Livro Amazônia Em Tempo_Estudos Climáticos e Socioambientais

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Livro Amazônia Em Tempo_Estudos Climáticos e Socioambientais

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  • Ima Clia Guimares VieiraMrio Augusto Gonalves Jardim

    Edson Jos Paulino da RochaOrganizadores

    estudos climticose socioambientais

    zniaTempO

    emAMA

  • CONSELHO EDITORIAL

    PRPRPRPRPROGRAMA DE PS-GRADUOGRAMA DE PS-GRADUOGRAMA DE PS-GRADUOGRAMA DE PS-GRADUOGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS AMBIENTAO EM CINCIAS AMBIENTAO EM CINCIAS AMBIENTAO EM CINCIAS AMBIENTAO EM CINCIAS AMBIENTAISAISAISAISAIS

    COORDENADOREdson Jos Paulino da Rocha

    VICE-COORDENADORAMaria de Lourdes Pinheiro Ruivo

    SRIE AMASRIE AMASRIE AMASRIE AMASRIE AMAZNIA EM TEMPOZNIA EM TEMPOZNIA EM TEMPOZNIA EM TEMPOZNIA EM TEMPO

    Instituto Nacional de Pesquisas EspaciaisUniversidade Federal do ParMuseu Paraense Emlio GoeldiUniversidade de So PauloUniversidade Federal do ParEmbrapa Amaznia OrientalUniversidade de So Paulo

    Digenes Salas AlvesEdna Maria Ramos de Castro

    Lourdes de Ftima Gonalves FurtadoMaria Assuno Faus da Silva Dias

    Maria Elvira Rocha de SMilton Kanashiro

    Wagner Costa Ribeiro

  • Programa de Ps-Graduao em Cincias Ambientais

    Belm2015

    Ima Clia Guimares VieiraMrio Augusto Gonalves Jardim

    Edson Jos Paulino da RochaOrganizadores

    estudos climticose socioambientais

    zniaTempO

    emAMA

  • Amaznia em tempo: estudos climticos e socioambientais / Ima Clia Guimares Vieira, MrioAugusto Gonalves Jardim, Edson Jos Paulino da Rocha, organizadores. Belm : UniversidadeFederal do Par : Museu Paraense Emlio Goeldi : Embrapa Amaznia Oriental, 2015.462 p.: il.ISBN 978-85-61377-81-6

    1. Amaznia (Brasil) Sustentabilidade Ambiental. 2. Amaznia (Brasil) - Conservao. 3.Amaznia (Brasil) Mudanas globais. 4. Amaznia (Brasil) - Desmatamento. I. Vieira, Ima CliaGuimares. II. Jardim, Mrio Augusto Gonalves. III. Rocha, Edson Jos Paulino.

    CDD 338.9811

    PrPrPrPrProjetojetojetojetojeto Edito Edito Edito Edito EditorialorialorialorialorialIma Celia Guimares Vieira

    Iraneide Silva

    PrPrPrPrProduo Editoduo Editoduo Editoduo Editoduo EditorialorialorialorialorialIraneide Silva

    Angela Botelho

    PrPrPrPrProjetojetojetojetojeto Grfico e Edito Grfico e Edito Grfico e Edito Grfico e Edito Grfico e Editorao Eletrorao Eletrorao Eletrorao Eletrorao EletrnicanicanicanicanicaAndra Pinheiro

    FotFotFotFotFoto da Capo da Capo da Capo da Capo da CapaaaaaAlexander Charles Lees

    (Floresta Nacional do Tapajs)

    RRRRRevisoevisoevisoevisoevisoMrio Augusto Gonalves Jardim

    Ima Celia Guimares VieiraIraneide Silva

    Copyright Programa de Ps-Graduao em Cincias Ambientais, 2015http://www.ppgca.ufpa.br/index.php

  • SumrioSumrioSumrioSumrioSumrio

    CAPTULO 1A Amaznia em tempo de transformaes e desafios:uma viso a partir da Ps-Graduao em Cincias AmbientaisPeter Mann de Toledo, Ima Clia Guimares Vieira, Mrio Augusto G. Jardim,Edson Jos Paulino da Rocha & Andra dos Santos Coelho ................................................ 9

    CAPTULO 2Pesquisa sobre conservao na Amaznia brasileirae a sua contribuio para a manuteno da biodiversidadee uso sustentvel das florestas tropicaisPhilip M. Fearnside .............................................................................................................................. 21

    CAPTULO 3Sinergias de mudanas para uma nova agricultura na AmazniaAlfredo Kingo Oyama Homma ....................................................................................................... 51

    CAPTULO 4A anlise da paisagem a partir do trabalho de campoMrcia Aparecida da Silva Pimentel ............................................................................................. 81

    CAPTULO 5Dinmica de uso e cobertura da terrana rea de Endemismo Tapajs no perodo de 2008 a 2010Mrcia Nazar Rodrigues Barros, Carla Fernanda Andrade Costa,Emily Regina Siqueira Dias, Alessandra Rodrigues Gomes, Amanda Gama Rosa,Rita de Cssia de Morares Franco, Ingrid Vieira, Igor da Silva Narvaes &Marcos Adami ..................................................................................................................................... 101

    CAPTULO 6Sustentabilidade das exploraes florestais na Amaznia:caso conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns, ParIranilda Silva Moraes, Aline Maria Meiguins de Lima, Marcos Adami,Maria Isabel Vitorino & Mrcia Tatiana Vilhena Segtowich Andrade ............................ 123

  • CAPTULO 7Manguezais de Soure, Ilha do Maraj, Par, Brasil:relaes sociais e percepes ambientaisElena Almeida de Carvalho ............................................................................................................ 147

    CAPTULO 8Vulnerabilidade ao fogo de florestas intactas e degradadasna regio de Santarm, ParCarla Daniele Furtado da Costa, Luke Thomas Win Parry,

    Bernard Josiah Barlow & Ima Clia Guimares Vieira ......................................................... 169

    CAPTULO 9Atividades de minerao e avaliao de metaisem gua superficial, sedimento de fundo e peixes no rio TapajsHilciana do Socorro Pereira Oliveira, Silvia Cristina Alves Frana &

    Edson Jos Paulino da Rocha ....................................................................................................... 195

    CAPTULO 10Anlise dos efeitos de chuvas severas no processo de alagamentoe inundao em uma bacia urbana submetida influnciade mar na cidade de Belm, ParFlvio Augusto Altieri dos Santos, Edson Jos Paulino da Rocha &

    Aline Maria Meiguins de Lima ...................................................................................................... 223

    CAPTULO 11Relao entre microclima e padres fenolgicos em CaxiuanLaura Sullen Lisboa Ferreira, Priscila Sanjuan de Medeiros,

    Jos Henrique Cattnio & Fabiano Bulco de Almeida ..................................................... 251

    CAPTULO 12Variao da composio qumica do soloe das folhas de mangue vermelho (Rhizophora mangle L.)em manguezal no nordeste paraenseBruno Delano Chaves do Nascimento, Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo,

    Roseclia Moreira da Silva Castro & Jos Francisco Berrdo .......................................... 279

  • CAPTULO 13A importncia das Unidades de Conservao e Terras Indgenasna conteno do desmatamento na Amaznia Legal brasileiraTassia do Socorro Serra Nunes, Leandro Valle Ferreira &

    Eduardo Martins Venticinque ....................................................................................................... 307

    CAPTULO 14Amaznia atlntica: mudanas e impactosnas praias ocenicas paraensesAdrielson Furtado Almeida ........................................................................................................... 337

    CAPTULO 15Diversidade florstica de palmeiras em duas Unidadesde Conservao da Amaznia OrientalAdriana Paula Silva Souza & Mrio Augusto G. Jardim ...................................................... 357

    CAPTULO 16Morfologia e morfometria de lagos e sua influncianas macrfitas aquticas em Roraima, BrasilMaria das Neves Magalhes Pinheiro ........................................................................................ 379

    CAPTULO 17Aptido agrcola da Terra Indgena Raposa Serra do Sol Roraima e o quadro atual do uso da terra na rea IngarikMrcia Teixeira Falco, Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo &Luiza Cmara Beserra Neta ............................................................................................................ 393

    CAPTULO 18A pesquisa cientfica e sua contribuio na gesto da biodiversidadeem Unidades de Conservao do estado do ParBenedita da Silva Barros ................................................................................................................. 405

    CAPTULO 19Trabalho, natureza e mercado:a dinmica do comrcio de produtos regionais em BelmIraneide Souza Silva & Edna Maria Ramos de Castro ......................................................... 427

    Lista de autores ........................................................................................................................... 457

  • A Amaznia em tA Amaznia em tA Amaznia em tA Amaznia em tA Amaznia em tempo de transforempo de transforempo de transforempo de transforempo de transformaes e desafios: umamaes e desafios: umamaes e desafios: umamaes e desafios: umamaes e desafios: umaviso a pviso a pviso a pviso a pviso a pararararartir da Ptir da Ptir da Ptir da Ptir da Ps-Graduao em Cincias Ambientaiss-Graduao em Cincias Ambientaiss-Graduao em Cincias Ambientaiss-Graduao em Cincias Ambientaiss-Graduao em Cincias Ambientais

    Peter Mann de Toledo, Ima Clia Guimares Vieira, Mrio Augusto G. Jardim,Edson Jos Paulino da Rocha & Andra dos Santos Coelho

    A Amaznia tem se caracterizado por um intenso dinamismo e por umconstante redesenho de seu territrio. A transformao das paisagensamaznicas, reflexo da ltima acelerao de desenvolvimento econmicoglobal ocorrido logo aps a Segunda Guerra Mundial, deixou marcasprofundas no mapa desse bioma. Atualmente essa regio passa por umprocesso complexo de desenvolvimento, a partir do estabelecimento econsolidao de centros urbanos, da criao de redes de conhecimentoe transferncia de bens, da intensa e extensa converso de florestas eoutros ecossistemas naturais em reas de produo agrcola, daimplantao de sistemas de produo de energia hidroeltrica e deexplorao mineral e da implantao de uma rede multimodal detransporte altamente impactante nas paisagens. A lgica e o padro defronteira ainda persistem na regio, como pode ser confirmado pelosindicadores sociais e de bem-estar regional.

    A dualidade entre os processos que pressionam os sistemas naturais eaqueles que tentam organizar a matriz ambiental atravs de reas depreservao uma caracterstica de como a sociedade brasileira semanifesta em relao ao espao amaznico, trazendo para o palco a lgicado modelo de desenvolvimento que implanta infraestrutura a altos custosambientais. O desmatamento da floresta tropical mida, que segue umpadro de ocorrncia na zona de transio entre o cerrado e a floresta,seguindo at a parte central da hilia, configurou-se numa forma de arco.Mais recentemente, a implantao de novas estradas, fomentada pelaprocura de mais reas de especulao fundiria, aumentousignificativamente o estoque de terras para posterior produoagroflorestal, produzindo novos hotspots de desflorestamento eexpanso do desmatamento em direo a reas centrais na regio.

