livro de EPT.doc

21
1 A educação profissional e tecnológica e os espaços de diálogo interinstitucional na América Latina: a contribuição da rede de instituições de Cinterfor/OIT Diane Andreia de Souza Fiala – Faculdade de Tecnologia de Itu Resumo: Pesquisas sinalizaram que a construção do espaço de diálogo na América Latina não é recente, já que o Cinterfor/OIT, em 1964, constituía núcleo formado por representantes de instituições e organismos que trabalhavam com a formação profissional dos estados membros da OIT na América e na Espanha. Por este motivo o objetivo principal é sinalizar que muitas instituições partícipes deste núcleo estão interessadas em cooperação internacional. A partir das pesquisas surgiu o seguinte interrogante: Qual a contribuição de Cinterfor na construção do diálogo interinstitucional na América Latina? A metodologia incluiu revisão de literatura, pesquisa documental e contatos institucionais. O principal resultado é que as instituições que trabalham com educação profissional na América Latina buscam por espaços de diálogo interinstitucional. INTRODUÇÃO Foi durante a primeira edição do Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, em Brasília, no ano de 2009, que se conheceu o trabalho do Cinterfor/OIT (em 1963, o Cinterfor recebeu a denominação de Centro Interamericano de Investigación y Documentación sobre Formación Profesional e, em 2007, passou a se chamar Centro Interamericano para el Desarrollo del Conocimiento en la Formación Profesional, da Organização Internacional do Trabalho), mas somente

Transcript of livro de EPT.doc

14

A educao profissional e tecnolgica e os espaos de dilogo interinstitucional na Amrica Latina: a contribuio da rede de instituies de Cinterfor/OITDiane Andreia de Souza Fiala Faculdade de Tecnologia de Itu

Resumo: Pesquisas sinalizaram que a construo do espao de dilogo na Amrica Latina no recente, j que o Cinterfor/OIT, em 1964, constitua ncleo formado por representantes de instituies e organismos que trabalhavam com a formao profissional dos estados membros da OIT na Amrica e na Espanha. Por este motivo o objetivo principal sinalizar que muitas instituies partcipes deste ncleo esto interessadas em cooperao internacional. A partir das pesquisas surgiu o seguinte interrogante: Qual a contribuio de Cinterfor na construo do dilogo interinstitucional na Amrica Latina? A metodologia incluiu reviso de literatura, pesquisa documental e contatos institucionais. O principal resultado que as instituies que trabalham com educao profissional na Amrica Latina buscam por espaos de dilogo interinstitucional.

INTRODUOFoi durante a primeira edio do Frum Mundial de Educao Profissional e Tecnolgica, em Braslia, no ano de 2009, que se conheceu o trabalho do Cinterfor/OIT (em 1963, o Cinterfor recebeu a denominao de Centro Interamericano de Investigacin y Documentacin sobre Formacin Profesional e, em 2007, passou a se chamar Centro Interamericano para el Desarrollo del Conocimiento en la Formacin Profesional, da Organizao Internacional do Trabalho), mas somente na quarta edio da Feira Tecnolgica Paula Souza (FETEPS), organizada pelo Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza (conhecido como Centro Paula Souza), na cidade de So Paulo, no ms de outubro de 2010, que se deu a oportunidade de aproximao instituio e conhecimento de uma rede formada por instituies e organismos que trabalhavam com a formao profissional dos estados membros da OIT na Amrica e na Espanha, cujos representantes institucionais se reunem a cada dois anos para apresentao de trabalhos, assinatura de convnios de cooperao internacional e prestao de contas aos pases membros. importante ressaltar que, apesar de trabalhar na instituio, a pesquisadora que apresenta este artigo, at este momento, desconhecia que o Centro Paula Souza participava desta rede de instituies.

A partir desta constatao e de vivncias de sala de aula, na Faculdade de Tecnologia de Itu Dom Amaury Castanho (uma das cinquenta e duas faculdades de tecnologia administradas pelo Centro Paula Souza, (conhecida como FATEC Itu)), comeou-se a desenhar projeto que permitisse estreitar laos institucionais com as instituies de educao profissional (de nvel tcnico e tecnolgico) partcipes da rede de instituies do Cinterfor.

As pesquisas realizadas na pgina web do Cinterfor sinalizaram que a construo do espao de dilogo na Amrica Latina no era um tema recente, j que o a formao do ncleo de instituies do Cinterfor/OIT, datava de 1964 (CINTERFOR, 1974a). Tambm se encontrou importante fonte documental: relatrios do perodo de 1964 a 2007, resgatando no somente a histria da instituio, mas tambm da educao e formao profissional na Amrica Latina.

