LIVRO METODOLOGIA[1]

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ANTÔNIO JOAQUIM SEVERINO METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTIFICO 21 Edição Revista e Ampliada 1 Reimpressão CE-CORTEZ EDITORA Impresso no Brasil - abril de 2000 NIETODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFIGO Antonio Joaquim Severino NIETODOLOGIA DO TRABALI-10 CIENTÍFICO Antonio Joaquim Severino Capa: Cesar Landucei Preparação de originais: Agnaldo A. Oliveira Revisão: Carmem Teresa da Costa Composição. Dany Editora Ltda. Coordenação Editorial: Danilo A. Q. Morales Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do autor e do editor. O Antonio Joaquim Severino Direitos para esta edição CORTEZ EDITORA Rua Bartira, 317 - Perdizes Tel.: (0--11) 864-0111 Fax: (0--11) 864-4290 05009-000 - São Paulo-SP - E-mail: [email protected] SUMARIO Prefácio à 21' edição ....................................... 11 Prefácio ................................................... 15 Introdução Capítulo I. A ORGANIZAÇÃO DA VIDA DE ESTUDOS NA UNIVERSIDADE 1. Os instrumentos de trabalho 2. A exploração dos instrumentos de trabalho 3. A disciplina do estudo Conclusão Capítulo II. A DOCUMENTAÇÃO COMO MÉTODO DE, ESTUDO PESSOAL 1. A prática da documentação 2. A documentação temática 3. A documentação bibliográfica 4. A documentação geral 5. Documentação em folhas de diversos tamanhos 6. Vocabulário técnico-língüístico Capítulo III DIRETRIZES PARA A LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 1. Delimitação da unidade de leitura 2. A análise textual 3. A análise temática 4. A análise interpretativa 5. A problematização 6. A síntese pessoal Conclusão Capítulo IV DIrETRIZES PARA A REALIZAÇÃO DE UM SEMINÁRIO 63 1. Objetivos

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ANTÔNIO JOAQUIM SEVERINO METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTIFICO 21 Edição Revista e Ampliada 1 Reimpressão CE-CORTEZ EDITORA

Impresso no Brasil - abril de 2000 NIETODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFIGOAntonio Joaquim Severino NIETODOLOGIA DO TRABALI-10 CIENTÍFICO AntonioJoaquim Severino Capa: Cesar Landucei Preparação de originais: AgnaldoA. Oliveira Revisão: Carmem Teresa da Costa Composição. Dany EditoraLtda. Coordenação Editorial: Danilo A. Q. Morales Nenhuma parte destaobra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do autore do editor. O Antonio Joaquim Severino Direitos para esta edição CORTEZEDITORA Rua Bartira, 317 - Perdizes Tel.: (0--11) 864-0111 Fax: (0--11)864-4290 05009-000 - São Paulo-SP - E-mail: [email protected]

SUMARIO

Prefácio à 21' edição ....................................... 11Prefácio ................................................... 15Introdução Capítulo I. A ORGANIZAÇÃO DA VIDA DE ESTUDOS NA UNIVERSIDADE 1. Os instrumentos de trabalho 2. A exploração dos instrumentos de trabalho 3. A disciplina do estudo Conclusão Capítulo II. A DOCUMENTAÇÃO COMO MÉTODO DE, ESTUDO PESSOAL 1. A prática da documentação 2. A documentação temática 3. A documentação bibliográfica 4. A documentação geral 5. Documentação em folhas de diversos tamanhos 6. Vocabuláriotécnico-língüístico

Capítulo III DIRETRIZES PARA A LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DETEXTOS

1. Delimitação da unidade de leitura 2. A análise textual 3. A análise temática 4. A análise interpretativa 5. A problematização 6. A síntese pessoal Conclusão Capítulo IV DIrETRIZES PARA A REALIZAÇÃO DE UM SEMINÁRIO 63 1. Objetivos

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2. O texto-roteiro didático 2.1. Material a ser apresentado previamente pelo coordenador 2.2. Material a ser apresentado no dia da realização do seminário

3. O texto-roteiro interpretativo 4. O texto-roteiro de questões 5. Orientação para a preparação do seminário 6. Esquema geral de desenvolvimento do seminário Conclusão

Capítulo V DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DE UMA MONOGRAFIA CIENTÍFICA........................... 73 1. As etapas da elaboração 1.1. Determinação do tema-problema-tese do'trabalho 1.2. Levantamento da bibliografia 1.3. Leitura e documentação 1.3.1. O plano provisório do trabalho 1.3.2. A leitura de documentação 1.3.3. A documentação 1.4. A construção lógica do trabalho 1.5. A redação do texto 1.6. A construção do parágrafo 6

1.7. Conclusão 2. Aspectos técnicos da redação 2.1. A apresentação gráfica geral do trabalho 2.2. A forma gráfica do texto 2.2.1. Textos datilografados 2.2.2. Textos digitados 2.3. As citações 2.4. As notas de rodapé 2.5. Referências no corpo do texto 2.6. A técnica bibliográfica 2.6.1. Observações referentes à indicação do autor 2.6.2. Observações quanto ao título dos escritos 2.6.3. Observações quanto à edição do documento 2.6.4. Observações quanto ao local de publicação 2.6.5. Observaçõesquanto à editora .................. 123 2.6.6. Observações quanto à data 2.6.7. Observações quanto à indicação do número de páginas 2.6.8. Observações gerais sobre alguns casos especiais 2.6.9. Referenciação bibliográfica de documentos registrados em fonteseletrônicas 3. Formas de trabalhos científicos 3.1. Trabalho científico e monografia 3.2. Os trabalhos didáticos 3.3. O resumo de textos 3.4. A resenhabibliográfica

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Capítulo VI A INTERNET COMO FONTE DE PESQUISA 1. A pesquisa científica na Internet 2. O correio eletrônico ...................................... 139 Capítulo VII OBSERVAÇÕES METODOLÓGICAS REFERENTES AOS TRABALHOS DE PÓS-GRADUAÇÃO.................. 143 7 1. Qualidade e formas dos trabalhos exigidos nos cursos depós-graduação 1.1. Características qualitativas 1.2. Ciência, pesquisa epós-graduação 1.3. A tese de doutorado 1.4. A dissertação de mestrado 1.5. O ensaio teórico 1.6. Caráter monográfico e coerência do texto 2. O processo de orientação 3. O projeto de pesquisa 3.1. Quanto ao título do projeto 3.2. Determinação e delimitação do tema e do problema da pesquisa 3.3. A formulação das hipóteses 3.4. Explicitação do quadro teórico 3.5. Indicação dos procedimentos metodológicos e técnicos 3.6.Estabelecimento do cronograma de pesquisa 3.7. Indicação da bibliografia 4. Observações técnicas específicas 5. Outras exigências acadêmicas 5.1. Resumos técnicos de trabalhos científicos 5.2. Os relatórios técnicos de pesquisa 5.3. O memorial 6. Atividades científicas extra-acadêmicas . 7. As exigências éticas da pesquisa Capítulo VIII OS PRÉ-REQUISITOS LÓGICOS DO TRABALHO CIENTÍFICO I. A demonstração 2. O raciocínio 2.1. A formação dos conceitos 2.2. A formação dos juízos 2.3. A elaboração dos raciocínios 3. Processos lógicos de estudo CONCLUSÃO

8 ANEXO Revistas, dicionários especializados, bibliografias emetodologia de pesquisa 1. As revistas científicas brasileiras ........................ 1982. Dicionários especializados ............................... 245 3. As

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bibliografias especializadas .......................... 256 4. Ametodologia da pesquisa nas diversas áreas científicas . 258BIBLIOGRAFIA COMENTADA ............................ 262 ÍNDICE DEASSUNTOS ....................... ........... 273 OBRAS DO AUTOR...................................... 279 9 PREFÁCIO A 21 EDIÇAO

Vem a público, neste emblemático limiar de uma nova era, esta edição doMetodologia do Trabalho Científico, livro já conhecido de tantos colegasprofessores e estudantes universitários, em todo o território nacional.Ao completar seus 25 anos, este manual vem recebendo uma crescenteacolhida por parte da comunidade acadêmica, o que, certamente, aumentaminha responsabilidade como autor, no sentido de atender continuamenteàs demandas do público que o prestigia, procedendo às necessáriasrevisoes e atualizações de seu conteúdo. Para comemorar estesignificativo aniversário, e por reconhecer a constante mudança de todosos aspectos envolvidos nos processos de ensino e de aprendizagem, bemcomo a historícidade do próprio conhecimento e buscando sempre aprimorara qualidade dos subsídios didáticos deste instrumento de trabalho, preocupo-me sempre, apesar das restrições de tempo, em mantê-lo o maisatualizado possível. É por isso que estou procedendo a algumasalterações no texto da presente edição, em decorrência de novas demandase de avaliações permanentes que faço desta minha proposta. Sem dúvida, a entrada em cena das novas tecnologias informáticas é umdos fatos mais marcantes para a vida acadêmica e cultural dos últimosanos, uma vez que a disponibilidade para professores e estudantes dessespoderosos recursos computacionais ganha cada vez mais uma abrangenteuniversalízação. Indiscutíveis são as implicações desse aportetecnológico para nossas tarefas do cotidiano universitário e para nossalide diuturna com os compromissos científicos e culturais. Tal situaçãoe as novas possibilidades para a vida acadêmica não poderiam estarausentes de um texto de orientação didático-científica como este. Assimsendo, nesta edição estão sendo introduzidos elementos metodológicos e 11 técnicos para o melhor aproveitamento desses recursos, visandoassim fornecer, aos que ainda dela necessitarem, uma introdução bemdireta e prática ao manuseio da novaferramenta. Tais subsídiosestãoformulados sob uma incisiva preocupação didática, expressando amaneira mais simples a ser adotada por um usuário comum: se, de um lado,tal modo de proceder não explora a infinidade de recursos que osmicrocomputadores pessoais podem nos fornecer, de outro, emcontrapartida, permite ao novo usuário aproveitar ao máximo essapoderosa ferramenta para suas tarefas regulares. Após dominar ascapacidades rotineiras do trabalho pelo computador, o usuário pode irdesenvolvendo, aos poucos, os demais recursos do seu micro, no sentidode potencializar e aprimorar o seu desempenho. Não se pretendeapresentar aqui - pois nem seria o caso - uma introdução à informática,mas apenas algumas diretrizes bem práticas para orientar o seu uso no

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âmbito das atividades acadêmicas e científicas. Nesta primeiraabordagem, a contribuição básica do microcomputador será destacada emduasfrentes: num primeiro momento, como ferramenta de digítação dostextos, meio atualmente mais utilizado por professores e alunos, que temagilízado em muito sua produção escrita; num segundo momento, seráressaltada a incomparável contribuição à pesquisa trazida pela RedeInternet, víabilizando o acesso direto e rápido a um número incalculávelde fontes documentais, bem como possibilitando o contato dos estudiososentre si. Foram então introduzidas nesta edição diretrizes bem práticaspara se usar o computador como ferramenta de elaboração dos textos, deintercâmbio entre pesquisadores e de busca de fontes. Por outro lado,estou eliminando, a partir desta edição, a listagem das editoras, com asrespectivas informações, endereços e linhas de publicação. A avaliaçãomostrou que tal tipo de informação não se revelou muito útil paraestudantes e professores. Também tem-se verificado uma impossibilidadereal acompanhar o intenso processo de surgimento e de desaparecimentodas editoras no país, o que impede manter bem atualizada e completa essarelação. Isso vem sendo conseguido pela Câmara Brasileira do Livro, quecoloca à disposição do público catálogos continuamente atualízados emuito mais completos das editoras brasileiras. Ademais, a própriaInternet viabiliza atalhos mais eficazes para a identificação elocalização de informações editoriais, permitindo a utilização direta devariados bancos de dados. Foram feitas outras revisões no conjunto dasdiretrizes apresentadas pelo livro, incluindo um maior cuidado emaproximar minhas orientações 12 referentes às técnicas bibliográficas, daquelas fornecidas pelaABNT, com vistas a reforçar uma saudável padronização das normas dereferenciação. Foram incluídas ainda diretrizes para a elaboração deresumos técnicos. Estas alterações, destinadas a manter atualizadas asdiretrizes téc- nico-metodológicas do livro, não afetam, no entanto, asua preocupação central. Com efeito, a significação essencial destetexto é a de ser um subsídio para o estudante tornar seu aprendizado numcriterioso processo de construção do conhecimento, o que só pode ocorrerse ele conseguir aprender apoiando-se constantemente numa atividade depesquisa, pra- tícando uma postura investígativa. Só se aprende, ciênciapraticando a ciência; só se pratica a ciência praticando a pesquisa, esó se pratica a pesquisa trabalhando o conhecimento a partir das fontesapropriadas a cada tipo de objeto. Construir o objeto do conhecimento éapreendê-lo em suas próprias fontes, em sua particularidade: não écontemplá-lo ou intuí-lo em sua essência, nem representá-loabstratamente; ou melhor, a sua representação abstrata não é um ponto departida, é um ponto de chegada, é o resultado de uma construção feitacom os dados e elementosfornecídos pelafonte na qual o objeto se realizaconcretamente. Todas as diretrizes aqui apresentadas, desde as maistécnicas e operacíonais, visam apenas subsidiar o aluno a instaurar suapostura de pesquisador, postura investigativa que o leve a buscar asfontes para a construção do conhecimento e assim realizar sua

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aprendizagem. Elas estão a serviço da função epistêmica, ou seja, só têmsentido se forem boas ferramentas para o exercício do conhecimento bemconstruido. Por outro lado, é preciso ver ainda que o conhecimento só selegitima como mediação para o homem bem conduzir sua existência.Cabe-lhe o compromisso de evidenciar a intencionalidade de nossa exis-tência, para orientá-la rumo a uma qualidade de vida que esteja à alturade nossa dignidade de pessoas humanas. É por isso que se diz que seucompromisso é com a construção da cidadania, entendida esta hoje como aúnica forma decente de sermos plenamente humanos. São Paulo, 2000 d.C. OAutor

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PREFÁCIO

A grande aceitação que este livro teve por parte de professores eestudantes universitários tem reforçado a expectativa, que alimenteidesde seu lançamento, de que ele desempenharia satisfatoriamente o papelde ser um instrumento adequado de apoio ao trabalho dídátíco-cieijtlficona universidade. Afunção que lhe atribuíra era a de introduzir osestudantes a hábitos de estudo científico que lhes possibilitassem odesenvolvimento de uma vida intelectual disciplinada e sistematizada. Trata-se de fornecer aos estudantes, através destas diretrizes meto-dológicas, instrumentos para que desenvolvam a contento, com eficiênciae competência, a sua aprendizagem. Estes instrumentos, no âmbito dotrabalho universitário, são de três ordens: técnicos, lógicos econceituaís. Os estudantes devem dominar certas técnicas de estudo quelhes permitam disciplinar seu trabalho intelectual, garantindo-lhesmaior produtividade. Evidentemente, tais técnicas mecanicamenteaplicadas podem não levar a nada, mas, por outro lado, um pensamento semapoio em processos bem determinados pode não passar de uma superficialilusão; por isso, o domínio das técnicas deve ser conseguido evivenciado sob um rigoroso controle da lógica. De fato, a aprendizagemuniversitária pode ser resumida num único objetivo: aprender a pensar.E, mais do que nunca, essa tarefa continua príorítdria para a educaçãoescolar brasileira e aqui seu fracasso é um paradoxo inaceitável. Nestelivro o objetivo lógico tem prioridade sobre o objetivo técnico, pois éele que informa todas as técnicas apresentadas como modelosinstrumentais. Mas a aprendizagem necessita ainda de recursosconceituaís, ou seja, o estudante,universitário deve adquirir, tanto naárea de sua especialidade como nas áreas afins, um acervo de conceitosfundamentais e de informações precisas, tanto 15 do ponto de vista teórico como do ponto de vista histórico, quesirvam de contexto para o desenvolvimento de seu pensamento e de suaspesquisas. Esses conhecimentos contextuais, nas áreas específicas, nasáreas afins e em termos de uma cultura geral bem ampla, são condiçõesimprescindíveis para o saber e devem ser adquiridos a qualquer preço,

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mesmo através de um esforço suplementar na superação de carênciasoriundas da formação acadêmica. Na oportunidade deste lançamento, faz-senecessária uma retomada da discussão, com professores e estudantes, dasignificação deste tipo de instrumental didático, no âmbito do processoeducacional brasileiro. Este conjunto de diretrizes metodológicas,apresentadas assim de maneira intencionalmente prática, tem umafinalidade propedêutica, visando sis- tematízar e organizar a vida deestudos e do trabalho intelectual mediante uma preparação para aadequada manipulação de instrumentos para esse trabalho. O meu empenho epreocupação com estes aspectos didáticos do ensino superior brasileiro ea tentativa de contribuir para a superação de suas deficiências nãotraduzem a crença de que a inadequação dos procedimentosdidático-científicos seja o cerne da problemática educacional em nossopaís. A educação brasileira enfrenta problemas e desafios muito maisrelevantes. Com efeito, surge inicialmente a própria questão da competência,entendida como domínio dos conteúdos, dos métodos, das técnicas dasvárias ciências, enfim, o domínio das habilidades específicas de cadaárea de formação e de cada forma de saber e de cultura. Este é oobjetivo mais explicitado da aprendizagem universitária. E é umaexigência plenamente justificável do ensino superior, não havendo comocompactuar com a mediocridade, com o superficialismo, em matéria deensino e aprendizagem. Continuam sendo metas a serem encaradas comseriedade, no âmbito da tarefa educacional brasileira, a qualificação doensino, o rigor da aprendizagem, a iniciação à pesquisa e a superação detodas as falhas decorrentes da falta de rigor científico no processo deensino superior. O esforço pedagógico da universidade não pode deixar delado, em nenhum momento, esta preocupação e as decorrentes tarefas. Porisso, fica claro, deste ponto de vista, que o objetivo é aprender, éobter conhecimentos, é dominar produtos da ciência e, até mesmo,dominando seus métodos, criar ciência. A educação brasileira é aindamuito falha na efetivação deste objetivo, concentrando-se nisso umproblema muito mais grave do que o representado pela inadequação doshábitos de estudo. 16

Além desta esfera de problemas, afigura-se uma outra, igualmente deextrema gravidade. A educação universitária tem um outro objetivo, tãorelevante quanto o da formação científica: é o objetivo da formaçãopolítica da juventude. Com efeito cabe a ela desenvolver a formaçãopolítica, mediante uma conscíentização crítica dos aspectos políticos,econômicos e sociais da realidade histórica em que ela se encontraínserida. A educação superior brasileira enfrenta estaquestãofundamental: formar politicamente uma juventude pela criação deuma nova consciência social capaz de mobilizá-la não só para uma atuaçãoconcreta e uma participação política no processo histórico real mastambém para um compromisso mais radical de se construir um novo modelo

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de civilização humana para o Brasil. Por isso, à preocupação com asquestões didáticas precede a preocupação com o significado político daeducação e com o que se deve investir na formação política da juventude.A conscientízação dos universitários brasileiros deste aspecto políticoda educação é questão de grande monta e tarefa inadíável da vivênciauniversitária. E grave compromisso dos educadores atuais, por maisdesafiante que pareça ser tal objetivo. Cabe à educação brasileira, demodo particular à educação universitária, denunciar as alianças espúriasque ela tem feito com interesses duvidosos bem como tentar definir, paraa sociedade brasileira, novos caminhos e novas alianças, mais lúcidas e,possivelmente, mais eficazes. É extremamente relevante que o estudanteuniversitário se torne capaz de entender-se como membro de uma sociedadeconcreta e bem determinada, envolvida num processo histórico, e que elefaz parte de uma coletividade que dá significado a sua existênciaindividual. Mas há ainda uma questão mais profunda, embora de maisdificil apreensão, a se colocar com referência à educação universitáriabrasileira: diz respeito ao próprio significado desta educação no âmbitodo projeto existencial que se deve dar à comunidade brasileira, na buscade seu destino e de sua civilização. Trata-se de um equacionamentopropria- mente filosófico, ou seja, trata-se de explicitar qual osentido possível de existência do homem brasileiro como pessoa situadana sua comunidade de tais contornos e em tal momento histórico. Odesafio mais radical que se impõe à educação brasileira é oquestionamento do próprio significado do projeto civilizatório doBrasil. Afinal, este país vive uma crise total de civilização e todoesforço para a articulação de um projeto político e social para apopulação brasileira pressupõe a discussão de questões básicasrelacionadas com a dignidade humana, com a liberdade, com a igualdade,com o valor da existência comunitária, com as pers- pectivas de umdestino comum. Não mais uma reflexão apriorística e 17 abstrata: emboratendo como horizonte um projeto que possa até ser utópico, estadiscussão se dará com base na retomada das mediações histórico-sociaisnas quais se tece a nossa própria realidade humana. O projetoeducacional é assim, necessariamente, um projeto político e pressupõenecessariamente um projeto antropológico. É por isso que não bastará àuniversidade dar capacítação científica e formação política, se ela nãoinserir estas dimensões numa dimensão mais ampla que é a da construçãodo próprio sentido da existência histórica da nação. Em termos muitomais concretos, isto significa que à educação cabe, em última análise, aconstrução da identidade autêntica do homem brasileiro. Ora, diante dequestões desta monta, aspectos didáticos do ensino perdem muito da suarelevância. Mas é neste contexto que se deve equacionar o lugar dametodología como propedêutica didática. Além de não haver nenhumaincompatibilidade entre estas tarefas, a metodologia é um instrumentalextremamente útil e seguro para a gestação de uma postura amadurecidafrente aos problemas científicos, políticos e filosóficos que nossaeducação universitária enfrenta. Entendo que não é possível aos

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estudantes adquirirem sua competência científica, técnica ou profis-sional, sem disciplinada vida de estudos; e sem esta competência, não seconcebe a compreensão do sentido político da própria formação nem asignificação antropológica da educação, Tudo isto pressupõe grandeamadurecimento que não se consegue por osmose, nem por meditaçãoexistencial ou por meios espontaneístas; pelo contrário, será umadolorosa conquista, fruto de cansativo e persistente trabalho. E, muitasvezes, a crítica apressada à ínstrumentação metodológica e didática, emnome da prioridade dos objetivos educacionais, pode esconder ingênua oumaquia- velicamente uma intenção cruel: a de negar aos dominados oacesso aos instrumentos e recursos para sua libertação. Por isso, apropedêutica didática tem, também ela, uma significação eminentementepolítica. O Autor São Paulo, fevereiro de 1985 18

INTRODUÇÃO

Este livro objetiva apresentar àqueles que se iniciam à vida científicauniversitária alguns subsídios para as várias tarefas com que sedefrontarão durante o desenvolvimento de seu trabalho intelectual.Trata-se, pois, de uma iniciação metodológica ao trabalho intelectual aser desencadeado desde o limiar da freqüentação universitária. Sãoapresentadas normas bastante práticas para o estudo, visando torná-locientificamente organizado, o que garan- tirá, sem dúvida, resultadoscompensadores. São instrumentos operacionais, sejam eles técnicos oulógicos, mediante os quais os estudantes podem conseguir maioraprofundamento na ciência, nas artes ou na filosofia, o que, afinal, é oobjetivointrínseco do ensino e da aprendizagem universitária. Trabalhocientífico foi tomado, neste texto, em dois sentidos. De modo geral,chamou-se trabalho científico 'o conjunto de processos de estudo, depesquisa e de reflexão que caracterizam a vida intelectual douniversitário"; de modo restrito e mais técnico, trabalho científico foiconsiderado, especialmente no quinto capitulo, a própria "monografiacientífica, texto que relata disser- tivamente os resultados de umapesquisa numa determinada área Este livro não trata, pois, dainvestigação científica entendida como pesquisa experimental, delaboratório ou de campo: não é um texto de Metodologia da PesquisaCientífica e muito menos um texto de Lógica da Ciência. Por certo,alguns elementos técnicos ou lógicos são também usados nesses domínios,mas intencional- mente os objetivos deste texto se limitam à esfera dotrabalho 19 científico enquanto conjunto de atividades intelectuaisrealizadas como exigências do curso superior, apresentando diretrizespara a criação de hábitos de estudo que sustentem validarnente asposturas que constituem o trabalho científico. Nesse sentido e com esseespírito, o primeiro capítulo apresenta algumas orientações que visamfornecer ao estudante uma visão global de como deve organizar sua vida

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de estudos na universidade. Trata da organização do próprio trabalho demaneira bem disci- plinada para que dele se possa tirar maior proveito.Sugerido o instrumental geral que deverá ser usado como base dotrabalho, chama-se a atenção para a necessidade e a importância dautilização de revistas, biblíografias e dicionários especializados parao estudo científico. O capítulo termina com um esquema das formas maisdinâmicas de se acompanhar o processo didático aula-estudo pessoal. O proveito a se tirar do estudo deve ter sua continuidade garantidapela prática da documentação, técnica privilegiada de manipulaçãointeligente do instrumental de trabalho. A leitura da documentação temfinalidade mais restrita: visa tão-somente extrair de determinado textoapenas elementos relevantes para a elaboração de algum trabalho depesquisa ou o estudo de assuntos prede- terminados, como aquelesexpostos em aula. De qualquer maneira, a leitura de documentação ésempre guiada por alguns temas diretores bem definído . O segundocapítulo trata da leitura de documentação em vista do estudo em geral;para o caso da elaboração de uma monografia, a técnica da documentaçãoserá retomada no quinto capítulo, quando se tratará da terceira etapa daelaboração do trabalho científico. O aprofundamento do estudo científicopressupõe ainda outra forma de leitura: a leitura analítica, objeto doterceiro capítulo. Trata-se da abordagem para a análise e interpretaçãode textos. Apresenta-se então um modelo para o estudo mais rigoroso deum texto, em que se fornecem subsídios técnicos e lógicos para tornarmais acessível a apreensão do próprio conteúdo dos textos. A leitura,cientificamente conduzida, é instrumento fundamental para a aprendizagemno ensino superior, uma vez que todas as demais atividades, inclusive asaulas, a pressupõem. O texto é entendido como portador de uma mensagemcodificada e transmitida pelo 20 autor ao leitor. A leitura é uma atividade de decodificação destamensagem. Tal trabalho é feito pela leitura analítica. A leitura analítica aborda o texto visando a sua compreensãoexaustiva, a apreensão da mensagem como um todo. Deve ser feita, pois,quando se tem em vista a tomada de conhecimento de todo o conteúdo dotexto. Serve, portanto, para o estudo pessoal, para a preparação deseminários, para a elaboração de relatórios, de roteiros de estudo, deresenhas e de resumos. Enquanto a leitura de documentação é seletiva, aleitura analítica é globalizante, utilizando-se da análise apenas parachegar à síntese. No quarto capítulo são apresentadas algumas sugestõespara a preparação, elaboração e execução do seminário, entendido, nestetexto, como método de estudo em grupo e atividade de classe específicaaos cursos universitários. Nesse sentido, o seminário pressupõe edesenvolve tanto a leitura analítica como a leitura de documentação,alimentando também a reflexão e criando contextos e problemas sobre osquais versarão futuras pesquisas do universitário. De fato, a pesquisa e a reflexão são os objetivos finais da vidacientífica universitária: se isso se concretiza quase que só napós-graduação.. não se pode perder de vista que a graduação deve ser

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irrefutavelmente e apesar de todos os fatos em contrário, uma rigorosainiciação à pesquisa e à reflexão. Por isso, o quinto capítulo tratadetalhadamente da elaboração da monografia científica. Estas diretrizes devem presidir, desde já, a elaboração dos trabalhosdidáticos para o aproveitamento escolar. É uma questão de criar hábitosseguros e, quanto a isso, não se deve transigir. Ao universitário cabeadquirir disciplina rigorosa para a expressão codificada de seupensamento, qualquer que seja sua área de estudo. Para garantir ao aluno uma primeira iniciação, ao manuseio dosrecursos eletrônicos na busca de dados para seus trabalhos de pesquisa,serão apresentadas algumas diretrizes quanto ao acesso à Internet e aosdemais equipamentos da informática e da multimidia, inclusive orientaçãopara o registro documental dos dados aí colhidos. Os trabalhos exigidos nos cursos de pós-graduação mereceram referênciaespecial no sexto capítulo, porque, além de seguirem as exigências comuma todas as formas de trabalhos científicos, 21 devem seguir mais algumasque lhes são específicas, tanto do ponto de vista técnico como do pontode vista da profundidade e do rigor científico que os caracterizam. Todaatividade desenvolvida no contexto da vida de estudos universitáriosdeve fundar-se numa disciplina lógica rigorosa. Por isso, este livro seencerra com o sétimo capítulo abordando alguns aspectos lógicos dopensamento humano que atuam como forma lógica subjacente ao discursolingüística. Foram tomados para esta ex- posição apenas alguns elementosde lógica que são realmente utilizados quando pela prática cotidiana dotrabalho intelectual. Não se encontram neste texto todas asestruturações sistemáticas tanto da lógica formal clássica quanto damoderna lógica simbólica, estruturações que, dado seu rigor eprofundidade, não se prestam à iniciação didática aos estudossuperiores, exigindo já toda uma preparação mais prática ao raciocíniohumano. Uma bibliografia final comentada foi acrescentada para que osleitores possam tomar conhecimento de outras obras congêneres que, devários pontos de vista, trazem diversificada contribuição ao trabalhodidático-científico. Dado o seu caráter instrumental, este livro deveser paulati- namente abordado, em função das progressivas solicitações econtinuamente retomado até que se adquira, com as várias normas, afamiliaridade indispensável para que sua aplicação se torne espontânea,eficaz e agradável. 22

Capítulo 1

A ORGANIZAÇÁO DA VIDA DE ESTUDOS NA UNIVERSIDADE

Ao dar início a essa nova etapa de sua formação escolar, a etapa do ensino superior, o estudante dar-se-á conta de que se continuidade deencontra diante de exigências específicas para a sua vida de estudos.Novas posturas diante de novas tarefas ser-lhe-ão logo solicitadas. Daí

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a necessidade de assumir prontamente essa nova situação e de tomarmedidas apropriadas para enfrentá-la. É claro que o processopeclagógico-didático continua, assim como a aprendizagem que deledecorre. No conjunto, porém, as suas posturas de estudo devem mudarradicalmente, embora explorando tudo o que de correto aprendeu em seusestudos anteriores. Em primeiro lugar, é preciso que o estudante seconscientize de que doravante o resultado do processo dependefundamentalmente dele mesmo. Seja pelo seu próprio desenvolvimentopsíquico e intelectual, seja pela própria natureza do processoeducacional desse nível, as condições de aprendizagem transformam-se nosentido de exigir do estudante maior autonomia na efetivação daaprendizagem, maior independência em relação aos subsídios da estruturado ensino e dos recursos institucionais que ainda continuam sendooferecidos. O aprofundamento da vida científica passa a exigir doestudante uma postura de auto-atividade didática que será, sem dúvida,crítica e rigorosa. Todo o conjunto de 23 recursos que está na base doensino superior não pode ir além de sua função de fornecer instrumentospara uma atividade criadora. Em segundo lugar, convencido da especificidade dessa situação, deve oestudante empenhar-se num projeto de trabalho altamente individualizado,apoiado no domínio e na manipulação de uma série de instrumentos quedevem estar contínua e permanentemente ao alcance de suas mãos. É com oauxilio desses instrumentos que o estudante se organiza na sua vida deestudo e disciplina sua vida científica. Este material didático ecientífico serve de base para o estudo pessoal e para a complementaçãodos elementos adquiridos no decurso do processo coletivo de aprendizagemem sala de aula. Dado o novo estilo de trabalho a ser inaugurado pelavida universitária, a assimilação de conteúdos já não pode ser feita demaneira passiva e mecânica como costuma ocorrer, muitas vezes, nosciclos anteriores. já não basta a presença física às aulas e ocumprimento forçado de tarefas mecânicas: é preciso dispor de ummaterial de trabalho específico à sua área e explorá-lo adequadamente.

1. OS INSTRUMENTOS DE TRABALHO

A formação universitária acarreta quase sempre atividades práticas, delaboratório ou de campo, culminando no fornecimento de algumashabilidades profissionais próprias de cada área. Na- turalmente, asvárias áreas exigem, umas mais, outras menos, essa prática profissional.Contudo, antes de ai chegar, faz-se necessário um embasamento teóricopelo qual responde, fundamentalmente, o ensino superior. Essafundamentação teórica das ciências, das artes e das técnicas éjustificativa essencial desse nível de ensino. E é por aí que se iniciaa tarefa de aprendizagem na universidade. A assimilação desses elementosé feita através do ensino em classe propriamente dito, nas aulas, mas égarantida pelo estudo pessoal de cada estudante. E é por isso queprecisa ele dispor dos devidos instrumentos de trabalho que, em nosso

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meio, são fundamentalmente bibliográficos. Ao dar início a sua vida universitária, o estudante precisa começar aformar sua biblioteca pessoal, adquirindo paulatinamente, 24 mas de maneira bem sistemática, os livros fundamentais para odesenvolvimento de seu estudo. Essa biblioteca deve ser especializada equalificada. As obras de referência geral, os textos clássicosesgotados, são encontrados nas bibliotecas das universidades, das váriasfaculdades ou de outras instituições. E, no momento oportuno, essasbibliotecas devem ser devidamente exploradas pelo estudante. O estudanteprecisa munir-se de textos básicos para o estudo de sua área específica,tais como um dicionário, um texto introdutório, um texto de história,algum possível tratado mais amplo, algumas revistas especializadas,todas obras específicas à sua área de estudo e a áreas afins.Posteriormente, à medida que o curso for avançando, deve adquirir ostextos monográficos e especializados referentes à matéria. Esses textos básicos aqui assinalados têm por finalidade única criarum contexto, um quadro teórico geral a partir do qual se podedesenvolver a aprendizagem, assim como a maturação do própriopensamento. Esses textos exercem, portanto, papel meramentepropedêutico, situando-se numa etapa provisória de iniciação. Não setrata de maneira alguma de restringir o estudo aos manuais ou, piorainda, às apostilas. Eles se fazem necessários, contudo, nesse momentode iniciação, sobretudo para complementar as exposições dos professoresem classe, para servir de base de comparação com algum texto porventurautilizado pelos professores, enfim, para fornecer o primeiroinstrumental de trabalho nas várias áreas, o vocabulário básico, oselementos, do código das várias disciplinas. Esses textos desempenham,pois, o papel de fontes de consultas das primeiras categorias a partirdas quais se desenvolverão os vários discursos científicos.Naturalmente, à medida do avanço e do aprofundamento do estudo, serãoprogressivamente substituídos pelos textos especializados, pelos estudosmonográficos resultantes das pesquisas elaboradas pelos váriosespecialistas com os quais o estudante deverá conviver por muito tempo.Numa fase mais avançada de seus estudos, e sobretudo durante sua vidaprofissional, esses textos formarão a biblioteca do estudante, lançandoas linhas mestras do seu pensamento científico organicamenteestruturado. Nesse momento, os textos introdutórios só serão utilizadospara cobrir eventuais lacunas do processo sequencial de aprendizagem.Frise-se, porém, que, na universidade, não se pode passar o tempo todoestudando apenas textos genéricos, comentários e introduções, embora,pelo menos 25 nas atuais condições, iniciar o curso superior única eexclusivamente com textos especializados, sem nenhuma propedêuticateórica, seja um empreendimento de resultados pouco convincentes. Emboraessa concepção de muitos professores universitários decorra do esforçopara criar maior rigor científico, tal prática não se recomenda comonorma geral. Seus resultados históricos são, em algum casos, brilhantes,

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mas foram obtidos com sacrifício de muitas potencia- lidades que seperderam neste salve-se-quem-puder que acaba agravando a situação dediscriminação e de seleção de nosso ensino superior. O universitáriodeve poder passar por um encaminhamento lógico que o inicie ao pensar,por mais que o professor não goste de executar essa tarefa. Ao professornão basta ser um grande especialista: é preciso dar-se conta de que étambém um Professor e mestre, conseqüentemente, um educador inseridonuma situação histórico-cultural de um país que não pode desconhecer. Isto não quer dizer que o professor sabe tudo: mas que deve saber,pelo menos, conduzir os alunos a descobrirem as vias de aprendizagem. Ouso inteligente desses textos auxiliares não pre- judicará, em hipótesealguma, a qualificação do ensino. A esta altura das considerações sobreos instrumentos de trabalho de que o estudante universitário devemunir-se, é preciso dar ênfase às revistas, as grandes ausentes dodia-a-dia do trabalho acadêmico em nosso meio universitário. Aassinatura de periódicos especializados é hábito elementar para qualquerestudante exigente. Tais revistas mantêm atualizada a informação sobreas pesquisas que se realizam nas várias áreas do saber, assim como sobrea bibliografia referente às mesmas. Em algumas áreas, acompanham essasrevistas repertórios bibliográficos, outro indispensável instru- mentodo trabalho científico. A função da revista enquadra-se na vidaintelectual do estudante enquanto lhe permite acompanhar odesenvolvimento de sua ciência e das ciências afins. Com efeito, aofazer o curso superior, o estudante é levado a tomar conhecimento detodas as aquisições da ciência de sua especialidade, obtidas durantetoda sua formação. Esse acervo cultural acumulado, porém, continuadesenvolvendo-se dinamicamente. Por isso, além de assimilar essasaquisições, deve passar a seguir sua solução, que estaria a cargo dessaspublicações periódicas. O mínimo que uma revista fornece são informaçõesbibliográficas preciosas, além de resenhas e de outros dados sobre avida científica e cultural. 26 Deve ser igualmente estimulada entre os universitários, de maneiraincisiva, a participação em acontecimentos extra-escolares, tais comosimpósios, congressos, encontros, semanas etc. É impossível indicarneste livro todos os textos básicos importantes para as váriasdisciplinas. Em geral, os professores já fazem constar da suaprogramação essa bibliografia. Apesar de haver a mesma dificuldade arespeito das revistas, são assinalados, em anexo, alguns periódicosbrasileiros, pertinentes a algumas áreas de nosso ensino superior, sempretensão alguma de esgotar a informação a esse respeito, para osestudantes deles tomarem conhecimento e, eventualmente, passarem aassinar alguns que possam mais diretamente lhes interessar. Quando se fala aqui desses instrumentos teóricos especializados,livros ou revistas, considerados como base para o estudo e pesquisa dosfatos e categorias fundamentais do saber atual, não se quer fazerapologia da hiperespecialização, hermética e isolada. Pelo contrário, ainterdisciplinaridade é um pressuposto básico de toda formação teórica.

