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Já no largo Oceano navegavam As inquietas ondas apartando; Os ventos brandamente respiravam, Das naus as velas côncavas inchando; Da branca escuma os mares se mostravam Cobertos, onde as proas vão cortando As marítimas águas consagradas, Que do gado de Próteu são cortadas1 […] Assim fomos abrindo aqueles mares, Que gèração algũa não abriu, As novas Ilhas vendo e os novos ares Que o generoso Henrique descobriu.2
[…]. Luís de Camões
INTRODUÇÃO
A revista Archivo Historico Portuguez publicou-se entre 1903 e 1916, de acordo
com a data impressa no frontispício do XI e último volume; pelo seu elevado teor
científico – valioso repositório de materiais para a construção histórica – foi-lhe dado,
pelo Ministério da Instrução Pública, público testemunho de louvor, publicado no
Diário do Governo, de 20 de Fevereiro de 1918.3
Os seus fundadores deixavam claro – na Advertência, datada de 17 de Dezembro
de 1902, com que abriam a primeira publicação – que o Archivo Histórico Portuguez
tinha sido uma revista pensada exclusivamente para os estudiosos. Não por motivos
elitistas, mas – e justificavam – por que notavam, com estranheza e desgosto que, de um
modo geral, o povo não tinha interesse em saber e compreender a História; ignoravam,
por indiferença, os factos notáveis protagonizados no passado por sucessivas gerações:
“A indifferença geral pelos estudos históricos, que domina ainda hoje em Portugal, é
mais um simptoma de decadencia profunda em que as gerações presentes caíram”4.
1 Luís de Camões, Os Lusíadas, 3ª ed., Porto, Porto Editora, 1974, Canto I, Estrofe 19, p. 57. 2 Idem, ibidem, Canto V, Estrofe 4, p.176. 3Diário do Governo, de 20 de Fevereiro de 1918, II série, nº 42, in Archivo Histórico Portuguez, vol. X, Lisboa, 1916, 1ª p. não numerada. 4 Ibidem, vol. I, Lisboa, 1903, Advertência, p. VI.
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No Archivo os interessados encontrariam o meio de dar a conhecer as suas
investigações, publicando-as, ou de aprender com o trabalho já feito. E D. José
Pessanha e Anselmo Braamcamp Freire exortavam os estudiosos da Historia Patria a
que colaborassem, com documentos e artigos.
Da edição original, hoje em dia, subsistirão escassas colecções, ou exemplares
avulsos. Ao longo interregno na reprodução e difusão desta obra seguiu-se, 85 anos
após o último volume, uma edição fac-simile, sob a égide da Câmara Municipal de
Santarém, preito a Braamcamp Freire, nome indissociável do Archivo Historico
Portuguez.
Sendo o Archivo Histórico Portuguez fonte abundante de informação, impunha-
se, no âmbito deste trabalho, uma escolha, abordando um tema, requerendo pesquisa
específica, pelo que nos ocuparemos dos artigos que, de alguma forma, se encontrem
ligados às navegações e aos Descobrimentos portugueses, atentando nos homens do mar
e nas embarcações.
Mas se este é o seu objectivo e sem esquecer o seu carácter monográfico – a
exposição sobre aquele aspecto particular – iremos debruçar-nos, também, sobre os seus
colaboradores e autores precedentes, cujos textos fazem parte do conteúdo do Archivo,
executando pequenas biografias que nos permitam saber quem foram e o que fizeram.
Naturalmente que daremos considerável destaque a Anselmo Braamcamp Freire, porque,
além de fundador e de ter sido quem com mais artigos comparticipou ao longo do tempo,
para a sua produção, foi a sua força vital. Daí iniciarmos com considerandos biográficos
sobre a sua figura, dimensionados na óptica do Homem, do Erudito e do Político.
Por outro lado, procuraremos, igualmente, saber que género de revistas –
generalistas ou especializadas – havia na época, qual o seu conteúdo comparativamente
ao Archivo e quem fazia investigação histórica, já que, tanto quanto nos foi dado saber,
no âmbito académico, nenhuma dissertação dele se ocupa e apenas uma dissertação de
mestrado5 biografa Anselmo Braamcamp Freire.
5 MONTES, João Barroso Cunha, Anselmo Braamcamp Freire um percurso histórico e político na modernidade, Coimbra, Faculdade de Letras, 1993. (Lamentamos não ter conseguido aceder, em tempo útil, a esta dissertação de mestrado, apesar das diligências de consulta encetadas).
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I
Anselmo Braamcamp Freire 1. N senda de Anselmo Braamcamp Freire
1.1 O Homem
A vida de Anselmo Braamcamp Freire teve um percurso agitado e sofrido, mas,
notável e criador.
Braamcamp Freire, cuja família materna era de origem holandesa, nasceu em
Lisboa, a 1 de Fevereiro de 1849 e os que o conheceram não se eximiram a elogiar o seu
carácter generoso6, despretensioso e amável; o seu grande estatuto moral e intelectual –
grande figura das letras portuguesas – e o político de grande prestígio.
A morte do filho, ainda criança (cinco anos e quatro meses) levou-o a refugiar-se
no estudo e no trabalho solitário do investigador, no interesse pelos arquivos, cuja
frequência passou a ser uma prática usual, afastando-o do convívio dos salões; só
mesmo visitava o rei D. Luís, no Paço da Ajuda, intimidade que datava de tempos
anteriores.
Estes anos de vida concentrada tê-lo-ão convertido noutra pessoa: “Os dez anos
de voluntário afastamento do alegre convívio em sociedade foram proveitosos, na
medida em que transformaram o culto mas alegre jovem num erudito historiógrafo.”7
Esta distinta figura, Amigo de Santarém, doou à cidade – a que o ligavam laços
afectivos – a sumptuosa casa, pertença da família desde o século XVIII, recheada com
um vasto e valioso acervo artístico, para que nela fosse instalada a Biblioteca Municipal,
legado recebido em 1926. Do grandioso espólio faziam parte contadores, objectos de
cerâmica, mármore e bronze, a sua colecção de pintura e uma rica biblioteca, de cerca
de 10 000 volumes, de grande importância científica e cultural, particularmente, na área
da História, algumas obras raras e manuscritos. No seu legado testamentário a Santarém
6 Tal qualidade moral atesta o seu testamento, exarado a 31 de Agosto de 1921, em Lisboa, no qual percepcionamos, claramente, a preocupação que manifesta em relação às pessoas que o serviam e os legados a estas deixados. [Cf. testamento de Anselmo Braamcamp Freire (Reg. a fls. 21 vº, do livro 47, no 3º Bairro). Cópia obtida na Biblioteca Braamcamp Freire, Santarém, em 2008]. 7 Luís de Bívar Guerra, Brasões da Sala de Sintra, vol. I, 1997, Apresentação, p. XV.
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incluíam-se, ainda, os direitos de autor das suas obras, incluindo o Archivo Historico
Portuguez.
Na colecção de pintura que deixou podem admirar-se obras tão diversas – em
termos de época, temas e estilo – como as belíssimas naturezas mortas, de Josefa de
Óbidos; do grande paisagista que se especializou na pintura de animais, Tomás da
Anunciação; de Bordalo Pinheiro8; de Francisco Metrass;9 de Miguel Ângelo Lupi; de
Alfredo Keil; de José Malhoa e do modernista Dórdio Gomes. Ainda, mais algumas de
autores estrangeiros, como o Baptismo de Cristo do primitivo flamengo Pieter Coecke10
e outros, de autores desconhecidos.
Admirando-a, no seu conjunto, julgamos perceber que esta escolha não
obedeceu a um critério pré-determinado. Braamcamp Freire, além de que poderá ter
herdado alguns quadros de família, comprou a colecção que tinha pertencido a D.
Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha11. Podemos, então, admitir que Braamcamp Freire
amava a pintura por si mesma, independentemente de tons e texturas, de brilhos e
luminosidades. Que, simplesmente, o encantavam a sua composição, o conjunto de
relação entre os seus elementos, como a cor – seu elemento fundamental – sugerindo-
lhe sensações de alegria ou tristeza, de luz ou de sombra, de frio ou de calor, em diálogo
com a carga espiritual e afectiva que cada obra de arte transporta e suscita.
No dia 23 de Dezembro de 1921, Anselmo Braamcamp Freire falece na sua casa,
em Lisboa, hoje assinalada com uma placa alusiva.
Braamcamp Freire foi a sepultar, no campo-santo dos Prazeres, num áspero dia
de Inverno, com a simplicidade com que sempre viveu:
“Foi exactamente assim que nos apresentou o dia cinzento, chuvoso e agreste de 24 de
Dezembro de 1921, quando ele foi a enterrar dentro de caixão humilíssimo, sem ornatos de
espécie alguma, dos que são destinados aos pobres e desvalidos; e seu corpo vestido de roupas
8 Manuel Maria Bordalo Pinheiro, pai; (1825-1880). 9 Francisco Metrass (1825-1861); consagrou-se, aos trinta anos, com Só Deus, uma obra-prima do romantismo que podemos apreciar no Museu do Chiado. 10 Atribuição do Prof. Luís Reis Santos (1898-1967); professor, historiador e crítico de arte. Vide nosso trabalho O Baptismo de Cristo de Pieter Coecke e o Maneirismo: Ensaio, para o Seminário de História da Arte Colonial, leccionado pelo Prof. Doutor Vítor Serrão, 2006/2007. 11 Fernando Augusto Francisco António de Saxe-Coburgo Gotha e Koháry (1816-1885), segundo marido de Dona Maria II (1819-1853) que, em 1837, se tornou rei de Portugal jure uxoris, tendo reinado como D. Fernando II.
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alvas de linho; envolto, humildemente, no hábito de S. Francisco, tendo nas mãos um rosário, tal
como os seus ancestrais o foram.
[…] repousa na rua 13, por detràs da capela do cemitério dos Prazeres[…]”12 .
A sua vida foi a de um humanista, devotado ao estudo, por dedicação íntima,
sem nenhuma obrigatoriedade, o que torna ainda mais relevante tudo o que nos deixou.
Ao cumprir-se o décimo quarto ano da sua morte, em 1935, a Câmara de
Santarém, homenageando-o, perpetuando a sua memória, erige-lhe um monumento no
principal parque daquela cidade.
1.2 O Erudito
A instrução de Braamcamp Freire abarcava vastos e diversos conhecimentos, de
história e de literatura; paleografia; diplomática; genealogia; nobiliarquia; arqueologia.
Todo um vasto leque de saberes que faziam dele um homem cultíssimo, um erudito.
A vida literária iniciou-a Braamcamp Freire em 1874, no Diário Illustrado, com
“Considerações críticas à obra intitulada Archivo Heraldico, de que é autor Sr. Visconde
de Sanches de Baena”13 artigo que, publicado faseado, saiu nos nºs 612 e 613, daquela
revista. Por vezes, escreveu sob o pseudónimo de Silex utilizando-o, pela primeira vez,
em “O Camareiro” que saiu no O Jornal do Comércio, em 1902.
Historiador de apreço, com dezenas de livros publicados, há quem o considere o
maior genealogista do séc. XIX, ou, até, o maior de todos, como diz Bívar Guerra: “Foi
este homem que, não querendo ser genealogista, acabou por ser o maior de todos.”14
Ainda hoje, para o estudo desta matéria e para os investigadores medievalistas, se torna
imprescindível a consulta de Brasões da Sala de Sintra (1899), As sepulturas do
Espinheiro (1901) e Crítica e História - Estudos (1910).
12 Manuel Granado Vidal, antigo secretário de Braamcamp Freire e à data do artigo, Conservador da Biblioteca Pública de Santarém; “No Centenário de Braamcamp Freire, Á memória deste meu saudoso Amigo”, jornal Correio do Ribatejo, ano 58, nº 3014, Santarém, 29.1.1949, pp.4 e 7. 13 Augusto Romano Sanches de Baena (1822-1909) foi médico, historiador e genealogista especializado em heráldica. 14 Luís de Bívar Guerra, op. cit. 2ª ed., “Apresentação”, 1997, p. XXXV.
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No centenário do seu nascimento, o historiador Veríssimo Serrão, considerou-o
íntegro, inteligente, na esteira de Alexandre Herculano e nome incontornável da ciência
histórica: “[…] investigador probo e honesto, espírito fulgurante na interpretação das
«fontes», foi bem o continuador de Alexandre Herculano, mòrmente na sua ânsia de
atingir a verdade histórica, no amor pelo passado, no cuidado esmerado da Investigação
de tudo o que dormisse no pó dos arquivos”; “[…] o mais destacado nome da Historia-
Ciência nos primeiros vinte anos do nosso século 15 .
Aquela primeira obra, Brasões da Sala de Sintra é o seu livro emblemático;
Braamcamp Freire pretendia examinar o curso dos acontecimentos e factos históricos
através de 72 famílias do Portugal manuelino; contudo, apenas conseguiu historiar 27,
mas fê-lo com o espírito do moderno historiador – com rigor e objectividade –
documentando um numeroso grupo de indivíduos que, entre os séculos XIII e XVI
integraram os vários sectores da sociedade civil e militar.
Para além de encontrarmos, no volume III, o Catálogo de todos os Títulos
havidos em Portugal, Até à ocupação dos Filipes16, os índices de cada um dos três são
imprescindíveis elucidários para um levantamento prosopográfico.
Esta obra foi o resultado do seu labor ao longo de 44 números do Diário
Illustrado, entre 1884 e 1885 que, com alguns dos seus artigos corrigidos e aumentados
viria a originar os livros que conhecemos. Da primeira edição, saiu o primeiro volume
em 1899; em 1901, o segundo volume e em 1905 o terceiro; esta foi uma edição
destinada a oferta, pelo que todos os seus 101 exemplares estavam numerados e
assinados pelo autor. A atestar o interesse desta obra estão as suas posteriores edições e
reimpressões.
A segunda edição saiu, do mesmo modo, faseado, em 1921, 1927 e 1930.
Braamcamp Freire ainda reviu e prefaciou os volumes I e II e vivia à data do
lançamento do 1º volume, desta 2ª edição; a revisão do 3º volume foi feita por Pedro de
15 Joaquim Veríssimo Serrão, “A História como verdade em Braamcamp Freire”, Correio do Ribatejo, ano 58, nº 3015, Santarém, 5.2.1949, pp. 1 e 8. Reeditado em Páginas da História de Santarém. Coordenação de Maria de Fátima Reis, vol. I, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 2008, pp. 409-416. 16 Brasões da Sala de Sintra, vol. III, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1ª e 2ª partes, pp. 225-435.
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Azevedo e, por morte deste por Laranjo Coelho17. Em 1973 foi feita uma reprodução
fac-simile, desta última e, em 1996, uma nova edição/reimpressão.
Sobre o livro Sepulturas do Espinheiro18, com pouco mais de 100 páginas, disse
Braamcamp Freire: “Não será elle nem a monographia do convento, nem a biografia dos
lá enterrados. É apenas uma lista dos epitáfios, acompanhada de uns fugitivos traços
individuaes das pessoas nela nomeadas”19.
Quanto a Crítica e História – compilação dos 13 artigos que publicou, sob o seu
pseudónimo, no Jornal do Comércio, dedicou-o Braamcamp Freire, como tributo: “Á
venerada e veneranda memória de Alexandre Herculano, no centenário do seu
nascimento dedica este volume, o autor” 20 .
Deste, apenas saiu o 1º volume do qual, em 1996, saiu uma 2ª edição, fac-
simile21. Armaria Portuguesa é outra das obras de Braamcamp Freire que merece, nos
nossos dias, o interesse dos estudiosos da heráldica, tendo sido, igualmente, reeditada22,
em 1989.
17 Possidónio Mateus Laranjo Coelho (1877-1969), formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Professor e erudito conservador do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Notável paleógrafo e diplomatista. Em 1923, nomeado professor da cadeira de Diplomática do curso de Biblioteconomia e Arquivística da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; em 1930 foi nomeado para dirigir os trabalhos práticos de investigações históricas dos alunos da secção de ciências históricas e filosóficas da mesma Faculdade. Autor de inúmeras publicações, das quais salientamos A Pederneira. Apontamentos para a história dos seus mareantes, pescadores, calafates e das suas construções navais nos séculos XV e XVII (Lisboa, 1924); «Fernão Lopes Castanheda. Os livros desaparecidos da sua História do Descobrimento da Índia pelos Portugueses», História da Literatura Portuguesa Ilustrada, vol. III (Lisboa, 1932); História do Descobrimento e Conquista da índia pelos Portugueses por Fernão Lopes de Castanheda, livros VII, VIII e IX, nova edição conforme a edição princeps (Imprensa da Universidade de Coimbra. Colaborou em várias revistas científicas e literárias, como o Boletim da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, o Instituto de Coimbra, a Revista Lusitana, o Arqueólogo Português e a Arqueologia e História. Foi também colaborador da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. XIV, Lisboa, Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, Lda, 1958, pp. 699-700. 18 O Convento do Espinheiro data do séc. XV e é património nacional; envolve-o uma lenda sobre a aparição da Virgem Maria, sobre um espinheiro, por volta do ano 1400. Em sua honra, em 1412, foi edificado um oratório; mas, durante o reinado de D. Afonso V, em 1458, dada a crescente importância do lugar como local de peregrinação foi, então, fundada a igreja e, posteriormente, o convento. 19 Anselmo Braamcamp Freire, Sepulturas do Espinheiro, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901, p. 1. 20 Idem, Crítica e Historia – Estudos, Lisboa, Antiga Casa Bertrand, 1910, 414 p. Este exemplar que consultámos, ofereceu-o o autor – conforme dedicatória, assinada e com a data de 25 de Outubro de 1912 – ao Dr. Baltazar de Almeida Teixeira, pedagogo notável, advogado, jornalista e deputado à Constituinte de 1911 que viria a falecer, em 1975, com 104 anos. 21 Idem, ibidem, 2ª ed. fac-simile, vol. I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, 414 p. 22 Idem, Armaria Portuguesa, 2ª ed., Lisboa, Cota d’Armas, 1989, 640 p.
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Contudo, o seu trabalho preferido foi Gil Vicente Trovador Mestre da Balança23
artigo que saiu, em continuação, nos 6º e 7º volumes da Revista de História, em 1917 e
1918, respectivamente e, em 1919, em volume autónomo. Pelo próprio autor sabemos
da sua génese: “[…] nasceu este livro de um artigo destinado à Revista de História
[…]”24 e da sua predilecção por ela: “[…]começada com carinho, fui-lhe criando
afeição, vindo esta minha obra a ser a predilecta do meu espírito […]”.25
Mas não só os afectos marcaram as suas obras. Esforço e ânimo foram o traço
pertinente da tarefa a que se propôs e que desenvolveu no Archivo Historico Portuguez,
ao transcrever as 786 Cartas de quitação del Rei D. Manuel que o integram e os 211
Cadernos dos Assentamentos que as complementam.
Como vaticinou o autor do artigo sobre Braamcamp Freire, na revista O Ocidente,
Recorte da revista O Ocidente26
No Archivo os seus trabalhos tiveram três conteúdos: as transcrições de
documentos, como no caso das Cartas de quitação del-Rei D. Manuel, ou Povoação de
Entre Tejo e Guadiana no XVI seculo27; algumas introduções, não muito extensas, ou
breves notas, a uma transcrição, como em Inventário da Guarda-roupa de D. Manuel 28
23 Pode dizer-se que Braamcamp Freire foi o historiador de Gil Vicente, investigando de modo científico, com base na documentação, deixando o maior contributo para conhecer a sua biografia. Os seus estudos foram, então, reunidos naquela obra, tendo havido uma segunda edição, corrigida, publicada em 1944. 24 Anselmo Braamcamp Freire, Gil Vicente trovador, mestre da Balança, Prólogo, Lisboa, ed. Revista Ocidente, 1944, p. 5. 25 Idem, ibidem, Explicação, p. 11. 26 Recorte do artigo da revista nº 951, de 30 de Maio de 1905). http://hemerotecadigital.cm-Lisboa.pt [Consultado e retirada a imagem em 26 de Outubro de 2010]. 27 Archivo Historico Portuguez, vol. IV, Lisboa, 1906, pp. 93-105; pp. 330-363. 28 Ibidem, vol. II, 1904, pp. 381-415.
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e que Braamcamp Freire, subscrevia, apenas com as suas iniciais B.F.; ou, ainda,
matérias de teor científico, como história, ou genealogia, como O Almirantado da Índia,
Data da sua criação29 e que, nesse caso, eram firmados com os seus apelidos de família
por extenso.
Os vastos índices, cronológicos e alfabéticos, são o resultado do seu trabalho
metódico e organizado e do seu espírito meticuloso que o levava a analisar, investigar, a
pesquisar, com toda a minúcia, os diplomas antigos, cartas e bulas, do acervo da Torre
do Tombo.
A sua actividade literária firmara-lhe crédito como homem de letras, o que o
levou, em 1913, a Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa30 e a entrar na
Academia das Ciências de Lisboa.31 Foi eleito sócio correspondente em 1911; sócio
29 Ibidem, vol. I, 1903, pp. 25-27. 30 Sociedade de Geografia de Lisboa – sociedade científica que se destinava, inicialmente, a objectivos de carácter geral, promovendo o estudo e progresso das ciências geográficas e análogas. A Sociedade foi criada no contexto do movimento europeu de exploração e colonização, com particular acuidade a exploração do continente africano. Em 10 de Novembro de 1875, 74 subscritores requereram ao rei D. Luís, a criação desta sociedade. Entre os muitos intelectuais, jornalistas e políticos da época, contavam-se Luciano Baptista Cordeiro de Sousa (1844 -1900); Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (1842-1845); José Tomás de Sousa Martins (1843-1897); António Cândido de Figueiredo (1846-1925) e Joaquim Teófilo Fernandes Braga (1843-1924). A Sociedade propunha-se realizar sessões, conferências, cursos livres, congressos científicos, etc. e conceder subsídios de investigação destinados a viagens de exploração e investigação científica. Os resultados seriam publicados e distribuídos em bibliotecas, arquivos e museus. Propunha-se ainda estabelecer contactos permanentes com outras instituições europeias, para troca de colaboração e de informações. Após a descolonização africana, o fim a que destinava a Sociedade de Geografia de Lisboa deixou de ter sentido dado que a sua fundação, no contexto de uma época – a posição portuguesa no Ultramar – tinha sido muito objectiva e clara. Actualmente, esta instituição é um local de cultura, organizado em Comissões Gerais e Secções Profissionais, desenvolvendo várias actividades, entra elas as ligadas à Literatura, à História, à Antropologia divulgando-as não só aos sócios mas a todo o público, através de conferências, congressos e exposições, enquanto procura preservar um valioso património, como o acervo museológico, constituído por peças ligadas aos Descobrimentos e a objectos culturais de representação etnográfica africana e asiática.
Há, ainda, a considerar a importantíssima Biblioteca, com mais de 62 000 obras, muitas das quais respeitantes à área da História dos Descobrimentos e da Expansão, da Geografia e Etnografia; cerca de 6 000 documentos manuscritos e incontáveis revistas e um não menos importante acervo cartográfico. De referir que o Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa se publica, ininterruptamente, desde 1876. http://cvc.instituto.camoes.pt/ciencia/e50.html. [Consultado em 2 de Novembro de 2010]; http://www.socgeografialisboa.pt [Consultado em 20 de Maio de 2011]. 31 Academia das Ciências de Lisboa – instituição fundada em 1779, com o nome de Academia Real das Ciências de Lisboa. Os seus mentores foram D. João Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascarenhas da Silva (1719-1806); destacado membro da alta nobreza portuguesa (2.º Duque de Lafões, 4.º Marquês de Arronches e ainda 8.º Conde de Miranda do Corvo), político e marechal general do Exército; e o abade José Francisco Correia da Serra (1750-1823) – o abade Correia da Serra – cientista, de grande prestígio intelectual que conviveu com os grandes cientistas da sua época, ambos opositores ao regime de Pombal. A Academia surge, então, como uma alternativa aos estudos de Coimbra, apresentando nos seus estatutos uma clara função didáctica, mais prática, voltada para as ciências e para as artes, devendo admitir em cada ano vinte e quatro alunos da classe nobre. Este ponto nunca chegou a
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efectivo em 1914; director dos Portugaliæ Monumenta Historica, em 1915; vice-
presidente de segunda classe, em 1915; presidente de 2ª classe, em 1917 e, finalmente,
presidente da Academia, em 1918.
Entre livros e outras publicações, Braamcamp Freire deixou 106 títulos, que
podemos consultar na relação que inventariámos e que complementa esta informação.
(Bibliografia Activa).
Em 1925, a Academia, em sessão solene, prestou-lhe homenagem, tendo sido
António Baião – que colaborou no Archivo Historico Portuguez – a proferir o seu
panegírico.
1.3 O Político
Desempenhou, Braamcamp Freire, altas funções políticas e de Estado.
Municipalista, foi o primeiro presidente da Câmara Municipal de Loures, em 1887, com
um segundo mandato em 1893. Tendo aderido ao Partido Republicano, em 1907, foi
cabeça de lista por este à Câmara Municipal de Lisboa, em 1908. Ganha a eleição,
Braamcamp Freire assume-se como o primeiro presidente da Câmara, de uma vereação
republicana. Contudo, o Partido Monárquico nunca lhe deu posse desse cargo que
desempenhou entre 1908 e 1913 e no qual só foi investido, em 1910, após a implantação
da República.
ser cumprido; o seu objectivo inicial foi a investigação; tal reflectiu-se nas obras que publico: as Efemérides Náuticas (65 volumes publicados entre 1788 e 1862); as Memórias da Agricultura (1788-1791); Memórias Económicas (1789-1814); os Portugaliae Monumenta Historica, onde se encontram transcritas as principais fontes para a história medieval de Portugal (1842-1860). Entre muitas outras obras possui também uma notável biblioteca, com mais de 100 000 volumes, dos séculos XVI ao XX, mais de 60 incunábulos e cerca de 3000 manuscritos. Actualmente, a Academia prossegue a sua actividade científica tanto no campo das Ciências como das Letras, tendo cada uma destas classes vinte académicos efectivos e quarenta correspondentes, além dos associados. De entre o vasto número de intelectuais portugueses que foram seus membros, damos destaque a Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo (1741-1822); (franciscano; autor de numerosas obras, como Elucidario das palavras, termos e phrazes, que em Portugal antigamente se usaram, e que hoje regularmente se ignoram: obra indispensavel para entender sem erro os documentos mais raros e preciosos que entre nós se conservam. Publicado em beneficio da litteratura portugueza, publicada em 1798, em 2 tomos); Alexandre Herculano e Oliveira Martins. Infopédia [Em linha]. Porto, Porto Editora, 2003-2010. http://www.infopedia.pt/academia-real-das-ciencias [Consultado em 2 de Novembro de 2010]. e Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume VII, ed. João Romano Torres, 1904-1915, pp. 655-656. Edição electrónica © 2000-2010 Manuel Amaral. [Consultado em 2 de Novembro de 2010].
