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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE ASSIS – FEMA INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE ASSIS – IMESA Coordenadoria de Jornalismo Luciano Sampaio Di Creddo DA REVOLUÇÃO DA CULTURA DIGITAL AO PAPEL DO JORNALISTA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: O CORREIO ELETRÔNICO E SUA FUNÇÃO COMUNICACIONAL NA SOCIEDADE Assis 2009

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE ASSIS – FEMA

INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE ASSIS – IMESA

Coordenadoria de Jornalismo

Luciano Sampaio Di Creddo

DA REVOLUÇÃO DA CULTURA DIGITAL AO PAPEL DO JORNALISTA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: O CORREIO

ELETRÔNICO E SUA FUNÇÃO COMUNICACIONAL NA SOCIEDADE

Assis 2009

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE ASSIS – FEMA

INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE ASSIS – IMESA

Coordenadoria de Jornalismo

Luciano Sampaio Di Creddo

DA REVOLUÇÃO DA CULTURA DIGITAL AO PAPEL DO JORNALISTA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: O CORREIO

ELETRÔNICO E SUA FUNÇÃO COMUNICACIONAL NA SOCIEDADE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Coordenadoria de Jornalismo

da Fundação Educacional do Município de

Assis – FEMA e do Instituto Municipal de

Ensino Superior de Assis – IMESA como

requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alcioni Galdino

Vieira

Co-Orientador: Prof. Ms. João Henrique dos

Santos

ASSIS

2009

FICHA CATALOGRÁFICA DI CREDDO, Luciano Sampaio Da revolução da cultura digital ao papel do jornalista na sociedade da informação: O correio eletrônico e sua função comunicacional na sociedade / Luciano Sampaio Di Creddo. Fundação Educacional do Município de Assis – Fema : Assis, 2009 65p. Trabalho de Conclusão de Curso ( TCC ) – Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo – Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis 1. Cultura digital. 2. Jornalista na sociedade da informação. 3. Internet. 4. Correio Eletrônico. 5. Revolução digital CDD: 070 Biblioteca da FEMA

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Presidente e Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alcioni Galdino Vieira

_____________________________________________________

Primeiro Examinador: Prof. Ms. João Henrique dos Santos

_______________________________________________________

Segundo Examinador: Prof.ª Dr.ª Elizete Melo

DEDICATÓRIA

Aos meus pais pelo apoio .

AGRADECIMENTOS

À Professora Alcioni Galdino pela orientação , dedicação , amizade e apoio em todas as fases do trabalho .

Ao Professor João Henrique dos Santos pela orientação e apoio no desenvolvimento do trabalho e também pela amizade e confiança conquistadas durante este ano .

À professora Elizete Melo pela amizade e confiança que depositou no meu trabalho. Não só pelas aulas, mas também pelas contribuições que foram feitas durante a banca de qualificação .

RESUMO

Análise do processo da cultura digital e do papel do jornalista na sociedade da

informação, com enfoque no correio eletrônico e sua função comunicacional na

sociedade. A transição da cultura alfabética à cultura digital analisando a escrita

imprensa e comunicação. Na história social da mídia a revolução na comunicação e

a sociedade da informação à democratização da informação com o blog.

Demonstramos também o impacto da revolução técno-científica na sociedade

contemporânea ao advento da Internet, e do leitor ao navegador, a apropriação do

texto pelo leitor de texto impresso e digital. O papel do correio eletrônico na vida das

pessoas, na sua tríplice função: comunicacional, nova mídia e na construção de

novos saberes.

Palavras-chaves: Cultura digital, jornalista na sociedade da informação, Internet,

correio eletrônico e revolução digital na mídia.

ABSTRACT

Process analysis of digital culture and the role journalist in the information society,

focusing on e-mail and its role in communication society. The transition from culture

to culture alphabetical analyzing the digital media and written communication. In

social history of the revolution in media and communication information society to the

democratization of information with the blog. They also demonstrate the impact of the

revolution technical-scientific research in contemporary society with the advent

Internet, and the reader to the browser, the appropriation text by the reader of printed

text and digital. The role mail in people's lives, in its triple function: communication,

new media and the construction new knowledge.

Keywords: Digital culture; American society information; Internet, email and

revolution digital media.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 08

PRIMEIRA PARTE

A REVOLUÇÃO DA CULTURA DIGITAL E SUAS IMPLICAÇÕES................. 10

CAPÍTULO 1

DA CULTURA ALFABÉTICA Á CULTURA DIGITAL......................................... 11

1.1 A escrita como expressão gráfica da linguagem

1.2 Alfabetização, linguagem, comunicação, imprensa e leitura- mudança

nos meios de comunicação............................................................................... 13

CAPÍTULO 2

HISTÓRIA SOCIAL DA MÍDIA: DE GUTENBERG À COMUNICAÇÃO

MULTIMÍDIA.................................................................................................... 16

2.1 A revolução da Prensa gráfica e suas implicações no processo da

comunicação................................................................................................... 17

2.2 A Sociedade da Informação: linguagem e hipertexto............................... 19

2.3. A democratização da informação – os “Blogs”........................................ 21

SEGUNDA PARTE – O IMPACTO DA REVOLUÇÃO DIGITAL E O PAPEL

DO JORNALISTA: O CORREIO ELETRÔNICO............................................. 24

CAPÍTULO 3

O IMPACTO DA ATUAL REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA NA

SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA................................................................. 25

3.1 As revoluções científicas e suas implicações na vida social................... 25

3.2 O papel do jornalista na “Sociedade da Informação”, a cultura escrita e

os meios de comunicação – a Internet............................................................ 27

3.2.1 O advento da Internet: uma revolução para a humanidade.................. 28

3.1 “Do leitor ao navegador”: a apropriação do texto pelo leitor (Chartier)... 30

CAPÍTULO 4

O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE INFORMÁTICA COM A INTERNET E O

CORREIO ELETRÔNICO: A REVOLUÇÃO DO E-MAIL COMO SERVIÇO

ELETRÔNICO................................................................................................. 32

4.1 O conceito de “virtual” de Piérre Lévy: Indivíduo e Sociedade no mundo

digital............................................................................................................... 32

4.2 O Correio Eletrônico e sua atuação nas mudanças da vida humana:

estudo de caso do perfil dos adolescentes..................................................... 33

4.3 O papel comunicacional e suas implicações............................................. 35

4.4 A configuração de uma nova mídia........................................................... 37

4.5 A contribuição para a construção de novos saberes................................ 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 45 ANEXO......................................................................................................... 47

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE ASSIS – FEMA

INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE ASSIS – IMESA

Coordenadoria de Jornalismo

Luciano Sampaio Di Creddo

DA REVOLUÇÃO DA CULTURA DIGITAL AO PAPEL DO JORNALISTA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: O CORREIO

ELETRÔNICO E SUA FUNÇÃO COMUNICACIONAL NA SOCIEDADE

Assis 2009

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE ASSIS – FEMA

INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE ASSIS – IMESA

Coordenadoria de Jornalismo

Luciano Sampaio Di Creddo

DA REVOLUÇÃO DA CULTURA DIGITAL AO PAPEL DO JORNALISTA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: O CORREIO

ELETRÔNICO E SUA FUNÇÃO COMUNICACIONAL NA SOCIEDADE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Coordenadoria de Jornalismo

da Fundação Educacional do Município de

Assis – FEMA e do Instituto Municipal de

Ensino Superior de Assis – IMESA como

requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alcioni Galdino

Vieira

Co-Orientador: Prof. Ms. João Henrique dos

Santos

ASSIS

2009

FICHA CATALOGRÁFICA DI CREDDO, Luciano Sampaio Da revolução da cultura digital ao papel do jornalista na sociedade da informação: O correio eletrônico e sua função comunicacional na sociedade / Luciano Sampaio Di Creddo. Fundação Educacional do Município de Assis – Fema : Assis, 2009 65p. Trabalho de Conclusão de Curso ( TCC ) – Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo – Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis 1. Cultura digital. 2. Jornalista na sociedade da informação. 3. Internet. 4. Correio Eletrônico. 5. Revolução digital CDD: 070 Biblioteca da FEMA

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Presidente e Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alcioni Galdino Vieira

_____________________________________________________

Primeiro Examinador: Prof. Ms. João Henrique dos Santos

_______________________________________________________

Segundo Examinador: Prof.ª Dr.ª Elizete Melo

DEDICATÓRIA

Aos meus pais pelo apoio .

AGRADECIMENTOS

À Professora Alcioni Galdino pela orientação , dedicação , amizade e apoio em todas as fases do trabalho .

Ao Professor João Henrique dos Santos pela orientação e apoio no desenvolvimento do trabalho e também pela amizade e confiança conquistadas durante este ano .

À professora Elizete Melo pela amizade e confiança que depositou no meu trabalho. Não só pelas aulas, mas também pelas contribuições que foram feitas durante a banca de qualificação .

RESUMO

Análise do processo da cultura digital e do papel do jornalista na sociedade da

informação, com enfoque no correio eletrônico e sua função comunicacional na

sociedade. A transição da cultura alfabética à cultura digital analisando a escrita

imprensa e comunicação. Na história social da mídia a revolução na comunicação e

a sociedade da informação à democratização da informação com o blog.

Demonstramos também o impacto da revolução técno-científica na sociedade

contemporânea ao advento da Internet, e do leitor ao navegador, a apropriação do

texto pelo leitor de texto impresso e digital. O papel do correio eletrônico na vida das

pessoas, na sua tríplice função: comunicacional, nova mídia e na construção de

novos saberes.

Palavras-chaves: Cultura digital, jornalista na sociedade da informação, Internet,

correio eletrônico e revolução digital na mídia.

ABSTRACT

Process analysis of digital culture and the role journalist in the information society,

focusing on e-mail and its role in communication society. The transition from culture

to culture alphabetical analyzing the digital media and written communication. In

social history of the revolution in media and communication information society to the

democratization of information with the blog. They also demonstrate the impact of the

revolution technical-scientific research in contemporary society with the advent

Internet, and the reader to the browser, the appropriation text by the reader of printed

text and digital. The role mail in people's lives, in its triple function: communication,

new media and the construction new knowledge.

Keywords: Digital culture; American society information; Internet, email and

revolution digital media.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 08

PRIMEIRA PARTE

A REVOLUÇÃO DA CULTURA DIGITAL E SUAS IMPLICAÇÕES................. 10

CAPÍTULO 1

DA CULTURA ALFABÉTICA Á CULTURA DIGITAL......................................... 11

1.1 A escrita como expressão gráfica da linguagem

1.2 Alfabetização, linguagem, comunicação, imprensa e leitura- mudança

nos meios de comunicação............................................................................... 13

CAPÍTULO 2

HISTÓRIA SOCIAL DA MÍDIA: DE GUTENBERG À COMUNICAÇÃO

MULTIMÍDIA.................................................................................................... 16

2.1 A revolução da Prensa gráfica e suas implicações no processo da

comunicação................................................................................................... 17

2.2 A Sociedade da Informação: linguagem e hipertexto............................... 19

2.3. A democratização da informação – os “Blogs”........................................ 21

SEGUNDA PARTE – O IMPACTO DA REVOLUÇÃO DIGITAL E O PAPEL

DO JORNALISTA: O CORREIO ELETRÔNICO............................................. 24

CAPÍTULO 3

O IMPACTO DA ATUAL REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA NA

SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA................................................................. 25

3.1 As revoluções científicas e suas implicações na vida social................... 25

3.2 O papel do jornalista na “Sociedade da Informação”, a cultura escrita e

os meios de comunicação – a Internet............................................................ 27

3.2.1 O advento da Internet: uma revolução para a humanidade.................. 28

3.1 “Do leitor ao navegador”: a apropriação do texto pelo leitor (Chartier)... 30

CAPÍTULO 4

O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE INFORMÁTICA COM A INTERNET E O

CORREIO ELETRÔNICO: A REVOLUÇÃO DO E-MAIL COMO SERVIÇO

ELETRÔNICO................................................................................................. 32

4.1 O conceito de “virtual” de Piérre Lévy: Indivíduo e Sociedade no mundo

digital............................................................................................................... 32

4.2 O Correio Eletrônico e sua atuação nas mudanças da vida humana:

estudo de caso do perfil dos adolescentes..................................................... 33

4.3 O papel comunicacional e suas implicações............................................. 35

4.4 A configuração de uma nova mídia........................................................... 37

4.5 A contribuição para a construção de novos saberes................................ 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 45 ANEXO......................................................................................................... 47

INTRODUÇÃO

Objetivamos analisar o tema da Revolução da Cultura Digital, desde a cultura

alfabética e sua transição para a cultura digital, com o aparecimento da escrita, da

linguagem e da comunicação através da leitura. Também o papel do Jornalista em

relação à cultura escrita e os meios de comunicação. Na história social da mídia,

analisaremos da revolução de Gutenberg ao advento da Internet e do Correio

Eletrônico fazendo emergir a “Sociedade da Informação”. Abordaremos o impacto

das revoluções técnico-científicas (Revolução Industrial / Revolução de Gutenberg /

Revolução Digital ) e suas influências na vida humana. Enfocaremos o indivíduo e a

“Sociedade da Informática“ (Internet e correio eletrônico), passando pela análise do

conceito de “virtual” de Pierre Lévy e concluindo com a revolução do e-mail como

serviço eletrônico.

O objeto de pesquisa de nosso trabalho está fundamentado na análise do

impacto da cultura digital e das implicações da Internet e do correio eletrônico (e-

mail ) no cotidiano da vida humana. Partimos do pressuposto de que a revolução do

e-mail atua como um serviço de correio eletrônico assumindo um papel

comunicacional na sociedade contemporânea. Uma das formas mais populares para

a troca de mensagens, nas relações interpessoais, profissionais, sociais, e

comerciais se constitui no acesso ao e-mail. Este é considerado o meio de

comunicação mais inovador da vida humana das últimas décadas. É aplicado nas

mais diferentes áreas da sociedade com a característica de instantaneidade, com

uma base essencial da expressão textual e ganhando status de mídia.

Podemos considerar a importância do e-mail no campo das mídias e abordá-

lo como um meio de comunicação transformador, uma vez que se pode trabalhar no

campo da interdisciplinaridade. Tal visão multidisciplinar permite no domínio da

linguagem analisar receptores/emissores,e discursos entre os mais diferentes

usuários da Internet.

