LUCIANO, Bruno; BRESSAN, Regiane - A Comunidade Andina No Século XXI

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GT24 - MUNDO EM TRANSIÇÃO: NOVOS VÉRTICES DE PODER, INSTITUIÇÕES E COOPERAÇÃO COORDENAÇÃO: KARINA P ASQUARIELLO (UNESP) ROBERTO GOULART MENEZES (UNB) A COMUNIDADE ANDINA NO SÉCULO XXI: ENTRE BOLIVARIANOS E A ALIANÇA DO PACÍFICO. BRUNO THEODORO LUCIANO Konrad AdenauerFellow em Estudos Europeus Centro de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas - FGV Professor Colaborador do Instituto de Relações Internacionais da UnB Bacharel e Mestre em Relações Internacionais pela UnB [email protected] REGIANE NITSCH BRESSAN Professora Adjunta do Curso de Relações Internacionais Escola Paulista de Política, Economia e Negócios - EPPEN Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP [email protected]

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LUCIANO, Bruno; BRESSAN, Regiane - A Comunidade Andina No Século XXI

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  • GT24 - MUNDO EM TRANSIO:

    NOVOS VRTICES DE PODER, INSTITUIES E COOPERAO

    COORDENAO: KARINA PASQUARIELLO (UNESP)

    ROBERTO GOULART MENEZES (UNB)

    A COMUNIDADE ANDINA NO SCULO XXI:

    ENTRE BOLIVARIANOS E A ALIANA DO

    PACFICO.

    BRUNO THEODORO LUCIANO Konrad AdenauerFellow em Estudos Europeus

    Centro de Relaes Internacionais da Fundao Getlio Vargas - FGV

    Professor Colaborador do Instituto de Relaes Internacionais da UnB

    Bacharel e Mestre em Relaes Internacionais pela UnB

    [email protected]

    REGIANE NITSCH BRESSAN Professora Adjunta do Curso de Relaes Internacionais

    Escola Paulista de Poltica, Economia e Negcios - EPPEN

    Universidade Federal de So Paulo - UNIFESP

    [email protected]

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    RESUMO

    Esse trabalho discute o lugar da Comunidade Andina, fundada em 1969,como Pacto

    Andino, no contexto do regionalismo latino-americano do sculo XXI. Aps analisar a

    insero da Comunidade Andina a partir da perspectiva do desenvolvimento de um

    regionalismo ps-liberal na virada do sculo, apresenta-se o atual estado institucional e

    poltico do processo de integrao andino, composto por uma situao de

    desconhecimento, descrdito e falta de legitimidade, reflexo da percepo social quanto

    integrao. Discute-se se a polarizao ideolgica dos pases-membros da integrao sub-

    regional tem incentivado a desestruturao desse processo, em detrimento de outros

    esquemas de integrao, priorizando perspectivas de insero regional bolivariana

    (Aliana Bolivariana para as Amricas ALBA), liberal (Aliana do Pacfico) ou mesmo projetos de integrao de amplitude sul-americana (Unio de Naes Sul-Americanas -

    UNASUL).

    Palavras-Chave: Integrao Sul-Americana. Comunidade Andina. Integrao Ps-

    liberal. Regionalismo.

    INTRODUO

    O presente trabalho discute o lugar da Comunidade Andina no contexto do

    regionalismo latino-americano do sculo XXI. Aps analisar a insero da Comunidade

    Andina a partir da perspectiva do desenvolvimento de um regionalismo ps-liberal na

    virada do sculo, apresenta-se o atual estado institucional e poltico do processo de

    integrao andino, composto por uma situao de desconhecimento, descrdito e falta de

    legitimidade, reflexo da percepo social quanto integrao. Discute-se se a polarizao

    ideolgica dos pases-membros da integrao sub-regional tem incentivado a

    desestruturao desse processo, em detrimento de outros esquemas de integrao,

    priorizando perspectivas de insero regional ps-liberais ou bolivarianas (ALBA),

    liberais (Aliana do Pacfico) ou mesmo projetos de integrao de amplitude sul-

    americana (UNASUL).

    A integrao andina o processo integracionista mais antigo da Amrica do Sul.

    Iniciada no ano de 1969, (...),fecha de creacin del Acuerdo de Cartagena, hasta

    principios de los 80, se insista en la necesidad de un desarrollo integral y armnico,

    centrado en una perspectiva economicista, con muy poca atencin hacia lo poltico

    (ARELLANO, 2003, p.79). Durante sua primeira dcada de existncia, a integrao

    andina esteve associada fundamentalmente aos objetivos econmico-comerciais, de

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    construo de uma rea de Livre Comrcio e de uma Unio Aduaneira a nvel sub-

    regional. Nenhum projeto poltico ou social ambicioso foi pensado nesse perodo pelos

    Estados andinos, haja vista a existncia de regimes militares nos pases da regio.

    Uma das caractersticas mais relevantes da integrao dos pases andinos, que a

    difere dos demais projetos de integrao construdos na Amrica Latina, que sua

    institucionalidade recorreu significativamente experincia da integrao europeia, ao

    analogamente incorporar o papel protagnico das instncias regionais na integrao

    (ZEGARRA, 2005). O estabelecimento da Junta do Acordo de Cartagena, rgo

    executivo regional de carter supranacional, autnomo aos interesses nacionais, indica

    que a integrao andina contou com a institucionalidade mais complexa dos processos de

    integrao do continente.

    A nfase nas estruturas institucionais regionais autnomas uma caracterstica do

    contexto em que esses processos de integrao ocorriam e foi influenciada pela

    perspectiva neofuncionalistaelaborada por Ernst Haas (2004) que enfatizava a

    importncia dessas instncias supranacionais para a promoo da expanso da integrao

    e seu aprofundamento, em uma lgica que este autor chamou de spillover. No entanto,

    um aspecto central da supranacionalidade para o neofuncionalismoera que essa nova

    institucionalidade estimularia expectativas positivas nos atores em relao integrao

    regional e promoveria uma transferncia de lealdades para as instncias comunitrias,

    permitindo que interesses coletivos transnacionais pudessem ser considerados sem os

    entraves das lgicas nacionalistas dos governos que muitas vezes priorizam interesses de

    curto prazo, em detrimento de projetos de longa durao.

    Esse fortalecimento institucional e aumento de expectativas positivas em relao

    integrao no se verificaram nas experincias integracionistas da Amrica Latina. Nos

    primeiros anos de sua criao, o Pacto Andino contava com a participao de Bolvia,

    Colmbia, Equador, Peru, Venezuela e Chile. Esses dois ltimos deixaram o processo de

    integrao ao longo do tempo. Enquanto a sada do Chile data de 1977, no contexto de

    liberalizao comercial do regime do General Augusto Pinochet, a da Venezuela mais

    recente (2006), quando deixou a integrao andina e fez, em seguida, seu pedido de

    adeso ao Mercado Comum do Sul (Mercosul).

    Mesmo durante a onda de democratizao dos anos 1980 e de relanamento da

    lgica regionalista, que atingiu toda a Amrica Latina e tambm a sub-regio andina, no

    possvel perceber nos processos de integrao da regio um reconhecimento de que

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    estruturas comunitrias mais autnomas seriam as instncias adequadas para promover a

    cooperao e o desenvolvimento dos pases integrantes da CAN.

    A saber, o Parlamento da Comunidade Andina no foi identificado pelas

    populaes como uma instncia de promoo de direitos e bem-estar, nem tampouco de

    efetiva participao democrticas, embora sua institucionalizao fosse contempornea

    aos processos de transio democrtica no Equador (1977 -79), no Peru (1978 - 80) e na

    Bolvia (1982), bem como ao aprofundamento da democracia na Colmbia e Venezuela.

    A convergncia dos regimes polticos na sub-regio favoreceu a aproximao entre eles,

    devido identidade poltica comum e necessidade de promover a consolidao

    democrtica em conjunto (PINTO, 2001).

    Esse contexto de significativas mudanas econmicas e polticas trouxe um novo

    impulso ao projeto de integrao andino. Em 1987, o Protocolo Modificativo de Quito

    atualizou o ordenamento jurdico do Pacto Andino, bem como sua estrutura institucional,

    com a incluso, na integrao andina, de um Tribunal de Justia, de um Parlamento

    Andino e de um Conselho Consultivo Empresarial e Laboral Andino (AVENDAO,

    1999). O reforo da institucionalidade da integrao andina veio em conjunto

    democratizao dos pases da regio, os quais passaram a demandar a participao social,

    tanto por vias representativas (Parlamento) como participativas (Conselho Consultivo),

    alm do reforo da segurana jurdica (Tribunal Andino) do processo de integrao.

