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080 CONTOS SELECIONADOS MIDU GORINI Volume 1 – Contos 1 a 16 midugorinibook 2010 © primeira edição

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CONTOS

SELECIONADOS

MIDU GORINI

Volume 1 – Contos 1 a 16

midugorinibook 2010 © primeira edição

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SELECIONADOS

Volume 1 – Contos 1 a 16

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Brasil. Catalogação na fonte midugorinibook.

[email protected] 2010 ©

Midu / Gorini, Romildo Filho, 1955. 080 CONTOS SELECIONADOS ®

primeira edição l. literatura brasileira. ll. título

As imagens foram captadas em sítios da Internet que permitem a livre utilização delas, portanto são de domínio público.

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CONTOS SELECIONADOS

Primeira edição ® 2010 ©

midugorinibook

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CONTOS SELECIONADOS

Epígrafe Indispensável

― Quem sabe respirar o ar de meus escritos sabe que e um ar da altitude, um forte ar. E preciso ser feito para ele, senão o perigo de se resfriar não e pequeno. O gelo esta perto... , mas com que tranqüilidade esta todas as coisas, a luz, com que liberdade se respira... , o autentico livro do ar das alturas.

Friedrich Nietzsche.

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Preâmbulo

― Um livro de contos para adultos, que possui o ar forte da altitude, o gelo esta ao lado, resta saber se você e feito para ele e sabe respirar o ar forte das alturas. Um ar com pouco oxigênio e fragmentos de fatos verídicos, regados a sangue frio, dominados por violenta emoção. E de quebra alguns contos de humor intercalados aos outros, boa leitura e boa sorte ♣.

Midu Gorini.

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Índice Ж 08 – Amor, bem vindo ao mundo da AIDS. Ж 12 – As viúvas de maridos vivos. Ж 16 – O tiro fatal. Ж 20 – Aconteceu na casa da vizinha... Ж 23 – O Corno. Ж 26 – Temores ardentes. Ж 34 – A vingança macabra. Ж 44 – Amor mais que perfeito! Ж 49 – Terror no consultório. Ж 61 – Boa noite Cinderela. Ж 64 – Aconteceu no motel... Ж 68 – A Top Model. Ж 74 – A traição. Ж 77 – Terror no apagão. Ж 84 – A Amante. Ж 90 – O Baile.

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Conto 1Conto 1Conto 1Conto 1

Amor, bem vindo ao mundo da Amor, bem vindo ao mundo da Amor, bem vindo ao mundo da Amor, bem vindo ao mundo da AIDSAIDSAIDSAIDS

CADA vez que você dorme com uma pessoa, você também dorme com o passado dela, foi assim que Flávia ficou soropositiva para o HIV, ela não se conformava com a situação. Paulo lhe parecia um homem de meia idade muito distinto, bonito, charmoso, rico, jamais ela poderia imaginar que aquele homem, dormia com outros homens, além da sua esposa Sofia.

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A primeira coisa que veio a mente de Flávia quando ela leu o resultado do exame, foi “vou morrer esta doença não tem cura”. Desesperada ela procurou o seu médico de confiança e ficou sabendo que a doença tem controle, à custa de um coquetel de medicamentos que provocam vários efeitos colaterais, principalmente a lipodistrofia. A notícia não melhorou em nada o estado emocional de Flávia. Depois veio o sentimento de vergonha, como explicar aos amigos, aos familiares e a seu marido Juvenal que pegou AIDS de seu amante e patrão, um homem casado que era gay. Em seguida o sentimento de culpa, porque ela nunca exigiu que Paulo usasse camisinha, pois quem “vê cara não vê AIDS”, as campanhas de prevenção sempre falaram isso. A depressão foi inevitável, ela não sabia se suportaria a discriminação por ser portadora do vírus, temia ser considerada uma “morta viva”, pois o Brasil é um país irremediavelmente preconceituoso. Sua agonia era a idéia de não ver sua filha caçula crescer, sua raiva era saber que só foi fazer o exame porque Sofia pegou

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Paulo na cama com outro homem. Flávia estava perdida, não sabia o que fazer, Paulo envergonhado está isolado há dez dias em sua fazenda e provavelmente nem saiba que tem AIDS, talvez Sofia também seja portadora do vírus, mas como falar com ela ou com o seu marido Juvenal que também pode estar infectado. O desespero só aumentava e um sentimento de vingança a sufocava, Flávia andava sem rumo e sem prumo na rua, ainda relendo e relendo o resultado do exame. Resolve ligar para sua casa, disse a sua filha mais velha que teria que resolver um assunto urgente da firma na capital e só retornaria no dia seguinte a tarde, isto lhe daria tempo para pensar melhor. Flávia desembarca na estação rodoviária da Barra Funda em São Paulo, um homem desconhecido de cabelos grisalhos, descaradamente lhe dá uma cantada, “porque choras meu anjinho?”, imediatamente ela respondeu “solidão”. O homem insistiu e ela aceitou, foi até o apartamento dele, a cem metros da estação do metrô Santa Cecília, de manhã enquanto ele ainda dormia

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profundamente, deixou um recado escrito com o seu batom vermelho no espelho do banheiro “Amor, bem vindo ao mundo da AIDS”. Flávia retornou para Jundiaí decidida a contar toda a verdade para o seu marido, quando ela entrou em seu apartamento, Juvenal estava na sala e lhe disse de supetão “As palavras da verdade são simples, estou com AIDS, fui contaminado pela minha amante que é viciada e eu não sabia, portanto eu tinha uma amante e agora tenho AIDS”. A notícia soou como um verdadeiro alívio para Flávia que não teria que explicar mais nada para os seus familiares e amigos, simplesmente respondeu ao marido “Vamos vencer isto juntos”. No dia seguinte ela entrou em contato com Paulo, e lhe disse que era HIV positivo, Sofia nunca descobriu o romance entre ele e Flávia, sete dias depois os exames de Sofia e Paulo deram negativos. Flávia não teve coragem de procurar o homem de cabelos grisalhos em São Paulo, gostaria de lhe pedir desculpas, mas sabia que tinha cometido um crime e se acovardou, nunca mais teve notícias dele.

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Conto 2Conto 2Conto 2Conto 2

AAAAs s s s viúvasviúvasviúvasviúvas de maridos vivos de maridos vivos de maridos vivos de maridos vivos

RITINHA viu seu pai partir mais uma vez para o corte de cana de açúcar no estado de São Paulo, a maior parte do ano ele exercia essa profissão no estado vizinho, cortador de cana. Mais uma vez a seca do sertão expulsou seu pai para longe, mais uma vez a contragosto, como tantas outras mulheres no vale do Jequitinhonha, sua mãe seria chamada de “viúva de marido vivo” com a penosa tarefa de

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se tornar a chefe da família. Para Ritinha ficava a certeza que sua única alimentação diária seria fornecida pela merenda escolar. Quando chovia em dezembro, sua mãe conseguia algum emprego na roça do seu Geraldo, o restante do ano sua mãe fazia milagre com o pouco dinheiro, 90 reais por mês, que chegava do estado de São Paulo para criar ela e os seis irmãos pequenos. No pequeno comércio local, não havia vagas, a prefeitura entupida de funcionários públicos, não contratava mais ninguém. Quando o pai de Ritinha retornava para casa, na entre safra da cana, ficava pouco tempo, apenas três meses, deixava mais um irmãozinho na barriga de sua mãe e partia novamente para o corte de cana. Agora com 14 anos incompletos e um filho na barriga, Ritinha vê a historia se repetir, José, seu marido partiu esperançoso para a sua primeira temporada de corte de cana no estado de São Paulo, transformando Ritinha em mais uma “viúva de marido vivo” no sertão mineiro. Nas primeiras semanas ela recebia duas a três cartas por semana de José, com o passar dos

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meses essas cartas foram diminuindo, diminuindo até Ritinha não acreditar mais na saudade escrita e na volta prometida. Pouco antes de seu filho nascer saudável, José lhe escreveu a sua ultima carta, contando-lhe que tinha arranjado outra mulher. Ritinha ficou arrasada, abandonada pelo marido, rejeitada pela mãe que não aceitou a sua gravidez precoce e desprezada pela família do marido, que não aceitava o casamento. Ritinha morava sozinha em um casebre cedido pelo sogro, sobrevivia com a refeição da merenda escolar e o dinheiro da Bolsa Família, 80 reais por mês, mas procurava prover o seu filho Gabriel da melhor forma possível. Com o passar dos anos, Ritinha não perdia a esperança de rever o marido, um belo dia ele apareceu, lhe fez mais um filho e nunca mais voltou. Agora com um casal de filhos, Gabriel e Gabriela, e cansada de ficar sozinha Ritinha arranjou um novo companheiro, um funcionário da prefeitura de baixíssimo escalão, evangélico fervoroso, levou Ritinha para a Igreja, ela se converteu e então a fizeram escolher: ou seu companheiro ou Deus, pois ela, uma mulher

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casada nos laços sagrados do matrimônio, não poderia viver em pecado com seu esposo ainda vivo. Ficou sozinha com Deus, mas o pastor lhe deu uma ótima noticia, havia lhe arranjado um emprego de empregada doméstica na casa do prefeito, 200 reais por mês, uma verdadeira fortuna para ela. Dinheiro sabiamente investido na alimentação e nos estudos dos filhos, com o passar dos anos o seu marido José adoecido voltou. À principio Ritinha não quis, mas por insistência dos filhos e do pastor ela acabou acolhendo-o em sua casa, cedida pelo prefeito, o seu marido moribundo. O casal vivia como irmãos, nada de sexo e muito menos traição, José agora cuidava das crianças e do lar, enquanto Ritinha trabalhava na casa do prefeito. Ela sábia que o seu futuro e de sua família era incerto, mas nunca desistiu da luta para mudar a realidade de Gabriel, hoje advogado em Uberaba e Gabriela hoje professora universitária em Uberlândia. Ritinha e José continuam casados e vivem como irmãos no vale do Jequitinhonha, sertão de Minas Gerais.

