Louis Neilmoris - Palestra Espírita - Como Fazer

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LOUIS NEILMORIS

COMO FAZER

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PALESTRA ESPRITA, COMO FAZER Louis Neilmoris Edio revisada em: Agosto, 2011 Publicao digital livremente disponibilizada pelo Portal Luz Esprita

www.luzespirita.org.br

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PALESTRA ESPRITA, COMO FAZER Louis Neilmoris

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ndicePrlogo pag. 5 1 Palestra esprita, o que pag. 7 2 O palestrante esprita pag. 10 3 O ouvinte pag. 13 4 Regras gerais de oratria pag. 14 5 Oratria clssica e Retrica pag. 18 6 Interao pag. 20 7 Vibrao e magnetismo pag. 23 8 Da de graa... pag. 25 9 Frmulas modernas pag. 27 10 Pedagogia esprita pag. 29 11 Elaborao pag. 32 12 Aplausos ou no pag. 37 13 O que torna uma palestra inesquecvel pag. 38 14 Exemplo prtico pag. 41 15 Concluso pag. 46

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PrlogoCerto site realizou uma pesquisa entre frequentadores de Centros Espritas e, entre outras coisas, foi enquete o que mais agradvel dentro desses ambientes. Mediante as alternativas propostas, o resultado seguiu a seguinte ordem: 1 Passes e tratamentos espirituais 2 Msicas e vibraes 3 Assistncia social 4 Palestras 4 Cursos Uma interpretao superficial leva qualquer um a pensar que os assistidos buscam sempre o modo fcil de ser religioso esprita (procurando a assistncia e a louvao) e ainda resistem ao mais importante: a doutrinao (cursos e palestras) herana cultural de sculos do catecismo catlico. No entanto, precisamos considerar que, numa segunda enquete, em que foi perguntado: qual o gnero de trabalho nas casas espritas que poderia (ou deveria) ser melhorado? O resultado foi que se cobrou, em primeiro lugar, melhorias nas palestras. Isso implica que, numa nova abordagem, teremos de convir que talvez o resultado anterior no reflita em si a preferncia sobre esse ou aquele trabalho, mas sim, que determinado gnero de servio prestado seja mais bem executado que outro. De todo modo, pelo fato de estarmos focados numa meta palestra esprita , dispomos aqui algumas ideias sobre como argumentarmos em ambientes prprios do Espiritismo, objetivando no uma padronizao da oratria porque tambm a diversidade circunstancialmente salutar mas, procurando fornecer subsdios para a qualificao pessoal, em sintonia com as potencialidades peculiares de cada um, pois o que bom deve ser copiado e, se possvel, melhorado.

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Trataremos inicialmente de observar os detalhes tcnicos da oratria, aqueles que so universais e, portanto, independem do ambiente. Mais adiante, penetraremos no escopo especfico a que nos propomos: a palestra esprita. E muitas diferenas h entre os pblicos-alvo, de modo a dizer que a exposio de um tema esprita em muito dista de um discurso poltico, de uma coletiva esportiva, de uma explanao acadmica, de uma audincia jurdica, etc. At mesmo dentro do mbito religioso se verifica assaz diversidade na falao. Podemos citar que a homilia catlica tradicionalmente conservadora, que a pregao evanglica protestante mais apelativa e que a exposio esprita ... tchan, tchan, tchan.... muito abrangente. A abrangncia da palestra esprita chega mesmo a ser, no para poucos, um dos maiores problemas atuais do Espiritismo, pois o que se ouve num centro questionado em outro e rechaado em determinada casa esprita. H palestras que nada explicam, outras que s confundem e algumas mais que revoltam. que elas so proferidas conforme o entendimento de seu expositor e bem pouca triagem se faz, por parte dos dirigentes espritas, de quem far uso da palavra. Tambm nos circundam polmicas clssicas acerca da doutrina, por exemplo, a velha questo de a Doutrina Esprita ser ou no uma religio. Essa abrangncia se deve de o Espiritismo ser to complexo quanto fundamental, e, desta maneira, merecer toda a nossa dedicao. Por isso mesmo, faculta uma campo inesgotvel a ser explorado, o que ajuda a explicar o quanto que h de bons palestrantes espritas e tantos que se proliferam. O fato que, da importncia desse recurso chamado palestra, cumprese que ela seja bem trabalhada, mediante um claro direcionamento da casa (como o editorial para um jornal), com o melhoramento individual do palestrante e a confraternizao de todos os meios para a promoo desse servio sublime, que faz a diferena na qualificao das instituies espritas e, finalmente, muda a concepo do assistido que procura escutar uma boa mensagem e, assim, se reformar. Num momento sublime e oportuno, uma boa palestra pode marcar a vida de um atordoado que adentra uma casa esprita, como um toque despertador numa conscincia latente. No por um golpe de sorte, mas pela harmonia da atuao da espiritualidade com o esforo humano de adubar a Terra, esta seara bendita. Palestremos, e procuremos palestrar bem. Louis Neilmoris

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Palestra esprita, o que A palestra esprita em muito se difere de uma oratria comum e, embora esteja rodeada de diversidades, preserva caracteres gerais. Em geral, um minicurso ou uma aula sinttica seja de cunho moral (discorrida sobre uma parbola de Jesus, por exemplo), seja de teor cientfico (como a respeito dos fluidos), seja um tema misto. Constitui-se de uma mensagem que precisa ser bem transmitida para ser bem compreendida. Para definirmos o que ela , podemos nos utilizar do recurso da excluso, ponderando o que ela no ou no deve ser. Um louvor, por exemplo, ela no , ainda que possa conter doses de louvao. Se fosse, iria se assemelhar missa ou a um culto evanglico protestante, pois a proposta esprita no o da eterna contemplao da magnitude da Divindade, mas sim a de progredirmos, aperfeioando-nos para alcanarmos a melhor compreenso da espiritualidade eis o melhor louvor.Nem todo o que me diz Senhor, Senhor! entrar no reino dos cus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que est nos cus. JesusMateus, 7:21

As reunies pblicas dos Centros Espritas que abrem espao para palestras esperam que elas se transformem, naturalmente, em convite aos assistidos para que faam os cursos doutrinrios oferecidos pela casa. Um determinado tema explorado e uma ligeira aula passada para que se tenha uma viso panormica da posio esprita sobre aquele assunto. Os pormenores que no foram abordados pelo palestrante podero ser tratados a partir do estudo sistemtico, ou, por ventura, atravs de um atendimento pessoal de um trabalhador da casa (e no apenas daquele palestrante), ou mesmo por pesquisa prpria do indivduo que se achar apto a perscrutar os livros, revistas e demais mdias.

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No raro, encontramos na lista de programao das casas espritas o ttulo Evangelho para anunciar a sesso pblica com palestra. No deixa de ser um termo limitador, ao que nos remete ideia de que ali haver uma homilia ou pregao concentrada nas passagens bblicas, ou ainda, obrigatoriamente, na leitura e interpretao de um trecho de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Visto que a palestra esprita de ampla abordagem, melhor que se enuncie o tal trabalho, no de Evangelho, mas de Palestra pblica. Tudo isso implica em dizer que, devido tradio da catequese, ainda se v o Centro Esprita como um templo esprita como dizia Herculano Pires e que se espera to somente pregaes religiosistas e adorao.

*Observamos que em certas Casas Espritas as palestras so expostas em conjunto com outros trabalhos (como os tratamentos espirituais de cura ou de desobsesso), muitas vezes, tudo numa hora s, ocorrendo que o assistido fique assistindo ao palestrante at que chegue sua vez de entrar na salinha de terapia para ser atendido o que quebra a lgica do trabalho de palestra e reflete a preponderncia que a Casa d a um trabalho em relao a outro. A tese de defesa corriqueira que, o povo s vem a uma palestra se tiver outro atrativo, como a assistncia espiritual. E quando acontece de o sujeito ser convocado ao atendimento bem na hora em que a coisa fica mais interessante, quando o expositor est fechando aquele assunto to interessante que prendeu sua ateno e que lhe parece to ou mais salutar que o passe? Com mais lucidez, h dirigentes que reservam sesses, se no exclusivas para a palestra, pelo menos com espao privilegiado, de maior durao, em que o orador tenha melhor condies de expor sua mensagem. E porque as trs sentenas de Emmanuel disciplina, disciplina e disciplina se tornaram um forte chavo esprita, convencionou-se a cronometrar as horas, minutos e segundos, num regime de ditadura ferrenha que resulta que, por falta de tolerncia em ceder mais alguns instantes, uma palestra seja abortada sem que seja feito o gran finale.

*Tendo as feies de uma aula sobre determinada matria, a palestra esprita deve ser, ento, bem elaborada, em certos aspectos, at nos moldes da pedagogia clssica. Trataremos adiante de como prepar-la, mas o que nos envolve de pronto a questo do foco, o objetivo da oratria. Consiste, pois, numa excelente oportunidade de repassar aos que se iniciam na doutrina um pouco do que a experincia nos ensinou, seja pelos livros, seja pela vida prtica.

