Livro Ipsis Apis
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A escola das abelhas
Claudio José Ravanini
1ª Edição
RondonópolisEdição do Autor
2011
Nota do Autor
Sou veterinário por formação. Trabalho no meio rural buscando
melhorar as ligações entre seres humanos e animais. Desde criança,
sempre tive fascínio por animais, pelo meio rural e pelas interações que
resultam dessas variáveis com pessoas. Percebi que, mesmo sem falar,
animais se expressam muito bem por meio de uma linguagem sincera e
direta. Recordo-me que ficava intrigado com o comportamento e o
trabalho das abelhas, a ponto de capturá-las em saquinhos transparen-
tes de pipoca para poder observá-las de perto. Inquietavam-me as
dúvidas de como insetos tão pequenos e singelos pudessem produzir
mel. Qual era a arte? Qual o segredo? Para onde levavam os preciosos
ingredientes e como se organizavam nas colmeias para produzir o mel?
Qual fórmula seguiam? Com quem haviam aprendido tudo isto?
Partindo dessas observações e inquietudes, percebi como
podemos utilizar conhecimentos importantes com que nos brindam as
abelhas para melhorar interações de relacionamento e produtividade em
uma espécie de comportamento complexo e de difícil entendimento: o
ser humano. Tanto a construção quanto o gerenciamento de equipes
rurais são assuntos sérios e de elevada importância, merecendo um
estudo mais aprofundado. O que antes seriam dificuldades, hoje podem
se tornar oportunidades. A “escola das abelhas” nos fornece essas
oportunidades para, assim, aprendermos sobre dedicação, profissiona-
lismo com vocação e, acima de tudo, trabalho em equipe, cooperação.
Gostaria que todos pudessem compartilhar estes importantes e
fundamentais conhecimentos em prol de mudanças positivas na
gestão de equipes rurais de sucesso. Não importa se quem as aplica é
experiente ou iniciante, pois, como veremos na “escola das abelhas”,
todos estamos em constante aprendizado.
Êxito a todos e boa leitura.
Claudio José Ravanini
2011Projeto GráficoEvandro Léo Koberstein - Marketing Mercado
ImpressãoMidioGraf Gráfica e Editora
Revisão Maria Aparecida dos Santos
Ilustração CapaImagem Copyright Slavoljub Pantelic, 2011Usado sob licença da Shutterstock.com
Ilustração Abelha 3DImagem Copyright Julien Tromeur , 2011usado sob licença da Shutterstock.com
Tiragem 3.000 exemplaresProibida a reprodução total ou parcial desta obra.
Impresso no BrasilISBN 978-85-60591-49-7
Atendimento e venda direta ao leitor:[email protected]
A escola das abelhas
Claudio José Ravanini
Dedico este livro à minha querida
esposa, Alessandra, que, com sua
convivência paciente, discreta e sempre
presente, muito me auxiliou na compo-
sição do trabalho.
Agradeço primeiramente a Deus, pela dádiva de viver e pela
oportunidade de conviver com pessoas fantásticas, que me inspira-
ram a escrever este livro.
A meus pais, Wail J. Ravanini (in memorian) e Cleide L.
Ravanini, por todo o esforço e dedicação em cimentar com exemplos
o significado da palavra família.
Às minhas irmãs Roseli e Ana Lúcia, minhas sobrinhas Giulia e
Mariana, meus cunhados Rubens e Gustavo, pela convivência alegre
e positiva.
A toda a família Mastelaro, em especial a Walter e a Aurora (in
memorian), pela confiança e oportunidade de aprendizagem.
Ao grupo Guará de Rondonópolis-MT, pelo companheirismo
no cumprimento de desafios e compartilhamento de experiências.
Ao amigo Johan Dalgas Frisch, por sua experiência de vida e
por seu exemplo de luta incansável pelo preservacionismo das aves e
de toda a fauna ameaçada de extinção.
Ao amigo Carlos César de Oliveira, pela colaboração
sempre espontânea, principalmente nos estudos para análise de
desempenho de mão-de-obra rural em Mato Grosso.
Ao professor Daniel Madureira Siqueira pelo auxílio na
construção do método de avaliação de colaboradores em ambiente
rural.
