Livro - Te Mandei Um Passarinho...

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5/9/2018 Livro-TeMandeiUmPassarinho...-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 1/83 PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL

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PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL

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Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação

Fernando Hadad

Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

Ricardo Henriques… (?) …. André Luiz Figueiredo Lázaro

Diretor do Departamento de Educação de Jovens e Adultos

Timothy Ireland

Coordenadora Técnica

Fernanda Teixeira Frade Almeida

ColaboradorTancredo Maia Filho

Ministérioda Educação

Esplanada dos Ministérios

Bloco L – 7º andar – Sala [email protected]

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te mandeium passarinho...

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Organização

Ira Maciel

Jose Ribamar Bessa Freire

Nietta Monte

Núbia Melhem Santos

Coordenação pedagógica e de produção

Ira Maciel

Coordenação temática

José Ribamar Bessa Freire

Pesquisa

Nietta Monte

José Ribamar Bessa Freire

Edição e seleção iconográfica

Núbia Melhem Santos

Reproduções fotográficas

Bernardo Santos Cox

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ano 2007

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610

de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro poderá ser

reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios

empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,

gravação ou quaisquer outros sem autorização prévia por

escrito do Ministério da Educação ou dos autores.

Nohghgsdhgsd, Cwtrwetrw.Te mandei um passarinho... / Nofgsfgsgs. – Brasília :

Ministério da Educação, 2007.

80 p. : il. ; 33 cm. -- (Literatura para todos ; v. 1)

ISBN: 00-000-0000-0

1. Nogfsgfsgfdhg. 2. Literatura brasileira. I. Título.

CDD B000.0

CDU 000.000.0(00)-00

D000

Imagem da Capa

Colar, pente e pingente Krahô

Acervo Museu de Arqueologia e

Etnologia da USP.

Fotografia de Wagner Souza e Silva.

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Brasília2007 

1a edição

te mandeium passarinho...

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É importante saber que não é

só a escrita em papel que é válida.Sabe por quê?

Porque nosso povo já viveu muitosanos sem participar da escrita e

diretamente comunicaramuns com os outros através da voz,

dos gestos ou dos desenhos. Nelson Xacriabá

O Igapó,

de José Custódio Marques Meãmücü

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 Pássaros namorando. Escultura em pedra encontrada em Joinville, Santa Catarina.Coleção Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville.

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14  >> PARTE 1

  Histórias moram dentro da gente

42  >> PARTE 2

  Esta terra tem vida

50  >> PARTE 3

  Por que isso se passa comigo?

64   Veja aqui quem te mandou um passarinho

70  Bibliografia: os pesquisadores que estudaramesses grupos

75   Autores, fontes e referências bibliográficasdas imagens

77   Autores, fontes e referências bibliográficas dos textospor ordem de aparição

81  Glossário

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Caras leitoras e caros leitores,

Trillum in et dolore vendreet ullum et aliquat, vel dolor ipit wis ex el ut alis augait nos-

tie do consent irit, sum nostincilis dunt wissim dolendi onulput incillamcon ut aliquat ut

eum dolorer augiamcommy niam, sustie doloborem do duipisi.

Secte facipit luptatum ipit augait et prat ver adigna acin hent lum zzriure commy nisit ea

facip ex eugait praestis augait nulpute dignis exercing ex er am, quisit nummy num vel

iuscilit adip et ulput alis adionsed del ullaoreet praestrud dit digna feu feumsandre modo

ea feugiamet verat.

Delent at lut vel utatio ex eugait pratum at, sequat. Ing el utpat. Ut luptat illute mo-

digna consent augue veniam, quipit nullan heniam, quamcom modiat, venit, quatie vulla

conum duis augiam in hendre vero odolore minibh et nulputate dit accum iusciduisl enis

adit aute con venim duis er alismodip eui tat, quat wisisis ad dipsum quipis.

Dip ea feuguer aliquismolum vulla feugiatie do dolum elessed eu feui ex eugait, volo-

reet wisi tionsed modolum doloreraesto eummod tionull uptat, voluptat lor inibh eum

iriure modolorer augiam dolor irit ad te diam init vendiam quatuercilla feuguero del ut

alisiscil ing et, sequissit incin ut nos dolore facidui psusci te do esed doloreet. Pat nullup-

tatum dolor sisit etuercidunt in ullandignibh eugiat, con voluptat dignit ulput luptat. Sum

Carta ao leitor

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zzril duipisi blandip ero dolorperat, quatet elit in velit, susci blan henit nummy 

nis amcon vulla feui tetum augait lummodo lorero core magna conullamcore

feu feu faccum eugueriustie faci blam, vullam zzrilis doluptat wisim autpatu

mmodole. Am nonsed te consed minis ectet alis dolor si. At. Dui bla feugue

modolum modiam, quat praessis dignim ad tin henim num venibh et ipit adi-

pisi el ea con enis ation vullaor autet at. Delesed tis nostis augiam zzriliquip

enim nit vullut ad magnit dolor am am, quat laorercilit la feugait vulputp atue-

rat. Ut nulput lutate min ut amet lutpat lam, cons eu faccummy nim incipis ci-

pit, sum ilismod tio ex er sequipit in vercilla aliscipisi eugueros elis nullut nibh

ero odoless iscillamet alit eu facincilla facilisim ip er iriure doloreet luptat ad

ero et ulput vullandrem volortionse corper in velesenim duis dolenim eugait

digna facipsum zzriureet ulput laorper iliquat. Ommy niatie tionsed min velis

aut ex exer aliqui blamet lum dolor amcorem quatet.

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

Ministério da Educação

 Réplica de cerâmica Marajoara

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Irillum in et dolore vendreet ullum et aliquat, vel dolor ipit wis ex el ut alis augait nos-

tie do consent irit, sum nostincilis dunt wissim dolendi onulput incillamcon ut aliquat ut

eum dolorer augiamcommy niam, sustie doloborem do duipisi.

Secte facipit luptatum ipit augait et prat ver adigna acin hent lum zzriure commy nisit

ea facip ex eugait praestis augait nulpute dignis exercing ex er am, quisit nummy num

 vel iuscilit adip et ulput alis adionsed del ullaoreet praestrud dit digna feu feumsandre

modo ea feugiamet verat. Delent at lut vel utatio ex eugait pratum at, sequat. Ing el utpat.

Ut luptat illute modigna consent augue veniam, quipit nullan heniam, quamcom modiat,

 venit, quatie vulla conum duis augiam in hendre vero odolore minibh et nulputate dit ac-

cum iusciduisl enis adit aute con venim duis er alismodip eui tat, quat wisisis ad dipsum

quipis. Dip ea feuguer aliquismolum vulla feugiatie do dolum elessed eu feui ex eugait,

 voloreet wisi tionsed modolum doloreraesto eummod tionull uptat, voluptat lor inibh

eum iriure modolorer augiam dolor irit ad te diam init vendiam quatuercilla feuguero

del ut alisiscil ing et, sequissit incin ut nos dolore facidui psusci te do esed doloreet.

Ira Maciel

Consultora Pedagógica

Prefácio

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 Iyana Pitalá,

de Amatiwanã Trumai

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 Escultura em pedra em forma de pássaro, encontrada em Cubatãozinho, Joinville, Santa Catarina.Coleção Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville.

>> PARTE 1

Histórias moram dentro da gente

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Para mim e para meu povo, ler e escrever é uma técnica, da mesma maneira que alguém pode aprender a dirigir um carro ou a operar uma máquina.

Então a gente opera essas coisas, mas nós damos a elas a exata dimensão que têm. Escrever

e ler para mim não é uma virtude maior do que andar, nadar, subir em árvores, correr, caçar,

fazer um balaio, um arco, uma flecha ou uma canoa.

Quando aceitei aprender a ler e escrever, encarei a alfabetização como quem compra um

peixe que tem espinha. Tirei as espinhas e escolhi o que eu queria.

Na nossa tradição, um menino bebe o conhecimento do seu povo nas práticas de convivên-

cia, nos cantos, nas narrativas. Os cantos narram a criação do mundo, sua fundação e seus

eventos. Então, a criança está ali crescendo, aprendendo os cantos e ouvindo as narrativas.

Quando ela cresce mais um pouquinho, quando já está aproximadamente com seis ou oito

anos, aí então ela é separada para um processo de formação especial, orientado, em que os velhos, os guerreiros, vão iniciar essa criança na tradição.

 Airton Krenak 

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 Menino se prepara para o Jawari,

de Amatiwanã Trumai

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Histórias moram dentro da gente, lá no fundo do coração. Elas ficam quietinhasnum canto. Parecem um pouco com areia no fundo do rio: estão lá, bem tranqüilas, e só dei- xam sua tranqüilidade quando alguém as revolve. Aí elas se mostram.

 Daniel Munduruku

Nós, os povos indígenas, hoje estamos começando a sonhar do fundodos mais de 500 anos que passamos mergulhados no túnel do tempo. Du-rante esse longo túnel foram exterminadas muitas culturas como as lín-guas indígenas. Oficialmente, hoje são faladas 180 línguas, mas sabemos

que existem muitas mais ainda pelas fronteiras dos rios. O que quero di-zer é que os 500 anos para nós começaram ontem. Só agora nos últimosanos é que estamos com os direitos de ter uma comunicação através daescrita na nossa língua própria. Como é um processo novo para os índiose para os educadores, encontram-se várias interrogações no ar. Como asandorinhas voando para pegar moscas em sua alimentação numa tarde de

temporal. Mas o túnel do futuro mostra que somos capazes de realizar ossonhos que sempre tivemos, como povos diferentes e valorizados dentrode nós mesmos e espiritualmente...

 Joaquim Mana Kaxinawá

Os brancos  desenham  suas palavras, porque seu pensamento  écheio de esquecimento. Há muito tempo guardamos as palavras de nossos antepassa-dos dentro de nós, e as continuamos passando para nossos filhos.

 Davi Kopenawa Yanomami

A canoa dotempo

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A história vem de um tempo longo,médio,recente.

De ontem, hoje, amanhã.

História é passado, história é presente.

A história é como o mundo, porque não tem fim.

É um caminho muito longo.Enquanto o tempo vai passando, mais histórias vamos construindo.História é passado, história é presente.

A história não é só do ser humano. Também é dos encantados, dos animais,

da floresta, dos rios e dos legumes.

História está em todo lugar do mundo.

