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  • PLANTAS MEDICINAIS COLETNEA DE SABERES

    Schirlei da Silva Alves Jorge

  • ii

    Agradecimentos. Agradeo a todos que contribu-ram para a realizao deste trabalho. Em particular ao meu esposo, Alfredo Jorge, pelo incentivo e auxlio. Ao meu filho, Adriano, pela elaborao das ilustra-es. Ao colega Paulo Eduardo O. Mattos pela foto da capa.

  • ... E o seu fruto servir de alimento e a sua folha de remdio. Velho Testamento - Ezequiel, 47:12.

    iii

  • APRESENTAO

    A idia de organizar esta coletnea de saberes referentes s plantas

    medicinais vem de longa data. um trabalho muito mais de pesquisa do

    que de criao.

    O tema apaixonante e encontra-se disperso em vasta literatura, di-

    ante disto sentimos a necessidade de fornecer um material de apoio s

    pesquisas escolares, comunidade em geral para que possa ser lido e

    lembrado em qualquer momento.

    Inmeras fontes foram consultadas e nas bibliografias locais so en-

    contradas diversas referncias de trabalhos realizados nos diferentes bi-

    omas do Estado de Mato Grosso.

    Sem maiores aprofundamentos, procuramos levar ao amigo leitor

    informaes sobre os vrios temas que envolvem o estudo das plantas

    medicinais e da etnobotnica, disciplina cientfica, que estuda as interre-

    laes estabelecidas entre o ser humano e as plantas em diferentes ambi-

    entes e atravs do tempo.

    Enfim, esperamos que o nosso trabalho venha contribuir tanto -

    queles que pretendam ter uma pequena horta medicinal, quanto para in-

    centivar novos pesquisadores.

    A rvore que plantas dar-te-, talvez amanh, o remdio que precises.

    Emmanuel.

  • 1

    SUMRIO

    PLANTAS MEDICINAIS.............................................................................................................3

    INTRODUO .............................................................................................................................3

    HISTRIA DAS PLANTAS MEDICINAIS...............................................................................4

    IDENTIFICAO BOTNICA................................................................................................13

    IDENTIFICAO POPULAR ..................................................................................................13

    CLASSIFICAO E IDENTIFICAO CIENTFICA........................................................14

    CLASSIFICAO BOTNICA ............................................................................................14 IDENTIFICAO CIENTFICA ..........................................................................................14

    PLANTAS MEDICINAIS...........................................................................................................16

    PRINCPIOS ATIVOS DOS VEGETAIS ................................................................................16

    FATORES QUE AFETAM OS TEORES DE PRINCPIOS ATIVOS .................................21

    INFLUNCIA LUNAR...............................................................................................................22

    METODOLOGIA DE PESQUISA COM PLANTAS MEDICINAIS....................................23

    ETNOBOTNICA ......................................................................................................................25

    METODOLOGIA DA PESQUISA ETNOBOTNICA ..........................................................27

    FICHA DE CAMPO....................................................................................................................31

    CUIDADOS NO CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS ...................................................32

    MANEIRAS ALTERNATIVAS DE CONTROLE DE PRAGAS E DOENAS EM

    PLANTAS MEDICINAIS...........................................................................................................38

    ESCOLHA DAS PLANTAS MEDICINAIS .............................................................................41

    Preparo do local de plantio......................................................................................................41 UM MODELO DE HORTA CASEIRA ....................................................................................42

    COLETA DE PLANTAS MEDICINAIS ..................................................................................49

    SECAGEM DAS PLANTAS MEDICINAIS ............................................................................51

    ARMAZENAMENTO E EMBALAGEM .................................................................................54

    MANIPULAO DAS ERVAS.................................................................................................55

    Administrao dos medicamentos base de plantas................................................................62

    Medidas mais utilizadas ..............................................................................................................62

    Cuidados no uso de plantas medicinais .....................................................................................63

    A CONSERVAO DAS ESPCIES.......................................................................................65

  • 2

    TERAPIAS COM PLANTAS MEDICINAIS...........................................................................66

    PROGRAMA DE MEDICINA NATURAL EM MATO GROSSO .......................................67

    PROGRAMA DE FITOTERAPIA E PLANTAS MEDICINAIS...........................................68

    PLANTAS PADRONIZADAS PARA UTILIZAO NO FITOVIVA.................................70

    BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................................72

    Literatura recomendada .............................................................................................................75

    Espcies citadas............................................................................................................................77

    GALERIA DE IMAGENS ..........................................................................................................79

  • PLANTAS MEDICINAIS

    INTRODUO Atravs da intuio, da superstio e da observao do comportamento animal

    o ser humano passou a conhecer as propriedades do reino vegetal. Sabemos que a-

    nimais domsticos como o co e o gato, procuram esvaziar seus estmagos consu-

    mindo ervas vomitativas. Conta uma lenda que um pastor de cabras verificou a ex-

    citao dos animais aps o consumo do fruto do caf (Coffea arabica). Preparou

    uma bebida com esses frutos para manter-se acordado e conseguir fazer suas ora-

    es e leituras.

    Se levarmos em conta que os animais so capazes de distinguir as plantas em

    espcies txicas e espcies alimentares, enganando-se raramente, a observao do

    comportamento desses animais representa fonte valiosa de informaes sobre a po-

    tencialidade dos vegetais.

    Recentemente foi relatada a seleo de espcies vegetais feita por chimpanzs,

    para fins teraputicos, das quais os estudos qumicos e farmacolgicos conseguiram

    isolar diversas substncias, entre as quais um potente antibitico.

    provvel que a utilizao das plantas como medicamento seja to antiga

    quanto o prprio homem. O uso de plantas esteve muito tempo associado a prticas

    mgicas, msticas e ritualsticas, da a dificuldade de delimitar com exatido a evo-

    luo da arte de curar.

    3

    O conhecimento acumulado talvez seja a riqueza maior da

    humanidade.

  • HISTRIA DAS PLANTAS MEDICINAIS Desde o ano 3000 a.C. tm-se informaes que a China dedicava-se ao cultivo

    de plantas medicinais. O Imperador Sheng-Nung utilizou uma srie de plantas em

    seu prprio corpo, para saber o efeito que provocavam. Entre tantas destacou o uso

    da raiz de ginseng, anunciando ser a mais fabulosa das ervas e que favorecia a lon-

    gevidade. Escreveu um tratado denominado PEN TSAO, verdadeira farmacopia

    que englobava todo o saber relacionado com o uso de plantas como medicamentos.

    Um antigo texto chins extrado da Farmacopia de Shen-Nung diz o seguinte so-

    bre o ginseng:

    Tem sabor adocicado e sua propriedade ligeira-

    mente refrescante, cresce nos desfiladeiros das montanhas. usado para reparar as cinco vsceras, harmonizar as energias, fortalecer a alma, afastar o medo, remover subs-tncias txicas, a brilhar os olhos, abrir o corao e me-lhorar o pensamento. Uso contnuo dar vigor ao corpo e prolongar a vida.

    A histria conta que o Imperador viveu 123 anos, sempre experimentando as

    ervas e tomando ginseng, erva que nos dias atuais muito utilizada para regenera-

    o dos tecidos, melhoria do funcionamento de algumas glndulas, para o rendi-

    mento fsico e mental, dores de cabea, amnsia, como apoio no tratamento de

    grande nmero de doenas do corao, dos rins e dos sistemas nervoso e circulat-

    rio.

    Em seu "Cnone das Ervas" foram mencionados 252 plantas. Em 2798

    a.C., o Imperador Huang Ti, formalizou a Teoria Mdica no Nei Ching. No sculo

    VII, no governo da dinastia Tang, foi impressa e distribuda uma reviso do "C-

    none de Ervas. 4

  • Li-Chi-Chen (1578), completou seu Compndio de Matria Mdica on-

    de reuniu todos os conhecimentos existentes no campo da farmacologia, com 1954

    prescries mdicas, relacionando mais de 1000 drogas de origem vegetal, animal e

    mineral, distribudos em 16 captulos.

    Placas de barro de 3.000 a.C. registraram importaes de ervas para a Babil-

    nia. Por volta de 2.000 a.C. aconteceram s trocas com a China, de ginseng, a erva

    da longevidade. A farmacopia babilnica abrangia 1400 plantas.

    O primeiro mdico egpcio conhecido foi Imhotep ( 2980 a 2900 a.C.), grande

    curandeiro, que utilizava ervas medicinais em seus preparados mgicos. Os Papiros

    de Ebers, do Egito, foram um dos herbrios mais antigos que se tem conhecimento,

    datando de 1550 a.C., e ainda est em exibio no Museu de Leipzig ( so 125

    plantas e 811 receitas).

    Nessa mesma poca os mdicos indianos desenvolviam avanadas tcnicas ci-

    rrgicas e de diagnstico e usavam centenas de ervas nos seus tratamentos. Os hin-

    dus consideram as ervas como as "filhas prediletas dos deuses".

    Sabe-se que desde 2300 a.C., egpcios, assrios e hebreus cultivavam diversas

    ervas e traziam tantas outras de suas expedies.

    Nesses tempos, as plantas eram muitas vezes escolhidas por seu cheiro,

    acreditavam que certos aromas afugentavam os espritos das enfermidades. Essa

    crena continuou at a Idade Mdia, onde os mdicos usavam no nariz um aparelho

    para perfumar o ar que respiravam.

    Os egpcios utilizavam alm das plantas aromticas, muitos outras com efeitos

    diversos. Tambm na arte de embalsamar os cadveres para guard-los da deterio-

    rao, experimentaram muitas plantas.

    Diocles (400 a.C.) escreveu o primeiro livro sobre ervas conhecido no Ociden-

    te. Foram os gregos os primeiros a sistematizar os conhecimentos adquiridos at en-

    to.

    5

  • Hipcrates (460- 361 a.C.), denominado Pai da Medicina, reuniu em sua o-

    bra "Corpus Hipocratium" a sntese dos conhecimentos mdicos de seu tempo, indi-

    cando para cada enfermidade o remdio vegetal e o tratamento.

    Teofrasto (372-285 a.C.), em sua Histria das Plantas, catalogou 500 esp-

    cimes vegetais.

    No sculo XIII a.C., Asclpio, curandeiro grego, grande conhecedor das ervas,

    concebe um sistema de cura, (tambm chamado de Esculpio de Cos) fundando o

    primeiro spa que se tem conhecimento, em Epidauro. Era baseado em banhos, chs,

    jejum, uso da msica como terapia, jogos e teatros. Tales de Mileto e Pitgoras

    compilaram essas receitas (Oka, 1998).

    O conhecimento grego sobre as ervas foi adquirido na ndia, Babilnia, Egito

    e at na China.

    Crateus, sculo I a.C., publicou a primeira obra - 0 Rhizotomikon sobre as

    plantas medicinais, com ilustraes.

    Dioscrides, mdico grego, no sculo I da Era Crist, enumerou em seu trata-

    do, "De Materia Medica, mais de 500 plantas medicinais e seus usos.