    Por outro lado, as informaes cada vez mais robustas sobre cenriosde mudanas globais com fortes impactos regionais decorrentes deatividades antrpicas de uso e ocupao da terra durante as ltimas

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    dcadas, juntamente com os estudos climticos (Souza & Rocha, 2014),tendem a se intensificar e preocupar pesquisadores e gestores pblicos.Dados sobre mudanas climticas globais mostram que as temperaturasmdias anuais esto aumentando de forma gradativa, e os reflexosdessas dinmicas j podem ser observados nas variaes de fenologiade diversos grupos animais e vegetais. Assim, para entender os padrese processos que influenciam a estruturao da Amaznia preciso aviso de diferentes disciplinas tanto do campo das cincias sociais comonaturais (Santos Jnior, 2014). Esses aspectos abordados so uma fontefrtil para reflexes acadmicas e para atuao das instituies cientficase de ensino, que desempenham um papel importante e de esteio naconsolidao do sistema de capacitao de recursos humanos e deproduo de informao e conhecimento acerca dos problemasambientais oriundos dos padres de ocupao do solo, da dinmicadas cidades e dos impactos no meio ambiente. Se analisarmos aconfigurao da Amaznia brasileira no tocante aos aspectos dedestinao do uso dos diferentes espaos, e de como as diferentesatividades provocam novas configuraes e relaes, observamos emuma viso clara que a Amaznia est destinada expanso dasatividades econmicas e de infraestrutura permeada por centros deocupao j consolidados, todos estes exercendo presses sobre asreas naturais que, em parte, encontram-se protegidas (Figura 1).

    Neste contexto, a nfase em questes interdisciplinares passa a ter umpapel importante na construo de um arcabouo de conhecimento einformao destinados soluo de problemas que envolvam questesambientais atreladas a processos de desenvolvimento econmico erespectivos problemas sociais, em diferentes estgios temporais e escalasde territrio. As questes metodolgicas e os desafios na abordageminterdisciplinar mostram-se de grande interesse para a Amaznia, ejustificam contribuies acadmicas que buscam entender diferentestemticas que hoje dominam a agenda cientfica das cincias ambientais,como a questo dos impactos causados pelas mudanas climticas, aalta taxa de perda da biodiversidade, ou os potenciais econmicos e ocontexto territorial, resultantes dos padres e foras dos usos da terra.

    Como principais pontos de anlise e configurao temtica de pesquisas,os desafios postos para a academia so o de utilizar o enfoqueinterdisciplinar na busca de entendimento dos processos naturais e suas

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    variaes que estejam sob a presso das atividades antrpicas, e entendercomo esses sistemas conseguem manter a resilincia sob o impacto dasperturbaes, em diferentes ciclos e intensidades. Como o estado daarte do conhecimento encontra-se em diferentes fases, dependendo dosavanos e enfoques disciplinares, um equilbrio no nvel de informao econstruo de um arcabouo adequado de dados coletados em umamesma escala de interpretao, necessitam ser estabelecidos a priori.Isso faz com que os temas de pesquisa ainda necessitem de um tempode adaptao e estruturao para se ajustar o dilogo entre as disciplinasdiante de um determinado problema socioambiental complexo, quenecessariamente exige uma reflexo sob um olhar acadmico plural.

    natural e esperado que alguns temas que ainda possam ser consideradosdisciplinares, na verdade so etapas de construo de conhecimento, atque as escalas estejam adequadas e ajustadas para o incio de uma anlisecientfica integrada. Por exemplo, a compreenso dos padres climticosregionais e locais que interferem em questes de sazonalidade e eventosextremos climticos, e que podem causar impactos em assentamentos

    Figura 1. Mapa da Amaznia Brasileira mostrando a complexidade na ocupao e usodo territrio.

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    urbanos, acontece em uma dinmica de evoluo do conhecimentodiferente do entendimento das questes culturais, histricas, escolhas,planejamento e tendncias de parte da sociedade que est sob o efeito detais fenmenos naturais. Calibrar as informaes pertinentes determinadasituao para que a anlise e a abordagem interdisciplinares tornem-semais eficazes, faz parte do processo de construo do conhecimento eestratgia de pesquisa em cincias ambientais. Necessariamente esteprocesso induz ao dilogo entre os agentes produtores de informao, eo conhecimento gerado tende a ser um estado de compreenso maisabrangente, interconectando o entendimento dos fenmenos e criandoum senso comum sobre determinada causa e respectivo efeito. Esteambiente de discusso permite, assim, a viso coletiva por parte do corpodocente e discente nos vrios nveis de formao, fortalecendo o processode pesquisa interdisciplinar.

    A imporA imporA imporA imporA importncia do Prtncia do Prtncia do Prtncia do Prtncia do Programa de Cincias Ambientais (PPograma de Cincias Ambientais (PPograma de Cincias Ambientais (PPograma de Cincias Ambientais (PPograma de Cincias Ambientais (PPGCA) noGCA) noGCA) noGCA) noGCA) nocontcontcontcontcontextextextextexto socioo socioo socioo socioo socioambiental contambiental contambiental contambiental contambiental contemporneo da Amazniaemporneo da Amazniaemporneo da Amazniaemporneo da Amazniaemporneo da Amaznia

    Estamos em uma regio de superlativos e contrastes enormes, tanto doponto de vista ambiental quanto social. Para Toledo (2014), as cinciasambientais passam por um duplo desafio o de correr contra o tempo,com a tarefa de documentar, e o de se deter em profunda reflexo eanlise crtica do seu prprio papel na busca da qualidade de vida e doambiente regional. Assim, esforos multidisciplinares como o PPGCAocupam hoje um espao reconhecidamente importante, principalmentedevido complexidade das questes sobre sustentabilidade econmicae ambiental, e a necessidade da busca de solues para os inmerosproblemas ambientais.

    O estudo dos problemas ambientais da Amaznia com enfoqueinterdisciplinar e integrado no tarefa fcil. Isso significa que oaprofundamento de conceitos, mtodos e tcnicas de pesquisa cientfica,e a formao de recursos humanos para a pesquisa e a docncia nodomnio das Cincias Ambientais exigem um esforo hercleo. OPrograma de Ps-Graduao em Cincias Ambientais (PPCA), aprovadopela CAPES em 2005, foi concebido com o objetivo de formar recursoshumanos especializados no estudo dos problemas ambientais daAmaznia, com foco nas mudanas do uso da terra e do clima que afetam

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    o funcionamento biogeoqumico e fsico da Amaznia e as condiessociais da regio. Foi o primeiro curso de ps-graduao em CinciasAmbientais da regio, adotando a interdisciplinaridade como norteamentodas linhas de pesquisa, igualmente adotada na sua viabilidadeinterinstitucional, por meio da parceria firmada entre trs importantesinstituies cientficas a Universidade Federal do Par, o Museu ParaenseEmlio Goeldi e a Embrapa Amaznia Oriental, reconhecidas por suaatuao cientfica na Amaznia.

    Desde a sua implantao, em agosto de 2005, o PPGCA j formou 114mestres, e neste ano estar formando seus primeiros doutores.

    A preocupao do PPGCA nesta dcada de atuao, alm de construiruma base acadmica slida nas reas de atuao do seu corpo depesquisadores, foi a de capacitar futuros profissionais da academia noenfoque multidisciplinar, voltados a entender e a refletir sobre a regio.

    Para integrar as dimenses inerentes s relaes sociedade-natureza foramestabelecidas duas linhas de pesquisa. A primeira, Fsica do Clima, tratados fatores fsicos do clima interferindo e sofrendo interferncia doecossistema natural, e a compreenso das interaes com as sociedades,levando-se em conta a multiplicidade das causas e efeitos que influenciamnas mudanas dessas relaes, decorrentes dos processos dedesenvolvimento. A segunda, Ecossistemas Amaznicos e DinmicasSocioambientais, trata da anlise das dinmicas complexas estabelecidasentre o meio ambiente e os grupos sociais, atravs dos impactosecolgicos, sociais e econmicos desencadeados pelo desenvolvimentoagrcola e industrial, alm da insero das grandes cidades neste contexto.Dessa forma, optou-se por criar um ambiente acadmico apropriado reflexo sobre a relao da sociedade com o meio ambiente amaznico,tanto em escala regional quanto global.

    O reconhecimento obtido e a posio de liderana que o PPGCA exercena rea das cincias ambientais no contexto regional, e porque no dizernacional, vem exigindo um esforo redobrado para atender s expectativasgeradas por esse processo. A evoluo do Programa notria, e podemoscitar diversos avanos, como o incremento do processo deinternacionalizao, por meio da cooperao do sistema OEA para seleode estudantes da frica e da Amrica latina; a promoo de eventoscientficos; o aumento do nmero de publicaes e, principalmente, asua insero social e nas polticas pblicas.

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    Estrutura do LivrEstrutura do LivrEstrutura do LivrEstrutura do LivrEstrutura do Livrooooo

    Este primeiro volume da srie Amaznia em Tempo apresenta artigosde referncia de pesquisadores convidados e o conhecimento geradopor discentes do PPGCA, juntamente com seus orientadores, e pordoutorandos do Programa de Biodiversidade e Biotecnologia da RedeBionorte e do Ncleo de Altos Estudos Amaznicos (NAEA), que possuemexpressividade nos estudos que tratam de temas que envolvem questespertinentes s Cincias Ambientais e reas afins (Figura 2).

    Figura 2. Estrutura do livro destacando os ttulos dos artigos de referncia e dos artigosproduzidos a partir de dissertaes e teses.

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    O mtodo de representao em nuvem de palavras contempla as palavrasmais frequentes nos ttulos dos captulos do livro (Figura 3) e reflete anfase regional das temticas de estudo, alm de capturar a diversidadede temas inerentes s pesquisas em cincias ambientais e reas afins. Seformos observar a produo oriunda do Programa PPGCA (http://www.ppgca.ufpa.br) e compararmos com o conhecimento presente nosdiversos captulos deste livro, podemos concluir que as questes sobresustentabilidade e conservao dos ambientes so dominantes na visodos autores, e secundrias nos grupos de pesquisa em que eles estoinseridos. Outro ponto que cabe salientar a mescla entre temticasligadas s cincias naturais com as cincias sociais, demonstrando que areflexo sobre e a soluo de problemas ambientais na Amaznia passaprimordialmente pelo dilogo entre esses dois campos do conhecimentocientfico (Vieira et al., 2014).