Ao colega produtor Ricardo Tomczyk pelo dinamismo,
presença e disponibilidade frente a questões do agronegócio.
Aos amigos canadenses de Alberta, Gerry e Ruth Good, por
terem me acolhido em sua família e terem me ajudado nas dificulda-
des, sempre com bom humor, respeito e paciência.
À Fundação Mato Grosso, pelo exemplo de profissionalismo e
eficiência na difusão de tecnologias.
Àqueles que desinteressadamente ensinam, pois trazem a
preciosidade da luz para onde habita a escuridão.
Agradecimentos
SumárioPrefácio, 9
Introdução, 10
1. O meio rural: suas características, desafios,
riscos e oportunidades, 12
2. A colmeia, 22Breve histórico sobre a apicultura, 23
2.2. A abelha Apis mellifera, 25
2.3. A escola das abelhas e suas semelhanças, 27
2.4. O estudo da colmeia, 29
2.4.1. A função de cada membro na colmeia, 30
2.5. A hierarquia, 38
2.6. A comunicação no mundo das abelhas, 39
2.7. A cooperação na colmeia, 43
2.8. A sucessão na colmeia, 44
2.9. A divisão na colmeia – a enxameação, 47
2.10. Incêndio na colmeia, 49
2.11. A polinização, 50
2.12. O território, 52
2.13. A rotatividade, 53
2.14. A sustentabilidade, 55
3. A equipe rural e a COMEHA, 60
4. Modelos administrativos, 744.1. O modelo administrativo das abelhas, 754.2. Modelos administrativos rurais, 764.2.1. Administração centralizada, 764.2.2. Administração descentralizada, 774.2.3. Administração de tipo mista, 80
2.1.
5. O ambiente5.1. A influência do ambiente na COMEHA e na colmeia, 835.2. Avaliação do ambiente da COMEHA, 925.3. Qual será o maior patrimônio das empresas rurais?, 97
6. A avaliação da COMEHA, 1016.1. Dicas simples na seleção de colaboradores, 1026.2. Sugestões para análise e mensuração de desempenho, 1046.2.1. Análise de cargos comuns, 1056.2.2. Análise de cargos de supervisão e gerência, 1076.3. Desligamento de colaboradores da equipe, 108
7. Formação de uma COMEHA de sucesso, 112
8. A história da abelha e do tigre, 126
Referências, 136
, 82
Prefácioom o aumento da população mundial e a necessidade de mais
alimento, o Brasil é o país que desponta como o que tem melhor
chance de atender boa parte desta demanda. Temos a melhor
tecnologia tropical do mundo e estamos no início de uma transformação estraté-
gica no processo de desenvolvimento. Teremos que traçar caminhos inovadores
para superá-los. Para atingir esse objetivo, será fundamental uma rápida vertica-
lização dos setores produtivos rurais, investimentos em infra-estrutura e linhas
de crédito acessíveis, bem como a implementação de ferramentas eficientes na
visualização de indicadores e de áreas de risco na empresa. Esses são fatores
fundamentais a serem observados para uma boa gestão.
Nesse sentido, este livro é um presente inovador para todos os que têm o
desafio de tornar uma empresa mais sustentável nas próximas décadas. Ipsis
Apsis - Gestão de Equipes Rurais possui um texto muito útil a quem já conhece e
também a quem quer conhecer o essencial a respeito da gestão de pessoas no
meio rural. O estilo não é acadêmico, trabalha com dados e fatos que conferem
consistência técnica e prática. O autor utiliza opiniões embasadas na vivência
diária com colaboradores, técnicos e empresários do setor. Assim, a experiência
e o conhecimento de quem se dedica, há anos, à atividade agropecuária permi-
tem conclusões objetivas sobre o tema.
A leitura do texto instiga a observação de que muitos paradigmas preci-
sam ser quebrados. O individuo ou colaborador deve passar a ser o alvo principal
quando se trata de uma empresa rural. A necessidade de uma boa gestão será
fundamental para garantir a formação da equipe de colaboradores, sua qualifica-
ção e permanência na atividade junto à empresa. Nos próximos trinta anos,
teremos que multiplicar a nossa oferta de alimentos. Este desafio será tecnológi-
co e, fundamentalmente, de gestão de pessoas.