Com relação ao papel comunicacional do correio eletrônico (e-mail),

gostaríamos de problematizá-lo não só como uma nova mídia, mas também como

um novo espaço de mediação e, ainda, abordá-lo como uma nova construção de

saberes. Assim, quais as implicações da revolução do e-mail na vida das pessoas e

9

como um serviço de correio eletrônico assume um papel comunicacional? Como

refletir sobre o papel do jornalista no mundo da informática: qual o papel do

jornalismo e dos jornalistas na sociedade de informação? Em relação ao texto

escrito que o jornalismo se utiliza como a cultura escrita, segundo Chartier, está

sendo alterada em relação às mudanças nas técnicas de reprodução do texto, na

forma de suporte do texto, e ainda nas práticas de leitura como, por exemplo, o “e-

book “? Em relação às linguagens da informação digital, podemos constatar que

estamos diante de uma nova mídia, e, portanto, em busca da construção de sua

linguagem, ou estamos diante de um novo suporte de distribuição e disseminação

das informações? Como as interconexões digitais alteraram as relações sociais

entre os humanos? Como o novo espaço virtual de rede se relaciona com o espaço

geográfico planetário? Enfim, como o crescente processo de digitalização do

mundo afeta o cotidiano do homem? São estas as questões que pretendemos

investigar na nossa pesquisa.

Partimos da análise de obras clássicas, de autores que são referências

obrigatórias para a reflexão do nosso objeto de pesquisa, e que nos fornecem o

suporte teórico, tais como: Roger Chartier, especializado em livros e leituras e

também no mundo digital, com destaque para a obra “Os desafios da Escrita “

(2002). Do sociólogo Edgar Morin, que selecionamos “Os sete saberes necessários

à educação do futuro“ (2001) e “Cultura de massas no século XXI” (2001), obra em

que o autor discute a cultura de massas que hoje está sendo retomada à luz “da

nova cultura da informática. Do filósofo francês Pierre Levy referenciamos “A

inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço” (2000), “O que é virtual?”

(1996) e “Cibercultura “ (1999). O autor Adam Schaff com “A Sociedade Informática”,

um clássico nas reflexões sobre os impactos do mundo digital na vida humana.

Steve Johnson, no seu livro “Cultura da Interface: como o computador transforma

nossa maneira de comunicar” (2001) é considerado um dos mais influentes

pensadores do ciberespaço, dentre outros autores.

10

PRIMEIRA PARTE A REVOLUÇÃO DA CULTURA DIGITAL E SUAS IMPLICAÇÕES

11

CAPÍTULO 1 DA CULTURA ALFABÉTICA Á CULTURA DIGITAL

Na pré-história o homem buscou se comunicar através de desenhos feitos

nas paredes das cavernas. Através desse tipo de representação, a pintura rupestre,

trocavam mensagens, passavam idéias e transmitiam desejos e necessidades. Mas,

ainda não era um tipo de escrita, pois não havia organização, nem padronização

das representações gráficas. Assim , desde o aparecimento do “Homo Sapiens” ,que

desenvolveu formas de comunicação entre si , oral ,ou através de imagens gravadas

nas paredes das cavernas , as tradições e costumes foram transmitidas oralmente

ou por impressões. Desde o aparecimento da linguagem articulada ao advento da

escrita cuneiforme, no Oriente, o homem foi criando uma comunicação alfabética

para se comunicar. A criação da escrita marca o nascimento da História que se

constituiu num longo processo civilizacional, propiciando ao homem criar cultura,

com a sua fixação em aldeias, domesticando plantas e animais.

1.1 A escrita como expressão gráfica da linguagem

A escrita é acima de tudo “um procedimento do qual atualmente nos servimos

para imobilizar, fixar a linguagem articulada, por essência fugidia”. Diante de sua

necessidade de um meio de expressão permanente, o homem primitivo recorreu à

criação de objetos simbólicos ou a sinais materiais como nós, entalhes e desenho

(HIGOUNET, 2003, p. 9).

Em nossos dias, a reprodução em disco ou fita magnética, outro

procedimento de fixação da linguagem, mais direto que a escrita, que começa a

concorrer com ela. Contudo a escrita é mais que um instrumento. Os mais simples

traços desenhados pelo homem em pedra ou papel não são apenas um meio, mas

também encerram e ressuscitam o pensamento humano. Segundo o historiador

francês Lucien Lefévre, é a expressão da imobilização da linguagem, que disciplina

o raciocínio, e na sua transcrição organiza as idéias e o pensamento. A escrita faz

12

parte de nossa civilização e marcou o nascimento da História. Assim, quando o

Homem criou símbolos e sinais gráficos, nascia a escrita ideográfica.

Posteriormente, passou aos sons e criou uma memória visual para a leitura da

linguagem fonética, ou seja, da escrita fonética. Dentre os sistemas alfabéticos, a

escrita latina, se tornou o instrumento definitivo do pensamento ocidental e o meio

de expressão por excelência do mundo moderno (IDEM, IBIDEM, p. 10).

A história da humanidade se divide em duas imensas eras: a pré-história e a

História, como a ciência que nasceu com o advento da escrita. A lei escrita substituiu

a lei oral, o contrato escrito substituiu a convenção verbal. O advento da escrita

expressou o procedimento de fixação da linguagem articulada. Contudo, a escrita é

mais que instrumento, mais que modo de imobilização da linguagem. A escrita dá

acesso direto ao mundo das idéias e permite apreender o pensamento e fazê-lo

atravessar o espaço e o tempo, é o fato social que está na base de nossa

civilização. Para que haja escrita: “é preciso inicialmente um conjunto de sinais que

possua um sentido estabelecido anteriormente por uma comunidade social e que

seja por ela utilizado (...) em seguida é preciso que esses sinais permitam gravar e

reproduzir uma frase falada” (FÉVRIER, apud HIGOUNET, 2003, p. 11).

Durante séculos as sociedades humanas se valeram da oralidade como

principal forma de transmissão e aprendizagem dos saberes culturais. As

sociedades da oralidade, também chamadas de culturas orais, ágrafas, culturas sem

escrita, culturas não letradas são por excelência o local dos narradores dos mitos e

lendas. Nas sociedades orais a memória se identifica com as pessoas: a história e a

cultura do povo, as idéias e visões do mundo que as constituem passam de geração

para geração (cf. RAMAL, 2002, p. 37-38). Ao longo de outro vasto período de

tempo a escrita se associou a essa oralidade. Mas, foi durante o século XX que a

Informática transformou o conhecimento em algo não material, variável, fluido e

indefinido, por meio de suportes digitalizados. Assim, trazendo consigo processos

provocadores de ruptura: a interatividade, a manipulação de dados, a correlação de

conhecimentos, entre si, por meio de “links” e “nós” de redes de hipertexto. Portanto,

a escrita, como expressão gráfica da linguagem, na era da Informática, sofreu uma

mudança drástica expressa na linguagem eletrônica.

13

1.2 Alfabetização, linguagem, comunicação, imprensa e leitura- mudança nos meios de comunicação

O homem, como ser histórico e social, inserido num espaço geográfico, numa

época histórica e em determinada cultura, criou uma linguagem para se comunicar.

A realidade social está alicerçada na comunicação e na informação. Mas, o sinal

característico de um estágio particularmente civilizado foi expresso na invenção e

utilização da escrita. Todas as sociedades históricas que dispuseram de meios

multiplicadores da difusão da ciência e da comunicação foram consideradas

civilizadas. A alfabetização pressupõe a capacidade de comunicação e informação

de uma determinada cultura para produzir conhecimento (cf. BENEYTO, 1974, p. 9-

15 ).

O Homem através da História criou técnica, cultura, conhecimento e

produziu inventos notáveis como a imprensa. Quando Gutenberg criou o processo

de impressão, com tipos móveis nasceu a cultura impressa difundindo o

conhecimento e as idéias ganharam velocidade. O surgimento da imprensa mudou

as formas de fazer cultura. A nova tecnologia da comunicação tornou-se ferramenta

indispensável para o envolvimento do Estado e para a emergência de uma

sociedade de massa criando uma opinião pública.

A importância da imprensa para o poder foi tamanha que Max Weber,

sociólogo alemão, afirmou ser o jornalismo a primeira profissão política remunerada.

O processo de disseminação de idéias sempre foi fundamental para a manutenção

ou alteração do poder na sociedade.

Foi durante o século XVIII, com a Revolução Industrial, que o homem criando

máquinas – a mecanização da atividade produtora – pode ter acesso a uma

sociedade moderna com inventos marcantes como: ferrovia a vapor, rádio, energia

elétrica, telefone, aviação, dentre outras invenções marcantes, e também na

medicina, como a penicilina, com as vacinas vencendo a morte e alcançando

longevidade.

Da criação de uma cultura alfabética para uma cultura digital foi um longo e

complexo processo de transição. O nascimento da cibercultura colocou o homem

num patamar único de desenvolvimento intelectual sem precedentes. A criação de

14

uma rede digital foi capaz não só de gravar seus conhecimentos, mas operar uma

conexão digital poderosa.

O homem em toda a trajetória da humanidade tem buscado por um suporte

onde possa gravar seus conhecimentos e idéias. Enfim, por um dispositivo que

permitisse ao homem perpetuar a cultura de uma determinada civilização: fixar,

memorizar, armazenar e de comunicação para a posteridade no conjunto de seus

conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de crenças e dos vôos da

sua imaginação criadora. Da dependência da escrita o homem passou para a

dependência digital. Atualmente a humanidade vive uma transformação radical nas

formas de registrar e transmitir suas idéias, fundamentalmente, nos meios de ler e

escrever, com o uso da informação, como suporte eletrônico, levando o homem a

um novo patamar: à cultura digital (TARUHN, 2000, p. 27-28).

Na cultura alfabética, segundo Chartier, o ato de ler, sinaliza as três grandes

revoluções já ocorridas na história da leitura (cf. VENTURA, 1993, apud

KRZYZANOWSKI; TARHUN, 2002, p. 28 ). A primeira , quando cresceu o número

de leitores que liam com os olhos, de maneira silenciosa, e que não mais

precisavam de oralidade, período este que atravessou toda a Idade Média ocidental.

A segunda, ocorrida, no século XVIII, quando mais leitores sugiram ,graças ao

progresso da alfabetização, na maior parte da Europa, multiplicando-se as

instituições onde se podia ler, sem comprar livros, como: as bibliotecas e os

gabinetes de leitura. E, finalmente, a terceira, com Guttenberg e o advento da

imprensa (1455), quando o livro ,que era copiado à mão, manuscrito, passou a ser

composto segundo novas técnicas. O códice, livro formado por cadernos e folhas, foi

uma estrutura herdada ainda deste período. Assim , as mudanças na forma de

apresentação do livro , ocorridas nas diferentes fases de sua história , ocasionaram

três grandes revoluções : do texto manuscrito em rolo de pergaminho para o códice

, formato semelhante ao livro moderno impresso ; do códice ao livro impresso e do

livro impresso ao eletrônico . A obra não é jamais a mesma quando inscrita em

formas distintas, ela carrega a cada vez outro significado (cf. CHARTIER, A aventura

do livro: do leitor ao navegador, 1999, p. 71).

Na atualidade, as mudanças que ocorreram nas formas de realizar o registro

do conhecimento, na recuperação e transmissão das informações entre os homens,

incluindo-se a adoção das tecnologias dos meios de comunicação como o rádio, o

cinema, televisão, se apresentaram como excelentes ferramentas auxiliares de

15

novas possibilidades de comunicação da informação. E, há apenas dez anos, o uso

do computador e da Internet, por uma parcela mais expressiva de pessoas

trouxeram uma grande mudança. Na Internet os usuários têm e demandam o

contacto direto online com redes de fontes de informação e com outros usuários, em

um contexto dinâmico que supera localização geográfica, tempo, e serviços de

informação (KRZYZANOWSKI; TARUHN, 2002, p. 30).

As mudanças ocorrem quando o ser humano passa do texto escrito para o

digital, segundo Chartier (cf. VENTURA, 1993, lócus cit.) que analisa a passagem

do livro para a tela do computador demonstrando que este fato rompe as estruturas

do texto escrito e gera uma profunda transformação na materialidade do leitor.

Assim, novas possibilidades surgem com os novos recursos eletrônicos, e também

as práticas, em termos de produção, mercado, bibliotecas e banco de dados que

estão sendo modificados por esta passagem do texto em suporte impresso para o

meio eletrônico (textos eletrônicos: e-book, e-journal, dentre outros).

Da conquista da alfabetização, para a criação da linguagem e decorrente

comunicação, com o advento da imprensa, do livro e do leitor, para o jornal,

constatamos que o desenvolvimento dos meios de comunicação foi notável

permitindo uma evolução rápida e marcante na vida humana, enfim, uma revolução.

16

CAPÍTULO 2 HISTÓRIA SOCIAL DA MÍDIA - DE GUTENBERG À COMUNICAÇÃO MULTIMÍDIA

Considerando as mudanças ocorridas nos meios de comunicação é

necessário contextualizá-las nos períodos históricos em que estão inseridas: na

história da comunicação, desde a invenção da prensa gráfica ao advento da

Internet.

Segundo o “Oxford English Dictionary” foi somente, na década de 20, do

século XX, que as pessoas começaram a usar o termo mídia. Posteriormente, nos

anos 50 do mesmo século, se mencionou a expressão “revolução da comunicação“.

Constatamos que o interesse pelos meios de comunicação é antigo, assim, a

retórica- estudo da arte de se comunicar- sempre foi muito valorizada, não só entre

os astecas, na América Central, mas também na Grécia e Roma antigas. Foi objeto

de estudo na Idade Média e posteriormente no Renascimento. No século XVIII e

XIX a retórica também era incentivada quando o conceito de “opinião pública“

apareceu no final do século XVIII. A preocupação com as “massas” tornou-se visível

a partir do século XIX, na época em que os jornais, segundo Benedict Anderson em

Comunidades Imaginadas (apud BURKE, 2004, p.128 ), ajudaram a moldar uma

consciência nacional, levando as pessoas a ficarem atentas aos outros leitores.

