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Língua Portuguesa: Morfologia

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Língua Portuguesa: Morfologia

Formação de Palavras III

Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Prof. Ms. Celso Antônio Bacheschi

Revisão Textual:Profa. Ms. Silvia Augusta Albert

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• Derivação

Atenção

· Nesta unidade da disciplina de Língua Portuguesa – Morfologia, abordaremos mais processos de formação de palavras, que são a derivação prefixal, a derivação sufixal e a derivação parassintética.

Formação de Palavras III

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

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Unidade: Formação de Palavras III

Contextualização

Antes de iniciarmos os estudos dessa unidade da disciplina Língua Portuguesa – Morfologia, convidamos você a ler o poema “nasce morre”, de Haroldo de Campos.

Nesse poema, o autor utiliza a derivação para criar palavras, visando atingir determinados efeitos expressivos. Em breve, você poderá relacionar o texto ao conteúdo dessa unidade do nosso curso.

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Derivação

Enquanto a composição envolve a presença de dois ou mais radicais, a derivação consiste na formação de palavras a partir de um único radical1 e abrange diferentes processos, dos quais o mais comum é a derivação progressiva (ou própria), que ocorre por meio de acréscimo de afixos (prefixos e sufixos). Por não constituírem enunciados sozinhos, os afixos estão entre as chamadas formas presas. Como são acrescentados ao radical, os afixos também são conhecidos como morfemas aditivos. Eles compõem um inventário fechado, ou seja, não surgem novos afixos na língua portuguesa.

A derivação progressiva inclui três processos de que trataremos nesta unidade – a derivação prefixal (ou prefixação), a derivação sufixal (ou sufixação) e a derivação parassintética (ou parassíntese).

Derivação PrefixalA derivação prefixal é o processo que consiste na formação de palavra por meio da adição

de um prefixo. O prefixo, como já havia sido afirmado, sempre antecede o radical. Vamos relembrar um exemplo da unidade 1. Se tomarmos a palavra “desleal”, com base em seu significado (não leal), podemos formar um par com a palavra “leal”, a partir do qual, podemos dividir a palavra em seus elementos mórficos, como mostra o quadro que segue:

Prefixo Radical =

Des- Leal Desleal

A palavra formada depois do acréscimo do prefixo pode, então, servir como radical secundário, à formação de novos compostos. Como por exemplo no caso da palavra “deslealmente”.

A derivação prefixal serve, quase exclusivamente, ao acréscimo semântico, embora haja um pequeno número de prefixos cujo acréscimo pode alterar a classe da palavra. Por exemplo, “parto” e “míssil” são substantivos, a partir dos quais se podem formar adjetivos por meio do acréscimo de prefixos, como ocorre em “condições pós-parto” e “proteção antimíssil”. Esses casos são excepcionais, e ocorrem, apenas, devido à ausência de adjetivos que correspondam a “parto” e “míssil”. Disso se conclui que, embora a derivação prefixal possa resultar na mudança de classe da palavra, não há prefixos cuja função seja apenas essa. Logo, a função principal da derivação prefixal é, de fato, o acréscimo semântico.

Existem prefixos, no entanto, que não alteram a classe da palavra a que se prendem, nem acrescentam significado. Por exemplo, os verbos “ajuntar” e “avoar” são formados pelo acréscimo do prefixo a- aos verbos “juntar” e “voar”. O sentido dos verbos derivados, porém, é exatamente o mesmo dos primitivos.

Há muito tempo se discute se as palavras formadas por acréscimo de prefixo são casos de derivação ou de composição. Os que defendem que se trata de composição recorrem, muitas vezes, à análise diacrônica. O argumento é que alguns prefixos, como a-, ante-, com- (con-, co-), contra-, de-, entre-, sob-, sobre-, tras-, também são preposições; e outros, como ab-, ad-, en- (e-,

1 Algumas palavras que estão em negrito no texto compõem um glossário que está disponível ao final do texto. Consulte-o durante a leitura, caso tenha necessidade, para uma melhor compreensão do tema de que estamos tratando. Sobre radical, veja também a unidade I.

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Unidade: Formação de Palavras III

em-), ex-, in- (posição interior), intro-, ob-, pós-, pro-, sub-, trans-, retro-, per-, justa-, circun-, ultra-, super-, extra-, têm origem em advérbios e preposições do latim. Além disso, pode-se afirmar que prefixos têm maior autonomia do que os sufixos. Por exemplo, pós-, em “pós-graduação”, tem uma função equivalente à de um advérbio (= depois da graduação), o que não ocorreria com um sufixo como -al, por exemplo, em “nacional”. Entre os que partilham da opinião de que os prefixos são formadores de compostos, mencionamos Mattoso Câmara (2004, 2005).