O amigo, Cláudio Ravanini, traz uma bela contribuição para este grande
desafio: a gestão de equipes rurais. O comparativo com o universo das abelhas é
inspirador.
Boa leitura!
Ocimar de Camargo Villela
C
Apis 99
Introdução
oportunidade de escrever um livro sobre uma bem sucedida equipe
de trabalho leva ao compartilhamento com você, caro leitor, de
conhecimentos e ponderações muito úteis para todos aqueles que
trabalhem com gestão de colaboradores em ambientes rurais. As informações
aqui contidas reúnem observações práticas, sintetizadas e organizadas de forma
a facilitar o entendimento da complexa arte da construção de equipes de
colaboradores.
Esta obra não deve ser vista como uma ferramenta acadêmica, e, sim,
como um guia prático de consulta e sugestões. Nela, foram reunidas observações
relativas à vida das abelhas e à sua sociedade. Da mesma forma, foram descritas
as características do funcionamento das equipes rurais. Buscou-se relacionar
essas duas realidades paralelas, integrando-as, posto que elas sempre se
encontram em cada circunstância e acontecimento da mesma vida.
Acredito neste livro como guia de consulta para gestores rurais e como
material de apoio a jovens profissionais que passam a integrar o mercado de
trabalho ligado ao setor rural. Com as informações aqui expostas, muitos
questionamentos e soluções poderão surgir, gerando oportunidades para que
ações diferenciadas possam ser gestadas e tomadas, sempre levando em conta o
equilíbrio que se distribui entre o bom senso e a aplicação do conhecimento na
prática. Em toda atividade, seja o meio rural, indústria, comércio, prestação de
serviços ou qualquer outra, o negócio em si é estruturado e desenvolvido por
pessoas, e o sucesso depende de toda a interação harmônica que exista entre
elas.
Imaginei traduzir o importante conteúdo da questão da mão-de-obra
rural por meio do estudo das abelhas e de sua sociedade, observando o modelo
de ambiente que compartilham conosco e o fato de esses insetos nos ensinarem
muito sobre organização, hierarquia, treinamento, comunicação, dedicação,
adaptabilidade, assim como mostrarem inúmeros fatores que correspondem
diretamente à sustentabilidade, ao êxito e à rentabilidade do agro-negócio.
A
10
Ipsis Apis 11
Em um estudo comparado, traçamos um paralelo entre o universo de
uma colmeia de abelhas e as equipes rurais. Vimos que muito dos conhecimen-
tos que as abelhas utilizam em sua organização são aplicáveis nas equipes de
colaboradores de forma bem sucedida. Descobrimos como esses insetos
notáveis, de organização complexa, trabalham, manejando seus desafios, metas
e riscos com base em união de grupo, coletividade e cooperação.
Durante o desenvolvimento deste livro, foram buscadas chaves para que
desvendemos juntos ao menos uma parte dos intermináveis enigmas provenien-
tes deste paralelismo homem – abelha, de toda similaridade e de todo conheci-
mento que derivem da escola desses esplêndidos insetos. Toda semelhança,
portanto, não é mera coincidência.
Para facilitar o estudo comparado, colocamos as informações referentes
ao mundo das abelhas com fundo amarelado, que lembra o ouro, riquezas e o
próprio mel.
O gratificante de tudo isso é que todo trabalho sobre equipes rurais,
desde que bem conduzido, como o exemplo da estrutura de uma colmeia de
abelhas, pode gerar resultados extraordinários. Extraordinários por alavancar-
mos as bases da economia do país; fantásticos pela oportunidade e capacidade
de gerar mudanças em nós mesmos e nas equipes; incríveis por observarmos
uma perfeita organização em toda a natureza. Toda possibilidade é favorável,
desde que nos preparemos para ela.
Em toda atividade, seja o meio rural,
indústria, comércio, prestação de serviços
ou qualquer outra, o negócio em si é
estruturado e desenvolvido por pessoas,
e o sucesso depende de toda a interação
harmônica que exista entre elas.
O MEIO RURAL:SUAS CARACTERÍSTICAS,
DESAFIOS, RISCOS EOPORTUNIDADES
O campo é o maior teatro a céu aberto domundo; quanto melhor a interpretação dos
atores, maior a projeção da peça.