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Conto 3Conto 3Conto 3Conto 3

O tiro fatalO tiro fatalO tiro fatalO tiro fatal

NA HORA em que a sombra é mais curta, Ronaldo estava prestes a cometer o mais longo dos seus erros. Calmamente escreveu o seu derradeiro bilhete “Já que ninguém me ajudou nesse mundo, vou procurar ajuda no outro... 22/06/2009”, em seguida dobrou o pequeno bilhete e guardou-o em sua carteira. Ele estava decidido, não queria morrer nas mãos dos traficantes, não tinha como saldar as suas dívidas de drogas, subiu até a cobertura do

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prédio, olhou para o céu, pediu perdão e pulou rumo ao seu destino. Quando passava pelo décimo quarto andar, em plena queda livre foi atingido com um tiro na cabeça e caiu morto na rede de segurança do pintor, que pintava a parede externa do prédio no décimo segundo andar. Se não fosse o tiro fatal, Ronaldo com certeza estaria vivo. Pouco minutos depois chegou a policia, a delegada Dra. Aldira rapidamente concluiu que Ronaldo foi assassinado de forma não intencional, no meio do seu ato de tentativa de suicídio. Descobriu que o tiro partiu da sala do apartamento 141, no décimo quarto andar, onde Jair ameaçava matar a sua esposa Fátima com um revolver calibre 38. O marido Jair em depoimento no próprio apartamento, logo após o ocorrido, afirmou à delegada que a arma deveria estar descarregada e que nunca teve a menor intenção de matar sua esposa Fátima, tanto que nem mirou exatamente nela, motivo pelo qual o tiro saiu pela janela. Fátima confirmou tudo, disse que o marido sempre fazia este joguinho de cena quando brigavam, e depois que ele apertava o

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gatilho eles simplesmente faziam as pazes e na maioria das vezes amor. Frente a esses depoimentos a Dra. Aldira concluiu que o responsável pela morte de Ronaldo foi quem carregou a arma, com a intenção clara de assassinar Fátima. Para tentar desvendar rapidamente o crime à delegada resolveu chamar Sandra, a empregada doméstica da casa para vir até a sala do apartamento. Em seu depoimento Sandra revelou que há dois meses ouviu o filho mais velho de Fátima dizer ao telefone a seguinte frase “já carreguei a arma, então me de um tempo...”, mas no momento da ligação, ela não relacionou o fato com a arma calibre 38, existente na casa. Quando a Dra. Aldira perguntou a Sandra se ela sabia de alguma coisa que justificasse a atitude do filho tentar matar a própria mãe, a empregada foi enfática “Dona Fátima cortou a mesada dele, e isso o deixou possesso de raiva, talvez o pai continuasse lhe dando a mesada, deve ser isso” Após esse depoimento o perito criminal entra no apartamento 141, no décimo quarto

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andar e informa à delegada que Ronaldo na verdade era o filho mais velho de Jair e Fátima. Dra. Aldira em seguida teve a dolorosa missão de informar aos pais a morte do filho Ronaldo e encerrou o caso como suicídio, pois Ronaldo carregou o revolver 38 e acabou assassinando a si mesmo, de forma não intencional.

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Conto Conto Conto Conto 4444

Aconteceu na casa da vizinha...Aconteceu na casa da vizinha...Aconteceu na casa da vizinha...Aconteceu na casa da vizinha...

BRINCAVA com o meu cachorro Simba Lata no quintal, quando fui obrigado a escutar uma discussão na casa vizinha. - Minha filha eu abro a porta do seu quarto e pego você fumando. - E daí mãe? - Você só tem doze anos, desde quando você fuma? - Desde quando eu dei. - E quando é que você deu minha filha?

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- Não sei, eu tava bêbada pô, vê se não chateia, ô. - Que isso filha a vizinha da frente, acabou de me falar que você está dormindo com o seu namoradinho, aqui dentro de casa, é verdade? - Mentira, fofoca, só porque eu durmo com um garoto, a vizinha já vai falando que é meu namorado pô, fofoca mãe. E tem mais tô grávida - Mas como grávida filha, onde você estava com a cabeça. - No travesseiro, mãe. - Escute o barulho da porta da sala é o seu pai chegando, lindo o que você fez? - Ah se é, imagine só a hora que eu estiver terminado. O pai do neném, não é religioso e não acredita em inferno. - Case-se com ele minha filha e deixe o resto comigo. - Querida cheguei. - Tenho uma novidade para te contar querido! - Conta querida, conta! - Daqui a seis meses passaremos a ser quatro aqui em casa!

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- Mas isso é ótimo, querida! - Ótimo? Eu tô achando inacreditável. Nunca pensei que você fosse aceitar que minha mãe viesse morar com a gente, para cuidar da nossa filhinha que está grávida. - Querida Eu não agüento mais esses problemas! Vamos fazer o seguinte: eu fico com um lado da casa e você com o outro e resolve tudo. - Tudo bem! Eu fico com o lado de dentro querido! Depois disso só silêncio, então eu continuei brincando com o Simba Lata no quintal.

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Conto Conto Conto Conto 5555

O cornoO cornoO cornoO corno

LUIZ homem letrado, bem afeiçoado sempre procurou a mulher certa para se casar, enquanto

isso se divertia muito com as erradas, até que um dia no baralho da vida encontrou uma dama, a mulher dos seus sonhos, das suas mais intimas fantasias. Luiza mulher de beleza acima da média, não resistiu às investidas amorosas de Luiz e

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logo se casaram e formaram um belíssimo casal, uma bela família em uma moradia sadia de felicidade e paixão. Mas a luta pelo pão de cada dia era grande e Luiza começou a se sentir mal amada pelo marido amolecido pelo estresse do trabalho e se derreteu nos braços e abraços de outro homem bem vivido. Luiza vivia tarde após tarde um poema com poesia, suave beijava doce na tarde que arde covarde ao sol. Pensava que era uma fantasia com heresia, mas na verdade era apenas um grito de liberdade, contra a sua infelicidade dentro de um casamento que se transformou em rotina. Era puro desejo de uma alternativa, assim ela abandonou os resquícios de reserva e consideração pelo marido e buscou um novo horizonte sexual nos braços de outro homem. Quando Luiz descobriu a traição de Luiza, ficou atônito, passado não teceu nenhum comentário para a sua mulher, que não sabia da descoberta. Luiz passou por um processo psicológico intenso primeiro a negação, não acreditava que

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era corno, depois veio à raiva ele não se culpava pela atitude de Luiza, mas culpava todos e tudo, inclusive a sogra e o trabalho extenuante. Procurou ganhar tempo e analisou se o casamento ainda tinha alguma chance de sucesso, depois veio a fase da compreensão da realidade, com lamentação, tristeza interna e um enorme apego aos amigos e a outros que também foram corneados. Depressivo e entristecido veio a fase da aceitação, Luiz resolveu por amor não falar nada com a Luiza, e levou o casamento em frente como nada tivesse acontecido ou acontecendo de novo nas tardes que ardem quentes ao sol.

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Conto Conto Conto Conto 6666

Temores ardentesTemores ardentesTemores ardentesTemores ardentes

Mais uma vez às quartas-feiras de manhã, Beatriz fazia a sua rotina dos últimos quatro meses, deixava o seu filho Edgarzinho na porta do colégio, depois pilotava com maestria a sua BMW branca até um Shopping Center próximo. Estacionava o seu carro e com grande tensão nervosa caminhava até o banheiro feminino do lado externo do Shopping, retirava da sua sacola de tamanho considerável uma muda de roupa, peruca morena e óculos escuros.

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Depois vestida e disfarçada, com os nervos a flor da pele, que a excitava ainda mais, fazendo uma estranha mistura de prazer com medo no seu corpo, ela caminhava tremula até o ponto de taxi, pedia para o motorista levá-la até o estacionamento do Hipermercado, que não ficava longe. Lá Beatriz embarcava na velha camionete com vidros escuros de seu amante Paulo, em seguida eles se dirigiam até um discreto Motel e por duas horas e meia se amavam como não se houvesse amanhã. Saciada nos seus instintos mais íntimos, Beatriz pagava a conta do Motel e com os nervos aflorados pelo medo de ser descoberta novamente se disfarçava, retornando para estacionamento do Hipermercado. Onde pegaria um taxi até o Shopping e depois de mudar de roupa, com a sua BMW iria até o colégio, onde Edgarzinho a aguardava, seguindo depois para a sua casa. Mas nesta quarta-feira ensolarada, algo deu errada, quando ela desceu da camionete do Paulo e seguia caminhando até o ponto de taxi, Beatriz foi interceptada por uma mulher, que calmamente lhe falou “Eu sei que você desceu

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da camionete do Paulo e agora está indo para o Shopping pegar a sua BMW branca e essa informação que possuo deve valer algum dinheiro” Beatriz entrou em pânico, simplesmente abriu a carteira e deu o dinheiro para a desconhecida, ficando apenas com o suficiente para pagar a corrida de taxi até o Shopping. Beatriz não conseguia raciocinar direito, mal conseguia dirigir a sua BMW, tal seu estado de nervos, ela pegou Edgarzinho no colégio e chegou a sua residência em frangalhos, o seu corpo doía de tanta tensão. Edgar o seu marido, chegou logo em seguida e não demorou muito para perceber o estado deplorável da esposa “Beatriz alguma noticia ruim, aconteceu alguma coisa”, ela dissimulou “Não amor é apenas uma forte enxaqueca, já tomei remédio, deve passar logo”, acabaram almoçando como nada tivesse acontecido. Depois do almoço ela se trancou no quarto, apavorada com a possibilidade do seu marido descobrir a sua traição, Beatriz não raciocinava direito, pensava como olhar nos

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olhos do filho Edgarzinho, explicar para os parentes e amigos o ocorrido. Começou a chorar quando imaginou a notícia no jornal “Socialite casada com eminente advogado da cidade se separa, ela o traía com o jardineiro da mansão de nome Paulo”. Chorou mais ainda quando percebeu que o seu acordo pré-nupcial seria judicialmente cumprido na hora da separação, acabando praticamente com toda a sua mordomia financeira, adeus mansão, adeus BMW, pensou ela. Em fim depois de chorar muito, Beatriz conseguiu raciocinar melhor e concluiu que se a mulher a conhece realmente, iria chantageá-la na sua mansão, não aceitaria de jeito nenhum a quantia dada na rua. Portando deveria se tratar de uma aventureira que simplesmente deu um tiro no escuro, e não lhe procuraria mais, depois tomou uma decisão irrevogável, não se encontraria nunca mais com o seu jardineiro Paulo. No jantar e no café da manhã, Beatriz tratou Edgar como se ele fosse um reizinho, deixando o marido feliz da vida. Antes do almoço a mesma coisa, foi quando o marido

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disse para ela “Amor tem uma mulher te aguardando no portão”. Beatriz gelou na hora, o frio correu-lhe pela espinha, mas sem demonstrar ao marido a sua preocupação, ela foi até o portão e lá estava a mulher que a extorquira na rua. Beatriz concluiu que a mulher estava de conluio com Paulo, perguntou o que ela queria. A mulher respondeu que estava desesperada e precisava de muito dinheiro imediatamente, Beatriz rebateu falou que não tinha. Então a mulher deu-lhe um ultimato, exigiu o relógio Rolex de ouro maciço que estava no pulso da Beatriz, ou ela entregava naquele momento o celular com as fotos de Beatriz entrando e saindo da camionete do amante Paulo, para o marido Edgar. Beatriz desesperada explicou que o Rolex, pertenceu à mãe do Edgar e desde que ele a presenteou com o relógio ela nunca mais o tirou do pulso. A mulher retrucou, precisava de dinheiro urgentemente, e complementou “me entregue o relógio e nosso assunto se encerra para sempre”, neste momento o marido aparece na porta e diz “Beatriz, telefone sua mãe”.