    Apesar do alto grau de complexidade institucional da integrao andina e da

    existncia de estruturas supranacionais, anlogas integrao europeia, a integrao

    andina apresenta um baixo grau de eficincia (AVENDAO, 1999). A falta de um pas

    que se posicione como paymaster da integrao e lidere o processo de impulso poltica

    do projeto integracionista tm impedido que os resultados polticos da integrao

    acompanhem seu desenvolvimento institucional.

    Nos diagnsticos da dificuldade de avano da integrao andina, mais quatro

    elementos so adicionados ao rol de empecilhos ao desenvolvimento do projeto

    integracionista: ausncia de um projeto poltico comum; baixssimos nveis de

    consolidao democrtica nos pases da regio; aumento do populismo neoliberal; e

    baixa participao da sociedade civil na integrao (PINTO, 2001). Alm desses, pode

    ser adicionado o fato de que os pases andinos constituem a regio com maior grau de

    instabilidade poltica na Amrica Latina (ZEGARRA, 2005), inclusive em virtude das

    questes relacionadas ao narcotrfico e presena na regio de grupos paramilitares em

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    luta contra os movimentos revolucionrios, em especial as Foras Armadas

    Revolucionrias Colombianas (FARC) e o Exrcito de Libertao Nacional (ELN).

    Nos anos 1990, em um contexto regional de expanso de projetos de integrao

    regional pela Amrica Latina, o Pacto Andino sofreu uma alterao constitutiva. Em

    1997, com a entrada em vigor do Protocolo de Trujillo, uma nova institucionalidade foi

    construda na integrao andina, na qual, entre outras modificaes, o Pacto Andino foi

    substitudo pela Comunidade Andina. O Protocolo de Trujillo instituiu uma Secretaria

    Geral da CAN, que substituiu a antiga Junta do Acordo de Cartagena, entidade

    supranacional de carter administrativo na integrao.

    Um dos destaques identificados no referido Protocolo a consolidao do papel

    do Parlamento Andino como rgo deliberante da integrao andina. Composto por cinco

    representantes titulares de cada congresso nacional dos Estados-membros (e dez

    suplentes), segundo as regulamentaes nacionais e do prprio Parlamento, o Parlandino

    tem a responsabilidade de emitir sugestes normativas com o objetivo de facilitar a

    harmonizao das legislaes nacionais. Ademais, apresenta a funo de se relacionar

    com os legislativos nacionais, garantindo maior contato desses com o processo de

    integrao (AVENDAO, 1999).

    Ainda que o desenvolvimento da Comunidade Andina apontasse para a

    supranacionalidade com a criao do Parlandino, o bloco vem sofrendo retrocessos no

    campo da supranacionalizao de normas, evidenciando a caracterstica governamental

    no processo decisrio. O desenvolvimento da estrutura institucional provocado pela

    alterao ao Pacto Andino aumentou a preocupao de um possvel enfraquecimento da

    soberania estatal, levando a maioria dos governos a decidir por uma estrutura de carter

    intergovernamental, na qual os governos constituem os principais atores e centralizadores

    da tomada de deciso (BUSTAMANTE, 2006).

    Ademais, nos ltimos anos identifica-se uma polarizao do posicionamento

    externo e regional dos Estados-membros da CAN, que tem acirrado as dificuldades no

    andamento do processo de integrao andino. Alguns Estados buscaram ampliar sua

    insero economia internacional, atravs de polticas de abertura comercial para bens e

    servios e proteo aos investimentos estrangeiros, como Peru e Colmbia. Outros

    grupos de Estados firmaram acordos comerciais com os Estados Unidos, como o Tratado

    de Livre Comrcio entre Estados Unidos, Amrica Central e Repblica Dominicana. Por

    sua vez, perante os obstculos comerciais impostos pelos pases desenvolvidos, como os

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    subsdios agrcolas e medidas antidumping, acordos com os pases em desenvolvimento

    foram firmados, especialmente pelo Brasil, que assim o fez com a frica do Sul e ndia

    (TUSSIE; TRUCCO, 2010). Em 2012, Peru e Colmbia reafirmam sua posio em prol

    da expanso de acordos de liberalizao comercial ao aderirem Aliana do Pacfico,

    formado por esses pases somados Chile e Mxico.

    Como resposta crise da liberalizao comercial, atravs de iniciativas

    heterogneas, outros projetos de integrao surgiram como a Unio de Naes Sul-

    Americanas (UNASUL) e a Aliana Bolivariana para as Amricas (ALBA), conhecidos

    como regionalismo ps-liberal (VEIGA; RIOS, 2007). Esse novo conceito expressa

    uma nova ordem de prioridades regionais e uma agenda deslocada esquerda do eixo do

    poder poltico.

    A principal caracterstica deste novo conceito a crtica ao paradigma liberal, na

    qual se basearam tanto as iniciativas de integrao latino-americana nos anos 1990,

    quanto as polticas econmicas domsticas dos pases da regio. Segundo seus

    precursores, no regionalismo aberto, os processos de integrao ignoraram temas

    relacionados s assimetrias estruturais entre os pases-membros, bem como desprezaram

    preocupaes com as dimenses produtivas e de desenvolvimento.

    1. DESENVOLVIMENTO DO REGIONALISMO PS-LIBERAL E A COMUNIDADE ANDINA

    Na dcada de 2000, cresceu o desencanto da sociedade sul-americana com as

    reformas neoliberais da dcada de 1990. As crticas s polticas econmicas adotadas na

    regio na dcada anterior agravaram-se, sobretudo a partir da sucesso de crises

    econmicas na virada do sculo, como a crise da desvalorizao do real no Brasil em

    1999, e crise argentina em 2001. Alm disso, a constatao do fraco desempenho das

    economias sul-americanas culminou no questionamento s estratgias nacionais e no

    papel do Estado na economia. Os maiores pases da regio revisaram suas escolhas

    econmicas, e as polticas liberalizantes comerciais, sobretudo com os pases

    desenvolvidos, entraram em eroso.

    Este cenrio propiciou o surgimento de lideranas de diferentes vieses polticos,

    as quais revelaram apoio s polticas centralizadoras e autoritrias, principalmente pela

    soluo para questes no resolvidas pelo mago do regime democrtico, e pela

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    necessidade de conter movimentos populares que cresceram nas ltimas dcadas. No

    plano domstico, esse cenrio propiciou a ascenso de governos considerados, em

    diferentes medidas, de esquerda, conhecidos tambm como progressistas. A srie de

    vitrias eleitorais desses governos esquerdistas, movimento conhecido tambm como

    onda rosa, refletiu a insatisfao ao modelo neoliberal no mbito social. Mesmo que o

    neoliberalismo beneficiasse alguns setores da economia desses pases, prevaleceu o

    desagrado populacional advindo das ineficincias internas. Assim, a expresso popular

    passou a reivindicar maior ateno dos Estados s necessidades das classes mais baixas,

    discurso ofertado justamente pelos polticos de esquerda.

    Embora tais governos defendessem necessidades imperiosas de transformao

    social, apresentaram disparidades entre suas polticas e ideologias, como os governos do

    Brasil e da Argentina. Ainda que fossem contrrios ao arranjo neoliberal, algumas

    diretrizes desse modelo perpetuaram na regio, marcada por governos com projetos

    polticos econmicos heterogneos, que mesclaram prerrogativas sociais, embasadas no

    nacionalismo, com polticas econmicas ortodoxas.

    Alguns destes governos da vertente esquerdista conformaram nos primrdios do

    sculo XXI uma nova forma poltica, o neopopulismo(WEYLAND, 2004). Ainda que

    sua definio exata seja bastante controversa e complexa, o neopopulismo considerado

    um modelo poltico ps-moderno (TRAINE, 2004). Inspirados no populismo clssico, os

    lderes neopopulistas se aproveitaram da insatisfao populacional com as reformas

    econmicas liberais e dos governos instveis na regio que no lograram xito nas

    promessas de desenvolvimento social. Dessa forma, tais lideranas usufruram desse

    descontentamento, sustentando-se como novos representantes do povo (WEYLAND,

    2004).