11
Ligado à nobreza e rico proprietário e, já então, um considerado homem de
letras, Braamcamp Freire ao aderir ao regime republicano
procurou, somente, agir em conformidade com o seu
pensamento: “O que penso hoje, já então pensava; a
coerência é perfeita e apenas dei um passo para diante
quando, em Novembro de 1907, me declarei republicano”32.
E se esta sua atitude causou desgosto a muitos dos
seus amigos – alguns terão mesmo passado a referir-se-lhe
como cidadão Freire – outros houve, além do cidadão
anónimo, que apoiaram o seu procedimento.
Três Presidentes uma pessoa distinta33
Bernardino Machado34 tece-lhe um desassombrado elogio:
“Ora o nome de V.Exª é um nome histórico. Seu avô, o Sr. Anselmo Braamcamp
d’Almeida, punha-se ao lado da revolução de 20 com todos os seus cabedais, e acompanhava-o
a esposa, oferecendo aos revolucionários todas as suas jóias. Seu tio, meu venerando amigo, o Sr.
Anselmo José Braamcamp, foi patuleia, pegando em armas para defender a liberdade nas lutas
de 46 e 47. Um combateu o absolutismo sob a forma miguelista, o outro sob a forma cabralista.
V. Exª, combate-o sob a forma franquista” 35.
Braamcamp Freire foi o primeiro Presidente da Câmara Municipal de Loures;
Primeiro Presidente republicano da Câmara Municipal de Lisboa; Presidente da
Assembleia Nacional Constituinte e do Senado. Esta função desempenhou-a até 1914,
época em que manifestou a decisão de se afastar da política. Em 1915, solicitado a
candidatar-se às presidenciais, declinou.
32 Anselmo Braamcamp Freire, Crítica e Historia – Estudos, Lisboa, Antiga Casa Bertrand, 1910, p.1. 33A legenda da gravura, aqui ilegível, alude à coincidente situação de presidente dos três organismos, em simultâneo. Da autoria do caricaturista Francisco Valença (1882-1958) que, entre 1909 e 1911, na sua revista Varões Assinalados, caricaturou as mais destacadas figuras da vida nacional. http://www.cm-loures.pt [Consultado e retirada a imagem em 21 de Novembro de 2010]. 34 Bernardino Luís Machado Guimarães – (1851-1944); professor na Universidade de Coimbra foi, por duas
vezes, Presidente da República Portuguesa: de 6 de Agosto de 1915 até 5 de Dezembro de 1917, quando Sidónio Pais, à frente de uma junta militar, dissolve o Congresso e o destitui, altura em que sai do país; Volta à Presidência da República, em 1925; um ano mais tarde foi, de novo, destituído pela revolução militar, de 28 de Maio de 1926. Esta instituiu a Ditadura Militar que abriu caminho à instauração do Estado Novo. António Ventura, “Bernardino Machado”, História de Portugal, dir. João Medina, vol. XIII, Lisboa, Ediclube, 2004, pp. 250-255. 35 Bernardino Machado, Pela República, 1906-1908, Lisboa, B. Machado, 1908, pp. 309-311.
12
Capa da revista O Ocidente 36
36 Braamcamp Freire na capa da revista O Ocidente que lhe foi dedicada (Revista nº 951, de 30 de Maio de 1905). http://hemerotecadigital.cm-Lisboa.pt [Consultado e retirada a imagem em 26 de Outubro de 2010].
13
2. Notícias sobre Anselmo Braamcamp Freire
A sua postura liberal e os seus interesses eruditos contribuíram para torná-lo
numa figura que – se suscitou alguma controvérsia – também granjeou a simpatia de
todos quantos procuraram entender a sua existência, na unidade interior do seu
pensamento. A relação que apresentamos (Bibliografia Passiva)37 constitui a expressão
desses olhares sobre Braamcamp Freire.
Para que tenhamos uma melhor percepção do decurso da sua vida, optámos por
fazer uma pequena resenha dos acontecimentos mais marcantes, pela ordem da sua
sucessão no tempo.
Cronologia
1849
� 1 de Fevereiro - Nasce Anselmo Braamcamp Freire, em Lisboa, freguesia de S.
José, Praça da Alegria, no Palácio Azul38;
� 7 de Abril – Nasce D. Maria Luísa da Cunha e Menezes, em Paris, sua prima,
com quem virá a casar;
1859
� 16 de Julho – Morre o pai de Anselmo Braamcamp Freire, Manuel Nunes
Freire da Rocha, 1º barão de Almeirim;
1862
� 21 de Março – Morre a mãe de Anselmo Braamcamp Freire, D. Luísa Maria
Joana Braamcamp de Almeida Castelo-Branco; (irmã de Anselmo José
Braamcamp de Almeida Castelo Branco)39;
37 Vide infra, pp. 156-163. 38 No chamado Palácio Azul – nº 10 da Praça da Alegria – há muito que está instalada a 4ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública. 39 Anselmo José Braamcamp de Almeida Castelo Branco [(1819-1885); tio materno de Anselmo Braamcamp Freire]. Deputado desde 1851; ministro do reino de 21 de Fevereiro de 1862 a 16 de Janeiro de 1864, no governo de Loulé; ministro da Fazenda no novo governo de Loulé, o terceiro governo histórico, de 11 de Agosto de 1869 a 26 de Maio de 1870; par do reino desde Abril de 1874. Organizou o partido progressista, sendo o principal subscritor do pacto da Granja de 1876; presidente do ministério de 1 de Junho de 1879 a 25 de Março de 1881, acumulando a pasta dos Negócios Estrangeiros. Júlio Rodrigues da Silva, “O Rotativismo monárquico-constitucional. Eleições, caciquismo e sufrágio”,
14
1867
� 2 de Outubro – Anselmo Braamcamp Freire matricula-se em matemática, na
Universidade de Coimbra;
1868
� Anselmo Braamcamp Freire desiste do curso de matemática;
1869
� 6 de Fevereiro – Casa com D. Maria Luísa da Cunha e Menezes40;
� 4 de Dezembro – nasce, em Santarém, o seu filho, Manuel Maria da Cunha e
Menezes Braamcamp Freire;41
1874
� 20 de Maio – Inicia-se nas lides literárias com “Considerações críticas à obra
intitulada Archivo Heraldico, de que é autor Sr. Visconde de Sanches de Baena”,
publicado no Diário Ilustrado, nºs 612 e 613, do dia 21.
1875
� 18 de Abril – Morre o seu filho Manuel Maria, em Benfica;
História de Portugal, dir. João Medina, vol. XI, Portugal Liberal (II): Monarquia Constitucional (I), Lisboa, Ediclube, 2004, pp. 206 -207. 40 A viúva de Anselmo Braamcamp Freire viria a falecer em 1929, no dia 24 de Outubro.
41 Anselmo Braamcamp Freire teve mais duas filhas de uma ligação extra conjugal, com D. Rosa da Conceição Costa. Ambas nascidas em Lisboa, na Freguesia do Socorro, foram elas Luísa Braamcamp Freire que nasceu a 23 de Outubro de 1873 e Maria Braamcamp Freire, a 22 de Setembro de 1876. http://www.geneall.net/ [Consultado em 10 de Setembro de 2009]; contudo, a avaliar pelo texto infra acreditamos que Braamcamp Freire teve outro filho, cujo nome não figura na fonte supra, mas supomo-lo irmão germano das duas irmãs Braamcamp Freire. Assim,
“Foram recebidos telegramas […] e ainda do sr. D. Manuel de Almeida Castelo Branco, nos termos seguintes:
Por motivo falecimento esta madrugada do meu cunhado Dr. Jorge Cid não podemos como tanto desejaríamos assistir à homenagem prestada pela cidade de Santarém à memória meu pai. Em meu nome, no de minhas irmãs e demais parentes agradeço comovidamente a Vossa Excelencia e à cidade que tão dignamente representa a prova de carinhoso reconhecimento pela memória do que foi grande e dedicado amigo da cidade onde repousam os restos dos seus maiores e a que estão ligadas algumas das mais gratas recordações da minha juventude correspondentes aos sete anos em que vivi no palácio da Rua da Amargura em casa do saudoso Padre João Ribeiro, como aluno do liceu. Pedindo licença para abraçar na pessoa de Vossa Excelência o bondoso Povo Scalabitano subscrevo-me gratíssimo (a) Manuel de Almeida Castelo Branco”.
Cf. Manuel Vidal, “Dívida de Gratidão. Anselmo Braamcamp Freire”. Correio da Extremadura, Santarém, ano 45, nº 2330, Santarém, 28 de Dezembro , 1935, pp. 3 e10.
15
1876
� 17 de Janeiro – Morre o seu tio materno, Geraldo José Braamcamp de Almeida
Castelo Branco42.
� 1882
21 de Fevereiro – Morre a sua irmã, Maria Inácia Braamcamp Freire da Rocha;
1884
� 8; 9; 10 e 11 de Outubro – Publica “Crítica às Memórias Históricas e
Genealógicas dos Duques Portugueses do século XIX por João Carlos Feo de
Cardoso de Castello Branco e Torres e Visconde de Sanches de Baena”, no
Diário Ilustrado, nºs 4109; 4110; 4111 e 4112;
� 19 de Outubro – Sanches de Baena, em carta a Anselmo Braamcamp Freire,
admite os seus equívocos no Archivo Heráldico, pedindo-lhe que consigo
colabore em edição futura;
� 28 de Novembro – Enceta, no Diário Ilustrado, nº 4160, os artigos sobre os
Brasões da Sala de Sintra ;
1885
� 9 de Junho – Termina a publicação no Diário Ilustrado, nº 4350, dos artigos
sobre os Brasões da Sala de Sintra;
1886
� 22 de Julho – É nomeado par do reino, por carta régia;
1887
� 2 de Janeiro – Eleito o primeiro presidente da Câmara Municipal de Loures; o
mandado era de quatro anos e, à época, vivia em S. João da Talha;
� 25 de Abril – É investido no cargo de par do reino; eleito membro da Comissão
de Agricultura. Um voto contra, numa questão em discussão, valeu-lhe o não
mais ter sido eleito para a dita comissão;
1889
� Outubro – Viaja para Paris;
42 Tutor de Anselmo Braamcamp Freire, por morte dos seus pais e que, como tal, muito o acompanhou.
16
1893
� Reocupa o seu lugar de presidente da Câmara de Loures e exerce o mandato até
1896;
1894
� 27 de Janeiro – Morre, nos Estados Unidos, o seu irmão, Manuel Nunes
Braamcamp Freire, 2º Barão de Almeirim;
1895
� Janeiro/Fevereiro – A Pena, carta que dirige a D. José Pessanha, Arte
Portuguesa, nºs 1 e 2;
1897
� 25 de Janeiro – É nomeado vogal da Comissão dos Monumentos Nacionais;
1899
� Junho – Aparece o Livro Primeiro dos Brasões da Sala de Sintra;
1901
� Viaja para a Holanda;
1902
� Março – Conclui Sangue Régio, livro que acabou por não ser publicado;
1903
� Lança o Archivo Histórico Portuguez, em parceria com D. José da Silva
Pessanha;
1907
� Anselmo Braamcamp Freire é entrevistado pelo jornalista José Timóteo da Silva
Bastos, entrevista que este virá, com outros textos, a publicar in Perfis
Intelectuais, Visitas e Palestras, 1908.
� 19 de Novembro – O Jornal O Mundo dá a conhecer a sua adesão ao Partido
republicano;
1908
� Março – Preside a um comício republicano realizado em Lisboa;
� 30 de Abril – Abdica do lugar de Par do Reino;
� 1 de Novembro – Ganha as eleições para a Câmara Municipal de Lisboa;
� 30 de Novembro – Tomada de posse da vereação republicana à Câmara de
Municipal Lisboa; é eleito Vice-Presidente;
17
1909
� 10 de Fevereiro – Eleito vogal da Classe Sociológica, da Academia das Ciências
de Portugal, homenageando-o pelos seus notáveis e importantes serviços à
ciência;
� 16 de Abril – Anselmo Braamcamp Freire faz um curto discurso na abertura do
Congresso Municipalista, levado a cabo pela Câmara Municipal de Lisboa,
falando sobre os municípios medievais;
1910
� 25 de Janeiro – Eleito para integrar a Comissão Executiva das comemorações
do centenário do nascimento de Alexandre Herculano;
� Março – É lançada a obra Crítica e História – Estudos;
� 5 de Outubro – Discursa na Sessão Extraordinária, na Câmara Municipal de Lisboa;
� 27 de Outubro – Eleito Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, derrogada
que foi a legislação até então vigente, pelo Governo Republicano;
1911
� 9 de Fevereiro – Anselmo Braamcamp Freire é admitido, como sócio
correspondente, na Academia das Ciências de Lisboa;
� 28 de Maio – É eleito deputado, para a Assembleia Nacional Constituinte, pelas
listas Republicanas de Lisboa;
� Maio – É nomeado ministro de Portugal, em Berlim, cargo que rejeita, devido
aos trabalhos parlamentares;
� 19 de Junho – Na sessão inaugural da Assembleia Nacional Constituinte lê o
documento de abolição da monarquia;
� 20 de Junho – Anselmo Braamcamp Freire é eleito Presidente da Assembleia
Nacional Constituinte.
� 19 de Agosto – Desiste da sua candidatura, para a presidência da República, em
favor de Manuel de Arriaga;
� 21; 22 de Agosto – Assina e promulga a primeira Constituição da República Portuguesa;
18
� 24 de Agosto – Eleito, com a concordância geral, Presidente do Senado;
1912
� 17 de Outubro – O Governo da República nomeia-o embaixador extraordinário,
em Espanha, durante as comemorações do centenário da Constituição de Cádiz,
tendo em conta o seu patriotismo e inteligência;
� 27 de Outubro – Anselmo Braamcamp Freire é nomeado presidente da Grande
Comissão, para as comemorações de Ceuta e Albuquerque que se realizariam em
1915;
1913
� 10 de Janeiro – Pede a demissão do cargo de Presidente do Senado, devido a ter
sido constituído novo governo, pedido de renúncia que o Senado não aceitou;
� 1 de Fevereiro – Termina o mandado da 1ª Vereação Republicana da Câmara
Municipal de Lisboa;
� Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa;
1914
� 8 de Janeiro – Viaja para a cidade universitária belga de Lovaina, com o intuito
de se informar sobre o espólio da sua biblioteca;
� 29 de Junho – Anselmo Braamcamp Freire dá a conhecer, no final da sessão do
Senado, a sua resolução de deixar a vida política;
� 10 de Dezembro – Ascende à categoria de sócio efectivo da 2ª classe, da
Academia das Ciências de Lisboa;
� Dezembro – É convidado a formar ministério, o que recusa, por escrito, ao
Senado, no dia 18;
1915
� 8 de Janeiro – É nomeado, pela Academia das Ciências de Lisboa, director da
publicação académica, Portugaliae Monumenta Histórica;
� Recusa o convite de Manuel de Arriaga para se candidatar às presidenciais;
� 23 de Dezembro – É eleito Vice Presidente da 2ª classe, da Academia das
Ciências de Lisboa;
19
1917
� Janeiro – Anselmo Braamcamp Freire inicia a publicação de um estudo, sobre
Gil Vicente, na Revista de Historia;
� 27 de Dezembro – É elevado a Presidente da 2ª classe da Academia das Ciências
de Lisboa;
1918
� 22 de Março – Eleito sócio correspondente da Royal Historical Society of
England;
� Setembro e Outubro – No seguimento dos seus estudos sobre Gil Vicente visita
a Biblioteca Nacional de Madrid e o British Museum of London;
� 27 de Dezembro – Anselmo Braamcamp Freire é eleito Presidente da Academia
das Ciências de Lisboa;
1920
� 27 de Fevereiro – É informado, pela Biblioteca Municipal de Madrid, dos
elogios que o seu trabalho sobre Gil Vicente, merecera da Academia Espanhola;
1921
� Recusa o convite que da Universidade de Lovaine lhe dirigem, reitor e
professores, para estar presente na cerimónia de lançamento da primeira pedra
da nova Biblioteca;
� 31 de Agosto – Faz o seu testamento; nele consta o seu legado a Santarém: o
palácio da família; a biblioteca; quadros, objectos de arte, etc.;
� 23 de Dezembro – Anselmo Braamcamp Freire falece na sua casa, em Lisboa,
na Rua do Salitre, nº 146. Tinha 72 anos.
Post Mortem
1926
� 20 de Abril – É descerrada uma placa toponímica em Santarém, dando um novo
nome à, até então, chamada Rua da Amargura passando a chamar-se Rua
Braamcamp Freire – Historiador – Grande Amigo de Santarém –1849-1921;
20
� É feita a entrega solene do legado de Anselmo Braamcamp Freire à cidade de
Santarém, na pessoa do presidente da Câmara Municipal de Santarém, Pedro
António Monteiro.
1935
� 23 de Dezembro – A Câmara Municipal de Santarém, ao perfazerem-se catorze
anos sobre a sua morte, inaugura um busto do ilustre benemérito, no parque das
Portas do Sol43.
1997
� 1 de Fevereiro – A Câmara Municipal de Lisboa44, quando se completavam 148
anos sobre a data do seu nascimento e 76 anos após a morte do notável
historiador, faz perdurar a sua memória, identificando a casa onde viveu e
morreu:
43 Este busto foi transferido, em 20 de Abril de 2005, para o pequeno largo fronteiriço à Biblioteca Municipal, na já citada Rua Braamcamp Freire, em Santarém. Semanário Regional O Mirante, de 14.04.2005. 44 Sem querer fazer juízos de valor, observamos que a Câmara Municipal de Lisboa ao homenagear a memória de Braamcamp Freire o fez obnubilando o que o individualizou como personalidade, privilegiando o político em detrimento do historiador que nos deixou obras incontornáveis como o Archivo Historico Portuguez que fundou e dirigiu, produzindo muito do material que deu origem aos seus 11 volumes e o autor do admirável trabalho de que resultaram os 3 volumes de Brasões da Sala de Sintra. Porém, cumpre-nos fazer aqui um pequeno reparo: na freguesia da Pena, em Lisboa, no arruamento do Campo dos Mártires da Pátria (o velho Campo de Santana que, desde 1879, assim passou a ser designado em memória dos companheiros do General Gomes Freire de Andrade, ali supliciados, em 18 de Outubro de 1817), a larga área ajardinada tem o nome designativo de Jardim Braamcamp Freire e sê-lo-á desde a década de 40. Não conseguimos documentação que nos desse detalhes, mas procurámos in situ uma placa toponímica ou uma lápide, algo com uma inscrição indicativa ou comemorativa que transmitisse a sua recordação, constatando que, somente, junto ao parque infantil ali integrado, duas placas camarárias indicam o “Parque infantil do Jardim Braamcamp Freire”.
21
Nesta casa viveu e morreu Anselmo Braamcamp Freire
(1.2.1849 - 23.12.1912) Presidente da Primeira Vereação Republicana da Câmara de Lisboa
1 de Fevereiro de 1997
A casa de Anselmo Braamcamp Freire 45
45 Este palacete do século XVIII, de estilo pombalino, hoje alberga as instalações do Instituto Italiano da Cultura de Lisboa. É visível, junto à porta, a placa comemorativa a que aludimos. http://www.iiclisbona.esteri.it [consultado e retirada a imagem em 15 de Novembro de 2010].
22
II
O Archivo Historico Portuguez
1. Início e Fim da Publicação. A 2ª edição do Archivo Historico Portuguez
Em Janeiro de 1903, com 300 exemplares, foi dado a conhecer ao público o
Archivo Historico Portuguez, a primeira grande revista portuguesa de História.
Inaugurava o fascículo nº 1, do vol. I, um artigo de Sousa Viterbo, “O Theatro na côrte
de D. Filippe II (Duas cartas de D. Bernarda Coutinha)”. Continuando até 1910, a
publicação, mensal e em fascículos, de 32 páginas, produziu oito dos onze volumes que
integram o Archivo Historico Portuguez; deu-se, então, um interregno e o volume IX
sairia, somente, no ano de 191446 e os volumes X e XI, de acordo com a data de
impressão, em 1916.
O último volume acaba, na página 304, de forma imprevista, com a palavra officio,
não completando o parágrafo, de uma carta do futuro marquês de Pombal, documento
do artigo “Missão de Sebastião José de Carvalho e Melo a Viena”, de J. Lúcio de
Azevedo. Havia, portanto, a intenção de continuar, como, aliás, pode verificar-se, na
folha seguinte, escrita à mão47 e titulada Índice de Autores, como transcrevemos:
“Azevedo (J. Lucio de - ) – Missão de Sebastião José de Carvalho e Melo, a Viena, pag. 276 a 304 (continua). O restante original estará em mão do Autor? ou da família!?”48.
Desconhecemos porque acabou. Objectivamente, o que sabemos é que
Braamcamp Freire reduziu a sua colaboração a partir do volume VIII e que desde 1906,
ano a que corresponde o volume IV, o nome de D. José Pessanha deixa de aparecer no
índice de colaboradores. 46 Os oito primeiros volumes do Archivo Historico Portuguez e parte do nono (até à p. 336, meados de 1914) foram compostos e impressos numa oficina tipográfica na Calçada do Cabra, nº 7; o restante do volume IX e os volumes X e XI passaram, desde aí a ser preparados na Imprensa Libânio da Silva, Ldª, Trav. do Fala Só, nº 24, Lisboa. Sita na freguesia de Santa Catarina, no lisboeta Bairro Alto, aquela calçada ainda ostenta na placa toponímica a mesma designação de outrora. Contudo, hoje, a velha ladeira empedrada é palco de derrocadas (chaminé e parte do muro do Convento dos Inglesinhos – edifício do século XVII – que confina com a calçada, em 14 de Dezembro de 2005) e de imóveis em ruínas, com portas e janelas entaipadas, conforme constatámos in loco, a 8 de Maio de 2007. 47 A folha que referimos está rubricada, mas a rúbrica não é perceptível; todavia, porque conhecemos a assinatura de Braamcamp Freire e vimos outras notas suas em alguns dos volumes do Archivo Historico Portuguez, supomos reconhecer ali a sua caligrafia. 48Archivo Historico Portuguez, vol. I, Lisboa, 1903, folha não numerada, a seguir à p. 304.
23
Na época, o Archivo não era, apenas, uma qualquer revista de História, mas uma
revista na qual matérias diversificadas e amplamente documentadas punham à
disposição dos estudiosos documentos históricos que, de outro modo, continuariam
ignorados; apenas em quatro volumes já tinham sido transcritos e divulgados, milhares
de documentos:
“O Archivo historico não é uma revista de leitura amena para recreio em horas de ócio;
essa não é a sua índole e esta se tem mantido. Ella deve principalmente ser, e tem sido, um
repositório de fontes seguras para o estudo da Historia pátria. Nos seus três annos de existencia e
precisando variar os assuntos, porque todas as espécies interessam, não tem ele podido ainda
ministrar aos estudiosos grupos completos de documentos acerca de material especial, ou de
determinado período; mas nos oitocentos e sessenta documentos, alguns bem estensos, publicados
na integra, e nos quatrocentos e setenta largamente sumariados e extractados, apresenta já um total
de mais de mil e trezentos documentos arrancados dos arquivos onde jaziam quasi inúteis, e postos
à disposição dos investigadores” 49.
Como já referimos, Braamcamp Freire fundou-a com D. José da Silva Pessanha,
numa época em que ambos eram já historiadores de valor e em que eram escassas as
publicações que se dedicavam a este tema. Propriedade e edição suas o Archivo teve por
administrador Fernando de Brederode50.
Em todos os volumes do Archivo Historico Portuguez podemos observar
correcções e anotações, manuscritas por Anselmo Braamcamp Freire. Compõem-se os
seus 11 volumes do seguinte modo:
� Vol. I, nºs 1-12 (Jan.-Dez.,1903); 474 [1] pp.;
� Vol. II, nºs 1-12 (Jan.-Dez.,1904); 530 pp.;
� Vol. III, nºs 1-12 (Jan.-Dez.,1905); 528 pp.;
� Vol. IV, nºs 1-12 (Jan.-Dez., 1906); 521 [2] pp.;
� Vol. V, nºs 1-12 (Jan.-Dez.,1907); 528 [1] pp.; inclui Amarrado ao Pelourinho, 49 Fernando de Brederode, Archivo Historico Portuguez, vol. IV, Administração, 2001, p. V. 50 Fernando Teixeira Homem de Brederode (1867-1939); ainda parente de Braamcamp Freire; bacharel em filosofia pela Universidade de Coimbra; ministro da Marinha, em 1920, no governo de António Maria da Silva e em 1921, no governo de Bernardino Machado; deputado em 1921. Ministro do Comércio, no governo de António Maria da Silva, em 1922/23. Foi, também, administrador de companhias de seguros.
24
opúsculo, 77 pp.
� Vol. VI, nºs 1-12 (Jan.-Dez., 1908); 527 [1] pp.;
� Vol. VII, nºs 1-12 (Jan.-Dez., 1909); 517 [9] pp.;
� Vol. VIII, nºs 1-12 (Jan.-Dez., 1910); 536 [1] pp.;
� Vol. IX, (1914); 540 pp.;
� Vol. X, (1916); 535 [2] pp.;
� Vol. XI, (1916) 304 [1] pp.;
Alguns dos volumes integram, ainda, uma Lista de Assinantes, excelente fonte de
informações para o estudo do impacto e da recepção da obra na época.
Brasão do frontispício do
Archivo Historico Portuguez
25
Por iniciativa da Câmara Municipal de Santarém, em 7 de Janeiro de 2001, com
uma tiragem de 1000 exemplares, era lançada uma 2ª edição, facsimilada, do Archivo
Historico Portuguez, dedicada “[…] à sagrada
memória de ANSELMO BRAAMCAMP
FREIRE […]”51.
Não obstante, somente, no mês de
Dezembro, se completarem 80 anos sobre a sua
morte, o Ministério da Cultura, aproveitou o
ensejo para assinalar aquele aniversário, conforme
o seu comunicado de imprensa.
Capa interna do vol. I - Nº 1 – Janeiro de 1903
2. Participações intelectuais no Archivo Historico Portuguez
Na feitura desta obra colectiva, participaram vinte e cinco colaboradores, além
de que escritos de oito autores precedentes integram, também, o Archivo Historico
Portuguez que comporta 216 entradas, correspondendo a 183 artigos que sustentam
muitos documentos inéditos, então transcritos.