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As disciplinas não se isolam no contexto teórico: se o curso do alunodefine o núcleo central de sua especialização, é de se notar que suaformação exigirá igualmente abertura de complementação para áreas afinscom o objetivo de ampliar o referencial teórico. Por isso é importantefamiliarizar-se com o material relativo a essas disciplinas afins.Assim, não só textos básicos, mas também revistas de áreascomplementares à da sua especialização, devem, paulatinae'sistematicamente, ser adquiridos, na medida do possível. Assim serão indicados em anexos, no final deste livro, algunsinstrumentos de trabalho acessíveis ao estudante brasileiro. Ênfaseespecial será dada às revistas cujo uso mais sistemático e intensivoprecisa ser instaurado no meio universitário. Também já existem noBrasil alguns repertórios bibliográficos de boa qualidade, mas, emgeral, pouco conhecidos e utilizados. O mesmo se diga dos dicionáriosespecializados, que, embora sejam traduções, na sua grande maioria sãoinstrumentos de grande utilidade para o estudante universitário. Dentre os instrumentos para o trabalho científico disponíveisatualmente, cabe dar especial destaque aos recursos eletrônicos geradospela tecnologia informacional. De modo especial, cabe referir à redemundial de computadores, a Internet, e aos muitos 27 recursos comunicacionais da multimídia, como os disquetes eCD-ROMS. Também sobre o uso desses recursos se falará adiante,subsidiando o estudante para utilizá-los adequadamente. (p. 1.25)

2. A EXPLORAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE TRABALHO

Esse material didático científico deve ser considerado e tratado peloestudante como base para seu estudo pessoal, que complementará os dadosadquiridos através das atividades de classe. Uma vez documentada amatéria abordada em aula, devem ser igualmente documentados os elementoscomplementares a essa matéria e que são levantados mediante a pesquisafeita sobre este material de base. É que muitos esclarecimentos só seencontram através desses estudos pessoais extraclasse. As técnicas e aprática da documentação são expostas no próximo capítulo. A documentação como prática do trabalho científico é a maneira maisadequada e sistemática de ""tomar apontamentos". As informações colhidas nas aulas expositivas, nos debates em grupo,nos seminários e conferências são assinaladas, num primeiro momento, demaneira precária e provisória, nos cadernos de anotações. Ao retomar, emcasa, as anotações, o estudante submetê-las-á a um processo de correção,de complementação e de triagem após o qual serão transcritas nas fichasde documentação. Com efeito, ao tomar notas durante uma exposição,muitas idéias acabam ficando truncadas: é preciso reconstruí-las. Ocontexto ajudará tanto mais que o que importa reter não é o texto daexposição do professor, mas as idéias principais. Cabe lembrar que para tomar notas de uma aula, de uma palestra, de umdebate, não é preciso gravar a exposição nem taquigrafar o discurso

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feito, palavra por palavra. Não há, nesses casos, necessidade deregistrar o texto integral da fala, pois tal tarefa, além de difíciltecnicamente, atrapalha a concentração do ouvinte para pensar no que vemsendo dito. O que melhor se faz é ir registrando palavras ou expressõesque traduzam conteúdos conceituais, geralmente categorias substantivas ----- 1. Cf. p. 35. 2. C£ p. 43-5. 28 ou verbais. Portanto, vai-se registrando uma sequencia decategorias, sem a estruturação lógico-redacional explícita da frase. Nãoé preciso preocupar-se com a falta do texto completo nem com a ausenciade muitos dos detalhes da exposição do professor ou do palestrante. Epreferível e mais eficiente concen- trar-se nas idéias fundamentais,procurando expressá-las mediante algumas categorias básicas e investirna compreensão, na apreensão das idéias do orador. Ao ir registrando essas categorias, deve-se separá-las por barratransversal /. Ao retomar, em momento posterior, esses apontamentos, oouvinte que esteve atento conseguirá recompor a síntese relevante dodiscurso, bem em cima do eixo essencial da reflexão. Tratando-se de dados objetivos ou de conceitos precisos que ficaramincompletos, é hora de recorrer aos instrumentos pessoais de pesquisa,às obras básicas de referência. Procura-se assim recompor o texto,complementando-o com esclarecimentos pertinentes que vão ajudar acompreender melhor as informações prestadas. Recuperadas as informações,os elementos fundamentais, aqueles que merecem ser assimilados, sãopassados para as fichas de documentação, sintetizados pessoalmente peloaluno. Observe-se que ao proceder assim o aluno está trabalhando de maneirainteligente e racional, realizando simultaneamente todas as dimensões daaprendizagem. Em nenhum momento está preocupando-se com o "decorar", como "memorizar'.-. Está tão-somente pensando nas idéias que estámanipulando. Está pensando à medida que se esforça para construir osentido dos conceitos ou das idéias em jogo. Está ainda pesquisando,comparando, informando-se. Através desse conjunto de atividades queenvolve com o pensamento, facilitando as tarefas física e psíquicas doestudo, o aluno adquire maior familiaridade com o assunto por maisdifícil e estranho que possa parecer à primeira vista. Ademais não épreciso esperar que domine já dessa feita todo o conteúdo e seusdesdobramentos. O próprio desenvolvimento do curso e esse sistema dedocumentação irão lhe proporcionar outras oportunidades para a retomadadesses temas que, nas sucessivas apresentações, já estarão cada vez maisfamiliares. A orientação para a revisão da matéria vista em aula pode seradaptada às outras situações criadas para o estudante no caso 29 da participação do trabalho em grupo da preparação do seminário eda elaboração do trabalho de pesquisa. Nessas situações, o procedimentobásico de estudo é o mesmo, apesar das diferenças de objetivo. Oestudante analisa o material proposto fazendo as devidas anotações sobforma de documentação."

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3. A DISCIPLINA DO ESTUDO

Apesar da aparente rigidez desta proposta de metodologia de estudo, elaé, sem dúvida, a mais eficiente. Pressupõe um mínimo de organização davida de estudos, mas, em compensação, torna-se sempre mais produtiva. Emvirtude de os universitários brasileiros, na sua grande maioria,disporem de pouco tempo para seus cursos e exercerem funçõesprofissionais concomitantes ao curso superior, exige-se delesorganização sistemática do pouco tempo disponível para o estudo em casa,indispensável para um aproveitamento mais inteligente do seu curso degraduação, com um mínimo de capacitação qualitativa para as etapasposteriores tanto numa eventual seqüência de seus estudos, como nacontinuidade de suas atividades profissionais definidas e oficializadaspelo seu curso. Não se trata de estabelecer uma minuciosa divisão do horário deestudo: o essencial é aproveitar sistematicamente o tempo disponível,com uma ordenação de prioridades. Também não vem ao caso discutir ascondições de ordem física e psíquica que sejam melhores para o estudo,muito dependentes das características pessoais de cada um, sendo difícilestabelecer normas gerais que acabam caindo numa tipologia artificial. Feito o levantamento do tempo disponível, predetermina-se um horáriopara o estudo em casa. E uma vez estabelecido o horário, é necessáriocomeçar sem muitos rodeios e cumpri-lo rigorosamente, mantendo um ritmode estudo. Vencida a fase de aquecimento e seguindo as diretrizesapresentadas para a exploração do material 'neste e nos próximoscapítulos, a produção do trabalho torna-se eficiente, fluente e atémesmo agradável.

-------- 3. Cf. p. 32-3. 4. Cf. p. 63. 5. Cf. p. 73. 6. Cf. p. 37ss. 30 AULA Parficipação - Retomada e esclarecimentos de pontos daunidade anterior. - Exploração de segmentos programados. - Discussão edebates. - Determinação de novas tarefas. AULA Parficipação - Exposiçãode segmentos da matéria. - Discussão ou debate - o de temas a partir ,de textos com sínteses. - Determinação de novas tarefas. ESTUDO EM CASARevisão Preparação Reorganização da Releitura e reestudo matéria expostada documentação ou debatida em da aula anterior. classe mediante Contatoprévio com nova unidade programada: DOCUMENTAÇÃO roteiro, textos,questionários. Aprofundamento de estudo mediante exploração deinstrumentos complementares. Elaboração de tarefas específicas:fichamentos, exercícios, relatórios ete. 1 1 1 RECURSO AOS INSTRUMENTOSCOMPLEMENTARES ------ Tais diretrizes são aplicáveis igualmente ao estudo em grupo. Uma vezreunidos no horário combinado, os elementos do grupo devem desencadear otrabalho sem maiores rodeios, definindo-se as várias tarefas, as várias

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etapas a serem vencidas e as várias formas de procedimento. Quando o período de estudo ultrapassar duas horas, faz-se regra geralum intervalo de meia hora para alteração do ritmo de trabalho. Esseintervalo também precisa ser seguido à risca. Recomenda-se distribuir umtempo de estudo para os vários dias da semana, com objetivo de revisar amatéria ou preparar aulas das várias disciplinas nos períodosimediatamente mais próximos às suas aulas. Caso haja necessidade de umperíodo maior de concentração, a distribuição do tempo para as váriasmatérias levará em conta a carga de trabalho de cada uma e o grau dedificuldade das mesmas.

CONCLUSAO

Para acompanhar o desenvolvimento do seu curso, o aluno deve preparar erever aulas. O cronograma de estudo possibilita ao aluno maior proveitoda aula, seja ela expositiva, um debate ou um seminário. Tratando-se deaula expositiva, até a tomada de apontamentos torna-se mais fácil, dadaa familiaridade com a matéria que está sendo exposta; conseqüentemente,há melhores condições de selecionar o que é essencial e que deve seranotado, evitando-se a sensação de 'estar perdido" no meio deinformações aparentemente dispersas. Tratando-se de seminários oudebates, mais necessária se faz ainda a preparação prévia do que sefalará

ulteriormente. A revisão da aula situa-se como a primeira etapa depersonalização da matéria estudada. É o momento em que se retomam osapontamentos feitos apressadamente durante a aula e se dá acabamento aosinformes, recorrendo-se aos instrumentos complementares --- 7. Cf. 69-70. 32 de pesquisa, após uma triagem dos elementos que passarãodefinitivamente para as fichas de documentação. Não há necessidade,neste momento, de decorar os apontamentos: basta transcrevê-los,pensando detidamente sobre as idéias em causa e buscando uma compreensãoexata dos conteúdos anotados. Rever essas fichas como preparação da aulaseguinte é medida inteligente para o paulatino domínio de seu conteúdo.

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Capítulo II

A DOCUMENTAÇÁO COMO METODO DE ESTUDO PESSOAL

O estudo e a aprendizagem, em qualquer área do conhecimento, sãoplenamente eficazes somente quando criam condições para uma contínua eprogressiva assimilação pessoal dos conteúdos estudados. A assimilação,por sua vez, precisa ser qualitativa e inteligentemente seletiva, dada acomplexidade e a enorme diversidade das várias áreas do saber atual.

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Daí a grande dificuldade encontrada pelos estudantes, cada dia maisconfrontados com uma cultura que não cessa de complexificar-se e seutilizar de acanhados métodos de estudo que não acompanham, no mesmoritmo, a evolução global da cultura e da ciência. Alguns acreditam que épossível encontrar na própria tecnologia os recursos que possibilitemsuperar tais dificuldades da aprendizagem. Os recursos milagrosos datecnologia, no entanto, estão ainda para ser criados e testados; osmétodos acadêmicos tradicionais, baseados na assimilação, passiva, jánão fornecem nenhum resultado eficaz. O estudante tem de se convencer de que sua aprendizagem é uma tarefaeminentemente pessoal; tem de se transformar num estudioso que encontrano ensino escolar não um ponto de chegada, mas um limiar a partir doqual constitui toda uma atividade de estudo e de pesquisa lheproporciona instrumentos de trabalho criativo em sua área. É inútilretorquir que isto já é óbvio para 35 qualquer estudante. De fato, nunca se agregou tanto como hoje aimportância da criatividade nos vários momentos da vida escolar. Mas o fato é que os hábitos correspondentes não foram instaurados e,na prática de ensino, os resultados continuam insatisfatórios.

1. A PRÁTICA DA DOCUMENTAÇÃO

As considerações que seguem visam tão-somente sugerir formas concretaspara o estudo pessoal, sem se preocupar em delinear uma teoria e umatécnica muito sofisticada de documentação. Ressaltar a importância da técnica da documentação como forma deestudo (talvez já conhecida e praticada por muitos, mas nem sempre com adevida correção) é o único objetivo aqui visado. O saber constitui-se pela capacidade de reflexão no interior dedeterminada área do conhecimento. A reflexão, no entanto, exige odomínio de uma série de informações. O ato de filosofar, por exemplo,reclama um pensar por conta própria que é atingido mediante o pensamentode outras pessoas. A formação filosófica pressupõe, dialética e nãomecanicamente, a informação filosófica. Do mesmo modo alguém se torna grande poeta ou escritor e, como tal,altera com seu gênio sua língua e sua cultura. Antes, porém, de aíchegar será influenciado por essa cultura e se comunicará através dalíngua que aprendeu submissamente. Afinal, o homem é um ser-culturalmente situado. Assim sendo, a posse de informação completa de sua área deespecialização é razoável nas áreas afins, assim como certa culturageral é uma exigência para qualquer estudante universitário, cujosobjetivos signifiquem algo mais que um diploma. Essa informação só sepode adquirir através da documentação realizada criteriosamente. Odidatismo tem criado uma série de vícios que se arraigaram na vidaescolar dos estudantes desde a escola primária, esterilizando osresultados do ensino. Não traz resultados positivos para o estudo ouvir

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aulas, por mais brilhantes que sejam, nem adianta ler livros clássicos e ---------- 1. Há muitos textos sobre documentação; entreeles, consultar Deleio V. SALOMON, Como fazer uma monografia, p. 103-28;e a orientação de Ângelo D. SALVADOR, Métodos e técnicas da pesquisabibliográfica, p. 64-112, que apresenta outro modelo de documentação.

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célebres. Isso só tem algum valor à medida que se traduzir emdocumentação pessoal, ou seja, à medida que esses elementos puderemestar à disposição do estudante, a qualquer momento de sua vidaintelectual. A prática da documentação pessoal deve, pois, tornar-se uma constantena vida do estudante: é preciso convencer-se de sua necessidade eutilidade, colocá-la como integrante do processo de estudo e criar umconjunto de técnicas para organizá-la. A documentação de tudo o que for julgado importante e útil em funçãodos estudos e do trabalho profissional deve ser feita em fichas. Tomarnotas em cadernos é um hábito desaconselhável devido à sua poucafuncionalidade. De um ponto de vista técnico e enquanto método pessoal de estudo,pode-se falar em três formas de documentação: a documentação temática, adocumentação bibliográfica e a documentação geral.

2. A DOCUMENTAÇÃO TEMÁTICA

A documentação temática visa coletar elementos relevantes para o estudoem geral ou para a realização de um trabalho em particular, sempredentro de determinada área. Na documentação temática, esses elementossão determinados em função da própria estrutura do conteúdo da áreaestudada ou do trabalho em realização. Tal documentação é feita, portanto, seguindo-se um plano sistemático,constituído pelos temas e subtemas da área ou do trabalho em questão. Aesses temas e subtemas correspondem os títulos e subtítulos queencabeçam as fichas, e formam um conjunto geral de fichas ou fichário. Os elementos a serem transcritos nas fichas de documentação temáticanão são tirados apenas das leituras particulares, mas também das aulas,das conferências e dos seminários. As idéias pessoais importantes paraqualquer projeto futuro também devem ser transcritas nas fichas, paranão se perderem com o passar do tempo. --------- 2. Deicio V. SALOMON, Como fazer uma monografia, p.107.

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Quando se transcreve na ficha uma citação literal, essa citação viráentre aspas, terminando com a indicação abreviada da fonte; quando a

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transcrição contiver apenas uma síntese das idéias da passagem citada,dispensam-se as aspas, mantendo-se a indicação da fonte; quando sãotranscritas idéias pessoais, não é necessário usar nem aspas nemindicações de fonte, nem sinais indicativos, pois a ausência de qualquerreferência revela que são idéias elaboradas pelo próprio autor. O fichário é constituído primeiramente pelas fichas de documentaçãotemática. Baseia-se nos conceitos fundamentais que estruturamdeterminada área de saber. Cada estudante pode formar seu fichário dedocumentação temática relacionado ao curso que está seguindo, a partirda estrutura curricular do mesmo. Nesse caso cada disciplinacorresponderia a um setor do fichário e suas partes essenciaisdeterminariam os títulos das fichas, enquanto os conceitos e elementosfundamentais dessas partes corresponderiam aos subtítulos das fichas. Concretamente, no que diz respeito às aulas, os estudantes, aoreverem seus apontamentos de classe, nos cadernos de rascunho, passariamos tópicos mais importantes para as fichas, sistematizando as idéias aserem retidas. Também assim deveriam ser estudadas as "apostilas' -enquanto durarem: far-se-ia uma documentação temática dos principaisconceitos da matéria em pauta. Mesmo procedimento a ser adotado em relação aos livros Cujo conteúdotem interesse direto ou complementar para o curso. Igualmente, todas asleituras complementares devem traduzir-se em documentação, assim comotodas as demais atividades esco lares.

3. A DOCUMENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

E por isso que a documentação temática se completa pela documentaçãobibliográfica: as fichas de documentação bibliográfica organizam-se deacordo com um critério de natureza temática.

3. Deleio V. SALOMON, Como fazer uma monografias, p. 116-21, apresentaalguns modelos de fichários de documentação. 4. Modelo de ficha dedocumentamo temática à p. 43.

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Assim, o livro é fichado, tendo em vista a área geral e específicadentro da qual se situa. O fichário de documentação bibliográfica constitui um acervo deinformações sobre livros, artigos e demais trabalhos que existem sobredeterminados assuntos, dentro de uma área do saber. Sistematicamentefeito, proporciona ao estudante rica informação para seus estudos. A documentação bibliográfica deve ser realizada paulatinamente, àmedida que o estudante toma contato com os livros ou com os informessobre os mesmos. Assim, todo livro que cair em suas mãos seráimediatamente fichado. Igualmente, todos os informes sobre algum livropertinente à sua área possibilitam a abertura de uma ficha. Os informes

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sobre os livros são encontrados principalmente nas revistasespecializadas, nas resenhas, nos catálogos etc. As informações transcritas na ficha de documentação bibliográfica são compostas em níveis cada vez mais aprofundados. Primeiramente,apresenta-se uma visão de conjunto, um apanhado amplo, o que pode serfeito após um primeiro e superficial contato com o livro, lendo-seapenas o sumário, as orelhas, o prefácio e a introdução. Depois,mediante leituras mais aprofundadas, são feitos apontamentos maisrigorosos. A melhor informação para esse tipo de ficha seria aquela quesintetizasse a própria análise temática do texto. Observe-se que os diversos níveis não precisam ser feitos de uma sóvez. À medida que os contatos com os textos forem repetindo-se eaprofundando-se, em cada oportunidade serão lançados novos elementos. Tal documentação pode ser feita também a respeito de artigos,resenhas, capítulos isolados etc. As várias informações devem serseguidas pela indicação, entre parênteses, das páginas a que se referem. Do ponto de vista técnico, colocar-se-á no alto, à esquerda, a citaçãobibliográfica' completa do texto fichado; no alto, à direita, ficarão otítulo e os eventuais subtítulos. ------- 6. Esta citação deve ser feita de acordo com a técnicabibliográfica, como é apresentado às p. 113 ss. deste livro. 7. Modelode ficha de documentação bibliográfica à p. 44.

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Não há um tamanho padronizado para essas fichas de documentação, ficandoa critério de cada um o seu formato. Tanto mais que agora elas podem seragitadas em micro, formando documentos/arquivos, diretórios e pastas.Quando precisar de cópia, o estudante as imprime em folhas comunstamanho A4 ou Letter.

4. A DOCUMENTAÇÃO GERAL

A documentação geral é aquela que organiza e guarda documentos úteisretirados de fontes perecíveis. Trata-se de passar para pastas,sistematicamente organizadas, documentos cuja conservação seja julgadaimportante. Assim, recortes de jornais, xerox de revistas, apostilasetc. são fontes que nem sempre são encontradas disponíveis fora da épocade sua publicação. Tais documentos são arquivados sob títulos classificatórios de seuconteúdo, formando um conjunto de textos relacionados com a área deinteresse do estudante. Quando, eventualmente, vierem a ser estudados emfunção de algum trabalho, esses documentos podem servir de base para adocumentação temática ou mesmo bibliográfica, em se tratando de um textode maior valor científico. É sob a forma de documentação geral que os estudantes deveriamguardar, de maneira sistemática e organizada, as apostilas, os

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textos-roteiros dos seminários, os trabalhos didáticos, os textos deconferências etc. Para esse tipo de documentação são utilizadas as folhas tamanhoofício, sobre as quais são colados os recortes, deixanclo-se margenssuficientes para os títulos e demais referências bibliográficas, como onome do jornal ou revista de onde foram tirados, a data e a página.

5. DOCUMENTAÇÃO EM FOLHAS DE DIVERSOS TAMANHOS

Embora a documentação temática e bibliográfica utilize as fichas decartolina acima citadas, podem ser usadas igualmente

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as folhas comuns de papel sulfite, de diversos tamanhos, ou aindaasfolhas pautadas, feitas para classificadores escolares ("monobloco").Embora dificulte a manipulação, a grande vantagem desse tipo de ficha épermitir a substituição do fichário tipo caixa por pastas-arquivos,classificadores, que facilitam o transporte. Há ainda a vantagem defacilitar o trabalho de datilografia, quando se prefere fazer adocumentação à máquina. A opção entre os vários tipos de fichas fica acritério do aluno, que levará em conta sua maior adaptação a essesvários modelos. Adotando-se as folhas, deve-se proceder de acordo com o mesmoesquema: no alto, à direita, uma chamada geral, com um título mais amploque indique o terna principal, seguido, logo abaixo, por uma chamadasecundária, com um título mais específico que indique o subtemaabordado, a perspectiva, o enfoque sob o qual o tema é tratado ou ocritério sob o qual o assunto está sendo documentado. O universitário pode seguir como estrutura geral de seu fichário aprópria estrutura curricular de seu curso. Para cada disciplina, abriráuma pasta, um classificador. Cada seção será determinada pelos váriostópicos principais da referida disciplina e cada ficha trará,sistematicamente, o tema e o subtema das várias unidades que estão sendoanotados e documentados e que devem ser estudados. O procedimentotécnico de anotação é o mesmo utilizado para o outro tipo de ficha.Ressalve-se, contudo, que neste caso o verso da folha não deve serutilizado. Igualmente é possível fazer o mesmo tipo de fichário bíbliográfico. Aclassificação dos livros pode acompanhar também a estruturaçãocurricular do seu curso. Todo este trabalho de documentação deve ser feito à medida que oestudante desenvolve seus estudos. Como se viu no primeiro capítulo, aofazer a revisão da aula anterior, os elementos selecionados entre o material visto em classe são transcritos para as fichas. Omesmo será feito com eventuais elementos colhidos de pesquisascomplementares ou paralelas referentes aos temas estudados.

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Proceder-se-á igualmente com os livros: começando com os indicados pelopróprio curso e com aqueles assinalados como bibliografia complementar.Para os demais livros de interesse para seus estudos, inclusiveinformações colhidas de informes de revistas, repertórios, catálogos,ele abrirá uma ficha de documentação bibliografica, 41 que não só fornecerá informação sobre a existência de textosinteressantes, como também aguardará a oportunidade de um estudo maisaprofundado do mesmo, ocasião em que os resultados do estudo serãoprogressivamente transcritos numa ficha. Tratando-se de autores cujo pensamento é relevante para o estudo daárea de especialização, deve-se abrir igualmente uma ficha dedocumentação bibliográfica só para o autor." Nessa ficha são anotadosprogressivamente, à medida que se tornarem disponíveis, os dadosbiobibliográficos do autor, bem como os pontos mais importantes de seupensamento.

6. VOCABULÁRIO TÉCNICO-LINGÜÍSTICO

No contexto da documentação temática, recomenda-se que os estudanteselaborem igualmente um glossário dos principais conceitos e categoriasque devem necessariamente dominar para levar avante seus estudos emgeral, assim como suas pesquisas em particular. Assim, o seu fichário dedocumentação temática conteria um vocabulário técnico-lingüístíco, comum conjunto personalizado de termos cuja compreensão é necessária tantopara a leitura como para a redação. Nestas fichas, esses termos sãosistematicamente transcritos e explicitados. ----------- 8. k:f. modelo à p. 45.

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EPISTEMOLOGIA

Conceítuação

Segundo Laiande, trata-se de uma filosofia das ciências, mas de modoespecial, enquanto "é essencialmente o estudo crítico dos princípios,das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado adeterminar sua origem lógica (não psicologica), seu valor e seu alcance objetivo". Para Laiande, ela se distingue,portanto, da teoria do conhecimento, da qual serve, contudo, comointrodução e auxiliar indispensável.

LALANDE, Voc. Tecn., 293

"Por Epistemologia, no sentido bem amplo do termo, podemos considerar oestudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de suaformação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus

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produtos intelectuais."

JAPIASSU, Intr., 16

Japiassu distingue três tipos de Epistemologia:

1. a Epistemologia global ou geral que trata do saber globalmenteconsiderado, com a virtualidade e os problemas do conjunto de suaorganização, quer sejam especulativos, quer científicos;

2. a Epístemología particular que trata de levar em consideração umcampo particular do saber, quer seja especulativo, quer científico;

3. a Epistemologia específica que trata de levar em conta uma disciplinaintelectualmente constituída em unidade bem definida do saber e deestudá-la de modo próximo, detalhado e técnico, mostrando suaorganização, seu ftmcionamento e as possíveis relações que ela mantémcom as demais disciplinas.

Ficha de Documentação Temátíca 43 JAPIASSU, Hilton F. EPISTEMOLOGIA O mito da neutralidade científicaRio, Imago, 1975 (Série Logoteca), 188 p.

Resenhas: Reflexão 1 (2): 163-168. abr. 1976. Revista Brasileira deFilosofia 26 (102): 252-253. jun. 1976.

O texto visa fornecer alguns elementos e instrumentos introdutórios auma reflexão aprofundada e crítica sobre certos problemasepistemológicos (p. 15) e trata da questão da objetividade científica,dos pressupostos ideológicos da ciência, do caráter praxiológico dasciências humanas, dos fundamentos epistemológicos do cientificismo, da ética do conhecimento objetivo, do problema dacientificidade da epistemologia e do papel do educador da inteligência. Embora se trate de capítulos autônomos, todos se inscrevem dentro deuma problemática fundamental. a das relações entre a ciência objetiva ealguns de seus pressupostos. O primeiro capítulo, 'Objetividade científica e pressupostosaxiológicos" (p. 17-47), coloca o problema da objetividade da ciência elevanta os principais pressupostos axiológicos que subjazem ao processode constituição e de desenvolvimento das ciências humanas. No segundo capítulo, "Ciências humanas e praxiologia" (p. 49-70), éabordado o caráter intervencionista destas ciências: elas, nas suascondições concretas de realização, apresentam-se como técnicas deintervenção na realidade, participando ao mesmo tempo do descritivo e donormativo. No terceiro capítulo, "Fundamentos epistemológicos do cientificismo"(p. 71-96), o autor busca elucidar os fundamentos epistemológicos

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responsáveis pela atitude cientificista e mostra como o métodoexperimental, racional e objetivo, apresentando-se como o únicoinstrumento particular da razão, assumiu um papel imperialista, a pontode identificar-se com a própria razao. 44

Ficha de Documentação Biográfica

JAPIASSU Hilton Ferreira Japiassu 1934 Licenciou-se em Filosofia pelaPUC do Rio de janeiro, em 1969; formou-se em Teologia, pelo StudiumCenerale Santo Tomás de Aquino, de São Paulo. Fez o mestrado emFilosofia, na área de Epistemologia, na Université des SeiencesSociales, de Crenoble, na França, em 1970; nessa mesma Universidade,douto rou-se em Filosofia, em 1973. Fez pós-doutorado em Strasbourg, noperíodo 84/85, também na área de Epistemologia. Atualmente é docente deEpistemologia e de História das Ciências e de Filosofia da Ciência, noscursos de pós-graduação em Filosofia, da Universidade Federal do Rio dejaneiro. Desenvolve suas pesquisas nas áreas de epistemologia, investigando asrelações entre ciência e sociedade, o sentido da interdisciplinaridade eo estatuto epistemológico das Ciências Humanas em geral, e da Psicologiaem particular. Além da tradução de vários textos filosóficos e da publicação demuitos artigos, Japiassu já lançou os seguintes livros: Introdução aopensamento epistemológico, 1975; O mito da neutralidade científica,1975; Interdísciplinaridade e patologia do saber, 1976; Para lerBachelard, 1976; Nascimento e morte das ciências humanas, 1978;Introdução à epistemologia da Psicologia, 1978; A Psicologia dospsicólogos, 1979; Questões epístemológicas, 1981; A pedagogia daincerteza, 1983; A revolução científica moderna, 1985; As paixões daciência, 1991; Francis Bacon: o profeta da ciência moderna, 1995.

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Capítulo III

DIRETRIZES PARA A LEITURA, ANALISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

1. Os maiores obstáculos do estudo e da aprendizagem, em ciência e emfilosofia, estão diretamente relacionados com a correspondentedificuldade que o estudante encontra na exata compreensão dos textosteóricos. Habituados à abordagem de textos literários, os estudantes, aose defrontarem com textos científicos oü filosóficos, encontramdificuldades logo julgadas insuperáveis e que reforçam uma atitude dedesânimo e de desencanto, geralmente acompanhada de um juízo de valor

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depreciativo em relação ao pensamento teórico. Em verdade, os textos de ciência e de filosofia apresentam obstáculosespecíficos, mas nem por isso insuperáveis. É claro que não se podecontar com os mesmos recursos disponíveis no estudo de textosliterários, cuja leitura revela uma sequencia de raciocínios e o enredoé apresentado dentro de quadros referenciais fornecidos pela imaginação,onde se compreende o desenvolvimento da ação descrita e percebe-se logoo encadeamento da história. Por isso, a leitura está sempre situada,tornando-se possível entender, sem maiores problemas, a mensagemtransmitida pelo autor. No caso de textos de pesquisa positiva, acompanha-se o raciocínio jámais rigoroso seguindo a apresentação dos dados objetivos sobre os quaistais textos estão fundados. Os dados e 47 fatos levantados pela pesquisa e organizados conformetécnicas específicas às várias ciências permitem ao leitor, devidamenteiniciado, acompanhar o encadeamento lógico destes fatos. Diante deexposições teóricas, como em geral são as encontradas em textosfilosóficos e em textos científicos relativos a pesquisas teóricas, emque o raciocínio é quase sempre dedutivo, a imaginação e a experiênciaobjetiva não são de muita valia. Nestes casos, conta-se tão-somente com as possibilidades da razãoreflexiva, o que exige muita disciplina intelectual para que a mensagempossa ser compreendida com o devido proveito e para que a leitura setorne menos insípida. Na realidade, mesmo em se tratando de assuntosabstratos, para o leitor em condições de 'seguir o fio da meada" aleitura torna-se fácil, agradável e, sobretudo, proveitosa. Por isso épreciso criar condições de abordagem e de inteligibilidade do texto,aplicando alguns recursos que, apesar de não substituírem a capacidadede intuição do leitor na apreensão da forma lógica dos raciocínios emjogo, ajudam muito na análise e interpretação dos textos.

2. Antes de abordar as diretrizes para a leitura e análise de textos,recomenda-se atentar para a função dos mesmos em termos de uma teoriageral da comunicação, estabelecendo-se assim algumas justificativaspsicológicas e epistemológicas fundamentais para a adoção destas normasmetodológicas e técnicas, tanto para a leitura como para a redação detextos. Embora sem aprofundar a questão do significado e função do textoneste nível, que ultrapassaria os objetivos deste trabalho, serãoapresentadas aqui algumas considerações para encaminhar a compreensãodos vários momentos do trabalho científico. Pode-se partir da consideração de que a comunicação se dá quando datransmissão de uma mensagem entre um emissor e um receptor. O emissortransmite uma mensagem que é captada pelo receptor. Este é o esquemageral apresentado pela teoria da comunicação. ---------------- 1. Essas considerações são válidas também para aelaboração da monografia científica, entendida como um trabalho de

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codificação de uma mensagem. Cf. especialmente p. 73-85 e 183-94. 2. Cf.DANCE, F. E. (org.). Teoria da comunicação humana. São Paulo, Cultrix,1973. 48 Para fins didáticos, pode-se desdobrar este esquema, o que fornecerámais elementos para a compreensão da origem e finalidade de um texto. Com efeito, considera-se o emissor como uma consciência que transmiteuma mensagem para outra consciência que é o receptor. Portanto, amensagem será elaborada por uma consciência e será igualmente assimiladapor outra consciência. Deve ser, antes de mais nada, pensada e depoistransmitida. Para ser transmitida, porém, deve ser antes mediatizada, jáque a comunicação entre as consciências não pode ser feita diretamente;ela pressupõe sempre a mediatização de sinais simbólicos. Tal é, comefeito, a função da linguagem. Assim sendo, o texto-linguagem significa, antes de tudo, o meiointermediário pelo qual duas consciências se comunicam. Ele é o códigoque cifra a mensagem. Ao escrever um texto, portanto, o autor (o emissor) codifica suamensagem que, por sua vez, já tinha sido pensada, concebida e o leitor(o receptor), ao ler um texto, decodifica a mensagem do autor, paraentão pensá-la, assimilá-la e personalizá-la, compreendendo-a: assim secompleta a comunicação. Em todas as fases desse processo, o homem, dada sua condiçãoexistencial de empiricidade e liberdade, sofre uma série deinterferências pessoais,e culturais que põem em risco a objetividade da comunicação. Epor isso que se fazem necessárias certas precauções que garantam maiorgrau de objetividade na interpretação dessa comunicação. Tal a justificação fundamental para a formulação de diretrizes para otrabalho científico em geral e para a leitura e composição de textos emparticular. O processo de realização do trabalho científico pode servisualizado no seguinte fluxograma: 3. As diretrizes metodológicas quesão apresentadas a seguir têm apenas objetivos práticos. Este capítulovisa fornecer elementos para uma melhor abordagem de textos de naturezateórica, possibilitando uma leitura mais rica e mais proveitosa.Frise-se ainda ---------- 3. O pensamento é um processo de ordem cpistemológicamuito complexo. Outros pormenores são apresentados no cap. VIII, às p.183-94. 49 que tais recursos metodológicos não podem prescindir de certapreparação geral relativa à área em que o texto se situa e ao domínio dalíngua em que é escrito.

1. DELIMITAÇÃO DA UNIDADE DE LEITURA

A primeira medida a ser tomada pelo leitor é o estabelecimento de umaunidade de leitura. Unidade é um setor do texto que forma uma totalidade

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de sentido. Assim, pode-se considerar um capítulo, uma seção ou qualqueroutra subdivisão. Toma-se uma parte que forme certa unidade de sentidopara que se possa trabalhar sobre ela. Dessa maneira, determinam-se oslimites no interior dos quais se processará a disciplina do trabalho deleitura e estudo em busca da compreensão da mensagem. De acordo com esta orientação, a leitura de um texto, quando feitapara fins de estudo, deve ser feita por etapas, ou seja, apenasterminada a análise de uma unidade é que se passará à seguinte. Terminado o processo, o leitor se verá em condições de refazer oraciocínio global do livro, reduzindo a uma forma sintética. A extensão da unidade será determinada proporcionalmente àacessibilidade do texto, a ser definida por sua natureza, assim comopela familiaridade do leitor com o assunto tratado. O estudo da unidade deve ser feito de maneira contínua, evitando-seintervalos de tempo muito grandes entre as várias etapas da análise.

2. A ANÁLISE TEXTUAL

A análise textual: primeira abordagem do texto com vistas à preparaçãoda leitura.

Determinada a unidade de leitura, o estudante-leitor deve proceder a umasérie de atividades ainda preparatórias para a análise aprofundada dotexto. Procede-se inicialmente a uma leitura seguida e completa da unidadedo texto em estudo. Trata-se de uma leitura atenta mas ainda corrida,sem buscar esgotar toda a compreensão do texto. A finalidade da primeiraleitura é uma tomada de contato comtoda a unidade, buscando-se uma visão panorâmica, uma visão de conjunto do raciocínio do autor. Além disso, o contato geral permite ao leitor sentir o estilo e método do texto. Durante o primeiro contato deverá ainda o leitor fazer o levantamentode todos aqueles elementos básicos para a devida compreensão do texto.Isso quer dizer que é preciso assinalar todos os pontos passíveis dedúvida e que exijam esclarecimentos que condicionam a compreensão damensagem do autor. O primeiro esclarecimento a ser buscado são os dados a respeito doautor do texto. Uma pesquisa atenta sobre a vida, a obra e o pensamentodo autor da unidade fornecerá elementos úteis para uma elucidação dasidéias expostas na unidade. Observe-se, porém, que esses esclarecimentosdevem ser assumidos com certa reserva, a fim de que as interpretaçõesdos comentadores não venham prejudicar a compreensão objetiva das idéiasexpostas na unidade estudada. Deve-se assinalar, a seguir, o vocabulário: trata-se de fazer umlevantamento dos conceitos e dos termos que sejam fundamentais para acompreensão do texto ou que sejam desconhecidos do leitor. Em todaunidade de leitura há sempre alguns conceitos básicos que dão sentido àmensagem e, muitas vezes, seu significado não é muito claro ao leitor

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numa primeira abordagem. É preciso eliminar todas as ambigüidades dessesconceitos para que se possa entender univocamente o que se está lendo. Por outro lado, o texto pode fazer referências afatos históricos, aoutros autores e'especialmente a outras doutrinas, cujo sentido no textoé pressuposto pelo autor mas nem sempre conhecido do leitor. Todos esses elementos devem ser, durante a primeira abordagem,transcritos para uma folha à parte. Percorrida a unidade e levantadostodos os elementos carentes de maiores esclarecimentos, interrompe-se aleitura do texto e procede-se a uma pesquisa prévia no sentido de sebuscar esses informes. Esses esclarecimentos são encontrados em: dicionários, textos dehistória, manuais didáticos ou monografias especializadas, enfim, emobras de referência das várias especialidades. Pode-se também recorrer aoutros estudiosos e especialistas da área.

1 Note-se que a busca de esclarecimentos tem tríplice vantagem: emprimeiro lugar, diversificando as atividades no estudo, torna-o 52 menos monótono e cansativo; em segundo lugar, propicia uma sériede informações e conhecimentos que passariam despercebidos numa leituraassistemática; em terceiro lugar, tornando o texto mais claro, sualeitura ficará mais agradável e muito mais enriquecedora. A análisetextual pode ser encerrada com uma esquematização do texto cujafinalidade é apresentar uma visão de conjunto da unidade. O esquemaorganiza a estrutura redacional do texto que serve de suporte materialao raciocínio. Muitos confundem essa esquematização com o resumo do texto. De fato,a apresenta ão das idéias mais relevantes do texto não deixa de ser umasíntese material da unidade, mas ainda não realiza todas as exigênciaspara um resumo lógico do pensamento expresso no texto, que é atingidopela análise temática, como se verá no item seguinte. A utilidade do esquema está no fato de permitir uma visualizaçãoglobal do texto. A melhor maneira de se proceder é dividir inicialmentea unidade nos três momentos redacionais: introdução, desenvolvimento econclusão. Toda unidade completa comporta necessariamente esses trêsmomentos. Depois são feitas as divisões exigidas pela própria redação,no interior de cada uma dessas etapas. Tratando-se de unidades maiores, retiradas de livros ou revistas,cada subdivisão é referida ao número da página em que se situa;tratando-se de textos não paginados, deve-se rvumerar previamente osparágrafos para que se possa fazer as devidas referências.

3. A ANÁLISE TEMÁTICA

De posse dos instrumentos de expressão usados pelo autor, do sentidoufflvoco de todos os conceitos e conhecedor de todas as referências ealusões utilizadas por ele, o leitor passará, numa segunda abordagem, àetapa da compreensão da mensagem global veiculada na unidade.

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A análise temática procura ouvir o autor, apreender, sem intervirnele, o conteúdo de sua mensagem. Praticamente, trata-se 53 de fazer ao texto uma série de perguntas cujas respostas fornecemo conteúdo da mensagem. Em primeiro lugar busca-se saber do que fala o texto. A resposta aesta questão revela o tema ou assunto da unidade. Embora aparentementesimples de ser resolvida, essa questão ilude muitas vezes. Nem sempre otítulo da unidade dá uma idéia fiel do tema. Às vezes apenas o insinuapor associação ou analogia; outras vezes não tem nada que ver com otema. Em geral, o tema tem determinada estrutura: o autor está falandonão de um objeto, de um fato determinado, mas de relações variadas entrevários elementos; além dessa possível estruturação, é preciso captar aperspectiva de abordagem do autor: tal perspectiva define o âmbitodentro do qual o tema é tratado, restringindo-o a limites determinados. Avançando um pouco mais na tentativa da apreensão da mensagem doautor, capta-se a problematização do tema, porque não se pode falarcoisa alguma a respeito de um tema se ele não se apresentar como umproblema para aquele que discorre sobre ele. A apreensão daproblemática, que por assim dizer "provocou' o autor, é condição básicapara se entender devidamente um texto, sobretudo em se tratando detextos filosóficos. Pergunta-se, pois, ao texto em estudo: como o assunto estáproblematizado? Qual dificuldade deve ser resolvida? Qual o problema aser solucionado? A formulação do problema nem sempre é clara e precisano texto, em geral é implícita, cabendo ao leitor explicitá-la. Captada a problemática, a terceira questão surge espontaneamente: oque o autor fala sobre o tema, ou seja, como responde à dificuldade, aoproblema levantado? Que posição assume, que idéia defende, o que querdemonstrar? A resposta a esta questão revela a idéia central,proposíçãofundamental ou tese: trata-se sempre da idéia mestra, da idéiaprincipal defendida pelo autor naquela unidade. Em geral, nos textoslogicamente estruturados, cada unidade tem sempre uma única idéiacentral, todas as demais idéias estão vinculadas a ela ou são apenasparalelas ou complementares. Daí a percepção de que ela representa onúcleo essencial da mensagem do autor e a sua apreensão torna o textointeligível. Normalmente, a tese deveria ter formulação expressa na introdução daunidade, mas isto não ocorre sempre, estando, às vezes, difusa no corpoda unidade. 54 Na explicitação da tese sempre deve ser usada uma proposição, umaoração, um juízo completo e nunca apenas uma expressão, como ocorre nocaso do tema. A idéia central pode ser considerada inicialmente como uma hipótesegeral da unidade, pois que é justamente essa idéia que cabe à unidadedemonstrar mediante o raciocínio. Por isso, a quarta questão a seresponder é: como o autor demonstra sua tese, como comprova sua posiçãobásica? Qual foi o seu raciocínio, a sua argumentação?

