Livro completo em word...

81

Transcript of Livro completo em word...

Page 1: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

 

Page 2: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

2

 

 

05 – Prefácio 

07 – Sobre o autor 

08 – Parte I – Harmonizando os múltiplos patrimônios 

09 – Introdução 

11 – Patrimônio familiar 

15 – Patrimônio material 

19 – Patrimônio espiritual 

22 – Patrimônio cultural 

25 – Patrimônio profissional e social 

33 – Harmonizando os múltiplos patrimônios 

35 – Parte II – Crônicas do caminho 

36 – Empresário ou artista? 

38 – A aventura de escolher o próprio destino 

41 – Morte anunciada 

43 – Liderança na crise 

45 – O novo empresário rural brasileiro 

47 – As moscas 

49 – Criatividade no trabalho e na vida 

51 – O PDV, muitos anos depois 

53 – Parte III – Crônicas do cotidiano 

54 – Simplificar 

56 – Belém, again 

58 – Nobres ou Bonito? Fique com as duas! 

59 – O incorrigível chorão 

60 – Caio Martins, sábado à noite 

62 – Racionalizar a emoção 

63 – O casamento do Magrinho 

65 – Maricaliz 

67 – O pai do piloto 

68 – O toque do celular 

Índice

Page 3: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

3

69 – Sejam todos bem vindos 

71 – Privilégio ou merecimento? 

72 – Férias na diversidade 

74 – A alma carioca mora em Niterói 

75 – Prazer pelo prazer 

77 – Viver 

78 – Um homem de quarenta e poucos 

 

 

 

 

   

Page 4: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

4

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

   

“Meu grande aprendizado navegando pelo mundo foi conviver com os povos de 

diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender. 

A maior lição que recebi foi dos polinésios. De viver intensamente cada momento, 

de uma maneira simples, sem complicar. De não sofrer antecipadamente com o 

que virá e tampouco com o que passou”. 

 

              Vilfredo Schurmann em “Navegando com o sucesso”, Ed. Sextante. 

Page 5: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

5

 

 

Eu  fugi  de  casa.  Foi  na  pré‐adolescência  e  faz  tanto  tempo  que  já  não me 

lembro o motivo. O que, porém, ficou guardado na memória foi a volta ao lar, quando 

meus pais me deram um abraço apertado e um presente de boas‐vindas. A calorosa 

recepção me  surpreendeu  porque  esperava  uma  bronca  e muito  castigo. Mas  ali, 

rodeada por pai, mãe e  irmão encontrei o “amparo nas dificuldades”, assim como é 

descrita no primeiro capítulo, a construção de um feliz núcleo familiar.  

 

Neste livro, de maneira muito pessoal, o autor mostra os múltiplos patrimônios 

que  a  vida  nos  oferece  e  explica  como  a  harmonia  entre  eles  pode  nos  ajudar  a 

encontrar  o  sucesso.  Em  seguida,  expõe  estórias  em  uma  sessão  de  crônicas  que 

deixam transparecer as conquistas alcançadas ao longo de sua própria trajetória.  

 

O  acúmulo  de  bens materiais  é  apenas  uma  das  fatias  do  bolo  e,  como  a 

introdução  do  livro  conta,  alguns  destes  patrimônios  lhe  custaram  um  grande 

investimento financeiro. A família, por exemplo, é um deles. Mas, o autor afirma que 

vale a pena e que também considera riqueza ver a prole realizando sonhos. Que bom, 

porque  se  assim  não  fosse,  eu  provavelmente  não  estaria  aqui  escrevendo  este 

prefácio. 

 

Meu  pai,  o  consultor,  eterno  viajante  e  bom  amigo,  é  um  exemplo  de  ser 

humano que, com arte, administra as mais diversas oportunidades que a vida oferece. 

E aproveita para, nestas conquistas, seguir sua missão fazendo uma diferença positiva 

na vida das pessoas que o cercam. 

 

Foi  assim,  realizando  mais  um  de  seus  projetos  que  ele  me  ofereceu  a 

oportunidade de realizar um dos meus: escrever. No primeiro capítulo, você lerá que é 

“na família que encontramos o suporte dos sonhos”. Entretanto, no meu caso, posso 

dizer que foi mais que suporte, foi um incentivo a dar o primeiro passo. 

 

 

Prefácio

Page 6: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

6

Espero  que  o  mesmo  aconteça  com  você,  leitor.  Que  o  cinquentenário  de 

experiências deste  sonhador possa  servir de  fonte de  inspiração e de  coragem para 

que você escreva novas páginas na história de sua vida, começando um capítulo ou até 

mesmo um novo livro. 

 

 

                                  Renata Assunção de Castro, jornalista e filha 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

Page 7: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

7

 

 

              

 

 

 

 

 

 

 

 

  Jorge Mauricio de Castro fez 50 anos em 2009. Bem vividos, é bom 

que se diga. Já escreveu outros 4 livros, cujos resumos estão disponíveis no 

site www.jorgemauricio.com.br . 

             

  Tem uma família muito querida, e curte muito estar com eles. Dá 

especial valor às amizades e faz questão de cultivá‐las sempre. 

                          

  Adora viajar e já visitou mais de 30 países e 200 cidades no Brasil. 

Trabalha como consultor de empresas e professor universitário e é 

apaixonado pelo que faz. 

              

  Gosta de escrever, ouvir música, ler, assar um bom churrasco e fazer 

da vida uma viagem leve e divertida. Gosta de gente também. 

              

  Tem defeitos, claro. Um deles é continuar insistindo em torcer pelo 

Botafogo, apesar das últimas decepções. 

               

  Escreve despretensiosamente sobre o que pensa. Como neste livro, 

que você vai ler e ... gostar! 

Sobre o autor

Page 8: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

8

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dedico a Voinha, mestre serena na arte de harmonizar a vida. 

 

 

   

Parte I Harmonizando os múltiplos patrimônios 

Page 9: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

9

 

          

  Um interessante exercício de matemática realizado por minha filha, quando 

cursava o ensino fundamental (hoje ela é uma feliz profissional de Jornalismo, atuando 

no RJ), plantou a semente deste livro. Seu então professor, certamente buscando 

desenvolver o raciocínio lógico e a relação de causa e efeito, propôs o seguinte 

trabalho: a partir de alguns parâmetros disponíveis (desde o custo da maternidade até 

a última mensalidade do colégio), calcule quanto cada um de vocês custou até hoje 

para sua família. Foi um alvoroço na classe. Eram muitos 

dados, muitos cálculos e uma verdadeira incredulidade 

ao final com os resultados: a grande maioria, incluindo 

Renata, ficou assombrada com o vulto do valor 

calculado. Uma exorbitância! Ao buscá‐la no colégio, 

ouvi todo o detalhamento do exercício no caminho de 

casa, que terminou com a singela e definitiva sentença: 

“Pai, como você seria rico se não me tivesse!” Na hora 

não pude deixar de rir muito com sua franqueza e conclusão. Não me recordo dos 

valores numéricos, mas eram relevantes. Mais tarde comecei a pensar mais 

seriamente em toda aquela experiência e a refletir sobre a tal “riqueza perdida”. 

Concluí que faria tudo novamente, pois minha percepção de riqueza estava muito mais 

ligada ao fato de vê‐la se desenvolvendo, caminhando pela vida e realizando sonhos do 

que pelo possível tamanho da minha conta poupança. Percebi que a verdadeira 

dimensão da palavra “patrimônio”, geralmente tão vinculada às questões materiais, 

poderia ser reinterpretada e expandida. Passei então a prestar mais atenção a tudo 

aquilo que muitos classificam como custo e que prefiro contabilizar como 

investimento, como formação de patrimônio, dentro deste particular conceito. 

         

   Entendo que ver meu filho, antes de completar 30 anos, cruzar os oceanos 

pilotando um Airbus (e principalmente fazer isso com muito prazer) é um belo 

patrimônio; que participar de encontros festivos com amigos antigos e atuais é 

patrimônio; que conviver numa família harmonizada e unida também é patrimônio. 

Assim como trabalhar com prazer, viajar pelo mundo e ter tempo para a vida e o amor. 

I - Introdução

“Percebi que a

verdadeira dimensão da palavra “patrimônio”,

geralmente tão vinculada às questões materiais, poderia ser

reinterpretada e expandida.”

Page 10: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

10

          Administrar estes múltiplos patrimônios, inclusive o material, é uma arte que 

exige vigilância ativa aos nossos mais verdadeiros valores pessoais. Quando 

conseguimos harmonizá‐los e praticá‐los atingimos a plenitude e aí, finalmente, somos 

ricos de verdade. 

                                                                                                                              Com carinho, 

 

                                                         Jorge Mauricio de Castro 

   

Page 11: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

11

 

 

                 

                  Muitas pessoas gostam de dizer que “família só é bom no porta‐retratos”. 

Nada mais injusto e compreensível. Injusto pelo fato de ser na família que se tem mais 

chance de buscar e dar apoio nas horas de necessidade. É na família que encontramos 

o suporte dos sonhos (às vezes incompreendidos) e o amparo nas dificuldades. 

Imagine‐se muito doente, sentindo dores e desconforto. Quem você quer por perto? A 

maioria das pessoas pensa logo em alguém da família, principalmente na mãe ou 

cônjuge. Nosso sentido de existência e de continuidade está muito ligado ao 

sentimento que nutrimos pelos nossos familiares. 

 

                  Por que então afirmo que a metáfora do porta‐retratos é compreensível? 

Basicamente porque não é nada fácil administrar conflitos e às vezes diferenças 

pessoais tão grandes que, quase sempre, existem no 

ambiente familiar. Muitos desistem e “querem 

distância”. Outros radicalizam ainda mais e rompem 

relações. Não creio serem estas as melhores soluções 

para nossas vidas, mas respeito a decisão de quem as 

toma. 

 

                  Não quero, nesta abordagem de família como patrimônio, deter‐me em 

teorias psicanalíticas ou descobertas freudianas a respeito das relações pais e filhos. Já 

temos muita literatura completa e competente sobre o tema. Quero apenas lembrá‐lo 

que a relação construída entre pais e filhos traz embutida alguns “incentivadores” de 

conflito que necessitam de atenção constante. Convivência diária é um deles. Acordar 

e dormir sob o mesmo teto todos os dias, sem possibilidade de separação ou divórcio, 

decididamente não é para qualquer um. As características do “outro” vão aos poucos 

se transformando em defeitos ao nosso olhar e começam a nos incomodar. O som alto 

no quarto do filho disputa espaço com “a mania da mãe de fazer sempre a comida que 

eu não gosto”. A filha “pendurada” ao telefone acaba sendo repreendida pelo pai, sob 

o infalível argumento da conta muito alta. “Puxa, ele não entende que eu preciso tanto 

II – Patrimônio familiar

Convivência forçada (o termo é duro, mas absolutamente real) exige grande dose de paciência, empatia e capacidade de perdão.

Page 12: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

12

falar com a minha amiga” – e por aí vai. Convivência forçada (o termo é duro, mas 

absolutamente real) exige grande dose de paciência, empatia e capacidade de perdão. 

Geralmente os pais são mais exigidos, pois, por sua experiência, conseguem perceber 

melhor as variáveis da situação. 

 

                  Outro agravante de conflito é a relação de poder que claramente se 

estabelece na família – uns mandam nos outros. Esta situação acaba sendo 

extremamente desconfortável, pois os pais, responsáveis pela educação dos filhos, 

sentem‐se muitas vezes “obrigados” a dar ordens e a fazer exigências em nome da boa 

educação. E ninguém gosta de receber ordens e ter sua vontade cerceada por outrem.  

                 

  Este caldeirão de conflitos muitas vezes se materializa em forma de surras 

memoráveis, castigos, limitações forçadas e, da parte mais fraca, tentativas “heróicas” 

de impor suas vontades, seja por meio de desafios abertos, chantagem emocional ou 

ameaçando e muitas vezes cumprindo a promessa de fugir de casa. 

 

                  E o conflito entre irmãos? Neste tenho muita experiência pessoal pois, 

apesar de ter somente uma irmã, briguei tanto com ela no fim da infância e início da 

adolescência que hoje só nos resta ser muito amigos. O psiquiatra gaúcho Paulo 

Gaudêncio explica muito bem a raiva que sentimos dos nossos irmãos mais novos, que 

de repente, ao nascer, passam a ser o centro das atenções familiares, exigente de 

todos os cuidados do mundo e que nos roubam supostamente o carinho e o amor dos 

pais e, certamente, também sua atenção. E ainda por cima temos que achá‐los lindos! 

Por isso são absolutamente normais as pequenas maldades que os irmãos mais velhos 

geralmente fazem com os mais novos, quase sempre de forma sorrateira. É a vingança 

pelo espaço perdido. E como este comportamento começa na infância, onde nosso 

poder de abstração é mínimo, estes conflitos, caso não sejam bem administrados, 

podem deixar mágoas por toda a vida. 

 

                  Por enquanto estou me referindo aquele núcleo familiar tradicional, de pai e 

mãe casados com filhos comuns e partindo sempre da idéia de que o amor e a 

delicadeza podem estar acima das dificuldades do cotidiano. Mesmo em uma família 

Page 13: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

13

que se inicia no princípio da harmonia, fica claro que administrar estes conflitos é 

parte integrante da rotina. Eles podem se agravar nas novas e diversas formas e 

conceitos de família que a sociedade hoje aceita e até incentiva.  

 

                  O filho de um casamento desfeito que não aceita o novo marido da mãe – 

“ele não é meu pai”! – e este novo marido, que realmente não é o pai biológico, 

muitas vezes fica sem saber como agir: interfere ou não na educação do filho da sua 

mulher? Ele não tem o chamado pátrio poder, mas 

convive na mesma casa. E agora? Cada nova família 

constituída procura, dentro dos seus valores e 

conveniências, a melhor solução possível para o 

emaranhado de conflitos que normalmente vão surgir. 

 

                  Portanto, se você se identificou em algumas situações aqui narradas, fique 

certo que não é só com você e sua família que ocorrem problemas, incompreensões, 

atritos, brigas, queixas e mágoas. A própria forma de organização social da família 

acaba conspirando para isso: pessoas com mais de 20 anos de diferença etária e que, 

portanto, foram criadas em mundos diferentes, com apelos e lógicas diferentes, 

convivendo cotidianamente por muitos anos em um ambiente com regras 

determinadas e uma forte relação de poder. 

 

                 Por mais contraditório que possa parecer, toda essa relação conflituosa 

acaba sendo o estofo necessário para que tenhamos na família o porto seguro que 

tantas vezes almejamos. Ninguém nos conhece tão bem como nossos pais. São nos 

momentos de incompreensão passageira que percebemos o quanto somos únicos e 

consequentemente diferentes uns dos outros. E que essa individualidade precisa ser 

respeitada por todos, pois, como diz o Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia 

de ser o que é”. A base do respeito, do amor e do bem querer são condições 

fundamentais para que as dificuldades de convivência sejam vistas como 

oportunidades de crescimento pessoal. Salvo algum eventual desvio de 

comportamento, que pai ou mãe não quer ver o sucesso e felicidade dos filhos? A 

alegria de nossos filhos, por mais terríveis que tenham sido e preocupações nos 

Fique certo que não é só com você e sua família que ocorrem problemas, incompreensões, atritos, brigas, queixas e mágoas.

Page 14: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

14

tenham causado, passa a ser também a nossa alegria. Que bom vê‐los crescer e viver a 

vida, assumir nossos lugares e nos dar netos! E esses netos terão muitos conflitos com 

nossos filhos, como nós tivemos com nossos pais, na eterna e maravilhosa ciranda da 

vida, e tudo será tratado da melhor forma possível e resolvido na magia do amor. 

 

               Contam que um presidiário é considerado irrecuperável quando até sua mãe 

deixa de visitá‐lo. Porque amor de mãe é incondicional, supera os maiores obstáculos. 

A mesma mãe que o obrigou a comer legumes, tomar banho antes de dormir, 

desgrudar do computador e acordar na hora da escola é hoje a única com quem ele 

pode contar. É seu único patrimônio. 

 

                Administrar o patrimônio familiar exige sobretudo o querer. Os caminhos são 

os mais diversos e estão intimamente ligados à lógica e aos valores dos grupos 

familiares, sempre observando a importância da delicadeza dos relacionamentos. Não 

tenho dúvida de que família deve ser um lugar de aconchego, compreensão e 

convivência. Que superar dificuldades é sempre um desafio com grandes 

possibilidades de final feliz. E que o melhor caminho para nossa segurança pessoal é 

ter uma família harmoniosa e companheira e não apenas no porta‐retratos. 