Para uma mais rápida análise do seu conteúdo, apresentamos de seguida um
mapa comparativo do número de artigos por autor e outro de leitura gráfica (gráfico
comparativo 1); um gráfico em que pode verificar-se a que século respeita cada artigo
(gráfico comparativo 2) e um gráfico do número de artigos por autor, respeitante,
exclusivamente, aos relacionados com Navegações e Descobrimentos, (gráfico
comparativo 3) reservando para o apêndice listagens que permitem diferentes leituras do
contéudo do Archivo Historico Portuguez.
51Archivo Historico Portuguez, vol. I, Lisboa, 1903. Nota Prévia, [p. não numerada].
26
ARCHIVO HISTORICO PORTUGUEZ
Nº de artigos por autor
AUTOR Nº de Artigos
A AZEVEDO, J. Lúcio de 2
AZEVEDO, Pedro A. de 36
B BAIÃO, António 4
BARATA, António Francisco 11
BETHENCOURT, Cardoso 1
BRAAMCAMP FREIRE, A. 38
BREDERODE, Fernando 1
BRITO, Gomes de 3
BRITO, Nogueira de 1
C CASTILHO, Júlio de 1
COELHO, Ramos 1
COSTA, José Pedro da 1
D DENUCÉ, J. 1
F FREITAS, Jordão A. de 3
G GUERRA, L. de Figueiredo da 4
H HENRIQUES, Guilherme J.C. 2
27
L LEMOS, Maximiano 1
LOBO, A. Costa 2
M MENA JÚNIOR, António César 1
P PESSANHA, José 3
PRESTAGE, Edgar 4
R REBELLO, Brito 7
RIBEIRO, Victor 5
V VASCONCELOS, Carolina Michaelis 2
VITERBO, Sousa 31
28
ARCHIVO HISTORICO PORTUGUEZ Nº de artigos por autor
Gráfico Comparativo 1
1%
22%
2%
7%
1%
23%
1%
2%
1%
1%
1%
1%
1%
2%
2%
1%
1%
1%
1%
2%
2%
4%
3%
1%
19%
J.L.Azevedo
P.A.Azevedo
A.Baião
A.F.Barata
C.Bthencourt
Braamcamp Freire
F.Brederode
G.Brito
N.Brito
J.Castilho
J.R.Coelho
J.P.Costa
J.Denucé
J.A.Freitas
L.F.Guerra
G.J.C.Henriques
M.Lemos
A.C.Lobo
A.C.Mena Júnior
D.J.Pessanha
E. Prestage
B.Rebelo
V.Ribeiro
C.M.Vasconcelos
S.Viterbo
29
Gráfico comparativo 2
0
20
40
60
80
100
120
140
ARTIGOS
ARCHIVO HISTORICO PORTUGUE Z Século a que respeita cada artigo
Séc. XII 4 artigos
Séc. XIII 9 "
Séc. XIV 12 "
Séc. XV 40 "
Séc. XVI 124 "
Séc. XVII 30 "
Séc. XVIII 22 "
Séc. XIX 12 "
Séc. XX 6 "
30
ARCHIVO HISTORICO PORTUGUEZ Artigos sobre Navegações e Descobrimentos
Gráfico comparativo por autor52
Gráfico comparativo 3
52 Uma leitura mais apressada dará a ideia de que foi de Pedro de Azevedo quem deu o maior contributo para os artigos sobre Navegações e Descobrimentos; porém este gráfico, tal como os antecedentes (1 e 2) foi baseado na entrada de cada artigo – por título – e é preciso ter presente que, de Anselmo Braamcamp Freire, só as “Cartas de Quitação del Rei Dom Manuel”, somam 786 e os “Cadernos de Assentamentos” 211, além de que 23% do cômputo total dos estudos do Archivo Historico Portuguez, são seus. (Gráfico comparativo 1).
0
1
2
3
4
5
6
7
8 AZEVEDO,Pedro A. de
BAIÃO, António
BARATA, A.F.
BETENCOURT,Cardoso
BRITO, Gomes
COSTA, JoséPedro
DENUCÉ, J.
FREIRE, A.Braamcamp
FREITAS, A.Jordão
GUERRA, L. deFigueiredo da
PESSANHA,José
PRESTAGE,Edgar
VITERBO,Sousa
31
3. Temas do Archivo Historico Portuguez : tendências historiográficas
Os assuntos desta obra histórica versam tanto a história social, como Os
Escravos; política, como a Missão de Sebastião José de Carvalho e Melo, a Viena;
económica, como as Cartas de quitação del rei D. Manuel, ou o Livro de Tenças del Rei;
e cultural, como O Antigo Casamento Português; para além das Cartas de Quitação del
Rei D. Manuel ou de Os Cadernos dos Assentamentos, os assuntos tratados nos artigos
desta revista – abrangendo do século XII ao século XX – são diversificados; contudo, os
temas relacionados com a historiografia da expansão, das actividades artesanais, das
biografias e da inquisição aparecerem com alguma frequência.
As cartas de quitação del Rei D. Manuel e Os cadernos dos assentamentos,
Bramcamp Freire extraiu-os da Chancelaria de D. Manuel e adverte ter vindo a
perceber que àquelas, dadas durante o período do reinado de D. Manuel, era
indispensável juntar as respeitantes ao mesmo lapso de tempo, mas entregues no reinado
de D. João III, seu sucessor.
“Não fazendo isto muito incompleto ficaria o conhecimento da receita e da despesa da
fazenda real durante os ultimos annos da vida do Venturoso, por isso que, como aliás é obvio,
quasi todas as cartas de quitação desses derradeiros tempos foram passadas depois da morte de D.
Manuel. Assim completa-se uma série de docs. muito interessantes e importantes para se poderem
apreciar a verdadeiras condições económicas do tesouro público no chamado período áureo da
nossa nacionalidade” 53.
Como acima referimos, os temas tratados no Archivo Historico Portuguez
abrangem um lapso de tempo que medeia entre o século XII e o século XX, conforme
pode verificar-se no gráfico comparativo (2) Século a que respeita cada artigo (vide
supra, p. 29), todavia, os assuntos maioritariamente estudados são do século XVI;
Braamcamp Freire foi quem colaborou com o maior número de artigos, como se
constata no gráfico comparativo (1) Nº de Artigos Por Autor. (Vide supra, p. 28).
53 Anselmo Braamcamp Freire, “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, vol III, Archivo Historico Portuguez, Lisboa, 1905, p. 391.
32
O Archivo foi a primeira grande revista portuguesa pensada e destinada,
exclusivamente para História, numa época em que a História era uma ciência erudita;
contudo, e como tal, tendencialmente o caminho a seguir seria o da especialização,
como em qualquer outro ramo do conhecimento.
Do estudo dos assuntos tratados nas páginas do Archivo, concluímos do género
e das tendências historiográficas, a que não era alheia a ocupação profissional dos seus
colaboradores. Não obstante abarcar distintos assuntos, como já fizemos notar,
predominava a história de progressão lógica – metódica – com ênfase para os elementos
políticos, divulgação e crítica das fontes, fazendo anunciar o estudo, a análise
pormenorizada, de um conjunto de temas:
“Da análise das matérias focadas no Arquivo Histórico Português infere-se o género de
história por ele veiculado e, bem assim, as tendências da historiografia produzidas pelo pelos
respectivos colaboradores. Salvo raras excepções […], dominava a história metódica com
preponderância dada aos factores políticos, ocupando a divulgação e a crítica das fontes um lugar
importante. A própria actividade, de arquivistas e paleógrafos, exercida por alguns colaboradores
[…] acabava por favorecer esse tipo de preocupações […].
Sublinhe-se, no entanto que já a mencionada tendência para a especialização – pelo
estudo aprofundado de certas temáticas – também se reflectia no Arquivo Histórico… Assim se
verificava com a biografia […]. Também a Inquisição continuava a despertar interesse da parte
dos historiadores […], o mesmo sucedendo com certas actividades artesanais […]”54.
54 J. Amado Mendes, “Desenvolvimento e estruturação da historiografia portuguesa – Os historiadores e as suas circunstâncias”, História da História em Portugal, Sécs. XIX e XX, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996, p. 213.
33
III
Os colaboradores do Archivo Historico Portuguez
Os colaboradores do Archivo não tinham compensação monetária; o seu
trabalho era desinteressado, gratuito: “[…] alem dos numeros entregues aos assinantes e
compradores avulsos, outras colecções tẽem saído. Nellas se incluem as oferecidas aos
principais colaboradores do Archivo, única prova de agradecimento que este lhes pode
tributar”55.
No elenco de colaboradores da revista, ou autores não seus contemporâneos, mas
cujos escritos integram os seus sumários (e que, adiante, designaremos por Autores
Precedentes)56 são poucos os historiadores de formação: eles eram médicos, homens de
leis, militares, autodidactas; mas todos, de instrução vasta e variada, investigando e
escrevendo sobre a História, porque apaixonados pelo estudo científico dos
acontecimentos e dos factos históricos – sociais, económicos, políticos, religiosos – pela
narração sistemática do passado. Na época, o historiador era o erudito que estudava
desenvolvidamente os documentos, conduzindo à prática regular de decifrar os textos,
para a sua compreensão objectiva.
Sobre cada um deles faremos pequenas súmulas, intentando corroborar o que
acima afirmámos.
1. Notas Biográficas dos Colaboradores
AZEVEDO, J. Lúcio de
João Lúcio de Azevedo (1855-1933), autor de considerável e variada obra, de
que se destaca a biografia e a história económica.
Muito cedo emigrou para o Brasil, onde escreveu o seu primeiro livro (Estudos
de História Paraense) e fez fortuna. Posteriormente, viveria alguns anos em Paris, após
o que regressaria a Portugal, dedicando-se, então, à investigação histórica e aos temas
económicos, ficando a dever-se-lhe a primeira História Económica.
55 Fernando de Brederode, “Administração”, Archivo Historico Portuguez, vol. IV, Lisboa, 1906, p. VII, 56 Como, por exemplo, é caso de Francisco Leitão Ferreira ou de Almeida Garrett.
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Colaborando, assiduamente, em várias revistas portuguesas e estrangeiras,
publicou O Marquês de Pombal e a Sua Época; História de António Vieira; A Evolução
do Sebastianismo; História dos Cristãos-Novos Portugueses. Foi um dos autores da
História da Literatura Portuguesa Ilustrada, além de que foi autor dos capítulos sobre
“Organização Económica”, da História de Portugal dirigida por Damião Peres.
Precursor de um novo conceito de investigação histórica na qual interferia o
estudo da economia, determinante para a compreensão do processo de constituição e
evolução das sociedades.
Autodidacta, investigador de elevado mérito, Lúcio de Azevedo foi reconhecido
por diversas academias científicas, como a Real Sociedade de História de Londres e a
Academia das Ciências de Lisboa, de que foi membro.
AZEVEDO, Pedro A.
Pedro Augusto de Azevedo (1870-1929), paleógrafo, foi conservador do
Arquivo Nacional da Torre do Tombo e durante muitos anos sócio correspondente da
Academia das Ciências de Lisboa, seu sócio efectivo e um dos mais activos
colaboradores do Archivo Historico Portuguez. Publicou O Archivo da Torre do Tombo,
sua historia, corpos que o compõem e organisação (1905), em colaboração com
António Baião. Outros trabalhos: Os Antepassados de Camillo; Antepassados do
Marquês de Pombal; António de Gouveia, Alchimista do Século XVI; Em Volta de
Bocage; Familiares do Santo Oficio em Vila Real, Os Giles de Hédois du Bocage (o
Avô Paterno do Poeta Bocage); Irregularidades da Limpeza de Sangue dos Familiares
do Santo Oficio de Vila Real; Os de Vasconcellos; Sebastião de Macedo, o Moço;
Situação da Heráldica em Portugal e Urraca Machado. Dona de Chellas.
BAIÃO, António
António Eduardo Simões Baião (1878-1961), licenciado em Direito, pela
Universidade de Coimbra, em 1900, exerceu funções no Arquivo Nacional da Torre do
Tombo, onde se manteve 40 anos e do qual veio a ser director. Leccionou em várias
escolas, como a Machado de Castro e Ferreira Borges, em Lisboa e dirigiu a Revista
Pedagógica, entre 1903 e 1905. São muitas as suas publicações, como O Archivo da
Torre do Tombo, sua historia, corpos que o compõem e organisação (1905, em
colaboração com Pedro de Azevedo), A Inquisição em Portugal e no Brasil (1906), O
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Matemático Pedro Nunes e a sua Família (1915), Episódios Dramáticos da Inquisição
Portuguesa (1919-1938, 3 vols.), O Livro de Português (1924) e A Inquisição de Goa
(1929-1930, 2 vols). Dos seus estudos sobre a Inquisição resultaram mais de duas
centenas de pequenos trabalhos, esclarecedores do tema.
Além desses estudos e de outros para os Anais da Academia Portuguesa da
História, foi autor de relevantes obras de investigação histórica, como Herculano
Inédito - Correspondência de Faustino Xavier de Novais (1953); Herculano e Gomes
Monteiro (1956); Alexandre Herculano como Presidente da Câmara de Belém (1956);
Alexandre Herculano como Rendeiro da Horta do Galvão (1956); Herculano e Camilo
(1958); O Teatro Nacional em 1880 e 1881 (1959); Um Fidalgo Quinhentista e o seu
Curioso Testamento.
BARATA, António Francisco
António Francisco Barata (1836-1910), autodidacta, amanuense na Biblioteca de
Évora encetou diversos estudos e investigações históricas. Nomeado conservador da
mesma Biblioteca, desempenhou o cargo até 1907. Foi vereador da Câmara Municipal
de Évora com o pelouro da instrução. À sua acção ficou a dever-se a criação de uma
biblioteca municipal e a catalogação do arquivo da Câmara. Os seus escritos formam
um vasto conjunto bibliográfico, destacando-se A Conquista de Coimbra (drama em 4
actos; 1862) e o romance histórico O Manuelinho de Évora (1873); autor da Memória
Histórica sobre a Fundação da Sé de Évora e Suas Antiguidades (1876) e da Memória
Descritiva do Assalto, Entrada e Saque da Cidade de Évora pelos Franceses em 1808,
(1887). Colaborou também no Dicionário Heráldico e no Dicionário Espanhol -
Português e Português - Espanhol de Figanière (1879).
Estudioso, empreendedor, trabalhador, a sua obra é extensa e de vários géneros
literários. Usou, para alguns trabalhos, os pseudónimos de D. Bruno da Silva e
Bonifaciano Tranca Ratos, adoptando este em assuntos polémicos ou que se prestassem
à ironia. Colaborou com os vários periódicos de Évora, Elvas, Estremoz, Barcelos e
Coimbra.
Já no fim da vida ainda produziu algumas obras: Évora e seus arredores (1904),
Évora Antiga (1909), e Homenagem de Évora a Alexandre Herculano (1910) e quis
deixar uma bibliografia de toda a sua obra: Escritos e Publicações de António Francisco
Barata – 1866-1908.
36
A Évora – onde muitos anos viveu e onde faleceu – dedicou a sua vida e o seu
esforço de estudo tornando-se um douto conhecedor de costumes e história da região,
sendo o seu legado muito importante para o inventário, conhecimento e divulgação do
património histórico da cidade.
Homenageando-o, a Câmara Municipal de Góis, terra onde nasceu, deu o seu
nome à rua e à Biblioteca Municipal.
BETHENCOURT, Cardoso de
João Leão Cardoso de Bethencourt (1861-1938), nascido em França, este erudito
escritor, por determinação de D. Carlos, foi encarregado, em 1905, de fazer o catálogo
dos manuscritos da biblioteca do Palácio da Ajuda; Em 1907 foi nomeado bibliógrafo
da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, lugar de que pediu a demissão,
alegando motivos de carácter político, em 1910. Paleógrafo de documentos referentes à
História dos Descobrimentos Portugueses, na sua fecunda obra encontramos: Les pêches
maritimes en Portugal (1901); Voyage à Lisbonne du Prince Frédéric-Auguste de Saxe
(Auguste II) en 1688: extrato do manuscrito 51, VI, 41 da Biblioteca Real da Ajuda, por
si traduzido e anotado (1907); A biblioteca de Academia Real das Ciências de Lisboa:
notícia sumária, pref. de Christovam Ayres(1909); Catálogo dos manuscritos da Real
Biblioteca da Ajuda, referentes à guerra peninsular, direc. do bibliotecário Ramalho
Ortigão (1910); Catalogue de la bibliothèche de feu M. le conseiller Ven. - Aug.
Deslandes, precédé d'une notice bibliographique par Cardoso de
Bettencourt. (1915);Catálogo dos documentos do Archivo General de Guipúzcoa
referentes a Portugal (1925).
Cardoso de Bettencourt viveu em Bordéus até à sua morte, investigando a acção
histórica, literária, económica e diplomática dos judeus.
BRITO, Gomes de
José Joaquim Gomes de Brito (1843-1923), licenciado em Letras, arqueólogo e
funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, foi fundador e sócio da Sociedade de
Geografia de Lisboa e sócio honorário da extinta Associação Industrial Portuguesa.
Colaborador de vários jornais, deixou-nos alguns títulos: Le régime des marques de
fabrique en Portugal : rapport a monsieur le Président et à Messieurs les membres du
37
Conseil de l'Union des Fabricants (1876); A batalha do Ameixial (1921); Os remolares:
o que fossem, onde e quando começam a ser denominação de um sítio de Lisboa:
estudo documentado (1899); O Prior de S. Nicolau Rosario de Mello e a sacristia da
Madre de Deus em 1879-1880: memoria e memorial (1893); Padre Thomás José de
Aquino: seu testamento e outros pormenores (1903); Noticia de livreiros e impressores
de Lisboa na 2ª metade do século XVI (1911); No primeiro centenário de Alexandre
Herculano: 28 de Março de 1810 a 28 de Março de 1910: páginas íntimas dedicadas à
gloriosa memória do egrégio escritor (1910); co-autor57 do Diccionario bibliographico
Portuguez, Estudos Aplicáveis a Portugal e ao Brasil.
BRITO, Nogueira de
Francisco Nogueira de Brito (1883-1946), foi conservador do Arquivo Nacional
da Torre do Tombo. Obras: Livrarias notáveis pertencentes a particulares: subsídios
para a história da Biblioteca Nacional de Lisboa (1917); A colecção de manuscritos de
Ribeiro Saraiva (1914); Os grandes comediantes portugueses: in-memoriam Angela;
dir. e pref. Nogueira de Brito (1925). O Mosteiro da Sub-Serra da Castanheira: ligeiras
notas sobre a sua fundação: inscrições tumulares, pormenores históricos,
considerações criticas.( 1912); Arqueologia escalabitana: excursão da Associação dos
Arqueólogos Portugueses a Santarém: Relatório. (1917); Lisboa antiga.(1935);
Famílias de Sarzedas : subsídios para a historia desta vila. (1921); A ordem de
Calatrava: excerto histórico. (1911); Roteiro ilustrado de Lisboa e arredores(1935);
Santarém. (1929); Caravelas, naus e galés de Portugal (1932).
CASTILHO, Júlio de
Júlio de Castilho 58 – Visconde de Castilho (1840-1919), concluiu, na
Universidade de Coimbra, o Curso Superior de Letras, tendo enveredado pela literatura
e pelo jornalismo. Olisipógrafo59, biógrafo – biografias de pintores portugueses, como
de José Rodrigues de Carvalho ou Vieira Lusitano – historiador; mas, também,
57 Diccionario bibliographico portuguez: estudos applicaveis a Portugal e ao Brasil, Innocencio Francisco da Silva (1810-1876) autor; Pedro Wenceslau de Brito Aranha (1833-1914) co-autor; Ernesto Soares (1887-1966) co-autor; Álvaro Neves (1883-1948) editor. 58 Filho de António Feliciano de Castilho – que foi o 1º visconde de Castilho – e de sua segunda mulher, D. Ana Carlota Xavier Vidal de Castilho. 59 Júlio de Castilho foi um denotado amante de Lisboa – cidade onde nasceu e morreu – estudando as suas temáticas culturais, históricas, sociais e económicas.
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romancista, poeta, dramaturgo, crítico literário e artístico e tradutor; elaborou estudos
sobre os poetas Gil Vicente e António Ferreira.
O jornalismo levou-o aos Açores e a política a governador civil da Horta, em
1877 e, mais tarde, a cônsul de Portugal em Zanzibar.
Castilho foi sócio efectivo da Associação dos Arquitectos e Arqueólogos
Portugueses e sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, do Instituto
de Coimbra, do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco, do Instituto Vasco da
Gama de Nova Goa e da Associação Literária Internacional de Paris e sócio honorário
do Grémio Literário Faialense e do Grémio Literário Artista da Horta.
Autor de centenas de artigos dispersos pela imprensa da época e de uma larga
obra, para a ilustrar, aqui deixamos só alguns dos seus títulos: Estudo genealógico,
biográfico e literário da família Castilho ( publicado no tomo III, 2.ª ed. das obras
completas do seu pai); Estudos sobre Camões, (1863); O senhor António Feliciano de
Castilho e o senhor Antero do Quental [(1865: 2.ª ed. 1866) a propósito da Questão do
Bom Senso e do Bom Gosto]; Primeiros versos (1867); António Ferreira, poeta
quinhentista, estudos biográfico literários, seguidos de excertos do mesmo autor
[(1875), 3 vol.]; D. Inês de Castro [(1875) drama em 5 actos e em verso, seguido de
notas históricas e de uma monografia acerca de Inês de Castro]; Requerimento a sua
majestade el-rei pedindo a abolição das touradas em Portugal [(1876) apresentado em
nome da Sociedade Protectora dos Animais]; Lisboa antiga (O Bairro Alto) [( 1879)
reeditado em 1903]; Jesu Christo, [de Luiz Veuillot (1881); tradução]; Manuelinas
(cancioneiro) (1889); A ribeira de Lisboa, descrição histórica da margem do Tejo
desde a Madre de Deus até Santos-o-Velho (1893); A mocidade de Gil Vicente, o poeta,
quadros da vida portuguesa nos séculos XV e XVI (1897); Amores de Vieira Lusitano,
(1901); Os dois Plínios (Estudos da vida romana) (1906).
Participou na Questão Coimbrã 60.
60 Questão Coimbrã, ou a Questão do Bom Senso e do Bom Gosto, como também ficou conhecida, teve a sua génese num conflito que opôs jovens universitários, representantes do realismo e do naturalismo aos defensores do ultra-romantismo. Desencadeou a querela a publicação das obras poéticas de Joaquim
Teófilo Braga (1843-1924), (Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras) e de Antero Tarquínio de Quental (1842-1891), (Odes Modernas). António Feliciano de Castilho (1800-1875), corifeu do romantismo, morto que era Alexandre Herculano, fará duras críticas às composições poéticas, desencadeando-se, então, um aceso debate que oporá Castilho e os seus seguidores a Antero e aos defensores do realismo. Os anos de 1865 e 1866, assistirão ao desenrolar desta contestação, desta sublevação universitária, intelectual e cultural - querela coimbrã - como a designa João Medina: “Além da revolta universitária, havia também a revolta intelectual, a revolução cultural […]”. João Medina, História de Portugal, vol. XI, Lisboa,
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COSTA, José Pedro da
Para José Pedro da Costa, lamentavelmente, gorados foram todos os esforços
que fizemos no sentido de saber mais pormenores sobre este colaborador do Archivo
Historico Portuguez onde, de resto, apenas aparece um trabalho seu no vol. III – “Carta
do poderosissimo e invictissimo D. Manoel, Rei de Portugal e dos Algarves, &c., sobre
as victorias alcançadas na India e em Malacha. Ao Sancto Padre em Christo e Senhor
nosso, Leão 10º, Pontifice Máximo” – interessante documento que ele transcreveu (seria,
portanto, paleógrafo), conforme indicação que consta no fim do trabalho: “Traduzida
por José Pedro da Costa, de um exemplar pertencente à biblioteca do fallecido Sr. José
do Canto, em janeiro de 1902, a pedido de seu irmão o Sr. Dr. Eugénio do Canto”.
DENUCÉ, J.
Jean Denucé (1878-1944), historiador belga. Algumas obras : Les origines de
la cartographie portugaise et les cartes des Reinel; Inventaire des Une visite aux
archives de Lisbonne et de Seville (1906); Magellan: la question des Moluques et la
première circumnavigation du globe (1911); Calcoen: récit flamand du second voyage
de Vasco de Gama vers l'Inde, en 1502-1503 (1931); Affaitadi Banquiers Italiens en
Anvers de l’année 1568. (1934); Aspects nouveaux de l'expansion portugaise en
Belgique dans le passé: conférence (1939).
Ediclube, 2004, p.262. Antero de Quental foi o primeiro a responder a Castilho, com o já denominado folheto Questão do Bom Senso e do Bom Gosto. Todavia, esta polémica virá a redundar numa outra experiência: As Conferências do Casino de Lisboa (Maio - Junho de 1871), manifestação crítica de um pequeno grupo de escritores – a denominada Geração de 70 - a que Antero, Eça e Oliveira Martins deram existência no plano das ideias e a que hão-de aderir Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Jaime Batalha Reis, Guilherme de Azevedo, Gomes Leal, Aberto Sampaio, Augusto Soromenho e Adolfo Coelho, alguns dos quais haveriam de participar nas Conferências. Com ideias e aspirações comuns, saídos do meio académico de Coimbra, influenciados ideologicamente por filósofos como Jules Michelet (1798-1874) ou Pierre Proudhon (1809-1865) e na estética da escrita por escritores como Victor Hugo (1802-1885) e pelo naturalismo e realismo de Gustave Flaubert (1821-1880) e Émile Zola (1840-1902), defendem ideais e apresentam críticas, pela boca de Eça de Queirós, Antero, Adolfo Coelho e Augusto Soromenho. Jaime Batalha Reis e Salomão Sáragga não chegariam a perorar, como tinham tencionado fazê-lo. Enfim, o que se tinha iniciado como uma contenda literária e cultural culminou num sentimento de reprovação política e institucional e das mentalidades: “[…] as tentativas de estabilização política […] viam-se confrontadas com a insurreição da jovem intelectualidade portuguesa. Tomando de início o aspecto de uma simples contestação literária e cultural, começada com a Questão Coimbrã (1856-1871), tornar-se-ia rapidamente, com as «Conferências do Casino» em 1871, numa revolta contra os homens políticos portugueses e contra as instituições, as mentalidades e as ideias associadas ao constitucionalismo liberal”. Júlio Rodrigues da Silva, “O Rotativismo monárquico-constitucional. Eleições, caciquismo e sufrágio”, História de Portugal, dir. João Medina, vol. XI, Lisboa, Ediclube, 2004, p. 204.
40
FREITAS, Jordão A. de
Jordão Apolinário de Freitas (1866-1946), foi sócio fundador da Academia
Portuguesa da História e director da Biblioteca Real da Ajuda entre 1918-1936.