    Figura 3. Nuvem de palavras com os temas mais frequentes dos captulos do livro.

    Para o entendimento e busca de solues para as questes associadasaos efeitos dos impactos antrpicos nos ecossistemas amaznicos necessrio construir um volume de informaes ecolgicas esocioeconmicas, alm de abordagens em biologia da conservao, deforma a buscar argumentos slidos sobre a viso crtica do modelo dedesenvolvimento adotado na regio. Construir um arcabouo slido eintegrado de polticas pblicas voltadas s atividades de produo e s

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    aes de conservao dos processos naturais nas vrias escalas, doorganismo ao bioma, o grande desafio da sociedade moderna.

    Assim, Philip Fearnside apresenta a sua viso sobre o papel da cinciacomo motor de crticas e sugestes aos impactos e suas solues para osprojetos de infraestrutura na Amaznia, com olhar interdisciplinar, paraentender as complexas relaes de interesses que hoje circulam na regio.Assim como mostrado na figura 1, o palco das tenses na Amaznia multiescalar, s vezes sobrepostas e relacionadas, e o autor analisa ascausas e efeitos desses processos para o bem-estar ambiental.

    Com uma viso mais focada sobre a otimizao dos recursos e uso doconhecimento sobre as possibilidades de produo agrcola, AlfredoHomma analisa a dinmica das atividades rurais para os sistemas de florestaspreservadas e as reas de produo. O autor refora a necessidade decompatibilizar escalas de produo, avaliao dos impactos positivos enegativos das atividades econmicas na Amaznia, alm de estabeleceruma viso de mdio e longo prazo sobre os desenhos dos territrios nalgica da sustentabilidade econmica e ambiental, em bases slidas deinformao e conhecimento providos pela academia.

    Como parte fundamental do processo de pesquisa cientfica sobrequestes amaznicas, as atividades de coleta de informaes em campode forma adequada e eficiente ocupa uma posio de destaque. Comeste mote, Mrcia Pimentel demonstra a importncia do entendimentodos processos de pesquisa de campo, suas correlaes com o avanodo conhecimento, alm de apresentar um roteiro de orientaes paraas atividades de campo.

    Os trabalhos do corpo discente e docente do PPGCA nesta obra iniciamcom o estudo de Mrcia Barros e colaboradores sobre as dinmicas deuso e cobertura numa rea de endemismo da Amaznia Oriental. Estetrabalho tem como pano de fundo uma viso da biogeografia, que incluiinformaes dos processos evolutivos da biota circunscrita a umadeterminada regio geogrfica de interflvio, incorporando informaessobre os processos histricos e padres de ocupao dos espaos naconstruo de territrios agrcolas. As anlises efetuadas com base emmtodos de sensoriamento remoto demonstram o mosaico dos espaosde produo e conservao, que so fundamentais para a avaliao esubsdio de polticas pblicas sobre a sustentabilidade dos espaos ruraisna Amaznia.

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    Na mesma linha de pesquisa, utilizando os sistemas de informaesgeogrficas como subsdios das anlises das atividades humanas,Iranilda Moraes e colaboradores apresentam um estudo focado noimpacto da explorao madeireira. Suas anlises permitem avaliarquestes importantes sobre a emisso de gases de efeito estufa, pelosestoques de carbono incorporados na madeira explorada, assim comoavaliar a importncia do conhecimento cientfico para a melhoria domanejo de recursos, com enfoque na sustentabilidade.

    A viso sobre o papel do conhecimento tradicional nos vrios ecossistemasda Amaznia parte do componente e universo de anlise em estudosvoltados sustentabilidade ambiental. Integrar informaes dos camposdas cincias sociais e naturais ainda um desafio nas vrias esferas dotrabalho interdisciplinar. Neste contexto que Elena Carvalho apresentainformaes e interpretaes relevantes sobre a interao homem-ambienteem uma Reserva Extrativista na costa paraense, contribuindo para umaviso mais integradora sobre o papel e viso das comunidades pesqueirase a dimenso ecolgico-econmica do uso dos recursos naturais.

    Entender a dimenso do impacto das atividades antrpicas em suasdiferentes escalas no meio ambiente amaznico exige um enfoqueinterdisciplinar, no apenas para mensurar suas causas e efeitos, nas parainserir o fenmeno estudado num contexto histrico-econmico. Comisto, as anlises so mais robustas, e a busca e eficcia das solues depossveis impactos tornam-se mais positivas. Carla Costa e colaboradoresapresentam um estudo usando diferentes tcnicas e enfoques disciplinaressobre as queimadas e sua vulnerabilidade em florestas da regio do MdioAmazonas. Um dos aspectos salientados na anlise a importncia dasboas prticas de uso e manejo do fogo nas reas de produo, visandominimizar os impactos em sistemas florestais naturais e matas secundrias.

    O papel desempenhado pelo sistema de produo mineral expressivona economia regional da Amaznia. Pelas suas dimenses e abrangnciaterritorial, os impactos ambientais so igualmente relevantes. Estudossobre os efeitos desta atividade so desenvolvidos em vrias frentes doconhecimento cientfico, onde a viso interdisciplinar novamenteapresenta uma vantagem para entender o sistema, seus impactos epropor solues de mitigao. Hilciana e colaboradores constroem umcorpo de informaes sobre o comportamento do mercrio nos sistemasfsico e biolgico na regio do Mdio Amazonas. Estes trabalhos so

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    fundamentais para monitorar os impactos da atividade mineradora, almde contribuir para o entendimento dos efeitos do acmulo dos resduosqumicos produzidos pela extrao artesanal de ouro no ambiente.

    As mudanas climticas globais tm sido o foco dos estudos de um grandesegmento da academia, voltado ao entendimento das cincias do sistematerrestre. As variaes sazonais de temperatura e precipitao, e os eventosclimticos extremos causam efeitos de escala diferenciada em diversasregies do globo. Especificamente na Amaznia, onde parte significativada populao habita em assentamentos precrios ou de infraestruturaurbana no adequada, entender os efeitos dos extremos climticos umprocesso importante de contribuio cientfica para subsidiar polticaspblicas. Neste sentido, Flvio Santos e colaboradores apresentam umestudo abrangente da bacia hidrogrfica urbana da maior metrpoleamaznica, utilizando mtodos interdisciplinares no mapeamento dasreas crticas sujeitas a alagamentos e inundaes na cidade de Belm.

    A compreenso dos fenmenos ecolgicos em ambientes naturais fazparte de uma etapa inicial na busca do entendimento dos impactos dasmudanas climticas globais nos ecossistemas. A interpretao dasrelaes planta-solo-clima est no centro do processo de pesquisa sobreas alteraes ambientais e a resposta da biota a essas mudanas. LauraFerreira e colaboradores contribuem neste campo do conhecimentotrazendo dados sobre a influncia das variaes climticas nos padresfenolgicos de vrias espcies vegetais e de fungos.

    Com um mesmo enfoque sobre o estudo em escala local dos fenmenosassociados relao planta-solo, Bruno Nascimento e colaboradoresanalisam o papel do ciclo de nutrientes em manguezais. A compreensodo comportamento e resposta dos organismos em diferentes perodosclimticos contribui na aferio dos limites de resilincia s possveismudanas ambientais. Com o foco de anlise em reas de manguezal,ambientes essenciais para o funcionamento e equilbrio dos ecossistemasaquticos e terrestres adjacentes, contribui para o arcabouo doconhecimento do sistema natural, que um aspecto relevante paraestudos do sistema terrestre.

    Como apontado anteriormente neste texto, a tomada de deciso sobrequestes ambientais que influenciam na composio do territrio,relacionadas s reas de conservao versus uso para produo agropastoril,depende de um amplo espectro de estudos. Com relao s Unidades de

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    Conservao, Tssia Nunes e colaboradores analisam o impacto dodesmatamento nesses espaos destinados conservao e analisam asituao e eficcia das aes adotadas para conter os avanos de supressoflorestal em diferentes locais na Amaznia. Anlises de amplitude regionaltrazem as questes da coordenao das polticas ambientais em larga escala.Estudos nesta direo contribuem para o esclarecimento e avaliao crticadas polticas de desenvolvimento e reflexo sobre a importncia daAmaznia para a sustentabilidade no mbito nacional.

    No contexto da conservao e sustentabilidade, Adrielson Furtado discorresobre as principais mudanas ocasionadas pelas polticas pblicasdesenvolvimentistas e seus impactos socioambientais e econmicos naCosta Atlntica Paraense nos ltimos 50 anos, com nfase nas praias deAjuruteua (Bragana), Atalaia (Salinoplis) e Crispim (Marapanim). Oestudo aponta que o potencial para diversos usos, a carncia de estudosdetalhados e o descumprimento de normas jurdicas ambientais pelopoder pblico e privado contriburam para essas mudanas e os impactosambientais, econmicos e sociais, principalmente em decorrncia daabertura de estradas, urbanizao e turismo predatrio.

    Visando ampliar e evidenciar a interdisciplinaridade na rea de CinciasAmbientais, associada a temas e abordagens de reas afins, realizadadaspor doutorandos sob a orientao de docentes do PPGCA que atuamem outros programas, temos os trabalhos de Adriana Paula Souza, queapresenta a avaliao florstica e os padres ecolgicos de palmeirasem duas Unidades de Conservao urbanas. A anlise de Maria dasNeves Pinheiro sobre a influncia da morfologia e da morfometria doslagos como indicadores de conservao ambiental das macrfitasaquticas. O estudo de Mrcia Falco e colaboradores sobre a aptidoagrcola em terras indgenas no estado de Roraima. O trabalho deBenedita Barros apresenta um panorama das pesquisas desenvolvidasno mbito de instituies de ensino superior e de cincia e tecnologiae suas contribuies na gesto da biodiversidade em Unidades deConservao do estado do Par. Finalizando a coletnea, o trabalho deIraneide Silva e Edna Castro tratam da dimenso econmica dasociobiodivesidade ao investigar as formas de organizao do trabalhoe de gerao de renda nos fluxos comerciais de produtos florestais nomadeireiros de valor alimentar, medicinal, ornamental, artesanalinseridos no mercado local de Belm (PA) e seus reflexos na reproduosocial de segmentos urbanos.

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    RRRRRefereferefereferefernciasnciasnciasnciasncias

    Santos Jnior, R. A. O. 2014. Notas sobre o dualismo sociedade/natureza e o papel dascincias sociais na questo ambiental. In: Vieira, I. C. G.; Toledo, P. M.; Santos, R. A. O.(Orgs.). AmbientAmbientAmbientAmbientAmbiente e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia uma abordagem interdisciplinar. SoPaulo: Garamond, p. 79-100.

