Livros de Leitura Brasileiros

8/16/2019 Livros de Leitura Brasileiros

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Livros de leitura brasileiros: repositório de moralidade, piedade,

amor à família e à Pátria

Francisca Izabel Pereira Maciel (FM!"Isabel #ristina $lves da %ilva Frade (FM!"

&azumi Muna'ata (P#%P"

Marcia de Paula !re)orio *azzini (+I#$MP"

1. Apresentação

%e)undo I+#-+., L$/I*- e ./I+ (0112", o 3ue eles denominam 4forma

escolar5, cu6a inven78o teria ocorrido no decorrer dos s9culos I e II, caracteriza

se, entre outros aspectos, pela 4escrituraliza78ocodifica78o dos saberes e das práticas5:

ma peda)o)ia do desen;o, da m<sica, da atividade física, da atividademilitar, da dan7a etc= n8o se faz sem uma escrita do desen;o, uma escritamusical, uma escrita esportiva, uma escrita militar, uma escrita da dan7a= >modo de socializa78o escolar 9, pois, indissociável da natureza escritural dossaberes a transmitir= > modo de socializa78o escolar 9, portanto,indissociável da natureza escritural dos saberes a transmitir= (p= ?0="

$ transmiss8o desse códi)o tornase, portanto, a tarefa primordial da escola,

como reiteram I+#-+., L$/I*- e ./I+ (0112":

> ob6etivo da escola 9 de aprender a falar e a escrever se)undo re)ras )ramaticais,orto)ráficas, estilísticas etc= >ra, 9 preciso retomar o 3ue se tornou uma evid@nciacultural: a escola 9 o lu)ar de aprendiza)em da lín)ua= (===" $ forma escolar derela7Aes sociais 9 a forma social constitutiva do 3ue se pode denominar umarelação escritural-escolar com a linguagem e com o mundo= (p= ?B="

#ertamente, essa aprendiza)em da lín)ua, ou mel;or, do 4ler e escrever (econtar"5, n8o se es)ota no seu ob6etivo estrito, lin)Cístico: n8o se aprende a ler (e

escrever e contar" inocentementeD l@se, por eEemplo, as Civilidades=

> 3ue aprende, pois, a crian7a ao ler as Civilidades e, em se)uida, ao copiar cuidadosamente os in<meros tipos de escrita, diante de um professor (===" $prendea obedecer a certas re)ras G maneiras de comer, de assoar o nariz, de escrever etc= G conforme re)ras 3ue s8o constitutivas da ordem escolar, 3ue se impAem a todos(==="= (===" $ inutilidade, para a maioria dos alunos, de aprender n8o apenas a ler, mastamb9m a escrever (caligrafar " um )rande n<mero de escritas mostra bem 3ue,

contrariamente à id9ia, fre3Centemente proposta, se)undo a 3ual a 4fun78o da



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escola5 seria de 4transmitir saberes e o saberfazer5 (===", a inven78o da formaescolar se cumpre na produ78o das 4disciplinas5 escolares (p= 0H="

nesse meio, em 3ue saberes (escriturados" e disciplinas se mesclam, 3ue os

livros didáticos tornamse dispositivos privile)iados da escolariza78o= -les cont@m n8o

apenas a 4mat9ria5, mas tamb9m valores morais, comportamentais e nacionais= >

)@nero de livro didático, con;ecido como 4livros de leitura5, prestase bem a isso= $

título de eEercitar a leitura e a escrita, privile)iando ou n8o certos saberes, esses livros

constituem um imenso repositório de consel;os de moral, de bom comportamento, de

boa conduta, da piedade, de respeito ao próEimo, de amor à família e à Pátria, de

rememora78o dos feitos e datas considerados da 4nacionalidade5 ou da 4;umanidade5 e

at9 mesmo eEalta78o ao re)ime político de plant8o, al9m de tudo a3uilo 3ue se

considera di)no da forma78o da crian7a e do 6ovem: a natureza (e suas partes", o índio,

o folclore, os 4)randes vultos5 da ci@ncia, das artes, do desporto, da política etc=,

contanto 3ue representem o otimismo, a perseveran7a, a abne)a78o, o altruísmo e todas

essas atitudes tidas como nobres e elevadas=

+o Jrasil, a produ78o de livros didáticos só se iniciou no s9culo I, após a

transfer@ncia, em 0KK, da sede da monar3uia portu)uesa para o *io de aneiro e a

libera78o das atividades de impress8o= %abese, contudo, 3ue eram raros os livros

didáticos nas (pou3uíssimas" escolas de primeiras letras criadas pela primeira lei

brasileira de Instru78o P<blica, de 0KNH (J$.I%.$, NO, p= KH"= $os poucos, ao lon)o

do s9culo I, foramse introduzindo os livros didáticos no cotidiano escolar, mas

acompan;ar esse processo 9 eEtremamente difícil, pois, al9m da dimens8o continental

do Jrasil, o nível primário de ensino está, desde o dispositivo le)al denominado $to

