[LIVRO] Paisagismo - Elementos de composição e estética - ilustrado

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    COLEOJardinagem e Paisagismo~SRIE PLANEJAMENTOPAISAGSTICO~VOLUME 2PAISAGISMO: ELEMENTOS DE COMPOSIO E ESTTICA

    AutorJOS AUGUSTO DE LIRA FILHOCoordenaoHAROLDO NOGUEIRA DE PAIVAWANTUELFER GONALVESCoordenao EditorialEMERSON DE ASSIS VIEIRAAprenda Fcil EditoraViosa - MG2002

    2002 Aprenda Fcil Editora

    Rua Jos de Almeida Ramos, 37 - B. RamosCEP: 36.570-000 - Viosa - MGFone: (Oxx31)3899 -7000E-mail: [email protected]

    L768p2002Lira Filho, Jos Augusto dePaisagismo: elementos de composio e esttica / Jos

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    Augusto de Lira Filho, Haroldo Nogueira de Paiva, WantuelferGonalves. - Viosa, MG, : Aprenda Fcil, 2002.194p.: il. (Coleo jardinagem paisagismo. Srie

    planejamento paisagismo; v.2)Inclui bibliografia1. Arquitetura paisagstica. 2. Jardinagem paisagstica. LPaiva, Haroldo Nogueira de. lI. Gonalves, Wantuelfer.m. Ttulo. IV. Srie...CDD 16.ed. 712.2CDD 20.ed. 712.2ISBN: 85-88216-31-04Contra capaEste livro, em linguagem prtica e objetiva, vem contribuir substancialmente com aquelesque lidam com o paisagismo, ou pretendam construir seus jardins, sejam leigos ouprofissionais.Para facilitar a compreenso do leitor, o contedo desta obra foi dividido em quatrocaptulos, com linguagem simples e direta, enriquecida com muitas ilustraes,indispensveis compreenso dos elementos que compem um jardim e os princpiosaplicados em sua construo. No primeiro captulo so abordados os aspectos dacomunicao atravs da paisagem, em que se empregam elementos bsicos de comunicaovisual (linha, forma, textura, cor), alm do movimento e som para expressar sentimentos esensaes.Em seguida, ensina como lidar com elementos naturais e arquitetnicos no jardim. Dentreestes, apresentada a classificao das plantas ornamentais quanto a forma, ao cultivo, aociclo de vida, e ao ambiente, bem como os mais variados tipos de associaes de plantasque so utilizados para compor um jardim. O emprego de outros elementos naturaistambm discutido no texto, tais como a utilizao de animais, gua, pedras, dentre outrosnecessrios na composio paisagstica. No terceiro captulo so apresentados os elementosarquitetnicos: uso de circulao e pisos; iluminao; construes no jardim de espelhosdgua, cascatas, prgulas, quiosques, decks, reas para lazer e esporte e etc, alm de outrositens relacionados com a parte arquitetnica do jardim.O ltimo captulo voltado para os princpios de esttica aplicados ao paisagismo. Vocvai aprender como dispor os elementos construdos e os naturais de forma que o jardim sejavisualmente agradvel aos usurios. Isto requer que os elementos sejam organizados dentrode princpios de composio esttica, tais como a mensagem, o equilbrio, a escala, adominncia, a harmonia e o clmax.Esta obra revela aos leitores os segredos profissionais dos autores, fruto de longaexperincia no ensino do paisagismo e da elaborao e execuo de projetos paisagsticos,inserindo os mesmos no mundo encantador daqueles que se aventuram em compor belas

    paisagens.

    Aba da capaJos Augusto de Lira Filho paisagista formado pela Universidade Federal Rural dePernambuco, com mestrado em Cincia Florestal pela Universidade Federal de Viosa(UFV) na rea de Estudos de Impactos Ambientais, estando atualmente concluindodoutorado em Paisagismo pela UFV.

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    Desde 1983 vem atuando ativamente no paisagismo urbano e rural, tanto em consultoriasquanto no ensino da Arborizao e Paisagismo. Pertence ao quadro de professores doDepartamento de Engenharia Florestal da UFPB e doutorando em Paisagismo pela UFV,tem passado conhecimento de Paisagismo aos alunos de Engenharia Florestal, Agronomia eArquitetura e Urbanismo em ambas universidades. Durante duas gestes, foi coordenador

    do curso de Engenharia Florestal da UFPB.O autor membro da Sociedade Brasileira de Arborizao Urbana, com publicaes devrios artigos em congressos e revistas especializadas.

    DEDICATRIAs minhas irms, Ftima e Maria Delza, pelo companheirismo e incentivo para que eucontinuasse a caminhada, em momentos to difceis.s novas amizades conquistadas em minha passagem por Viosa-MG, poca em querealizo o Doutorado em Paisagismo.Particularmente, ao amigo Carlos Freitas, por demonstrar que a verdadeira amizade desvinculada de interesses.Ao amigo Fbio Sunaga, encontrado dentro da virtualidade informatizada: mas que logo semostrou real, por meio das inmeras e freqentes mensagens fortalecedoras, impressas como amor de Deus.Enfim, ao Movimento dos Focolares, em que Deus me inseriu h mais de vinte anos, fontede inspirao onde busco toda a fora para continuar esta caminhada.5PREFCIOA elaborao deste livro, juntamente com a de dois outros, foi cuidadosamente feita peloautor e integra a srie Planejamento Paisagstico, que engloba um conjunto de trabalhosimportantes para a prtica do paisagismo, abordados com muita propriedade e emlinguagem tcnica e simples. .A obra destina-se a contribuir com os leigos na arte de construo e planejamento dejardins, mas serve tambm aos profissionais que buscam a praticidade de linguagem. Doincio ao fim deste trabalho, o autor coloca, com a propriedade que lhe peculiar, todasensibilidade e conhecimento sobre o tema, no se furtando a proporcionar ao leitor todasua experincia.O autor parte dos aspectos de comunicao atravs da paisagem, utilizando o jardim paracomunicar sentimentos; aborda elementos utilizados na criao de um jardim,especificando os tipos de elementos envolvidos nesta criao; e engloba os princpios deesttica aplicados ao paisagismo, em busca da beleza e do clmax da paisagem;completando, assim, o segundo volume da srie sobre Planejamento Paisagstico.Na introduo, ele afirma que no medir esforos nem ocultar segredos profissionais parainserir o leitor no mundo mgico do paisagismo, promessas cumpridas em todo o contedode sua obra.7O Professor Jos Augusto de Lira Filho, da Universidade Federal da Paraba, profissionalcomprometido com as questes da engenharia florestal, especialmente da arborizao e dopaisagismo, rural e urbano, cuja trajetria acadmica est repleta de dedicao ao trabalho eesprito de solidariedade profissional e pessoal, no mediu esforos para apresentar aopblico leitor, leigo ou profissional, suas trs obras. Que sirvam de exemplo para outrosprofissionais interessados nesta rea do conhecimento. Parabns do amigo e colega,

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    Professor Geraldo Magela BragaDoutor em Cincias da ComunicaoPs-Doutor em Comunicao RuralProfessor titular do Departamento de Economia RuralUniversidade Federal de Viosa

    8NDICE1.INTRODUO 112.COMUNICANDOATRAVSDAPAISAGEM 152.1. O PROJETO PAISAGSTICO COMOOBRA DE ARTE 162.2. UTILIZANDO O JARDIM PARACOMUNICAR SENTIMENTOS 212.3. ELEMENTOS DE COMUNICAO NO JARDIM ; 262.3.1.Linha 262.3.2.Forma 302.3.3. Textura : 332.3.4. Cor352.3.5.Evoluo dos elementos bsicos de comunicaovisual na composio paisagstica 512.3.6.Movimento no jardim 542.3.7. Trabalhando o som na paisagem ~ 553. ELEMENTOS UTILIZADOS PARAFAZER UM JARDIM 573.1. ELEMENTNOASTURAIS. 583.1.1. Conhecendo as plantas ornamentais 583.1.2.Presena de animais no jardim 913.1.3. Outros elementos naturais 923.2.ELEMENTAORSQUITETNICOS 944. PRINCPIOS DE ESTTICA APLICADOS AOPAISAGISMO 1354.1. BELEZAFUNDAMENTAL! 1424.2. CONHECENDO OS PRINCPIOS DE COMPOSIO PAISAGSTICA 1454.2.1.A mensagem - preciso "dar o recado"1454.2.2. O equilbrio.. 1474.2.3.A escala ..~ 15094.2.4.A dominncia 1524.2.5.A harmonia : 1584.2.6. O clmax da paisagem 167PARA SABER MAIS 171LIVROS DA APRENDAFCIL EDITORA 175VIDEOCURSOSDA APRENDA FCILEDITORA 178VIDEOCURSOS DO CPT 17910

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    CAPTULO 1INTRODUO11

    No primeiro volume da srie Planejamento Paisagstico (Paisagismo - Princpios Bsicos) o

    leitor conheceu uma srie de fundamentos necessrios compreenso dos vrios aspectosque envolvem o planejamento dos jardins. Quem leu o vol. 1 ficou sabendo comoconceituar paisagem,alm de conhecer o que compe uma paisagem, quais so as suascategorias, e como o observador percebe a paisagem e a valoriza. Ficou conhecendo,tambm, as interessantes histrias da arte dos jardins, adquirindo um embasamento paracompreenso dos jardins atuais. Por outro lado, teve oportunidade de saber sobre as funessociais das paisagens, uma vez que os jardins so criados para uso das pessoas.Complementando essa gama de informaes, o leitor ficou a par dos requisitos necessriosqueles que se aventuram na arte de construir os jardins, e como se encontra o mercado detrabalho atualmente.

