Livro Ence 50 Anos Boommm
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aos 50anos
um olhar sobre o Rio de Janeiro
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Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva
Ministro do Planejamento, Oramento e GestoPaulo Bernardo Silva
INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E
ESTATSTICA - IBGEPresidente
Eduardo Pereira Nunes
Diretor ExecutivoSrgio da Costa Crtes
RGOS ESPECFICOS SINGULARES
Diretoria de PesquisasWasmlia Socorro Barata Bivar
Diretoria de GeocinciasGuido Gelli
Diretoria de InformticaLuiz Fernando Pinto Mariano
Centro de Documentao e Disseminao de InformaesDavid Wu Tai
Escola Nacional de Cincias EstatsticasPedro Luis do Nascimento Silva
UNIDADE RESPONSVEL
Escola Nacional de Cincias Estatsticas
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Ministrio do Planejamento, Oramento e GestoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE
Escola Nacional de Cincias Estatsticas
Rio de Janeiro2006
aos 50anos
um olhar sobre o Rio de Janeiro
a
ENCEa
ENCE
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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGEAv. Franklin Roosevelt, 166 - Centro - 20021-120 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
ISBN 85-240-3887-X
IBGE. 2006
A ENCE aos 50 anos : um olhar sobre o Rio de Janeiro / Escola Nacional deCincias Estatsticas. Rio de Janeiro : IBGE, 2006.396 p.
ISBN 85-240-3887-X
1. Rio de Janeiro (Estado) - Condies econmicas. 2. Rio de Janeiro(Estado) - Condies sociais. 3. Rio de Janeiro (Estado) - Poltica econmica. 4.Rio de Janeiro (Estado) - Ocupaes. 5. Mercado de trabalho - Brasil - Rio de
Janeiro (Estado). 6. Setor informal (Economia) - Brasil - Rio de Janeiro (Estado).7. Pobreza - Brasil - Rio de Janeiro (Estado). 8. Favelas - Brasil - Rio de Janeiro(Estado). 9. Fecundidade humana - Brasil - Rio de Janeiro (Estado). 10. Eleies- Brasil - Rio de Janeiro (Estado). 11. Mobilidade social - Brasil - Rio de
Janeiro (Estado). 12. Segregao - Brasil - Rio de Janeiro (Estado). 13. Cor dapele - Brasil - Rio de Janeiro (Estado). 14. Brasil - Censo demogrfico, 2000.15. Educao e Estado - Brasil - Rio de Janeiro (Estado). 16. Disparidadeseconmicas regionais. 17. Incluso digital. I. Escola Nacional de CinciasEstatsticas (Brasil).
Gerncia de Biblioteca e Acervos Especiais CDU 338.22(815.3)RJ/2006-15 ECO
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Capa
Mnica Pimentel Cinelli Ribeiro - Gerncia de Editorao/ Centrode Documentao e Disseminao de Informaes - CDDI
As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e inteiraresponsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, oponto de vista do IBGE.
Arcos da Lapa: lmina relativa a 1991In: Arcos da Lapa, 1755 a 1991: um passeio no tempo. 6. ed., 2002.Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos - IPPPrefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
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Sumrio
Apresentao
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IntroduoNeide Lopes Patarra
11
captulo 01
Configuraes econmico-espaciaisno Estado do Rio de Janeiro
Cesar Ajara
27
captulo 02
A economia do Estado doRio de Janeiro
na segunda metade dos anos noventa
Denise Guichard Freire
Carmem Aparecida do Valle Costa Feij
Paulo Gonzaga Mibielli de Carvalho
63
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6 sumrio
a ENCE aos 50 anosum olhar sobre o Rio de Janeiro
captulo 03
Precarizao e mobilidade sociocupacionalno mercado de trabalho fluminense
Paulo de Martino Jannuzzi
95
captulo 04
Mutaes no mundo do trabalho fluminense:o (triste) espetculo da informalizao
Jane Maria Pereira Souto de Oliveira115
captulo 05
Impactos da reestruturao econmica nasfavelas cariocas: trajetrias e paradigmas
Jane Maria Pereira Souto de OliveiraCesar Ajara
Luisa Maria La Croix
129
captulo 06
A dinmica da fecundidade no Estadodo Rio de Janeiro: 1991/2000
Suzana Marta CavenaghiJos Eustquio Diniz Alves
153
captulo 07
Vinte anos de eleies para presidente e governadorno Estado do Rio de Janeiro: 1982/2002
Antonio Carlos Alkmim185
captulo 08
Conselhos Municipais de Polticas Setoriais:panorama do Estado do Rio de Janeiro
Lavnia Davis Rangel PessanhaSimone da Silva Figueiredo
223
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sumrio
7
7
a ENCE aos 50 anosum olhar sobre o Rio de Janeiro
captulo 09
Aspectos da excluso digital noEstado do Rio de Janeiro
Arnaldo Lyrio BarretoRosa Maria Porcaro
249
captulo 10
A dinmica das filiaes religiosas no
Estado do Rio de Janeiro: 1991/2000:um recorte por educao,cor, gerao e gnero
Jos Eustquio Diniz AlvesMaria Salet Ferreira Novellino
275
captulo 11
Escolaridade no Estado do Rio de Janeiroatravs dos censos populacionais: diferenciais
por sexo e grupos de cor ou raa
Kaiz Iwakami Beltro309
captulo 12
Confluncias e disparidades na metrpoledo Rio de Janeiro: segregao socioespacial,
organizao territorial e dficits sociais locais
Neide Lopes PatarraDbora Santana de Oliveira
349
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Apresentao
A Escola Nacional de Cincias Estatsticas -
ENCE, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
- IBGE divulga, com a publicao deste livro, alguns
resultados de um projeto de pesquisa iniciado pelocorpo docente do seu programa de Mestrado em Es-
tudos Populacionais e Pesquisas Sociais. Tais trabalhos
buscaram lanar um olhar detalhado sobre o Rio de
Janeiro, mediante uma anlise de dados e informaes
de vrias fontes, mas situando o Rio de Janeiro no con-
texto da realidade social, econmica e territorial do
Brasil em perodo recente.
Tal projeto foi iniciado por ocasio das come-
moraes do cinqentenrio da ENCE, em 2003, e
especialmente oportuno que a divulgao dos resul-
tados de tal projeto seja feita agora, no mbito da co-
memorao dos 70 anos do IBGE. tambm relevante
porque se d num momento em que o programa de
mestrado da ENCE, iniciado em 1998, atingiu uma
maturidade tanto quantitativa, pois j conta agora com
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10 apresentao
a ENCE aos 50 anosum olhar sobre o Rio de Janeiro
mais de 100 dissertaes defendidas com aprovao, como qualitativa, evidencia-
da pela insero cada vez maior de seus docentes e discentes na vida acadmica
nacional e internacional.
Com esta publicao, a ENCE reitera seu compromisso com a misso de
contribuir para a produo, anlise, interpretao, preservao e disseminao
de estatsticas e informaes que ampliem o conhecimento da realidade demo-
grfica, econmica, social, territorial e ambiental do Pas, formando profissionais
e capacitando pessoas para atuar nessas atividades, tanto para o IBGE como para
o mercado de trabalho em geral. Alm disso, demonstra seu esforo em assumir
lugar de destaque:
no cenrio local e regional, com um olhar detalhado sobre o Rio de Ja-
neiro, enriquecido por uma viso de conjunto do Brasil, que faz parte da
vocao do IBGE;
no cenrio nacional, por conhecer e entender o Brasil com um olhar rigo-
roso, abrangente e interdisciplinar, que saiba situar nosso Pas no mundo
em que vivemos; e
no cenrio internacional, como centro de promoo e avano do conhe-
cimento na gerao, anlise e interpretao de informaes e estatsticas
pblicas, e no uso destas para iluminar os caminhos da formulao de po-
lticas pblicas indutoras do desenvolvimento, da promoo do bem-estar
social, e da reduo das desigualdades.
Pedro Luis do Nascimento Silva
Coordenador-Geral da Escola Nacional de Cincias Estatsticas
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Introduo
Este livro constitui-se no resultado de uma ativida-
de realizada por um grupo de professores/pesquisadores
do Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas So-
ciais da Escola Nacional de Cincias Estatsticas - ENCE/IBGE. O incio deste trabalho, em 2003, foi resultado da
confluncia de situaes propcias idia de se realizar,
em conjunto, uma contribuio s reflexes e debates
sobre caractersticas, tendncias, transformaes, es-
pacializaes e especificidades do cenrio fluminense
contemporneo.
Naquele ano, a Escola completava seu cinqen-
tenrio, exibindo uma longa e consolidada trajetria
em treinamento, capacitao e titulao de novos qua-dros de tcnicos e pesquisadores, tanto para a prpria
instituio IBGE como para outros rgos pblicos e
instituies de ensino.
Iniciando suas atividades com cursos tcnicos, a
ENCE foi se expandindo, tendo instituido, j em 1953,
seu curso de graduao em Estatstica o qual, ao longo
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12 introduo
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dos anos, passou a figurar no topo da hierarquia do ensino de graduao em Esta-
tstica do Pas. A Escola prosseguiu sua trajetria, ampliando suas atividades do-
centes com cursos de especializao (Latu Sensu). Em 1998, iniciam-se as ativida-
des de seu Programa de Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais.
A criao de um Programa de Mestrado significou, sem dvida, uma expressiva
ampliao de seu quadro docente, bem como operando com os requisitos vigentes na
CAPES, significou a formao e consolidao de suas linhas de pesquisa, condizentes
com suas origens e sua insero no IBGE; a proposta mostrou-se muito oportuna nocontexto das transformaes institucionais nos programas de ensino e pesquisa preco-
nizadas nas propostas de configurao do sistema de Cincia e Tecnologia do Pas.
Inserido no IBGE, reconhecido internacionalmente como uma das maiores
e mais desenvolvidas instituies oficiais de produo, anlise e divulgao de
estatsticas oficiais, o Programa de Mestrado da ENCE pde beneficiar-se dos avan-
os tcnicos e metodolgicos desenvolvidos na multiplicidade de pesquisas que
a instituio realiza, bem como do acesso interno aos processos de produo,
processamento e divulgao das informaes.
