Jennsen durante um longo
tempo. Ela pdia estar ma is consciente do que você imagina . Ela explicou a Jennsen e
para mim que não sabia muito ma is , mas a par te ma is importante era que os dotados
eram cegos em r elação a eles .
Nathan soltou um curto grunhido de r espeito pela mulher enterrada diante deles.
— Oh, Althea sabia ma is, muito ma is . Essa coisa de ―buraco no mundo‖ era
somente uma janela de acordo com o que Althea conhecia .
Fr iedr ich não ousou contradizer o mago, pois ele sabia como as feit iceiras
guardavam segredos , nunca revelando a verdadeira extensão daquilo que sab iam.
Althea também fazia isso. Mesmo com Friedr ich. Ele sabia que não era por falta de respeito, ou de amor , mas apenas o jeito como eram as feit iceiras . Ele não podia ficar
ofendido por aquilo que simplesmente era a natureza dela .
— Então , tem ma is coisas a respeito dessas pessoas como Jennsen?
— Oh, sim. Esse touro tem chifr es , não apenas uma cauda . — Nathan
suspirou. — Mas independente do fato de que eu entendo muito do que Althea não
entendia , nem mesmo eu sei o bastante para afirmar que entendo tudo s obre aquilo qu e
realmente está envolvido nos eventos que começam a se desenrolar . Essa par te da
profecia é obscura . Porém, conheço o suf iciente para saber que isso pode alterar a natureza da própria ex istência .
— Você é um Rahl. Como poder ia não saber ta is coisas?
— Em uma idade muito jovem eu fui levado para o Mundo Ant igo pelas
Irmãs da Luz e apr is ionado lá no Palácio dos Profetas . Eu sou um Rahl, mas de muitas
formas eu sei pouco da minha terra ances tral, D'Hara. Muito daquilo que eu sei , aprendi através de l ivros de profecia .
— A Profecia é s i lenciosa a respeito de pessoas como Jennsen. Apenas
recentemente comecei a descobrir porque, e as terr íveis consequências . — e le cruzou
as mãos at rás das costas . — Então , essa garota , Jennsen, veio fa lar com Althea?
Como ela sabia sobre Althea? — S im. Jennsen foi a causa de. . . — o olhar de Friedr ich desviou do homem
que o observava , sem saber como ele se sent ir ia com relação a sua parente , mas então
ele decidiu falar , mesmo que isso causasse a ira do homem. — Quando Jennsen era
jovem, Althea t entou ajudar a protegê-la de Darken Rahl. Darken Rahl aleijou Althea
por causa disso, e apr is ionou-a no pântano. Ele r emoveu o poder dela , a não ser o da profecia .
— Eu sei, — Nathan sussurrou, c laramente com tr isteza . — embora eu
nunca soubesse as causas por t rás disso , vi uma par te disso previsto.
Fr iedr ich deu um passo adiante.
— Então porque não ajudou ela ?
Dessa vez, foi o olhar de Nathan que desviou. — Oh, mas eu ajudei. Estava
apr isionado lá no Palácio dos Profetas quando ela foi falar comigo. — Apr is ionado pelo quê?
— Apr isionado pelos medos injustos de outros . Eu sou uma rar idade, u m
profeta . Sou temido como a lgo s ingular , como um homem louco, como um salvador ,
como um destruidor . Tudo porque vejo coisas que outros não enx ergam. Houve
algumas vezes em que não consegui evitar e tentei mudar o que eu vi .
— Se é profecia , como ela pode ser mudada ? Se você mudá-la , ela não
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ser ia verdadeira . Então não ser ia profecia .
Nathan olhou f ixamente para o céu fr io , o vento afastando seu longo cabelo
do rosto.
— Jamais conseguir ia explicar isso adequadamente para alguém como
você , a lguém que não é dotado, mas posso explicar uma pequena par te da seguint e
forma. Há livros de profecias que r emontam a milhares de anos . Esses l ivros guardam eventos que ainda não aconteceram.
Para que o l ivr e arbítr io exista , deve haver questões deixadas em aber to.
Isso é feito parcia lmente através de profecias bifurcadas . — Profecias bifurcadas? Está querendo dizer que eventos poder iam seguir
um entr e dois caminhos?
Nathan assent iu. — No mínimo.. . geralmente muitos caminhos . Pelo menos, eventos
chave. Frequentemente os l ivros irão conter uma linha de profecia para vár ios resultados que poder iam ser consequência do l ivr e arbítr io . Quando uma ramif icação
em par ticu lar prova ser aquela que r ealmente toma lugar , uma linha da profecia será
verdadeira enquanto outras , naquele momento, tornam-se inválidas . Até aquele
momento, todas são viáveis . Se outra escolha t ivesse s ido feita , essa ramif icação ter ia transformado-se na profecia vá lida . Caso contrár io, essa ramif icação murcha e morre,
muito embora o l ivro com aquela l inha de profecia permaneça . Dessa forma a profecia
está entr elaçada com os caminhos mortos de eras passadas , com todas as escolhas não feitas, as coisas que nunca vieram a ser .
A raiva de Fr iedr ich elevou-se outra vez.
— E então você sabia o que acontecer ia com Althea? Quer dizer que
poder ia t er a ler tado ela ?
— Quando ela me procurou , fa lei para ela sobre uma ramif icação . Não
sabia quando ela chegar ia ali , mas eu sabia que a morte aguardava por ambos os
caminhos. Com a informação que forneci a ela , ela ser ia capaz de saber quando a hora
estava próxima . Eu t inha esperança de que, de alguma forma , ela poderia encontrar um
jeito de contornar aquilo que eu vi. Às vezes, há ramif icações ocultas das quais não estamos cientes . Eu esperava que esse fosse o caso dessa vez e ela pudesse encontrá -
la , se ela ex ist isse.
Fr iedr ich estava incrédulo. — Você podia ter feito alguma co isa ! Podia ter evitado o que aconteceu !
Nathan levantou uma das mãos em dir eção ao túmulo .
— Esse é o resultado de tentar mudar o que será . Não funciona .
— Mas talvez se. . .
O olhar feroz de Nathan exib iu um aviso. — Para sua própr ia paz de mente , dir ei isso a você, mas nada mais .
Descendo pelo outro caminho estava um assassinato tão tor turante , tão sangrento, tão doloroso, tão violento, que no momento em que você descobr isse o que r estara dela ,
ter ia acabado com sua própr ia vida ao invés de cont inuar a viver com aquilo que t inha
visto. Esteja agradec ido que aquilo não aconteceu . Não aconteceu. . . não porque ela
temia ma is aquela morte, mas em par te porque ela o amava e não quer ia que você sofresse aquilo.
Nathan apontou para o túmulo outra vez .
— E la esco lheu esse caminho .
— Então essa fo i aquela ramif icação da qual você falou para ela ?
O olhar grave de Nathan suavizou. — Não exatamente. A ramif icação que ela tomou foi uma em que ela
morrer ia . Ela escolheu como.
— Quer dizer . . . que ela podia ter escolhido outra ramif icação , um caminho
no qual ela viver ia?
Nathan assent iu.
— Durante algum tempo. Mas se ela t ivesse escolhido esse caminho , todos
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nós em breve estar íamos nas garras do Guardião . Por causa daqueles envolvidos , sei
apenas que descendo por esse caminho tudo terminava . A escolha que ela fez foi qu e
ainda haver ia uma chance.
— Uma chance? Uma chance para quê?
Nathan suspirou. Fr iedr ich suspeitou que o suspiro r ef letia coisas mais
graves, mais amplas , do que qualquer coisa que Althea t inha visto. — Althea forneceu a todos nós tempo, para que outros possam fazer as
escolhas cer tas quando a hora de agir em por sua própria vontade chegar . Esse nó de
ramif icações na profecia é obscuro como nenhum outro , mas a maior ia das l inhas conduz ao nada .
— Ao nada? Eu não entendo. O que isso poder ia signif icar ?
— A existência está em r isco . — a sobrancelha de Nathan levantou. —
A maior ia dessas profecias terminam em um vazio , no mundo dos mortos. . . para
tudo. — Mas você consegue ver o caminho ?
— O emaranhado adiante é um mistér io para mim . Nisso, eu me sint o
impotent e. Nisso, eu sei o que s ignif ica não dotado e cego. Nisso, eu posso muito bem
estar cego. Não cons igo ao menos ver todos aqueles que estão fazendo as escolhas
cr ít icas. — Deve ser Jennsen. Talvez, se você a encontrasse. . . mas Althea disse que
os dotados es tão cegos em r elação aos descendentes não dotados de Darken Rahl.
— Qualquer Rahl. O Dom não tem uti l idade para localizar esses
descendentes rea lmente não dotados . Não há como dizer onde eles estão .
A não ser que você cons iga reunir todas as pessoas no mun do todo e colocá-las diante dos dotados , não haver ia uma maneira prática para detectá - los com o Dom.
Proximidade f ís ica é o único meio para que o Dom diga a você quem eles são. . . porqu e
os seus olhos e o seu Dom não concordam.. . como na vez em que vi Jennsen por
acidente. — Então você acha que de algum modo Jennsen está envolvida nisso?
Nathan fechou a capa protegendo-se do vento fr io. — Dentro das profecias , aqueles como Jennsen nem mesmo existem. Não
tenho como dizer se há outros , e se houver , quantos podem ser . Não tenho ideia de
qua l papel qualquer um deles desempenha nisso tudo . Sei apenas que de alguma forma eles possuem uma importância vital .
— Conheço um pouco do que está envolvido , e a lguns daqueles que
ficarão em ramif icações cr ít icas na profecia . Como eu disse, entr etanto muitas dessas ramif icações na profecia são obscuras .
— Mas você é um Pro feta. . . um verdadeiro Profeta , de acordo com
Althea; como você poder ia não saber o que a profecia diz se a profecia existe ?
Nathan observou-o por trás de olhos azuis intensos .
— Tente entender o que vou dizer . É um conceito que poucas pessoas
conseguem captar . Talvez isso possa ajudá - lo em seu luto, pois esse é o ponto no qua l
Althea encontrava-se.
Fr iedr ich assent iu. — Então fale .
— Profecia e livre arbít r io existem em tensão . Eles ex istem em opos ição.
Ainda assim, eles interagem. Profecia é magia , e toda magia pr ecisa de equil íbr io . O
equil íbr io da profecia , o equil íbr io que permite que a profecia exista , é o l ivr e
arbítr io.
— Isso não faz sent ido . Eles cancelar iam um ao outro.
— Ah, mas não cancelam, — o Profeta falou com um leve sorr iso . —
E les são interdependentes e ainda assim são ant itét icos . Exatamente como a Magia
Adit iva e Subtrativa são forças opostas , ambas existem. Cada uma serve para
equil ibrar a outra. Cr iação e destruição, vida e morte. A magia deve ter equil íbr io para
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funcionar . A profecia funciona através da presença de sua contra par tida : l ivr e
arbítr io.
— Você é um Pro feta , e está me dizendo que o l ivr e arbítr io existe ,
tornando a profecia inválida?
— A morte invalida a vida? Não, ela a def ine, e ass im fazendo cr ia seu
valor . No s ilêncio, nada disso pareceu importar . Era dif íci l demais para Fr iedr ich
compreender nesse instante. Além disso, isso não mudava nada para ele. A morte t inha
vindo tomar a preciosa vida de Althea. A vida dela era tudo de valor que ele t eve. Sua angúst ia retornou para fazer afundar todo o resto . Para Fr iedr ich, já t inha acabado.
Não havia nada adiante a não ser escur idão .
— Eu vim por outra razão. — o Mago Rahl disse com uma voz suave. —
Devo convocá- lo para ajudar nessa luta .
Cansado demais para cont inuar em pé, consumido demais pela tr isteza para importar -se, Fr iedr ich mergulhou ao chão ao lado do túmulo de Althea.
— Você veio falar com a pessoa errada .
— Você sabe onde está Lorde Rahl?
Fr iedr ich levantou os olhos , cerrando parcialmente os olhos por causa da
clar idade do céu.
— Lorde Rahl?
— S im, Lorde Rahl. Você é D'Haran. Dever ia saber .
— Acho que consigo sent ir a ligação . — Friedr ich apontou para o su l. —
E le está naquela direção . Mas a ligação está fraca . Ele deve estar a uma grande
distância . Mais longe do que eu já senti um Lorde Rahl em toda a minha vida . — Isso mesmo , — Nathan fa lou. — e le está no Mundo Ant igo . Você
deve ir a té ele.
Fr iedr ich grunhiu. — Não tenho dinheiro para uma viagem .
Essa pareceu a razão mais fácil .
Nathan jogou uma bolsa de couro. Ela bateu no chão diante de Fr iedr ich com
um som metá lico abafado.
— Eu sei. Sou um Profeta , lembra? Isso é mais do que foi t irado de você.
Fr iedr ich test ou o peso da bolsa . Rea lmente ela estava pesada .
— De onde veio tudo isso ?
— Do Palácio . Esse é um assunto of icial , então D'Hara fornecerá a você o
dinheiro que precisará.
Fr iedr ich ba lançou a cabeça . — Agradeço a você por vir aqui e o ferecer a sua simpat ia . Mas sou o
homem errado. Mande outro.
— Você é o homem que deve ir . Althea saber ia disso. Ter ia deixado uma
car ta para você, dizendo que você é necessár io nessa luta . Ela t er ia pedido a você para
aceitar quando fosse chamado. Lorde Rahl precisa de você. Eu estou chamando você.
— Você sabe da carta? — Friedr ich perguntou enquanto levantava mais
uma vez.
— É uma das poucas co isas preciosas que sei nesse assunto . Pela
profecia , eu sei que é você quem deve ir . Mas deve fazer isso por sua própr ia vontade .
Estou convocando você para que faça isso.
Fr iedr ich ba lançou a cabeça , dessa vez com mais convicção. — Não sou aquele que deve fazer isso . Você não entende. Tenho medo de
que eu simplesmente não me importe ma is .
Nathan t ir ou a lgo que estava emba ixo da capa . Ofereceu a ele. Então Fr iedr ich viu que era um pequeno livro.
— Pegue isso. — o mago ordenou , sua voz r epent inamente cheia de
autor idade.
Fr iedr ich pegou, des lizando os dedos pela capa antiga de couro enquant o
270
inspecionava palavras douradas em a lto r elevo . Havia quatro palavras na capa , mas
Fr iedr ich nunca t inha visto aquela l íngua .
— Esse livro é da época de uma grande guerra , há milhares de anos. —
fa lou Nathan. — Só descobr i ele faz pouco tempo no Palácio do Povo após uma
busca fr enét ica entr e os milhares de tomos lá . Ass im quee o loca lizei , vim correndo
até aqui. Não t ive tempo de traduzi - lo, então não sei ao menos o que está escr ito nele . — Está todo escr ito em um idioma diferente .
Nathan assent iu. — Alto D'Haran, uma língua que a judei a ens inar para Richard. É
vitalmente importante que ele r eceba esse l ivro .
— Richard?
— Lorde Rahl.
O modo como ele falou aquelas duas palavras causou um ca lafr io em Friedr ich.
— Se você não leu ele , como sabe que é o l ivro cer to?
— Pelo t ítulo , a li, na fr ente.
Fr iedr ich passou os dedos levemente sobre as mister iosas pa lavras . O
dourado ainda estava bom depois de todo esse tempo . — Posso perguntar o t ítulo do livro ?
— Os Pilares da Cr iação .
271
C A P Í T U L O 4 1
Oba abr iu os olhos , mas por alguma razão isso não pareceu ajudar ; ele não conseguia enxergar . A surpresa deixou ele t enso.
Estava deitado de costas , sobre algo parecido com rocha áspera fr ia . Era um
completo mistér io para ele onde podia estar ou como t inha chegado ali , mas sua pr imeira e ma is importante pr eocupação era que t ivesse de algum modo f icado cego .
Tremendo da cabeça aos pés , Oba piscou, t entando clarear sua visão, mas ainda não
conseguiu enxergar . Um pensamento p ior a inda foi que rea lmente iniciou o pânico dele : começou
a imaginar se estava de volta no cercad o.
Ele temeu mover -se e provar que a sua suspeita era verdadeira . Ele não
sabia como elas t inham feito isso , mas sentiu desespero que aquelas tr ês mulheres cúmplices. . . as incômodas irmãs feit iceiras e sua mãe lunát ica. . . de alguma maneira
t ivessem conseguido trancá-lo novamente em sua escura pr isão de infância .
Provavelmente elas est iveram conspirando de além dos seus túmulos , e durante o sono dele, elas atacaram.
Paralisado por sua condição, Oba não conseguia organizar os pensamentos .
Mas então, ele ouviu um barulho. Virou os olhos em dir eção ao som e viu movimento. Ele percebeu quando as coisas entraram em foco que afina l de contas, era
apenas alguma sala escura e não seu cercado. O alívio espalhou -se através dele,
seguido por desgosto. O que ele estava pensando? Ele era Oba Rahl. Era invencível.
Servir ia muito bem a ele lembrar disso . Embora est ivesse aliviado em saber que não era o que havia temido
inicia lmente, a prudência o manteve cauteloso; o lugar parecia estranho e per igoso .
Concentrou-se, t entando lembrar o que t inha acontecido e como podia ter acabado em um lugar fr io e escuro como esse, mas isso não lhe ocorreu.
Sua memór ia estava toda nublada , apenas uma coleção de impressões
aleatór ias; grande tontura , for te dor de cabeça , fraqueza profunda e náusea , ser
carregado, mãos em toda par te nele, luz machucando seus olhos, escur idão. Ele sent ia -se cansado e dolor ido.
Alguém a li per to toss iu . De outra dir eção, um homem grunhiu para ele
ordenando que ca lasse a boca . Oba jazia imóvel como um leão da mo ntanha, seus músculos tensos . Concentrou-se em r ecompor os sentidos , deixando seu olhar varrer a
sala escura cuidadosamente . Ela não estava completamente escura , como ele t emera
inicia lmente. Na parede oposta a ele uma luz fraca , possivelmente uma luz bruxuleante de vela , entrou por uma pequena aber tura quadrada. Havia duas l inhas
ver t ica is na aber tura .
A cabeça de Oba ainda latejava , mas estava muito melhor do que antes . Ele
lembrou, então, o quanto est ivera doente. Fazendo um retrospecto, ele percebeu qu e não t inha ao menos compreendido naquele momento o quanto est ivera verdadeirament e
ruim.
Quando garoto, t ivera febre, uma vez. Isso t inha sido parecido com aquela vez, ele supôs, uma febre. Provavelmente ele pegou isso ao vis itar Althea, a t err ível
feit iceira do pântano.
Oba sentou, mas isso fez ele sent ir -se tonto, então ele r ecostou contra a parede. Era de rocha áspera , como o chão. Esfregou suas fr ias pernas r ígidas , e então
esticou as costas . Esfr egou as mãos nos olhos , t entando banir a pers istente név oa em
sua cabeça . Viu ratos , os bigodes balançando, farejando pela borda da parede. Oba
estava faminto, independente do fedor rançoso do lugar . Ele cheirava a suor , ur ina e algo p ior .
— Vejam, o grande idiota está acordado. — a lguém do outro lado da sala
falou . A voz era grossa e zombeteira .
272
Oba espiou e viu homens olhando para ele . No tota l, havia cinco outros na
sala junto com ele. Eles pareciam um grupo horroroso. O homem que t inha fa lado, no
canto à dir eita , era o único outro homem sentado além de Oba. Estava encostado no
canto como se fosse o dono dele. Seu sorr iso sem humor mostrava que os dentes qu e não estavam faltando eram bastante tor tos .
Oba olhou ao redor para os outros quatro homens observando ele .
— Todos vocês parecem cr iminosos. — e le disse .
Risos ecoaram pela sala .
— Todos nós estamos sendo perseguidos injustamente. — o homem no
canto fa lou.
— S im. — a lguém mais concordou . — Nós estávamos cuidando de
nossos assuntos quando aqueles guardas nos pegaram e nos jogaram aqui dentro por
nada. Eles nos trancaram como se fôssemos cr iminosos comuns .
Mais r isadas ecoaram. Oba não achava que gostava de estar em uma sala com cr iminosos . Ele sabia
que não gostava de f icar trancado em uma sala .
Isso parecia demais com o cercado dele . Uma rápida inspeção provou que a
suspeita dele era verdadeira , seu dinheiro desaparecera . Do outro lado da sala , por baixo da f issura na porta , um rato observava com seus olhinhos de rato .
Oba desviou os olhos do rato, para aquela aber tura com a luz . Então ele viu
que as duas linhas eram barras. — Onde nós estamos?
— Na pr isão do Palácio , seu grande idiota . — falou o ―dentes tortos‖ . —
Parece um prost íbulo adequado para você ?
Todos os outros homens r iram com a piada dele .
— Talvez do t ipo que ele vis ita. — um deles disse , e o r esto deles r iu
ma is alto ainda . De umlado, outro rato observava .
— Estou faminto . Quando eles irão nos alimentar ? — Oba perguntou.
— E le está faminto. — um dos homens em pé falou com escárnio na
voz . Ele cuspiu com desgosto. — E les não nos alimentam a não ser que sintam
vontade . Pr imeiro você tem que passar muita fome .
Outro homem agachou na frente dele . — Qual é o seu nome?
— Oba.
— O que você fez para ser jogado aqui , Oba? Roubou a virgindade de
uma velhinha ?
Os homens r iram junto com ele . Oba não achou que o homem era engraçado.
— Não fiz nada de errado. — ele disse .
Não gostava desses homens . Eles eram cr iminosos . — Então , você é inocente, não é?
— Não sei porque eles me co locar iam aqui .
— Ouvimos uma co isa diferente. — o homem agachado na frente dele
falou .
— S im, — o guardião do canto concordou . — ouvimos os guardas
conversando , dizendo que você bateu em um homem até a morte com as mãos nuas .
Oba fez uma careta com verdadeira surpresa .
— Porque eles me co locar iam aqui por isso ? O homem era um ladrão. Ele
me deixou em um lugar desolado para morrer depois que me roubou . Ele apenas
recebeu o que merecia .
— É o que você diz , — ―dentes tortos‖ fa lou . — Ouvimos que
provavelmente fo i você quem o roubou .
— O quê? — Oba estava incrédulo, assim como indignado. — Quem disse
isso?
273
— Os guardas. — veio a resposta .
— Então eles estão ment indo. — Oba ins is t iu. Os homens começaram a r ir
novamente. — Clovis era um ladrão e um assassino.
As r isadas foram interrompidas . Ratos ficaram imóveis e levantaram os
olhos. Eles farejaram o ar , seus focinhos ba lançando. O guardião do canto sentou ma is er eto.
— Clovis? Você disse Clovis? Está falando do homem que vendia
Amuletos? Oba cerrou os dentes com a lembrança . Ele quer ia poder bater em Clovis u m
pouco ma is .
— Esse mesmo . Clovis, o vendedor ambulante. Ele me roubou e me deixou
para morrer . Eu não matei ele, apliquei justiça . Devia ser recompensado por isso. Eles
não podem me prender por administrar justiça em Clovis . . . ele mereceu isso por seus
cr imes. O homem no canto levantou . Os outros aproximaram-se.
— Clovis era um de nós , — falou ―dentes tortos‖ . — era um amigo
nosso .
— Verdade? — Oba disse. — Bem, t ransformei ele em uma massa
sangrenta. Se eu t ivesse tempo, t er ia cor tado alguns pedaços dele antes de esmagar sua
cabeça.
— Muito corajoso , para alguém tão grande, quando está batendo em u m
homem pequeno e corcunda que está sozinho. — um dos homens fa lou devagar .
Outro dos homens cuspiu nele. A raiva de Oba ganhou vida . Tentou pegar
sua faca , mas descobriu que ela não estava al i. — Quem pegou minha faca? Quero ela de volta . Qual de vocês ladrões
roubou minha faca? — Os guardas pegaram. — ―dentes tortos‖ disparou . — Você realmente
é um idiota , não é?
Oba olhou fur ioso para o homem parado no centro da sala , punhos
abaixados, os dentes tor tos dele fazendo os lábios parecerem inchados . O peito
poderoso do homem levantava e abaixava a cada r espiração . Sua cabeça raspada fazia
ele parecer um cr iador de problemas . Ele deu outro passo em dir eção a Oba. É isso que você é. . . um grande idi ota . Oba, o idiota .
Os outros r iram. Oba fervia de raiva enquanto escutava a voz que o ir r itava .
Queria cor tar as línguas desses homens e então trabalhar um pouco neles. Oba prefer ia fazer coisas assim com mulheres , mas esses homens também estavam merecend o. Ser ia
diver t ido aproveitar o t empo e observar eles gemendo , fazer eles gr itarem, ver a
expressão nos olhos deles enquanto a morte entrava em seus corpos em convulsão . Quando os homens aproximaram-se ao r edor dele, Oba lembrou que não
t inha sua faca , então não poderia t er o t ipo de diversão que ter ia gostado . Precisava
pegar sua faca de volta . Estava cansado desse lugar . Queria sair .
— Levante , Oba, o idiota . — rosnou ―dentes tor tos‖ .
Um rato corr eu na fr ente dele. Oba bateu com uma das mãos na cauda del e.
O rato puxou e contorceu , mas não conseguiu escapar . Oba agarrou a coisa peluda com sua outra mão. Ele agitou-se, contorcendo de um lado para outro , t entando fugir , mas
Oba estava segurando bem f irme.
Quando levantava , ele arrancou a cabeça do rato com uma mordida . Quando
estava completamente em pé, uma cabeça mais alto do que ―dentes tor tos‖ , ele olhou com raiva dentro dos olhos dos homens ao r edor . O único som era de ossos par tindo
enquanto Oba mast igava a cabeça do rato.
Os homens r ecuaram. Oba, ainda mast igando, foi a té a por ta e espiou para fora da aber tura com
barras. Viu dois guardas parados na interseção de um corr edor próximo , conversando
baixinho.
— Vocês aí! — e le gr itou . — Houve um engano ! Preciso falar com
274
vocês !
Os dois homens f izeram uma pausa na conver sa .
— Oh, é mesmo? Qua l foi o engano? — um deles perguntou .
O olhar de Oba moveu-se entr e os dois , mas não era apenas o olhar dele. O
olhar da coisa que era a voz também observava de dentro dele .
— Eu sou irmão de Lorde Rahl.
Oba sabia que estava dizendo em voz alta aquilo que jama is dissera para um
estranho, mas sent iu-se compelido a fazê- lo. Estava um tanto quanto surpreso em
ouvir a si mesmo cont inuar enquanto todos olhavam para ele . — Estou preso injustamente por aplicar just iça em um lad rão , como é
meu dever . Lorde Rahl não aceitará essa falsa pr isão. Exijo fa lar com meu irmão. —
Oba olhou f irme para os dois guardas . — Vão buscá- lo !
Os dois p iscaram diante do que viram nos olhos dele . Sem mais uma
palavra , eles par tiram. Oba olhou de volta para os homens trancados com ele. Enquanto encarava os
olhos de cada um dos homens , ele mast igou uma pata traseira do rato mole . Eles
afastaram para ele passar enquanto mast igava , pequenos ossos de rato estalando, estalando, esta lando.
Olhou através da aber tura novamente, mas não viu ma is ninguém. Oba
suspirou. O Palácio era imenso. Poder ia levar algum tempo antes que os guardas retornassem para deixá -lo sair .
Os homens na sala com ele r ecuaram s ilenciosamente, para fora do caminho,
enquanto Oba voltava para seu lugar encos tado na parede de fr ente para a por ta e
sentava . Eles f icaram observando. Oba olhava de volta enquanto arrancava outro pedaço do rato com os dentes do lado da sua boca .
Todos estavam fascinados com ele , ele sabia . Ele era quase da r ea leza.
Talvez ele fosse a r ealeza ; ele era um Rahl. Provavelmente eles nunca viram antes alguém tão importante quanto ele , e
estavam maravilhados
— Você disse que eles não nos alimentam . — e le balançou o que
restava do rato mole diante dos olhares dele . — Eu não vou passar fome .
E le arrancou a cauda e descartou-a . Anima is comiam caudas de rato.
Dificilmente ele ser ia um anima l nojento .
— Você não é apenas um idiota , — ―dentes tortos‖ falou com uma voz
t ranquila carregada com desprezo. — você é um bastardo louco .
Oba explodiu cruzando a sala e estava com o homem seguro pela garganta
antes que alguém conseguisse ao menos gemer de surpresa . Oba ergueu o cr iminoso ―dentes tor tos‖ que guinchava, chutava, a té uma altura em que podia olhar nos olhos
dele.
Então, com um poderoso empurrão, Oba bateu com ele contra a parede. O homem f icou tão mole quanto o rato .
Oba olhou para trás e viu que os outros t inham recuado contra a parede
oposta . Deixou o homem escorregar até o chão, onde ele gemeu enquanto esfr egava a
par te de trás da sua cabeça raspada . Oba perdeu o inter esse. Tinha coisas ma is importantes para pensar do que arrancar o cérebro desse homem , mesmo que ele foss e
um cr iminoso.
Ele voltou para seu lugar e deitou na pedra fr ia . Esteve doente e podia não estar completamente r ecuperado; t inha que cuidar de s i mesmo. Precisava do seu
descanso.
Oba levantou a cabeça .
— Quando eles vierem, me acordem, — falou para os quatro homens
que ainda observavam silenciosamente .
Ele achava diver t ido ver como eles estavam fascinados por ter em a nobreza em seu meio. Mesmo ass im, eles eram cr iminosos comuns ; ele providenciar ia para que
fossem executados .
275
— Tem cinco de nós e você está sozinho , — um dos homens disse . — o
que faz você pensar que acordará outra vez depo is que fechar os o lhos? — não
havia como não reconhecer a ameaça na voz dele .
Oba sorr iu para ele.
A voz sorr iu junto com ele . Os olhos do homem f icaram arregalados . Ele engoliu em seco e r ecuou até
que seus ombros bateram na parede; então ele des lizou para o lado. Quando chegou ao
canto ma is distante, ele escorregou até o chão e abraçou os joelhos bem encostados ao corpo.
Gemendo, lágr imas descendo pelas bochechas , ele virou o rosto e escondeu
os olhos atrás de um ombro trêmulo.
Oba encostou a cabeça no braço est icado e fo i dormir .
276
C A P Í T U L O 4 2
Passos vindo além da porta acordaram Oba de sua soneca . Ele abr iu os olhos, mas não se moveu ou fez qualquer som. Os homens estavam espiando lá fora
pela aber tura na porta .
Quando os passos distantes soaram como se est ivessem começando a f icar ma is próximos, todos, a não um homem, recuaram. O homem permaneceu na porta ,
montando guarda . Ele est icou na ponta dos pés , segurando as barras, e pr essionou o
rosto bem per to, t entando conseguir uma visão melhor do corr edor . Ao longe, Oba podia ouvir o som metálico e chiados de portas sendo destrancadas e aber tas . O
homem na porta cont inuou imóvel durante um tempo enquanto observava , então de
repente ele r ecuou.
— E les dobraram para esse lado.. . estão vindo para cá. — e le sussurrou
para os outros .
Todos os cinco homens juntaram-se no lado ma is distante da sala . Sussurros passaram entr e eles .
— Mas e se ao invés d isso uma Mord-Sith. — um dos homens
sussurrou .
— Não faz diferença para nós , — outro homem falou . — eu sei a lguma
co isa sobre elas . Sua magia funciona para capturar pessoas com o Dom. Isso as
protege da magia , não de músculos .
— Mas a arma delas ainda funcionará em nós. — o primeiro falou .
— Não se todos nós atacarmos e t irarmos dela . — veio o sussurro
ins istente em resposta . — Tem cinco de nós . Somos ma is for tes e em ma ior
número.
— Mas e se. . .
— O que você acha que eles farão conosco ? — um dos outros sussurrou
com uma voz zangada . — Se não aproveitarmos essa chance , estaremos mortos
aqui dentro de qualquer jeito. Não vejo que outra chance nós temos . Eu digo para
fazermos isso e fugirmos .
Cada um dos homens assent iu concordando . Satisfeitos, eles endir eitaram os corpos e foram para difer entes par tes da sala , fazendo parecer como se t ivessem
relação alguma uns com os out ros. Oba sabia que eles estavam tramando algo.
Um homem deu uma rápida checada na aber tura outra vez , então afastou-s e
da porta . Um dos outros homens chegou per to e empurrou Oba com o lado da bota . — E les vo ltaram . Acorde. Está ouvindo?
Oba resmungou, fingindo estar com sono. O homem cutucou com o pé outra vez .
— Você quer ia que chamássemos quando eles vo ltassem . Acorde, agora.
E le afastou quando Oba est icou-se, bocejando e espreguiçando para fingir
que estava acordando. Os homens, todos exceto aquele que já t inha visto ma is do que
desejava nos olhos de Oba, olharam na dir eção dele antes de escolherem os locais para
pos icionarem-se. Enquanto eles aguardavam, assumiram poses r elaxadas , tentando parecerem despreocupados.
Na passagem, duas pessoas conversavam em palavras que Oba mal conseguia
dist inguir , mas ele podia ouvir suas vozes suficientemente bem para dizer que a br eve conversa deles não era mais do que trabalho . Finalmente os passos pararam logo do
outro lado da porta . Uma chave girou na fechadura . O som do tr inco quando foi
puxado ecoou através do corredor . Os homens lançaram rápidos olhares para a por ta . Do lado de fora , um homem grunhiu com o esforço de um for te puxão . A porta raspou
enquanto era aber ta , deixando entrar mais luz .
277
Oba estava surpreso em ver a silhueta de uma mulher no portal .
Do lado de fora , no corredor , o grande gua rda com ela usou a vela de um
suporte na parede para acender sua lamparina . Enquanto a mulher f icava parada no
portal, olhando casualmente para os homens de cada lado , o guarda levou a lamparina para dentro da sala e pendurou-a na parede de um lado. A lamparina lançou uma luz
bruxuleante nos rostos dos homens e r evelou a t err ível r ealidade impenetrável dos
l imites da sala de pedra . Então Oba também viu como o grupo de homens t inha uma aparência
horr ível e verdadeiramente ma ligna . Com astutos olhos de anima is cint i lando das
sombras, todos eles observavam a mulher . Na fraca luz da lamparina , Oba viu que ela estava usando a roupa ma is
estranha que ele já t inha visto. . . uma roup a vermelha de couro colada . Alta e com
belas formas, ela usava seu longo cabelo louro em uma trança. Algo balançou em uma
fina corr ente em volta do seu pulso dir eito quando ela descansou a mão no quadr il . Embora ela não fosse ma is alta do que os homens , apenas sua presença dominant e
fazia ela parecer grandiosa , como a lguma fúr ia austera que vinha ju lgar os vivos em
suas últ imas horas . A expressão dela era tão sombria e carregada de desprezo quanto qualquer
uma que a mãe de Oba já t inha mostrado.
Mas Oba ficou ainda ma is surpreso em ver ela sina lizar com um moviment o casual da mão, dispensando o guarda que havia destrancado a por ta . Se isso
surpreendeu Oba, não pareceu abalar o guarda . Após uma últ ima olhada para os
homens ao redor , ele fechou a pesada porta atrás de s i e trancou -a. Oba conseguiu
ouvir as botas do guarda contra o chão de pedra enquanto ele par tia descendo o corredor .
O fr io escrutínio da mulher varreu os homens em volta , avaliando cada um,
ignorando cada um, até que fina lmente o olhar dela ca iu sobre Oba. Seu olhar penetrante estudou cuidadosamente o rosto dele .
— Quer idos espír itos . . . — ela sussurrou para si mesma por causa
daquilo que viu nos o lhos dele .
Olhos.
Oba sorr iu. Sabia que ela reconheceu que ele estava falando a verdade sobr e
a sua paternidade. Ela conseguiu ver nos olhos dele que ele era o f i lho de Darken Rahl.
Olhos.
Subitamente a compreensão encaixou -se para ele como uma faca em sua bainha.
E então, rosnando como anima is , todos os homens sa ltaram em direção a ela .
Oba esperou que ela gr itasse com medo , ou pedisse ajuda , ou pelo menos se encolhesse. Ao invés disso, ela manteve posição e encarou o ataque deles casualmente .
Oba viu algum t ipo de bastão vermelho , aquele que ele t inha visto antes
pendurado per to da mão dela , girar para dentro do punho dela . Quando o pr imeiro
homem a lcançou-a, ela enf iou o bastão cont ra o peito dele , empurrando ele de volta com um giro do pulso.
Ele caiu como um saco de feno sobre o chão de pedra .
Quase ao mesmo tempo, os outros corr eram de todas as direções em u m amontoado de braços e punhos agitados . A mulher deu um passo para o lado, evitando
sem esforço a armadilha de braços quando ela fechou -se. Quando os homens f izeram a
volta , rapidamente t entando r enovar seu ataque, ela moveu-se com fr ia graça , encontrando cada homem veloz e metodicamente , e com impactante violência .
Sem virar , ela jogou o cotovelo para trás no rosto do homem mais próximo
quando ele t entava agarrá -la por trás . Oba escutou osso estalar quando a cabeça dele
balançou para trás , lançando uma longa l inha de sangue contra a parede . O terceiro homem, de um lado, foi tocado pelo estranho bastão vermelho
dela no pescoço. Ele desabou, segurando a garganta , gr itando em um borbulhar
vermelho. Sangue escorreu de sua boca enquanto ele contor cia no chão, fazendo Oba
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lembrar da maneira parecida como a cobra no pântano t inha estremecido na morte .
Evitando outro ataque, a mulher afastou-se girando, passando por cima do homem no
chão. Quando o fez, ela golpeou for te com o ca lcanhar da bota , esmaga ndo o rosto
dele para fina lizá - lo. Enquanto movia -se, ela aplicou três golpes rápidos no pescoço do quar to
homem. Os olhos dele giraram antes que ele começasse a cair lentamente . A perna
dela t ir ou o apoio dos pés dele , fazendo ele cair de cara . A testa dele beijou o chão de pedra com um esta lo horr ível .
A economia de movimentos dela , a fácil evasão f lu ida seguida de um veloz e
brutal contra -ataque, era algo fascinante de observar . O últ imo homem saltou sobre ela com todo seu peso por trás do ataque . Ela
deu um giro, acer tando com a costa da mão no rosto dele com tanta força que fez ele
girar como um pião. Ela o segurou pelo cabelo atrás da cabeça , fez ele curvar , e com
um golpe daquele estranho bastão vermelho nas costas , fez ele ca ir de joelhos . Era o ―dentes tor tos‖ . Ele gr itou ma is alto do que Oba já t inha conseguido
fazer alguém gritar . Oba estava admirado com a habil idade dela em causar dor . Ela
segurou ―dentes tor tos‖ pelo cabelo , de joelhos diante dela , enquanto ele gr itava em desesperada agonia , implorando para ser l iberado enquanto tentava sem efeito afastar -
se dela . Com um joelho nas costas , junto com o bastão vermelho , ela curvou a cabeça
para trás para controlá - lo tão facilmente quanto se ele fosse uma cr iança . E então, enquanto ela olhava de for ma bastante deliberada dentro dos olhos
de Oba, pressionou o bastão vermelho contr a a base do crânio do homem . Os braços
dele agitaram de uma forma louca enquanto todo o seu corpo convuls ionava tão
violentamente quanto se ele t ivesse s ido atingido por um r aio. Ele f icou mole, sangu e escorrendo dos ouvidos . Terminando com ele , a mulher soltou o punho do cabelo dele
e deixou ele cair para fr ente no chão de pedra . Estava claro para Oba pela forma
flácida com que ele caiu que ele já estava morto e não sent iu o pesado impacto contra a rocha.
Tudo estava acabado no que não parecia ser ma is do que cinco batidas de
coração, uma para cada homem morto. Sangue por toda par te cint i lava na luz da
lamparina . Todos os cinco homens jaziam espalhados pela sala em estranhas pos ições. A mulher no couro vermelho não estava ao menos ofegante .
Ela caminhou aproximando-se.
— S into desapontá- lo , mas você não escapará dessa tão facilmente .
Oba sorr iu. Ela quer ia ele.
Ele esticou a mão e agarrou o seio esquerdo dela .
Com uma careta de fúr ia , ela encostou o est ranho bastão vermelho dela no topo do ombro dele, ao lado do pescoço.
Oba est icou a outra mão e agarrou o outro seio dela . Ele aplicou nos dois
um f irme aper to enquanto sorr ia para ela . — Como você não.. .
E la ficou em silêncio q uando alguma profunda compreensão inter ior
repent inamente dominou sua expressão .
Oba gostava dos seios dela . Eram tão bons quanto qua isquer outros que já
t inha segurado. Ainda assim, ela era uma mulher bastante incomum. Teve uma sensação de que aprender ia muitas coisas novas com ela .
O punho dela surgiu do nada com velocidade morta l .
Oba segurou-o na palma da mão. Cerrou os dedos bem f irme em volta do punho dela , aper tando enquanto torcia ele para trás , fazendo ela girar de modo que sua
costa ficou arqueada e os ombros press ionados contra ele . Ela enterrou o cotovelo
l ivr e na dir eção do estômago dele , mas ele estava esperando por isso e segurou o antebraço dela , usando o impulso para curvá -lo atrás dela , e assim poder segurá -lo
com os dedos da outra mão que já estavam segurando o outro braço dela .
Isso o deixou com uma das mãos l ivr e para sent ir as delícias da forma
feminina dela . Ele deslizou sua mão l ivr e pela fr ente da cintura dela , entrando por baixo do couro. Ela contorceu com toda sua força , tentando liber tar -se. Ela sabia
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como usar uma alavanca para tentar escapar do abraço de um oponente , mas sua força
não chegava per to da necessár ia para a tarefa .
Oba enfiou a mão descendo pela fr ente da ca lça de couro aper tada , sent indo
a carne nua dela . A raposa enf iou o ca lcanhar na canela de le. Oba r ecuou, gr itando,
conseguindo apenas cont inuar segurando ela . Mas então ela deu um giro, mergulhou
por baixo dos braços dele , e rompeu a pegada dele. Rápida como uma piscada , ela estava l ivr e.
Ao invés de correr , ela usou o impulso pa ra golpear no lado do pescoço
dele. Oba foi capaz de b loquear parcia lmente no últ imo instante poss ível , mas
isso ainda doeu. Mais do que isso, deixou ele fur ioso. Ele estava cansado de fazer
joguinhos com gent i leza . Segurou o braço dela , torrcendo-o até ela gr itar .
Pr imeiro ele fez um movimento com a perna para t irar o apoio dos pés dela , então lançou todo o seu peso sobre ela . Oba lutou ferozmente com ela quando eles
bateram no chão, pousando por cima dela , arrancando o ar dos seus pulmões . Antes
que ela conseguisse r espirar , ele ap licou um bom soco no estômago dela . Ele conseguiu ver nos olhos dela o quanto isso a machucou .
Ele ver ia muito ma is nos seus olhos antes de terminar com ela .
Enquanto eles lutavam no chão, Oba t inha a clara vantagem, e usou-a. Começou a rasgar as roupas dela .
Ela não estava com nenhuma intenção de tornar a coisa fácil , e lutou com
tudo que t inha . Porém, a luta dela era inesperada na exper iência de Oba. Ela não
lutava para escapar , como outras mulheres faziam. Ao invés disso, ela lutava para machucá- lo.
Então Oba soube, o quão desesperadamente ela o quer ia .
Ele pr etendia dar a ela a satisfação que ela buscava , dar a ela aquilo que ela nunca t inha conseguido de qua lquer homem antes .
Os dedos poderosos dele puxaram a p ar te super ior da roupa de couro dela ,
mas ela estava cilhada bem f irme em volta do abdômen dela com um grosso cinto . A
costa da roupa estava coberta por uma teia de t iras e f ivelas . Ela também era for te demais para rasgar . Oba conseguiu, ao invés disso, rasgar a roupa nas costelas . A
visão da carne dela o deixou louco. Ele lutou contra as mãos dela , os pés dela , a t é
mesmo sua cabeça enquanto ela tentava acer tar o rosto dele. Independente dos melhores es forços dela , ele conseguiu segurar e abaixar a
par te infer ior da roupa aper tada dela parcia lmente sobre a curva dos quadris dela . Ela
lutou ma is violentamente ainda , tentando todos os movimentos que podia para machucá- lo. Ele podia sent ir que ela o quer ia tanto que ma l estava conseguindo
controlar a si mesma .
Enquanto ele devotava sua atenção em tentar arrancar a par te de ba ixo da
roupa dela , os dentes dela agarraram o outro antebraço dele . O choque da dor o deixou r ígido. Ao invés de r ecuar , ele empurrou o braço nos dentes dela , batendo com a par te
de trás da cabeça dela contra a rocha . O segundo impacto contra o chão de pedra t ir ou
uma boa par te da força de luta dela e ele conseguiu soltar o braço. Oba não quer ia que ela f icasse inconsciente . Quer ia ela acordada . Ele
observou os olhos dela quando rolou para c ima dela , forçando o joelho entr e as coxas
dela , e f icou feliz em ver pelo modo como ela cerrou os dentes , o modo como seus olhos acompanhavam os dele, que ela r ealmente estava consciente da sua presença .
O conhecimento fazia par te da experiência . Era importante que ela est ivesse
consciente daquilo que estava acontecendo com ela , das transformações que tomaria m
lugar em seu corpo vivo. Consciente da morte espreitando bem per to , esperando, observando. Era essencia l para Oba que ele visse todas as emoções pr i ma is dela e as
sensações através dos olhos express ivos dela .
Ele lambeu o lado do pescoço dela , a trás da orelha onde os pequenos cabelos f inos pareciam suaves em sua l íngua . Os dentes dele seguiram caminho
descendo. O pescoço dela t inha um gosto del icioso . Sabia que ela gostava da sensação
280
dos lábios e dentes dele sobre ela , mas ela precisava lutar para manter as aparências ,
caso contrár io ele achar ia que ela era promíscua . Era tudo par te do jogo dela . Porém,
pelo modo como ela lutava , ele sabia o quanto ela ardia por ele. Enquanto encostava o
nar iz no pescoço dela , ele trabalhou com a outra mão para desaf ivelar a calça dela . — Você sempre quis desse jeito . — e le sussurrou roucamente , quase
delirando com seu desejo por ela . — S im, — e la respondeu , sem fôlego. — s im, você entende.
Isso era novo. Nunca antes ele est ivera com uma mulher que est ivesse
confor tável o bastante com as próprias necessidades dela para admit i- las em voz a lta . . . a não ser através de gemidos e gr itos . Oba percebeu que ela devia estar louca de
desejo para abandonar o f ingimento e confessar seus verdadeiros sentimentos . Isso fez
ele f icar maluco de fome por ela . — Por favor , — e la o fegou contra o ombro que ele pressionou na
mandíbula dela , segurando a cabeça dela contra o chão. — permita que eu ajude
você .
Isso def init ivamente era novo.
— Me ajudar?
— S im, — e la confidenciou com urgência na direção do ouvido dele .
— Permita que eu ajude você a desafivelar sua calça de modo que você fique
livre para me tocar onde eu mais preciso .
Oba estava ans ioso para satisfazer os desejos ardentes dela . Deixar ela cuidar da va liosa tarefa de abr ir as calças dele o deixava l ivr e para apalpá -la . Ela era
uma cr iatura deliciosa. . . uma companheira adequada para um homem como ele , u m
Rahl, quase um príncipe. Ele nunca teve uma exper iência maravilhosamente inesperada e ínt ima
assim. Aparent emente, saber que ele era da realeza deixava mulheres delirantes com
desejos incontroláveis .
Oba sorr iu diante da necess idade sem vergonha dela enquanto seu dedos vorazes desabotoavam a calça dele . Ele moveu o corpo para dar a ela um pouco de
espaço para trabalhar enquanto ele explorava os segredos femininos dela .
— Por favor , — e la suspirou no ouvido dele novamente quando
finalmente abr iu as calças dele. — você deixa eu segurar al i embaixo ? Por favor?
Ela estava tão excitada por ele que t inha abandonado completamente sua dignidade. Porém, ele t eve que admit ir que isso não fez ele es fr iar . Mordendo o
pescoço dela , ele grunhiu sua permissão para que ela seguisse adiante .
Oba levantou os quadr is para que ela pudesse alcançar os objetos de seu grande desejo. Ele gemeu de prazer quando ela est icou seu pequeno corpo para enfiar
a mão embaixo dele. Sent iu os fr ios dedos longos dela envolvendo suas par tes ma is
ínt imas em sua mão adorável .
Dominado por sua paixão incont ida por ela , Oba mordeu o suntuoso pescoço dela outra vez. Ela gemeu com a sensação dos dentes dele enquanto juntava
apressadamente os t estícu los dele em sua mão voraz . Ele a r ecompensar ia com a morte
ma is lenta que pudesse dar a ela . Repent inamente ela girou a mão com tal violência brusca que enquanto Oba
tremia , ele f icou cego com o choque.
O veloz raio de dor foi tão agudo que ele não conseguiu r espirar . Enquanto ele estava imobilizado momentaneamente pelo trauma, ela avançou ma is baixo e
agarrou ele com uma pegada ma is f irme. Sem pausa , ela girou a mão impiedosament e
ainda com mais força na segunda vez . Os olhos dele arregalaram quando ele
convuls ionou uma vez, levantando sobre ela , o espasmo deixando seus músculos r ígidos. A mente dele embaralhou . Não conseguia ouvir , ver , r esp irar , ou pelo menos
gr itar . Estava paralisado, enr ijecido por pura agonia .
Tudo era uma longa, feroz, dor excruciante. Isso cont inuou sem f im. A boca dele contorceu, t entando gr itar , mas nenhum som escapou. Pareceu uma eternidade
antes que sua visão borrada começasse a retornar , junto com sons misturados qu e
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encheram seus ouvidos .
De r epente a sala girou loucamente . Rolando no chão de pedra , Oba
percebeu que t inha recebido um chute no lado do corpo for te o bastante para extrair o
ar restante dele. Isso era um completo mistér io para ele . Ele bateu na parede e parou . Teve que se es forçar vár ias vezes antes de conseguir respirar . A dor pulsante em sua
lateral parecia como se uma vaca t ivesse dado um coi ce nele, mas não era nada
comparada ao inferno ardente em sua vir ilha . Então Oba viu o guarda . O homem t inha voltado. Foi ele quem t inha chutado
no lado do corpo dele. Ele, não ela .
Ela ainda estava deitada no chão , sua carne adorável exposta de uma maneira provocante.
O guarda t inha uma espada na mão. Ele ajoelhou sobre um joelho per to da
mulher , checando-a com rápidos olhares .
— Senhora Nyda! Senhora Nyda, você está bem?
Ela grunhiu quando levantava cambaleante ficando de quatro enquanto o
homem, agachado, pés afastados , observava Oba. Parecia como se ele t ivesse medo de ajudá-la , a té mesmo olhar para ela , mas ele não parecia t emer Oba. Oba estava
encostado contra a parede, r ecuperando suas forças enquanto observava os dois .
Ela não tentou cobr ir os quadr is, os seios expostos . Oba sabia que ela ainda
era um jogo para ele, mas com o guarda ali , ela não podia mostrar seus sent imentos . Ela devia estar louca de desejo por ele para tê - lo provocado tanto com o que t inha
feito.
Oba levantou-se um pouco, recuperando o fôlego, enquanto a sens ib il idade começava a retornar para suas extremidades formigantes .
Ele observou a mulher , Senhora Nyda, o guarda a chamara, levantar com
dif icu ldade.
Oba ficou imóvel, escutando a voz sussurrando para ele , enquanto observava o suor des lizar através da pele dela . Ela era divina . Ele ainda t inha muito a aprender
com uma mulher como essa . Havia prazeres indescr it íveis que estavam por vir .
Ainda r ecuperando sua força , Oba levantou, apoiado contra a parede, espiando enquanto ela usava a costa de uma das mãos para l impar sangue da boca de
forma provocativa . Com a outra mão, ela puxou sua roupa de couro, t entando cobrir -
se. Ela estava tonta , sem dúvida por causa de sua cabeça confusa pelo desejo , e não conseguia fazer as mãos tr êmulas tra balharem dir eito. Com dif icu ldade para
equil ibrar -se, ela deu alguns passos de lado. Parecia como se isso fosse tudo que ela
conseguia fazer para ficar de pé. Oba estava surpreso que os ossos dela não est ivessem
quebrados, cons iderando a br eve mas vigorosa luta de amor deles . Haver ia t empo para isso.
Sangue escorr ia das mordidas de amor no pescoço dela . Ele notou que o
cabelo louro dela estava manchado de sangue, do momento em que ele batera com a cabeça dela contra o chão de pedra . Oba lembrou a si mesmo para tomar cuidado com
sua força , caso contrár io poder ia acabar com aquilo prematuramente . Isso t inha
acontecido antes . Precisava ter cu idado; mulheres eram delicadas . Oba, a inda ofegante tentando r ecuperar o fôlego , a inda mancando por causa
da dor pulsante entr e as pernas , f ixou o seu olhar no guarda . O incr ível controle para
ficar ali tão confiante, levando em conta que ele estava na presença de um Rahl.
Os olhares deles se cruzaram. O homem deu um passo adiante. Os olhos da voz também abriram para olhar e le.
O homem congelou.
Oba sorr iu. — Senhora Nyda, — o guarda sussurrou , seus olhos f ixos , concentrados
em Oba. — acho que ser ia melhor você dar o fora daqui .
Ela fez uma careta para ele enquanto tentava levantar a roupa de couro sobre
os quadr is . Ainda estava com dif icu ldade de equil ibrar -se, e t entar colocar sua roupa
de volta no lugar não estava ajudando.
— Nós não queremos que ela vá embora. — Oba disse.
282
Os olhos arregalados do guarda f icaram observando .
— Nós não queremos que ela vá embora. — Oba fa lou de novo, em
uníssono com a voz. — Nós dois podemos aproveitá- la .
— Nós não queremos que ela vá embora . . . — o guarda repet iu .
Fazendo uma pausa em tentat iva de cobrir -se, a Senhora Nyda olhou do guarda para Oba.
— Traga ela para mim. — Oba ordenou, maravilhado com aquilo no que a
voz podia pensar , e deliciado com a simples ideia . — Traga ela aqui , e nós dois
ficaremos com ela .
A mulher , a inda instável, seguiu o olhar de Oba para o guarda . Quando viu o rosto dele, ela tentou pegar seu bastão vermelho . O guarda segurou o pulso dela ,
impedindo que ela o pegasse . A outra mão dele des lizou em volta da cintura dela . Ela
lutou contra ele, mas ele era um homem grande, e ela já estava fraca .
Oba sorr iu enquanto observava o guarda arrastar Nyda mais per to. Os dedos do homem des lizaram sobre a carne exposta dela como Oba t inha feito.
— E la parece delic iosa , você não acha? — Oba perguntou.
O guarda sorr iu e assent iu enquanto lutava com a mulher arrastando -a em
dir eção ao fundo da cela de pr isão onde Oba e a voz aguardavam.
Quando eles estavam per to o bastante , Oba esticou os braços para segurá - la .
Estava na hora dele t erminar o que t inha começado . Terminar de uma vez. Ela segurou na roupa do guarda para ter apoio . Com surpreendent e
velocidade, o corpo dela dobrou-se no meio do ar . Surgindo do nada , apenas por u m
instante, Oba viu a par te infer ior do calcanha r da bota dela voando no rosto dele como um raio. Antes que ele conseguisse r eagir , o mundo f icou escuro em meio a uma
grande explosão de dor .
283
C A P Í T U L O 4 3
Oba abr iu os olhos na escur idão. Estava dei tado de costas , em um chão de pedra . Seu rosto machucado latejava . Levantou os joelhos e confor tou sua vir i lha
dolor ida.
Aquela raposa , Nyda, mostrou ser tão ir r itante quanto qualquer mulher que
ele já conhecera . Parecia que ele estava sempre sendo atormentado por mulheres impert inentes . Todas t inham inveja dele , de sua importância . Todas estavam tentando
manter ele por baixo.
Oba também estava f icando cansado de acordar em lugares escuros e fr ios . Odiava o modo como, durante toda sua vida , ele sempre estava acordando em a lgu m
lugar confinado. Eles sempre eram muito quentes ou fr ios . Nenhum lugar em que ele
havia sido trancado jama is fora confor tável . Imaginou se a sua mãe lunát ica , ou a feit iceira ir r itante, Lathea, ou a
feit iceira do pântano irmã dela t inham alguma coisa a ver com isso . Elas eram
egoístas , e cer tamente inclinadas a desejar em vingança . Isso t inha todas as marcas de
um ato vingativo daquele tr io pomposo. Mas elas estavam mortas . Oba não estava inteiramente cer to de que a mort e
o protegia daquelas tr ês harpias . Elas eram ma lignas em vida ; provavelmente a mort e
não as ter ia reformado. Quanto ma is pensava nisso, porém, ele t inha de admit ir que isso era ma is
uma coisa feita completamente por aquela raposa vestida em couro vermelho , Nyda.
De forma muito esper ta ela havia f ingido es tar tonta e desor ientada até que o guarda
t ivesse levado ela suf icientemente per to pa ra atacar , e então ela o chutou . Ela era mesmo uma cois inha . Era dif íci l guarda r rancor contra uma mulher que o desejava
tanto assim. O pensamento de não ter Oba exclus ivamente provavelmente levou -a a
fazer isso. Ela quer ia f icar sozinha com ele. Ele imaginou que não podia culpá -la . Agora que t inha admit ido publicamente sua pos ição r eal, Oba t inha qu e
reconhecer que haver ia mulheres com paixões intensas assim que ir iam querer o qu e
ele t inha para ofer ecer . Precisava estar pr eparado para viver com as demandas de ser um verdadeiro Rahl.
Grunhindo de dor , Oba rolou o corpo. Com a juda das mãos, pr imeir o
empurrando contra o chão e depois contra uma parede , ele f inalmente conseguiu ficar
de pé. Seu próprio desconfor to apenas aumentar ia os prazeres da eventual conquista de sua concubina . Aprendera isso em a lgum luga r . Talvez a voz tenha falado para ele.
Ele viu uma pequena faixa de luz , muito menor do que a aber tura da porta
no ú lt imo lugar , mas isso fina lmente ajudou -o a recuperar os sentidos . Tateando nas paredes fr ias de pedra, ele começou a fazer uma avaliação da sa la . Quase
imediatamente chegou a um canto. Moveu sua mão para o lado a par tir do canto , pela
áspera parede de rocha , e f icou alarmado quando em pouco tempo encontrou outro canto. Com incr ível urgência , ele vasculhou as paredes e f icou horror izado ao
descobr ir o quanto a sala er a pequena . Deve ter f icado deitado est icado de um canto a
outro, pois ela não era grande o bastante para que ele deitasse de outro jeito .
