Livros digitais e design: uma reflexão sobre estratégias de mediação editorial
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7/31/2019 Livros digitais e design: uma reflexo sobre estratgias de mediao editorial
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Livros digitais e design:uma reflexo sobre estratgias de mediao editorial1
Raquel CASTEDO2Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS
ResumoO artigo identifica e sistematiza aspectos relevantes para a reflexo em torno do quetradicionalmente denomina-se livro com o propsito de discutir acerca do papel do designna configurao destes produtos no mercado editorial digital. Com base nos conceitosmidiamorfose, remediao e mediao editorial, foram analisados trs produtos editoriaispara tablet iPad: um no formato EPUB, outro em PDF e um aplicativo. Identificou-sediferenas formais entre os projetos a fim de tensionar elementos da teoria a partir daobservao emprica, evidenciando que a realidade do designer editorial de hoje o afasta deuma maior especializao nas mincias do impresso, estvel e permanente, e o leva demodo acelerado s experincias da fluidez digital.
Palavras-chave
Livro digital; design editorial; remediao; mediao editorial.
Introduo
Em um mundo em que os investimentos so cada vez maiores em desenvolvimento de
hardwares e softwares capazes de manter as pessoas conectadas em rede, a cada dia por
mais tempo, as publicaes digitais ganham espao. 106 milhes de tablets devem chegar
s lojas este ano diz manchete no blog sobre cultura digital de O Estado de S. Paulo3, nodia 15 de maro de 2012. Perto dos 350 milhes de computadores pessoais que chegaram s
lojas em 2011, ainda parece pouco, mas significativo se pensarmos que mais de 370 mil
aparelhos foram vendidos nos trs primeiros meses de 2012 s no Brasil. Isso representa
um aumento de 351% sobre o mesmo perodo do ano anterior. Este movimento do mercado
de informtica tem repercusses em diversos segmentos da economia e impacta diretamente
o mercado editorial.
Buscando por ofertas de livros digitais para iPads na loja de aplicativos da Apple,
possvel localizar alguns exemplares curiosos. The Fantastic Flying Books of Mr. MorrisLessmore, lanado em 2011 e que leva a assinatura do Moonbot Studios, foi desenvolvido a
partir de uma animao premiada do estdio. As pginas da publicao apresentam um
layout que se repete em praticamente toda a edio, com um filme feito com animao 3D
1Trabalho apresentado no GP Produo Editorial, XII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicao,evento componente do XXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao.2 Professora das reas de Design e Produo Grfica da Faculdade de Comunicao Social PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande do Sul (FAMECOS/PUCRS), Porto Alegre, RS. Doutoranda peloPrograma de Ps-Graduao em Comunicao e Informao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(PPGCOM/UFRGS), Porto Alegre, RS. Diretora de design na empresa Roka Estdio. E-mail:
[email protected] em:http://blogs.estadao.com.br/link/106-milhoes-de-tablets-devem-chegar-as-lojas-este-ano/.Fonte: International Data Corporation. Acesso em 26 de junho de 2012.
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rodando na parte superior da tela e uma barra na parte inferior com o texto que corresponde
ao udio com a voz de um narrador. Podemos tranquilamente confundir o livro com um
vdeo legendado. Por que chamar de livro este texto para ser lido em dispositivos digitais,
se potencialmente todas as mdias esto presentes nele?
Na verso digital lanada como aplicativo (app) em 2011 para o livro Our Choice4 deAl Gore (Editora Push Pop Press), vemos a unio de textos e diversos recursos interativos,
com uso de imagens estticas, imagens em movimento, udio e inclusive interao por
voz/entrada de udio. Outras publicaes digitais contam atualmente com menor variedade
nos tipos de contedos que disponibilizam, como livros em EPUB5 que funcionam muito
bem para textos mas no to bem quando as imagens so o contedo prioritrio, por
exemplo. Por outro lado, j no final da dcada de 1990 e incio dos anos 2000, encontramos
websites com poesia interativa, como o caso do projeto Ciberpoesia6 de Srgio Capparelli e
Ana Gruszynski, montado pelo empresa de design W3Haus. Neste caso, um livro impressooriginou o website, em uma poca em que no existiam muitas experincias deste tipo na
rede.