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É através do raciocínio que o autor expõe, passo a passo, seupensamento e transmite sua mensagem. O raciocinio, a argumentação, é oconjunto de idéias e proposições logicamente encadeadas, mediante asquais o autor demonstra sua posição ou tese. Estabelecer o raciocínio deuma unidade de leitura é o mesmo que reconstituir o processo lógico,segundo o qual o texto deve ter sido estruturado.- com efeito, oraciocínio é a estrutura lógica do texto. A esta altura, o que o autor quis dizer de essencial já foiapreendido. Ocorre, contudo, que os autores geralmente tocam em outrostemas paralelos ao tema central, assumindo outras posições secundáriasno decorrer da unidade. Essas idéias são como que intercaladas e não sãoindispensáveis ao raciocínio, tanto que poderiam ser até eliminadas semtruncar a sequencia lógica do texto. Associadas às idéias secundárias,de conteúdo próprio e independente, complementam o pensamento do autor:são subtemas e subteses. Para levantar tais idéias, basta ler o texto perguntando se adificuldade ainda é questão de outros assuntos. Note-se que é esta análise temática que serve de base para o resumoou síntese de um texto. Quando se pede o resumo de um texto, o que setem em vista é a síntese das idéias do raciocínio e não a mera reduçãodos parágrafos. Daí poder o resumo ser escrito com outras palavras,desde que as idéias sejam as mesmas do texto. É também esta análise que fornece as condições para se construirtecnicamente um roteiro de leitura como, por exemplo, o resumoorientador para seminários e estudo dirigido. 55

Finalmente, é com base na análise temática que se pode construir oorganograma lógico de uma unidade: a representação geometrizada de umraciocínio.

4. A ANÁLISE INTERPRETATIVA

A análise interpretativa é a terceira abordagem do texto com vistas àsua interpretação, mediante a situação das idéias do autor. A partir dácompreensão objetiva da mensagem comunicada pelo texto, o que se tem emvista é a síntese das idéias do raciocínio e a compreensão profunda dotexto não traria grandes benefícios. Interpretar, em sentido restrito, étomar uma posição própria a respeito das idéias enunciadas, é superar aestrita mensagem do texto, é ler nas entrelinhas, é forçar o autor a umdiálogo, é explorar toda a fecundidade das idéias expostas, é cotejá-lascom outras, enfim, é dialogar com o autor. Bem se vê que esta últimaetapa da leitura analítica é a mais difícil e delicada, uma vez que osriscos de interferência da subjetividade do leitor são maiores, além depressupor outros instrumentos culturais e formação específica. A primeira etapa de interpretação consiste em situar o pensamentodesenvolvido na unidade na esfera mais ampla do pensamento geral do

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autor, e em verificar como as idéias expostas na unidade se relacionamcom as posições gerais do pensamento teórico do autor, tal como éconhecido por outras fontes. A seguir, o pensamento apresentado naunidade permite situar o autor no contexto mais amplo da culturafilosófica em geral, situá-lo por suas posições aí assumidas, nas váriasorientações filosóficas existentes, mostrando-se o sentido de suaprópria perspectiva e destacando-se tanto os pontos comuns como osoriginais. Nas duas primeiras etapas, busca-se ao mesmo tempo o relacionamentológico-estático das idéias do autor no conjunto da cultura daquela área,assim como o relacionamento lógico-dinâmico de suas idéias com asposições de outros autores que eventualmente o influenciaram ou queforam por ele influenciados. Em ambos os casos, trata-se de umaabordagem genérica. Depois disso, já de um ponto de vista estrutural,busca-se uma compreensão interpretativa do pensamento exposto eexplicitam-se 56 os pressupostos que o texto implica. Tais pressupostos são idéiasnem sempre claramente expressas no texto, são princípios que justificam,muitas vezes, a posição assumida pelo autor, tomando-a mais coerentedentro de uma estrutura rigorosa. Em outro momento, estabelece-se uma aproximação e uma associação dasidéias expostas no texto com outras idéias semelhantes que eventualmentetenham recebido outra abordagem, independentemente de qualquer tipo deinfluência. Faz-se uma comparação com idéias temáticas afins, sugeridaspelos vários enfoques e colocações do autor. Uma leitura é tanto maisfecunda quanto mais sugere temas para a reflexão do leitor. O próximo passo da interpretação é a crítica. Não se trata aqui dotrabalho metodológico da crítica externa e interna, adotado na pesquisacientífica. O que se visa, durante a leitura analítica, é a formulaçãode um juízo crítico, de uma tomada de posição, enfim, de uma avaliaçãocujos critérios devem ser delimitados pela própria natureza do textolido. Tal avaliação tem duas perspectivas: de um lado, o texto pode serjulgado levando-se em conta sua coerência interna; de outro lado, podeser julgado levando-se em conta sua originalidade, alcance, validade e acontribuição que dá à discussão do problema. Do primeiro ponto de vista, busca-se determinar até que ponto o autorconseguiu atingir, de modo lógico, os objetivos que se propuseraalcançar; pergunta-se até que ponto o raciocínio foi eficaz nademonstração da tese proposta e até que ponto a conclusão a que chegouestá realmente fundada 'numa argumentação sólida e sem falhas, coerentecom as suas premissas e com várias etapas percorridas. A partir do segundo ponto de vista, formula-se um juizo crítico sobreo raciocínio em questão: até que ponto o autor consegue uma colocaçãooriginal, própria, pessoal, superando a pura retomada de textos deoutros autores, até que ponto o tratamento dispensado por ele ao tema éprofundo e não superficial e meramente erudito; trata-se de se saberainda qual o alcance, ou seja, a relevância e a contribuição específica

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do texto para o estudo do tema abordado. Resta aludir aqui a uma possível crítica pessoal às posiçõesdefendidas no texto. Porque exige maturidade intelectual, essa é a fasemais delicada da interpretação de um texto; é viável desde o momento emque a vivência pessoal do problema tenha alcançado 57 níveis que permitam o debate da questão tratada. Observa-se aindaque o objetivo último da formação filosófica é o amadurecimento dareflexão pessoal para o tratamento autônomo dessas questões. A atividadefilosófica começa no momento em que se explica a própria experiência.Para alcançar tal objetivo esbarra-se na abordagem dos textos deixadospelos autores. E por isso que a leitura analítica metodologicamenterealizada é instrumento adequado e eficaz para o amadurecimentointelectual do estudante.

5. A PROBLEMATIZAÇÃO

A problematização é a quarta abordagem da unidade com vistas aolevantamento dos problemas para a discussão, sobretudo quando o estudo éfeito em grupo. Retoma-se todo o texto, tendo em vista o levantamento deproblemas relevantes para a reflexão pessoal e principalmente para adiscussão em grupo. Os problemas podem situar-se no nível das trêsabordagens anteriores; desde problemas textuais, os mais objetivos econcretos, até os mais difíceis problemas de interpretação, todosconstituem elementos válidos para a reflexão individual ou em grupo. Odebate e a reflexão são essenciais à própria atividade filosófica ecientífica. Cumpre observar a distinção a ser feita entre a tarefa dedeterminação do problema da unidade, segunda etapa da análise temática,e a problematízação geral do texto, última etapa da análise de textoscientíficos. No primeiro caso, o que se pede é o desvelamento dasituação de conflito que provocou o autor para a busca de uma solução.No presente momento, problematização é tomada em sentido amplo e visalevantar, para a discussão e a reflexão, as questões explícitas ouimplícitas no texto.

6. A SÍNTESE PESSOAL

A discussão da problemática levantada pelo texto, bem como a reflexão aque ele conduz, devem levar o leitor a uma fase de elaboração pessoal oude síntese. Trata-se de uma etapa ligada antes à construção lógica deuma redação do que à leitura como tal. De qualquer modo, a leiturabem-feita deve possibilitar ao 58 estudioso progredir no desenvolvimento das idéias do autor, bemcomo daqueles elementos relacionados com elas. Ademais, o trabalho desíntese pessoal é sempre exigido no contexto das atividades didáticas,quer como tarefa específica, quer como parte de relatórios ou deroteiros de seminários. Significa também valioso exercício de raciocínio

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- garantia de amadurecimento intelectual. Como a problematização, estaetapa se apóia na retomada de pontos abordados em todas as etapasanteriores.

CONCLUSAO

A leitura analítica desenvolve no estudante-leitor uma série de posturaslógicas que constituem a via mais adequada para sua própria formação,tanto na sua area específica de estudo quanto na sua formação filosóficaem geral. Com o objetivo de fornecer uma representação global da leituraanalítica, assim como permitir uma recapitulação de todo o processo, saoapresentados a seguir um esquema pormenorizado com suas váriasatividades e um fluxograma com suas principais etapas.

ESQUEMA

Recapitulando: a leitura analítica é um método de estudo que tem comoobjetivos: 1. favorecer a compreensão global do significado do texto; 2. treinar para a compreensão e interpretação crítica dos textos; 3. auxiliar no desenvolvimento do raciocínio lógico,-, 4. fornecer instrumentos para o trabalho intelectual desenvolvido nosseminários, no estudo dirigido, no estudo pessoal e em grupos, naconfecção de resumos, resenhas, relatórios etc. Seus processos básicos são os seguintes: 1. Análíse textual: preparação do texto; trabalhar sobre unidadesdelimitadas (um capítulo, uma seção, uma parte etc., sempre um trechocom um pensamento completo); fazer uma leitura rápida e atenta daunidade para se adquirir uma visão de conjunto da mesma; levantaresciarecimentos 59 relativos ao autor, ao vocabulário específico, aos fatos,doutrinas e autores citados, que sejam importantes para a compreensão damensagem; esquematizar o texto, evidenciando sua estrutura redacional. 2. Análise temática: compreensão do texto; determinar otema-problema, a idéia central e as idéias secundárias da unidade;refazer a linha de raciocínio do autor, ou seja, reconstruir o processológico do pensamento do autor; evidenciar a estrutura lógica do texto,esquematizando a seqüência das idéias. 3. Análise interpretativa: interpretação do texto; situar o texto nocontexto da vida e da obra do autor, assim como no contexto da culturade sua especialidade, tanto do ponto de vista histórico como do ponto devista teórico; explicitar os pressupostos filosóficos do autor quejustifiquem suas posturas teóricas; aproximar e associar idéias do autorexpressas na unidade com outras idéias relacionadas à mesma temática;exercer uma atitude crítica diante das posições do autor em termos de: a) coerência interna da argumentação;

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b) validade dos argumentos empregados; c) originalidade do tratamento dado ao problema; d) profundidade de análise ao tema; e) alcance de suas conclusões e conseqüências; apreciação e juízopessoal das idéias defendidas.

4. Problematização: discussão do texto; levantar e debater questõesexplícitas ou implicitadas no texto; debater questões afins sugeridaspelo leitor. --------- 4. A leitura analítica é também fonte essencial dadocumentação, conforme foi visto às p. 36 ss. Cada uma das etapasfornece elementos que, de acordo com as necessidades de cada um, podemser transcritos para a ficha de documentação. 60

5. Síntese pessoal: reelaboração pessoal da mensagem; desenvolver amensagem mediante retomada pessoal do texto e raciocínio personalizado;elaborar um novo texto, com redação própria, com discussão e reflexãopessoais.

Preparação do texto Visão de conjunto Busca de esclarecimento ANALISE textual Vocabulário Doutrinas Fatos Autores Esquematização do texto Compreensão da mensagem do autor Tema Problema ANÁLISE TEMÁ Tese Raciocínio Idéias secundárias Interpretação da mensagem do autor Situação filosófica e influências ANÁLISE INTERPRETATIVA Pressupostos Associação de idéias Crítica Levantamento e discussões de problemas relacionados com a mensagem doautor Reelaboração da mensagem com basena reflexão pessoal SINTESE 61

Capítulo IV DIRETRIZES PARA A REALIZAÇÃO DE UM SEMINÁRIO

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1. OBJETIVOS

O objetivo último de um seminário é levar todos os participantes a umareflexão aprofundada de determinado problema, a partir de textos e emequipe. O seminário é considerado aqui como um método de estudo eatividade didática específica de cursos universitários. Para alcançar esse objetivo último, o seminário deve levar todos osparticipantes: A um contato íntimo com o texto básico, criando condições para umaanálise rigorosa e radical do mesmo. À compreensão da mensagem central do texto, de seu conteúdo temático. À interpretação desse conteúdo, ou seja, a uma compreensão damensagem de uma perspectiva de situação de julgamento e de crítica damensagem. À discussão da problemática presente explícita ou implicitamente notexto. ---------- 1. Outros sentidos do "seninário" são encontrados emImídeo G. NERICI, Metodologia do ensino supehor, p. 166-73. 63 participantes sua posição diante do mesmo quando da preparação daleitura. Situação da unidade estudada no texto de onde é tirada, na obra doautor, assim como no pensamento geral do autor e no contexto históricocultural em que o autor estudado se encontrava. O responsável pelo seminário recorre à análise textual' e à análiseinterpretativa.1 A compreensão do pensamento geral do autor favorece acompreensão do texto estudado. Elaboração dos principais conceitos, idéias e doutrinas que tenhamrelevância no texto. Trata-se de uma tarefa de documentação feita quandoda análise textual e realizada de acordo com a técnica da documentação.Note-se que a pesquisa é feita sobre outras fontes que não o textobásico e o texto complementar do seminario, uma vez que essesesclarecimentos visam tornar a compreensão do texto acessível. Se oconceito já se encontra suficientemente esclarecido no texto, édesnecessário redefini-lo, exceto se isto representa maior explicitação. Roteiro de leitura com síntese dos momentos lógicos essenciais dotexto. Essa etapa é feita de acordo com a análise temática e compõe-sefundamentalmente da exposição sintetizada do raciocínio do autor.Note-se que a exposição será resumida, mais indicativa do queexplicitativa: não substitui a leitura do texto básico, mas, antes,exige-a. A finalidade do roteiro é permitir a comparação das váriascompreensões pelos diferentes participantes. A problematização que levanta questões importantes para a discussãodas idéias veiculadas pelo texto. Observe-se que não é suficienteformular perguntas lacónicas: e preciso criar contextosproblematizadores que provoquem o raciocinio argumentativo dos

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participantes." Orientação bibliográfica: o texto-roteiro fornece finalmente umabibliografia especializada sobre o assunto. Não indica apenas uma listade livros relacionados com o tema; acrescenta informações -------- 5. Cf. P. 51-3. 6. Cf. p. 56-8. 7. C£ p. 51-3. 8. Cf. p.35-45. 9. Cf. p. 53-5. 10. Sobre a noção de problema, cf. p. 184. 65 sobre o conteúdo dos mesmos, sobretudo aquelas passagensrelacionadas com o tema da unidade. Na bibliografia comentada nãoaparecem o texto básico e o texto complementar eventualmente definidospara o seminário e que sejam de leitura obrigatória. Assinalam-se textosespecíficos consultados pelo responsável durante sua pesquisa para apreparação do seminário. Também não constam dessa bibliografia as obrasde referência geral, como enciclopédias, dicionários, tratados etc., nemmesmo aquelas obras de referência da área dentro da qual se situa otexto. Essa bibliografia visa dar orientação aos demais participantes,caso lhes interesse aprofundar o estudo do tema. 2.2. Material a ser apresentado no dia da realização do seminário O coordenador apresenta ao grupo um texto com suas reflexões pessoaissobre o tema que estudou de maneira aprofundada. Tais reflexões versamsobre os principais problemas sentidos pelo coordenador econseqüentemente se relacionam com a problemática previamenteencaminhada ao grupo. 3. O TEXTO-ROTEIRO INTERPRETATIVO Para grupos adiantados existe outra forma de texto-roteiro para umseminário. A forma anterior permite a execução de todas as etapas deabordagem e tratamento de um texto, para uma exploração exaustiva.Contudo, tal forma exige a realização de muitas tarefas técnicas depesquisa e de elaboração que podem despender muito tempo que poderia serdestinado à reflexão. Devido a esse seu caráter abrangente, tal forma deroteiro é recomendada para os estudantes que se iniciam na análise detextos, desde que sejam exigidas as várias etapas numa seqüênciacrescente. Na realidade, qualquer que seja a forma do texto-roteiro adotada, osobjetivos do seminário continuam os mesmos e, por isso, as etapas doroteiro didático porventura não mais utilizadas ficam pressupostas,devendo ser cumpridas num trabalho prévio de preparação, caso ainda sefaçam necessárias.

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Pode-se elaborar igualmente o que se chama aqui texto-roteirointerpretatívo, como forma alternativa para condução do seminário.Basicamente, o responsável pelo seminário elabora outro texto, referenteà temática do texto básico ou a determinada problemática prefixada, noqual os momentos da análise textual, da análise temática, da análiseinterpretativa e da problematização se fundem num novo discursopersonalizado. O autor do novo texto expoe, globalmente, no

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desenvolvimento de seu raciocínio, sua compreensão da mensagem,precisando os conceitos, apresentando sua interpretação, levantando suascríticas, formulando os problemas que encontrou na sua leitura básica enas suas pesquisas complementares. De maneira explícita, o responsávelpelo seminário dedica-se à elaboração de um texto-roteiro no qualdesenvolveu intencionalmente uma reflexão que, quanto mais pessoal for,maior contribuição dará ao grupo. Quando não se parte de um texto básico, mas de determinado tema, semespecificação de bibliografia, o responsável constrói seu discursocompondo um texto portador dos problemas que quer ver discutidos pelogrupo que participará do seminário. Este tipo de texto-roteiro tempotencialidade para alimentar um seminário, mas o seminário para serfecundo exige preparação dos participantes para o encontro de classe.Daí a necessidade, nos quadros do desenvolvimento de um curso, de que osdemais participantes também leiam, analisem e aprofundem o texto básicoou os escritos que componham a bibliografia para a abordagem daproblemática do seminário. Não havendo tal preparação, o encontro correo risco de ser transformado em aula expositiva e perder muito de suasvirtualidades geradoras de discussões. Os participantes devem virliteralmente municiados de compreensão e interpretação do texto básicoou de posiçoes definidas acerca do problema para que possamconfrontar-se com o expositor do seminário, que será, então, questionadopelo grupo. O seninário assim conduzido acarreta limitações também na suadefinição: reserva-se um tempo determinado para que o responsávelapresente sua reflexão, para que exponha sua comunicação, passando-se emseguida aos debates. Mesmo que se entregue com antecedência esse texto-roteiro, aexposição sintética de introdução é prevista. A exposição dos pontos devista do coordenador não será uma leitura lacônica, 67 mas a apresentação de um raciocínio demonstrativo é acompanhadapelos demais participantes que estão, a esta altura, em condições deintervir numa discussão aprofundada de todas as posições que surgirem.Teoricamente, todos os participantes já fizeram leituras e pesquisasreferentes ao tema como preparação para o seminário. Geralmente nossimpósios que adotam este esquema de seminário, mas partem tão-somentede problemas e não de textos, ocorre uma variação nesta questão dedistribuição de roteiro. São escalados previamente alguns debatedoresque recebem o texto com antecedência e são chamados a se pronunciarformalmente a respeito dos problemas. Embora isso não seja necessário emturmas pequenas com certa homogeneidade de formação, este esquema podeser aplicado mesmo para fins didáticos. Dessa forma se desenvolvedurante o seminário o debate. Além da discussão dos problemas propriamente ditos, das questõeslevantadas ou implicadas pelo texto, referentes ao conteúdo, osparticipantes comentam o roteiro e a exposição do coordenador quanto asua capacidade em apreender a idéia central, em explicitar os aspectos

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essenciais, quanto à capacidade de síntese, de raciocínio lógico, declareza, quanto à capacidade de distanciamento do texto, de fornecerexemplos, de levantar problemas, de assumir posições pessoais, deaprofundar as questões.

4. O TEXTO-ROTEIRO DE QUESTÕES

Há ainda outro tipo de roteiro, de grandes possibilidades, para seconduzir o seminário. Trata-se de um desdobramento do roteiro didático.Neste caso, pressupõem-se determinação e leitura de um texto básicocomum para todos os participantes. Cabe então ao responsável entregaraos demais, com certa antecedência, um conjunto de questões, deproblemas devidamente formulados. Não se trata de uma relação de perguntas lacónicas, mas da criação dequestões formadas num contexto de problematização em que é posta umadificuldade que exigirá pesquisa e reflexão para que as mesmas sejamcorretamente respondidas e debatidas. Para fins didáticos, o responsável pelo seminário exige que osparticipantes tragam por escrito suas abordagens e tratamentos dasquestões, devendo todos ter a oportunidade, dentro da dinâmica 68 69 do seminário, de expor seus pontos de vista. Essa dinâmica temigualmente várias formas de encaminhamento enquanto trabalho em grupo,em classe.

5. ORIENTAÇÃO PARA A PREPARAÇÃO DO SEMINÁRIO

O texto-roteiro possibilita a participação no seminário. Com efeito,como o seminário é um trabalho essencialmente coletivo, de equipe,pressupõe empenho de todos e não apenas do coordenador responsável peloencaminhamento dos trabalhos no dia do seminário. Assim sendo, todos osparticipantes fazem um estudo do texto para poder exercer efetivaparticipação nos debates do seminário. Cabe aos participantes compararsua compreensão e interpretação do texto com a compreensão einterpretação do coordenador; levantar problemas temáticos einterpretativos para a discussão geral; exigir esclarecimentos eexplicações do coordenador e dos demais participantes a respeito dasrespectivas tomadas de posição. O seminário não se reduz a uma aulaexpositiva apresentada por um colega e comentada pelo professor: é umcírculo de debates para o qual todos devem estar suficientementeequipados. Por isso, exige-se que todos os participantes estudem o textocom o rigor devido. A preparação é feita da seguinte maneira: em primeiro lugar faz-seleitura da documentação do texto básico e do texto complementar; emseguida, faz-se leitura analítica do texto básico; depois faz-se leiturade documentação do texto-roteiro do seminário. Essas três abordagens sãofeitas de modo que se complementem mutuamente. Dos textos complementares eventualmente usados para a preparação,

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textos escolhidos livremente pelos participantes, faz-se documentaçãotemática ou bibliográfica." Igualmente, abrem-se fichas de documentaçãobibliográfica das obras comentadas na bibliografia do texto-roteiro. Dasconclusões elaboradas pelo grupo durante as discussões, faz-sedocumentação temática, com anotações pessoais." ----------- 11. Cf. p. 37-40. 12. Cf. p. 37-8. 69

6. ESQUEMA GERAL DE DESENVOLVIMENTO DO SEMINÁRIO

6.1. Introdução pelo professor.

6.2. Apresentação pelo coordenador:

6.2.1. das tarefas'a serem cumpridas no dia, das orientações para oprocedimento a ser adotado pelos participantes durante a realização doseminário e do cronograma das atividades em classe;

6.2.2. de uma breve introdução para localização do tema do seminário nodesenvolvimento da temática geral dos seminários anteriores;

6.2.3. de esclarecimentos relacionados com o texto-roteiro,eventualmente reclamados pelos participantes. Nesse momento, faz-se igualmente umarevisão de leitura para que não haja muitas dúvidas quanto à compreensãodo texto.

6.3. Execução coordenada pelo responsável das várias atividadesexecutadas pelos participantes, conforme dinâmica definida pelo modelode seminário escolhido pelo coordenador.

6.4. Apresentação introdutória à discussão geral da reflexão pessoal,pelo coordenador.

6.5. Síntese final de responsabilidade do professor.

CONCLUSÃO

Tais diretrizes referem-se a seminários realizados com fins didáticosdentro da programação de um curso. Nesse caso, abordam-se temas comencadeamento lógico. Em tais seminários, o professor atua apenas comosupervisor e observador dos trabalhos; no cronograma deve ser previstoum intervalo, desde que o período do seminário ultrapasse duas horas;cabe ainda ao coordenador entregar ao professor observações de avaliaçãoda participação dos vários elementos componentes do grupo. Quanto ao modo prático de realização do seminário, adota-se qualquerdas técnicas do trabalho em grupo, sendo mais comuns as seguintes: 70

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a) exposição introdutória, discussão em pequenos grupos; discussão empequenos grupos, discussão em plenário, síntese de conclusão; b) exposição introdutória, discussão em pequenos grupos, discussão dogrupo coordenador observada pelo grupo observador dos participantes,síntese de conclusão; c) exposição introdutória, discussão em grupos formadoshorizontalmente, discussão em grupos formados verticalmente, síntese de conclusão; d) exposição introdutória, revisão de leitura em plenário, discussãoda problemática também em plenário, síntese de conclusão. Finalmente, cumpre acrescentar uma observação. Embora se tenha feitoconstante referência, ao se falar do seminário, à leitura de trechos, depassagens de unidade, das obras dos autores, é necessário que oestudante se empenhe na leitura da obra dos autores em sua totalidade.Leitura que pode ser feita por etapas, como sugere este capítulo, masque deve desdobrar-se sempre mais no conjunto da obra dos autoresestudados. Por outro lado, frise-se a exigência de se ler o próprioautor na fonte original ou em tradução confiável. 71

Capítulo V

DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DE UMA MONOGRAFIA CIENTÍFICA

Este capítulo visa tecer considerações sobre as exigências metodológicasda elaboração do trabalho científico e apresentar diretrizes para suacomposição. Como as considerações e diretrizes são bastante práticas egerais, aplicam-se a todo trabalho de natureza teórica, científica oufilosófica que deva ser elaborado de acordo com as diretrizes impostas àmonografia científica. Na área do pensamento e da expressão filosófica ecientífica, certas exigências de organização prévia e de metodologia deexecução se impõem. Já não se pode conceber, a não ser depois deamadurecido o raciocínio, a elaboração de um trabalho científico aosabor da inspiração intuitiva e espontânea, sem obediência a um plano eaplicação de um método. No caso da formação universitária, essas exigências garantem bomêxito na aprendizagem e proporcionam tirocínio necessário para oamadurecimento intelectual. Ao lado, pois, da iniciação teórica ehistórica à filosofia e à ciência, há a iniciação metodológica à suacriação e expressão. A preparação metódica e planejada de um trabalho científico supõe umaseqüência de momentos, compreendendo as seguintes etapas: 1. determinação do tema-problema do trabalho; 2. levantamento da bibliografia referente a esse tema; 73

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3. leitura e documentação dessa bibliografia após seleção; 4. construção lógica do trabalho; 5. redação do texto.

1. AS ETAPAS DA ELABORAÇÃO

1.1. Determinação do Tema-problema-tese do Trabalho Nesta primeira etapa, escolhe-se e deterinina-se o assunto sobre oqual versará o trabalho. Ainda quando o tema é proposto pelo professor,cabe ao aluno delimitar, com precisão, () tema indicado, ou seja, épreciso distingui-lo de temas afins, tendo presente o domínio sobre oqual vai trabalhar. Durante o estudo do tema delimitado pode ocorreralguma alteração desta primeira delimitação, mas, ainda que isto sejafreqüente, é necessário que o aluno inicie seu trabalho de posse de umtema bem definido. Mais do que o objeto em si do trabalho, é importante a perspectivasobre a qual é tratado. Assim, uma coisa é escrever sobre a liberdade emgeral, outra sobre a liberdade psicológica, outra sobre a liberdadepolítica. O conteúdo do objeto do estudo pode ser o mesmo, mas asperspectivas sob as quais se faz esse estudo é o que determina odesenvolvimento do trabalho. Outras vezes o tema deve ser colocado numaestrutura de relações, pois o objeto é estudado em relação a outro,importando mais essa relação do que os seus termos. Finalmente, tratando-se de trabalhos acadêmicos, com finalidadesdidáticas e propedêuticas, o tema escolhido ou delimitado deve deixarmargem para a pesquisa positiva, bibliográfica ou de campo, com anecessária aprendizagem desses métodos de pesquisa, não sendo, portanto,o trabalho uma pura criação mental do aluno. Por isso, escolhe-se umtema já abordado por outros, anteriormente, embora de outrasperspectivas, para que haja obras a respeito dele, podendo o alunopesquisar e consultar documentação para a realização do seu trabalho. Por outro lado, a visão clara do tema do trabalho, do assunto a sertratado, a partir de determinada perspectiva, deve completar-se com suacolocação em termos de problema. O raciocínio - parte essencial de umtrabalho - não se desencadeia quando não se estabelece devidamente umproblema. Em outras palavras, o tema 74 deve ser problematizado. Toda argumentação, todo raciocíniodesenvolvido num trabalho logicamente construido é uma demonstração quevisa solucionar determinado problema. A gênese dessa problemáticadar-se-á pela reflexão surgida por ocasião das leituras, dos debates,das experiências, da aprendizagem, enfim da vivência intelectual no meiodo estudo universitário e no ambiente científico e cultural. Portanto, antes da elaboração do trabalho, é preciso ter idéia clarado problema a ser resolvido, da dúvida a ser superada. Exige-seconsciência da problemática específica relacionada com o tema abordadode determinada perspectiva, cuja natureza especificará o tipo e o métodode pesquisa e de reflexão a serem utilizados no decorrer do trabalho.

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A colocação clara do problema desencadeia a formulação da hipótesegeral a ser comprovada no decorrer do raciocínio. Quando o autor sedefine afinal por uma solução que pretende demonstrar no curso dotrabalho, pode-se então falar de tese ou de idéia central de seutrabalho. O trabalho tem por objetivo último transmitir uma mensagem,comunicar o resultado final de uma pesquisa e de uma reflexão. Por issodeve demonstrar uma única idéia, comprovar uma única hipótese, defenderuma única tese, assumindo uma posição única relacionada com o problemaespecífico levantado pela consideração do tema. Assim, a decisão, aopção por determinada posição, é posterior à discussão de possíveisalternativas. De qualquer modo, exige-se uma idéia daquilo que se-pretende dizer arespeito do assunto escolhido e que se apresenta como uma tomada deposição sobre o tema-problema. Este adquire então a forma lógica detese, de idéia central, ou seja, de proposição portadora da mensagemprincipal do trabalho que deverá ser demonstrada logicamente através doraciocínio. Todo discurso científico pretende demonstrar uma posição arespeito do tema problematizado. Ainda no âmbito dos trabalhos didáticos, o tema, o problema e a tesedevem ser determinados a partir de um texto. Neste caso, a etapa dedelimitação temática é feita a partir de uma leitura analítica do mesmo. Nos casos de dissertação de mestrado e de tese de doutorado, estaetapa nasce da experiência intelectual, leitura, discussão e reflexão. 75 A determinação do tema, do problema e da tese deve anunciar egarantir, senão na formulação técnica, pelo menos quanto ao significado,o caráter monográfico do trabalho. Isto quer dizer que a abordagemprópria do trabalho científico deve ser a mais monográfica possível,atendo-se ao aspecto delimitado do tema a ser tratado. Tal exigência demaior restrição temática é tanto maior quanto mais científico for o tipode trabalho a que se vise. Nas teses de doutorado e nas dissertações demestrado ela será maior do que nos trabalhos didáticos, os quais, nempor isso, devem deixar de buscar a delimitação de sua temática. Distinguein-se três fases no amadurecimento de um trabalho: há omomento da invenção, da intuição, da descoberta, da formulação dehipóteses, fase eminentemente lógica em que o pensamento é provocador, oespírito é atuante; logo após parte-se para a pesquisa positiva, sejaexperimental, seja de campo ou bibliográfica. Nesta etapa, o espírito éposto diante dos fatos, de outras idéias; há a oportunidade de cotejaras primeiras intuições com as intuições alheias ou com os fatosobjetivos. Do confronto nasce uma posição amadurecida. Abandonam-sealgumas idéias, acrescentam-se outras novas, reformulam-se outras. Istoquer dizer que a primeira formulação não é necessariamente definitiva:inicialmente, do ponto de vista lógico, será tão-somente provisória. já na terceira etapa, ou seja, no momento em que, amadurecida umaposiçao, se parte para a composição do trabalho, então é preciso estarde posse de uma formulação definitiva, que poderá confirmar a primeira

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ou modificá-la. Nas presentes diretrizes, estas fases não estão sendo consideradasdistintamente, uma vez que são concomitantes nas várias etapas dotrabalho científico, considerado de um ponto de vista da técnica de suaelaboração.

1.2. Levantamento da Bibliografia

Estabelecido e delimitado o tema do trabalho e formulados o problema e ahipótese, o próximo passo é o levantamento com a documentação existentesobre o assunto. já uma fase heurística, ciência, técnica e arte dapesquisa de documentos. Desencadeia-se uma série de procedimentos para alocalização e busca metódica dos documentos que possam interessar aotema discutido. 76

Tais documentos se definem pela natureza dos temas estudados e pelasáreas em que os trabalhos se situam. Tratando-se de trabalhos no âmbitoda reflexão teórica, tais documentos são basicamente textos: livros,artigos etc. A bibliografia como técnica tem por objetivo a descrição e aclassificação dos livros e documentos similares, segundo critérios, taiscomo autor, gênero literário, conteúdo temático, data etc. Dessa técnicaresultam repertórios, boletins, catálogos bibliográficos. E é a eles quese deve recorrer quando se visa elaborar a bibliografia especialreferente ao tema do trabalho. Fala-se de bibliografia especial porque aescolha das obras deve ser criteriosa, retendo apenas aquelas queinteressem especificamente ao assunto tratado. Os repertórios, os boletins e os catálogos são obras especializadasno levantamento das publicações, indistintamente de todas as áreas ourestritas a áreas determinadas. Assim, existem repertórios de filosofiaque só assinalam obras referentes à filosofia. O mesmo acontece com asdemais áreas do saber. Os estudiosos encontram também nas grandes enciclopédias, nosdicionários especializados, nas monografias, nos tratados, nos textosdidáticos, nas revistas' informações bibliográficas para trabalhos decunho científico nas respectivas áreas. Outra fonte para o levantamentobibliográfico são os fichários das bibliotecas. Tais fichários catalogamlivros, seja pelo critério de autor, seja pelo critério de assunto. Noprimeiro caso, através do nome de um autor identifica-se, pela ordemalfabética, as respectivas fichas;já no fichário por assuntos, as obrassão classificadas de acordo com números-códigos estabelecidos porsistemas universais de classificação temática. Neste caso, identifica-se o número sob o qual o assunto é classificado,para o que se deve consultar o índice de assuntos que se encontra numpequeno arquivo junto aos fichários gerais -------- 1. Cf. p. 257-59. 2. Cf. p. 197-257. 3. Os principais

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sistemas de classificação são a CDD e a CDU: a Classificação Decimal deDewey e a Classificação Decimal Universal. Esta última é baseada naprimeira, aperfeiçoando-a em alguns pontos. Ainbas dividem o campo dosaber humano em dez áreas, subdivididas, por sua vez, em dez subárcasque se subdividem sucessivamente. Estas subdivisões são indicadas pornúmeros arábicos dentro das várias seções. Assim a Filosofia recebeu onúmero 100, a Psicologia, considerada subárca da Filosofia, o conjunto150; a Lógica, 160. A Sociologia, 300, a Educação, 370, a História 900,a História do Brasil, 981, a Conjuração Mineira é classificada sob n'981.03. Cf. Heloisa de Almeida PRADO. Organize sua biblioteca, 2. ed,São Paulo, Polígono, 1971, p. 129 ss. 77 em seguida, procuram-se no fichário na ante-sala das bibliotecas e, deassuntos as respectivas fichas, pela ordem numérica. As informaçõescolhidas pela heurística devem ser transcritas primeiramente nas fichasbibliográficas.' Na face dessas fichas são transcritos os dadosreferentes ao documento em si, conforme as técnicas bibliográficas, Aseguir, assinalam-se com grande proveito os códigos das bibliotecas ondese encontra o documento, as resenhas do documento e eventualmente algumarápida apreciação. Como essas fichas são a base de qualquer trabalho científico, todoestudioso deveria formar um fichário na sua especialidade, o que lheseria de extrema utilidade no momento de qualquer pesquisa.5 Todos esses dados constantes de catálogos e das demais fontesbibliográficas já estão integrando, nos dias de hoje, os CD-ROMS, bemcomo os bancos de dados da Internet. Esses CDs podem ser acessados emmicrocomputadores, graças aos programas de multimídia. Os bancos dedados da Internet com fontes bibliográficas são acessáveis graças aosprogramas de busca. Tal pesquisa facilita e enriquece enormemente otrabalho de levantamento dessas fontes documentais.

1.3. Leitura e Documentação

Terminado o levantamento bibliográfico, é chegado o momento de iniciar otrabalho da pesquisa propriamente dita, o momento da leitura e dadocumentação.

1.3.1. O PLANO PROVISÓRIO DO TRABALHO

Antes de começar a leitura, o aluno elabora um roteiro de seu trabalho.Trata-se de uma primeira estruturação do trabalho, baseada em grandesidéias oriundas dos vários aspectos que podem ter um problema referenteao assunto estudado. São essas idéias que nortearão a leitura e apesquisa que se iniciam. Essa etapa é fundamental, pois que sem umaidéia-diretriz na mente a leitura e a documentação não serãosuficientemente fecundas. Antes, pois, ------------ 4. Cf. p. 44. 5. Cf. p. 35

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78 de começar a ler a bibliografia, tenham-se presentes na mente asgrandes linhas que serão as colunas mestras do trabalho. Essas idéiassão percebidas intuitivamente pelo aluno ou são frutos da sugestão dopróprio problema levantado pela tese ou ainda de alguma insinuação deestudos anteriores. Essas idéias exercem o papel de chamariz, são elasque mostram nos textos lidos aqueles elementos que devem ser retidospara futuro aproveitamento na composição do trabalho. Esse roteiro provisório será reformulado no decorrer do trabalho.Novas idéias surgirão, exigidas pelas primeiras, outras perderão ovalor. O plano definitivo só será estabelecido no final da pesquisapositiva.

1.3.2. A LEITURA DE DOCUMENTAÇÃO

De posse de um roteiro de idéias, parte-se para a análise dos documentosem busca dos elementos que se revelem importantes para o trabalho. A primeira medida, no entanto, é operar uma triagem em todo omaterial recolhido durante a elaboração da bibliografia. Nem tudo será necessariamente lido, pois nem tudo interessarádevidamente ao tema a ser estudado. Os documentos que se revelarem poucopertinentes ao tema serão deixados de lado. Para presidir a essatriagem, utilizem-se as resenhas, que permitem avaliar a utilidade dodocumento em questão. Na falta delas, além da opinião de especialistas,o melhor caminho é tomar contato direto com a obra, lendo seu sumário, oprefácio, a introdução, as 'orelhas", assim como algumas passagens doseu texto, até o momento em que se possa ter dela uma opinião. Uma vez definidos os documentos a serem pesquisados, procede-se àleitura combinando o critério de atualidade com o critério dageneralidade para o estabelecimento da ordem de leitura. Inicia-se pelostextos mais recentes, e mais gerais, indo para os mais antigos e maisparticulares. As obras recentes geralmente retomam as contribuiçõessignificativas do passado, dispensando assim uma volta a textossuperados. Observar, contudo, que obras clássicas dificilmente perdemseu valor de atualidade. já na questão da generalidade, atentar para as condições de quem estáfazendo o trabalho, levando em conta o nível em que se encontra, adificuldade do tema, a familiaridade do autor com o 79 assunto e com a área em que é tratado. Feitas essas ressalvas, a ordemlógica é partir das obras gerais-enciclopédias, dicionários, tratadosetc., chegando às monografias especialízadas e aos artigos de revista,muito importantes devido a sua atualidade. A essa altura dá-se início à leitura. Note-se, contudo, que já não setrata de uma leitura analítica desses documentos em vista dareconstituição do processo do raciocínio do autor. Mesmo quando aleitura integral do texto se fizer necessária, ela será feita tendo em

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vista o aproveitamento direto apenas daqueles elementos que sirvam paraarticular as idéias do novo raciocínio que se desenvolve. Os elementos aserem recolhidos visam reforçar, apoiar e justificar as idéias pessoaisformuladas pelo autor do trabalho. Esses elementos retirados das váriasfontes dão às várias afirmações do autor, além do material sobre o qualse trabalha, a garantia de maior objetividade fundada no testemunho e naverificação de outros pensadores.