A partir da descoberta dos relatrios e de contatos iniciais via e-mail com instituies partcipes da rede Cinterfor, surgiu o interrogante: Qual a contribuio do Cinterfor na construo do dilogo interinstitucional na Amrica Latina? A hiptese foi a de que a rede de instituies de Cinterfor, ao promover o encontro dos representantes institucionais, colabora com o processo de busca por cooperao institucional, consequentemente, com a rpida resposta recebida por grande parte das instituies contatadas. Dados tabulados, a partir de pesquisas exploratrias iniciais, sinalizam que vrias instituies responderam a um e-mail inicial enviado, cujo assunto era interesse em cooperao internacional. Por este motivo o objetivo principal sinalizar que muitas instituies partcipes deste ncleo esto interessadas em cooperao internacional e a rede de instituies do Cinterfor um facilitador para tal busca. A metodologia incluiu, inicialmente, reviso de literatura e pesquisa documental e, numa segunda etapa, contatos institucionais como pesquisa exploratria. O principal resultado que as instituies que trabalham com educao profissional na Amrica Latina buscam por espaos de dilogo interinstitucional.1 BREVE CONTEXTUALIZAO DA EDUCAO PROFISSIONAL NA AMRICA LATINA E A CONTRIBUIO DO BRASIL PARA A CRIAO DOS ESPAOS DE DILOGOS

Apesar das instituies de educao profissional pblica, no continente latino americano existir, em alguns pases, a mais de cem anos esta ainda uma rea com escassez de pesquisas acadmicas, o que refora a importncia de novas pesquisas sobre a educao profissional no continente latino americano. Portanto, ao abordar esta temtica neste artigo o que se tem como intuito tambm narrar experincias que surgem a partir do momento que se busca a cooperao internacional com outras instituies que trabalham com educao profissional na Amrica Latina, numa tentativa de desmitificar alguns assuntos relacionados rea.

Segundo Leite (1999, p 29), a maior parte das escolas tcnicas e de instituies de formao profissional na Amrica Latina, data da dcada de 1940, com excees de alguns pases em que h instituies que surgiram na poca da colonizao: Los modelos institucionales de la educacin profesional en Amrica Latina y el Caribe tienen races en las dcadas de los aos cuarenta y cincuenta, aunque algunos institutos estn establecidos desde los tiempos de la colonizacin, como las escuelas establecidas por los jesuitas. Aquellos modelos se estructuraron, en gran parte, en el contexto de: gobiernos populistas y otros autoritarios; desarrollo basado en mercados protegidos; empresas poco competitivas; baja preocupacin en la calidad, bajos sueldos, utilizacin masiva de mano de obra de baja calificacin; altas tasas de expansin del sector industrial. [.] Estos factores, entre otros, contribuyeron a definir un arreglo institucional marcado por dos tipos de organizaciones: las escuelas o colegios tcnicos nacionales y las instituciones de formacin profesional. []De acordo com Weinberg (2002), num primeiro momento, na Amrica Latina, o que se tem uma educao profissional desenhada a partir de trs principais modelos: a) pases onde a formao era planificada, pensada e executada por um rgo pblico (geralmente o Ministrio do Trabalho); b) pases em que a formao era desenhada, planificada e implementada por um conjunto de instituies e a gesto ficava a cargo das organizaes empresariais; c) pases em que a formao se encontrava presente na educao regular. Em alguns casos, como o Brasil, poderia existir mais de uma tipologia, que no fugia regra acima. Mas, atualmente, para dar conta do aumento de demanda por formao e educao profissional, os pases constroem novas formas de organizar a formao do trabalhador, com destaque a quatro vertentes:

A. Arreglos donde tanto la responsabilidad por la definicin de polticas y estrategias, como la que hace a la ejecucin directa de acciones formativas, se concentra en una sola instancia, normalmente en instituciones nacionales o sectoriales de formacin. [] B. Arreglos organizativos donde la definicin de polticas y estrategias se concentran en una sola instancia, que tiene a su vez un rol preponderante en la ejecucin directa de acciones formativas el cual, sin embargo, contiene estrategias de complementacin mediante esquemas de gestin compartida y centros colaboradores. [] C. Casos de coexistencia e interrelacin entre dos arreglos predominantes con lgicas diferentes. Uno, normalmente asociado a los Ministerios de Trabajo, donde stos, mediante instancias especializadas, asumen un rol de definicin de polticas y estrategias sin ejecutar, en ningn caso, acciones de formacin, tarea sta ltima que es asumida por una multiplicidad de oferentes y actores. Otro, asociado a instituciones de formacin, nacionales o sectoriales, que pueden responder a las caractersticas descritas para los tipos de arreglos (A) o (B). []D. Arreglos en los cuales el nivel de definicin de polticas y estrategias en materia de formacin, es asumido de forma completa por el Ministerio de Trabajo a travs de instancias especializadas, las cuales, no obstante, no ejecutan ninguna accin directa de formacin, sino que dicha tarea es asumida por mltiples oferentes y actores. (WEINBERG, 2002, p. 99-106) At o comeo deste sculo, de acordo com Fausto e Yannoulas (2002), Fausto, Pronko e Yannoulas (2003) e Leite (1999), o que se levantava como caractersticas comuns a estas instituies era a gesto centralizada, o distanciamento ou falta de contato com as instituies do mesmo setor (apesar de existir desde 1964 uma rede de instituies de pases membros do Cinterfor/OIT que trabalham com educao tcnica e tecnolgica ou formao profissional na Amrica Latina, como se ver a seguir). Tambm era evidente um modelo de formao profissional concebido a partir da dicotomia educao bsica versus educao para o trabalho, preocupada mais em atender a necessidade de mo de obra, sem propostas de cursos que levassem em considerao a questo de gnero, raa, incluso social, acessibilidade e populaes vulnerveis (FAUSTO, PRONKO e YANNOULAS, 2003), o que, no entanto, um esboo simplificado dos dficits da educao profissional na regio para com a sociedade (LEITE, 1999). Portanto na Amrica Latina, durante o sculo XX, a funo da educao profissional dar conta de suprir a falta de mo de obra capacitada. Em alguns pases (como foi o caso do Brasil e do Uruguai), a educao profissional era a oportunidade de inserir os menos favorecidos (desprovidos de capacidade de seguir a educao propedutica) na vida laboral.

No Brasil, os documentos que mostram a mudana de comportamento daqueles que estavam inseridos no contexto da educao profissional data de 2003, quando ocorre o Seminrio Nacional de Educao Profissional (BATISTOTTI, 2007), seguido das Conferncias Estaduais (2006) que culminaram na I Conferncia Nacional de Educao Profissional e Tecnolgica (2006), cuja reflexo permitiu a realizao da primeira edio do Frum Mundial da Educao Profissional e Tecnolgica, que aconteceu no Brasil em 2009 (a segunda edio do Frum Mundial de Educao Profissional e Tecnolgica acontecer de 28 de maio a 1 de junho de 2012, em Santa Catarina). Apesar de todos estes avanos as pesquisas bibliogrficas apontam poucos trabalhos detalhando essas discusses em busca de novos rumos para a educao profissional. J que de acordo com Weinberg (2002, p. 114),Resulta ya parte del sentido comn en la esfera productiva que el capital humano es un componente central y definitorio dentro de las estrategias de productividad y competitividad de las empresas y sectores econmicos. La formacin aparece entonces, en este escenario, como una herramienta fundamental tanto para desarrollar esta nueva tecnologa como para aprovechar y utilizar eficazmente cualquiera otra.

E ainda so poucos os trabalhos como o do autor Scopel Velho (2011) e Moraes (dois trabalhos escritos no ano 2000, da Fundao SEADE (Sistema Estadual de Anlise de Dados) e da ANPED (Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Educao)), que traam perspectivas para uma educao profissional e tcnica emancipadora.

Muitos trabalhos do nfase a uma educao profissional assistencialista e que forma mo de obra barata, porm, pesquisas sinalizam que, atualmente, alunos egressos de cursos superiores de tecnologia de faculdades pblicas (como, por exemplo, do Centro Estadual de Educao Profissional e Tecnolgica Paula Souza, So Paulo) alm de serem gestores tambm so portadores de competncias que as empresas precisam em seu quadro de funcionrios. Tambm so poucos os trabalhos que discutem a necessidade de polticas pblicas para a educao profissional, com o intuito de unio da educao e do trabalho, para a formao do cidado produtivo emancipado, aqui importante destacar o trabalho desenvolvido pelo Grupo Tcnico para Elaborao de Propostas de Polticas para Adolescentes de Baixa Escolaridade e Baixa Renda, ano de 2002, numa convocatria da UNICEF em 2001, com propostas viveis na rea de polticas pblicas para educao profissional e dos autores Fausto e Yannoulas (2002) e Fausto, Pronko e Yannoulas (2003).

