Livro Ipsis Apis

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gestao de equipes rurais

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A escola das abelhas

Claudio José Ravanini

1ª Edição

RondonópolisEdição do Autor

2011

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Nota do Autor

Sou veterinário por formação. Trabalho no meio rural buscando

melhorar as ligações entre seres humanos e animais. Desde criança,

sempre tive fascínio por animais, pelo meio rural e pelas interações que

resultam dessas variáveis com pessoas. Percebi que, mesmo sem falar,

animais se expressam muito bem por meio de uma linguagem sincera e

direta. Recordo-me que ficava intrigado com o comportamento e o

trabalho das abelhas, a ponto de capturá-las em saquinhos transparen-

tes de pipoca para poder observá-las de perto. Inquietavam-me as

dúvidas de como insetos tão pequenos e singelos pudessem produzir

mel. Qual era a arte? Qual o segredo? Para onde levavam os preciosos

ingredientes e como se organizavam nas colmeias para produzir o mel?

Qual fórmula seguiam? Com quem haviam aprendido tudo isto?

Partindo dessas observações e inquietudes, percebi como

podemos utilizar conhecimentos importantes com que nos brindam as

abelhas para melhorar interações de relacionamento e produtividade em

uma espécie de comportamento complexo e de difícil entendimento: o

ser humano. Tanto a construção quanto o gerenciamento de equipes

rurais são assuntos sérios e de elevada importância, merecendo um

estudo mais aprofundado. O que antes seriam dificuldades, hoje podem

se tornar oportunidades. A “escola das abelhas” nos fornece essas

oportunidades para, assim, aprendermos sobre dedicação, profissiona-

lismo com vocação e, acima de tudo, trabalho em equipe, cooperação.

Gostaria que todos pudessem compartilhar estes importantes e

fundamentais conhecimentos em prol de mudanças positivas na

gestão de equipes rurais de sucesso. Não importa se quem as aplica é

experiente ou iniciante, pois, como veremos na “escola das abelhas”,

todos estamos em constante aprendizado.

Êxito a todos e boa leitura.

Claudio José Ravanini

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2011Projeto GráficoEvandro Léo Koberstein - Marketing Mercado

ImpressãoMidioGraf Gráfica e Editora

Revisão Maria Aparecida dos Santos

Ilustração CapaImagem Copyright Slavoljub Pantelic, 2011Usado sob licença da Shutterstock.com

Ilustração Abelha 3DImagem Copyright Julien Tromeur , 2011usado sob licença da Shutterstock.com

Tiragem 3.000 exemplaresProibida a reprodução total ou parcial desta obra.

Impresso no BrasilISBN 978-85-60591-49-7

Atendimento e venda direta ao leitor:[email protected]

A escola das abelhas

Claudio José Ravanini

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Dedico este livro à minha querida

esposa, Alessandra, que, com sua

convivência paciente, discreta e sempre

presente, muito me auxiliou na compo-

sição do trabalho.

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Agradeço primeiramente a Deus, pela dádiva de viver e pela

oportunidade de conviver com pessoas fantásticas, que me inspira-

ram a escrever este livro.

A meus pais, Wail J. Ravanini (in memorian) e Cleide L.

Ravanini, por todo o esforço e dedicação em cimentar com exemplos

o significado da palavra família.

Às minhas irmãs Roseli e Ana Lúcia, minhas sobrinhas Giulia e

Mariana, meus cunhados Rubens e Gustavo, pela convivência alegre

e positiva.

A toda a família Mastelaro, em especial a Walter e a Aurora (in

memorian), pela confiança e oportunidade de aprendizagem.

Ao grupo Guará de Rondonópolis-MT, pelo companheirismo

no cumprimento de desafios e compartilhamento de experiências.

Ao amigo Johan Dalgas Frisch, por sua experiência de vida e

por seu exemplo de luta incansável pelo preservacionismo das aves e

de toda a fauna ameaçada de extinção.

Ao amigo Carlos César de Oliveira, pela colaboração

sempre espontânea, principalmente nos estudos para análise de

desempenho de mão-de-obra rural em Mato Grosso.

Ao professor Daniel Madureira Siqueira pelo auxílio na

construção do método de avaliação de colaboradores em ambiente

rural.

