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ln a era revista da uec para a estudantil - - - - ano3 n.o 19 maio 79 preço 15.00

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• ln a era revista da uec para a estudantil

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ano3 n.o 19 maio 79 preço 15.00

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Director: Joio Leal Redacção e Administração: Rua Sousa Martins, n. o 8, 3. o - Lisboa Composição e impressão: Heska Portuguesa Distribuição: CDL - R: Pedro Nunes, 9-A - Lisboa 1 Propriedade: Editorial «Avante!»

COMISSÃO REDACTORIAL: Ana Selxas, Clara Viana, Luis Calhau, Luis Silva, José António Pereira, José Pltacas, Lulsa Monteiro, Manuela Gomes, Maria João Sequeira, Paula Garcia, Pedro Dourado, Pedro Rosado, Qulm Silva e Teresa Ribeiro.

Colaboram neste número: João Nuno Represas Alteu Fernandes Forte

sumário MOVIMENTO ESTUDANTIL

A crise Académica de 69 em Coimbra ....•.••..... •• 4 TER: o dlvlslonlsmo em acção ......••••••.....•.•. 7 Eleições associativas no Superior ......•••••....•.• 8

A UEC EM MOVIMENTO

I·· .. ..

<b"::,,,..:='­.. &""'....::::::"'

1.· assembleia de militantes do Distrito de Évora .•.•...••.••...•••.•....•.... 9

VamosapolaraUEC. Campanha100S00 ....•.....•• 10 Jornadas sobre ensino unificado ..••.•....••..... 12

ACTUALIDADE POLITICA

XI Congresso do PCP ..••...••.........••...•... 14 O esquerdlsmo em crise .•.... •• ..•.............. 16

TEMAS E PROBLEMAS

Desemprego juvenil em debate ...... . ......•.•.•• 18 Aenerglanuclearésegura? ........•••••.••.••... 20 EINSTEIN: o cientista e o cidadão ..•.....•.••••... 22

TEMPOS LIVRES

Espeleologia .•.. ...........••• ••••••... ....... 24

INTERNACIONAL

Médio Oriente: a "paz» da capitulação .•.•....•.... 27 LG LEU E (OU)VIU •............•....•.•............•.••.... 28 ESCRITO À MAo ... .....•.•.• .•... . .....• ••.. •..........• • 31

CONTRA-CAPA

Gil Teixeira Lopes ..........•.......•.....•.•... 32

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neste dia Neste dia. Em que assembleias se fazem nas ruas e nos becos, em que das casas se abrem colchas e segredos, em que cantam na gente os manifestos, mantidos entre dentes, martelados no trotar das botas suadas na alegria fina e nas mãos dadas

Neste dia. Em que a magia do soluço nos arranha e arrepia. Gratos. Nas firmes falas dos fortes. E também dos fracos, nem que seia por um momento. Nas rugas dos velhos que os dedos nervosos afloram e procuram apagar no vento como quem desfaz destinos, vivendo ...

Neste dia. Em que a gente faz estrelas dum boceio e muralhas das espadas. Em que pega no deseio como quem pega em espingardas.

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4 • acrlse académica de69 em Coimbra

Depoimento de Osvaldo de Castro,

vice-presidente da AAC em 1969

Durante o fascismo a situação na Universidade acompanhou bem de perto a situação de crise da sociedade portuguesa. Ao esforço fascista para adaptar a escola às exigências que a fase de desenvolvimento capitalista ia impondo, os estudantes sempre responderam batendo-

" NESTE IDMENl'O SAl3E=.SE QUE JG. CO!, VERGlRAM PARA COIMBRA COO'HECIDOS ELE -MENl'OS DE AG ITAÇÃO ••• " in ItComt1.!i:::ação ao País 11 do M.E.N. em

(30:4.69 ";J.\-le.. .... ~.Ç.,.....;."

A crise académica de 1969 em Coimbra, é aqui analisada por um homem que viveu os acontecimentos Osvaldo do Castro. Todo o documento é um conjunto de tópicos que nos ajudou a entender e interpretar esses momentos de aguda crise na Universidade e na sociedade portuguesa da altura. As condições objectivas e os antecedentes da crise, o 17 de Abril, a resposta unitária do Movimento Estudantil e o reforço da organização dos estudantes em tomo do seu Movimento Associativo são pontos de partida para uma análise. 1969 uma prova de força do Movimento Associativo, com raizes profundas na luta antifascista.

-se por radicais transformações democráti­cas do ensino, recusando as demagógicas reformas sucessivamente anunciadas. A recusa do ensino ao serviço dos interesses dos monopólios, do seu carácter selectivo de classe e do seu cariz obscuran­tista e retrógrado foram pendões de luta sempre bem erguidos pelos estudantes portugueses. Por isso vezes sem conta os governos fascistas tentaram jugular o movimento estudantil, ora reprimindo as suas organizações e os seus dirigentes, ora visando desarticular as suas estruturas e separar a luta estudantil da luta mais geral da classe operária e do povo português. Várias foram as vezes que o· fascismo obteve sucesso, mas muitas mais foram as vitórias do movimento associativo dos estudantes cuja luta sem dúvida contribuiu para criar condições para a ofensiva mais geral que viria a desaguar na libertação de Portugal.

As condições objectivas e os antecedentes da crise

O incidente gerado em 17 de Abril de 1969 na Universidade de Coimbra a pretexto de

ofensas ao então Chefe de Estado Tomás mais não foi que a vã tentativa por parte do governo marcelista de cortar cerce o poderoso movimento de massas que os estudantes portugueses, e de forma marcante os de Coimbra, então erguiam.

Desde 1968 que em Coimbra se ampliava e reforçava um forte movimento associativo em torno da defesa dos interesses mais imediatos dos estudantes, entrelaçados com os objectivos mais longos de pôr em causa a decrépita Universidade e a sociedade caduca e reaccionária que a suportava. A liberdade de associação, de reunião, de informação, a reintegração de estudantes e professores expulsos, a revogação da legislação anti-associativa, a participação dos estudantes em todas as questões respeitantes ao Ensino e à Universidade, ou seja a luta contra a política de violência e terror no Ensino como dado inseparável da luta contra a Universidade ao serviço dos monopólios, eram alguns dos objectivos centrais da luta estudantil.

Porém no plano mais imediato, e como ponto de partida para toda a ofensiva com vista à satisfação dos objectivos mais gerais, os estudantes de Coimbra batiam-se pela reabertura da sua Associação Académica.

Desde 1965 e no seguimento de uma vasta onda repressiva, que a AAC estava encerrada, ainda que formalmente gerida por estudantes-funcionários de confiança e nomeação governamental.

A AAC estiolava dia a dia nas mãos dos jovens líderes fascistas que dela se aproveitavam para servir docilmente os desígnios do fascismo, perante a hostilidade e a desconfiança generalizada dos estudantes.

Os anseios de normalização associativa motivaram desde então pequenas e grandes lutas, mas de facto as condições não estariam suficientemente amadurecidas para vitória estudantil senão nos últimos meses do ano de 1968.

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o regime fascista sentia agudizar-se a sua crise interna. A situação económica degradava-se e a base social de apoio estreitava-se. O isolamento internacional era maior que nunca. A guerra colonial í a-se perdendo e passava a ser ponto forte da ofensiva global da resistência. A tudo se juntava um poderoso ascenso das lutas populares, o maior desde 1961 .

Perante os dados irrecusáveis da situação. Marcelo Caetano em desespero de causa tentou salvar o regime, mas prosseguindo no essencial a política do seu antecessor, viu-se forçado a ensaiar a manobra demagógica da "liberalização".

Porém o fascismo estava condenado e a demagogia "liberalizante" começaria a ser rapidamente desmascarada em toda a sua extensão, e bem cedo Caetano desafivelou a máscara.

Desde fins de 1968 e de modo particular nos primeiros meses de 1969, as greves operárias estalavam contra a demagogia fascista. As lutas conduzidas pela classe mais consequentemente revolucionária foram a primeira e a mais viva resposta à manobra reaccionária . Greves, paralisações e outras lutas mobilizaram mais de 100 000 trabalhadores, não apenas nas cinturas industriais, mas aí de modo mais notório. A luta reivindicativa da classe operária ocupava a primeira linha da frente popular, mas em breve a ela se juntariam o movimento da juventude estudantil e o movimento político da oposição democrática. Desta convergência da luta em 3 frentes principais irá resultar o desmascaramento da demagogia "Iiberali­zante" que será em vários momentos obrigada a transformar-se em recuo político efectivo do fascismo. mercê do fluxo da luta de massas. Foi o tempo em que virar contra o fascismo a sua própria demagogia era a tarefa e a palavra de ordem principal.

É neste contexto que irão decorrer as lutas estudantis e, são tais as circunstâncias objectivas que irão explicar boa parte dos êxitos do movimento associativo dessa época.

Em Novembro de 1968, Coimbra assistira à concretização da alta expressão unitária dos estudantes portugueses que num Plenário com mais de 5 000 participantes das 3 Academias (apesar do boicote activo do governo aos transportes, nomeadamente com "stops"), aprovaram um Caderno Reivindicativo em 9 pontos que consagrava os objectivos centrais imediatos, atrás enunciados, da luta do Movimento Associativo. Aí também se avançara para a criação do embrião da estrutura federativa a nível nacional, a Comissão Nacional dos Estudantes Portugueses' (CNEP) .

Em Fevereiro de 1969 realizaram-se eleições para a AAC, após um processo longo para conquistar a sua efectivação e que recorreu a formas de luta diversificadas, mas que sobretudo soube engajar directamente na luta por eleições, um número sempre crescente de estudantes.

A vitória eleitoral da corrente antifascista e democrática exprimiu a força irresistível que o movimento de massas estudantil ía assumindo. A lista de esquerda confrontada éom uma lista integrada por elementos da direita académica, alguns deles notórios fascistas e nazis, recolheu 75,1% dos votos contra 21 .1 % da lista adversária. Em 14 membros dos Corpos Gerentes a lista de esquerda, pela proporcionalidade estatutária exigida, coiocav:.! 13 elementos. Era a consagração da linha democrática, era a ânsia de mudança no seio dos estudantes, tratava-se de uma vitória por demais significativa que reduzia os estudantes fascistas a uma posição ultra-minoritária.

17 Abril - a crise aberta O Governo de Marcelo Caetano e o seu

directo ministro da Educação, J. Hermano Saraiva (oriundo do gabinete salazarista) tremeram ao sentir que a demagogia era arma de dois gumes e que se ía virando contra os seus desígnios.

Havia que buscar um pretexto para travar o ascenso do movimento estudantil. Tratou­-se de denegar a legítima exigência de usar da palavra que os estudantes de Coimbra fizeram, através do Presidente da Direcção­-Geral da AAC, na cerimónia da inauguração de um edifício da Faculdade de Ciências.

Os factos são geralmente conhecidos. Milhares de estudantes compareceram no dia 17 de Abril em apoio da reivindicação estudantil, empunhando cartazes que referiam alguns dos objectivos da luta associativa: «Apoiamos a Direcção da AAC", «Em Portugal há 40% de analfabetos", «Reintegração de professores e estudantes expulsos", «Não esqueceremos os 9 pontos", «Ensino para todos», «Democratização do ensino», «Intervenção das AAEE na vida e na reforma da Universidade». « ... mas a Universidade é velha»; etc. Seria aliás dentro destes temas e das questões e objectivos gerais do MA, que o Presidente da DG da AAC iria intervir perante o ditador Tomás e seu séquito de ministros e demais autoridades académicas e militares, se a cerimónia não tivesse sido subitamente interrompida e as referidas autoridades não tivessem abandonado abruptamente a sala, perante a vaia dos estudantes que a pejavam por inteiro e transbordavam para o corredor e átrio de acesso. Esta intervenção bem como a de outros dirigentes estudantis veio, aliás, a ser feita nessa mesma sala para os estudantes presentes, após o abandono das autoridades.

A partir deste facto e deste dia 17 de Abril, que passaria à história do movimento associativo estudantil português, o Governo deixara cair em definitivo a máscara "Iiberalizante" que até usara na Universidade e para os estudantes. Ia entrar-se na fase da repressão inaudita e indiscriminada. Primeiro, sobre dirigentes da AAC, da Junta de Delegados de Ciências e da CNEP, para os isolar e separar das massas estudantis e posteriormente, face à coesão, solidariedade e unidade estudantis, sobre a generalidade dos estudantes e até sobre populares que com eles se solidarizavam.

A «tolerância" e «respeito» pelas opiniões divergentes, de que Caetano e H. Saraiva se reclamavam vão assumir a sua verdadeira face. Suspensões das aulas, centenas de prisões, expulsões, provocações de todo o tipo e ocupação militar da cidade durante vários meses com polícia de choque, forças especiais da GNR apeada e a cavalo, PIDE e demais arsenal repressivo que o povo portugês bem conheceu durante os anos do fascismo.

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

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Por o r d ~ .. do Senhor Ministro da Eduçaç iio Nacio"al, qu. me ,

tre" ... i ~id. pe lo Senhor A.i tor oa Uni"lI r .idad ... no ti fico-o d" que fi -

e .. pr."e nti ..... " nte pr~\/.dD de tod .. s ... prerrogatilla. u,ü"ereitJllu .••

e proitlidod e qu"i'quera"tlllldaoes r e laclDna" •• co • • Univ lu",idade,

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bilid.d •• pelo.f.ct" •• "\r ..... .,ntegr ...... ocorrido.duro.nt •••••• io

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6 A resposta unitária e corajosa dos estudantes transforma a luta num poderoso movimento de massas

Desta luta dirá o PCP no seu documento «resolução do CC do PCP sobre a situação política» de Agosto de 1969.

«A luta dos estudantes é um grande mOVimento de massas . Não é condescender com as pretensões dirigistas do radicalismo pequeno-burguês, afirmar que os estudantes se encontram nas primeiras linhas da luta contra a ditadura fascista, e em diversos momentos e iniciativas, não só nas primeiras mas na primeira. As grandes lutas de Coimbra são porém o acontecimento maior deste período de· luta estudantil... A luta dos estudantes de Coimbra excedeu o âmbito estudantil e apareceu justamente aos olhos da opinião pública como uma grande batalha política.»

Dezenas de Plenários com milhares de estudantes realizados por cursos, por faculdades, em organizações culturais, nas «repúblicas» de estudantes, geraram e foram eles próprios componentes de um processo de massas que teria as suas fases de ascenso no «luto Académico» (eufemismo então usado para dizer greve) a aulas desde 23 de Abril até 6 de Maio (data do encerramento da Universidade pelo Governo) e na greve a exames da época de Junho/Julho cumprida a 86%, apesar das pressões económicas, físicas e psicológicas que de todo o tipo e de todo o lado sobre os estudantes se exerciam, e que apesar delas, coerentemente abdicaram do seu aproveita­mento escolar para responder em uníssono em defesa dos seus dirigentes e demais colegas, alvo de processos disciplinares e criminais . Foi a hora da magnífica solidariedade estudantil.

Assegurar a direcção justa, reforçar a organização, a base de massas e a unidade, condições da vitória

Foi já referido o quadro objectivo em que decorreu a crise de 1969. Mas foi da convergência de factores objectivos com os de ordem subjectiva que verdadeiramente se construiram os êxitos e a vitória.

A Direcção-Geral havia sido eleita em Fevereiro por menos de 3 000 estudantes

(só os sócios da AAC podiam votar) apesar de ser a maior participação de sempre em Coimbra. Contudo foram 5 000 os estudantes que em Maio votaram a greve a exames, dentre uma população académica estimulada em 8 000 estudantes (dos quais cerca de 2 000 apenas inscritos, mas afastados realmente de Coimbra, quer devido à guerra colonial ou em regime de voluntários) e desses 5 000 participantes na Assembleia Magna só 190 votaram contra a greve e apenas 40 se abstiveram.

Eram mais de 4 000 os que no dia 1.° de Maio desmascararam e denunciaram em Plenário no Pátio da Universidade o ministro Saraiva que no dia anterior perorava na TV (há 10 anos como hoje a RTP gostava muito de J.H.Saraiva e este da RTP) em violenta diatribe contra os estudantes.

Ou seja, a partir destes dois exemplos entre muitos, se verifica que o movimento de massas ganhou dimensão, ampliou a sua base de apoio e reforçou-se.

Para isso contribuiram decisivamente o fortalecimento e defesa das estruturas associativas existentes, a criação de novas estruturas adequadas às novas realidades as Juntas de Delegados, eleitas nos cursos, são disso um bom exemplo - e o melhor enlaçamento orgânico entre a. cúpula associativa, a Direcção-Geral e as estruturas intermédias - as Juntas de Delegados - , o que tudo possibilitou aproximar muito mais a AAC da Universidade e dos cursos, quebrando o tradicional isolamento orgânico da Associação Académica de que o fascismo sempre se ía servindo quando reprimia, encerrando-a.

O fortalecimento da unidade interna do MA atraindo à luta os estudantes mais novos ou com menos consciência da problemática estudantil, nomeadamente das jovens universitárias, nas sua maioria católicas e a viver em lares de disciplina rígida dirigidos por religiosos, foi uma direcção de trabalho que a prática veio mostrar como i mprencindível ao alargamento do movimento de massas. Do mesmo modo a acção de ganhar e enquadrar os professores dignos e honestos, ligando-os à luta estudantil, bem como o intenso trabalho de informação e esclarecimento junto da população, especialmente da cidade de Coimbra, e igualmente junto dos pais dos estudantes, foram importantes contributos para atenuar, neutralizar

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e combater a acção de contra-ofensiva das forças reaccionárias, ganhando simultanea­mente apoios sempre crescentes e desencadeando uma vasta onda de simpatia e solidariedade com o movimento estudantil.

Criar condições e ter conseguido representar Brecht, ver o «Couraçado Potemkine», ter em convívios Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, discutir em colóquios com intelectuais progressistas a situação económica ou o neo-realismo traduziram-se num importante reforço d~ consciêcia estudantil e garantiram o enquadramento emocional e político da luta pelos objectivos mais imediatos. Ter distribuído milhares de flores (5 anos antes de Abril) à cidade de Coimbra acompanhados de poemas pollcopiados, fazer subir milhares de balões, suspendendo faixas onde se escreviam os objectivos centrais, o aproveitamento dos jogos de futebol da Académica, particular­mente a final da Taça de Portugal no Estádio Nacional, constituiram poderosas manifes­tações no plano da agitação de rua, de contacto com as populações, da propaganda da luta.