O terror sufocante de um lugar tão pequeno emergiu , ameaçando dominá- lo. Não conseguia r espirar . Apertou uma das mãos na garganta , tentando
desesperadamente puxar o ar . Tinha cer teza de que f icar ia louco confinado em u m
―cercado‖ tão aper tado . Talvez não fosse Nyda, afinal de contas . Isso t inha todas as marcas de algo
feito por sua mãe ins idiosa . Talvez ela est ivesse obs ervando do mundo dos mortos ,
a legremente diss imulada , planejando como poder ia persegui - lo. A feit iceira
encrenqueira provavelmente t inha ajudado ela . A feit iceira do pântano sem dúvida t inha ofer ecido sua ajuda . Juntas, as três mulheres conseguiram agir do mundo dos
mortos e ajudaram a raposa Nyda a trancá- lo novamente em um lugar pequeno.
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Ele girou rapidamente na pequena sala , ta teando nas paredes , apavorado qu e
elas fossem aper tá -lo vindo em sua dir eção.
Ele era grande demais para ficar em uma sala pequ ena ass im onde não
conseguia ao menos r espirar . Temendo acabar usando todo o ar na sala e então sufocar lentamente, Oba atirou-se contra a por ta e espremeu o rosto contra a aber tura ,
tentando sugar o ar do lado de fora .
Gemendo com autopiedade, Oba não quer ia nada mais nesse momento do qu e bater com a cabeça de sua mãe lunát ica repet idas vezes .
Após algum tempo, ele escutou a voz aconselhando-o, acalmando-o, e
começou a r ecuperar o controle. Ele era esper to. Havia tr iunfado sobre todos aqueles que conspira ram contra ele, não importava o quanto eles fossem malignos . Ele
conseguir ia sair . Ele conseguir ia . Precisava recompor -se e agir de acordo com sua
pos ição na vida .
Ele era Oba Rahl. Ele era invencível . Oba colocou os olhos na aber tura para espiar do lado de fora , mas conseguiu
ver pouco ma is do que outro espaço escuro além. Ele imaginou se ta lvez estivesse em
uma caixa dentro de uma ca ixa , e durante algum tempo ele bateu na porta , gr itando e chorando com o terror dessa tor tura tão sinist ra .
Como eles podiam ser tão cruéis ? Ele era um Rahl. Como eles podiam fazer
isso com uma pessoa importante? Porque eles o tratar iam dessa maneira? Pr imeiro, eles o trancaram como um cr iminoso comum, junto com a escór ia da humanidade , por
fazer a coisa cer ta e ap licar just i ça para livrar a terra de um ladrão , e agora essa
perseguição horr ível .
Oba concentrou-se, focando sua mente em outra coisa . Então lembrou da expressão no rosto de Nyda quando ela olhou nos olhos dele pela pr imeira vez . Ela o
reconhecera por aquilo que el e era . Nyda conheceu a verdade, que ele era o fi lho de
Darken Rahl, apenas olhando nos olhos dele . Não era surpresa que ela o desejara tão ferozmente.
Ele era importante. Pessoas invejosas eram assim; elas quer iam estar per to
daqueles que eram grandes , e então quer iam colocá - los para baixo. Ela era invejossa .
Era por isso que ele estava trancado. . . pura inveja . Era simlples assim. Oba pensou naquela expressão nos olhos de Nyda quando ela o viu pela
pr imeira vez. A expressão de r econhecimento no rosto dela t inha acendido lembranças
que permit iram a ele juntar fragmentos estranhos . Ele f icou ava liando as coisas novas que aprendera .
Jennsen era sua irmã . Os dois eram ―buracos no mundo‖ .
Era muito ruim que ela fosse parente ; ela era sedutoramente bela . Ele achou que os cachos de cabelo vermelho dela eram bastante encantadores, mesmo qu e
estivesse preocupado que eles pudessem s ignif icar alguma habil idade mágica . Oba
suspirou enquanto a visualizava em sua mente . Ele era íntegro demais para cons iderá -
la como ama nte. Eles compartilhavam o mesmo pai , afina l de contas . Independente da aparência arrebatadora dela e o modo como pensar nela fazia seu genital acordar ,
mesmo que dolorosamente, sua integr idade não permit ir ia ta l falha de decência . Ele
era Oba Rahl, não algum anima l selvagem. Darken Rahl também era pai dela . Isso era uma maravilha . Oba não t inha
cer teza do que pensava a respeito disso . Eles compartilhavam uma ligação. Os dois
lutavam contra um mundo de pessoas invejosas que desejavam afastá - los da grandeza . Lorde Rahl envio Quads para caçá-la , então ela não encontrar ia nenhuma lea ldade ali .
Oba imaginou se ela poder ia ser uma valiosa aliada .
Por outro lado, lembrou da ans iedade nos olhos dela quando ela olhou para
ele. Talvez ela reconhecesse nos olhos dele quem ele era . . . que ele, também, era fi lho de Darken Rahl, como ela era . Talvez ela já t ivesse seus próprios planos que não
inclu íam ele. Talvez ela estivesse ir r itada com o fato de que ele ex ist ia . Talvez ela
também fosse uma adversár ia , planejando f icar com tudo só para ela . Lorde Rahl, o próprio irmão deles, quer ia manter eles por baixo porque os
dois eram importantes , isso parecia muito provável . Lorde Rahl não quer ia dividir
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todas as r iquezas que por direito per tenciam a Jennsen e Oba. Oba imaginou se
Jennsen ser ia tão egoísta . Afina l de contas , essas t endências egoístas parecia m
norma is na família . Como Oba t inha evitado esse aspecto horr ível de sua herança era
surpreendente. Oba tateou os bolsos , lembrando quando fez isso que t inha feito a mesma
coisa quando esteve na outra sala com os cr iminosos , mas seus bolsos estavam vazios .
O povo de Lorde Rahl t inha pr ivado ele de sua r iqueza antes de trancá - lo. Provavelmente pegaram para si mesmos . O mundo estava cheio de ladrões , todos atrás
da r iqueza duramente ganha de Oba .
Oba andou de um lado para outro, o melhor que podia em um lugar confinado assim, t entando não pensar no quanto ele era pequeno . O tempo todo ele
ouvia a voz aconselhando-o. Quanto ma is ele escutava , mais as coisas faziam sentido .
Mais e ma is it ens nas l istas mentais que ele mant inha começavam a encaixar . A grande
tapeçar ia de ment iras e fa ls idades que t inham afligido tanto ele conectavam -se em uma figura mais ampla . E, soluções começaram a solidif icar .
Sua mãe soubera o tempo todo, é claro, o quanto Oba r ea lmente era
importante. Ela quis mantê- lo para baixo desde o início. Tinha trancado ele no cercado porque sent ia inveja dele. Sentia inveja de seu própr io garot inho . Ela era uma mulher
doente.
Lathea também sabia , e t inha conspirado com a mãe dele para envenená - lo. Nenhuma delas t inha coragem para simplesmente acabar com ele . Elas não eram dess e
t ipo. As duas o odiavam por sua grandeza , e gostavam de fazer ele sofr er , então
parecia que desde o início o p lano delas havia sido envenená - lo lentamente. Elas
chamavam aquilo de ―remédio‖ para aliviar em suas consciências culpadas . O tempo todo, sua mãe o r ebaixava com tarefas domésticas , tratava ele com
desprezo, sobrecarregava ele com inf inito escárnio , e então enviava ele até Lathea
para buscar seu próprio veneno. Sendo o f i lho adorável que era , ele seguiu adiant e com os p lanos ma lignos delas , confiando nas palavras delas , nas instruções delas ,
nunca suspeitando que o amor de sua mãe er a uma cruel ment ira , ou que elas podia m
ter um plano secreto.
As vadias . As vadias coniventes . As duas receberam o que mereciam. A agora Lorde Rahl estava tentando escondê- lo, negar ao mundo que ele
exist ia . Oba andou de um lado para outro, pensando nisso. Havia coisa demais que ele
ainda não sabia . Após a lgum tempo, ele aca lmou-se e fez como a voz falou ; foi a té a por ta e
colocou a boca per to da aber tura . Afinal de contas, ele era invencível .
— Preciso de vocês. — e le falou dentro da escur idão além .
Não gr itou as palavras. . . não precisou gr itar , porque a voz inter ior
adicionada com a dele far ia o som propagar -se.
— Venham até mim. — e le falou dentro do vazio t ranquilo do lado de
fora da porta .
Oba estava surpreso com a calma confiança, com a autor idade, em sua própria voz. Seus talentos inf initos o surpreendiam. Dever ia ser esperado que aqueles
menos favorecidos f icassem ressent idos em relação a ele .
— Venham até mim. — ele e a voz fala ram dentro da vazia escuridão
além.
Não t inham necess idade de gr itar . A escuridão carregou as vozes deles sem
esforço, como sombras v iajando em asas de trevas. — Venham até mim. — e le disse , submetendo mentes infer ior es à sua
vontade.
Ele era Oba Rahl. Ele era importante. Tinha coisas importantes a fazer . Não podia f icar nesse lugar e par tic ipar dos joguinhos deles . Já teve o bastante dessa
besteira . Estava na hora de assumir o manto não apenas do que era dir eito seu por
nascimento, mas por sua natureza especial . — Venham até mim. — ele falou, as vozes deles f lutuando através das
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escuras fendas da profunda masmorra .
Ele cont inuou chamando, não alto, pois sabia que eles podiam ouvi - lo, não
com pressa , pois sabia que eles vir iam, não desesperadamente , pois sabia que eles
obedecer iam. O tempo passou , mas não importava , pois ele sabia que eles estavam a caminho.
— Venham até mim. — ele murmurou dent ro da escur idão, pois sabia qu e
uma voz ainda mais suave conduzir ia eles .
Longe, ele ouviu a fraca resposta de passos .
— Venham até mim. — e le sussurrou , escravizando aqueles além para que
escutassem.
Ele ouviu uma porta longe abr ir arrastando . Os passos f icaram ma is alto ,
ma is próximos. — Venham até mim. — e le e a voz sussurraram .
Mais per to a inda , ele escutou homens caminhando através de um chão de
pedra . Uma sombra na luz fraca cruzou a pequena aber tura na porta além . — O que fo i? — um homem perguntou , sua voz de forma experimental
ecoando.
— Você deve vir até mim. — Oba falou para ele.
O homem hes itou diante de uma declaração tão pura e inocente .
— Venha até mim, agora. — Oba e a voz comandaram com autor idade
morta l.
Enquanto Oba escutava , a chave na fechadura distante girou . A pesada porta
abr iu raspando. Um guarda entrou no espaço entr e as por tas . A sombra do outro guarda encheu o portal externo. O guarda chegou ma is per to da pequena aber tura onde
Oba aguardava do outro lado. Olhos arregalados espiaram lá dentro.
— O que você quer ? — o homem perguntou com uma voz hesitante .
— Nós queremos part ir , agora. — Oba e a voz disseram. — Abra a porta .
Está na hora de nós irmos embora daqui . O homem curvou-se para frente e trabalhou na fechadura até que o tr inco
recuou com um som metálico que ecoou na escuridão. A porta foi puxada para trás ,
gemendo em dobradiças enferrujadas . O out ro homem caminhou atrás dele, olhando
para dentro com a mesma expressão sem vida . — O que você gostar ia que nós fizéssemos? — o guarda perguntou ,
seus olhos não piscavam enquanto ele olhava fixamente dentro dos olhos de Oba. — Nós devemos part ir . — Oba e a voz disseram. — Vocês do is nos
guiarão para fora daqui. Os dois guardas assentiram e viraram para conduzir em Oba para longe do
―cercado‖ escuro . Nunca mais ele ser ia trancado em pequenos espaços confinados .
Tinha a voz para ajudá - lo. Ele era invencível . Estava feliz por ter lembrado disso.
Althea estava errada a respeito da voz ; ela era apenas invejosa , como todos os outros. Ele estava vivo, e a voz t inha ajudado ele. Ela estava morta . Ficou
imaginando o que ela achar ia disso .
Oba falou para os dois guardas trancarem as portas da cela vazia . Iss o tornar ia ma is provável que levar ia algum tempo antes que o seu desaparecimento foss e
descoberto. Ele t er ia uma pequena vantagem para escapar das garras gananciosas de
Lorde Rahl. Os guardas guiaram Oba através de um labir into de passagens estr eitas,
escuras. Os homens moviam-se com passos firmes , evitando aqueles corredores onde
Oba podia ouvir homens conversando a uma cer ta distância . Ele não quer ia que eles
soubessem que ele estava par tindo. Melhor se ele escapulisse sem uma confrontação . — Preciso do meu dinheiro de vo lta , — falou Oba. — vocês sabem
onde ele está?
— S im. — um dos guardas disse com uma voz morta .
Eles seguiram por por tas de ferro e avançaram por passagens com blocos de
rocha grosseiros . Fizeram a curva em uma passagem onde havia homens em celas de
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cada lado, tossindo, r esmungando, jogando pragas pelas aber turas nas por tas . Quando
eles aproximaram-se das f i las de portas , braços su jos est icaram, agarrando o ar .
Enquanto os guardas sér ios , carregando lamparinas , indicavam o caminho
descendo pelo centro do largo corr edor , homens tentavam agarrá -los, ou cuspia m neles, ou amaldiçoavam. Quando Oba passou, os homens f icaram em s ilêncio. Os
braços r ecuaram para dentro das aber turas . Sombras projetavam-se atrás de Oba como
uma capa escura . Os três , Oba e sua escolta de dois guardas , chegaram a uma pequena sala no
fundo de uma estr eita escadar ia que serpenteava . Um guarda levou Oba subindo os
degraus enquanto o outro seguia . No topo, levaram ele até uma sala trancada , e então passando por outra por ta trancada .
As lamparinas que os guardas carregavam lançavam sombras angular es
a través de f i leiras de prateleiras cheias de coisas ; roupas, armas, e vár ios per tences
pessoais , tudo desde benga las, flautas até bonecos . Oba observou as prateleiras entulhadas de coisas estranhas , agachando para olhar emba ixo, est icando-se na ponta
dos pés para checar as prateleiras super ior es . Ele conclu iu que todas essas coisas eram
tomadas de pr is ioneiros antes que eles fossem trancados . Per to do f ina l de uma f i leira , ele avistou o cabo da sua faca . Atrás da faca
estava um monte de roupas es farrapadas que ele pegara da casa de Althea para que
pudesse cruzar as Planícies Azr ith. A faca da bota também estava ali . Empilhadas na frente estavam as bolsas de tecido e couro contendo sua cons iderável for tuna .
Ele estava aliviado em ter seu dinheiro de volta . Estava mais aliviado ainda
em ma is uma vez fechar os dedos em volta do cabo l iso de madeira da sua faca .
— Vocês dois serão minha escolta . — Oba informou aos guardas.
— Para onde devemos escoltá -lo? — um perguntou.
Oba avaliou a pergunta . — Essa é minha pr imeira vis ita . Quero ver mais do Palácio.
Controlou-se para não chamá-lo de seu Palácio. Isso vir ia com o tempo. Por hora , havia outros assuntos que t inham de vir pr imeiro .
Ele os seguiu subindo por degraus de pedra , a través de corredores e
passando por interseções e vár ios lances de escadas .
Soldados em patrulha , a uma cer ta distância , viram seus guardas e pr estaram pouca atenção para o homem entr e eles .
Quando chegaram a uma porta de ferro , um de seus guardas destrancou-a e
eles e eles entraram por um corr edor além com um chão de mármore polido . Oba estava admirado com o esplendor do corredor , as colunas trabalhadas dos lados , e o
teto arqueado. Os tr ês marcharam adiante, ao r edor de vár ias esquinas i luminadas por
dramáticas lamparinas prateadas penduradas no centro de pa inéis de mármore.
O corr edor virou de novo para sair em um grande pátio de tal beleza estonteante que fez com que o corredor pelo qual eles entraram, que era o lugar mais
fino que Oba já t inha visto, fosse pouco mais do que um chiqueiro em comp aração.
Ele f icou imóvel, sua boca aber ta , enquanto ele olhava f ixamente para um lago de água a céu aber to, com árvores, árvores, crescendo do outro lado , como se fosse u m
lago de f lor esta . Exceto que ele f icava do lado de dentro , e o lago era cercado por um
pequeno cercado de mármore cor de ferrugem parecido com um banco , e o lago estava ladeado por azulejos azuis br i lhantes . Havia peixes cor de laranja des lizando através
do lago. Peixes de verdade. Peixes cor de laranja de verdade. Do lado de dentro das
paredes.
Em toda a sua vida Oba nunca t inha f icado tão maravilhado com a grandeza , a beleza , a pura majestade de um lugar .
— Esse é o Palácio? — ele perguntou para sua escolta .
— Apenas uma pequena par te dele. — um r espondeu.
— Apenas uma pequena par te. — Oba r epet iu admirado. — O r esto dele é
tão belo assim?
— Não. A ma ior ia dos lugares é muito ma ior , com telhados alt ivos , arcos, e
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mass ivas colunas entr e sacadas .
— Sacadas? Do lado de dentro?
— Sim. Pessoas em difer entes níveis podem olhar para níveis in fer ior es ,
para grandes jardins e quadrângulos .
— Em alguns níveis vendedores vendem suas mercador ias. — o outro
homem falou. — Algumas ár eas são ár eas públicas . Alguns lugares são alojamentos
para soldados , ou servos. Tem a lguns lugares onde vis itantes pod em alugar quar tos .
Oba absorvia tudo aquilo enquanto observava para as pessoas bem vest idas andando pelo lugar , para o vidro, mármore, e madeira polida .
— Depois de ver um pouco ma is do Palácio , — ele anunciou para suas duas
grandes escoltas D'Haran unifor mizados. — vou querer um quarto bastante
part icular e t ranquilo, luxuoso , prestem atenção, mas algum lugar fora do caminho
onde eu não ser ei notado. Pr imeiro vou querer comprar algumas roupas decentes e
alguns suprimentos . Vocês dois montarão guarda e gara ntirão que ninguém saiba qu e
estou aqui enquanto eu tomo um banho e aproveito uma boa noite de descanso .
— Quanto tempo montaremos guarda para você ? — o outro homem
perguntou. — Sent irão nossa fa lta se f icarmos afastados por t empo demais . Se
ficarmos ainda ma is t empo do que isso, eles irão procurar por nós e encontrarão a sua cela vazia . Então eles virão procurando você. Logo eles saberão que você está aqui .
Oba ref let iu sobre aquilo.
— Felizmente, eu posso par tir amanhã . Sent irão sua falta até lá?
— Não, — um dos dois fa lou , seus olhos vazios de tudo a não ser o desejo
de sat isfazer a vontade de Oba. — estávamos saindo no f inal de nosso turno de vigia .
Não deverão sent ir nossa falta antes de amanhã .
Oba sorr iu. A voz t inha escolhido os homens cer tos .
— Até lá , já estarei seguindo meu caminho. Mas enquanto isso, devo
aproveitar minha vis ita e ver ma is do Palácio .
Os dedos de Oba acar iciaram o cabo de sua faca . — Talvez esta noite, eu possa até mesmo gostar da companhia de uma
mulher no jantar . Uma mulher dis cr eta .
Os dois homens f izeram reverência . Antes que ele par tisse, Oba deixar ia os dois como nada mais além de uma pilha de cinzas no chão de uma passagem solitár ia .
Eles jama is contar iam a ninguém porque a cela dele estava vazia .
E então. . . bem, já era quase pr imavera , e na pr imavera , quem poder ia dizer para onde o belo poder dele poder ia seguir ?
Uma coisa era cer ta , ele t er ia que encontrar Jennsen.
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C A P Í T U L O 4 4
O des lumbramento de J ennsen estava desaparecendo. Ela estava f icando anestes ia da com a visão da inf inita extensão de homens , como alguma inundação
escura de humanidade através da terra . O vasto exército t inha transformado a larga
planície entr e as colinas em um castanho pálido . Inest imável número de tendas , carroças, e cava los estavam amontoados em meio aos soldados . O barulho da horda ,
cor tado por gr itos , assovios , o som de equipamentos , o bater de cascos , o chiado de
carroças, o ret inir r ítmico de martelos sobre aço , o r elinchar de cavalos , e até mesmo ocasiona is choros e gr itos es tranhos do que ma is parecia com mulheres para Jennsen,
podia ser ouvidos por milhas .
Era como contemplar alguma cidade impossivelmente enorme lá emba ixo ,
mas sem construções ou padrão, como se toda a ingenuidade do homem, ordem, e trabalhos t ivessem magica mente desaparecido, com as pessoas deixadas para trás
reduzidas a quase selvagens sob as nuvens negras que se r euniam, tentando lutar
contra as forças da natureza e recebendo um tempo sombrio. Essas não eram as p iores condições que Jennsen t inha visto. Várias semanas
antes e bem longe ao su l , ela e Sebastian t inham passado pelo mesmo lugar onde o
exército da Ordem Imper ial passara o inverno . Um exército desse tamanho estragava bastante a terra , mas ela ficara
chocada por causa do quanto era muito p ior quan do eles paravam por qualquer espaço
de tempo. Levaria anos antes que aquela vasta fer ida na terra fosse curada .
Pior ainda , durante o longo inverno severo , homens aos milhares f icaram doentes. Aquele lugar sombr io ser ia assombrado para sempre por uma inf in ita
extensão de túmulos dispostos ao acaso, marcando aqueles deixados para trás quando
os vivos t iveram que marchar . Era aterror izante ver ver uma perda tão surpreendent e de vidas para a doença ; Jennsen temia imaginar a carnif icina muito p ior que estava
por vir na batalha pela l iberdade.
Com o gelo f inalmente desaparecendo do chão , o solo lamacento t inha
secado e estava f irme o bastante para que o exército f ina lmente t ivesse conseguido sair daquelas horr íveis regiões de inverno , para iniciarem seu avanço em dir eção a
Aydindr il, o centro de poder em Midlands. Sebastian t inha falado para ela que a força
que eles tr ouxeram do Mundo Ant igo era tão imensa que enquanto a borda dianteira estava parando para montar acampamento , levar ia horas antes que aqueles na cau da os
alcançassem e parassem para passarem a noite . De manhã , a cabeça do grande exército
ter ia que mover -se, est icando-se, muito antes que a a outra ponta pudesse ter espaço para começar a andar .
Embora a marcha de pr imavera para o norte ainda não fosse veloz, o avanço
deles era inexorável. Sebastian falou que assim que os homens sent issem o cheiro da
presa , a pulsação deles , e o passo, ir iam acelerar . Era uma terr ível pena que a cobiça de L orde Rahl pela conquista e governo
tornasse tudo isso necessár io, que um vale pacíf ico assim fosse entr egue para homens
em guerra . Com a pr imavera , a grama f inalmente estava r etornando à vida , de modo que as colinas que erguiam-se de cada lado do vale pareciam estarem cobertas por um
tapete verde vivo.
Florestas domina vam as escarpas mais íngremes além dos vales . Ao longe, seguindo para oeste e para o norte, picos rochosos ainda exibiam pesados mantos de
neve. Nascentes ampliadas com a neve derr et ida rugiam descendo as ladeiras rochosas ,
e, ma is ao leste, desembocavam dentro de um poderoso r io que serpenteava para
dentro uma grande p lanície. A terra lá era tão negra , tão fér t i l, que Jennsen imaginou que até mesmo rochas plantadas ali poder iam cr iar raízes e cr escer .
Antes que ela e Sebast ian t ivessem encontrado o vasto r astro do exército, a
terra estava tão bela quanto qua lquer outra que Jennsen t inha visto em toda sua vida .
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Ela desejou explorar aquelas f lor estas encantadoras , e fantasiou que poder ia
alegremente passar o resto de sua vida ent re aquelas árvores . Era dif íci l para ela
cons iderar Midlands como um lugar de magia ma ligna .
Sebast ian t inha falado que aquelas f lor estas eram lugares per igosos onde feras vagavam, e onde aqueles que usavam magia espreitavam. Com as coisas qu e
estava aprendendo, ela quase f icou tentada a arr iscar . Porém, ela sabia que até mesmo
naquelas f lor estas sem rastros e aparentemente inf initas , Lorde Rahl ainda a encontrar ia . Os homens dele já t inham demonstrado sua habil idade em loca lizá - la até
mesmo nas ár eas ma is r emotas ; o assassinato de sua mãe foi apenas a pr imeira prova
disso. Desde aquele dia t err ível , os assassinos impiedosos dele de a lgum modo t inha m conseguido caçá-la através de D'Hara e metade do caminho por Midlands.
Se os homens de L orde Rahl a capturassem, eles a levar iam de volta para as
masmorras onde Sebast ian estivera pr eso, e então Lorde Rahl far ia com que ela foss e
tor turada inf initamente antes de garant ir - lhe uma morte lenta e agonizante. Jennsen não poder ia t er nenhuma segurança , nenhuma paz, enquanto Lorde
Rahl a perseguisse. Ela pretendia pegá - lo, ao invés disso, e conquistar uma vida para
si mesma. Outro grupo de sent inelas avistou ela e Sebastian cavalgando em camp o
aber to e moveu-se descendo a ladeira de seu posto de observação no topo de uma
colina para interceptá -los. Quando ela e Sebastian estavam mais per to, e os homens viram o cabelo branco espetado e a saudação casual que ele transmit iu a eles , eles
deram meia volta e subiram a colina retornando para sua fogueira no acampamento e
para o preparo do seu jantar .
Como o r esto do exército da Ordem Imper ial que ela viu , os homens t inha m aparência rude, com roupas em farrapos , couro, e peles. Descendo no largo vale ,
muitos sentavam em volta de pequenas fogueiras de acampamento do lado de fora de
pequenas tendas feitas de peles ou lonas oleadas . A ma ior ia delas pareciam ter sido montadas onde quer que seus donos t inham encontrado espaço suf iciente , ao invés de
seguindo qua lquer ordem. Montados a leator iamente entr e as t endas estavam centros de
comando locais , mesas para comida, depós itos de armas , carroças com suprimentos ,
cercados cheios de anima is para abate ou cava los , mercadores trabalhando, e at é mesmo ferr eiros trabalhando em for jas transportáveis . Espa lhados aqui e al i estavam
pequenos mercados onde homens r euniam-se para trocar ou comprar pequenas
mercadorias . Havia até mesmo homens magros agitados , raivosos, no meio das mult idões
rezando para espectadores desocupados . O que exatamente os homens estava m
rezando, Jennsen não conseguia ouvir , mas ela já t inha visto homens r ezarem. De acordo com a mãe dela , a l inguagem corporal t empestuosa profet izando danação e
prometendo sa lvação era tão inconfundível quanto imutável .
Conforme eles cavalgaram mais per to do imenso acampamento , ela viu
homens em suas tendas ocupados com t udo desde r isadas e bebedeira até o trabalho de l impeza de armas e equipamentos . Alguns homens estavam em pé formando l inhas
tor tas, os braços sobre os ombros do colega seguinte , cantando canções juntos . Outros
cozinhavam sozinhos , enquanto outros se amont oavam em áreas de a limentação, aguardando para receberem comida . Alguns homens estavam ocupados com tarefas e
cuidando de anima is . Ela viu alguns homens jogando e discut indo . O lugar todo era
sujo, fedorento, barulhento, e assustadoramente confuso. Tão desconfor tável como ela sempre sent ira -se per to de mult idões , isso
parecia ainda ma is aterror izante do que um pesadelo febr il . Descendo em direção da
massa agitada de humanidade, ela quer ia correr na dir eção oposta .
Somente a única , ardente razão dela para es tar aqui, e nada mais , a impedia de fazer isso.
Havia alcançado o limite inter ior , e cruzado ele. Tinha abraçado a
necessidade de matar e decidido com fr io cálculo deliberado fazê - lo. Não poder ia haver retorno.
Os uniformes que os soldados vest iam não eram exatamente ―uniformes‖,
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pareciam mais uma coleção desconexa de couro com espinhos, pele, cota de ma lha ,
capas de lã , e mantos su jos . Quase todos os homens corpulentos que ela estavam sem
fazer a barba , imundos, carrancudos. Era prontamente aparente porque Sebastian era
tão facilmente r econhecido e porque ninguém o desaf iara , e ainda assim ela continuava surpresa pelo modo como, sem falha , cada homem que colocava os olhos
nele fazia uma saudação. Sebastian destacava -se como um cisne entr e vermes.
Sebast ian havia explicado o quanto era dif íci l juntar um enorme exército para defender a t erra natal deles e que árdua empreitada era enviá - los em uma longa
jornada como essa . Ele disse que eles eram homens longe de casa com um trabalho
horr ível a fazer ; não ser ia poss ível esperar que eles est ivessem apresentáveis para mulheres ou que f izessem um pausa em suas batalhas de vida ou morte para ser em
educados e fazerem acampamentos l impos . Esses eram guerr eiros .
Ass im como eram os soldados D'Haran. Esses homens cer tament e não
t inham aparência nem próxima da aparência que os soldados D'Haran t inham, nem eram tão discip linados , mas ela não fa lou isso.
Entr etanto, Jennsen podia entender . Tão arduamente quanto ela e Sebastian
estiveram via jando, o t empo todo tomando precauções para evitarem os homens de Lorde Rahl cava lgando até quase ca ír em de exaustão , fr equentemente r ecuando e
trabalhando duro fazendo fa lsas tr i lhas , ela t eve pouco tempo para preocupar -se a
respeito de apresentar sua melhor aparência . Além disso, havia sido uma longa e dif íci l jornada através de montanhas no inverno . Muitas vezes ela f icava desgostosa
que Sebast ian a visse com o cabelo todo desgrenhado, quando ela estava suja e suada
como o cavalo dela e com cheiro não muito melhor .
Ainda assim, ele nunca pareceu incomodado com a frequente aparência desalinhada dela . Ao contrár io, ele geralmente parecia feliz com a mera visão dela , e
muitas vezes não quer ia outra coisa a não ser fazer o que pudesse para agradá -la .
No dia anter ior eles t inham tomado uma rota mais cur ta pelas colinas para seguirem em dir eção à cabeça do exército , e encontraram uma casa de fazenda
abandonada . Sebastian satis fizera o desejo dela de passar a noite ali , mesmo que ainda
fosse cedo para montar acampamento . Depois de banhar -se e lavar seu longo cabelo na
velha banheira no pequeno lavatór io, ela colocou água para usar na lavagem das roupas dela . Sentada diante da calorosa fogueira que Sebastian t inha feito na lareira ,
Jennsen escovou seu cabelo enquanto ele secava . Ela estava nervosa a respeito de
encontrar com o Imperador e quer ia estar apresentável . Sebastian, inclinado sobre um cotovelo, observando-a diante do br ilho bruxuleante das chamas, mostrara aquele
maravilhoso sorr iso dele e t inha falado que mesmo se ela fosse sem o banho e co m o
cabelo desgrenhado, ela ser ia a mulher ma is bonita que o Imperador já vira . Agora, enquanto eles cava lgavam pelas bordas do acampamento da Ordem
Imper ia l, o estômago dela formava nós , mesmo que seu cabelo não estivesse com eles .
Pela aparência das nuvens turbulentas que moviam-se passando pelas montanhas ao
oeste, uma tempestade de pr imavera logo estar ia sobre eles . Acima de va les distantes , raios cint i lavam pelas nuvens escuras .
Ela esperava que a chuva não chegasse para ensopar seu cabelo e o vest ido
pouco antes de encontrar com o Imperador . — Ali, — fa lou Sebast ian, curvando para frente na sela para apontar . —
aquelas são as t endas do Imperador , e aquelas são dos importantes conselheiros e
oficias dele. Não muito além, subindo o vale, estará Aydindr il. — ele olhou para lá
com um sorr iso. — O Imperador ainda não seguiu para tomar a cidade . Conseguimos
chegar emm tempo. As enormes tendas eram uma visão imponente . A ma ior era oval, seu teto
com tr ês p icos perfurado por três altos postes centrais . Os lados da tenda carregava m
painéis color idos . Estandartes e bor las pendiam das beiras . Bem a lto sobre os tr ês postes, color idas bandeiras amarelas e vermelhas chicoteavam ao vento , enquanto
longas f lâmulas est icavam-se, ondulando como serpentes aéreas . A congregação de
tendas do Imperador destacava -se entr e os alojamentos castanhos dos soldados comuns
da forma como o palácio de um Rei erguia -se sobre cabanas ao redor .
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O coração de Jennsen acelerou quando eles desceram com os cavalos
entrando no acampamento. Rusty e Pete, seus corações aler tas , bufaram mostrando seu
descontentamento em entrar em um lugar barulhento e agitado assim . Ela fez Rusty
avançar para segurar a mão de Sebastian quando ele a ofer eceu . — A sua mão está toda suada. — ele disse, sorr indo. — Não está nervosa,
está? Ela era água fervendo, um cavalo em ga lope.
— Talvez um pouco. — e la falou .
Mas seu objet ivo reforçou a vontade dela . — Bem, não f ique. O Imperador Jagang ser á aquele que f icará nervoso, ao
conhecer uma mulher tão bela .
Jennsen conseguiu sentir o rosto esquentar . Estava prestes a conhecer u m Imperador . O que sua mãe achar ia de tal coisa ? Enquanto cavalgava , ela pensou em
como sua mãe, uma jovem serva na equipe do Palácio, uma ninguém, deve ter s e
sentido quando conheceu Darken Rahl em pessoa. Jennsen poder ia , pela pr imeira vez, realmente começar a sentir empatia com a enormidade de um evento assim na vida de
sua mãe.
Enquanto ela e Sebast ian trotavam com os cavalos dentro do acampamento , homens por toda par te olhavam na dir eção de Jennsen. Grupos homens se amontoavam
para verem a mulher que entrava cava lgando . Ela viu que havia um bom número de
soldados com piques formando uma f ileira grosseira através da rota deles , contendo a
massa de homens . Ela percebeu que os guardas estavam abrin do caminho e evitando que qua isquer homens ma is animados chegassem per to demais .
Sebast ian a observava quando ela notou o modo como os soldados abr iam
caminho para eles . — O Imperador sabe que estamos chegando. — e le disse para ela .
— Mas como?
— Quando encontramos batedores alguns dias atrás , e então sent inelas esta
manhã enquanto chegávamos ma is per to , eles t er iam enviado mensageiros na fr ente
para informar ao Imperador Jagang que eu retornei, e que não estou sozinho. O Imperador desejar ia garantir a seg urança de qua lquer convidado que eu est ivess e
trazendo.
Para Jennsen parecia que os guardas estavam ali para manter em a grande massa de soldados comuns longe deles dois . Ela achou que isso era uma coisa
estranha , mas pela natureza bêbada de a lguns dos soldados, o visual rude e sorr isos
lascivos de outros , ela não podia dizer que sent ia muito por isso .
— Os soldados parecem tão. . . eu não sei. . . brutais, eu acho.
— E quando você est iver pr estes a enf iar sua faca no coração de Richard
Rahl, — Sebastian falou sem fazer pausa. — você pretende fazer reverência, dizer
por favor e obr igada para que ele veja como você é educada ?
— É claro que não, mas. . .
Ele virou os olhos azuis para ela .
— Quando aqueles brutamontes entraram na sua casa e assassinaram sua
mãe, que t ipo de homens você ter ia desejado que est ivessem lá para protegê - la?
Jennsen foi pega de surpresa .
— Sebastian, eu não sei o que isso tem a ver com.. .
— Você confiar ia que soldados bem vest idos com o couro das roupas polido
e gestos educados, como a lgum Rei pomposo ter ia desejado em uma bela festa , fossem aqueles que formassem uma últ ima barreira desesperada protegendo sua amada mãe
contra o ataque fur ioso de assassinos ? Ou você ir ia pr efer ir que homens ainda mais
brutais est ivessem montando a defesa na fr e nte de sua mãe, protegendo a vida dela ? Não ir ia querer que homens endurecidos nas ma is brutais tradições de combate ,
fossem aqueles entr e ela e aqueles homens selvagens querendo matá -la?
— Acho que entendo o que você quer dizer . — Jennsen admit iu.
— Esses homens estão fazendo esse papel para todos os seus entes quer idos
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que estão no Mundo Ant igo.
O encontro inesperado com aquela terr ível lembrança foi tão assustador , tão
doloroso, que ela t eve de se es forçar para afastar aquilo da sua mente . Ela também
sentiu-se ma is humilde com as palavras inflamadas de Sebastian. Ela estava aqui por uma razão.
Essa razão era tudo que importava . Se os homens r eunidos contra as forças
de Lorde Rahl eram rudes e desagradáveis , melhor ainda . Foi somente quando eles a lcançara m o terreno pesadamente defendido ao
redor das tendas do Imperador que Jennsen viu outras mulheres . Elas eram uma
mistura esquis ita , desde aquelas com aparência jovem até algumas que estava m encolhidas pela velhice. A ma ior ia espiava cur iosamente, a lgumas franziam a testa , e
algumas pareciam até mesmo alarmadas , mas todas observavam enquanto Jennsen
cavalgava , aproximando-se.
— Porque todas as mulheres estão com um anel no lábio infer ior ? — ela
sussurrou para Sebastian, o olhar dele varreu as mulheres per t o das tendas . — Como
um sina l de lea ldade à Ordem Imper ia l , ao Imperador Jagang. Jennsen achou que essa não era apenas uma forma estranha de mostrar
lea ldade, mas também algo per turbador . A maior ia das mulheres usavam vest idos
castanhos, a maior ia com os cabelos descuidados . Algumas estavam vest idas um pouco melhor , mas só um pouco.
Soldados pegaram os cavalos quando eles desmontaram. Jennsen acar iciou a
or elha de Rusty e sussurrou de forma confor tadora para o anima l nervoso que estava tudo bem ir com o es tranho. Ass im que Rusty aca lmara , Pete seguiu-a contente em
dir eção a área do estábulo. Afastar -se de sua companheira constante de longa data
inesperadamente fez Jennsen lembrar do quanto sent ia falta de Betty.
As mulheres afastaram ma is para o fundo enqua nto observavam, como s e t ivessem medo de chegarem per to demais . Jennsen estava acostumada com esse t ipo de
comportamento; as pessoas temiam o cabelo vermelho dela . Era um raro dia caloros o
de pr imavera , e isso havia intoxicado Jennsen com a promessa de ma is dias assim. Ela esquecera de colocar seu capuz quando eles aproximavam -se do acampamento. Então
ela começou a levantá - lo, mas a mão de Sebastian conteve o braço dela .
— Isso não é necessár io. — com um movimento da cabeça ele indicou as
mulheres. — Muitas delas são Irmãs da Luz. Não temem a magia , somente estranhos
entrando na área do Imperador .
Então Jennsen percebeu a razão para os es tranhos olhares de muitas das mulheres; elas eram dotadas e enxergavam-na como um ―buraco no mundo‖ . Seus
olhos a enxergavam, mas o Dom delas não.
Sebast ian não estar ia consciente disso. Ela nunca falou para ele exatament e o que Althea t inha explicado sobre os dotados e os descendentes de um Lorde Rahl.
Sebast ian havia , em ma is de uma ocasião, mostrado um desgosto condescendente a
respeito dos detalhes da magia . Jennsen nunca sent ira -se inteiramente confor tável falando com ele sobre os deta lhes daquilo que aprendera com a feit iceira , e das coisas
ainda ma is importantes que havia descober to por conta própria . Tudo isso já era
bastante dif ícil de encaixar na sua própr ia mente , e pareceu pessoal demais para
revelar a ele a não ser que o momento e as circunstâncias fossem cer tas . Elas nunca pareceram cer tas .
Jennsen forçou um sorr iso para as mulheres observando das sombras da
tenda. Elas responderam com um olhar sér io . — Porque o Imperador está isolado de seus homens , e sob guarda? — ela
perguntou a Sebast ian.
— Com tantos homens ass im, você nunca pode ter absoluta cer teza de qu e
um deles não é um espião, ou até mesmo um louco, que pode tentar fazer nome fer indo
o Imperador Jagang. Um ato tolo como esse pr ivar ia a nós todos de nosso grande l íder . Com tantas coisas em r isco, somos obr igados a tomar precauções .
Jennsen imaginou que podia entender . Afinal de contas , o próprio Sebast ia n
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t inha s ido um espião no Palácio do Povo. Se ele t ivesse cruzado com um homem
importante ali , podia ter causado algum dano. Os D'Harans estavam preocupados com
uma ameaça desse t ipo. Eles até pr enderam o homem cer to .
Felizmente, Jennsen conseguiu t irá -lo de lá . Como foi capaz de r ealizar uma coisa assim era par te daquilo que ela f inalmente aceitou , mas nunca conseguiu
encontrar o momento cer to para comparti lhar com Sebastian.
De qualquer modo, não achava que ele fosse entender . Provavelmente ele nem acreditar ia em algo assim.
O braço de Sebast ian envolveu a cintura dela e conduziu-a adiante em
dir eção ao dois homens enormes s i lenciosos montando guarda do lado de fora da tenda do Imperador . Parando entre os dois depois que eles o saudaram ba ixando levement e
as cabeças , Sebastian levantou a pesada cor tina coberta com ouro e meda lhões
prateados da entrada .
Jennsen nunca t inha imaginado, muito menos visto, uma tenda tão f ina , mas o que ela viu quando entrou era ma is opulento do que o lado de fora suger ia . O chão
estava inteiramente coberto com uma var iedade de r icos tapetes dispostos em todas as
dir eções. Uma var iedade de faixas decoradas com cenas exót icas e padrões elaborados def iniam o espaço. Delica das vas ilhas de vidro, f inas cerâmicas , e altos vasos
pintados repousavam sobre mesas polidas e baús pela sala . De um lado havia até uma
alta cômoda com frente de vidro cheia de de pratos p intados exibidos em suportes. Travesseiros color idos de diversos tamanhos estavam espa lhados pelo chão . Acima,
aber turas cober tas com f ina seda deixavam entrar luz . Velas aromáticas cint i lavam por
toda par te, enquanto todos os tapetes e faixas confer iam uma tranquilidade ao ar . o
lugar parecia sagrado. Havia mulheres do lado de dentro , cada uma delas usando o anel no lábio
infer ior , cu idando de suas tarefas . Enquanto a ma ior ia parecia concentrada no
trabalho, uma das mulheres , polindo uma coleção de a ltos vasos delicados de forma comedida, metódica, observava fr iamente Jennsen com o canto dos olhos . Ela era de
meia idade, com ombros largos, e usava um simples vest ido cinza escuro que chegava
ao chão abotoado até o pescoço. Seu cabelo gr isa lho e negro estava amarrado para
trás. Em maior par te, ela não parecia incomum, a não ser pelo sorr iso afetado, de autossatisfação, que parecia gravado em seu rosto. Aquela expressão causou um susto
em Jennsen.
Quando os olhos delas se encontraram, a voz surgiu, chamando o nome de Jennsen naquele sussurro assombroso, pedindo que ela se entr egasse. Por alguma
razão, Jennsen f icou momentaneamente cheia da fr ia sensação de que a mulher sabia
que a voz t inha falado. Jennsen colocou de lado a estranha ideia , decidindo que isso aconteceu apenas por causa da expressão da mulher , que transpirava uma conduta de
for te super ior idade.
Outra mulher ocupava -se es fr egando os tapetes com uma vassour inha . Outra
estava trocando as velas que estavam derr et idas . Outras mulheres. . . a lgumas cer tamente Irmãs da Luz. . . entravam e saíam apressadamente de sa las além , cuidando
da coleção de travesseiros , lamparinas, e até mesmo f lor es em vasos . Um jovem magro
vestindo apenas uma ca lça fofa de algodão t rabalhava com uma escova arrumando as bordas de tapetes dispostos diante de aber turas para salas nos fundos . A não ser pela
mulher de olhos castanhos polindo os a ltos vasos , eles estavam concentrados em seu
trabalho e ninguém par ticu larmente notou que vis itantes t inham entrado na tenda do Imperador .
O braço de Sebastian a segurava f irme enquanto ele a guiava ma is fundo
dentro da sala fracamente i luminada . As paredes e o teto moviam-se e ondulava m
levemente ao vento. O coração de Jennsen não podia ter pulsado ma is for te se ela estivesse sendo levada para sua própria execução. Quando ela percebeu que seus dedos
estavam aper tados em volta do cabo da faca para checar se ela estava l iv r e na bainha ,
fez um esforço para afastar a mão dela . Per to do fundo da sala estava uma cadeira dourada enta lhada
ornamentadamente cheia de faixas de seda vermelhas .
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Jennsen engoliu em seco quando f ina lmente conseguiu olhar para o homem
sentado ali, seu cotovelo sobre o braço da cadeira , seu queixo apoiado pelo dedão, seu
indicador repousando no lado do rosto .
Ele era um homem de pescoço grosso como o de um touro . A luz bruxuleante de velas r eflet indo na sua cabeça raspada causava a i lusão de que ele
usava uma coroa de pequenas chamas . Duas longas tranças finas de b igode descia m
dos cantos da boca dele , e outra trança cr escia do centro de seu queixo . Uma f ina corrente dourada conectava os anéis dourados em sua nar ina esquerda e na orelha ,
enquanto um conjunto de correntes muito mais pesadas com joias r epousava sobre a
fenda dos músculos em seu peito poderoso . Cada dedo carnudo t inha um largo anel . O camisa de lã de carneiro que ele usava não t inha mangas , revelando seus ombros
largos e braços musculosos . Ainda que ele não parecesse alto , sua massa musculosa
não era menos imponente.
Mas foram os olhos dele que, a despeito da descr ição prevent iva de Sebast ian, f izeram ela perder o fôlego . Nenhuma palavra poder ia t er preparado ela
para estar na presença da coisa verdadeira .
Os olhos negros dele não t inham branco algum, nenhuma ír is , nenhuma pupila , deixando apenas br ilhantes vazios negros . Mesmo assim, formas escuras
deslizavam através daqueles vazios sombrios , como nuvens de tempestade à meia
noite. Independente dele não ter ír is ou pupila , cer tamente ela não t inha dúvida de qu e ele estava olhando dir eta e atentamente para ela .
Jennsen achou que os joelhos dela dobrar iam.
Quando ele sorr iu para ela , ela t eve cer teza disso.
O braço de Sebast ian aper tou com mais f irmeza, a judando a mantê- la em pé. Ele fez uma reverência curvando o corpo.
— Imperador , fico agradecido que o Criador tenha tomado conta de você e
mant ido você em segurança . O sorr iso aumentou .
— E você também, Sebast ian. — a voz de Jagang combinava com sua
aparência , rouca, poderosa , ameaçadora . Ele soava como se fosse um homem que não
tolerava nenhuma fraqueza ou desculpas . — Faz um longo tempo. Tempo demais . Fico
feliz em tê- lo de volta comigo. Sebast ian inclinou a cabeça em dir eção a Jennsen.
— Excelência , eu trouxe uma convidada importante. Essa é Jennsen.
A despeito do braço de Sebastian em volta da cintura dela , segurando-a, ela escapuliu e caiu de joelhos por sua própria vontade antes que a tremedeira a
obr igasse. Usou a ocas ião para curvar -se para frente até que sua cabeça quase tocasse
o chão. Sebast ian não falou que ela devia fazer isso , mas ela sentiu um medo avassalador de que fosse isso que ela devia fazer . Pelo menos, isso livrou-a
momentaneamente da obrigação de olhar dent ro daqueles olhos de pesadelo.
Ela imaginou que um homem como esse,um guerr eiro que esperava prevalecer contra a força invasora de D'Hara, t inha de ser um homem de força bruta ,
comando de ferro, e feroz tenacidade. Ser o Imperador de um povo que esperava ser
salvo da sombra ameaçadora da escravidão não era um trabalho para um homem que
fosse menos do que aquele na fr ente do qual ela se ajoelhava . — Vossa Excelência , — ela disse com voz trêmula em dir eção ao chão . —
estou a seu serviço. Ela ouviu uma for te r isada .
— Vamos lá , Jennsen, não é necessár io fazer isso.
Jennsen sent iu o rosto f icando vermelho quando levantou com a jovia l ins istência e ajuda de Sebastian. Nem o Imperador , nem Sebastian, notaram o
embaraço dela .
— Sebastian, onde você encontrou uma jovem tão adoráve l?
Os olhos azuis de Sebastian a contemplaram com orgulho.
— É uma longa histór ia para outra hora , Excelência . No momento, você
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deve saber que Jennsen veio com uma importante determinação , uma que ajudará a
todos nós.
O olhar sombrio de Jagang r etornou para Jennsen de uma forma que fez o
coração dela parecer como se t ivesse subido até a garganta . Ele exib ia o ma is leve sorr iso, o sorr iso de um Imperador olhando indulgentemente para uma ninguém .
— E qual ser ia essa determinação, minha jovem?
Jennsen .
Uma imagem de sua mãe caída no chão da casa delas , sangrando, morrendo, surgiu na mente de Jennsen. Jama is esquecer ia os ú lt imos momentos preciosos de vida
da sua mãe. A tr isteza agonizante de ter que par tir sem ao menos ser capaz de cuidar
dela e enterrar o corpo de sua mãe ainda ardia em sua alma .
Jennsen .
A fúr ia emergiu para abafar qualquer nervos ismo em responder uma
pergunta do Imperador .
— Pretendo matar Lorde Rahl, — fa lou Jennsen. — eu vim pedir sua ajuda .
Em meio ao grande s i lêncio, qualquer traço de a legr ia evapor ou do rosto do
Imperador Jagang. Ele observou-a com olhos fr ios, negros, impiedosos, sua
sobrancelha erguida como um a ler ta . Esse claramente era um assunto que não t inha humor algum. Lorde Rahl invadira a terra natal desse homem, matando incontáveis
milhares do povo dele, e lançou o mundo na guerra e sofr imento .
O Imperador Jagang, o Justo, com os músculos da mandíbula f lex ionando ,
aguardou, claramente esperando que ela se explicasse . — Eu sou Jennsen Rahl, — ela falou em resposta ao olhar s ombrio dele.
Sacou a faca , segurou a lâmina no punho f irme como rocha , e ofer eceu o cabo diant e dele em seu trono, mostrando para ele a letra ―R‖ ornamentada, o s ímbolo da Casa de
Rahl.
— Eu sou Jennsen Rahl, — ela r epetiu. — a irmã de Richard Rahl. Pretendo
matá- lo. Sebastian disse que você pode fornecer alguma ajuda para esse f im. Se puder ,
eu estar ia eternamente em dívida com você . Se não puder , então diga agora , pois eu
ainda pretendo matá - lo e pr ecisar ei seguir meu caminho.
Com os cotovelos sobre os b raços de seu trono coberto por seda vermelha , ele inclinou em dir eção a ela , observando-a com seu olhar de pesadelo.
— Minha quer ida Jennsen Rahl, irmã de Richard Rahl, para uma tarefa como
essa , eu colocar ia o mundo aos seus pés . Só precisa pedir , e qualquer coisa dentro do
meu poder será seu .
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C A P Í T U L O 4 5
Jennsen sentava per to de Sebastian, obtendo confor to na presença familiar dele, embora desejasse que ao invés disso eles pudessem estar sozinhos per to de uma
fogueira de acampamento fr i tando peixe ou cozinhando feijões . Ela sent ia -se ma is
sozinha na mesa do Imperador , com servos perambulando por todo lado, do que jama is sentira-se quando estava sozinha no s i lêncio de uma flor esta . Sem Sebastian ali, r indo
e conversando, ela não sabia o que ter ia feito , como ter ia se comportado. Ela já ficava
bastante desconfor tável per to de pessoas comuns ; isso era muito ma is per turbador . O Imperador Jagang era um homem que, sem esforço, dominava f lu idament e
a sala . Ainda que ele nunca quebrasse seu graci oso, educado comportamento com ela ,
de alguma forma insondável , ele fazia com que ela sent isse que cada respirar dela
havia sido concedido apenas pela graça dele . Ele fazia r efer ência a assuntos momentosos de modo descontraído, sem perceber que estava fazendo isso, tão comuns
eram essas r esponsabil idades , tão cer to era seu governo inabalável . Ele era um leão da
montanha descansando, suave e equilibrado, a cauda balançando preguiçosamente , lambendo sua caça .
Esse não era um Imperador que estava contente em f icar sentado em
segurança , em a lgum lugar remoto, e r ecebia relatór ios ; esse era um Imperador qu e conduzia seus homens dentro da batalha . Esse era um homem que enf iava suas mãos
no muco sangrento da vida e da morte e t irava dali o que quer ia .
Embora esse parecesse um jantar extravagante para aquele que era , afinal de
contas, um exército em marcha , essas ainda eram a tenda e a mesa do Imperador , e ref let iam esse fato. Havia comida e bebida em abundância , tudo desde ave a peixe ,
carne de carneiro, vinho a água.
Enquanto servas , concentradas em suas tarefas , corr iam entrando e sa indo com bandejas fumegantes de comida belamente pr eparada , tratando-a como alguém da
realeza , Jennsen foi a t ingida por uma r epent ina amostra reviradora de estômago de
como sua mãe, uma jovem infer ior , obscura, humilde, deve ter se sent ido quando
sentava na mesa de Lorde Rahl, enquanto contemplava var iedade e abundância tão tentadoras como jama is imaginara , enquanto ao mesmo tempo tremia por estar na
presença de um homem com o poder de sentenciar a morte, sem fazer pausa em sua
refeição. Jennsen estava com pouco apet it e. Ela t ir ou delicadas t iras de carne do
suculento pedaço de porco pos icionado diante dela sobre uma grossa fatia de pão , e
beliscou enquanto escutava os dois homens conversarem. A conversa deles era tr ivia l . Jennsen sentiu que quando ela não estivesse por per to , os dois homens
ter iam muito ma is a dizer um para o outro .
Do jeito que estava , eles fa lavam de novidades e atualizavam assuntos sem
importância que aconteceram enquanto desde que Sebastian havia deixado o exército no verão anter ior .
— E quanto a Aydindril? — Sebast ian perguntou f ina lmente quando
espetava uma fatia de carne na ponta de sua faca .
O Imperador arrancou uma perna de um ganso assado . Ele p lantou os
cotovelos na borda da mesa quando inclinou para frente e gesticu lou vagamente com
seu prêmio. — Eu não sei.
Sebast ian baixou a faca . — O que você quer dizer ? Eu lembro das caracter íst icas dessa terra . Você
está apenas a um ou dois dias de distância . — a voz dele estava respeitosa , mas
claramente pr eocupada . — Como você pode marchar entrando nela sem saber o que
aguarda em Aydindr il?
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Jagang arrancou uma grande mordida da perna de ganso , o osso entr e os
dedos de ambas as mãos . Gordura escorr eu da ca rne, e dos dedos dele.
— Bem, — ele disse f inalmente, ba lançando o osso sobre o ombro antes de
atirá-lo sobre um prato. — nós enviamos batedores e patrulhas para darem uma
olhada , mas nenhum deles retornou .
— Nenhum deles? — a preocupação transpareceu na voz de Sebastian.
Jagang pegou uma faca e cor tou um pedaço de carneiro de um prato qu e
estava per to. — Nenhum. — ele disse quando espetava o pedaço de carne .
Com os dentes , Sebast ian arrancou uma mordida de sua faca e então baixou a lâmina . Descansou os cotovelos na borda da mesa e cruzou os dedos enquanto
ponderava .
— A Fortaleza do Mago f ica em Aydindr il, — f ina lmente Sebastian falou
com uma voz suave. — Eu vi, quando f iz um reconhecimento na cidade no ano
passado. Ela fica no lado de uma montanha , com ampla vista sobre a cidade.
— Lembro do seu relatór io. — Jagang r espondeu.
Jennsen quis perguntar o que era uma ―Fortaleza do Mago‖ , ms não o
bastante para romper o s i lêncio dela enquanto os homens conversavam . Além disso, aquilo pareceu auto-evidente de cer to modo, especialmente por causa do tom nefasto
da voz de Sebastian quando ele falou.
Sebast ian es fr egou as palmas das mãos .
— Então eu posso perguntar qual é o seu p lano ?
O Imperador ba lançou os dedos dando um comando . T odos os servos
desapareceram. Jennsen desejou poder ir com eles , esconder -se emba ixo do cobertor dela e ser uma perfeita ninguém outra vez . Do lado de fora , um trovão r ibombou e
ocasiona is rajadas de vento lançaram jatos de chuva contra a t enda . As velas e
lamparinas dispostas pela mesa i luminavam os dois homens e a área próxima , mas
deixavam os suaves tapetes e paredes em quase escur idão . O Imperador Jagang olhou brevemente para Jennsen antes de direcionar o
seu olhar sombrio para Sebastian.
— Pretendo entrar rapidamente. Não com todo o exército, como acredito qu e
eles estarão esperando, mas com uma força de cava lar ia pequena o bastante para ser
manobrável, e a inda assim suf icientemente grande para manter o controle da situação .
É claro que levaremos um cont ingente cons iderável de dotados . No espaço de tempo daquelas br eves pa lavras , o clima havia tornado-s e
morta lmente sér io. Jennsen sent iu que era uma testemunha si lenciosa dos pr incipais
momentos de um evento grandioso. Era assustador pensar nas vidas que pendiam no equil íbr io das palavras que esses dois homens pronunciavam.
Sebast ian pesou as palavras do Imperador durante algum tempo antes de
falar . — Você tem alguma ideia de como Aydindr il passou o inverno?
Jagang balançou a cabeça . Ele arrancou um pedaço de carneiro da ponta de
sua faca e falou enquanto mast igava . — A Madre Confessora é muitas coisas ; es túpida não é uma delas . Ela já
ter ia sabido há bastante t empo, pela dir eção de nossa pr essão, pelos movimentos qu e
ela observou, pelas cidades que já caíram, o caminho que escolhemos , por todos os relatór ios e informações que ela deve ter r eunido , que com a pr imavera eu avançarei
sobre Aydindril. Dei a eles um longo temp o para suarem enquanto pensam no seu
destino. Eu suspeito que nesse momento todos estão tremendo em suas botas , mas não acho que ela t enha decidido fugir .
— Você acha que a esposa de Lorde Rahl está lá? — Jennsen disparou
surpresa . — Na cidade? A Madre Confessora em pessoa?
Os dois f izeram uma pausa e olharam para ela . A tenda estava si lenciosa .
Jennsen encolheu.
— Perdoe-me por falar .
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O Imperador sorr iu .
— Porque eu dever ia perdoar você? Você acabou de enf iar uma faca no
ganso e chamou ele pelo nome verdadeiro. — com sua lâmina , ele gest icu lou em
dir eção a Sebastian. — Você trouxe uma mulher especia l , uma mulher com uma boa
cabeça sobre os ombros. Sebast ian es fr egou as costas de Jennsen.
— E uma cabeça muito bonita .
Os olhos negros de Jagang br ilharam enquanto ele a observava . — Sim, com cer teza . — os dedos dele pegaram azeitonas cegamente de uma
tigela de vidro. — Então, Jennsen Rahl, o que você acha de tudo isso?
Uma vez que já t inha falado, agora não podia negar -se a r esponder .
Recuperou a compostura e avaliou a pergunta .
— Sempre que eu estava me escondendo de Lorde Rahl, eu tentava não fazer
qua lquer coisa que permit isse a ele saber ond e eu estava . Tentei fazer tudo que podia
para mantê- lo cego. Talvez seja isso que eles estejam fazendo também. T entando
mantê- lo cego. — Era isso que eu estava pensando. — Sebastian disse. — Se eles estão
assustados, podem tentar el iminar qualquer batedor ou patrulha para fazer com qu e pensemos que eles são ma is poderosos do que são, e para ocultarem quaisquer p lanos
defensivos.