2 A REDE DE INSTITUIES DE CINTERFOR E REFLEXES SOBRE O ESPAO DE DILOGO INTERINSTITUCIONALNa consulta aos relatrios (CINTERFOR 1974a, 1974b, 1975, 1984, 1993, 2007), principalmente no primeiro, que data de 1974, o que fica claro que este Centro de Pesquisa sobre a Formao Profissional foi demandado pelos empresrios, e muitas reunies foram necessrias para se decidir onde ficaria o escritrio da instituio na Amrica Latina. El Centro Interamericano de Investigacin y Documentacin sobre Formacin Profesional (CINTERFOR) surgi como resultado de un esfuerzo conjunto de la OIT y los pases de la regin, reunidos en la 7a. Conferencia de los Estados de Amrica miembros de la Organizacin Internacional del Trabajo (OIT), que tuvo lugar en Buenos Aires, en 1961, destinada a promover el desarrollo de la formacin profesional (FP) sobre todo a travs de la investigacin y el intercambio de informaciones y experiencias, dentro de la novedosa concepcin de la CTPD (Cooperacin Tcnica entre Pases en Desarrollo), mucho antes que la comunidad internacional (en Buenos Aires, en 1978, y en Caracas, en 1980) acordara los principios orientadores de ese mecanismo. (CINTERFOR, 1993, p. 7)

o primeiro relatrio (CINTERFOR, 1974a) que sinaliza a preocupao alarmante dos empresrios na dcada de 1950, sobre a urgncia da capacitao da mo de obra no continente latino americano, e importncia dada temtica, pois em 1961 j se realizava a 45 reunio da Conferncia Internacional do Trabalho e, em 1946, a 3 Conferncia Regional dos Estados da Amrica, cuja temtica (capacitao da mo de obra) j era ordem do dia. Os dados divulgados pela UNESCO em 1950 (denominado Censo da Amrica) denunciavam o dficit educacional na Amrica Latina: a proporo de analfabetos entre a populao de 15 anos ou mais no continente era de 40% aproximadamente, em mdia com um ano de escolaridade. Ainda no relatrio de 1974 (que faz o resgate histrico da instituio no perodo 1963-1974) encontra-se meno de que a baixa escolaridade, ou a falta desta, afetaria o nvel de produtividade do trabalhador causado pelo avano da tecnologia, e para atender a exigncia social e econmica era necessrio que cada pas da regio aumentasse as verbas destinadas a este fim. Como resultado deste esforo governamental aumentar-se-ia o nvel de escolaridade da populao, propondo-se um plano de desenvolvimento econmico e social de maneira que alcanasse o objetivo de favorecer o desenvolvimento da personalidade dos indivduos, preparando-os para a participao ativa na economia e na sociedade. Um dos motivos para a construo urgente, naquele momento, do dilogo era que os pases latino-americanos, devido aos baixos oramentos que tinham para destinar educao (em geral) frente a grandes necessidades e urgncias sociais, precisavam de sadas eficientes e eficazes para capacitar um maior nmero de trabalhadores, gastando-se menos (CINTERFOR, 1974a). De acordo com o relatrio de 1978, o desenvolvimento da formao profissional e da educao profissional na Amrica Latina se da por causa da demanda: a) da industrializao e demanda de mo de obra qualificada; b) desenvolvimento industrial e educao; c) por instituies nacionais de formao profissional. nesta poca que surge como sada no capacitar somente antes de se comear a trabalhar, mas oferecer a capacitao durante toda a vida profissional do indivduo, de acordo com as necessidades do trabalhador e dos setores produtivos. E, por fim, o relatrio ainda apresenta que a regio, em seus dilogos, deve pensar no processo constante dos sistemas e mtodos da formao profissional com o objetivo de aproveitar de maneira mais eficaz os recursos disponveis (CINTERFOR, 1974a).O primeiro relatrio (CINTERFOR, 1974a) tambm evidencia que, desde sua origem, no ano de 1963, o Cinterfor j incorporava em sua misso institucional o intercmbio de experincias (com base na pesquisa, documentao e divulgao) com enfoque nas atividades de formao profissional, por isso a constituio de um ncleo (formado por instituies e organismos que trabalhavam com a formao profissional dos estados membros da OIT na Amrica e na Espanha) era demandado pela prpria misso institucional e pelos empresrios da regio. Cinco relatrios (CINTERFOR 1974a, 1974b, 1975, 1984, 1993), evidenciam que a rede de instituies do Cinterfor, desde o momento de sua concepo, pensada para a participao de representantes institucionais e chega at a se intitular club de amigos: nas reunies da Comisso Tcnica os responsveis institucionais eram (e ainda so) aqueles que traam estratgias que solucionem a falta de mo de obra capacitada, ou seja, a rede no foi pensada como espao de reflexo para os atores que esto na base (professores, alunos e, administrativos). Los fundadores tenan conciencia de la necesidad de asegurar, en el nivel ms alto, un lazo permanente y directo entre el Centro y las instituciones nacionales, con el fin de mantener contacto con la realidad de los problemas de formacin profesional y de orientar el programa de trabajo de Cinterfor en funcin de las necesidades ms urgentes. Por esa razn fue creada la Comisin Tcnica, cuyo papel es asistir al Director General de la OIT en la orientacin del programa de actividad del Centro, aprobar dicho programa y evaluar su ejecucin. Esta comisin est encargada tambin de aprobar el presupuesto del Centro. La integran los representantes de los pases de Amrica que han expresado el deseo de asociarse a los trabajos del Centro y se rene una vez por ao. (CINTERFOR, 1978, p. 23)