    Souza, E. B.; Rocha, E. J. P. 2014. Climatologia, variabilidade e tendncias do clima atualna Amaznia e em cenrios futuros de mudanas climticas. n: Vieira, I. C. G.; Toledo, P.M.; Santos, R. A. O. (Orgs.). AmbientAmbientAmbientAmbientAmbiente e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia uma abordageminterdisciplinar. So Paulo: Garamond, p. 295-312.

    Toledo, P. M. 2014. Interdisciplinaridade: aspectos tericos e questes prticas. In: Vieira,I. C. G.; Toledo, P. M.; Santos, R. A. O. (Orgs.). AmbientAmbientAmbientAmbientAmbiente e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia umaabordagem interdisciplinar. So Paulo: Garamond, p. 25-51.

    Vieira; I. C. G.; Toledo,P. M.; Santos Jnior, R. A. O. 2014. Interdisciplinaridade e os estudodas questes socioambientais da Amaznia. n: Vieira, I. C. G.; Toledo, P. M.; Santos, R. A.O. (Orgs.). AmbientAmbientAmbientAmbientAmbiente e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia e e sociedade na Amaznia uma abordagem interdisciplinar. SoPaulo: Garamond, p. 13-21.

  • PPPPPesquisa sobresquisa sobresquisa sobresquisa sobresquisa sobre consere consere consere consere conservvvvvao na Amaznia brasileira e aao na Amaznia brasileira e aao na Amaznia brasileira e aao na Amaznia brasileira e aao na Amaznia brasileira e asua contribuio psua contribuio psua contribuio psua contribuio psua contribuio para a manutara a manutara a manutara a manutara a manuteno da biodiveno da biodiveno da biodiveno da biodiveno da biodivererererersidadesidadesidadesidadesidade

    e uso suste uso suste uso suste uso suste uso sustentventventventventvel das florel das florel das florel das florel das florestas trestas trestas trestas trestas tropicaisopicaisopicaisopicaisopicais

    Philip M. Fearnside

    RESUMO

    A pesquisa sobre a conservao tem um papel importante na manuteno dabiodiversidade e em opes de uso sustentvel na Amaznia. No entanto, a pesquisainterage com os tomadores de deciso e a sociedade civil sobre como as escolhasde desenvolvimento so feitas, e o processo de deciso muitas vezes no guiadopor prioridades identificadas atravs da pesquisa. Oportunismo, por exemplo, nacriao de reas protegidas, frequentemente precipita a ao de conservao. Noentanto, a existncia de investigao desempenha um papel essencial nofornecimento da justificao para proteo quando surgem oportunidades. Em algunscasos, a pesquisa pode induzir as reas em estudo ao status de protegida e podeclassificar a prioridade cientfica de reas para proteo da biodiversidade. Ela tambmpode ajudar a quantificar os benefcios de conservao para outros serviosambientais, tais como o armazenamento de carbono e a ciclagem de gua. Estesservios ambientais so importantes como base potencialmente sustentvel eambientalmente benfica para a populao rural na Amaznia, em contraste com aeconomia atual que baseada quase inteiramente na destruio da floresta. O ritmoda destruio rpido, apesar de declnios nas taxas de desmatamento no Brasildesde 2004. O desmatamento est longe de ser controlado, e a degradao florestalest ainda mais distante desse ideal. A reduo pela queda da taxa de perda defloresta entre 2004 e 2008 praticamente todo explicado pelo declnio temporrionos preos das commodities, enquanto grande parte do declnio desde 2008 dependente de medidas que poderiam ser revertidas por uma mera canetada. Umgrupo poltico poderoso ruralista, que representa o agronegcio e grandesproprietrios de terras, est pressionando para fazer exatamente isso. O governobrasileiro tambm tem grandes planos para estradas, barragens e outrasinfraestruturas que implicam em maior desmatamento. A pesquisa em conservaotem um lugar chave para ajudar a quantificar os custos ambientais, sociais eeconmicos da destruio da floresta, antes que seja tarde demais para evitar o piordesses impactos. A pesquisa tambm importante na identificao do modo emque as florestas tropicais so mantidas ou perdidas como resultado de decisescomo a criao de reas protegidas de diferentes tipos, a construo de projetos deinfraestrutura e a implementao de vrias intervenes de polticas pblicas paradesencorajar o desmatamento e incentivar alternativas sustentveis.

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    IntrIntrIntrIntrIntroduo: conseroduo: conseroduo: conseroduo: conseroduo: conservvvvvao ao ao ao ao vvvvvererererersus sus sus sus sus destruio na Amazniadestruio na Amazniadestruio na Amazniadestruio na Amazniadestruio na Amaznia

    A histria da pesquisa de conservao na Amaznia brasileira contmmuitas lies para outras reas tropicais, e oferecem alguns exemplosde casos de sucesso que podem ser aplicados em outros lugares paraevitar erros. A bacia amaznica cobre 7.003.067km2, dos quais 67,9%esto no Brasil, 9,8% na Bolvia, 8,8% no Peru, 1,6% no Equador e 6,4%na Colmbia; alm disso, uma regio conhecida como grandeAmaznia, com condies ambientais semelhantes, engloba partes daVenezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (Mardas et al., 2013).

    No Brasil, a rea administrativa denominada Amaznia Legal, de 5 106 km2, foi estabelecida desde 1953, abrangendo a totalidade ou partede nove estados (Figura 1). Vrios incentivos fiscais, programas dedesenvolvimento e normas ambientais se aplicam a esta rea. Cerca detrs-quartos da Amaznia Legal originalmente foram cobertos pelafloresta amaznica (ou seja, na poca que os europeus chegaram aoBrasil em 1500). O quarto restante , principalmente, vegetao decerrado. At 2004, as aes de conservao do Brasil na Amazniainvariavelmente se aplicavam Amaznia Legal, mas muitas das aesdesde ento tm se aplicado preferivelmente ao Bioma Amaznia. OInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) oficialmente, divideo pas em seis biomas: Amaznia, Cerrado, Mata Atlntica, Caatinga,Pampase Pantanal (Brasil, IBGE, 2012). O Bioma Amaznia abrange4.196.943 km2 (Brasil, IBGE, 2004). Alm de floresta, 4% da rea devegetao original era composta por vrios tipos no florestais devegetao, principalmente savanas amaznicas. A maior rea de savanaamaznica o lavrado, em Roraima (Barbosa et al., 2007).

    O primeiro monitoramento por satlite do desmatamento cobriu afloresta na Amaznia Legal brasileira em 1978, e tem sido anual desde1988 (com a nica exceo de 1994).

    O monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE) desde 1988 por imagens LANDSAT-TM com resoluo espacialde 30 m (embora seja degradada at uma resoluo de 60 m para calculara rea desmatada). Desde 2014, o Programa de Monitoramento doDesflorestamento na Amaznia (PRODES) est sendo estendido paracobrir o Cerrado, incluindo tanto o Cerrado dentro da Amaznia Legale o restante do Bioma Cerrado. Em alguma data futura a cobertura ser

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    Figura 1. Amaznia brasileira com locais mencionados no texto.

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    estendida para os outros quatro biomas brasileiros. O lanamento e ainterpretao dos dados do Programa PRODES foram objeto de diversosproblemas e presses polticas no passado (Fearnside, 1997a), mas nosltimos anos o programa tem sido muito mais transparente. O Brasilest muito frente de outros pases tropicais em capacidade demonitoramento por satlite, e isto fundamental nos esforos paracompreender e controlar o desmatamento na Amaznia.

    O ritmo de destruio da floresta amaznica rpido (5.843 km2/anoem 2013), apesar de um declnio na taxa de desmatamento anual doBrasil em um total de 79% desde 2004. O desmatamento est longe deser controlado, e a degradao florestal est ainda mais distante desseideal. A reduo da taxa de perda de floresta entre 2004 e 2008 foipraticamente explicada pela queda temporria dos preos dascommodities (Assuno et al., 2012), enquanto que muito do declniodesde 2008 dependente de medidas que poderiam ser revertidas poruma meracanetada. Como ser explicado mais adiante, um grupopoltico poderoso ruralista, que representa o agronegcio e grandesproprietrios de terras, est pressionando para fazer exatamente isso.O governo brasileiro tambm tem grandes planos para estradas,barragens e outras infraestruturas que implicam em maiordesmatamento (Fearnside, 2014a, b).

    OporOporOporOporOportunismo tunismo tunismo tunismo tunismo vvvvvererererersussussussussus priorizao cientfica priorizao cientfica priorizao cientfica priorizao cientfica priorizao cientfica

    A proteo da biodiversidade requer uma interao entre a comunidadecientfica e grupos de vrios tipos: os tomadores de deciso responsveispela criao e manuteno de reservas e os grupos ou indivduos nasociedade civil, cujas demandas e presso so, em maior ou menormedida, refletidas em aes de governo. Em alguns casos, as empresasprivadas podem representar uma influncia adicional, mas a influnciade grupos empresariais muitas vezes negativa, influenciando governospara bloquear a criao de reservas (como refletido nas atuais propostaslegislativas por ruralistas no Congresso Nacional brasileiro). As decisesdo governo, tanto em nvel nacional e subnacional, geralmente so achave para a criao de reservas. Apesar da urgncia da criao de reasprotegidas antes que a oportunidade seja perdida na prtica, a criaode novas reas tem sido praticamente paralisada desde 2008, em nvelfederal e estadual.

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    O papel da pesquisa importante, mas as muitas chamadas para ostomadores de deciso ouvirem os pesquisadores no refletem anatureza da interao entre esses grupos. A pesquisa necessria paraidentificar os valores da biodiversidade em reas que podem serconvertidas em reservas, bem como para a estimativa de outros serviosambientais (tais como o armazenamento de carbono e a ciclagem degua) e do grau de ameaa que afetam cada rea. Uma linha de pesquisaem priorizao cientfica de potenciais reservas se encontra emandamento h anos.

    Em 1979, o departamento de parques nacionais do Brasil, ento umaparte do Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal (IBDF), adotouuma abordagem sistemtica para priorizao com base na identificaodos tipos de vegetao que careciam de proteo (Pdua & Quinto,1982). O levantamento indicou os tipos desprotegidos de vegetao naAmaznia Legal, mas quando se percebeu que cerca de dois teros docusto para proteger essas reas seria apenas no Estado de Mato Grosso,onde o desmatamento era bem avanado e a obteno de terras parareservas seria muito cara, a deciso foi simplesmente para no criarreservas em Mato Grosso e usar os recursos disponveis para reservasem outros lugares na Amaznia Legal.