 

 

 

 

 

 

   

Page 15: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

15

 

 

              Em um livro escrito no início deste século, intitulado “Como Planejar seu 

Sucesso Pessoal”, há um capítulo que ficou sob a responsabilidade de uma amiga, 

Karina, na época exercendo a função de gerente de contas do Banco do Brasil. Tal 

convite deveu‐se à minha completa ignorância nos aspectos relativos à administração 

financeira, cálculo de juros, investimentos mais rentáveis, aqueles mais ou menos 

taxados e outros pormenores que, na verdade, ficam à margem do entendimento da 

maioria dos brasileiros. Até hoje me percebo 

extremamente conservador nos investimentos 

financeiros, preferindo sempre o binômio garantia e 

simplicidade ao risco e rentabilidade. Não recomendo 

que façam como eu – cada um de nós tem seu perfil 

como investidor e isso deve ser respeitado. Também 

não tenho a pretensão de ensinar a ninguém como lidar com suas finanças – neste 

campo sou um eterno aprendiz. Há bons livros sobre o assunto e recomendo 

especialmente “Pai Rico Pai Pobre”, dos autores Kiyosaki e Lechter, e “Mais Tempo, 

Mais Dinheiro”, dos brasileiros Gustavo Cerbasi e Christian Barbosa. São excelentes 

fontes de conhecimento nesta área tão específica. 

 

             Mesmo não sendo especialista na área, me atrevo (sou meio atrevido mesmo) a 

refletir com o leitor sobre algumas questões que certamente influenciam a formação 

do nosso patrimônio material e a consequente possibilidade de viabilização da criação 

de outros patrimônios. 

 

              Nós, brasileiros, temos algumas características de consumo que nos afastam da 

acumulação de riquezas materiais, tema este muito bem explorado pelo economista 

Eduardo Gianetti no seu livro “O Valor do Amanhã”. Uma delas é a falta de paciência e, 

consequentemente, o alto custo desta impaciência num país que pratica uma das mais 

altas taxas de juros nominais do mundo. Vou exemplificar: você já reparou como 

diversas lojas de eletrodomésticos ou mesmo revendedoras de automóvel dão ênfase 

ao valor da prestação nas suas peças publicitárias? Geralmente o preço final fica em 

III – Patrimônio material

Nós, brasileiros, temos algumas características de consumo que nos afastam da acumulação de riquezas materiais.

Page 16: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

16

segundo plano e o destaque maior vai para a parcela a ser paga. Sabe por quê? Porque 

a linha de raciocínio padrão do brasileiro é a seguinte: se a prestação “cabe no meu 

bolso”, eu compro. Importa mais a capacidade de pagamento mensal que o valor final 

do bem e esta prática acaba afetando negativamente a formação do nosso patrimônio 

material. 

 

              Tive uma copeira na empresa que certa vez chegou absolutamente feliz ao 

trabalho, pois havia, juntamente com seu marido, realizado um sonho: a compra de 

um automóvel. Percebendo sua necessidade de dar 

vazão àquela alegria, incentivei‐a a contar os 

detalhes da aquisição enquanto servia o café. Ela e o 

marido haviam comprado um Fiat Palio 97, 2 portas, 

parece que em bom estado e haviam pago R$ 

24.700, pelo bem. Na mesma hora questionei a 

compra: devia haver algo errado, pois é muito 

dinheiro para um bem que não vale, provavelmente, 

nem a metade. Pedi que verificasse com o marido naquela noite se era este mesmo o 

valor acertado. No dia seguinte ela retorna com a confirmação: foi isso mesmo! Eles 

deram R$ 700,00 de entrada e financiaram o restante em 48 parcelas de R$ 500,00 ‐ e 

aí eu entendi como você pode pagar por 2 carros e só levar um para casa quando cai 

na armadilha da ansiedade + financiamento fácil. Ainda ponderei sobre a possibilidade 

de irem colocando os R$ 500,00 na poupança todos os meses até conseguirem 

comprar o Palio à vista, mas fui interrompido com a afirmação de que “aí nós não 

poderíamos fazer de carro o supermercado deste mês” e desisti da lógica matemática. 

 

                É preciso muito cuidado com estas pretensas ofertas maravilhosas, tipo “o 

mundo a seu alcance” e outras formas que o mercado lhe propõe para que você se 

desestimule a fazer poupança. Guardar dinheiro é importante para você, sua família, 

seus sonhos e até para o país. Ter a calma suficiente para esperar o momento certo de 

adquirir produtos e serviços é fundamental para sua estrutura financeira. E esqueça o 

cartão de crédito, a não ser que você tenha a certeza de que poderá pagar 100% da 

fatura no próximo vencimento. 

É preciso muito cuidado com estas pretensas ofertas maravilhosas, tipo “o mundo a seu alcance” e outras formas que o mercado lhe propõe para que você se desestimule a fazer poupança.

Page 17: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

17

 

                Outra característica que conspira contra a formação de um patrimônio 

material é o consumismo desenfreado, essa necessidade artificial, incentivada pelo 

mercado através da mídia, de que precisamos possuir tudo e, de preferência, na 

versão mais moderna. Deviam proibir os “polishops da vida”! Quanta coisa adquirimos 

sem de fato precisar? Olhe para o seu guarda‐roupa! Olhe na estante os livros 

comprados e nunca lidos (ao menos este você está lendo)! Os aparelhos descartados 

ainda em bom estado com a desculpa de que “surgiu um mais moderno”! É claro que 

estar atualizado é fundamental e que as inovações tecnológicas devem ser entendidas 

e incorporadas. Não quero que você se transforme em um profissional ou cidadão 

“jurássico”, mas cuidado com os exageros! Muita gente direciona sua vida para os tais 

“objetos do desejo” e perde a noção de possibilidade e utilidade, tão necessárias no 

processo de tomada de decisão.  

 

               A primeira pergunta que devemos nos fazer antes da decisão de compra é: eu 

posso adquirir este bem? Poder significa estar dentro do seu orçamento sem 

prejudicar suas prioridades. Outro dia vi o anúncio de 

um “carro dos sonhos” – uma caminhonete linda, 

automática, design moderno, um luxo e que custava em 

torno de R$ 120 mil. Apesar da vontade de colocar uma 

daquelas na minha garagem, reconheci minha 

impossibilidade.  Assumir esta prestação, mesmo que sem juros, me impediriam de 

honrar outros compromissos já firmados dentro das minhas prioridades. Então, adiei o 

sonho da caminhonete.  

 

               A outra pergunta que deve ser feita, agora para se comprovar o princípio da 

utilidade é: eu preciso mesmo disso? Lembro‐me de uma antiga secretária que 

apareceu no escritório de celular novo, moderno, apesar de nem saber utilizar todos 

os recursos disponíveis no aparelho. Na verdade, ela dava ao novo celular o mesmo 

uso que dava ao antigo (que funcionava perfeitamente): fazer e receber ligações, 

enviar mensagens, utilizar o relógio e o despertador. E pagou por ele o equivalente a 2 

meses de salário. Claro que não resisti e perguntei a razão da troca. Depois de algumas 

A primeira pergunta que devemos nos fazer antes da decisão de compra é: eu posso adquirir este bem?

Page 18: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

18

evasivas, ela acabou confessando que não poderia deixar de comprar, pois todas as 

suas amigas já tinham um como aquele... 

 

               Planeje melhor suas aquisições. Quando for ao supermercado, leve uma lista, 

não vá com fome nem leve criança. Quando for passear no shopping, deixe o cartão de 

crédito em casa. Anote e controle todas as suas despesas. Cuidado com as ofertas. 

Pense nos princípios da possibilidade e da utilidade. São dicas simples para que seu 

patrimônio financeiro possa ser construído sem sobressaltos. E quando começar a 

sobrar aquele dinheirinho para aplicar, leia os livros que indiquei, crie novos hábitos de 

consumo e utilize o dinheiro a seu favor. Você estará a caminho da verdadeira 

harmonia! 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

Page 19: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

19

 

 

 

          Não se trata de ter ou não ter uma religião, praticá‐la ou não, até mesmo da 

crença em um deus todo poderoso. É algo que tem a ver com a sua relação com você 

mesmo, a integração de corpo, mente e espírito. É também a forma como você se 

relaciona com o outro e com o universo. Como você enxerga sua trajetória por esta 

vida? É apenas um acordar‐trabalhar‐comer‐ver TV‐dormir ou existe uma algo mais? 

 

          Alguns chamam de “missão terrena”, outros de “fazer a diferença”. Vamos tratá‐

la aqui de missão pessoal, que pode ser entendida como 

“a razão de minha existência”. Garanto que vale a pena 

pensar sobre tão delicado tema e minha experiência 

com missão pessoal pode ajudar você nesta reflexão. 

 

          Há alguns anos, quando comecei a refletir seriamente sobre o assunto, decidi 

fazer uma viagem ao interior do meu ser para tentar encontrar a melhor resposta à 

pergunta que muitas vezes me inquietava: qual a razão da vida? Confesso que me 

incomodava a possibilidade da resposta banal, relacionada apenas às questões mais 

básicas de sobrevivência e desejo. “Será que é só isso?” pensava. Nascer, estudar, 

trabalhar, casar, procriar, ganhar dinheiro, viajar e morrer, não necessariamente nesta 

ordem e lutando o tempo todo com as frustrações dos sonhos não realizados? Eu 

queria mais. Quem sabe encontrar um guia que pudesse harmonizar todos estes atos, 

que gerasse um fio condutor nas atitudes do dia‐a‐dia. Eu queria mesmo era encontrar 

a minha missão pessoal e só o processo de autoconhecimento me levaria a esta 

descoberta. 

 

           Nesta viagem, descobri que quero estar neste mundo para “fazer diferença 

positiva na vida das pessoas”. Esta é minha missão. Todos os relacionamentos, dos 

mais simples aos mais complexos, devem passar pelo crivo da missão: estou fazendo 

diferença positiva para esta pessoa? 

 

IV – Patrimônio espiritual

“Fazer diferença positiva na vida das pessoas”. Esta é minha missão.

Page 20: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

20

            E o que é fazer diferença positiva? É basicamente deixar sua marca pessoal no 

outro, gerando a sensação ou a certeza de que conseguiu, de alguma forma, 

enriquecer sua vida, nem que seja só por um pequeno momento. Que o seu dia foi 

influenciado positivamente por um ato praticado ou palavra proferida. Das coisas mais 

simples, como elogiar o trabalho da operadora de caixa do supermercado e deixar seu 

dia mais leve, às mais complexas, como nas relações afetivas mais intensas – 

casamento, pais, filhos, família em geral. 

 

            Ousado, não? Nem sempre é fácil a prática cotidiana da sua missão pessoal. 

Afinal, seres humanos são ciclotímicos, mudam e erram. Mas tê‐la sempre em mente 

gera um sentimento de plenitude e de sentido de vida que é único e ajuda na busca 

incessante da coerência entre seus atos e  

pensamentos. É muito bom quando encontro alguém 

que, voluntariamente, exprime uma lembrança 

positiva: “até hoje me lembro daquele seu curso – 

como foi bom para mim” ou “pedi a meu marido para 

ler seu livro e ele passou a me entender melhor”. Sinto‐

me pleno ao ouvir estas manifestações espontâneas. São os conceitos, essencialmente 

abstratos, se transformando em atitudes concretas. É o tangível da minha missão 

pessoal. 

 

             Patrimônio espiritual é entender‐se plenamente. É também ter o que chamo de 

“consciência de mundo”, saber que você faz parte de um todo e, portanto, ter com o 

outro ser uma relação ética, justa e transparente. 

 

             Cada vez que vou fazer compras no supermercado tenho consciência do 

privilégio que é ter trabalho e renda que me permitem colocar no carrinho de compras 

quase tudo que quero consumir (certamente tudo o que preciso para sobreviver). Faço 

as compras sem culpa, até porque culpar‐se não ajuda. Mas não esqueço que a maior 

parte da população deste planeta não pode tomar decisões como as minhas quando 

fazem compras em supermercados. Muitos nem sabem o que é isso. Posso resolver 

sozinho este grave problema mundial, onde poucos têm muito e muitos não têm 

Corremos o risco de “comprar” nossa consciência por achar que “fiz o que podia ter feito”.

Page 21: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

21

quase nada? Certamente que não. Mas ter a consciência que o problema existe e 

incomodar‐se com ele pode ser combustível para ajudarmos a encontrar formas de, se 

não resolver, ao menos amenizar o problema. E ter esta consciência passa pela atitude 

humilde de não olhar só para si, considerando‐se o centro do universo, mas entender 

que fazemos parte dele, juntamente com outros seres vivos. E dar mais quando se 

pode mais. 

 

             Os valores cultuados pela sociedade hipócrita que construímos estão nos 

deixando cada vez mais egoístas, preocupados apenas com o que nos afeta, sem a 

visão sistêmica das interfaces. Coisas do tipo “se resolver o meu problema está ótimo, 

o resto que se vire”. Prevalecendo esta lógica, fica difícil agir com responsabilidade 

pessoal. Muitas pessoas limitam sua responsabilidade para com a sociedade em dar ao 

outro aquilo que não querem mais e provavelmente está ocupando espaço na sala de 

visitas ou no armário do quarto. Sou a favor desta atitude, claro. É muito melhor dar a 

quem de alguma forma poderá se beneficiar do seu uso do que preservar a inutilidade 

da roupa que saiu de moda ou do computador que ficou defasado. Façamos isto, mas 

sem nos considerarmos magnânimos e benfeitores do planeta. Corremos o risco de 

“comprar” nossa consciência por achar que “fiz o que podia ter feito”. É preciso ir 

além. Responsabilidade pessoal não é dar, é doar‐se. É ser voluntário numa verdadeira 

cruzada do amor. É o compromisso inabalável por uma sociedade mais justa e um 

planeta mais harmônico. 

   

Page 22: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

22

 

 

  Aconteceu em 1990, mas lembro‐me como se fosse ontem. Estava em 

Munique, Alemanha, na minha primeira viagem à Europa. Foi um belo despertar na 

“carreira de viajante” – hoje já são 35 viagens para fora do Brasil e um número 

“indecente” de viagens nacionais.  Passeava pelo centro histórico num domingo de 

manhã, curtindo céu azul, sol e um improvável calor. Claro que uma “parada técnica” 

num beer garden era inevitável para uma germânica cerveja gelada. Neste momento 

descobri que estava próximo a um momento histórico: naquela tarde o Bayern, time 

local, faria a decisão do campeonato, a poucas horas e 

quilômetros de onde estava. Claro que fui! Comprei um 

boné vermelho e branco, cores do time da casa, e fui 

para o estádio, torcendo pelo Bayern como se seu 

escudo fosse a estrela solitária, símbolo maior do meu 

querido Botafogo. Curti os 3 x 0 sobre o Borussia 

Dortmund  e voltei ao hotel mais alemão que nunca. Lembrei‐me de Fernando Pessoa: 

“Viajar, viver países. Ser outro constantemente, pois a alma não tem raízes.” Não me 

imagino sem ter vivido esta experiência que hoje faz parte do meu patrimônio cultural. 

 

         Assim como estar em Sousse, bela cidade da Tunísia à beira do Mediterrâneo, 

com minha esposa Carol e um grupo de espanhóis justamente numa noite de 

Barcelona x Real Madrid. Fomos para um bar acompanhar o jogo num telão e beber ... 

chá de menta. Claro, estávamos num país muçulmano e entender a forma de pensar 

dos seguidores de Maomé também é patrimônio cultural. Como nos chega distorcida a 

imagem deste povo, como temos dificuldades de entender sua lógica! Voltei 

apaixonado pela Tunísia e pelo povo tunisiano.  

 

         Nosso Brasil tão diverso também tem um lindo patrimônio cultural do qual 

podemos nos apropriar. De preferência, viajando. Conheci mais de 200 municípios em 

todos os estados brasileiros, literalmente do Oiapoque ao Arroio Chuí. Aliás, quando 

você for ao Oiapoque, não deixe de pegar um barquinho e viajar à França, do outro 

lado do rio. Ou melhor: torça para a ANAC interditar a cia. aérea local e volte à Macapá 

V – Patrimônio cultural

Nosso Brasil tão diverso também tem um lindo patrimônio cultural do qual podemos nos apropriar. De preferência, viajando.

Page 23: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

23

pela estrada, cortando a Amazônia – na hora dá medo, depois vira aventura. E já que 

aventura pouca é bobagem, vá de Macapá a Belém de barco, de preferência 

balançando numa rede e tentando contar as estrelas da 

imensidão amazônica. São 20 horas de puro deleite. No 

livro “Viagens da vida e outros pensares” você pode ler 

uma crônica onde relato os detalhes desta viagem. E 

também das andanças pelos interiores do nosso país, de São Raimundo Nonato, no 

Piauí a Santa Rosa, nos pampas do sul. 