— E manter em pelo menos algum elemento de surpresa do lado deles. — Jennsen completou.
— Esse é meu pensamento também. — fa lou Jagang. Ele sorr iu para
Sebast ian. — É uma maravilha que você tenha trazido uma mulher assim.. . ela também
é uma estrategista . — Jagang piscou para Jennsen, então tocou um s ino para o lado.
Uma mulher , aquela com o vest ido cinza e cabelo gr isalho e pr eto pr eso para trás, apareceu em uma aber tura distante.
— Sim, Excelência ?
— Traga algumas frutas e doces para a jovem .
Quando ela fez reverência e par tiu , o Imperador f icou sér io novamente .
— É por isso que eu acredito ser melhor levar uma força menor do que ele s
cer tamente esperam, uma capaz de manobrar velozmente em r esposta a qualquer t ip o
de defesas nas qua is eles t entarem nos pega r . Eles podem ser capazes de sobrepujar
nossas pequenas patrulhas , mas não uma força cons iderável de cava lar ia e dotados . S e for necessár io, nós sempre podemos enviar mais homens para dentro da cidade . Depois
de um inverno sentados sobre os traseiros , eles f icar iam ma is do que felizes em serem
liberados. Mas estou r elutante em iniciar com aquilo que as pessoas em Aydindr i l estão esperando.
Sebast ian estava espetando distraidamente uma grossa fatia de rosbife com
sua faca enquanto ponderava . — Ela pode estar no Palácio das Confessoras . — ele r edir ecionou o olhar
para o Imperador . — A Madre Confessora pode muito bem decidir lutar fina lm ente.
— Também acho. — fa lou o Imperador Jagang. Do lado de fora , a
tempestade de pr imavera t inha aumentado, o vento fr io gemendo entr e as tendas .
Jennsen não conseguiu conter -se. — Acham mesmo que ela estará lá ? — e la perguntou para os do is
homens. — Honestamente vocês acham que ela permanecer ia lá quando sabe qu e
vocês estão vindo com um exército enorme?
Jagang ba lançou os ombros . — Não posso ter cer teza , é claro, mas entr ei em
batalha contra ela durante todo o caminho a través de Midlands. No passado, ela teve opções, escolhas, a inda que às vezes elas fossem dif íceis . Empurramos o exército dela
para dentro de Aydindr il pouco antes do inverno, então sentamos diante da porta dela .
Agora , ela e seu exército f icaram sem opções , e, com as montanhas ao redor , sem lugares para fugir em. Até mesmo ela sabe que chegará um tempo em que a opção qu e
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lhe é dada deve ser encarada . Acho que esse pode ser o lugar onde ela f inalmente va i
escolher manter pos ição e lutar .
Sebast ian espetou um pedaço da carne.
— Parece simples demais .
— É claro que parece, — Jagang disse. — é por isso que eu devo
considerar que ela pode ter decidido fazê - lo .
Sebast ian apontou para o norte com o pedaço vermelho de carne na ponta da
lâmina dele. — Ela pode ter r ecuado para as montanhas , e deixado apenas homens
suficientes para derrubar batedores e patrulhas , para manter você cego, como Jennsen
suger iu. Jagang balançou os ombros .
— Poss ivelmente. Ela é uma mulher imposs ível de pr ever . Mas está ficando
sem lugares para onde r ecuar . Cedo ou tarde não r estará mais t err eno. Esse pode não ser o plano dela , mas, pensando novamente, pode ser assim mesmo.
Jennsen não t inha percebido que o Mundo Ant igo f izera tanto progresso ao
fazer o inimigo recuar . Sebastian também es tivera longe durante um longo tempo . As coisas, para o Mundo Ant igo, não eram tão ruins quanto ela pensara .
Mesmo ass im, esse parecia um grande r isco para assumir baseado em uma
conjectura tão superf icial . — E então você está disposto a apostar seus homens em uma batalha assim ,
com esperança de que ela estará lá?
— Apostar? — Jagang pareceu surpreso com a sugestão. — Não está vendo?
Isso r ealmente não é uma aposta . De um jei to ou de outro, não temos nada a perder .
De um jeito ou de outro, tomaremos Aydindr il. Fazendo isso, f ina lmente vamos divid ir
Midlands, dividindo assim todo o Mundo Novo em dois . Dividir e conquistar é o caminho para a vitór ia .
Sebast ian lambeu o sangue da faca dele.
— Você conhece as tá t icas dela melhor do que eu e é ma is capaz de prever o
que ela fará em seguida . Mas, como você diz , quer ela decida manter pos ição com seu
povo, ou abandoná-los ao seu dest ino, t er emos a cidade de Aydindr il e o assento de
poder em Midlands. O Imperador olhou para o vazio.
— Aquela vadia matou centenas de milhares de meus homens . Ela sempre
tem conseguido manter -se um passo na minha frente, f icar fora do meu alcance, mas o
tempo todo ela estava recuando contra a parede. . . essa parede . — ele levantou os
olhos cheio de fúr ia . — Que o Criador permita que eu a pegue f inalmente . — as
ar t iculações dos dedos estavam brancas em volta do cabo da faca , sua voz parecia u m
juramento morta l. — Eu a ter ei, e vou acer tar as contas . Pessoalmente.
Sebast ian ava liou a expressão nos olhos escuros do Imperador .
— Então talvez estejamos per to da vitór ia final. . . em Midlands, pelo menos.
Com Midlands conquistada , o destino de D'Hara estará selado. — ele ergueu a faca
bem alto. — E se a Madre Confessora est iver lá , então Lorde Rahl pode muito bem
estar também. Jennsen, com os pensamentos embaralhados , olhou de Sebastian parra o
Imperador .
— Está querendo dizer , que você acha que o marido dela , Lorde Rahl,
também está lá?
O olhar de pesadelo de Jagang virou em dir eção a ela enquanto ele sorr ia de
forma sinistra . — Exatamente, quer ida .
Jennsen sent iu um calafr io subir na espinha diante do olhar assassino dele . Estava agradecida aos bons espír itos que ela est ivesse do lado desse homem , e não do
inimigo dele. Ainda assim, ela precisava transmit ir a informação vital que Tom havia
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falado. Sent iu uma pontada de angúst ia , desejando que t ivesse s ido outra pessoa e não
Tom quem t ivesse confirmado isso para ela , mas foi Sebastian quem realmente foi o
pr imeiro a falar para ela sobre isso .
— Lorde Rahl não pode estar lá , em Aydindril. — os dois homens f icaram
olhando para ela . — Lorde Rahl está longe, ao su l.
Jagang fez uma careta . — Ao su l? O que você quer dizer ?
— Ele está no Mundo Ant igo.
— Tem cer teza? — Sebastian perguntou.
Jennsen olhou para ele confusa . — Você mesmo disse isso. Que ele l iderava seu exército de invasão para
dentro do Mundo Antigo.
Uma expressão de lembrança surgiu no rosto de Sebast ian. — Sim, é claro Jenn, mas foi há muito tempo antes mesmo de eu conhecê - la ,
antes que eu deixasse nossas tropas, que eu ouvi aqueles relatór ios . Isso faz muito
tempo. — Mas eu sei que ele estava no Mundo Ant igo depois disso .
— O que você quer dizer ? — Jagang perguntou com um rosnado grave.
Jennsen l impou a garganta .
— A ligação. O povo D'Haran sente uma ligação com o Lorde Rahl. . .
— E você sente a l igação? — perguntou Jagang.
— Bem, não. Ela simplesmente não é for te o bastante em mim . Mas quando
Sebast ian e eu est ivemos no Palácio do Povo, conheci pessoas lá que disseram qu e
Lorde Rahl estava longe, ao su l, no Mundo Ant igo .
O Imperador ava liou as palavras dela enquanto olhava para uma mulher qu e
entrou com bandejas de frutas secas , doces, e nozes. Ela trabalhou em uma mesa lateral distante, aparent emente não querendo chegar per to e per turbar o Imperador e
seus convidados .
— Mas Jenn, você ouviu isso no inverno quando estávamos no Palác io. Já
ouviu alguém com a l igação confirmar isso desde então ?
Jennsen balançou a cabeça .
— Acho que não.
— Se a Madre Confessora pr etende efetuar sua resistência f ina l em
Aydindr il, — Sebastian fa lou, pensativo. — então é poss ível, uma vez que r ecebemos
pela ú lt ima vez esse r elatór io dele ao su l , que ele venha para o norte f icar ao lado da
Madre Confessora . Jagang inclinou o corpo sobre a carne sangrenta diante dele .
— Aqueles dois são ass im mesmo. Malignos até o f im. Já lidei com os dois
durante um longo t empo. Eu sei por exper iência que se existe a lgum jeito para eles ficarem juntos , eles f icarão. . . mesmo que seja na morte .
As implicações eram chocantes .
— Então. . . podemos pegar ele. — Jennsen sussurrou, quase para si mesma .
— Podemos pegar Richard Rahl também. O pessadelo pode estar per to do f im.
Poder íamos estar à beira da vitór ia para todos nós . Jagang r eclinou, tamborilando com os dedos sobre a mesa , olhando de um
para o outro.
— Embora eu ache dif íci l acr editar que Richard Rahl também estar ia lá , de
acordo com o que sei a respeito dele, ele poder ia muito bem decidir montar res istência
e perder junto com ela , ao invés de viver pa ra ver tudo escapulir dele pedacinho por
pedacinho. Jennsen sentiu uma inesperada tr isteza ao pensar nos dois r es ist indo juntos
enquanto o f im chegava . Era completamente inadequado para um Lorde Rahl importar -
se com qualquer mulher , muito menos ficar ao lado de uma quando ela estava prestes a
perder a guerra pela t erra natal dela , e sua vida também. Lorde Rahl estar ia ma is
302
preocupado em preservar sua própria vida e a terra dele.
Ainda assim, o pensamento de que ele estivesse tão per to ass im era tentador
demais para ignorar , e fazia a pulsação dela acelerar .
— Se ele est iver tão per to, então eu não precisar ia da ajuda das das Irmãs
da Luz. Eu não precisar ia de um feit iço. Só ter ia que chegar um pouco ma is per to ,
estar com vocês quando invadir em a cidade . O sorr iso sombr io, sér io, de Jagang estava de volta .
— Você cava lgará comigo; levarei você até o Palácio das Confessoras . — as
ar t iculações dos dedos dele estavam brancas em volta da faca outra vez . — Quero os
dois mortos . Eu cuidarei da Madre Confessora , pessoalmente. Dou permissão a você
para ser aquela que va i enterrar a faca em R ichard Rahl.
Jennsen sent iu uma louca torrente de emoções, desde estonteante expectativa que o feito est ivesse próximo , até o horror nauseante.
Por um instante, ela duvidou que r ealmente conseguir ia rea lmente executar
um ato tão horr ível , a sangue fr io.
Jennsen .
Mas então ela lembrou de sua mãe deitada em uma poça de sangue no chão
da casa delas , sangrando até a morte por aquelas t err íveis fer idas de faca , o braço
amputado dela não muito longe, uma casa cheia de brutos do Lorde Rahl sobre ela .
Jennsen lembrou dos olhos de sua mãe, enquanto ela jazia morrendo. Lembrou-se do quanto sent iu-se impotente enquanto a vida da sua mãe terminava . O horror daquilo
era tão fr esco quanto sempre estivera . A fúr ia era tão ardente quanto sempre fora .
Jennsen ans iava enterrar sua faca no coração do irmão bastardo . Isso era tudo que ela quer ia .
Na ardente névoa da fúr ia justa , enquanto ela via a s i mesma enterrando a
faca no peito de Richard Rahl, ela ouviu Jagang fa lar apenas como um eco distante . — Mas porque você quer matar o seu irmão ? Qual é o seu mot ivo, o seu
propós ito?
— Grushdeva . — e la s ibilou .
Atrás dela , Jennsen ouviu um vaso de vidro bater no chão e est i lhaçar . O
som trouxe ela de volta para onde ela estava .
O Imperador franziu a t esta para a mulher nas sombras . Os olhos castanhos dela estavam f ixos em Jennsen.
— Peço desculpas pela falta de jei to da Irmã Perdita . — Jagang falou
enquanto olhava fur ioso para a mulher . — Perdoe-me, Excelência. — a mulher no vest ido cinza escuro falou
enquanto r ecuava entr e as faixas , fazendo r everência o caminho todo. O rosto surpreso do Imperador virou de volta para Jennsen.
— Agora , o que foi que você disse?
Jennsen não t inha a menor ideia . Sabia que falou a lguma coisa , mas não t inha cer teza do que. Pensou que talvez o seu pesar t ivesse causado um nó em sua
l íngua justamente quando ela t entou r esponder . A tr isteza dela r etornou , como u m
grande peso sinistro nos ombros dela . — Veja bem, Excelência , — Jennsen fa lou enquanto olhava f ixamente para
o jantar que não comeu. — durante toda minha vida , meu pa i, Darken Rahl, t entou
me assassinar porque eu era uma descendente não dotada . Quando Richard Rahl matou
ele e assumiu o governo de D'Hara, ele tomou o lugar de seu pa i , e par te desse lugar
era assassinar os parentes não dotados dele . Mas nessa tarefa , ele era ainda ma is feroz
do que seu pai t inha sido. Jennsen levantou os olhos lacr imejantes .
— Pouco depois que eu conheci Sebastian, os homens do meu irmã o
fina lmente nos a lcançaram. Eles assassinaram minha mãe brutalmente . Se não foss e
Sebast ian estar a li, eles também ter iam acabado comigo .
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Sebast ian sa lvou minha vida . Pretendo matar Richard, porque, se eu não
fizer isso, jamais poderei ser l ivr e. Ele sempre enviará homens para me caçar . Além
de sa lvar minha vida , Sebast ian me ajudou a enxergar isso.
— Talvez ainda mais importante, eu devo vingar o assassinato de minha mãe
se eu quiser f icar em paz.
— Nosso objet ivo é o bem estar de nossos colegas . A sua histór ia me
entr istece, e é exatamente a razão pela qual lutamos para erradicar a praga da magia .
— o Imperador f inalmente desviou o olhar para Sebastian. — Estou orgulhoso de
você por ajudar essa jovem.
Sebast ian t inha f icado sér io. Ela sabia como ele sent ia -se desconfor tável sob
o peso dos elogios . Ela gostar ia que ele pudesse sent ir -se orgulhoso a respeito de suas
realizações , de sua importância , de sua posição com o Imperador . Ele passou a faca nos r estos de sua refeição .
— Apenas fazendo meu trabalho, Excelência .
— Bem, — Jagang disse com um sorr iso encorajador . — estou feliz qu e
você tenha retornado em tempo para ver o r esultado de sua estratégia .
Sebast ian r ecostou, mexendo em uma caneca de cerveja . — Você não quer esperar pelo Irmão Narev? Ele não dever ia estar aqui para
testemunhar isso, se esse acabar sendo o golpe que termine com isso ?
Com um dedo grosso, Jagang empurrou uma azeitona fazendo a trajetór ia de um pequeno círculo na mesa . Levou algum tempo antes que ele fa lasse suavement e
sem levantar os olhos .
— Não t ive not ícias de Irmão Narev desde que Altur 'Rang caiu.
Sebast ian levantou encostando na mesa .
— O quê! Altur 'Rang caiu? O que você quer dizer ? Como? Quando?
Jennsen sabia que Altur 'Rang era a terra natal do Imperador , a cidade de
onde ele veio. Sebast ian fa lou para ela que Irmão Narev e a Sociedade da Ordem
estavam lá , naquela grande cidade br ilhante de esperança para a huma nidade. Um grande Pa lácio ser ia construído a li em homenagem ao Criador e como um s ímbolo para
solidif icar a unidade do Mundo Ant igo.
— Eu recebi relatór ios não faz muito tempo de que as forças inimigas
invadiram a cidade. Altur 'Rang está muito distante, e ela ficou isolada . Parcialmente
por causa do inverno, os r elatór ios levavam um longo tempo para chegarem até mim .
Eu aguardo not ícias . — Devido a essa infeliz virada do dest ino , não acho sábio aguardar que o
Irmão Narev chegue até aqui. Ele estará ocupado r epelindo os invasores. Se a Madr e
Confessora e Richard Rahl est iverem em Aydindr il, não devemos esperar ; devemos atacar rapidamente, e com muita força .
Jennsen pousou uma das mãos no antebraço de Sebast ian.
— Deve ter s ido a respeito disso que você me fa lou. Quando encontr ei com
você pela pr imeira vez e você disse que Lorde Rahl estava invadindo a sua terra natal ,
devia ser atrás disso que ele estava. . . Altur 'Rang.
Sebast ian olhou f ixamente para ela . — Pode ser que ele não esteja em Aydindril . Pode ser que ele ainda esteja
ao su l, Jenn, no Mundo Ant igo. Você tem que manter isso em mente. Não quero qu e
você invista todas as suas esperanças apenas para que elas sejam destruídas . — Espero que ele esteja aqui e isso possa fina lmente ser t erminado , mas,
como Vossa Excelência disse a respeito de avançar sobre Aydindril, não há nada a perder . Não espero encontrá -lo aqui. Se ele não est iver em Aydindr il, então eu ainda
ter ei a ajuda para aquilo que você me trouxe aqui em pr imeiro lugar .
— E qual é a natureza dessa ajuda? — Jagang perguntou.
Sebast ian r espondeu por ela .
— Eu disse para ela que as Irmãs podem ser capazes de ajudar com um
feit iço. . . para que ela cons iga passar pela proteção de Lorde Rahl e chegar per to o bastante dele para agir .
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— Então, de um jeito ou de outro. Se ele estiver em Aydindr il, você terá
ele. — Jagang pegou a azeitona que est ivera rolando e jogou -a dentro da boca . — Se
não estiver , então você terá a feit iceira à sua dispos ição . Seja qua l for a ajuda qu e
você precise das Irmãs, ela será sua . Só precisa pedir , e elas fornecerão. . . tem minha
palavra nisso.
Os olhos sombrios dele estavam morta lmente sér ios . Do lado de fora , um trovão r ibombou. A chuva t inha aumentado. Raios
br ilharam, i luminando a tenda do lado de fora com uma luz estranha que fez a luz de
vela parecer ainda ma is escura quando cada jato de luz terminava , deixando eles novamente na quase escur idão, esperando pelo trovão.
— Só preciso que elas lancem sobre mim um feit iço para enganar aqueles
que o protegem, para que eu cons iga chegar bem per to dele. — Jennsen falou depois
que o trovão t inha morr ido.
Ela sacou a faca da bainha e levantou -a para olhar a letra ―R‖ ornamentada gravada no cabo prateado.
— Então eu poderei enterrar minha faca no coração ma ligno dele . Esta
faca. . . a própr ia faca dele. Sebastian expl icou como é importante usar algo que seja ma is próximo de um inimigo para atacá -los.
— Sebastian fa lou sabiamente. Esse é o nosso modo, e com a or ientação do
Criador , nós preva leceremos. Vamos r ezar para que f ina lmente tenhamos os dois e iss o possa acabar , que a escór ia da magia fina lmente tenha f im, e que a humanidade
fina lmente possa viver em paz como o Criador pretendia.
Jennsen e Sebast ian assent iram. — Se pegarmos eles em Aydindr il, — Jagang disse, olhando nos olhos dela .
— eu prometo que você será aquela que vai enterrar sua lâmina no coração dele ,
de modo que sua mãe f ina lmente cons iga descansar em paz .
— Obrigada. — Jennsen sussurrou em gratidão.
Ele não perguntou como ela poder ia r ealizar uma tar efa assim . Talvez a convicção na voz dela t ivesse mostrado o fa to de que havia mais nisso do que aquilo
que ele sabia, que ela possuía alguma vantagem especial que permit ir ia a ela fazer ta l
coisa . E havia ma is nisso do que aquilo que ele sabia , ou do que Sebastian sabia .
Jennsen est ivera pensando durante um longo tempo sobre isso , juntando
todos os vár ios elementos . Toda a sua vida t inha sido devotada a pensar ness e problema. Mas no passado, os pensamentos dela sempre f icavam cons iderando como
isso era insolúvel, como era apenas u ma questão de tempo até que Lorde Rahl a
capturasse e o pesadelo começasse de verdade.
Ela sempre esteve focada no problema . Agora , desde o momento em que conheceu Sebastian e da morte de sua mãe,
os eventos t inham acelerado a um passo estonteante , mas aqueles eventos também
aumentaram, pouco a pouco, a sua compreensão da imagem mais ampla . Perguntas estavam começando a ter em respostas , respostas que pareciam tão simples , agora ,
olhando novamente para elas . Ela quase sent iu como se, bem lá no fundo, ela já
soubesse o tempo todo.
Agora , ela estava afastando seu foco do problema ; estava começando a pensar em termos da solução.
Jennsen t inha aprendido muito com Althea . . . como acabou percebendo, ma is
ainda do que a feit iceira sabia que estava revelando . Uma feit iceira do poder de Althea não f icar ia pr esa ali todos esses anos a não ser que aquilo que fa lou sobre as
feras no pântano fosse verdade . A cobra era difer ente. Fr iedr ich falou que a cobra era
apenas uma cobra . Mas as feras eram mágicas .
Aquelas feras mant inham até mesmo uma feit iceira do poder de Althea
trancada em sua pr isão. Fr iedr ich disse que ninguém, nem mesmo ele, podia entrar
pelo caminho dos fundos . Tom também falou que nunca t inha ouvido falar de alguém
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usar o caminho dos fundos e voltar para conta r . Ninguém usava o prado também por
causa das coisas que saíam do pântano . As coisas no pântano eram reais e eram
morta is . Todos os fatos eram cons istentes para suportar isso a não ser um .
Jennsen entrou e sa iu sem ao menos ser per turbada , muito menos atacada ou fer ida .
Ela não t inha visto nada de qua lquer fera cr iada com a própria substância do
Dom. Essa era a única par te que não enca ixava , naquele momento. Agora encaixava . Também surgiram outras indicações , como no Palácio do Povo, quando
Jennsen tocou no Agiel de Nyda sem que ele a machucasse. Certamente ele machucou
Sebast ian e o Capitão Lerner . Nyda t inha f icado surpresa . Ela disse que nem mesmo Lorde Rahl era imune ao toque de um Agiel. Jennsen era .
E Jennsen conseguiu convencer Nyda a ajudá -la , quando na verdade, a coisa
correta que ela devia fazer , era deter essa estranha que não podia ser tocada com o
poder de um Agiel, deter uma mulher que levantava tantas perguntas não r espondidas , a té que tudo pudesse ser ver if icado e confirmado . Até mesmo quando Nathan Rahl
tentou detê- la , Jennsen conseguiu fazer com que Nyda a protegesse. . . de um Rahl
dotado. Agora Jennsen sabia que aquilo foi ma is do que apenas um blefe bem
aplicado. Um blefe pode ter sido o núcleo daquilo , mas havia muito ma is envolvido.
Todas essas coisas e ma is , durante o curso da longa e dif íci l jornada até Aydindr il, fina lmente se enca ixavam, de forma que Jennsen f inalmente enxergou a
verdadeira extensão de sua pos ição única e porque ela era aquela que matar ia Richard
Rahl.
Jennsen passou a entender que ela era a única capaz de fazer isso. . . que nasceu para fazer isso. . . porque , de uma forma central , cr ít ica , vita l. . . ela era
invencível.
Agora ela sabia , que sempre foi invencível.
306
C A P Í T U L O 4 6
De cima de Rusty, a fr ia br isa agitando seu cabelo, Jennsen contemplou o esplendor do Palácio das Confessoras coroando uma distante elevação. Sebastian
estava ao lado dela sobre um nervoso Pete. O Imperador Jagang, seu magníf ico
garanhão cinza ma lhado dando patadas na estrada , aguardava do outro lado de Sebast ian, um grupo de of iciais e conselheiros amontoava -se ali per to, mas em
silêncio. O olhar sér io de Jagang estava f ixo no Palácio. Escuras formas ameaçadoras ,
como uma tempestade formando-se, des lizavam pela superfície de seus olhos negros. O avanço para dentro de Aydindril havia sido, a té agora , difer ente de
qua lquer coisa que qua lquer um esperava , deixando todos tensos e aler tas .
Reunidas atrás estava um cont ingente de Irmãs da Luz que mant inham-s e
isoladas, aparentemente concentradas em assuntos de magia . Embora nenhuma das Irmãs, a inda, t ivesse conseguido uma chance de falar com Jennsen, elas estavam todas
bem conscientes da presença dela , e f icavam de olho nela . Outras delas haviam par tido
em vár ias dir eções quando o Imperador conduzira o destacamento da cavalar ia da Ordem Imper ia l, como a lguma torrente de água escura , pelas fazendas , estradas, e
colinas, ao r edor de construções e celeiros , sempre avançando subindo estradas e
então seguindo em volta de casas , para mergulharem dentr o dos l imites ma is externos de Aydindr il. Agora a grande cidade espa lhava -se diante deles , si lenciosa e parada .
Na noite anter ior , Sebastian havia dormido de forma intermitente. Jennsen
sabia , porque, à beira de uma batalha tão grandiosa , ela ma l conseguir a dormir .
Mesmo ass im, com o pensamento de fina lmente ser capaz de usar a faca embainhada no cinto, ela estava bem acordada .
Atrás das Irmãs , ma is de quarenta mil da cava lar ia de elit e da Ordem
Imper ia l aguardavam, alguns com piques e lanças preparadas , a lguns com espadas ou machados na mão. Cada um deles usava um anel na nar ina esquerda .
Enquanto a maior ia t inha barba , e alguns t inham longos cabelos escuros
sebosos, com Amuletos de boa sor te amarrados , havia poucos com as cabeças
raspadas, aparentemente em aber ta lealdade ao Imperador Jagang. Todos eram como uma mola for temente comprimida , destruidores, pos icionados para invadir em
velozmente a cidade.
Além de ser em membros de elit e da cava lar ia , of iciais r espeitados , ou Irmãs da Luz, cada pessoa ali , a não ser Jennsen e Sebastian, t inha uma coisa essencial em
comum: conheciam a Madre Confessora de vista . De acordo com o que Jennsen
conseguiu saber , a Madre Confessora conduzira ataques no acampamento da Ordem e estivera em batalhas onde t inha s ido avistada po r vár ios dos homens , assim como
pelas Irmãs. Todos aqueles escolhidos para cavalgarem entrando em Aydindr il junto
com o Imperador t inham de conhecer a Madre Confessora ao avistá - la . Jagang não
quer ia que ela escapulisse das garras dele escondendo -se em mult idões de pessoas , ou escapando ao f ingir ser uma simples lavadeir a . Tal preocupação t inha evaporado sob a
luz daquilo que eles t inham encontrado até agora .
Gelada não apenas pela br isa , mas pelo prazer da batalha cinti lando nos olhos dos soldados , Jennsen segurou bem f irme o pomo da sela em uma tentativa de
fazer com que suas mãos parassem de tr emer .
Jennsen .
Pela centés ima vez nessa manhã , ela ver if icou se a faca estava l ivr e na
bainha. Depois de cer t if icar -se, ela pr ess ionou-a para baixo outra vez , sent indo o satisfatór io clique metálico quando ela encaixava . Ela estava ali com o exército
porque era par te disso, com um trabalho a executar .
307
Entregue .
Ela pensou na ironia de como essa era a faca que Lorde Rahl ha via dado
para um homem que ele enviou par a matá-la , e agora ela estava levando aquela mesma faca , uma coisa próxima dele , de volta para derrotá - lo.
Finalmente, ela era a caçadora , e não a caça .
Sempre que sent ia a coragem fraquejar , ela só precisava pensar em sua mãe , em Althea e Fr iedr ich, na ir mã de Althea, Lathea, ou até mesmo no meio irmão
desconhecido de Jennsen, o Curandeiro Raug'Moss, Drefan. Tantas vidas fora m
arruinadas ou perdidas por causa da Casa de Rahl, por causa de Lorde Rahl. . . pr imeiro o pai dela , Darken Rahl, e agora o meio irmão dela , Richard Rahl.
Entregue sua vontade, Jennsen. Entregue sua carne.
— Me deixe em paz. — ela falou, ir r itada que a voz não a deixasse em paz e
por t er que r epet ir isso com tanta fr equência quando ela estava com coisas importantes em sua mente.
Sebast ian franziu a testa para ela .
— O quê?
Embaraçada por t er inadvert idamente fa lado isso em voz alta dessa vez ,
Jennsen s implesmente ba lançou a cabeça como se est ivesse dizendo que não era nada .
Ele voltou-se outra vez para seus próprios pensamentos enquant o observava a cidade que espalhava-se diante deles , estudando o imponente lab ir into de construções
próximas, ruas, e becos. Havia apenas uma coisa faltando na cidade, e isso deixava
todos tensos e aler tas . Com o canto do olho, Jennsen viu todas as Irmãs sussurrando entr e elas .
Todas exceto uma , Irmã Perdita , aquela no vestido cinza escuro e cabelo cor de sal e
pimenta amarrado atrás da cabeça . Quando os olhos delas se encontraram, a mulher mostrou aquele sorr iso de autossatisfação afetado dela que parecia c apaz de olhar
dir eto dentro da alma de Jennsen. Jennsen pensou que provavelmente ele parecia
difer ente para ela do que aquilo que a mulher pr etendia , então baixou levemente a
cabeça em saudação e sorr iu da forma que podia antes de olhar para outro lado . Junto com todos os outros , Jennsen observou o Palácio ao longe, sobre uma
colina com vista panorâmica da cidade. Era dif íci l não olhar para ele, o modo como
ele destacava-se contra as paredes cinzentas de montanhas como neve sobre ardós ia . Altas paredes na frente de construções ent re enormes colunas de mármore branco
coroadas com capitais de ouro. Ao fundo, no centro, um teto em forma de domo com
um cinturão de janelas erguia -se acima das altas paredes . Jennsen estava sent indo
dif icu ldade em concil iar o esplendor de uma construção tão bela com o governo ma ligno da Madre Confessora .
O s inistro espectro da Fortaleza do Mago, al ta sobre uma montanha atrás do
Palácio, parecia mais adequado para a Madre Confessora. Jennsen not ou que ninguém gostava de olhar para aquele lugar funesto; seus olhos sempre desviavam rapidament e
para visões menos enervantes .
A Fortaleza que observava eles ali embaixo era ma ior do que qualquer coisa feita pelo homem que J ennsen já t inha visto, a não ser o Palácio do Povo em D'Hara.
Nuvens cinzentas passavam f lutuando por muros de rocha externos escuros qu e
elevavam-se até alturas estonteantes . A Fortaleza em si , a trás daqueles muros alt ivos ,
parecia uma complexa coleção de bastiões, muralhas, muros com ameias, torr es, picos , pontes conectadas e passarelas. Jennsen nunca t inha imaginado que alguma coisa feita
de rocha poderia parecer tão viva e ameaçadora .
Na calmaria , o olhar dela buscou confor to no cabelo branco espetado de Sebast ian, seus olhos br i lhantes , nos contornos familiar es do rosto dele. A bela
fis ionomia dele era confor tadora para ela , mesmo que ele não olhasse em dir eção a
ela . Que mulher não f icar ia honrada em ter o amor de um homem como ele ? Se não
fosse por ele estar lá com ela desde a morte da mãe dela , Jennsen não sabia o que ter ia
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feito, como ter ia seguido adiante.
Sebast ian usava sua capa afastada para expor algumas das armas dele . Ele
contemplava a cena com ca lma estudada . Ela gostar ia de poder sent ir -se tão calma.
Inesperadamente, isso assustava ela , ver ele t er que sacar aquelas armas, que ele t ivesse que lutar pela sua vida .
— O que você acha ? — ele sussurrou quando ela inclinou chegando ma is
per to dele. — O que isso poderia signif icar ?
Ele deu um breve ba lanço de cabeça para ela junto com um olhar sér io . Ele
não quer ia discut ir isso. Aquele br eve gesto disse a ela que ela devia f icar quieta . Ela sabia , é claro, pelo s i lêncio de dezenas de milhares de homens logo atrás dela que ela
devia permanecer quieta , mas a ansiedade estava contorcendo suas entranhas formando
um nó. Ela só quer ia um pequeno s ina l de confor to . Ao invés disso, o súbito tratamento fr io deixou -a arrasada , fazendo ela sent ir -se como uma ninguém.
Ela sabia que ele estava com coisas importantes na mente , mas assim mesmo
o brusco s ina l machucou como um tapa , especia lmente depois da noite anter ior quando
ele havia desejado tão desesperadamente o confor to dela , desejou-a com tanta ferocidade quanto sempre a desejava . Ela entendera . Não t inha repelido ele, mesmo
que achasse inquietante que eles não est ivessem sozi nhos, com guardas parados logo
ali do lado de fora que, ela suspeitava, podiam ouvir tudo . É claro, ela sabia que essa não era a hora nem o lugar em que ele podia se
dar ao luxo de fornecer a ela confor to ; todos eles estavam à beira da batalha . Mesmo
assim, isso magoava . Acima do som do vento gemendo através dos galhos nus de ma jestosos
bordos ladeando a estrada , ela percebeu o som de cascos em um galope . Todos os
olhos viraram para observarem homens barbudos, de cabelos longos, fa ixas de capas e
peles ondulando atrás enquanto eles curvavam para frente sobre as espáduas dos cavalos, avançando da estrada à dir eita . Jennsen os reconheceu pela coloração branca
do cava lo l íder . Eles eram um dos pequenos grupos de reconhecimento que o
Imperador t inha enviado na fr ente horas antes . Longe, a oeste, a contrapar te deles estava retornando da dir eção oposta , mas eles ainda eram pequenos pontos cavalgando
para fora dos distantes sopés .
Quando o pr imeiro grupo de cavaleiros chegou trovejando diante do
Imperador e seus conselheiros , Jennsen cobriu a boca com a borda da capa para mascarar a tosse causada pela nuvem de poei ra .
O homem na l iderança dos cavaleiros deu a volta em seu cava lo .
Os cabelos gordurosos dele chicotearam como a cauda branca do cavalo . — Nada, Excelência .
Jagang, parecendo estar com mau humor e quase no f im de sua paciência ,
a jeitou o corpo na sela . — Nada.
— Não, Excelência, nada . Nenhum s ina l de t ropas em qua lquer lugar a leste,
ou no lado ma is distante da cidade, ou subindo as ladeiras das montanhas . Nada. As
estradas, as tr ilhas. . . tudo deser to. Nenhuma pessoa , nenhum rastro, nenhum ester co
de cavalo, nenhuma marca de carroça . . . nada. Não conseguimos encontrar sinal de qu e alguém esteve aqui durante um bom tempo.
O homem prosseguiu com um relatór io deta lhado de onde eles t inha m
procurado, mas sem resultado, quando o out ro grupo de homens trovejou entrando do oeste, seus cavalos espumando e em alto estado de excitamento .
— Ninguém! — o homem na dianteira gr itou quando puxou as rédeas ,
virando a cabeça do seu cavalo. O cavalo, de olhos arregalados por causa da árdua cavalgada , girou parando diante do Imperador , bufando através de nar inas ardentes .
— Excelência , não há tropas. . . ou qualquer pessoa. . . a oeste .
Jagang olhou fur ioso para o Palácio das Confess oras. — E quanto a estrada subindo até a Fortaleza ? — ele perguntou em um leve
rosnado. — Ou você va i dizer que meus batedores e patrulhas foram emboscados pelos
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fantasmas de todas as pessoas desaparecidas !
O homem for te, cober to por peles , parecia tão fer oz quanto qualquer outro
que Jennsen t inha visto. Ele estava sem os dentes super ior es , a lém de seu aspecto
selvagem. Ele lançou um olhar cauteloso para trás, subindo a larga faixa de estrada que serpenteava saindo da cidade em dir eção à Fortaleza do Mago . Virou de volta para
o Imperador .
— Excelência , também não havia rastros na estrada subindo até a Fortaleza .
— Você foi o caminho todo até a Fortaleza para ver if icar ? — ele perguntou,
seu olhar sombrio virando para o homem. O homem engoliu em seco sob o ardente escrutínio do olhar feroz de Jagang.
— Tem uma ponte de pedra , não muito longe do topo, que cruza uma grande
fenda profunda . Fomos até ali , Excelência , mas a inda assim não vimos ninguém, nem qua lquer rastro. A grade estava abaixada . Além da li, a Forta leza não mostrava s inal de
vida.
— Isso não significa nada. — uma mulher não muito longe falou .
Jennsen virou, junto com Sebast ian, a maior ia dos conselheiros , of ic iais , e
Jagang, para olhar . Foi Irmã Perdita quem havia falado. Pelo menos ela conseguiu
manter a ma ior par te do sorr iso de super ior idade longe do rosto dela enquanto todos olhavam para ela .
— Isso não s ignif ica nada. — ela repet iu. — Estou dizendo, Excelência , eu
não gosto nem um pouco disso. Alguma coisa está errada .
— Alguma coisa? Como o quê? — Jagang perguntou, sua voz ba ixa e
ir r itada . Irmã Perdita deixou sua companhia de vár ias dúzias de Irmãs da Luz e
cavalgou adiante para falar d forma ma is reservada com o Imperador .
— Excelência , — ela disse somente depois que estava per to. — a lguma vez
você já entrou em uma f lor esta , e percebeu que não havia sons , quando devia haver ?
Que ela repent inamente t inha f icado quieta?
Jennsen já . Ela f icou surpresa com o modo tão preciso que a Irmã t inha def inido a peculiar sensação inquietante que ela estava se nt indo, uma espécie de
presságio de uma desgraça, mesmo que sem causa def inida , que fazia os f inos cabelos
em sua nuca f icar em er içados, como quando ela deitava em seu colchão , quas e dormindo, e cada inseto, todos ao mesmo tempo, f icava em s ilêncio.
Jagang olhou fur ioso para Irmã Perdita .
— Quando eu entro em uma f lor esta , ou em qua lquer outro lugar , tudo
sempre f ica si lencioso.
A Irmã não discutiu , e s implesmente r ecomeçou .
— Excelência , t emos lutado contra essas pessoas durante muito tempo e
arduamente. Aqueles de nós com o Dom conhecem os truques deles com magia .
abemos quando estão usando o Dom deles . Nós apendemos a saber se eles usaram
magia para montarem armadilhas , mesmo que essas armadilhas propriamente ditas não sejam mágicas . Mas isso é difer ente . Tem a lguma coisa errada .
— Você ainda não disse o quê. — Jagang falou com uma contida,
impaciente ir r itação, como se ele não t ivesse tempo para alguém que não ia dir eto ao ponto.
A mulher , notando o aborrecimento dele, baixou a cabeça .
— Excelência , eu dir ia se soubesse. É meu dever aconselhá - lo com aquilo
que eu sei. Não conseguimos detectar nenhuma magia sendo usada. . . nenhuma . Não
sentimos nenhuma armadilha que tenha s ido tocada pelo Dom.
— Mas esse conhecimento ainda não aca lma minha mente . Alguma coisa
está errada . Estou dizendo para você, agora, o meu aler ta , mesmo que eu admita qu e
não sei a causa da minha preocupação. Só precisa vasculhar minha mente você mesmo
e verá que estou fa lando a verdade. Jennsen não t inha ideia do que a Irmã quis dizer , mas após olhar para ela
durante um momento, Jagang esfr iou vis ivelmente. Ele grunhiu ignorando aquilo
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quando olhou de volta em direção ao Palácio .
— Acho que você está apenas nervosa depois de um longo inverno ociosa ,
Irmã. Como você disse, conhece as tá t icas e truques com magia deles , então se isso fosse algo r eal, você e suas Irmãs saber iam e conhecer iam a causa .
— Não tenho cer teza de que isso seja verdade. — Irmã Perdita ins ist iu. Ela
lançou um rápido olhar preocupado para a Fortaleza do Mago subindo a mo ntanha . —
Excelência , conhecemos bastante sobre magia, mas a Fortaleza tem milhares de anos .
Sendo do Mundo Antigo, aquele lugar está fora da minha experiência . Eu sei quase nada sobre os t ipos específ icos de magia que devem ser mant idos naquele lugar ,
exceto que qualquer magia guardada ali será extr emamente per igosa . Esse é u m
propós ito de uma Fortaleza. . . salvaguardar coisas assim.
— É por isso que eu quero a Fortaleza tomada. — Jagang disparou. —
Aquelas coisas per igosas não devem ser deixadas nas mãos d o inimigo para ma is tarde
nos causarem mortes . Com as pontas dos dedos , Irmã Perdita es fr egou pacientemente a t esta .
— A Fortaleza é for temente protegida . Não posso dizer como; as proteções
foram colocadas por magos , não feit iceiras . Tais proteções poder ia m facilmente ter em sido deixadas sem cuidados. . . ninguém precisa montar guarda . Essas proteções podem
ser disparadas pela simples invasão. . . assim como qualquer armadilha sem magia .
Proteções assim podem ser pr event ivas , mas, da mesma forma , podem ser mortais. Mesmo se o lugar estiver deser to , essas proteções poder iam facilmente matar qua lquer
um.. . qua lquer um.. . que tente ao menos chegar per to , quanto mais tomar o lugar .
Medidas defens ivas como essas são atemporais ; elas não se esgotam com o tempo. São
tão efet ivas quanto ser iam se est iverem a li durante um mês ou um milênio . A tentativa de tomar um lugar tão protegido poder ia resultar para nós na morte que estamos
tentando evitar .
Jagang assent iu enquanto escutava . — Ainda precisamos desativar essas proteç ões para podermos conquistar a
Fortaleza .
Irmã Perdita olhou por cima do ombro para a escura Fortaleza de rocha sobre o lado da montanha antes de falar .
— Excelência , como tentei explicar vár ias vezes , nosso nível de habil idade
e poder agregado não signif ica que podemos desat ivar ou derrotar essas proteções .
Uma coisa dessas não é dir etamente r elacionada . Um urso, for te como ele seja , não
consegue abr ir uma fechadura em uma ca ixa reforçada . A força não é necessar iamente
a chave para coisas assim. Estou dizendo que não gosto disso, que a lgo está errado. — Você fa lou apenas que está com medo. Entr e todos aqueles que possuem
magia , as Irmãs são excepcionalmente bem a rmadas . É por essa razão que vocês estão
aqui. — Jagang inclinou em dir eção a mulher , sua paciência parecendo ter chegado ao
fina l. — Espero que as Irmãs detenham qua lquer ameaça da magia . Devo deixar isso
ma is claro?
Irmã Perdita f icou pálida.
— Não, Excelência .
Após fazer uma reverência de sua sela , ela virou o cavalo para juntar -s e
novamente com suas Irmãs.
— Irmã Perdita . — Jagang gr itou atrás dela . Ele esperou até que ela virasse
para trás. — Como eu disse antes , nós pr ecisamos tomar a Fortaleza do Mago. Não me
importo com a quant idade de vocês que será necessár ia , apenas que isso seja feito. Quando ela voltou até suas Irmãs para discutir em o assunto , Jagang, junto
com todos os outros , avistaram um cavaleiro solitár io cava lgando em dir eção a eles
vindo da cidade. Alguma coisa na expressão no rosto do homem fez todos checarem
suas armas. Todos aguardaram em tenso s i lêncio até o cavalo dele parar des lizando na frente do Imperador . O homem estava encharcado de suor e seus olhos estava m
arregalados de excitação, mas ele manteve a voz sob controle.
— Excelência , não vi ninguém.. . ninguém.. . na cidade. Mas sent i o cheir o
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de cava los.
Jennsen viu apreensão estampada nos ros tos dos oficiais diante dess a
confirmação de sua descrença sobre a absurda ideia de que a cidade estava deser ta . A
Ordem t inha empurrado as forças inimigas para Aydindril quando o inverno ca iu, prendendo não apenas o exército mas o povo da cidade também . Como um lugar tão
grande assim podia ter sido evacuado. . . no auge do inverno. . . estava além da
imaginação deles . Ainda assim ninguém pareceu disposto a declarar essa convicção tão for te para o Imperador quando ele observava uma cidade vazia .
— Cavalos? — Jagang fez uma careta . — Talvez fosse um estábulo.
— Não, Excelência . Eu não consegui encontrá -los, nem ouvi- los, mas
consegui sentir o cheiro deles . Não era o cheiro de um estábulo, mas de cava los. Tem
cavalos ali. — Então o inimigo está aqui , exatamente como pensávamos. — um dos
oficiais disse para Jagang. — Eles estão escondidos , mas estão aqui.
Jagang não falou nada enquanto esperava que o homem cont inuasse .
— Excelência , t em mais. — o for te soldado fa lou , quase explodindo de
excitação. — Enquanto procurava , não conseguia encontrar os cava los em lugar
algum, então eu decidi r etornar para buscar ma is homens para ajudarem a desentocar o
inimigo covarde.
— Quando eu estava voltando, vi a lguém em uma janela do Palácio.
O olhar de Jagang virou para o homem repent inamente.
— O quê?
O soldado apontou .
— Dentro do Palácio branco, Excelência . Quando eu cava lgava saindo de
trás de um muro no l imite da cidade, antes dos terr enos do Palácio, eu vi a lguém no
segundo andar afastar -se de uma janela .
Com um puxão fur ioso das rédeas , Jagang controlou os passos impacientes
do seu garanhão. — Tem cer teza?
O homem assent iu vigorosamente. — Sim, Excelência . As janelas ali são altas . Juro por minha vida ,
justamente quando eu sai de trás do muro e olhei para cima , a lguém me viu e afastou-
se de uma janela . O Imperador espiou atentamente subindo a estrada ladeada por bordos , em
dir eção ao Palácio, enquanto avaliava esse novo acontecimento .
— Homem ou mulher? — Sebastian perguntou.
O cava leiro fez uma pausa para enxugar suor dos olhos e engolir em seco em
um esforço para recuperar o fôlego . — Foi uma olhada rápida , mas acredito que era
uma mulher .
Jagang virou seu olhar sombrio para o homem.
— Era ela?
Os galhos de bordo bateram uns nos outros no meio das rajadas de vento
enquanto todos os olhos observavam o homem.
— Excelência , eu não poderia dizer com cer teza . Pode ter s ido um ref lexo
da luz sobre a janela , mas naquela breve espiada , eu pensei t er visto que ela estava
usando um longo vest ido branco.
A Madre Confessora usava um vest ido branco . Jennsen achou que era muito dif íci l acreditar que poder ia ser uma coincidência que houvesse um reflexo sobre o
vidro justamente quando uma pessoa afastava -se da janela , um r ef lexo que f izesse
parecer que ela estava usando o vest ido branco da Madre Confessora . Ainda assim, isso não fazia sent ido para Jennsen. Porque a Madre
Confessora estar ia sozinha em seu Palácio ? Efetuar um últ imo ato de r es istência era
uma coisa . Fazer isso soz inha era bem difer ente. Poder ia ser , como o homem suger iu ,
que o inimigo fosse covarde e est ivesse escondido? Sebast ian f icou batendo distraidamente com um dedo contra a coxa .
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— Fico imaginando o que eles estão tramando.
Jagang sacou a espada .
— Acho que vamos descobr ir . — então, ele olhou para Jennsen. —
Mantenha a sua faca pronta , garota . Esse pode ser o dia pelo qual você estava rezando .
— Mas Excelência , como poder ia ser poss ível. . .
O Imperador levantou nos arreios e mostrou um sorr iso s inistro para sua
cavalar ia . Ele girou a espada formando um círculo bem alto no ar .
A mola tens ionada foi l iberada . Com um rugido ensurdecedor , quarenta mil homens soltaram um gr ito de
batalha enquanto avançavam. Jennsen arfou e segurou bem f irme em Rusty quando o
cavalo sa ltou em um galope na frente da cava lar ia que corr ia em direção ao Palácio .
Quase sem fôlego, Jennsen curvou para frente sobre Rusty, est icando os braços para cada lado do pescoço do cavalo para dar a ela todas as r édeas qu e
precisava, enquanto eles avança vam em pleno ga lope saindo dos l imites do campo em
dir eção à cidade de Aydindr il. O rugido de quarenta mil homens soltando gr itos de batalha junto com os cascos trovejantes era tão assustador quanto ensurdecedor .
Ainda ass im, a agitação de tudo isso, a sensação de selvagem abandono ,
também era intoxicante. Não que ela não r econhecesse a enormidade, o horror , do qu e estava acontecendo, mas uma pequena par te dela não conseguia evitar de ser tomada
pela intensa emoção de fazer par te de tudo isso.
Homens ferozes com sede de sangue nos olhos espa lharam-se para os lados
enquanto corr iam adiante. O ar parecia vivo com o br ilho da luz em todas as espadas e machados erguidos bem alto , as pontas af iadas de lanças e p iques cor tavam o ar da
manhã. As visões cinti lantes , o turb ilhão de sons , as paixões estonteantes , tudo iss o
enchia Jennsen com o desejo de sacar sua faca , mas ela não sacou; sabia que a hora chegaria .
Sebast ian cavalgava per to dela , cer t if icando-se de que ela estava segura e
não f icasse perdida no louco es touro. A voz também cava lgava com ela , e não f icava em silêncio, independente do quanto ela t entasse ignorá -la , ou implorasse em sua
mente para que ela a deixasse em paz . Ela precisava concentrar -se naquilo que estava
acontecendo, naquilo que em breve poder ia acontecer . Não podia sofr er distração. Não
agora .
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C A P Í T U L O 4 7
Enquanto ela chamava seu nome, pedia que ela entr egasse a sua vontade , entr egasse a sua carne, chamava com palavras mister iosas mas estranhament e
sedutoras , o rugido ao r edor mascarando o som forneceu a Jennsen o anonimato para
fina lmente gr itar com toda força dos pulmões . — Me deixe! Me deixe em paz! — sem
que alguém notasse. Era uma purif icação grandiosa ser capaz de banir a voz com ta l
força e autor idade incont idas .
Naquilo que pareceu um instante, eles r epent inamente mergulharam dentro da cidade, saltando sobre cercas , desviando de postes , e passando por casas com
incr ível velocidade. O modo como eles est iveram em campo aber to e então
subitamente t iveram que l idar com todas as coisas ao redor deles , fez ela lembrar de
uma corr ida dentro da f lor esta . A carga selvagem não foi o que ela imaginava que ser ia . . . uma corr ida
ordenada por terr eno aber to. . . ao invés disso foi um mergulho louco através de uma
grande cidade; por largas vias públicas ladeadas por construções magníf icas ; então desviar repent inamente descendo vielas escuras parecidas com vales feitos de a ltas
paredes rochosas, que em a lguns lugares b loqueavam a estreita fenda de céu aber to
acima; e então impetuosos mergulhos abruptos através de conjuntos de estr eitas ruas la terais sinuosas, entr e ant igas casas sem janelas dispostas sem nenhum padrão . Não
havia redução de velocidade para deliberação ou decisão , mas, ao invés disso, uma
longa e descuidada correr ia .
Tudo isso era ainda ma is surreal porque não havia pessoas em lugar algum . Devia haver mult idões espalhando -se em pânico, sa indo do caminho, gr itando. Em sua
mente, ela imaginou cenas que t inha visto em cidade antes : vendedores ambulantes
empurrando carr inhos com tudo desde peixe até fino l inho; donos de lojas fora de seus negócios cuidando de mesas com pão, queijo , carne, vinho; ar tesãos exib indo sapatos ,
roupas, perucas, e it ens em couro; janelas cheias de mercadorias .
Agora, todas aquelas janelas estavam es tranhamente vazias. . . a lgumas com
tábuas, a lgumas simplesmente deixadas como se o proprietár io fosse abr ir a qualquer minuto. Todas as janelas alinhadas na rota deles permaneciam vazias . Ruas, bancos,
parques, eram testemunhas mudas do avanço da cava lar ia .
Era assustador avançar com toda velocidade pelo confuso lab ir into de ruas , cor tando ao r edor de construções e obstáculos , mergulhando por vielas sujas , voando a
toda velocidade por s inuosas estradas com blocos de pedra , subindo em elevações
apenas para descer velozmente do outro lado, como algum bizarro, precip itado, fora de controle, des lizamento de neve descendo uma colina gelada entr e as árvores , e tão
per igoso quanto. Às vezes , enquanto eles galopavam em meia dúzia lado a lado , o
caminho estr eitava subitamente com uma parede ou um canto de construção qu e
aparecia . Mais de um cavaleiro foi ao chão com resultados calamitosos . Casas, cores, cercas, postes, e ruas que entr ecortavam-se em um borrão ver t iginoso.
Sem a res istência de uma força inimiga , para Jennsen a corr ida desenfr eada
parecia estar totalmente sem controle, a inda assim ela sabia que esses eram da cavalar ia de elit e, então uma carga acelerada era especialidade deles . Além disso, o
Imperador Jagang parecia em completo controle sobre o seu garanhão magníf ico.
Os cavalos chutavam uma chuva de torrões enquanto passava m repent inamente por uma larga aber tura em um muro para encontrarem -se avançando
nos terrenos expans ivos do Palácio das Confessoras . A fúr ia de cava leiros qu e
gr itavam espa lhou-se para cada um dos lados , seus cava los destruindo a imagem
pitor esca , os cruéis e su jos invasores sedentos de sangue profanando a enganadora beleza ser ena dos terr enos . Jennsen cava lgou ao lado de Sebastian, não muito longe
atrás do Imperador e vár ios dos of icia is dele, entr e flancos amplamente espalhados de
homens rugindo, dir etamente subindo o largo passeio ladeado por bordos , seus galhos
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nus, pesados com botões de f lor , entr elaçados acima .
A despeito de tudo que ela t inha aprendido , tudo que ela sabia , tudo que ela
ma is valor izava , Jennsen não conseguia entender porque sentia uma sensação de estar
par t icipando de uma violação. A impressão desapareceu quando, ao invés disso, ela concentrou sua atenção
em a lgo que avistou adiante. Estava não muito longe dos largos degraus de mármor e
que conduziam subindo até a grande entrada do Palácio das Confessoras . Parecia u m poste solitár io com algumacoisa sobre ele . Um longo pano amarrado per to do topo do
poste voava e ondulava na br isa , como se est ivesse acenando para eles , chamando sua
atenção, dando a todos eles , f inalmente, um dest ino. O Imperador Jagang conduziu a carga dir etamente em dir eção daquele poste com sua bandeira vermelha esvoaçando .
Enquanto eles corr iam pelos gramados , ela concentrou-se no ca lor dos
músculos obedientes e poderosos de Rusty f lex ionando sob ela , encontrando confor to
nos movimentos familiar es de seu cavalo. Jennsen não conseguia para de olhar para as colunas de mármore que erguiam-se acima deles . Era uma entrada ma jestosa ,
imponente, e ainda ass im elegante e acolhedora . Neste dia , a Ordem Imper ia l
fina lmente possuir ia o lugar onde o ma l t inha , durante tanto tempo, governado sem opos ição.
O Imperador Jagang levantou sua espada bem a lto , sina lizando para que a
cavalar ia parasse. A agitação, os rugidos, os gr itos de batalha, morreram quando dezenas de milhares de homens , todos de uma só vez, fizeram seus cavalos excitados
pararem. Isso deixou-a surpresa , com tantos homens de armas em punho, que tudo
acontecesse em segundos e sem carnif icina .
Jennsen deu tapinhas no lado do pescoço suado de Rusty antes de descer do cavalo. Ela atingiu o chão no meio de uma confusão de homens , a ma ior ia of iciais e
conselheiros , mas também homens da cavalar ia regular , todos r eunidos para
protegerem o Imperador . Ela nunca esteve tão per to assim entr e os soldados comuns . Eles eram int imidantes enquanto olhavam para ela em seu meio . Todos parecia m
impacientes para ter em um inimigo contra o qua l lutar . Os homens eram um grupo
sujo, s inistro, e t inham fedor pior do que o dos cava los deles . Por alguma razão, era o
fedor sufocante, suado, que ma is a deixava assustada . A mão de Sebast ian segurou o braço dela e puxou -a para mais per to.
— Você está bem?
Jennsen assent iu, tentando ver o Imperador e o que fez ele parar . Sebastian,
tentando ver também, puxou-a com ele enquanto caminhava através de um amontoado
de corpulentos of icia is . Vendo que era ele, eles abr iram caminho.
Ela e Sebastian pararam quando viram o Imperador imóvel vár ios passos adiante, sozinho, suas costas voltadas para eles, seus ombros caídos , sua espada
pendurada no punho ao lado do corpo . Parecia que todos os homens dele estavam com
medo de aproximarem-se dele. Jennsen, com Sebastian movendo-se rapidamente para acompanhá -la ,
reduziu a distância para alcançar o Impera dor Jagang. Ele estava congelado diante da
lança p lantada com a par te infer ior no chão . Olhava f ixamente com aqueles olhos completamente negros como se est ivesse vendo um fantasma . Amarrado sob a longa
ponta de metal dentada afiada da lâmina , o grande peda ço de pano chicoteava no quase
completo si lêncio.
Sobre a lança estava a cabeça de um homem. Jennsen fez um careta diante da visão aterradora . A cabeça magra , cor tada
de forma limpa bem no meio do pescoço, parecia quase viva .
Os olhos escuros , sob uma profunda testa encapuzada , estavam f ixos em um olhar vazio que não piscava . Um gorro escuro repousava parcialmente abaixado na
testa . De algum modo, o gorro austero sobre a cabeça parecia combinar com o
semblante severo do homem. Tufos de cabelo ondulavam por cima das or elhas
balançando ao vento. Parecia como se os lábios f inos , a qua lquer momento, poder ia m mostrar para eles um sorr iso sinistro do mundo dos mortos .
Pela aparência do rosto, parecia como se o homem , em vida , t ivesse s ido tão
315
sombrio quanto a própria morte.
A forma como o Imperador Jagang estava estupefato, fitando a cabeça diant e
dele empa lada na ponta da lança , e o modo como nenhum dos milhares de homens ao
menos toss iu , fez o coração de Jennsen bater ma is acelerado do que havia batido quando ela estava cava lgando Rusty em um galope desenfr eado.
Jennsen olhou cautelosamente para Sebastian. Ele também estava surpreso.
Os dedos dela aper taram no braço dele em solidar iedade por causa da expressão em seus olhos arregalados cheios de lágr imas . Fina lmente ele inclinou chegando mais
per to dela para sussurrar com uma voz sufocada .
— Irmão Narev.
O choque daquelas duas palavras malmente audíveis at ingiu Jennsen como
um tapa . Era o grande homem em pessoa , o l íder esp ir itua l de todo o Mundo Ant igo, o
amigo do Imperador Jagang e conselheiro pessoal ma is próximo. . . um homem qu e Sebast ian acreditava ser mais próximo do Criador do que qua lquer homem que já
nascera , um homem cujos ens inamentos Sebastian seguia r eligiosamente, morto, sua
cabeça empalada em uma lança . O Imperador esticou o braço e t irou um pequeno pedaço de papel dobrado
que estava preso no lado do gorro do Irmão Narev . Quando Jennsen observava os
dedos grossos de Jagang abr indo o pequeno pedaço de papel cu idadosamente dobrado ,
inesperadamente isso a fez lembrar da maneira como ela havia desdobrado o papel qu e encontrou no soldado D'Haran naquele dia fatídico em que ela o descobriu deitado
morto no fundo da ravina , no dia em que ela conheceu Sebast ian. O dia antes que os
homens de Lorde Rahl havia fina lmente loca lizado ela e assassinado sua mãe. O Imperador Jagang levantou o papel para ler s i lenciosamente o que estava
escr ito. Durante um longo tempo assustador , ele f icou apenas olhando para o papel .