Os estudantes de Coimbra venceram em todos os pontos fundamentais

A luta de Coimbra sempre se processou de modo a nunca se deixar isolar das grandes massas do povo português. De facto, tal nunca poderia ter sucedido nem sLlcedeu. Os estudantes contaram desde do início com a activa solidariedade dos seus colegas de Lisboa, do Porto e dos estudantes do ensino secundário, um pouco por todo o país. Mas de igual modo contaram com a fraternidade de combate da classe operária e dos democratas portugueses, que por formas diversas sistematicamente apoiaram e divulgaram a luta que em Coimbra se desenrolava.

A dinâmica Interna do movimento de massas da Juventude estudantil de Coimbra em 1969 a par com a solidarie­dade e Impacto politico nacional e Internacional que gerou, tornaram Inevitável o recuo politico da ditadura fascista no tocante às medidas

. repressivas utilizadas. Os estudantes de facto venceram e nem

a circustância de terem surgido na última f ase do processo certas tendências capitulacionistas ao lado de outras de tipo verbalista, anula o balanço francamente positivo de uma luta que obrigou à demissão do ministro Saraiva, do Reitor da Universidade e das principais autoridades académicas , que forçou o demagogo Caetano a ter de amnistiar centenas de estudantes inculpados em processos criminais e disciplinares, que obrigou à anulação da incorporação ilegal e arb i trária de 49 dirigentes e à normalização da vida associativa com a reabertura da AAC .

Obviamente a luta dos estudantes de Coimbra não terminou em 1969. Até Abril de 1974 a luta continuou a ser uma dura luta contra o fascismo. A luta dos estudantes portugueses continua ainda hoje a ser uma luta exaltante integrada na luta mais geral da juventude portuguesa, força viva e actuante do movimento popular.

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TER: o divisionismo

"",

emacçao o divisionismo é de novo um perigo que

espreita o desenvolvimento democrático e unitário do MA. Depois do abordado projecto COMORG, têm vindo a ressurgir no horizonte do MA, intenções e projectos que, colocando no seu centro a necessidade de uma estruturação à escala nacional do MA, transportam consigo os gérmens do divisionismo. Desta feita, é a JSD quem, através da auto-proclamada Tendência Estudantil Reformista (TER), assume a vanguarda do divisionismo.

Inchada por alguns êxitos recentes, com destaque para a tangencial vitória obtida nas eleições para a AAC, mas pouco disposta a correr os riscos da democracia até ao fim, já que estes mostram além de tudo o mais uma influência considerável da corrente unitária no MA, a JSD terá julgado chegado o momento de revelar a sua verdadeira face, divisionista e partidarizante, controleirista e antidemocrática.

Assim , em Dezembro de 1978 , organizados em «Congresso Constitutivo da Tendência Estudantil Reformista» os jovens sociais-democratas de 45 DDAAEE, 5 das quais apenas do ensino superior, decidem dar corpo à TER. Projecto partidário, a TER suscita na altura um entusiasmo particularmente marcante no sector inadiável da JSD, com a DAE 1ST à cabeça. Mas os sá carneiristas, embora com reservas, acompanham a passada. A ideia não é, no dizer os promotores, o de mais uma central sindical paralela, uma UNEP amarela . Há que constituir esta rapidamente, sim, mas em conjunto com as outras tendências e, simultaneamente, há que avançar para um Conselho Nacional de Juventude.

Mas, mais para além das intenções, ficam os factos. E os factos apontam claramente no sentido do divisionismo. Divisionismo que começa na criação de um projéctil chamado associativismo reformista.

Que o associativismo reformista é um corpo estranho no MA não há dúvidas: as Associações de Estudantes não são reformistas, nem socialistas, nem maoístas, nem comunistas. São associações de estudantes e é tudo. Definindo-se como un i tár i as , representando todos os estudantes, quaisquer que sejam as suas opções politicas e partidárias, as AAEE não são propriedade de nenhum grupo político nem de nenhuma corrente de pensamento organizada.

Divisionismo que se prolonga na constituição de estruturas paralelas de carácter nacional , viradas para a arregimentação demagógica dos estudantes: turismo, campismo, etc.

Divisionismo que passa sobretudo pelo sonho alimentado e semiconfessado de erguer uma UNEP contra os estudantes. A TER/PPD é, com efeito, um projecto que, em última análise, visa a liquidação do MA e a divisão dos estudantes.

Os mais recentes acontecimentos na JSD, nomeadamente a saída da corrente "inadiável» da organização de juventude do PPD/PSD, tomaram obscuro o projecto TER. Claro nunca tinha sido ele, mas agora, comadres zangadas, sociais-democratas divididos, a coisa tomou-se mesmo escura.

De qualquer modo, o perigo não desapareceu do horizonte: Tanto mais que tanto "inadiáveis» como «sá cameiristas» parecem dispostos a manter a unidade no plano associativo, apresentando, na grande maioria dos casos, candidaturas únicas às eleições. Neste caso, a TER poderia, além de tudo o mais, impor-se como estrutura de unidade entre os que ficavam e os que saíam.

Claro ou obscuro, há uma coisa que é clara no projecto TER/PPD: o seu divisionismo descarado. E este, há que continuar a combatê-lo, porque, mesmo que momentaneamente paralisado, ele pode ressurgir.

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8 Eleições Associativas no Superior Passadas que foram as eleições para a gestão, estão à porta as eleições associativas, no Ensino Superior. Durante os mesas de Maio e Junho serão escolhidas por todo o pais novas direcções das Associações de Estudantes.

Entretanto já sucederam algumas eleições. Em Coimbra para a Direcção­-Geral da AAC, a JSD teve uma vitória tangencial. Em Lisboa, no ISEF e no ISCAL as listas unitárias tiveram a primazia. Na primeira escola foi a única lista a concorrer tendo obtido 75% dos votos expressos, e na segunda teve 251 votos contra 128 duma lista ligada à JS.

Neste momento de crescente dinâmica do MA, alguns aspectos são necessários colocar quanto às eleições associativas, tendo como base os resultados para as eleições dos órgãos de gestão e os primeiros resultados obtidos.

DERROTAR O DIVISIONISMO

Um primeiro aspecto reside na necessidade de derrotar o divisionismo, perigo principal do MA de que é expressão no plano nacional a denominada TER da JSD.

Derrotar o divisionismo porque as Associações de Estudantes não são propriedade de nenhum grupo ou partido político, nem uma direcção pode empurrar uma AE, isto é todos os estudantes, para uma filiação numa estrutura partidária. Derrotar o divisionismo porque a sua acção

ESCOLAS

LISBOA I. S. ECONOMIA MEDICINA ARTES PLÁSTICAS E DESIGN CI@NCIAS

I.S. TÉCNICO

LETRAS

A FESTA ABRIL 79 DA ASSOCIAÇÃO

dos estudantes do Instituto Superior de Economia

Sábado, dia 28

Manhã despon iva

10 h - Corrida popular e estudsntil à volta Me S. Bento. T omeio de futebol de 5. Simultânea de Xadrez com João Sequeira. campeão nacional de juniores.

1"1 h ..;... Finais do tomeio de pin~pong,

12.30 às 14.30 e das 20 h às 21 ,30 - serviço e,;cepcional de cantina.

1S h - Feirado livro - ';descontos·1 de 40% ANF.1 ás 20 h Exposição do livro técnico Museu

5 horas com a Pantera cor-de-rosa ANF.2 Exposições e diversões varias. Tarde musical com: Go Graal Blues Band. Brigada Victor Jara, José Fanha, Shila, Rai· mundo Luis e Amaldo, Grupo Cultural dos Estudantes da Guiné e C~Verde, Adriano C. Oliveira, Vum·Vum. António P",taneL

desagregadora tende a liquidar o MA e a dividir os estudantes, enfraquecendo a acção estudantil contra uma política tal como a que é aplicada pelo Governo Mota Pinto.

ALARGAR A UNIDADE Um segundo aspecto e ligado ao primeiro,

centra-se na necessidade de desenvolver e alargar a unidade, primado do reforço do MA.

Alargar a unidade, constituindo listas unitárias baseadas não em afinidades ideológicas, mas na acção concreta do MA para a sua defesa e desenvolvimento. Unir na acção as grandes massas estudantis na base de propostas concretas de unidade, é uma tarefa de muita importância no actual momento.

Mais umas eleições associativas têm lugar. Entretanto fica a certeza de que a unidade saberá impor-se e o divisionismo será derrotado.

Quando este número de LG chegar às tuas mãos, várias eleições estão prestes a se realizar, decorrendo ainda campanhas eleitorais ou o período de apresentação de listas. Por isso e para melhor informação apresentamos no quadro abaixo, o calendário eleitoral das eleições já marcadas.

CAMPANHA ELEITORAL

2/15 MAIO 12/22 MAIO 14/22 MAIO 14/22 MAIO

78/79

-40.000

s..OCO

2.8 VOLTA 21/18 MAIO 1/4 JUNHO 2.8 VOLTA

19/MAIO/3 JUNHO

No ISE, a alegria, a festa

UNIT.QIAS

Pso

~ .. . """ :~~::- . ....... ~

.. ....... Js _._ .-tisa -

VOTAÇÃO

16/17/18 MAIO 23/24 MAIO

23/24/25 MAIO 23/24/25 MAIO

28/29 MAIO 29/30/31 MAIO 5/6/7 JUNHO 4/5/6 JUNHO

O ISE parecia estar mesmo diferente. Enquadrados por diversas exposições de cartazes e de fotografias e por uma feira do livro, sucederam-se colóquios e debates sobre problemas de ensino, sessões de teatro e de cinema.

Muitas foram as presenças no ciclo do novo cinema socialista e na apresentação das peças «Avareza, luxúria e morte na Arena Ibérica" do Teatro do Nosso Tempo e na «Mãe Parda" do grupo de marionetas S. Lourenço e o Diabo. No domínio do teatro de salientar, ainda a ida colectiva ao Teatro da Comucópia.

Mas o grande dia foi o do encerramento.

Constituiu uma iniciativa inédita no MA dos estudantes de Lisboa.

Durante nove dias, tiveram lugar mais de 20 iniciativas que tocaram os mais variados domínios da actividade associativa e estudantil.

«Há quatro anos que cá estou. Há quatro anos que esperava uma iniciativa como esta", afirmava o João António. «Coisas. destas permitem um melhor convívio entre a malta".

Pois houve festa no ISE. Abril foi o seu mês. O mês da 1.· Festa da AEISE, que decorreu entre 18 e 28.

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1.a

de assembleia

uee militantes da do distrito de évora Sobre o lema - "Defender a escola de Abril. Uma UEC mais forte nos campos

da Reforma Agrária" -decorreu no passado dia 1 de Abril no Palácio D. Manuel em Évora a 1.8 Assembleia de Militantes de UEC do distrito de Évora.

Como em qualquer das já realizadas de N9rte a Sul do pais, a UEC saiu desta Assembleia senão mais forte e coesa, pelo menos com directrizes e linhas de

orientação geral, que permitirão à Direcção Distrital então eleita dinamizar todo um trabalho apontado à construção nos campos do Alentejo da UEC que

podemos e queremos construir.

Foi de facto em ambiente de alegria e franco convívio, aliados a um sério trabalho, que foram abordados os quatro pontos da ordem de trabalhos: O trabalho da UEC de 1974 a 1978; Movimento Estudantil ; Organização da UEC ; Cooperação UEC/UJC e Eleição da Direcção Distrital, pelos 130 estudantes presentes, dos quais 75 eram delegados.

passos dados pela nossa organização, nomeadamente na quase triplicação de militantes no distrito, uma regular recolha de fundos e quotas e no reforço do Movimento Associativo - é que somos a grande força estudantil no distrito de Évora - durante os poucos meses passados do presente ano lectivo.

A Reforma Agrária, como não poderia deixar de ser, foi focada na maioria das intervenções, nomeadamente numa feita por um camarada da CEARA (Comissão Estudantil de Apoio à Reforma Agrária) ,

Foi assim que, dando uma volta por quase todas as escolas do distrito, de uma retrospectiva do trabalho de organização - fundos, propaganda, Linha Geral, trabalho de férias, recrutamento, trabalho cultural - até ao trabalho unitário e Movimento Estudantil e Associativo, os delegados e convidados intervieram activamente no decorrer dos trabalhos.

. organismo que a UEC está interessada em apoiar e dinamizar - demonstrando deste modo o carácter de integração que o ensino deve ter, seja a que nível for em em qualquer local do nosso país.

Do balanço feito no 1.° ponto da ordem de trabalhos e da actual organização que possuímos em Évora ressaltam os grandes

passatempo Mais um passatempo com números. Partindo do número inferior, obtém

o número superior, sabendo que: - quando sobes, multiplicas o seu total

pelo número da casa a que se dirige; - quando desces, divides o seu total pelo

número da casa a que se dirige; - quando viras à direita, adicionas o seu

total ao número da casa a que se dirige; - quando viras à esquerda, subtrais

o seu total ao número da casa a que se dirige.

Não utilizes senão as casas que têm um lado comum e não passes mais de duas vezes por uma mesma casa.

Estiveram· também presentes os camaradas Dinis Miranda da Comissão Política do Comité Central do PCP

2

2 2 2

2 2 2

2 2 2

2

e Bernardina Sebastião da Comissão Executiva da Comissão Central da UJC que se debruçaram respectivamente sobre a situação política e sobre a actividade e os problemas dos trabalhadores-estudantes e juventude trabalhadora.

Além do trabalho preparatório, em que foram editados 7 documentos, discutidos em 38 reun iões com uma participação total de 260 militantes e estudantes, que foi sem dúvida algum intensivo, e por isso próspero, uma atenção muito especial deve ser dada ao trabalho fu turo do qual dependerá a nossa organização, e a unidade dos estudantes em torno dos ideais do 25 de Abril e da Constituição Portuguesa.

Solução do n.o anterior:

1 + é x 1 =7

+ + x

3 + 5 = 2 =4

: - +

2 + 6 - 3 =5

";;2 =5 =5

S» C (1) n (1)

3 3 O < _. 3 (1) ::J

O

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10

vamos /-

al1lpan

561 contos já recolhidos na campanha dos 100$00

A campanha dos 100$00 está na estrada. Decidida pela reunião da Comissão

Central da UEC de 17 e 18 de Março, o seu objectivo central é o de acorrer aos entraves que as dificuldades financeiras levantam ao alargamento e intensificação da actividade da UEC.

Decorrendo sob o lema "Vamos apoiar a UEC" a campanha dos 100$00 terminará no fim deste mês.

Uma ideia fundamental encontra-se na sua base: a de lançar, em todos os sectores que a UEC toca, uma dinâmica que permita a recolha de milhares de contribuições de 100$00. Isto é, não se trata tanto de alcançar

como noutras campanhas uma meta pré­-fixada mas sobretudo de recolher tantas contribuições de 100$00 quanto o número de militantes da UEC . Que nenhum militante, simpatizante ou amigo da UEC deixe de dar a sua contribuição de 100$00.

Quem não puder que recolha 5, 6, 7 ou mais contribuições que juntas perfaçam 100$00.

Quem puder contribuir com mais, que dê 5, 6, 7 ou mais contribuições de 100$00. Para a recolha destas contribuições existe um único material: uma folha de fundos numerada com cupões destacáveis de 20$00 (2) , 10$00 (2) , 5$00 (8) , que podem ser vendidos separadamente ou em conjunto.

Apontada para a recolha de muitos milhares de 100$00, a campanha dos 100$00 vive também muito da emulação entre, organizações, camaradas e amigos.

O pr6prio símbolo da campanha - um ciclista - visa acentuar esse carácter de sã competição. Está igualmente instituído um sistema de classificações - individuais e colectivas - baseado na atribuição de camisolas. Por cada 100$00 recolhidos, isto é, por cada meta cortada, cada camarada recebe um autocolante com os dizeres «eu já cortei a meta dos 100$00" .

Um mês e meio depois do seu início, menos de um mês antes do seu termo, a campanha dos 1 00$00, tendo já ganho uma boa pedalada, apresenta resultados muitíssimo satisfatórios. Até dia 3 de Maio tinham sido cortadas 5616 metas, o mesmo é dizer que tinham recolhido 561 600$00. Organizações há - Secundário do Sul, Centro e Setúbal - que já atingiram os 100 pontos, alcançando assim as suas metas próprias. Outras, embora mais atrasadas, realizaram também um importante esforço, e atingir os 100 pontos é agora uma questão de entusiasmo e imaginação.

Satisfatórios, os resultados alcançados não devem porém fazer adormecer a vigilância dos militantes e organizações. Para que o objectivo final da Campanha seja alcançado - recolher tantas contribuições de 100$00 quanto o número de militantes da UEC - ainda há muito que pedalar.

Que nenhum militante deixe de cortar a meta

Há particularmente que s~perar ur:na deficiência ainda muito notóna: o baixo número de militantes tocados ainda pela Campanha. Segundo os dados apurados em 3 de Maio, era apenas de 948 o número de camaradas que já havia cortado pelos menos uma vez a meta. Isto é, na grande maioria das organizações, a Campanha é ainda fruto exclusivo do esforço concentrado de um pequeno número de entusiastas.

Há que modificar rapidamente esta situação.

Se 948 camaradas recolheram até agora mais de 560 contos, quanto dinheiro não recolheremos quando envolvermos na Campanha os 8000 camaradas que militam nas fileiras da UEC.

Mi li tante a militante, pacientemente, matando em muitos casos contactos perdidos, há que fazer da Campanha dos 100$00 uma realidade presente, mas pressupõe mais esforços e mais energias de todos e cada um dos militantes da UEC.

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o José Marques continua de amarelo.

Tendo cortado 56 metas (!) durante a 2. 8 etapa, este camarada do ISEL soma agora 79 metas.

As restantes camisolas essas, porém, mudaram de corpo. A camisola verde é agora envergada pelo Paulo Canto e Castro (Económicas de lisboa), enquanto que para o terceiro lugar (camisola azul) há igualdade de metas entre o Girão (Barreiro) e a Herculana de Carvalho (Enfermagem do Porto).