Formado em Teologia, e médico-cirurgião pela Escola Médica do Funchal, mas a
tendência natural para as letras, impôs-se.
Em 1900 e até 1902, ocupa um modesto lugar na biblioteca da Sociedade de
Geografia de Lisboa, época a partir da qual se interessa pelos estudos ultramarinos.
Ainda naquele ano, passou a exercer funções na Biblioteca Real da Ajuda, tendo sido
em 1918, nomeado director desta, como tal se mantendo até ao limite de idade.
Jordão de Freitas que deixou uma imensa obra histórica e literária, diligenciou
organizar a sua bibliografia entre os anos de 1897 a 1939 e a que chamou Os meus
escritos. Estes foram de natureza bastante diversa e muitas figuras da memória
colectiva lhe mereceram uma especial atenção, como o Marquês de Pombal, S.
Francisco Xavier ou o infante D. Henrique; o Japão, os Descobrimentos, a Inquisição
são, igualmente, temas muito do seu agrado. Alguns exemplos da sua obra: Manuel
Francisco de Barros Carvalhosa, 2.º Visconde de Santarém: Opúsculos e Esparsos,
coligidos e coordenados por Jordão de Freitas (1910); O Marquez de Pombal – a
Lenda e a História (1910); Quando foi descoberta a Madeira? - resenha histórica
(1911); O Naufrágio de Camões e d'Os Lusíadas (1915); O cavalheiro de Oliveira.
Apontamentos bibliográficos. (1921-1922).
GUERRA, L. de Figueiredo da
Luís Figueiredo da Guerra (1853-1931) era formado em Direito pela
Universidade de Coimbra. Em 1879 abraçou a advocacia e ingressou na magistratura,
sendo delegado, procurador régio e depois juiz nas comarcas de Sesimbra, Ponte da
Barca, Santiago do Cacém, Boticas, Vila Nova de Cerveira, Esposende, Monção e Sertã.
Aposentou-se em 1925. Figueiredo da Guerra foi o primeiro Director da Biblioteca e
Museu Municipais e professor no Liceu de Viana do Castelo. Investigando muitos
temas de história, colaborou activamente no Aurora do Lima entre1876 e 1930.
Escreveu e publicou o Almanaque Esposendense, em 1928 e Os naufrágios da costa de
Esposende, entre muitos outros temas. Publicou muitas obras relacionadas com a sua
actividade de magistrado e de cultura geral. Eis algumas: A estátua calaica do Museu de
41
Arte Regional em Viana do Castelo (1826); Estudos arqueológicos (1877); Viana do
Castelo (1877); Noticia histórica do concelho e vila de Boticas (1911); A Capela de
Santo Abdão na Correlhã (1924); Torres solarengas do Alto Minho (1925); A arte em
Portugal (1928).
HENRIQUES, Guilherme J. C.
Guilherme João Carlos Henriques (1846-1924), de origem inglesa foi historiador
e erudito investigador, tendo reunido importantes documentos sobre a história de
Alenquer. Da sua importante biblioteca coligiu uma valiosa colecção de cartas dirigidas
ao Marechal Saldanha por personalidades do seu tempo. Esta colecção - de que
publicou parte dando os originais à Biblioteca Nacional - constitui a designada
Colecção Camotina, fonte de informação sobre a política da época da implantação do
regime constitucional em Portugal.
Alenquer e o Seu Concelho (1873); Novo guia luso-brasileiro do viajante na
Europa (1876); Inéditos Goesianos (I, 1894); Correspondências do Marechal Duque de
Saldanha (1905-1906); O convento de Nossa Senhora dos Remédios dos Carmelitas
Descalços (1910) são algumas das suas obras.
LEMOS, Maximiano
Maximiano Augusto de Oliveira Lemos Júnior (1860-1923) foi médico
cirurgião e professor universitário. Lente de Medicina Legal, regeu Patologia Geral
onde a História da Medicina era leccionada. Com a criação da cadeira de História da
Medicina, Maximiano Lemos regeu-a até à sua morte. Foi Director da Faculdade de
Medicina (1918-23) e Vice-Reitor da Universidade do Porto (1921). É autor de
Arquivos de História da Medicina Portuguesa; Gazeta dos Hospitais do Porto e da
Gazeta Médica do Porto. Foi Sócio Efectivo e Presidente da Sociedade de Medicina e
Cirurgia do Porto; Sócio Correspondente da Academia das Ciências de Lisboa; da
Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa; da Sociedade Portuguesa de Ciências
Naturais; da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Baía e da Sociedade Alemã de
História da Medicina e das Ciências Naturais de Leipzig.
Deixou uma extensa obra médico-histórica, de que salientamos: Anuário dos
Progressos da Medicina em Portugal (1884); História da Medicina em Portugal -
42
Doutrinas e Instituições(1899); Amato Lusitano - a sua vida e a sua obra (1907);
Zacuto Lusitano - a sua vida e a sua obra (1909); Ribeiro Sanches - a sua vida e a sua
obra (1911); Camilo e os Médicos (1915-1921); História da Medicina Peninsular
(1916); Gomes Coelho e os Médicos(1922); História do Ensino Médico no Porto (1925).
LOBO, A. Costa
António de Sousa da Silva Costa Lobo (1840-1913) era licenciado em Direito,
pela Universidade de Coimbra. Conjugando com a sua carreira política - par do reino,
ministro e conselheiro de estado - foi professor do Curso Superior de Letras; estudioso
da História e do sebastianismo, a sua obra mais conhecida é a História da Sociedade
Portuguesa no Século XV (1903) de que só publicou, em vida, o primeiro volume.
Projectou uma trilogia dramática que resumisse a história de Portugal, da qual veio
apenas a publicar o drama em verso intitulado Afonso de Albuquerque e o auto
dramático Portugal Sebastianista.
Outras obras que nos deixou: O Estado e a Liberdade de Associação (1864);
Afonso de Albuquerque (1886); Descargo da Minha Responsabilidade de Ministro
(1893); Portugal e Miguel Ângelo Buonarróti (1906); História e Prefiguração
Dramática (1909); Origens do Sebastianismo (1909) e Portugal Sebastianista (1909).
MENA Junior
De Antonio César Mena Junior (1859-?), muito pouco conseguimos apurar sobre
este colaborador do Archivo Historico Portuguez. Memória Justificativa das Obras
Executadas na Igreja de São Roque de Lisboa desde 12.10.1893 até 18.07.1894 (1894)
e O Pelourinho de Cintra. Notícia Histórica, são títulos seus.
PESSANHA, D. José de
D. José Maria da Silva Pessanha (1865-1939), crítico de arte e bibliófilo,
historiador do artesanato, com Braamcamp Freire fundou o Archivo Historico
Portuguez.
Algumas obras: A história das indústrias artísticas em Portugal (1889); História
da música (1889); Sobre a Elaboração e publicação do inventário do real arquivo da
Torre do Tombo (1900); A Arquitectura Byzantina (1904); Tapetes de Arraiolos (1906);
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Boletim da Sociedade de Bibliófilos Barbosa Machado, dir. José Pessanha, Martinho da
Fonseca (1910); União dos Produtores de Cortiça Portugueses: ante-projecto (1915);
Coimbra e a arte (1922).
PRESTAGE, Edgar
Edgar Prestage (1869-1951) foi professor de inglês, historiador e grande
divulgador da cultura portuguesa. Tradutor de obras como o Suave Milagre, de Eça de
Queiroz, das Cartas de Mariana Alcoforado e de uma colectânea de sonetos de Antero
de Quental, colaborou em várias revistas de cariz cultural. Casado com uma portuguesa,
em Lisboa conheceu Oliveira Martins que o apresentou a várias personalidades da
cultura, entre as quais Teófilo Braga, Luciano Cordeiro e Jaime Batalha Reis, o que se
revelaria imprescindível para o prosseguimento do seu trabalho, ajudando-o nas suas
traduções. Prestage traduziria, ainda, a Crónica da Guiné que dedicaria a D. Carlos.
Quando voltou a Inglaterra foi ocupar, em 1923, a Camões Chair of Portuguese, criada
no King’s College, da Universidade de Londres. Doutor em Letras pela Universidade de
Oxford foi, também, professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Manchester.
Foi membro da Academia de Ciências de Lisboa e da Sociedade Portuguesa de Estudos
Históricos entre outras instituições de grande prestígio.
Da sua vasta bibliografia salientam-se as obras ligadas à história das relações
diplomáticas na época da restauração da independência de Portugal na península.
Biógrafo de D. Francisco Manuel de Melo, com D. Francisco Manuel de Melo: Esboço
Biográfico (1914).
RAMOS-COELHO, J.
José Ramos-Coelho (1832-1914), autor de uma vasta e diversa obra – da poesia
aos estudos históricos –, colaborou intensamente na revista O Ocidente. Do seu trabalho
na Torre do Tombo sobre as navegações e conquistas portuguesas, resultou Alguns
documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo acerca das Navegações e
Conquistas portuguesas publicados por ordem do Governo de sua majestade
fidelíssima ao celebrar-se a Comemoração quadricentenária do descobrimento da
América (1892). Outros títulos: Á Ilha da Madeira (1898); História do infante D.
Duarte, irmão de el-rei D. João IV, [2 vol., (1889)]; Luís de Camões: 1524?-1580
(1890); Obras poéticas de Ramos-Coelho: contendo as poesias originais publicadas e
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inéditas: as versões de muitas delas pelo Thomaz Cannizzaro: as versões de varias
poesias de Ovidio: e a tradução do poema Jerusalém Libertada, de Torquato Tasso
(1910). Publicou , ainda, Lampejos: poesias (1896); Cambiantes: poesias (1897).
REBELLO, Brito
Jacinto Inácio de Brito Rebelo (1830-1920) era militar de carreira, bibliófilo,
escritor, peleógrafo, historiador e investigador, cujo nome ficou associado à publicação
do Arquivo dos Açores.
Nasceu em Ponta Delgada, vindo a morrer em Lisboa. Membro da Academia das
Ciências de Lisboa, os seus pares 61 lamentaram a morte de um homem erudito,
trabalhador e disciplinado.
Brito Rebelo foi um dos fundadores do jornal Concórdia, publicado no Porto em
1873, e seu redactor principal; esteve na fundação da revista O Ocidente, em 1878;
colaborou em diversos jornais da época, como o Jardim das Damas, o Campeão das
Províncias e Jardim Literário. Manteve correspondência com Inocêncio Francisco da
Silva – sobre os artigos do Diccionario Bibliographico Portuguez; autor de dramas e
poesias e, sobretudo, historiador. Publicou estudos monográficos e artigos em O
Instituto e no Archivo Historico Portuguez; destaque para os estudos dedicados a Gil 61 Academia das Ciências de Lisboa, Sessão de 12 de Fevereiro de 1920: “Presidente : sr. Júlio de Vilhena. Presentes : os sócios efectivos srs. Baptista de Sousa (Visconde de Carnaxide), F. M. Esteves Pereira e David Lopes, vice-secretário da classe ; os sócios correspondentes srs. António Baião, Gustavo Ramos, José Joaquim Nunes, José Maria Rodrigues, Pedro de Azevedo e Vítor Ribeiro. […] O sr. António Baião refere-se à perda que a nossa Academia acaba de sofrer com o falecimento do general Brito Rebelo […]. Companheiro de trabalho na Torre do Tombo durante perto de dezoito anos, onde Brito Rebelo quási era cosiderado como funcionário, pela sua assiduidade, pela sua pontualidade e pelos seus profundos conhecimentos do Arquivo, o sr. Baião recorda-se com infinita saudade do tempo […] se iniciou nas investigações históricas. No mesmo gabinete se juntavam Ramos Coelho […], a regularidade e o método personificados, que ao dar do meio dia inváriavelmente abria a porta, todo correcto no seu fraque preto e chapeu alto, o general Brito Rebelo que nos seus estudos borboletoava, ocupando-se hoje de Albuquerque, amanhã, de Gil Vicente, agora das capelas imperfeitas da Batalha, logo dos navegadores portugueses[…]. Não pretende nestas breves palavras fazer uma resenha[…], dos muitos e variados assuntos a que o nosso falecido consócio dedicou a sua atenção. Erudito como poucos, paleógrafo distintíssimo, o general Brito Rebelo, além das obras que com o seu nome correm, além da colaboração assídua no Arquivo dos Açores e no Arquivo Histórico Português, prestou valioso auxílio a muitos autores nacionais como Sousa Viterbo e Albano da Silveira Pinto […] e a autores estrangeiros como Vignaud, nos seus monumentais trabalhos sobre Colombo e Harisse e na sua obra sobre os Côrte-Reais. Trabalhou até à última, e tanto que a morte o colheu quando elaborava o índice dos volumes das Cartas de Afonso d'Albuquerque, com destino às nossas publicações académicas. Propõe por isso o sr. António Baião que na acta se lance um profundo voto de sentimento por tão irreparável perda […]”. História e Memória da Academia das Ciências de Lisboa, Nova Série, 2ª Classe, Ciências Morais e Políticas e Belas Artes, tomo XIV, Lisboa, Imprensa Nacional, 1922. http://www.archive.org/details/historiaememoria14acadnoft [consultado em 4 de Abril de 2011].
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Vicente (Gil Vicente, colectânea de textos datada de 1902, e Gil Vicente: 1470-1540, de
1912); a Afonso de Albuquerque (Ementas Historicas, I: A edade de Affonso de
Albuquerque, separata de O Instituto, (1896) e a Alexandre Herculano (Em torno de
Alexandre Herculano (1910); em 1903, editou o Livro de Marinharia – Tratado da
Agulha de Marear, de João de Lisboa, importante código quinhentista.
RIBEIRO, Ribeiro
Victor Maximiano Ribeiro (1862-1930) foi arquivista da Santa Casa da
Misericórdia, sabemo-lo pelas suas próprias palavras:
“Em Janeiro de 1910 o Sr. Pereira de Miranda, Provedor da Misericórdia de Lisboa,
tendo reconhecido a necessidade de reorganizar definitivamente o archivo da Casa, até ao
presente alojado em accomodações impróprias e deficientes, resolveu dar começo ás obras
necessárias para apropriar algumas das casas do piso inferior do edifício de São Roque, a salas
com vastidão precisa para nellas se accomodarem os livros e documentos do Archivo, e
incumbiu-me da honrosa mas extenuante tarefa de sua methodica organização”62 .
Alguns dos seus títulos: A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa - Subsídios
para a sua História (1902); Historia da beneficência publica em Portugal (1907) ; As
lotarias da Misericórdia e a Academia das Ciências (Separata de «Boletim da Segunda
Classe» volume VII, Academia das Ciências de Lisboa); (1914); Privilégios de
estrangeiros em Portugal, ingleses, franceses, alemães, flamengos e italianos. Memória
apresentada à Academia das Ciências de Lisboa (1917).
VASCONCELOS, Carolina Michaëlis
Carolina Wilhelme Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925), grande erudita
alemã (nascida em Berlim) que, em 1876, casou com Joaquim Vasconcelos63. A sua
elevada craveira intelectual e as suas investigações desenvolvidas no âmbito da cultura
portuguesa medieval e quinhentista, levaram a que fosse convidada para leccionar numa
universidade, o que se concretizou na de Coimbra, pelo que foi a primeira mulher a
62 Vítor Ribeiro, nota de rodapé do artigo “A vida lisboeta nos séculos XV e XVI, Pequenos quadros documentaes, Peditórios e Pedintes”, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa, 1910, p. 308, que dedica a Braamcamp Freire. 63 Joaquim António da Fonseca Vasconcelos (1849-1936), musicólogo e um dos pioneiros da História da Arte em Portugal.
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fazê-lo. Foi Doutora honoris causa pelas Universidades de Friburgo (1893), Coimbra
(1916) e Hamburgo (1923).
O rei D. Carlos conceder-lhe-ia, em 1901, insígnia de oficial da Ordem de
Santiago da Espada e a Academia das Ciências de Lisboa, mesmo com a oposição de
alguns sócios, admitiu-a, em 1912, como sócia daquela instituição. Carolina Michaëlis
de Vasconcelos publicou mais de 180 títulos, de que destacamos: Poesias de Sá de
Miranda, (1885); História da Literatura Portuguesa, (1897); A Infanta D. Maria de
Portugal e as suas Damas (1521-1577), (1902); Cancioneiro da Ajuda (2 volumes;
1904); Dicionário Etimológico das Línguas Hispânicas; Estudos sobre o Romanceiro
Peninsular: Romances Velhos em Portugal;
As Cem Melhores Poesias Líricas da Língua
Portuguesa, (1914); A Saudade Portuguesa,
(1914); Notas Vicentinas: Preliminares de
uma Edição Crítica das Obras de Gil
Vicente (1920-1922); Autos Portugueses de
Gil Vicente y dela Escuela Vicentina (1922);
Mil Provérbios Portugueses. Dirigiu, ainda,
a revista Lusitânia, de cariz cultural e
publicou muitos artigos nos jornais
Comércio do Porto, sobre o Congresso
Feminista de Berlim e no Primeiro de
Janeiro sobre educação e literatura para
crianças. Doutora Carolina Michaëlis de Vasconcelos64
VITERBO, Sousa
Francisco Marques de Sousa Viterbo (1845-1910) nasceu no Porto e morreu em
Lisboa. Completou estudos no Seminário Episcopal do Porto, vindo, posteriormente, a
matricular-se nas Escolas Médico-Cirurgicas do Porto e de Lisboa, onde se licenciou,
em 1876. Notabilizou-se como poeta e publicou trabalhos em periódicos literários do
64 Retrato de Carolina de Vasconcelos, com capa talar e capelo, podendo ver-se, em fundo, a borla. http://inlimina.wordpress.com/2009/12/157carolina-michaelis [Consultado e retirada a imagem em 26.10.2010].
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Porto (Mundo Elegante; Mosaico; Porto Illustrado), de Lisboa (Boudoir) e de Coimbra
(Folha e Chrysalida).
Sousa Viterbo que foi fundador da Associação de Jornalistas e Escritores
Portugueses (1880), veio a dedicar-se a trabalhos arqueológicos e históricos,
recuperando, por exemplo, importantes dados biográficos de Damião de Góis e Gil
Vicente. Deixou uma vasta obra: Trabalhos Náuticos dos Portugueses nos séculos XVI
e XVII, ainda hoje indispensável para os estudiosos do tema; Arte e Artistas em Portugal
e Contribuição para a História das Artes e Indústrias Portuguesas são apenas três dos
seus títulos. Foi pioneiro no uso da expressão arqueologia industrial.
2. Autores Precedentes no Archivo Historico Portuguez
FERREIRA, Francisco Leitão
Francisco Leitão Ferreira (1667-1735) seguiu a vida eclesiástica e ordenou-se
presbítero, celebrando a primeira missa na Igreja do Loreto da Nação Italiana em Lisboa,
onde foi pároco por trinta anos.
Dominava o latim, o grego, o italiano e o francês; conhecedor de temas tão
diversos como a Mitologia, a Iconografia, a Epigrafia e a História Eclesiástica e Secular.
Foi poeta e historiador, membro da Academia Real de História Portuguesa. De entre as
muitas obras que deixou, assinalamos: Nova arte de conceitos que com o titulo de
Lições académicas na pública Academia dos Anónimos de Lisboa, ditava e
explicava (1718-1821); Catálogo cronológico-crítico dos bispos de Coimbra (1720);
Notícias Cronológicas da Universidade de Coimbra (1729) e a biografia de André de
Resende que não concluiu.
GARRETT, Almeida
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett65 (1799-1854), de elevada
craveira intelectual, é um dos grandes nomes da cultura portuguesa, escritor e
dramaturgo romântico, movimento que introduziu em Portugal.
Grande impulsionador e reformador do teatro em Portugal propôs a edificação
do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório. Nomeado cronista-mor 65 Por decreto de D. Pedro V, de 25 de Junho de 1851, Garrett é feito Visconde de Almeida Garrett.
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do Reino, organizou, logo no princípio de 1839, um curso de leituras públicas de
História. Em 1843, começou a publicar, na Revista Universal Lisbonense, as Viagens na
Minha Terra. Anteriormente, tinha lido no Conservatório Nacional uma memória em
que apresentou a peça de teatro Frei Luís de Sousa, fazendo a primeira leitura do drama.
Escreveu teatro, poesia, prosa que exemplificamos com: O Retrato de Vénus (1821);
Catão (1822 e 1830); Camões (1825); D.Branca (1826) - poemas geralmente
considerados como as primeiras obras da literatura romântica em Portugal - Flores sem
Fruto (1845); Folhas Caídas, (1853); O Alfageme de Santarém ou A Espada do
Condestável (1842); Um Auto de Gil Vicente (1842); Bosquejo da História da Poesia e
da Língua Portuguesa (1826) Romanceiro e Cancioneiro Geral (vol. I, 1843); O Arco
de Sant’Ana, (vol. I, 1845); Viagens na Minha Terra, (2 vols., 1846); O Arco de
Sant’Ana, (2 vols., 1850); Romanceiro e Cancioneiro Geral, (vol I, 1843; vols, II e III,
1851).
Fundou e dirigiu o jornal diário O Português (1826-1827), o semanário O
Cronista (1827) e o jornal Regeneração (1851).
Almeida Garrett participou na revolução de 1820 66 e foi presença nas lutas
liberais. Todavia, após a Vilafrancada67 exilar-se-ia em Inglaterra. Posteriormente, viveu
em França, regressando a Portugal em 1826.
66 Muito jovem ainda, Garrett aderiu aos ideais revolucionários liberais, tendo participado, activamente, na designada Revolução Liberal do Porto, de feição liberalista. 67 Este levantamento levou-o ao exílio político em Inglaterra, vivenciando o Movimento Romântico, redescobrindo o poeta e dramaturgo William Shakespeare (1564 –1616) ou o escocês Sir Walter Scott (1771-1832) seu contemporâneo e que desenvolveu a narrativa de carácter histórico; Os castelos feudais, as abadias góticas, as igrejas que percorreu, haveriam de reflectir-se na sua admirável obra literária, recheada de artigos, ensaios, biografias, peças teatrais, poesia. Garrett partiu para o exílio após a Vilafrancada – [a insurreição liderada pelo Infante D. Miguel, insurgindo-se contra o Liberalismo (Vila Franca de Xira, 27 de Maio de 1823)] – voltando a Portugal no ano de 1826. (Pelo meio ficava uma nova revolta política, de carácter absolutista , liderada por D. Miguel – a Abrilada –a 30 de Abril de 1824; Dominada a sublevação, D. Miguel foi obrigado a embarcar, com destino a França pondo-se fim à revolta miguelista). Todavia, após o regresso do Absolutismo e de D. Miguel, em 1828, Almeida Garrett partiu, de novo, para Inglaterra. Mais tarde, participaria naquele que foi um dos mais importantes acontecimentos das Lutas Liberais. Juntamente com Alexandre Herculano (1810-1877) e Joaquim António de Aguiar (estadista, [1792-1884]) tomou parte no Desembarque do Mindelo – que trouxe de volta a Portugal D. Pedro (IV) - e no Cerco do Porto. Organizados no exílio e nos Açores, os Liberais coadjuvados pelos 7500 homens que uma armada de 60 navios fez desembarcar nas praias do Mindelo, a 8 de Julho de 1832, apanharam de surpresa as forças miguelistas. No dia seguinte, o exército liberal estava às portas da cidade do Porto. Contudo, este Cerco do Porto – como ficou conhecido – prolongou-se de Julho de 1832 a Agosto de 1833, com as tropas de D. Pedro sitiadas pelas forças miguelistas. Mas a causa Liberal sairia vitoriosa. Vitória que ficou, assim, a dever-se às tropas de D. Pedro (também dizimadas pela cólera e pelo tifo). Terminava a Guerra Civil (1828-1834). Isabel Nobre Vargues, “O processo de formação do primeiro movimento liberal: a Revolução de 1820”;. Isabel Nobre Vargues; Luís Reis Torgal, “Da Revolução à Contra-Revolução: Vintismo, Cartismo,
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GOIS, Damião de
Damião de Góis (1502-1574), cronista que nasceu em Alenquer, de família
nobre flamenga. Devido à morte do seu pai, Damião de Góis viveu 10 anos da sua
infância na corte de D. Manuel I como moço de câmara. Em 1523 foi colocado por D.
João III como secretário da Feitoria Portuguesa de Antuérpia; cumpriu várias missões
diplomáticas e comerciais na Europa entre 1528 e 1531 e em 1533 abandonou o serviço
da coroa portuguesa. Em 1534, em Basileia convive com o, também, humanista
holandês Desiderius Eramus, de quem ficou amigo íntimo e que o orientou nos seus
estudos e nos seus escritos. Estudou em Pádua entre 1534 e 1538 onde foi
contemporâneo dos humanistas venezianos Pietro Bembo (1470-1547) (gramático,
escritor, humanista, historiador e cardeal) e Lazzaro Buonamico (1479-1552)
(professor). Damião de Góis, considerado o maior humanista português e um dos
maiores na Europa, além de Erasmo, conviveu com Lutero e muitas outras
personalidades da vida política e cultural da Europa do século XVI. Viveu cerca de seis
anos em Lovaina (Bélgica).
Damião de Góis foi feito prisioneiro durante a invasão francesa da Flandres,
mas foi libertado pela intervenção de Dom João III que o trouxe para Portugal. Em 1548
foi nomeado guarda-mor dos Arquivos Reais da Torre do Tombo e dez anos mais tarde
foi escolhido pelo cardeal D. Henrique para escrever a crónica oficial do rei D. Manuel I,
acabada em 1567. Em 1571, Damião de Góis foi perseguido e preso pela Inquisição por
suspeitas de heresia. Torturado, sujeito a processo inquisitorial, em1572, foi levado para
o Mosteiro da Batalha. Em 30 de Janeiro de 1574 apareceu morto, na casa onde vivia,
em Alenquer, suspeitando-se que tenha sido assassinado. Foi a enterrar na igreja de
Santa Maria da Várzea, da mesma vila.
As suas maiores obras são históricas: em português, incluem a Crónica do
Felicíssimo Rei Dom Emanuel (1566-1567) e a Crónica do Príncipe Dom João (1567),
(mais tarde D. João III); Em latim, Legatio Magni Indorum Imperatoris Presbyteri
Joannis (1532); Fides, Religio, Moresque Aethiopium (1540); Aliquot Opuscula (1544);
Commentarii Rerum Gestarum in India, Citra Gangem a Lusitanis Anno 1538 (1539);
Urbis Lovaniensis Obsidio (1546); De Bello Cambaico Ultimo (1549); Urbis Olisiponis
Descriptio (1554).
Absolutismo. O Exílio Político”. História de Portugal, dir. José Mattoso, vol. V, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993, pp 50-63; pp. 65-87.