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para muitos a grande chance de penetrar na compreenso do universo espiritual, atravs de uma preleo sinttica e acessvel, o que no conseguem captar pela leitura, j que a literatura esprita clssica ainda redigida numa linguagem rebuscada, sofisticada e at abstrusa bastante acima dos padres populares. E ainda bem que tem se tornado cada vez mais presente a frmula de o pblico interagir com o palestrante para sanar dvidas decorrentes do apontamento. A respeito disso, bom que se diga, necessrio se faz uma boa programao para manter o bom andamento dos trabalhos, pois, do contrrio, pode gerar contratempos graves. Num salo de bom nmero de assistido, por exemplo, ceder a palavra a um sujeito para uma pergunta ou comentrio , pode acarretar em abrir uma brecha perigosa para a desordem de falas. Mais acertado se v a ideia de somente e to somente aps o trmino da exposio, se abrir espao para participao do auditrio. E nos casos em que seja grande o pblico, donde pode ocorrer uma leva de indagaes repetidas ou muito semelhantes, comum que os questionamentos sejam dirigidos por escrito a uma pessoa predefinida, que ento selecionar as perguntas e comentrios de um modo mais generalizados. A dificuldade aqui est na logstica: distribuir papel e caneta, mas com boa criatividade, tudo pode ser bem traado. O ponto essencial que a linha traada para a palestra no pode ser quebrada e por isso no bem vista a ideia de o palestrante ser interrompido durante sua fala diferentemente de uma aula colegial. O segredo : o palestrante deve passar desde cedo a confiana de que vai aproveitar bem o tempo e explicar todo o essencial, para que aquele que o escute, sinta-se tranquilo de que, surgida a dvida, ela ser respondida ainda na palestra, mesmo sem sua interveno. Alm disso, os prprios envolvidos na Casa palestrantes, trabalhadores e dirigentes carecem de ter a devida noo da diferenciao dos trabalhos: a assistncia material e espiritual produzem frutos magnficos e salutares, mas emergenciais e transitrios; a palestra e o curso intensivo, por sua vez, que libertam as conscincias e as levam verdadeira constncia na caminhada da reforma ntima.

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O palestrante espritaO palestrante esprita deve ser esprita. Para alguns, pode parecer pueril frisar tal sentena acima, mas um exame mais apurado mostrar que a questo to profunda quanto capital, no apenas por que tem muito palestrante de ofcio se passando por esprita para vender seus produtos (por exemplos, livros e discos) ou mesmo a prpria palestra , como ainda pelo fato de se esperar santidade daquele que se prope a pregar um ensinamento fundamentado numa moral. H, e em grande quantidade, espritas que vislumbram a oportunidade de palestrar dentre os quais, com qualidades suficientes para o intento , mas esbarram em seu prprio pudor, subestimando a si mesmo ou se cobrando maior adiantamento. Para no nos perdermos na meta, ouamos Kardec, sobre ser esprita:Reconhece-se o verdadeiro esprita pela sua transformao moral e pelos esforos que emprega para domar suas inclinaes ms.O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Allan Kardec Cap. XVII, Item 4

Portanto, no devemos cobrar perfeio de si ou do individuo que se prope a palestrar, nem mesmo a perfeio tcnica no ato de proferir a palestra. Ou seja, estamos sujeitos falncia tanto quanto ao carter pessoal quanto faculdade operacional do ofcio. Mas devemos nos habilitar para a capacitao nesses dois campos: sermos espritas de moral e bons palestrantes. O bom que a estrada uma s: ao passo que nos reformamos moralmente e adquirimos vivncia, nos tornamos aptos a dividir o que logramos com os demais. E quanto ao temor de ser reputado hipcrita? H, sem dvida, e bem possvel que qualquer bom orador esprita seja vez ou outra flagrado em contradio com o que aponta na sua palestra. Isso passvel de suceder em casa, no trabalho, com os amigos, etc., onde a correlao de pessoas intensiva.

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Mas ele prprio, por ainda estar a caminho da Luz, tambm aprendiz de si mesmo, das suas palestras. Por seus ouvidos serem os mais prximos do que sua boca pronuncia, ele o primeiro ouvinte de sua prpria tese. Agora, nem mesmo a queda do palestrante anula sua palestra nem a doutrina que ele prega. desmotivador, mas ningum se sinta desobrigado a seguir o bom caminho ao ver um palestrante cado na estrada.

*Contudo, embora estejamos todos ainda na condio de aprendiz, necessrio que os dirigentes se atentem aos palestrantes. Que eles no sejam quaisquer pessoas, nem quaisquer espritas. At pela responsabilidade de se emitir uma fala, eles devem ser escolhidos, com o devido cuidado de no fechar as portas aos demais pois todos evoluem. Creio mesmo que devem ser, se no censurados, pelo menos fiscalizados. Eis um tpico grave aqui: por que se viveu numa poca de extrema ditadura, ora se espera total liberalidade. Entretanto, penso que o dirigente esprita deve exercer das suas prerrogativas e zelar pelo direcionamento doutrinrio, inclusive, podendo mesmo questionar o teor das palestras, as letras de msicas e os livros que se oferecem nas Casas Espritas. pena ver que em muitas casas os comandantes esto ocupados o bastante que no possam atentar para, isso ou que no tenham coragem de faz-lo, temerrios de serem taxados intransigentes, refratrios e antiquados. Porm, o dirigente tem o direito e o dever de conduzir a Casa e uma condio bem definida o direcionamento doutrinrio, ou seja, tudo deve convergir para os princpios da Codificao Esprita, o que nos faz lembrar a sentena de Emmanuel a Chico Xavier:Se alguma vez eu me afastar dos ensinamentos de Jesus e de Kardec, esquea-me.Emmanuel

Logo, o palestrante que hesite se adequar ao kardecismo deve sim ser censurado, pois a concesso do palanque o compromete a uma deliberada conduta. Que seja ele prprio a se corrigir, preferencialmente; doutra forma, vlida a advertncia de terceiros.No havendo ningum perfeito, ser que algum tem o direito de repreender o seu prximo? Certamente que no essa a concluso a tirar, pois cada um de vocs deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja proteo foi confiada a vocs. Mas, por isso mesmo, devem faz-lo com moderao, para um fim til, e no, como as mais das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste ltimo caso, a repreenso uma maldade no primeiro, um dever que a caridade manda seja cumprido com todo o cuidado possvel. Ao demais, a censura que

12 Louis Neilmoris algum faa ao outro deve ao mesmo tempo dirigi-la a si prprio, procurando saber se no a ter merecido.So LuisO EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Allan Kardec Cap. X, item 19

*Fica patente a primeira condio para a explanao dentro do Centro e fazemos questo de repeti-la: observncia dos princpios da Codificao Esprita. Para os casos em que h certa controvrsia de interpretao como o que citamos, sobre a religiosidade no Espiritismo , perfeitamente compreensvel que cada qual emita sua verso, entretanto, deixando claro ser sua opinio, no submetendo a filosofia esprita ao que um ou outro pensa sobre. Alis, devemos sempre deixar claro que ministramos os conhecimentos de acordo com o que est ao nosso alcance, estando mesmo sujeitos a blefes incrveis. E o que dizer de tantas apreciaes absurdas que se ouve aqui e ali em palestras espritas? Diremos que para cada um que levante uma falsa bandeira, h milhares, encarnados ou desencarnados, para fazer que a correo se apresse e restabelea a verdade. Diremos ainda que as controvrsias at carregam um germe de progresso, por despertar a ateno, o debate e a capacidade intelectual de ambas as partes envolvidas.

*Dado que ainda estamos em processo de evoluo, um segundo requisito bsico de o palestrante estar em constante aperfeioamento, tanto na busca de refinar seu contedo doutrinrio quanto no aprimoramento das frmulas empregadas para palestrar, visando falar melhor para que ser melhor compreendido, alm de agregar novos instrumentos prticos para dinamizar a exposio (uso de mdias eletrnicas, grficos, encenaes, etc.). No pode melindrar-se por ser passivo de cometer erros ou ser corrigido, por oposto, cumpre que seja corajoso e prestativo em evangelizar, seguindo o roteiro de Jesus Cristo nosso Guia e Modelo e instruir os assistidos com a cincia e experincia da prtica do Espiritismo. Este que um canal utilssimo para a propagao da Doutrina dos Espritos. E uma vez que haja operrios voluntrios a esta causa, este livro se dispe a auxili-los.Nota por capricho lingustico, usamos a masculinidade do termo, mas que fique bem evidente que no fazemos distino entre os gneros, subentendendo assim que, ao citarmos o palestrante, referimonos a ambos os sexos, sem que seja preciso dizer que este ofcio no de exclusividade aos homens e que muitas mulheres h que so excelentes palestrantes.

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O ouvinteJ se passou a era dos crticos de profisso. Hoje, todos somos crticos pertinazes e constantes de tudo e de todos ainda bem! Se existe a arte da oratria, a de ouvinte tambm est em curso. Ento, a cada palavra que voc, palestrante, exprime, incontveis pensamentos e julgamentos emergem na cabea daquele te escuta. No se aceita mais o ditado, mas tudo medido e pesado. Vejamos, perscrutando nossos costumes, quando estamos no meio de um dilogo uma conversa regular, um bate-papo comum , se sabemos escutar; se aguardamos, oxal, o final da frase para mastigarmos o sentido de cada palavra; se no interrompemos o interlocutor antes que ele complete seu raciocnio; se sabemos ouvir, numa palavra. Sabemos escutar? E se o amigo que nos fala, for devagar para se expressar... Vixi!

*A velocidade dos tempos modernos exige, portanto, presteza e consistncia da parte de quem se expressa, pois os ouvintes esto cada vez mais ativos e exigentes. E isso bom. A graduao do pblico obriga os oradores a se qualificarem e se adequarem ao grau da plateia para conseguir o convencimento de sua tese especialmente o espectador esprita, que tende a ser estudioso por natureza. Sim, pois, o intuito primordial da palestra passar uma mensagem, ensinar conceitos, reformar comportamentos, revigorar nimos, fazer proslitos, evangelizar e afins. Todavia, dada a crescente qualificao, mais trabalhosa a tarefa de convencimento, principalmente pela diversidade de dissertaes e opinies, hoje em dia. Para cada ideia que voc apresentar, o assistido ter que confront-la com vrias outras verses dessa mesma ideia, que ele escutou aqui e acol. Qual a convencer?