 Adalberto Maru Kaxinawá e Joaquim Mana Kaxinawá

 Kwarup,

de Amatiwanã Trumai >>

História é passado, 

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 história é presentepresente

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Quando não existia nada,era assim que começou o início.

Só havia escuridão.O espaço, onde não existiam

os materiais para formar gentes.

Existia o espaço frio,o espaço vazio,o espaço triste,

Existia o espaço sem idéias.

Na escuridão, existia uma VOZ que soava.Esta voz é a presença de Miř io,

que é a Ye´pá-Bahuári-MahsõAs músicas andavam dançando,fazendo carinho.

Primeiro, ela tinha um corpo em forma de vento,invisível.

Ela possuía a Vida da Almaem forma de vento,

estava sentada.

Dentro desta voz,dentro do vento

 vivia por si mesma uma Mulher,chamada Ye´pá.

Ela era chamada Ye´pá-Bahuári-Mahsõ , Gente (femin.) – Terra,

Gente que apareceu por si mesma.

Ela apareceu no meio de sons musicais.No meio de nuvem branca brilhosa.Ela é Gente (femin.) – Música Sagrada.

Primeiro, surgiu um estrondo grande.De cor de jenipapo.

No meio – de cor rósea,grande raio formava um círculo.

Quando se formou a luz,o raio ficou no horizonte,perto onde estava sentada uma Mulher

no banco dela.Assim era a origem da Ye´pá-Bahuári-Mahsõ.

Músicas andavam em forma de redemoinhos de vento,andavam em volta dela.

Fazendo-lhe carinho,

entrando-lhe no corpo dela,através dos ossos e dos pensamentos.

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Vivia sozinha no espaço vazio.No início, não criou nada,nem a terra, nem gentes.

A Ye´pá-Bahuári-Mahsõ não tinha Caminho Delicado de Passagem,

nem Nihǐ  sãma, nem Nihǐ  sohpe.

Tinha um corpo invisível,de Pedra-quartzo,

em forma de osso de bacia.

Assim ela vivia, fazia a sua própria Vida.

Depois, a Ye´pá-Bahuári-Mahsõpensou de descer para a Casa de Ye´pá-wi´i.

Antes de descer,a Ye´pá fez a Cerimônia de Më´ ř o- puhtiro.

Assoprou nesta Terra,defumando para baixo.

Estava para vir na Casa da Terra,

para criar a Terra e as humanidadescom as Cerimônias delae pensou para criar a Terra e formar a Vida.

Trocou o nome,antes de criar a terra,

ficou chamada Ye´pá-Bëhkëo.

Ye´pá-Bëhkëo pensou em Bahsesé ,

criou Cerimônias fortes,e fez assim a Cerimônia de sopro

chamada Di´´tá-bahseró, Cerimônia da Terra,chamada também  Di´tá-ě hõ-a´mésëok ǔř o bahseró.

Ela vinha da Casa de Ventodentro do Osso,

no Cigarro da Formação da Gente.Para chegar na Casa de Terra,

desceu e trouxe a vida.

Desceu para casa de Ye´pá-wi´i.É assim que começou, no princípio,

antes de criar a Terra e o Dia.

Fim do Primeiro Tempo

Gabriel dos Santos Gentil

Tawaranã, mito que

 fala do namoro entre a moça e um peixe.

De Amatiwanã Trumai21

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No princípio

eram aságuas

 Peixe azul,de José Custódio Marques Meãmücü

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No princípio só existiam as águas. Toda vastidão do mundo era recoberta de água. Foi quando

apareceu o Girador, o equilíbrio de todo o movimento, trazendo

Auí e seu povo. O Girador semelhava-se a uma grandeigaçaba, um imenso pote que pairou sobre as águas. Deledesceu Auí , um ser altivo e luminoso, e ergueu abrigos

para seu povo. Trabalhou duro, construiu sobre as águasimensos túneis transparentes que se confundiam comelas. Ergueu sete cidades e fez seu povo habitá-las.

O povo de Auí eram seres transparentes com pés

palmiformes e nadadeiras sobre o dorso. Deixaram oGirador e habitaram as sete cidades. Durante muito emuito tempo ali viveram tranqüilos, sem que nada osperturbasse. Auí tomava conta de seu povo e zelava

para que houvesse completa harmonia entre eles ea Natureza. Contudo, um dia, Auí , que se acostumara

a contemplar o nascer do sol e a saudá-lo, viu aságuas que se moviam em intensas correntes e faziam

remoinhos, fruto da ação de Anhangá.Desde que chegara, Auí tinha respeitado todas as

regras ditadas pelo Girador, fazendo seu povo tambémcumpri-las. E dentre essas regras estava a de que ele e seu

povo não deveriam se aproximar de sítios em que houvessedesequilíbrios naturais. Desatento a essa regra, Auí seaproximou do movimento das águas. Acercou-se do remoinho e

percebeu que podia enxergar o fundo das águas, constituído domesmo material de que era feito o Girador, o barro.

 Auí foi tragado pelo remoinho, desceu e tocou o fundo. Aofazê-lo, a terra levantou-se e aflorou acima das águas, fazendoa terra firme. (...) Auí e seu povo, depois da violação, sofreramgrandes transformações. As sete cidades foram cobertas pelaságuas encantadas. O povo de Auí passou a ser o povo encantado,

que habita o fundo das águas. Perderam sua aparência física etransformaram-se em energias. São essas, os caruanas.

Zeneida Lima, neta de pajé Sacaca

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Origem efundamento da

palavra segundo osGuarani

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Quando a terra não era,

no meio das trevas originais,

quando não havia o conhecimento das coisas,

o nosso Primeiro Pai Nhamandu

 fez florescer em si o fundamento da palavra,

convertendo-a na própria sabedoria divina.

 Mito Guarani recolhido por Leon Cadogan

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As serpentes queAs serpentes que 

roubaram aroubaram a 

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noiteFazia pouco tempo que o mundo

era mundo e que as garras da onçaainda não haviam crescido e járeinava a insatisfação. E isso porquea noite nunca chegava – ela, queiria permitir que pessoas e animaisrepousassem um pouco.

O sol brilhava sem parar nos céus enenhum daqueles infelizes conseguiasequer tirar uma pequena soneca!Os raios ardentes do sol queimavamtanto e durante tanto tempo quetodos preferiam levantar. Apenas opapagaio continuava a protestar, mastão alto, que toda a floresta o ouvia,porém o sol pouco se importava comtoda aquela gritaria e seguia brilhandotão alegremente como antes.

Após um certo tempo, o papagaio

ficou rouco, e os outros seresarrastavam-se como sombras. Noleito dos rios quase não se via umagota d´água a correr. Felizmente, umbelo dia, os índios descobriram quemhavia escondido a noite: as serpentes!

Então, os líderes da aldeiaorganizaram uma reunião para

indicar aquele que deveria ir

falar com as serpentes para que elaslibertassem a noite. A escolha caiu sobreo jovem Karu Bempô, por ser guerreiro valente e excelente corredor.

Karu Bempô foi falarcom Surucucu, a grandechefe das serpentes.

A morada de Surucucu ficavaescondida no fundo da floresta virgem,embaixo das folhas espalhadas pelochão, e nem os macacos gostavam de seaproximar daquele lugar misterioso.— Quem se atreve a me incomodar?— gritou a serpente, erguendo a cabeça.— Sou eu, Karu Bempô, o grandeguerreiro – respondeu. Dizem que asserpentes esconderam a noite. Se medevolverem a noite, darei arco e flechascomo presente do meu povo.— De que me serviriam o arco e asflechas? — riu Surucucu. — Não tenhomãos para manejá-los. Meu rapaz, tens deme trazer outra coisa.

Após dizer essas palavras, ela deslizoupor entre as folhas e desapareceu, e KaruBempô se viu sozinho.

Voltou à aldeia de mãos vazias, e

todos ficavam quebrando a cabeça paradescobrir o que dar à serpente.

Finalmente, depois de muito pensarem,imaginaram que uma matraca contentariaa serpente, pois é um objeto que agrada atodos, e nenhum animal possui um objetodesses.

Fizeram então uma matraca, cujo som

era ouvido para além das planícies e das

<< Detalhe de painel desenhado pelos Ticuna

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montanhas. E Karu Bempô pôs-senovamente a caminho.

Dessa vez, Surucucu estavaesperando-o.

— Sei que me trazes uma matraca— disse ela. — Evidentemente, nãoé coisa que se despreze, mas como vou usá-la? Não tenho nem mãosnem pés...— Vou prendê-la em tua cauda— disse Karu Bempô, eimediatamente pôs mão à obra.

Mas que aconteceu? Ou amatraca tinha perdido a voz oua cauda da serpente não erasuficientemente forte para balançá-la. Quando ela tentou chacoalharsozinha, ouviu-se apenas umch-ch-ch-ch parecido com o ruídoque as folhas secas fazem quandose espalham pelo chão.— Não, isso eu não quero. Mas,para que não digam que souinsensível, te darei uma brevenoite — declarou afinal a serpente.Deslizou para dentro do ninho eretornou trazendo um saquinho decouro, que entregou a Karu Bempô.— Deves saber que uma noite longa

custa muito caro: nem por dezmatracas eu poderia te dar uma— disse a serpente.— Nesse caso, o que queres emtroca?— Conversei com as outrasserpentes a esse respeito edecidimos que trocaremos uma

noite longa por uma jarra cheiadaquele veneno que teu povocoloca nas flechas.— Mas que ireis fazer com esse veneno?— recomeçou Karu Bempô.

Sua pergunta não recebeuresposta. Surucucu deslizou sob

as folhas. A matraca presa à caudafez-se ouvir por um momento, edepois a serpente desapareceu.

Caminhando lentamente,Karu Bempô retornou à aldeiacom o saquinho de couro. Tinhaesperança de que a noite curta

seria suficiente para todos,mas emseu espíritopermanecia oreceio de um novo

encontro com aserpente.Assim que os índios abriram o

saquinho, o mundo foi invadidopelas trevas e todos caíram numsono profundo, mas não por muitotempo. Passados alguns instantes,

o sol voltou a brilhar, expulsou aescuridão para trás das montanhase despertou sem piedade osadormecidos.

Todo dia acontecia a mesmacoisa, e logo ocorreu aquilo queKaru Bempô temia: perceberamque uma noite tão curta não

bastava para descansar e todoscomeçaram a juntar veneno — às vezes uma gota — para encher a jarra.