Ipsis Apis 13
Omeio rural, para qualquer país do mundo, tem o papel de repre-
sentar segurança. Segurança em gerar alimentos, emprego e
renda, garantindo estabilidade para municípios, estados e
países.
A agricultura, a pecuária e todas as suas derivações vêm passando
por uma transformação não só física, mas também social, cultural e
econômica. Na parte física das fazendas e dos sítios, há uma transforma-
ção gradual na adequação de estruturas, tecnologias, máquinas, equipa-
mentos. Tudo isso para que novos e velhos conceitos possam interagir com
a finalidade de alavancar a produção.
Na parte sócio-cultural, a atividade agropecuária possui uma cultura
própria, ligada ao campo e a cada região, com suas origens, tradições, históri-
as, folclore, valores. O ambiente sócio-cultural sofreu mudanças profundas
no meio rural. As mudanças no perfil dos proprietários de terras apresentam
tendências de expansão dos grandes grupos rurais, que podem ser tanto
familiares, quanto compostos por investidores. Pode ser notada, também,
uma reorganização das pequenas propriedades e uma grande possibilidade
de diminuição gradativa da figura do médio proprietário.
ambiente rural, a que, hoje, em qualquer canto do país, as principais
notícias do Brasil e do mundo chegam em tempo real: há TV, rádio, inter-
net, telefonia convencional ou telefonia celular. Ou seja, no campo,
ninguém mais é desinformado. Outro aspecto que vem contribuindo para
a mudança nesse ambiente é a oportunidade de estudo. Muitos dos
chamados filhos do campo vão estudar nas cidades e retornam ao meio
rural com canudos nas mãos e muitas ideias novas na cabeça. Isto é, sem
dúvida, outro fator de importante valor de mudança na estrutura sócio-
cultural do campo: gente jovem, treinada, que sabe manejar novas ferra-
mentas, trazendo a possibilidade de renovação no ambiente de traba-
lho.
Muitas vezes, as gerações mais antigas olham com desconfiança
para esses novos conhecimentos, podendo opôr resistência para quem
tenta demonstrar seu valor e conhecimento. A aceitação do novo deman-
da tempo, paciência e, acima de tudo, resultados, pois “contra resultados
não há argumentos”.
Quanto ao econômico, talvez esse seja o aspecto que mais influen-
ciou a atividade rural e suas mudanças. Esse fator vai incidir tanto no
aporte e utilização de recursos para se estabelecerem as produções das
novas safras como no faturamento obtido com a comercialização dos
produtos. A agropecuária é uma atividade muito complexa. Lida-se com
clima, ou seja, além de todas as variáveis presentes nos demais setores da
economia de um país, dependemos de que chova na hora certa, e isso está
se tornando cada vez mais difícil com as alterações ecológicas globais a
que todos nós presenciamos. Também se lida com pragas e doenças, que
constituem dor-de-cabeça para muitos dos técnicos de campo, em que
“cada ano é um ano diferente”, e o histórico dos anos anteriores nem
sempre se repete. Outra situação observada é que, na grande maioria das
vezes, os custos de produção não estão garantidos por preços pré-fixados
para cobri-los no momento da venda do produto, o que aumenta ainda
mais o risco da atividade.
Já deu para perceber, não é mesmo?! No econômico, ou no que irá
gerar a economia do setor, não podemos errar. Temos que ser bons no que
Nesse meio, também se observa um maior acesso à informação no
14
Ipsis Apis 15
fazemos. Temos que produzir bem, saber nossos custos, estar bem infor-
mados sobre o que está dando certo. Saber quais são nossas margens,
saber por quanto devemos vender nossa produção para obter lucro são
colocações básicas que cada participante desse ramo deve exercitar, antes
mesmo de colocar a semente no chão para germinar, ou de soltar o gado no
pasto para iniciar o ciclo pecuário. Isto é treinamento, exige costume de se
fazer, a ponto de esse exercício econômico ser tão fundamental quanto
qualquer passo da agropecuária.