    Outra preciosa contribuo foi de Pelcius, mdico de Nero, que escreveu seus

    estudos sobre plantas medicinais, incluindo mais de 600 espcies diferentes que

    constituram referncia por 15 sculos.

    Plnio, o Velho, que tambm viveu no sculo I da nossa era, catalogou sua o-

    bra, Histria Natural, em 37 volumes, e em oito deles descreve o uso pelos roma-

    nos das espcies vegetais teis medicina.

    No incio da era crist, na ndia, destacou-se o texto Vrikshayurveda, de Para-

    sara, autor de muitos livros, inclusive sobre plantas medicinais.

    Galeno, mdico grego, segundo sculo depois de Cristo, foi o primeiro a tratar

    as cibras com ruibarbo, erva importada da China. Colecionou e descreveu muitos

    medicamentos e frmulas cujos mtodos de preparao deram origem farmcia

    galnica.

    6

  • 7

    Devido a eventos histricos como ascenso e queda do Imprio Romano e for-

    talecimento da Igreja Catlica (que no via com bons olhos a aprendizagem cient-

    fica e encarava a doena como um castigo), o estudo das plantas medicinais na Ida-

    de Mdia ficou estagnado por um longo perodo. Muitos escritos gregos foram es-

    quecidos ou perdidos e recuperados em parte no incio do sculo XVI, por meio de

    verso em rabe. Ocorreu ainda o triunfo da "Medicina dos Signos", que postulava

    a cura de determinadas partes doentes do corpo por meio de plantas que lhe fossem

    semelhantes.

    Durante o sculo X apareceu "The Leech Book of Bald and Cild", escrito por

    um curandeiro anglo-saxo, no qual misturava os conhecimentos escritos por Dios-

    crides, com os rituais que usavam na poca e com receitas de magia e medicina

    provenientes do Oriente.

    Apenas alguns mosteiros, no sculo XI, na Europa, mantiveram a literatura

    medicinal e algumas mulheres de aldeias remotas. Fora desses locais eram utilizadas

    em rituais mgicos.

    Surgem as Escolas de Salerno e Montpellier (sc.XIII) e, a partir delas, as uni-

    versidades, abrindo para o leigo as portas do conhecimento at ento reservado aos

    monges e religiosos. A universidade de Salerno tem sua obra mais importante o

    Regimen sanitatis salernitatum, que trata das ervas medicinais.

    A bd-Allah Ibn Al-Baitar, que viveu no sculo XIII e foi o maior especialista

    rabe no campo da botnica aplicada Medicina, produziu obra valiosa, descreven-

    do mais de 800 plantas.

    Em 1484 foi impresso o primeiro livro sobre cultivo de ervas medicinais, que

    praticamente era uma cpia dos escritos do sculo IV, contendo material descrito

    por Dioscrides. A cpia mais antiga dos escritos de Dioscrides um manuscrito

    bizantino do sculo VI chamado Codice vindobonensis, considerado o documento

    mdico mais importante at o aparecimento da obra de Leonardo Fuchs chamada

    Historia stirpium, que data de 1542.

  • 8

    Grande quantidade de livros comeou a aparecer em toda Europa, com a in-

    veno da imprensa. Em quase todos eram descritas partes das obras de Dioscri-

    des, Galeno, Hipcrates, Aristteles, com ilustraes copiadas diretamente dos ma-

    nuscritos da antiguidade.

    S em 1542, na Alemanha, foi elaborada a primeira farmacopia, uma lista de

    300 espcies de plantas medicinais provenientes de todas as partes do mundo. No

    final do sculo XVI, j haviam sido organizados jardins botnicos em vrias univer-

    sidades.

    At o sculo XVI, os tratados de Botnica, ento denominados herbrios,

    consideram as plantas por suas virtudes medicinais.

    A ascenso do prestgio da fitoterapia pode ser traduzida pela difuso da pu-

    blicao de herbrios como pela criao da primeira ctedra de botnica na Escola

    de Medicina de Pdua, em 1533.

    Em 1551 foi escrito o primeiro texto em ingls "Nieuwe Herball", de William

    Turner, incansvel viajante e grande coletor de plantas (Hoffmann et al. 1992).

    Em 1563, Garcia da Orta, portugus que viveu na ndia, edita em Goa a obra

    Colquios dos Simples, das Drogas e Cousas Medicinais da ndia.

    John Gerard, em 1597, incluiu em seu "Herbrio" de 1600 pginas, plantas

    provenientes do Novo Mundo e preservou os conhecimentos botnicos dos monges

    medievais.

    No sculo XVII, o tratado Herbrio Completo, do ingls Nicolas Culpeper,

    relaciona as virtudes das plantas com os planetas.

    John Parkinson escreve dois importantes livros sobre a botnica e seus usos

    medicinais: "Thetrum Botanicum" e "Paradisi in Sole Paradisus Terrestris".

    Durante o sculo XVIII, Sir John Hill escreve "Virtudes de las Hierbas Brit-

    nicas", um trabalho indito e bem ilustrado.

    Quase no final deste sculo, Samuel Hahnemann deu a conhecer sua teoria so-

    bre a homeopatia, que aconselhava o tratamento das enfermidades com pequenas

  • quantidades de substncias derivadas das plantas, as quais eram ministradas aos pa-

    cientes como uma vacina.

    Os alquimistas, dentre eles Paracelso, impulsionaram a arte de curar com plan-

    tas, lanando as bases da medicina natural. Ressaltavam a importncia de seguir-se

    um ritual na preparao de ervas a serem utilizadas na teraputica e que o mdico

    deveria estimular a resistncia do organismo, usando remdios naturais e procuran-

    do atingir o mximo de capacidade de cura do prprio doente.

    Durante o sculo XIX, o uso das ervas ficou mais restrito e cresceu o uso dos

    medicamentos obtidos atravs de processos qumicos industriais. Entretanto, os li-

    vros sobre ervas continuaram aparecendo. C. F. Millspaugh, publicou em 1887, nos

    Estados Unidos, um livro com as plantas europias cultivadas na Amrica, alm de

    muitas ervas nativas do Novo Mundo.

    Nos anos que ocorreram as guerras mundiais, o interesse pelas plantas medici-

    nais voltou devido necessidade de obter remdios eficazes para mltiplas enfermi-

    dades, visto que toda a economia dos pases envolvidos na guerra estava destinada

    produo de material blico. Apareceu, no perodo entre guerras, um tratado da in-

    glesa M.Gneve, "Um Herbario Moderno", que trata das propriedades medicinais,

    culinrias, cosmticas e econmicas, bem como o cultivo e o modo de uso das er-

    vas.

    O Primeiro herbrio das Amricas o Manuscrito Badanius, o herbrio asteca,

    do sculo XVI, em Nahuatl.

    No Brasil, o uso das plantas como medicamento teve influncia das culturas

    indgena, africana e europia.

    Entre os ndios, o paj ou feiticeiro utilizava plantas entorpecentes para sonhar

    com o esprito que lhe revelaria a erva ou o modo de curar o enfermo e tambm pela

    observao de animais que procuram certas plantas quando doentes. Um exemplo

    o uso da raiz de ipecacuanha, pelos animais, para alvio de clicas e diarrias.

    9

  • 10

    As primeiras notificaes fitolgicas brasileiras so atribudas ao padre Jos

    de Anchieta e a outros jesutas. Alguns manuscritos narravam pescarias miraculo-

    sas, onde os aborgenes narcotizavam os peixes com o uso de cips.

    Os indgenas brasileiros acreditavam em fatores sobrenaturais, quando se tra-

    tava de doenas sem causa externa identificvel como ferimentos, fraturas e enve-

    nenamento.

    Os pajs associavam o uso de plantas a rituais de magia e seus tratamentos e-

    ram, assim, transmitidos oralmente de uma gerao a outra.

    Para os africanos, quando algum adoecia porque estava possudo pelo esp-

    rito mau e um curandeiro se encarregava de expuls-lo por meio de exorcismo e uso

    de drogas.

    A influncia europia teve incio no Brasil com a vinda dos primeiros padres

    da Companhia de Jesus chefiados por Nbrega, em 1579, os quais chegaram com

    Tom de Souza para catequizar os ndios. Formularam receitas chamadas Boticas

    dos Colgios, base de plantas para o tratamento de doenas.

    Informes sobre a medicina jesutica nos primeiros sculos da nossa coloniza-

    o mostram a importncia das plantas como medicamento.

    Segundo Camargo (1998), a princpio os medicamentos vinham do reino j

    preparados. Mas as piratarias do sculo XVI e as dificuldades da navegao impedi-

    ram, com freqncia, a vinda dos navios de Portugal e era preciso reservar grandes

    provises, como sucedia em So Vicente e So Paulo ao tempo da Conquista do Rio

    de Janeiro (1565). A necessidade local obrigou os jesutas a terem proviso de me-

    dicamentos; e tambm logo a procurarem os que a terra podia dar, com suas plantas

    medicinais, que comearam estudar e utilizar em receitas prprias, como as do ir-

    mo Manuel Tristo, em 1625. Foi o primeiro boticrio ou farmacutico da Compa-

    nhia no Brasil. Deixou uma breve Coleo de Receitas Medicinais conhecida por

    Purchas, em 1625.

    Ficou famosa a Triaga Braslica, que aplicava em vrias doenas, e cuja fr-

    mula era mantida em segredo pelos jesutas.

  • 11

    Tambm Pedro Luiz Napoleo Chernoviz elaborou, baseado em conhecimen-

    tos adquiridos e em publicaes europias, um Formulrio e um Dicionrio, que

    passaram a ser os guias mdicos dos lares brasileiros.

    A Revista do Arquivo Municipal de So Paulo cita que os ndios utilizavam a

    batata-de-purga para limpar o aparelho digestivo e a ipecacuanha curava tudo, era

    uma verdadeira panacia.

    Os europeus viram uma flora exuberante e perceberam que os ndios sabiam

    fazer uso da mesma. Levaram tudo que podiam e trouxeram ervas, como a camomi-

    la, calndula e alfazema, que se aclimataram muito bem. Essas influncias constitu-

    em a base da medicina popular que h algum tempo vem sendo retomada pela me-

    dicina natural, visando no s a cura de algumas doenas, mas restituir o homem

    vida natural.

    A primeira histria natural brasileira, elaborada por Wilhem Pies e Georg

    Marcgraf, integrantes da comitiva de Maurcio de Nassau, inclua um herbrio de

    plantas medicinais (Historia Naturalis Brasiliae). Os paulistas com suas Entradas

    e Bandeiras foram os primeiros a utilizarem a medicina herbalista, e mais tarde os

    negros escravos.

    Entre 1779 e 1790, Frei Veloso faz um levantamento da capitania do Rio de

    Janeiro e arredores, resultando os livros Plantas Fluminensis e O Fazendeiro do

    Brasil.

    Karl Friedrick Von Martius, chegou ao Brasil em 1817, viajou por vrios esta-

    dos brasileiros, como So Paulo, Minas Gerais, Maranho e Amazonas. Coletou

    cerca de 6500 espcies, surgindo da sua obra Flora Brasiliensis.

