LONA 454- 09/10/2008

8
Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008 | Ano IX | nº 454| [email protected]| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo | DIÁRIO d o B R A S I L Tamyres Antunes/LONA Mulheres motoristas são cada vez mais comuns Apesar de a inclusão de mu- lheres ter se intensificado entre os motoristas nos últimos anos, o preconceito ainda aparece en- tre os profissionais da estrada. Página 6 O Lona continua com a série de ensaios que fazem a releitura da obra “Alice no país das maravilhas” - Página 8 Programas assistencialistas adota- dos por muitos governos são ações que visam amenizar os problemas e in- cluir socialmente os beneficiados a longo prazo. Página 7 Renda mínima promove igualdade social Ensaio fotográfico Página 3 Em setembro, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) fechou em 0,28%. Os números são bem parecidos com os do mês anterior, que, segundo dados do IBGE, tinham apresentado va- riação de 0,26%. Porém, diferen- temente dos meses anteriores, os alimentos, vilões do aumento desde o início do ano, recuaram na escalada dos preços. A queda pôde ser detectada principal- mente nos alimentos de primei- ra necessidade, como cebola, to- mate e batata. Apesar da dimi- nuição nos preços, os consumi- dores que foram às compras no período não perceberam o rea- juste. Pelo estudo divulgado ontem, isso acontece porque os alimentos vêm acumulando au- mento desde o início do ano. Preço de alimentos da cesta básica sofre queda no mês de setembro João Pedro Schonarth

description

JORNAL- LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

Transcript of LONA 454- 09/10/2008

Page 1: LONA 454- 09/10/2008

Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008 | Ano IX | nº 454| [email protected]|Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

DIÁRIO

do

BRASIL

Tamyres Antunes/LONA

Mulheres motoristas são cada vez mais comunsApesar de a inclusão de mu-

lheres ter se intensificado entreos motoristas nos últimos anos,o preconceito ainda aparece en-tre os profissionais da estrada.

Página 6

O Lona continua com a série de ensaios que fazem a releitura da obra “Alice no país das maravilhas” - Página 8

Programas assistencialistas adota-dos por muitos governos são ações que

visam amenizar os problemas e in-cluir socialmente os beneficiados

a longo prazo.

Página 7

Renda mínima promove igualdade social

Ensaiofotográfico

Página 3

Em setembro, o Índice dePreços ao Consumidor (IPCA)fechou em 0,28%. Os númerossão bem parecidos com os do mêsanterior, que, segundo dados doIBGE, tinham apresentado va-riação de 0,26%. Porém, diferen-temente dos meses anteriores, osalimentos, vilões do aumentodesde o início do ano, recuaramna escalada dos preços. A quedapôde ser detectada principal-mente nos alimentos de primei-ra necessidade, como cebola, to-mate e batata. Apesar da dimi-nuição nos preços, os consumi-dores que foram às compras noperíodo não perceberam o rea-juste. Pelo estudo divulgadoontem, isso acontece porque osalimentos vêm acumulando au-mento desde o início do ano.

Preço de alimentos da cesta básicasofre queda no mês de setembro

João Pedro Schonarth

Page 2: LONA 454- 09/10/2008

Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 200822222

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo daUniversidade Positivo – UP

Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. CampoComprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

“Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos ge-rais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo eempreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade so-cial que contribuam com seu trabalho para o enriquecimentocultural, social, político e econômico da sociedade”.

Missão do curso de Jornalismo

Expediente

Reitor:Reitor:Reitor:Reitor:Reitor: Oriovisto Guima-rães. VVVVVice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor: José PioMartins. Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Admi-Admi-Admi-Admi-Admi-nistrativo:nistrativo:nistrativo:nistrativo:nistrativo: Arno AntônioGnoatto; Pró-Reitor dePró-Reitor dePró-Reitor dePró-Reitor dePró-Reitor deGraduação:Graduação:Graduação:Graduação:Graduação: Renato Casa-grande; Pró-Reitora de; Pró-Reitora de; Pró-Reitora de; Pró-Reitora de; Pró-Reitora deExtensão:Extensão:Extensão:Extensão:Extensão: Fani Schiffer Du-rães; Pró-Reitor de Pós-Pró-Reitor de Pós-Pró-Reitor de Pós-Pró-Reitor de Pós-Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa:Graduação e Pesquisa:Graduação e Pesquisa:Graduação e Pesquisa:Graduação e Pesquisa:

Luiz Hamilton Berton; Pró-Pró-Pró-Pró-Pró-Reitor de Planejamento eReitor de Planejamento eReitor de Planejamento eReitor de Planejamento eReitor de Planejamento eAAAAAvaliação Institucional:valiação Institucional:valiação Institucional:valiação Institucional:valiação Institucional:Renato Casagrande; Coorde-Coorde-Coorde-Coorde-Coorde-nador do Curso de Jorna-nador do Curso de Jorna-nador do Curso de Jorna-nador do Curso de Jorna-nador do Curso de Jorna-lismo: lismo: lismo: lismo: lismo: Carlos Alexandre Gru-ber de Castro; Professores-Professores-Professores-Professores-Professores-orientadores:orientadores:orientadores:orientadores:orientadores: Elza Oliveirae Marcelo Lima; Editor-che-Editor-che-Editor-che-Editor-che-Editor-che-fe:fe:fe:fe:fe: Antonio Carlos Senkovski.

Expediente

Louise Possobon

Enquanto ano a ano os am-bientalistas informam o aumen-to na emissão de gases contra anatureza, cada país faz o quepode, ou melhor, o que quer. Aindústria britânica, por exem-plo, admitiu recentemente queprecisa diminuir a destruiçãocausada pelo setor. Estudo en-comendado pela ConfederaçãoBritânica de Indústrias (CBI)conclui que a emissão de CO2está perto de 370 milhões de to-neladas, cerca de 1% das emis-sões globais de gases do efeitoestufa. Para tentar amenizar, osetor aposta numa série de me-didas que incluem investir emeficiência energética e fornecerinformações aos consumidores.Ganhar alguns pontinhos coma clientela faz parte do pacote.