    Agora, conhecedor de aspectos histricos e filosficos sobre os jardins, convidamos o leitora "colocar a mo na massa", ou seja, iniciar o processo de criao do jardim que tantodeseja. Para isto, deve munir-se de meios (elementos e princpios) necessrios paraconfeco de um jardim dentro dos padres tcnicos, que transmita ao usurio sensaesagradveis e prazerosas. Isto implica em saber "dar o recado", ou seja, saber comunicar-sepor meio dos jardins. Para estabelecer o processo de comunicao, o paisagista lana. mode alguns elementos de comunicao (linha, forma, textura, cor,movimento,som), bemcomo dos princpios de esttica (mensagem, equilbrio, escala, dominncia, harmonia,clmax).O interesse pelo paisagismo tem aumentado substancialmente nos ltimos anos,comprovado pela procura por cursos de capacitao que oferecemos ao longo do ano eaquisio de livros especializados no assunto. Pessoas de vrios ramos de atividade vmsempre em busca de conhecimentos que subsidiem12a elaborao de projetos paisagsticos nas residncias, chcaras, nos stios, fazendas,entreoutros.Salientamos que, seja qual for o ,seu objetivo (profissionalizar-se,criar jardins parabenefcio prprio ou exercer a atividade como hobby), possvel concretizar esse sonho.Gostar de plantas j um bom comeo. Mas no o bastante! Alie a esse gosto a fora devontade em se capacitar para criar jardins belos e funcionais. Capacitar-se implica emadquirir bons livros sobre o assunto, realizar cursos, consultar profissionais, enfim, correratrs dos seus sonhos (criar jardins).Erroneamente, pensa-se que, para ser um jardinista ou para planejar um jardim, ointeressado tem de ser um exmio.desenhista, um experto em computao grfica ou sabertudo sobre plantas. Tudo isso ajuda, claro, mas o que ele precisa ter mesmo sentimento eexpressar esse sentimento.Neste volume, no mediremos esforos nem ocultaremos segredos profissionais para inseriro leitor no mundo mgico do paisagismo.Muitas dicas sero repassadas ao leitor,permitindo lhe construir jardins de forma prtica e econmica, com resultados agradveisesttica e funcionalmente.Para is~o,aconselhamos fazer uma leitura minuciosa doscaptulos que se seguem, com bastante ateno, pois o sucesso do seu jardim depender

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    daquilo que ser abordado neste volume e no prximo desta srie, onde o leitor aprenderos segredos para elaborao de um projeto paisagstico.13

    CAPTULO 2

    COMUNICANDO ATRAVS DA PAISAGEM15

    2.1. O PROJETO PAISAGSTICO COMO OBRA DE ARTEA partir do momento em que a pessoa se prope a elaborar um projeto paisagstico, eladeve estar ciente de que estar estabelecendo, com os usurios do jardim a ser implantado,um processo de comunicao que envolve arte. Que o paisagismo arte, no h a menordvida (isto inclusive j foi bastante discutido no vol. 1 desta srie). O que talvez precisaser esclarecido como o paisagismo se enquadra nas artes.O paisagismo insere-se nas Belas Artes e, como tal, possui suas tcnicas e normas deexecuo, em busca da perfeio, da harmonia, da excelncia. Por Belas Artes entende-se oconjunto das artes que objetivam representar o belo1. Essas artes esto classificadas emquatro grupos, assim distribudas: a) do som (msica e canto); b) do movimento e ao(dana e dramatizao); c) da palavra - falada (oratria, declamao) e escrita (retrica,poesia, prosa); d) da plstica (arquitetura, escultura, pintura). Tradicionalmente, opaisagismo se enquadraria neste ltimo grupo; porm, uma arte to especfica e peculiarque prefervel abord-la em um grupo parte por motivos bvios - uma arte muitodiferente das demais Belas Artes.Em princpio, todas as artes buscam a perfeio, a harmonia, a excelncia, utilizando-se,para isso, diferentes meios de expresso, dentro dos princpios de esttica. Porm, valesalientar que o jardim obedece a certas leis que lhe so peculiares, juntamente com outrasinerentes a qualquer forma de manifestao de arte. So os mesmos problemas de forma ede cor, de dimenso, de tempo e de ritmo. Ressalta-se que, no paisagismo, certascaractersticas tm importncia maior que nas outras formas de arte. O

    1 - Detalhes sobre o conceito de beleza so discutidos no Captulo 4 deste volume.16tridimensionalismo, a temporalidade, a dinmica dos seres vivos devem ser levados emconta na composio. At mesmo as caractersticas dos elementos de comunicao visualtm, no jardim, sua maneira prpria de participar. A cor, na natureza, no pode ter o mesmosentido da cor, na pintura. Ela depende da luz do sol, das nuvens, da chuva, das horas dodia, do luar e de todos os demais fatores ambientais. Eis porque se pode considerar o jardimcomo manifestao de arte com suas prprias caractersticas, dotada de personalidadeprpria.Nas paisagens tropicais do Brasil, o verde escuro, quase negro, em um estranho contraste,alia-se a duas cores dominantes: o amarelo das cssias e ips, que do vibrao composio cromtica, e o violeta das quaresmeiras,que cria um cenrio peculiar naspaisagens, na poca de sua florao. A natureza apresenta essas cores mpares, juntas,competindo com as diferentes tonalidades exibidas pelas demais plantas, para dar a justamedida da composio. So cores que somente se explicam por causa dos fatoresambientais, em contraste com o verde-escuro e denso das matas nativas circundantes.

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    Encontra-se, tambm, na forma e no ritmo das montanhas, das serras, uma certa vivacidade,contrapondo se tranqilidade dos vales e das plancies.Como citado anteriormente, aplicam-se em paisagismo as regras e os princpios aceitos napintura e em outras artes. Entretanto, h um grande diferencial na aplicao dessesprincpios, em decorrncia dos componentes a serem trabalhados na paisagem.

    Exemplificando a diferena marcante entre a pintura e o paisagismo, observamos que, aoexecutar sua obra, o pintor tem um domnio total da cor no seu trabalho, enquanto empaisagismo este domnio parcial. A pintura esttica no muda; enquanto o jardim dinmico, como abordado no vol. 1 desta srie.17As plantas crescem, variam em forma e em cor. Sabe-se que cor luz e esta muda durante odia. Alm disso, a planta pode variar sua cor na brotao, no outono, ou com seuflorescimento. Assim, a composio em paisagismo, seguindo basicamente os mesmosprincpios que seguem a arte da pintura, requer ou exige, para sua aplicao, uma adaptaoespecial.Nesse contexto, um projeto paisagstico se equivale a um quadro com pintura em tela, umlivro, uma escultura, onde o autor se comunica com algum. Na realidade, o diferencial dopaisagismo est na matria prima constituda dos recursos naturais e arquitetnicos e,sobretudo, pelos sentimentos. Tais sentimentos sero repassados aos usurios dos jardinspor meio de elementos vivos e inertes que constituiro a composio paisagstica. .Trabalhar com elementos vivos e inertes para se compor uma paisagem no tarefa fcil. Eno se trata de compor arranjos para imitar a natureza. necessrio ressaltar que no existearte em uma simples imitao da natureza. Desta, tiram-se lies de como os elementos seinteragem e fazem associaes perfeitas. Entretanto, humanamente impossvel brincar deser o Criador. Paisagens construdas pelo homem sempre tero a sua marca, o seu toqueespecial, a sua inspirao. Mesmo que haja tendncia para o estilo naturista ou paisagista(informal), o mesmo requer composies que, em algum momento, se distanciaro da meracpia da natureza. E nesse aspecto que se encontra o diferencial entre uma paisagemnatural e uma, paisagem-arte (jardim).Diferente das demais artes, o paisagismo tem como objeto de trabalho a paisagem comtodos os seus componentes (naturais e arquitetnicos), alm da dimenso temporal. Ojardim cresce, floresce, perde folhas,alguns componentes se movimentam, mudam com asestaes do ano. Da resulta em um dos grandes diferenciais18das outras formas de arte. Alm disso, uma arte que alerta todos os nossos sentidos, ouseja, os jardins possuem cores, formas, sons, aromas os mais variados, entre outrassensaes despertadas naqueles que dele usufruem.Comenta-se que a arte dos jardins provavelmente a mais ambgua, a mais difcil e, aomesmo tempo, a menos apreensvel de todas as artes. Afinal, um jardim faz-se com aprpria natureza, e, no ,entanto, desta se deve afastar por uma ostensiva e delicada alteraoque o que precisamente o toma jardim e o isola de maneira franca e insidiosa dentro daextenso que o cerca.Todo jardim fantasmagoria, ou seja, viso-ilusria. Para o observador, em um primeiromomento ele pode ser apenas uma parte da natureza e quadro destinado a encantar o olhar.Mas, num segundo momento, ele se transforma na viso do observador e passa a acolh-loe despertar sentimentos, insinuando que no apenas um mero cenrio da natureza.Ojardim instala no espao construdo um mundo ligeiramente desligado da natureza. O

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    homem o criou no para a sua subsistncia, mas para seu deleite. Encontra-se s vezesfechado por muralhas,s vezes por.uma cerca-viva, um riacho ou um declive; em ltimocaso, por uma nuana,o espesso ou o raso de uma grama plantada, regada, tratada. Emcertas situaes, esses limites so quase ausentes, e no entanto, ainda perceptveis.Fazer jardins consiste em conjugar um traado de inspirao do artista com a dotao e os

    caprichos dos recursos naturais e arquitetnicos. O pintor, sobre a parede ou sobre a tela,compe vontade linhas, superfcies e cores. O joalheiro, em seu banco, para fazer suasjias,junta, a seu bel- prazer, gemas e metais. O escultor e o arquiteto levam em conta aresistncia do material, obedecendo s leis imperturbveis do equilbrio e da gravidade. Unse outros atuam livremente. Lidam com substncias dceis ou rebeldes, mas19sempre inertes, que eles manipulam e submetem sua inspirao. No precisam temer queelas se rebelem ou se esquivem ou lhes preguem peas. Entretanto, ao imaginar um jardim,o paisagista modifica a natureza, corrige-a, transforma-a. Concilia sua arte com a fertilidadedo solo, com o ciclo das estaes, com o regime das chuvas, a data das semeaduras, osritmos de crescimento e de florao, enfim, com os diferentes fatores da ecologia.Ao contrrio dos demais artistas, o paisagista transforma em obra uma poro medida danatureza. Isso explica, suponho, por que os estilos da msica, da literatura e das artes soto numerosos, e o dos jardins to raros e em bem menor nmero, a ponto de v-los todosnum giro rpido, como se pode constatar na "histria da arte dos jardins" 2. Comparando-seos estilos dos jardins ao das demais artes, h quem diga que estes so quantitativamentemenores,- dada a complexa relao que a arte dos jardins tem com a natureza.Nos jardins atuais, tem-se a difcil tarefa de resgate da natureza, sobretudo nas reasurbanas, onde residem cerca de dois teros da populao mundial. Neste sentido, hnecessidade de se criar paisagens, onde se possa respirar, entrar em contato com a natureza,ter a oportunidade de poder meditar, contemplar uma flor ou uma forma de planta em lugarsossegado, proporcionar populao o prazer de desfrutar despreocupadamente o esporte eo lazer ao ar livre. Isso significa criar jardins com uma expresso prpria "como obra dearte, mas que, simu1taneamente, satisfaam todas necessidades de contato com a natureza,das quais prescindem aquelas que pertencem a uma civilizao tecnolgica.

    2 No captulo 2, vol. 1, da srie Planejamento 1 Paisagstico, encontra;se uma ampla abordagem sobre ahistria da arte dos jardins.20

    Nesse sentido, o jardim ordenado, nos espaos urbanos atuais, um convite ao convvio, recuperao do tempo real da natureza das coisas, em oposio velocidade ilusria dasregras da sociedade de consumo.Como as demais artes, o jardim pode e deve ser um meio de conscientizao de uma

    existncia, na medida verdadeira do ser humano, do que significa estar vivo. No entanto,ele pode dar um testemunho da coexistncia pacfica das vrias espcies, do lugar derespeito pela natureza e pelo prximo, bem como pelo diferente, pelo que est margem dosistema. Em suma, o jardim um instrumento de prazer e um meio de educao. Estafuno social foi bastante discutida no vol. I desta srie, onde se enfatiza a funo socialdos jardins.Como se falou anteriormente, ao fazer jardins, tem-se um compromisso com a educao docidado. Portanto, a misso social do paisagista tem esse lado pedaggico de fazer

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    comunicar s pessoas o sentimento de apreo e compreenso dos valores da naturezaatravs do contato com as paisagens construdas.