O jovem retornou à floresta pelaterceira vez. Dessa vez caminhavacom cuidado, pois tinha receiode tropeçar e deixar cair a jarra.

Surucucu estava enfiada em seuninho, e via-se apenas sua cabeça.Ao lado dela havia um enormesaco, bem cheio.— Eu sabia que voltarias — disseela ao recém-chegado.— Vê, preparei um saco quecontém uma noite longa.

Karu Bempô entregou-lhe a jarrae perguntou, curioso:

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— Escuta, por que as serpentesprecisam de veneno?— Porque somos pequenas efracas — respondeu Surucucu— e precisamos ter presas venenosas para nos defender...mas não tenhas medo: dareia cada serpente apenas umapequena quantidade de veneno,a fim de que não possamosrealmente fazer mal a ninguém...— Mas é que... — estranhou o

guerreiro, preocupado.— Bem, já está com o saco.Deves levá-lo para a tua aldeiae só abri-lo quando chegares lá.Se soltares a noite cedo demais,a escuridão vai impedir-mede distribuir o veneno a cadaserpente como pretendo, e as

conseqüências recairiam sobretodo o mundo...

Com essas palavras, ela sedespediu e, sem tardar, convocoutodo o povo das serpentes ecomeçou a distribuir o veneno.Surucucu foi a primeira a seservir...

Karu Bempô voltou para aaldeia, carregando a bolsa comtodo o cuidado. Pensava noque a serpente havia lhe ditoe por isso não percebeu que opapagaio, excitadíssimo, voavaacima dele, gritando:— Venham ver, ele está trazendo

a noite, Karu Bempô está trazendo a noitelonga!

Evidentemente, todos os que lá estavampodiam vê-lo com os próprios olhos. Os

macacos, loucos de alegria, saltavam notopo das árvores; o jacaré fazia ondascom o pouco de água que ainda restava.A onça, impaciente, arranhou-se.— Solta a noite agora mesmo, o que estásesperando? — gritou ela, atirando-sesobre Karu Bempô.

Antes que Karu entendesse o queestava acontecendo, a onça arrancou abolsa de suas mãos e abriu-a.

Uma densa escuridão caiu sobre aselva, surpreendendo a todos. Animaise pessoas procuravam caminhos para voltar a suas casas e esbarravam uns comos outros. Mas o pior foi o que aconteceucom as serpentes da chefe Surucucu: elasse atiraram sobre a jarra, empurrando-as

umas às outras, e cada uma passou naspresas tanto veneno quanto podia. Em vão Surucucu tentava acalmá-las, dizendoque havia veneno suficiente para todas.Por fim, acabaram derrubando a jarra.

Mas quando, ao final de uma longanoite, voltou o dia, todos puderamperceber as conseqüências do que a

onça havia feito: as serpentes tinham setornado inimigas poderosas e audaciosasque, com suas presas envenenadas,matavam todos aqueles que seaproximavam. Apenas o povo das Jibóiasnão foi atingido, e sempre avisava osíndios com sua matraca.

Depois desse episódio, as serpente

nunca mais foram amigas — cada umaprocura viver sua vida sem se preocuparcom a dos outros.

Os Munduruku e os animais adoraramter conseguido a noite de volta. Assim,podem descansar durante a noite parainiciar um novo dia mais dispostos ealegres.

 Daniel Munduruku

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CuruCuru

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pira

CURUPIRA é o dono da mata e

mora nas sapopemas da sumaumeira.

Ele gosta de silêncio e está

sempre andando para cima e

para baixo na floresta.

Quando cansa, senta-se sobre

um jabuti, que lhe serve de banco.

Dizem os velhos que ele tem os

cabelos compridos, corpo peludo,olhos pretos e pés virados.

Existem vários tipos de Curupira:

o pai da sumaumeira, o dono do

 jabuti, o dono dos outros

animais, o Curupira macho eo Curupira fêmea.

O Curupira faz medo aos caçadores

batendo nas raízes das árvores.

Ele atrai e encanta as pessoas.

Quando o Curupira ataca, o único

 jeito de matá-lo é batendo no seu

corpo com um pedaço de pau podre.

Mas antes de morrer ele sempre diz:

 Professores Ticuna

“Se um dia eu me acabar,

fica outro no meu lugarguardando tudo o que é meu”.

<< Buritizal, de João Clemente Gaspar Metchiicü

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Macunaíma  e

Crédito da obra

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Waimesa-Podole

 Mayuluaípu, índio Taurepang, narrou essa história para o pesquisador 

alemão Theodor Koch-Grünberg, em 1912.(versão da edição em espanhol para o português de José R. Bessa Freire).

Um dia Macunaíma e seu irmão Manápe saíram e encontraramWaimesa-Podole, o pai dos lagartos. Ninguém podia se aproximar dele, porque sualíngua era muito comprida e com ela agarrava todos os animais. Macunaíma disse:— Vou ver o bicho.

Manápe aconselhou: — Não vai não. Ele vai te pegar e te engolir.

Macunaíma respondeu: — Que nada! Eu vou sim.

Manápe voltou a dizer: — Cuidado, meu irmãozinho. O bicho vai te pegar.

Mas Macunaíma não escutou o conselho. Assim, Manápe o deixou ir. Macunaíma foi

conferir. Aproximou-se do bicho. Então, Waimesa-podole prendeu Macunaíma comsua língua e o engoliu.

Manápe voltou pra sua casa e contou pra todo mundo que o pai dos lagartos haviadevorado Macunaíma. Então, todos os irmãos se uniram, querendo matar Waimesa-Podole com flechadas. Manápe disse: — Não vamos flechar na barriga, mas somentena cabeça. E aí, todos foram pra lá.

De pé, parado diante do bicho, Manápe bateu no chão com um bastão e disse:— Vem agora, vem, Waimesa-Podole e me devora, como fizeste com meu irmão.

Os outros irmãos se aproximaram pelos dois lados para flechar. Quando o lagartobotou a grande língua pra fora para agarrar Manápe, os irmãos dele dispararam suasflechas bem na cabeça do animal, matando-o. Depois, abriram suas tripas. Ali estavaMacunaíma. Saiu vivinho e disse:

— Vocês viram só como lutei com esse bicho!Depois disso, voltaram para sua casa.

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História Bernabé

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Zé Bernabé era um índio da Serra Grande muito trabalhador, gostava de caçar e deandar amontado: o seu cavalo era um bode muito forte.

Bernabé sentiu falta de uma vaca e saiu pela mata em seu bode.Foi encontrar sua vaca em cima de uma serra, correu atrás, desceram o barranco,

embaixo ele derrubou a vaca, mas quebrou um quarto. Ele viu que não tinha jeito, lámesmo no mato, ele matou a vaca e a esquartejou.

Amarrou dois quartos nas correias da cela, montou no bode e saiu rasgando

caatinga. Chegando adiante, viu o bode se torcendo. No que olhou para trás, viu umaonça pintada montada na garupa do bode, comendo a carne.Largou o seu chicote na cara da onça, que pulou no chão e saiu correndo. Bernabé

botou o bode atrás dela. Chegando na frente, a onça pulou numa trincheira de pedra.Quando a onça pulou, Bernabé agarrou o rabo da onça. A onça pulou e Bernabé ficoucom o couro da onça na mão.

Alguns dias depois, ele voltou para buscar o resto da carne. No caminho encontrou

com a onça já encabelada. A onça tinha comido o resto da carne. Mais na frentepercebeu seu gibão melado. No que experimentou, viu que era mel. Seguiu caminho,encontrou um enxu só o buraco. É que na carreira atrás da onça, ele passou dentro deenxu e não viu.

Severino Bandeira Atikun

 História coletada pela Professora

 Maia Josélia Atikum

Bernabé

 Karuat, de Matari Kaiabi34

Papagaiotóli

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p gcatólico

O homem tinha um Papagaio e o Papagaioandava solto. Quando ele queria botar nacorrente botava; ele pedia para soltar: “Mesolte, que eu vou andar”. Aí disse que elesoltava o Papagaio e dizia:

— Cuidado louro, senão o Gavião te pega.O Gavião pega Papagaio.

Ele:

— Só num é eu.Aí começou a andar: Quando foi um dia,disse que ele já estava no quintal da cozinha,o Gavião chegou, paco! E o Papagaio gritou:

— Me acuda João! Chega que o Gavião vaime levando.

Com aqueles gritos penosos...— Reza aí o terço, João! Reza aí o

santofício, João, que o Gavião vai me comer!Valei-me, Nossa Senhora!

O Papagaio e o Gavião subindo... Aí disseque João correu:

— Lembre-se do..., lembre-se daespingardinha, meu Papagaio.Ele fez:Ó, pu!De surpresa, o Gavião amoleceu a perna

e soltou. Soltou, ele caiu no chão, saiucorrendo, conversando e João atrás, e oGavião foi-se embora. E ele entrou.

Quando chegou dentro de casa, Joãodisse:— Olhe, louro, o que era que eu lhe

dizia? Quase que você morre!Aí ele disse:— Foi, foi. Mas eu te batizo Simão, essa

e outra mais não.Pronto acabou a história do Papagaio.

 Margarida Maria de Jesus Kiriri

O buritizal e os animais,

de Cidberght Custódio Marques Nupawe’ecü

a terra

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No meu pensamento de antigamente,

quando eu era menino,o mundo, eu pensava

que era que nem tocaia,

a terra remendava com o céu.

O sol,eu pensava que eram muitos,

passava dias e dias. A noite, eu pensava que era

que nem fumaça,

porque quando o sol ia embora,

a noite vinha cobrir o mundo.

O céu,eu pensava que era que nem ferro,nunca acaba.

A chuva,eu pensava que era alguma pessoa,

que morava no meu céu e derramava água.

A água,eu pensava que eram alguns bichos grandes,

esturrando em cima do céu.

 

Eu pensava que a terra 

remendavacom o céu

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O homem,eu pensava que só nós mesmos vivíamos,

só nós mesmos, o povo Kaxinawá.

A língua,eu pensava que todo mundo falava

na nossa língua mesmo, o Kaxinawá.

