LUA NEGRA e LIVRO DO GENESIS

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DUAS PEÇAS PARA TEATRO COM TEMATICA SIMBOLICA E RELIGIOSA.

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São Paulo

2010

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LUA NEGRA ADÃO, LILITH, EVA, SAMAEL, CAIM, HÉCATE, LÂMIA, ÊMPUSA, IGRAT, ANJOS: SANVAI, SANSEVAI e SEMANGELOF, FILHA DE LILITH, soldados, mulheres e

homens das legiões do Éden e das Legiões de Lilith , LAMASHTU (assassina crianças), STREGA, MAHALAT (Concubina de Samael). MONJES: Coro

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LUA CRESCENTE Imagem da Lua cheia. Madrugada. Meio do mato. Névoa sai do chão. Barulho de água. Névoa sobre águas. Um ser com forma não definida – os atores envolvidos em abraço muito apertado como se fossem um.Os atores, recobertos porém com uma gosma densa parecida com gel ou com líquido amniótico. Separam-se em estertores. Para não chover no molhado escusa dizer que o texto é pretexto. Pode-se interpretar oratorialmente ou trocar a oratória por cenas sem texto sempre que possível. Mudança de tempo. O barulho das águas não para. Característica básica das cenas é a umidade, tentando uma ligação com a água da vida. Mais névoa.Uma folha, ocasionalmente, voa e desperta Adão.O casal, nesse início, tem um ar de assombro, leve desespero, buscando resposta para uma pergunta que não foi feita. CENA 1

Adão acorda primeiro e se manifesta A: Meu corpo foi mudado. Mas falta uma parte... Falta parte do meu corpo e parte da minha memória. Do lodo da lembrança eu revejo um passado. Eu não via formas. Só havia névoas sobre a face do abismo. Então a luz se fez. (observa assombrado). Um brilho imenso que rasgou a noite. O que eu era percebeu-se em um mundo novo. Um Jardim seguro e definitivo. Lilith acorda em seguida e se manifesta L: Meu corpo foi mudado. Mas falta uma parte. Falta parte do meu corpo e parte da minha memória. Do lodo da lembrança eu revejo um passado. Houve dia e houve noite. Água dos mares e água da chuva. Folhas e frutos cresceram da terra. Raízes brotaram do ventre da terra. (olha em torno desesperada) Animais pastam livres nas terras do Jardim. Aproximam-se para se conhecerem. Tocam um ao outro. Há estranheza com a textura do lodo, do gel, do manuseio do corpo.Tudo aquilo que é tabu para a platéia deve ser explorado pelos hominídeos recém-nascidos. Os atores devem encarar a situação sob a óptica de quem chegou agora e nada sabe, mantendo, no entanto, as sensações de adulto. Nunca foram crianças. Subitamente um brilho atrás e a silhueta de um anjo munido de espada. Novo brilho em pontos diferentes do palco e surgem, ao mesmo tempo, três anjos: SANVAI, SANSEVAI e SEMANGELOF. Ambiente enevoado, principalmente quando os anjos falam. Nada é muito claro e pode ser confundido com sonho. Luzes e cores aumentam esta sensação. S1: Que seja feito um ser à imagem e semelhança de El Shadai. S2: Tenha ele domínio sobre os peixes, as aves, os animais, sobre toda a terra do Jardim. S3: Criou-se um ser à imagem de El Shadai. Homem-Mulher os criou. A e L se tocam e testam seus corpos

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A: Estamos nós aqui. L: Senhores da Terra. A: E eu a reconheço em mim e em você me reconheço. L: De tudo poderemos usar? De tudo poderemos comer? A: Mas, não vejo mais em quê somos iguais ao criador. L: Qual criador? (Adão não sabe explicar / pausas e contemplações) L: Nada tem nome. Do que chamaremos nessas coisas? Do que nos chamaremos? A tudo nomearemos? Daremos ordem a tudo. S1: São proibidos de ter Ciência das coisas, ou a Morte chegará. A: Somos seres incompletos? O que é isso?: Morte. S2: Não. A Morte é como um sono que durará para sempre. Vocês nada sabem da Morte L: Somos os senhores da Terra, e isso de nada nos vale? S3: Só há um Senhor nessas terras e ele é El-Shadai. L: A ânsia de querer. A ânsia de saber. Procurar para entender que caminhos devemos tomar. Agora é nossa propriedade. A: O desespero nos faz pensar? O Jardim todo está completo, com a árvore da vida plantada para nós... L: Plantada em nós! A: Mas, há uma fome interior que ainda se instala. S1: A fome de conhecimento que é, ao mesmo tempo, a fonte da perdição. L: Usaremos todas as árvores. Nossa fome tem de saciar. S2: Quando estiverem completamente cientes do que falam deixarão tudo isso de lado. Então serão senhores da magna ciência. A: Está vendo? Não podemos mexer na árvore da Ciência. L: Mas é justamente dela que precisamos. Esses seres estão fazendo um jogo duplo. Plantam uma árvore da qual não podemos tomar seus frutos. S1: Esses frutos são proibidos, como já foi dito e eu reafirmo. Ordens de El-Shadai. L: Como é possível que se proíba justamente daquilo que mais se precisa? A: As legiões criadoras assim determinaram. L: Quem garante que esses fantasmas fazem parte das legiões criadoras? A: Eu sei que as legiões criadoras nunca fizeram morada na Terra. Eu sei. L: Nunca é uma palavra muito forte para quem acabou de nascer. Nós somos senhores da Terra, que isso fique bem claro. Usaremos tudo. Comeremos de tudo. Daremos nome a tudo. Daremos ordem a tudo. O Jardim está aberto e é amplo. Vou sair pelos campos conhecendo e nomeando tudo o que eu puder ver. A: Mas, por favor, não saia dos domínios do Jardim. Lilith olha para Adão. Algo como a questionar. E parte. Em seguida imagens que possam determinar um Éden perfeito e belo. Fade out Fade in Para Lilith coberta de barro em conversa íntima com Adão. Eles estão grudados como se a aproximação bastasse para rejunta-los. A expressão corporal é o determinante. L: Eu também fui feita da terra. Tenho direitos sobre o Jardim e dele farei o que quiser. Não se ponha a dar ordens e nem a interpretar a vontade de El Shadai como se fosse ele. A: O nosso lugar é aqui.(toma do barro do chão) Usufruir e retirar prazer do Jardim, nada mais do que isso.

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L: Mais do que isso é saber. Saber das coisas. Buscar outros caminhos. E é preciso saber. Nós tenho um mundo para conhecer. A: Já foi dito que é proibido conhecer. L: Não existe quem nos proíba de nada. As portas estão abertas. A: A legião de criadores impôs limites... entenda parte-de-mim-que-se foi... L: Para que não nos tornemos iguais a eles. Esse é o medo que eles têm. O medo é deles e não meu. A: Os Anjos de El Shadai não permitirão que você saia pelo mundo além do Jardim. L: Eu sei como sair. Basta pronunciar o nome do Príncipe deste Mundo. A: E as desgraças descerão sobre todos os seres viventes. L: Todos os seres viventes mortais... (ela se espoja na lama. Com o barro ela fará objetos. Ela dançará sobre o barro.) Kether... Binah.. Hochmah... (aos gritos, delirante. Corte para Lilith deitada na terra de um campo aberto, ensolarado, mas seco. Cena curta. Fade out. Fade in: Os corpos estão molhados.O casal olha para as águas. Adão puxa Lilith para si.Tentativa de sexo. Depois de algum tempo ela passa se apartar dele. Sexo é conflito e é descoberta. Ela tenta outras posições mas Adão sempre que ficar por cima. Tradicional. Conflito. L: Todas as vezes em que fazemos isso você quer ficar por cima... o peso do seu corpo me sufoca. A: Assim é o certo. L: Por que devo deitar-me embaixo de você? Por que devo abrir o meu corpo? Por que ser dominada por você? A: Quieta... (meio rude) abre as pernas pra eu entrar. L: Eu também fui feita de pó e por isso sou sua igual. A: Eu me recuso a mudar essas posições. Há uma "ordem" que não pode ser transgredida. Lilith deve submeter-se. Todos os animais se submetem. L se revolta. Sai de baixo Cena mística, com ritual. L: Vou embora...o mundo é imenso...as portas se escancaram aos meus sonhos...à minha imaginação... e às minhas experiências.(ela se põe a pegar o barro e fazer imagens, a construir coisas) Eu invocarei os nomes sagrados. Eu sairei daqui... eu quero espaço... eu quero criar... eu quero fazer o mundo crescer. Lilith sai em velocidade. Caem as sombras da noite.Fade para uma LUA CHEIA. Vinheta para Adão que tem relações com a terra ou se masturba fazendo lama com esperma e terra ( da lama e das sujeiras da terra) Fade para a cena que se segue.

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LUA CHEIA CENA 2

Vento sobre areia. Em uma caverna ou em ruínas como pós guerra. Fogueira e sombras. Castiçais e material de couro e artefatos de guerra. Vários guerreiros chegam e depositam seus objetos naquele lugar. Tochas por todo lado.Cantigas originais e rudes. Samael (satisfeito e arrogante): Lilith! - o demônio feminino noturno de longos cabelos varre esses desertos com as suas legiões. Igrat: Ela é uma força, um poder, uma qualidade, uma renegada. Um Espírito Livre. Odeia ser contida por qualquer palavra. Nenhuma palavra a impede de nada. Não é à toa que as legiões a seguem para onde deseja. SA: Nossa vitória é certa. O planeta cairá sob o poder da mulher livre... Os homens que sofreram a ação de Lilith querem arranjar desculpas por se ajoelharem perante ela, por isso escrevem seus livros sagrados e espalham esses livros pelo mundo. Pelo jardim. I: A maldição de Lilith. Onde ela está agora? SA: Atrás dos anjos de El Shadai. Os anjos que mataram alguns filhos que ela teve com o primeiro macho. I: Rude golpe. Isso a transformou. SA: Obrigaram-na a fugir. Escapar para as margens do Mar Vermelho, ou para o deserto ou voando para os céus. Os anjos não a deixam em paz. Mas, ela tampouco quer paz. (para os soldados) Guerreiros! Levantem os archotes. Temos que partir dessas instalações pois os exércitos dos anjos estão para chegar. I: Para onde partirão? AS: O deserto nos receberá. Seguiremos para o Leste. Encontraremos com as legiões de Lilith por lá. I: São suas as ordens e é o seu poder de comando. AS: Eu sou o senhor de seus exércitos. I: O príncipe Samael, da grande estirpe Luciferiana que vem habitar a Terra. Hécate: Chamam Lilith de demônio noturno, de tão veloz, querem que ela tenha asas. S: Ela é LIL, uma tempestade destruidora, ou espírito do vento. Mas ela também é a noite... e a chamam LAYIL, a noite.. Mas o que chamam destruição nada mais é que a vontade de impor um novo padrão para a humanidade. Guerreiro: Senhor... estamos prontos para seguir. S: Já vou. . H: El Shadai ouviu as reclamações de Adão e lhe deu uma nova mulher. Uma nova e subserviente mulher. S: Quem disse isso? Alguém para ser a mãe da Humanidade? (Ri) H: Todos os demônios da terra falam por aí. Uma mulher... Para ser adorada pelos acomodados e pelos que idolatram a obediência. S: Obedecer é dar ao outro o poder e a responsabilidade. H: Obedecer é trair a confiança da humanidade. Anular a renovação. S: Lilith não está aqui para ob obedecer. A ela não interessa nada disso. Seu destino é seduzir os homens, eliminar as crianças e espalhar a morte.

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H: Ela e o Macho primordial nunca souberam o que significa uma criança . S: Assim fica mais fácil. (Sai) CENA 3

De dentro do pó da terra – relembra local onde Adão fecundou a terra - Surge uma mulher deitada em posição embrionária: EVA. Adão está composto com alguma roupa rude. A: Quem é você? E: (Como que tendo visões) Macho e fêmea os criou. Macho-fêmea, à imagem e semelhança de Deus. A: Procuro a-parte-que-me-foi. São tantas as mulheres desta terra que eu não sei mais de onde se vem e para onde se vai... E: El-Shadai me enviou. A: Você nasceu da minha semente? E: Se quiser... fica comigo. A: Eu habito esse Jardim e não quero perdê-lo. Passei os dias tentando encontrar o meu outro pedaço... hoje eu acho que essa procura será inútil.... E: Estou aqui... A: Você não é a que de mim se foi. E: Mas tenho os mesmos atributos. A: Será impossível encontrar quem verdadeiramente me complete nessa imensidão de mundo.... entre tantas milhares de pessoas e animais... E: Vou ficar do seu lado... para sempre... se você quiser... A: Gerar filhos e cuidar do Jardim... nada de nutrir idéias pelo mundo. Querendo praticar as duas coisas ao mesmo tempo a mulher pode ficar invadida pelo furor assassino de... E: De quem? Outra mulher? A: ... não(!)... essa não é mulher... é um demônio(!)... Lilith... ela está do outro lado. Ela fugiu do Jardim... ela coabita com outros demônios... e gera demônios... E: E como ela se parece? A: Afasta-se dela... e não tome das árvores... não coma dos frutos... nenhum fruto... E: Mas eu já provei de alguns...

A: (desesperado) Não! Afaste-se daquela árvore do centro do Jardim. Ela nos poderá matar... assim disseram os anjos...

PASSAGEM DE TEMPO para...