    2.2. UTILIZANADO O JAJIDIM PARACOMUNICAR SENTIMENTOSUm jardim, assim como uma pintura em tela ou uma fotografia, uma forma de linguagem,

    "elemento de comunicao que necessita ser compreendido e aceito no esprito do artistaque a . sentiu. Para que o jardim exprima algo emotivo ao observador, necessrio que oselementos nele utilizados, por suas linhas, formas, texturas, cores, movimentos, sons eodores, tambm proporcionem reaes emocionais que estejam intimamente relacionadacom a mensagem desejada. Sabe-se que o ser humano se relaciona como21mundo atravs dos seus sentidos. Os rgos dos sentidos so os canais que ligam os seresvivos ao ambiente em que vivem. Particularmente para o homem, so as sensaes sonoras,luminosas, olfativas, gustativas e tteis que lhe trazem as informaes sobre o mundo. E atravs dos olhos que se recebe a maior quantidade de informaes. Portanto, a reao quea pessoa tem em relao a uma determinada paisagem vai depender, a princpio, dosestmulos visuais que se apresentam diante dos seus olhos. Essa reao depender daviso,mais ou menos perfeita, que se tem da paisagem. E vale salientar que apesar de todasua complexidade e importncia, nossos olhos esto longe de serem perfeitos e muitasvezes nos pregam peas. Por exemplo, freqentemente eles se enganam na 'avaliao dasdimenses dos objetos, de suas formas, de suas posies e de suas cores. Esses enganosvisuais costumam ser chamados de iluses de tica, os quais podem interferir nojulgamento das obras-de-arte. Logo, existe a possibilidade daquilo que o. paisagista desejacomunicar ser interpretado de uma outra maneira.Ao elaborar um projeto paisagstico, a pessoa, dispondo de elementos naturais (plantas,rochas, gua, etc.) e arquitetnicos (caminhos, bancos, prgulas, quiosques, piscinas,churrasqueiras, etc.) no cenrio natural j existente, estar estabelecendo com osespectadores da paisagem um processo de comunicao. Assim, um projeto paisagstico seequivale a um quadro,um livro,uma escultura, onde o autor se comunica com algum. Narealidade,a matria prima do paisagista no so as flores, nem as pedras, nem as rvores.So os sentimentos.Para trabalhar os sentimentos,ou seja, para estabelecer o processo decomunicao,o paisagista lana mo de alguns elementos de comunicao (linha, forma;textura, cor, movimento, som), bem como dos princpios de esttica, assuntos a seremtratados nos prximos captulos.22Como foi frisado na introduo,para ser um paisagista, precisa-se ter acima de tudosentimento e saber express-lo por. meio de paisagens construdas que sejam agradveisaos apreciadores e usurios das mesmas. Assim, o que se espera do paisagista que passeaos seus jardins sentimentos bons de alegria, tranqilidade, dinamismo, relaxamento, paz,entre outros. O maior dos sentimentos o amor. Se projetarmos um jardim com amor, comcarinho, pensando-se em transform-lo numa obra de amor ao prximo, consequentemente,o resultado ser um dos melhores. Portanto, antes de se empenhar nessa tarefa, medite, faasuas oraes, pense naqueles que usufruiro a obra a ser construda, e pea para que ela sejaum instrumento de amor entre as pessoas.Quem se habilita a projetar um jardim passa por uma rotina de trabalho bem peculiar aosartistas. Inicialmente, passa-se por um processo imaginrio at que se concretize no papel. preciso muita imaginao, a princpio, para posteriormente se conciliar com a tcnica.

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    Esse processo de criao pura arte na sua essncia, independente de sua materializao.Neste sentido, tem-se no jardim construdo o produto relacional novo (obra de arte), tal qualfoi concebida pelo artista (paisagista), obra de inspirao, de sentimentos expressos.Um dos mais famosos paisagistas brasileiros, Roberto Burle Marx, buscava inspirao paraseus jardins, observando a prpria natureza. Vivendo em um pas de dimenses continentais

    e com grande riqueza de recursos naturais, saa em busca deles para tirar o melhor partidopossvel. Neste sentido, a partir da riqussima flora brasileira, de sua infinita variedade,introduziu nos seus jardins espcies nativas, resultado de estudos e observaes constantesdas associaes ecolgicas na paisagem natural. Criou um estilo prprio, inspirado napersonalidade dos diversos biomas existentes no pas23(Mata Atlntica, Cerrado, Caatinga, Floresta Amaznica, Campus sulinos, Mangues, etc.).Ao explicar como criou esse novo estilo de jardim, Burle Marx relata que decidiu usar atopografia natural como uma superfcie para a composio e os elementos da naturezaencontrada (minerais e vegetais), como materiais de organizao plstica, tanto e quantoqualquer outro artista procura fazer sua composio com tela, tintas e pincis. O mesmoreconhece no haver diferenas estticas entre seus quadros e os jardins projetados, poismudam apenas os meios de expresso.Como as demais formas de arte, o paisagismo tambm tem uma linguagem prpria paraexpressar o momento histrico vivenciado em termos social, econmico, poltico, religiosoe cientfico, pelo povo que o produziu. Mostram-se, assim, estilos muitos diferenciados 3,todos espelhando os ideais de perfeio, de harmonia e de beleza.Compor um jardim no um exerccio de mera colocao de elementos naturais earquitetnicos em um determinado espao, respondendo questes racionalistas, ou seja,s.em levar em considerao as emoes. , acima de tudo, a organizao de um espaoonde se procura explorar as reaes das pessoas por meio dos sentidos (viso, audio, tato,olfato, paladar). Nesse contexto, a leitura que se faz de um jardim, envolve duascaractersticas: uma leitura racional e uma leitura emocional. Isso implica dizer que razo eemoo esto intimamente ligadas no processo de criao de um jardim. .

    3 - No captulo dois, vol. 1, da srie Planejamento Paisagstico, o leitor ter a oportunidade de conheceros estilos de jardins desde a antiguidade clssica at os dias atuais.24

    quase impossvel para o ser humano isolar o contedo de suas produes do seu "eupsicolgico". Enquanto durar uma criao (um projeto de jardim, por exemplo), ela indivisvel de seu criador, ele vive nela. Por esse motivo, muito comum encontrar-se noprocesso de comunicao uma certa dubiedade e distanciamento dos objetivos, caso ocomunicador (paisagista) no diminua o mximo possvel a interferncia de seu

    subjetivismo no processo criativo.Ento, como se desligar desse "eu psicolgico" e projetar um jardim que seja do agrado daspessoas? Afinal, o que as pessoas esperam encontrar em um jardim?A resposta para essa questo est em um dos princpios fundamentais de composiopaisagstica - a harmonia. Para seu equilbrio psicolgico, o ser humano precisa de calma,paz e harmonia. a integridade e a harmonia que regem o universo do ser humano. Mentee corpo formam uma s unidade. O que ocorre em uma parte afeta o todo.

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    O organismo humano um sistema integrado que procura receber as informaes domundo ordenadas e, da mesma forma, sistemticas. A necessidade coerncia inerente aoser"humano. No jardim, as pessoas so motivadas por algum elemento que lhes digarespeito, que lhes interesse. Anseiam por harmonia e selecionam os aspectos do meio aosquais vai reagir. Salvo, em circunstncia anormais (que no o caso dos jardins), o meio

    no pode forar o indivduo a se comportar de forma estranha sua natureza.Se um cliente no gosta de determinada planta, jamais ir se interessar por ela em umjardim. Ao passo que, se determinado estmulo que se encontra nos elementos do jardim lhefaz sentido, lhe agrada, ele passar a freqentar tal ambiente com bastante25freqncia, pois lhe proporciona bem estar. De uma ou de outra forma, o ser humanoaprendeu a ver algumas coisas como harmoniosas e outras no, pelo prazer ou desprazerque sente. A tendncia descartar o que desagradvel.

    2.3. ELEMENTOS DE COMUNICAO NO JARDIMComo se falou anteriormente, para trabalhar os sentimentos e estabelecer o processo decomunicao, o paisagista lana mo de alguns elementos bsicos de comunicao visual (alinha, a forma, a textura, a cor), alm do movimento e do som. Da a importncia de opaisagista conhecer tais elementos e saber como aplic-los na composio paisagstica.Aqui trataremos apenas dos elementos considerados bsicos na comunicao empaisagismo, ressaltando-se que h outros componentes da paisagem no-visualizados, cujapercepo se d por outros meios (sensaes), alm dos rgos da viso4.

    2.3.1.LinhaTodos, em algum momento, j traaram um risco no papel, na parede, no cho ou emqualquer outra superfcie. Na Geometria elementar5, esse risco traado com auxlio de umargua ou mo livre, denomina-se linha. Trata-se de um trao contnuo com uma sdimenso (o comprimento) e, dependendo da maneira como foi desenhada, podem serclassificadas como: retas, curvas, ou mistas (combinao de retas e curvas).

    4 Para saber mais sobre esses componentes da paisagem recorrer ao captulo 1, vol. 1, da sriePlanejamento Paisagstico, que trata dos princpios bsicos do paisagismo.5 Geometria - cincia que estuda as formas dos objetos e suas dimenses no espao.26

    No entanto, na natureza, as coisas no so to simples, assim como definido na Geometria.Na paisagem, a linha pode ser percebida atravs de uma fileira de rvore sem uma alameda,no contorno das serras e montanhas, na superfcie de um lago, etc. De maneira simplificada,pode-se dizer que, na natureza, a linha o desenho dos contornos dos objetos que esto no

    jardim (rvores,bancos,prgulas, rochas,etc.), de suas linhas internas ou a disposio degrandes planos, como a superfcie de lagos ou edificaes. No caso das palmeirasenfileiradas na alameda, ela representada por uma seqncia unidirecional na extenso daalameda. Mas, tambm, no caso de outros componentes como bancos, arbustos, rochas, etc,elas podem ser definidas aos nossos olhos pelo limite entre componentes visuais diferentesno jardim.Nesse sentido, pode-se afirmar que, na natureza, as linhas no existem, so produtos denossa racionalizao. Na verdade, aquilo que observamos nas paisagens e que chamamos