Tendo a interdisciplinaridade na gnese de sua implantao, o Programa deMestrado foi-se estruturando a partir do trip Territrio, Demografia e Estatstica
Social, proposta esta que implicou na constituio de uma equipe de professores/
pesquisadores que se aglutinavam em torno desses eixos, configurando, assim, as
especificidades de sua grade curricular e de suas linhas de pesquisa, o que garante
a possibilidade de uma contribuio efetiva ao entendimento das transformaes
sociais, territoriais, econmicas e demogrficas no Pas.
O ano do cinqentenrio da ENCE coincidia com o incio do segundo con-
vnio estabelecido entre o Programa de Mestrado e a Fundao Ford que com-
preendia, entre as vrias atividades propostas, a montagem de uma sala de usopblico que poderia assessorar os colegas menos afetos ao manuseio de bancos
de dados estatsticos, de procedimentos de utilizao de dados desagregados e de
programas estatsticos de anlise.
Naquele ano, tambm se completava a disseminao dos resultados, espera-
dos e cobiados, do Censo Demogrfico 2000, com todas as suas possibilidades
de recortes temticos e espaciais que permitiriam desvendar, comparar e subsidiar
anlises em distintas e variadas dimenses da populao brasileira.
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a ENCE aos 50 anosum olhar sobre o Rio de Janeiro
Deciso tomada, mos obra; ao grupo inicial de professores/pesquisadores
logo se agregaram colegas pesquisadores do IBGE e, ao longo do perodo de sua
preparao, novos professores/pesquisadores contratados mediante a realizao
de trs concursos pblicos de ingresso tambm passaram a integrar a equipe, parte
da qual foi responsvel pelos 12 trabalhos apresentados a esta coletnea/homena-
gem ao cinqentenrio da Escola.
O tempo de preparao da coletnea foi bem mais extenso do que se ima-
ginava inicialmente; compromissos institucionais e pessoais inadiveis, questesacadmicas, carga didtica ampliada, enfim, situaes que permeiam o cotidiano
das instituies de ensino e pesquisa, prolongaram o tempo efetivamente transcor-
rido entre a proposta inicial e a execuo do livro que ora vem a pblico.
Tambm desde o incio escolhemos o Rio de Janeiro como nosso foco princi-
pal; o Rio - sua beleza, sua cultura, sua Metrpole, a ex-capital, sua msica, enfim,
nosso entorno - nos envolvia afetivamente, dimenso iniludvel do trabalho cient-
fico. O nome de batismo refletia a postura O Rio de Janeiro continua sendo... - na
verdade, termo utilizado recorrentemente em pesquisas, em romances e na mdia
- mas que refletia a disposio de se traar nosso olhar sobre o Rio e para o Rio.
Com a contribuio de muitos foi-se construindo o mosaico; olhares em di-
ferentes escalas, olhares em diferentes dimenses, olhares de diferentes maneiras,
mas confluindo para a reconstruo das caractersticas, tendncias, transforma-
es e perspectivas econmicas, sociais, polticas e demogrficas do Rio de Janei-
ro contemporneo.
Os 12 captulos, aqui apresentados, envolvem um amplo e diversificado le-
que de temas, todos atuais, inseridos nos debates tericos e em avanos de co-
nhecimento no Pas. Assim, ao longo dos captulos so contempladas questes
como: configuraes socioespaciais, tendncias recentes da atividade econmica,
precarizao e mobilidade social no mercado de trabalho, mutaes no mundo
do trabalho, impactos da reestruturao econmica em favelas cariocas, a din-
mica da fecundidade, comportamento eleitoral, atuao de conselhos municipais,
excluso digital, dinmica das filiaes religiosas, diferenciais por sexo e cor na
escolaridade, e segregao socioespacial.
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Para a tarefa empreendida, o Rio de Janeiro foi analisado mediante a utiliza-
o de um conjunto expressivo de pesquisas do IBGE: os Censos Demogrficos,
principalmente o do ano 2000, algumas edies da Pesquisa Nacional por Amos-
tra de Domiclios - PNAD, a Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais 2001
- MUNIC, o Cadastro Central de Empresas - CEMPRE no Brasil. Alm dessas fon-
tes de informao foram utilizados Resultados Eleitorais divulgados pelo Tribunal
Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. A pesquisa qualitativa teve como referencial
emprico entrevistas com informantes selecionados, moradores das favelas da Ro-
cinha e Jacarezinho, e notcias sobre essas favelas divulgadas pela Internet.
Os cortes temporais foram variados, incluindo resgate de trajetrias e proces-
sos histricos, anlises que cobriram as ltimas dcadas, embora a predominncia
tenha sido um olhar mais minucioso sobre a ltima dcada do sculo passado.
O Rio de Janeiro foi olhado em distintas escalas: suas mesorregies, suas
regies de governo, seus municpios; em trs captulos os autores utilizaram a de-
sagregao dos dados em capital, periferia metropolitana e interior; no faltou o
esforo de se olhar, com lupa de pesquisador, o microespao de favelas inseridas
no conjunto do espao carioca, permitindo o desvendar de transformaes, signifi-cados, estratgias e cotidianos no perceptveis nas estatsticas agregadas.
Dimenso comum a todos os trabalhos, ademais, foi a questo metodolgica.
So ntidas as preocupaes dos autores com a qualidade da informao, o cuida-
do com a representatividade de dados amostrais, o uso adequado de indicadores;
foram exploradas as possibilidades de desagregao de dados amostrais; e, em
todos, fica clara a articulao dos dados e indicadores problematizao das di-
menses selecionadas para anlise, com ntida referncia conceitual, insero da
rea de estudo ao contexto que lhe d sentido e considerao ao debate externo,
com reconhecimento prvio das respectivas problemticas.
Em alguns casos, os textos apresentam inovaes com apresentao de novos
indicadores, como o coeficiente de especializao econmica(captulo 02), o ndi-
ce de posicionamento socioeconmico das ocupaes(captulo 03); e umaproxy
para a mensurao da informalidade no mercado de trabalho (captulo 04). Mostrou-
se de interesse a utilizao do ndice de Qualidade dos Municpios, do Centro de
Informaes e Dados do Rio de janeiro - Fundao CIDE (captulo 07). H que se
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mencionar, nesse sentido, a anlise de escolaridade por coorte de nascimentoao
invs de uma anlise de perodo, a fim de melhor observar mudanas ocorridas em
cada grupo nos diversos momentos, nos quais o mesmo retratado (captulo 11).
Em alguns casos, so utilizados procedimentos estatsticos mais sofisticados,
como a utilizao da tcnica de anlise fatorial, a fim de identificar a existncia
de padres e diferenciais espaciais do voto (captulo 07).
No captulo 06, os autores baseiam seu trabalho em anlises univariadas
ou bivariadas, a fim de traar o panorama de como variveis socioeconmicasinfluenciam na determinao estatstica de diferenciais nos nveis e padres de
fecundidade; alm disso, utilizou-se tambm uma modelagem estatstica com trs
ajustes de modelos logsticos binomiais a fim de se observar relaes importantes
na anlise da fecundidade perto ou abaixo dos nveis de reposio populacional.
Tudo isso refora o carter didtico de nosso livro.
Como numa viagem, ao longo dos captulos, vamos percorrendo o Rio de
Janeiro, observando mltiplos aspectos, diversas dimenses, suas especificidades,
suas dificuldades, antevendo ou delineando perspectivas e alternativas de desen-volvimento futuro.
Comecemos a viagem pelo territrio. O captulo 01 nos mostra como, em
sua trajetria histrica, foi se regionalizando o espao fluminense, mediante a
espacializao de atividades econmicas sucedendo-se no tempo e no espao,
configurando as especificidades do estado e delineando suas possibilidades de
avanos e retrocessos.
A estruturao do espao geogrfico aponta interesses de ocupao inicial-
mente restritos plancie litornea; a ocupao efetiva do planalto fluminensese fez atravs da economia cafeeira, registrando importante expanso da funo
porturia e do setor imobilirio. A decadncia dessa atividade e a pecuria que
a sucedeu foram dando lugar configurao espacial, nas quais os investimentos
federais em empresas estatais foram marcantes.
Avanando no tempo, o autor demonstra a importncia que decises no m-
bito federal tiveram nas organizaes urbana e industrial consubstanciadas, sobre-
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tudo, nos investimentos em empresas estatais como a implantao da Companhia
Siderrgica Nacional e de um ncleo urbano em Volta Redonda, os efeitos do Pro-
grama Federal de Estradas de Rodagem, a abertura da rodovia Presidente Dutra.
Da estruturao do espao metropolitano participaram setores industriais tra-
dicionais, como o txtil e construo naval, entre outros. Ressalta-se as decorrn-
cias da perda da condio de capital, a partir de quando o discurso centrado no
esvaziamento econmico passa a ser recorrente, perdurando aps o interregno da
fuso dos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro.
Mesmo assim, e ainda com polticas oficiais federais, a implantao de seto-
res tecnolgicos de ponta impulsionou o desenvolvimento econmico do estado,
concretizando-se, em parte, na construo da usina nuclear de produo de ener-
gia em Angra dos Reis. A nacionalmente expressiva produo de petrleo na Bacia
de Campos, reorganizando espaos da regio norte do estado e, em sua dimenso
poltica, alterando a diviso territorial, tem-se constitudo em elemento de presso
para a fragmentao do territrio.
Por outro lado, a importncia do setor tercirio vai se constituindo como uma
das especificidades da economia fluminense a qual vai passando a ter, nesse setor,sua vertente de maior gerao de riqueza.
A reestruturao econmico-espacial inscreve-se na dinmica recente ps-
1980 na qual o Pas se insere, permitindo-se visualizar os efeitos da globalizao
numa nova dinmica, quando, entre outras dimenses, a vertente privatizadora do
setor produtivo estatal envolve particularmente o Rio de Janeiro; por a discute-se as
possibilidades e perspectivas de superao da estagnada economia fluminense.
