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Projeto Livro Andante Página 1 L ivros R e V isitados A Identidade, Milan Kundera Um romance sobre as vicissitudes das relações amorosas, por um dos grandes escritores do século XX. Chantal e Jean-Marc vivem juntos em Paris, e amam-se tanto que por vezes parecem confundir-se. Há situações em que, por um instante, nenhum dos dois se reconhece, em que a identidade do outro se dissolve e em que, por tabela, cada um duvida da sua própria identidade. Todo aquele que ama, todo aquele que faz parte de um casal, já alguma vez experimentou essa sensação, porque o que mais teme no mundo quem ama é «perder de vista» o ser amado. Pouco a pouco, é isso que acontece a Chantal e Jean-Marc. Mas em que instante, diante de que gesto, em que circunstância precisa começa esse processo aterrador? É nesse momento de pânico que Kundera agarra o leitor, obrigado a mergulhar no labirinto que o próprio casal percorre e a cruzar, como ele, a fronteira entre o real e o irreal, entre o que ocorre no mundo exterior e o que, solitariamente, elabora uma mente dominada pela insegurança.

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L ivros ReVis i tados

A Identidade, Milan Kundera

Um romance sobre as vicissitudes das relações amorosas, por um dos grandes escritores do século XX.

Chantal e Jean-Marc vivem juntos em Paris, e amam-se tanto que por vezes parecem confundir-se. Há

situações em que, por um instante, nenhum dos dois se reconhece, em que a identidade do outro se

dissolve e em que, por tabela, cada um duvida da sua própria identidade.

Todo aquele que ama, todo aquele que faz parte de um casal, já alguma vez experimentou essa sensação,

porque o que mais teme no mundo quem ama é «perder de vista» o ser amado. Pouco a pouco, é isso que

acontece a Chantal e Jean-Marc. Mas em que instante, diante de que gesto, em que circunstância precisa

começa esse processo aterrador? É nesse momento de pânico que Kundera agarra o leitor, obrigado a

mergulhar no labirinto que o próprio casal percorre e a cruzar, como ele, a fronteira entre o real e o irreal,

entre o que ocorre no mundo exterior e o que, solitariamente, elabora uma mente dominada pela

insegurança.

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A Vida Não é Aqui, Milan Kundera

Milan Kundera chegou a pensar dar a este romance o título de “A Idade Lírica”. A idade lírica, segundo ele,

é a juventude, e este romance é, acima de tudo, uma epopeia da adolescência, uma epopeia irónica que

corrói ternamente valores sagrados: a infância, a maternidade, a revolução e, até mesmo, a poesia. Com

efeito, Jaromil é poeta... Foi a sua mãe que o fez poeta, e é ela que o acompanha (figurativamente) aos

seus leitos de amor e (literalmente) ao seu leito de morte. Personagem ridícula e comovente, horrível e de

uma inocência total, Jaromil é, ao mesmo tempo, um verdadeiro poeta. Não é um canalha, é Rimbaud.

Rimbaud apanhado na armadilha da revolução comunista, na armadilha de uma farsa negra.

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A Tábua de Flandres, Arturo Pérez-Reverte

Livro fundamental para os amantes do mistério, A Tábua de Flandres foi a obra que tornou Arturo Pérez-

Reverte o escritor espanhol contemporâneo mais lido em todo o mundo. Já adaptado ao cinema, é um

apaixonante puzzle que o autor encadeia com uma destreza absolutamente excecional.

No final do século XV, um velho mestre flamengo introduz num dos seus quadros um enigma que pode

mudar a história da Europa. No quadro, o duque de Ostenburgo e o seu cavaleiro estão embrenhados

numa partida de xadrez enquanto são observados por uma misteriosa dama vestida de negro. Todavia, à

época em que o quadro foi pintado, um dos jogadores já havia sido assassinado.

Cinco séculos depois, uma restauradora de arte encontra a inscrição oculta: uis necavit equitem? (Quem

matou o cavaleiro?) Auxiliada por um antiquário e um excêntrico jogador de xadrez, a jovem decide

resolver o enigma. A investigação assumirá contornos muito singulares: o seu êxito ou fracasso será

determinado, jogada a jogada, através de uma partida de xadrez constantemente ameaçada por uma

sucessão diabólica de armadilhas e equívocos.