Ao colega produtor Ricardo Tomczyk pelo dinamismo,

presença e disponibilidade frente a questões do agronegócio.

Aos amigos canadenses de Alberta, Gerry e Ruth Good, por

terem me acolhido em sua família e terem me ajudado nas dificulda-

des, sempre com bom humor, respeito e paciência.

À Fundação Mato Grosso, pelo exemplo de profissionalismo e

eficiência na difusão de tecnologias.

Àqueles que desinteressadamente ensinam, pois trazem a

preciosidade da luz para onde habita a escuridão.

Agradecimentos

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SumárioPrefácio, 9

Introdução, 10

1. O meio rural: suas características, desafios,

riscos e oportunidades, 12

2. A colmeia, 22Breve histórico sobre a apicultura, 23

2.2. A abelha Apis mellifera, 25

2.3. A escola das abelhas e suas semelhanças, 27

2.4. O estudo da colmeia, 29

2.4.1. A função de cada membro na colmeia, 30

2.5. A hierarquia, 38

2.6. A comunicação no mundo das abelhas, 39

2.7. A cooperação na colmeia, 43

2.8. A sucessão na colmeia, 44

2.9. A divisão na colmeia – a enxameação, 47

2.10. Incêndio na colmeia, 49

2.11. A polinização, 50

2.12. O território, 52

2.13. A rotatividade, 53

2.14. A sustentabilidade, 55

3. A equipe rural e a COMEHA, 60

4. Modelos administrativos, 744.1. O modelo administrativo das abelhas, 754.2. Modelos administrativos rurais, 764.2.1. Administração centralizada, 764.2.2. Administração descentralizada, 774.2.3. Administração de tipo mista, 80

2.1.

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5. O ambiente5.1. A influência do ambiente na COMEHA e na colmeia, 835.2. Avaliação do ambiente da COMEHA, 925.3. Qual será o maior patrimônio das empresas rurais?, 97

6. A avaliação da COMEHA, 1016.1. Dicas simples na seleção de colaboradores, 1026.2. Sugestões para análise e mensuração de desempenho, 1046.2.1. Análise de cargos comuns, 1056.2.2. Análise de cargos de supervisão e gerência, 1076.3. Desligamento de colaboradores da equipe, 108

7. Formação de uma COMEHA de sucesso, 112

8. A história da abelha e do tigre, 126

Referências, 136

, 82

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Prefácioom o aumento da população mundial e a necessidade de mais

alimento, o Brasil é o país que desponta como o que tem melhor

chance de atender boa parte desta demanda. Temos a melhor

tecnologia tropical do mundo e estamos no início de uma transformação estraté-

gica no processo de desenvolvimento. Teremos que traçar caminhos inovadores

para superá-los. Para atingir esse objetivo, será fundamental uma rápida vertica-

lização dos setores produtivos rurais, investimentos em infra-estrutura e linhas

de crédito acessíveis, bem como a implementação de ferramentas eficientes na

visualização de indicadores e de áreas de risco na empresa. Esses são fatores

fundamentais a serem observados para uma boa gestão.

Nesse sentido, este livro é um presente inovador para todos os que têm o

desafio de tornar uma empresa mais sustentável nas próximas décadas. Ipsis

Apsis - Gestão de Equipes Rurais possui um texto muito útil a quem já conhece e

também a quem quer conhecer o essencial a respeito da gestão de pessoas no

meio rural. O estilo não é acadêmico, trabalha com dados e fatos que conferem

consistência técnica e prática. O autor utiliza opiniões embasadas na vivência

diária com colaboradores, técnicos e empresários do setor. Assim, a experiência

e o conhecimento de quem se dedica, há anos, à atividade agropecuária permi-

tem conclusões objetivas sobre o tema.

A leitura do texto instiga a observação de que muitos paradigmas preci-

sam ser quebrados. O individuo ou colaborador deve passar a ser o alvo principal

quando se trata de uma empresa rural. A necessidade de uma boa gestão será

fundamental para garantir a formação da equipe de colaboradores, sua qualifica-

ção e permanência na atividade junto à empresa. Nos próximos trinta anos,

teremos que multiplicar a nossa oferta de alimentos. Este desafio será tecnológi-

co e, fundamentalmente, de gestão de pessoas.

O amigo, Cláudio Ravanini, traz uma bela contribuição para este grande

desafio: a gestão de equipes rurais. O comparativo com o universo das abelhas é

inspirador.