$dicional de 0K?2, a car)o das Províncias (durante a Monar3uia" e dos -stados (desde a

proclama78o da *ep<blica, em 0KK1", constituindo respectivos sistemas de ensino= -m

conse3C@ncia dessa descentraliza78o, os livros adotados nas escolas s8o muitodiversificados, atendendo a p<blicos re)ionais e at9 locais= Muitas vezes, a própria

produ78o desses livros 9 re)ionalizada=

Por isso, o 3ue se apresenta a3ui 9 uma pe3uena amostra de volumes de cole7Aes

de livros de leitura brasileiros, neles privile)iando o 3ue ##$ (NK" denomina

4cenas de leitura5: ilustra7Aes 3ue tematizem a leitura, se6a na escola ou fora dela, e

teEtos 3ue abordem a prática de leitura= %8o livros 3ue recobrem 3uase 0 anos, desde

o s9culo I at9 o início dos anos 01B= +o início, 3uase sem ilustra7Aes, estas lo)o passam a rec;ear as pá)inas, muitas vezes apenas para ilustrar o teEto, mas, em al)umas



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ocasiAes, tamb9m para possibilitar realiza78o de eEercícios= > uso das cores tamb9m vai

se tornando predominante= -sses livros, 3ue mant@m, por todo o período o formato

padr8o em torno de 02cm Ncm, tamb9m se caracterizam pela lon)evidade, com

sucessivas edi7Aes por d9cadas= +o decorrer dos anos 01B, esse padr8o editorialentraria em crise: uma nova )era78o de autores, n8o mais t8o lon)evos, e novas casas

editoriais passam a produzir livros num formato maior, com uma dia)rama78o cada vez

mais rebuscada=

2. Primeiro Livro de Leitura, de Abilio Cesar Borges

$bilio #esar Jor)es (0KN20K10", bar8o de Maca;<bas, fundou várias institui7Aes de

ensino, renovando em vários aspectos as práticas e os m9todos peda)ó)icos= > seu

Primeiro Livro de Leitura para Uso da Infância Brasileira (0KBK" representa uma

tentativa de simplificar o ensino de leitura, como esclarece o autor em 4*apidas

considera7Aes sobre o met;odo se)uido nQeste livrin;o5:

opini8o min;a muito anti)a, 3ue si as crean7as, depois de con;ecido o alp;abeto,deparassem lo)o, na reuni8o das letras em sRllabas, com palavras 3ue l;es fossem

familiares, combinadas em curtas ora7Aes 6á por elles usados no tracto domestico, n8o soaprenderiam a ler rapidamente, mas aprenderiam com )osto, por encontrarem, nas suas primeiras li7Aes de leitura, 6ustamente as palavras e p;rases 3ue estavam accostumadas aouvir e a fallar em suas casas, e cu6a si)nifica78o, portanto, l;es n8o seria estran;a=

#omo se v@ nesta capa da 02S edi78o 4revista e mel;orada5, a impress8o da obra foi

realizada em JruEelas, J9l)ica=

3. A Cartilha Nacional , de Hilário Ribeiro

/ilário *ibeiro de $ndrada e %ilva (0K2H0KKB" publicou entre os anos 0KH e 0KK,

pela editora #arlos Pinto T #ia (JI..-+#>*., 011?:0NO" e, depois, pela !arnier,

3uatro livros de leitura, 3ue compun;am a 4%9rie Instrutiva, Li7Aes no Lar5, al9m de

uma Gramática elementar e a Geografia do Rio Grande do ul = +o Primeiro livro de

leitura ou ila!ário, /ilário *ibeiro eEplica o m9todo para ensinar a ler sem se referir à

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escrita, aus@ncia refletida materialmente na obra pelo uso eEclusivo da letra de imprensa

e pela apresenta78o )ráfica das palavras, com as sílabas sistematicamente separadas por

;ífen= .ais livros foram premiados na -Eposi78o Peda)ó)ica do *io de aneiro em 0KK?