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O Violino de Auschwitz, Maria Àngels Anglada

É Dezembro de 1991 e, num concerto de homenagem a Mozart em Cracóvia, a primeiro violinista

impressiona o seu colega de trio com um instrumento rústico e humilde. No dia seguinte, quando ele lhe

pergunta como é que ela o obteve, uma notável história se revela: a da vida de Daniel, um luthier, que

sobreviveu passando por grandes dificuldades em Auschwitz, como carpinteiro e trabalhando às tardes na

fábrica IG Farben. A inesperada relação com o comandante do campo e a posterior encomenda de um

violino com as especificações de um Stradivarius tornaram-se dois momentos decisivos na vida de Daniel,

em Auschwitz, sobretudo após descobrir que o segredo por trás dessa tarefa.

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Anna Karenina, Lev Tolstoi

«E chegamos agora à verdadeira questão moral que Tolstoi queria fazer passar: o Amor não pode ser

unicamente carnal porque deste modo é egoísta, e ser egoísta é destruir em vez de criar. O Amor é, então,

pecaminoso. E de modo a tornar este assunto tão artisticamente distinto quanto possível, Tolstoi, numa

vaga de extraordinária imaginação, descreve, em nítido contraste, dois amores: o amor carnal do casal

Anna-Vronski (lutando por entre as suas emoções sensuais, mas fiéis e espiritualmente puras) e, do outro

lado, o autêntico Amor cristão, como Tolstoi o quis chamar, do casal Kiti-Lévin, com os bens de natureza

sensual ainda presentes, mas equilibrados, e em harmonia numa atmosfera de responsabilidade, carinho,

verdade e alegria familiar.» [Do Posfácio de Vladimir Nabokov]

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A casa assombrada, Virgínia Woolf

Em A Casa Assombrada estão reunidos alguns do mais inovadores contos originalmente escritos em inglês.

É certo que Virginia Woolf não é uma contista e que foi romances como Orlando e As Ondas que sobretudo

cumpriu o «insaciável desejo de escrever alguma coisa antes de morrer». Mas é em contos como «A Marca

na Parede», «Lappin e Lapinova» e «O Legado» que melhor nos revela o modo como soube captar a

evanescente matéria da vida, um universo feminino que os homens desfazem revelando que a marca na

parede é uma lesma, recusando-se a recriar a vida de coelhos no ribeiro ao fundo da floresta ou tornando-

se apenas insensivelmente desatentos.

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Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar

Memórias de Adriano tem a forma de uma longa carta dirigida pelo velho imperador, já minado pela

doença, ao jovem Marco Aurélio, que deve suceder-lhe no trono de Roma (século II d.C.). Pouco a pouco,

através deste serena confissão ficamos a conhecer os episódios decisivos da vida deste homem notável.

Vencedor do prémio Femina Varesco. Este romance é seguramente um dos mais importantes de

Marguerite Yourcenar e uma das obras de referência da literatura contemporânea.

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Fome, Knut Hansum

A ação de Fome, um romance marcante e considerado um clássico da literatura mundial, decorre nos finais

do século XIX. O narrador, um jovem escritor, um homem solitário, deambula pelas ruas de Kristiania (atual

Oslo) numa miséria extrema, enregelado pelo frio e tolhido pela fome. Essa miséria em que vive, provoca-

lhe momentos de delírio e violentas variações de humor. Mas cedo nos apercebemos de que a “fome”

desse sonhador não é apenas física. Há a procura de uma identidade e de um reconhecimento dentro das

suas próprias alucinações. (Prefácio de Paul Auster)

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Pan, Knut Hamsun

«Toda a escola literária moderna do século XX provém de Hamsun. Foram todos seus discípulos: Thomas

Mann e Arthur Schnitzler, até mesmo Fitzgerald e Hemingway.» Issac B. Singer (prémio Nobel de literatura)

Pan é, desde a sua publicação, um dos livros mais apreciados e amados de Knut Hamsun. Uma obra-prima

da literatura, onde «a natureza fala na língua subtil e sonhadora de um breve e idílico Verão nórdico».

Através dos papéis encontrados depois da sua morte, o tenente Glahn relata-nos a sua trágica paixão pela

jovem Edwarda, num crescendo de exaltação que invade e se confunde com a paisagem envolvente,

tornando-se difícil distinguir entre natureza e psique.