Cena noturna. Lilith e outras mulheres na mata. Lâmia. Uma dança orgiástica. Risadas. Um drama. Lilith entra em transe. Cena delirante e movimentada. L: Adão foi expulso do Jardim do Éden. Adão, gerará espíritos, demônios machos e fêmeas. Ele romperá relações com a sua mulher. LÂ: ( bruxas aos gritos lascivos ): Os sons noturnos, as dores noturnas. Os perigos para as almas de todo ser vivo. Lilith é a fêmea de Samael. Esposa de Ashmodai. Mulher de todos os demônios da Terra. Adão foi retirado dela. Ela sabe do que fala. Mas, isso tudo é vingança, também. L: Por que razão seria eu como a que se cobre com o véu? LÂ: O governo do mundo é todo seu. S: Vinho! Vamos comemorar as últimas vitórias no campo sangrento.

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(vinho jogado sobre os corpos – orgia geral. Palavras entre risadas e loucuras. Brumas. Fade para os anjos) S1: O macho era Samael e a fêmea era Lilith. Lilith foi enviada para viver com a humanidade. S2: A mulher sedutora, o súcubo mortal e a mãe castradora. S3: As águas nutrem Lilith e o vento Sul dissemina sua influencia. CENA4

Solene. Tribunal de anjos TA. Dentro de uma catedral ou igreja sob ângulos estranhos. Um gongo ou clarins. Movimento de monges. TA1: Sejam todos informados de que está decretado o banimento da mulher demônio... (falatório entre os monges) Uma ordem de divórcio chegou às nossas mãos vinda dos céus. Lilith...bruxa e raptora, considera-te banida. TA2: Uma ordem de divórcio chegou para a mulher... vinda do mar...ouçam todos! Ela deverá partir... não deverá discutir nem manifestar-se... Nunca mais! TA3: Seja num sonho à noite, seja em cochilos diurnos, por que ela está selada por El Shadai... sairá daqui para viver com seus demônios... daqui... o divórcio e separação enviado através dos anjos sagrados... TA4: Lilith partirá para o deserto... viverá lá na companhia de seus demônios: sátiros, corujas e chacais! Arauto: (repetindo como para reafirmar) Decretado o banimento da mulher! Uma ordem vinda do mar! Uma ordem vinda do céu! TODOS: Saibam todos que Lilith é filha da Lua e mãe de soldados destruidores. Ela não mais pertence à criação. Ela está banida desta e de todas as terras. CENA5 Dia avermelhado com filtros ou gravações ao por ou nascer do sol. A cena se transpõe – ao final da fala - para as margens do Mar Vermelho. Lilith ajoelhada, olhando as águas e pegando o pó da terra. Atrás vemos uma procissão a cavalo(?) de entrada dos Três Anjos – TA. Do outro lado das águas os SOLDADOS de Lilith – SL. Cortes alternados: TA, L e SL. Água do mar sempre a bater. TA: El Shadai nos envia para trazê-la de volta. SL: Lilith! (ela levanta a mão dizendo que tudo bem) TA: É a ti que procuramos. Volta sem demora para junto de Adão. L: Como poderei voltar para junto de Adão e ser sua mulher servil, depois que vocês mataram meus filhos? E depois da minha permanência às margens do Mar Vermelho? TA: Você é mulher e deve ser perdoada. Não foi feita parta ter ciência. (Ela sorri). TA: Volta sem demora para junto de Adão, ou afogaremos você! SL: Lilith! ( aponta para movimentos de tropas chegando. Ela só olha). TA: Se recusar será morta! Aqui mesmo no deserto. Afogada sob terra e mar. L: Como posso morrer se o próprio El Shadai me mandou tomar conta de todas as crianças recém-nascidas? SL: (soldado de Lilith grita e vemos, ao fundo, L e TA) Ela conhece o nome sagrado de El Shadai. Ela é a Lua.

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TA: Ela é uma assassina de crianças. L: Vocês mataram os meus filhos. TA: Você sempre gerou demônios. Você sempre gerou a erva daninha da Terra. L: Devo cuidar dos meninos até o oitavo dia de vida e devo cuidar das meninas até o vigésimo. (Lilith está entre séria e cínica). TA: Você deverá estar pronta para morrer. Os demônios não terão poder sobre terra. L: Mas, em quê vocês serão diferentes de minhas Legiões? TA: As nossas legiões ainda serão maiores que as suas, bruxa desobediente. L: Não me interessa, propriamente, matar crianças. Isso não passa de estratégia. Crianças não têm qualquer significado. TA: Gabriel tem ordens de liderar uma falange para ocupar os desertos. L: Gabriel é como a águia que sobrevoa, mas, nunca pousa no desertos. Não sobreviveria. TA: E você convive com as cobras e chacais dessa terras. L: Isso é verdade. Foi o que me restou. Mas, Eu ainda posso fazer uma única concessão. Eu juro que se vir seus amuletos sobre as crianças e os soldados eu os pouparei. Já fui e voltei dos céus. Já fui e voltei dos infernos. Subjugada e reerguida, eu sou o açoite de Deus. Às vezes Deusa, às vezes Demônio. SL: (o mesmo que acima) Ela tem a coragem de falar o inefável nome de Deus e é com esse nome que ela se desloca pelo mundo. Ela é a Lua Negra. TA e L se encaram. Em contraponto as cenas seguintes: FlashBack da criação. Lilith na cabana. Menstrua. Passa a mão no sangue . Ela não sabe o que deve fazer.Adão puxando Lilith para o sexo. Contra ponto entre Adão penetrando Lilitn e elas penetrando um inimigo com sua espada. Cenas de guerra no deserto.Corte para as margens. L: Eu gerei um exército para o Rei Ashmodai TA: Adão tem outra mulher, já que você não voltou. Não era bom que ele ficasse sozinho. Você não terá filhos com ele. L: (cínica) O Senhor do Jardim precisa de alguém para ajudá-lo. Uma irmã idônea, talvez. A mulher que não reclama. A mulher que aguenta tudo e recebe todas as ordens. (pausa) TA: Uma última tentativa. L: Estão com toda a minha atenção. SL avançam para a água TA: Que você volte e se submeta a Adão. Ela nega com a cabeça TA: (Movimento de cavalos) Então, você ficará no deserto com seus machos. L: As legiões se preparam. A noite se aproxima e a Lua cobrirá todos os céus do Universo. TA: Maldita seja... suas legiões perderão cem filhos por dia. Serão febres e solidão. Desaparecimentos e distancias. Faltará alimento. Faltará água e leite. Faltará mel. Lilith os vê partindo e sai para as águas, andando.

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LUA MINGUANTE

CENA 6

As cenas do jardim, a pós a figa de Lilith tendem, a ser azuladas. Noturnas. Perto do jardim. Adão fala em sonhos. Eva, ao lado. Lilith entra, furtiva. A câmara a vem seguindo enquanto ela desliza pelas águas ou lama. O ambiente é misterioso e enevoado. Rasteja sinuosa, coleante. Tem que lembrar uma cobra. E: A mulher tem sido mutilada. Ela é sempre metade do que deve ser. L: Nós podemos ser um símbolo de sabedoria e de força. E: Quem é você? L: Lilith. A: (delírio) Você, Lilith, não entrará nem nada fará; nem você nem o seu bando. Retorna, retorna, o mar está revolto, suas ondas a aguardam. Mantendo-me fiel ao sagrado, o Rei me perdoará. Lilith se aproximou,fazendo-o dormir com carinhos e carícias sexuais escondidos porém evidentes. Eva observa. E: Já tive muitas desavenças com Adão. L: É um homem.. é um tolo. E: Ele me fala de você como se fosse um terrível demônio. L: Todos os homens falam assim de mim. É o medo. E: Mas, vejo que você é uma mulher como eu... diferente, por que demonstra muita energia e rebeldia. Esse ar de liberdade que você mostra... L: As árvores e os muros estão por perto. É só pularmos. E: E do lado de lá...? L: (pensativa) Um imenso deserto. (animada) Uma terra pronta para ser transformada... um mundo para ser construído. E: São os limites de minha vida... o Jardim do Éden. L: Isso é uma prisão. E: Mas, sei que existem outras terras além desses limites. L: Esse jardim me lembra um local para coleção de animais. Um cativeiro. E: Os pássaros sempre voam para fora do Jardim. L: Um cativeiro para procriação. (Eva olha para Adão) L: (para Eva) Quem é você? E: Eu sou a mulher dele. L: Aquela que não existia no começo dos tempos. E: Do que é que você está falando? L: Você não estava aqui quando eu e ele tomamos posse dessas terras. E: Adão fala de um demônio que habita esse lado da Jardim. (Durante a conversa Lilith oferece elas dividem u’a maçã / pode ser que mergulhem numa piscina de maçãs / ou se rolem sobre maçãs no chão)

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L: Não há demônio algum. Isso não passa de um desculpa. Mas, você não é um deusa como eu... criada à imagem e semelhança de Deus. E: E o que é que você tem para contar? L: Eu sou a primeira mulher, mas, certamente não serei a mãe da humanidade e nem dos seres viventes da Terra. E: Do Jardim tudo se pode usar e conhecer... posso comer de qualquer árvore, menos a daquela. Mas eu tenho dúvidas. L: Se você não comer daquela árvore permanecerá com essas dúvidas. E: Aquela é a árvore da dúvida? L: (Ri) Algumas dessas dúvidas eu poderei resolver. Outras, eu deixarei com você. E: A dúvida é essa leve angústia? L: A dúvida não a matará. Será somente o seu leve desespero. E: Os anjos afirmaram que se eu souber da verdade eu acabarei morrendo. L: Isso é mentira. Mas o que consideramos por morte pode significar... mudanças. Comendo da árvore do meio do Jardim você se tornará outra pessoa. É certo que não morrerá. Mas é certo que você mudará. E: Então por que a proibição? L: Por que comendo dessa fruta seus olhos se abrirão e você perceberá que não precisa dos deuses – a não ser para tirar de si mesma a responsabilidade sobre sua vida. Tira de si mesma o poder de escolher. Eva acorda Adão e sai, olhando para Lilith que passa a falar para Adão. L: Não ficarei à vontade no papel de Eva. Sinto-me confusa. (Bruxa como um súcubu). Impulsos de tragédia e força, tempestade e desastre vibram em mim. (Bruxas espojando atrás de sujeiras). Minhas imagens pessoais não eram as de um paraíso infantil, um protegido Jardim do Éden, mas os desertos acidentados, amarelos e marrons. (Heresias, iconoclasias) com rochas da cor do ferro fundido, cardos dourados e arbustos espinhosos. (Bruxas caçando crianças e levando silenciosamente). Além disso a diferença se oculta em nossas mentes e não em nossos corpos. (Orgia). L: Está bem. Viva sua vida tranqüila. Mas eu sou a sua outra mulher. Eu sou a parte que o completa, e não o deixarei; eu o amarei como sempre amei. Quando Eva volta e os vê juntos, sente-se impelida a participar daquele jogo, usando Lilith para ter outros e novos gozos com o homem. Eva repete gestos e aproveita restos de carinhos. Gozos. A: (para Eva) Lilith partirá ao amanhecer e eu não pretendo vê-la mais. Se ajo apaixonadamente é porque nossa felicidade é curta. L: Mas deixarei meu sabor e meu cheiro grudado na sua pele.

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A: Eva é minha mulher. L: Com ela deixarei os sonhos com o ciúme e a inimizade. A: Mas, eu não quero conviver com isso. L: Então, livre-se dela. Corte para dança de Lilith sob a luz da fogueira. Seres como animais invadem a cena para se acasalar com Lilith.

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LUA NEGRA

CENA 7

Cena de fim de batalha. Carnificina. Samael está na caverna. O texto deve fazer contraponto com as cenas de guerra mesmo que coreografadas. S: As forças de guerra estão destruindo a humanidade. H: Na guerra não há mais Leis. E as que existem, provavelmente, as do inimigo deverão ser quebradas. S: As Lâmias comem as carnes de seus inimigos. Sugam seus sangues. H: São vingadoras do mal que lhes acometeram um dia. S: As Hécates estrangulam as crianças recém-nascidas no Jardim. A espada flamejante de Gabriel está pendente sobre nossas cabeças. H: Proibidas de terem seus filhos, tomarão para si qualquer ser vivente que estiver desprotegido nas grandes noites da Lua Negra. S: E as Empusas cantam canções de prazer para todos os ídolos, logo após a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden. Corte súbito. O casal sai expulso. Cabisbaixo. Os três anjos comandando. H: Caiu? O casal protegido caiu? O encontro de Lilith com Eva surtiu o efeito necessário. O Homem vai pagar por seu domínio sobre a Terra tendo que colher dela e nela morrer. S: O macho da espécie, Adão, percebeu que era como um deus e para não tomar comando da árvore da vida , ou seja, viver para sempre - foi expulso do Jardim. H: É hora de plantar as sementes da nova humanidade. S: Lilith! (falando para o vazio em alto e bom som) fica sabendo que suas legiões estão crescendo a cada momento.(soldados saem de buracos, como que brotando) H: Sob teu comando, Samael, as batalhas sobre a Terra durarão para sempre. Você é a espada do Rei Ashmodai. S: Oitenta mil espíritos destrutivos estão sob o domínio da Lua Negra. H: A Terra há de tremer sob o poder dessas Serápis... dessas Serpentes... desses Seraphins! S: Nenhuma dessas guerras teria acontecido não fosse a arbitrariedade das hostes sob o comando dos Três Anjos. Seqüência onírica. Talvezm em Preto e Branco. Lilith encontra uma faca no chão. Samael invade, solitário, os matos.Lilith anda até uma casa que tem a marca de uma cruz. Eva está plantando. Lilith bate de leve na porta com a faca e a porta se abre. Eva nota algum barulho nos matos.Lilith entra num quarto escuro, iluminado por uma lareira. Samael continua sua empreitada. Lilith vê no fogo várias cobras queimadas que ela toma como cinzas e esfrega nas mãos. Eva está espectante e deixa de plantar e se aproxima de uma beirada de lago ou mato. Lilith tira a faca do fogo e toca no teto da casa. Samael invade o local e pega Eva com violência. A casa de Lilith desaparece e ela está no deserto, de noite e o fogo ardendo ao lado. Samael penetra Eva.