 

           Viajar é, sem dúvida, uma rica e divertida forma de expandir seu patrimônio 

cultural. Ainda quero viajar muito e conhecer muitos lugares e sua gente interessante. 

Este é um requisito básico para transformarmos uma viagem, por mais simples que 

seja, em patrimônio cultural: interagir com o lugar e seus moradores. Frequentar 

lugares que os turistas não frequentam. Andar a pé, de ônibus e de metrô. Comunicar‐

se do jeito que for possível, mesmo que você esteja na linda Budapeste e, como eu, 

não fale uma palavra de húngaro. Ou em Atenas e só conheça “parakalo”. Converse 

com os porteiros de hotéis, motoristas de táxi (em Buenos Aires você vai se 

surpreender) e garçons. Hospede‐se em casa de família, como a Carol fez em Cuba. 

Sinta o cheiro do lugar, entenda a forma de pensar do povo que você visita, tente 

colocar‐se no lugar deles. Saia do conforto do ônibus envidraçado cercado de 

segurança e arrisque‐se pelas ruas e ruelas, em Roma ou Barcelona. Amsterdã é 

museus e canais, mas também é um bar onde a maconha é permitida e um bairro 

boêmio cheio de vitrines, digamos, diferentes das que conhecemos. 

 

            Conheça e deixe‐se conhecer. E não precisa atravessar o oceano para aumentar 

seu patrimônio cultural. Itabaiana, em Sergipe, também é cultura: são as histórias da 

vida contada na feira, logo cedinho, comendo doce de espécie ou beiju de amendoim. 

Na sua cidade e proximidades tem muito lugar e muita gente a ser conhecida. Você vai 

se enriquecer na conversa com o pescador ribeirinho, com o catador de latinhas, com 

a sua empregada doméstica. Entenda sua forma de pensar e seus valores. Conhecer 

sua história de vida vai ajudá‐lo a conectar‐se com o Universo. Perceber e respeitar as 

Viajar é, sem dúvida, uma rica e divertida forma de expandir seu patrimônio cultural.

Page 24: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

24

diferenças que existem entre os bilhões de seres humanos deste planeta nos faz sentir 

parte desta História. 

 

            Você pode também aumentar seu patrimônio cultural sem sair de casa. Como? 

Lendo, como faz agora. Ao ler as páginas anteriores você viajou comigo nas asas da 

imaginação. Leia e estude sempre. Quanto mais aprendemos, mais percebemos como 

falta coisa a ser conhecida! 

 

 

 

   

Page 25: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

25

 

 

          Estes patrimônios poderiam ser estudados de forma separada e confesso que no 

início pensei em fazê‐lo. Desisti ao perceber o quanto, ultimamente, nosso lado social 

tem andado de mãos dadas com o profissional – uma característica do novo mundo do 

trabalho. Pesquisas mostram que aumentou na última década a quantidade de 

parcerias afetivas (namoro, casamento e afins) a partir de uma relação profissional. É o 

resultado de muito tempo dedicado ao trabalho e da tendência de procurarmos 

“descomprimir” a pressão dos ambientes profissionais 

com o já famoso “chopinho com os colegas”. Há ainda 

outro aspecto que nos estimula a analisar estes dois 

patrimônios de forma associada: a cultura brasileira que 

interliga o social e o profissional. Temos o hábito de 

transferir para as relações profissionais nossa situação 

pessoal com aquela pessoa. Quando somos amigo do 

nosso chefe, esperamos, às vezes inconscientemente, 

que ele aja sempre como amigo, nunca como chefe. E se um dia somos punidos por 

um erro no trabalho, colocamos em risco esta amizade. Esperamos uma complacência 

maior por parte daqueles que se relacionam socialmente conosco. Por isso é tão difícil 

a implantação da meritocracia nas empresas brasileiras. Na meritocracia, as relações 

pessoais não entram no ranking da avaliação de desempenho, gerando muitas vezes o 

boicote por parte das pessoas envolvidas. 

 

          Hoje boa parte das recolocações de pessoas no trabalho, principalmente nos 

escalões gerenciais e superiores, é feita por indicação pessoal. Não me refiro àquela 

indicação política, ao apadrinhamento, infelizmente tão comum no Brasil. Refiro‐me 

ao empresário que abdica dos meios convencionais de recrutamento de pessoas e 

solicita de alguém em quem confia uma indicação para ocupar um cargo em sua 

empresa. Eu recebo, com certa constância, esta incumbência. Empresários e gestores 

que me conhecem como profissional e solicitam a indicação de alguém. É claro que só 

indico quem realmente se encaixa no perfil desejado e isto é importante para gerar 

novas solicitações. 

VI – Patrimônio profissional e social

Hoje boa parte das recolocações de pessoas no trabalho, principalmente nos escalões gerenciais e superiores, é feita por indicação pessoal.

Page 26: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

26

 

          Já citamos uma palavrinha mágica quando nos referimos a patrimônio social e 

profissional: relacionamentos. Mantê‐los, fazendo network, é fundamental para sua 

ascensão profissional. Colocar os amigos na “rede”, mantendo‐os atualizados em 

relação a você e também manter‐se atualizado em relação a eles é uma atitude de 

extrema importância para a consolidação de uma carreira de sucesso. Assim como 

também é importante fazer marketing pessoal. 

 

          Marketing pessoal é a sua embalagem, é tudo aquilo que vai gerar “desejo de 

compra” por parte de seus “compradores”: clientes, possíveis empregadores, diretoria 

da empresa e demais possibilidades de sua área de 

ação. Em workshops que ministro sobre este tema, 

costumo fazer uma dinâmica que ilustra bem a 

importância desta embalagem: desde o início do evento, 

sem fazer nenhum tipo de referência ao fato, deixo 2 

caixas de mesmo tamanho sobre a mesa. Uma 

ricamente embalada, com papel brilhante e laços de fita. Outra embalada com papel 

pardo e fita crepe, sem nenhum glamour. Durante os trabalhos, faço uma pergunta ao 

grupo e informo que, quem acertar a resposta, terá direito a um prêmio. Alguém 

acerta, vem à frente e peço que escolha uma das duas caixas para levar de presente. 

Até hoje sempre a escolhida foi a bem embrulhada, com papel brilhante. Ao abri‐la, o 

contemplado descobre que é uma caixa de bombons e invariavelmente tem que dividi‐

la com a turma. Passadas algumas horas, faço outra pergunta com direito a prêmio, e o 

vencedor vem buscar seu presente com certo ar de frustração, pois só restava a “caixa 

pior”, mal embalada. Ao recebê‐la e abri‐la, descobre que se trata exatamente da 

mesma caixa de bombons que havia no outro prêmio. E neste momento o grupo 

entende o quanto a embalagem influencia nas escolhas de cada um de nós. É claro que 

nenhuma embalagem, sozinha, é geradora de qualidade. É preciso ter conteúdo, 

competência técnica, conhecimentos, habilidades e atitudes compatíveis com o que se 

pretende. Mas para que o mercado enxergue você e resolva comprar esta sua 

competência, é preciso fazer marketing pessoal, mostrar ao mundo que você é bom 

em algumas coisas e que você tem diferenciais competitivos. Só tome cuidado para 

. Ao recebê‐la e abri‐la, descobre que se trata exatamente da mesma caixa de bombons que havia no outro prêmio.

Page 27: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

27

não exagerar: marketing pessoal superdimensionado vira arrogância, presunção, e aí, 

como se diz popularmente, o feitiço vira contra o feiticeiro. 

 

             Auto estima elevada também ajuda no desenvolvimento do patrimônio 

profissional e social. Existem pessoas que pensam assim: se eu não gosto de mim, 

quem vai gostar? Ou ainda: se eu não gosto nem de mim, de quem vou gostar? E aí 

entram na espiral da desilusão, da depressão, e passam a ter muita dificuldade de 

relacionamento consigo e com o outro. Acreditar nos seus potenciais e saber tirar 

proveito deles é fundamental. Afinal, se você não acredita e confia em si mesmo, como 

esperar que os outros o façam? 

 

             A presidente mundial da Xerox é uma 

personagem única no mundo corporativo americano. Ela 

é mulher, negra e nasceu pobre, muito pobre, no que 

um dia foi uma área “barra pesada” em Nova York. Seu 

nome é Úrsula Burns e hoje, aos 48 anos e salário de 

quase seis milhões de dólares anuais, alcançou um 

patamar que poucas pessoas conseguem. Ela diz que sempre ouve perguntas a 

respeito da surpresa que poderia sentir por ser uma pessoa tão bem sucedida, em 

comparação com sua infância quase miserável. E sempre responde que não, já que sua 

mãe nunca deixou que ela e seus irmãos se sentissem inferiores a alguém. Neste 

exemplo nós vemos o quanto a educação que recebemos em casa é importante para o 

desenvolvimento de nossa autoestima. Estudos mostram que os pais dizem 

normalmente 10 “nãos” para cada “sim” aos seus filhos. Ou seja: dez reprimendas para 

cada elogio. Criticamos o erro, mas muitas vezes nos esquecemos de elogiar os 

acertos. E todo ser humano precisa de validação para fortalecer sua autoestima.  

 

              Outra questão que deve ser respeitada por você na administração deste 

patrimônio é a sua vocação. Esta palavra pode gerar inúmeras interpretações 

diferentes, mas particularmente gosto daquela que associa vocação a saber fazer + 

gostar de fazer. Ganhar dinheiro trabalhando naquilo que você faz com maestria e te 

dá prazer é o paraíso na Terra. Tem muita gente que desperdiça sua verdadeira 

Criticamos o erro, mas muitas vezes nos esquecemos de elogiar os acertos. E todo ser humano precisa de validação para fortalecer sua autoestima.  

Page 28: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

28

vocação (quando tem a felicidade de descobri‐la) trocando‐a por uma pseudo 

segurança profissional ou um pouco mais de dinheiro no fim do mês. A vida é muito 

curta para desperdícios e o de talento é um dos principais. Se você sabe fazer bem 

alguma coisa e gosta do que faz, procure um meio de transformar isto em profissão, 

trabalho e renda. 

 

             Para manter em alta seu patrimônio profissional, não se esqueça da atualização 

constante. Mantenha‐se atualizado com leituras, participação em eventos, e não só no 

que diz respeito ao seu trabalho ou profissão, mas 

em relação ao mundo em geral. Boa parte dos 

processos seletivos para contratação de 

profissionais das mais diversas áreas inclui perguntas 

sobre conhecimentos gerais aos candidatos. Se você 

não está “por dentro” do que está acontecendo no 

Brasil e no mundo, isto certamente atrapalhará seu 

desempenho em uma entrevista de seleção.  

 

             Existem muitas dicas sobre carreira e patrimônio profissional nos inúmeros 

livros que já foram escritos sobre o assunto. Na internet você também poderá 

encontrar textos interessantes sobre este tema. O importante é estar consciente de 

que este patrimônio merece atenção e cuidados especiais e você não pode se 

descuidar dele. Mas não se esqueça também da harmonia com os demais patrimônios. 

Já escrevi em outro livro sobre o quanto devemos tomar cuidado com os exageros, 

principalmente quando se trata de trabalho e profissão. Soube de inúmeros 

profissionais que “surtaram” por não administrar o tempo que deveriam dedicar ao 

trabalho e à carreira. Estouraram seus limites físicos e psicológicos, desestruturaram a 

família e tiveram enormes prejuízos de ordem pessoal por não saber a hora de parar, 

de rever rotinas, de harmonizar patrimônios. Eu próprio passei por isso e aprendi pela 

experiência. Certa vez, no início deste século, estava imbuído do projeto pessoal de me 

tornar um profissional conhecido e respeitado em todo território nacional. Esta 

determinação me fez abraçar mais projetos do que deveria e minha rotina ficou de 

pernas para o ar. A vida era emendar um trabalho no outro, com longas viagens, noites 

O importante é estar consciente de que este patrimônio merece atenção e cuidados especiais e você não pode se descuidar dele. Mas não se esqueça também da harmonia com os demais patrimônios.

Page 29: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

29

em hotel, vida social quase nula. Atingi meus objetivos e cheguei a trabalhar em 17 

estados num mesmo ano. Até o dia em que ocorreu algo que me fez perceber que 

aquela correria tinha que ter um fim. Terminei um treinamento às seis da tarde de 

uma sexta‐feira em Maceió e, apesar do desejo pessoal de ficar por ali no fim de 

semana (o que hoje faço sem culpa), fui direto ao aeroporto embarcar para São Paulo, 

onde teria um compromisso no sábado a partir das 

8h da manhã. Cheguei ao hotel na capital paulista 

depois das 23h e “desmaiei”, de tão cansado que 

estava, colocando o relógio para despertar às seis 

e meia de sábado. Dormi profundamente até ser 

despertado pelo som do relógio e, neste 

momento, tomei um susto: onde estou? Olhei em 

volta e não reconheci nada. Comecei a me 

preocupar. Abri a cortina do apartamento e reconheci o rio Pinheiros – ufa, estou em 

São Paulo, pensei. Ato seguinte: fazendo o que? Novo susto até folhear a agenda e 

identificar meu objetivo naquele dia. À noite, no caminho de volta pra casa, depois de 

mais de dez dias fora, decidi que era preciso mudar, sob pena de adoecer, física e 

psicologicamente, e deixar de lado as outras coisas igualmente importantes na vida. 

 

               Finalmente, antes de falar dos amigos, uma última dica: seja objetivo na 

gestão de seu patrimônio profissional, mas não deixe de lado a sua sensibilidade. A 

sensibilidade para com o outro, seus sentimentos, necessidades e peculiaridades. 

Desde o mais simples cuidado em saber se, de algum modo, não o está incomodando, 

desde as pequenas delicadezas fundamentais para o bem viver, das regras de 

comportamento e etiqueta, até a preocupação sincera com seus problemas e 

dificuldades. Não se pode considerar como educado, por mais títulos universitários 

que possua, aquele que não tem sensibilidade para com o próximo e que passa pela 

vida como um trator, desrespeitando direitos, ferindo e esmagando o outro com uma 

postura de “dono do mundo”. 

 

              Não posso terminar este capítulo sem refletir sobre o grande patrimônio social 

que temos: nossos amigos! Cuido com especial carinho de cada um deles, espalhados 

Não posso terminar este capítulo sem refletir sobre o grande patrimônio social que temos: nossos amigos! Cuido com especial carinho de cada um deles, espalhados pelo Brasil, fruto do meu jeito meio nômade de ser.

Page 30: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

30

pelo Brasil, fruto do meu jeito meio nômade de ser. Agrupo‐os considerando as 

variáveis tempo e espaço. Os da adolescência bem vivida no Colégio Santo Inácio, no 

Rio de Janeiro, os de Viçosa, MG, onde passei cinco anos em uma das melhores 

Universidades do país, os de diferentes trabalhos que realizei ao longo da vida, que 

começaram colegas e se tornaram amigos, os que 

surgiram espontaneamente, do nada, e estão aí, firmes 

para o que der e vier. Faço esforços no sentido de não 

perder uma chance de estar com eles, como, por 

exemplo, nos aniversários de formatura do Santo 

Inácio. Na última festa, dos 30 anos de formado, 

aconteceu um fato engraçado. Fiz de tudo para ir, 

manejando de toda forma minha agenda de trabalho, e 

no dia marcado lá estava eu no Clube Caiçaras, à beira da Lagoa, pronto para brindar o 

reencontro. Reconheci alguns, outros só pelo crachá, muito papo, saudade, “onde você 

anda, o que está fazendo, e esta careca?, tá barrigudo, hein!” Tudo numa noite que 

deveria ser muito mais longa. Ao conversar com o Mascarenhas, um dos que passei 30 

anos sem ver, disse todo orgulhoso que havia saído de Cuiabá especialmente para a 

festa e voltaria já no dia seguinte. E ele, rindo, me disse que tinha feito a mesma coisa, 

saído de sua casa só para a festa e que voltaria também no dia seguinte. A única 

diferença é que ele mora na Suíça! Percebi que tem mais gente cuidando deste 

patrimônio social que são nossos amigos... 

 

               Sinto falta de reencontrar alguns. É como diz a música “já choramos juntos e 

muitos se perderam no caminho...”. Um exemplo são os amigos do remo, parceiros do 

improvável despertar às quatro e meia da manhã para, ainda escuro, dar as primeiras 

remadas na Lagoa Rodrigo de Freitas. Onde estão vocês, companheiros da exaustão, 

do orgulho de vestir a estrela solitária no peito, do choro convulsivo ao perder, por 

meio barco, para um Flamengo nitidamente pior? Cadê o Duda, o Vinícius, o Vareta? 