1.3.3. A DOCUMENTAÇÃO

À medida que se procede à leitura e que elementos importantes vaosurgindo, faz-se a documentação. Trata-se de tomar nota de todos oselementos que serão utilizados na elaboração do trabalho científico. Quando se fala aqui de documentação, refere-se à tomada deapontamentos durante a leitura de consulta e pesquisa. Essesapontamentos servem de matéria-prima para o trabalho e funcionam como umprimeiro estágio de rascunho. É desaconselhável tomar notas em cadernos,de maneira seqüencial, assim como também não é prático assinalar nopróprio texto as passagens importantes que eventualmente serãoaproveitadas através de citações na redação final do trabalho. Essatécnica, se tiver alguma utilidade, só a terá para a leitura analítica.Os elementos julgados válidos devem ser transcritos nas fichas dedocumentação.6 Mas o quê exatamente e como se deve transcrever na fichade documentação? Passa-se para a ficha alguma passagem completa do textoque se lê, caso em que se deve transcrever ao pé da letra, colocando-setudo entre aspas e citando a fonte; em outros casos faz-se apenas asíntese das idéias em questão; nesta ---------- 6. Cf. 35 80 hipótese, as aspas são dispensadas, mas mantém-se a citação da fonte.Conforme o hábito pessoal, a transcrição nas fichas será feitainterrompendo-se a leitura (o que é mais aconselhável) ou, então,primeiramente será feita uma leitura completa do texto pesquisado,assinalando-se levemente as passagens importantes, transcrevendo-as aseguir. As fichas de documentação contêm, além do corpo da citação ereferências indicadores da fonte, um título e um subtítulo que permitemidentificá-las e classificá-las. Esses títulos, colocados no alto àdireita, são definidos pelas idéias diretrizes do roteiro provisório.Igualmente, quando surge uma idéia nova, um aspecto até entãodespercebido, lança-se um novo título nas fichas de documentação e omaterial passa a fazer parte do plano de trabalho. A técnica da documentação em fichas tem, do ponto de vista didático,no contexto universitário brasileiro, a vantagem de permitir eficiênciano trabalho em equipe, garantindo a participação complementar de todosos membros do grupo. Com efeito, parte-se de um roteiro comum e osintegrantes da equipe pesquisam isoladamente, cada um lendo e

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documentando textos diferentes. No fim das pesquisas, as fichas de fontes diferentes são agrupadasconforme os temas definidos pelos títulos e subtítulos, faltando apenasa construção posterior do trabalho. As fichas são redistribuídas deacordo com os vários momentos do trabalho, cabendo a cada participanteda equipe compor uma parte do trabalho. Durante a pesquisa, ou em outras circunstâncias da vivênciaintelectual, o leitor sempre pode ter idéias próprias sobre algum dostópicos que está discutindo. As fichas de documentação servem tambémpara registrar essas idéias que, se não forem logo gravadas, acabamperdendo-se. Enfim, nesta fase do trabalho, tudo o que interessar aomesmo deverá ser transposto para as fichas que formarão o acervo domaterial com o qual se trabalhará na construção final do novo texto.

1.4. A Construção Lógica do Trabalho

Construção lógica ou síntese é a coordenação inteligente das idéiasconforme as exigências racionais da sistematização própria 81 do trabalho. Pode acontecer que, devido a desdobramentos ocorridosdurante a pesquisa, se faça necessária uma reforrnulação do roteiroprovisório para o estabelecimento do plano definitivo. A ordem lógica do pensamento de quem escreve pode não coincidir com aordem de descoberta e de intuição do autor. Isto é normal, já que opensamento expresso não pode perder de vista a finalidade que tem decomunicar ao leitor essas descobertas. Por isso, o que interessa antesde tudo é a inteligibilidade do texto. A construção lógica do trabalho é o arranjo encadeado dos raciocíniosutilizados para a demonstração da hipótese formulada no início.Naturalmente, esses raciocínios, em trabalhos que comportem elementos depesquisa positiva de bibliografia, como na maioria dos trabalhosacadêmicos, são formados a partir dos dados colhidos nas fontesconsultadas e a partir das idéias descobertas pela reflexão do autor. Todo trabalho científico, seja ele uma tese, um texto didático, umartigo ou uma simples resenha deve constituir uma totalidade deinteligibilidade, estruturalmente orgânica, deve formar uma unidade comsentido intrínseco e autônomo para o leitor que não participou de suaelaboração, que internamente as partes se concatenem logicamente. Concretamente, isto quer dizer que as partes do trabalho, seuscapítulos e, no interior deles, os arágrafos devem ter uma seqüêncialógica rigorosa determinada pela estrutura do discurso. Não basta que asproposições tenham sentido em si mesmas: é necessário que o sentidoesteja logicamente inserido no contexto do discurso e da redação. Do ponto de vista da estrutura formal, o trabalho tem três partesfundamentais: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. É dentrodesta estrutura que se desenvolverá o raciocínio demonstrativo do discurso em questão.

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A introdução, quando for o caso, levanta o estado da questão,mostrando o que já foi escrito a respeito do tema e assinalando arelevância e o interesse do trabalho. Em todos os casos, manifesta asintenções do autor e os objetivos do trabalho, enunciando seu tema, seuproblema, sua tese e os procedimentos que serão adotados para odesenvolvimento do raciocínio. Encerra-se com uma justificação 82 do plano do trabalho. Lendo a introdução, o leitor deve sentir-seesclarecido a respeito do teor da problematização do tema do trabalho,assim como a respeito da natureza do raciocínio a ser desenvolvido.Evitem-se intermináveis retrospectos históricos, a apresentaçãoprecipitada dos resultados, os discursos grandiloqüentes. Deve sersintética e versar única e exclusivamente sobre a temática intrínseca dotrabalho. Note-se que é a última parte do trabalho a ser escrita. O desenvolvimento corresponde ao corpo do trabalho e será estruturadoconforme as necessidades do plano definitivo da obra. As subdivisões dostópicos do plano lógico, os itens, seções, capítulos etc. surgem daexigência da logicidade e da necessidade de clareza e não de um critériopuramente espacial. Não basta enumerar simetricamente os vários itens: épreciso que haja subtítulos portadores de sentido. Em trabalhoscientíficos, todos os títulos de capítulos ou de outros itens devem sertemáticos e expressivos, ou seja, devem dar a idéia exata do conteúdo dosetor que intitulam. A fase de fundamentação lógica do tema deve ser exposta e provada; areconstrução racional tem por objetivo explicar, discutir e demonstrar.'Explicar é tornar evidente o que estava implícito, obscuro ou complexo;é descrever, classificar e definir. Discutir é comparar as váriasposições que se entrechocam dialeticamente. Demonstrar é aplicar aargumentação apropriada à natureza do trabalho. É partir de verdadesgarantidas para novas verdades. A conclusão é a síntese para a qual caminha o trabalho. Será breve evisará recapitular sinteticamente os resultados da pesquisa elaboradaaté então. Se o trabalho visar resolver uma tese-problema e se, paratal, o autor desenvolver uma ou várias hipóteses, através do raciocínio,a conclusão aparecerá como um balanço do empreendimento. O autormanifestará seu ponto de vista sobre os resultados obtidos, sobre oalcance dos mesmos. Quando o trabalho é essencialmente analítico e comporta uma pesquisapositiva sobre o pensamento de outros autores, esta conclusão pode serfundamentalmente crítica. Quando, porém, a ---------- 7. Deleio V. SALOMON, Como fazer uma monografia, p.273 ss. Cf. também p. 183-94 do presente trabalho. 83 crítica é mais desenvolvida, entrará no corpo do trabalho como umcapítulo.

1.5. A Redação do Texto

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A fase de redação consiste na expressão literária do raciocíniodesenvolvido no trabalho. Guiando-se pelas exigências próprias daconstrução lógica, o autor redige o texto, confrontando as fichas dedocumentação, criando o texto redacional em que vão inserir-se. Uma vezde posse do encadeamento lógico do pensamento, esse trabalho é apenasuma questão de comunicação literária. Recomenda-se que a montagem dotrabalho seja feita através de uma primeira redação de rascunho.Terminada a primeira composição, sua leitura completa permitirá umarevisão adequada do todo e a correção de possíveis falhas lógicas ouredacionais. Apesar da clareza e eficiência que o método de fichaspossibilita para a redação do trabalho, muitos aspectos desnecessáriosacabam sobrando no mesmo e só depois de uma leitura atenta podem sereliminados. Em trabalhos científicos, impõe-se um estilo sóbrio epreciso, importando mais a clareza do que qualquer outra característicaestilística. A terminologia técnica só será usada quando necessária ouem trabalhos especializados, nível em que já se tornou terminologiabásica. De qualquer modo, é preciso que o leitor entenda o raciocínio eas idéias do autor sem ser impedido por uma linguagem hermética ouesotérica. Igualmente evitem-se a pomposidade pretensiosa, o verbalismovazio, as fórmulas feitas e a linguagem sentimental. O estilo do textoserá determinado pela natureza do raciocínio específico às várias áreasdo saber em que se situa o trabalho.

1.6. A Construção do Parágrafo

De um ponto de vista da redação do texto, é importante ressaltar aquestão da construção do parágrafo. O parágrafo é uma parte do texto quetem por finalidade expressar as etapas 84 do raciocínio. Por isso, a seqüência dos parágrafos, o seu tamanho e asua complexidade dependem da própria natureza do raciocíniodesenvolvido. Duas tendências são incorretas: ou o excesso de parágrafos- praticamente cada frase é tida como um novo parágrafo - ou a ausênciade parágrafos. Como a paragrafação representa, ao nível do texto, asarticulações do raciocínio percebe-se então a insegurança de quem assimescreve. Neste caso, é como se as idéias e as proposições a elascorrespondentes tivesse as mesmas funções, a mesma relevância nodesenvolvimento do discurso e como se este não tivesse articulações. Amudança de parágrafo toda vez que se avança na seqüência do raciocíniomarca o fim de uma etapa e o começo de outra. A estrutura do parágraforeproduz a estrutura do próprio trabalho; constitui-se de umaintrodução, de um corpo e de uma conclusão. Na introdução, anuncia-se oque se pretende dizer; no corpo, desenvolve-se a idéia anunciada; naconclusão, resume-se ou sintetiza-se o que se conseguiu. Dependendo da natureza do texto e do raciocínio que lhe é subjacente,o parágrafo representa a exposição de um raciocínio comum, ou seja,

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comporta premissas e conclusão. Portanto, a articulação de um texto emparágrafos está intimamente vinculada à estrutura lógica do raciocíniodesenvolvido. E por isso mesmo que, na maioria das vezes, essesparágrafos são iniciados com conjunções que indicam as várias formas dese passar de uma etapa lógica à outra.

1.7. Conclusão

A redação do trabalho exige o domínio prático de todo um instrumentaltécnico que deve ser utilizado devidamente. Como em outros setores dametodologia, aqui também há muitas divergências nas orientações. Asdiretrizes que seguem pretendem ser as mais práticas possíveis e visamatingir os trabalhos didáticos mais comuns à vida universitária. Sãonormas gerais que, no caso de trabalhos específicos, como asdissertações de mestrado e as teses de doutoramento, precisam sercomplementadas com as exigências que lhes são específicas. 85

2. ASPECTOS TECNICOS DA REDAÇAO

2.1. A Apresentação Gráfica Geral do Trabalho Do ponto de vista daapresentação geral, um trabalho científico contém as seguintes partes: Capa Página de rosto Sumário Lista de tabelas e figuras Núcleo do trabalho: - Introdução - Desenvolvimento - Conclusão Apêndices e anexos Bibliografia Capa final ou quarta etapa

A capa inicial contém apenas três elementos: no alto da página, o nomedo autor na ordem normal com letras maiúsculas; no centro da página, otítulo do trabalho, grifado; embaixo, a cidade e o ano. Tudo o mais édesnecessário pelo menos em se tratando de não comporta nenhum elemento.A página de rosto tem, no alto, o nome completo do autor, eventualmentecom rápida alusão à sua qualificação profissional; no meio, o títulocompleto do trabalho; mais abaixo, à direita, será dada uma explanaçãoreferente à natureza do trabalho, seu objetivo acadêmico e à instituiçãoa que se destina; embaixo, cidade e ano. Exemplo: 86

Modelo de página de rosto

PEDRO SILVEIRA DOS SANTOS A VISÃO ESTRUTURALISTA DA HISTÓRIA Trabalho de aproveitamento do curso de Metodologia do Programa deFilosofia da Educação da Universidade Católica de São Paulo.

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São Paulo 1984

87 O sumário esquematiza as principais divisões do trabalho: partes,seções, capítulos etc., exatamente como aparecem no corpo do trabalho,indicando ainda a página em que cada divisão inicia. Indica ainda oprefácio, as listas, tabelas e bibliografia. Vem logo depois da páginade rosto. Caso constem do trabalho tabelas, figuras ou ilustrações, sãoelaboradas as respectivas listas que se situam com a respectivapaginação, logo após o sumário. Na seqüência vem o núcleo do trabalho: aintrodução, o desenvolvimento e 'a conclusão. As várias divisões empartes, seções e capítulos estruturam-se, no corpo do trabalho, deacordo com as necessidades do raciocínio e da redação.' Apêndice eanexos só se acrescentam quando exigidos pela natureza do trabalho; osapêndices geralmente constituem desen- volvimentos autônomos elaboradospelo próprio autor, para com- plementar o próprio raciocínio, semprejudicar a unidade do núcleo do trabalho; já os anexos são documentos,nem sempre do próprio autor, que servem de complemento ao trabalho efundamentam sua pesquisa. A bibliografiafinal é apresentada segundo aordem alfabética dos autores, podendo ainda os títulos ser numerados.Caso comporte subdivisões internas, no interior de cada uma destasdivisões, segue-se ainda a ordem alfabética. Em alguns casos, porexemplo, quando se assinala a obra de um autor, usa-se o critériocronológico de publicação. Quando devem ser assinaladas sucessivamentevárias obras de um mesmo autor, segue-se a ordem alfabética dos títulosdessas obras ou então, se for o caso, a ordem cronológica da publicação;em ambos os casos, substitui-se o nome do autor por um traço; caso sequeira citar a mesma obra em edições diferentes, substitui-se não só onome do autor, mas também todos os demais elementos que não sofrerammodificação: Ex.: JAPIASSU, nlton Ferreira. Introdução ao pensamentoepis- temológico. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1975. 8. Cf. p.69-80. 2. ed. . 1976. 200 P. 88

2.2. A Forma Gráfica do Texto

2.2. 1. TExTos DATiLocRAFADos

Os trabalhos são datilografados em folhas de papel sulfite, tamanhoLetter ou A4, de um lado só, respeitando-se as seguintes margens: margem superior: 3 em. margem inferior: 2 em. margem esquerda: 3 em. margem direita: 2 em.

As páginas são numeradas a partir da página de rosto, sendo o númerocolocado no alto da página, no meio ou de preferência à direita (no

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canto direito superior), sempre a 2 em da borda da folha e da primeiralinha do texto. Os trabalhos são datilografados dentro dos limites acimaestabelecidos, com espaço dois, exigindo-se especial cuidado com amargem direita, de maneira que fique também reta no sentido vertical dotexto. Caso se queira colocar notas no pé da página, elas devem ficarseparadas do texto por um traço que avança até 1/3 da página, traço esteque fica distante 1 em da última linha e da primeira nota. As notas de rodapé ficam com a mesma margem à esquerda e à direita dotexto, apenas o número de chamadas adentra-se 1 em. Além disso, sãodatilografadas em espaço simples. Os parágrafos iniciam-se a oito espaços para dentro em relação àmargem esquerda. Os capítulos devem sempre ser iniciados numa nova pagina mesmo quesobre espaço suficiente na página que termina o capítulo anterior,situando-se os títulos, em maiúsculas, a 8 em do limite superior,centrados na folha, sendo numerados em algarismos romanos: Capítulo 1. Os subtítulos e subdivisões são escritos de forma homogênea que osrealcem devidamente; os espaços que os separam dos textos são maiores eproporcionais; são também numerados conforme a técnica dos númerospontuados: 2.1, 2.1.1 etc. Não precisam iniciar-se em nova página.

89

Usando o Editor de Textos Word 97 com o Windows 95

Assim, para a elaboração de um texto, o micro usa um equipamentotécnico-niecânico que funciona e opera comandado por dois tipos deprogramas: um sistema operacional,1 no caso o mais conhecido entre nós éo Windows, e um programa editor de textos, no caso o mais conhecido é oWord, que já se encontra na versão 2000. O sistema operacional Windowsaparece em várias versões ainda em uso em nossos micros: Windows 3.l.,Windows 95 e Windows 98, mais sofisticada. Do mesmo modo, também existemvárias versões do programa Word, sendo a mais usada, no momento, aversão 97, embora já esteja sendo lançada a versão 2000. O programausado nestas orientações é o da versão Word 97, que funciona tanto comas versões do ambiente Windows 95 90 quanto com as posteriores. Este é um dos editores de textos maisutilizados atualmente. É de se registrar a velocidade com que sãomudados esses programas e as muitas inovações técnico-operacionais queos novos sistemas vão trazendo. Ademais, existem vários sistemasalternativos " embora haja sempre uma certa analogia funcional de baseentre eles. Por causa disso, o usuário deve adequar-se às peculiaridadesdo sistema de que dispõe, familiarizando-se com ele. Em qualquer caso,precisará contar com alguma iniciação para lidar com seu computador, até

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porque as presentes diretrizes foram elaboradas por um usuário comum,aplicando-se à simples elaboração do texto, sem nenhuma pretensão de darconta de uma iniciação técnica ao uso do computador e de explorar todosos valiosos recursos que esta tecnologia aporta. Ligado o micro, entra em ação o sistema operacional e ao término dealguns segundos aparecerá no monitor uma tela de fundo colorido com umasérie de ícones indicando os programas disponíveis. Trata-se da tela dosistema operacional, no caso, a do Windows 95. Para a edição de textos,o ícone em pauta é o Microsoft Word, representado pela letra Wmaiúscula. Clica-se duas vezes nesse ícone, e o Windows o abrirá, sob otítulo geral de W Microsoft Word, colocado na faixa superior, seguido dadesignação 'Documento", com um número de série. Neste espaço ficarásempre registrado no nome do Arquivo, ou seja, o nome dado ao texto, aotrabalho, que estará sendo digitado. A tela do Word pode ser abertaigualmente pela seqüência regular dos comandos, sem utilização de íconesde atalho que nem sempre estão visíveis na tela. Neste caso, basta irclicando e selecionando: Inícíar / Programas / Microsoft Word, clicandouma vez neste último. Na segunda faixa da tela aparece a Barra de Menus de operaçõesgerais, disponíveis no programa Word. São elas: Arquivo, Editar, Exibir,Inserir, Formatar, Ferramentas, Tabela, janela, Ajuda. Cada uma dessasoperações contém uma série de tarefas que detalham a operação maior.Assim, por exemplo, clicando-se em Formatar, aparecerão na vertical asoperações que podem ser executadas: a escolha da fonte, a construção doparágrafo, a definição de marcações, a inserção de bordas esombreamento, a inserção de colunas, de tabulação etc. Mostrada napágina 135 deste livro. 91

Em todas as operações, são numerosos os recursos disponíveis, porém nemtodos são regularmente usados nos trabalhos mais simples que se fazem naacademia. Como esta não é uma iniciação à informática, mas apenas aapresentação de dicas ao usuário que precisa digitar um texto, serãoapresentadas apenas aquelas operações mais comuns. Lembre-se o usuáriode que a cada comando o sistema apresentará outra janela na qual constamoutros comandos que devem ser acionados para que a tarefa sejaexecutada. Na terceira e quarta faixas encontram-se as barras de ferramentas - apadrão e a de formatação com alguns ícones de atalho para a organizaçãoe formatação do texto a ser digitado. Em seguida, na faixa superior da janela e na sua lateral esquerda,encontram-se réguas que facilitam a mensuração da ocupação da página queestará sendo digitada; na lateral direita, numa faixa vertical aberta efechada por pequenas setas, pode-se rolar a página para baixo ou paracima. já na faixa inferior há igualmente uma barra de movimentação paraos lados, bem como campos informativos do andamento da digitação: apágina em que se encontra o texto, a seção, tamanho da mancha, a linha,

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a cortina.

Figura 1

Tela inicial do programa editor de texto Word 97

92

Abrindo a área para a digítação

Ao abrir o programa Word para dar início à digitação do texto, o usuáriotem diante de si, na tela do monitor, o espaço para escrever, a chamada"janela", emoldurada pelas barras e colunas anteriormente mencionadas. Na faixa superior, estará sendo exibido o nome dado aoarquivo/documento que está sendo digitado, sempre com a extensão "doc".Este nome substitui a expressão original padrão "documento 1",'documento 2' etc. que vão aparecendo cada vez que se abre a janela paraum novo texto. O nome é dado ao documento assim que ele for 'salvo" pelaprimeira vez, mediante sua gravação no disco rígido ou em disquete.

Configurando a página

A primeira iniciativa do digitador do texto é a de configurar apágina. Para tanto, na Barra de Menus, deve clicar em Arquivo,selecionando o comando Configurar página. Clicando neste comando,surgirá uma caixa onde consta uma guia para se determinar as margens(fig. 2) e outra o tamanho do papel (fig. 3). O Word traz ummargeamento-padrão, estabelecendo as margens superior, inferior, direitae esquerda. Caso queira mudar este margeamento, basta o usuário aumentarou diminuir os tamanhos mexendo nas setinhas que constam dos respectivoscampos. Recomenda-se, no entanto, por razões estéticas, as seguintesmargens: superior: 2,5 em inferior: 2,5 em esquerda: 3 em direita: 2 emOs outros campos desta caixa nao precisam ser alterados. Nos campos, dolado inferior direito da caixa de configuração, onde consta 'A partir damargem', manter as medidas-padrão trazidas pelo Word: 1,25 em. 93

Figura 2 Caixa de configuração da página: margens Em seguida, abre-se,na mesma caixa, a guia "Tamanho do papel' e escolhe-se, no campoindicado, o tamanho do papel que se utilizará (fig. 3).,Os tamanhos maisusados são o A4 e o Letter. Pode-se adaptar a configuração para outrostamanhos, bastando para isso escolher as medidas correspondentes, noscampos das medidas. Sugere-se usar o tamanho A4, que atende muito bem àscaracterísticas de um texto discursivo. Suas medidas são 21 x 29,7 cm. 94

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Ainda na guia 'Tamanho do papel", no campo 'Orientação', define-se adisposição da mancha do texto na página: Retrato, se ela ficar naposição vertical da folha de papel; Paisagem, se ficar na posiçãohorizontal. Feitas as definições preferidas, basta clicar OK. Obviamente, deveser o mesmo o tamanho do papel que se encontra na bandeja da impressora.Quando for imprimir o texto, aberta a caixa de impressão, no botão'Propriedades', é preciso configurar a impressora para esse tamanho depapel (ef. fig. 13, p. 105). Em seguida, o próximo passo é "formatar" o texto. Para tanto, clica-seno comando Formatar da Barra de Menus; aí será escolhida a fonte econfigurados os parágrafos. Primeiro, clica-se no item Fonte: na caixasurgida, escolhe-se a fonte que se quer (sendo as mais usadas o TimesNew Roman e o Arial), o seu estilo (normal, negrito, itálico), o tamanhoda fonte (em geral prefere-se o tamanho 12), a cor da escrita equaisquer outras características, tais como sublinhado, maiúscula,tachado etc. (fig. 4). tamanho do papel 95 Figura 4 Caixa da fonte Portanto: Formatar Fonte: Arial 12,normal, preta. Em seguida, clica-se no item Parágrafo. Aparecerá a caixamostrada na fig. 5. Na caixa que aparece pode-se determinar os "Recuos eespaçamento" da mancha do texto que se escreve. Um primeiro parâmetro éo 'Alinhamento': ou seja, nas opções apresentadas, pode-se definir oalinhamento do texto só do lado esquerdo, ou só do lado direito, dosdois lados Uustíficado), ou centralizando-se o texto. O recomendado paraos trabalhos acadêmicos é o justificado. 96 Figura 5 Ka do parágrafo Depois vem o item 'Recuo', de fato, as determinações do parágrafopropriamente dito. Estabelece-se o recuo da mancha to à direita como àesquerda, recuo que será definido para ri daquele já estabelecido pelamargem. Num segundo campo, o recuo 'Especial', pode-se definir se aprimeira linha de cada ágrafo não tem nenhum recuo, ficando junto àmargem, ou se avançará para dentro da mancha (primeira linha) ou seserão lernais linhas do parágrafo que avançarão, enquanto a primeira iapermanece junto à margem (neste caso, opte-se por deslocamento). Na seqüência, definem-se os espaçamentos: o Antes e o Depoisreferem-se ao espaçamento especial para separar os parágrafos, quantoEntre linhas indica a distância entre as linhas do mesmo parágrafo.

Para os trabalhos acadêmicos, sugere-se como melhor formatação:

Alínhamento: justificado Recuos: esquerdo e direito: 0 especial: 1 linha Espaçamentos: antes: 6 pts. depois: 0 pt. entre linhas: 1,5

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Os demais campos podem ser ignorados. Ao final, clicar OK. A página estáconfigurada e o texto será composto de acordo com as especificações.

A digitação

Definidos estes parâmetros, pode-se dar início à digitação do texto, queirá então sendo automaticamente formatado de acordo com dadosfornecidos. Para alterar uma palavra, uma frase, um parágrafo, uma seçãodo texto, de modo que tenha uma configuração diferenciada, deve-seselecionar a parte que se pretende modificar, arrastanclo o cursor com obotão esquerdo do mouse pressionado sobre a área desejada. Uma vezmarcada a área, basta soltar o botão do mouse e clicar no ícone dasbarras de ferramenta ou no comando dos menus correspondentes à operaçãoque levará à modificação. Para mover o texto de cima para baixo, para avançar ou recuar,pode-se usar tanto os botões com setinhas da barra de movimentação dalateral direita, ou então o botão móvel que corre dentro dessa barra,puxando-o com o botão esquerdo do mouse, apertado, ou ainda comandandoas teclas de setas que se encontram em dois setores do lado direito doteclado. Também pode-se usar as teclas Page Up e Page Down. Para mudar ocursor de lugar, ao longo do texto, usam-se as teclas de setas ou entãoo próprio mouse. Neste caso, quando a barrinha indicativa do movimentodo mouse estiver no lugar desejado, é só clicar o botão esquerdo que ocursor se transferirá para lá, marcando o ponto em que terá efeito aoperação que estiver sendo acionada. 98

A numeração das páginas

Para que o texto tenha suas páginas numeradas, recorre-se ao menuInserir. Escolhe-se o item Número de páginas. Há três campos na caixa(fig. 6). O primeiro, "Posição", permite definir se o número serágrafado no cabeçalho ou no rodapé; o segundo, Alinhamento", permiteindicar se o número será grafado do lado direito, do lado esquerdo, nocentro, ou sempre do lado interno ou externo da página. Finalmente, casonão queira que a numeração seja exibida na primeira página, bastaassinalar no terceiro campo, clicando a caixinha com a pergunta. Nostrabalhos acadêmicos, o modelo mais seguido é: Posição: cabeçalho, partesuperior da página, com alinhamento à direita e sem exibição de númerona primeira página. Figma 6 Caixa para numeração das páginas

Quando se quiser mudar de página, antes de ela estar preenchidaintegralmente, como, por exemplo, no caso de se iniciar um 99 novo capítulo, usa-se o mesmo menu Inserir, clicando o item Quebra: nacaixa que aparece (fig. 7), basta clicar no ponto "Quebra de Página" e

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dar OK. Ocorrerá mudança de página no ponto em que se encontrar ocursor. Figura 7 Caixa para quebra de paginação

É no menu Inserir que se encontram também os comandos para a introduçãodas notas de rodapé, bem como de cabeçalhos, com datas e outrasreferências (fig. 8). Para os trabalhos acadêmicos, interessamparticularmente as notas, que poderão aparecer no rodapé de cada páginaou então no final do texto. Para tanto, basta colocar o cursor no pontoem que se deve inserir o número de chamada, clicar em Notas e escolher otipo de numeração. Dado o OK, o número de chamada é automaticamenteinserido onde se encontra, no texto, o cursor, o qual é levado, emseguida, diretamente para o ponto escolhido, onde se redige então o teorda nota. Ao mandar fechar, o cursor volta ao seu ponto normal, para secontinuar digitando o texto.

100 Cada vez que for necessário inserir novas notas, procede-se da mesmamaneira e os números irão se adequando automaticamente, o que permite voltar atrás para retirar ou incluir notas. De preferência, as notas devem situar-se mesmo nos rodapés e não nofinal do capítulo ou do texto. Relembre-se de que a tendência atual éreservar essas notas para comentários, esclarecimentos, traduções etc.,as referências bibliográficas sendo inseridas no corpo do texto,conforme assinalado nas p. 112-13.

Figura 8 Caixa para inserção de notas de, roáapé e cabeçalhos

Alguns atalhos e outras orientações

Os micros pessoais podem ser ajustados para facilitar o manuseio detodos os comandos referidos. Assim, a tela pode ter uma configwaçãopersonalizada, com barras com ícones de vários comandos, de modo a sedispor de um atalho sem precisar passar pelo menu, bastando-se entãoapenas clicar no referido ícone, que corresponde aos diversos comandos.Para cada item de cada menu existe um ícone que pode ser transportadopara a barra de

101

ferramentas, logo abaixo da Barra de Menus. Esses ícones se encontramdisponíveis em Ferramentas personalizar comandos- basta então clicar como mouse no item escolhido e, mantendo apertado o botão esquerdo domouse, arrastar o ícone para um espaço da barra de ferramentas (fig. 9).

Figura 9 Caixa de ícones de comandos

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Para modificar partes do texto que se está digitando - por exemplo, querse mudar o tamanho ou o estilo da fonte, o espaçamento entre as linhas-, basta "selecionar" a parte a ser alterada. Selecionar é marear com umdestaque, criando um fundo para dar destaque ao texto, e aplicar a elaum comando a partir de um ícone ou de um item do menu. Para selecionarparte do texto (pode ser um caractere, uma palavra, uma frase, umparágrafo, um capítulo), basta apertar o botão esquerdo do mouse e irarrastando o cursor sobre a parte que se quer selecionar. O texto vaisendo marcado e assim ficará até que se dê um toque com a setinha domouse. Quando se precisa selecionar todo o texto já redigido, bastaclicar, no menu 102 Editar, o item Selecionar tudo. Todo o texto digitado será destacado, eem seguida deve-se dar o comando que se pretende. Terminada a operação,clica-se no texto marcado com a setinha do mouse e o texto voltará àsituação normal (fig. 10). Quando se está produzindo um trabalho no micro, a última operaçãorealizada pode sempre ser desfeita. Para tanto, ir ao menu Editar,selecionar Desfazer operação. Quando se quer mudar de lugar uma parte detexto, ou mesmo inserir partes de outros arquivos, já digitados, nocorpo do texto, basta selecionar a parte em questão, ir ao menu Editar,selecionar Recortar e, levando o cursor para o ponto em que se querfazer a inserção, selecionar no mesmo menu Editar o item Colar e, então,clicar. Ou fazer o mesmo trajeto clicando nos ícones correspondenteseventualmente presentes na barra de ferramentas. Se se quer transferir de um outro arquivo, de um outro texto, algumaparte que será enxertada no novo texto, então procede-se de maneiraanáloga, mas comandando agora copiar e não mais 103 recortar, lembrando-se de que recortar apaga o texto selecionado,que fica pouco tempo disponível na área de transferência.

Salvando os textos...

T- logo iniciada a digitação, o usuário deve dar início ao salva to dotexto, evitando risco de perda das partes já digitadas. Ao mesmo tempo,isto permite dar um título ao arquivo, título que deve ser discretamenteregistrado ao final do texto, para que se possa, mais tarde, identificara localização do arquivo nos diretórios e discos onde ficará gravado. Ocomando para salvar um texto encontra-se no menu Arquivo, sob adesignação Salvar como. É este o comando que deve ser usado quando setratar do primeiro salvamento do texto e toda vez que se vai gravar pelaprimeira vez num disquete. Quando se tratar de ir salvando as demaispartes do texto, à medida que forem sendo digitadas, basta servir-se docomando Salvar ou do correspondente ícone (fig. 11). 104

Observe-se que no campo superior deve ser informado o disco em que vaiser gravada a matéria, o diretório ou subdiretório. Convencionalmente, o

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disco rígido é designado por 'C", enquanto os disquetes podem ser "A" ou"B". Os diretórios são setores desses discos que permitem classificar asmatérias gravadas, de acordo com algum critério de sistematizaçãoadotado pelo usuário. Assim, se tiver aberto um diretório, no disco C,chamado "Aulas", ele gravará todos os arquivos relacionados a esseassunto nesse diretório. Toda vez que esse diretório é aberto, elemostrará a relação dos arquivos que lá se encontram. Em seguida, nopenúltimo campo, inscreve-se o nome que se quer dar ao arquivo. Noúltimo campo, escolhe-se o tipo do arquivo, clicando na setinha eescolhendo-se esse tipo da relação que lá se encontra, leinbrando-se deque os arquivos de textos devem ser do tipo "documentos do word". Issofeito, é só apertar o botão "Salvar", no alto à direita, que o textoserá salvo no diretório e no disco indicados.

Fechando e abrindo um arquivo

A qualquer momento pode-se interromper a agitação e fechar o arquivo.Deve-se então salvar o documento que está sendo digitado no estágio emque se encontra. Isso feito, basta dar o comando "Fechar", no menu ou noícone. Caso o autor tenha se esquecido de salvar o trabalho, o próprioWord abrirá uma caixa perguntando se deseja salvar as últimas alteraçõesfeitas no texto. Toda vez que for necessário voltar à digitação, pode-se retomar otexto, reabrindo o arquivo. Dá-se o comando "Abrir", no menu ou na barrapadrão, e vai-se informando o disco, o diretório e finalmente o arquivo,que com dois toques será exibido na tela

(fig, 12).

A impressão do texto

Uma vez terminada a digitação do trabalho, feitas as devidas correções eajustes que couberem, o texto está pronto para ser impresso. Aimpressora deve então ser ligada, e no menu Arquivo vai-se usar ocomando Imprimir. Se o autor quiser ter uma visão antecipada de comoficará o resultado do trabalho impresso, no mesmo menu Arquivo deveclicar o comando Visualizar impressão; 105

Figura 12

Comandos para abertura de arquivo o Word mostrará, então, de formareduzida, como se distribui o texto nas diversas páginas. Em seguida,pode dar o comando Imprimír. Será aberta então a caixa de impressão,onde estão os campos para indicação de que páginas devem ser impressas eem quantas cópias. Toda vez que se tratar de uma primeira impressão,após ter sido ligada a impressora é preciso apertar o botão

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"Propriedades" dessa caixa para que se possa cornpatibilizar aconfiguração da impressora com aquela do texto digitado (figs. 13 e 14).

2.3. As Citações

As citações são os elementos retirados dos documentos pesquisadosdurante a leitura de documentação e que se revelam úteis para corroboraras idéias desenvolvidas pelo autor no decorrer do seu raciocínio. Taiscitações são transcritas a partir das fichas

106

Figura 13 Caixa de comandos de impressão

de documentação, podendo ser transcrições literais ou então apenasalguma síntese do trecho que se quer citar. Em ambos os casos, énecessário indicar a fonte, transpondo os dados já presentes na ficha.Note-se que as citações bem escolhidas apenas enriquecem o trabalho; oque não se pode admitir em hipótese alguma é a a transcrição literal deuma passagem de outro autor sem se fazer a devida referência. Como no caso da ficha, a citação, quando literal, deve ser copiada aopé da letra e colocada entre aspas. Caso haja no texto citado algo quese julgue dever ser corrigido, algo que cause estranheza, coloca-se logoem seguida à palavra um (sic!), entre parênteses, para indicar queestava assim mesmo no texto de origem. Quando no corpo de uma passagem citada literalmente já se encontramtrechos entre aspas, estas se transformam em apóstrofos; para indicar aomissão de trechos inclusos na passagem citada, mas que não interessam àtranscrição, usain-se reticências: entre espaços duplos, no início e nofim das passagens citadas e entre 107 parênteses quando o trecho a omitir se encontrar no meio dapassagem citada: "... na casa onde morava aquele pensador, ( ...)faltavam as condições-necessárias para que realizasse a sua missão..." Quando se pretende dar ênfase a alguma passagem de uma citaçãoliteral, costuma-se grifá-la, sublinhá-la. Esta alteração deve serassinalada com a expressão o grifo é meu ou o grifo é nosso - sejacolocada entre parênteses no próprio texto, seja em nota de rodapé,referida por chamada posta logo após a passagem grifada. No caso de síntese das idéias, a transcrição é livre, devendo,contudo, traduzir fielmente o sentido do texto original. A indicação dafonte, neste caso, vem em seguida a um Cf., confira. Ex. Cf. SILVA,Pedro A. A descoberta científica, p. 15. Regra geral, os textos em língua estrangeira que aparecem no textosão traduzidos no corpo do trabalho. Em casos especiais, podem sermantidos no original, como nos estudos lingüísticas 108 especializados. Porém, é bom ter presente que uma tese, uma dissertação

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uma monografia devem ser escritas numa única língua. Assim sendo, aindaquando a versão original tenha algum particular interesse, ela podemuito bem figurar em nota de rodapé. Alguns autores recomendam que a citação que ultrapassar três linhasseja colocada em parágrafo especial, dispensando-se as aspas, já que,colocada recuada e em corpo menor, teria maior realce. Terminada acitação, coloca-se o número de chamada, indicativo da nota de referênciado rodapé. O número virá após os sinais de pontuação, acima da metade dalinha. Os números de chamada seguem a ordem crescente no interior decada capítulo, evitando-se asteriscos e a repetição de numeração em cadapágina, ou uma numeração só para todo o trabalho.

2.4. As Notas de Rodapé

As notas de rodapé têm tríplice finalidade:

1. Indicam a fonte de onde é tirada uma citação, permitem uma eventualcomprovação por parte do leitor e fornecem pistas para uma retomada doassunto, revelando, por fim, o âmbito de pesquisa do autor.

2. Inserem no trabalho considerações complementares que, por extenso,onerariam desnecessariamente o desenvolvimento do texto, mas que podem ser úteis ao leitor caso queira aprofundar oassunto.

3. Trazem a versão original de alguma citação traduzida no texto quandose fizer necessária e importante à comparação dos textos. Normalmente, as notas de rodapé são datilografadas em espaço simples,começando a 1 cm da margem inferior e logo após o correspondente númerode chamada, na mesma linha da margem esquerda. Apenas o número tem umapequena entrada de 1 cm. É desaconselhável colocar as notas no fim docapítulo ou no fim do trabalho. No caso de notas de citação bibliográfica, observar o seguinte: elas devem conter apenas a referência do autor, o título da obra e onúmero da página, elementos suficientes para a localização da passagemcitada. 109

Os demais dados da obra são encontrados na bibliografia final, sendo,portanto, ocioso repeti-los a cada instante. Quanto à elaboração da citação de rodapé, seguir as normassemelhantes às que presidem às referências bibliográficas, mas comalgumas modificações. Além da eliminação dos elementos indicativos dolivro (cidade, editora, data etc.), fazer a entrada pelo nome e não pelosobrenome do autor, separando-se com uma virgula os vários elementos. Ex.: S. Lucien COLDMANN, Ciências humanas e filosofia, p. 36. Quandose tratar de uma citação de alguma obra de referência geral ou de obra

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citada através de outro escrito, então os dados bibliográficos completospodem constar da nota de rodapé, ficando entre parênteses. Quando várias notas de rodapé se referem a uma mesma obra de um mesmoautor, variando-se apenas a página, usa-se a expressão latina abreviada:ibíd. Ex.: 4. Lucien COLDMANN, Ciências humanas efilosofia, p. 10. 5. Ibíd., p. 16. 6. Ibid., p. 89. 7. André DARTIGUES, O que é fenomenologia, p. 50. 8. Lucien COLDMANN, Ciências humanas e filosofia, p. 32. 9. Ibid., p.33. Igualmente, se a nota 6 caísse em nova página, seria necessáriofazer a citação completa. É muito praticado e recomendado por muitos autores o uso da expressãoabreviada op. cit. (= na obra citada), seguindo o nome do autor,indicando-se com isto que se está referindo à obra deste autor citadapela última vez no capítulo ou no trabalho. Apesar de consagrado, o uso dessa expressão tem vantagens limitadas,podendo criar confusão quando se trabalha com várias obras do mesmoautor e, às vezes, forçando a voltar atrás para se procurar qual foi aobra citada, sobretudo quando o texto não é familiar ao leitor. Seu uso,contudo, não é errado. A expressão IDEM substitui só o autor e é em seulugar que deve aparecer nas notas sucessivas quando estão sendo citadasobras diferentes de um mesmo autor. Ex.: S. Martin BUBER, Eu e tu, p. 150. 110 6. IDEM, O socialismo utópico, p. 300. 7. IDEM, O problema dohomem, p. 56. Quando se quer citar passagens não identificadas em determinadaspáginas, mas fazer referência genérica a várias passagens do texto nasquais um elemento é abordado, em vez de indicar a numeração dessaspáginas, usa-se a expressão latina passim, que significa "em diversaspassagens" do texto referido. 6. Martin BUBER, Eu e Tu, passim. A nota de rodapé com referência bibliográfica de passagens depublicações periódicas contém o nome do autor, o título do artigo, onome da publicação, seu número e a página. Os demais dados deidentificação são encontrados na bibliografia final, que deveráassinalar todos os artigos citados ou-consultados e não apenas ostítulos desses periódicos. A essas notas se aplicam as mesmas regrasrelativas às expressões abreviadas, pontuação, forma de citar, ordem decitação etc. Ex.: Francisco de PAULA SOUZA, O pensamento contemporâneo e adefinição clássica de verdade, Reflexão, 1 (2) - 91. Na bibliografia final constará, no devido lugar, a citação completado artigo, da seguinte forma: PAULA SOUZA, Francisco de. O pensamentocontemporâneo e a definição clássica de verdade, Reflexão, Campinas.Instituto de Filosofia e Teologia. PUC. 1 (2)- 89-100, abr. 1976. Quando há necessidade de se citar alguma passagem a partir de outrafonte, isto é, citação de segunda mão, é preciso declará-lo.