Mas pelo menos a Grã-Bre-tanha tenta fazer alguma coisa.Brasileiro que se preza não co-pia, e nesse caso também nãoinventa. Aqui não há metas dediminuição e há pouca discussãono setor industrial, principal-mente nas micro e pequenasempresas. E é para elas que de-vemos estar atentos. Segundo oSebrae, elas correspondem a

Tecnologia de hoje, pensamento de ontem98% das empresas nacionais enelas não há de investimentoambiental, pois julgam que o cus-to da tecnologia é alto, o que nãoé de todo verdade.

O Instituto Brasil Pnuma,entidade que divulga resultadosdo Programa das Nações Uni-das para o Meio Ambiente, ates-ta que nos anos 60 essa menta-lidade de altos custos em prol domeio ambiente era válida. Nes-sa década, a atitude empresari-al começou a mudar, principal-mente em virtude dos vários de-sastres de poluição industrial.De lá para cá foram implanta-dos os padrões de “qualidade parao ar e para as águas, padrões deemissão para os efluentes indus-triais líquidos e gasosos e siste-mas de licenciamento das ativi-dades poluidoras”. Naquela épo-ca, não havia outra saída a nãoser acatar a Legislação Ambien-tal e gastar rios de dinheiro parase adequar aos sofisticados fil-tros de chaminés e estações detratamento dos resíduos líqui-dos. Isso resultou em investi-mento e aumentou o custo finaldos produtos.

No imaginário do empresa-riado, que persiste até hoje, cus-to alto está relacionado à natu-reza. Lá atrás, deixavam de

lado o aspecto ambiental e sepreocupavam em atender a le-gislação, sempre de olho noscofres empresarias, claro.

Em 1989, houve um marcopara as empresas. Foi nesse anoque o PNUMA lançou o Progra-ma de Produção Mais Limpa,agora com tecnologias maisavançadas, que permitiam àsempresas fabricar o mesmo pro-duto utilizando menos energia,menos água, menos matéria pri-ma e, ainda, gerando menos re-síduos para tratamento final.

Mesmo assim o Brasil, queestá entre os 20 maiores emis-sores de dióxido de carbono nomundo, não faz corretamenteseu dever de casa, e o governo,muito menos. Não há mecanis-mos econômicos para quem de-seja reduzir a emissão de CO2no processo produtivo. Há a ne-cessidade sim de contribuirmosmais com os esforços no com-bate a esse poluente. E a indús-tria tem papel primordial, poiscorresponde a cerca de 15% dasemissões nacionais de gases doefeito estufa. Copiando ou nãoos ingleses, está mais do que nahora de cada um e cada empre-sa combater o grande vilão doséculo XXI e deixar de lado opensamento retrógrado.

Isadora Hofstaetter

Um bar da cidade Utsu-nomiya, no Japão, buscandoatrair a atenção da mídia,lançou uma nova moda: aoinvés de garçons, quem ser-ve os clientes são macacos.Os dois primatas, que traba-lham durante duas horas di-árias, são ágeis e prestativos,segundo notícia publicadapela BBC Brasil.

Já pensou como seria útilse uma girafa auxiliasse nalimpeza de prédios? Ou en-tão um gueopardo na entre-ga de encomendas? Paraque motoboy, se os 110 km/hdo felino conseguem baterqualquer velocidade de entre-ga? Que gracinha, alguémpode pensar. Mas e os sereshumanos que perderam seusempregos? Como estão sus-tentando suas famílias? Sea moda pega, iremos ao co-mércio e os Mc Empregos(conceito de Naomi Klein nolivro “Sem Logo”) serão subs-tituídos por animais, afinaleles são mais baratos, maisinstintivos realizando o tra-balho sem pensar, não recla-mam e ainda por cima sãoatrativos! Lindo, não? Nolugar de empresas de Recur-

Emprego animalsos Humanos os empresári-os começarão a fazer fila noZoológico. As ofertas:

· Hipopótamo::::: habilida-des com carregamento depeso e força. Pouco ágil.

····· Leão: PhD em segu-rança. Dificuldade de relaci-onamento com patrões.

· Castores::::: Especializa-ção em construção de repre-sas. Facilidade com variadosdepartamentos da construçãocivil.

Logo, logo teremos cursose não adestramento de ani-mais. Em tempos de proibi-ção do uso de animais em cir-cos, aparecem essas maluqui-ces das leis de proteção quepermitem o “trabalho” dessesseres. Trabalho? Eles estãorecebendo feijões como salá-rio. Não possuem carteira as-sinada, previdência, ou qual-quer outra lei trabalhista. Bo-nita forma de os empresáriosescaparem das leis que regemos seres humanos. Além dodescaso com a humanidade,empregar animais deveria serproibido pelo aproveitamentode seres que não possuem for-mas de defesa a danos morais.Mais do que um abuso, essanovidade empregatícia aten-ta contra integridade huma-na e animal.

Rebeca Alcântara

A garota dentuça, o meninoque não gostava de tomar ba-nho, o outro tinha o cabelo decebola e a outra era uma comi-lona que não podia ver melan-cia. Não são necessárias maio-res explicações, todo mundo jáleu pelo menos um gibi da Tur-ma da Mônica. O problema éque até os nossos antigos ami-guinhos passaram pela inevi-tável modernização. Eles, queainda mantinham as raízesinfantis, cresceram. Isso mes-mo! Cresceram e adotaram al-gumas “modas” novas.

A mudança já começa peloestilo do gibi: os desenhos sãoem estilo mangá, mas sem terque ler ao contrário. As rou-pas são modernas, como osadolescentes gostam. A Maga-

li emagreceu. O Cebolinhaconseguiu uma bela cabeleirae só fala “elado” (ops!) em mo-mentos de nervosismo. A bai-xinha e gorducha e dentuça sócontinua com a última carac-terística. Mônica cresceu eestá magrinha. E o amado su-jinho Cascão agora toma ba-nho de vez em quando.

