Livro - Português II - Volume 1 (CEDERJ)

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  • objetivos

    Meta da aula

    Apresentar o conceito de sintaxe e seu objeto de estudo, no mbito da orao em lngua portuguesa.

    Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:

    1. conceituar sintaxe;

    2. caracterizar os sintagmas como elementos constituintes da orao;

    3. identifi car as propriedades dos sintagmas;

    4. distinguir os diferentes tipos de sintagmas.

    Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    Ivo da Costa do Rosrio

    Mariangela Rios de Oliveira1AULA

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    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    Em nosso dia a dia, vivemos mergulhados em frases, faladas e ouvidas, escritas

    e lidas, por ns e por nossos interlocutores. um tal de Bom-dia!, Poderia

    me dar licena?, Como vai? Tudo bem?

    INTRODUO

    Tudo nos parece muito simples, natural e espontneo, no ? Porm, se

    observarmos com mais ateno esse verdadeiro mundo de frases, vamos per-

    ceber critrios e regras que permitem nossa comunicao atravs desses usos.

    Por exemplo, poderamos falar, escrever ou mesmo entender algo como

    Licena dar me poderia? ou Bem tudo? Pois , esta aula se dedica exata-

    mente rea da gramtica que se volta para o estudo da ordenao, dos

    mecanismos que nos permitem a comunicao por intermdio de frases e

    demais expresses, ou seja, a sintaxe.

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    LA 1

    O que sintaxe? Como se caracteriza? Qual seu objeto? Essas so perguntas

    que vamos responder aqui.

    Assim, nesta primeira aula, a proposta defi nir o que sintaxe, delimitar

    seu objeto e tratar do sintagma, a unidade sinttica bsica. De modo mais

    especfi co, examinaremos o conceito, os tipos, os usos e as caractersticas

    do sintagma. Esse um momento muito importante, em que estaremos

    trabalhando com um dos nveis de anlise lingustica mais fundamental para

    a descrio e a interpretao da lngua portuguesa o nvel sinttico. Con-

    vidamos voc a nos acompanhar nessa viagem!

    O QUE SINTAXE?

    Para as pessoas, de um modo geral, que j foram ou so estu-

    dantes, lidar com a sintaxe resume-se em classifi car termos da orao e

    perodos, na tentativa de fi xao de uma srie de rtulos e regras sem

    maior refl exo e aplicabilidade no trato dirio. Alis, muitos pensam que

    s h aulas de portugus quando se faz a tradicional anlise sinttica,

    por anos repetida e poucas vezes compreendida.

    Na verdade, a sintaxe algo bem mais simples e fundamental em

    nosso cotidiano com a lngua portuguesa. Trata-se de um dos nveis da

    gramtica da lngua.

    Cada nvel da gramtica da lngua constitui uma rea de abordagem dos estudos lingusticos. Basicamente, reconhecemos a existncia de trs nveis: fonolgico (fonemas e slabas), morfolgico (morfemas e palavras) e sinttico (sintagmas, frases e perodos).

    Partimos do conceito de gramtica como o conjunto das regras

    e convenes que nos permitem fazer entender uns aos outros. Alm da

    fontica e da fonologia, que lidam com a realizao sonora e sua repre-

    sentao grfi ca, e da morfologia, que trata das classes de palavra e sua

    estrutura, as convenes lingusticas do portugus incluem a sintaxe,

    ou seja, a parte da gramtica que nos permite produzir e interpretar as

    frases da lngua, inclusive aquelas que jamais havamos ouvido, lido ou

    pronunciado, conforme se encontra em Azeredo (1995).

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    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    Para melhor entendermos do que estamos falando, vamos tomar

    dois provrbios de nossa lngua, duas frases feitas que circulam tra-

    dicionalmente em nosso pas:

    (1) De gro em gro a galinha enche o papo.

    Recomendamos a leitura do livro Iniciao sintaxe do portugus (1995), de Jos Carlos de Azere-do. O autor doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou Lngua Portuguesa de 1970 a 1996. Atualmente, professor adjunto do Instituto de Letras da UERJ. Alm dessa obra indicada, ele tambm autor de muitas outras, como Fundamentos de gramtica do Portugus (2000) e Ensino de Portugus: fundamen-tos, percursos e objetos (2007).

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    (2) guas passadas no movem moinhos.

    Para compreendermos os provrbios citados, precisamos enten-

    der a ordem e a hierarquia em que seus elementos esto organizados.

    Estamos considerando hierarquia como o processo de vinculao e de

    subordinao dos elementos nesses provrbios; pela ordem hierrquica,

    esses elementos se vinculam e estabelecem dependncia entre si. Assim,

    no primeiro provrbio, temos o modo da ao verbal (de gro em gro),

    depois o termo sobre o qual se faz a declarao (a galinha), seguido do

    comentrio sobre esse ser (enche o papo). No segundo provrbio, surge

    em primeiro lugar o termo sobre o qual se declara algo (guas passadas),

    acompanhado imediatamente do comentrio negativo (no movem moi-

    nhos). Via de regra, colocamos nas primeiras posies os constituintes

    mais importantes ou relevantes para nossos fi ns comunicativos, reservan-

    do as ltimas posies para informaes mais perifricas ou subsidirias.

    Essa capacidade de compreenso se d no nvel sinttico, ou seja,

    no plano da ordenao dos constituintes. Para chegarmos a tal habilida-

    de de construir e interpretar as frases do portugus, precisamos apenas

    estar mergulhados em nossa comunidade lingustica, interagirmos uns

    com os outros e, assim, de modo quase automtico, desenvolvermos essa

    capacidade fundamental para falar, escrever e compreender nosso idioma.

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    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    Para enfatizarmos como a ordem das palavras fundamental no

    portugus, observemos estas duas frases:

    (3) Joo seguiu Pedro na rua.

    (4) Pedro seguiu Joo na rua.

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    Enquanto (3) nos informa que Joo praticou a ao de seguir

    Pedro, a frase (4) nos diz justamente o contrrio que foi Pedro quem

    seguiu Joo. Ora, a alterao de sentido na comparao de (3) e (4) ocorre

    justamente por causa da alterao na ordenao dos constituintes na

    estrutura da frase, ou seja, por causa da mudana sinttica. Em (3), Joo

    aparece em posio inicial e o agente da ao de seguir, que, por sua

    vez, incide sobre o alvo Pedro. J em (4), a troca posicional dos nomes

    Joo e Pedro leva troca de funo desses constituintes, fazendo com

    que Pedro seja o agente, aquele que pratica a ao de seguir Joo, este

    que passa agora a ser o alvo da ao. Ambas as frases so fi nalizadas

    com a informao adicional sobre o local da perseguio (na rua), que,

    assim como de gro em gro, em (1), atua como um adendo, um informe

    adicional sobre a circunstncia da ao.

    As frases de que at agora tratamos (1), (2), (3) e (4) ilustram

    tambm a ordenao padro em lngua portuguesa, a sintaxe preferen-

    cial usada para interpretar e produzir frases: sujeito (S) + verbo (V) +

    complemento (C), ou simplesmente SVC. Isso signifi ca que tendemos a

    considerar, em princpio, os nomes iniciais como agentes da ao verbal

    e os fi nais como os alvos, ou seja, os pacientes atingidos pela ao dos

    primeiros. As informaes sobre circunstncias da ao (modo, meio,

    tempo, lugar, entre outras) costumam se ordenar aps o verbo, como

    papis secundrios ou adjuntos. Assim, do ponto de vista sinttico, temos

    a seguinte organizao estrutural das frases at aqui vistas:

    (1) De gro em gro (a galinha) (enche) (o papo).

    ADJUNTO S V C

    (2) (guas passadas) (no movem) (moinhos).

    S V C

    (3) (Joo) (seguiu) (Pedro) na rua.

    S V C ADJUNTO

    (4) (Pedro) (seguiu) (Joo) na rua.

    S V C ADJUNTO

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    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    Evidentemente, essa ordenao SVC pode sofrer alteraes, acrs-

    cimos, intercalaes, enfi m, uma srie de modifi caes para atender a

    necessidades comunicativas. Assim, por exemplo, observamos que em

    (1) a frase no se inicia pelo sujeito, mas pelo modo da ao do sujeito

    (de gro em gro). No uso padro ou mais neutro, essa informao

    estaria ao fi nal da frase, aps o verbo e seu complemento, fechando a

    declarao, como um tipo de adendo, como ocorre em (3) e (4), em que

    o adjunto na rua aparece ao fi nal, mas se usarmos essa estratgia em (1)

    teramos a seguinte ordenao:

    (5) A galinha enche o papo de gro em gro.

    Ser que algum usaria assim o provrbio? J ouvimos ou lemos um

    registro como esse? Parece muito pouco provvel. Embora (5) esteja gra-

    maticalmente correta, porque dispe os constituintes na ordem padro

    (SVC + circunstncia de modo) e articula sentido capaz de ser interpretado

    por qualquer usurio do portugus, podemos dizer, sem dvida, que

    inadequada do ponto de vista discursivo ou textual. Se pensarmos que

    os provrbios so snteses ou mximas da conduta humana, poderemos

    justifi car a antecipao do adjunto de gro em gro como uma estratgia

    gramatical, operada no nvel sinttico, motivada por fatores discursivos.

    Essa estratgia visa pr em relevo justamente o ponto mais importante que

    se deve destacar no provrbio o modo como devemos agir na vida: de

    forma contnua e perseverante (de gro em gro). Tal antecipao, portanto,

    destaca a maneira pela qual devem agir as pessoas, o que faz com que a

    informao sobre o modo aparea em primeiro lugar.

    Assim, podemos dizer que, embora a sintaxe da lngua portuguesa

    no seja totalmente rgida, permitindo algumas alteraes posicionais

    ou intercalaes, entre outros procedimentos, as mudanas operadas

    na ordenao padro (SVC + adjunto) provocam efeitos discursivos

    distintos, constituindo, portanto, outros modos de dizer e de comunicar.

    Observemos como fi cariam (3) e (4) com algumas mudanas sintticas:

    (6) Na rua, Joo seguiu Pedro.

    (7) Pedro, na rua, seguiu Joo.

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    LA 1

    Em (6), o adjunto na rua encontra-se em posio inicial, desta-

    cando o local percorrido por Joo (S) para seguir Pedro (C). A frase (6),

    ainda que tenha correspondncia com (3), distingue-se desta pela nfase

    dada ao espao onde ocorre a ao.

    J em (7) temos um outro tipo de efeito de sentido, criado pela

    intercalao do adjunto na rua, que se situa entre Pedro (S) e seguiu (V).

    Nessa frase, tanto o sujeito como o local so salientados, ilustrando um

    terceiro tipo de arranjo sinttico a partir de uma mesma ordenao padro.

    Ainda poderamos organizar uma outra sintaxe, de frequncia

    provavelmente menor na lngua, mas ainda possvel do ponto de vista

    estritamente gramatical:

    (8) Pedro seguiu, na rua, Joo.