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Regras gerais de oratriaA ambientao bem cuidada favorece a boa palestra: um lugar aconchegante, sonoramente harmonioso e com a devida instrumentao (microfone e servio de som, quando se tratar de um amplo salo e grande pblico). Por falar em microfone, nunca o bastante alertarmos para o seu bom uso, desde o modo de como segur-lo (sobretudo os de fio) at o ajuste do timbre. A intimidade com esse instrumento bicho-papo para tanta gente se com o devido treinamento, considerando ainda que, de acordo com a aparelhagem de som e as condies do ambiente, cada ocasio requer uma configurao prpria. Por isso, se for possvel, antes de comear a falar, experimente o microfone e veja a melhor distancia dele em relao sua boca. A dica mxima quebrar os bloqueios psicticos e falar como se o microfone no existisse, compreendendo o seu espetacular valor (ampliar nossa voz). Ateno: no fique dobrando o fio do microfone (algumas pessoas fazem isso para diminuir a adrenalina). O transpassar de pessoas pelo o salo, o arrastado de cadeira (dos que chegam atrasados) e a mescla de trabalhos, tudo isso tira a concentrao de quem fala e do ouvinte. Alis, nada mais chato que querer escutar e, por uma razo, no conseguir seja por que o vizinho cochicha do nosso lado ou por razo de a voz do palestrante no soar bem. Nesse caso, s vezes ocorre devido baixa qualidade da aparelhagem de som ou ainda por culpa do orador no ser audvel mesmo. A este, portanto, cumpre pronunciar bem, com clareza, num ritmo acentuado nem muito lento, para que ningum durma; nem rpido demais, para no atropelar as palavras. Deve ficar atento para os caprichos lingusticos como vocbulos parecidos ou que sugerem dubiedade para no deixar nenhuma dvida no que quer dizer.

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*A arte da fala mesmo pra ser observada. Cuidados com a voz, ento, dispensa comentrios. Com efeito, bom armar-se de gua e beber pequenas doses durante o discurso. No o caso aqui de se pretender ter vozeiro de locutor ou aspergir mel pelo verbo como aquelas telefonistas, mas no mnimo, procurar-se uma boa dico. Fuja dos sotaques, vcios de linguagens e manias. O bacana ser simples e natural. Cada qual desenvolve naturalmente suas esquisitices, no entanto, nada mais chato de se ouvir quando perceptvel que a mania proposital e muitos comunicadores fazem isso para deixarem sua marca e serem reconhecidos. Uma vez ou outra pode parecer agradvel, mas ao se tornar repetitiva, o refro irrita. De igual modo, chatssimo perceber quando o palestrante exibe um palavreado sofisticado, s para se exibir, chegando mesmo a ser constrangedor quando visivelmente notamos que aquelas palavras so decoradas e esto acima de sua faixa de intelectualidade. Isso fica evidente em duas situaes: 1) quando, ao pronunciar a tal palavra, ele faz questo de destac-la dentro da frase, como a dizer nas entrelinhas: eu sei o que esta palavra significa, e, portanto, o vocbulo sai-lhe truncado, diferente da fala normal; 2) quando reparamos que no restante do seu discurso, registramos erros grotescos de linguagem como a falta de plural ou concordncia verbal (as pessoa, ns vai, etc.). Algum que fale demasiado errado (erros de linguagem), mas que demonstre simplicidade, fora de dvida convencer mais que o artificial.

*Sabemos da complexidade do nosso idioma e certos erros gramaticais at passam despercebidos, contudo, o cuidado com a linguagem de extremo valor. Claro que o mais importante a mensagem, e que at um analfabeto pode produzir um empolgante discurso, mesmo tropeando no portugus, com um contedo estupendo que muitas vezes o letrado no consegue desenvolver. Mas devemos pensar que, esse contedo fica ainda mais estupendo quando exposto numa linguagem correta e, alm disso, que o analfabeto, alfabetizando-se, proferir palestras ainda melhores.

*Sobre a linguagem, aproveitando o ensejo, devemos acrescentar e at advertir sobretudo para os intelectualizados que extremamente importante que se ajuste ao nvel dos ouvintes. Cuidemos para no cairmos na tentao de usar um jargo elevado, acima da capacidade de compreenso do

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povo, ainda mais que a nossa Doutrina est repleta de vocbulos e expresses prprios e costumeiros do meio esprita, que fogem da compreenso comum. Por essa razo, de vez em quando, no custa nada dar uma rpida definio do termo, porque seno, por causa de no se saber do significado de uma s palavra, toda uma palestra termina por incompreendida. Perisprito, por exemplo, soa to comum ao esprita quanto feijo. Mas para o leigo, um monstro de palavra e nem todo mundo tem a curiosidade de aprender novos vocbulos. Assim, no custa nada dar uma rpida definio: ...o perisprito, quer dizer, o corpo espiritual... O mesmo se aplica ao estrangeirismo: citar termos em ingls tornou-se moda e tom sofisticado. Mas altamente deselegante quando no est acima da compreenso do povo. E muito ridculo quando o prprio palestrante no tem nem o bsico do idioma estrangeiro, e isso se torna notrio na pronncia da palavra. Como reflexo natural da globalizao, algumas expresses esto consagradas pelo uso comum e nem so percebidas como vindas de outra lngua exemplos: marketing, status, termos da linguagem de internet e computadores, etc. Leve em considerao tambm que numa oratria, no h chances de o espectador voltar a fita para fazer uma releitura do que no entendeu. Portanto, preciso ser claro e se fazer entender. Nesse caso, imprescindvel dosar bem o contedo: nada muito tcnico e nem muita informao em pouco tempo, pois no d pra digerir tudo. Uma palestra uma aula de um longo curso, no um curso inteiro. De vez em quando, refrisar pontos importantes de um discurso pode ser til, desde que no se torne redundante.

*Tambm ponto primordial o da expresso, ou interpretao do contedo. A oratria no pode ser de uma tonalidade morta como se l uma placa de trnsito : precisa ser dramatizada. O orador deve atuar como um dramaturgo, dar colorao sua fala. Entoar sentimentos e fazer vibrar sua mensagem, alternando a expresso: entre satisfao e amargura, esperana e angstia, vigor e temor, etc., conforme o contexto. Ao narrar uma histria, deve representar a fala dos personagens e no simplesmente falar por elas. Portanto, o palestrante tambm uma espcie de ator. Acima de tudo, tem de convencer o pblico que ele prprio acredita naquela mensagem.

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Postura! Postura! Manter o corpo firme, sem muitas gesticulaes e movimentos bruscos (cuidado para no derrubar o pedestal do microfone!), exceto se isso fizer parte da dramaticidade da fala. Fosse este roteiro destinado a um gnero qualquer de palestras, escreveramos com bastante destaque sobre o valor da elegncia e das singularidades da aparncia fsica. Mas como espritas, devemos nos conduzir para o equilbrio das opinies e mirar para a simplicidade, porm, ser nos cobrir de sacos de carvo, nem nos enfeiurar para demonstrar pretensa humildade. Modesta elegncia sim! Ficar apresentvel sim! Acerca dessas recomendaes, muito vlido o famoso treinamento espelhar que consiste em o praticante simular uma palestra frente a um espelho e assim, reparar seu estilo. Idem salutar consultar a opinio de amigos e fazer autoavaliao mediante gravao de vdeos.

*O olhar do palestrante um dos quesitos mais reveladores de seu perfil, exterioriza claramente seu estado circunstancial. Normalmente, aqueles que no consegue apreender com exatido o sentido das palavras empregadas no discurso, de certa forma, procuram uma traduo no olhar do orador. Portanto, ateno com o olhar: ele demonstra sua fraqueza, firmeza ou displicncia. Em movimentos suaves, passeie com ele pelo salo, mas no fixe os olhos diretamente a uma pessoa, a menos que tenha um propsito bem definido, como no caso de lhe fazer uma referncia direta. Por exemplo: Vejo um jovem aqui... Como bom ver a juventude assumindo trabalhos espritas...

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Oratria clssica e RetricaSendo a palestre esprita um gnero especfico de discurso, faz-se necessrio fazer sua diferenciao em relao Oratria clssica.

*Tradicionalmente, diz-se que a Oratria a Arte de Falar Bem se desenvolveu inicialmente por volta do sculo IV a.C. em Siracusa, que era na antiguidade a maior e mais importante cidade da provncia siciliana, atual Itlia. O primeiro manual sobre a retrica teria surgido nesta cidade no sculo V antes de Cristo, supostamente escrito por Crax e seu discpulo Tsias. Crax escreveu a obra para orientar os advogados que se propunham a defender causas de pessoas que desejavam reaver seus bens e suas propriedades espoliados por tiranos. H at um interessante conto sobre o aprendizado de Tsias que diz que este se recusou a pagar as aulas ministradas pelo seu mestre Crax alegando que, se fora bem instrudo pelo mestre, estava apto a convenc-lo de no cobrar o pagamento pelo estudo. Se este no ficasse convencido, era porque o discpulo ainda no estava devidamente preparado, fato que o desobrigava de qualquer nus.

*Na Grcia Antiga, mais do que em qualquer outro lugar, a fala tinha indizvel valor, chegando mesmo a ser parmetro para pesar o valor pessoal. E no meio de tantas escolas filosficas, surgiu a Retrica, a arte do convencimento pela eloquncia, mas com uma diferena: o retrico prope-se simplesmente a convencer, convencer e convencer, sem o escrpulo de considerar a veracidade e integridade da alegao. Os crditos da Retrica se devem aos sofistas. Estes formaram uma classe de filsofos ou pseudofilsofos, segundo os seus opositores que, mediante pagamento, viajavam de cidade em cidade ensinando tcnicas de argumentao a fim de que mesmo os naturalmente menos desprovidos de

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intelectualidade, pudessem usar de artimanhas da linguagem e das ideias associadas para se promoverem na vida social e poltica. Os sistemas criados eram to envolventes que qualquer mediano se passava por sbio. Atribui-se Demstenes como o mais eloquente retrico de seu tempo muito embora fosse gago. Atualmente, retrica sinnimo de oratria e pouca distino se faz entre ambos. Isso implica que nem a Retrica meramente o falseamento e nem a Oratria o discurso puro, quase sagrado, como idealizavam os antigos filsofos da Grcia. Por fim, acrescentemos que o poder de persuaso no est mais restrito falao, mas a um conjunto de mdias visuais, muito bem exploradas pelo marketing e propaganda comercial.