Pois é, até os quadrinhos ce-deram ao estilo moderninho edeixaram de ser crianças, igual-zinho na vida real. Hoje as cri-anças se transformaram emadultos versão miniaturas. Boaparte das meninas vão ao salãocom a mesma freqüência que asmães, namoram mais cedo, cres-cem mais cedo, “mandam” nospais. Não assistem alguns dese-nhos por ser “coisa de criança”.Mas todos teriam que ser crian-ças, para que crescer e assumirresponsabilidades mais cedo?

Baseado em uma criançaprecoce, o livro “Frases do Toméaos três anos”, de Arnaldo An-tunes, descreve as filosofias deuma criança adiantada. Muitasvezes os pais fazem questão deestimular, achando que assimos filhos parecem mais inteli-gentes. Estudos indicam que oambiente em que a criança éexposta e a genética contribu-em muito para característicasfísicas e mentais.

E não foram só nos quadri-nhos que os personagens cres-ceram; o desenho americanoos “Rugrats” também recebeusua versão teen, com as situ-ações que envolvem essa par-te da vida. É, os quadrinhos eos desenhos também imitama vida e trazem assuntos comoa ditadura da beleza e as situ-ações de pressão até mesmonas leituras de lazer.

Crianças adultas

Page 3: LONA 454- 09/10/2008

33333Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Economia Apesar da queda nos preços de alimentos, consumidores e comerciantes não comemoram

Ana Rodovanski

O governador Roberto Re-quião encaminhou para vota-ção na Assembléia Legislativa,na última terça-feira, projetode lei que reduz a alíquota doICMS de 18% para 12% nosprodutos de bens de consumopopular. O texto prevê a redu-ção na alíquota de 92 mil itense vai beneficiar principalmen-te famílias de baixa renda.

Na redução foram contem-plados produtos de primeiranecessidade como alimentos,bebidas, calçados, artefatos detecidos, hortifrutigranjeiros,produtos de higiene, remédiose produtos de limpeza.

Em entrevista coletiva noPalácio das Araucárias, o go-vernador falou que esse proje-to de lei vai beneficiar as clas-ses econômicas C, D e E. “Va-mos favorecer os mais pobres,

derrubando o valor dos produtosque são de consumo deles. O im-posto vai deixar de penalizar osmais pobres e penaliza, um pou-co, os mais ricos”, explicou o go-vernador.

O secretátio da Fazenda, He-ron Arzua, na mesma coletiva,disse que foramfeitos estudospara a escolha eseleção dos itensque teriam a re-dução e que se oprojeto for apro-vado pela Assem-bléia, mais pro-dutos poderãoentrar na lista.“Chegamos apensar em dei-xar todas as alíquotas em 12%,mas não tinhamos noção do ta-manho do impacto. Vamos espe-rar a reação do mercado no pró-ximo ano, assim poderemos es-tender a redução para outros pro-

Flávio Freitas

O Índice Nacional de Pre-ços ao Consumidor Amplo(IPCA) apresentou variação de0,26% em setembro e ficou pró-ximo da oscilação registrada emagosto (0,28%).

O estudo divulgado ontempelo Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE) apon-ta a alimentação fora da lista dositens que mais pesaram no bol-so dos brasileiros no mês passa-do. Já a categoria de alimentose bebidas, de acordo com o levan-tamento, teve queda nos preços.

Além do leite pasteurizado,tomate, cebola, batata inglesae outros alimentos não indus-trializados tiveram seus valoresreduzidos. Apesar do IPCAapontar queda no preço de cer-tos alimentos, a dona de casaGenair de Andrade, 50 anos,afirma não ter sentido muito adiferença na hora de fazer ascompras que alimentam os cin-co moradores da casa ondemora. “A carne e o arroz estãocom o preço lá em cima. Estátudo caro”, fala, enquanto espe-ra o troco em uma mercearia.

O que mais preocupa donaGenair é o preço do feijão – pro-duto indispensável à mesa demuitos brasileiros –, que ape-sar de ter caído 1,98%, segun-do o estudo, para a dona de casaainda está muito caro. “Lá emcasa ninguém come sem ele.Então tem comprar”, reclama.

Para o dono de uma peque-na mercearia no bairro CampoComprido Jair Vieira, que co-mercializa em pequena escalaprodutos da cesta básica e al-gumas frutas e verduras, o pre-ço cobrado pelos distribuidorescontinua o mesmo. “Não baixounada. Acho que a tendência ésubir, não sei por quê”, confes-sa enquanto a mulher chegacom o troco da freguesa.

O levantamento do IBGEmostra que o motivo do comer-ciante e da freguesa não senti-

rem diferença no valor dos pro-dutos deve-se ao fato de que “ogrupo dos produtos alimentíci-os,,,,, ainda que em queda no mês,acumula alta de 9,29% no ano,bem acima de igual período doano passado, quando havia fi-cado em 7,20%”.

Curitiba não está entre ascapitais pesquisadas, e que ainflação varia de pessoa parapessoa. Além disso, o IPCA é umíndice que engloba muitos itens,alguns sequer fazem parte davida de muitos brasileiros.Para cálculo do índice do mês oIBGE comparou os preços cole-tados no período do dia 28 deagosto a 29 de setembro (refe-rência) com os preços vigentesno período de 30 de julho a 27de agosto (base). Com o aumen-to de 0,26%, o acumulado doano fica em 4,76%, enquanto nomesmo período do ano passadohavia sido de 2,99%.

dutos”, previu o secretário.Com a redução, o Estado te-

ria uma perda de R$ 400 mi-lhões na arrecadação. Para quehouvesse um equilíbrio, foramajustados dois pontos percentu-ais nas alíquotas de cinco pro-dutos e serviços: energia elétri-

ca, gasolina,fumo, bebidasalcoólicas e co-municação. Ogovernadordestacou quereduzir impos-tos sem com-pensar a perdade arrecadaçãoé crime fiscal.Por isso, foi pre-ciso aumentar

em outros segmentos.A assessora tributária da Se-

cretaria da Fazenda, GedalvaBaratto, afirmou que esses au-mentos não vão prejudicar oorçamento das famílias de ren-

das mais baixas. Ela lembraque as famílias pobres são be-neficiadas pelo Luz Fraterna(consumo de até 100 kwh men-sais sem nenhum custo) e queo aumento dos outros produtosterá pouco impacto e será com-pensado pela a redução no pre-ço de alimentos, medicamen-tos, roupas e produtos de higi-ene e limpeza.