Na primeira metade do século XX, após a eclosão das guerras mundiais, com

o interesse acadêmico, pelo estudo da propaganda, os estudos do antropólogo

francês, Claude Lèvi-Strauss e do sociólogo alemão, Niklas Luhmann, analisaram e

ampliaram o conceito do termo “comunicação“. O Homem demonstrou seu interêsse

pela comunicação das informações e das idéias, sob a forma de palavras, imagens,

através da fala, da escrita, das publicações, do rádio, da televisão e, finalmente,

pela Internet.

Foi através da era do rádio que o mundo acadêmico reconheceu a

importância da comunicação. O início da idade da Televisão , na década de 50 , deu

surgimento à comunicação visual e estimulou a emergência de uma teoria

multidisciplinar da mídia. Aparecendo novas idéias como as de Harold Innis (1894-

1952) que escreveu sob “o viés da comunicação”. Também, Marshall McLuhan

17

(1911-80) com o termo “aldeia global”, Jack Goody que traçou “a domesticação da

mente selvagem” e Jürgen Habermas, o sociólogo alemão que identificou a “esfera

pública” e a “mass média” (a massa, como o povo, em geral ). Enfim, a criação de

um espaço intelectual para a análise do “discurso“ no qual as idéias são analisadas

e exploradas.

Com o desenvolvimento da comunicação elétrica, iniciada com o telégrafo,

surgiu uma percepção de mudança imediata. Os debates na mídia, na segunda

metade do século XX, estimularam a reavaliação, tanto da invenção da impressão

gráfica, quanto de outras tecnologias. Assim, as mudanças na mídia tiveram

importantes conseqüências culturais e sociais. No nível político, foi usada pela

democracia e ditadura, pois a denominada “era do rádio “ foi marcada como a “era

de Roosevelt e de Churchill”, mas também, a de Hitler, Mussolini e Stálin, e no nível

psicológico estimulou o isolamento com a televisão e a rede da WEB.

O importante para McLuhan era a forma da informação, e não o seu

conteúdo, colocando que “o meio é a mensagem”, mídia “quente” (rádio/cinema ) e a

“fria” ( televisão/telefone). O psicólogo canadense David Olson (“The Word of Paper

(O mundo do Papel ) 1994) cunhou a expressão “mentalidade letrada” para resumir

as mudanças que as práticas da leitura (com o advento do livro) e da escrita

provocaram no modo como nós pensamos o ser humano, a linguagem, e o mundo.

O debate entre realidade virtual e ciberespaço coloca a complexidade da análise de

como o computador alterou a comunicação, a arquitetura das ciências, artes e a

imagem que temos da realidade material. E, também, a realidade da exclusão digital

e da passividade do Homem diante da realidade virtual (cf. BURKE, 2004, p. 26-41).

2.1 A revolução da Prensa gráfica e suas implicações no processo da comunicação

O período, que antecedeu a era moderna de 1450/1789 foi marcado pela

Revolução Francesa e pela Revolução Industrial. Neste contexto histórico que

Johann Gutenberg, de Mainz, no ano de 1450, data aproximada para a invenção na

18

Europa, criou uma prensa gráfica, com o uso de tipos móveis de metal, talvez

inspirado pelas prensas de vinho de sua região natal, no rio Reno.

A chamada “revolução de Gutenberg”, com a prática da impressão gráfica, se

espalhou na Europa. Foram impressas 27 mil edições até o ano de 1500, o que

significou 500 cópias por edição, contabilizando 13 milhões de livros numa Europa

de cerca de cem milhões de habitantes. Com ênfase para a produção de Veneza

(dois milhões) e Paris (181 estabelecimentos com máquinas de impressão, em

1500). Portanto, a grande revolução permitiu a divulgação do conhecimento, a

criação de leitores e dos livros, e o aparecimento dos jornais. Na verdade, o trio: a

invenção da pólvora , bússola e imprensa revolucionou o mundo conhecido. Foi

possível a Revolução Industrial e a conseqüente “Revolução da Comunicação”,

vistas como parte de um mesmo processo. A revolução dos transportes,

principalmente, quando a eletricidade substituiu o vapor como fonte de energia - da

prensa à vapor à prensa elétrica - foi primordial para agilizar a revolução nas

comunicações.

Com o advento dos jornais aumentou a ansiedade sobre os efeitos da nova

tecnologia. O surgimento dos jornais estimulou a leitura de livros e criou uma

comunidade de leitores. Também deu origem à publicidade econômica ( “anúncios”)

e a publicidade política (“propaganda”), aos materiais impressos, à difusão de livros,

panfletos, cartazes e jornais tornando o analfabetismo cada vez mais desvantajoso.

No século XX a televisão precedeu o computador, do mesmo modo que a

impressão gráfica antecedeu o motor a vapor, o rádio antecedeu à televisão, e as

estradas de ferro e os navios a vapor precederam aos automóveis e aviões. Toda

essa revolução tecnológica se insere num processo histórico de evolução, inovação

e modernização da sociedade humana (cf. BRIGGS, 2004, p. 237).

Assim, da revolução da prensa gráfica às suas implicações no processo da

comunicação, enfrentamos atualmente outro dilema: as modificações no jornalismo

impresso face ao jornalismo eletrônico, onde as mudanças se fazem necessárias em

face de um novo leitor: o leitor digital.

19

2.2 A Sociedade da Informação : linguagem e hipertexto

Ao longo da História o homem tem criado os mais diversos meios e

ferramentas para comunicar-se visando melhorar os seus padrões atuais de vida.

Mas, mesmo diante de suas criações, que lhe conferem um melhor modo de vida, o

Homem continua destruindo a natureza, ainda que, alcançando um alto patamar de

desenvolvimento tecnológico. Assim, surge o termo “Sociedade da Informação”

também denominada “Sociedade do Conhecimento”, no final do século XX, com

origem na Globalização. Estabelece um novo paradigma de sociedade que se

baseia na informação, como meio de criação de conhecimento.

Os termos “economia da informação” e “sociedade da informação”, criados

por Marc Porat (1977), já eram usuais na década de 60, do século XX. A palavra

“informação “ já havia sido incorporada à expressão “tecnologia da informação”. A

nova expressão “sociedade da informação “ dava forma ou modelava um conjunto

organizado referente à informação e à comunicação. O conhecimento, notícias,

literatura, entretenimento, todos estavam permutados entre mídias e elementos de

mídias diferentes como: papel, tinta, pinturas, cinema, rádio, televisão e

computadores. Assim, o termo “Sociedade da Informação” carregava a conotação

de sociedade pós-industrial (cf. BRIGGS, 2004, p. 264).

O momento histórico denominado pós-moderno é caracterizado pela

valorização do conhecimento, pela revisão de paradigmas e marcado pela

comunicação digital. A comunicação é a ponte que liga o homem ao seu interior e

exterior, responsabilizando-se pela expressão plena de seu papel no mundo.

Na sociedade midiática da comunicação a relação dos discursos se

entrecruza e já não existe um discurso único. Segundo Michel Foucault:

Talvez seja tempo de estudar os discursos nas modalidades de sua existência: os modos de circulação, de valorização, de atribuição, de apropriação dos discursos variam em cada cultura e modificam-se no interior de cada uma; a maneira como se articulam sobre relações sociais decifra-se de forma mais direta no jogo da função “autor” e nas suas modificações, do que nos temas ou nos conceitos que empregam (FOUCAULT, 1992, p.145).

20

Não só os discursos apresentam-se nas diversas modalidades, mas a

linguagem se apresenta diferenciada, que na contemporaneidade tem na Informática

uma nova visibilidade. A importância da linguagem digital faz-se notar quando tem

diante de si, a rede mundial de computadores, a Internet. Esta atua, alterando e

interagindo, no comportamento da sociedade e marcando diretamente a nossa

cultura. Atualmente constatamos o surgimento de uma nova concepção de leitura e

leitor. A leitura que antes era feita no livro de forma linear, hoje se apresenta em

forma de “hipertexto”. Através do hipertexto informatizado tem-se contacto com o

que existe de mais novo e atual. A velocidade das informações se processa em

ritmo que exige do profissional uma constante e rápida atualização

O hipertexto abre caminho para um novo entendimento da leitura e evidencia

a linguagem que marca a era da informação. O hipertexto parte do texto escrito para

propor reformulações do espaço de significações, numa produção frenética que

acelera os tempos do real para o virtual. O hipertexto materializa percursos

divergentes, escolhas de leituras, e o leitor não pode permanecer inerte, mas com

uma postura ativa, interagindo com o texto e com as novas linguagens que se

apresentam. São as reflexões de Chartier, que em suas diferentes obras, demonstra

essa preocupação, buscando traçar o perfil de um novo leitor, como multilinear , ante

a hipertextualidade informatizada.

A linguagem atual utilizada pela informática é responsável pela virtualização e

multiplicação de técnicas. Para Lévy: “o tempo humano não tem modo de ser de um

parâmetro ou de uma coisa (ele não é justamente “real”), mas de uma situação

aberta” (1999, p. 71). Justamente, neste espaço de virtualização, onde a linguagem

assume um novo tempo, forma uma teia para margear a re-elaboração da realidade.

Lévy coloca assim, a questão da linguagem e do tempo:

As linguagens humanas virtualizam o tempo real, as coisas materiais, os acontecimentos atuais e as situações em curso. Da desintegração do presente absoluto surgem , como duas faces, a mesma criação, o tempo e o fora do tempo, o anverso e o reverso da existência.Acrescentando ao mundo uma dimensão nova, o eterno, o divino, o ideal têm uma história (LÉVY ,1999, p.73).

O autor atribui à linguagem a responsabilidade de criar tempos e situações

em função deste. Assim, o hipertexto é mais uma forma de re-elaboração do tempo,

21

pois ele muda o comportamento do leitor, onde existe um texto abrindo-se a outro.

Não existe mais o texto inicial, mas há multiplicidades dos textos, das realidades e

as infinitudes das leituras e dos textos (Porto; Brandão, 2002, online).

A situação da comunicação está irremediavelmente transformada no que

Pierre Lévy chamou de “terceiro pólo do espírito humano”: o pólo informático-

mediático. Enquanto nas sociedades da oralidade primária os interlocutores

partilhavam o mesmo contexto, na era da escrita surgia a possibilidade do

distanciamento entre a produção do texto e o momento da recepção nos mais

diversos contextos, situações ou épocas. Hoje, temos atores da comunicação

conectados a uma rede, dividindo um mesmo hipertexto, numa relação totalmente

nova com os conceitos de contexto, de espaço e de tempo das mensagens (cf.

RAMAL, 2002, p. 81). Enfim, a preocupação de Roger Chartier se fundamenta nas

mudanças do leitor, de texto escrito para o texto digital, abrindo transformações com

o surgimento de outro tipo de leitor.

2.3. A democratização da informação – os “Blogs”

O século XXI é considerado o século da Internet e a rede mundial ( W W W)

um meio em que todos podem participar, publicar e gerar conteúdos.Os blogs

surgiram como a principal ferramenta deste fenômeno , democratizando

definitivamente o acesso à comunicação.São criados ,ao redor do planeta, com a

finalidade do internauta ter acesso à informação ou entretenimento e mudando

seus hábitos no tocante à aquisição da informação.Foi o mesmo processo que

aconteceu com o surgimento da imprensa, do telégrafo , do telefone , do rádio , da

televisão e da internet.Agora surgiu, o que se denomina de “blogosfera”, com uma

platéia ilimitada de sujeitos atuando.

O “blog” (cf. HEWITT, 2007, p. 9) tem origem, na contração da expressão

inglesa “weblog”. “Log” significa diário de um capitão de navio, portanto, “Weblog” é

uma espécie de diário mantido na internet por um ou mais autores regulares. Surgiu

em 1999, e em cinco anos foram contabilizados mais de quatro milhões de blogs.

Cerca de 120 mil blogs são criados todos os dias, de acordo com a edição de 2007

22

do relatório “The State of the Blogosphere” (O Estado da Blogosfera) da

Thenorati (cf. ERCILIA, M. e GRAEFF, A., 2008. p. 65). Os blogs chamaram a

atenção, pela primeira vez quando invadiram a seara da política e do jornalismo.

Surgiu então todo um universo de blogs políticos, não só sobre política, mas

necessariamente sobre a mídia em geral.

O criador das comunidades “on-line” foi Howard Rheingold que está ligado à

cultura digital. Foi um dos pioneiros na divulgação desse tipo de comunidade, e no

seu livro, intitulado “A comunidade Virtual”, publicado em 1993, na mesma época de

nascimento da Web, este já delineava um mapa das diversas comunidades “online “

no mundo. E, também “ apontava para o fato de que não existe uma subcultura

online única e monolítica, mas um ecossistema de subculturas, umas frívolas outras

sérias” (cf. COSTA, 2008, p.55). Quase uma década depois se pode afirmar que

estas “subculturas virtuais” floresceram pelo planeta.

Segundo Pierre Lévy (1999, p. 85-100), que se preocupa com a cibercultura

emergente, o desenvolvimento das comunidades virtuais se configura

provavelmente em um dos maiores acontecimentos dos últimos anos, pois

estimulam uma nova maneira de “ fazer sociedade” .Os grupos de discussão, listas

de difusão, chats , Orkut, blogs, salas de bate papo, fóruns com pessoas se

interconectando, também através do correio eletrônico e dos sites ,com trocas de

informação e conhecimentos, marcaram e trouxeram profundas modificações na

nossa sociedade.

Em 1976, o pesquisador Murray Turoff, idealizador do sistema de intercâmbio

de informação eletrônica ( EIES ), considerado o ponto de partida das atuais

comunidades online prenunciava: “a conferência por computador pode fornecer aos

grupos humanos uma forma de exercitarem a capacidade de ‘inteligência coletiva’

(...) um grupo bem sucedido exibirá um grau de inteligência maior em relação a

qualquer um de seus membros” (apud COSTA, 2008, p. 59). Assim, Turoff não só

visualizou, mas criou os conceitos de comunidades virtuais e o potencial de

inteligência coletiva envolvida nesta atividade.

Um exemplo, do que seria uma comunidade virtual, baseada no

conhecimento e constituída de agentes inteligentes, trata-se da Abuzz.com, criado

em 2000 pelo jornal New York Times. A idéia do jornal consistiu em explorar de

forma inteligente o modo como as pessoas buscam informações e conhecimentos.

O contacto com os leitores orienta até pautas e discussões, com links, provocações

23

com questões, o diálogo e a discussão: enfim, uma conversa entre um meio de

comunicação impresso e seus assinantes e leitores.

