LOWY, M. Método dialético e teoria política

15
~" ;! r ! 1dliJ ' v c /i f, <;Od : ·/ II;,. Cole.ção PENSAMENTO CRITICO Volume 5 Ficha catalográfica CIP - Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. L956m Lowy, Michael. Método dialético e teoria política / Michael Lowy; tradução de Reginaldo Di Piero. - 2. ed. - Rio de Janei- ro: Paz e Terra, 1978. (Coleção Pensamento crítico; v. 5) Tradução de: Méthode dialectique et théorie politique Bibliografia . I. Ciência política - Teoria - Discursos, ensaios, confe- r ên ci as 2 . L ux em bu rg o, Rosa, 1870-1919 - Crítica e in- terpretação 3. Marx, Karl Heinrich, 181~-1883 - Crítica e interpretação 4. Materialismo dialético - Teoria 5.. Weber, Max, 1 86 4- 19 20 - Crítica e interpretação I. Título n. Série . 78-0484 CDD - 320.01 320.532 146.3 330.159411 CDU - 32.001 329.15 162.6 335.5 EDITORA PAZ E TERRA Conselho Editorial Antonio Candído Fernando Gasparian Fernando Henrique Cardoso ' I ). ~ T 1 . cSciU15 :1 ~ t11S ,·yP ... MicMel Lowy METODODIALETICO E TEORIA POLITICA Tr adução de Reginaldo Di Piero -- '" vKIGINAL f:::~~~J 4~ EDIÇÃO ~ P AZ E T ER RA F U E L BIBLIOTECA CENTRAL

Transcript of LOWY, M. Método dialético e teoria política

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 1/15

 

~"; ! r ! 1 d l i J ' v

c /i f,< ;Od :·/ II;,.

Cole.ção PENSAMENTO CRITICOVolume 5

Ficha catalográfica

CIP - Catalogação-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

L956mLowy, Michael.Método dialético e teoria política / Michael Lowy;

tradução de Reginaldo Di Piero. - 2. ed. - Rio de Janei-ro: Paz e Terra, 1978.

(Coleção Pensamento crítico; v. 5)

Tradução de: Méthode dialectique et théorie politiqueBibliografia .

I.Ciência política - Teoria - Discursos, ensaios, confe-rências 2. Luxemburgo, Rosa, 1870-1919 - Crítica e in-

terpretação 3. Marx, Karl Heinrich, 181~-1883 - Críticae interpretação 4. Materialismo dialético - Teoria 5..Weber, Max, 1864-1920 - Crítica e interpretação I.Título n. Série .

78-0484

CDD - 320.01320.532146.3330.159411

CDU - 32.001329.15162.6335.5

EDITORA PAZ E TERRAConselho Editorial

Antonio Candído

Fernando GasparianFernando Henrique Cardoso

'I). ~ T1.cSciU15 :1 ~ t11S,·yP .•..

MicMel Lowy

M E T O D O D IA L E T I C O E T E O R IA

P O L I T I C A

Tradução de

Reginaldo Di Piero

--'"vKIG INAL

f : : :~~~J4~EDIÇÃO

~

P AZ E T ER RA

F U E LBIBLIOTECA CENTRAL

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 2/15

 

DO MESMO AUTOR:

La Théorie de IaRévolut ion chez te Jeune Marx - MASPERO1970 - traduzido para o espanhol, italiano e japonês.

Lucien Goldmann (em colaboração com S. Nair) - EditionsSEGHERS - "Philosophes de tous les temps" - 1973.

Dialectique et Révolution, esseis de sociologie et d'histoire dumarxisme - Editions ANTHROPOS - 1973 - traduzido parao italiano e o espanhol.

Les Marxistes et Ia Question Nationale (em colaboração comG. Haupt e C. Weill) - MASPERO - 1975.

Pour une sociologie des inte/lectuels révolutlonneirestt'Svotu-

tion Politique de Lukacs (1909 - 1929) - Press Universitairesde France, 1976. Emtradução para o português, espanhol, ita-liano, inglês e grego.

~~ \.

k: : : ~ .

.. . . '.

II

('

. "

I

OBJETIVIDADE E PONTO DE VISTA DE CLASSE NAS

CI~NCIAS SOCIAIS

< tA verdade é sempre revolucionária".

Antonio Gramsci

i

iI

É possivel a objetividade nas ciências sociais? Trata-se deuma objetividade do mesmo tipo que a das ciências naturais,como afirmam os positivistas? Não é a ciência social neces-sariamente "engajada", quer dizer, ligada ao ponto de vistade uma classe social? Como conciliar esse caráter "partidá-rio" com o conhecimento objetivo da verdade?

Essas questões se encontram no centro do debate método-lógico na sociologia, na história, na economia política, na an-tropologia, r i a ciência política e na epistemologia há mais deum século. Tentaremos mostrar or ue somente o ma~ -{>,..~(~:

~~~r~ o',?-".

~os é neces:sán econhece, u ne se s ti-do, os text s do~ marxista~~-

mentos iniciais) o ao~eira condi ão ara ue el~r a ru tura ep-Istem~~vismo. I'-"~--"""

.1.

+

'~

I - O posítlylsmoI'

A idéia central da corrente positivista é de uma simplici-dade evangélica: nas ciências sociais, como nas ciências da

9

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 3/15

 

,

natureza, é necessário afastar os preconceitos ~ as pressupo-sições, separar os julgamentos de fato dos julgamentos de va-lor, a ciência da ideologia. ~~~Ó19_9.9. .... .\! .c;t9--o 1-'Cf;1i-!.

~~~.2.c_J!~,~~ .....,~-!:.,9...5i~-<!tl!l9JJ...?~~.xIJ.~..~.l,ltr9~q'~A.§.~J~~ v' ~ r(.':)

~J...~I ~"Q 9JJ..t!Y.9 .~ q9Ji.~j.ç9.v~çjo~~ç'p ..~ d 9 - 9 - t c J ! 9 g 0 . Deixe-mos a pãJavra com o "Grand Ancêtre", AugustoComte:

"Eu entendo por física social a ciência que tem por ob-jeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, ccnslderados den-tro do mesmo espírito que o dos fenômenos astronômicos, ff-sicos, químicos e fisiológicos, quer dizer sujeitos a leis naturaisinvariáveis, cuja descoberta é a finalidade especial dessas pes-quisas" (1). "Sem admirar nem maldizer os fatos políticos evendo neles essencialmente, como em toda outra ciência, sim-ples sujeitos de observação, a física social considera cada fe-nômeno sob o duplo ponto de vista elementar de sua harmo-nia com os fenômenos coexistentes e do seu encadeamentocom o estado anterior ... " (2) '.