Boa leitura!

Ocimar de Camargo Villela

C

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Introdução

oportunidade de escrever um livro sobre uma bem sucedida equipe

de trabalho leva ao compartilhamento com você, caro leitor, de

conhecimentos e ponderações muito úteis para todos aqueles que

trabalhem com gestão de colaboradores em ambientes rurais. As informações

aqui contidas reúnem observações práticas, sintetizadas e organizadas de forma

a facilitar o entendimento da complexa arte da construção de equipes de

colaboradores.

Esta obra não deve ser vista como uma ferramenta acadêmica, e, sim,

como um guia prático de consulta e sugestões. Nela, foram reunidas observações

relativas à vida das abelhas e à sua sociedade. Da mesma forma, foram descritas

as características do funcionamento das equipes rurais. Buscou-se relacionar

essas duas realidades paralelas, integrando-as, posto que elas sempre se

encontram em cada circunstância e acontecimento da mesma vida.

Acredito neste livro como guia de consulta para gestores rurais e como

material de apoio a jovens profissionais que passam a integrar o mercado de

trabalho ligado ao setor rural. Com as informações aqui expostas, muitos

questionamentos e soluções poderão surgir, gerando oportunidades para que

ações diferenciadas possam ser gestadas e tomadas, sempre levando em conta o

equilíbrio que se distribui entre o bom senso e a aplicação do conhecimento na

prática. Em toda atividade, seja o meio rural, indústria, comércio, prestação de

serviços ou qualquer outra, o negócio em si é estruturado e desenvolvido por

pessoas, e o sucesso depende de toda a interação harmônica que exista entre

elas.

Imaginei traduzir o importante conteúdo da questão da mão-de-obra

rural por meio do estudo das abelhas e de sua sociedade, observando o modelo

de ambiente que compartilham conosco e o fato de esses insetos nos ensinarem

muito sobre organização, hierarquia, treinamento, comunicação, dedicação,

adaptabilidade, assim como mostrarem inúmeros fatores que correspondem

diretamente à sustentabilidade, ao êxito e à rentabilidade do agro-negócio.

A

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Em um estudo comparado, traçamos um paralelo entre o universo de

uma colmeia de abelhas e as equipes rurais. Vimos que muito dos conhecimen-

tos que as abelhas utilizam em sua organização são aplicáveis nas equipes de

colaboradores de forma bem sucedida. Descobrimos como esses insetos

notáveis, de organização complexa, trabalham, manejando seus desafios, metas

e riscos com base em união de grupo, coletividade e cooperação.

Durante o desenvolvimento deste livro, foram buscadas chaves para que

desvendemos juntos ao menos uma parte dos intermináveis enigmas provenien-

tes deste paralelismo homem – abelha, de toda similaridade e de todo conheci-

mento que derivem da escola desses esplêndidos insetos. Toda semelhança,

portanto, não é mera coincidência.

Para facilitar o estudo comparado, colocamos as informações referentes

ao mundo das abelhas com fundo amarelado, que lembra o ouro, riquezas e o

próprio mel.

O gratificante de tudo isso é que todo trabalho sobre equipes rurais,

desde que bem conduzido, como o exemplo da estrutura de uma colmeia de

abelhas, pode gerar resultados extraordinários. Extraordinários por alavancar-

mos as bases da economia do país; fantásticos pela oportunidade e capacidade

de gerar mudanças em nós mesmos e nas equipes; incríveis por observarmos

uma perfeita organização em toda a natureza. Toda possibilidade é favorável,

desde que nos preparemos para ela.

Em toda atividade, seja o meio rural,

indústria, comércio, prestação de serviços

ou qualquer outra, o negócio em si é

estruturado e desenvolvido por pessoas,

e o sucesso depende de toda a interação

harmônica que exista entre elas.

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O MEIO RURAL:SUAS CARACTERÍSTICAS,

DESAFIOS, RISCOS EOPORTUNIDADES

O campo é o maior teatro a céu aberto domundo; quanto melhor a interpretação dos

atores, maior a projeção da peça.

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Omeio rural, para qualquer país do mundo, tem o papel de repre-

sentar segurança. Segurança em gerar alimentos, emprego e

renda, garantindo estabilidade para municípios, estados e

países.