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    de linha , na realidade, limite de uma forma. A linha do horizonte, por exemplo, no passade uma configurao da Terra. Alm disso, alguns elementos da paisagem tm conotaesque podem ser lidas como linhas. A horizontalidade (linhas horizontais) pode ser percebidano mar, em plantaes agrcolas, e em gramados. J a verticalidade (linhas verticais)encontra-seno tronco das palmeiras, em edifcios e Jorres, alm de outros elementos da

    paisagem. O mesmo raciocnio pode-se estender a outros tipos de linhas percebidas napaisagem. Assim, lemos nas composies paisagsticas suas "linhas", as quais provocamagrupamentos por semelhanas ou isolamento por contrastes.Considerando-se que a leitura visual que se faz de uma paisagem vai, normalmente,do maissimples (ou com possibilidades de simplificao) para o mais complexo, as linhasgeometrizadas (aquelas desenhadas no projeto de jardim) tornam-se mais pesadas27que as orgnicas (aquelas encontradas normalmente na paisagem). Nos projetos de jardimem que haja predomnio de linhas retas, a presena de linhas orgnicas (curva/sinuosa, porexemplo) ganhar peso, pelo fato de ser muito contrastante com o desenho geral do jardim.Dentre as linhas geometrizadas, o peso visual vai das horizontais, passando pelas verticais,chegando s diagonais e curvas. Entre as orgnicas, vai desde aquelas que esto sujeitas asimplificaes geometrizantes at as mais complexas. Ressalta-se que a verticalidade emum meio onde predomina a horizontalidade confere dominncia ao elemento vertical evice-versa.Uma soluo tradicional no equilbrio entre as linhas dar pesos iguais aohorizontal e vertical. A isto se denomina equilbrio clssico, muito comum na arquiteturagrega e afins.A linha o elemento mais simples e mais primitivo no processo de comunicao visual,estando presente em quase todos os componentes da paisagem. Nota-se sua presena naforma de linha vertical nas palmeiras, sinuosa numa cadeia de montanhas, ou horizontal nasuperfcie de um lago. Essas linhas transmitem ao observador da paisagem diferentessensaes.Diferentes tipos de linhas oferecem impresses diversas, que podem ser exploradas com afinalidade de conferir significado ao jardim. Certas sensaes que temos em locais quefreqentamos (inclusive os jardins) podem estar relacionadas de forma imperceptvel com aidia de linhas (Figura 1).28

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    Dependendo da maneira como se encontram no jardim, as linhas passam ao observadorvrias sensaes. A horizontalidade transmite sensaes de segurana, evoca o cho ondepisamos. So linhas passivas, calmas. Sua direo normal da esquerda para a direita.Tambm pode evocar descanso, sono, dependendo de quem29a percebe. J a verticalidade inspira estabilidade. Sua direo, normalmente, ascendente.Evoca vida, espiritualidade, magnificncia. Todas as outras linhas carregam maiordinamismo visual e so menos estveis.

    Resumidamente, as sensaes transmitidas pelas linhas so as seguintes:Horizontal - calma, paz, descanso;Verticalascenso, grandiosidade, permanncia, estabilidade, fora;Curvas graa, movimento e dinamismo.No planejamento paisagstico, o estudo das linhas serve para se fazer a diviso dos espaos,de acordo com as funes de cada ambiente que se deseja introduzir no jardim.

    2.3.2. FormaEm paisagismo, no d para se falar em forma sem se referir s linhas. Ambas esto muitoligadas entre si, e uma depende da outra para que o observador perceba os componentes quese encontram no jardim. Neste sentido, a linha pode constituir-se dos limites de uma forma.

    E esta pode ser definida, de maneira simplificada, como sendo a superfcie ou volumeformado pelos elementos visuais.Ao se fechar, a linha estabelece as mais variadas formas. Assim que observamos umaesfera ou um crculo e no vemos a linha que o circunda que a circunferncia. Dessamaneira, o fechamento da linha nos d formas variadas e cada forma com um sentimentodiferente.Tais formas encontram-se tanto nos elementos naturais quanto nos elementosconstrudos que se encontram na composio paisagstica.30

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    A leitura das formas depende de seu tamanho, ou seja, do tamanho do objeto que compe ojardim. Normalmente, formas grandes so mais pesadas. Entretanto, vale salientar quemesmo um elemento pequeno (de forma pequena) pode ser trabalhado no projeto de jardimde modo a adquirir peso na composio, com o uso de cores adequadas, por exemplo.Por outro lado, a posio que as formas ocupam no espao visual tambm influencia muito

    seu peso visual. Assim, um elemento colocado na posio central do jardim insinua aconotao de que os demais elementos esto girando em sua volta. Portanto, deve-se termuito cuidado com a distribuio dos elementos no jardim. Por exemplo, o lado direito dacomposio deve ser bem estudado, pois dependendo do elemento a colocado, e por serrea de finalizao da composio, esta pode adquirir aspecto muito esttico, tirando ointeresse dos demais elementos. Outro exemplo a ser citado seria em relao posiosimtrica, isto , distribuio de elementos com pesos iguais em cada lado da composio.A simetria tende tambm a deixar a composio com menor dinmica. Este assunto sermais bem discutido no captulo quatro, quando abordaremos o princpio do equilbrio nacomposio paisagstica.Cada forma apresentada no jardim tem um valor intrnseco que pode lhe aumentar o pesovisual, como, por exemplo, formas humanas e animais, smbolos como cruzes, setas,coraes, etc., ou formas com as quais tenhamos alguma afinidade, ou mesmo repulsa. Paraos judeus, por exemplo, a estrela de Davi (com seis pontas) tem um significado todoespecial de afinidade. Entretanto, eles tm grande repulsa pela sustica6, por razeshistricas. J os cristos catlicos, tm na cruz uma forma cuja simbologia transmite

    6 Sustica - smbolo em forma de cruz adotado pelos adeptos do regime poltico criado por Hitler,na Segunda Guerra Mundial.31a espiritualidade pregada por Jesus Cristo. Por outro lado, os esotricos encontramsignificao especial em objetos com formas de estrela, meia-lua, entre outras.Na paisagem construda, a vegetao com suas mais variadas formas adquire uma

    significao toda especial para os espectadores e usurios. Tais formas encontram-se emtodas as partes das plantas (da raiz copa), sendo mais marcante o formato das copas nasrvores e nos arbustos (Figura 2).

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    2.3.3. TexturaAo observarmos a superfcie de uma mesa recoberta por vidro polido, ou um muro comheras enraizadas, sem toc-las, possvel distinguir visualmente que a superfcie da mesa

    lisa e a do muro ligeiramente spera. Isto quer dizer que na superfcie dos objetos existealgo que nos transmite sensaes, conforme os objetos se apresentem aos nossos olhos.Aesta sensao denomina-se textura.Logo, pode-se dizer que textura o elemento que nos d a impresso visual de umasuperfcie ao tato. Observando-se as folhas das plantas que se encontram no jardim, pode-sedizer, sem toc-las, se as mesmas tm superfcies lisa ou grossa. E assim com os demaiselementos dos jardins. Atravs da textura temos sensaes sem que seja preciso tocar nosobjetos.Essa sensao ocorre porque, nos objetos, existe uma agregao indiferenciada de linhas,formas e, ou, cores, formando variaes em suas superfcies. Quando as formas sorepetidas, cria-se uma textura, a qual pode variar muito dependendo do tamanho (escala) eda cor das formas repetidas (Figura 3).

    Analisando-se a Figura 3, verifica-se que a textura pode ser entendida como um padro, outrama, composta pela repetio de elementos visuais. No exemplo citado, a textura finaprovm ento33

    de um agrupamento de pontos semelhantes, enquanto as do tipo mdia e grossacorrespondem ao agrupamento de crculos pequenos e grandes, respectivamente.Nos jardins, a textura pode ser encontrada nos gramados, nas copas de rvores,na folhagemdos arbustos,na casca de troncos, nos muros, na pavimentao, em corpos d'gua, entreoutros componentes da paisagem.Particularmente, as plantas ornamentais oferecem uma variedade de texturas que, se bemplanejadas, oferecero timos efeitos visuais (Figura 4). Assim, o paisagista pode tirarpartido de uma srie de texturas encontradas na conformao da copa das. rvores, nasranhuras dos troncos, nos pisos gramados, nas plantas de forrao e at mesmo nas formaspontiagudas das bromlias.

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    34 bom lembrar que a distncia do observador pode influir na textura no que concerne

    nitidez com que as partes do objeto so percebidas. Quanto maior for a distncia doobservador, menor ser o tamanho das partes percebidas do objeto. Portanto, o paisagistapode tomar partido deste fator e criar efeitos de distncias em um jardim pequeno,posicionando texturas finas ao fundo da composio e texturas grossas mais frente, ouseja, plantas de folhas pequenas ao fundo e plantas de folhas grandes frente. Invertendo-seesta ordem, a impresso ser contrria, isto , de proximidade.Atravs das texturas, possvel passar aos freqentadores do jardim sensaes agradveis. o caso das texturas finas que tm a propriedade de causar a impresso de descanso, pelorelaxamento visual que proporcionam. Mas, muito cuidado ao trabalhar com texturas, poisas lustrosas, brilhantes, so mais pesadas, tm maior peso na composio que texturasopacas. Assim como as agressivas, encontradas nos espinhos dos cactos, tm maior peso

    que texturas delicadas, alm de trazerem um valor intrnseco, o de machucar.Recomenda-se, tambm, o uso de texturas, quando se deseja destacar algum elementoespecfico,como uma escultura ou mesmo outra planta de caractersticas peculiares.Funciona como o trabalho, com profundidade de campo, em fotografia: foco definido parao objeto a destacar e fundo desfocado.

    2.3.4. CorSe nos trancarmos numa sala, apagarmos todas as luzes e fecharmos as cortinas de modoque no penetre nenhum raio de luz no ambiente, estaremos envolvidos em plena escurido,sem percebermos os objetos que se encontram ao nosso redor e,35

    tampouco, as suas cores. Essa experincia nos remete a uma questo: Ser que a luz tem aver com a percepo das cores?A resposta bastante clara, pois, se acendermos a luz da sala, imediatamente iremosidentificar todos os objetos que se encontram na mesma, inclusive com suas cores. Isto querdizer que a percepo de cores percepo de luz. Isto ocorre porque a aparncia (a cor)dos corpos depende do modo pelo qual eles refletem ou absorvem a luz. Portanto, cor asensao visual produzida por luzes de comprimentos de onda diferentes.

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    A cor no tem existncia material. apenas sensao produzida por certas organizaesnervosas sob a ao da luz, isto , uma sensao provocada pela ao da luz sobre o rgoda viso. Seu aparecimento est condicionado, portanto, existncia de dois elementos: aluz (objeto fsico, agindo como estmulo) e o olho (aparelho receptor, funcionando comodecifrador do fluxo luminoso, decompondo-o atravs da funo seletora da retina).