Requião destacou ainda queespera que essa proposta influ-encie o Governo Federal mos-trando que a tributação podeser mais leve sobre os mais po-bres. “É uma experiência quepretende influenciar a reformatributária nacional e que vaibeneficiar os mais pobres, mas,fundamentalmente, vai darcondição de circulação à econo-mia do Estado, às trocas demercadoria. A proposta comple-menta uma série de outras me-didas tomadas antes”, argu-mentou.

“Vamos favoreceros mais pobres,derrubando o va-lor dos produtosque são de consu-mo deles”ROBERTO REQUIÃO

Redução da taxa de ICMS beneficia famílias pobresRedução da taxa de ICMS beneficia famílias pobres

Alimentos deixam posto de vilões doaumento do IPCA no mês de setembro

Leite, tomate e cebola foram alguns dos produtos que sofreram queda no mês passado

Page 4: LONA 454- 09/10/2008

Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 200844444

No mundo moderno, muitos acham que dormir é perda de tempo

Liana Suss e Tatiana Zabot

1, 2, 3 carneirinhos

Fotos: Divulgação

A água está fervendo. Sãoonze horas da noite. Rafael pre-para a primeira xícara de caféantes que bata o sono. Ele pre-cisa ficar acordado para estu-dar para a prova de fisiologia.Rafael Macedo tem 21 anos e éestudante de Medicina. A provaé amanhã, ele teve aula o diatodo e terá amanhã também. Anoite é o único tempo que ar-ranja para estudar, então eleabre mão do sono.

O telefone que toca sem ce-rimônia até altas horas, o fil-me na tevê, as crianças acor-dadas até tarde, os programasnoturnos, o trabalho levadopara terminar em casa e os com-promissos logo cedo, tudo issocolabora para que o intervalo detempo reservado para o sonoseja cada vez mais curto nomundo moderno.

Na correria desenfreada doséculo XXI, as 24 horas do diajá não bastam. E na tentativade prolongá-las, os recursos sãoos mais diversos: café, pó deguaraná, chá, energéticos, re-bite e por aí vai.

Enquanto Rafael toma seucafé na tentativa de enganar osono, Aglaé Costa, empresária,se revira na cama sem conse-guir dormir.Essa já é uma ro-tina de anos. Elanão esquece queboas horas desono são impor-tantes, mas também não esque-ce que amanhã tem que prepa-rar o pagamento dos funcioná-rios, terminar a declaração doImposto de Renda e ir à reuniãona escola do filho. Ela pensa emtudo isso à toa, pois na cama nãovai fazer nada, a reunião é sóamanhã e os funcionários estãodormindo, ou tentando.

Problema que assombra de30 a 40% da população mundi-al, a insônia, na maioria dasvezes, é resultado de estresse eansiedade. Também fruto do rit-mo da vida moderna, que faz daspessoas verdadeiras máquinas.

Enquanto Aglaé se revira eRafael estuda feito uma coruja,Rossana Vergani, também em-presária, dorme tranquilamen-te depois de ter lido um capítulode um livro. “Tudo tem suahora, de noite é hora de dormir,

eu esqueço tudo e durmo, nãoadianta me preocupar com oque vou fazer amanhã, porqueainda é hoje e preciso repor asenergias”, diz.

Alguns lutam contra osono, outros contra a insônia,e outros simplesmente se en-tregam a Morfeu. O fato é queo sono vem dando o que falar.E tem direito de defesa. O mé-dico Attilio Melluso Filho temuma clínica de tratamento dedistúrbios do sono em Curiti-ba. “Dormimos cerca de umterço de nossas vidas. O sono éessencial para nos mantermossaudáveis”, diz ele.

O sono ou o ato de dormir éum estado de repouso periódi-co do corpo, especialmente dosistema nervoso, em que háuma diminuição temporária daatividade dos órgãos, dos sen-

tidos e dom o v i -m e n t o

voluntário.Quando o

sono domina, acon-tecem diversos processos me-

tabólicos em no organismo, porisso esta atividade afeta direta-mente a saúde física e mental.

O sono atua na regenera-ção das células, ajudando narecuperação de doenças e ga-rantindo boa imunidade. Tam-bém durante o sono são pro-duzidos hormônios essenciaispara o funcionamento do orga-nismo. O pico de produção dohormônio do crescimento, porexemplo, acontece na primei-ra fase do sono, mais ou me-nos meia hora depois de a pes-soa dormir, aquela fase da qualo Rafael quer escapar, que aAglaé quer encontrar e em quea Rossana está.

E não é só para crianças,este hormônio evita o acúmulode gordura e melhora o desem-penho físico. Sim, dormir ema-grece. Afinal, a leptina, hormô-nio que controla a saciedade,também é produzida durante osono. Sem ela, o corpo sentenecessidade de ingerir maiscarboidratos. E a famosa insu-lina deixa de ser produzida senão há boas horas de sono, re-sultado: açúcar concentrado nosangue.

O café que Rafael e outrasmilhares de pessoas tomampara se manter acordados, nãoelimina o sono, mas o adia, e ocansaço vai se acumulando atéque já não adianta dormir al-gumas horas a mais para re-por tudo aquilo.

A quantidade de tempo queuma pessoa precisa de repousovaria, mas a média para adul-tos é em torno de sete a oitohoras por noite. Cabe enfatizaraqui a palavra noite. Os neurô-nios responsáveis pelas reaçõesfisiológicas funcionam em ci-clos de 24 horas, com a alter-nância de luz e escuro. Pessoasque trabalham em turnos alter-nados, por exemplo, podem tersérios problemas de saúde, jáque seu corpo não consegue es-tabelecer um ciclo regular.