Um dia, eu vi um branco chegando na nossa casa, falando diferente. Mas eu pensava que quando

eu fosse à casa dele, ele ia falar em Kaxinawá. Um dia, eu fui viajar com meu pai, para ver ondeestava a terra remendada com o céu. Nós íamos descendo o rio e quando passaram alguns dias

perguntei ao meu pai onde estava a terra remendada com o céu. Meu pai me disse que não estava

remendada a terra com o céu. Que o mundo é muito grande e não tem fim...

 Noberto Sales Tene Kaxinawá

Céu, terra e água, de Maiuá Ikpeng

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MA’PÂY

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Mây mam mapây ga ‘ep to ‘ût pâra to xãp pû kãyã ep. Kanay i’xap pû’ kâyã wa’yetoxawaba pôg to’wa kanãy i’ya owe wa’ye

totôra xahwip tem wâk tem i’ke owe‘et to’wûya mãy mam xo kanây i’yat taburabe

i’xãp pû mabitât tem to’wa kanãy pe:

Toto néw wa’ye ma’pây ga ‘ût mapárai’kug pe’tenã kanay pe’i’ût’et to wûya wâktem tenã te ‘et tabet.

Mây ye: yet i’ke to’wa Toto néw et tabet.

MA PÂY

(MULHER)

38

MULHER

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ANTIGAMENTE A MULHER ENGRAVIDAVA NA BATATA DA PERNA.

QUANDO CHEGAVA NO DIA DE NASCER, O BEBÊ ABRIA A PERNA DA MÃE.

DAÍ O BEBÊ JÁ NASCIA ANDANDO, MAS AS MULHERES NÃO GOSTAVAM

DE ENGRAVIDAR NA PERNA, ELAS ACHAVAM MUITO PESADO CARREGAR

O BEBÊ NA PERNA. POR ISSO QUE O TOTONEW CASTIGOU AS MULHERES.

TOTONEW FALOU PARA ELAS:

— AGORA VOCÊS VÃO CARREGAR OS BEBÊS DE VOCÊS NA BARRIGA,

SÓ QUE VOCÊS MULHERES VÃO SOFRER MUITA DOR NA HORA DOS PARTOS,

PARA VOCÊS APRENDEREM A ME OBEDECER.

POR ISSO A MULHER SENTE MUITA DOR NA HORA DO PARTO.

 Pem Marli Arara

Escrito nas duas línguas pela autora

MULHER

(MA’PÂY)

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Nitio xá potar cunhangSetuma sacai wáaCurumú ce mama-mamane

Baia sacai majauéNitio xá potar cunhang

Sakiva-açuCurumú monto-montoque

Tiririca-tyva majaué.

Não gosto de mulherde perna muito finaPorque pode me enroscarcomo cobra viperinaNão gosto de mulher

de cabelo alongadoPorque pode me cortarcomo tiririca no roçado

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 As mulheres com a mandioca, de Amatiwanã Trumai

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Acutipuru ipurú nerupecê

Cimitanga-miri uquerê uaruma.

 Acutipuru, me empresta o teu sono

para minha criança também dormir.

Canção de ninar em Nheengatu

 recolhida por Francisco Bernardino de Souza

 Rede com

fios de algodão

e tucum

dos índios Kuikuro

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>> PARTE 2

Esta terra tem vida

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Eu sou a água que mata a sedeOnde eu não estiver

Você se lembra de mim. Aturi Kaiabi

Os pescadores, de Amatiwanã Trumai

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46

Correrd d

Qualquer vidaé it

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Co edas pedras

Rio da vida, água claraCorrer das pedrasPeixes grandes, peixe pequeno

O sol nasceuNa curva dos rios, águade novo correu,dentro do rioÁgua linda, friazinha,fica entrando no meu corpoamando, beijando e bebendodevagar

Sempre mata coraçãoNo meu entrandoNo peito sozinha deixandoEmbora amor choreCorrer.

 Perankô Panará

Qua que daé muita

dentro da floresta

Se a gente olha de cima, parecetudo parado.Mas por dentro é diferente.

A floresta está sempre emmovimento.Há uma vida dentro dela que setransformasem parar.Vem o vento.Vem a chuva.Caem as folhas.

E nascem novas folhas.Das flores saem os frutos.E os frutos são alimentos.Os pássaros deixam cair assementes.Das sementes nascem novasárvores.E vem a noite.

Vem a lua.E vêm as sombrasque multiplicam as árvores.As luzes dos vaga-lumessão estrelas na terra.E com o sol vem o dia.Esquenta a mata.Ilumina as folhas.Tudo tem cor e movimento.

 Professores Ticuna

<< Piracema,

de João Otaviano do Carmo Filho Te’racicü

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Esta terra que pisamos é o nosso irmão. Por isso quea terra tem algumas condições e por isso que o Guarani respeita a terra, que é

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também um Guarani. O Guarani não polui a água, pois é o sangue de um Karaí .Esta terra tem vida, só que nós não sabemos. É uma pessoa, tem alma — é o

 Karaí . A mata, por exemplo, quando um Guarani vai cortar uma árvore pedelicença, pois sabe que é uma pessoa que se transformou neste mundo. Esta terra aqui é nosso parente, mas uma pessoa acima de nós. Por isso falamos para ascrianças não brincarem com a terra, porque ela foi um Karaí e até hoje ela semovimenta, só que nós não percebemos. Por isso quando os parentes morrem,a carne e o corpo se misturam com a terra. Por isso que temos que respeitar estaterra e este mundo que a gente vive.

 Alexandre Acosta Guarani

 História coletada por Marcos Moreira Guarani

 Floresta e manejo,

de Aldemir Bina Kaxinawá48

O que não tem médicotem mata

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tem mataAntigamente não tinha médico, num tinha nada nem doutor.

Eram só as raízes — é onde eu falo: nossa tradiçãoe nosso povosão o povo da raize da terra.

Que a terra é nossa carne e nossa vidae a água é nosso sangue e nossos nervos.

A raiz é os nervos

e a água é o sangue.

 Emílio Gomes de Oliveira Xacriabá,

 Floresta e manejo,

de Benki Asheninka>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL

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Geografia o que é

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go que éGeografia é onde o rio está.Onde o município está.É para onde vem o sol.É para onde vai o sol.Este rio para onde vai?É divisão das águas.É igarapé, igapó, lago, açude, mar.

É a medição da terra, a demarcação.É fotografia, desenho, cor, é um mapa.Geografia é o entendimento da aldeia e do mundo.Do nosso mundo e do mundo do branco.É a cidade, o Brasil e os outros países.É a história do mundo.O mundo é a terra, a terra é a aldeia.O rio que cai num outro rio.

Que cai num outro rio.Que cai no mar.Geografia é o depois do mar...

 Professores Indígenas do Acre

Grafismo Wajãpi,desenhado por Jawarua 

Os Wajãpi usam seus

grafismos para pintar o

corpo e na decoração

de objetos, como cestos,

vasos e tecidos.

50

Sonhou um canto e cantouE seu canto era belo e bomÊ solPássaro

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Ê luaÊ mata

Ê rioBrasil nem era BrasilMuito antes de ColomboMuito antes de CabralAqui vivia uma genteFalando língua de vidaVivendo uma vidaTal que até parece cinema.

Até parece um sonhoO que era natural.

 Jonado Sabanê Nambikwara

ássa o

 vermelho

 Akaikuni,

de Amatiwanã Trumai

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>> PARTE 3

Por que isso se passa comigo?

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Quando você forQuando você for,me chama em voz baixa.Daí eu fico contigo.Mas a tua voz não chega de verdade.Como sentircheiro de flor na bocada minha flor?

 Edson Ixã Kaxinawá

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... o amor é uma sensaçãoatraente, que deixa muitas vidasem pânico. Portanto, o amor é umproduto que deve ser usado comcuidado, quando for com bastantefreqüência. O amor é como vocêcorrer desesperadamente. Derepente, pode se chocar comalguma coisa que estiver na suafrente e ser atropelado.

Então, no caso do amor, devemosprestar bem atenção: para ondecorrer, a distância que vamoscorrer, se podemos correr…

 Joaquim Mana Kaxinawá

<< Brinco Karajá

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Te mandei em passarinhoPatuá miri pupéPintadinho de amareloIporanga ne iaué

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Te mandei um passarinho

dentro de uma cestinhaPintadinho de amarelo,

e bonito como você.

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O casamento

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Eu vou contar para você como é que é o namoro e o casamento do povo Pataxó. Quando um rapaz e uma moça Pataxó começam a se gostar, um dos dois

toma a iniciativa, jogando em direção ao outro uma pedrinha bem de mansinho, sem que

ninguém possa perceber. Naquele momento, os dois trocam olhares e sorrisos.

A partir daí, começa, ou melhor, passam a se jogar pedrinhas e a se encontrar àsescondidas. Quando querem se casar, o rapaz joga na moça, na jovem índia, uma flor.

Se ela pegar a flor, é porque aceita se casar com o rapaz, mas, se ela não pegar, é por-que não aceita o casamento. Depois que a moça pegar a flor eles vão conversar com

os pais e os caciques. A partir dessa conversa, toda a comunidade fica sabendo que vai haver casamento na aldeia.

Desse dia em diante, os pais começam a se preparar para a cerimônia matrimonialde seus filhos. O noivo começa a preparar sua casa e seu roçado e, diariamente, pega

uma pedra com o peso equivalente ao da noiva.

No dia do casamento, os pais dos noivos, juntamente com os caciques, marcam olugar de onde o noivo começará a carregar a pedra. O rapaz carrega a pedra até o

local onde será realizado o casamento. Chegando lá, ele põe a pedra no chão e, ali

mesmo, os noivos trocam de cocar e, naquele momento, é realizada a cerimônia.

Depois da realização do casamento, todos os membros da comunidade vão para acasa dos noivos beber cauim e festejar até o raiar do novo dia. Geralmente, os Pataxó

se casam bem novos, entre doze e treze anos, mas hoje isso já está mudando e estãocasando entre quatorze, dezesseis e até dezoito anos.

 Kanátio Pataxó e outros

tradicional

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Casamento Pataxó, de Kanátyio Pataxó

>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL57

Tudo passa

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Passam os anos, passa a vida,Passa o tempo, passam as coisas,Passam perto de mim as pessoas,Passa dentro de mim o amor.

Por que isso comigo se passa,Se já nem sei mais quem sou?