    reflexo da luz que nos permite ver os objetos que nos cercam. Assim, quando a luz"bate" num objeto e volta, chegando aos nossos olhos, est ocorrendo a reflexo. Assensaes visuais so produzidas quando a luz que vem dos objetos atinge nossos olhos.Portanto, a luz e o agente da viso, isto , vemos um corpo porque ele envia luz para nossosolhos.Na prtica, um objeto considerado branco quando reflete acima de 85% da luz incidente,e considerado negro quando absorve mais de 85% da luz. Por causa desse alto porcentualde luz absorvida, costuma-se dizer que o negro representa ausncia de cor .Variaes de tonalidades entre o -preto e o branco podem ser encontradas, dependendo do'porcentual de luz absorvida e36refletida pelos corpos. Por exemplo, se um objeto refletir 50% da luz branca que o atinge(os outros 50% so absorvidos), sem privilgio para nenhuma das cores em especial, ele seapresenta cinzento. A tonalidade do cinza ser mais ou menos clara de acordo com aporcentagem da luz refletida. Assim, se o objeto reflete 70% da luz, ele se mostra cinza-claro, mas, se reflete apenas 30% da luz, ele se apresenta cinza-escuro. Quando no habsoro nem reflexo de luz, porque o objeto translcido, ou seja, deixa passar a luzsem permitir que se veja o objeto.Mas o leitor pode estar se perguntando: E quando os objetos se apresentam com outrascores que no seja o preto, o branco ou o cinza? O que acontece?Isso se deve ao fato de que os objetos fizeram uma absoro seletiva, isto , absorveram aluz num determinado comprimento de onda e a refletiu naquele comprimento de onda (cor)em que os objetos se apresentaro aos nossos olhos (vermelha, azul, amarela, etc.).Consegue-se explicar a variabilidade das cores quando se considera que a luz constitudapor ondas emitidas pelas fontes luminosas (luz do Solou luz artificial). Cada corcorresponde, ento, a ondas de determinada freqncia.Uma cor acontece quando a luz branca (natural ou artificial) incidente em um objeto, comtodas as cores em propores iguais, refletida com um desvio para uma delas,independente do valor da razo absoro/reflexo que se tenha. Numa simplificao doprocesso de percepo das cores de um objeto, pode-se dizer, por exemplo, que um objetopercebido como vermelho iluminado pela luz branca, portanto, por todas as cores,absorvendo todos os raios de luz que vo do violeta ao laranja (cores do arco-ris) e refletepara nossos olhos apenas, os raios vermelhos.37A maior parte dos objetos apresenta superfcie irregular e, por isso, reflete a luz em todas asdirees. Nesse caso, fala-se que ocorreu uma reflexo difusa ou difuso da luz. Ento,quando vemos um objeto, estamos recebendo a luz que ele reflete difusamente para oambiente. Se a superfcie do corpo for bem lisa, ocorre a reflexo regular da luz, na qual adireo da luz refletida bem definida, como, por exemplo, na superfcie da gua de umlago.A luz refletida difusamente pelo objeto, ao alcanar nossos olhos, determina a cor desseobjeto. Diferentes objetos, dependendo do material de que so feitos ou do tipo de

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    revestimento que receberam,refletem de modos diversos as vrias luzes que compem a luzbranca e, por isso, apresentam cores diferentes. Assim, se enxergarmos um objeto com acor vermelha, porque estamos recebendo dele a luz vermelha e no as demaiscomponentes da luz branca. Igualmente, um objeto azul est refletindo a luz azul paranossos olhos e um objeto que visto com a cor amarela est nos enviando luz amarela.

    Salienta-se que, se a luz de um ambiente no for branca, os objetos nele contidos poderoapresentar colorao diferente.Alguns objetos introduzidos no jardim, como os bancos, tm cores apropriadas queextrapolam a questo esttica. Cadeiras em volta da piscina, por exemplo, possuem coresclaras. Isto se explica porque a luz uma forma de energia e, como tal, pode se transformarem outras formas de energia. No caso dos corpos coloridos e negros, a energia luminosano refletida absorvida pelo objeto, convertendo-se em calor, que os aquece. Por isso,quanto mais escuro for um objeto, tanto mais ele se aquecer ao ser exposto ao Sol. porisso que nunca se v uma cadeira de praia de cor preta ou outro colorido escuro. Seriadesconfortvel para o usurio.38

    Opolgono da cores

    As cores podem ser dispostas em uma estrela - o polgono das cores - formadas por doistringulos cruzados cujos vrtices representam as cores primrias e secundrias. Na fsica(cores na natureza), o polgono das cores diferente daquele que os pintores usam. Nopolgono da fsica, as cores primrias so o vermelho, o verde e o azul e as secundrias soo magenta, o amarelo e o ciano (Figura 5).Cores primrias so aquelas que no se decompem, ou seja, no se obtm de quaisquermisturas de cores que se faam. Cores secundrias so aquelas obtidas da mistura de duasprimrias.Chama-se de complementares as cores que se encontram em vrtices opostos no polgonodas cores: vermelho com ciano, verde com magenta e azul com amarelo. Sua combinaoprovoca os contrastes mais fortes ou gritantes. J as cores vizinhas como, por exemplo, overmelho com o amarelo, so as que provocam os contrastes mais suaves ou graduais.As cores podem tambm variar de uma forma mais complexa do que as indicadas pelopolgono das cores. Assim, tm-se variaes em tonalidade, brilho e pureza (intensidade).Tonalidade o nome da cor, ou melhor, o valor de seu comprimento de onda no espectroda luz visvel, como por exemplo: amarelo-ouro, amarelo-alaranjado, ou os diferentes tonsde verde que se encontram nos jardins. Cada tonalidade encontrada no gradiente entre duascores vizinhas (por exemplo, vermelho e amarelo) denominada de matiz.Brilho (ou valor) a quantidade de luz que refletida em certo comprimento de onda ou,ainda, o grau de mistura de certo39tom de cor com o branco. Para cada tonalidade de cor, tem-se brilho varivel, por exemplo,entre o rosa mais claro e o vermelho forte, tem-se toda urna gradao de cores nestatonalidade.Pureza da cor, tambm chamada de intensidade, o grau de mistura de urna cor de certatonalidade com o conjunto das demais cores, ou melhor, de sua mistura com valores depreto a cinza. Por exemplo,tons de vermelho, laranja e amarelo,sendo refletidos junto comvalores de cinza, do origem aos diversos tons de marrom.

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    As cores podem ser "somadas".A sorna ocorre quando duas ou mais luzes coloridas secombinam, resultando urna sensao visual diferente da causada isoladamente pelas luzescombinantes. As luzes vermelha, verde e azul so denominadas cores primrias aditivas,porque, urna vez combinadas em diferentes intensidades, podem originar qualquer outracor. Portanto, se utilizarmos trs lanternas que emitem fachos de luz colorida (vermelho,

    verde, azul) de igual intensidade para iluminar urna tela branca, de modo que os trs focosse superponham parcialmente, descobriremos que:

    vermelho + verde = amarelo;vermelho + azul = magenta;verde + azul = dano;vermelho + verde + azul = branco.

    As cores amarela, magenta e ciano so chamadassecundrias aditivas.

    Influncia das cores sobre as pessoasDo mesmo modo que os demais elementos bsicos da comunicao visual (linha, forma etextura), a cor dos objetos na paisagem tambm transmite sensaes aos observadoresdesses40

    objetos e, consequentemente, exerce influncia sobre a mente humana, provocandosensaes diversas. Da a importncia para o paisagista de conhecer as diferentes sensaestransmitidas pelas cores, tais como:Vermelho- uma cor associada com sons graves, calor, ao e excitao. tambm provoca aimpresso de avano para o observador, ou proximidade, o que "reduz" o espao de umjardim, caso se carregue de vermelho. Sabe-se tambm que o vermelho aumenta a pressosangnea e a tenso muscular.Laranja- est associada com sons estridentes, calor, ao e excitao. O avano ouproximidade em relao ao observador mais fraco que no vermelho. O laranja excita ocampo emocional e favorece a digesto.Amarelo - associa-se a sons agudos e provoca um avano moderado para o observador.Oamarelo um estimulante mental e nervoso, aguando o raciocnio.O amarelo-esverdeado,assim como o cinza, trazem impresso de frescor, calma e repouso.Verde- associada a sons suaves, relaxamento e repouso, agindo como sedativo evasodilatador (reduo da presso sangnea), sendo atenuante das dores nevrlgicas,tenses de fadiga, estresse e insnia.Azul - uma cor associada a sons suaves e agudos, ao frio ou frescor, calma e ao repouso.Ao contrrio do laranja, vermelho e amarelo, o azul provoca a impresso de recuo oudistanciamento do observador, o que eventualmente "amplia" o espao de um jardim.Violeta - est associada ao frio, calma e ao repouso. Tambm um calmante que atuasobre o corao e pulmes.No paisagismo e em quase todos os campos da atividade humana, as cores esto presentesde uma forma ou de outra. Nos41jardins, elas esto presentes de forma bem concreta tanto nos elementos naturais quanto nosarquitetnicos. Mas, as cores tambm esto bem presentes na decorao dos ambientes, nos

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    livros, na televiso, no cinema, enfim, em qualquer lugar em que o homem esteja e que aluz se faa presente.Pesquisas modernas mostram ser fato incontestvel que as cores exercem uma aoconsidervel na mente das pessoas. No ser humano, o comprimento de onda de luzcorrespondente a determinada cor tem a propriedade de decompor pigmentos especficos

    que se encontram na retina do olho e responsveis pela viso de cores. Essa decomposioocorre com maior ou menor intensidade, segundo o comprimento de onda, provocandoreaes fsicas e psicolgicas. Por esse motivo, tem-se os efeitos excitantes ou depressivosprovocados por algumas cores. E em decorrncia do grau de influncia das cores, asmesmas foram classificadas em dois grupos opostos: cores quentes e cores frias.De modo geral, as chamadas cores quentes, como o vermelho, o alaranjado e o amarelo,so excitantes, ao passo que o violeta, o azul e o verde, as cores frias, so calmantes. Porisso, as paredes dos corredores e quartos de hospitais so pintados em tons pastel, de verdee azul, por causa de suas propriedades tranqilizantes. Igualmente, essas tonalidades sotambm utilizadas nas vestimentas de mdicos e enfermeiros, em substituio ao tradicionalbranco.Os quadros de giz, comuns nas escolas, so pintados de verdes justamente por se tratar deuma cor tranqilizante e no provoca cansao na viso dos alunos.No campo da Psicologia7, as emoes humanas so

    7 Psicologia a cincia que estuda os fenmenos mentais e do comportamento humano.42

    tradicionalmente associadas s cores. Assim, por exemplo, ao vigor e ao amor sexual associada cor vermelha. O amarelo corresponde, entre outros sentimentos, ao cime e alegria. cor azul associa-se a tranqilidade, a compreenso, a pacincia. A depresso, atristeza e a piedade so sentimentos ligados ao anil e ao violeta.Nas artes que utilizam a expresso sinestsica (cinema, televiso, teatro) e tambm na

    fotografia, freqente a utilizao de cores associadas a sensaes psquicas, para criar aatmosfera adequada a cada cena. As cores quentes (ou fortes), como o vermelho, costumamser usadas para situaes que sugerem ao e movimento. Pelo contrrio, as cores frias (ousuaves),como o azul, so utilizadas quando se deseja obter um clima romntico na cena.Jas tonalidades escuras, geralmente cinzentas, so normalmente usadas para criar noespectador a.sensao de desolao, mistrio ou terror.Ento, qual o clima que se deseja criar no jardim?A.resposta est nas cores a serem utilizadas no projeto paisagstico em funo dassensaes que se deseja passar para os usurios do jardim. Assim, um canteiro com floresde colorao forte, vibrante, ir passar ao espectador uma sensao de excitao, alegria. Jo tom suave das flores de colorao fria poder deixar a sensao de calma, tranqilidade.