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111

Contudo, esse recurso nos trabalhos científicos só é usado em caso dereal necessidade, na falta de possibilidade de acesso à fonte primeira.A fonte segunda é precedida da expressão apud.

2.5. Referências no Corpo do Texto

São ainda adotadas outras maneiras de fazer citações no corpo do própriotrabalho, dispensando-se as notas de rodapé. Partindo do fato de que asobras na bibliografia final estejam numeradas, quando se quiser indicara situação de uma passagem basta indicar o número da obra citada e apágina; o nome do autor, não constando do corpo do texto, pode seracrescentado. Outra maneira usada que dispensa igualmente a referênciaao número sob o qual a obra aparece na bibliografia final: insere-se notexto, entre parênteses, no fim da passagem citada, o nome do autor, oano e a página, acrescentando-se a inicial ao título do documentocitado, quando o autor citado publicou vários trabalhos no mesmo ano.Essas indicações (Buber, 1914, p. 31) remetem à obra escrita por esseautor, no ano de 1914, cujos dados completos se encontram nabibliografia final. Também nestes casos, quando se tratar apenas de síntese da passagemque se quer citar, coloca-se um Cf. inicial. (Cf. Silva, 1970, p. 45) Em síntese: supondo-se que na bibliografia final de um trabalho seencontra indicada determinada obra, as citações de suas passagens nocorpo do trabalho são feitas de três maneiras: 1. BIBLIOGRAFIA: 34. SERVICE, Elman R. Os caçadores. Rio de janeiro,Zahar, 1971. Trad. Álvaro Cabral. Rev. Francisca Isabel Vieira (Col.Curso de Antropologia Moderna). 152 p. 2. CITAÇOES: 'É evidente, em primeiro lugar, que a mais estreitarelação de parentesco é aquela que também admite a mais generalizadaforma de reciprocidade." (34, 29), ou

112

'É evidente, em primeiro lugar, que a mais estreita relação deparentesco é aquela que também admite a mais generalizada forma dereciprocidade." (Service, 1971, p. 29), ou 'É evidente, em primeirolugar, que a mais estreita relação de parentesco é aquela que tambémadmite a mais generalizada forma de reciprocidade."' Sobretudo em decorrência dos processos de informatização para aedição de textos, esta forma de colocar as indicações das fontes nointerior do texto está se tornando cada vez mais comum. Pode portantoser adotada, ficando a critério do autor do texto esta escolha. Nestahipótese, as notas de rodapé serão usadas apenas para consideraçõescomplementares, para transcrição de passagens em língua estrangeira ououtros esclarecimentos.

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4. Elman R. SERVICE, Os caçadores, p. 29.

2.6. A Técnica Bibliográfica

A bibliografia levantada quando da elaboração do trabalho é transcrita,inicialmente, nas Fichas de Documentação Bibliográfica (p. 44).Concluído o trabalho, com a conseqüente seleção das fontes aproveitadas,transcreve-se esta bibliografia, colocando-a no final do texto dotrabalho. Sua finalidade é informar o leitor a respeito das fontes que serviramde referência para a realização da pesquisa que resultou no trabalhoescrito. Essa bibliografia deve conter a indicação de todos osdocumentos que foram citados ou consultados para a realização do estudo,fornecendo ao leitor não só as coordenadas do caminhar do autor, mastambém um guia para uma eventual retomada e aprofundamento do tema ourevisão do trabalho, por parte do leitor. A designação dessa parte final do trabalho deve ser simplesmenteBibliografia, preferencialmente à expressão, que muitas vezes éutilizada, de Referências Bibliográficas, uma vez que esta se reportaantes ao modo de se fazer tecnicamente o registro documental. Noentanto, quando se usar esta designação, a relação de títulos deveconter apenas os documentos que foram efetivamente 113 consultados e citados. Por outro lado, usa-se a designação Biblíografiaquando se fazem levantamentos genéricos de fontes sobre um determinadotema, independentemente de sua vinculação direta a um trabalho escritoem particular. As orientações sobre a forma técnica de elaboração de registrosbibliográficos apresentadas aqui têm o objetivo de fornecer aos alunosum mínimo de diretrizes para a confecção adequada da bibliografia quandoda redação de seus trabalhos acadêmicos e científicos. Por isso, elas seatêm aos elementos essenciais da referência bibliográfica, entendidoscomo aqueles que são imprescindíveis para a identificação do documentoreferenciado. Com relação aos parâmetros para a elaboração de uma referênciabibliográfica, há muitas divergências entre os autores. No entanto, atendência atual é tomar como referência fundamental as normasestabelecidas pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, que,através do Projeto NBR 6023, estabelece os critérios oficiais dareferenciação bibliográfica. Embora discorde da pertinência de algumasdiretrizes propostas por essa entidade, buscarei segui-Ia no sentido deinvestir na necessária padronização desses procedimentos. Para os fins propostos, uma referência bibliográfica deve conter osseguintes dados: autor, título do documento, edição, local dapublicação, editora e data. Estes são os elementos mais importantes, oselementos essenciais, inclusive de acordo com norma da ABNT. Esta

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considera elementos complementares aqueles que caracterizam melhor odocumento que integra uma bibliografia: indicação de responsabilidade(organização, tradução, revisão), descrição física do documento (númerode páginas, ilustrações, tamanho ete.), indicação de série ou decoleção, notas especiais, número de registro de ISSN ou de ISBN. Assim,o autor do trabalho deverá cuidar para que todos os dados essenciaisconstem de sua referência, ficando a seu critério acrescentar alguns outodos os dados opcionais. Eis um exemplo das duas situações: VIGOTSKI, Liev S. Teoria e métodoem psicologia. São Paulo: Martins Fontes, 1996. VIGOTSKI, Liev. S.Teoria e método em psicologia. Trad. Claudia Berliner; revisão ElziraArantes. São Paulo: Martins Fontes, 1996. (Col. Psicologia e Pedagogia). Bibliografia. ISBN 85-336-0504-8.

114

Observe-se que o sobrenome do autor e o título do documento têm umdestaque gráfico, ou seja, o sobrenome do autor que abre a referênciadeve vir em maiúsculas ou caixa alta, enquanto o título principal devevir em itálico (grifado, quando o texto é datilografado). Além disso, aslinhas seguintes à primeira devem se deslocar à direita, iniciando-sesob a terceira letra da primeira linha. Esta é a orientação da ABNT.Atualmente, com a utilização dos recursos inforrnáticos para acomposição dos textos, esse deslocamento já vem padronizado nosprogramas editores, sendo estabelecido em centímetros (1,27 cin no Word,ficando a critério do autor ajustá-lo à proposta da ABNT, reduzindo odeslocamento para 0,5 cm (cf. p. 96, fig. 5). Todos os elementos da referência bibliográfica são separados porpontos. O sobrenome de entrada do autor é separado dos demais elementosde seu nome completo por vírgula; o nome completo do autor é separado dotítulo do documento por ponto final; o subtítulo é separado do títulopor dois-pontos; o título é separado dos elementos seguintes por pontofinal; a editora é separada da cidade, de acordo com norma da ABNT, pordois-pontos;i todos os sinais de pontuação são seguidos de dois espaçosvazios; datas e páginas ligam-se por hífen; separam-se por barrastransversais os elementos de períodos cobertos por fascículoreferenciado. Quando um dos dados bibliográficos não é identificável no documento,ele pode ser substituído pelas seguintes abreviações: s.l. = sem localde publicação; s.ed. = sem editor; s.d. = sem data; s.n.t. = sem notastipográficas, quando faltam todos os elementos. Por outro lado, quando o elemento não é identificado dire- tamentemas pode ser estimado por outros indícios, ele pode ser registrado nareferência entre colchetes. Assim, [19901 quer dizer que o texto foipublicado nessa data, embora a informação não se encontre no lugaradequado; se a data for apenas provável, acrescenta-se um sinal deinterrogação: [1990?1, se a data for aproximada: [ca. 19931.

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Registradas estas orientações gerais, tratar-se-á em seguida desituações particulares referentes aos vários elementos de uma referênciabibliográfica.

1. Esta diretriz da ABNT não me parece justificável, uma vez que aseparação por vírgula é muito mais lógica, não se entendendo bem oporquê do uso dos dois-pontos. Mas é esta a orientação oficializada. 115

2.6.1. OBSERVAÇOES REFERENTES À INDICAÇÃO DO AUTOR

1. Norma geral

Normalmente a referência bibliográfica é iniciada com o sobrenome doautor, a ser transcrito em maiúsculas; os outros nomes vêm emminúsculas, adotando-se o critério, em se tratando de nomes portuguesese brasileiros, de transcrever integralmente o primeiro nome e abreviaros demais sobrenomes:

Ex.: SALVADOR, Angelo D. SANTOS, Boaventura de S.

2. Autores estrangeiros, de sobrenomes compostos Às vezes, conformeíndole das várias línguas, o sobrenome do autor contém mais de umelemento. Isto se deve à herança de sobrenomes tanto paternos comomaternos, sendo o penúltimo o sobrenome herdado do pai e que, por isso,abre a referência. É o que ocorre com muitos autores espanhóis e italianos: Ex.: ASTIVERA, Armando ACOSTA HOYOS, Luis E.

3. Autores brasileiros, de sobrenomes compostos Esta exceção se aplicatambém a alguns casos de autores brasileiros cujos sobrenomes sãocompostos seja por formarem unidade semântica, seja por estarem ligadospor hífen.

Ex.: CASTELO BRANCO, Camilo OLIVEIRA LIMA, Lauro de FREIRE-MAIA, N.FROTA-PESSOA, O. ESPIRITO SANTO, M. de

4. Autores com sobrenomes designativos de parentesco

Os elementos de designação de parentesco, tais como júnior, Filho, Netoe outros, fazem parte integrante do sobrenome, não podendo abrir areferência bibliográfica. 116

Ex.: PFROMM NETTO, Samuei

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LOURENÇO FILHO, M. B. JORDÃO NETO, Antônio

5. Autores de sobrenomes compostos, consagrados pela literatura

Em alguns casos, apesar de não haver unidade semântica ou outro motivointrínseco, certos autores tiveram seus sobrenomes compostos pelo uso naliteratura específica de seus escritos. E é como tais que devem aparecerna entrada das referências bibliográficas. Ex.: MACHADO DE ASSIS, José M. MONTEIRO LOBATO, José B.

6. Autores com sobrenome especial privilegiado pelo uso

Igualmente há casos em que um dos elementos do sobrenome, que nem sempreé o último, acaba ficando mais conhecido e consagrado pelo uso; nessescasos, inicia-se a entrada por este elemento, podendo-se inclusiveomitir o último sobrenome. Ex.: PORCHAT PEREIRA, Oswaido e não PEREIRA,Oswaldo Porchat ou ainda PORCHAT, Oswaido.

7. Autores com sobrenomes portadores de partículas

Nos sobrenomes em que entram partículas, portuguesas ou estrangeiras -de, do, das, del, de Ias, von, van, della ete. -, essas partículas sãocolocadas depois do nome, fazendo-se a entrada pelo sobrenome simples.Ex.: STEENBERCHEN, Fernand van Quando a partícula faz parte dosobrenome, vem geralmente em maiúsculas. Ex.: VON ZUBEN, Newton A.

117 MAC DOWELL, João A.

8. Caso de váríos Autores

Quando a obra é escrita até por três autores, são assinalados os três,na ordem em que aparecem na publicação, sendo ligados por vírgula. Ex.: SILVEIRA, Paulo, ALMEIDA, Ernesto de, SOUSA, José de. b) Quando o texto é de autoria de mais de três autores, inicia-se areferência pelo primeiro autor, acrescentando-se //e outros' ou "etalii". Ex.: NACEL, E. e outros NACEL, E. et alii ou et al. c) no caso de obras coletivas, com vários autores, mas organizadas oucoordenadas por um deles, faz-se a entrada pelo nome deste,acrescentando-se, entre parênteses, essa indicação. Ex.: FRIGOTTO,Caudêncio (org.). Educação e trabalho.

9. Tradução de nomes de autores estrangeiros

Note-se que, em todos os casos, os nomes e sobrenomes dos autores sãomantidos em suas línguas e grafias originais, não se permitindo a

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tradução; só há exceções para autores clássicos cujos nomes já foramaportuguesados pela tradição literária ou científica. Trata-se deescrever sempre nas referências bibliográficas: MARX, Karl e nunca:MARX, Carlos. SARTRE, Jean-Paul e nunca: SARTRE, João Paulo. Usa-se, porém, MAQUIAVEL, Nicolau.

10. Casos de obras sem autor declarado

Às vezes, os escritos não contêm indicação de autor. Neste caso,indica-se o editor ou, na falta também deste, considera-se o escrito deautor anônimo. Neste caso, entra-se pelo título, como ocorre também emse tratando de obras clássicas, de cunho coletivo. Nessas entradas pelotítulo, a primeira palavra vem grafada em maiúsculas. 118 Ex.: MORGAN, Walter (ed.). O trabalho humano... A BÍBLIAsagrada... Se o autor é identificado por via indireta, colocar seu nomeentre colchetes. Ex.: [DIAS, Gonçalves] Poemas obscuros...

11. Obras publicadas por entidades coletivas

a) Obras publicadas por entidades coletivas, tais como associações,institutos e semelhantes, têm o nome delas no lugar do nome do autor.Ex.: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Normalização dadocumentação no Brasil. b) Quando as entidades estiverem ligadas a órgãos públicos, devemconstar, nesta ordem, os seguintes elementos: país, órgãos, repartição. Ex.: BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, Plano... SÃO PAULO.Departamento de Educação. Chefia do Ensino Básico, Normas... MARANHÃO.Superintendência do Desenvolvimento do Maranhão. Departamento deEstatística. Programa Integrado de Pesquisa, Pesquisasocioeducacional...

2.6.2. OBSERVAÇÕES QUANTO AO TFTULO DOS ESCRrrOS

1. Normas gerais

a) O título de livros é transcrito integralmente, em grifo,sublinhando-o quando datilografado.

b) Nos títulos e subtítulos todas as palavras, com exceção da palavrainicial, são escritas em minúsculas, exceto quando nomes próprios.

c) Os subtítulos são igualmente transcritos quando contiverem informaçãoessencial para o entendimento do conteúdo do livro. Separam-se dostítulos por dois-pontos, não tendo destaque gráfico.

Ex.: SALOMON, Deleio Vieira. Como fazer uma monogra fia; elementos demetodologia do trabalho científico.

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119 2. Os títulos de obras sem autores identificados iniciam aprópria referência; a primeira palavra vem em letra maiúscula. Estanorma se aplica igualmente a documentos, tais como leis, portarias ete.Terminada a identificação do documento, indica-se sua eventual fonte.Exs.: PROCESSO de evolução política... DECRETO n? 70.067, de 26 dejaneiro de 1972. Adm. & Legisl. 1 (6): 35. fev. 1972. RELATÓRIO de grupode trabalho para a reforma do ensino de 1' e 2' graus. LEI ri' 5.766, de20 de dezembro de 1971.

3. Títulos de periódicos

a) Quando se indica uma publicação periódica seriada, procede-se daseguinte maneira: REFLEXÃO. Campinas. Instituto de Filosofia e Teologia. PUC. 1975.

b) Se a publicação estiver encerrada, fecham-se as datas: 1967-1976.

c) Quando se indica volume determinado de uma publicação seriada, semque esse volume tenha título específico, procede-se da seguinte maneira:PRESENÇA FILOSÓFICA. Rio de janeiro, v. 2, n' 3, jan. 1976.

d) Quando o volume tem título, este é acrescentado: VOZES. Concretismo.Petrópolis, v. 71, n' 1, jan.lfev. 1977.

4. Títulos de artigos de revistas

a) No caso de artigos assinados., a sequencia e a seguinte: autor,título do artigo em redondo, título da revista em itálico, local dapublicação, volume ou tomo em itálico, fascículo em redondo, páginasinclusivas, data, com a seguinte pontuação: FERRAZ JR., Tércio Sampaio.Curva de demanda, tautologia e lógica da ciência. Ciências Econômicas eSociais, Osasco, 6 (1): 97-105, jan. 1971.

b) No caso de separata: faz-se a citação do artigo destacado, comcidade, editora e data. Após um ponto, acrescentar 120 Separata da revista Vozes... seguida dos dados acima indicados.

5. Títulos de artigos de jornal

Citar autor, título do artigo, título do jornal, cidade, data completa,número ou título do caderno, seção ou suplemento, indicação da página eeventualmente da coluna-

a) Tratando-se de artigo assinado: PINTO, J. N. Programa explora temararo na TV. O Estado de S.Paulo, 8.2.1975, P. 7, e. 2.

b) Tratando-se de artigo não assinado: ECONOMISTA recomenda investimento

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no ensino. O Estado de S.Paulo, 24.5.1977, P. 21, 4-5 col.

c) Artigo em suplemento, caderno especial, após a data acrescentar otítulo do suplemento, número pagina e coluna. Ex.: Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 20.6.1968. CadernoInternacional P. 3, 6

d) Tratando-se de suplementos muito especiais, como é o caso doSuplemento Cultural de O Estado de S.Paulo, tal suplemento é assimiladoa um periódico e passa a ser citado como tal. Ex.: SIMOES, Gilda Naécia.A educação da vontade. Suplemento Cultural de O Estado de S.Paulo, 1(3): 35, 31 out. 1976.

6. Títulos de escritos inseridos em publicações mais amplas

Neste caso, os dois textos devem ser indicados com os respectivos dadosbibliográficos de forma que fiquem perfeitamente identificáveis:

a) Caso de referência de parte de um texto do mesmo autor: COLDMANN,Lucien. Expressão e Forma. ln: Ciências humanas efilosofia. 2. ed. SãoPaulo, Difel, 1970. p. 104-10.

b) Caso de referência de contribuição de um autor em obra de outroautor. Neste caso, procede-se da seguinte maneira: KUHN, Thomas S. Afunção do dogma na investigação científica. in: DEUS, Jorge Dias de(org.). A crítica da ciência: sociologia e ideologia da ciência. Rio dejaneiro, Zahar, 1978 (Col. Textos Básicos de Ciências Sociais), p.53-80. 121

c) Tratando-se de referência de contribuição assinada em enciclopédias,dicionários etc., indicar o autor.

d) Tratando-se de contribuição não assinada em enciclopédias,dicionários etc.: Indução: ln: ABBAGNANO. N. Dicionário de filosofia.São Paulo, Mestre jou, 1970. p. 529-33.

2.6.3. OBSERVAÇOES QUANTO À EDIÇÃO DO DOCUMENTO

1. Só é indicada a partir da 2 edição, sempre imediatamente após otítulo do documento da seguinte forma: 2. ed. 3. ed. rev. CERVO, AmadoL. & BERVIAN, Pedro A. Metodologia científica. 2. ed. rev. ampl. SãoPaulo, Mc(;raw-Hill do Brasil, 1977.146 p.

2. Reimpressões de uma mesma edição não precisam ser indicadas emtrabalhos acadêmicos, uma vez que nesses casos riao ocorrem alteraçõessubstanciais no texto como tal.

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2.6.4. OBSERVAÇOES QUANTO AO LOCAL DE PUBLICAÇÃO

1. Dado importante para a identificação do texto, o nome da cidade emque o documento é editado é indicado como aparece no texto. São Paulo,Stuttgart, New York. Em referências bibliográficas de trabalhoscientíficos não se aportuguesarn os nomes de cidades estrangeiras mesmoque existam correspondentes em português, nomes aportuguesados que podemser usados no corpo do texto ou em referências de divulgação.

2. Ocorrendo nomes homônimos de cidades, acrescenta-se abreviado o nomedos respectivos países, na mesma língua: San juan, Chile. San Juan,Puerto Rico.

3. Ocorrendo duas ou mais cidades, cita-se apenas o nome da primeira;contudo, citam-se todas quando em cada cidade situar-se uma editoradiferente. Porto Alegre-São Paulo, Globo-Edusp.

4. Não constando explicitamente o local da publicação, usa-se aexpressão s.l. (sem local) para assinalar tal fato; sendo possível 122 identificar de alguma maneira o local, deve constar dareferência, entre colchetes.

2.6.5. OBSERVAÇÕES QUANTO À EDITORA

1. O nome da editora consta da referência tal como se apresenta nodocumento, eliminando-se os elementos desnecessários à suaidentificação. Em alguns casos mantém-se a abreviação Ed.: Anhembi. Ed.da Universidade de São Paulo. Civilização Brasileira. Cortez Editora.

2. Havendo mais de uma editora, pode-se indicar apenas a primeira;contudo, é preferível indicar ambas. Isto ocorre também quando a obra épublicada em co-edição ou com participação de outras instituições:LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco.Petrópolis, vozes-EDUSP, 1976. 542 p. MORAIS, João Francisco Regis de.Ciência e tecnologia: uma introdução metodológica e crítica. SãoPaulo-Campinas, Cortez & Moraes, Instituto de Filosofia e Teologia.PUCC. 1977.

3. Mesmo não constando explicitamente da obra, a editora, seidentificada por alguma via indireta, pode ser citada entre colchetes;não sendo identificada"coloca-se o nome do impressor; faltando tambémeste, colocar: s.e.

2.6.6. OBSERVAÇOES QUANTO À DATA

1. No caso de publicações em que se indica apenas o ano, usar algarismos

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arábicos seguidos: 1977 e não 1977, 1.977 ou MCMLXXVII.

2. Não sendo identificada a data, indica-se: s.d. Se a identificação forindireta, colocar a data entre colchetes: [19201. 3. Nas citações depublicações periódicas, os meses são resumidos pelas três primeirasletras, excetuando-se "maio", que mantém as quatro letras; quando seunem vários meses para se indicar um período, ligá-los por uma barra,conforme exemplo: jan./mar. 123

2.6.7. OBSERVAÇÕES QUANTO A INDICAÇÃO DO NÚMERO DE PÁGINAS

1. O número total de páginas é a última informação de uma referênciabibliográfica, número que vem acompanhado da abreviatura p. Ex. 350 p.

2. O número de páginas de um texto é indicado da seguinte maneira: p.25-30.

3. No segundo número usa-se suprimir os algarismos comuns: p. 230-53.

2.6.8. OBSERVAÇÕES GERAIS. SOBRE ALGUNS CASOS ESPECIAIS

1. Enciclopédias, publicações de congressos etc.

Quando se quer citar a obra como um todo, a entrada da referência é pelopróprio título, eliminando-se eventuais artigos ou partículas:ENCICLOPÉDIA DELTA-LAROUSSE ANAIS DO III CONGRESSO NACIONAL DEFILOSOFIA.

2. Teses não publicadas

Segue-se a mesma caracterização do livro, indicando-se, porém, suanatureza, instituição, entre parênteses, ao final: BUFFA, Ester. Críticahistórica das ideologias subiacentes ao conflito escolaparticular-escola pública (1956-1961), 1975. 154 p. (Tese de mestrado. UniversidadeMetodista de Piracicaba)

3. Escritos mimeografados

São citados em trabalhos científicos desde que suficientementeidentificados, pressupondo-se seu valor intrínseco: ROXO, Roberto M.História dafilosofia: pré-socráticos e Sócrates. São Paulo, FaculdadesAssociadas do lpiranga, s.d. 53 p, (Mimeografado) 124

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4. Citação de volume de uma coleção

Quando se quer citar um volume com título específico de uma coleção devários volumes, proceder da seguinte maneira: BOUVERESSE, J. e outros. Oséculo XX. ln: CHATELET, François, História da filosofia: idéias e dou.Rio de Janeiro, Zahar, 1974. v. 8, 324 p. Se o volume a ser citado não tiver título próprio, sendo ou não domesmo autor, proceder do seguinte modo: ABBAGNANO, Nicola. História dafilosofia. Lisboa, Editorial Presença, 1970. v. S. 320 p. 5. Citação detrabalhos publicados em Anais ou Atas de Congressos etc.

Proceder assim- MORAIS, João Francisco Regis de. Cultura, contracultura e educação.ln: 11 SEMANA INTERNACIONAL DE FILOSOFIA. Petrópolis. 1974. Atas.Filosofia e realidade brasileira. v. 2. Rio de janeiro, SociedadeBrasileira de Filósofos Católicos, 1976. p. 122-130.

2.6.9. REFERENCIAÇÃO BIBLIOGRÁFICA DE DOCUMENTOS REGISTRADOS EM FONTESELETRÔNICAS

Os meios tecnoeletrônicos e informáticos só podem ser usados e citadoscomo fontes de documentação científica quando produzidos de formapública. Assim, um disquete particular; um vídeo, quando produzidosprivadamente, não podem ser citados como fontes, pois sem as referênciaspúblicas os outros pesquisadores não teriam como localizá-los eacessá-los. Toda fonte de referenciação científica precisa ser acessívelaos demais pesquisadores. Os dados constantes da referência devem ser aptos a fornecer alocalização completa da fonte. Por isso, mensagens constantes dee-mails, analogamente ao que acontece com as cartas pessoais, não devemser referenciadas diretamente pelos pesquisadores: o texto tem de serimpresso e anexado ao trabalho, quando for o caso. Embora não existam ainda, no país, normas oficiais que regulamentemtecnicamente essa referenciação, pode-se proceder, sem prejuízo daprecisão e da qualidade informativa, da seguinte forma, nos diversoscasos. 125

1. Documentos e dados da Rede Internet Indicar o site, os links e asespecificações do trabalho. A entrada deve ser pelo nome do autor damatéria, quando existe. A data deve constar do documento ou entãodeve-se indicar a data em que ele foi acessado. Para se evitar fusão dadata ao endereço, aconselha-se colocá-la logo após o nome do autor ou daprópria matéria, deixando o endereço da localização na rede para o fim.Exemplos: CARLOS, Cássio S. (1997) As idéias do Norte.http.-Ilwww.uol.com.brlfsplmaisl fs121004.htm MOURA, Cevilacio A. C. de.(1996) Citações e referências a documentos eletrônicos.

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httpllwww.elogíca.com.brluserslgmouralreferelhtml. Observações: I. As referências, quando feitas ao longo do texto, devem serregistradas de modo análogo ao que se aplica quanto de fontes impressas:(Moura, 1996. p. 5). Isto remete o leitor para a Bibliografia final,onde o texto de Moura deve aparecer junto aos títulos das outras fontes.

2. Para referenciar uma Home Page, como tal, sem estar-se citando umamatéria em particular, deve-se dar a entrada seja pelo nome da entidadea que se liga a página, seja pelo assunto geral da página. Exemplos:C;T-CURRICULO/ANPED. httpllwww.ufrgs.brlfacedlgtcurric. ANSWER SUPPORTSOLUTIONS.AWR. httpllwww.awr.com.br EDUCAÇÃO.http.-Ilwww.cortezeditora.com.br Em ambos os casos, o pesquisador poderá localizar a referida homePage.

3. Documentos podem ser referenciados quando disponíveis nas Listas deDiscussão, pois embora tendo a forma de correio eletrônico, estas listassão coletivas e públicas e podem ser divulgadas. Exemplo: OLIVEIRA,Avelino da R. Filosed funcionando. 7110/1997. filosed@uf- pel. tche. br

4. Em referências desta natureza, onde as fontes se assemelham mais ajornais do que a livros ou periódicos, é melhor registrar a datacompleta, indicando dia, mês e ano. 126

2. Material gravado em CD-ROM

2.1. Quando se trata do conjunto do material gravado no CD: CDTimbalada. Carlinhos Brown e Wesley Rangel. ri' 518068-2Philips/Polygram. s/i, sld. CD-ROM Anped. São Paulo, Anped/lnep/AçãoEducativa, 1996.

2.2. Quando se trata de citar apenas uma parte, uma música, por exemplo:Maria Bonita. Caetano Veloso. CD Fina Estampa. Faixa 3, n' 522745-2Polygram. s/d.

3. Material gravado em disquete

3.1. Quando se trata de uma unidade completa: DQ Anped / 20' ReuniãoAnual. CT-17 Filosofia da Educação. Caxambu-MG, 1997.

3.2. Quando se trata de parte de gravação:

CALLO, Silvio. Subjetividade, ideologia e educação. DQ Anped 1 20'Reunião Anual. GT 17. Filosofia da Educação. 1997. Diretorio: CT-17 1Trabalhos Callo.doc.

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4. Material gravado em vídeo

Exemplos: O enigma de Kaspar Hauser. Dir. Werner Herzog. CinematográficaFj. São Paulo, 1990. FJ-101. Conimbriga: ao encontro da história. Conimbriga, Portugal. Duvideo,junho 1993. n' 353293E. O Piano. Dir. Jane Carnpion. França/Austrália. Videoteca Folha, ri'3. São Paulo, 1992.

5. Material gravado em fita cassete

5.1. Quando se deve indicar a fita no seu conjunto: Maria Bethânia eCaetano Veloso ao vivo. N' 7128265. Philips. s/d. 127 5.2. Quando se trata de citar apenas uma faixa: Caetano Veloso.Careará. ln: Maria Bethânía e Caetano Veloso ao vivo. N' 7128265.Philips. s/d.

3. FORMAS DE TRABALHOS CIENTÍFICOS

As diretrizes metodológicas apresentadas neste capítulo, em- borabastante práticas, são gerais e podem presidir a qualquer trabalho denatureza científica. Como tais, são universais e devem ser seguidas portodos os escritos que se destinam à comunicação das descobertas deinformações científicas. Todavia, apesar do caráter universal deestruturação lógica e de organização inetodológica, os trabalhoscientíficos diferenciam-se em função principalmente de seus objetivos eda natureza do próprio objeto abordado, assim como em função deexigências específicas de cada área do saber humano. Após a exposição destas normas para qualquer trabalho científico, éconveniente fazer rápida referência aos principais tipos de trabalhoscientíficos comumente solicitados nos vários momentos da vida doestudioso e aos quais as várias normas, sobretudo as de naturezatécnica, devem adaptar-se adequadamente.

3.1. Trabalho Científico e Monografia

O termo monografia designa um tipo especial de trabalho científico.Considera-se monografia aquele trabalho que reduz sua abordagem a umúnico assunto, a um único problema, com um tratamento especificado. Por isso, o uso deste termo para designar uma série de trabalhosescolares, ainda que resultantes de investigação científica, testemunhaa incorreta generalização do conceito. Os trabalhos científicos serão monográficos na medida em quesatisfizerem à exigência da especificação", ou seja, na razao

9. Deleio V. SALOMON, Como fazer uma monografia, p. 219. 10. Ibid., p.

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219. 128 direta de um - tratamento estruturado de um único tema,devidamente especificado e delimitado. O trabalho monográficocaracteriza-se mais pela unicidade e delimitação do tema e pelaprofundidade do tratamento do que por sua eventual extensão,generalidade ou valor didático." A tese de doutorado e a dissertação de mestrado, no contexto da vidaacadêmica, e os trabalhos resultantes de pesquisas rigorosas sãoexemplos de monografias científicas. Contudo, como são trabalhosdesenvolvidos quase sempre no âmbito de cursos de pós-graduação, serão abordados no capítulo seguinte. No momento, são abordadas aquelas formas de trabalho exigidas dosalunos durante os cursos de graduação e mesmo de pós-graduação, mas comopartes das atividades do processo didático, integrantes do processo deescolaridade. É a estes trabalhos que devem ser aplicadas as diretrizesmetodológicas, técnicas e lógicas de que se tratou até agora. Tais sãoos assim chamados "trabalhos de pesquisa", 'trabalhos deaproveitamento", os relatórios de estudo, os roteiros de seminários, osresumos de capítulos ou de livros e as resenhas ou recensõesbibliográficas. Esses trabalhos são exigíveis e exigidos durante oscursos de graduação, como parte do próprio processo didático, aocontrário das dissertações, teses e ensaios que, embora possam sertrabalhos acadêmicos, são resultados de uma pesquisa ampla, profunda,rigorosa, autõnoma e pessoal.

3.2. Os Trabalhos Didáticos

Exigidos sobretudo nos cursos de graduação como tarefas da própriaescolaridade, são relatórios científicos dos estudos realizados pelosalunos. Ainda fazem parte intrínseca da formação técnica ou científicado estudante, já que levam os alunos a buscar, nas devidas fontes,elementos complementares àqueles adquiridos no próprio curso. Essestrabalhos didáticos não podem ser deixados à pura espontaneidadecriativa do aluno. Nesta fase, a exploração do património cultural e darealidade contextual é uma exigência imprescindível do processodidático-pedagógico do ensino superior. Como já se insistiu bastante neste capítulo, é através desse tipo ----------- 11. Ângelo D. SALVADC)R, Métodos e técnicas de pesquisabibliográfica, p. 167-8. 129 de trabalho que o estudante, além de ampliar seus conhecimentos, seiniciará no método da pesquisa e da reflexão. Um dos intuitos destelivro e, principalmente, deste capítulo é fornecer diretrizes para o"trabalho de aproveitamento", "trabalho de pesquisa", minimonografias',tão solicitados nas escolas superiores, mas que, por falta de orientaçãoadequada, não passam de colagens malfeitas de textos alheios. Dependendo do nível em que se encontra o estudante, dos objetivos do

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curso e do próprio trabalho, ele poderá ser mais ou menos monográfico.Não se exige originalidade nestes trabalhos: são geralmenterecapitulativos, com síntese de posições encontradas em outros textos ouem outras pesquisas. O que qualifica este tipo de trabalho é o usocorreto do material preexistente, a maneira adequada de tratá-lo paraque traga alguma contribuição inteligente à aprendizagem. Nestacategoria são incluídos os chamados 'comunicados científicos","trabalhos baseados em pesquisas de campo ou experimentais. Com a mesmafinalidade didática, terão variados níveis de profundidade e o mesmorigor na expressão. Igualmente, as "memórias" de fim de curso sãotrabalhos científicos de maior nível de aprofundamento e de pesquisa queretomam a temática estudada durante um curso de formação específica.

3.3. O Resumo de Textos

Outro tipo de trabalho didático comumente exigido em escolas superioresé o resumo ou síntese de textos, seja de toda uma obra ou de um únicocapítulo. É o que se faz, muitas vezes, quando do fichamento de livro. Não se trata propriamente de um trabalho de elaboração, mas de umtrabalho de extração de idéias, de um exercício de leitura que nem porisso deixa de ter enorme utilidade didática e significativo interessecientífico. O resumo do texto é, na realidade, uma síntese das idéias e não daspalavras do texto. Não se trata de uma "miniaturização' do texto.Resumindo um texto com as próprias palavras, o estudante mantém-se fieiàs idéias do autor sintetizado. ---------- 12. Ângelo D. SALVADOR, Métodos e técnicas de pesquisabibliográfica, p. 161. 130

Não se deve confundir este resumo/síntese, muitas vezes exigido comotrabalho didático, com o resumo técnico-científico de que se tratarámais adiante (p. 172, item 5.l.). Com aquele formato, o resumo ésolicitado em situações acadêmicas e científicas especiais.

3.4. A Resenha Bibliográfica

Resenha, recensão de livros ou análise bibliográfica é uma síntese ou umcomentário dos livros publicados feito em revistas especializadas dasvárias áreas da ciência, das artes e da filosofia. As resenhas têm papel importante na vida científica de qualquerestudante e dos especialistas, pois é através delas que se tomaconhecimento prévio do conteúdo e do valor de um livro que acaba de serpublicado, fundando-se nesta informação a decisão de se ler o livro ounão, seja para o estudo seja para um trabalho em particular. As resenhaspermitem, como já se VIU13 operar uma triagem na bibliografia a serselecionada quando da leitura de documentação para a elaboração de um

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trabalho científico. Igualmente, são fundamentais para a atualização bibliográfica doestudioso e deveriam, numa vida científica organizada, passar para oarquivo de documentação bibliográfica ou geral da área de especializaçãodo estudante. Uma resenha pode ser puramente informativa, quando apenas expõe oconteúdo do texto; é crítica quando se manifesta sobre o valor e oalcance do texto analisado; é crítico-ínformativa quando expõe oconteúdo e tece comentários sobre o texto analisado. A resenha estrutura-se em várias partes lógico-redacionais. Abre-secom um cabeçalho, no qual são transcritos os dados bibhográficoscompletos da publicação resenhada; uma pequena informação sobre o autordo texto, dispensável se o autor for muito conhecido; uma exposiçãosintética do conteúdo do texto, que deve ser objetiva e conter os pontosprincipais e mais significativos da obra analisada, acompanhando oscapítulos ou parte por parte. Deve passar ao leitor uma visao precisa doconteúdo do texto, -------- 13. Cf. p. 79. 14. Cf. p. 38-40. 131 de acordo com a análise temática, destacando o assunto, os objetivos, aidéia central, os principais passos do raciocínio do autor." Finalmentedeve conter um comentário crítico. Trata-se da avaliação que oresenhista faz do texto que leu e sintetizou. Essa avaliação críticapode assinalar tanto os aspectos positivos quanto os aspectos negativosdo mesmo. Assim, pode-se destacar a contribuição que o texto traz paradeterminados setores da cultura, sua qualidade científica, literária ou,filosófica, sua originalidade etc.; negativamente, pode-se explicitar asfalhas, incoerências e limitações do texto. Esse comentário é normalmente feito como último momento da resenha,após a exposição do conteúdo. Mas pode ser distribuído difusamente,junto com os momentos anteriores: expõe-se e comenta-se simultaneamenteas idéias do autor. As críticas devem ser dirigidas às idéias e posições do autor, nuncaa sua pessoa ou às suas condições pessoais de existência. Quem écriticado é o pensador/autor e suas idéias, e não a pessoa humana que aselabora. É sempre bom contextuar a obra a ser analisada, no âmbito dopensamento do autor, relacionando-a com seus outros trabalhos e com ascondições gerais da cultura da área, na época de sua produção. Na medida em que o resenhista expõe e aprecia as idéias do autor, eleestabelece um diálogo com os mesmos. Nesse sentido, o resenhista podeaté mesmo expor suas próprias idéias, defendendo seus pontos de vista,coincidentes ou não com aqueles do autor resenhado. ---------- 15. Cf. p. 53-55.