Finalmente, o braço dele abaixou. Seu pei to tufou com uma terr ível ira crescent e
quando ele olhava mais uma vez para a cabeça do Irmão Narev na ponta da lança . Com uma voz inf lamada , cheia de indignação, Jagang r epet iu as pa lavras do b ilhete alto o
bastante para aqueles que estavam per to ouvirem.
— Cumpr imentos de Richard Rahl.
O vento gemeu através de uma conjunto de árvores próximas . Ninguém diss e
uma palavra enquanto todos esperavam or ientação do Imperador Jagang.
Jennsen torceu o nar iz ao sent ir um cheiro horr ível . Ela levantou os olhos para ver a cabeça , tão perfeita há apenas alguns momentos , começando a apodrecer
diante dos olhos dela . A carne murchou rapidamente. As pálpebras infer ior es ca íram,
revelando as par tes vermelhas atrás delas . A mandíbula desceu. A f ina l inha da boca abr iu, quase parecendo como se a cabeça estivesse soltando um gr ito .
Jennsen, junto com todos os outros , inclus ive o Imperador Jagang, deu u m
passo para trás enquanto a carne do rosto desfazia -se em súbitas rupturas, exib indo tecido infeccionado por ba ixo. A língua inchou quando a mandíbula caiu . Os globos
oculares saltaram de suas órbitas enquanto encolhiam. Carne apodrecida caiu em
fragmentos .
O que ter ia s ido r esultado de longos meses de decomposição ocorr eu em uma questão de segundos , deixando o crânio sob aquele gorro sorr indo para eles com
pedaços esfarrapados de carne pendurada .
— Tinha uma teia de magia ao redor dela , Excelência. — Irmã Perdita
falou, quase parecendo r esponder a uma pergunta não pronunciada . Jennsen não t inha
escutado ela aproximar -se por trás deles. — O feit iço preservou -a naquela condição
até que você t irasse o b ilhete do gorro , disparando a dissolução da magia que a
preservava . Ass im que a magia foi ret irada , os. . . restos passaram pela decomposição
que norma lmente ter ia ocorr ido. O Imperador Jagang estava olhando para ela com fr ios olhos escuros . O qu e
ele podia estar pensando, Jennsen não podia ter cer teza , mas podia ver a fúr ia
crescendo dentro daqueles olhos de pesadelo .
— Essa foi uma proteção bastante complexa e poderosa que preservou-a até
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que a pessoa cer ta a tocasse. . . para t irar o bilhete. — disse Irmã Perdita com voz
tranquila . — A proteção estava ajustada para o seu toque , Excelência .
Durante um longo e aterror izante momento, Jennsen temeu que o Imperador
Jagang pudesse subitamente mover sua espa da com um grito selvagem e decapitar a
mulher .
De um lado, um oficial apontou repent inamente para o Palácio das Confessoras .
— Vejam! É ela !
— Querido Criador . — Sebastian sussurrou quando ele, também, olhou e viu
alguém na janela .
Outros homens gr itaram que viram ela também. Jennsen levantou na ponta dos dedos, t entando ver entr e os soldados altos correndo adiante , e os of iciais
apontando, a lém dos r ef lexos no vidro, a pessoa que ela viu dentro do inter ior escuro .
Protegeu os olhos contra o sol , t entando enxergar melhor . Homens sussurraram excitados.
— Ali! — outro of icial do outro lado de Jagang gr itou. — Olhem! É Lorde
Rahl! Ali! É Lorde Rahl! Jennsen congelou com o impacto daquelas palavras . Não parecia r eal . Ela
repassou as palavras do homem em sua ment e, elas eram tão chocantes de ouvir qu e
ela sent iu que precisava checar outra vez se rea lmente foi aquilo que pensou ter ouvido.
— Ali! — outro homem gritou . — Descendo por aquele lado! São os dois !
— Estou vendo eles. — Jagang rosnou enquanto acompanhava as duas
figuras fugit ivas com seu olhar negro . — EU r econhecer ia aquela vadia nos pontos
ma is distantes do Submundo. E ali! Lorde Rahl está com ela ! Jennsen só conseguiu captar relances de duas figuras que corr iam passando
por janelas .
O Imperador Jagang cor tou o ar com sua espada , sinalizando para seus homens.
— Cerquem o Palácio para que eles não possam escapar ! — ele virou para
seus of iciais. — Quero que a companhia de assalto venha comigo ! E uma dúzia de
Irmãs! Irmã Perdita . . . fique com as outras Irmãs aqui. Não deixem ninguém passar por
vocês !
O olhar dele buscou Sebast ian e Jennsen. Quando encontrou -os entr e aqueles que estavam per to ele f ixou o seu olhar ardente em Jennsen.
— Se você quer a sua chance, garota , então venha comigo !
Jennsen percebeu, quando ela e Sebast ian correram atrás do Imperador
Jagang, que estava com a faca no punho.
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C A P Í T U L O 4 8
Bem per to aos calcanhares de Jagang, nas sombras de enormes colunas de mármore, Jennsen subia velozmente a larga extensão de degraus de mármore branco. A
mão confor tadora de Sebastian estava nas costas dela o caminho todo . Feroz
determinação ardia nos rostos dos homens selvagens subindo os degraus ao redor dela .
Os homens da companhia de assalto , cober tos por camadas de couro, cota de ma lha, e grossas peles , empunhavam espadas cur tas, enormes machados de lâmina
curva, ou terr íveis mangua is em uma das mãos , enquanto no outro braço todos eles
carregavam escudos r edondos de metal como proteção , mas os escudos t inham longos espetos no centro pa ra transformá-los em armas também. Os homens estavam até
mesmo cobertos com cintos e faixas com pregos af iados em forma de gancho para
transformar o combate mano a mano em a lgo traiçoeiro, no mínimo . Jennsen não conseguia imaginar alguém com nervos para en carar homens ferozes assim.
Subindo os degraus trovejando, os soldados musculosos rosnavam como
anima is, arrombando portas duplas entalhadas como se elas fossem feitas com
gravetos, nunca checando para ver se as por tas estar iam destrancadas . Jennsen protegeu o rosto com um braço enquanto ela voava através do chuveiro de fragmentos
despedaçados de madeira .
O som de trovão das botas dos homens ecoavam através do grande sa lão interno. Altas janelas de pálido vidro azul entr e p ilar es polidos de mármore branco
lançavam feixes de luz pelo chão de mármore onde a força de assalto corr ia . Homens
agarraram o corr imão de mármore com mãos grandes e subiram o pr imeiro lance de
escadas, seguindo para os andares super ior es onde t inham visto a Madre Confessora e Lorde Rahl. O som das botas dos soldados na rocha ecoavam através do alto t et o
decorado com molduras ornamentadas que cobria a escadar ia .
Jennsen não conseguia evitar de f icar loucamente excitada que esse pudess e ser o dia em que tudo isso acabar ia . Ela estava a uma distância de apenas uma facada
da l iberdade. Era ela quem devia fazer isso. Era a única que podia . Ela era invencível.
O fato de que matar ia um homem tinha apenas uma vaga importância para ela . Enquanto subia rapidamente os degraus , ela pensava somente no horror que Lorde
Rahl t inha trazido para sua vida e para a vida de outros . Cheia de fúr ia just if icada , ela
pretendia acabar com isso de uma vez por todas .
Sebast ian, correndo junto com ela , estava com a espada na mão. Uma dúzia dos brutamontes estavam na f r ente dela , l iderados pelo Imperador Jagang em pessoa .
Atrás estavam mais centenas da terr ível for ça de assalto , todos determinados a levar
uma violência impiedosa ao inimigo . Entre ela e aqueles soldados que avançava m atrás, Irmãs da Luz subiam corr endo os degraus, sem armas a não ser o seu Dom.
No topo do lance de escada , todos f izeram uma parada amontoando -se em
um liso assoa lho de carva lho. O Imperador Jagang olhou para os dois lados no corredor .
Uma das Irmãs ofegantes abr iu caminho no meio dos homens .
— Excelência ! Isso não faz sent ido!
A única r esposta dele foi um olhar fur ioso enquanto r ecuperava o fôlego ,
antes de seu olhar mover -se, buscando sua presa .
— Excelência , — a Irmã ins ist iu, mesmo que ma is tranquilamente. —
porque duas pessoas. . . tão imp ortantes para a causa deles. . . estar iam sozinhas aqui no
Palácio? Sozinhas sem ao menos um guarda na porta ? Isso não faz sent ido. Eles não
ficar iam aqui sozinhos . Jennsen, independente do quanto desejasse Lorde Rahl sob a sua faca , t inha
de concordar . Isso não fazia sentido.
— Quem af irma que eles estão sozinhos ? — Jagang perguntou. — Você
sente qualquer conjuração de magia ?
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Ele t inha razão, é claro. Eles podiam cruzar uma porta e encontrar uma
surpresa de mil espadas aguardando por eles . Mas essa chance pa recia r emota . Parecia
ma is lógico que uma força de proteção , se houvesse uma aqui, não ter ia desejado
permit ir que eles todos entrassem. — Não, — a Irmã respondeu. eu não sinto magia . Mas isso não s ignif ica qu e
ela não possa ser invocada em um instante . Excelência , você está colocando-se em per igo desnecessar iamente. É
per igoso sa ir perseguindo pessoas assim quando tem tantas coisas que não fazem
sentido.
Ela conseguiu evitar chamar aquilo de tolice . Jagang, parecendo prestar pouca atenção a Irmã enquanto e la falava , sinalizou para seus homens , enviando uma
dúzia correndo em cada direção no corr edor . Um esta lo dos dedos e um rápido gest o
enviou uma Irmã com cada grupo. — Você está pensando como um oficial de exército novato , — disse Jagang
para a Irmã . — a Madre Confessora é muito mais astuta e dez vezes tão engenhosa
quanto você a cons idera . Ela é inteligente demais para pensar em termos tão simples .
Você tem visto a lgumas das coisas de que ela é capaz . Não vou deixar ela escapar
dessa vez. — Então, porque ela e Lorde Rahl estar iam aqui sozinhos? — Jennsen
perguntou quando ela viu que a Irmã temia falar mais . — Porque eles aceitar ia m
ficarem tão vulneráveis?
— Que lugar ser ia melhor para esconder -se do que uma cidade vazia ? —
Jagang perguntou. — Um Palácio vazio? Qualquer guarda nos informar ia da presença
deles.
— Mas porque, entr e todos os lugares, eles se esconder iam aqui ?
— Porque sabem que a causa deles está em r isco . São covardes e querem
evitar ser em capturados . Quando as pessoas estão desesperadas e em pânico,
geralmente correm para suas casas para esconderem -se em um lugar que conhecem. —
Jagang enf iou um dedão atrás do cinto enquanto analisava a dispos ição dos corredores
em volta dele. — Esse é o lar dela . No f inal, eles só pensam nas próprias peles, não
nas dos companheiros deles.
Jennsen não conseguia evitar em fazer pressão , mesmo enquanto Sebastian
estava puxando ela para trás , pedindo que ela ficasse quieta . Ela est icou o braço em dir eção às janelas .
— Então porque eles permit ir iam ser vistos ? Se estão tentando esconderem-
se, como você sugere, então porque eles deixar iam serem avistados ? — Eles são ma lignos ! — ele virou os olhos terr íveis para ela . — Quer iam
observar quando eu encontrasse os restos do Irmão Narev. Queriam me ver descobrindo a pr ofanação deles e o odioso assassinato de
um grande homem. Simplesmente não conseguiram res ist ir a esse prazer doent io !
— Mas.. .
— Vamos lá ! — ele gr itou para seus homens .
Quando o Imperador avançou , Jennsen agarrou o braço de Sebastian,
exasperada, contendo ele. — Você r ealmente acha que poder iam ser eles ? Você é um estrategista . . .
honestamente acr edita que alguma coisa disso faz sent ido ? Ele viu o caminho que o Imperador tomou , seguido por uma onda de homens
correndo atrás dele, então virou um olhar sér io para ela .
— Jennsen, você quer ia Lorde Rahl. Essa pode ser a sua chance.
— Mas eu não vejo porque. . .
— Não discuta comigo ! Quem é você para achar que sabe o que é melhor !
— Sebastian, eu. . .
— Eu não tenho todas as respostas ! É por isso que estamos aqui.
Jennsen engoliu o bolo em sua garganta .
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— Só estou preocupada com você , Sebastian, e com o Imperador Jagang.
Não quero que suas cabeças acabem na ponta de uma lança também.
— Na guerra , você deve agir , não apenas através de um plano cuidadoso ,
mas quando vê uma aber tura . A guerra é assim.. . na guerra às vezes as pessoas fazem
coisas estúpidas ou até mesmo aparentemente loucas . Talvez ela e Lorde Rahl
simplesmente tenham feito algo estúpido. Você tem que t irar vantagem dos erros de um inimigo. Na guerra , geralmente o vencedor é aquele que ataca não importa o qu e
aconteça e aproveita qualquer vantagem. Nem sempre há tempo para pensar em tudo .
Jennsen só conseguiu f icar olhando nos olhos dele . Quem era ela , uma ninguém, para tentar dizer a um estrategista de um I mperador como lutar em uma
guerra?
— Sebastian, eu só estava. . .
Ele agarrou o vest ido dela e puxou -a para per to. O rosto vermelho dele
distorcido de raiva .
— Você r ea lmente va i jogar fora o que pode acabar sendo a sua única
chance de vingar o assassinato da sua mãe? Como você se sent ir ia se Richard Rahl for
mesmo louco para estar aqui ? Ou se ele t iver algum plano que não podemos ao menos
imaginar? E você s implesmente f icar aqui discutindo a respeito disso ! Jennsen estava surpresa . Ele podia estar cer to? E se ele est ivesse?
— Ali estão eles ! — surgiu um gr ito descendo o corr edor . Era a voz de
Jagang. Ela o avistou no meio de um distante grupo de soldados , apontando sua espada
enquanto todos eles viravam em um corr edor .
— Peguem eles ! Peguem eles !
Sebast ian segurou o braço dela , girou-a, e empurrou-a descendo o corr edor .
Jennsen recuperou o equil íbr io e corr eu com selvagem abandono . Sent iu -se
envergonhada por discutir com pessoas que sabiam o que era uma guerra quando ela não sabia . Afina l de contas, quem ela pensava que era? Era uma ninguém. Grandes
homens deram a ela uma chance, e ela f icou parada no portal para a grandeza ,
discutindo isso. Sentiu-se uma tola .
Quando eles passavam correndo por altas janelas. . . as mesmas janelas onde a Madre Confessora e Lorde Rahl t inham s ido avistados apenas momentos antes a lgo
chamou sua atenção. Um grunhido coletivo subiu a lém dos painéis de vidro . Jennsen
parou escorr egando, as mãos levantadas , segurando Sebastian para fazê- lo parar também.
— Olhe!
Sebast ian olhou impaciente na dir eção em que os outros afastavam-s e correndo, então deu um passo para olhar pela janela enquanto ela balançava a mão ,
apontando fr enet icamente.
Dezenas de milhares de homens de cavalar ia haviam formado uma enorme linha de batalha pelo terreno do P alácio, que est icava-se por todo o caminho descendo
a colina , parecendo avançar contra o inimigo em um grande batalha . Todos brandiam
espadas, machados, e p iques enquanto corr iam como uma massa única , soltando gr itos
de batalha de gelar o sangue. Jennsen observou em s ilêncio, a inda não vendo nada para eles combater em.
Mesmo ass im, os homens, emit indo um grande gr ito, corr eram em fr ente com armas
erguidas. Ela esperava vê- los correr descendo a colina em dir eção a algo do lado de fora, a lém do muro. Talvez eles conseguissem ver um inimigo aproximando-se que ela
não conseguia do seu ângulo dentro do Palácio .
Mas então, no meio do terr eno, com um poderoso choque através de toda a l inha, houve um sonoro impacto quando eles encontraram a parede formada por u m
inimigo que não estava ali .
Jennsen não conseguia acreditar em seus olhos . Sua mente lutou para
compreender , mas a visão aterradora do lado de fora não fazia sent ido . Ela não ter ia acreditado no que estava vendo , se não fosse o choque da súbita carnif icina .
Corpos, de homens e cava los , foram despedaçados . Cava los empinaram.
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Outros caíram, desmoronando sobre pernas quebradas .
Cabeças e braços de homens rodopiaram pelo ar , como se fossem cortados
por espada e machado. Por toda a l inha , sangue encheu o ar . Homens foram atirados
para trás por golpes que explodiam através de seus corpos . A escura e su ja força da cavalar ia da Ordem Imper ial de r epente estava vermelha na fraca luz do dia . A
matança foi tão horr ível que a grama verde ficou vermelha em uma faixa descendo a
colina . Onde houvera gr itos de batalha , agora havia gr itos agudos de espantoso
sofr imento e dor enquanto homens , feitos em pedaços , membros amputados ,
morta lmente fer idos , t entavam se arrastar a té a segurança . Lá fora naquele campo, não havia esse t ipo de lugar , só havia confusão e morte.
Apavorada , Jennsen olhou a expressão perplexa de Sebast ian. Antes qu e
qua lquer um deles pudesse dizer uma palavra , a construção tr emeu como se foss e
atingida por um raio. Logo em seguida ao impacto trovejante , o corr edor ficou cheio de fumaça . Chamas ardiam em dir eção a eles . Sebast ian agarrou-a e mergulhou com
ela dentro de um corr edor la teral que f icava do lado oposto à janela .
A rajada rugiu descendo o corredor , arrastando fragmentos de madeira , cadeiras inteiras , e tapeçar ia flamejante diante dela .
Pedaços de vidro e metal passavam assoviando, arranhando paredes .
Ass im que a fumaça e as chamas t inham passado , Jennsen e Sebastian, ambos com armas na mão, dispararam no corredor , correndo na dir eção em que o
Imperador Jagang havia seguido.
Quaisquer dúvidas ou objeções que ela t eve foram esquecidas. . . ta is coisas
ficaram repent inamente ir relevantes . Só importava que, de algum modo, Richard Rahl estava ali. Ela precisava detê- lo.
Finalmente essa era sua chance . A voz, também, a est imulava adiante. Dessa
vez, ela não tentou abafar a voz . Dessa vez, permit iu que ela a limentasse as chamas do seu desejo ardente por
vingança . Dessa vez, deixou que ela a preenchesse com a avassaladora necess idade de
matar .
Eles corr eram passando por altas por tas no corredor . Cada uma das janelas que passavam t inha um pequeno peitor i l . As paredes estavam cheias de b locos e
painéis de madeira p intados em um tom branco aquecido por um pouco de cor rosa .
Quando chegaram no cruzamento de corr edores e f izeram a curva , Jennsen r ealment e não notou as elegantes lamparinas com ref letor es prateados centralizadas em cada u m
daqueles painéis ; viu apenas as marcas de sangue deixadas por mãos nas paredes , as
longas manchas de sangue no chão de carvalho polido , o desordenado amontoado de corpos imóveis .
Havia pelo menos cinquenta dos soldados de assalto espalhados ao acaso
descendo o corredor , cada um deles queimado, muitos rasgados por vidro e fragmentos
de madeira . A ma ior ia dos rostos não estavam ao menos r econh ecíveis . Costela s despedaçadas projetavam-se de cotas de ma lha ou couro encharcados de sangue . Junt o
com as armas que jaziam espa lhadas , o corredor estava carregado de sangue e
intest inos , fazendo parecer como se alguém t ivesse espa lhado cestas de enguias mortas ensanguentadas .
Entr e os corpos estava uma mulher . . . uma das Irmãs . Ela estava quase
par tida ao meio, ass im como estavam vá r ios dos homens , o rosto cor tado dela congelado na morte com uma f ixa expressão de surpresa .
Jennsen engasgou com o fedor de sangue, ma lmente conseguindo respirar ,
enquanto seguia Sebast ian, pulando de um espaço l ivr e para outro , t entando não
escorregar e cair sobre as vísceras humanas . O horror daquilo que Jennsen estava vendo era tão profundo que sua mente não registrava ; pelo menos, não r egistrava
emociona lmente. Ela simplesmente agia , como se est ivesse em um sonho, sem
realmente ser capaz de cons iderar o que estava vendo . Ass im que passaram pelos corpos , eles seguiram um rastro de sangue em u m
labir into de grandes corredores . O som distante de homens gr itando chegou até eles .
321
Jennsen f inalmente estava a liviada em ouvir a voz do Imperador entr e eles . Eles
pareciam cães de caça concentrados no cheiro de uma raposa , la t indo ins istentemente,
recusando-se a perderem a sua presa .
— Senhor ! — um homem gr itou de longe através de um portal de um lado .
— Senhor ! Por aqui!
Sebast ian fez uma pausa para olhar o homem e os fr enét icos s inais com as mãos dele, então puxou Jennsen para dentro de uma sa la resplandescente. Através de
um piso coberto por um elegante tapete com desenhos de diamantes dourados e cor de
ferrugem, passando por janelas cober tas por maravilhosos tecidos verdes , um soldado estava parado no portal de acesso para outro corredor . Havia poltronas como Jennsen
jama is t inha visto, e mesas e cadeiras com belas pernas enta lhadas . Embora a sala
fosse elegante, ela não era tão imponente, fazendo parecer como um lugar onde as pessoas podiam reunir -se para conversas casuais . Ela seguiu Sebastian enquanto ele
corr ia até o soldado no p ortal no lado oposto da sala .
— É ela ! — o homem gr itou para Sebastian. — Depressa ! É ela ! Acabei de
vê- la passar !
O grande soldado, ainda tentando r ecuperar o fôlego , a espada pendurada no
punho, esp iou pelo portal novamente. Pouco antes deles o a lcançarem, quando ele olhou no corredor , Jennsen
ouviu um som de impacto. O soldado largou sua espada e colocou a mão no peito , seus
olhos f icando arrega lados , sua boca aber ta . Ele caiu morto aos pés deles , nenhum s inal
de fer imento. Jennsen empurrou Sebastian contra a parede antes que ele cruzasse o portal .
Ela não quer ia que ele encontrasse aquilo que acabara de derrubar o soldado .
Quase ao mesmo tempo, do caminho por onde eles t inham vindo, ela ouviu o chiado de a lgo do outro mundo. Jennsen caiu ao chão, est ica ndo-se sobre Sebastian,
segurando-o contra o canto de chão e parede, como se ele fosse uma cr iança a ser
protegida . Ela fechou os olhos bem aper tado, gr itando de medo com o golpe trovejante atrás dela que estr emeceu o chão. Uma barreira de detr itos chiou a través da sala .
Quando f inalmente tudo ficou calmo e ela abr iu os olhos , poeira espa lhava -
se através da destru ição. A parede ao r edor deles estava cheia de buracos . De alguma
forma, ela e Sebastian não foram machucados . Isso serviu apenas para confirmar o qu e ela já acr editava .
— Foi ele! — o braço de Sebastian saiu por baixo dela para apontar do
outro lado da sala . — Era ele!
Jennsen virou mas não viu ninguém.
— O quê?
Sebast ian apontou outra vez.
— Era Lorde Rahl. Eu vi ele. Quando ele passou corr endo na porta ele
lançou algum t ipo de feit iço. . . um punhado de pó cint i lante. . . justamente quando você
me empurrou contra a parede. Então ele explodiu . Não sei como sobrevivemos em uma
sala cheia de detr itos voando.
— Acho que nenhum deles nos acer tou. — Jennsen falou.
A sala t inha sido virada do avesso . As cor tinas estavam esfarrapadas , as
paredes furadas . Os móveis que momentos antes estiveram tão belos agora eram u m amontoado de fragmentos e capas rasgadas . O tapete enrugado estava coberto com uma
poeira branca , pedaços de gesso, e madeira despedaçada .
Um pedaço de gesso soltou e bateu no chão , levantando a inda ma is poeira
quando Jennsen abr ia caminho através dos destroços da sala , em dir eção à por ta pela qua l eles t inham vindo, a por ta onde Sebastian apontou, a por ta onde apenas
momentos antes Lorde Rahl est ivera .
Sebast ian r ecuperou sua espada e seguiu -a rapidamente. O corredor , seu trabalho em madeira tão ref inadamente p intado , agora
estava manchado com sangue. O corpo de outra Irmã jazia esparramado não muito
longe. Quando eles a alcançaram, viram os olhos mortos dela olhando f ixamente para
322
o teto.
— Em nome do Criador , o que está acontecendo ? — Sebastian sussurrou
para si mesmo. Jennsen imaginou, pela expressão no rosto da Irmã morta , que ela devia ter pensado a mesma coisa no ú lt imo instante de sua vida .
Um olhar através da janela mostrou um terr eno de matança cheio com
milhares de corpos . — Você tem que t irar o Imperador daqui , — Jennsen falou. — isso não é a
coisa s imples que parecia .
— Eu dir ia que foi a lgum t ipo de armadilha. Mas ainda podemos conseguir
a lcançar nosso objet ivo. Isso far ia com que t ivéssemos sucesso. . . far ia valer à pena.
Seja lá o que estivesse acontecendo estava fora da exper iência dela e além
de sua habil idade de compreender . Jennsen sabia apenas que pretendia cumpr ir seu objet ivo. Enquanto corr iam por corredores , perseguindo os sons e seguindo as tr i lhas
de corpos, eles seguiram caminho ma is fundo dentro do mister ioso Palácio das
Confessoras , longe de qua lquer janela para fora onde o ar estava s i lencioso e escuro. As profundas sombras nos corr edores e sala s , onde pouca luz penetrava , adicionava
uma nova dimensão aterradora aos eventos apavorantes .
Jennsen estava bem além do choque, do horror , ou até mesmo do medo. Ela sentia-se como se est ivesse observando a si mesma agir . Até mesmo a sua própria voz
soava remota para ela . De alguma forma distante, ela estava maravilhada com as
coisas que fez, com sua habil idade de seguir adiante .
Quando eles faziam a curva cautelosamente em um cruzamento , encontraram uma dúzia de soldados amontoados nas sombras dentro de uma pequena sa la suja de
sangue, mas vivos. Quatro Irmãs estavam lá também. Jennsen avistou o Imperador
Jagang apoiado contra uma parede enquanto ofegava , sua espada segura bem f irme em um punho manchado de sangue. Quando ela chegou per to, ele encarou o olhar dela ,
seus olhos negros cheios não com o medo ou tr isteza que ela esperava, mas fúr ia e
determinação. — Estamos per to, garota . Mantenha sua faca preparada e t erá sua chance .
Sebast ian foi checar outros por tais , procurando tornar segura a área
imediata , vár ios homens moveram-se de acordo com suas instruções quando ele fez sinais s i lenciosos para eles com as mãos .
Ela mal podia acreditar no que estava ouvindo , ou vendo.
— Imperador , você tem que sa ir daqui.
Ele fez uma careta para ela .
— Você f icou ma luca?
— Estamos sendo cor tados em pedaços ! Tem soldados mortos por toda
par te. Eu vi Irmãs ali a trás , despedaçadas por alguma coisa. . .
— Magia. — ele falou com um sorr iso afetado.
Ela piscou ao ver aquele sorr iso.
— Excelência , tem que sair daqui antes que eles peguem você também .
O sorr iso dele desapareceu , substitu ído por um rosto vermelho de fúr ia .
— Isso é guerra ! Como você acha que a guerra é? Guerra é matança . Eles
fizeram isso, e eu pretendo devolver isso em dobro ! Se você não tem estômago para usar essa faca , então coloque o rabo entr e as pernas e fu ja para as colinas ! Mas não
peça para ajudá- la outra vez.
Jennsen defendeu sua pos ição. — Eu não vou corr er . Estou aqui por uma razão. Só quer ia que você
estivesse fora daqui para que a Ordem não perdesse você também, depois que eles já
perderam o Irmão Narev. Ele bufou de desgosto.
— Tocante. — ele virou para os homens , ver if icando que eles estava m
prestando atenção. — Metade toma o corredor da dir eita , logo em fr ente. O r esto f ica
comigo. Quero que eles sejam empurrados para campo aber to . — e le balançou a
espada diante dos rostos das quatro Irmãs . — Duas com eles , duas comigo. Não me
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desapontem agora .
Com isso, os homens e as Irmãs dividiram-se e afastaram-se rapidamente,
metade pela sala à dir eita , metade avançando atrás do Imperador . Sebastian gest iculou
para ela . Jennsen juntou-se a ele, corr endo ao lado dele , enquanto seguiam dentro do corredor fumacento atrás do Imperador .
— Ali está ele! — ela ouviu Jagang gr itar logo adiante. — Aqui! Por aqui !
Aqui!
E então houve uma explosão trovejante tão violenta que derrubou Jennsen,
jogando-a espa lhada . De r epente o corr edor estava cheio de fogo e fragmentos de todo
t ipo r icocheteando nas paredes enquanto tudo isso vinha voando em dir eção a eles . Segurando o braço dela , Sebastian levantou-a e entrou com ela em um portal r ecuado
bem em tempo de escapar do monte de objetos voadores que passava .
Homens no corredor soltaram gr itos de dor mortal . Aqueles sons descontrolados causaram ca lafr ios na espinha de Jennsen.
Seguindo Sebastian, Jennsen correu através de fumaça espessa , em dir eção
aos gr itos . A escuridão, junto com a fumaça , tornava dif íci l enxergar muito longe, mas logo eles encontraram corpos . Além dos mortos , a inda havia alguns homens vivos , mas
estava claro pela natureza grave de seus fer imentos que eles não viver iam muito
tempo. Os ú lt imos momentos de suas vidas foram passados em terr ível agonia . Jennsen
e Sebastian passaram através dos mor ibundos, a través da carnif icina e destroços empilhados até os joelhos de parede a parede , procurando o Imperador Jagang.
Ali, entr e madeira despedaçada , tábuas encostadas , cadeiras e mesas
viradas, est i lhaços de vidro, e gesso caído, eles o avistaram. A coxa de Jagang estava aber ta até o osso. Uma Irmã estava ao lado dele , a costa dela pr essionada contra a
parede. Uma enorme tábua par tida de carvalho havia atingido ela logo abaixo do
esterno, pr egando-a na parede. Ela ainda estava viva , mas era evidente que não havia
nada a ser feito por ela . — Querido Criador , me perdoe. Quer ido Criador , me perdoe. — ela
sussurrava de novo e de novo através de láb ios trêmulos . Os olhos dela viraram para
observarem a aproximação deles . — Por favor , — ela sussurrou, sangue escorr endo do
nar iz. — por favor , me a judem.
Ela est ivera per to do Imperador . Provavelmente t inha protegido ele com o
Dom dela , desviando qualquer que fosse o poder que havia sido l iberado , e salvou a
vida dela . Agora ela estava tremendo em mor tal agonia .
Sebast ian t irou a lgo de ba ixo da sua capa , de trás das costas . Com u m poderoso giro, ele moveu seu machado. A lâmina bateu na parede com um som
abafado, e f icou preso. A cabeça da Irmã ca iu , quicando pelos destroços empoeirados .
Sebast ian puxou uma vez, l iberando o machado. Quando colocava ele de volta no suporte nas costas , ele virou e ficou cara a cara com Jennsen. Ela só
conseguiu olhar apavorada nos olhos azuis fr ios dele .
— Se fosse você, — ele falou. — ir ia querer que eu sent isse um sofr iment o
assim?
Tremendo incontrolavelmente, incapaz de r esponder , Jennsen virou e caiu de
joelhos ao lado do Imperador Jagang. Ela imaginou que ele devia estar sent indo uma dor horr ível, mas ele ma l parecia notar o fer imento , a não ser pelo fato de que ele
sabia que sua perna não funcionar ia . Ele segurava os dois lados do fer imento fechando
o melhor que podia com uma das mãos, mas ainda estava perdendo muito sangue . Com a outra mão, ele conseguira arrastar -se para o lado, onde f icou encostado contra a
parede. Jennsen não era curandeira , e rea lmente não sabia o que fazer , mas cer tament e
percebia a necess idade urgente de fazer algo para estancar o sangramento .
Com o rosto cheio de suor e fu ligem, Jagang apontou para um corr edor la teral usando a espada .
— Sebastian, é ela ! Ela estava bem aqui. Quase peguei ela . Não deixe ela
fugir !
Outra Irmã , com um vest ido de lã marrom empoeirado , veio cambaleando
324
sobre os detr itos , em dir eção a eles na escuridão, passando por todos os soldados qu e
grunhiam. — Excelência ! Eu ouvi! Estou aqui. Estou aqui. Posso ajudar .
Jagang assent iu concordando, uma das mãos repousando sobre o peito . — Sebastian. . . não deixe ela fugir . Vá !
— Sim, Excelência . — Sebastian notou a Irmã subindo desajeitadament e
sobre uma mesa quebrada , então aper tou o ombro de Jennsen com uma das mãos . —
Fique com eles . Ela protegerá você e o Imperador . Eu voltar ei.
Jennsen tentou segurar a manga dele, mas ele já t inha par tido, reunindo todos os homens r estantes em seu caminho . Ele os conduziu descendo o corr edor ,
desaparecendo dentro da escur idão. De repente Jennsen estava sozinha com o
Imperador fer ido, uma Irmã da Luz, e a voz. Ela pegou a ponta de uma tira de cor t ina e puxou -a de baixo dos escombros .
— Você está perdendo muito sangue. Preciso fechar isso da melhor forma
que eu puder . — ela olhou dentro dos olhos de pesadelo do Imperador Jagang. —
Consegue manter a fer ida fechada enquanto eu enrolo isso ?
Ele sorr iu. Suor escorr endo por seu rosto, deixando faixas pela fuligem. — Isso não dói, garota . Faça. Já t ive coisas piores do que isso. Seja rápida .
Jennsen começou a enf iar a cor tina suja embaixo da perna dele , enrolando-a
de novo e de novo enquanto Jagang segurava a fer ida fechada o melhor que podia. O ref inado tecido quase imediatamente transformou -se de branco para vermelho com
todo o sangue espesso fluindo através dele . A Irmã colocou uma das mãos no ombro
de Jennsen quando a joelhava para ajudar . Enquanto Jennsen cont inuava enrolando, a Irmã colocou uma das mãos em cada lado do grande fer imento na carne da coxa dele .
Jagang gr itou de dor .
— Sinto muito, Excelência , — disse a Irmã. — preciso deter o sangrament o
ou você sangrará até morte.
— Faça isso, então, sua vadia estúpida ! Não f ique conversando comigo at é
que eu morra! A Irmã assentiu cheia de lágr imas , c laramente aterror izada com aquilo que
estava fazendo, mesmo sabendo que não t inha escolha a não ser fazê - lo. Ela fechou os
olhos e ma is uma vez press ionou as mãos t rêmulas na perna peluda, encharcada de sangue.
Jennsen afastou-se para dar espaço para ela trabalhar , observando na luz
fraca enquanto a mulher aparentemente tecia magia no fer imento do Imperador . No início, não havia nada para ver . Jagang cerrou os dentes , grunhindo de
dor quando a magia da Irmã começou a fazer seu trabalho . Jennsen observou, surpresa ,
enquanto o Dom na verdade estava sendo usado para ajudar alguém, ao invés de causar
sofr imento. Ela imaginou brevemente se a Ordem Imper ia l acr editava que até mesmo essa magia , usada para salvar a vida do Imperador , era maligna . Na luz fraca , Jennsen
viu o sangue jor rando copiosamente da fer ida reduzir subitamente para um f i lete .
Jennsen inclinou aproximando-se, franzindo a testa , tentando ver nas sombras, enquanto a Irmã , agora que o sangramento havia quase parado , mover as
mãos, provavelmente para começar o trabalho de fechar a terr ível fer ida do Imperador .
Chegando bem per to enquanto observava , Jennsen ouviu Jagang sussurrar
repent inamente. — Ali está ele.
Jennsen levantou os olhos. Ele estava olhando para o corredor . — Richard Rahl. Jennsen. . . a li está ele. É ele.
Jennsen seguiu o olhar do Imperador Jagang, sua faca f irme no punho .
Estava escuro no corredor , mas havia luz fumacenta no f ina l dele , destacando a si lhueta da figura parada ao longe, observando-os.
Ele levantou os braços . Entr e as mãos est icadas , fogo ganhou vida . Não era
fogo como fogo de verdade, como o fogo em uma lareira , mas fogo como aquele surgido de um sonho. Ele estava ali , mas de algum modo não estava ; r eal, mas ao
mesmo tempo ir r eal . Jennsen sent iu como se ela est ivesse em uma fronteira entr e do is
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mundos, o mundo que exist ia , e o mundo do fantástico.
Ass im mesmo, o per igo leta l que a chama ondulante r epresentava estava
claro demais .
Congelada de medo, agachada ao lado do Imperador Jagang, Jennsen s ó conseguia olhar f ixamente quando a f igura no f i na l do corr edor levantou as mãos ,
levantou a bola de fogo azul e amarela que girava lentamente . Entr e aquelas mãos
firmes, a chama rodopiante expandiu , parecendo assustadoramente determinada . Jennsen sabia que estava vendo a manifestação de uma intenção mo rta l.
E então ele lançou aquele inferno implacável em dir eção a eles .
Jagang t inha falado que era Richard Rahl no f inal do corredor . Ela só conseguiu ver a s i lhueta de uma f igura lançando de suas mãos aquele fogo terr ível .
Estranhamente, embora a chama ilu minasse as paredes , ela deixava seu cr iador na
sombra .
A esfera de chamas expandia enquanto voava em dir eção a eles com velocidade cr escente. A chama líquida azul e amarela parecia queimar com intenção
viva.
Mesmo assim, ela também era , de algum jeito estr anho, nada. — Fogo do Mago! — a Irmã gr itou quando levantou . — Quer ido Criador !
Não!
A Irmã desceu o corr edor escuro, em dir eção à chama que aproximava -se. Com selvagem abandono, ela ergueu os braços , com as palmas voltadas para o fogo ,
como se ela est ivesse lançando a lgum escudo mágico para protegê - los, mesmo assim
Jennsen não conseguia ver nada . O fogo cr esceu enquanto avançava contra eles , i luminando as paredes , o
teto, e destroços quando passava chiando. A Irmã levantou as mãos outra vez .
O fogo atingiu a mulher com um som abafado, destacando a s ilhueta dela
contra uma chama de intensa luz amarela tão br ilhante que Jennsen levantou os braços diante do rosto. Em um piscar de olhos , a chama engoliu a mulher , calando seu gr ito,
consumindo-a em um instante cegante. Calor azul ondulava quando o fogo girou
durante um momento no meio do ar , então apagou, deixando para trás somente um fi lete de fumaça no corredor , junto com o cheiro de carne queimada .
Jennsen f icou olhando, estupefata com o que acabara de ver , com uma vida
sendo destruída de forma tão cruel . No f inal do corr edor , Lorde Rahl conjurou novamente uma bola do terr ível
Fogo do Mago, modelando-a entr e suas mãos , fazendo ela cr escer . Outra vez ele
lançou-a dos braços levantados .
Jennsen não sabia o que fazer . Suas pernas não se moviam. Sabia que não conseguir ia corr er de uma coisa assim.
A esfera uivante de chama rodopiante desceu o corredor , gemendo em
dir eção a eles , expandindo enquanto vinha , i lumina ndo as paredes onde passava , a té que a morte ardente ocupasse o espaço de parede a parede , do chão até o teto, não
deixando lugar para esconder -se.
Lorde Rahl começou a recuar , abandonando-os ao seu dest ino, enquanto a morte rugia sobre J ennsen e o Imperador Jagang.
326
C A P Í T U L O 4 9
O som era apavorante. A visão era paralisante. Essa era uma arma conjurada por nenhuma outra razão a não ser matar . Isso
era magia mortal. A magia de Lorde Rahl.
Dessa vez, não havia Irmã da Luz para interceptá -la .
Magia. A magia de Lorde Rahl. Estava ali, mas não estava . No ú lt imo instante antes que aquilo estivesse sobre ela , Jennsen soube o qu e
devia fazer . At irou-se sobre o Imperador Jagang. Naquela fração de segundo antes qu e
o fogo estivesse sobre ela , ela o cobr iu com o corpo no lugar onde ele jazia no cant o do chão contra a parede , protegendo-o como far ia com uma cr iança .
Mesmo através de seus olhos fechados , ela conseguiu ver a luz br i lhante.
Conseguiu ouvir o gemido terr ível das chamas rugindo ao redor dela . Mas Jennsen não sent iu nada .
Ela escutou -a passar rugindo, tr ovejando pelo corredor . Abr iu um olho para
espiar . No fina l do corr edor , a esfera de fogo vivo explodiu através da parede ,
desfazendo-se em uma chuva de chama líquida , lançando uma chuva de madeira ardente sobre o gramado lá embaixo.
Sem a parede, o corr edor estava melhor i luminado. Jennsen afastou-se.
— Imperador . . . você está vivo? — ela sussurrou.
— Graças a você. Ele pareceu surpreso. — O que você fez? Como você
conseguiu não. . . — Calma, — ela sussurrou apressadamente. — f ique abaixado, ou ele
poderá vê- lo.
Não havia tempo a perder . Isso precisava acabar . Jennsen levantou e disparou pelo corr edor , com a faca na mão.
Agora ela podia ver o homem parado ali na luz fumacenta no f inal do
corredor . Ele t inha parado e virado para olhar . Enquanto corr ia em dir eção a ele , ela percebeu que aquele não podia ser o meio - irmão dela . Esse era um velho, uma coleção
de ossos em um manto marrom e preto com faixas prateadas nos punhos das mangas .
Cabelo branco desgrenhado destacava -se em desa linho, mas não diminuía o ar de
autor idade dele. Ass im mesmo ele estava chocado ao vê - la correndo em dir eção a ele, como
se ma l acr editasse, ma l acr editasse que ela sobrevivera ao seu Fogo do Mago . Ela era
um ―Buraco no Mundo‖ para ele . Ela conseguiu ver a compreensão surgin do nos olhos castanhos dele.
Independente de sua aparência bondosa , esse era um homem que t inha
acabado de matar incontáveis pessoas. Esse era um homem que fazia a vontade de Lorde Rahl. Esse era um homem que matar ia mais pessoas a não ser que fosse detido .
Ele era um Mago, um monstro.
Ela precisava detê- lo.
Jennsen segurava sua faca bem alto. Estava quase lá . Ouviu a s i mesma gr itando com fúr ia , como os gr itos de batalha que ela ouviu dos soldados , enquant o
avançava . Agora ela entendia aqueles gr itos de ba talha . Ela quer ia o sangue dele.
— Não. . . — o velho gr itou para ela . — Criança , você não entende o qu e
está fazendo. Nós não temos tempo. . . eu não posso perder um momento ! Pare! Não
posso me atrasar ! Permita que eu. . .
As pa lavras dele não s ignif icavam mais para ela do que as palavras da voz . Ela correu no meio dos destroços espalhados pelo chão tão rápido quanto suas pernas
a carregavam, sent indo a mesma sensação de fúr ia selvagem mas deliberada que sent iu
em casa , quando os homens atacaram sua mãe, e então ela . . . aquele mesmo compromisso feroz.
Jennsen sabia o que t inha de fazer , e sabia que era ela quem devia fazer .
327
Ela eta invencível.
Antes que o a lcançasse, ele moveu uma das mão em dir eção a ela , mas u m
pouco ma is ba ixo do que antes . Dessa vez, não surgiu fogo. Ela não se importava se
ele t ivesse aparecido. Não ser ia det ida . Não poder ia ser det ida . Ela era invencível. Seja lá o que ele fez, isso moveu os dest roços de r epente , como se ele
t ivesse aplicado um poderoso empurrão em tudo aquilo . Antes que ela conseguisse
pular , um dos pés f icou enterrado nos des troços , varando o emaranhado de gesso par tido e r ipas . Tapete enrugado e restos de móveis pr enderam o tornozelo dela . Com
um gemido de surpresa , Jennsen projetou-se violentamente para frente. Pedaços de
madeira e gesso levantaram poeira e detr itos no ar quando ela ca iu no chão . Seu rost o bateu for te, deixando-a tonta .
Pequenos fragmentos e lascas choveram sobre a costa dela . Poeira espalhou
lentamente. O rosto dela la tejava com intensa dor .
Jennsen ouviu a voz dizendo para ela levantar , para cont inuar em movimento. Mas sua visão r eduzira -se a um pequeno ponto, como se ela est ivess e
olhando através de um tubo. o mundo parecia como um sonho através da visão naquele
túnel. Ela f icou deitada imóvel , r esp irando a poeira até que ela invadiu sua garganta , incapaz até mesmo de toss ir .
Grunhindo, Jennsen f inalmente conseguiu levantar . Sua visão estava
retornando rapidamente. Começou a tossir , secamente, t entando l impar sua traqueia da poeira sufocante. Sua perna es tava presa no meio dos destroços . Fina lmente ela
conseguiu empurrar uma tábua para o lado , abr indo espaço para soltar o pé.
Felizmente, sua bota t inha evitado que a madeira despedaçada cor tasse sua
perna. Jennsen percebeu que sua mão estava vazia . Sua faca desaparecera . De
quatro, ela rastejou loucamente no meio dos pedaços de madeira , gesso e t ecido de
tapetes, empurrando coisas para o lado, procurando a faca . Ela enf iou o braço emba ixo de uma mesa virada , ta teando cegamente.
Com as pontas dos dedos ela sentiu algo l iso. Tateou aquilo até tocar na
letra ―R‖ gravada . Grunhindo com o esforço, ela empurrou com o ombro a perna da
mesa virada até que todo o entu lho des lizou quando ela moveu -se um pouco. Ela conseguiu enf iar o braço fundo o bastante para t irar su a faca.
Quando Jennsen f ina lmente conseguiu levantar , o homem havia sumido fazia
muito tempo. Ela foi a trás dele de qua lquer jeito . Quando a lcançou a encruzilhada de passagens , uma rápida olhada r evelou
apenas corr edores vazios . Ela avançou pelo corredor que achou que ele havia tomado,
olhando em sa las , procurando a lcovas , seguindo cada vez ma is fundo dentro do Palácio escuro.
Ela podia ouvir pessoas longe, soldados, gr it ando para outros seguirem eles .
Ela procurou pela voz de Sebastian, mas não escutou ele. Ouviu também o som de
magia sendo l iberada , como o esta lo de um raio, só que do lado de dentro. às vezes isso fazia tremer o Palácio todo. Às vezes, os gr itos de homens morrendo também
podiam ser ouvidos .
Jennsen perseguiu os sons , tentando encontrar o homem que t inha soltado o Fogo do Mago, mas encontrou somente ma is salas vazias e passagens .
Alguns lugares estavam cheios de soldados mortos . Ela não conseguia dizer
se eles est iveram ali desde o início , ou se t inham s ido deixados no rastro do mago em fuga.
Jennsen ouviu o som de soldados corr endo, suas botas ecoando em
corredores. E então, ela escutou a voz de Sebastian gr itar .
— Por ali ! É ela !
Jennsen corr eu por uma interseção e virou descendo um corr edor que seguia
na dir eção em que ela escutara a voz de Sebastian. Os sons dos pés dela eram abafados
por um longo tapete verde com bordas douradas que seguia a extensão de um grande corredor . Ele estava ainda ma is incr ivelmente belo depois que ela sa iu das áreas
arruinadas. Uma janela acima i luminava as colunas de mármore var iegadas marrom e
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brancas que suportavam arcos de cada lado, como sent inelas s i lenciosas observando-a
correr .
O Palácio era um labir into de corredores e câmaras pr imorosas . Algumas das
salas pelas quais Jennsen atravessou t inham móveis com tons neutros , enquanto outras eram decoradas com tapetes , cadeiras, e cor tinas em grande var iedade de cores . Ela
ma l notou que as grandes visões eram surpreendentemente belas enquanto
concentrava-se para não se perder . Ela imaginou o lugar como uma vas ta flor esta , e notou pontos de r efer ência pelo caminho para encontrar o caminho de volta . Tinha de
ajudar a levar o Imperador Jagang para um local seguro.
Disparando pela larga passagem ladeada por recessos de granito nas paredes de cada um dos lados , cada um contendo um delicado objeto de um t ipo ou de outro ,
Jennsen cruzou portas duplas douradas entr ando em uma câmara enorme . O som das
portas ecoou de volta da sala além. O tamanho do lugar , o esplendor da visão, deixou-
a maravilhada . Acima, r icas p inturas de f iguras com mantos espa lhavam-se pelo inter ior do enorme domo. Abaixo das f iguras majestosas um anel de janela s
arredondadas deixava entrar ampla luz . Um estrado semicircular estava de um lado,
junto com cadeiras atrás de uma imponente mesa esculp ida . Aberturas arqueadas pela sala cobriam degraus subindo até sacadas curvas com s inuosos corr imões de mogno
polido.
Jennsen soube pela arquitetura imponente que esse devia ser o lugar de onde a Madre Confessora governava Midlands. Todos os assentos nas sacada s deviam ter
fornecido a vis itantes ou dignitár ios uma vista dos procedimentos .
Jennsen viu alguém movendo-se entr e as colunas do outro lado da câmara .
Neste exato momento, Sebastian entrou por outra por ta não muito longe à dir eita de Jennsen. Uma companhia de soldados espremeu-se através das por tas atrás dele.
Sebast ian levantou sua espada, apontando.
— Ali está ela !
Ele estava quase sem fôlego . A fúr ia br ilhava em seus olhos azuis .
— Sebastian! — Jennsen correu até o lado dele . — Temos que sair daqui .
Precisamos levar o Imperador para um lugar seguro . Um Mago apareceu e a Irmã foi
morta . Ele está sozinho. Depressa .
Os homens estavam se espalhando, uma ressoante massa escura coberta por
cotas de ma lha, armaduras, e armas cint i lantes espalhando-se pela borda da vasta câmara como lobos caçando uma corsa .
Sebast ian apontou com ardor a espada para o outro lado da sala .
— Não até que eu tenha ela . Finalmente Jagang terá a Madre Confessora .
Jennsen olhou para onde ele apontava e viu , então, a mulher alta do outro
lado da sa la . Ela usava s imples mantos de l inho tecidos grosseiramente decora dos no
pescoço com um pouco de vermelho e amarelo . O cabelo negro e gr isalho dela estava par tido no meio e cor tado r eto na altura de sua mandíbula for te .
— A Madre Confessora. — Sebastian sussurrou, imóvel diante da visão
dela .
Jennsen fez uma careta para ele.
— Madre Confessora. . . — Jennsen não conseguia visualizar o Lorde Rahl
casando com uma mulher tão velha quanto a ta taravó dele . — Sebastian, o que você
está vendo?
Ele lançou um olhar surpreso. — A Madre Confessora.
— Qual é a aparência dela ? O que ela está vestindo?
— Está usando o vest ido branco dela . — a expressão ardente dele estava de
volta . — Como você não enxerga ela?
— Ela é uma vadia l inda. — um soldado do outro lado de Sebastian falou
com um sorr iso, incapaz de desviar os olhos da mulher do outro lado da sa la . — Mas
ela será do Imperador .
O resto dos homens também começaram a cruzar a sala com o mesmo olhar
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l ib idinoso e per turbador . Jennsen agarrou Sebastian pelo braço e fez ele virar .
— Não! — ela sussurrou rapidamente. — Sebastian, não é ela .
— Você está louca? — ele perguntou enquanto olhava fur ioso para ela . —
Você acha que eu não sei qua l é a aparência da Madre Confessora?
— Já vi essa mulher antes. — o soldado ao lado dele fa lou. — É ela com
cer teza .
— Não, não é, — Jennsen sussurrou ins istentemente, puxando o braço de
Sebast ian o tempo todo, t entando fazer ele recuar . — Deve ser um feit iço ou a lgo
assim. Sebastian, é uma velha . Essa coisa toda está t err ivelmente errada . Temos qu e
sair . . . O soldado do outro lado de Sebast ian grunhiu. Sua espada caiu no chão de
mármore quando ele segurou o peito . Ele tombou, como uma árvore que havia sido
derrubada , e desabou no chão. Outro soldado, outro, e outro caiu. Tum, tum, tum, eles
bateram no chão. Jennsen colocou-se na fr ente de Sebastian, colocando os braços em volta dele para protegê- lo.
A sala explodiu com o br ilho cegante de um raio . O arco serpenteou
estalando através do ar , e a inda assim encont rou seu alvo sem fa lha , rasgando a f i la de homens que corr iam pela borda sala , derrubando-os em um instante. Jennsen olhou por
cima do ombro e viu a mulher idosa levantar uma das mãos para o outro lado , em
dir eção a homens, e uma Irmã , avançando pela sala dir etamente para ela . Os soldados, a t ingidos por um poder invis ível , caíram rapidamente, um de cada vez. Seus pesados
corpos deslizando pelo chão uma curta distância quando desmoronavam no meio de u m
passo.
A Irmã levantou as mãos , Jennsen imaginou que para proteger -se com algu m tipo de magia , embora ela conseguisse ver nada daquilo . Mas quando a Irmã levantou
um braço novamente, Jennsen não apenas viu mas conseguiu ouvir um raio formando -
se nas pontas dos dedos dela . Com todos os soldados mortos. . . todos menos Sebast ian. . . a velha feit iceira
voltou toda a sua atenção para a Irmã que atacava. Com mãos envelhecidas , a idosa
desviou o ataque, enviando a luz de volta para a Irmã . — Você sabe que só precisa jurar lealdade , I rmã, — a velha fa lou com uma
voz rouca. — e f icará livr e do Anda rilho dos Sonhos .
Jennsen não entendeu, mas a Irmã cer tamente compreendeu .
— Isso não vai funcionar ! Não vou arr iscar ta l agonia ! Que o Criador me
perdoe, mas será mais fácil para nós se eu ma tar você . — Se essa ser a sua escolha , — a velha falou . — então que assim seja .
A mulher ma is jovem começou a lançar sua magia outra vez , mas caiu no
chão com um grito r epent ino. Ela arrastou-se no mármore l iso, t entando sussurrar orações entr e grunhidos de terr ível agonia . Ela deixo um rastro de sangue no mármore ,
mas antes de chegar longe, ela f icou imóvel. Sua cabeça bateu no chão quando ela
soltou um longo ú lt imo suspiro. Com a faca na mão, Jennsen corr eu até a idosa assassina . Sebastian seguiu-
a, mas t inha dado apenas alguns passos quando a mulher girou e lançou um a luz
cint i lante em dir eção a ele justa mente quando Jennsen entrou na l inha de visão dela .
Somente isso evitou que o raio de luz cint i lante atingisse ele em cheio . A luz espalhou-se do lado dele em uma chuva de centelhas . Sebastian caiu soltando u m
grito.
— Não! Sebastian! — Jennsen aproximou-se dele. Ele pr essionou as mãos
no lado das costelas , c laramente sent indo dor . Mesmo que est ivesse fer ido, pelo
menos ele estava vivo.
Jennsen virou novamente para a mulher idosa . Ela estava imóvel , sua cabeça inclinada, escutando. Havia confusão no seu comportamento , e uma cur iosa espécie de
estranha impotência .
A feit iceira não estava olhando para ela , ao invés disso, estava com u m ouvido voltado para ela . Estando um pouco ma is per to, agora , Jennsen not ou pela
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primeira vez que a idosa t inha os olhos completamente brancos . No início Jennsen
ficou olhando surpresa, e então compreendeu de r epente.
— Adie? — ela sussurrou, sem pretender dizer em voz alta .
Assustada , a mulher inclinou a cabeça para o outro lado , escutando com o
outro ouvido.
— Quem estar aí? — a voz rouca perguntou . — Quem estar aí?
Jennsen não respondeu, com medo de entr egar sua posição exata . A sala
ficara si lenciosa . A preocupação marcava pesadamente o rosto enrugado da velha
feit iceira . Mas a determinação também quando ela levantou a mão. Jennsen aper tou a faca no punho, sem saber o que fazer . Se essa r ealment e
fosse Adie, a mulher da qual Althea t inha falado, então, de acordo com Althea, ela
estar ia completamente cega par ta Jennsen. Mas ela não estava cega para Sebastian. Jennsen aproximou-se ma is um passo.
A cabeça da idosa virou em dir eção ao som.
— Criança? Você ser uma irmã de Richa rd? Porque você estar com a
Ordem?
— Talvez porque eu queira viver !
— Não. — a mulher balançou a cabeça com for te des aprovação. — Não. Se
você estar com a Ordem, então escolheu a morte, não a vida .
— Você é a única que pretende causar morte !
— Isso ser uma ment ira . Todos vocês vieram até mim com armas e intenções
assassinas , — ela falou. — eu não fu i a trás de vocês.
— É claro! Porque você corrompe o mundo com a sua magia suja ! —
Sebast ian gr itou lá atrás . — Você sufocar ia a humanidade. . . escravizar ia a todos nós. . .
com os seus antigos costumes vis !
— Ah, — Adie disse, assent indo para si mesma . — Então ser você quem
enganou essa cr iança .
— Ele sa lvou a minha vida ! Sem Sebastian eu não ser ia nada ! Eu não ter ia
nada ! Estar ia morta ! Exatamente como a minha mãe! — Criança , — Adie falou lentamente com a voz rouca , — isso ser também
uma ment ira . Afaste-se deles. Venha comigo.
— Você adorar ia isso, não é mesmo! — Jennsen gr itou. — Minha mã e
morreu em meus braços por causa do seu Lorde Rahl. Eu conheço a verdade. A
verdade é que você adorar ia entregar o pr êmio para Lorde Rahl, fina lmente. Adie ba lançou a cabeça .
— Criança , não sei que ment iras estar enchendo sua cabeça , mas não tenho
tempo para isso. Você deve ir embora comigo, ou não posso ajudar você. Não poss o esperar nem mais um momento. O tempo esta r cur to e já usei todo o que eu t inha .
Enquanto a mulher falava , Jennsen usou a oportunidade para avançar com
alguns passos leves . Ela precisava aproveitar essa chance para acabar com a ameaça . Sabia que podia derrubar essa mulher . Se fosse apenas uma questão de músculos e
habil idade com uma faca , então Jennsen ter ia a dist inta vantage m. A magia de uma
feit iceira era inút i l contra alguém que era invencível. . . contra um Pilar da Criação .
— Jenn, acabe com ela ! Você consegue! Vingue a sua mãe!
Jennsen a inda estava a um quarto da distância de Sebastian até Adie. A faca
segura bem f irme, ela deu outro passo. — Se essa ser a sua escolha , — Adie falou quando ouviu o leve som do
passo. — então que assim seja .
Quando a feit iceira ergueu a mão em dir eção a Sebastian, Jennsen percebeu
com horror o que ela quer ia dizer : o pr eço de sua escolha era que Sebast ian ser ia
sacr if icado.