    Portanto, no processo de comunicao visual, como um projeto de jardim, a cor tem umafuno bem definida e especfica, devendo ajudar na clareza da mensagem a sertransmitida.A cor, s vezes, cria o clima desejado e fala por si s, o que deve seraproveitado pelo paisagista como instrumento tcnico para passar sua mensagem. Somenteescolher, aleatoriamente, plantas com determinadas cores no garante que a composiopaisagstica seja equilibrada e harmoniosa. a.paisagista, na condio de43

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    comunicador, deve se interrogar se o pblico vai entender com exatido o que ele querdizer ao projetar determinado jardim.Nesse contexto, as relaes entre as cores quentes e frias (Figura 6) so as seguintes:As cores quentes so mais luminosas, vibrantes. A relao de contraste intenso como, porexemplo, numa Slvia (Salvia splenders)8plantada em uma das dependncias do jardim

    (Foto a). Cores quentes so mais vibrantes,lembram o fogo, o sol, o calor, a alegria. Elasso ativas, mais pesadas, parecem ocupar mais espao que na realidade; conferem maiorvibrao composio, assim como parecem avanar em direo ao observador. Da mesmaforma, funcionam as reas luminosas do jardim.Cores fria, ao contrrio, nos lembram o frio, o gelo, o cu, a umidade,so passivas,maisleves,profundas,recuam visualmente, podem inspirar tristeza (cuidado ao us-la nojardim!); so mais relaxantes, mais est4ticas.Dessa forma funcionam tambm as reasescuras do jardim.Em sntese,quanto noo de "cores quentes e frias, pode se dizer que existe umaassociao psicolgica com as cores apresentadas por objetos que emitem calor;j que cor luz e esta uma fonte de energia, como foi explicado anteriormente. Ento, resumidamente,pode-se dizer que:Cores quentes - so visualmente mais apelativas, transmitem impresso de agitao e doidia de proximidade;Cores frias - so menos atrativas, transmitem impresso de repouso e afastamento.

    8As plantas so denominadas pelo seu nome popular (por exemplo, Slvia) e cientfico (por exemplo,Salvia splenders) de origem latina.44

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    45O estudo das cores tem evoludo bastante atualmente, inclusive, na Cromoterapia9. Ela tem-se ocupado com o efeito das cores sobre o comportamento e sobre o organismo humano. Opoder de curar problemas psicolgicos e fsicos, bem como a possibilidade de influenciarinteraes sociais em um determinado ambiente, tm sido observados atravs dos tempos.Com o jogo de cores em um certo ambiente, pode se trazer influncias que vo alm doprazer esttico.Sabe-se que as cores estimulam todos os rgos dos sentidos, pois o rosa-aveludadoprovoca sensaes tteis semelhantes a carcias. Pode-se sentir tanto a brisa ou o vento de

    outono em folhagens amarelecidas, como o cheiro das matas em um verde suculento.

    As cores na natureza

    Quem j presenciou um dos fenmenos mais belos produzidos pela natureza, o arco-ris,noesquece jamais. Ele ocorre, naturalmente, antes ou depois da ocorrncia de uma chuvaquando existe, pairando no ar, uma quantidade muito grande de gotculas de gua. Assim,quando o Sol est prximo linha do horizonte (no incio da manh ou no final da tarde), a

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    luz solar (branca) pode atingir essas gotculas, nelas se refratar e decompor originandoluzes coloridas (vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil, violeta) e ento alcanar oobservador na forma de arco-ris. Esse feixe de luz colorido denomina-se de "espectro daluz branca solar" e as setes cores emitidas so chamadas de cores fundamentais.Essas cores que existem na natureza so responsveis pela beleza da paisagem e ajuda na

    identificao dos seus componentes. Assim, objetos de mesma forma e mesma textura sedistinguiro pela cor. Como se explicou anteriormente,.a cor dos objetos reflexo

    9 Entende-se por Cromoterapia, uma forma de terapia que utiliza luzes de vrias cores para curardeterminadas doenas.46

    47da luz que incide neles. No paisagismo, importante saber combinar as cores dessesobjetos, bem como os sentimentos que cada uma delas transmitem. Para combin-las, basta

    que conheamos sua posio no polgono das cores e saibamos que se conseguem osmaiores contrastes com as cores opostas e os menores com as cores vizinhas.A diversidade das cores que nos envolvem, encantam e produzem em nosso interiorsensaes agradveis. No por acaso que o colorido da natureza, inmeras vezes, inspiroupoetas, msicos e pintores. Qualquer pessoa se sente reconfortada e inspirada aocontemplar uma paisagem cheia de cores. Mas nem todos conseguem transformar empalavras, versos, sons e imagens aquilo que esto sentindo. Isto quer dizer que a sensao sentida por todos, mesmo de forma diferenciada, porm nem todos so capazes de exprimi-

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    Ia em palavras ou em outras formas de expresso. No entanto, para o paisagista, deextrema importncia saber transmitir as sensaes por meio dos seus projetos de jardim,sobretudo, utilizando-se das cores que a natureza oferece.o exemplo do arco-ris foi apenas um dos inmeros que se pode citar na paisagem. Ocolorido da natureza encontra-se no azul infinito do cu, no verde das matas, no verde-

    azulado dos mares, nas tonalidades vermelhas e alaranjadas no crepsculo (quando o Sol sepe) ou no amanhecer, bem como na variedade de cores dos elementos que compem aspaisagens.As cores so fundamentais no jardim, sobretudo, aquelas emitidas pelas plantasornamentais. Elas constroem o clima psicolgico" e do-lhe movimentos, pois mudam aolongo do dia, de estao para estao, bem como durante as diferentes fases do ciclo devida da planta. .48As plantas ornamentais fornecem uma grande variao de cores que pode ser exploradapelo paisagista. Elas podem estar presentes nas plantas em tonalidades sempre verdes,verdemudando estacionalmente, ou em outras cores.Ao se tratar das cores das plantas, no se pode deixar de levar em considerao os matizesdas flores,dos frutos, da folhagem e dos demais rgos da planta como razes e galhos(ramos). Dentre esses rgos, as folhas, as flores e os frutos so os elementos de maiorversatilidade em termos de cores, apresentando inmeras tonalidades.A folhagem oferece cores que vo desde o cinza, passando pelo verde-cinzento e os verdesmais suaves at vrias tonalidades de vermelho e prpura. A casca dos frutos e dos troncostem cores que variam desde o branco, passando por muitos cinzas e marrons, at bronze-brilhante e algumas tonalidades prximas do negro.Para compor o jardim, algumas cores so mais fceis de se encontrar nos componentesnaturais e outras j so mais difceis. Certas cores, como o azul-esverdeado, so maisdifceis de encontrar. J o vermelho, rosa, amarelo, laranja, prpura e branco, com todas asvariaes intermedirias, so mais conhecidas e encontradas com maior freqncia. Corescomo o rosa-prpura, que na verdade o vermelho-plido; o rosa-carmim, que possuitoques de azul; ou o rosa-salmo, que possui um pouco de amarelo, exigem extremasutileza em sua combinao.O colorido da natureza,alm de ser um componente esttico, tem importncia quanto aoaspecto funcional. H vrias situaes em que as cores "naturais" aparecem contribuindopara a ecologia10 da paisagem. Em alguns casos, as cores servem de camuflagem comomecanismo de sobrevivncia de alguns animais, tais como o10 o termo ecologia deve aqui ser concebido como a interao entre os seres vivos e o ambiente que oscerca, influenciando-se reciprocamente.49camaleo, que pode ficar verde nas proximidades de uma folhagem e marrom ao lado de

    um tronco de rvore. Em muitos casos, as cores tm papel preponderante na reproduo,seja de animais, seja de vegetais, e, portanto, representam uma garantia para asobrevivncia das espcies. O colorido das flores serve para chamar a ateno de insetos ebeija-flores, que participam de sua polinizao. Em muitas espcies animais, como o pavo,geralmente o macho que apresenta colorido exuberante para atrair a fmea.Especificamente em relao s plantas, a cor verde se deve a um pigmento denominadoclorofila, muito importante no processo de fotossntese11, que permite aos vegetais absorverenergia do Sol. Podem-se citar seis tonalidades diferentes de verde, mais comuns,

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    encontradas nas folhagens dos jardins: verde-mdio, verde-escuro, verde-esbranquiado,verde-acinzentado, verde-amarelado, verde variegado, alm da colorao prateada que bastante tpica, por exemplo, nas folhas do dlar-de-prata (Eucalyptus cynerea).Se, na paisagem natural, as cores existem em grande variedade, no mundo criado pelohomem, como as paisagens construdas, a presena das cores tambm uma constante. Na

    pintura, no desenho, na arquitetura, no cinema, no paisagismo e em outras manifestaesartsticas, a utilizao adequada das cores um dom precioso que deve ser explorado embenefcio daqueles que usufruem as obras-de-arte (entre elas o jardim).No campo perceptivo da paisagem, existem elementos que foram a direo do olhar echamam mais ateno do que outros. No mundo das cores, algumas direcionam a fora doolhar, obrigando que se olhe para elas. Entretanto, qualquer cor pode ser dominante, desdeque seja a mais forte na composio paisagstica.

    11 - Fotossntese - processo de produo de alimento para planta por meio da fixao de gs carbnico,existente no ar, e a ao da luz solar. A clorof1la tem participao fundamental nesse processo.50Concluindo este item, fazemos questo de passar uma importante dica, em relao s cores,

    para aqueles que pretendem fazer jardins. Embora a sabedoria popular afirme que gosto nose discute, na hora de escolher a cor predominante no jardim, convm no esqueceralgumas regras:Tem sempre maior efeito uma massa de vegetao com uma cor s, do que a de umamistura de cores; melhor formar macios de cores uniformes, alternando eventualmente as cores dosmacios, que misturar todas as cores num bloco nico;Alguns contrastes so visualmente mais agradveis do que outros. consegue-se melhorefeito combinando harmonicamente as cores.

    2.3.5.Evoluo dos elementos bsicos de comunicao visual na composio paisagstica

    . Durante o processo de leitura visual da paisagem, vrios elementos de comunicao estoenvolvidos (linha, forma, textura, cor), sempre composto por uma combinao deles, cujapercepo consciente se d ao nvel do todo - e no das partes diferindo sempre de pessoapara pessoa.Nesse sentido,o sucesso do artista depende da sua habilidade de criar novos objetos, pormeio dos elementos visuais que se encontram na matria-prima de sua arte, e que agrademaos observadores.A qualidade de um objeto de arte e, particularmente, a beleza paisagstica,depende da combinao desses elementos visuais para constituir a variedade visual. NaFigura 7, mostra-se a evoluo dos elementos visuais para compor a variedade visual,enquanto na Figura 8 tem-s a mesma evoluo desses elementos no contexto da paisagem.

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    53 reconhecido que a existncia, ou no, de variedade desses elementos visuais (linha,forma, textura, cor) possa ser um dos principais fatores da qualidade do recursopaisagstico, desde que eles se harmonizem. Essa harmonizao constitui a basefundamental do paisagismo. No captulo quatro, ao tratar sobre princpios de esttica, tem-se um relato minucioso de como se consegue harmonia no jardim.

