Lizzye e Bullying

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Há nove anos, alguém postou na Internet um vídeo de Lizzie Velasquez e deu-lhe o título de “a mulher mais feia do mundo.” Naquela época, ela tinha apenas 13 anos. O vídeo rapidamente se tornou viral. Eis aqui a resposta de Lizzie Velasquez. Muitas pessoas têm me feito a mesma pergunta muitas vezes: “Se você tivesse a oportunidade de conhecer a pessoa que postou aquele triste vídeo sobre você, o que você lhe diria? Minhas respostas poderiam variar entre querer gritar “POR QUE EU?!”, até chegar a dizer que eu lhe daria um grande abraço e lhe agradeceria por ter se tornado uma das maiores bênçãos em minha vida. Se eu tivesse que dizer algo depois disso, ficaria sem palavras. Eu acredito, com toda a minha alma, que você e eu estávamos destinados a cruzar nossas vidas. Veja bem, eu não sei de onde você é, qual é a sua idade, e muito menos qual é o seu gênero. Afinal, essa informação é irrelevante. Mas o que eu realmente sei é que você mudou não só a minha vida, mas também a vida de muitas pessoas no mundo todo. Eu não sei o que o motivou a postar um vídeo meu, aos 13 anos de idade, muito menos a razão que levou você a dar-lhe um título tão forte. Eu não sei o que estava acontecendo em sua vida, nem se foi o seu grupo de amigos que o encorajou a publicar o vídeo. Mas eu quero que você saiba o que estava acontecendo comigo, quando encontrei aquele vídeo acidentalmente. Lizzie Velasquez tem uma doença congênita rara que impede o seu organismo de acumular gordura corporal. (Foto: Thao Doan) Eu era uma adolescente de 17 anos, cursando o ensino médio, e só queria desesperadamente uma única coisa na vida: ser aceita. Ser adolescente e se encaixar em um grupo, nessa fase da vida, não é nada fácil. Acrescente a isso, ter uma

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Page 1: Lizzye e Bullying

Há nove anos, alguém postou na Internet um vídeo de Lizzie Velasquez e

deu-lhe o título de “a mulher mais feia do mundo.” Naquela época, ela

tinha apenas 13 anos. O vídeo rapidamente se tornou viral. Eis aqui a

resposta de Lizzie Velasquez.

Muitas pessoas têm me feito a mesma pergunta muitas vezes: “Se você tivesse

a oportunidade de conhecer a pessoa que postou aquele triste vídeo sobre

você, o que você lhe diria? Minhas respostas poderiam variar entre querer

gritar “POR QUE EU?!”, até chegar a dizer que eu lhe daria um grande abraço

e lhe agradeceria por ter se tornado uma das maiores bênçãos em minha vida.

Se eu tivesse que dizer algo depois disso, ficaria sem palavras.

Eu acredito, com toda a minha alma, que você e eu estávamos destinados a

cruzar nossas vidas. Veja bem, eu não sei de onde você é, qual é a sua idade,

e muito menos qual é o seu gênero. Afinal, essa informação é irrelevante. Mas

o que eu realmente sei é que você mudou não só a minha vida, mas também a

vida de muitas pessoas no mundo todo.

Eu não sei o que o motivou a postar um vídeo meu, aos 13 anos de idade,

muito menos a razão que levou você a dar-lhe um título tão forte. Eu não sei o

que estava acontecendo em sua vida, nem se foi o seu grupo de amigos que o

encorajou a publicar o vídeo. Mas eu quero que você saiba o que estava

acontecendo comigo, quando encontrei aquele vídeo acidentalmente.

Lizzie Velasquez tem uma doença congênita rara que impede o seu

organismo de acumular gordura corporal. (Foto: Thao Doan)

Eu era uma adolescente de 17 anos, cursando o ensino médio, e só queria

desesperadamente uma única coisa na vida: ser aceita. Ser adolescente e se

encaixar em um grupo, nessa fase da vida, não é nada fácil. Acrescente a isso,

ter uma aparência totalmente diferente dos demais colegas, e aí eu entro em

cena. Houve muitos altos e baixos na minha vida, e eu não vou dourar a pílula

dizendo que quando encontrei o seu vídeo, não fiquei aborrecida.