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C A P Í T U L O 5 0
Sebast ian estava no chão, não muito longe, inclinado para o lado, erguendo-se sobre um braço. Jennsen viu sangue no chão de mármore embaixo dele. Uma vez
que Adie não poder ia deter Jennsen, ela pretendia acabar com ele como o preço . A
espantosa rea lidade de ver Sebastian sent indo dor , de saber que ele estava prestes a
ser assassinado, mexeu com Jennsen profundamente. Sebast ian era tudo que Jennsen t inha .
A feit iceira estava apenas a um piscar de olhos de l iberar a magia leta l
sobre ele. Jennsen estava muito ma is per to de Sebastian do que da feit iceira . Jennsen sabia que jamais alcançar ia a feit iceira em tempo de detê - la , mas ela podia chegar até
Sebast ian em tempo de protegê- lo. Só poder ia matar a feit iceira se est ivesse disposta a
perder Sebastian ao fazer isso. Essa era a opção que Adie ha via dado para ela . Jennsen abandonou seu ataque e ao invés disso mergulhou até Sebast ian,
colocando-se na l inha de visão da mulher , cr iando um ―buraco no mundo‖ onde ela
estava tentando dir ecionar seu terr ível fogo conjurado . A magia que a feit iceira lançou
errou Sebastian, um raio cruzando o chão de mármore polido, rasgando-o em uma linha bem ao lado dele. O ar estava cheio com uma explosão de fragmentos d e rocha .
Jennsen envolveu Sebast ian protetoramente nos braços quando caiu ao lado
dele. — Sebastian! Consegue se mover? Consegue correr? Temos que sair daqui.
Ele assentiu . — Ajude-me a levantar . — sua voz estava cansada , sua
respiração fraca .
Jennsen enf iou a cabeça embaixo do braço dele e fez um esforço para
colocá- lo em pé. Com a ajuda dela , eles seguiram em dir eção às por tas rapidamente . Atrás, Adie levantou as mãos outra vez , seus olhos brancos rastreando os movimentos
de Sebastian, se não podia rastr ear Jennsen. Jennsen virou para o lado, colocando-s e
no caminho. Um raio passou, errando eles por cent ímetros , arrancando as pesadas
portas cober tas de metal das dobradiças . As portas foram des lizando pelo corr edor . Jennsen e Sebastian corr eram através da aber tura fumacenta e seguiram pelo
largo corredor . Jennsen percebeu, quando observava as pesadas portas descendo o
corredor , quicando em paredes , arrancando grandes pedaços de rocha , que se alguma coisa como aquela a atingisse, ela ser ia esmagada . Ela também notou que seu braço
estava sangrando de pequenos cor tes causados por fragmentos de rocha que acer taram-
na. Não foi magia que fez isso, mas a rocha afiada , mesmo que a rocha af iada t ivesse
sido lançada por magia . De cer tas formas ela podia ser invencível , mas se a magia derrubasse uma
grande coluna de pedra sobre ela , ela estar ia tão morta como se aquilo fosse derrubado
por força bruta. Um morto era um morto. De repente Jennsen não sent ia -se tão invencível.
Na pr imeira intersecção, ela os conduziu para a dir eita , t irando Sebastian da
l inha de visão do Dom de Adie, e de suas armas de magia , o ma is rápido poss ível . Jennsen podia sent ir o sangue quente dele escorrendo sobre o braço dela que estava ao
redor dele. Independente do fer imento, Sebastian não pediu a ela para ir ma is devagar
para poupá-lo de qua lquer dor . Juntos, eles correram por corredores e sa las tão rápido
quanto ele era capaz, cruzando o Palácio, r etornando para onde Jennsen ha via deixado o Imperador .
— O seu fer imento é muito sér io? — ela perguntou, t emendo a resposta .
— Não tenho cer teza. — ele disse, quase sem fôlego e claramente sent indo
muita dor . — Parece como se t ivesse um fogo ardendo em minhas costelas . Se você
não t ivesse evitado que ela me at ingisse em cheio , cer tamente eu estar ia mort o.
Enquanto seguiam pelo Palácio , encontraram um esquadrão dos homens
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deles. Jennsen caiu per to deles , ofegante, exausta , incapaz de segurar Sebastian mais
um passo. Os músculos das pernas dela tremiam por causa do esforço .
— Estamos par tindo. — Sebastian falou para os homens , sua respiração
pesada com a dor . — Temos que sair . O Imperador está fer ido. Precisamos t irá -lo
daqui. — ele apontou em difer entes dir eções . — Alguns de vocês seguem para cada
lado. Reúnam todos os nossos homens . Precisamos juntar todos que pudermos para
proteger o Imperador e então devemos levá - lo de volta para um lugar seguro. Vocês
dois, t erão que me ajudar . Os homens for tes começaram a cuidar de suas tarefas rapidamente . Os dois
que f icaram para trás jogaram os braços de S ebastian sobre os ombros e carregaram
ele facilmente. Ele gemeu de dor . Jennsen os guiou através do Palácio, buscando os
pontos de r efer ência que lembrava , desesperada para chegar ao Imperador Jagang e cair fora da armadilha mortal do Palácio .
O Palácio das Confessoras era uma confusão de corr edores , passagens, e
salas. Algumas das salas eram enormes , mas quando eles chegavam a lugares ass im, eles se espalhavam, f icando no labir into de passagens ; Sebast ian disse que eles não
quer iam ser pegos em uma dessas grandes sa las onde ser iam um a lvo fácil . De forma
intermitente, Jennsen escutava o terr ível som de magia . Cada uma das vezes , o Palácio inteiro estr emecia com a concussão.
— Por aqui, — ela disse, r econhecendo a brecha na parede no canto de uma
passagem cheia de entu lhos. Aquele buraco na parede externa , deixando ver a luz do dia e fornecendo uma vista panorâmica dos gramados lá embaixo , foi onde o Fogo do
Mago, dir ecionado a ela e o Imperador Jagang, t inha atravessado.
Cinco soldados desceram o corredor vindo da ou tra dir eção, passando por cima de um amontoado de detr itos , trazendo uma Irmã da Luz com eles . Atrás, quas e
ma is uma dúzia de homens apareceram. Duas Irmãs, seus rostos manchados de
fuligem, vieram através de uma sala la teral próxima , seguidas por mais homens da
força de assalto. Metade dos homens estavam sangrando, mas todos eles conseguiam andar
com suas próprias forças .
O Imperador Jagang estava sentado contra a parede onde Jennsen t inha deixado ele. A profunda fer ida estava sendo mant ida parcialmente fe chada pela cor tina
que Jennsen enrolara na perna dele , mas a carne dos músculos dele não estava
alinhada adequadamente e o terr ível fer imento claramente pr ecisava de atenção .
Parecia que a magia de cura realizada pela Irmã , pouco antes dela t er s ido morta , a inda aguentava , e pelo menos o Imperador não estava perdendo sangue do jeito qu e
estivera .
O sangue que o Imperador t inha perdido o deixou com aparência fraca e pálida , mas não tão pálida quanto os rostos daqueles que pela pr imeira vez
enxergavam a ser iedade do fer imento dele.
Uma das Irmãs ajoelhou para checar o fer imento dele. Jagang gemeu quando ela t entou alinhar melhor as duas metades da perna aber ta dele .
— Não há tempo para curar isso agora , — ela disse. — pr ecisaremos levar
ele para um lugar seguro pr imeiro. Imediatamente ela começou a aper tar a atadura de cor t ina ensopada de
sangue que Jennsen t inha começado a aplicar . Ela pegou ma is pano dos destroços .
— Você pegou ela? — Jagang perguntou enquanto a Irmã trabalhava
fechando a fer ida com o su jo p edaço de pano.
— Onde ela está? Sebastian! — ele usou uma tábua para levantar o corpo ,
olhando para um lado e para outro entr e a companhia de soldados enquanto eles
ajudavam Sebast ian a chegar até o Imperador . — Aí está você. Onde está a Madre
Confessora? Você pegou ela? — Não é ela . —Jennsen respondeu no lugar dele .
— O quê? — o Imperador olhou ao r edor fur ioso para as pessoas que
observavam. — Eu vi a vadia . Conheço a Madre Confessora quando eu a vejo ! Porqu e
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você não pegou ela !
— Você viu um Mago e uma F eit iceira , — Jennsen fa lou. — eles estava m
usando magia para fazer vocês pensarem que estavam vendo Lorde Rahl e a Madre Confessora . Foi um truque.
— Acho que ela está cer ta , — Sebastian declarou antes que Jagang pudess e
gr itar com ela . — Eu estava parado bem ao lado dela e enquanto eu via a Madre
Confessora , Jennsen não.
Jagang virou um olhar sombrio para ela . — Mas se os outros viram ela , como você poder ia não. . .
A compreensão pareceu tomar conta dele . Por alguma razão que Jennsen não
podia imaginar exatamente, ele subitamente reconheceu a verdade nas palavras dela . — Mas porquê? — a Irmã cuidando do fer imento do Imperador perguntou ,
levantando os olhos do seu trabalho de fazer a bandagem na fer ida .
— Tanto o Mago quanto a Feit iceira pareciam apressados. — Jennsen fa lou.
— Eles devem estar tramando alguma coisa .
— Isso é uma distração. — Jagang sussurrou , olhando para o corredor vazio
cheio de destroços . — Eles quer iam nos manter ocupados . Nos manter longe, e
ocupados pensando em outra coisa . — Nos manter longe do quê? — Jennsen perguntou.
— Da força pr incipal. — fa lou Sebastian, captando a l inha de raciocínio de
Jagang.
Outra Irmã , lançando olhares fur t ivos para as outras Irmãs depois de
inspecionar o fer imento de Sebastian, trabalhou rapidamente pr ess ionan do uma bandagem contra as costelas dele e então enrolando uma longa t ira de pano em volta
do peito dele para mantê- la no lugar .
— Isso a judará apenas durante algum tempo, — ela murmurou, parcia lment e
para si mesma. — Isso não está bom. — ela olhou novament e para a outra Irmã . —
Precisaremos cuidar disso. Não podemos fazer isso aqui . Sebast ian gemeu de dor , ignorando-a, então falou.
— É um truque. Eles nos seguram aqui, pr eocupados a r espeito de onde eles
poder iam estar , nos deixam caçando i lusões , enquanto atacam nossa força pr incipa l . Jagang rosnou praguejando. Ele olhou para fora através do buraco que o
Fogo do Mago abr iu na parede, esp iando em dir eção ao exército que eles t inha m
deixado a uma longa cavalgada de volta até o r io do vale . Ele fechou os punhos com força e cerrou os dentes .
— Aquela vadia ! Eles nos quer iam ocupados para que nossa força pr incipa l
fique sentada no lugar enquanto eles atacam. Aquela vadia suja ardilosa ! T emos qu e voltar !
A pequena força moveu-se velozmente pelos corredores . Jagang foi
carregado por um homem sob cada braço , assim como Sebast ian, para que eles pudessem fazer um progresso rápido para fora do Palácio das Confessoras . Sebastian
parecia pior .
Pelo caminho, eles juntaram mais dos seus homens . Jennsen estava surpresa
que a inda houvesse ma is alguém vivo. Porém, em comparação com a força com a qua l eles vieram, eles t inham s ido cor tados em pedaços . Se todos eles t ivessem f icado
juntos, ao invés do modo como o Imperador e Sebastian os dividiram cont inuamente ,
eles podiam ter s ido todos mortos imediatamente . Do jeito que estava , a Ordem a inda ter ia que deixar para trás grande quant idade de mortos .
Ass im que estavam no nível infer ior , eles seguiram por corredores de
serviço, em dir eção ao lado do Palácio, Sebastian aconselhando que ser ia melhor não sair pela entrada pr incipal, por onde eles entraram, temendo que ta l movimento
pudesse estar sendo esperado e eles pudessem ser derrubados antes de conseguir em
fugir . Todos moveram-se tão s i lenciosamente quanto possível pelas cozinhas vazias ,
emergindo em um dia cinzento em um pát io la teral . Ele f icava isolado, com uma parede que o escondia da cidade.
334
A visão quando eles deram a volta pelo lado do Palácio foi horr ível . Parecia
que toda a força havia s ido destruída , que ninguém da cavalar ia podia ainda estar
vivo. Jennsen não conseguia suportar a visão de tanta carnif icina , e ainda assim ela
era tão arrebatadora que não conseguia desviar os olhos . Os mortos , cavalos ass im como homens, jaziam emaranhados em uma linha grosseira descendo o lado da colina ,
caídos onde eles encontraram com a cabeça da força inimiga. . . em um ataque total .
A uma cer ta distância , per to das árvores , alguns cavalos espa lhados , seus cavaleiros sem dúvida mortos , comiam grama.
— Não tem inimigo algum morto, — Jagang disse, avaliando a visão
enquanto mancava com a ajuda de um pique que um soldado havia entr egue a ele . — O
que poder ia t er feito isso?
— Nada vivo. — uma Irmã falou.
Enquanto eles desciam a colina rapidamente , abr indo caminho pela
si lenciosa l inha de batalha , não muito longe na frente das p ilhas de corpos , outros da
cavalar ia , longe descendo a ladeira do out ro lado de um muro em uma ár ea entr e pequenas construções de jardins e árvores , avistaram o Imperador e correram para
protegê- lo. Soldados sobre cavalos. . . em um número menor do que mil dos ma is de
quarenta mil com os qua is eles iniciaram.. . moveram -se para cercarem a companhia que r etornava do Palácio. Um cer to número das Irmãs entrou cavalgando ,
aproximando-se do Imperador para fornecer um círculo int erno de defesa .
Rusty, seguido por Pete, trotou pelos gramados, acompanhando os restos
esfarrapados da cavalar ia . Quando Jennsen assoviou, Rusty r econheceu o chamado e correu para ficar per to dela . A égua, encostando o focinho no ombro de Jennsen,
soltou um relincho, ans iosa para receber confor to. Rusty e Pete não eram cavalos de
cavalar ia , treinados para ser em acostumados aos terrores da guerra . Jennsen passou uma das mãos sobre o pescoço trêmulo da égua e acar iciou as or elhas dela . Ela
forneceu confor to s imilar a Pete quando ele press ionou a testa contra a par te de trás
do ombro dela . — O que aconteceu ! — Jagang gr itou fur ioso. — Como permit iram ser
pegos desse jeito?
O of icial l iderando os homens sobre um cava lo olhou ao r edor surpreso . — Excelência , aqui lo. . . surgiu do ar . Não era nada contra o qua l poder íamos
lutar .
— Está tentando dizer que eram fantasmas ! — Jagang rosnou.
— Acho que eram os cava los dos quais o batedor sent iu o cheiro. — outro
oficial fa lou. O braço dele estava enfaixado mas encharcado de sangue. — Quero saber o que está acontecendo. — Jagang disse enquanto olhava
zangado para os rostos que observavam ele . — Como isso poder ia ter acontecido?
Enquanto homens traziam cavalos extras , Irmã Perdita desmontou ali per to.
— Excelência , foi a lgum t ipo de ataque envolvendo magia. . . cavaleiros
fantasmas invocados por magia é a única explicação que eu tenho.
Os olhos ameaçadores dele estavam f ixos nela de uma forma que fez até
Jennsen encolher -se.
— Então porque você e as suas Irmãs não acabaram com isso?
— Não era nada como a magia conjurada que norma lmente encontramos .
Acredito que deve ter sido alguma forma de magia constru ída , ou não ter íamos somente detectado ela , mas também ter íamos sido capazes de detê - la . Pelo menos, iss o
é o que eu acredito. Na verdade eu nunca vi qualquer magia construída , mas já ouvi
falar dela . Seja lá o que for que tenha nos atacado não r espondeu a nada que tentamos . O Imperador ainda estava com a testa franzida para ela .
— Magia é magia . Vocês deviam ter impedido isso. Era para isso que
estavam aqui. — Magia construída é difer ente de conjurada , Excelência .
— Difer ente? Como?
— Ao invés de usar o Dom no momento, a magia constru ída já foi feita com
335
antecedência . Ela pode ser pr eservada durante um grande per íodo de tempo, mil hares
de anos, ta lvez até eternamente. Quando ela é necessár ia , o feit iço é disparado e a
magia é l iberada .
— Disparada pelo quê? — Sebastian perguntou.
Irmã Perdita balançou a cabeça com frustração.
— Simplesmente por qua lquer coisa , como ouvi dizer em. Só depende de
como ela foi construída . Nenhum Mago de agora é capaz de construir um feit iço
assim. Sabemos pouco sobre aqueles Magos antigos ou o que eles podiam fazer , mas
de acordo com o pouco que sabemos , um feit iço construído poderia ser algo mantido seco que ganha vida quando você molha. . . por exemplo, a lgo para ajudar a fer t i l izar
plantações quando as chuvas da pr imavera chegam . Poderia ser disparado pelo calor ,
como um remédio tomado para a febre, o r emédio carrega uma construção para dentro e a febre a dispara . Outras são disparadas pro um pouco de magia , a lgumas por uma
aplicação elaborada de magia incr ivelmente complexa e grande poder .
— Então, — Jennsen conclu iu. — a lguém com magia deve ter l iberado a lgo
tão poderoso quanto esses cava leiros fantasma s? Um Mago, ou uma Feit iceira , ou algo
assim?
Irmã Perdita balançou a cabeça . — Poderia ser esse t ipo de magia construída , mas tão facilmente poder ia ser
um feit iço. . . a inda que um incr ivelmente poderoso. . . mant ido em um deda l , e
disparado ao expor a const rução a . . . qualquer coisa. . . a té mesmo esterco de cava lo . O Imperador Jagang balançou a mão descons iderando a simples noção .
— Mas algo tão pequeno e facilmente disparado não ser ia assim tão
poderoso. — Excelência , — a Irmã disse. — nisso, você não pode comparar o aparent e
tamanho mater ia l da construção, ou seu gati lho, com o r esultado. . . eles não possuem valor r elaciona l, pelo menos não em termos nos quais a maior ia das pessoas pensam. O
gati lho não tem efeito sobre o poder da construção . Nem mesmo a const rução e seu
gati lho estão necessar iamente r elacionados . Simplesmente não há r egra pela qual
ju lgar uma construção. O Imperador moveu um braço indicando as dezenas de milhares de homens e
cavalos misturados na morte.
— Mas, cer tamente, a lgo dessa magnitude tem que ter a lguma coisa ma is .
— O exército de cavaleiros fantasmas que efetuou esse ataque pode ter s ido
disparado por um mago lançando feit iços com um pó mágico enquanto fazia uma invocação incr ivelmente complexa , ou pode ter s ido um livro contendo um co ntador de
cavalar ia que s implesmente é aber to na página adequada e seguro diante da força
atacante. . . mesmo a milhas de distância . Até mesmo o simples medo de uma pessoa segurando esse t ipo de construção poder ia ser o gati lho .
— Então está querendo dizer , que qualquer um poder ia acidenta lment e
dispará-la? — Jennsen perguntou.
— É claro. Isso é o que as torna tão per igosas . Mas pelo que tenho l ido,
esse t ipo é extr emamente rara . Porque elas podem ser tão per igosas , a ma ior ia delas ficam sob camadas de complexas precauções e mecanismos anti -fa lha envolvendo o
ma is profundo conhecimento da aplicação da magia .
— Mas, — Jennsen perguntou. — uma vez que uma pessoa. . . um Mago. . .
com esse conhecimento avançado r emove essas camadas de precauções e mecanismos
anti-fa lhas, então elas podem ser disparadas através de s imples gati lho ?
Irmã Perdita lançou um olhar sér io para Jennsen. — Exatamente.
— Então, — Jagang fa lou, apontando para os milhares de corpos. — essa
força de cavalar ia fantasma pode ser enviada novamente a q ualquer momento para
acabar conosco.
A Irmã balançou a cabeça .
— Da forma como entendo, um feit iço construído geralmente só é eficaz
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uma vez. Ele é gasto fazendo o que foi cons truído para fazer . Essa é uma das razões
pelas quais eles são raros ; uma vez usado, desaparecem para sempre, e não há ma is
qua lquer Mago vivo que cons iga fazer mais .
— Porque não encontramos esses feit iços construídos antes ? — Sebastian
perguntou com crescente impaciência . — E porque agora , de r epente?
Irmã Perdita f icou olhando para ele durante um momento, com uma imagem de fúr ia contida que Jennsen sabia que ela jama is t er ia ousado dir ecionar ao
Imperador , mesmo que o ataque ao Palácio das Confessoras , que ele ordenou,
contrar iando o a ler ta dela , t ivesse r esultado nas mortes de muita s das Irmãs da Luz dela .
Exib indo deliberado cuidado, Irmã Perdita apontou para a Fortaleza escura
contra a montanha acima deles . — Tem milhares de salas na Fortaleza do Mago, — ela disse em voz baixa .
— muitas delas estarão cheias de coisas horr íveis . É provável que quando nós
empurramos eles até aqui no inverno, aquele Mago deles. . . Mago Zorander , fina lment e
teve um longo tempo que precisava para vasculhar na Fortaleza , procurando
justamente pelo t ipo de coisas que até o momento lhe faltava , para que est ivess e
pronto para nós quando a pr imavera chegasse e nós avançássemos em dir eção a Aydindr il. Tenho medo de pensar em qua is surpresas catastróficas ele ainda tem
guardadas para nós . Aquela Fortaleza permaneceu invencível durante milhares de
anos. O olhar de Sebastian f icou tão sombrio quanto o de Jagang.
— Porque você não nos aler tou a r espeito disso ? Nunca ouvi você dizer
nada. — Eu disse. Você havia par tido.
— Você também a ler tou contra muitas outras coisas , e nós as superamos. —
Jagang rosnou para ela . — Quando você lu ta em uma guerra , deve esperar assumir
r iscos e sofr er baixas . Somente aqueles que são ousados , vencem. Sebast ian indicou a Fortaleza .
— Que outras coisas podemos esperar ?
— Feit iços constru ídos são apenas um dos per igos de lutar contra ess as
pessoas. Nenhuma de nós, Irmãs, r ealmente cons iderava feit iços construídos como
uma grande ameaça porque eles são tão raros , mas, como você pode ver , mesmo u m
feit iço construído é profundamente per igoso . Quem sabe que coisas mais mortais a inda poder estar aguardando para serem liberadas .
— O que ma is , ex iste um mundo inteiro de per igos que não podemos ao
menos começar a conceber . O inverno deles , sozinho, matou centenas de milhares de
nossos homens sem que o inimigo t ivesse de erguer um dedo ou arr iscar um homem
apenas. Somente isso já t em causou ma is danos para nós do que praticamente qualquer
batalha ou calamidade de magia . Nós esperávamos perdas assim por causa de a lgo tão simples como neve e o clima fr io? O nosso tamanho e força nos protegeram disso ?
Aquelas centenas de milhares são uma perda menor porque morreram de febre ao invés
de a lguma aplicação habil idosa de magia ? Que difer ença faz para os mortos. . . ou para aqueles que r estaram para lutar ?
— Eu admito que, para um soldado, vencer porque seu inimigo ca i doent e
pode não parecer muito glamoroso ou heroico , mas um morto é um morto. Noss o exército supera os números dessas pessoas muitas vezes , e a inda assim perdemos
aquelas centenas de milhares para a febre por causa do s imples clima. . . não por causa
da magia contra a qual você está tão preocupado que nós o protejamos . — Mas em uma luta rea l , — Sebastian zombou. — nossos números
realmente significam algo e fornecerão a vitór ia .
— Diga isso para aqueles que morreram com a febre . Números nem sempre
determinam o vencedor .
— Isso é um absurdo. — Sebastian disparou.
Irmã Perdita apontou para a fila de mortos .
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— Diga isso para eles .
— Devemos assumir r iscos se queremos vencer . — Jagang disse, decidindo
o assunto. — O que eu quero saber é se podemos esperar que o inimigo possa lançar
ma is desses feit iços construídos sobre nós.
Irmã Perdita balançou a cabeça , como se desejasse dizer que não t inha ideia . — Duvido que o Mago Zorander saiba muito sobre os feit iços construídos
guardados ali . Tal magia não é ma is compreendida muito bem.
— Aparentemente ele compreendia muito bem uma delas. — fa lou
Sebast ian.
— E, essa pode ter s ido a única que ele entendia bem o bastante para usar .
Como eu disse antes , uma vez usados , feit iços constru ídos são esgotados .
— Mas também é poss ível, — Jennsen interrompeu. — que exista ma is
feit iços constru ídos que ele entenda .
— Sim. Ou, de acordo com o que todos sabem, esse pode ter s ido o ú lt imo
feit iço constru ído na existência . Por outro lado, ele pode estar sentado lá com centenas deles no colo, todos muito piores do que esse. S implesmente não há como
saber .
Os olhos negros de Jagang observaram sua cavalar ia de elit e ca ída . — Bem, ele cer tamente usou esse para. . .
Houve um súbito br i lho cegante no hor izonte .
O mundo ao r edor deles iluminou-se com a intensidade de um brilho de raio , mas o br i lho não morreu como o raio fazia .
Jennsen segurou as r édeas logo abaixo dos fr eios de Rusty e Pete para
impedir que eles corressem. Outros cava los assustaram-se, empinando. Luz branca quente espalhou -se do r io do va le descendo sobre as colinas. . .
em dir eção ao exército. A luz era tão branca , tão pura , tão quente, que i luminou
emba ixo das nuvens por todo o caminho até o hor izonte oposto . Era uma luz com ta l
poder , ta l intens idade, que muitos dos homens ca íram de joelhos alarmados . O br ilho incandescente expandiu com incr ível velocidade, engolindo as
colinas, e a inda assim estava tão distante que eles não ouviram nada . As ladeiras
rochosas das montanhas cercando a cidade es tavam todas iluminadas . E então Jennsen f inalmente ouviu um for te estrondo que vibrou no peito
dela . O chão tremeu sob os pés deles . O estrondo poderoso, r essonante, aumentou em
um crescente rugido. Um domo escuro expandiu -se subindo através da luz . Jennsen percebeu que,
por causa da distâ ncia , o que parecia um domo crescente de poeira para ela deviam ser
destroços pelo menos tão grandes quanto árvores . Ou carroças .
Enquanto a nuvem escura cr escia subindo através da luz , ele diss ipou, como se est ivesse evaporando no poder daquele ca lor cons umidor e luz. Jennsen conseguiu
ver uma onda , como os anéis cr iados ao lançar uma pedra em um lago , ir radiando para
o exter ior , exceto que essa era somente uma onda correndo sobre o chão . Enquanto todos f icavam parados, estupefatos , paralisados pelo medo, uma
súbita parede de vento, arrastando detr itos e areia diante dela , subiu a colina em
dir eção a eles . Era a onda de choque que finalmente os alcançara . Foi tão r epent ina e
tão poderosa que se os galhos já não est ivessem nus , eles t er iam perdido as folhas imediatamente. Galhos esta laram quando árvores estr emeciam com a concussão
causada pelo vento.
Mais cava los entraram em pânico, empinando e corr endo. Homens jogaram-se ao chão para protegerem-se daquilo que poder ia vir em seguida. Jennsen, sacudida
pelo ja to de vento, protegeu os olhos com uma das mãos enquanto enormes soldados
recitavam orações aprendidas na infância , implorando ao Criador por salvação. Jagang f icou encarando a visão com fur ioso desafio .
— Queridos espír itos , — Jennsen fina lmente falou, encolhendo-se, p iscando
para t irar a poeira dos olhos quando a coisa pareceu chegar ao fim. — O que poder ia
ter sido isso?
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Irmã Perdita estava pálida .
— Uma Teia de Luz. — a voz dela estava baixa e carregada de a lgo qu e
Jennsen nunca havia detectado nela : medo. — Imposs ível! — o Imperador Jagang rugiu. — t em Irmãs lá embaixo
esperando por feit iços de luz !
Irmã Perdita não falou nada . Parecia que ela não conseguia desviar os olhos da visão arrebatadora .
Jennsen podia perceber que a dor estava pesando em Sebast ian, mas ele
falou forçadamente. — Ouvi dizer que uma Teia de Luz não pode causar mais danos do que. . . —
ele gest icu lou para trás apontando o Palácio. — . . . ta lvez destru ir uma construção.
Irmã Perdita não falou nada , e com aquele si lêncio indicou a evidênc ia do
contrár io que estava claramente diante dos olhos dele .
Jennsen pegou as r édeas dos dois cavalos com uma das mãos e colocou a outra nas costas de Sebastian mostrando s impatia . Ela sofr ia por ele e quer ia que ele
estivesse em a lgum lugar seguro onde seu fer imento poder ia ser tratado. As Irmãs
disseram que aquilo era sér io e pr ecisava da atenção delas . Jennsen suspeitava de qu e
o fer imento que ele sofr eu pelas mãos da feit iceira precisava da intervenção de magia . — Como pode ser uma T eia de Luz ! — Jagang exclamou. — Não tem
ninguém aqui! Nenhuma tropa , nenhum exército, nenhuma força. . . a não ser ta lvez um par dos dotados deles .
— Isso ser ia tudo que era necessár io , — fa lou Irmã Perdita . — uma coisa
assim não precisa de tropas de suporte . Eu disse que algu ma coisa estava errada . Com a Fortaleza aqui, em Aydindr il, não há como dizer o que ao menos um Mago pode ser
capaz de fazer sozinho para repelir um exército. . . a té mesmo nosso exército.
— Está querendo dizer , — Sebastian perguntou. — que é do mesmo jeito
como uma pequena força em uma passagem alta , por exemplo, pode r epelir todo u m
exército?
— Isso mesmo.
Jagang pareceu incrédulo.
— Está dizendo que você acredita que mesmo aquele Mago velho magrelo ,
em um lugar como a Fortaleza , pode ser capaz de fazer tudo isso?
O olhar de Irmã Perdita desviou para o Imperador .
— Aquele Mago velho magrelo, como você o chama , acabou de fazer o
imposs ível. Ele não apenas encontrou o que provavelmente era uma Teia de Luz
construída milhares de anos atrás , mas, a lgo ainda ma is inconcebível, de algum modo
ele conseguiu dispará -la . Jagang virou para olhar onde a luz f inalmente estava morrendo .
— Quer ido Criador , — ele sussurrou. — é bem ali que o exército está . —
ele passou uma das mãos pela cabeça raspada enquanto ava liava as im plicações. —
Como eles conseguir iam disparar uma Teia de Luz no meio do nosso exército ?
Estamos precavidos contra isso ! Como? Os olhos de Irmã Perdita desviaram para o chão.
— Para nós não há como dizer , Excelência . Poder ia ser algo tão s imples
como uma ca ixa contendo uma ant iga T eia de Luz da qua l ele r emoveu todas as travas de segurança, e então deixou-a para que nós cruzássemos com ela . Quando nossos
homens montaram acampamento, ta lvez um homem a tenha encontrado, imaginando o
que havia dentro da caix inha de aparência inocente, abr iu-a , e a luz do dia era o gati lho f inal. Poder ia ser qua lquer outra coisa que nós jama is conseguir íamos sonhar
ou imaginar , muito menos antecipar . Nunca saberemos. Seja lá quem disparou aquilo
agora faz par te daquela nuvem de fumaça pairando sobre o r io do vale.
— Excelência , — Sebastian disse. — aconselho com urgência que nós
ret ir emos nosso exército daqui. . . recuemos com ele . — ele fez uma pausa para
encolher -se de dor . — Se eles são capazes de l iberar uma defesa como essa. . . com
todos os dotados e a proteção deles que nós temos. . . então tomar a Fortaleza pode ser
339
imposs ível.
— Mas nós devemos ! — Jagang rosnou.
Sebast ian curvou-se para frente, esperando que uma onda de dor terminasse . — Excelência , se perdermos o exército, então Lorde Rahl tr iunfará . É
simples ass im. Aydindr il não va le o r isco que provou ser . — esse não era exatament e
o Sebastian que Jennsen conheceu, omo era Sebastian, o estrategista da Ordem,
falando. — Melhor para nós r ecuar e lutar outro dia em nossos termos , não nos deles .
O tempo é nosso aliado, não deles . Com fúr ia si lenciosa , o Imperador ficou olhando em dir eção ao seu exércit o
em per igo enquanto cons iderava o conselho de Sebast ian. Não havia como dizer
quantos homens acabaram de morrer . — Isso é obra de Lorde Rahl, — Jagang f inalmente sussurrou. — ele t em
que ser el iminado. Em nome do Criador , ele deve ser morto.
Jennsen sabia que ela era a única que podia rea lizar ta l coisa .
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C A P Í T U L O 5 1
Jennsen caminhava de um lado para outro na tenda fracamente i luminada , seus passos s i lenciosos nos tapetes opulentos do Imperador . Uma Irmã montava guarda
per to da entrada externa , garantindo que ninguém pudesse entrar na tenda para
per turbar o Imperador , ou, ma is importante ainda , fer ir ele. Do lado de fora , um
contingente massivo de guardas , inclu indo mais Irmãs , patrulhavam a área . Ocasiona lmente, a Irmã per to da entrada externa olhava para Jennsen
enquanto ela caminhava .
Caminhar de um lado para outro era tudo que ela podia fazer . Suas entranhas formavam um nó doloroso de preocupação com Sebastian. Ele havia perdido a
consciência na longa caminhada de volta ao acampamento . Irmã Perdita falou que ele
corr ia o r isco de perder a vida . Jennsen não podia suportar o pensamento de perdê - lo. Ele era tudo que Jennsen t inha .
O Imperador Jagang também estava em grave condição após ter perdido
tanto sangue e então ter que suportar a longa jornada árdua de volta com o r estante de
sua cavalar ia de elit e, mas ele r ecusara atrasar o seu r etorno por qualquer razão , a t é mesmo o seu própr io bem estar . Ele nunca pensou em s i mesmo, somente em r etornar
para seu exército. Os dois homens fina lmente estavam seguros nos l imites das tendas
do Imperador , sendo tratados pelas Irmãs da Luz . Jennsen quis f icar com Sebastian, mas as Irmãs a colocaram para fora .
O Imperador f icou p ior com a visão do seu exército . Ele estava disposto a
matar qualquer um que desse a ele uma desculpa . Jennsen podia entender a fúr ia dele.
A Teia de Luz havia disparado per to do centro do acampamento. Mesmo depois de tantas horas depois do evento , o lugar ainda estava uma confusão.
Muitas unidades f icaram espalhadas , preparando-se para a possib il idade de
um ataque iminente. Outras, suspeitava-se, s implesmente fugiram para as colinas . Na área onde a Teia de Luz foi disparada não havia nada além de uma vasta depressão de
terr eno enegrecido. No caos r esultante, ninguém foi capaz de determinar quantos
homens foram mortos . Isso era quase impossível , com tantos mortos ou espalhados , conseguir uma contagem apurada das unidades, muito menos de indivíduos , mas não
havia dúvida de que a devastação foi surpreendente .
Jennsen ouvira sussurros de que ma is de meio milhão de homens foram
transformados em pó em um instante, e ta lvez o dobro desse número. No f inal, o número de mortos podia acabar mostrando ser muito ma ior ; havia números
inest imáveis de soldados ser iamente fer idos . . . homens queimados ou cegos , homens
cor tados severamente ou com membros arrancados por destroços voadores , homens parcialmente esmagados por pesadas carroças e equipamentos que caíram sobre eles ,
homens surdos , homens tão desnorteados , tão assustados , que só conseguiam olhar
fixamente para o vazio. Não havia curandeiros do exército ou Irmãs da Luz suf icientes para ao menos começarem a atender a menor f ração dos fer idos . A cada hora qu e
passava , milhares daqueles que sobreviveram ao golpe inicial morreram de seus
fer imentos.
Independente do quanto o golpe t ivesse sido surpreendente , ele não foi fatal para a grande fera do exército da Ordem Imper ia l . O acampamento era imenso, e
precisamente porque ele era tão vasto , a maior ia deles t inha sobrevivido. De acordo
com o Imperador , era apenas uma questão de tempo antes que eles subst ituíssem os mortos por novas tropas , e então ele soltar ia seus homens para busc arem vingança
contra o povo do Mundo Novo.
Jennsen estava começando a entender porque Sebastian sempre fora tão
inf lex ível na ideia de que toda a magia devia ser el iminada eventua lmente . Não havia nada de bom que ela pudesse pensar que superasse ta l perver s idade. Ela esperava qu e
a magia ao menos poupasse a vida dele .
341
A despeito da convicção do Imperador Jagang de que as forças deles logo
ir iam estar iam r ecuperadas , havia tempos dif íceis adiante para eles . Muito da comida
havia sido destruída , junto com vas tas quant idades de equipamentos e armas. Cada
tenda no acampamento inteiro t inha s ido pelo menos derrubada . Era uma noite fr ia e muitos homens f icar iam expostos aos elementos . Felizmente, embora a tenda do
Imperador est ivesse ca ída , homens conseguiram leva ntá- la novamente para o
Imperador fer ido e Sebast ian. Jennsen caminhava de um lado para outro , ardendo, não apenas com
preocupação, mas com raiva . Ela duvidava que um monstro ma ior do que Richard Rahl
já t ivesse vivido. Certamente, nenhum homem jama is foi a causa de tanto sofr iment o no mundo. Era inconcebível para ela que alguém pudesse ter tanto desejo de poder qu e
l iderar ia uma causa que poder ia assassinar tantas pessoas . Não conseguia enxergar
como Richard Rahl podia ser uma par te da Criação; com cer teza , ele era o discípulo
do Guardião. Lágrimas desciam pelas bochechas de Jennsen por causa da for te apreensão.
Ela rezava fervorosamente aos bons espír itos que Sebastian não morresse, que as
Irmãs pudessem curá -lo. Em agonizante pr eocupação, ela parou de caminhar e curvou-se sobre uma
mesa que não t inha visto na ú lt ima vez em que est ivera na tenda . Quando a tenda ca iu ,
ela foi erguida rapidamente, e essa mesa , provavelmente dos aposentos par ticu lar es do Imperador , aparent emente não havia sido r ecolocada em s eu local corr eto. Havia uma
pequena estante no fundo do tampo.
Procurando alguma coisa que pudesse desviar sua mente da dolorosa
ansiedade enquanto esperava not ícias de Sebastian, Jennsen vasculhou distraidament e os l ivros velhos . Não entendia as palavras em nenhum deles . Por alguma razão, porém,
um em par ticu lar chamou sua atenção. . . a lgo no r itmo das palavras estrangeiras . Pegou
o l ivro e virou -o em dir eção a luz de vela , tentando ler o t ítu lo. Des lizou as pontas dos dedos sobre as quatro palavras dourada s na capa . Elas não faziam sent ido para ela ,
e mesmo assim pareciam de algum modo quase familiares .
Jennsen engasgou de surpresa quando a Irmã , que estava per to da porta ,
t irou o l ivro das mãos dela . — Esses per tencem ao Imperador Jagang. Além de ser em muito ant igos e
muito frágeis , eles são cons ideravelmente valiosos . Sua Excelência não gosta qu e ninguém toque em seus l ivros .
Jennsen observou a mulher inspecionar o l ivro procurando qualquer dano .
— Sinto muito. Eu não quer ia fazer mal .
— Você é uma convida da muito especia l , e fomos instru ídas a fornecer a
você todos os pr ivilégios , mas esses são os trabalhos ma is quer idos de Sua Excelência .
Ele é um homem de grande cultura . Ele coleciona l ivros . Como uma convidada , acho que você dever ia respeitar o desejo d ele de que ninguém os toque.
— Claro. Eu não sabia . Sinto muito.
Jennsen mordeu o láb io infer ior quando olhava de volta para a cor tina qu e
cobria o por tal para os fundos , onde Sebastian estava sendo tratado. Ela gostar ia qu e
houvesse alguma notícia . Virou outra vez para a Irmã .
— Só estava confusa porque nunca vi palavras como essas .
— Essas estão na l íngua da terra natal do Imperador .
— É mesmo? — Jennsen apontou para o l ivro que a Irmã estava devolvendo
a seu lugar . — Sabe o que está escr ito na capa ?
— Não conheço a l íngua muito bem, mas. . . vejamos se cons igo dizer . Na luz
fraca , a Irmãs forçou os olhos sobre o l ivro durante algum tempo , seus láb ios
movendo-se s i lenciosamente enquanto ela trabalhava na tradução , antes de f inalment e colocar o volume de volt a em seu lugar .
— Está escr ito, Os Pilares da Criação.
— Os Pilar es da Criação. . . o que você pode me dizer sobre um livro assim?
A mulher balançou os ombros .
342
— Existe um lugar no Mundo Ant igo chamado por esse nome . Imagino que o
l ivro deve ser a respeito disso.
Antes que Jennsen pudesse perguntar ma is alguma coisa , Irmã Perdita emergiu r epentinamente da par te dos fundos da tenda , as velas lançando sombras sobre
o rosto sér io dela .
Jennsen corr eu para falar com ela . — Como eles estão? — ela perguntou com um sussurro apressado. — Os
dois f icarão bem, não é mesmo?
O olhar de Irmã Perdita desviou para a Irmã que acabara de r ecolocar o l ivro.
— Irmã, as outras precisam de você. Por favor vá ajudá - las.
— Mas Sua Excelência disse para guardar . ..
— Sua Excelência é quem precisa de a juda . A cura não está acontecendo
muito bem. Vá e ajude as Irmãs . Diante daquilo, a mulher assent iu e corr eu para os fundos .
— Porque a cura não está muito bem? — Jennsen perguntou depois que a
Irmã desapareceu atrás da pesada cor tina .
— Uma cura que é iniciada e então interrompida , como a do Imperador
Jagang foi, cr ia problemas únicos. . . especia lmente uma vez que a Irmã que iniciou -a está morta . Cada pessoa aplica habil idade única na tarefa , então entrar ma is tarde e
tentar descobr ir exatamente como ela foi iniciada , quanto ma is dar cont inuidade a ela ,
torna a cura muito ma is dif íci l e delicada. — ela mostrou um leve sorr iso. — Mas nós
estamos confiantes de que Sua Excelência f icará bem. É apenas uma questão de algum
trabalho concentrado da s Irmãs da Luz. Imagino que elas cont inuarão com isso durant e
a maior par te da noite. Ao amanhecer , t enho cer teza de que tudo estará sob controle e o Imperador
ficará tão for te como sempre.
Jennsen engoliu em seco. — E quanto a Sebast ian?
Irmã Perdita observou-a com um olhar fr io, i legível .
— Eu dir ia que isso depende de você.
— De mim? O que você quer dizer ? O que eu tenho de fazer para curá -lo?
— Tudo.
— Mas, o que você precisa de mim? Só tem que pedir . Farei qualquer coisa .
Por favor , você tem que sa lvar Sebastian. A mulher franziu os láb ios quando cruzou as mãos .
— A r ecuperação dele depende do seu compromet imento em eliminar
Richard Rahl. Jennsen estava surpresa .
— Bem, s im, é claro, eu quero eliminar Richard. . .
— Eu disse compromet imento, não pa lavras . Preciso de ma is do que meras
palavras .
Jennsen f icou olhando durante um momento. — Eu não entendo. Eu f iz uma longa e dif íci l jornada para vir a té aqui e
conseguir a ajuda das Irmãs da Luz para ser capaz de chegar per to o bastante de Lorde
Rahl e enf iar minha faca no coração dele . Irmã Perdita ex ib iu aquele sorr iso terr ível dela .
— Bem, então, se isso for verdade, Sebast ian não deve ter nada com o qu e
se preocupar .
— Por favor , Irmã, apenas diga o que você quer .
— Quero Richard Rahl morto.
— Então compartilhamos do mesmo objet ivo. No mínimo, eu apostar ia que
sinto esse desejo muito ma is for te do que você jama is poderia t er sentido . Uma das sobrancelhas da Irmã levantou .
343
— É mesmo? O Imperador Jagang disse que a Irmã que estava tentando
curá-lo, lá no Palácio, foi morta com Fogo do Mago.
— Isso mesmo.
— E você viu o homem que fez isso?
Jennsen achou estranho que Irmã Perdita não t ivesse perguntado porque ela também não foi morta pelo Fogo do Mago.
— Era um velho. Magro, com cabelo branco desgrenhado.
— O Primeiro Mago Zeddicus Zu' l Zorander . — a Irmã falou em um
sibilar venenoso .
— Sim, — fa lou Jennsen. — ouvi alguém chamá-lo de Mago Zorander . Não
conheço ele.
Irmã Perdita olhou fur iosa . — Mago Zorander é o avô de Richard Rahl.
O queixo de Jennsen caiu.
— Eu não sabia .
— Ainda assim, aqui estava um Mago causando todo esse dano , quase
matando o Imperador Jagang, e você, que afirma estar tão compromet ida, falhou em matá- lo.
Jennsen cruzou as mãos sent indo frustração .
— Mas, mas, eu tentei, t entei. Ele fugiu. Tinha tanta coisa acontecendo. . .
— E você acha que será ma is fácil matar Richard Rahl? Palavras são fáceis .
Quando trata -se do verdadeiro compromet imento, você nem ao menos conseguiu deter a ameaça do velho avô dele!
Jennsen r ecusou-se a permit ir a si mesma explodir em lágr imas . Foi uma
luta . Sent ia-se tola e envergonhada .
— Mas eu. . .
— Você veio aqui procurando a ajuda das Irmãs . Disse que quer ia matar
Richard Rahl.
— Eu quero, mas o que isso tem a ver com S ebastian. . .
Irmã Perdita levantou um dedo, pedindo s i lêncio. — Sebast ian está em grave r isco de morte . Foi at ingido por uma forma
per igosa de magia lançada por uma feit iceira muito poderosa . Os fragmentos de magia
ainda estão nele. Se for em deixados assim, em pouco tempo matarão ele. — Por favor , então você deve se apressar . . .
Uma expressão de raiva si lenciou Jennsen.
— Essa magia também é per igosa para nós , para aqueles que tentarem curá -
lo. Para nós, Irmãs, tentar remover esses fragmentos de magia coloca nossas vidas em
r isco, assim como a dele. Se vamos ar r iscar as vidas de Irmãs , então eu quero em troca o seu compromet imento em matar Richard Rahl.
— Como pode colocar uma condição que custa a vida de um homem !
A Irmã f icou er eta com desprezo. — Teremos que deixar muitos outros morrer em para devotar os númer os
necessár ios e o tempo para curarmos apenas esse homem. Como ousa pedir isso de
nós? Como ousa pedir que deixemos outros morrer em para que o seu amante possa viver?
Jennsen não t inha resposta para uma pergunta tão terr ível .
— Se vamos fazer isso, então deve ser por algo que va lha mais do qu e
aquelas vidas que serão perdidas sem a nossa ajuda . Ajudar somente esse homem dev e
contar para alguma coisa . Você poderia esperar menos ? Não desejar ia o mesmo? E m
troca por salvar esse homem tão importante para você. . . — Ele também é importante para vocês ! Para a Ordem Imperia l ! Para a sua
causa! Para seu Imperador ! Irmã Perdita aguardou para ver se agora Jennsen f icar ia em s ilêncio. Quando
a raiva de Jennsen fraquejou, e f ina lmente desapareceu , a Irmã cont inuou.
344
— Nenhum indivíduo é importante a não ser pelo valor com o qual ele pode
contr ibuir para os outros. Só você pode fornecer esse va lor para ele . Para salvarmos
esse homem tão quer ido por você, em troca eu devo r eceber o seu compromet imento sem reservas em deter Richard Rahl, de uma vez por todas . O seu compromet imento
mater ial em matá - lo.
— Irmã Perdita , você não tem ideia do quanto eu quero matar Richard Rahl.
— as mãos de Jennsen fecharam com força . — Ele ordenou o assassinato da minha
mãe. Ela morreu em meus br aços. O governo dele quase r esultou na morte do Imperador Jagang. Richard é r esponsável por fer ir Sebastian! Por sofr imento a lém de
qua lquer imaginação! Por assassinatos além das estimativas ! Eu quero Richard Rahl
morto!
— Então permita que l iber temos a voz.
Jennsen deu um passo para trás, chocada . — O quê?
— Grushdeva .
Os olhos de Jennsen f icaram arregalados quando ela ouviu aquela palavra
em voz alta . — Onde você ouviu isso?
Um sorr iso de satis fação instalou -se confor tavelmente no rosto da Irmã
Perdita . — De você, quer ida .
— Eu nunca. . .
— No jantar com Sua Excelência . Ele perguntou porque você quer ia matar o
seu irmão, qua l era o seu mot ivo, o seu objet ivo. Você disse Grushdeva .
— Eu nunca falei ta l coisa .
O sorr iso afetado mudou para condescendência .
— Oh, mas você falou. Va i ment ir para mim? Negar que palavras estão
sendo sussurradas em sua mente? — quando Jennsen f icou em s ilêncio, Irmã Perdita
continuou. — sabe o que isso s ignif ica ? Essa palavra , Grushdeva?
— Não. — Jennsen falou baix inho.
— Vingança .
— Como você sabe?
— Conheço essa l íngua .
Jennsen f icou r ígida , seus ombros erguidos .
— O quê, exatamente, você está propondo?
— Ora , estou propondo salvar a vida de Sebastian.
— Mas, o que ma is?
Irmã Perdita balançou os ombros .
— Algumas de nós Irmãs levarão você até um lugar tranquilo, onde
poderemos f icar sozinhas , enquanto algumas de nós f icam aqui e salvam a vida de Sebast ian, como você quer . Ao amanhecer , ele estará melhor , e então você e ele
poderão seguir caminho para matar Richard Rahl. Você veio aqu i procurando nossa
ajuda. Estou propondo dar a você essa ajuda . Com aquilo que faremos para você , você será capaz de r ealizar a sua tarefa .
Jennsen engoliu em seco. A voz estava estranhamente si lenciosa . Nenhuma
palavra . De a lguma forma era ainda ma is hor r ível que ela est ivesse em s ilêncio, nesse momento.
— Sebast ian está morrendo. Ele tem apenas momentos antes que seja tarde
demais para salvarmos ele. Sim, ou não, Jennsen Rahl? — Mas, e se. . .
— Sim, ou não! O seu tempo está acabando. Se quer matar Richard Rahl, s e
quer salvar Sebast ian, então diga apenas uma palavra . Faça isso agora , ou f ique para
sempre desejando que t ivesse feito isso .
345
C A P Í T U L O 5 2
Depois que prenderam os cava los deles , Jennsen acar iciou a testa de Rusty. Com dedos tr êmulos, ela esfr egou a outra mão pela par te de baixo da mandíbula
enquanto encostava o lado do rosto contra o focinho do cava lo .
— Seja uma boa garota até eu voltar . — ela sussurrou.
Rusty relinchou suavemente em r esposta a palavras gent is . Jennsen gostava
de imaginar que o cavalo podia entender as palavras dela . Pelo modo como sua cabra ,
Betty, sempre inclinava a cabeça e balançava sua pequena cauda enquanto Jennsen confidenciava seus medos ma is profundos , ela acreditava firmemente que sua amiga
peluda de quatro patas podia entender cada palavra .
Jennsen espiou acima dos galhos parecidos com garras, balançando na luz
suave de uma lua cheia oculta por um leitoso véu de nuvens etér eas des lizando pelo céu, como se est ivessem reunidos para ser em testemunhas si le nciosas.
— Você vem?
— Sim, Irmã Perdita .
— Então, depressa . As outras estão esperando.
Jennsen seguiu a mulher subindo pelo lado de um banco de terra . O chão
musgoso estava cheio de folhas secas de carvalho e uma pequena camada de pequenos
galhos. Raízes emergindo aqui e a li de terr eno solto forneciam apoio suf iciente para
subir na elevação íngreme. No topo, o chão nivelou. O vest ido cinza escuro da Irmã fazia ela quase desaparecer enquanto seguia no meio da vegetação densa . Para uma
mulher com ossos tão grandes, Jennsen not ou que a Irmã movia -se com per turbadora
graça . A voz cont inuava si lenciosa . Em momentos tensos como esse a voz sempr e
sussurrava para ela . Agora ela estava em silêncio.
Jennsen sempre quisera que a voz a deixasse em paz . Ela passou a ent ender como aquele s i lêncio poder ia ser assustador .
A luz cheia , estando apenas levemente obscurecida , fornecia luz suf iciente
para elas avançarem. Jennsen podia ver sua respiração no ar fr io enquanto seguia a
Irmã dentro da densa flor esta entr e os baixos ga lhos de bá lsamo e abeto. Ela sempre sentira-se em casa nas flor estas , mas, de algum modo, seguir a Irmã dentro da f lor esta
não dava a ela a mesma sensação confor tadora .
Prefer ia estar sozinha do que na companhia da mulher sinistra . Desde o momento em que Jennsen pronunciara a única palavra que salvar ia a vida de
Sebast ian, Irmã Perdita t inha assumido um comportamento de for te super ior idade
desprovido de qualquer tolerância . Agora ela estava no comando com f irmeza , e t inha
cer teza de que Jennsen sabia disso. Pelo menos ela havia mantido sua pa lavra . Logo que Jennsen deu a palavra
dela , Irmã Perdita rapidamente mobilizou outras Irmãs para salvarem a vida de
Sebast ian. Enquanto outras Irmãs eram enviadas na fr ente para prepararem seja lá o que fosse que elas deviam preparar , Jennsen teve permissão para vis itar brevemente
Sebast ian para garantir a ela que todo o possível para salvar a vida dele estava sendo
feito. Antes que ela t ivesse deixado o lado dele , Jennsen curvara-se e beijara
suavemente os belos lábios dele, passou a mão car inhosamente sobre o cabelo branco
espetado dele, e gent i lmente esfr egou os lábios sobre os dois olhos azuis fechados
dele. Havia rezado para sua mãe, junto com os bons espír itos , tomar conta dele. Irmã Perdita não impediu, ou apressou-a , a té o f inal quando ela puxou
Jennsen para trás e sussurrou que as Irmãs, reunidas ao redor dele , precisavam fazer o
trabalho delas . No caminho de saída , Jennsen teve permissão para colocar a cabeça dentro
da câmara pr ivada do Imperador , e viu qua tro Irmãs curvadas sobre a perna fer ida
346
dele. O Imperador estava inconsciente. As quatro Irmãs que trabalhava m
fervorosamente no Imperador pareciam sent ir dor , às vezes colocando as mãos nas
cabeças em agonia . Jennsen não sabia , a té ver as quatro e Irmã Perdita t er explicado,
como o processo de cura podia ser desagradável e dif íci l . Porém, as Irmãs não estavam preocupadas a respeito da vida do Imperador estar em per igo imediato , com estavam
em relação a Sebast ian.
Jennsen afastou um galho de bá lsamo para fora do caminho enquanto seguia a Irmã mais fundo na f lor esta proib ida .
— Porque temos que ir tão longe do acampamento? — Jennsen sussurrou.
Parecia que a cava lgada t inha levado o que pareciam horas . O rabo de cava lo da Irmã Perdita caiu para frente sobre o ombro dela
quando ela olhou para trás , como se essa fosse uma pergunta par ticu larmente vazia . —
Para que possamos f icar sozinhas e fazer o que deve ser feito .
Jennsen quis perguntar o que deve ser feito , mas sabia que a Irmã não dir ia .
A mulher havia desviado de todas as perguntas com respostas que não eram ma is do
que superf icia is . Ela disse que Jennsen dera sua palavra , e agora era dever dela cumpr ir a sua par te da barganha. . . fazer o que mandassem até que est ivesse terminado .
Jennsen t entou não pensar no que podia estar adiante. Ao invés disso,
concentrou a sua mente no pensamento de par tir ao amanhecer com um Sebastian saudável, em estar de volta nas tr i lhas , lá fora , longe de todas as pessoas . Longe dos
soldados de aparência horr ível da Ordem Imper ial .
Ela sabia que os soldados estavam fazendo um trabalho inest imável lutando contra Lorde Rahl, mas, a inda assim, ela s implesmente não conseguia evitar o modo
como aqueles homens causavam ca lafr ios em sua pele . Sent ia-se tão nervosa quanto
uma corça sendo observada por uma mat ilha de lobos famintos . Sebastian
simplesmente não entendia sempre que ela tentava colocar isso em palavras para ele . Ele era um homem; ela imaginou que ele não poder ia entender como era ser espiada .
Como ela conseguir ia fazer ele entender que era especialmente aterror izante ser
observada por homens como aqueles , homens com aqueles sorr isos afetados e olhos selvagens?
Se ela s implesmente f izesse como Irmã Perdita disse, então, de manhã, ela e
Sebast ian poder iam par tir . Com seja lá qual fosse a ajuda que as Irmãs estava m
planejando, pelo menos elas garant iram que ela f icar ia melhor pr eparada para matar Richard Rahl.
Agora isso era tudo com que Jennsen se importava . Se ela pudess e
fina lmente matar Lorde Rahl, então estar ia livr e. A vida dela ser ia sua . E se isso nunca chegasse a acontecer para ela mesma , pelo menos o r esto do mundo estar ia
seguro de um assassino de proporções grandiosas .
Elas deixaram os cavalos entr e árvores com galhos nus. . . carvalhos , em sua ma ior ia . Uma vez que as árvores ainda t inham que perder as folhas , no início a
flor esta estava aber ta , mas elas avançaram f irmemente para dentro da f lor esta de
bálsamo, abeto, e p inheiro, muitas com galhos espessos em seus troncos por todo a
extensão até o chão. Embora os grandes p inheiros não t ivessem ga lhos baixos , suas largas coroas selavam a fraca luz do luar . Jennsen seguiu atrás da Irmã , observando
ela des lizar mais fundo dentro da flor esta si lenciosa, sombria .
Jennsen t inha passado grande par te da sua vida em f lor estas . Podia seguir o rastro deixado por um esquilo. Irmã Perdita estava movendo-se com toda a cer teza de
alguém que seguia uma estrada , e mesmo assim não havia tr i lha que Jennsen
conseguisse detectar . O terreno estava coberto com as coisas t íp icas de flor estas ; nada daquilo t inha sido mexido por alguém que t ivesse passado ali . Ela viu gravetos que
jaziam intocados , folhas secas intactas , delicados musgos que não foram tocados por
algum pé. Pelo que Jennsen podia dizer , ela e a Irmã estavam abrindo caminho através
de uma f lor esta virgem sem qua lquer razão ou dest ino , e mesmo ass im ela sabia pela forma deliberada como a Irmã seguia que ela devia ter um, mesmo que somente ela
enxergasse isso.
E então, Jennsen captou um som fraco f lu indo através da espessa flor esta .
347
Ela viu um brilho de luz na par te de ba ixo dos galhos adiante . O ar fr io t inha um
estranho odor estranho, desagradável, como o leve fedor de podre , mas com um
nauseante traço doce nele.
Enquanto ela seguia Irmã Perdita entr e amontoados de sempre-vivas, Jennsen começou a ouvir as vozes individuais unidas em um baixo, r ítmico, cant o
gutural. Ela não conseguia entender as palavras , mas elas r essoavam fundo em seu
peito, e, a incomum cadência sendo per turbadoramente familiar , no fundo da ment e dela .