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Capítulo Vi

A INTERNET COMO FONTE DE PESQUISA

A Internet, rede mundial de computadores, tornou-se uma indispensávelfonte de pesquisa para os diversos campos de conhecimento. Isso porquerepresenta hoje um extraordinário acervo de dados que está colocado àdisposição de todos os interessados, e que pode ser acessado com extremafacilidade por todos eles, graças à sofisticação dos atuais recursosinformacionais e comunicacionais acessíveis no mundo inteiro. As diretrizes para sua utilização como tecnologia de acesso avaliosos bancos de dados científicos, aqui apresentadas, são apenasindicações operacionais para um usuário comum, não entrando nas questõestécnicas, nem mesmo naquelas mais simples que certamente todo usuário dainformática já tem condições de manusear. Pretende-se apenas trazeralgumas indicações gerais que servirão de subsídios para as abordagensiniciais desse poderoso equipamento. Seu próprio uso levará opesquisador a dominar cada vez mais seus significativos recursostécnicos. A Internet é um conjunto de redes de computadores interligados nomundo inteiro, permitindo o acesso dos interessados a milhares deinformações que estão armazenadas em seus Web Sítes. Permite a essesinteressados navegar por essa malha de computadores, podendo consultar ecolher elementos informativos, de toda ordem, aí disponíveis. Permiteainda aos pesquisadores

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de todo o planeta trocar mensagens e informações, com rapidezestonteante, eliminando assim barreiras de tempo e de espaço. É como umconjunto desse tipo que a Internet desenvolveu a WWW (World Wide Web,rede mundial de computadores), que pode ser acessada através doprotocolo HTTP (protocolo de transporte de hipertexto), que é umatécnica utilizada pelos servidores da rede mundial de computadores parapassarem informações para os Programas rastreadores (browsers web). Assim, entidades e pessoas interligam-se a essa rede mediante WebSites, que se encontram alocados em "provedores", que são grandescentros que articulam as redes de computadores, aos quais se articulam,por sua vez, os "servidores", bem como os computadores pessoais dosusuários. Para que o usuário possa navegar na Internet, seu micro precisa estarconectado a ela, e para isso ele necessita de um fax-modem, ou seja,deve conter uma placa com um programa software que o ligatelefonicamente com seu provedor. O usuário deve contratar os serviçosde um provedor, tornando-se um assinante, e ter instalado em seu microum programa de navegação (browsers). Entre nós, os mais usados são oInternet Explorer, da Microsoft, e o Netscape Navigator, da Netscape.

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Estes são programas cujo acesso pode ser desencadeado pelos seus íconesde atalho eventualmente exibidos na área de trabalho do Windows ou entãopela seqüência normal de comandos através do menu Iniciar (fig. 1). Antes de conectar-se ao provedor, o usuário deve criar/instalar umaconexão "dial up' dentro da pasta "Acesso à rede dial UP do Windows.Dessa forma, quando abrir um dos programas de navegação, será aberta umajanela de conexão. Assim que clicar no botão 'Conectar", o ffiicro vaiprocessar a discagem e realizar a conexão, que se dá abrindo a páginainicial do provedor. No exemplo a seguir, o provedor é.o UniversoOnline, o UOL. No caso do Netscape, vai abrir-se inicialmente a Caixa doCerenciador de Perfil, onde consta a identificação da inscrição dousuário, uma vez que o mesmo micro pode atender vários usuários.Selecione o seu nome e clique o botão "Start communicator". Entraráentão a tela inicial padrão do Navegador Netseape e a Caixa de Conexão.Clicando no botão "Conectar", tem ifficio a discagem para o número dotelefone do provedor.

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Se a operação se realizar a contento, abre-se a página inicial doprovedor, como campo da URL (Localizador Universal de Recurso)indir-ando-o. A efetivação e a manutenção da conexão ficam assinaladaspor um pequeno ícone, de uma dupla de computadores, que fica pulsando nocanto direito da barra inferior da tela (fig. 3). Uma vez na tela inicial do Navegador, é só digitar o endereçoprocurado e pressionar Enter. Ao fim de alguns segundos, abrir-se-á apágina inicial do site procurado, que terá vários 'links/atalhos',indicando outros arquivos que podem ser acessados mediante simplescomando com a seta do mouse, botão esquerdo.

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Todo endereço inicia-se com os prefixos http://, seguido de umaespecificação particular que indica sua localização numa rede, numservidor, num domínio e numa determinada'Home Page, que é o documentocentral do Web Site. Uma vez acessado um Web Site, seu endereço ficaarquivado numa agenda oculta sob o campo da URL. Para nova pesquisa nomesmo Web Site, basta clicar na setinha que fica no final direito docampo e selecioná-lo, deslocando-o para o campo. Uma vez acessado o site, basta circular por suas páginas, seguindo asorientações fornecidas pelos ícones ou denominaçoes textuais,interagindo com as informações que vão sendo dadas. Pode-se passar de umsite para outro através de links, palavras ou ícones quê, uma vezacionados, levam o browser a uma nova página ou endereço. A navegaçãopermite um roteiro em cascata, um site indicando muitos outros,complementares em relação ao domínio pesquisado. Para ir de uma página aoutra, basta usar

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os comandos icônicos constantes da barra superior da tela: avançar,voltar, voltar à página inicial etc.

1. A PESQUISA CIENTÍFICA NA INTERNET

O que se pode pesquisar na Internet? Como se trata de uma enorme rede,com um excessivo volume de informações, sobre todos os domínios eassuntos, é preciso saber garimpar, sobretudo dirigindo-se a endereçoscertos. Mas quando ainda não se dispõe desse endereço, pode-se iniciar otrabalho tentando exatamente localizar os endereços dos sitesrelacionados ao assunto de interesse. Isso pode ser feito através dosWeb Sites de Busca, assim designados programas que ficam vinculados àprópria rede e que se encarregam de localizar os sites a partir daindicação de palavras-chave, assuntos, nomes de pessoas, de entidadesetc. Entre os mais correntes e poderosos, citam-se o Yahoo(www.yahoo.com), o Alta Vista (www.altavista.com), o Infosek, o Lycos, oWeber Crawler, o Excite, o Miner e o Cadê?. De particular interesse para a área acadêmica são os endereços daspróprias bibliotecas das grandes universidades, que colocam àdisposição, assim, informações de fontes bibliográficas a partir de seusacervos documentais. Cabe assinalar que esses catálogos são encontradostambém em CDs que podem ser consultados diretamente pelo usuário sejanos equipamentos de outras bibliotecas, seja em seu equipamentoparticular, uma vez que tais CDs são comercializados como se fossemlivros. Desse modo, está ocorrendo uma complementaridade entre osacervos informatizados e os acervos tradicionais das bibliotecas. Assim, a USP tem seu site no seguinte endereço: http://www.usp.br/sibilsibílhtml (Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de SãoPaulo), que permite consulta aos acervos de todas as suas bibliotecas. Também são acessíveis, via Internet, os catálogos das editoras. Porexemplo, o endereço http://www.booknet.com.br/ fornece informaçõessobre os lançamentos editoriais, permitindo identificação de fontesbibliográficas.

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Igualmente, jornais e revistas, instituições de pesquisas e entidadesculturais possuem seus endereços e podem ser acessados para os mesmosfins. Para copiar os resultados da pesquisa julgados relevantes e queprecisam ser guardados para ulterior exploração, basta clicar no comandocorrespondente. O programa de navegação vai perguntar se quer salvar ouabrir o arquivo. Basta escolher a opção "Salvar em disco", e indique apasta onde ele deve ser arquivado.

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Procede-se da mesma maneira quando se trata de copiar arquivos quechegam 'atachados", via e-mail. Gravados em disquete, esses arquivospoderão ser abertos e impressos, posteriormente, com mais calma. O registro bibliográfico das fontes localizadas na rede Internet éfeito de acordo com normas específicas de referenciação, conformeindicação na página 125-26.

2. O CORREIO ELETRÔNICO

já,muito conhecido e utilizado, o Correio Eletrônico é um sistema decomunicação via Internet, por meio do qual podemos trocar mensagensescritas com interlocutores espalhados pelo mundo inteiro. O nossoendereço pessoal funciona como uma especie de caixa postal, que vairecebendo e guardando as mensagens que recebemos e que ficam arquivadasa nossa disposição para consulta oportuna. O correio eletrônico é geralmente formado por um nome indicando ousuário, seguido do símbolo @ (arroba), da indicação do provedor deacesso à Internet, de uma designação o onurao(???) sob o qual ela seinsere na rede. Assim, em [email protected]: limaria" é a identificaçãodo usuário; "@' é o símbolo que indica tratar-se de um endereçoeletrônico; 'uol" é a identificação do provedor de acesso (no caso,Universo Online); "com" indica tratar-se do domínio "comercial' e "br" éa indicação do país, no caso Brasil. Todos os países são designados porapenas duas letras. Quando se entra na Internet, pela via do Netscape, abre-se a páginacentral desse navegador, como se vê a seguir.

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Trabalhando com o browser da Netscape, uma vez acessada a Internet, ousuário deve clicar no ícone correspondente a "Inbox'. Será aberta umanova caixa, com janela e campo para digitar a senha. Digitada esta, esendo aceita, começa o processo de carregamento das mensagens que lheforam enviadas e que se encontram na caixa postal, sendo repassadas doprovedor para o computador do usuário. As novas mensagens vão sendocarregadas e registradas na relação, aparecendo em negrito. Uma vez aí,é só ir clicando uma a uma e elas irão se abrindo (fig. 4). As mensagensrecebidas, uma vez abertas, podem ser gravadas ou impressas. Os arquivosque vêm "atachados" às mensagens podem igualmente ser abertos ougravados. Recomenda-se que sejam gravados em disquete, procedimento maisseguro. O processo se inicia clicando-se duas vezes no ícone do arquivo.Surgirá um box com indicação das opções. Para gravar, basta seguir osprocedimentos comuns para salvar um documento: 'Salvar em'.

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Para enviar uma mensagem, clica-se em "Nova mensagem", preenchendo, nos

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campos correspondentes, o endereço eletrônico do destinatário, comcópias para eventuais outros destinatários, se for o caso, o assunto e,na janela principal, o texto da mensagem. Havendo arquivos para serenviados, clicar em "Attach", seguindo as solicitações de escolha doarquivo no disco em que se encontra e mandando "Abrir". Tudo isso feito,dá-se o comando "Send ou Enviar" (fig. 5). A operação tendo êxito, a mensagem enviada fica armazenada no setor"Sent', onde pode ser recuperada a qualquer momento, ficando registradaassim a comprovação da remessa. Caso, por algum motivo, a mensagem nãopossa ser recebida pelo usuário, esta informação é devolvida sob a formade mensagem vinda do provedor. Qualquer mensagem, enviada ou recebida,pode ser repassada a outros destinatários, bastando para tanto abri-Ia,em seguida clicar em "Avançar/Forward", indicar os novos destinatáriose, ao final, dar o comando "Send/Enviar".

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No setor 'Draft ou Rascunho", pode-se guardar mensagens para remessaoportuna. No setor "Trash ou Lixeira', ficam armazenadas as mensagensque se quer descartar. Mesmo aí elas ficam guardadas, sendorecuperáveis, se necessário. As mensagens só são eliminadas de vezquando apagadas na própria lixeira. No caso do Internet Explorer (fig. 6), abertas suas telas, o usuáriodeve clicar, na barra superior, o comando "Correio", em seguida 'Enviare Receber", que contém todas as informações sobre sua correspondência.No campo "Inbox", ficam armazenadas as mensagens que foram enviadas aousuário. Para carregar e acessar estas mensagens, o usuário deverádigitar sua senha na janela que aparece assim que dá o comando paraabrir a janela "Correio". Reconhecida sua senha, o programa passa acarregar suas mensagens, listando-as na relação geral. Terminado esteprocesso, basta ir selecionando na relação a mensagem que se quer abrir,clicando, com o mouse, uma única vez, sobre a linha correspondente.

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METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO: ANTONIO JOAQUIM SEVERINO

Capítulo ViI

OBSERVAÇOES METODOLOGICAS REFERENTES AOS TRABALHOS DE POS-GRADUAÇÃO

Nos últimos vinte anos intensificou-se o desenvolvimento dos cursos depós-graduação no Brasil, nos moldes da legislação específica.Regulamentada a matéria pelas várias instituições, observa-se que, emtodos os modelos adotados, se faz presente particular atenção às tarefasde pesquisa em sentido abrangente. A pós-graduação foi instituída com oobjetivo de criar condições para a pesquisa rigorosa nas várias áreas do

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saber, desenvolvendo a fundamentação teórica, a reflexão, o levantamentorigoroso de dados empíricos da realidade, objetivo das várias ciências,assim como o melhor conhecimento desta realidade. Enfim, a ciência sefaz em todas as frentes e não apenas se transmite. Com isto se visafundamentalmente à qualificação do corpo docente de 3' grau, assim comoa preparação de pesquisadores e profissionais de alto nível. Aos colegas de trabalho em programas de pós-graduação: EstefâniaCanguçu Fraga, Geraldo Pinheiro Machado, Leila Bárbara, Maria LuizaSantos Ribeiro e Yolanda Cintrão Forghicri; aos dedicadospós-graduandos: Élide Rugai Bastos, FranMca E. Santos Severino,jefferson Ildefonso da Silva e Mariângela Belfiore, quero agradecer pelaleitura critica que fizeram deste capítulo, enriquecendo-o com valiosassugestões, nascidas de sua experiência e prática de ensino, estudo epesquisa.

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A legislação básica para pós-graduação no Brasil encontra-se nospareceres 977/65 e 77/69, do Conselho Federal de Educação. Tanto no mestrado como no doutoramento, a pós-graduação, strictosensu como é aqui considerada, exige, além do cumprimento de determinadaescolaridade, a realização de uma pesquisa que se traduza,respectivamente, na dissertação e na tese. Trata-se de concretizar osobjetivos justificadores deste nível de ensino: abordar determinadaproblemática mediante exigente trabalho de pesquisa e de reflexão,apoiado num esforço de fundamentação teórica a ser assegurada atravésdos instrumentos fornecidos pela escolaridade. A ciência se faz através de trabalhos de pesquisa especializada,própria das várias ciências; pesquisa que, além do instrumentalepistemológico de alto nível, exige capacidade de manipulação de umconjunto de métodos e técnicas específicos às várias ciências. Aescolaridade de pós-graduação, em todas as áreas, via de regra, oferececursos de "métodos e técnicas de pesquisa", aplicados às várias áreas,além da orientação metodológica fornecida pelos professores orientadorese pelos exercícios e seminários de preparação de tese. Este capítulo visa tão-somente apresentar considerações metodológicas referentes aos trabalhos científicos deste nível, sem sair do espíritodo texto, intencionalmente didático. Aplica-se, pois, o que já foi ditoa respeito do trabalho científico em geral, nos capítulos anteriores,aos trabalhos normalmente solicitados nos cursos de pós-graduação. As tarefas de estudo, de pesquisa e de elaboração, solicitados noscursos de pós-graduação, constituindo formas por excelência de trabalhoscientíficos, geram exigências maiores de disciplina, de rigor, deseriedade, de metodicidade e de sistematização de procedimentos.Ademais, pressupõem, da parte do pós-graduando, maturidade intelectual eautonomia em relação às interferências dos processos de ensino. Emdecorrência disso, as diretrizes apresentadas neste livro aplicam-se,

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com maior razão, a essas atividades. Consideram-se aqui apenas algumas exigências metodológicasespecíficas aos trabalhos monográficos a serem realizados durante após-graduação, trabalhos em que estas exigências se tornam palpáveis econseqüentemente caracterizáveis de um ponto de vista técnico.

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1. QUALIDADE E FORMAS DOS TRABALHOS EXIGIDOS NOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO

Tais são os assim chamados trabalhos de grau, uma vez que resultam emtrabalhos que visam também à aquisição de um grau acadêmico, de umtítulo universitário: a dissertação de mestrado, a tese de doutoramentoe a tese de livre-docência. A esses podem ser equiparados, dado o nívelcomum de exigências, o ensaio teórico e as monografias científicasespecializadas. Neste último caso, está-se referindo a trabalhos monográficosresultantes de pesquisas elaboradas com finalidades não necessariamenteacadêmicas. E óbvio que não é só nas universidades que se fazemtrabalhos científicos de alto nível. Como sempre, na linha de uma ricatradição histórica, trabalhos de grande valor, tanto em termos depesquisa como em termos de reflexão, são realizados em instituições nãouniversitárias e até por pensadores isolados. A insistência intencional em se referir aos trabalhos acadêmicosdecorre apenas da preocupação didática.

1.1. Características Qualitativas

Quaisquer que sejam as distinções que se possam fazer para caracterizaras várias formas de trabalhos científicos, é preciso afirmarpreliminarmente que todos eles têm em comum a necessária procedência deum trabalho de pesquisa e de reflexão que seja pessoal, autônomo,criativo e rigoroso. Trabalho pessoal no sentido em que "qualquerpesquisa, em qualquer nível, exige do pesquisador um envolvimento talque seu ob etivo de investigação passa a fazer parte de sua vida";' serrealmente uma problemática vivenciada pelo pesquisador, ela deve lhedizer respeito. Não, obviamente, num nível puramente sentimental, mas nonível da avaliação da relevância e da significação dos problemas abordados para o próprio pesquisador,em vista de sua relação com o universo que o envolve. A escolha de umtema de pesquisa, bem como a sua realização, necessariamente é um atopolítico. Também, neste âmbito, não existe neutralidade. --------- 1. A. M. M. CUÇTRA, Determinação do tema de pesquisa.Ciência da informação, 11 (2): 15. 2. Ibid., p. 14. 145

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Ressalte-se que o caráter pessoal do trabalho do pesquisador tem umadimensão social, o que confere o seu sentido político. Esta exigência deuma significação política englobante implica que, antes de buscar-se umobjeto de pesquisa, o pós-graduando pesquisador já deve ter pensado nomundo, indagando-se criticamente a respeito de sua situação, bem como dasituação de seu projeto de seu trabalho, nas tramas políticas darealidade social. Trata-se de saber bem, o mais explicitamente possível,o que se quer, o que se pretende no mundo dos homens. Trabalho autônomo quer dizer que ele é fruto de um esforço do própriopesquisador. Autonomia esta que nao significa desconhecimento oudesprezo da contribuição alheia mas, ao contrário, capacidade de uminter-relacionamento enriquecedor, portanto dialético, com outrospesquisadores, com os resultados de outras pesquisas, e até mesmo com osfatos. Este inter-relacionamento é dialético na medida em que ele nega,ao mesmo tempo que afirma, a relevância da contribuição alheia. Esta sóé válida quando incrementa a instauração da autonomia de pensamento dopesquisador. É reconhecendo e assumindo, mas simultaneamente negando esuperando o legado do outro, que o pensamento autônomo se constitui. Aqui se coloca o complicado problema das relações com o orientador,no caso das pesquisas feitas para os fins acadêmicos dos cursos depós-graduação, do qual se tratará no item seguinte. Com relação,a estaquestão de autonomia, o orientando deve se convencer de que é precisoter até mesmo um pouco de audácia, ou seja, arriscar-se a avançar idéiasnovas, eventualmente nascidas de suas intuições pessoais, sem que seautocensure por medo das críticas quer do orientador quer de seusexaminadores, quer ainda de seus futuros leitores. É preciso soltar-se,criar, avançar e não ficar apenas num eterno repetir de idéias edescobertas já feitas. Tem-se visto trabalhos de pós-graduação que nãopassam de meros conjuntos rearranjados de transcrições ou de repetiçãode idéias já conhecidas. Como já se disse no capítulo V, a citação e atranscrição são válidos instrumentos de trabalho científico desde que seconstituam na manifestação de um diálogo crítico com os autores e dosautores entre si, ao relatarem os resultados de suas pesquisas. Comreferência ao aproveitamento das idéias ou contribuições de autores,sobretudo quando pertencentes a escolas diferentes e 146 concretizadas através das citações, é preciso estar atento para nãomisturar posições divergentes. Em posições divergentes, não há comofundamentar argumentações. As citações dos autores podem ser trazidas emabono às posições defendidas pelo pesquisador. Mas é preciso terpresente que este apoio não pode decorrer de um posicionamentocontraditório. Mesmo quando, apesar das oposições entre os autores,alguma colocação vem a ser aproveitada, é preciso explicitar estacontradição. Tal deve ser o critério para o aproveitamento dabibliografia, de modo a que não se apóie incoerentemente em autores eobras cujas posições vão em direção incompatível com a direção seguidapelo pesquisador.

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Deste ponto de vista, cabe ressaltar uma certa diferenciação entre otrabalho do mestrando e do doutorando, pelo menos em nossas condiçõesbrasileiras. O mestrando está ainda numa fase de iniciação à pesquisa, àvida científica. Está vivenciando uma experiência nova e dele não sepode exigir a plenitude da criação original, justificando-se, de suaparte, ainda uma certa cautela, uma atitude de prudência ao evitarprecipitação. Já o doutorando, pressupõe-se, já passou por esta escola,já deve ter plena autonomia intelectual, cabendo-lhe, pois, maioraudácia e maior capacidade de originalidade e de inventividade, bem comomaior clareza e firmeza quanto às significações assumidas no âmbito deum projeto político-existencial. Pressupõe-se igualmente maiorelaboração no que se refere ao domínio teórico. Enquanto o mestrandopode ainda estar se apoiando na teoria constituída, o doutorando jádeveria estar interagindo com a teoria constituinte. Suas relações com oorientador serão, necessariamente, ainda mais igualitárias e livres. Dequalquer modo cabe ao pós-graduando em geral, e com maior razão aodoutorando, desenvolver seu trabalho de reflexão e pesquisa do interiordeste projeto político-existencial, em consonância com o momentohistórico vivido pela sua sociedade concreta. Projeto que revela asensibilidade do pós-graduando às condições que sua sociedade vive e àsexigências de sua transformação, em vista de seu crescimento constante. Estas considerações já antecipam mais uma característica do trabalhocientífico, em nível de pós-graduação: ele deve cada vez mais sercríatívo. Não se trata mais de apenas aprender, de apropriar-se daciência acumulada, mas de colaborar no desenvolvimento da ciência, defazer avançar este conhecimento aplicando-se 147 o instrumental da ciência aos objetos e situações, buscando-se seudesvendamento e sua explicação. Embora não se possa falar decriatividade sem um rigoroso domínio do instrumental científico, uma vezque o conhecimento humano não se dá por espontaneidade ou por acaso, ébem verdade também que não basta conhecer técnicas e métodos. É precisouma prática e uma vivência que façam convergir estes dois vetores, demodo que os resultados possam ser portadores de descobertas e deenriquecimento. Aqui, conseqüência fecunda da correlação entre razão epaixão, parafraseando Rousseau. A descoberta científica é, sem dúvida,provocada pela tensão gerada pelo problema. Daí a necessidade de seestar vivenciando uma situação de problematização. É bom esclarecer que originalidade não quer dizer novidade. Aoriginalidade diz respeito à volta às origens, explicitando assim umesclarecimento original ao assunto, até então não percebido. Adescoberta original lança novas luzes sobre o objeto pesquisado,superando, assim, seja o desconhecimento seja então a ignorância. Mas otrabalho científico em nível de pós-graduação deve ser aindaextremamente rigoroso. Esta exigência não se opõe à exigência dacriatividade, antes a pressupõe. Não há lugar, neste rúvel, para oespontaneísmo, para o diletantismo, para o senso comum e para a

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mediocridade. Aqui se define a exigência da logicidade e da competência.Além da disciplina imposta pela metodologia geral do conhecimento epelas metodologias particulares das várias ciências, exige-se ainda adisciplina do compromisso assumido pela decisão da vontade. Não se fazciência sem esforço perseverança e obstinação. Ao pós-graduando, como aqualquer pesquisador, impõem-se um empenho e um compromisso inevitáveis,sem os quais não há ciência e nem resultado válido. Assim sendo, arealização de um trabalho de pós-graduação exigirá muita dedicação aoestudo, à reflexão, à investigação. Exigirá muita leitura, muitaparticipação nos debates, formal ou informalmente promovidos. Ele só seconcretizará e amadurecerá na medida em que o pós-graduando criar umcontexto de vida científica sistemática, mantida com insistenteperseverança, sempre em busca de uma imprescindível fundamentaçãoteórica, tanto científica como filosófica. ----------- 3. Cf. p. 74 148

2. Ciência, Pesquisa e Pós-graduaÇão

Neste capítulo são mencionados, ainda que esquematicamente, como tiposde trabalhos científicos apenas aqueles desenvolvidos em função de suavinculação às exigências acadêmicas dos cursos de pós-graduação. Taissão a tese de doutoramento e a dissertação de mestrado. Obviamente,trabalhos científicos, de menor porte, são exigidos e realizados nodecorrer dos cursos de pós-graduação; mas não são específicos destenível e se regem pelas diretrizes gerais da elaboração do trabalhocientífico. Mas qualquer que seja a forma do trabalho científico, é precisorelembrar que todo trabalho desta natureza tem por objetivo intrínseco ademonstração, o desenvolvimento de um raciocínio lógico. Ele assumesempre uma forma dissertativa, ou seja, busca demonstrar, medianteargumentos, uma tese, que é uma solução proposta para um problema. Fatoslevantados, dados descobertos por procedimentos de pesquisa e idéiasavançadas, se articulam justamente como portadores de razõescomprovadoras daquilo que se quer demonstrar. E é assim que a ciência seconstrói e se desenvolve. Entretanto, são vários os modos de se levantar os fatos, de seproduzir as idéias e de se articular uns aos outros. Várias são asformas de procedimento técnico e lógico do raciocínio científico. Porisso mesmo, são também vários os caminhos para se desenvolver umtrabalho científico como uma tese. A ciência, enquanto conteúdo de conhecimentos, só se processa comoresultado da articulação do lógico com o real, da teoria com arealidade. Por isso, uma pesquisa geradora de conhecimento científico e,conseqüentemente, uma tese destinada a relatá-la, deve superarnecessariamente o simples levantamento de fatos e coleção de dados,buscando artictúá-los no nível de uma interpretação teórica. Por isso,

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fazer uma tese implica dois movimentos, com uma única significação, umavez que são dialeticamente unificados. Com efeito, a ciência depende da confluência dos dois que,considerados isoladamente, só têm sentido formal. Só a teoria pode dar'valor" científico a dados empíricos, mas, em compensação, ela só geraciência se estiver em interação articulada com esses dados empíricos. Vários são os recursos utilizáveis para o levantamento e aconfiguração dos dados empíricos; os métodos e as técnicas empíricas depesquisa, cuja aplicação possibilita as várias formas de 149 investigação científica. Assim, a pesquisa experimental, a pesquisabibliográfica, a pesquisa de campo, a pesquisa documental, a pesquisahistórica, a pesquisa fenomenológica, a pesquisa clínica, a pesquisalingüística etc. já no plano desta elaboração dos processosmetodológicos e técnicos para o levantamento dos dados empíricos, bemcomo na sua aplicação concreta, se faz ativa a intervenção da atividadeteórica. Mas é sobretudo mediante o processo de interpretação destesdados empíricos que se faz presente e significativa esta atividadeteórica. Trata-se do momento principal de articulação e de confluênciado lógico com o real, quando ocorre a efetivação do conhecimentocientífico. Mas do mesmo modo como existem vários processos de levantamento dedados empíricos, existem igualmente vários modos de interpretação lógicadestes dados. Trata-se dos vários métodos epistemológicos utilizáveispara a compreensão significativa dos dados reais. Por isso, a ciêncianão pretende mais atingir uma verdade única e absoluta: suas conclusõesnão são consideradas como verdades dogmáticas mas como formas deconhecimento, conteúdos inteligíveis que dão um sentido a determinadoaspecto dá realidade. A multiplicidade de aspectos pelos quais a realidade se manifestaabre igualmente uma multiplicidade de métodos de configuração dos dadosfenomenais, bem como uma multiplicidade de métodos epistemológicos. Sópara registrar os mais gerais e presentes no momento atual dodesenvolvimento das teorias científicas, pode-se referir às metodologiasepistemológicas mais gerais: as metodologias positivista,neopositivista, estruturalista, fenomenológica e dialética, cada uma comprincipios e leis lógicas e com seus fundamentos filosóficos próprios,dando delimitações características às explicações científicas que geram.Explanações sobre estes processos técnicos e sobre estas metodologiasepistemológicas se encontram nas obras de metodologias de pesquisacientífica e em obras de filosofia.

1.3. A Tese de Doutorado

A tese de doutorado é considerada o tipo mais representativo do trabalhocientífico monográfico. Trata-se da abordagem de um único tema, queexige pesquisa própria da área científica em que se situa, com os

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instrumentos metodológicos específicos. Essa 150 pesquisa pode ser teórica, de campo, documental, experimental,histórica ou filosófica, mas sempre versando sobre um tema único,específico, delimitado e restrito. Com maior razão do que no caso dosdemais trabalhos científicos, uma tese de doutorado deve realmentecolocar e solucionar um problema demonstrando hipóteses formuladas econvencendo os leitores mediante a apresentação de razões fundadas naevidência dos fatos e na coerência do raciocínio lógico. Além disso, exige-se da tese de doutorado contribuiçãosuficientemente original a respeito do tema pesquisado. Ela deverepresentar um progresso para a área científica em que se situa. Devefazer crescer a ciência. Quaisquer que sejam as técnicas de pesquisaaplicadas, a tese visa demonstrar argumentando e trazer uma contribuiçãonova relativa ao tema abordado.

1.4. A Dissertação de Mestrado

Também a dissertação de mestrado deve cumprir as exigências damonografia científica. Trata-se da comunicação dos resultados de umapesquisa e de uma reflexão, que versa sobre um tema igualmente único edelimitado. Deve ser elaborada de acordo com as mesmas diretrizesmetodológicas, técnicas e lógicas do trabalho científico, como na tesede doutoramento. A diferença fundamental em relação à tese-de doutorado está nocaráter de originalidade do trabalho. Tratando-se de um trabalho aindavinculado a uma fase de iniciação à ciência, de um exercício diretamenteorientado, primeira manifestação de um trabalho pessoal de pesquisa, nãose pode exigir da dissertação de mestrado o mesmo nível de originalidadee o mesmo alcance de contribuição ao progresso e desenvolvimento daciência em questão. É difícil eliminar da dissertação de mestrado o seucaráter demonstrativo. Também ela deve demonstrar uma proposição e nãoapenas explanar um assunto. Esta parece ser uma exigência ------- 4. Ângelo D. SALVADOR, Métodos e técnicas de pesquisabibliográfica, p. 169. Sebastian A. MATCZAK, Research and composition inphilosophy, p. 16. 5. Ibid., p. 17. 6. Quanto a isto aqui há divergênciacom a posição de Ângelo D. SALVADOR, Métodos e técnicas de pesquisabibliográfica, p. 169.

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lógica de todo trabalho desde que tenha objetivos de natureza científicabem definidos. Tanto a tese de doutorado como a dissertação de mestradosão, pois, monografias científicas que abordam temas únicos delimitados,servindo-se de um raciocínio rigoroso, de acordo com as diretrizeslógicas do conhecimento humano, em que há lugar tanto para aargumentação puramente dedutiva, como para o raciocínio indutivo baseado

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na observação e na experimentação.' Às vezes, a dissertação de mestradoe até mesmo as teses de doutorado são reduzidas a um levantamentopuramente experimental de dados observados e quantitativos, fundados emprocedimentos prioritária ou unicamente estatísticos. Mas sem umareflexão interpretativa que procede inclusive por dedução, não se provanada e não há nenhuma hipótese demonstrada. Com esta afirmação não sequer negar o valor de uma série de pesquisas, sobretudo referentes atemas pouco explorados em teses acadêmicas. É válido aceitar esses tiposde trabalhos justamente por permitirem a formação de um material básicode documentação de onde partirão outros estudos interpretativos.1 Apenasquer-se insistir que toda monografia científica deve ser necessariamenteinterpretativa, argumentativa, dissertativa e apreciativa. Pesquisaexperimental e reflexão racional complementam-se necessariamente naelaboração da ciência. Afinal, o objetivo de uma pesquisa éfundamentalmente a análise e interpretação do material coletado. É naconsecução desse objetivo que se podem aferir os resultados da pesquisae avaliar o avanço que ela representou para o crescimento científico daárea.

1.5. O Ensaio Teórico

O trabalho científico pode ainda assumir a forma de ensaio. Em nossosmeios, este tipo de trabalho é concebido "como um estudo bemdesenvolvido, formal, discursivo e concludente",9 con- sistindo emexposição lógica e reflexiva e em argumentação rigorosa -------- 7. Cf. o próximo capítulo. 8. C£ Dermeval SAVIANI,Filosofia da educação brasileira (Rio de janeiro, CivilizaçãoBrasileira, 1983), p. 43-44, onde tece considerações sobre a importânciae o significado destas monografias de base cujo lugar natural são oscursos de pós-graduação. 9. Ângelo D. SALVADOR, Métodos e técnicas depesquisa bibliográfica, p. 163. 152

com alto nível de interpretação e julgamento pessoal. No ensaio há maiorliberdade por parte do autor, no sentido de defender determinada posiçãosem que tenha de se apoiar no rigoroso e objetivo aparato dedocumentação empírica e bibliográfica, como acontecia nos tiposanteriores de trabalho. Às vezes, são encontradas teses, sobretudo delivre-docência e mesmo de doutorado, com características de ensaio quesão bem aceitas devido a seu rigor e à maturidade do autor. De fato, oensaio não dispensa o rigor lógico e a coerência de argumentação e porisso mesmo exige grande informação cultural e muita maturidadeintelectual. Daí muitos dos grandes pensadores preferirem esta forma detrabalho para expor suas idéias científicas ou filosóficas.

1.6. Caráter Monográfico e Coerência do Texto

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Com relação à natureza dos trabalhos de pós-graduação, cabem ainda duasobservações: 1. Na elaboração de uma tese ou dissertação, não se deve pretenderfalar de tudo, de todos os aspectos envolvidos pela problemáticatratada. O caráter monográfico do trabalho é um significativo aval desua qualidade e de sua contribuição ao desenvolvimento científico daárea. O importante é ater-se ao substancial da pesquisa, não se perdendoem grandes retomadas históricas, em repetições, em contextuações muitoamplas. Não se pode falar de tudo ao mesmo tempo numa mesma tese. Aestes aspectos pode-se referir, citando-se as fontes competentes, semnecessidade de reproduzi-las a cada novo trabalho visando ao mesmo tema. 2. A coerência interna do texto é imprescindível e ela se impõe emdois níveis-. primeiro, a coerência lógico-estrutural da articulação doraciocínio, as etapas do processo demonstrativo se sucedendo dentro deuma seqüência da articulação lógica;" segundo, a coerência com aspremissas metodológicas adotadas. Este aspecto da opção metodológicareencontra a questão do referencial teórico do trabalho," pois esteimplica igualmente uma opção epistemológica básica. Adotada esta, épreciso que as várias etapas do raciocínio sejam coerentes com estasestruturas epistemológicas ---------- 10. C£ p. 184-7. 11. Cf. p. 162.

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do método: por exemplo, se o método adotado é estruturalista, não sepode argumentar diretamente de forma fenomenológica.

2. O PROCESSO DE ORIENTAÇÃO

No item anterior, ao tratar da exigência de autonomia do pós- graduandona elaboração de seu trabalho, já se anunciou o problema da relaçãoorientando-orientador nos cursos de pós-graduação. Este item visaabordar diretamente o assunto tratando de alguns aspectos relativos aoproprio processo de orientação da tese. O fundamental é observar que o processo de orientação deveria ser umprocesso que efetivasse uma relação essencialmente educativa. Comefeito, o orientador desempenha o papel de um educador, cuja experiênciamais amadurecida ihterage com a experiência em construção do orientando.Não se trata de um processo de ensinamento instrucional, de um conjuntode aulas particulares, mas de um diálogo em que as duas partesinteragem, respeitando a autonomia e a personalidade de cada uma. Contudo, nem sempre é claramente entendido o relacionamento entre oorientador e o orientando. Há várias posições assumidas perante esterelacionamento: alguns entendem que o orientando deve pesquisar sobre oassunto de interesse do orientador e trabalhar sob um rígido esquema porele determinado; outros já deixam o orientando totalmentesolto, numasituação de total independência, até mesmo perdido. É fundamental

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entender-se devidamente esta relação, levando-se em consideraçãoinclusive a distinção entre a orientação em nível de mestrado e aorientação em nível de doutorado, reconhecida a base de formação de cadanível. O papel do orientador não é o papel de pai, de tutor, de protetor, deadvogado de defesa, de analista, como também não é o de feitor, decarrasco, de senhor de escravos ou de coisa que o valha. Ele é umeducador, estabelecendo, portanto, com seu orientando uma relaçãoeducativa, com tudo o que isto significa, no plano da elaboraçãocientífica, entre pesquisadores. A verdadeira relação educativapressupõe necessariamente um trabalho conjunto em que ambas as partescrescem. Trata-se de uma relação de enriquecimento recíproco. Énecessário que ocorra uma interação dialética em que esteja ausentequalquer forma de opressão ou de submissão.

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O orientando não pode provocar no orientador uma atitude paternalista,com sua insegurança. Impõe-se-lhe a necessária maturidade e segurançapara que seja suficientemente autônomo no exercício de sua criatividade,não arrastando seu orientador num processo de deterioração, deautoritarismo intelectual, do poder de aplicação do saber. Portanto,desde a delimitação do tema e do problema de sua pesquisa, durante odesenvolvimento de seu trabalho, até a conclusão de sua dissertação outese, ele precisa assumir competência, segurança e autonomia para suacriação intelectual. A definição do tema deve ser sua obra. Não seprocura um orientador enquanto se estiver de posse apenas de idéiasvagas e propostas genéricas, na esperança de que ele defina as coisas eimponha os caminhos. Não se espera do orientador que ele reescrevacapítulo por capítulo, que ele indique a bibliografia, informe asbibliotecas e as fontes. A contribuição do orientador será tanto maisenriquecedora, quanto mais informado e problematizado estiver oorientando, quanto mais alto for o nível de provocação intelectualsuscitada pelo orientando. Por isso, antes de procurar seu orientador, opós-graduando deve estudar e aprofundar suas propostas iniciais,mediante leitura, seminários, debates, até que devidamente instrumentadoconsiga amadurecer um projeto, elaborando-o por escrito. Só então cabeiniciar sua discussão com o orientador. Neste momento e nestas condições, o orientador estará sugerindopistas, testando opções feitas e posições assumidas, esclarecendo oscaminhos seguidos, ajudando a clarear a proposta da pesquisa e adescobrir possíveis pontos fracos. O diálogo se inicia entãopossibilitando ao orientador sentir a segurança, o grau de autonomia, aperseverança e demais condições intelectuais do orientando para acontinuidade da pesquisa e do próprio processo de orientação. Por mais que a autonomia do orientando seja condição imprescindível,não se pode desconsiderar a importância do diálogo e da discussão entre

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o orientador e o orientando. No processo de construção e crescimentointelectual do aluno, este diálogo será um elemento de definição eamadurecimento desta própria autonomia de que o orientando necessitapara desenvolver com segurança sua pesquisa, e assim ousar avançar. Mas cabe igualmente referir-se ao risco que correm os orientadoresque, no afã de dar segurança e apoio ao orientando, acabam assumindo astarefas que cabem a este, revelando não

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confiar suficientemente na sua maturidade e capacidade, abafando-o,impedindo seu crescimento intelectual e praticando igualmente opaternalismo. O orientador não pode assumir estas tarefas, por maioresque ffiam as dificuldades que encontre o orientando, que deve, aocontrário, ser levado a superar lacunas de sua formação, bem comoeventuais tendências à acomodação e à hesitação. Pode-se dizer então que o processo de orientação consiste basicamentenuma leitura e numa discussão conjuntas, num embate de idéias, deapresentação de sugestões e de críticas, de respostas e argumentações,em que não será questão de impor nada mas eventualmente, de convencer,de esclarecer, de prevenir. Tanto a respeito do conteúdo como a respeitoda forma. Só assim o orientador pode assumir seu papel de interlocutor críticoe exercer a autoridade legítima junto ao orientando, decorrente dopróprio processo. Ao orientando cabe construir o seu projeto de dissertação ou tese,após ter definido seu tema, definido seu problema e as hipóteses quepretende demonstrar. já se viu que este projeto deve ser obra do próprioorientando, que o amadurecerá a partir de sua própria experiênciaintelectual e científica, construída com dedicação e trabalhosistemático. Cabe a ele também elaborar e desenvolver o raciocínio quedemonstrará na estrutura lógica e redacional de seu texto. São estesresultados que ele irá discutindo com seu orientador, na sua totalidadeou em partes, pela análise de capítulo por capítulo. É exatamente no momento em que o orientando apresenta o seu projeto,ainda que em forma inicial, que a contribuição do orientador começa a serealizar na medida em que discute com o orientando a consistência e aviabilidade do projeto, sugerindo eventuais direcionamentos novos, novasleituras, novos campos bibliográficos, que poderão ampliar os horizontesdo trabalho. O orientando explorará, testando as sugestões,reorganizando o projeto, retomando à discussão num momento seguinte.Conquistadas conjuntamente as etapas, o trabalho de pesquisa, reflexão eredação continuará. E durante todo o seu curso, o orientador estaráentão chamando a atenção para a exigência de coerência que o trabalhodeve ter: se ele está alcançando os objetivos propostos; estarácriticando também a presença de generalidades vagas e retóricas notexto, a imprecisão e ambigüidade dos conceitos que precisam ser

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devidamente definidos e explicitados.