No Brasil, um exemplo é o blog de “Thiago Dória weblog”, com o subtítulo:

doses diárias de cultura, web, tecnologia e mídia. Na verdade é bastante completo

no tocante à atualização de notícias internacionais de mídias (jornais, revistas

livros). Os textos são bem elaborados e com informações minuciosas, apresentando

resultado de pesquisas como: perfil de blogueiros, do Twitter e, no final, links e

assuntos com arquivos para pesquisa.

24

SEGUNDA PARTE O IMPACTO DA REVOLUÇÃO DIGITAL E O PAPEL DO JORNALISTA: O CORREIO ELETRÔNICO

25

CAPÍTULO 3 O IMPACTO DA ATUAL REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

3.1 As revoluções científicas e suas implicações na vida social

No campo da comunicação, ocorreram significativas mudanças, a primeira

grande revolução denominada de “revolução de Gutenberg”, quando este criou o

processo de impressão com tipos móveis e as idéias ganharam velocidade através

da publicação de livros, jornais e outras publicações. O surgimento da imprensa

mudou as formas de comunicação, e a nova tecnologia da comunicação tornou-se

ferramenta indispensável para o desenvolvimento da nação e para a criação da

sociedade de massa. O processo de disseminação de idéias foi fundamental para a

manutenção ou alteração do poder na sociedade. O avanço desta tecnologia

permitiu criar uma opinião pública. Assuntos e fatos distantes eram pautados e

lançados ao olhar dos leitores. A tecnologia da impressão em larga escala garantiu a

existência de uma camada especializada na formação das idéias nacionais.

As mudanças e revoluções tecnológicas têm distribuído seus impactos pela

sociedade e alterado a vida cotidiana com grandes grupos buscando apoderar-se

dos novos inventos para impor sua dominação.

A Revolução Industrial (1750), cujo núcleo inicial foi a Inglaterra, acarretou

mudanças importantes na vida humana como a mecanização, o uso do vapor, e das

ferrovias levando a um desenvolvimento econômico extraordinário. Já a

denominada segunda Revolução Industrial ou Tecnológica, ocorreu no final do

século XIX, caracterizada pelo uso intensivo das novas fontes de energia,

principalmente a energia elétrica e a do petróleo, alterando a vida dos indivíduos,

das famílias, cidades, e nações.

As tecnologias de transmissão de sons e imagens por ondas radioelétricas

foram mudando o sistema de comunicação. O rádio já havia alterado o imaginário da

sociedade e colocado a opinião pública em outro patamar, de maior velocidade e

intensidade. Também a tecnologia televisiva se constituiu em poderoso instrumento

26

de informação, de disputa ideológica, e numa tecnologia do poder na sociedade. E,

finalmente, a Revolução Digital, que o sociólogo Manuel Castells denominou de

“Revolução das Novas Tecnologias de Informação”, enquanto Jean Lojkine de

“Revolução Informacional ” e Jeremy Rifkin a apontou como “A Era do Acesso”

(SILVEIRA, 2001, p.8).

No centro desta revolução está o computador como instrumento vital da

comunicação, da economia, e da gestão do poder. A linguagem do computador

permitiu transformar toda a produção simbólica em um conjunto de “dígitos /bytes /

bits”. Assim, podemos traduzir imagens, textos, ou sons em um punhado de dígitos.

Também foi importante a integração do computador ao microprocessador. Estes

avanços das telecomunicações geraram um processo rápido de disseminação de

informações, ressaltando-se que a comunicação fundamental da sociedade é

mediada pelo computador.

Na economia o capital financeiro circula no planeta ligado pelas “redes

informacionais”. Estas redes de comunicação recobrem todo o globo como uma

camada invisível tornando instáveis as economias nacionais dependentes dos

fluxos do capital. As telecomunicações participam dessa revolução informacional,

pois quanto mais rápido se transferir o capital maior o lucro com as oscilações do

mercado de ações.

A expressão “sociedade em rede” de Manuel Castells coloca a questão que

na era da informação a rede digital se constitui no novo paradigma da sociedade,

Assim, define esse conceito, destacando o seu papel central na sociedade digital:

Rede é um conjunto de nós interconectados a um sistema. São sistemas de televisão, estúdios de entretenimento, meios de computação gráfica, equipes de cobertura jornalística, dentre outros , gerando , transmitindo e recebendo sinais da rede global da nova mídia e da opinião pública na era da informação (CASTELLS, 1999, p. 497-99).

A sociedade em rede é uma realidade no mundo contemporâneo onde o

indivíduo está inserido. Mas, em muitos casos, nos países em desenvolvimento,

existem locais e até regiões caracterizadas em situação de “exclusão digital”,

deixando o ser humano marginalizado, não só do acesso ao direito de cidadania e

à informação, mas também do desenvolvimento científico propiciado pela tecnologia

digital.

27

3.2 O papel do jornalista na “Sociedade da Informação”, a cultura escrita e os meios de comunicação: a Internet

A inserção na cultura digital ou cibercultura tem sua origem na cultura

escrita pelo fato da mesma se constituir na base das novas tecnologias. Chartier

(2003, loc. Cit.) coloca que a leitura na tela do computador, é a representação

eletrônica do texto, que modifica a relação com o escrito, permitindo intervenções e

colocando grande quantidade de informações ao leitor. Assim, em função das

mudanças e inovações que vivenciamos em nosso cotidiano, decorrentes das

facilidades nos meios de comunicação e na troca de informações podemos

considerar que estamos vivendo na denominada “Sociedade da Informação”.

Com o advento das redes globais, da transmissão eletrônica de dados, da

troca de mensagens através de correios eletrônicos, da agilidade dos fatos e da

interatividade decorrente, a informação se constitui na condutora maior desses

processos.

O papel dos jornalistas neste processo é muito importante, pois não só

passam a assumir uma função de alimentadores das informações que circulam

pelas redes, mas também de usuários dessa própria rede, e ainda, como

ferramenta de trabalho. A informação jornalística, atualmente com base de dados

coletados pelo IDC ( Internet Development Corporation (http://www.idc.com), uma

organização de pesquisa sobre a Web, mais de 60% dos sites são voltados para o

provimento de informações jornalísticas das mais diversas formas, e também a

maioria dos usuários da WEB vai à rede para obtenção de notícias (CORREA, 1999,

p. 2-/3).

O papel do jornalista na sociedade da informação se constitui, não só como o

de tradutor, mas também como de intérprete da realidade. O repórter tem que

apresentar os fatos relatados da melhor maneira para serem entendidos,absorvidos

e discutidos por leitores, ou melhor para a formação de cidadãos responsáveis e

conscientes de diferentes classes sociais, comportamentos e culturas. Com o

advento das mídias digitais, marcadas pela instantaneidade e interatividade, é de se

28

supor que o jornalista não deverá deixar de reportar a realidade, mas ampliará esse

papel com a potencialidade tecnológica dos novos meios. Estas funções do

jornalista vão desde a habilidade no uso de ferramentas de software para

reportagens, assistida por computador, mas também na preparação de conteúdos

editoriais, na alimentação com informações e ainda funcionando como “motor” de

comunidades virtuais, às vezes mais fortes, que as realidades locais.

É importante destacar o papel do jornalista diante do conceito de virtualidade,

onde a informação passa a ter um papel vital de mantenedora de comunidades. O

jornalista passa a ser um “arquiteto da informação “ com responsabilidade perante

os conteúdos produzidos em tempo virtual. O jornalista trafega e une espaços

urbanos e fatos reais e os amplifica e dissemina em contexto virtual. Assim, o

jornalista usa a cultura escrita num meio de comunicação virtual estabelecendo uma

comunicação rápida e atual na rede da Web. Portanto, é possível afirmar que uma

nova cultura vem se constituindo em relação à cultura oral e escrita denominada por

Pierre Lévy (1999) de “cibercultura”. Segundo o autor, essa cultura digital pode ser

vista como uma produção híbrida, ou seja, um agregado de características que

compõem tanto a cultura oral quanto a cultura escrita: uma interpenetração de

formas de comunicação oral e escrita, cujos limites entre ambas se tornam tênues.

3.2.1 O advento da Internet: uma revolução para a humanidade

A Internet chega aos 40 anos trazendo uma revolução na humanidade. Palco

de conversa descentralizada e portátil tem mais de um bilhão de usuários

atualmente. Pelo microblog Twitter, um dos mais recentes capítulos dessa trajetória,

povos de diferentes culturas se interconectam em velocidades cada vez mais

rápidas, e o mundo, como dizia MacLuhan: se torna uma aldeia global.

A idéia da Internet surgiu em centros de pesquisa militares nos EUA. Passou

por um período de incubação em instituições acadêmicas e depois ao uso cotidiano.

em 1962 ,e no auge da guerra fria , foi lançada a semente para sua formação.Neste

mesmo ano , começou a pesquisa para uma rede de computadores que ligassem

pontos considerados de interesse estratégico para o país , como bases militares ,

29

centros de tecnologia e instituições acadêmicas (cf. O Que è Internet: uma breve

história. In: Ercilia, M.; Graeff, A., 2008, p.12) .

A história da Internet começou quando dois computadores na UCLA

(Universidade da Califórnia, Los Angeles) trocavam dados sem sentido em um

teste da Arpanet, uma rede militar experimental (setembro / 1969). Semanas

depois, o servidor da UCLA “falou” pela primeira vez com um segundo servidor

localizado 400 milhas, ao norte, no Instituto de Pesquisa de Stanford. Robert Kahn,

então engenheiro da BBN, percebeu que a nova plataforma seria inútil sem

instruções para conectar a informação com os sistemas operacionais e aplicações

de cada computador. Foi essa preocupação que deu origem ao TCP/IP (Protocolo

de Controle de Transmissão e Protocolo de Internet): a estrutura de conexão que

pavimentou o caminho para a interligação da cada computador.

Esta descoberta ocasionou um impacto revolucionário global, não só na

cultura, mas também nos negócios, política e na sociedade. Um exemplo foi o

surgimento do Napster, há cerca de dez anos , popularizando o compartilhamento

de arquivos de música e levando a um novo modelo de consumo de cultura, o que

abalou a indústria fonográfica.

A década de 70 trouxe comunicações por e-mail e os protocolos TCP/ IP,

inovações que permitiram a conexão de várias redes e que, por sua vez, formaram a

Internet. Os anos 1980 deram origem a um sistema de endereçamento com sufixos

como “com” e “org.” aos endereços de rede, cujo uso é amplamente difundido. A

Internet não se tornou uma palavra corriqueira até os anos 1990. Porém, depois que

o físico britânico Tim Berners-Lee inventou a World Wide Web (subconjunto da

internet que facilita a ligação de recursos por meio de posições diferentes). E a partir

daí prestadores de serviço, como o América Online colocaram milhões de pessoas

conectadas (cf. folhaonline uol.com.br/informática, p. 1-3).

30

3.1 “Do leitor ao navegador”: a apropriação do texto pelo leitor (Chartier)

Quando analisamos na cultura digital o papel do jornalista nos defrontamos

com a mudança do leitor, que passa de um texto impresso para um texto digital

Na obra de Roger Chartier intitulada “A aventura do Livro: do leitor ao navegador”

encontramos este processo de transição do leitor, com todas as suas

complexidades. O autor enfoca a reorganização do mundo da escrita após o advento

da Internet, e as mudanças na forma de apresentação do livro, ocorridas nas

diferentes fases de sua história. Aborda as seguintes categorias de análise em torno

da idéia central: autor, texto, leitor, leitura, biblioteca e universalidade, comparando

a revolução virtual com outras revoluções pelas quais passou a história do

livro.Analisa a revolução do texto eletrônico que leva à desmaterialização da obra e

a diferentes materializações de uma obra que possuem identidades específicas.

Em entrevista à jornalista, Cristiane Costa, ao Jornal do Brasil, na V Bienal do

Livro ( RJ/ 17/27 maio/ p. 1 e 2 ) intitulada “Novo livro eletrônico pode ter papel e

tinta”, Roger Chartier coloca que a passagem do rolo ao códex foi até agora a mais

importante revolução porque transformou dos hábitos de leitura e no legou o livro,

que liberou o leitor para escrever, coisa impossível quando se segurava o rolo com

as duas mãos. E que as principais mudanças trazidas se constituem em: a leitura

descontínua, a leitura hipertextual e a leitura tematizada. Na tela do computador, a

prática de leitura se organiza geralmente através de temas. O hipertexto , oferece a

oportunidade para o leitor de romper com a ordem sequencial do texto impresso e

praticar uma leitura particular que continuamente introduz textos dentro de outros

textos.

Em outra entrevista (tvebrasil.com.br/salto/entrevista/roger chartier.hm)

coloca que hoje em dia, ou no futuro , poderemos falar de uma revolução que se

entrelaça com a técnica eletrônica, com três níveis : o nível da técnica, o nível de

suporte e o nível da prática de leitura se transformaram ao mesmo tempo.a

textualidade eletrônica se configura como uma revolução tecnológica que transforma

totalmente a forma de inscrição da cultura escrita .Substituindo pela tela do

31

computador todos os objetos e a cultura impressa: o livro, o jornal, a revista,

implicando numa transformação da relação com o texto escrito pelo leitor.

Em relação ao jornal, parece que não podemos ler o mesmo jornal em uma

forma impressa, ou na forma eletrônica. Existem lógicas diferentes de leitura. Pois

com a fragmentação em temas, tópicos, artigos podem representar um risco de o

leitor não perceber a intenção global, crítica, ideológica e intelectual do jornal, a

perda da contextualização não permite uma leitura mais rica e crítica. Assim , a

apropriação do texto pelo leitor se faz de modo diferente pelo computador , enquanto

o processo da leitura do jornal impresso é mais ampla , crítica e rica de detalhes do

contexto da notícia.