A partir do cenrio assim construdo, o autor prossegue no detalhamento das
especificidades mesorregionais na gerao de riqueza da economia fluminense. A
anlise dos dados referentes gerao de riqueza Produto Interno Bruto , tomados
como expresso sinttica das transformaes vinculadas aos processos recentes de
redefinio econmico-espacial, baliza a constatao da persistncia das assimetrias
espaciais no estado. De fato, observa-se, nos ltimos 20 anos do sculo passado, um
movimento que expressa as foras de aglomerao inerentes prpria estrutura orga-
nizacional da economia moderna e que responde pela reconcentrao de atividades,
reforando a presena hegemnica da Mesorregio Metropolitana.
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A desconcentrao da atividade industrial, componente espacialmente seletivo,
acaba por implicar numa reconcentrao histrica da atividade econmica como
tambm responde pela excluso de reas que no tm capacidade de se integrar
aos esquemas competitivos que regulam a dinmica espacial contempornea. Dessa
forma, configuram-se os espaos ganhadorese os espaos perdedoresno contexto
da gerao de riquezas, com persistncia das assimetrias e o histrico divrcio entre
espaos metropolitanos e da metropolizao e o interior do estado.
No esteio da problemtica da estagnao ou recuperao da economia flumi-
nense, o texto seguinte (captulo 02) descreve a evoluo recente (anos 1996/2001)
das transformaes na estrutura produtiva no estado. Utilizando informaes es-
tatsticas do Cadastro Central de Empresas - CEMPRE, do IBGE, e da Classifica-
o Nacional de Atividade Econmica - CNAE, os autores observam o nmero de
estabelecimentos e o volume de salrios no Rio de Janeiro em comparao com
outras Unidades da Federao; para tanto foi considerada a distribuio desses
dados segundo regies de governo do estado, com a utilizao do coeficiente de
especializaoem atividades econmicas, o que permitiu a identificao dessas
regies de acordo com esse critrio. Dessa forma, classificam as regies de gover-
no do estado em: Regies Industriais: Norte Fluminense, Mdio Vale do Paraba,
Serrana, Centro-Sul Fluminense; Regies Tursticas: Baixadas Litorneas; Baa da
Ilha Grande; Regio agroindustrial: Noroeste Fluminense.
Os autores destacam a reestruturao da economia fluminense, que se carac-
teriza pelo predomnio de atividades ligadas ao setor pblico; o movimento relativo
desproporcional entre criao de postos de trabalho e gerao de massa salarial suge-
re que o processo de reestruturao produtiva no Rio de Janeiro favoreceu a contrata-
o de pessoal de maior salrio, relativamente s demais Unidades da Federao.
Concluem afirmando que uma caracterstica marcante da economia flumi-nense o peso acentuado do setor Servios, com aumento deste setor e reduo
das atividades do emprego industrial.
Adentrando a questo do mercado de trabalho, o texto seguinte (captulo 03),
lanando mo das PNADs 1982 e 1996, trata da precarizao e mobilidade socio-
cupacional, comparando o mercado de trabalho fluminense com as tendncias para
o Pas em seu conjunto, ao longo das ltimas dcadas do sculo passado.
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O autor parte da constatao de que a formao da sociedade urbano-indus-
trial brasileira, no Sculo XX, foi acompanhada de intenso processo de mobilidade
social ascendente, movimento esse que se esgota a partir dos anos de 1980. As
condies estruturais que possibilitaram a ascenso sociocupacional de boa parte
da fora de trabalho na formao da sociedade urbano-industrial brasileira, no
entanto, perderam sua fora mobilizadora do passado; principalmente a partir dos
anos 1980, o mercado de trabalho brasileiro passou a sofrer perda do dinamismo
industrial, expresso no aumento nos nveis de desemprego e da precarizao das
relaes de trabalho, e com elevao das cifras de mobilidade descendente.
No caso do Rio de Janeiro, at meados do Sculo XX o dinamismo econ-
mico regional e a centralidade poltico-administrativa fizeram do Estado um lcus
de intensa mobilidade social; nos anos 1960, a perda do dinamismo econmico
e da centralidade poltico-administrativa que se seguiu transferncia da capital
para Braslia antecipa, para o estado, o declnio das oportunidades de mobilidade
ascendente, tendncia que se generalizaria nos anos 1980 para o Pas. A partir da
dcada de 1970 e nas dcadas seguintes a situao se agrava, com ritmo mais in-
tenso no estado do que o observado para as demais Unidades da Federao.
Ao final do captulo, o autor, de forma contundente, conclui que a perda do di-
namismo industrial, com aumento dos nveis de desemprego, da precarizao das re-
laes de trabalho e da elevao das cifras de mobilidade descendente, no poupou
homens ou mulheres, brancos ou negros, os menos qualificados ou os mais escolari-
zados, norte ou sul do Pas, muito menos a fora de trabalho fluminense: Se, como
em tantas outras situaes - muitas delas virtuosas, cabe ressaltar - o Rio de Janeiro
acabou antecipando as tendncias que seriam reproduzidas pelo Pas, no difcil
imaginar o quadro de mobilidade social desse incio de sculo para o Brasil [...]
As transformaes no mundo do trabalho, ocorridas em funo das transfor-
maes na economia mundial, se concretizam, no caso fluminense, no conside-
rado triste espetculo da informalizao (captulo 04); neste captulo, a autora
busca exibir o perfil singular do Rio de Janeiro, com sua intensa concentrao me-
tropolitana, com sua primazia do comrcio e dos servios na gerao de riquezas
e a sua reduzida expresso das atividades agropecurias.
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Com a utilizao de indicadores de ocupao e indicadores sociais ressalta-se
o aumento expressivo das taxas de desemprego, o papel dos jovens nesse aumento e
a superioridade numrica das mulheres. Ao longo dos anos 1990, acentua-se a hege-
monia do setor tercirio, com aumento da escolaridade da fora de trabalho.
Como recurso para o dimensionamento da informalidade no mercado de traba-
lho constri-se, com base nos Censos Demogrficos 1991 e 2000, umaproxypara a
informalidade com a distribuio das pessoas ocupadas segundo sua forma de inser-
o produtiva. Com isso, revela-se o grau de vulnerabilidade que marca a inscrio
dos agentes sociais na estrutura produtiva e a velocidade do processo de informaliza-
o na ltima dcada: Em poucas palavras, informalizao, inscrio em ocupaes
pouco qualificadas e desemprego so o contraponto, no mundo do trabalho, de uma
dcada marcada pelo baixo dinamismo econmico e pela modernidade liberal.
Numa perspectiva que privilegia a articulao entre economia, sociedade e
territrio, com uma abordagem interdisciplinar acerca da dinmica territorial em
escala intra-urbana, a questo dos impactos da reestruturao econmica reto-
mada, desta vez com uma anlise voltada s transformaes que vm se proces-
sando nas duas maiores favelas cariocas: Rocinha e Jacarezinho (captulo 05).
Considerando as trajetrias desiguais de duas favelas paradigmticas, as au-
toras analisam a dinmica socioeconmica experimentada por ambas em perodo
recente: a Rocinha configura-se como um paradigma de um novo tercirio orien-
tado pela lgica de mercado, e Jacarezinho configura-se como um paradigma da
indstria fordista em declnio. Com o procedimento qualitativo j mencionado,
que d voz aos agentes e capta sua percepo, os autores reconstroem traos pre-
sentes no processo de inscrio de cada um dos espaos de favela na dinmica
de (re)configurao socioespacial da metrpole carioca; ressaltam o fato de que a
Rocinha buscou afirmar sua imagem de espao vencedor; por sua vez Jacarezinhoparece apresentar dificuldades de insero numa nova ordem marcada pela rees-
truturao industrial, pela terciarizao da economia e pelas profundas mutaes
em curso no mundo do trabalho.
Finalmente, cabe ressaltar as importantes perspectivas de anlise que se de-
lineiam ao final do captulo: [...] o carter de incluso/excluso espacial, [...]
deva ser apreendido mais pela tica deprocessodo que de condio. Isso porque,
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independentemente dos elementos que conferem ou no visibilidade aos espaos
vencedores/perdedoresna disputa pela afirmao de uma posio estratgica em
face da exacerbao da competitividade entre lugares, hoje imposta pela lgica do
movimento globalizador, tais espaos se encontram atrelados tanto aos circuitos
de natureza formal quanto aos circuitos da ilegalidade.
A sucesso de temas tratados ao longo do livro vai confirmando as imagens
construdas sobre o Rio de Janeiro: sua trajetria histrica especfica com a consti-
tuio da capital do Imprio e da Repblica, sua vocao econmica que, com
percalos, conheceu momentos de dinamismo; a perda do dinamismo econmico
e da centralidade poltico-administrativa que se seguiu transferncia da capital
para Braslia; sua tendncia urbanizao, concentrao urbano-metropolitana
precoce, a peculiaridade dos investimentos pblicos federais, gerando uma forte
presena do setor servios em seu mercado de trabalho, tudo isso transformando
o estado em precursor de muitas transformaes sociais que, posteriormente, aca-
baram por acontecer em outras reas do Pas.
Foram se delineando as desigualdades espaciais e sociais que vo se consoli-
dando e ampliando em diversos aspectos da vida dos habitantes do Rio de Janeiro;
passamos pelas especificidades de sua Metrpole e pela reestruturao geogrfica,com o distinto papel que vo assumindo sua distintas regies.
Do ponto de vista demogrfico, o estado tambm se distingue por apresentar
a maior densidade demogrfica, o maior percentual de populao urbana, a maior
concentrao populacional metropolitana, o maior ndice de envelhecimento e a
menor razo de sexo do Pas (captulo 06).
Contextualizando sua anlise no momento que os demgrafos se voltam re-
flexo sobre os condicionantes e implicaes do crescimento zero em nosso meio,
bem como considerando os enfoques tericos que subsidiam o entendimento do
processo de declnio da fecundidade no Brasil, os autores apresentam um pano-rama sociodemogrfico do Rio de Janeiro, focando, especificamente, nas taxas de
fecundidade para o estado em seu conjunto e desagregadamente para a capital,
periferia metropolitana e interior.