*Uma breve pesquisa e vamos encontrar ao longo da Histria moderna muitos oradores renomados e seus desdobramentos. No sculo XIX, por exemplo, temos a figura de Adolf Hitler e o funesto resultado a II Guerra Mundial. Os discursos do ditador alemo ainda so estudados e comentados at hoje, pois fora de questo que eles impunham um fascnio incomum, induzindo uma ideia de divinizao de Hitler. O pastor americano Jimmy Swaggart que tambm era bom msico (cantor, compositor e pianista) desenvolveu um estilo retrico que o transformou nos anos 80 do sculo passado em um dos mais respeitados oradores do mundo e influenciou toda a gerao moderna de pregao evanglica. Seus programas radiofnicos e televisivos tomaram conta do mundo at que sua reputao desmoronou bruscamente aps ser flagrado em adultrio em duas ocasies. No Brasil, Edir Macedo, idealizador da Igreja Universal do Reino de Deus, revolucionou os mtodos de arrecadao do dzimo e o negcio corre de vento em poupa. Circula na internet um vdeo comprometedor do bispo, em que ele prprio instrui seus proslitos, demonstrando um agressivo mtodo. Recentemente, na rea de promoo econmica e poltica, o marqueteiro Duda Mendona fez escola. E pelos pulos partidrios que deu, no deixa de ter dado um recado claro que seus artifcios tcnicos eram simplesmente um produto comercializvel. Praticamente desapareceu do mapa ao ser rastreado com dinheiro desviado para parasos fiscais.

*A palestra esprita, a seu turno, no pode ser um produto, mas uma misso sublime, um apostolado de Jesus. Nenhum recurso escuso deve ser aceito como proselitismo, nem a pretexto de se julgar que a causa vlida ou com a velha escusa de que os fins justificam os meios. Sejam bem-vindas as boas tcnicas e ideias sadias de dinamizar a oratria esprita, mas sempre em dia com a Verdade.

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InteraoA pretexto de criar interao e dinamizar a palestra, h adeptos da ideia de que bom, de vez em quando, fazer perguntas ao pblico. Em contrapartida, existem os que no aceitam em absoluto, sob o risco de abrir brechas para uma falao sem fim de um e de outro. Normalmente, os que fazem indagaes ao auditrio so os oradores que deixam o pblico sonolento, com um argumento fraco. Mas, reza a prtica, que h sim ocasies bastante propcias para lanar uma questo no ar. Ei-las: Quando a resposta for bvia: para dar um gs na ateno dos ouvintes e faz-los se sentirem sabedores, pergunta-se coisas muito fceis, que todos saibam, pois se voc faz uma pergunta e algum responde errado, fica chato ter que contrariar aquele ouvinte. Alm do que, ele pode continuar se achando certo e comear a secar o palestrante. Quando a resposta desconhecida: voc faz a pergunta com a certeza de que ningum saber responder e, portanto, poucos ou ningum se atrever a arriscar um palpite. Ao mesmo tempo, o clima de suspensa desperta interesse em saber a soluo da questo proposta. Mas preciso que seja algo realmente interessante. Do contrrio, a frustrao garantida e as mentes ativas dos ouvintes elaboraram sentenas como essas: todo esse drama s para isso?, e para que eu quero saber disso?, etc. Quando se quer colher opinies diversas: a inteno aqui mostrar a diversidade e complexidade da questo, que cada um tem um pouco de razo e ningum detentor da verdade absoluta. Assim, que respondam certo ou errado, no ter importncia o contedo das intervenes do pblico, mas sim, a somatria da participao deles. Quando se quer ganhar tempo mesmo: quando o palestrante

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perdeu o rumo de que tratava e quer uma pausa para reelaborar os conceitos.

*Uma dica interessante, quando se tem uma turma animada e participativa, ensejar que a plateia complete palavras. Exemplo: O mecanismo que a Divindade estabeleceu para a constante reformulao do indivduo a reen... (ao que o pblico completa: ...carnao!). Mas o recurso s bem aplicvel quando se trata de palavras grandes, as quais o orador fale um ou duas slabas e j deixe evidente o restante a ser completado para no ter erro. Mas no bom repetir muito e, se de primeira no conquistou uma boa adeso, que seja a derradeira tambm.

*Agora, c pra ns: o sonho de consumo de todo palestrante ser esporadicamente engraado, para quem o riso a melhor demonstrao de interao da parte dos ouvintes. E muito bom mesmo. Ocorre que o humor de quem escuta varia muito e trabalhosa demais a empreitada de arrancar risos de uma assembleia esprita. A piada tem que ser muito boa ou o cara que fala dispor de muito prestgio, pois, quando o sujeito excelso em algum quesito, em relao aos que esto em seu redor, mesmo quando conta uma anedota sem graa, todos riem seja por bajulao, seja por piedade. Lamentavelmente, muitos absorvem quase nada da essncia que se pretende transmitir pela palestra, entretanto, quase impossvel se esquecer do bom gracejo contado na reunio, que tenha feito todos rirem. Nisto, se iludem muitos palestrantes, ao verem a soma de pessoas a lhe parabenizar, ao termo da sesso, sendo que dentre estes, grande a soma dos que o acharam mais engraado do que bom instrutor. E qual o foco mesmo de uma palestra? Instruir ou entreter? Ademais, se j terrvel suportar estrias sem graa, insuportvel so as que degradam pessoas, instituies ou coisa parecida. Porque a piada tem o carter invarivel de perda e dano de pelo menos uma das partes envolvidas: ou o portugus que burro, ou o bbado, ou algum que foi trapaceado, ou que algum que caiu, etc. Doutra feita, do que se ri? Um recurso vlido o prprio orador se colocar como a vtima. Era o que Chico Xavier fazia para entreter seus amigos, narrando os cascudos que recebia de Emmanuel toda vez escorregava.

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O humor depende muito do ambiente, ocasio, receptividade do povo e especialmente da simpatia dos dirigentes da casa. * Fundamental tambm a distino do eu e do ns. Geralmente, usamos o plural unindo-se ao pblico para as responsabilidades gerais, e por isso, dizemos vamos aprender mais sobre a Codificao... ao invs de mandar o povo estudar. Mesmo que seja especialista em algo, coloque na condio de aprendiz tambm, numa permuta comum de que quem ensina mais aprende. No entanto, aquilo que exclusivo a si mesmo, use o pronome pessoal singular: Estou muito feliz em estar aqui....

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Vibrao e magnetismoO prximo passo para a evoluo na comunicao humana a telepatia, quando no mais se falsear a verdadeira mensagem nem a essncia do pregador. sabido que o pensamento a linguagem da espiritualidade e, portanto, a verdadeira mensagem a que est no ntimo do ser, de onde brota o pensamento tantas vezes manipulado pelo joguete de palavras. No plano espiritual, as entidades superiores podem se ocultar e se abster de revelar seus pensamentos diante dos menos evoludos e o fazem comumente em determinadas situaes, por razes sempre plausveis, em que haja proveito para ambos. Contudo, o inverso no possvel: os Espritos jamais se escondem de seus superiores e so conhecidos em todos os detalhes. Os Espritos adiantados, porm, esto sempre abertos uns para os outros porque no tm o que ocultar, e nos mundos cujo progresso est bem encaminhado, eles se convivem abertamente pela telepatia.

* notvel que a Terra ainda tenha muito que percorrer para lograr tal status, mas desde j podemos exercitar o primeiro estgio dessa faculdade: a vibrao. Na telepatia o emissor deseja enviar a mensagem e a vibra, ao que o interlocutor, com a fora da mente, capta a mensagem conforme fora vibrada. O ensaio que propomos atravs da vibrao consiste em desejar, com toda nossa fora, que aquilo que queremos transmitir seja de tal forma captada. Logicamente que, por no termos a faculdade teleptica, faltar o receptor. Mas bem verdade que inconscientemente j comum o afloramento medinico do pressentimento. Tal fenmeno recebe o nome de Magnetismo.

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Os especialistas na rea de Sociologia e Psicologia que ainda no conhecem a Doutrina Esprita costumam dizem que pessoas lderes natos tm carisma o dom de exercer o fascnio por sobre os outros, tal qual o caso de Hitler. Quem carente dessa virtude, segundo a mesma tese, pode desenvolver seu magnetismo, mas apenas at certo grau como se a distribuio de qualidades fosse um ato fortuito da Natureza ou bondade de Deus para com uns. O Esprita, por sua vez, sabe que todas as capacidades so inerentes ao ser espiritual, resultados do esforo individual de cada um em se qualificar. Com o conhecimento e o comprometimento, o sujeito pode fazer bom uso das vibraes que conscientemente ele produz em anexo com seu discurso. Ento, faamos vibrar nossa mensagem. Ao exprimir as palavras, exale juntamente vibraes de luz, porque a palestra esprita tambm uma orao.