Eis a classificação individual ao fim da 2.8 etapa:

1.° (camisola amarela): José Marques (ISEL) -79 metas; 2.° (camisola verde): Paulo Canto e Castro (ISE) - 67 metas; 3.° ex-aequo (camisola azul) : Girão (LN-Barreiro) e Herculana de Carvalho (Enf. Porto) - 65 metas.

Uma pergunta surge ansiosa em muitas bocas: será que o Marques aguenta até ao fim? E outra logo: na renhida

A 3 de Maio terminou a 2.8

etapa da Campanha dos 100$00. Etapa particularmente exigente, já que, após uma 1.8

etapa, mais orientada para o reconhecimento do percurso e para a rodagem das equipas tratava-se agora de mostrar a real valia de cada equipa, o seu dinamismo e entusiasmo. Para os que estavam na frente, o objectivo era o de defender as posições obtidas ou mesmo de as melhorar . Para os que ocupavam as posições retardatárias, o desafio era recuperar o tempo perdido, trepando lugares na clas­sificação geral.

A realidade não desmentiu as previsões. O nível de competição desta 2.8 etapa foi de facto muito bom, e algumas modificações tiveram lugar na classificação geral. As mais

CAMISOLA AMARELA REFORÇA POSiÇÃO

disputa entre os 2.° e 3.° lugares - a diferença é apenas de 2 metas - quem vai ficar para trás?

PROSSEGUIR COM AS INICIATIVAS

Um dos êxitos essenciais da Campanha dos 100$00 é constituído pela frente das iniciativas. Desde o início da Campanha que a ideia era a de fazer saltar a Campanha para fora da organização, levando-a aos estudantes, multiplicando as pequenas e grandes iniciativas . No primeiro controlo efectuado a 3 de Abril, essa directriz foi mais uma vez reforçada.

Agora , com o segundo controlo,' começam já a aparecer alguns resultados palpáveis. Embora de uma forma desigual e com deficiências ainda grandes de concretização, são já muitas e variadas as iniciativas que surgem.

Alguns exemplos: No Centro : um baile na

Marinha Grande, uma Festa da Juventude em Campo Maior, dois porta-a-porta em Alpiarça e no Couço , um almoço

convívio em Coruche, dois sorteios nas Caldas da Rainha. Além, (claro!) da participação na Festa da Primavera.

N a o r g a n i z a ç ã o do Secundário de Lisboa realizaram-se também porta­-a-porta, rifas, espectáculos.

No Supérior de Lisboa, a organ ização do 1ST organizou uma banca do livro técnico.

Em Setúbal, tiveram lugar algumas passagens de filmes.

No Sul: pasagens de filmes (5), uma festa em Faro e dois porta-a-porta em Vila Viçosa e Mora.

Uma chamada de atenção, entrentanto, para o Norte e Beiras onde até agora esta frente não arrancou.

Tanto aí, como nos outros sectores, há que conferir redobrado dinamismo a esta frente . Só multiplicando as iniciativas e diversificando-as poderemos levar a Campanha a um número cada vez maior de estudantes. Concretizar, concretizar mais, sempre. Eis pois a palavra de ordem que urge pôr em prática no tocante às iniciativas.

MÃOS A OBRA!

O SUL DESTRONA O CENTRO

importantes: um novo camisola encamada - o secundário do Sul destronou o secundário do Centro - e um novo lanterna vermelha - o superior de Coimbra vai agora em último, enquanto o superior do Porto trepou de 9.° para 7.°. Ainda a registar: as subidas de secundário de Setúbal, de 4.° para 3.°, e do secundário do Norte de 7 . ° para 6.° . O primeiro lugar nesta 2.8

etapa foi para o secundário de Setúbal.

Eis as classificações apuradas na 2.8 etapa:

1.° Sec. de Setúbal 2.° Sec. do Sul 3.° Sec. do Centro 4.° Sup. de Lisboa 5.° Sec. de Lisboa 6.° Sec. do Norte 7.° Sup. do Porto 8.° Sec. das Beiras 9.° Sup. de Coimbra _

95,6p. 92,6p. 80,2p. 86,1 p. 54,1 p. 29,7p. 29,1 p. 21 p. 15,2p.

Após esta 2.8 etapa, a clas­sificação geral por equipas ficou ordenada como segue:

1.° (Cam. encamada Sec. do Sul

2. ° Sec. do Centro 3.° Sec. de Setúbal 4.° Sup. de Lisboa 5.° Sec. de Lisboa 6.° Sec. do Norte 7.° Sec. do Porto 8.° Sec. das Beiras 9.° (Lantema Vermelha)

Sup. de Coimbra

114 p. 110,2p. 109 p. 86,6p. 64,7p. 37 p. 34,3p. 26,8p.

24,2p.

No tocante à distribuição por sectores do total de 561 ' 600$00 recolhidos após as 2 primeiras etapas, ela ordena-se como segue:

Sec. do Norte Sup. do Porto Sec. das Beiras Sup. de Coimbra Sec. do Centro Sec. de Lisboa Sup. de Lisboa Sec. de Setúbal Sec.doSul Diversos

47000$ 26000$ 17800$ 12200$ 86400$

129500$ 113800$ 70000$ 56200$ 2700$

O desafio está pois lançado: que ganhe o melhor!

Os Gwendal em Portugal

Uma boa noticia para vocês todos. Uma grande notícia mesmo.

Em datas e locais que oportunamente serão divulgados, mas que se situarão nas imediações da semana 16 a 23 Junho, irão realizar-se 3 Festivais de Encerramento da Campanha dos 100$00.

Estes Festivais, que irão culminar de forma invulgarmente feliz o grande êxito politico que é já a Campanha dos 100$00, contarão com a presença do grupo Gwendal. Levam mesmo bem .. . os Gwendal estarão em Portugal, trazidos pela UEC para os Festivais de Encerramento da Campanha dos 100$00.

Franceses, os Gwendal são compostos por Bruno Barre (violino), Ywen le Barre (flautas, sax, bombarda), Ricky Caunt (bandolim, guitarra eléctrica , dulcimer) , Jean Marie Renard (gu i tarra acústica), Roger Schaub (baixo) e Arnaud Rogers (bateria) . Intérpretes de uma música que busca os seus caminhos na riquíssima tradição popular bretã, combinada aqui e acolá com desenvolvimentos melódicos de tendência jazística, os Gwendal gravaram já três LPs, um dos quais editado em Portugal e são conhecidos como um dos grupos mais

. significativos da música cefolk» que por toda a Europa se vai fazendo hoje em dia.

Oportunidade rara de ouvir boa música, música de festa, os Festivais de Encerramento da Campanha dos 100$00 devem integrar-se desde já nas agendas de cada um.

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No dia 6 de Maio, o ensino unificado esteve em debate, no anfiteatro 1 da faculdade de Letras de Lisboa.

A realização desta iniciativa dos estudantes comunistas tem lugar num momento de grande ofensiva da direita, que visa a liquidação das conquistas de Abril e do regime democrático. Tal ofensiva faz­-se sentir também no ensino. De uma situação de crise já herdada do fascismo, o ensino em Portugal agrava o seu carácter elitista e torna-se caduco, pela política de recuperação obscurant i sta , desembrulhada por Cardia e fielmente seguida pelos governos seguintes, até Mota Pinto que a mantém.

Sejam o cardia de 77 ou Mota Pinto de 79, a política continua a mesma. Por isso estudantes e professores repudiam essa política e tentam debater e encontrar soluções para os grandes problemas no ensino; impedir a inviabilização do ensino unificado e exigir o seu funcionamento e desenvolvimento, é uma luta do presente.

Por isso estas jornadas sobre o ensino unificado, são uma forma de lutarmos e darmos a nossa contribuição para o ensino unificado, que estudantes e professores querem e que o Portugal democrático exige.

TODO O DIA, ALEGRIA E TRABALHO

Era manhã cedo e já cerca de uma centena de jovens estavam sentados na escadaria da reitoria; uns petiscavam um pequeno almoço, outros cantavam. No anfiteatro, tudo preparado e os pormenores de última hora a serem resolvidos.

Das várias regiões do país vieram saudações de apoio às jornadas; tomadas de posição de estruturas unitárias, dos

pioneiros, da UJC, do PCP e de inúmeras células da UEC.

As várias intervenções souberam dar uma imagem real do unificado real que temos por todo o país. Os exemplos maus, as experiências boas, contribuiram para o enriquecimento dos debates e conclusões. A luta reivindicat iva, o problema das instalações, as actividades fascistas no Porto, o M. A. órgãos de gestão e unificado, a área de agro pecuária no Alentejo e a Reforma Agrária, foram alguns dos temas debatidos.

Os diapositivos ilustrando os vários temas, completavam as intervenções duma forma criativa.

UMA MESA REDONDA No início da tarde, realizou-se uma Mesa Redonda onde participaram os professores Antunes d~ Silva, Graça Fernandes, Paulo Sucena e ainda João Alpiarça, técnico de educação. Estiveram ainda na Mesa, Pedro

ensino unificado que temos

ao ensino unificado que queremos

Ferreira da Direcção do Secundário de Lisboa, Rui Sá, estudantes do E. Secundário do Porto, Pedro Rosas, da C. C. e Direcção Central do E . Secundário , e um representante da J. S. Como moderadora esteve Inês de Castro.

3 temas em debate: o ensino unificado na perspectiva da democratização do ensino, medidas que contrariam a aplicação do ensino unificado e ensino unificado - perspectivas da sua defesa.

O debate decorreu animado, tendo a mesa esclarecido e clarificado muitas das questões postas por participantes e convidados.

A mesa redonda teve que terminar, numa altura em que o tempo já prometia não chegar para todo o resto da sessão. Um bom sinal de participação e interesse.

ENTUSIASMO PRESENTEI No fim ou no meio das intervenções,

participantes e convidados manifestavam a alegria de serem jovens e estarem numa iniciativa deste tipo. As palmas e insistentes palavras de ordem eram uma forma viva de participação que só raras vezes foi dispensada.

Também o apoio à R. A., a condenação do governo Mota Pinto, o ano da criança, a solidariedade internacional e o IX Congresso do PCP, foram alvo de tomadas de posição unânimes por parte dos participantes.

A sessão de encerramento terminou com intervenções da UJC e do PCP e aprovação do documento final.

Logo a seguir o local ficou animado por um convívio, onde participaram Carlos Paredes, Teresa Paula Brito e um grupo de amadores, nestas andanças, mas atenção, pois prometem .. .

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Talvez não nos lembremos muitas vezes da palavra "escola" , mas às vezes acontece.

Porque não procurar no dicionário, o significado exacto dela?

Vamos experimentar! ESCOLA. Casa ou estabelecimento em que se

ensina ENSINAR. Instruir, transmitir conhecimento a ... CONHECIMENTO. Ideia IDEIA. Concepção CONCEPÇÃO. Acto de ser concebido, de ser

gerado GERAR. Produzir, desenvolver, formar PRODUZIR. Gerar, desenvolver DESENVOLVER. Fazer crescer, dar mais força a ... FORMAR. Produzir, criar.

Tiremos a conclusão:

A escola é a casa ou estabelecimento em que se produz, em que se desenvolve, em que se forma.

A escola é a casa ou estabelecimento, onde se gera, onde se cria, onde se faz crescer.

A escola é? .. Não, a escola deve ser! Com Abril nasceu um projecto de ensino, com novas

características e com objectivos concretos: Democratização do ensino em Portugal, transformar a escola num lugar de aprendizagem da Democracia.

Nome: ENSINO UNIFICADO "A sua criação foi fruto de uma exigência nascida da

revolução de Abril e do cumprimento da Constituição" . Os programas tinham como objectivo:

• Fomentar nos alunos atitudes e hábitos de pesquisa, através de contactos com o meio ambiente, realizando excursões e viagens de estudo, trabalhos de investigação em bibliotecas, museus, editores, etc.

• Consolidar e aprofundar os conhecimentos gerais e específicos, através do contacto e da prática com ferramentas manuais, promovendo visitas a fábricas dos vários ramos de actividade, facultando paralelamente a integração dos alunos nas vias de formação profissional.

• Desenvolver o espírito crítico através da discussão dos principais problemas nacionais ou regionais, elaborando textos, promovendo debates, fazendo entrevistas, etc.

Escola e sociedade 13 Os programas do ensino unificado tinham também

como objectivo, ligar realmente a escola aos trabalhos dos campos e das fábricas; dar a conhecer aos estudantes e sensibilizá-los para as realidades de um país novo que nasceu de uma revolução. As dificuldades para ele crescer, para o fazer produzir e se desenvolver deve motivar um esforço redobrado, sendo este partilhado pela juventude. Para dar mais força à liberdade conquistada tornava-se necessária a união e colaboração íntima da teoria com a prática.

Fazer sentir aos estudantes a realidade da Reforma Agrária, das nacionalizações, do controlo operário, era um obectivo principal do ensino unificado. Conhecedor da realidade e sensibilizado, o jovem sente o dever de estudar, de aprender, utilizando esse saber para consolidar ainda mais as conquistas da revolução, traçadas na constituição.

Era preciso ensinar os jovens a viver e a trabalharem num espírito de amizade e ajuda mútua, condição também necessária para o desenvolvimento de uma sociedade democrática. Para isso contribuiram as manhãs cívicas e politécnicas.

A concretização de tais projectos tem que ter em conta uma adequada preparação dos professores segundo os novos métodos de ensino e um apetrechamento das escolas em material técnico e meios, de acordo com os programas.

Uma formação democrática

(Dos documentos do encontro) "A formação de personalidades equilibradas e desenvolvidas não se faz apenas através duma instrução baseada no constante desenvolvimento da Ciência e da tecnologia. Essa formação faz-se também através de uma educação que assente no conhecimento e apreensão dos valores da paz, da justiça e do progresso social" .

Estes eram objectivos do ensino unificado, adulterados e deturpados, pela actuação dos últimos governos constitucionais.

"O que está mal, o que está errado, não são de facto os princípios norteadores da criação do ensino unificado, mas sim a não aplicação dos mesmos."

Não se trata de exigirmos "um ensino para o socialismo, que só o regime socialista permitirá". Trata-se sim de exigirmos uma escola e um ensino adequados à nova realidade socio-económica do país, virada para o futuro que aponta a Constituição.

DeStas jOrnadas fsz$mos às Associações de EstUdantes, Órgãos de Gestão, Delegados de tu(ITla e outras ~ unítáriâs, que tomem nas suas mãos estas propostas para o ensino unificado que queremos

2. Combater as actividades dos fascistas, impedindo-se a sua propaganda e respeitando-se a Constituição

3. Intensificar a luta em cada escola, pOr melhoramentos específicos das condições de trabalho e de estudo

a educação. e particularmente no apoio social escolar

7. Lutar pela reintrodução de uma área de educação civica e politécnica.

8. Lutar pela definição de uma politica de reestruturação democrática dos C. Complementares e exigirmos esclarecimento sobre o 11.0

e 12.0 anos. Defender o En.lno Unificado no imediato é:

1. Exigirmos a revogação dos exemes no 8.0

, 9 ,0 e 10.0

ano, disciplinas terminais.

4. Lutar pela a~o da ~ de 1 a 5 na;avaliação para o 10." ano.

5. Exigir condições para o funcionamento das opções no 10.0 ano.

6. Lutar contra os cortes orçamentais, exígindo-se um aumento de verbas para

9. Lutar pela definição de uma politica de ocupação dos tempos livres para a juventude, distribuindo-se verbas e responsabilizando-se os órgãos de gestão em cada escola.

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IX Congresso do PCP É já no próximo dia 31 de Maio que terá in ício, no Barreiro, o IX Congresso do

PCP. Acontecimento maior na vida e actividade dos comunistas portugueses, o IX Congresso do PCP ocupa já o centro das atenções dos estudantes

comunistas. Os debates em torno do Projecto de Teses aprovado pelo CC e já distribuído, a eleição dos delegados e dos convidados, a divulgação do

congresso junto dos estudantes e nas escolas, constituem ocasiões seguras para melhorar a influência dos comunistas nas escolas, solidificando

a organização da UEC e o seu dinamismo. No sentido de possibilitar um melhor conhecimento e contacto com o IX

Congresso, com os seus objectivos e com o seu papel e importância na vida do Partido, LG entrevistou o camarada Blanqui Teixeira, membro da Comissão

Politica do Comité Central do PCP.

Relativamente às razões fundamentais que se encontram na base da convocação do IX Congresso para 31 de Maio, 1, 2 e 3 de Junho e simultanea­mente aos seus objectivos centrais, o camarada Blanqul Teixeira começou por dizer-nos: antes de mais, os Estatutos do Partido estipulam que o Congresso deve reunir com o intervalo máximo de três anos. Isto significa que, tendo-se realizado o VIII Congresso em Novembro de 1976, se deveria convocar o IX Congresso no ano corrente.

Foi necessário simplesmente definir o mês. Considerou o Comité Central que a melhor altura para a realização do Congresso, num ano em que há acontecimentos e realizações políticas praticamente marcadas - por exemplo, as eleições para as autarquias no final do ano -, seria aquela que foi apontada: 31 de Maio a 3 de Junho.

Para além da necessária subordinação aos Estatutos, é muito importante para o Partido a realização deste IX Congresso. É muito importante a análise do que foram os últimos 2 anos e meio e a actualização da orientação do Partido na actual situação política.

Estes são os objectivos centrais do próximo Congresso. Uma outra consequência natural do Congresso é a eleição do Comité Central, do organismo que dirige o Partido até ao Congresso seguinte.

BARREIRO: CENTRO OPERÁRIO

COM GRANDES TRADiÇÕES

REVOLUCIONÁRIAS

Sobre as razões que estiveram na base da escolha do Barreiro como local de realização do IX Congresso, afirmou em

seguida o camarada Blanqui Teixeira: como se sabe, o VIII Congresso do Partido teve lugar no grande salão da FIL (Feira Internacional de Lisboa), que foi adaptado para esse importante acontecimento. Há muita dificuldade em encontrar, em Lisboa e mesmo no pais, outras salas acessíveis que permitam o que foi possível com a FIL - uma grande presença de convidados.

Por isso, com a impossibilidade da utilização daquelas instalações decidida pelos seus actuais dirigentes, criou-se um problema para o qual se teve de encontrar uma solução.

Das hipóteses que apareceram, nitidamente com menor capacidade, recaiu a escolha num pavilhão do Barreiro.