    A pouca probabilidade de ocorrncia da frase (8) deve-se ao fato

    de o adjunto na rua promover a ruptura do V seguiu e de seu C Joo,

    ocasionando um tipo de organizao sinttica mais raro na lngua, haja

    vista a grande proximidade estrutural e integrao conceitual que cos-

    tumam caracterizar o verbo e seu complemento. Alis, no por outro

    motivo que a tradio gramatical rotula essa composio de V e C de

    predicado, no entendimento de que se trata de um todo, em termos de

    forma e de sentido.

    Na modalidade escrita, quando ocorrem alteraes na organizao

    sinttica padro, pode-se usar a pontuao para marcar antecipaes

    ou intercalaes de constituintes. Por isso, nas frases (6), (7) e (8), uti-

    lizamos a vrgula para acentuar a ruptura de sentido e de forma. Esse

    recurso constitui mais um procedimento de destaque do adjunto na rua.

    Pelo mesmo motivo, o provrbio expresso em (1) tambm poderia ter o

    adjunto de gro em gro separado por vrgula, constituindo uma outra

    estratgia de nfase. Dizemos apenas que poderia porque no estamos

    tratando de uma regra, de um procedimento obrigatrio. O que vai fazer

    com que se use ou no a vrgula nessa e em outras situaes similares

    a necessidade comunicativa, o efeito pretendido.

    Desta forma, quanto maior a inteno ou a necessidade de destacar

    ou enfatizar a circunstncia expressa, maior a motivao para o uso da

    vrgula como marcao de pausa, de ruptura no nvel sinttico (estrutural)

    e no nvel semntico (signifi cativo). Por outro lado, constituintes muito

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    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    vinculados no devem ser separados por pausa, da porque no devemos

    usar vrgula quando lidamos com a sintaxe padro SVC tal como ocorre

    em (2). Em geral, quando o adjunto est depois de SVC, como em (3) e

    (4), tambm no usada vrgula.

    A partir das consideraes apresentadas at agora, voltamos

    pergunta inicial: O que sintaxe? Diante dos aspectos expostos e

    discutidos, podemos elaborar uma segunda defi nio, mais especfi ca e

    precisa, para esta nossa unidade de estudo: sintaxe a parte da gramtica

    que descreve e interpreta a ordenao e a combinao hierrquica dos

    constituintes nas frases de uma lngua.

    Agora que vocs j sabem o que sintaxe, na prxima seo

    estudaremos o objeto de descrio e anlise da sintaxe: o sintagma.

    Esto prontos?

    Atende ao Objetivo 1

    1. Com base na defi nio de sintaxe apresentada neste captulo parte da gramtica que descreve e interpreta a ordenao e a combinao hie-rrquica dos constituintes nas frases de uma lngua , responda por que:

    a) possvel compreender a frase Napoleo temia que as tartarugas desovassem no seu imponente chapu (AZEREDO, 1990).

    b) Est cancelada a possibilidade de ocorrncia da ordenao Seu impo-nente temia as que chapu desovassem Napoleo tartarugas no.

    RESPOSTA COMENTADA

    A frase (a), embora tenha um sentido meio excntrico, nas palavras

    de Azeredo (1995), est de acordo com a sintaxe do portugus,

    apresentando o sujeito (Napoleo), seguido do verbo (temia), de

    seu complemento (que as tartarugas desovassem) e do adjunto

    locativo (no seu imponente chapu). Os sintagmas encontram-se

    a bem formados, e essa ordenao padro permite que os usurios

    ATIVIDADE

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    LA 1

    O OBJETO DA SINTAXE O SINTAGMA

    do portugus atribuam sentido frase, mesmo que esse sentido

    seja um pouco estranho.

    Em (b) no podemos sequer falar em frase, uma vez que os consti-

    tuintes no se encontram organizada e hierarquicamente ordenados;

    assim, no h sintaxe, uma vez que no h uma ordenao capaz

    de fazer sentido.

    Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/8/80/80itenta/1152267_offi ce_1.jpg

    Com base na defi nio anterior, podemos identifi car agora o

    objeto da sintaxe, ou seja, o elemento bsico sobre o qual se debruam

    a descrio e a anlise sinttica. Se observarmos com mais cuidado os

    comentrios feitos com base nas frases de (1) a (8) anteriormente apre-

    sentadas, verifi caremos que a sintaxe no lida com fonemas e slabas,

    como a fonologia, nem com vocbulos e afi xos, como a morfologia, mas

    com unidades maiores, arranjos de um ou mais constituintes, em geral

    dispostos hierarquicamente, na composio de sintagmas. Estes so, de

    fato, os objetos da sintaxe.

    An

    selm

    o G

    arri

    do

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    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    Para seu melhor entendimento, esta seo ser dividida em trs

    subsees, que trataro da caracterizao, das propriedades e da classi-

    fi cao do sintagma, nesta mesma ordem de apresentao. Vamos ento

    caracterizao do sintagma?

    Caracterizao

    Em geral, o sintagma formado por dois ou mais elementos

    consecutivos, um dos quais o DETERMINADO (principal) e o outro

    o DETERMINANTE (subordinado) (KURY, 1986, p. 9). Assim, a con-

    cepo do sintagma mais ampla do que a do vocbulo e mais restrita

    do que a da frase, situando-se em posio intermediria entre essas duas

    dimenses. Retomemos o exemplo (1) para ilustrar nosso comentrio:

    (1) De gro em gro/a galinha/enche [o papo].

    Em (1), usamos barras para separar os trs sintagmas que formam

    o provrbio. Podemos verifi car que as separaes coincidem com funes

    j referidas na seo O que sintaxe?. Assim, o sintagma inicial de gro

    em gro atua como expresso do modo; o seguinte, a galinha, codifi ca

    o sujeito, enquanto o ltimo, enche o papo, funciona como predicado,

    formado pelo verbo e seu complemento.

    Em termos de hierarquia interna, podemos dizer que dois desses

    sintagmas se articulam por subordinao, como tende a ocorrer na

    maioria das formaes sintagmticas: /a galinha/e enche [o papo]. No

    sintagma a galinha, o primeiro termo, o artigo a, o determinante,

    enquanto o segundo, o substantivo galinha, por ser o principal entre os

    dois constituintes desse sintagma, o determinado. No sintagma enche o

    papo, temos o verbo como elemento principal ou determinado, seguido

    de seu complemento, o papo, na funo de determinante. Porm, esse

    ltimo sintagma possui ainda uma outra hierarquia interna, marcada

    aqui por colchetes, j que o complemento o papo tambm constitui um

    sintagma, em que o nome papo representa o elemento principal, deter-

    minado, e o artigo defi nido o atua como seu determinante.

    J o sintagma de gro em gro no apresenta hierarquia entre

    seus constituintes, uma vez que as duas ocorrncias de gro situam-

    se no mesmo nvel hierrquico, ou seja, so correspondentes, no h

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    LA 1

    determinantes e determinados. Esse modo de organizao, em que

    os constituintes se encontram no mesmo nvel, pode ser encontrado

    basicamente na formao de construes compostas, em torno da

    partcula aditiva e, como em galinha e pato ou papo e estmago, por

    exemplo. Quando assim acontece, dizemos que se trata de coordenao,

    ou seja, de relaes horizontais, pois no h um elemento principal em

    relao aos demais, por isso so desprovidas de hierarquia. Por outro

    lado, a subordinao estabelece relaes verticais, em que um dos

    constituintes funciona como elemento principal ou determinado.

    Encerramos aqui a caracterizao do sintagma. Observamos que

    ele formado por dois ou mais constituintes consecutivos, sendo um

    o determinado, o principal, e o outro, o determinante, o subordinado.

    Vamos, na prxima subseo, estudar as propriedades do sintagma.

    Propriedades

    Para que uma unidade seja con-

    siderada um sintagma, deve preencher

    alguns requisitos bsicos, em termos

    de mobilidade, posio e organizao

    interna. Tais requisitos constituem,

    portanto, critrios para a defi nio e

    a delimitao de sintagmas. Conforme

    Azeredo (1995, p. 32-33), so trs as

    peculiaridades distribucionais dos

    sintagmas:

    1) Deslocamento: o sintagma se desloca na frase como um todo,

    para posies iniciais, mediais ou fi nais, no admitindo movimento de

    apenas um ou de alguns de seus constituintes. Assim, por exemplo, na

    frase (2), a seguir retomada, os deslocamentos somente so possveis

    quando realizados por sintagmas completos. Nesse caso, temos dois

    sintagmas em questo guas passadas e no movem. Moinhos um complemento considerado como um sintagma interno ao predicado no

    movem moinhos. Veja:

    (2) guas passadas/no movem [moinhos].

    Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/b/br/bre-dmaker/1280927_ticked_checkbox.jpg

    Gar

    y M

    cin

    nes

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    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    (9) No movem [moinhos]/guas passadas.

    (10) [Moinhos] no movem/guas passadas.

    (11) [Moinhos] guas passadas/no movem.

    (12) guas passadas [moinhos]/no movem.

    As frases ilustradas de (9) a (12) constituem outras possveis orde-

    naes a partir de (2), cuja sintaxe segue o padro mais regular (SVC), de

    acordo com o que vimos na seo O que sintaxe?. Conforme podemos

    observar, apesar da variedade de arranjos dessas frases, os deslocamentos

    ocorrem com a preservao dos sintagmas guas passadas e no movem,

    que se movimentam em bloco. Tal como verifi cado em (1) com o papo

    em De gro em gro a galinha enche o papo, tambm em (2) temos a

    possibilidade de lidar com o complemento moinhos considerado como

    um sintagma interno ao predicado, num nvel hierrquico mais baixo

    que este. Por essa razo, admitimos, ainda que com probabilidade de

    ocorrncia muito restrita, o deslocamento de moinhos na frase.

    Um outro aspecto semntico-sinttico revelado pela propriedade

    do deslocamento que, alm de o movimento no interior da frase ser

    feito pelo sintagma na ntegra, constatamos a fi xao interna da ordem

    dos constituintes sintagmticos. Assim, por exemplo, alm de guas

    passadas somente poder se reordenar em bloco, no podemos alterar

    a ordem de seus constituintes internos, como em passadas guas, sob

    pena de estarmos construindo um novo sintagma, distinto do original na

    forma e no contedo. O mesmo se pode dizer em relao a no movem.

    Tal caracterstica ratifi ca a interpretao do sintagma como o verdadeiro

    objeto da sintaxe.

    2) Substituio: o sintagma uma s estrutura de sentido e de

    forma, ento pode ser substitudo por uma unidade simples, como um

    pronome ou sinnimo. Para ilustrar essa propriedade, vejamos nova-

    mente a frase (3) e as possibilidades de substituio de trs constituintes

    sintagmticos, sugeridas em (13):

    (3) Joo/seguiu [Pedro]/na rua.

    (13) Ele/seguiu-o/l.

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    LA 1

    Como vimos, por intermdio de pronomes, realizam-se as trs

    substituies nos sintagmas de (3): o pronome reto ele ocupa o lugar

    de Joo; o pronome oblquo o substitui Pedro, e o pronome l fi ca na

    posio e funo do adjunto adverbial de lugar na rua. Para chegar ao

    sentido dos pronomes ele, o e l, ou seja, para entendermos a que termos

    esses itens se referem, necessrio observar em que contexto (13) est

    inserido. Para tanto, o conceito de A N F O R A fundamental.