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3. O PROJETO DE PESQUISA

A realização das várias etapas de um trabalho monográfico pressupõe,naturalmente, certo amadurecimento. Esse amadurecimento é fruto de umaexperiência de vida intelectual, de vida científica, construída quermediante a realização de estudos, quer através de participação empesquisas. Portanto, ao se propor a realização de um trabalhomonográfico, seja ele didático ou científico, é necessário se inserirantes num "universo familiar de problemas", para que se possa entãodeterminar um tema, definir um problema específico etc. Fica claro,então, que leituras, cursos, participação em seminários e em outrasatividades são condições e contextos para a formação do universo deproblematização. Posteriormente, voltar-se-á à exigência, como já foi adiantado, de selevantar uma bibliografia especializada, mas mesmo para isso é precisoestar de posse de algumas diretrizes norteadoras, ou seja, ter em menteo que se pretende fazer, pelo menos em suas grandes linhas. O curso depós-graduação, enquanto comporta ainda escolaridade, tem o objetivo decriar esse contexto, fornecendo instrumentos, levantando dúvidas quefaçam germinar esses problemas que serão posteriormente pesquisados ecujo tratamento se transformará na dissertação ou na tese. As considerações até aqui feitas sobre as condições para a adequaçãoe eficiência do processo de orientação suscitam a questão do papel doscursos de pós-graduação. Na realidade, constata-se um grande abismoentre o momento vivido pelos pós-graduandos enquanto cursam asdisciplinas do regime curricular dos programas e o momento seguinte emque deveriam dar andamento a sua pesquisa com a ajuda do seu orientador.A falta de pontes entre estes dois momentos é a explicação dasdificuldades que grande número de pós-graduandos encontram paradesencadear suas pesquisas e da elevada taxa de evasão daqueles que,embora terminando os créditos, abandonam o programa e desistem dadissertação. Era de se esperar que a estrutura acadêmica e curricular dos cursosde pós-graduação fornecesse um instrumental teórico e metodológico quepropiciasse ao aluno condições de uma adequada escolha do problema desua pesquisa, de acordo com seus interesses, ------------ 12. Cf. p. 76 ss.

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encaminhando-o ao levantamento preliminar de fontes e dados necessáriosà pesquisa, para testar sua viabilidade. Inclusive deveria orientar oaluno para o levantamento bibliográfico, predispondo-o e habilitando-o

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ao diálogo com os autores que trataram do assunto. Não se trata - não basta - de fornecer um certo domínio de técnicasde pesquisa: é preciso toda uma imersão num universo teórico econceitual, onde se encontram necessariamente as coordenadasepistemológicas e antropológicas de toda discussão relevante e críticaque hoje qualquer área científica possa desenvolver. Espera-se, pois, doconteúdo programático uma proposta provocadora de reflexão e de pesquisa, mediante um processo contínuo deproblematização das temáticas, em interação permanente com os textossignificativos de outros pensadores. A pós-graduação, mais que um conjunto de cursos, deveriaconstituir-se num espaço onde se desdobrasse um constante debate deidéias, de troca de conhecimentos, de reflexão, de estudo, de leitura ede discussão. Não só nas salas de aula mas também em grupos informaisinteressados em temas afins, em reuhiões extracurriculares, em encontrosculturais e científicos, em defesas de tese etc. Mas estas observações têm o seu reverso. Não há estrutura acadêmicaque possa garantir a eficiência do processo, se os própriospós-graduandos não o assumirem com uma postura crítica e comprometidadecorrente de uma opçao prévia, de dimensão político-existencial,cientes de sua responsabilidade social. A integração, participação eatuação no processo de produção científica, como já se disse, só seviabilizam e se justificam se se vincularem ao projeto político e aoprojeto existencial do pós-graduando pesquisador. Estes projetosimplicam necessariamente um irredutível compromisso com a seriedadecientífica, com o trabalho dedicado e persistente, com o estudosistemático, com o enfrentamento, de todas as dificuldades estruturais econjunturais, com a busca incessante de informações, deixando-se de ladotodas as motivações alheias ao significado profundo que educação eciência têm numa sociedade tão pobre e carente como a brasileira. Osproblemas e fracassos da pós-graduação brasileira não decorrem apenas desuas limitações estruturais mas também de limitações da opçãopolítico-existencial dos pós-graduandos nem sempre crítica ecompetentemente comprometida com um projeto de transformação dasociedade e de superação das suas carências.

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Do que já se disse sobre o sentido político da pesquisa conclui-seclaramente que a escolha e a delimitação de um tema de pesquisapressupõem sua relevância não só acadêmica mas sobretudo social. Nasociedade brasileira, marcada por tantas e tão graves contradições, aquestão da relevância social dos temas de pesquisa assume então umcaráter de extrema gravidade. É neste contexto da pós-graduação que secoloca a questão da elaboração do projeto de pesquisa. Essa elaboraçãoexige, tendo-o como premissa, um universo epistemológico e político.Mas, de um ponto de vista prático e científico, embora logicamente

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implícito no próprio desenvolvimento do trabalho, o projeto deve serexplicitado da perspectiva técnica, levando-se em conta certasexigências acadêmicas postas pelas instituições para as quais são feitosos trabalhos. Um projeto bem elaborado desempenha várias funções: 1. Define e planeja para o próprio orientando o caminho a ser seguidono desenvolvimento do trabalho de pesquisa e reflexão, explicitando asetapas a serem alcançadas, os instrumentos e estratégias a serem usados.Este planejamento possibilitará ao pós-graduando/pesquisador impor-seuma disciplina de trabalho não só na ordem dos procedimentos lógicos mastambém em termos de organização do tempo, de seqüência de roteiros ecumprimentos de prazos. 2. Atende às exigências didáticas dos professores, tendo em vista adiscussão dos projetos de pesquisa em seminários, freqüentes sobretudoem cursos de doutorado. Cada pesquisador submete sua proposta àapreciação dos colegas, com os quais a discute. 3. Permite aos orientadores que aquilatem melhor o sentido geral dotrabalho de pesquisa e seu desenvolvimento futuro, podendo discutirdesde o início, com o orientando, suas possibilidades, perspectivas eeventuais desvios. 4. Subsidia a discussão e a avaliação pela banca examinadora daspossibilidades do pós-graduando com vistas à elaboração de suadissertação ou tese por ocasião do exame de qualificação. 5. Serve de base para solicitação de bolsa de estudos ou definanciamento junto a agências de apoio à pesquisa e à pós-graduação.

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6. Serve de base para a coordenação de programas de pós- graduaçãodecidir quanto à aceitação das matrículas de candidatos, sobretudo aoscursos de doutoramento. O projeto de pesquisa deverá conter vários elementos, que comporão oseguinte roteiro: Título do projeto Delimitação do tema e do problema Apresentação das hipóteses Explicitação do quadro teórico Indicação dos procedimentos metodológicos e técnicos Cronograma de desenvolvimento Referências bibliográficas básicas

3.1. Quanto ao Título do Projeto

Trata-se de indicar, mediante um título, o assunto do trabalho. É umanomeação do tema da pesquisa. Pode-se distinguir entre o título geral eum título técnico, este geralmente aparecendo como um subtítulo queespecifica a temática abordada, ao passo que o título geral indica mais

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genericamente o teor do trabalho.

3.2. Determinação,e Delimitação do Tema e do Problema da Pesquisa

Trata-se do momento fundamental do projeto de pesquisa. Com efeito, é omomento de se caracterizar de maneira mais desdobrada o conteúdo daproblemática que vai se pesquisar e estudar. Como já se viu anteriormente,13 o tema da pesquisa deve serproblematizado. Antes de se partir para a pesquisa propriamente dita, épreciso ter-se uma idéia bem clara do problema a se resolver. Trata-sede definir bem os vários aspectos da dificuldade, de mostrar o seucaráter de aparente contradição, esclarecendo devidamente os limitesdentro dos quais se desenvolverão a pesquisa e o raciocíniodemonstrativo. ---------- 13. Cf. p. 74-6 p. 183

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Esta etapa do projeto pode-se iniciar com uma apresentação em que secoloca inicialmente a genese do problema, ou seja, como o autor chegou aele, explicitando-se os motivos mais relevantes que levaram à abordagemdo assunto; em seguida, pode ser feita uma contraposição aos trabalhosque já versaram sobre o mesmo problema, elaborando-se uma espécie deestado da questão, inclusive mediante rápida referência à literaturarelativa ao tema com base num balanço crítico da bibliografia, já feitonos estudos preparatórios. Passa-se então à etapa fundamental dacolocação própria do problema pelo autor, como se esclareceu logo acima.Esclarecido o tema e delimitado o problema, o autor deve apresentar asjustificativas, não apenas mas sobretudo aquelas baseadas na relevânciasocial e científica da pesquisa proposta. A seguir, o autor expõe osobjetivos que o trabalho visa atingir relacionados com a contribuiçãoque pretende trazer. Após isto, pode explicitar suas hipóteses.

3.3. A Fórmulação das Hipóteses

Colocando o problema, em toda sua amplitude, o autor deve enunciar suashipóteses: a tese propriamente dita, ou hipótese geral, é a idéiacentral que o trabalho se propõe demonstrar. Toda monografia científica,de caráter dissertativo, terá sempre a forma lógica de demonstração deuma tese proposta hipoteticamente para solucionar um problema. Ashipóteses particulares são idéias cuja demonstração permite alcançar asvárias etapas que se deve atingir para a construção total do raciocínio.14 Obviamente, esta formulação de hipóteses leva em conta o quadroteórico em que se funda o raciocínio. É preciso não confundir hipótesecom pressuposto, com evidência prévia. Hipótese é o que se pretendedemonstrar e não o que já se tem demonstrado evidente, desde o ponto departida. Muitas vezes, ocorre esta confusão, ao se tomar como hipóteses

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proposições já evidentes no âmbito do referencial teórico ou dametodologia adotados. E, nestes casos, não há mais nada a demonstrar, enão se chegará a nenhuma conquista e o conhecimento não avança. ------------ 14. Cf. p. 74-6 e p. 183

161

3.4. Explicitação do Quadro Teórico

O quadro teórico constitui o universo de princípios, categorias econceitos, formando sistematicamente um conjunto logicamente coerente,dentro do qual o trabalho do pesquisador se fundamenta e se desenvolve. Tenha-se contudo bem presente que ele serve antes como diretriz eorientação de caminhos de reflexão do que propriamente de modelo ou deforma, uma vez que o pensamento criativo não pode escravizar-se mecânicae formalmente a ele. É importante frisar que este quadro teórico precisaser consistente e coerente, ou seja, ele deve ser compatível com otratamento do problema e com o raciocínio desenvolvido e terorganicidade, formando uma unidade lógica. Não se pode agregar, numúnico quadro, elementos teóricos incompatíveis entre si, ainda quandomodelos diferentes pudessem ser mais úteis para a solução de diferentesprocessamentos de raciocínio ou de diferentes aspectos do problema.Fusões artificiais de modelos teóricos incoerentes levam necessariamenteao sincretismo lógico-filosófico, de pouca validade para o trabalhocientífico.

3.5. Indicação dos Procedimentos Metodológicos e Técnicos

Nesta fase do projeto, bem caracterizada a natureza do problema, o autordeve anunciar o tipo de pesquisa que desenvolverá. Trata-se deexplicitar aqui se se trata de pesquisa empírica, com trabalho de campoou de laboratório, de pesquisa teórica ou de pesquisa histórica ou se deum trabalho que combinará, e até que ponto, as várias formas depesquisa. Diretamente relacionados com o tipo de pesquisa serão osmétodos e técnicas a serem adotados. Entende-se por métodos osprocedimentos mais amplos de raciocínio, enquanto técnicas sãoprocedimentos mais restritos que operacionalizam os métodos, medianteemprego de instrumentos adequados.

3.6. Estabelecimento do Cronograma de Pesquisa

Assim, os vários momentos e etapas do desenvolvimento da pesquisa devemser distribuídos no tempo. O que se materializa

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mediante a elaboração de um cronograma, ou seja, a distribuição das

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tarefas nos períodos do calendário. undamenta

3.7. Indicação da Bibliografia

Esta é a bibliografia básica, constituída daqueles textos fundamentaisem que se aborda a problemática em questão. Geralmente, estabibliografia já foi até abordada para a elaboração do próprio projeto:leituras que ajudaram à familiarização com o tema e ao amadurecimento doproblema. Naturalmente, ela será ennquecida depois, no decorrer dopróprio desenvolvimento da pesquisa: donde se vê que a bibliografia doprojeto não é ainda tão completa como a que constará do trabalho, à qualse acrescentarão novos elementos descobertos e explorados durante aprópria pesquisa. Este item pode ser desdobrado em duas partes,constando da primeira a bibliografia consultada e, da segunda, aquelabibliografia que, embora ainda não tenha sido explorada com vistas àelaboração do projeto, refere-se à sua temática, sugerindo possívelcontribuição para o desenvolvimento do trabalho.

Observações:

1. O projeto, em seus vários pontos, pode ser alterado no decorrer dapesquisa. Isto é normal e até positivo, uma vez que revela eventuaisdescobertas de dados novos e aprofundamento das idéias pelo autor. 2. Também os itens deste roteiro podem ser reduzidos, ampliados ouestruturados em outra ordem, de acordo com a natureza da pesquisa a serdesenvolvida. A estruturação é flexível e seus elementos devem serdistribuídos de conformidade com as exigências lógicas da própriapesquisa. 3. Por outro lado, projeto de pesquisa não deve ser confundido complano de trabalho, de que já se falou às p. 78 ss. Apesar do caráter deprovisoriedade de ambos, neste último caso trata-se da própria estruturalógica da monografia, dividindo esquematicamente, como um sumário, osvários momentos do discurso, do ponto de vista de seu conteúdo. 4. Resta lembrar ainda a distinção entre o projeto e o própriotrabalho - dissertação ou tese. No projeto, o pesquisador deve

163

ter muito claro o caminho a ser percorrido, as etapas a serem vencidas,os instrumentos e as estratégias a serem utilizadas' É para isto que, emúltima análise, ele é feito, esta é a sua finalidade intrínseca. Mas nãoé o projeto que vai ser publicado e sim a dissertação ou a tese. E aí oque está em jogo é o resultado do trabalho desenvolvido de acordo com oprojeto. Distinguem-se, pois, um do outro, plano de pesquisa e plano deexposição. Assim, nem sempre é necessário escrever um capítulo paraexplicar qual é o quadro teórico: o importante é basear-se nesse quadroteórico de maneira coerente. O leitor dar-se-á conta em qual quadro

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teórico o autor se apoiou.

4. OBSERVAÇÕES TÉCNICAS ESPECÍFICAS

As monografias científicas a serem desenvolvidas nos cursos depós-graduação, seja a dissertação de mestrado, seja a tese dedoutoramento ou demais trabalhos de alto nível, seguem as normasmetodológicas gerais que foram apresentadas para o trabalho científico,no capítulo V. Assim, por exemplo, a técnica bibliográfica a ser seguidaé a mesma, mas sempre com maior exigência de rigor e completude. Abibliografia deve ser mais rica e mais bem explorada. Todavia, algumascaracterísticas técnicas são específicas desses trabalhos e é importanterealçá-las, uma vez que, também no que diz respeito à forma, se cobrasempre maior rigor e precisão na sua apresentação. Quanto à apresentaçãogeral do trabalho, a monografía científica que se elabora comodissertação ou tese contém as seguintes partes: Capa Página de rosto Página de dedicatória Página de aprovação Sumário Lista de tabelas e/ou figuras Resumo Corpo do trabalho com:

164 - Introdução - Desenvolvimento - Conclusão o Apêndices o Anexos o, Bibliografia Página de créditos do autor Capa São mantidas as partes principais dos trabalhos científicos emgeral, sendo específicas a estas monografias acadêmicas, emcontraposição aos trabalhos didáticos comuns, as seguintes partes, apágina de dedicatória, a página de aprovação e o resumo. Quase todas asdissertações e teses contêm tabelas e quadros, às vezes figuras, e namaioria dos casos contêm igualmente apêndices e anexos. A capa inicial das teses de dissertações traz a indicação da naturezado trabalho, de seu objetivo acadêmico, da instituição a que está sendoapresentada e do nome do orientador. Do ponto de vista material, ascapas são de cartolina diferente do papel usado para o resto dotrabalho. No alto, o nome do autor, no centro, o título do trabalho,mais abaixo, à direita, a explanação da natureza do trabalho e, embaixo,a instituição, a cidade e a data." A página de rosto retoma os dados dacapa inicial; caso esta já tenha especificado a natureza do trabalho,

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faz-se desnecessário repeti-Ia nessa página. As páginas de dedicatória aparecem em teses acadêmicas de mestrado,de doutoramento, de livre-docência e em trabalhos a serem publicados,desde que se queira prestar alguma homenagem ou manifestar algumagradecimento a outra pessoa. Nas teses de mestrado e de doutoramento épraxe agradecer pelo menos ao orientador. Evitam-se exageros namanifestação de homenagens e agradecimentos. A página de aprovação aparece nas teses acadêmicas: é preciso preverespaço com tantas linhas quantos forem os membros da ---------- 15. Cf. n-todelo à página seguinte. 165

Comissão julgadora" que assinarão alguns exemplares da tese. Na parte inferior da página: Em geral, dada a natureza dessasmonografias, elas contêm quadros, tabelas, apêndices e anexos. Todosesses elementos constam do sumário sob forma de listas, e ainda sãoorganizadas em sumários especiais: lista de tabelas, lista de figUraS.17 Apêndices e anexos só se acrescentam quando exigidos pela natureza dotrabalho; os apêndices geralmente constituem desenvolvimentos autônomoselaborados pelo próprio autor, para complementar o raciocínio, semprejudicar a unidade do núcleo do trabalho; já os anexos são documentos,nem sempre do autor, que servem de complemento ao trabalho e fundamentamsua pesquisa e outros instrumentos de trabalho usados na pesquisa, comoos questionários. Quanto aos índices especiais, convém observar que não há necessidadede elaborá-los para os trabalhos acadêmicos em geral, sendo, contudo, deextrema importância nos trabalhos científicos publicados, pois facilitambastante a pesquisa. O índice de assuntos tem por objetivo facilitar a localização notexto dos temas principais tratados pelo trabalho; os temas vêm em ordemalfabética; o mesmo se dá com o índice de autores que classifica osnomes dos autores citados no decorrer do trabalho, tanto no corpo dotexto, como nas notas de rodapé e na bibliografia. Observações semelhantes devem ser feitas no que se refere aoprefácio, a respeito do qual cumpre ressaltar preliminarmente: não deveaparecer nos trabalhos didáticos nem é necessário nos ------ 16. São três examinadores nas defesas de dissertação demestrado e cinco nas defesas de tese de doutorado e de livre-docência.17. Cf. p. 169.

166 MIRIAN JORGE WARDE OS CONDICIONANTES SO, OPOSIÇÃO ENTRETEORIA, NA EDUCAÇÃO BRASI] A POLITICA DE PROFISSIOP DO ENSINO DE 20 Gi ~Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau deMestre em Educação (Filosofia da Educação) à Comissão Julgadora daUniversidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr.Dermeval Saviani. ~ Pontifícia Universidade Católica São Paulo - 1976Modelo de página de rosto e de capa

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167 Modelo de sumário SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................... 01 1 - O PENSAMENTOEDUCACIONAL DE LUBIENSKA ................ 07 1. Visão de Homem............................................... 07 1.1 A atividade................................................ 07 1,2 A consciência............................................... 14 1.3 A relaçãocorpo-alma-espírito ................................ 19 1.4 A concepçãoreligiosa de homem ............................ 24 2. Postuladospedagógicos ......................................... 32 2.1 Objetivosda educação ...................................... 35 2.2 O mestre e odiscípulo ...................................... 46 2.3 O ambiente................................................. 55 2.4 A instituiçãoescolar ........................................ 63 2.5 Concepçãodidática ......................................... 67 2.5.1 Educaçãoreligiosa ..................................... 70 2.5.2 Educaçãocorporal ..................................... 71 2.5.3 Educaçãointelectual .................................... 73 2.5.4 Educaçãovolitiva ........... . .......................... 75 11 - INFLUÊNCIA DELUBIENSKA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ...... 80 1. Clima educacionalbrasileiro por volta de 1950 ................... 82 2. O métodoMontessori no Brasil ................................. 86 2.1 Difusão dopensamento rnontessoriano ....................... 86 2.2 Assemanas-pedagógicas .................................... 88 2.3 Asclasses experimentais .................................... 94 2.3.1Funcionamento e organização das classes experimentais .. 97 2.3.2Resultado da experiência ............................... 102 2.3.3 Asclasses infantis ..................................... 105 2.4 OInstituto Pedagógico Montessori-Lubienska ................. 109 111 -LUBIENSKA E MONTESSORI ..................................... 112 1.Visão antropológica ............................................. 112 2.Educação religiosa .............................................. 122 3.Normalização ................................................... 126 Dadissertação de mestrado de Cersofina Antônia de AVELAR. O pensamentoeducacional de Lubienska e sua influência na educação brasileira. SãoPaulo, PUC-SP. 1977, p. 161. 168 LISTA DE TABELAS TABELAS (CAP. 11): PÁGS. 1 - História daEducação Brasileira: estudos realizados, 1812-1973 (Classifi- caçãoGeral) ...................................................... 12 11 -História da Educação Brasileira: estudos realizados, 1812-1973(Classifí- cação Metodológica)............................................... 12 TABELAS (CAP. IV): 1- Números de escolas segundo a dependência administrativa ......... 3811 - Discriminação das despesas dos poderes públicos pelos serviços deeducação ......................................................... 40111 - Receita e despesa efetuada pela União (distribuição percentual)..... 41 IV - Distribuição percentual das despesas da União.................... 42 V - Despesas fixadas pelos Estados

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................................... 43 VI - Despesas municipais totais ecom a educação ..................... 44 VII - Número total das unidadesescolares de todo o país .............. 45 VIII - Crescimento real darede escolar ................................. 45 IX - Matrícula emtodas as escolas do país ............................ 46 X - Crescimentoda população total do país e da matrícula geral ...... 46 XI - Matrículageral segundo os graus de ensino ....................... 47 XII -Unidades escolares segundo os graus de ensino ................... 47Modelo de lista de tabelas LISTA DE TABELAS TABELAS (CAP. 11): PÁGS. 1 -História da Educação Brasileira: estudos realizados, 1812-1973(Classifi- caçao Geral)...................................................... 12 11 -Históriada Educação Brasileira: estudos realizados, 1812-1973 (Classifí- caçaoMetodológica) ............................................... 12 TABELAS(CAP. IV): 1 - Números de escolas segundo a dependência administrativa......... 38 11 - Discriminação das despesas dos poderes públicos pelosserviços de educação......................................................... 40 111 -Receita e despesa efetuada pela União (distribuição percentual) ..... 41IV - Distribuição percentual das despesas da União ....................42 V - Despesas fixadas pelos Estados................................... 43 VI - Despesas municipais totais ecom a educação ..................... 44 VII - Número total das unidadesescolares de todo o país .............. 45 VIII - Crescimento real darede escolar ................................. 45 IX - Matrícula emtodas as escolas do país ............... 1 ............. 46 x -Crescimento da população total do país e da matrícula geral ...... 46 XI- Matrícula geral segundo os graus de ensino ....................... 47XII - Unidades escolares segundo os graus de ensino ...................47 Tese de Mestrado de Maria Luisa Santos RIBEIRO. O método diabético nainvestigação hwórica da educação brasileira. São Paulo, PUC-SP, 1975, p,S. to 169 Modelo de bibliografia FUNDAÇÃO CETÚLIO VARCAS. A crise do ensino:coletânea de artigos da revista El Correo de Ia UNESCO, de abril de 1969e janeiro de 1970. Rio de janeiro, 1971. 96 p. FURTER, Pierre. Educaçãopermanente e desenvolvimento cultural. Petrópolis, Vozes. 1974. 222 p.-. A formação do homem inacabado - ensaio de andragogia. RevistaBrasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de janeiro, INEP, 60 (134):129-39 abr./jun. 1974. CADOTTI, Moacir. Léducation contre 1'éducation;L'oubli de 1'éducation au travers de I'Education Permanente. Tese dedoutoraniento. Université de Génève, Faculté de Psychologie et desSeiences de I'Education, 1977. 211 p. - Acompanha anexo: ÉducationPern-tanente: présentation, choix de textes, bibhographie. 63 p. CARCIA,Pedro Benjamin (org.). Educação hoje. Rio de Janeiro, Eldorado S.d. 182P. CILBERT, Roger. As idéias atuais em pedagogia. Santos, MartinsFontes, 1974. 275 p. GOOD~, Paul. La contre éducation obligatoire.

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Paris, Fleures, 1973. 191 p. HOZ, Vitor Carcia. A educação hoje comoprocesso de personalização. Lisboa, Fundação Calouste-Culbenkian. 1967.107 p. HUBERMAN, A. M. 'Como se realizam as mudanças em educação. SãoPaulo, Cultrix. 1976. 121 p. ILLICH, Ivan. Como educar --@ern escolas?Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de janeiro, INEP, 60(134): 196-207, abr./jun. 1974. De Ia necéssíté de déscouriser Iasociété. Paris, UNESCO. 1971. 12 p. Une société sans école. 4. ed.Paris. Seuil, 1971. 221 p. Apêndice. Extraído da dissertação de mestradode jefferson Ildefonso da SILVA. Os pressupostos antropológicos dacidade educativa no Relatório Apprendre à Être. São Paulo, PontifíciaUniversidade Católica, 1978, p. 116. Editado na Coleção EducaçãoUniversitária com o título Cidade Educatíva: um modelo de renovação daeducação. São Paulo, Cortez & Moraes, 1979. 128 p.

170 trabalhos de grau. Sua importância é grande nos textos que sãopublicados, dados ao público. No que diz respeito ao conteúdo, oprefácio (ou proêmio, exórdío, advertência, apresentação, isagoge), comoa introdução, contém observações preliminares a respeito do tra balho. Mas, enquanto a introdução é essencialmente temática, trata do assuntoespecífico do trabalho, o prefácio trata do trabalho como queextrinsecamente, considerando-o como uma obra completa,independentemente de seu conteúdo. E como que uma apresentação aopúblico leitor, em que o autor fala de suas intenções, de suasdificuldades, de suas expectativas, do histórico da realização dotrabalho e pode ainda agradecer a seus colaboradores. Em trabalhosacadêmicos, o prefácio é desnecessário. O prefácio, sobretudo quando escrito por alguém que não seja opróprio autor, pode ser usado para estabelecer um debate com o autor oupara apresentar idéias que criem contexto teórico mais amplo para otexto que se seguirá. Quando houver um prefácio escrito por um especialista, o autor fará,se quiser, breve apresentação de seu trabalho, do seu ponto de vistapróprio. Quanto aos demais aspectos técnicos, os trabalhos de grau seguem asnormas gerais para a elaboração da monografia científica, expostas nocapítulo V. Acrescente-se ainda que esses trabalhos devem vir acompanhados de umresumo a ser elaborado de acordo com o que se estabelece no item 5.1, àp. 173: a dissertação de mestrado com um resumo com cerca de 300palavras; no caso da tese de doutorado o resumo terá cerca de 500palavras. Tais resumos, além de serem escritos em português,eventualmente podem ser também escritos em francês e em inglês. Umacópia desses resumos, com a respectiva identificação bibliográfica, deveser encadernada no começo do trabalho, logo após o sumário. Tais resumosdevem anunciar o objetivo do trabalho a contribuição que pretende darassim como fornecer uma síntese dos resultados obtidos. Nas universidades, costuma-se distribuir aos assistentes das defesas

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públicas das teses separatas com esses resumos, para que possamacompanhar as argüições. O número de exemplares da dissertação e da tese varia de instituiçãopara instituição. Cada uma define esse número em seu Regimento, devendoo pós-graduando se informar das exigências específicas de seu Programa. 171 Quanto à apresentação gráfica, levando-se em conta o seu possível usopelas bibliotecas, sugere-se que as dissertações e teses sejamencadernadas em forma de brochura, num tamanho-padrão de 21,5 x 29,5 cm.Capas de cartolina branca são recomendadas. É de grande utilidade a impressão do título do trabalho na lombada dabrochura. Impõe-se criar o hábito de se incluir nas dissertações e teses umapequena síntese da biografia de seu autor, contendo os dados maissignificativos de sua formação acadêmica, de suas atividadesprofissionais e de sua produção bibliográfica, registrando assim oscréditos do autor, bem como o endereço para contato por parte de outrospesquisadores. Além da exigência puramente técnica de que todo trabalho impressodevesse trazer os créditos pessoais de seu autor, a presença dessasinformações é de grande relevância, não só para o conhecimento do autordo trabalho, mas sobretudo no sentido de facilitar eventuais contatos eintercâmbios por parte de outros pesquisadores que estarão investigandotemáticas afins. Aliás, cabe aqui uma crítica e uma cobrança a algumaseditoras nacionais que publicam livros, às vezes, sem uma mínimareferência à pessoa do autor. Essa notícia sobre o autor deveria seconstituir, sobretudo para o leitor que com ele está tomando um primeirocontato, uma importante via de acesso para a contextuação e apreensão deseu pensamento. A tradição dos programas de pós-graduação parece não ter consagradoessa prática. No entanto, ela precisa ser instaurada, tanto mais que,quase sempre, dissertações e teses são as primeiras publicações dospós-graduandos, autores ainda não conhecidos fora de seu ambiente detrabalho e que, portanto, precisam ser divulgados. As dissertações eteses acabam alcançando um círculo mais amplo de leitores pesquisadoreseventualmente interessados em estabelecer contatos com seus autores.Dadas as condições geográficas do país e a localização dos pólos depós-graduação em poucos centros urbanos, ocorre uma grande dispersãodesses autores. Sugere-se, então, que na última página da dissertação ou da tese sejaincluída essa síntese biobibliográfica do autor, da qual consteigualmente um endereço para contatos. É bem verdade que a divulgação dasteses é um problema muito mais complexo, mas a prática sugerida já é umacontribuição com vistas a sua superação. 172

5. OUTRAS EXIGÊNCIAS ACADÊMICAS

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O pós-graduando se defrontará ainda, vez por outra, com algumas outrasexigências acadêmicas que, embora tradicionais, nem sempre freqüentamseu cotidiano: é o caso dos Resumos Técnicos, dos Relatórios de pesquisae do Memorial, de cuja preparação se falará um pouco, visando subsidiaraqueles que venham a ter que elaborá-los.

5.1. Resumos Técnicos de Trabalhos Científicos

O Resumo em questão consiste na apresentação concisa do conteúdo de umtrabalho de cunho científico (livro, artigo, dissertação, tese etc.) etem a finalidade específica de passar ao leitor uma idéia completa doteor do documento analisado, fornecendo, além dos dados bibliográficosdo documento, todas as informações necessárias para que oleitor/pesquisador possa fazer uma primeira avaliação do texto analisadoe dar-se conta de suas eventuais contribuições, justificando a consultado texto integral. O que deve conter o Resumo? Atendo-se à idéia central do trabalho, oResumo deve começar informando qual a natureza do trabalho, indicar oobjeto tratado, os objetivos visados, as referências teóricas de apoio,os procedimentos metodológicos adotados e as conclusões/resultados a quese chegou no texto. Responde assim às questões: De que natureza é otrabalho analisado (pesquisa empírica, pesquisa teórica, levantamentodocumental, pesquisa histórica etc.)? Qual o objeto pesquisado/estudado?O que se pretendeu demonstrar ou constatar? Em que referências teóricasse apoiou o desenvolvimento do raciocínio? Mediante quais procedimentosmetodológicos e técnico-operacionais se procedeu? Quais os resultadosconseguidos em termos de atingimento dos objetivos propostos? Qual o perfil do Resumo? O texto do Resumo deve ser composto de umúnico parágrafo, com uma extensão entre 200 e 250 palavras, ou seja, de1400 a 1700 caracteres, computando-se todos os seus elementos.Limitando-se a expor objetivamente o conteúdo do texto, não deve conteropiniões ou observações avaliativas, nem conter desdobramentosexplicativos. Inicia-se com a referenciação bibliográfica do documento ese encerra com a indicação dos cinco unitermos temáticos maissignificativos do texto. A formatação do texto (indicação da fonte, dotipo de letra, seu tamanho, espaço interlinear, margens etc.) fica acritério dos 173 organizadores e na dependência do tipo de publicação em que os Resumosserão divulgados.

5.2. Os Relatórios Técnicos de Pesquisa

Muitas vezes, no decorrer de sua vida acadêmica, o pesquisador é instadoa apresentar Relatório de andamento ou de conclusão da pesquisa que vemfazendo ou que então está concluindo. Trata-se comumente de exigência

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institucional, oriunda, seja de agências de fomento - no caso de bolsasou de financiamento de projetos -, seja de órgãos da própria instituiçãoa que o pesquisador é vinculado. Pode ser solicitado também em função deexames de qualificação, no caso de alunos de cursos de pós-graduação. Os Relatórios de pesquisa, assim como os Relatórios de outrasatividades, não devem ser confundidos com o Memorial. O Relatório, alémde se referir a um projeto ou a um período em particular, visa pura esimplesmente historiar seu desenvolvimento, muito mais no sentido deapresentar os caminhos percorridos, de descrever as atividadesrealizadas e de apreciar os resultados - parciais ou finais - obtidos.Obviamente deve sintetizar suas conclusões e os resultados até entãoconseguidos, sem, no entanto, a necessidade de conter análises ereflexões mais desenvolvidas, como e o caso no Memorial. O Relatório pode se iniciar com uma retomada dos objetivos do próprioprojeto, passando, em seguida, à descrição das atividades realizadas edos resultados obtidos. Se couber, como no caso dos Relatórios deandamento, deve ser encerrado com a programação das próximas etapas dacontinuidade da pesquisa. E não basta dizer que a pesquisa teráprosseguimento, é preciso detalhar e discriminar as várias atividadesdistribuídas nas várias etapas desse prosseguimento. Cópias dos produtos parciais - como transcriçoes de entrevistas,capítulos já elaborados, dados registrados e tabulados - podem seranexadas ao Relatório, no qual devem ter sido sintetizados, não sendo,pois, necessário que tais produtos integrem o texto do Relatório em si.

5.3. O Memorial

O Memorial tem importante utilidade na vida acadêmica, tanto em termosde uso institucional para fins de concursos 174 de ingresso e promoção na carreira universitária, de exames de seleçãoou de qualificação em cursos de pós-graduação, de concursos delivre-docência - como em termos de retomada e avaliação da trajetóriapessoal no âmbito acadêmico-profissional. O Memorial é uma retomada articulada e intencionalizada dos dados doCurriculum Vitae do estudioso, no qual sua trajetóriaacadêmico-profissional fora montada e documentada, com base eminformações objetiva e laconicamente elencadas. É claro que tal registroé também muito importante e suficiente para multas finalidades de suavida profissional. Mas o Memorial é muito mais relevante quando se tratade se ter uma percepção mais qualitativa do significado dessa vida, nãosó por terceiros, responsáveis por alguma avaliação e escolha, massobretudo pelo próprio autor. Com efeito, o Memorial tem uma finalidadeintrínseca que é a de inserir o projeto de trabalho que o motivou noprojeto pessoal mais amplo do estudioso. Objetiva assim explicitar aintencionalidade que perpassa e norteia esses projetos. Por exemplo,quando é o caso de se preparar um Memorial para um exame de

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qualificação, é o momento apropriado para se explicitar e se justificaro significado da pesquisa que está culminando na dissertação ou tese, eque tem a ver com um determinado resultado que está sendo construido emfunção de uma proposta mais ampla que envolve todo o investimento que oestudioso vem fazendo, no contexto de seu projeto existencial de vida ede trabalho científico e educacional. O Memorial constitui, pois, uma autobiografia, configurando-se comouma narrativa simultaneamente histórica e reflexiva. Deve então sercomposto sob a forma de um relato histórico, analítico e crítico, que dêconta dos fatos e acontecimentos que constituíram a trajetóriaacadêmico-profissional de seu autor, de tal modo que o leitor possa teruma informação completa e precisa do itinerário percorrido. Deve darconta também de uma avaliação de cada etapa, expressando o que cadamomento significou, as contribuições ou perdas que representou. O autordeve fazer um esforço para situar esses fatos e acontecimentos nocontexto histórico-cultural mais amplo em que se inscrevem, já que elesnão ocorreram dessa ou daquela maneira só em função de sua vontade ou desua onussao "mas também em função das determinações entrecruzadas demuitas outras variáveis. A história particular de cada um de ntretecenuma história mais envolvente da nossa coletividade. 175 É assim que é importante ressaltar as fontes e as marcas dasinfluências sofridas, das trocas realizadas com outras pessoas ou com assituações culturais. É importante também frisar, por outro lado, ospróprios posicionamentos, teóricos ou práticos, que foram sendoassumidos a cada momento. Deste ponto de vista, o Memorial deveexpressar a evolução, qualquer que tenha sido ela, que caracteriza ahistória particular do autor. O Memorial deve cobrir a fase de formação do autor, sintetizandoaqueles momentos menos marcantes e desenvolvendo aqueles maissignificativos; depois deve destacar os investimentos e experiências noâmbito da atividade profissional, avaliando sua repercussão nodirecionamento da própria vida; o amadurecimento intelectual pode seracompanhado relacionando-o com a produção científica, o que pode serfeito mediante a situação de cada trabalho produzido numa determinadaetapa desse esforço de apreensão ou de construção do conhecimento emediante sua avaliação enquanto tentativa de compreensão e de explicaçãode uma determinada temática. O Memorial se encerra, então, indicando os rumos que se pretendeassumir ou que se está assumindo no momento atual, tendo como fundo ahistória pré-relatada. Quando elaborado para um exame de qualificação,trata-se de situar o projeto de dissertação ou tese enquanto meta atuale a curto prazo, articulando-o com os investimentos até então feitos ecom aqueles que ele oportunizará para o futuro imediato. Enquanto texto narrativo e interpretativo, recomenda-se que oMemorial inclua em sua estrutura redacional subdivisões comtópicos/títulos que destaquem os momentos mais significativos. No

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mínimo, aqueles mais gerais, como os momentos de formação, da atuaçãoprofissional, da produção científica etc. Melhor ficaria, no entanto, seesta divisão já traduzisse uma significação temática que realçasse aespecificidade daquele momento. Resta dizer ainda que o Memorial não deve se transformar nem numapeça de auto-elogio nem numa peça de autofiagelo: deve buscar retratar,com a maior segurança possível, com fidelidade e tranqüilidade, atrajetória real que foi seguida, que sempre é tecida de altos e baixos,de conquistas e de perdas. Relatada com autenticidade e criticamenteassumida, nossa história de vida é nossa melhor referência. 176

6. ATIVIDADES CIENTÍFICAS EXTRA-ACADÊMICAS

A vida científica de professores e estudantes universitários não selimita às atividades curriculares que se desenvolvem no interior dasfaculdades. Muitos eventos acontecem em outros contextos culturais einstitucionais, em que estudiosos e pesquisadores, independentemente desua origem acadêmica, apresentam e discutem teses de suas áreas,promovendo assim a divulgação e o debate de suas idéias. Tem-se assim os Congressos, as Conferências, os Encontros, asReuniões, os Seminários, os Simpósios, as jornadas etc. Todos esteseventos são entendidos como reuniões extraordinárias, congregandopessoas interessadas em algum campo temático das diversas áreas deconhecimento e da cultura, que se dispõem a discutir temas específicos,de uma forma sistemática e durante um certo período de tempo. Em nossos meios acadêmicos atuais, nem sempre se distingue bem osignificado específico de cada tipo de evento e, na linguagem comum, ostermos são muitas vezes tomados uns pelos outros. No entanto, pode-seidentificar algumas características peculiares que deram origern àdesignação, as quais, embora possam ter se perdido, indicam a idéiageratriz do evento. As caracterizações que seguem pretendem apenasdelimitar um pouco os seus significados, levando-se em consideração aspráticas mais comuns em nosso meio. No âmbito desses eventos, os trabalhos científicos dos participantessão apresentados e debatidos sob diversas condições: de forma, de tempo,de aprofundamento. Dentre esses eventos são mais comuns em nosso meio osseguintes: congressos, conferências, palestras, simpósios,mesas-redondas, painéis, seminários, cursos, comunicações etc. De modogeral, em todas estas atividades abre-se um espaço de tempo para que osparticipantes/assistentes possam também se manifestar entrando nodebate. 177 Assim, Congresso é uma reunião, um encontro para fins de discussão edebate de idéias, promovido em geral por entidades e associações deespecialistas das várias áreas, interessados em acompanhar, disseminar edebater as teses que expressam a evolução do conhecimento dessas áreas.