Qs:tlositiv.jsmo c~~tQ .f.!J.Q..dgQl.~~tagQ.S.oJ;>Lê~Ie_~~e§.êeD·~j ..i$,,-E;l~J.~.,, M.§tta!?: -,. 1 > , 1 . A sociedade Rode _~~~~--P 'íi('\'Y\'"

~~~=r{.q;s..~rJlêJ~Ql..~<t~, .._:Jl.~~.9_~l~ ....2 . .

t ª: :· }; .. ..l~~Q!.9-l @LD_a.urnaJ~.9.~~.- .-~~.º,ª~~ ..~~!'lY,ªr~~Jl".d~.(lJ~~~P.~.QJl.!iL~.~~~ã9~,b.Y.oJ..®-9· .~ ~ "Por essas premissas se conclui que o método nas ciênciassociais pode e deve ser o mesmo que o das ciências da natu-reza, com os mesmos métodos de pesquisa e sobretudo como mesmo caráter de observação "neutra", objetiva e desligadados fenômenos.

As irnpllcações ideológicas conservadoras, reacionárias econtra-revolucionárias dessa concepção são evidentes e aliásexplicitamente formuladas por Comte, cuja franqueza não é umdos seus méritos menores:!!'~~~ InvfÁn tur i a so . -o_~~~-P~.,

~~i e n ati o o osl!i~~- I

tece c i.8 -o assiv d..o. atus Iqu _~'l ~

"(O posifivismo) tende pro un amente. por sua natureza, aconsolidàr a ordem pública, pelo desenvolvimento de uma sá-bia resiqnação ( ... ) Evidentemente, não pode existir verda-

1. A. Comte. "Considérations phi losoohloues sur Ia scienceet les savants",in POI!tique d'Auguste Comte, Colín, Paris, p. 71.

2. Cours de Ptt ilosophie Posit ive, Schleicher Frêres Editeurs, Paris, 1908,tomo IV, p. 214.

10

deira resignação, quer dizer disposição permanente para supor-tar com G.Qnstância, e sem nennuma esperança de compensa-ção, quaisquer males inevitáveis a não ser como conseqüênciade um profundo sentimento das leis invariáveis que regem todosos diversos gêneros dos fenômenos naturais. Portanto é exclu-sivamente à filosofia positiva que se relaciona uma tal dispo-

sição, a qualquer assunto que ela se aplique, e por conseguin-te, com relação também aos males políticos". (3)Esse trecho, verdadeira jóia do naturalismo positivista, é

um dos raros momentos onde o discurso sociológico burguêsse manifesta em toda a sua pureza, por assim dizer em seuestado selvagem. Baseado nele odemos a reender m Ih.ag -o V o , . f "sentido ~~9ª,g~ro da a avra ositiv 17~.J..~ ~~ \iC 'J~ •

~r, ou melhor --?PQr~lJ.S...gQill.r~Q9..º~~E!2- ,-~\ < o .

~s~~~~~~~~slv-ª~, .~~~J.e-.YO!~~~!. d~.?_JI.)! .Q.~! .lê-E? j),h !: '_?; ~< ª.. ! ._ <!çU3~ -~!y~f~l,l.c.e_~~~~_Q_~_9-c~~!!L9. (4

~ Durkheim, mais do que Comte, que se tornará o verda-deiro mestre da sociologia positivista moderna. ,Seu naturalis-mo sociológico é de origem comtiana, como ele reconhece ex-

plicitamente nas Regras do Método Sociológico: "a primeiraregra e a mais fundamental é a de considerar os fatos sociaiscomo coisas. ( . .. ) Comte, é verdade, proclamou que os fenô-menos sociais são fatos naturais submetidos a leis naturais.Devido a isso, ele reconheceu implicitamente seu caráter decoisas' orque não existem senão coisas na natureza". (5)

urkheim vai a licar diversas vezes mOd~.os de~analo ia·I,oDv")~~s..!~~~~Qro~~c..'....~PªJ~~UQe...Q!2.9.i~~~. Por exemplo, segundoDurkhefiií,- a sociedade é, como o animal, "um sistema de ór-gãos diferentes onde cada um tem uni papel especial". Algunsórgãos sociais têm "uma situação particular e, se quisermos,privilegiada"; essa situação é totalmente natural, funcional einevitável: "ela é devida à natureza. do papel que preenche e

não a alguma causa estranha a essas funções" Esse privilégioé pois um fenômeno absolutamente normal que encontramosem todo organismo vivo: "é assim que, no animal; a preemi-nência do sistema nervoso sobre os outros sistemas se reduz

3. idem, p. 100.

4. cf. Comte, Discours sur I'esprit positif,l 0/ 18, p. 73.

5. Durkheim, Les regles de Ia méthode sociologique. P.U.F., Paris, 1956,p, 15-19.

11

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 4/15

ao .direito, ~e pudermos falar assim, de receber um alimento cepções de mundo opostas? A resposta de Durkheim é demais escolhido. e de apanhar .sua parte antes dos outros". (6) uma ingenuidade desarmante, cheia de "boa vontade"positivis-§!!)'.J?ut~~R~B~~vamos uma.!Y~~!l!!~ -t> h.,~ < i f ) , , , - , c ta: "a sociologia assim compreendida não será nem individua-~~~~.!.Ç)~~-~~!~~a...c!..~ Gle'jQ"""''Ú l ista, nem comunista, nem socialista,. n~ ~entido.que se ,dá vul-~[.~'y'l~~.!J,Ç..!! J!~J!!.ªt~,~.e.t<2-l?,-,-.[IÂ~Jy.tª_~n: çso~,:! - garmente a essas palavras. Por prinCipiO, ela Ignorara essas

Porque, se n~aa entrava ou- favorece mdevidamente os fuz<v~., ~" \-: > teorias as quais ela não saberia reconhecer valor científico, pois

concorre!'ltes que disputam .as tarefas, é inevitável que somen- tendem diretamente, não a exprimir os fatos, mas a reformá-te. os mais aptos em_ca?a tipo de atividade obtenham êxito. . . I~s". Em out~as I vras: o sociól()g.<?~~J3':.~.~)9(lQr.~r'~~9§- ~ . '-r~

Diremos. que ISS? nao e sempre o bastan.te para contentar os flr~os~os "fazer calarern a~~~9.!-'5~9-~~~_.,:?~..I~nS~I- I j ; , ~ r w <homens, que e:xl.s.temsempre aqueles CUjO~desejos ultrapas- '!9s,:--~.~~~~~!:.~~q~S~~~pré:n.ºç9~~" (10~. - . ,sa~ suas POSSlbllr~ades.. É .verda~e; mas sao casos excepcro- .,. Dürkhelm, como õõrTíPosltlvlsta, cre que os "preconceitos"nais e, pode:m.05dizer, mórbldos (SIC!). Normalmente, o homem e as "pré-noções" podem ser "afastados" como afastamos umenc_ontra fellcld~de realizando sua natureza; suas necessidades óculos escuro para ver mais claro. Ele não compreende quee~tao em rela~a~ con; seus meios. É por isso que, no orga- essas "pré-noções" (quer dizer, as ideologias) são, como orusrno, ~ada orgao so reclama uma quantidade de alimentos estrabismo e o daltonismo, parte integrante do olhar, elementoproporcional a suas funçõ.es". (7). I constitutivo do ponto de vista. Durkheim mesmo é aliás a prova

Como Comte, ~urk.h~lm estava consciente do caráter fun- viva que a "boa vontade" e o desejo ardente de ser objetivodamentalmente reacronano de seu naturalismo sociológico e o não bastam para se fazer calarem os "preconceitos" (em seuprocl~ma. com orgulho pouco ingênuo no prefácio das Regras caso conservadores e contra-revolucionários) ...~o Metodb: "nosso méto o não t m ois nad de re o ia á- _ ' ,+. . . . . _. .,

~~~~..Q.h.~ltg·'~·'''/:;Ir ~na~ ~ a soluta~m~Q'.!)!LI1Q~Q~-.~G \'(.~~,,~e~onservador, oi C. nsidera os fatos' 'I? f . U J . o - . . 1 9 - X . o.r n~ vs I .. n~_.~~-I .. ,:., ..~~~-&~tYe ê~1 ~~}lflu~.l1.çi-ª-º~.g!~e!:la?~~~~~-;-ªs,,.)'9..~ ~é!a.Ji~~~~E?Dlr.~tª"!1.t~modificave,! de acordo ê ' o m á no~à & ~ ~~..QQ!ª-!i~ acaaêm1c.~,. 0úE lalS ~J!l~!!.t~-~'.~(ã) <,•••.••.•••. •••.•••••_~~---......,, .,~ •. -,/--- •.--- .•- ª@§-ª.1~9~-:-.E~t~~..!!lao~nLao~.~entemen-

O d!scurso durkheimiano, como vimos, passa tranqüilamen- t~, ~s formas mu?~ram: o behaviorismc e o tuncionaüsrno subs-te da lei da selva às leis naturais da sociedade e dessas aos tl~Ulra~ .a n:'etafl~l~a cad~ca de Augusto ~o.mte, e. o, ~odeloorganismos vivos. Essa espantosa oscilação da démarche é clberne.tlco substítui ~an~a}osamente o orqarucrsrno biolóqlco def~ndamerltada sobre uma pressuposição metodológica essen- Durkheim. Mas o principio fundamental permanece: o ":lesmo:cial: a homogeneidade epistemológica do território percorrido, George A,. L,yndbe:rg, autor de um m~nual d~ socl.ologla mo-e conseqüentemente, das ciências que o estudam. Pressuposi- derna rnutto apreCiado nos Estados. Unidos, nao he~ltou em e;s-ção cujo corolárlo é a exigência central e decisiva de todas as crever essa~ Imh.as qu~ 'par:e~em~Iretamente extr~udas. do 015-corrent~~ positivistas: "que o sociólogo se coloque no estado curso .~e ~"9sofla Positiva: considerando a SOCiologia. comode espmto em que estão os físicos, químicos, fisiólogos, quan- uma crencia natural, estu?~remo~ '! comportame,:,!o SOCial.hu-

d? se engajam numa região ainda inexplorada, de seu domínio mano. com o mesmo espírito o.bj~tlvo q~e ~m bióloqo ~stu~aCientífico". (9) ~ um ninho de abelhas, uma colônia de térmitas. a orgamzaçao,Como pode o cientista social "se colocar no estado de . e o fl!ncionam,e,:,to de um organismo vivo". (1~~ .

esplri!o" do químico se o objeto de seu estudo, a sociedade, é _ E necess.ano acrescentar que a te~e postttvlsta da separa-tambem o objeto de um debate político encarniçado entre con- çao entre os julgamentos de fato e os julgamentos de valor, da

6. Durkheim, La diviaion du travail social, P.U.F.,Paris, 1960, p. 157-58.7. idem, p. 369-70.

8. Durkheim,Les rêglesde Ia méthodesociologique, prefácio, p. VIII•.9. idem, p. XIV.

10. idem, p. 140,144,31. (Sublinhado por nós M. L).11. G. Lundberg,C. Schrag, O. Larsen. Sociology, N. York, 1954, p. 5. cf.

tambémB. Berelson, "Introduction to the Behavioral Science", in TheBehaviouralScienceToday, N. York, 1963, p. 3: "A finalidade científicaé estabelecergeneralizaçõessobre o comportamentohumano sustenta-

1213

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 5/15

objetivida~uraças à eliminação voluntária das "pré-noções",.lnttuencíoú asoctctoqía muito além dos limites da corrente po-sitivista no sentido estrito. Basta mencionar Max Weber, quedificilmente pode ser classificado. como positivista, que su-blinhava aespecificidade das "ciências, da cultura" em relaçãoàs ciências naturais, e que, entretanto, acreditava que a ciênciasocial podia e devia ser "sem pressuposições" e "não valera-tiva" (Wertfrei). ~ Weber, os conceitos das ciências so-ciais não devem ser 'gladTõsPara atacar adversários" mas so-mente "rethas de arado para surribar o imenso campo do pen-samento contemplativo", porque '~Qé!Q.~"y~qu~..!"!l.J:!~~.~~~.çy..i.! __~jJ_ p.r2P-rlQ~.wI9.ªmento' ª - ~"Y~ J º . rt. ._~ ~~~~~~,j,r:t~S~(~!9~:' ~E verdade que, emcertos escritos metodológiéos, Weber reconh v _

-~~~~ª-~i~-~~ eleçao)~~~en.tl~~Q....Çl~~~uestões~L~Mas ele assinála que. as respostas fornecidas, a pesquisa mes-ma, o trabalho empírico do cientista, devem estar livres dequalquer valoração, e seus resultados aceitos por todos (13).