Nãoadianta

se encherde pó deguaraná,café ou

energéticos. Ousuário só está enchendo

seu corpo de cafeína e atrasan-do seu sono. Os caminhoneirossão uma prova disso. Tomamcomprimidos de um estimulan-te à base de anfetaminas cha-mados de “rebites” para se man-terem acordados.

O resultado são inúmerasmatérias em jornais e revistasde acidentes ocasionados pormotoristas que, em momentosde total exaustão, depois de maisde 48 horas acordados e aindasob efeito do rebite, têm sua vi-são distorcida ou certas aluci-nações, isso quando o efeito doestimulante não passa e o quesobra é um sono súbito.

São três e meia da madru-gada. Rafael ainda está lá, emcima dos livros. Mas não se con-centra mais, vai lavar o rostopara ver se adianta. Pensa naprova, sabe que precisa estudar,mas no momento que volta osolhos para o livro já está pen-sando em tomar um bom ba-nho, ou naquele macarrão den-tro da geladeira. Rafael começaa perceber que, quem sabe, ashoras não dormidas passam sernão tão produtivas assim. Masele não desiste: lá se vai maisuma xícara de café e o estudan-te está a postos novamente.

Aglaé também está lá. Irri-tada, rola na cama. Levanta,toma água e volta. Vai ao ba-nheiro e volta. Vira pra um ladoe para o outro. Não resiste, coma mão no escuro, tateia o cria-do-mudo e acha... O milagre! Aspílulas do soninho. Quem sabeagora ela tenha algumas horasde descanso.

E por falar em horas de des-canso, já faz algumas que Ros-sana está na cama. Seu corpoestá relaxado, cerca de 25% dasua noite de sono vai ser assim.Suas ondas cerebrais estão embaixa freqüência, daqui a algu-mas horas essa freqüência vaiaumentar e ela vai atingir oestado chamado de REM, sigla

Especial

Page 5: LONA 454- 09/10/2008

55555Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Foto: www.sonocuritiba.com.br/

Dormimoscerca de umterço de nossasvidas. O sono éessencial paranos mantermossaudáveisDR. ATTILIO MELLUSOFILHO

Paciente passa a noite na clínica tendo o sono monitorado para diagnosticar o distúrbio

Como ter uma boa noite de sono• Chás com cafeína e re-

frigerantes a base de cola es-tão proibidos no período no-turno.

• Nada de alimentos di-fíceis de digerir ou pesadosantes de dormir.

• Tome um banho quen-te antes de deitar, ajuda arelaxar a musculatura.

• Não durma com a TVligada, o barulho e a lumino-sidade impedem que você che-gue à fase de sono profundo.

• Retire da cabeceira dacama telefones e celulares.

• Apague todas as luzes,evite qualquer tipo de lumi-

nosidade.• Evite fazer exercícios

físicos à noite ou trabalhar an-tes de dormir; isso pode dei-xá-lo agitado.

• Evite dormir durante odia; se for extremamente ne-cessário lembre-se de não ul-trapassar uma hora de sono.

• Se estiver deitado pormais de 30 minutos sem dor-mir, levante-se e vá fazer ou-tra coisa; quando o sono vol-tar você retorna para a cama.

Se as sugestões acima nãoforem úteis, o melhor a fazeré procurar orientação de umespecialista.

Como vai seu sono?• Como você descreveria a

qualidade do seu sono atual-mente?

A. Muito boaC. Ruim.B. BoaD. Muito ruim.

• Ao se deitar para dormir,aproximadamente quantos mi-nutos você demora para iniciar osono?

A. 0 – 15 minC. 31 – 60 minB. 16 – 30 minD. Mais de 60 min.

• Aproximadamente, quan-tas vezes você acorda durante anoite?

para movimento rápidos dosolhos em inglês. É nesse estágioque acontecem os sonhos, o cé-rebro está ativo, mas a pessoacontinua imóvel. As freqüênci-as cardíacas e respiratórias vol-tam a subir e os sonhos passama povoar a noite de cada um.

Em casos como o de Rafael,a falta de sono a curto prazotraz riscos visíveis como, porexemplo, sonolência durante odia, alterações do humor, per-da da memória, comprometi-mento da criatividade, lentidãodo raciocínio e dificuldade deconcentração. Já Aglaé, que con-vive com as noite em claro hátantos anos, percebe que os ris-cos já passaramde simples cansa-ço ou sonolência.Seu sistema imu-nológico está com-prometido, háuma efetiva faltade vigor físico eforça muscular e,o que mais a preo-cupa, a tendênciaa desenvolver do-enças cardiovas-culares e gastro-intestinais, diabe-tes e obesidade.

Os distúrbios do sono são vá-rios. A insônia, segundo as es-tatísticas e a própria experiên-cia de Attilio Melluso Filho comomédico da área, é a mais co-mum, pois está relacionada, namaioria das vezes, ao estressecotidiano. Mas há outros. Obruxismo pode acontecer emqualquer idade, a pessoa rangeos dentes enquanto dorme e àsvezes até mesmo durante o dia.As conseqüências são o desgas-te dos dentes e fortes dores decabeça.

Os que fazem xixi na camadepois dos três anos de idade sãodiagnosticados com enurese,que pode ser genética ou resul-tado de traumas físicos e psico-lógicos. A apnéia do sono é umdos mais graves. A pessoa comapnéia pára de respirar com fre-qüência enquanto dorme, po-dendo sofrer complicações séri-as como falha cardíaca, hiper-tensão arterial e pulmonar e atédano cerebral.

Há ainda a síndrome daspernas inquietas, quando a pes-soa sente peso e cansaço e ficase mexendo sem parar. Para oespanto dos irmãos, cônjuges oucompanheiros de quarto, algunssofrem de terror noturno. Acon-tece quando a pessoa acorda,senta-se na cama com os olhosarregalados e se põe a gritar, de-

pois voltando a dormir tranqui-lamente sem lembrar de nada.

E por último, ainda para osusto ou até para a diversão doscompanheiros de quarto, há osque sofrem de sonilóquio, que éo ato de falar dormindo, coisascom ou sem sentido; e o sonam-bulismo, em que a pessoa levan-ta, anda e se movimenta normal-mente como se estivesse acorda-da.