    Em 1990, a organizao no governamental (ONG) ConservaoInternacional organizou um seminrio em Manaus (Workshop 90) parasistematizar a opinio de especialistas e os dados disponveis sobreprioridades para a criao de reas protegidas na Amaznia brasileira(Rylands, 1990). Uma anlise de lacunas utilizou as ferramentasrecentemente disponveis de sistemas de informao geogrfica (GIS)para estimar a rea protegida e desprotegida de cada tipo de vegetaoem cada estado da Amaznia Legal, com base no mapa de vegetao doBrasil, em escala 1:5.000.000 (Fearnside & Ferraz, 1995). O exerccio indicouuma srie de reas candidatas para proteo, com o objetivo de protegeralguma parte de cada tipo de vegetao em cada um dos nove estadosda regio. As reas escolhidas tentaram minimizar o nmero de reservaspara alcanar este objetivo, escolhendo os locais onde ocorrem mais deum tipo de vegetao desprotegida nas proximidades. As escolhastambm procuravam evitar conflitos e obstculos conhecidos. Umaconsiderao adicional foi sugerida por Peres e Terborgh (1995) em umaproposta que iria organizar as prioridades por bacia hidrogrfica e darnfase s reas que sejam mais defensveis do ponto de vista de acesso

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    fsico. O tamanho das reservas tambm importante, e muitasconsideraes sobre a biodiversidade exigem grandes reas contnuas(Peres, 2005).

    Em 1995, a Agncia dos EUA para o Desenvolvimento Internacional(USAID) contratou a World Wildlife Fund (WWF-US) para produzir umranqueamento para a prioridade de conservao na Amrica Latina e oCaribe, que foi publicado pelo Banco Mundial (Dinerstein et al., 1995).Alm do nmero de espcies (riqueza de espcies) e outros ndices dediversidade de espcies dentro de um determinado habitat (diversidadealfa), o ranking leva em conta a diversidade beta, ou a substituio dasespcies ao longo de gradientes ecolgicos. A diversidade beta variaconsideravelmente em toda a Amaznia, sendo mais alta perto dosAndes e diminuindo na medida em que se desloca em direo leste(Steege et al., 2003, 2006). Vrios critrios alm da diversidade tambmforam aplicados para dar prioridade s reas ameaadas e aosecossistemas que so exclusivos ou precisam de proteo para conseguiruma representao regional. O resultado foi que mais florestasamaznicas tinham suas prioridades reduzidas, em deferncia aosecossistemas ameaados em outros lugares (Fearnside, 1997b, 2013a).

    Em 1999, foi convocada uma reunio em Macap que reuniu 220pesquisadores, ambientalistas e outros profissionais para sugerirprioridades para reas protegidas (ISA et al., 1999; Capobianco et al.,2001). Mapas de prioridades foram preparados para diferentes grupostaxonmicos. A falta de conhecimento a respeito de grandes reasgeogrficas para alguns grupos resultou em reas pouco estudadas,sendo atribudas prioridade como medida de precauo. O problemada densidade de coleta muito desigual para amostragem dabiodiversidade, como refletido, por exemplo, por exicatas botnicas, um aspecto persistente no mapeamento da biodiversidade, em locaisprximos de importantes centros de pesquisa, como Manaus e Belm,inevitavelmente identificados como altamente biodiversos, enquantoreas mal coletadas em outros lugares so indicadas como menosbiodiversas (Nelson et al., 1990). Atribuir prioridade para reas poucoconhecidas representa uma tentativa de combater esse vis. O nmerode reas identificadas na reunio de Macap foi muito grande, emcomparao com recursos financeiros e vontade poltica para a criaodas reservas: 265 reas de prioridade extrema e 105 reas de

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    prioridade muito alta. As prioridades de Macap se tornaram a basepara o Programa Nacional de Diversidade Biolgica (PRONABIO)(Albernaz & De Souza, 2007; Brasil, MMA, 2002).

    Em 2000, um trabalho realizado por Norman Myers e colegas props oshotspots (pontos quentes) como uma base para o estabelecimentode prioridades de conservao global (Myers et al., 2000), assim comona classificao de Dinerstein et al. (1995) foi dada prioridade extra aosecossistemas com base no grau de ameaa. O Cerrado e a Mata Atlnticado Brasil foram classificados como hotspots, mas a Amaznia no.

    Uma anlise da vegetao no Bioma Amaznia feita por LeandroFerreira usando GIS (Ferreira, 2001; Ferreira et al., 2001, 2008) temsido fundamental para prover justificativa para a criao de reasprotegidas, especialmente aquelas sob proteo integral. Este foi umargumento chave levando criao do Parque Nacional Tumucumaqueem 2002 no estado do Par, na fronteira do Brasil com o Suriname.Com 38.874 km2, hoje o maior do Brasil. Algoritmos de priorizaode conservao desenvolvidos na Austrlia por Robert Pressey (porexemplo, Pressey et al., 1996) foram aplicados para a vrzea no Parpor Albernaz et al. (2007).

    Um anncio presidencial em 1998 divulgou a criao do projeto reasProtegidas da Amaznia (ARPA), que inicialmente era conhecido comoPROAPAM (Programa para Expanso das reas de Proteo Ambiental)(Fearnside, 2003). O programa estabeleceu uma meta de proporcionarproteo integral para 10% de cada ecossistema, esta percentagemincluindo reas ncleo delimitadas nos planos de gesto para unidadesde conservao na categoria de uso sustentvel. O anncio presidencialde uma meta de 10% foi uma resposta a uma chamada para esse objetivopelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Internacional) e o BancoMundial, como parte da campanha Florestas para a Vida. O programafoi importante em estimular a criao de reservas, e os objetivos deporcentagem foram cumpridos em grande parte na Amaznia. As reasprotegidas no programa ARPA foram importantes na reduo da perdade floresta (Soares-Filho & Dietzsch, 2008; Soares-Filho et al., 2010).

    Alm dos esforos em larga escala no mapeamento e priorizao, aexistncia de estudos de campo sobre a biodiversidade e os processosecolgicos em locais especficos, s vezes podem fazer com que locais

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    de estudo ganhem status de protegidos. Um exemplo a rea do ProjetoDinmica Biolgica de Fragmentos Florestais (BDFFP), ao norte deManaus, onde este projeto em grande escala realizado pela SmithsonianInstitution e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia (INPA) temtrabalhado desde 1979 (Bierregaard et al., 2001; Laurance & Bierregaard,1997; Laurance & Peres, 2006). Um exemplo muito menor onde apresena de pesquisa contribuiu a Reserva de Pesquisa Ecolgica deOuro Preto do Oeste, do INPA, localizada em uma rea fortementedesmatada no estado de Rondnia (Fearnside, 1984).

    A pesquisa importante na identificao de lacunas na proteo dabiodiversidade e dos valores relativos de uma rea contra outra. Noentanto, a deciso real para criar uma rea protegida , frequentemente,o resultado de oportunismo, ao invs de ser dirigida para uma rea deprioridade especial identificada pela pesquisa. Um exemplo daimportncia da pesquisa em fornecer a justificativa para transformaruma oportunidade em uma reserva, na realidade, evidenciado pelasseis reservas criadas na Terra do Meio (sem considerar reas deproteo ambiental, ou APAs, que tm proteo insignificante). A Terrado Meio uma rea no Par central do tamanho da Sua, que tempermanecido, em grande parte, fora do controle do governo brasileiro(por exemplo, Escada et al., 2005; Taravella, 2008). A oportunidade surgiuem 2005, na sequncia do assassinato da irm Dorothy Stang, que foiuma missionria catlica defensora dos pobres e do meio ambiente narea de Anapu, Par, na Rodovia Transamaznica. Ela foi assassinadapor um pistoleiro contratado por fazendeiros locais (mais tardecondenados). O pico momentneo da preocupao pblica com oambiente na Amaznia nas semanas seguintes abriu uma oportunidadede criar reservas na Terra do Meio. Um estudo j havia sido preparadopelo Instituto Socioambiental (ISA) propondo um mosaico de reasprotegidas da Terra do Meio (ISA, 2003), mas a proposta no tinha sidoimplementada porque foi considerada politicamente invivel. Uma vezpossuindo a justificativa tcnica na mo, no momento crtico foi possvelcriar as reservas. A existncia dos estudos torna possvel correr com abola quando a tiver. As reas protegidas parecem ter tido algum efeitoem evitar o desmatamento e desencorajar a grilagem, ou seja, aapropriao ilegal de terras por grandes fazendeiros e especuladores(Da Silva & Silva, 2013).

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    Fraqueza de pFraqueza de pFraqueza de pFraqueza de pFraqueza de parararararques e rques e rques e rques e rques e reseresereseresereservvvvvasasasasas

    A maioria das pessoas assume que, uma vez que criada uma reaprotegida, ela estar l para sempre. Infelizmente, isso no necessariamente o caso, e o governo pode totalmente ou parcialmenteextinguir reservas com relativa facilidade. Talvez o caso mais conhecidono Brasil seja a extino do Parque Nacional das Sete Quedas, paraabrir caminho para o projeto hidreltrico de Itaipu em 1982, entre outrosexemplos (e.g., Fearnside & Ferreira, 1984). Mais recentemente, em 2012,algumas partes foram cortadas do Parque Nacional da Amaznia e decinco outras reas protegidas para remover impedimentos s barragensplanejadas na bacia do rio Tapajs, no Par. Essas reas protegidas foramreduzidas por decreto presidencial temporrio (MP 558, de 06 de janeirode 2012), que mais tarde foi promulgada em lei (n. 12.678/2012), emjulho de 2012. As reas protegidas foram reduzidas antes que fossemcompletados os Estudos de Viabiliade das barragens, e muito menos oEstudo de Impacto Ambiental (EIA), licenciamento e aprovao. Removerpartes das reservas sem estudos e consultas viola tanto a ConstituioBrasileira como a legislao ambiental (Arajo et al., 2012).