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Da de graa...J que falamos sobre comprometimento, tratemos agora de um assunto sempre polmico: bnus material. Ressaltando o devido respeito aos que pensam contrrio, somos francamente favorveis proposta de que o servio esprita deve ser totalmente gratuito: animao musical, atendimento fraterno, terapia medinica e, idem, palestra. Como misso apostlica evangelizao mesmo , no faz sentido o palestrante cobrar pela oratria esprita, pois o exemplo do Cristo a abnegao. O esprita deve, a nosso ver, ter seu sustento material fora do mbito esprita. Ele at pode muito bem ter lucros atravs com palestras de outras naturezas (treinamento para vendedores, impressionismo poltico, motivao empresarial, etc.), mas no dentro do mbito esprita. Tambm no vale a cobrana camuflada: tem muita gente que se apresenta para fazer suas supostas palestras espritas e no fim, vemos que o foco mesmo o de exposio e feira de produtos como livros e discos. No que seja errado o palestrante editar e promover obras literrias e outras mdias, mas que esse no seja o ponto primordial desde que, tambm, esses produtos no sejam para benefcio material do palestrante. Por extenso at para clarear nossa posio , achamos justo e louvvel que livros e outras mdias espritas sejam comercializadas e, alm da doutrinao que operam, visem um lucros para serem revertidos em servios sociais e manuteno de Centros Espritas ou outras instituies beneficentes. Esse pensamento condiz com a campanha paralela da mediunidade com Jesus, cujo epgrafe a recomendao de Jesus: Da de graa o que de graa recebeste (Mateus, 10:8), to bem esmiuada no captulo XXVI de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Allan Kardec. Infelizmente, temos visto muita gente usar o palanque esprita para se promover financeiramente, disfarados de cantores espritas, palestrantes

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espritas, escritores espritas, etc. Alguns deles alegam abertamente que no receberam os dons gratuitamente, mas que os desenvolveram mediante estudo e treinamento. Isso no deixa de ser verdade, pois o msico esprita pode ter pago um curso de canto e instrumentao, o palestrante pode ter tido gastos com livros e pesquisas, etc. Mas se eles gastaram verbas pessoais com o intento de recuperar o investimento dentro do trabalho esprita, ento, aplicaram mal. bem verdade que a parte logstica precisa ser subsidiada: a confeco de um livro, a gravao de um disco, a locomoo de artefatos e afins. Em certos casos, quando o palestrante convidado e vem de muito longe, em que lhe pese despesas de locomoo, idem aqui consideramos adequado que a Casa banque os custos, cuja receita pode ser obtida por venda de produtos relacionados. Notemos, porm, a diferena entre custos e lucros e a inteno, uma vez que frequentemente os que visam interesses pessoais, muito mais se esforam para demonstrar pretensa humildade e desprendimento.Que a mo esquerda no saiba o que a mo direita faz... Jesus (MATEUS, 6:3)Ver tambm em O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Allan Kardec, Cap. XIII

*Alm da questo financeira, h o perigo da exaltao do orgulho e da vaidade mediante a fascinao um dos estgios obsessivos. Se o trabalhador for desagregador, sua exuberante capacidade oratria no o salva e este pode pr a ruir o bom andamento dos trabalhos do grupo, em que tem como ponto elementar a harmonia de vibraes.

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Frmulas modernasOs gregos e sicilianos s tinham o recurso verbal para explanar suas ideias, mas a modernidade nos permite recursos riqussimos e inovadores para formular uma oratria dinmica.

Palestra musical A msica esprita vem ganhando corpo e feito um espetacular trabalho de evangelizao. Com sua sutileza, ela penetra mais facilmente nas brechas dos coraes mais rochosos, onde a doutrinao comum ainda esbarra. Uma s cano pode servir de inspirao para toda uma oratria. De outra forma, a palestra pode ser uma mescla de msicas interligadas pela fala, mas no uma fala comum: que seja em tom lrico, emotivo, para no quebrar o clima potico. Outro requisito bsico aqui a execuo manual, ao vivo, para que a harmonia vibre com fora. A reproduo mecnica do som, por CD, esfria e torna a sesso muito chata. Lembrando que pode haver aqui uma combinao: palestrante e outros msicos. A palestra musical , assim, um fino expediente, desde que, claro, tenha o mnimo de qualidade.

Anexos artsticos uma tendncia moderna colorir a oratria com toques artsticos, como ilustrar pequenos contos com encenao teatral, dana, jogral, poesia, etc. Tudo isso interessante sim, mas, como no tpico acima, deve haver qualidade.

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Aparato audiovisual Apresentao de slide um artifcio extraordinrio porque, entre outras coisas, possibilita: Frisar palavras-chave do discurso; Demonstrar a ortografia de palavras complexas (como os termos estrangeiros); Visualizar mapas, esquemas grficos, fotografias e afins, que demandam muito tempo para serem explicados apenas com palavras; Serve de guia para o palestrante no se perder no tema e o ajuda a calcular a cronometragem da exposio.

Mas ateno: alm da necessidade de uma boa montagem grfica da apresentao, preciso se atentar para alguns detalhes tcnicos. Eis alguns: A reproduo de telo exige um ambiente pouco iluminado. De que adianta ter uma linda montagem se a imagem ao pblico no boa? Muito cuidado com a sequncia dos slides: um quadro deslocado pode quebrar toda a linha de raciocnio e comprometer a compreenso da ideia; preciso calcular bem o tempo de cada passo para no ter que correr no final ou, pior, pular a explicao de itens; Se for usar um apontador laser, fique atento para onde o faz correr, pois os ouvintes correro os olhos instintivamente para onde ele for. No faa movimentos bruscos com ele e quando quiser especificar um ponto na tela, no o circule, apenas aponte; Monte a aparelhagem com boa antecedncia. A montagem de equipamento eletrnico fica cada vez mais complicada quando o tempo curto e problemas fsicos podem ocorrer a qualquer momento (fio quebrado, mquina travada, queda de energia, etc.). Assim sendo, no dependa de mquinas para realizar sua palestra. Se algo der errado, esteja preparado para a velha e boa oratria verbal e, principalmente, no demonstre desapontamento pelo incidente.

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Pedagogia espritaSendo nosso foco a doutrinao esprita, nossa palestra deve estar alicerada em dois alicerces primordiais: Jesus, O Cristo, e a Codificao Esprita, por Allan Kardec. Referncias salutares poderamos tecer sobre outros dignos nomes tais como Plato, Scrates, Buda, Gandhi, Rousseau, Pestalozzi, etc. , entanto, para fins prticos e no alongar nosso estudo, iremos nos abster deles, porm deixando a indicao de uma abordagem mais completa tal como encontramos no livro PEDAGIO ESPRITA de Dora Incontri.

A pedagogia de Jesus Nosso guia e modelo por excelncia, Jesus nos legou um jeito especial de doutrinao, uma pedagogia peculiar e altamente eficaz que transformou a Humanidade. Vejamos alguns apontamentos de Seu molde de palestrar: Valorizao do indivduo: Jesus acredita na realizao pessoal de cada indivduo Vs sois a luz do mundo. (Mateus, 5:14); Aproximao: procura estabelecer laos com todos As minhas ovelhas ouvem a minha voz: eu as conheo e elas me seguem. (Joo, 10:27); Temporizao: compreende que tudo tem o seu tempo, que a evoluo progressivamente e o aprendizado cumulativo Primeiro a erva, depois a espiga e por ltimo o gro cheio na espiga. (Marcos, 4:28); Adequao lingustica: Ele exemplifica seus ensinamentos atravs de parbolas simples e acessvel, numa linguagem tpica dos camponeses

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de Seu tempo O semeador, o filho prdigo, parbola dos talentos, etc. Convite reflexo: induz o ouvinte a se questionar e buscar respostas por si mesmo Quem foi o prximo daquele que caiu nas mos dos ladres? (Lucas, 10:36); Estmulo autoavaliao: Jesus instrui-nos a sermos nossos prprios inquiridores Quem dentre vs estiver sem pecado, que atire a primeira pedra. (Joo, 8:7); Dinamizao: Conversa, pergunta, narra contos, ensina, exemplifica e at debate sobre si mesmo Quem os homens dizem ser o Filho de Deus? (Mateus, 16:13); Contato: Vai ao encontro do povo, toca-os, abraa crianas, divide o po com eles e no reclama das acomodaes, da distncia, do horrio, etc. Esperana e consolao: prega um melhor porvir, o companheirismo e a recompensa Vinda a mim, todos que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. (Mateus, 11:28); Humildade e comprometimento: promoo da mensagem e no elevao pessoal O Filho do Homem no veio para ser servido, mas para servir... (Mateus, 20:28).

evidente que os textos evanglicos contidos na Bblia (Mateus, Marcos, Lucas e Joo) no encerram todos feitos do Cristo, mas para termos uma boa amostra da sua pedagogia, basta lermos a maior e mais influente preleo da Histria da Humanidade: O Sermo da Montanha. O resultado do mtodo por ele aplicado foi assim descrito:Ao concluir Jesus este discurso, as multides se maravilharam da sua doutrina; porque as ensinava com autoridade, e no como os escribas.(Mateus, 7:28 e 29)

O que nos distancia do Mestre justamente a falta da nossa autoridade, condio que se galga com a depurao. Contudo, uma vez mais dizemos que se no atingimos a perfeio, j estamos a caminho dela e isso nos outorga condies de evangelizar, desde que ningum se coloque num pedestal acima de seu real status. Alm disso, o prprio Jesus nos delega a misso apostlica:Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.Jesus (Marcos, 16:15)

E deixou um parmetro que bem estabelece a relao teoria e prtica:Nisto todos conhecero que sois meus discpulos, se tiverdes amor uns aos outros.Jesus (Joo, 13:35)

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Pedagogia de Kardec No toa a Codificao Esprita foi confiada a Allan Kardec, pseudnimo do professor Rivail portanto, um pedagogo de ofcio. Foi discpulo de Johann Heinrich Pestalozzi o pioneiro reformador dos mtodos educacionais e fiel ao mtodo deste, que propunha um ensino base da liberdade, da igualdade com singularidade (ver o igual valor entre todos os homens, apesar das diferenas) e do amor ao aprendiz, num sistema que agrega naturalmente a escola famlia e vice-versa. Ento, o mestre francs Hyppolite Lon Denizard Rivail o pedagogo profissional deu lugar ao missionrio esprita, Allan Kardec. Vemos no trabalho do codificador (pelas Obras Bsicas e demais produes) a execuo prtica do referido mtodo pestalozziano que, embora se isentasse do proselitismo religioso, em tudo se correlaciona com a pedagogia crist verdadeira diferentemente do catecismo igrejstico dos catlicos ou protestantes. Um estilo que privilegia no a forma, mas a essncia: a mensagem. Nenhum outro subsdio nos parece to mais rico do que os cinco livros da Codificao Esprita e, como estilo, especialmente O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. O palestrante esprita tem por dever ler e reler constantemente as Obras Bsicas e se guiar por elas.A Educao Esprita ser a nossa contribuio para o Novo Mundo de Amanh, sendo ao mesmo tempo a nossa paga aos pases que nos deram seus homens, sua cultura e seu gnio para que pudssemos crescer sob as luzes do Cruzeiro do Sul.Jos Herculano Pires

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ElaboraoComecemos a trabalhar a melhor parte do nosso estudo: a prtica. H muitos palestrantes que sempre se sentem seguros em explanar suas ideias de pronto, sobre qualquer assunto, sem ensaio ou planejamento. Fazem isso igualmente como no culto do Evangelho no Lar: abrindo uma pgina aleatria de um livro (normalmente, O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO) e dissertando sobre o tema correspondente leitura sorteada ou escolhida pela espiritualidade, como creem alguns. No deixa de ser um mtodo vlido, especialmente quando o cara tem todo um cabedal doutrinrio e muita prtica com a oratria. No entanto, somos favorveis da elaborao. Primeiro que o roteiro do Evangelho no Lar uma reunio para um resumido grupo de pessoas, costumeiramente todas afins e com um objetivo bem traado: uma breve meditao comunitria acerca de passagens de ordem filosficas/religiosas, ou seja: trechos dos ensinamentos de Jesus. Enquanto isso, a palestra tem um carter mais largo e expansivo, merecendo um retoque mais apurado. Vamos ento analisar algumas concentraes de como preparar uma palestra esprita.