A agricultura, a pecuária e todas as suas derivações vêm passando

por uma transformação não só física, mas também social, cultural e

econômica. Na parte física das fazendas e dos sítios, há uma transforma-

ção gradual na adequação de estruturas, tecnologias, máquinas, equipa-

mentos. Tudo isso para que novos e velhos conceitos possam interagir com

a finalidade de alavancar a produção.

Na parte sócio-cultural, a atividade agropecuária possui uma cultura

própria, ligada ao campo e a cada região, com suas origens, tradições, históri-

as, folclore, valores. O ambiente sócio-cultural sofreu mudanças profundas

no meio rural. As mudanças no perfil dos proprietários de terras apresentam

tendências de expansão dos grandes grupos rurais, que podem ser tanto

familiares, quanto compostos por investidores. Pode ser notada, também,

uma reorganização das pequenas propriedades e uma grande possibilidade

de diminuição gradativa da figura do médio proprietário.

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ambiente rural, a que, hoje, em qualquer canto do país, as principais

notícias do Brasil e do mundo chegam em tempo real: há TV, rádio, inter-

net, telefonia convencional ou telefonia celular. Ou seja, no campo,

ninguém mais é desinformado. Outro aspecto que vem contribuindo para

a mudança nesse ambiente é a oportunidade de estudo. Muitos dos

chamados filhos do campo vão estudar nas cidades e retornam ao meio

rural com canudos nas mãos e muitas ideias novas na cabeça. Isto é, sem

dúvida, outro fator de importante valor de mudança na estrutura sócio-

cultural do campo: gente jovem, treinada, que sabe manejar novas ferra-

mentas, trazendo a possibilidade de renovação no ambiente de traba-

lho.

Muitas vezes, as gerações mais antigas olham com desconfiança

para esses novos conhecimentos, podendo opôr resistência para quem

tenta demonstrar seu valor e conhecimento. A aceitação do novo deman-

da tempo, paciência e, acima de tudo, resultados, pois “contra resultados

não há argumentos”.

Quanto ao econômico, talvez esse seja o aspecto que mais influen-

ciou a atividade rural e suas mudanças. Esse fator vai incidir tanto no

aporte e utilização de recursos para se estabelecerem as produções das

novas safras como no faturamento obtido com a comercialização dos

produtos. A agropecuária é uma atividade muito complexa. Lida-se com

clima, ou seja, além de todas as variáveis presentes nos demais setores da

economia de um país, dependemos de que chova na hora certa, e isso está

se tornando cada vez mais difícil com as alterações ecológicas globais a

que todos nós presenciamos. Também se lida com pragas e doenças, que

constituem dor-de-cabeça para muitos dos técnicos de campo, em que

“cada ano é um ano diferente”, e o histórico dos anos anteriores nem

sempre se repete. Outra situação observada é que, na grande maioria das

vezes, os custos de produção não estão garantidos por preços pré-fixados

para cobri-los no momento da venda do produto, o que aumenta ainda

mais o risco da atividade.

Já deu para perceber, não é mesmo?! No econômico, ou no que irá

gerar a economia do setor, não podemos errar. Temos que ser bons no que

Nesse meio, também se observa um maior acesso à informação no

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fazemos. Temos que produzir bem, saber nossos custos, estar bem infor-

mados sobre o que está dando certo. Saber quais são nossas margens,

saber por quanto devemos vender nossa produção para obter lucro são

colocações básicas que cada participante desse ramo deve exercitar, antes

mesmo de colocar a semente no chão para germinar, ou de soltar o gado no

pasto para iniciar o ciclo pecuário. Isto é treinamento, exige costume de se

fazer, a ponto de esse exercício econômico ser tão fundamental quanto

qualquer passo da agropecuária.

É de fundamental importância conhecer formas de melhorar

resultados produtivos, e, sobretudo, os econômicos. É aí que o assunto

começa a ficar mais interessante. Poderíamos falar aqui de vários métodos

para se melhorarem os resultados, tanto dentro da agricultura quanto da

pecuária, mas a literatura está saturada de informações a esse respeito! O

que buscamos é algo diferente e de grande desafio: mudar as atitudes!