Sobre a intencionalidade de promover a integrao horizontal entre organismos que trabalham com educao ou formao profissional na regio, o relatrio de 1978, que escrito por Eric Maertens, traz como ttulo Cinterfor: um instrumento de Cooperao Tcnica entre os pases em desenvolvimento e, vrios outros relatrios, trazem a denominao Cooperao Tcnica Regional, para o trabalho desenvolvido pelo Cinterfor, cuja meta responder s demandas levantadas na Assemblia Geral das Naes Unidas de 1972, quando se autorizou ao PNUD (Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento) criar um grupo de trabalho com a finalidade de estudar os meios de comunicao com que contavam o terceiro mundo, na inteno de melhorar a assistncia para o desenvolvimento desta regio e colocar em evidncia as possibilidades e vantagens que a cooperao tcnica regional e entre regies brindariam. A reflexo que a leitura dos relatrios traz tona que o fato de no ser uma rede para atores que esto na base da educao profissional acabou colaborando para que Congressos, Conferncias, Fruns, entre outros fossem espaos pensados para a participao e troca de experincias destes outros atores institucionais, mas esta uma reflexo que no ser abordada neste estudo.Por agora o que se constata que esta rede de instituies do Cinterfor tem um papel importante nos resultados quantitativos que sero apresentados a seguir, pois o fato destes representantes participarem j mostra que a instituio est em busca de cooperao internacional, Esta gran diversidad de experiencias y enfoques, as como el desarrollo y la complejidad alcanzada por muchas instituciones, representan un capital fundamental para fomentar el intercambio y la cooperacin horizontal entre ellas, con el propsito de conocer y aprender de las experiencias recprocas. Esta ha sido la razn de ser de OIT/Cinterfor desde su creacin. Hoy en da, gracias tambin a la labor de OIT/Cinterfor, las instituciones se conocen entre s, tienen acceso e intercambian informacin sobre las respectivas estrategias, actividades y lecciones aprendidas, comparten materiales tcnicos y didcticos y, en muchos casos, colaboran directamente en programas de cooperacin horizontal y asistencia tcnica.(CINTERFOR, 2007. p. 17)

Mas tambm necessrio analisar que o fato de ser uma rede de representantes institucionais, afastando os demais atores desta esfera de debate pode haver contribudo para a no obteno de resposta das demais instituies, inicialmente, alguns motivos levantados, so: a) ambientes institucionais rigidamente hierarquizados; b) os representantes institucionais, muitas vezes, tm pouco ou nenhum contato com a base para pensar linhas de ao, fechar parcerias e apresentao de relatrios; c) os resultados das reunies no so massivamente divulgados nas instituies; d) o representante, algumas vezes, no possui representatividade e poder de deciso no momento de se fechar convnios; e) os convnios firmados no so massivamente divulgados nas instituies.3 O INTERESSE EM COOPERAO INTERNACIONALA quarta edio da FETEPS, realizada no ano de 2010, foi uma experincia inicial para se ter conhecimento da rede de instituies do Cinterfor e primeiros contatos com algumas instituies que eram partcipes desta rede na Amrica Latina, pois nesta mesma edio da feira foi possvel conversar com atores da educao profissional da Argentina, Peru e Costa Rica (em geral alunos e professores), que representavam suas instituies e vieram ao Brasil para expor seus projetos de inovao tecnolgica no evento. Nesta primeira experincia foi possvel constatar que estes representantes tampouco sabiam que suas instituies participavam da rede de instituies de Cinterfor, mas que, seguramente, um convnio com interesse em cooperao internacional seria bem aceito e com parecer favorvel por parte da instituio que cada um deles representava, (sem desmerecer o fato de que estas instituies participavam de um evento organizado por uma das instituies membros de Cinterfor, que era o Centro Paula Souza).Logo aps a edio da feira tecnolgica, numa aula de Fundamentos de Marketing na FATEC Itu, identificou-se que, numa atividade desenvolvida em sala de aula, referente a propaganda de empresa de determinado pas latino americano, os alunos se interessaram mais em debater sobre a Amrica Latina, costumes e cultura do pas que sobre a propaganda apresentada, este foi mais um fato norteador para a construo de um projeto que teria como objetivo fazer contato com as instituies partcipes da rede Cinterfor com intuito de levantar dados que permitissem identificar interesse em cooperao internacional, aproveitando a oportunidade para fechar convnios que possibilitasse aos alunos, docentes e administrativos participar de intercmbios acadmico-culturais.Na pgina web do Cinterfor identificou-se a 61 instituies participando da rede: 57 da Amrica Latina e Caribe e 4 da Espanha, classificando-as como: 16 educao profissional pblicas, 12 formao profissional pblico-privadas, 16 formao profissional pblicas e 17 rgos governamentais relacionados temtica da educao ou formao profissional.