Mas tudo isso pode ser diag-nosticado e tratado. O médicoexplica que o diagnóstico é feitopor meio de uma polissonogra-fia, realizada na própria clínicadurante a noite. A duração é deaproximadamente oito horas,

enquanto o pacien-te dorme e é moni-torado. Os trata-mentos variam deacordo com o resul-tado. Podem ser fei-tos com uso de apa-relhos respiratóri-os, com aparelhosdentários, no casode ronco, com trata-mento cirúrgico emcasos mais gravesou mesmo apenascom medicamentos.

Amanhece. Rafael nem bemdá bom dia aos colegas de sala,o cansaço está estampado emsuas olheiras. Senta para fazera tão esperada prova. Questãoum, sua mente está longe. Ques-tão dois, muitos nomes compli-cados, perde a atenção antesmesmo de acabar de ler. Rafaelestá lá, desesperado, a matériaparece não surgir dentro de suacabeça. Mesmo assim responde,está cansado demais para pen-sar. Sabe que foi mal, não con-segue se concentrar.

Aglaé também se levantacedo e vai trabalhar. Está apa-rentemente menos cansadaque Rafael, afinal dormiu cer-ca de duas horas. Em casa,mal conversa com o marido,chega ao trabalho batendo asportas e nem bom dia aos fun-cionários ela dá. A variação dohumor e o cansaço de Aglaé sãonotados por todos.

Diferente de Rossana, quese levanta de bom humor e empoucos minutos já acordou to-dos da família, está com a mesado café da manhã pronta, ves-tida para mais um dia de tra-balho. Está a mil por hora. Elateve uma boa noite de sono.Agora só falta você.

Bons sonhos!

A. 0 – 1C. 4 – 5B. 2 – 3D. Mais de 5

• A p r o x i m a d a m e n t e ,quantas horas você conseguedormir a cada noite?

A. Mais de 8 horasC. 5 – 6 horasB. 7 – 8 horasD. Menos de 5 horas.

• Você chega a despertarcom a sensação de movimentosabruptos ou desconforto nas per-nas?

A. NãoC. SimB. Às vezes

D. Freqüentemente

• Você sempre acorda cansa-do, com a sensação de que não estápronto para o novo dia?

A. NãoC. SimB. Às vezesD. Freqüentemente

• Tem se sentido sonolentodurante o dia?

A. NãoC. SimB. Um poucoD. Freqüentemente

• Já lhe falaram que vocêronca alto à noite?

A. NãoC. SimB. Às vezesD. Freqüentemente

• Você pára freqüentemen-te de respirar enquanto dorme?

A. NãoC. SimB. Ás vezesD. Várias vezes

• No mês passado, quan-tas vezes você tomou um medi-camento prescrito por seu médi-co para ajudar a dormir?

A. NenhumaC . 15 a 20 noitesB. 3 a 6 noitesD. mais de 20 noites

Se marcou mais do que cin-co respostas na letra C ou D,você está apresentando algumdistúrbio do sono severo e deveconsultar com especialista.

Page 6: LONA 454- 09/10/2008

Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 200866666

Uma realização profissional

“O meu desejoera sermotorista, masnão achei que iachegar a dirigirum ônibus cheiode gente”MARIA KNUP

Rafaela Barros

Há segmentos do mercadode trabalho dominados por ho-mens, mas que bem vasculha-dos consegue-se achar as rari-dades: mulheres inseridas nes-ses ambientes. É cada vez mai-or o número de trabalhadorasque ingressamem profissõescomo caminho-neiro, taxista,bombeiro, moto-rista de ônibus,entre outros se-tores.

Uma destasvitoriosas é Ma-ria Knup, 50anos, que há deztrabalha comomotorista de co-letivo na ViaçãoColombo, outra éAndréia do Rossio de Farío, de34 anos, caminhoneira dosTransportes Grall que, quandoprocurada pela reportagem doLona, estava em Uruguaiana,município brasileiro que fazfronteira com o Uruguai, espe-rando a autorização para entrarno país vizinho.

O desejo de dirigir da moto-rista de ônibus Maria surgiuquando seu pai comprou umacaminhote dando oportunidadea ela do primeiro contato com adireção. A profissão surgiu poracaso, quando morava numa fa-zenda em Mato Grosso, onde tra-balhava com trator na roça eviajava de caminhão com seuex-marido. Na viação Colombocomeçou como cobradora e de-pois passou à motorista.

Mãe de uma filha de 26 anose um filho 32, muito vibrante erindo, conta que ambos adoramdizer que a mãe é motorista deônibus. Ela relata que essa pro-fissão é uma superação. “O meudesejo era ser motorista, masnão achei que ia chegar a tan-to, a dirigir um ônibus cheio degente”.

No dia primeiro de outubroMaria completou dez anos comomotorista de ônibus. “Eu nãotenho estresse. Levanto 15para as cinco da manhã, masfeliz da vida, pois vou fazer uma

coisa que eu gosto que é trans-portar pessoas, conviver comelas. Eu faço muitas amizades,essa é a profissão que eu sem-pre quis”.

A caminhoneira Andréiadirige desde menina e aos 21já tinha carteira de habilita-ção para caminhão. Fazia pou-co mais de dois anos que An-

dréia traba-lhava comooperadora decaixa numsupermerca-do em Curi-tiba, segun-do ela eraapenas pornecessidade.Entretanto,hoje traba-lha tambémpor prazer.“Já passeiem todos os

patamares que um motoristapode passar, hoje estou no úl-timo”.

Por causa da profissão, An-dréia conta que seu companhei-ro tem bastante ciúme e a pre-ocupação de seus pais é inevi-tável. Ela já conheceu de tudo eo que mais lhe emocionou foiviajar para fora do Brasil. “Co-nheci outras culturas e apreen-di a falar um pouco do espa-nhol”.