Pessoas ligadas ao operacional do meio agropecuário se colocam

tão envolvidas em desempenhar e verificar tarefas práticas ligadas ao

trabalho, que se restringem ao desempenho dessas funções. A distribui-

ção de sementes em uma plantadeira, a conferência da dosagem de

fertilizantes e corretivos, o controle de doenças e pragas nas lavouras, a

verificação do “ponto” de colheita, a apartação de animais, a administra-

ção de dietas, suplementos ou minerais em sistemas intensivos, semi-

intensivos ou extensivos, vacinas e produtos veterinários, embarque e

acompanhamento de abate, etc. - todas essas atividades são tarefas

fundamentais em seu momento, necessitam ser bem feitas, é óbvio, pois o

sucesso no resultado produtivo depende do bom cumprimento dessas

etapas. Todos os exemplos dados acima se restringem ao operacional. Não

há nada de errado nisso. O que acontece é que, muitas vezes, produtores

ou gestores de empresas rurais estão tão focados no que fazem dentro do

operacional, que se esquecem de ver a atividade como um todo! E, aí, a

tríade produzir bem, comprar bem e vender bem pode se desfazer!

Sim, porque se concentra muito esforço no produzir bem e se

esquece das outras duas pernas. Perde-se o “timing”, ou seja, a hora certa

em efetuar uma compra, alavancar recursos, orçamentar, aproveitar um

bom preço para comercializar seu produto, fazer contas para se certificar

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se era bom negócio ou não. Todos os movimentos de compra e venda

provêm de um mercado globalizado, em que informações em tempo real

chegam às praças de comercialização, influenciando o preço de cada

produto. O problema é que todo esse movimento está cada vez mais

rápido, cada vez mais inconstante, demandando objetividade e rapidez

nas decisões. Quanto mais distantes estivermos dessas informações, mais

distantes estaremos do comprar e do vender bem. Hoje, também temos a

oportunidade de utilizar programas simples de simulação de resultados,

ou seja, planilhas eletrônicas, que lembram situações de produtividade e

preços de venda frente aos custos de produção. É incrível, mas, a partir de

um determinado índice básico de produção, como um número mínimo de

sacas ou arrobas por hectare, em que a produção se viabiliza, o resultado

pode demonstrar a forte dependência que existe em cada uma dessas

variáveis. Numa situação de custos crescentes, nem sempre quem produz

mais obtém mais lucro! Da mesma maneira, nem sempre quem gasta

menos é o que terá mais lucro! Pode ser que, comparando resultados de

diversas empresas rurais, as que comercializaram melhor seus produtos

possam ter tido melhores resultados finais, mesmo não sendo as líderes

em produção ou em controle de custos! Como saber isso? Simulação.

Simular é preciso, junto de uma orçamentação bem feita.

Isso demonstra profissionalismo, isso demanda profissionalismo!

Falando nisso, abelhas são profissionais naquilo que fazem!

Fazendo uma comparação com o mundo das abelhas, o

produzir bem, o comprar bem e o vender bem correspondem tanto

à aquisição de matérias primas, à construção e à manutenção da

colmeia, como à produção e ao uso do mel com equilíbrio e sucesso.

Para as abelhas, a boa economia resulta no eficiente uso do recurso

econômico, o mel.

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Entre o mel e a flor, encontra-se a

abelha. Essa é a ligação entre o produto

em estado bruto, selvagem e algo mais

elaborado, mais refinado, com valor

agregado, que é o mel. Isso demonstra

que, além de produzir bem, temos que

aprimorar os produtos, agregar valor,

inserir características no produto final,

que o diferenciem a ponto de criar benefícios, como, por exemplo, um

melhor preço de comercialização ou mesmo um aumento de demanda com

consequente acréscimo do volume de produção e vendas.

Voltando um pouco à ideia da tríade: precisamos das três pernas

bem firmes para que a atividade agropecuária tenha sucesso e seja susten-

tável. É como se fixássemos sobre um tripé do tipo fotográfico uma luneta

de longo alcance. Se o tripé der firmeza à luneta, podemos ter uma visão

clara de coisas que estão se passando a uma grande distância. Ao contrá-

rio, se o tripé não estiver bem apoiado, não conseguiremos ver com grande

aumento, vai tremer, sequer iremos enxergar o que se passa ao nosso

redor, perderemos, então, a oportunidade de enxergarmos mais longe e

com antecipação.