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Jaime Bunda, Agente Secreto, Pepetela

Pepetela leva-nos ao puro delírio com este anti-herói, inconfundível e apaixonante, capaz de desvendar

crimes e grandes esquemas só porque estava na hora certa e no lugar certo, por acaso.

"A moça se despediu da amiga e avançou para a avenida. Ainda conservava nos lábios o sorriso da

despedida, quando parou bruscamente, assustada com o automóvel preto. O carro também estacou de

súbito. O condutor viu o sorriso desaparecer dos lábios dela. Mediu num relance o tamanho dos seios

pontudos, querendo furar o vestido muito curto. Esperou gentilmente que se refizesse do susto e

continuasse a travessia. Ela hesitou, mas depois agradeceu com um vago sorriso para os vidros escuros e

correu à frente do carro, mostrando o corpo meio de menina meio de mulher, moldado pelo vestido justo.

Uma gazela, uma cabra de rabo de leque, pensou o motorista, sentindo compulsivos apetites de caçador.

Arrancou com o carro e seguiu até ao fundo da Ilha."

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O Tímido e as Mulheres, Pepetela

Luanda nos dias de hoje. Acompanhamos Heitor, um escritor em início de carreira, o tímido. Ouvimos a

quente voz de Marisa, responsável por um programa de rádio de grande audiência, que a todos encanta e

seduz. Conhecemos Lucrécio, seu marido, uma mente brilhante aprisionada numa cadeira de rodas. É este

o trio que une as diversas histórias e personagens deste romance. Além dele, encontramos ainda os amigos

de Heitor, o Senhor do Dia 13 e os habitantes de um musseque na periferia de Luanda: a grande família de

dona Luzitu e, em especial, a bela Orquídea, outra das poderosas mulheres que habitam este livro. Todos

eles nos conduzem por uma cidade que fervilha e cresce a um ritmo alucinante, onde os homens se

apaixonam, sonham e desesperam, procuram novos caminhos, novas formas de vida e novas soluções.

Com a sua habitual mestria, Pepetela volta a surpreender-nos com este romance, desenhando uma

paisagem imparcial e objetiva da atual sociedade angolana, fruto de muitas mutações culturais e políticas

derivadas da sua história recente.

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Um Sopro de Vida, Clarice Lispector

Neste livro inclassificável, Clarice imagina uma personagem, Ângela Pralini, através da qual entra em

conflito consigo mesma para se distanciar de si e evitar o pior dos plágios.

João Cezar de Castro Rocha afirma, na edição brasileira, que os livros de Clarice «se transformam sempre

num mergulho no infinito de uma identidade à deriva».

Isso é particularmente válido para "Um Sopro de Vida", publicado em 1978. A sua atualidade levou Pedro

Almodóvar a escrever, em carta a Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector:

«O romance é recheado de frases memoráveis sobre a criação literária e a passagem do tempo, o

desespero e a multiplicidade humana, incluindo a necessidade de se falar de si mesmo, a procura por um

interlocutor e o facto de se encontrar isso dentro de si mesmo. Quero citar frases dela na edição em livro

do argumento de "A Pele Que Habito".»

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Água Viva, Clarice Lispector

Excerto:

«Escrevo-te toda inteira e sinto um sabor em ser e o sabor a ti é abstrato como o instante. É também com o

corpo todo que pinto os meus quadros e na tela fixo o incorpóreo, eu corpo a corpo comigo mesma. Não se

compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro. Quando vieres a me ler perguntarás

por que não me restrinjo à pintura e às minhas exposições, já que escrevo tosco e sem ordem. É que agora

sinto necessidade de palavras — e é novo para mim o que escrevo porque minha verdadeira palavra foi até

agora intocada. A palavra é a minha quarta dimensão.»