No Rio, o nmero mdio de filhos das mulheres cariocas e fluminenses j se
situava abaixo do nvel de reposio na ltima dcada do sculo passado; no en-
tanto, observa-se a ocorrncia de pequena elevao das taxas de fecundidade nos
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anos 1990, a qual decorreu, fundamentalmente, do aumento da fecundidade entre
as mulheres jovens (15 a 25 anos), embora esse fenmeno de rejuvenescimento da
fecundidade tenha ocorrido em todo o Pas.
Ao final do sculo passado, portanto, o Rio experimenta uma interrupo do
processo de declnio da fecundidade, sendo o nico estado a reverter a tendncia
generalizada ao declnio observada nas ltimas quatro dcadas, apresentando li-
geiro aumento em sua fecundidade.
Alm das tradicionais variveis de educao, renda e participao na Popula-o Economicamente Ativa - PEA para anlise dos diferenciais de fecundidade, os
autores tambm consideram a contribuio previdncia e a cor como dimenses
importantes para a explicao das diferenas encontradas. A modelagem estats-
tica elaborada para uma anlise quantitativa mais refinada dos nveis de fecundi-
dade evidencia uma dependncia desta com a educao, renda e participao no
mercado de trabalho.
Considerando as caractersticas dos processos de urbanizao, metropoliza-
o, rede de servios sociais e infra-estrutura urbana, bem como a baixa participa-
o da populao rural e da economia de subsistncia, concluem os autores que
o Rio de Janeiro tambm apresentou, precocemente, uma expressiva reduo no
tamanho de suas famlias. J em 1960, suas taxas de fecundidade total (TFTs) eram
cerca de 50% menores do que as da Regio Norte e cerca de 40% inferiores s
encontradas no Estado de Minas Gerais.
Os autores, no entanto, matizam a precocidade do estado em relao a essa
dimenso, pois as TFTs permaneceram praticamente estveis entre 1940 e 1960:
parece mais correto afirmar que, assim como ocorreu no Brasil, a fecundidade do
Rio de Janeiro iniciou sua trajetria descendente a partir dos anos de 1960, saindode seu patamar histrico mais baixo que o restante do Brasil para um nvel prxi-
mo de dois filhos por mulher na virada do milnio.
Prosseguindo nossa viagem chegamos a um momento de reflexo sobre o
comportamento eleitoral do fluminense (captulo 07). Tratando das eleies para
presidente e governador realizadas nos ltimos 20 anos e examinando as similari-
dades e distncias geogrficas entre as votaes obtidas no perodo, o autor identi-
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fica os campos polticos predominantes e o seu posicionamento no plano geral das
disputas. Considerando os 20 anos compreendidos entre 1982 e 2002, chega-se
concluso de que o campo poltico comandado por Garotinho e Rosinha, seguido
pelo PDT de Brizola, pelo PT, pelo PSDB e pelo campo conservador, formam as
principais segmentaes correlatas geografia do voto no estado. Cumpre ressaltar
a constatao de que a anlise no corrobora a idia da difuso do voto urbano/
metropolitano para o interior ou reas menos urbanizadas, reforando, neste caso,
a especificidade da capital, confrontando-se as foras de Garotinho e Rosinha no
plano regional com a fora de Csar Maia na capital.
O texto seguinte (captulo 08) apresenta um painel dos conselhos munici-
pais setoriais do estado, analisando-os quanto a sua existncia formal, seu efetivo
funcionamento, quanto partio da representao social vis--visa governamen-
tal, e a existncia de fundo especial no respectivo setor. As autoras analisam ainda
a distribuio espacial dos conselhos para o conjunto dos municpios do estado.
Embora havendo um efetivo movimento no sentido de descentralizao das
polticas e da gesto participativa, indaga-se acerca da capacitao tcnica e a or-ganizao poltica existente nos municpios, seja dos executivos municipais, seja
da organizao societal, de praticar efetivamente a gesto pblica compartilhada
no mbito dos conselhos, de modo a aferir se est se encaminhando efetivamente
no sentido de uma maior democratizao ou to-somente de uma participao
de fachada ou de uma febre conselhista.
Outro tema inovador abordado no livro a questo da excluso digital;
realizando um contraponto com o Livro Verde da Sociedade da Informao no
Brasil, que preconiza a necessidade de universalizao do acesso a informaesimportantes ao exerccio da cidadania, os autores elaboram indicadores do grau
de penetrabilidade da Internet no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro, consideran-
do suas regies e alguns municpios selecionados.
Com utilizao dos Censos Demogrficos, da PNAD e do CEMPRE, a an-
lise desagregada refora e reflete a situao econmico-espacial do estado, onde
sobressaem o papel polarizado da regio metropolitana, especialmente de seu
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ncleo, o plo metal-mecnico da Regio do Mdio Paraba, o segmento de tu-
rismo da Regio Serrana e o impacto das atividades relacionadas explorao de
petrleo na Regio Norte Fluminense.
A anlise tambm permite aos autores afirmar que o estado est longe de
promover o amplo acesso Sociedade da Informao, ao contrrio do que apre-
sentado no referido Livro Verde.
Aos poucos, vo sendo evidenciadas, nesta viagem, dimenses da vida da
populao fluminense, num primeiro momento sob a tica de sua filiao re-
ligiosa (captulo 10). Neste caso refora-se tambm o carter precursor do Rio,
que se coloca na ponta das transformaes religiosas que ocorrem no Pas. Os
evanglicos, em especial os pentecostais, constituem a corrente religiosa que mais
cresceu no Rio de Janeiro nos anos 1990, indicando uma tendncia de aumento da
presena evanglica nas prximas dcadas. A religio que apresentou o maior de-
clnio de filiaes foi a catlica e tudo leva a crer que esse declnio deve continuar.
O Rio de Janeiro o estado brasileiro que apresenta maior percentual de pessoas
no grupo sem religio. O texto evidencia, ainda, a existncia de diferenciais de
cor, educao, gerao e gnero.
A capital o local que apresenta maior diversidade religiosa, e a periferia da
regio metropolitana foi o local que apresentou a maior perda relativa e absoluta
da filiao catlica.
O Rio uma vez mais se adianta na perspectiva que as anlises oferecem sobre
o processo de difuso das filiaes evanglicas, como um avano que se d priori-
tariamente, tanto nos estratos sociais menos privilegiados quanto nas periferias das
cidades, nas regies urbanas entre as mulheres, a populao negra, as pessoas de
nvel educacional baixo ou mdio, bem como entre os jovens.
Na verdade, essas transformaes antecipam, para o Rio de Janeiro, um pro-
cesso de mudanas religiosa e cultural pelo qual o Brasil est passando, com difu-
so da mensagem evanglica que acontece de baixo para cima, em termos sociais,
da periferia para o centro, em termos espaciais, do meio urbano para o rural, em
termos de situao de domiclio, dos negros para os brancos e das mulheres para
os homens, em termos de gnero.
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Tratando a seguir a questo da escolarizao (captulo11), o texto conside-
ra que a cidade do Rio de Janeiro, como antiga capital do Pas, sempre apresentou
nveis mais altos do que a mdia nacional, situao essa tambm refletida nas
estatsticas do estado como um todo. No entanto, tambm no estado, notvel o
hiato existente entre os diferentes grupos de cor/raa. O trabalho analisa as propor-
es de indivduos residentes no estado que terminam com sucesso alguns nveis
da educao formal entre 1960 e 2000, desagregando a informao, sempre que
possvel, por cor/raa.
O quadro apresentado evidencia uma discrepncia persistente, embora di-
minuindo com o tempo e mais rapidamente para as mulheres. Quanto maior o
nvel educacional, maior o hiato entre os diferentes grupos de cor/raa. Existe uma
clara hierarquizao nos nveis de escolaridade das diferentes categorias de raas
ou cores consideradas nos censos brasileiros: amarela, branca, parda e preta. Para
os indgenas, com informao restrita aos dois ltimos censos, mais difcil tecer
comentrios.
Finalmente, inserido nas especificidades que assumem os municpios com-ponentes da Baixada Fluminense, o ltimo texto trata da segregao socioespa-
cial vis--visos dficits sociais municipais. O captulo parte da considerao de
que o territrio, que hoje se apresenta inserido na lgica da dinmica do capital
globalizado, tornou-se um instrumento poltico que pode contribuir para aprofun-
dar ou minimizar o acirramento das desigualdades preexistentes.
Nesse quadro de materializao das desigualdades sedimenta-se a violncia
em sua mltiplas dimenses, onde a criminalidade violenta agrega-se aos proble-
mas de desemprego, misria etc., incrementando as incertezas acerca do viver nasgrandes cidades, demonstrando a debilidade das polticas pblicas.
Os indicadores e variveis selecionados, bem como a tipologia de municpios
construda possibilitaram uma aproximao das situaes concretas das condies
de vida verificadas no espao metropolitano, na medida em que foram apontados os
dficits sociais aos quais uma parcela significativa da populao se encontra subme-
tida, confirmando, assim, as disparidades e as confluncias encontradas na regio.
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E assim chegamos ao fim da viagem e da nossa homenagem aos 50 anos da
ENCE - o Rio de Janeiro, sim, continua sendo... - o belo e o desigual, o dinmico e
o estagnado, momentos de dinamismo e momentos de crise, espaos ganhadores
e espaos perdedores, incluso e excluso, segregao socioespacial, conflun-
cias e disparidades, concentrao e disperso - termos opostos, contraditrios,
desafiadores, resultado de processos histricos que afluem no contexto nacional e
internacional ps-reestruturao produtiva e da globalizao.
O olharsobre seu passado e seu presente anunciam alternativas e caminhos,
mais ou menos alvissareiros, com esperana mas com receios, com cautela e
com afeto, nos desafios que se colocam para o Pas e para ns, os fluminenses de
nascimento ou de adoo.
Neide Lopes Patarra
Pesquisadora e Professora do Mestrado em Estudos
Populacionais e Pesquisas Sociais, da ENCE/IBGE.