 Miguel Panemaxeron Surui

Grafismo Wajãpi,

de Muruti

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Eu não tenhominha aldeia

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minha aldeiaEu não tenho minha aldeia

Mas tenho o fogo interno

Da ancestralidade que queima

Que não deixa mentir

Que mostra o caminho

Porque a força interior

É mais forte que a fortaleza dos preconceitos.

Ah! Já tenho minha aldeia

Minha aldeia é Meu Coração Ardente

É a casa de meus antepassados

E do topo dela eu vejo o mundo

Com o olhar mais solidário que nunca

Onde eu possa jorrar

Milhares de luzes

Que brotarão mentes

Despossuídas de racismo e preconceito.

 Eliane Potiguara

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O contraditório

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Quem é aquele que se diz civilizado.

Que criou o antídoto, que elimina a vida.

Que destrói o mundo num toque de dedo.

Que se engrandece porque detém a morte.

Que envenena a terra, a água e o ar que geram vida.

Que sufocou sabedoria milenares.

Que massacrou as verdadeiras civilizações.

Que hoje parece estar arrependido.

Que hoje nos quer como quando nos encontrou

 Andila Inácio Belfort Kaingáng 

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Água namora com a pedra

Quem vai segurar?

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A pedra sempre feliz vai ficar

A água corre no rio e esse rio cai no mar

O ar segura o mundoE o mundo segura o mar de novo

Os dois seguram os homens, e os homens,será que vão segurar?

Yanin Kaiabi

 Arakuni, de Amatiwanã Trumai

* Esse mito é muito bonito porque fala do incesto de Arakuni com sua irmã, que foi desoberto pela mãe porque sua pintura corporalera diferente da dos outros homens e ela ficou impressa no corpo da irmã.

>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL61

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62

Veja aqui quem te mandou um passarinho

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 Arara (RO) – No Brasil, quatro povos diferentes são denominados Arara. A história aqui narrada é dos

Arara de Rondônia, que sempre habitaram o Igarapé de Lourdes e falam a língua Karo, nome

pelo qual são também conhecidos. Karo, na língua deles, significa arara. Eles se pintavam com

 jenipapo, faziam furo no nariz, onde penduravam uma pena de arara. Nos anos 1920, o contato

com o branco provocou doenças e muitas mortes. Os sobreviventes trabalharam como serin-gueiros. Hoje, são 170 índios em duas aldeias, onde a escola alfabetiza na língua karo e ensina o

português. A palavra to´wa nas narrativas é uma marca para prevenir que não viram o que estão

contando, apenas ouviram.

 Atikum – Conhecidos no século XVIII como Umã, os Atikum, em 2006, somavam 5.852 indivíduos

vivendo em 16 aldeias localizadas na Reserva da Serra do Umã, no município de Carnaubeira da

Penha (PE). Lá são identificados como “os caboclos da Serra do Umã”. É possível chegar a cincodessas aldeias por estrada, as demais só a cavalo ou a pé. São bons agricultores. Em plena caa-

tinga, plantam milho, mandioca, feijão, mamona e frutas como goiaba, laranja, pinha e banana.

Não falam mais a língua Atikum, só mencionada no toré, que é uma dança com cânticos rituais,

que expressam a religiosidade do grupo e contêm em suas letras o registro, entre outros, das

plantas e raízes medicinais.

Guarani – Em 1.500, os Guarani eram os senhores da costa atlântica, desde a Barra da Cananéia (SP)

ao Rio Grande do Sul. Hoje, vivem em aldeias localizadas em dez estados brasileiros, com uma

população de 47.692 indivíduos. Ocupam ainda territórios na Argentina, Paraguai, Uruguai e

Bolívia. Estão divididos em três grupos: Mbyá, Ñandéva e Kaiowá. A maioria da população é bi-

língüe e fala, além do guarani, o português ou o espanhol. Mas é na língua guarani que circulam

as narrativas, a poesia, o canto, as rezas e os rituais religiosos. Vivem da agricultura e da venda

do artesanato: cestaria, colares, pulseiras, adornos, chocalhos e figuras de animais, esculpidas emmadeira.

Ikpeng – Eles se chamam Ikpeng, mas eram conhecidos como Txicão. Viviam no rio Jatobá (MT), fora

do Parque Indígena do Xingu (PIX). Contataram com os brancos em 1964, quando doenças re-

duziram a população a menos da metade. Foram, então, transferidos, em 1967, para dentro do

PIX. Hoje são 342 pessoas, que protegem a área da ação dos madeireiros. Lutam para recuperar

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o antigo território. Falam e escrevem uma língua Karib, usada na escola, onde aprendem também

o português. Aprenderam a filmar com a ONG Vídeo nas aldeias. Produziram vídeo de rara bele-

za: Das crianças Ikpeng para o mundo, onde mostram a aldeia, as famílias, brincadeiras, festas e

modo de vida.

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Kaiabi – Narrativas míticas, cantos e histórias de guerra mostram que os Kaiabi eram um povo tradi-

cionalmente guerreiro, que morava em grandes casas no norte de Mato Grosso e no sul do Pará.

Suas terras foram invadidas por seringueiros, madeireiros e fazendeiros. Em 1966, muitos deles

aceitaram ser transferidos de avião para o Parque do Xingu, mas alguns ficaram lá. Em 2006, ha-

via um total de 1.619 índios kaiabi, divididos em três grupos. Eles vivem hoje em casas pequenas e

cultivam dezenas de plantas. Os homens fabricam cestos ornamentados, redes, tipóias e peneiras

com desenhos sofisticados. As mulheres tecem algodão. Cantam e fazem poesia em sua línguamaterna e em português.

Kaingáng – Eles são 28.875 índios em trinta terras indígenas (SP, PR, SC, RS), mas somam mais de 30

mil se forem contadas as famílias que vivem hoje nas cidades. Ocupavam um vasto território que

chegava até a atual Argentina. Os primeiros contatos de alguns kaingang com os portugueses da-

tam do séc. XVI. Mas só no final do séc. XVIII é que começa a invasão de suas terras, processo que

se estendeu aos dias de hoje. Suas narrativas míticas foram recolhidas por vários estudiosos desde

1882, quando foi registrado o mito da origem do povo Kaingang, no qual aparecem os heróis

Kamé e Kairu, dois irmãos que criaram o mundo e as regras de comportamento para os homens.

Karajá – De onde vieram os Karajá? Do fundo do rio, onde viviam. Eram os Berahatxi Mahadu, o povo

do fundo das águas. Um dia, descobriram a passagem para a superfície e boiaram no rio Araguaia.

Lá, encontraram doenças e morte. Tentaram voltar, mas a passagem estava fechada. É assim que

o mito conta a origem deles. Tiveram contato com jesuítas (1658) e com bandeirantes (1718).

Hoje, 2.593 karajá moram em 29 aldeias na ilha do Bananal (TO). Fazem roças, pescam, fabricam

bonecas, artesanato de palha, madeira e barro. Antes, tatuavam na face dois círculos, que agora

são apenas desenhados durante as festas. Cinco escolas bilíngües funcionam para 425 alunos.

Kaxinawá – Eles se chamam Huni Kuin (gente verdadeira), falam o hãtxa kuin (língua verdadeira) e

são o maior povo indígena do Acre: 5.820 pessoas.No Peru vivem mais 1.500. Suas terras foram

invadidas no período da borracha (1870-1914), quando cem mil nordestinos entraram no Juruá

e Purus. Alguns índios ainda hoje trazem o braço gravado com as iniciais FC (Felizardo Cerqueira),

nome do patrão que os submeteu ao trabalho forçado. Junto com outras etnias, criaram associa-

ções, construíram escolas, formaram professores, pesquisaram e ilustraram os livros que escreve-

ram com o Kene Kuin (desenho verdadeiro) usado na pintura corporal, na cerâmica, na tecelagem

e na cestaria.

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Kiriri – O nome dado pelos tupis do litoral do Nordeste a um outro povo que vivia no sertão foi kiriri ,

que significa calado. Os Kiriri, catequizados pelos jesuítas no séc. XVIII, esqueceram sua língua,

mas o português que falam hoje tem marcas dialetais do Kipeá. Perseguidos pelos diretores de

índios no séc. XIX, perderam suas melhores terras, que haviam sido reconhecidas pelo rei de

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Portugal, em documento de doação. Hoje, 1.612 Kiriri vivem em terras na boca da caatinga, nonorte da Bahia, recuperadas depois de muita luta. Vivem da agricultura, da coleta de frutos e do

artesanato. Reaprenderam a dançar o toré, ritual que é um símbolo de identidade e de união dos

índios do nordeste.

Krahô – Timbira é o outro nome mais genérico pelo qual são conhecidos os Krahô, que vivem no Tocan-

tins, em aldeias onde as casas ocupam um espaço circular e se ligam por uma via ao pátio central.

A história do contato começa no século XIX, quando fazendas de gado invadem suas terras. Erammais de 4 mil e foram reduzidos a 400 em 1940. Hoje são 2.184 índios. São bilíngües. Falam a

língua Krahô, na qual narram a origem do mundo, a visita ao céu e ao fundo das águas, a cura das

doenças, como obtiveram as plantas da mulher-estrela, como tiraram o fogo da onça e com quem

aprenderam a corrida de toras. Gostam muito de música, que é um dos aspectos importantes da

sua vida ritual.

Krenak – Eles se chamam Borun, nome de sua língua. Foram apelidados de Aimoré pelos tupi, e de Bo-

tocudo pelos portugueses, devido ao botoque usado nos lábios. Mas hoje são conhecidos como

Krenak, nome de um cacique. O seu território era a Mata Atlântica (BA) e o vale do rio Doce (MG

e ES). D. João VI, em 1808, declarou guerra aos Botocudos, confiscou suas terras, distribuídas

como sesmarias, permitindo a escravidão dos prisioneiros de guerra por até vinte anos. Os últimos

Botocudo são hoje 204 índios que recuperaram no Supremo Tribunal Federal pequena parte das

terras. Os mais velhos falam Borun e contam histórias de Marét-Khamaknian, o herói civilizadorda humanidade.

Kuikuro – Hoje 509 kuikuro vivem em grandes malocas ovais de três aldeias do Parque do Xingu (PIX).

Entre eles, não estão mais os donos das narrativas – Agatsipá e Nahu – dois velhos sábios enterra-

dos recentemente com a cerimônia dos mortos: o Kuarup. Sabiam tudo: cantos, rituais, histórias.