    Como representantes deste perfil, os lderes Hugo Chvez, Evo Morales e Rafael

    Correa foram frutos dos movimentos sociais crescentes e dos eleitores descontentes que

    apoiaram estes governos por suas promessas de derrubar a classe poltica dirigente e

    promover polticas de incluso. De diferentes origens tnica, social, profissional e

    poltica, estas lideranas proclamaram objetivos similares, ainda que vivenciassem

    realidades diferentes enfrentando oposies distintas (SHIFER; JOYCE, 2008).

    Portanto, a Amrica do Sul presenciou uma alterao gradativa nas elites e

    lideranas, principalmente polticas, no ncleo do poder nacional (STEFANONI, 2012).

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    Ademais, assistiu-se a renovao da participao da sociedade civil; organizaes no-

    governamentais e movimentos sociais eclodiram no final dos anos 1990, ganhando novos

    espaos de atuao e reivindicao nos anos 2000. Estes novos atores comearam a

    conformar mudanas no plano domstico, e no entendimento do que deveriam ser os

    processos de integrao regional.

    Nas relaes internacionais, aps a estagnao das negociaes multilaterais da

    Organizao Mundial do Comrcio na Conferncia de Seattle de 1999, somada s

    dificuldades econmicas vividas pelos pases da regio, redefiniu-se a estratgia de

    insero internacional dos pases latino-americanos. A convergncia de abertura

    comercial regional esmaeceu em detrimento de estratgias diversas adotadas por esses

    pases de insero internacional.

    No mbito do Mercosul, Argentina e Brasil firmaram o Consenso de Buenos

    Aires, em aluso ao Consenso de Washington. A inteno do documento foi balizar as

    aes dos dois pases, abrangendo vrios temas de interesse comum. O Consenso de

    Buenos Aires apresentou forte nfase poltica e social, reafirmando os princpios da

    democracia, da justia e da equidade, em detrimento do tema econmico. Neste pacto,

    Brasil e Argentina prometeram coordenar objetivos comuns, reforando a integrao

    regional para lograr interesses nacionais e atingir resultados equilibrados nas negociaes

    multilaterais (ALMEIDA, 2003).

    O cenrio internacional intensificou a crtica do projeto liberal de abertura dos

    mercados e desregulamentao econmica, exacerbandonovos rumos latino-americanos,

    com a crise econmica de 2008. Estaagravou a sensao dos riscos da interdependncia e

    provocou novas tenses e conflitos econmicos, dificultando a cooperao internacional.

    Assim, nos pases em desenvolvimento, revigorou o ideal do Estado forte na economia,

    com instrumentos de proviso da segurana e coeso social, ameaadas pelas incertezas e

    instabilidade econmicas internacionais (VIGEVANI; RAMANZINI JNIOR, 2010;

    VEIGA; RIOS, 2011).

    Desta forma, um grupo de pases mostrou-se cada vez mais resistente maior

    abertura comercial, assumindo, em contrapartida, compromissos de outras naturezas no

    mbito dos processos de integrao regional, como Argentina, Bolvia, Equador e

    Venezuela (VEIGA; RIOS, 2011). Inclusive, alguns deles provocaram fortes alteraes

    em suas polticas econmicas ao enrijecer o protecionismo comercial e expropriarem

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    ativos estrangeiros, como aconteceu na Venezuela e Bolvia, alm do posicionamento

    intensificado, aps a crise econmica mundial de 2008, quando se iniciou um processo

    global de reviso de paradigmas de poltica econmica. Ainda que os objetivos destas

    lideranas que promovem o novo socialismo na regio, estejam distantes do conceito

    terico do socialismo discutido nos estudos das Cincias Sociais, estes governos

    consistem em ruptura dos modelos econmicos adotados nos anos anteriores na regio,

    ao impor a interveno do Estado na economia, como a nacionalizao de empresas

    estrangeiras que exploram recursos naturais (RODRRGUEZ-LARRETA, 2008).

    1.1. A Integrao Sul-Americana na era Ps-liberal

    Neste contexto de mudanas no cenrio poltico latino-americano, os projetos de

    integrao regional passaram a vivenciar outro momento conhecido como regionalismo

    ps-liberal (VEIGA; RIOS, 2007), ps-comercial ou ps-hegemnico (SERBN, 2011).

    Segundo seus precursores, no regionalismo aberto, os processos de integrao ignoraram

    temas relacionados s assimetrias estruturais entre os pases-membros, bem como

    desprezaram preocupaes com as dimenses produtivas e de desenvolvimento. Portanto,

    esse fenmeno decorreu do ressurgimento do nacionalismo econmico e politizao das

    agendas econmicas externas de vrios pases da regio. Tal fenmeno se insere em um

    marco internacional amplo, que favorece o protecionismo e o nacionalismo econmico,

    inclusive nos pases desenvolvidos.

    O regionalismo ps-liberal composto tanto por uma agenda integrativa de

    cunho desenvolvimentista, resistente abertura comercial, quanto por uma agenda

    antiliberal, que propicia a formao de coalizes entre pases afins ideologicamente. A

    hiptese primordial de que a liberalizao dos fluxos de comrcio e os investimentos

    nos acordos comerciais no foram capazes de promover o desenvolvimento no interior do

    processo, reduzem o espao para implantao de polticas nacionais desenvolvimentistas

    e dificultam a adoo de uma agenda de integrao voltada aos temas de

    desenvolvimento e equidade social.

    Por conseguinte, a segunda proposta desse paradigma a ampliao temtica da

    agenda de integrao, abrangendo assuntos econmicos no comerciais e temas no

    econmicos. Os novos temas so selecionados segundo critrios diversificados, mas

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    sempre relacionados com os ideais do novo paradigma, como necessidade pelo

    desenvolvimento e pela busca da equidade social, superao da pobreza e desigualdade,

    bem como a incorporao de grupos sociais que foram excludos dos modelos liberais de

    integrao (VEIGA; RIOS, 2007). Os projetos regionais mais emblemticos e criados na

    era ps-liberal constituem os projetos da ALBA-TCP, UNASUL alm da CELAC

    (CIENFUEGOS;SANAHUJA, 2010; ALTMANN, 2011). Embora os projetos que

    despontaram neste perodo revelem diferenas entre suas intenes e estrutura, eles

    compartilham traos caractersticos deste perodo que inferem tambm os caminhos

    atuais das relaes regionais.

    A. Agenda Desenvolvimentista

    O retorno da agenda desenvolvimentista, balizada pelo movimento do ps-

    liberalismo, afastou a regio dos objetivos do neoliberalismo, do regionalismo aberto, do

    Consenso de Washington e de suas frmulas em funo de um impulso neo-

    desenvolvimentista, aproximando-os dos temas sociais e polticos. Nestes acordos,

    vislumbram-se os impulsos gerados pelos governos progressistas consolidao da

    democracia, da defesa dos direitos humanos, da incluso e construo da cidadania,

    atravs da maior participao do Estado na economia e esforos eminentes ao

    desenvolvimento e reduo de desigualdade. Por conseguinte, as naes da regio

    tambm buscam maior autonomia frente ao mercado, no campo da poltica de

    desenvolvimento e frente poltica exterior dos Estados Unidos.Alm disso, foi

    construdo um vnculo entre os ideais da integrao regional e os esforos sociais, como a

    reduo da pobreza e desigualdade, em um contexto poltico em que a justia social

    adquiriu um novo e maior peso na agenda poltica da regio (SERBN, 2011).

    B. Estado Forte

    Um outroponto importante constitui no retorno do Estado forte na poltica, nas

    relaes internacionais e no desenvolvimento econmico e social, implicando maior

    atuao do Estado frente aos atores privados e foras da economia de mercado. Esta

    estratgia visa contrapor os Estados ao fantasma da ameaa e do poder tradicional

    hegemnico hemisfrico dos Estados Unidos, pois, na prtica, estes projetos regionais

    que se conformam so reativos e defensivos potncia estadunidense (SERBIN, 2011).

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    Alm disso, na ideologia ps-liberal, nacionalismo e regionalismo no se

    contrapem. O regionalismo se fortaleceu perante discursos e polticas neonacionalistas,

    em conformidade com a reavaliao dos princpios de soberania nacional. O

    neonacionalismo intenta construir marcos regulatrios e instituies regionais e

    multilaterais efetivas, afastando-se do entendimento que processos regionais e

    multilaterais serviriam para fomentar a globalizao (SANAHUJA, 2013).