Grfico 1 Instituies que participam da rede de instituies de pases membros do Cinterfor/OIT

Fonte: criado pela autora a partir de dados extrados da pgina web do Cinterfor.

Nota-se que h uma distribuio equilibrada entre categorias, o que no intencional, pois de acordo com os relatrios no h paridade de distribuio, j que qualquer instituio pblica ou privada pode participar da rede.

O e-mail institucional foi direcionado somente s 20 instituies que respeitavam o seguinte critrio: trabalhar com educao ou formao profissional pblica, num dos pases hispanos da Amrica Latina. Este recorte foi proposto j que o projeto desenhado na FATEC Itu, para cooperao internacional, tem a inteno de manter contato com instituies da Amrica Latina (num primeiro momento), hispnicos pela possibilidade de pessoal na faculdade com conhecimento do idioma espanhol, que comearam em 2011 a oferecer curso extra-curricular aos alunos, professores e administrativos interessados em participar de projetos de intercmbio ( importante esclarecer que at o momento o idioma espanhol no est inserido na matriz curricular dos cursos superiores de tecnologia oferecidos na unidade). Por uma questo de sigilo no se divulgam os nomes das instituies e os pases a que pertencem, mas sim uma anlise quantitativa que permita algumas consideraes e reflexes iniciais.

Dos 20 e-mails enviados, 12 destes foram respondidos num intervalo de 7 dias e outros 3 num intervalo de 15 dias, ou seja, teve-se um retorno positivo de 75% dos e-mails enviados. Estas instituies que responderam ao e-mails enviado esto interessadas em cooperao internacional e aes de intercmbio acadmico-cultural. As outras 5 instituies no responderam ao e-mail e ainda tenta-se manter contato, por este motivo no se pode afirmar que no esto interessadas em acordos de convnios que promovam a cooperao internacional e intercmbio acadmico-cientfico.

Grfico 2 Retorno obtido de e-mails enviados a instituies de formao ou educao profissional pblicas da Amrica LatinaFonte: criado pela autora a partir de dados extrados da pgina web do Cinterfor.

O interesse em cooperao internacional foi confirmado tambm durante a quinta edio da FETEPS, que aconteceu em outubro de 2011, quando o nmero de projetos internacionais passa de 11 (edio de 2010) a 18 (na edio de 2011) e o nmero de pases de Amrica Latina participando do evento de 3 (Argentina, Peru e Costa Rica) a 5 (Argentina, Costa Rica, Peru, Repblica Dominicana e Uruguai), todas as instituies que participaram so partcipes da rede de instituies do Cintefor. De acordo com o Coordenador do Ensino Mdio e Tcnico, o professor Almrio Melquades de Arajo,A FETEPS um espao em que a criatividade, individual e coletiva, de alunos de cursos tcnicos e tecnolgicos, se materializa e brilha na apresentao de 358 projetos. Nesta 5 FETEPS teremos a representao de instituies da educao profissional da Argentina, do Peru, da Costa Rica, do Uruguai e da Repblica Dominicana, por intermdio de 18 projetos, alm da presena do CINTERFOR (Centro Interamericano para o Desenvolvimento do Conhecimento na Formao Profissional), o que amplia e solidifica importantes relaes de parcerias internacionais [grifo nosso]. (http://www.feteps.com.br/pdf/

manual2011.pdf)

O quadro1 traz aes que foram encaminhadas durante a 5 edio da FETEPS de 2011, a partir de conversas com representantes de instituies de educao e formao profissional pblicas da Amrica Latina. Estes representantes alm de acompanhar os alunos e professores tambm tinham como meta buscar parceria para o desenvolvimento de projetos em conjunto. Os convnios bilaterais esto em fase de aprovao entre as instituies citadas e o Centro Paula Souza, tal trmite se faz necessrio para a formalizao e documentao das aes que venham a se realizar. importante destacar que as aes citadas a seguir so pensadas no projeto em desenvolvimento na FATEC Itu, mas os convnios bilaterais assinados so institucionais e no direcionados determinada faculdade de tecnologia ou escola tcnica.

INSTITUIOPASAES

INFOTEPRep. DominicanaTroca de experincia na rea de capacitao docente.