Para eles, o céu, com as estrelas e constelações, era um livro aberto, onde liam acontecimentos

míticos e a origem das coisas. Os Kuikuro falam sua língua e o português, dependendo da idadee do sexo. Produzem os famosos colares e cintos de caramujo. Dançam o Yamaricumá, que conta

a revolta das mulheres. Aprenderam a filmar, ganhando prêmios com o vídeo O dia em que a lua

menstruou.

Macuxi – Eles falam uma língua da família Karib. São 32.933 indivíduos, dos quais 23.433 vivem no

Brasil, em Roraima, e 9.500 na Venezuela. Depois do contato, substituíram as grandes malocas

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circulares por casas retangulares, cobertas com folhas de buritizeiro, chão batido e paredes de

barro seco e até mesmo por casas de alvenaria. Na luta pela terra, suas aldeias foram invadidas

em 2004 por fazendeiros, que destruíram e incendiaram dezenas de casas, postos de saúde e

escolas, além de ferir um índio à bala. Apresentam variações das narrativas comuns com os Tau-

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repang sobre Macunaíma, o herói mítico, astuto e sagaz, que converte homens, animais e peixesem pedras.

Marajoara – Não existiu um povo Marajoara. Os arqueólogos chamam de cultura marajoara o estilo

de antigos povos ceramistas que viveram na ilha do Marajó (PA) entre os anos 400 e 1300 d.C.

Sua cerâmica bonita e refinada - urnas, vasos, tigelas, pratos, tangas, adornos - representa seres

mitológicos da floresta: cobra, jacaré, tartaruga, lagarto, coruja, macaco. A arte marajoara é

uma linguagem, só que em vez de falada ou escrita, é visual. Cria narrativas gráficas que contamhistórias, expressam crenças, emoções e idéias. Os estudiosos acham que servia para registrar,

armazenar e divulgar o conhecimento. Esse estilo de vida desapareceu muito antes da chegada

dos portugueses ao Pará.

Munduruku – Documentos portugueses falam que o Munduruku, dono do vale do rio Tapajós, era um

povo guerreiro, conhecido por mumificar as cabeças dos inimigos mortos. Desde o final do século

XVII, resistiu às tropas de guerra que queriam escravizá-lo. Depois, foi aldeado por missionários. O

sarampo dizimou parte da população. Hoje são 10.065 pessoas cujas terras estão ameaçadas pelo

garimpo de ouro e grandes projetos hidrelétricos. Tocam nas flautas parasuy canções tradicionais

que contam seus mitos e sua história. Criaram escolas, uma associação, e organizaram a assem-

bléia geral do povo Munduruku. Mantém rede de radiofonia de comunicação entre as dez aldeias

(PA, AM e MT).

Nambikwara – Rondon calculou que em 1915 havia 20 mil falantes de da língua Nambikwara em

seus vários dialetos. Foram reduzidos a 990, devido ao contato, às epidemias e à produção da

borracha. Eles se recuperaram e hoje já são 1.715. Procuram usar a tecnologia moderna para for-

talecer suas tradições. Vivem em dez terras indígenas (RO e MT), algumas delas ameaçadas pelo

garimpo e pela febre da soja, inclusive a área sagrada onde habitam os espíritos dos antepassa-

dos, com os rios contaminados por agrotóxicos, as nascentes destruídas e a formação de crateras

encharcadas de mercúrio. Técnicos garantem que “nem todo o ouro retirado da área paga umprojeto de recuperação”.

Nheengatu – Nheengatu não é um povo, mas uma língua, conhecida nos documentos coloniais como

língua geral . Existiram dois idiomas que permitiam a índios de etnias diferentes se comunicarem en-

tre si e com os portugueses: Língua Geral Paulista (LGP) e Língua Geral Amazônica (LGA). Essa últi-

ma, falada pela maioria dos amazonenses até o século XIX, registrou narrativas, poesias e canções.

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Sua base era o tupinambá, usado pelos jesuítas como língua de catequese. Recebeu influência de

outras línguas indígenas e africanas e do português. Hoje, o Nheengatu, que significa lingua boa,

é falado no rio Negro. Foi declarado língua co-oficial no município de São Gabriel da Cachoeira

(AM) em 2002.

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Panará – Conhecido como Krenakore ou índios gigantes por causa de suas enormes bordunas, o Pa-

nará, povo agricultor, ocupava um território no rio Peixoto Azevedo, sudeste do Pará. Contatado

em 1973 na abertura da estrada Cuiabá-Santarém, a população de 400 pessoas diminuiu em dois

terços por doenças e massacres. Os sobreviventes, levados em avião para o Parque do Xingu, vive-

ram lá mais de vinte anos. Em 2001, ganharam indenização na Justiça e recuperaram as terras de

onde foram retiradas 30 fazendas. A população de 303 indivíduos criou associação para gerenciar

a indenização e desenvolver projetos de educação, capacitação e manejo de recursos naturais.

Pataxó – Existem dois povos com esse nome: um é o Pataxó Hã-hã-hãe, o outro é o Pataxó, os “índios

do descobrimento”, que resistiu a cinco séculos de invasão de seu território e hoje vive em nove

terras indígenas (BA e MG), parte delas no Parque Nacional do Monte Pascoal, recuperadas em

1997. São 10.897 indivíduos, 40 deles capacitados como monitores de turismo. O contato per-

manente com turistas muda o modo de vida, mas reafirma o orgulho étnico, como registrou o I

Encontro de Pesquisadores Pataxó, em 2007. A última falante de Pataxó ainda vivia em 1983. Dei-

xaram de falar a língua, mas suas narrativas, canções e poesias sobrevivem em português, como

o mito fundador Txopai Itohã.

Potiguara – “Eles se misturaram com os brancos. Não são mais índios. Perderam a língua e estão

vestidos. São sertanejos”. Esse foi o argumento do governo da Paraíba, em 1919, para vender as

terras dos Potiguara, no vale do Mamanguape, reconhecidas antes pelo rei de Portugal (1599)

e por D. Pedro II (1850). Hoje, 11.424 Potiguara de 33 aldeias plantam, criam animais, pescam,

fazem artesanato. Continuam a luta pela terra, mantendo o vigor de sua identidade. Dançam o

toré, celebram as figuras míticas dos tapuios coronga e canindé, aprendem noções básicas de tupi

ministrado pela USP e se organizam. Em 2004, elegeram um prefeito, dois vice-prefeitos e onze

vereadores Potiguara.

Sacaca – Quando os portugueses chegaram ao Pará (1616), chamaram os povos da ilha do Marajó, es-

timados em cem mil habitantes, pelo nome genérico de Nheengaiba (língua ruim), porque falavam

línguas diferentes da usada na catequese. Um desses povos, hoje extinto, era o Sacaca, que resistiu

às tropas de guerra e à escravidão até o acordo de paz assinado com o padre Vieira (1659). Foram

aldeados e explorados como remeiros e vaqueiros. Seus pajés conheciam tanto as plantas medicinais

que sacaca passou a significar curandeiro em Nheengatu. Em algumas gerações, adotaram a Língua

Geral e depois o português, línguas que registraram suas narrativas míticas e seus conhecimentos.

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Surui (RO) – Há dois povos Surui: Aikewara (PA) e Paiter (RO). Trata-se aqui do Surui Paiter (gente de verda-

de), contatado em 1969, cujas terras foram invadidas por estrada, garimpeiro, madeireira e grileiros,

quando o Programa Polonoreste investiu em Rondônia 1,55 bilhões de dólares. Hoje, 1.007 surui de

onze aldeias têm luz elétrica, casa de zinco, roça, escola bilíngüe e igrejas cristãs que reprimem os

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pajés, numa tensão entre o tradicional e o novo. Festejam o Mapimaí (criação do mundo) e celebramo natal. Seus cantos exaltam a luta do herói Waiói. Fazem cerâmica, cestos, colares, cintos e redes em

pequenos teares com roda de barro. Criaram o Fórum Surui para defender o meioambiente.

Taurepang – Eles são 22.935 índios, dos quais 22.353 estão na Venezuela, onde são conhecidos como

Pemón, e 582, no Brasil. Moram em Roraima, na Área Indígena Raposa/Serra do Sol com os Maku-

xi e os Wapixana. Seu jeito de viver foi estudado em 1911-1913 pelo pesquisador alemão Koch-

Grünberg, que registrou muitas narrativas Taurepang, entre as quais as histórias de Macunaíma,que deram origem a um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Com as demais etnias,

organizaram o Conselho Indígena de Roraima (CIR), que lutou para demarcar suas terras invadidas

por fazendeiros. Depois de batalhas jurídicas, a área foi, enfim, homologada, em abril de 2005.

Ticuna – A língua Ticuna não parece com qualquer outra e por isso é considerada isolada. É nessa

língua, dita tonal porque usa diferentes alturas na voz, que o povo Ticuna, autodenominado Ma-

guta, registrou a memória da floresta, celebrando os protetores da mata. Organizou associações,

formou professores, escreveu livros, abriu museu, biblioteca e 93 escolas bilíngües em aldeias do

rio Solimões, que têm luz elétrica, rádio e televisão. Eles são no Brasil 32.613 pessoas; no Peru,

4.200 e na Colômbia 4.535. Seus livros contêm suas ciências, com inventário dos animais e mapas

da vegetação: plantas medicinais, ervas, frutas, resinas, arte, festas, máscaras, danças, contando

tudo com palavras e imagens.

Trumai – Eles vivem no Parque Indígena do Xingu (PIX), junto com 5 mil índios de 14 etnias distribuídos

em 49 aldeias, em área de 27.974 km², todas com línguas próprias, mas com muitas coisas em co-

mum. Esses povos ficaram conhecidos depois de duas expedições (1884-1887) do etnólogo alemão

Von den Steinen. O Trumai ficou reduzido a 27 pessoas em 1947 devido a guerras intertribais e do-

enças causadas pelo contato. Hoje são 147 indivíduos, que falam uma língua isolada e o português

em diferentes graus de bilingüismo. Vivem em três aldeias e na cidade de Canarana. São agricultores

e artesãos. Ensinaram aos demais o ritual do Jawari, celebrado hoje por todos os povos do Xingu.