So vrias as possibilidades de publicao de um texto digitalmente. Temos acesso
atualmente a livros digitais que unem texto, imagem e graus maiores de interao (para
alm do folhear das pginas impressas) e a outros que priorizam o texto como contedo
principal, como os em formato EPUB. Existem tambm os livros em PDF que podem
transportar para a tela a forma grfica de um livro composto inicialmente para ser impresso,
ou ter uma formatao e recursos interativos j pensados para o meio digital. Seriam todos
livros digitais do mesmo tipo? Por que cham-los de livros, se alguns remetem mais a
filmes de animao do que a brochuras impressas? Quais so as diferenas e similaridades
entre livros impressos, livros digitais e websites?
Com este artigo, pretende-se identificar e sistematizar aspectos relevantes para a
reflexo em torno do que tradicionalmente denomina-se livro com o propsito de discutir
acerca do papel do design na configurao destes produtos no mercado editorial digital.
Para isso, conceitos como midiamorfose, remediao e mediao editorial sero abordados
e ser proposta uma discusso acerca do design de trs produtos editorias digitais
especficos.
Das mdias impressas s digitais: midiamorfoses
Para Roger Fidler, a transformao da mdia comunicacional normalmente ocorre
mediante uma complexa interao entre necessidades percebidas, presses competitivas e
4O vdeo de apresentao que parte inicial do livro digital est disponvel em .Acesso em 24 de junho de 2012.5Eletronic Publication: um formato de arquivo digital padro especfico para e-books. livre e aberto e foicriado pelo International Digital Publishing Forum (CICOM). Projetado para contedo fluido, a tela de texto
pode ser otimizada de acordo com o dispositivo usado para leitura. Este padro foi pensado para funcionarcomo um formato nico oficial para distribuio e venda de livros digitais.6Disponvel em . Acesso em 24 de junho de 2012.
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polticas, e inovaes sociais e tecnolgicas (FIDLER, 1997, p. 23). Midiamorfose
apresentada pelo autor mais como uma maneira unificada de pensar sobre a evoluo
tecnolgica dos meios de comunicao do que como uma teoria propriamente. Ao invs de
estudar cada forma separadamente, este modo de pensar encoraja a examinar todas as
formas como pertencentes a um sistema interdependente, e a notar as similaridades erelaes que existem entre passado, presente e formas emergentes. Por meio do estudo do
sistema comunicacional como um todo, percebe-se que as novas mdias no surgem
espontaneamente e independentemente elas emergem gradualmente da metamorfose de
mdias antigas. Quando novos meios de comunicao emergem, as formas mais antigas
normalmente no morrem elas continuam a evoluir e se adaptar.
Fidler (1997) separa em trs os domnios miditicos bsicos: o interpessoal, o de
difuso (broadcast) e o documental. No domnio interpessoal, por exemplo, esto as cartas,
os e-mails, os chats, as redes sociais on-line; no de difuso, o rdio, a TV; e no documentalesto os livros, os jornais, as revistas, os documentos hipertextuais. O autor define alguns
traos inerentes a cada mdia. Em relao ao fluxo e controle da comunicao do domnio
documental, foco deste artigo, percebe-se o emprego de intermedirios que tm o forte
poder na definio do contedo e o fluxo das mensagens. Por esta razo uma forma de
comunicao mediada. Outras caractersticas deste domnio so o fluxo de mensagem de
um emissor para vrios receptores, a comunicao textual/visual com contedo formatado e
apresentado prioritariamente atravs de dispositivos portteis. As caractersticas que
definem estes domnios, segundo o autor, tomaram forma ao longo de milhares de anos por
dois agentes de mudana: a lngua falada e a lngua escrita. Com cada grande metamorfose
que sucedeu o desenvolvimento e propagao desses agentes, novas mdias emergiram e
mdias existentes se transformaram dentro de cada domnio. Ao longo deste longo e
espordico processo, as distines entre os domnios se mantiveram pela relativamente
previsvel propagao de suas caractersticas dominantes. Porm, a partir da dcada de
1970, a rpida expanso da tecnologia digital, junto dos trs domnios miditicos, nos
trouxe a um estgio novo e radicalmente diferente, ao qual Fidler d o nome de era da
engenharia digital. Este perodo marcado pela combinao dos atributos dominantes dos
domnios miditicos. Ainda que as caractersticas hbridas que emergem da engenhariadigital possam fazer os domnios miditicos menos diferentes, ou mesmo levem criao
de um quarto domnio, eles ainda sero afetados pelos princpios da midiamorfose. Ou seja,
as transformaes sero afetadas pela complexa interao de necessidades percebidas,
presses competitivas e polticas, e inovaes sociais e tecnolgicas.