e, em 0KKO, /ilário *ibeiro, 6á professor do Imperial Liceu de $rtes e >fícios do *io deaneiro, publicou pela Livraria Francisco $lves a Cartil"a #acional ou #ovo primeiro

livro de leitura para 4o ensino simultâneo de leitura e escrita5= > sucesso da obra pode

ser verificado nas informa7Aes contidas nas capas das várias edi7Aes: a de 0KKH 6á 9

nona edi78oD a de 0101 9 N2S edi78oD por fim, a de 01O1 9 de n<mero N2B= +a edi78o

anterior, tamb9m de 01O1, o autor eEplica o m9todo simultUneo de alfabetiza78o:

Método a seguir

$ Cartil"a #acional tem por fim ensinar simultaneamente a ler e a escrever =#omo a arte da leitura 9 a análise da fala, levemos desde lo)o o aluno a con;ecer os valores fVnicos das letras, por3ue 9 com o valor 3ue ;á de ler e n8o com onome delas=ma vez 3ue o aluno con;e7a perfeitamente o elemento fVnico correspondente acada vo)al, come7ará o professor a ensinarl;e a escrever com )iz, no 3uadro

preto, primeiro o i, 3ue 9 a vo)al mais elementar, e sucessivamente o u, e, o, e oa= (p= O1"

$ Cartil"a #acional se diferencia de seu antecessor, o ila!ário, pelo uso da letra

cursiva 6unto com a letra de imprensa em todas as li7Aes e pela apresenta78o das

palavras sem a separa78o das sílabas= -mbora o autor estivesse persuadido de 3ue o

novo m9todo de alfabetiza78o da Cartil"a nacional fosse por muitos considerado

superior ao anti)o, o ila!ário tamb9m continuou a ser reeditado at9 012O, data da 0NO a

edi78o= $ reedi78o dessas duas obras do mesmo autor sinaliza 3ue n8o ;avia consenso

3uanto ao mel;or m9todo de alfabetiza78o e 3ue os novos m9todos n8o eram

;e)emVnicos=

$3ui tamb9m se apresentam pá)inas da #artil;a, com li7Aes contendo as palavras 4leia5

e 4escola5=

3. A “Coleção oão !"p#e$

>s livros de o8o &Wp'e (0KO?01NB", fil;o de /enri3ue &Wp'e, dono de famoso

col9)io em Petrópolis (*io de aneiro", eEpressam didaticamente a tend@ncia

moralizante de leitura= -m 0KH2, o8o &Wp'e publicou o $%todo racional e rápido para

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aprender a ler sem soletrar& dedicado ' infância e ao povo !rasileiro com o ob6etivo de

substituir os silabários, livro reeditado em 0KH1= +o entanto, os livros 3ue alcan7aram

maior sucesso foram os da 4%9rie *an)el Pestana5, cinco volumes intitulados Leituras

(ou Liç(es" morais e instrutivas ()o

Livro, 0KK2", se)uidamente reeditados at9 meadosdo s9culo = -ntre animais variados e persona)ens infantis desenrolamse cenas 3ue

evocam o bem, a esmola, o trabal;o, a ;onra, a obedi@ncia, etc=

o8o &Wp'e publicou ainda as Leituras práticas e as *á!ulas, cu6o eEemplar de 0K10

(provavelmente a 0a edi78o" publicado pela .eiEeira T Irm8o de %8o Paulo, traz na

contracapa a lista de todos os livros didáticos de o8o &Wp'e, os 3uais seriam

reeditados pela editora Laemmert em 010, depois pela Livraria Melilo (01?" e

finalmente, a partir de 01K, pela Livraria Francisco $lves, onde foram continuamente

reeditados at9 a d9cada de 01O= $3ui, a obra focalizada 9 +ist,rias de $eninos na Rua

e na scola (NX Livro", NOS edi78o, de 01OK= -m seu 4Prefácio5, eEtraído da edi78o de

01?2, o autor apresenta o livro eEemplificandol;e o conte<do com uma narrativa

moralizante=

%. Leituras infantis, de &ran'is'o (iana.

$ Cartil"a Leituras Infantis, de Francisco Furtado Mendes iana, teve sua primeira

edi78o publicada em 0K1O= dessa obra a 6á clássica frase 4> Ivo viu a uva5= $presenta

se a3ui a capa da 2KS edi78o, de 012O, retirada do Yebsite do #entro de *efer@ncia em

-duca78o Mario #ovas, da %ecretaria -stadual da -duca78o de %8o Paulo

(;ttp:ZZYYY=crmariocovas=sp=)ov=brZob6[a=p;pt\cartil;as0"= $3ui tamb9m se mostra

outra obra de Francisco iana, em coautoria com Mi)uel #arneiro r=, +ist,rias para