    No mundo moderno, um de seus maiores botnicos, Richard Schultes afirma

    que o conhecimento indgena do poder curativo das plantas uma cincia muito an-

    tiga em que as doenas do corpo e da alma esto intimamente ligadas.

    Os curandeiros (xams) entendem que a sade depende do perfeito equilbrio

    do corpo, dos sentidos, da mente e do esprito, para que a energia possa fluir e obter

    resultados satisfatrios.

  • 12

    As plantas sempre estiveram ligadas ao homem e sempre estaro sendo utili-

    zadas por ele, tanto na cura dos males como em outros mltiplos usos.

  • 13

    IDENTIFICAO BOTNICA

    Uma das fases mais importantes no uso de plantas medicinais a identificao

    da espcie que possui a atividade teraputica que necessitamos.

    O processo de identificao de uma planta exige uma classificao que pode

    ser em nvel popular como em nvel cientfico.

    IDENTIFICAO POPULAR Popularmente uma planta identificada atravs dos sentidos e memorizao

    de aspectos de importncia na planta como: forma da planta, das folhas e flores;

    cheiro caracterstico, superfcie lisa ou spera; sabor adocicado, amargo, cido, etc.

    Tambm podem dividir as plantas em grupos homogneos como: plantas

    cheirosas, de beira de estrada, de beira de rio, domsticas, rasteiras, etc.

    Uma planta pode ter um ou mais nomes populares, que podem variar

    conforme a regio e a cultura do povo. O nome popular fundamental no trabalho

    comunitrio, atravs dele que se d o reconhecimento popular das plantas.

    As confuses com relao identificao de plantas podem trazer diversos

    problemas como: uso de forma errada, intoxicao com a planta errada, compra ou

    venda da planta errada, plantio de espcie no adequada ao local, etc. Para tentar

    resolver este problema os pesquisadores deram um nome oficial, cientfico para

    classificar os vegetais.

  • 14

    CLASSIFICAO E IDENTIFICAO CIENTFICA CLASSIFICAO BOTNICA Os critrios mais aceitos atualmente levam em considerao o grau de paren-

    tesco entre as espcies, atravs do processo de evoluo.

    O parentesco demonstrado atravs de caractersticas como a morfologia flo-

    ral, produo de metablitos secundrios, etc.

    Os vegetais so agrupados da seguinte forma: Reino, Diviso, Classe, Ordem,

    Famlia, Gnero, Espcie.

    A unidade fundamental do sistema de classificao botnica a espcie.

    A classificao botnica feita por especialistas, atribudo um nome forma-

    do por duas palavras latinas, designando o gnero e a espcie acompanhados do

    nome do Autor (primeira pessoa que classifica a planta no sistema botnico). O no-

    me cientfico vem grifado de forma diferente, isto , em itlico, negrito ou grafado.

    O primeiro nome (gnero) inicia em maiscula e o segundo em minscula. No final

    do nome cientfico vem o nome do autor.

    IDENTIFICAO CIENTFICA

    feita atravs da comparao da planta em estudo com uma espcie j classificada.

    As espcies que j possuem classificao definida so encontradas em colees denomi-

    nadas Herbarium.

    HERBRIOS - so instituies, geralmente associadas a institutos de pesquisa ou u-

    niversidades, que abrigam colees de materiais botnicos, secos, identificados e or-

    denados, destinados exposio e ao estudo. Os primeiros herbrios do Brasil so:

    Herbrio do Museu Nacional, Rio de Janeiro (1831)

    Herbrio da Escola de Farmcia de Ouro Preto, Minas Gerais (1892)

    Herbrio Paraense Emlio Goeldi (1895)

    Herbrio do Instituto Florestal de So Paulo (1896)

    Atualmente 113 Herbrios ativos no Brasil

  • Em Mato Grosso h os seguintes herbrios:

    UfMT, Herbrio Central (1983) acervo - 25.411 espcimes

    nico fiel depositrio para manter plantas vivas do Estado de Mato Grosso (or-

    qudeas, cactos, bromlias, arceas)

    Coleo Zoobotnica James Alexander Ratter (1997), Nova Xavantina

    Herbrio da Amaznia Meridional (2007), Alta floresta

    Outra fonte de pesquisa Flora Brasiliensis on line: florabrasiliensis.cria.org.br

    Carl Friedrich Phillipp von Martius (1840 a 1906)

    Para fazer esta comparao preciso coletar a planta, de preferncia florida, e

    preparar uma exsicata (partes vegetais retiradas da planta, prensadas e secas, con-

    tendo estruturas vegetativas e reprodutivas (flores e ou frutos), acompanhadas de e-

    tiqueta contendo informaes sobre a planta, o local e a data de coleta). Cada exsi-

    cata possui um nmero de registro.

    Uma boa fonte para completar este estudo Fidalgo & Bononi, Tcnica de

    coleta, preservao e herborizao de material botnico.

    15

  • 16

    PLANTAS MEDICINAIS Uma planta tida como medicinal por possuir substncias que tm ao far-

    macolgica (atuao dos componentes qumicos das plantas no organismo). Estas

    substncias so denominadas princpios ativos.

    A planta medicinal constitui uma unidade teraputica, todos os princpios ati-

    vos formam um fitocomplexo que interage entre si e com outras molculas aparen-

    temente inativas, este fitocomplexo representa a unidade farmacolgica integral da

    planta medicinal.

    PRINCPIOS ATIVOS DOS VEGETAIS

    So compostos qumicos secundrios sintetizados pelas plantas atravs dos

    nutrientes, da gua e da luz que a planta recebe. Podem provocar reaes nos orga-

    nismos, alguns podem ser txicos, dependendo da dosagem utilizada.

    Nem sempre os princpios ativos (Quadro I), de uma planta so conhecidos,

    mas mesmo assim ela pode apresentar atividade medicinal satisfatria e ser usada,

    desde que no apresente efeitos txicos graves. Para as plantas estas substncias es-

    to relacionadas com atividades de proteo contra pragas e doenas e atrao de

    polinizadores. Tm a funo de melhorar as condies de sobrevivncia da planta.

    No so estveis e nem se distribuem de maneira homognea. Podem estar concen-

    trados nas razes, rizomas, ramos, caules, folhas, sementes ou flores, e o teor varia

    de acordo com a poca do ano, hora de coleta, solo ou clima onde vive a planta.

    As diferenas existem inclusive em plantas cultivadas lado a lado. Para que a

    planta medicinal tenha o mximo de efeito e propicie uma melhora rpida, preciso

    que seja colhida no momento em que haja maior quantidade de princpios ativos e

    na parte da planta em que esta concentrao seja mxima.

    preciso que a planta seja manipulada de forma a preservar esta quantidade

    de princpios ativos conferindo o mximo de eficcia.

  • 17

    Para melhor compreenso dos componentes vegetais e de suas aes, apresen-

    tamos a seguir um breve resumo dos principais princpios ativos.

    leos essenciais dos princpios ativos, os leos essenciais, formam o grupo

    mais importante do ponto de vista econmico. So componentes vegetais extrema-

    mente volteis, dificilmente solveis em gua, e possuem odor intenso, algumas ve-

    zes desagradvel. Podem estar contidos em flores, frutos, razes e folhas das plantas

    aromticas. Em algumas espcies como o cedro, a canela e o linho, encontram-se

    na casca.

    Alcalides formam um grupo economicamente importante, pois entram na

    composio de inmeros medicamentos. Plantas produtoras de alcalides so po-

    tencialmente perigosas se consumidas sem orientao mdica, por isso diz-se que

    so plantas de uso industrial. Podem causar toxicidez mesmo quando usadas em pe-

    quenas doses. Como exemplo de plantas produtoras de alcalides, temos a coca e o

    tabaco.

    Taninos so substncias que protegem o vegetal do ataque de microorga-

    nismos, formigas ou cupins. A sensao travosa da boca, quando ingerimos planas

    contendo tanino, causada pela precipitao das protenas na mucosa. Os taninos

    podem provocar irritao gstrica. So encontrados em frutos verdes, p de banana

    verde, cascas do caule e raiz de algumas espcies vegetais como: caju roxo, aroeira,

    nogueira.

    Mucilagens so polissacardeos complexos formados por acares simples e

    que incham quando em contato com a gua proporcionando um lquido viscoso.

    So princpios ativos que protegem as mucosas contra os irritantes locais, atenuando

    as inflamaes. Ocorrem em diversas plantas, mas somente algumas espcies pos-

    suem aplicao teraputica. So encontrados em maior quantidade nas sementes de

  • 18

    tanchagem e malva, goma arbica e algas marinhas. Em menor quantidade encon-

    tram-se nas razes tuberosas, folhas suculentas e plantas de clima rido.

    Glicosdeos as plantas produtoras de glicosdeos so de uso industrial, pois

    seu uso sem orientao mdica pode ser perigoso. Apresentam aes e efeitos to

    diversos que difcil agrupa-los sob um conceito qumico. Os glicosdeos podem

    ser: alcalinos cianognicos, cardiativos, antraquinnicos, flavonides e saponnicos

    (Fernandes, 1997).

    Flavonides formam um grupo muito extenso com propriedades fsicas e

    qumicas muito variveis. So compostos que se concentram principalmente nas

    flores e frutos servindo de atrativo para insetos e animais dispersores. So os res-

    ponsveis pela colorao das flores, frutos e algumas cascas. Possuem propriedades

    antioxidante, atrasa o envelhecimento celular. Tem ao antiespasmdica, ao em

    determinados distrbios cardacos e circulatrios e em casos de clicas estomacais.

    cidos Orgnicos diversas plantas apresentam cidos orgnicos, que lhes

    conferem sabor cido e propriedades farmacuticas caractersticas, como, ao laxa-

    tiva e refrescante. Plantas ricas em cidos orgnicos so muito utilizadas na fito-

    cosmtica. Essas substncias encontram-se em maior quantidade nos frutos ctricos

    e cidos e nas verduras. Tem ao brandamente diurtica, antifermentativa, estimu-

    lante da respirao celular.

    Saponinas - seu nome provm da propriedade de formar espuma abundante,

    quando agitada com gua. As saponinas favorecem a ao dos demais princpios a-

    tivos da planta e em excesso podem causar irritao da mucosa intestinal e manifes-

    taes alrgicas. Atualmente entram como emulsificantes na preparao de muitos

    cosmticos, ex: pulmonria (Pulmonria officinalis). As plantas que contm sapo-

    ninas so utilizadas tambm por sua ao expectorante, diurtica, purgativa e depu-

  • 19

    rativa. Algumas espcies como: erva-mate, joazeiro, pfaffia e salsaparrilha, as sapo-

    ninas so encontradas em maior quantidade.

    Princpios amargos a propriedade do sabor amargo encontrada em muitas

    espcies vegetais. Estes princpios tm funes estomacais, como estimulantes bili-

    ares e preparam o aparelho digestivo para o aumento da produo de suco gstrico

    (aperitivo). Alcachofra, chicria e boldo so espcies ricas em princpios amargos.