 

               Até pouco tempo atrás também lamentava o distanciamento dos amigos de 

Viçosa, parceiros das noites em claro, ora estudando, ora bebendo. A intimidade de 

morarmos juntos, na República Solidão, nos tornou cúmplices por toda a vida. As 

E ele, rindo, me disse que tinha feito a mesma coisa, saído de sua casa só para a festa e que voltaria também no dia seguinte. A única diferença é que ele mora na Suíça!

Page 31: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

31

dificuldades da distância da família, do rigor das provas, da predominância masculina 

no Campus, dos finais de semana que se arrastavam, tão graves na época, hoje são 

combustível da saudade. A vida nos levou para novas experiências, novos caminhos, e 

nos afastamos. Um ou outro contato casual, nada mais que isso. Mas a proximidade 

dos 50 anos de vida, associada à facilidade de comunicação no mundo moderno, 

começaram a operar o reencontro. Descobri minha tão querida professora de 

Estatística, a Regina, através do Orkut. Que alegria revê‐la virtualmente, com a marca 

registrada do sorriso, ladeada pelos netos. Que bom o Mário Balducci usar o Google 

para encontrar cada um da “Solidão” e começarmos a pensar num reencontro de 

verdade, olho no olho, cerveja no copo. Quantas estórias teremos? Uma infinidade, 

certamente. Outro dia me ligou o Geraldo Madureira, próspero empresário rural de 

Montes Claros, MG, pai de quatro filhos, querendo 

arranjar um jeito de apressar este encontro. Não sei se 

vou reconhecê‐lo, pois o Gerô da minha memória tem 

19 anos e me levou para conhecer as fazendas do pai 

em Janaúba, depois dele próprio ter curtido, 

boquiaberto, as praias do Rio de Janeiro ao meu lado e de minha irmã Angela, por 

quem ele tinha, digamos, certo interesse. Vamos todos nos encontrar e será logo. A 

certeza de nossa finitude apressa este encontro. 

 

               Os amigos da adolescência continuam presentes, há mais de 30 anos. Graças à 

disposição do Raul Araripe, patrono da “Confraria”, e também ao desejo de todos, nos 

encontramos sempre para falar do passado, do presente e, pasmem, do futuro. Seja 

nos aniversários, no play do Benjamim na festa de fim de ano, nos botecos da vida, nas 

pousadas de Visconde de Mauá, lugar a gente arranja, o importante é estar junto. E aí 

vale relembrar o desempenho do Aymoré Futebol Clube no Aterro do Flamengo, o 

show do Gênesis no Maracanazinho, as viagens acampando pelo litoral do Espírito 

Santo ou Cabo Frio, a Festa do Chope no Country de Friburgo, e tantas, tantas coisas 

que fizemos juntos. 

 

                 Poderia escrever diversas páginas sobre as delícias de ter e curtir amigos. 

Certamente faltaria papel. Teria que falar do Geraldo, grande Gêca, amigo há mais de 

Poderia escrever diversas páginas sobre as delícias de ter e curtir amigos. Certamente faltaria papel.

Page 32: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

32

20 anos que fica bravo se eu for à Brasília e não passar ao menos uma noite de papo, 

escolhendo o vinho na sua adega. Da Renira em Natal, que me ajudou tanto no difícil 

momento do fim do casamento e, nas voltas que o mundo dá, alguns anos depois nos 

vemos invertendo os papéis. De Sandra Coêlho, esta alcoviteira de primeira que me 

apresentou sua ex‐nora, como quem não quer nada, e hoje assiste de camarote nossa 

caminhada para 10 anos juntos. Albi Militão, esse irmão cearense que conheci em 

Macapá, gerando imediata identificação profissional e pessoal. Gilmar e Denise, das 

noitadas no Zopapa ao reencontro em Cascavel, PR. Ana Rita, sempre disposta a uma 

palavra amiga e a me receber com requinte em Campo Grande, MS. Tem também a 

Bet Aguirre, o Augusto Amaral, a Ana Boni, a Márcia Casali, o Claudinet Coltri, Elvira, 

essa grande companheira de esqui em Bariloche, Bárbara, Marcelo e Naná, ufa, 

desculpem, não vou conseguir citar todas essas criaturas tão especiais que são meus 

amigos e amigas – o que seria de mim sem eles? Amigos de verdade sabem que 

podem não estar no livro, mas certamente estão dentro do coração. 

 

             Encerro com uma homenagem póstuma ao amigo, parceiro e sócio, tão 

brutalmente assassinado, e que deixou muita saudade. Que Nossa Senhora do 

Pantanal continue te protegendo aí nesta sua nova dimensão. E pode estar certo que 

nossas risadas ainda ecoam pelas estradas de Mato Grosso. Continuamos por aqui, 

“amano” a vida. Valeu Raul! 

 

 

 

   

Page 33: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

33

 

 

              Existem muitos outros patrimônios pessoais para você administrar. O nome já 

diz: é pessoal, cada um tem os seus. O primeiro passo é identificá‐los, para então 

alinhá‐los aos valores e cuidar com carinho de cada um deles. Procurei nos capítulos 

anteriores dividir com você, leitor, alguns daqueles que considero importantes na 

minha vida. Agora busque os seus e trabalhe para harmonizá‐los.  

 

             Harmonizar é diferente de equilibrar. Equilíbrio pressupõe igualdade das 

partes, o mesmo peso nos dois pratos da balança. Harmonia é menos cartesiana, 

depende de outros fatores, das interações, do momento. 

 

             Portanto, haverá situações da sua vida onde um 

de seus patrimônios merecerá maior atenção que outro. 

Um familiar sofrendo ou doente nos faz focar, neste 

momento com mais intensidade, no patrimônio familiar. 

Já a perda do emprego e respectiva renda nos levarão a dar maior atenção aos 

patrimônios material e profissional. E assim, com atenção aos “requerimentos da 

vida”, vamos buscando esta harmonia. 

 

             Quer um exemplo? Vou dividir com você um bem pessoal. Quando perdi meu 

pai, no início de 2008, percebi que aquele seria um ano difícil para nossa família, 

principalmente para minha mãe, de repente privada do companheiro de quase 50 

anos, passando a morar sozinha, com os filhos distantes e tendo que assumir 

responsabilidades práticas e cotidianas que lhes eram inéditas. Tudo isso em meio à 

dor da perda. Foi então o ano que mais procurei estar a seu lado desde que saí do Rio 

de Janeiro para viver em lugares mais tranquilos. Abri mão voluntariamente de alguns 

trabalhos e de outras viagens porque meu foco naquele momento era tentar dar o 

suporte que ela certamente precisava. Minha irmã Angela, meus filhos Rafael e Renata 

com sua mãe Regina me ajudaram muito neste objetivo. 

 

VII – Harmonizando os múltiplos patrimônios

Ao harmonizar os diferentes instrumentos, é possível compor uma melodia rica e complexa.

Page 34: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

34

              Hoje sua vida se reorganizou. Permanece a saudade, mas a cada dia é um novo 

“olhar a frente” com projetos pessoais e sonhos que se tornam realidade. Perdemos o 

pai, o marido e o avô, mas não perdemos nosso patrimônio familiar. 

 

              Professor de Wharton, uma das melhores escolas de negócio dos Estados 

Unidos, Stewart Friedman tem levado estas reflexões para a sala de aula, em cursos 

bastante concorridos. Em seu último livro (“Liderança total – seja um líder melhor, 

tenha uma vida mais completa”, ainda não lançado no Brasil), ele sintetiza o método 

que desenvolveu para auxiliar as pessoas a alinhar os diferentes objetivos de vida e 

buscar resultados significativos e realização pessoal. Ele utiliza com maestria a 

metáfora da orquestra. Ao harmonizar os diferentes instrumentos, é possível compor 

uma melodia rica e complexa. “Talvez, em determinado momento da partitura, haja 

um solo de saxofone, mas as participações do trompete, do piano e da bateria é que 

adicionam riqueza à música. Um não precisa ficar em silêncio para que o outro possa 

tocar”, concluiu o autor. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 35: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

35

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dedico a Edson Jacintho, mestre na arte de harmonizar competência empresarial com 

valorização do Ser Humano. 

 

 

 

 

   

Parte II Crônicas do caminho 

Page 36: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

36

 

 

  O mercado é muito acolhedor. Basta ver o número de novos negócios que 

surge diariamente. Mas o mercado é também implacável. É só verificar o número de 

negócios que também desaparece a cada dia. 

 

   Muitos empreendedores acreditam que basta produzir ou vender algum bem 

ou serviço para estar diante de uma possibilidade de negócio. Isso é apenas “meia 

verdade”. Negócios concebidos desta forma possuem ciclos de vida curtos e agonizam 

enquanto apenas sobrevivem. O mercado é generoso, 

ainda mais num país em construção como o Brasil, 

acolhendo e permitindo a participação de quase todos, 

até dos pouco competentes. Mas este mesmo mercado, 

tão real e intangível, só presta homenagens aos que dão 

o toque do artista aos seus negócios. Entenda por toque 

do artista ao alinhamento inteligente entre as três principais definições estratégicas de 

um empreendimento: a escolha do foco de atuação, dos diferenciais competitivos e 

das competências internas.  

 

   “Todo mundo é cliente!” Essa é a afirmação mais infeliz que um empreendedor 

pode fazer. Todo mundo e ninguém é quase a mesma coisa. Quando uma empresa 

está se propondo a atender a todos, acaba implicitamente decidindo não dedicar‐se a 

ninguém, ao menos com a atenção e competência que este ser tão especial – o cliente 

– tem exigido. Decidir por um foco sempre foi um exercício difícil para muitos 

empreendedores, que enxergam o mercado como um imenso e inesgotável manancial 

de faturamento. Ainda mais que a focalização realmente gera redução de mercado, 

podendo sugerir um faturamento inexpressivo. Mas focar uma determinada parcela do 

mercado funciona como a poda das plantas. 

 

  Podar significa deixar determinada planta com três ramos de botões de flores, 

por exemplo. Com isso, a planta canaliza os seus recursos para um número 

relativamente pequeno de brotos. Embora pareça mutilada na época da poda, ela 

Empresário ou artista?

Centrar foco é também a escolha para onde deverão ser canalizados a atenção, os esforços e as idéias de todos na empresa moderna.

Page 37: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

37

ressurge viçosa no tempo certo. Confúcio nos dizia que “o homem que caça dois 

coelhos não pega nenhum”. Centrar foco é também a escolha para onde deverão ser 

canalizados a atenção, os esforços e as idéias de todos na empresa moderna. Significa 

pensar sempre no cliente, nas suas necessidades, nas soluções para seus problemas, 

nas possibilidades de surpreendê‐lo através de inovação e da criatividade.  

 

  No século passado, não tão distante assim, ser o primeiro ou ter o maior 

pedaço da pizza que representava o mercado era a meta de muitas empresas. No atual 

momento, ser líder em um determinado segmento é o grande desafio. Mais que ser 

um pedaço maior da pizza, o importante é posicionar‐se na mente do cliente e ser 

sempre lembrado por ele. E essas lembranças devem dar água na boca, e não uma 

desagradável sensação de indigestão. 

 

   Para ser lembrado é preciso conquistar a liderança em alguma categoria, em 

determinado foco, mas para isso é preciso acreditar que a demanda não é uniforme. 

Nenhum produto ou serviço consegue agradar a todo mundo. Quando se conquista a 

liderança, isto por si só é um diferencial competitivo. Mas, para atuar com arte no 

mercado, é preciso pensar em outros diferenciais competitivos e desenvolver as 

competências adequadas. 

 

   O toque do artista está justamente em conseguir alinhar o foco escolhido, os 

diferenciais competitivos e as competências internas. Será que você consegue? 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

Page 38: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

38

              

 

  Estamos vivendo uma das maiores mudanças filosóficas que a sociedade já 

experimentou nos últimos tempos. Pode parecer uma constatação por demais óbvia. E 

é mesmo. Mas não consigo me calar ao ver, feliz, pessoas com coragem de tomar 

decisões que contrariam o status quo mas fortalecem a prática dos seus valores, e, por 

consequência , sua razão de viver. Falo de projeto de vida, de coerência entre valores e 

atitudes, da percepção de que ao menos esta vida é única.  

 

  Desde a Revolução Industrial, talvez até 

desde bem antes, já que existem algumas 

citações bíblicas assim interpretadas, o ser 

humano passou a cultivar o trabalho e suas 

obrigações decorrentes como principal foco de 

sua vida. Daí até o culto aos workaholics da 

década de 80 foi um pulo. E num planeta 

eminentemente capitalista, fica difícil dissociar trabalho de dinheiro. Assim, forma‐se o 

círculo vicioso de mais trabalho para mais dinheiro que exige mais trabalho e por aí se 

caminha. A sociedade de consumo, feliz, aprova e apóia este sistema, sem se dar conta 

que ele, entre outros males, gera um enorme contingente de excluídos, tanto do 

trabalho como do dinheiro. Além dos excluídos de si mesmo.  

 

  Hoje, apesar das máquinas terem absorvido boa parte do trabalho humano de 

séculos e décadas passadas, tem‐se a nítida sensação de que há menos tempo 

disponível. Há quantas semanas você não tem tempo para si e seus amigos? Qual a 

última vez que se permitiu “jogar conversa fora”? Bem diz Oswaldo Montenegro na 

sua A Lista: “faça uma lista dos grandes amigos que você mais via há 10 anos atrás. 

Quantos você ainda vê todo dia, quantos você já não encontra mais?” Ou Domenico 

De Masi, em A Economia do Ócio, editora Sextante: “As máquinas absorveram de 

forma crescente o trabalho humano, mas não liberaram o homem do trabalho. Não lhe 

restituíram o tempo. Quanto mais o homem delega à maquinaria o esforço físico, mais 

se vê tentado a preencher o tempo que lhe sobra multiplicando suas preocupações 

A aventura de escolher o próprio destino

A sociedade de consumo, feliz, aprova e apóia este sistema, sem se dar conta que ele, entre outros males, gera um enorme contingente de excluídos, tanto do trabalho como do dinheiro. Além dos excluídos de si mesmo.  

Page 39: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

39

intelectuais. E como estas preocupações são todas reguladas por normas, acordos, 

contratos, controles e prazos, enquadram‐se muito mais na natureza do trabalho que 

na do tempo livre.”  

 

  Esquecemos que igual a hoje, só mesmo hoje. E que nossos filhos não voltarão 

a ser crianças, que nunca mais poderemos buscá‐los no colégio ou nas festinhas e que, 

daqui a pouco, eles é que vão querer nos ensinar as artimanhas da vida sexual.  

 

  Em trabalhos de aconselhamento que realizo com profissionais quase sempre 

bem sucedidos na carreira e financeiramente, consigo notar um elo comum: a falta da 

expectativa da felicidade. Um duro golpe para quem 

tem muito. São pessoas que, em certo momento de 

suas vidas, passam a questionar o porquê de tudo. E 

muitas vezes chegam à conclusão de que suas atitudes 

ao longo da vida foram dissociadas de seus valores 

mais pessoais. Construíram um império mas 

esqueceram‐se de construir a si próprios, a família, o amor, as paixões pessoais. E 

ficam tristes com isso. E procuram mudar enquanto é tempo. E sempre há o tempo de 

começar. “Começar de novo e contar comigo, vai valer a pena ter amanhecido” como 

nos ensina o Ivan Lins. Muitos são levados à forçosa reflexão após receber pancadas da 

vida: uma separação, filhos sem afetividade, um enfarte e outras mazelas. Mas vejo, 

exultante, que hoje cresceu a preocupação da sociedade como um todo com a 

qualidade de vida e, principalmente, a coerência entre os valores e as atitudes. Várias 

são as reportagens sobre o tema, os “cases” que ouvimos dos amigos e a procura por 

ajuda. Treinamentos alternativos também estão acontecendo aos montes. Num deles, 

nos Estados Unidos, executivos são colocados em frente a bandidos de todo tipo. O 

objetivo é fazer com que os executivos ouçam atentamente o que os bandidos têm a 

dizer. Invariavelmente eles falam de seus valores: liberdade, família, sentido de vida, 

amores vividos. Enfim, das coisas de que foram privados. A conclusão a que os 

executivos chegam é que também estão presos. São escravos do tempo, dos 

compromissos, das viagens de negócios, das “necessidades” financeiras. E saem dali 

bem diferentes.  