É de fundamental importância conhecer formas de melhorar
resultados produtivos, e, sobretudo, os econômicos. É aí que o assunto
começa a ficar mais interessante. Poderíamos falar aqui de vários métodos
para se melhorarem os resultados, tanto dentro da agricultura quanto da
pecuária, mas a literatura está saturada de informações a esse respeito! O
que buscamos é algo diferente e de grande desafio: mudar as atitudes!
Pessoas ligadas ao operacional do meio agropecuário se colocam
tão envolvidas em desempenhar e verificar tarefas práticas ligadas ao
trabalho, que se restringem ao desempenho dessas funções. A distribui-
ção de sementes em uma plantadeira, a conferência da dosagem de
fertilizantes e corretivos, o controle de doenças e pragas nas lavouras, a
verificação do “ponto” de colheita, a apartação de animais, a administra-
ção de dietas, suplementos ou minerais em sistemas intensivos, semi-
intensivos ou extensivos, vacinas e produtos veterinários, embarque e
acompanhamento de abate, etc. - todas essas atividades são tarefas
fundamentais em seu momento, necessitam ser bem feitas, é óbvio, pois o
sucesso no resultado produtivo depende do bom cumprimento dessas
etapas. Todos os exemplos dados acima se restringem ao operacional. Não
há nada de errado nisso. O que acontece é que, muitas vezes, produtores
ou gestores de empresas rurais estão tão focados no que fazem dentro do
operacional, que se esquecem de ver a atividade como um todo! E, aí, a
tríade produzir bem, comprar bem e vender bem pode se desfazer!
Sim, porque se concentra muito esforço no produzir bem e se
esquece das outras duas pernas. Perde-se o “timing”, ou seja, a hora certa
em efetuar uma compra, alavancar recursos, orçamentar, aproveitar um
bom preço para comercializar seu produto, fazer contas para se certificar
16
se era bom negócio ou não. Todos os movimentos de compra e venda
provêm de um mercado globalizado, em que informações em tempo real
chegam às praças de comercialização, influenciando o preço de cada
produto. O problema é que todo esse movimento está cada vez mais
rápido, cada vez mais inconstante, demandando objetividade e rapidez
nas decisões. Quanto mais distantes estivermos dessas informações, mais
distantes estaremos do comprar e do vender bem. Hoje, também temos a
oportunidade de utilizar programas simples de simulação de resultados,
ou seja, planilhas eletrônicas, que lembram situações de produtividade e
preços de venda frente aos custos de produção. É incrível, mas, a partir de
um determinado índice básico de produção, como um número mínimo de
sacas ou arrobas por hectare, em que a produção se viabiliza, o resultado
pode demonstrar a forte dependência que existe em cada uma dessas
variáveis. Numa situação de custos crescentes, nem sempre quem produz
mais obtém mais lucro! Da mesma maneira, nem sempre quem gasta
menos é o que terá mais lucro! Pode ser que, comparando resultados de
diversas empresas rurais, as que comercializaram melhor seus produtos
possam ter tido melhores resultados finais, mesmo não sendo as líderes
em produção ou em controle de custos! Como saber isso? Simulação.
Simular é preciso, junto de uma orçamentação bem feita.
Isso demonstra profissionalismo, isso demanda profissionalismo!
Falando nisso, abelhas são profissionais naquilo que fazem!
Fazendo uma comparação com o mundo das abelhas, o
produzir bem, o comprar bem e o vender bem correspondem tanto
à aquisição de matérias primas, à construção e à manutenção da
colmeia, como à produção e ao uso do mel com equilíbrio e sucesso.
Para as abelhas, a boa economia resulta no eficiente uso do recurso
econômico, o mel.
Ipsis Apis 17
Entre o mel e a flor, encontra-se a
abelha. Essa é a ligação entre o produto
em estado bruto, selvagem e algo mais
elaborado, mais refinado, com valor
agregado, que é o mel. Isso demonstra
que, além de produzir bem, temos que
aprimorar os produtos, agregar valor,
inserir características no produto final,
que o diferenciem a ponto de criar benefícios, como, por exemplo, um
melhor preço de comercialização ou mesmo um aumento de demanda com
consequente acréscimo do volume de produção e vendas.