Naturalmente que está ligada a esta decisão o facto do Barreiro ser um importante centro operário com grandes tradições revolucionárias . Trata-se duma terra que se tem desenvolvido a um ritmo notável e onde o Partido teve sempre uma implantação grande. Actualmente é dos concelhos industriais onde o nosso Partido tem maior influência.

O PROJECTO DE TESES: IMPORTÂNCIA E ESTRUTURA

Perguntámos depois em torno de que documentos iria incidir a discussão preparatória do Congresso?

Na sua reunião de '20 do mês passado, o Comité Central aprovou as Teses para discussão no Partido. Trata-se de um projecto de documento que está agora sendo apreciado pelas diversas organizações e organismos do Partido. É esse o único documento sobre o qual se debruçarão todos os membros do Partido para a preparação do Congresso.

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Essas Teses foram divulgadas no "Avante!" de 26 de Abril e, portanto, são públicas. É natural que muita gente que não é membro do Partido as conheça e sobre elas forme uma opinião . Embora o documento definitivo só seja aprovado pelo Congresso, interessa muito conversar sobre o teor deste projecto com muitos simpatizantes e outros que nem o sejam pois tal discussão poderá ajudar a esclarece-los sobre a nossa análise e a nossa orientação.

Solicitámos em seguida ao camarada Blanqui Teixeira que indicasse, de uma forma sintética, os pontos centrais sobre que as Teses incidem nomeadamente daqueles que consagram aspectos novos na linha do Partido.

Quanto aos aspectos novos da linha do Partido poderia responder que os há ou que os não há, consoante o entendimento que se tem de "aspectos novos".

Na verdade, nada do que aparece nas Teses aprovadas pelo Comité Central se poderá considerar como modificação clara na orientação que tem sido a base da nossa actuação. Mas não seria verdadeiro dizer-se que não há nenhuma matéria nova.

Eu considero que em muitos aspectos da nossa apreciação e do que apontamos como tarefas do Partido, há avanços em certas análises, há formulações diferentes, há novas direcções de trabalho. Não há, é certo, qualquer variação brusca em tudo o que temos difundido desde o nosso último Congresso.

Concretizando um pouco mais e referenciando os sete capítulos das Teses poderei acrescentar o sequinte.

A situação internacional, primeiro capítulo das Teses, é tratada como nunca o tinha sido, pelo menos desde o 25 de Abril . Em virtude disso terá grande interesse a sua discussão pois pela primeira vez o Partido de massas que é actualmente o PCP se irá debruçar colectivamente sobre uma análise da política internacional.

Não é que em outros documentos, em intervenções do Secretário Geral do Partido e outros dirigentes, em artigos publicados nos nossos órgãos, não tenham aparecido,

duma forma ou de outra, o principal das ideias expressadas. Mas a sua sistemati­zação agora apresentada não só arruma melhor as ideias como proporciona algumas definições mais precisas.

Não é novidade dizer-se que o tempo que decorreu desde o nosso VIII Congresso é caracterizado pela defesa das conquistas de Abril, por uma resistência crescente ao avanço da reacção.

O segundo capítulo trata exactamente da ofensiva reaccionária. Aí se afirma que "as características da democracia portuguesa criada pela revolução e consagrada na Constituição da República não constituem uma criação artificial , antes correspondem às condições objectivas concretas da sociedade portuguesa". Segue-se uma apreciação do que tem sido a recuperação capitalista, agrária e imperialista nos seus diversos aspectos e consequências.

Uma análise do ataque que tem sido realizado à democracia e à Constituição forma o terceiro capítulo.

Ante a ofensiva da reacção, sempre O Partido tem apresentado a possibilidade e a necessidade duma alternativa. O capítulo quarto é constituído pela plataforma para uma alternativa democrática . Nesta plataforma, onde surgem, naturalmente , algumas novas expressões, salientam-se as medidas propostas relativamente à política de desenvolvimento , à política financeira, à política industrial, à política agrária e à política comercial , as medidas para melhorar as condições de vida material e cultural do povo e as medidas para realizar uma política de independência nacional.

A luta do povo na defesa do Portugal de Abril constitui o quinto capítulo. Nele se dá realce às lutas de massas, nele se incluem as constantes contribuições dos trabalha­dores e outras camadas laboriosas nas diversas frentes económicas, nele se refere também a actuação junto dos órgãos do poder.

As experiências e as perspectivas do movimento popular nas suas diversas formas preenchem o conteúdo do capítulo seguinte.

Finalmente, o sétimo capítulo trata do Partido como "força política essencial da democracia portuguesa".

A DISCUSSÃO NO PARTIDO

Sobre o modo como está a ser preparado o Congresso pelas organizações do Partido, afirmou o camarada Blanqui Teixeira: estamos ainda no princípio do mês de Maio. As grandes organizações do Partido já estabeleceram o seu calendário de reuniões e distribuíram o número de delegados que é necessário eleger. Vão realizar-se milhares de reuniões, muitas delas aproveitadas para a eleição dos delegados.

Em muitos organismos e organizações a discussão das Teses já começou, ao mesmo tempo que, por todo o lado, os membros do Partido as vão lendo, vão tirando notas sobre elas, vão-se preparando para a sua discussão.

É fácil de compreender o relevo que uma discussão de massas bem orientada sobre um documento como este tem para o apuramento do seu conteúdo e para a aproximação das diversas opiniões. Isto é, para o fortalecimento da unidade interna do Partido e do seu nível político e ideológico.

A preparação do Congresso está igualmente a ser aproveitada para um melhor trabalho orgânico do Partido, quer no reforço da actividade das células, quer mesmo no recrutamento.

A JUVENTUDE E O CONGRESSO

F i n a I m e n te, a p r o pós i t o da importância do IX Congresso no trabalho e actividade das organizações da juventude comunista, da UJC e da UEC, o camarada Blanqui Teixeira declararia: é evidente que um Congreso do Partido tem uma grande importância para todos os jovens comunistas. Eu diria mais, para todos os jovens.

Não é uma simples frase quando se afirma que o Partido Comunista é o partido do futuro. A verdade é que a luta que hoje se trava e as perspectivas de construção de uma sociedade mais justa interessam particularmente à juventude.

Aos jovens comunistas, aos membros da UJC e da UEC cabe um muito importante papel. É o de desenvolver muito a sua implantação e influência, é o de ganhar para posições progressistas e para as posições comunistas, para as posições da classe operária, muitos milhares de jovens que se encontram sujeitos a um domínio retrógrado e a diversas alienações que a burguesia e o imperialismo espalham por toda a parte.

O estudo e a discussão das Teses do Comité Central e o acompanhamento do Congresso do Partido terão, entre os jovens comunistas, uma notável relevância para a elevação do seu nível ideológico e político, para a realização das tarefas que têm de levar a cabo.

A realização deste Congresso poderá ser uma excelente motivação para os jovens comunistas alargarem a sua organização e a sua actividade, para atingirem novas camadas e sectores juvenis , para reforçarem a unidade e a acção dos jovens em defesa das suas reivindicações - reivindicações no emprego, no ensino, na saúde, na habitação e em tantas e tantas outras áreas das aspirações juvenis. Unidade e acção que fazem dos jovens uma poderosa força do nosso país e que cada vez mais deverá marcar a sua participação no processo democrático português.

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o esquerdismo em crise o esquerdi: A agitação reina de novo nas hostes esquerdistas. Não porque a UDP proponha a fusão do MES e o MES responda em termos suficientemente ambíguos para que não persista a dúvida sobre a sua viabilidade enquanto organização política. Não porque, paralelamente, circulam insistentemente rumores sobre a auto-dissolução do MES. Mas sobretudo porque subitamente a UDP /PCP(R) se vê a braços com uma grave e profunda crise, marcada por expulsões, afastamentos, demissões, insultos e polémicas envolvendo parte considerável da sua direcção e organização.

Furiosa, repentina, súbita como um ataque cardíaco, a notícia irrompeu, ia já o mês de Abril próximo do fim: 4 membros do CC do PCP(R) haviam sido expulsos, acusados de fraccionismo.

Surpreendendo os observadores mais atentos, a notícia desta expulsão limitava-se entretanto a corroborar aquilo que um jornalista atento da ANOP havia supreendido - e noticiado - semanas antes no intervalo de uma reunião da CC da UDP: a ex i stência no interior da UDP/PCP(R) de divergências e desentendimentos acerca da linha política. Quem nessa altura procurasse confirmar a informação junto da UDP, recebia um claro e sonoro desmentido como resposta. Divergências? Não! Que ideia! Apenas apreciações diversificadas, diferentes duma situação extremamente complexa.

Afinal, os factos encarregar-se-iam de mostrar que a situação interna na UDP/PCP(R) estava longe de ser pacífica. Com efeito, algum tempo depois, a expulsão de 4 membros do CC do PCP;R) oficializava a cisão confirmando a existência de, pelo menos, duas linhas na UDP/PCP(R) .

Expulsos os «fraccionistas» - também designados, ao que parece por «minoria" - uma nova fractura não tardou a aparecer, bem mais profunda e significativa. Desta vez não há expulsões, mas demissões. O director de «A Voz do Povo", também membro do CC do PCP(R), quase todos os militantes do PCP(R) da «Voz do Povo" e um tal Mariano Castro dão o pontapé de saída, apresentando a sua demissão de membros do PCP(R). No seguimento destes factos e do tratamento dado pelo semanário da UDP à cisão, o conflito azeda-se subitamente. É então que se dá a ocupação da «Voz do POVO» pelo grupo afecto à maioria do CC do PCP(R) . Uma nova fórça aparecia na contenda: depois da «minoria", o «centro", os demissionários.

De algumas dezenas estes passariam rapidamente para números bastante superiores. Ouçamos a este propósito as duas partes envolvidas. Assim, no seu

número de 25 de Abril, a «Voz do Povo" informava que se havia demitido «o único membro do actual Comité Central que tinha feito parte de todos os secretariados do Partido desde o Primeiro Congresso. Trata­-se de António Matos (Sousa)>> . E continuava, referindo 4 demissões na redacção do «Bandeira Vermelha", 5 demissões de membros da ex-Comissão Auxiliar para a UDP e o Parlamento, a totalidade da célula da Fábrica da Cordoaria de Lisboa, 85% dos militantes do PCP(R) de Viana do Castelo, 17 militantes da região de Aveiro, a maioria da organização da Função Pública de Lisboa, 30 militantes da Guarda e Covilhã. De igual forma teriam rompido com o PCP(R) a Conferência Regional de Braga e a Conferência Nacional de Estudantes do PCP(R). Uma semana depois, a 3 de Maio, o mesmo semanário, tido como porta-voz das posições do «centro", titulava a propósito da «crise do PCP(R),, : «demissões alcançam quatro centenas" .

No mesmo dia, porém, «Bandeira Vermelha", o órgão central do PCP(R), sob o título «A verdade dos factos" dava a sua versão dos acontecimentos, diferente, como facilmente se imagina, da veículada pela «Voz do Povo». Aí é afirmado que: «Os fraccionistas e os que os apoiam querem dar a entender que as saídas do PCP(R) são uma avalanche imparável. Procuram com isso engrandecer a sua acção e desmoralizar as nossas fileiras. Não conseguirão nem uma coisa nem outra. Os dados são estes:

Na região de Braga abandonaram o Partido 35 militantes. Os que ficaram, a minoria, empenham-se na reconstituição da organização partidária.

Em Viana do Castelo, onde o Partido já era fraco, saíram 8 militantes.

Na região da Covilhã demitiram-se 18 e não 30 militantes como dizia a «Voz do Povo". O Comité Regional continua o seu trabalho partidário.

Na região de Vila Franca a maioria das células operárias ficou com o Partido. Os cisionistas levaram consigo células de

bairro. A Conferência Regional vai realizar­-se normalmente.

Na função pública de Lisboa demitiram-se 27 militantes que estão longe de ser a totalidade do Partido neste sector.

A análise qualitativa das demissões mostra de forma inequívoca que são esmagadoramente de sectores pequeno­-burgueses e estudantes e que não atingem os sectores operários do Partido e muito menos as grandes empresas.

O estardalhaço que está a ser feito na imprensa pelos cisionistas esconde a realidade de o grosso da organização partidária não ter sido afeétada e pelo contrário ter redobrado de firmeza e combatividade em defesa do Partido».

Última pedrada no charco: a publicação de ,um documento-proposta sobre a UDP, entre cujos signatários se encontram alguns «notáveis" esquerdistas, tais como Acácio Barreiros, Pe. Martins e Nuno Crato, e que no fundamental alinha por posições próximas do centro.

Em pleno período da preparação do III Congresso do PCP(R) edo IV Congresso da UDP os maoistas portugueses vêem-se pois a braços com um complicado processo de crise e de ruptura Interna, que pela sua dimensão, pelo calor da discussão e pelo tom dos insultos assume particular relevo.

QUEM É QUEM?

Quem são exactamente os protagonistas desta crise? O que defendem? O que é que os Incompatibiliza?

Temos por um lado a «minoria», os expulsos. Por outro lado, o «centro», os demissionários. Finalmente, a maioria, a que ficou. A minoria e o centro coincidem em numerosos pontos da sua critica. Nomeadamente quando atribuem à direcção da UDP/PCP(R) um erro fundamental: o do subjectivismo vanguardista na análise da situação politica. Para a minoria, com efeito, havia que «termos em conta o recuo do movimento popular para podermos lançar palavras de ordem adequadas, que mobilizem as massas contra a avançada reaccionária". Ora, acontecia precisamente o contrário: «a maioria do CC, com o seu sectarismo doentio que lhe impede de ver qual é a verdadeira situação e consciência do movimento de massas, fica

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mo em crise o esquerdismo em crise impossibilitada de desenvolver uma acção política mobilizadora e permanece na expectativa que melhores condições surjam espontaneamente» (V.P. n.o 254, entrevista com José Moreira e José Ferreira Pinho) .

O centro, pelo seu lado , faz suas o essencial destas críticas, quando atribui à direcção da UDP/PCP(R) «o horror à análise concreta da situação concreta, o subjectivismo vanguardista» (V.P. n.o 254, entrevista a João Espada e Mariano de Castro) .

Baseada nestas considerações gerais entre o actual momento político há também um certo consenso entre as posições da minoria e do centro no que diz respeito à táctica a seguir, nomeadamente face ao PCP. Assim, para a minoria, havia «a necessidade de mobilizar em tomo de alternativas revolucionári as as bases e simpatizantes do PCP, que são decisivas fundamentalmente na classe operária. Assim, surgiu o problema de usar processos que separassem os dirigentes revisionistas das suas bases revolucionárias , demonstrando que as palavras que aqueles utilizam não correspondem aos seus actos nem às aspirações mais sentidas da classe operária. Para isso, é necessário não se recusar a propor aos divisionistas do PCP a unidade em acções que contribuam para o desenvolvimento da luta revolucionária, de forma a que a sua base reformista e sabotadora apareça perfeitamente clara aos olhos de todos os revolucionários» (V. P . n.o 245, entrevista com João Moreira e José Ferreira Pinto) . As ideias do centro em relação a esta ques tão não são substancialmente diversas: não há que ter «quaisquer pruridos em trabalhar com os que ai nda acreditam na di recção revisionista, mostrando-lhes com o nosso exemplo como somos nós e não os revisionistas quem tem razão. E se para desenvolver esta acção comu;., na base e para facilitar a compreensão destes problemas se tomar necessário contactos com os dirigentes traidores, discutir com eles propostas de acção , lançar-lhes desafios públicos ou quaisquer outros procedimentos deste tipo, não devemos hesitar». E mais adiante, pondo em evidência as consequências da não­-adopção de uma linha deste tipo: «o partido revisionista não tem sofrido os golpes que era possível ter-lhe assentado e perante a ofensiva reaccionária e a nossa limitada acção política tem mesmo surgido, perante vastos sectores de trabalhadores, como

o partido da esquerda, o baluarte da luta contra a reacção» (V.P. n.o 246 entrevista a António Matos e João de Sousa) . Esta pois uma das divergências mais destacadas, unindo o centro e a minoria contra a maioria: a forma ou as formas mais eficazes de diminuir a Influência e o prestigio do PCP. Divididos quanto a estas, os protagonistas da crise Interna da UDP /PCP(R) num ponto estão entretanto de acordo: no seu antlcomunlsmo, na sua Ilusão hegemónica de ver destruido o partido da classe operária e dos trabalhadores, o PCP. Carecem, pois, de sentido as explicações apressadas d aqueles que entreviam na crise da UDP /PCP(R) concepções diferentes acerca da unidade com o PCP. Há divergências sim, mas essas tocam às formas e aos métodos do falso «unitarismo» que a UDP/PCP(R) vem praticando - e que os estudantes bem conhecem - com o objectivo único de minar a Influência e o prestigio do PCP.

Terceiro ponto assinalável de fractura entre a mínoria e o centro, por um lado, e a maioria, por outro: a apreciação da situação Interna da UDP/PCP(R). Para a minoria, a UDP/PCP(R) atravessa «uma grave crise», existindo «uma diminuição da activ idade partidária» de «progressivo isolamento político do PCP(R)>> (V.P. n.o 245, entrevista a João Moreira e José Ferreira Pinto). Para o centro «a divisão destruiu as frentes de trabalho de massas, instalou um controleirismo asfixiante na UDP, embotou o desenvolvimento da UMAR e de outras frentes de massas. Procurou impedir e sabotar por todos os meios o alargamento e afirmação do semanário "Voz do Povo", assim como da AEPPA e da FAPIR». (V.P. n.o 245, entrevista com João Espada e Mariana Castro).

Unidos num conjunto de pontos (es­senciais) o centro e a maioria separam-se noutros. A palavra para o centro: «temos opir;H6es marcadamente diferentes sobre vál1los problemas de ordem política e táctica. E temos igualmente críticas a levantar quanto à forma como a própria minoria se comportou em algumas ocasiões durante a discussão». (V.P. n.o 245, entrevista com João Espada e Mariano Castro).

A diferença entre uns e outros expressa-se aliás fundamentalmente no facto de uns - a minoria - terem sido expulsos - enquanto que outros - o centro - se demitiam por sua livre iniciativa.

Daqui que estes estejam mais abertos ao diálogo: «não alinharemos em guerras de seitas; evitaremos o clima de provocações ( ... ) . Acreditamos que os comunistas se reunificarão a curto prazo» (V.P. ).0 245, entrevista com João Espada e Mariano Castro) .

