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Janice Ghisleri Entre o Amor e a Fé São Paulo 1ª Edição - 2010

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Janice Ghisleri

Entre o Amor

e a Fé

São Paulo

1ª Edição - 2010

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Entre o amor e a fé

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Copyright ©2010 – Todos os direitos reservados a:

Janice Ghisleri

ISBN: 978-85-7893-000-0

1ª Edição

Outubro 2010

Direitos exclusivos para Língua Portuguesa cedidos à

Biblioteca24x7, Seven System Internacional Ltda.

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São Paulo – SP – Brasil CEP 01309-000

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Um casal andava pelas colinas nos arredores da província

de Ancona, Itália. Olhando lá de cima era possível ver o mar se estendendo no horizonte, uma vista gloriosa, que dava àquela paisagem a beleza de um paraíso. Quando tentaram subir mais, o chão começou a ceder e Giovanna viu suas pernas serem sugadas pela terra e soltou um grito. Toni agarrou-a pelos braços tentando segurá-la, mas o chão abriu-se mais e os dois caíram na imensa fenda de uma altura gigantesca. Giovanna tentou mover-se para ver onde estava, tossia muito por causa da poeira que pairava no ar, sentiu uma imensa dor a fazendo gemer. Estava com a perna e algumas costelas quebradas e várias escoriações.

-Toni! - gritou assustada. Mas não ouviu nada. A luz do sol entrava pela fresta acima

dela revelando Toni caído ao seu lado, estava vivo, mas desacordado e sangrava na cabeça. Ela olhou apavorada para o outro lado e viu-se frente a uma imensa estátua caída ao seu lado que parecia encará-la. Soltou um grito agudo que ecoou no imenso salão de pedra onde caíra.

** Marien Stewart era historiadora e arqueóloga, uma bela mulher,

esguia, de cabelos castanhos e olhos impressionantemente verdes, sua beleza não era menos notada que sua inteligência e altivez. Morava em Londres, mas lhe agradava um clima com menos chuva, menos sombrio. Felizmente, ou não, seu trabalho a levava a diversos lugares, muitas vezes ficava meses fora de casa, basicamente morava em todos os lugares, menos no seu próprio lugar, era como uma turista em sua casa. Naquela tarde chuvosa de Londres estava sentada à mesa do escritório em sua casa vendo algumas correspondências. Havia estado fora por seis meses para realizar estudos a respeito de uma múmia egípcia. Enquanto olhava as correspondências e as atirava sobre a mesa uma após outra, ouvia os recados da secretária eletrônica. De repente Marien parou arqueando as sobrancelhas, uma das cartas lhe chamara a atenção. Era do Vaticano. Estavam a convidando a ir para

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Ancona, uma província na Itália, acerca de uma antiga ruína encontrada. Marien pegou o telefone e ligou para Urs Barker, curador do Museu de Londres e seu empresário.

-Oi, sou eu. -Oi Marien! Eu ia te ligar, você recebeu a carta do Vaticano? -

perguntou Urs confortavelmente sentado no escritório do museu. -Recebi. Do que se trata exatamente? -Eles encontraram uma ruína que estava soterrada, acreditam

que se trata de uma antiga igreja e você foi indicada a orientar as escavações e a pesquisa. O que acha?

-Interessante. Mas eu não quero me envolver com o Vaticano. -Querida, você vai lá, faz seu trabalho e volta, simples assim.

Não vai se envolver diretamente com eles. -Huum, até parece! Quem me indicou? -Padre Sebastien Caseneuve! Ele também é arqueólogo. Eles

ofereceram uma boa quantia em dinheiro. Eles já têm uma equipe, mas estão esperando que você aceite o trabalho. Ele está aguardando uma resposta sua. Então, o que acha?

-Não poderei levar minha equipe? -Não, infelizmente terá que ir sozinha. -Urs, para que eu tenho uma equipe se não posso levá-la? -Marien, nós estamos falando do Vaticano, eles a solicitaram,

mas é lógico que encontrará algumas barreiras. -Será que eu poderia ter uma folga para descansar? -Minha querida, se você quiser, eu digo que não pode ir. Mas

pelo menos veja com mais atenção do que se trata. -Eu vou pensar, mas eu quero mais detalhes está bem? -Tudo bem, eu vou descobrir mais detalhes e nos falamos. Marien desligou o telefone e ficou pensativa se deveria aceitar

ou não. Mal chegara e já estavam querendo que viajasse novamente. Pegou o telefone novamente e ligou para sua amiga de infância.

-Oi estranha. -Marien, você está em Londres? -Sim estou, cheguei há alguns dias. -E quando vamos nos ver? -Venha jantar comigo amanhã, estou precisando de uma sessão

caseira com massa italiana, vinho, porre e besteirol, por favor. -Claro que eu vou! Eu levo o vinho e você faz a massa, aquela

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especial que me faz assassinar minha dieta. -Pode deixar Lizza, eu vou caprichar. Vejo-te amanhã. -Até amanhã. Marien foi à sua suíte e abriu as torneiras para encher a

banheira. Olhou-se no espelho e respirou profundamente analisando seu rosto, escorada na pia com as mãos.

-Será que daria para você ter uma vida normal Marien? - fez uma pausa e deu uma suspirada -É! Acho que não. - quando a banheira estava cheia, ela entrou e ficou ali descansando na água quente. Seu celular tocou e sem abrir os olhos, tateou com a mão pelo chão do banheiro para pegá-lo.

-Senhorita Stewart? -Sim! -Sou o padre Sebastien Caseneuve. - Marien abriu os olhos

ouvindo este nome. -A senhorita recebeu nossa carta? -Recebi, falei com Urs e vou averiguar seu pedido padre. -Obrigado, ficarei muito feliz de ter uma arqueóloga renomada

como a senhorita aqui neste projeto. -O senhor poderia me passar mais informações? -As informações que tenho para lhe passar já foram enviadas

ao senhor Barker, ele lhe passará isso, liguei somente para lhe dizer que será muito bem vinda em Ancona, eu gostaria muito de sua ajuda. Estou em Roma e devo retornar daqui a alguns dias para lá, eu aguardarei ansioso sua resposta.

-Tudo bem, eu vou analisar o material que enviou e depois lhe dou uma resposta.

-Obrigada. E devo dizer que li seu livro e gostei muito. -Obrigada padre, estou lisonjeada. -Bom eu espero uma resposta sua, boa noite. -Boa noite. Aquela voz falando inglês com um sotaque estranho lhe

embaralhou a cabeça. Não sabia se deveria fazer isso, Vaticano era uma palavra que lhe dava arrepios.

No dia seguinte Marien foi ao Museu falar com Urs. -Boa tarde senhor curador! - disse Marien sorrindo adentrando

em sua sala e indo ao seu lado. -Boa tarde. Eu achei que não viria aqui hoje, que estaria

descansando. - respondeu Urs dando-lhe um beijo no rosto.

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-Ah, você me conhece, minha curiosidade estava me matando. Ainda mais depois que o padre me ligou.

-Sim ele me disse que ligaria, ele parece simpático. -Hum... pareceu! Então, deixe-me ver o que ele te mandou. -Está aqui. Marien pegou uma pasta, sentou-se na confortável poltrona do

escritório de Urs e começou a olhar, ele recostou-se em sua cadeira e a olhava atentamente com um ar sereno, com as mãos cruzadas sobre o estômago e os cotovelos apoiados nos braços da cadeira.

-Que maneira de se descobrir uma coisa destas. - disse ela lendo um relatório.

-Sim. A moça sobreviveu, mas o rapaz morreu infelizmente, ficaram dias lá embaixo.

Marien remexeu-se na cadeira, aquilo lhe parecia familiar. -Ancona é uma província muito antiga, é um lugar estranho

para se ter uma igreja soterrada, estes penhascos são muito íngremes. -Bom pelo que ele pode ver trata-se de uma igreja, mas pode

não ser. A suspeita é que seja por motivos das lendas de Ancona. -Urs, eu já ouvi algo sobre esta lenda, é de uma igreja que

deveria ter existido ali, mas é somente folclore. -Marien, esta igreja é aquela que dizem que foi desgraçada,

amaldiçoada ou algo assim? -Muitos rumores como disseram, uma lenda. -Somente saberá se for lá e averiguar. -Estas fotos são impressionantes. -Sim. E se bem te conheço, você não resistirá. -Engraçadinho. Posso levar isso? -Pode. -Eu vou olhar com mais calma e depois dou uma resposta. -Tudo bem, pode tirar alguns dias de folga, descanse o quanto

quiser, eu te darei respaldo. -Obrigada Urs. -Bom eu vou ver o que faço com esta maluquice que você fez

no Egito. Quase me deixou de cabelos brancos. -Não fiz maluquice nenhuma, eu estava certa, ele errado. -Pior é que estava. Você é meu orgulho. -Obrigada! - disse com cara de satisfação. -Até mais Urs. Marien foi ao mercado fazer compras para o jantar, passou

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numa floricultura e comprou flores para espalhar pela casa, isso era uma coisa que lhe agradava. Mais tarde estava na cozinha tomando um vinho e preparando o jantar quando a campainha tocou.

-Oi Lizza! -Oi querida! Como está? - as duas abraçaram-se sorridentes e

felizes pelo reencontro. -Bem! Feliz por estar em casa e você parece ótima. -Estou bem! Estou reformando minha casa, o que dá muito

trabalho, mas vai ficar do jeito que eu quero. - disse Lizza sorridente. -Já não era sem tempo. -Então... conte-me como foi lá no Egito. -O Egito é sempre fascinante, eu adoro aquela civilização, mas

foi desgastante demais. - disse ela servindo vinho para Lizza. -Imagino. Então vai ficar quanto tempo em Londres? -Ah, mal acabei de chegar e já estão me solicitando na Itália. -Hum... Itália é ótimo, quem sabe você não arruma um

belíssimo italiano comedor de porpetones. - Marien caiu na risada. -Bem, isso deve ser melhor do que ficar com múmias, e

aqueles egípcios são muito feios, credo! -Imagino... diferente da Itália. Então sobre o que é? -Parece ser uma antiga igreja, vou ser contratada pelo Vaticano. -Humm! - resmungou Lizza fazendo cara feia. -Eu sei... - disse rindo. -Bom não deve ser tão ruim, pense num belíssimo italiano,

moreno, de olhos verdes, falando em italiano nos seus ouvidos. -Lizza pare com isso! - disse rindo. -Ai amiga, só estou tentando te animar, você não sai com um

alguém há muito tempo, nem aceitou os convites de Peter que eu sei. Faz quanto tempo que não sai com alguém?

-Acho que um pouco antes de eu ir para o Egito. -Ai meu Deus isso é uma catástrofe, não entendo como você

tem esta pele linda se não faz sexo. -Como queria que eu fizesse isso? Só se fosse com uma

múmia. O que tem uma coisa a ver com a outra? -Dizem que sexo deixa a pele bonita. E eles são tão feios

assim? Não tinha nenhum bonito? -Hum... se fosse assim eu deveria estar mais enrugada que a

aquela múmia que eu estava estudando. E não! Se existe algum

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egípcio bonito, com certeza não mora no Egito. -Isso é verdade, que terror. Mas esta múmia é aquela que você

contestou seu estudo não é? -Sim, eu provei que o arqueólogo estava errado. -Ele deve estar querendo te matar. -Ele já está morto Lizza. -Ai meu Deus, você o matou? - Marien riu com gosto. -Não, mas provavelmente se ele estivesse vivo, ele é que iria

querer me matar por ter acabado com a descoberta dele. -Mas eu conheço alguém, que como você mesmo disse é ótimo

de cama, tem olhinhos puxados... - disse maliciosa bebendo do vinho. -Vai começar? - Lizza fez careta rindo e ergueu as mãos dando

a entender que não falaria mais nada. -Vamos comer, está pronto! -Eu estava morrendo de vontade de comer este macarrão que

você faz, nunca consigo fazer igual. A única coisa que faço bem são Martinis. - Marien riu, sentaram-se à mesa e começaram a jantar. -Isso é de se comer rezando, que maravilha! - disse Lizza saboreando a comida. -Você nasceu no país errado, deveria ser italiana.

-Verdade. Eu adoro tudo que é italiano. Só espero que este padre não seja rabugento, velho e feio.

-Por quê? Vai querer um padre bonito? -Seria melhor. Pelo menos que não seja rabugento. -Hum... acho improvável, impossível, só se fosse um milagre, e

ainda por cima deve ser aqueles que têm bafo de bode. - Marien riu. -Provavelmente. Como vai seu espanhol, Carlos? -Ai uma maravilha, aquele homem é um furacão, muy caliente. -Imagino, amantes espanhóis são uma tentação. Jantaram e depois sentaram no sofá com as taças e o vinho,

bebiam e falaram de tudo, riram muito até tarde com uma suave música de fundo.

-Eu tenho que ir, senão vou ficar bêbada demais, acho que já não enxergo o buraco da fechadura.

-Então ligue para seu espanhol que ele lhe ajuda. -Gostei desta parte, talvez eu peça para ele achar outras coisas

também. - as duas riram. -Ligue para ele e me dê o telefone. -O que vai fazer? -Pare de resmungar e ligue!

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Lizza pegou o celular e ligou para Carlos e quando viu que chamava, Marien pegou de sua mão.

-Oi Lizza - disse Carlos. -Não é a Lizza, é Marien sua amiga. -Boa noite Marien, mas o que aconteceu? Lizza está bem? -Está. Mas eu acho que ela bebeu um pouquinho demais, está

na minha casa. Será que você poderia fazer a gentileza de apanhá-la e deixá-la a salvo em casa? Não queria deixá-la ir de táxi. Isso, se não for nenhum incômodo para você, é claro.

Lizza ria e tentava tirar o telefone da mão de Marien que se esquivava dela rindo, mas tentava falar seriamente com Carlos.

-Não é incômodo nenhum, num minuto estarei aí. -Obrigada, você é um cavalheiro. - Marien desligou rindo. -Sua louca, porque fez isso? - disse Lizza espantada. -Para você terminar sua noite em grande estilo minha amiga,

afinal, nunca se pode desperdiçar um espanhol. - disse rindo -Muito menos quando se está bêbada.

-Obrigada amiga. - Lizza soltava gargalhadas ao jogar-se no sofá -Agora vou acabar com ele e provavelmente não me ligará mais.

-Aproveite e com certeza irá te ligar, deixe de ser boba. Ficaram conversando e rindo até que Carlos chegou. -Oi Marien. - disse sorrindo -Onde está a vítima? -Serve aquela ali no sofá? -Oi querida. -Oi Carlos. Não estou assim bêbada. -Estou vendo. - disse ele rindo e Lizza riu levantando do sofá. -Até mais Marien, nos veremos logo. -Até. Juízo! E Carlos... a leve direto para casa heim? -Pode deixar comigo, ela está em boas mãos. -Hummm - elas disseram rindo e olhando-se maliciosamente. Marien despediu-se de Carlos e Lizza e eles foram embora, ela

fechou a porta rindo, havia sido uma noite maravilhosa. Ela foi para a cama, aconchegou-se e dormiu pesadamente.