Neste contexto, todas as mdias citadas vm se modificando em maior ou menor grau,
com maior ou menor velocidade. E os domnios, na lgica descrita por Fidler, deixam de
apresentar limites to definidos, a partir dessa hibridao. Em que a engenharia digital
modifica o mundo do livro, especialmente no que diz respeito ao design das publicaes?Talvez um dos principais pontos a serem pensados que agora os editores precisam se
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preocupar com o livro sendo criado para ser lido em novos dispositivos de leitura que
dificultam a fixao da forma do texto (FURTADO, 2006).
Elizabeth Castro, em seu livroEPUB Straight to the point(EPUB Direto ao
ponto), apresenta questionamentos sobre quo diferentes um livro EPUB e um website
realmente so, j que ambos so escritos em HTML e formatados em CSS, ambos seajustam aos limites dos sistemas nos quais so visualizados e ambos so acessados
eletronicamente. Outra questo levantada pela autora : o que distingue um e-bookde um
livro impresso? Neste caso tambm existem similaridades. Alm do contedo poder ser
bastante parecido, a ideia da pgina como unidade de informao est presente em ambos.
A lgica de navegao tambm muito prxima, na medida em que a leitura geralmente se
d do incio de uma pgina ao final da mesma antes de passar para a prxima.
Para responder a estas questes, a autora apresenta e discute nove pontos principais
que aproximam e afastam livros impressos, e-books e websites: contedo esttico xcontedo dinmico (relativo a atualizaes em e-books e websites); aparncia (design fixo x
design varivel); forma de leitura (da esquerda para direita x de cima para baixo); ordem de
leitura (iniciando de onde o leitor desejar x iniciando de onde o editor desejar); formato,
durabilidade e baterias (obsolescncia, resistncia queda e necessidade de fontes de
energia para leitura); possibilidade de busca (sumrios e ndices impressos x ferramentas
eletrnicas de busca); armazenamento e compartilhamento de trechos e anotaes; proteo
contra cpia; compra de novos ttulos (facilidade de acesso aos websites de compras a partir
de links no prprio e-bookou a partir de bancas virtuais para aquisio de edies digitais)
(CASTRO, 2011). Como o enfoque da autora so os livros em formato EPUB, ela no
chega a questionar a diferena conceitual entre livros digitais em formato EPUB ou mesmo
em PDF e aplicativos, mas parece claro que esses produtos no podem ser tratados como
similares.
Livros impressos e digitais, websites, aplicativos, so formas diferentes de veiculao
de um mesmo texto, escrito preliminarmente por um autor. Cada forma dever ser escolhida
dependendo do leitor que se pretende atingir, e o tipo de leitura que se pretende propor. As
pginas deixam de ser de papel e passam a ser formadas por pixels. Alm disso, no mbito
digital, o texto depende de um dispositivo eletrnico de leitura para materializar-se.Situao muito diferente da que os editores de livros impressos encontraram nos ltimos
sculos.
O livro impresso no livro digital: toda mediao remediao
Para Furtado (2006), deve-se sublinhar a emergncia de uma realidade completamente
nova e da maior importncia para a nossa relao com os livros. O autor destaca que a
mediao tecnolgica estranha ao mundo do livro. Diferentemente de udio e vdeo,
mediados atravs da tecnologia de equipamentos de leitura, o livro impresso sempre teve a
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vantagem de ser imediatamente visvel, folhevel e consultvel e de ser fcil de emprestar
(FURTADO, 2006, p.89).
O livro impresso corresponde a uma particular tecnologia de produo, transmisso e
conservao do texto, que influencia o tipo de textualidade produzida, transmitida e
conservada (RONCAGLIA, 2001 apud FURTADO, 2006). Apesar do impresso ser ummodo de baixa mediao tcnica, preciso levar em conta a tecnologia empregada em sua
produo especfica, que define em grande parte o processo de transformao do texto em
um objeto a ser lido, neste caso, um livro.
Ler, assistir ou ouvir um mesmo texto implica em experincias distintas.O desafio est em lidar com a dialtica entre contedo e forma sem deixar-se tomar pelo logocentrismo ou pelo determinismo tecnolgico. Ascaractersticas especficas dos dispositivos exigem, pois, uma atenorelativa ao suporte, bem como s tecnologias que o gerenciam eformatam. Os elementos estruturais do texto, seu gnero, suasespecificidades narrativas, por outro lado, imbricam-se a essa base
material, tecendo relaes espaciais e temporais e esboando condies derecepo. (GRUSZYNSKI, 2009a, p.5)
A engenharia digital destacada por Fidler (1999), ao permitir o desenvolvimento do
livro digital, potencializa mudanas no objeto de leitura. Para Furtado (2006), podemos
destacar algumas mudanas fundamentais entre o livro impresso e digital. A questo do
suporte essencial para o estabelecimento do estatuto dos textos, pois atravs deles que se
identificam as modalidades concretas de presentificao dos textos. Os contedos devem ser
reclassificados e reordenados no sistema de conhecimentos para assegurar uma nova
eficcia simblica exigida pelo novo meio. Alm disso, o contexto de leitura muda, uma vezque os dispositivos empregados para a leitura digital, sejam eles um tablet, um e-reader, um
laptop ou um desktop PC, alteram a portabilidade do texto e o modo de leitura.