Voltando um pouco à ideia da tríade: precisamos das três pernas
bem firmes para que a atividade agropecuária tenha sucesso e seja susten-
tável. É como se fixássemos sobre um tripé do tipo fotográfico uma luneta
de longo alcance. Se o tripé der firmeza à luneta, podemos ter uma visão
clara de coisas que estão se passando a uma grande distância. Ao contrá-
rio, se o tripé não estiver bem apoiado, não conseguiremos ver com grande
aumento, vai tremer, sequer iremos enxergar o que se passa ao nosso
redor, perderemos, então, a oportunidade de enxergarmos mais longe e
com antecipação.
Poucas pessoas, na prática, “apoiam bem a luneta”, a ponto de
terem uma visão privilegiada de eventos e situações
futuras. Quem tem esse cuidado, que se traduz no
mercado quase como um “dom”, destaca-se tremen-
damente no meio de que participa. A grande dificul-
dade em antever, com bom índice de acerto, o que
pode acontecer em um tempo futuro, se o compre-
endermos sob certo ponto de vista, imaginando essa
luneta, é mais dependente de um bom método, de medidas e cuidados
rigorosos, do que de palpites ou qualquer tipo de apostas ou adivinhações.
Todos os indivíduos, que se destacam em sua atividade, têm as três
pernas bem conhecidas e bem apoiadas no chão.
18
Abelhas conhecem muito bem essa tríade. Sabem perfeita-
mente como administrar com precisão a produção, a aquisição e a
cessão de seus bens com planejamento, equilíbrio, economia e
eficiência. Toda equipe de abelhas tem uma hierarquia, em que cada
indivíduo sabe como desempenhar seu papel, assim como tem
clareza do quanto é importante desempenhá-lo bem para manter a
saúde e o bem estar de sua colmeia.
Analisando melhor, veremos que a base que corresponde ao
produzir bem é composta por uma variação de técnicas e modelos de
conhecimento. O produzir bem não se limita a bons índices de produtivi-
dade. Pressupõe, também, a adequação às normas sociais e ambientais
para garantir o estabelecimento e a manutenção da sustentabilidade.
Dentro do produzir bem, quero chegar a um fator que gera uma tremenda
participação e que é ainda pouco quantificado com relação ao seu nível de
influência sobre qualquer atividade produtiva: a mão-de-obra.
Refletindo um pouco sobre a
importância disso na indústria, no
comércio, na prestação de serviços,
em toda e qualquer atividade,
observamos que a qualidade da
mão-de-obra gera grandes diferenci-
ais produtivos. Temos que ir um
pouco mais além, pois, no caso
específico da agropecuária, esta tem
uma tremenda dificuldade a mais
que os outros setores para lidar: o
nível de escolaridade dos colabora-
dores. Atividades, que são desenvol-
vidas em cidades, por facilidades logísticas, influências culturais ou
mesmo econômicas, são realizadas por colaboradores com um melhor
Ipsis Apis 19
acesso ao estudo e ao conhecimento. É bastante comum encontrar no
meio rural baixo nível de escolaridade entre os trabalhadores, o que de
certa forma limita o avanço, o acesso e a aplicação de tecnologias produti-
vas na atividade.
No meio rural, em cargos de gerência, sub-gerência e chefias,
notou-se crescente demanda por acesso ao conhecimento, embora essa
busca pela informação também tenha atingido os demais cargos de forma
menos incisiva. Nos níveis mais altos da hierarquia, essa qualificação
concilia autonomia (poder decidir) com nível de conhecimento (que
auxilia no saber decidir). Essa junção entre poder e saber decidir confere
mais agilidade, qualidade e economia à empresa.
Embora haja uma necessidade crescente em adquirir, somar,
multiplicar e dividir conhecimentos nas empresas rurais, na prática,
observa-se uma evolução mais lenta na qualificação de cargos com menos
autonomia.
Para que esse panorama mude, talvez o caminho mais curto consis-
ta na fusão de interesses e investimentos públicos e privados. A informa-
ção com toda a logística necessária para que chegue aos lugares mais
distantes deve não só ultrapassar as barreiras tecnológicas, mas também
culturais, étnicas e econômicas.