O tema e o ttulo , antes de tudo, preciso escolher um tema o que para muitos causa de aflio, quando se pretende determinar um que seja forte. A nosso ver, um bom assunto e um bom ttulo desperta curiosidade e promove a palestra, mas no ela, em si. Preciso que haja o contedo correspondente e este precisa ser bem explanado. Alm disso, no temos que criar temas: eles existem por si s e a Doutrina Esprita inesgotvel de

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fontes. Cabe-nos explorar e esmiuar cada gota de sabedoria e consolao que compem o Espiritismo, desenvolvendo seus conceitos ao traz-los para a vida prtica; para a realidade atual, especificando suas derivaes. Por exemplo: Famlia um tema maior muito vasto a ser estudado, por sinal e tem ramificaes infinitas que podem ser melhor abordadas individualmente, pois, quem consegue esgotar tal tema numa s palestra? Da, brotam subtemas caractersticos como: Planejamento familiar, Afeto e desafeto entre parentes, Reencarnaes nas famlias, Parentela carnal e espiritual, Piedade filial, Casamento e divrcio, Evangelho no lar, etc. Muitas vezes a ocasio faz o tema, como uma data comemorativa, um evento em especial ou uma circunstncia na vida pessoal do palestrante ou de quem se tem nota. No entanto, na falta de inspirao para a escolha, leia, assista filmes, converse com pessoas, etc. A mesma palestra pode ser repetida quando houver novo pblico (em trabalhos de outros horrios ou em Casas diferentes). Isso tambm nos ajuda a refinar nossa performance. Elabore um ttulo criativo, nomeie sua palestra e promova-a a palestra, no o palestrante. Convide amigos, fixe cartazes, escreva no seu blog, mande e-mails e tudo mais.

Esquematizao O esquema de uma palestra similar a de uma redao: introduo, desenvolvimento e concluso. Comece fazendo um esboo simples: os pontos principais que envolve o tema e o que exatamente se quer dizer sobre ele (objetivo da palestra), levando em conta o comum (o que todo mundo diz) e possveis elementos novos (o Espiritismo continua evoluindo juntamente com a Cincia comum) e criatividade pessoal (novas formas de exemplificar os velhos conceitos). Em seguida, rascunhe os procedimentos: Introduo: breve descrio da palestra; hora de levantar questes, despertar curiosidade e ganhar a ateno do pblico; Desenvolvimento: solucionar as questes propostas com um parecer claro e objetivo de acordo com a Doutrina, evidentemente; Concluso: fazer o fechamento com uma argumentao em torno de duas ideias: solicitao (por exemplo: vamos continuar pesquisando esse tem...) e motivao (cada um de ns tem as potencialidades necessrias para conseguir aprender mais sobre isso...).

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Ao elaborar toda a palestra, separando os pontos principais em pargrafos, marque os tpicos principais da sua argumentao e leve como as anotaes-guias para a oratria. Ficar mais fcil de seguir uma linha de ideias e no esquecer nada. Ao pegar a palavra-chave, voc conseguir desenvolver o tpico facilmente. Se tiver boa memria, nem precisar nada escrito.

Cronometragem Calcule bem o tempo para explanar tudo sem precisar galopar no final quando sentir estar atrasado ou no ter que cozinhar o galo quando o assunto acabar. Ensaie a exposio e mea o tempo aproximado para cada parte dos procedimentos. A parte do desenvolvimento a de maior durao: aproximadamente 80% do tempo total da exposio; introduo e concluso devem gastar cerca de 10% cada.

Alinhamento de ideias O desenvolvimento deve seguir uma linha lgica (sempre dentro do tema), crescente (do simples para o complexo, do problema para a soluo, da causa aos efeitos), coerente (no apenas com a filosofia esprita, bem como o seu modo de pensar sobre, sem contradio) e instrutiva (mostrando alternativas positivas e teis vida prtica).

Recursos extras Como j dissemos, se puder contar com recursos audiovisuais, timo! Eles so muito teis para ilustrar com mais facilidade o que demandaria muitas explicaes orais. Se no, no se apoquente! H os recursos clssicos que ainda funcionam bem. Citaes e referncias: sempre causa boa impresso. Citar frases correspondentes ao tema da palestra d respaldo ao que est dizendo, especialmente se vm de fontes consagradas. No parece lgico assistir a uma palestra esprita sem ouvir nenhuma citao sobre Jesus Cristo, ou s Obras Bsicas de Allan Kardec, ou a Emmanuel, ou Andr Luiz ou a Bezerra de Menezes. No significa, porm, que devamos nos limitar aos ditos medalhes espritas; h uma gama de filsofos clssicos e

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contemporneos e bons ensinamentos. Consta na internet sites especializados em catalogar citaes sobre variados, de modo a facilitar a pesquisa. Entretanto, preciso ter em mente o dever de no usar citaes falsas (atribuir sua fala a algum) ou desvirtuar a fala dos outros (interpretar erradamente a opinio dos outros para confirmar a sua tese). Contos e historinhas: Por que estamos fortemente influenciados pela matria (o que no algo sistematicamente negativo), um exemplo da vida fsica pode valer por noites de explanao. Logo, narrativas curtas, objetivas e que contenham uma boa filosofia, ajudam na evangelizao muito mais que o sermo puro e simples o artifcio das parbolas que Jesus tanto usou. S tenha o cuidado de selecionar boas histrias e cont-las direitinho, para criar expectativa e deixar uma lio forte. Agora, se o conto fraco... Msica e poesia: tambm interessante como citao ou referncia, alm de mexer mais com a sensibilidade dos ouvintes. Contudo, preciso que a pea esteja em total acordo com o tema e no se estenda muito. Se for o caso, corte-a, usando apenas o trecho especfico.

Selecione uma boa coletnea de extras ainda que no v usar todas estabelecendo uma ordem de valores e prioridades. Na medida em que sentir a receptividade do pblico, voc vai colocando esses recursos para preencher o tempo da palestra.

Concluso Uma palestra no pode ter a pretenso de encerrar o tema. O melhor mesmo quando deixa reticncias, desperta para mais e mais estudos. Assim, a fala de encerramento no pode ter o carter de despedida. comum que os menos preparados finalizem a oratria como quem tivesse esgotado o assunto e que nada mais restasse para dizer sobre. Em alguns casos, notamos certa frustrao no expositor por no ter conseguido dizer tudo que queria, por no ter mais contedo ou por no ter empolgado o salo. A, finalizam a oratria com frases excessivamente tmidas do tipo isso. Espero que tenham gostado...; Peo desculpas pelos erros...; Era tudo que tinha pra dizer..., etc. num tom de voz quase mendicante. Estes, provavelmente s recebero aplausos por caridade.

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Finalize sua palestra com emoo, firmeza e satisfao de ter feito um bom trabalho, num tom de voz altivo e no como se tivesse acabado o gs. Ainda que parea apelativo, uma ideia engenhosa para encerrar a oratria fazer uma citao ou uma prece otimista (por exemplo: Que desde j, estejamos mais prximos da nossa regenerao!), como a de um agradecimento e louvor (pela luz e consolo que alcanamos pela Doutrina Esprita, s podemos lhe dizer: muito obrigado, Senhor!). Divaldo Pereira Franco notvel orador esprita costuma usar como concluso o Poema da Gratido, do Esprito de Amlia Rodrigues, que ele mesmo psicografou. E, digase de passagem, somando a beleza da composio com a interpretao que ele executa, uma orao espetacular.

Preparao prtica To logo tenha elaborado sua palestra, exercite-a sozinho (frente a um espelho) ou diante de algum que lhe ajude numa autoavaliao mas sempre se imaginando diante de uma boa e numerosa assembleia. O ensaio, sobretudo para os menos experientes, permite quebrar a inibio, desenvolver a memorizao dos tpicos (do rascunho) e treinar a voz.

Improviso Agora, esteja ciente de que, por mais que planeje nos mais mnimos detalhes , provavelmente voc falar 90% por improviso, exceto se resolver ler um discurso. O expositor experimentado tem a sensibilidade para medir o nvel intelectual, o grau de interesse despertado e a receptividade do salo para com sua teoria, de modo a se adaptar s circunstncias. O que implica dizer que no ato de elaborao, ele avalie vrias possibilidades, como usar mais ou menos do humor, preparar um contedo mais ou menos aprofundado; variar a linguagem entre o popular para o rebuscado ou tcnico, etc. Alm das vrias situaes elaboradas, h as inmeras ocorrncias que s a experimentao poder gabaritar o palestrante. Ou seja, s indo guerra para saber como que . No final da elaborao, revise as ideias, considere alternativas e faa reajustes (enxugando excessos).