PreconceitoOs colegas de trabalho de

Maria a respeitam, mas as pia-dinhas machistas no dia-a-diasão constantes. “Eu sempre digoo seguinte, eu vou provar o queeu sei fazer trabalhando, não érespondendo a piadinha”. Elarelata um episódio de preconcei-to marcante na sua atuação notransporte coletivo. “O passagei-ro deu sinal, quando eu parei eabri a porta ele olhou para mime falou, ‘Desculpa moça eu voupegar o outro’”.

A socióloga do Instituto Pa-ranaense de DesenvolvimentoEconômico e Social (Ipardes),Louise Ronconi de Nazareno,explica que o homem sempredominou esse mercado de pro-fissões supostamente mais bra-çais, em que a fragilidade danatureza feminina não a deixa-

ria entrar. Entretanto isso é umdiscurso, uma construção dasociedade que não é a verdade apriori. “O preconceito há anosfaz parte de nossa cultura”, diz.

A caminhoneira Andréiatambém sofre preconceito. “Opessoal me olha meio atraves-sado, mas consigo me relaci-onar bem. No começo eles metratam meio hostil, mas de-pois todos são amigos”. An-dréia conta que na Argentina,geralmente quando chega aolocal para entregar a cargaeles indagam onde está o mo-torista.

Para a socióloga Louisi, nãoé suficiente a mulher estar noslocais masculinos para elimi-nar o preconceito. De acordocom ela, hoje o preconceito tam-bém está presente quando amulher deseja ser apenas mãee dona de casa. “Tem que des-construir a idéia de que a mu-lher agora que foi para o mer-cado de trabalho só pode se de-dicar profissionalmente. O quemuda o preconceito, não são ne-cessariamente mulheres esta-rem em posições de trabalhoque eram dominados por uni-dades masculinas, mas é a re-lação de como ela se constróinesse próprio universo”.

Segundo Louise, se a mu-lher reproduzir a mesma ma-

neira do homem se colocar elaserá apenas uma mulher mas-culinizada e pode até mesmoter preconceito em relação aoutras profissões.

Na sociedadeA crescente inserção das

mulheres no mercado de traba-lho é explicada por fatores de ne-cessidades culturais e sociais.

Um estudo divulgado peloInstituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) revelaque entre janeiro de 2003 e ja-neiro de 2008, no campo profis-sional, as mulheres estão emdesvantagem diante dos ho-mens. Os resultados mostramque uma trabalhadora brasilei-ra recebe em média, R$ 956,80por mês por uma jornada de 40horas semanais.

Foi também avaliado que opercentual de trabalhadorascom Ensino Médio completoaumentou de 51,3% para59,9%. Entre os homens, o ín-dice aumentou de 41,9% para51,9%. Mas esses números nãosão garantia de melhores con-dições de emprego para elas,pois uma mulher com cursosuperior tem em média um sa-lário 40% inferior ao de um ho-mem com o mesmo cargo, além,é claro, de não ter superado osobstáculos de acesso a cargos de

chefia.Segundo os dados, 80% das

trabalhadoras brasileiras sãoprofessoras, comerciárias, cabe-leireiras, manicures, funcioná-rias públicas ou trabalham nosetor de saúde. A representanteda União Brasileira de Mulhe-res e Conselheira Estadual damulher, Elza Maria Campos,explica que essas áreas profis-sionias se assemelham aos tra-balhos desenvolvidos em casa.“É como se elas saíssem domundo privado, que é o mundodoméstico, se inserissem nomundo público e continuassema exercer o cuidado da socieda-de”, raciocina Elza.

A lutaA União Brasileira de mu-

lheres (UBM) é uma entidadenacional, fundada em 1988, quecongrega mulheres na luta con-ta a discriminação de gênero,racial, religiosa ou de qualquernatureza. Segundo a represen-tante da UBM, a instituiçãodebate a necessidade do avançoda mulher na sociedade. “Atra-vés dessas reuniões acompanha-mos as questões centrais emdefesa dos direitos das mulhe-res”, explica Elza Campos.

Para entrar em contatocom o local é só ligar para 3324 60 07.

Mulheres recebem em média R$ 956,80 por mês, com uma jornada de 40 horas semanaisTrabalho

Arquivo LONA

A caminhoneira Andréia, que diz sofrer preconceito

Page 7: LONA 454- 09/10/2008

77777Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Anne Lise Ale

Cássia Morghett

Ricardo Vieira

Quando o assunto é socieda-de, a política atua na busca porcondições humanas de sobrevi-vência para possibilitar a convi-vência entre as pessoas. As teo-rias mais modernas hoje, comoa do senador Eduardo Suplicy(PT-SP), defendem a renda mí-nima aliada à cidadania. As po-líticas assistencialistas ou meca-nismos de Estado que promovamas políticas de igualdade social sãonecessários na América Latina, emque a desigualdade tem raízes es-truturais e históricas.

No Brasil, um exemplo cla-ro é o Nordeste, que por váriasdécadas foi alvo de programaspermanentes de assistencialis-mo, o que fazia com que o cida-dão fosse refém do sistema, semchances de caminhar sozinho.A implantação de açudes e acapacitação do indivíduo estãoaos poucos mudando as carac-terísticas locais. Hoje, a reali-dade dessa região é muito dife-rente, entraram as políticas queensinam a pescar e não as quedão o peixe.

Nos anos 90 uma campanhaencabeçada pelo sociólogo Beti-nho mobilizou o país; era o FomeZero, que foi implantado comoum programa social do governofederal. A partir daí surgiu oBolsa Escola, Bolsa Alimentaçãoe o Cartão Alimentação. Em2003, o presidente Lula editoua medida provisória 132, poste-riormente convertida na lei10.836, que instituiu o BolsaFamília, que, conforme o minis-tro do Desenvolvimento Socialde Combate a Fome, PatrusAnanias, pode ser consideradohoje o maior programa de trans-ferência condicionada de rendado mundo.

O primeiro avanço do BolsaFamília começa com o seu pró-prio conceito de unificar as polí-ticas de transferência de rendae de direcionar o foco da ação dasoutras políticas complementarese interligadas na família. Essefoco no ambiente familiar poten-

cializa o programa, que desdesua criação vem passando poretapas de aperfeiçoamento, o quepossibilitou o alcance de oito mi-lhões de famílias pobres nos doisprimeiros anos de existência. Asprefeituras municipais são o elopara a distribuição do benefício,descentralizando o programacom mecanismos de controlemais fortes. Para receber o be-nefício, é necesário comprovarfreqüência escolar e acompa-nhamento da saúde de criançasaté seis anos, gestantes e mãesem período de amamentação.