32

CAPÍTULO 4 O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE INFORMÁTICA COM A INTERNET E O CORREIO ELETRÔNICO: A REVOLUÇÃO DO E-MAIL COMO SERVIÇO ELETRÔNICO

4.1 O conceito de “virtual” de Piérre Lévy: Indivíduo e Sociedade no mundo digital

Os computadores e as redes digitais estão cada vez mais presentes em

nosso cotidiano. A Internet – rede mundial que interliga milhões de computadores e

de usuários – não pára de crescer em um ritmo vertiginoso. Incorporou ao nosso

vocabulário uma palavra que há poucos anos fazia parte do domínio da ficção: o

“ciberespaço ou espaço virtual/ realidade virtual”. O usuário tem sensação de estar

em outra realidade – a realidade virtual –, mas como pode ser definido o conceito

de virtual? (LÉVY, 1996, p. 15-24). Trata-se de uma revolução, pois se constitui

numa alteração radical na forma de conceber o tempo, o espaço e os

relacionamentos. Enfim, um movimento de “virtualização” que afeta não apenas a

informação e a comunicação, mas também os corpos, o funcionamento econômico,

os quadros coletivos da sensibilidade ou o exercício da inteligência. A tese

defendida pelo autor se fundamenta na busca de um “novo Homem”, enfim na

busca da “hominização”. Assim, a “virtualização” se constitui na essência de uma

mutação em curso, isto é, num processo de transformação de um modo de ser em

outro.

O objeto de pesquisa de Lévy se configura na virtualização que retorna do

real ou do atual em direção ao virtual. Analisa no nível filosófico, o conceito de

virtualização; no nível antropológico, a relação entre o processo de hominização e a

virtualização; e no nível sócio-político visa analisar a mutação contemporânea para

poder atuar na mesma.

Numa análise abrangente enfoca a virtualização do “corpo, texto, e da

economia”. Com relação à hominização coloca que “a virtualização do presente

imediato se faz pela linguagem, dos atos físicos pela técnica e da violência pelo

33

contrato. Vivemos a crise da civilização, na sua brutalidade e estranheza que pode

ser repensada na continuidade da aventura humana. Interessante destacar o

conceito de “ inteligência coletiva”, numa dialética própria da virtualização em redes

de comunicação digital. Portanto, o pensador Pierre Lévy coloca para a humanidade,

Indivíduo e Sociedade, um novo mundo – o virtual – com um novo Homem – o

Homem Virtual, a caminho de um mundo digital, cibernético ( cf. IDEM, IBDEM. p.27-

49).

4.2 O Correio Eletrônico e sua atuação nas mudanças da vida humana: estudo de caso do perfil dos adolescentes

No atual milênio estamos assistindo ao surgimento de uma transformação

radical nas culturas humanas, que nem a ficção apresentou uma previsão nas atuais

configurações. Presenciamos, portanto, o nascimento da cibercultura e do processo

de construção de uma rede digital que progressivamente conecta tudo a todos

através da Internet com o correio eletrônico.

Realizamos uma pesquisa intitulada: “O Papel comunicacional do Correio

Eletrônico – Nova mídia, novo espaço de mediação e de construção de saberes”

(Projeto de Pesquisa PIC/ 2007/FEMA, Anexo I), cujo objetivo era verificar os

impactos da Informática junto aos adolescentes, no tocante ao uso, através da

Internet do correio eletrônico (e-mail ).Pretendíamos enfocar no nosso objeto de

pesquisa, como uma nova mídia de comunicação ,revolucionava o intercâmbio

pessoal, comercial, artístico, enfim, em todos os níveis da vida do adolescente.

Interessávamos, nesta pesquisa, apreender as mudanças e modificações efetuadas

junto à vida dos jovens, e ainda que papel esses atribuem atualmente ao e-mail: 1)

verificar e analisar os impactos do correio eletrônico na visa dos jovens; 2)

apreender a textualidade eletrônica elaborada pelos jovens, isto é, como os mesmos

se expressam na elaboração do texto; 3) em relação aos níveis de domínio da

informática (tecnologia/identidade/subjetividade/conteúdo/ mensagem/ componentes

eletrônicos: como os jovens dominam e apreendem esse mundo tecnológico da

34

informática; 4) como os jovens se comportam ante essa ferramenta comunicacional

conhecida como e-mail.

Aplicamos um questionário (vide anexo I) junto a 45 adolescentes da escola

pública, sendo 15 de cada série, e também 45 de um provedor público – “O Acessa

São Paulo”. Foi distribuído o questionário na escola pública entre os adolescentes

do ensino médio, nas três séries, e os alunos responderam o questionário sem

identificação, isto é, sem colocação de nomes. No provedor público, o coordenador

ficou durante um mês distribuindo o questionário para os freqüentadores na faixa

etária indicada no projeto.

Na análise e interpretação dos dados coletados, as respostas foram

tabuladas, item por item do questionário, sendo que na escola pública foi feita por

série, e no final levantamos esses dados e os comparamos por série. E, finalmente

cotejamos os dados da escola pública com os do provedor público.

Com relação aos resultados alcançados, constatamos na pesquisa que os

adolescentes da escola pública têm uma renda na maioria dos casos de dois

salários mínimos. Não tem computador/internet na residência, usam “Lan- house”,

sendo que alguns observaram que, às vezes, por falta de meios financeiros nem

podem freqüentar este tipo de estabelecimento. Sendo assim, usam o computador

na escola/ lan- house e provedor público, na maioria dos casos. Acham que os

meios de comunicação tradicionais (correio físico/ fax/ telefone) são ainda mais

utilizados do que o correio eletrônico, e o utilizam numa média de no máximo

quarenta minutos por dia. Sendo assim, não acreditam e não sentem o impacto do

correio eletrônico nas suas vidas, pois o acesso é difícil.

Constatamos pela pesquisa que os dados da escola pública e do provedor

público são semelhantes, não há discrepâncias, pois a renda mensal da família e de

dois salários mínimos. Fato este que não permite a compra de computador/internet e

leva o adolescente à exclusão digital por falta de meios financeiros. Sendo assim,

nossa pesquisa constatou que o perfil do adolescente da escola pública e do

provedor público é marcado pela pobreza, considerando a renda média mensal de

dois salários mínimos. Desse modo, o correio eletrônico não modificou suas vidas,

nem trouxe impacto nenhum pela dificuldade de acesso.

Consideramos em relação aos resultados encontrados que se coloca de

grande urgência que o jovem adolescente tenha acesso à internet/correio eletrônico

como uma forma de cidadania e de democratização. E, assim, diminuir as diferenças

35

entre a população de grande poder aquisitivo e a população de baixa renda. Cabe

ao Estado e aos empresários o estabelecimento de centros digitais com acesso à

Internet/correio eletrônico, e não ficar passivo constatando que os jovens de baixo

poder aquisitivo continuem “excluídos” do mundo digital. Triste constatação da “

falsa “democratização dos meios digitais, na cidade de Assis/SP, pois o mundo se

encontra no segundo milênio e ainda continua marginalizando os jovens de baixo

poder aquisitivo.

4.3. O papel comunicacional e suas implicações

Considerando o correio eletrônico como o meio mais rápido de comunicação

humana, e que grande parte das pessoas afirmam que um dos principais motivos de

uso da Internet é o acesso ao e-mail. Mas também a maioria das pessoas não

dispensa o uso do correio tradicional e dos carteiros, utilizam serviço de

mensageiros com suas motocicletas (“motoboy”), telefone e telegrama “fonado”. O

eventual paradoxo entre as mensagens transportadas pelas formas tradicionais e

aquelas transmitidas em questão de segundos, através dos “bits”, que pairam no

ciberespaço, pode ser mais bem compreendido pela ótica dos teóricos da

comunicação, representados por Fidler e Bolter & Grusin (apud CORREA, 2002, p.

7 a 9 ) que colocam que vivemos em plena era de “co-evolução das mídias, ou uma

espécie de re- mediação”.

O e-mail atualmente é considerado o meio de comunicação mais inovador

das últimas décadas. Elimina distâncias e é aplicado nas mais diferentes áreas da

sociedade com a característica de agilidade e velocidade. Com sua base

fundamentada essencialmente na expressão textual tem todo um aparato

tecnológico de suporte e “status” de mídia. O e-mail ou correio eletrônico

caracterizado como um sistema digital de transmissão e intercâmbio de mensagens

é considerado como um meio de comunicação transformador da vida humana.

Segundo Fidler (apud CORREIA, 2002, p. 12 ), a evolução tecnológica das mídias

deve ser discutida no contexto de uma visão ampla e integrada da comunicação

humana e das transformações históricas da sociedade como um todo: “a

36

transformação dos meios de comunicação ocorre, normalmente a partir da

correlação complexa entre necessidades emergentes, pressões políticas e sociais e

inovações tecnológicas e sociais” (IDEM, IBIDEM).

Nessa perspectiva é possível inserir o e-mail e sua paradoxal convivência

com outras formas de comunicação interpessoal num sistema de adaptação

dinâmica das mídias denominada por Fidler de “midiamorfose”:

Ao reconhecermos que o sistema de comunicação humana é de fato um sistema complexo e adaptável vemos que todas as formas de mídia convivem num universo dinâmico e interdependente. Quando ocorrem pressões externas e as inovações tecnológicas são introduzidas cada forma de comunicação é afetada por um processo intrínseco de auto- organização espontânea.Tal como as espécies evoluem para sobreviverem diante de mudanças ambientais , os meios de comunicações e as empresas informativas também se adaptam. Esse processo é a essência de midiamorfose (FIDLER, 1997, p.28, Apud CORREA, lócus cit.).

Na análise do poder de comunicação do e-mail, segundo Findler (opus cit.

Lócus cit.), o biólogo Carl Woese, criou um esquema de categorização de formas de

vida em três domínios vinculados ao DNA. Findler propõe então, segundo este

esquema que cada forma de comunicação pode ser categorizada em três

domínios, ou classificações primárias inerentes às suas características dominantes.

Portanto, podemos entender o papel comunicacional do e-mail através dos domínios

que compõem o seu DNA, apontando os seus três domínios: o da tecnologia, o da

identidade e subjetividade e o do conteúdo e da mensagem.

Segundo Correia são características: diferenciais, hipermídia, interatividade,

reconfiguração do tempo e do espaço, além da essencial existência de uma

interface Homem/Máquina:

O e-mail se concretiza através de um sistema computacional, mas sua condição básica é a existência do ser humano que controla o sistema. O fator humano é o elo de interdependência entre os domínios do DNA do e-mail. A tecnologia digital e suas diversas interfaces sustentam intradependência entre os domínios e só ocorre por serem alimentadas, manipuladas e direcionadas pelo ser humano que está diante da interface (CORREIA, 2002, p.41).

Para entrar no mundo comunicacional do e-mail é necessário que cada

pessoa tenha um “endereço eletrônico” vinculado a uma caixa postal como receptora

de mensagens hospedada num “provedor de acesso” responsável pelas conexões e

37

circulação dos “bits” no ciberespaço: é o formato dos “genes” do indivíduo na rede

relaciona com a interface e suas possibilidades de comunicação e relacionamento:

Ao estarmos conectados, o corpo como o sistema biológico é engolido pelas tecnologias e dialoga com os sistemas artificiais e suas memórias de silício. Interagindo ampliamos nossa capacidade de pensar, sonhar e entender nossa condição humana aumentada pelas tecnologias digitais. Podemos atingir propagações de identidade mediadas por tecnologias, recebendo outros poderes como seres humanos (DOMINGUES, 2002, p. 172).

No uso do e-mail como ferramenta comunicacional este tem por base o tempo

em horas de uso , cada indivíduo circula de forma amigável entre os meandros e

recursos da tecnologia que possibilitam o controle e uso adequado da ferramenta. O

uso e a gestão das relações emissor/receptor possibilitam contactos, considerando o

domínio da expressão escrita de idéias, com sentido e significado.

4.4. A configuração de uma nova mídia

O correio eletrônico (e-mail) pode ser considerado uma nova mídia. O e-mail

confere uma identidade como “persona digital”. Com multiplicidade de usos, que

cada um pode fazer do e-mail, usando o cérebro como unificador da consciência.

Segundo Del Nero (apud CORREIA, 2002, p. 44), “a consciência é o mais cultural

dos fenômenos naturais, também é o mais natural dos fenômenos da cultura”:

O cérebro ao tornar-se agente, quer por obra da circunstância, quer por obra da evolução, mais ainda se investe de uma capacidade de comunicação genuína (...) e porque capaz de gerar sentenças significativas a partir de regras e símbolos finitos, torna caso único os discursos sobre a história e os indivíduos. A cultura, doadora das formas e dos conteúdos do mental, surge a reboque, entre outras das três capacidades básicas: a) a capacidade de comunicação e transformação do cérebro humano através da linguagem; b) a capacidade de trabalho com contratuais (proposições que dizem respeito a fatos hipotéticos, futuros ou contra-intuitivos); c) a capacidade de um discurso sobre valores e de uma ação inibitória sobre as paixões com finalidade mediata do resguardo da ordem moral. A ordem da complexidade cerebral possibilita que surjam, a um

38

só tempo, a linguagem como capacidade inata e aprendida, e o significado com identidade dinâmica, dependendo do contexto. Disso decorre o surgimento de uma complexidade de conexão, entre seres da mesma espécie (IDEM).

A diversidade cultural inerente à natureza humana tem a consciência como

marca da cultura criada pelo ser humano, considerando o seu ambiente e o período

histórico em que está inserido. Através da comunicação, da linguagem e da escrita

o Homem no mundo digital tem sua “persona digital” na comunicação virtual seja

através do e-mail/chat/ Orkut/ dentre outras formas de comunicação digital. Mas,

ressalte-se que a maioria das relações comunicacionais permanecerá ocorrendo

sempre através do texto escrito. Constatamos assim, a emergência de uma

diversidade de “personas digitais” vinculadas a um único indivíduo real, decorrentes

da tecnologia digital do e-mail, mas não se constroem “personas” no mundo digital

sem textualidades específicas para as mesmas.

4.5. A contribuição para a construção de novos saberes

Na construção de novos saberes o e-mail implica uma reflexão sobre o texto

escrito, o texto eletrônico, a oralidade e a expressividade digital. A comunicação

interpessoal através de textos escritos não é exclusiva do ciberespaço. Ela é

inerente à própria história, pois desde o surgimento do alfabeto e da escrita e,

posteriormente com o aparecimento do livro a comunicação se fez entre autores e

leitores. Chartier coloca que a ordem dos discursos se transforma profundamente

com a textualidade eletrônica:

E agora num único aparelho, o computador, que faz surgir diante do leitor os diversos tipos de textos tradicionalmente distribuídos entre objetos diferentes. todos os textos , sejam eles de qualquer gênero, são lidos em um mesmo suporte (a tela do computador) e nas mesmas formas (geralmente decididas pelo leitor). Cria-se, assim, uma diversidade que não mais se diferencia os diversos discursos o mundo eletrônico provoca uma tríplice ruptura: propõe uma nova técnica de difusão da escrita incita uma nova relação com os textos, impõe-lhes uma nova forma de inscrição(CHARTIER, 2002, p. 23).