Cada vez que eu pensava que devia ser bonita, ou que finalmente seria aceita

pelas pessoas, ou que talvez essa síndrome não fosse tão ruim assim — todas

essas ideias se desvaneciam assim que eu encontrava o seu post. Eu li os

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milhares de comentários feitos sobre o vídeo, buscando desesperadamente

encontrar pelo menos um que me defendesse. Será que eu encontrei algum?

Não. Eu não estou dizendo isso para fazer com que você se sinta culpado(a);

eu quero apenas alertá-lo(a) para o fato de que no dia em que você postou o

vídeo, provavelmente pensou que eu jamais o encontraria.

Por favor, acredite em mim quando eu digo que ao encontrar o vídeo, a

princípio eu o encarei como uma maldição; no entanto, mal sabia eu que na

verdade, ele era uma das maiores bênçãos disfarçadas que já tive na minha

vida.

Vamos trocar os nossos papéis por um segundo. Digamos que você não tenha

a menor ideia de quem eu sou, nem de onde eu venho. Digamos que você

esteja lutando para adquirir autoconfiança durante sua adolescência, e um belo

dia encontra um vídeo que eu postei sobre você. Eu apenas publiquei um vídeo

com um título bastante ofensivo, mas não fiz nenhum dos comentários

insultantes. Será que você me perdoaria, e simplesmente ficaria chateado com

as pessoas que disseram que o mundo seria um lugar melhor sem você?

Eu poderia continuar falando sobre a avalanche de coisas que sucederam

depois que encontrei o vídeo, bem como sobre todas as outras pessoas que

também se sentiram feridas por ele; mas isso seria apenas uma perda de

nosso valioso tempo. Em vez disso, eu gostaria que você soubesse que eu

perdoei você e todas as pessoas que sugeriram que eu me suicidasse. Eu sei,

essas palavras são muito duras, até mesmo digitá-las já é difícil o bastante.

Lizzie Velasquez (Foto: A Brave Heart: The Lizzie Velasquez Story)

Com a ajuda da minha fé, da minha família e dos meus amigos, fui capaz de

deixar de me sentir totalmente estranha, para de alguma maneira, poder

transformar o nosso primeiro encontro em algo que possa ajudar a dar

esperança a qualquer pessoa que tenha sido vítima de bullying na Internet.

Usar a palavra “vítima” aqui é bastante difícil para mim, porque essa palavra

não me define. Eu sou alguém que permitiu que outra pessoa entrasse em sua

vida, e isso não ocorreu precisamente da maneira mais fácil.

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Descobri que muitas vezes, as pessoas machucam umas às outras, não

porque queiram prejudicá-las, mas porque elas mesmas já foram muito

machucadas Se esse for o seu caso, espero que você tenha encontrado uma

maneira de expressar sua própria dor, sem causar sofrimento a mais ninguém.

Vamos avançar rapidamente esses nove anos desde que você e eu “nos

conhecemos.” É neste momento que eu quero lhe dizer: ‘muito obrigada’. Eu

encaro todas as coisas que faço e todas as pessoas que encontro como peças

do grande quebra-cabeça que é a minha vida. Nossa peça foi uma das mais

difíceis; eu não sabia exatamente onde ela encaixava, mas eu sabia que ela

tinha seu lugar. Sua peça encaixou perfeitamente no lugar, quando eu percebi

que o vídeo que você postou era o combustível que alimentaria a minha força.

Seu vídeo me levou para o fundo do poço, mas com o tempo, ele me tornou

muito mais forte do que eu jamais poderia ter imaginado.

Suas ações me guiaram em meu processo de aprender a levantar e dar a volta

por cima, vez após vez. Tudo isso me traz de volta à pergunta feita a princípio.

“Se você tivesse a oportunidade de conhecer a pessoa que postou aquele triste

vídeo sobre você, o que provavelmente você lhe diria?” Minha resposta agora

seria bastante simples. Você é o responsável por iniciar essa mudança em

minha vida. Eu acho que é verdade quando as pessoas dizem que todos nós

temos um líder interior. Por mais absurdas que minhas palavras pareçam,

muito obrigada por ser o líder que eu não sabia que eu tanto necessitava.