Como se a escolha das ~e~!!ã_9.d.!3t~~Elt_~lllil~~mall- rucie-rl'GóTám-armassTnala~c o mmuiTa-rãzâà, o carater contraditório da posição de Weber quese situa a meio caminho entre o desconhecimento do determi-nismo social do pensamento sociológico nos positivistas e suaaceitação integral pelos marxistas (14).

12.

13.

das por evidências ernpmcas reunidas de forma impessoal e objetiva...O fim último é compreender, explicar e prever o comportamento humanono mesmo sentido em que os cientistas compreendem, explicam e pre-vêem 'o COmportamentode forças físicas ou de fatores biológicos, ou, oque está mais próximo de nós, o comportamento de bens e preço nomercado econômico". Var tambéma esse respeito a obra de I. Kon ,DerPositivismus in der Sociologie, Akademie Verlag, Serlif!, 1968.

Max. Weber, Le savant et Ia politique, ed. 10/18, Paris, 1959, p. 80-82.

cf. Max Weber, "Die Objektivitat sozialwissenschaftlicher und Sozialpoli-tischer Erkenntnis", in Gesammelte Aufsatze zur Wissenschaftslehre,Tu-bingen, J.C.S. Mohr, 1962, p. 170, 184.

"~~~~iP-ªd~~~~. Os valores se-ndo~.-:. os de uma ou outraclasse social, o que uma perspectiva eliminará como não-essencial, po-de ser, ao contrário muito importante em outra... sobre esse ponto, opensamento de Weber se revela insustentável", Lucien Goldmann, Scien-ces H"maines et Philosophie. Gontier, Paris, 1966, p. 43. A análise deGoldmann sobre o problema da objetividade nos parece uma das maisinteressantes de toda a literatura marxista contemporânea.

14.

---t/

14

1;~

I\

i"i

"

'I: ,

I

".il~; "'

.J

>" . e erro fundamental_d..QQosltivlsmo~éJ>9is a iMQ!I1"p~ensão'i~~~1§g.i€{§.~ÇjêncràST~s~~mrêra:.~_,!1!~r~~". ~t~,P,t!SnçJst~~ ...C?~~gsA?_it!l§T~l! JTé!0: ~. ". '-0 caráter Jstóris dos fenômenos sociais, transitórios,!

perecfveis, susceptfveis de transformação pela ação dos ~homens. ' ~

~. A~ parcial entre o sujeito e o objeto do co- ~.nheclmento. -: ,

3. O fato de que os probl sociais suscitam a entrada >em)?go de concepções ntagônica' das diferentes classes I

sociais. \4. As implicações olftico-ideológica da teoria social: o j

conhecimento da verdade po e er consequências diretas sobrea luta de classes.

E§~~tzõ€ts. ~sJrªttgm~§ntre s!~em com-~ õ'í11étóOõdãS Clências~soclals - se- d l i l i r ! " 9 L . ó Q - .,Ç~natúrãfistã nã~~j~~~-~~a~ e.J>J.~9~.,f~~~~~ rnê~m.bél1).$.J?Q!ls.!-§!m~nte no n~a~ rela ao com as~a~s SoC1ãIS~sões ãOíTiUilão as 'I eologlas '~entlao ~s~~ Ias e e v~~r ~uoclals mode~a:emaneira de~ ou ~~cientê'ôUíriCons-:Ci~ç~~.~,..~.9-gj~ªi§.~9~l'!UU~?~lE~3.e]~Yi~~. ,~!!1'""t~C'Xt9,ê)9..~trn.~.Q~.~ I~ ~ ,:I~t9~~,q2~cJ~J)S.I.~Jt.-Q,ª,~.-tu reza.~ """ " '- Arealidade social, como toda realidade, é infinita. Todaciência implica uma escolha, e nas ciências históricas essaescolha não é um produto do acaso, mas está em relação or-gânica com uma certa perspectiva global. As_visg"e§d~da$_clª!is~s soci~~~~

~~c~~~~.~~ltl~~ q-~J.~.,.tl.~~..~ 'n~ ~ ~ ~ Q . a o o t e~s.tYà~~~EtnC?ial ~~--.dQ~

a~ ftu.~~~~q!!~Ç..$>~2~~~~I!!l"t~~9.s..p~~.Por exemplo, a questão que Durkheim coloca na Divisão

do Trabalho Social - quais são os fatores que entravam alivre competição dos indivfduos na luta pela vida? - não é detodo "inocente", masestá marcada pela visão do mundo social-darwinista da burguesia na época do capitalismo concorrencial.Independentemente da "resposta" encontrada por Ourkhelm,essa "questão" vai orientar sua teoria sociológica numa certa

..,

15

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 6/15

direção, dando-lhe um caráter necessariamente "tendencioso".Dito isso. é verdade que a distin ão entre as ciências na-

~~~~a s utizad :.~~!@a,~

-- ? fu ,_ tQ [~porque durante todo um perlodo, as ciências danatureza loram, e\as também, o começo de um combate \deo\ó-g\co. 00 sécu\o X\J ao X\X, as c\asses dom\nantes c\ér\co-'eu-

dais resisttfam às ciências da natureza que constitularn um de-safio a seu sistema ideológico. A astronomia foi durante sé-culos campo de uma luta de classes encarniçada, ideológica eàs vezes mesmo política, e os homens de ciência foram vítimasfreqüentemente da repressão dos aparelhos do Estado (G. Bru-no, Galileu, etc.). É somente graças à liquidação do modo deprodução feudal e o desaparecimento (ou "modernização") desua ideologia, que a ciência natural se tornou, progressiva-mente, um terreno "neutro" do ponto de vista ideológico. En-tretanto, mesmo no século XVI , a relação epistemotógica entrea ciência astronômica e as classes sociais não era do mesmotipo que a que encontramos nas ciências sociais. Voltaremosa esse assunto.

~ porque o grau de "engajamento ideológico" não éo mesniõ em todas as ciências sociais (nem o de "neutralidadeideolóqlca" nas ciências naturais) e, no' interior de uma mes-ma ciência, alguns problemas são muito mais "sensíveis" doque outros: a história da Revolução Francesa desperta eviden-temente mais antagonismos com conteúdo de classe do quea das guerras do Peloponeso ...

'EQ.~cl;,i~~~~-~~~~I~~d~valor, e a~3'J.~~<?.[lç~~~-~~~é!Q....êl~~~!)..@_...R.9Q~-ffiQ~~~.!B!~ j~]~~ de um.J.u~o laCtual~ -Segunáo .a- céleDre -for-mula de 'POf :nêãre : -as prenilSSaSno indicativo não têm con-

clusão ló gie c ;t no imperativo. Weber observa com ironia quenão poderemos jamais demonstrar cientificamente a exatidãoou o erro de Sermão da Montanha. Bem: isso é totalmenteverdadeiro e irrefutável; mas o que os senhores positivistas eWeber esquecem é a relação inversa entre a ciência e o nor-mativo: os valores que orientam, influenciam e condlclonamos julgamentos de fato. Relação que não é lógica mas s~';ciológica: é o ponto de vista de classe (implicando elementosnormativos) que define, em ampla medida, o campo de visi-

16

l'

.iJj6de dos fatos, o que uma teoria social "vê" e o que ela. vê,· suas "visões" e seus "enganos", sua luz e sua ce-üra, sua miopia e sua hipermetropia.

il " - ,

A.tenta\l 'va ec\ét\ca de Mannhe\m'"

.(-\

:\

" ~ I.. . .. ' Sob o impacto do marxismo, o mito positivista de uma,dt~lilcia social neutra e assexuada como os anjos da teologia. 'ril~dieval foi severamente abalado. O problema do condicio-

ntiménto social do conhecimento não podia mais ser tão facil-mente ignorado. Uma nova tentativa de resolver o problema,nem positivista, nem' marxista, será realizada por um trâns-fuga do marxismo, Karl Mannheim, em sua brilhante obra Ideo-logia e Utopia (1929), que vai fundar um novo ramo da ciênciasocial universitária: . ª - ~cjp.!2~J!9 conhecimento.

Mannheil1l reconnece,-como O~E9~social do cien~~condicona sua ers~ctiva,

~_~~~Iha seu ob~ele percebê nesse objeto e como ~ssa perspec-~~~concepçoes~-

r~s~[9~ü~~frito no seio da sociedade. Essas diversas visões particulares~~só descobrem um aspecto do objeto, uma parte da realidadesocial: elas são necessariamente unilaterais e fragmentárias.

~~u~d..Q_M~~m..1..l'l.a~E~~_~d~t~~~~~~s_~~o~ ,.~~.JD.Y!Y-ê~QJ~~~mentares num todo com re . o", uer dizer, ossibilidadede uma "síntese das perspectivas

~uestão central é eVidentemente:~~e~ai realizar essasíntese? Qual é a classe ou grupo SOCI e pode servir debase a essa, "mediação dinâmica" dos pontos de vista anta-gônicos? Segundo Mannheim, há um grupo que, por suas ca-racterísticas especiais, é capaz de realizar essa tarefa deli-

cada 'e alcançar assim um imo de conhecimento completoe objetivo da realidade: a ihtelli entsia sem yinculoS) (freisch-webende Intelligenz), que se encontr rinci ai n e nas uni-~v~rS19~3..5L..11ª~.ln~e~.~~ ...

Ora, esses intelectuais que se acreditam "sem víncutos" (eque não estão ligados a nenhuma das duas principais classesem conflito: a burguesia e o proletariado) não são precisamenteos que estão presos à classe da qual são na maioria originá-

j..-

17

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 7/15

~

rios, e que é a mais próxima de sua situação social, a saber, apequena b,u'luesia? E será que sua "stntese dinâmica" podeser outra coisa que não um meio termo eclétlco entre as gran-des concepç(l)es do mundo em conflito, meio termo estrutural-mente homólogo à posição "intermediária" de. sua camadasocial?

O g-êf.Iero de "síntese" que Mannheim mesmo fabricouconstitui u-m a resposta muito esclarecedora a essas questões:em seu livto iLiberdade, Poder e Planificação Democrática eleglorifica um e::tetceiro camir~, um sistema de reformas pacl- /11ficas e graduais fundamentado na "planificação social", siste- I .Jma graças ~ qual "a sociedade capitalista contemporâneapode ainda ser equilibrada", ~G.~.tlle~

~e~m~!lor~~'s àclas e Inferio es, M?~~~~e't!.--que~~a"! Não é mais necessário Insistir sobreo caráter muito pouco "dinâmico" de tal "mediação" ...

1 1 1 - O d.ate no seio do marxismo

Segundo ,Mannheim, o marxismo não aplicou jamais a simesmo os processos de "revelação ideológica" empregadoscontra seus adversários, e não levantou jamais o problema dadeterrnlnaçêo social de sua própria posição:--tal "auto-revela-ção" mostraría que o marxismo constitui, enquanto ideologiado proletariado, um ponto de vista tão "partidário" quanto odas ideologias das outras classes (15). -

Na realidade, contrariamente ao que pretende Mannheim(e também, num outro contexto Althusser) ~L~~-d~~Et~~~Q~.n~_a,'!1~-to. Ele não-somente "revelou" o caráter burguês da ~