Mesmo sem que ela ouvisse a s palavras individua is, o canto delas quas e
parecia ser aquilo que gerava o fedor no a r . As palavras , peculiares e a inda assim assustadoramente ínt imas , reviravam seu estômago causando náusea .
Irmã Perdita fez uma pausa para olhar atrás, cer t if icando -se de que sua
carga não estava fraquejando. Jennsen conseguiu ver o leve br i lho do luar r ef let indo
no anel enf iado no lábio infer ior da Irmã. Todas as Irmãs usavam um. Jennsen achou o costume revoltante, mesmo que fosse para mostrar lea ldade .
Quando Irmã Perdita segurou um ga lho ba ixo de bálsamo para ela , Jennsen
atravessou. Ouvir as vozes na cantor ia adiante deixou seu coração pulsando for te . Ela podia ver , a través da aber tura , uma clar eira na f lor esta , permit indo uma vista aber ta
do céu e da lua acima .
Jennsen espiou a expressão dura da Irmã , então prosseguiu até a borda da clar eira . Diante dela estava um largo círculo de velas . As velas estavam pos icionadas
tão próximas que aquilo quase parecia um anel de fogo invocado para afastar
demônios. Dentro do anel de velas, um cír culo t inha s ido feito no chão com o que
parecia ser ar eia branca que cint i lava na luz do luar . Por toda par te dentro do círculo, feitos com a mesma areia branca estranha , es tavam s ímbolos geométr icos que Jennsen
não reconhecia .
Sete mulheres estavam sentadas em um cír culo dentro da areia cint i lante . Havia um lugar ao qual parecia que alguém per tencia mas esse a lguém estava ausente ,
sem dúvida era Irmã Perdita . As mulheres estavam com os olhos fechados enquant o
cantavam na estranha l íngua . A luz da lua ref let iu nos anéis enf iados nos láb ios
infer ior es delas enquanto elas pronunciavam as palavras guturais . — Você deve sentar no centro do círculo. — Irmã Perdita falou em voz
baixa . — Deixe as suas roupas aqui .
Jennsen olhou dentro dos olhos duros .
— O quê?
— Tire a sua roupa e sente no centro de fr ente para a brecha no círculo .
O comando foi transmit ido com tal autor idade fr ia que Jennsen soube qu e
não t inha escolha a não ser obedecer . A Irmã t ir ou a capa dela , e então observou si lenciosamente. Depois que o
vestido dela des lizou até o chão, Jennsen abraçou os ombros trêmulos . Seus dentes
batiam, mas era por ma is do que apenas o fr io . Vendo o olhar s ilencioso da Irmã , Jennsen engoliu em seco e rapidamente t irou o r esto das roupas .
Irmã Perdita empurrou-a com um dedo.
— Vá.
— O que eu estou fazendo? — a própria voz de Jennsen pareceu
surpreendentemente poderosa para ela .
Irmã Perdita cons ider ou a pergunta durante um momento antes de f ina lment e responder .
— Você matará Richard Rahl. Para ajudá- la , nós estamos rasgando o Véu
para o Submundo.
Jennsen balançou a cabeça .
— Não. Não, eu não farei uma coisa dessas .
— Todos fazem. Quando você morre, cruza o Véu. A morte é par te da vida .
Para matar Lorde Rahl, você precisará de ajuda . Estamos dando a você essa ajuda.
— Mas o Submundo é o mundo dos mortos. Eu não posso. . .
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— Você pode e fará . Já deu a sua palavra . Se não f izer isso, então quantos
ma is Lorde Rahl va i assassinar? Você fará isso, ou terá o sangue de cada uma
daquelas vít imas em suas mãos . Recusando, estará causando a morte de incontáveis pessoas. Você, Jennsen Rahl, estará ajudando o seu irmão.
Você, Jennsen Rahl, estará abr indo as por tas da morte e permit indo qu e
todas aquelas pessoas morram. Você, Jennsen Rahl, será a discípula do Guardião. Estamos pedindo a você para ter a coragem de r ejeitar isso , e ao invés disso, lançar a
morte sobre R ichard Rahl.
Jennsen estr emeceu, lágr imas escorrendo por seu rosto, enquanto ela
cons iderava o terr ível desaf io da Irmã Perdita , sua terr ível escolha. Jennsen r ezou para sua mãe, perguntando o que devia fazer , ms nenhum s ina l apareceu para ajudá - la .
Até mesmo a voz estava silenciosa .
Jennsen caminhou por cima das velas . Precisava fazer isso. Tinha que acabar com o governo de Richard Rahl.
Felizmente, pelo menos o centro de todo o cuidadoso arranjo parecia escuro .
Jennsen estava apavorada por estar nua na frente de estranhos , mesmo que fossem mulheres, mas esse era o menor dos medos dela no momento .
Enquanto ela caminhava pelo círculo de areia branca cint i lante , ele parecia
assustadoramente ma is fr io, como se ela estivesse entrando nas garras do inverno
vivo. Ela tremia , abraçando a s i mesma , enquanto seguia até o centro do círculo de mulheres.
No meio havia uma Graça feita da mesma areia branca , c int i lando na luz do
luar . Ela f icou olhando f ixamente para ela , um s ímbolo que ela mesma havia desenhado muitas vezes , mas sua mão não er a guiada pelo Dom.
— Sente. — fa lou Irmã Perdita .
Jennsen começou a sentar . A mulher estava parada logo atrás dela . Quando ela pr essionou os ombros de Jennsen, Jennsen desceu até o chão, sentando com as
pernas cruzadas no centro da estr ela de oito pontas no centro da Graça . Ela notou,
então, que cada uma das Irmãs sentava na extensão de um raio sa indo de cada ponta da estrela , a não ser uma que estava dir etamente na frente. Aquele ponto estava vazio.
Jennsen estava sentada nua , tremendo, no centro do círculo enquanto as
Irmãs da Luz começaram o seu canto suave outra vez .
A f lor esta era escura e s inistra , as árvores sem folhas . Os galhos esta lava m batendo uns nos outros ao vento como os ossos dos mortos que, Jennsen temia, as
Irmãs estavam invocando.
O canto parou r epentinamente. Ao invés de sentar no lugar vazio que r estava no círculo de Irmãs , como Jennsen esperava , Irmã Perdita permaneceu atrás dela e
falou rapidamente, palavras ásperas na língua estranha .
Em a lguns pontos no longo discurso cantado , Irmã Perdita soltava uma palavra Grushdeva , e est icava os braços acima da cabeça de Jennsen, a t irando pó. O
pó incendiava com um rugido que fazia Jennsen pular cada vez que ela fazia isso , a
fraca luz banhando as Irmãs brevemente na chama bruxuleante.
Quando a chama ascendia , as sete Irmãs falavam como que em uma só voz . — Tu vash misht. Tu vask misht. Grushdeva du kalt misht.
Aquelas não eram apenas palavras que ela conhecia , mas Jennsen percebeu que a voz estava fa lando as palavras na cabeça dela junto com as Irmãs . Era
assustador e ao mesmo tempo confor tador t er a voz de volta . A ans iedade quando a
voz estranhamente havia f icado si lenciosa t inha sid o insuportável.
— Tu vash misht. Tu vask misht. Grushdeva du kalt misht.
Jennsen estava sendo embalada pelo som do canto , e conforme ele
prosseguia , acalmada também. Ela pensou naquilo em que a t inha levado até ess e ponto, no terror , pensou em sua mãe ali deitada no chão morrendo. Quando pensou em
Sebast ian lutando bravamente. Quando pensou nas ú lt imas palavras de sua mãe , e em
ter de correr e deixá -la a li no chão ensanguentado, Jennsen chorou com a terr ível
angúst ia . — Tu vash misht. Tu vask misht. Grushd eva du kalt misht.
349
Jennsen chorou soluçando. Sent ia falta de sua mãe. Estava com medo por
Sebast ian. Sent ia-se tão terr ivelmente sozinha no mundo. Tinha visto tantas pessoas
morrer em. Queria que isso acabasse. Queria que isso parasse.
— Tu vash misht. Tu vask misht. Grushdeva du kalt misht.
Quando levantou os olhos , a través de sua visão embaçada pelas lágr imas ,
viu algo escuro sentado no local em fr ente a ela que momentos antes est ivera vazio . Os olhos daquilo br ilhavam como a luz das velas . Jennsen olhou dentro daqueles
olhos, como se olhasse dentro da própria voz .
— Tu vash misht, Jennsen. Tu vask misht, Jennsen — a voz diante dela e
dentro da sua cabeça falou em uma voz lenta , como um rosnado . — Abra-se para mim,
Jennsen. Abra-se para mim, Jennsen .
Jennsen ão conseguia mover -se perante o olhar daqueles olhos . Aquela era a voz, só que não em sua cabeça, era a voz na frente dela .
Irmã Perdita , a trás dela , lançou pó novamente, e dessa vez, quando pegou
fogo, ele i luminou a pessoa que sentava ali com os olhos br i lhantes . Era a mãe dela .
— Jennsen . — a mãe dela fa lou. — Surangie .
— O quê? — Jennsen gemeu, chocada .
— Entregue .
Lágrimas brotaram em uma torr ente incontrolável . — Mamãe! Oh, Mamãe!
Jennsen começou a levantar , começou a mover -se até sua mãe, mas Irmã Perdita aper tou os ombros dela , mantendo-a no lugar .
Quando as chamas elevaram-se e evaporaram, quando a luz desapareceu , a
mãe dela sumiu na escuridão, e diante dela estava a coisa com os olhos br i lhantes
como luz de velas . — Grushdeva du kalt misht . — a voz rosnou.
— O quê? — Jennsen gemeu.
— A vingança é através de mim . — a voz rosnou traduzindo. — Surangie,
Jennsen. Entregue, e a vingança será sua . — Sim! — Jennsen gemeu em inconsolável agonia . — Sim! Eu me entr ego à
vingança !
A coisa sorr iu , como uma porta abr indo-se pa ra o Submundo. Ela ergueu-se, uma sombra ondulante, inclinando para frente em dir eção a
Jennsen. A luz do luar cint i lou em músculos poderosos quando aquilo esticou -se,
aproximando-se dela , quase como um gato, sorr indo, mostrando aquelas pr esas de parar o coração.
Jennsen estava além de saber o que fazer , exceto que aguentara tudo qu e
podia , e quer ia que isso acabasse.
Não podia ma is aguentar isso . Quer ia ma tar Richard Rahl. Ela quer ia vingança . Ela quer ia sua mãe de volta .
A coisa estava bem na fr ente dela , poder cinti lante e uma forma que estava
ali, mas não estava , parcialmente nesse mundo e parcia lmente em outro . Então Jennsen viu, a lém da coisa , a lém do anel de Irmãs e ar eia branca e
velas cint i lantes , formas enormes nas sombras.. . co isas sobre quatro patas . Havia
centenas delas , seus olhos todos br i lhando amarelos na escur idão , fumaça projetando-se de suas nar inas . Parecia como se elas pudessem ter vindo de outro mundo , mas
agora estavam def init ivamente todas nesse mundo .
— Jennsen . — a voz pa irando próxima, sobre ela , sussurrou. — Jennsen . —
ela sussurrou. — Jennsen . — a coisa mostrou um sorr iso tão sombrio quanto os olhos
do Imperador Jagang, tão sombr io quanto uma noite sem luar .
— O que. . . — ela sussurrou entr e as lágr imas . — O que são aquelas coisas
ali?
— Ora, os cães da vingança . — a voz sussur rou de forma ínt ima . — Aceite-
me, e eu soltarei eles .
350
Os olhos dela arrega laram.
— O quê?
— Entregue-se a mim, Jennsen. Aceite-me, e eu soltarei os cães em seu
nome .
Jennsen não conseguia p iscar enquanto afastava -se da coisa . Mal conseguia
respirar . Um som ba ixo, uma espécie de ronronado, saiu da garganta a coisa quando esticou-se sobre ela , olhando dentro dos olhos dela .
Ela estava tentando pensar naquela pequena pa lavra , naquela pequena
palavra importante. Estava em algum lugar dentro da mente dela , mas enquanto ela olhava dentro daqueles olhos cint i lantes , não conseguia pensar nela . Sua ment e
parecia congelada . Quer ia aquela palavra , mas ela não estava ali .
— Grushdeva A kalt misht . — a voz sussurrou naquele rosnado gutural
ecoante. — A vingança é através de mim .
— Vingança. — Jennsen sussurrou em respos ta .
— Abra-se para mim, abra-se para mim. Entregue-se. Vingue sua mãe .
A coisa passou um dedo longo sobre o ros to dela , e ela conseguiu s ent ir onde estava Richard Rahl. . . como se ela pudesse sent ir a ligação que dizia aos outros
onde ele estava . Ao su l. Distant e, ao sul. Agora ela podia encontrá -lo.
— Aceite-me . — a voz suspirou, a polegadas do rosto dela .
Jennsen estava deitada de costas . A percepção desse fato surpreendeu -a e
alarmou-a. Ela não lembrava de ter deitado.
Sent iu como se estivesse observando out ra pessoa fazer essas coisas . Percebeu que a coisa, que era a voz, estava ajoelhando entr e as pernas aber tas dela .
— Entregue sua vontade, Jennsen. Entregue sua carne, — a voz sussurrou.
— e eu soltarei os cães para você . Ajudarei você a matar Richard Rahl .
A voz t inha sumido. Perdida . Exatamente como ela . . . perdida .
— Eu. . . Eu. . . — ela gaguejou enquanto lágr imas escorr iam de seus olhos
arregalados .
— Aceite-me, e a vingança será sua . Richard Rahl será seu para matar .
Aceite-me. Entregue a sua carne, e com ela, sua vontade . Ela era Jennsen Rahl. Essa era sua vida .
— Não.
As Irmãs no círculo gr itaram em dor repent ina . Colocaram as mãos nos
ouvidos, gr itando de agonia , urrando como cães .
Os olhos br i lhantes como luz de velas voltaram-se para ela . O sorr is o
retornou, dessa vez vapor escapava entr e as presas úmidas . — Entregue-se, Jennsen . — a voz rugiu com terr ível autor idade que Jennsen
pensou que poderia esmagá -la . — Entregue sua carne. Entregue sua vontade. E então
terá a vingança. Terá Richard Rahl .
— Não. — e la disse , encolhendo-se quando a coisa esticou -se ma is per to
do rosto dela . Seus dedos mergulhavam na terra . — Não! Entr egarei minha carne,
minha vontade, se esse é o pr eço, se isso é o que devo fazer para livrar o mundo dos
vivos do bastardo assassino Richard Rahl, mas não farei ta l coisa até que você me dê isso.
— Uma barganha? — a voz sib ilou. O br ilho amarelo nos olhos f icou
vermelho. — Quer fazer uma barganha comigo?
— Esse é o meu preço. Solte os seus cães . Ajude-me a matar Richard Rahl.
Quando eu t iver a vingança , então me entrega rei . A coisa exib iu um sorr iso de pesadelo .
Uma língua comprida saltou , lambendo-a, em uma terr ível promessa ínt ima ,
desde a vir ilha nua dela subindo todo o caminho até entr e os seios . Isso causou u m for te ca lafr io na própria alma dela .
— Barganha aceita, Jennsen Rahl .
351
C A P Í T U L O 5 3
Fr iedr ich seguia seu caminho entr e os gordos montes de grama na margem do pequeno lago, t entando não pensar no quanto estava faminto . Com o modo que seu
estômago roncava , ele não estava obtendo muito sucesso . Peixe podia ser uma boa
mudança no cardápio, mas peixe precisava ser cozido, e pr imeiro ele t inha que pegar
um. Olhou pela margem da água . Pernas de rã também ser iam boas . Uma r efeição de carne seca , porém, ser ia ma is rápida . Ele quer ia t er t irado um biscoito duro da sua
mochila na ú lt ima vez em que parou para um descanso . Pelo menos se t ivesse feit o
isso, t er ia algo para sugar . Em alguns lugares , grama ma is cur ta inclinava sobre a l inha da margem do
lago como uma pele verde. Em outros lugares havia grupos de altos juncos . Enquant o
o sol mergulhava por trás das colinas baixas além do lago , ele começou a f icar escuro entr e as árvores imponentes , contorcidas por grande idade , do outro lado do caminho.
O ar estava parado, deixando a superfície espelhada do r io dourada com o br ilho cor
de ouro do céu a oeste.
Fr iedr ich fez uma parada para alongar -se, est icando suas costas , enquanto espiava dentro das sombras entr e as árvores . Ele pr ecisava de uma pequena pausa para
descansar suas pernas cansadas enquanto considerava se devia ou não parar e constru ir
um abrigo para passar a noite, ou pelo menos t irar um biscoito. Ele podia ver faixas escuras de água parada entr e as árvores cober tas por longas faixas de musgo.
Era bastante fácil viajar pelo campo, quando o caminho permanecia elevado
fora das par tes baixas . Descendo nas depressões ele t endia a ser pantanoso e de dif í ci l
avanço. Ele não gostava dos lugares pantanosos ; eles traziam recordações dolorosas . Fr iedr ich espantou uma pequena nuvem de mosquitos voando ao r edor do
seu rosto, então a jeitou as alças de sua mochila nos ombros enquanto tentava decidir o
que fazer . . . montar acampamento, ou prosseguir . Embora ele est ivesse cansado e dolor ido por causa de um árduo dia de viagem, t inha ficado ma is for te durante o curso
de uma jornada tão longa como essa e agora estava ma is capaz de aguentar os r igores
da sua nova vida. . . pelo menos, muito mais do est ivera no início . Enquanto caminhava , Fr iedr ich fr equentemente falava , em sua mente, com
Althea. Ele descrevia para ela tudo que estava vendo , o terr eno, a vegetação, o céu,
esperando que no mundo além ela pudesse escutá -lo e abr isse o sorr iso dourado dela .
Com o dia chegando ao fim, ele pr ecisava decidir o que fazer . Não quer ia estar via jando quando f icasse escuro demais . Era lua nova, então ele sabia que, assim
que as luzes f inais do cr epúsculo sumissem, a escur idão ser ia quas e tota l. Não havia
nuvens, então pelo menos a luz das estr elas impedir ia o t ipo de sufocante escuridão completa que ele ma is odiava , o t ipo em que ele não conseguia ao menos enxergar de
cima para baixo. . . isso era o pior . Era quando ele ficava mais solitár io.
Mesmo com a presença das estr elas , era dif íci l via jar em r egiões desconhecidas apenas com a luz delas . Na escuridão era fácil vagar fora do caminho e
acabar ficando perdido. F icar perdido significar ia que de manhã ele provavelment e
ter ia que r ecuar para encontrar um caminho através de uma área intransponível , ou
encontrar a tr ilha , e no f ina l isso não r esultar ia em nada além do desperdício de tempo.
Ser ia a lgo sábio montar acampamento. Estava quente, então ele r ealmente
não precisar ia de uma fogueira , embora, por alguma razão, ele sent isse que desejava uma. Ainda ass im, com uma fogueira , ele podia chamar atenção. Ele não t inha
realmente nenhuma forma de saber quem podia estar por per to , e uma fogueira poder ia
ser avistada por milhas . Era melhor não ter u ma fogueira , independente de quanto
confor to ela pudesse fornecer , em troca da segurança . Pelo menos haver ia estr elas . Ele também cons iderou a poss ib il idade de que se ele cont inuasse seguindo a
tr ilha pudesse em breve sair das terras baixas pantanosas e encontrar ia um lugar
352
melhor para um acampamento. . . um lugar que não estar ia cheio de cobras . Cobras,
procurando calor , rastejar iam para ficar em per to de uma pessoa dormindo no chão . Ele
não gostar ia de acordar e descobr ir uma cobra enrolada junto com ele sob o cobertor .
Fr iedr ich levantou ma is a mochila em suas costas . Ainda havia luz suf iciente para continuar durante algum tempo.
Antes que ele pudesse voltar a andar , ouviu um leve som. Embora não foss e
alto, a natureza inexplicável dele fez com que virasse e olhasse de volta na tr i lha para o norte, a dir eção da qua l ele t inha vindo. Ele não conseguiu r elacionar o som com
qua lquer coisa que vinha na mente, com qua lquer sapo, esquilo, ou ave. Enquanto ele
tentava escutar , tudo estava mortalmente quieto outra vez. — Estou f icando velho demais para esse t ipo de coisa. — ele murmurou
para si mesmo quando voltou a andar novamente .
A outra razão est imulando ele a cont inuar avançando , a razão que na verdade era a mais importante, era que ele odiava parar quando estava tão per to. É
claro, a inda podia ser distante o bastante pa ra exigir uma caminhada de vár ios dias. . .
era dif íci l para ele dizer com precisão, mas também era poss ível que est ivesse muit o ma is per to. Se esse fosse o caso, parar e passar a noite ser ia tolice . O tempo era
essencia l.
Ele podia ao menos caminhar um pouco ma is. Ainda havia tempo para
montar acampamento, se ele t ivesse que fazer isso, antes que f icasse escuro demais. Ele imaginou que podia cont inuar até não conseguir ma is enxergar a tr ilha bem o
bastante para segui - la e então preparar um lugar para dormir sobre a grama ao lado do
lago, mas Fr iedr ich r ea lmente também não gostava da ideia de dormir em campo aber to bem ao lado de uma tr ilha , não quando ele estava tão fundo dentro do Mundo
Ant igo, e não quando ele sabia que poder ia haver patrulhas per to . Tinha visto ma is
das tropas de patrulha da Ordem nos ú lt imos dias .
Evitara cidades e povoados , em ma ior par te f icando o ma is próximo poss ível de um curso em linha r eta através do Mundo Ant igo . Várias vezes ele t eve que mudar
esse curso quando o destino havia mudado . Enquanto viajava , Fr iedr ich passou por
muitas dores evitando tropas . Estar per to de qualquer soldado da Ordem signif icava que sempre havia a poss ib il idade de ser detido para interrogatór io . Embora ele não
estivesse tão l ivr e de suspeita quanto um fazendeiro em seu próprio lar podia estar ,
ele sabia que um homem mais velho viajando sozinho não parecia muito ameaçador para grandes soldados e provavelmente não levantar ia suspeitas .
Porém, ele também sabia , a par t ir de fragmentos de conversas que ouvira
quando est ivera em cidades , que a Ordem Imper ial não t inha escrúpulos a respeito de
tor turar pessoas quando sent iam vontade. A tor tura t inha a grande vantagem de sempr e obter uma confissão de culpa , o que provava o sábio ju lgamento do interrogador por
ter suspeitas em pr imeiro lugar , e, se desejado, podia produzir os nomes de ma is
conspiradores com ―pensamentos errados‖ , como ele ouvira dizerem. Um interrogador cruel nunca ficava sem trabalho ou sem p essoas culpadas precisando de punição .
Ao ouvir um som de esta lo, Fr iedr ich deu meia volta e f icou imóvel como
um tronco, escutando, observando. O céu e o lago estavam espelhados em cor violeta . Galhos de árvores estavam imóveis e s ilenciosos , projetando-se sobre seções do
caminho como garras esperando para agarrar viajantes quando f icasse suficientement e
escuro.
Provavelmente a f lor esta estava cheia de cr iaturas que acabavam de sa ir de um longo dia de sono para caçar durante a noite . Corujas , Arganazes, Sar igueias ,
Guaxinins , e outras cr iaturas tornam-se mais ativas quando f ica escuro . Ele observou,
esperando para ver se ouvia o som novamente . Nada moveu-se na calmaria do crepúsculo.
Fr iedr ich virou de volta para a tr ilha e apressou os passos . Deve ser algu ma
cr iatura , procurando pelo chão da f lor esta , buscando uma refeição. A r espiração dele
acelerou com o aumento do seu esforço . Tentou molhar a boca usando a l íngua mas isso rea lmente não estava adiantando muito . Independente da sede, ele não quer ia
parar para beber água .
353
Estava apenas imaginando coisas , ele sabia . Estava em uma terra estranha ,
em uma f lor esta estranha , e estava f icando escuro. Geralmente ele não era tão
suscept ível a ficar alarmado com pequenos ruídos na f lor esta que assustavam a
ma ior ia das pessoas. Tinha vivido no pântano com Althea durante um longo tempo, e sabia a respeito de bestas rea lmente apavorantes ; também conhecia muito sobre a
var iedade daquelas cr iaturas que eram bastante inocentes , apenas cuidando de suas
próprias vidas . Sem dúvida essa era inocente. Mesmo assim, ele não sent ia -se ma is cansado ou quer ia parar para dormir .
Fr iedr ich virou para olhar por cima do ombro enquanto avançava
rapidamente pela tr i lha levemente i luminada . Ele t inha a estranha sensação de que t inha algo atr ás dele. Algo observando-o. O pensamento de ser observado fez os
cabelos de sua nuca f icar em er içados .
Ele cont inuou olhando mas não viu nada . Tudo cont inuava quieto atrás dele .
Ele sabia que, ou estava quieto demais , ou sua imaginação estava ativa demais . Respirando pesadamente, seu coração pulsando for te, Fr iedr ich apressou o
passo. Talvez se ele andasse rápido, f inalmente chegasse lá , e não ter ia que f icar
sozinho na f lor esta durante a noite . Ele olhou para trás por cima do ombro novamente.
Olhos estava m observando ele.
Isso o deixou tão assustado que ele tropeçou nos próprios pés e caiu espalhando-se no chão. Ele girou o corpo para sentar e encarar a tr ilha enquanto
rastejava para trás .
Os olhos à espreita ainda estavam lá . Ele não t inha imaginado aquil o. Olhos
amarelos, gêmeos , c inti lando, observando da escuridão na flor esta . No meio da calmaria , ele ouviu um rosnado baixo quando a besta saltou das
sombras para dentro da luz suave entr e a floresta e o lago . Era enorme. . . ta lvez duas
vezes o tamanho de u m lobo, com um peito massivo e pescoço grosso . Ele deu passos cuidadosos , a cabeça pa irando baixo per to do chão enquanto
avançava , olhos br i lhantes que jama is desviavam dele .
A coisa estava caçando.
Com um grito, Fr iedr ich levantou e saiu correndo o ma is r ápido que suas pernas conseguiam. Sua idade t inha pouca importância quado ele estava energizado
por um medo como esse . Um rápido olhar por cima do ombro mostrou a besta saltando
pela tr i lha atrás dele , reduzindo facilmente a distância . Pior ainda , naquele br eve olhar para trás, Friedr ich viu ma is pares de olhos
amarelos br i lhando emergir em da flor esta para juntar em -se à perseguição.
Eles estavam sa indo para a caçada noturna . Fr iedr ich era a presa deles .
A besta u ivante at ingiu a costa dele com tanta força q ue isso t ir ou o ar de
seus pulmões. Ele mergulhou de cara no chão, batendo com um grunhido, des lizando
pela t erra . Quando ele t entava afastar -se, a poderosa besta saltou sobre ele . Rosnando com dentes que bat iam, ela pulou, pegou a mochila dele, rasgando-a em um louco
esforço para chegar até os ossos e músculos dele .
Fr iedr ich visua lizou a si mesmo sendo rasgado em pedaços . Sabia que estava prestes a morrer .
354
C A P Í T U L O 5 4
Fr iedr ich gr itou em terror enquanto lutava frenet icamente para escap ar . Logo acima do ombro dele a coisa rosnou com ferocidade enquanto dentes rasgavam a
mochila , t entando cor tá - lo em pedaços . A mochila dele, estofada e cheia de coisas ,
agora era uma proteção entr e Fr iedr ich e os enormes dentes t entando mordê- lo. O pes o
da besta selvagem o mant inha no chão, e as patas traseiras impediam que ele pudess e afastar -se rastejando, muito menos levantar e corr er .
Com desesperada urgência , Fr iedr ich forçou a mão por baixo de si , t entando
alcançar a faca. Seus dedos tocaram o cabo e ele sacou-a. Imediatamente, ele golpeou, enf iando sua lâmina na besta . Ela atingiu osso do ombro coberto por pele , causando
pouco dano. Ele golpeou novamente, mas fa lhou em manter contato. Lutando com tudo
que podia , ele atacou enquanto rolava , errando a besta , t entando escapar quando ela desviou da lâmina .
Justamente quando ele estava prestes a escapar para o lado , mesmo que para
poupá- lo momentaneamente, ma is das bestas entraram na batalha . Fr iedr ich gr itou
outra vez, golpeando com sua faca , t entando proteger o rosto com o outro braço ao mesmo tempo. Ele conseguiu f icar de quatro, só para que outra das bestas o atingisse e
o derrubasse.
Fr iedr ich viu o l ivro ca ir do bolso interno que ele havia costurado dentro da mochila . Os dentes deles t inham rasgado o c ompartimento selado. As bestas saltaram
atrás do l ivro. Aquela que pegou ele com a boca rosnou e balançou a cabeça como um
cão de caça com uma lebre.
Exatamente quando outra das cr iaturas uivantes rosnava em dir eção a ele , presas molhadas projetando-se, a cabeça dela r epent inamente voou rodopiando
loucamente para longe. Sangue quente espirrou no lado do rosto e do pescoço de
Fr iedr ich. Isso foi totalmente inesperado e desor ientador . — Dentro da água! — um homem gr itou para ele. — Pule dentro da água !
Tudo que Fr iedr ich conseguia fazer era rolar e contorcer , t entando afastar -se
das bestas rosnantes . Certamente ele não t inha intenção de entrar na água ; não t inha qua lquer desejo de f icar encurralado por anima is ferozes ass im dentro da água . Esse
era um truque favorito de bestas no pântano. . . fazem você entrar na água , então elas t e
pegam. Entrar na água era a últ ima coisa que Fr iedr ich quer ia . O mundo pareceu enlouquecer com aço br ilhando per to do rosto dele , logo
acima da cabeça , do lado dele, assobiando pelo a r , cor tando bestas com cada giro
poderoso, defendendo ele pouco antes que elas estivessem sobre ele . Entranhas fedorentas, gosmentas, espalharam-se pelo chão, caíram sobre as pernas dele .
O homem acima aproximou -se de Fr iedr ich, passando a perna sobre ele . Sua
espada cor tava e per furava com ta l habil idosa graça f lu ída que Fr iedr ich f icou
boquiaber to. O estranho manteve posição sobre Fr iedr ich, cor tando as cr iaturas quando elas atacavam, aparentemente dúzias delas, todas rosnando e uivando.
Fr iedr ich viu ma is das bestas selvagens saindo da flor esta . Com assustadora
velocidade e aterradora determinação, elas saltavam em direção ao homem que estava sobre ele, a t irando-se sobre ele com selvagem abandono.
Fr iedr ich viu outro espadachim de um lado entrar na batalh a. Pensou ter
visto uma terceira pessoa atrás , mas com toda a fur iosa atividade, não t inha cer teza de quantos podiam ser os sa lvadores . Os rosnados estr identes , u ivos, e for tes grunhidos ,
todos tão próximos , eram ensurdecedores . Quando uma das pesadas best as bateu de
lado contra ele, Fr iedr ich esfaqueou-a, apenas para ver que ela já estava sem cabeça .
Quando a segunda pessoa correu para juntar -se à batalha , o homem acima de Fr iedr ich deu um passo para o lado, abaixou um braço, agarrou a camisa dele ,
levantou-o, e, com um grunhido, empurrou-o dentro do lago. Fr iedr ich não teve temp o
para recuperar o equil íbr io e apenas um instante para inspirar antes de bater na água .
355
Ele afundou, incapaz de difer enciar a superfície das profundezas escuras .
Retornando à super f ície, buscando ar , nadando até a margem, Fr iedr ich
fina lmente encontrou apoio para os pés no fundo lamacento e conseguia apenas manter
sua cabeça acima da superf ície da água . Para sua surpresa , nenhuma das bestas entrou atrás dele. Várias correram até
a margem, mas pararam, não querendo entrar na água independente do quant o
desejassem pegar ele. Quando viram que ele estava fora de alcance , r etornaram ao ataque e foram mortos assim que juntaram-se aos outros avançando sobre o grande
homem.
As bestas saltaram sobre os tr ês de todos os lados , a batalha feroz continuando com assustadora intens idade. Tão rápido quanto os anima is atacavam,
eles eram despachados efet ivamente. . . degolados , perfurados, ou aber tos com
poderosos golpes de uma espada .
Com repentina f inalidade, a f igura escura girou a espada para cima , cor tando fora a cabeça de uma besta quando ela pulou no ar em dir eção à segunda
pessoa . A noite f ina lmente f icou s i lenciosa , a não ser pela respiração pesada dos tr ês
pessoas na tr ilha . Os tr ês afastaram-se da p ilha de carcaça imóveis , para sentar em no banco de
terra , exaustos, cabeças penduradas enquanto recuperavam o fôlego.
— Você está bem? — o pr imeiro dos tr ês , aquele que salvara a vida de
Fr iedr ich, perguntou. A voz dele ainda estava cheia da terr ível fúr ia de batalha . Sua
espada manchada de sangue, a inda na mão, cint i lou na luz das estrelas .
Fr iedr ich, confuso e tr emendo, r epent inamente fraco de a lívio , deu vár ios passos até a margem, água escorrendo dele, a té que estava com a água até a cintura no
lago diante do homem.
— Sim, graças a você. Porque você me jogou na água daquele jeito ?
O homem passou os dedos pelos cabelos .
— Porque, — ele disse entre profundos suspiros não apenas por causa do
cansaço, mas também pela fúr ia . — Sabujos do Coração não ent ram na água . Era o
lugar ma is seguro para você.
Fr iedr ich engoliu em seco quando seu olhar desviou para as massas escuras dos cães.
— Não sei como agradecer . Você sa lvou a minha vida .
— Bem, — fa lou o homem, ainda r ecuperando o fôlego. — acontece que eu
não gosto de Sabujos do Coração. Eles me assustaram de verdade em ma is de uma
ocasião.
Fr iedr ich temeu perguntar onde o homem ter ia visto anter iormente cr iaturas horr íveis como essas .
— Nós estávamos lá atrás subindo a tr ilha quando vimos eles correr em atrás
de você. — era a voz de uma mulher . Fr iedr ich olhou para a figura do meio que t inha
falado enquanto ela recuperava o fôlego . Só conseguia dist inguir o longo cabelo dela .
— Nós estávamos preocupados em não conseguirmos alcançá - lo antes que os Sabujos
do Coração pegassem você. — ela completou .
— Mas.. . o que são Sabujos do Coração?
As tr ês f iguras ficaram olhando para ele .
— A pergunta mais importante, — o pr imeiro homem falou f inalmente com
uma voz tranquila , suave, controlada, mas cheia de autor idade. — é porque Sabujos do
Coração estavam aqui. Tem a lguma ideia de porque eles estavam atrás de você? — Não, Senhor . Nunca t inha visto esse t ipo de cr iatura .
— Faz muito tempo desde a últ ima vez que vi Sabujos do Coração , — o
homem disse, parecendo preocupado. Fr iedr ich quase achou que ele fa lar ia mais a
respeito dos cães , mas ao invés disso perguntou. — Qual é o seu nome?
— Fr iedr ich Gilder , Senhor , e você tem minha eterna gratidão. . . todos
vocês. Nunca t ive tanto medo desde. . . bem, desde nem sei quando. — ele olhou para
356
os três rostos que observavam, mas estava escuro demais para dist inguir c laramente as
feições deles .
O pr imeiro homem colocou um dos braços em volta da mulher , pela cintura ,
e com um sussurro perguntou se ela estava bem. Ela respondeu com o t ipo de movimento da cabeça contra o ombro dele que, Fr iedr ich sabia, transmit ia verdadeira
preocupação e ínt ima familiar idade. Quando os dedos dele est icaram, tocando no
ombro que estava ao lado dela , a terceira figura assent iu . Esses cer tamente não eram soldados da Ordem Imperia l . Mesmo assim,
sempre havia outros r iscos em uma terra estranha como essa . Fr iedr ich arr iscou.
— Posso perguntar o seu nome, Senhor?
— Richard.
Fr iedr ich deu um passo cauteloso, mas, por alguma razão, pelo modo como a terceira pessoa o observava , ele t emeu sair da água e chegar mais per to de Richard e
da mulher .
Richard lavou a espada na água , então levantou. Após enxugar os dois lados
na perna , ele enf iou a espada de volta em sua ba inha no quadril . Na luz fraca , Fr iedr ich conseguiu ver que a lustrosa bainha em prata e ouro trançados estava presa
com um boldr ié sobre o ombro dir eito de Richard. Fr iedr ich t inha cer teza de que
lembrava da aparência daquele boldr ié e bainha . Fr iedr ich t inha entalhado durant e quase toda a sua vida e também reconhecia uma cer ta graça sem esforço com uma
lâmina. . . não importava que t ipo de lâmina . Era necessár io um controle ar t íst ico para
manipular o aço af iado com maestr ia . Quando aquilo estava nas mãos de Richard, ele realmente parecia estar em seu elemento . Fr iedr ich lembrava bem da espada que
aquele homem estava empunhando naquele dia . Ficou imaginando se essa podia ser
aquela mesma arma extraordinár ia .
Com um pé, R ichard r emexeu em pedaços de Sabujos do Coração , procurando. Curvou-se e ergueu uma cabeça cor t ada.
Então Fr iedr ich viu que a besta t inha algo preso nos dentes. Richard puxou
aquilo, mas estava enterrado nas presas . Enquanto ele trabalhava ret irando aquilo da boca do cão, das pr esas , os olhos de Fr iedr ich ficaram arregalados quando ele
percebeu que era o l ivro. O cão t inha r emovido ele da mochila .
— Por favor . — Fr iedr ich levantou uma das mãos , est icando o braço. — Ele
está . . . ele está bem?
Richard atirou a pesada cabeça para um lado, onde ela quicou e rolou para o
meio das árvores . Ele olhou atentamente para o l ivro na luz suave. Sua mão baixou e ele olhou para Fr iedr ich parado com água até a cintura .
— Acho que é melhor você dizer quem é, e porque está aqui. — fa lou
Richard. A mulher levantou ao ouvir o tom sombrio na voz de Richard.
Fr iedr ich l impou a garganta e engoliu sua preocupação.
— Como eu disse, eu sou Fr iedr ich Gilder . — ele assumiu um r isco terr ível .
— Estou procurando por um homem que é parente de um idoso que conheço chamado
Nathan. Richard f icou observando durante um momento.
— Nathan. Homem grande? Alto, longo cabelo branco até os ombros ? Cheio
de s i? — ele não soava surpreso, e s im um pouco desconfiado . — O Nathan nascido
para ludibr iar?
Fr iedr ich sorr iu com a últ ima par te, e com alívio. Sua l igação o servira bem.
Ele fez uma reverência , o melhor que podia dentro da água . — Mestre Rahl seja nosso guia. Mestre Rahl nos ensine. Mestre Rahl nos
proteja. Em sua luz, prosperamos. Na sua misericórdia, nos abrigamos. Em sua
sabedoria, nos humilhamos. Vivemos só para servir. Nossas vidas são su as . Lorde Rahl observou quando Friedr ich f inalmente levantou o corpo, e então
esticou a mão.
— Saia da água , Mestr e Gilder . — ele fa lou com uma voz gent i l .
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Friedr ich estava um tanto quanto confuso em receber a ofer ta de a juda da
mão do próprio Lorde Rahl, e ass im mesmo não sabia como poder ia r ecusar o qu e
podia ser cons iderado como uma ordem. Ele segurou a mão e sa iu da água .
Fr iedr ich caiu sobre um joelho, inclinando o corpo para frente. — Lorde Rahl, minha vida é sua .
— Obrigado, Mestr e Gilder . F ico honrado com seu gesto, e va lor izo a
sincer idade, mas a sua vida é apenas sua , não per tence a qualquer outra pessoa . Iss o inclu i a mim.
Fr iedr ich f icou olhando maravilhado. Nunca ouviu alguém dizer algo tão
notável, tão inimaginável, muito menos um Lorde Rahl. — Por favor , Senhor , poder ia me chamar de Fr iedr ich?
Lorde Rahl r iu. Foi um som suave e agradável como qualquer outro que
Fr iedr ich já ouvira . Isso fez um sorr iso surgir no rosto dele também.
— Se você me chamar de Richard. — Sinto muito, Lorde Rahl mas. . . eu temo que s implesmente não
conseguir ia fazer ta l coisa . Passei toda a minha vida com um Lorde Rahl, e eu estou
velho demais para mudar isso agora . Lorde Rahl enf iou o dedão no cinto largo.
— Entendo, Fr iedr ich, mas nós estamos bem fundo no Mundo Ant igo . S e
pronunciar as palavras ―Lorde Rahl‖ e a lguém ouvir , provavelmente ter emos u m grande problema nas mãos , então eu agradecer ia muito se você f izesse o melhor qu e
puder para aprender a me chamar de Richard.
— Eu tentarei, Lorde Rahl.
Lorde Rahl apontou a mão fazendo uma apresentação. — Essa é a Madre Confessora , Kahlan, minha esposa .
Fr iedr ich caiu sobre um joelho novamente, baixando a cabeça.
— Madre Confessora . Ele não t inha cer teza de como dever ia saudar adequadamente uma mulher
como essa .
— Agora, Fr iedr ich, — ela falou com um tom de r epreensão semelhante ao
de Lorde Rahl, mas com uma voz que, ele pensou, revelou uma mulher de rara graça , autor idade, e coração. — esse t ítu lo também não irá nos servir bem, aqui .
Era a voz ma is adorável que Fr iedr ich já t inha ouvido, a qualidade lúcida
dela fez ele f icar surpreso. Tinha visto a mulher uma vez , no Palácio; a voz combinava com a sua lembrança dela perfeitamente .
Fr iedr ich assent iu.
— Sim, Senhora . Ele pensou que podia ser capaz de aprender a chamar Lorde Rahl de
―Richard‖ , mas ele t inha quase cer teza de que jama is conseguir ia chamar essa mulher
de qualquer outra coisa além de ―Madre Confessora‖ . O nome familiar ―Kahlan‖
pareceu um privilégio que estava além dele . Lorde Rahl apontou para o lado da Madre Confessora .
— E essa é nossa amiga , Cara. Não deixe que ela assuste você. . . ela t entará .
Além de ser uma amiga , em pr imeiro lugar , ela é uma valiosa protetora , que permanece sempre preocupada com a nossa segurança acima de tudo . — ele olhou para
ela . — Embora , ult imamente, ela est ivera causando ma is problemas do que a judando.
— Lorde Rahl, — Cara rosnou. — eu disse que a cu lpa não foi minha . Não t ive nada a ver com isso.
— Foi você quem tocou.
— Bem.. . como eu podia saber?
— Eu falei para deixar aquilo, mas você t inha que tocar . — Não podia simplesmente deixar aquilo , podia?
Fr iedr ich não entendeu uma palavra da conversa . Mas, mesmo na quas e
escuridão, conseguiu ver a Madre Confessora sorr ir e dar alguns tapinhas no ombro de Cara.
— Tudo bem, Cara . — ela sussurrou, confor tando-a.
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— Vamos pensar em alguma coisa , Cara, — Lorde Rahl complementou com
um suspiro. — a inda temos tempo. — de r epente ele f icou sér io e mudou sua l inha de
pensamento de forma tão ágil quanto mudava a dir eção com aquela espada dele . Ele
balançou o l ivro. — Os cães estavam atrás disso. Surpreso, Fr iedr ich levantou as sobrancelhas.
— Estavam?
— Sim. Você era apenas a recompensa por fazerem um bom trabalho . — Como você sabe?
— Sabujos do Coração jama is atacar iam um livro. Eles t er iam lutado até a
morte por seu coração, pr imeiro, se não t ivessem s ido enviados por outra razão . — Então é por isso que eles são chamados de Sabujos do Coração. — disse
Fr iedr ich.
— Essa é uma teor ia . A outra é que com aqueles grandes ouvidos
arredondados, conseguem encontrar sua vít ima pelo som dos batimentos do coração dela . De qualquer modo, nunca ouvi falar de um Sabujo do Coração ir a trás de u m
livro quando um coração humano estava ao alcance .
Fr iedr ich apontou para o livro. — Lorde. . . sinto muito. . . Richard. . . Nathan enviou-me com esse livro. Ele
achava que isso era muito importante. Acho que ele t inha razão.
Lorde Rahl desviou os olhos dos Sabujos espalhados pelo chão . Se não estivesse escuro, Fr iedr ich t inha cer teza que ter ia visto a t esta dele franzida , mas
cer tamente conseguia ouvir a raiva controlada na voz do homem.
— Nathan acha que muitas coisas são importantes. . . geralmente profecias .
— Mas Nathan t inha cer teza a respeito disso. — Ele sempre tem. Ele me ajudou antes , não nego isso. — Lorde Rahl
balançou a cabeça com determinação. — Mas, desde o início, a profecia t em s ido a
causa de mais problemas para nós do que eu cons igo imaginar . Sabujos do Coração signif icam que de r epente temos um per igo imediato em nossas mãos . Não preciso das
profecias de Nathan para aumentar meus problemas . Sei que algumas pessoas acham
que profecia é um Dom, mas eu a considero como uma ma ldição que é melhor ser
evitada . — Entendo, — Fr iedr ich fa lou com um sorr iso tr iste. — Minha esposa era
uma Feit iceira . O Dom dela era profecia . Às vezes ela chamava de ma ldição. — o
sorr iso dele fraquejou . — Às vezes eu a abraçava enquanto ela chorava por causa de alguma profecia que viu , mas que não podia mudar .
Lorde Rahl observou-o em meio ao desconfor tável si lêncio .
— Então. . . ela faleceu? Fr iedr ich só conseguiu assent ir enquanto sofr ia com a dor das lembranças .
— Sinto muito, Fr iedr ich. — Lorde Rahl disse com uma voz suave.
— Eu também, — a Madre Confessora sussurrou com tr iste e s incera
simpatia . Ela virou para seu marido, segurando o braço dele. — Richard, Eu sei qu e não temos tempo para as profecias de Nathan, mas dif ici lmente podemos ignorar o qu e
Sabujos do Coração significam.
A angústia soou pesada no suspiro de Lorde Rahl. — Eu sei.
— O que vamos fazer ?
Fr iedr ich viu ele ba lançar a cabeça na luz fraca . — Teremos que torcer para que eles cons igam lidar com isso , por enquanto.
Isso aqui é ma is urgente. Precisaremos encontrar Nicci, e rápido. Vamos torcer para
que ela t enha algumas ideias .
A Madre Confessora pareceu aceitar o que ele falou como a lgo sensato. Até Cara estava assent indo em silenciosa concordância .
— Vou dizer uma coisa , Fr iedr ich, — a Madre Confessora fa lou com uma
voz f irme. — Nós estávamos prestes a montar acampamento . Com os Sabujos do
Coração soltos , ser ia melhor você f icar conosco até encontrarmos com alguns de
nossos amigos em um dia ou dois e conseguirmos melhor proteção. No acampamento
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você pode nos contar sobre tudo isso .
— Ouvir ei o que Nathan quer , — Lorde Rahl disse. — mas isso é tudo que
posso prometer . Nathan é um mago; ele t erá que r esolver os seus próprios problemas ;
já t emos problemas suf icientes . Pr imeiro, vamos montar acampamento , em algu m
lugar seguro. Pelo menos darei uma olhada nesse livro. . . se ele ainda est iver legível .
Você pode me dizer porque Nathan acha que ele é tão importante. Apenas me poupe de profecias .
— Sem profecias, Lorde Rahl. De fato, a falta de profecia é o verdadeir o
problema.
Lorde Rahl apontou para as carcaças ao redor .
— Esse é o problema imediato. Ser ia melhor encontrarmos um loca l lá no
pântano, cer cado por água , se quisermos viver para vermos o amanhecer . Haverá mais
de onde esses vieram.
Fr iedr ich olhou em volta nervosamente na escuridão . — De onde eles vieram?
— Do Submundo. — fa lou Lorde Rahl.
Fr iedr ich ficou boquiaber to.
— Do Submundo? Mas como uma coisa assim é poss ível ?
— Só tem um jeito, — Lorde Rahl disse com uma voz cheia de terr ível
conhecimento. — Sabujos do Coração são, de cer to modo, os guardiões do
Submundo. . . os cães do Guardião. Eles só podem estar aqui porque o Véu entr e a v ida e a morte foi violado.
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C A P Í T U L O 5 5
Os quatro começaram a descer o caminho , seguindo em direção à escura extensão de f lor esta baixa , enquanto Fr iedr ich contempla va o surpreendent e
signif icado do Véu entr e o mundo dos vivos e o mundo dos mortos ser violado. Grande
par te da vida de Althea estava envolvida com a Graça que ela usava em suas
previsões, então cer tamente ela sabia a r espeito do Véu entr e os mundos . Através dos anos, Althea fr equentemente havia fa lado com ele sobre isso . Em par ticu lar , pouco
antes de sua morte, ela fa lou muito do que passara a acreditar sobre a interação entr e
esses mundos. — Lorde Rahl, — Fr iedr ich disse. — acho que aquilo que você falou
sobre o Véu entre o mundo dos vivos e dos mortos ter sido vio lado pode estar
relacionado com o mot ivo pelo qual Nathan cons iderava tão vital que eu chegasse at é
você com esse l ivro. Ele não quer que você o ajude. . . não foi por isso que ele me
enviou com este l ivro. . . ele fez isso para ajudar você . Lorde Rahl soltou uma r isada .
— Cer to. Esse é o modo como ele sempre coloca isso. . . que ele só quer
ajudá-lo. — Mas acho que isso tem a ver com a sua irmã .
Todos congelaram no meio do passo.
Lorde Rahl e a Madre Confessora deram meia volta , aproximando-se dele. Mesmo na escur idão, Fr iedr ich podia ver como os olhos deles estavam arregalados .
— Eu tenho uma irmã? — Lorde Rahl sussurrou.
— Sim, Lorde Rahl. — Friedr ich disse, surpreso que ele não soubesse. —
Bem, uma meia irmã, na verdade. Ela, também, é descendente de Darken Rahl.
Lorde Rahl agarrou ele pelos braços .
— Eu tenho uma irmã? Você sabe alguma coisa sobre ela ?
— S im, Lorde Rahl. Pelo menos, um pouco. Encontr ei com ela .
— Encontrou com ela ! Fr iedr ich, isso é maravilhoso! Como ela é? Qua l a
idade dela? — Não muito anos ma is jovem do que você, Lorde Rahl. Na casa do vinte ,
eu dir ia .
— E la é esperta? — e le perguntou com um sorriso .
— Esperta demais para o próprio bem dela , eu temo.
Lorde Rahl r iu de alegr ia . — Não posso acreditar ! Kahlan, isso não é maravilhoso? Eu tenho uma
irmã. — Para mim isso não parece maravilhoso, — Cara resmungou antes que a
Madre Confessora pudesse r esponder . — Isso não parece maravilhoso de jeito a lgum!
— Cara, como você pode falar isso? — a Madre Confessora perguntou.
Cara inclinou em dir eção a eles . — Preciso lembrar a vocês do is sobre o
problema que t ivemos quando o meio irmão de Lorde Rahl, Drefan, apareceu?
— Não. . . — disse Lorde Rahl, claramente per turbado com o comentár io .
Todos f icaram em s ilêncio.
— O que aconteceu? — Friedr ich f inalmente ousou pergu ntar .
Ele engoliu em seco quando Cara agarrou ele pelo colar inho e puxou-o para per to do olhar ardente dela .
— Aquele bastardo filho de Darken Rahl quase matou a Madr e
Confessora! E Lorde Rahl! Ele quase me matou ! Ele matou um monte de outras pessoas. Quase matou todo mundo. Espero que o Guardião dos mortos coloque Drefan
Rahl em um buraco fr io e escuro por toda a eternidade . Se ao menos você soubesse o
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que ele fez com a Madre Confessora. . .
— Já chega , Cara . — a Madre Confessora falou em um suave comando
quando co locou uma das mãos no braço da mulher , pedindo gent i lmente que ela
soltasse o colar inho de Fr iedr ich.
Cara obedeceu, mas, no calor da raiva , somente com grande r elutância .
Fr iedr ich podia ver claramente porque essa mulher era guarda de Lorde Rahl e da Madre Confessora . Embora ele não pudesse ver os olhos dela , podia sentir eles , como
os de um falcão, f ixos nele mesmo no escuro. Essa era uma mulher cujo ju lgamento
penetrante podia avaliar a alma de um homem, e decidir o dest ino dele. Essa era uma mulher não apenas com a autor idade, mas com a habilidade, para agir conforme ela
decidisse que era necessár io.
Fr iedr ich sabia, porque t inha visto mulheres como essa com fr equência no Palácio do Povo. Quando a mão dela sa iu de baixo da capa para segurá -lo pelo
colar inho, ele viu o Agiel pendurado em uma corrente no pulso dela . Essa era uma
Mord-Sith.
— S into muito a respe ito do seu meio irmão , — Friedr ich falou. — mas
não acho que Jennsen queira lhe fazer ma l.
— Jennsen. — e le sussurrou , t estando seu pr imeiro encontro com o nome
de a lguém que ele nunca soube que exist ia .
— Na verdade , Jennsen está apavorada com medo de você, Lorde Rahl.
— Com medo de mim? Porque ela estar ia com medo de mim?
— Acha que você está caçando ela .
Lorde Rahl f icou olhando incrédulo.
— Caçando ela? Como eu poder ia estar caçando ela ? Estive preso aqui no
Mundo Ant igo.
— Ela acredit a que você quer matá- la , que você enviou homens para
caçá-la . Ele f icou em s ilêncio por um momento , como se cada coisa nova que estava
ouvindo fosse a inda ma is inacreditável do que a ú lt ima . — Mas.. . eu nem a conheço.
Porque eu desejar ia matá - la? — Porque ela não é dotada .
Lorde Rahl deu um passo para trás, tentando entender o que Fr iedr ich estava
dizendo. — Que diferença isso faz ? Muitas pessoas não são dotadas.
Fr iedr ich apontou para o livro na mão de Lorde Rahl.
— Acho que Nathan enviou esse l ivro para explicar isso .
— Profecia não vai ajudar a explicar nada .
— Não, Lorde Rahl. Não acho que isso tem a ver com profecia tanto quanto
l ivr e arbítr io. Veja bem, eu sei um pouco sobre profecia por causa de minha esposa .
Nathan expl icou como a profecia necess ita do l ivr e arbítr io , e é por isso que você
reage tão for temente contra a profecia , porque você é um homem que traz o l ivr e arbítr io para equil ibrar a magia da profecia . Ele disse que a profecia não disse que
ser ia eu quem devia trazer esse l ivro até você , mas que eu t inha que trazer ele por
minha própria vontade. Lorde Rahl olhou para o livro na escuridão. Seu tom suavizou.
— Às vezes Nathan pode s ignif icar problemas, mas sei que ele é um amigo
que já me ajudou antes . Algumas vezes sua ajuda pode me causar problemas cons ideráveis , mas mesmo que eu nem sempre concorde com as coisas que ele escolhe
fazer , sei que ele escolhe fazê- las por uma boa razão.
— Amei uma fe it ice ira durante a maior parte da minha vida , Lorde
Rahl. Sei como essas coisas podem ser complexas . Não ter ia percorr ido todo ess e
caminho se não acreditasse em Nathan a respeito disso.
Lorde Rahl observou-o por um momento. — Nathan fa lou o que havia nesse l ivro?
— Disse que o livro é da época de uma grande guerra , há milhares de
362
anos. Ele fa lou que encontrou -o no Palácio do Povo após uma busca fr enét ica entre os
milhares de tomos lá , e que no momento em que o localizou, trouxe ele t é mim, para
pedir que eu o entregasse a você. Disse que o termo era tão cur to que não ousava
demorar ma is traduzindo o l ivro. Por causa disso, ele não sabia o que havia nele . Lorde Rahl olhou para o livro com um inter esse cons ideravelmente ma ior .
— Bom, eu não sei que bem ele será capaz de fazer para nós . Os cães
fizeram um bom estrago nele . Estou começando a temer o mot ivo.
— Richard, você sabe pelo menos o que está escr ito na capa ? — a Madre
Confessora perguntou .
— Só vi ele na luz tempo suficiente para perceber que estava em Alt o D'Haran. Não tentei traduzir . Diz alguma coisa sobre Criação.
— Você tem razão , Lorde Rahl. Nathan falou o t ítu lo para mim. —
Friedr ich tocou no l ivro. — Está escr ito , na capa , em letras douradas , Os P ilares da
Criação.
— Ót imo. — Lorde Rahl r esmungou, aparentemente descontente ao
reconhecer o t ítulo. — Bem, vamos para um lugar seguro e montar acampamento . Não
quero que os Sabujos do Coração nos peguem em campo aber to no escuro . Faremos
uma pequena fogueira e ta lvez eu cons iga ver se o l ivro nos dirá algu ma coisa úti l . — Então, você sabe a respeito dos Pila res da Cr iação ? — Friedr ich
perguntou, seguindo atrás dos tr ês quando eles começaram a andar na tr ilha .
— S im, — Lorde Rahl disse por cima do ombro com um tom preocupado.
— eu ouvi falar deles . Nathan veio do Mundo Antigo, então eu acho que ele também
saber ia sobre eles . Fr iedr ich coçou o queixo, confuso, quando eles chegaram ao topo de uma
pequena elevação na tr ilha .
— O que os Pilares da Cr iação tem a ver com o Mundo Ant igo ?
— Os Pilares da Cr iação estão no centro de um deserto . — Lorde Rahl
apontou adiante, ao sul. — Não fica muito longe daqui , por aquele caminho. Passamos por lá não
faz muito tempo. Tivemos que atravessar as bordas do lugar ; a lgumas pessoas bastant e
desagradáveis estavam atrás de nós . — Os ossos ensanguentados deles estão secando no deserto. — Cara
falou com óbvio prazer .
— Infe lizmente , — d isse Lorde Rahl. — isso também custou nossos
cavalos ; é por isso que estamos a pé. Pelo menos escapamos .
— Deserto . .. mas, Lorde Rahl, os Pilar es da Criação também são o qu e
minha esposa chamava de. . .
Fr iedr ich parou quando a lgo ao lado do caminho atraiu seus olhos . Mesmo na luz fraca , a familiar forma escura assustadora delineada contra a cor clara da tr ilha
poeir enta pr endeu sua atenção.
Ele agachou para tocar . Para sua surpresa , parecia com aquilo que ele
pensara . Quando pegou-a, t eve cer teza . Tinha a mesma aber tura curva para a corda que a fechava , a mesma marca no couro elástico onde uma vez ele acidentalmente havia
cor tado com uma goiva afiada quando estava com pressa .
— Qual é o problema? — Lorde Rahl perguntou com uma voz desconfiada
enquanto observava o terreno quase escuro . — Porque você parou?
— O que você achou? — a Madre Confessora perguntou . — Eu não vi
nada ali quando passei.
— Nem eu. — falou Lorde Rahl.
Fr iedr ich engoliu em seco quando colocava a bolsa de couro na palma de sua
mão. Parecia haver moedas dentro, e, pelo peso, pareciam de ouro.
— Isso é meu. — Friedr ich sussurrou com incr ível surpresa . — Como
poder ia estar aqui?