Min. Educao Argentina / ChubutArgentina/ChubutApresentao de trabalho dos alunos da FATEC Itu (3 colocado entre as FATECs) e do trabalho dos alunos de Chubut (1 colocado entre os projetos internacionais) premiados na 5 edio da FETEPS, 2011 - via skype para promover interao inicial, incluindo traduo simultnea e possibilidades para desenho de projetos futuros.

Escola Tcnica e Universidad Tecnolgica del Chaco (ARG)Argentina/Chaco1) Intercmbio de idiomas - o professor Juan (argentino) daria aula aos alunos do curso extracurricular de espanhol apresentando a dura realidade de quem vive na regio do Chaco (ARG) e, ns, conversaramos com os alunos que fazem aula de portugus com ele na Argentina em portugus - para estreitamento de laos institucionais - a partir do momento que os alunos estejam interagindo construiremos projetos interinstituies - possveis de se aplicar a distncia para apresentarmos na FETEPS 2012.

Sector de Operacionalizacin de Coordinacin Internacional /SENATIPeruIntercmbio acadmico-cultural, com possibilidade de visitas tcnicas incluindo viagens de grupo de alunos, docentes e professores da FATEC Itu e do SENATI.

Universidad del Trabajo de UruguaiMontevidu, Uruguai1) Tem interesse em visitas tcnicas; 2) H possibilidade de enviar alunos, professores e administrativos; 3) H a possibilidade de recebermos alunos e professores para visitas tcnicas e desenho de trabalhos em conjunto

INACosta RicaH interesse envolvendo curso de mecatrnica industrial.

Quadro 1 Aes levantadas a partir de contatos estabelecidos na quinta edio da FETEPS, 2011, com representantes que acompanhavam a equipe no eventoFonte: elaborado pela autora possvel visualizar acima aes de intercmbio cultural e acadmico que podem ser desenvolvidas com apoio das tecnologias da comunicao e informao, no encarecendo o projeto e podendo ser desenvolvido no mbito das instituies pblicas de educao profissional, sem onerar suas atividades. J as viagens de intercmbio pedem um envolvimento maior de recursos humanos e econmicos, o que se torna num desafio para as instituies que trabalham com educao profissional pblicas, pois muitas contam com escassos recursos humanos e econmicos, neste sentido as parcerias e o envio de projetos a rgos de fomento a pesquisa, para financiamento de projetos como estes, so essenciais. A conversa informal com estas instituies tambm sinalizam que a recente presena do Brasil como sexta maior economia do mundo coloca o pas numa posio estratgica, facilitando o fechamento de parcerias com demais instituies da Amrica Latina, este tema tambm merece pesquisa detalhada e no ser pormenorizado neste trabalho.CONSIDERAES FINAIS

Pensando numa rede de instituies, cujos membros so representantes institucionais que levam sua demanda, apresentam projetos e recebem a prestao de contas a cada dois anos, o que se nota que a rede faz seu papel de facilitador e de construtor das relaes interinstitucionais na regio, como mostram os relatrios pesquisados. E o fato de haver enviado e-mails a instituies que pertencem a uma rede de cooperao tcnica colaborou para com a rpida resposta e interesse no desenvolvimento de trabalhos em parceria.

preciso esclarecer que a hiptese inicial para que a resposta dos e-mails enviados haja vindo em pouco tempo a de que o fato destas instituies participarem de uma rede j predispe seus representantes busca por cooperao internacional, e sabendo que quem enviava o e-mail era uma instituio da mesma rede contribui para a resposta positiva e breve destes correios eletrnicos.

Outra hiptese para uma pesquisa futura que estas instituies, pelo posicionamento do Brasil na Amrica Latina querem firmar convnios de cooperao bilateral com este pas. Porm como expressou o representante de uma instituio partcipe da rede Cinterfor, os projetos precisam ser possveis de se realizar para que sejam aceitos pelas instituies, neste sentido, segundo ele, a rede Cinterfor busca evidenciar a importncia de convnios prticos, o que tambm tema para uma pesquisa futura pela complexidade do tema.

O que mais chama a ateno a abertura que h na Amrica Latina para a construo de projetos em conjunto e aes de intercmbio acadmico-cultural. Estas oportunidades no podem ser desaproveitadas, at mesmo porque o dilogo interinstitucional exclui da discusso aos demais atores (professores, alunos e administrativos) que buscaro por seus espaos de dilogo (como o caso da rede de instituies de educao tcnica e tecnolgica proposta durante o II Encontro Latinoamericano de Educao Tcnica e Tecnolgica, Mendoza, Argentina, nov/2011 e da primeira edio do Frum Mundial da Educao Profissional e Tecnolgica Braslia, 2009 e a segunda edio acontecer em Santa Catarina, maio/junho de 2012), na tentativa de levar suas demandas para uma discusso e reflexo macro.REFERNCIASCINTERFOR. Orgenes de Cinterfor: situacin de la formacin profesional em Amrica Latina hacia 1960. v. 1. Cinterfor: Montevidu, 1974. Disponvel em: . Acesso em 29 dez. 2011.