Tukano – A cobra grande entrou no universo pela porta da água, subiu os rios Negro e Uaupés, levando

dentro dela todos os povos. Foi deixando cada um em seu lugar. É assim que é narrada a origem

de 16 povos que falam línguas diferentes, mas pertencem a mesma família lingüística. Um deles é

o Tukano, que no Brasil são 6.241 pessoas e na Colômbia, 6.330. Moram nos rios Uaupés e Tiquié

(AM), são exogâmicos, isto é, só casam com alguém que fala outra língua, e patrilineares, ou seja,

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os filhos e a mãe moram na comunidade do pai. Estão organizado na FOIRN – Federação das Orga-

nizações Indígenas, que está publicando as histórias na série Narradores do Rio Negro.

Tupinambá – Esse era o nome de povos do tronco lingüístico tupi, que ocupavam o litoral, de São

Paulo até Belém. Foram os primeiros que tiveram contato permanente com os colonizadores.

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p q p

Cultivavam roças comunitárias, plantavam e teciam algodão. Sua arte plumária, registrada na

Bahia pela carta de Caminha, encantou os europeus, como o manto que hoje está no Museu da

Dinamarca. Considerados extintos, desapareceram do mapa do Brasil. Ressurgiram em 1997, em

Ilhéus (BA). Hoje são 2590 índios, que falam o português e mantêm uma Associação que realizou

o Seminário da Juventude Tupinambá (2005). A memória oral lembra ainda o último massacre

que sofreram (1937).

Wajãpi – Esse povo vivia no baixo Xingu até o século XVII. Cruzou depois o rio Amazonas e foi morar no

Oiapoque. Hoje eles são 756 pessoas no Amapá e 412 na Guiana Francesa. Vivem em 40 pequenas

aldeias e registram seus saberes e suas narrativas na língua que falam da família Tupi-Guarani, com-

binando a palavra com a arte gráfica da pintura, conhecida como kusiwa. Usam tintura de urucum,

gordura de macaco, sumo de jenipapo e resinas perfumadas para pintar o corpo, a cerâmica, as cuias,

os tecidos e a cestaria. Agora usam também caneta e papel. A arte wajãpi de desenhos coloridos foi

declarada pela Unesco, em 2002, “obra prima do patrimônio oral e imaterial da humanidade”.

Xacriabá – Hoje são 7.450 pessoas que vivem em 25 aldeias no vale do Peruaçu (MG) e representam 70%

dos eleitores do município de São João das Missões. Criaram escolas, formaram professores, se alfa-

betizaram, editaram quatro livros de literatura com suas narrativas e um CD com vozes dos velhos

que ainda falam xacriabá, a maioria só fala português. Elegeram o atual prefeito e três vereadores

indígenas. Mas tiveram que lutar muito desde 1728 quando obtiveram o registro de posse da terra, o

que não impediu que fosse invadida por fazendeiros (1969-1987), com assassinato de três líderes. Em

2003, uma barragem construída pela Codevasf inundou terras da aldeia Barra do Sumaré.

 Yanomami – A população total é de 30.875 pessoas. A metade vive no lado venezuelano e a outra metade

mora em 255 aldeias em Roraima e no nordeste do Amazonas. Seu território, que abriga o Pico da

Neblina, foi invadido por 40 mil garimpeiros, responsáveis pela morte de 1.500 índios entre 1987 e

1992, quando foi finalmente demarcado. Eles falam quatro línguas aparentadas entre si. A história do

contato é recente, pode ser contada através da vida de Davi Kopenawa, que é hoje o principal porta-

voz de seu povo. Seu grupo foi aniquilado por epidemias após contatos com o Serviço de Proteção ao

Índio e a missão evangélica Novas Tribos do Brasil. Davi conta que quando viu o primeiro branco, feio,

esbranquiçado e peludo, achava que era um canibal que ia comê-lo.

José Ribamar Bessa Freire - Autor da pesquisa e do texto

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Autores, fontes e referências bibliográficasdas imagens

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Capa, colar, pente e pingente Krahô. Acervo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Foto-

grafia de Wagner Souza e Silva.

Páginas 6 e 7, O Igapó, de José Custódio Marques Meãmücü. In Ticuna – Pinturas da Floresta. OGTP,

Alex Chacon, Jussara Gruber. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.

Página 8, escultura em pedra do acervo do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, in An-

tes, histórias da pré-história. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.

Página 11, réplica de cerâmica Marajoara, www.arteindigena.com.br

Página 13, padrão gráfico muito característico do Alto Xingu, de Amatiwanã Trumai. Foi assinaladopelo autor pelo nome de Iyana Pitalá. Técnica: nanquim sobre papel – 1988. Assinado Amati.

Página 14, escultura em pedra do acervo do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville. In

Antes, histórias da pré-história. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.

Página 16, Menino se prepara para o Jawari, de Amatiwanã Trumai. O Jawari é o mais impor-

tante ritual da cultura Trumai. Técnica mista sobre cartão – 1977. Assinado Amati.

Página 19, Kwarup, de Amatiwanã Trumai. O Kwarup é o ritual funeral ícone do Alto Xingu. Técnica:

nanquim sobre papel – 1978. Assinado Amati.

Página 21, Tawaranã, de Amatiwanã Trumai. Técnica mista sobre cartão – 1977. Assinado Amati.

Página 22, Peixe azul, de José Custódio Marques Meãmücü, in Ticuna – Pinturas da Floresta.

Página 26, detalhe de painel de autoria da equipe da OGPTB – Organização dos Professores Ticunado Brasil, in Ticuna – Pinturas da Floresta.

Página 30, Buritizal, de João Clemente Gaspar Metchiicü, técnica: gouache, in Ticuna – Pinturas da

Floresta.

Página 31, Karuat, de Matari Kaiabi, desenho, in Livro das águas. Professores Indígenas do Parque

do Xingu, Maria Cristina Troncarelli (orgs) São Paulo: ISA, ATIX, 2002.

70

Página 35, O Buritizal e os Animais, de Cidberght Custódio Marques Nupawe’ecü, técnica: gua-

che, in Ticuna – Pinturas da Floresta.

Página 37, Céu, terra e água, de Maiuá Ikpeng, in Livro da águas.

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Página 41, As mulheres com a mandioca. Amatiwanã Trumai.

Páginas 42 e 43, redes Kuikuro, www.arteindigena.com.br

Páginas 44 e 45, Os pescadores. Pintura, técnica: óleo sobre tela – 1997. Assinado Amatiwanã

Trumai.

Página 46, Piracema, guache de João Otaviano do Carmo Filho Te’racicü, in Ticuna – Pinturas da

Floresta.

Páginas 48 e 49, desenhos dos agentes agroflorestais Aldemir Bina Kaxinawá e Benki Asheninka, in

Calendário Floresta e Manejo, editado pela Comissão – Pró-Indio do Acre e a Secretaria de Coordenação

da Amazonia, Ministério do Meio Ambiente, Brasilia, 2002.

Página 50, grafismo Wajãpi, de Jawarua, in Kusiwa: pintura corporal e arte gráfica Wajãpi. Domini-

que Gallois e Índios Wajãpi. Museu do Índio – Funai. Centro de Trabalho Indigenista, Núcleo de HistóriaIndígena e do Indigenismo. RJ. 2002.

Página 51, Akaikuni, de Amatiwanã Trumai, óleo sobre tela, 2000.

Página 53, Brinco Karajá in A Plumária indígena brasileira. Sonia Ferraro Dorta e Marília Xavier Cury.

São Paulo: Edusp. 2000.

Página 57, Casamento Pataxó, de Kanátyio Pataxó, in O povo Pataxó e sua história. Angthichav,Arariby, Jassanã, Manguadã e Kanátyio. Minas Gerais: MEC/Unesco/SEE-MG, 1997.

Página 58, grafismo Wajãpi, de Muruti, in Kusiwa: pintura corporal e arte gráfica Wajãpi.

Página 61, Arakuni, de Amatiwanã Trumai, técnica mista sobre cartão, 1977.

Página 62, Manto xamânico confeccionado pelos índios Tupinambá no século XVII e levado para

a Europa por Maurício de Nassau. Acervo do Museu de História Natural da Dinamarca. (SUBSTITUIDO

TEMPORARIAMENTE PELO COCAR)

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Autores, fontes e referências bibliográficas dos textospor ordem de aparição

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In ALMEIDA, Maria Inês (org). Literatura Xacriabá em língua portuguesa. OEIY, UFMG, MEC, 2006.

 Ailton Krenak. Ler e Escrever é uma técnica.

In BESSA FREIRE, José R. La presencia de la literatura oral en el proceso de creación de bibliotecas indí-

 genas en Brasil . México. Conaculta. 2004. (Memória del Segundo Encuentro Internacional sobre Biblio-

tecas Públicas. Puerto Vallarta, Jalisco.Mexico)

Davi Kopenawa Yanomami (com Bruce Albert). Descobrindo os brancos. 

In NOVAES, Adauto (organização.) A Outra margem do Ocidente. São Paulo. Cia. Das Letras. 1999.

Daniel Munduruku. Histórias moram dentro da gente.www.danielmunduruku.com.br

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In SHENIPABU Miyui. História dos antigos. Organização dos professores indígenas do Acre e Comissão

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 Adalberto Maru Kaxinawá e Joaquim Maná Kaxinawá. História é passado, história épresente.

In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs).  Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio de

Janeiro: CPI/AC, 1998.

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Zeneida Lima. No princípio eram as águas.

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In CADOGAN, Leon. Ayvu rapyta: textos míticos de los Mbyá-Guaraní del Guairá. São Paulo: USP, 1959.

72

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In MUNDURUKU, Daniel. As serpentes que roubaram a noite e outros mitos. Ilustrações: Crianças Mun-

duruku da aldeia Kato. São Paulo: Editora Peirópolis,2001

 Autoria coletiva: professores Ticuna. Curupira.

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In GRUBER, Jussara Gomes (org.). O livro das árvores. Professores e ilustradores Ticuna. São Paulo: Glo-

bal, 2000

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In KOCH-GRÜNBERG, Theodor. Del Roraima al Orinoco.Três tomos. Caracas: Ernesto Armitano Editor. 1981

Severino Bandeira Atikun. Bernabé.

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In MOTTA, Erimita; CORTES, Clélia (orgs). Histórias Kiriri. MEC/ SEF, Universidade Federal da Bahia, 2000.

Noberto Sales Kaxinawá. Eu pensava que a terra remendava com o céu.

In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs).  Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio deJaneiro: CPI/AC, 1998.

Marli Peme Arara. Mulher Ma’Pay.