~~~~~-~~om som o ca~~e~~~~as primeiras obraseconômicas ele já escrevia: "assim como os economistas sãoos representantes científicos da classe burguesa, assim tam-bém os sociaãstas e os comunistas são os teóricos da classeproletária. ( ... ) A ciência produzida pelo rnovlménto histórico

15. Mannheim, K., ldeologie et Utopre, Mareei Riviere, Parls, 1956, p. ,213.

18

~.,.

M~bseassociando a ele em pleno conheclrnento de causa, dei-:J,de,ser doutrinária, ela se tornou revolucionária" (16).

;:'~'trata-se de uma obra de juventude (1847), de uma posiçãoMarx "antes da maturidade"? Na realidade, Marx vai reafir-r.)e~pl·icitamente no posfácio à segunda edição de O Capitalarát-er "engajador" de sua crítica da economia polltlca e

:~inserção num ponto de vista de classe: "na medida em\essa crítica representa uma classe, ela não pode represen-enão a classe cuja missão histórica é a subversão do modoprodução capitalista e a abolição final das classes - oetarlado" (17).

: Por conseguinte, o método de~ não é "neutro", "posi-{' OU ..clentffico-naturalista: ess~étodq,_ que. ~Ie intitula.~mescând~a6~

"'f~s~us por~rqu.e, na com-preensao posifiVãêiâsColsas existentes, ele Incluí ao mesmotempo a inteligência de sua negação, de seu decUnio necessá-rio ... ele é essencialmente crítico e revoluclonário" (18).

Numa palavra: Marx considerava sua ciência como revolu-cionária e proletária e, como tal, oposta (e superior) à ciência

conservadora e burguesa dos economistas clássicos. O "cor-,.-te" entre Marx e seus predecessores é para ele um corte declasse no interior da história da ciência eco~.

Esse ponto de vista era partilhado por ~ que assioa-lava em- seu célebre texto sobre as fontes do marxismo: "numa~undamentada sobre a luta de classes~~~~~ficialeliberaldefen e de uma forma ou de ~avid~

~~~ . .~~~~-~.(19) .

\

,. ..'-

16. Marx, K., Misêre de Ia Philosophie, ed. Sociales, Paris, 1948, p. 100.Cf. tambémEngels,F.: "o comunismo,na medida em que é uma teoria,é a expressãoteórica da posição do proletariado na luta de classes.•.••- "Die Kommunistenund Karl Heinzen", in Marx-Engels.Werke, Dietz,Berlin, Band 4, p. 322.

17. Marx, K., Das Kapital r, Werke, 23, Dietz Verlag, Berlin, 1968, p. 22. cf.também L'Adress Inaugurare de ta Internationale, onde Marx opõe"à economia polftica da classe operária" a "economia poHtica da clas-se média".

18. idem, p. 28, (sublinhado por nós. M. L.)

19. Lenin, "Les trois sources et les trois parties constitutives du marxis-me", 1913, in Marx, Engels, Marxisme, Ed. em Ifnguas estrangeiras,Moscou,p. 71. SegundoLenin "exigir uma ciência imparcial numa socie-

19

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 8/15

Recusando explicitamente toda separação entre ciência_eideologia revotucionárta, "julgamento de fato" e "julgamento devalor", ob.i~tividade e ponto de vista de classe, Lenin apreende

~~~!!f,L,;,.~em!!l~ SlU~~U~~~~ª,~-~~@t~Jif~~qu9Qt~-º9.&nna que "associa oe~Qí[i1Qfs,volUClonário a um cárater altarrientecTenfífTé]5lSêridO

a última ,paãVrãcj"âsêTe~~àrlãô~o'faz poracaso, nei!T;lsomente porque o fundador dessa doutrina reuniaem si mesmo as qualidades do sábio e do revolucionário: elaas associe na teoria mesma; íntima e indissoluvelmentell (20).

A tese do caráter proletário do marxismo é também afir-mada por Rosa Luxemburgo em sua polêmica contra Berns-tein (21), por Lukács, Korsch e Gramsci; quer dizer, pela cor-rente Impeopriamente denominada "esquerdista teórica", masque const;tej na realidade, com Lenin e Trotski, a importantecorrente dhílitica revolucionária do marxismo moderno. A con-tribuição de' Lukács é particularmente importante porque vaiprecisar o sentido do conceito "ponto de vista do proletaria-do": não ~e trata da vlvência imediata, da consciência ~~dacl~~~~

cionalmen,te :a seus an r sse hl t rlco~~ A reraçãc eptstemolõqlca entre o marxismo e o proleta-riado será ;em compensação negada, sob formas diversas, mastodas as duas marcadas pelo posltivisrno, pelos porta-vozes dO

revlslonlsmo e da "ortodoxia" no seio da IIlnternational: os"freres enilelnis" Bernstein e Kautsky.

Bernsiteifn exige a compartimentação rigorosa, estanquee absolutaemtre "os fatos" e "os valores",entre a ciênciapura (à la',Comte) e a moral pura (à Ia Kant). Uma de suascríticas a Marx é justamente de ter confundido as duas, o queexplica em sua opinião o caráter "tendencioso" de suas obraseconômlcas, -seu "utopismo" e seus "a prioris".

. dade ftJmct~dasobre a escravidão salariada, é ingenuidade tão puerilquanto t;lxi!iiir aos fabricantes que se mostrem imparciais na questão desaber seé' conveniente diminuir os lucros do capital para aumentar ossalárioseêos operários".

20. Lenin, "Ce~ que sont les amis du peuple", in idem, p. 102, (sublinhadopor nós'M. L.)

21. "Como a sociedade verdadeira se compõe de classes que têm interes-ses, aspirações, concepções diametralmente opostas, uma ciência hu-mana geral nas questões sociais, um liberalismo abstrato, uma moralabstrata,são, no momento, uma ilusão, uma pura utopia" in. Réfor~ou révolution?, Spartacus•. Paris. 1947, p. 75.

20

.. f- .

. .. ~.~

',~ A ciência econômica para Bernstein deve estar acima dosconflitos de' .çtasse, empírica, não partidária, sem pressuposi-\ções, numa ~a'avra, positiva: "minha maneira de pensarleriame predisposto mais certamente para a filosofia e para so-ciologia positivistas", declara ele num ensaio autobiográ-fico (22).