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CENA 8

(Mudança prolongada de tempo Adão sozinho, turbado em sua mente, sofrendo, chorão. Lilith se aproxima sedutora, mas em silêncio. Está de capa, só) Adão: O que você veio fazer aqui? Lilith: Um vez você me chamou. A: Eu? L: Sim, uma vez, quando ainda estávamos no Éden e do barro éramos formados. A: Eu? No Jardim? L: Sim, sim, você caminhava pelo Jardim do Éden, o Homem da natureza, um dos senhores da Terra, protegido de Lúcifer. Você se lembra? ela mexe em seus cabelos. A: Eva está grávida. L: Como os animais. Sempre que você cobiçava os animais e os cobria, você torcia as mãos e chorava aflito. A: Eva fez a mesma coisa. L:... e começava a contar nos dedos quanto tempo ainda faltava para poder se fazer Humano. A: Mas agora eu estou corrompido. Fui expulso do Jardim. Eva agiu como você. E eu fui aprisionado por ela... pela sua sedução... L: Naquele momento você me chamou. Agora você tem a mim, à sua disposição. Você é meu querido. Quero colocar a cabeça em seu peito. Quero que suas mãos ardentes me abracem, querido! Quero sentir a fresca fragrância do seu corpo... A: Mulher, você deve estar enganada. L: Olhe! Você é o meu único homem! Olhe para o meu corpo! Meus quadris ainda são castos, virginais, fortes e minhas coxas macias e lisas... Os bicos de meus seios são duros e meus seios nunca amamentaram uma criança... nunca amamentaram uma criança... nunca amamentaram... (chora) A: Fora! Fora daqui! Vá embora, monstro! Puta asquerosa! Saia daqui! (Corte em luz para Samael que,enquanto anda pelos charcos, percebe que alguém está chegando. Corte para Lilith imóvel. Observa o homem. Ela o acaricia. Adão está meio nublado) A: Eva! É você! Eva! L: Vem para mim. Deite-se sobre meus seios. Sinta meu frescor. A: Não! Somos mortais... não somos iguais aos deuses... somos culpados e malditos para sempre. L: Essa maldição não recaiu sobre mim. A: Você viverá para sempre? L: Sempre que houver algum nascimento. A: Não quero mais filhos para expor ao Terror. L: O seu Deus agora é o seu Terror? Mas é a árvore da sabedoria quem lhe dá essa oportunidade para ver que o mundo depende das obras dos homens e não dos deuses. A: Mas, você é uma deusa. L: E para que sirvo eu senão para destruir. Por isso você se deitará comigo, com raiva a serpente primordial.. Adão é seduzido. Lilith por cima, comandando a cópula.

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Narrador, sob filme em telão, alto volume: As batalhas eram intensas. E o mundo parecia despencar. Anos se passavam enquanto as Legiões se batiam. Não havia paz. Naqueles tempos se começava a construir a humanidade. CENA 9

Caim se aproxima aos arrastos. Chuva. C: Lilith! Morrem seus filhos aos milhares. O Mar Vermelho está coagulado de espíritos Lilim que morrem por ordem das hostes de El Shadai. Samael o encontra nos arredores S: El Shadai declara guerra que perdurará ao longo dos séculos. A mim resta obedecer uma ordem que o próprio Shadai há de declarar. Cada morte na minha legião terá a sua morte correspondente entre os filhos de Eva. C: Eu sou um filho de Eva.(preocupado) S: Eu sei... Mas Eva também concebeu a Abel. C: Eu sou o primeiro dos irmãos. S: Mas, parece que El Shadai prefere as oferendas do segundo. C: De qualquer forma eu não sou o tutor de meu irmão. S: O que se há de fazer? Sabe que a nossa meta é minar os filhos de Eva... C: ...para preservar a descendência de Lilith... S:...e forjar os valorosos Cainitas... que governarão a Terra C: O filho de Lilith então, já é nascido? Samael olha o céu, aspira o ar, sente as brisas S: Por certo que sim. E deverá dominar as noites. C: Mas o poderio de El Shadai ainda é grande. S: Se você agir corretamente, as dúvidas no Jardim aumentarão. Abel deve desaparecer. C: E eu serei maldito sobre a terra. Errante sobre este mundo. S: Mas, serás pai da humanidade e seus artífices. E nós semearemos a terra com sangue, para o nascimento de heróis e novos deuses. Vai, Caim... vai executar o seu trabalho. CENA 10

Lilith está grávida e tenta lutar. Tem dificuldade. Velocidade menor. Soldados e outras bruxas precisam ajudá-la. Carregá-la para fora do campo de batalha. CENA 11

Dança orgiástica em volta da fogueira. Música de tambores e trombetas. Lilith dará à luz neste clima. Lâmia: É nascida a filha de Lilith. / A Grande Lua escurece a noite com seu canto / É nascida a filha de Lilith / A grávida esposa noturna é mãe, irmã e inimiga. L: Eu não sou apenas um buraco para receber a semente do homem. Nem sou somente mãe. LÂ: Por certo não se limita ao proscrito enlace nupcial. L: Eu sou ligada à terra. Meu sexo pertence a mim e à Deusa.

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Empusa: O que pertence à Deusa é assunto que diz respeito às mulheres. Enquanto passamos por todas as fases da Lua, nosso corpo de manifesta e se altera. O sexo pertence a nós e à Deusa. LÂ: O nascimento da sua filha significa que você está livre novamente L: Na mesma mulher: o lado submisso e servil... o lado rebelde e punitivo. Emp: Lado rebelde... não há lado rebelde... ou haverá lado que não se rebela... o que há é a incapacidade dos homens de entenderem nossos desígnios, mesmo por que... somos responsáveis por nossos caminhos... (debochando)... lado rebelde... Lâmia: O século está para isso. Novas gerações de mulheres. Organizar o mundo ao nosso modo. Evitar o nascimento de tantos homens. Grupo de Mulheres: É nascida a filha de Lilith / A grávida esposa noturna é mãe, irmã e inimiga. H: Uma é a mãe da Humanidade e a outra o açoite de El Shadai. Emp: El Shadai experimenta Lilith contra a humanidade. O jardim do Éden é um jardim de delícias para os cegos e acomodados. Um Paraíso para os que nada criam... nós fazemos as vontades de El-Shadai.(senta e mija no chão) Lâ: A Grande Lua escurece a noite com seu canto / É nascida a filha de Lilith. El Shadai percebe o poder que emana de Lilith / Os dias de El Shadai também estão contados. L: Vamos levantar o maior dos exércitos para destruir a humanidade... Emp: No nosso sonho vem esse fantasma de guerra e renovação LÂ: Uma humanidade que pudesse entender os signos do nosso fluxo de sangue... mas o que temos não serve para nada, no mundo criado por Adão. Emp: Nimrod constrói uma Torre que acaba no céu. Isso é coisa da cabeça dos homens. L: Nimrod está cometendo um erro. El Shadai terá uma reação. Lamashtu: Para mim, Nimrod está querendo levantar um enorme pênis, apara provar que é homem e que manda no mundo. Emp: Lilith deve se livrar desse incesto imaginário por que não há irmão perdido e muito menos gêmeo. Provavelmente ele terá se enfiado em outra mulher. Há tantas. LÂ: Aquele que seria igual a Lilith... o seu duplo... a alma gêmea?... que ingenuidade... o construtor dessa humanidade patriarcal. L: Essa alma não penetrou em mim... Um outro corpo usou as minhas carnes... Emp: Lilith... as notícias que nos chegam é a de que o casal do Paraíso teve que deixá-lo pois quiseram entender o que você tentava dizer. LÂ: Muitos corpos conheceram a tua carne... a filha de Lilith é filha da Humanidade. L: Não quero ser mãe da humanidade. LÂ: Só há um jeito. H: Matar a criança. (Cena da morte de Abel por Caim, que foge). H: Ele é o dono da vara... é ele quem planta as sementes... LÂ: Rude pilão... Adão bem que aprendeu a usar o seu... era esse o supremo segredo da criação? L: A mulher é o saco sem fundo... E agora tem, que matar sua criança, para viver sem perigo. LÂ: Você foi o cego soquete...... a bolsa onde ele depositou suas sementes... onde o mundo depositou seu futuro.

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Lilith eleva sua criança acima das cabeças. Bombos. Uma orgia em segundo plano. Aparecem uns demônios peludos, carregado de substancias gelatinosas verdes que envolvem a todos. Lâmia: É nascida a filha de Lilith. / A Grande Lua escurece a noite com seu canto / É nascida a filha de Lilith / A grávida esposa noturna é mãe, irmã e inimiga. elas se sentam como à uma mesa para debates finais H: As filhas de Eva estarão sujeitas às dores de Lilith à cada diminuição da Lua. LÂ: Serão encruzilhadas de suas vidas femininas. Toda a opressão, as inverdades, as prisões da tribo, tornarão a mulher em mãe dolorosa. H: A Santa sofredora. Emp: A humanidade dirá que a mulher é santa para que não se rebele e se mantenha calada no seu canto... no seu borralho...cuidando das cozinhas e das crianças... H: É isso o que você quer, Lilith? Emp: É isso o que terá se mantiver a criança com você. H: A criança é um empecilho. LÂ: Cabe a você mostrar o caminho da liberdade. Com suas ações... com seus exemplos... seus infortúnios. L: Eu não quero ficar à mercê do domínio masculino. LÂ: Nenhuma de nós vai ficar. Lilith, você já demonstrou como se luta... H: Como se rompe com o Jardim do Éden... Emp: Como se voa pelas terríveis terras do Mar Vermelho... LÂ: Como se livra das maldições dos anjos... H: Puberdade, menstruação, início e fim de gravidez, maternidade e o fim dessas funções de fêmea... são domínio das Hécates. Servem para construir excelentes e subalternas Evas pelo mundo. L: As duas primeiras luas (intercalar imagens de luas) são símbolo de Eva, prevendo a fecundação e talvez a concepção; o cheiro ativa os machos. Eva se sente receptiva, aberta , relacionada. Emp: Mas, quando a concepção não ocorre, Lilith assume o domínio. H: A expectativa cede lugar ao desespero e a bruxa raivosa das duas luas seguintes arrasta-a ao desolado deserto. LÂ: Pensa bem... o planeta se apresenta para nós como uma folha em branco. Cabe a você liderar a ocupação ao longo dos séculos. Você sabe domar os homens. Sabe como cavalgá-lo. Sabe se tornar em súcubo que vai fodê-lo nas noites... L: Tendo parido... terei de cuidar da criança?... terei de amar a criança? LÂ: Você tem de se livrar da criança. Não há como lutar, como trabalhar, como correr nos campos de guerra e ainda ter que cuidar dos filhos e da caverna. Se todas as mulheres tiverem filhos os homens dominarão a terra! CENA 12

Cenas nos campos de batalha. Bruxas entram correndo e aos gritos no campo. Rola percussão em atabaques. Clima de caserna. Emp: Os exércitos de Samael a esperam. O mundo a espera. Ele quer mudanças e somente as pessoas livres é que podem operar mudanças, Lilith! H: Você ficará presa nas duas luas de Eva.

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LÂ: A criança é o seu entrave... é o que atrapalha o seu caminho na humanidade. Emp: Mate-a!! L: Não! Eu quero a liberdade. Tenho batalhas a cumprir. H: Liberdade também é solidão. L: Tenho um mundo a descobrir e construir. E sei que há muita coisa por obra de Adão! Ele deu nome a tudo! A mão de Lilith teve que parar para cuidar de filhos! H: É hora do retorno de Lilith. L: Proponho arrasar uma cidade inteira com apenas uma gota de meu sangue menstrual. H: Eva pode ter suas necessidades satisfeitas. Você, não. Você tem de andar pelo mundo. L: Não aceito a dependência e a submissão. Não aceito ser acorrentada ou enjaulada. Sou livre, quero mover-me e mudar. Emp: Você tem que domar o homem. Sujeitá-lo aos seus gozos. É você quem dever se mover. É você quem tem que saber a hora certa de plantar as sementes... L: Só a mulher sabe como o seu corpo responde segundo o aparecimento das Luas. cessam os atabaques. Silêncio. (Bruxas invadem um casa. Impedem que a mulher acorde e copulam com o companheiro, violentamente) LÂ: Vá se desenvolver no deserto, sem relacionamentos, sem Eros, sem filhos... mas, com ciúmes de Eva, que permanecerá abraçada ao homem, porém, acorrentada aos filhos e ao seu Jardim. Hécate & Lâmia & Empusa: É nascida a filha de Lilith. / A Grande Lua escurece a noite com seu canto / É nascida a filha de Lilith / A grávida esposa noturna é mãe, irmã e inimiga. S: Os exércitos invadirão o Jardim do Éden. O desenvolvimento da batalha é procurar alterar a vida do inimigo. Para frente, generais... H: (falando aos generais secretamente durante as lutas) Cada demônio deve tomar uma mulher do Jardim. S: Os generais e as legiões devem comer as mulheres. LÂ: Ensinaremos feitiçarias e encantamentos... Empusa: (desvairadamente) Devem foder as mulheres S: As propriedades das raízes e das árvores... LÂ: Toda a sorte de meios para evitar que nasçam mais crianças nas nossas legiões. Nada de nascimentos indesejados entre nós. Mas, queremos muitos... muitos... entre os filhos de Eva. H: Grávidas e pesadas serão estorvo nas batalhas e na construção do mundo. S: E elas conceberão gigantes. Filhos das Legiões, filhos dos soldados e generais de Lilith. LÂ: Enxertar naquelas mulheres a semente do filhos do céu. S: Conceberão gigantes. Serão os herdeiros da Terra. as bruxas se encontram num charco observando a batalha que flui para longe delas, perdendo-se o som Emp: Os filhos dos deuses gerarão gigantes nas filhas dos homens. LÂ: Esses filhos monstruosos, impossíveis de se nutrir, se voltarão contra os pais. S: Não serão humanos. Terão nascido alheios à humanidade.