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Configuraes econmico-espaciaisno Estado do Rio de Janeiro*
Cesar Ajara**
A (re)estruturao do espao geogrfico
A elevada concentrao espacial do produto e da
populao, internamente ao Estado do Rio de Janeiro,
uma das Unidades Federadas de menor extenso terri-
torial - 43 900 km2- aparece como manifestao ine-
quvoca de sua identidade e, ao mesmo tempo, como
caracterstica que resume a problemtica associada
sua estruturao/reestruturao econmico-espacial.
captulo 1
* O autor contou com o apoio das mestrandas Cristina Pereira de Car-valho Lins, Mnica Mendanha Piquet de Alcntara e Sheila RebecaRodrigues da Silva nas etapas relacionadas a tratamento de dadose elaborao de mapas.
** Pesquisador e Professor do Mestrado em Estudos Populacionais ePesquisas Sociais, da ENCE/IBGE.
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A excessiva polarizao na Regio Metropolitana que, no ano 2000, con-
centrava da populao estadual, tem a ver, necessariamente, com o passado
da cidade do Rio de Janeiro, com seus dois sculos de capital do Pas e com suas
importantes funes porturia e comercial, como variveis de sua capacidade de
atrao demogrfica e de sua estatura urbana, ensejando a formao, no perodo
ps-1940, de uma rea metropolitana na Baixada Fluminense e na poro oriental
da Baa de Guanabara.
O estado apresenta o mais elevado grau de urbanizao do Pas - 96,04% deseus habitantes, no ano 2000, viviam em reas urbanas - o que se constitui numa
individualidade do contexto urbano e territorial do Estado do Rio de Janeiro. Dos
habitantes urbanos do estado, 78,82% se encontravam na Regio Metropolitana e
42,38% na cidade do Rio de Janeiro, o que evidencia o carter concentrado da dis-
tribuio espacial da populao e, tambm, a disparidade entre espaos no mbito
intra-estadual. Neste sentido, observa-se que a justificativa para a criao do atual
Estado do Rio de Janeiro, em 1975, centrada no propsito de desenvolvimento do
interior do estado, no mnimo, careceria de uma compreenso mais abrangente
acerca dos mecanismos que respondem pela integrao dos espaos dinmica
do crescimento econmico, em diferentes contextos histrico-econmicos.
Cabe, nesta perspectiva, ressaltar como caracterstica do estado a circuns-
tncia de ter sido envolvido em diferentes estatutos jurdicos, ao longo da histria
do Pas, especialmente o seu ncleo representado pelo atual Municpio do Rio de
Janeiro, o que, certamente, lhe conferiu ou lhe usurpou condies favorecedo-
ras sua trajetria socioeconmica, segundo os diferentes momentos do tempo.
Neste sentido, a configurao do territrio acumula contextos sociais, polticos e
espaciais que se sucederam, numa articulao de processos de diferentes escalas
e entre tais processos e um quadro fsico diferenciado, este, em si mesmo, umamarca do estado e de seu potencial de crescimento.
A perda, nas ltimas dcadas, de dinamismo econmico do Estado do Rio
de Janeiro, a possibilidade de reverso desse quadro, bem como a superao das
profundas assimetrias econmico-espaciais existentes, resumem a problemtica
recente e alimentam uma discusso que transita do passado, no qual se buscam as
razes dos problemas identificados, passa pelo presente da nova dinmica econ-
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mica e dos benefcios que pode trazer ao estado, em razo de suas caractersticas
de regio urbana importante, e vai ao futuro, considerando os rumos possveis de
crescimento em face de perspectivas de investimentos ligados ao eixo dinmico da
economia contempornea.
Resgatando o passado, observa-se que razes histricas da formao do ter-
ritrio fluminense apontam interesses de ocupao inicialmente restritos plan-
cie litornea onde, atualmente, se localiza uma concentrao urbana singular no
Pas. Elas tambm sinalizam que a ocupao efetiva do planalto fluminense se fezatravs da economia cafeeira, que trouxe elementos de dinamizao ao setor eco-
nmico-financeiro do centro poltico-administrativo nacional, representado pela
cidade do Rio de Janeiro, que registrou, poca, importante expanso da funo
porturia e do setor imobilirio. O regime escravocrata em que se apoiou essa
economia no gerou lugares urbanos que viessem a constituir uma rede expressiva
no interior do estado; a decadncia dessa atividade e a pecuria que a sucedeu
estreitaram as perspectivas de reconverso desse quadro.
configurao espacial que se ia elaborando, adicionou-se a importncia
que decises no mbito federal tiveram nas organizaes urbana e industrial, con-substanciadas, sobretudo, nos investimentos em empresas estatais (DAVIDOVICH,
2000). A implantao, no incio da dcada de 1940, da Companhia Siderrgica
Nacional e de um ncleo urbano em Volta Redonda, estrategicamente situado en-
tre So Paulo e Rio de Janeiro, com infra-estrutura ferroviria, foi um marco para a
industrializao nacional e para a economia do estado.
Importantes para a infra-estrutura de transporte do estado foram as conse-
qncias advindas da implantao, na dcada de 1950, do Programa Federal de
Estradas de Rodagem, com a abertura das rodovias BR-116, BR-101 e do novo
traado da BR-040. A abertura da rodovia Presidente Dutra, articulando o Rio deJaneiro a So Paulo, amplia, ainda mais, as possibilidades de interao espacial e
cria condies para a expanso industrial. Essa expanso, com base em investi-
mentos estatais e no capital internacional, pautada pelas opes locacionais dos
grandes eixos de mobilidade do trabalho e do capital. Configura-se, ento, nesse
contexto de expanso viria e de industrializao, uma organizao urbana e in-
dustrial que se manifesta em eixos, tais como: Mdio Vale do Rio Paraba do Sul,
Litoral Sul, Litoral Norte e Rio-Juiz de Fora (DAVIDOVICH, 2000).
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No processo de estruturao do territrio, esse espao, organizado segundo
os eixos das rodovias federais, pode ser considerado o espao da metropolizao,
caracterizado pelas intensas relaes que mantm com a cidade do Rio de Janeiro,
com a qual se articula espacialmente em curta distncia-tempo, a ponto de poder
ser tomado como extenso da prpria metrpole (DAVIDOVICH, 2000).
Da estruturao do espao metropolitano, anteriormente sua instituciona-
lizao, participaram setores industriais tradicionais, como o txtil, deslocado da
cidade do Rio de Janeiro pela expanso do espao urbano, a construo naval, deimportncia histrica na baa de Guanabara, indstrias desativadas, como a Fbri-
ca Nacional de Motores, e outras que permanecem em atividade, como a Refinaria
Duque de Caxias e as do setor metalrgico em torno de Santa Cruz e Sepetiba,
que se beneficiaram da abertura da BR-101. At a fuso dos Estados da Guanabara
e do Rio de Janeiro, em 1975, a Baixada Fluminense, embora se constitusse em
periferia da cidade do Rio de Janeiro, fazia parte de outra Unidade Federada e era
desprovida de infra-estrutura essencial expanso da atividade industrial, o que
criou obstculos para que fosse tomada como opo locacional para implantao
industrial a partir da metrpole (DAVIDOVICH, 2000).Ao longo dos anos em que a cidade do Rio de Janeiro foi a capital federal, a
preocupao com o desenvolvimento econmico no era explicitamente realada,
porque a economia se expandia a partir de investimentos do Estado, dos capitais in-
ternacional e nacional, em razo de um conjunto de condies de ordem locacional,
entre as quais o prprio status de centro administrativo do Pas, e de suas decises
estratgicas que constituam, em si, um fator relevante. Contudo, aps a perda de sua
condio de capital, o discurso centrado no esvaziamento econmico passa a ser
recorrente nas dcadas de 1960 e 1970, j que, nesta ltima, se acrescenta um outro
marco de alterao de seu estatuto jurdico - a fuso dos Estados da Guanabara e doRio de Janeiro - uma ocorrncia singular, no quadro federativo brasileiro, e desafiado-
ra quando se levam em conta unidades territoriais muito contrastadas quanto a seus
nveis de desenvolvimento econmico, embora espacialmente contguas.
A implantao, no Estado do Rio de Janeiro, por parte do governo federal, de
setores tecnolgicos de ponta que impulsionariam o desenvolvimento econmico
do estado, no perodo ps-fuso, concretiza-se, em parte, com a construo da
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usina de produo de energia atmica em Angra dos Reis, mas se frustra, em seus
propsitos mais amplos, em razo de um contexto de crise externa e de balano
de pagamentos (SANTOS, 2003). A reverso do quadro da economia fluminense,
embora seja ainda uma meta a ser atingida, teve na instalao da PETROBRAS, no
norte do estado, uma perspectiva positiva, uma vez que a gerao de riquezas, ad-
vinda da explorao do petrleo, influiu, em alguma medida, no posicionamento
mais favorvel da economia fluminense no quadro nacional.
importante tambm ressaltar que a transferncia do eixo dinmico da eco-
nomia para as atividades tercirias, no contexto da nova dinmica que reestruturao Pas, acena com a possibilidade de crescimento da economia estadual, que tem
no setor tercirio a sua vertente de maior gerao de riqueza.
Em diferentes anlises da economia fluminense, registra-se consenso quanto
reduo da participao das atividades econmicas do estado no quadro nacio-
nal relativo s ltimas dcadas do sculo passado. Sendo o esvaziamento econ-
mico freqentemente tratado, por diferentes autores, atravs da mensurao da
participao do Produto Interno Bruto - PIB estadual no PIB do Pas, fica evidente
o decrscimo da participao de 16,07%, em 1970, para 11,39%, em 1990. Nos
anos finais da dcada de 1990, o Centro de Informaes e Dados do Rio de Janei-ro - Fundao CIDE aponta como tendncia uma participao ascendente do PIB
estadual no PIB nacional de 1997 a 2000, ano em que atinge 14,90%.
Essa tendncia ascendente encontra fundamento, por um lado, na produo
de petrleo e gs natural na Bacia de Campos que, justamente nesse perodo final
dos anos noventa, registrou crescimento muito elevado, capaz de responder, se-
gundo essa mesma fonte de dados, por 15,97% do PIB estadual no ano 2000 e, por
outro lado, na expanso do setor tercirio, como eixo da redefinio da economia
estadual no final do Sculo XX.