Kautsky era, em prlncfpío, o defensor do "marxismo orto-doxo" contra Bernstein. Na realidade, sua posição sobre oproblema da objetividade (entre outras) não estava tão afasta-da da de Bernsteln: é necessário, segundo ele, distinguir cui-dadosamente entre o "ideal socialista" e "o estudo cientrficodas leis de evolução do organismo social". Como revela suaterminologia, a biologia evolucionista de Oarwin era paraKautsky o modelo para a ciência marxista, cuja finalidade seria"a descoberta das leis da evolução comuns às plantas, aos·animais e aos homens" (23). Kautsky vai na realidade fazersuas as premissas metodológicas positivistas de Bernstein emesmo, em certa medida, as críticas revisionistas ao caráter"tendencioso" dos escritos de Marx: "transparece mesmo algu-mas vezes em Marx, em sua pesquisa científica, a ação de umideal moral. Mas ele se esforçou sempre, com razão, para ex-pulsá-lo tanto quanto isso fosse possível. Porque, na ciência,o ideal moral se torna uma fonte de erros, se se permitir lheprescrever seus fins". (24)

O problema é relativamente confuso em Bernstein e Kauts-ky, porque só abordam a discussão sobre o ponto de vista declasse por meio indireto da ética e do ideal moral. Mas trata-seda mesma questão: a ética não é senão um as ecto da visão

~muJ:ldo ~l.!~JU~~é vi~~'tivadeumac~~iVã~~~~~ãdia~~

~~.Em seu último grande escrito teórico A Concepção Mate-

rialista da História (1927) Kautsky é mais claro e coerente,explicando que o materialismo histórico é "uma teoria pura-

. ' I> " '

22. in Angel, tP.,E. Bernstein et l'Evolution du Soeialisme Altemand, Oidier,1961, Paris, p. 194.

23. Kautsky, K., Die Materialistische GeschichtsauHassung.1927, Bd. 2, p.6631. "

24. Kautsky, ~'~,Ethique et conception matérlatiste de I'histolre, citado porLucien Goldmann, RecherchesDlalectiques, Gallimard, p. 284.

' li "

Jco . J9 21

F U E LB IB L IO T ECA C EN T ' R A L

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 9/15

mente científica, que, como tal, não está absol'utamente liga-da ao proletariado".

Um AQVO aspecto vai ser introduzido blemática darelação entre ciência e ideologia pelo stalinismo caricaturado ponto; de vista do proletariado, que . a I ade o pontode vista de uma outra camada social: a burocraci . Esse afas-

tamento, ~S$a distorsão vão criar para o s a rrusrno a necessi-dade de fJ m a , ocultação ideológica: a burocracia deve escondertotalrnenfa das massas (eàsvezesa si mesmo,por um processode autor1iÜstificação)a defasagem entre sua perspectiva e ado proletàrtado.! Resuta daí uma i.trumentali a ão e~~t~~~~~!ff~~~~glcas da..•Quroc~t!3~~~ulo::.:~X~f!I~lº _f1la!~~surRreende~~~~~,-com suas numerosas-reedtções "re-vistas e cort,g~unção das mudanças de linha da di-reção do Partido, e se caracterizando todas pela deformaçãomais grosseira e mais vergonhosa dos fatos históricos.

Esae aspecto do stalinismo é suficientemente conhecido,e não há,~bsolutamente necessidade de insistirmos a esse res-

peito; acr,e,scentemossomente que a "falsificação" não é umelemento:~c~dental, arbitrário ou contingente do stalinismo, masuma dimElnSãoorgânica e essencial, u c rr ._~~~zwr~sentando sob aforma~Í2qnto~~ - - ~~

Mas O mais interessante do ponto de vista epistemológicoé que a iiills1irumentalizaçãoda ciência atingiu mesmo as ciên-cias da ~atureza, que foram submetidas a um; processo de"ideologi2!ação", particularmente durante o pertodo 1948-1953.Opunha-se d ; e maneira esquemática, brutal e categórica, a clên-ela proletãrlá à ciência burquesa no campo do'estudo da natu-reza em ~tâl e da biologia em particular. Tentava-se (em vão)demonstrar a superioridade da ciência soviéticá, da btoloclapretensamenil:e "proletária" de Lyssenko, sobre a ciência oci-dental. renresentada pela biologia "reacionária e burguesa';' deMendel-Wasserman; isso não somente naU.R.S.S.masem todoo movimento comunista mundial. Na França, La'Nouvelle Cri-tique, revista dós intelectuais do P.C.F., organiza' em 1950 umgrande colóquío dedicado ao tema "Ciência Burguesa e Ciên-cia Proletária" e publica uma série de artigos em homenagema Lyssenko. onde o mais notável e saboroso é o' de um certoFrancis Cohen. Lyssenko tinha escrito no Izvesfla de".,., ..

22

\ ~ } ' ; j j f r r

tn~';llf~"~~~'2/1949ue as descobertas dos biólogos soviéticos só fo-':i'::'fliJ1ilL!;~possrveisraças ao "ensinamento de Stalin sobre as trans-

.~ções quantitativas graduais ocultas, invisfveis, conduzin-uma rápida modificação qualitativa fundamental", Francisin clta esse texto do ilustre "biólogo proletário" e o ana-O ponto de vista da epistemologia staliniana das ciências:

~Fs'sacitação pede alguns comentários. Ela nos mostra,,,H'ramenteo processo mesmo de elaboração da ciênciatârla: o fato experimental na base, depois a interpreta-,ajudada pela teoria marxista-Ieninista, mais precisamentepelo capítulo IV da História do PC (b) (25). Vê-se poisj a História do PC (b) essa Summa Theologica stalinianatorna não somente a matriz de toda ciência polftica, mas"~éma fonte do progresso nas ciências naturais. Contrales que ousariam duvidar da pertinência dos escritos de-sobre a ciência biol6gica, sob pretexto de que se trataria

,. , <~m"argumento de autoridade", Francis Cohen proclama"cdí'ti; indignação:. ',.d"Para um comunista, e pelas razões que Desanti expôsaqui, Stalin é a mais alta autoridade cienUfica do mundo.( ... )

Essa é uma razão que esclarece singularmente a questão dos"argumentos de autoridade". Duvidar de uma afirmação feitaem tais circunstâncias, é duvidar contra a evidência, a eficá-cia, a exatidão, a unidade do stalinismo. !: : assimilar um sábioproletário, engajado na construção do comunismo, a um sábioburguês isolado, privado de teoria diretora, irresponsável".(26).

O extraordinário artigo de Francis Cohen, exemplo mara-vilhoso da visão do mundo staliniana, termina pela seguinteapóstrofe, que apaga euforicamente toda distinção epistemo-lógica entre ideologia potltlca e ciência natural:

"Só pode havercornpromissoideológico em matéria deciência, em matéria de luta sindical ou de luta pela paz. O

.'/

25, F. Cohen, "Mendel, Lyssenkoet le rôle de Ia science", La Nouvelle Cri-

tique, n.? 13. fever, 1950,p. 61. O capitulo IV, redigido por Stalln, con-tém um "resumo" dos principios do materialismo histórico e dialétlco.

26. idem, p. 62. Desanti,na época membro do P.C.F" tinha escrito em LaNouvelJe-Critique, n.? 11, de dezembro de 1949, um artigo intitulado"Staline, savant d'un type nouveau", do qual eis alguns subtitulos: "aciência staliniana, ciência de partido"; "a ciência staliniana, ciên-cia universal, ciência enciclopédica"; "a ciência staliniana, ciência ri-gorosa". Acrescentemos em defesa de Desant, matemático muito res-peitável e homemde ciência eminente que seu artigo foi escrito "coma ajuda de uma comissão criada especialmente nessa ocasião, presididapor Victor Joannês, membro do Comitê Central".

1. ' . .J

23

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 10/15

combate da classe operária se conduz também nos laborató-rios e o caminho da vitória é, em todos os' campos, mostradopelo país da classe operária no poder, seu Partido bolcheviquee JosephStalin, o guia dos trabalhadores e ó maior homemde ciência tfe nosso tempo". (p. 70)

Num resumo da conferência de La Nouvelle Critique so-bre "Ciência Burguesa e Ciência Proletária", a redação da

revista expliclta algumas das pressuposições dessa grosseirasocloloqização das ciências da natureza:

- A ciência é "uma ideologia historicamente relativa";- "A prática burguesa" e a "prática proletária" se de-

frontam e "definem duas ciências fundamentalmente contradi-tórias: a ciência burguesa e a ciência proletária".

Trata-se das ciências sociais, da economia política, dahistória? Não, trata-se realmente da questão da biologia:

"As descobertas mitchourianas e os trabalhos de Lyssenkodependem de tal ciência socialista. Colocar-se sobre suas po-sições, fazendo seus esses critérios, é a condição de objetivi-dade na discussão científica, na discussão sobre o detalheclentltíco" (27).