    Como vemos pela defi nio de anfora, os pronomes ilustrados em

    (13) so de fato recursos anafricos, j que esto no lugar de outros nomes,

    fazendo referncia a constituintes que apareceram antes no texto.

    Portanto, as operaes de substituio do tipo pronominal, como a

    que apresentamos em (13), requerem, para o entendimento do contedo

    veiculado, o auxlio ao contexto discursivo, a fi m de que se estabeleam

    as relaes textuais, principalmente as anafricas, necessrias identi-

    fi cao dos referentes indicados por ele, o e l. Em outras palavras, a

    frase (13) est fortemente vinculada ao contexto de sua produo, de tal

    modo que, para sabermos o contedo de ele, o e l, devemos recorrer

    ao contexto maior em que a frase est inserida.

    Nos procedimentos de substituio em (3), devemos destacar ainda

    o fato de Pedro como sintagma de nvel hierrquico mais baixo, consti-

    tuinte de sintagma mais amplo, o verbo seguiu admitir a substituio.

    Tal fenmeno comprova sua relativa autonomia em relao a seguiu (V).

    3) Coordenao: o sintagma admite a interposio de um conectivo

    coordenativo entre seus constituintes, de modo a se estabelecer equiva-

    lncia funcional, ou coordenao, desses elementos. Retomemos (3) e,

    a seguir, vejamos como o processo de coordenao pode fornecer pistas

    para a identifi cao de sintagmas:

    (3) Joo/seguiu [Pedro]/na rua.

    (14) Joo e Marcos/viram e seguiram/[Pedro e Jos]/na rua e no

    viaduto.

    A frase (14) ilustra um tipo de expanso de (3) por intermdio

    da coordenao articulada no interior dos sintagmas. Assim, dizemos

    que as funes sintticas cumpridas pelos constituintes Joo, seguiu,

    AN F O R A

    Mecanismo sinttico que utiliza um termo para fazer referncia

    a um outro termo anterior que ocorre na mesma frase ou

    texto.

  • 2 2 C E D E R J

    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    Pedro e na rua em (3) se apresentam, em (14), sob forma dos respectivos

    compostos Joo e Marcos, viram e seguiram, Pedro e Jos, na rua e no

    viaduto. O fato de esse teste ser possvel em quatro ocasies indica que

    temos, em (3), quatro sintagmas.

    Portanto, o deslocamento, a substituio e a coordenao consti-

    tuem no s as propriedades do sintagma como tambm procedimentos

    que podemos e devemos utilizar para identifi car e distinguir, numa frase

    qualquer da lngua portuguesa, suas unidades sintticas fundamentais

    os sintagmas. Na prxima subseo, ento, veremos a classifi cao dos

    sintagmas segundo sua composio interna.

    Atende aos Objetivos 2 e 3

    2. Observe o provrbio a seguir, j separado por sintagmas.

    Gato escaldado/tem [medo]/de gua fria.

    Agora, vamos testar, a partir das propriedades do sintagma apresentadas nesta aula, se, de fato, estamos diante de trs sintagmas. Para tanto, voc dever rearrumar os sintagmas, criando trs novas ordenaes que ilustrem cada uma das seguintes propriedades:

    a) Deslocamento:

    b) Substituio:

    c) Coordenao:

    RESPOSTA COMENTADA

    H algumas sugestes possveis, que atendem ao comando da

    Atividade 2. Entre essas possveis respostas, destacamos as que

    esto arroladas:

    a) Deslocamento:

    Tem medo de gua fria gato escaldado.

    De gua fria tem medo gato escaldado.

    b) Substituio:

    Ele tem medo de gua fria.

    Gato escaldado tem medo dela.

    c) Coordenao:

    Gato escaldado e esperto tem medo de gua fria.

    Gato escaldado tem medo e pnico de gua fria.

    Gato escaldado tem medo de gua fria e suja.

    ATIVIDADE

  • C E D E R J 2 3

    AU

    LA 1

    Classifi cao

    Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/a/al/alesia17/876083_notepad_with_old_pen.jpg

    De acordo com Azeredo (1995, p. 43), so cinco os tipos de sin-

    tagma que podemos identifi car no portugus. Tal classifi cao depende

    da composio interna dessas unidades. Trataremos, a seguir, de cada

    uma delas:

    SINTAGMA NOMINAL (SN)

    Como o nome j indica, esse tipo de sintagma tem como determi-

    nado, ou ncleo, um substantivo comum, que poder estar acompanhado

    de determinantes. Os determinantes que costumam anteceder o ncleo

    do SN so basicamente artigos e pronomes (demonstrativos, indefi nidos,

    possessivos, entre outros). Os determinantes que sucedem o ncleo do

    SN so nomeados mais especifi camente de modifi cadores e cumprem

    a tarefa de qualifi car o ncleo referido. Em geral, os determinantes de

    um SN organizam-se tambm em sintagmas, subordinados ao ncleo do

    SN. Hierarquicamente, portanto, o substantivo tem o principal papel

    no SN, enquanto os demais constituintes cumprem funo secundria.

    Nas frases j vistas, podemos levantar alguns exemplos de SN,

    como a galinha e o papo, em (1), em que os determinantes a e o pre-

    cedem os ncleos nominais galinha e papo, respectivamente, e guas

    passadas, em (2), no qual o determinante modifi cador passadas sucede

    o ncleo guas.

    Lavi

    nia

    Mar

    in

  • 2 4 C E D E R J

    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    Algumas funes sintticas so cumpridas especifi ca e exclusi-

    vamente por SN. Em (1), De gro em gro/a galinha/enche [o papo], o

    SN a galinha cumpre a funo de sujeito. Assim como em (2), guas

    passadas/no movem [moinhos], o SN guas passadas tambm cumpre

    a funo de sujeito. O SN pode tambm cumprir a funo de objeto

    direto, como em (1) acima: vemos que o papo o objeto direto do verbo

    transitivo direto enche. Assim, o papo integra um sintagma maior, como

    o predicado ou sintagma verbal (que estudaremos no prximo tpico).

    Os conceitos de sujeito, predicado, objeto e outros sero explanados ao longo dos prximos captulos de nosso curso.

    Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/j/jl/jliudesign/1310209_bluepaperclip.jpg

    Jerr

    y Li

    u

    SINTAGMA VERBAL (SV)

    Trata-se de uma unidade caracterizada pela presena obrigatria

    do verbo. Essa unidade tem a funo sinttica especfi ca de predicado.

    Em geral, o SV constitudo por outros sintagmas, que atuam como

    determinantes dentro do SV.

    Nas frases (2) guas passadas/no movem [moinhos] e (3) Joo

    seguiu Pedro na rua, aqui tratadas, podemos identifi car, respectivamente,

    os seguintes sintagmas verbais, que atuam como predicado: no movem

    moinhos em (2), e seguiu Pedro na rua em (3).

  • C E D E R J 2 5

    AU

    LA 1

    Como mencionamos, nas unidades exemplifi cadas no pargrafo

    anterior, moinhos, Pedro e na rua cumprem funo secundria, como

    determinantes dentro do SV, uma vez que atuam na complementao

    do sentido verbal (moinhos, Pedro) ou na atribuio de sentido espacial

    (na rua). No cumprimento dessa funo perifrica, esses constituintes se

    organizam internamente tambm como sintagmas. justamente por esse

    motivo que possvel proceder aos exerccios de deslocamento, substi-

    tuio e coordenao dessas unidades, como visto anteriormente, pois,

    embora participem de uma estrutura maior, dentro do SV, encontram-se

    a internamente organizados tambm como sintagmas, mesmo em nvel

    mais baixo de importncia.

    SINTAGMA ADJETIVO (SAdj)

    Neste tipo de sintagma, o ncleo ou determinado um adjetivo,

    que pode estar acompanhado de determinante, como artigo, pronome

    ou numeral, por exemplo.

    Na hierarquia que caracteriza as relaes sintagmticas, o SAdj

    participa da organizao do SN, como parte perifrica deste, atuando

    na condio de estratgia qualifi cadora. Por qualifi car o ncleo do SN

    que o precede ou sucede na organizao da frase, o SAdj concorda em

    gnero e nmero com esse ncleo.

    De acordo com a sintaxe mais regular da lngua portuguesa, o SAdj

    tende a se colocar aps o ncleo do SN, no que chamamos ordenao

    cannica. Numa outra alternativa, mais rara e desencadeadora de efeitos

    de sentido especfi cos, o SAdj pode aparecer frente do ncleo do SN.

    Em geral, a vinculao entre esse ncleo e o SAdj to forte que no se

    admite alterao nas posies desses constituintes.

    Podemos ilustrar essa vinculao com o SN guas passadas, em

    (2), em que passadas (SAdj), tambm no feminino e no plural, concorda

    com o ncleo guas, funcionando como seu determinante. Seria possvel

    dizermos passadas guas? Talvez sim, mas essa possibilidade seria pouco

    provvel. Ademais, a anteposio do SAdj passadas criaria alguma altera-

    o de sentido. guas passadas so guas que passaram, correspondentes

    a antigas, por exemplo; por outro lado, passadas guas destaca o valor

    verbal do particpio passadas, que poderia ser traduzido por quando (ou

    se) as guas passarem. Considerao semelhante podemos fazer a partir

    de outros arranjos sintticos correspondentes que temos em portugus,

    como homem pobre/pobre homem, mulher grande/grande mulher, co

    amigo/amigo co, e assim por diante.

  • 2 6 C E D E R J

    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    No caso especfi co do SAdj, em geral, essa ordem cannica, que

    aps o ncleo do SN, tende a expressar contedo mais referencial e

    objetivo (guas passadas, homem pobre, mulher grande, co amigo),

    enquanto a anteposio ao ncleo do SN cria efeitos mais subjetivos

    (passadas guas, pobre homem, grande mulher, amigo co). Trata-se,

    portanto, no s de uma questo de estruturao da frase, mas de con-

    tedos distintos. Esse pequeno teste demonstra como forte a relao

    entre semntica e sintaxe, ou seja, como o sentido veiculado afetado

    pela ordenao dos constituintes.

    SINTAGMA ADVERBIAL (SAdv)

    O sintagma adverbial, como o nome indica, tem como determi-

    nado um advrbio. Via de regra, o sentido veiculado pelo SAdv incide

    sobre o verbo da frase. Dessa forma, assim como o SAdj se subordina

    ao ncleo do SN, o SAdv se subordina ao ncleo do SV. Ambos SAdj e

    SAdv ocupam posies e articulam sentidos subsidirios nos sintagmas

    maiores que integram.

    O SAdv funciona na expresso de uma srie de circunstncias

    referentes ao verbal, como o local, o tempo, o modo, o meio, a

    intensidade, entre outras de menor frequncia. Devido a seu carter

    marginal em relao ao SV, j que funciona como elemento perifrico,

    atribuidor de circunstncias do SV, o lugar cannico do SAdv na frase

    na parte fi nal, aps o ncleo do SV e seus complementos

    Tomemos a frase (3) como exemplo. Podemos, por um processo

    de expanso de sentido e de forma, ampli-la para a (15) com a pos-

    posio de uma srie de SAdv, que vo concorrer para a expresso de

    variados sentidos da ao verbal:

    (3) Joo seguiu Pedro na rua.