[] Tablets (aparelhos multifuncionais) e e-readers (suportes especficospara leitura de e-books) funcionam como aparelhos que interpretamcdigos e metadados, permitindo a leitura de livros, revistas e jornais naverso digital. Contudo, ambos possuem diferentes caractersticas queabrangem desde o design at as funes e aplicativos. No Brasil, asmarcas de tabletque se estabeleceram recentemente com destaque nocomrcio correspondem ao iPad, da Apple; o GalaxyTab, da Samsung;Xoom, da Motorola e o V9, da ZTE. Esses suportes podem apresentarrecursos como: navegao na internet, aplicativos para leitura de livros,
jogos, vdeos, gravaes de voz, cmera fotogrfica, dispositivos de udio,alm de uma interface touch-screen em que o usurio manipuladiretamente o objeto na tela. Entre os tablets, o iPad um dos que possuimaior apelo comercial devido no somente ao sucesso e a credibilidade daprpria empresa, mas tambm pela usabilidade do aparelho. J os e-readers apresentam recursos mais especficos para a leitura de livrosdigitais (no apresentando, portanto, tantas funes multifuncionaisquanto os tablets.) Entre os e-readers mais comercializados no Brasilencontram-se o Kindle, da Amazon; Cooler, da Gato Sabido e PositivoAlfa, da Positivo. Os tablets permitem uma fcil mobilidade, alm depossibilitarem o armazenamento de um grande nmero de livros digitais.(OLIVEIRA e SEHN, 2012, p. 120)
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Para tentar abarcar a complexidade dos fenmenos referidos por Furtado, o prprio
autor remete a Bolter e Grusin (1999) ao apresentar o conceito de remediao, a fim de dar
conta da operao de transferncia de contedos para outros suportes, modificando as
mdias existentes e criando novas mdias. Dentro do conceito de remediao possvel
identificar duas estratgias: imediacia e hipermediacia. A imediacia um estilo derepresentao visual cujo objetivo fazer o observador esquecer a presena da mdia e
acreditar que se encontra na presena dos objetos e representao, em uma tentativa de
representao transparente do real. J na hipermediacia, a representao visual pretende
tornar o meio explcito, sublinhando sua prpria opacidade.
Segundo Bolter e Grusin (1999), a remediao no comeou com a introduo da
mdia digital. Podemos identificar o mesmo processo ao longo do ltimos sculos de
representao visual no Ocidente.
Uma pintura do sculo XVII do artista Pieter Saenredam, uma fotografiade Edward Weston, e um sistema de computador para realidade virtual sodiferentes em vrios aspectos importantes, mas so todos eles maneiras deatingir imediacia por ignorarem ou negarem a presena do meio e o ato demediao. Todos eles buscam colocar o observador no mesmo espao dosobjetos vistos. [] O pintor ilusionista emprega perspectiva linear eiluminao "realista", enquanto o especialista em computao grficamatematiza a perspectiva linear e cria "modelos" de sombreamento eiluminao. Alm disso, o objetivo do especialista em computao grfica fazer to bem quanto, e s vezes melhor, do que o pintor ou mesmo ofotgrafo7. (BOLTER e GRUSIN, 1999, p.11)
Na histria do design de livros, percebe-se a variao ocorrida com o passar dos anos
no que os designers acreditavam ser uma pgina bem projetada. William Morris, um dosdesigners fundadores do movimentoArts and Crafts, criou a editora Kelmscott Press no
final do sculo XIX com o objetivo de dar qualidade e valor moral s obras impressas
(BIERUT et al, 2010). Em um artigo escrito em 1893, Morris fala sobre as pginas do
livro ideal, que deveriam ser claras e de fcil leitura, com tipografia bem projetada e
margens proporcionais mancha. Suas ideias progressistas de uma exatido formal que vo
alm do mero estilo fazem dele, na opinio de vrios historiadores, um pioneiro do design
moderno. O pensamento de que a tipografia deveria ser transparente, servindo como um
elemento que d forma a um contedo sem nele interferir, deixando-o transparecer em todasua completude, aparece em vrios projetos de design grfico ao longo do sculo XX, mas
prioritariamente no design de livros. Para Richard Hendel, autor do ttulo O design do livro
publicado pela primeira vez em 1998 nos Estados Unidos, se a impresso a arte negra, o
design de livro pode ser a arte invisvel (HENDEL, 2003, p. 1). Neste caso, a tentativa de
deixar aflorar as palavras, sem que o leitor perceba o design da pgina, est ligada mais
tentativa de fazer com que o leitor esquea a presena da mdia e acredite estar na presena
do texto do autor da forma mais pura possvel, movimento mais prximo da imediacia do
que da hipermediacia. Para Bolter e Grusin (1999), imediacia, hipermediacia e remediao7Traduo da autora.