    As reas indgenas so essenciais para a manuteno da biodiversidade,e defender a sua integridade , portanto, uma questo central. O sucessorelativamente grande de reas indgenas na resistncia contra odesmatamento no tanto devido defesa ativa pelos povos indgenas,apesar de sua presena ser uma caracterstica importante, e mais eficazdo que guardas empregados pelo Governo. O que impede que reasindgenas sejam invadidas , principalmente, a suposio por invasoresem potencial de que aqueles que tentam invadir as reas no serobem-sucedidos na obteno de um ttulo de terra. Se fosse mudar essapercepo para uma de impunidade, como o caso da maior parte dasterras pblicas na Amaznia, o resultado seria desastroso para os povosindgenas e para a biodiversidade. Infelizmente, houve alguns eventosque contriburam para uma mudana nas percepes. Um deles ocaso da Terra Indgena Ba, no Par. Os invasores nas proximidades daRodovia BR-163 (Santarm-Cuiab) invadiram parte da reserva e, emvez de serem sumariamente removidos sem compensao, comoteoricamente seria a poltica do governo, estes foram recompensadospor terem invadido a rea e as suas posses foram legalizadas (verFearnside, 2007). Uma questo-chave neste momento o caso da Terra

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    Indgena Raposa/Serra do Sol, em Roraima. Uma parte da rea tinhasido ocupada por agricultores de arroz em grande escala, que, depoisde uma batalha judicial, h muito tempo, finalmente foram removidosem 2013, aps um vdeo de violncia contra os ndios por jagunoscontratados pelos agricultores, que se tornou um escndalo nacional.Os ruralistas nas principais reas de produo de soja do Brasil apoiamos agricultores de arroz que foram expulsos da Terra Indgena (e. g.,Mazui, 2013), e continuam se esforando para recuperar a rea atravsda crescente influncia poltica da bancada ruralista.

    RRRRRecuperao de recuperao de recuperao de recuperao de recuperao de reas degradadas eas degradadas eas degradadas eas degradadas eas degradadas vvvvvererererersussussussussus pr pr pr pr protototototeo da floreo da floreo da floreo da floreo da florestaestaestaestaesta

    Convocaes para mais aes pela recuperao de reas degradadas socomuns nas discusses sobre a Amaznia e os impactos do desmatamento.Embora as cabeas sempre acenem de acordo quando esta pedra detoque mencionada, uma considerao mais cuidadosa desta opo necessria no caso da Amaznia. A maior parte da floresta da Amazniabrasileira ainda est de p, embora uma parcela significativa do que sobroutem sido submetida a alguma forma de distrbio recente. A rea de florestadesmatada at 2013 totalizou 765.354 km2 (Brasil, INPE, 2014), ou 19,8%dos 3,87 milhes de km2 originalmente florestados entre os 5 milhes dekm2 da Amaznia Legal. Evitar a destruio da floresta restante tanto quantopossvel, deve ser a primeira prioridade, e as oportunidades para fazerisso por meio da criao de reas protegidas so altamente dependentesdo tempo, aumentando rapidamente a dificuldade de criar essas reas namedida em que a ocupao avana. O custo financeiro da recuperao deum hectare de rea degradada muito maior do que o custo de evitar odesmatamento de um hectare de floresta nativa, e o benefcio em termosde biodiversidade, gua e carbono muito menor, uma vez que os recursosfinanceiros disponveis para aes ambientais so sempre limitados einsuficientes, o valor gasto para recuperar terras degradadas implica emmenos recurso para evitar o desmatamento. A grande vantagem darecuperao de reas degradadas como uma opo que todos so afavor, enquanto evitar o desmatamento pode contrariar poderososinteresses econmicos. A criao de reas protegidas representa o meiomais duradouro e eficaz de evitar o desmatamento e deve ser a prioridade.A recuperao de terras degradadas pode se tornar uma prioridade soboutras circunstncias, como o caso da Mata Atlntica, onde permanecem

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    apenas pequenos fragmentos de floresta original. No entanto, esse diaainda no chegou para a Amaznia, e essencial manter o foco na proteoda floresta restante.

    A distribuio, a conectividade e o grau de perturbao de fragmentosflorestais so importantes em reas altamente desmatadas, como nonorte do estado de Mato Grosso, e diversas intervenes podem ajudara minimizar a perda de biodiversidade (Peres et al., 2010). As faixas demata ciliar ao longo das margens dos crregos, tradicionalmenteprotegidos pelo Cdigo Florestal Brasileiro, so particularmenteimportantes no fornecimento de corredores de migrao queinterligam fragmentos florestais. Uma vez que as disposies doCdigo Florestal tinham pouca aplicao, durante muitos anos, essasflorestas ribeirinhas foram eliminadas em grande parte de paisagensagrcolas, particularmente aquelas no bioma Mata Atlntica, onde odesmatamento muito mais avanado do que na Amaznia. Arecuperao dessas conexes parte de uma estratgia para amanuteno de populaes de animais selvagens, especialmentegrandes predadores, tais como a ona (Panthera onca). Um notvelsucesso foi alcanado num programa em andamento na parte ocidentaldo estado de So Paulo (e.g., Cullen Jnior et al., 2005). No cerradoem Mato Grosso, onde a perda de habitat mais avanada do que nafloresta amaznica, a quebra destes corredores de migrao de mataciliar uma das principais ameaas manuteno de populaesviveis de onas (Zeilhofer et al., 2014).

    PrPrPrPrProtototototeo inteo inteo inteo inteo integral egral egral egral egral vvvvvererererersussussussussus uso sust uso sust uso sust uso sust uso sustentventventventventvelelelelel

    O sistema brasileiro de reas protegidas evoluiu significativamente nasltimas trs dcadas. As reas protegidas eram classificadas entre ascategorias de uso direto e uso indireto, a primeira sendo para parques ereservas sem uma populao residente vivendo nelas. Em 2000, o SistemaNacional de Unidades de Conservao (SNUC) foi promulgado (Lei n 9985/2000), mas o processo de regulamentao para estabelecer o sistema naprtica durou at 2002. O SNUC mudou a classificao das unidades deconservao para reas de proteo integral e de uso sustentvel. Acategoria uso sustentvel inclui Florestas Nacionais (FLONAs) para manejoflorestal madeireiro, reservas extrativistas (RESEX) para seringueiros,coletores de castanha e outros grupos tradicionais de colheita de produtos

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    florestais no madeireiros, e Reserva de Desenvolvimento Sustentvel (RDS),que uma categoria de reserva estadual que inclui as populaes locaisde pescadores e pequenos agricultores ribeirinhos. Um aspecto controverso a incluso de reas de Proteo Ambiental (APAs), uma categoria quepermite muitas atividades prejudiciais e pode at mesmo incluir reasurbanas. Esta categoria permite que grandes reas sejam pintadas de corverde no mapa, mas sem muita proteo real.

    reas de Proteo Integral incluem Parques Nacionais (PARNAs),estaes ecolgicas e reservas biolgicas. As diferentes categorias dereas protegidas tm diferentes nveis de sucesso em impedir odesmatamento, com reas federais tendo um desempenho melhor doque as reas estaduais, e as reas de proteo integral tendo melhordesempenho do que as reas de uso sustentvel (Vitel et al, 2009; Ferreiraet al., 2005). Note-se que a eficcia em impedir o desmatamento no o mesmo que eficcia em impedir a degradao das florestas porprocessos como a explorao madeireira e os incndios florestais. reasindgenas, por exemplo, geralmente tm alta eficcia na resistnciacontra o desmatamento, mas sua eficcia contra a degradao muitomenor. A degradao florestal est rapidamente se tornando um grandedestruidor de servios ambientais na Amaznia (Asner et al., 2005; Foleyet al., 2007; Merryet al., 2009; Nepstad et al., 2001).

    A criao de novas unidades de conservao mudou consideravelmente,da proteo integral para a categoria de uso sustentvel. A facilidadepoltica de criar reas de uso sustentvel muito maior, porque a criaode reas de proteo integral geralmente requer reinstalao de umapopulao residente. O reassentamento historicamente tem sidomarcado por injustia social e promessas quebradas sobre compensaoe programas para apoiar a populao deslocada (e.g., Fearnside, 1999a),embora os programas para reas protegidas pretendam fazer melhor(por exemplo, World Bank, 2002). Na categoria de uso sustentvel, aspessoas nas reservas muitas vezes ganham maior segurana contra aexpulso por atores mais poderosos e contra a perda de recursos naturaispara atores externos, tais como empresas madeireiras e barcos de pescacomercial. Vrias outras formas de benefcios, tais como o programaBolsa Floresta no estado do Amazonas, tambm fazem com que sejamais atraente estar vivendo dentro de uma rea de uso sustentvel(Viana et al., 2013). Isso gera o apoio poltico para a criao de maisdessas reas.

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    A criao de reas protegidas rapidamente se torna invivel quando aocupao humana avana na floresta. A relativa facilidade de criaode reas de uso sustentvel torna isso o caminho mais lgico paraalcanar uma parte da proteo necessria na frente do avano dafronteira. Aes macias do governo brasileiro para a infraestrutura,como rodovias e barragens, podem aumentar a migrao para muitasreas potenciais para a criao de reservas, inviabilizando quaisquerplanos para proteo.

    O futuro das terras indgenas fundamental para a manuteno dabiodiversidade na Amaznia. Terras indgenas no so unidades deconservao includas no SNUC, mas so um tipo de rea protegida.Terras indgenas esto sob a jurisdio do Ministrio da Justia, enquantoas unidades de conservao federais esto no mbito do Instituto ChicoMendes de Biodiversidade (ICMBio) ou, no caso das florestas nacionais,sob o Servio Florestal Brasileiro (SFB), os quais fazem parte do Ministriodo Meio Ambiente. Unidades de conservao estaduais esto ligadosaos orgos correspondentes dos governos estaduais.

    As terras indgenas tm uma histria melhor do que as unidades deconservao em inibir o desmatamento, e em muitas partes do arco dodesmatamento, as nicas reas significativas de florestas naturaisremanescentes esto nas terras indgenas (Nepstad et al., 2006; Schwartzmanet al., 2000a,b). No entanto, as terras indgenas no esto imunes aodesmatamento, e no se pode presumir que os povos indgenas continuemcumprindo o seu valioso papel na manuteno de servios ambientais paraser embolsada de graa pelo resto da sociedade (Fearnside, 2005).

    PPPPPerererererspectivspectivspectivspectivspectivas de utilizao sustas de utilizao sustas de utilizao sustas de utilizao sustas de utilizao sustentventventventventvelelelelel

    As perspectivas de uso sustentvel no so particularmente boas, devidoa uma srie de fatores limitantes que hoje restringem os usos de terradominantes em reas desmatadas na regio (Fearnside, 1988, 1997c).O foco da pesquisa sobre opes de uso sustentvel , portanto,tambm, sobre os usos que mantm a cobertura florestal. Um dosgrandes esforos a promoo da coleta dos produtos florestais nomadeireiros, tais como a borracha natural (Hevea brasiliensis), o leode copaba (Copaifera spp.), a castanha-do-par (Bertholletia excelsa),as sementes de andiroba (Carapa guianensis) e fibras, tais como,as da

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    piaava (Leopoldinia coquilhos) (Clay & Clement, 1993; Murrieta &Rueda, 1995). Esses produtos podem, de fato, ser colhidos numa basesustentvel, sem prejudicar os principais servios ambientais da floresta.Os desafios esto nas esferas sociais e institucionais para manter estessistemas funcionando, sem que a atividade econmica se desloque emdirees no sustentveis.