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    2.3.6.Movimento no jardim

    A paisagem um processo dinmico de comunicao. Junto com a paisagem que se elaboraacontecero muitas coisas com a participao das pessoas, com a freqncia de pssaros,animais silvestres, ou a permanncia de aves e peixes ornamentais em locais especficos,

    alm do impacto do vento na folhagem, ou o simples toque de um pequeno objeto nasuperfcie de um lago desenhando ondas em sua volta.Da, o paisagista habilidoso deve tirar proveito desse fato, utilizando um quinto elementono seu projeto: o movimento. Ele poder ser buscado na adoo de objetos que se mexamna paisagem ou que fazem a paisagem se mexer, como a gua (fontes, cascatas), o vento(folhas), ou as prprias pessoas que circulam no jardim.Por outro lado, percebe-se movimento atravs das linhas e formas dos componentesdistribudos no jardim. Linhas sinuosas s margens de uma represa insinuam movimento,alm de serem mais suaves e graciosas. Elas se tomam mais agradveis, em vez de linhasretas, caso a represa fosse totalmente retangular.54

    2.3.7. Trabalhando o som na paisagemEsse elemento o mais difcil de se trabalhar no projeto paisagstico. Com ele valoriza-sebastante o projeto. Pode ser obtido de forma natural (canto dos pssaros, sons do ventosobre os objetos, sons das guas em movimento), ou artificialmente como a introduo demsicas orquestradas que ajudaro a complementar na transmisso dos sentimentos,juntamente com os outros elementos da composio paisagstica.55

    CAPTULO 3ELEMENTOS UTILIZADOS PARA FAZER UM JARDIM57

    Ao elaborar um projeto, o paisagista dispe de elementos naturais compostos por umacombinao de componentes fsicos (solo, gua, clima) e biolgicos (plantas e animais),bem como de elementos construdos pelo homem, os quais so chamados de elementosarquitetnicos (construes, vias de acesso, prgulas, piscinas, play-ground, obras-de-arte,etc.). Acrescente-se a esses elementos, o prprio homem, principal componente eprotagonista da paisagem, e para o qual a mesma construda. Implicaes inerentes ao serhumano sero abordadas no volume trs da Srie Paisagismo, no captulo destinado aoslevantamentos de ordem social da paisagem, os quais sero tratados como aspectos decarter econmico, psicolgico e cultural.

    3.1. ELEMENTO.S NATURAISA natureza um todo sinfnico, em que os componentes naturais esto todos intimamenterelacionados, influenciando a paisagem com seu tamanho, forma, cor, aroma, som,movimento, entre outros caracteres.Dentro dessa concepo, a planta ou animal no maisapenas um ente sistemtico, um ser de decorao. muito mais do que isso. um sistemadotado de uma imensa dose de atividade espontnea, possuindo seu prprio modo de vivercom o mundo que o envolve.

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    Esses componentes (plantas e animais) podem se constituir em elementos de alto valoresttico e funcional e, se necessrio, alguns podem ser modificados ou melhorados para quese obtenha um jardim belo e agradvel aos usurios.

    3.1.1. Conhecendo as plantas ornamentais

    As plantas so um dos elementos de maior plasticidade utilizados nos projetos de jardins,exigindo-se do paisagista58conhecimento de sua forma, de como se comportam no ambiente, do seu ciclo de vida, e decomo cultiv-las no jardim.Na paisagem construda, as plantas ornamentais constituem a base dos projetospaisagsticos. Mas, como consider-las no contexto do paisagismo?De um lado, ela um ser vivo que obedece s leis da natureza, cumprindo todo um ciclo devida (nasce, cresce, desenvolve, envelhece e morre). Por outro lado, qualquer planta resultado de uma herana gentica que lhe confere caracteres especficos, diferenciando-adas demais. E todo esse aperfeioamento de formas, de cor, de ritmo, de estrutura, faz comque a mesma seja dotada de atributos estticos, extremamente importantes na composiopaisagstica. Alm disso, deve-se atentar que a planta goza, no mais alto grau, dapropriedade de ser instvel. Ela viva enquanto se altera. Sofre uma mutao constante, umdesequilbrio permanente, cuja finalidade a prpria busca do equilbrio.Esse equilbrio prprio da natureza e pode ser constatado nas associaes naturais que asplantas fazem para sobreviverem e, com isto, perpetuarem a espcie. Tais associaes nose fazem ao acaso, pois obedecem a compatibilidades que dependem do jogo complexo dosfatores do clima, do solo e da prpria interao entre plantas e animais e de plantas entre si.O paisagista no Brasil goza da liberdade de construir jardins baseados numa realidadeflorstica de riqueza transbordante, incomparvel com a vegetao de outras regies domundo. Respeitando as exigncias da compatibilidade ecolgica e esttica, ele pode criarassociaes de grande expressividade. Fazer essas associaes no significa copiarfielmente a natureza. Basta saber transpor e associar, com base em um critrio seletivo,pessoal, os resultados de uma observao morosa, intensa e prolongada.59A ttulo de exemplo, cita-se o renomado paisagista, Roberto Burle Marx, que, para criararranjos em seus jardins, valeu-se de visitas e anlises das diferentes associaes de plantasdas serras de Minas Gerais e outras partes do pas. Observou a flora dos solos mineiros(arenito, canga, calcrio, gnaisse, basalto), detectando que poderia tirar proveito de suariqueza quanto aos aspectos estticos. Com isso, pode-se concluir que atravs daobservao que se chega a compreender a razo de ser de muitas coisas, o sentido daexistncia de determinados seres e a beleza que neles existe.No observar as diferentes paisagens naturais, no escutar os relatos dos povos nas cincoregies do pas, tm-se muito a aprender sobre as nossas plantas e aplic-las nos jardins.Por esse Brasil afora, atribui-se a algumas plantas influncias malficas ou benficas,variando as supersties de regio para regio. Culpam as plantas por determinadasdesgraas e infelicidades ou, ao contrrio, por trazerem benefcios espirituais, msticos.Nada contra a sabedoria popular, ressalvado alguns exageros de certas pessoas. H pessoasque tm verdadeiro horror ou antipatia por determinadas plantas, como acontece com oscactos, cravos, etc., atribuindo-lhes at maus agouros. J, outros dizem que certas plantasafastam "mau olhado" (comigo-ningum-pode, por exemplo). Sejam quais forem os

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    motivos, o paisagista deve respeitar as crenas das pessoas, a fim de no constrang-las elhes oferecer jardins belos e prazerosos.E para que os jardins sejam, ao mesmo tempo, belos e prazerosos, a escolha das plantasdeve ser criteriosa,fruto de estudos apurados sobre as mesmas. Portanto, ao escolher avegetao para o jardim, aps o estudo de todos os pr-requisitos que definiram a sua opo

    por determinadas espcies, deve-se proceder a verificao do papel que cada planta, ougrupo de plantas, representa no local.60Dessa maneira, a escolha correta corresponde a uma ligao intrnseca com a funo que aplanta desempenha. Dever sempre haver um motivo muito claro para sua presena, querseja por uma das inmeras razes tcnicas, quer seja por conceitos ligados teoria dacomposio (princpios de esttica).

    Classificao geral das plantas ornamentaisA noo sobre a cobertura vegetal que constituir a paisagem se faz necessria, devendo opaisagista inclu-la em classes que muito facilitar o seu trabalho. Entretanto, faz-senecessrio alertar que qualquer classificao aplicada a um universo to rico ediversificado, como o das plantas ornamentais, estar sempre sujeita a imprecises,ambigidades e superposies. A classificao que se segue procura ser o mais abrangentepossvel, chamando-se ateno, em alguns momentos, para os casos especficos dedeterminadas plantas com caractersticas bem particulares.Salienta-seque mesmo a simples diferenciao entre rvores e arbustos, que nos podeparecer primeira vista suficientemente precisa, no tem uma correspondncia exata nanatureza, onde esta distino nem sempre to clara, pois existem formas intermediriasque poderiam se enquadrar tanto em um tipo como em outro, ou que dificilmente seajustariam a alguns deles.

    rvoresDiferenciar uma rvore das demais plantas relativamente fcil, pois as plantas arbreaspossuem porte considervel e impressionam pela perfeio e clareza de sua estruturaformada por caule nico e copa bem definida.A forma estrutural de uma rvore resulta do modo como as partes responsveis pelocrescimento da planta (meristemas) se61desenvolvem. Em decorrncia do tipo de crescimento adotado, a rvore poder ter umaforma acentuadamente vertical, marcado por um nico tronco, que, em vez de se dividir,apenas lana ramos lateralmente (estrutura monoaxial), ou dispor de uma forma mais bemdistribuda no espao, resultante de outros tipos de estrutura, onde o caule se subdivide umaou mais vezes (estrutura poliaxial), conforme pode-se verificar na Figura 9.

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    Na concepo de projetos paisagsticos, as rvores podem ser associadas a alguns tipos-padro de volume. Estes se caracterizam basicamente pela forma de suas copas que, quando

    associadas entre si, oferecem mltiplas possibilidades na criao62de ambientes, ora muito sombreados, ora muito claros, ora muito envolventes ao usurio, epossibilitam diversas formas de circulao por entre seus troncos (Figura 10).

    63As conferas destacam-se no grupo das rvores por possurem uma forma bem especfica,geralmente com copas em forma de cone, sendo bastante utilizadas no paisagismo,sobretudo em jardins caractersticos do sul do pas (clima sub-tropical) ou para

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    caracterizao de estilo de jardim de clima temperado, como os Alpes suos. Excetua-seneste grupo algumas espcies,tais como o Pinheiro-do-Paran (Araucaria angustifolia), decopa espalhada.Alm de teis como abrigo, as rvores servem como fatores de ordenamento do espao napaisagem, podendo constituir-se em elementos simblicos de extraordinrio valor e

    objetivos privilegiados de referncia ou de marcao do espao.Na concepo paisagstica,a rvore pode ser concebida como um verdadeiro teto vegetal, provido de suporte nico (otronco), permitindo franca transparncia para um observador localizado prximo a suacopa.

    ArbustosA principal diferena dos arbustos em relao s rvores est no caule. Nos arbustos, oscaules so, tambm lenhosos, porm se apresentam, de modo geral, ramificados rentesao.solo (Foto b). Quanto ao porte, nos arbustos este bem menor que o das rvores.Os arbustos constituem plantas normalmente muito resistentes e, como as rvores, tm umperodo de vida bastante longo. Diferem das plantas herbceas pela consistncia dos ramos.

    Enquanto nos arbustos eles so lenhosos, nas herbceas eles se apresentam tenros eflexveis.Na composio paisagstica, os arbustos permitem uma diversificada forma de uso e seapresentam volumetricamente com uma grande variedade de opes em termos de formas,tamanhos e cores. Os arbustos, mais que as rvores, apresentam-se em formas, cores evolumes diferenciados, alguns se assemelhando a pequenas64rvores, outros se mostram finos e pontiagudos, como verdadeiras esculturas, outrospossuem folhagens de cores diversas e outros se apresentam muito altos, alm de outrosainda permitirem ao homem sua modelagem em vrias formas (topiarias).

    A forma peculiar dos arbustos, com seus diferentes caules aflorando junto ao solo, permitea formao de conjuntos vegetacionais uniformes onde as plantas perdem a suaindividualidade e passam a formar associaes,o que pode ser muito til para a formao decercas-vivas, macios ou cortinas vegetais.Em paisagismo, os arbustos constituem elementos de fundamental importncia naorganizao de espaos, sendo

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    65essencialmente utilizados como barreiras vegetais. Quando mal empregados no jardim,podem trazer enormes prejuzos ao tratamento paisagstico,chegando a comprometer oudestruir visuais importantes, podendo tambm obstruir trechos essenciais do espao livredisponvel no jardim.