39

O e-mail permite na só a construção e o compartilhamento dos novos saberes, mas

podem ser acelerados e ampliados. Recorremos às Ciências Humanas, mais

especificamente à Semiologia e ao conceito de “Saberes Coletivos” de Edgar Morin

e Pierre Lévy, nas obras já citadas e consideradas clássicas, para fundamentar esta

colocação. Evidencia-se uma tendência recente na literatura, no tratamento de

produtos comunicacionais decorrentes dos novos dispositivos da tecnologia da

informação, denominados de “objetos visuais”.

Mangueneau analisando os novos dispositivos comunicacionais, propõe uma

espacialidade do texto que ultrapassa os padrões conhecidos do escrito e do

impresso. Segundo este autor, é possível associar elementos icônicos (ícones)

variados e um “paratexto” (conjunto de fragmentos verbais que acompanham o

texto) em enunciados que não são orais, constituindo-se numa realidade que não é

mais puramente verbal:

...em nível superior, todo texto constitui-se em si mesmo uma imagem, em uma superfície exposta ao olhar (...). O monitor de um computador associado a um CD-ROM ou conectado Internet oferece um texto heterogêneo e em perpétua reconfiguração, em função das decisões do seu leitor. O próprio monitor é uma janela aberta de maneira “instável” sobre um texto que é perfeitamente “irrepresentável”: é um hipertexto, uma enorme rede de relações virtuais que permite um número ilimitado de percursos distintos, podendo o leitor navegar quase sem barreiras em uma florestas de enunciados que ele faz aparecer e desaparecer e que se tornarão estáveis com a impressão.De maneira mais abrangente , assistimos hoje , graças à numerização generalizada das informações , a uma desmaterialização dos suportes físicos dos enunciados (MANGUENEAU, 2000, p. 81).

A pluralidade dos meios tecnológicos é também discutida por Massimo

Canevacci (2001) que propõe à comunicação diferentes formas passíveis de

reprodução do “ver”. O autor focaliza o visual da comunicação sob diferentes

análises como: as linguagens veiculadas (montagem / enquadramento / comentário /

enredo / cores /ruídos / expressões verbais / corporais / musicais ); gêneros (que

podem utilizar a mesma linguagem ou até inventar novas como o cinema / TV /

fotografia / videomusica / publicidade / videoarte / ciberespaço ) e os diferentes tipos

de subjetividade que estão aprendendo a se utilizar de novas linguagens. Segundo

Canevacci, o e-mail pode incorporar, numa forma de uso sofisticada, conforme as

características do objeto visual. Mas, pode também com grande eficácia , em sua

40

forma de uso natural, disseminar e apontar para seus destinatários onde encontrar

na World Wide Web tais formas propostas pelo autor. Assim é possível atribuir ao e-

mail, na visão de Canevacci o valor de uma mercadoria visual por conta de sua

forma de circulação, abrangência de receptores, trocas decorrentes e consumo da

mensagem (apud CORREIA, 2002, p. 142).

Retomando a idéia de domínios para compreender o e-mail como elemento

de mediação e de difusão dos saberes, Santaella , sob ponto de vista da Semiologia

contemporânea coloca;

É mais do que tempo, portanto, de superarmos as visões atomizadas das linguagens, códigos e canais, baseadas apenas nos modos de aparição das mensagens, para buscarmos um tratamento mais econômico e integrador, quer nos permita compreender como os signos se formam e como as linguagens e os meios se combinam e se misturam. È esse alvo que pretendemos atingir através da postulação de que a multiplicação crescente de todas as formas de linguagem: a matriz verbal, a matriz visual, e a matriz sonora (SANTAELLA, 2002, p. 28 ).

Santaella, embora não tratando especificamente do e-mail esclarece que a

diversidade dos novos formatos e linguagens colocam o e-mail na categoria de um

instrumento de mediação potente, possuindo tecnologia para integrar conteúdos que

contemplem as matrizes citadas.

A importância do papel do e-mail no contexto comunicacional contemporâneo

fica demonstrada pelo seu uso imprescindível e constante na construção de saberes

e no cotidiano humano. Segundo Lévy (“As Inteligências coletivas”, 2002 ) o espaço

coletivo de construção de saberes pelo e-mail se desenvolve pela inteligência

técnica (voltada para o desenvolvimento de ferramentas, dispositivos e aparatos

“motores” da sociedade); pela inteligência abstrata (o pensamento conceitual que

trabalha com signos); pela inteligência emocional (que agrega as relações

sociais/políticas/religiosas entre os seres humanos e que concerne à regulação da

agressividade entre as pessoas).

Lévy coloca que é na significação da inteligência emocional que podemos

inscrever o papel do e-mail, e concorda com Morin na integração desses pólos:

41

Se nós devemos refletir sobre o que é inteligência coletiva é preciso conceber que ela se desenvolve quase que necessariamente nessas três dimensões, que não podem ser separadas, pois são de significação. Então (...) se pode entender quando Edgar Morin diz que se pensamos uma coisa independente das outras, estamos condenados a não entender o que está em jogo (apud CORREA, opus cit, lócus cit. ).

Pierre LÉVY (http://www.sescsp.org.br/levy) explicita a função do e-mail no

espaço de construção coletiva dos saberes como um instrumento de transformação

do ecossistema de idéias, fazendo com que a inteligência coletiva aumente e se

torne mais complexa evoluindo com rapidez. Uma função essencialmente

comunicacional. Há essa noção de ubiqüidade e também a noção de interconexão,

de todas as idéias, com os hipertextos da web, com o correio eletrônico e links no e-

mail. Esse fato oferece a possibilidade de mostrar coisas em tempo real na escala

planetária, o que é totalmente novo na história da cultura.

Com relação à compreensão e ética de uma cultura planetária Morin coloca:

Ela deve empenhar-se para que a espécie humana, sem deixar de ser a instância biológico-reprodutora do humano, se desenvolva e dê, finalmente, com a participação dos indivíduos e das sociedades, nascimento concreto à humanidade como consciência comum e solidariedade planetária do gênero humano (MORIN, 2001, p. 113).

Todo meio de comunicação é produto do próprio homem que se utiliza destes

meios conforme sua natureza, consciência, ética e cidadania. O e-mail, com suas

características de rapidez e de intercâmbio humano, deve ser avaliado e utilizado

como uma nova mídia de disseminação e de grande potencial de criação do saber.

O computador, o software, a internet e o e-mail são produtos criados e manipulados

pelo homem. Segundo Breton:

...equipamentos de tratamentos da informação, apesar de sua denominação, não possuem nenhuma capacidade de autoria ou de construção de mensagens de convencimento. A máquina não possui qualquer consciência, nenhum ponto de vista próprio. Apenas o homem e apenas ele tem o poder de convicção (BRETON, 1997, p. 29 ).

O e-mail revolucionou a vida humana no seu papel comunicacional, como

configuração de uma nova mídia e como contribuição para a construção de novos

saberes. Assim, o e-mail como instrumento de mediação e ferramenta para a

42

construção de saberes tem um longo caminho, sem volta, mas que deve ainda ser

objeto de pesquisa da ciência, nas mais diversas áreas para que o homem e a

sociedade como um todo possam usufruir com mais profundidade e de maneira

democrática das suas potencialidades.

43

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o tema “Da revolução da cultura digital ao papel do jornalista na

sociedade da Informação: O correio eletrônico e sua função comunicacional na

sociedade” objetivamos demonstrar a importância da análise da cultura digital e suas

implicações para o mundo contemporâneo. E, mais especificamente como a

Internet e o correio eletrônico estão inseridos no quotidiano das pessoas de forma a

mudar suas vidas.

Gostaríamos de destacar que o papel comunicacional do correio eletrônico (e-

mail) pode ser configurado como nova mídia, como espaço de mediação, e de

construção de saberes. Neste sentido, ressaltar o novo papel do jornalista no mundo

da Informática e na sociedade da informação. Segundo Chartier, em suas diversas

obras referentes à esta questão , a cultura escrita está sendo alterada em relação ao

mundo digital , e esta preocupação se reflete na nova função do jornalista conforme

o “3. Seminário Internacional de Jornalismo Online / 2009 ”, realizado na cidade de

São Paulo, discutindo o futuro do jornalismo, com as seguintes reflexões : o futuro

do jornalismo diante da transformações tecnológicas; como o jornalismo de

qualidade pode sobreviver e prosperar na era da Internet ; a importância dos meios

de comunicação online e as conquistas e lideranças das mídias digitais ; a prática do

jornalismo online .Este congresso internacional demonstra não só a importância do

tema mas as prováveis mudanças que deverão ocorrer no jornalismo impresso

frente a convivência com o jornalismo online.

Analisamos no nosso trabalho a transição da cultura alfabética à cultura digital

e destacamos na história social da mídia de Gutenberg à comunicação multimídia,

com a revolução da prensa gráfica à sociedade da informação com o hipertexto.

Demonstramos o impacto da revolução digital e o papel do jornalista e, em

destaque, o correio eletrônico, apresentando um estudo de caso da atuação do

correio eletrônico na mudança da vida dos adolescentes. Chegamos à conclusão de

que o correio eletrônico se apresenta na vida, não só dos adolescentes estudados,

mas na vida das pessoas, como uma revolução quanto ao seu papel

comunicacional, como nova mídia e na contribuição para a construção de novos

saberes.

44

Segundo Derrick de Kerckhove, discípulo e herdeiro intelectual de Marshall

Macluhan: “O jornalismo como hoje o conhecemos está perdendo terreno para a

mídia pessoal e para a Internet” (Imprensa, Jornalismo e comunicação, out. 2009,

ano 23. n. 250, p. 26). Torna-se inadiável a necessidade da mídia tradicional se

repensar. Segundo o historiador e jornalista Daniel Gross a “bolha da internet”

popularizou o e-mail, impulsionou o Google e permitiu a revolução global das

comunicações.

O papel do jornalista na sociedade da Informação deverá ser o de, não só

trabalhar criticamente com novas mídias, mas também tentar repensar a mídia

impressa e seu novo papel no século XXI.

45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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46

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O papel comunicacional do Correio Eletrônico: nova mídia, novo espaço de

mediação e de construção de saberes.

"[ ... ]Insistir na importância que o manuscrito apresenta após a invenção de Gutemberg é uma forma

de lembrar que as novas técnicas não apagam, nem brutal, nem totalmente, os antigos usos, que a

era do texto eletrônico será, ainda, e certamente, por muito tempo, uma era do manuscrito e do

impresso" (Roger Chartier, Os desafios da Escrita)

1. CONTEXTUALIZAÇÃO Partimos do pressuposto que a revolução do e-mail, atuando como um serviço de

correio eletrônico assume um papel comunicacional na sociedade contemporânea. A

definição de "correio eletrônico é um sistema que comporta intercâmbio de

mensagens através de meios de comunicação eletrônica, especialmente de

computadores interligados em rede, e-mail significa mensagem enviada e / ou

recebida através deste sistema" (Dicionário Houaiss, 2002). Assim, entre a precisa

definição do dicionário e aquela de Chartier, refletindo toda sua estatura intelectual,

permanece a essência da comunicação humana: mensagens criando relações entre

as pessoas, não importando o meio de comunicação.

Um salto no tempo e na evolução tecnológica transformou o correio eletrônico, ou o

e-mail, num dos meios mais populares para a troca de mensagens e para o

estabelecimento de relações interpessoais, profissionais, sociais e comerciais. Seja

quais forem as intenções de emissores e receptores, evidencia-se a força deste

meio de comunicação na atualidade.

Um dos principais motivos de uso da Internet se configura no acesso ao e-mail,

considerado o meio de comunicação mais inovador das últimas décadas. E aplicado

nas mais diferentes áreas da sociedade, com a característica única da

instantaneidade, cuja base é essencialmente a expressão textual. Apesar de todo

aparato tecnológico que o suporta, ganha "status" de mídia. Como tal, tem sido

pouco explorado, em termos de reflexão conceitual, com uma bibliografia ainda

incipiente, onde se discute muito mais sua diversidade de aplicações e respectivas

regras de uso, deixando à margem os aspectos constituintes de emissão, recepção,

mensagem e sua eficácia comunicacional. Assim, podemos considerar o e-mail no

campo das mídias, e abordá-Io como um meio de comunicação transformador, um

campo aberto para testar hipóteses que combinem conhecimentos interdisciplinares

como: a Teoria da Comunicação, a Semiologia, a Lingüística, a Psicologia Cognitiva,

a Teoria das Organizações, a Informática, as Telecomunicações e a História das

Comunicações, dentre outras.

Tal visão interdisciplinar busca sistematizar para a mídia e-mail alguns "domínios"

comunicacionais por ele possibilitados, especialmente, a partir dos aspectos da

linguagem, poder e discurso transmitidos em fluxos eletrônicos. E, a partir disso,

compreender por que as mais paradoxais aplicações convivem com razoável

harmonia nas caixas postais das pessoas.

PROBLEMA A definição dicionarizada de correio eletrônico já aponta indícios para que o conceito

de "domínios": o correio eletrônico como um sistema digital de transmissão e

intercâmbio de mensagens e, portanto, no domínio da tecnologia da informação; e o

e-mail como o conteúdo da mensagem transmitida, apontando para os domínios da

linguagem e comunicação. E, numa conseqüência natural de qualquer correio, nome

e endereço do emissor e do remetente são indispensáveis, indicando, portanto, o

domínio da identidade.

Para analisarmos o poder dessa nova mídia - o e-mail - temos que entender o que é

e qual o papel comunicacional do e-mail através da identificação dos três domínios

que o compõem:

1- o domínio da tecnologia

2- o domínio da identidade e subjetividade

3- o domínio do conteúdo e da mensagem

A visualização de uma tela típica de e-mail nos auxilia na identificação dos domínios

(cf. figura 1 ). Embora o e-mail se concretize através de um sistema computacional,

sua condição "sine qua non" de existência é o ser humano que controla tal sistema.