    (15) Joo seguiu Pedro na rua atentamente ontem.

    Em (15), o que fi zemos foi, ao fi nal da frase, justapor a na rua

    mais duas circunstncias ao ato praticado por Joo, respectivamente, o

    modo (atentamente) e o tempo (ontem). Essa srie de trs constituintes

    pode ser interpretada como um s SAdv, composto por trs ncleos,

    ou ainda, com base nas distintas circunstncias articuladas, podemos

    admitir que cada qual representa um SAdv especfi co.

  • C E D E R J 2 7

    AU

    LA 1

    Quando enfatizamos o contedo expresso pelo SAdv em uma

    frase, o sintagma passa a ocupar posio inicial ou intermediria. Na

    modalidade oral, essa antecipao ou intercalao acompanhada por

    pausa; na escrita, costumamos usar vrgula para tal marcao. Com

    base em (15), so muitas as possibilidades de (re)ordenao dos SAdv.

    Vamos ilustrar apenas duas:

    (16) Atentamente, Joo seguiu Pedro na rua ontem.

    (17) Ontem, Joo seguiu Pedro na rua atentamente.

    O que motiva a ordem dos sintagmas em (16) e (17) o tipo

    de destaque que se faz ou no das circunstncias expressas. Em (16),

    enfatiza-se o modo da ao; em (17), o tempo. Como j referimos ante-

    riormente, no estamos discutindo acerca de arranjos sintticos certos

    ou errados, mas tratando da adequao das frases e suas diversas

    opes de ordenao e dos efeitos dessas opes quando so usadas.

    SINTAGMA PREPOSICIONAL (SPrep)

    Tambm chamado de sintagma preposicionado, esse tipo de uni-

    dade constitudo a partir de dois arranjos distintos: preposio + SN

    ou preposio + SAdv. Tal como o SAdj e o SAdv, o SPrep ocupa posio

    hierrquica inferior em relao ao SN e ao SV, uma vez que funciona

    como determinante, ou subordinado, destas unidades maiores.

    Ao lado do ncleo do SN e do ncleo do SV, o SPrep pode cons-

    tituir um complemento ou um adendo a esse ncleo. Na funo de

    adendo, o SPrep cumpre papel atributivo, atuando como um adjetivo

    ou circunstancial. Como so diversas as preposies e sua frequncia

    grande, os SPreps constituem um tipo de unidade muito usada na sintaxe

    do portugus.

    Em (1), a unidade inicial de gro em gro um SPrep de valor

    adverbial; em (3) e (4), o SPrep na rua tambm atua com funo adverbial.

    No interior do predicado, o SPrep tende a complementar determi-

    nados verbos, como por exemplo gostar e precisar, que requerem a pos-

    posio de unidades do tipo de chocolate e de dinheiro, respectivamente.

    Assim, o SPrep pode atuar como um adjunto adverbial, como de gro

    em gro ou na rua, ou como um complemento verbal, como de chocolate

    e de dinheiro. Pelo que estamos vendo, o SPrep um tipo de formao

  • 2 8 C E D E R J

    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    iniciada por preposio, podendo cumprir funes distintas na orao. Por

    causa dessa possibilidade, o SPrep pode tambm funcionar, atuar como

    um SAdv, tal como de gro em gro e na rua; nesses casos, alm de SPrep,

    pois se iniciam por preposio, essas expresses so tambm SAdv, pois

    se referem s circunstncias de modo e lugar, respectivamente.

    Atende ao Objetivo 4

    3. Os versos a seguir foram extrados da msica Eu te devoro, de Djavan. Classifi que os sintagmas destacados em SN, SV, SAdj, SAdv ou SPrep:

    Teus sinais ( )

    Me confundem da cabea aos ps ( )

    Mas por dentro ( ) eu te devoro ( )

    Teu olhar ( )

    No me diz exato ( ) quem tu s

    Mesmo assim eu te devoro.

    RESPOSTA COMENTADA

    Na msica Eu te devoro, o autor utiliza-se de distintos sintagmas

    para compor a letra. Esses sintagmas tm estrutura e caracterizao

    diversifi cadas. Assim, temos: Teus sinais (SN)/Me confundem da

    cabea aos ps (SPrep)/Mas por dentro (SPrep) eu te devoro

    (SV)/Teu olhar (SN)/No me diz exato (SV) quem tu s/Mesmo

    assim eu te devoro.

    ATIVIDADE

    CONCLUSO

    Como tivemos a oportunidade de observar, a nossa lngua

    estrutura-se sintaticamente na forma de sintagmas. Assim, quando nos

    comunicamos, seja na forma oral seja na escrita, estamos produzindo

    textos que refl etem a organizao estrutural apresentada ao longo desta

    primeira aula, ou seja, utilizamos SNs, SVs, SAdjs, SAdvs e SPreps. Esse

    uso geralmente costuma ser natural, uma vez que o usurio da lngua

    utiliza esses elementos bsicos sem ter controle sobre como so classifi -

    cados nas gramticas ou manuais da tradio gramatical.

  • C E D E R J 2 9

    AU

    LA 1

    ATIVIDADE FINAL

    Atende aos Objetivos 2, 3 e 4

    Leia as quatro primeiras estrofes do poema, de Mara Frantz:

    Poema pontual

    O ponto de nibus

    sempre lotado;

    O ponto da agulha

    sempre enrolado;

    O ponto do servio

    sempre atrasado;

    O ponto de histria

    nunca lembrado; (...)

    a) A constituio sinttica das estrofes revela uma forma mais ou menos fi xa ao longo

    dos versos que compem o poema. Em outras palavras, apresenta uma estrutura

    paralelstica, em que todos os versos so iniciados e terminados da mesma forma.

    Podemos afi rmar que h, em cada estrofe, a presena de pelo menos um SN? Por qu?

    b) Observe a primeira estrofe do poema. Voc capaz de localizar a existncia de

    um SAdj? Comprove sua resposta adotando as propriedades do deslocamento, da

    substituio e da coordenao.

    c) Observe que a palavra ponto apresenta diferentes conotaes ao longo das

    quatro estrofes, ou seja, possui diferentes sentidos. correto afi rmarmos que, por

    conta dessa constatao, a sua classifi cao sinttica varia? Por qu?

  • 3 0 C E D E R J

    Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto

    RESPOSTA COMENTADA

    a) Sim, em todas as estrofes destacamos a existncia de pelo menos um SN. O

    primeiro verso de cada estrofe sempre composto por um SN, j que possui como

    determinado, como ncleo, um substantivo comum, ponto, que, no poema,

    acompanhado por determinantes diversos.

    b) Na primeira estrofe, assim como nas demais estrofes, detectamos a existncia

    de um SAdj, visto que o SN sempre caracterizado por um adjetivo presente no

    segundo verso. Pela propriedade do deslocamento, por exemplo, poderamos

    considerar (sempre) lotado o ponto de nibus. Pela propriedade da substituio,

    haveria a possibilidade de termos o ponto de nibus sempre vazio. Por fi m, pela

    propriedade sinttica da coordenao, seria possvel uma estrofe como o ponto de

    nibus sempre lotado e desprotegido. Essas so algumas possibilidades de testes.

    c) No. Apesar de semntica (o estudo do signifi cado) e sintaxe (o estudo dos sintag-

    mas) apresentarem vez ou outra algumas interpenetraes, neste caso, o signifi cado

    da palavra ponto no interfere em nossa anlise. Embora com sentidos distintos, em

    todas as suas ocorrncias, a cada estrofe, a palavra ponto integra o ncleo do SN.

    R E S U M O

    A sintaxe algo muito simples e fundamental em nosso cotidiano, visto que

    por meio dela que estruturamos o nosso discurso falado ou escrito. Comumente

    atribumos o termo sintaxe parte da gramtica que se dedica ao estudo do sin-

    tagma, ou seja, dois ou mais elementos consecutivos, um dos quais o determi-

    nado (principal) e o outro o determinante (subordinado). Azeredo (1995) prope

    a existncia de algumas propriedades para que consideremos um elemento como

    sintagma. Entre elas, destacam-se: a) deslocamento (o sintagma se desloca na frase

    como um todo, para posies iniciais, mediais ou fi nais); b) substituio (o sintagma

    pode ser substitudo por uma unidade simples, como pronome ou sinnimo); c)

    coordenao (o sintagma admite a interposio de um conectivo coordenativo

    entre seus constituintes, de modo a se estabelecer equivalncia funcional). Por

    fi m, admitimos a existncia de, pelo menos, cinco tipos de sintagmas: a) sintag-

    ma nominal (SN) tem como determinado, ou ncleo, um substantivo comum;

    b) sintagma verbal (SV) trata-se de uma unidade caracterizada pela presena

    obrigatria do verbo; c) sintagma adjetivo (SAdj) o ncleo ou determinado um

    adjetivo; d) sintagma adverbial (Sadv) tem como determinado um advrbio; e)

    sintagma preposicionado (SPrep) unidade constituda a partir de dois arranjos

    distintos: preposio + SN ou preposio + SAdv.

  • C E D E R J 3 1

    AU

    LA 1

    LEITURAS RECOMENDADAS

    CASTILHO, Ataliba T. Gramtica do portugus brasileiro. So Paulo: Contexto, 2010.

    MATEUS, Maria Helena Mira et al. Gramtica da lngua portuguesa. Lisboa:

    Caminho, 2003.

    INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA

    Na prxima aula, vamos retomar o conceito de sintaxe e analisar os diferentes

    conceitos de frase, orao e perodo. At l!

  • objetivos

    Metas da aula

    Apresentar e analisar os diferentes conceitos de frase, orao e perodo.

    Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:

    1. caracterizar diferentes tipos de frase, a partir de distintos gramticos;

    2. reconhecer a estrutura da orao;

    3. diferenciar frase, orao e perodo.

    Frase, orao e perodoIvo da Costa do Rosrio

    Mariangela Rios de Oliveira2AULA

  • 3 4 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    Se voc passasse por uma rua e ouvisse Socorro!, com certeza teria alguma

    ideia do que estaria acontecendo.

    INTRODUO

    Com apenas uma palavra, e mais nada, algum poderia comunicar um assalto,

    uma queda repentina, enfi m, uma situao de risco ou apuro. Da mesma

    forma, uma placa com a inscrio Silncio, num hospital, por exemplo,

    capaz de comunicar o que se espera ou quer neste lugar.

    Nas duas situaes aqui ilustradas, demonstramos que signifi cados comple-

    tos podem ser transmitidos com apenas uma palavra, que as pessoas so

    capazes de entender mensagens e ser entendidas, em certas ocasies, por

    meio da declarao de um s termo. Nesses casos, como em Socorro! e

    Silncio, dizemos que se trata de frases da lngua portuguesa, porm no

    de oraes ou perodos.