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Não Verás País Nenhum, Ignácio de Loyola Brandão

Um dia teremos de comprar em centros comerciais os cheiros da natureza, durante a noite – porque de dia

morre-se quando se sai à rua. O cheiro das árvores, das flores, da terra molhada. O único cheiro que vem lá

de fora é o cheiro a queimado, o cheiro a calor. O aquecimento global chegou em força, a destruição da

camada de ozono tornou o dia impossível. O Sol queima, o Sol mata. Vive-se de noite e de coisas artificiais,

vive-se num mundo que se destruiu. Este é um dos grandes clássicos da literatura brasileira do século XX

que antecipa toda uma nova forma de vida. Souza, o protagonista desta épica história de amor que é, ao

mesmo tempo, um romance de aventuras e uma meditação ecológica vertiginosa, é o último grande

revoltado perante o que o homem fez ao seu mundo e a si próprio.

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Veia Bailarina, Ignácio de Loyola Brandão

Veia Bailarina é um livro sobre a dor, o medo, as nossas perdas de cada dia, as do varejo, e aquelas

acumuladas ao longo da vida. Mas não é um livro triste. Apesar de dramático, o seu tom é delicado, suave,

bem-humorado, sarcástico às vezes. É um livro sobre a redescoberta do viver.

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A Segunda Vida de Francisco de Assis, José Saramago

«"Grande sala. Ambiente geral discreto e severo. Mesa comprida, cadeirões, cofre, telex, vários telefones,

um terminal de computador. (...) Está reunido um conselho." Assim se entra no mundo da "política",

segundo José Saramago. A Segunda Vida de Francisco de Assis é mais uma incursão no drama, desta vez à

volta de um tema bem atual: o capitalismo, a qualidade, as chefias, a política, as eleições, a bolsa, as

valorizações e desvalorizações dos produtos e das pessoas. E uma luta entre a razão e a força. Estamos em

1986, já há computadores, mas muita coisa mudou. "As coisas já não são o que eram", diz a certa altura

uma das personagens. "Houve muitas mudanças e nem todas estão à vista. Algumas nunca saem daquele

cofre. São as que convém manter em segredo. "E Francisco? Também mudou, claro. Nesta segunda vida,

aprendeu algumas lições e aparece a lutar contra a pobreza. "É a pobreza que deve ser eliminada do

mundo", diz. Mais uma vez Saramago usa a ironia para fazer as suas críticas. "A pobreza não é santa. Tantos

séculos para compreender isto. Pobre Francisco."»

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O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago

«Um tempo múltiplo. Labiríntico. As histórias das sociedades humanas. Ricardo Reis chega a Lisboa em

finais de Dezembro de 1935. Fica até Setembro de 1936. Uma personagem vinda de uma outra ficção, a da

heteronímia de Fernando Pessoa. E um movimento inverso, logo a começar: "Aqui onde o mar se acaba e a

terra principia"; o virar ao contrário o verso de Camões: "Onde a terra acaba e o mar começa". Em Camões,

o movimento é da terra para o mar; no livro de Saramago temos Ricardo Reis a regressar a Portugal por

mar. É substituído o movimento épico da partida. Mais uma vez, a história na escrita de Saramago. E as

relações entre a vida e a morte. Ricardo Reis chega a Lisboa em finais de Dezembro e Fernando Pessoa

morreu a 30 de Novembro. Ricardo Reis visita-o ao cemitério. Um tempo complexo. O fascismo consolida-

se em Portugal.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)

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História do Cerco de Lisboa, José Saramago

«Há muito que Raimundo Silva não entrava no castelo. Decidiu-se a ir lá. O autor conta a história de um

narrador que conta uma história, entre o real e o imaginário, o passado e o presente, o sim e o não. Num

velho prédio do bairro do Castelo, a luta entre o campeão angélico e o campeão demoníaco. Raimundo

Silva quer ver a cidade. Os telhados. O Arco Triunfal da Rua Augusta, as ruínas do Carmo. Sobe à muralha

do lado de São Vicente. Olha o Campo de Santa Clara. Ali assentou arraiais D. Afonso Henriques e os seus

soldados. Raimundo Silva "sabe por que se recusaram os cruzados a auxiliar os portugueses a cercar e a

tomar a cidade, e vai voltar para casa para escrever a História do Cerco de Lisboa. Uma obra em que um

revisor lisboeta introduz a palavra "não" num texto do século XII sobre a conquista de Lisboa aos mouros

pelos cruzados.» (Diário de Notícias, 9 de outubro de 1998)

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Vale Abrãao, Agustina Bessa-Luís