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HERCULANO, Alexandre
Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (1810-1877), figura superlativa da
elite cultural portuguesa – historiador, autor de teatro, poesia, romance, romance
histórico – reputado escritor do Romantismo, a ele se deve, igualmente, a introdução da
narrativa histórica, onde se conjugam o historiar e as aventuras imaginárias, ou baseadas
na realidade e reconstruindo uma época, de que o seu romance histórico Eurico o
Presbítero é exemplo maior. Todavia, é
como historiador que o seu nome se
guinda ao firmamento da cultura
nacional, com a sua História de
Portugal: Da origem da monarquia até
D. Afonso III, trabalho com o qual
introduziu a historiografia científica em
Portugal, procedimento intelectual que
levantou algumas polémicas68, mas que
lhe trouxe o reconhecimento da
comunidade científica. A Academia das
Ciências de Lisboa nomeá-lo-ia seu
sócio efectivo e a encarregá-lo-ia do
projecto de recolha dos Portugaliae
Monumenta Historica69 projecto que Alexandre Herculano 70
levou por diante nos anos seguintes. Igualmente, a Real Academia das Ciências de
Munique fa-lo-á seu sócio correspondente da Secção Histórica.
Considera-se, assim que em Herculano radica a moderna história, tal como a
entendemos; curiosamente a temática dos Descobrimentos não lhe mereceu a maior
das atenções.
68 Os meios conservadores, entre os quais, naturalmente o clero, insurgir-se-iam contra o facto de Herculano não dar como verdade histórica o conhecido Milagre de Ourique. 69 Trata-se da recolha de valiosos documentos medievais, do século VII ao século XV, dispersos pelos cartórios conventuais do país. 70 Retrato e assinatura fac-simile de Alexandre Herculano que figura no anterrosto da sua História de Portugal: Da origem da monarquia até D. Afonso III (1846-1853). (Na 8ª edição, dirigida por David Lopes, 1875). http:// purl. pt (Biblioteca Nacional Digital, obras digitalizadas; [consultado e retirada a imagem, em 29 de Novembro de 2010]). Imagem de Herculano segundo um quadro do pintor José Rodrigues de Carvalho (1826-1887).
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Da sua imensa obra – na qual se percebe o seu gosto pela Idade Média –
salientamos a já citada História de Portugal:Da origem da monarquia até D. Afonso III
(1846-1853); História das Origens e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-
1859) e Portugaliae Monumenta Historica (1856-1873); Opúsculos (I a X); Poemas, A
Voz do Profeta (1836) e A Harpa do Crente (1838). Romance: O Pároco de Aldeia
(1825); Romance: O Pároco de Aldeia (1825); Os romances históricos, O Bobo (1843);
Eurico o Presbítero (1844); O Monge de Cister (1848); Lendas e narrativas (1851) e as
peças de teatro, O Fronteiro de África ou três noites aziagas (drama histórico) e Os
Infantes em Ceuta (1842).
Alexandre Herculano fez parte do grupo dos exilados que partiam por
incompatibilidade com a política de D. Miguel. Exilado em França voltou a Portugal
em 1832, participando – como atrás referimos – nas Lutas Liberais, após o que,
recusando quaisquer honras ou lugares de Estado, preferiu retirar-se para a quietude da
sua quinta de Vale de Lobos (Santarém), onde viria a falecer.
RESENDE, André
Lucius Andreas Resendiu – Frei André de Resende (1500-1573), dominicano,
teólogo e intelectual, grande pensador humanista.
Sabendo-se que nasceu e morreu em Évora e o nome dos seus progenitores é,
porém, incerta a data em que professou no Convento de São Domingos de Évora, mas
teria sido por volta dos dez anos, segundo Braamcamp Freire que fez um exaustivo
levantamento da cronologia de Resende71. Em 1513 e por pouco tempo, terá estudado
na Universidade de Alcalá e, posteriormente, em 1518, na de Salamanca. Entre esse ano
e o de 1526, terá viajado para Marselha e, em Aix, recebido ordens de diácono, ano em
que terá vindo a Portugal, não obstante, de novo partir para França, ou Flandres,
aportando à Galiza e seguindo para a Holanda. Em 1527 estava em Paris, frequentando
a sua Universidade, estudando grego e, em 1529 em Lovaina. Entretanto dava azo às
suas faculdades intelectuais desenvolvendo a sua obra. Em 1531 passou a residir em
Bruxelas, na casa do embaixador português, D. Pedro Mascarenhas, junto da corte de
Carlos V, fazendo parte da comitiva daquele. Em 1533 veio, definitivamente, para
71 “Cronologia Resendiana”, Archivo Historico Portuguez, vol. IX, Lisboa, 1914, pp. 323-334. Nesta podem colher-se muitas informações, como os datas e títulos das suas obras; datas dos seus sermões; de vários acontecimentos; de pessoas com que conviveu (como Erasmo) ou que lhe foram coevas.
52
Portugal, época em que iniciou um novo ciclo da sua vida e da sua obra. Entre 1542 a
1546, recebeu o grau de doutor, na Sé de Évora e, em 1551, temo-lo mestre de Letras
Humanas, na Universidade de Coimbra (Colégio Real das Artes). Aqui ficam algumas
das suas obras: em português: História da Antiguidade de Évora (1553); Fala que
Mestre André de Resende fez a El-Rei D. Sebastião (1576) e Vida do Infante D. Duarte
(1789)72. Em latim: Narratio rerum gestarum in Índia a Lusitanis, (1530); Erasmi
Encomium (1531); Genethliacon Principis Lusitani ut in Gallia Belgica celebratum est
a viro clarissi. D. Petro Mascaregna regia legato (1533); Oratio pro rostris
pronunciata in Olisiponensi Academia (1534); Ad Damianum Goium (1535);
Vincentius Levita et Martyr (1545); Epistolæ tres carmine (1561).
Os seus restos mortais repousam na Sé de Évora, para onde foram trasladados
em 1839.
RHODIUS, Henemannus
Henemannus Rhodius, autor do poema, escrito em latim que figura na pag. 262,
do vol. IX, dele quase nada conseguimos saber, somente que foi preposite73 da cidade
letã de Riga – ou seja, funcionário eleito pelo rei para administrar económica e
judiciariamente o domínio que lhe foi destinado. Apurámos que, em 1531, esteve em
Lovaina e que se correspondeu74 com Joannes Dantiscus (1485-1548), bispo polaco,
figura académica e da cultura europeia renascentista.
Faleceu depois do ano de 1533.
ROTERDÃO, Erasmus Desiderius
Erasmus Roterodamus, ou Erasmo de Roterdão (1466-1536), teólogo e o mais
notável humanista do século XVI, defensor da reforma da Igreja e de uma sociedade
baseada na mensagem cristã. Estudou na Holanda, onde nasceu e em Paris, mas
72 Esta obra ficou inédita até 1789, altura em que o abade José Correia da Serra (1750-1823), da Academia das Ciências de Lisboa, a publicou. 73 Preposite – o termo vem do latim praepositus, reitor, designação usada na Idade Média e no Ancien Regime; uma espécie de superintendente, ou perfeito da cidade. 74 São conhecidas duas cartas de Rhodius dirigidas a J. Dantiscus, de 15 de Janeiro de 1532 e de 13 de Abril de 1533, ambas enviadas de Dalia. http://dantiscus.ib.uw.edu.pl [Consultado em 6 e 7 de Abril de 2011]. (Dalia, supomos ser o nome latinizado de Dalsland, província sueca).
53
desenvolveu a sua actividade, também em Lovaina, Basileia – cidade Suiça onde viria a
falecer – e na Inglaterra de Henrique VIII (1491-1547), tendo sido amigo de Thomas
More (1478-1535) a quem dedicou o seu mais conhecido livro Elogio da Loucura, de
teor reformista e crítico da sociedade e da Igreja. As traduções e edições dos seus
trabalhos provam o prestígio de que é, ainda nos nossos dias, credor.
Erasmo foi um homem cultíssimo, amigo de outros notáveis da época, como
Damião de Góis.
TENTÚGAL, Conde de
Francisco de Melo (1520-1588), 2.º conde de Tentúgal e 2.º marquês de Ferreira.
Aquele título foi criado por D. Manuel I, por carta de 1 de Janeiro de 1504, a favor de
D. Rodrigo de Melo, um nobre aparentado com a Casa de Bragança.
No que respeita a trabalho que poderá ter desenvolvido, apenas lhe conhecemos
o que consta no vol. IX, Itemis comtra os erros da Chronica.
54
IV
As Revistas de História: produção e inovação intelectual
Em Portugal, as alterações sociais e políticas advindas do estabelecimento do
Regime Liberal (1834) não acompanharam o sistema de educação, pelo que o caminho
da alfabetização foi moroso, sendo que numa população de maioria iletrada não havia
hábitos, nem prazeres de leitura. Eram precisas resoluções, pelo que com o objectivo de
escolarizar o povo e combater a falta de saber, quatro espécies de publicações, dirigidas
a diferentes segmentos populacionais, se destacavam: “Os periódicos de conhecimentos
úteis, as revistas “pitorescas” e de recreio, as colecções de pequenos livrinhos de
educação popular e os livros escolares.”75 Generalizavam-se as revistas, de conteúdo
cultural e recreativo, com um significativo número de exemplares.
Na sequência do desenvolvimento da Ciência, no século XIX, a História
populariza-se, propala-se, sendo que a esta conquista, também, não são estranhas as
transformações culturais e políticas que a Revolução Industrial originou; as reformas
políticas e um maior sentido dos indivíduos dos seus direitos; novas profissões e o
aumento progressivo da instrução pública e, consequentemente, da alfabetização, (a
História passa a ser tida como disciplina escolar, pelo que surgem os livros de adequado
conteúdo), dão azo a um maior desenvolvimento das actividades do historiador
profissional e à fixação de normas para a execução dos textos históricos. As
modificações que se fizeram sentir acabariam por fazer renascer, por despertar o
interesse, a curiosidade, pela memória histórica.
Por outro lado, o progresso das ciências – experimentais, sociais ou humanas –
levaram a que as revistas passassem a ter uma crescente importância. Nesta época – no
que à história concerne – dois tipos de publicações periódicas nos importam: as
generalistas que o sendo, não deixam de inserir textos historiográficos e as
especializadas.
Das primeiras, enumeramos algumas, dadas à estampa entre meados do século
XIX e os anos 20 do século seguinte:
75 Sérgio Campos Matos, Historiografia e Memória Nacional, (1846-1898), Lisboa, Edições Colibri, 1998, p. 140.
55
� O Recreio (1835-1842); � O Historiador (Lisboa, 1840); � Revista Universal Lisbonense (Lisboa, 1841-1953), dirigida por António
Feliciano de Castilho; � O Panorama (1837-1868), dirigida por Alexandre Herculano; � O Instituto (Coimbra, 1853-1981); � O Arquivo Pitoresco (Lisboa, 1857-1868)76; � Os Dois Mundos (1877-1881)77; � O Ocidente (1878-1915)78; � Revista de Guimarães (1884- )79; � Revista Lusitana (Lisboa, 1889-1943); dirigida por J. Leite de Vasconcelos80; � Ilustração Transmontana (Porto, 1908-1910); � Seara Nova (Lisboa, 1921-)81; � Lusitânia (Lisboa, 1924-1927), dirigida por Carolina Michaëlis de Vasconcelos82;
76 De O Arquivo Pitoresco publicaram-se 11 volumes; o vol, 12º é o Anuário do Arquivo Pitoresco. 77 Embora não se publicando em Portugal, mas em Paris, (fundada e dirigida por Salomão Bensabat Saragga, [1842-1900]; especialista em hebraísmo) esta revista ilustrada e de grande formato, destinava-se ao público de língua portuguesa – a Portugal e ao Brasil. Oliveira Martins nela fez publicar extractos da sua História de Portugal e outros trabalhos. Eça de Queirós referi-se-lhe-á, no seu romance Os Maias (1888): “Foi uma dessas manhãs que preguiçando assim no sofá com a Revista dos Dois Mundos na mão […]”. Eça de Queirós, Os Maias, Lisboa, Circulo de Leitores, 1980, p.97; e, “Que estúpidas horas Carlos ali arrastara, com a Revistas dos Dois Mundos […]”. Idem, ibidem, p.659. 78 Sérgio Campos Matos refere-se deste modo: “Lugar à parte ocupou a revista ilustrada O Ocidente, não apenas pelo lugar destacado que consagrou à memória nacional e à memória local, mas pela qualidade dos textos e gravuras que nela foram publicados. […] Os seus directores […] marcaram profundamente esta excepcional experiência editorial. […] de difusão cultural e artística, O Ocidente prestou durante largas décadas serviço inestimável à cultura nacional. Ainda hoje a revista constitui fonte imprescindível para o estudo da sociedade portuguesa e da cultura histórica da sua época”. Historiografia e Memória Nacional, (1846-1898), Lisboa, Colibri, 1998, p. 147
79 Órgão da Sociedade Martins Sarmento, a Revista de Guimarães começou a publicar-se em fascículos trimestrais, tornando-se numa referência cultural. Após trinta anos de existência, deixou de se publicar por um período de sete anos; em 1921, a Revista de Guimarães retomou a sua publicação, mantendo uma presença ininterrupta até aos nossos dias. Casa de Sarmento – Centro de Estudos do Património. http://www.csarmento.uminho.pt/ndat _61. asp [Consultado em 31 de Outubro de 2010].
80José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo, (1858-1941), linguista, filólogo, arqueólogo e etnógrafo.
Publicou 38 volumes da Revista Lusitana entre 1889 (o vol. I tem a data de 1887-89) e 1943: o último volume, já póstumo, saiu com a data de 1940-1943, tendo sido, grande parte, preparado por Leite Vasconcelos. Em meio século, a revista manteve um ritmo de periodicidade notável, especialmente nos períodos compreendidos entre 1905 e 1920 e entre 1929 e 1939, em que foi, rigorosamente, anual. http://cvc.instituto-camoes.pt/.../revistalusitana/index.html [Consultado em 29 de Outubro de 2010]. Veja- se a homenagem prestada pelo Museu Nacional de Arqueologia que toma o seu epíteto “Do Doutor Leite de Vasconcelos na passagem do 150º aniversário do seu nascimento”. José Leite de Vasconcelos. Fotobiografia. Dir. Luís Raposo, Lisboa, Editorial Verbo, Museu Nacional de Arqueologia, 2008.
81 Mantém -se até hoje, mas anos de mudanças e diversidades fizeram com que perdesse a importância de que já gozou e, agora, pouco significa enquanto movimento social influente.
82 Fundada e por si dirigida, na fase inicial, a revista Lusitânia de Estudos Portugueses foi uma das mais importantes revistas do seu género publicadas em Portugal, na qual abundam valiosos estudos históricos, literários, artísticos, etc., assinados por alguns dos intelectuais portugueses de maior prestígio; publicada entre Janeiro de 1924 e Outubro de 1927; constituíram-na dez números, em 4 volumes.
56
� Biblos (Coimbra, 1925); Faculdade de Letras da Faculdade de Coimbra83.
Quanto às revistas que integravam além de um núcleo de matérias específicas,
como a arqueologia e os textos generalistas, mas que não deixavam de dar a sua
contribuição para a História, podemos exemplificar com:
� O Arqueólogo Português (Lisboa, 1895-1938)84; � Revista Arqueológica e Histórica (Lisboa, 1887-1890); � O Tripeiro (Porto, 1908-1955).
Já no século XX aparecem as seguintes revistas – novidades historiográficas –
especializadas na História:
� Archivo Historico Portuguez (Lisboa, 1903-1916); � Revista de História (Lisboa, 1912-1928); � Ronda da História (Lisboa, 1912-1923).
Surgiam, então, as revistas científicas, revistas especializadas, em que os assuntos
eram menos diversificados e que se destinavam a um público restrito – universitário,
instruído e erudito – em que as matérias tratadas tinham um carácter científico, já que
não mais se escrevia a História sem base documental, sem rigorosa crítica e avaliação
das fontes que o historiador descodificava, interpretava e descrevia. Assim, cabia-lhe a
compreensão das fontes documentais, ou outras, reuni-las metodicamente em relação
aos acontecimentos e estabelecer a sua analogia.
No que respeita à Universidade, a primeira revista universitária de História foi a
designada Revista de Estudos Históricos, dirigida por Damião Peres 85 , e em que
colaboraram vários historiadores, mas de duração efémera (1924-1926); para além desta
e, em 1923, saía um primeiro volume do Arquivo de História e Bibliografia e um
83 Continua a publicar-se. 84 Teve novas séries até ao ano de 1972. 85 Damião António Peres (1889-1976), professor liceal e, depois, das Faculdades de Letras das Universidades do Porto (1919-1928) e de Coimbra (1931-1959); notável historiador veio a ser doutorado honoris causa pelas universidades de Montpellier e Bordéus; membro da Academia das Ciências de Lisboa e fundador da Academia Portuguesa da História. Autor de uma dilatada obra, podemos citar Como Nasceu Portugal; História dos Descobrimentos Portugueses (1943); Portugal na História da Civilização (1946) e Pedro Álvares Cabral e o Descobrimento do Brasil (1959). Dirigiu ainda a História de Portugal (1928-1954), dita de Barcelos.
57
segundo em 1926, publicada por Joaquim de Carvalho 86 que, embora da área da
Filosofia, detinha um considerável trabalho no domínio da história da cultura.
Bem mais tarde, dar-se-ia um repentino aparecimento de vários tipos de revistas
históricas, embora muitos desses títulos viessem a ter uma curta vida. Não deixando de
trazer novos olhares sobre a história, deveriam ser vistas tendo em conta as suas
qualidades constitutivas e as suas características.
No século XX, as diversas correntes de renovação historiográfica, procurando o
debate, agrupar-se-iam em torno de revistas de grande aporte científico como a Past and
Present,87 e Annales.88
86 Joaquim de Carvalho (1892-1958), professor de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e aí formado em Direito (1914) e, depois, em Filosofia (1915), começou a sua carreira universitária como assistente em Filosofia (1916) e doutorou-se em Filosofia na mesma faculdade, em 1917. Director da Imprensa da Universidade de Coimbra, promoveu incontáveis publicações e encorajou a investigação, especialmente no que respeita à história da ciência e dos pensadores portugueses. Estudioso, entre outros, de Espinosa tornar-se-ia dele um especialista de reputação internacional. Foi na cultura portuguesa contemporânea, uma das primeiras figuras do século XX a optar pela especialização universitária enquanto modo de intervenção no espaço público. http://cvc.instituto-camoes.pt/figuras/joaquimdecarvalho.htm [Consultado em 10 de Novembro de 2010]. 87 Esta publicação – Past and Present – pioneira no desenvolvimento da história social, foi fundada em 1952 e é publicada pela Oxford University Press. 88 A chamada Escola dos Annales foi um movimento histórico que se constituiu em torno da revista Les Annales d´Histoire Économique et Sociale, fundada por Marc Léopold Benjamim Bloch [(1868-1944); morto pelos nazis, durante a Segunda Guerra.] e por Lucien Paul Victor Febvre (1878-1956), no ano de 1929. Reprovando a escola positivista – que privilegiava a erudição e a dimensão política, dando ênfase ao acontecimento – propunha-se ir além desta visão positivista da história como crónica de acontecimentos (histoire événementielle), substituindo o tempo breve da história dos acontecimentos pelos processos de longa duração, com a finalidade de tornar compreensíveis as civilizações e as suas formas de pensar. Deste modo, esta nova forma de pensar e fazer a história, esta revolução levada a cabo pelos Annales rejeita o acontecimento e insiste na longa duração, favorecendo e alargando as pesquisas ao estudo de outras áreas das ciências sociais, à época, pouco investigadas, como a Psicologia, a Sociologia ou a Economia, como tal, a actividade económica, a organização social e a psicologia plural, em detrimento dos factores políticos, aproximando a História das outras ciência humanas, privilegiando o procedimento interdisciplinar. É, então, neste contexto que surge uma nova concepção de história – a designada nouvelle histoire, um novo conceito que conjuga o estudo das épocas, com as estruturas particulares. “ […] o paradigma dos Annales reivindica uma história global – ou total – , conceito do qual se deduz, […] uma recusa e uma convicção.
• Uma recusa à constituição de saberes demasiado restritos e parcelares, no interior das disciplinas; • Uma convicção, de que, nas abordagens do social, devem existir uma coerência e uma
convergência e que a integração das ciências sociais é possível e, portanto, necessária.” (Amado Mendes, apud Jacques Revel, in A História como Ciência - Fontes, Metodologia e Teorização, Coimbra, Combra Editora, 1993, p. 75).
Impossível é não falar em Fernand Braudel (1902-1985), um dos mais prestigiados historiadores do século XX e um dos mais importantes representantes dos Annales de que foi director, posteriormente a Febvre, seu mestre, seu amigo. A sua obra maior – livro de uma vida – é O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Felipe II, onde a reflexão da dialéctica espaço/tempo o leva a conceber a pluralidade das durações, inovando a metodologia da forma e chegando à “decomposição da história em planos sobrepostos. […] à distinção, da história, de um tempo geográfico, de um tempo social, de um tempo individual.” Escritos sobre a História, “Os tempos da História, O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II”, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1997, p. 19. (Escritos sobre a História, Lisboa, Pub. D. Quixote, 1997, 227 p. foi objecto de análise e tema do nosso trabalho Braudel
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Em meados daquele século já a História tinha adquirido um inegável estatuto
científico. Com a segunda geração dos Annales surge Braudel que contribuiu,
decisivamente, para a nova maneira de olhar e fazer a História – global, integrada na
longa duração das civilizações e receptiva, aberta, às outras ciências e elevando o seu
estudo a ciência social. No seu O Mediterrâneo quem o protagoniza não é o rei Filipe II,
mas o espaço marítimo e privilegiando a longa duração em detrimento do tempo curto
da história dos acontecimentos, rasgando-lhe horizontes. E, entre nós, já se publicavam
com regularidade a Biblos (fundada em 1927), a Revista da Faculdade de Letras de
Lisboa (fundada em 1933), a Revista Portuguesa de História (fundada em 1941) e um
tempo depois, em 1965, saiu o primeiro número de Do Tempo e da História, publicação
do então Centro de Estudos Históricos, anexo à Faculdade de Letras de Lisboa, tutelado
pelo Instituto para a Alta Cultura, de que é sucessor o actual Centro de História da
Faculdade de Letras de Lisboa.
e Escritos sobre a História – Análise, para a disciplina da licenciatura de Teoria da História e do Conhecimento Histórico II, leccionada pelo Prof. Doutor Luis Filipe Barreto, em Julho de 2005).
59
CLIO
Revista do Centro de História da Faculdade de Letras de Lisboa89
89 Frontispício da Clio, a moderna revista de História, do Centro de História da Faculdade de Letras de Lisboa. Clio, Nova Série, vol. 6, dir. João Medina, Lisboa, Centro de História, 2002. http://www.fl.ul.pt/unidades/centro/historia/Revista%20clio.html [Consultado e retirada a imagem em 17 Junho 2011]. Ilustra a capa, a chegada e desembarque na costa americana, um trabalho do belga Theodore de Bry (1528-1598).
60
ANSELMO BRAAMCAMP FREIRE
Revista Ilustração Portuguesa90
90 Braamcamp Freire capa da revista Ilustração Portuguesa, aquando de uma entrevista que foi feita em sua casa, na época em que era presidente da Assembleia Nacional. Esta revista era edição semanal do jornal O Século (1880-1978) e a reportagem, de Rocha Martins, saiu no nº 284, de 31 de Julho de 1911, pp.144-151. http://braamcampfreire.blogspot.com [Consultado e retirada a imagem em 16 de Novembro de 2010].
61
V
A ESCRITA DA HISTÓRIA 1. A História, ciência social
1.1 Os Eruditos
A História enquanto ciência era produzida por uma elite intelectual, de que a
obra máxima de Alexandre Herculano, História de Portugal – que introduz a
historiografia científica em Portugal – é paradigma. De facto, os fazedores da História –
os chamados eruditos – eram pessoas com profundos e vastos conhecimentos, mas,
muitos deles, sem formação específica: autodidactas e de muito diferentes profissões:
escritores, jornalistas, políticos, magistrados…
“E, assim, do magistrado surgiu o historiador. Mas a seriedade com que Gama Barros
estudava as questões e as procurava resolver, o seu pendor para a investigação meticulosa e fiel,
haviam fatalmente de o levar a aprofundar o estudo das origens. E o historiador torna-se
medievalista” 91.
Verificamos que, a exemplo de Gama Barros 92 , outras figuras 93 da
intelectualidade portuguesa – alguns dos mais destacados construtores da história –
91 J. Amado Mendes, “Desenvolvimento e estruturação da historiografia portuguesa – Os historiadores e as suas circunstâncias”, História da História em Portugal, Sécs. XIX- XX, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996, p. 186, apud Torquato de Sousa Soares, “Introdução a História da administração pública em Portugal nos séculos XII a XV”, de Gama Barros, t. I, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1945, p. IX-LXXIV. 92
Henrique da Gama Barros (1833-1925), formado em direito pela Universidade de Coimbra, em 1854, foi governador civil de Lisboa, presidente do Tribunal de Contas e par do Reino; escreveu a Historia da Administração Publica em Portugal nos séculos XII a XV, excepcional obra da história do direito. 93 Luís Augusto Rebelo da Silva (1822-1871); deputado, par do Reino, ministro; investigador e divulgador da história leccionou-a no curso Superior de Letras. Deixou uma larga obra como escritor, historiador, periodista. Uma das suas obras de referência é a História de Portugal nos Séculos XVII e XVIII [cuja edição facsimilada, Jorge Borges de Macedo (1921-1996) prefaciou: A História de Portugal nos séculos XVII e XVIII e o seu autor, introdução à edição fac-similada da obra de Rebelo da Silva, 6 vols., Lisboa, Imprensa Nacional, 1971, pp. 7-130]; Memória sobre a População e a Agricultura em Portugal, desde a Fundação da Monarquia até 1865. (1868); A Casa dos Fantasmas (Vol. I e II); Varões Ilustres; Ódio Velho Não Cansa e Rauço por Homizio são outras das suas obras. António de Sousa da Silva Costa Lobo (1840-1913), licenciado em Direito, pela Universidade de Coimbra, leccionou no Curso Superior de Letras; par do reino vitalício; ministro dos Negócios Estrangeiros. A sua obra mais significativa é História da Sociedade em Portugal no Século XV (1903). Fortunato de Almeida Pereira de Andrade (1869-1933), bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, investigador da História, com abundante
62
como se lhes refere Amado Mendes, seduzidas por esta ciência social estudaram
assuntos diversos, divulgaram fontes. Quem os estuda, aos historiadores eruditos,
encontra, entre eles, incontestáveis diferenças: mais ou menos meticulosos, analíticos ou
sintéticos, menos ou mais rigorosos, partilhando, porém, uma característica: a enorme
evidência que deram às fontes – já publicadas ou não – a exactidão da crítica do
documento e privilegiando a informação pormenorizada, cingindo-se aos factos:
“Como se poderá deduzir do que fica exposto, apesar das óbvias diferenças entre os
diversos historiadores eruditos, acabados de analisar, algo de comum os une: o grande relevo
atribuído às fontes – inéditas e/ou publicadas – que utilizam, o rigor da critica do documento e o
privilégio dado à informação predominantemente descritiva e factual, em detrimento da
problematização e da explicação. Assim, e não obstante a erudição poder ser associada, como se
disse já à idade de maioridade da história (Borges de Macedo), ela é apenas condição necessária,
mas não suficiente, da história como ciência. […] a erudição é apenas o começo […]”94.