Com efeito, no mbito da evoluo recente da economia do estado, merecedestaque a nacionalmente expressiva produo de petrleo - 80,00% da produo
do Pas - na Bacia de Campos reorganizando espaos da regio norte do estado
e, em sua dimenso poltica, alterando a diviso territorial, uma vez que o re-
cebimento de royalties e participaes especiais, por parte dos municpios que
integram a rea geoeconmica do petrleo, tem se constitudo em elemento de
presso para a fragmentao do territrio, muito intensificada a partir do final dos
anos oitenta (RIBEIRO, 2002).
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Embora seja restrita a possibilidade de a explorao e a produo petrolferapromoverem o efetivo desenvolvimento regional, importante registrar o impactoque a PETROBRAS e as empresas de prestao de servios associados economiado petrleo tiveram na organizao das atividades, na valorizao do solo urbanoe no crescimento populacional das regies diretamente envolvidas. Como parte dareestruturao espacial observada, situa-se a marca especfica do litoral norte do es-tado que, por ser a sede das operaes submarinas da extrao do leo, difere dadestinao da maior parte das reas litorneas fluminenses, voltadas ao turismo e aolazer. Cabe ressaltar que a magnitude da explorao petrolfera, na Bacia de Campos,
provoca, de parte do governo estadual e de diferentes segmentos sociais, um movi-mento no sentido de reivindicar a instalao de uma refinaria da PETROBRAS, capazde ampliar as possibilidades de crescimento regional do norte fluminense.
A manuteno do nvel de atividade da economia fluminense, nas dcadas
de 1980 e 1990, embora, em grande parte, se deva atividade petrolfera - que
participou com 28,67% do aumento da riqueza gerada no estado, de 1980 a 2000
- foi substancialmente derivada do produto gerado no setor tercirio da economia.
Este setor no s respondeu por 71,66% do PIB estadual, no ano 2000, como con-
tribuiu com 63,28% do crescimento absoluto do PIB, no perodo 1980-2000.
A importncia do setor tercirio da economia, embora muito generalizada
no estado, adquire sentido especial quando se tem em conta a singularidade das
capacitaes acumuladas por longo tempo, nos quais no s o significado da
sua condio de capital federal como, tambm, a sua importncia como sede
de empresas de grande porte com extensas redes de atuao e de centros de alta
tecnologia e de servios especializados convergiram no sentido de torn-la rele-
vante quanto concentrao da riqueza no setor tercirio, eixo fundamental da
dinmica dos processos econmicos contemporneos. Assim, no surpreende que
a Mesorregio Metropolitana do Rio de Janeiro tenha acumulado 88,44% do cres-
cimento registrado no setor tercirio do estado, no perodo 1980-2000.
Com o propsito de contextualizar a reestruturao econmico-espacial pela
qual passa o Estado do Rio de Janeiro, ressalta-se que a mesma se inscreve na com-
plexidade da dinmica recente ps-1980, na qual o Pas se insere e que responde
pela reestruturao do seu espao geogrfico. Os efeitos da globalizao, das no-
vas formas de organizao empresarial e a crescente urbanizao compem uma
nova dinmica econmico-espacial em diferentes escalas do espao nacional.
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A perda da capacidade financeira do Estado Nacional, que no permitiu a este
continuar desempenhando posio fundamental na formulao e implementao
de polticas pblicas, incluindo aquelas portadoras de dimenso espacial, teria
cedido lugar importante ao papel dos projetos regionais e municipais, particular-
mente a partir da descentralizao financeira constante do texto constitucional vi-
gente, no tivessem sido as dcadas de 1980 e 1990 especialmente caracterizadas
pelas sucessivas crises nos campos fiscal e financeiro, que comprometeram a im-
plantao mais abrangente de projetos descentralizados de investimentos pblicos
voltados para setores-problema, entre os quais a gerao de emprego e renda.No mbito de redefinio do papel do Estado Nacional, insere-se a vertente
privatizadora do setor produtivo estatal, que envolve, particularmente, o Estado do
Rio de Janeiro. No setor de telecomunicaes e em outros setores essenciais nova
organizao produtiva, o Estado do Rio de Janeiro consolida posio proeminente
na rede de comunicaes, com reflexos tanto sobre a dinmica econmico-espa-
cial da rea metropolitana, quanto sobre o seu papel polarizador (SANTOS, 2003).
Essa direo de crescimento tem a ver com um conjunto de condies favorveis,
acumuladas ao longo da histria do estado o qual, sob a nova dinmica econmi-
ca, que tem, no eixo de servios, seu foco de gerao de riqueza e emprego, pode
servir de impulso ao crescimento e consolidao da economia metropolitana.
Integrando os processos recentes que redefinem a economia e o territrio, a
abertura econmica, posta claramente em evidncia nos anos noventa, torna os
espaos metropolitanos - a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro - a localiza-
o preferencial de atividades de servios de nvel avanado, como acontece na
ampla gama de servios ao produtor, de so exemplos os transportes, a armazena-
gem, as comunicaes, a intermediao financeira, as atividades imobilirias, os
aluguis e os servios prestados s empresas. No que diz respeito aos segmentos
especficos de servios ao consumidor, merecem referncia especial itens como
alojamento, sade e educao privadas.
nesse contexto de expanso da economia de servios da regio metropoli-
tana e de outras vantagens locacionais tais como mercado de consumo, infra-es-
trutura produtiva e mo-de-obra qualificada, que vem sendo sustentada a posio
de que h perspectiva de superao da estagnada economia fluminense, sobretudo
quando tal superao pensada no s enquanto atrao de investimentos polari-
zados na regio metropolitana, mas tambm como processo de mbito intra-esta-
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dual, na medida em que sejam criadas condies de opo locacional em centros
de porte mdio, no interior do estado (SANTOS, 2003).
Se a importncia crescente dos servios ao produtor e ao consumidor, no
contexto de uma economia em rede, consolida, no final do Sculo XX, a economia
de servios na regio metropolitana, acentuando a polarizao espacial no estado,
a despolarizao passa, ento, a ser especialmente esperada das atividades ligadas
produo fsica de mercadorias, cujos requisitos locacionais podem ser compat-
veis com as condies infra-estruturais disponveis no interior do estado.
A dinamizao da agropecuria e da indstria a servio da despolarizao
espacial da economia fluminense no se afigura, contudo, como tendncia de
curto prazo, pelo menos na escala necessria a esse objetivo, no s porque o
ciclo contemporneo de crescimento econmico no alavancado pela indstria
como, tambm, porque a tendncia dominante, em diferentes escalas espaciais,
tem sido a da reduo da participao do produto industrial e da atividade pro-
dutiva em geral, no Produto Interno Bruto total. Restam, porm, as possibilidades
de crescimento de setores de atividade que se apresentam dinmicos, caso seja
superada a estagnao econmica no plano nacional (SANTOS, 2003).
No caso especfico do Estado do Rio de Janeiro, o segmento industrial, quando
apreciado do ponto de vista da variao absoluta do produto por ele gerado, no
apresentou decrscimo no perodo 1980-2000, o que, de certo modo, evidencia que,
na dinmica altamente seletiva pautada pelas foras globalizadoras, o territrio flumi-
nense, embora de forma pouco marcada, mostrou desempenho competitivo, sobretu-
do quando se levam em conta as caractersticas seletivas dos processos operantes e o
crescimento medocre da economia nacional nesse perodo.
Observe-se tambm que, no referido estado, a composio setorial do PIB,
de 1980 a 2000, s apresenta um setor declinante em sua participao - o setor
primrio - o qual, no ano 2000, passou a constituir apenas 0,39% do PIB fluminen-se, comparado a 1,48% em 1980. A vertente da organizao agrria recentemente
desenvolvida, segundo uma linha produtiva que atende a segmentos de consumo
mais sofisticado da metrpole, bem como de reas de turismo e veraneio, embora
de significado espacial restrito, importante no contexto de um estado marcado
pela metropolizao. Apresentando-se sob a forma de enclaves dinmicos, essa
produo agrria, de elevada produtividade e densidade econmica, no foi, en-
tretanto, suficiente para alterar positivamente a posio irrelevante do setor prim-
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rio como gerador de riquezas, diante da grandeza de setores que esto na base da
dinmica econmica contempornea.
Os outros dois setores - secundrio e tercirio - de localizao predominan-
temente urbana, representavam, no ano 2000, respectivamente, pouco mais de
1/3 e pouco menos de 2/3 do PIB estadual, tendo mantido quase inalterada a sua
participao, comparativamente a 1980.
No setor secundrio, o perodo ps-1980, alm de ser marcado pela explora-
o do petrleo na Bacia de Campos, que pode ser entendida como parte de umprocesso de crescimento econmico fragmentado, apresenta outra caracterstica
que tambm importante para a reestruturao espacial, a qual, ao mesmo tem-
po, pode ser tomada como uma possvel despolarizao espacial da economia - a
consolidao de um plo metal-mecnico no Mdio Vale do Rio Paraba do Sul,
na poro meridional do estado.
De fato, neste eixo que sedia a Companhia Siderrgica Nacional, envolvida
no movimento recente de privatizao de estatais e no processo de abertura ao in-
vestimento estrangeiro, no segmento industrial da economia, a instalao recente
de montadoras de veculos parece evidenciar a integrao dessa rea ao contexto
de competitividade, buscando, atravs de suas principais cidades - Resende, Barra
Mansa e Volta Redonda - aparelhar-se para atrair empreendimentos geradores de
renda e emprego e favorecedores do desenvolvimento regional.
No mbito desse espao da metropolizao cabe cidade do Rio de Janeiro
a articulao de aes essenciais aos empreendimentos que expressam a descon-
centrao espacial das atividades, uma vez que a metrpole se caracteriza, no
contexto das atividades que integram a sua produo de riquezas, pelos servios
avanados, suprindo, assim, o apoio no campo institucional das finanas, da tec-
nologia especfica dos empreendimentos, das telecomunicaes, dos recursos hu-
manos e dos transportes (DAVIDOVICH, 2000). Neste sentido, cabe sublinhar quea prpria transformao, ocorrida no eixo dinmico da economia metropolitana,
em sintonia com os movimentos globais que redefinem o mercado, sobrelevando
a importncia dos servios de nvel superior, faz parte, em si mesma, de uma
mudana no campo da reestruturao dos perfis das cidades para desempenho
de novas funes, tais como prestao de servios avanados, aes de controle
e gesto dos espaos situados alm dos limites da regio metropolitana, mas rees-
truturados sob seu controle.