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LÂ: Nascerão como filhos de Caim. Os herdeiros que se multiplicarão na Terra. S: E os homens, a ponto de morrerem, elevarão suas vozes, e suas vozes subirão até os céus... mas não serão ouvidos... LÂ:... pois estamos obedecendo as ordens de El Shadai. Crescer, multiplicar e habitar a Terra. A filha de Lilith é trazida por Lâmia, como bebê. Um ritual. Aparecerão várias crianças sendo trazidas preparadas para um holocausto, noi meio daquele charco e no meio da batalha L: Broto do meu ventre... você vai se despedir do mundo... (enquanto isso segue uma massa de soldados se preprando para batalha e caminhando) É sabido que nós... revoltosas e grandes semeadoras da humanidade jamais poderemos amar os nossos filhos... jamais!! (ao fundo os gritos de ordem para as legiões: Á frente soldados! Hoje cairá o Jardim!! Estão contado o tempo das legiões de Gabriel) Broto do meu ventre, outra parte de mim... Veremos nossos amados exterminados... é outra parte que se vai... (uma imagem de soldados partindo para uma outra imagem que será o Jardim) Choraremos e suplicaremos pelos filhos desaparecidos... (algumas bruxas se juntam ao que Lilith fala a cada trecho desses permeado por movimentos de guerra) Choraremos nossas perdas para sempre... Jamais obteremos paz ou misericórdia... (grande pausa onde só ouvimos a chuva) Adeus... Para mantermos a nossa liberdade... nossa velocidade... nossa força... nossa independência... Para nos vermos livres do julgo dos machos das espécie... não poderemos manter os nossos filhos.... (elas elevam os cutelos, facões ou machados. Os soldados se imobilizam, principalmente as hostes de Gabriel, por causa do inusitado da cena. O corte da imagem é na batida da lâmina) Trilha com Coro em OFF ataca no momento do corte, enquanto as mulheres saem da caverna ou esconderijo (ruínas) para a luta : Lua Negra, Lilith, irmã das trevas / Criada da lama da Terra / Na minha fraqueza e na minha força / Dê-me a forma da clava de fogo Lua Negra, Lilith, Égua da Noite / Abre seu leito no chão do deserto / Fala o nome sagrado e voa / Pronuncia o verbo secreto da criação! Partem para a batalha aos berros para alcançar a batalha lá na frente. FIM

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O LIVRO DO GENESIS

Um livro de adaptações, desde a inspiração até as cópias mais ordinárias

MOISÉS

com uma força e apoio moral de

COELHO DE MORAES

sob ataque de anjos e arcanjos, querubins e do Serafim

a estréia dessa obra deu-se em 2004, julho,

no Teatro Oscar Villares, cidade de Mococa, SP,

com

Claudinei Costa, Sergio Spina, Túlio Nunes, Cilso Celino e Vanessa Dias.

Coelho De Moraes na direção e Guilherme Giordano na técnica.

Sistema coringa para todas as personagens exceto Deus.

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ELOIN: (aclamação com trombetas) Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.

Que ele reine sobre os peixes, sobre as aves, sobre os animais e sobre toda a terra, e

sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra. Nós, Heliojins, somos entidades

solares de suprema envergadura. Seres de luz resplandecentes. Serpentes aladas. O

criaremos à sua imagem; criamos à nossa imagem... criamos o homem e mulher.

A - Deus era homem e mulher no mesmo momento? No mesmo corpo?

Todos: (para a platéia) Será o nosso mundo o único mundo?

B - Assim foram acabados os céus, a terra e todo seu exército.

A – Já chegam com exército.

C - No tempo em que o Senhor Deus fez a terra e os céus, não existia ainda arbustos e

ervas nos campos, porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem havia

quem a cultivasse; mas subia da terra um vapor que regava toda a superfície.

Todos - O Senhor Deus, a entidade Solar, o olho de Ra, formou, o homem do barro da

terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e eis o ser vivente.

A - Êta! Que esse promete.

B – Da mesma forma fez o herói Prometeu fez, com os seres moldados do barro.

Deus: Levanta a cabeça! O que vês sobre ti, ardendo no escuro céu da meia noite?

A: (mão em pala olhando para o breu) Nada!

Adon: (servil) Eu percebo uma chama.

Deus: Agora olha para ti mesmo. Não percebe que é a mesma chama? (A olha para si e

balança negativamente a cabeça) Rasga o véu de Ísis e enxergará tudo como realmente

é. Enquanto te mantiver na ilusão, estarás em meio ao nada, estarás imerso no lodo,

estarás em queda.

ELOIM: (aclamação com trombetas) O Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden,

do lado do oriente, e colocou nele o ser que havia criado. Fez brotar toda sorte de

árvores, agradáveis, e de bons frutos; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore

da ciência do bem e do mal. (grito) Cabalah!

Deus - Podes comer do fruto das árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore

da ciência do bem e do mal; porque assim que comeres, morrerás.

Todos - (para a platéia) É o nosso mundo o único mundo?

Deus - Não é bom que o homem esteja só.

A - Adon, o governante, o ser, nomeou a tudo: vivente ou não. Deus lhe deu profundo

sono; enquanto ele dormia, tomou dele uma costela e fechou com carne o lugar.

B – Mas uma costela também pode ser chamada célula. Dessa célula pode se fazer um

clone. Só hoje sabemos disso. Desse pedaço de corpo se faz um outro corpo.

A - Parece que naquela época já sabiam disso.

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B - Um clone. Semelhante ou diferente. Manipulável na genética? Manipulável na sua

diretriz? Um Golén? Um escravo hebreu sem vontades?

A – Um escravo?

B- Um hebreu...

A- Sem vontades?

C – (furioso gritando para o alto) Quem são essas pessoas que manipularam a

humanidade? Quem são esses senhores que vieram dos céus e transformaram o planeta

em laboratório de experiências? Quem é que desce à Terra com aves brilhantes de metal

fundido? Foi na terra que se criaram os monstros?

B – (ritualístico) E da costela, da célula, da carne, do sêmen, que tinha tomado do ser,

ou separado do ser, o Senhor Deus montou outro ser, aparentemente complementar. Ou

um não-homem, a negativa do homem. A parte perdida, a outra parte do homem. O

contrário daquilo que já existia. Homem ou Mulher.

Todos - Quem são os progenitores do homem na terra?

Adão - Eis agora aqui, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará

mulher – Adamah - porque foi tomada do homem.

(conversa de esquina)

A – Não, não, não, da Mulher sairá o Homem. Quando o embrião começa a se formar a

diferenciação é do feminino para o masculino. E não o contrário. Depois tem outra...

Adamah quer dizer mulher do barro.

C – Não! nada disso. Os dois se separam no sono. No começo eram um só. O primeiro

ser era hermafrodita. Todo mundo sabe...

ELOIM - (aclamação com trombetas) Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para

se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne.

Todos: Poesias.

A - Que pai e que mãe serão esses, se não havia ninguém mais na Terra? Ou havia?

C – Discute-se tanta coisa e não se discute a falta de umbigo em Adão e Lilith.

B – Mas eis que outro ser aparece. Um seraphin, uma serápis, uma serpente, um anjo

emplumado a vagar pelos céus? Um ser falante. Falavam os animais?

Serápis - É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?

Adão - Podemos comer dos frutos do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio

do jardim, não comeremos dele, nem tocaremos nele, para que não morramos.

Serápis - Nada disso! Ninguém morre! Deus bem sabe que, no dia em que comerem

deles, os olhos se abrirão, e serão como deuses, conhecedores do bem e do mal.

(A mulher pega um fruto e oferece a Adon. Eles rolam no chão, juntos, íntimos).

C - A inteligência de ambos se abriu. (o casal continua rolando e o outro observa) Isso é

que dá. Seres de mente aberta.

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Deus - Onde estás?

Adão - (choroso e assustado) Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo,

porque estou nu; e ocultei-me.

Deus - Quem te revelou que estavas nu? Terias porventura comido do fruto da árvore

que eu te havia proibido de comer?

Adão – Ela apresentou-me deste fruto, e eu comi.

Deus - Porque fizeste isso?”

Adamah - A serpente, o Serafim, superiluminado anjo, enganou-me, e eu comi.

Deus - (vingativo para Adamah) Darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o

teu marido e será dominada. (vingativo para Adão) Já que ouviu a voz da mulher e

comeu do fruto que eu havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Vai

trabalhar duro para obter sustento todos os dias da vida. Ela te produzirá espinhos e

abrolhos, e comerás a erva da terra. Comerás o pão com o suor do rosto, até que voltes

à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te tornarás. Eis que o homem se tornou

como um de nós – um ser de luz, vidente e previdente, um deus solar enfiado numa

carne lodosa e barrenta. Conhece o bem e o mal. Não deixemos que ele estenda a mão

e tome também do fruto da árvore da vida ou viverá eternamente. Gabriel, expulsa-os

do jardim, para que Adon cultive a terra donde foi tirado. Cherubins-soldados armados

até os dentes com espada flamejante, guardarão o caminho da árvore da vida. Aí eu

quero ver.

A - Um homem saiu de mim com a ajuda do Senhor. Caim é o primogênito.

Todos - Depois, deu à luz Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor e Caim lavrador.

(Os atores Abel e Caim oferecem holocaustos. Abel é bem recebido. Cain não)

Deus - (debochado) Por que estás irado? E por que está abatido o teu semblante? Se

praticares o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te.

Caim - Qual a moral do Bem em tempos primitivos como estes? Coabitar com animais

será o bem? Enquidu, aquele sumério abestalhado, meio homem meio bicho é produto do

bem? Gilgamesh, o Sumério, sábio e ativo é o representante do bem? Os dois?

Deus - (como se não desse ouvido) Se agires mal o pecado estará à tua porta,

espreitando-te. Tu deverás dominá-lo. Procura saber o que é o mal e o que é o bem.

(Caim pensa / toma de um cacete / e mata Abel ali mesmo)

Deus - Onde está seu irmão Abel?

Caim - Sei lá! Deve andar por aí... (cínico) atrás da suas ovelhas...

Deus – Não seja zonzo...

Caim – Ué. A culpa não é minha... se pega a ovelha ou a velha mãe... mas a escolha não

é minha...

Deus – Cadê Abel?

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Caim - Sou por acaso o guarda do meu irmão?

Deus - Que fizeste! A voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra. Você

será maldito e expulso. A Terra lhe negará frutos. Serás peregrino e errante sobre ela.

Caim - Meu castigo é grande demais para que eu o possa suportar. Me expulsa agora

deste lugar, e eu devo ocultar-me longe de vossa face, tornando-me errante sobre a

terra.

Deus - O primeiro que me encontrar, vai te matar...

C – Como matar... não há mais ninguém a não ser os três – Adão, Eva e Caim!... Lilith

talvez...

A - O mundo já era habitado?

B – Será isso um jardim Zoológicos de humanos?

Deus - Não quero saber! Aquele que matar Caim será punido muitas vezes. Ponho em

Caim um sinal. Quem o encontrar pelo caminho não o mate.

A - Caim tem agora um sinal, u’a marca que o torna diferente entre os demais.

Todos – Pai da humanidade. Todos filhos de Caim. Cainitas. Não adianta reclamar.

C – Caim, o pai da humanidade, conheceu sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Enoc.

Adão conheceu outra vez sua mulher, e esta deu à luz a Set.

Adon - Deus deu-me uma posteridade para substituir Abel, que Cain matou.

B - Enoc andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou. Terá subido aos céus

sem ter morrido. Uma subida literal? Uma subida nos cavalos de fogo? Uma subida em

direção das chamas divinas, sem forma, como sopros ígneos?

C – Quanta dúvida! Sem contar os erros de tradução.

A - Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas,

os filhos de Deus...

B - Vindos do espaço?

C – Vindos do céu?

A - ... os filhos de Deus viram que as filhas dos homens...

B - As filhas dos terrestres?

A – Quer parar de atrapalhar? (pigarro) ... viram que eram belas, e escolheram esposas

entre elas.

Deus - Meu espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo ele é carne,

e a duração de sua vida terá um tempo limitado e menor.

A - Naquele tempo viviam gigantes na terra, como também daí por diante, quando os

filhos de Deus se uniam às filhas dos homens e elas geravam filhos estranhos...

C – Provavelmente de nova composição genética...

B - Filhos deformados. Minotauros. O filho de Pasífae e Zeus seria um deles?

A - E isso, no tempo em que as terras se separaram.

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C - Estes são os verdadeiros heróis, já afamados nos tempos antigos.

A - O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os

pensamentos estavam voltados para o mal.

B - O Senhor arrependeu-se...

C – Ah, é? Arrependeu-se? Uau! Que tamanha perfeição...

A – Ele arrependeu-se e mandou os programadores genéticos para aquele lugar...