    Produtos no madeireiros da floresta, como base para sustentar apopulao local, fundamental para a criao e manuteno de reservasextrativistas (Fearnside, 1989a). Estas reservas foram propostas peloConselho Nacional dos Seringueiros (CNS), em 1985, e a primeira reservadeste tipo foi criada no estado do Acre em fevereiro de 1988. ChicoMendes, o lder seringueiro e defensor de causas ambientais e sociais,foi assassinado em dezembro do mesmo ano. Sua morte provocouindignao no Brasil e em outros lugares, criando a oportunidade paraa rpida expanso das reservas extrativas na Amaznia brasileira. Nosanos seguintes, a viabilidade econmica da extrao de ltex tornou-semais fraca. A produo de borracha natural muito mais barata nasia, onde a ausncia do fungo causador de mal das folhas (Microcyclusulei) permite a produo eficiente em plantaes. Embora a maior parteda borracha natural utilizada no Brasil seja importada da sia. Desde1997, o Brasil tem mantido suporte artificial dos preos da borrachaobtida de fontes domsticas, sendo 20% do montante total dasubveno reservada para borracha extraida da floresta natural e orestante para plantaes (Brasil, MMA, 2014). No entanto, o subsdiotem diminudo progressivamente. Isto, combinado com a tendncia daspopulaes residentes terem expectativas aumentadas para seu padrode vidamaterial, tem levado ao aumento da frequncia de escolhas no-sustentveis, especialmente o desmatamento para pastagens(Fernandes, 2008). A venda de madeira, oficialmente sob planos demanejo sustentvel comunitrio, tambm comeou nas reservasextrativistas que inicialmente se destinavam a serem limitadas a produtosflorestais no madeireiros. Apesar desses desvios em relao ocupaode baixo impacto, que foi proposta originalmente, asreservas extrativistasfornecem uma proteo melhor do que aquela que prevalece napaisagem circundante fora das reservas.

    O manejo sustentvel est sendo promovido em larga escala comouma alternativa ao desmatamento e como a fonte para madeiras

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    tropicais para o Brasil e para os mercados de exportao. Infelizmente,o termo sustentvel, que universalmente enfatizado na nomeao edescrio destes planos, muito raramente correspondido com umaprobabilidade real de o sistema de produo continuar em longo prazo.Um problema fundamental a contradio entre a taxa nas quais asrvores amaznicas manejadas podem crescer e a taxa em que o dinheiropode ser ganho atravs de investimento em outras atividades, incluindoo investimento na explorao de madeira em outros lugares na regio(Fearnside, 1989b). A taxa em que as rvores crescem (cerca de 2% aoano) limitada pela biologia, e no tem nenhuma conexo com astaxas de desconto (na ordem de 10% ao ano em termos reais) utilizadasna tomada de deciso financeira. O retorno sobre investimentosalternativos, em ltima anlise determina a racionalidade financeirade destruir um recurso natural potencialmente renovvel, como umafloresta tropical (Clark, 1973, 1976).

    O manejo sustentvel est sendo promovido em vrias formas. Uma por contratos que so concedidos s empresas com base em licitaocompetitiva em Florestas Nacionais (FLONAs), com planos de manejo,especificando uma rotao de 30 anos sendo exigida pelo ServioFlorestal Brasileiro (SFB), do governo federal. As florestas equivalentesem nvel estadual (Flotas) tm exigncias similares feitas por orgosestaduais anlogos. Grandes empresas tambm podem obter licenaspara explorar madeira em terras privadas, onde um plano de manejo aprovado pelo orgo ambiental do governo estadual, exigindo tambmum ciclo de 30 anos (Eva et al., 2000). A teoria que a rea a ser manejadaser dividida em 30 parcelas e a colheita seletiva ser realizada em umaparcela a cada ano, tal que no final do ciclo, a primeira parcela estarrecuperada, at um estado de equilbrio, e poder ser exploradanovamente. O fluxo contnuo de renda pagar pelo manejo de toda area, e supostamente, garantir uma continuao indefinida do sistema.Infelizmente inerente a tentao de derrubar as grandes rvores torapidamente quanto possvel, seja de forma legal ou no. Essas rvorestm levado sculos para crescer sem nenhuma despesa para a empresamadeireira, e o primeiro ciclo de explorao madeireira, portanto, sermais rentvel do que ciclos subsequentes, onde o volume de madeiraque colhido corresponde quilo que cresceu enquanto o gestor investiana manuteno do sistema (Fearnside, 2003).

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    Os regulamentos foram relaxados para permitir que a rea sob manejoseja colhida mais rapidamente do que seria o caso seguindo a sequnciateoricamente sustentvel de colher anualmente uma das 30 parcelas. Umexemplo uma rea de 12.000 ha de manejo no estado do Acre, onde aempresa foi autorizada a dividir a rea em apenas seis parcelas. Aps acolheta da quinta parcela, a rea foi vendida para uma cooperativa deassentamento de pequenos agricultores (com a ressalva de que a empresamadeireira ainda poderia colher a sexta parcela). Teoricamente, o planode manejo prev que a rea simplesmente deve ficar ociosa durante 24anos aguardando o incio de outro ciclo de colheita. No entanto, a chancedesse cenrio realmente acontecer, seja com a posse original ou no, praticamente zero (Fearnside, 2013b). O mesmo se aplica aos Planos deManejo Florestal Sustentvel em Pequena Escala (PMFSPE), que temrepresentada o sistema predominante no Estado do Amazonas. Estesplanos de gesto so aprovados pelo governo estadual para reas de100 ha, mas eles permitem que toda a rea seja colhida no primeiro ano.Da mesma forma, a probabilidade de que o proprietrio do imvel fiquesem renda para os prximos 29 anos, enquanto aguarda um novo ciclocomear praticamente zero. A partir de 2014, o estado do Amazonastem comeado a tambm autorizar um nmero muito mais expressivode projetos de manejo em grande escala.

    O ecoturismo tem sido mencionado muitas vezes como uma alternativaao desmatamento e ainda tem sido usado para justificar projetos degrande desenvolvimento, com enormes impactos ambientais, tais comoa rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho) (Fearnside & Graa, 2009).Turismo pode, de fato, fornecer sustento econmico para alguns. Noentanto, a escala dessa opo mnima, em comparao com o tamanhoda Amaznia. Em um pequeno pas que facilmente acessvel paraturistas estrangeiros, como o caso da Costa Rica, o turismo pode serum fator significativo em escala regional ou nacional, mas a demandapor esta forma de turismo no expansvel para fornecer uma baseeconmica semelhante na Amaznia. A escala diferente: apenas oEstado de Rondnia cinco vezes o tamanho da Costa Rica.

    Os servios ambientais representam uma potencial fonte de fluxosfinanceiros em uma escala que pode ser transformacional na Amaznia(Fearnside, 1997d, 2008). Isto se refere s funes dos ecossistemas namanuteno de valores como a estabilidade do clima e da biodiversidade.

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    Um desses servios o papel da floresta amaznica no ciclo hidrolgico,que fornece o vapor dgua que gera a precipitao no s na Amaznia,mas tambm na regio Centro-Sul do Brasil, bem como em pases vizinhos(Fearnside, 2004; Marengo, 2006). Outro servio a preveno doaquecimento global atravs da manuteno do carbono estocado nafloresta e no solo, em vez de permitir que ele seja lanado como gasesde efeito estufa (Fearnside, 1997e, 2000; Nogueira et al., 2008). Apesar dapromessa de valor substancial e avanos nas negociaes de vrios tipos,capturar o valor dos servios ambientais ainda, em grande parte, umfator potencial para o futuro, ao invs de um srio concorrente com opestais como a criao de gado, explorao madeireira e a soja.

    A pesquisa tem um papel essencial a desempenhar em acelerar atransio para uma economia fundada na manuteno da floresta emvez de destru-la. A melhor quantificao dos servios ambientaisprestados pela floresta uma dessas reas. Isso envolve a quantificaoos impactos da perda de floresta, o outro lado desta moeda sendo oganho de no desmatar. Outra necessidade de pesquisa melhoraracompreenso de como reduzir o desmatamento, incluindo as medidasnecessrias e seus custos financeiros e outros. As informaes sobreusos alternativos da floresta tambm so uma parte da necessidade deinvestigao: subsidiar financeiramente os diversos produtos que podemser colhidos da floresta de forma sustentvel tem um papel potencialcomo um meio de manter as populaes tradicionais, tais como, osseringueiros. Essas populaes servem como guardies das florestasque produzem servios ambientais muito mais valorosos do que osprodutos fsicos que poderiam ser extrados. A destruio social queresulta do pagamento de pessoas para no fazer em nada significa quea remunerao monetria no pode ser a escolha para alcanar os doisobjetivos essenciais de manter a populao humana na floresta e mantera floresta com seus servios ambientais.

    O Cdigo FlorO Cdigo FlorO Cdigo FlorO Cdigo FlorO Cdigo Florestal e a mudana do poder polticoestal e a mudana do poder polticoestal e a mudana do poder polticoestal e a mudana do poder polticoestal e a mudana do poder poltico

    Os esforos do Brasil para proteger as florestas e a biodiversidade sorestringidos por uma mudana na base econmica de poder polticodo Pas. Isso ficou claro com a eviscerao do Cdigo Florestal, doBrasil, que um conjunto de normas promulgadas em 1965 (Lei n

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    4.771/1965) restringindo o desmatamento e outras atividades queafetam as florestas do pas. Em 24 de maio de 2011, um projeto de leifoi aprovado na Cmara dos Deputados do Congresso Nacional, e oprocesso de aprovao do Senado, as alteraes e a aprovao finalpresidencial duraram at outubro de 2012 (Lei n.12.651/2012). Areforma do Cdigo Florestal removeu a proteo de morros eencostas ngremes, reduziu bastante a largura da rea a ser protegidaao longo de cursos dgua por redefinir o nvel de gua a partir doqual estabelecida a margem a ser protegida e reduziu a rea decada propriedade a ser protegida por incorporar a rea de ProteoPermanente (APP) na Reserva Legal (RL) que cada propriedade devemanter (e.g.,Metzger et al., 2010; Soares-Filho et al., 2014). Maisimportante ainda, a reforma criou uma expectativa de impunidade nofuturo, perdoando a maior parte das violaes anteriores do CdigoFlorestal (Fearnside, 2010). As contribuies da comunidade cientficaforam completamente ignoradas, incluindo um relatrio conjunto pelaSociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC) e a AcademiaBrasileira de Cincias (ABC) (Silva et al., 2011).