    Nos jardins de hoje, limitados a pequenos lotes, so os arbustos as plantas ornamentais queoferecem maior potencial para uso. E so extremamente variveis as suas caractersticasornamentais, apresentando algumas espcies que se comportam como uma pequena rvoreou uma palmeira. Da a sua versatilidade na composio paisagstica.

    PalmeirasRepresentam uma classe especial devido s suas formas especficas como o caule emestipe11 com folhas grandes e muito caractersticas em forma de pena (pinadas) ou de leque(flabeladas).A palmeira tpica tem seu caule esguio, vertical ou inclinado, s vezes tortuoso, coroadopor uma roseta de folhas. Tais aspectos servem de referncia e marcao na paisagem.Entretanto, algumas fogem desse perfil geral e adquirem outras formas, apresentandotroncos robustos, porte baixo, ou ainda ocorrem em touceiras (Figura 11).

    11 - Estipe - caule areo e ereto, geralmente no ramificado na parte de cima, mas com folhas quepartem diretamente do caule.66

    Incluem-se tambm, nessa categoria, as plantas denominadas de cicadceas. Insere-se nestacategoria as espcies do gnero Cyca sp, popularmente conhecidas por cica, ou palmeirasamambaia, e a palmeira-sagu ou sagu, que, embora, faam parte das conferas, so muitoassemelhadas s palmeiras, sendo normalmente confundidas por pessoas leigas emBotnica.Entre as plantas ornamentais, de grande porte, nada se compara em elegncia e beleza comas palmeiras. Suas folhas correspondem s partes mais ornamentais dessa classe de plantas,como as flabeladas encontradas na latnia (Fatania lontaroides) e falsa latnia (Livistonachinensis), ou as do tipo pinadas presentes67no coqueiro (Cocos nucifera), na palmeira imperial (Roystonea oleracea) e no babau(Orbignia sp). Alm das folhas, variaes, as mais exticas, ainda ocorrem com relao aostipos de caules (estipes) e inflorescncias.

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    Assim, o jardim tropical, sem as palmeiras, no estaria perfeitamente caracterizado. Doponto de vista esttico, elas impressionam mais pela sua silhueta que pela sua cor ou poroutros caracteres. Da ser recomendvel, do ponto de vista de composio, a colocao daspalmeiras de forma isolada ou em pequenos grupos.Alguns jardinistas e pessoas com pouco conhecimento da Botnica podem incluir os

    bambus na classe das palmeiras, por se assemelharem ligeiramente a elas. Entretanto,osbambus so plantas que pertencem famlia das gramneas, com altura no raramentesimilar das grandes rvores, formando vrios caules subdivididos abaixo da superfcie dosolo e originando densas touceiras,.parecendo-se com grandes arbustos.Os bambus apresentam caules do tipo colmos12 eretos, que apresentam um dimetrovarivel entre 1 a 25 cm, e uma altura entre 1 a 30 m. So originrios da China, ndia eJapo e por essa razo, sua participao em jardins orientais quase obrigatria.Em jardins muito grandes ou em parques so usados aqueles de grande porte como obambu-gigante (Dendrocalumus giganteaus), o bambu-amarelo (Phylloatachya aurea), ouainda o bambu-imperial (Bambusa vulgaris). J nos pequenos, pode ser usado com muitagraciosidade o bambuzinho (Bambusa gracilis), que apresenta colmos finos, com folhasamarelas e no passam de 3 metros de altura.

    12 - Colmos - so caules areos e eretos, geralmente no ramificados na parte superior. Apresentamem toda a sua extenso ns e entrens, formando gomos. No caso do bambu, o caule oco.68

    TrepadeirasCorrespondem vegetao caracteristicamente lenhosa que necessita de algum suporte(cercas, muros, paredes, pergolados, rvores, caramanches, etc.) ou tutor para sedesenvolver. Elas tm um crescimento muito rpido, direcionado para as partes superioresdo jardim, em busca de luz. Caracterizam-se pelo seu polimorfismo, isto , adquirem vriasformas, dependendo da sua conduo no jardim. Neste sentido, podem comportar-se como

    uma rvore, um arbusto, ou at mesmo como uma forrao,quando espalhadas sobre o solo.A utilizao desse grupo de plantas nos jardins tem como base no s seu rpidocrescimento no plano vertical, como tambm, usando pouco espao oferece na sua maioriauma florao de colorido diversificado. Alm disso, so ideais para recobrir cercas, muros,prgulas, colunas, arcos e em certos casos servir como forrao recobrindo o solo.Por essas suas caractersticas, proporcionam ao paisagista solues de rara beleza paracorrigir certos problemas arquitetnicos, tais como colunas e paredes com aspectosdesagradveis.Para trabalhar adequadamente com as trepadeiras, fundamental para o paisagista conhecero seu hbito de crescimento e a maneira como elas se apiam ou se fixam no suporte. Emfuno dessa caracterstica, as trepadeiras foram reunidas em trs grupos distintos. As que

    no possuem qualquer rgo de fixao, as que tm seus prprios dispositivos deamarrao, e as que possuem caules volveis.Entre as trepadeiras do primeiro grupo, que tem como caracterstica a ausncia de rgos defixao, existem alguns tipos69de cips, como as buganvlias (Bougainvillea sp), cujos caules flexveis e de crescimentoalongado, produzem novos ramos sucessivamente at encontrarem apoio. A contnuasobreposio de novos ramos sobre os anteriores d origem a uma exuberante massa

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    vegetal que, apoiada em um suporte verga ao seu prprio peso. Portanto, elas exigem umapoio adequado como prgulas, caramanches, entre outros suportes.Encontram-se, ainda no primeiro grupo,plantas que formam ramos muito longos, mastendem a tomar forma de arbustos escandentes, desde que no-amarradas a umsuporte,como o caso da alamanda (Allamanda cathartica) e brinco-de-princesa (Fuchsia

    hybridum), ou alguns tipos de jasmim. Geralmente, essas plantas, quando cultivadas,podem necessitar de amarraes especiais a alguma estrutura de apoio, sem as quais noassumem a forma adequada.No segundo grupo, encontram-se as trepadeiras que possuem seus prprios meios deamarrao, as gavinhasl3,que nascem em substituio a partes vegetais como folhas, ramosou flores e possuem sensibilidade para enrodilhar rapidamente em qualquer apoio prximo.Isso acontece, por exemplo, com o amor agarradinho (Antigonon leptopus), o cip-de-so-joo (Pyrostegiavenusta) e o maracuj-au (Passiflora quadrangularis). Ressalta-se queexistem dois tipos de razes fixadoras: aquelas que criam pontos de sustentao ao seexpandirem aps sua penetrao em fendas, e as que produzem uma espcie de cimento quelhes possibilita aderir, mesmo em superfcies lisas. No primeiro caso, tem-se a costela-de-ado ou monstera (Monstera deliciosa),enquanto a unha-de-gato ou falsa hera (Ficuspumila) e as heras13 - Gavinhas so pequenas razes, no formato das patas de um gavio, as quais servem para fixar astrepadeiras em qualquer suporte.70enquadram-se na segunda situao. A trepadeira corao-de-estudante (Solanumwandiandii) o exemplo daquelas que usam espinhos curvos para sua fixao.As trepadeiras volveis, como a madressilva (Lonicera japonica), a campainha (Ipomoeapurpurea) e a lgrima-de-cristo (Clerodendrum thomsonae), fazem parte do grupo trs,cujos brotos se enrolam em espiral em volta de qualquer suporte. Uma dica para quem vaius-las no jardim: se colocada junto a um muro, sem a colocao de vara ou suporte paraque ela se enrole, sinal de fracasso, pois no se vai conseguir o efeito esttico e funcional

    desejado.Conhecendo-se essas caractersticas, fcil ser ao paisagista escolher a. trepadeira adequadapara cobrir um caramancho, embelezar muros, paredes ou colunas de aspectodesagradvel, ou, ainda, completar a moldura superior de uma vista. Nos terraospergolados, as trepadeiras alm de embelezarem, proporcionam a sombra desejada para asreunies sociais alm de propiciarem um ambiente fresco e confortvel.Quanto ao porte, existe entre as trepadeiras uma grande variedade de espcies com alturaou extenso diversificadas. Entre as de pequeno porte cita-se flor-de-cera (Hoya carnosa)ou o jasmim-da-noite ou rainha-da-noite (Cestrum noturnum), que no atingem mais do que2 ou 3 metros, em geral, com crescimento um pouco lento, servindo para cercas, colunas etrelias baixas. Representantes de porte mdio tm-se o amor-agarradinho (Antigonon

    leptopus) e a lgrima-de-cristo (Clerodendrum thomsonae), ideais para o revestimento deprgulas, trelias ou muros no muito altos, pois os ramos destas espcies no vo alm os5 ou 6 metros de comprimento. Finalmente, as trepadeiras de grande porte podemultrapassar os 6 metros de extenso, como o71caso da sete-lguas (Pandorea ricasoliana) e da glicnia (Wisteria floribunda), as quais noso apropriadas para espaos de tamanho limitado.

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    As flores das trepadeiras geralmente so muito vistosas, da um dos motivos por serembastante utilizadas nos jardins. A maioria das trepadeiras possui flores que ornamentam aparte externa de sua copa. No entanto, tomam-se mais interessantes quando observadas porbaixo, uma vez que a florao aparece em cachos pendentes, como, por exemplo, osapatinho-de-judia (Thunbergia mysorensis), como ilustrado na Foto c.

    Pelo exposto anteriormente, verifica-se que as trepadeiras so extremamente ornamentais,pela presena da florao. Raramente elas possuem frutos grandes e s vezes vistosos, ouento comestveis, como nos diferentes tipos de maracuj ou parreiras (videiras).

    Herbceas e torraesAs plantas herbceas, de consistncia tenra, so plantas, normalmente de pequeno porte epodem estar subdivididas em duas categorias: herbceas propriamente ditas e forraes,conforme ilustrado na Figura 12.72

    73Na primeira categoria, encontram-se as plantas de consistncia tenra que se formam em umramo principal com um desenvolvimento mais vertical que horizontal. As forraes diferemda categoria anterior, por no apresentarem um ramo principal definido e tenderem a seespalhar, com um crescimento mais horizontalizado, procurando ocupar todo o solo quelhes oferece, ou seja, forrando o cho.Nesse sentido, as forraes possuem caules rastejantes ou de porte muitos baixos (alturaaproximada de 30 cm), no resistentes ao pisoteio. Por suas caractersticas de vigor e

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    rusticidade, podem cobrir densamente reas do terreno no jardim. As forraes so muitosensveis ao pisoteio e, por esse motivo, oferecem restries de uso no jardim.Como os arbustos, as forraes oferecem possibilidades mltiplas de uso, de acordo com ograu de processamento que se deseja implementar no jardim, podendo ser plantadas emreas de sombra ou de sol, de acordo com a espcie e a idia geral que se tem do projeto de

    jardim.As forraes so, como o prprio nome indica, plantas rasteiras adequadas formao detapetes vegetais, recobrindo reas, contornando rvores, arbustos ou outros elemento