    No Quadro I relacionamos, resumidamente, alguns dos principais princpios

    ativos, suas funes, usos industriais e algumas espcies ricas nestas substncias.

  • 20

    QUADRO I - ALGUNS DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE PRINCPIOS ATIVOS Grupo de

    princpio ati-vo

    Funo no vegetal

    Ao farmacolgica

    Espcie Uso na indstria

    1. Mucilagens Translocao de gua e nutrientes

    Antiinflamatria, cicatrizante, anti-espasmdica, la-xante

    Babosa, Tan-chagem, Bor-ragem, Quia-bo

    Fabricao de gelias; go-mas, hidratan-tes.

    2. leos essenciais

    Proteo, polini-zao

    Bactericida, ver-mfuga, anestsi-ca, anti-sptica,

    Alecrim, Erva cidreira, Ca-momila, Hor-tels, Slvia, Alfavaco

    Farmacutica, alimentcia, cosmtica.

    3. Alcalides Proteo contra predadores

    Analgsica, anes-tsica, calmante, antiespasmdica.

    Beladona, Ca-f, Maracuj, Guaran, Ja-borandi, Noz-vmica

    Farmacutica

    4. Taninos Proteo contra fungos e bact-rias

    Adstringente, an-tidiarrica, cica-trizante vaso con-stritora,

    Goiabeira, Barbatimo, Pitangueira, Rom, Espi-nheira-santa

    Farmacutica, curtume

    5. Glicosdeos Proteo contra predao

    Cardiotnica, tra-tamento de doen-as do corao, antiinflamatria

    Dedaleira, Espirradeira, Mandioca, Babosa, Cs-cara sagrada

    Farmacutica

    6. Bioflavo-nides

    Polinizao, dis-perso de frutos e sementes

    Antiinflamatria, fortalece os vasos capilares, circula-o, corao, an-ti-reumtico

    Camomila, Marcela, Ca-lndula, Arru-da

    Alimentcia, cosmtica

    Fonte: Furlan( 1998), com modificaes.

    H outras substncias classificadas como princpio ativo, exemplo: resi-

    nas-pio, ltex retirado das cpsulas imaturas da papoula. As vitaminas e sais mine-

    rais encontrados nos vegetais tambm so exemplos de princpios ativos. So im-

  • 21

    prescindveis ao bom funcionamento do organismo, auxiliando no tratamento de di-

    versas patologias, reequilibrando as funes orgnicas.

    FATORES QUE AFETAM OS TEORES DE PRINCPIOS ATIVOS Vrios fatores, tanto internos quanto externos, podem interferir na quantidade

    de princpios ativos das plantas. Como exemplo de fatores internos pode ser citado

    o nmero cromossmico, o estgio de desenvolvimento ou as diferenas que ocor-

    rem quimicamente. Plantas geneticamente inferiores no produziro com qualidade

    satisfatria mesmo que sejam dadas a elas as melhores condies durante o cultivo,

    pois o seu cdigo gentico no lhes confere a capacidade de produzir determinado

    princpio ativo.

    Quanto a fatores externos, j existem pesquisas que atestam a influncia nos

    teores das substncias, altitude, fotoperodo, temperatura, incidncia de luz solar,

    condies nutricionais, ataque de pragas e condies edficas, podendo resultar em

    plantas bem desenvolvidas, mas com pouco teor de princpios ativos.

  • INFLUNCIA LUNAR

    De modo comparativo, a lua rege o fluxo e refluxo do nosso sistema aquoso (sangue, linfa, lquidos seminais) e tambm determina o movimento da seiva nas plantas.

    Lua Minguante a seiva est nas razes Plantio/semeadura de tudo o que cresce abaixo da terra Semeadura, plantio, colheita todas as medicinais Podas gerais Lua Nova Semeadura/plantio tudo o que cresce acima da terra

    Semeadura, plantio, colheita todas as medicinais Podas gerais Lua Crescente seiva sobe para as folhas Colheita de folhas (medicinais) Colheita de cereais (pouco antes da lua cheia) Lua Cheia seiva nas folhas maior luminosidade lunar Geralmente acompanhada de tempo seco Muitos autores no a indicam

    22

  • 23

    METODOLOGIA DE PESQUISA COM PLANTAS MEDICINAIS A busca constante de novos medicamentos para a cura de inmeras doenas

    que afetam a populao tem sido realizada por diversas abordagens de estudo. A

    maneira mais eficaz e promissora encontrada, para obteno de alternativas de tra-

    tamento e at mesmo de curas, est na integrao de vrios profissionais.

    Para maiores interesses cientficos, h a necessidade de profissionais que atu-

    em na rea de qumica de produtos naturais e farmacologistas, a fim de que cada e-

    tapa do processo de extrao, fracionamento, isolamento e purificao dos constitu-

    intes da espcie vegetal, seja mais criteriosa e eficaz. Esse procedimento demora-

    do e requer grande quantidade de materiais de teste.

    Alm destes profissionais muitos outros so envolvidos, como: etnobotnicos,

    botnicos, agrnomos, farmacuticos, eclogos, mdicos e educadores. um proje-

    to vivel somente atravs de interesses de pesquisadores que se desprendem do lado

    cientfico e atuam junto s necessidades das pequenas comunidades.

    O pesquisador deve conhecer a sociedade, ter em mente aspectos antropolgi-

    cos, sociais, culturais e econmicos, sobre o sentido social dos conhecimentos pro-

    duzidos e as finalidades e perspectivas do fazer cientfico.

    Antes de o pesquisador introduzir-se no campo de pesquisa, deve procurar co-

    nhecer melhor a regio em que vai trabalhar, seja atravs de material bibliogrfico

    ou obtendo informaes das proximidades da comunidade em estudo.

    Para a coleta de informaes vrias tcnicas so utilizadas, como: mapeamento

    dos locais de coleta de material botnico, entrevistas abertas e fechadas, estrutura-

    das e semi-estruturadas, observao participante, histria de vida.

    Outra forma de se abordar o informante levando as espcies vegetais at ele,

    para identificao e coleta de outros dados.

    O material botnico deve ser coletado em nmero de trs a quatro amostras,

    que aps preparao das exsicatas, devem ser depositadas em herbrios.

  • 24

    As exsicatas so instrumentos importantes para a identificao de plantas. Ar-

    mazenadas em locais apropriados permitem a utilizao por pesquisadores sem ha-

    ver necessidade de se deslocar at o local de coleta. Podem ainda conter desenhos,

    mapas, fotografias e outras informaes. Devem ter em primeiro plano as partes

    mais importantes da planta, por isto no devem ser deixadas flores e frutos encober-

    tos pelas folhas.

    O nmero de informantes vai depender do carter da pesquisa. Se a pesquisa

    de carter qualitativo, este nmero caracterizado pela importncia do informante

    ou pelo nmero de vezes que a informao obtida aparece. Quando a pesquisa de

    carter quantitativo, vai depender de uma avaliao estatstica para determinar qual

    a amostra que representa a populao em estudo.

    No tarefa fcil estabelecer uma metodologia para um trabalho etnobotnico,

    pois devem ser analisadas as questes a quem se destina a pesquisa e a quem ser-

    vem os conhecimentos produzidos.

    Sendo o interesse das partes envolvidas em comum e voltadas para a melhoria

    das condies de vida da populao, com certeza os objetivos sero alcanados.

  • 25

    ETNOBOTNICA

    Toda a sociedade humana acumula um acervo de informaes sobre o ambien-

    te que a cerca. Nesse acervo, inscreve-se o conhecimento relativo ao mundo vege-

    tal, atravs dos quais faz-se um recorte especial para o estudo das plantas medici-

    nais.

    O uso de espcies vegetais com fins de tratamento e cura de doenas e sinto-

    mas se perpetuou na histria da civilizao humana e chegou at os dias atuais.

    Com o desenvolvimento das cincias naturais e posteriormente da antropolo-

    gia, o estudo das plantas e seus usos por diferentes grupos humanos passou a ter ou-

    tra viso, recebendo variados enfoques, cada qual refletindo a formao acadmica

    dos pesquisadores envolvidos.

    Com isto, a etnobotnica, vem ganhando prestgio cada vez maior nos ltimos

    anos. Suas implicaes ideolgicas, biolgicas, ecolgicas e filosficas do respal-

    do ao seu crescente progresso metodolgico e conceitual (Jorge & Moraes, 2003).

    Souza (1998) ressalta que a Etnobotnica

    1- Registra os conhecimentos populares sobre as plantas;

    2- Registra as prticas de manejo ecolgico de ecossistemas complexos;

    3- Restaura as prticas de etnomedicina sobre as espcies vegetais;

    4- Descreve prticas de etnoagronomia e etnoagricultura desenvolvidas com

    as espcies domesticadas, no tempo e no espao;

    5- Evidencia as plantas teis de determinada regio e,

    6- Revela a interao ser humano-planta no contexto da relao sociedade-

    natureza.

    Para Albuquerque (2002), em termos prticos e biolgicos, o acmulo de co-

    nhecimento oriundo das pesquisas etnobotnicas, possibilita:

  • 26

    A descoberta de substncias de origem vegetal com aplicaes mdicas e industriais, devido ao crescente interesse pelos componentes qumicos natu-

    rais.

    O conhecimento de novas aplicaes para substncias j conhecidas. O estudo das drogas vegetais e seu efeito no comportamento individual e

    coletivo dos usurios frente a determinados estmulos culturais ou ambien-

    tais.

    O reconhecimento e preservao de plantas potencialmente importantes em seus respectivos ecossistemas.

    Documentao do conhecimento tradicional e dos complexos sistemas de manejo e conservao dos recursos naturais dos povos tradicionais, bem

    como a promoo de programas para o desenvolvimento e preservao dos

    recursos naturais dos ecossistemas tropicais.

    O descobrimento de importantes cultivares manipulados tradicionalmente e por nossa cincia desconhecidos.

    Para melhor entender a trajetria, o desenvolvimento e as inter-relaes dos

    estudos etnobotnicos, recomendamos a leitura de Albuquerque (2002) e Jorge (2003).

  • METODOLOGIA DA PESQUISA ETNOBOTNICA

    A pesquisa baseia-se em dois pontos principais: coleta de informaes sobre o

    uso da planta e coleta da planta

    A pesquisa com plantas medicinais, na Etnobotnica, um trabalho integrado

    com outras disciplinas, contempla a realidade do cotidiano das etnias e grupos soci-

    ais, procurando valorizar seus conhecimentos. (Souza, 1998).

    Para a coleta dos dados acima citados, deve-se desenvolver uma metodologia

    que depender das circunstncias e dos objetivos propostos na pesquisa.

    Ming (1995) sugere um primeiro contato com o grupo a ser pesquisado, a fim

    de que se elabore uma metodologia mais adequada.

    A integrao com diversas disciplinas, proporciona vrias tcnicas para a cole-

    ta de informaes, dentre elas citaremos: tcnicas qualitativas e quantitativas.

