LIVRO GUIA DA EXCURSÃO B Geologia da Estrutura...

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VI ENCONTRO DE PROFESSORES DE GEOCIÊNCIAS DO ALENTEJO E ALGARVE MOURA, Março de 2012 LIVRO GUIA DA EXCURSÃO B Geologia da Estrutura Anticlinorial de Moura-Ficalho Orientação de J. Tomás Oliveira

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VI ENCONTRO DE PROFESSORES DE GEOCIÊNCIAS DO ALENTEJO E ALGARVE

MOURA, Março de 2012

LIVRO GUIA DA EXCURSÃO B

Geologia da Estrutura Anticlinorial de Moura-Ficalho

Orientação de J. Tomás Oliveira

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INTRODUÇÃO

O Anticlinório (Antiforma) de Moura-Ficalho, com prolongamento para Portel, constitui uma das principais estruturas tectónicas da Zona de Ossa Morena. Está limitado a norte pelo rio Ardila, e mais além pela Falha da Vidigueira (sobre a qual está instalado o arco da barragem de Alqueva). A sul, é limitado pelo importante Falha de Ficalho-Valedelarco (Espanha), que provoca um deslocamento esquerdo de várias dezenas de quilómetros. Os calcários dolomíticos de Aracena (Espanha), do Câmbrico Inferior, onde estão instaladas as famosas grutas, são provavelmente a continuação dos seus equivalentes de Ficalho.

O Anticlinório de Moura-Ficalho tem muitas semelhanças, estratigráficas e estruturais, com o Anticlinal (Antiforma) de Estremoz e, também, com as estruturas de Serpa e Alvito, embora nestes últimos dois casos o grau metamórfico que afectou as rochas seja mais elevado.

Na Figura 1 está representada a Carta Geológica do Anticlinório de Moura-Ficalho, extraída da Folha 8 da Carta Geológica de Portugal na escala 1:200000, publicada pelo ex-Instituto Geológico e Mineiro, actual Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Nesta figura constam também as paragens principais desta excursão.

2

Carta Geológica de Portugal, esc ala 1:200000,

Folha 8. LNEG.

Extra ido da

VI Enc ontro de Professores de Geociências, Associação DPGA

Exc ursão A

FFig.1-Geologia do Anticlinório de Moura-Ficalho, com indicação das paragens

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NOTA SOBRE A GEOMORFOLOGIA

A geomorfologia da região é claramente dominada pelos relevos de dureza das serras da Preguiça, de Ficalho e de Malpique, todas com orientação geral de NW-SE, resultante da estruturação tectónica adquirida durante a formação da Cadeia Varisca, no final do Paleozóico. Entre Ficalho e Moura, a altura destas serranias vai-se atenuando em direcção a NE, situação esta que resulta dos eixos dos anticlinais que constituem o anticlinório estarem actualmente a mergulhar nesse sentido. Esta inclinação actual dos eixos das dobras deve-se, provavelmente, a basculamento(s) induzidos por falha(s) mais recentes (caso das falhas de Ficalho-Valedelarco; Beja, Vale de Vargo, e outras contemporâneas da Falha da Vidigueira). Na base das serranias acumulam-se depósitos de vertente

Além do relevo vigoroso, sobressaem grandes áreas aplanadas, em parte preenchidas por depósitos de areias , conglomerados e siltes acumulados em cones aluviais e rios, que se formaram no Paleogénico e no Miocénico superior , e ainda calcários palustres e calcretes. Estes depósitos sedimentares integram a designada bacia de Moura-Marmelar, que se estende até às regiões de Safara e Amareleja. Admite-se que estes depósitos detríticos resultaram em grande parte da reactivação sucessiva da Falha da Vidigueira, e da erosão das rochas do Paleozóico (Brum da Silveira, 1990 in João Pais et. al., 2012). Estes depósitos constituem actualmente excelentes terrenos agrícolas. Quando os depósitos não foram preservados da erosão aflora o soco varisco aplanado constituído dominantemente pelos designados Xistos de Moura.