A PULVERIZAÇÃO NA ORDEM DO DIA

Maioria. Centro. Minoria. Impotência. Subjectivismo. Cisionismo,

G rupismo , Cabecilhas, Fraccionistas, Hipócratas reconciliadores.

A expressividade verbal põe em evidência o tom elevadíssimo da discussão. D i r-se-i a pois que, com a crise na UDP/PCP(R) , o esquerdlsmo recupera a sua natureza Intrinsecamente grupuscular. E tudo se encaminha com efeito nesse sentido. Aliás dois anos de unidade aparente, os maoístas portugueses recuperam aquilo que afinal nunca haviam perdido : a segmentarização por pequeníssimos grupos, degladiando-se uns aos outros, uma vocação intensamente polémica onde se detectam raios de individualismo extremo, a luta de guerrilha entre seitas cada uma mais pequena do que a outra. A UDP/PCP(R) mostrou-se afinal impotente para unir todos os maoístas: os vindos da ORPC, resultante por sua vez da fusão da CARP e do CRML, os originários da CMLP/PUP e os provenientes da OCMLP. Após dois anos de tréguas, a batalha parece ter recomeçado, se é que alguma vez acabou. É que pelo menos desde Janeiro de 1978 que os confrontos existiam na UDP/PCP(R) , segundo afirmações da minoria.

A «borrasca» agora vinda a público, ao mesmo tempo que sublinha a natureza intrinsecamente grupuscular do maoísmo português , é também reflexo das crescentes dificuldades que o esquerdlsmo vem enfrentando. O que se exprime em grande medida nesta crise do esquerdlsmo é a crescente força e unidade do movimento popular e operário, é a Influência cada vez maior do PCP na vida nacional, é a desorientação que tais factos e tendências produzem numa área politica cujos objectivos são de facto a divisão do movimento popular e o ataque organizado ao PCP.

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desemprego juvenil em debate A 31 de Março e 1 de Abril, realizou-se em Lisboa, o Seminário Internacional contra ~ Desemprego Juyenil, pelo Direito ao Trabalho e à Educação. Organizado pela luventude comunista portuguesa - UJC e UEC - e pela FMJD - o seminário

revelou-se uma importante contribuição para a luta da juventude de todo o Mundo contra o desemprego e pelo direito ao trabalho.

A combatividade bem presente no comício de encerramento do seminário realizado na Cova da Piedade e em que participou o camarada Carlos Costa da CP e do Secretariado do CC do PCP pôs bem em evidência a disposição d~ juventude

portuguesa em contribuir activamente para esta importante frente de luta

A participação activa de 27 organizações de juventude, em representação de 22 países da Europa, E. U. A., Canadá e Japão, veio reafirmar e clarificar através da troca de experiências e informações, a grave situação que a jovem geração dos países capitalistas hoje enfrenta.

Lutar contra o desemprego juvenil, pelo direito ao trabalho e à educação, através das mais variadas formas é um direito e um dever de todos os jovens que hoje vêm o seu futuro ameaçado!

Lutar em cada país e em conjunto com os jovens de todo o mundo, é o passo para romper com as falsas soluções que nos são apresentadas diariamente pelo mesmo sistema que fomenta e utiliza o desemprego como um instrumento de obtenção de elevados lucros e também de neutralização dos jovens!

DESEMPREGO REALIDADE

DO CAPITALISMO!

E de facto, a realidade fala por si! Mais de sete milhões de jovens

desempregados nos países da Europa capitalista.

Três milhões e meio a cinco milhões de jovens entre os 16 e os 24 anos encontram­-se desempregados nos E. U. A . - exemplo e baluarte do desenvolvimento capitalista!

Em cada país os números atingem proporções aflitivas. Milhões de jovens são actualmente atingidos pelo desemprego. A milhões de jovens é negado o direito ao trabalho.

As perspectivas que se colocam aos jovens nestes países são praticamente inexistentes, ou antes, elas existem se se puder chamar perspectivas à realidade, isto é, ao desemprego, à falta de saídas profis­sionais, às grandes dificuldades no acesso ao Ensino, etc. Que perspectivas são estas? Que vida para os jovens nos tão «humanos» países capitalistas? Que soluções se colocam? Que pensar sobre o futuro quando dia-a-dia se assiste ao agravamento das condições de vida, quando o desemprego toma proporções cada vez maiores, quando a frustração, a dependência, a fome se instalam?

A vida mostra e a prática prova, que o desemprego é um mal inerente ao mundo

capitalista, velho , caduco e em crise. E é a prática que também nos dá as profundas diferenças , também aqu i existentes, entre o capitalismo e o socia­lismo real.

Enquanto a vida se torna uma realidade angustiante para grande parte dos jovens que vivem nos países capitalistas, e que diariamente sofrem o desemprego e as suas consequências, temos que, no mundo dos países socialistas o desemprego foi banido e o direito ao trabalho é uma realidade concreta.

E, claro, que desta diferença nasce e reforça-se uma nova solução, uma proposta de luta, e também uma acusação: o desemprego e as suas consequências sociais, morais e fisicas são um atentado contra a vida e o futuro. O sistema capitalista é responsável pelo perigo real, a que hoje assistimos, de aproxi­madamente uma geração inteira estar para sempre perdida devido ao desem­prego e às fracas possibilidades de ensino.

QUE SITUAÇÃO EM PORTUGAL?

Também em Portugal o desemprego juvenil constitui o maior e mais grave problema da jovem geração portuguesa.

Existem actualmente em Portugal 300 000 jovens desempregados, dos quais

200 000 à procura do primeiro emprego, a que se juntam anualmente mais 65 0001

Os estudantes e os jovens recém-forma­dos são duramente atingidos por esta situação.

O desemprego atinge também largos milhares de estudantes que anualmente são forçados a abandonar os estudos. Estes abandonos que se fazem sentir em todos os graus de ensino são particularmente graves na transição para o ensino superior, devido à política de brutal selecção que tem vindo a ser aplicada há dois anos. Esta política de selecção é responsável pelo lançamento anual de m i lha res de jovens no desemprego; com a agravante de estes jovens não possuírem uma formação profis­sional , pois a escola não lhes deu , indo eogrossar assim o sector de desempre­gados entre os trabalhadores indiferen­ciados que conta já com 65 000 desem­pregados. As dificuldades que estes jovens irão ter para se empregarem são evidentes.

As situações de sub-emprego dos jovens licenciados, a falta de saídas profissionais, a inexistente formação e qualificação profissional, são outros tantos problemas e preocupações dos estudantes portu­gueses que vêm o seu futuro ensombrado por constantes dúvidas e incertezas.

O desemprego juvenil toca hoje todos os sectores de actividade, todas as actividades profissionais. Esta situação que se tem agravado bruscamente nestes últimos três anos é uma consequência e um instrumento da política seguida pelos últimos governos. Esta política de constantes cedências ao imperialismo estrangeiro tem resultado num travão ao desenvolvimento económico do País, e deixado sem resposta as inúmeras carências e necessidades que o País apresenta.

Em Portugal não existem quadros técnicos e intelectuais a mais, não existem estudantes a mais como tem sido por aí afirmado: existe sim, uma enorme falta de quadros, um desaproveitamento genera li zado das potencialidades existentes. Eis aqui alguns dados que nos dão uma imagem desta situação:

- Segundo os padrões aconselhados pela Organização Mundial da Saúde, faltam em Portugal pelo menos 7000 médicos, e um conjunto de 2200 técnicos de saúde;

- Para responder às necessidades exis­tentes no campo da habitação e equipa­mentos básicos seria necessária a formação anual de 1500 técnicos de Engenharia Civil. Existem actualmente 1055!

- No campo da Agro-Pecuária, e só na zona da Reforma Agrária, seriam necessá­rios 3000 agrónomos e 1500 veterinários. Existiam em 75 a nível nacional 2000 agró­nomos e sivilcutores!

- no campo do Ensino Infantil seria necessá ria a formação de 17 000 educadores de infância. Existem actual­mente 2000!

EM ENSINO EM CRISE

A situação de desemprego entre os jovens quadros técnicos e intelectuais , as dificuldades na obtenção de saídas profis­sionais, etc, estão indissociavelmente ligadas à situação de crise que caracteriza actualmente o ensino em Portugal.

Situação de crise que tem as suas raízes num legado de 48 anos de fascismo, que

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reflecte as insuficientes transformações operadas no campo do ensino após o 25 de Abril, mas que tem o seu factor fundamental de agravamento, na política de contra-reforma do ensino que tem vindo a ser aplicada.

Podemos dizer que o Ensino português, ou antes que a crise que o ensino atravessa, se caracteriza por um desajustamento em relação às necessidades económicas do País, por uma crescente elitização do ensino, em particular da universidade, por uma tendência para a crescente degradação da qualidade, científica e pedagógica do ensino.

Estes três traços, tanto pela inexistência de saídas profissionais para muitos campos de actividade, como pela expulsão anual de milhares de estudantes do ensino (em 76/77 cerca de 18 000 e em 77/78 cerca de 17 000 estudantes foram impedidos de entrar na universidade), como ainda pela fraca e degradada qualificação profissional, funcionam como factores de agravamento do desemprego juvenil.

QUE VIDA PARA OS JOVENS

DESEMPREGADOS?

As condições de vida tornam-se cada vez mais difíceis.

O desespero e a angústia acompanhados por uma descrença crescente tornam-se estados de espíritos habituais.

E é aqui que surgem certas «soluções» ... ou será por acaso que nestes últimos anos se verificou um aumento da delinquência juvenil? Ou será também por acaso que o consumo do álcool e de droga entre os jovens tem também vindo a aumentar? E a prostituição? E os suicídios? Não serão todos estes fenómenos algumas das muitas consequências do desemprego? Não serão estas consequências fo~adas por quem utiliza o desemprego como um instrumento não só lucrativo, mas também de neutraliza­ção dos jovens?

Os jovens desempregados são hoje das principais vítimas do sistema capitalista, sentem em si próprios o que este sistema significa, a sua podridão e a sua desuma­nidade e é certo que apesar de falsas soluções que nos querem impor mais e mais jovens hoje lutam em todo o Mundo.

Lutar pelo direito ao trabalho é lutar pelo direito à vida'

1. Nós participantes no Seminário InternaclO(lal contra o Desemprego JuvenH. pelo Direito ao Trabalho e à Educação. organizado conJunta­mente pela Federação Mundial da Juventude DemocráUca (FMJD) e pela UJC-UEC de Portugal, apelamos à Juventude e aos estu­dantes de todo o mundo para que desenvolvam e "Intensifiquem a luta comum contra Um dos maiores problemas da juventude e dos estu­dantes do mundo c .. -tallsta: o desemprego juvenil!

2. Milhões de jovens e estudantes sio atl"gldos e suas vitimas. Vêm-se privados do seu futuro; é-lhes negado o 8CfU primeiro elementar direito, o direito humano ao trabalho. Este faCto é de responsabilidade do sistema capitalista. e em primeiro lugar dos monopólios multina­cionais. O piorar da crise capitalista afecta gravemente a juventude em todos os campos.

3. Acusamos o sistema capitalista, os grandes monopólios e seus ",lIadoS de seremos r e s p o n sá v e I s do desemprego juvenil e de todas as suas conse­quências, que atingem com particular dure~a aqueles que são vftlmas, do racismo, da opressão . e da dlscrlmlnaçto. As forças politicas e económicas dominantes no muqdo capttallsta, Aio estão na disposição de encontrar um. solução para esses problemas. Apesar des suas promessas de tomar medidas éfIcazes, a taxa de desemprego Juvenil cOllUnua a aumentar. A Fntenslflcação da produção de armas por parte dos palsss capitalistas é contrária à ellOllnação do de1tem'p,rego. Uma politica consequente de paz, desarmamento, cooperação e desanu­viamento podem ser uma contribuf9ão eficaz à luta contra o desemprego. A redução da corrida ao armamento,

a concretização do desarmamento gera1 e completo libertar. en armes' recursos financeiros e humanos para a sansfação das pecessldades ursentes dos povos e da juventude no que respeita

"'~ empregos e a uma '., melhor educação.

4. O exemplo dado pelos . palses socialistas, em que o desemprego foi eliminado de uma vez por

\todas. Inspira-se e é áO mesmO tempo uma

., vallosa contribuição para ' a luta da Juventudé e dós estudantes do mundo

!C,c a pita II s t a c o n t ~.a "o desemprego juvenil, pelo direito ao trabalho e à 'educação. "estes pal888, o direito de todos ao trabalho e à educação está completamenle garantido e realizado.

5. Juventude e Esfildantes do Mundo!

Nós, participantes neste Seminário Interna­c I 011 a I, decidimos redobrar os nossqs

" .. fOrças na lutá contra o desemprego J!lvenll, pelO' direito ao trábalho e à 4liducação.

Apelamos a todos os .Jov,.ns demoç.ratas e progressistas, a todas as diversas organizações

, .. e f $I r ç a s j u y e n ls e estudantis Interna­cionais, regionais e nacionais, polltlca'8, Ideológicas, religiosas e sindicais, a redobrar

?todoS os seus esforços para realizar este objectivo humano. Só juntos podemos lutar eficazmente contra os monopólios e assegurar uma nova politica - peta emprego e a eductÇão.

A nossa luta é parte

Integrante da luta travada pelos povos pela democracia eo progresso social. A FMJD sempre esteve na prlmelre linha do combate pelos direitos da Juventude, mobilizando largos sectores de Jovens.

6. Independentemente das suas orientações politicas, ideológicas e religiosas, os jovens são vitimas do desemprego. Para ultrapassarmos esta situação e podermos garantir um futuro melhor para a jovem geração dos pai ses capitalistas consideramos ser Importante e urgente empreender Imediata­mente novas ,açções conjuntas e promover e apoiar todas as Iniciativas passiveis contra o desemprego Juvenil, pelo direito ao trabllho e • educação. Portanto, a todos apelamos para que:

Lutemos Juntos a nlvel nacional, regional e Internacional para Impedir a Influência dos monopólios e pressiona, os governos dos paises capitalistas para que tomem medidas eQcazes para a criação • mais postos de trabalho e dum melhor acesso ao ensino, s.m discriminações de raça, nacionalidade, sexo ou convicções religiosas.

Unamo-nos para continuar a Jn~sIflc8T a campanha nacional e Internacional conjunta contra o desemprego Juvenil, pelo direito ao trabalho e à educação. Por melo de todas as acções, Iniciativas s activtdades posslvels, podemos lutar para criar um fufilro melhor e mais feliz para a Juventude, na paz, com uma boa edu.cação e um emprego seguro.

Lisboa, 1 de Abril de 1979

Este o apelo aos jovens de todo o mundo, aprovado pelo seminário interna­cional contra o desemprego que se realizou em Lisboa nos dias 31 de Março e 1 de Abril.

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THREE MILES ISLAND FONTE ENERGÉTICA

OU FONTE DE PÂNICO?

o acidente da Central Nuclear de Harrisburg , na Pensilvânia, teve, pelo menos, o mérito de forçar o mundo inteiro a discutir e debruçar-se sobre um problema cuja gravidade ninguém pode contestar.

Tudo começou quando uma válvula do circuito de arrefecimento do reactor deixou de funcionar normalmente. Uma série de alarmes postos automaticamente a funcionar captaram a atenção dos dois técnicos de serviço que procuraram resolver a situação. Inadvertidamente, um deles desligou o sistema de arrefecimento de emergência o que viria a provocar a formação da célebre bolha de gases radioactivos que tanta apreensão causou.

Aqui reside o aspecto mais preocupante da questão: os construtores da central nuclear haviam garantido que precisamente este tipo de acidente não poderia dar-se porque o sistema de arrefecimento de emergência funciona automaticamente e sem que os técnicos possam interferir. Pode pois dize r -se que sucedeu o impossivel. E a realidade foi bem mais dramática que as "previsões" .

Calcula-se que cada habitante das vizinhanças da central (recordemos que se situa praticamente dentro da cidade de Harrisburg estando apenas separada por um rio) recebeu uma dose de cerca de 100 milirems hora devido às radiações, o que corresponde a metade da dose anual de um cidadão americano. Se se procedeu apenas à evacuação de mulheres grávidas e crianças em idade pré-escolar não foi por ser desnecessário evacuar toda

a população, foi somente pelas evidentes dificuldades técnicas que isso acarretava. De resto , numerosas pessoas abandonaram o local por livre iniciativa, tendo sido mais de 50 000 as pessoas que, no prazo de um semana se afastaram da zona.

PODIA TER SIDO PIOR

Quando obtivemos a notícia, depois de vários dias de angústia, segundo a qual a bolha de gás tinha desaparecido

e o núcleo do reactor já não corria riscos de fusão, o mundo inteiro suspirou de alívio.

Razões para isso não faltavam. Segundo o pmf. Harry Kendell , do MIT e presidente da UCS (Union of Concerned Scientists, com mais de 17 000 membros, que se tem notabilizado na luta contra a proliferação de centrais nucleares) a fusão do núcleo, que esteve eminente, significaria: o seu afunda­m ento na crosta terrest re devido à temperatura elevadíssima e ao peso (82,1 tone l adas de urânio enr iquecido) ; a contaminação de águas subter râneas e terras envolventes num raio superior a 100 km ; a morte imediata de

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dezenas de milhares de pessoas e, a prazo, devido ao efeito das radiações de igual número.

o FUTURO DE THREE MILES ISLANO

A enorme temperatura da bolha de gás teve como consequência a fusão parcial dos revestimentos protectores do reactor. Assim , libertaram-se vários elementos altamente radioactivos, entre os quais, o xenon e o césio 131, que contaminaram o ar e a água. Ora esta água não pode ser deixada "em liberdade" pois, ao perfazer o seu ciclo, iria contaminar áreas muito mais vastas com consequências perigosas. Por isso, os técnicos serão obrigados a evaporá­-Ia, para em seguida provocar a sua condensação e proceder à recolha dos resíduos radioactivos assim separados. No fim, já não é pequeno problema encontrar um cemitério adequado para estes devido à sua propensão para realizar o seu poder destruidor, através mesmo dos mais compactos obstáculos.

Mais difícil ainda, porém, é decidir o que se vai fazer à Central propriamente dita. Dados os custos elevadíssimos da sua reparação e saneamento (está altamente contaminada) que ultrapassariam o total gasto na sua construção em Setembro de 1974, parece só haver uma solução que, na realidade, a vai transformar num símbolo, pela negativa: o seu emparedamento total com betão. Talvez as gerações vindouras lhe encontrem o seguine epitáfio: "Aqui jaz uma central nuclear que devia produzir energia eléctrica mas que só nos deixou uma séria advertência".