O professor de Teoria Políti-ca Pedro Eloi Rech diz que polí-ticas como o Bolsa Família sãonecessárias em países que con-vivem com a fome. Ele ressaltaque nossos vizinhos têm a mes-ma preocupação. O presidenteda Bolívia, Evo Morales, criouo plano de aposentadoria, trans-ferindo a renda de royalties. Se-gundo Eloi, estes benefícios sãonecessários até certo ponto: “Aspolíticas de distribuição de ren-da num país capitalista passampela qualificação do indivíduopara que ele possa se inserir nomercado e enxergar oportuni-dades. Elas são necessárias,mas futuramente devem ter umponto final para que a partir daío indivíduo alce seu vôo pró-prio”.

No ponto de vista econômi-co estes benefícios acabam mu-dando um pouco a realidade dasfamílias, que estavam em situ-ação miserável, mas não tiracomunidade alguma do estadode pobreza, como diz o econo-mista José Pio Martins: “Naeconomia, isso não é fator quevá desenvolver comunidade ne-nhuma. Vai sim fazer que fa-mílias miseráveis comecem acomprar mais, ou a comermais. Não tira as comunidadesdo estado de pobreza, porquetêm que vir junto a educação, otrabalho e aí o desenvolvimen-to autônomo, independente daajuda do governo”.

Moradora da periferia deCuritiba Luciana Simões, 35anos, recebeu por quatro anoso Bolsa Família. Para ela, a aju-da foi valiosa durante esse pe-ríodo. “Eu trabalhava sem re-gistro na carteira e o dinheiro

não era suficiente. Eu tinha umcartão do Bolsa Família e rece-bia R$ 15 por mês. Era um di-nheirinho que sempre ajudavapara pagar uma conta aqui eoutra ali”. Este ano, Luciana foiteve a carteira assinada e per-deu o benefício. “Eu refiz o ca-dastro e estou aguardando paraver se eles me liberamnovamente.Mas até agoranada”, afirma.

A idéia de que todo cidadãodeve ter direito a uma renda mí-nima, para poder comer, bebere dormir dignamente, é algomuito antigo, vem lá de MiltonFridmann, que era um econo-mista liberal que propôs, porvolta de 1948, o que ele chamoude renda mínima garantida pormeio do imposto negativo. Eraa faixa da população que nãotinha instrução adequada oucondições de uma moradia mi-nimamente digna, tendo quereceber da sociedade uma pro-teção para com o tempo alcan-çar o desenvolvimento.

Outra visão econômica des-te tipo de política vem do ex-pre-sidente americano, Roosevelt,“a dependência continuada deajuda induz a uma desintegra-ção moral e espiritual do cida-dão e fundamentalmente da fi-

bra da nação.” Em outras pala-vras, é necessário que a socie-dade proteja, ajude, mas queesta ajuda esteja vinculada a al-guns compromissos por partedas famílias beneficiadas. O pri-meiro compromisso é com a edu-cação, o segundo compromissoé com o trabalho, que é a porta desaída.

Pio Martins é a favor da dis-tribuição de renda por meio dosprogramas do governo ou poriniciativa privada, mas lembraa necessidade de ser temporário,“a ajuda temporária é social-mente desejada, é justa para acoesão da sociedade, mas que afamília beneficiada se compro-meta a um programa de educa-ção treinamento para que lá nafrente ela possa viver com os fru-tos do seu trabalho”. Segundo oeconomista, receber ajuda nãoé agradável, “no fundo a depen-dência de ajuda é algo humi-lhante, não tem nada de digno”.

Outro programa de distri-buição de renda é o Seguro So-cial do Governo Federal, quegarante um salário mínimo aspessoas com mais de 65 anos eque não contribuíram com aPrevidência Social. É o caso dadona Alzira Treziaki que traba-lhou quase 40 anos como dia-

rista, sempre de maneira infor-mal. Hoje com 68 anos não temmais saúde para trabalhar esem esta ajuda do governo difi-cilmente conseguiria se manter.“Com este dinheiro eu comproos meus remédios e tambémconsigo me vestir, não é muito,mas sem isso não sei como esta-ria hoje em dia”, disse ela.

Este tipo de benefício aten-de, em maior número, os tra-balhadores rurais que não ti-nham registro em carteira enão contribuíram para a Previ-dência Social. Segundo estatís-ticas oficiais, o número de pes-soas beneficiadas pelo programachega a 300 mil em todo o Brasil.

O professor de teoria polí-tica, Pedro Eloi Rech, diz quesomente estas ações não sãosuficientes. “Todas as políti-cas de assistencialismo exis-tentes no Brasil são essenci-ais para a distribuição de ren-da, e garantem ao cidadão umestado mínimo de subsistên-cia. Mas estes programas de-vem ter como complemento, aeducação pública de qualida-de e investimentos na saúde.E jamais entrar nos palan-ques eleitorais, o que aquiacontece com freqüência”, ex-plica Eloi.

Programas do governo federal garantem renda mínima para os brasileiros

Alzira Treziaki: depois de 40 anos de trabalho, única renda vem de programa social

Ricardo Vieira/ Lona

Geral

Uma questão social

Page 8: LONA 454- 09/10/2008

Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 2008Curitiba, quinta-feira, 9 de outubro de 200888888

Texto e fotos: Tamyres Antunes

Há quem diga que o livro deLewis Carroll “Alice no País dasMaravilhas” nada mais é do queuma coletânea de suas alucina-ções após o consumo de LSD.Mas o que Carroll nos mostra éque, em meio à confusão deuma grande cidade, ainda háespaço para lúdicas fantasias eaventuras, em que um camun-dongo não parece tão intimida-dor quanto a Rainha de Copasdo baralho.

As fantasias do autor de Alice