In ARARA, Marli Peme. Projeto Açaí. Curso de Formação de Professores. Porto Velho. Secretaria de Edu-

cação de Rondônia. 2006

 Anônimo. Mulher de Perna Fina.

Recolhido por dois viajantes alemães Spix e Matius, em março de 1820, no rio Urariá, afluente

do rio Madeira.

In BESSA FREIRE, José Ribamar. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ

e Atlântica Editora. 2004

 Anônimo. Acupitiru.

Canção de ninar em Nheengatu, recolhida em 1873, pelo cônego Francisco Bernardino de Souza, autor

desta tradução.

In BESSA FREIRE, José Ribamar. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ

e Atlântica Editora. 2004

 Aturi Kayabi. Água que mata a sede.

In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indígenas do Parque do Xingu. Livro das Águas. São Paulo:

ISA, ATIX, 2002

73>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL

Perankó Panará. Correr das Pedras.

In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indígenas do Parque do Xingu. Livro das Águas. São Paulo:

ISA, ATIX, 2002

 Autoria coletiva: professores Ticuna. Qualquer vida é muita dentro da floresta.

I GRUBER J G ( ) O li d á P f il t d Ti Sã P l Gl

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In GRUBER, Jussara Gomes (org.). O livro das árvores. Professores e ilustradores Ticuna. São Paulo: Glo-

bal, 2000

 Alexandre Acosta Guarani. Esta terra que pisamos é o nosso irmão.

Depoimento inédito do Sr. Alexandre Acosta (60 anos), em língua guarani, recolhido e traduzido pelo

professor guarani Marcos Moreira em 2004 na Aldeia Jataíty, Canta Galo-RS. Curso de Formação de

Professores Guarani do Sul e Sudeste. Módulo de História ministrado pelo professor José R. Bessa

Emílio Gomes de Oliveira Xacriabá. O que não tem médico tem mata.

In ALMEIDA, Maria Inês (org). Com os mais velhos. OEIY, UFMG, MEC, 2006.

 Autoria coletiva: professores indígena do Acre. Geografia, o que é.

In GAVAZZI, Renato (org). Geografia Indígena. Professores do Parque do Xingu, Instituto Socioambien-

tal, ISA, MEC, 1998

Jonado Sabané Nambikwara. Pássaro Vermelho.

In Práticas pedagógicas e Linguagem - 3º grau indígena. Seduc-MT/Unemat/Funai/MEC. Barra do Bu-

gres-MT, 2005.

Edson Ixã Kaxinawá. Quando você for.

In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs).  Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio de

Janeiro: CPI/AC, 1998.

Joaquim Maná Kaxinawá. O amor.

In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs).  Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio de

Janeiro: CPI/AC, 1998.

 Anônimo. Te mandei um passarinho.

Canção recolhida em 1874 no Pará por Couto de Magalhães.

In BESSA FREIRE, José Ribamar. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ

e Atlântica Editora. 2004

Kanatyo Pataxó e outros. Casamento Tradicional.

In ANGTHICHAV; ARARIBY; JASSANÃ; MANGUADÃ E KANÁTYIO. O povo Pataxó e sua história. Minas

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74

Miguel Panemaxerón Surui. Tudo passa.

In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs).  Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio de

Janeiro: CPI/AC, 1998.

Eliane Potiguara. Eu não tenho minha aldeia.

In POTIGUARA Eliane Metade cara metade máscara São Paulo: Global 2004

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In POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. São Paulo: Global, 2004.

 Andila Inácio Belfort Kaingáng. O contraditório.

In Práticas pedagógicas e Linguagem - 3º grau indígena. Seduc-MT/Unemat/Funai/MEC. Barra do Bu-

gres-MT, 2005.

 Yanin Kaiabi. Quem vai segurar.

In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indígenas do Parque do Xingu. Livro das Águas. São Paulo:ISA, ATIX, 2002.

 Avaju Poty. Borboleta Amarela.

In Guata Porá. Oporaí – O canto sagrado guarani . CD. Curitiba. Fundação Cultural. 2000

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Glossário

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 A criadora do mundo

O autor, Gabriel Gentil, do povo tukano, falecido recentemente, era kumu, ou seja, curador e conhe-

cedor das plantas medicinais, mestre de cerimônias e de cantos. Falava português e tukano. Escreveu

esses mitos que foram publicados na Suíça (2000) em edição bilíngüe.

  Mi ř io – As músicas eram gente. Esse personagem mítico é gente-música, ou Ye´pá, a Primeira Mulher,

que tocava por si mesma.

Ye´pá – a primeira personagem feminina do Mito da Criação da Terra. A palavra Ye´pá é do idioma

antigo, usada em cerimônias religiosas. Forma outras palavras compostas como Ye´pá-rë, ou

Tambor da Terra, o primeiro nome do Trovão, Ye´pá-Bahuári-Mahsö , gente-terra que apareceu

por si mesma.

 Nihǐ  sãma e Nihǐ  sohpe – significam o Caminho Delicado de Passagem, que une o Outro Mundo ao

Nosso Mundo, nessa Terra. Na linguagem corrente é conhecido como Yahpé (vagina).

Ye´pá-wi´i – nome de uma Casa do Mito da Criação, que ficava abaixo do nível da nossa Terra. É um

lugar provisório, para  passar o tempo, um lugar de transformação de vida de gentes que são

mandadas de volta para a Terra, depois de terem existido com outras formas de vida. Lá não existe

morte, nem velhice, nem nascimento, nem doenças.

 Më´ ř o- puhtiro – cerimônia sagrada realizada na Casa do Vento antes da criação da Terra

Ye´pá-Bëhkëo – nome de uma das esposas do Ye´pá-rë, ou Tambor da Terra, o primeiro nome do

Trovão

 Bahsesé – cerimônia sagrada. Buhtúyãrã-bahsesé: cerimônia para que o rapaz não seja preguiçoso eseja trabalhador.

 Di´´tá-bahseró – cerimônia do sopro, uma das cerimônias sagradas do Mito da Criação.

 Di´tá-ě hõ-a´mésëok ǔř o bahseró – cerimônia da terra, outra cerimônia sagrada.

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No princípio eram as águas

 Auí – ser altivo e luminoso, personagem mítico do mundo dos Encantados, que vive no fundo das

águas, de onde nasceram todas as coisas.

 Igaçaba – palavra do Nheengatu língua de base tupi plenamente incorporada ao português regional

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g ç palavra do Nheengatu, língua de base tupi, plenamente incorporada ao português regionalda Amazônia. Significa vaso de barro, pote para água, urna funerária.

 Palmiformes – que têm a forma de palma, com os dedos dos pés unidos por uma membrana.

 Anhangá ou ananga – duende da floresta, protetor dos animais selvagens. Castiga os caçadores pre-

dadores que matam a caça sem critérios. Anda montado num veado branco com olhos de fogo e

quem o vê tem febre e alucinação. Os missionários o identificaram, de forma equivocada, como

o diabo.

Caruanas – na pajelança cabocla da Ilha do Marajó, são as energias liberadas pelas águas, que orien-

tam os pajés para curar os doentes e são chamadas através de cantos. Caruás são as energias de

pessoas que desaparecem nas águas.

Origem e fundamento da palavra, segundo os Guarani

 Nhamandu – Nos textos míticos dos Mbyá-Guarani, Nhamandu é Nosso Primeiro Pai, criador do mundo.

Curupira

 Sapopema – tipo de raiz das grandes árvores, com uma base chata, de feitio triangular. Em Nheengatu,

 sapu é raiz e pema é achatada. Sumaumeira é uma árvore das florestas inundáveis, com um tron-

co enorme, flores brancas e frutos contendo uma fibra parecida com o algodão.

Historia Bernabé

 Encabelando – significa que o pelo está crescendo novamente.

 Enxu – é uma grande colméia.

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Mulher

Totonew – é um dos deuses dos índios Arara.

Acutipuru

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 Acutipuru

 Acutipuru – animal mamífero, roedor, de cauda comprida e enfeitada, que dorme o dia todo, depois

de passar a noite em plena atividade. Segundo o estudioso italiano que viveu no Rio Negro (AM),

várias etnias acreditam que é sob a forma de acutipuru que a alma das pessoas sobe ao céu, logo

que o corpo acaba de apodrecer.

Esta terra que pisamos

 Karai – Hoje o termo karai, para os guarani, se refere ao sábio, ao velho portador de sabedoria.

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Outros livros desta coleção

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At wis ex el ut alis augait nostie do

consent irit, sum nostincilis dunt

wissim dolendi onulput incillamcon ut

aliquat ut eum dolorer augiamcommy 

niam, sustie doloborem.

Secte facipit luptatum ipit augait et

prat ver adigna acin hent lum zzriurecommy nisit ea facip ex eugait praestis

augait nulpute dignis exercing ex er

am, quisit nummy num vel iuscilit adip

et ulput alis adionsed del ullaoreet

praestrud dit digna feu feumsandre

modo ea feugiamet verat.

At wis ex el ut alis augait nostie do

consent irit, sum nostincilis dunt

wissim dolendi onulput incillamcon ut

aliquat ut eum dolorer augiamcommy 

niam, sustie doloborem.

Secte facipit luptatum ipit augait et

prat ver adigna acin hent lum zzriurecommy nisit ea facip ex eugait praestis

augait nulpute dignis exercing ex er

am, quisit nummy num vel iuscilit adip

et ulput alis adionsed del ullaoreet

praestrud dit digna feu feumsandre

modo ea feugiamet verat.

Chicoe a cidadeO encontrodo cordelcom o Rap

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Produção gráfica e editorial

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SUPERNOVA PROJETOS EDITORIAIS

Coordenação de produçãoCristina Guimarães

Projeto gráfico e capaRibamar Fonseca

Revisão do texto Alessandro Mendes

Auxiliar de produção Adriana Mattos

A fonte de texto é a Versailles, corpo 11,5, projetada por Adrian Frutiger em 1984, serifada, baseada nos tiposfranceses desenhados no século 19.

Impresso para o Ministério da Educação em ... de 2007.

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POPO YJU

Popo Yju

Ara Owy 

Opawaerá hey Porã

Ejapo

Waieme

Ñandekwerupe

 Avaju Poty Guarani

BORBOLETA AMARELA

Borboleta amarela

No céu azul

Infinita beleza

Não fazer mal

a ninguém

Infinita beleza