    A anlise qualitativa se preocupa em esclarecer como o homem compreende,

    interpreta e se relaciona com o mundo vegetal.

    Com a anlise quantitativa, os estudos etnobotnicos podem comparar e avali-

    ar o significado das plantas para determinados grupos, bem como fornecer dados

    para a conservao dos recursos naturais.

    Cada abordagem, qualitativa ou quantitativa, tem suas vantagens e desvanta-

    gens, nenhuma melhor ou mais correta que a outra. Cabe ao pesquisador buscar a

    integrao entre ambas, obtendo melhores respostas s suas investigaes.

    Uma das formas mais bsicas de obteno de dados etnobotnicos, na tcnica

    qualitativa, a realizao de entrevistas.

    Segundo De La Cruz Mota (1997), as entrevistas podem ser estruturadas e se-

    mi-estruturadas, diferindo em grau (mais ou menos dirigidos).

    27

  • 28

    Albuquerque (2004) divide as entrevistas em estruturadas, no estruturadas,

    semi-estruturadas e informais.

    As entrevistas estruturadas consistem em levar o entrevistado a responder per-

    guntas previamente elaboradas. Este tipo de abordagem limita as respostas do in-

    formante.

    As entrevistas que discorrem de forma mais aberta, sem elaborao prvia, so

    as no estruturadas. Neste caso, o entrevistador guiar a entrevista de acordo com

    os interesses da pesquisa,

    Nas entrevistas semi-estruturadas as perguntas so parcialmente formuladas

    pelo pesquisador antes de ir ao campo, permitindo uma flexibilidade maior no apro-

    fundamento dos dados que podem surgir durante a entrevista.

    Para a abordagem informal essencialmente que o pesquisador disponha de

    um dirio de campo, registrando todos os eventos observados e ouvidos durante o

    processo, um tipo de entrevista totalmente fora do controle do pesquisador.

    Para as entrevistas do tipo semi-estruturadas e estruturadas, podemos fazer uso

    de formulrio, quando preenchido pelo entrevistado, ou de questionrio quando pre-

    enchido pelo entrevistador. As questes formuladas podem ser abertas, permitindo

    maior liberdade ao entrevistado, ou fechadas, do tipo sim ou no ou de mltipla es-

    colha.

    Durante as entrevistas torna-se imprescindvel o uso do gravador, para registro

    de todos os dados, e desta forma a conversa fluir livremente.

    importante lembrar que, para o uso do gravador, o informante deve ser con-

    sultado antes.

    Na realizao do trabalho etnobotnico, deve haver uma estreita colaborao

    com os integrantes do local estudado ou dos informantes. Deve-se procurar pessoas

    idneas e de preferncia que j trabalhem h um bom tempo com as ervas. Hoje e-

    xiste muito vendedor de ervas, o que diferente dos chamados raizeiros; estes alm

    de deterem o conhecimento sobre a utilizao da planta, modo de preparo e maneira

  • 29

    de uso, tambm conhecem o local onde coletar a planta, a poca certa para coletar e

    quais as partes que devem ser coletadas.

    Quanto mais detalhadas forem as informaes, maiores so as chances de a

    pesquisa trazer subsdios de interesse para se avaliar a eficcia e a segurana do uso

    de plantas para fins teraputicos.

    Para que haja ordem no trabalho faz-se necessria a elaborao de fichas de

    campo. A primeira parte da ficha de campo deve conter os dados pessoais do infor-

    mante, como: idade, sexo, naturalidade, localidade, tempo que reside no local, onde

    adquiriu conhecimento, tempo que trabalha com as plantas, grau de escolaridade,

    profisso.

    A segunda parte da ficha deve conter os dados referentes planta que ser co-

    letada, deve conter um nmero estabelecido pelo coletor e se forem coletadas mais

    de uma amostra da mesma planta, as amostras recebem o mesmo numero. Os dados

    sobre a espcie vegetal variam de acordo com a necessidade da pesquisa. De uma

    forma geral, devem conter: nome popular da planta (se houver mais de um, anotar)

    local de coleta (o mais completo possvel), data de coleta, nome do coletor e nme-

    ro da planta coletada, tipo de solo, hbito da planta (erva, arbusto, rvore, etc.). Se

    for rvore, anotar altura, dimetro, caractersticas da casca. Se possui resina ou l-

    tex, a cor e odor, etc. Cor e cheiro das flores, frutos e folhas. Observaes ecolgi-

    cas e biolgicas horrio de abertura floral, polinizao, disperso do fruto, planta

    cultivada ou no, poca da coleta. Uso local: qual a parte da planta a ser utilizada,

    para que serve a planta, modo de preparo, dosagem, pode ser misturada com outras

    plantas e quais.

    O Estado de Mato Grosso possui uma biodiversidade muito alta em nvel ma-

    cro de bioma, quanto micro de espcies. Morais et al. (2003), fizeram um levanta-

    mento das pesquisas regionais com informaes sobre plantas medicinais nos dife-

    rentes biomas. um estudo temporrio e analtico, que leva ao conhecimento das

    espcies que so utilizadas pela populao matogrossense e serve de base para tra-

    ar estratgias de conservao e manejo da biodiversidade local, alm de proporcio-

  • 30

    nar o desenvolvimento de polticas ambientais visando uma melhor qualidade de

    vida. Atualmente, com a busca cada vez maior pelos elementos naturais, os pesqui-

    sadores etnobotnicos preocupam-se com a necessidade do retorno das informaes

    s comunidades usurias e conhecedoras de plantas medicinais.

    Para De La Cruz Mota (1997), a devoluo elaborada dos dados oriundos da

    pesquisa etnobotnica s populaes de origem pode contribuir para maior valoriza-

    o do conhecimento tradicional local e tambm das espcies utilizadas e ou indica-

    das.

    :

  • 31

    FICHA DE CAMPO Data____________________ Ficha de campo n0 ____________ Pesquisa Etnobotnica sobre________________________________________ Coletor _________________________________________________________ Local __________________ Coordenadas_______________ 1 - Sobre o Informante Nome: ________________________________________Idade: _______anos Sexo: _________Profisso: _________________________________________ Naturalidade: ___________________________ Instruo: _______________ Tempo que reside no local: ____________anos Quanto tempo trabalha com plantas medicinais? ________________________ Com quem aprendeu sobre as plantas? ________________________________ 2 - Sobre a planta Nome(s) conhecido(s) _____________________________________________ Hbito: ______________________________poca de florao: ___________ Habitat: ___________________ Cor das flores: ______________ poca de coleta: __________________________________________________ Fruto: carnosos ( ) secos ( ) cor_______ odor__________________ Sementes: cor_____________ odor__________________ Possui: ltex ( ) resina ( ) seiva ( ) cor__________________ Casca: espinhos ( ) acleos ( ) protuberncias ( )

    3 - Sobre o uso Qual parte da planta utilizada? ___________________________________ Para que serve? __________________________________________________ Como prepara o remdio? __________________________________________ Qual a dosagem? Quantas vezes ao dia? ___________________________ Pode ser misturada a outras plantas? Sim ( ) no ( ) Quais? _________________________________________________________ H contra indicao? ______________________________________________

  • 32

    CUIDADOS NO CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS As plantas medicinais devem ser ricas em princpios ativos e para que isto o-

    corra alguns cuidados so essenciais, como: utilizao de gua sem poluentes e de

    preferncia manter a terra sempre mida, usar cobertura morta (restos vegetais se-

    cos) que impedem o ressecamento do solo pelos raios solares.

    Irrigao Deve-se tomar o cuidado para no fornecer gua em excesso, pode haver uma

    lavagem do solo e os nutrientes so arrastados pela gua, tornando-se indispon-

    veis s plantas.

    A gua excessiva aumenta a incidncia de doenas e impede o arejamento da

    terra. Tanto o excesso quanto a escassez podem trazer prejuzos para o cultivo.

    A gua imprescindvel para o desenvolvimento de qualquer vegetal, princi-

    palmente daqueles que possuem crescimento rpido, grande quantidade de massa

    verde e esto prximos uns dos outros.

    Sem a gua os vegetais so conseguem absorver os nutrientes disponveis no

    solo e indispensveis ao crescimento.

    Para espcies arbreas, a irrigao pode ser feita quando houver grande pero-

    do de estiagem.

    Nunca irrigue na hora do sol forte. Se houver abundancia de gua, recomen-

    da-se irrigar de manh e tarde, no incio do desenvolvimento, e depois reduzir pa-

    ra as necessidades da planta.

  • 33

    Em locais de pouca gua, utilize as seguintes dicas:

    - a terra nos canteiros deve estar sempre bem solta;

    - cobertura com palha de arroz, serragem, etc. diminui a evaporao de gua;

    - espcies sensveis ao ataque de doenas no devem ser irrigadas por asper-

    so;

    - folhas de plantas sensveis quando murchas ou cadas indicam necessidade

    de regas.

    Solo

    O tipo de solo pode influenciar a produo da biomassa (quantidade de mat-

    ria vegetal produzida aps a colheita) e das substncias medicinais.

    Geralmente, a origem da planta medicinal pode servir como indcio de qual

    solo o mais indicado para o plantio.

    Devem ser plantadas em solos mais soltos (mais arenosos e menos argilosos),

    as espcies que tem por objetivo a extrao de razes, como por exemplo: gengibre,

    curcuma e aafro.

    Solos ricos em matria orgnica so os preferidos pelas espcies que produ-

    zem muita massa foliar como: hortels, poejos, capim cidreira, erva-cidreira e car-

    queja.

    Poucas espcies como chapu-de-couro, cavalinha e caninha do brejo prefe-

    rem solos encharcados.

    Espcies suscetveis s doenas, como as mentas e a tanchagem no deve ser

    plantadas em solos mais escuros, argilosos. Estes geralmente so mais frteis, me-

    nos cidos, retm mais gua, mas favorecem o aparecimento de doenas.

  • 34

    O Quadro II apresenta algumas espcies medicinais selecionadas e o tipo de solo recomendado para o plantio.

    Nome popular Nome cientfico Tipo de solo Alecrim Rosmarinus officinalis Calcrio e bem drenado Anador Justicia pectoralis No exigente Babosa Aloe vera Leves, arenosos e bem

    drenados Boldo Plectranthu barbatus Secos, leves e bem drena-

    dos Capim-limo Cymbopogon citratus Drenado, rico em matria

    orgnica Colnia Alpinia zerumbet Boa reteno de gua, sem

    encharcar Erva-cidreira Lippia alba Drenado, rico em matria

    orgnica Guaco Mikania glomerata Rico em matria orgnica Hortel rasteira Mentha x vilosa Todo tipo, melhor no -

    mido argiloso Poejo Mentha pulegium Orgnicos com boa reten-

    o de umidade Quebra pedra Phyllantus niruri Mais midos e sem en-

    charcar Rom Punica granatum Todo tipo Sabugueiro Sambucus australis Todo tipo

    Para uma boa adubao preciso antes analisar o solo e diagnosticar quais os

    nutrientes esto deficitrios. Isto pode ser corrigido com o uso de produtos de ori-

    gem qumica (adubos qumicos, calcrio, fosfatos, cinzas, etc.) e os de origem org-

    nica (estercos de animais, hmus de minhoca, adubo verde, composto orgnico,

    etc.).