** Urs convidara Marien para jantar, tomou um demorado banho

e arrumou-se com sua tão costumeira elegância. Era vaidoso, cuidava da aparência, andava sempre com roupas sociais, usava cabelo longo até um pouco acima da linha do ombro penteado para trás e sempre

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perfumado. Era de uma beleza exótica, tinha uma pele perfeita e além de sua beleza física possuía os olhos extremamente diferentes, levemente repuxados e de um tom de verde que os tornava mais belos, nunca passava despercebido principalmente pelas mulheres, era de uma família muito rica e tradicional de Londres.

-Nossa! Você está linda! - disse ele embevecido quando Marien o veio receber na porta.

-Urs, se você fizesse estes comentários enquanto estávamos casados, talvez estivéssemos casados até hoje. Mas obrigado mesmo assim. - disse ela com ar zombeteiro e sorrindo para ele.

-Não seja exagerada, eu lhe fazia comentários assim, você é que nunca fez a mim.

-Que mentiroso! Ele riu e abriu a porta do carro para ela, deu a volta e entrou. Quando eles chegaram ao restaurante o garçom lhes mostrou

uma mesa em um lugar agradável, sentaram e ele pediu champagne. -Eu vou para Ancona. Só quero mais alguns dias de folga. -Eu sabia que iria aceitar. Eu te conheço. Porque cortou seus

cabelos? - disse ele a observando. -Meu pescoço anda sensível ultimamente, então eu achei que

uma tesoura resolveria o caso. E não fique me olhando assim com estes olhos devoradores Sr. Barker. - disse rindo.

Urs soltou uma gargalhada e pegou a taça de champagne. -Eu adoro seu senso de humor, um brinde a sua nova aventura

na Itália. Eu espero que sua pesquisa seja um sucesso como sempre. - Marien ergueu a taça, sorriu e brindaram -Sua agente de viagens estava te procurando, sobre uma viagem à Grécia? Do que se trata?

-Quero passar uns dias em Santorini antes de ir à Ancona. -Hum... e não ia me contar? -Claro que ia, somente estou vendo os dias ainda. Urs você

parece muito bem, seu humor está um doce. -Estou bem sim, você está por perto e isso me deixa bem. -Vou sozinha agora, mas depois vou dar um jeito de levar

Sarah, não vou trabalhar sem minha assistente. -Sei que vai dar seu jeito, amacie aquele padre e com certeza

ele lhe concede a presença de Sarah. -Espero que sim. Já fez as pazes com sua namorada? -Não.

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-Você não tem jeito! -Dessa vez a culpa não foi minha. -Ah não? -Não, que mau juízo que faz de mim. O que acha que sou? Um

cretino com as mulheres? -Acho! - disse rindo e bebendo o champagne. -Nossa Marien! Que má impressão tem de mim, você deveria

ser mais generosa comigo. -Querido, eu sou generosa com você, e às vezes até demais. Ele foi obrigado a rir. -Tenho um presente para você. -Hum... eu estou dizendo que você está de muito bom humor.

- ela pegou um embrulho que ele colocou encima da mesa e o abriu -Urs, é lindo!

-Sabe o que é? -Sim. É um antigo amuleto celta. Diziam que trazia proteção.

Os maridos deixavam isso debaixo do travesseiro da esposa quando partiam para a guerra. Para proteger a família.

-Acho que era mais para se proteger dos chifres na ausência deles - disse ele rindo.

-Ai Urs, que maldade. Onde conseguiu isso? -Num leilão há uma semana, o arrematei para você. Eu mandei

colocar uma corrente, assim pode pendurar no seu lindo pescoço sensível. Assim se aquela igreja for amaldiçoada, isso lhe protegerá.

-Padres não gostam de amuletos pagãos. Você deveria ter me dado um crucifixo.

-Crucifixos são para espantar vampiros, acho que não é o caso. -Com certeza não. - disse rindo -Obrigada Urs, eu adorei. O jantar transcorreu maravilhoso, falaram de vários assuntos,

riram e brincaram, eram bons juntos, sempre brincalhões um com o outro, ficaram assim depois que se separaram, eram melhor amigos que marido e mulher. Eram perfeitos no trabalho e na amizade, mas imperfeitos no amor. Urs a levou até em casa, entrou um pouco a convite de Marien.

-Acho que eu bebi demais. - disse ela retirando o casaco. -Você sempre foi fraca para champagne. -É, devo ser mesmo. -Sua casa está muito bonita.

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-Está. Pena que fico pouco aqui. Marien olhou diretamente nos olhos de Urs por um momento,

virou-se de costas para ele expondo seu pescoço. Urs não resistiu, chegou perto dela e beijou suavemente seu pescoço por trás. Marien sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha e seu corpo estremeceu.

-O que está fazendo? - perguntou ela baixinho sentindo o ar lhe faltar num estalo.

-Você disse que estava sensível na região do pescoço, só queria ter certeza. - Marien se virou calmamente e o olhou.

-Bom, já que atestou que me arrepio dos pés a cabeça por ser tocada no pescoço, pode parar agora, então boa noite.

-Boa noite. - disse com as mãos nos bolsos a olhando com um olhar penetrante.

Urs a beijou no rosto devagar, a olhou nos olhos por uns instantes, se aproximou dos seus lábios e os tocou suavemente. Marien fechou os olhos e não ofereceu resistência, ele se afastou tentando pensar em sair dali, mas parecia pregado no chão.

-Acho que você quis me embebedar de propósito. - disse ela com dificuldade de respirar.

-Nunca faria uma coisa destas. -Você mente muito mal. Sem pensar em mais nada, Urs envolveu seu rosto com as

mãos e lhe deu um beijo intenso que fez os corpos de ambos esquentarem rapidamente. Ele desceu as duas mãos para suas coxas as subiu trazendo junto seu vestido e a suspendeu fazendo-a entrelaçá-lo com as pernas pela cintura. Ele a escorou na parede da sala e beijaram-se ardentemente.

-Vamos fazer isso de novo? - perguntou afastando seus lábios dos dela por um instante, esperando que ela dissesse que sim.

-Cale a boca e me beije. Ele sorriu e a beijou longamente, a segurando nos braços subiu

as escadas e a levou até o quarto. Vagarosamente a deitou na cama, deitando-se sobre ela e a beijou novamente, deliciando-se com seus lábios, retirou seu vestido preto que a deixava extremamente elegante e sexy. Exploraram seus corpos como já haviam feito tantas vezes. Conheciam-se bem, o sexo sempre fora maravilhoso entre eles. Não entendiam como haviam se divorciado, nem sabiam onde foi que o amor entre eles havia esfriado ou acabado. Nem sabiam se era normal

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ex-marido e mulher dormirem juntos ou conviverem amistosamente. Mas Urs e Marien eram assim. Entregaram-se intensamente noite adentro, sem remorsos, sem cobranças, somente carinho e prazer intenso. Haviam feito isso diversas vezes depois de se separarem. Como isso era possível? Nenhum dos dois sabia e nem se questionavam, somente deixavam que acontecesse quando caíam em determinadas situações onde o desejo falava mais forte. No dia seguinte cada um seguia com suas vidas separadamente como se nada tivesse acontecido.

** -Marien eu não sei como você e Urs podem ser desse jeito. -Que jeito? -Vocês são divorciados há cinco anos e vivem desse jeito,

quando eu pisco você está na cama dele. Assim, sem mais nem menos. Eu não consigo entender uma coisa destas. Meu ex-marido é um cretino, tenho vontade de pendurar ele numa forca como faziam nos séculos passados.

-Lizza é só sexo, nada mais. -Jesus, e o pior é que ele te liga no dia seguinte. - Marien riu. -Se eu trabalho com ele, é obvio que ele tem que me ligar, mas

ele me liga sobre trabalho, pois ele não liga para as amantes dele no dia seguinte, nem sequer amanhece com elas. Pois o dia que ele ligar, interne-o que está doente.

-Como sabe? -Ele me conta. -Ai meu Deus, é pior do que eu imaginava. Tudo bem. - disse

respirando -Analisando... você dormiu com ele ontem. O que ele fez hoje de manhã?

Marien mordiscava um palito de pão calmamente e olhava para a amiga indignada querendo rir.

-Bem, deixe-me lembrar... eu acordei, ele não estava, mas tinha um origami de um pássaro e um bilhete no travesseiro.

-O que estava escrito? -“Os pássaros sempre voam para o sul no inverno. Obrigado

por ser meu sul. Adorei a noite, eu te ligo mais tarde. Urs”. -Ai Marien eu vou me matar. E ele ligou? -Ligou. Disse bom dia, disse que eu deveria ligar para meu

editor, e passar no museu para assinar alguns relatórios.

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-Só isso? -Só. -É... vocês são loucos. -Lizza, se não fôssemos assim não conseguiríamos trabalhar

juntos. E eu não sei por que você surta cada vez que isso acontece, pensei que já havia se acostumado.

-Nunca vou me acostumar com uma coisa dessas. Para mim casais divorciados são gladiadores e não amantes. Porque vocês dois não se casam novamente?

-Não. Assim cada um cuida da sua vida. -Bom com isso eu concordo, pelo menos vocês podem ficar

com outras pessoas sem cobrança. -Pois é, quando nós éramos casados ele ficava com outras

mulheres quando eu viajava e eu não aguentei isso. -Também, você passava meses fora! -Por isso que não deu certo, eu até me enroscava na entrada

das pirâmides de tão grande que eram meus chifres e eu sofria ficando longe dele, agora parei de sofrer. Para mim isso é ótimo. - Lizza caiu na risada.

-Ai Marien, sua vida é uma piada. -Verdade, mas ele é uma delícia e eu gosto de ficar com ele de

vez em quando. -Você precisa arrumar um namorado descente, se apaixonar. -Eu não quero me apaixonar. -Querida a paixão não bate na porta, ela simplesmente entra.

Se você fechar a porta, ela pula a janela, ninguém escapa dela. Quando vê já está de quatro.

-Assim como você e o Carlos? -Eu não sou apaixonada por ele. -Não? Cuidado seu nariz vai crescer. -Está bem... eu acho que sou, o adoro. -Vocês estão juntos há muito tempo e fazem a mesma coisa

que eu e Urs, vocês não tem compromisso e volte e meia estão na cama. Julga-me e faz o mesmo.

-Não estou a julgando, concordo que é difícil resistir a Urs minha querida, aquele homem é um arraso. Se fosse eu também não resistiria, o que me incomoda é que vocês foram casados e se dão melhor agora que antes, isso é que não entra na minha cabeça.

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-Na minha também não, então não penso e não questiono. Simplesmente deixo que aconteça, e sinceramente eu nunca me senti mal em nenhuma das vezes que isso aconteceu.

-Bom, então que assim continue. -Sim. Decerto um dia isso acaba. -Vamos pedir a comida, senão você vai se empanturrar destes

palitos e não vai jantar. -Está bem, mas isso aqui está bom. -Quando vai viajar? -Segunda feira. -Já? -Sim, minha mordomia acabou, estava tão bom. -Coitadinha de você amiga. Espero que lá seja bom. -Vai ser. Mas vou passear um pouquinho por uns dias antes de

ir à Itália. Vou para a Grécia. -Não diga? Vai-me dizer que vai lá medir as estátuas gregas? -

Marien riu. -Não. Vou para Santorini, adoro aquele lugar, peguei um

quarto num hotel com uma varanda imensa de frente para o mar. Ai meu Deus, nem vejo a hora de chegar lá.

-Vai quando? -Amanhã cedo. -Aquele lugar é inebriante. -É sim. É fantástico. -Me faz um favor? Arrume um deus grego por lá. Marien riu e sacudiu a cabeça negativamente. -Você nunca muda o discurso, só muda o lugar. -Quem sabe um dia você me escuta. As duas jantaram e continuaram a conversa animada até irem

para suas casas. Marien chegou em casa e foi terminar de arrumar as malas, estava ansiosa para chegar na Grécia.

Logo cedo Marien embarcou com destino a Santorini. A viagem de avião até Atenas foi rápida, mas demorou quatro horas para chegar a Santorini de barco, mas todo o caminho valeu à pena, era maravilhoso. Quando chegou ao hotel soltou as malas e a primeira coisa que fez foi ir à varanda e ver a paisagem. Chegou a ficar sem fôlego vendo aquela imensidão azul do mar Egeu que contrastava com o azul magnífico do céu. A única coisa que detestava

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e ao mesmo tempo adorava era a canseira que lhe dava de andar pelas vielas de Santorini. Mas todo e qualquer sacrifício de suas pernas valia a pena pela beleza do lugar. Suas casas exóticas brancas com seus telhados, janelas e portas azuis, as pequenas, mas bem cuidadas floreiras que enfeitavam as janelas, o sorriso sempre presente nos rostos dos moradores, o clima fantástico. Um lugar fantástico.

Após dois dias no lugar, Marien foi jantar num restaurante local, era esplêndido, pequeno e aconchegante. A noite estava quente, pediu uma mesa no canto da varanda com vista para o mar. Além das estrelas, as luzes da cidade e a meia luz da sacada do restaurante davam àquele lugar um clima que nem tinha palavras para expressar. O restaurante estava quase vazio e sua mesa era a única ocupada na sacada, ela estava perdida naquele mundo perfeito bebendo um drink exótico que o garçom sorridente lhe indicara, nem sabia o que tinha dentro, mas era doce e delicioso. Ele tinha razão, era uma delícia. Foi arrancada de seus devaneios quando seu celular tocou, ela perguntou-se imediatamente porque o havia colocado na bolsa, quem seria àquela hora? Abriu a bolsa e o nome de Urs piscava no visor e atendeu com um sorriso.

-Oi. -Oi querida. Como está seu passeio? -Maravilhoso, foi ótima idéia ter vindo aqui. -Fico feliz por você. O que está fazendo agora? -Bom... eu estou sentada numa mesa de restaurante com uma

vista esplendorosa tomando um drink, daqui a pouco vou jantar. -Está sozinha? -Sim. -Que desperdício. - Marien riu. -E você o que está fazendo? -O mesmo que você, em um restaurante esperando para jantar,

apreciando a vista mais bela que já vi. -Uma bela vista em um restaurante de Londres? Aposto que aí

está frio e chuvoso e sua bela vista é uma mulher. -Não está frio nem chuvoso, e sim, a minha vista é uma bela

mulher, diria até a mais bela que já vi. -E o que está fazendo no telefone comigo ao invés de estar

falando com esta tal mulher? -É que fiquei em dúvida se ela aceitaria que eu lhe fizesse

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companhia. Ela parece estar muito bem sozinha, ela está com um rosto sereno, olhos brilhantes.

-Meu querido, você não saberá se não tentar. -Tudo bem, eu vou me aproximar, mas antes de chegar perto e

falar com ela, perguntar se eu poderia me sentar a sua mesa para lhe fazer companhia para o jantar, eu queria te dizer que você está maravilhosa neste vestido branco, combina com minha roupa.

Marien estranhou o que ele disse, na verdade não entendeu. -Urs, como sabe que estou de vestido branco? -Bom... ele é branco, longo e deixa suas costas nuas, o que é

extremamente sexy. Marien olhou para trás e viu Urs escorado na porta da varanda,

com o celular no ouvido e com uma mão no bolso. Estava magnificamente lindo à contra luz vestindo calça branca com uma blusa de linha de mangas longas também branca. Marien perdeu a fala e nem sabia o que dizer, ainda segurava o telefone no ouvido.

-Será que eu poderia te fazer companhia? - ela sorriu e o ficou olhando por alguns instantes.

-Pode forasteiro, se for um homem gentil poderá me fazer companhia para o jantar.