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Ainda como atividade reestruturadora do territrio, no mbito dos servios,
situa-se a expanso dos segmentos de turismo, lazer e segunda residncia, que se
articula a mltiplas iniciativas no campo dos empreendimentos imobilirios. Tal mo-
vimento de reorganizao espacial envolve o eixo rodovirio Rio-Santos e a Regio
dos Lagos - Costa do Sol - que, ao mesmo tempo em que adquirem dinamismo nas
atividades ligadas ao lazer e ao turismo nacional e internacional, ganham, tambm,
grande impulso quanto ao crescimento populacional.
Ao longo das consideraes acerca das transformaes econmico-espaciaisassociadas aos processos recentes de redefinio do espao estadual, as referncias
feitas no s a um movimento de reconcentrao da economia de servios na regio
metropolitana, como tambm desconcentrao da atividade industrial em direo
ao Mdio Vale do Rio Paraba do Sul, bem como fragmentao do crescimento
econmico expressa pela explorao de um recurso mineral na Bacia de Campos
sugerem alteraes no padro espacial da gerao de riquezas no estado.
Com o intuito de investigar as alteraes na configurao espacial da gerao
de riquezas no estado, sob o processo de mudana nos anos oitenta e noventa,
importante colocar em evidncia as especificidades regionais que produzemrespostas diferenciadas operao de processos que, sob o princpio da competi-
tividade, retraam o espao estadual. Utilizando dados do PIB total e setorial, em
nvel mesorregional, para tratar os aspectos de concentrao da riqueza gerada e
da composio setorial do produto em dois cortes temporais - 1980 e 2000 - ser
possvel apreender as caractersticas bsicas de transformao da configurao es-
pacial da riqueza no estado e refletir acerca da viabilidade efetiva de integrao do
interior do estado dinmica que reestrutura o territrio fluminense, como parte
de processos de mudana de ampla escala espacial.
A distribuio espacial da gerao de riqueza estadualOs processos representados pela reestruturao econmico-produtiva, pela
abertura comercial e pela redefinio do papel do Estado Nacional reorganizam
profundamente o territrio, no perodo ps-1980, porque alteram a distribuio
espacial da riqueza (ANDRADE; SERRA, 1999; AJARA, 2001).
Tomando essa afirmativa como pressuposto, so utilizados dados do Produ-
to Interno Bruto como sintetizadores das transformaes associadas aos referidos
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processos, enfatizando cortes temporais que precedem a operao das mudanas
em curso e os que incorporam a dinmica do final do Sculo XX.
A construo de indicadores de concentrao do PIB, em sua expresso total
e segundo seus setores constitutivos, referenciados aos recortes mesorregionais do
espao estadual, permite observar o desempenho diferenciado dos diversos seg-
mentos espaciais, em razo do grau de sua insero na dinmica redefinidora do
territrio e das condies desiguais de sua exposio aos esquemas competitivos,
em torno dos quais se organiza a economia.
Em 1980, o trao fundamental da dimenso espacial da riqueza gerada no
estado a elevadssima concentrao registrada na Mesorregio Metropolitana do
Rio de Janeiro. Com efeito, ao concentrar, nesse ano, 86,39% do produto estadual
total, essa mesorregio confirma sua supremacia historicamente construda e, ao
mesmo tempo, evidencia a profunda assimetria em relao s demais unidades
mesorregionais do estado (Mapa 1).
N
% do PIBmesorregionalno PIB estadual
60 0 60 Kilometers
00.67 - 2.37.6386.39
Mapa 1 - Concentrao do PIB total no Estado do Rio de Janeiro - 1980
Fonte: Andrade, T. A.; Serra, R. V. Estimativas para o produto interno bruto dos municpios brasileiros: 1975, 1980,1985 e 1996. Rio de Janeiro, 1999. Disponvel em: . Acesso em: set. 2003.
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Por outro lado, importante sublinhar que a reestruturao produtiva, ao
integrar tecnologias de comunicao e os avanos de uma nova organizao pro-
dutiva que se vale, amplamente, da microeletrnica e da informao, poderia
proporcionar a desconcentrao da atividade econmica, no fosse o fato de os
setores econmicos modernos elegerem, para seu desenvolvimento, os espaos
que concentram os centros de pesquisa, as universidades e os servios de alta qua-
lificao, implicando, assim, a revalorizao dos espaos metropolitanos como
portadores dos requisitos locacionais essenciais s modernas atividades.Em 1996, o dado de concentrao do PIB total parece confirmar a essncia
dessas observaes, uma vez que a Mesorregio Metropolitana do Rio de Janeiro de-
tinha, nesse ano, 86,23% da riqueza gerada, o que evidencia a permanncia de seu
papel primaz quanto concentrao do produto estadual. Sinais de reduo desse
poder concentrador do PIB do estado sero registrados mais adiante, como decor-
rncia de uma vertente de crescimento econmico fragmentado, e no tanto como
resultado de um genuno processo de desconcentrao da economia fluminense.
Com efeito, as estatsticas da Fundao CIDE referentes ao ano 2000 apresen-tam, sob a rotulao Bacia de Campos, a base espacial dos dados concernentes ao
produto gerado no segmento especfico da indstria extrativa mineral do petrleo.
Dificuldades inerentes ao desmembramento dos dados da Bacia de Campos para fins
de expresso, segundo unidades mesorregionais usadas neste estudo para tratamen-
to da evoluo econmico-espacial, conduziram opo de considerar a Bacia de
Campos parte das seis unidades mesorregionais do estado, incluindo-a, contudo,
no PIB total e no industrial para efeito de avaliao da concentrao do produto no
ano 2000, com a restrio ligada perfeita comparabilidade com o ano de 1980, pro-
cedente de outra fonte disponvel para esse ano de referncia, no qual a exploraopetrolfera na plataforma continental estava no incio de sua implantao.
Assim, os dados da Fundao CIDE para 2000, ajustados diviso mesorre-
gional do IBGE, mostram a Mesorregio Metropolitana do Rio de Janeiro ainda na
posio de indiscutvel primazia quanto concentrao do produto gerado no es-
tado, embora o patamar no qual se situa essa concentrao - 71,66% - seja muito
inferior ao registrado no incio do perodo considerado (Mapa 2).
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O decrscimo do grau de concentrao observado na Mesorregio Metro-
politana do Rio de Janeiro, cujo valor absoluto do PIB mostra, contudo, aumento
expressivo, d-se em razo do crescimento explosivo do produto gerado na Bacia
de Campos, ligado explorao petrolfera, muito intensificada no final dos anos
noventa, o que leva essa unidade a conquistar a segunda posio quanto con-
centrao do PIB total - 15,97% - no ano 2000.
Em 1980, era a Mesorregio Sul Fluminense a que ocupava o segundo lugar
como espao concentrador do produto gerado no estado, detendo 7,63% do PIB
estadual, com destaque especial para a riqueza procedente do setor secundrio, par-
ticularmente do Mdio Vale do Rio Paraba do Sul, onde a funo industrial tem sua
importncia ancorada em diferentes fases da industrializao do Pas. siderurgia
de Volta Redonda, um marco no processo de implantao industrial sob a gide do
Mapa 2 - Concentrao do PIB total no Estado do Rio de Janeiro - 2000
N
Fonte: Produto interno bruto por setor segundo as regies de governo e municpios. Anurio Estatstico do Estado do
Rio de Janeiro 2002, Rio de Janeiro: Fundao CIDE, v. 18, 2002. Disponvel em: .
Acesso em: set. 2003.
% do PIBmesorregionalno PIB estadual
60 0 60 Kilometers
0.72 - 2.046.67
15.97
71.66
-
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Estado Nacional, se acrescentam numerosos empreendimentos no segmento metal-
mecnico, delineando uma estrutura urbano-industrial nessa rea, na qual as carac-
tersticas de articulao espacial, importantes desde o passado colonial, vo tambm
influir na evoluo atual. Com efeito, em momentos recentes de abertura ao capital
privado internacional, ressalta a sua condio, no estado, de espao opcional para
investimentos, como ocorreu com iniciativas de implantao industrial no setor auto-
mobilstico. Tal fato explica por que, na fase contempornea de redefinio econmi-
co-produtiva, a mesorregio, nesse segmento do Mdio Vale do Rio Paraba do Sul, se
configura como plo industrial metal-mecnico.
No reposicionamento ocorrido com o crescimento do PIB da base espacial
denominada Bacia de Campos, a Mesorregio Sul Fluminense passou a ocupar, no
ano 2000, a terceira posio quanto concentrao da riqueza gerada no estado,
com 6,67% do PIB total estadual.
Na distribuio espacial da gerao de riqueza, chama a ateno a persistncia
do carter irrelevante da participao da Mesorregio Noroeste Fluminense na for-
mao do PIB estadual. Com seu produto representando, apenas, 0,67% do produto
total do estado em 1980, permanecia, no ano 2000, com fraca contribuio ao PIB
estadual - apenas 0,72%. A reduzida articulao espacial dessa mesorregio e seu
baixo dinamismo econmico, comparativamente ao de outros espaos do estado
com novas frentes de crescimento da economia, fazem com que permanea estrutu-
rada em torno das atividades tradicionais de laticnios e cultivos temporrios.
Nem mesmo aes recentes de reorganizao do setor de explorao e pro-
cessamento de rochas ornamentais, lideradas pela Federao das Indstrias do
Estado do Rio de Janeiro - FIRJAN, com vistas a imprimir maior competitividade
a essa atividade, atravs da abertura de linhas de exportao, conseguiram, at
ento, impulsionar a economia local numa escala capaz de alterar sua posio na
formao da riqueza gerada no estado. Cabe, contudo, observar o carter recen-
te dessa iniciativa, que contempla, sobretudo, metas de produo e exportao
centradas em especial no Municpio de Santo Antnio de Pdua - que concentra
empresas de rochas ornamentais - e referenciadas a momentos posteriores ao ano
2000, que baliza os dados deste estudo.