    C. Intergovernamentalismo

    Ainda que exista a vontade da criao de instituies mais slidas no mbito regional,

    no concerto ps-liberal, a soberania nacional legitimada, e o Estado permanece o

    principal promotor das iniciativas de integrao. Predominam os acordos

    intergovernamentais, os quais no comprometem a autonomia ou independncia dos

    Estados.

    Contudo, a construo de instituies estritamente intergovernamentais, como

    instrumento para a tomada de deciso regional em um contexto altamente politizado,

    pode impedir o aprofundamento da arquitetura e de regulamentos regionais mais

    institucionalizados (SERBIN, 2011).

    D. Renovao da Agenda Regional

    O ps-regionalismo resgata o retorno da poltica nas relaes regionais e no

    desenvolvimento social, com menos nfase s questes comerciais e de liberalizao

    econmica que dominaram as polticas regionais na dcada anterior. Houve uma

    reestruturao nas prioridades da agenda regional, agora outorgada a uma srie de novos

    temas, que incluem temas como a paz, segurana, defesa, gesto de crises, consolidao

    da democracia, defesa dos direitos humanos e coordenao de poltica exterior.

    Alm disso, possvel identificar empenho na criao de instituies e poltica

    comuns, cooperao nos mbitos no comerciais e maior nfase nas dimenses sociais e

    nas assimetrias existentes. Ainda h a incluso de matrias como infraestrutura regional,

    energia, finanas, segurana, imputadas to logo no documento de criao da

    Comunidade Sul-Americana de Naes (CASA) (SANAHUJA, 2013).

    E. Cooperao sul-sul

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    Nos ltimos anos, presenciou-se tambm uma crescente ateno cooperao sul-sul,

    como estratgia tambm para exercer alguma liderana regional e global, como nos casos

    de Venezuela e Brasil. Ambos os pases, iniciaram diversas iniciativas de cooperao

    com pases do hemisfrio sul, almejando uma vinculao extrarregional e projeo global

    (SERBN, 2011).

    F. Agenda Positiva de Integrao

    O novo contexto marcado tambm por nfase agenda positiva da integrao,

    centrada na criao de instituies e polticas comuns, na cooperao recproca nos

    mbitos comerciais e sociais, reforando a agenda ativa de cooperao sul-sul no mago

    regional. Esta diretriz tambm fomenta a emergncia de novos mecanismos e agendas de

    cooperao em campos como segurana energtica, coordenao macroeconmica, temas

    monetrios e finanas para o desenvolvimento. Com isso, possvel perceber a promoo

    de uma comunidade poltica regional atravs do dilogo poltico e do acordo, pese s

    divergncias e tenses que possam existir em seio meio (SANAHUJA, 2013).

    G. Desenvolvimento e Infraestrutura

    Concomitante agenda positiva de integrao e s novas temticas somadas aos

    projetos regionais, possvel identificar na nova agenda, as crescentes preocupaes com

    os gargalos do desenvolvimento que assolam os pases da regio, como a falta de

    infraestrutura regional. O empenho e cooperao nesta rea, atravs de projetos como a

    Iniciativa para a Integrao da Infraestrutura Regional Sul-americana, IIRSA, objetivam

    melhorar a articulao dos mercados regionais e, ao mesmo tempo, facilitar o acesso a

    mercados externos.

    H. Demanda social

    O ltimo item concerne busca de frmulas para promover maior participao de

    atores no estatais e legitimao social dos processos integrao. Na ltima dcada foi

    possvel identificar novas demandas sociais por maior participao poltica em

    decorrncia da prpria evoluo da democracia, estimulando tanto o aprofundamento e

    consolidao de estruturas institucionais dos sistemas democrticos. Ademais, tais

    movimentos pressionaram pela implementao de polticas adequadas para superar

    profundas desigualdades sociais, econmicas e tnicas que caracterizaram a regio, no

  • 12

    intuito de aprofundar tanto os direitos polticos e civis, como os direitos econmicos,

    sociais e culturais.

    1.2. A Comunidade Andina no marco ps-liberal

    A Comunidade Andina, projeto pioneiro no esquema sub-regional, debilitou-se

    diante sada da Venezuela e ao enfraquecimento institucional, com uma possvel

    dissoluo do Parlamento Andino, aconselhada pelos seus respectivos chanceleres e pelo

    prprio Congresso Nacional da Colmbia. O bloco enfrenta srias divergncias internas

    em razo dos diferentes intentos polticos de seus governantes, mormente no marco ps-

    liberal da integrao regional, quando alguns pases deste bloco, Bolvia e Equador,

    passaram a vislumbrar outros assuntos no cerne deste projeto. Alm disso, a falta de

    liderana interna ao bloco dificulta sua orientao e desenvolvimento.

    Para alguns analistas, caberia Colmbia, com estrutura industrial mais

    desenvolvida e com melhor localizao estratgica, ocupar a liderana da integrao

    regional e impulsionar a integrao em termos polticos e econmicos (PUERTAS,

    2006). O Peru, sede da Secretaria Geral, tampouco conseguiu atuar de maneira

    correspondente a sua responsabilidade institucional, quando assumiu a iniciativa de

    financiar a infraestrutura operativa deste organismo. O comrcio intra-bloco representou

    uma porcentagem relativamente pequena em relao ao seu comrcio total, ocasionando

    por esta razo, menor interesse econmico pela CAN, provocando maior resistncia s

    estratgias regionais ligadas rea econmica, poltica e social. Por sua vez, Equador e

    Bolvia, que apostam em outro norte para a integrao dentro deste novo conceito,

    enfrentam tambm pequenas crises sucessivas de distintas reas, esbarrando em maior

    dificuldade para assumirem a vanguarda da integrao.

    A realidade mostra que Colmbia e Peru, com o acordo bilateral com os Estados

    Unidos, esto mais inclinados Aliana do Pacfico, perseguindo os antigos objetivos de

    abertura comercial e estreitamento dos laos com a potncia do norte. Esta relao

    tambm favorvel ao governo colombiano no combate aos movimentos revolucionrios e

    questes advindas ao narcotrfico. Em oposio, os governos progressistas da Bolvia e

    Equador conformam a ALBA e se alinham ao protagonismo venezuelano e aos ideais

    bolivarianistas. A rachadura criada no seio do bloco,denota direes distintas em

  • 13

    quecaminham seus membros, contribuindo fortemente para o enfraquecimento do antigo

    projeto andino.

    Em termos domsticos, o bloco assiste a mltiplos problemas scio-econmicos,

    tnicos e polticos enfrentados pelos pases-membros, os quais se contribuem para um

    cenrio de instabilidade para as instituies democrticas domsticas e regionais, alm da

    dificuldade constante na proteo dos direitos humanos e no avano de polticas sociais

    mais slidas. A persistente instabilidade poltica e scio-econmica padece diante ao

    aumento das dinmicas de livre-comrcio, defendidas e incentivadas pelos acordos com

    os Estados Unidos.

    A estes fatos, somam-se tambm os conflitos atuais entre seus pases membros: o

    Equador rompeu relaes diplomticas com a Colmbia aps o bombardeio a um

    acampamento guerrilheiro em seu territrio; a Bolvia ameaou processar o Equador em

    relao s divergncias com o secretrio-geral da CAN; e ao Peru por este dar asilo a

    membros da oposio. Por sua vez, este ltimo tambm foi acusado de interferir em

    alguns acordos que tratavam da sada boliviana ao Pacfico pelo territrio chileno

    (RAMREZ, 2011).

    Este quadro agrava a dificuldade atual em se desenvolver uma cooperao

    regional que contribua tambm formulao e implantao de polticas de segurana

    para afrontar os problemas regionais ligados ao narcotrfico e trfico de armas, sobretudo

    na Colmbia e, em menor medida, no Peru. Tambm no existe um consenso regional

    sobre a forma de aproximao e contribuio soluo do conflito colombiano e ao

    tratamento da insegurana social e humana em geral.

    Portanto, conflitos e obstculos entre seus membros somam-se s divises

    consolidadas no marco dos projetos surgidos na era ps-liberal, contribuindo ao

    enfraquecimento da integrao andina.

    2. ESTADO INSTITUCIONAL E POLTICO DA COMUNIDADE ANDINA

    2.1 Do Pacto Andino Comunidade Andina

    As polticas de integrao na sub-regio andina iniciam-se a partir da dcada de

    1960, no contexto das primeiras iniciativas de integrao econmica da Amrica Latina,

  • 14

    representados pela Associao Latino-americana de Livre Comrcio (ALALC) de 1960.