Houve, então, uma plêiade de homens decididos a desenvolver e a propagar a
memória da História Pátria, de forma sistemática e dirigida a um público alargado. A
História, de facto, generaliza-se, mas entregue a curiosos do fenómeno histórico, a
autores de matérias científicas ou filosóficas, a políticos, a escritores, facto a que já
aludimos. A História e a historiografia eram uma não especialidade; os autores que a
divulgavam não tinham, na sua maioria, preparação específica.
1.2 Os Especialistas
Consoante progrediam os estudos históricos, no século XIX, século a que
Jacques Le Goff chamou o da História – “O século XIX, século da história […]”95 – a
produção historiográfica, veio a ser professor liceal daquela matéria. Autor de uma História de Portugal [(1922-1929), reeditada em três volumes pela Editorial Bertrand, Lisboa, 2005] – árduo trabalho de investigação que narra o desenrolar dos acontecimentos desde a origem ancestral de Portugal até ao reinado de D. Manuel II – e, ainda, da não menos laboriosa História da Igreja em Portugal (1910-1928), estudo que reúne variada informação bibliográfica. 94 J. Amado Mendes, “Desenvolvimento e estruturação da historiografia portuguesa – Os historiadores da Erudição à Especialização”, História da História em Portugal, Sécs. XIX- XX, Lisboa, Circulo de Leitores, 1996, p.192. 95 Jacques Le Goff, “História”, Enciclopédia Einaudi, Memória – História, vol. I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1984, p. 158.
63
tendência era a da especialização, como em qualquer outro ramo do conhecimento
científico. Não obstante ser desejável, para que se possa ter uma ideia fundamentada do
passado, que quem estuda a História tenha conhecimento e compreensão integral dos
fenómenos históricos, não é menos verdade que o conhecimento de todas as coisas é
epistemologicamente impossível, além de que o método historiográfico globalizante
usado na pesquisa histórica cria algumas dificuldades. Assim, o seu estudo e
conhecimento começou a ser direccionado para áreas de escolha do historiador, temas
mais restritos, como objecto de análise.
“Ao século XIX foi dado gizar os alicerces e construir, é evidente que parcialmente,
como especialidades distintas, a história da arte, a história da filosofia, a história da ciência, a
história da literatura, a história das religiões, a história do direito, a história da economia. Assim,
um momento chegou em que a pintura de torneios e o pormenorizado inventário de batalhas
sofreram com despeito não só o aparecimento como ainda o desenvolvimento, a multiplicação e
o alastrar de estudos sobre a cultura e a vida material dos povos” 96.
Tratava-se, então, de estudar a fundo um assunto, de o desenvolver e isso
limitava naturalmente, o seu campo de matérias. Assim, surgem os especialistas e são-
no em muitos domínios, fazendo emergir outras particularidades históricas, como a
“arqueologia, etnologia, história da ciência e da indústria, biografia e genealogia história
da náutica e das descobertas, história económica e história local e regional”.97
É, então, por esta época que alguns destes homens se dedicarão ao estudo da
história dos descobrimentos, da arte de navegar e de outras matérias relacionadas com
as Descobertas e a náutica, especializando-se. Não era um estudo inovador, mas o
retomar de temas que já tinham despertado o interesse de estudiosos98 de um passado
longínquo e que só agora, em finais do século XIX, se incrementavam:
“Entre o fecundo período à volta de 1840 e o que se iniciará no ocaso de Oitocentos, a
historiografia portuguesa em quase nada contribui para a história dos descobrimentos. A marca
96 J. Amado Mendes, apud Godinho, 1971, p.192, “Desenvolvimento e estruturação da historiografia portuguesa – Os historiadores da Erudição à Especialização”, História da História em Portugal, Sécs. XIX- XX, Lisboa, Circulo de Leitores, 1996, p.192. 97 Idem, ibidem, p.192. 98 Como Inácio da Costa Quintela (1763-1838), do visconde Santarém [Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa (1791-1855)] e de Joaquim José da Costa de Macedo (1777- 1867).
64
de Herculano, que ligava a decadência à expansão, datando-a de D. João II [que reinou de 1481 a
1495], e, para lá do absolutismo que esta gerara, buscava nos concelhos medievos as raízes da
liberdade moderna e, romanticamente, preferia o período de formação nacional, é segundo toda a
probabilidade, uma das razões dessa ausência”99.
No século XIX, o vocábulo Renascimento torna-se usual do ponto de vista
historiográfifco. Expressão que reivindica uma nova visão e interpretação de referências
da Antiguidade Clássica, numa perspectiva de construção intelectual, procurando
mudanças para alcançar ideais humanistas e naturalistas. É nesta óptica da Geração de
70 e, particularmente, com Antero e Oliveira Martins que, em detrimento da época da
Idade Média, ou de temas como a Inquisição – que até então tinha merecido o estudo e
as reflexões dos estudiosos – se adquire interesse pelo passado histórico renascentista
chegando-se, deste modo, à temática das navegações, determinando uma nova história
dos descobrimentos, de rigor científico que viria a originar um considerável
desenvolvimento pelo trabalho de excelentes historiadores, como Brito Rebelo, Joaquim
Bensaúde100 ou Duarte Leite101.
Historiadores especialistas redescobriam e revalorizavam o estudo da
historiografia dos descobrimentos.
2. Masculino versus feminino
Não tendo perdido de vista os colaboradores do Archivo, onde apenas surge e se
destaca uma mulher – Carolina Michaëlis de Vasconcelos – tal remete-nos para a 99 J. Amado Mendes, apud Vitorino Magalhães Godinho, “Duarte Leite e a evolução dos estudos de História dos Descobrimento”, Duarte Leite, História dos Descobrimentos. Colectânea de Esparsos. Org. notas e estudo final de V. Magalhães Godinho, Lisboa, Cosmos, 1959, p. 526, in “Desenvolvimento e estruturação da historiografia portuguesa – Os historiadores da Erudição à Especialização”, História da História em Portugal, Sécs. XIX- XX, Lisboa, Circulo de Leitores, 1996, p.199. 100 Joaquim Bensaúde (1859-1952), açoriano, de Ponta Delgada; licenciado em engenharia civil, na Alemanha, viria a ser um dos mais conceituados historiadores dos Descobrimentos Portugueses. Publicada em Berna, em 1912, a sua obra L’Astronomie Nautique au Portugal à l’Époque des Grandes Découvertes é da maior importância. 101 Duarte Leite Pereira da Silva (1864-1950), natural do Porto, licenciado em matemática, pela Universidade de Coimbra, leccionou, 25 anos, na Academia Politécnica do Porto. Político, diplomata e, todavia, interessado pela História, deixou-nos a História da Colonização do Brasil, 2 vols., Descobridores do Brasil, Coisas de Vária História e Acerca da "Cronica dos Feitos da Guinee". Retirou-se da vida pública em 1931, não obstante ter continuado os seus estudos e publicando alguns artigos, no jornal O Primeiro de Janeiro e colaborando, também, na revista Seara Nova.
65
questão da história no feminino. Sapiente, com um conjunto de faculdades intelectuais
que não se coadunavam com as da maior parte das mulheres do seu tempo, ela tinha a
noção exacta da pobreza cultural delas e, por experiência vivencial, conhecimento da
privação dos seus direitos civis e políticos.
Ao estudarmos os caminhos da historiografia portuguesa deparamo-nos com um
universo masculino. Fenómeno não necessariamente português, o certo é que os homens
eram, simultaneamente, os fazedores da História e os seus heróis. Não havia uma
historiografia feminina, nem as mulheres eram as suas heroínas: “[…] a história tem
sido feita numa dimensão essencialmente masculina, que se traduz numa perspectiva
valorizadora dos factos, dos acontecimentos, das manifestações exteriores e visíveis do
evoluir social, normalmente associados ao masculino”102.
Naturalmente que vários factores concorriam para a estagnação cultural da
população feminina, como a falta de alfabetização, a região habitacional ou os baixos
rendimentos familiares. Mas, e sobretudo, as normas pedagógicas tendentes ao
desenvolvimento do seu corpo e do seu espírito e que no sistema tradicional a destinava
e limitava, ao papel burguês de dona de casa, esposa e mãe.
Sem esquecer o elevado analfabetismo feminino, condicionante primeira e
inibidora do desenvolvimento das faculdades intelectuais, no início do século XIX, às
mulheres que cedo acabavam os parcos estudos estavam destinadas, especialmente,
leituras devotas, piedosas, de fundamento moral. O livro de missa e os trabalhos
domésticos.
A literatura portuguesa proporciona – ao deleitarmo-nos com as belas páginas
de O Crime do Padre Amaro103 – o encontro com Amélia, 22 anos, de olhar aveludado,
sensual e de temperamento romântico, sentimental – que se fez mulher no seio de uma
sociedade clerical, provinciana, fechada que lhe moldou o carácter. Sem instrução e
exageradamente religiosa é neste contexto que se deixa seduzir por Amaro. Pela boca da
sua personagem, as palavras de Eça de Queiroz ilustram bem a mentalidade da época:
– A rapariga o que precisa é quem a dirija. Aqui para nós, precisa quem a confesse! […]:
o que ela precisa é um confessor teso, que lhe diga - para ali! , e sem réplica. A rapariga é um
102 Maria Regina A. Tavares da Silva, “História no feminino: os movimentos feministas em Portugal”, História de Portugal, dir. João Medina, vol. XX, Lisboa, Ediclube, 2004, p.171. 103 O Crime do Padre Amaro (1875) foi o primeiro romance realista de Eça de Queiroz; polémico, documento de uma época.
66
espírito fraco; como a maior parte das mulheres não se sabe dirigir por si; necessita por isso um
confessor que a governe com uma vara de ferro, a quem ela obedeça, a quem conte tudo, de
quem tenha medo... É como deve ser um confessor.104
Igualmente, em O Primo Basílio105 , a descoberta de Luísa, personificando a
mulher da pequena burguesia citadina, contemporânea de Carolina Michaëlis e de
Braamcamp Freire, cujos dotes morais e intelectuais eram forjados numa educação de
visão romântica da vida, moldando uma burguesa incapaz de agir e de reflectir,
descontente com o vazio do seu quotidiano e como tal ociosa e sentimental porque presa
do sonho e da fantasia dos romances que lê.106
No estrangeiro e na segunda metade do século XIX, proliferavam as revistas
femininas dedicadas aos lavores, à moda, às actividades do lar. Em Portugal, em 1883,
apareceu A Mulher107, revista que ao longo dos seus três anos de existência sempre
pugnou pela “[…] promoção da edução feminina pela instução. Tornava-se urgente
ensinar à mulher portuguesa, «alheia a todo o movimento científico e literário», quem
foi, quem é e quem poderia vir a ser. Vítima secular do egoísmo dos homens, endeusada
pelos vates piegas teria de aprender a «reclamar os seus direitos para saber cumprir os
seus deveres» [nº 1, p. 2, col. 1]108”.
Revista inovadora, dirigida por uma mulher – Elisa Curado – nos nºs 100 a 103,
tratava de um assunto quase ignorado pela sociedade portuguesa: o direito de voto das
mulheres. “Justificando a abordagem «por se entender ser necessário formar opinião
sobre esta importantíssima questão social» [nº 100, p. 799, col. 2], A Mulher transcrevia
104 Eça de Queiroz, O Crime do Padre Amaro, Lisboa, Circulo de Leitores, 1973, p. 209. 105 O Primo Basílio, conhecido romance de Eça de Queiroz, publicado em 1878, de crítica social e de análise objectiva da realidade, centrado numa família citadina, do século XIX.
106 “Tornou a espreguiçar-se. […] E […] veio estender-se na voltaire, […] e, […] começou a ler toda interessada. Era a «Dama das Camélias». Lia romances, tinha uma assinatura na Baixa […]. Em solteira, aos dezoito anos, entusiasmara-se por Walter Scott […] e amara Ervandalo, Morton, e Ivanhoe […]. Mas agora era o moderno que a cativava: Paris […] as suas sentimentalidades. […] e os homens ideais apareciam-lhe de gravata branca, nas umbreiras das salas de baile, com um magnetismo no olhar, devorados de paixão, tendo palavras sublimes. Havia uma semana que se interessava por Margarida Gautier; o seu amor infeliz dava-lhe uma melancolia enevoada […]”. Eça de Queiroz, O Primo Basílio, Lisboa, Livros do Brasil, s/d., pp.17-18.
107 Maria Emília Stone, Dicionário no Feminino: séculos XIX e XX, coord. Zília Osório de Castro e João Esteves, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, pp. 777-778. 108 Idem, ibidem.
67
de jornais franceses o debate acerca do sufrágio feminino, que estava a decorrer na III
República”109.
Todavia, os movimentos feministas que sobrevieram nos finais do século XIX
(conquanto radiquem em épocas precedentes)110, preconizando a ampliação legal dos
direitos das mulheres, postulavam no que respeitava às diferenças sexuais, às funções
atribuídas ao longo da História a dois pólos contrários; ao homem que desde sempre
teve inculcado um desempenho público ligado ao progresso da humanidade na sua
evolução social e intelectual; às mulheres, natureza feminina, na sua essência, no seu
modo de ser, no seu recato. Mas estava aberto o caminho para a lenta mudança,
alterando os paradigmas.
109 Idem, ibidem, p. 778. 110 “Em 1557, o Dr. Rui Gonçalves, da Universidade de Coimbra, publicou um livro curioso intitulado «Dos Priuilegios & praerogatiuas q ho género feminino tẽ por direito comu & ordenações do Reyno mais que ho genero masculino». Dedicado à rainha D. Catarina, pode dizer-se que foi o primeiro livro «feminista», escrito em Portugal […]”. Maria Regina A. Tavares da Silva, “História no feminino: os movimentos feministas em Portugal”, História de Portugal, dir. João Medina, vol. XX, Lisboa, Ediclube, 2004, pp. 172-173.
68
VI
A História e a Historiografia: desenvolvimento e afirmação
Em séculos idos, a História vivificou pela mão de teólogos e cronistas mas, no
decorrer dos séculos XVI e XVIII, nascem as modernas técnicas da História. Acerca de
De Re Diplomática, de Jean Mabillon 111 disse Marc Bloch considerá-la “[…]«uma
grande data na verdade na história do espírito humano», porque nesta ocasião «a crítica
dos documentos de arquivos foi definitivamente fundada.»” 112 . Com Voltaire 113
desenvolvem-se as perspectivas historiográficas, tal ficando patente na sua obra Ensaios
sobre os Costumes e o Espírito das Nações (1740-1756) e em as Novas Considerações
sobre a História (1744) muitos estudiosos anteviram os primeiros indícios de uma
história total. “A história não é um género imutável, diz-nos Voltaire de imediato. A
maneira de a conceber está ligada ao movimento científico geral. O despertar do sentido
crítico está em vias de arruinar um certo número de lendas tenazes. […].[…] Voltaire
abriu uma via de futuro ao interessar-se pelos problemas demográficos e
económicos”114.
O século XIX assiste a como se modifica a forma de fazer a História, de a firmar
com regra e método; a historiografia – vocábulo que pela sua polissemia abarca não só a
arte de escrever a história, mas a sua ciência – desenvolve-se ao longo deste período em
direcção a um ideal humanista e naturalista, quando os que procuravam conhecê-la e
compreendê-la descobriram a necessidade de comprovar os factos, os acontecimentos
estudados.
Tal levá-los-á, aos seus estudiosos, a esquadrinhar os acervos documentais. Mas,
“[…] a tarefa prioritária é elaborarar o inventário dos materiais disponíveis. «Para
procurar, recolher os documentos é uma das partes principais, logicamente a primeira
111 Jean Mabillon [(também chamado Dom Mabillon (1632-1701)], monge beneditino francês. Grande erudito, ficou conhecido como fundador das disciplinas de diplomática e paleografía, como auxiliares da História. A sua De Re Diplomática (1681) é a primeira grande obra que cria normas de análise da autenticidade documental. 112 Guy Bourdé e Hervé Martin, As Escolas Históricas, Lisboa, Ed. Europa América, 1983, p. 61.
113 Voltaire - François Marie Arouet, de seu nome (1694-1778), escritor, poeta e filósofo francês. Figura grada do Iluminismo, conhecido lutador pela liberdade civil e religiosa e o livre comércio. As suas ideias e obras muito influenciaram os teóricos da Revolução Francesa (1789).
114 Guy Bourdé e Hervé Martin, op. cit., 1983, pp. 71-72.
69
do ofício de historiador”115. É a heurística. A protecção e conservação dos documentos,
registo e classificação, seguindo-se o examinar das provas testemunhais do passado que
devem ser interrogadas com critério. É a erudição com rigor científico. Os estudiosos da
história procuram saber se o documento é conforme à verdade estabelecendo o seu valor,
pelo que a crítica histórica – o exame das fontes, o método científico para distinguir
entre a verdade e a mentira, o erro – se divide em crítica externa e crítica interna.
A crítica externa prende-se com a erudição: encontrar a fonte, a procedência,
perceber se é um original, uma cópia, uma falsificação; autor, local, data e pela
paleografia atestar a sua autenticidade. A crítica interna – a hermenêutica – procura
averiguar do valor das palavras, ou frases, do seu significado. Num mesmo idioma, em
diferentes épocas, pode variar o significado do teor dos seus termos. Além disso, a
finalidade é o valor do que o documento diz, a sua interpretação, para se saber o que o
autor quis dizer e em que circunstâncias – a quem se dirigia, em que época e lugar e,
portanto, se é credível. Há que comparar documentos, ter em conta grupos sociais,
instituições políticas, condições naturais. Porém, é sempre preciso atender a uma
escolha, porque:
«Uma história onde nenhum facto seria sacrificado deveria conter todos os actos, todos
os pensamentos, todas as aventuras de todos os homens, em todas as épocas. Seria um
conhecimento completo que ninguém conseguiria conhecer, não por falta de materiais, mas por
falta de tempo»116.
O conhecimento dos arquivos e o desenvolvimento da pesquisa impor-se-ão, de
então em diante, em detrimento da livre imaginação do seu executor que passará a
produzir escritos de conteúdo fiel aos factos, comprovados pelas fontes históricas; e a
formação metodológica passou a ser fundamental para professores e para os
investigadores da história.
É tempo de mudança para a historiografia de divulgação que anuncia novos
métodos e procedimentos, como os que ficaram a dever-se a Herculano, quando iniciou
os seus Quadros da História Portuguesa e cujo objectivo era o de infundir no povo o
gosto pelo saber,
115 Idem, ibidem, p. 103. 116 Idem, ibidem, p. 104.
70
“[…] trabalhos [que] não se limitam, de modo algum, a inventariar exemplos de vícios e
virtudes. O propósito de síntese, de restrição ao essencial, e, por outro lado, de respeito pela
verdade histórica, procurando nos antigos cronistas informação fidedigna, a preocupação de
situar histórica e geograficamente os acontecimentos, sem descurar, em alguns casos, a sua
interpretação e explicação em termos causais […]”117.
Também o Estado fomentava o ensino e o estudo da história de Portugal,
disciplina com força própria para formar a memória histórica e desenvolver um
sentimento nacional: “Entre os grandes objectivos que lhe eram atribuídos no século
passado predomina, sem dúvida, o da formação moral e patriótica dos homens e, em
especial, da juventude.”118
Os livros de História modificaram o seu discurso, baseando-se em dados
empíricos; anteriormente, já Almeida Garrett, no seu livro Da Educação 119 (1829),
valorizara a história nacional e a verdade: “Garrett adaptava os novos tempos do
pensamento liberal a história entendida como colecção de exemplos morais […] Em Da
Educação, valorizava a verdade e não se limitava a enaltecer as qualidades e virtudes
dos soberanos: quando fosse caso disso, não se deviam ocultar as suas máculas.”120
Não se sabendo muito (por falta de estudos específicos sobre a temática) acerca
da influência que a historiografia estrangeira teve sobre a portuguesa, é certo que os
investigadores do fim do século XVIII e princípios do XIX tiveram notícias da
produzida noutros países europeus e até da norte-americana e brasileira; todavia, foram
a francesa e alemã que tiveram preponderância entre os estudiosos portugueses, como
Alexandre Herculano, Antero de Quental ou Oliveira Martins, referindo só alguns. Não
terá sido despiciente a influência do historiador Heinrich Schaefer (1794-1869) através
da sua obra, Geschichte von Portugal 121, ou de Ferdinand Denis, como nos diz Campos
Matos: “Os historiadores estrangeiros H. Schaefer e Ferdinand Denis 122 carrearam
117 Sérgio Campo Matos, Historiografia e Memória Nacional (1846-1898), Lisboa, Colibri, 1998, p. 86. 118 Idem, ibidem, p. 164. 119 Este tratado pedagógico, Da Educação, escreveu-o Garrett tendo em vista, prioritariamente, a formação da futura rainha Dona Maria II. [(1819-1853), Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança); D. Maria II viria a morrer do parto do seu 11º filho]. 120 Sérgio Campo Matos, idem, Ibidem, p. 165. 121 H. Schaefer. Obra em 5 volumes e escrita entre 1836-1854. Apesar da tradução só ter ficado acessível nos últimos anos do século XIX (1893-1899), alguns eruditos portugueses conhecedores da língua alemã, como no caso de Herculano, tinham tido a oportunidade de a ler no original. 122 F. Denis, Portugal, Paris, Fimin Didot Frères, 1846.
71
importantes elementos para uma nova visão de conjunto sobre o percurso histórico
nacional, ultrapassando já largamente a simples narração retórica dos sucessos”123.
Duas escolas históricas alemãs se distinguiram: a de Ranke124, erudita e de crítica
rigorosa das fontes, favorecendo a história política; com a publicação da sua História
dos Povos Latinos e Germânicos, ele desenvolveu um novo plano de acção em torno da
actividade do historiador, estabelecendo-se normas para escrever a História;
posteriormente, já fim do século XIX, aquela a que Max Weber (1864-1920) deu relevo.
Este e os seus seguidores afastar-se-ão daquela escola descritiva e factual e abrirão
caminho a uma escola de tendência explicativa.
Contudo, mais comum entre os historiadores portugueses foi a historiografia
francesa, em que se distinguiam a escola positivista e a metódica. Na primeira, sobressai
a filosofia positivista de Comte125, sendo seu seguidor, por exemplo, Teófilo Braga; na
segunda, que defendia a descrição do testemunho do documento, Fustel de Coulanges
(1830-1889) foi o seu símbolo e Gama Barros, igualmente, como exemplo, seu
partidário.
Quanto à História só no século XIX se delineará o procedimento que a
transformará numa actividade profissional de historiadores e professores, situação a que
não foi estranha a produção intelectual de Herculano e, posteriormente, a História vista
à luz da história metódica de Gama Barros ou de Braamcamp Freire, entre outros. Tal
levá-la-á a entrar, embora de forma restrita, no conjunto de matérias a leccionar nos
cursos superiores:
“Mas seria preciso esperar pela fundação do Curso Superior de Letras por D. Pedro V,
em 1885, para que a História adquirisse um lugar significativo (ainda que limitado), nos estudos
123 Sérgio Campo Matos, Historiografia e Memória Nacional (1846-1898), Lisboa, Colibri, 1995, p. 67. 124 Leopold von Ranke (1795-1886), um dos maiores historiadores do século XIX que contribuiu, de forma definitiva, para o uso do método científico, na pesquisa histórica. Vide Fernando Catroga, Os Passos do Homem como Restolho do Tempo. Memória e Fim do Fim da História, Coimbra, Ed. Almedina, 2009, em especial, pp. 71-79.
125 Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857), filósofo francês, fundador da Sociologia (a que chamou, inicialmente, física social e que consiste “no estudo positivo do conjunto das leis fundamentais próprias dos factos sociais”) e do Positivismo (que defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro). Síntese subjectiva (1856); Discurso sobre o espírito positivo (1848); Sistema de política positiva, (1853-1854); Catecismo positivista (1852); Apelo aos Conservadores (1855) são algumas das suas obras; mas a mais marcante será O curso de filosofia positiva, em 6 volumes que se prolonga ao longo do tempo – entre 1830 e 1852 – devido a correcções ou complementos e que trata da formação das ciências e da evolução das sociedades. Guy Bourdé e Hervé Martin, As Escolas Históricas, Lisboa, Ed. Europa América, 1990, pp. 51-54.
72
superiores126. Até ao início do século XX funcionaram apenas duas cadeiras de matéria histórica:
História Pátria e Universal e História Universal Filosófica. Embora no seu regulamento
elaborado sob a responsabilidade da Academia Real das Ciências, se atribuísse àquela escola um
objectivo de vulgarização cultural, a verdade é que o escasso número de professores e de alunos
que a frequentavam, não favorecia tal propósito. […]. […] em 1901, assumiria claramente a
vocação de formação de professores, não só do próprio curso, mas dos liceus” 127.
No que concerne a estudos específicos da História dos Descobrimentos, só no
século XX, concretamente, em 1918, serão introduzidas, nas Faculdades de Lisboa e
Coimbra, disciplinas semestrais de História dos Descobrimentos e da Colonização
Portuguesa que, em 1926, passaram a anuais.
126 José Silvestre Ribeiro, Carta de lei de 8-VI-1859: “[…] Pela Carta de Lei de 8 de Junho de 1859, a Academia das Ciências ficava encarregada de acompanhar o projecto do Curso Superior de Letras, estabelecer o Regulamento e facultar instalações. Não se limitou essa instituição a ouvir os rogos do rei, mas procurou interpretá-los e dar-lhes imediato enquadramento. Disso dá conta o DG nº 226, em 26 de Setembro de 1859, reportando-se a Despacho do Rei, em Mafra, a 14 de Setembro, e publicando o Regulamento do Curso”. Aires Augusto Nascimento, O Estudo das Letras, Caminho para Sabedoria: Evocação do 150º Aniversário da Fundação do Curso Superior de Letras de Lisboa por D. Pedro V, Classe de Letras, Academia das Ciências de Lisboa, 2010, p. 13. http// s1.acad-ciencias.pt [consultado em 11 de Abril de 2011]. José Silvestre Ribeiro (1807-1891), político – administrador geral de vários distritos, ministro da Justiça, deputado e par do Reino – e historiógrafo, autor da importante obra sobre a história das instituições científicas e culturais portuguesas intitulada Historia dos estabelecimentos científicos, literários e artísticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia, 18 vols., Lisboa, Academia Real das Ciências, 1871-1893. Eleito membro da Academia Real das Ciências de Lisboa, devido ao seu desenvolvido trabalho intelectual e cívico (entre outras actividades ligadas a associações foi o fundador da Sociedade Protectora dos Animais), tradutor e colaborador de diversos jornais e revistas. 127 Sérgio Campos Matos, Historiografia e Memória Nacional (1846-1898), Lisboa, Colibri, 1998, p. 170.