    E por que no? Esto curiosos? exatamente desses constituintes frase,

    orao e perodo que trataremos nesta aula. Vamos ver como se conceituam

    e quais os pontos que unem e separam uns dos outros.

  • C E D E R J 3 5

    AU

    LA 2

    Nesta aula, vamos nos dedicar defi nio e descrio do que chamamos frase,

    orao e perodo. Trataremos das correspondncias e distines entre esses

    trs conceitos, apresentando os padres bsicos em que ocorrem na lngua

    portuguesa e discutindo suas funes. De fato, observamos correspondncias

    entre esses termos, mas cada um tem sua prpria defi nio e identidade.

    Nas gramticas e compndios de lngua portuguesa, encontramos uma

    srie de expresses que procuram conceituar e descrever os trs rtulos,

    em geral tratados segundo a ordenao que d ttulo a esta aula frase,

    orao e perodo. Por isso, organizamos a aula seguindo essa ordenao,

    trabalhando primeiro com a caracterizao da frase, passando ao tratamento

    da orao e chegando abordagem do perodo.

    DEFINIO E CLASSIFICAO DE FRASE

    Comecemos, portanto, com o conceito de frase. No decorrer

    desta aula, utilizaremos as obras indicadas no quadro a seguir como base

    para nossos estudos. No levantamento da defi nio de frase, podemos

    observar a abrangncia com que concebida:

    Autores Conceito de frase

    Melo(2001, p. 8.)

    Palavra ou conjunto de palavras que formam sentido completo.

    Luft(2002, p. 11.)

    A menor unidade autnoma da comunicao. Autonomia no pla-no signifi cativo uma inteno comunicativa defi nida e no plano

    signifi cante uma linha completa de entoao.

  • 3 6 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    Cunha e Cintra(2001, p. 119.)

    um enunciado de sentido completo, a unidade mnima de comunicao. A frase sempre acompanhada de uma melodia, de

    uma entoao.

    Rocha Lima(1999, p. 232.)

    uma unidade verbal com sentido completo e caracterizada por entoao tpica: um todo signifi cativo, por intermdio do qual o

    homem exprime seu pensamento e/ou sentimento. Pode ser brevs-sima, construda s vezes por uma s palavra, ou longa e acidenta-

    da, englobando vrios e complexos elementos.

    Kury(2003, p. 13.)

    a unidade de comunicao entre falante e ouvinte, entre escri-tor e leitor.

    Com base no quadro apresentado, podemos observar que, embora

    vastas e um tanto distintas, muitas defi nies tm algo em comum a

    concepo da frase como uma declarao completa e acabada, capaz,

    por si s, de estabelecer comunicao.

    Ainda de acordo com o quadro, a extenso e a complexidade de

    uma frase podem variar bastante. Enunciados como Ateno! ou Silncio!

    so considerados exemplos de frase do portugus, uma vez que, sozinhos,

    podem funcionar na comunicao, como nas ilustraes a seguir:

  • C E D E R J 3 7

    AU

    LA 2

    Esse tipo de frase, composta por um nico constituinte, encontra-

    se fortemente vinculada situao em que usada. o que ocorre na

    ilustrao a seguir, em que a cena, por si, faz com que Fogo! funcione

    como frase, numa declarao de sentido completo.

  • 3 8 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    Por outro lado, sintagmas mais amplos so tambm classifi cados

    como frase, por conta da completude de sentido que os marca.

    Assim, consideradas suas distines e de acordo com as defi nies

    apresentadas inicialmente, classifi camos como frases da lngua tanto

    Fogo! quanto O prdio est em chamas!.

    Em termos de organizao interna, vamos apresentar para vocs

    duas classifi caes de padres frasais. Comeamos pela mais simples

    e geral, que encontrada basicamente em todos os manuais de lngua

    portuguesa e que divide os padres referidos em trs tipos:

  • C E D E R J 3 9

    AU

    LA 2

    a) Interjeio: considerada um tipo rudimentar de frase (CARO-

    NE, 1991, p. 47), vista como constituinte dotado de sentido, marcada

    por entoao e fortemente vinculada ao contexto situacional em que

    produzida. So exemplos, entre outras, desse tipo frasal: Epa! Ui! e Hein?.

    Flvia de Barros Carone doutora em Letras, professo-ra de Filologia da Universida-de de So Paulo, pesquisado-ra da Fundao Carlos Chagas e autora de diversos livros na rea de sintaxe e morfossin-taxe. Entre eles, indicamos o livro Morfossintaxe, excelen-te para estudo e pesquisa.

    b) Frase nominal: a frase sem verbo, que tem como ncleo um

    nome de natureza substantiva, adjetiva ou adverbial. So exemplos de frases

    nominais expresses, como: Que beleza! Perto dos olhos, longe do corao.

    Casa de ferreiro, espeto de pau.

  • 4 0 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    c) Frase verbal: a frase constituda de verbo, tambm chamada

    orao. Trata-se do tipo frasal mais frequente na lngua portuguesa.

    Incluem-se nesse tipo de frase, que ser tratado com mais detalhes a

    seguir, enunciados como: Voc est uma beleza! Que tipo de espeto o

    ferreiro usa em sua casa?

    Um trao caracterstico da frase, que concorre para a totalidade de

    sentido que declaramos, a marcao E N T O A C I O N A L que a acompanha,

    tanto na modalidade escrita quanto na modalidade falada. Assim, no

    texto escrito, devemos regularmente iniciar a frase com letra maiscula

    e fi nalizar com ponto. Na modalidade falada, a pausa maior ou menor

    costuma marcar o incio e o trmino da frase; essa pausa da fala corres-

    ponderia, na escrita, vrgula (pausa menor) e ao ponto (pausa maior).

    O segundo tipo de classifi cao de padres frasais que passamos

    a apresentar agora baseia-se em Rocha Lima (1999, p. 233). Na pro-

    posta desse autor, temos cinco tipos de frase, caracterizados por marcas

    entoacionais especfi cas. Os tipos dividem-se em:

    a) Declarativa: a frase mais comum, usada para anunciarmos um

    fato, darmos uma notcia, enfi m, fazermos asseres. No texto escrito,

    encerrada com ponto fi nal, como em:

    (1) Ele conhece o caminho do sucesso.

    (2) O trabalho est perfeito.

    b) Interrogativa: utilizada para formularmos perguntas. fi nali-

    zada no texto escrito pelo ponto de interrogao:

    (3) Ele conhece o caminho do sucesso?

    (4) O que perfeito?

    Pelos exemplos apresentados em (1) e (3), podemos observar

    que, s vezes, a mudana entoacional, com a troca do ponto fi nal pelo

    de interrogao, pode ser o nico trao a distinguir uma declarao de

    uma interrogao em portugus. Por esse motivo, na produo escrita,

    fundamental o conhecimento adequado do uso dos sinais de pontuao,

    uma vez que so responsveis pela articulao de distintos sentidos.

    A comparao de (3) e (4), por outro lado, nos permite outra

    constatao acerca das frases interrogativas do portugus. Conforme

    Perini (1995, p. 64), em (3) temos uma interrogativa fechada, j que

    a resposta questo absoluta sim ou no, elaborada a partir do

    contedo de toda a orao.

    EN T O A O ou entonao pode ser defi nida como a variao na altura da voz, durante a fala (TRASK, 2006). A altura da nossa voz sobe e desce de maneira estruturada em cada enunciado. esse movimento que denominamos o padro entonacional ou marcao entoa-cional.

  • C E D E R J 4 1

    AU

    LA 2

    O professor. Mrio Alberto Perini possui graduao em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (1967) e doutorado pela University of Texas (1974). Atualmente professor voluntrio da Universidade Federal de Minas Gerais, tendo sido professor da UFMG, na PUC-Minas, na Unicamp e nas universidade de Mississipi e Illinois, nos EUA.

    J em (4), de acordo com o mesmo autor, teramos uma inter-

    rogativa aberta, cuja resposta incide sobre um dos termos da orao,

    no caso o pronome o que.

    c) Imperativa: tem a funo de chamar a ateno, de convocar, de

    incitar algum a tomar ou no uma atitude. Em geral, usa-se na escrita

    com ponto de exclamao:

    (5) Aprende o caminho!

    (6) Seja perfeito!

    d) Exclamativa: expressa uma emoo ou condio interior

    (alegria, raiva, medo, repulsa, etc.). Como a frase imperativa, tambm

    costuma vir fi nalizada, na modalidade escrita, por ponto de exclamao:

    (7) Que sucesso!

    (8) Quanta perfeio!

    e) Indicativa: sintetiza um pensamento, como se fosse uma decla-

    rao padro, um ritual da comunidade lingustica para certas ocasies.

    Por estar muito vinculada ao contexto de sua produo, costuma ter

    pequena extenso:

    (9) Boa sorte! (para quem vai fazer uma prova)

    (10) Tudo bem? (saudao ao passar por um conhecido)

    Fonte: http://img1.orkut.com/ima-ges/mittel/18/4917818.jpg

  • 4 2 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    Ainda de acordo com Rocha Lima (1999, p. 234), as frases do

    portugus podem se classifi car tambm em afi rmativas ou negativas.

    Assim, por exemplo, em relao s frases declarativas afi rmativas (1) e

    (2), teramos, respectivamente, as correspondentes negativas:

    (11) Ele no conhece o caminho do sucesso.

    (12) O trabalho no est perfeito.

    Para conferir sentido negativo em (11) e (12), foi utilizado o mesmo

    recurso sinttico a anteposio do advrbio no ao verbo. Trata-se do

    modo padro com que expressamos a negao em portugus. Na verdade,

    as frases negativas tm ocorrncia reduzida em nossa prtica lingustica;

    nas interaes, as pessoas tendem a evitar o uso do no.

    Uma das razes, de cunho sociocultural, para essa pouca frequn-

    cia pode ser atribuda ao peso que a negao tem, considerada muitas

    vezes um tipo de sentido muito forte, deselegante ou sem polidez. A frase

    (12), por exemplo, conforme a situao, pode expressar censura ou crti-

    ca; nesse caso, a opo mais neutra, amena ou polida poderia ser talvez

    O trabalho ainda precisa melhorar ou O trabalho pode ser aprimorado.

    Uma outra motivao, agora ligada a fatores cognitivos, seria a

    complexidade da negativa, que, para ser processada, supe o conhecimen-

    to da afi rmativa. Esse pressuposto requer maior esforo do produtor e do

    receptor para que se estabelea a comunicao. Assim, ainda tomando

    a frase (12) como exemplo, seu processamento passa necessariamente

    pela afi rmativa correspondente O trabalho est perfeito.

    Excelente dica de gramtica para voc, aluno do segundo perodo do curso de Letras, a Gramtica normativa da Lngua Portuguesa (2010), j citada nesta aula, do autor Carlos Henrique da Rocha Lima, conhecido como professor Rocha Lima. Nascido no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1915 e morto tambm no Rio em 22 de junho de 1991, Rocha Lima foi professor, gramtico, fillogo, ensasta e linguista brasileiro. Esta edio, revista segundo o novo Acordo Orto-grfi co, a 48 edio dessa gramtica (a primeira foi em 1957). Leitura recomendada!