    Esses corretivos devem ser colocados no solo na quantidade correta, para que

    no ocorra desequilbrio e prejudique o desenvolvimento da planta.

    Os corretivos qumicos devem ser usados somente com orientao tcnica.

    Utilizao de adubao adequada, a falta ou excesso de nutrientes podem au-

    mentar ou diminuir a quantidade de princpios ativos na planta. Esta fica sujeita a

    ataques de pragas (caros, pulges, cochonilhas, formigas, lagartas, lesmas, grilos) e

    microorganismos (fungos e bactrias). Os estercos de origem animal (bovino, aves)

  • devem ser bem curtidos, caso contrrio poder haver queima da planta. Aps curti-

    do, o esterco dever ser bem misturado com terra do canteiro e esperar 20 dias para

    o plantio. Retirar as plantas que brotarem nesses dias. Tambm podem ser adiciona-

    dos restos vegetais como: folhas, ramos, bagaos, p de caf, ch ou resduos secos

    de animais, como casca de ovo e ossos modos. O preparo deste tipo de adubo cha-

    ma-se compostagem e pode ser feito dentro de um caixote ou em um buraco no

    cho em camadas, onde:

    1a camada - matria orgnica de difcil fermentao (partes secas dos vegetais)

    2a camada - uma camada fina de terra

    3a camada - matria orgnica de fcil fermentao (resduos animais)

    4a camada - uma camada fina de terra

    5a camada - cal evita moscas e mau cheiro, diminui acidez do solo quando o

    composto for usado.

    6a camada - manter a composteira sempre mida, no encharcada e de preferncia

    coberta com folhas de bananeira ou capim seco. No meio do composto

    atravesse-o com tubo grosso de pvc todo furado para que o ar possa pe-

    netrar e arejar o material. Aps uma semana, retire o tubo do centro, re-

    volva o composto e recoloque o tubo. Molhe o composto a cada 2 dias e

    revolva de 15 em 15 dias. A compostagem quando pronta fica de colo-

    rao escura, pastosa e com cheiro de floresta, em mdia aps 60 dias a

    compostagem j est boa. A dose utilizada deste adubo deve ser de 3 a

    5 kg por metro quadrado.

    35

  • 36

    A quantidade de adubo orgnico colocado normalmente numa horta :

    Esterco de ave 1,5 a 3,0 kg /m2

    Hmus de minhoca 1,5 a 3,0 kg/m2

    Esterco de boi 3,0 a 5,0 kg/m2

    No o utilize caso ainda estiver em processo de fermentao, pois queimar

    suas plantas. Durante o processo de fermentao, a temperatura chega a atingir

    800 C.

    Qualquer local em que incida pelo menos cinco horas de sol, as plantas cres-

    cem com vigor, preferencialmente se o solo tiver boa drenagem e for protegido de

    ventos frios e fortes.

    Em todo caso se no houver outro local para o cultivo, improvise quebra-

    ventos. Os ventos fortes derrubam as flores, impedindo a polinizao e afugentam

    as abelhas e outros insetos.

    O local deve ser o mais plano possvel, estar prximo fonte de gua para ir-

    rigao, ficar longe do solo muito argiloso. Os solos argilosos so mais compactos,

    menor drenagem e oferecem dificuldade no trabalho. Em locais onde a iluminao

    deficiente (trs a quatro horas de sol) pode-se plantar espcies como menta, melissa,

    poejo e hortel em vasos.

    Alm dos vasos, uma horta pode ser instalada em jardineiras, sacos de leite,

    garrafas pet, caixas de madeira, latas de 18 litros e caixa dgua, principalmente

    quando o cultivo for de condimento como alecrim organo, cebolinha e salsinha.

    Esses recipientes devem estar bem limpos para no prejudicar o crescimento

    ou envenenamento da planta. Deve ter pelo menos 20 cm de profundidade, para

    plantas cuja altura no ultrapasse 50 cm (poejo, hortel, anador). Para uma boa dre-

    nagem, no fundo dos recipientes, deve haver furos e uma camada de pedras.

    Plantas como boldo da terra, manjerico e alecrim, necessitam de maior pro-

    fundidade e devem ficar nos vasos por um perodo menor e depois ser transplanta-

    do.

  • 37

    Como a maioria das plantas medicinais exige sol pleno, se colocar na face nor-

    te (oferece mais luz e calor) uma planta de maior tamanho, ela sombrear as de me-

    nor porte e que esto na face sul. Esta face recomendada para espcies adaptadas

    a clima mais ameno, aos ventos frios como camomila, marcela, guaco e epinheira-

    santa.

    Espcies produtoras de razes e flores como camomila, calndula (flores) e

    bardana (raiz) preferem clima ameno.

    Quase que a maioria das plantas que produzem frutos suculentos so adapta-

    das a clima mais quente como maracuj, acerola e limo.

    A maioria das plantas que recebem nome indgena tambm preferem climas

    quentes como pariparoba, catuaba, jaborandi, poaia ( ipecacuanha), pois so origi-

    nrias de regies tropicais e subtropicais.

    Em locais de clima ameno, plante as espcies exigentes de clima mais quente

    apenas nos meses de setembro e outubro, e em locais de clima quente plante em a-

    bril ou maio as espcies de clima mais ameno.

    Alguns exemplos de espcies de clima mais ameno: camomila, guaco, espi-

    nheira-santa, calndula, marcela, estvia, bardana.

    Plantas de clima quente: arruda, jaborandi, capim-limo, guaran, aafro,

    boldo.

  • 38

    MANEIRAS ALTERNATIVAS DE CONTROLE DE PRAGAS E DOENAS EM PLANTAS MEDICINAIS

    Como toda cultura, o cultivo de plantas medicinais sofre com o ataque de

    pragas, doenas e plantas concorrentes. Assim, apesar da maioria das plantas

    medicinais cultivadas serem de domesticao recente e possuir ainda uma

    rusticidade que as torna naturalmente mais resistentes ao ataque de doenas e

    pragas, os cultivos de plantas medicinais podem tambm ser atacados por insetos e

    agentes patognicos de maneira to intensa a ponto de comprometer o seu sucesso.

    Em reas cultivadas, muitos fatores influenciam o ataque de pragas e doenas,

    quase todos relacionados desequilibrio ecolgico, como solo quase sem matria e

    microflora, com acidez elevada.

    Para o controle de pragas e doenas em cultivos de plantas medicinais, deve-se

    levar em considerao a finalidade da planta. Plantas para uso in natura devem ser

    tratadas com defensivos agrcolas que no sejam naturais. Plantas para uso

    industrial no tero problemas de contaminao residual, uma vez que seus

    princpios ativos sero isolados atravs de processos qumicos.

    Procure sempre uma orientao tcnica e tome alguns cuidados:

    - plantar espcies resistentes e adaptadas ao local e poca;

    - realizar a rotao de cultura, evitando plantar em anos consecutivos uma

    mesma espcie ou da mesma familia, pois absorvem o mesmo nutriente do solo e a

    planta fica vulnervel ao ataque de pragas e doenas.

    - adquirir mudas sadias

    - manter o solo em boas condies, pois a umidade e temperaturas altas

    tornam o ambiente propcio ao ataque de doenas;

    - em caso de infeco, retirar a parte infectada (folha, ramo, etc.), ou at

    mesmo a planta inteira e queime-a para que no haja contaminao. Depois, plante

    outra espcie de famlia diferente. Desinfeccione o material de colheita ou poda.

  • 39

    - contra certas pragas, plante em volta de seu canteiro, espcies que repelem

    alguns insetos como: cravo de defunto ou tagetes (Tagetes glandulifera), que

    mantm os pulges longe, hortel (Mentha sp.) que afugenta formigas e arruda

    (Ruta graveolens), que evita lesmas.

    Espcies como a catinga de mulata (Tanacetum vulgare) e/ou gergelim

    (Sesamum indicum), so repelentes para formigas.

    Alm dos purges, formigas e lemas, tambm os caros, parentes das aranhas

    e carrapatos; as cochonilhas, a broca, forma jovem do besouro, a lagarta das folhas,

    os caramujos, as parquinhas, os grilos e a lagarta-rosa so pragas que atacam as

    plantas medicinais.

    Outros defensivos naturais

    Calda de fumo controla cochonilhas, pulges, caros, tripes e lagartas;

    Infuso de losna controla lagartas e lesmas;

    Soluo de sabo controla pulges e caros;

    Macerado de urtiga controla lagartas.

    Doenas

    As doenas mais frequentes so causadas por fungos e os sintomas das plantas

    atacadas, geralmente so manchas de tamanho e formas variadas como a antracnose.

    As condies para que ocorra esta doena a m nutrio, manejo inadequado da

    cultura e m drenagem do solo.

    Outra doena detectada em plantas medicinais a ferrugem, apresenta

    manchas redondas que soltam p, em folhas, frutos, ramos e botes, causando

  • 40

    queda dos frutos e grande perda de produo. Frequente no perodo chuvoso,

    ocorrendo nas fases prximas ao florescimento e frutificao.

    Para preveno, fazer o sistema de rotao de culturas e evitar o plantio em

    solo de adubao inadequada.

  • ESCOLHA DAS PLANTAS MEDICINAIS

    Para uma produo caseira deve-se levar em conta algumas consideraes.

    Se no tiver experincia, plante espcies fceis de cultivar, como hortel, bol-

    do, erva cidreira, capim-limo. alfavaca.

    Se a planta no se adaptar ao local ou for muito atacada por doenas prefer-

    vel que se escolha outra espcie;

    Procure plantar espcies que auxiliem o usurio, isto , em funo das doenas

    que ocorrem nas pessoas da casa ou parentes, por exemplo s diurtica: cavalinha,

    cana-do-brejo, milho e chapu-de-couro.

    No as utilize em excesso, podem causar algum dano ao seu organismo, use-as

    para problemas simples e com auxlio de um mdico. No h planta medicinal que

    no faa mal em doses elevadas.

    Preparo do local de plantio

    Aps a escolha do local, retirar as pedras e entulhos. Para evitar invaso de

    animais, aconselhvel cercar a rea com tela, bambu, etc.

    Coloque cartaz alertando, se for plantar espcies txicas que pode causar da-

    nos sade;

    Plantas indesejveis e as mais rasteiras devem ser retiradas de modo a arrancar

    tambm as razes.

    As espcies de pequeno porte so cultivadas em canteiros.

    Os canteiros devem ser marcados com estacas de madeira e barbante bem esti-

    cado. Cada canteiro deve ter no mximo 1,20 m de largura e o comprimento pode

    variar.

    41

  • 42

    Deixar 1 m de distncia do muro ou cerca e corredores de 40 a 50 cm entre os

    canteiros.