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no so verdades estticas universais, mas sim prticas de grupos especficos em tempos
especficos.
Assim como a imediacia, a hipermediacia tambm tem sua histria. Um manuscrito
medieval iluminado ou um aplicativo multimdia com botes e janelas so expresses de
uma fascinao com o meio. Bolter e Grusin (1999) lembram que em manuscritosmedievais, as grandes iniciais capitulares podem ter sido elaboradas para decorao, mas
elas ainda assim constituem parte do prprio texto, e ns somos desafiados a apreciar a
integrao entre texto e imagem. No design grfico, esta estratgia foi potencializada a
partir da dcada de 1970 com a computao grfica a nveis impensveis at o final do
sculo XIX. Para designers ps-modernos, como Paula Scher e David Carson, o
questionamento dos modelos de legibilidade so um valor importante em uma poca em
que a expresso cultural como maneira plural, fragmentria, segmentada traduzida em
textos para serem vistos mais do que para serem lidos.Na leitura digital, a imediacia deve fazer com que a interface de computador seja
natural ao invs de arbitrria. Realidade virtual, grficos tridimensionais e design de
interfaces grficas esto todos buscando fazer com que a tecnologia digital seja
transparente. Neste sentido, uma interface transparente seria aquela que apaga a si mesma,
de modo que o usurio no perceba estar perante um meio, mas ao invs disso esteja
perante uma relao imediata com o contedo do meio.
Para os autores, remediao a representao de um meio em outro, e uma
caracterstica determinante da nova mdia digital. Alguns exemplos que Bolter e Grusin
utilizam podem ser passados para o contexto dos livros. Em um extremo, um meio mais
antigo pode ser destacado e representado em formato digital sem aparente ironia ou crtica.
Exemplos incluem galerias de imagens em CD-ROM (ou DVD) e colees de textos
literrios. Criadores de outras remediaes eletrnicas parecem querer enfatizar a diferena
mais do que apag-la. Nestes casos, a verso eletrnica oferecida como um
aperfeioamento, ainda que a nova seja justificada em parte pela antiga e procure
permanecer leal natureza do meio mais antigo. Aplicativos de leitura para e-readers e
tablets, nos quais os leitores podem aumentar e diminuir a o tamanho das letras, alterar a
orientao das pginas para retrato ou paisagem, ou realizar buscas por palavras especficasao longo de texto, figuram como exemplos de novas ferramentas oferecidas pelo livro
digital.
Bolter e Grusin afirmam que toda mediao remediao, uma vez que todas as
mdias correntes funcionam como remediadoras e esta remediao nos oferece uma maneira
de interpretar tambm o trabalho da mdia anterior.
Em um primeiro momento, possvel pensar em algo como um progressohistrico, da mdia mais recente remediando mais antigas e especialmentena mdia digital remediando suas predecessoras. Mas nossa genealogia
de afiliaes, no uma histria linear, e nessa genealogia, mdias antigastambm podem remediar as mais novas. Nenhum meio, ao que parece,
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pode agora funcionar independentemente e estabelecer seu prprio espaoseparado e purificado de significado cultural8. (BOLTER e GRUSIN, p.65)
Um meio aquilo que remedia. Isto aquilo que se apropria das tcnicas, formas, e
significado social de outra mdia e busca remold-las em nome do real. A introduo de
uma nova tecnologia miditica no significa simplesmente inventar novo hardware e novosoftware, mas sobretudo remoldar a rede do livro. Nessa rede, o papel dos atores do
processo produtivo do livro na mediao editorial fundamental.