73
VII
A Historiografia dos Descobrimentos: caminhos e contributos
Inevitável é referirmo-nos a D. Henrique e à conquista de Ceuta (1415) em que
participou, indissociável da génese dos Descobrimentos Portugueses. O Infante
aparecer-nos-á, sempre, como símbolo da gesta marítima portuguesa, como tendo
dinamizado as incursões ao grande mar Oceano, ligado a tradições históricas, objecto de
estudo as suas motivações, tal como os navios, o historiar e o descrever a arte e a
ciência das navegações.
A exemplo destes, mais alguns outros temas relacionados foram o âmago da
historiografia dos descobrimentos e da expansão ultramarina, a que os historiadores no
século XIX, dedicaram as suas investigações e às quais deram corpo ao recuperarem e
difundirem fontes, até então, inéditas. A
esta espécie de frenesi – impaciência,
paixão, pela História dos Descobrimentos
Portugueses – não ficaram indiferentes os
oficiais da marinha; embora de
formação científica e técnica contribuíam
de forma continuada para a temática em
causa. Nas páginas dos Anais Marítimos e
Coloniais (1840-1846), da Associação
Marítima e Colonial, onde “[…] se
revelaram numerosos documentos inéditos
guardados na Torre do Tombo, referentes
à presença portuguesa nas mais diversas
regiões ultramarinas […]”128, destacavam-
se memórias e teses dos Descobrimentos, re- Infante D. Henrique
futavam-se posições de outrem, dava-se a conhecer o pensamento dos historiadores.
Pela mesma época, de Inácio da Costa Quintela129, davam-se à estampa os Anais
da Marinha Portuguesa (1839-1840) intentando sintetizar e inventariar a história geral
128 Sérgio Campos Matos, Historiografia Portuguesa dos Descobrimentos no Século XIX, Madrid, 1998, Separata de Los 98 Ibéricos y el mar, t. II, La cultura en la Península Ibérica, p. 60.
74
da marinha, narrando os factos segundo a ordem por que se deram de ano em ano, em
cada reinado, fixando governos, conquistas, guerras e navegações.
Foram da maior valia os estudos de Frei Francisco de S. Luís 130 e do 2º
Visconde de Santarém131 e, também, os vários trabalhos de Costa Macedo,132 de base
documental, referentes às expedições marítimas portuguesas. Em 1837 aparece a
chamada Crónica dos Feitos da Guiné, de Zurara, quando Ferdinand Denis 133 , na
Biblioteca Real de Paris, encontrou um manuscrito antigo134, de inestimável valor para
129 Inácio da Costa Quintela (1763-1838), oriundo da Academia da Marinha, cedo se distinguiu pelos estudos históricos. Tendo atingido o mais alto posto dentro da hierarquia militar, foi ministro do Reino e ministro da Marinha.
130 Frei Francisco de S. Luís (1766-1845), Francisco Manuel Justiniano Saraiva, de seu nome (que modificou quando entrou para o de Mosteiro de Santo André de Rendufe (Braga) e mais conhecido como Cardeal Saraiva). Professou em 1782, tendo-se licenciado na Faculdade de Teologia, da Universidade de Coimbra, em 1792, de que veio a ser professor e reitor. Bispo de Coimbra (1822) e designado deputado às Cortes, veio a ser Presidente da Câmara dos Deputados (1826) e o 8º Cardeal Patriarca de Lisboa (1840). Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Algumas obras: Manifesto da nação portuguesa aos soberanos e povos da Europa (1820); Ensaio sobre alguns sinónimos da língua portuguesa (1821); Memória em que se pretende demonstrar que a língua portuguesa não he filha da língua latina, nem esta foi em algum tempo vulgar dos lusitanos (1837); Carta do Arcebispo de Lisboa aos seus fieis sob a abnegação de todos os seus hábitos licenciosos (1841).
131 Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa (1791-1856); estudioso da cartografia, fundou-a como disciplina; historiador dos Descobrimentos deixou uma extensa bibliografia. Diplomata, ministro da Marinha (1827) e guarda-mor da Torre do Tombo (1821). 132 Joaquim José da Costa Macedo, (1777-1867); secretário perpétuo da Academia das Ciências, de onde se demitiria, vindo a ocupar o cargo de guarda-mor do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 133 Ferdinad Jean Denis – escritor e historiador, francês (1798-1850); especialista de temas portugueses. 134 Este manuscrito era desconhecido – ou melhor – perdido, já que no século XVI, quer João de Barros, na sua obra histórica Ásia, quer Damião de Góis, na sua Crónica do Príncipe Dom João (Góis fez esta crónica em 1567, aludindo, no cap. VI, à Crónica da Guiné e a Zurara, escrevendo: “[…] mas pode ser que ho fezesse (…) na historia de Guine, que elle diz que compôs, de que nam há notícia […]”. Cf. Duarte Leite, in Àcerca da «Crónica dos Feito da Guinee», cap. I, nota de rodapé (3), 1941, p. 11) o tinham referenciado. Tratava-se de um pergaminho no qual Gomes Eanes de Zurara, além de fazer o panegírico do Infante Dom Henrique, historiava as acções dos Portugueses nas distantes terras da Guiné (Guiné – explica Zurara: “E esta gente desta terra verde he toda negra e porem he chamada terra dos negros, ou terra de guinne por cujo aazo os homẽes e molheres della som chamados guinéus. que quer tanto dizer como negros.” Gomes Eanes da Zurara, Crónica dos Feitos Notáveis […],Torquato de Sousa Saoares, cap. LX, 1978, p. 225. À época, esta região era designada por Etiópia; Zurara, preso a ideias antigas, supunha-a confinante com o Egipto: “Por certo nõ he esta pequena honra do nosso príncipe/. cuja poderosa força foe abastante de mandar gentes tã alongadas do nosso Regno/. fazendo presas nos vezinhos da terra do Egipto.” Idem, ibidem, cap. XXXI, p.128. O espaço geográfico apontado como Guiné na Crónica não está em conformidade com o espaço da actual, já que aquele seria cerca de 20 léguas acima do rio Senegal (Çanaga), conforme Zurara refere, como sendo indicação do Infante Dom Henrique: “[…] ao qual Ryo chamam de Çanaga/ ca o Infante lhes dissera /que despois da vista daquellas aruores pouco mais de xx léguas esguardassem pello dicto Ryo […]”. Idem, ibidem, cap. LX, pp. 225-226. Duarte Leite, no seu estudo, discorda desta posição geográfica, apontando o início da região como sendo ao norte do Cabo Bojador, sem limite de meridiano definido e de latitude de cerca de 27º N. A partir da acção de Gil Eanes que à segunda tentativa, em 1434, passava o, tão temido, Cabo Bojador, navegando ao longo da costa ocidental de África 50 léguas abrindo, deste modo, o caminho para as grandes navegações
75
as origens dos descobrimentos portugueses. Quando, depois da transcrição paleográfica,
foi editada a Crónica, em 1841, na Introdução, o Visconde exalta, com veemência, o
passado histórico.
Todavia, já no século XVIII, a Academia das Ciências havia diligenciado no
sentido de se publicarem preciosas fontes conducentes ao conhecimento dos
Descobrimentos e dos territórios ultramarinos portugueses, que exemplificamos com O
Soldado Prático, de Diogo do Couto, em 1790 e, mais tarde, com a Colecção de
notícias para a história e geografia das nações ultramarinas que vivem nos domínios
portugueses ou lhes são vizinhas, obra em 7 volumes, publicada entre 1812 e 1856. Mas,
para além do largo conjunto de documentos que serviram de base para a descrição e
estudo do fenómeno dos Descobrimentos e Expansão Portugueses, a Academia
providenciou uma série de acções que permitiram a relação de arquivos, o acautelar de
preciosos manuscritos, a tradução e reedição de obras; e nos seus programas científicos
a época dos descobrimentos, esteve, muitas vezes, em destaque. Entre outros projectos
houve a intenção de escrever uma História dos Descobrimentos Portugueses, projecto
que se gorou porque, não obstante o esforço da Academia na publicação de fontes
inéditas, o corpus documental era insuficiente para concretizar tal tarefa:
“Depois de demorada discussão acerca dos trabalhos», ambos os académicos135 haviam
assentado que «a investigação sistemática de fontes, por trabalhosa, difícil e demorada que fosse,
oceânicas. Acresce que o dito pergaminho – de onde foi retirado o manuscrito da Crónica e que ficou conhecido, desde então, como o Códice de Paris ou parisino – encerra uma preciosa pintura do Infante Dom Henrique. (Acredita-se que seja do Infante Dom Henrique, tanto mais que, rematando-o, poder ler-se a divisa do Infante – talent de biẽ faire – e a rodeá-lo uma pintura de ramos de carrasco (uma variedade de carvalho) que simbolizavam o seu desinteresse pelos bens materiais. Este retrato do Infante ( que acima reproduzimos ) encontra-se na folha 5-verso. http://paineis.org/Cronica_Guine.htm; [consultado e retirada a imagem em 1 de Fevereiro de 2007]. Vide trabalho realizado para o Seminário de “História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses”, dirigido pelo Prof. Doutor António Dias Farinha, Zurara e a Crónica dos Feitos da Guiné a Mando do Infante Dom Henrique: Análise, 2006/07.
135 São respectivamente: Zófimo Consiglieri Pedroso (1851-1910), formado em Letras, chegou a professor catedrático e director do Curso Superior de Letras de Lisboa. Membro do Partido Progressista e deputado da Câmara, eleito por Lisboa. Consiglieri Pedroso, investigador na área da etnografia, um dos fundadores e dinamizador da Antropologia dedicou-se ao estudo dos mitos, das tradições e das superstições populares. No Jornal O Positivismo publicou uma grande parte dos seus estudos etnográficas. Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio efectivo da Academia de Ciências de Lisboa. Algumas publicações: A Constituição da Família Primitiva (1878); Contos Populares Portugueses (1910). Manuel
Joaquim Pinheiro Chagas (1842-1895), estudou no Colégio Militar, na Escola do Exército e na Escola Politécnica. Com Eça de Queiroz manteve acesas polémicas. Deixou-nos obras poéticas: Anjo do Lar (1863) ou Poema da Mocidade (1865); obras de ficção: Tristezas à Beira-Mar (1866); A Flor Seca (1866); A Corte de D. João V (1873); O terramoto de Lisboa (1874) e A Mantilha de Beatriz (1878) e
76
era a operação prévia, que deveria preceder todo e qualquer trabalho de redacção». Ora o
problema principal residia nesta exigência dos dois historiadores. Apesar do notável esforço da
Academia das Ciências no sentido da publicação de diversos conjuntos de fontes inéditas
relativas à temática em causa, a verdade é que a escassez de documentação continuava a ser a
nota dominante. Em 1897, […] reconhecia [-se] essa insuficiência: «[…] dos dois factores
essenciais para o levar a efeito, a competência de historiador e a suficiente provisão de materiais,
só existia o primeiro»136.
Mas, a Academia não se furtou a esforços para que a História dos
Descobrimentos se revelasse como paradigma da memória nacional, fomentado
conferências (e reunindo os seus textos e publicando-os), promovendo a publicação de
novos estudos:
“Entre eles […] os trabalhos de Henrique Lopes de Mendonça sobre os navios
portugueses (sécs. XV e XVI), de Brás de Oliveira sobre a frota de Vasco da Gama (1497-99),
de Baldaque da Silva sobre o problema do descobrimento do Brasil, de Teixeira de Aragão sobre
o descobrimento da América e de Teófilo Braga, sobre o significado histórico deste sucesso.
Entretanto, com o apoio do Estado, Rafael Basto publicava pela primeira vez um inédito de
extrema relevância para o conhecimento da presença portuguesa no Índico: o Esmeraldo de situ
orbis, de Duarte Pacheco Pereira. Outro volume, este de grande extensão, coligia numerosos
documentos também inéditos, respeitantes a todo o período que vai de 1416 (pouco após a
conquista de Ceuta) a 1529 (tratado acerca das Molucas, entre Portugal e Espanha). Uma
comissão […] dava à luz este conjunto muito variado de textos de tratados, cartas régias, cartas
de mercê, etc., […]. Nesse mesmo ano de 1892, também com o patrocínio da Academia,
Pinheiro Chagas publicava […], Os descobrimentos portugueses e os de Colombo […]”137.
Além da Academia das Ciências que, como temos vindo a constatar, não se
escusou a esforços para contribuir, de forma assertiva, para a História dos
Descobrimentos, outros organismos o fizeram, como a Escola Naval que logo no início
do seu funcionamento, em 1845, leccionou História e Geografia; o Clube Militar Naval,
dramáticas: A Morgadinha de Valflor (1869); A Judia (1869); Madalena e Helena (1875), Quem Desdenha (1875) e obras de história e de crítica: Ensaios Críticos (1866); Novos Ensaios (1867); Portugueses Ilustres (1869); História de Portugal (8 vols, 1869-1874); História Alegre de Portugal (1880); Migalhas da História de Portugal (1893).
136 Sérgio Campos Matos, Historiografia Portuguesa dos Descobrimentos no Século XIX, Madrid, 1998, Separata de Los 98 Ibéricos y el mar, t. II, La cultura en la Península Ibérica, Madrid, pp. 65-66. 137 Idem, ibidem, p. 68.
77
fundado em 1866 e que publicou, a partir de 1870, os Anais do Clube Militar Naval e a
Liga Naval Portuguesa, de fundação posterior (1901). De modo que um número
significativo de homens da marinha, estudiosos da História, se empenharam em divulgar
e cultivar a ciência histórica, na senda dos Descobrimentos e da Expansão Marítima
Portuguesa.
78
VIII
Navegações e Descobrimentos no Archivo Historico Portuguez : sumários dos artigos sobre Navegações e Descobrimentos
Os breves resumos que se seguem (que procuraremos sejam claros e precisos)
dar-nos-ão a percepção do assunto que originou cada um destes artigos, relacionados
com Navegações e Descobrimentos, a maior parte dos quais são suporte aos
documentos transcritos, mas podendo ser o próprio documento.
Tendo em conta o nosso estudo no Archivo Historico Portuguez – navegações e
descobrimentos – elaborámos a relação Artigos sobre Navegações e Descobrimentos na
qual, por ordem alfabética do sobrenome do autor, indicamos os artigos relacionados
com este tema. De cada um destes e seguindo a ordem da referida relação faremos os
sumários e, também, um índice dos documentos transcritos em cada um daqueles
artigos. Naturalmente que os sumários e os Índices dos documentos transcritos (que
encontraremos em apêndices) devem ser consultados não de per si, mas numa leitura
conjunta e comparada para se lhe determinar a relação.
Assim:
AZEVEDO, Pedro A. de “O fidei-commisso de Affonso de Albuquerque. (Na Graça de Lisboa)” Vol. I, nº 5, Maio de 1903, pp. 157-162; nº 6, Junho de 1903, pp. 188-193. Artigo que trata de dois testamentos celebrados em 1506 e 1515,
respectivamente, por Afonso de Albuquerque, governador da Índia, conquistador de
Goa, Malaca e Ormuz. Dos bens que lhe pertenciam, separou os que tinha em Alhandra,
Alhos Vedros e Atouguia da Baleia e cedeu-os ao seu único filho, ilegítimo, com o
mesmo nome, onerados com missas no convento da Graça. De acordo com o seu
fideicomisso, a administração dos bens seriam feitos por sua irmã, D. Isabel e, por sua
morte passasse para aquele seu filho; em caso de morte deste e não tendo herdeiros
legítimos, aqueles bens passariam para aquele convento. Contudo, com o falecimento
deste, a 6 de Maio de 1581 e tendo ele um filho legítimo (D. João Afonso de
Albuquerque, filho de Andresa d’Almeida) sucedeu-se uma intricada situação de
vínculos e direitos sucessórios.
79
Seguem-se três documentos.
______ “Os Escravos” Vol. I, nº 9, Setembro de 1903, pp. 289-307.
São abordadas três questões: a obtenção de escravos na Península Ibérica, antes
da Conquista de Ceuta; a marinha portuguesa e a sua reorganização, nos primórdios do
século XIV e a progressão da escravatura, como mercadoria preferencial. Alude-se aos
inúmeros elementos em arquivo, imprescindíveis para a construção da história dos
escravos em Portugal e sua colónias; nos documentos estudados, até ao século XVI, os
termos mais usados para designar escravo eram mancipium; servus; criatio e homo, mas
só os dois primeiros foram objecto de análise. Alude-se à referência mais antiga a esta
palavra que data de 1462. Encetados os Descobrimentos, parte das despesas com a
exploração marítima era paga com o lucro da venda dos produtos achados e destes, o de
maior ganho eram os povos capturados, reduzidos à condição de escravos. Uma bula, de
1454, aconselhava a que recebessem o sacramento do baptismo, mas tal ficava ao
entendimento dos seus senhores, como o comprova o doc. XV.
Em Portugal, o comércio não diferia do habitual procedimento dos restantes
povos europeus e não foi a partir dos Descobrimentos que o comércio, o tráfico e a
exploração de seres humanos adquiriram contornos de escravatura; e a ausência de
sentimentos de piedade, com que nos deparamos nos registos estavam em conformidade
com a mentalidade da época. É advogando esta realidade que o autor cita, um moderno
investigador138. Apresenta um documento, de 1368, do espólio do Convento de Chelas
que dá conta da compra da moura Moreima, de tez alva, pela freira Sancha Eannes, na
Rua Nova de Lisboa, então grande centro comercial.
Seguem-se dezoito documentos.
138 Speck, Die gegen den Handel der Lateiner mit den Saracenen gerichete kir chlichen und staatlichen Verbote, Zittau, 1880, p. 4, “Os Escravos”, Archivo Historico Portuguez, vol. I, Lisboa, 1903, pp. 291-292.
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______ “Lembranças num códice do cartório de Palmela” Vol. I, nº 10, Outubro de 1903, pp. 336-339. Trabalho que se prende com um manuscrito de pergaminho, de páginas não
numeradas e de data incerta, mas que se situará de meio do século XIV a princípios do
século XV e que pertenceu ao cartório de Palmela, da Ordem de Santiago. Consiste na
ordem de rezar os divinos ofícios - «Esta he a regra de rezar que os freires de sanctiago
ham de guardar». Da forma como encerra, o autor compara-o com o Livro II das
Partidas de Castela e com um livro de linhagens, inserto na História Genealógica, I de
Provas. Termina o códice com algumas orações e algumas notícias de pouca monta,
como a do Livro II das Partidas de Castela que refere um eclipse. A notícia mais antiga
respeita à expedição que partiu à conquista de Alcácer Ceguer, comandada por D.
Afonso V. Outro apontamento, datado de 1381 (doc.V), é uma carta de nomeação de um
porteiro dos besteiros; outro dá nota do dia em que o neto de D. João II foi armado
cavaleiro, recebendo o hábito de S. Tiago e outros referem-se aos bens de Afonso de
Albuquerque e a obras no edifício de Palmela.
Seguem-se cinco documentos.
______ “Projectos sobre Madagáscar e Cabo da Boa Esperança em 1556” Vol. I, nº 11, Novembro de 1903, pp. 385-388.
Sobre o conteúdo de uma carta que Baltazar Lobo de Sousa escreveu de Goa, em
10 de Dezembro de 1556, à rainha D. Catarina. Lamenta a morte do Infante D. Luís e a
doença de D. João III e lembra à rainha a necessidade de um orfanato em Goa.
Intentando a conquista de Madagáscar promete levantar uma igreja e diz da necessidade
de dois padres de S. Francisco para evangelização. Receando morrer na conquista pede
para o filho mais velho o lugar de juiz da alfândega de Goa, para este poder sustentar a
mãe e nove irmãos. O governador, Francisco Barreto, por ordem do rei mandara-o fazer
o reconhecimento da ilha pelo lado oriental, fundar uma fortaleza e ver se havia
vestígios da gente que seguia nas naus Burgaleza e Santa Cruz, ali desaparecidas. De
três navios constava a expedição – huma caravela, e duas fustas de remo – cujas,
avistada a ilha de S. Lourenço a foram explorar. Daquelas não havia sinal, nem dos seus
81
ocupantes. Não foi um êxito a expedição, mas talvez tenha permitido a Vaz Dourado
delinear os contornos de Madagáscar, no atlas que estava no Arquivo Nacional.
Segue-se um documento.
______ “A Companhia da ilha do Corisco” Vol. I, nº 12, Dezembro de 1903, pp. 422-429. Na reentrância do continente africano que é o Golfo da Guiné situam-se as ilhas
de S. Tomé e a do Príncipe, cuja agricultura ajudava as finanças portuguesas. As de
Fernando Pó e Ano Bom tinham sido cedidas a Espanha pelo tratado de 1778. Em 1724,
por ordem do rei D. João V, uma Companhia tendo ao serviço as pessoas nomeadas
numa lista, teve ordem para se estabelecer e fundar uma fortaleza na ilha do Corisco.
Foi nomeado governador, por três anos, João Dansaint findos os quais, poderia nomear
para o seu lugar um oficial português ou estrangeiro. A Dansaint seria concedida a
patente de capitão de mar-e-guerra das fragatas da coroa e obteve o hábito de Cristo.
Francisco Nicolau Bérard, capitão da nau Primogénito, levá-lo-ia e aos restantes oficiais
e soldados em outras embarcações da mesma companhia indo a nau armada em guerra
e guarnecida com 40 peças e 150 homens.
Da Companhia, o pessoal é francês. E havia negociantes estrangeiros, como
poder ver-se pela moratória de 1724, concedida a cidadãos britânicos. Além de que no
reinado de D. João V, havia muito oficiais estrangeiros a servir a marinha portuguesa.
Seguem-se seis documentos. ______ “As Ilhas Perdidas” Vol. II, nº 2, Fevereiro de 1904, pp. 53-62 Pugna o autor pela verdade, no contexto dos assuntos históricos. Portugal – que
muito os desleixou – precisava com urgência de fazer a revisão metódica de toda a
história para afastar falsas ideias e repor a verdade. A glória portuguesa são os
Descobrimentos que deram a conhecer novas terras e fizeram luz sobre um mundo
ancestral; não com espírito científico, mas económico e militar: as terras davam lucros e
os inimigos abatiam-se. Refere um príncipe (obviamente D. Henrique) que pensou e
concretizou o povoamento das terras assinaladas nas cartas de navegar, já antes
82
visitadas por outros que não portugueses 139. Sem haver contraditores quasi se deve
aceitar a opinião que outros, antes dos Portugueses, descobriram a Madeira e os Açores.
Refere dois trabalhos estrangeiros140, de 1901, sobre portulanos, do genovês Dalorto,
datados de 1325 e 1329, aludindo aos grupos atlânticos e de como o Infante, em 1428,
tendo recebido um com as ilhas assinaladas, as mandou procurar141.
O autor trata, desenvolvidamente, a presunção das ilhas já serem conhecidas, as
várias denominações, as dificuldades dos cartógrafos as doações e a lenda de uma ilha
ao norte da Terceira; lendas que se propalavam na Idade Média sobre a ilha das Sete
Cidades. Faz considerações sobre a etimologia da palavra ilha.
Seguem-se oito documentos.
______ “A marinha mercante do norte de Portugal” Vol. II, nº 7, Julho de 1904, pp. 241-253. Expressa o autor a sua opinião acerca da tendência dos Portugueses contarem
pouco consigo próprios, antes preferindo ligar-se à potência que mais forte lhe
parecesse; por sua vez, essas nações sempre manifestaram antipatia pelo reino lusitano.
Nas suas palavras, em virtude de indolência de mentalidade, Portugal continuou preso
aos interesses castelhanos. Lembra, então, o procedimento (por medo, diz) de D. João
III relativamente às navegações dos seus súbditos, que não deveriam navegar para
poente, até novas ordens. Tudo se prendia com França que preparava navios para virem
tomar de assalto todas as naus, da marinha mercante que encontrassem. O que de
vantajoso teve tal ordem real, de 1552, para o corregedor do Porto, foi originar o
139 “É doloroso para o amor-próprio portuguez ter de reconhecer que parte das ilhas atlanticas, já muito antes da colonização, haviam sido visitadas por navegadores, provavelmente genoveses ou catalães, do que restam provas bastantes em mappas, dando até um frade hespanhol por 1345 ou 1350 notícia das «islas delas cabras, isla del Brazil, la Columbaria, isla de la Ventura, isla de San Jorge, isla de los Conejos e isla de los Cuervos marines»”. Pedro d’Azevedo, “As Ilhas Perdidas”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, 1904, p.54. 140 Um trabalho do professor alemão, de geografia e etnografia, Sophus Ruge: Valentin Ferdinand’s Beschreibung der Azoren, in Jahresbericht des Vercins fuer Erdkund, 151, de Dresde, 1901; e do francês Júlio Mees, Les Açores de aprés les Portulains, Boletim da Sociedade de Geografia, Lisboa, XVII, 464 e 465. Idem, ibidem, p. 54. 141 Enviou o navegador Gonçalo Velho Cabral. Atribui-se-lhe o povoamento das ilhas de Santa Maria e S. Miguel (arquipélago dos Açores), de que foi capitão donatário. Passou o cabo Não, na costa africana e estudou as correntes marítimas. Terá morrido, com mais de 70 anos, depois de 1460. José Alves, “Cabral, Gonçalo Velho”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. de Luís de Albuquerque, vol I, Lisboa, Caminho, 1994. p. 152.
83
recenseamento da marinha mercante em metade do país. Como tal, ficou a conhecer-se
o nome de armadores e capitães dos navios, tonelagem, artilharia, os produtos
transportados e porto de destino.
Seguem-se dois documento
______
“Defesa da navegação de Portugal contra os franceses em 1552” Vol. VI, nºs 5 e 6, Maio e Junho de 1908, pp. 161-168.