Muitos são levados à forçosa reflexão após receber pancadas da vida: uma separação, filhos sem afetividade, um enfarte e outras mazelas.

Page 40: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

40

 

  Pare um pouco para pensar. Faça uma lista das coisas que você não precisa e 

veja quanto está pagando por elas. Faça sua cotação em moeda emocional que, afinal, 

é a que mais vale. Descubra onde estão os maiores desperdícios de tempo. É mesmo 

preciso trabalhar tanto? Será necessário ganhar mais dinheiro do que realmente 

necessitamos? Por que postergar o hoje e viver só no amanhã? 

 

  Tente descobrir o quanto você se escravizou ao estereótipo do corpo malhado, 

da roupa de griffe ou dos valores da moda? Será que você não anda meio afastado de 

si próprio? Onde está sua felicidade: no porta malas do carro do ano ou naquelas 

coisas que você gostaria de ser e não é, de fazer e não faz? 

 

  Abasteça‐se de amor e pegue a estrada da mudança. Não tenha medo da 

estação de chegada. Lá certamente tem alguém muito especial à sua espera: você! 

 

 

   

Page 41: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

41

 

 

  Já fui Auditor‐Fiscal do Trabalho. Como aqueles três ex‐colegas que, 

acompanhados do motorista, foram cruelmente assassinados em Minas Gerais. Senti 

muito esta perda, pois, apesar de não conhecê‐los pessoalmente, era, de alguma 

forma, toda uma categoria profissional que ali estava representada. E, em meio às 

imagens da chacina divulgada pela imprensa, recordei‐me das inúmeras viagens que 

realizei ao interior do Brasil a procura do trabalho escravo e do aviltante desrespeito 

ao ser humano, muito mais atingido que apenas o trabalhador. 

 

       Era, sem dúvida, um trabalho árduo e arriscado, como ainda o é, mesmo que 

quase sempre sob a proteção da Polícia Federal. 

Dormimos várias vezes em alojamentos 

precários, facilmente visados. Andávamos por 

estradas que poderiam ser bloqueadas a 

qualquer momento com troncos de madeira, 

gerando situações que me recusava sequer a 

imaginar. Apesar de adulto, não informava aos 

meus pais algumas destas viagens, com medo de 

impedir‐lhes as boas noites de sono que merecem. 

 

       Eu sabia que, além dos riscos, era um trabalho de formiguinha, tentando remediar 

o ranço de escravidão que ainda persiste neste Brasil tão moderno e tão precário. A 

relação capital‐trabalho ainda é muito permeada pela disputa, pelo medo e pela mais‐

valia. Nossos trabalhadores, mormente os da zona rural, na maioria das vezes 

desconhecem até seus mais elementares direitos, como água potável ou jornada de 

trabalho. E mesmo quando conhecem, sentem no cotidiano o que é não ter voz ativa, 

o que é submissão ou até o que é não ser livre e protagonista da própria vida. 

 

       Imaginando o sofrimento das famílias dos quatro funcionários públicos tão 

covardemente atingidos, comecei a me indagar sobre os motivos que levaram pessoas 

a cometer tal barbaridade. E as possibilidades são inúmeras, além da antiga rivalidade 

Morte anunciada

Do guarda de trânsito ao auditor de tributos conhecemos inúmeros casos de verdadeiro abuso de autoridade, de gente despreparada para o exercício da função pública, de frustrações pessoais resolvidas na base da “terapia da carteirada”.

Page 42: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

42

já mencionada. Dinheiro, interesses escusos, poder pessoal e tantas outras que, 

infelizmente, muitas vezes são molas propulsoras de pessoas e sociedades. Uma das 

possibilidades não pode ser desprezada: a arrogância, o autoritarismo e a soberba que 

algumas de nossas autoridades públicas constantemente praticam no desempenho do 

seu ofício. Não posso julgar o caso em questão, já que me faltam subsídios para tal, 

mas é inconteste que muitos de nossos empresários têm uma raiva, quase sempre 

contida, dos absurdos que muitas vezes permeiam a atividade de fiscalização pública 

no país. Do guarda de trânsito ao auditor de tributos conhecemos inúmeros casos de 

verdadeiro abuso de autoridade, de gente despreparada para o exercício da função 

pública, de frustrações pessoais resolvidas na base da “terapia da carteirada”. Isto sem 

falar em corrupção. 

 

         Infelizmente já presenciei diversas situações de ex‐colegas que, considerando‐se 

acima do bem e do mal, humilharam publicamente empresários e gerentes, 

extrapolando, em muito, sua função de orientar e punir àqueles que infringem a lei. 

Assisti a coisas que envergonham muito mais que uma categoria profissional: 

envergonham nossa suprema condição de seres humanos. 

 

          Atitudes arrogantes deixam um rastro de ódio, rancor e impotência. Os mesmos 

sentimentos que muitas vezes o trabalhador nutre pelo seu patrão. E o medo de 

denunciar e ser eternamente perseguido pelo corporativismo deixa a raiva adormecida 

até o dia em que ela vira úlcera, infarto ou uma rajada de metralhadora, matando 

pessoas sérias e competentes, que, Deus permita, compõe a maioria das nossas 

autoridades constituídas. 

 

 

 

 

 

 

   

Page 43: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

43

                      

 

  Negócios previsíveis já não são mais comuns. Que o digam as crises que 

invariavelmente assolam os mercados mundiais e nos deixam inseguros diante do 

futuro incerto. Além da crise, ou por causa dela, fusões e aquisições, reduções de custo 

e reestruturações constantes ocupam as manchetes. A internet e outros meios de 

comunicação recentes estão modificando as expectativas do consumidor. Custos e 

mercados globais passam por altos e baixos de hora em hora. Stephen Covey, autor de 

“Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”, chama esse novo clima nos negócios 

de “turbulência permanente”, e quem não conseguir se manter neste ritmo será 

tragado por ele.  

 

  Os métodos de ontem simplesmente não funcionam num mundo em 

turbulência. Tradicionalmente, os gerentes administram de dentro do sistema e se 

concentram em fazer as coisas da forma correta. Os 

líderes, contudo, trabalham sobre o sistema e se 

concentram em fazer as coisas certas. O papel 

gerencial ainda é essencial e desempenha uma 

função vital nas Organizações, mas a liderança de 

vanguarda é indispensável para tornar o 

gerenciamento mais eficaz.  

 

  O líder deste novo milênio precisa desenvolver, significativamente, seu 

pensamento estratégico e com isso incorporar ao cotidiano algumas atitudes 

potencializadoras da liderança, como descobrir caminhos, alinhá‐los, fortalecer 

pessoas e gerar confiança.  

 

  Descobrir caminhos consiste na habilidade de apontar o caminho que conecta o 

que sua empresa deseja ardentemente oferecer com o que seus clientes desejam 

ardentemente receber. Para fazer isso, você e sua equipe precisam definir a missão e 

os valores da empresa e criar uma visão e uma estratégia que unam os desejos de 

ambas as partes envolvidas.  

Liderança na crise

Líderes fortalecedores trazem à tona o talento, a energia e a contribuição das pessoas, criando condições que promovam a criatividade, a habilidade e o potencial que existe nelas.

Page 44: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

44

 

  Se descobrir caminhos identifica uma trilha, alinhar a pavimenta. As empresas 

devem estar perfeitamente alinhadas com os resultados que querem obter. Pense 

nisso. Se sua empresa não está obtendo os resultados que deseja, é provavelmente 

devido a um desalinhamento em alguma parte da Organização. E não há pressão, 

exigência ou insistência que possa mudar um desalinhamento. Assim sendo, como 

líderes, você e seu pessoal devem trabalhar para modificar seus sistemas, processos e 

estruturas a fim de alinhá‐los com os resultados desejados e que foram identificados 

na descoberta dos caminhos.  

 

  Líderes fortalecedores trazem à tona o talento, a energia e a contribuição das 

pessoas, criando condições que promovam a criatividade, a habilidade e o potencial 

que existe nelas. Paulo Freire certa vez disse que “Não há saber mais ou saber menos. 

Há saberes diferentes.” Respeitando e utilizando “os saberes” das pessoas, estas se 

sentirão mais capazes de agir pela empresa, que se alinhou e está seguindo os 

caminhos que todos ajudaram a criar.  

 

  O coração da liderança de vanguarda é gerar confiança nas pessoas. Um líder 

não vale só pelo que ele faz, mas também pelo que ele é. Em outras palavras, é 

importante estar atento ao equilíbrio essencial entre a competência e o caráter. Um 

indivíduo de grandes habilidades jamais será um grande líder se o seu caráter for 

questionável.  

 

Aí está o desafio. Você percebeu que, em tempos de crise e de tanta transformação de 

conceitos, valores e atitudes, tanto nas empresas como na sociedade, é cada vez mais 

difícil ser um líder realmente de vanguarda. Mas não há outro caminho. Empresas e 

países precisam urgentemente desta nova liderança. Sem ela, correm o risco 

permanente de deixar passar o “bonde da história” e perder espaço no mundo cada 

vez mais competitivo. Ao invés de reclamar do que o futuro nos reserva, que tal criá‐

lo?  

 

 

Page 45: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

45

 

 

                   Trabalhar nas áreas de treinamento e consultoria tem feito de mim um 

viajante contumaz, pelos mais diversos rincões de nosso país. Mais que uma opção 

profissional, é a vida que escolhi viver, com saldo, na minha avaliação, bastante 

positivo. Não quero falar do preço que pago por esta opção, mas das inúmeras 

oportunidades que ela me proporciona. Uma delas, sem dúvida, é conhecer nosso país 

e nossa gente. 

 

                   Não me refiro à urbanidade das 27 capitais onde já estive, mas ao Brasil 

rural produtivo, interiorano, de botina e canivete. Do Brasil que hoje mistura o cheiro 

da terra com o laptop, a saca de semente com o GPS. Como cresce, pulsa e empolga 

este Brasil. 

 

                    Há pouco estive em Balsas, MA, cidade nova construída com o dinheiro da 

soja e que, orgulhosa, te oferece restaurantes dignos de capital. Também em Campo 

Verde, MT, onde você encontra uma das melhores fibras de algodão produzidas no 

mundo, tratadas com a mais alta tecnologia. Ou 

ainda em Luiz Eduardo Magalhães, interior da 

Bahia, onde o hotel tem até elevador panorâmico. 

Posso falar da criação de búfalos do Iraçu Colares, 

no Amapá, da produção de frutas em Petrolina ou 

ainda das inúmeras propriedades mecanizadas do 

Tocantins, nosso mais novo Estado. 

 

                    Por onde ando vejo uma nova “safra” de empresários rurais altamente 

comprometidos com práticas gerenciais modernas, com o planejamento estratégico, a 

inovação tecnológica e também com o investimento no seu capital intelectual. Pessoas 

que não se contentam mais apenas em rezar para São Pedro ou reclamar do Governo, 

mas que percebem a importância de conhecer a cotação de seus produtos na Bolsa de 

Chicago, que aprenderam a negociar em bloco, fortalecem sua representação política 

O novo empresário rural brasileiro

E numa rápida análise, percebemos que o Governo Federal, apesar de alguns louváveis esforços, ainda não conseguiu uma atuação moderna e ágil em relação às políticas agrícola e agrária.

Page 46: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

46

junto ao poder público e atuam de forma decisiva e coerente na administração de seus 

custos de produção. 

 

                    Esta parcela tão importante do Brasil está fazendo a sua parte e espera que 

os outros coadjuvantes do processo produtivo também façam o “dever de casa”. E 

numa rápida análise, percebemos que o Governo Federal, apesar de alguns louváveis 

esforços, ainda não conseguiu uma atuação moderna e ágil em relação às políticas 

agrícola e agrária. Regras mudam ao sabor do vento e planejamento de longo prazo 

torna‐se miragem. Vide o problema do desmando nas ocupações de terras produtivas 

que estamos vivendo. Isto sem falar na política de financiamentos a juros altos para 

quem precisa e subsidiados para quem não vai construir absolutamente nada. 

 

                    O produtor rural brasileiro está amadurecendo na sua condição de 

empresário. Moderniza‐se, investe e acredita no enorme potencial agropecuário deste 

nosso Brasil. É preciso que o Governo, de forma urgente e independente da cor 

partidária, preocupe‐se com a sua contrapartida, dando condições de 

“produzibilidade” adequadas e direcionadas às reais necessidades do novo homem do 

campo. Só assim seremos destaque num mercado mundial cada vez mais competitivo. 

   

Page 47: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

47

 

 

  Certa vez, duas moscas caíram num copo de leite. A primeira era forte e 

valente. Assim, logo ao cair, nadou até a borda do copo. Como a superfície era muito 

lisa e suas asas estavam molhadas, não conseguiu escapar. Acreditando que não havia 

saída, a mosca desanimou‐se, parou de se debater e afundou. Sua companheira de 

infortúnio, apesar de não ser tão forte, era tenaz e, por isso, continuou a se debater e 

a lutar. Aos poucos, com tanta agitação, o leite ao seu redor formou um pequeno 

nódulo de manteiga no qual ela subiu. Dali levantou vôo para longe.  

 

  Tempos depois, a mosca tenaz, por descuido, novamente caiu num copo, desta 

vez cheio de água. Como pensou que já 

conhecia a solução daquele problema, começou 

a se debater na esperança de que, no devido 

tempo, se salvasse, como da vez anterior. Outra 

mosca, passando por ali e vendo a aflição da 

companheira, ofereceu ajuda. A mosca tenaz 

respondeu:  

 

‐ “Pode deixar que eu sei como resolver este problema.”  

 

  E continuou a se debater mais e mais até que, exausta, afundou na água e 

morreu.  

 

  Quantas empresas você conhece que se enquadram na situação acima? Lembra 

da Mesbla, do Banco Nacional, das Casas Buri, da Brastel e de tantas outras que eram 

cases de excelência no passado? Onde estão agora?   

 

  O ser humano (lembre‐se que empresário também é ser humano...) 

infelizmente é escravo da memória. Tende a repetir as atitudes e comportamentos que 

geraram sucesso e a bloquear aquelas que, na época, não deram certo. Pergunte a 

quem está saindo de um casamento conturbado quando será a próxima “experiência 

As moscas

O ser humano (lembre‐se que empresário também é ser humano...) infelizmente é escravo da memória. Tende a repetir as atitudes e comportamentos que geraram sucesso e a bloquear aquelas que, na época, não deram certo.

Page 48: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

48

nupcial”. As respostas invariavelmente são: ‐“Nunca mais me caso, Deus me livre”. 

Este é um exemplo claro de escravidão da memória. As experiências ruins de certa 

forma bloqueiam a possibilidade das novas. Assim se passa na empresa. Muitas vezes 

um planejamento estratégico mal elaborado, uma consultoria que não atingiu seus 

objetivos ou qualquer fato que deixe marcas negativas na sua memória é suficiente 

para a perigosa generalização. Coisas do tipo: “planejar é besteira”, “consultor não 

ajuda em nada” e outras barbaridades que geralmente ouço pelo Brasil afora.  

 

  Outro dia estava fazendo uma Palestra em Campina Grande, na Convenção 

Lojista da Paraíba, e contei uma estória que ilustrou este tema. Aos 6 anos de idade, 

em almoço familiar, fui obrigado a comer quiabo. Naquela época era assim, não havia 

essa mordomia de escolher a comida que a garotada tem hoje. Comi e detestei. E 

prometi que não o faria nunca mais na vida. Passei os 30 anos seguintes sem comer o 

bendito quiabo, até que um dia, visitando amigos no nordeste, fui homenageado com 

um jantar onde o prato principal era caruru – camarão com quiabo. Sem querer ser 

deselegante, comi o quiabo e, pasmem, gostei. Concluí que foram 30 anos preso a uma 

experiência negativa, sem me permitir experimentar o novo e o renovado.  

   

  Da mesma forma acontece com as experiências positivas. Gostamos de repetí‐

las sem antes analisar os ambientes interno e externo e sua viabilidade, o que é 

extremamente perigoso. Frases como “time que está ganhando não se mexe” e “aqui 

na empresa sempre fizemos assim” têm cada vez mais atrapalhado a luta das 

Organizações pela inovação e pela excelência. Empresários e profissionais 

acomodados, esperando um primeiro fracasso para só então tomar as atitudes de 

mudança necessárias são situações infelizmente ainda comuns. Caso você, leitor, não 

se enquadre nestes exemplos, esteja certo de que já possui parte do tão cobiçado 

diferencial competitivo, essencial para seu sucesso profissional e pessoal.  