Mediao editorial e design de livros
Roger Chartier dedica um captulo em seu livro Os desafios da escrita, para falar
sobre a mediao editorial. O texto inicia com o seguinte trecho:
A questo essencial que, na minha opinio, deve ser colocada porqualquer histria do livro, da edio e da leitura a do processo pelo qualos diferentes atores envolvidos com a publicao do sentido aos textosque transmitem, imprimem e lem. Os textos no existem fora dossuportes materiais (sejam eles quais forem) de que so os veculos.(CHARTIER, 2002, p. 61)
Para Chartier, o processo de publicao dos textos implica sempre uma pluralidade de
espaos, de tcnicas, de mquinas e de indivduos. Contra a abstrao dos textos, preciso
lembrar que as formas que permitem sua leitura, sua audio ou sua viso participam
profundamente da construo de seus significados. O 'mesmo' texto, fixado em letras, no
o 'mesmo' caso mudem os dispositivos de sua escrita e de sua comunicao. O autor afirma
que a produo, no apenas de livros (objeto no qual ele foca suas pesquisas), mas dos
prprios textos, um processo que implica, alm do gesto da escrita, diversos momentos,
tcnicas e intervenes, como as dos copistas, dos livreiros editores, dos mestres
impressores, dos compositores, dos revisores, e atualmente a dos designers do impresso e
do digital, entre outros. Para ele, o procedimento de publicao, seja l qual for sua
modalidade, sempre um processo coletivo, que requer numerosos atores. Deste modo, o
autor sustenta que impossvel avaliar qualquer obra independentemente da materialidade
de seu suporte (CHARTIER, 2007). Assim, os textos no atingem seus leitores ou ouvintes
seno graas aos objetos e s prticas que os apresentam leitura ou audio.Na cadeia produtiva do livro impresso, o designer responsvel, junto com o editor,
pelas decises referentes conformao do texto e materializao do livro como objeto.
Para Ana Gruszynski (2008), o designer grfico um mediador, pois ele atua como
articulador visual de mensagens que so concebidas preliminarmente por autores e dirigidas
a leitores, conforme o pblico-alvo ao qual a pea se destina. No caso dos livros, o designer
ter como objetivo dar forma material ao texto de um autor, utilizando elementos como
tipografia, grid (composto de marcaes como margens, colunas, marcadores de
paginao), cores, ilustraes. Tudo isso, tendo em vista uma processo de impresso8Traduo da autora.
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especfico, em um tipo de papel e com acabamentos escolhidos dentre aqueles disponveis
no mercado.
Nem sempre consciente de sua herana, o designer editorial debrua-secotidianamente na tarefa de conformar textos que se encarnam emdiferentes objetos. Preocupado em fechar o nmero de pginas em um
mltiplo de oito, definir o tamanho da margem esquerda tendo em vista oacabamento previsto, ou assegurar a legibilidade do corpo do texto tendoem vista a entrelinha estabelecida, circula entre a tal arte do livro edemanda da indstria, entre regras e inovao, participa da sedimentao etransformao das orientaes que sistematizam o campo editorial.(GRUSZYNSKI, 2009b, p.60)
E no caso dos livros digitais? Ser que as peas desse esquema seriam as mesmas?
Estariam dispostas do mesmo modo? Depende. Dos produtos editoriais digitais abordados
ao longo deste artigo, j citamos: 1) livros em PDF, que podem seguir a mesma composio
dos produtos impressos, ou incluir contedo multimdia e hipertextual, com layout fixo,
independente do dispositivo de leitura; 2) livros em EPUB, com layout que varia conformeo gosto do leitor, que pode alterar o tamanho da fonte, a largura das margens, a cor do texto
e do fundo, o nmero de colunas; 3) livros-aplicativos (app), mini-softwares que incluem
normalmente alm do texto, imagens estticas e em movimento, sons, com possibilidades
de interao com estes contedos9. Em cada uma das formas de publicao citadas, temos
visto diferentes estratgias de design, dependendo das caractersticas do contedo a ser
veiculado. Alm disso, os nveis de mediao do designer entre autor e leitor nesses
diferentes formatos de livros digitais parecem ser diferentes. Dentre as formas citadas, livro
digital em EPUB parece ser aquele que mais d ao leitor opes de modificao daformatao do texto em tablets e e-readers, tirando do designer e do editor a
responsabilidade total pela conformao final do texto. Na outra ponta estaria o app para
tablets que, apesar do potencial alto de liberdade de interao, permite a definio bastante
precisa do visual percebido pelo leitor.