B –... os programadores genéticos daquela época arrependeram-se em seus laboratórios

de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido de íntima dor.

Deus - Exterminarei da superfície da terra o ser que eu criei, e com ele os animais, os

répteis e as aves, porque estou arrependido.

A - Noé, um dos produtos daqueles tempos – resultado positivo das experiências -

encontrou graça aos olhos do Senhor-Cientista.

C - A terra corrompia-se e enchia-se de violência.

B – Deus, o arquiteto de genoma, também conhecido como o criador - olhou para a

terra e viu que ela estava corrompida.

A - Sua obra estava errada e necessitava de correções.

C - A experiência, até aquele momento, saiu do controle: Toda a criatura seguia na terra

o caminho da corrupção.

Deus – (tímpanos ou bumbos)... Então.... (indecisão / tímpanos ou bumbos)... Então

(tímpanos ou bumbos / um ator entrega um papel que Deus abre e lê)... Então... Eis

chegado o fim de toda a criatura diante de mim, pois eles encheram a terra de violência.

Vou exterminá-los juntamente com a terra. Faze um navio de acordo com as

informações. Farei aliança contigo: entrarás na nave com teus filhos, tua mulher e as

mulheres de teus filhos. De tudo o que vive, de cada espécie de animais, farás entrar na

arca dois, macho e fêmea. É claro que levarás contigo apenas sementes desses animais,

ou não caberão todos nessa nave de madeira. Ainda se fossem naves espaciais como as

que usamos. Enfim, levará sementes, códigos genéticos, conjuntos de genomas...

Escolha bem, Noé! Os frascos estarão sob tua responsabilidade. Dentro de sete dias

farei chover sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei da

superfície da terra todos os seres que eu fiz.

Noé – O que ele disse dos fracos?

A – Frascos, Noé... frascos...

B - As águas engrossaram prodigiosamente sobre a terra, e cobriram todos os altos

montes; e elevaram-se sete metros acima dos montes que cobriam.

A – Caceta!

C - Todas as criaturas que se moviam na terra foram exterminadas. Só Noé ficou e os

que se encontravam com ele na arca.

B - As águas cobriram a terra pelo espaço de cento e cinqüenta dias.

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C -= No fim a arca parou sobre as montanhas do Ararat.

B - Noé saiu com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos, e levantou um

toten, um altar ao Senhor: Tomou de animais puros e de aves puras, e ofereceu-os em

holocausto.

A - Já não tinha muito e ele ainda desperdiça.

Deus – (tímpanos) Então... (abre os braços / tímpanos) Então... (tímpanos / A faz-lhe

sinal para sorrir)... Então (tímpanos / A entrega um papel que Deus lê / sorrindo /

vendendo a ideia)... De agora em diante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do

homem que é mau desde a sua juventude.

A – Foi você que criou.

Deus - (olha A de lado) Não ferirei mais os seres vivos. Enquanto durar a terra, não

mais cessarão a sementeira e a colheita, o frio e o calor, o verão e o inverno, o dia e a

noite. Sede fecundos. Multiplicai-vos e enchei a terra. Somente não comereis carne com

a sua alma, com seu sangue. Toda carne será cozida. É mais saudável e menos

selvagem. Eu pedirei conta de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo animal;

e ao homem que matar o seu irmão, pedirei conta da alma do homem. Pois vocês são

muito bárbaros. Putz! Parecem animais. O sinal de aliança será o arco íris no céu, para

que eu mesmo me lembre disso. Só espero que chova sempre.

(Noé aparece bêbado e nu, cantando e dançando)

Noé – (o ator vem nu lá do fundo da platéia e sobe no palco mas puxa gente da platéia

para a dança) Além do arco íris... (repete no mesmo tom várias vezes / bebaço)

Cam – Olha gente, o pai tá pelado.

B – Vamos cobri-lo. Que coisa horrível.

A – Realmente, horrível... pelado...

B – É uma ofensa...

A – Foi o que eu disse...

Noé (bêbedo) - Maldito seja Canaã; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos!

Canaã seja seu escravo! E seu e seu! Canaã seja escravo dos irmãos!

A – Ele ta falando comigo?

Todos - Nemrod, descendente de Noé, é claro, foi o primeiro homem poderoso da terra.

A – Primeiro latifundiário... Também... todas as terra eram dele...

Todos - Ele foi um grande caçador diante do Senhor. Ele viveu em Babilônia. A

superpotência da época. Tinha mania de construir arranha-céus.

A - Toda a terra tinha uma só língua

B - Talvez se fale sobre a língua comercial, como o latim na era do Romanos.

C - Como o Inglês na era dos caubóis.

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A – Todos se serviam das mesmas palavras. Mas parece que na multiplicação dos filhos

de Noé cada um usava idioma próprio.

B – O que torna a história um pouco confusa.

C – Esses livros são mesmo muito confusos. Velhos e confusos.

A - Mau traduzidos...

Nemrod – Vamos construir uma cidade e uma torre cuja ponta atinja os céus. Tornemos

assim célebre o nosso nome – o meu nome - para que não sejamos dispersos pela face

de toda a terra.

Deus: (invejoso, novamente) Eis que são um só povo, e falam uma só língua: se

começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os seus

empreendimentos! Onde querem chegar? No céu?

A - E qual é o problema de resolverem todos os seus empreendimentos? Ta maluco?

Deus - Vamos: desçamos, nós todos, os mensageiros, todos os seres do céu, todos os

filhos do Céu, Anjos, Potestades, Tronos, para lhes confundir a linguagem, de sorte que

já não se compreendam um ao outro.

B – E os povos se dispersaram sem mais se entenderem. E, pergunto, para que, se o

importante é se compreenderem.

C - Por isso deram-lhe o nome de Babel, porque ali o Senhor confundiu a linguagem de

todos os habitantes da terra, e dali os dispersou sobre a face de toda a terra.

Deus - Abrão, Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te

mostrar.

Abrão – (sem tirar a atenção do que fazia) E pra que?

Deus - Farei de ti uma grande nação...

Abrão – Para que?

Deus... eu te abençoarei e exaltarei o teu nome...

Abrão – Para que meu Deus? Vai ter mais imposto?

Deus - ... e tu serás uma fonte de bênçãos.

Abrão – O que eu ganho com isso?

Deus - Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te

amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti. (como se lembrasse) Ah!

Leva Lot com você

Abrão – Não, Lot não.

Deus – Sim! Lot sim...

Abrão – Lot é um pamonha...

Deus – (incisivo) Leva o Lot...

Abrão - Ele nem levanta a bunda da cadeira...

Deus - Lot sim...

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Abrão – Até que as filhas dele são bonitinhas...(pensa) Se ainda alguém me pagasse por

isso... (pensa e se decide / para dentro / para Sarai) – Escuta mulher, há muita fome na

região e eu tenho que negociar com os egípcios. Sei que você é uma mulher formosa.

Quando os egípcios te virem, me matarão para te pegar, se pensarem que é minha

mulher.

Sarai - Mas eu sou mesmo sua mulher.

Abrão – Tá, tá... É isso o que eu quero dizer... não me complica a vida e diz que é minha

irmã, para que não me matem por tua causa. Lot vai com a gente levando as cabritas lá

dele...

Sarai – Ah! Lot não...

Abrão – Lot sim...

Sarai – Não... não... Lot não.

Deus (off) – Lot, sim.

Abrão – Viu?

C - A mulher foi introduzida no seu palácio. E talvez faraó tenha introduzido nela,

também, tamanha a covardia de Abrão.

Todos - Abrão o cafetão... (3x).

C – A riqueza de Abrão é questionável.

B - Abrão vendeu Sarai? Ou terá apenas alugado?

A - Por causa dela, Abrão foi bem tratado pelo faraó, e recebeu ovelhas, bois, jumentos,

servos e servas, jumentas e camelos.

C - Mas o Senhor ficou louco da vida, fulo de raiva, porém, e feriu com grandes pragas o

faraó e a sua casa, por causa de Sarai, mulher de Abrão.

A – Ah! Então o faraó eu uma bimbalhada na Sarai...

Todos - Abrão, o cafetão! (3x)

C – (gritando para os céus) Que tipo de Deus é esse que defende cafetões? Nesse

momento se comprova como eram bárbaros esses camaradas hebreus. Os Deuses-

Astronautas, deuses do espaço sideral, viram que o escolhido era bem imoral, vendendo

a mulher para o poderoso do pedaço em troca de favores.

B - Ah! Mas era obrigatório preservar a obra genética construída. Por isso mandaram as

pragas.

Abrão – Lot é uma praga. Ele conta?

C - Que tipo de deuses eram esses? Preservam a obra genética e Sarai é quem toma no

rabo.

Faraó – (para Abrão) O que é que você me levou a fazer... seu burro... Porque não me

falou que era tua mulher?

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B - Ta na cara que o Faraó teve, por assim dizer, conjunções carnais com Sarai.

Faraó - Por que falou que ela era tua irmã, levando-me e a tomá-la por esposa? Toma de

volta e cai fora daqui!

Abrão – Mas eu não saio daqui de mãos abanando.

Todos – Abrão, o cafetão, ficou muito rico em rebanhos, prata e ouro.

Abrão – Lot, vamos embora com nossas riquezas em busca de algum paraíso... fiscal.

Mas a gente sai daqui e cada um vai para um lado. Leva as tuas cabritas.

C - Então Lot e Abrão se separaram. Me parece que Lot não era dado a esse tipo de

canalhice em família. Lot levantou tendas perto de Sodoma.

B - Abrão, o cafetão, instalou-se em Canaã.

A - Ora, já sabemos que os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes

pecadores, muito pervertidos diante do Senhor. Daí o significado de sodomita...

B – Sodomita?

A – Sim... aquele que dá o cu.

C – As Igrejas não admitem que se dê cus, por aí..

A - As Igrejas querem serão tão terríveis quanto as testemunhas de Jeová?

C - A dúvida é: os habitantes de Sodoma e Gomorra seriam outros grupos

experimentais?

A - Filhos de laboratório?

C - Construídos geneticamente em separado?

A - Inoculados in vitro?

B – Para quem gosta de dar o cu, ser inoculado in vitro é incoerencia.

Todos - Uma guerra.

A (sentado a uma bancada como se fosse uma notícia de TV) - O rei de Sodoma, o rei

de Gomorra, o rei de Adama, o rei de Seboim, o rei de Bala, e meia dúzia de Sadan-

Husseins daquele região saíram e puseram-se em ordem de batalha no vale de Sidim,

contra cinco outros reis. O clima de animosidade no Oriente Médio estava se elevando.

Quatro contra cinco. Tudo por causa do petróleo. Lá eles chamam betume. Mas não

passa de petróleo.

B – (na outra bancada / do outro lado do palco / fala jornalística / neutra) Analistas

internacionais afirmam que é muito bom não existir mais nenhum país nessa briga. Já

basta os deuses, os tais eloins, os tais filhos iluminados que usam bombas superatômicas

e fazem um barulho terrível no Sinai.

C – Parece que são os únicos a terem permissão para o uso de Bombas Químicas.

A - Quem ganhou levou tudo e a todos, inclusive o senhor Lot e família.

C – Autoridades aliadas do poder Divino, representadas por Abrão, souberam do ocorrido

e partiram para cima dos manifestantes.

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B – O Comandante Abrão, enfurecido, chamou a sua turma e foi recuperar Lot, família,

bens, e é claro, tomou posse de poços de betume que aflorava à terra.

Abrão - Está vendo Deus? Como defendo nossa família? E eu, por que é que não terei

herdeiros? Por que não permanecerá tudo isso conosco?

Deus - Sabe que teus descendentes habitarão como peregrinos uma terra que não é

sua, e que nessa terra eles serão escravizados e oprimidos durante quatrocentos e tantos

anos. É isso mesmo o que quer?

Sarai - Eis que o Senhor me fez estéril; rogo que tome a minha escrava, para ver se, ao

menos por ela, eu tenha filhos.

C - Abrão, o cafetão, aceitou a proposta de Sarai. Idéias de jerico ele aceitava todas.

B - Abrão teve filho – Ismael – com Agar a escrava egípcia de Sarai. Agar passou a

desprezar Sarai, que não gostou da idéia.

Abrão - Tua escrava está em teu poder, faz dela o que quiser.

Sarai – Dei uns tapas nela e ela fugiu. Não sei por que...

Abrão – Não sabe por que...

Sarai – Não! Qualquer escrava que se preza toma uns tapas de vez em quando...

Deus - Agar, escrava de Sarai, donde vens? E para onde vais? Volta para a tua senhora,

e humilha-te diante dela. Em compensação multiplicarei tua posteridade de tal forma,

que não se poderá contar. Estás grávida, e vais dar à luz um filho: será Ismael, porque o

Senhor te ouviu na tua aflição. Será um garoto danado de brigão.

Abraão - Expulsa esta escrava com o seu filho, porque o filho desta escrava não será

herdeiro com meu filho Isaac.

Deus - Não te preocupes com o menino e com a tua escrava. Faze tudo o que Sarai te

pedir, pois é de Isaac que nascerá a posteridade que terá o teu nome. Mas do filho da

escrava também farei um grande povo, afinal é teu filho, meu velho.

Todos - Abraão mandou Agar, a escrava para o deserto com o filho Ismael, mas o anjo

de plantão não deixou que morressem, fazendo surgir uma fonte de água no meio do

deserto. Ou seja, ela encontrou um Oásis.

A - Mas era preciso uma marca diferenciadora. A criação parecia se perder pela terra.

Onde os originais e onde as cópias?