-Obrigada, eu serei um verdadeiro cavalheiro. Ele desligou o celular e aproximou-se dela, beijou sua mão e

sentou-se na sua frente escorando-se na mesa e entrelaçando os dedos e sorrindo lindamente.

-O que faz aqui? - perguntou ela ainda meio perdida. -Desculpe, mas eu não resisti à tentação de te ver aqui neste

lugar maravilhoso, então tomei a liberdade de vir te encontrar. Espero que não se aborreça com minha companhia.

-Estou impressionada. Vou aceitar sua companhia por ser meio indelicado te mandar de volta à Londres sem jantar.

-Hum, então depois do jantar vai me mandar de volta? -Provavelmente. -Que chato. Mas não tem problema, aceito somente o jantar, já

me valeu a viagem. O celular dele tocou encima da mesa, ele olhou o visor e não

atendeu. -Não vai atender? -Não.

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Marien pegou o celular e olhou o nome que aparecia no visor. -Porque não fala com ela? Isso é indelicado. O celular tocou novamente e ele o deixou desligado. -Ela é insistente. Terminamos, não quero mais falar com ela. -Vai ver que ela tinha intenção de se casar com você. - disse

sorrindo e bebendo de seu drink. -Não pretendo me casar de novo. - Urs fez sinal para o garçom

e pediu um uísque com gelo. -Hum... ficou traumatizado? -Parece. Igual a você! -Não sou traumatizada. -Que bom, assim não precisa pagar terapia e eu não fico com

remorso. - Marien riu -Não quer saber por que vim assim? -Não. - Urs a olhou por alguns instantes. -Sem perguntas Urs,

sem respostas. Vamos aproveitar este momento, o resto não importa. -Tudo bem, como quiser. O que quer comer? -Você escolhe. Mas quero algo de frutos do mar. Urs fez o pedido de lagosta, queria aproveitar de estar perto ao

mar para comer frutos do mar frescos assim como Marien. Jantaram e conversaram confortavelmente um com o outro, depois foram dar um passeio na pequena praia que ficava abaixo do restaurante com a areia estreita. A lua estava encantadoramente gigante, parecia que havia descido mais do céu.

-Fazia tempo que não via o mar. - disse ele admirando a vista. -É lindo. -Como vocês mulheres dizem, este passeio é muito romântico. -Desde quando entende de romance? -Não entendo. - Marien riu -Bom, mas pelos romances neste

momento eu deveria lhe beijar, aqui na beira do mar e abaixo da lua, não é?

-Urs você anda lendo romances é? -Leio alguns, claro. Os acho meio melosos, mas até que são

agradáveis de vez em quando. -Hum... eu creio que você lê os livros para tirar frases ou

situações para aplicar com suas mulheres. -Funciona sabia? - disse ele divertindo-se e Marien riu -Posso

aplicar este com você então? -Porque vai querer ser romântico comigo?

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-Talvez porque estamos em Santorini, um dos lugares mais românticos que dizem existir. - ouviram uma música suave que vinha de uma sacada, os dois se olharam. -Aceita dançar?

Urs a envolveu pela cintura e segurando uma de suas mãos. Ela sorriu e deixou que ele a conduzisse e dançaram suavemente, estavam tão próximos, aqueles movimentos embriagantes começaram a amolecer suas pernas, seus perfumes inebriantes os amorteciam, seus corações começaram a sair do compasso e a linda música os embalava. Começaram a se olhar nos olhos e beijaram-se suave e demoradamente. Marien perdia o rumo quando ele fazia aquilo, tocava-a de um jeito que somente ele sabia fazer. Quando se soltaram Marien queria correr dali, mas ao mesmo tempo não queria.

-Eu queria fazer amor com você agora, aqui nesta areia. - disse ele sedutoramente sussurrando em seu ouvido.

-Aqui não é uma ilha deserta, então seríamos presos. -Não pretendo passar a noite numa cela e sim numa cama. -Você só teve permissão para o jantar. -Vai me mandar embora? -Vou. Ele a olhou seriamente, queria dizer algo, mas não disse nada,

ficou meio indignado e parou de embalá-la. -Desculpe, acho que eu passei dos limites. -Acho que sim. -Vamos. Eu vou te levar para o hotel. Amanhã de manhã eu

volto para Londres, estou no mesmo hotel que o seu. Foram calados para o hotel, ele a levou até seu quarto e ela

entrou, virou-se e olhou para ele que ficara do lado de fora da porta em meio ao corredor.

-Boa noite Urs. -Boa noite Marien. Ela fechou a porta e foi até a varanda e enrolou-se na echarpe,

fechou os olhos sentindo o vento no rosto. Urs ficou ali um pouco na frente da porta dela com as mãos nos bolsos. Que tolice fizera, foi para seu quarto e se jogou na cama olhando para o teto. Nem sabia o que estava fazendo, estava meio confuso. Marien também estava confusa, sua noite havia sido maravilhosa e de repente estava sentindo-se mau, sentiu um vazio. Não podia ficar com Urs novamente, mas ele estava ali e ela não sabia se tinha feito certo de

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tê-lo mandado embora. Por que estragar o resto da noite se até ali tinha sido tão bom, tão agradável? Entrou no quarto e tirou a echarpe a jogando na cama, e olhou ao redor. Saiu e foi até o quarto de Urs e bateu na porta, ele sem imaginar que era ela levantou da cama e a abriu.

-O que faz aqui? - perguntou ele estranhando um pouco seu comportamento.

-Eu acho um desperdício você eu ficarmos no mesmo hotel em quartos separados e sozinhos.

-Voltou por que se sentiu sozinha? -Não. Eu voltei porque quero saber por que veio aqui. -Você disse que não queria saber. -Mas agora eu quero. Está quebrando nosso trato. Por quê? -Porque eu quero ficar com você esta noite. Eu senti saudades.

Sua companhia me faz bem, eu gosto de conversar com você, estou cansado de mulheres burras que não tenho assunto para conversar, geralmente a conversa acaba no meio do jantar. Eu gosto do seu humor e eu sinto desejo por você, isso eu não posso evitar. Eu não me importo de ter viajado para outro país somente para ter passado estes momentos que acabamos de ter. Sempre foi assim, quando você chega a Londres nós acabamos na cama. Nunca pedi nada e você também não. Mas eu não me importo, porque isso basta, sem cobranças, sem brigas, somente momentos bons. Eu não devia ter vindo, mas não me arrependo. Vou embora amanhã e tudo volta como sempre foi.

Marien parada como uma estátua o olhava. Como se estivesse tentando voltar ao chão respirou profundamente e falou calmamente.

-Bom eu estou aqui, você está aqui e temos uma noite. -Eu aceito só uma noite. -É só o que tenho a lhe oferecer. -Nossa vida sempre foi de uma noite Marien, nunca passou

disso, mesmo quando éramos casados. -Eu sei, então que esta seja mais uma. Urs se aproximou a olhando intensamente e envolveu seu

rosto com as mãos. -Pare de ser assim linda boa de cama e inteligente que eu paro

de querer sair com você. - ela riu. -Você é um cafajeste. - disse ela sorrindo.

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-Devo ser. Urs afundou seus lábios nos dela beijando-a intensamente. Ele

passou os dedos pelas alças do seu vestido, as desceu pelos ombros e ele deslizou até o chão. Ele afastou-se e olhou para ela, tirou sua blusa, pegou-a no colo, colocou na cama e fizeram amor. Nenhum dos dois queria desperdiçar aquele momento por mais que tentassem, se entregaram a uma noite enlouquecidamente apaixonante. Como poderiam interromper aquele encontro que se tornou tão fantástico, a surpresa de Urs, o jantar, a dança, o beijo, o lugar. Não haveria como terminar de forma diferente. Os dois na cama.

Aquela noite encantadora acabara e dormiram abraçados entre os lençóis. Aquilo era uma raridade, geralmente Urs saia no meio da noite, mas naquele dia ele ficara até amanhecer. Urs acordou, olhou no relógio e levantou-se, olhou-a dormindo enquanto se vestia, arrumou sua pequena maleta para voltar a Londres. Marien acordou e espreguiçou-se na cama.

-Você está ficando preguiçosa. -São as férias, não sou acostumada a isso. -Bom, como seu empresário aconselho a não se acostumar. -Ah, não seja malvado. -Está na hora de eu ir. - Urs sentou-se ao lado dela e puxou o

lençol para cobri-la melhor. -Já? -Sim eu tenho que pegar o barco, são quatro horas até chegar a

Atenas para pegar o avião, aproveite o resto de sua folga. Adeus minha querida, te vejo antes de embarcar está bem? Eu trouxe o livro que me pediu, está encima da mesa, dê uma olhada e me devolva antes de ir para Ancona, não posso deixá-la levar, ele deve estar de volta ao museu na segunda, mas acho que pode ajudar.

-Obrigada. - ele a beijou suavemente nos lábios. -Urs? Isso tem que parar. -Eu sei Marien. Isso é sempre assim quando você faz suas

paradas por aqui não é? -Parece que sim, mas desta vez ficamos juntos duas vezes

numa semana, isso quebra as regras. -Nós já sobrevivemos a várias recaídas, sobreviveremos a esta

também, afinal você vai sumir das minhas vistas por um bom tempo. Mas eu acho que não devemos mais ficar juntos, nem que seja só por

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sexo. Acho melhor eu somente ser seu empresário e pronto. -Também acho. -Vamos refazer nosso trato. Nada de cama. -Este trato nunca funcionou. -Eu sei, mas vamos refazer, quem sabe agora funciona. -Tudo bem, eu aceito. Quando este trato começa? -Agora mesmo. - Urs lhe deu um beijo no rosto e levantou da

cama, pegou sua maleta de couro e ia em direção à porta. -Podemos começar na segunda? - disse ela num rompante

sentando na cama. -Como assim? - disse ele parando sem se virar. -Fique aqui comigo durante o fim de semana, você volta

comigo no domingo e a gente recomeça o trato na segunda, eu vou ficar um bom tempo longe. Vai ser fácil cumprir o trato.

-Marien, eu não sei. - disse virando-se e a olhando. -Urs, você viajou da Inglaterra até aqui somente por uma noite,

então já que está aqui fique mais dois dias, eu prometo que vou cumprir o trato, mas fique só se quiser.

Urs soltou a maleta e voltou sentando-se perto dela. -Querida, não me tente. Eu quero ficar, mas não sei se vou

conseguir cumprir o trato depois disso. -Você conseguiu por cinco anos, claro que consegue. Afinal o

Don Juan de Londres nunca perde seu posto. -Eu não sou o Don Juan de Londres. -É! Vou sumir por um tempo e você vai continuar a namorar

todas as mulheres disponíveis de Londres, sempre foi assim. Eu já me conformei com isso, nunca espero nada de você.

-Eu não sou assim galinha como diz, você sabe disso. -Mas é este Urs que eu conheço, pelo menos foi nisso que

você se tornou. Então é melhor que continue, pois assim nós nunca vamos nos machucar de novo. Eu não quero perder esta harmonia que nós temos, é importante para mim, mas eu queria que ficasse.

-Tudo bem, eu fico. Mas depois disso vou voltar a ser somente seu empresário está bem? A partir de segunda, firmes no nosso trato? - disse ele oferecendo a mão para que ela batesse, ela bateu e sorriu. Marien levantou e foi até a porta do banheiro e o olhou.

-Você não vem? - disse ela com um sorriso malicioso. Ele sorriu e a seguiu, tirou a roupa e entrou no chuveiro com

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ela, beijou-a deixando que a água quente caísse sobre os dois. Urs pegou o sabonete e deslizava sobre o corpo dela o que fazia com que suas mãos deslizassem com facilidade. Marien acariciava o corpo perfeitamente delineado dele e deliciavam-se com seus toques, ela virou-se de costas e ele passou os dedos sobre uma tatuagem que ela tinha encima nas costas próxima ao pescoço “I Love you”, escrita em letra renascentista, ele beijou encima dela demoradamente e virou seu rosto para poder beijá-la e fizeram amor debaixo da água.

Eram sempre intensos um com o outro, parecia que o mundo todo ao redor deles sumia e entregavam-se plenamente. Quando saíram do chuveiro Marien lentamente secava os cabelos dele, aquilo parecia mais uma carícia que propriamente lhe secar, Urs a deixava fazer aquilo, precisava de algo tão terno, na verdade sentia falta daquilo e ele a olhou com um doce sorriso nos lábios.

-Nossa! Não fazia isso há muito tempo. - disse ele. -O que? Tomar banho? - disse ela brincando e ele riu. Nunca

toma banho com suas mulheres? -Não. Nunca acordo com elas. -Bom isso não é novidade, mas me senti uma exceção. - disse

ela rindo. -Você sempre foi exceção. -Estou lisonjeada. - disse o beijando. -Tive uma idéia. - Urs pegou o telefone no criado mudo e ligou

para a recepção. -Por favor, seria possível me ajudar? Eu quero alugar um iate com piloto e um cozinheiro. Completo, eu quero passar o dia no mar sim, pode contatá-lo, por favor? O valor não importa, mas quero que seja possível almoçar no barco, quero champagne, frutas, uma refeição leve, e é para imediatamente... obrigado, daqui a pouco estamos indo para lá.

-Nossa, está animado. -Não gostou da idéia? -Adorei. Arrumaram tudo e foram até o cais e lhes mostraram alguns

iates, e ele escolheu o que estava mais completo e já adaptado para o que ele queria, subiram e foram até mais o alto mar, pararam o iate e de sua vista podiam ver as montanhas e a bela Santorini, ficaram confortavelmente admirando a vista, riam e conversavam. Urs serviu o champagne e sentou ao seu lado.

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-Você fica linda de chapéu e estes óculos, parece uma madame. -Eu madame? - disse rindo. -Sim. -Nossa que vista maravilhosa. - disse ela admirada. -Quem eu ou a cidade? -A cidade. -Ah, fiquei decepcionado. -Você também, é lógico. - disse o beijando. Urs levantou e a pegou no colo, foi até a beirada do iate e se

jogou com ela nos braços gritando, afundaram e subiram. Urs ria. -Urs seu maluco! - ele a abraçou rindo. Mergulharam e beijaram-se debaixo d’água, podiam-se ver

claramente pela água límpida. Ficaram ali na água um tempo e depois voltaram para o barco.

-Depois nós podemos ir para a ilha Anáfi, o que acha? Eu sugiro uma daquelas prainhas desertas. - disse Urs.

-É? Para que? - perguntou rindo. -Bom porque assim eu e você não seríamos presos. -Isso está parecendo nossa lua de mel. - disse ela. -Está! Está sendo um déjà vu interessante. Passaram o resto do dia passeando pelas Ilhas e divertindo-se.

Voltaram para Santorini já era tarde da noite. No domingo de manhã Urs dormia, Marien levantou e ficou o olhando por um tempo, dormia lindamente, parecia tão tranquilo. Seria muito fácil se apaixonar por ele novamente, mudara muito desde o período de seu casamento. Mas sua vida de nômade não permitiria isso, pois passaria pelos mesmos problemas que tiveram anteriormente.