GEOLOGIA

Neste livro guia só são descritas as unidades do Paleozóico

ESTRATIGRAFIA

Série Negra-PESN

Trata-se de uma sucessão de xistos negros com passagens de finas bancadinhas grauvacóides e de chertes negros, consideradas do Proterozóico Superior. Aflora mal na serra de Ficalho e no cabeço de Malpique, sendo também conhecida em sondagens.

Formação Dolomítica-CbD

Esta formação é dominantemente constituída por calcários dolomíticos de cor castanha-amarelada, duros, compactos. Por alteração meteórica transformam-se em terra rossa, sendo frequente a existência de estruturas associadas à carsificação, designadamente dolinas e algares (também conhecidas por sumidouros), grutas, etc. Na base desta sequência desenvolve-se localmente vulcanismo ácido, com tufos quartzo-feldspáticos e rochas vulcaniclásticas (tufitos), particularmente bem conhecidos na região de Enfermarias, 2kms a SE de Moura, aos quais estão associados sulfuretos polimetálicos. Por correlação com os calcários dolomíticos de Elvas, esta unidade é atribuída ao Câmbrico Inferior. Tradicionalmente, estes calcários dolomíticos são considerados em posição discordante sobre o soco proterozóico, o que não se observa nesta região devido à falta de bons afloramentos.

Na parte superior desta unidade é frequente a existência de um nível silico-ferruginoso, que tem sido identificado como marcador de uma importante lacuna estratigráfica correspondente ao Câmbrico Médio e Superior (Oliveira e Piçarra, 1986).

Complexo Vulcano-Sedimentar Carbonatado de Ficalho

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Este complexo é constituído por lavas ácidas, do tipo dos riolitos muito ricos em sílica (Vα3), rochas básicas do tipo dos basaltos toleíticos anorogénicos (Vβ3), que aparecem intercaladas em carbonatos (mármores), calcoxistos, rochas vulcaniclásticas finas (tufitos) e xistos tipo borra de vinho. O carácter bimodal deste vulcanismo sugere que esteve associada a distensão da crusta continental (Ribeiro et. al. 1992)

A idade deste complexo é objecto de controvérsia tendo-lhe sido atribuídas idades que variam do Câmbrico-Ordovícico ? (constante na Fig. 1), até ao Silúrico Superior-Devónico Inferior (Sarmiento e Piçarra, 2000). Esta última idade baseia-se na identificação de restos de conodontes ramiformes (Ozarkodina sp. ?)encontrados em mármores situados a 750m a nordeste do Monte Figueiral (NO de Ficalho). A adopção desta idade tem enormes implicações, nomeadamente: 1) a existência de enorme lacuna estratigráfica que abarca todo o Câmbrico Superior, o Ordovícico e grande parte do Silúrico;2) os liditos da base dos Xistos de Moura contêm graptólitos do Silúrico Inferior (ver adiante), portanto são mais antigos que os mármores, o que implica que estão em posição alóctone sobre o Complexo Vulcano-Sedimentar. Esta interpretação foi adoptada na recentemente publicada Carta Geológica de Portugal na escala 1:1000000, publicada pelo LNEG.

Complexo Vulcano-Sedimentar de Moura - Santo Aleixo - SXM

Também conhecido na literatura mais antiga como Xistos de Moura, ou mais recentemente por Complexo Filonítico de Moura (Araújo et al., 2005) é na realidade uma unidade com composição variada. As litologias dominantes são xistos escuros e metasiltitos finamente estratificados, luzentes, sericito-cloríticos, com alterações que variam de cores acinzentadas a acastanhadas. Uma particularidade muito marcada em todos os seus afloramentos é a presença de filonetes de quartzo, designados na literatura antiga como quartzo de exsudação. São vulgares filonetes redobrados, dobrados e lineares. Estas três variedades mostram que o quartzo pertence a três gerações independentes, provavelmente associadas aos três episódios de deformação que afectaram estes xistos.