  • C E D E R J 4 3

    AU

    LA 2

    Conforme estamos verifi cando, a concepo de frase ampla

    e diversa. No fragmento a seguir, o poeta Mario Quintana brinca

    com tal concepo, propondo um jogo a partir da marca de unidade e

    abrangncia que caracteriza esse termo:

    (13)

    (...)

    O leitor ideal para o cronista seria aquele a quem bastasse uma frase.

    Uma frase? Que digo? Uma palavra!

    O cronista escolheria a palavra do dia: rvore, por exemplo,

    ou Menina.

    Escreveria essa palavra bem no meio da pgina, com espao em branco

    para todos os lados, como no campo aberto aos devaneios do leitor.

    Imaginem s uma meninazinha solta no meio da pgina.

    Sem mais nada.

    (...)

    (QUINTANA, 1988, p. 83.)

    No recorte textual (13), para tratar da interao entre o produtor

    (cronista) e o receptor (leitor), o autor prope que esse dilogo seja feito

    por intermdio de um recurso lingustico enxuto, simples, porm pleno de

    sentido a frase. Para tanto, explorando as possibilidades que a literatura

    oferece, entre outros recursos, Quintana usa trs frases curtas, duas nomi-

    nais (Uma frase? Uma palavra?) e uma verbal (Que digo?). Na sequncia, a

    partir de Menina, continua a jogar com a completude frasal e sua vinculao

    ao contexto de produo (que podemos relacionar expresso usada pelo

    autor campo aberto aos devaneios do leitor). As frases nominais propostas

    pelo autor rvore e Menina, e o comentrio posterior, com espao em

    branco para todos os lados e sem mais nada, guardam estreita relao com

    as defi nies de frase apresentadas pelos gramticos no incio deste captulo,

    conforme se encontram no quadro que inicia a primeira seo desta aula.

  • 4 4 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    Nesta seo, vimos ento as diferentes concepes do termo frase

    segundo distintos autores, e tambm dois critrios de classifi cao de

    frase uma mais geral e simples, que divide as frases em trs categorias,

    e outro mais especfi co e complexo, baseado em Rocha Lima (1999).

    Na prxima seo, vamos conhecer a estrutura da orao, a chamada

    frase verbal, em lngua portuguesa. Esto prontos?

    Atende ao Objetivo 1

    1. Primeiramente, observe algumas frases de caminho, extradas do site http://webcache.googleusercontent.com:

    ATIVIDADE

  • C E D E R J 4 5

    AU

    LA 2

  • 4 6 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    a) Como vimos pelo primeiro critrio de classifi cao de frases que apre-sentamos, o mais geral e simples, existem trs padres frasais (interjeies, frases verbais e frases nominais). De que forma as frases anteriores podem ser classifi cadas?

    b) Entre as frases apresentadas, h alguma que pode ser classifi cada como imperativa, conforme a classifi cao de Rocha Lima (1999)? Justifi que sua resposta.

  • C E D E R J 4 7

    AU

    LA 2

    Agora analise o pargrafo a seguir, em que a frase fi nal encontra-se des-tacada:

    Para evitar arrependimento, levei Padilha para a cidade, vigiei-o durante a

    noite. No outro dia, cedo, ele meteu o rabo na ratoeira e assinou a escritura.

    Deduzi a dvida, os juros, o preo da casa, e entreguei-lhe sete contos e

    quinhentos e cinquenta mil-ris. No tive remorsos (RAMOS, 1978, p. 24).

    c) Como se classifi ca esse tipo de frase, de acordo com Rocha Lima (1999)?

    d) Por que representa um tipo de frase de menor frequncia no uso lingustico?

    RESPOSTA COMENTADA

    a) As frases de caminho em destaque podem ser consideradas

    frases verbais porque possuem verbo, ou seja, podem ser conside-

    radas oraes.

    b) Sim, a frase n 1 (Seja paciente na estrada para no ser paciente

    no hospital) pode ser considerada imperativa, nos termos de Rocha

    Lima (1999), porque tem a funo de chamar a ateno, de incitar

    a uma deciso.

    c) A frase em destaque declarativa negativa, j que h um item

    negativo em sua constituio, ou seja, o advrbio no.

    d) A menor ocorrncia desse tipo frasal deve-se ao fato de os usurios

    tenderem a fazer declaraes afi rmativas, evitando o maior uso de

    negativas, seja por polidez, seja por maior facilidade de processamento.

    ESTRUTURA ORACIONAL

    De acordo com Azeredo (1995, p. 30), a orao apresenta nor-

    malmente uma estrutura bimembre (...) centrada em um verbo com o

    qual se faz uma declarao (...) sobre um dado tema. O carter dual da

    orao tambm referido por Rocha Lima (1999, p. 234), que a defi ne

    como a frase que se biparte normalmente em sujeito e predicado.

  • 4 8 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    Ambos os autores ressaltam o sujeito e o predicado, ou o tema

    e a declarao, como os componentes bsicos da unidade a que cha-

    mamos orao. A ressalva, por intermdio do advrbio normalmente,

    se d por conta da possibilidade de haver orao sem sujeito, mas no

    sem predicado.

    Por essa razo, no h unanimidade entre os gramticos e estu-

    diosos sobre os nveis hierrquicos da orao. Alguns, como Azeredo

    (1995), consideram que o sintagma verbal (SV) o grande constituinte

    oracional, fi cando o sujeito (SN) num plano mais baixo; outros, como

    Cunha e Cintra (2001) e Kury (2003), veem a orao como uma unidade

    de nvel superior, formada por duas estruturas de mesma hierarquia SN

    e SV. Qual das interpretaes a correta? H alguma mais adequada?

    Nossa resposta que, para fi ns de anlise sinttica do portugus, tudo

    depende da concepo de orao que assumimos, da tomada de deciso

    consciente sobre uma ou outra forma de entender esse tipo de construo.

    Em termos de frequncia, podemos dizer que a orao do tipo

    declarativo e afi rmativo o modo mais regular com que nos comunica-

    mos, seja na modalidade falada, seja na escrita. Isso ocorre porque, em

    nossas declaraes cotidianas, tendemos afi rmao, e no negao,

    conforme j ressaltamos na seo anterior.

    Com a estrofe a seguir, que abre o poema Aurora, exemplifi -

    camos esse uso mais recorrente de oraes declarativas e afi rmativas:

    (14)

    O poeta ia bbado no bonde.

    O dia nascia atrs dos quintais.

    As penses alegres dormiam tristssimas.

    As casas tambm iam bbadas.

    (ANDRADE, 1978, p. 30.)

    Com os quatro versos de (14), o poeta inaugura a descrio da

    cena que vai retratar e que d ttulo a seu poema a Aurora. Para

    tanto, faz uso de quatro frases representativas do padro mais frequente

    da lngua; ele detalha, com frases verbais afi rmativas, os elementos que

    compem o ambiente descrito o poeta, o dia, as penses e as casas.

    Alm de serem organizados por frases verbais (oraes), decla-

    rativas e afi rmativas, os versos de (14) ilustram ainda outra tendncia

    da ordenao oracional em portugus a sequncia sujeito (ou tema) +

    predicado (ou declarao). Assim, os elementos constitutivos do cenrio

  • C E D E R J 4 9

    AU

    LA 2

    descrito o poeta, o dia, as penses e as casas ocupam a posio ini-

    cial de cada um dos quatro versos, na funo de sujeito, articulando os

    temas contemplados pelo poeta em sua observao inicial da Aurora.

    No esquema a seguir, ilustramos essa organizao oracional padro:

    SN SV

    sujeito (ou tema) predicado (ou declarao)

    O poeta ia bbado no bonde.

    O dia nascia atrs do quintais.

    As penses alegres dormiam tristssimas.

    As casas tambm iam bbadas.

    Nessa seo, conhecemos a estrutura oracional do portugus,

    que constituda com maior frequncia por frases verbais declarativas

    e afi rmativas na ordem sujeito (ou tema) + predicado (ou declarao).

    Na prxima seo, veremos como alguns autores conceituam

    perodo e sua classifi cao em simples ou composto.

    Atende ao Objetivo 2

    2. Leia essa defi nio de alfabetizao, extrada da Wikipdia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o): A alfabetizao consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilizao como cdigo de comunicao. De um modo mais abrangente, a alfabetiza-o defi nida como um processo no qual o indivduo constri a gramtica e em suas variaes.

    a. Quantas oraes h no texto?

    b. Destaque o sujeito das oraes que compem o pequeno texto infor-mativo.

    ATIVIDADE

  • 5 0 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    RESPOSTA COMENTADA

    a. No texto, h trs oraes, visto que h trs enunciados organizados

    em torno de um verbo, que so, respectivamente: consiste, , constri.

    b. O sujeito da primeira orao A alfabetizao, que encabea

    a frase. Na segunda frase, o sujeito da primeira orao a

    alfabetizao, e o sujeito da segunda orao o indivduo.

    CONCEITO E FUNO DO PERODO

    Como declaramos no incio desta aula, os termos frase, orao e

    perodo guardam distines e correspondncias. Do mesmo modo que a

    orao representa um tipo de frase, a frase verbal, o perodo relaciona-se

    concepo de orao; e os trs termos entre si tm zonas de interseo.

    Segundo Kury (2003, p. 15), PERODO o enunciado, de sen-

    tido pleno, constitudo de uma ou mais oraes, e terminado por uma

    pausa bem defi nida. De acordo com o mesmo autor, na modalidade

    escrita, essa pausa pode ser codifi cada por variadas marcaes, como

    ponto (fi nal, de exclamao, de interrogao), reticncias, entre outras.

    Conforme Cunha e Cintra (2001, p. 121), perodo se defi ne como

    a frase organizada em orao ou oraes. Os autores, semelhana de

    Kury, tambm destacam como o perodo deve terminar.

    Em Azeredo (1995, p. 33), encontra-se que o perodo a maior

    unidade da estrutura gramatical, aquela de maior extenso e comple-

    xidade a que se pode chegar no nvel sinttico estrito. Por essa razo,

    quando realizamos a anlise sinttica, em que os termos oracionais

    so descritos, fi camos limitados ao perodo; dentro dessa entidade que

    identifi camos e classifi camos os sintagmas da lngua portuguesa.

    As defi nies aqui apresentadas destacam a completude do perodo

    e suas possibilidades de organizao. O perodo formado por uma s

    orao denominado simples, enquanto o composto pode ser constitudo

    por duas ou mais oraes. Quando o perodo classifi cado como simples,

    a orao que o constitui recebe o rtulo de absoluta. Portanto, a extenso

    e a composio do perodo podem ser muito variadas. O que determina

    essa medida so os propsitos comunicativos em jogo, os sentidos

    articulados na interao entre dois ou mais indivduos.