    Inspirado na integrao das Comunidades Europeias, o Pacto Andino, criado em 1969

    pelo Acordo de Cartagena, tinha como objetivo fundamental o desenvolvimento de uma

    unio aduaneira e de um mercado comum entre seus Estados-membros. Inserido nos

    princpios do regionalismo fechado, a integrao andina naquele momento voltou-se para

    a consolidao de um modelo de substituio de importaes em escala regional

    (PUERTAS, 2006).

    Mimetizando o desenho institucional da integrao europeia, um rgo de

    natureza supranacional foi estabelecido no mbito do Pacto Andino, a Junta do Acordo

    de Cartagena,responsvel pelo controle e execuo tcnica das atividades da integrao.

    Diferentemente do caso europeu, a iniciativa legislativa manteve-se atrelada s estruturas

    intergovernamentais da integrao andina, por meio da Comisso de Acordo de

    Cartagena.

    Composto inicialmente por quatro Estados-membros (Bolvia, Chile, Colmbia,

    Peru), o Pacto Andino teve seu nmero de componentes alterado com a entrada da

    Venezuela (1973) e coma sada do Chile (1976).Esse perodo foi marcado por uma fase

    de sistemticos incumprimentos dos prazos previstos para a liberalizao comercial nos

    anos 1970 e 1980 (AVENDAO, 1999). A progressiva internalizao das normas

    andinas mostrou-se dependente das foras polticas domsticas de cada Estado-membro

    e, principalmente, da reao de setores nacionais sensveis ao avano da integrao

    econmica e comercial.

    Em 1979, a estrutura institucional da integrao tornou-se mais complexa com o

    Protocolo Modificativo de Quito, o qual inseriu novos rgos de natureza representativa

    e jurdica integrao: o Parlamento Andino, o Tribunal e os Conselhos Consultivos

    Empresarial e Laboral. Nesse momento,destacou-se o desenvolvimento de um direito

    comunitrio e supranacional na integrao andina, a partir do princpio de aplicabilidade

    imediata das decises andinas (aps a devida publicao na gazeta oficial andina) e a

    unificao das interpretaes das normas andinas pelo recm-criado Tribunal Andino

    (AVENDAO, 1999).

    Da assinatura do acordo de Cartagena at a dcada de 1980, identificou-se a

    prevalncia de questes econmico-comerciais no processo de integrao. A partir do

    final dos anos 1980 e incio dos 1990, o sistema andino de integrao passou por um

    novo processo de reestruturao. A assinatura do protocolo de Trujillo de 1996

  • 15

    modificou o acordo de Cartagena e criou a Comunidade Andina (CAN) substituindo o

    anterior Pacto Andino. Dentre as principais alteraes no processo de integrao,

    destacaram-se a dotao de personalidade jurdica internacional da CAN; a criao da

    Secretaria Geral (substituiu a antiga Junta) e da figura do secretrio geral da CAN; e a

    formalizao do Conselho Presidencial Andino, instncia mxima da integrao,

    responsvel pela impulso, avaliao e orientao poltica do projeto. No ano seguinte,

    foi aprovada a futura incluso de eleies diretas para escolha dos membrosdo

    Parlamento Andino, com a inteno de aumentar a participao social e a politizao da

    integrao andina(CERA, 2009).

    Embora a estrutura institucional da CAN tenha substantivamente

    sedesenvolvidoem relao criada no Acordo de Cartagena de 1969, especialmente no

    que diz respeito dotao de instncias supranacionais (Secretaria, Tribunal e

    Parlamento), prevaleceu abaixa consolidao e aprofundamento das mesmas, em

    detrimento da importncia das decises de alto nvel na integrao andina.A impulso

    poltica da integrao decorre das resolues do Conselho Presidencial, e no instituies

    supranacionais estabelecidas (PUERTAS, 2006).Um dos grandes questionamentos acerca

    da integrao andina se a formalizao de uma mirade de estruturas supranacionais

    tem o potencial de alterar os rumos da integrao regional.

    2.2 Supranacionalismo na forma, intergovernamentalismo na prtica

    Comparada aos demais processos de integrao na Amrica Latina, a CAN conta

    com a institucionalidade mais avanada entre os projetos integrativos do continente. A

    formalizao de estruturas de natureza supranacional, a incorporao de um direito

    comunitrio e a insero de eleies diretas para os parlamentares andinos expressam a

    crena de que o grande xito da integrao na Europa foi fruto do papel das instituies

    supranacionais (ZEGARRA, 2005). No caso andino, essa complexidade institucional no

    resultou, contudo, em um processo de integrao que aprofundasse a interdependncia

    econmica entre os Estados-membros e aproximasse as polticas pblicas dos pases em

    direo a uma maior integrao social e poltica.

    Segundo Bustamante (2006), o sistema institucional criado na CAN pode ser

    definido como uma mescla de supranacionalidade e intergovernamentalidade. Existe, no

    entanto, um forte desequilbrio em favor dos governos nacionais que mantiveram a

  • 16

    hegemonia na formulao das decises polticas de maior magnitude na

    integrao.Conforme pde ser visto na construo institucional da CAN desde o Acordo

    de Cartagena, grupos nacionalistas demandaram a criao de instituies supranacionais

    que no poriam em perigo a soberania dos Estados-membros.

    A Junta do Pacto Andino, rgo fortemente inspirado na Comisso Europeia, no

    gozava de tanta autonomia quanto seu anlogo europeu, aspecto exemplificado pela falta

    de competncias de iniciativa legislativa, a qual se manteve atrelada Comisso andina,

    instituio dependente das estruturas intergovernamentais. A Junta, posteriormente

    denominada Secretaria Geral, constituiu-se como instncia meramente burocrtica e

    administrativa da integrao.O Parlamento e o Tribunal, includos na integrao andina a

    partir de 1979, permaneceram no histrico da integrao como rgos acessrios,

    negligenciados em relao s demais instituies (BUSTAMANTE, 2006). A reduo do

    nmero de casos recebido pelo Tribunal Andino ao longo do tempo indica o

    esvaziamento e marginalizao dessa instituio (DRI, 2009). A transformao do Pacto

    Andino para a CAN no alterou substantivamente o equilbrio do binmio supranacional-

    intergovernamental, mantendo os governos nacionais como os principais atores da

    integrao. Nesse sentido, as inovaes institucionais da integrao andina, mimetizadas

    do projeto europeu, no trouxeram grandes compromissos com um real aprofundamento

    da integrao.

    Tanta institucionalidade sem o desenvolvimento de maior funcionalidade somente

    burocratizaria o processo de integrao (AVENDAO, 1999), reproduzindo um conjunto

    de crticas recebidas historicamente pela integrao europeia. Dentre essas, podem ser

    citados o distanciamento social das decises comunitrias, compreendidas como tcnicas

    e complexas para o entendimento do cidado comum, ea falta de transparncia das

    polticas de integrao, pouco acessveis populao. A instituio de foros consultivos

    representativos, como o caso do Parlamento Andino, sem sua devida insero no

    processo decisrio andino no solucionaria o problema do dficit de democracia

    desenvolvido no seio da integrao por conta desse inchao institucional.

    O formalismo disfuncional da CAN convive, ademais, com estruturas polticas

    latino-americanas baseadas no domnio do poder executivo, em especial das figuras dos

    Presidentes, nos temas de poltica externa e integrao regional. O conceito de

    interpresidencialismo, cunhado por Malamud (2010) no contexto dos movimentos

    polticos do Mercado Comum do Sul (Mercosul), pode, nesse sentido, oferecer alguns

  • 17

    insights a respeito da relevncia dos executivos no andamento da

    integrao.Interpresidencialismoseria uma condio exacerbada do

    intergovernamentalismo, em que especificamente os chefes de Estados latino-americanos

    teriam competncias fundamentais de impulso poltica e de mudana nos rumos de

    integrao.

    A transformao do Pacto Andino em Comunidade Andina foi, desse modo,

    produto da impulso poltica produzida pelos presidentes dos Estados-membros em um

    contexto de grande propagao do regionalismo no mundo (entendido como uma

    segunda onda do regionalismo), com destaque para a criao da Unio Europeiaem 1992.

    By the end of the 1980s, after years of turbulence and standstill due

    partly to domestic factors but also to the failure to foster economic

    interdependence, the national presidents decided to relaunch the process

    with more modest aspirations and a more frugal institutional design

    (MALAMUD; SOUSA, 2007, p. 94).