Ficaram casados por cinco anos, e pouco tempo tiveram para ser um casal de verdade. Talvez a idade não desse o amadurecimento necessário para sobreviver a um casamento neste estilo. Tiveram muitos problemas. Marien queria trabalhar na sua paixão que era estudar e praticar suas pesquisas e suas descobertas. Ela trocou o casamento pelo trabalho e por muitas outras razões que trancara no seu coração. Urs também era formado em arqueologia, haviam se conhecido na Universidade. Mas ele não praticou a profissão como ela, gostava mais dos trabalhos nos museus e não pesquisa de campo. Era inteligentíssimo e muito sagaz, fizera fortuna encima de seu trabalho além da enorme herança que recebera com o falecimento de

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seus pais. Perderam algumas coisas e ganharam outras. E estavam ali juntos, e se separariam na segunda feira novamente. Como sempre. E o único laço que sobraria era o trabalho.

Estes dias juntos foram demasiados perigosos, estavam trazendo coisas que deveriam esquecer, estavam brincando com fogo, aproximando-se demais. Claramente fora outra recaída. Ambos tentavam seguir as regras que eles mesmos se impunham, mas de vez em quando um ou outro dava seus deslizes.

Marien respirou fundo afastando os pensamentos. Pediu café pelo telefone, vestiu um robe de seda, pegou o livro que Urs trouxera e o colocou na mesa, o desenrolou do grosso pano de veludo vermelho e cuidadosamente virava suas páginas. Quando o café chegou, ela beliscou alguns frios e pegou café. Ela não ficava sem café, era viciada, se não bebesse uma xícara de manhã, seu cérebro não funcionava, nunca tinha fome pela manhã, mas obrigava-se a comer salgado por causa de sua pressão, então, presunto e queijo era a única coisa que comia. Sentou-se à mesa prestando atenção no livro. Procurava algo sobre Ancona ou algum indício da Igreja perdida. Leu por um tempo até que Urs acordou e espreguiçou-se.

-Bom dia dorminhoco! -Bom dia! Achou alguma coisa? -Não muito. Venha, o café está quente eu pedi outro bule. Ele olhou para seu rolex para ver que horas eram, levantou-se

e vestiu a calça, beijou-lhe o rosto e foi ao banheiro e voltou, sentou-se à mesa e ela lhe deu uma xícara de café.

-Bebendo café encima de um livro pré-histórico, quer me matar do coração?

-Sou cuidadosa Ursinho, não se preocupe, não vai acontecer nada com seu livro.

-Não sei como uma inglesa pode beber tanto café. -Às vezes acho que sou tudo, menos inglesa. -Concordo. O que achou? -Bom, aqui há indícios da existência desta igreja desde a Baixa

Idade Média, e que supostamente haveria desaparecido destruída por um terremoto no século XIV. Tem algo me deixando intrigada. Porque tanto interesse em fazer um estudo deste tamanho numa ruína destas? - ele ergueu as sobrancelhas e bebeu o café sem responder. -Bom, mas o fato é que esta igreja existiu segundo alguns

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relatos da lenda, dizem que ali eram realizados casamentos, batizados, missas. E que a maldição da igreja teria sido feito por uma bruxa. Depois que a bruxa amaldiçoou esta igreja, todas as pessoas que se casavam nela, ungiam seus filhos com o batismo, comiam da hóstia ou bebiam o vinho morriam. Foi assim que dizem que a população de Ancona foi praticamente desaparecendo, morria um a um, ou aos tantos de uma vez.

-Ancona pode ter sido atingida por uma peste, onde várias pessoas morreriam ao mesmo tempo, ou um ataque de inimigos ou bárbaros, muitas vilas eram inteiramente destruídas assim. Porque essa tal bruxa ou sei lá o que teria amaldiçoado a igreja?

-Sobre isso, já vi mais de uma alternativa. Uma é que ela foi impedida de se casar, a outra foi que seu marido se matou e o padre não aceitou que ela o enterrasse em terra santa e nem lhe deu a extremunção.

-Hum... e isso quer dizer que ele não pode ser enterrado com uma cruz e seu pescoço teve que ser decepado e enterrado como excluído do paraíso.

-Sim, as cabeças dos suicidas eram cortadas para que eles chegassem ao outro lado sem ela e não conseguissem enxergar o caminho para o reino de Deus, indo para o inferno.

-Eu vou me lembrar disso quando pensar em me suicidar. - Marien riu -O que mais?

-Nada mais, somente que a igreja desapareceu assim como todo o vilarejo. O novo povoado de Ancona somente foi recomeçado um tempo depois por povos que vinham de outros lugares. Interessante a contradição, se ela era uma bruxa, então era uma pagã. Então porque iria querer se casar em uma igreja católica ou querer um enterro cristão para seu marido?

-Hum, realmente não bate. Dizem que os templários passaram por ali.

-Sim, os cruzados sempre redigiam suas passagens, em todos os lugares onde andavam, mas estes pergaminhos que possivelmente relatariam alguma coisa sobre isso talvez, nunca foram encontrados. Os únicos pergaminhos registrados por um cruzado que citou Ancona vagamente, foi encontrado na França no século XIX numa ruína, o qual era seu túmulo. Mas um cruzado nunca andava sozinho.

-Sim, eu já vi este pergaminho no Louvre, mas não me recordo

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o que ele dizia. -Eu teria que ver este pergaminho ou uma cópia dele. -Vou a Paris semana que vem, posso ver isso para você. Mais

alguma coisa? -Não. -Então largue este belíssimo livro e venha aqui. - disse ele a

pegando pela mão, fazendo-a levantar e a trouxe para seu colo -Nosso tempo está acabando, não quero mais saber de templários ou bruxas, quero aproveitar e ficar com você. - Marien sorriu. -Onde está a corrente que eu te dei? Porque não a está usando?

-Urs eu estou na Grécia e não numa catacumba amaldiçoada. -Por isso que eu estou aqui, na realidade aquele amuleto era

para você conseguir ficar longe de mim, viu no que deu? - Marien caiu na risada.

-Se você tivesse me avisado para que servia, eu o teria usado e evitado este fim de semana horroroso.

-Hum... verdade está sendo um desastre mesmo, eu até sinto pena de você.

-O que vamos fazer hoje? À tarde teremos que ir embora. -Depois eu não sei, mas agora eu quero fazer isso... - Urs a

segurou pela cintura a fazendo virar-se para ele, sentando encaixada de frente para ele. -Se hoje vai ser o último dia que vais ser minha, então não quero sair da cama. - Marien fechou os olhos e seu corpo estremeceu quando sentiu Urs lhe beijar carinhosamente e fizeram amor na cadeira, somente caindo na cama depois e continuando a se amarem. Ficaram ali jogados na cama abraçados por um longo tempo.

-Marien! Eu nunca te disse. -O que? -Eu sinto muito. -Pelo que? -Por ter te traído. Marien ficou calada um pouco, não esperava que ele dissesse

aquilo, sentiu um baque em seu coração. Não sabia o que responder. -Eu não culpo você, nenhum homem aguentaria aquilo. -Eu teria aguentado, mas eu queria te punir, eu acho. -Se arrepende? -Muito.

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-Nós não podemos mudar o passado Urs, ele já se foi. -Eu sei. Só queria que soubesse. - ela o olhou o analisando. -Obrigado por me dizer, eu também sinto muito. Por tudo. -Ainda bem que na época você não me ouviu quando eu pedi

que tatuasse meu nome nas suas costas. “Eu te amo” vale para qualquer um. - Marien sorriu meio sem jeito.

-Não foi esta a intenção de eu ter tatuado isso, você sabe o significado dela e para quem eu tatuei.

-É eu sei. Você sempre adorou dormir de costas, assim quando eu acordasse saberia que você me amava mesmo estando de costas para mim.

-Éramos dois tolos não é? -Ainda somos querida, e pelo jeito vamos continuar sendo. Beijaram-se longamente. Tentaram aproveitar seus últimos

momentos juntos. Passearam de motocicleta por Santorini, Urs dirigia e Marien ia à sua garupa. Almoçaram num delicioso restaurante com vista para o mar e à tarde, pegaram o barco para Atenas, onde ainda puderam desfrutar de maravilhosas paisagens juntos. Chegando a Atenas pegaram o avião para Londres, foram de taxi até a casa de Marien. Urs entrou a ajudando com as malas enquanto o taxista o esperava. Ele largou as malas no chão e a olhou meio sem jeito.

-Bom, acho que está na hora de eu ir, venho te buscar para levá-la ao aeroporto amanhã. - ela assentiu com a cabeça.

-Foi maravilhoso Urs. -Para mim também. Ela chegou perto dele e lhe deu um beijo suave. Queria dizer

algo, mas não sabia o que dizer e nem ele. -Me mande embora Marien, por favor, senão não conseguirei

sair daqui. - disse ele com a testa encostada na dela com os olhos fechados.

Marien demorou em responder, nem ela queria dizer isso, engoliu a seco, respirou e o olhou.

-Nosso tempo acabou. Você precisa ir. Ele assentiu com a cabeça levemente a beijou carinhosamente

lhe acariciando o rosto, virou as costas e pegou o taxi para casa. Ela respirou profundamente, fechou os olhos e esfregou o rosto, pegou suas coisas e foi para o quarto. Tomou um banho e terminou de arrumar sua bagagem, viu que Sarah havia deixado as bagagens dos

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equipamentos enfileiradas na sala. Deitou-se, seus pensamentos e seu corpo estavam carregados de Urs, precisava afastar tudo, no dia seguinte começaria sua nova empreitada, sua nova aventura. Tudo voltaria a ser como antes. Enquanto navegava em seus pensamentos, pegou o celular e ligou para Sarah.

-Oi chefinha! -Oi! Eu não abri as maletas dos equipamentos, você arrumou

tudo? -Sim, como sempre, está tudo em ordem, pode confiar. -Está bem Sarah. Se Urs ou eu precisarmos de você ligaremos.

Assim que conseguir te levar eu te aviso. -Tudo bem. Boa viagem. -Obrigada, até mais. Desligou e ligou para Lizza. -Ai amiga me conte como foi lá? - disse Lizza ansiosa. -Foi ótimo, já estou na cama, somente estou ligando para dizer

um adeus, amanhã estarei indo para Ancona. -Achou um deus grego? - Marien riu. -Achei sim, não se preocupe. -Hum, me conte este babado, como ele é? Qual o nome dele,

ou nem perguntou? Ele era digno de uma estátua? - Marien hesitou em dizer.

-Chama-se Urs. -O que? Como assim? O Urs, Urs? -Sim. - Marien ouviu um barulho pelo telefone -O que foi isso? -Cai da cama. - Marien riu -Ele foi com você? - disse ela quase

gritando no telefone. -Não, mas apareceu lá sem avisar e passou três dias comigo. -Ai minha mãe, minha mãe. E agora vão fazer o que? -Nada. Tudo volta a ser como antes, como sempre. -Marien, você é uma desajustada, eu deveria te internar, nem

vou falar mais nada. -Obrigada amiga, você ajuda muito. Adoro seu apoio moral! -

disse rindo. -Disponha. -Lizza? -Diga. -Ele me disse que sentia muito.

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-Pelo que? -Por ter me traído, não esperava que ele dissesse isso. -Isso é grave. Marien faça de conta que ele não disse nada.

Homens nunca se desculpam por uma coisa destas. Eles nem sabem o significado da palavra desculpas, finja que é surda, pelo amor de Deus! Você não quer passar por tudo aquilo de novo não é? Você só vai sofrer, então deixe as coisas como estão. Você sabe que isso é uma recaída, vai passar, como das outras vezes. Foi a mesma coisa quando vocês tiveram que ficar uma semana juntos lá em Paris por causa daqueles pratos quebrados. Ai meu Deus! Onde Urs estava com a cabeça de ir para a Grécia, ainda mais onde vocês passaram a lua de mel? Não sei qual de vocês dois é mais louco. Querida, fique longe dele está bem?

-Vou fazer isso. Boa noite! Eu mando notícias. Se cuide, beijos. -Beijos, boa aventura Srta. Indiana Jones e se cuide naqueles

lugares esquisitos que você se enfia. -Pode deixar. -E faça um favor para si mesma, conheça um belo italiano, faça

muito sexo com ele e nem pergunte nome, telefone ou endereço, capicce? - Marien riu.

-Você não tem jeito, Adeus. Marien desligou o telefone, ficou ali na cama olhando para o

teto um pouco. As memórias do fim de semana não sumiam de sua cabeça, mas Lizza estava certa. Seria um grande erro trazer Urs de volta à sua vida novamente. Era melhor deixar tudo como estava.

** -Lizza, porque implica tanto com Urs e Marien heim? Deixe os

dois. -Carlos eu só estou tentando evitar que ela sofra novamente. -Eles se amam Lizza, isso é mais claro que água. Alguém devia

dizer isso a eles. -Eu sei, mas eles não deram certo na primeira vez. Porque

dariam agora? -As pessoas mudam quem sabe agora eles podiam se entender. -Você voltaria a ficar com sua ex-mulher? -Não. -Nem eu com meu ex-marido. Então o que fazem é errado. -Acontece que você odeia seu ex-marido, eu odeio minha ex-

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mulher, mas eles não se odeiam, muito pelo contrário. Também não entendo como eles vivem nesta paz, mas está na cara que se amam.

-Não sei, prefiro que ela se apaixone por alguém diferente e fique longe de Urs.

-Só se acontecer um milagre. E chega de falar deles, venha aqui. - disse a puxando. - Não se machucou de ter caído da cama?

-É machucou bem aqui no joelho. - disse fazendo beicinho. -Oh, que pecado deixe-me ver isso. - Carlos beijou seu joelho,

e de supetão a agarrou e beijou, empurrando-a contra o travesseiro. ** No dia seguinte, Urs buscou Marien e a levou ao aeroporto. -Me informe de tudo e se cuide por lá, por favor. -Urs eu estarei bem, não se preocupe. -Eu espero que consiga levar Sarah antes que imagina. Este é o

telefone de Davide Mollinaro, ele estará no aeroporto te esperando, se vocês se desencontrarem ligue para ele.

-Está bem. -É melhor ir. Boa viagem! -Obrigada. Até a volta. -Até! Se aquele padre fizer alguma coisa me avise que vou lá e

arranco a batina dele. - Marien riu. -Cuidado, ele pode excomungar você. -Não ligo para isso. - disse ele sorrindo lindamente. Marien o beijou no rosto e foi para o portão de embarque. Ela

se virou e ele a olhava com as duas mãos nos bolsos. Marien colocou a mão no pescoço e puxou a corrente que ele lhe dera a mostrando e sorrindo. Ele sorriu lindamente e acenou um adeus com a mão. Quando ela desapareceu de suas vistas, Urs respirou profundamente e voltou ao trabalho.

Marien chegou ao portão de desembarque em Ancona e trazia seu carro de bagagem cheio de malas e com as caixas especiais que trazia seus equipamentos, sempre pagava excesso de bagagem, era de praxe. Olhou para as placas e viu seu nome, olhou para o rapaz alto e bonito que a segurava e foi em direção a ele.

-Boa tarde senhorita Stewart. - disse ele sorridente. -Boa tarde, você é Davide? -Sim senhorita, muito prazer. -Igualmente Davide. - disse apertando sua mão.

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-Deixe-me ajudá-la. - ele pegou o carrinho e o foi conduzindo para fora em direção ao estacionamento -Fez boa viagem?

-Sim. -Agora vamos de carro até a antiga vila de Ancona onde fica

seu chalé. Está tudo preparado para sua chegada, mas começaremos sua visita no local somente amanhã, hoje o padre Caseneuve disse que a senhorita deve descansar da viagem e adaptar-se à sua casa, espero que esteja tudo do seu agrado.