 

 

 

 

   

Page 49: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

49

 

 

  A cada ano que passa cresce o interesse de Pessoas e Organizações pelo tema 

"criatividade". Fala‐se em empresas inovadoras e pessoas criativas da mesma forma 

que se falava em organograma, hierarquia e rol de atividades há pouco tempo atrás. 

Cresce a demanda por treinamento e workshops nesta área e criatividade torna‐se 

parte integrante dos cursos de liderança, relações interpessoais, motivação, 

planejamento estratégico, e outros mais. Será o inicio de uma nova era, o despertar do 

milênio? Ou será que a "caixa preta" da criatividade foi aberta e descobriu‐se que não 

era tão assustadora assim? Quem sabe mais um modismo inventado para arrancar 

dinheiro das empresas?  

   

  Passaríamos muito tempo analisando todas estas 

hipóteses. O fato concreto é que o desenvolvimento de 

comportamentos criativos, menos vinculados a 

procedimentos pré‐determinados, tornou‐se prática 

obrigatória na empresa que, por demandas de mercado, 

precisa estar sempre se reinventando. Pode parecer até 

meio antagônico falar de criatividade e padronização de 

produtos, serviços e processos, mas é isso mesmo que está acontecendo: 

padronização e criatividade podem e devem andar juntas. Afinal, com a facilidade de 

acesso à informação e à tecnologia que existe hoje, nada mais diferenciador do que a 

marca, reflexo da imagem da empresa. E marca se faz com a inovação constante 

dentro de um padrão estabelecido a partir do foco, do mercado, do nicho, da cultura e 

tantos outros componentes.  

 

  E as Pessoas, como ficam nesta estória? Fazendo ou pensando? Obedecendo ou 

se rebelando? Acomodadas ou inquietas? Um pouco de cada, a meu ver, dependendo 

da situação vivida e, principalmente, dela mesma, com seus valores, sua natureza, seu 

jeito de ser feliz.  

 

  Às vezes tenho a impressão de que tentam vender a idéia do "ser criativo" 

Criatividade no trabalho e na vida

Às vezes tenho a impressão de que tentam vender a idéia do "ser criativo" como um chip que você pode colocar dentro do seu cérebro e acessar sempre que necessário.

Page 50: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

50

como um chip que você pode colocar dentro do seu cérebro e acessar sempre que 

necessário. Coisas do tipo: agora eu vou ser criativo, daqui a meia hora eu desligo, 

amanhã religo novamente... Ser criativo tem óbvia relação direta com os ambientes 

interno e externo, ambos nem sempre favoráveis. Inovar, reinventar, e outros "ar" são 

saudáveis, sem dúvida. Ajudam‐nos na formulação de novas perspectivas. Mas muitas 

vezes podemos estar tramando contra nossa própria natureza, mudando aquilo que 

não precisa ser mudado.  

 

  O processo criativo, nas Pessoas e Organizações, deve ocorrer de forma 

espontânea, natural e, principalmente, com respeito às individualidades. Ou você 

ainda acredita naquele chefe rígido da empresa inflexível que, num belo dia, anuncia 

que a partir daquela data todos podem ter idéias novas e que elas serão testadas e 

respeitadas pela empresa?  

 

Page 51: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

51

  

 

           O ano de 1997 parece estar muito mais distante do que a cronologia nos indica. 

Foi lá que tomei a decisão de trocar salário certo e estabilidade pelo sonho de viver e 

ganhar dinheiro fazendo o que me fascina. Apesar de consciente, garanto que não foi 

uma decisão fácil. Pressões externas e internas, ambas veladas, me faziam pensar nas 

dificuldades de enfrentar o mercado. Filhos 

adolescentes, ainda casado, histórico de funcionários 

públicos na família, quase tudo era contra. Restava, “do 

outro lado”, o sonho, grande impulsionador da vida! E 

este se mostrou imbatível. Aderi ao primeiro PDV do 

Governo Federal, decisão que inclusive foi tema de um 

artigo meu publicado na Revista Exame. 

        

  Passaram‐se muitos anos e muita coisa mudou na minha vida. A maioria delas 

para melhor, muito melhor. Mas foi grande o aprendizado, com erros e acertos, e 

gostaria de dividi‐los com o leitor de VOCÊ S.A., já que Programas de Desligamento 

Incentivado tornaram‐se praxe corporativa. 

            

  As principais atitudes que, a meu ver, devem ser tomadas antes da decisão são: 

- Conversar, conversar e conversar com amigos, familiares, dependentes, colegas 

de trabalho e todos que possam mostrar outros pontos de vista; 

- Reavaliar seus valores e projetos pessoais e profissionais; 

- Checar se suas qualificações na nova ocupação estão coerentes com as 

expectativas de mercado; 

- Certificar‐se de todas as regras e direitos embutidos no Programa; 

- Lembrar‐se sempre que a vida é sua, que você é o protagonista da sua história 

e que coragem é um atributo dos vencedores. 

   

  Digamos que você, como eu, tenha resolvido dar adeus ao trabalho anterior. O 

que fazer agora? 

O PDV, muitos anos depois

Uma das melhores coisas da vida é o fato das experiências serem únicas e, talvez por isso, 

tão fascinantes de serem vividas. Ninguém amadurece só com vivências alheias.

Page 52: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

52

- Cuidado, você não está rico! A sua indenização deve rapidamente transformar‐

se em investimento financeiro e não, por enquanto, em qualidade de vida 

(viagens, troca de carro etc.); 

- Se você já vem tendo uma carreira paralela, entenda que o “bico” de antes 

agora é sua principal fonte de renda; em caso contrário, prepare‐se para uma 

provável queda no padrão de vida nos primeiros tempos; 

- Trabalhe muito mais do que você trabalhava antes; não permita que a falta do 

“cartão de ponto” deixe a falsa impressão de ociosidade; 

- Participe de Associações de Classe, produza material de divulgação e utilize sua 

rede de relacionamentos para alardear seu novo momento profissional; 

- Não se descuide do constante preparo: leia, ouça, participe de eventos, esteja 

“plugado”. 

 

  Uma das melhores coisas da vida é o fato das experiências serem únicas e, 

talvez por isso, tão fascinantes de serem vividas. Ninguém amadurece só com 

vivências alheias. Mas temos que considerar o fato de que, no mercado cada vez 

mais competitivo que vivemos, aprender com o erro dos outros vai gerar, ao 

menos, uma boa economia de tempo. Boa sorte! 

        

 

 

 

   

Page 53: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

53

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dedico aos queridos amigos e amigas, parceiros na caminhada pela vida. 

   

Parte III Crônicas do cotidiano 

Page 54: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

54

                                              

                          

  Temos complicado mais que o necessário. Gastamos o tempo livre com 

compromissos evitáveis. Buscamos ansiosamente um tempo futuro de paz e 

tranquilidade que podíamos ter hoje. Lutamos bravamente por mais dinheiro do que 

realmente precisamos. 

 

             São tempos de paradoxos. Uns trabalham demais, outros de menos. Muitos 

comem pouco, e gostariam de comer mais e melhor, enquanto outros fazem regime 

para emagrecer. São tempos de contrastes. 

 

              Em tempos assim, precisamos nos cuidar mais, pensar mais, buscar a coerência 

necessária com a coragem de quem pratica seus valores. O sociólogo italiano 

Domenico De Masi, um pensador contemporâneo 

que nos instiga à reflexão, coloca com muita 

propriedade que a revolução tecnológica tem 

escravizado o ser humano, ao invés de libertá‐lo 

para investir seu tempo naquilo que realmente 

pode valer a pena. O telefone celular, esta 

engenhoca maravilhosa que reinventou o tempo, 

tem gerado em alguns tamanha dependência que 

virou peça obrigatória do vestuário. A mesma coisa é com a internet e o correio 

eletrônico, que reinventou distâncias, encurtando o mundo. Uma tecnologia aliada, 

desde que não gere a angústia do compromisso de verificar a caixa de mensagens 10 

vezes ao dia... 

 

              E assim vamos destrinchando todas essas coisas boas que o progresso 

tecnológico tem gerado e que, se utilizadas com parcimônia e inteligência, vêm 

agregar e não subtrair o mais precioso dos bens: o tempo. E como fazer? 

 

  Diminuindo o peso da mala que carregamos vida afora, quase sempre repleta 

de tralhas desnecessárias. Desfazendo‐se de costumes que mais atrapalham que 

Simplificar

E assim vamos destrinchando todas essas coisas boas que o progresso tecnológico tem gerado e que, se utilizadas com parcimônia e inteligência, vêm agregar e não subtrair o mais precioso dos bens: o tempo.  

Page 55: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

55

ajudam. Revendo rotinas. Criando o hábito de perguntar, sempre: precisa ser assim? 

Posso simplificar? Quase sempre podemos. 

 

  Invariavelmente complicamos demais, “compromissamos” demais e nos 

aborrecemos muito mais que deveríamos com situações que realmente não merecem 

o investimento de nosso tempo e de nossas emoções. É preciso resgatar o tempo, 

precioso tempo de vida. Para andar descalço, olhar o céu, namorar e amar como se 

não houvesse amanhã. É possível. Basta simplificar. E querer! 

 

   

Page 56: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

56

                        

 

 

          Não sei o que tem Belém, no Pará. Nada na minha história de vida me remete a 

tais paragens (a não ser um longínquo bisavô português, numa improvável associação 

com as inúmeras lembranças de Portugal que Belém me inspira), mas na verdade cada 

vez que vou à Belém fico mais fascinado com seu astral. Sinto‐me absolutamente em 

casa. 

 

          Na verdade, o norte do Brasil, com todos os seus contrastes, sempre me 

encantou. O jeito cantado dos inúmeros sotaques, a comida recheada de peixes e 

temperos, a gostosa desorganização de suas cidades, a sexualidade aflorada desde 

cedo, o prazer de receber bem. 

 

          Meu ofício de consultor de empresas e facilitador de grupos possibilitou 

conhecer bem todos os seus estados, com exceção de Roraima, onde só fui à Boa 

Vista. Já vasculhei Rondônia, Acre, Tocantins, 

Amazonas, Pará e Amapá, estes dois últimos de maneira 

muito especial. O Amapá é um caso de amor antigo, 

diferente de tudo o que já vi e experimentei. Macapá 

mora no meu coração, mas isto é tema para outra crônica. Nesta eu quero mesmo é 

refletir com você, leitor, sobre as razões do fascínio pelo Pará e, especificamente, por 

Belém. Andei a pensar: gosto do clima, do povo, da comida, até do carimbó. Mas estes 

“gostares” estão presentes em inúmeras outras cidades do Brasil. Curto muito o forró 

de Caruaru, o vento em Fortaleza ou o sorvete em Aracaju. E também a amizade tão 

divertida da Renira, lá em Natal. Então por que esta sensação de “especialidade” que 

sinto em Belém? Procuro pelas especificidades: viajei muito pelo interior do Pará e 

sempre fui muito bem recebido; conheci a Ilha de Marajó, única, num momento muito 

especial, pois foi lá que vivi três dias (que valeram por três meses) de tórrido romance 

com uma jornalista local, hoje bem casada. Será que foi alguma destas experiências 

tão marcantes? Será que foram todas elas juntas? Sinceramente não sei. 

 

Belém, again

Então por que esta sensação de “especialidade” que sinto em Belém?

Page 57: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

57

          O que realmente sei é que estou num Airbus da Tam na rota Belém‐Brasília. Sei 

que fiz ontem uma palestra sobre a Energia da Motivação Pessoal para 600 pessoas e, 

pelas demonstrações explícitas da platéia, creio ter agradado. Sei que à noite fui às 

Docas, na beira da Baía de Guajará, beber cerveja e ouvir Lucinha Bastos. Sei que no 

café da manhã do Hilton, que começa a ser servido às quatro e meia da manhã, tinha 

tapioca e cuscus. E também sei que gostaria muito de pedir ao piloto para fazer meia 

volta. 

 

          Ah, Belém, Belém, vamos sempre nos dar bem. 

   

Page 58: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

58

 

 

  O editor me pediu para escrever algo sobre estas duas cidades e a princípio 

relutei. Imaginei que o tom da reportagem fosse o de disputa, do tipo “qual é o 

melhor”. Todo lugar tem seu charme, sua graça, e 

merece ser visitado, curtido, fotografado e lembrado. Ao 

perceber que não era escolher a melhor o objetivo da 

revista, mas sim informar a seus leitores as principais 

características de cada uma, quase topei. Faltava saber: 

por que eu? A resposta me convenceu: “queremos 

alguém que conheça as duas cidades e tenha um bom currículo de viajante.”. 

 

  Capitulei. Afinal, viajar para mim é mais que trabalho e estudo. É “muito prazer 

em conhecer”. Por isso troquei uma vida de mais consumo pelas minhas  viagens pelo 

Brasil e o mundo. 

 

  Tudo valeu a pena e ainda quero muito mais. A cada nova edição desta revista 

viajo em sonho pelas reportagens. Sonhos que, algumas vezes, são concretizados. E lá 

vou eu para a Patagônia, Tunísia, Praga, Oiapoque, Lavras Novas, Canindé de São 

Francisco e as parecidas Bonito, no Mato Grosso do Sul e Nobres, em Mato Grosso. 

Bonito é organizada, rigorosa na preservação de suas belezas, com excelentes hotéis, 

guias preparados e boas opções de vida noturna. 

 

  Nobres é improviso, simpatia, expectativa, pousadas familiares, noite olhando o 

céu, belezas a descobrir. 

 

  Não dá pra dizer qual é a melhor. Quer uma sugestão? Conheça a duas e depois 

escolha. Se conseguir. 

 

 

 

   

Nobres ou Bonito? Fiquem com as duas!

Não dá pra dizer qual é a melhor. Quer uma sugestão? Conheça a duas e depois escolha. Se conseguir.

Page 59: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

59

 

                          

             Começou com a entrada “triunfal”, em dia de decisão, no Estádio Olímpico de 

Munique, bem no comecinho dos anos 90. Chorei, por que não? O momento valia. 

Outros inexplicáveis aconteceram. Talvez Freud explique, mas não estou muito 

interessado. A entrada do Magic Kingdom na Disney World ou a Basílica de São Pedro, 

no Vaticano. “Um homem também chora...”. 

 

               Achei que o “fenômeno” se repetiria na Acrópole, em Atenas. É 

absolutamente espetacular, ainda mais quando nos lembramos do contexto histórico 

envolvido. Mas as razões do coração são misteriosas e 

guardei tudo para Rhodes. Ao ver o navio se 

aproximando da ilha, com o sol nascendo, corri para o 

terraço no pretexto de fotografar. E o fiz. Mas ao me 

perceber ao largo da colossal Rhodes – com trocadilho, 

por favor – com todas aquelas muralhas costeando o mar absolutamente azul, 

constatei o inevitável. Lágrimas por estar vivo na história até então restrita aos livros? 

Pela beleza do lugar? Talvez... 

 

              Mas provavelmente por outros motivos também. Alguns andares abaixo ainda 

dormiam pessoas que amo. E, nestes dias, estávamos fazendo história, a nossa 

deliciosa história de vida.  

 

              Louvei e agradeci aos deuses. Gregos. 

 

 

 

 

 

   

O incorrigível chorão

Lágrimas por estar vivo na história até então restrita aos livros? Pela beleza do lugar? Talvez...

Page 60: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

60

                   

 

 

  Caio Martins (ou Mestre Ziza), situado na acolhedora “Nikiti” (Niterói, RJ, para 

quem ainda não conhece o apelido) é o antigo estádio do Botafogo. Palco de algumas 

alegrias e grandes decepções. E digo isso com a autoridade que me conferem os mais 

de 40 anos de saudável, às vezes nem tanto, torcida pelo alvinegro.  

 

  Tudo começou em 1967, nas minhas primeiras idas ao Maracanã com meu avô. 

Ele era ex‐diretor e ferrenho torcedor do hoje quase extinto América e eu estava a 

procura de um time para torcer. Bem que ele tentou, 

mas não deu. O Botafogo tinha um timaço na época e 

ganhava todas. Um menino de oito anos quer sempre 

torcer pelo que ganha e aí começou meu “calvário”. 

Hoje sou incapaz de citar um terço do time atual e 

talvez me lembre da metade dos gloriosos campeões 

brasileiros de 95. Mas aquele time de 67 (tá bom, vai lá: 

Manga, Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos 

Roberto e Gérson; Zequinha, Roberto, Jairzinho e Paulo 

César) ficou, evidentemente, na memória.  