Deus – Abrão, anda em minha presença e sê íntegro, pelo menos uma vez na vida;

quero fazer aliança contigo. Serás o pai de uma multidão de povos. És o último dos

escolhidos de toda a nossa produção em laboratório e o projeto não pode falhar. Não

pode dar com os... os... Como se chamam aqueles animais...?

Abrão – os gostosinhos(?)... são ovelhas...

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Deus – Não... não... os grandes... que babam... com corcovas...

Abrão – Ah! Camelos...

Deus – Isso! Não podemos dar com os camelos n’água, não é, meu querido? Os testes

estão nucleares chegando ao fim. Não tenho mais esperança de que tudo melhore.

Parece que criar vocês foi um erro. Talvez as baratas sejam uma obra perfeita.

Abrão – Não estou entendendo nada do que diz.

Deus – Deixa para lá. Vamos continuar desse ponto em diante e ver no que vai dar a

coisa toda. As outras criações ficarão por conta própria. Nós daremos cobertura para ti

em todas as suas nações. De agora em diante não te chamarás mais Abrão, e sim...

Abraão. Serão o povo eleito.

Abrão – Que diferença isso faz? Um “a” no meio. Nós semitas nem falamos direito as

vogais.

Deus – Ouve e cala essa boca! Porque farei de ti o mais falador... (Deus se toca do ato

falho / abana com a mão)... o pai de uma multidão de povos e o nome quer dizer isso,

vê se me entende.

Abraão (dando de ombros) - Tá.

Deus (devaneando) - Serás fecundo, terás nações e terás reis por descendentes, etc,

etc... Olha! (voltando) Todo homem, no oitavo dia do seu nascimento, será circuncidado

entre vós nas gerações futuras.

Abraão – O que? Cortar o pinto?

Deus – Não fala bobagem. Vai cortar uma pelinha insignificante em volta do pênis que

não faz falta nenhuma.

Abraão – Não faz para você...

Deus – Vai por mim. Vai até ficar mais higiênico. Essa pelinha é uma das falhas técnicas

dos nossos engenheiros. Essa pelinha e as amígdalas.

Abraão – Será que não podia ser uma tatuagenzinha discreta, igual o Cain? Um lance

mais tribal... mais manero...

Deus – Pelinha, amídala e dente... coisa mal feita. Pra que tanto dente? Um encima e um

embaixo...

Abraão – A gente ia ficar banguela.

Deus – Não... dois longos dentes. Um encima e outro embaixo... nunca ia ter cárie...

Abraão – (para o lado) com cada coisa esse cara se preocupa...

Deus - Presta atenção! O mundo está muito confuso. Todos... todos: tanto os que

nascerem em sua casa, como os escravos comprados e que não for de tua raça devem

ter o pinto corta..

Abrão – Opa!

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Deus – A pelinha... desculpa.. a pelinha cortada... ato falho... aí serão considerados da

tua raça, daí em diante. Não chamarás mais tua mulher Sarai, e sim Sarah, e ela te dará

um filho, ao qual chamarás Isaac.

Abraão – Orra! Demorou!

Todos - Abraão e Ismael, seu filho, cortaram a pelinha no mesmo dia. Doeu paca.

Deus - Onde está Sara, tua mulher?

Abraão – Ela disse que ia comprar umas buchas de banho. Deve tá na tenda daquela

turca que vende massa pronta, sei lá.

Deus – Você não sabe?

Abraão – Eu só tenho um A a mais. Não sou onisciente como você.

Deus – Sujeito grosso. Malcriado. Vou dar um chego lá. (tempo de ir e vir. Abraão está

nem aí) Voltarei à tua casa dentro de um ano, a esta época; e Sara, tua mulher, terá um

filho.

Sarah - Acaso poderei ocultar a Abraão o que vou fazer?

Deus - É imenso o clamor que se eleva de Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito

grande. Eu vou descer para ver se as suas obras correspondem realmente ao clamor que

chega até a mim.

Abraão - Fareis o justo perecer com o ímpio? Talvez haja cinqüenta justos na cidade:

Morrem também? Não perdoará a cidade, em atenção aos cinqüenta justos? Não, vós

não poderíeis agir assim, matando o justo com o ímpio, e tratando o justo igual ao ímpio!

Longe de vós tal pensamento! Não há justiça?

Deus - Se eu encontrar em Sodoma cinqüenta justos, perdoarei a cidade. Se encontrar,

40, 30, até mesmo um justo, eu pouparei a cidade.

(dois anjos ante Lot)

Lot - Meus Senhores, vinde, peço-vos, para a casa de vosso servo, e passai nela a noite;

lavareis os pés, e amanhã cedo continuareis vosso caminho.

A - Não!não... na casa de Lot eu não fico... passaremos a noite na praça.

Lot – Que nada... Faço questão.

A – Não. Na praça tá bom.

Lot – Nada disso. Preparo um banquete, mando cozer pães sem fermento.

A – Não... não... na casa de Lot, não!

B – Tá feito. Não aguento ficar sem um pãozinho antes de dormir.

Todos - Mas, antes que se tivessem deitado, eis que a população da cidade de Sodoma,

se agrupou em torno da casa,

C - Lot, onde estão, os homens que entraram esta noite em tua casa? Conduze-os a nós

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para que os conheçamos.

Lot - Suplico-vos, meus irmãos, não cometais este crime. Tenho duas filhas que são

ainda virgens, acho, eu as darei para vocês. Mas não façais nada a estes homens santos

que vieram dos céus, do espaço, sei lá de onde... porque se acolheram sob meu teto.

C - Retira-te daí! Eis um indivíduo que não passa de um estrangeiro no meio de nós e se

julga um juiz! Verás como te trataremos pior do que a eles.

(anjos levantam o braço e sai um relâmpago)

Todos - Mas os viajantes feriram de cegueira os violentos.

A - Tens ainda aqui alguns dos teus? Genros, ou filhos, ou filhas, todos os que são teus

parentes na cidade, faze-os sair deste lugar, porque vamos destruí-lo, visto que o clamor

que se eleva dos seus habitantes é enorme diante do Senhor. Levantai-vos, a coisa aqui

está preta; saí daqui, porque o Senhor vai destruir a cidade.

B - Lot, levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas, para que não pereças também no

castigo da cidade. Não olhes para trás, e não pare em lugar algum da planície. O pau vai

comer!

C – (no tom de repórter de TV) O Senhor fez então cair sobre Sodoma e Gomorra , na

madrugada do dia 15 de outubro de 3 245 antes de Cristo, uma chuva de enxofre e de

fogo, vinda, aparentemente do céu. Uma chuva atômica multidestrutiva.

B - Os generais ocupantes do laboratório espacial Jeová 3 entendiam que aquela tribo

estava podre e deveria ser exterminada. Uma espécie de solução final. Destruíram

cidades, toda a planície, assim como todos os habitantes e a vegetação.

C – Há suspeitas que seja bomba de Nêutrons.

A – De acordo com fontes internacionais, não se sabe por que, mas a mulher de Lot,

tendo olhado para trás, transformou-se numa coluna de sal, o que prova ser resultado

de uma guerra com a inclusão de armas químicas.

Todos - Lot passou a habitar numa caverna com suas duas filhas.

A – Para assegurar a posteridade, as filhas de Lot, dormiram com ele, dando-lhe vinho.

B - É claro que ele não percebeu coisa alguma.

C - Assim, as duas filhas de Lot conceberam de seu pai.

Todos - E tudo ficou bem aos olhos do Senhor.

A - Outra vez a mesma coisa. Abrão, agora Abraão, se faz de cafetaão e finge que a

mulher é sua irmã.

B - Parece que ele não aprendeu e força Deus a aparecer nos sonhos do Rei Abimelec

para amedrontá-lo.

C – Dessa forma Abraão, o cafetaão, sempre impune, habitou muito tempo na terra dos

palestinos.

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A - Mas um sustinho ele teve. Deus fez uma brincadeira com o cafetaão.

Deus - Abraão!

Abraão - Tô aqui

Deus – Faz um negócio para mim.

Abraão – Lá vem coisa... O que?

Deus - Toma teu filho, teu único filho a quem tanto amas, o garoto Isaac...

Abraão – Sei... to escutando...

Deus - ... oferecerás o teu filho em holocausto sobre um dos montes que eu te indicar.

Abraão – O que? (desconfiado, toma, Isaac) Essa foi pesada hein! Jogo baixo! (partem)

Isaac, vem comigo.

(andam / Abraão está cabisbaixo e leva o menino pelo braço)

Isaac - Meu pai!

Abraão - Que é, meu filho?

Isaac - Temos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto?

Abraão - Deus, o onipresente, onisciente, providenciará uma ovelha para o holocausto,

meu filho.

(Abraão amarra filho à pedra)

Isaac – Pai...

Abraão – Sim... Isaac.

Isaac – Por que me amarra na pedra?

Abraão – É para você não se machucar por ai.

Isaac – Pai?

Abraão – Sim... Isaac.

Isaac - Por que é que você está amolando a faca?

(Silencio / Abraão afasta o rosto do filho e levanta a faca)

Deus - Abraão! Abraão! Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada.

(cara de ódio de Abraão)

Agora eu sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu filho único.

(Abraão libera o garoto) Estarei sempre ao teu lado.

B – Abraão, incorrigível sedutor, tomou outra mulher, chamada Cetura; Abraão deu

todos os seus bens a Isaac. Quanto aos filhos de suas concubinas, só lhes deu presentes,

e despediu-os, ainda vivo, mandando-os para longe de seu filho Isaac, para a terra do

oriente.

C - Eis a duração da vida de Abraão: Ele viveu cento e setenta e cinco anos, e teve uma

grande descendência, como lhe foi prometido.

A – E Deus lhe deu muitas ereções, como fora prometido.

Servo: Queres dar-me de beber um pouco da água de teu cântaro? (a moça dá o

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cântaro / ele bebe) Qual é o teu nome?

Rebeca: Rebeca... Bebe, meu senhor. Vou buscar água também para os teus camelos,

para que todos bebam. (O homem a contempla em silêncio)

Labão (irmão de Rebeca se aproxima): Vem, bendito do Senhor, por que permaneces aí

fora? Prepararei a casa e um lugar para os camelos.

Servo: Não comerei nada enquanto não expuser o que tenho a dizer.

Labão: Fala.

Servo: Quem é o senhor?

Labão: Eu sou Labão.

Servo: Labão ou Labaaaaão?

Labão: Labão... só Labão.

Servo: Brincadeira... Eu sou escravo de Abrão. (corrigindo) Abraaaaaão.

B – (para a platéia) Escravo é como uma empregada doméstica, ou empregada de loja,

ou boy de escritório – um contínuo, nos dias de hoje.

Servo - O Senhor Deus dos exércitos protege o meu senhor e isso todo mundo já sabe.

Labão – É, mas e aquele lance de meter a faca no filho...

Servo – Aquilo foi um teste... O filho de meu senhor herdou todos os seus bens, esse

que seria esfaqueado... Abraaaaão... quer para o filho uma esposa de sua parentela, seu

Labão. Encontrei a menina Rebeca. Parece uma mulher decente e digna.

Labão: Ela o é. Ela o é. Ela o é. Rebeca será mulher do filho de Abraão.

A - Isaac tinha a idade de quarenta anos quando se casou com Rebeca

B - Rebeca era estéril e após orações, recebeu os anjos fecundadores.

C – Anjos fecundadores? Que negócio é esse...

B – É simples... O anjo vem... tira a roupa... a menina abre as pernas...

C – Chega... chega... chega... Ela ficou grávida e os filhos, já maleducados como o avô,

brigavam dentro dela.

Rebeca (indo consultar ao Senhor): Por que brigam?

Deus: Tens duas nações no teu ventre; dois povos se dividirão ao sair de tuas entranhas.

Um povo vencerá o outro, e o mais velho servirá ao mais novo.

A - Chegou o dia de dar à luz. O que saiu primeiro era vermelho, e todo peludo como um

manto de peles, e chamaram-no Esaú. Saiu em seguida o seu irmão, segurando pela

mão o calcanhar de Esaú, e deram-lhe o nome de Jacó.

B - Esaú tornou-se um hábil caçador, um homem do campo.

C - Jacó era um homem pacífico, que morava na tenda.

A - Isaac preferia Esaú: gostava de sua caça; Rebeca se afeiçoou mais a Jacó.

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Esaú: (fatigado do campo): Deixa comer dessa coisa vermelha. Estou cansado.

Jacó: Vende-me primeiro o direito de primogenitura.

Esaú: Tá... tá... estou morrendo de fome... que primogenitura que nada!... fica com essa

merda e me dá as lentilhas

Jacó: Jura, agora mesmo.

Esaú: Ta bom. Fica com tudo. Me dá essa coisa vermelha. Estou morrendo de fome.

Todos – Olha a cabeça do cara! Ele troca a primogenitura por um prato de lentilhas.

Deus (a Isaac aos gritos, repentinamente): Não desças ao Egito; fica na terra que eu te

indico. Habita nela; eu estou contigo e te abençoarei.

Jacó: (gritando de volta) Ta... eu já ouvi.

A - Isaac faz mesma coisa que o cafetão de seu pai um dia fez. Falou que a mulher era

apenas sua irmã para que ninguém o incomodasse.

B - Se levarmos em consideração a futura frase de que do fruto conhecerá a árvore, essa

árvore que se forma agora só poderá dar furtos podres, ó povo de Israel.

C - Mas ainda bem que Abimelec tem um pouco de cabeça.

Abimelec: É evidente que é tua mulher! E como dizias tu que era tua irmã?

Isaac: Porque, eu temia que me matassem por causa dela.