Intercalados nestes xistos ocorrem liditos, rochas siliciosas escuras a negras, em bancadinhas centimétricas, que são mais frequentes na base do complexo. Durante muito tempo, os Xistos de Moura foram considerados como azóicos ou com idades atribuídas sucessivamente ao Câmbrico ou ao Ordovícico. A descoberta de fósseis de graptólitos do Silúrico Inferior nos liditos , designados por Formação da Negrita(Piçarra e Gutierrez-Marco, 1992), veio balizar melhor a sua idade. Por comparação com a região do Anticlinal de Estremoz e seu prolongamento para Barrancos, admite-se hoje que, além do Silúrico, estes xistos podem mesmo atingir idades devónicas, todavia não precisadas até ao momento.

Intercalados na sequência sedimentar ocorrem rochas ácidas félsicas de tipo riolítico e rochas vulcaniclásticas finas (tufitos), identificadas com o símbolo Vα2 e rochas básicas identificadas com o símbolo Vβ2. Segundo Araújo et. al., 2005,as rochas básicas são predominantemente basaltos, mas com duas assinaturas geoquímicas distintas: basaltos toleíticos, com características semelhantes aos basaltos das cristas médias oceânicas-MORB, que são considerados fragmentos de ofiolitos formados em fundos oceânicos; basaltos toleíticos e alcalinos, gerados em ambiente continental. Estes últimos chegam a apresentar estruturas em almofada, mostrando terem-se derramado em ambiente subaquático.

O Complexo de Moura mereceu recentemente interpretação distinta, como veremos a seguir.

TECTÓNICA E METAMORFISMO

Toda a sucessão litostratigráfica está afectada por três episódios de deformação: o episódio 1 é sublinhado por dobras de grande amplitude, com eixos orientados para NE e clivagem

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associada, bem marcadas na Formação Dolomítica e no Complexo Vulcano-Sedimentar e por dobras menores nos Xistos de Moura; seguiram-se mais dois episódios de deformação com clivagem associada, orientados para NW, que redobraram as estruturas anteriores.

Em termos de metamorfismo, as rochas básicas estão metamorfizadas na fácies dos xistos verdes e os xistos da Unidade dos Xistos de Moura estão metamorfizados na fácies da clorite, podendo mesmo atingir a fácies anfibólica.

Em termos de geodinâmica regional, Araújo et. al. 2005 identificam três sucessões com assinaturas tectono-estratigráficas distintas ( Fig. ): 1-uma sucessão inferior constituída pela sequência do Proterozóico Superiora Devónico inferior, em posição autóctone; 2-a sucessão dos Xistos de Moura, onde estão intercalados fragmentos da sequência litológica autóctone, escamas ofiolíticas que indicam a existência de fundos oceânicos, e rochas metamórficas de elevada pressão, nomeadamente xistos azuis e eclogitos, que no conjunto constituem uma mélange tectónica; 3- mantos ofiolíticos relacionados com o Ofiolito de Beja-Acebuches, que aflora na região de Quintos-Beja-Ferreira do Alentejo. Este empilhamento terá resultado do transporte tectónico para N, associado à obducção que ocorreu na sequência do choque entre a placa que contêm a Zona de Ossa Morena (Continente Gondwana) e a que contêm a Zona Sul Portuguesa (Avalónia).

Fig.2-Interpretação geodinâmica do bordo sul da Zona de Ossa Morena (Araújo et. al.,2005). 1-Soco proterozóico; 2 Sequência paleozóica autóctone (Câmbrico - Devónico Inferior); 3-Complexo Filonítico de Moura-- mélange tectónica: a - fragmentos da sequência autóctone, b - escamas ofiolíticas, c - eclogitos e xistos azuis; 4-Mantos ofiolíticos.

RECURSOS GEOLÓGICOS

O Anticlinório de Moura Ficalho enquadra-se na designada Faixa Zincífera da Zona de Ossa Morena, que se estende desde Portel até Ficalho. Houve em tempos exploração de zinco e ferro em minas de pequena dimensão (balsa, perto de Portel, Preguiça e Vila Ruiva, perto do Sobal da Adiça). A região tem potencial para a existência de massas de sulfuretos maciços de maior dimensão, como prova a descoberta deste tipo de mineralizações na região de Enfermarias, perto de Moura, e noutros locais, actualmente em estudo pela empresa mineira COLT Resources.