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Encurralada, discretamente Beatriz entrega o relógio para a mulher e disfarçando o braço sem o Rolex vai em direção dele, pega o telefone sem fio e conversa rapidamente com a mãe, assuntos sem importância, mas o telefonema deu a Beatriz alguns minutos para pensar em uma saída. Depois de conversar com a sua mãe, ela entrou na sala e falou para o Edgar que a mulher do portão era da relojoaria, que mandara o Rolex para fazer uma limpeza. Depois pediu para a sua empregada ligar para o jardineiro Paulo e pedir que ele viesse no outro dia à tarde, porque ela queria fazer uma pequena reforma no jardim. No meio da manhã seguinte, na ensolarada sexta-feira, Beatriz liga desesperada para o escritório de advocacia do marido e noticia que ela foi assaltada, Edgar pede que venha até o escritório para explicar melhor o ocorrido e ver quais as medidas cabíveis ao caso. Em seguida Beatriz arranca bruscamente uma grosa pulseira de prata do braço, esfolando o seu pulso que ficou marejado de sangue. Beatriz chega ao escritório desesperada e

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diz ao marido que pegou o Rolex na relojoaria e quando parou em um sinal vermelho próximo, se aproximou um menino vendendo balas, com dó ela quis dar um dinheiro para ele. Quando abriu o vidro da BMW, um marmanjão surgiu não se sabe de onde e arrancou o relógio do seu pulso, deixando-o todo machucado, inchado e dolorido. Penalizado Edgar senta ao lado da sua escrivaninha, calmamente abre uma gaveta e retira o Rolex de ouro maciço, colocando-o em cima da escrivaninha. Beatriz empalideceu, o pânico correu-lhe pelas veias, ela entendeu que o seu pior pesadelo se realizou, foi descoberta, com a voz embargada e tremula, disse apenas “Por favor, Edgar” O marido responde ao apelo da esposa com voz calma “Beatriz essa mulher que extorquiu você é uma detetive particular. Mas eu não queria que esse relógio marcasse o fim do nosso casamento, mas sim um novo começo, um recomeço para nós, na semana que vem é aniversário de oito anos do Edgarzinho, vamos fazer uma bela festa para ele e começar uma vida nova”. Emocionada Beatriz se levantou da

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poltrona abraçou o marido com carinho e lhe jurou fidelidade e amor eterno. À tarde o jardineiro Paulo apareceu na mansão, Beatriz deu uma boa quantia em dinheiro para ele, e disse “Nunca mais apareça na minha frente”, sem entender nada o jardineiro agradeceu o dinheiro recebido com um sorriso amarelo e foi embora, para nunca mais voltar.

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Conto Conto Conto Conto 7777

A vingança macabraA vingança macabraA vingança macabraA vingança macabra

VICENTINA saiu do seu trabalho cansada como sempre, mas desta vez ela não resistiu, estacionou o seu velho carro do outro lado da rua, para não chamar atenção, depois olhou calmamente o carrão esporte posicionado em destaque na vitrine da concessionária de veículos importados. Sem dúvida o modelo esporte era o seu objeto de desejo, o carrão não estava longe dos seus olhos, nem das suas mãos, ele estava longe do seu bolso.

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Vicentina não pode disfarçar a sua inveja, quando viu a madame loira, sua patroa de muito tempo, sinalizar com a mão esquerda e sair da concessionária dirigindo um modelo de carro igualzinho o da vitrine, novinho em folha, brilhando, zerinho, zerinho. No dedo anelar da madame uma grande aliança de brilhante e outra de ouro, irritada Vicentina pensou “porque eu não nasci em berço de ouro, ou gostosa como a minha patroa que logo tratou de arranjar um trouxa rico para casar, como tem homem otário nesse mundo, meu Deus do céu”. Vicentina desceu do carro, caminhou alguns metros até entrar em uma loja lotérica, o proprietário avisou a ela “fecharemos em cinco minutos”. Tempo suficiente para Vicentina fazer uma fezinha na mega sena. E não deu outra, ela ganhou oito milhões e quatrocentos mil. Feliz ela pensou “dinheiro não trás felicidade, manda buscar, mas primeiro preciso despedir a minha patroa”, o que ela fez com grande prazer, depois Vicentina saiu comprando, comprou o carrão esporte, um

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apartamento de cobertura decorado com um guarda roupa repleto de roupas e jóias. O restante do dinheiro, cinco milhões aplicou a juros no banco garantindo o seu futuro. Ela adorava desfilar pela avenida principal da cidade, dirigindo o seu carão esporte. Observava os rapazes sorridentes para ela, cheios de amor para dar, e pensava “quando eu passava por aqui com o meu carro velho, ninguém olhava para mim, como o dinheiro embeleza a gente, mas também nos dias de hoje dinheiro compra até amor verdadeiro”. Foi nesse exato momento que Vicentina se perguntou “sou uma ganhadora, não resta à menor dúvida, mas será que sou uma pessoa vencedora?”, e logo ela concluiu que não era uma pessoa vencedora, havia se transformado em uma pessoa extremamente egoísta e fútil, igualzinha a sua patroa madame, Vicentina teve vontade de vomitar. Atordoada e enauseada com a sua conclusão ela dirigiu o seu carrão esporte diretamente para o banco e expôs o seu problema para o gerente Geraldo, ele então sugeriu que Vicentina abrisse um negócio que

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permitisse a inclusão social de pessoas sem oportunidade no mercado de trabalho. E assim foi feito, com a consultoria de um economista e um administrador de empresas. Vicentina abriu um lucrativo Call Center, gerou oitocentos empregos e contratou pessoas que eram discriminadas no mercado do trabalho, como gordos, baixos, velhos, magros, homossexuais, ex-presidiários etc. Sua empresa lucrava o justo e pagava bem aos funcionários, que eram treinados no próprio Call Center. Agora sim Vicentina desfilava feliz da vida, dirigindo o seu carrão esporte pela avenida principal e pensava “agora todos me olham, pois sou uma pessoa vencedora, agora só falta eu ser realmente feliz, preciso me casar e constituir uma família”. E não é que ela conseguiu, a vida é mesmo assim, não raramente às coisas dão certo. Geraldo, o gerente do banco se encantou com Vicentina, ela se encantou com ele, mesmo com os ciúmes exacerbados de Vicentina, eles viveram felizes até hoje de manhã. Quando Vicentina no seu escritório, recebeu das mãos do detetive particular contratado por ela, para

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vigiar o marido, um envelope com o relatório e as fotos, tiradas pela equipe do detetive. Não restava a menor dúvida o seu marido a traia com uma mulher de quinta categoria, segundo Vicentina. E o pior ainda estava por vir, a mulher tinha um irmão procurado por pertencer a uma quadrilha de seqüestradores, que não raramente matavam as suas vítimas, mesmo depois de receberem o resgate. Para o detetive era eminente o risco que Vicentina corria de ser seqüestrada, pois, Geraldo foi fotografado por quatro dias seguidos, conversando em particular com o irmão seqüestrador de sua amante, ficando evidente para o detetive que havia um plano de seqüestro em andamento. Vicentina para se proteger do marido, pediu para o detetive “plantar” provas irrefutáveis de pedofilia no computador pessoal do Geraldo, em dois dias o “serviço” ficou pronto, depois disso o detetive fez uma ligação anônima de um telefone público denunciando o fato, para a polícia. Geraldo foi preso em flagrante, além das fotos dele com o seqüestrador, a polícia

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encontrou um vasto material de pornografia infantil no seu computador, ele negou ser pedófilo, mas confessou que tramava o seqüestro e morte de sua esposa Vicentina. Mesmo com o advogado de defesa alegando inocência de um dos crimes, ele aguardou o julgamento preso, como as provas eram irrefutáveis de pedofilia, mais a confissão de tentativa de seqüestro e assassinato, Geraldo foi condenado à pena máxima, o seu advogado pouco pode fazer para defendê-lo. Foi então que Vicentina chamou um dos seus funcionários ex-presidiário e pergunto-lhe se seu irmão continuava preso na mesma penitenciária que Geraldo foi enviado, o funcionário respondeu que sim. Ela pediu para ele levar mensalmente cigarros, chocolates e se possível dinheiro para o seu irmão que dividiria com outros dos presos, sem que eles soubessem da existência de Vicentina, em troca os presidiários judiariam bastante do Geraldo, mas sem matá-lo ou aleijá-lo, e assim foi feito. Anos mais tarde, quando o tempo de reclusão de Geraldo foi chegando ao fim o diretor da penitenciária pediu que o juiz

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determinasse uma avaliação psiquiátrica do preso antes dele ser posto de volta às ruas. Na penitenciaria no dia da avaliação, uma pequena mesa com duas cadeiras é colocada na sala de avaliação psiquiátrica, o carcereiro Julio pede por telefone para outro carcereiro trazer o Geraldo. Minutos depois ele e colocado na cadeira, junto à pequena mesa, está algemado. A psiquiatra Dra. Julia pergunta o seu nome e Geraldo cabisbaixo responde: - Qual deles? - O verdadeiro. - Suzi. Dra. Julia escreve em seu bloco, síndrome post traumática. - Como você está Suzi? - Sentado como a Doutora pode ver, por piedade não me aplique injeção, não posso pagar a consulta. Não sei por que se incomoda em vir me ver, todos vamos morrer meu mal não tem remédio estou perdido, virei mulher, não deixe o meu nome sair no jornal, que vergonha à noite irão comer o meu rabo. Dra. Julia escreve, não é homossexual, apresenta síndrome maníaco-depressiva com síndrome da perseguição. Então a psiquiatra