Autores que defendem a ideia de que a prefixação é um caso de derivação argumentam que prefixos como re-, di-, dis- e in- (negação) não têm preposições correspondentes, nem jamais foram preposições ou advérbios em latim. Além disso, pode-se acrescentar que os prefixos não se comportam mais como preposições e que a análise deve considerar, apenas, a realidade atual da língua.

Há, também, quem defenda que alguns prefixos formam palavras compostas e outros formam palavras derivadas, de acordo com o seu “grau de aderência”. Neste material, como você percebeu, a prefixação é considerada um processo de derivação, em conformidade com Khedi (2003), Basílio (1987) e com a maior parte dos estudiosos da questão.

Os prefixos podem ligar-se a verbos, adjetivos e substantivos, como ocorre em “antever” (verbo), “inativo” (adjetivo) e “vice-reitor” (substantivo). Para chegarmos aos elementos constitutivos de cada palavra, como você sabe, formamos pares, que, nos casos citados são “antever” / “ver”, “inativo” / “ativo” e “vice-reitor” / “reitor”. Vamos ver um quadro?

PREFIXO RADICAL =

Ante- Ver AnteverIn- Ativo Inativo

Vice- Reitor Vice-Reitor

Para expressar ideia de intensidade, podemos optar por derivados prefixais ou sufixais (além de outros recursos). Por exemplo, de “interessante”, formam-se “superinteressante” e “interessantíssimo”.

Sobre o emprego do hífen na escrita de algumas palavras que contêm prefixos, como “vice-reitor”, consulte o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, disponível na página oficial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no endereço que segue: http://www.cplp.org/id-176.aspx.

Sobre dúvidas mais específicas, consulte o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, disponível em http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23.

Veja, também, uma lista de prefixos do português em http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf7.php.

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Derivação sufixalA derivação sufixal consiste no acréscimo de um sufixo ao radical. Os sufixos ocupam sempre

posição posterior à do radical. Tomando-se, por exemplo, a palavra “clareza”, podemos formar o par “clareza” / “claro”, a partir do qual deduzimos a presença do radical “clar-” e do sufixo -eza. Veja o quadro a seguir:

Radical Sufixo =

Clar- -eza Clareza

Aqui, vamos retomar uma reflexão da unidade anterior, que é a questão da norma linguística. Assim como -eza, há outros sufixos que formam substantivos a partir de adjetivos, como -ez, que forma “nitidez” a partir de “nítido” (nitid- + -ez), -dão, do qual se obtém “vastidão” a partir de “vasto” (vast- + -[i]dão) etc. Como havíamos dito, a língua é um sistema de possibilidades, isto é, a partir de “claro”, existe a possibilidade de se formar “clareza”, assim como “*clarez2” ou “*claridão”. O que determina a possibilidade que se tornará uma realidade da língua é a norma. Em outras palavras, dizemos “clareza” e não “*clarez” porque, historicamente, essa é a forma corrente. Em linguagem simples, a norma explica, segundo Bechara (2003), “tudo que se diz ‘assim e não de outra maneira’”.

Agora, cabe outra questão: se “clareza” faz parte da norma e não as outras possibilidades, por que existe “claridade”, que também é um substantivo formado a partir do adjetivo “claro”? Isso não é incoerente com o que acabamos de afirmar?

Na verdade, não há incoerência, pois, no caso desses substantivos, houve especialização de sentido, ou seja, “claridade” remete a uma ideia concreta, algo que pode ser percebido pela visão, enquanto “clareza” remete a uma ideia abstrata, algo que pode ser percebido pelo raciocínio. Por isso, dizemos que há claridade no quarto (e não clareza) e que há clareza em uma explicação (e não claridade).

Outra questão que nos interessa a respeito dos sufixos (e também dos prefixos) é que eles podem ser produtivos ou improdutivos. São produtivos os sufixos que formam efetivamente novas palavras. Tomemos, por exemplo, as palavras “dentinho” e “dentículo”. A primeira é formada com um sufixo bastante produtivo (-inho), que faz parte da linguagem cotidiana, enquanto, na segunda, temos o sufixo -culo, mais comum na linguagem científica, de baixa ou nenhuma produtividade nas palavras na língua portuguesa.