 

  Até aos 18 anos frequentei muito o Maracanã. Viajei com a torcida para São 

Paulo e outros cantos, enfrentava chuva, tinha carteirinha da Torcida Jovem. Outros 

interesses foram surgindo, estudo, trabalho e passei a acompanhar de longe, sem 

fanatismo e às vezes nem mesmo de longe. Interrompo este distanciamento voluntário 

muito de vez em quando, naqueles momentos de possibilidade da conquista. Aí volto a 

ser o adolescente que acompanha o noticiário, discute na esquina, veste a camisa e 

põe adesivo no carro. Nesses raros momentos o racional dá lugar à emoção de ser 

alvinegro.  

 

  Comparo meu amor ao Botafogo com aquele que nutro pelos amigos distantes, 

como o Raul, Magrinho ou Jorge Augusto : por estarem longe, às vezes ficamos muito 

Caio Martins, sábado à noite

Acho que é assim que vou me sentir hoje à noite, quando, após muitos anos, voltarei ao Caio Martins para torcer pelo retorno do “Fogão” à primeira divisão do futebol brasileiro. O lado racional vai perder para a emoção do torcedor.

Page 61: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

61

tempo sem nos falarmos. Quando nos encontramos é uma festa, uma troca, um 

relembrar e sonhar juntos.  

 

  Acho que é assim que vou me sentir hoje à noite, quando, após muitos anos, 

voltarei ao Caio Martins para torcer pelo retorno do “Fogão” à primeira divisão do 

futebol brasileiro. O lado racional vai perder para a emoção do torcedor. E aquele 

adolescente longínquo que ainda vive dentro de mim vai certamente entrar no estádio 

sorrindo, com olhos cheios d’água, gritando Foooogo! Fooogo! com toda sua força, 

como se nada tivesse acontecido nos últimos 40 anos, como se Jairzinho ainda 

estivesse em campo para fazer mais um gol de letra no Flamengo.  

 

  Definitivamente, não é só o futebol que me leva hoje ao estádio. 

 

   

Page 62: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

62

 

 

               Nos nossos tempos casa‐se por amor, geralmente quando é possível. Algumas 

conveniências ajudam, mesmo mascaradas, mas a base da relação é a atração pessoal 

que se transforma em amor. 

 

              Em tempos remotos foi diferente. O amor era conquistado na convivência. Ou 

não. Outros interesses sobrepujavam o desejo pessoal de viver junto. 

 

              A vida é vivida em ciclos e ouso supor que estamos ensaiando o início de uma 

nova era nas relações afetivas, mais individualista e egocêntrica, onde se constata, 

para sobressalto de alguns, que o homem apaixonado é um ser absolutamente 

passional e ridículo. Fica indefeso e cai facilmente em armadilhas. Perde a vontade 

própria e vive em função do objeto de sua paixão. Não enxerga o óbvio e facilmente se 

frustra. Esquece de si e está sempre a um passo do 

abismo e de tomar atitudes das quais, certamente, um 

dia vai se arrepender. Um ser apaixonado é certamente 

mais capaz de ferir e ser ferido. 

 

              Caminhamos para o meio termo. O amor maduro é mais companheirismo e 

menos paixão, mesmo no seu início. Não é só conveniência, mas também o é. O gostar 

de estarem juntos, os valores compartilhados, interesses complementares, afinidades, 

tudo é importante. Mas a individualidade consentida, o respeito aos momentos de 

introspecção, o estabelecimento de limites claros e a convicção de que duas vidas não 

se tornam uma fazem a vida a dois mais amena e estável. 

 

               Talvez perca um pouco a graça, mas nada é perfeito, principalmente quando 

se trata de gente. 

   

Racionalizar a emoção

O amor maduro é mais companheirismo e menos paixão, mesmo no seu início.

Page 63: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

63

                 

 

            Na minha “tenra” idade, começa a ser mais comum ir a casamentos dos filhos 

dos amigos do que dos próprios. Por isso imediatamente bloqueei minha agenda de 

trabalho quando recebi a notícia e o convite do casamento do Magrinho. 

 

                  Aos quarenta e quatro anos, apaixonado pela Márcia, resolveu tomar a sábia 

decisão. É claro que a “encomenda” da Carolina, gerada, como ele mesmo disse, 

“numa noite especial de amor pleno e sem controle”, facilitou a decisão que, no seu 

interior, já estava tomada. Lembrei‐me na mesma hora da minha encomenda precoce, 

há 24 anos, que hoje se transformou num bem sucedido piloto da aviação comercial. 

Vale a pena, Magrinho! 

 

                 Trabalhei até o fim da tarde do dia 14, peguei um avião e dia 15 estava lá, às 

10 em ponto, na igrejinha do Alto da Boa Vista. O cara estava nervoso, sem dúvida. E 

ficou ainda mais com o exagerado atraso da noiva, 

causado involuntariamente por várias incertezas do 

Ford 37 que a trazia ao altar. Por trás do nervosismo, 

uma enorme felicidade. Dele e minha. A dele, por 

motivos óbvios. A minha, pelo prazer de estar ali, 

compartilhando aquele momento. 

 

                 Enquanto a noiva não chegava, vivíamos de amenidades. O doce relembrar 

do Colégio Santo Inácio com o Costinha e a Rosana e das tardes de trabalho em grupo 

na casa do noivo, sempre um grande pretexto para vermos a Silvana, sua irmã, musa 

eterna escolhida por todos os colegas e que hoje, tal qual os bons vinhos, continua a 

nos encantar. 

 

                 A noiva finalmente chega. Os violinos dão ao ar a sua graça. O ambiente troca 

a descontração pela emoção, cada um trazendo consigo sua carga, nem sempre 

pesada, de lembranças e sentimentos. A noiva, grande estrela da manhã, não foi meu 

foco. Acabei concentrando minhas atenções no pai da Márcia e no Magrinho. 

O casamento do Magrinho

Os mais próximos sabem que eu choro fácil. Com o Hino Nacional, com o do Botafogo também, 

com a medalha do atleta vencedor e o 

pampampam do Senna.

Page 64: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

64

Impossível não me imaginar entrando na igreja com a Renata. Talvez este dia nunca 

chegue, pois as escolhas serão dela. Mas a minha imaginação transcende às 

convenções e modismos e me vi, emocionado, no papel de pai da noiva. 

 

               Os mais próximos sabem que eu choro fácil. Com o Hino Nacional, com o do 

Botafogo também, com a medalha do atleta vencedor e o pampampam do Senna. 

Portanto, nessa hora começou o morde lábio‐olha‐pra‐cima‐sorri amarelo. Inútil 

resistir. Ao olhar o amigo no altar, olhos igualmente marejados esperando pela sua 

amada, desisti de resistir. Lembranças de quase 30 anos, quando ajudamos o 

Magrinho a conquistar a Giovanna, sua primeira musa, misturaram‐se ao presente, ao 

fim de um ciclo e início de outro na minha vida amorosa. Deixei as lágrimas verterem. 

Que se dane! Homem chora e eu mais ainda. O motivo é nobre. Magrinho estava feliz 

e eu também.  

 

              Um brinde com espumante selou este momento de paz e felicidade. 

 

Page 65: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

65

  

                               

                Chove lá fora. Não importa. Gostar de estar aqui transcende o tempo... e o 

tempo. Não sei o dia, talvez quarta ou quinta. Algo em torno das 11 da manhã. E 

continua chovendo lá fora. O cheiro da terra molhada misturado ao da maresia e ao 

barulho do mar constrói o cenário de paz e tranquilidade. O ócio permitido e 

necessário começa a gerar resultados, como a vontade de escrever, de arrumar o 

quarto, de pendurar novos quadros e velhas lembranças. Aqui celular não pega, o 

estresse também não. A prontidão ativa do cotidiano é trocada pelo ritmo mais lento, 

mais reflexivo. A correria perde a rotina e ganha um lugar na rede, quase sempre 

depois do almoço. 

 

                O mundo pode parar. Senti essa gostosa sensação ontem à noite, ouvindo 

música ao lado da Carol. Algumas taças de um bom 

cabernet e a sensação de plenitude tomando conta de 

mim. Talvez até mesmo a tão falada felicidade estivesse 

escondida ali, nas pequenas coisas da vida. Que se 

tornam grandes quando se ama e é amado. A alma 

inundada por uma sensação de que nada pode ser 

melhor. 

 

               Lembrei‐me de alguns momentos parecidos, apesar da natureza diversa. Um 

deles foi em Conceição do Araguaia, no sul do Pará. Um resgate emocional de um 

grupo de pessoas que parecia perdido. Alunos insatisfeitos com a proposta do curso e 

com os desempenhos anteriores e eu ali, com 8 horas para reverter o quadro. Um 

baita desafio, que exigiu o melhor de mim. Entrei de cabeça no resgate e às 10 da 

noite, ao final dos trabalhos, exausto e feliz, percebi o resultado no brilho dos olhos de 

cada um do grupo. Estava feito. E bem feito. 

 

              Todos se foram, coloquei uma música que não me lembro qual e, olhando a 

imensidão do Rio Araguaia cortejado pela lua, me senti absolutamente feliz. Queria 

Maricaliz

Todos se foram, coloquei uma música que não me lembro qual e, olhando a imensidão do Rio Araguaia cortejado pela lua, me senti absolutamente feliz.

Page 66: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

66

perenizar, eternizar aquele momento. O mundo poderia parar que eu ficaria ali, vendo, 

ouvindo, lembrando e sentindo. 

 

              É muito bom sentir‐se assim. Como naquele dia no Pará, como ontem à noite 

em Maricá. É combustível puro para achar graça na vida, mesmo nos momentos nem 

tão especiais assim. Para entender que, com altos, médios e baixos, a vida flui e vale a 

pena viver. 

 

             Ainda bem que estou aqui. Com chuva, vento, mar, vinho e amor. Ainda bem 

que estou aqui, comigo. E estar mais aqui talvez um dia seja possível. Ou inevitável. 

   

Page 67: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

67

 

 

 

 

  Meu filho é piloto da TAM. E de Airbus 330, igualzinho ao da Air France. 

Praticamente toda semana viaja para alguma capital européia, passando pela tal “zona 

de convergência”. Ao coração do pai angustiado só resta pedir a Deus que ilumine seu 

caminho e dos passageiros que ele conduz. 

 

  Logo após o acidente ainda inexplicado da Air France, conversamos longamente 

ao telefone. No dia seguinte ele decolou para Londres e, segundo seu relato, foi um 

vôo tranquilo e sem sobressaltos. Nesta longa conversa 

acalmou meu espírito com 2 argumentos irrefutáveis, 

um bem racional e outro resultado da emoção e do 

autoconhecimento. 

 

  O primeiro: “Pai, morrem por ano mais pessoas assassinadas no Rio de Janeiro 

que em acidentes aeronáuticos.” O segundo, definitivo: “A morte não nos pertence. A 

vida sim. E eu sou apaixonado por fazer essas máquinas voarem.” 

 

  Diante de tanta sabedoria, meu coração se acalmou. É vivendo intensamente, 

fazendo o que se gosta e amando as pessoas que estão à nossa volta que 

pavimentamos a vida e justificamos esta dádiva. Até quando Deus quiser. 

 

 

 

 

 

   

O pai do piloto

“Pai, morrem por ano mais pessoas assassinadas no Rio de Janeiro que em acidentes aeronáuticos.”

Page 68: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

68

 

 

 

                      Por mais que eu leia e conheça novas idéias, algumas até fascinantes, 

Domenico de Masi continua sendo meu “guru”. Volta e meia me vejo as voltas com 

suas idéias povoando meus pensamentos. Principalmente aqui e agora ‐ terça‐feira, 11 

de outubro dos 46, sozinho na noite calma de Chapada dos Guimarães. O vento fresco 

em contraste ao calor cuiabano, o silêncio invadido pela MPB e pelo crepitar do carvão 

no inevitável churrasco e também pelo...êpa.... toque do celular. 

 

                      Confesso minha dificuldade de compartilhar deste pensamento do escritor 

italiano ‐ trabalho e lazer vivendo em promiscuidade. Identifico‐me com o ócio 

criativo, a necessidade de ter tempo para o que 

realmente importa e a “desescravização” do trabalho. 

Até com o verso: divertir‐me enquanto trabalho – 

quantas vezes fiz isso! Difícil é o reverso: estar no mais 

absoluto contato comigo e com o universo, num velho 

calção de banho com o dia (ou à noite) pra vadiar e 

permitir ao trabalho a invasão desta minha essencial 

privacidade. Vou precisar treinar, me esforçar, já que a 

mudez voluntária do celular já chegou aos mais de 10 

dias seguidos. Será possível?  

 

                     Estou treinando. Meu projeto de vida me cobra este esforço – quero em 

breve (que breve é este?) viver mais integrado comigo mesmo, pé no chão, na areia, 

louvando diariamente o Deus Sol e a Deusa Água. E trabalhando. Menos, sem dúvida, 

mas trabalhando. E o modelo que eu enxergo hoje me exige esta prontidão: fechar um 

negócio enquanto caminho na praia, marcar uma palestra entre um e outro banho de 

cachoeira, atender um cliente sob um céu estrelado. 

 

                    É o mais próximo que consigo imaginar como paraíso terreno. 

 

O toque do celular

E o modelo que eu enxergo hoje me exige esta prontidão: fechar um negócio enquanto caminho na praia, marcar uma palestra entre um e outro banho de cachoeira, atender um cliente sob um céu estrelado.

Page 69: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

69

                  

 

 

         Ano que vem completo 25 anos de formado. Às vezes parece que foi há uma 

eternidade. Outras vezes parece que foi ontem. Mas uma coisa é certa: que saudade 

tenho deste tempo e dos amigos que cultivei! Alguns permanecem amigos e outros se 

perderam no tempo. Agora com o Orkut, quem sabe consigo reencontrá‐los. Aliás, 

outro dia a Regina, minha tão querida professora de Estatística do segundo ano me 

encontrou na “rede”. Foi muito bom sabermos um do outro – ela se encantou ao saber 

que meu filho mais velho, que ela conheceu ainda bebê, hoje é piloto da TAM! 

Quantas lembranças e quantas mudanças na vida! 

 

         Passei por alguns momentos difíceis na minha trajetória acadêmica. Um deles foi 

a distância da família e da namorada, pois resolvi estudar numa Universidade em outro 

estado. Acostumar‐me com o frio de Viçosa (MG) 

também não foi fácil, como para muitos agora será 

“uma barra” encarar o calorão cuiabano. A semana de 

provas até hoje me traz arrepios: era muito café com 

coca cola pra estudar, vencer o sono e “fazer bonito” no dia seguinte. Do bandejão 

sem a menor criatividade nem se fala – quase todo dia serviam uma almôndega de 

carne “tão saborosa” que logo foi apelidada de granada... 

 

         Vivi muitos bons momentos também. Professores inesquecíveis, que certamente 

exerceram enorme influência sobre mim. Colegas e amigos solidários, como o Leo, o 

Gero, o Fabiano, o Ricardo e tantos outros. As farras dos fins de semana e a emoção 

suprema que era...entrar de férias! O orgulho de saber que estava me preparando com 

qualidade para o exercício de uma profissão e a expectativa da chegada do dia da 

formatura. 

 

          Trago no meu coração alguns arrependimentos. Quem não os tem na vida? 

Talvez pudesse ter aproveitado melhor as aulas e a competência dos docentes. 

Certamente poderia ter utilizado mais a tão rica biblioteca. Ou começado a estagiar 

Sejam todos bem vindos

Trago no meu coração alguns arrependimentos. Quem não os tem na vida?

Page 70: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

70

mais cedo. Mas estes arrependimentos não me angustiam: fiz o melhor que podia ter 

feito naquela época. 

 

          Esta é a principal mensagem que quero passar a vocês, calouros deste semestre: 

aproveitem! Façam o melhor que puderem, porque um dia vocês certamente 

perceberão que o tempo passa muito mais rápido que a gente imagina. Cada um de 

vocês terá uma trajetória própria, como eu tive a minha, e ela deve ser motivo de 

orgulho. Vivam intensamente estes seus “momentos universitários”. Façam história 

para mais tarde, muito mais tarde, contá‐la aos netos. Carpe Diem! 

   

Page 71: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

71

 

 

          

    Há muito se discute a aplicação prática da palavra privilégio. Privilégio é o que 

merecemos? Ou o que conseguimos obter e viver sem considerar o merecimento? É 

algo que recebemos à margem da maioria? Bônus ou direito? Confesso que não sei e 

também não vou buscar no Aurélio a definição pretensamente correta. Afinal, hoje é 

quinta‐feira, estou em Maricá, e neste exato instante 

contemplo a tarde, o mar, o sol. Por alguma razão, ou 

pela falta dela, comecei a pensar sobre privilégios... 