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pergunta: - O que vai fazer quando sair da prisão? - Virar advogado, porque vi Jesus pregado na cruz, ouvi o galo cantar, eu não quero ser a Virgem Maria, quero pegar meu avião cheio de ouro e ir para a lua, depois pra Arapiraca, você usa óculos e batom, sou o pior dos bandidos, queria ser advogado. Dra. Julia escreve delírio de grandeza, de auto-acusação, síndrome traumática com fuga das idéias. - Se você virar advogado o que falaria para o juiz? - Eu o mandaria prender o Senhor Deus. - Por quê? - Ele é um assassino cruel. - Que prova você tem contra o Senhor Deus? - Me dê uma Bíblia Sagrada. O carcereiro Julio pega a Bíblia que está na gaveta da mesa, retira as algemas do Geraldo e lhe entrega a Bíblia dizendo: - Vamos ver aonde isso vai dar. Geraldo abre a Bíblia em Gênesis 38 e lê em voz alta: - "Judá casou Er, o seu filho mais velho, com uma mulher chamada Tamar. O

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Senhor Deus não gostava da vida perversa que Er levava e por isso o matou. Então Judá disse a Onã: - Vá e tenha relações com a viúva de seu irmão. Assim, você cumprirá o seu dever de cunhado para que seu irmão tenha descendentes por meio de você. Ora, Onã sabia que o filho que nascesse não seria considerado como seu. Por isso, cada vez que tinha relações com a viúva do seu irmão, ele deixava que o sêmen caísse no chão para que o seu irmão não tivesse descendentes por meio dele. O Senhor Deus ficou desgostoso com o que Onã estava fazendo e o matou também". - Senhor Juiz mande prender o Senhor Deus, Ele e um assassino, eu estou cansado, quero dormir. Dra. Julia escreve em seu bloco de notas, Geraldo é mais um produto final, produzido pelo nosso sistema prisional brasileiro, e pede para carcereiro Julio levar Geraldo de volta para a sua cela. Dra. Julia escreve no seu relatório final, “Este preso precisa sair urgentemente da prisão, para uma avaliação mais aprofundada e tratamento psiquiátrico, o seu quadro clínico

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psicológico é crítico, de difícil tratamento, ele precisa ser internado imediatamente no manicômio Judiciário. O tratamento precisa ser muito bem feito, senão, a sociedade estará correndo um grande risco, quando Geraldo for posto em liberdade.” Geraldo foi internado no manicômio Judiciário, poucos dias depois e foi considerado pelos médicos, como um caso perdido, um paciente que jamais receberia alta médica e acabaria ficando no manicômio até morrer. Vicentina não se casou de novo, mas depois de todos esses anos, ela ainda dirige feliz o seu carrão esporte zerinho, zerinho, pelas avenidas da cidade. Quando ela soube do diagnóstico dos médicos do manicômio, Vicentina apenas sorriu discretamente e pensou “Uma pena, Geraldo fez por merecer, só que agora eu não vou mais judiar dele, vou contratar um enfermeiro, para ajudá-lo até o fim da sua vida”.

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Conto Conto Conto Conto 8888

Amor mais que perfeito!Amor mais que perfeito!Amor mais que perfeito!Amor mais que perfeito!

FREDERICO não era exatamente o tipo de homem que impressionava as mulheres por sua beleza física, aos altos dos seus cinqüenta anos e muitos quilos acima dos seus sonhos, chamava mais atenção pela sua largura, que por sua altura. Era um homem solitário, rico, bem sucedido no mundo dos negócios imobiliários. Naquela noite fria de outono, sentiu-se mais solitário ainda, desejou ardentemente uma mulher amada para aquecê-lo com um abraço

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carinhoso, pensou “sorte no jogo dos negócios, azar no jogo do amor”. Depois fechou o livro de contos selecionados e foi dormir impressionado com a frase de Nelson Rodrigues, que acabara de ler “Nos dias de hoje, dinheiro compra até amor verdadeiro”. Na manhã seguinte Frederico recebeu em seu escritório Glória Maria, filha única de dona Mercês, moça recatada, 25 anos, fina que já pertenceu à alta sociedade paulista. Mas depois da morte prematura do pai os negócios da família foram por água abaixo, motivo pelo qual a mãe da moça deseja vender um dos últimos imóveis da família, para saldar dívidas acumuladas. Frederico ficou extasiado com a finesse e a beleza de Glória Maria, achava mesmo que foi amor a primeira vista, se prontificou ajudar a família no que fosse preciso e convidou a bela moça para um almoço de negócios, assim que aparecesse um pretendente para o imóvel. Glória Maria relatou a mãe, toda a conversa que teve com Frederico, inclusive o interesse pessoal dele, percebido por ela. Dona Mercês ficou encantada com as notícias e

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exigiu da filha que lhe retribuísse o interesse recebido, pois isso significava a salvação da lavoura para a família. Glória Maria a principio relutou com tão repugnante idéia, mas acabou cedendo aos desejos da mãe, pois ela também sentia falta do glamour da alta sociedade. Passados três dias o imóvel foi vendido por um bom preço, Frederico almoçou com Glória Maria em um elegante restaurante, onde ela acionou os papéis, recebendo logo após um cheque visado referente à venda e um convite para jantar à noite. Jantaram no apartamento de cobertura do Frederico, a luz de velas e das estrelas em noite enluarada. Glória Maria não resistiu às investidas amorosas dele, e logo se casaram com todo glamour da alta sociedade, em um casamento digno de uma princesa. Glória Maria estava socialmente realizada, sexualmente insatisfeita e impressionadíssima com a atenção, dedicação e o carinho que ela e sua mãe eram tratadas pelo marido. A bondade, a fineza e a delicadeza de Frederico não tinham limites, sem duvidas para ela, Frederico possuía uma beleza interior

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imensurável. Com o tempo Gloria Maria foi se adaptando sexualmente ao marido, afastando dela definitivamente a possibilidade de uma traição, lentamente começou a sentir-se realizada também no casamento e o instinto da maternidade começou a aguçar-lhe. O marido ficou nas nuvens, quando Glória Maria lhe pediu um filho, que nasceu e foi batizado com o nome do pai, um mês depois de Frederico quebrar nos negócios, ficaram pobres, foram morar em uma casa de classe média baixa. A sorte do casal foi amplamente comentada pela alta sociedade, mas o fato é que ninguém moveu uma só palha para ajudar Frederico, nesta hora falimentar. O segundo filho do casal, foi uma menina batizada com o nome da avó, Maria Mercês. Nascida de parto normal dez anos antes de Glória Maria enterrar Frederico, vitimado por um enfarte fulminante do miocárdio aos 65 anos. A morte de Frederico foi lamentada e comentada pela alta sociedade, uns diziam: “o

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amor que Glória Maria sentia por Frederico era um amor de gratidão”, outros: “era um amor verdadeiro”. No entanto nenhum deles socialites compareceu para consolá-la nesta hora difícil, talvez com medo dela pedir alguma coisa. Entretanto Glória Maria jamais faria isso, pois aprendeu com a falência de Frederico que na alta sociedade a pessoa só vale por aquilo que tem financeiramente.

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Conto Conto Conto Conto 9999

Terror no consultórioTerror no consultórioTerror no consultórioTerror no consultório

Paulo muito constrangido resolve abrir o jogo, durante a consulta psiquiátrica: - Esta lanchonete da foto, Dr. João, faz parte de uma pequena rede de lanchonetes, pertencente a minha família, cada irmão administra uma lanchonete. Eu fui preso por homicídio simples, após discutir com um cliente, pura bobeira doutor, cumpri os últimos meses da minha pena na cela onde Pedro Jumento estava recluso, mas

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fiz uma grande burrada. Inocentemente falei para ele da rede familiar de lanchonetes como forma de adquirir algum respeito ou status, pois sentia muito medo dele. - Depois da conversa com o Pedro Jumento o que aconteceu, Paulo? - Pouco tempo depois, Dr. João fui violentamente agredido e a família extorquida em três salários mínimos por mês, pagos religiosamente a família dele para preservar minha integridade física dentro da penitenciária. - Nesta época quem mais estava preso com você na cela? - Na cela, Doutor, estava preso junto comigo, além do Pedro Jumento, o Zé Xuxa um rapaz loiro de vinte e poucos anos e um senhor de meia idade, chamado Segisfredo, que foi posto em liberdade condicional. - Me fale um mais desse senhor, Paulo. - Ele foi posto em liberdade condicional, com as sobrancelhas totalmente raspadas e com duas pintas tatuadas no costado da mão, identificando duplamente esse senhor, perante os outros presos, como sendo um estuprador.