Poucas pessoas, na prática, “apoiam bem a luneta”, a ponto de

terem uma visão privilegiada de eventos e situações

futuras. Quem tem esse cuidado, que se traduz no

mercado quase como um “dom”, destaca-se tremen-

damente no meio de que participa. A grande dificul-

dade em antever, com bom índice de acerto, o que

pode acontecer em um tempo futuro, se o compre-

endermos sob certo ponto de vista, imaginando essa

luneta, é mais dependente de um bom método, de medidas e cuidados

rigorosos, do que de palpites ou qualquer tipo de apostas ou adivinhações.

Todos os indivíduos, que se destacam em sua atividade, têm as três

pernas bem conhecidas e bem apoiadas no chão.

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Abelhas conhecem muito bem essa tríade. Sabem perfeita-

mente como administrar com precisão a produção, a aquisição e a

cessão de seus bens com planejamento, equilíbrio, economia e

eficiência. Toda equipe de abelhas tem uma hierarquia, em que cada

indivíduo sabe como desempenhar seu papel, assim como tem

clareza do quanto é importante desempenhá-lo bem para manter a

saúde e o bem estar de sua colmeia.

Analisando melhor, veremos que a base que corresponde ao

produzir bem é composta por uma variação de técnicas e modelos de

conhecimento. O produzir bem não se limita a bons índices de produtivi-

dade. Pressupõe, também, a adequação às normas sociais e ambientais

para garantir o estabelecimento e a manutenção da sustentabilidade.

Dentro do produzir bem, quero chegar a um fator que gera uma tremenda

participação e que é ainda pouco quantificado com relação ao seu nível de

influência sobre qualquer atividade produtiva: a mão-de-obra.

Refletindo um pouco sobre a

importância disso na indústria, no

comércio, na prestação de serviços,

em toda e qualquer atividade,

observamos que a qualidade da

mão-de-obra gera grandes diferenci-

ais produtivos. Temos que ir um

pouco mais além, pois, no caso

específico da agropecuária, esta tem

uma tremenda dificuldade a mais

que os outros setores para lidar: o

nível de escolaridade dos colabora-

dores. Atividades, que são desenvol-

vidas em cidades, por facilidades logísticas, influências culturais ou

mesmo econômicas, são realizadas por colaboradores com um melhor

Page 21: Livro Ipsis Apis

Ipsis Apis 19

acesso ao estudo e ao conhecimento. É bastante comum encontrar no

meio rural baixo nível de escolaridade entre os trabalhadores, o que de

certa forma limita o avanço, o acesso e a aplicação de tecnologias produti-

vas na atividade.

No meio rural, em cargos de gerência, sub-gerência e chefias,

notou-se crescente demanda por acesso ao conhecimento, embora essa

busca pela informação também tenha atingido os demais cargos de forma

menos incisiva. Nos níveis mais altos da hierarquia, essa qualificação

concilia autonomia (poder decidir) com nível de conhecimento (que

auxilia no saber decidir). Essa junção entre poder e saber decidir confere

mais agilidade, qualidade e economia à empresa.

Embora haja uma necessidade crescente em adquirir, somar,

multiplicar e dividir conhecimentos nas empresas rurais, na prática,

observa-se uma evolução mais lenta na qualificação de cargos com menos

autonomia.

Para que esse panorama mude, talvez o caminho mais curto consis-

ta na fusão de interesses e investimentos públicos e privados. A informa-

ção com toda a logística necessária para que chegue aos lugares mais

distantes deve não só ultrapassar as barreiras tecnológicas, mas também

culturais, étnicas e econômicas.

Mas, como as abelhas, esses insetos notáveis que partilham com o

homem o mesmo ambiente rural, procedem para selecionar, treinar,

desempenhar e especializar funções dentro de sua comunidade? É o que

veremos no próximo capítulo.

Page 22: Livro Ipsis Apis
Page 23: Livro Ipsis Apis

O produzir bem não se limita

a bons índices de produtividade.

Pressupõe, também, a adequação às

normas sociais e ambientais para

garantir o estabelecimento e a

manutenção da sustentabilidade.

A escola das abelhas

Page 24: Livro Ipsis Apis

A COLMEIA

Talvez o melhor sinônimode progresso na colmeia se resuma ao

significado da palavra cooperação.