Trata .•se, em certo sentido, de um positivismo no sentidoinverso. Como o positivismo, não se reconhece distinção me-todoíóqlca ftmdamental entre as clênclas sociais e naturais.~itivismo uer "naturalizar" as ciências históri-~ o s1a"in~~i~'jQ~0~~da natureza. Ele atinge assim o absurdo de uma blo~retàilã", e:C'ria as condições de possibilidade de uma química,de' uma fábrica e de uma astronomia "proletárias" ...

Q -,problema da objetividade. é resolvido pela proclamaçãocanôríicaue doqmática da infálibilidade papal do Guia dos Po-vos e M~~or Homem de Ciência de Nosso Tempo, mestre doshistortadorea, economistas, biólogos e genéticos, solução queevidentemente tem .8, 0 ; dupla vantagem da simplicidade e da,coerência! .

Louis Althusser foi o herdeiro do grande festival da Ciên-cia proletária dos anos 50. No começo dos anos 60, depoisda morte deStalin, o XX Congresso' e a confissão, pelos so-viéticos, da impostura de Lyssenko, ele ficou traumatizado: élerecebeu, como escreve, um verdadeiro "choque". Sinceramel1-

27. "La science, idéologie historiquement relative", in La Nouvelle Critique,n.? 15, abril de 1950, p. 46.

24

~.~~

f

!

*i~

1t

fIj

I '".

-t

I ' - b

fé3::rrependido de seus pecados de juventude, procurando or:~·nhoda verdade objetiva, Althusser foi tomado de um san-iOrro,rd iánte do conceito de "ciência proletária", que eletachar de anátema, não somente na esfera das ciências dasreza (o que seria plenamente justif icado) mas em todas as'ci'as, inclusive, o marxismo:

,; > "Em nossa memória filosófica esse tempo permanece

<.~moo dos, intelectuais armados... cortando o mundo com)11_a só lâmina, artes, l iteraturas, fi losofias e ciências, atravésJee~'ii'mpiedoso corte das classes - tempo que caricaturalmen-fté':pode ser resumido numa palavra, lema existente no vazio:\'~\ciência bur,guesa/ciência proletária".

"Dirigentes, para defender contra o furor dos ataques bur-:gueses um marxismo então perigosamente aventurado na "bio-logia" de Lyssenko, tinham relançado essa velha fórmula es-querdista, que já tinha sido a palavra de ordem de Bogdanove do Proletkult. Uma vez proclamada, ela domina tudo ( . .. )faziam com que tratássemos a ciência, cujo titulo cobria asobras, mesmo de Marx, como a primeira ideologia vinda". (28)

A posição que Althusser vai assumir é o avesso simétrico

do Lyssenkismo, partilhando com ele o mesmo erro capital: odesconhecimento da diferença (relativa mas essencial) entrehistória e natureza, ciência histórica e ciência natural, dife-rença que explica porque não poderia haver genética "prole-tária", nem história "acima das classes" (ou "não partidária")da Revolução Russa...

Assim também, a aceitação do "espírito de partido" stali-niano no passado e a recusa da ciência proletária (no campodas ciências. históricas) atualmente, são fundamentadas sobreo mesmo "erro": ~~~~~~: os dois eram ado-rados juntos no passado, queimados juntos atualmente.

Althusser vai se situar conseqüentemente numa posiçãopróxima, em certos pontos de vista, ao positivismo. Aliás, ele

não esconde sua admiração por A. Comte "único espírito dig-no de interesse" que a filosofia francesa produziu "nos 130anos que se seguiram à Revolução de 1789". (29)

28. Althusser, l., Pour Marx, Maspero, 1965, p. 12.

29. idem, p. 16. cf . também Lénine et Ia Phi losophie, Maspero, Paris. 1969,p. 13: A fi losofia francesa "só pode ser salva diante de sua própria his-tória pelos grandes espiri tos sobre os quais ela se lançou, como Comtee Durkheim ... "

25

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 11/15

Em compensação, ele critica severamente, o "esquerdis-mo teórico" de Lukács e Korsch por terem proclamado que omarxismo é uma ciência proletária e por tê-to oposto à ciên-cia burguesa: "a interpretação historicista-humanista... pro-clamava 'um retorno radical a Hegel (o jovem Lukács, Korsch),e elaborava uma teoria que colocava a doutrina de Marx em

relação de expressão direta com a classe operária. J: dessetempo qllledata a famosa oposição entre "ciência burguesa"e "ciência proletária", onde triunfava uma interpretação idea-lista e voluntarista do marxismo como expressão e produtoexclusivo da prática proíetãria" (30). Assinalamos en passantQue ~uma inte·~fto J!luito ~s~á~~ismo corno expressão"di ",~u,' ;roauto exclusivo' da ~~é~~e~m!~L@~t~ aos mte-!~e~~º - a céTe6re "consclêncla dêêtasseãtnburctá"TElli./gerechnetes.Bewusstsein).

Althusser vai também criticar Gramsci e seus dlsclpulositalianos, ';parque eles "definem como históricas as condiçõesde todo ~ecimento referente a um objetivo histórico" (31).

Para ele,~..:••..eornpensação, a ciência (social ou natural) temuma hist~iA ~própria,independente e separada da história so-cial e p()IQ~a,iquerdizer, ela não está condicionada pela lutade class~~~if)~llãOaz parte do "bloco histórico" (32). Tese queestá emii~"ção não somente a Gramsci, esse esquerdistainCOrrig!~.·•..~.i a .s também ao Lênin ortodoxo e cientrfico deMaterial~,·.. ~..~ .Empirocritncismo (do qual Althusser se recla-ma freq,~kf1Íl:entel...;g":l~"",e§ç,r~v:i.;a;,!,.','o...materlausrno- dialéticode MarXi l J ? ' ! ".Is eontém certamente o relativismo, mas nãopode ser ··"".lido ao retatlvlsrno, quer dizer, ele reconhece arelativid~,; :;·:.;:todo o nosso conhecimento, não 'no sentido denegar.a ~.. , 4 ~ . , d.e. objetiva, mas ~o sentido de.que os_Iimit~sd.aaproxlmálM < t e . nosso conhecimento à realidade sao hlstorl-camente~~,~i~pionados". (33).

Airr~t.~vie,I i~.~~manifest Wtr."im em sua lnslstêncla sobre ~~

~~-30. Althusser, L, Lire le Capital, 'li, Maspero, Paris, 1966, p. 104.

31. idem, p. 77.

32. idem, p. 93.

33. Ler1in,Materlalism and Empirio-Crlticlsm, Progress Publishers. Moscou,1967, p. 123-124.

26

~CI~ IdeEI~ A ideologia é, segundo ele, "governada'1U l eresses ex enores à necessidade mesma do conheci-,~!' (34). Dai resulta, implicitamente, que a ciência não émada senão pela vontade de conhecimento. Para Althus-enconseçuinte, é possivel uma ciência social e políticaIndo interesses "exteriores"; ele supõe, como Durkheim

''''I;:~positivistas,ue esses interesses podem ser deixados no~erior" da pesquisa cientifica, como deixamos as facas nos

",~~tiários no momento de entrarmos num salão de bilhar ho-nesto. Ele supõe também que a ciência de Marx mesmo nãoera, influenciada por nenhum desses' interesses "exteriores"(:equJvalentealthusseriano dos "julgamentos de valor" nos po-sitivistas). Para ele, Marx inaugurou uma nova ciência, a ciên-cia da história, por um "corte" com a ideologia burguesa daeconomia clássica. Mas ele não explica de maneira alguma ascondições sociais, polrticas, históricas que permitiram essaruptura. Já que nega todo laço epistemológico entre a ciênciamarxista e o proletariado, ele não pode apresentar a cisão en-tre Marx e seus predecessores senão como um fenômeno pu-ramente intelectual, que se passa na cabeça de Marx, graçasa seu gênio extraordinário. (35).

E : por Ignorar o caráter socialmente condicionado das,ciências sociais que Althusser não distingue metodologicamen-te entre ciências da natureza e ciências da história, o que lhepermite comparar constantemente Marx a Gallleu e Lavolsler,assinalando a slmllltude, ou melhor, a Identidade eplstemol6-glca de suas descobertas:

"Para compreender Marx, devemos tratá-Io como um sá-bio entre outros, e aplicar à sua obra cientffica os mesmosconceitos epistemológicos e históricos que aplicamos a outras:no caso a Lavoisier. Marx aparece assim como um fundadorde ciência, comparável a Galileu e Lavoisier" (36). Ora, como'tratar como "um sábio entre outros" esse Marx que escreviaem 1845: "os filósofos até agora só fizeram interpretar o mun-

do, .cabe agora transformá-to"? A menos que consideremosessa XI tese sobre Feuerbach como o grito exaltado de um jo-

,t'

i'

\-

,- t ~

34. Althusser, L., Llre le CapUal, li, Maspero, Paris, 1966, p. 105.

35. cf. a esse respéito o excelente trabalho de Norman Geras, "AlthusserianMarxism: and Exposition and Assessment", in New Left Revlew, feve-reiro 1962.

36. Althusser, r., Llre le Capital. 11 , Maspero, Paris, 1966, p. 119 (sublinhadopor n6s. M. L.)

27

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 12/15

vem "esquerdista teórico" que ainda não atingiu a maturidadecompleta. .. (37).