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Portanto qualquer um tinha o direito de abusar sexualmente dele, era na verdade a mulherzinha de todos na hora do banho coletivo. No lugar do Segisfredo, ficou preso um jovem chamado Samuel, o Pedro Jumento ficou encantado com ele. Samuel percebeu na hora e ficou apavorado, falou que não era homossexual, mas Pedro Jumento riu e lhe disse que isto não tinha a menor importância. - A lei do mais forte sobre o mais fraco em ação Paulo? - Sim Doutor, à noite ele foi para a cama do Samuel, com um barbeador comum de duas lâminas e um copo com água e sabão, nas mãos. Samuel esboçou uma reação enérgica, mas levou um violentíssimo chute em seus órgãos genitais, rolou no chão de dor, chorava copiosamente, Pedro Jumento partiu para cima dele e deu vários tabefes no seu rosto, mandando-o calar a boca. - Em seguida Doutor, o Pedro Jumento segurou Samuel em seu colo, como se fosse uma noiva entrando em seu quarto de núpcias e o coloca carinhosamente, com todo afeto do mundo na cama, retira a roupa do rapaz em

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estado de choque e depila cuidadosamente, sem sair uma só gota de sangue, todo o corpo de Samuel, inclusive as sobrancelhas, que ficaram bem fininhas. Pedro Jumento dá um beijo em sua testa e fala para ele, que a partir daquela noite, seu nome seria Samuel Suzi. Paulo fica em silencio por alguns segundos e complementa: -Pedro Jumento em seguida com tinta nanquim, tatua uma pinta na lateral esquerda do rosto de Samuel e três pintas no dorso da mão esquerda dele, próximo ao polegar em forma de triangulo. Depois disso não faz mais nada com ele. Jumento volta tranqüilo para sua cama e dorme tranqüilamente, como nada tivesse acontecido. - Qual o significado dessas pintas tatuadas, Paulo? - Esta pinta tatuada no rosto, doutor, identificaria Samuel Suzi, dentro da penitenciária, como sendo homossexual passivo e as três pintas em forma de triangulo identificaria ele como traficante. Com o passar do tempo o Pedro Jumento tatuou um São Judas Tadeu no braço direito dele, que também o identificaria como homossexual passivo e no

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antebraço um rosto feminino para que Samuel Suzi pudesse se lembrar da sua mãe, além de outra tatuagens, ela ficou parecendo um out door. - Porque relembrar a mãe? - O Jumento falou para a Suzi que as mulheres são muito apegadas as mães, e essa tatuagem era um presente especial que ele estava dando para ela. Neste dia Samuel Suzi chorou muito e desesperado me disse que só não denunciava essa situação aos carcereiros, porque seria transferido para o seguro, onde estavam presos os estupradores e os delatores. Morreria junto com eles, na primeira rebelião que acontece na penitenciaria. - E as sobrancelhas finas, Paulo? - A sobrancelha fina, Doutor, indica que o preso é esposa de alguém e passa a ser muito respeitado, por todos os outros presos, porque quem desrespeitar a esposa de um preso é sumariamente sentenciado à morte e acaba sendo linchado pelos presos casados. - E depois o que aconteceu com Samuel Suzi? - Na noite seguinte, Pedro Jumento vai até

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a cama de Samuel Suzi. Com extremo cuidado ele faz sexo com sua nova esposa, que geme de dor, gemidos que aparem freqüentemente nos meus pesadelos, gemidos que toda noite se repetiam naquela cela horripilante, gemidos abafados pelo travesseiro. Suzi implorava piedade, chorava, clamava por Deus, mas seus apelos pareciam excitar ainda mais o seu marido, um verdadeiro jumento. Nos dezenove meses que fiquei enjaulado naquela cela os gemidos abafados se repetiram noite após noite. - E esse rapaz apelidado de Zé Xuxa, Paulo? - Ele já chegou estigmatizado e traumatizado na nossa cela, entrou cabisbaixo e quando o Pedro Jumento se aproximou dele, ele simplesmente falou, “faça o que quiser comigo, só não me bata” e realmente Pedro Jumento não o espancava, mas fazia tudo com ele. - Porque estigmatizado? - Tatuaram no seu braço uma flecha que atravessava um coração e isso o identificava como homossexual passivo, embora ele não fosse homossexual, um dia sem eu perguntar o Zé Xuxa me contou o que aconteceu, quer que

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eu lhe conte? - Sim Paulo. - Houve uma denuncia anônima e Zé Xuxa foi preso em flagrante por estupro, depois de manter em cárcere privado e violentar por várias horas seguidas, uma amiga de quatorze anos. Sem resistir a prisão ele foi encaminhado e encarcerado em uma delegacia distrital. A cela possuía capacidade para vinte presos, mas tinha um efetivo real de oitenta. Quando anoiteceu, Zé Xuxa foi imediatamente submetido às regras do cárcere, onde vige a lei do mais forte, a lei da selva. Como primeira medida interna ele apanhou muito, foi espancado incessantemente pelos companheiros de cela. Após algumas horas de “animada diversão” e com algumas costelas trincadas passou-se a segunda fase. - Fase em que Zé Xuxa foi violentado? - Exatamente Doutor, ele foi violentado sexualmente das maneiras mais perversas que nós humanos podemos imaginar, depois foi transformado em “mulherzinha”, sendo seviciado por diversos agressores de uma só vez. Que diziam a ele “Ah faz assim, porque às

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puta da zona também faz...” enquanto era depilado, maquiado e tatuado, ficando apenas de calcinha e sutiã improvisado. Algo animalesco, indelével, sofreu com juros e correção monetária, o que a amiga havia sofrido em suas mãos. Sempre muito maquiado, Zé Xuxa assumiu todas as tarefas femininas da cela, inclusive as sexuais. - A história é sempre a mesma Paulo, os presos odeiam estuprador, porque eles têm mulheres e filhas aqui fora. Não admitem tal tipo de crime. Deu chance eles pegam e barbarizam mesmo. O estuprador preso passa de violentador a violentado, de algoz a vítima, de dominador a dominado, de ativo a passivo sendo transformado de homem a mulher, assumindo os papéis sociais e sexuais atribuídos ao feminino, sem perdão. Mas o que aconteceu com o Zé Xuxa, quando Samuel Suzi chegou na cela da penitenciária? - Pedro Jumento começou a fazer sexo com Samuel Suzi e nunca mais fez sexo com o Zé Xuxa, que passou a ser alugado, por dois maços de cigarros, para outros presos, que faziam sexo com ele durante o horário do banho coletivo,

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ele se suicidou na lavanderia, se enforcando em um lençol, poucos meses depois que Pedro Jumento transformou Samuel em sua Suzi. O que eu não entendo Dr. João é que Segisfredo, Xuxa e Suzi, acabaram assumindo uma homossexualidade, que não existia antes deles serem presos, o senhor consegue entender isso? - A violência sexual para o preso agredido, destrói a sua auto-imagem e conseqüentemente a sua auto-estima. Causando-lhe problemas psíquicos e físicos, que levam a supressão temporária da sua heterossexualidade, passando a se comportarem como homossexuais passivos. Assumindo o papel de mulher que lhe foi imposto, por isso assumem sem resistência, as tarefas femininas da cela, como lavar, passar, cozinhar etc. - Tem mais uma coisa Dr. João, que você não deveria saber, talvez possa me aconselhar. - Pode dizer Paulo, se eu puder te aconselhar, aconselharei. Timidamente ele diz: - Depois que eu sai da prisão fui me transformando paulatinamente em uma crossdresser. - Desculpe a minha ignorância, Paulo, mas

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o que seria exatamente uma crossdrecer? Completamente ruborizado, ele me explica: - São pessoas que vestem roupas usualmente próprias do sexo oposto, sem que tal atitude interfira necessariamente em sua orientação sexual, entendeu? - Sim continue, por favor, Paulo. - Sou casada, isto mesmo Dr. João, sou casado, mas me sinto casada e minha esposa participa de tudo em minha vida e me domina há mais de um ano. Como você pode perceber sou uma crossdresser submissa e como tal me porto, sou uma Sissy da minha esposa. - Se veste de mulher, Paulo? - Visto-me feminina, sempre que posso, tenho todos os afazeres da casa e sou uma mulher para minha esposa, Doutor. - Mas sua esposa não judia de você? - Claro que sim bobinho, sou totalmente passiva e ela é ativa, freqüentemente apanho e sou humilhada, o que adoro, só fui descobrir o que eu sentia e fazia estava em total sintonia com o universo da dominação e submissão sadomasoquista, na prisão, depois que fui violentamente agredido e violentado na cela.

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- Me explique, para que eu possa entender toda essa situação, o que aconteceu depois da sua agressão? - Bom, depois que me recuperei das lesões, sem saber que era uma postura de submissão sadomasoquista, eu criei uma fantasia para não ficar louco, adorava brincar de casinha na penitenciária, onde os meus colegas de cela eram no meu imaginário, os meus primos e primas. Eu era sempre a empregadinha trabalhadora e humilhada por eles. Isto me dava prazer e foi dando cada vez mais, a tal ponto que quando coloquei escondido de todo mundo, uma saia de Suzi, gozei sem ao menos me tocar, foi uma surpresa para mim esse gozo intenso, a primeira vez que gozei na prisão. Senti sinceridade nesta resposta de Paulo, mas tive a impressão que ele já havia brincado de “empregadinha trabalhadora”, com seus primos verdadeiros, antes de ser preso. Ávido por uma resposta favorável, Paulo pergunta olhando fixamente em meus olhos: - Seria eu gay, eu não me interesso e nunca me interessei por homens, mesmo assim sou gay ou não sou gay, Dr. João?

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Depois que Paulo me chamou de bobinho, acho que ele se entregou de vez. Engolindo a seco, achei que não era a hora dele enfrentar a sua verdade e uma mentira convencional do tipo boa viagem, quando você não está nem aí, se a viagem vai ser realmente boa ou não, confortaria terapeuticamente o moçoilo: - Mas como ser gay se você não se interessa por homens? Você tem apenas uma forma diferente de viver a sua vida sexual, se for da sua vontade eu posso lhe indicar um excelente tratamento? - Não é preciso, Dr. João, a sua resposta já tranqüilizou o meu espírito, me sinto tranqüilo agora, mantenha sigilo absoluto sobre essa conversa, infelizmente as pessoas vivem num padrão hipócrita proposto por esta sociedade machista e repressora em que vivemos. - Adeus Dr. João - Adeus Paulo, mas se precisar de mim volte - Se precisar voltarei Doutor.

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Conto Conto Conto Conto 10101010

Boa noite CinderelaBoa noite CinderelaBoa noite CinderelaBoa noite Cinderela

LARISSA amava bolsas, sapatos e garotos, sem nenhuma modéstia se considerava uma verdadeira delícia, seu esporte preferido namorar, sua atividade preferida se arrumar para a balada, seu hobby correr todos os riscos. Larissa naquele dia acordou como de costume, às quatro horas da tarde, tomou um café reforçado, se arrumou e foi para a farmácia do seu José. Com ele fez sexo como se não houvesse amanhã, em troca alguns comprimidos previamente transformados em pó, de Lorax, Lexotan e Rohypnol misturados,

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potentes sedativos que potencializam o seu poder quando ingeridos com bebidas alcoólicas. Depois de um bom banho e com a maquiagem impecável, beijou o seu José e foi toda faceira e charmosa para o Yzi Kielv’s Bar. Famoso ponto de encontro para uma happy hour com chopps gelado e petiscos variados, logo que Larissa entrou no bar, chamou a atenção de todos, principalmente de um executivo bem trajado que exibia uma enorme aliança de ouro em seu anelar da mão esquerda. Larissa se fez de tímida e sentou sozinha em uma mesa, mas continuou a olhar discretamente para o executivo, que não resistiu e veio até ela, sem cerimônia ele disse com pinta de machão “Gata você acredita em amor a primeira vista ou preciso passar novamente por aqui?” Alguns chopps depois, os dois entraram se beijando na suíte presidencial do Fru-Fru Motel, na primeira oportunidade Larissa misturou o pó preparado pelo seu José, na taça de champanhe francesa do executivo. Primeiro ele ficou eufórico e depois sonolento, dormiu o sono dos justos e só foi acordar às três horas da

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tarde todo ardido e fissurado, não se lembrava de nada. Pelo sangramento logo ficou claro para ele que tinha sido barbaramente violentado. Desesperado ele foi até a garagem da suíte e viu que o seu carrão esporte havia sumido, foi ate o banheiro e encontrou o seu celular, um bilhete e um pouco de dinheiro, suficiente para pagar um taxi e a conta do motel. Leu o bilhete em voz baixa “ Boa noite Cinderela, você foi roubado e violentado por mim, sim violentado com o meu grande pênis de borracha, espero que tenha gostado. Diga adeus ao seu carro, veja as fotos que tirei de você, elas ficaram lindas, estão no seu celular e no meu, se não quiser vê-las na Internet vai para casa, não traia mais a sua querida esposa e seja feliz” Alguns meses depois o executivo avistou Larissa entrando no Yzi Kielv’s Bar, linda como sempre, charmosa como sempre, mas ele não podia fazer nada, pois estava com as mãos atadas.