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Aplausos ou noAfinal, o palestrante pode ou no pode ser aplaudido? O servidor palestrante, voluntrio que , no pode almejar o aplauso, pois cumpre uma funo qualquer. A aclamao das palmas no deve ser o seu prmio e todo aquele que palestra pelo preo da ovao s receber muito pouco exatamente isso: no mximo, meio minuto de palmas. O que deve motiv-lo a satisfao de ser instrumento da renovao das pessoas que buscam uma Casa Esprita no sentido de promover a reforma ntima. Saber ainda que poder transformar conscincias e semear frutos que se multiplicaro incontavelmente. Porm, isso no quer dizer que ele no possa ser aplaudido. Somos favorveis aos aplausos, como forma de agradecimento pela dedicao do voluntrio, pela caridade de dividir conhecimentos e experincias, finalmente, como motivao para que o palestrante volte a nos agraciar com novas e melhores oratrias. A aclamao tambm uma espcie de medidor das capacidades do orador. Aquele que for realmente comprometido com o Espiritismo no se vangloriar com as palmas, mas tomar aquela congratulao como um compromisso de se manter resoluto na seara bendita. Se algum te faz um elogio do tipo que bela palestra, amigo, lhe pe num patamar tal que no lhe permite descer sem dores. Ou seja, voc se sentir a, pelo menos, manter o nvel de uma palestra bela. Essa conceituao o incita a pensar deste ponto para cima. O resultado que teremos cada vez mais expositores espritas melhores. O que no pode acontecer a cegueira de, a pretexto de ganhar o pblico e garantir segundos a mais de palmas, o palestrante deturpe sua argumentao simplesmente para agradar os caprichos do pblico (por exemplo, transformar a aula numa sesso de piadas).

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O que torna uma palestra inesquecvelTem um ditado popular que diz: quem pouco viu, muito se admira. Hoje, com o progresso tecnolgico e vias avanadas de comunicao, o povo tem muita informao a correr frente dos olhos, de maneira que muito difcil ser original para no dizer impossvel. No entanto, apesar de ter acesso a muito contedo, e at pelo excesso de muita informao ao mesmo tempo, poucos conseguem absorver bem esses dados que abundam a conscincia e tudo fica meio que automtico. Portanto, o novo no est na informao em si, mas em despertar o entendimento e a sensibilidade quanto s suas consequncias. O palestrante esprita tem esse enorme campo a explorar: juntar dados e fazer com que as pessoas sintam e vivenciem as informaes. Por exemplo, os sistemas da reencarnao j so bastante divulgados e exemplificados na vida comum atravs de filmes, novelas, piadas, conversas diversas na rua, etc. O que talvez tenha faltado para a maioria das pessoas no espritas o exerccio do pensamento em se colocar numa situao reencarnatria para compreender os problemas que as envolvem atualmente. Assim, por sugesto de um palestrante, o ouvinte pode se colocar num sistema e vivenciar o drama de ter ofendido aquele algum de quem hoje sofra perseguio. Essa circunstncia pode modificar vidas, pois provocar reflexes e responsabilidades. Logo, o palestrante no est dizendo nada novo (reencarnao, expiao, lei de ao e reao, etc.), mas est fazendo uma nova associao de ideias que talvez seja revolucionrio para vrias pessoas. Na falta do que dizer, muitos se apegam ttica de reinventar a roda,

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aplicando novos nomes a velhas expresses, criando sistemas complexos para camuflar o simples, dando a entender que muito sabem. O que Kardec chamou de perisprito, por exemplo, recebe diariamente novas conceituaes (psicossoma, corpo bioplasmtico, Modelo Organizador Biolgico, etc.). Tudo isso para imprimir a marca pessoal. Em geral, o que torna uma palestra inesquecvel para o expectador : Ter aprendido algo: seja uma informao indita ou uma nova e criativa associao de ideias. Estamos nos referindo a algo realmente til ao dia a dia, que seja capaz de melhorar a vida prtica da pessoa, como uma dica para desenvolver hbitos positivos, melhorar o relacionamento com os outros, oferecer ideias para uma reavaliao de problemas comuns, etc. Nesse quesito, o Espiritismo tem muito a oferecer, sendo corroborado cada vez mais pelas descobertas cientficas atuais; Ter se sensibilizado: se nada de novo foi aprendido, a palestra pode ser salva quando sensibilizar a pessoa; quando desperta sentimentos, como os de motivao para o perdo, para o autodescobrimento, para enfrentar os desafios do dia a dia. Muitas pessoas vivem num automatismo e precisam de impulsos conscienciais, ou seja, de um choque emotivo para tomarem atitudes mais racionais (sabem das leis, mas precisam se convencer que precisam cumpri-las). Uma palestra pode ser fundamental para o desabrochar de virtudes; Para esse gnero, uma boa histria ou citao (com um forte recado filosfico) um bom pedido; Ter se divertido: no queiram primar por essa linha, mas fato que quando um assunto trivial tratado muito sabiamente com delicadeza e divertimento, quebrando traumas ou bloqueios comuns, o espectador passa a consider-lo, quando antes desdenhava. Assim, o aprendizado ou a sensibilizao vem como mensagem subliminar, disfarada. Por exemplo: imagine-se num salo esprita e entra o palestrando anunciando que o tema da noite pluralidade dos mundos habitados. provvel que voc imediatamente faa aquela cara de quem j no aguenta mais ouvir falar sobre pluralidade dos mundos habitados, seja por que j se cansou de ler sobre isso ou pelo fato de j ter assistido a incontveis oratrias a respeito. De fato, um tema bem batido e aparentemente sem muito atrativo, explicvel em dois ou trs minutos e que no ocuparia todo o tempo de uma palestra. Entretanto, se explanado de uma forma bem divertida e dinmica, poder causar grande impacto e abrir o leque para novos aprendizados

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mais complexos, como: importncia de investimentos em pesquisas espaciais, diversidade de planos (planetas fsicos, colnias espirituais, postos transitrios de socorro espirituais, etc.). A mesma ttica serve ainda para assuntos muito graves ou truncados. Richard Simonetti desenvolveu uma palestra sobre morte e depois de uma srie de apresentaes, sempre com muito humor, a sua argumentao virou livro Quem tem medo da morte?. Importante saber dosar o humor para alcanar o xito desejado, e muito difcil saber o limite do engraado para o ridculo. Todo mundo sai satisfeito quando compreende que aprendeu uma coisa til e decisiva para sua vida, ou por que aflorou sentimentos antes sufocados pelo embrutecimento, ou finalmente, pelo fato de revigorar sua conscincia rumo sua transformao pessoal. Quando o expositor no lhe ensina nada, quando no o faz rir, nem o empolgou, a sensao a de perda de tempo. E, nesses dias corridos, tempo ningum pode se dar ao luxo de desperdiar. Como conseguinte, podemos dizer o que faz o ouvinte desejar esquecer uma palestra e nunca ter estado ali: Vazio de contedo: normalmente, o que mais ouvimos nesses casos ..., n?..., ...; Sonolncia: o palestrante muito lento na argumentao e, como recurso para manter os ouvintes acordados, repete palavras dos tipo finalmente..., ento..., para concluir... por que a se tem a iluso de que j est acabando; Pessimismo: o orador toma todo o tempo para apontar erros e defeitos e enche o salo de lamrias; Abundncia de dados: perdendo o foco principal, o palestrante entra num tema e vai para outro e acaba no desenvolvendo nenhum. Isso confunde e no ensina nada; Sermo: o expositor fica receitando faa isso! Faa aquilo!; Contradio: desdizer aqui o que disse acol confunde as pessoas e joga a credibilidade da palestra no lixo; Indelicadeza: a maioria dos ouvintes presta ateno em tudo, desde o momento em que o palestrante chega ao salo como o seu modo de tratamento dispensado a todos. Reclamar do som, fazer exigncias, posar de superioridade, enfim, qualquer indelicadeza e grosseria compromete a palestra;

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Exemplo prticoVamos ver na prtica como se d a elaborao de uma palestra. 1) Para comear, vamos escolher o tema mediante o objetivo principal: Tema: O servio. Objetivo principal: falar sobre nossas obrigaes dentro do plano reencarnatrio. 2) Definir o ttulo: A Arte de Servir. 3) Elaboremos ideias bsicas que envolvem o tema: Ajudar sem olhar a quem; Servir sem ostentao; Retribuir o mal com o bem; Servir sem esperar recompensa; Caridade (material e moral); Ingratido; Voluntariado e o terceiro setor (ONGs). 4) Seguindo as fontes: Vamos pesquisar sobre o tema em livros, vdeos, internet, etc. Vasculhando o ndice de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, encontramos o cap. XIII Que a mo esquerda no saiba o que a mo direita d, onde encontramos um rico subsdio para a argumentao. Nos Evangelhos bblicos, vamos encontrar em Jesus o modelo completo de servido, como na ocasio em que o Cristo lavou os ps dos discpulos (Joo, 13).

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Na internet, de interessante encontramos o manual do voluntrio.

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5) Faamos um resumo da argumentao pretendida: A posio de encarnado implica que temos tarefas a cumprir, seguindo um plano previamente combinado; reencarnando juntos, somos todos devedores e credores uns dos outros; a forma mais concreta de nos elevarmos atravs da caridade o amor a servio do bem comum; a receita de Jesus para nossa realizao pessoal servir (quem quiser ser o maior, o primeiro e o mais importante, que seja o que mais sirva aos outros); a ingratido uma cegueira que o tempo cura e, cedo ou tarde, o favorecido se conscientiza da servido daquele que o ajudou; a recompensa de quem serve com caridade ver o favorecido sair da condio de necessitado; ainda estamos envolvidos pelo materialismo e o individualismo, mas h muitos sinais de progresso no caminho para a solidariedade e entre outras provas temos o surgimento recente do terceiro setor (trabalho voluntrio das ONGs). 6) Reunir histrias, citaes e referncias: Eu no vim para ser servido, mas para servir Jesus (Mateus, 20:20-28).Biografia de Anlia Franco.