  • C E D E R J 5 1

    AU

    LA 2

    Vejamos, a partir do fragmento (15), alguns modos de elaborao

    de perodos:

    (15) No fi m da tarde de 1 de fevereiro de 1908, o rei de Portugal,

    D. Carlos I, fardado de generalssimo, desceu do vapor S. Lus

    no Terreiro do Pao, em Lisboa. Passou a tropa em revista, confe-

    riu a presena dos ministros, piscou para uma ou duas marquesas

    de sua intimidade e subiu carruagem puxada por cavalos de

    penacho. Com ele estavam sua mulher, dona Amlia de Orleans,

    princesa da Frana, e os dois fi lhos, o prncipe herdeiro Lus Filipe

    e o infante Manuel (CASTRO, 2005).

    Com o trecho (15), Castro inicia sua obra, que se debrua sobre

    a vida de Carmen Miranda, um dos maiores cones da cultura popular

    brasileira (em que pese a Pequena Notvel ter nascido em Portugal, foi no

    Brasil que cresceu e fi cou famosa, indo depois para os Estados Unidos).

    Essa primeira passagem nos apresenta um pequeno relato sobre a famlia

    real portuguesa, organizado a partir de trs perodos.

    Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9d/Gangs_all_here_trailer.jpg

  • 5 2 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    O primeiro perodo simples, articulado em uma s orao, em

    torno do verbo desceu. Nele, Castro abre a cena, com a apresentao,

    respectivamente: a) do momento da enunciao (no fi m da tarde de 1

    de fevereiro de 1908); b) do personagem principal do fragmento (o rei

    de Portugal, D. Carlos I, fardado de generalssimo); c) da ao praticada

    (desceu do vapor S. Lus); d) do local em que se desenrola a cena (no

    Terreiro do Pao, em Lisboa).

    Vamos ento, destacar esse primeiro perodo em (15):

    (15)

    No fi m da tarde de 1 de fevereiro de 1908, o rei de Portugal,

    D. Carlos I, fardado de generalssimo, desceu do vapor S. Lus no

    Terreiro do Pao, em Lisboa.

    A partir dos conceitos j vistos neste captulo, podemos classifi car

    o fragmento (15) como: a) uma frase, pela completude de sentido que

    encerra; b) uma orao absoluta, por se organizar em torno de um verbo;

    c) um perodo simples, pela declarao se fazer sob forma de orao

    absoluta, entre pausas defi nidas.

    Uma vez aberta a cena, o perodo seguinte em (15) j apresenta

    distinta confi gurao interna:

    (15)

    Passou a tropa em revista, conferiu a presena dos ministros, pis-

    cou para uma ou duas marquesas de sua intimidade e subiu carruagem

    puxada por cavalos de penacho.

    Em (15), temos um perodo composto por quatro oraes, ini-

    ciadas, respectivamente, pelos verbos passou, conferiu, piscou e subiu,

    sem sujeito expresso, todos no pretrito perfeito e ordenados conforme

    a cronologia dos acontecimentos. Nesse fragmento, rompe-se a corres-

    pondncia comentada em (15) entre frase, orao e perodo, pois em

    (15) a orao absoluta equivale a um perodo simples e a uma frase. Em

    (15), de modo distinto, as quatro oraes integram uma s unidade de

    nvel superior um s perodo e uma s frase. Portanto, dizemos que

    (15) uma frase e, ao mesmo tempo, um perodo composto, formado

    por quatro oraes. Em termos semnticos, podemos afi rmar que uma

    das motivaes para que Castro tenha organizado dessa forma o perodo

    (15) seria a necessidade de apresentar, de forma contnua, objetiva e

    dinmica, as aes praticadas pelo personagem principal.

  • C E D E R J 5 3

    AU

    LA 2

    O perodo seguinte em (15) retoma a correspondncia observada

    em (15):

    (15)

    Com ele estavam sua mulher, dona Amlia de Orleans, princesa da

    Frana, e os dois fi lhos, o prncipe herdeiro Lus Filipe e o infante Manuel.

    Tal como (15), no fragmento anterior ocorre um perodo sim-

    ples, uma orao absoluta e uma frase, que tem no verbo estavam seu

    eixo principal. Nesse trecho, no temos mais a dinamicidade das aes

    verifi cada em (15), mas sim um comentrio descritivo sobre os acom-

    panhantes do rei sua mulher e fi lhos.

    CONCLUSO

    Como vimos, os conceitos de frase, orao e perodo no so

    tomados de maneira uniforme pelos estudiosos cujas obras analisamos

    nesta aula. Por outro lado, possvel estabelecermos alguns pontos de

    convergncia e chegarmos a uma defi nio razovel para cada conceito.

    ATIVIDADE FINAL

    Atende aos Objetivos 1, 2 e 3

    Leia o fragmento a seguir e faa o que se pede:

  • 5 4 C E D E R J

    Portugus II | Frase, orao e perodo

    Homem entra no apartamento. J passa da meia-noite. Atira-se numa

    poltrona, ao lado do telefone. Liga o aparelho que gravou as chamadas

    telefnicas durante sua ausncia. Ouve:

    Al? Mrio? o Srgio. Olha, aquele negcio deu p. Doze milhes. S que

    preciso de uma resposta sua hoje, antes das quatro da tarde. para pegar

    ou largar. Me telefona. Tchau.

    Ahn... Bom, aqui a... Puxa, no sei como falar com uma gravao. Aqui

    a Belinha. Lembra de mim? (...)"

    (VERISSIMO, 1996, p. 109.)

    a) Divida o primeiro pargrafo em perodos, classifi cando-os em simples ou

    composto.

    b) Por que podemos dizer que as frases iniciais do segundo pargrafo (Al?

    Mrio? o Srgio.) tm funo indicativa?

    c) Podemos afi rmar que a ltima frase do texto tambm um exemplo de orao

    e perodo? Por qu?

    d) No segundo pargrafo do texto, lemos Doze milhes. Podemos dizer que

    esse enunciado um exemplo de orao e perodo? Por qu?

    RESPOSTA COMENTADA

    a) O pargrafo articula-se em cinco perodos, quatro simples (orao absoluta) e

    um composto, a saber: Homem entra no apartamento (perodo simples); J passa da

    meia-noite (perodo simples); Atira-se numa poltrona, ao lado do telefone (perodo

    simples); Liga o aparelho / que gravou as chamadas telefnicas durante sua ausncia.

    (perodo composto); Ouve (perodo simples).

    b) Porque essas frases fazem parte de uma forma de comunicao ritualizada, que

    todos usamos ao telefonarmos para algum.

  • C E D E R J 5 5

    AU

    LA 2

    R E S U M O

    O termo frase utilizado de maneira geral para designar uma unidade do discurso

    caracterizada por ter um sentido completo no contexto comunicativo. Alm disso,

    do ponto de vista fontico, a frase marcada por pauta entoacional que assinala

    seu comeo e seu trmino. Por fi m, poderamos acrescentar que, na escrita, a

    frase delimitada por uma maiscula no incio e por certos sinais de pontuao

    (. ! ?...) no fi nal.

    Orao um enunciado que apresenta determinado tipo de estrutura interna,

    incluindo sempre um predicado e frequentemente um sujeito, assim como vrios

    outros termos possveis, que sero oportunamente analisados ao longo deste curso.

    Por fi m, tradicionalmente, emprega-se a designao perodo para as frases que

    constituem uma orao. De acordo com Perini (1995, p. 61-63), deve fi car claro

    que um perodo sempre uma orao. Naturalmente, nem toda orao um

    perodo, j que muitas oraes no so coextensivas com a frase de que fazem

    parte. Por exemplo, em V padaria e traga oito pezinhos, o enunciado V

    padaria uma orao, mas no um perodo. O perodo, neste caso, composto

    porque formado por duas oraes, ou seja, dois enunciados organizados em

    torno de dois verbos (v e traga).

    INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA

    Nesta segunda aula, citamos brevemente o sujeito como um termo normalmente

    presente nas oraes da lngua portuguesa. Nas duas prximas aulas, teremos

    a oportunidade de analisar melhor esse termo, bem como analisar as suas

    caractersticas sintticas.

    c) O enunciado Lembra de mim? ao mesmo tempo uma frase (porque possui

    sentido completo), uma orao (porque est organizado em torno de um verbo) e

    um perodo (porque um enunciado constitudo de uma orao).

    d) A frase Doze milhes no pode ser considerada orao nem perodo porque no

    est organizada em torno de um verbo. Ao contrrio, trata-se de uma frase nominal.

  • objetivos

    Metas da aula

    Apresentar o conceito de sujeito e discutir a essencialidade desse termo da orao.

    Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:

    1. avaliar a noo de essencialidade normalmente atribuda ao sujeito;

    2. analisar os diferentes conceitos de sujeito e suas limitaes;

    3. identifi car o sujeito em padres estruturais diversos da lngua portuguesa.

    Termos essenciais: o sujeito introduo geral

    Ivo da Costa do Rosrio

    Mariangela Rios de Oliveira 3AULA

  • 5 8 C E D E R J

    Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral

    Para iniciarmos esta aula, veja a cena a seguir. Parece que Joo est satisfeito!INTRODUO

    Joo construiu uma mesa. Se perguntssemos qual o sujeito dessa orao,

    Todos responderiam: Joo. Antnio e Joaquim foram ao mercado. Qual

    o sujeito dessa segunda orao? No h dvida: Antnio e Joaquim, sujeito

    composto. Certamente voc j deve ter ouvido essas perguntas (ou outras

    semelhantes) quando frequentou os bancos escolares no Ensino Fundamen-

    tal e no Mdio. Afi nal, o estudo do sujeito sempre ocupou lugar central no

    ensino de lngua portuguesa nas escolas brasileiras.

    Todos dizem que o sujeito um termo essencial. No assim que ensinaram

    nossos professores? Pois bem. Cabe agora discutirmos essa declarao e veri-

    fi carmos se ela ou no aplicvel s oraes do portugus de modo geral.

    Assim, este captulo dedicado a uma das principais funes sintticas na

    organizao das oraes em lngua portuguesa o sujeito.

    Est pronto para essa tarefa? Ento, vamos frente.

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    LA 3

    SUJEITO TERMO ESSENCIAL?

    A identifi cao do sujeito como um dos termos essenciais da

    orao tem grande tradio no mbito da descrio e da anlise sinttica

    da lngua portuguesa. A classifi cao do sujeito como essencial, conforme

    recomendao da NGB, encontra-se em Cunha e Cintra (2001), Kury

    (2003) e Luft (2002), por exemplo.

    NGB a sigla atribuda Nomenclatura Gramatical Brasileira, documento ofi cial, de meados do sculo XX, que normatizou e simplifi cou, para fi ns educacionais e outros, a terminologia da gramtica do portugus.

    !

    De acordo com essa perspectiva, a orao formada por dois sintagmas

    fundamentais, ambos com o mesmo grau de relevncia o sintagma nominal

    (SN) na funo de sujeito e o sintagma verbal (SV) na funo de predicado.

    A partir da, na orao (1) teramos, com base em Cunha e Cintra

    (2001, p. 119), a seguinte organizao estrutural:

    (1) Aquela nossa amiga no disse uma palavra.