Mas, como as abelhas, esses insetos notáveis que partilham com o
homem o mesmo ambiente rural, procedem para selecionar, treinar,
desempenhar e especializar funções dentro de sua comunidade? É o que
veremos no próximo capítulo.
O produzir bem não se limita
a bons índices de produtividade.
Pressupõe, também, a adequação às
normas sociais e ambientais para
garantir o estabelecimento e a
manutenção da sustentabilidade.
A escola das abelhas
A COLMEIA
Talvez o melhor sinônimode progresso na colmeia se resuma ao
significado da palavra cooperação.
A escola das abelhas
Cooperação está ligada ao comportamento de cada
indivíduo ao se disponibilizar para atuar em grupo,
e, para isso, há necessidade de que todos entrem em
uma mesma sintonia de ajuda mútua. Cada função tem
sua importância na equipe, mas, quando todas se
unem em benefício mútuo, a importância maior se
transfere à solidez do que é feito e de como é feito.
Podemos dizer até que cooperação é a linha
que costura as roupas da colmeia.
O efeito de características humanas nosresultados de empresas rurais não pode ser
medido da mesma forma que o adubo utilizadoou chuva distribuída, mas possui a mesma
importância.
A EQUIPE RURALE A COMEHA
A escola das abelhas
Na colmeia, vemos hierarquia, comando,
organização, distribuição de atividades,
comunicação, planejamento, padronização,
segurança, e, o que é mais importante:
não existe o individualismo, e, sim,
o senso de grupo, a harmonia da equipe.
Uma colmeia de abelhas sem cooperação
estaria condenada ao fracasso.
Centralizar ou descentralizar o poder se resumeem uma opção tomada por gestores para alcançar
o sentimento de segurança ou de conforto.
MODELOSADMINISTRATIVOS
A escola das abelhas
É muito importante sempre,
ao se modificar o modelo administrativo,
tanto migrando para uma centralização,
quanto para uma descentralização, que seja
feito de forma gradativa e lenta, havendo a
necessidade de que a transição seja conduzida
realizando a adaptação da equipe
com tranquilidade e clareza.
O ambiente que envolve cada equipe ruralé como o ar que se respira, quanto melhor suas
condições, melhor a saúde do usuário.
O AMBIENTE
O ambiente físico rural é ocupado por cargos,
que formam equipes. Cada propriedade tem suas
características peculiares. A padronização que se
busca no ambiente rural não seria física, e, sim,
nas equipes. Equipes necessitam ser estruturadas,
com geometria definida, exata, como a estrutura
de um alvéolo. Tudo relacionado à COMEHA
irá se manifestar no AMBIENTE.
A escola das abelhas
Ninguém pode saber quanto e comoproduz sem realizar duas coisas básicas:
medir e comparar resultados.
A AVALIAÇÃO DA COMEHA
A escola das abelhas
O mais importante para se acertar nas
contratações, de forma simplificada é saber
descrever, traçar quais são os requisitos, as
necessidades exigidas para o cargo a ser ocupado.
Essas necessidades estarão baseadas nos fatores
que estruturam a COMEHA, mas de forma
direcionada para o cargo em questão.
FORMAÇÃO DE UMACOMEHA DE SUCESSO
Sucesso é uma palavra muitoperseguida por seus efeitos, mas pouco
buscada em suas causas.
A escola das abelhas
Em equipes de trabalho, cada membro, cada
gestor, cada proprietário deve procurar fazer
sempre o melhor dentro de sua responsabilidade
e autonomia. Somando-se o melhor de cada
um com o melhor do grupo, pode-se obter
uma COMEHA de sucesso.
Na fórmula de um trabalho em equipe,
somam-se esforços, multiplicam-se forças e
se dividem benefícios.
“Só elas em comum criam os filhos,
só elas têm juntos seus abrigos,
só elas têm leis fundamentais
com que passam a vida em sua pátria,
Penates fixos, consciência deles,
só elas sabem que virá Inverno,
pois lembrando o trabalho do Verão
a todas dão de novo o que gastaram.
Têm umas encargo do sustento,
o cumprem trabalhando pelos campos,
enquanto as outras, dentro em seus limites,
as lágrimas transformam dos narcisos
ou o fazem com cascas e seus viscos
para que tenham alicerces os favos,
depois de cima a baixo os revestindo
de camadas de cera bem tenaz.