Neste sentido, se os nveis de mediao so diferentes, porque tambm h
diferenas no processo de produo entre esses livros, dependendo do formato para o qual
so pensados. Edies com diferentes projetos grficos geram experincias de leitura
diversas. Devem ser desenvolvidas com vistas ao tipo de leitura que se deseja propor.Gruszynski, citando Gat, prope que os projetos de leitura podem ser de duas ordens: para
si, que envolve o prazer e o ldico; e o exterior a si, mais instrumental, orientado para uma
finalidade mais distanciada do leitor (GAT, 2001, apud GRUSZYNSKI, 2007).
A fim de levantar diferenas e aproximaes em relao ao design de alguns
exemplos de livros digitais disponveis atualmente para tablets, especialmente para iPad,
sero apresentadas a seguir imagens de publicaes em formato EPUB, PDF e tambm um
aplicativo.
9Arquivos do Microsoft Word e arquivos com o formato mobi, padro utilizado pela empresa Amazon paraseu leitor Kindle, em termos de design grfico lembram muito o formato EPUB.
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Figura 1 ( esq.) Imagem do EPUB Moby Dick no leitor iBook
Figura 2 ( dir.) Imagem do EPUB Moby Dick no leitor iBook
No livroMoby Dickem formato EPUB, o texto sobre a baleia de Melville pode ter aformatao das pginas varivel, dentro de alguns limites. Nas figuras 1 e 2, v-se testes de
dois layouts possveis no leitor iBook disponvel em iPads. Entre estes dois exemplos,
foram testadas alteraes na tipografia, no que diz respeito ao desenho da letra (famlia
tipogrfica e fonte) e seu tamanho (corpo), e na cor do fundo das pginas. Identifica-se o
uso da pgina com orientao vertical, como na maioria romances impressos. Alm da
possibilidade de leitura com o e-reader na horizontal, este formato permite a leitura com o
dispositivo na vertical, adequando o formato da pgina, diferentemente dos outros dois
exemplos a seguir. Quando a pgina muda de orientao paisagem para retrato, a largura da
coluna de texto aumenta de tamanho para aproveitar o espao da tela, que passa a
apresentar apenas uma pgina de cada vez e no duas.
Figura 3 ( esq.) Imagem do e-livro em PDF Fatos do Passado na Mdia do Presente:
rastros histricos e restos memorveis, editado pela Intercom
Figura 4 ( dir.) Imagem do e-livro em PDF Fatos do Passado na Mdia do Presente:
rastros histricos e restos memorveis, editado pela Intercom
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Na publicao em PDF Fatos do Passado na Mdia do Presente: rastros histricos e
restos memorveis, disponvel no site da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicao (Intercom) na seoLivraria/Coleo e-livros10, identifica-se uma outra
estratgia de design. Aqui (figuras 3 e 4), no possvel modificar a formatao do texto,
que est diagramado em uma coluna com um grafismo esquerda, repetindo-se em todas aspginas, como um elemento fixo. Neste caso, o visual das pginas remete s apresentaes
padro de softwares de montagem de slides, especialmente pela orientao horizontal da
pgina (paisagem).
Figura 5 ( esq.) Imagem do aplicativo The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Figura 6 ( dir.) Imagem do aplicativo The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Figura 7 ( esq.) Imagem do aplicativo The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Figura 8 ( dir.) Imagem do aplicativo The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
10Disponvel em: http://www.portalintercom.org.br/index.php?option=com_content&view=category&id=187%3Ae-livros&Itemid=117. Acesso em: 25 de junho de 2012.
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Figura 9 ( esq.) Imagem do aplicativo The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Figura 10 ( dir.) Imagem do aplicativo The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
O terceiro exemplo o aplicativo The Fantastic Flying Books of Mr. Morris
Lessmore, citado no incio deste artigo. A publicao carrega na capa algumas
caractersticas grficas do tradicional livro impresso, como efeitos na tipografia que
simulam baixo relevo, hot stamping11 e revestimento de couro (figura 5). Na primeira
pgina com texto (figura 6), fica marcado o espao separado para a animao, que roda na
parte superior, e o texto propriamente, que permanece limitado na maior parte do livro na
parte de baixo. No decorrer da leitura, alguns elementos nos trazem de volta ao livro
impresso: a mudana de pgina ocorre com a simulao do enrolar do papel (figura 7). O
nico momento em que texto e imagem so diagramados juntos, interagindo, quando o
personagem principal corre sobre as palavras Sometimes Morris would become lost in a
book and scarcely emerged for days12 (figura 8). Dentre as interaes possveis, em
algumas partes da histria, o leitor pode arrastar elementos pela pgina/tela. Quatro livros
podem ser arrastados na direo de trs personagens para fazer com que eles ganhem novas
personalidades. No exemplo (figuras 9 e 10), v-se a moa de costas travestir-se a partir de
referncias do livro Treasure Island13.