O PAPEL DO MONOPÓLIOS

Na maioria dos sectores da actividade económica dos EUA não existem praticamente pequenos ou médios empreendedores . Todos foram já eliminados pela competição poderosíssima dos grandes. E ali só sobrevive quem esmaga a concorrência. Este facto, que é verdadeiro até para o sector distribuidor em que as grandes cadeias de supermercados deram já um rude golpe nos comerciantes independentes, não poderia ser de outra forma no caso das centrais nucleares que exigem construtores com elevado poder económico e tecnológico.

Porém, não se pense que as empresas de centrais nucleares estão vocacionadas apenas para este ramo. As duas principais, a Westinghouse e a General Electrics, são, em primeiro lugar, empresas produtoras de electricidade pelos meios convencionais para, em seguida, se dedicarem a muitas outras actividades como, por exemplo, a fabricação de electrodomésticos.

Habitualmente os grandes trusts (monopólios à americana, teoricamente res­tringidos por leis que nunca são cumpridas) têm apaniguados no seio do poder político que fazem a sua defesa de forma entusiástica . Por exemplo, o Senador James Mc Clure, republicano do Ohio, tem defendido tão teimosamente o projecto de proliferação nuclear que se diria ter interesses nele.

No entanto, quando vozes discordantes como a de Morris Udall , democrata do Arizona, utilizam o argumento tão simples e evidente do excesso actual da capacidade produtiva de energia, toma-se necessário que os próprios peritos das empresas se envolvam na contenda . Dirigentes da Westinghouse têm vindo sistematicamente à liça numa tentativa para demonstrar que a energia nuclear é a mais barata. O que não está provado. Isso só seria uma realidade se não se gastasse tanto com a segurança das centrais. É porém pouco crível que um só cidadão queira correr o risco .

Os relatórios sobre a segurança das centrais também merecem cada vez menos crédito e têm todo o ar de ser for;ados. O mais célebre é o WASH.

Nos seus termos a segurança das centrais nucleares seria absoluta no caso do seu funcionamento ser perfeito. Mas, mesmo admitindo algumas falhas ou imperfeições (é sabido que a blindagem isolante permite sempre a passagem de alguns isótopos do combustível nuclear para o refrigerante) , não haveria graves consequências. O carbono 14, o mais perigoso, admite o relatório, pode provocar 0,01 mortos por cancro, por reactor e por ano, o que é insignificante, visto desse ângulo. Porém, se considerarmos que a vida média do carboilo 14 é de 5379 anos, já vemos que isso pode assumir outras consequências.

O que efectivamente mais desacreditou o relatório foi a sua previsão de que um acidente do tipo de Harrisburg tinha uma probabilidade em 5x109 de suceder (para não lhe chamar impossível).

A NRC (Comissão de Regulação Nuclear), organismo encarregado do controlo da produção de energia nuclear, viu-se na obrigação de denunciar esse relatório acusando-o de "pouco fundamentado" .

Que razões estarão por trás da mistificação que ele encerra? É evidente, para todos, que o defeito do relatório não é a insuficiência técnica, mas a deturpação deliberada da realidade. Ao serviço de quem? Não é difícil adivinhar.

A QUESTÃO ENERGÉTICA

UMA NOVA DOR DE CABEÇA

A opinião pública mundial e norte­- americana em particular cedo se movimentaram e obrigaram os organismos e o próprio presidente Carter a reduzir os projectos de implantação de novas centrais (das 1000 que estava previsto entrarem em funcionamento, no território dos EUA, até ao ano 2000 passou-se para 200) .

No entanto, isso trouxe os seus custos, e num momento particularmente negativo. A maioria dos países árabes aumentou a sua hostilidade em relação aos EUA após a assinatura do tratado de paz Israelo­Egípcio. Fácil é de ver que assim os Estados Unidos perdem grande parte da sua capacidade de negociação dos preços das ramas de petróleo que, com O encerramento de algumas centrais (9 até agora) setomará ainda numa fonte energética mais vital.

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22 Iniciativas muito diversas comemoram este ano através do mundo o centenário do nascimento de Albert Einstein, e justo é que assim seja porque Einstein foi realmente um grande homem, no sentido pleno do termo. Considerado já na sua época como um dos mais poderosos criadores científicos de todos os tempos, nem por isso se eximiu a assumir as suas responsabilidades de cidadão, afirmando-se sempre como um defensor intransigente da paz e da democracia.

Nascido no Sul da Alemanha numa família de ascendência judaica, estudou no Instituto Politécnico de Zurich, na Suíça, onde não conseguiu aliás obter U!11 lugar de assistente. Empregou-se então numa repartição pública, e só após as horas de trabalho se podia consagrar à investigação científica, mas essas condições difíceis não o impediram de mostrar as suas capacidades . Em 1905, aos 26 anos, publicou três trabalhos que todos ficaram famosos: um deles, consagrado ao estudo do movimento brewniano, marcou a física estatística; outro, em que se ocupava da explicação do efeito foto-eléctrico, levou-o a supor a existência de grãos de energia luminosa, os fotões, e veio a ter uma importância decisiva na evolução da física quântica; o terceiro, enfim, continha os fundamentos da teoria da relatividade restrita.

A IMPORTÂNCIA DE EINSTEIN

NA FfslCA MODERNA

Ainda que Einstein tivesse dado contribuições duma importância excepcional a outros domínios da física, foram sobretucio os seus trabalhos de relatividade que o celebrizaram. Com a teoria da relatividade restrita, destruiu as concepções clássicas de espaço e de tempo "absolutos", demonstrando que, do facto da velocidade da luz ser a mesma para todos os observadores, resultavam certas consequências de aparência chocante, por exemplo que as distâncias ou os intervalos de tempo que separam dois acontecimentos quaisquer devem ser diferentes para observadores com movimento relativo, ou ainda que a energia interna e a massa de um corpo são proporcionais, a constante de proporcionalidade sendo o quadrado da velocidade da luz. Tais conclusões, hoje insofismavelmente confirmadas pela experiência, afiguravam-se tão contrárias ao senso comum que deram aso a inúmeras polémicas e mal-entendidos, mas já Marx tinha escrito n'O Capital que "a ciência seria supérfula se a essência e aparência das coisas se confundissem".

Einstein foi mais longe na década seguinte, quando ampliou a relatividade restrita sob a forma de uma teoria de relatividade generalizada, que é essencial­mente uma nova concepção da gravitação. A ideia de base consistia em atribuir ao universo uma geometria que não era a velha geometria de Euclides mas algo de muito mais geral, a geometria dum espaço-tempo

EIN~ O cientista

curvo cuja curvatura é determinada pela presença dos corpos materiais. Assim, em termos muito simples, a Terra descreve uma trajectória quasi circular em torno do Sol não porque (como dizia a física de Nexton) o Sol exerce sobre a Terra uma força gravítica, mas sim porque a massa solar incurva o próprio espaço à sua volta, incurvando portanto as trajectórias de todos os corpos que se deslocam na sua vizinhança.

Desta teoria em que espaço, tempo e matéria acabariam por adquirir uma certa unidade profunda resulta, nomeadamente, que nas proximidades das grandes massas materiais até a trajectória dos raios luminosos se deve incurvar o suficiente para que esse efeito possa ser detectado, e foi a confirmação de que assim era que, em 1919, tornou bruscamente o nome de Einstein familiar ao grande público . É curioso relembrar Que tal confirmação

resultou sobretudo de observações feitas durante um eclipse solar num território que era, então, uma colónia portuguesa, a ilha de Príncipe.

EINSTEIN: CIDADÃO DO MUNDO

Einstein era na altura professor em Berlim, e embora o seu prestígio científico se encontrasse no zénite, a sua situação pessoal e profissional foi-se tornando, com a ascensão barbárie hitleriana, cada vez mais difícil. Não apenas porque se tratava de um judeu - de facto, Einstein nunca praticou qualquer religião nem sequer aceitava a ideia da existência de Deus, no sentido habitual da palavra - mas também porque as suas concepções eram radical­mente opostas às do nazismo,e ele ousava

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aeTender publicamente a sua ideologia democrática e antimilitarista. Em 1933, as suas obras científicas, juntamente com as de outros "não arianos" e "comunistas" foram queimadas na praça da Ópera em Berlim.

Ciente de que a guerra, que ele tanto odiava, iria submergir a Europa, Einstein resignara-se a emigrar para os Estados Unidos em 1932. Acolhido à universidade de Princeton, aí prosseguiu as suas investigações, procurando incluir na geometria do espaço-tempo não só as forças gravíticas mas outros tipos dE: forças, sobretudo as de natureza electromagnética. Foi um esforço magnífico para construir uma teoria unificada dos diversos "campos", que ele prosseguiu até morrer em 1955, mas que não alcançou todo o sucesso que o velho mestre esperava. Em troca, a relatividade generalizada revelou-se um instrumento

teórico precioso para a compreensão do universo à escala ultra-macroscópica, esse mundo das galáxias que se revela cada vez mais fascinante; hoje como ontem, as equações de Einstein estão na base dos grandes avanços conseguidos pela cosmologia e pela astrofísica.

Nesses anos da maturidade e da velhice que passou na América, Einstein não deixou de lado o seu empenho em contribuir para o advento de uma sociedade melhor. Em 1939, subscreveu uma carta ao presidente Roosevelt em que lhe chamava a atenção para a necessidade de estar preparado para fabricar bombas atómicas, e muito se tem especulado por um pacifista tão ardente ter assim contribuido para o aparecimento desse horrível instrumento de destruição. Mas é indispensável não esquecer que a motivação de Einstein (como ele aliás explicitamente referia) era o temor bem real de que a Alemanha viesse a fabricar essa

arma decisiva para ganhar a guerra. Diante 23 da possibilidade duma vitória militar do nazi-fascismo cujas consequências nefastas para toda a Humanidade seriamm incalculáveis, Einstein compreendeu que o seu pacifismo de princípio tinha de ser momentaneamente abandonado.

Quando, com a guerra fria, começou nos Estados Unidos a "caça às bruxas" , a perseguição dos que eram suspeitos de terem ideias progressistas, Einstein foi atacado com uma violência tanto maior quanto, corajosamente, ele se opôs em público, na rádio e nos jornais, aos inquéritos da "Comissão das actividades antiamericanas", que o sinistro senador McCarthy presidia. E que, apesar duma certa ingenuidade que, por vezes, o levou com toda a boa fé a assumir certas posições políticas discutíveis, Einstein fizera desde cedo uma opção fundamental. Podemos transcrever, por exemplo, alguns parágrafos do seu artigo "Porquê o Socialismo", no qual Einstein começa por se referir à sociedade capitalista.

A produção realiza-se tendo em vista o lucro e não a utilidade, Não há forma de garantir que todos quantos podem e querem trabalhar encontrarão emprego, e há já um "exército" de desempregados. O operário vive no receio de perder o trabalho. Como os desempregados e os operários mal pagos são fracos consumidores, a produção de bens de consumo é restrita, implicando graves inconvenientes. O progresso tecnológico aumenta o número de desempregados em vez de aligeirar os trabalhos penosos para todos. O estímulo do lucro, conjugado com a competição entre os capitalistas, e responsável pela instabilidade na acumulação e utilização do capital, o que porduz depressões económicas cada vez mais graves. A competição ilimitada arrasta um desperdício considerável de trabalho e a mutilação social dos indivíduos a que me referi acima.

Considero essa mutilação dos indivíduos como o pior mal do capitalismo. Todo o nosso sistema educativo padece desse mal. Inculca-se aos estudantes uma atitude de competição exagerada, levando-os a considerar os sucessos obtidos nela como uma preparação à sua futura carreira.

Estou convencido de que só há um meio de eliminar estes graves males, o qual consiste no estabelecimento duma economia socialista acompanhada por um sistema de educação orientada para objectivos sociais. Nessa economia, os meios de produção pertenceriam à própria sociedade e seriam utilizados de forma planificada. Uma economia planificada, adaptando a produção às necessidades da sociedade, distribuiria o trabalho a realizar entre todos aqueles que são capazes de trabalhar e garantiria meios de existência a qualquer homem, mulher ou criança. A educação do indivíduo deveria favorecer o desenvolvimento das suas faculdades naturais, e Inculcar-lhe o sentido das responsabilidades para com os seus semelhantes em vez de glorificar o poder e o sucesso, como faz a sociedade actual.

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24 Antes de iniciarmos o nosso artigo gostaríamos de deixar claro que não está nas nossas intenções elaborar um curso acelerado de iniciação nem sequer deixar qualquer indivíduo minimamente apto a praticar espeleologia. Tal como artigo de divulgação que é, a sua pequena extensão exige uma abordagem muito sucinta, focando os aspectos mais gerais que envolvem esta actividade. Pretendemos assim levar ao conhecimento daqueles que nos lêem algo deste mundo que é a espeleologia que, pelas suas caracte­rísticas, julgamos relevante e altamente produtiva na ocupação de tempos livres, quanto mais não seja para a formação integral do indivíduo. Os hábitos de trabalho em grupo e de vida colectiva que cria devido ao simples facto de que, sem equipa, não pode haver exploração são alguns aspectos que gostaríamos de realçar.

ESPELEOLOGIA - O QU~?

Depois de saber que se trata da exploração de grutas, a primeira pergunta que habitualmente se coloca ao comum dos indivíduos que se começa a interessar por esta actividade é qual o seu carácter.

Será um desporto? Será uma técnica ou uma ciência?

Embora sendo uma questão de grande polémica, parece-nos que não se pode conceber sem uma intenção investigadora, sem um espírito minimamente científico. Se de facto na prática da espeleologia o gosto pela aventura e pelo risco, o prazer da descoberta, o fascínio do desconhecido são uma primeira ordem de motivações, rapidamente se desenvolve a curiosidade científica, que se manifesta na tentativa de explicar as realidades mais diversas desse mundo invulgar que é ó subterrâneo: a simples génese da própria gruta, o comportamento do ser humano no ambiente cavernícola, o aparecimento de animais com todos os órgãos adaptados à vida subterrânea, a variação climatérica do ambiente das grutas, etc.

Mas passemos aos aspectos concretos da terra.

QUEM E COMO SE PODE PRATICAR

ESPELEOLOGIA?

Qualquer indivíduo normalmente constituído o pode fazer desde que para isso se disponha a adquirir algum material e alguns conhecimentos, se junte a outros como ele e se lance, nos tempos livres, à descoberta de cavidades onde poderá desenvolver a sua capacidade exploradora e)·

Existem em Portugal numerosos grupos espeleológicos ligados a liceus, faculdades, colectividades, etc. O primeiro a ser constituído e por onde passaram dezenas de espeleólogos é a Sociedade Portuguesa de Espeleologia. Aí existe todo um potencial técnico e científico pronto a ser utilizado pelos seus associados.

Gostaríamos de realçar aqui que, dado os riscos que envolvem esta actividade, não se deve iniciar a sua prática sem um conhecimento minimamente profundo da técnica necessária. Este deverá ser feito de preferência integrando-se num grupo que apresente algumas tradições e experiências.

O MATERIAL

Há o individual e o colectivo. Do primeiro constam todas as peças de que cada indivíduo se serve a começar consigo.

Numa primeira fase em que as caracte­rísticas da cavidade não exijam uma técnica m ais desenvolvida e sofisticada são suficientes as seguintes peças: um simples fato de macaco que pelas suas caracte­rísticas (resistência e simplicidade) se torna mais prático e pouco embaraçoso quer na subida de escadas quer na transposição de passagens estreitas onde um prega ou uma presilha podem ser um empecilho causador de aborrecidas dificuldades.

O capacete, peça fundamental e indispensável do explorador subterrâneo, que deve ser resistente, leve e justo à cabeça, nunca deve ser esquecido. Sem ele qualquer indivíduo estará sujeito a levar na cabeça com uma pedra que se solte do cimo de um poço (ou simplesmente a aleijar­-se ao bater com a cabeça no tecto da gruta). E uma pequena pedra inofensiva, quando solta de algumas dezenas de metros, torna-se um projéctil cujas consequências têm ficado bem patentes nalguns capacetes rachados. Sem a sua protecção teria sido a cabeça a rachar.

O capacete deve estar munido de uma luz colocada na parte da frente (luz frontal), permitindo ter as mãos livres para todas as manobras de penetração. A luz, fundamental, visto que sob a superfície reinam as trevas absolutas, pode ser eléctrica acetileno. De preferência, poder­-se-á utilizar as duas associadas, usufruindo-se assim das vantagens de ambas. Ainda no campo da iluminação é de toda a vantagem transportar sempre consigo junto do corpo uma luz de socorro que pode ser constituída por uma simples vela e fósforos devidamente protegidos da humidade. Pode ser ela a salvação do espeleólogo que a várias centenas de metros de profundidade ficou com a sua iluminação danificada. (Fig. 1).

Nos pés umas botas que, pela sua leveza e aderência, permitam uma fácil evolução em terrenos pedregosos, húmidos, ou secos que encontramos nas grutas.

Com este material elementar qualquer indivíduo se encontra equipado para, na companhia de outros, poder explorar cavidades horizontais que não apresentem obstáculos verticais sensíveis (poços, cham inés, algares-grutas que se desenvolvem sobretudo na vertical e cuja entrada é constituída por um poço que se abre directamente ria superfície. Estes podem ter desde alguns metros, até mais de duas centenas de metros, fendas, etc.) .

Quando estes aparecem, é necessária a utilização de outro tipo de material que, por ser destinado ao uso de toda a equipa, se chama colectivo; são as escadas de cabo de aço e degraus de alumínio com 20 cm de

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largura e em troços de 10 m. Podem-se adaptar umas às outras sucessivamente e quando enroladas ocupam pouco espaço sendo relativamente leves (Fig. 2 e 3).

São as cordas que, conforme as suas características, servem para fazer "rappel" (técnica de descida directa pela corda), fazem segurança nas subidas e descidas de poços ou simplesmente para prender escadas ou outro material de terreno. (Fig. 4).

São oJl instrumentos de fixação do material de escalada à parede.