Como sufixos formam um inventário fechado, que conta com um número reduzido de elementos, muitos sufixos apresentam diferentes funções. Por exemplo, o sufixo -ada forma substantivos que dão nomes a refeições, como “feijoada” e “bacalhoada”, golpe, como “facada” e “pedrada”, comportamentos próprios de (frequentemente de sentido pejorativo), como “palhaçada”, ações ou resultados, como “chegada” e “jogada”, coletivos, como “garotada” e “rapaziada”, entre outros. Na linguagem coloquial, nota-se a produtividade desse sufixo, como, por exemplo, em “dar uma ligada” (por ligação ou telefonema), “dar uma arrumada na casa” etc.

2 O asterisco que antecede a palavra indica que a forma é inexistente.

Fonte: Thinkstock / G

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Unidade: Formação de Palavras III

Como vimos, há sufixos formadores de substantivos, como -eza, em “clareza”, formadores de adjetivos, como -oso(a), em “cheiroso”, formadores de verbos, como -izar, em “fiscalizar”, além de -mente, formador de advérbios, como “claramente”. O sufixo -inho(a), em princípio, forma substantivos com ideia de diminutivo, como “livrinho”; mas, em linguagem afetiva, pode prender-se a adjetivos, como em “rapidinho”, a advérbios, como em “agorinha”, a pronomes, como em “euzinho”, vocezinho”, a numerais, como em “unzinho”, e até a verbos, como em “chuviscandinho”.

Note-se que, mesmo em “livrinho”, o sufixo pode não se referir ao tamanho do livro, mas expressar a admiração ou o desprezo do falante por ele. A esse respeito, vamos ler a lição de Lapa (1975):

No primeiro exemplo [livrinho], o sufixo -inho deu à palavra não tanto um significado de pequenez, como mais ainda de ternura. Livrinho pode não ser um livro pequeno, pode ser um livro com as dimensões vulgares; mas é certamente coisa querida e apreciada (destaque do autor).

Alguns sufixos servem à flexão de substantivos e adjetivos, como os formadores de feminino -esa, que ocorre em “baronesa”, -essa, que ocorre em “condessa”, -isa, que forma “poetisa”, -triz, presente em “embaixatriz” e -ina, que forma “heroína”.

Conforme observação de Herculano de Carvalho (1973: 549), os sufixos -inho(a) e -ito, também possuem certa autonomia, já que, em palavras formadas por eles, ocorre uma espécie de “concordância interna”. Comparando-se “bonzinho” e “boazinha”, pode-se notar duas marcas de feminino na segunda palavra (boazinha). O mesmo se nota, por exemplo, no plural de “balãozinho”: “balõezinhos”.

Alguns autores preferem considerar -zinho(a) como um sufixo (variante de -inho[a]). Preferimos, neste material, considerar que o -z- é uma consoante de ligação, pois, do contrário, teríamos de ampliar a lista de sufixos, incluindo também -zal, de “cafezal” (em nossa análise, “café” + -z¬- + -al) e outros.

Você pode encontrar uma lista de sufixos do português em http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf7.php.

Derivação Parassintética

Vimos, até agora, que, para se chegar aos elementos mórficos de uma palavra, é preciso formar um par, a partir do qual a palavra é dividida em dois elementos (radical e sufixo, por exemplo). Isso não vale para o caso da derivação parassintética (ou parassíntese), e só nesse caso, pois as palavras formadas por esse processo devem ser divididas em três elementos, uma vez que ocorre acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo. Vamos a um exemplo? Se quisermos saber quais são os elementos mórficos da palavra “entristecer”, devemos formar um par com essa palavra e o adjetivo “triste”. Desse par, notamos que “entristecer” se divide em três elementos.

Veja:

Prefixo Radical Sufixo =

En- trist- -ecer Entristecer

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Não podemos dividir a palavra em dois elementos, porque, se isolarmos o prefixo, teremos en- + *tristecer e, se isolarmos o sufixo, obteremos entrist- + -ecer. Como, em português, não existe o verbo “*tristecer”, nem o adjetivo “*entriste”, essas análises não são válidas.

É preciso muito cuidado para analisar as palavras em cuja formação há um prefixo e um sufixo para saber se se trata ou não de um caso de derivação parassintética. Tomemos, por exemplo, a palavra “indispensável”. Essa palavra contém o prefixo -in e o sufixo -vel, mas isso é suficiente para que possamos concluir que se trata de uma derivação parassintética? A resposta é não. Por quê? Veja: dizer que algo é indispensável equivale a dizer que se trata de uma coisa não dispensável, donde se conclui que a palavra é formada por in- + “dispensável” (do par “indispensável” / “dispensável”); e isso faz dela, portanto, um caso de derivação prefixal. Se quisermos prosseguir, vamos retormar a palavra “dispensável”, que serviu de base para a análise anterior. Alguma coisa que é dispensável é algo que se pode dispensar, o que nos leva a outro par: “dispensável” / “dispensar”, donde concluímos que “dispensável” é uma derivação sufixal, formada por “dispensa(r)” + -vel3.