Nos trs exemplos descritos, percebem-se diferentes estratgias de design. O EPUB
Moby Dickcarrega caractersticas grficas que remetem diretamente aos livros impressos,como o folhear das pginas verticais e a organizao do texto em uma coluna, por exemplo.
Porm a maleabilidade do layout, mudando conforme o gosto do leitor, pe em xeque
critrios tcnicos de composio h muito tempo estabelecidos, como a proporo do
tamanho do caractere em relao largura da coluna padro. Como uma das principais
vantagens deste formato exatamente a possibilidade de escolha pelo leitor do tamanho de
letra mais cmodo para leitura, a fixao do texto na pgina fica em segundo plano. J na
11 Acabamento para impressos utilizado em pequenos detalhes ou frases, a fim de produzir um efeito
metalizado.12 s vezes, Morris se perdia em um livro e mal aparecia por dias (Traduo da autora).13 Romance de Robert Louis Stevenson, lanado em 1883.
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edio do e-livro da Intercom, o layout fixo do PDF no permite a mesma variao, o que a
princpio poderia nos remeter uma caracterstica do impresso. Porm, a forma grfica
deste exemplar, por apresentar orientao horizontal e utilizar uma imagem sempre igual ao
longo das pginas, lembra mais uma apresentao em slides do que uma publicao em
papel. Por fim, no aplicativo The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore, verifica-se a busca pela identificao com os tradicionais livros impressos de capa dura revestida em
couro e bem desenhadas letras douradas e pelo efeito de folhear as pginas. Por outro lado,
ao utilizar a animao separada do texto na maior parte das pginas, lembra os filmes
animados com barra para legenda. Alm disso, os recursos interativos presentes so
semelhantes aos encontrados em jogos na web e websites animados desde a dcada de
1990, como o Ciberpoesia, citado anteriormente.
So diferentes propostas com nveis de mediao do designer entre autor leitor
diversas. Compreender e explorar estas variadas opes de formatos papel do designereditorial de hoje. Como pontuou Ana Gruszynski, em artigo sobre o papel do designer de
livros atualmente, h efetivamente um mundo a ser descoberto, um espao imenso de
trabalho para os designers (GRUSZYNSKI, 2009, p. 75). E o profissional de hoje, alm do
domnio tcnico dos conhecidos elementos de design editorial desenvolvidos
tradicionalmente para impressos, como grid, tipografia, uso de cor, composio com
imagens estticas, precisa acompanhar o desenvolvimento das tecnologias digitais para
publicao em meio digital. E isso no quer dizer que o designer editorial deixar de
trabalhar com livros impressos nos prximos tempos, j que o nmero de ttulos lanados
em papel no est diminuindo a cada ano. Mas na lgica da remediao, proposta por Bolter
e Grusin (1999), assim como o livro impresso referncia para seu parente digital, os
produtos digitais vendidos como livros nos ltimos anos certamente remoldam e
remoldaram cada vez mais os produtos impressos.
Consideraes finais
As midiamorfoses experienciadas pelas mdias impressas e digitais nos ltimos anos
afetaram a produo do livro. A engenharia digital descrita por Fidler (1997) modificou os
produtos editoriais e suas cadeias produtivas. Com o processo de remediao, representaode um meio em outro, v-se o livro impresso presente no digital, por meio das referncias
visuais, como a diviso dos produtos em pginas, e tteis, como o folhear do papel. Nesta
lgica, o projeto de leitura pensado para cada obra delimita os caminhos a serem seguidos
pelos designers tambm no projeto das publicaes digitais.
Designers participam de redes cada vez mais complexas nas cadeias produtivas dos
novos produtos editoriais discutidos neste artigo. Por isso, devem estar preparados para os
vrios desdobramentos possveis dentro de modelos de negcios que incluem projetos
editoriais de livros impressos, mas tambm outros produtos digitais, sejam eles em formatosde aplicativos, EPUBs, PDFs, entre outros. Como os domnios miditicos tm tido seus
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limites modificados, os designers de livros devem entender cada vez mais do design de
outras mdias para poder definir a melhor estratgia grfica para traduzir o contedo de uma
obra e o projeto de leitura em questo. Tendo em vista as inmeras experincias j
conhecidas para o chamado livro digital, algumas delas apresentadas neste artigo, pode-se
inferir que a realidade do designer editorial de hoje o afasta de uma maior especializaonas mincias do impresso, estvel e permanente, e o leva de modo acelerado s
experincias da fluidez digital.
Referncias
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