Para estar no mundo comunicacional do e-mail é preciso que cada um tenha um

"endereço eletrônico", vinculado a uma "caixa postal" receptora de mensagens e que

esteja hospedada num "provedor de acesso" responsável pelas conexões e

circulações de "bits" no ciberespaço, assim:

Figura 2

fulano@ uol.com.br

Componentes de um endereço eletrônico

Podemos inferir que o uso do e-mail como ferramenta comunicacional

independentemente de suas diferentes aplicações,tem por base o quanto cada

indivíduo circula de forma amigável entre:

l- os meandros e recursos da tecnologia, que possibilitam o controle e o uso

adequado da ferramenta;

2- consequentemente, o uso e a gestão das relações emissor\receptor, que

possibilitam contatos, de um para um, um para alguns, um para muitos de forma

explícita, de um para muitos de forma oculta, entre outras possibilidades;

3- e o domínio da expressão escrita de idéias com sentido, significado e absorção. E

exatamente sobre a combinação dessas três características do usuário de correio

eletrônico que pretendemos discutir seu uso comunicacional.

A diversidade comunicacional é inerente à natureza humana, tendo a consciência, a

cultura e, o próprio ambiente de cada indivíduo como sustentação para a

emergência das "personas” digitais. Mais, ainda independentemente do formato

Provedor

Identidade

Fisicamente sediado no Brasil

digital de comunicação (e-mail\chat\mensagem\fórum\orkut\blog) praticamente a

maioria das relações comunicacionais permanecerá ocorrendo através do texto

escrito.

Chartier (2002\p.23 a 25) afirma que a ordem dos discursos se transforma

profundamente com a textualidade eletrônica:

"É agora num único aparelho, o computador, que faz surgir diante do leitor os

diversos tipos de textos tradicionalmente distribuídos entre objetos diferentes. Todos

os textos, sejam eles de qualquer gênero, são lidos em um mesmo suporte (a tela do

computador) e nas mesmas formas (geralmente as que são decididas pelo leitor).

Cria-se, assim, uma diversidade que não mais diferencia os diversos discursos a

partir de sua própria materialidade [ ... ] Assim quanto á ordem dos discursos, o

mundo eletrônico provoca uma tríplice ruptura; propõe uma nova técnica de difusão

da escrita, incita uma nova relação com os textos, impõe-Ihes uma nova forma de

inscrição".

A originalidade e a importância da revolução digital apóiam-se no fato de obrigar o

leitor contemporâneo a abandonar todas as esperanças que o plasmaram [ ... ] E ao

mesmo tempo uma revolução da modalidade técnica da produção do escrito, uma

revolução das entidades texturais e uma revolução das estruturas e formas mais

fundamentais dos suportes da cultura escrita [ ... ] Nesse sentido, a revolução da

textualidade digital constitui também uma mutação epistemológica que transforma as

modalidades de construção e créditos do discurso do saber ".

Seguindo as proposições de Chartier percebe-se que o e-mail como uma ferramenta

comunicacional, parte do domínio da tecnologia que proporciona a construção de

narrativas únicas com a aplicação da hipermídia e a interatividade. E, através delas,

propõe a possibilidade de constituição de um novo gênero comunicacional com

potencial de alavancagens dos saberes e construção de um conhecimento coletivo.

As relações entre receptores e emissores ganham um outro estatuto com a

introdução da interatividade e do estabelecimento de ambientes com diversas

"camadas informacionais", destinados a diferentes públicos. Narrativas são

alavancadas através dos recursos da hipermídia, onde texto, imagem, e áudio

complementam-se para propiciar ao internauta escolhas entre aprofundamento ou

ampliação da informação. Todos esses aprimoramentos associados à ferramenta

comunicacional de correio eletrônico permitem a consideração de que, através do e-

mail, a construção dos saberes podem ser acelerados e ampliados.

Recorremos aos autores Edgar Morin e Pierre Lévy referente às proposições de

compartilhamento de saberes coletivos, ressaltando o papel do e-mail no contexto

comunicacional contemporâneo. E, apontamos para uma visão integrada de Lévy e

Morin, autores que também aplicam à ordenação de seus pensamentos categorias

tríplices. Lévy afirma que o espaço coletivo de construção de saberes desenvolve-se

a partir de três pólos de significação:

1. a inteligência técnica-voltada para o desenvolvimento de ferramentas, dispositivos

e aparatos "motores da sociedade”;

2. a inteligência abstrata, o pensamento conceitual, que incide sobre signos;

3. a inteligência emocional que agrega as relações sociais, políticas, religiosas entre

os seres humanos, e que concerne à regulação da agressividade entre as pessoas.

E na significação emocional que podemos inscrever o papel do e-mail. E também na

integração desses pólos que Lévy propõe a compreensão da inteligência coletiva e

faz ponte com Morin:

"Se nós devemos refletir sobre o que é inteligência coletiva é preciso conceber que

ela se desenvolve quase que necessariamente nessas três dimensões, que não

podem ser separadas, pois são três dimensões de significação. Então vocês podem

entender quando Edgar Morin diz que, se pensamos uma coisa independentemente

das outras, estamos condenados a não entender o que está em jogo".

Lévy também explicita a função do e-mail no espaço de construção coletiva de

saberes como, no seu dizer, um instrumento de transformação do ecossistema de

idéias, fazendo com que a inteligência coletiva aumente, se tome mais complexa e

evolua com rapidez. Uma função essencialmente comunicacional, que nas palavras

de Lévy;

"Há nessa noção de ubiqüidade a noção de interconexão possível de todas as idéias

com os hipertextos da web, com o correio eletrônico e links no e-mail. Isso oferece a

possibilidade de mostrar coisas em tempo real na escala planetária, o que é

totalmente novo na história da cultura".

E importante ressaltar que o e-mail, possa sair de um conceito já generalizado de

simples meio rápido para a troca de mensagens, quase substituto de meios

tradicionais de comunicação como telefone, fax e correio físico, e comece a ser

avaliado e utilizado como uma mídia de disseminação, com elevado potencial de

disseminação e abrangência de público, mantendo suas características de rapidez.

Porém, este cenário não está incorporado de forma extensiva na sociedade. Todo

meio de comunicação é produto do próprio Homem que se utiliza desses meios

conforme sua natureza, consciência, ética e cidadania.

Nesse sentido, dadas as características tecnológicas propiciadas pelo e-mail, ficam

evidentes as suas propriedades de manipulação nos campos do conteúdo e da

identidade, especialmente na condição de que as decisões de uso, alimentação, e

distribuição são definidas e executadas pelo ser humano.

O computador, o "software" e a própria Internet só disponibilizam em última

instância, o que foi manipulado pelo Homem. Assim, o e-mail como instrumento de

mediação e ferramenta para a construção de saberes tem uma longa estrada a

percorrer, que passa pelos caminhos da pesquisa e reflexão , e fundamentalmente

para uma real transformação da sociedade.

A pluralidade dos meios tecnológicos também é discutida por Massimo Canevacci

(2001) que propõe à comunicação diferentes formas passíveis de reprodução. O e-

mail pode incorporar, numa forma de uso sofisticada, características de objeto visual,

e ter segundo Canevacci, o valor de uma mercadoria visual por conta da sua forma

de circulação , abrangência de receptores , trocas decorrentes e consumo da

mensagem.

O nosso objeto de pesquisa se constitue na análise da mídia e-mail na atualidade

para verificar como se processa a comunicação e o intercâmbio de mensagens. Isto

é, como a mesma é elaborada, percebida, em termos de conhecimento da Internet,

como é utilizada e quais as finalidades. Portanto a proposta está fundamentada em

verificar como o adolescente, na faixa etária de 15 ao 18 anos, estudante do

segundo grau, percebe esta mídia, em termos de: como e para que usa o e-mail, nos

três domínios ou dimensões, para compreendermos o e-mail como elemento de

mediação e de difusão dos saberes (cf. fig. 1). Pretendemos aplicar um questionário,

em um provimento de acesso gratuito à internet “Acessa São Paulo” (Centro Cultural

Dª Pimpa / Assis / SP) e, em uma escola particular (Curso Colegial / Fema) para

também apreendermos um perfil social diferenciado do usuário.

3. PROBLEMATIZAÇÃO Em relação ao objeto de pesquisa apresentado desejamos verificar o papel do e-

mail no universo do adolescente, em um estabelecimento de ensino particular e em

um provimento de acesso público para apreendermos realidades sociais,

econômicas diferentes, assim como universos próprios. Nossas hipóteses de

pesquisa se prendem a:

1. A revolução do e-mail na vida do adolescente, isto é, como um serviço de correio

eletrônico assume um papel comunicacional;

2. A partir da característica visual e operacional do sistema de correio eletrônico,

com relação aos três domínios: o da tecnologia, da identidade e subjetividade e do

conteúdo e da mensagem, verificar como o usuário do e-mail domina esses níveis

citados;

3.No mundo da informação digital (linguagens da informação digital )-estamos diante

de uma nova mídia , e portanto , em busca da construção de sua linguagem , ou

estamos diante de um novo suporte de distribuição e disseminação das

informações?e , ainda , como o e-mail é visto pelo usuário, isto é, se ele percebe e o

utiliza como uma nova mídia;

4. com relação à elaboração do texto utilizado: a textualidade eletrônica, designada

por Chartier de " textualidade digital ", se o texto escrito, apresenta domínio da

expressão escrita de idéias, com sentido, significado e absorção, e ainda se existe

preocupação com a forma de comunicação, ou é resultado de uma criação, ou ainda

se o texto elaborado respeita as regras gramaticais da língua portuguesa.

5. como as interconexões digitais alteraram as relações sociais entre os humanos:

como o novo espaço virtual de rede se relaciona com o espaço geográfico

planetário, e como o crescente processo de digitalização do mundo afeta o

cotidiano.

4.0BJETIVOS Objetivamos com nossa pesquisa verificar os impactos da Informática nos jovens

adolescentes, no tocante ao uso, através da Internet, do correio eletrônico - o email

Pretendemos abordá-Io, como uma nova mídia de comunicação, revolucionando o

intercâmbio pessoal, comercial, artístico, enfim, em todos os níveis da vida humana.

Interessa-nos também ,apreender as mudanças e modificações efetuadas junto a

vida dos jovens e que papel estes atribuem hoje ao e-mail. Portanto, analisar os

impactos e o papel da revolução do e-mail na vida dos jovens, e também,verificar

como um serviço de correio eletrônico assume um papel comunicacional no mundo

contemporâneo.

4.l .0BJETIVOS ESPECÍFICOS l. Verificar e analisar os impactos do correio eletrônico na vida dos jovens.

2. Apreender a textualidade eletrônica elaborada pelos jovens, isto é, como os

mesmos se expressam na elaboração do texto.

3. Em relação aos níveis de domínio da Informática (tecnologia \identidade

,subjetividade \conteúdo , mensagem, e os componentes de um endereço

eletrônico) : como os jovens dominam e apreendem esse mundo tecnológico da

Informática.

4. como os jovens se comportam ante essa ferramenta comunicacional conhecida

como e-mail.

5. Em relação à "persona digital", quando o internauta pode criar diferentes

identidades digitais de e-mail (profissional\pessoal\identidades fictícias),

desvinculadas de uma identificação formal ou civil: qual o impacto deste fato na vida

do jovem.

5.RELEVÂNCIA OU JUSTIFICATIVA No atual milênio estamos assistindo ao surgimento de uma transformação tão radical

nas culturas humanas que nenhuma ficção soube prevê-Ia, presenciamos, em nossa

era, o nascimento da "cibercultura". E, estamos atualmente em processo de

construção de uma rede digital que aos poucos conecta tudo a todos. E, através da

Internet o correio eletrônico revoluciona a vida humana. Assim, a proposta de nossa

pesquisa se mostra relevante no sentido de analisar uma nova mídia e seus

impactos na vida dos adolescentes. Pretendemos verificar na textualidade, no

domínio da informática, no relacionamento, como esta nova mídia, que já faz parte

do cotidiano do adolescente , e está trazendo modificações na sua vida.

No nível técnico, a importância de se verificar como os jovens se relacionam com a

Informática, para analisar a inclusão digital deste jovem. No nível científico o objeto

de estudo se justifica por ser pouco estudado do ponto de vista acadêmico. No nível

social faz-se necessário que os pesquisadores das diferentes áreas do

conhecimento humano enfoquem na Informática, a abordagem da Internet e do

correio eletrônico (e-mail ), como objetos de pesquisa, pela importância do tema

junto à vida humana, hoje digitalizada.Atualmente o correio eletrônico pode ser

considerado como uma nova mídia.

6.GLOSSÁRIO\TERMOS CONSIDERADOS RELEV ANTES * BIT -acrônimo de Binary digit.Corresponde ao O 1 do sistema binário.Na Informática,

um bit é a menor unidade de informação que pode ser tratada em unidades maiores

como byte.

HIPERMÍDIA-desenvolvimento do hipertexto, a hipermídia integra textos com

imagens, vídeo e som,geraImente vinculados entre si de forma interativa. Uma

enciclopédia em CD-ROM seria um exemplo clássico de hipermídia não linear de

apresentar e consultar informações. Um hipertexto vincula informações contidas em

seus documentos (ou hiperdocumentos) criando uma rede de associações

complexas através de hyperlinks ou, mais simplesmente links.

LINK - freqüentem ente traduzido como "vínculo" - um link é uma conexão entre dois

elementos em uma estrutura de dados e permitem navegação dentro de um

documento hipertextual ou hipermídia.

HIPERTEXTO - Uma forma não-linear de apresentar e consultar informações. Um

hipertexto vincula informações contidas em seus documentos, ou hiperdocumentos

criando uma rede de associações complexas através de hyperlinks, ou links.

SOFTW ARE - um programa de computador, consiste de um conjunto de instruções

em linguagem de máquina que controla e determina o funcionamento do

computador.

HARDW ARE - qualquer componente físico de um computador, traduzida como

equipamento como monitor\teclado\placa\mouse\moden\disco rígido.

*Glossário elaborado por Carlos Irineu da Costa. in .Lévy,Pierre opus cit.p.251.

7.REVISÃO DA LITERATURA Analisamos autores clássicos como : Roger Chartier, especializado em livros e

leituras ,e também no mundo digital com a obra ,Os desafios da Escrita.São

Paulo,Editora Unesp,2002.