Pe.ueninos (Leitura preparatória da s9rie 4Leituras infantis5", numa vers8o

4modernizada e cuidadosamente revista5 da 1OS edi78o, de 01OH=

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). A série “*edrin+o$, de ourenço &il+o

Manoel Jer)strWm Louren7o Fil;o (0K1H01H", uma das principais fi)uras do

movimento da c;amada -scola +ova no Jrasil, foi, em meio a diversas atividades 3ue

manteve na administra78o p<blica, tamb9m diretor da s9rie 4Jibliot;eca de -duca78o5

da editora Mel;oramentos (*$I+I, NHD M>+$*#/$, 011H"= $li produziu vários

títulos de livros didáticos, entre os 3uais a s9rie 4Pedrin;o5 G pe3uenas ;istórias 3ue,

valendose das narrativas de aventuras, apresentam conte<dos de !eo)rafia, /istória,

#i@ncias etc=, )eralmente com caráter moralizante e patriótico, como mostram os

fra)mentos dos sumários de /venturas de Pedrin"o (1S edi78o, 01B2" e de Leituras de

Pedrin"o e $aria Clara (0NS edi78o"= +o caso de /venturas de Pedrin"o, se)undo o

parecer da #omiss8o -special de Leitura, publicado numa pá)ina da própria obra,

4tratase de um livro de classe, vivo e interessante, em 3ue a prática de leitura se ac;a

associada, de maneira ;armoniosa, ao estudo dos con;ecimentos )erais=5 - numa li78o

de Pedrin"o e eus /migos, o nome da escola 9 preteEto para falar sobre /istória do

Jrasil e seus vultos ilustres=

-. Latinidade, de . . de Aleida

+o Jrasil, a lín)ua latina permaneceu na )rade curricular do curso secundário at9 3uase

o final dos anos 01B= Para suprir as necessidades dessa disciplina escolar, ;avia livros

de leitura, contendo teEtos em latim, elementos de )ramática e eEercícios, como no livro

de = L= de $lmeida, a3ui apresentado= +este livro, ;á inusitadas cenas pretensamente deleitura: na capa e na pá)ina de rosto, uma situa78o 4escolar5, em 3ue os alunos

aprendem rudimentos de aritm9ticaD na 4]9cima li78o5, consulentes l@em na bibliotecaD

e na 4]9cima 3uinta li78o5, #orn9lia escreve carta a seu fil;o Paulo=

Re/er0n'ias bibliográ/i'as

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J$.I%.$, $ntonio $u)usto !omes (NO" Pap9is vel;os, manuscritos impressos: paleó)rafos ou livros de leitura manuscrita= In $J*-, Márcia e%#/$P>#/+I&, +elson (or)="= Cultura Letrada no Brasil = #ampinas: Mercadodas Letras, pp= KH00B=

JI..-+#>*., #irce Maria Fernandes (011?" Livro ]idático e #on;ecimento/istórico: uma /istória do %aber -scolar= %8o Paulo= .ese (]outorado em /istória" Faculdade de Filosofia, Letras e #i@ncias /umanas, niversidade de %8o Paulo=

##$, /9ctor *ub9n (NK" Ret,rica de las escenas de lectura en las carátulas

del li!ro escolar = Jiblioteca virtual del ProRecto *-L--, *edes de -studios enLectura R -scritura, Ministerio de -ducación, $r)entina=

M>+$*#/$, #arlos (011H" Louren7o Fil;o e a Jibliot;eca de -duca78o= InM>+$*#$, #arlos (or)=" Louren7o Fil;o: >utros aspectos, mesma obra= %8oPaulo Z Marília: Mercado de Letras Z nespMarília=

*$I+I, Marcia de Paula !re)orio (NH" $ Produ78o de Livros -scolares da -ditoraMel;oramentos na Primeira *ep<blica= .rabal;o apresentado ao +<cleo dePes3uisa (+P" Produ78o -ditorial, do #on)resso Jrasileiro de #i@ncias da#omunica78o, I+.-*#>M, %antos, em ;ttp:ZZYYY=intercom=or)=brZpapersZnacionaisZNHZresumosZ*02H1N=pdf

I+#-+., !uRD L$/I*-, JernardD e ./I+, ]aniel (0112" %ur lQ;istoire e la t;9orie

de la forme scolaire= In incent, !uR (dir="= L0%ducation prisionni1re de la forme scolaire2 colarisation et socialisation dans les soci%t%s indsutrielles3 LRon:Presses niversitaires de LRon= /á uma tradu78o brasileira, por ]iana !on7alvesidal, em -duca78o em *evista, n= ??, 6unZN0, pp= H2H=

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