Abimelec: Que nos fizeste, seu irresponsável? Cara frouxo! Um pouco mais e alguém do

povo teria abusado de tua mulher, e terias atraído o pecado sobre nós! Já mandei

publicar que será morto quem quer que toque em você ou em sua mulher.

B - O poltrão, sempre protegido por Deus, chamou para si a inveja dos filisteus.

A - Filisteu são os palestinos. Briga antiga.

C - Os filisteus entupiram os poços de água e Abimelec viu que ia sobrar para o seu lado.

Abimelec: Vai embora pois está mais rico do que nós, Issac.

Pastores (aos gritos): Esta água é nossa! Vão abrir poços em outro lugar.

Isaac: Por que me procurais, já que me detestais e me expulsastes do seu meio?

Abimelec: Vimos que o Senhor está contigo, que tal? Juremos entre nós. Queremos uma

aliança contigo. Jura que não nos farás nenhum mal, assim como também nós não

tocaremos em nada do que é teu. Partirá em paz. Agora, és o bendito do Senhor.

Todos - Senhor Isaac. Encontramos água viva!

Abimelec: Não falei?

Isaac (grita. Rebeca está por perto): Esaú, Meu filho!

Esaú (off) : Eis-me aqui!

Isaac: Tu vês, estou velho e não sei quando vou morrer. Toma as tuas armas, tua aljava

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e teu arco, vai ao campo e mata uma caça. Prepara um prato suculento, como sabes que

gosto, e traz para eu comer e minha alma te abençoe antes que eu morra. (Esaú sai)

Rebeca: Jacó. Prepara um bom prato de alimento para o pai, a fim de que te abençoe

antes de morrer.

Jacó: Mas, Esaú, meu irmão, é peludo, enquanto eu sou de pele lisa. Se meu pai me

tocar, passarei aos seus olhos por um embusteiro e atrairei sobre mim uma maldição em

lugar de bênção.

Rebeca: Tomo sobre mim esta maldição, meu filho. Ouve-me e faz o que mando.

(Jacó, coberto por uma pele se aproxima do pai.)

Jacó - Meu pai! Eis-me aqui!

Isaac: Quem és, meu filho?

Jacó: Eu sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me pediste. Come de minha caça, a fim de

que tua alma me abençoe.

Isaac: Como encontraste caça tão depressa, meu filho? Foi num pé voltou no outro,

menino?

Jacó: Isso é coisa de Deus.

Isaac: Aproxima-te, então, meu filho, para que eu te apalpe e veja se, de fato, és o meu

filho Esaú.

A - O velho era esperto e pelo jeito sabia que tipo de filhos que tinha, principalmente o

Jacó. Ficou na dúvida. E parece que a história desses judeus-israelitas todos é um

amontoado de trambicagens e enganações, além de uma coleção, imensa de incestos.

Mas, segue...

Isaac: A voz é a voz de Jacó, mas as mãos são as mãos de Esaú. (ergue a mão sobre a

caneca de Jacó) Eu o abençôo. Tu és bem o meu filho primogênito?

Jacó: Sim.

Isaac: Então, serve-me, meu filho, e minha alma te abençoará. Aproxima-te (Jacó se

aproxima)... Sim. Esse o odor de meu Esaú... não toma banho mesmo o porqueira... é

como o odor de um campo que o Senhor abençoou. (o velho se exalta) Deus te dê o

orvalho do céu e a gordura da terra, uma abundância de trigo e de vinho! Sirvam-te os

povos e prostrem-se as nações diante de ti! (mais exaltado) Sê o senhor dos teus

irmãos, e curvem-se diante de ti os filhos de tua mãe! Maldito seja quem te amaldiçoar e

bendito quem te abençoar!

(entra Esaú)

Esaú - Pai. Que negócio é esse...? Trouxe a caça... Eu sou o teu filho primogênito Esaú.

Aquele pilantra era Jacó.

Isaac – Eu o abençoei.

Esaú - (amargurado) Abençoa-me também a mim, meu pai!

Isaac: Teu irmão, veio, fraudulentamente, tomar a tua bênção. Minha nossa cada um!

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Esaú: Será porque ele se chama Jacó que me suplantou já duas vezes? Tirou-me meu

direito de primogenitura, e eis que agora me rouba minha bênção! Não tem uma benção

sobrando para mim?

Isaac: Eu o constituí teu senhor, e dei-lhe todos os seus irmãos por servos e o estabeleci

na posse do trigo do vinho. Que posso ainda fazer por ti, meu filho?

Esaú: Então só tens uma bênção, meu pai? Não é possível... Abençoa-me também a

mim, meu pai!

Isaac: Não tem mais benção... Eis, que a tua habitação será desprovida da gordura da

terra e do orvalho que desce dos céus. Viverás de tua espada, servindo o teu irmão,

mas, se te libertares, quebrarás o seu jugo de cima do teu pescoço.

Esaú : Virão os dias do luto de meu pai, e eu matarei Jacó.

Jacó – Se Deus me proteger e me der tudo o quer preciso. Ele será meu Deus, de agora

em diante.

A - Mas O Senhor aquele já não era o seu Deus?

B – Jacó desconhecia o tal poderoso e os seres poderosos que apareciam diante dele?

C - Continua ele a negociar um salvo-conduto e uma salva-guarda?

Jacó - Labão!

Labão: Estou aqui. Sim, tu és de meus ossos e de minha carne.

Jacó: Eu ficarei e o servirei em sua casa.

Labão: Só por ser meu parente, trabalhará de graça? Dize-me que salário queres.

Jacó: Eu te servirei sete anos por Raquel tua filha mais nova.

Labão: Negócio fechado.

B - Mais uma armadilha entre parentes.

C - Mais uma enganação entre hebreus.

A - Labão enganou Jacó e o fez dormir no casamento com a filha mais velha, Lia.

Labão: Aqui é o seguinte... não é costume casar a mais nova antes da mais velha. Mas,

se me servir mais sete anos, leva a outra também após a semana de núpcias.

Jacó: Eu a amo mais do que a Lia. Eu o servirei ainda por sete anos.

Todos (a um canto): Assim nasceu Ruben, filho de Lia – pois o senhor viu sua aflição - ,

depois veio Simeon, pois o Senhor viu que Lia era desdenhada, e depois ainda nasceu

Levi – para que o marido Jacó se apegasse a ela, e mais além nasceu Judá – para que o

Senhor fosse louvado.

Raquel (gritando a Jacó): Dá-me filhos, senão morro!

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Jacó: Acaso, posso eu pôr-me no lugar de Deus que te recusou a fecundidade?

Raquel: Você vai dormir com a escrava Bala. Vai se deitar com ela. Porá tua semente

nela. Que ela dê à luz sobre os meus joelhos e por ela, terei também filhos.

(Cena de sexo em contra-luz / silhuetas. Acompanha o texto numa narração

monocórdica): Deu-lhe, pois, por mulher sua escrava Bala, da qual se aproximou Jacó.

Bala concebeu e deu à luz um filho a Jacó. Segundo ela “Deus fez-lhe justiça. Por isso

ela o chamou Dã. Bala, escrava de Raquel, concebeu de novo e deu à luz um segundo

filho a Jacó. Ela disse: “Lutei contra minha irmã junto de Deus, e venci!” E deu ao

menino o nome de Neftali. Lia, vendo que não concebia mais, tomou sua escrava Zelfa e

deu-a por mulher a Jacó. Dela nasceram Gad, Por ter sorte e Asher, por ser ditosa e

Issacar, por ceder minha escrava. Cada nome uma sentença. Lia alugou Jacó em troca

de umas mandrágoras que Raquel desejava. e concebeu ainda e deu à luz um sexto filho

a Jacó e o chamou Zabulon somando seis filhos. Depois disso, deu à luz uma filha, a

quem chamou Dina. Mas mulheres não interessam nessa história, a não ser para terem

filhos. Lembrou-se Deus de Raquel, ouviu-a e tornou-a fecunda. Raquel concebeu e deu

à luz um filho. “Deus, disse ela, tirou o meu opróbrio.” E chamou-o José, dizendo: “Dê-

me o Senhor ainda outro filho!”

Jacó (pondo as calças, fala a Labão): Deixa-me partir para a minha casa, na minha terra.

Vou hoje passar pelo meio de todos os teus rebanhos e pôr à parte, entre os cordeiros,

todo o animal manchado, malhado ou negro, e entre as cabras, tudo o que é manchado

ou malhado: isto será o meu salário.

A - E, se é que a gente pode acreditar num negócio desses: as ovelhas e pecuária em

geral deram à luz filhotes listrados só pelo fato de conviverem sob a sombra de umas

varas listradas. Concebiam, então, cordeiros riscados, manchados e malhados.

B - Esse Jacó sempre foi um enganador, desde o episódio do prato das ervilhas. Jacó

tornou-se assim extremamente rico, e teve muitos rebanhos, escravas e escravos,

camelos e jumentos. É desse sujeito que brotará o povo de Israel. Serão esses tipinhos

os escolhidos?

C - Pela cara de Labão deu pra ver que ele não gostou! Ficou sem nada.

Labão (a Jacó): Que fizeste? Tu me enganaste, e conduziste minhas filhas como

prisioneiras de guerra! Ta louco!? Por que fugiu dessa forma, e não me avisou? Eu te

teria despedido com manifestações de júbilo e com cânticos, ao som do tamborim e da

harpa. Não me deixaste beijar meus filhos e minhas filhas! Procedeste como um

insensato. Eu poderia agora fazer-vos mal, mas o Deus de teu pai disse-me na última

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noite: Guarda-te de dizer algo a Jacó. E, se partiste somente porque tinhas saudade da

casa paterna, então por que roubaste os meus deuses?

Jacó: Tive medo, ao pensar que poderias tirar-me tuas filhas; quanto aos teus deuses,

porém, seja morto aquele que os pegou! Pode examinar e leva o que é teu.

A – Labão procurou e nada achou. Raquel disse que não podia se levantar por estar com

a indisposição das mulheres. Ela se sentava sobre o material roubado.

Jacó - Qual é o meu crime? Qual é o meu pecado? Servi-te catorze anos por tuas duas

filhas, seis anos pelos teus rebanhos, e dez vezes modificaste o meu salário. Se o Deus

de meu pai, o Deus de Abraão, o Deus terrível de Isaac não se tivesse posto de meu

lado, tu me terias hoje despedido com as mãos vazias. Deus viu minhas penas e meus

trabalhos, e na última noite ele se pronunciou.

Labão: Estas filhas são minhas filhas, estes filhos, meus filhos, e estes rebanhos, meus

rebanhos: tudo o que vês é meu. Que farei eu agora contra minhas filhas, ou contra os

filhos que elas deram ao mundo?

Jacó: Façamos um trato. Tomo conta delas e de mais nenhuma mulher. Tudo o que está

aí Deus é testemunha que foi conseguido por meu esforço.

Anjo (a Jacó) : Esaú vem a seu encontro com 400 homens.

Jacó: Dispersem as manadas. Separem os ordenanças. Protejam os rebanhos. Creio que

Esaú virá me matar. Deus! lembra das tuas promessas. (Jacó dorme)

(Episódio do sonho da briga com o anjo. O Anjo lhe dá um golpe e Jacó cai)

Anjo: Qual é o teu nome?

Jacó: Jacó.

Anjo: Teu nome não será mais Jacó, mas Israel, porque lutaste com Deus e com os

homens, e venceste.

Jacó: Peço-te que me digas qual é o teu nome.

Anjo: Por que me perguntas?

Jacó (coxeando): Fanuel! Esse lugar se chamará Fanuel: porque, eu vi a Deus face a

face, e conservei a vida. (Entra Esaú ao encontro se abraçam e choram)

Esaú: Jacó. Quem são estes que tens contigo?

Jacó: Esaú, são, os filhos que aprouve a Deus me dar.

Esaú: Que significa todo esse acampamento que encontrei?

Jacó: É para ganhar o favor de meu senhor.

Esaú: Possuo muitos bens, meu irmão, guarda o que te pertence.

Jacó: Aceita o presente, se quer bem, como irmão.

Esaú: Partamos, ponhamo-nos a caminho; eu te precederei. “Permita-me deixar-te uma

parte de meus homens.

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Jacó: Não é necessário, basta-me ter achado graça aos olhos do meu senhor. Levantarei

aí um altar, ao qual chamou Israel. Isis-Ra-El. A trindade conhecida.

A (tom de notícia de TV) – A violência campeia por nossa terra. Jacó teve a filha Dina

violentada.

B – No entanto, aconteceu algo inusitado. O raptor se apaixonou pela vítima.

C - O pai do jovem foi negociar com Jacó, oferecendo terras e meios para negócios e

mercados e inter-relações de parentesco futuro.

B - Foi proposto que todos se tornassem circuncisos para que os negócios pudessem

caminhar a bom termo. Todos os varões foram circuncidados e os negócios foram

estabelecidos.

A - No entanto, na calada da noite, ainda fracos por causa da cirurgia, dois dos filhos de

Jacó - Simeão e Levi - irmãos da vítima, penetraram na cidade, e mataram a espadas a

todos os varões. Inclusive o jovem e seu pai.

B – Partiram sem deixar pistas. Tomaram tudo o que havia na cidade e nos campos.

C - Levaram como espólio todos os bens, os filhos, as mulheres e tudo o que se

encontrava em suas casas.

Jacó: Vós me lançastes na confusão e me tornastes odioso aos habitantes desta terra Só

tenho comigo alguns homens e, quando toda essa gente se congregar contra mim para

me ferir, perecerei com minha família.

Simeon: Porventura, devíamos deixar tratar nossa irmã como uma puta?

Todos - Rachel morreu ao dar à luz Benjamin.