São as botas de borracha utilizadas em caminhos cheios de água, etc. Este e outro material exige um domínio da técnica de utilização pois que quanto mais complexo se toma o seu uso mais riscos acarreta quando mal utilizado. Hoje em dia existem peças e técnicas que permitem não só uma rapidez elevada na progressão, maior segurança quando utilizadas, menor dispêndio de esforços quer nas subidas ou descidas, como também, por vezes, evitam a utilização de outros materiais (escadas, por exemplo - Fig. 5) . No entanto, pelas razões referidas, só com um treino intenso e com um domínio perfeito da sua técnica se deve utiliza estes instrumentos. Caso contrário os acidentes são fatais e habitual­mente mortais.

Por falar em acidentes, convém aqui salientar que todo o espeleólogo deve possuir conhecimentos de socorrismo. Em França, por exemplo, existem equipas de socorrismo treinadas e aptas a intervir a qualquer chamamento, e, nos cursos de espeleologia, são efectuados treinos de evacuação de sinistrados.

ESPELEOLOGIA - CI~NCIA

Como dissémos, a espeleologia não é só técnica. O mundo subterrâneo oferece um campo vastíssimo no domínio da ciência.

A espeleogénese, que estuda a formação e evolução das grutas, serve-se fundamentalmente de conhecimentos geológicos. Através do seu estudo pode-se, por exemplo, prever a existência de cavidades em determinada região. (Fig. 6) .

Na Biospeleologia, os amantes da Biologia encontram um campo vastíssimo de investigação. Desde animais de diversas ordens que, ao longo de milénios de gerações, se adaptaram totalmente ao ambiente subterrâneo (Fig. 7) até ao estudo da adaptação de animais e plantas oriundas directamente do exterior há um mundo imenso de actividades.

Foram as grutas as primeiras habitações do homem, bem como as suas primeiras sepulturas e locais de culto. A arqueologia tem aqu i um papel im portante a desempenhar.

A Hidrologia Karstica (relativa ao Karst - terreno calcário onde a erosão das águas provoca determinadas característica), estuda toda a circulação de águas subterrâneas e superficiais em terrenos calcários.

Também os amantes da fotografia encontram na Espeleologia um campo vastíssimo de actuação. Desde a foto documental à artística, há todo um mundo de situações prontas a ser captadas por um fotógrafo atento. O mesmo se passa com o cinema.

À fig. 1 fig. 3 ,

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RECOLHER DADOS

Qualquer exploração cuja finalidade esteja para além da nossa visita descontraída deverá fomecer elementos que possam perpetuar os conhecimentos aí adquiridos e as observações efectuadas, quanto mais não seja para servir de suporte a futuras explorações. Assim o espeleólogo costuma elaborar um relatório de exploração onde descreve todas as observações, técnicas e material utilizado, localização e modos de acesso, etc. Este relatório consta geralmente em croquis que, através de plantas e cortes longitudinais e transversais, permite a visuálização do desenvolvimento da cavidade, devidamente orientada. É pois a topografia subterrânea outra técnica que, ainda que rudimentar, todo o espeleólógo deve conhecer (Fig. 8) .

Esta recolha de elementos pode ser útil inclusive às populações como por exemplo sobre a existência de cursos de água subterrâneos e quais as possibilidades do seu aproveitamente ou possível inquina­mento por indústrias locais que possam ir afectar a captação de água noutras localidades.

O ESPELEÓLOGO TEM A SUA ÉTICA

E todo o espeleólogo sabe que deve preservar o mais possível o meio ambiente das grutas. Estes locais intocáveis durante l'1ilénios, cuja rara beleza por vezes nos deslumbra, podem ser destruídos em poucos segundos por qualquer individuo sem escrúpulos que se lembre de partir concreções (estalactites, estalagmites, bandeiras, etc.), ainda que para recordação - ou escrever nas paredes por vezes para . deixar o testemunho da sua passagem no local.

Também a poluição se faz sentir no subsolo. Toma-se mais difícil removê-Ia, ainda assim, alterou o equilíbrio ecológico ai existente. Logo, todo o lixo produzido no interior (restos de comida, por exemplo) devem ser recolhidos e transportados para o exterior.

E PRONTO

Esperamos que este artigo tenha contribuido para divulgar uma forma de ocupação de tempos livres de uma maneira útil e agradável que, embora possuindo os seus riscos, e sendo violenta, é profunda­mente compensadora.

(1) Para a aquisição de conhecimentos sobre espeleologia, aconselhamos alguns livros de divulgação e iniciação que podem ajudar:

- "CAVES ANO CAVING" de Marc Lasinski - CoI. A Uttle Guide in Colour. Também em Francês na colecção "Le Petit Guide", n.o 127

- "LA SPELEOLOGIE" de Felix Trombe - CoI. Que Sais-je?, n.O 709

- "LA SPELEOLOGIE SCIENTIFIQUE" de B. Géze - CoI. Le Rayon de la Science, n.o 22

- "LES SECRETS OU MONDE SOUTERRAIN" de Emest W. Bauer, Edições Flammarion.

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MÉDIO ORIENTE ,."

A «PAZ» DA CAPITULAÇAO A existênçia de um estado de guerra potencial ou efectivo entre a generalidade dos países ÁrÇlbes e Israel foi nos últimos 30 anos uma constante de toda a política

internacional. Não é pois de admirar que a assinatura de um tratado de paz entre o Egipto e Israel, assuma, quanto mais não seja por isso mesmo, grande importância

internacional. Há no entanto que ultrapassar a visão circunstancial das coisas, enquadrando este pacto no problema global do Médio-Oriente, zona de vital

importância "geoestratégica" - para usarmos uma expressão tão do agrado dos ideólogos do imperialismo -onde por isso mesmo os EU jogam forte e duro, obtendo

consequentemente algumas vitórias pontuais, mas somando também muitas derrotas e dissabores. Os restantes acontecimentos no Irão falam por si.

o que se pretenderá então com a assinatura do tão discutido tratado de paz entre Israel e o Egipto?

Trazer ao fim de 30 anos de guerra, a paz e a concórdia à região, resolvendo definitivamente a questão palestiniana? Certamente que não, pois se assim fosse ter-se-ia optado pela celebração de um tratado entre todas as partes em conflito e nunca somente entre duas delas. Ter-se­-ia solucionado o problema do povo palestiniano pondo termo de vez à situação profundamente desumana e desesperada a que a criminosa política do imperialismo o tem conduzido. Ter-se-iam finalmente cumprido as decisões da ONU, e através desta de toda a Comunidade Internacional, sobre a questão do Médio Oriente . Infelizmente nada disto aconteceu.

A questão subsiste : que se terá pretendido então com a celebração do tratado?

Antes de mais há que tomar atenção ao papel desempenhado pelos EU e particular­mente por Carter em toda esta monstruosa encenação quase despida de efeitos, e aqui encontramos, talvez, uma primeira resposta à nossa interrogação. É do conhecimento geral o crescente descrédito em que a imagem de Jimmy Carter tem caído aos olhos. do seu eleitorado. Daí, a necessjdade de a renovar ou pelo menos de a melhorar' aos olhos do cidadão americano. A campanha para as preSidenciais começa já para o ano e os erros pagam-se caro. Nada pois como disfarça-los. Há também que encarar a situação global do Médio Oriente, onde os interesses americanos sofreram recentemente uma das suas maiores derrotas com a queda do regime do xá. Segundo cálculo do próprio Pentágono, nem 10 anos chegariam para recompor, noutro lugar, a sofisticada máquina de espionagem montada no Irão, isto já sem falarmos no profundo abalo que os interesses económicos americanos sofreram. Havia pois que achar novo eixo defensor dos interesses do imperialismo. Foi essencialmente isso o que se pretendeu com o acordo israelo-egípcio". Para tal foi necessário mudar alguma coisa para que tudo, no fim de contas, ficasse na mesma.

Adiou-se o problema, ganhando os EU o precioso tempo que cada vez mais lhe começa a faltar. Só dentro de 5 anos haverá "negociações a fim de definir o estatuto final

para a Margem Ocidental do Jordão e faixa de Gaza"; até lá nada ou quase nada mudará, e pelas leituras opostas que desde já as diversas partes fazem do texto do tratado pode-se augurar um lindo futuro às negociações.

PROBLEMA PALESTINIANO

Assim, para Sadate "devia existir uma transferência autêntica da autoridade para os palestinianos sobre a sua terra", sendo "a autonomia o primeiro passo para a autodeterminação". Contrariamente, para Begin, a expressão autonomia refere-se no . tratado exclusivamente "às populações da Margem Ocidental residentes na faixa de Gaza", mas nunca aos territórios. Mais claras são as ameaças de Moshe Dayan ao afirmar que duvida que o Egipto "queira interromper o processo de retirada isaraelita (do Sinai) provocando uma crise por causa das dificuldades a respeito da autonomia · palestiniana". Aqui se percebe bem qual o alcance das palavras de Arafate ao afirmar que "Sadate vendeu os direitos dos palesti­nianos por um punhado de areia do Sinai" .

Como se pretenderá ter resolvido o problema palestiniano, quando se ignora deliberadamente os mais de 4 milhões de palestinianos dos quais só 1,7 milhões vivem na Palestina? Como se pode resolver a questão ignorando a OLP, único representante de facto e de direito do povo da Palestina, em Outubro de 74 reconhecida como tal na cimeira de Rabat, desde 1976 membro de pleno direito da liga árabe com estatuto de Estado, primeira organização de Libertação Nacional a obter o estatuto de

observador junto da ONU ejá reconhecida por mais de 117 Estados? Como resolver o problema ignorando os direitos palestinianos internacionalmente reconhecidos nomeadamente pela ONU desde 1948, particularmente na sua resolução 242 de 1976.

QUESTÃO DA SITUAÇÃO DE JERUSALÉM

Nesta matéria tudo ficou na mesma. Para o Cairo "o tratado não comporta nem um artigo sobre Jerusalém, pois a Cidade Santa faz parte integrante da Cisjordânia .. . tendo as conversações decorrido nessa base". Para Begin , no entanto, as coisas são bem diferentes: "Jerusalém nunca deixará de ser israelita. Israel jamais voltará às fronteiras de 67 nem nunca aceitará um Estado Palestiniano" .

Tal como ao burro a quem se mostra a cenoura para o enganar, a Sadat chegaram alguns palmos de terra no Sinai (única "cedência" de Israel) para assinar a rendição aos sionistas e a traição à causa árabe.

Curiosa é a lista de armamento fornecido pelos EU a Israel e ao Egipto. Para Israel seguem os ultramodernos caças bombardeiros F-16. O Egipto terá que se contentar com os F-4 incomparavelmente mais atrasados. Os EU comprometem-se perante Israel a participar em todas as acções julgadas necessárias caso os Egípcios não levem até às últimas conse­quências a sua capitulação. Sadat afirma demagogicamente que estabelecerá idênticos acordos com os EU, mas nem ele próprio acredita certamente em semelhante disparate. Seria a quadratura do círculo em política internacional, o "Iobby" sionista que controla Carter , comprometendo-se a exercer represálias sobre os seus lacaios locais, que o mesmo é dizer, sobre si mesmo! Resultado, Israel neutraliza assim de uma penada do ponto de vista militar o seu anterior mais forte adversário.

Os cálculos do imperialismo são no entanto prematuros. A unidade das restantes nações árabes reforçou-se como nunca, formando a frente de rejeição. O salário dos traidores, não obstante elevado, nunca compensa e Sadat sentirá isso em breve.

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28 discos

JOURNEY TO DAWN

MILTON NASCIMENTO

o último disco americano de Milton Nascimento aí está a provar o provado.

«Journey to Dawn » reafirmando as extraordinárias capacidades vocais do maior cantor brasileiro, a claridade da voz sem limites, o carácter mágico , a força e a sensibilidade de um modo de cantar que rasga horizontes e madrugadas, demonstra a capacidade que tem a Música Popular Brasileira de «trepar » aos mercados internacionais.

Neste disco, que tende para um som indiscutivelmente universal, Milton - um negro que saíu de Minas Gerais para as grandes cidades, para o Rio e S. Paulo - reconstrói um percurso que parte das raízes musicais africanas e índias, toca a «americanidad» e atinge o vanguardismo do jazz, reflexo do seu trabalho nos últimos anos com os músicos do Rock/jazz da West Coast, Wayne Shorter , nomeadamente.

Com um bom trabalho de orquestração e excelentes músicos - Nana Vasconcelos (percussão), Nelson Martins (guitarras) , Roserto da Silva (bateria), Jim e Lon Price, Chuk Findley eSteve Madaio (metais), Fattoriso (teclas) e Novelli (baixo) - o novo LP de Milton apresenta pontos altos em Pablo, O Cio da Terra (do Chico Buarque) , Maria, Maria e Alouca.

É este o som de vanguarda do Brasil.

Feito da memória de um passado que é fonte inesgotável. E que é também uma afirmação de esperança, um «credo»:

«Tenha fé em nosso povo que ele resiste/existe, tenha fé em nosso povo que ele acorda/assusta» .

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livros

um romance que, falando dos trabalhadores revolucionários e dos marginais , não se limita a construir uma realidade social, mas vai mais longe na tentativa de sondagem do mundo subconsciente.

Situa a Revolução Cubana no seu momento actual - o da construção - deslocando curiosamente o eixo da heroicidade do combate para o trabalho.

A obrigação de todo o cidadão é o trabalho para a construção: "mas não se deve constru i r só a revolução, deve-se construir o homem para essa revolução , e isso é o mais difícil, pois deve construir-se o homem novo apoiado, neste momento, por uma grande massa de homens com uma mentali­dade de antes , mal alimentados , com uma fonte e uma solidão de quatrocentos anos, com abandono e ignorância" .

Acresce realçar o ritmo quente e gostoso da sua prosa. A última mulher e o próximo combate Manuel Cofiiio Editorial Caminho

Ficção Científica à vista

Mais do que uma análise pormenorizada, fica um aviso ao leitor interessado nesse fenómeno (não só) literário que é a Ficção Científica: atenção a Que Difícil é ser Deus!

Apesar do seu t í tulo enganador, trata-se de uma obra extremament e

interessante de uma literatura que , em matéria de FC, é quase desconhecida: a de URSS.

A I é m d e t o dos os " ingredientes " necessários para fazer uma boa história de aventuras , levanta uma questão importante é possível intervir no processo histórico? Nada de novo, se pensarmos que isso tem sido tema para muitos e muitos livros de FC. O factor novo res ide na perspectiva pe la qual o problema é abordado - não já numa perspectiva idealista, m as s im de acordo com o marxismo.

Um outro aspecto refere-se às condições em que o povo pode iniciar (ou levar a efeito) um processo revolucionário. No fundo, não se trata apenas de escrever um romance. Trata-se de elaborar uma visão mais global de determinados problemas sociais, políticos e ideológ icos , ao mesmo tempo que se faz uma história aliciante para quem gosta de FC.

Entretanto, fica já o aviso: va i se r (re)editado nesta co l ecção A Guerra das Salamandras , de Ka rel Capek . Man t enham-se alerta'. .. Que Difícil é ser Deus! Arkadi e Boris Strugatski Editorial Caminho

Uma Terra sem amos Primavera em Budapest Ferenc Karinthy Editorial Caminho

Apesar das suas primeiras obras se caracterizarem por um estilo literário barroco e propenso a problemas abstractos, a geração de Ferenc Karinthy sofreu demasiadamente a experiência da guerra para lhe ficar indiferente.

Assim , a sua escrita evolui no sentido da descrição mais directa das realidades do dia­-a-dia e do passado recente, sendo os trabalhos jorna­lísticos que pub li cou entre 1947 e 1954 os de valor mais permanente.

Justamente a obra " Primavera em Budapest" representa o seu romance mais evolutivo no sentido da relação do intelectual com o mundo exterior, al iás muito conturbado, e contém em si uma " lição " com a qual o próprio autor se identifica: "a de que um homem íntegro não pode permanecer indiferente ante os problemas políticos prementes".

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teatro

Cornucópia e o cómico

Dizia alguém, findo mais uma sessão de "E não se pode exterminá-mo?» , que "a Cornucópia saíu da casca». Digamos que é uma afirmação (quase) verdadeira. Depois daqueles espectáculos, tecni­camente impecáveis, com uma interpretação rigorosíssima e marcados por um certo hermetismo ( de que "Woyzzeq» foi o exemplo mais marcante), a Cornucópia conseguiu montar um esoec­táculo bri lhante, utilizando os sketches do cómico alemão Kar l Valp-ntin , feitos e spec i almente para os cabar~s alemães dos anos 20 e 30. E um conjunto de cenas notáveis, de uma comicidade inesperada e irreistível. Mas não só, claro. Lição de teatro critica, denúncia e, também: a pergunta final : "E não podemos exterminá-lo?». A que devemos responder, com mUita força: "Pode-se e vamos fazê-lo!» ... . A publ icidade da peça Informa que ela só estará até ~o final do mês (Maio) . Logo, e conveniente estar alerta e ir lá. Atenção a: "A fanfarra», "A salada bizarra», "A mascarada dos animais», "Copias chinesas», "Valentin canta e ri­-se» e "Pai e filho falam da guerra».

Apenas uma nota discor­dante: um certo prensiosismo no texto sobre o espectáculo, ao contrário dos textos de diversos autores sobre Karl Valentin .

"E não se pode exterminá-lo?» - cenas de Karl Valentin Teatro Cornucópia Teatro do Bairro Alto

• cinema As «preocupações» de Lina Wertemuller

decididamente Llna Wertemuller descobriu a fórmula de explorar o filão: ao mesmo tempo que enche os bolsos dos patrões da Warner Bros. (que se fartam de rir com essa coisa adjecta e asquerosa chamada «Pa.squalino») vai lançando areia nos olhos de quem confunde, «exercício lúcido» da crise ideológica, afectiva ~ institucional, com uma história pretensamente de crise, habilmente captada por uma câmara aprisionada pelo qra.nde plano e "travellings» OptlCOS com ou sem razão, que o último filme de Lina Wertemuller tem sido pouco desmontado. Que, o facto de esta ser a segunda fita rodada nos EUA, terá obrigatoriamete que ser encarada como um acto de "boa-fé» por parte duma Hollywood "pluralista» que vai ao encontro dos talentos da Europa. O leitor pensa o que quiser, o certo é que este filme encerra o período mais interessante da carreira da ex-assistente de Felini. É, para já, o menos que se poderá dizer.