Não podia af irmar que o ouro era dele , embora cer tamente pudesse ser , mas
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ele manuseara a bolsa de couro quase todos os dias durante décadas . Ele a usava para
guardar uma de suas ferramentas. . . uma pequena goiva que ele usava com fr equência.
— O que isso está fazendo aqui? — Cara perguntou enquanto seu olhar
varr ia os arredores . Seu Agiel estava bem aper tado na mão.
Fr iedr ich levantou, a inda olhando para sua bolsa de ferramenta .
— Isso fo i roubado pelo homem que, eu acredito, causou a morte da
minha esposa .
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C A P Í T U L O 5 6
Bem, isso não era mesmo uma coisa? Oba mal conseguia acr editar que t inha deixado cair a sua bolsa com
dinheiro. Ele era sempre tão cuidadoso. Ele bufou de nervos ismo. Se não era uma
coisa, era outra . Ou era um cortadorzinho de bolsas, ou a lguma ladra, sempre atrás do
dinheiro dele. Isso era tudo com o que as pessoinhas de mente l imitada s e importavam? Dinheiro? Depois de todos os problemas dele, todas as pessoas
invejosas, ambiciosas, diss imuladas, que tentavam pegar a for tuna dura ment e
conquistada , Oba aprendera que um homem com sua pos ição sempre t inha de ser corajoso. Ele ma l podia acreditar nisso, dessa vez, ele t inha feito isso cons igo mesmo.
Checou apressadamente seus bolsos , dentro da camisa dele , nas ca lças .
Todas as suas bolsas cheias com a sua considerável r iqueza estavam ali, bem onde deviam estar . Ele imaginou que aquela que estava no caminho podia não ser dele , mas
qua is ser iam as chances de que outra pessoa deixasse cair uma bolsa bem a li ?
Quando ver if icou a par te de ci ma das botas , descobr iu que uma de suas
bolsas com dinheiro estava fa ltando. Furioso, Oba checou a correia de couro que sempre mant inha amarrada em volta do tornozelo , e descobriu que ela havia
desamarrado.
Alguém t inha desamarrado sua bolsa com dinheiro . Ele espiou através das árvores , observando a cena tocante. Seu irmão,
Richard, e a pr eciosa esposa dele voltaram-se para o homem que encontrara a bolsa. . .
a bolsa de Oba, cheia com o dinheiro dele .
— Isso fo i roubado pelo homem que, eu acredito, causou a morte da
minha esposa . — Oba ouviu o homem af irmar .
Oba ficou boquiaber to. Era o marido da feit iceira do pântano. . . a odiosa
feit iceira egoísta que não respondia as perguntas de Oba.
Oba sabia muito bem que isso tudo não podia ser alguma coincidência . Ele
sabia muito bem. — Não toque nisso ! — Richard Rahl e a Madre Confessora gr itaram ao
mesmo tempo.
— Corram! — a outra mulher gr itou .
Oba observou eles corr er em como corsas assustadas . Ele percebeu que a voz
estava aprontando alguma coisa . Sabia que a voz usava o que per tencia às pessoas para alcançá- las. Oba olhou para cada um dos lados, para os olhos amarelos br i lhantes
observando junto com ele , e sorr iu.
O próprio ar tremeu como se o chão bem onde a bolsa com dinheiro ca iu
t ivesse s ido atingido por um raio. Os cães gemeram e r ecuaram. Oba tapou cada ouvido com um dedo e encolheu-se enquanto olhava a concussão violeta espa lhar -se
em um círculo, como os anéis em um lago quando quando ele jogava dentro um anima l
morto. Em um instante brutal, mais veloz do que o pensamento, as pessoas estavam
deitadas enquanto o anel violeta corr ia mais rápido do que seu olho podia acompanhar .
O cabelo de Oba foi soprado para trás quando o círculo ondulante passou por ele . E m seu rastro o chão foi deixado coberto com um a camada de fumaça violeta .
Foi provado que a suspeita de Oba estava correta ; a voz estava planejando
alguma coisa grande. Ele imaginou com delei te o que poder ia ser .
A cena t inha ficado imutável , mas Oba observou durante a lgum tempo para ter cer teza de que as qua tro pessoas não levantar iam. Somente depois que estava
confiante de que era seguro ele f inalmente levantou do seu posto secreto de
observação, o lugar onde a voz dissera para ele aguardar . Agora a voz pedia que ele prosseguisse . Os cães f icaram para trás ,
observando, enquanto Oba seguia rapidamente pelo chão coberto de fumaça . Essa era a
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fumaça ma is estranha que ele já t inha visto. . . um violeta azulado suavement e
br ilhante, mas o ma is estranho de tudo, ela não movia quando Oba corr ia através dela .
Suas pernas passavam através do vapor imóvel sem fazer ele tr emer , como se est ivesse
em outro mundo e Oba não est ivesse lá junto com ele , mas apenas caminhando no mesmo lugar neste mundo.
Os quatro jaziam espa lhados no chão bem onde eles t inham ca ído. Oba
aproximou-se cautelosamente, enquanto tentava f icar a uma distância segura , e viu qu e todos estavam respirando, mesmo que lentamente. Seus olhos não estavam fechados .
Ele imaginou se podiam vê- lo. Quando ele balançou os braços , nenhum dos quatro
reagiu. Oba curvou-se sobre Richard Rahl, esp iando o rosto imóvel dele . Ba lançou
uma das mãos, bem diante dos olhos do seu irmão. Não houve resposta .
Era difíci l ver na luz das estr elas , mas Oba t inha cer teza que conseguia
dist inguir naqueles olhos um pouco da fascinante sem elhança de família . Era uma sensação assustadora ver um homem que t inha um traço de s imilar idade com sua
aparência . Porém, Oba parecia mais com sua mãe. Ser ia bem do feit io dela querer qu e
ele parecesse ma is com ela do que com o pai dele . A mulher era completament e mesquinha . Ela havia tentado negar a ele seu lugar de direito a cada curva , a té mesmo
em sua aparência . A vadia egoísta .
Mas agora Richard era o homem tomando o lugar que era de Oba por dir eito , o lugar que o pai deles t er ia desejado que Oba t ivesse. Afina l de contas , Oba e Darken
Rahl compartilhavam qua lidades especiais que, Oba t inha cer teza, seu irmão não
possuía .
Uma checagem mostrou que o velho marido da feit iceira do pântano também estava r espirando. Oba r ecuperou sua bolsa com dinheiro ali per to e balançou-a sobre
os olhos r ígidos do homem, mas ele também não mostrou r esposta . Oba amarrou sua
bolsa de volta no tornozelo, agora que a voz t inha acabado com isso . Oba não estava feliz com fato da voz usar o dinheiro dele para esses t ipos
de truques, mas com tudo que a voz t inha feito por ele , tornando-o invencível e tudo,
ele imaginou que não podia negar um favor de vez em quando . Enquanto isso não s e
tornasse um hábito. A mulher com eles t inha uma longa trança loura que estava sobre o chão
gramado. Ela usava um daqueles estranhos bastões em uma corrente no pulso . Ele
percebeu que ela era uma Mord-S ith. Apertou os seios dela . Ela não r eagiu . Ele sorr iu enquanto cont inuava fazendo aquilo de novo . Com
ela tão r ecept iva , e tudo ma is , ele ficou imaginando o que ma is poder ia fazer . A ideia
era surpreendentemente excitante. Então, Oba percebeu que havia alguém ao alcance que era ainda melhor do
que uma Mord-S ith. Ficou olhando pra ela . A esposa do seu irmão, a mulher que ele
chamaram de Madre Confessora , estava deitada ali per to esperando para ser tomada .
O que ser ia melhor justiça do que possuí -la? Oba rastejou para cima dela , o sorr iso desaparecendo com incr ível
reverência quando ele viu como ela era bonita . Ela estava deitada de costas , um braço
jogado para o lado, os dedos aber tos e moles , como se est ivesse apontando para o su l . o outro braço dela jazia casualmente sobre o estômago . Seus olhos também
contemplavam o vazio.
Oba est icou o braço cuidadosamente e des lizou a costa de um dedo pela bochecha dela . Era tão suave quanto a pétala sedosa de uma rosa . Afastou um tufo de
cabelo do rosto dela para ver melhor as feições dela . Os láb ios dela estavam
levemente afastados .
Oba curvou-se sobre ela , colocando os lábios per to dos láb ios dela , passando a mão p elo corpo dela , sent indo as formas luxuriosas . Sua mão des lizou
subindo o volume do seio dela . Envolveu-o suavemente em sua grande mão, apenas
para mostrar a ela que podia ser gent i l . Est icou a mão e aper tou o outro seio dela , mas ela a inda cont inuava r ecusando-se a mostrar o quanto estava excitada com o toqu e
genti l, t entador , dele.
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Rápido como uma raposa , Oba soprou dentro da boca entr eaber ta dela . Ela
não r eagiu. Ele suspeitou que ela estava fazendo um joguinho , procurando excitá -lo. A
vadiazinha insolente.
Agora ela não ir ia a lugar algum. Não podia corr er . Aparentemente a voz dera a ele um presente. Oba jogou a cabeça para trás e r iu para o céu . Enquanto os
cães lá atrás nas sombras observavam, ele u ivou mostrando seu prazer para as estrelas .
Sorr indo, Oba curvou-se de volta sobre a esposa de L orde Rahl, olhando dentro dos olhos dela . Provavelmente agora ela já estava entediada com seu marido
Lorde Rahl, e estava pronta para uma aventura . Quanto ma is Oba pensava nisso, ma is
ele percebia que essa mulher devia ser dele. Ela per tencia ao Lorde Rahl. Com todo dir eito, Oba dever ia ficar com ela como sua esposa quando fosse o novo Lorde Rahl.
E, ele ser ia o Lorde Rahl; a voz disse que coisas assim estavam ao a lcance
dele.
Oba observou os traços dela , a curva do seu corpo. Ele quer ia sua mulher . Estivera fazendo favores para a voz , e não teve tempo para estar com uma mulher
fazia eras . A voz est ivera impulsionando ele sempre adiante em um r itmo acelerado . Já
estava na hora de Oba ter o prazer de uma mulher . Sua mão des lizou suavemente sobre o corpo da Madre Confessora enquanto ele contemplava a satisfação que estava por
vir .
Mas ele não gostava dos outros observando ele . Todos eles r ecusavam-se a fechar os olhos e dar para ele e a dama um pouco de pr ivacidade . Intromet idos. . . todos
eles. Oba sorr iu. Ele imaginou que podia ser emocionante que o marido dela
observasse o novo mestr e da esposa dele . O sorr iso desapareceu . O que Richard t inha
a ver com isso se ela quer ia um novo homem. . . um homem melhor ? Oba curvou-se sobre o irmão e fechou as pálpebras dele . Fez o mesmo com o
velho. Fez uma pausa , decidindo deixar a outra mulher observar . Sem dúvida ver Oba
em ação a deixar ia excitada . Tal excitação era um pequeno favor , mas Oba estava inclinado a fazer favores assim pa ra mulheres atraentes .
Tremendo de ans iedade, sabendo que podia fornecer a ela o prazer que, ele
sabia, ela desejava , Oba abaixou para abr ir as roupas da Madre Confessora . Antes qu e
seus dedos pudessem tocá -la , um violento br ilho de luz violeta jogou ele p ara trás . Oba sentou, surpreso, confuso, pr ess ionando as mãos contra a agonia ardente qu e
espalhava-se em sua cabeça . A voz estava esmagando sua mente com dor punit iva .
Oba arrastou-se pelo chão com os pés , afastando-se da Madre Confessora , e fina lmente a dor aliviou. Curvou-se para frente, ofegando de exaustão após a breve
batalha . Sent iu -se tr iste porque a voz o t ivesse punido ass im, desanimado que a voz
fosse tão cruel para negar a ele um prazer tão simples , e depois de todas as coisas boas que ele t inha feito.
Então a voz mudou, acalmando ele, sussurrando sobre o trabalho important e
que t inha para ele. . . t rabalho importante que somente Oba era qualif icado para
executar . Em meio à sua melancolia , Oba escutou. Oba era importante, ou a voz não contar ia com ele. Quem mais além de Oba
podia fazer as coisas que a voz pedia para ele ? De quem mais a voz poder ia depender
para conser tar as coisas? Agora, no si lêncio da noite, a voz deixou cla ro o que Oba devia fazer . Se ele
fizesse o que era pedido, então haver ia prêmios. Oba sorr iu com as promessas .
Pr imeiro, ele t inha de fazer o favor ; então a Madre Confessora ser ia dele . Isso não era tão difíci l. Uma vez que ela fosse dele, poder ia fazer com ela o que desejasse, com a
bênção da voz, e ninguém ir ia interfer ir . Imagens disso. . . junto com os cheiros, a
sensação, os gr itos de prazer dela . . . surgiram na mente dele , e ele quase desma iou com
a promessa de tamanho êxtase. Oba podia esperar por um encontro como esse ser ia . Olhou para a Mord-Sith. Ela poder ia fornecer a ele um pouco de
entr etenimento nesse meio tempo. Um homem como ele , um homem de ação, grande
intelecto, e pesadas responsabilidades , precisava l iberar suas elevadas tensões . Diversões como essas eram um canal de alívio necessár io para um homem da
importância de Oba.
367
Ele curvou-se sobre a Mord-S ith, sorr indo nos olhos aber tos dela . Ela
receber ia a honra de ser a pr imeira a ter ele .
A Madre Confessora ter ia que esperar a vez dela . Est icou o braço para t irar
as roupas dela . De r epente a cabeça de Oba ardeu com agonia uivante, cegante. Ele aper tou
as mãos nos ouvidos até que aquilo parasse. . . depois que ele concordou .
A voz estava cer ta . É claro que estava ; agora ele podia ver isso. Soment e quando Richard Rahl est ivesse morto Oba poder ia assumir o seu lugar de dir e ito. Isso
fazia sent ido. Ser ia melhor fazer as coisas dir eito . De fato, ser ia errado dar prazer a
essas mulheres antes que ele t ivesse feito o que precisava fazer . O que ele estava pensando? Elas não mereciam ele, a inda. Pr imeiro elas
dever iam ver ele como o homem importante que em breve ele se tornar ia , e então
ter iam que implorar para terem ele. Elas não mereciam ele até que implorassem.
Ele pr ecisava ser rápido. A voz disse que eles acordar iam logo. . . que Lorde Rahl em breve descobr ir ia como quebrar o fe it iço do sono.
Oba sacou a faca e rastejou até seu irmão. Lorde Rahl ainda estava olhando
para as estr elas como um idiota . — Quem é o grande idiota agora? — perguntou a seu irmão .
Lorde Rahl não teve r esposta . Oba colocou a faca na garganta de Richard,
mas a voz avisou para ele r ecuar , e ao invés disso preencheu a cabeça dele com aquilo que ele devia fazer . Tinha de fazer isso dir eito. Precisava se apressar . Não havia
tempo para esse t ipo de r etr ibuição comum. Havia muitas maneiras melhores de fazer
coisas assim, maneiras que punir iam o homem por todos os anos que ele manteve Oba longe de seu lugar por direito. S im, era disso que Richard Rahl pr ecisava : punição
adequada .
Oba afastou a faca e correu de volta sobre a colina próxima tão rápido
quanto suas pernas podiam levá- lo. Quando retornou com seu cavalo, os quatro ainda estavam deitados ali na névoa azul , contemplando as estr elas .
Oba fez como a voz pediu, e carregou a Madre Confessora nos braços . Agora
ela havia s ido promet ida a ele . Ele a ter ia quando a voz t ivesse acabado de usá - la . Oba podia esperar . A voz t inha promet ido a ele prazeres que Oba jamais t er ia sonhado.
Essa estava começando a tornar -se uma parcer ia muito benéf ica . Pelo trabalho su jo
envolvido, e o pequeno atraso, Oba ter ia tudo que por dir e ito per tencia a ele: o governo de D'Hara e a mulher que ser ia sua Rainha .
Rainha . Oba pensou naquilo enquanto colocava o corpo dela sobre a par te de
trás da sela . Rainha. Se ela era uma Rainha , então ele t er ia que ser um Rei . Imaginou
que ser ia melhor do que ―Lorde‖ Rahl. Rei Oba Rahl. Sim, isso fazia mais sent ido. Ele trabalhou rapidamente para amarrá -la .
Antes de montar , Oba olhou para seu irmão. Não podia matá - lo. Ainda não.
A voz t inha p lanos . Se Oba era uma coisa , ele sempre fora adaptável ; obedecer ia a voz. Colocou um pé no arreio. A voz fa lou com ele. Ele virou de volta , olhando.
Ele f icou pensando. . .
Retornou ao lado de Richard cautelosamente . Cuidadosamente, Oba esticou o braço e tocou a espada .
A voz murmurou de foma indulgente.
Um Rei devia ter uma espada adequada . Oba sorr iu. Ele merecia um pequeno
prêmio por todo o seu trabalho duro. Tirou o boldr ié por cima da cabeça de Richard Rahl. Levantou a bainha mais
per to, inspecionando sua nova espada cint ilante . O cabo com f ios trançados t inha uma
palavra gravada em cada lado. ―VERDADE‖
Bem, isso não era mesmo uma coisa?
Levantou o boldr ié sobre a cabeça e colocou a bainha em seu quadr il . Deu
um tapinha no traseiro de sua nova esposa antes de montar . Da sela , Oba sorr iu para a noite. Virou seu cava lo a té que a voz apontou para ele a dir eção cer ta .
Depressa, depressa , antes que Lorde Rahl acorde. Depressa, depressa , antes
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que ele pudesse ser pego. Depressa, depressa, para longe com sua nova esposa .
Enfiou os ca lcanhares nas costelas do cavalo e eles avan çaram. Os cães
saltaram da f lor esta , uma escolta f iel para um Rei .
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C A P Í T U L O 5 7
Parada do lado de fora das construções feitas de t i jolos secos pelo sol , Jennsen observou distraidamente a paisagem ár ida assando sob um céu azul brutal . As
rochas, a extensão aparentemente inf inita de solo duro p lano à dir eita dela , e a
escarpada faixa de montanhas que descia dentro do va le ondulante longe à sua
esquerda , estavam todas manchadas com va r iações da mesma cor cinza avermelhada que as esparsas coleções de estruturas quadradas amontoadas per to dali .
O ar seco estava tão quente que não fazia ela lembrar de nada além de
curvar-se sobre uma fogueira e t entar respirar . Calor borbulhante ir radiava das rochas e construções em volta dela e erguia-se do solo sob os pés dela como se houvesse uma
fornalha embaixo. Usar as mãos nuas para tocar em qualquer coisa assando sob o sol
implacável era uma experiência dolorosa . Até mesmo o cabo da sua faca , na sombra do corpo dela , estava tão quente que parecia ferver .
Jennsen encostou o quadril contra um muro baixo , quase dormente por causa
da jornada longa e dif íci l . Ela acar iciou o pescoço de Rusty e então coçou uma orelha
quando a égua encostou o focinho gent ilmente e colocou a cabeça per to . Pelo menos Jennsen estava quase no f inal de sua jornada . Ela sent ia como se t ivesse perdido de
vista o modo como tudo isso havia começado naquele dia há tanto tempo quando
encontrara o soldado morto no fundo da ravina e Sebast ian apareceu. Que viagem longa e tor turante o dest ino guardava para ela , jama is podia ter
imaginado naquele dia . Agora ela ma l conhecia a s i mesma . Naquele momento, jama is
podia ter imaginado o quanto sua vida mudaria , ou o quanto ela mudaria .
Sebast ian, puxando Pete logo atrás , est icou o braço e segurou o bra ço dela . — Você está bem , Jenn?
Pete encostou o focinho no f lanco de Rus ty, como se desejasse fazer a mesma pergunta para a égua .
— S im. — falou Jennsen.
Ela sorr iu para ele e então apontou para o grupo de homens com mantos negros no portal de uma construção próxima.
— Teve alguma sorte?
— E le está perguntando aos outros . — Sebast ian suspirou, ir r itado. —
E les são pessoas est ranhas .
Independente de ser par te do Mundo Ant igo , e uma par te do domínio da Ordem Imper ia l, os mercadores que viajavam pela vasta ter ra deser ta , às vezes usando
o desolado posto de comércio onde Sebastian encontrou-os, eram um grupo
independente. Aparent emente, não havia quantidade suf iciente deles com a qua l preocuparem-se, então a Ordem não se importava .
Sebast ian encostou contra o muro ao lado dela enquanto contemplava o
si lencioso deser to. Ele também estava cansado, da longa jornada de volta para sua terra natal, o Mundo Ant igo. Mas pelo menos agora ele estava bem, exatamente como
Irmã Perdita ha via promet ido.
Porém, a jornada não t i nha sido nada parecido com o que Jennsen pensou
que ser ia . Tinha imaginado que ela e Sebastian f icar iam sozinhos outra vez , como ficaram antes viajando até o exército da Ordem Imper ial . Mas atrás deles espa lhava -s e
uma coluna de soldados da Ordem Imper ial, mil soldados. Uma pequena escolta ,
Sebast ian os chamara . Ela fa lou para ele que quer ia ir sozinha , mas ele disse qu e havia cons iderações ma is importantes .
Com um dedão, Jennsen mexeu nas rédeas de couro distraidamente enquanto
observava as figuras de pret o. — Os homens estão com medo dos soldados , — e la falou para
Sebast ian. — é por isso que eles não querem falar conosco .
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— O que faz você pensar assim?
— Posso dizer pelo modo como eles ficam espiando . Estão tentando
decidir se nos dizer alguma coisa de algum modo poderá causar problemas para eles
com todos os soldados .
Ela entendia a maneira como o pequeno grupo de comerciantes estava m
sentindo-se sob os olhos de tantos homens brutais sentados sobre os seus grandes cavalos de cava lar ia , como era ser observa do por soldados cobertos por couro e cota
de ma lha, e cheios de armas . Os homens de mantos negros , com suas mulas de carga ,
eram comerciantes , não soldados , e também não estavam acostumados a l idar com soldados. Temiam pela sua segurança , t emiam que, se fa lassem alguma coisa errada,
esses guerr eiros pudessem decidir matá -los aqui mesmo nesse deser to. Ao mesmo
tempo, ainda que est ivessem vastamente em menor número , os comerciantes pareciam relutantes em serem covardes , caso contrár io cr iar iam um precedente p ara a forma
como ser iam tratados depois . Agora eles estavam debatendo, t entando descobrir o
equil íbr io onde jazia a segurança deles .
Sebast ian afastou-se do muro. — Talvez você tenha razão . Eu vou entrar e conversar com eles sozinho. . .
na construção deles , ao invés de aqui fora sob os olhos do exército . — Eu vou com você. — e la disse .
— O que é isso? O que você está pensando? — Irmã Perdita perguntou a
Sebast ian quando ela marchou vindo da par te de trás .
Com um movimento casual da mão, Sebast ian colocou de lado a preocupação
dela .
— Acho que eles só querem barganhar . Eles são comerciantes . É isso que
eles fazem, barganham. Pode ser contraprodutivo tentar forçá - los.
— Vou entrar a fazer eles mudarem de ideia. — a Irmã falou co m
int enção sombria .
— Não, — Sebastian disse. — agora não é hora de complicar um assunto
simples . Sempre podemos aplicar ma is pr essão se for necessár io . Apenas deixe qu e
Jennsen e eu entr emos e conversemos com eles pr imeiro . Jennsen caminhou para longe do olhar fur ioso da Irmã Perdita , f icando ao
lado de Sebastian, puxando Rusty logo atrás . A outra coisa sobre a jornada que t inha
sido inesperada. . . somada com a escolta dos mil soldados. . . foi que a Irmã Perdita
havia decidido vir junto. Ela falou que isso era necessár io , caso Jennsen precisasse de ma is ajuda para chegar per to de Lorde Rahl.
Jennsen só quer ia enf iar sua faca no assassino f i lho bastardo de Darken Rahl
e acabar com tudo isso. Fazia muito tempo que ela havia des ist ido de qua lquer esperança de que isso a l iber tar ia para ter sua própria vida . Após aquela noite na
flor esta com Irmã Perdita e as outras sete Irmãs , tudo mudara . Jennsen f izera uma
barganha que, ela sabia, significar ia que não ter ia vida depois que f inalmente matasse Richard Rahl. Mas pelo menos todos os outros ter iam suas vidas de volta . Finalmente
o mundo f icar ia l ivr e do meio irmão dela e seu governo ma ligno.
E ela t er ia a vingança . Sua mãe, para quem havia s ido negado até mesmo um
enterro adequado, f inalmente poder ia descansar em paz sabendo que o assassino dela recebera a vis ita da just iça . Isso era tudo que Jennsen podia fazer por sua mãe.
Jennsen e Sebastian levaram Rusty e Pete pa ra onde o cavalo da Irmã estava
aguardando, em um pequeno cercado lateral . Rusty e Pete deram boas vindas para a sombra e água.
Após fechar o pequeno portão do cercado, Jennsen seguiu S ebast ian dentro
da sombra do portal da baixa construção. As vozes dos homens ecoando dentro da sala
si lenciaram. Todos os homens estavam enfaixados nos mantos negros tradiciona is dos comerciantes nômades que viviam nessa par te do mundo.
— Então, deixem-nos. — o l íder falou, colocando seus colegas para fora
ao ver Sebastian e Jennsen entrarem.
Os homens, seus olhos espiando ela através de aber turas no tecido negro que
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estavam colocando de volta sobre as bocas e nar izes , assent iram formando uma f i la ao
passarem. Pelos seus olhos enrugados expos tos , os homens pareciam sorr ir de forma
simpática para ela por baixo de suas máscaras, mas ela não conseguiu ter cer teza. Por
via das dúvidas , e cons iderando o que estava em jogo, ela sorr iu de volta enquanto acenava com a cabeça .
O ar estagnado dentro da sala era sufocante , mas pelo menos a sombra era
um alívio. O único homem que f icara ali dentro não colocou as faixas de pano negro de volta , então elas estavam enroladas em seu pescoço, longe do cast igado, magro,
sorr idente rosto dele.
— Por favor , — e le falou para Jennsen. — entre . Você parece ardente.
— Ardente? — e la perguntou .
— Quente , — d isse ele . — você não está vest ida para esse lugar . — e le
caminhou até as grosseiras prateleiras de tábuas ao lado e vo ltou com um dos
mantos negros enro lado que estavam guardados ali . — Por favor, vista isso . —
e le levantou aquilo em direção a ela vár ias vezes , pedindo que ela aceitasse. — Isso deixará você melhor . Va i protegê- la do sol e manterá o seu suor dentro para que você não seque como uma rocha.
Jennsen abaixou levemente a cabeça outra vez em dir eção ao pequeno
homem magro e sorr iu mostrando sua gratidão.
— Obr igada .
— Bem? — Sebast ian perguntou quando o homem desviou o olhar d e
Jennsen. Sebastian t irou a mochila das costas . — Teve alguma sorte em descobr ir
qualquer co isa sobre aqueles outros homens?
A f igura de manto negro hesitou , limpando a garganta . — Bem, dizem que talvez. . .
Sebast ian girou os olhos com impaciência quando compreendeu a mensagem
do homem, e então procurou no bolso até t irar uma moeda de prata . — Por favor
aceite esse gesto da minha gratidão pelos es forços dos seus homens .
O homem aceitou r espeitosamente, mas estava claro que a moeda de prata não era o pr eço que ele estava esperando. Entr etanto, ele pareceu hesitante em dizer
que achava o montante inadequa do. Jennsen não podia acr editar que Sebastian
estivesse pr eocupado com dinheiro em um momento como esse . Ela t irou uma moeda de ouro do bolso e, sem preocupar -se em perguntar a Sebastian se estava tudo bem,
simplesmente jogou-a para o homem. Ele pegou o ouro no meio do ar , então abr iu o
punho apenas para dar uma espiada de confirmação . Ele sorr iu agradecendo para ela .
Sebast ian lançou um olhar de desgosto. Esse era o dinheiro sangrento de Lorde Rahl, o dinheiro que ele dera para os
homens enviados para matarem ela e sua mãe. Ela não conseguia pensar em melhor
uti l idade para ele. — Não preciso disso. — e la fa lou antes que ele pudesse censurá - la . —
Além disso , não foi você quem disse que era seu costume usar o que per tencia ao
inimigo para atingir ele?
Sebast ian guardou para si qualquer comentár io e virou para o homem .
— E então?
— Tarde, ontem, — o homem disse , f inalmente ma is cooperat ivo. —
a lguns de nossos homens avistaram duas pessoas descendo até os Pilares da
Cr iação . — e le fo i até uma pequena janela descoberta ao lado de prateleiras
cheias de suprimentos junto com mais das roupas negras . Ele apontou. — Descendo
naquela dir eção. Tem uma espécie de tr i lha .
— Os seus homens falaram com eles ? — Jennsen perguntou, caminhando
para frente, impaciente . — Os seus homens sabem quem eram?
O homem olhou para ela e depois para Sebastian, hes ita ndo, aparent ement e
não estando confor tável em r esponder uma pergunta tão dir eta de uma mulher , mesmo que t ivesse s ido ela quem pagara o preço dele . Sebast ian lançou um olhar para ela
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pedindo que deixasse ele cu idar disso . Jennsen r ecuou em dir eção ao portal , esp iando
para fora , agindo como se est ivesse des inter essada para que Sebast ian pudesse obter
as respostas que eles pr ecisavam.
O coração de Jennsen batia for te enquanto ela visualizava a si mesma em sua mente es faqueando Lorde Rahl. A sombra do terr ível pr eço de atrair o seu irmão
até esse lugar onde ela o matar ia crescia acima da cena em sua mente do ato em s i.
Sebast ian enxugou suor da testa e jogou a sua pesada mochila para um lado no chão. A mochila bateu com um for te som metálico e virou . Algumas das coisas
caíram da mochila . Ir r itado, ele começou a mover -se para juntar tudo, mas Jennsen
interceptou-o. — Eu cuido disso. — e la sussurrou , fazendo s inal para que ele voltasse a
interrogar o pequeno homem de preto .
Sebast ian apoiou-se contra a pesada mesa de madeira com aparência ant iga e cruzou os braços .
— Então, os seus homens t iveram chance de conversarem com aquelas duas
pessoas? — Não, Senhor . Os homens não estavam per to o bastante , mas ficaram no
l imite do terreno e observaram o cavalo passar lá embaixo . Jennsen r ecolheu um pedaço de sabão de l ix ívia e recolocou -o na mochila .
Ela dobrou a navalha e colocou -a de volta , junto com um cant i l extra que havia caído .
Recolheu pequenos it ens. . . uma pederneira , t iras de carne seca enroladas em um pano,
e uma pedra de af iar . Uma lata que ela nunca t inha visto rolou para fora da mochila e entrou embaixo de uma prateleira baixa .
— Então, qual era a aparência dessas duas pessoas sobre o cavalo ? — Sebast ian estava perguntando enquanto tamborilava com um dedo na mesa .
Quando ela enf iou a mão emba ixo da prateleira , Jennsen escutou
cuidadosamente, esperando ouvir que podia ser Richard Rahl.
Ela rea lmente não conseguia imaginar quem mais poder ia ser . Não acreditava que uma coisa assim podia ser coincidência.
— Era um homem e uma mulher . Mas eles vieram em apenas um cavalo .
Jennsen pensou que aqui lo era estranho, que os dois est ivessem cava lgando
em um cavalo. Soava como aquilo que ela esperava , Lorde Rahl e sua esposa , a Madre
Confessora , mas era estranho que eles estivessem em um cava lo .
Algo podia ter acontecido com o outro cavalo . Nessa terra per igosa uma coisa assim não era dif ícil de imaginar .
— A mulher , ela . . . — o homem fez uma careta , desconfor tável com o que
t inha de falar . — e la não estava sentada , mas deitada. . . — e le fez um gesto como
se indicasse algo at ravessado sobre o cavalo. — na parte de t rás . Ela estava
amarrada com cordas .
Quando Jennsen puxou a la ta com repent ina surpresa , a tampa engatou em
uma borda ir r egular da prateleira de madeira e abr iu . O conteúdo derramou no chão na
frente dela . — Qual era a aparência do homem? — Sebast ian perguntou.
Um pequeno pedaço de madeira enrolado com barbante e pr eso com anzóis
de pesca havia ca ído do topo da lata . Jennsen f icou olhando para uma pilha escura de Rosas da Febre da Montanha secas que derramou atrás do barbante .
Elas pareciam, como dúzias de pequenas Graças .
— O homem era grande , e jovem. Ele t inha uma espada muito bonita , meus
homens disseram, sua bainha br ilhante estava segura por um boldr ié no ombro dele .
— Esse parece com Richard Rahl. — Irmã Perdita falou do portal ,
assustando Jennsen.
— Outros homens usam um boldr ié com suas espadas. — Sebastian fa lou.
Embora não conseguisse imaginar uma razão para que ele est ivesse com a sua esposa amarrada sobre o cava lo , diante do pensamento de Richard Rahl t er sido
avistado, Jennsen juntou rapidamente as Rosas da Febre da Montanha secas em seus
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dedos tr êmulos e enf iou-as de volta na lata seguidas pelo barbante . Recolocou a tampa
e rapidamente botou a la ta de volta dentro da mochila junto com os poucos it ens
restantes que t inham ca ído.
Ver ificou s ia faca na bainha no cinto quando levantou rapidamente f icando per to de Sebastian, esperando ouvir qualquer coisa ma is que o homem magro de preto
pudesse ter para dizer . Irmã Perdita t inha caminhado para fora e estava enrolando -s e
com as roupas negras p rotetoras . — Vamos , — a Irmã gr itou . — temos que descer até lá .
Jennsen quer ia seguir a trás dela , mas Sebast ian a inda estava interrogando o
homem. Não quer ia deixar Sebastian e ir sozinha com Irmã Perdita , mas a mulher já estava seguindo em dir eção à tr ilha que o homem indicara.
Do lado de fora, do outro lado das construções , veio o som de mercadores
falando excitadamente. Jennsen espiou pelo lado da construção e viu que eles apontavam para o terr eno p lano ardente .
— O que fo i? — Sebastian perguntou quando seguia o homem cruzando a
por ta . — Alguém se aproxima. — o homem fa lou.
— Quem poder ia ser? — Jennsen sussurrou para Sebastian quando ele
chegou ao lado dela .
— Não sei. Poder ia ser apenas outro mercador chegando ao posto .
O homenzinho magro, t endo respondido as perguntas , fez uma r everência e
pretendia par tir para juntar -se com seus homens onde eles estavam reunidos na sombra
ao lado de outra construção. Sebastian fez ele esperar enquanto entrava e t irava u m
pacote negro da prateleira . — É melhor alcançarmos Irmã Perdita . — d isse ele enquanto observava
a mulher desaparecer na borda da t r ilha seguindo até o terreno ondulante dos
Pilares da Cr iação . — Ela protegerá você da magia de Richard Rahl e a judará a
fazer o que você precisa fazer . Jennsen quis dizer qu e não precisava da proteção de Irmã Perdita , que a
magia de Lorde Rahl não podia machucá - la , mas esse não era o momento para abordar
todo esse assunto com ele, para explicar a coisa toda a ele.
De a lgum modo, nunca parecia o momento. De qua lquer modo, na verdade não importava o que Sebastian acreditava a respeito dela conseguir chegar per to de
Richard Rahl, só importava que ela f izesse isso.
Juntos, os dois f icaram parados sob o sol abrasador , observando o pequeno ponto acelerando através do terr eno p lano i nf inito. No calor escaldante, o solo
distante ondulava como a superf íci e agitada de um lago. Uma f ina pluma de poeira
erguia-se atrás do cavaleiro solitár io . A escolta deles de mil homens ver if icou as armas com impaciência .
— Esse é um dos seus homens ? — Sebastian perguntou ao magro l íder das
figuras de manto negro. — O terreno aqui faz br incadeiras com seus o lhos , — e le falou . — e le
ainda está muito longe ; o calor apenas faz parecer que ele está mais per to . Levará
algum tempo até que o cavaleiro nos alcan ce e possamos dizer quem é. — e le sorr iu
para Jennsen, fazendo um gesto de encorajamento . — Co loque a roupa , e ficará
protegida contra o sol .
Ao invés de discut ir , Jennsen jogou a vest imenta f ina, parecida com uma
capa, sobre os ombros . Ela enrolou o lenço compr ido em volta da cabeça , como t inha visto os homens fazerem, passando sobre o nar iz e a boca e então enf iando a ponta sob
o lado. Ela f icou imediatamente surpresa como o tecido negro cor tou o calor do sol .
Pareceu um a lívio, quase como f icar na sombra .
Os olhos do homem sorr iram ao verem a expressão no rosto dela . — Bom, não é? — e le perguntou at ravés da própria máscara negra dele .
— S im, — Jennsen fa lou. — obr igada por sua ajuda . Mas devemos pagar
a você por essas coisas que você nos deu.
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Piscando um olho, ele disse. — Você já pagou .
O homem virou para Sebastian, a inda enrolando o lenço negro sobre a
cabeça. — Fa lei para você tudo que posso , tudo que sabemos. Meus homens e eu
vamos par tir agora .
Antes que Sebast ian pudesse r esponder , o homem já estava corr endo pelo solo ár ido em dir eção ao grupo negro de homens que aguardavam com suas mulas
empoeiradas . Os homens afastaram-se, puxando suas mulas por cordas guias, ansioso
para ficarem bem longe dos soldados . Eles estavam seguindo para o sul , na dir eção oposta do cava leiro qu e
aproximava-se.
— Se pode ser um dos homem deles , — Sebast ian disse, quase para si
mesmo. — então porque eles estão part indo ?
Ele olhou com impaciência para a pequena tr ilha onde Irmã Perdita ha via desaparecido, e então s ina lizou para sua coluna de homens ainda aguardando sobre os
cavalos. A força de homens com aparência sombria avançou pelo solo r ígido,
levantando uma nuvem de pó.
— Temos que descer a li. — Sebast ian fa lou enquanto apontava em dir eção
ao va le que guardava os Pilares da Criação. — Esperem aqui em cima até
vo ltarmos .
O of icial na cabeça da coluna cruzou os pulsos sobre o pomo da sela .
— O que você quer que façamos a respeito daquilo? — e le perguntou .
Seu cabelo gorduroso caiu para frente sobre o ombro quando ele apontou c om o queixo
em dir eção ao cavaleiro ainda distante .
Sebast ian virou e observou o cavalo galopando em dir eção a eles . — Se ele parecer suspeito por qualquer mot ivo , matem-no. Isso é
importante demais para arr iscarmos qualquer problema agora .
O of icial r espondeu a Sebastian com um s imples aceno de cabeça . Jennsen conseguia ver nos olhos famintos e sorr isos sér ios dos homens atrás dele que eles
estavam contentes com as ordens .
— Vamos lá , — Sebastian falou. — quero alcançar Irmã Perdita antes qu e
ela f ique longe demais na nossa fr ente.
— Não fique preocupado , — falou Jennsen . — eu quero Lorde Rahl ma is
do que a Irmã Perdita .
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C A P Í T U L O 5 8
O calor estivera esca ldante lá em cima na p lanície ár ida , mas aventurar -se descendo a tr ilha parecia como descer dentro de uma fornalha . Cada respiração
lançava o ar tórr ido dentro dos pulmões dela , fazendo Jennsen sent ir como s e
estivesse sendo cozida por dentro também. O ar que erguia -se diante das paredes
íngremes ondulava como o ca lor cint i lante acima de u ma fogueira . Havia lugares onde a tr ilha simplesmente desaparecia cruzando por rocha
solta , ou talvez seguisse por baixo dela . Em outros lugares , uma depressão t inha s ido
cr iada na macia rocha arenosa para mostrar o caminho . Em a lguns lugares , a tr i lha passava por caminhos naturais , então ela ficava largamente evidente , com pouca
chance de cometer -se um erro. Ocas ionalmente, eles t iveram de cruzar por
deslizamentos que enterraram qualquer s inal de uma tr i lha , e torcer para que conseguissem retomá -la mais adiante.
Jennsen conhecia o bastante sobre t i lhas para saber que essa era antiga e não
uti l izada .
Embora nada conseguisse fazer o ca lor escaldante r eduzir , as roupas negras que os comerciantes forneceram para eles pelo menos eram uma melhor ia . O tecido
negr o em volta dos olhos dela cor tavam o br ilho doloroso , absorvendo a luz cint i lante ,
tornando ma is fácil enxergar . Era um a lívio ter o pano escuro fazendo sombra em seu rosto. Ao invés de fazer com que f icasse ma is quente , como ela pensara , o f ino tecido
cobrindo a pele exposta dos braços dela e do pescoço impediam que o sol a queimasse ,
e de a lguma forma parecia manter um pouco do ca lor do lado de fora .
Enquanto ela e Sebastian apressavam-se para seguir em a tr i lha sempre descendo, logo ela descobriu , para sua surpresa , que esta os conduzia para cima ,
novamente, sobre um dos dedos que estendia -se descendo dentro do vale. O solo
rochoso era tão ir regular que ser ia dif íci l , se não imposs ível, simplesmente descer dir etamente, então a tr ilha cor tava através de elevações e não descia de forma tão
brusca . O preço era que isso tornava necessár io descer a costa de uma elevação apenas
para ter que subir a face da seguinte . Eles não t inham escolha a não ser segui -la enquanto a mesma fazia uma descida gradual , então subia de novo. A tensão nos
músculos das coxas e panturr ilhas dela era fatigante , mas ter que subir novament e
nesse ca lor era agonizante.
Jennsen lembrava bem que uma vez Sebastian disse que ninguém arr iscava descer dentro do va le que guardava os Pilares da Cri ação. Ela podia ver porque. Pela
natureza de não ut i l ização da tr ilha , ela soube que isso era verdade. . . pelo menos
nesse lugar . Ela também lembrou que ele t ambém dissera que se alguém rea lment e entrou no va le central , jama is retornou para contar a respeit o. Ela imaginou que não
precisava preocupar -se com isso.
Conforme eles desciam ma is , grandes f issuras e profundos cor tes aber tos no terr eno escarpado, davam lugar a paredes rochosas que destacavam -se sozinhas , como
se est ivessem abandonadas. Enquanto eles moviam-se pelas bordas de vastos
penhascos, a lgumas das pontas faziam aquelas fendas erguerem -se de baixo quase até
a altura deles na extr emidade do va le. Olha r para baixo sobre essas torres de rocha causava ver t igens . Havia lugares onde ela e Sebast ian eram forçados a dar saltos sobre
profundas fendas . Olhar em a lguns lugares e ver para onde eles t inham que ir para
seguirem a tr ilha abaixo era de parar o coração. Irmã Perdita estava no topo de uma das elevações proeminentes pela descida
tor tuosa da tr ilha , esperando por eles , observando-os com s ilencioso desgosto
perseverantemente instalado nas linhas de sua face implacável . As sombras crescentes
projetadas pelo terr eno adicionavam uma estranha nova dimensão ao lugar . O sol poente destacava os traços ir regu lar es de uma forma que apenas ajudava a deixar
claro o quanto a t erra era formidável r ealmente .
376
Sebast ian colocou uma das mãos nas costas de Jennsen e conduziu -a por um
lugar plano, aber to, na tr i lha enquanto eles moviam -se entr e as estranhas colunas
rochosas que projetavam-se como imponentes troncos mortos de árvores que t inha m
perdido suas coroas e todos os seus galhos . Desde o momento em que deixaram os mercadores , a lgo parecia errado para
Jennsen, mas enquanto Sebastian fazia ela avançar , ela não conseguia imaginar
exatamente o que a estava incomodando. Irmã Perdita olhava com expressão ir r itada enquanto aguardava .
Jennsen checou para ver se a sua faca ainda estava ali , como t inha feit o
incontáveis vezes . Às vezes ela apenas es fregava as pontas dos dedo s pelo cabo prateado. Dessa vez, ela levantou -a para cer t if icar -se de que estava l ivr e em sua
bainha, então press ionou-a de volta até que ela enca ixou com o confor tador som
metá lico.
Na pr imeira vez que viu a faca , quando encontrou o soldado D'Haran morto, pensou que ela era arma notável . Ainda pensava assim. Naquela pr imeira vez,
enxergar aquela letra ― R‖ ornamentada deixou -a apavorada. . . com boa razão. . . mas
agora o toque do cabo gravado a confor tava , dando a ela esperança de que após muito tempo ela f ina lmente acabar ia com a ameaça . Esse era o dia em que ela f ina lment e
estava prestes a fazer aquilo Sebast ian falou naquela pr imeira noite. Ela usar ia algo
que per tencia ao inimigo para revidar . Sebast ian também passara por tempos dif íceis, desde aquela pr im eira noite
quando teve que lutar com aqueles homens mesmo abatido por uma febre . Ela nunca
poder ia esquecer como ele foi corajoso naquele dia , e como ele havia lutado,
independente de ter uma febre. Porém, muito p ior do que ser atacado por uma febre , ele foi foi a t ingido pela magia de Adie e quase morto. Jennsen estava agradecida por
ele t er se r ecuperado, e que ele est ivesse bem, e porque ele t er ia uma vida , mesmo qu e
fosse sem ela . — Sebastian. . . — e la disse , per cebendo de r epente que não t inha fa lado
adeus para ele. Não quer ia fazer isso na frente de Irmã Perdita . Ela parou, virando
para trás , afastando o lenço negro da boca . — Sebast ian, eu só quer ia agradecer por tudo que você tem feito para me
ajudar .
Ele r iu um pouco através da máscara de tecido negro . — Jenn, você fala como se est ivesse pr estes a morrer .
Como ela poder ia dizer a ele que estava ? — Não podemos saber o que vai acontecer .
— Não se preocupe , — e le disse , a legremente. — você ficará bem . As
Irmãs ajudaram você com a magia delas enquanto esta vam me curando, e agora Irmã
Perdita estará lá com você. Eu também estarei. Finalmente você vingará sua mãe.
Ele não sabia que preço as Irmãs haviam cobrado por sua ajuda , e pela
vingança . Jennsen não suportava contar para ele, mas t inha que encontrar um j eito de falar a lgo.
— Sebastian, se alguma coisa acontecer comigo. . .
— Jenn, — e le disse , segurando os braços dela , olhando nos olhos dela . —
não fale ass im. — de repente ele ficou t r iste . — Jenn, não fale uma coisa dessa . Eu
não suportar ia pensar na vida sem você. Amo você. Só você. Não sabe o que s ignif ica
para mim, como tornou minha vida difer ente do que eu jama is pensei que ela ser ia . . .
muito melhor do que eu jama is pensei que a vida poder ia ser . Eu não conseguir ia
continuar sem você. Não conseguir ia suportar novamente a vida sem você. Você faz o mundo parecer corr eto sempre que estou com você . Estou perdidamente, perdidamente
apaixonado por você. Por favor não me tor ture com o pensamento de f icar sem você .
Jennsen olhou f ixamente nos olhos azuis dele, azuis como diziam que era m os olhos do pai assassino dela , e ela foi incapaz de encontrar palavras para explicar ,
para dizer como estava sentindo -se, para dizer que ser ia tomada dele e que ele t er ia
que encarar a vida sozinho. Sabia como era horr ível sent i r -se só. Ela s implesmente
377
assent iu quando virava de volta para a tr ilha e enrolava o lenço negro sobre o rosto .
— Depressa , — e la falou. — Irmã Perdita está esperando.
A mulher lançou um olhar fur ioso para Jennsen através de sua máscara escura enquanto esp erava no vento sobre uma larga rocha p lana . Jennsen podia ver qu e
a tr ilha além da Irmã descia de forma íngreme entr e as sombras , dentro dos Pilar es da
Criação. Quando aproximaram-se, Jennsen percebeu que Irmã Perdita não estava olhando para ela , mas atrás dela , olhando f ixamente para o caminho pelo qua l eles
vieram.
Antes que chegassem até ela , sobre a rocha plana onde o manto negro dela
ondulava nas sufocantes rajadas de vento , eles também viraram para verem o que ela estava observando com tanta intensida de. Jennsen conseguiu ver , do alto ponto de
vista deles , que em seus esforços eles t inham chegado ao topo de uma divisão na tr ilha
de onde ela descia precip itadamente, seguindo o lado do cume, para levá- los até o fundo. Mas olhando de volta as largas garan tas e montes rochosos que já t inha m
cruzado, ela viu que eles estavam quase tão a lto quanto a borda do vale . Ali, ela podia
ver o pequeno grupo de construções , parecendo minúsculos a essa distância . O cavaleiro estava quase lá , avançando em seu cava lo, seguindo uma rota
em linha r eta até a tr i lha . A companhia de mi l homens havia formado uma grossa l inha
não muito longe da cabeça da tr i lha , aguardando por ele . Poeira erguia -se em uma
longa pluma atrás do cavalo ga lopante . Enquanto o anima l espumante corr ia a toda velocidade, antes que ele
alcançasse os homens , Jennsen detect ou um descompasso no avanço dele .
As pernas dianteiras do cavalo dobraram repent inamente . A pobre besta caiu, chocando-se contra o chão rochoso, mor to por causa da exaustão.
O homem sobre o cavalo desceu do anima l de forma habil idosa quando ele
desabou no chão. Aparentemente sem perder o impulso ou o passo , ele continuou a
avançar em dir eção à tr i lha . Ele estava usando roupas negras , embora não como as dos mercadores nômades . Uma capa dourada esvoaçava atrás dele. E, ele parecia bem
maior do que os mercadores .
Enquanto ele seguia dir eto para a tr ilha , o comandante da cavalar ia gr itou para que ele parasse. Ele não os desaf iou , ou pareceu ao menos dizer uma palavra .
Simplesmente ignorou -os enquanto marchava decidido passando pelas construções em
seu caminho até a cabeça da tr i lha . Os mil homens emit iram um grito de batalha e avançaram.
O pobre homem que não empunhava arma , não fez nenhum moviment o
ameaçador em dir eção aos soldados . Quando a cavalar ia da Ordem corr ia
aproximando-se dele, ele ergueu um braço em dir eção a eles, como se estivess e avisando para que eles parassem. Jennsen sabia , pelas ordens de Sebastian e pelo
modo como eles avançavam sobre o homem sozinho , que eles não t inham intenção de
parar por qualquer coisa a não ser a cabeça dele . Jennsen observou com pavor enquanto um homem estava prestes a ser morto ,
observou, impress ionada , enquanto os mil homens seguiam até ele .
De repente a borda do va le iluminou -se com uma trovejante explosão. Independente de estar com a cabeça enrolada no pano negro , Jennsen protegeu os
olhos enquanto gemia de surpresa. A violenta corda de energia e sua terr ível
contraparte t inham entr elaçado. . . um ardente raio branco contorceu junto com uma
linha negra que parecia ser um vazio no próprio mundo, um terr ível poder uniu -se e descarregou em um instante explos ivo.
No espaço de um piscar de olhos , pareceu que toda a luminos idade ardente
da p lanície ár ida , o calor atroz dos P ilar es da Criação , t inha sido r eunido em um só ponto e l iberado. Em um instante, a ignição daquele raio explos ivo aniquilou a força
de mil homens em uma nuvem brilhante avermelhada . Quando a luz cegante, o rugido
trovejante, a violenta concussão, desapareceu repent inamente , todos os mil homen s
estavam ca ídos . Entr e os r estos fumacentos de cavalos e homens , o homem solitár io
continuava marchando em dir eção a tr ilha , parecendo não ter perdido um passo.
378
No movimento determinado daquele homem , mais ainda do que na forma
com que ele havia causado a destru ição, Jennsen viu a verdadeira profundidade da
terr ível fúr ia dele.
— Quer idos espír itos. — Jennsen sussurrou . — O que aconteceu?
— A sa lvação vem apenas at ravés do autossacr ifício. — Irmã Perdita
falou. — Aqueles homens morreram a serviço da Ordem e dessa forma, do
Cr iador . Esse é o pr incípio ma is alto do Criador . Não há necess idade de lamentar por
eles. . . eles ganharam a salvação através da lealdade ao seu dever . Jennsen só conseguiu olhar para ela .
— Quem é aquele? — Sebastian perguntou enquanto e le observava o
homem solitár io alcançar a borda do vale dos Pilar es da Criação e começar a descer
sem pausa . — Você tem a lguma ide ia?
— Isso não é importante. — Irmã Perdita virou de volta para a tr ilha . —
Nós temos uma missão .
— Então é melhor nos apressarmos , — Sebast ian disse com um tom
preocupado quando olhou para trás, para a figura distante avançando na tr i lha em u m
passo veloz, medido, inexorável.
379
C A P Í T U L O 5 9
Jennsen e Sebastian corr eram para seguir em a Irmã Perdita , que t inha desaparecido sobre o topo da elevação.
Quando chegaram no topo, avistaram ela , já longe abaixo deles . Jennsen
olhou para trás , na dir eção da cabeça da tr i lha , mas não viu o homem. Porém, ela viu
que um grupo de nuvens negras havia des lizado sobre a planície á r ida . — Depressa ! — Irmã Perdita gr itou para eles .
Com a mão de Sebastian atrás de sua costa , fazendo ela avançar , Jennsen começou a descer a tr i lha íngreme. A Irmã movia-se tão velozmente quanto o vento , o
manto negro esvoaçando atrás dela enquanto seguia rapidamente por uma tr i lha para
entrar na ladeira rochosa escarpada . Jennsen nunca havia se es forçado tanto para
acompanhar o passo de a lguém. Ela suspeitava que a mulher estava usando magia para ajudá-la .
Sempre que Jennsen começava a perder o apoio dos pés no casca lho solto e
buscava suporte, a rocha áspera raspava a pele dos dedos e as palmas das mãos dela . A tr ilha era tão árdua quanto qualquer outra que ela já descera . Rochas soltas sobre
camadas de projeções sólidas escorregavam constantemente e t iravam o chão de seus
pés, e ela sabia que se agarrasse o apoio errado , a rocha , em muitos lugares tão afiada quanto vidro, cor tar ia suas mãos .
Logo Jennsen estava ofegante e t entando r ecuperar o fôlego , assim como
tentava alcançar a Irmã distante. Sebastian, logo atrás , parecia tão cansado quanto ela .
Ele também escorregou vár ias vezes e, uma vez, Jennsen gr itou e segurou o braço dele pouco antes que ele ca ísse pela borda em uma queda de milhares de pés .
A expressão nos olhos dele declarou o alívio que ele es tava cansado demais
para colocar em palavras . Encontrando-se ma is per to do fundo, após uma árdua descida aparentemente
sem f im, Jennsen pelo menos estava aliviada em notar que as paredes e torres
bloqueavam o sol esca ldante. Olhou para o céu, a lgo que ela não t ivera o luxo de fazer
durante um bom tempo, e percebeu que não eram apenas as sombras projetadas pelas rochas que escureciam o dia . O céu, que apenas algumas horas antes est ivera tão l impo
e azul claro, agora estava cheio de nuvens cinzentas , como se todo o vale dos Pilar es
da Criação est ivesse sendo isolado do r esto do mundo . Ela avançou, correndo para alcançar Irmã Perdita . Não havia tempo para
preocupar-se com nuvens . Mesmo exausta como Jennsen estava , ela sabia que quando
a hora chegasse, ela encontrar ia a força para enterrar sua faca em Richard Rahl. Essa hora estava quase chegando. Sabia que sua mãe, com os bons espír itos , ir ia inspirá -la
e assim a judá- la a conseguir a força . Ela t ambém sabia que outra força havia s ido
promet ida .
Ao invés de enchê- la com medo, saber que o f im de sua vida estava tão próximo deixou Jennsen com uma estranha sensação de calma . Parecia quase doce,
aquela promessa do f im dessa batalha , o fim do medo, o f im da necessidade de
importar -se com qualquer coisa . Logo, não haver ia ma is exaustão, nenhum calor insuportável, nenhuma dor , nenhuma tr isteza , nenhuma angúst ia .
Ao mesmo tempo, quando, durante apenas um momento aqui ou um momento
ali, ela realmente compreendia a estonteante realidade de que estava prestes a morrer , sua mente f icava dominada por um terror esmagador . Era sua vida , sua única e
preciosa vida , que estava esvaindo-se inexoravelmente, que em breve terminar ia com o
fr io abraço da morte.
Um raio ondulante cruzou um céu que escurecia , via jando por baixo das nuvens. Luzes distante, intensas, surgiram novamente , espalhando-se através das
nuvens pesadas , iluminando-as de seu inter ior com espetacular luz verde . Um trovão
distante r ibombou, ecoando através do vasto vale deser to . o som hes itante do trovão
380
pareceu combinar com a forma que a paisagem ondulava no calor .
Conforme eles desciam, as enormes colunas de rocha tornavam-se ma is
largas, inicia lmente cr escendo de aber turas pelos montes , a té descerem ao fundo onde
pareciam enra izadas no chão do próprio va le . Agora, enquanto os tr ês afastavam-s e cada vez ma is das colinas e entravam no va le , aquelas colunas erguiam-se como uma
antiga f lor esta de pedra . Jennsen sent iu -se como uma formiga caminhando entr e elas .
Quando os passos deles ecoaram entr e muros rochosos , câmaras, e bancadas, ela não conseguia evitar f icar maravilhada com os lados l isos ondulados dos p ilares ,
que pareciam como se a rocha t ivesse s ido gasta , como pedras em um r io.
Difer entes camadas dentro da rocha ver t ica l pareciam possuir dens idades var iadas, fazendo elas ex ib ir em difer entes níveis , deixando as torres de rocha
onduladas através de toda a sua extensão. Em a lguns lugares , enormes seções das
colunas ficavam empoleiradas sobre pescoços estr eitos .
O tempo todo, o calor parecia um grande peso press ionando-a enquanto os pés dela arrastavam-se pelo cascalho no fundo. A luz entr e as colunas projetava m
sombras estranhas , deixando lugares escuros espreitando ma is ao fundo entr e as
torres. Em outros lugares , a luz parecia vir de trás da rocha . Quando ela olhava pa ra cima, era como se est ivesse olhando das profundezas do mundo , ver a própr ia rocha ,
às vezes i luminada de verde por raios dentro das nuvens , esticar -se ao céu como s e
implorasse por salvação. Irmã Perdita des lizava entr e o labir into de rocha , como um esp ír ito dos
mortos, seu manto negro esvoaçando.
Nem mesmo a pr esença de Sebastian logo atrás era um confor to para
Jennsen entr e essas si lenciosas sent inelas do poder da própria Criação. Raios arqueavam acima das cabeças deles , acima dos topos das rochas
gigantes, como se procurassem a f lor esta de pedra . Um trovão ba lançou o vale com
violentos tremores que lançaram rochas sobre eles e então eles t iveram que correr ou desviar para o lado evitando ser em atingidos . Jennsen viu, aqui e ali, onde alguns dos
enormes p ilar es desabaram. Eles jaziam tombados , agora , como gigantes ca ídos . E m
alguns pontos eles t iveram de passar por ba ixo da rocha monumental a travessada no
caminho, caminhando através de passagens deixadas onde os pedaços colossa is exibiam aber turas gastas pelo tempo. Ela esperava que os raios que cor tavam todo o
céu não decidissem at ingir um pilar de pedra logo acima e lançar um pes o
inimaginável sobre eles . Justamente quando Jennsen pensou que eles estar iam perdidos para sempre
nos espaços aper tados entr e as rochas , ela viu uma aber tura entr e as torr es qu e
revelava a extensão do r esto do chão do va le . Serpenteando através do fundo, entr e as colunas de rocha amontoadas , eles começaram a seguir caminho para dentro de u m
terr eno ma is aber to, onde os Pilar es erguiam-se como monumentos individuais ao
invés de f icar em estreitamente amontoados .