Há uma passagem de Althusser na qual ele parece se re-ferir aos assuntos que abordamos aqui:

"A ciência econômica está particularmente exposta àspressões da ideologia: as ciências da sociedade não têm a se-renidade dêjl$ ciências matemáticas. Hobbes já o dizia: a geo-metria une 0S homens, a ciência social os divide. A 'ciênciaeconômica' é a arena e a entrada em jogo dos grandes com-bates polilic,os da história" (38),

Infelizmente, segundo o contexto onde se encontra esseparágrafo, parece que a "pressão ideológica" só existe paraos economistas burgueses; Marx representa uma ciência libe-rada das "pressões", ascéptica, serena, que não faz senão re-tomar, num novo campo, as exigências metodológicas "quesão impostas de longa data à prática das ciências autônomas",quer dizer, das ciências exatas e das ciências da natureza. Oque nos conduz novamente à tendência imunizada do neopo-sitivis~

Ithu~~' tem razão ~~~~de da prá-

~---uããUfõílomla com rela - ~~as condi -';$ ,;ietóric .eu r o é absolutlzar essa autonomiatrans or<'I\l'''/ . m . A c~~Q:~ru turag~,~~e total. Para ele, a história da ciência econôriliCâe como afil'S. óNa da ciência química, pontuada por uma des-coberta ~~nial que instaura o "corte epistemológico" entreciência e ~d~010gia, sem nenhuma relação com uma classe so-cial e se41~ppnto de vista. Althusser não parece suspeitar queo laço en~fe )Marx e o proletariado revolucionário não era exa- .tamente d~ .mesma natureza que o laço entre Lavoisier e aburçuesta-revolucíonárta de 1789 ... não porque essa burgue-sia fez gl,.J~lih;btinaro ilustre sábio, mas porque a descoberta dooxigênio n:~ Q tinha nenhuma relação epistemológica com aslutas, aspirações e interesses do Terceiro Estado.

Concl;t.tindo:;: 1) As teses de Althusser estão em contradição expllcltacom Marx, que proclamava que sua crítica da economia polí-tica representa o ponto de vista do proletariado, assim como

37. cf. a interessante introdução de J.M. Brohm ao livro de Jakubowsky, LesSuperestructures Idéologiques dans Ia Conception Matérial iste de I 'His-to ire, E. D .1., 1972.

38. Althusser, L ., lire le Capital, li, Maspero, Paris, 1966, p. 165.

28

'~enin, que assinalava o caráter "de classe" de toda ciên-icJal. \. ..:~! A:lthusser só reconhecia duas possibilidades::~A ciência social como prática independente com rela-

' . , à ' s -lutas sociais e liberada de qualquer ligação de classeque ele defende);

:".A ciência social corno expressão Imediata e exclusivaproletariado (tese injustamente atribuída aos "esquerdistas'; 'bo$").;iEl.eesquece uma terceira variante, que, em nossa opinião,eisamente a única correta: a ciência históri a ue s sl-

fl'ecess imente d o to e vista de uma classe mas uerêlativamente au õno u ~ i i r Ia.

i;~:3) Como reação contra o zdanov-Iyssenkismo dos anosSDjAlthusservai jogar no esgoto do "esquerdismo" ao mesmotempo o bebê: marxista e a água suja staliniana, para se situar.num campo téõr tco minado pelo positivismo.

Uma "socJologia do althusserianismo" descobriria prova-velmente atrás' de suas teses a resistência (muito compreensí-vel) de algumas camadas intelectuais do P. C.F. contra sua

submissão aos imperativos poHticos cambiantes do Partido,pelo reconhecimento da independência e da dignidade do tra-balho científico. Entretanto, incapazes de distinguirem a pers-pectiva histórica do proletariado de sua caricatura burocráticastaliniana, eles transformam seu desejo de emancipação emrelação ao aparelho do Partido em teoria da isenção da ciên-cia marxista com relação ao proletariado.

IV - Conclusão: O ponto de vista do proletariado

Se admitlrm~~olucionár1Q)~-d~~I"~~cw~n!~J!l~.o.t~_.9.J.l ...~-fa·oi.J-indireta~~~,

~~~~~uma-cfassesoc~~o ar d ara evl-.~ r I ti is o. Para o relativismo consequentenão há ver ade objetiva, há várias verdades: a do proletariado,a da burguesia, a dos conservadores, a dos revolucionários,cada uma igualmente verdadeira ou falsa. Calmos assim nacélebre noite relativista onde todos os gatos são pardos, eacabamos por negar a possibilidade de um conhecimentoobjetivo. Por exemplo, não haveria uma história verdadeira eobjetiva da Revolução Francesa, mas diferentes histórias, todas

·r i

~

,{

IJr

! .

~

29

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 13/15

válidas: história contra-revolucionária, história liberal, históriajacobina, história socialista. A dd Joseph de Maistre, explican-do 1789 pelo castigo divino dos franceses culpados de peca-dos abomináveis, seria tão boa (ou tão má) quanto a de Jau-rés, interpretando os acontecimentos em termos de luta declasse. . . 1.;,

Já que tal posição agnóstica é estéril e manifestadamente

absurda, é f-orçado reconhecer que alguns pontos .~e vista sãorelativamel1te mais verdadeiros que outros; ou, para ser maispreciso, que algumas perspectivas permitem uma aproximaçãorelativamente maior da verdade objetiva. Ora, qual éa visãode-mblnde epistel11olo$iCamMte privilegiada, q U a l ê O ' ponto devista mais favorável ao conhecimento do real?

A pnmerra resposta que podemos ante"êipar - respostacorreta mesmo se insuficiente - é a seguinte: ~w~~"~e~.9.t~erio!:.

~S~~~é~.a~~conhecer a ' ~M--.9~O de mu~1 - a~volucionária até o sécUTõXVlií: o proletariado apartir do século XIX.

Com et~,i*o,.é somente do Qonto de vista ~gp,?_."Gavou ~~~y~!t~l!.s~o~~..§.~. COJTIOasslnaravaRosa Luxe_-.rrgo: "é única e precisamente porque Marx con-siderava a ftGnomia capitalista primeiramente como socialista,quer dizendOi ponto de vista histórico, que. ele Pode decifrarseus hieró!lillifl!>s... " (39). Para os economistas burgueses, asleis capitalistas são leis "naturais" da produção em geral, daprodução oeraoeal. O método de Marx, em compensação -.--..:."escândalo e abominação para a burguesia" - apreende cadaforma "por' seu lado transitório", histórico, perecível, porqueele se situ~:lila. perspectiva da classe portadora d q projeto re-votuclonárta. (.~ão é um acaso se Althusser, que nega que aciência rrail'ixitta se situa do ponto de vista do proletariado,quer também n~gar que o historicismo seja a distinção meto-

dológica c~ita1 entre Marx e a economia polítlca burguesa).Numa pS$sagem bem conhecida da Miséria da Filosofia,

Marx ccnstáta que a burguesia tinha proclamado :com razãoque as instituições da feudalidade eram históricas, ultrapassa-das, arcaicas; enquanto essa mesma burguesia se obstina emapresentar as instituições da ordem capitalista como naturais

39. Luxemburgo R., Aéforme ou Rêvolutlon, p. 55.:!!

~o.)

. .'~

,!.i~eEiternas."Assim, houve história, mas não há mais", acrescen-!~àH-ronicamente Marx. A burguesia revoluclonárla tinha perca..I ibU lb e denunciado o caráter histórico e transitório do sistema'feudal; é somente o proletariado que é capaz de perceber eBentmciar a historicidade do slstema.burquês.

Podemos pois concluir com Adam SChaff, que resume al:>êIteseantecipada pela maior parte dos autores marxistas que se

dedicaram ao problema das condições de possibilidade da su-perioridade epistemológica da "ciência proletária":

"Os membros e os partidários da classe colocada objeti-vamente em situação revolucionária, cujos interesses coletivose individuais coincidem com as tendências de desenvolvimen-to da sociedade, escapam à ação dos freios psíqulcos que in-tervêm na apreensão cognitiva da realidade social; pelo con-trário, seus interesses concorrem para a acuidade da percepçãodos processos de desenvolvimento, dos sintomas de decompo-sição da ordem antiga e dos sinais precursores da ordem novada qual esperam a chegada. (... ) Não afirmamos absolutamen-te por esse fato que esse caminho conduza à verdade absolutapretendemos unicamente que as referidas posições sejam ummelhor ponto de partida e uma melhor perspectiva na busca

da verdade objetiva, certamente relativa, mas bastante integral,bastante completa com relação ao nfvel dado de desenvolvl-mano do saber humano!' (40). .

Essa tese, que afirma pois a superioridade geral do pontode vista de toda classe revolucionária, parece-nos parcialmen-te correta, mas suscita um certo número de dificuldades. Sa-be-se que no passado a classe conservadora tinha às vezes in-tuições parciais mais "verdadeiras" ou mais "realistas" que aclasse ascendente: como negar, por exemplo, a verdade relati-va do contra-revolucionário inglês Bui"ke em sua crttlca do ca-ráter abstrato, a-histórico e arbitrário da ideologia burguesarevolucionária dos "direitos naturais"?

~ por essa razão que Mannheim sustenta a "síntese das

perspectivas" das diferentes classes,cada uma tendo sua ver-dade relativa e parcial. Schaff, na medida em que fala das clas-ses revolucionárias em geral, e não' do proletariado em par-ticular, é obrigado a fazer concessões a Mannheim o aceitar,com reservas, a tese da "multiplicação das perspectivas" para

40. Schatf. A., Hlstolre et Vérité, Ed. Anthropos, Paris, 1971 p. 193, 1943,326.

31

!~r

*

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 14/15

"obter uma visão do objeto mais completa; mais global" (41).O que, em nossa opinião, está perigosamente próximo do ecle-tismo e não resolve nada: qual é o critério que permitiria fazertal "síntese"?

A tese defendida por Schaff subestima a especificidade doponto ~ vista do proletariado com relação ao das classes revo-lucioná_s do passado (essencialmente a burguesia ascen-

dente):1. A burguesia revolucionária tinha interesses particula- ' l '~res a defender, diferentes do interessa geral das massas popu- ,~

lare~: el~ queria ao mesmo tempo a revolução antifeudal e s~a > ~domma,çao como classe exploradora; o que torna necessária I ~a ocultação ideológica (consciente ou não) de seus verdadei- ~ros fins e do verdadeiro sentido do processo histórico. ._.