Com o sociólogo Edgar Morin .Os Sete Saberes Necessários à Educação do

Futuro\DFCortez\Unesco,2001, e Cultura de Massas no Século XX v.I: Neurose e v.2

Necrose.8a. edição Forense Universitária

O autor .Piérre Lévy em As Inteligências Coletivas .Transcrição de palestra proferida

no Sesc\SP em 28\08\2002 .acessado em http\\www.sescsp.org.br\levy ,e também a

obra Cibercultura.Editora 34.(SP) .

O autor Adam Schaff em A Sociedade Informática.Editora Brasiliense também

contribuiu para a elaboração das hipóteses da nossa pesquisa.

Steve Johnsonem seu livro Cultura da Interface: como o computador transforma

nossa maneira de criar e comunicar.J.Zahar.Ed.2001, é considerado pela Newsweek

um dos mais influentes pensadores do ciberespaço. E, também com Ramal, A. C.

Educação na Cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto

Alegre, Artmed, 2002. Esta pesquisadora se preocupa com as novas formas de

pensar e aprender as multimídias e tecnologias digitais. Assim, apresentaremos os

autores mais expressivos em relação ao tema que estamos abordando.

Chartier apresenta considerações sobre a leitura na cultura das mídias. Na

perspectiva de lançar uma discussão sobre a revolução do texto eletrônico e o futuro

da leitura, tenta tecer considerações sobre os espaços de convergência entre cultura

midiática e leitura. O objeto de análise é a natureza que os textos são dados para o

leitor e suas implicações no espaço social.

O autor entende que hoje, não há dúvidas de que a conjugação de computadores,

espaço virtual e hipertexto, deu origem a um novo suporte de leitura - o

eletrônico/virtual.Nesse suporte, constituído na tela do computador, encontramos a

escrita básicamente de duas formas. No formato texto, formato semelhante ao dos

rolos de papiro, já que também é preciso rolar o texto. Assim, podemos inferir que

temos uma transposição do livro para a tela, o que sugere uma leitura linear do

texto. E, no formato hipertexto, no qual o conteúdo é apresentado de forma não

seqüencial, linear, o que permite ao leitor uma diversidade de caminhos para a

reallização da leitura em um único texto. Neste formato concebemos a prática leitora

como "hyperleitura" (Chartier/1997).

"Devemos pensar que nós estamos às vésperas de uma mudança semelhante ao do livro

eletrônico que substituirá ou já está substituindo o codex impresso tal como nós o

conhecemos em suas diversas formas: livro, revista, e jornal? Mas, o mais provável

para os próximos decênios é a coexistência, que na será necessariamente pacífica,

entre duas formas do livro e os três modos de inscrição e de comunicação de textos:

0 manuscrito, o impresso, e o eletrônico. Esta hipótese é sem dúvida mais razoável

que as lamentações sobre a irremediável perda da cultura escrita ou os entusiasmos

sem prudência que anunciam a entrada imediata de uma era da comunicação"

(Chartier,1997,p.10). Com essas idéias revolucionárias, Chartier acaba contribuindo

decisivamente para a estruturação de bases para compreendermos as

contemporâneas "Redes de Leitura ", nas quais textos manuscritos, impressos e

eletrônicos, entrecruzam-se, dialogam e complementam-se. Observamos que a

leitura do hipertexto é precedida por outras leituras: a do mundo e a do texto. Isto é,

todos lemos para nos compreendermos, como seres humanos, e ao mundo, onde

estamos inseridos, enfim, para vislumbrarmos o que somos e onde estamos e,

finalmente para compreender a nossa cultura, os nossos semelhantes e as nossa

vivências.

Adam Schaff, o pensador polonês, conhecido por trabalhos sobre a questão da

subjetividade no pensamento contemporâneo, sobre questões de lingüística e do

conhecimento na obra "A Sociedade Informática ", volta-se para o que chamou de

"futurologia" sócio-política , descartando qualquer exercício de "futurologia

especulativa ". Em face do impacto das novas tecnologias sobre o conjunto da vida

social, a pergunta que ele busca responder é que futuro nos aguarda? Como

explicar, por exemplo, o aparente paradoxo da ocorrência de um intenso surto de

religiosidade, quando o progresso das ciências apontava justamente para o seu

declínio? Afastando-se de um enfoque ideológico comprometido, e numa linguagem

dirigida ao grande público, Schaff busca respostas e soluções alternativas para os

problemas derivados da grande revolução fundada na Informática, ao lado da

Miicroeletrônica e Biotecnologia.

O ponto de referência do autor é a modernidade, entendida não só no nível das

determinações do discurso, mas como um conjunto de práticas efetivas que nos

próximos vinte ou trinta anos nos afetarão a todos nós.

Num momento em que a informatização, inclusive no Brasil, coloca a Robótica e os

demais avanços tecnológicos, tornam palpável o prenúncio de um expressivo

desemprego estrutural e de uma radical alteração das formas de trabalho. Assim, as

reflexões de Adam Schaff, funcionam como um alerta, e um convite para que se

busque uma interferência ativa na construção do futuro. Uma reflexão e uma

especulação sobre a sociedade emergente da Informática, que tanta mudanças

trarão para a vida humana. Assim, o autor nos auxilia na reflexão da importância da

revolução da Informática na vida dos jovens.

Com relação ao autor Pierre Lévy, este nos coloca algumas questões para reflexão

como: o que é a cibercultura? que movimento social e cultural encontra-se oculto por

trás do fenômeno técnico? Podemos falar de uma nova relação com o saber? quais

são as mutações que a cibercultura gera na educação e formação do jovem? quais

são as novas formas artísticas relacionadas aos computadores, ao e-mail e às

redes? Como o desenvolvimento do ciberespaço afeta as relações humanas, o

espaço urbano e a organização do território? enfim , quais as implicações culturais

das novas tecnologias na vida humana? Da digitalização à navegação, passando

pela memória, pela programação, pelo software, a realidade virtual, a multimídia, a

interatividade, o correio eletrônico (e-mail ).

Pierre Levy coloca que a virada do milênio deixa de ser ficção científica para tornar-

se parte do cotidiano do Homem. Nossas culturas nacionais fundem-se lentamente

em uma cultura globalizada. Mas, é interessante verificar como as interconexões

digitais alteram a vida humana, afetando o seu cotidiano. È necessário colocar

também, que a vida digital agrava o abismo entre ricos e pobres, acentuando o

problema da inclusão digital. Por outro lado, é democrática permitindo que textos e

imagens circulem sem passarem pelas mãos de editor, redator, ou censor e, neste

sentido a cibercultura se constitue como progressista e revolucionária.

"Estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a

nós explorarmos as potencialidades mais positivas deste espaço no plano

econômico, político, cultural e humano. Que tentemos compreendê-Io, pois a

verdadeira questão não é ser contra e nem à favor, mas, sim, reconhecer as

mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da

extensão das novas redes de comunicação para a vida social e cultural. Apenas

desta forma seremos capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de

uma perspectiva humanista" (Levy. Cibercultura).

Steven Johnson foi citado como um dos mais influentes pensadores do ciberespaço

pelas publicações "Newsweek", "New York Magazine" e "Websight. Atualmente é

editor chefe e co-fundador de "Feed", a premiada revista cultural online. Na obra

"Cultura da Interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e

comunicar.Zahar. 2001 o autor cria neste livro uma ponte entre tecnologia e arte. Ao

demonstrar como as interfaces-aqueles botões/figuras/palavras- na tela do cotidiano

atuam, delineia um exuberante panorama cultural e histórico, no qual as interfaces

atuais assumem seu devido lugar na linhagem da inovação artística. Enfim, confere

nova profundidade à discussão vital sobre como a tecnologia transformou a

sociedade e, certamente provocará um amplo debate nos círculos literários e

tecnológicos. Lançando mão de sua formação humanística e de seu conhecimento

de Internet, como as interfaces do computador e do e-mail, interferem em nosso

cotidiano. Enfim, esforça-se por pensar o mundo-objeto da tecnologia como se ele

pertencesse ao mundo da cultura, ou como esses mundos estivessem unidos.

"O tema central deste livro-a fusão da arte e da tecnologia que chamamos "design

de interface" -é um produto dessa mesma sabedoria acelerada( ... ) os vários meios

de comunicação evoluem rapidamente, que temos que repensar cultura e tecnologia

(. .. )" (Johnson,S.Cultura da Interface .p.II).

Andrea Cecília Ramal (doutora em educação/PUC/RIO)na obra "Educação na

Cibercultura-Hipertextualidade, Leitura Escrita e Aprendizagem coloca que a Internet

tomou imprescindível que a escola tradicional questione as suas grades curriculares

rígidas e seu ensino ultrapassado já que os alunos conectados à rede não

pertencem mais ao mundo da didática transmissora de conteúdos estanques e sem

interatividade. A obra apresenta subsídios para os educadores utilizarem 'a nova

sala de aula", assumindo um novo perfil.A obra nos interessa para repensarmos a

nova mentalidade do jovem ligado á Internet e e-mail.

Edgar Morin na obra "Cultura de Massas no século no XX" discute a cultura de

massas, que hoje está sendo retomada à luz "da nova cultura da Informática". E,

ainda como a cultura se coloca em relação à Internet e ao e-mail utilizada pelos

jovens, o que interessa ao nosso projeto.

METODOLOGIA A metodologia de nossa pesquisa está embasada na contribuição que os autores

citados apresentam para pensarmos nossas hipóteses de pesquisa , e

respondermos à nossa problemática.Após a coleta de dados, que deverá ser

aplicada entre os adolescentes ( 15 a 18 anos) , através de um questionário, iremos

analisar e interpretar estes dados .

População e amostragem- A população da qual pretendemos retirar a amostragem envolve adolescentes (faixa

etária de 15/18 anos ) de uma escola particular e dos que freqüentam o provimento

público denominado” Acessa São Paulo” , na cidade de Assis /SP .

Coleta de dados A operacionalização da coleta dos dados será feita entregando pessoalmente o

questionário na escola particular e no provimento público, aos responsáveis.

Análise e interpretação dos dados

As respostas serão analisadas, depois expressas através de gráficos e,

posteriormente interpretadas para responder às hipóteses da pesquisa.

9.CRONOGRAMA FÍSICO No período de 10 meses do desenvolvimento do projeto estabelecemos o seguinte

cronograma:

Março a abril- Levantamento bibliográfico referente ao tema

Maio a junho- fichamento das obras selecionadas para dar andamento ao projeto de

pesquisa.

Julho a agosto- Revisão do questionário elaborado para ser aplicado e

posteriormente a aplicação nos locais selecionadas.

Setembro a outubro- Interpretação dos dados , elaboração dos gráficos e

elaboração da primeira redação para o orientador

Novembro a dezembro- Redação final do trabalho de pesquisa até a primeira

quinzena. Entrega ao orientador e, em função das sugestões , a elaboração da

redação definitiva.

10. PLANO DE TRABALHO DO BOLSISTA Introdução-

1. 0 impacto da atual revolução técno-científica na sociedade contemporânea.

I.I. As três revoluções técno- científicas e suas implicações.

1.2. As mudanças na formação econômica, social, política na sociedade.

2. O indivíduo e a sociedade informática, a Internet e o correio eletrônico.

2.1. 0 indivíduo e a sociedade: o mundo digital

2.2 . o e-mail e sua atuação nas mudanças da vida humana.

3. A revolução do e-mail como serviço eletrônico e papel comunicacional:

implicações de mudança na vida dos jovens.

3.1. Estudo de caso: escola particular e provimento de acesso público

3.2. Perfil dos jovens estudados na pesquisa/questionário.

Conclusões-

11. ORÇAMENTO Material de Consumo

Papel

Utilização de material de informática necessário para a pesquisa( disquetes)

Um computador

Outros (quando a pesquisa estiver em andamento)

12 .REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHARTIER ,Roger .Os Desafios da Escrita.São Paulo.Editora Unesp. 2002.

Lévy ,Pierre.” As Inteligências Coletivas”.transcrição da palestra proferida no

SESC/SP (28/08/2002).Acessada em http://w.w.w.sescsp.org.br/levy.

Morin,Edgar.Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.São

Paulo/DF.Editora Cortez/Unesco.2001.

Idem.Cultura de Massas no século XXI;o espírito do tempo: tradução de M.R.

Sardinha. 8.a edição Rio de Janeiro..8.a edição.Forense Universitária.1990.

Ramal,A.C.Educação na Cibercultura: hipertextualidade , leitura, escrita e

aprendizagem.Porto Alegre.Artmed.2002.

Steve Johnson.Cultura da Interface: como o computador transforma nossa maneira

de criar e comunicar.Zahar.2001.

Schaft,Adam . A Sociedade Informática.As Conseqüências Sociais da segunda

Revolução Industrial.Tradução C.E. M. Jordão e L. A. Obojes .Editora Brasiliense.

Silveira, Sérgio Amadeu .Exclusão Digital.A Miséria na era da informação.Editora

Fundação Perseu Abramo.2001.

QUESTIONÁRIO Orientações

1- Não coloque seu nome (não é necessário sua identificação).

2- Só preencha o questionário se você tiver entre 15 a 18 anos.

3- Preste atenção quando for marcar a sua resposta: responda o que a questão está

pedindo.

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l- Qual a renda de sua família C de todas as pessoas que trabalham na sua casa):

a. um salário mínimo (R$ 350,00) ( )

b. dois salários mínimos (R$ 750,00) ( )

c. três salários mínimos ( )

d. especifique se for mais de três salários mínimos ( )

(acrescente outras informações que achar necessárias)

2- Você tem computador em sua casa ?

Sim ( )

Não ( )

(outras informações)

3-Utiliza Lan-house ?

Sim ( )

Não ( ) 4- Em relação ao correio eletrônico ( e-mail ): a- considera importante : sim ( ) não ( ) b- usa em que ocasiões?

- Comunicar-se com amigos? sim ( ) não ( ) - Especifique outras formas:

5- Com relação ao texto utilizado no e-mail (forma de redigir): -usa uma forma original, com abreviações? (especifique) -fica presa ao uso gramatical correto?

6- O e-mail modificou sua vida:

(como: especifique)

7- Você tem acesso a Internet em sua casa?

Sim ( )

Não ( )