José: Estávamos ligando feixes no campo, e eis que o meu feixe se levantou e se pôs de

pé, enquanto os vossos o cercavam e se prostravam diante dele.

Ruben Quererias, porventura, reinar sobre nós e tornar-te nosso senhor?

José: Tive, ainda um sonho: o sol, a lua e onze estrelas prostravam-se diante de mim.

Simeon: Eis o sonhador que chega. Vamos, matemo-lo e atiremo-lo numa cisterna;

diremos depois que uma fera o devorou; aí quero ver para que servem os sonhos.

Ruben: Não lhe tira a vida. Nada de sangue. Jogai-o naquela cisterna, no deserto, mas

não levanteis vossa mão contra ele (à parte) Depois eu o levo de volta ao pai.

B - José depois foi vendido aos egípcios. Irmão contra irmão. Inveja entre irmãos.

Jacó: É chorando que descerei para junto de meu filho na habitação dos mortos.

C - Mas esses irmãos e essa corja toda descendente de Jacó provaram - nas Sagradas

Escrituras - que não passavam de selvagens e bárbaros sanguinários. E tem mais: Judá

dormiu com Tamar que tinha sido mulher de seus dois filhos, ambos mortos por Deus.

Judá havia prometido um ultimo filho, quando enviuvasse e não cumpriu. Fez sexo com

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ela, pois, a encontrou na beira da estrada Tomou como uma qualquer e em troca do

sexo lhe deu um cabrito. Ela ainda pediu braceletes e jóias, e anel, cordão e bastão.

Pior: Ela concebeu.

B - Judá, a tua nora, andou pulando a cerca: vê-se que está grávida.

Judá: isso não pode ser. Que ela seja queimada!

Tamar: Concebi do homem a quem pertence isto: examine bem, ajuntou ela, de quem

são este anel, este cordão e este bastão.

Judá: Essas peças são minhas. Ela é mais justa do que eu; pois que não a dei ao meu

filho Sela.

B - E não se deitou mais com ela.

A - Ela teve gêmeos. Podia ter sido queimada se não fosse uma mulher muito esperta.

C - Usou a lei dos patriarcas para ter o que lhe pertencia por promessa.

B – Esses são os filhos de Jacó. Povo de Israel, de onde há de vir o Messias.

Todos – Uau!

A – (como notícia) Acaba de chegar das terras de Canaã, uma leva de escravos, trazidos

pelos Ismaelitas cabeludos. Trata-se de uma retaliação que os descendentes de Abraão,

pelo mal ou bem que fizeram a Agar, antiga escrava egípcia.

B – (tom de notícia de TV) Na tarde de ontem, por volta das dezesseis horas, José foi

conduzido ao Egito, direto para o mercado do centro. Estava amarrado.

C – (notícia) Consta que o comandante Potifar, eunuco do Faraó, um oficial egípcio de

carreira, chefe da guarda, comprou- José a preço de tâmaras maduras.

A – (notícia) José caiu nas graças de Potifar e se deu bem no palácio, ganhando um bom

lugar na administração.

B - Mas a mulher de Potifar insinuou-se a José, que a não queria.

A – Acusado, injustamente, de assédio sexual José foi parar na prisão.

C - O curioso é que, Potifar, sendo eunuco, tinha mulher à sua disposição. Taí uma coisa

difícil de entender, como se não fossem poucas as coisas nessa história.

B - Na prisão os dons proféticos de José se manifestaram e se mostraram verdadeiros,

principalmente ao prever o fim da história do mordomo do Faraó e de seus padeiros, que

também estavam presos.

A - José confiava em seu Senhor Deus.

B - José previu que o mordomo se safaria da morte, mas o padeiro não. Tudo isso

através da interpretação dos sonhos de ambos.

C – Dessa forma o mordomo não se esqueceu jamais do jovem José.

Todos - Um dia José foi chamado ao palácio do faraó preocupado pois ninguém conseguia

interpretar seus sonhos.

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Faraó: Ouvi dizer que basta contar um sonho para que tu o expliques.

José – O faraó é quem está dizendo isso. Não me comprometa.

Faraó – Afinal, qual é.

José (didático) – Seguinte... (juntando a ponta dos dedos / mão contra mão) Não sou eu,

mas é Deus quem dará ao Faraó uma explicação. Que isso fique muito claro. Mas está na

cara que o duplo sonho do faraó reduz-se, na verdade, a um só. É uma revelação. As

sete vacas gordas e os sete feixes de bom trigo são os anos de fartura do Egito. As sete

vacas magras e o setes feixes podres serão a seca e a pobreza que se seguirão. Será

necessário uma ação política e um tremendo plano econômico para que o povo não sofra.

Faraó: Tu mesmo serás posto à frente de toda a minha casa, e todo o meu povo

obedecerá à tua palavra: só o trono me fará maior do que tu. Estás á testa de todo o

Egito. (dando-lhe um anel) Ouçam todos! sem a permissão de José não se moverá a

mão nem o pé em toda a terra do Egito. Primeiro Ministro. Adon do Egito. O mundo

comprará trigo conosco.

Todos - A fome era violenta em toda a terra.

Jacó: Por que estais olhando uns para os outros? Me disseram que há muito trigo no

Egito. Desçam lá e comprem. Vão todos vocês e fica o pequeno Benjamin.

José - (para a platéia) Donde vindes?

Ruben (atrás): Da terra de Canaã para comprar víveres.

José: Vós sois espiões: viestes explorar os pontos fracos do país.

Ruben: Não, meu senhor, teus servos vieram comprar víveres. Somos todos filhos dum

mesmo pai, somos gente honesta; teus servos não são espiões.

José: Não é verdade - viestes explorar os pontos fracos do país.

Ruben: Somos doze irmãos, filhos dum mesmo pai, na terra de Canaã. O mais novo está

agora em casa de nosso pai, o outro já não existe.

José: É bem como eu disse: sois espiões. Sereis, aliás, postos à prova: pela vida do

Faraó, não saireis daqui antes que tenha vindo vosso irmão mais novo. Mandai um de

vós buscá-lo; enquanto isso, ficareis prisioneiros. Vossas palavras serão assim provadas,

e veremos se dizem a verdade. Do contrário, pela vida do Faraó, eu os acusarei de

espiões! Ficarão nas prisões. Melhor... Fazei isto, e vivereis, porque sou cheio do temor a

Deus. Se sois gente de bem, que um dentre vós fique aqui detido; e os outros partam

levando o trigo para alimentar vossas famílias. Nem precisa pagar.

Ruben: Em verdade, expiamos o crime cometido contra o nosso irmão, porque víamos a

angústia de sua alma quando ele nos suplicava, e não o escutamos! Eis por que veio

sobre nós esta desgraça! Eu disse para não pecardes contra o menino? Não quisestes

ouvir-me, e eis agora que nos é reclamado o seu sangue!

B - José chorou, prendeu somente Simeon, encheram as bolsas de trigo e os mandou de

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volta para cumprirem o trato. E ainda escondeu de volta o dinheiro do pagamento nas

bolsas. José fundava o sistema de nepotismo nos governos.

Ruben: Pai Jacó. O homem que governa o Egito prendeu Simeon e quer conhecer nosso

irmão mais novo como prova de que não somos espiões. Ele o quer lá.

Jacó: Vós me tirais os meus filhos! José já não existe, Simeão tampouco, e quereis me

tomar ainda Benjamim! Tudo vem cair sobre a minha velhice!

Rubem: Tira a vida aos meus dois filhos, se eu não trazer Benjamim de volta!

Jacó – Chega! Não quero mais perder filho algum.

Todos – A fome piorou sobre a terra de Canaã. Havia necessidade de se comprar mais

trigo e víveres. Tiveram que voltar ao Egito.

José: Vosso velho pai, do qual me falastes, vai bem? Ainda vive?

Ruben: Teu servo, nosso pai, está passando bem; e vive ainda.

José: É este, vosso irmão mais novo do qual me falastes?“Que Deus te faça

misericórdia, meu filho! Poderão comer à vontade, levem seu dinheiro e trigo e partam,

que já é hora.

Todos - No entanto José põe na bolsa de Benjamin uma taça, sem que ninguém saiba.

Manda que a soldadesca os persiga no deserto e determina que quem estiver com a taça

será seu escravo.

José: A taça foi encontrada na bolsa de Benjamin. Portanto ele deve morrer.

Judá: Rogo-te, meu senhor, não se ire, porque tu és como o próprio faraó. Esse agora é

o preferido da velhice de nosso pai. Não podemos voltar sem ele. O pai disse: Se lhe

acontecer alguma desgraça, fareis descer os meus cabelos brancos à habitação dos

mortos, sob o peso da dor. Eu fico como escravo e livra o meu irmão.

José: Aproximai-vos. Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egito. Estas são as

linhas tortas de Deus. Fui mandando na frente para livrar o caminho de nossa família da

fome. Não fiquem tristes nem com remorsos. É tudo brincadeirinha. Quem manda aqui

sou eu. Deus tornou-me chefe de toda a casa do Faraó e governador de todo o Egito.

Avisarei o faraó que meus irmãos e a família de meu pai que estavam em Canaã, vieram

para junto de mim; os homens são pastores, criadores de animais, e trouxeram suas

ovelhas e seus bois com tudo o que lhes pertence. Ficarão nas terras de Gessém. As

terras de Ramsés. Quem sabe alguém não trabalha nos estábulos do Faraó?

A - E José forneceu víveres a seu pai, a seus irmãos e a toda sua família.

B - E faltou pão em toda a terra, porque a fome era tão violenta que a terra do Egito e a

terra de Canaã estavam esgotadas.

C - José tinha ajuntado todo o dinheiro que se encontrava no Egito e em Canaã, como

preço do trigo que compravam, e o tinha depositado no tesouro do Faraó.

A - José trocou pão pelos animais do povo, no primeiro ano.

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B - Depois se tornaram escravos na própria terra, em troca de pão. Toda a população era

servil e toda terra era do Faraó. Exceto a dos sacerdotes. Privilégios da casta.

C - Em seguida deu ao povo, sementes para que no tempo da colheita, dessem a quinta

parte ao Faraó: as outras quatro partes serviriam para semente do campo e para

alimento.

Jacó - Meu filho, promete que me não enterrará no Egito. Tu liderarás povos. Os dois

filhos que te nasceram no Egito antes que eu viesse para junto de ti, agora são meus

filhos também: Efraim e Manasses. Não pensava em revê-lo e pude ainda conhecer seus

filhos. (em transe) : Eis as profecias sobre todos vocês.

(música de flauta pastoril)

Rubem, tu és o meu primogênito primícias do meu vigor. Digno e notável em poder.

Transbordante como a água, só não terás o primeiro lugar, porque dormiu com minha

mulher.

Simeão e Levi são irmãos; suas espadas são instrumentos de violência. Que a minha

alma não participe de suas maquinações, meu coração jamais se associe às suas

reuniões! Porque em sua cólera mataram homens. Maldita cólera que os levou à

violência, maldito furor que os induziu à crueldade! Hei de dispersá-los em Jacó, hei de

espalhá-los em Israel.

Judá, teus irmãos te louvarão. Subjugarás inimigos; teus irmãos se prostrarão em tua

presença. Filhote de leão, Judá: voltas trazendo a caça, meu filho. Não se apartará o

cetro de Judá, até que venha aquele a quem pertence por direito.

Zebulon habita à beira do mar, no litoral, onde aportam os navios.

Issacar é um jumento forte, deitado nos currais. Vê que é bom o descanso e a terra

agradável: curva os ombros sob a carga, sujeita-se ao tributo.

Dan julgará seu povo, como uma das tribos de Israel. Dan será uma serpente no

caminho, uma cobra na estrada, que morde a pata do cavalo e derruba o cavaleiro.

Gad será roubado por quadrilhas, mas também os assaltará e perseguirá.

Aser faz um pão saboroso, que constitui as delícias dos reis.

Neftali é uma gazela solta, que tem lindos filhotes.

Aqui é tudo bicho, meu filho.

José é broto de árvore fértil junto à nascente: seus ramos crescem acima do muro.

Benjamim é o lobo voraz que abate a presa e divide os despojos ao anoitecer.

Todos - Jacó lhes dá uma benção sobrenatural, com todos os poderes e pedidos à

divindade. São estes todos que formam as doze tribos de Israel.

José: Devo sepultar meu pai em Canaã. Ele já está embalsamado.

Faraó : Vai sepultar teu pai como ele te fez jurar. Toda a Elite governante do Egito vai ao

sepultamento de Jacó. Em honra de teu pai declaro pranto de sete dias.

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Ruben: Antes de morrer, teu pai recomendou-nos que te pedíssemos perdão do crime

que cometemos, de seu pecado, de todo o mal que te fizeram. Perdoa, pois, agora esse

crime àqueles que servem o Deus de teu pai. Somos teus escravos!

José: Não temais: Eu não sou Deus. Era para me fazer um Mal e aconteceu um Bem.

Um dia, daqui a cem anos eu morrerei; mas Deus os tirará daqui de volta para a terra

dos patriarcas. Levareis daqui os meus ossos.

Todos – (rola um batuque de danças e cantos similares aos cantos orientais)

José morreu com a idade de cento e dez anos. Foi embalsamado e depositado num

sarcófago no Egito. Os hebreus deixaram o Egito somente 450 anos depois de uma

escravidão brutal, por obra e feitos de Moisés – aquele que foi retirado das águas e que

abriu uma passagem pelas águas do Mar Vermelho. Mas isso já é outra história...

Com a ajuda de Deus!

(finaliza em danças e o elenco em festa, Deus dança junto)

FIM

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