 

               Há poucos meses, conversando com o Gilberto 

Dimenstein, perguntei sobre, afinal de contas, onde ele 

morava.  A resposta foi cristalina: “metade do tempo na 

Bahia, pois, como bem disse o Caribé, eu mereço.” 

Merecimento ou privilégio? Ah, gostaria de merecer morar metade do meu tempo em 

Maricá, como hoje, ouvindo música, vento, mar, amando até acima das minhas forças, 

sempre tão renovadas quando aqui estou. 

 

              Não sei se mereço. No fundo acho que sim. Cumpro direitinho meu papel 

social e não me sinto irresponsável. No trabalho as coisas caminham sem a minha 

presença. Sinto‐me bom pai, bom filho, talvez até bom irmão e ex‐marido. Quem sabe, 

numa avaliação não muito rigorosa, bom ser humano. Feliz, sobretudo. Querendo 

viver cada vez mais, no eterno recomeçar. Ansioso pelo Natal, talvez o mais diferente 

entre todos que tive na vida. Também pelo fim do século, agora de verdade, tão mais 

leve que no do ano passado. Renascido, revivido, novamente de pé, olhando a vida de 

frente, me permitindo o eterno refazer de planos e soluções. Não é privilégio. Acho 

que mereço.         

   

Privilégio ou merecimento?

Ah, gostaria de merecer morar metade do meu tempo em Maricá, como hoje, ouvindo música, vento, mar, amando até acima das minhas forças, sempre tão renovadas quando aqui estou.

Page 72: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

72

 

 

 

               As férias começaram e terminaram de forma parecida mas também diferente: 

com um almoço. A diferença foi na forma: o do início, comemorando o aniversário do 

Rafa, levou mais de 2h. Teve entrada, chope e até bolo no final. O do fim foi rápido, 15 

minutos, pois o avião não iria nos esperar. Acho que por isso vim matutando sobre o 

tema “Unidade na Diversidade” e acabei percebendo que as férias foram assim. Será 

que a vida também não o é? 

 

                Na “Babel Maricaense” experimentamos isso. A 

diversidade saltava aos olhos. Uns preferindo vinho, 

outros uísque, até coca cola. MPB ou pagode? Bacalhau 

ou carne moída? Praia ou piscina? Acordar cedo ou 

tarde? Novela ou livro? Planejar as horas seguintes ou a 

ceia do ano que vem? Acho que a única unaminidade 

era mesmo o sol... 

 

Mais diversidade no futebol, nas viagens escolhidas, na gestão das relações, até em 

relação à espécie canina: uns venerando e outros preferindo vê‐los na lista dos animais 

em extinção...  

 

                Onde está a Unidade então? Creio que no respeito mútuo, no aceitar o outro 

como ele é, até mesmo no curtir esta salada mista de tantas variedades e perceber 

que seria muito monótono se todos fossem iguais. 

 

                 Que bom ver Maria se esmerando por uma feijoada cada vez melhor, Flávio 

trocando o saco cheio pelo saco solto, Lucas ganhando sempre no Perfil e os olhos de 

deslumbramento da Marina ao ser apresentada a uma das mais lindas cidades do 

mundo. 

 

Férias na diversidade

Creio que no respeito mútuo, no aceitar o outro como ele é, até mesmo no curtir esta salada mista de tantas variedades e perceber que seria muito monótono se todos fossem iguais. 

Page 73: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

73

  Que bom ver Dona Suzette com sua planilha Excel registrando a opinião de 

todos, o que sobrou, faltou, o que será repetido ou inovado no reveillon 2009 (sim, 

porque o de 2008 já está planejado há muito tempo...). Dr. Jorge sempre ilustrando os 

papos com algum caso pitoresco e interessante, qualquer que seja o assunto. Renata e 

Mau mau tão juntinhos, as Carolinas tão presentes, a família Disney deixando claro 

que, mesmo abrindo mão de maior conforto, curtem o Ano Novo em Maricá. 

 

                Cada um do seu jeito, cada um levando a vida como lhe convém ou lhe é 

possível. E interagindo, buscando interfaces e identidades. E, mesmo quando se 

encontra poucas, curtindo o momento, sempre mágico! 

 

   

Page 74: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

74

 

  Carioca da gema, nascido e criado na zona sul, fui aos poucos me desiludindo 

com a Cidade Maravilhosa e suas mazelas até resolver abandoná‐la, há alguns anos. 

Como não podia fazer algo radical, do tipo Trancoso ou Jericoacoara, optei por Niterói, 

que oferece os confortos profissionais que preciso mas mantém a alma de cidade 

pequena, onde as pessoas ainda se falam. 

 

  Foi uma acertada decisão e já trouxe amigos comigo. Apesar de viajar bastante 

a trabalho, consigo sempre arranjar um tempinho para 

curtir as coisas boas da Nikiti. E são muitas.  

 

  Uma delas aconteceu há poucos dias, numa 

sequência de fatos que me fizeram pensar na tão falada 

alma carioca da década de 60.  

 

  Cheguei à noite no Santos Dumont e quando me encaminhava ao ponto de 

ônibus, vi passando o 740. Ainda estava longe da parada, mas arrisquei fazer sinal. E 

ele parou! Como é o último ponto antes da Ponte, o cobrador fechou o caixa e saltou 

ali mesmo, já que era sua última viagem do dia. Logo uma senhora se ofereceu para 

segurar minha maleta. O ônibus estava cheio e um rapaz se aboletou na cadeira vaga 

do cobrador e começou a puxar um sambinha. Vários cantavam e a cena que se via era 

digna de Fellini: um bando de desconhecidos cantando sobre a Ponte Rio Niterói... 

 

  Um jovem fez sinal em frente à rodoviária de Niterói (ia para Charitas) e o jeito 

foi levá‐lo de carona. Aquele que estava no lugar do cobrador ainda tentou, de farra, 

cobrar a passagem, mas a risada de todos mostrou ao rapaz que realmente não seria 

preciso. Em frente ao terminal muita gente saltou, quase todos dando boa noite ao 

motorista e passageiros. Parecíamos amigos de longa data.  

 

  Saltei logo em seguida agradecendo a idéia de ter vindo morar em Niterói. Foi 

para cá que veio aquela alma carioca esquecida na saudade do Rio de outrora.  

   

A alma carioca mora em Niterói

Vários cantavam e a cena que se via era digna de Fellini: um bando de desconhecidos cantando sobre a Ponte Rio Niterói...

Page 75: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

75

 

                           

                  Certa vez li em algum lugar que melhor que unir o útil ao agradável é unir o 

agradável ao agradável. Uma verdadeira exaltação do desfrute, uma ode ao prazer. Há 

tempos venho pensando sobre isso. Conheço pessoas que vão ao cinema, ao teatro, a 

boates e restaurantes e parecem estar eternamente insatisfeitas, numa sociedade 

onde há muito lazer e pouco prazer. 

 

                  Lazer e prazer são palavras que rimam e se assemelham no significado, mas 

não se substituem. É muito mais fácil conquistar o lazer que o prazer. Lazer é assistir a 

um show, cuidar do jardim, ouvir música, namorar, 

bater papo. Lazer é desopilação, é tudo que não é 

dever. Automaticamente, associamos isso com o prazer: 

se não estamos trabalhando, estamos nos divertindo. 

Simples assim. 

 

                 Em primeiro lugar, podemos ter muito prazer trabalhando – é só redefinir 

seu conceito de prazer. Ou de trabalho. O prazer não está em dedicar um tempo 

programado para o ócio. O prazer é residente, está dentro de nós e na maneira como a 

gente se relaciona com o mundo. 

 

                 Muitas vezes o próprio turismo, um dos ícones do lazer no século 21, pode 

estar sendo mais imposição cultural que prazer. Pessoas aglomeram‐se em filas de 

museus e fazem reservas com meses de antecedência para comer no lugar da moda, 

pouco desfrutando desses momentos. O importante é ir e, principalmente, dizer que 

foi. É quase uma obrigação consumir o que está em evidência, ler o livro mais lido, ver 

o filme mais visto, idolatrar a modelo mais cobiçada. 

 

                 Algumas pessoas também têm feito turismo inclusive pelos sentimentos, 

passando rápido demais pelas experiências amorosas. Querem provar um pouquinho 

de tudo, querem ser felizes mediante uma novidade. O ritmo é determinado pelas 

tendências de comportamento, que exigem uma apreensão veloz do universo. 

Prazer pelo prazer

Em primeiro lugar, podemos ter muito prazer trabalhando – é só redefinir seu conceito de prazer. Ou de trabalho.

Page 76: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

76

Aquiete‐se. O prazer é mais baiano. O prazer não está em ler uma revista, mas na 

sensação de estar aprendendo algo. Não está em ver o filme que ganhou o Oscar, mas 

na emoção que ele pode lhe trazer. Não está em “ficar” com alguém, mas no encontro 

de almas. 

 

                   O prazer está em tudo o que fazemos sem estar atendendo a pedidos. Está 

no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na contramão. O prazer está 

em sentir. Uma obviedade que merece ser resgatada antes que a gente comece a unir 

o útil ao útil, deixando de vez o agradável pra lá. 

 

   

Page 77: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

77

                                                                          

 

 

 

 

 

 

 

   

 

Andar, correr 

Pular e não cair 

Abraçar sem doer 

Sorrir 

 

Energia prá trabalhar 

Estudar, amar 

Viver cada momento 

E o momento saber valorizar 

 

Viver são 

Corpo livre, mente serena 

Pura condição 

Para a vida plena 

 

No sofrimento e na dor 

Das horas que quero esquecer 

Aproveitei a chance  

De reaprender a viver

Viver

Page 78: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

78

 

 

Parte I 

 

  Outono no Rio. Ed Mota tem razão, parece ser esta a melhor estação. Dias 

ensolarados e frios. Bom para a praia, bom para o vinho. Calção e biquíni de dia, 

moletom à noite. 

 

  Vivo dias de reclusão permitida, de um hiato na vida trabalhadora. Vida essa 

que tem me proporcionado muito retorno positivo e 

realização pessoal, mas vez por outra um desgaste físico 

e emocional que acaba levando a uma revisão geral de 

motor, carroceria e, principalmente, comandos. Talvez 

até de conceitos. Sem e‐mail e sem celular. Tentando 

retomar velhos e novos pensamentos e desejos. Sem 

pressa de chegar ou sair da praia, caminhando vagarosamente pelas ruas de Búzios, 

onde o maior dilema é a escolha do restaurante. Carol está comigo e aos poucos 

vamos reconstruindo nossos sonhos e vivendo bons momentos após a derrapagem 

numa das inúmeras curvas da vida. 

 

  No meio destes sonhos, que se confundem com projetos, um especial: em 

plena segunda feira de manhã caminhar pela praia deserta, sentindo o cheiro e o 

barulho do mar... 

 

  A possibilidade de ocupar por uma semana a casa de um amigo gerou este 

caminhar tão necessário, onde voltar a escrever ganha destaque especial. Preciso 

produzir mais, quero produzir mais. Quem sabe mais um livro ou uma coleção de 

crônicas e artigos ainda não escritos ou guardados na gaveta e na alma. Só de pensar 

já me empolgo, volta a adrenalina. 

 

Um homem de quarenta e poucos

Carol está comigo e aos poucos vamos reconstruindo nossos sonhos e vivendo bons momentos após a derrapagem numa das inúmeras curvas da vida.

Page 79: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

79

  As reflexões sobre mim mesmo, ora no silêncio essencial, como agora, ora em 

voz alta, caminhando na orla Bardot, me ajudam a chegar a conclusões e, a partir 

delas, encontrar soluções. 

 

Parte II 

 

  Sol morno da tarde. Escrevo agora ao ar livre, com uma cervejinha, esperando 

os bolinhos de aipim com camarão que precedem, não necessariamente, o almoço. 

Aqui se almoça tarde e se vive tarde, contrariando as normas urbanas. Também por 

isso o relaxamento é evidente. Salta aos olhos. A música, sempre presente, entremeia 

jazz, MPB e até Tribalistas. Todos bem vindos. Vêm à mente as questões pétreas da 

vida, os grandes e pequenos projetos, aquilo que se realmente quer. Ajudando na 

reflexão, leio Lya Luft: “Carregamos muito peso inútil. Largamos no caminho objetos 

que poderiam ser preciosos e recolhemos inutilidades. Corremos sem parar até aquele 

fim temido e raramente nos sentamos para olhar em torno, avaliar o caminho e 

modificar ou manter nosso projeto pessoal. Ou nem tínhamos desejos pessoais. 

  Diluímos‐nos nas águas da sorte ou da vontade alheia. Ficamos tênues demais 

para reagir. Somos os que se encolhem nos cantos ou sentam na beirada da poltrona 

dos salões da vida”. 

 

Epílogo 

 

  Após os 40, que simbolicamente representam a 

maturidade, a serenidade e o poder de escolha, nem 

sempre nesta ordem, algumas coisas ficam óbvias. Unir 

o agradável ao útil, como estou fazendo, é imperativo. 

Na pior das hipóteses, mantendo o ditado no original, já 

que vivemos em sociedade e, gostemos ou não, o ter 

não pode ser solenemente desprezado ou ignorado. Podemos é não dar tanta 

importância a ele tenho procurado transformar estes conceitos pessoais em atitudes 

concretas, o que invariavelmente me coloca angustiado diante de Fernando Pessoa e 

sua idéia do valer a pena sem alma pequena. Às vezes vence o poeta, às vezes o 

Percebo que cada vez mais os questionamentos da qualidade de vida ficam intensos e que quero ter sempre tempo para o que vale a pena. Como agora.

Page 80: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

80

pragmatismo. Muitas vezes também surge a angústia de não saber exatamente que 

preço estou pagando para realizar sonhos e desejos que nem sei se são reais. Que 

valores tenho praticado: os essencialmente meus ou os emprestados da sociedade 

hipócrita? 

 

  Percebo que cada vez mais os questionamentos da qualidade de vida ficam 

intensos e que quero ter sempre tempo para o que vale a pena. Como agora. Tempo 

para mim, para a família, para o amor, os amigos, o trabalho, onde realizar leva à 

realização, e esses pequenos presentes que a vida nos dá todos os dias e que não 

deviam passar despercebidos.  

 

  Nossa vida é plena. Somos seres plenos. Essenciais para o equilíbrio do planeta. 

Importantes de fato para muitas pessoas, além de nós próprios. Não podemos nos 

desperdiçar. Viver e não ter a vergonha de ser feliz. 

 

  O tempo passou e o sol já arrefece. As primeiras estrelas surgem me dizendo 

que este é mais um dia bem vivido, entre tantos que insistimos em jogar fora. É bom 

pensar na vida, mas vou parar por aqui. Um bom banho, uma roupa confortável e a 

Rua das Pedras me aguardam. Preciso conhecer aquele restaurante argentino que o 

Pecly recomendou. Parece que tem um bife de chorizo divino. 

 

 

 

 

 

 

 

                                         

 

 

 

 

Page 81: Livro completo em word atualizado1extranet.agendaassessoria.com.br/agendaassessoria/extranet2/Livro… · diferentes culturas, cada um deles representando uma lição a aprender.

 

         

próp

refle

fala e

mate

que t

 

         

publ

Para 

 

         

de “C

na vi

         

 

      

 

 

 www

   Este livro

prias. A prim

xão sobre o

em “patrim

eriais e fina

temos a adm

   A segund

icados e qu

uma leitura

   Já a terce

Crônicas do

da. 

                    

Boa leitu

Apoio Cu

w.jmcconsu

o é dividido 

meira, cham

os principais

ônio”, gera

nceiras. Por

ministrar... 

da parte, cha

e tratam de

a mais rápid

eira parte é 

o Cotidiano”

                   

ura! 

ultural: 

ult.com.br 

em três par

ada de “Ha

s valores da

lmente rem

r vezes nos 

amada de “

e temas da 

da, mas igua

a do relax e

”, que vão fa

                   

 

rtes distinta

rmonizando

a vida e a fo

metemos no

esquecemo

“Crônicas do

atualidade,

almente ref

e da diversã

azer você ri

as, cada um

o os Múltip

orma como 

osso pensam

os dos inúm

o Caminho”

, de interess

flexiva. 

ão. São peq

r um pouco

ma com cara

los Patrimô

os praticam

mento para 

meros outros

”, são artigo

se pessoal o

uenas estó

o e, claro, ta

cterísticas b

ônios”, é um

mos. Quando

as questõe

s patrimôni

os inéditos o

ou profissio

rias, chama

ambém pen

81

bem 

ma 

o se 

ios 

ou já 

onal. 

adas 

nsar