Ali no fundo, o vale, que parecia tão p lano lá de cima , era um emaranhado de pequenas rochas e casca lho, cor tado por formações rochosas ir regulares e pranchas
l isas de rocha levantadas que seguiam por milhas. Saindo de saliências alinhadas qu e
vinham dos lados estavam alt ivos p ilares, separados e em pequenos grupos . O trovão estava tornando-se per turbador enquanto r ibombava, ecoava e
estremecia, quase cont inuamente na flor esta de pedra . O céu havia descido até que as
nuvens que ferviam roçavam nos muros de rocha . Do outro lado do vale, as nuvens ma is negras emit iam quase constantes
br ilhos e faíscas , a lgumas assustadoramente cint i lantes , soltado estampidos ir r egulares
de trovão.
Passando por um largo p ico de rocha , Jennsen f icou surpresa ao ver uma carroça, longe, seguindo pelo chão do va le .
Jennsen virou para falar a Sebastian sobre a carroça , e al i, a trás deles ,
estava o estranho. O olhar dela observou sua camisa negra , seu manto aber to no lado decorado
com s ímbolos ant igos serpenteando por uma larga faixa dourada que corr ia todo o
381
caminho ao r edor de suas bordas . O manto estava aper tado na cintura dele por um
largo cinto de couro, com vár ias camadas, com bolsas de couro pre sas em cada lado.
Os pequenos compartimentos de couro no cinto, trabalhados em dourado, t inha m
emblemas prateados de anéis conectados , combinando com aqueles nas largas fa ixas prateadas em cada pulso. Sua calça e as botas eram negras . Em contraste, seus largos
ombros carregavam uma capa que parecia ser feita com f ios de ouro .
Não t inha arma a não ser uma faca no cinto , mas não precisava de arma para ser a personif icação da ameaça .
olhando dentro dos olhos cinzentos dele , Jennsen soube instantaneamente e
inequivocamente que estava olhando nos olhos de predador de Richard Rahl. Pareceu como se um punho de medo t ivesse agarrado seu coração , e
espremido. Jennsen sacou a faca . Segurou-a com tanta força que as ar t icu lações dos
dedos estavam brancas em volta do cab o prateado. Ela podia sent ir a letra ― R‖
gravada , da Casa de Rahl, press ionando sua palma e dedos enquanto o Lorde Rahl em pessoa estava em pé, bem ali, diante dela .
Sebast ian girou e viu ele, então deu a volta indo para trás dela .
As emoções dela estavam embaralhadas , Jennsen f icou paralisada diante de seu irmão.
— Jenn, — Sebast ian sussurrou atrás dela . — não fique preocupada . Você
consegue fazer isso. A sua mãe está observando. Não desaponte ela . Richard Rahl observou-a, sem parecer notar Sebastian, ou mesmo Irmã
Perdita , ma is atrás . Jennsen f icou olhando para seu irmão, igua lmente ignorando os
outros dois . — Onde está Kahlan? — d isse Richard.
A voz dele não era como ela esperava . Era imponente, cer tamente, mas era
muito ma is , tão cheia de emoção, tudo desde a fr ia fúr ia , firme determinação, a té desespero. Os olhos cinzentos dele também ref let iam a mesma determinação sincera e
terr ível.
Jennsen não conseguia desviar os olhos dele . — Quem é Kahlan?
— A Madre Confessora . Minha esposa .
Jennsen não conseguia mover-se, em grande conflito com o que estava
vendo, com o que estava ouvindo. Esse não era um homem procurando por um
monstro, uma Confessora brutal que governava Midlands com vontade de ferro e
punho ma ligno. Esse era um homem mot ivado pelo amor que sen t ia por essa mulher . Jennsen podia ver claramente que pouca coisa mais importava para ele . Se eles não
saíssem do seu caminho, ele passar ia por eles como passou por aqueles mil homens .
Era simples assim. Exceto que, difer ente daqueles mil homens , Jennsen era invencível.
— Onde está Kahlan? — Richard r epet iu, sua paciência chegando ao f im.
— Você matou minha mãe. — Jennsen falou, quase defens ivamente .
A testa dele franziu . Ele pareceu verdadeir amente confuso. — Acabei de
saber que tenho uma irmã . Fr iedr ich Gilder acabou de me contar , e que o nome dela
é Jennsen.
Jennsen percebeu que estava assent indo, incapaz de afastar seus olhos dos olhos dele, vendo seus própr ios olhos nos dele.
— Mate ele , Jenn! — Sebastian sussurrou rapidamente no ouvido dela . —
Mate ele ! Você consegue. A magia dele não pode fer ir você! Faça isso.
Jennsen sent iu um calafr io de pavor subindo em suas pernas . Alguma coisa
estava errada . Segurando a faca , ela reuniu sua coragem enquanto a voz enchia sua
cabeça, a té que não houvesse espaço par a ma is nada . — O Lorde Rahl t entou me matar durante toda a minha vida . Quando matou
o seu pai, assumiu o lugar dele . Você enviou homens atrás de mim. Você esteve me caçando exatamente como o seu pa i fez . Enviou os Quads atrás de nós . Seu bastardo,
enviou aqueles homens que assassinaram minha mãe !
382
Richard escutou sem discut ir , e então falou com uma voz calma e
deliberada .
— Não jogue uma capa de culpa sobre meus ombros porque outros são
malignos .
Jennsen f icou assustada , percebendo que aquelas eram palavras muito
parecidas com as palavras que sua mãe t inha usado na noite antes de morrer . — Nunca
use uma capa de culpa porque eles são malignos .
Os músculos na mandíbula dele f lex ionaram quando ele cerrou os dentes . —
O que vocês fizeram com Kahlan?
— Agora ela é minha Rainha ! — surgiu uma voz ecoando através das
co lunas .
Jennsen r econheceu vagamente a voz . Quando olhou ao redor , não viu Irmã Perdita em lugar algum.
Richard passou por ela , já movendo-se em direção à voz, como uma sombra
deslizando, e então de r epente ele havia sumido. Ela perdera a chance de esfaqueá - lo.
Não conseguia acr editar que ele estava parado bem na fr ente dela , e ela perdeu sua chance.
— Jenn! — Sebast ian fa lou, puxando o braço dela . — Qual é o problema
com você? Vamos lá ! Você a inda pode p egá - lo!
Ela não sabia o que estava errado. Alguma coisa estava . Ela aper tou as mãos
na cabeça , t entando parar o eco da voz . Não conseguia ma is . Tinha feito uma barganha , e a voz estava exigindo impiedosamente que ela a cumprisse , esmagando
sua mente com uma dor difer ente de qua lquer outra que ela já sofr era .
Quando Jennsen ouviu r isadas ecoando através da f lor esta de p ilares de pedra , ela moveu-se rapidamente, o calor e sua exaustão esquecidos . Ela e Sebastian
correram em dir eção ao som, serpenteando entr e as grandes rochas desordenadas . Ela
não sabia ma is onde estava , que lado era qual. Correu através de passagens de pedra
que conduziam a outras , durante seu curso ondulante, sob arcos de rocha , entr e colunas, e através de sombras e luz. Era como seguir por uma estranha e confusa
combinação de corredores e f lor esta , exceto que essas paredes eram de rocha , não
gesso, e as árvores eram rochas . Quando contornaram um imenso p ilar , a li, entr e outros posicionados como
sentinelas , estava uma ár ea aber ta de rocha l is a ondulante em um amontoado de
curvas, com colunas de pedra menores tão grossas quanto ant igos p inheiros . Uma mulher estava amarrada a uma das colunas .
Não houve dúvida na mente de Jennsen que essa era a esposa de Richard,
Kahlan, a Madre Confessora .
De outra dir eção veio a r isada ecoante, zombando, levando Richard para longe daquilo que ele procurava .
A Madre Confessora não parecia com o monstro que Jennsen t inha
imaginado. Parecia estar em péss imo estado, pendurada nas cordas em volta do pilar . Ela não es tava amarrada com f irmeza , mas de forma s imples , com a corda em volta da
cintura , como uma cr iança podia amarrar uma colega a uma árvore .
Aparentemente ela estava inconsciente , uma par te do seu longo cabelo
pendia em volta da sua cabeça pendurada, seus braços estavam f lácidos . Estava usando roupas simples de viagem, embora nem isso e o véu parcia l de cabelo escondesse qu e
bela mulher ela era . Parecia apenas a lguns anos ma is velha do que Jennsen. Não
estava parecendo que ela viver ia para ficar mais velha . Irmã Perdita apareceu r epent inamente ao lado da mulher , levantando a
cabeça da Madre Confessora pelo cabelo, dando uma olhada , então deixando a cabeça
dela ca ir novamente. Sebast ian corr eu, apontando.
— É ela . Vamos lá .
Quando Jennsen o seguiu, não precisou da voz em sua cabeça para dizer a ela que essa era a isca que havia sido fornecida para atrair Richard Rahl para a
383
matança . A voz t inha feito sua par te.
Preparando sua determinação, segurando sua faca com f irmeza , Jennsen
correu até o lado da Irmã . Virou as costas para a mulher inconsciente, não querendo
pensar nela , ou ter que olhar para ela , ao invés disso concentrando sua mente na tarefa imediata . Essa era sua chance de acabar com isso .
O homem r indo apareceu de r epente saindo de trás de um pilar próximo , sem
dúvida para ajudar a atrair a presa . Jennsen r econheceu o sorr iso horr ível dele . Era o homem que t inha visto na
noite em que a feit iceira Lathea foi assassinada . Era o homem que assustara tanto
Betty, sua cabra. O homem que Jennsen achou que r econhec ia de seus pesadelos . — Vejo que encontraram a minha Rainha. — d isse o homem do
pesadelo .
— O quê? — Sebastian perguntou.
— Minha Rainha , — o homem falou , a inda com aquele sorr iso terr ível . —
Eu sou o Rei Oba Rahl. Ela será minha Rainha .
Jennsen r econheceu, então, que havia uma leve semelhança nos olhos com
Nathan Rahl, com Richard, com ela . Ele não t inha a for te semelhança que Jennsen viu de s i mesma nos olhos de Richard, mas ela viu o bastante para saber que ele estava
dizendo a verdade. . . ele também era f i lho de Darken Rahl.
— Aqui vem ele , — e le disse , virando, est icando um braço para apresentá -
lo. — meu irmão , o ant igo Lorde Rahl.
Richard caminhou saindo das sombras . — Não tenha medo , Jenn, — Sebastian sussurrou no ouvido dela . — e le
não pode machucá- la . Agora você pode pegá -lo.
Agora era sua chance; ela não a desperdiçar ia novamente.
Em um lado, a través de um grupo de colunas , ela captou vislumbres de uma
carroça em movimento. Achou que r econhecia os cavalos. . . ambos cinzentos com
cr inas e caudas negras . Eram grandes cavalos parecidos com outros que já t inha visto . Com o canto do olho, ela viu que o condutor era grande e louro .
Jennsen virou, olhando em acreditar para a carroça quando ouviu o ba lido
familiar de Betty. A cabra levantou e colocou os cascos dianteiros no assento ao lado do condutor . O grande homem louro aplicou um rápida coçadinha de afeição nas
or elhas dela . Parecia com Tom.
— Jennsen, — Richard disse. — afaste-se de Kahlan.
— Não faça isso , irmã ! — Oba gr itou. Ele rugiu soltando uma r isada .
Com a faca na mão, Jennsen r ecuou chegando ma is per to da mulher inconsciente pendurada no p ilar que erguia -se logo atrás . Richard tentar ia passar por
ela para chegar até Kahlan; então Jennsen ter ia ele.
— Jennsen, — d isse Richard. — porque você ficar ia do lado de uma
Irmã do Escuro?
Ela lançou um rápido olhar confuso para Irmã Perdita .
— Irmã da Luz. — e la corr igiu .
Richard balançou a cabeça lentamente quando seu olhar desviou para Irmã
Perdita . — Não. Ela é uma Irmã do Escuro. Jagang tem Irmãs da Luz, mas ele
também tem as outras . Ambas são escravas do Andarilho dos Sonhos ; é por isso que
elas possuem aquele anel no láb io infer ior . Jennsen já t inha ouvido aquele nome. . . Andarilho dos Sonhos . Tentou
frenét icamente lembrar onde. Ela também lembrou daquilo que as Irmãs invocaram
naquela noite, na flor esta . Tudo estava passando em sua mente a uma velocidade incr ível. Não estava ajudando que a voz est ivesse lá , est imulando-a incessantemente.
Ela estava gr itando por dentro com a necessidade de matar esse homem , mas algo a
estava impedindo de agir . Sabia que não podia ser a magia dele .
— Terá que passar por Jennsen se quiser salvar Kahlan. — Irmã Perdita
384
falou com a sua fr ia voz desdenhosa . — Está ficando sem tempo , e opções, Lorde
Rahl. Ser ia melhor você ao menos salvar a sua esposa , antes que o tempo dela acabe
também. A uma cer ta distância , de um lado, Jennsen avistou a cabra marrom
salt itando através da f lor esta de pedra , superando o passo de Tom por uma grande
margem. — Betty? — Jennsen sussurrou em meio à lágr imas quando desenrolou o
pano negro da cabeça para que a cabra a reconhecesse .
A cabra baliu ao ouvir o som do seu nome , sua pequena cauda balançando em um borrão enquanto corr ia . Mais alguma coisa , menor , estava surgindo atrás , per to
de Tom. Antes que a cabra conseguisse a lcançá -la , ela alcançou Oba.
Vendo ele quando deu a volta no p ilar , Betty soltou um berro e afastou-s e para o lado. Jennsen conhecia bem o gr ito de pavor de Betty, seu pedido por ajuda e
confor to.
Acima, o céu ficou enlouquecido com ra ios e trovões, assustando a inda ma is
o pobre anima l. — Betty? — Jennsen gr itou, mal conseguindo acreditar no que estava
vendo, imaginando se podia ser uma ilusão, a lgum truque cruel. Mas a magia de Lorde Rahl não poder ia fazer isso com ela .
Com o som da voz dela , a cabra salt itou em dir eção a Jennsen, sua quer ida
amiga por toda uma vida . A menos de doze passos , Betty olhou para Jennsen e parou
repent inamente. A cauda balançante parou . Betty soltou um balido, assutada . Os balidos transformaram-se em terror com o que ela estava vendo.
— Betty, — Jennsen falou. — está tudo bem . Venha. . . sou eu .
Tremendo de medo enquanto olhava para ela , Betty r ecuou. A cabra estava
reagindo da mesma forma que f izera com Oba, agora , e da mesma forma que t inha
feito na pr imeira noite em que viu ele.
Betty virou e correu. Dir eto para Richard.
Ele agachou quando a cabra , claramente nervosa , veio corr endo, buscando
confor to, e encontrou isso sob a mão protetora dele . Então, surpresa , Jennsen ouviu outros pequenos balidos . Pequenas cabras
brancas idênt icas vieram salt itando no meio de todas as pessoas , para o meio de u m
confronto mortal. Assustaram-se com a visão do homem, viraram, e avistando Jennsen,
encolheram-se, gr itando por sua mãe. Betty ba liu, chamando-os. Eles viraram e correra m até a proteção dela . Com
sua mãe ali, eles sent iram-se seguros, e saltaram sobre Richard, ans iosos pelo toqu e
confor tador que sua mãe estava recebendo . Tom havia parado bem atrás , aguardando per to de um pilar enquant o
observava , obviamente pr etendendo f icar for a do caminho.
Jennsen pensou que, cer tamente, o mundo t inha f icado louco.
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C A P Í T U L O 6 0
— Betty, o que você está fazendo? — Jennsen perguntou, incapaz de
encaixar em sua mente o que estava acontecendo .
— Magia. — Irmã Perdita sussurrou logo atrás , em r esposta ao tom confuso
de Jennsen. — E le está fazendo isso .
Ser ia poss ível que Richard Rahl t ivesse enfeit içado até mesmo sua cabra. ..
fazendo voltar -se contra ela? Richard deu um passo em dir eção a ela . Betty e os f i lhotes andavam em
volta das pernas dele, sem ter em conhecimento dos eventos de vida ou morte
acontecendo diante deles . — Jennsen, use a sua cabeça , — Richard falou. — pense por si mesma .
Você tem que me ajudar agora . Afaste-se de Kahlan.
— Mate ele ! — Sebastian sussurrou com feroz determinação. — Faça isso ,
Jenn! A magia não pode machucá - la ! Faça!
Jennsen ergueu a faca enquanto Richard observava tranquilamente. Ela
sentiu que dava um passo em dir eção a ele . Quando o matasse, então a magia dele também morrer ia , e Betty a reconhecer ia mais uma vez .
Jennsen congelou. Algo estava errado. Ela virou para Sebastian.
— Como você sabe? Como sabe disso? nunca falei para você que a magia
não pode me fer ir .
— Você também? — Oba gr itou. Ele chegou mais per to. — Então nós
dois somos invencíve is ! Podemos governar D'Hara juntos. . . mas eu ser ei o Rei , é
claro. Rei Oba Rahl. Mas eu não sou ganancioso. Você poderia ser uma pr incesa ,
ta lvez. Sim, eu poder ia deixar você ser uma pr incesa , se você for boazinha . Os olhos de Jennsen desviaram de volta para o rosto surpreso de Sebast ian.
— Como você sabe?
— Jenn. . . eu só. . . pensei. . . — e le gaguejou , t entando encontrar uma
resposta .
— Richard. . . — era Kahlan, acordando, mas grogue. — Richard, onde nós
estamos? — e la gemeu de dor , e gr itou, mesmo que ninguém a tocasse.
Quando Richard deu um passo até ela , Jennsen deu um passo de volta para a frente dela , balançando sua faca .
— Se quer ela , deve passar por Jennsen. — Irmã Perdita disse.
Richard observou-a sem mostrar emoção durante um longo momento . — Não.
— Você precisa ! — a Irmã rosnou . — Terá que matar Jennsen, ou
Kahlan morrerá !
— Você está louca ! — Sebastian gr itou para a Irmã .
— Controle-se , Sebast ian, — a Irmã d isparou . — a salvação só vem
através do sacr ifício . Toda a humanidade é corrupta . O indivíduo não é importante. . .
uma vida não tem importância . O que acontece com ela não importa . . . apenas o
sacr if íc io dela importa .
Sebast ian f icou olhando para ela , incapaz de r esponder , incapaz de
encontrar uma razão para defender a vida de Jennsen. — Terá que matar Jennsen! — Irmã Perdita gr itou quando virou
novamente para Richard. — Ou eu matarei Kahlan!
— Richard. . . — Kahlan gemeu, claramente sem entender onde estava ou o
que estava acontecendo . — Kahlan, — Richard disse com uma voz calma. — fique parada .
— Últ ima chance ! — gr itou Irmã Perdita . — Últ ima chance de salvar a
386
preciosa vida da Madre Confessora ! Últ ima chance antes que o Guardião fique com
ela ! Detenha ele, Jennsen, enquanto eu mato a esposa dele !
Jennsen estava surpresa que a Irmã est ivesse encor ajando ele a matá -la . Isso não fazia sent ido. Era Lorde Rahl que a Irmã quer ia morta . Era Lorde Rahl que todos
eles quer iam morto.
Jennsen sabia que t inha de acabar com isso . Não podia ser fer ida pela magia dele. Como Sebastian sabia disso, ela não consegu ia imaginar , mas t inha que acabar
com isso, agora , enquanto t inha chance. Porém, porque a Irmã estava fazendo isso , era
um mistér io.
A não ser que Irmã Perdita est ivesse tentando enfurecer Richard para que ele atacasse com a sua magia , a tacasse Jennsen com seu poder , dando assim a aber tura
que ela f ina lmente pr ecisava .
Devia ser isso. Jennsen não ousou esperar . Soltando um grito de raiva cheio de uma vida de ódio , cheio com a ardent e
agonia do assassinato de sua mãe, cheio com a uivante fúr ia da voz em sua cabeça ,
Jennsen atirou-se sobre Richard. Sabia que ele lançar ia sua magia nela para salvar -se, l iberando magia sobre
ela como t inha l iberado nos mil homens . Ele ficar ia chocado que isso não funcionasse ,
chocado quando ela est ivesse passando através da conj uração mortal dele, no ú lt imo
instante, para repent inamente enterrar sua faca no coração ma ligno dele . Ele saber ia tarde demais que ela era invencível .
Gritando de fúr ia , Jennsen voou até ele.
Ela esperava um jato de fogo terr ível , esperava voar através do raio, trovão, fumaça, mas isso não aconteceu . Ele segurou o pulso dela . Simples assim. Não usou
magia . Não lançou feit iço. Não invocou poder algum de magia .
Jennsen não t inha imunidade contra músculos , e ele t inha bastante.
— Acalme-se. — falou Richard.
Ela lutou contra ele selvagemente, uma tempestade fur iosa atirando todo o
seu ódio e dor em seu ataque. Ele manteve seguro com f irmeza o punho com a faca enquanto ela se debatia , o outro punho batendo no peito dele . Ele podia ter par t ido ela
ao meio com as mãos nuas , mas ao invés disso ele deixou ela gr itar e golpeá - lo, então
deixou-a r ecuar para ficar no meio de todos , ofegando, a faca erguida , lágr imas de
fúr ia e ódio escorrendo pelas bochechas dela . — Mate ela ou Kahlan morre! — Irmã Perdita gr itou outra vez.
Sebast ian empurrou a Irmã para trás . — Você perdeu a cabeça ! Ela consegue fazer isso ! Ele nem está armado!
Richard t irou um pequeno l ivro de uma das bolsas no cinto e mostrou -o.
— Oh, mas eu estou.
— O que você quer dizer? — Jennsen perguntou.
O olhar dele pousou sobre ela . — Este é um texto ant igo chamado ―Os Pilares da Cr iação‖ . Foi escr ito
por alguns de nossos ancestrais , Jennsen. . . aqueles entr e os pr imeiros a ser em Lorde
Rahl, entr e os pr imeiros que passaram a entender a completa extensão daquilo que foi engendrado pelo pr imeiro da l inhagem, Alr ic Rahl, que cr iou a l igação, entr e outras
coisas. É uma leitura muito inter essante.
— Suponho que ele diga que, como Lorde Rahl, você dever ia matar as
pessoas como eu. — falou Jennsen.
Richard sorr iu. — Você tem razão . Ele diz.
— O quê? — e la mal conseguia acredit ar que ele admit isse isso . — e le
realmente diz isso ?
Ele assent iu .
— E le explica porque todos os descendentes verdadeiramente não
dotados de Lorde Rahl. . . o Lorde Rahl que passa o Dom da ligação para seu povo. . .
devem ser mortos .
Eu sabia! — Jennsen gr itou. — Você tentou ment ir ! Mas é verdade!
387
Está tudo bem ali!
— Eu não fale i que aceitar ia o conselho . Só falei que o l ivro diz qu e
pessoas como você devem ser mortos .
— Porquê? — Jennsen perguntou.
— Jenn, isso não importa , — Sebast ian sussurrou. — não dê ouvidos a
ele .
Richard apontou para Sebastian. — E le sabe porquê. É por isso que ele sabia que você não poder ia ser
fer ida por minha magia . Ele sabia porque sabe o que está no l ivro . Jennsen virou para Sebastian, os olhos dela arregalados com a r epent ina
compreensão.
— O Imperador Jagang tem aquele l ivro.
— Jenn, agora você está falando bobagem.
— Eu vi ele , Sebastian. Os P ilar es da Criação. Eu vi na tenda dele . É u m
livro ant igo, na ant iga l íngua dele. É um dos l ivros ma is pr eciosos dele. Ele sabia o
que está escr ito. Você é um dos estrategistas mais importantes dele . Ele contou para
você. Você sabia o tempo todo o que ele dizia .
— Jenn. . . eu. . .
— Fo i você. — e la sussurrou .
— Como pode duvidar de mim? Eu te amo.
Então, acima do terr ível tumulto da voz , a coisa toda começou a desenrolar -
se em sua mente. A dor esmagadora de tudo isso ca iu sobre ela . As verdadeiras dimensões da traição tornou-se horr ivelmente clara .
— Quer idos espír itos , foi você o tempo todo.
Sebast ian, com o rosto f icando quase tão branco quanto o cabelo branco espetado dele, f icou morta lmente calmo.
— Jenn, isso não muda nada .
— Fo i você , — e la sussurrou , de olhos arrega lados . — Você tomou uma
simples Rosa da Febre da Montanha.. .
— O quê ! Eu nem tenho uma coisa dessas .
— Eu as vi em uma lata na sua mochila . Tinha f io sobre elas ,
escondendo-as. Elas caíram.
— Oh, aquelas . Eu. . . eu peguei elas com o curandeiro. . . aquele qu e
vis itamos. — Ment iroso ! Tinha elas o tempo todo. Tomou uma para pegar uma febre.
— Jenn, agora você está agindo como louca .
Tremendo, Jennsen apontou para ele com sua faca .
— Fo i você, o tempo todo . Naquela pr imeir a noite, você disse ―de onde eu
venho, nós acr editamos em usar aquilo é ma is próximo de um inimigo, ou o que vem dele, como uma arma contra ele‖ . Você quer ia que eu ficasse com essa faca . Quer ia a
mim porque eu era mais próxima do seu inimigo . Quer ia me usar . Como colocou ela
naquele soldado? — Jenn. . .
— Você diz que me ama . Prove! Não minta para mim! Diga a verdade!
Sebast ian olhou durante um momento antes de f inalmente erguer cabeça e
responder .
— Só queira ganhar a sua confiança . Pensei que se eu t ivesse uma febre
você me aceitar ia .
— E o soldado morto que encontrei ?
— Era um dos meus homens . Nós capturamos o homem que carregava
aquela faca . Dei ela para um dos meus homens, f iz ele vest ir um uniforme D'Haran,
então, depois que vimos você passar lá embaixo, empurrei ele no penhasco. — Matou um dos seus própr ios homens?
388
— Sacrifício por uma causa maior às vezes é necessár io. A salvação vem
através do sacr if íc io. — ele completou em sua defesa de forma desaf iadora.
— Como você sabia onde eu estava?
— O Imperador Jagang é um Andar ilho dos Sonhos . Ele aprendeu sobre
pessoas como você através do l ivro anos atrás . Ele usou sua habil idade para procurar
qua lquer um que pudesse saber da sua existência . Com o tempo, ele r euniu evidência s
para rastreá - la .
— E o bilhete que eu encontrei?
— Eu coloquei nele . Jagang descobriu com a habil idade dele que uma vez
você usou aquele nome.
— A ligação impede que o Andar ilho dos Sonhos entre na mente de
uma pessoa , — Richard fa lou. — e le deve ter procurado durante um longo tempo ,
buscando aqueles que não estavam ligados ao Lorde Rahl.
Sebast ian assent iu com sat isfação.
— Isso mesmo . E nós também t ivemos sucesso.
Jennsen, ardendo com fúr ia cegante, com a agonia de uma traição tão
monumenta l, engoliu em seco.
— E o resto? Minha. . . mãe? Ela também foi um dos seus sacr if íc ios
necessár ios?
Sebast ian lambeu os lábios . — Jenn, você não entende. Eu r ealmente não conhecia você. . .
— E les eram seus homens . Por isso foi tão fácil para você matá -los. Eles
não estavam esperando que você os atacasse. . . pensavam que você estava ali para lutar
ao lado deles . E foi por isso que você f icou confuso quando eu falei sobre os Quads,
sobre quantos homens ma is eu achava que havia . Eles não eram realmente Q uads.
Você teve que matar alguma pessoa inocente pelo caminho para fazer com que eu achasse que era o outro membro de um Q uad. Todas aquelas noites em que você s aía
para fazer patrulha e voltava dizendo que eles estavam logo atrás de nós , e nós
ficamos fugindo através da noite. . . você inventou tudo isso . — Por uma boa causa. — Sebast ian fa lou, suavemente.
Jennsen engasgou em lágr imas, em sua fúr ia .
— Uma boa causa ! Você matou a minha mãe! Foi você o tempo todo !
Queridos espír itos . . . e pensar que eu . . . oh, quer idos espír itos , eu dormi com o
assassino da minha mãe. Seu ma ldito. . . — Jenn, controle-se. Isso foi necessár io. — e le apontou para Richard. —
E le é a causa de tudo isso ! Agora nós temos ele ! Tudo isso foi necessár io ! A
salvação só vem através do autossacr if ício . O seu sacr if íc io. . . o sacr ifíc io da sua
mãe. . . capturou Richard Rahl para nós, o homem que tem caçado você durante toda
sua vida .
Lágrimas de ódio escorr iam pelo rosto dela . — Não consigo acreditar que você tenha fe ito essas co isas comigo e
diga que me ama .
— Mas eu amo , Jenn. Não conhecia você. Eu falei. . . eu nunca pretendia me
apaixonar por você, mas eu me apaixonei. Simplesmente aconteceu . Você é minha vida agora . Eu te amo agora .
Ela press ionou as mãos na voz gr itando em sua cabeça .
— Você é maligno ! Jamais poder ia amar você!
— Irmão Narev ens ina que toda a humanidade é ma ligna . Não podemos ter
existência moral porque a humanidade é uma mácula no mund o dos vivos . Pelo menos
agora o Irmão Narev está finalmente em um lugar melhor . Agora ele está com o Criador .
— Então você quer dizer que Irmão Na rev é ma ligno? Porque ele faz
par te da humanidade? Até mesmo o seu precioso, sagrado Irmão Narev, é ma ligno?
Sebast ian olhou fur ioso para ela .
389
— Aquele que realmente é maligno está parado bem ali. . . — e le
apontou. — Richard Rahl, por matar um grande homem. Richard Rahl deve ser
condenado à morte por seus cr imes .
— Se a humanidade é maligna , e se o I rmão Narev está em um lugar
melhor . . . com o Criador . . . então Richard fez uma gent ileza matando Irmão Narev, enviando ele aos braços do Criador , não fez? E se a humanidade é ma ligna , então
como Richard Rahl poder ia ser ma ligno por matar homens da Ordem?
O rosto de Sebast ian estava vermelho. — Nós todos somos malignos , mas a lguns são ma is malignos do qu e
outros ! Pelo menos temos humildade perante o Criador de r econhecer nossa própria
pervers idade, e de glor if icar somente o Criador . — e le fez uma pausa e acalmou-se
vis ivelmente . — Sei que esse é um sinal de fraqueza , mas eu te amo. — e le
mostrou um sorr iso . — Você t ransformou-se na minha única razão para exist ir ,
Jenn.
Ela só conseguiu olhar fixamente para ele .
— Você não me ama , Sebastian. Não tem ideia do que é r ealmente o amor .
Você não pode amar ninguém ou qualquer coisa até amar sua própria ex istência
pr imeiro. O amor só pode cr escer do r espeito por sua própria vida . Quando ama a si
mesmo, a sua própria ex istência , então você consegue amar alguém que possa
aperfeiçoar a sua existência , comparti lhá- la com você, e torná- la mais agradável .
Quando odeia a si mesmo e acr edita que sua existência é ma ligna , então você só pode odiar , só consegue exper imentar apenas a casca do amor , aquele desejo por algo bom,
mas você não tem nada no qua l basear isso a não ser ódio . Você mancha o própr io
conceito de amor , Sebastian, com o seu corrompido desejo por ele . Você me quer apenas para justif icar o seu ódio, para ser a sua parceira na intolerância .
— Para realmente amar alguém , Sebastian, você deve a legrar -se com a
existência dessa pessoa porque ela torna a vida muito ma is maravilhosa . Se você acha que a existência é corrupta , então você não pode ser capaz de desfrutar de u m
relacionamento como esse, daquilo que r ea lmente é o amor .
— Você está errada ! Simplesmente não entende!
— Eu entendo muito bem . Só gostar ia de ter entendido ma is cedo .
— Mas eu realmente amo você , Jenn. Você está errada . Eu r ea lmente amo
você!
— Você só pode querer amar . Estas são palavras vazias de uma casca
ár ida de um homem. Não existe nada aí para que eu ame. . . nada que va lha à pena
amar . Você é tão vazio de humanidade que estou achando dif íci l a té mesmo odiá - lo,
Sebast ian, a não ser cons iderando a maneir a como a lguém poder ia odiar um esgoto aber to.
Raios ca íram sobre os p ilares ao r edor . A voz na cabeça de Jennsen parecia
prestes a rasgá -la em pedaços .
— Jenn. . . você não está falando sér io . Não pode. Não posso viver sem você .
Jennsen voltou sua fúr ia gélida sobre ele .
— A única co isa no mundo todo que você poder ia faz er para me
agradar , Sebast ian, ser ia morrer !
— Já ouvi o bastante dessa conversa tocante de amantes. — Irmã
Perdita rosnou. — Sebast ian, seja homem e cale a boca ou eu vou calar ela para você .
A sua vida signif ica tão pouco quanto a de qualquer outro . R ichard, você tem uma escolha . Jennsen ou a Madre Confessora.
— Você não tem que servir ao Guardião , Irmã, — Richard disse. —
também não tem que servir ao Andar ilho dos Sonhos . Você tem uma escolha .
Irmã Perdita apontou para ele.
— Você tem uma esco lha ! Faço essa ofer ta a você, ma is uma vez ! O seu
tempo acabou! O tempo de Kahlan acabou! Jennsen ou Kahlan, escolha !
390
— Não gosto das suas regras , — Richard falou. — não esco lherei .
— Então eu esco lho para você ! A sua preciosa esposa morre!
Mesmo quando Jennsen mergu lhou para impedi - la , Irmã Perdita agarrou
Kahlan pelo cabelo e levantou a cabeça dela . O rosto da Madre Confessora não exib ia
qua lquer expressão.
Jennsen segurou o braço da Irmã Perdita , movendo a faca com a letra ― R‖ o mais rápido que podia , com toda a força que conseguia aplicar , esperando conseguir
ser rápida o bastante para salvar a vida de Kahlan, sabendo que mesmo quando f izera
a tentativa já era tarde demais . Houve um instante claro como cr istal em que o mundo pareceu parar ,
congelar no lugar .
E entã o ocorreu uma violenta concussão no a r , um trovão sem o som. O terr ível choque lançou um anel de pó e pedras para longe da Madre
Confessora em um círculo sempre cr escente. O impacto nas colunas tão próximas ao
redor estr emeceu os enormes p ilares . Alguns, que estavam tão precar iament e
equil ibrados, tombaram. Quando caíram, atingiram outros , derrubando-os também. Pareceu levar uma eternidade para que as enormes seções de rocha des lizassem pelo ar
sufocante, lançando pó enquanto des integravam, desmoronando como trovões feitos de
rocha. Quando as rochas at ingiram o chão pareceu que o vale inteiro estremeceu sob os tr emendos impactos . Uma poeira cegante espalhou-se no ar .
O mundo f icou negro, como se toda a luz t ivesse s ido levada , e naquele
instante apavorante, na escuridão tota l , pareceu não exist ir mundo, nada. O mundo r etornou, como uma sombra erguendo-se.
Jennsen encontrou-se segurando o braço de uma mulher morta . A Irmã
estava caída ao chão como um dos p ilares de pedra . Jennsen viu sua faca projetando-s e
do peito da Irmã . Richard já estava ali, segurando Kahlan nos braços , cor tando a corda ,
baixando-a suavemente. Ela parecia esgotada , mas descons iderando sua fraqueza , ela
parecia bem. — O que aconteceu? — Jennsen perguntou, surpresa .
Richard sorr iu para ela .
— A Irmã cometeu eu erro . Eu avisei para ela . A Madre Confessora
l iberou seu poder na Irmã Perdita .
— Você t inha que avisá- la? — Kahlan perguntou, soando r epent inamente
coerente. — E la devia ter ouvido você .
— Não, isso apenas encorajou-a a fazer aquilo.
Jennsen percebeu que a voz havia desaparecido.
— O que aconteceu? Eu a matei?
— Não. Ela estava morta antes que a sua faca a tocasse , — Kahlan disse. — Richard estava distraindo ela para que eu usasse o meu poder . Você tentou, mas estava
um instante atrasada. Ela já era minha . Richard colocou a mão confor tadora no ombro de Jennsen.
— Você não a matou , mas fez uma escolha que sa lvou a sua própria vida .
Aquela sombra que passou sobre nós quando a Irmã morreu era o Guardião dos mortos levando alguém que estava jurada a ele. Se você t ivesse feito a escolha errada, t er ia
sido levada junto com ela .
Os joelhos de Jennsen estavam tr emendo. — A voz desapareceu. — e la falou em voz alta . — Ela sumiu .
— O Guardião inadvert idamente revelou sua intenção. — falou R ichard.
— Uma vez que os cães estavam so ltos , isso s ignificava que o Véu. . . o cana l entr e
os mundo, estava aber to.
— Eu não entendo .
Richard fez um gesto com o l ivro antes de enf iá - lo de volta em uma das
bolsas no cinto.
— Bem, eu não t ive tempo para ler tudo, mas li o suf iciente para aprender
391
um pouco. Você é uma descendente não dotada de um Lorde Rahl. Isso torna você o
equil íbr io para o Rahl dotado. . . para a magia . Você não apenas não possui o Dom, mas
também não pode ser tocada por ele . Em um tempo de uma grande guerra , a Casa de
Rahl foi cr iada para cr iar uma linhagem de magos poderosos, mas fazer isso, também plantou as sementes do f im da magia para o mundo. Pode ser a Ordem Imperia l qu e
deseja um mundo sem magia , mas é a Casa de Rahl que eventualmente pode for necer
isso. — Você , Jennsen Rahl, é potencialmente a pessoa viva ma is per igosa ,
porque você, como todo Rahl verdadeiramente não dotado, é a semente que pode gerar
um mundo sem magia . Jennsen f icou olhando nos olhos cinzentos dele .
— Então porque não quer me ver morta , como todo Lorde Rahl antes de
você?
Richard sorr iu.
— Você tem tanto direito à sua vida quanto qualquer outra pessoa.. .
quanto qualquer Lorde Rahl já t eve. Não existe forma corr eta para que o mundo seja .
A única coisa cer ta é que as pessoas tenham o dir eito de viverem suas próprias vidas .
Kahlan arrancou a faca do peito da Irmã Perdita e l impou-a no manto negr o antes de entr egá- la a Jennsen.
— Irmã Perdita estava errada . A sa lvação não vem através do sacr if ício .
Sua responsabil idade é com você mesmo.
— A sua vida é apenas sua , — Richard disse. — e não de qualquer outra
pessoa . Você me deixou orgulhoso, quando ouvi tudo que fa lou para Sebastian.
Jennsen olhou para a faca em sua mão, ainda surpresa e confusa com tudo
que estava acontecendo. Ela olhou ao r edor na escur idão que se formava , mas não viu
Sebast ian em lugar algum. Oba também havia sumido. Quando olhava ao r edor , Jennsen f icou assustada ao ver uma Mord-Sit h
parada não muito longe.
— Isso é maravilhoso, — a mulher reclamou para a Madre Confessora ,
levantando as mãos . — A garota fala como Lorde Rahl. Agora ter ei que escutar dois
deles. Kahlan sorr iu e sentou, encostando contr a o p ilar ao qual t inha s ido
amarrada , observando Richard, que escutava , acar iciando as or elhas dos fi lhotes de
Betty. Betty observou seus dois f i lhotes , então, vendo que eles estavam seguros ,
saltou alegremente até Jennsen. Sua pequena cauda começou a balançar em um borrão .
— Betty?
Betty saltou feliz sobre ela , ansiosa por uma r eunião. Jennsen abraçou a
cabra antes de levantar para encarar seu irmão.
— Mas porque você não far ia como seus ancestrais ? Porque? Como pode
arr iscar tudo que está naquele l ivro?
Richard enf iou os dedões no cinto e deu um for te suspiro .
— A vida é o futuro , não o passado. O passado pode nos ens inar , através
da exper iência , como fazer coisas no futuro, nos confor tar com lembranças quer idas , e
fornecer a fundação daquilo que já foi r ea lizado . Mas somente o futuro guarda a vida .
Viver no passado é abraçar o que está morto . Para viver a vida complet amente, a cada dia deve ser cr iado algo novo. Como seres raciona is, pensantes, devemos usar o noss o
intelecto, não uma cega devoção com aquilo que veio antes , para fazermos escolhas
raciona is . — A vida é o futuro, não o passado. — Jennsen sussurrou para si mesma,
cons iderando tudo que a vida guardava para ela agora .
— Onde você ouviu uma co isa como essa ?
Richard sorr iu.
— É a Sét ima Regra do Mago .
Jennsen olhou para ele entr e lágr imas .
392
— Você me deu um futuro , uma vida. Obrigada .
Então ele abraçou-a, e de r epente Jennsen não sent iu -se ma is sozinha no
mundo. Sent iu-se completa novamente. Parecia tão bom ser abraçada enquant o derramava lágr imas por sua mãe, e lágr imas pelo futuro, pela alegr ia de que houvesse
vida, e um futuro.
Kahlan es fr egou a costa de Jennsen. — Bem-vinda à família .
Quando Jennsen enxugou os olhos , e r iu para tudo e nada enquanto usava
sua outra mão para coçar as orelhas de Betty, ela viu, então, Tom parado ali per to. Jennsen corr eu até ele e ca iu em seus braços .
— Oh, Tom. Você não sabe como estou feliz em ver você! Obrigadda por
trazer Betty para mim. — Esse sou eu . Entr ega de cabra , como promet ido. Aconteceu que Irma, a
mulher das linguiças , só quer ia a sua cabra para conseguir um f i lhote . Ela tem u m bode adulto e quer ia um jovenzinho. Ela f icou com um f ilhote e deixou que você
ficasse com os outros dois .
— Betty teve tr ês?
Tom assent iu.
— Tenho medo de ter ficado muito apegado com Betty e seus dois
fi lhotes. — Não consigo acreditar que você fez isso para mim . Tom, você é
maravilhoso. — Minha mãe sempre disse isso também. Não esqueça , você prometteu
contar a Lorde Rahl.
Jennsen r iu com alegr ia . — Eu prometo ! Mas, como você me achou?
Tom sorr iu e t irou uma faca de trás da costa . Jennsen f icou surpresa em ver
que era idênt ica àquela que t inha . Está vendo? — e le explicou. — Eu carrego a faca em serviço ao Lorde
Rahl."
— Carrega? — Richard perguntou. — Eu jamais ao menos conhec i você .
— Oh, — d isse a Mord-S ith. — o Tom aqui está l impo, Lorde Rahl. Poss o
garantir em nome dele .
— Ora , obr igado, Cara. — Tom fa lou piscando um dos olhos .
— Então, você sabia o tempo todo , — Jennsen perguntou. — que eu
estava inventando tudo ?
Tom balançou os ombros .
— Eu não ser ia um protetor adequado para Lorde Rahl se deixasse uma
pessoa suspeita como você vagar por a í, t entando causar danos , sem fazer o melhor que pudesse para descobr ir o que você pretendia . Fiquei de olho em você, segui você
durante uma boa par te da sua jornada.
Jennsen bateu no ombro dele. — Você esteve me espionando !
— Como um protetor de Lorde Rahl, eu t inha que checar qua is eram suas
intenções, e garantir que não causasse ma l a Lorde Rahl.
— Bem, — e la falou. — então eu acho que você não estava fazendo um
trabalho muito bom.
— O que você quer dizer? — Tom perguntou com exagerada indignação.
— Eu realmente podia ter esfaqueado ele . Você f icou parado ali o t empo
todo, longe demais para fazer qua lquer coisa a respeito .
Tom exib iu aquele sorr iso jovial dele , mas dessa vez ele estava um pouco
ma is travesso do que o norma l. — Oh, eu não ter ia permit ido que você machucasse Lorde Rahl.
Tom virou e levantou sua faca . Com velocidade cegante que ela nunca t inha
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visto, a lâmina voou através do va le, enterrando-se com um leve barulho em um dos
distantes p ilares de pedra ca ídos . Jennsen forçou os olhos e viu que ela atravessara
algo escuro.
Ela seguiu Tom, Richard, Kahlan, e a Mord-Sith entr e enormes colunas e pedaços de rocha até onde a faca estava enterrada . Para surpresa de Jennsen, ela havia
empa lado uma bolsa de couro, bem no centro, segura por uma mão que pr ojetava-se de
baixo da enorme seção de rocha caída . — Por favor , — surgiu uma voz abafada de baixo da rocha. — por
favor, me t irem daqui. Pagarei vocês . Eu posso pagar . Tenho meu próprio dinheiro.
Era Oba. A rocha t inha caído sobre ele quando ele correu . Tinha pousado
sobre b locos que impediram que a seção pr incipa l de rocha , grande o bastante para que
vinte homens não conseguissem unir as mãos em torno dela , desmoronasse, deixando um pequeno espaço, apr isionando o homem vivo sob toneladas de rocha .
Tom arrancou sua faca da rocha macia e pegou a bolsa de couro . Ba lançou-a
no ar .
— Friedr ich! — e le gr itou em direção à carroça . Um homem sentou. — Friedr ich! Isso é seu?
Jennsen f icou surpresa novamente, nesse dia incr ível, em ver Fr iedr ich Gilder , o mar ido de Althea, descer da carroça e seguir a té eles .
— Isso é meu. — ele disse. Ele olhou embaixo da rocha . — Você tem
mais .
Após um momento, a mão começou a entr egar mais bolsas de couro e de
pano.
— Aqui, você está com todo o meu dinheiro . Agora me t ir e daqui.
— "Oh, — Friedr ich disse. — eu acho que não conseguir ia levantar essa
rocha . Especia lmente para o homem que é r esponsável pela morte da minha esposa .
— Althea morreu? — Jennsen perguntou, chocada .
— Infelizmente. Meu raio de sol desapareceu da minha vida .
— S into muito , — e la sussurrou . — ela era uma boa mulher .
Fr iedr ich sorr iu. — S im, ela era . — e le t irou uma pequena pedra lisa do
bo lso . — Mas ela deixou isso , e isso já é um prazer .
— Não é mesmo estranho? — Tom falou admirado. Remexeu no bolso até
ret irar a lgo. Abriu a mão para revelar uma pequena pedra l isa na palma . — Eu
também tenho uma dessas . Sempre carrego ela como amuleto de boa sor te .
Fr iedr ich olhou para ele de forma desconfiada . Fina lmente ele sorr iu .
— Então ela também sorr iu para você .
— Não consigo respirar. — surgiu a voz sob a rocha . — Por favor , isso
dói. Não cons igo me mover . Me deixem sair . Richard levantou a mão em dir eção à rocha . Houve um som metálico e uma
espada f lutuou sa indo de baixo da rocha . Ele curvou-se e puxou sua bainha , arrastando
o boldr ié atrás . Ele l impou o pó e passou o boldr ié sobre o ombro , a bainha em seu
quadril. A espada era magníf ica , uma arma adequada para o Lorde Rahl. Jennsen viu a palavra dourada cint i lante ―VERDADE‖ no cabo .
— Você encarou todos aqueles so ldados , e nem estava com sua espada.
— Jennsen fa lou. — Acho que sua magia foi uma defesa melhor .
Richard sorr iu enquanto balançava a cabeça .
— Minha habil idade funciona através da necessidade e da fúr ia . Quando
Kahlan foi levada , eu t ive bastante necessidade, e uma fúr ia pr eparada . — e le
levantou o cabo afastando -o da bainha até que ela pudesse ver novamente a
palavra gravada em dourado . — Essa arma funciona o tempo todo .
— Como sabia onde estávamos ? — Jennsen perguntou. — Como sabia
onde Kahlan estava?
Richard passou um dedão sobre a palavra dourada do cabo de sua espada . — Meu avô me deu isso. O Rei Oba, ali, roubou-a quando, com ajuda do
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Guardião, ele capturou Kahlan. Essa espada é muito especia l . Tenho uma conexão com
ela; cons igo sent ir onde ela está . O Guardião sem dúvida induziu Oba a pegá- la para
me atrair a té aqui.
— Por favor , — Oba gr itou. — não consigo respirar .
— O seu avô? — Jennsen perguntou, ignorando o sofr imento de Oba, os
gemidos dele. — Quer dizer , Mago Zorander?
O rosto todo de Richard suavizou com um grande sorr iso.
— Então você conheceu Zedd. Ele é maravilhoso, não é?
— E le tentou me matar. — Jennsen murmurou.
— Zedd? — Richard br incou. — Zedd é inofensivo.
— Ino fensivo ? Ele. . .
A Mord-Sith, Cara, encostou o bastão vermelho que t inha em Jennsen. . . o Agiel.
— O que você está fazendo ? — Jennsen perguntou. — Pare com isso .
— Isso não faz nada com você ?
— Não, — Jennsen disse, franzindo a testa . — Não ma is do que fez quando
Nyda usou ele. A sobrancelha de Cara levantou.
— Você conheceu Nyda? — e la o lhou para Richard. — E ela ainda
consegue andar . Estou impress ionada .
— E la é imune à magia. — Richard fa lou. — É por isso que o seu Agiel
não funcionará nela também.
Cara, com um leve sorr iso, olhou para Kahlan.
— Está pensando o mesmo que eu? — Kahlan perguntou.
— E la pode ser justamente a pessoa capaz de so lucionar nosso pequeno
problema. — Cara disse, o sorr iso cr escendo .
— Agora , eu suponho, — Richard fa lou com mau humor. — que você va i
fazer ela tocar também .
— Bem, — d isse Cara defens ivamente. — a lguém tem que fazer isso .
Não quer que eu faça de novo, não é?
— Não!
— Do que vocês t rês estão fa lando ? — Jennsen perguntou.
— Temos alguns problemas urgentes , — Richard disse. — se você
quiser ajudar , acho que você pode ter justamente o ta lento especial ne cessár io para
nos t irar de um sér io impasse. — É mesmo ? Quer dizer que vocês querem que eu vá com vocês ?
— Se você quiser. — Kahlan falou. Ela encostou em Richard, parecendo
estar nos f im de suas forças .
— Tom, — Richard disse. — será que nós podemos.. .
— É claro ! — T om falou, aproximando-se para ofer ecer o braço para
Kahlan. — Venham. Eu tenho alguns cobertor es nos fundos onde vocês podem
deitar . . . pergunta para Jennsen, eles são rea lmente confor táveis . Levarei vocês de
volta pelo caminho fácil .
— Isso ser ia muito bom, — Richard disse . — Está quase escurecendo.
Ser ia melhor passarmos a no ite aqui e part ir assim que houver luz sufic iente ao
amanhecer . De prefer ência , antes que f ique quente demais .
— O resto deles vai querer sentar lá at rás junto com a Madre
Confessora , eu espero. — Tom sussurrou para Jennsen. — Se você não se importar ,
poder ia via jar lá em cima, no assento junto comigo .
— Pr imeiro quero saber algo.. . a verdade , agora, — falou Jennsen. — se
você é um defensor do Lorde Rahl, o que ter ia feito, parado bem a li , se eu t ivesse
fer ido Lorde Rahl?
Tom olhou para ela com uma expressão sér ia .
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— Jennsen, se eu r ealmente achasse que você far ia ou poderia fazer isso ,
ter ia enf iado uma faca em você antes que t ivesse chance .
Jennsen sorr iu. — Bom. Via jarei a o seu lado. Meu cavalo está bem a li. — e la falou
apontando além dos Pilares da Cr iação . — Eu e Rusty nos tornamos boas
amigas .
Betty ba liu ao ouvir o som do nome da égua . Jennsen r iu e coçou a barr iga
de Betty. — Você lembra de Rusty?
Betty baliu confirma ndo enquanto seus f i lhotes salt itavam ali per to . A uma cer ta distância , a trás , Jennsen podia ouvir o assassino Oba Rahl
exigindo sua liber tação. Ela parou e olhou para trás , percebendo que ele também era
um meio irmão. Um meio irmão muito mau .
— S into muito ter pensado coisas terr íveis sobre você. — e la disse ,
olhando para Richard.
Ele sorr iu enquanto segurava Kahlan bem per to com um braço, e então puxou Jennsen ma is per to com o outro.
— Você usou a sua cabeça quando foi confrontada com a verdade. Eu não
poder ia t er pedido ma is do que isso. O peso da rocha que t inha ca ído estava lentamente esmagando os b locos de
pedra arenosa que seguravam o p ilar que apr isionava Oba. Ser ia apenas uma questão
de horas até que Oba fosse esmagado até a morte em sua pr isão ines capável, ou, se isso isso não ocorr esse, a té que ele morresse de sede.
Após uma derrota como essa , o Guardião não recompensar ia Oba fornecendo
ajuda. O Guardião ter ia uma eternidade para fazer Oba sofr er por seu fracasso.
Oba era um assassino. Jennsen suspeitou que Richard Rahl não t inha qua lquer traço de p iedade por alguém ass im, ou por qua lquer pessoa que machucass e
Kahlan. Não mostrou p iedade com Oba.
Oba Rahl f icar ia enterrado para sempre com os Pilar es da Criação .
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C A P Í T U L O 6 1
De manhã, Tom fez com eles uma viagem entr e os enormes Pilar es da Criação. A visão ao amanhecer , com o sol lançando longas sombras e projetando cores
maravilhosas na paisagem, era espetacular .
Era uma visão que ninguém mais havia saído do vale para relatar .
Rusty estava feliz em ver Jennsen, e f icou pos it ivamente animada quando viu Betty e os dois f i lhotes dela .
Jennsen, com Richard e Kahlan ao seu lado , entrou na baixa construção e
descobr iu que Sebast ian, incapaz de concil iar suas crenças e seus sent imentos , ha via atendido o últ imo desejo de Jennsen.
Ele inger iu todas as Rosas da Febre da Montanha que t inha na lata . Estava
sentado à mesa, morto.
*****
Jennsen, sentada ao lado de Tom, escutou Richard e Kahlan expl icarem toda a histór ia de como acabaram f icando juntos. Jennsen ma l conseguia acreditar que ela
era tão difer ente do que pensara . A mãe dele, sendo estuprada por Darken Rahl, ha via
fugido com Zedd para proteger Richard. R ichard cr esceu longe em West land, sem saber nada sobre D'Hara, ou a Casa de Rahl, ou magia. Richard acabou com o governo
ma ligno de Darken Rahl. Kahlan, ao ser caçada por verdadeiros Quads , matou o
comandante deles.
Com Richard sendo Lorde Rahl, não exist ia ma is Quads. Jennsen sent ia-se orgulhosa e honrada , agora , que Richard t ivesse pedido
que ela f icasse com a faca com a letra ―R‖ ornamentada . Ele falou que ela conquistara
o dir eito de carregá - la . Ela pretendia guardá - la e sustentar o seu verdadeiro propós ito . Agora , ela realmente era uma protetora , exatamente como Tom.
Enquanto eles s eguiam viagem, Betty f icou na carroça ao lado de Fr iedr ich,
com os cascos dianteiros sobre o assento entr e T om e Jennsen, cada um carregando uma pequena cabra dormindo. Rusty estava amarrada atrás , onde Betty frequent ement e
fazia sua vis ita . Richard, Kahla n, e Cara via javam de um lado.
Jennsen virou para seu irmão após ter pensado naquilo que ele havia falado
para ela . — Então, você não está inventando isso? Rea lmente estava escr ito aquilo
sobre mim naquele l ivro. . . Os Pilares da Criação ? — E le falava sobre pessoas como você : ―A cr iatura ma is poderosa
caminhando no mundo dos vivos é a cr iança não dotada de um Lorde Rahl, porque eles
são completamente imunes à magia . A magia não pode machucá - los, não pode afetá -los, e até mesmo a profecia está cega em r elação a eles‖ . Mas acho que você acabou
provando que o l ivro estava errado.
Ela f icou pensando naquilo. Uma par te ainda não fazia sent ido para ela . — Não entendo porque o Guardião estava me usando . Porquê a voz dele
estava na minha cabeça?
— Bem, eu só t ive tempo de traduzir uma pequena par te do l ivro, e outras
par tes estão danif icadas . Mas, de acordo com uma par te daquilo eu l i , acredito que as
cr iança não dotada , uma vez que ela não possui magia , é o que o l ivro chama de
―buraco no mundo‖ , — Richard explicou. — então ela também é um buraco no
Véu, tornando você potencialmente um canal entre o mundo dos vivos e o
mundo dos mortos . Para que o Guardião consuma o mundo dos vivos , ele pr ecisava
de um cana l assim. A necess idade de vingança foi a chave f ina l . A sua entr ega aos
desejos dele. . . quando você entrou na f lor esta com as Irmãs do Escuro. . . precisava ser
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consumada com a sua morte, com você mor rendo para completar a barganha com a
morte.
— Então , se alguém t ivesse me matado. . . Irmã Perdita , por exemplo. . .
depois que eu entr ei na f lor esta com aquelas Irmãs do Escuro , isso não ter ia aber to u m
portal?
— Não. O Guardião precisava de um protetor do mundo dos vivos . Era
necessár io o equil íbr io para a sua falta do Dom. Era necessár io um Rahl dotado. . . o
Lorde Rahl, para realizar uma coisa ass im. — R ichard disse. — Se eu t ivesse
acabado com você para me salvar , ou sa lvar Kahlan, então o Guardião f icar ia solto
nesse mundo através da brecha cr iada . Eu t ive que forçar você a escolher a vida , não a
morte, para que você vivess e, e o Guardião fosse mantido no Submundo. — Eu podia ter . . . destruído a vida. — falou Jennsen, chocada com a
verdadeira compreensão do quanto est ivera per to de l iberar uma destru ição
cataclismát ica . — Eu não teria deixado você fazer isso. — Tom disse, a legremente.
Jennsen colocou a mão no braço dele , percebendo que nunca t ivera os sentimentos que t inha por ele. O homem pos it ivamente alegrava o coração dela . O
sorr iso dele fazia a vida dela valer à pena ser vivida . Betty enf iou o focinho, querendo
atenção, e para ver seus f i lhotes dormindo.
— Não há maior t raição da vida do que entregar os inocentes para o
Guardião dos Mortos. — Cara disse.
— Mas ela não fez isso , — falou Richa rd. — e la usou a razão para
descobr ir a verdade , e a verdade para abraçar a vida .
— Você com certeza sabe muito sobre magia. — Jennsen falou para
Richard.
Kahlan e Cara r iram tão alto que Jennsen achou que elas podiam cair dos cavalos.
— Não vejo o que pode ser tão engraçado nisso. — Richard r esmungou.
As duas r iram ma is alto ainda .
F I M
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A sér ie ―The Sword of Truth‖ é formada pelos seguintes l ivros :
Debt of Bones
Wizard´s First Rule
Stone of T ears
Blood of The Fold
Templo dos Ventos
Soul of The Fir e
Faith of The Fallen
The Pil lars of Creation
Naked Empir e
Chainf ir e
Phantom
Confessor