Essa explicação nos ensina que muitas palavras que aparentemente são formadas por derivação parassintética são, na verdade, resultado de uma derivação prefixal seguida de uma derivação sufixal ou vice-versa. Veja, no esquema a seguir, os processos de formação que levam à palavra “indispensável”:

A derivação parassintética é um processo por meio do qual se formam basicamente verbos em português. Raros são os adjetivos formados por esse processo, como “subterrâneo” e “desalmado”.

Veja o quadro a seguir:

Prefixo Radical Sufixo =

Sub- terr- -âneo SubterrâneoDes- alm- -ado Desalmado

Nas unidades anteriores, buscamos dar resposta à pergunta “por que se formam palavras”. Os argumentos aqui apresentados nos parecem suficientes para dar resposta a esse questionamento. Se nos perguntássemos, no entanto, por que se formam palavras por meio da derivação parassintética – e não por meio de outro processo –, a resposta não seria nada simples; mas, já que a pergunta é pertinente, vamos tentar responder a ela. Na verdade, a pergunta correta não é essa; mas outra, ou seja, como explicamos a presença do prefixo na derivação parassintética? Se tomarmos, por exemplo, o verbo “engarrafar”, podemos argumentar que o prefixo en- se justifica devido à ideia de movimento para dentro, pois “engarrafar” é pôr (algo) dentro da garrafa. Se considerarmos, no entanto, a palavra “enverdecer”, temos um problema, pois o verbo significa “tornar verde”. Não há ideia de movimento. O problema fica maior ainda se considerarmos que existem os verbos “verdecer” e “verdejar” (ambos sem prefixo), que têm exatamente o mesmo significado.

3 Há autores que mencionam -ável como sufixo. Não o fazemos, assim como Houaiss (2001), por uma razão de economia de descrição, a mesma que nos levou a não considerar -zinho(a) um sufixo. Esse raciocínio não nos parece adequado porque nos obriga a considerar quatro ou, talvez, cinco sufixos em vez de um, ou seja, -ável (dispensável), -ével (delével), -ível (combustível), -óvel (móvel) e -úvel (solúvel). Na nossa análise, o “a” de “dispensável” é a vogal temática do verbo “dispensar”.

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A situação fica mais difícil ainda se pensarmos em algumas das nossas “línguas irmãs”, o italiano, o espanhol, o galego e o francês, todas “filhas do latim”. Em português, temos a palavra “salada”, cujo radical é “sal” (do latim sal, salis, idem). A mesma palavra latina deu origem a salade em francês. Até aí, temos casos de derivação sufixal. Nas outras línguas, porém, temos casos de derivação parassintética, a saber, insalata em italiano e ensalada em galego e espanhol.

Por que palavras de mesmo significado foram formadas sem prefixo em português e francês e com prefixo em italiano, galego e espanhol? A resposta só pode ser que, mesmo que haja a ideia de movimento para dentro (pôr sal em algo), o prefixo é dispensável. Ainda que recorrêssemos ao latim (o que não nos cabe na nossa análise, que é sincrônica), não teríamos uma explicação plausível. Em latim, há os verbos salare e insalare, que originaram palavras com prefixo em algumas línguas e sem ele em outras. Isso só nos fez mudar o problema de lugar, ou seja, por que o prefixo é necessário em insalare se ele está ausente em salare? A resposta continua a mesma: não há necessidade do prefixo.

Já que chegamos à conclusão de que o prefixo é desnecessário, a pergunta passou a ser outra, isto é, o que ele faz lá? Para encontrarmos a resposta, precisamos voltar a um conceito de que já tratamos. Lembra-se da norma linguística? Pois ela é a resposta que nos restou, isto é, a presença do prefixo em alguns derivados e a sua ausência em outros são possibilidades do sistema. O que vai nos dizer por que uma possibilidade se realiza e outra não (e, em poucas vezes, mais de uma) é a norma linguística, porque ela está autorizada pela tradição e acima da vontade de cada falante de uma determinada língua.

Se você quiser entender melhor a questão da norma linguística, recomendamos o vídeo disponível no endereço a seguir: http://www.youtube.com/watch?v=BtI2arGsNPA.

Cabe acrescentar que nem sempre o prefixo é desnecessário à formação de palavras por derivação parassintética. Em “subterrâneo” e “desalmado”, está claro que os prefixos acrescentam significado ao todo, porém esses casos são minoria.

São muitos casos e possibilidades, não é mesmo? Então, vamos treinar um pouco o que vimos até aqui?