Page 25: Livro Ipsis Apis
Page 26: Livro Ipsis Apis

A escola das abelhas

Cooperação está ligada ao comportamento de cada

indivíduo ao se disponibilizar para atuar em grupo,

e, para isso, há necessidade de que todos entrem em

uma mesma sintonia de ajuda mútua. Cada função tem

sua importância na equipe, mas, quando todas se

unem em benefício mútuo, a importância maior se

transfere à solidez do que é feito e de como é feito.

Podemos dizer até que cooperação é a linha

que costura as roupas da colmeia.

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O efeito de características humanas nosresultados de empresas rurais não pode ser

medido da mesma forma que o adubo utilizadoou chuva distribuída, mas possui a mesma

importância.

A EQUIPE RURALE A COMEHA

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Page 29: Livro Ipsis Apis

A escola das abelhas

Na colmeia, vemos hierarquia, comando,

organização, distribuição de atividades,

comunicação, planejamento, padronização,

segurança, e, o que é mais importante:

não existe o individualismo, e, sim,

o senso de grupo, a harmonia da equipe.

Uma colmeia de abelhas sem cooperação

estaria condenada ao fracasso.

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Centralizar ou descentralizar o poder se resumeem uma opção tomada por gestores para alcançar

o sentimento de segurança ou de conforto.

MODELOSADMINISTRATIVOS

Page 31: Livro Ipsis Apis

A escola das abelhas

É muito importante sempre,

ao se modificar o modelo administrativo,

tanto migrando para uma centralização,

quanto para uma descentralização, que seja

feito de forma gradativa e lenta, havendo a

necessidade de que a transição seja conduzida

realizando a adaptação da equipe

com tranquilidade e clareza.

Page 32: Livro Ipsis Apis

O ambiente que envolve cada equipe ruralé como o ar que se respira, quanto melhor suas

condições, melhor a saúde do usuário.

O AMBIENTE

Page 33: Livro Ipsis Apis

O ambiente físico rural é ocupado por cargos,

que formam equipes. Cada propriedade tem suas

características peculiares. A padronização que se

busca no ambiente rural não seria física, e, sim,

nas equipes. Equipes necessitam ser estruturadas,

com geometria definida, exata, como a estrutura

de um alvéolo. Tudo relacionado à COMEHA

irá se manifestar no AMBIENTE.

A escola das abelhas

Page 34: Livro Ipsis Apis
Page 35: Livro Ipsis Apis

Ninguém pode saber quanto e comoproduz sem realizar duas coisas básicas:

medir e comparar resultados.

A AVALIAÇÃO DA COMEHA

Page 36: Livro Ipsis Apis

A escola das abelhas

O mais importante para se acertar nas

contratações, de forma simplificada é saber

descrever, traçar quais são os requisitos, as

necessidades exigidas para o cargo a ser ocupado.

Essas necessidades estarão baseadas nos fatores

que estruturam a COMEHA, mas de forma

direcionada para o cargo em questão.

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Page 38: Livro Ipsis Apis

FORMAÇÃO DE UMACOMEHA DE SUCESSO

Sucesso é uma palavra muitoperseguida por seus efeitos, mas pouco

buscada em suas causas.

Page 39: Livro Ipsis Apis

A escola das abelhas

Em equipes de trabalho, cada membro, cada

gestor, cada proprietário deve procurar fazer

sempre o melhor dentro de sua responsabilidade

e autonomia. Somando-se o melhor de cada

um com o melhor do grupo, pode-se obter

uma COMEHA de sucesso.

Page 40: Livro Ipsis Apis
Page 41: Livro Ipsis Apis

Na fórmula de um trabalho em equipe,

somam-se esforços, multiplicam-se forças e

se dividem benefícios.

Page 42: Livro Ipsis Apis

“Só elas em comum criam os filhos,

só elas têm juntos seus abrigos,

só elas têm leis fundamentais

com que passam a vida em sua pátria,

Penates fixos, consciência deles,

só elas sabem que virá Inverno,

pois lembrando o trabalho do Verão

a todas dão de novo o que gastaram.

Têm umas encargo do sustento,

o cumprem trabalhando pelos campos,

enquanto as outras, dentro em seus limites,

as lágrimas transformam dos narcisos

ou o fazem com cascas e seus viscos

para que tenham alicerces os favos,

depois de cima a baixo os revestindo

de camadas de cera bem tenaz.