Além dos sulfuretos maciços, existe também potencial para a exploração de mármores, como prova pedreira existente perto de Ficalho.

Finalmente, saliente-se a importância do Aquífero de Moura, com reservas de água suficientes para abastecer todo o concelho.

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Teremos oportunidade de visitar a antiga mina de Vila Ruiva e a exploração do aquífero de Gargalão.

NOTA SOBRE A HIDROGEOLOGIA

Por Augusto Costa, LNEG

Numa região de baixa precipitação média anual (500 a 550 mm/ano), só uma conjugação de factores geológicos, estruturais e geomorfológicos, permite a constituição de aquíferos, cuja importância para o abastecimento público e particular, dos concelhos de Moura e Serpa, é inegável. Teremos oportunidade de visitar uma dessas origens subterrâneas de abastecimento público (furos do Gargalão)

O escoamento hídrico subterrâneo desta região é dominado pela existência de um aquífero de tipo cársico-fissurado que se desenvolve entre Vila Verde de Ficalho e Moura (Aquífero Moura-Ficalho). Foram identificados outros aquíferos, de menores dimensões, em parte recarregados por este (Figura 1):

- Aquífero Moura-Brenhas;

- Aquífero dos Calcários de Moura;

- Aquífero da Ribeira de Toutalga.

O conjunto dos aquíferos referidos constitui o Sistema Aquífero Moura-Ficalho.

O Aquífero Moura-Brenhas tem uma constituição litológica muito semelhante ao principal, predominando os calcários dolomíticos, e constitui uma dobra anticlinal a oeste de Moura. É recarregado por infiltração de água da Ribeira de Brenhas, depois de esta ser alimentada pela nascente das Enfermarias, que é uma das descargas naturais do aquífero principal.

O Aquífero dos Calcários de Moura é constituído pela cobertura cenozóica da zona de Moura e é recarregado subterraneamente pelo Aquífero Moura-Ficalho. Trata-se essencialmente de calcários e calcarenitos, mais ou menos argilosos.

O Aquífero da Ribeira da Toutalga é um aquífero confinado, situado provavelmente na base da cobertura cenozóica da zona de confluência das Ribeiras da Toutalga e de S. Pedro, e é recarregado por infiltração de águas destas duas ribeiras. O segundo destes cursos de água é alimentado durante a estiagem exclusivamente a partir da nascente do Gargalão, outra das principais descargas naturais do Aquífero Moura-Ficalho.

Saliente-se ainda a existência de ocorrências hidrominerais na zona, nomeadamente a concessão Pisões-Moura e a concessão Santa Comba e Três Bicas, além de uma possibilidade de revelação futura de uma nova concessão hidromineral com tradição popular conhecida por Banhos da Ferradura (Costa et al., 2005).

O Aquífero Moura-Ficalho é, como se pode constar no mapa do Sistema Aquífero da Figura 3, o mais extenso da região, com uma área total da ordem de 177 Km2, da qual apenas 77 Km2 correspondem a rochas carbonatadas. O suporte físico do aquífero é constituído por rochas carbonatadas do soco hercínico:

- Dolomitos do Câmbrico Inferior (Formação Dolomítica)

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- Mármores calcíticos e calcários dolomíticos, por vezes com intercalações de metavulcanitos,

do Ordovícico Médio ("Complexo Vulcano-Sedimentar Carbonatado de Ficalho

Fig. 3-Sistema aquífero de Moura-Ficalho, inventário hidrogeológico e rede de monitorização.

ROTEIRODA EXCURSÃO

A excursão inicia-se no castelo de Moura, para observação das antigas termas e o aquífero que lhe está associado.