CINTERFOR. Orgenes de Cinterfor: contribucin documental v. 2. Cinterfor: Montevidu, 1974. Disponvel em: . Acesso em 29 dez. 2011.

CINTERFOR. Cinterfor 1964-1973: formacin profesional en Amrica Latina. v. 1. Cinterfor: Montevidu, 1975. Disponvel em: . Acesso em 29 dez. 2011.

CINTERFOR. Cinterfor: um instrumento de cooperacin tcnica entre pases em desarrollo. Montevidu, 1978. Disponvel em: . Acesso em 29 dez. 2011.CINTERFOR. Cinterfor 1964-1984: veinte aos de solidaridad. Cinterfor: Montevidu, 1984. Disponvel em: . Acesso em 29 dez. 2011.

CINTERFOR. Treinta aos de Cinterfor 1963-1993. Cinterfor: Montevidu, 1993. Disponvel em: . Acesso em 29 dez. 2011.

CINTERFOR. Plan estratgico para la accin futura de OIT/Cinterfor. Cinterfor: Montevidu, 2007. Disponvel em: < http://www.oitcinterfor.org/sites/default/files/file_evento/plan_est.pdf>. Acesso em 29 dez. 2011.

FAUSTO, Ayrton; YANNOULAS, Silvia C (orgs.). Idias sociais e polticas na Amrica Latina e Caribe: estudos comparados sobre as PPTRs. Anais Seminrio Internacional. Braslia: FLACSO, 2002. FAUSTO, Ayrton; PRONKO, Marcela; YANNOULAS, Silvia C (orgs.). Processos de integrao supranacional e articulao de polticas pblicas. v. 1. Anais Seminrio Internacional. Braslia: FLACSO, 2003.LEITE, Elenice Montero. Agenda de una nueva institucionalidad para la educacin profesional en Amrica Latina y el Caribe. Boletn Cinterfor. n. 140, set./dez. Cinterfor: Uruguai, 1999.MEHEDFF, Nassim. A construo da PPTR no Brasil e na Amrica Latina. In: FAUSTO, Ayrton; YANNOULAS, Silvia C (orgs). Idias sociais e polticas na Amrica Latina e Caribe: estudos comparados sobre as PPTRs. Anais Seminrio Internacional, 2000. Braslia: FLACSO, 2002, p. 147-154. WEINBERG, Pedro Daniel. Modernizacin de la formacin profesional en Amrica Latina y el Caribe. In: FAUSTO, Ayrton e YANNOULAS, Silvia C (orgs.). Idias sociais e polticas na Amrica Latina e Caribe: estudos comparados sobre as PPTRs. Anais Seminrio Internacional. Braslia: FLACSO, 2002, p. 92-146.

A Feira Tecnolgica Paula Souza (FETEPS) organizada pela Coordenadoria do Ensino Tcnico (CETEC) do Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza desde 2007; a cada ano o evento vem crescendo e uma feira onde os alunos de Faculdades de Tecnologia (FATECs), Escolas Tcnicas (ETECs) administradas pelo Centro Paula Souza, instituies estrangeiras ou dos demais estados brasileiros apresentam projetos voltados a inovao e tecnologia, concorrendo a prmios. Ver: www.feteps.com.br.

Autarquia do Governo do Estado de So Paulo vinculada Secretaria de Desenvolvimento Econmico, Cincia e Tecnologia, o Centro Paula Souza administra 203 Escolas Tcnicas (Etecs) e 52 Faculdades de Tecnologia (Fatecs) estaduais em 157 municpios paulistas. As Etecs atendem mais de 216 mil estudantes nos Ensinos Tcnico e Mdio. Atualmente, so oferecidos 119 cursos tcnicos para os setores Industrial, Agropecurio e de Servios. Este nmero inclui 3 cursos tcnicos oferecidos na modalidade semipresencial, 20 cursos tcnicos integrados ao Ensino Mdio e 2 cursos tcnicos integrados ao Ensino Mdio na modalidade de Educao de Jovens e Adultos (EJA). J nas Fatecs, 54.657 alunos esto matriculados nos 61cursos de graduao tecnolgica. Ver: www.centropaulasouza.sp.gov.br.

http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/sai/Livreto%20Egressos%20Fatec.pdf

http://www.abmp.org.br/textos/8013.pdf

importante esclarecer que no site do Cinterfor no h a diviso por categorias proposta acima. Na diviso apresentada encaixou-se a instituio de acordo com informaes encontradas em artigos cientficos ou na prpria pgina web da instituio.