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Conto 1Conto 1Conto 1Conto 11111

Aconteceu no motel...Aconteceu no motel...Aconteceu no motel...Aconteceu no motel...

MÁRCIA, minha secretária há muitos anos, entra na minha sala meio sem jeito, encabulada me diz: - Dr. João tenho probleminha, você poderia me ajudar? Estou até envergonhada. - O que aconteceu Márcia? Você até parece uma adolescente toda vermelhinha ao falar. - Não piore as coisas Dr. João o meu irmão estava meio brigado com a minha cunhada e resolveram se reconciliar. Para isso fizeram um pequeno jantar a dois na casa deles, depois resolveram dar uma estica amorosa até o Frufru Motel, aí aconteceu o probleminha.

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Márcia estava muito envergonhada, ruborizada em sua face de pele clara, contrastando com a loirice plena dos seus cabelos, tive que ajudá-la a falar: - Me diga exatamente qual foi esse probleminha Márcia? - Depois de passarem mais de três e meia horas no quarto, festejando com champanhe nacional, o meu irmão ligou para a portaria dizendo que estava sem dinheiro para pagar a conta, porque tinha esquecido a carteira em casa. - E daí, o que aconteceu? - A única solução encontrada pelo meu irmão foi deixar a minha cunhada penhorada, na portaria do motel, até ele buscar o dinheiro em sua casa para pagar a conta. Mas como o meu irmão é muito fraco para bebidas, ele acabou dormindo e quando acordou, também não encontrou a carteira com o dinheiro e me ligou um pouco antes de você chegar pedindo o dinheiro emprestado. - Ah! Que isso Márcia eu te empresto o dinheiro e você dá para ele. - Não é isso Dr. João, dinheiro eu tenho aqui comigo e que cinco minutos antes de vir

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falar com você, a minha cunhada ligou desesperada, porque o gerente do motel chamou a Polícia Militar, alegando que o meu irmão estava demorando muito e a polícia já está lá, vão prender a minha cunhada. - Esse é aquele seu irmão que tem ataque epilético, de vez em quando? - Não quem tem ataque é o meu irmão mais novo, você poderia falar com os policiais? - Ligue para o motel e me transfira à ligação com o policial na linha. - Obrigado Dr. João. Em poucos minutos Márcia me transfere a ligação, dizendo “o meu irmão me aguarda para irmos juntos ao motel”. Achei que uma mentira epidemiologicamente correta, do tipo vamos, acabar com a dengue na capital, resolveria o problema: - Alô, com quem eu falo? - Soldado Jairo, do 1º Batalhão Militar, bom dia. - Bom dia, o meu nome é João, sou advogado, esse rapaz que está atrasado é irmão da minha secretária, ele se atrasou porque sofre de ataque epilético e infelizmente teve um e só

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acordou agora, veja só que coisa triste. Ligou desesperado para a irmã aqui no meu escritório de advocacia, mas o importante e que ela já está indo de carro para o motel, levando o irmão para pagar a despesa e “desempenhorar” a cunhada, em 30 minutos no máximo eles estarão aí. Será que o soldado poderia acomodar essa situação para a gente, pois o rapaz é gente boa, trabalhador e sofreu essa infelicidade. - Acomodo sim Doutor, coitado do rapaz é doente, a gente pensando que ele era um malandro de primeira, pois penhorou a mulher às duas e meia da madrugada e já são oito e meia da manhã. Fique tranqüilo Dr. João. - Muito agradecido soldado Jairo. - Márcia se manda para o motel e tire a sua cunhada do penhor, você veio com o seu carro hoje? - Não, vou pegar um táxi. - Nada disso, leve o meu carro. - Deus lhe pague Dr. João. Como eu gostaria que todos os meus casos advocatícios fossem assim, simples com soluções simplistas, criei até uma palavra nova, “desempenhorar”.

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Conto 1Conto 1Conto 1Conto 12222

A Top ModelA Top ModelA Top ModelA Top Model

AO FINAL daquela manhã quente de verão Isabel exausta termina uma longa sessão de fotos no Cais do Porto do Rio de Janeiro, desta vez ela foi fotografada para divulgar no exterior, as Olimpíadas-Rio 2016. Ela desejava chegar o mais rápido possível em São Paulo, chamou um Rádio-Táxi, na correria Isabel coloca sua mala no banco dianteiro do carro e agilmente senta-se no traseiro, pede para o motorista levá-la ao

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Aeroporto Santos Dumont, no início do percurso faz um telefonema para a companhia aérea, reservando uma passagem para a próxima Ponte Aérea. O motorista percebendo a pressa e agitação da modelo, gentilmente informa a ela que o táxi é equipado com geladeira e lhe oferece um copo de água mineral, ela aceita, em seguida ele lhe oferece finíssimas balas de chocolate recheadas com licor de menta. Isabel simpática e sorridente aceita somente uma, dizendo que não podia engordar nem um miligrama a mais. Em poucos minutos ela está completamente dopada, contudo percebe o desvio de caminho para lugar incerto e desconhecido, feito pelo motorista, mas não teve forças para reagir. A última coisa que Isabel se lembrou quando acordou foi a veemente ameaça de estupro feita por ele. A água começou a borbulhar a chaleira a chiar, o pânico toma conta de Isabel, amordaçada, amarrada pelas mãos e pelos pés, jogada ao chão nua a espera do seu algoz. A espera da sevícia anunciada pelo chiar estridente, angustiada ela conclui desesperada,

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“só a promessa do estupro de todos os jeitos, de todos os lados não lhe foi suficiente, ele precisa mais, precisa da minha dor”. Isabel reza com toda a sua Fé, em seguida investiga os sons além do chiar, nenhuma esperança, só ele quebrava o tétrico silêncio daquele galpão mal iluminado, sujo, cheirando a graxa e urina de ratos. Uma sombra incômoda se aproxima suavemente encobrindo-lhe as pernas, a chaleira fumegante está na mão dele. Ela olha no rosto do seu vil algoz, três ou quatro gotas de suor serpenteava-lhe o rosto, nenhuma lágrima, nenhum remorso se refletia naqueles olhos frios, insensíveis, os seus lábios avios, sedentos de dor, com fome de prazer. Apavorada ela analisa rapidamente aquele homem forte, totalmente nu e teso. Ele lentamente com a água fervida, faz um circulo ao redor do corpo de Isabel, nenhuma gota respiga-lhe sobre a pele, o prazer dele estava em observar o olhar aterrorizado dela. Depois vai até o táxi, deixa a chaleira sobre o capô e volta com uma navalha na mão. Isabel sente um estranho temor percorrer-

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lhe o corpo, seu coração bate cada vez mais rápido à medida que o algoz se aproxima vorazmente. Ele com um movimento brusco a livra da mordaça, ela geme, o algoz manda-a calar a boca e noticia com os lábios colados no ouvido direito dela “vou fazer você gemer, tremer de prazer em suas carnes macias”. Isabel empalidece petrificada de medo, em estado de choque frente à realidade que se aproxima o seu algoz com um único golpe de navalha livra os pés dela das cordas. Ele se posiciona para sacramentar o ato final de sua covardia. Quando algo lhe tira a concentração, ele perde a ereção, irritado, como nunca, diz a ela “sua mala está no banco da frente”, o algoz vai até o porta-malas do táxi e retira espumando de raiva, reclamando aos quatro ventos, o corpo morto do verdadeiro motorista. Ficou óbvio para Isabel que ele esquecera o corpo lá, aproveitando-se deste momento de absoluta desconcentração sexual do seu algoz, ela arrisca tudo ou nada. Pois Isabel percebeu que não sairia com vida desse terrível pesadelo e resolve desafiá-lo na medida dos pesos e na

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medida das forças psicológicas e grita a pleno pulmões “volte já aqui e termine já o que você começou seu frouxo!” Em uma explosão de fúria ele ameaça partir com tudo para cima dela, Isabel não se faz de rogada e diz em alto e bom som, com desdém “além de broxa o machão também é afeito em bater em mulher indefesa e amarrada.” Ele para desconsertado passa de violentador sexual a psicologicamente violentado, de algoz a vítima, de dominador a dominado, de ativo a passivo, nas mãos de Isabel. Ela então lhe propõe levá-la ao aeroporto e esquecer o acontecido, ele reluta com medo dela entregá-lo a polícia, Isabel com habilidade convence o homem que ela não ganharia nada o denunciando a polícia, muito pelo ao contrário, só perderia com a publicidade dada ao caso pela imprensa. Resignado ele a leva até ao aeroporto, ela paga normalmente a corrida, uma bela jovem se aproxima e entra no táxi, imediatamente após ela sair, o movimento no aeroporto é intenso. O táxi tem dificuldade em vencê-lo, e partir

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imediatamente, dando tempo suficiente para Isabel alertar os policiais de plantão no local e prendê-lo em flagrante, sem resistência a prisão. Algemado ele olha abismado nos olhos de Isabel e diz indignado “você prometeu, deu a sua palavra de honra que não me entregaria”, ela calma e com um discreto sorriso nos lábios, olhando fixamente nos olhos marejados dele, simplesmente responde “pois é eu menti.”