Davide colocou sua bagagem numa caminhonete e começaram a seguir.

-Você é quem vai me mostrar as primeiras descobertas? -Sim, o padre está no Vaticano, infelizmente teve que ir para lá

novamente, mas voltará logo, espero que eu possa ajudá-la em tudo. -Você também é arqueólogo? -Não, mas estudei tudo que o padre me ensinou e me mandou

ler, falo nove línguas e sei muito sobre arqueologia, estou com ele há bastante tempo, ele me força a estudar, foi este o trato.

-Que trato? -Ele me tirou de um mosteiro quando era bem jovem, eu

trabalhava lá de cozinheiro para os padres, não tenho família, então ele me fez a oferta, que se eu estudasse tudo que ele mandasse e fosse seu braço direito ele me levaria com ele, e eu aceitei. - Marien sorriu e fez uma cara de espantada.

-Gosta do que faz? -Adoro! Ele salvou minha vida, sou muito grato a ele. -Então, você não é padre? -Não, os padres queriam que eu me tornasse um, mas eu nunca

quis, não tenho vocação para o celibato. - Marien riu. -E todos os padres têm? - perguntou ela irônica e Davide riu. -Se eu responder isso eu vou ser enforcado. -Pode dizer, não vou contar seu segredo, eu não acredito

totalmente nesta tal fidelidade dos padres aos votos da igreja Davide. -Bom, alguns cometem erros, mas padre Sebastien é exceção. -É mesmo? - disse ela descrente. -É sim, o conheço há muitos anos e nunca o vi dar nenhuma

escapada. - Marien riu. -Não sou padre, mas eu e toda nossa equipe somos obrigados a fazer voto de silêncio.

-Como assim?

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Entre o amor e a fé

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-Bom, temos mais sigilo que os arqueólogos, nossa obrigação com a igreja nos força tipo, há algumas informações que devem ser bem guardadas, se é que me entende.

-Tudo bem Davide, eu já entendi. -Eu li seu livro e gostei muito. Suas pesquisas são magníficas e

sua maneira de ver a arqueologia é inspiradora. -Obrigada. -Padre Sebastien é seu fã, lê tudo sobre a senhorita, por isso a

solicitou neste trabalho, fato na verdade que me espantou muito. -Por quê? -Senhorita, o Vaticano não permite estranhos na maioria das

pesquisas sobre a igreja, mas muitos arqueólogos já o fizeram por serem autores de suas descobertas, não haveria como impedir, o que não é o caso, pois é um assunto meio delicado, não entendi porque a chamaram. A descoberta foi reportada diretamente ao Vaticano, e eles não precisariam a ter solicitado se possuem uma equipe para isso. É o que acontece com a maioria das coisas relacionadas à igreja.

-Eu sei, o que é da igreja fica na igreja... nem imagino o que não deve haver escondido lá. - disse meio para si.

-Desculpe, não entendi o que disse. -Nada, somente disse que entendi. -Sinto muito que não pode trazer sua equipe ou pelo menos

sua assistente. -Isso vai ter que mudar, eu quero minha assistente aqui. -Pode tentar, mas não sei se vai conseguir, mas vou lhe ajudar

em tudo que precisar. -Hum... -Desculpe senhorita Stewart, eu acho que falo demais. -Para quem fez voto de silêncio, você é bem falante. - Davide

soltou uma gargalhada. -Sempre me dizem isso, desculpe. -Me faz um favor? Chame-me de Marien, eu não gosto de ser

chamada de senhorita, senhora, estas coisas. -Tudo bem, de uma inglesa, isso é difícil de ouvir. -É! Sempre dizem que não devo ser inglesa. Eu devo ter

nascido no país errado. O que é aquilo? - disse avistando um grupo em frente a uma fogueira no meio nas montanhas.

-Estamos no período das festas de caça, eles estão fazendo um

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ritual para abençoar a comida. -Davide, isto não estava extinto por aqui? -Estava, mas parece que alguns novamente estão realizando

rituais pagãos por aqui, desde que as ruínas foram descobertas, algumas coisas estranhas andam acontecendo.

-Tipo o que? -Alguns rituais, alguns grupos, eles acreditam que se a igreja foi

descoberta, algo se revelará e estão praticando as antigas crenças. -Hum... contanto que não sacrifiquem pessoas, por mim

podem fazer o que quiserem. -São inofensivos, nada fazem de mais, já foram averiguados. A

igreja não pode impedi-los de fazer isso. -Nem deveria. A igreja não manda nas pessoas Davide, cada

um faz o que quer, não estamos mais na idade média, o Vaticano não tem mais o poder que tinha, cada um faz o que quer e escolhe o caminho que quer. Todo mundo tem o direito de escolher.

-Você não gosta muito da igreja não é? -Na verdade eu não sou muito a favor de nenhuma instituição

deste tipo, na maioria são fachadas para ganhar dinheiro. Mas eu gostaria que fosse diferente, que as pessoas fossem bem orientadas.

-Sei do que está falando. -Não tenho nada contra a fé das pessoas, cada um escolhe o

que quer seguir, o que me aborrece, são as mentiras e as manias de colocarem coisas nas cabeças das pessoas ou impor poder sobre elas, como faziam os antigos e muitos o fazem até hoje.

-Nunca expressa suas opiniões em suas pesquisas? -Nunca! Um arqueólogo deve ser inerte a opiniões próprias

sobre o que estuda, não pode colocar sua opinião pessoal em nada, é como um antropólogo, analisa de fora, não se envolve. Nada de emoções, temos que ser científicos concretos e corretos. A emoção corrompida ou perdida abala o senso de análise. Você perde o rumo. Se você fizer um texto explicativo sobre como eram os rituais aos deuses Maias, e expressar suas emoções sobre isso, você começaria a dizer que isso era absurdo, repugnante ao senso humano. Nem conseguiria ao menos relatar os motivos pelos quais eles arrancavam o coração e cortavam cerca de cem cabeças de escravos num só dia, e jogavam seus corpos escada abaixo do templo. Hoje para nós isso é uma aberração, mas para eles, naquela época era normal, viam sentido

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Entre o amor e a fé

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neste tipo de ritual, pois adoravam os deuses e os glorificavam. Tenho minhas opiniões e as pronuncio, mas quando se trata de redigir o trabalho fico neutra, mesmo que não goste.

-Muitos não fazem isso hoje em dia? - Marien respirou. -Fazem, e de montes, mas hoje em dia é diferente, as pessoas

tem informações, são ignorantes porque querem e não por falta de liberdade ou poder de buscar o que seria melhor. Mas muitos têm tudo isso e continuam cegos. Como eu disse cada um segue o que lhe convém. Seguem rituais que lhe convém ao seu senso.

-Você tem algum ritual? - disse ele brincando. -Tenho. Tomar café de manhã e dormir com meu ex-marido -

disse ela mais baixinho. Davide riu, pois escutou a frase inteira. Ele parou o carro na frente de um lindíssimo chalé. Marien

desceu, colocou as mãos na cintura e olhou ao redor analisando tudo. -É meio isolada. -Sim, mas é confortável. O senhor Barker pediu que tivesse

uma casa ao invés de hotel, e uma pessoa que cuidasse da casa, foi o que encontramos de mais confortável. Achei que lhe agradaria.

-Parece bom. - Marien e Davide entraram na casa e era muito bonita, bem decorada e aconchegante. Ela olhava tudo com atenção.

-A empregada virá a partir de amanhã, então me diga o que quer jantar que providenciarei ou se quiser posso lhe levar a um restaurante na cidade.

-Não, eu prefiro ficar em casa hoje, estou cansada da viagem e quero arrumar minha bagagem.

-Tudo bem, me diga o que quer e mandarei entregar, enquanto isso pode arrumar suas coisas e adaptar-se a casa. Espero que fique a vontade, se faltar alguma coisa, é só me dizer que providencio. Está tudo limpo, há toalhas nos banheiros e comida nas prateleiras e geladeira na cozinha. Este é o controle da calefação. Há lenha aqui se quiser acender a lareira e mais lenha no porão. O telefone está funcionando, do lado da casa há uma garagem com um carro que ficará com você para ir e vir quando quiser, as chaves dela estão na mesa perto da porta. Coloquei um ótimo computador, internet, fax, impressora, enfim, acho que tudo que precisa. Os materiais de pesquisa estão no acampamento, na minha casa e do padre Sebastien. Aqui é calmo, pode ficar tranquila. Mais alguma coisa?

-Acho que não, parece tudo em ordem.

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-Tudo bem, eu vou à cidade, vai querer o que para jantar? -Ham - pensou um pouco -Uma massa italiana seria bom e um

vinho. -Tem vinho na cozinha, tem um restaurante na cidade que faz

um ravióli ao molho de cogumelos que é esplêndido, o que acha? -Parece bom. - disse ela sorrindo. -Eu vou indo, fique a vontade, se precisar me ligue, estarei aqui

as oito para irmos à escavação. Até mais. -Até. Davide saiu e ela respirou fundo olhando ao redor, pegou suas

malas e levou ao quarto, olhava tudo com atenção. Tudo era limpo, cheiroso, até diferente de vários lugares que já estivera, tudo era melhor que ela imaginara, olhou o banheiro e havia banheira, o que para ela era imprescindível, foi até a cozinha e olhou os armários. Pegou um cacho de uva e foi para fora, viu uma pickup preta, havia algumas ferramentas penduradas no canto da garagem.

Havia um belíssimo jardim com flores e plantas, uma mesa de ferro enorme com cadeiras combinando, toda torneada em estilo barroco com um imenso sombreiro sobre ela. Marien arqueou as sobrancelhas vendo aquilo. Mais abaixo havia um imenso lago com um casal de patos que elegantemente passeavam sobre ele, um trapiche e um barco pequeno a motor. Ouviu o som do mar e virou-se, foi para o outro lado da casa e deu-se com um imenso penhasco com vista para o mar, Marien ficou impressionada olhando aquela paisagem, era magnífica. Sorriu e sentiu-se bem ali, parecia que tudo ficaria bem nesta sua temporada. Voltou para a casa e desfez as malas colocando tudo no guarda roupa e na cômoda, foi ao banheiro e colocou encher a banheira, foi à cozinha e encontrou os vinhos, pegou uma garrafa e e uma taça e colocou um pouco, pegou o celular e foi ao banheiro, tirou o roupão e entrou na banheira e ficou ali pensativa e relaxada até que seu celular tocou a tirando de seu descanso.

-Boa noite senhorita Marien. -Padre Sebastien? -Sim. Estou ligando para ver se está tudo de seu agrado. -Sim. Já estou acomodada. -Que bom, se precisar de algo ligue para mim ou para Davide,

estarei aí o quanto antes eu puder, sabe como é, isso veio em uma

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hora que estava meio ocupado, tenho que terminar algumas coisas antes de encontrá-la. Davide vai passar tudo, qualquer dúvida pode me ligar, a verei em alguns dias, até mais.

-Até, obrigada. Ela desligou o celular e o soltou no chão como era acostumada

e bebeu mais um gole de vinho, fechou os olhos e ficou mais um tempo na banheira. Ouviu uma batida na porta e assustou-se, saiu da água e colocou o robe e foi até a porta. Era o entregador da comida. Preparou seu prato, olhou para a mesa e não quis sentar-se ali, pegou o prato e a taça de vinho e foi para a sala, acendeu a lareira, sentou-se e começou a comer. Seu celular tocou novamente.

-Oi! - disse ela sorrindo. -Chegou bem? -Sim, está tudo bem e estou jantando. -Hum... e aposto que algo com massa. -É sim. - disse rindo. -E está com uma taça de vinho. -Sim. -Como pensei, e também aposto que está no sofá com os pés

encima e com o prato na mão. -Você não está do lado de fora do chalé me espiando pela

janela está? - Urs riu. -Não querida, estou no museu, na minha cadeira, cansado e

com fome. Agora que vou sair daqui e ir para casa. -Que pena... este ravióli ao molho de cogumelos está divino. -

Urs soltou uma gargalhada. -Você é muito má. -Se quiser venha aqui, ainda tem ravióli e vinho. -Marien, não me tente. -Estou brincando, fique aí e bem sentadinho. Aliás, vá para

casa e jante uma comida boa para variar. -Eu vou fazer isso, só queria saber se tinha chegado bem. -Sim, não se preocupe o lugar é bem aconchegante, aliás, é

divino, estou bem. -Que bom, se precisar me ligue. Vou desligar. Boa noite. -Boa noite. Marien continuou comendo e ligou a TV, depois foi ver mais

algumas coisas na casa e foi deitar-se, estava exausta.

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** Ao amanhecer Marien levantou, abriu as cortinas e viu a

paisagem de seu quarto que dava para o penhasco e avistava o mar, sorriu e foi à cozinha fazer o café. Arrumava a cafeteira quando foi surpreendida.

-Bom dia! - ela levou um susto deparando-se com uma mulher. -Ai meu Deus! Que susto! -Desculpe, não quis assustá-la, sou Gina, vou trabalhar para a

Srta., sou a empregada. -Olá. -Pode deixar que eu preparo seu café, só me diga o que gosta. -Ham... eu gosto de café com leite, e frios, eu tenho pressão

baixa, preciso de sal pela manhã. -Tudo bem, vou lhe preparar. Marien foi trocar-se, vestiu uma calça cargo, uma bota, uma

camisete e uma blusa de lã, pegou seu cinturão com seus principais materiais de trabalho, uma mochila, seu notebook e voltou para a cozinha, Gina preparara uma bela mesa de café da manhã, com coisas até que ela nem comia, mas sorriu. Ela sentou-se e comeu o que lhe convinha. Davide chegou e bateu na porta.

-Bon giorno! - disse ele sorridente. -Bon giorno Davide! Já tomou café? -Sim senhorita, quer dizer, sim. -Vamos? Eu estou curiosa para ver essa tal descoberta. -Vamos. Hoje irá comigo, depois lhe trago para você conhecer

o caminho, depois poderá usar seu carro. -Tudo bem. Foram até as escavações, era perto como Gina havia falado,

prestara atenção onde Davide andara e os caminhos que pegara. Chegando lá, pararam o carro meio distante, o resto do caminho seguiram a pé, viu a movimentação de pessoas trabalhando com uma pequena escavadeira e alguns trabalhando com a retirada de pedras e terra mais ao redor no buraco no chão.

-Temos alguns homens trabalhando aqui, eles estão fazendo o trabalho pesado de retirar a terra, não conseguimos trazer uma escavadeira grande, já deu um belo trabalho para trazer esta pequena aqui, conseguimos abrir uma pequena estrada para ela passar, mas é perigoso, porque não sabemos a estabilidade deste chão.

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-Bom, se uma parte do chão caiu é provável que caia mais, muito peso pode colocar o resto abaixo.

-Sim, mas precisamos dela, pelo menos para o mais grosso, o resto os homens seguem manualmente. Esta parte aqui, pensamos que seja a parte baixa, a entrada, então estamos colocando ela aqui, mais lá encima é inviável e perigoso. Embaixo teremos, eu, você, Celo e Vanna, e mais alguns homens, que trabalharão na exploração interna, quando precisarmos, os homens de cima vêm para baixo. E o padre Sebastien é claro, assim que ele voltar.