Continua-se pela estrada de Moura para o Sobral da Adiça. No cruzamento com a estrada Ficalho-Safara vira-se para o NW e toma-se a estrada municipal que desta estrada parte para Santo Aleixo da Restauração. Toma-se de seguida o caminho para o Monte da Negrita (paragem 2)

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Regresso à estrada Ficalho - Safara, vira-se em direcção a Ficalho. Nas barreiras desta estrada, perto do Sobral da Adiça e em direcção a Ficalho, observam-se sucessivamente as rochas básicas do Complexo Vulcano-Sedimentar de Ficalho (paragem 3), calcários dolomíticos da Formação Dolomítica ,mármores, tufitos calcoxistos e xistos borra de vinho do Complexo Vulcano-Sedimentar de Ficalho( paragem 4), pedreira de exploração de mármores (paragem 5), e vulcanismo ácido riolítico (paragem 6). Após o almoço, visita à antiga mina deVila Ruiva (paragem 7) e exploração do aquífero do Gargalão, na terminação SE da Serra da Preguiça.

Paragem 1- Termas de Moura, Castelo

Introdução aos sistemas aquíferos da região: Moura - Ficalho, Moura - Brenha, Calcários de Moura e Ribeira de Toutalga.

Paragem 2

Esta paragem está localizada junto ao caminho de terra batida que sai da estrada municipal para Santo Aleixo da Restauração em direcção ao Monte de Zambujeiro e Monte da Negrita. Na berma, do lado norte do caminho, a cerca de 200m a leste de Monte do Zambujeiro, estão bem expostos xistos cinzentos luzentes e bancadinhas de espessura centimétrica de liditos. Estas bancadinhas estão afectadas por clivagem xistenta paralela à estratificação.

Este é o local onde Piçarra e Gutierrez-Marco, 1992 encontraram fósseis de graptólitos do Silúrico (Fig.4). Esta importante descoberta veio contribuir para clarificar a idade dos Xistos de Moura, onde os liditos estão intercalados.

Fig. 4-Afloramento, na barreira norte do caminho mostrando xistos e bancadinhas de lidito.

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Fig.5-Exemplares de espécies de graptólitos identificados no caminho para o Monte da Negrita- paragem 2. Todos os exemplares são da espécie Monogratus, com excepção do exemplar h, que representa espécie Monoclimacis e o exemplar i que representa a espécie Pristiograptus.(Piçarra e Gutierrez- Marco, 1992).

Voltando à estrada asfaltada, nas barreiras desta perto do cruzamento com o caminho anterior podem observar-se as características típicas do Xistos de Moura, nomeadamente a grande quantidade de filonetes de quartzo, e também dobras menores do 2º episódio de deformação. (Figs 6 e 7).

Fig. 6-Filonetes de quartzo nos Xistos de Moura

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Fig. 7-Dobras menores do 2º episódio de deformação

Paragem 3

Nas barreiras da estrada Ficalho-Safara, perto dos montes Palhais Novo e Palhais Velho, estão expostas rochas básicas afectadas pela clivagem xistenta e metamorfizadas para a fácies de xistos verdes. A cor esverdeada que as rochas apresentam deve-se à presença de clorite (Fig. 8)

Fig. 8- Rochas básicas meteorizadas afectadas por clivagem xistenta

Paragens 4

Ao longo da estrada observa-se sucessivamente: a) calcários dolomíticos da Formação Dolomítica, no alto da estrada. Estas rochas apresentam-se em geral muito alteradas e afectadas por fenómenos associados à carsificação, designadamente pequenos algares preenchidos por terra rossa (Fig. 9). Quando mais sãs, as rochas mostram-se compactas, cor castanha a amarelada. Notam-se ainda pequenos veios preenchidos por calcite secundária e níveis silicificados que são bem marcados no topo da unidade; b) nas barreiras da estrada em

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direcção a Ficalho podem observar-se sucessivamente mármores, rochas vulcânicas ácidas tufáceas, xistos borra de vinho e calcoxistos, todas estas litologias integradas no Complexo Vulcano-Sedimentar Carbonatado de Ficalho.

Fig. 9- Calcários dolomíticos da Formação Dolomítica. Notar a terra rossa acumulada em pequenos algares.