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Conto 1Conto 1Conto 1Conto 13333

A traiçãoA traiçãoA traiçãoA traição

O SOL já ia alto, lá pelas bandas do interior de Minas Gerais, quando o caipira Zé das Flores, falou para a Mariazinha: - Muié, tô indo trabaiá i só vorto di noiti. - Tá bão Zé, vai com Deus e vê se num esqueci o facão dessa veiz, respondeu ela sem demonstrar muito interesse pela saída do marido.

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Quando ele saiu da casa ao invés de ir para roça, subiu em um pé de manga e ficou bem escondido, só observando a sua mulher nos afazeres da casa. Depois de uns bons minutos aparece um negão, vai até o pé de manga e nem percebe que o caipira estava lá escondido. Pega uma manga e começa a chupar, pega mais uma, pega outra... pouco depois a mulher do caipira aparece e diz: - Pode vi negão, o Zé já foi pra roça! Sem titubear o negão joga fora a manga que estava chupando e entra na casa do caipira. Zé das Flores ficou transtornado, vermelho feito um pimentão, pega um facão e entra na casa. Quando ele abre a porta vê o negão chupando gulosamente os peitos da sua Mariazinha que estava peladinha, então levanta o facão e grita: - Vai morrêêêê negão!!! O negão calmamente saca um revolver 38 da cintura, aponta para caipira e diz: - Por que eu vou morrer?

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O caipira Zé das Flores, com voz tinhosa respondeu: - Chupô treis manga e agora tá tomando leite. Assim tu vai morrê negão, manga com leite faiz mar, agora seis dão licença que eu tô indo trabaiá na roça i só vorto di noiti, só vim pega o facão que tinha esquecido. Mas o negão não se convenceu muito com a resposta e perguntou firmemente: - Porque tá vermeio caipira? Zé não se fez de rogado e respondeu: - é qui to cum muita vergonha do sinhô cumpadi, ô só os peitão caído da muié, ô só esse barrigão, i essas perna cheia de veia, mi discurpi viu cumpadi, agora tô indo viu, fique a vontade. Depois desse dia Zé das Flores não voltou mais para a sua humilde casa, e pelo que se sabe o negão também não. *Nota do Autor: Conto adaptado do folclore mineiro.

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Conto 1Conto 1Conto 1Conto 14444

Terror no apagãoTerror no apagãoTerror no apagãoTerror no apagão

QUANDO Madalena soube da fuga de Ricardo do hospital psiquiátrico, pelo rádio do carro, sentiu um doloroso calafrio, este calafrio de medo e angústia percorreu seus ossos, relembrou bruscamente, depois de tanto tempo, aquele corpulento e estranho louco, talvez, maníaco psicopata, um medonho sádico. Ele era um homem jovem, com olhos de alucinado, olhos azuis penetrantes, possuídos pelo mal com pupilas inquietas, aterrorizantes e angustiantes para quem as viam.

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Aquele louco singular de olhar perturbador que lançava medo as pessoas, emanava ao redor de si um grande mal-estar, de sua alma e do seu corpo, dessas coisas incompreensíveis que nos fazem crer em influências sobrenaturais. Uma tempestade desenhava-se no céu, abafado e negro, depois de um dia de calor atroz, nenhum sopro de ar movia as folhas, com o ar condicionado do carro quebrado e o transito congestionado, um calor de forno oprimia o rosto de Madalena, fazendo o seu peito ofegar. Ela se sentia mal, agitada, desejava chegar logo em sua casa, tomar um bom banho, jantar e dormir o sono dos justos ao lado do marido Onofre. Então veio o clarão do raio acompanhado de um barulho ensurdecedor do trovão, um estrondo que percorreu a folhagem das arvores com uma rajada de vento gelado, em seguida o aguaceiro, a pancada d’água, chovia torrencialmente, depois o apagão tudo ficou as escuras, o transito piorou. Madalena conseguiu chegar a sua residência com quase uma hora de atraso, não

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havia energia elétrica. Quando ela entrou na sala, teve uma agradável surpresa a mesa posta à luz de velas, Onofre a espera sentada à mesa, segurando um copo de vinho. Madalena fechou a porta e escutou aquela voz demoníaca do Ricardo que lhe causava um estranho tremor de pânico pelo corpo, “voltei meu amor, para te possuir de novo, agora na frente do seu amado maridinho”. Imediatamente estranhos arrepios tomaram conta da sua pele, os seus pés vibravam ocultos, dentro dos sapatos. Ela se sentiu invadida de um temor confuso, poderoso, horrível, incrédula olhou para o marido, totalmente dominado, passivo, domesticado, assistia a tudo, não dizia nada. Madalena então ficou paralisada pelo medo, mas conseguiu pronunciar em alto e bom som “só não me corte de novo, não me faça sangrar novamente”. Em estado de hipnose Onofre viu Ricardo despir lentamente a sua Madalena, ela estava petrificada pelo pavor, pelo terror de ter a sua pele novamente retalhada superficialmente pela navalha, que brilhava a luz de velas.

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Ricardo penetrou Madalena de todos os jeitos, de todos os lados como um amante errante, fez-lhe tremer nas suas carnes, abriu-lhe como uma rosa preciosa, rasgou-lhe como folha de papel, ejaculou em suas pernas ternas, sem sangrá-la. Para depois se perder nas gotas de suor que serpentiavam o corpo da pobre Madalena com passos embriagados de prazer, ofegante lhe diz sussurrando-lhe ao ouvido “hora do jantar à luz de velas”. Madalena sentou-se nua à mesa, bem a frente de Ricardo, entre eles na cabeceira Onofre. Ricardo com grande satisfação diz a ela “foi o seu maridinho que fez o jantar, veja Madalena ele fez um bom arroz temperado com sal, alho, cebola e cheiro verde, depois fez está carne, primeiro ele a ferveu, depois tirou todas as membranas, deixando-a bem limpinha, em seguida a cozinhou com sal, depois às cortou nestas belas fatias quer você pode ver, em seguida às fritou na manteiga temperada com ervas finas, que eu achei na cozinha. São doze pequenas fatias, quatro para você, seis para mim, e duas para o corninho, coma Madalena está uma delícia”.

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Ela pegou o prato servido das mãos dele e comeu um pedaço, gostou do sabor sui geniris da carne, parecia-lhe até um carinho recebido. Ansiosa com medo avidamente comeu as outras três fatias, ao contrário de Ricardo que as saboreava lentamente como se fosse uma iguaria dos deuses, quando ele terminou, notou que Onofre não tinha tocado no prato. Então irritado disse “corninho coma já, senão não vai ficar fortinho, para defender a sua Madalena quando eu voltar aqui de novo para jantar.” Onofre pôs-se a tremer tão fortemente, que todo o seu corpo foi sacudido pelo tremor, um gosto amargo lhe subiu a garganta. Sentiu uma espécie diferente de náusea, ao mesmo tempo, que uma raiva cega, insensata, lhe convulsionava o peito, queria gritar, dar murros para liberta-se do horror desta realidade. Ele fechou os olhos para não mais ver o semblante perverso de Ricardo, de riso escarninho e boca mal cheirosa que cheia de prazer, lhe escarrava em pleno rosto palavras tão infames, os seus braços amolecidos pelo medo se recusavam a transportar a carne até a sua boca.

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Ricardo percebendo a indecisão dele pegou um pedaço de carne e disse-lhe, “coma corninho, coma”. Onofre comeu resignado, o naco de carne lhe fazia bola na boca, o desejo de vomitar era enorme, mas acabou engolindo-a, em seguida veio o segundo pedaço o desejo de vomitar lhe constrangia-lhe a garganta, no entanto passivamente engoliu a carne. Então Ricardo disse para os dois “vou embora com o seu carro Madalena, não se preocupe que vou retornar ao hospital, irá encontrá-lo estacionado lá”. Ele se levanta da mesa vai até Madalena, lhe dá um beijo na boca, depois até Onofre dá-lhe dois tapinhas no rosto e diz “só não te matei porque é um excelente cozinheiro”, se veste rapidamente e parte, sem dizer mais nada. Madalena com o seu coração remoendo ódio fuzilou Onofre com o seu olhar esfolador, lhe causando um estranho arrepio nos pêlos, a vergonha queimava-lhe o rosto, as palavras dela cortam o tétrico silencio da sala “seu covarde desclassificado, você não mexeu uma palha para me defender desse maníaco psicopata”.

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Neste exato momento a energia elétrica é restabelecida, a sala se ilumina toda e Madalena pode ver apavorara a profunda palidez na face de Onofre, seu rosto estava branco tal e qual uma vela. Ele levanta-se da cadeira com dificuldade e horrorizada Madalena viu os ferimentos do marido, só entendeu a real gravidade deles, quando Onofre lhe diz com a voz embargada “nos jantamos, os meus testículos.” Desesperada Madalena chama a polícia, pede uma ambulância, relata o destino do medonho sádico. O carro dela foi encontrado intacto, no outro dia perto de uma estação do metrô. Depois desta noite de apagão, ninguém soube mais nada sobre esse estranho louco corpulento, que atende pelo nome de Ricardo.

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Conto 1Conto 1Conto 1Conto 15555

A AmanteA AmanteA AmanteA Amante

ARNALDO mais uma vez saia do seu trabalho e observava aquela bela moça esperando o ônibus, no ponto ao lado do estacionamento que ele deixava o seu carro, discretamente passava por ela sentindo um estranho calafrio de desejo serpentear o seu corpo inteiro. Ele nunca havia traído a sua mulher, estava casado há 12 anos, tempo suficiente para fazer Arnaldo perder o traquejo da paquera e da sedução, mesmo assim ele pediu para o manobrista do estacionamento descobrir o nome da moça, ela se chamava Renata.