    Essa renovao institucional, conforme ressaltado, no trouxe mais

    aprofundamento da integrao, muito menos garantiu maior permeabilidade das

    instituies supranacionais no processo decisrio regional, distintamente do caso

    europeu. Como ressalta Dri (2009), o opaco desenvolvimento institucional andino

    representa a predominncia da forma em relao ao contedo da integrao.

    Ademais,esses aspectos no garantem a efetividade e a legitimidade de suas decises

    perante governos ou particulares nacionais (DRI, 2009, p. 178).

    2.3 A percepo social em relao integrao andina

    A partir da anlise do campo da percepo social, acrescem-se diversos desafios

    integrao andina. Os dados analisados no Latinobarmetro a respeito do conhecimento e

    opinio dos cidados dos pases da CAN em relao a essa iniciativa de integrao

    demonstram um apoio retrico e genrico aos processos de integrao, acompanhados de

    um profundo desconhecimento em relao aos projetos de integrao j existentes.

    Um forte apoio da sociedade integrao regional encontrado entre a populao

    dos Estados-membros CAN. Segundo pergunta do Latinobarmetro de 2009, referente

    integrao econmica entre os pases da Amrica Latina (Grfico I), mais de 60% dos

    entrevistados so favorveis integrao latino-americana, com sociedades mais

    favorveis, como a da Bolvia, e outras com menor apoio, como a do Equador. Em um

  • 18

    primeiro momento, portanto, o quadro identificado de alto apreo integrao regional

    pela populao dos pases da CAN.

    Grfico I

    Integrao Econmica Regional entre os pases da Amrica Latina (em %)

    Fonte: Latinobarmetro, 2009.

    Tendo em vista que o termo integrao econmica regional latino-americana

    bastante amplo e genrico, torna-se fundamental observar o conhecimento dos projetos

    de integrao regional existentes por parte da populao desses pases. Nesse sentido, a

    Tabela I retrata o grau de familiaridade dos entrevistados com determinadas instituies

    multilaterais internacionais e regionais, entre elas projetos de integrao regional como

    CAN, Mercosul, ALBA e Unasul.

  • 19

    Tabela I

    Voc conhece estas Instituies? (em %)

    Bolvia Colmbia Equador Peru Total

    ONU

    No Conheo 55,25 52,08 47,92 43,08 48,83

    Conheo 47,75 47,92 52,08 56,92 51,17

    OEA

    No Conheo 55,33 56,50 50,17 45 51,75

    Conheo 44,67 43,5 49,83 55 48,25

    Mercosul

    No Conheo 60,92 73 68,5 72,83 68,81

    Conheo 39,08 27 31,5 27,17 31,19

    UNASUL

    No Conheo 75,75 73,75 72 86,58 77,02

    Conheo 24,25 26,25 28 13,42 22,98

    CAN

    No Conheo 75,92 79,33 73,08 67,83 74,04

    Conheo 24,08 20,67 26,92 32,17 25,96

    ALBA

    No Conheo 76,92 84,67 74,92 78,08 78,65

    Conheo 23,08 15,33 25,08 21,92 21,35

    CAF

    No Conheo 72,4 81,1 58,3 74,2 71,5

    Conheo 27,6 18,9 41,6 25,8 28,5

    Fonte: Latinobarmetro, 2009, 2010.

    A primeira observao sobre os resultadosdessa questo que existe um alto grau

    de desconhecimento em relao a todas as instituies questionadas.

    Com exceo da Organizao das Naes Unidas (ONU), mais da metade dos

    entrevistados desconhecem as organizaes ou projetos perguntados. Dentre esses, os

    projetos mais novos (ALBA e UNASUL) so os mais desconhecidos. Em seguida, vem a

    prpria CAN, a qual mais desconhecida por parte da populao dos Estados-partes do

    que, por exemplo, o Mercosul, projeto do qual esses pases nem sequer so membros

    plenos.Constata-se tambm que os colombianos so os que menos tm conhecimento da

    CAN, mesmo sediando instituies andinas como o Parlamento Andino.

    Esse estado de desconhecimento da CAN tem reforado o descrdito da

    populao dos pases-membros em relao integrao andina. A falta de conhecimento

    quanto CAN vem aumentando nos ltimos anos, como bem demonstra o histrico do

  • 20

    Grfico II. Embora de 2001 a 2003 o grau de conhecimento da integrao andina tenha

    apresentado trajetrias diferentes entre os pases (aumento de conhecimento no Equador

    e no Peru), de 2003 a 2009, o grau de conhecimento decresceu notavelmente em todos os

    pases da CAN, demonstrando situao de desconhecimento sistemtico da sociedade de

    um dos projetos de integrao mais antigos da Amrica Latina.

    Grfico II - Conhece a Comunidade Andina (antigo Pacto Andino)? (em %)

    Fonte: Latinobarmetro, 2001, 2003 e 2009.

    O forte protagonismo das estruturas intergovernamentais nos rumos da integrao

    andina, ainda que existam instncias supranacionais mimetizadas em relao ao modelo

    de integrao da Europa, associadas a esse alto grau de desconhecimento da sociedade

    em relao integrao andina, tm favorecido a deteriorao do projeto andino em

    detrimento de novos esquemas de integrao, de maior grau de amplitude ou de

    polarizao, a depender do interesse especfico e ideolgico dos governantes de cada

    Estado-membro andino.

  • 21

    3. POLARIZAO IDEOLGICA DOS ESQUEMAS DE INTEGRAO

    REGIONAL E DESESTRUTURAO DA INTEGRAO ANDINA

    3.1 Entre bolivarianos e Aliana do Pacfico

    A polarizao ideolgica dos pases-membros da CAN nos ltimos anos tem

    reforado a crise da integrao andina e a desestruturao da CAN. Pinto (2001) destaca

    uma sria de sintomas da crise vivenciada por esse processo de integrao: medidas

    unilaterais de determinados Estados-membros, produzindo descompasso e falta de

    coerncia entre a atuao internacional dos Estados e o projeto andino; sucessivas crises

    e contestaes dos modelos democrticos vigentes na regio; tendncias centrfugas no

    mbito da CAN, polarizando as perspectivas a respeito da integrao regional e do

    modelo de insero internacional dos pases andinos; e vises opositoras a vontade de se

    integrar, fortalecendo interpretaes soberanistas ou nacionalistas dentro de setores

    sociais dos pases da sub-regio.

    Ao mesmo tempo em que a CAN passou por um momento de reestruturao,

    substituindo o Pacto Andino e aumentando o grau de institucionalizao desse modelo de

    integrao, determinados Estados-membros seguiram aes unilaterais contrrios ao

    aprofundamento da integrao, seguindo motivaes e interesses domsticos. Nesse

    sentido, podem ser citados a assinatura de acordo de livre comrcio bilateral entre

    Colmbia e Estados Unidos, em 2006, bem como a movimentao da Venezuela em

    direo ao Mercosula partir do final dos anos 1990, firmada em 2006."() a decisin de

    Colombia, Ecuador y Per de adelantar negociaciones con Estados Unidos para

    acordar Tratados de Libre Comercio (TLC)bilaterales ha originado el retiro de

    Venezuela del proceso de integracin andina (PUERTAS, 2006, p. 4).

    A integrao andina, com o passar dos anos, deixou de ser percebida como um

    instrumento eficaz e interessante para insero internacional dos pases andinos. As

    estratgias perseguidas pelos governos foram ideologicamente opostas e por vezes

    excludentes em relao ao modelo de projeo internacional e aos rumos e utilidades do

    processo de integrao andino. A polarizao entre os caminhos buscados pelos pases da

    CAN refletiu-se em iniciativas unilaterais externas CAN, indicando a impossibilidade

    desse projeto de integrao sub-regional lidar ou encapsular presses e conflitos entre os

    Estados-membros. Seguiu-se, desse modo, a assinatura de tratados de livre comrcio com

  • 22

    os Estados Unidos, pelo lado de pases como Colmbia e Peru, e, por outro, pela sada

    formal da CAN e pedido de adeso ao Mercosul por parte da Venezuela a partir de 2006.