Paragem 5

Vista geral da pedreira de Ficalho, onde se exploram actualmente mármores. Os mármores têm textura bandada de origem metamórfica e notam-se também nas paredes da pedreira dobras de envergadura decamétrica vergentes para SW

Fig. 10-Aspecto geral da pedreira de Ficalho. Notar o bandado metamórfico dobrado

Paragem 6

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Nas barreiras do lado ocidental da estrada, já perto de Ficalho, estão bem expostos riolitos de cor clara, muito ricos em sílica (> 75%) e com feldspatos do tipo da albite. As rochas encontram-se fortemente recristalizadas, raramente sendo possível identificar-se as estruturas lávicas, designadamente o bandado magmático mais comum.

Paragem 7

Esta paragem destina-se a visitar as antigas minas de Vila Ruiva. Trata-se de pequena exploração a céu aberto, complementada com algumas galerias. A exploração consistiu na extracção de óxidos de zinco, conhecidos por calaminas tendo sido retiradas 12694t de minério com 42% Zn. Estes óxidos estão concentrados em bolsadas ou em algares resultantes da meteorização supergénica dos calcários dolomíticos, que contêm smithsonite, um carbonato de zinco (ZnC03) de cor branca, hematite e goetite. As calaminas constituem material terroso, castanho amarelado. O minério de zinco primário (esfarelite-SZn) ocorre em massas estratiformes de sulfuretos polimetálicos integralmente oxidadas pela alteração supergénica. Os sulfuretos polimetálicos estão relacionados com vulcanismo ácido que ocorreu na parte inferior da Formação. Aquífero do Gargalão: Furos e aquíferos cársicos.

De acordo com o modelo matemático de escoamento subterrâneo do aquífero principal

(Costa, 2008), este aquífero encontra-se com défice de recarga. Esta condição estará na

origem de falhas de abastecimento registadas no furo mais antigo do Gargalão e da construção

de um novo furo em 2009. Este capta a água entre os 30 e 58 metros de profundidade,

enquanto o furo antigo tinha apenas 18 metros e captava a água a partir do cerca de 10

metros de profundidade.

BIBLIOGRAFIA -Araújo, J. Piçarra de Almeida, J. Borrego, J. Pedro e J. Tomás Oliveira, 2006- As Regiões Central e Sul da Zona de Ossa Morena. In “ Dias, R., Terrinha, P., Kullberg J.C, editors-geologia de Portugal no Contexto da Ibéria. Universidade de Évora” -João Pais, P. Cunha, D. Moreira, P. Legoinha, R. Dias, D. Moura, A.B. Silveira, J.C. Kullberg , J. González-Delgado, 2012-The Paleogene and Neogene of Western Ibéria. A Cenozoic REcord in the European Atlantic Domain. Springer Verlag. -J. Tomás Oliveira, coordenador, 1992-Carta Geológica de Portugal à escala 1:200000. Notícia Explicativa da Folha 8. Serviços Geológicos de Portugal. -V. Oliveira e J. Piçarra, 1985-Litoestratigrafia do Anticlinório de Moura-Ficalho (Zona de Ossa Morena). Maleo, 2/3, p 33. -Piçarra, J. M, 2000-Estudo estratigráfico do sector de Estremoz-Barrancos, Zona de Ossa Morena.Vol. I-Litostrtigrafia do intervalo Câmbrico médio- Devónico Inferior; Vol- II-Biostratigrafia do intervalo Ordovícico-Devónico Inferior. Tese de doutoramento. Universidade de Évora. 268 p. -J. Piçarra e J.C. Gutierrez-Marco, 1992-Estudo dos graptólitos silúricos do flanco oriental do Anticlinal de Moura-Ficalho (Sector de Montemor-Ficalho, Zona de Ossa Morena, Portugal). Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, 78/1, 32-29. -Ribeiro, M. L., Mata, J., Piçarra, J. M., 1992-Vulcanismo bimodal da região de Ficalho: características geoquímicas. Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, 78/2, 75-85