A Orao de So Francisco um testamento do bom servidor. 7) Desenvolvimento: Hora de pr as ideias em ordem e rascunhar a argumentao. Aqui est o texto desenvolvido para servir de base para a palestra:A ARTE DE SERVIR No estado de infncia espiritual, somos tentados ao materialismo e ao individualismo, em que, por isso, pretendemos ter as coisas primeiramente para ns e, portanto, queremos ser servidos, queremos que as pessoas compreendam as nossas necessidades e caprichos, sem levarmos em conta que os outros tambm tm a mesma importncia que ns. Estando nesse estgio de aprendizado, queremos do bom e do melhor quando somos servidos e quando servimos, naturalmente queremos ser prontamente reconhecidos e recompensados. Ainda se v a cultura de preparar o filho e o cidado para vencer na vida, muitas vezes, atropelando a tica o fim justifica os meios, dizem. O ensinamento vulgar ser feliz e aproveitar a vida. Nessa corrida desesperada para essa tal felicidade, cada um por si e s Deus1

Disponvel pelo link:

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por todos. Entretanto, o desabrochar da conscincia nos move a vislumbrarmos um mundo melhor, a partir de cada um de ns, quando descobrirmos a satisfao de viver em fraternidade, onde todos se ajudam e se realizam. Isso ocorre quando descobrimos a arte de servir. As religies e a Filosofia clssica trouxeram humanidade um ensinamento mais solidrio. O ensino religioso nos falou dos valores espirituais, em contraponto aos valores materiais; o ensino filosfico nos despertou uma anlise melhor tica e o sentido das coisas e da prpria vida. Mas ambos religio e Filosofia foram insuficientes para promover a transformao moral dos homens porque no solucionaram questes bsicas da organizao da vida atual, por exemplo: a desigualdade dos bens, a diferena intelectual e o verdadeiro destino de cada um. Pela Graa de Deus, veio para ns a Doutrina Esprita nos trazer novos e conclusivos conhecimentos, a comear por explicar aquelas questes bsicas que eram explicadas pelas religies e as teorias filosficas. Pelo Espiritismo, hoje temos certeza de que a vida atual uma continuao de outras existncias carnais passadas e o princpio da vida futura. Nossas dificuldades atuais so explicadas pelo conjunto desses vivncias e mostra nossas responsabilidades para o que somos e temos hoje. Estamos ento cientes de que c estamos por causa de pendncias e carncia de novos aprendizados. Viemos a esta reencarnao com propsitos programados no plano espiritual e, assim, cada um trouxe consigo projetos e misses a cumprir: reparar erros do passado, passar por novas experincias para aprender coisas novas, sabendo que dessa vida passageira, ao contrrio de ouro e ttulos, levaremos virtudes e mais sabedoria. Por que reencarnamos juntos, vamos descobrir de somos todos devedores e credores uns dos outros. As diferenas entre as pessoas servem como instrumentos de experimentao. Aqueles que muito tem e muito sabem tm a misso de compartilhar com os menos favorecidos; e estes, passam pela prova de se submeterem com resignao a esse aprendizado. Lembrando que ningum to rico e to sbio que no tenha nada para receber ou aprender; e ningum to miservel que nada tenha para dar ou ensinar. A forma mais concreta de nos elevarmos atravs da caridade o amor a servio do bem comum. O esprita tem em Jesus o modelo perfeito para nossa realizao pessoal e a receita do Cristo amar e servir. Ele prprio viveu inteiramente a servio do plano do Pai e assim se explicou: Eu no vim para ser servido, mas para servir. Certa vez, uma me foi ao encontro de Jesus para pedir que Ele tomasse os dois filhos dela e os colocasse ao lado dele um direita e outro esquerda , quando chegasse vida no paraso. Todos ficaram horrorizados com a pretenso da mulher, afinal, s os filhos dela merecem um trono ao lado de Jesus l no cu? Jesus aproveitou a ocasio parahttp://www.portaldovoluntariohsbc.com.br/press/uploadArquivos/121751048235.pdf

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nos deixar um excelente ditado: Na terra, os grandes exercem domnio sobre os outros menores, mas entre vocs que almejam valores espirituais , no seja assim: aquele que quiser ser o maior, o primeiro e o mais importante, que seja aquele que mais sirva, que trabalhe para os seus irmos. Quanto mais nos espiritualizamos, mais sentimos prazer em servir aos outros. H mesmo uma satisfao indescritvel quando nos sentimos teis e capacitados em produzir algo benfico. Nessa prtica, descobrimos que a verdadeira felicidade realizando a nossa obra: o que sente o construtor ao entregar a casa encomendada; o que sente a me vendo a famlia feliz saboreando o arroz e feijo que ela preparou com carinho; o que sente o mdico ao ver seu paciente se recuperar; o que sente o semeador ao ver a roa farta. Algumas pessoas sonham realizar um grande ato, esquecendo-se de que a partir dos pequenos servios que montamos uma grande obra. Vem a primeira fase da servido e logo se apresenta uma grande prova: a ingratido. Isso desmotiva muito, porque chega mesmo a ser grande covardia da parte de certas pessoas a quem se ajuda tanto, sem que ela sequer reconhea. Imaginemos quanto no ocorre de filhos abandonarem seus pais para se aventurarem por a, com ms companhias; os pais que tanto fizeram por eles e que tanto carinho e esperana depositaram. Realmente, a ingratido uma grande prova. Contudo, Jesus nos fala de uma servido sem esperar retribuio ou reconhecimento. Se fizermos algo esperando pagamento, ento estando vendendo ou investindo no fazendo caridade. Ento, qual a verdadeira servido? Podemos usar uma citao de Anlia Franco: A verdadeira caridade no acolher o desprotegido, mas promoverlhe a capacidade de se libertar, ou seja, a gratificao do fiel servidor favorecer que o necessitado deixe essa condio inferior. Anlia Franco tem uma biografia honrosa: viveu nos tempos do Dr. Bezerra de Menezes, tendo nascido no Rio de Janeiro e radicada em So Paulo. Foi professora e jornalista, mas se notabilizou pela filantropia: investiu tudo que tinha, juntamente com o que arrecadou em campanhas, para fundar escolas, creches, asilos e postos de sade cerca de cem instituies para atender rfos, mulheres abandonadas, moradores da rua e necessitados em geral. Tudo isso numa poca em que a mulher ainda tinha pouco espao na sociedade e sofria muitos preconceitos. Apesar de ser esprita convicta e profunda admiradora de Allan Kardec, ela se limitava a fazer assistncia sem nem mesmo impor a converso religiosa. Seus bigrafos dizem que ela lia e citava muito O Evangelho Segundo o Espiritismo, mas preservava-se de fazer propaganda do Espiritismo para no parecer uma troca de favores. H em todo o mundo uma corrente progressista de pessoas, acima de ideias polticos e religiosos, motivados puramente pela boa vontade em fazer filantropia, formando o chamado terceiro setor o primeiro setor o governamental e o segundo o setor privado. Nesse terceiro setor inclumos as ONGs Organizaes No Governamentais , e as entidades sem fins lucrativos com prestao de servio pblico e defesa do bem comum. Claro

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que tambm h muita picaretagem e aproveitadores se beneficiando egoisticamente dessas instituies, mas, muitas so srias e fazem um excelente trabalho mundo afora. J uma demonstrao de fraternidade e altrusmo, ou seja, viver pensando no outro. interessante observarmos ainda o esprito do voluntariado: entre os mandamentos do voluntrio, vamos encontrar um que demonstra bem a arte de servir: o que diz que o filantropo seja o doador da verba, seja o doador da mo de obra deve seguir a disciplina do servio, que no tem o direito de fazer exigncias, nem querer regalias por ser um servidor, enfim, que o importante o coletivo. O orgulho e a vaidade rodam e perseguem aquele que se prope a ser um servidor, enchendo-o de autocontentamento e influenciando seus pensamentos na direo da ambio pessoal. Imaginem, por exemplo, o palestrante esprita que no tiver um esprito forte: faz uma boa palestra e, no meio de elogios e agraciamentos, comea a se julgar mais importante que os demais trabalhadores da Casa Esprita; comea a se achar merecedor de melhor tratamento, se d o direito de chegar quando quer e fazer o que quer; se for contrariado em qualquer ideia, se melindra fcil e fica cego a um bom conselho. Um bom palestrante, como todo bom servidor, procura fazer o melhor de si para o bem de todos e compreende que faz parte de um sistema onde todos so importantes, a comear pelos que cuidam da limpeza da Casa at os que recepcionam os presentes, para que todos possam chegar, serem bem recebidos e encontrarem um lugar aconchegante e favorvel para novos aprendizados. Deus espera nossa cota de contribuio na obra da criao, confia no nosso comprometimento e nos deu, por igual, todas as capacidades para fazermos um bom trabalho, dependendo de cada um desenvolver mais ou menor rapidamente as nossas virtudes. Jesus que veio para nos ensinar a servir nos servindo deu-nos um exemplo concreto do Seu compromisso quando lavou os ps dos discpulos, dizendo lavem-se uns aos outros, ou sejam, amam-se e se ajudem uns aos outros; e ainda: tudo que algum fizer pelo seu irmo, a mim que ter feito e eu lembrarei dele quando estiver diante do meu Pai. Assim, encontremos a satisfao na arte de servir e vamos fazer um mundo melhor, valendo-se da mensagem de Francisco de Assis: Senhor, fazei-me um instrumento de Vossa paz... Fiquemos todos com a graa de Deus!

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ConclusoReforamos que no temos a pretenso de criar uma cartilha do que deve e o que no deve ser feito e dito e nem impor um padro de palestra esprita. Queremos simplesmente dar nossa contribuio no sentido da requalificao do palestrante, afinal, tudo se renova e quem quer que creia j ter visto tudo em qualquer quesito, no ter vista nada. Alm disso, devemos tem em conta as novidades que se sucedem vertiginosamente nos tempos atuais. Na poca de Kardec, o aprendizado sistematizado quase se resumia pelo recurso da literatura, mas hoje temos uma cesta de mdias dinmicas (udio, vdeo, softwares) muito mais eficientes e das quais devemos nos valer. Colocamo-nos disposio para crticas e sugestes para uma possvel reedio deste trabalho, para que possamos fazer da palestra esprita esse 2 maravilhoso instrumento uma das vias da transformao da humanidade .

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