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    Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral

    Conforme podemos observar pelo diagrama, considerar o sujeito

    to essencial quanto o predicado signifi ca atribuir a ambas as funes

    o mesmo status, quer dizer, o mesmo nvel hierrquico, como integran-

    tes do plano maior a orao. Conforme discutiremos nesta aula, tal

    compreenso acaba por se tornar um entrave ao estudo de alguns tipos

    de sujeito.

    Por conta das difi culdades em relao ao termo essencial, nem

    todos os estudiosos assumem explicitamente esse rtulo. Autores como

    Rocha Lima (1999) e Bechara (1999) no negam a relevncia da funo

    sinttica sujeito, porm destacam a ocorrncia de oraes nas quais

    possvel a no ocorrncia desse termo. Rocha Lima (1999, p. 205)

    nos informa que a orao consta de dois termos, enquanto Bechara

    (1999, p. 408) refere-se ao sujeito como um grupo natural; ambos

    os autores no utilizam o termo essencial no tratamento do sujeito. O

    mesmo faz Azeredo (1995, p. 45), que nomeia o sujeito como um dos

    dois constituintes centrais da orao.

    Consideramos, pois, que as alternativas expostas no pargrafo

    anterior constituem estratgias mais adequadas e viveis para descrever

    e analisar o papel do sujeito na lngua portuguesa. preciso repensar e

    redefi nir o rtulo essencial, atribudo ofi cialmente pela NGB, h dcadas,

    ao termo sujeito. Devemos compreender que, em relao totalidade

    das oraes do portugus, o rtulo essencial deve ser assumido como

    central ou bsico, por exemplo, e no tomado como propriedade de

    todas as oraes.

    Afi nal, se o sujeito um termo essencial da orao, como anali-

    saramos os exemplos a seguir?

    (2) Choveu torrencialmente na noite de ontem.

    (3) H cinco rapazes na sala.

    Segundo os gramticos da lngua portuguesa, os exemplos (2) e

    (3) representam dois casos de orao sem sujeito. Ora, se o sujeito um

    termo essencial da orao e ele est ausente nos exemplos, (2) e (3) no

    seriam exemplos de oraes? Seriam o qu?

    evidente que so exemplos de orao. So enunciados organiza-

    dos em torno de um verbo, conforme vimos na aula anterior. Portanto,

    se assim consideramos a situao, devemos concluir que o sujeito nem

    sempre essencial. verdade que a maioria das oraes produzidas em

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    lngua portuguesa so organizadas tendo o sujeito em sua constituio,

    mas consider-lo como essencial em relao a todas as oraes do por-

    tugus no verdadeiro, haja vista os exemplos fornecidos em (2) e (3),

    entre outros.

    Agora que j discutimos a essencialidade do sujeito, cabe ana-

    lisarmos mais detidamente de que termo da orao estamos falando, ou

    seja, o que realmente o sujeito? Vamos continuar nossa caminhada em

    busca dessa resposta.

    Atende ao Objetivo 1

    1. Observe as frases a seguir:(a) Maurcio ganhou um prmio na Frana.

    ATIVIDADE

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    Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral

    (b) Havia mais de duzentas pessoas na palestra.

    (c) No sei a verdade de nada.

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    Tomando como base os conhecimentos adquiridos na primeira seo deste captulo, responda: podemos considerar o sujeito como termo essencial a partir da anlise dos exemplos (a), (b) e (c)? Por qu?

    RESPOSTA COMENTADA

    A frase (a) tem o termo Maurcio como sujeito. Dessa forma, o

    termo passa a ser essencial, visto que no seria comum lermos ou

    ouvirmos algo como ganhou um prmio na Frana sem algum tipo

    de relao com um termo precedente. Em outras palavras, nessa

    frase, o termo essencial.

    Em (b), de fato, no h qualquer termo ao qual podemos atribuir a

    funo de sujeito. Como a prpria gramtica afi rma, oraes com

    o verbo haver, indicando relao de existncia, so desprovidas de

    sujeito.

    Em (c), o sujeito da orao no est formalmente indicado na frase

    por uma palavra, como o pronome eu, mas podemos deduzi-lo a

    partir da forma verbal sei. Em outras palavras, existe sujeito, apesar

    de no estar indicado diretamente numa palavra especfi ca.

    Enfi m, os exemplos (a) e (c) poderiam nos levar concluso de que

    o sujeito um termo essencial. Por outro lado, o exemplo (b) no

    permite essa concluso, levando-nos considerao fi nal de que

    realmente o sujeito nem sempre um termo essencial.

    DEFININDO SUJEITO

    A maioria das gramticas de portugus defi ne o sujeito pelo vis

    semntico, ou seja, pelo sentido que, em geral, essa funo sinttica

    expressa. Assim, encontramos, a ttulo de exemplifi cao, as duas seguin-

    tes afi rmaes sobre o que sujeito:

    a) Cunha e Cintra (2001, p. 119): O SUJEITO o ser sobre o

    qual se faz uma declarao.

    b) Rocha Lima (1999, p. 205): Sujeito: o ser de quem se diz algo.

    Como podemos observar pelas defi nies de Cunha e Cintra e

    de Rocha Lima, a funo sujeito encontra-se referida em termos de um

    ser a partir do qual se declara ou se diz algo.

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    Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral

    Em outras fontes bibliogrfi cas, a defi nio de sujeito ampliada,

    com o acrscimo de informaes de nvel morfolgico, como em (c).

    A defi nio de Luft (2002) ilustra nosso apontamento. Vejamos:

    c) Luft (2002, p. 23): Sujeito ser de quem se diz alguma coisa

    o elemento com o qual concorda o verbo.

    Em Luft (2002), o critrio semntico (o ser) e o morfolgico

    (com o qual o verbo concorda) so usados para a defi nio do sujeito.

    Essa postura do autor pode ser evidenciada pelo fato de um nico critrio

    no ser sufi ciente para defi nir sujeito.

    Podemos ainda fazer referncia a um terceiro critrio, o sinttico,

    relativo ordenao do sujeito na orao. Segundo esse critrio, o sujeito

    tende a vir antes do predicado e, em geral, ocupa o primeiro lugar na

    orao, como ocorre em (a) Maurcio ganhou um prmio na Frana.

    Partindo dessas defi nies, resta-nos, portanto, testar sua validade

    em oraes que exibam distintas confi guraes sintticas. Para tanto,

    vamos observar as quatro oraes a seguir:

    Sujeito Predicado

    (4) O presidente deseja a paz.

    (5) Os homens desejam a paz.

    (6) A paz desejada.

    (7) A maioria dos homens deseja(m) a paz.

    Dos quatro arranjos oracionais exemplifi cados, apenas o primeiro

    enquadra-se plenamente nas defi nies de sujeito aqui expostas. Em (4), o SN

    O presidente , de fato, um ser identifi cado, a partir do qual feita uma

    declarao; a forma verbal deseja, na terceira pessoa do singular, concorda

    com esse SN tambm na terceira pessoa do singular, estabelecendo a relao

    predicativa necessria confi gurao oracional, e O presidente ocupa a pri-

    meira posio na orao.

    Nos exemplos seguintes, os critrios de defi nio parecem no ser sufi -

    cientes para dar conta da funo sinttica sujeito. Na orao (5), o sujeito Os

    homens, no plural, torna imprecisa a referncia; trata-se de um SN de sentido

    genrico, que no nos permite saber, com maior especifi cidade, de quem, exa-

    tamente, se faz a declarao. Embora concorde com a forma verbal desejam,

    que tambm se encontra no plural, o sujeito Os homens, pela impreciso de

    sentido, no to categrico quanto o ilustrado em (4) O presidente.

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    A inadequao ou insufi cincia do critrio semntico para a defi nio

    do sujeito mantm-se em relao orao (6). Nela, o sujeito a paz, SN com

    sentido mais abstrato, praticamente impede que seja interpretado como um

    ser, afastando-se mais ainda do critrio semntico defi nidor do sujeito.

    O mesmo comentrio vale para todas as oraes articuladas em torno de

    sujeitos formados por substantivos abstratos, uma vez que o sentido mais

    vago desses termos no tem maior compatibilidade com a noo de ser.

    Na orao (7), a insufi cincia do critrio semntico acompanhada

    da insufi cincia do critrio morfolgico e tambm do sinttico. Assim,

    nesta orao, no podemos considerar o SN A maioria dos homens um

    ser, ademais, esse tipo de SN pode admitir duas interpretaes de seu

    ncleo maioria ou homens, o que cria um outro problema, de nvel

    morfolgico e sinttico com que termo concorda o verbo? Como o

    termo maioria est em primeiro lugar em relao a homens, seria prefe-

    rido para a funo de sujeito? Por conta dessa complexidade, a norma

    padro indica como possvel, em oraes desse tipo, o uso do verbo no

    plural ou singular, partindo-se das duas possveis interpretaes do ncleo

    do sujeito. Portanto, alm da impreciso referencial, temos, nesse caso,

    tambm o problema da concordncia verbal e da ordenao, o que torna

    o sujeito A maioria dos homens menos possvel ainda de ser defi nido

    dentre as quatro oraes de (4) a (7) apresentadas anteriormente.

    Como podemos observar, a defi nio de sujeito tarefa comple-

    xa. Para identifi car o sujeito, um ou dois critrios, como os at agora

    apresentados, podem no ser sufi cientes. Assim, devemos lanar mo de

    outros parmetros para essa tarefa. Um critrio adicional para identifi ca-

    o do sujeito pode ser o sinttico, ou seja, a posio ocupada por esse

    constituinte na orao. Na lngua portuguesa, em geral, o sujeito ocupa a

    primeira posio oracional, vindo frente do predicado. Se observarmos

    a ordenao das oraes (4), (5), (6) e (7), poderemos constatar que a

    posio inicial em todas ocupada pelo sujeito, a que se segue o predicado.

    Por vezes, o critrio sinttico tem papel fundamental na identi-

    fi cao do sujeito, como o nico meio capaz de cumprir esta tarefa, na

    impossibilidade de aplicao dos demais critrios. Estamos nos referindo

    a pares de orao como os que se seguem, em que a troca de ordena-

    o dos constituintes implica mudana sensvel do sentido veiculado.

    Nesses casos, no foi o sujeito que mudou de posio, pelo contrrio, a

    mudana posicional motivou a mudana de funes sintticas no interior

    da orao. o que ilustramos em:

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    Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral

    (8) Joo ama Maria.

    (8) Maria ama Joo.

    (9) O professor americano.

    (9) O americano professor.

    O nico meio de identifi car o sujeito nos pares (8)/(8) e (9)/(9)

    justamente sua ordenao na estrutura oracional. Assim, em (8), Joo

    o ser de quem se diz algo, no caso, que ama Maria; j em (8), a

    mudana sinttica operada faz com que Maria funcione como sujeito,

    o ser que ama Joo. Na orao (9), o SN o professor, em posio

    inicial, atua como sujeito, como o ser sobre o qual se declara que

    americano; ao contrrio, em (9), ao SN o americano, codifi cado como

    sujeito, atribudo o comentrio professor.

    Por outro lado, tal como os demais critrios, a abordagem sintti-

    ca, por si, no sufi ciente para a depreenso ou identifi cao do sujeito

    oracional na maioria das oraes da lngua portuguesa. Uma