Outras fazem sair todas as crias
que são como esperança da nação,
outras condensam muito puro mel
e de límpido néctar enchem favos.
Outras, à sorte, são de guardar portas,
há as vigias de águas e de nuvens
as que tomam as cargas das que chegam;
outras ainda formam batalhão
para afastar vespões, os da preguiça.
O trabalho referve, todo o mel
exala uma fragrância de tomilho”.
Referências1. PEREIRA, Fábia de Melo et al. Organização Social e Desenvolvimento das abelhas Apis mellifera.
Embrapa Meio-Norte. Sistema de produção. V. 3. Julho/2003. Versão eletrônica. ISSN 1678-8818.
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mel/SPMel/index.htm. Último
acesso em 05/02/2011.
2. PEREIRA, Fábia de Melo et al. Raças de Abelhas Apis mellifera. Embrapa Meio-Norte. Sistema de
produção. V. 3. Julho/2003. Versão eletrônica. ISSN 1678-8818.
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mel/SPMel/index.htm. Último
acesso em 05/02/2011.
3. PEREIRA, Fábia de Melo et al. Histórico da Apicultura. Embrapa Meio-Norte. Sistema de
produção. V. 3. Julho/2003. Versão eletrônica. ISSN 1678-8818.
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mel/SPMel/index.htm. Último
acesso em 05/02/2011.
4. CHIAVENATTO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. ISBN 85-352-
1448-8.
5. BEATTY, Richard, BECKER Brian & HUSELID, Mark. Scorecard para Recursos Humanos: conceitos
e ferramentas para medir a contribuição das equipes. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. ISBN 85-352-1680-4.
6. MALAGODI-BRAGA, Kátia Sampaio. Abelhas: por que manejá-las para a polinização? Apacame –
Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíferas Europeias. Mensagem Doce
número 80. 2005. Versão eletrônica.
http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/80/abelhas2.htm. Último acesso em 05/02/2011.
7. IMEA – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Concentração de terras para a
agricultura em Mato Grosso. Cuiabá-MT: 2010.
8. Relatório Brundtland - Nosso Futuro Comum. Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. 1987.
9. Van Engelsdorp D, Evans JD, Saegerman C, Mullin C, Haubruge E, et al. (2009) Colony Collapse
Disorder: A Descriptive Study. Plos One 4 ( 8 ) : e6481. doi: 10.1371/journal.pone.0006481. Versão
eletrônica, último acesso em 17/02/2011.
10. VIRGÍLIO. Geórgicas. In: Obras de Virgílio. Bucólicas, Geórgicas, Eneida. Tradução de Agostinho
da Silva. 2.ª ed.Lisboa: Temas & Debates, 1999. Volume XIII: Traduções, p. 71. Versão eletrônica
disponível no site www.agostinhodasilva.pt
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Vivemos um momento ímpar da economia brasileira e
mundial. Nos últimos anos, a cadeia do agronegócio foi
a maior responsável pelo superávit primário do PIB
brasileiro. A evolução das nossas práticas agrícolas
nos posicionou como celeiro agrícola do mundo.
Mais de 6 bilhões de habitantes precisam de alimen-
tos, água, energia e combustíveis. Será que o Brasil, ou
melhor, você está preparado para vencer os desafios que
vêm pela frente?
A competitividade no agronegócio é extremamente elevada.
Competimos com “players” mundiais e temos nos preparado bem para
isso. Mas não adianta apenas técnica e condições climáticas favoráveis,
pois são as pessoas que realmente fazem acontecer.
Em estudo comparado, aborda um tema ainda pouco
explorado, mas muito importante: a gestão de equipes rurais. A partir de
um comparativo entre o universo de uma colmeia e as equipes rurais é
possível aprender muito com as abelhas, sua organização e cooperação,
podendo ser perfeitamente aplicáveis esses conhecimentos nas equipes
de colaboradores rurais.
Em meio a desafios, vitórias e derrotas, tanto abelhas quanto pessoas
demonstram suas habilidades para formar equipes de sucesso. É possível
adquirir e aplicar conhecimentos advindos de ambas, dependendo da
observação de cada um de nós.
IPISIS APIS