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O peso diferenciado que os setores da economia apresentam na composio
do Produto Interno Bruto e as especificidades de dinmicas associadas aos diferen-
tes setores tornam oportuno desmembrar as consideraes acerca da distribuio
espacial da riqueza, segundo os setores primrio, secundrio e tercirio, visando
melhor compreenso da redefinio do espao geogrfico estadual, sob a opera-
o dos processos contemporneos de transformao econmico-espacial.
O setor primrio, o de menor peso na economia estadual - menos de 1,00%
da riqueza produzida no ano 2000 - encontrava-se, em 1980, com seu produ-to concentrado, em especial na Mesorregio Metropolitana do Rio de Janeiro -
28,26% do PIB primrio estadual - e na Mesorregio Norte Fluminense - 24,30%
do total da riqueza gerada no setor agropecurio.
A agricultura, embora de fraca expresso econmica na Mesorregio Metro-
politana do Rio de Janeiro, tem, na escala do mercado consumidor urbano e nas
atividades de veraneio e lazer, fatores de estmulo particularmente para a cons-
tituio de uma vertente destinada a responder a demandas mais sofisticadas de
produtos de alta densidade econmica, no contexto de uma produo flexvel e
eficiente voltada para o consumo da metrpole e de reas de segunda residncia,veraneio e turismo, estando aqui includa a demanda de hotis e pousadas (RUA,
2001). A linha de produo no setor agropecurio, ligada a nichos de mercado
segmentado e expressa sob a forma de enclaves de dinamismo econmico, em-
bora apresente expresso espacial reduzida, adapta-se bem ao contexto de um
estado com exacerbada concentrao urbana e no qual a articulao a processos
globais sinaliza para um setor primrio de alta produtividade e competitividade,
em espaos estratgicos para abastecimento da concentrao metropolitana e a
ela articulados num patamar de interao que os integra condio de geradores
da riqueza estadual.
J a Mesorregio Norte Fluminense se estruturou em funo de uma atividade
agrria importante - o cultivo da cana-de-acar, associado ao processamento local
de matria-prima. O cultivo e a transformao da cana-de-acar passaram, ambos,
por uma evoluo tecnolgica que alcana mais expresso na fase de consolidao
de um setor sucro-alcooleiro que no atingiu, contudo, os nveis de modernizao,
eficincia e competitividade observados em outras reas canavieiras nacionais.
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As recentes iniciativas de implantao de plos de fruticultura articulados ao
processamento industrial abrem perspectivas de diversificao no setor agropecu-
rio e de novas fontes de gerao de riqueza no setor primrio dessa mesorregio,
que passa por transformaes relevantes na estrutura produtiva, com a produo
petrolfera na Bacia de Campos e com um novo padro de urbanizao e de servi-
os ao produtor e ao consumidor.
Em 1996, a Mesorregio Centro Fluminense assume posio de liderana na
concentrao do PIB primrio estadual - 27,64% - embora no ano 2000, a Mesorre-
gio Metropolitana do Rio de Janeiro passe a deter a maior participao na formao
do produto primrio - 25,31% - seguida da mesorregio inicialmente citada, com
23,04% da riqueza gerada na agropecuria, reposicionando a Mesorregio Norte
Fluminense para o terceiro lugar quanto concentrao do produto primrio.
A Mesorregio Centro Fluminense, de relevo montanhoso - Serra do Mar e
seus contrafortes - teve dinamizada sua atividade agropecuria, na vertente volta-
da para o abastecimento de mercados urbanos, a partir de sua integrao espacial
propiciada por um sistema rodovirio federal e estadual implantado em meados
do Sculo XX. A reestruturao recente das atividades do setor agroecurio, at en-
to basicamente apoiadas na pecuria leiteira, promove a consolidao de linhasprodutivas de alta densidade econmica, particularmente na microrregio serrana
de Nova Friburgo, voltadas para o atendimento ao mercado metropolitano e ao
setor de turismo e veraneio.
Tal reestruturao enfatiza atividades como a alta especializao em laticnios
vinculada caprinocultura, horticultura, floricultura e fruticultura, caracteriza-
das pela elevada produtividade e estimuladas por demandas ligadas a hbitos saud-
veis de alimentao e por segmentos de consumo sofisticado, constituindo-se, assim,
em importante fronteira de expanso da produo de riqueza em terras altamente
valorizadas com o incremento das funes de turismo e lazer (RUA, 2002).
O setor secundrio, o segundo em importncia na economia estadual, en-
contrava-se, em 1980, fortemente concentrado na Mesorregio Metropolitana do
Rio de Janeiro, que detinha 82,54% da riqueza gerada no setor. Ainda que muito
distanciada dessa mesorregio, mas com posio importante no contexto indus-
trial do estado, figurava a Mesorregio Sul Fluminense, concentradora de 12,46%
do produto industrial do estado.
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Ambas as mesorregies se envolveram em amplos processos de crescimento
econmico, tendo sido relevantes as transformaes nelas ocorridas, quando o Es-
tado Nacional, no perodo 1930-1980, tomou a si o planejamento e a formulao
da poltica econmica e, ao promover a industrializao de base - a Companhia
Siderrgica Nacional um exemplo ilustrativo - desloca o eixo de acumulao da
economia para uma atividade de localizao urbana e fornece a infra-estrutura
necessria ao novo padro que se instala.
Ao longo desse movimento, a ampliao do projeto nacional, com a incorpo-
rao, aps a Segunda Guerra Mundial, da dinmica representada pela expanso
espacial dos investimentos das corporaes multinacionais, tem efeitos diretos so-
bre a estruturao do espao metropolitano e de reas com as quais a metrpole
se apresenta espacialmente articulada, a exemplo da Mesorregio Sul Fluminense,
na rota Rio de Janeiro - So Paulo.
Nas duas ltimas dcadas do Sculo XX, quando o Estado Nacional, sem
capacidade de implementar polticas de desenvolvimento e de conduzir processos
econmico-espaciais estruturantes, redireciona suas estratgias segundo parme-
tros inerentes ao processo globalizador, as mesorregies em questo passaram por
uma redefinio econmico-produtiva, sob uma dinmica operada pelas grandes
empresas transnacionais, pelos governos dos pases hegemnicos e pelo sistema
financeiro em escala global. A Mesorregio Metropolitana do Rio de Janeiro e a
Mesorregio Sul Fluminense so revalorizadas nesse contexto, e os segmentos de
atividade de localizao urbana - indstria e setor tercirio - so expandidos e re-
qualificados segundo as novas bases da organizao produtiva contempornea.
Essas observaes so essenciais ao entendimento de que, embora em escalasdiferenciadas no apenas quanto expresso das formas espaciais geradas no m-bito do processo urbano-industrial, como tambm quanto magnitude da riqueza
produzida, as Mesorregies Metropolitana do Rio de Janeiro e Sul Fluminense tm aorganizao de seu espao geogrfico fortemente marcada pelo fenmeno urbano-industrial. Com efeito, a industrializao no s tem uma histria na estruturaoregional desses espaos em foco, como ainda cristalizou formas de elaborao es-pacial, com base na evoluo de suas foras produtivas, o que acaba conferindo aessas regies, altamente urbanizadas e espacialmente articuladas, a possibilidade deenfrentamento de contextos de crise que no lhes so especficos, mas reproduzemcrises de conjuntura desfavorvel nas escalas nacional e/ou internacional.
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A redefinio econmico-produtiva, como parte dos processos reestruturadores
do territrio nacional, depois de 1980, embora tenha reduzido os nveis de concen-
trao do produto industrial nas Mesorregies Metropolitana do Rio de Janeiro e Sul
Fluminense, no se constituiu em elemento fundamental de alterao da posio que
tais mesorregies ocupam no contexto da industrializao fluminense.
Nesse mesmo perodo ps-1980, um fato novo na economia estadual, re-
presentado pela explorao do petrleo na Bacia de Campos, intensificada em
direo ao final do Sculo XX, foi capaz de produzir modificaes significativas na
distribuio espacial da gerao de riqueza no estado, reposicionando os espaosmesorregionais quanto concentrao do produto secundrio estadual.
Segundo a Fundao CIDE, a magnitude do produto gerado na Bacia de
Campos foi de R$ 23 328 000 000,00 (vinte trs bilhes de reais) no ano 2000, o
que significava, ento, 42,64% do PIB do setor industrial do estado. Essa unidade
espacial ultrapassada apenas pela Mesorregio Metropolitana do Rio de Janeiro,
cuja contribuio ao produto do setor secundrio foi de 43,15% nesse ano de
referncia, enquanto o Sul Fluminense foi reposicionado como unidade espacial
concentradora de 10,14% do PIB industrial do estado.
A aparente desconcentrao industrial registrada merece algumas qualifica-
es, uma vez que os fracos encadeamentos com a economia regional, na qual
se insere a explorao do petrleo, sinalizam para um reduzido impacto da ativi-
dade extrativa, do ponto de vista do desenvolvimento regional. Por outro lado, as
caractersticas dessa desconcentrao no se prenderam a novos determinantes
da localizao industrial ditados por um patamar mais elevado de atualizao
tecnolgica, mas sim a um perfil de investimento no setor industrial associado
explorao de recursos naturais, numa vertente que guarda sintonia com etapas
anteriores do processo de desenvolvimento industrial.
Desta forma, parece mais apropriado tomar o que ocorre na Bacia de Cam-
pos e o impacto decorrente sobre as Mesorregies Norte Fluminense e Baixadas
muito mais como a expresso de um processo de crescimento econmico frag-
mentado do que como a manifestao de um movimento de desconcentrao do
crescimento econmico, particularmente industrial, no territrio fluminense.
O setor tercirio, o maior responsvel pela gerao da riqueza no estado, estava,
em 1980, altamente concentrado na Mesorregio Metropolitana do Rio de Janeiro,
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que detinha, nesse ano, 89,89%