«A recriação duma Bovary, destinada a servir de guião para um filme de Manuel de Oliveira, trouxe à

autora a necessidade de descobrir a natureza flaubertiana que concebeu Ema e a tomou como seu espelho:

“A Bovary sou eu” – disse Gustave Flaubert, no auge da incriminação que pesou sobre a sua vida de

romancista. De facto, Ema é Flaubert, e o romance é uma história de paixão que tem como adversária a

mediocridade. Chabrol soube tocar essa realidade que ofusca todas as outras, ao dizer: “O ser humano é

estúpido. O que salva Ema é que ela se bate.” Ema bate-se contra a rede de pequenas e formidáveis

misérias que se apertam em volta dela. Heroína provinciana das insatisfações típicas do ser humano. Dirão

os leitores que uma mulher como Ema não existe. Eu direi que sim. A beleza de Ema tornara-se tão

evidente que causava uma espécie de paralisia. Aquilo que se não critica desenvolve uma obediência capaz

de, para encontrar saída, cair noutras reprovações.»

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(Re)descobrir Agustina

A Mãe de um Rio, Agustina Bessa-Luís (publicado em 2014)

«Esta é a história da mãe de um rio, que tinha vivido mais de mil anos, a ponto de os homens esquecerem a

sua existência. Também os vigilantes do espírito humano precisam de ser rendidos, e as águas da sabedoria

devem ser habitadas por novos mestres.»

Esta obra conta-nos a história de Fisalina, uma jovem criada numa aldeia com rígidas regras e que parou no

tempo.

«De temperamento arrebatado, propensa a sonhos e a tristezas inexplicáveis», Fisalina procura a Mãe do

rio - figura mítica de Alvite - para alcançar a liberdade que tanto deseja. Depois de percorrer as galerias

azuis, de rocha viva, Fisalina acaba por ter os seus dedos metamorfoseados em ouro, marca característica

da entidade. Este segredo foi descoberto durante uma festa religiosa provocando um ódio brutal ao povo

da aldeia. Refugia-se na serra da Nave e terá de esperar por alguém que troque com ela de lugar.

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Memória de Elefante, António Lobo Antunes

O enredo tece-se em torno da trajetória de um médico psiquiatra, desde o início da manhã, quando inicia o

seu trabalho no Hospital Miguel Bombarda, até às 5 da madrugada do dia seguinte, no seu apartamento do

Monte Estoril. Entre o início e o fim do eixo narrativo, sucedem-se episódios que constituem o quotidiano

do médico no decorrer desse dia.

O primeiro livro de um autor que ao longo dos anos se impôs como um nome cimeiro na literatura

portuguesa.

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Comissão das Lágrimas, António Lobo Antunes

«Um doloroso canto de uma mulher torturada» foi o ponto de partida para Comissão das Lágrimas, o novo

livro de António Lobo Antunes. A mulher torturada foi Elvira (conhecida por Virinha), comandante do

batalhão feminino do MPLA presa, torturada e morta na sequência dos terríveis acontecimentos de Maio

de 1977 em Angola. Mas este é apenas um episódio num livro denso e sombrio sobre Angola depois da

independência. António Lobo Antunes não quis fazer um livro documental ou uma reportagem «verídica»

sobre o que se passou em Angola, antes usou a sua sensibilidade e o espantoso poder evocativo da sua

escrita para falar sobre a culpa, a vingança, a inocência perdida.

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Explicação dos Pássaros, António Lobo Antunes

(Edição Comemorativa - 30 Anos)

Relato dos últimos quatro dias da vida de Rui S. Rui visita a mãe que está a morrer de cancro numa clínica

em Lisboa; parte, em seguida, com a mulher, Marília, para um congresso em Tomar, mas, a meio da

viagem, muda de ideias e seguem para uma estalagem em Aveiro, à beira da ria, para uma estadia a sós. Na

realidade, o seu propósito é falar a Marília do desejo de separação, mas acaba por ser a mulher que lhe

comunica, ao terceiro dia, a vontade de se separar dele. No domingo, Rui sai cedo do quarto da estalagem

para passear na ria enquanto a mulher regressa sozinha a Lisboa. Horas depois, rui suicida-se nas margens

do Vouga, olhando os bandos de pássaros.

in Fnac.pt (agosto de 2015)