-Ok. - Marien olhou ao redor e a imensa cratera no chão. -Davide, como uma igreja pode ser soterrada desse jeito? -Pensamos que o mais certo teria sido um terremoto que

abalou a montanha e trouxe o topo abaixo cobrindo tudo por aqui, segundo o geólogo esta encosta era bem mais alta.

-Vamos descer? -Vamos. Colocaram o cinto de segurança usado para escalar montanhas

atrelando às ferragens para descer no buraco, alguns homens os ajudaram, já haviam montado uma estrutura para que a terra de cima não desmoronasse pelo buraco, para que os que estavam embaixo não sofressem danos. Primeiro desceu Davide e depois Marien, foram iluminando o local com a lanterna ao descer. Marien prestava atenção em tudo por onde passava até chegar ao chão. Davide lhe ajudou a tirar os ganchos e ela olhava ao redor meio boquiaberta, era bem maior que imaginara.

-Logo colocaremos o elevador aqui e não precisaremos mais descer pela corda, iremos abrir mais a entrada para poder colocá-lo.

-Isso é bom, eu não gosto muito de ficar pendurada. -Nem eu. - disse Davide sorrindo -Este é Celo, ele cuida da

parte de análise e laboratório e esta é Vanna, é perita em trabalhos minuciosos, é formada em arqueologia.

-Bom dia senhorita! - disse Celo. -Bom dia, muito prazer! - disse apertando sua mão. -Senhorita Stewart, é um prazer conhecê-la. -Igualmente Vanna. Ok, Davide vá falando. - disse ela andando

e passando a lanterna ao redor. -Esta parte de cá é o altar, aquela parte desmoronada é que fica

de frente para a encosta, deve ser a entrada da igreja.

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-Hum... este lugar é úmido por ser uma encosta, mesmo que a madeira tenha se deteriorado, não há indícios de bancos. Parece mais um templo que uma igreja. Se isso é uma igreja do século XIV já se usavam colocar bancos.

-Um templo não teria um altar com uma cruz com Cristo. Marien olhou para o altar e foi até lá, a cruz com uma imensa

estátua que parecia Jesus estava caída no chão. -É a estátua que a moça viu? -Sim. -A cena de crucificação. O pé direito desta construção é muito

alta, uma igreja deste tamanho teria relicários, móveis, se isso foi abalado por um terremoto tudo deveria estar aqui, mas não há nada. Vocês retiraram algo daqui?

-Não, o que foi retirado está no nosso alojamento, mas nada em grande tamanho, nem tiramos a estátua de Cristo que era a maior que estava aqui.

-Nenhuma igreja medieval teria somente uma cruz. Neste período já se ornava as igrejas.

-Pode ser uma igreja simples, sem esmeros. -Não. Com um pé direito deste tamanho? Somente se ela

estivesse inacabada, mas pelo período que dizem que ela esteve aqui de pé, seria uma igreja mais ornada.

-Ancona nunca foi uma província rica, porque teriam uma igreja ornada?

-A província não era, mas o comando daqui era bem forte, o bispo desta congregação era para ser dominante não somente da província de Ancona, mas sim de Ancona, Prisco, Pádua, Antero e Luzerna, se Ancona era a capital da província, esta igreja deveria ser o paradeiro do bispo, além dos padres. Nada seria assim simples. Minha pergunta é... se isso era o centro da província, deveria ser completamente ornada, se não é, é porque é um templo. Se for uma igreja, onde estão os ornos se foi destruída por um terremoto? E se era uma igreja porque não há bancos, estátuas? - Davide embaralhou-se. Piscou-se e ficou sem resposta -Não vai responder?

-Fiquei confuso. -Ótimo, eu quero minha assistente esta semana aqui. - disse ela

andando sem olhar para ele. -Isso não é possível.

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-Então responda quando lhe faço uma pergunta Davide. -Está dizendo que não sirvo para lhe ajudar? -Não. Estou dizendo que duas cabeças pensam mais que uma. -Tudo bem. Vamos por partes- disse ele respirando -Primeiro,

se aqui deveria ser o paradeiro do bispo junto com um padre, concordo que deveria ser mais ornada, principalmente porque na idade média a igreja ostentava todo o ouro que podia.

-Certo. E cadê o ornos daqui se isso foi soterrado por um terremoto que sem avisar teria engolido a igreja?

-Verdade, os relicários deveriam estar aqui, e aqui na vista já que a parte do altar está bem visível. Então ou os relicários não estavam aqui quando isso foi soterrado ou alguém os tirou daqui depois disso. E em relação às fileiras, eu não entendi.

-Isso eu te perdôo, pois eu também não. -Então até que não estou tão mau. -Não. Padre Sebastien não fez nenhuma anotação sobre isso? -Fez sim. -E onde está? -Com ele. -Já que ele não está aqui, eu quero ver suas anotações. -Ham... eu posso pedir a ele, mas só tenho permissão para lhe

mostrar as que ele me deixou até agora e o material que já foi mandado a você por ele, o resto vai ter que esperar ele voltar.

-Davide eu vou ser bem clara com você. - ela se aproximou dele colocando a lanterna no seu rosto o iluminando.

-Sim senhorita. -Se vocês dois estiverem me escondendo alguma coisa, eu vou

descobrir o que é. E se vierem com esta conversinha que isso é privado ou isso não pode e atrapalhar a minha investigação sobre a procedência desta igreja, eu vou pegar minhas malas e volto imediatamente a Londres, entendeu?

-Ham... sim senhorita. -Já disse para me chamar de Marien. -Sim Marien. -Outra pergunta. - disse ela andando e parando nos degraus. -Sim? - disse Davide se piscando. -Se aqui em cima era o altar, e todo altar de uma igreja católica

tem a cruz com a crucificação, ela deveria ficar aqui, como essa cruz

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com esta estátua que é de pedra talhada, está fazendo tão distante do altar? Ela deveria estar caída aqui e não lá.

-Talvez alguém a tentou remover e desistiu. -Alguma anotação sobre a tal maldição? -Temos as lendas, boatos e ranhuras, nada específico. -Você sabe sobre os manuscritos do cruzado sobre isso? -Sim o padre falou, disse que queria ver isso, têm algumas

anotações, eu posso lhe passar. Mas ele tem um material que está em poder dele, deve lhe passar posteriormente, ele ainda não chegou a nenhuma conclusão, por isso que lhe chamou, para ajudá-lo.

-Nada aqui faz sentido. Preciso saber como isso se deslocou assim, onde estão os relicários e como era esta igreja. Eu tenho que saber sobre esta tal maldição, sobre esta mulher que teria a lançado e o que aconteceu aqui. Afinal, onde foram os escombros das outras casas? Onde está o resto do vilarejo?

-Há algumas ruínas que poderiam ser algumas construções, encontramos um suposto cemitério. Há uma cruz o que nos levou a crer que seja. Mas é normal, e não comportam as tantas pessoas que dizem que haviam morrido na época, pode ser que haja outro lugar que não temos conhecimento ou ele não existiu.

-Deve existir Davide, se houve tantas mortes assim, onde estão os corpos?

-Talvez não tenha mortes, as pessoas poder ter ido embora. -Não acredito. Para mim, esta vila foi sucumbida e pela minha

experiência foi dizimada pela igreja. -Acho que é por isso que o padre Sebastien lhe admira tanto,

você não tem papas na língua, não tem medo de ninguém. - Marien olhou para Davide e continuou olhando os escombros. -Você não tem nenhuma religião?

-Fui criada como católica, mas não sigo mais. -Perdeu sua fé? -Não, mas não sigo nenhuma religião. -Como se tem fé se não se tem religião? -A fé não está na religião Davide, está no coração, se ouvisse as

palavras de Jesus saberia disso. Se tivesse visto alguns manuscritos saberia disso. Conheço pessoas que tem mais fé em Deus que muitas carolas de igreja. Em minha opinião não adianta frequentar uma igreja se do lado de fora pratica ações más. Praticam mal aos outros.

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-Estás falando dos manuscritos de Thiago. Eu sei você estava junto quando os descobriram. Eu não vi, mas o padre viu, não tive permissão para ver, o que dizia?

-Peça a ele que te mostre. -Já pedi, ele me disse que não podia. -Isso não me espanta, quase ninguém viu. E você acabou de

me confirmar uma coisa... - disse ela olhando seriamente para ele. -O que? -Isso também não vou lhe dizer. -Porque não? -Porque me custou uma vida, então eu nunca falo disso. -Vida de quem? -Já disse que nunca falo disso. -Desculpe. Mas como vou entender o que você pensa se não

me diz? -Davide, se eu lhe contasse você não iria gostar nada, então

este assunto morre aqui. Você trabalha para uma igreja, eu trabalho pela história. Se sua igreja não lhe mostra a história eu posso lhe mostrar a minha, mas eu lhe garanto que você não ia gostar nada.

Davide não entendeu nada, mas tentou assimilar as palavras de Marien, sabia que em algum lugar ela estava com a razão, mas não sabia onde.

Marien passou o resto do dia olhando e analisando aquela parte da igreja, nada fazia sentido. Saíram de lá e foram para o acampamento onde Davide lhe mostrou as outras instalações, um pequeno laboratório para análises, alguns artefatos que tiraram da igreja e apresentou algumas pessoas, lhe mostrou algumas anotações e assim seguiram o dia. Quando Marien apercebeu-se o dia havia acabado. Davide a levou para casa, estava exausta, tomou um banho, jantou o que Gina lhe deixara esquentando no microondas e jogou-se na cama e adormeceu.

** Marien estava na tenda olhando alguns livros e as anotações

feitas por Davide e padre Sebastien enquanto digitava informações no seu notebook. Olhou para o outro computador com uma tela de 20 polegadas onde havia um desenho 3D de como seria a montanha antes de ter desmoronado. Parou ali pensativa olhando para ela. Davide entrou na tenda, trazendo-lhe uma xícara de café.

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-Achei que gostaria de um café. -Obrigada. - Marien tomou e fez cara feia. -É expresso. - disse sorrindo lindamente. -Nossa isso acordaria até um defunto. - Davide riu. -Café italiano é forte. -Verdade... estas anotações que o padre fez, faz sugestão que

todos os relicários tenham sido retirados da igreja antes de ela ter desabado. Que pode ter sido saqueada.

-Mas encontramos isso. - Davide lhe deu uma estatueta. Marien franziu o cenho e olhou a pegando com cuidado, era

uma estátua de uns quinze centímetros e a olhou por alguns minutos. -Isso estava dentro da igreja? -Estava. -Isso é uma estátua pagã, me parece de uma deusa. -Já procurei sobre esta imagem e não encontrei nada. -Sim, acho que é a deusa Amirtati. -Amirtati? -É uma deusa muito antiga, uma deusa que protegia o ventre

das mulheres na gestação. Era chamada mãe da vida, por isso que ela tem o ventre saliente. Era cultuada por algumas antigas civilizações, principalmente pelos hebreus. Há poucos relatos de sua adoração. O que isto estaria fazendo dentro de uma igreja?

-Não sei Marien. -Pois bem, então veja se encontra algo mais sobre esta deusa. -Tudo bem. Vais descer hoje? -Vou daqui a pouco, prepare os cintos, por favor. O celular de Marien tocou. -Bom dia minha querida! -Bom dia Urs. -Como está por aí? -Tudo bem. -Estou no Louvre. -Como você é chique. - disse ela brincando. -Tem um fax aí? Vou te mandar uma cópia dos manuscritos. -Por isso que eu amo você... - disse ela sorrindo. -É mesmo é? -Davide qual o número deste fax? - Davide lhe disse os

números e ela passou para Urs.

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-Ok, daqui a poucos minutos mando para você. -Obrigada, vai ficar até quando aí? -Vou embora amanhã de manhã. -Tudo bem, hum... eu sinto falta de Paris. -Sim, para nós isso aqui é um paraíso. Marien riu e ouviu o sinal do fax, Davide aceitou a ligação e os

manuscritos começaram a ser passados. -Verdade. -Preciso desligar. Tenho um almoço importante. -Huum... -Não é isso que estás pensando. -Não estou pensando nada. -Sei. Até mais minha querida, beijos. -Até, beijos. Marien pegou as folhas e começou a ler. Muitas partes estavam

ilegíveis, lia tudo e algumas partes lhe chamavam a atenção. -“Ouviu-se um grande estrondo e o chão tremeu, não se via

mais nada, e não se via mais a extensa montanha, o que era não é mais, o que se via não se vê mais. O homem foi calado, o mal extirpado, as sombras estão soterradas. Ancona não é mais Ancona. O fim está próximo, só levo uma parte, a outra a mãe protege. Sou um infeliz, deixo com ela meio homem, e todo um coração. Mas a sombra me acompanha, acho que ela nunca vai me deixar.”

Em outra página leu-se: -“O monstro de duas faces irradia o brilho. Seu brilho é a

morte”. Mais abaixo depois de uma rasura que não se podia ler. -“A mãe vingou-se e guarda o segredo. Terra tenha pena da

mãe. Homem tenha medo da mãe.” -“A nuvem negra cega os olhos dos monstros e meus ouvidos

estão surdos. Tudo está onde deveria estar menos eu” -“O mar é renovador de almas. As almas puras não sucumbem

ao desespero e não se afogam no mar da maldade. O barco do paraíso está ali, colhendo as almas sofredoras. Hoje sonhei que um anjo me tirava do mar, eu não engolia água, apenas flutuava, eu fugi, ele teve pena de mim, mas eu não”.

-“Um homem não pode carregar uma moeda que não cabe no seu bolso”.

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-“O destino de Ancona reza de joelhos, e faz oferenda com os braços levantados. A mulher um dia saberá a verdade, a mãe mostrará e a filha obedecerá. Mas aquele que espia, será cegado pelos seguidores, assim como aquela que cantava ficou muda”.

-“Aquele que está perdido irá encontrar na escuridão do labirinto dois caminhos, um lhe trará a paz, o outro o medo, terá uma mão para segurar, esta mão será a chave do seu caminho. A mão será escolhida pela besta que levará tudo ao perdido, mas a luz irradiará de suas entranhas, pois será abençoado pela mãe e será libertado”.

-“A vista do penhasco era a mais bela que já vi, parecia que Deus dormia no horizonte, quando se levantará em sua ira? Seus olhos estão fechados para a vergonha e covardia. O diabo é mais reluzente que parece. Tira e esconde, o que esconde não será para sempre. Meu coração aqui ficou e minha mera devoção um dia será revelada e a alma que está presa será salva. O negro véu não será em vão e a cruz do meu peito não me crucifica”.

-Ele assina Sir Damon Asch. -Este aqui não parece a mesma letra, veja! - disse Davide

entregando a ela. -“Não feche os olhos para sua fé, eu estarei contigo até o fim,

e quando o fim chegar a nuvem que nos separa será dissipada e estaremos juntos. O diabo é mais vil que parece, sua morte será a glória. Não tenho a língua, mas meu coração está intacto e podes ouvir através de meus pensamentos. Meu fim não será o fim, mas meu dia chegará, e quando o fim chegar, eu conhecerei o começo”.

-Isto é de outra pessoa, está assinado M.D. Quem seria M.D.? - disse ela.

-Este era o manuscrito que o padre queria ver. - disse Davide -Não entendi muita coisa.

-Bom, eu também não entendi, tenho que decifrar isso, este templário esteve aqui, viu o que estava acontecendo, mas fala em parábolas.