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Como este tipo de debate parece ter-se desenvolvido antes no âmbito dasassociações políticas, registra-se a marca inicial de que o congressoera destinado apenas a delegados, especificamente indicados para deleparticiparem, levando posições previamente discutidas e eventualmenteacertadas pelas entidades que se faziam representar. Hoje suasignificação já se estendeu, abrangendo qualquer evento, de certaproporção, em que se debatem questões de interesse dos participantes.Resta ainda a marca de que os congressos são organizados e promovidospor entidades de classe ou então por associações científicas. já a Conferência, enquanto evento geral, se aproxima muito dosignificado do congresso. No entanto, a conferência conota uma abordagemmais ampla do que o congresso, não partindo de uma entidade emparticular, mas de todas as entidades de uma determinada área. AConferência tende a ser um evento promovido dentro de uma certaperiodicidade. Exemplo, a Conferência Brasileira de Educação, a CBE,evento convocado por várias entidades de educadores e que, até 1991,acontecia de dois em dois anos. Mas conferência é termo usado, num sentido mais restrito e maisconhecido, como sinônimo de palestra. Trata-se de uma palestra numaperspectiva mais solene! Esta atividade tem caráter bem amplo egeralmente se dá num contexto não informal. Trata-se da fala de um únicoexpositor, geralmente figura de destaque na área e no contextosociocultural. Nem sempre sua fala é seguida de debates, limitando-se àexposição de suas idéias. A Palestra é uma conferência feita em condições menos solenes,inserida no contexto de um evento maior ou mesmo pronunciadaisoladamente. Também pronunciada por um único expositor, sua fala podeser seguida de debates com os ouvintes. O Encontro designa um evento de menor porte que um Congresso e maisabrangente do que uma simples reunião. Também se destina ao debateaberto de temas predeterminados, sob diversas formas de sessão. A Reunião, em princípio, deveria designar um evento mais restrito; noentanto, às vezes é tomada como Encontro ou Congresso. 178 A jornada é um encontro que faz referência a um certo tempo, emtermos de dias. Mas é também tomada no sentido de Encontro. O Simpósio, em princípio, é uma reunião destinada apenas aespecialistas, que se reúnem para discutir tema previamente determinado.Em geral versa sobre um único tema que vem sendo pesquisado porestudiosos, em instituições diferentes, que sao convidados por umaentidade, para debatê-lo, numa perspectiva de troca de informações, deidéias e de conclusões. O debate é presidido por um coordenador. O Seminário é uma reunião mais restrita, como se fosse um grupo deestudos, em que se discute um tema a partir da contribuição de todos osparticipantes. No âmbito acadêmico, seminário é tomado muitas vezes comouma forma de atividade didático-científica, que é objeto de umaapresentação específica em outra parte deste livro, dada sua relevância

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no processo de ensino-aprendizagem (cf. cap. IV). Em encontros de grande porte, realizam-se as Sessões de Comunicações,destinadas sobretudo a que pesquisadores apresentem, de forma abreviadae sintética, resultados de pesquisas que vêm realizando. Tanto podemtratar de uma temática predeterminada (fala-se então de Sessão deComunicação Coordenada), ou sobre temas variados (fala-se de Sessão deComunicações Orais). A comunicação relata estudos, resultados depesquisa, experiências, de iniciativa pessoal. Trata-se de uma exposiçãomais sucinta, uma vez que, em geral, pouco tempo lhe é reservado nosencontros. A Mesa-Redonda visa à apresentação de pontos de vista diferentessobre uma mesma questão, mas a'Partir da exposição de um dosparticipantes. Em princípio, os demais participantes tomam conhecimentoprévio do texto do expositor, apresentando então comentário crítico àssuas posições. Após esses comentários, a palavra volta ao expositor,podendo ser aberta também aos assistentes. Dado esse formato damesa-redonda, é conveniente que se limite a apenas dois o número dedebatedores. O Painel é a apresentação de trabalhos sobre um mesmo tema, abordadosob pontos de vista diferentes, todos expostos livremen'te, semreferência a colocação prévia de qualquer dos participantes, que podemser três ou mais. O que caracteriza o painel é que ele abre espaço paraum maior número de exposiçoes, embora com tempo reduzido para cada uma. Estão se tornando comuns as designações Oficinas e Workshops.Trata-se de reuniões mais restritas em termos de número de 179

expositores e de participantes, destinadas a apresentação de trabalhos, de experiências, de pesquisas, propiciando oportunidade de divulgação edebate. Elas podem ocorrer tanto no âmbito de eventos mais amplos quantocomo atividades autônomas. Têm um caráter de uma realização participada,ou seja, com a preocupação de levar os participantes a vivenciaremexperiências, projetos, programas etc. Igualmente vêm se tornando comum nos diversos encontros asApresentações de Pôsteres, que são apresentações de trabalhos viacartazes, com fotos, figuras, esquemas, quadros e textos concisos,referentes a alguma experiência, atividade ou proposta. Estes posteresficam expostos ao público participante, o autor dos mesmos colocando-seà disposição para fornecer eventuais esclarecimentos que foremsolicitados pelos observadores. É bom lembrar que os trabalhos enviados para participação em eventoscientíficos, em geral, devem ser acompanhados de um resumo contendo emmédia de 200 a 300 palavras. As comissões organizadoras dos eventosinformam previamente, através de suas circulares, as condições departicipação e o formato dos trabalhos e resumos. Algumas orientaçõespara o feitio do resumo já foram apresentadas neste texto."

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7. AS EXIGÊNCIAS ÉTICAS DA PESQUISA

As pesquisas que envolvem seres humanos, além de dever cumprir asexigências éticas gerais de toda atividade científica e aquelas ligadasà ética profissional da área de atuação profissional do pesquisador,devem atender ainda a aspectos éticos específicos, tais como estãoespecificados na Resolução 196, do Conselho Nacional de Saúde. Dessemodo, ao preparar o seu projeto de pesquisa, quando envolvendo sujeitoshumanos, o pesquisador deve pautar-se igualmente nas diretrizes e normasdessa Resolução, uma vez que o seu projeto passará por apreciação de umComitê de Ética autônomo, criado nas Instituições para esse fim. Oestabelecimento dessas diretrizes e a criação dos comitês têm em vista'defender os interesses dos sujeitos de pesquisa em sua integridade edignidade e contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrõeséticos" (Resolução 196, item 11, 14), --------- 18. Cf. p. 130. 180 De acordo com os termos da Resolução, a eticidade da pesquisa implicaos seguintes quesitos: 1. autonomia: consentimento livre e esclarecidodos indivíduos-alvo e a proteção a grupos vulneráveis e aos legalmenteincapazes, de modo que sejam tratados com dignidade, respeitados em suaautonomia, e defendê-los em sua vulnerabilidade; 2. beneficência:ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais,individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de benefícios eo mínimo de danos e riscos; 3. não-maleficência: garantir que danosprevisíveis serão evitados; 4. justiça e eqüidade: fundar-se narelevância social da pesquisa. As instituições de qualquer natureza, nas quais se realizam pesquisasenvolvendo pessoas, deverão constituir seu Comitê de Ética em Pesquisa.Caso ainda não esteja instalado, o pesquisador deve recorrer a Comitê deoutra Instituição congênere. Inclusive as agências de financiamentopassarão a exigir que os projetos sejam acompanhados de parecer deaprovação por Comitê de Ética. De sua parte, os pesquisadores - seja quando da realização de suaspesquisas para obtenção de títulos acadêmicos, seja quando fazendoinvestigações institucionais - que envolvam pessoas humanas comosujeitos pesquisados devem providenciar o encaminhamento de seusprojetos para apreciação por parte do Comitê de ética da instituiçãoonde a pesquisa se realizará.

181

Capítulo Viii

OS PRE-REQUISITOS LOGICOS DO TRABALHO CIENTIFICO

O trabalho científico em geral, do ponto de vista lógico, é um discurso

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completo. Tal discurso, em suas grandes linhas, pode ser narrativo,descritivo ou dissertativo. No sentido em que é tratado neste texto, otrabalho científico assume a forma dissertativa, pois seu objetivo édemonstrar, mediante argumentos, uma tese, que é uma solução propostapara um problema, relativo a determinado tema. A demonstração baseia-se num processo de reflexão por argumentação,ou seja, baseia-se na articulação de idéias e fatos, portadores derazões que comprovem aquilo que se quer demonstrar. Essa articulação éconseguida mediante a apresentação de argumentos. Esses argumentosfundam-se nas conclusões dos raciocínios e nas conclusões dos processosde levantamento e caracterização dos fatos. O raciocínio é um processo de pensamento pelo qual conhecimentos sãologicamente encadeados de maneira a produzirem novos conhecimentos. Talprocesso lógico pode ser dedutivo ou indutivo. Dedução e indução são,pois, processos lógicos de raciocínio. 183

O levantamento e a caracterização de fatos são realizados mediante oprocesso de pesquisa, sobretudo da pesquisa experimental, de acordo comtécnicas específicas.

1. A DEMONSTRAÇÃO

Uma monografia científica deve ir a forma lógica pois, assume dedemonstração de uma tese proposta hipoteticamente para solucionar umproblema. O problema é formulado sob a forma de uma enunciação de determinadotema, proposta de maneira interrogativa, pressupondo, portanto, pelomenos uma alternativa como resposta: é assim ou de outra maneira?; ouseja, pressupõe sempre a ruptura de harmonia existente numa afirmaçãoassertiva. O problema, como já se viu levanta uma dúvida, coloca umobstáculo que precisa ser superado; opta-se, então, por uma dasalternativas, na busca de uma evidência que está faltando. Para se colocar o problema, é preciso que seja formulado de maneiraclara em seus termos, definida e delimitada. É preciso esclarecer ostermos, definindo-os devidamente. Daí a importância da definição. Oslimites da problematização devem ser determinados, pois não se podetratar de tudo ao mesmo tempo e sob os mais diversos aspectos. A demonstração da tese é realizada mediante uma seqüência deargumentos, cada um provando uma etapa do discurso. A demonstração, demodo geral, utiliza-se mais do processo dedutivo. Na demonstração de umatese, pode-se proceder de maneira direta, quando se argumenta no sentidode provar que uma proposta de solução é verdadeira, sendo as demaisfalsas. E isto por decorrência das premissas. Nesse caso, trata-se deencontrar ----------- 1. Cabe à metodologia da pesquisa científicaestabelecer os procedimentos técnicos a serem utilizados para tal

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investigação. Ademais, cada ciência delimita a aplicação das normasgerais do método científico ao objeto específico de sua pesquisa. Cf. L.LIARD, Lógica, p. 104-74. 2. Cf. p. 74-6. 3. Paolo CAROSI, Curso deFilosofia, 1, p. 383. 4. C£ p. 187, ainda L. LIARD. Lógica, p. 24; OthonM. CARCIA, Comunicação em prosa moderna, p. 304. 184 as premissas verdadeiras, objetivamente verdadeiras, e depoisaplicar-lhes os procedimentos lógicos do raciocínio. A demonstração,porém, pode proceder de maneira indireta quando se demonstra ser falsa aalternativa que se opõe contraditoriamente à tese proposta. Assimacontece quando se demonstra que da falsidade de uma tese decorremconseqüências falsas; sendo o conseqüente falso, o antecedente também éfalso. Também se demonstra a falsidade de um enunciado quando se mostra queele se opõe diretamente ao princípio de não-contradição ou a outroprincípio evidente. E o caso da redução ao absurdo. Note-se que ostermos dissertação, demonstração, argumentação e raciocínio são tomados,muitas vezes, como sinônimos. Neste caso, toma-se a parte pelo todo,considerando-se de maneira generalizada um processo parcial desenvolvidodurante o discurso. E, pois, lícito dizer que o discurso é, narealidade, um raciocínio ou ainda uma argumentação. Contudo, o sentido desses termos, no presente capítulo, é maisrestrito. Dissertação é a forma geral do discurso e quer dizer que odiscurso está pretendendo demonstrar uma tese mediante argumentos;demonstração é, pois, o conjunto seqüenciado de operações lógicas que deconclusão em conclusão chega a uma conclusão final procurada;argumentação é entendida como uma operação, uma atividade executadadurante a demonstração pelo uso dos argumentos; já raciocínio é umprocesso lógico de conhecimento, operação mental específica que podeservir inclusive de argumento para a demonstração. A argumentação, ou coa, a operação com argumentos, apresentados comobjetivo de comprovar uma tese, funda-se na evidência racional e naevidência dos fatos. A evidência racional, ju por sua vez" stifica-sepelos princípios da lógica. Não se pode buscar fundamentos maisprimitivos. A evidência é a certeza manifesta imposta pela força dosmodos de atuação da própria razão. Surge veiculada pelos princípiosepistemológicos e lógicos do conhecimento humano, tanto por ocasião dodesdobramento do raciocínio, como por ocasião da presentificação dosfatos. A apresentação dos fatos é a principal fonte dos argumentoscientíficos. Daí o papel das estatísticas e do levantamento experimental ------------- 5. Paolo CAROSI, Curso de Filosofia, 1,387. 6. Ibid., p. 387-9. 185 dos fatos; no campo ou no laboratório, a caracterização dos fatos éetapa imprescindível da dissertação científica. A argumentação formalque se desenvolve no discurso filosófico ou científico pressupõe

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devidamente analisadas as suas proposições em todos os elementos,devendo se ter sempre proposições afirmativas bem definidas edevidamente limitadas. De fato, é com as proposições que se formam osargumentos. Argumentar consiste, pois, em apresentar uma tese, caracterizá-ladevidamente, apresentar provas ou razões que estão a seu favor econcluir, se for o caso, pela sua validade. Para evitar que fiquemabertas margens para dúvidas, devem ser examinadas eventualmente asrazões contrárias, tentando-se refutar a tese e prevenindo-se deobjeções. Esse processo é continuamente retomado e repetido no interior dodiscurso dissertativo que se compõe, com efeito, de etapas delevantamento de fatos, de caracterização de idéias e de fatos, medianteprocessos de análise ou de síntese, de apresentação de argumentoslógicos ou tatuais, de configuração de conclusões. O trabalho científico, do ponto de vista de seus aspectos lógicos,pode ser representado, esquematicamente, da seguinte forma: D Racioe 2.O RACIOCÍNIO O raciocínio é, pois, um dos elementos mais importantes daargumentação, porque suas conclusões fornecem bases sólidas para osargumentos. 186

Trata-se de um processo lógico de pensamento pelo qual de conhecimentosadquiridos se pode chegar a novos conhecimentos com o mesmo coeficientede validade dos primeiros. Quanto à sua estrutura, o raciocínio é umtodo complexo, formado que é por um encadeamento de vários ' ' que são,JUIZOS/ igualmente, conjuntos formados por vários conceitos. De maneira geral, como já se viu,' uma monografia científica pode serconsiderada como um complexo de raciocinios que se desdobram numdiscurso lógico, do qual o texto redigido é simplesmente uma expressãolingüística. Neste sentido, a redação do texto mediante signos lingüísticas é umsimples instrumento para a transmissão do pensamento elaborado sob aforma de raciocínios, juízos e conceitos. A com- posição do texto é umprocesso de codificação da mensagem. O texto-linguagem é o código quecifra a mensagem pensada pelo autor. Decorre daí a prioridade lógica do raciocínio sobre a redação. Poroutro lado, porém, o leitor não pode ter acesso ao raciocínio a não seratravés dos textos. Por isso, na composição do texto, no trabalho decodificação da mensagem pensada, todo o empenho deve ser posto nosentido de se garantir a melhor adequação possível entre a mensagem e otexto-código que servirá de intermédio entre o pensamento do autor e opensamento do leitor. Em função da importância do raciocínio, é necessário tratar de algunspontos básicos referentes à natureza dos processos lógicos do pensamentoe do conhecimento, subjacentes à expressão lingüística dos textos. Osaspectos gramaticais escapam aos limites deste trabalho.

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2.1. A Formação dos Conceitos

O raciocínio é o momento amadurecido do pensamento; raciocinar éencadear juízos e formular juízos é encadear conceitos. -------------- 7. Cf. p. 73 ss. ,a S. Voltar aofluxograma da p. 50. 9. Para os aspectos tratados pelas gramáticas,recomenda-se o texto de Othon M. CARCIA, Comunicação em prosa moderna. 187

Por isso, pode-se dizer que o conhecimento humano inicia-se com aformação dos conceitos. O conceito é a imagem mental por meio da qual serepresenta um objeto, sinal imediato do objeto representado. O conceitogarante uma referência direta ao objeto real. Esta referência é ditaintencional no sentido de que o conceito adquirido por processosespeciais de apreensão das coisas pelo intelecto, que não vêm a pósitoaqui, se refere a coisas, a objetos, a seres, a idéias, de pro maneirarepresentativa e substitutiva. Este objeto passa então a existir para ainteligência, passa a ser pensado. Portanto, o conceito representa e"substitui" a coisa no nível da inteligência. O conceito, por sua vez, ésimbolizado pelo termo ou palavra, no nível da expressão lingüística. Ostermos ou palavras são os sinais dos conceitos, suas imagens acústicasou orais. Por extensão, tudo o que se disser dos conceitos, no plano dalógica, pode ser dito também dos termos ou palavras. Assim, conceitos e termos podem ser logicamente considerados tanto doponto de vista da compreensão, como do ponto de vista da extensão. Acompreensão do conceito é o conjunto das propriedades característicasque são específicas do objeto pensado. São os aspectos, as dimensões, asnotas que constituem um ser ou um objeto, um fato ou um acontecimento,que fazem deste ser ou objeto, deste fato ou acontecimento que ele sejao que é e se distinga dos demais; já a extensão é o conjunto dos seres edos objetos que realizam determinada compreensão, ou seja, a classe dosindivíduos portadores de um conjunto de propriedades caraterísticas.Observe-se que quanto mais limitada for a compreensão de um conceito,tanto mais ampla será a sua extensão e vice-versa. Assim,considerando-se os conceitos "brasileiro" e 'paulista', a extensão doconceito 'brasileiro" é mais ampla do que a do conceito 'paulista", istoporque a compreensão de "brasileiro' é mais limitada, mais pobre do quea compreensão de 'paulista" ' ou seja, para ser paulista, um indivíduo,além de possuir todas as características exigidas para ser brasileiro,tem ou possui outra característica específica para se definir comopaulista." -------- 10. O estudo aprofundado desta questão é objeto dateoria do conhecimento, guoseologia ou epistemologia, disciplinafilosófica que aborda os processos do conhecimento humano. 11. PaoloCAROSI, Curso de filosofia, 1, p. 257-9. 188

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Essas considerações não são bizantinas, levando-se em conta que é acompreensão do conceito que permite a elaboração da definição e aextensão que permite elaborar a divisão ou a classificação. A definiçãoé um termo complexo e, como tal, destina-se a desdobrar todas as notasque compõem a compreensão do conceito." À divisão cabe expressar aextensão dos conceitos, classificando-os, organizando-os em suasclasses, de acordo com critérios determinados pela natureza dos objetos. A definição, embora tomando quase sempre a forma de uma proposição,de um juízo, é apenas um termo complexo, plenamente equivalente aoconceito definido. Para ser correta, não deve ser maior nem menor que otermo que pretende definir, não deve ser negativa. Deve ser umaequação." A relevância da definição para o trabalho científico em geralestá no fato de ela permitir exata formulação das questões a seremdebatidas. Discussões sem clara definição dos temas discutidos não levama nada. Aprender a bem definir as coisas de que se trata no trabalho éuma exigência fundamental. Observa-se que nosso vocabulário - conjuntode termos ou palavras que designam as coisas ou objetos através dosconceitos - pode encontrar-se em vários níveis: o primeiro é o nível dovocabulário corrente, comum, que é o usado para nossa comuni caçãosocial. Assimilado pela experiência pessoal da cultura, essevocabulário, embora o mais usado, não é adaptado à vida científica. Defato, o conhecimento científico exige um vocabulário de segundo nível,ou seja, um vocabulário técnico. Para o pensamento teórico da ciência ouda filosofia, não bastam os significados imediatos da linguagem comum.Conceitos e termos adquirem significado unívoco, preciso e delimitado.Às vezes são mantidos os mesmos termos, mas as significações sãoalteradas, com uma compreensão bem definida. Em certo sentido, estudar,aprender uma ciência é, de modo geral, aceder ao vocabulário técnico,familiarizando-se com ele, habilitando-se a manipulá-lo e superandoassim o vocabulário comum. ------ luza., p. p. 24. Sean BE 9; Othon M. GARCIA, AN@ omunicação em ebate,p. 8 moderna, p ,IARD, 189

O vocabulário pode ainda atingir um terceiro nível: é o caso deconceitos que adquirem um sentido específico no pensamento dedeterminado autor ou sistema de idéias. Isto é muito comum nos trabalhosdos pensadores teóricos, na ciência e na filosofia. Um trabalhocientífico de alta qualidade exige, portanto, o uso adequado de umvocabulário técnico e, eventualmente, de um vocabulário específico. Apercepção de tais significações diferenciadas é também condiçãoessencial para a leitura científica e para o estudo aprofundado. 14 Nacomposição de um trabalho científico, o vocabulário técnico e ovocabulário específico ocupam os pontos nevrálgicos da estrutura lógicado discurso, ao passo que o vocabulário comum serve para as ligações das

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várias partes. De fato, mesmo para expor idéias teóricas de níveltécnico ou específico, é preciso servir-se das idéias mais simples, donível corrente, traduzindo as idéias de nível técnico de maneiraacessível e gradativa. O conceito é, pois, o resultado das apreensõesdos dados e das relações de nossa experiência global, é o conteúdopensado pela mente, o objeto do pensamento. É simples resultado dessaapreensão, não contendo ainda nenhuma afirmação. Elencando uma série denotas correspondentes à sua co - o conceito mpreensao, e o termo seexprimem pela definição."

2.2. A Formação dos juízos

Para pensar e conhecer não é suficiente "conceber conceituando". Oconhecimento só se completa quando se formula um juizo que é "o ato damente pelo qual ela afirma ou nega alguma coisa, unindo ou separandodois conceitos por intermédio de um verbo O juízo é enunciadoverbalmente através da proposição, sinal do juízo mental. A proposiçãoé, pois, a vinculação entre um sujeito e um predicado através de umverbo, que são os termos da proposição. ------- 14. Cf. diretrizes para a leitura analítica,especialmente a análise textual, p. 47. 15. Jacques MARITAIN, Ugícamenor, p. 20-5. 16. Ibíd., p. 38. 190

Algumas proposições derivam da experiência, enunciam fatos dados naexperiência externa ou interna, que elas expressam diretamente; outrassão formadas pela análise do conceito-sujeito e o predicado é descobertoenquanto é uma nota da compreensão desse conceito. Nos períodos compostos, encontram-se várias proposições; essesperíodos são formados por coordenação ou por subordinação. Nacoordenação, as proposições estão em condições de igualdade, ao passoque na subordinação uma oração está em relação de dependência para comoutras. Essas várias relações têm importância à medida que fornecem matériapara o desenvolvimento da argumentação. A análise das proposições étarefa prévia da argumentação formal. O raciocínio que constitui otrabalho é uma seqüência de juízos e de proposições que precisam ser bemelaborados, tanto do ponto de vista sintático-gramatical como do pontode vista lógico.

2.3. A Elaboração dos Raciocínios

O discurso científico é fundamentalmente raciocínio, ou seja, umencadeamento de juizos feito de acordo com certas leis lógicas quepresidem a toda atividade do pensamento humano. Também no raciocínio pode-se distinguir a operação mental, oresultado desta operação e o sinal externo desta operação, embora se use

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o mesmo termo para designar essas três dimensões: raciocínio. Como último ato de conhecimento da inteligência, o raciocínio éprecedido pela apreensão, que dera lugar aos conceitos, e pelo juizo,que dera lugar às proposições. O raciocínio é, portanto, a ordenação dejuízos e de conceitos.19 O raciocínio consiste em obter um novo conhecimento a partir de umantigo, é a passagem de um conhecimento para outro. ---------------------- 17. Othon M. CARCIA,Comunicação em prosa moderna, p. 132. 18. Paolo CAROSI, Cursodefilosofia, 1, p. 287-324. 19. Ibid., p. 325. 191

Portanto, mostra a fecundidade do pensamento humano. Comporta sempreduas fases: a primeira, em que se tem algum conhecimento, e uma segunda,em que se adquire outro conhecimento. Os lógicos chamam essas duasfases, respectivamente, antecedente e conseqüente: entre elas deveexistir um nexo lógico cognoscitivo necessário." O antecedente é umarazão lógica que leva ao conhecimento do conseqüente, como umadecorrência daquela razão. O antecedente compõe-se de uma ou váriaspremissas e o conseqüente constitui-se de uma conclusão. A afirmação daconclusão é feita à medida que decorre ou depende das premissas. Arelação lógica de conhecimentos prévios a conhecimentos até então nãoafirmados é uma relação de conseqüência. O raciocínio divide-se,basicamente, em duas grandes formas: a dedução e a indução. O raciocíniodedutivo é um raciocínio cujo antecedente é constituído de princípiosuniversais, plenamente inteligíveis; através dele se chega a umconseqüente menos universal. As afirmações do antecedente são universaise já previamente aceitas: e delas decorrerá, de maneira lógica,necessária, a conclusão, a afirmação do conseqüente. Deduzindo-se, passa-se das prenussas à conclusão. São exemplosclássicos do raciocínio dedutivo os silogisrnos da lógica formalclássica," assim como as formas de explicação científica de estruturatipo explans-explanandum, da lógica simbólica moderna. 22 A indução ou oraciocínio indutivo é uma forma de raciocínio em que o antecedente sãodados e fatos particulares e o conseqüente uma afirmação mais universal. Na realidade, há na indução uma série de processos que não seesquematizam facilmente. Enquanto a dedução fica num plano meramenteinteligível, a indução faz intervir também a experiência sensível econcreta, o que elimina a simplicidade lógica que tinha a operaçãodedutiva. Da indução pode aproximar-se o raciocinio por analogia. trata-se, então, de passar de um ou de alguns fatos a outros fatos -------- 20. Ibid., p, 326. 21. Ibid., p. 338 ss. 22. Brinu LAMBERT, Introduçãoà filosofia da ciência. São Paulo, Cultrix; Kari HEMPEL, Filosofia daciência natural. Rio de Janeiro, Zahar. 192 1 @, mporta semelhantes. No caso da indução de alguns fatosjulgados característicos e representativos, generaliza-se para a

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totalidade dos fatos daquela espécie, aüngindo-se toda a sua extensão. O resultado desse processo de observação e análise dos fatos lógicoconcretos é uma norma, uma regra, uma lei, um princípio universal, caque que constitui sempre uma generalização. A indução parte, pois,rrência de fatos particulares conhecidos para chegar a conclusões geraisaté então desconhecidas. PROCESSOS LÓGICOS DE ESTUDO

O trabalho científico implica ainda outros processos lógicos para arealização de suas várias etapas. Assim, para abordar determinado tema,objeto de suas pesquisas, reflexão e conhecimento, o autor podeutilizar-se de processos analíticos ou sintéticos. A análise é umprocesso de tratamento do objeto - seja ele um objeto material, umconceito, uma idéia, um texto etc. - pelo qual este objeto é decompostoem suas partes constitutivas, tornando-se simples aquilo que eracomposto e complexo. Trata-se, portanto, de dividir, isolar,discriminar. A síntese é um processo lógico de tratamento do objeto peloqual este objeto decomposto pela análise é recomposto reconstituindo-sea sua totalidade. A síntese permite a visão de conjunto, a unidade daspartes até então separadas num todo que então adquire sentido uno eglobal. A análise é pré-requisito para uma classificação. Esta se baseia em caracteres que definem critérios para a distribuição das partes emdeterminadas ordens. Não é outra coisa que se manifesta faz quando umtexto é esquematizado, estruturado: as divisões seguem determinadoscritérios que não podem ser mudados arbitrariamente. Para se descobrirtais caracteres procede-se analiticamente. Análise e síntese, embora se oponham, não se excluem. Pelo contrário,complementam-se. A compreensão das coisas pela inteligência humanaparece passar necessariamente por três momentos, ou seja, para se chegara compreender intencionalmente um objeto, é preciso ir além de uma visãomeramente indiferenciada de sua unidade inicial, tal como a temos naexperiência comum, uma consciência do todo sem a consciência das partes;é preciso dividir, 193 pela análise, o todo em suas partes constitutivas para que, então, numterceiro momento, se tenha consciência do todo, tendo-se plenaconsciência das partes que o constituem: é a síntese. E o que afirmaSaviani ao declarar que a análise é a mediação ent estrutura e sistemas,P. 28-9. 194 Percorridas estas diretrizes para as várias tarefas do trabalhocientífico, tais como devem ser planejadas e executadas durante toda avida universitária, é preciso relembrar que somente um ininterruptoexercício levará à formação de hábitos de estudo definitivos eespontâneos que o estudante continuará então sempre aplicando nas suasseguidas atividades intelectuais. Um primeiro trabalho didáticobem-feito, apesar das dificuldades encontradas e do eventual excesso de

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mão-de-obra, é uma garantia de que o próximo será ainda mais bem-feito,mas, ao mesmo tempo, mais fácil e mais agradável de se fazer, apesar deo próprio estudante tornar-se mais exigente quanto ao nível de rigor domesmo. Frise-se, porém, que não se trata de se perder em questiúnculasformais de detalhes, de pormenores de citação, de redação e outrassemelhantes. O que importa é adquirir capacidade para organizar eestruturar logicamente a atividade pensante desenvolvida, seja ela qualfor, e saber expressá-la numa linguagem igualmente apta a transmitir oconteúdo pensado. Não é preciso que o estudante "ritualize"mecanicamente a forma de se apresentar um seminário só por fidelidade aestas orientações didáticas. Como em todos os momentos da vida, o queimporta são os fins, os objetivos e não os meios. E estas diretrizesmetodológicas, como instrumental didático, querem ser apenas um caminhopara a liberdade de ação do espírito em seu desenvolvimento intelectual. Cumpre ressaltar que "diretrizes metodológicas" como as veiculadaspor este manual não têm valor intrínseco, transcendental e universal.Plenamente consciente disso, o autor não pretende de maneira alguma, nemmesmo por insinuação, apresentá-las como as únicas ou como as melhores.Elas nasceram de uma 195 experiência particular que naturalmente se preocupou em discilinar eapoiar-se em várias fontes, mas nem por isso deixa de er bastanteparticular. Ademais, não existe - nem precisaria xistir - uniformidadeneste assunto. O que como dos alunos, é a preocupação om a disciplinaintelectual como guia da vida científica. Disso inguém pode se eximir. Odescaso com a correção das posturas intelectuais [e estudo em nossasescolas superiores é digno de lástima, levando-se em conta asconseqüências negativas que tem causado. Ia opinião do autor destelivro, aos professores cabe exigir e cobrar dos alunos, após a devidaorientação, a organização da rida de estudos, sem as falsas ilusões dafacilidade de processos Didáticos de eficiência duvidosa e sem aracionalização creditada nuitas vezes a mal interpretadas filosofias daeducação. Sem recusar de maneira alguma a importância dos conteúdos Iainformação teórica, é preciso insistir, durante todo o período daformação universitária, sobre a metodologia adequada das váriasciências, ipós se insistir sobre a metodologia da vidadidático-cíentífica em geral. Observa-se muitas vezes que as disciplinasencarregadas de ensinar a manipulação do instrumental metodológico dedeterminada área do saber acabam transformando-se em mais um conjunto deinformações ou de sofisticadas técnicas que o estudante deve digerirmesmo que não consiga realmente utilizá-las. O que verdadeiramenteimporta, ou seja, o método como desencadeador de uma prática viva eatuante da ciência, não é conseguido. O estudante sai da universidadesem saber aplicar o método próprio de sua especialidade, sem saberpesquisar em sua área. Como já se frisou repetidas vezes, este texto nãotem por objetivo iniciar à pesquisa científica como tal. Existem muitasobras didáticas especializadas sobre o assunto. O objetivo deste livro é

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apresentar diretrizes que ajudem o nosso universitário a disciplinar oseu trabalho de estudo. Sem isso, o aproveitamento de seu estudo e desuas pesquisas ficará muito prejudicado. Nas condições universitáriasbrasileiras, em que a grande maioria dos estudantes não dispõe de tempointegral para seus cursos, exige-se deles rígida organização do poucotempo disponível para o estudo 'em casa', indispensável para umaproveitamento inteligente do curso de graduação; exige-se deles ummínimo de capacitação qualificativa para as etapas posteriores tanto naseqüência eventual de seus estudos, como para o exercício de suasatividades profissionais. 196

Anexo

REVISTAS, DICIONARIOS ESPECIALIZADOS E BIBLIOGRAFIAS E METODOLOGIADA PESQUISA

Estão indicados aqui alguns instrumentos de trabalho acessíveis aoestudante brasileiro. Ênfase especial é dada às revistas, cujo uso maissistemático e intensivo precisa ser instaurado no meio universitário.Também já existem no Brasil alguns repertórios bíbliográfícos de boaqualidade, mas, em geral, pouco conhecidos e utilizados. O mesmo se digados dicionários especializados, que, embora sejam traduções, na suamaioria, são instrumentos de grande utilidade para o estudanteuniversitário. 197

AS REVISTAS CIENTÍFICAS BRASILEIRAS

Quando se aborda a questão das revistas científicas brasileiras, doisfatos constantes causam perplexidade: primeiro, num país com mais de ummilhão de universitários, sem falar dos profissionais já formados, amaior parte das revistas científicas tem segundo, é impressionante onúmero de periódicos cuja publicação foi interrompida. O primeiroparadoxo explica o segundo: como não há hábito generalizado de assinarrevistas, elas acabam deixando de existir por injunções de ordemeconômica. A revista nacional, porém, é um instrumento de baixo custopara o estudioso, pois o valor da assinatura da grande maioria dasrevistas trimestrais é sempre pequeno. A questão maior é, pois, dementalidade e não de ordem financeira e econômica, como ocorre emrelação aos periódicos estrangeiros, cujas assinaturas ficam realmentecaras. Cabe lembrar que o papel das revistas científicas éfundamentalmente a comunicação dos resultados dos trabalhos de pesquisaà comunidade científica e à própria sociedade como um todo. Elaspromovem normas de qualidade na condução da ciência e na suacomunicação. Consolidam critérios para a avaliação da qualidade daciência e da produtividade dos indivíduos e instituições. Consolidam

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áreas e subáreas de conhecimento. Garantem a memória da ciência.Representam o mais importante meio de disseminação do conhecimento emescala. São instrumentos de grande importância na constituição einstitucionalização de novas disciplinas e disposições específicas. Aindicação de revistas não seguiu nenhum critério especial: limitou-se,porém, aos periódicos brasileiros ainda "vivos", isto é, que circulamregularmente e sem muito atraso. Não se prendeu a nenhuma apreciação deordem ideológica, uma vez que é necessário instaurar o uso dessasrevistas para garantir-lhes condições de alcançarem sempre uma melhorqualidade. Ademais, trata-se de uma indicação para estudantesuniversitários, para os quais importa muito o uso da revista comoinstrumento de trabalho ainda nesta fase eminentemente didática de suavida intelectual. Por outro lado, a lista apresentada não está completa,dadas as muitas dificuldades encontradas para se fazer um levantamentoatualizado. Caberá aos professores das várias áreas esclarecer osestudantes sobre as possíveis vantagens de uma ou de outra revista,indicar outras, assim como incentivar incisivamente o seu uso. 198 É de observar que são indicadas apenas revistas especializadas emáreas, não se elencando aquelas de alta especialização. Estas deverãoser utilizadas posteriormente à medida que o estudante definir melhorseu interesse e aperfeiçoamento intelectual. Destas revistas de áreas oestudante pode tirar grande proveito para sua formação. Com a evoluçãode suas tendências pessoais e de sua vida intelectual, ocorrerá,provavelmente, uma delimitação mais precisa de suas especializações epassará a assinar os periódicos correspondentes a essas especializações.

ADMINISTRAÇÃO Caderno Fundap FUNDAP/Centro de Apoio Editorial eDocumentação Rua Cristiano Viana, 428 05411-902 São Paulo-SP Tel. (11)851-3311 Fax. (11) 881-9082 Cada número trata de assunto relativo àadministração pública, tendo como objetivo exercer uma açãomodernizadora junto aos órgãos públicos. Dirige-se a instituições,técnicos, administradores e pessoas ligadas à atividade pública emgeral. (Trimestral) Estudos Fundap FUNDAP/Centro de Apoio Editorial eDocumentação Rua Cristiano Viana, 428 05411-902 São Paulo-SP Tel. (11)851-3311 Fax. (11) 881-9082 Publica números especiais sobre temas de

administração pública, com estudos e trabalhos de maior profundidade etambém textos de maior volume. Temas já abordados: a questão urbana e osserviços públicos; o processo administrativo disciplinar; a residênciamédica etc. Estudos e Pesquisa em Administração Programa dePós-Graduação em Administração da UFPB Campus Universitário 58059-900João Pessoa-PB Tel. (83) 216-7200 Fax. (83) 216-7454 Revista abrigandotrabalhos de pesquisa e artigos versando sobre recursos humanos,marketing, finanças, planejamento, gestão tecnológica e gerência deinformações. Apresenta também resumo das dissertações defendidas nocurso e informações sobre eventos da área. (Quadrimestral)

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199 Gestão e Desenvolvimento Universidade São Francisco Avenida SãoFrancisco de Assis, 218 12900-000 Bragança Paulista-SP Tel. (11)7844-8443 Fax (11) 7844-1825 E-mail: [email protected] Revista destinadaa veicular a produção científica e intelectual dos professores das áreasde administração, econorrúa e ciências contábeis da Universidade SãoFrancisco, acolhendo igualmente trabalhos de profissionais de outrasinstituições, desde que inéditos. Visa discutir temas ligados à gestão eao desenvolvimento das condições produtivas e empresariais. (Semestral.ISSN 1413-828X) Revista de Administração Instituto de Administração daFEAJUSP '@Caixa Postal 11.498 05422-970 São Paulo-SP Tel. (11)814-5500/818-5922 Fax. (11) 814-0439 Tem como objetivo divulgar estudose pesquisas nas áreas de marketing, finanças, produção, recursos humanose adirúnistração em geral. Para tanto, está aberta à colaboração deprofessores e estudiosos da administração de todo o país. Quer se tituirem veículo de divulgação da cultura administrativa brasileira.(Trimestral. cons ISSN 0080-2100) Revista de Administração de EmpresasIRAE Fundação Cebibo VargasAvenida Nove de Julho, 2029 - 10' andar 01313-902 São Paulo-SP Tel. (11)284-2311, rs. 241, 249 Fax. (11) 284-1789 Publica trabalhos na área deadministração, entendida esta num sentido abran- gente, incluindo todasas disciplinas afins. Os trabalhos se apresentam sob a forma de artigos,traduções-, notas, comentários e resenhas, bem como dois informativos:um sobre o mercado de ações e outro sobre atualização bibliográfica.(Trimestrap Revista de Administração Pública Fundação Getúlio VargasPraia de Botafogo, 190 2.2257-970 Rio de janeiro-Rj Tel. (21) 536-9100Fax. (21) 551-4349 Propõe-se a apresentar unia visão prospectiva daproblemática administrativa e temas afins, com análise crítica dasteorias e práticas da administração pública. (Trimestral) Temática Departamento de Adnúffistração da Universidade Estadual deLondrina Caixa Postal 6001 86051-970 Londrina-PR Tel. (43) 371-4000Veículo de divulgação de estudos em administração elaborados porprofessores e especialistas da área. Apresenta as seguintes seções:temas em debate, o empresário e a conjuntura, estudos de caso eresenhas. (Semestral)

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