Evidenciar as preocupações do se~o oposto (aqui, personalizadas pelo jornalista comunista ... claro!) e os seus mais significativos e obcessivos conceitos morais e sociais, é à partida o que leva Lina Wertemuller a mover-se num ambiente de confronto.

E o espectador pensa com os s:us botões: Lizzy e Paolo sao personagens com quem temos algo em comum. Certo, mas então como aceitar a negação da lucidez em benefício da confusão ~ da perplexidade, No fim de contas, Una Wertemuller prepara (habilmente) o fim da sua noite com ·a estagnação efectiva de tudo e de todos. Como explicar a evidência do

c~nfronto quando se procura, slmultameamente, fugir a lea, recorrendo para isso a todos os possíveis subterfúgios que a montagem/artificial/sem sentido, encerra? No fundo se existe um equívoco esse é' da "responsabilidade» de queml filmou.

... Noite de Chuva, aparece-nos assim como um retrato ferozmente oportunista. Aquela coerência miníma a que Lina Wertemuller nos habituara em obras anteriores ("Filme de Amor e Anarquia», "Insólito Destino» , "Mimi Metalurgico», esfuma-se perdidadamente nas malhas de "Made in USA». Nota: Tudo depende do ponto de vista em que o leitor-espectador se quiser colocar. Evidentemente. ... Noite de Chuva Lina Wertemuller

Super-decepção? Superman - The Movie ou mais prosaicamente, Super~ -Homem é um filme princi­palmente contraditório e mesmo frustrante . Contraditório a diversos níveis: o desenvolvimento da história não coincide muito com o original; aos super­-desenvolvidos efeitos técnicos correspondem lugares comuns que fizeram escola nos anos 30 e 40. Por cutro lado, Super-Homem consegue reproduzir, com uma sinceridade tocante, os valores morais e ideológicos que a personagem de banda desenhada encarna.

Aliás, a propósito do personagem de banda desenhada (e dos supe~ - heróis, em geral) remete­ríamos o leitor para número anterior de LG, onde há bastante material sobre o assunto. No entanto, sem prejuízo dessa consulta caracterizemos rapidament~ o personagem que Shuster e Siegel criaram em 1938: i ncaracterística, reaccionária e desinteressante psicologi­camente, Super-Homem é, de facto, um "homem de aço», sem qualquer profundidade

psicológica. Nem gráfica, diga­-se de passagem.

No que se refere ao filme, vejamos três aspectos essenciais: os cerca de 40 minutos iniciais não têm muito que ver com o original . Compreender-se-á a atmosfera de pureza que envolve o nascimento do mito (I?) - a vastidão branca de Krypton , as roupas e cabelos brancos dos seus senhores, os cristais, o berço de cristal o gêlo, a Fortaleza de Solidã~ (criada por Super-Homem já adulto) - mas já não se compreende o "S» ostentado por Marlon Brando, por exemplo. E é nesses 40 minutos que surgem os mais aflitivos lugares-comuns, como o é a cena com Clark Kent e a mãe adoptiva, perante um céu liricamente nublado, com música a condizer as espigas douradas a ondul~r ao vento. A outro nível, o signifi­cado exemplar: tal como na BD, Super-Homem é, aqui, a encarnação ideal da i deologia localmente dominante. A Estátua da Liberdade, a sua afirmação acerca da "justiça americana» e, por fim, a informação prestada ao chefe da prisão ("Fazemos parte da mesma equipa" - o que, aliás, já se sabia .. . ). No peito, Super­-Homem poderia bem arvorar publicidade à Coca-Cola ou insígnias do complexo militar­-industrial dos EUA. Ou da NATO . Importantes são também aqueles pequenos pontos frouxos em que nem a imaginação serve dEi desculpa - Lois Lane nunca poderia andar a "passear» daquela maneira fora da atmosfera ... . Mas nem tudo é mau, no

filme . Quem conhecer um pouco melhor as histórias em quadrinhos, poderá tentar esquecer-se do resto e gostar de ver a boa caracterização de Lois Lane e Clark Kent, os momentos em que Super­-Homem está em acção, a Interpretação irónica de Gene Hackmann, a rigidez de Marlon Brando. E, muito especialmente, aquele momento em que Clark Kent, pretendendo mudar de roupa numa cabina telefónica, se depara com uma daquelas cabinas que apenas tapam a cabeça, como um cão perante um candeeiro de ilumi­nação pendurado num prédio. Talvez possamos, assim, cair na triste ilusão de que apenas isso é importante e ultrapassar um pouco a decepção que, a pouco e pouco, nos invade ... Superman O filme Richard Donner (EUA)

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30 As ruas de Martin Scorsese

Quem viu .. Boxcar Bertha» (Uma Mulher da Rua) e Taxi Driver percebe claramente que .. Mean Streets» (Os Cavaleiros do Asfalto( é uma espécie de transição - entre pureza e a complexidade ( que não são factores antagónicos) . Da linearidade de Boxcar Bertha, em que o espectador poderia dist inguir " bons» e "maus», em que a leitura política era óbiva, passava-se para um mundo nocturno, perturbante e pervertido, em que os factores de confusão e de angústia são vários, em que o "herói» é virtualmente empurrado para fazer aquilo que tem que fazer. De certo modo, cumprir o seu destino numa sociedade hostil.

Com Mean Streets, passa­-se algo de semelhante: os pequenos e grandes canalhas, os epilépticos, os bares equívocos, a violência, a Mafia, os negócios escuros . Da polícia pouco se sabe. Chega tarde e quase nem é neces­sária. No fundo, uma espécie de circuito fechado, de onde não há saída: as ruas sujas, as pessoas/personagens que se transfiguram, a noite. Os dois homens que fogem à Mafia poderiam facilmente encontrar Robert de Niro/" taxi driver» ...

Que poderemos dizer quanto a esse mundo? Scorsese define-o com um rigor admirável , de onde não está ausente a existência de uma certa solidariedade entre aqueles que são menos " m aus » - mas haverá «maldade» naquele meio, que produz marginais, pequenos gatunos e outros? Onde a Mafia governa? De que servirá a revolta perante a violência absurda, que explode de repente e sem aviso? Mean Streets é um universo fechado, longínquo, com uma certa beleza, com uma boa montagem e uma maior interpretação. E é tudo.

Mean Streets/ /Cavalelros do Asfalto Martin Scorsese (EUA) Quarteto

_---Roteiro de bolso-----------------.'

Antes de mais, um ou dois factos que convém precisar: este roteiro não pretende «fazer a festa» unicamente com referências a actividades provenientes de entidades mais ou menos oficiais. Pensamos, e queremos, dar o devido destaque aquelas que raramente encontram eco nos tradicionais órgãos de informação, quer dizer: as iniciativas culturais organizadas pelas colectividades , associações e cineclubes e, principalmente, as que partem da juventude. Mas para isso necessitamos da colaboração do leitor, a qual se poderá sintetizar no envio das notícias (sempre antes do fim do mês), sem esquecer de assinalar o dia, hora e local da sua realização. Só assim poderemos enriquecer estas páginas e tomar estas revista atractiva e mais viva. O nosso objectivo é o vosso! Como diria o senhor La Palisse - se por cá andasse - .. o roteiro do LG é de todos e de nenhum em especial.

Cinema Francês na Gulbenkian? Pois é, trata-se de uma iniciativa da respectiva Fundação e da Embaixada de França, que julgaram por bem trazer até nós alguns dos grandes expoentes do cinema da pátria de Luís XIV, sem esquecer que o recente desaparecimento de Jean Renoir impunha a visão de alguma da sua obra. Daí, a importância deste ciclo e dos filmes que o compõem. A saber: «Tirez sur le Pianiste» de Truffaut (dia 9, às 18.30), «Adieu Phillipe» de Rozier (dia 10, às 18.30), e as obras de Renoir, «La Chieene» (dia 11, às 21.30), «Toni» (dia 12, às 21 e 30), «Le Crime de Monsieur Lange» (dia 13, às 15.30) e a «Eléna et les Hommes" que encerrerá a retrospectiva a 15.

No Palácio Foz prossegue o cicio .. Marco Ferrerl» que tem movimentado «fanáticos», «cinéfilos» e os desempregados que se instalam na sala, tentanto esquecer a rua .. . da amargura e tristeza. Que é também o que se encontra nos filmes, «A Audiência» (dia 9) e «Liza, a Submissa» (dia 10) - naturalmente, outro tipo de amargura e angústia, mas nem por isso deixarão de nos tocar. Finalmente, o delicioso «Não

Toques na Mulher Branca» _ parábola aos filmes do Oeste americano - irá «para o ar» no último dia, isto é, a 11 de Maio.

Cinema em Casa é o que a RTP-1 promete, habitualmente, as terças , sábados e domingos, embora nem sempre o cumpra. Como é o caso do dia 12 e 13 em que não serão transmitidas longas-metragens . De qualquer forma não desanime pois, na noite de 19, vai ter a oportunidade de «torcer» por Errol Flynn em «Objectivo: Birmânia» do mestre Raoul Walsh . Neste filme, os «yankees» - espertos como nunca - vão «fazer a vida negra» aos japoneses que ocupam a Birmânia. Veremos se o conseguem. Para os mais novos , «O Urso Pardo e o Tesouro» - uma aventura dos tempos da «corrida ao ouro» - pode constituir uma alternativa no domingo, dia 20. Mas , a ún i ca pel ícula verdadeiramente importante é a que se exibe no sábado 26 - «Comboio para Leste» (<<Action in the North AtlantiG») com a presença (bem) viva e mítica do inesquecível Humphrey Bogart (a quem se prepara um «ciclo» póstumo ... na TV), aqui num filme de Lloyd Bacon sobre a viagem dum «comboio» de submarinos duramente perseguidos pelos nazis que ... mais não contamos para não se perder o suspense e a curiosidade. Finalmente, lembramos que, todas as sextas-feiras, a RTP-2 projecta na rubrica «Cine-Clube» sempre bons filmes, que nenhum «bon vivant» deve perder.

Exposições - palavra, infelizmente , de pouco significado para algumas pessoas. E afinal, não custa nada ... é de borla. O que faz falta , é avisar a malta da importância e do valor de uma exposição que continua patente na Fundação Gulbenkian : o Cartaz Cultural de Cuba (todos os dias , excepto segundas, das 15 às 19h). Diremos que se trata de 61 cartazes executados nos últimos cinco anos e que constituem um documento impressionante da criatividade dos gráficos cubanos, e o seu contributo na edificação socialista. Depois não digam que não os avisámos!

No ABCine, e no City, dois filmes, duas formas de encarar(?) a guerra do Vietname, são eles, perspectiva, O RegresstI dos Heróis (Hal Ashby) e .. Os Desertores» (Robert Spieguel) este último tem, à partida, dois aspectos interessantes : o primeiro é a «coragem» de abordar o problemas das deserções no seio do exército «yankee», e fazê-lo num ano particularmente quente (1972) e decisivo, o segundo, é o tom de «reportagem» que toma o filma particularmente acessível. E claro que o autor não é , exactamente , um progressista. Basta-lhe a visão liberal, ela própria sujeita às regras da «segurança do estado» mas nem por isso menos encorajadora. No Quarteto, o «novo cinema» alemão faz escala na sala 1 com um polémico filme de Fassbinder - " A Segunda Dimensão» (Despalr). Por seu lado, Yves Bolsset - o fabricante de .. filmes politlcos» - depois de haver provocado celeuma com .. O Atentado» joga agora com a corrupção policiai em .. O Xerife», que sem surpreender ninguém traz novidades que Interessa ver. Finalmente, (já que o filme de Scorsese foi um dos eleitos para abordagem desenvolvida) estreou-se o filme de Claudia Welll, .. Duas Mulheres em Nova Iorque» - às vezes o cinema americano faz-nos partidas saudáveis, esta é uma delas! Um filme de .. ficção e fantástico» anda já a dar que falar. Seu nome: "A Invasão dos Violadores» (Phlllp Kaufman). Dos efeitos especiais nem vos falamosl A ver para crer, no ABClne. No Zodí aco(confortável,boa projecção) ex ibe-se .. A Estrada do Amanhã» (Robert Mulligan) . Ainda o olhar atento do autor de «Verão 72» a dizer-nos que a juventude é difícil. .. No S. Jorge, Sidney Lumetrevela em "Equus» o gosto pelas formas teatrais. De estreias recentes, talvez «A Passagem» (Avis , Eden e Roma) justifique os sessenta escudos de ingresso para a «tela mágica». De assinalar ainda, as sessões fora d'horas do cinema City.

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re)elçaO Aninhado nas águas tensas que se lhe abraçam nos

quadris em aperto, pesas. Dentro do ventre aberto, a plan ície escorrida se faz colina, de onde cheia, numa curva que se inclina.

Traz à cintura o seu maior desvelo que conchega entre os braços, que encontra no encanto do teu vago aceno, dos teus fluídos dedos, do teu surdo pranto. E vai , cuidando que seus passos te não macem, de tão rasos. E seus gestos, de tão lassos, te não estranhem no balanço. Quase berço.

Mas à noite, à noite é que se despe, lentamente, no sufoco do seu quarto. E se desfaz de disfarces. Súplice. Enquanto banha na água tépida, as pétalas de seus peitos enchidos de inchaços, as raízes de suas pernas em tronco, torneadas de varizes, contrárias.

Perdida. No ralo da noite em que vivem os silvos, os assobios

silenciosos, os avisos assoprados por gatos pardos que sempre cruzam no escuro, a meio do gesto, ela fica no suado susto. Na sofrida escuta do bater de açoite do passar do sangue, enraivado no seu ralho que a prega na rasteira (pelo chão) .

De afogadilho, veste a cinta apertada, e o espartilho, e mede a folga da saia no fôlego que mal retém.

Nos ladrilhos do soalho jazem linhas das baínhas desdobradas no pano esgaço. Esgotado no esforço. E verga-se em arco na surpresa, esse abraço que se apressa e que se apronta.

Mas logo treme, e estremecendo se despede de balbúcias em surdina cismadas. No calor do canto baixo e tonto. E tanto. E mesmo que te minta, e assim mentindo te sinta atento às SiJas falas, é verdadeiro o beiço que se tende no gosto húmido das palavras enluaradas no enleio.

De si te fizeras gordo e manso, cheiro a fraldas em atraso e sabor de anjo. E te ergueras mimoso, de sorriso bolsado e olhar leitoso deleitado nos da gente, sem suspeita. Que se nos prendem e desprendem, num namoro liquefeito, e se passeiam nos bordos desse espaço.

Nesse espanto confiante. Mas que chata memória exilada lhe fecha a fugaz

espreitada? Apenas querera o seu olhar nunca descalço, por trilhos

secos, quebrados em vôos nos galhos mortos e farpados. Seu riso talvez enxuto, quebradiço. Porém jamais omisso.

Mas das borbulhas aceradas, da ponta do bigode ralo por sobre as comissuras tensas, difíceis sensuras se te calam.

São centenas de migalhas abrindo-te em labirintos. E são centenas mitigadas pelas centenas de migalhas luzindo sob pálpebras, descendo.

E da tristeza ela sabe ser mais preza que o calcário nas chaleiras de água chilra. De água chuva.

São centenas de cometas e de cacos. E o olhar oblíquo em que acusas de soslaio, insolente. Insolvente.

Mas que chata memória .. . ??

M.S.

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Gil Teixeira Lopes

GIL TEIXEIRA LOPES - Nasceu em Mirandela em 1936. É diplomado e lecciona na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde fomos para o entrevistar sobre o seu trabalho e recolher opiniões sobre o panorama das Artes Plásticas em Portugal.

Começando pelo conteúdo e temática das suas obras - A minha temática vai desde uma abstractlzação (entre aspas) até uma figuração mais ou menos obJectiva. E o 25 de Abril não teve (nem deve ter) Importância temática para o meu trabalho, embora naturalmente este acontecimento me tenha afectado e me tenha feito reflectir (e é por isso que tenho uma gravura do 25 de Abril) . O 25 de Abril dá outra liberdade ao artista, dá maior liberdade de explicar, de sistema de leitura, mas não implica necessariamente com uma concepção e uma feitura de arte.

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«Planches pour la IIberté» - técnica-mista 1976

Teixeira Lopes já fez pintura mais expressionista - (multo antes do 25 de Abril) e multo mais ligada a problemas sociais e polftlcos do que a que faço agora. Talvez elucidativa desta opção do artista é uma passagem de um texto do crítico Rocha de Sousa - Teixeira Lopes não é um artista do cepticismo ou do desespero: o seu modo de operar não é prova de uma concepção estética que se limite à dolorosa contingência do presente e se concretize pela renúncia ao futuro. A obra deste autor, pelo contrário, ajusta-se a uma ideia de durabilidade, é pensada e construfda para sobreviver ao desgaste ffsico e à crise dos julgamentos. Ela não se explica ao nfve{ de uma destruição previsfvel dos seus valores formais e muito menos no plano da sua existência material.

Para Teixeira Lopes a arte tem que ser livre, e não tem que estar agarrada a uma

pOSição religiosa ou Ideológica. Admite a arte que persegue (ou é condicionada por) determinados obJectivos mas acima de tudo preza aquela que é completa­mente livre e que diga o que quiser.

Gil Teixeira Lopes não é só gravador, mas igualmente pintor e desenhista, e o tipo de trabalho preferível em determinado momento depende do ambiente que o cerca ou das solicitações internacionais - apresentar sempre obras actuais é uma preocupação que tenho, como por exemplo nas Bienais, tratando-se duma obrigação do artista corresponder aos convites, até porque foram aberturas no estrangeiro que se conseguiram e se não podem perder.

Referindo-se à intervenção das entidades oficiais neste campo corrobora da opinião dos artistas entrevistados em números anteriores - Não só não há um plano cultural, como se desprezam os convites Internacionais e o Intercâmbio de obras. As autoridades deviam ter uma capacidade de compreensão e de apoio e não de apadrinhamento em relação a um grupo restrito de artistas. Noutros pafses, mesmo capitalistas, quer a nfvel nacional quer Internacional um artista é remunerado pela sua participação em

«25 de Abrt11974,. - gravura

exposições Na gravura, os temas, um pouco como na pintura, assentam em sinais e figuras cuJa essência simbólica se pode retirar das Imagens quotidianas ou dos vestfglos de uma antiguidade contraposta às estridências do mundo contemporêneo. - Rocha de Sousa