-Hum... estes escritos foram escritos com uma agonia não? Quem é a mãe que ele fala?

-Pode estar se referindo a esta deusa, a mãe da vida. -Um cruzado não faria referência assim de uma deusa pagã. -Realmente não faria, mas se ele não estava falando da deusa,

estava falando de quem?

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-O que é nuvem negra? -Ele se referiu duas vezes ao negro, uma é a nuvem, a outra o

véu negro. E também não fala nada da maldição ou da mulher que a lançou. Acho que isso é mito.

-Provavelmente. - o celular de Davide tocou. -Bom dia padre... está tudo bem por aqui, o senhor vai gostar

de saber o que temos em mãos. O manuscrito do cruzado... sim o senhor Barker acabou de nos mandar do Louvre... ele quer falar com a senhorita. - Marien pegou o telefone.

-Bom dia padre. -Bom dia Srta. Stewart. Vejo que já conseguiu o manuscrito. -Sim estava no Louvre, é fascinante. -O que diz? -Está em parábolas, tem que ser decifrado, não vi sentido em

muitas coisas. Muitas coisas que ele escreve parecem um desabafo mais que um relato, mas há coisas aqui que estão ocultas, temos que descobrir seu significado.

-Sim, estarei indo para Ancona amanhã e então veremos isso. -Tudo bem. -Até lá, adeus. -Adeus... vejamos, porque Urs me mandou esta carta? Será que

estava com os manuscritos? Vou ligar para ele e perguntar. -Sr. Mollinaro! - gritou uma voz assustada fazendo Marien e

Davide pularam da cadeira e correram para fora da tenda. -O que foi? -Uma parte lá embaixo desmoronou. -O que? -Alguém se feriu? -Não. -Vamos descer Davide. Marien e Davide correram e pegaram seus kits básicos

atrelando seus cinturões na cintura e indo ao buraco para descer, havia uma nuvem de poeira, Marien iluminava com a lanterna.

-Vocês estão bem? - perguntou ao Celo e Vanna. -Sim, foi esta parte aqui que caiu, já estava desmoronada, mas

uma pequena camada desceu. Marien colocou a lanterna para cima olhando o teto e suas

laterais.

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Entre o amor e a fé

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-O que é esta estrutura aqui? -Parece uma parede, mas como estava encoberta não sabemos

o que é agora muito menos. - Marien chegou mais perto. -Cuidado Marien, não se aproxime, pode cair mais terra. -Que inscrição é esta? - Davide se aproximou e iluminou mais. -Parece latim, mas isso aqui não é latim, parece embaralhado.

Um latim misturado com hebraico? -Que símbolo é este? Eu nunca vi antes, parecem geoglifos,

mas não os conheço. -Eu também não. -Vanna fotografe isso. Davide peça aos homens para descer

aqui, escore este teto e tire esta terra daqui, quero ver o que tem atrás disso. E peça para descerem holofotes aqui, estas lanternas não ajudam muito, quero este local mais iluminado.

-Já mandei providenciarem os holofotes, estão trazendo cabos para a elétrica, amanhã já estará feito.

-Ótimo, amanhã quero esta terra fora daqui. -Tudo bem. Marien andou para o outro lado da igreja e continuava olhando

para as paredes. Havia suportes para estátuas, mas as estátuas não estavam, chegou bem perto de um lateral da parede e iluminou de perto, passou os dedos e percebeu que ali haveria uma espécie de mosaico, mas que não estava parecia que haviam sido arrancados.

-Houve um saque aqui. Vanna me passe uma máquina. Vanna que tinha duas máquinas no pescoço deu uma a ela e

Marien bateu fotos daquela parte da parede, chegou mais na frente na lateral do altar e havia uma porta de madeira maciça.

-Davide. - ele correu até ela. -Esta porta já foi aberta? -Já, dá num corredor e numa sala, há alguns entulhos de

móveis, mas nenhum relicário. -Me ajude a abrir. Os dois empurraram forçosamente e a porta se abriu, os dois

entraram pelo corredor e avistaram uma porta com uma saleta, estava como Davide disse.

-Esta parte já está toda fotografada, está na pasta que eu lhe dei hoje.

-Sim eu vi. Nenhum papel, nenhum relicário, livros, nada?

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-Nada. Completamente vazia. - O walk talk de Davide tocou. -Davide, é melhor saírem daí, está vindo uma tempestade, nós

temos que cobrir a entrada. -Temos que subir. Saíram e olharam para o céu, uma chuva estava vindo. Marien

foi para a tenda pegou tudo e colocou na mochila. Marien foi para casa e ia calmamente pela estrada dirigindo

quando um homem que estava parado na beira da estrada parado lhe chamou a atenção. Parecia que a estava olhando. Marien olhou para ele e virando o pescoço para trás, o achou tremendamente estranho. Virou-se para frente e dirigiu para casa. Já começava a chover quando chegou. Soltou suas coisas na mesa e foi direto para o chuveiro, estava imunda. Depois foi ver os manuscritos e ligou para Urs.

-Oi. -Sabia que estava com saudades minhas - disse ele rindo. -Não seja presunçoso. -Então não ligou por minha causa? -Não. - Urs suspirou fundo com ar zombeteiro. -Porque esta

carta estava junto com o manuscrito de Sir Asch? -Foi encontrada junto. -Ninguém fez algum estudo sobre Sir Asch ou descobriu quem

é este M.D.? -Houve estudos de um professor aqui da França, mas sua

pesquisa foi interrompida, ele morreu alguns anos atrás e sua pesquisa nunca foi encontrada. Então nada se sabe sobre isso e nem quem seria este tal M.D. Leia a carta para mim.

-Não está ocupado? -Estou no hotel, nu, ia tomar banho. -Urs, não precisava ser assim explícito. - Urs riu. -Ah, era só para provocar. -Coloque um robe. -Por quê? -Porque eu prefiro imaginar que você está de robe e não nu. -Me deixe assim. -Se não colocar não lerei. -Está bem. - demorou alguns segundos -Pronto agora leia. Marien leu o manuscrito do tal M.D. -Que profundo. Parece escrito por um profeta. - disse Urs.

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Entre o amor e a fé

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-Verdade. Ou por uma mulher. - disse ela rindo, Urs soltou uma gargalhada.

-Bom, ele era um cruzado, com fé inabalável, mas talvez ele estivesse tendo problemas com sua fé e alguém o estava encorajando a seguir em frente. Talvez seja uma carta de outro cruzado. Se ele estava sozinho, é porque se separou de seus companheiros. - disse ele.

-O que ele quis dizer com não tenho língua? -Talvez seja uma expressão, ele está escrevendo uma carta, não

usa a língua, o que é uma pena. -Urs, quer parar, que safado! - disse ela rindo. -Não disse nada demais, você é que está entortando tudo. -No manuscrito de Sir Asch, ele fala em nuvem negra. -Talvez seja o período difícil que estavam passando. Mas pode

ter um significado específico, que ainda não apareceu. -Bom, me parece que aquilo tudo foi um grande inferno. -Não fala nada da maldição? -Não, está em parábolas, vou descobrir o que tudo significa.

Encontramos uma estatueta de uma deusa pagã na igreja. -Isso está ficando bom. O que uma estatueta dessas fazia numa

igreja? -Não faço idéia, mas a igreja está vazia, não há nada lá, não

parece uma igreja Urs. -Talvez não seja. Talvez seja um antigo templo e esta dita igreja

esteja em outro lugar. Mas a estátua não era de Cristo crucificado? -Era, isso é que não entendo. -Vai entender daqui a pouco você acha as peças, você é muito

inteligente. Mas se eu puder ajudar em alguma coisa é só me ligar. -Obrigada. Vou desligar, vou deixar você tomar seu banho. -Ah muito obrigado senhorita. -Boa noite. -Boa noite. Ah! Marien! -O que? -Eu continuo nu, não coloquei meu robe. -Sabia que não. - disse rindo. Marien se jogou na cama com o notebook e as páginas do

manuscrito e tentava interpretar as parábolas em voz alta. -“Não tenho a língua, mas meu coração está intacto e podes

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ouvir através de meus pensamentos”. Bom, além de ele não usar a língua para escrever. - disse dando uma risadinha lembrando-se da brincadeira de Urs -Pode ser que estava preso em algum lugar ou impossibilitado de se falarem pessoalmente. “Meu fim não será o fim, meu dia chegará”. O que isso quer dizer? Meu fim não será o fim, um egípcio diria isso, acreditavam na vida após a morte. Mas um cruzado não falaria desse jeito. Este diabo pode não ser o diabo em si, mas uma pessoa com tamanha maldade que foi comparado à ele.

Marien ouviu uma batida forte e levou um susto. Levantou e foi até a sala e à cozinha não viu nada, olhou as portas e janelas e estavam trancadas, olhou para fora tentando ver alguma coisa, mas tudo estava calmo. Não entendeu de onde veio o barulho, mas deu de ombros, voltou para o quarto e continuou lendo e pesquisando na internet, ficou ali até tarde da noite e foi dormir. Choveu a noite toda e na manhã seguinte Marien pegou o carro e foi para a escavação, Davide já a estava esperando.

-O pessoal está terminando de retirar a terra de lá, vamos ver se conseguimos entrar.

Os dois desceram e alguns homens estavam colocando alguns holofotes para iluminar e eles foram até a porta.

-Vanna já bateu fotos daqui? -Sim senhorita. -Bom, a porta parece emperrada, me ajudem a empurrar. Os três encostaram-se na porta, contaram até três e

empurraram com toda força e ela abriu, deram num corredor sem nenhuma porta, iluminaram com as lanternas e olhavam as paredes, não tinha nada, mas seguiram o corredor até o final.

-É sem saída. -Que droga é essa? Uma porta que dá para o nada? Marien passava a lanterna iluminando a parede no fim do

corredor para ver se encontrava algo, deslizava a mão sobre as pedras. -Eu não entendi, mas esta passagem deve ter sido fechada. -Este corredor me dá calafrios. - disse Vanna. -Se era uma passagem e foi fechada, deve haver algum sinal de

onde era. Marien iluminou uma marca na parede, chegou mais perto para

ver e com a mão tateava a parede, pegou um pincel e passou numa parte da pedra para tirar o pó, ela apertou a pedra e ela moveu-se um

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pouco. Nisso um jato de uma espécie de gás saltou da parede e atingiu o rosto de Marien, ela deixou a lanterna e o pincel cair, gritou com as mãos nos olhos e foi para trás, Davide e Vanna que estavam mais distantes, cobriram os olhos com os braços e foram para trás também. Marien caiu no chão gritando.

-Marien! - Davide mais que depressa tentou tirar as mãos dela do rosto. -Vanna me ajude aqui! - gritou ele e Vanna segurou as mãos dela. Davide rapidamente abriu sua pochete atrelada ao cinturão e retirou um vidro com soro destilado e jogou nos olhos dela -Calma Marien, não coloque as mãos. - ele pegou um lenço -Dê-me o cantil Vanna. - ela passou rapidamente para ele. Davide molhou o lenço com água e colocou nos olhos dela e pegou o walk talk. -Mauricio eu preciso de um cinturão duplo, desça um rápido. -Vanna tire uma amostra disso, fotografe a parede e leve para o laboratório rápido, preciso saber o que é isso.

-Pode deixar. - disse ela colocando um óculo de proteção e revirando sua mochila.

Davide pegou Marien no colo e rapidamente foi até abaixo da entrada da escavação. Maurício já havia descido o cinto e ele colocou sobre seus quadris.

-Segure-se em mim. - ela sentindo seus olhos queimarem, tentou segurar-se no pescoço de Davide, estava zonza -Pode puxar! - gritou Davide e a roldana começou a puxá-los para cima. Quando chegaram ao topo, dois homens ajudaram a tirar os dois do buraco e foram para o carro -Calma Marien, eu vou te levar ao hospital.

-Davide meus olhos estão queimando. -Eu sei. Davide saiu a toda com a puckup e rapidamente chegou ao

hospital, deu a volta no carro e abriu a porta, pegou Marien no colo e entrou hospital adentro gritando. Uma enfermeira veio correndo e a levou até uma sala e chamaram o médico. Davide ficou ali com ela até o médico chegar.

Marien desmaiou, Davide ficou apavorado e o médico entrou. -O que houve? -Estávamos nas escavações, um gás saiu da parede e atingiu os

olhos dela. -Espere lá fora, vou examiná-la. O médico foi examiná-la e duas enfermeiras a colocaram numa

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maca e a levaram à outra sala. O celular de Davide tocou. -Sim... padre eu estou no hospital, aconteceu um acidente com

Marien... eu não sei algo atingiu os olhos dela, uma espécie de gás... sim senhor. - Davide ligou para Celo. -Celo já pegou a amostra?

-Peguei e eu nem faço idéia de onde isso saiu. -Pois descubra o mais rápido possível e me ligue. -Sim senhor. Davide ficou na sala de espera por um bom tempo até que o

padre Sebastien chegou e Davide o abraçou nervoso. -O que aconteceu? O que a atingiu? - perguntou o padre. -Uma espécie de gás, uma fumaça, eu não sei direito, foi muito

rápido, eu a trouxe o mais rápido possível. -Já mandou analisar? -Já. -Onde vocês estavam? -Encontramos uma porta e entramos, deu num corredor sem

saída, acho que ela encontrou algo na parede e tocou e um jato saiu dela e a atingiu em cheio nos olhos.

-Meu Deus Davide nós estamos falando de uma igreja e não de uma pirâmide egípcia, como isto pode ter acontecido?

-Não faço idéia. Os dois ficaram ali mais um tempo até que o médico chegou. -Ela está no quarto, já acordou. -Como ela está? -Sinto muito, mas ela está cega. -O que? -Não entendo o que aconteceu, as córneas estão intactas, mas

ela tem uma película nos olhos, e não pode ser retirada, senão a íris será danificada.

-Uma película? -Como assim? Ela vai ficar cega? -É o que parece, nunca vi algo assim. Teremos que fazer mais

testes. O padre ficou ali parado como uma estátua olhando para o

médico. -Não pode ser temporário? -Padre, não faço idéia, nunca vi algo que pudesse causar uma

coisa destas. Vou ver o que posso fazer, consultar outros médicos.

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-Podemos vê-la? -Sim, está no quarto três. Os dois foram até o quarto e viram Marien deitada na cama

com curativos nos olhos. -Marien? - disse Davide calmamente tentando esconder seu

nervosismo e ela se virou -Como você está? -Cega! Como acha que estou? -O padre está aqui. - Padre Sebastien foi ao seu lado e pegou

gentilmente na sua mão. -Olá Srta. Stewart. -Oi padre. -Parece que nos conhecemos numa má hora. -Parece. -Eu vou descobrir o que é isso e vamos te ajudar. -O senhor pode me explicar o que uma armadilha com gás,

que era usada nas tumbas a dois mil anos atrás, está fazendo numa igreja da idade média?

O padre sem saber o que responder olhou para Davide. -Não faço idéia. -Padre eu já entrei em tumbas, já escavei pirâmides, já entrei

em cada buraco que até Deus duvida, já achei armadilhas de todo o tipo, jamais pensei que iria achar algo assim aqui.

-Srta. Stewart se isso é o que eu estou pensando, temos que esperar a análise para saber o que vai acontecer.