    Nos ltimos anos, esse processo de polarizao tomou tambm outros contornos

    institucionais, com a criao de novos esquemas de integrao, guiados por princpios e

    interpretaes a respeito da integrao significativamente distintos. Em 2004 foi criada,

    por iniciativa cubana e venezuelana, a Aliana Bolivariana para os Povos de Nossa

    Amrica ALBA. Esta iniciativa enfatiza os interesses polticos em seus princpios

    acima dos objetivos econmicos e comerciais, os quais compunham os principais logros

    dos blocos anteriores. A ALBA sustentada por princpios norteadores como a

    solidariedade, cooperao, bem-estar, formao integral e intensiva de capital humano

    (RAMOS, 2010). Inicialmente, denominada Alternativa Bolivariana para as Amricas,

    foi criada no intuito de constituir um contraponto a proposta de integrao hemisfrica da

    ALCA rea de Livre Comrcio das Amricas, liderada pelos Estados Unidos e

    impulsionada pelo Banco Mundial e Fundo Monetrio Internacional (FMI) (BORBN,

    2009).

    O protagonismo crescente da Venezuela na regio junto aos ganhos derivados da

    exportao de petrleo contribuiu para o projeto ganhar fora entre pases

    ideologicamente prximos e enfatizar as questes sociais entre seus princpios, como a

    luta contra a pobreza e a excluso social. Ademais, preconizam o anti-imperialismo e o

    ideal bolivarianista1 entre seus membros: Venezuela, Bolvia, Cuba, Equador, Nicargua,

    alm de Antgua e Barbuda, So Vicente e Granadinas, Santa Lucia e Suriname, em

    processo de adeso.

    A ALBA prope a criao de mecanismos cooperativos no intuito de compensar

    desequilbrios entre os pases do hemisfrio, pois alm de levar a cabo iniciativas para

    diminuir as assimetrias entre seus membros, enfatiza prioridade na relao com outros

    processos de integrao da Amrica Latina. O bloco tambm prope a construo de uma

    moeda comum chamada de Sistema de Compensao nico Regional, Sucre.Tambm

    1 Ideologia baseada nos princpios defendidos por Simn Bolvar (1783-1830), militar e poltico

    venezuelano. Bolvar foi o grande defensor da independncia das naes da Amrica Latina, contribuindo

    diretamente para a independncia de vrios pases da regio: Bolvia, Colmbia, Venezuela, Peru, Equador

    e Panam. Ele preconizava a integrao latino-americana, repudiava as relaes com os pases

    desenvolvidos (metrpoles), lutava por maior justia social, educao gratuita e obrigatria entre outras

    questes sociais (RAMOS, 2010).

  • 23

    pretende ser um instrumento inclusivo, agregando os grupos sociais dos diferentes pases

    que compem o bloco e no apenas os grupos predominantes, que tradicionalmente

    conduzem os projetos da regio. Concomitante ALBA, foi criada a Petrocaribe por

    iniciativa venezuelana em cooperao aos pases da Amrica Central e do Caribe, cujo

    principal objetivo contribuir para a segurana energtica da regio. O mecanismo

    defende um modelo de cooperao de energia guiada pela solidariedade e tratamento

    especial e diferenciado, cuja base a poltica de concesso preos subsidiados da

    Venezuela e a construo de empresas mistas para operar no mercado de petrleo. A

    Petrocaribe deve ser entendida comoum instrumento de cooperao da ALBA para alm

    das questes estritamente energticas, a Petrocaribe prope projetos para o

    desenvolvimento do transporte areo e martimo na sub-regiocomo um requisito

    indispensvel para a integrao (BORBN, 2009).

    A ALBA qualifica-se no marco ps-liberal pela oposio aos Estados Unidos,

    pelo questionamento das polticas neoliberais e por abranger novas formas de cooperao

    e comrcio diferenciadas, baseados em outros princpios e valores. Portanto, a proposta

    bolivariana, capitaneada pela liderana de Chvez e de Castro e financiada pelos recursos

    do petrleo venezuelano, segue radicalmente preceitos do regionalismo ps-liberal, com

    forte discurso anti-hegemnico e antiamericano.

    Por sua vez, recentemente, em 2012, inaugurou-se uma iniciativa de integrao

    ideologicamente oposta, a qual retoma no prembulo de seu acordo marco os princpios

    do regionalismo aberto. A Aliana do Pacfico, composta por Colmbia, Peru, Chile e

    Mxico, aglomera pases com padres de insero internacional muito prximos,

    pautados pela liberalizao comercial e a assinatura de tratados de livre comrcio com

    pases desenvolvidos e em desenvolvimento.

    Entre os principais objetivos desta aliana esto a construo de maneira

    participativa e consensual, uma rea de integrao profunda para avanar

    progressivamente rumo livre circulao de bens, servios, capitais e pessoas,

    caractersticas de um Mercado Comum, mas sem incluir a harmonizao de polticas

    macroeconmicas, a priori. Tambm pretende impulsionar maior crescimento,

    desenvolvimento e competitividade das economias envolvidas, no intuito de atingir maior

    bem-estar e superar as desigualdades econmicas, impulsionando a incluso social de

    suas sociedades. Por fim, converter-se em uma plataforma de articulao poltica,

  • 24

    integrao econmica e comercial, projeo ao mundo, com nfase regio sia-

    Pacfico.

    Com a criao da Aliana do Pacfico, o quadro dos esquemas de integrao na

    Amrica Latina se tornou mais complexo e sobreposto, haja vista a presena de

    iniciativas tanto de escalas diferentes (latino-americana, sul-americana, andina), como de

    premissas de modelos de integrao distintas. O Quadro I representa, nesse sentido, a

    situao da integrao andina em meio a outros projetos de integrao latino-americanos

    dos quais seus pases fazem parte.

    Quadro I

    Fonte: Elaborao prpria, com base em Malamud e Gardini (2012).

    Os quatro pases da CAN situam-se divididos entre os projetos de integrao

    existentes na regio. Embora faam parte de projetos sub-regional, regional e

    macrorregional comuns (CAN, Unasul, CELAC), dividem-se em projetos ideolgicos os

    quais tm caminhado opostamente em relao ao entendimento de aspectos como

    integrao econmica, insero internacional, papel do Estado e do empresariado na

    economia, liberalizao comercial e relao com os Estados Unidos - Equador e Bolvia

    membros da ALBA e Colmbia e Peru da Aliana do Pacfico.

  • 25

    Quanto aos projetos criados no marco ps-liberal, a ALBA avana baseada em

    um esboo inovador e ambicioso, mantendo sua postura contra os Estados Unidos e

    preceitos neoliberais. Todavia, a prpria fora ideolgica que move este processo, parece

    no favorecer a materializao de seus objetivos, o aprofundamento de sua estrutura, bem

    como o alargamento do bloco. A retrica de suas cpulas e fruns demonstra limitada

    vontade poltica e efetividade em sua implantao

    A Unasul avana na tentativa de convergncia do Mercosul e Comunidade

    Andina, com adeso de outros pases, como Chile, Guiana e Suriname. O seu destino

    perpassa os modelos contrastantes do Mercosul e da ALBA, em torno dos fatores que

    articulam diferentes temas: produo industrial e insero no mercado internacional,

    como os temas energticos, financeiros e de infraestrutura e cooperao sul-sul.

    A dimenso econmica e comercial provoca dvida se a UNASUL e o Mercosul

    so processos claramente ps-liberais, dada a manuteno dos acordos comerciais que

    configuram a base de convergncia entre CAN e Mercosul, e o desenvolvimento de

    mega-projetos orientados a favorecer o intercambio comercial regional e extra-regional

    como a IIRSA (SERBN, 2011). Ainda assim, o ncleo duro da integrao sul-americana

    parece se concentrar no Mercosul, ainda que hajam deficincias e limitaes

    institucionais neste bloco. UNASUL e ALBA ainda devem maturar seus propsitos para

    se efetivarem e consolidarem este novo caminho ps-liberal da integrao latino-

    americana.

    Apesar das divergncias que refletem as propostas da ALBA e da Unasul,

    evidente que o regionalismo na Amrica Latina est atravessando uma etapa de transio

    baseada em algumas tendncias e traos comuns: a maior interveno do Estado, a re-

    politizao das relaes regionais e o neo-desenvolvimentismo.

    Por sua vez, a Unasul, ao almejar o comprometimento poltico de toda Amrica

    do Sul, permite diferentes graus de adeso das naes regionais, e vrios nveis de aporte

    de recursos a suas instituies. Mas, tampouco tem como intuito a construo de

    estrutura institucional e de objetivos to amplos como a Comunidade Andina, como

    percebem algumas lideranas da integrao andina.