Outras fazem sair todas as crias

que são como esperança da nação,

outras condensam muito puro mel

e de límpido néctar enchem favos.

Outras, à sorte, são de guardar portas,

há as vigias de águas e de nuvens

as que tomam as cargas das que chegam;

outras ainda formam batalhão

para afastar vespões, os da preguiça.

O trabalho referve, todo o mel

exala uma fragrância de tomilho”.

Page 43: Livro Ipsis Apis

Referências1. PEREIRA, Fábia de Melo et al. Organização Social e Desenvolvimento das abelhas Apis mellifera.

Embrapa Meio-Norte. Sistema de produção. V. 3. Julho/2003. Versão eletrônica. ISSN 1678-8818.

http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mel/SPMel/index.htm. Último

acesso em 05/02/2011.

2. PEREIRA, Fábia de Melo et al. Raças de Abelhas Apis mellifera. Embrapa Meio-Norte. Sistema de

produção. V. 3. Julho/2003. Versão eletrônica. ISSN 1678-8818.

http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mel/SPMel/index.htm. Último

acesso em 05/02/2011.

3. PEREIRA, Fábia de Melo et al. Histórico da Apicultura. Embrapa Meio-Norte. Sistema de

produção. V. 3. Julho/2003. Versão eletrônica. ISSN 1678-8818.

http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mel/SPMel/index.htm. Último

acesso em 05/02/2011.

4. CHIAVENATTO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. ISBN 85-352-

1448-8.

5. BEATTY, Richard, BECKER Brian & HUSELID, Mark. Scorecard para Recursos Humanos: conceitos

e ferramentas para medir a contribuição das equipes. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. ISBN 85-352-1680-4.

6. MALAGODI-BRAGA, Kátia Sampaio. Abelhas: por que manejá-las para a polinização? Apacame –

Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíferas Europeias. Mensagem Doce

número 80. 2005. Versão eletrônica.

http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/80/abelhas2.htm. Último acesso em 05/02/2011.

7. IMEA – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Concentração de terras para a

agricultura em Mato Grosso. Cuiabá-MT: 2010.

8. Relatório Brundtland - Nosso Futuro Comum. Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento. 1987.

9. Van Engelsdorp D, Evans JD, Saegerman C, Mullin C, Haubruge E, et al. (2009) Colony Collapse

Disorder: A Descriptive Study. Plos One 4 ( 8 ) : e6481. doi: 10.1371/journal.pone.0006481. Versão

eletrônica, último acesso em 17/02/2011.

10. VIRGÍLIO. Geórgicas. In: Obras de Virgílio. Bucólicas, Geórgicas, Eneida. Tradução de Agostinho

da Silva. 2.ª ed.Lisboa: Temas & Debates, 1999. Volume XIII: Traduções, p. 71. Versão eletrônica

disponível no site www.agostinhodasilva.pt

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Vivemos um momento ímpar da economia brasileira e

mundial. Nos últimos anos, a cadeia do agronegócio foi

a maior responsável pelo superávit primário do PIB

brasileiro. A evolução das nossas práticas agrícolas

nos posicionou como celeiro agrícola do mundo.

Mais de 6 bilhões de habitantes precisam de alimen-

tos, água, energia e combustíveis. Será que o Brasil, ou

melhor, você está preparado para vencer os desafios que

vêm pela frente?

A competitividade no agronegócio é extremamente elevada.

Competimos com “players” mundiais e temos nos preparado bem para

isso. Mas não adianta apenas técnica e condições climáticas favoráveis,

pois são as pessoas que realmente fazem acontecer.

Em estudo comparado, aborda um tema ainda pouco

explorado, mas muito importante: a gestão de equipes rurais. A partir de

um comparativo entre o universo de uma colmeia e as equipes rurais é

possível aprender muito com as abelhas, sua organização e cooperação,

podendo ser perfeitamente aplicáveis esses conhecimentos nas equipes

de colaboradores rurais.

Em meio a desafios, vitórias e derrotas, tanto abelhas quanto pessoas

demonstram suas habilidades para formar equipes de sucesso. É possível

adquirir e aplicar conhecimentos advindos de ambas, dependendo da

observação de cada um de nós.

IPISIS APIS