    As espcies maiores como rvores e arbustos devem ser cultivadas em covas

    preparadas com adubao correta e mudas pr-formadas.

    O espaamento entre as covas deve respeitar o porte da planta.

    UM MODELO DE HORTA CASEIRA

    Bieski (2005) idealiza um modelo de horta caseira (figura 1), uma espiral de

    ervas que pode acomodar plantas medicinais e condimentares. O crculo tem cerca

    de 1,6 m de dimetro na base e cerca de 1 a 1,3 m de altura.

    Os materiais necessrios para a construo da horta caseira em espiral so pe-

    dras, pedaos de tijolos e telhas (entulho), estacas de madeira ou bambu, terra e h-

    mus ou compostos; mudas de diferentes plantas medicinais e palha. O local onde

    ser construdo a espiral deve estar previamente nivelado, evitando reas sombrea-

    das.

    Se o solo for do tipo argiloso, o centro da espiral deve ser mais elevado para

    facilitar a drenagem. Aps misture terra, areia e compostos at obter um solo rico

    em nutrientes.

    Faa a marcao, no cho, da espiral e comece a ergu-la amontoando as pe-

    dras. No utilize cimento para fixar as pedras, se necessrio utilize estacas para a

    conduo e fixao das mesmas.

    Para uma boa drenagem, coloque no fundo da espiral os cacos de tijolos ou te-

    lhas e adicione a mistura de compostos preparados anteriormente ou hmus na lti-

    ma camada.

    Na parte superior da espiral, geralmente o local mais seco e com maior lumi-

    nosidade, plante as ervas ricas em leos essenciais ou suculentas, como alecrim, ba-

    bosa, alfavaca, entre outras.

    No local intermedirio, plante ervas com folhagens verdes, como confrei, tan-

    chagem.

  • Na parte mais baixa e prxima ao solo, local mais mido, plante ervas como

    hortel.

    Para proteger a horta em espiral de insetos como formigas, dos pingos dgua

    e reter a umidade, aps o plantio recomendado o uso de cobertura vegetal, como

    palha.

    Figura 1: Horta de plantas medicinais em espiral

    Obteno de mudas

    Cada planta possui forma particular de propagao e por isto h diversos mo-

    dos de obterem-se mudas.

    As mudas de plantas medicinais podem ser obtidas por estaquia, diviso de

    touceiras e sementes viveis. Deve-se manter na horta um pequeno viveiro e uma

    sementeira. Para melhor propagao destas espcies.

    A estaquia (ramo) o processo vegetativo mais usado devido a sua eficincia,

    simplicidade e rapidez. reproduo de vegetal a partir da planta matriz, produzin-

    do mais rpido e indivduos semelhantes planta me.

    Deve-se escolher um ramo novo com 5 a 10 cm sem sinais de doenas. Cor-

    tar as estacas de ramo com tesoura de poda, a parte que ser enterrada em forma in-

    clinada (bisel) e o pice reto. No deve possuir botes florais. As estacas devem ser 43

  • 44

    plantadas em saquinhos plsticos com substrato preparado, mistura de partes iguais

    de terra comum, hmus e areia.

    Devem-se retirar as folhas da estaca, deixando apenas um par de folhas no fi-

    nal do ramo. O fim da primavera a poca melhor para fazerem mudas. Exemplo

    de espcies para:

    estaquia da folha - saio; estaquia de caules e galhos boldo, erva doce, alfavaca; estaquia de razes e rizomas confrei As estacas assim preparadas devem ser em seguida desinfetadas, ou seja, mer-

    gulhadas em soluo fungicida por alguns minutos, a depender do tipo de estaca e

    do fungicida empregado.

    Tambm para estimular o enraizamento podem ser usadas substncias promo-

    toras da multiplicao celular, os fito-hormnioa. A maneira como devem ser em-

    pregados, se for por imerso ou contato, e a concentrao empregada depender da

    forma de apresentao do produto e do tipo de estaca a ser enraizado.

    Outra maneira de ser feita a reproduo vegetativa por meio de diviso de

    touceira, como por exemplo: o capim cidreira (Cymbopogon citratus).ou capim li-

    mo e mil folhas.

    A diviso de rizoma outro mtodo usado para plantas da famlia das zingi-

    beraceas, como a curcuma (Curcuma longa), o gengibre (Zingiber officinale) e a

    zedoria (Curcuma zedoaria).

    Plantas como a babosa (Aloe vera) podem ser propagadas pela diviso de fi-

    lhotes, que so brotos que se desenvolvem a partir do caule da planta me.

    Sementes o mtodo mais prtico, barato e rpido, mas em alguns casos no

    pode ser usado porque h espcies que no produzem sementes, ou as sementes no

    so viveis ou ento espcies de domesticao que se reproduzem por fecundao

    cruzada.

  • 45

    Para maior segurana na germinao da maioria das plantas medicinais h ne-

    cessidade de serem plantadas em sementeiras.

    As sementeiras podem ser realizadas em caixotes ou canteiros bem adubados e

    umedecidos. Fatores como temperatura e luminosidade tm papel importante na

    germinao de sementes. Os canteiros devem ter sulcos distanciados 15cm e com

    2cm de profundidade.

    Cuidado para no distribuir as sementes em excesso. Sementes muito peque-

    nas como as de alecrim, devem ser muito bem misturadas com areia e depois distri-

    budas.

    Regar de manh e tarde, at que a mudinha tenha cinco folhinhas.

    Para transplantar as mudas para os canteiros, primeiramente molhar bem a se-

    menteira e retirar as mudas com cuidado para no danificar as razes, no perodo de

    final da tarde quando o sol estiver mais fraco.

    De acordo com a altura da planta, fazer as covas de 30x30x30cm ou

    60x60x60cm (altura, comprimento e largura).

    Algumas espcies como a camomila, so plantadas diretamente em semeadura

    lano (espalhadas no terreno).

    A losna, a calndula, a alfavaca, o funcho, a camomila, a hortel e a manjerona

    tambm podem ser semeadas em sulcos, desde que seja retirado o excesso de plan-

    tas, respeitando a distncia indicada.

    Mergulhia um processo pouco usado comercialmente, embora ocorra na na-

    tureza com freqncia em algumas espcies. feito induzindo formao de razes

    num ramo, enterrando uma parte desse ramo enquanto ainda se encontra ligado

    planta me, deixando-se a sua ponta sem enterrar. A parte enterrada formar razes,

    deve ser cortada da planta me, originando uma nova muda.

    Alporquia um mtodo utilizado em determinadas plantas arbustivas ou ar-

    breas que no possuem ramos flexveis o bastante para se fazer a mergulhia. Para

  • este processo deve ser escolhido um ramo com tima aparncia e com no mnimo

    30 cm de comprimento. Faz-se duas incises em forma de anel, distante 1 cm uma

    da outra, retirando-se a casca entre estes dois anis, deixando-se a parte interna ex-

    posta. Isto chamado de anelamento. Amarra-se com barbante um pedao de plsti-

    co transparente em baixo do corte, de modo a formar uma bolsa. Este saco preen-

    chido com algum tipo de substrato onde as razes possam se desenvolver, como

    musgo, areia ou terra. Depois de algumas semanas haver formao de razes no in-

    terior do plstico. O ramo dever ser cortado abaixo das razes e plantado sem o

    plstico em local adequado para que termine o seu desenvolvimento. No caso do

    sabugueiro (Sambucus nigra), o tempo deste processo de 60 dias.

    Mergulhia Alporquia Diante da variedade de plantas indicadas como medicinais, no Quadro III se-

    lecionamos algumas espcies e suas recomendaes para o plantio, propagao, so-

    lo, colheita, parte utilizada e forma de uso.

    46

  • 47

    QuadroIII Algumas espcies medicinais e suas recomendaes de plantio, propagao, poca de colheita, parte utilizada e for-ma de uso

    Espcie Nome Cientfico

    Solo poca de Plantio

    Modo de Propagao

    poca de Colheita

    Parte Utilizada

    Forma de Uso

    Aafro Curcuma longa

    No argiloso

    Ano todo Rizomas, estacas de rizoma, em viveiro

    Seis meses aps plantio

    Rizoma Ch (infu-so), garga-rejo, com-pressa, bo-checho

    Alecrim Rosmarinus officinalis

    Bem drena-do, no cido

    Chuvas (outubro)

    Sementes ou estacas em viveiros

    Aps 1 a 1,5 anos

    Folha Ch (infu-so),banho, bochecho, gargarejo, compressa

    Alfavaca Ocimum sp. Corrigido qanto a acidez

    Ano todo Sementes ou estacas de galho em viveiro

    Seis meses aps plantio

    Folhas Ch (infu-so),banho, bochecho, gargarejo, compressa

    Anador Justicia pectoralis

    No exigente

    Ano todo Sementes, estacas de galho, em viveiro

    Seis meses aps plantio

    Folhas Xarope, infuso

    Babosa Aloe vera Evitar solos mal drena-dos, solos leves e arenosos

    Chuvas (outubro) em Mato Grosso

    Brotos dire-to no campo

    A partir do 1 ano, o ano todo, s as folhas crescidas

    Folhas (suco)

    Macerao, cataplasma, compressa, p da folha

    Boldo Plectrathus barbatus

    Leves, se-cos e bem drenados

    Chuvas (outubro) em Mato Grosso

    Estacas de galho, em viveiro

    Quando a planta esti-ver cheia, na medida da necessi-dade

    Folha Infuso, macerao

    Capim limo

    Cymbopo-gon citratus

    Todo tipo Ano todo Diviso de touceiras

    Quarto ms aps planto, duas vezes ao ano

    Folha, ri-zoma

    Infuso

    Erva cidreira

    Lippia alba No exigente

    Chuvas (outubro) em Mato Grosso

    Estacas em viveiro

    Quatro meses aps plantio

    Folha Infuso, inalao

    Erva de Santa Maria

    Chenopodi-um ambrosi-oides

    Todo tipo Ano todo No campo, por semen-tes

    Quatro meses aps plantio

    Ramos Sumo da folha, com-pressa, ch, cataplasma, repelente

    Guaco Mikania glomerata

    solo com bom teor de matria orgnica

    Ano todo Estaca de folhas, mer-gulhia

    Seis meses Folhas Infuso, xarope

    Hortel vick Mentha x arvensis

    Solo rico em matria orgnica

    Ano todo Estaca de galho ou diviso de touceira

    Trs meses Parte area Infuso, inalao, compressa, banho

    Hortel rastei-ra

    Mentha x vilosa

    Melhor mido e argiloso

    Ano todo Estacas em viveiro

    Trs meses Parte area Infuso, folhas fres-cas

  • 48

    QuadroIII Algumas espcies medicinais e suas recomendaes de plantio, propagao, poca de colheita, parte utilizada e forma de uso

    Espcie Nome Cientfico

    Solo poca de Plantio

    Modo de Propagao

    poca de Colheita

    Parte Utilizada

    Forma de Uso

    Maracuj Passiflora alata

    Solo corri-gido de acordo com anlise, argiloso

    pocas chuvosas

    Sementes Um ano Folhas Suco do fruto, infu-so das folhas

    Poejo Mentha pulegium

    Mais org-nico e com boa reten-o de umi-dade

    Ano todo Estaca de ramo em viveiro

    Trs meses Parte area Ch

    Quebra pedra Phyllantus niruri

    Solo mido, bem drena-do

    Ano todo Sementes ou muda coletada no mato

    Quatro meses

    Parte area Ch

    Rom Punica granatum

    Todo tipo Ano todo Sementes em viveiro

    Dois a trs anos

    Frutos Decoco casca do fruto, bo-checho, gargarejo

    Tanchagem Plantago major

    mido Ano todo Sementes em viveiro

    Quatro meses

    Folhas Banho, ch

    Fonte: Bieski (2005), com modificaes.