    3.2. A desintegrao andina

  • 26

    A fragmentao dos grupos regionais enfraqueceu de forma ntida os projetos de

    integrao j existentes. O caso mais dramtico realmente da integrao andina,

    paralisada pelas diferenas entre seus membros, entraves domsticos e regionais,

    distintas percepes e entendimento de como deve ser a integrao regional, sobre as

    formas distintas de insero regional e global, e as discrepncias que provocaram a

    retirada da Venezuela do bloco.

    Algumas das dificuldades que acometem o contexto regional andino so de

    responsabilidade da Colmbia, segundo Edgar Vieira Posada (2011). O pas por abrigar o

    Parlamento Andino e destacar-se pela sua economia e industrializao, deveria atuar de

    forma mais incisiva como proponente deste projeto. Para o autor, o pas tambm

    responsvel pela sada hostil da Venezuela do bloco, tendo como conseqncia a perda

    progressiva de um dos mercados principais para as manufaturas da CAN; o abandono da

    etapa de Unio Aduaneira, instrumento importante para as negociaes do bloco com

    outras reas; o descrdito s condies de supranacionalidade, dando lugar a um

    generalizado intergovernamentalismo a todo o bloco.

    A integrao andina j no responde s estruturas institucionais e compromissos

    supranacionais, se no ao pensamento e vontade de cada governante, empenhando em

    seguir com suas prprias concepes de integrao e desenvolvimento. A estas

    dificuldades se soma o alto grau de ideologizao que cerca as diferentes concepes de

    desenvolvimento e integrao, que vo desde os defensores do modelo neoliberal, at

    aqueles que desejam reincorporar formas de socialismo e Estado intervencionista,

    passando por frmulas equidistantes de economia de mercado, supervisionada pelo

    Estado.

    Contra a instrumentalizao dos compromissos de integrao, h vrias vises e

    entendimentos detectados sobre as relaes internacionais dos pases andinos, os quais

    tm atuado tambm pela desqualificao do que vem sendo trabalhado pela integrao

    econmica e comercial, em razo da integrao poltica e social no marco ps-liberal.

    Diante crise na relao entre os membros da integrao andina exposto

    anteriormente, o Conselho Andino de Ministros de Relaes Exteriores no foi

    consultado para lidar com os problemas; o Parlamento Andino no conseguiu mediaras

    dificuldades polticas; o Conselho Presidencial Andino tambm no voltou a se reunir

    depois de realizar reunies interruptas durante anos; a Secretaria Geral tampouco

    assumiu um papel efetivo de aproximao entre os pases. Um dos processos de

  • 27

    integrao da Amrica Latina, caracterizado por deter um grau de institucionalidade

    bastante avanado, encontra-se inoperante neste quadro.

    A tendncia, nos ltimos anos, tem sido a interveno direta dos governos, cujas

    lideranas desejam o protagonismo e controle do processo integracionista, debilitando

    uma das principais caractersticas da integrao: a busca por consensos, com objetivo de

    formar espaos amplos e compartilhados, e no com regresso defesa dos interesses

    nacionais.

    Entre os anos de 1999 e 2001, os pases membros intentaram definir uma Poltica

    Exterior Comum (PEC), com a qual se aspirava atuar como bloco de diferentes relaes

    internacionais assumidas naquele momento. Entretanto, as grandes diferenas nas

    prioridades das relaes internacionais adotadas por cada um dos pases tornaram

    impossvel a adoo da PEC, limitando-se s relaes e acordos bilaterais com pases

    extra-bloco, perdendo a oportunidade de aproveitar um dos maiores instrumentos da

    integrao: unir as foras do bloco para dispor de maior poder negociador.

    A tendncia atual da CAN limitar a agenda a trabalhos de aspectos conflituosos,

    dado animosidade existente entre seus membros nos ltimos anos. O perigo convert-

    la em um processo superficial para no provocar mais discrdias, ainda que assuntos

    como biodiversidade, minorias tnicas, participao da sociedade civil, sejam temas cada

    vez mais relevantes agenda de integrao. As orientaes opostas dos governos, a

    flexibilizao de uma agenda que no alcana consenso entre seus integrantes, parece

    como frmula para evitar avanar em decises de difcil regresso.

    A falta de viso, organizao poltica e empreendimento sistmico implica em

    que os pases membros avanassem em caminhos diferentes durante a ltima dcada.

    Embora este no seja um argumento suficiente para afirmar o esgotamento da CAN de

    forma definitiva, como anunciou o governo venezuelano ao retirar-se do bloco, a

    estagnao da vontade poltica e a capacidade de efetuar oportunamente correes para

    retificar os rumos e consolidar a rota traada dificultam seu avano. O processo de

    integrao pode se esgotar quando as ideias, vontades e capacidades de compreender sua

    importncia e potencial de cooperao se findam em discursos pouco eloquentes.

    As crescentes diferenas ideolgicas entre alguns dos membros, a falta de acordo

    sobre a importncia de poltica externa comum e independente, multilateral e, portanto,

    interdependente, trazem muitos impactos negativos integrao andina atual. A falta de

    liderana em relao integrao econmica e poltica e o papel limitado das instituies

  • 28

    supranacionais reforam a ineficincia do processo de integrao, reduzida em grande

    medida ao campo retrico (MALAMUD, 2009).

    CONSIDERAES FINAIS

    Na ltima dcada, os governos latino-americanos contestaram as polticas

    neoliberais identificadas ao regionalismo aberto e, por conseguinte, os projetos do

    Mercosul e Comunidade Andina. O neoliberalismo e a globalizao so entendidos no

    discurso de alguns atores de esquerda como sinnimos e coadjuvantes, representando a

    ameaa constante do imperialismo e interveno estrangeira, que debilitam o Estado e

    sua capacidade de promover o desenvolvimento. No regionalismo ps-liberal, em

    termos polticos, existe um evidente distanciamento do Consenso de Washington,

    sobretudo pela maior interveno do Estado, do fortalecimento da agenda social e

    desenvolvimentista.

    Ao mesmo tempo em que se intentou incorporar elementos do regionalismo ps-

    liberal na tradicional integrao andina, desenvolveram-se outras iniciativas ps-liberais,

    como a ALBA (de cunho mais radical e anti-hegemnico) e a Unasul (carter mais

    reformista), alm de projetos que se mantm inspirados pelo regionalismo liberal, como a

    Aliana do Pacfico. O surgimento desses novos projetos, de caractersticas ideolgicas

    distintas, questiona a manuteno de um processo de integrao andino eficiente e com

    alguma perspectiva de avano frente diversidade de modelos de insero internacional

    e s novas concepes de integrao na Amrica Latina.

    A anlise do desenvolvimento institucional da CAN e a percepo social em

    relao a esse projeto de integrao denotam o descrdito funcional e societal da

    integrao andina. A falta de um perfil de liderana de um ou de alguns Estados andinos

    na integrao sub-regional, o baixo papel decisrio das instituies andinas

    supranacionais, a predominncia dos interesses nacionais refletidos nas instncias

    intergovernamentais, a dificuldade na articulao de posicionamentos externos e poltica

    comercial comum, e o embate quanto ao relacionamento com os Estados Unidos so

    alguns dos elementos os quais tm decretado, ao menos na prtica, a desestruturao da

    integrao andina sob a gide da CAN ao longo do sculo XXI.

  • 29

    Reflete-se, nesse sentido, em que medida inicia-se um processo de desintegrao

    andina, no qual a CAN formalmente substituda ou, na prtica, entra em desuso (esta

    ltima mais provvel) em detrimento de alternativas bolivarianas, sul-americanas ou

    voltadas para as dinmicas da sia-Pacfico. Embora essas novas iniciativas estejam

    mais preocupadas com os novos desafios no campo da integrao regional, no possvel

    descartar plenamente o que foi construdo a partir do projeto da CAN desde o final dos

    anos 1960. O desenvolvimento de padres comerciais comuns, de um sistema jurdico

    comunitrio complexo e a constituio de um parlamento regional diretamente eleito

    pelos cidados de praticamente todos os Estados-membros (somente a Bolvia indica

    indiretamente seus parlamentares andinos) so algumas conquistas andinas as quais no

    podem ser simplesmente extintas, pois representam verdadeiro avano na integrao

    desses Estados e povos. Muitas crticas e dificuldades sofridas pela CAN, como o

    questionamento quanto ao dficit de democracia e transparncia das polticas e das

    decises regionais, podem ser tambm direcionadas aos projetos regionais ps-liberais ou

    Aliana do Pacfico. Os sucessos e fracassos andinos tambm no devem ser

    esquecidos no desenvolvimento de novos esquemas e modelos de integrao na regio.

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