    A votao inicial na Cmara dos Deputados foi em uma proporo desete para um contra o meio ambiente. Isto difcil de explicar pelalgica da poltica normal, dado que a representao na Cmara dosDeputados proporcional populao e 85% da populao brasileiravive em cidades, significando que a grande maioria do eleitorado noteria qualquer interesse financeiro direto em permitir desmatar nasmargens dos rios e em encostas ngremes. Pelo contrrio, seu interesse do outro lado: durante o prprio debate sobre o Cdigo Florestal,mais de 200 pessoas morreram em deslizamentos de terra na zonaserrana no estado do Rio de Janeiro, e inundaes ao longo dos rios noNordeste do Brasil deslocaram muitos milhares de famlias. As pesquisasde opinio pblica, poucos dias aps a votao em 2011, indicaramque 85% do pblico eram contra a reforma do Cdigo Florestal(Barrionuevo, 2012).

    A explicao para a notvel falta de conexo entre a votao na Cmarados Deputados e os interesses e opinies do eleitorado encontra-seem uma mudana nos centros de poder econmico do pas. O setormanufatureiro declinou acentuadamente, com fabricao brasileirasendo substituda pelas importaes chinesas, tanto nos mercados

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    nacionais como nos mercados estrangeiros para os quais o Brasilexportava tradicionalmente (Bittencourt et al., 2012, p. 106; Cintra, 2013).O poder econmico e a influncia poltica mudaram, deslocando dossindicatos e industrialistas urbanos para os ruralistas o bloco devotao e lobby que representa o agronegcio e grandes proprietriosde terras. As exportaes de soja (agora predominantemente para aChina) colocam os centros de produo em Mato Grosso e outrosestados como a fonte de influncia poltica (Fearnside et al., 2013). Estamudana gera muitos problemas no Brasil, mas seu efeito sobre o meioambiente fundamental.

    Alm do Cdigo Florestal, os ruralistas tm empurrado para asrestries que exigiro a aprovao do Congresso para poder criarreas protegidas, incluindo terras indgenas (PEC, 215/2000). Issoefetivamente bloquearia qualquer futura criao de reas protegidas,j que a histria do Cdigo Florestal mostra o controle da influnciaruralista no Congresso. A alterao est progredindo rapidamente emdireo aprovao final (Brasil, Cmara dos Deputados, 2014). Osruralistas tambm esto se articulando para revogar a resoluo doBanco Central (BACEN n 3.545/2008) que probe aos bancos pblicosconcederem financiamento para atividades agropecurias se oproprietrio tiver qualquer pendncia ambiental junto ao InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (IBAMA).Isto removeria uma medida contra o desmatamento que tem dentesverdadeiros, em contraste com as multas, que podem ser objeto derecursos jurdicos ao longo de muitos anos, e que muitas vezes nuncaso pagas. Esta resoluo do Banco Central de 2008 considerada oprincipal fator no contnuo declnio nas taxas de desmatamento naAmaznia brasileira depois de 2008, quando os preos das commoditiescomearam a se recuperar. Existem outras interpretaes: o governobrasileiro atribui toda a diminuio da taxa de desmatamento aoprograma de represso com multas (MMA, 2013), enquanto Nepstad etal. (2014) enfatizam um esverdeamento das cadeias de produo decarne e soja. A presso geral para enfraquecer os sistemas delicenciamento e os regulamentos ambientais uma ameaa constante,e o impedimento de qualquer possibilidade de reforar os controlesambientais incapacitante, visto que, qualquer proposta de legislaopara reforar os controles seria alterada com emendas para ter o efeitooposto (Fearnside & Laurance, 2012).

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    FontFontFontFontFontes de res de res de res de res de recurecurecurecurecursos psos psos psos psos para serara serara serara serara servios ambientaisvios ambientaisvios ambientaisvios ambientaisvios ambientais

    fcil chegar ao acordo sobre o fato de que os servios ambientais soimportantes e devem ser recompensados de alguma forma. No entanto,como fazer isso no uma rea de to fcil conversa. Foram feitosprogressos nas negociaes internacionais, em ambas, na Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima (UNFCCC), maisconhecida como a Conveno do Clima, e na Conveno sobreDiversidade Biolgica (CBD), mais conhecida como a Conveno daBiodiversidade. No entanto, isto ainda no resultou em fluxos monetriossignificativos. As negociaes no mbito da Conveno de Biodiversidadecentram-se no estabelecimento de direitos de propriedade intelectual,tais como o conhecimento tradicional dos povos da floresta com relaos plantas medicinais. Infelizmente, o desenvolvimento e teste de produtosfarmacolgicos a partir deste conhecimento ocorrem em dcadas e no uma fonte provvel de fluxos financeiros na escala e no temponecessrios para dar ao servio ambiental um papel importante namanuteno das florestas da Amaznia (Fearnside, 1999b). As negociaesinternacionais para evitar a mudana climtica, no entanto, est muitomais avanada e tem a maior probabilidade de gerar fluxos monetriosna escala e no tempo que so necessrios (Fearnside, 2013c).

    Como pagar pelos servios que as florestas tropicais fornecem paraevitar o aquecimento global uma questo de grande controvrsia. OREDD ou reduo de emisses por desmatamento e degradao, visto por alguns como o Salvador das florestas tropicais e por outroscomo um mal imoral que faria uma precificao da natureza ou umtruque para permitir que os pases ricos continuem em um caminhopara o desastre climtico. Essas controvrsias tm origem em uma longalista de consideraes polticas e outras, muitas das quais tm poucoou nada a ver com as questes climticas (Fearnside, 2001, 2012a,b).Um mercado voluntrio de carbono da floresta j existe, mas isto temum potencial muito mais limitadodo que o mercado ainda no existenteno mbito da Conveno do Clima, presumindo que os pases do mundose tornem mais srios sobre a contenco do aquecimento global econcordem em fazer as grandes redues necessrias nas emisses degases de efeito estufa.

    Uma questo importante se os fundos seriam derivados de ummercado ou de contribuies para um fundo que iria recompensar o

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    carbono florestal no mnimo preo possvel, ou seja, o custo daoportunidade de no desmatar i. e., o valor de uma pastagem debaixa produtividade, no caso da Amaznia brasileira. Em contraste, ummercado colocaria o carbono florestal em concorrncia direta com outrasopes de mitigao, tais como medidas para aumentar a eficinciaenergtica e reduzir o consumo de combustveis fsseis nos pasesdesenvolvidos. Os caminhos para os pases desenvolvidos reduziremas emisses em casa so geralmente mais caros por tonelada decarbono mantido fora da atmosfera do que seria reduzir odesmatamento tropical. Isto significa que o preo por tonelada decarbono vendido em um mercado que inclui esta competio serrazoavelmente alto, ou seja, alto o suficiente para que ambos capturemtoda a reduo de emisso potencial que diminuam o desmatamentotropical, e tambm para motivar a reduo de emisses domsticasnos pases desenvolvidos, presumindo que esses pases concordem queso necessrias grandes redues de emisses . Alcanar um acordosobre redues neste nvel exatamente a questo-chave nasnegociaes sobre o clima. Confinando a mitigao de floresta tropicalpara um fundo, efetivamente se rende suposio de que no seroacordados sem tais cortes profundos de emisses, mesmo antes dabatalha diplomtica sobre esta questo comear.

    Infelizmente, h uma forte tendncia para medidas apenas simblicaspor parte da Europa, permitindo o pagamento para as florestas tropicais,mas apenas em pequena escala, o que no faz parte do esforo principalno combate mudana climtica (Fearnside, 2012a). Isto decorre aofato de que reduzir as emisses atravs de aes em casa, tais como ainstalao de energia elica e solar e a fabricao de carros maiseficientes, resulta em maior emprego e renda em casa, enquanto enviardinheiro para os pases tropicais para reduzir o desmatamento nocontribui em nada para as economias da Europa. Isto significa queargumentos sero levantados para gastar os fundos de mitigao emcasa, com apenas quantidades simblicas indo para pases tropicais,mesmo que o benefcio climtico alcanado com a mesma despesaseja muito menor. Os pases podem simplesmente recusar-se a concordarcom o nvel necessrio de redues de emisses, a fim de manter osseus compromissos dentro dos limites que eles veem como aceitveispara os seus oramentos nacionais, sob a suposio de opes maiscaras de mitigao domstica.

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    Tambm h problemas tcnicos com relao mitigao atravs dareduo das emisses do desmatamento tropical e da degradao, e apesquisa uma parte essencial da abordagem dessas questes. Umproblema a confiabilidade dos cenrios de linha de base pararepresentar o quanto de emisso ocorreria na ausncia de uma atividadede mitigao. Trata-se de uma rea em que fcil exagerar a emissoda linha de base, mas h um progresso substancial na modelagem delinhas de base para evitar esses vieses nos casos amaznicos (Yanai etal., 2012; Vitel et al., 2013). Mesmo que esses problemas tcnicos sejambastante importantes, a questo institucional de o que fazer com odinheiro obtido a partir dos servios ambientais a parte menosdesenvolvida de propostas nesta rea (Fearnside, 2008). Infelizmente, aproposta atual de REDD sob a Conveno do Clima para o governoreceber o dinheiro, reduzindo assim as chances de que grande partedesses fundos, na verdade, encontrar o seu caminho para osbeneficirios que habitam e defendem a floresta em p.

    ConclusoConclusoConclusoConclusoConcluso

    A pesquisa sobre biodiversidade pode ajudar a fornecer uma justificativapara as aes especficas de conservao, tais como a criao de reservas.No entanto, muitas vezes a deciso para agir ocorre em funo deoportunismo, ao invs de resultar das prioridades de conservaoestabelecidas pela pesquisa. A pesquisa tem grande importncia aopossibilitar o aproveitamento de oportunidades para a conservaoquando estas surgem. As pesquisas sobre servios ambientais tambm,alm da manuteno da biodiversidade, tais como o carbono e a gua,so importantes para fornecer o alicerce para o apoio mais geral daconservao, com base no valor desses servios.

    Por fim, as pesquisas para compreender melhor os processos dedesmatamento e degradao florestal so essencias para os esforosde manter esses processos sob controle.

    AgradecimentAgradecimentAgradecimentAgradecimentAgradecimentososososos

    Conselho Nacional do Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq:proc. 304020/2010-9, 610042/2009-2, 575853/2008-5) e ao Instituto

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    Nacional de Pesquisas da Amaznia (INPA: PRJ13.03), pelo apoiofinanceiro. Este trabalho foi apresentado na 1 Conferncia sobre aBiodiversidade na Bacia do Congo, de 06-10 de junho de 2014, emKisangani, Repblica Democrtica do Congo (Fearnside, 2014c). Agredeoa P.M.L.A. Graa, pelos comentrios.

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