  • 49

    COLETA DE PLANTAS MEDICINAIS Existe um momento certo para a colheita que varia de espcie para espcie de

    planta. Este momento tem variaes estacionais (poca do ano) e dirias.

    A colheita no deve ser feita com as partes sobre as guas, por exemplo: com

    o orvalho da manh e nunca em dia nublado ou chuvoso. Se a planta estiver muito

    suja, limpe-a um dia antes da coleta. Cada parte da planta, com raras excees, obe-

    dece seguinte regra para coleta:

    Coletar em dias secos e ensolarados;

    Evitar retirada de todas as folhas de um ramo;

    Para as razes, procurar as mais prximas da superfcie. Em algumas espcies,

    onde h o uso da raiz, a parte area murcha na poca adequada colheita, por e-

    xemplo, curcuma;

    As partes areas devem ser colhidas pela manh (aps secar o orvalho) e as ra-

    zes no final da tarde;

    Parte area da planta a planta deve ser colhida em incio de florescimento ,

    quando algumas flores j estiverem abertas mas a maioria ainda estiver em boto;

    Caules lenhosos - quando perdem as folhas, no inverno ou outono;

    Flores e sumidades florais - inicio da florao, antes que se abram totalmente,

    exemplos: manjerices e boldo da terra. Devem-se retirar as flores para aumentar a

    massa foliar;

    Frutos - maduros, alguns quando verdes;

    Sementes incio da queda de algumas sementes, quando estiverem bem ma-

    duras;

    Cascas do caule - antes da planta brotar, primavera;

    Razes, rizomas, tubrculos, bulbos - fim outono, incio da primavera, quando

    a planta no est vegetando, o seu metabolismo mais lento ou dormente e as subs-

    tncias produzidas pela parte area est armazenada na raiz;

    Folhas - sem o pecolo, incio da formao de flores.

  • 50

    Plantas herbceas na altura das primeiras folhas

    No devem ser coletadas plantas que receberam aplicao de agrotxicos, nem

    tampouco coletas feitas beira de crregos, represas ou lagos que estejam receben-

    do descarga de poluentes.

    A chuva influencia os teores de princpios ativos contidos nas plantas. Aps

    uma chuva a quantidade de alcalides diminui e a de leos essenciais aumenta. A-

    ps perodos de estiagem a quantidade de leos essenciais diminui.

    Conforme o perodo do dia, o teor de princpios ativos varia, os glicosdeos a-

    tingem sua maior concentrao na parte da tarde, e os leos essenciais por volta do

    meio-dia. Exceo a camomila que atinge uma maior quantidade e melhor quali-

    dade de leo noite.

    Para as plantas aromticas, a colheita feita no incio da florao, por apresen-

    tarem maior teor de leo essencial;

    Em nosso clima fundamental observar o comportamento das espcies medi-

    cinais em relao ao perodo chuvoso e ao perodo de estiagem.

  • 51

    SECAGEM DAS PLANTAS MEDICINAIS

    PS COLHEITA

    Etapa crucial para se ter uma boa quantidade e qualidade de princpio ativo.

    Deve-se:

    - eliminar outras plantas que se misturem s desejadas;

    - escolher as partes vistosas, limpas, inteiras, que no esto atacadas por pra-

    gas;

    - evitar que as partes colhidas fiquem sujas de terra;

    - verificar se no h larvas e insetos;

    - no apertar ou machucar a planta, evitando assim que ela murche;

    - ter cuidado com as plantas txicas, a toxicidade pode ocorrer por contato;

    - dividir ao mximo a planta em pedaos pequenos e homogneos;

    - colocar o material em local sombreado e arejado;

    - evitar o revolvimento das camadas de folhas e flores;

    - evitar a contaminao pela poeira;

    - secar o mais rapidamente possvel.

    necessrio realizar o mais breve possvel para que no haja muita perda de

    princpios ativos.

    As perdas de princpios ativos se devem a vrias razes, alm da degradao

    por processos metablicos como a respirao, outros fatores como a hidrlise, a de-

    composio pela luz, decomposio enzimtica, a oxidao, a fermentao, o calor,

    a volatilizao dos leos e a contaminao por fungos e bactrias devem ser consi-

    derados. Retirando-se a gua das plantas estes processos cessam, por isso procede-

    se secagem, que pode ser:

  • Secagem natural - processo lento, feito sombra, local ventilado, sem poeira

    e livre de insetos e outros animais. Os ramos longos podem ser amarrados em pe-

    quenos maos e pendurados em varal no muito prximo uns dos outros. Podem a-

    inda ser utilizadas bandejas com lateral de madeira e fundo telado, onde o material

    espalhado em finas camadas permitindo a circulao do ar. Ou ainda, cobrir com

    papel de embrulho o fundo de uma bandeja qualquer, espalhar o material, deixar se-

    car revolvendo se necessrio.

    As razes e ramos devem ser picados em pedaos antes da secagem. Este tipo

    de secagem s vivel em regies onde a umidade baixa, mostrando assim que

    algumas regies permitem a secagem natural somente em certas pocas do ano, no

    chuvosas.

    Secagem ao sol - provoca perda de leos essenciais e ocorre o endurecimento

    da camada superficial da clula, havendo reteno de gua no interior do vegetal,

    alm de descolorir a planta.

    Secagem artificial - compreende dois tipos de secagem:

    - secadores de temperatura e umidade controlada, so as estufas (manejo fei-

    to por um termmetro e por um higrmetro dentro da estufa). A temperatu-

    ra utilizada varia de 35 a 450C, temperatura alta danifica os rgos vegetais

    e seu contedo. recomendada para locais de clima frio e chuvoso.

    - secadores especiais - utilizam mtodos especiais para determinadas esp-

    cies vegetais. Um exemplo caseiro seria a utilizao do forno microondas,

    onde as folhas mais suculentas levam cerca de 3 minutos, na secagem e as

    ervas com folhas pequenas, mais secas, levam apenas 1 minuto. Preserva a

    cor e o aroma.

    52

  • A temperatura ideal de secagem varia de acordo com a planta e o seu princpio

    ativo, de uma maneira geral plantas com leos essenciais at 450C.; plantas com

    mucilagem, goma e resina at 800C., plantas com alcalides at 800C.

    Para o preparo de exsicatas, as amostras so colocadas individualmente em

    jornais ou papel Kraft e intercaladas com folhas de papelo ondulado, formando um

    volume que deve ser comprimido. Pode-se colocar vrias amostras, umas sobre as

    outras e depois amarrar nas prensas de madeira treliadas, com cordas ou cintas.

    Aps, so levadas ao secador dispostas em p, de modo que o ar quente passe pelos

    espaos do papelo ondulado. Dependendo da quantidade de plantas prensadas leva

    mais de 36 h para secar. Pressionando com cuidado uma folha aps a secagem e ve-

    rificando se est quebradia, emitindo som caracterstico, o material j est seco; ca-

    so contrrio deve retornar estufa sem apertar muito a prensa.

    53

    As plantas nunca secam totalmente. normal que as plantas mantenham uma

    porcentagem de gua entre 9 e 12%, este chamado de ponto de feno. Esta por-

    centagem varia de acordo com a umidade relativa do ar, e dentro desses limites a

    conservao das plantas no prejudicada.

  • ARMAZENAMENTO E EMBALAGEM bom sempre dar uma examinada, ver se a planta no apanhou umidade, se

    h presena de insetos e fungos, caso ocorra o ataque deve-se eliminar o material.

    Esta inspeo deve ser repetida com freqncia. O tempo de armazenamento deve

    ser o menor possvel, para evitar a perda dos princpios ativos. O local deve ser es-

    curo, seco e arejado, sem poeira, insetos e roedores.

    Grandes quantidades de materiais podem ser guardados em tonis de madeira

    no aromtica, onde o produto conservado por muito tempo. Pequenas quantida-

    des podem ser armazenadas em potes de vidro hermeticamente fechados, sacos de

    plsticos, papelo ou madeira que permitem boa conservao por um perodo gran-

    de de tempo. O uso de sacos de juta ou nylon tranado recomendado para produ-

    es maiores com fins comerciais em curto prazo. O material da embalagem deve

    ser inerte, no sofrendo alteraes e nem reagindo com o produto embalado. No

    recomendado colocar embalagens de espcies diferentes prximas, (principalmente

    as aromticas) ou depositar sobre o piso (dependurar ou colocar sobre estrados pr-

    prios).

    O material embalado deve conter um rtulo com: nome da planta, parte co-

    lhida, data de colheita, data do trmino da secagem e o nome do produtor. Lembrar

    que a planta dessecada sofre perda de gua e com isto eleva o seu poder medica-

    mentoso.

    Para o armazenamento do medicamento preciso etiquetar com os seguintes

    dados: nome do medicamento, composio, espcie da planta, veculo, utilizao,

    data de fabricao, data de validade.

    Em boas condies de conservao, devem ser observados os seguintes prazos

    de validade:

    54

  • Preparao Fitoterpica Validade Conservao Planta seca e estabilizada Um ano Embalagem P Seis meses Fechado Tintura (700 GL) Um ano Frasco escuro Infuso, Decocto 24 horas Em geladeira ou

    local fresco leos Um ano Temperatura ambiente Xarope Um ms Temperatura ambiente Pomada Seis meses Em geladeira Pomada aquosa Uma semana Em geladeira Vinho medicinal Um ano Temperatura ambiente Garrafada Um ano Temperatura ambiente

    Fonte: Cardozo, Jr. 1999, com modificaes. Quando ocorrem alteraes nos produtos fitoterpicos citados acima, como:

    ausncia de aroma, colorao enfraquecida, mofo, insetos, fungos, manchas, preci-

    pitao acentuada de material no fundo do frasco, turvamento, aroma e sabor desa-

    gradveis, aroma de vinagre, rano, fermentao, recomenda-se a no utilizao do

    medicamento, suas propriedades medicinais j esto afetadas.

    MANIPULAO DAS ERVAS

    Uma planta possui diferentes formas de manipulao, utilizao e as partes

    vegetais empregadas so especficas para cada forma de preparo. A forma mais co-

    nhecida o ch e, dependendo da