~~~~ã~~y§!!§.a~ln.:- 'teresse,.!cdincidecom o aa arande-malõrla e cula finalidaCle-é'aboli-€); áto a mina ãode classe__ '::;...

tar o c.t~\Údohistórico de sua luta' ele ~~->

~~r~<?~.JLeOS6ibili:-~~

Nãt'lPE);S absolutamente um acaso se o proletariado _

ao cO~~Q pa bwrguesia revolucionária - apresenta aberta-mente ,~~t revolução como sendo realizada, não em nome depretens$: '~'d"reitosnaturais" ou de supostos "princfpios eter-nos da~~~r~jadee da Justiça", mas em nome de seus inte-resses ~f~se. ,Uma comparação entre o Manifesto Comu-nista e i!tié~laração dos Direitos do Homem de 1789 é alta-mente 'i.~fi~a a esse respeito!

2. 'l~t~~tj4~guesiapôde alcançar o poder sem uma com-preensãl' 'i(atá do processo histórico, sem uma consciênciaprecisa !~ $eritido dos acontecimentos, levada pela "astúciada razã$"'oi'!(Íj~desenvolvimento econômico-social. O conheci-mento e~,fi.\Hfibodo movimento de liberação não era uma con-dição d~ sua vitória, e a autcmlstificação ideológica carac-

terizou ém"g$fal seu comportamento como classe revolucio-nária.

~compensação, ~.J2~_t~9~e transfoolt$t!a socledaâe or um ato cfeHbiraClõe~nscleme.

~~~~~~~<?Lç~~~~~~~~e~~.,~o~u

41. jdem, p. 314.

32

.'_.~

~.~__ de classe. O socialismo será cientrfico ou não of ã1142r -- - - -- - - -- - - - - - -- - - -- - - .. .- . -~~Por conseguinte, a superioridade epistemológica da pes-

lsa proletárlá, não é somente a das classes revolucionáriasgeral, mas t~m um caráter particular, qualitativamente dife-te das outra~1.classes, especifico do proletariado como úl-, classe revolucionária e como classe de quem a revolu-inaugura o "reino da liberdade", quer dizer a dominaçãosclente e racional dos homens sobre sua vida social. Nessetido a ciência proletária é urna forma de transição para a)lcia comunista, a ciência da sociedade sem classes, que..,<,leráatingir' um grau muito maior de objetividade, porque ol<i)pnhecimentoda sociedade deixará de ser a entrada em jogode uma luta polítlca e social. As limitações que existem noponto de vista do proletariado, no marxismo, só se tornarãovisfveis nesse momento; toda tentativa para "ultrapassá-Io"antes desse período, antes do advento da sociedade comunistamundial, não poderão ser senão recaídas, retrocessos, para oponto de vista de outras classes mais limitadas que o prole-tariado. Nesse sentido, efetivamente, o marxismo é o horizonte

científico de nÓssaépoca (Sartre dixit).Isso significa que não há possibilidade de erro para aque-••)

les que se sltuám dentro da perspectiva proletária? ~ 'I

pLo_epi~t~m...QlQgJ~.§.e..9l!!lº,o_....9.l:!~ n i do r Ie-' ( ~ ~ ~º -..91JUf~r~~~ "meifior possibilidade objetiva de '(UiT!cõn1leCimentoãa-veraaãe~nmca~~ ;D~~~ ...Q<?lQÇ.,ar_n~~p9rl!odã Visur-~ a v e r - ,'dade. - Umã gra náe mõnfan11ãpêrrru~ViSãôCla Jpaisagem do que. uma pequena colina, mas um míope situadonocume damontanhanão verá muito... por outro lado, o pon-to de vista das outras classes, mesmo sendo inferior, não pro-duz somente mentiras, inverdades e erros.

Numa palavra: existe "uma autonomia relativa da ciênciasocial, uma continuidade relativa no interior da história dessaciência (Marx continua - critica - ultrapassa Ricardo), umalógica interna da pesquisa científica, uma especialidade daciência enquanto, prática visando a descoberta da verdade.Essa "auto-nomia" '- no sentido etimológico grego: "regidapor suas próprias leis" - é relativa mas real. É ela que ex-plica não somente os erros que puderam cometer pensadores

42. Ver a esse respe+o Lukács, G., Geschichte und Klassenbewusstein, Luch-teranc, 1968, p. 246, 243, 399.

, ' l\~!

33

 

5/11/2018 LOWY, M. Método dialético e teoria política - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/lowy-m-metodo-dialetico-e-teoria-politica 15/15

marxis~~ e,mesmo Marx ou Engels (p. ex, a previsão da lml-nência i(fe ! uma revolução proletária na Alemanha em 1848-50),mas t8ifiJ'qémos conhecimentos verdadeiros que poda produ-zir, no;.~erjor de suas limitações, uma ciência histórica sesituanct!>.m u m ponto de vista burguês (p. ex. as análises deHobbessCllbr:ea violência como base do Estado moderno).

.,,~~~e~~

~J1>r sua caQêtcldadeem Incorporar essas verâad~p~rcfai~)iürõdUZíciàSpêJ~'~liltrãriãSSan_o-a ','. , ' ' .i~'. er e ~lficandoL!!.e9a!ldO si.Jas_li~l):ti~'Q.õ~~de-ciãsse: A atitude contrálíã,Cjlre- proCTãiilãâiíífa_Tibilldã'<t~e toda ciência situada na perspectiva pro-letária,:eo erro absoluto e necessário de toda pesquisa fun-damentada,sobre um outro ponto de vista, é na realidade dog-máticae reducionista, porque ignora a autonomia relativa daprodução cientffica com relação às classes spctats.

7'O~yIUindO~~~~ " 1~ara o conhecimento da verdade ob'etiva',!!!?~~~Q,.t10~~idade e acesso ~~l~~Qo~_~~~~ )de-'ula: Iilmããr a indis~~11t~ 'As classesdominamités,a burguesia (e tambéní õs burocratas, num outrocontext~) têm necessidade de mentiras para manter seu poder.O proletar.iado revolucionário tem necessidade da verdade...

.,..--.-_. '"

~,t~ jGJNAL

J

P A S T A G P O ,

, F l S . 1 5 ~ ~ · · - - · ~ ' -- :0 - • • . . .•

34

~

1 1

WEBER E MARX: NOTAS CRITICAS SOBRE UM DIALOGOIMPUCITO

;1

Diz-se habitualmente que A Ética Protestante e o Espf-rito do Caplta1ismode Weber é um diálogo com o fantasmade Marx, isto é, em certo sentido, efutação do materia-lismo histórico. As posições de Marx e de er sao requen-tementé leSl1ffi1dasnos seguintes termos: para Marx, toda ten-tativa de explicar o racionalisrno ocidental deverá admitir aimportância fundamental da economia; e levar em considera-ção, antes de tudo, condições econômicas; para Weber, emcOI1JPensação,o e~.9Q....cap.LtªJ.!,:;mo só seria o resultadode algumas inflllêocia~da Refçrma. -;- " , .

O problema é claro, e as diferenças entre as duas tesessão evidentes; mas há um pequeno fato que destrói a bela har-monia desse quadro claro e evidente: o que apresentamosacimacomo o "resumo" da concepção de Marx é uma citação literalde... MaxWeber! Emsua introdução aoGesammelteAufBalzezur Religionssoziologie (1920) - cujo primeiro volume inclui A~tlca Protestante. " - Weber escreve: "tratar-se-á pois, para

começar, de reconhecer os traços distintivos do racionalismoocidental, depois, de reconhecer sua origem. Toda tentativa deexplicação dessa ordem deverá admitir a importância funda-mental da economia e levar em consideração, antes de tudo(vor allen) condições econômicas" (1). E isso não é tudo: o

1. /\,lax Weber. L'ethique protestante et I'esprit du capitallsme, Piem, Paris,1964, p. 25. Cf. Max Weber, Gesammelte Aufsatze zur ReJlgionssozlo-logie, Tubinge, J. C. M., Mohr, 1920, p. 12.

35