Alguns exemplos de Análise

Vamos utilizar análises de algumas palavras para verificarmos como está a compreensão do que aprendemos até agora. Para isso, tomaremos inicialmente a palavra “inadiável”. O significado da palavra é “não adiável”, portanto, formaremos o par que segue:

“Inadiável” / “Adiável”.

Desse par, podemos deduzir que “inadiável” é formada pelo prefixo in- + “adiável”. O processo de formação da palavra é, portanto, a derivação prefixal.

Se seguirmos em nossa análise, teremos “adiável”. O significado da palavra é “o que se pode adiar”, logo formaremos o par:

“Adiável” / “Adiar”.

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Deduzimos, então, que se trata de uma derivação sufixal: “adia(r)” + o sufixo -vel.

Prosseguindo um pouco mais, temos “adiar”, que se liga à palavra “dia”, pois “adiar” é “transferir (algo) para outro dia”. Logo, o par que nos ocorre é

“adiar” / “dia”.

Nesse caso, somos obrigados a dividir a palavra em três elementos: o prefixo a- + “dia” + o sufixo -ar. Percebemos, dessa forma, que “adiar” é formada por derivação parassintética.

Como base da próxima análise, utilizaremos o adjetivo “arborização”. Como a palavra significa “ação de arborizar”, o par lógico da palavra é

“Arborização” / “Arborizar”

Desse par, compreende-se que “arborização” é uma derivação sufixal: “arboriza(r)” + -ção. Se quisermos prosseguir na análise, podemos tomar “arborizar” e formar outro par.

Aqui, podemos recorrer a outra palavra que tenha o mesmo radical de “arborizar”, como “arborescer”, formando o par:

“Arborizar” / “Arborescer”

A partir do par, compreendemos que a palavra é formada por “arbor-” (alomorfe do radical de “árvore”) + -izar, tratando-se, portanto, de uma derivação sufixal.

Glossárioadjetivo: palavra que se liga a um substantivo para expressar uma característica: “dia quente”.

afixo: morfema que se liga a um radical. Em português, são os prefixos e os sufixos.

alomorfe: formas variantes de um mesmo morfema.

análise diacrônica: análise linguística que se faz levando em conta diferentes fases de uma língua.

advérbio: palavra que modifica um verbo (acordar cedo), um adjetivo (bastante claro) ou outro advérbio (muito perto).

afixo: morfema que se liga a um radical. Em português, são os prefixos e os sufixos.

numeral: palavra que indica quantidade ou posição em uma ordem.

pronome: palavra que representa um nome.

radical: morfema que contém o significado básico de uma palavra, como “leal” em “desleal”.

substantivo: palavra que nomeia seres, ações, características, sentimentos etc.

verbo: palavra variável em tempo, modo, número e pessoa. Semanticamente, expressa um fato (ação, estado).

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Material Complementar

Para aprender mais a respeito das questões apresentadas nesta unidade, faça as seguintes leituras:

BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1987.

KEHDI, Valter. Formação de Palavras em Português. 5. ed. São Paulo: Ática, 2003.

Obras disponíveis On-line:

GONÇALVES, Carlos Alexandre. Prefixação: composição ou derivação? Novos enfoques sobre uma antiga polêmica. Disponível em http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga30/arqs/matraga30a07.pdf. Acesso em 13 dez. 2013..

MANZOLILLO, Vito. Processos de formação de palavras: a derivação em foco. Disponível em http://www.filologia.org.br/revista/54supl/054.pdf. Acesso em 13 dez. 2013.

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Referências

BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1987.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim. Dicionário de Linguística e Gramática. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

________. Estrutura da Língua Portuguesa. 37. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

HERCULANO DE CARVALHO, José G. Teoria da Linguagem: Natureza do fenômeno linguístico e a análise das línguas. t. 1. 5. ed. Coimbra: Atlântida, 1973.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

KEHDI, Valter. Formação de Palavras em Português. 5. ed. São Paulo: Ática, 2003.

LAPA, Manuel Rodrigues. Estilística da Língua Portuguesa. 8. ed. Coimbra: Coimbra, 1975.

Referências Bibliográficas (disponível para consulta)

ALVES, I. M. Neologismo: criação lexical. São Paulo: Ática, 2007. (Coleção princípios). (E-book)

BASÍLIO, M. Teoria lexical. 8. ed. São Paulo: Ática, 2007. (Coleção princípios). (E-book)

NEVES, M. H. M. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006. (E-book)

ROSA, M. C. Introdução à morfologia. São Paulo: Contexto, 2000. (E-book)

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Anotações

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