-Eu sei o que vai acontecer, ou isso vai passar em alguns dias ou ficarei cega para sempre. E por favor, não me chame de senhorita. - disse nervosa e o padre respirou fundo tentando ficar calmo.

-Marien, isso não vai acontecer. - Davide pegou o celular e ligou para Celo.

-Celo, já descobriu alguma coisa? -Nunca vi isso antes, mas estou pesquisando. - respondeu ele e

o padre pegou o telefone. -Celo, se eu precisasse fazer a análise, não tinha contratado

alguém para fazê-lo. -Eu estou tentando padre, mas não tenho equipamento aqui

para isolar isso. -Misture a amostra com nitrato de antrofetamina, tem na

minha casa, corra até lá e pegue, a amostra deve ficar verde e virar

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uma pequena pasta, depois veja seu componente e veja de que planta que é, e veja a porcentagem de concentração.

-Sim senhor. O padre deu o celular para Davide que o olhava com os olhos

arregalados, poucas vezes vira o padre nervoso e ele segurou a mão dela novamente.

-Você vai ficar bem Marien, não se preocupe. - o médico entrou no quarto.

-Padre, eu estou vendo as possibilidades de uma operação para tentarmos retirar isso.

-Não! - disse Marien rapidamente. -Srta. Stewart, não vejo outra alternativa. -Vamos esperar o resultado e torcer que seja de 30 %. -Padre, o que isso quer dizer? - perguntou Davide. -Se esse gás é feito de uma planta chamada Clautópolus, pode-

se fazer esse gás, ele emite quando é exposto ao calor e é venenoso, ele cria uma membrana gelatinosa fina quando em contato com algo úmido, por isso causa a cegueira. Até 40 % de concentração ela se dissipa em alguns dias, mais que isso ela se solidifica e no caso dos olhos, seria impossível retirar sem que Marien ficasse cega de vez, em dias ele queimará a retina e a córnea.

O médico ficou boqueaberto vendo a explicação do padre. -De onde saiu uma coisa destas? -É o que estou me perguntando doutor. -Meu Deus! - disse Davide. Horas se passaram e o padre ligou mais duas vezes para Celo

para saber o resultado da análise, e ainda não tinha resposta. -Eu não vejo vocês, mas querem parar de andar vocês dois? -

disse ela sem se mover na cama. -Como sabe que estamos andando? -Davide eu não estou vendo, mas eu ainda escuto, sua bota

range quando você anda. O padre sorriu para Davide e colocou a mão no braço dele e

foi perto dela. -Marien você quer avisar alguém? -Não. Primeiro eu quero saber do resultado, depois eu aviso

quem precisar ok? Não quero ninguém em pânico sem necessidade. -Você é corajosa.

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-Engano seu. Alguém pode me dizer se pelo menos a minha cegueira valeu de alguma coisa? Eu estava procurando uma porta, pelo menos alguma passagem se abriu naquela parede?

-Não. -Não é possível, eu empurrei a pedra, mesmo que tenha sido

uma armadilha, alguma coisa teria que ter aberto. -Talvez fosse só uma armadilha, se há uma passagem lá, pode

ser em outro lugar e não onde você mexeu. -O senhor realmente acha que as ruínas são de uma igreja? -Marien, eu primeiramente tive certeza que era a tal igreja da

lenda, mas muitos indícios vão ao contrário. Não vou negar que estou confuso.

-O senhor acha que é um templo? - perguntou Davide. -Um templo com uma cruz de Cristo não existe. -Uma igreja com armadilhas e estátuas pagãs também não. -

disse Marien irônica. -Bom, então teremos que descobrir qual das duas era. -Isso se eu voltar a enxergar de novo. -Você vai, tenha fé. - Marien tentou rir. A enfermeira entrou carregando o cinturão de Marien. -Senhora eu trouxe isso, tem um celular que não para de tocar. -Por favor, pode abrir e olhar Davide. -Bom... - disse ele por um segundo. -Têm duas ligações de

Sarah, três ligações de Urs. O que fazer? Quer que retorne? -Não. -Eles vão ligar de novo. -Desligue, só vou falar com eles depois. - Davide fez o que

Marien pediu. -Você conseguiu traduzir alguma coisa do manuscrito? -Não me lembro direito das frases contidas lá, mas pelo menos

eu poderia sugerir que véu negro, nuvem negra ou sei lá o que ele se referia talvez fosse algo como isso... - disse ela mostrando o rosto com a mão e falando irônica.

-Pode até ser ou não. Depois vamos decifrar. -Ei, eu me lembrei, ele fala algo assim, “Aquele que espia será

cegado pelos seguidores” ou algo assim, isso pode ser uma referência direta a esta armadilha. - disse ela e o padre e Davide se olharam.

-Bom isto parece certo.

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-Acha que este cruzado sabia desta armadilha? -Somente se ele a viu funcionar, ou ele a montou. -Se ele se referiu diretamente a esta armadilha, talvez todas as

suas outras colocações também se refiram a tudo que aconteceu ali ou do que está por detrás disso.

-Agora isso está me animando. - disse Davide e seu celular tocou.

-Davide eu consegui, a porcentagem deu em 32%. - disse Celo. -Tem certeza? -Sim, refiz três vezes, deu a mesma e é mesmo a planta que o

padre falou, está confirmado. -Tudo bem Celo, faça mais uma vez para ter certeza. -Tudo bem. - Davide desligou o celular. -32%. Três análises, mesma planta. -Ai meu Deus! - disse Marien rindo nervosa. -Abençoado seja senhor. - disse o padre levantando as mãos

para o céu -Viu? Temos a esperança que isso passe em alguns dias. -Meu Deus e se isso não acontecer? -Vai acontecer, tenha fé. -O que fazemos agora? -Vou pedir ao médico que te libere e você possa voltar para

casa, não vai adiantar ficar aqui, não há nada que ele possa fazer você somente tem que passar um remédio que vou providenciar para que seus olhos não sequem e temos que esperar isso se dissipar. Agora que a membrana já se formou ela precisa ficar sempre úmida.

-Ai Deus, quantos dias isso vai levar? -Isso não sei responder, mas quando você começar a perceber

pequenas réstias de luz, é porque ele está começando a ceder. -Meu Deus isso é um alívio. - disse Davide. -Vou falar com o médico. - o padre saiu e Davide chegou

perto dela e pegou sua mão. -Você vai conseguir, eu acredito nisso. -Obrigada Davide. O médico deu alta a Marien, os dois a levaram para casa. Ela

estava com as bandagens nos olhos e o padre a guiou até o sofá. -O que quer fazer agora? - perguntou ele. -Vou esperar, enquanto isso eu preciso de Sarah aqui. -Marien eu não posso trazer Sarah para cá.

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-Padre, o que quer que eu faça? Fique aqui sentada esperando sem fazer nada?

-Se você quiser voltar a Londres até isso passar, tudo bem. -Não, eu quero ficar aqui, mas quero Sarah aqui, ela pode me

ajudar. -Isso eu não posso fazer. -Acho bom que possa. -Vou tentar está bem? - Marien assentiu com a cabeça -Quer

falar com alguém agora? -Ligue meu celular, por favor. No que o padre ligou seu celular, recebeu uma ligação de Urs. -Marien, eu estou tentando te ligar a um tempão, porque não

atendeu? -Desculpe Urs, mas eu tive um problema aqui. -Não diga, que tipo de problema? Estou agoniado o dia todo. Marien explicou tudo o que houve a Urs que teve um acesso

no telefone. -Urs se acalme, eu estou bem. -Como pode estar bem? Eu sabia que tinha algo errado. -Querido, por favor, me escute, isso vai passar em alguns dias,

não se preocupe. -Você tem que voltar para Londres. -Não, eu vou ficar aqui. -Marien, o que você tem na cabeça? -Urs, não se preocupe, eu estou bem. -Tudo bem, eu vou fazer o que me pede, mas, por favor, me

informe de tudo senão vou morrer de agonia aqui. -Tudo bem, eu te digo tudo que está acontecendo está bem? -Está bem. Eu te ligo mais tarde, beijos. - Urs desligou. -Você não pode ficar aqui sozinha, vou falar com Gina para

ver se ela pode ficar aqui com você, mas eu estarei direto com você está bem? Não se preocupe, eu vou cuidar de você. - disse o padre. Marien respirou fundo, estava uma pilha de nervos, mas estava tentando manter-se controlada -Podemos tirar isso.

O padre sentou ao seu lado e começou a tirar o curativo de seus olhos cuidadosamente. Quando retirou, olhou demoradamente para os olhos dela.

-É impressionante. Seus olhos não mudaram em nada.

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-Não aparece nada? -Não, pelo menos a olho nu, é como se não existisse nada

neles, o verde de seus olhos estão como o mar, parece que nada aconteceu a eles. - padre Sebastien ficou meio hipnotizado olhando para aqueles olhos intensamente verdes. Marien não conseguiu segurar e um nó lhe veio na garganta -Vai dar tudo certo, isso vai passar. - disse ele mansamente e ela somente assentiu com a cabeça.

-Vou voltar para a escavação, volto mais tarde. - disse Davide. -Vou chamar Gina, para ela preparar um jantar e depois você

deve descansar. -Está bem. O padre ficou o tempo todo com ela, Gina preparou o jantar e

ele a ajudou a comer. -Pareço uma criança. -Não tem problema, você não está acostumada a comer sem

ver não é? - disse ele sorrindo e colocando com cuidado uma garfada de comida na sua boca.

-Não, e nem me lembro de ganhar comida na boca. -Há momentos na vida em que as pequenas coisas que não

damos importância, se tornam muito necessárias e caras. Marien parou por um momento, aquilo ela nunca havia se

apercebido. -Talvez tenha razão. - de repente ouviram um barulho intenso

vindo de fora e algumas luzes vindo do céu -O que é isso? O padre levantou da cadeira e olhou pela janela. -Parece um helicóptero. O padre saiu na porta e o vento provocado pelas hélices batia

nele a toda. O helicóptero pousou no imenso gramado e um homem saiu de dentro dele e foi se aproximando da casa.

-Padre Sebastien? -Sim. -Sou Urs Barker. -Sr. Barker, que surpresa, não esperava pelo senhor. -Imagino que não. Onde está Marien? -Lá dentro. Por favor! - disse ele dando com a mão para que

ele entrasse. Urs entrou como um furacão para dentro da casa e Marien

sem saber de nada estava imóvel na cadeira.

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-Marien! - disse ele nervoso a avistando. Correu e se ajoelhou na sua frente.

-Urs? - disse ela sorrindo e tentando tocar-lhe o rosto. -Meu Deus, como isso foi acontecer? -O que está fazendo aqui? -Acha que eu conseguiria ficar sentado em casa sem lhe ver? -

Marien riu e chorou ao mesmo tempo e o abraçou fortemente. O padre ficou ali vendo a cena -Eu vim te buscar.

-Urs, eu não vou voltar. -Marien, por favor, eu vou te levar a um médico em Londres. -Urs, você sabe que não há nada a fazer, deu 32 %, vai passar. -O que quer que eu faça? Que deixe você aqui desse jeito? Isso

pode estar errado. -Um médico não poderá fazer nada Sr. Barker. - disse o padre. -Maldição! Eu sei disso, mas esperar me parece um terror. -Urs! - disse ela com as mãos no rosto dele -Eu preciso que

você fique calmo para eu conseguir ficar calma também. -O senhor vai passar a noite aqui? Já é tarde. -Vou. -Então eu me vou e vou deixá-los sozinhos. -Tem um quarto de hóspedes aqui? -Sim, tem dois quartos, e com as camas limpas. - disse ela. -Ótimo, eu preciso de um para meu piloto. -Padre nós nos vemos amanhã? -Sim. Se precisar de mim ou de Davide, ligue a qualquer hora. -Pode deixar que eu cuido dela esta noite padre. - disse Urs. -Tudo bem. Boa noite. - ele foi embora. Urs a olhou, uma agonia estava estampada nos seus olhos.

Marien passou os dedos no seu rosto e na sua testa. -Não está escondendo suas rugas de preocupação. -Você quer me matar do coração é? -Para um empresário você se preocupa demais. - disse ela com

um ar triste. Urs quis dizer algo, chegou a abrir a boca, mas engoliu as palavras -Alugou um helicóptero só para vir aqui?

-Eu comprei um. -Está louco? - disse ela espantada. -Louco eu sempre fui, já tinha visto para comprar, mas a

necessidade me fez dar o último passo.

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-Quando penso que você já fez todas as loucuras que podia você me surpreende.

-Eu poderia dizer o mesmo de você. -Me leva para o quarto, eu queria tomar um banho e me deitar. Urs a pegou no colo e a levou ao quarto. Entrou no banheiro,

ligou o chuveiro enquanto ela tirava sua roupa e ele a conduziu até debaixo da água. Ela tomou banho e ele ficou sentado na beirada da banheira sem dizer nada, ele a ajudou a se secar, e a levou até o quarto.

-Onde guardou suas camisolas? -Na gaveta de cima. Ele pegou uma branca e foi na sua frente a desdobrando. -Tudo bem, isso deveria ir para o guines. -Por quê? -Nunca vesti uma mulher. - Marien sorriu. -Sempre tem uma primeira vez. -Hum... o que digo para meus hormônios? -Por quê? -Marien, você está nua na minha frente e estamos no seu

quarto. - disse tentando brincar para espantar o imenso nervosismo que lhe corroia por dentro.

-Bom, diga a eles que você está impossibilitado de fazer sexo comigo infinitamente.

-Hum... isso eles já cansaram de ouvir e nunca me deram atenção. - ele a ajudou a vestir a camisola.

-Então, diga que esta noite eu somente queria seus braços. Porque meus olhos não podem te ver.

Lágrimas lhe rolaram dos olhos e Urs pensou que ia desabar ali na frente dela e sentiu uma vontade imensa de chorar, segurou seu rosto e beijou levemente seus lábios e a abraçou fortemente. Ficaram ali um tempo, ele a levou para a cama e a deitou com cuidado. Tirou suas roupas, puxou as cobertas e a abraçou para que se aninhasse nele e ficaram mudos até que ela adormecesse. Marien somente queria se sentir protegida, tentando afastar o terror que estava em seu coração e Urs queria a proteger em seus braços.

Marien dormia, mas seu sono estava agitado, estava tendo um pesadelo. Sonhava que estava num corredor de pedras e ela corria, havia algo atrás dela, estava em pânico, via alguém chamar seu nome

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de uma maneira mórbida, havia pouca luz ali e de repente toda a luz dissipou-se, parou ofegante, somente podia-se ouvir sua respiração. Um rosto horripilante e fantasmagórico iluminou-se bem na sua frente e disse seu nome. Marien soltou um grito agudo, pulou na cama ofegante e debatendo-se, pois abriu os olhos e continuou tudo escuro. Urs levou um imenso susto e sentou na cama a segurando.

-Marien! - ela tentou se esquivar dele, pois não tinha se dado conta que já havia acordado e estava na sua cama com Urs -Marien, calma, sou eu, Urs! - ele a agarrou com força e ela veio a si e parou.

-Urs! -Calma querida, foi só um sonho, eu estou aqui. - Marien o

abraçou forte, tentando recuperar o fôlego, mas tremia, parecia terrivelmente amedrontada -Calma, deite aqui. - Urs a abraçou forte e acariciava seus cabelos -Foi só um pesadelo, quer uma água?

-Quero, por favor. **********

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