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E assim os dias iam passando, até que naquele fim de tarde chuvoso, ele tomou coragem e ofereceu uma carona a bela moça, a princípio Renata resistiu, mas a chuva apertou e ela aceitou. No caminho até a estação do metrô onde ela desceria, trocaram pouquíssimas palavras e um cartão com nome e telefone. A partir desse dia, todos os dias da semana, Arnaldo levava Renata até a estação do metrô, não falavam quase nada, mas naquele dia algo diferente aconteceu, Renata segurou o braço de Arnaldo com carinho é disse “eu quero trair o meu marido com você, me leve a um motel”. Atônito feito uma criança boba, ele respondeu “sim amor, já estamos a caminho”, o silencio do carro só era quebrado pelo som da respiração ofegante de Arnaldo, o suor frio brotava-lhe pela testa, suas mãos tremiam ao volante. Quando entraram no quarto, pareciam dois alucinados no cio, Renata arrancou-lhe o paletó e a gravata com violência, a camisa e as calças com urgência de gozar. Arnaldo penetrou Renata feito um amante errante,

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rasgo-lhe tal e qual folha de papel, abriu-lhe como uma preciosa rosa formosa e fez-lhe tremer em suas carnes macias. Eles se amaram como não houvesse amanhã, uma, duas, três vezes, na quarta Renata amarrou as mãos de Arnaldo na cama, subiu em cima dele, mas não cavalgou, ao invés disso começou a esmurrá-lo como uma louca desvairada, com uma força descomunal, ele não resistiu e desmaiou. Horas depois Arnaldo acordou dolorido, estava desamarrado e todo arrebentado, só teve a real noção do estrago quando foi procurar Renata no banheiro e se olhou no espelho, viu o seu rosto roxo, deformado pelo inchaço, não encontrou a moça, ela havia sumido. Furioso ele foi para o seu apartamento, e contou toda a verdade para a esposa Andressa, ela se descontrolou, não se conformava com a vil traição do marido e deu uma sonora surra no Arnaldo dizendo “já que gosta de apanhar de mulher, agora vai apanhar para valer”. Ele não reagia, apenas suportava em silencio, mais uma sessão de tortura. Depois sua mulher lhe falou aos berros “já que essa vagabunda quis

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acabar com o meu casamento, com o nosso casamento, somos nós que vamos acabar com o casamento dela”. Arnaldo pega o telefone e liga para a casa de Renata, o marido dela atende, ele diz com voz calma “hoje sua mulher usou uma calcinha vermelha, deixei uma marca de chupão na nuca dela, veja você mesmo seu corno manso”, em seguida desliga o telefone. Dias depois, logo que Arnaldo saiu para trabalhar, Andressa atende a campainha da porta do seu apartamento, Renata lhe diz “vocês acabaram com o meu casamento, agora não tenho para onde ir, vou ficar aqui”. Andressa penalizada, permite a entrada da moça no apartamento, mas diz que ela não poderia ficar lá, conversam longamente, colocam tudo em pratos limpos e uma estranha amizade começa a florescer entre elas, regada a ódio e admiração mútua. Renata ficou para o almoço e depois para o jantar, quando Arnaldo chegou do trabalho, levou um tremendo susto, mas os três conversaram e Renata acabou dormindo aquela noite no apartamento.

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Na manhã seguinte Renata não foi trabalhar novamente, ficou no apartamento ajudando Andressa nos afazeres domésticos, depois saíram para fazer compras, almoçaram fora e retornaram para o apartamento. No andar térreo confusas com tantos pacotes, o ódio acabou virando amor quando o elevador parou, elas nem perceberam. A porta se abriu e ia se fechando, quando juntas, ao mesmo tempo seguraram a porta e os pacotes, ficaram praticamente abraçadas, os seus seios se tocaram depois as pernas, isto de alguma forma mexeu com elas. Entraram finalmente no apartamento, Andressa sentia o coração bater mais rápido e simplesmente se aproximou de Renata, mais e mais ela tremia dos pés a cabeça e a resposta de Renata foi imediata um longo e delicioso beijo em Andressa. Ela sentia a pele de Renata ficando arrepiada, respondendo aos seus toques e carinhos, Andressa tocava o seio da amante, como se eles tivessem sidos feitos para o toque dela, instintivamente tiraram a roupa. Renata adivinhava os pontos fracos de Andressa como

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ninguém, e tremendo de prazer foram lentamente em direção ao quarto, à cama, os visinhos podiam até escutar os gemidos baixinho. Era a ternura de corpos se encontrando, se amaram delicadamente a tarde toda e adormeceram uma do lado da outra. Quando Arnaldo chegou do trabalho, mais cedo que o normal, às encontrou assim, nuas, dormindo abraçadinhas, ele levou um choque e saiu sem fazer barulho, sem acordá-las. Retornou na hora do jantar, jantaram normalmente como nada tivesse acontecido, para o desespero de Arnaldo escutou Andressa lhe dizer em alto e bom som “amor, a Renata vai ficar aqui, até arranjar um lugar para morar”. Sem palavras ele apenas concordou com a cabeça e teve a nítida sensação que os seus chifres doíam e pesavam demais. *Nota do autor: "A AMANTE" é uma adaptação livre inspirada no filme curta metragem “A Sauna”, de Marco Abujamra.

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Conto 1Conto 1Conto 1Conto 16666

O BaO BaO BaO Baileileileile

QUE espetáculo da natureza, que vistas soberbas, aparatosas. Que abismo de beleza sem rival. Vede aqueles montes, aquelas matas estes campos, vede que rios, que céu e que sol. Este é o território mato-grossense, é o Pantanal tocando todas as gamas da poesia na terra virgem.

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Índias donzelas no florejar dos anos, com saiotes de fios de pindaíba, dançavam em longas filas uma dança estudada, ensaiada, jovial e amável. Cantando e louvando Tupã criador das belas flores e da chuva mansa para mantê-las cada vez mais belas. Na grandiosa terra virgem, surpresas incontadas encantaram os seus destemidos desbravadores. Foi nesta época de bravura rumo ao desconhecido, que aconteceram os fatos que passo a narrar. Quando a roça e a criação do gado foram introduzidas na bela região, onde a única distração era a sanfona e a viola, depois de muitos dias de árduo trabalho. Aparecia gente com alma pura de todos os lados, muitos com as ferramentas e uma muda de roupa no embornal, alegres faziam um pequeno baile. Onde se dançava, jogava truco, muitos abusavam da pinga para criar coragem e dançar com a Rosinha ou com outra “Zinha”, ali no terreiro bem varrido com a sanfona tocando o batido e o trem bom até o amanhecer.

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Foi num desses bailes improvisados e amados pela gente simples da região pantaneira que a humilde mulher do Zezinho passou pelo pior bocado de sua vida. O fato começou quando um sujeito forte e arrogante com fama de “desmancha baile”, chamado Raimundo convidou a mulher do Zezinho para um arrasta-pé. A coitadinha primeiro escusou dizendo que não sabia dançar, ele insistiu e ela recusou dizendo que era casada e não ia dançar. Raivoso Raimundo olhou para o Zezinho jogando truco e se afastou sem mais delongas, encostando-se à chaleira do quentão, bebeu muito, depois foi embora sem criar caso ou arruaça para o alívio e surpresa de todos. O sol já ia alto quando Zezinho e sua mulher Juraci partiram rumo a sua morada lá nas terras do Coronel Guilhermino. No meio do caminho atravessaram um capão de mato e deram com o Raimundo e sua espingarda engatilhada na mão. Sem defesa o casal parou e rezou, mas não tiveram tempo de terminar, pois atenderam a ordem de

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Raimundo e ficaram pelados como bicho nascido de novo. Raimundo deu dois tiros que remexeram a terra por baixo dos pés de Zezinho e veio uma nova ordem, imediatamente atendida pelo casal. O marido tremulo batia palmas e assobiava uma alegre melodia, enquanto Raimundo dançava com a Juraci até ela ficar destrambelhada de tanto requebrar e o músico com os beiços duros de tanto assobiar, suas mãos ardiam como fogo. Satisfeito com o arrasta-pé, Raimundo ordenou que Zezinho fosse embora feito um cachorro livre da corrente, se não matava sua mulher. Depois abusou da pobre Juraci de todos os jeitos de todos os lados e foi embora dando gargalhadas ao vento. A coitadinha humilhada, vilipendiada, chorando muito se recompôs, levantou do chão e envergonhada foi para sua casa ao encontro do Zezinho. Chegou cabisbaixa, queria um conforto do marido, talvez até um carinho, mas o marido havia partido levando o cavalo baio, alguns mantimentos e o pouco dinheiro da casa. Inconformada com a covardia do

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Zezinho fugitivo, foi para a casa do Coronel Guilhermino. Com um enorme nó na garganta e muito envergonhada, emocionada Juraci contou ao coronel todo o ocorrido. Primeiro o coronel consolou a pobre mulher, depois amaldiçoou Raimundo e praguejou contra o covarde Zezinho, em seguida chamou quatro de seus peões e ordenou em alto e bom som "arreiem os cavalos e a charrete". Com tudo arrumado e todos armados partiram rumo a tapera de sapé de Raimundo, que dormia tranquilamente na rede quando chegaram. Raimundo acordou assustado, mas sozinho na humilde tapera e na mira de quatro espingardas nada pode fazer, a não ser gaguejar suplicando pela própria vida. O coronel ordenou e Raimundo imediatamente ficou pelado como um bicho nascido de novo, depois o coronel olhou para a Juraci e falou “agora é com você, seja feita a sua vontade” Com humildade mas sem piedade a pobre mulher falou “ eu só que a justiça de Deus, coronel”, que lhe respondeu “ tá certo, mas

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deixa que eu fazer a justiça dos homens”. E assim foi feito, com Raimundo chorando e clamando copiosamente, teve um arame liso muito bem enleado nas suas honras físicas com muito capricho e esteio, ele urrava feito garote na castragem. Em seguida amarraram a ponta do arame no pé do fogão a lenha e lhe deram uma faca muito bem afiada, mas sem a potência de um alicate para cortar o arame, depois veio a ordem do coronel em alto e bom som “taquem fogo na tapera” e assim foi feito. Restavam apenas dois caminhos para Raimundo: o suicídio ou desfazer-se dos seus elementos de procriação. Quando o fogo já lhe tostava os pelos, fechou os olhos e apartou-se do amarrado e com a faca ensangüentada em sua mão emprenhou-se mato a dentro pedindo perdão. Por muitos dias ele fez os curativos com pó de café e cordas de fumo picado, ficou vagando pelas matas espantando as varejeiras ate cicatrizar a auto-mutilação. E continuou vagando agora pelos vilarejos. O eunuco Raimundo ganhava comida, fumo e pinga,

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mostrando a cicatriz para o divertimento dos peões e dos pequenos comerciantes. Em pouco tempo engordou como um porco bem cevado, quando foi morar com um afro-descendente originário dos quilombos dos palmares, no meio da mata virgem. Depois disso ninguém soube de mais nada... *Nota do Autor: Conto adaptado do folclore nordestino.

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