Os documentos que originaram este texto mostram, diz-nos o autor, a tensão
social que se vivia em Portugal, em 1552. Tal devia-se a um contencioso com a França,
pela proibição aos navios não portugueses de navegarem para as colónias e o rigor da
repressão aplicado, pelos capitães, aos faltosos. No ano de 1547, seria acordado que
cinco juízes, de ambos os lados, avaliariam os prejuízos bilaterais. Tal tratado está
anunciado numa carta patente, de 28 de Fevereiro de 1547, de que há notícia num
manuscrito da Biblioteca Nacional de Paris. Reciprocamente, os Estados em causa
obrigavam-se a cessar hostilidades, desforras e vinganças e anular as cartas de marca
(que determinavam a direcção em relação aos navios). Este tribunal entrou em
funcionamento no ano seguinte e, em 1550, foi prolongado por mais dois anos; a esta
prorrogação sucederam-se outras, até que depois do ano de 1558 não mais se falará quer
nos prejuízos causados pelos apresamentos, quer em acordos. Todavia, os navios de
comércio portugueses continuavam a ser assaltados e apresados pelos franceses; os
deles em muito menor número. Quando, em 1552, passava por certo que preparavam
um grande assalto às embarcações portuguesas, D. João III proíbe que os navios rumem
a ocidente.
Seguem-se quatro documentos.
BAIÃO, António “Fernão de Magalhães e a primeira circum-navegação ao globo” Vol. II, nº 9, Setembro de 1904, pp.161-336.
O professor começa por lamentar a maneira como aquele navegador tem sido
lembrado, não só pelos historiadores precedentes, como pelos que lhe eram coevos. Tal
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o fizera João de Barros142 e até Camões,143 devido a factos nunca provados, mas que o
desacreditam e deslustram a sua memória.
O autor alude ao acontecimento que se relaciona com um furto de gado,
imputado a Magalhães e praticado em Azamor. Aí teria obtido uma sentença
absolutória, portanto, absolvido, mas em Portugal, o rei D. Manuel ficou com esse
pretexto para lhe recusar quaisquer pretensões. Baião traça o seu perfil moral e o seu
percurso de vida: a sua origem de boa linhagem e a criação; a sua estada na Índia, os
conhecimentos de náuticos e cosmográficos, como esteve em Malaca, com Afonso de
Albuquerque quando a cidade foi conquistada. Depois do Oriente, África, integrando a
armada de D. Jaime, Duque de Bragança, onde se fez notar entre os defensores de
Azamor. É quando volta a Portugal que a dissensão com D. Manuel o leva a oferecer os
seus serviços a Carlos V de Espanha. Com Ruy Faleiro que o acompanhou, foram
capitães da armada, composta por cinco navios – “pera que vays a descubrir por el mare
oçeano”. Estabeleceram-se condições, salvaguardaram-se direitos e D. Manuel mandou
um emissário para que dissuadisse Magalhães, da sua grandiosa expedição. Baião, com
base nos documentos que estudou ressalta o carácter do navegador e a ingratidão do rei.
Seguem-se quatro documentos.
_______ “Fernão de Magalhães. Dados inéditos para a sua biografia” Vol. III, nºs 7 e 8, Julho e Agosto de 1905, pp.304-312.
Segundo o autor, e corroborando a opinião de Sousa Viterbo144, a biografia de
Fernão de Magalhães tem sido muito esquecida; e sem esconder a enorme simpatia que
sente por este navegador, apraz-se por poder contribuir com os seus estudos, começando
por desfazer o erro, em que ele próprio tinha laborado, na esteira do autor espanhol
Fernandez de Navarrete. Deste modo, nem a assinatura fac-simile anteriormente
publicada, nem a pessoa que aquele tinha citado era Fernão de Magalhães, apreciada 142 Década 3ª, Livro 5º. Nota de António Baião. 143 O Poeta refere-se-lhe, nos Lusíadas, como agravado Lusitano (Canto II, Estrofe 55, v. 6, p. 94); Dum Lusitano […] / Que, de seu Rei mostrando-se agravado […], / (Canto X, Estrofe 138,vºs 6 e 7, p. 333 ); e, ainda, / Irá buscando a parte mais remota / O Magalhães, no feito, com verdade, / Português, porém não na lealdade. (Canto X, Estrofe 140, vºs 6, 7, 8, p. 334). 144 Opinião de Sousa Viterbo: “Como guerreiro e como navegador, Fernão de Magalhães tem uma cotação bem elevada na história. Foi todavia como navegador que ele immortalizou o seu nome. A sua Viagem á roda do globo marca uma das epocas mais notáveis dos Annaes da geographia. A circumstancia de ter abandonado a sua pátria para ir servir a Hespanha influiu de certo no animo dos escriptores portuguezes, que tem descurado bastante o estudo da sua biographia”. Sousa Viterbo, Trabalhos Náuticos dos Portugueses, Séculos XVI e XVII, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1998, pp. 196-197.
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figura da nossa história. O engano surgira por duas pessoas terem o mesmo nome sendo
contemporâneos e ambos terem tido moradia na casa real. Baião analisou os livros de
assentos das Moradias da Casa Real, cotejou recibos e datas e desfaz dúvidas quanto ao
nome dos respectivos progenitores; e sendo Rui de Magalhães (e não Pedro) o nome do
pai do navegador o autor repõe a verdade. Os documentos que fez publicar, atestam-na.
Este trabalho dá, ainda, pistas sobre a passagem de Magalhães, enquanto
guerreiro, por Azamor, Cochim e Calicut e desenvolve uma sequência de dados ligados
a um empréstimo que ele efectuou a Pedro Annes Abraldez e, em relação ao qual veio a
fazer diligências para ser ressarcido, em virtude do não cumprimento do ajustado com
aquele.
Seguem-se cinco documentos e cinco Sumários da Torre do Tombo.
BARATA, A. F. “Uma carta inédita de D. Sebastião (1576)” Vol. I, nº 8, Agosto de 1903, pp. 264-266.
Texto que inscreve a opinião do autor resultante de um conjunto de reflexões
que faz acerca da personalidade e da idiossincrasia do rei D. Sebastião que, obcecado
com a conquista de África, desprezava, por esse motivo, todas as coisas que aos vinte
anos fazem sentido: “a beleza da mulher, o amor, a naturalíssima lei da reprodução da
espécie!”
Rebate a ideia da ciência que o reputa de louco, e como tal irresponsável, mas
onde a ciência vê loucura há somente pertinácia – o apego obstinado a um projecto –
além de que loucos serão todos os homens da ciência, os santos e todos os homens
esforçados que contribuíram para o progresso da humanidade na sua evolução social e
intelectual. Barata defende que a D. Sebastião só faltou sorte pelo que, com a sua morte,
o herói que poderia ter sido deu lugar ao desditoso e que em Alcácer Quibir não ficou só
sepultado o rei145 mas o melhor de uma nação …
145 Só no reinado seguinte – de Filipe I [Habsburgo e Avis] de Portugal (1527-1598) – que se iniciou em 1580, foram trazidos para Lisboa muitos dos fidalgos e cavaleiros cativos após a derrota portuguesa na batalha de Alcácer-Quibir (4 de Agosto de 1578). No que respeita a D. Sebastião (cuja morte originou várias lendas e a crença no sebastianismo), de acordo com a análise de documentação existente, os seus restos mortais vieram para Lisboa em 1582, repousando no Mosteiro dos Jerónimos. [Dois importantes trabalhos sobre D. Sebastião: Maria do Rosário Themudo Barata, 2 vols., As regências na menoridade de D. Sebastião: elementos para uma história estrutural, Lisboa, INCM, 1992, [378]; [474] pp. (Estudo originário da tese de doutoramento em História Moderna e Contemporânea, Universidade de Lisboa, 1984) e Maria Augusta Lima da Cruz, D. Sebastião, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006].
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D. Sebastião fez duas jornadas a África: em 1574 e 1578 e para esta se preparou
atempadamente, como faz notar o autor que chama a atenção para um parágrafo da carta,
do ano 1576, dirigida ao Monteiro-mor.
Segue-se um documento.
_____ “Ultimos cinco anos do viver de D. João II. Apontamentos” Vol. III, nºs 9 e 10, Setembro e Outubro de 1905, pp. 365-371.
Este texto de apoio à documentação que o autor estudou e que faz parte do
acervo do cartório da Câmara Municipal de Évora, reporta-nos a alguns originais do
reinado de D. João II e de D. Manuel I. Nele, Barata tece algumas considerações acerca
do carácter do rei cognominado pela História Perfeito mas que – diz – firmára seu
throno sobre alicerces do terror de que se acercára. Corroborando, elenca factos e
nomes das suas vítimas: O julgamento e sentença de morte do Duque de Bragança; o
apunhalamento, por si próprio executado, do Duque de Viseu (seu cunhado);
oenvenenamento do D. Garcia de Menezes, Bispo de Évora e a morte de tantos outros
de que foi autor moral. Barata faz notar que, aos poucos, o rei perderá a família e os
amigos, se é que os tinha. Morre a irmã (1490); D. Afonso, seu filho e herdeiro, morre
em 1491 e a rainha, D. Leonor, deixá-lo-á; Apenas D. Jorge, seu filho natural, o
acompanha. Entre Julho e Outubro de 1492, agrava-se o estado da sua já débil saúde e D.
João II falece a 25 de Outubro de 1495.
Ao rei terá sido ministrado arsénico, em pequeníssimas doses, ao longo de cinco
anos, o que conduziu a um lento envenenamento. Este facto não admira o autor,
achando-o, até, crível porque muitas pessoas gostariam de ter podido vingar-se de D.
João II146.
O restante trabalho revela algumas observações acerca de sentimentos e dos
actos de punição infligidos na época, bem como algumas linhas sintetizando alguns dos
traslados, relacionados com o acidente e a morte de D. Afonso e a do rei.
Seguem-se doze documentos.
146 Dois autores recentes retomaram e reviram esta temática: Manuela Mendonça, D. João II, Lisboa, Ed. Estampa, 1995, 528 p. e Luís Adão da Fonseca, D. João II, Lisboa, Círculo de Leitores, 2005, 320 p.
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BETHENCOURT, Cardoso de “Lettre portugaise du premier ministre de Siam en 1687” Vol. I, nº 9, Setembro de 1903, pp. 308-314.
Esta é uma carta escrita por um grego – Constance Phaulkon – primeiro-ministro
do rei do Sião,147 para os Franceses, endereçada a um padre jesuíta e pela qual se
comprova a importância e a difusão da língua portuguesa no século XVII, notando o
autor que até os missionários franceses, hostis aos Portugueses, o reconheciam: “«le
portugais este à «peu près la seule langue européene qui soit répandue en Orient»”. O
documento em questão está datado de 3 de Outubro de 1687 (Bethencourt copiou-o em
Agosto de 1901 e ter-lhe-á sido afirmado que era um documento inédito e único em
português, nos Archives Départementales des Deux-Sèvres [França]); está escrito em
papel de seda e de forma muito legível, constando de duas folhas e escritas as quatro
páginas.
O seu conteúdo alude ao desembarque do corpo de tropas francesas, enviadas
por Luís XIV ao reino do Sião e recorda os principais itens das negociações entre as
duas coroas: a segurança da religião cristã; a segurança do comércio recíproco,
protegendo-o dos Holandeses, à época senhores dos dois mares 148 que banham o
território; e de como os portos de Bangkok e Merguy, as duas principais cidades do
império deveriam ser deixadas ao corpo expedicionário francês, afim de serem
fortificadas à moda europeia e defendidas.
Conforme nos diz Cardoso de Bethencourt, no reino do Sião e durante séculos o
português foi utilizado como língua diplomática havendo, ainda, marcas desse pretérito
na religião, na onomástica e até, ainda, no idioma, embora adulterado.
Segue-se um documento.
BRITO, J.J. Gomes de
“Majestade e Grandezas de Lisboa em 1552” Vol. XI, 1916, pp. 9-241. Gomes de Brito149 fez a transcrição peleográfica e analisou este manuscrito de
João Brandão (de Buarcos), um verdadeiro manancial de informação: A dimensão
147 Actual Tailândia. 148 A leste pelo Golfo da Tailândia (Oceano Pacífico) e a oeste pelo Mar de Andamão (Oceano Índico). 149 Deve-se ao estudo de Gomes de Brito o conhecimento da pessoa e autor desta obra. A leitura e transcrição do manuscrito, o seu exame e o de outra documentação conduziram ao nome de João Brandão,
88
económica e social, ou o pulsar da cidade, estão bem expressas nos conhecimentos
fixados, permitindo muitas leituras: as actividades comerciais; a produtividade; a
administração geral da cidade. Acedemos à diversidade de mercadorias, dos
mantimentos às matérias-primas; às diversas profissões e modos de vida, especialmente
dos homens e mulheres africanos, sistematizando as suas actividades, na Lisboa do
século XVI; e as instituições religiosas administradas pelo município, ou pela Coroa,
Esta tarefa de Brandão visava, também, apresentar ao rei uma descrição exacta,
perfeita, de uma grande e abastada cidade:
“E ora quis lhe offereçer a magestade e grandeza desta sua cidade, e determiney de
escrevellas pelo milhor modo que pudese, e cõ mays verdade que fosse possível por que pera yso me
desveley e tomey as mays emformações que pude […]”150.
fidalgo da casa do rei Dom Manuel. Este estudioso, citado por José Felicidade Alves [1990, p. 6], aponta um claro e evidente testemunho no § 38: “E porque eu tenho a dízima e sisa de (carvão)…”, frase que o § 53 revalida: “João Brandão tem a dízima do carvão, lenha, arcos, tijolo e linho…” [Idem, ibidem]. Posteriormente, reinando Dom João III, carta régia (datada de 1 de Agosto de 1522; chancelaria de D. João III, livro 3º, fl. 112v; cf. J.F. Alves, 1990, p.6.) confirma-o “[…] no lugar de rendeiro, por via de sucessão directa, da dízima do carvão, e lenha e casca, telha e tijolo, junco e esparto, linho e arcos, de que havia sido arrendatário o seu pai, Duarte Brandão […],” (J.F. Alves, 1990, p.6). A vida de João Brandão (de Buarcos) encontra-se bem documentada, conhecendo-se-lhe parentes e circunstâncias familiares, posses e cargos: as muitas sisas de que era rendeiro, garantir-lhe-iam substancial largueza de meios, além de que Dom Manuel viria a atribuir-lhe, pelos muito serviços prestados, uma tença de 62.000 reais; desempenhou os cargos de administrador e provedor das Capelas de Dom Afonso IV e de Dona Beatriz; de feitor na Flandres; de vereador da Câmara de Lisboa e de provedor dos Merceeiros de Dom João II. Cavaleiro fidalgo da Casa Real lutou em Azamor e na batalha de Alcaides. O seu sobrenome – Buarcos – adveio do senhorio da vila de Buarcos que o pai adquirira, com consentimento de Dom João II e que dela lhe fez doação. Ignorando-se a data do seu nascimento, sabe-se que morreu em Dezembro de 1562. Este precioso códice – Tratado da Majestade, Grandeza e Abastança da Cidade de Lisboa, na 2ª Metade do Século XVI – Estatística de Lisboa de 1552, é um volume composto por 105 folhas, manuscritas, faltando-lhe a página de rosto – que nunca teria tido, ou que terá sido perdida – pelo que o nome do autor e o título da obra eram desconhecidos. Já sabemos que o autor foi determinado por Gomes de Brito que, também, construiu o título Tratado da Majestade, Grandeza e Abastança da Cidade de Lisboa, na 2ª Metade do Século XVI, apondo como subtítulo Estatística de Lisboa de 1552, designação que lhe tinha sido dada pela Biblioteca Nacional, fazendo parte do seu acervo. (O volume com que trabalhámos tem organização e notas de José Felicidade Alves, Lisboa, Livros Horizonte, 1990). Ao longo do tempo, foram vários os estudiosos que se debruçaram sobre este manuscrito, até em proveito próprio; mas Gomes de Brito transcreveu-o e anotou-o para publicação, em 1916, integrando-o no volume XI do Archivo Histórico Portuguez, texto impresso sob a direcção de Anselmo Braamcamp Freire. Posteriormente, em 1923 e, igualmente, pela mão destes dois eruditos foi, de novo, publicado, em edição própria, comentada e anotada e reproduzindo o manuscrito. Esta temática foi por nós abordada nos trabalhos que fizemos para os seminários de “História de África”, Gente Negra na Lisboa do Século XVI – Modos de Vida: Ensaio, leccionado pela Profª Doutora Isabel de Castro Henriques e pelo Prof. Doutor José Horta e o de “Poder e Instituições”, As Cartas de Quitação de D. Manuel: Ofícios do Reino - Levantamento Prosopográfico:1487-1516: Ensaio, leccionado pela Profª Doutora Maria Leonor García da Cruz. 150 João Brandão, “Majestade e Grandeza de Lisboa em 1552”, Archivo Histórico Portuguez, vol. XI, Lisboa, 1916, p.10.
89
Obra de grande fôlego, esta de Gomes de Brito, tem 232 páginas e é enriquecida
com 770 notas de rodapé.
Segue-se um documento.
COSTA, José Pedro da
“Carta do poderosíssimo e invictíssimo D. Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, &c., sobre as vitórias alcançadas na Índia e em Malaca. Ao Santo Padre em Cristo e Senhor nosso, Leão 10º, Pontífice Máximo” Vol. III, nºs 3 e 4, Março e Abril de 1905, pp. 111-114.
Como se percebe pelo cabeçalho, trata-se de uma carta que D. Manuel I dirigiu
ao Papa Leão X, dando-lhe conta dos triunfos do seu capitão-mor, Afonso de
Albuquerque, na Índia e da sua conquista da grande e rica cidade de Malaca, governada
por um rei mouro; importante praça comercial, à qual afluíam as mais diversas
mercadorias, como ouro, prata, pedras preciosas, pérolas, aromas e perfumes, seda em
rama. Com as pedras resultantes das ruínas das mesquitas foi construída uma enorme
fortaleza para vigiar toda a terra e mar em roda, tendo os Portugueses, para tal, tido a
ajuda de muitos estrangeiros: Sumatras; Piguanos; Jáus; Goanos e Chins, além de
muitos outros, oriundos das mais longínquas paragens da Ásia Oriental que ali iam
mercadejar. Todos eles e mais, de áreas vizinhas, pediram a Albuquerque amisade e
alliança, aceitando o domínio, as leis e a moeda, de ouro ou prata, denominada
malaquez, cunhada em nome do rei, pelo que o reconheciam como tal; Afonso de
Albuquerque recebeu as autoridades locais – militares e judiciais – e o poderoso rei do
Sião, de quem se dizia pertencer Malaca, mandou um embaixador apresentar a sua
sujeição, sendo portador de uma taça e de uma espada de ouro, esta ricamente
trabalhada e um valioso carbúnculo – um brilhantíssimo rubi – gesto de reconhecimento
da soberania portuguesa.
Estabelecido o governo, organizado o comércio e a defesa – protegida a
fortaleza e o litoral – Albuquerque retornou a Goa encontrando-a cercada pelo Mouros
que atacavam, ininterruptamente, os Portugueses. O governador, acometendo-os, levara-
os de vencida, pelo que os sobreviventes se renderam, sendo-lhe poupada a vida, mas
confiscados os pertences e despojos de guerra. Refere, ainda, D. Manuel os vários
embaixadores dos reinos vizinhos (alguns pagavam tributo a Portugal) que ao
governador Albuquerque tinham vindo pedir paz e aliança. Aportara, igualmente, o
90
embaixador do rei de Ormuz, opulento empório, por aquele tomado, carregando muitos
e valiosos presentes, em sinal de submissão e fidelidade à coroa portuguesa. Agora, ele
estava no Mar Vermelho cuidando de ocupar a sua entrada para impedir os Mouros de
fazer comércio. Na Índia, uma esquadra reunir-se-ia com outras forças, sob a mesma
bandeira da Cruz para combater os infiéis e avançar até às mais remotas regiões do
Oriente. Tudo isto narra D. Manuel ao Papa e sempre em nome da palavra divina e culto
ao verdadeiro Deus.
DENUCÈ, J.
“Privilèges commerciaux accordés par les rois de Portugal aux Flamands et aux Allemands. (XVe et XVIe Siècles”
Vol. VII, nºs 8 e 9, Agosto e Setembro de 1909, pp. 310-319. Idem, nº 10 e 11, Outubro e Novembro de 1909, pp. 377-392.
Este trabalho radica num documento que trata dos privilégios concedidos a um
mercador flamengo, Édouard Sonnemans, residente no Funchal e dirigida ao rei151 de
Portugal, em 1644 pedindo-lhe que lhe permita vir a usufruir dos privilégios concedidos
no passado, por outros reis portugueses, aos mercadores flamengos e alemães. Para
fundamentar o seu pedido ele valoriza a importância do seu comércio com os países
pertencentes à coroa e os consideráveis proveitos que daí resultavam para o tesouro real.
Realça o autor que Sonnemans terá feito uma pesquisa acerca dos anteriores actos reais
para saber de todos os direitos e contestar se necessário. Da petição deste mercador,
resultou, então, o já referido documento, do maior interesse para a história do
relacionamento comercial de Portugal com os Países-Baixos e a Alemanha, no século
XV e início do século XVI. Tais benefícios ser-lhe-ão concedidos, com base nos
privilégios acordados com os mercadores flamengos e alemães desde 1524, constando
de sessenta cláusulas, datando a mais antiga de 1452152 e a mais importante de 1503153,
dizendo respeito a um pedido expresso dos Welser154, mas que, entretanto, foi aplicada a
todas as companhias de mercadores alemães que tinham ou viessem a ter representantes
em Lisboa.
Denucè refere, ao longo do trabalho, vantagens e direitos concedidos àqueles e a
outros mercadores estrangeiros por D. Afonso V e D. Manuel, o lapso de tempo por que 151 D. João IV que reinou entre 1640 e 1656. 152 Reinado de D. Afonso V, (1438-1481). 153 Reinado de D. Manuel I, (1495-1521). 154 Importante família de mercadores de Augsburgo.
91
eram válidas ou as mercadorias mais negociadas dado que a carta testemunho do rei D.
João IV, documento dos privilégios concedidos a Sonnemans, insere os traslados
daqueles outros documentos. Segue-se o Document – Privillegio de Duarte Sonnemans,
Mercador Flamengo.
FREIRE, Anselmo Braamcamp
“O Almirantado da Índia (Data da sua criação)” Vol. I – Nº 1 – Janeiro de 1903, pp. 25-32.
Artigo que consiste no desfazer das dúvidas sobre a data – 10 de Janeiro de 1500
ou 10 de Janeiro de 1502 – em que D. Manuel nomeou Vasco da Gama “Almirante da
[…] India com […] rendas, foros e direitos […]” e lhe conferiu o título honorífico de
dom (já que até então, o navegador era, somente, fidalgo da casa do rei) e trezentos mil
reais de renda anual. Braamcamp Freire comprova que esta recompensa data do ano de
1500. Para o justificar, o autor cotejando as duas cartas, concluiu que a segunda –
traslado da primeira – tinha sido elaborada somente com o propósito de determinar onde
Vasco da Gama haveria de receber os setenta mil reais, que havia de menos da sua já
determinada renda de trezentos mil, ponto omisso na primeira que só esclarecia a
doação de outras rendas orçando os duzentos e trinta mil. Havendo carta patente, datada
de 2 de Maio de 1502, indicando a Casa do Paço da Madeira, em Lisboa, como lugar de
proveniência da renda em falta, o autor mostra que o escrivão fez cópia, mantendo o dia
e o mês e alterando, apenas, o ano (de 1550 para 1502): a segunda carta não poderia
estar passada a 10 de Janeiro. Logo, a de 1500 é a que cria o Almirantado da Índia e os
efeitos daí advindos foram imediatos. A atestá-lo são referidos nove documentos, com
datas entre 7 de Fevereiro de 1500 e Novembro de 1501, em que a Vasco da Gama é
dado o tratamento dom, título com que foi agraciado na mesma carta em que lhe fora
doado o Almirantado da Índia.
Este estudo de Braamcamp Freire inclui a primeira das duas cartas cujas datas
terão originado aquele equívoco; carta sobre a dízima de Sines e Mil Fontes e um alvará
a favor de Vasco da Gama doando-lhe a vila de Sines.
Seguem-se três documentos.
92
______ “Cartas de Quitação del Rei D. Manuel”
As cartas de quitação são documentos que permitem aquilatar da economia de
Portugal naquela época e eram uma declaração do rei, enquanto credor, considerando
livre de encargos um indivíduo, até aí seu devedor, após terem sido verificadas as contas.
No que a elas respeita, Anselmo Braamcamp Freire, na dúvida sobre qual seria o
melhor sistema para o fazer, alerta o leitor para o facto de ter decidido apresentá-las,
simplesmente, pela ordem alfabética dos nomes dos indivíduos livres de dívidas à
Fazenda Real. Aparecem numeradas por ordem sequencial nos volumes I, II, III, IV, V,
VIII e IX, totalizando 786, como já referimos.
Mundo de matérias que ultrapassa a razoabilidade para as analisar no contexto do
nosso trabalho e não podendo – nem querendo – ignorar tal massa documental de,
transcrição peleográfica, optámos por, em cada volume, as assinalar.
Assim:
VOLUME I
Nº 3 – Março de 1903, pp. 94-96. (Cinco cartas); Nº 5 – Maio de 1903, pp. 163-168.
(Onze cartas); Nº 6 – Junho de 1903, pp. 200-208 (Dezanove cartas); Nº 7 – Julho de
1903, pp. 240-248. (Vinte duas cartas); Nº 8 – Agosto de 1903, pp. 278-288. (Trinta e
sete cartas); Nº 9 – Setembro de 1903, p. 328 (Duas cartas); Nº 10 – Outubro de 1903,
pp. 356-368 (Vinte e nove cartas); Nº 11 – Novembro de 1903, pp. 398-408. (Trinta e
três cartas); Nº 12 – Dezembro de 1903, pp.447-448. (Quatro cartas);
VOLUME II
Nº 1 – Janeiro de 1904, pp. 34-40 (Dezassete cartas); Nº 2 – Fevereiro de 1904, pp. 74-
80. (Dezanove cartas); Nº 4 – Abril de 1904, pp. 158-160 (Quatro cartas); Nº 6 – Junho
de 1904, pp. 232-240. (Vinte cartas); Nº 9 – Setembro de 1904, pp. 349-360. (Vinte e
oito cartas); Nº 11 – Novembro de 1904, pp. 421-442. (Quarenta e nove cartas);
VOLUME III
Nºs 1 e 2 – Janeiro e Fevereiro de 1905, pp. 75-80 (Doze cartas); Nºs 3 e 4 – Março e
Abril de 1905, pp. 155-160 (Catorze cartas); Nºs 5 e 6 – Maio e Junho de 1905, pp. 237-
93
240 (Nove cartas); Nºs 7 e 8 – Julho e Agosto de 1905, pp. 313-320 (Dezasseis cartas);
Nºs 9 e 10 – Setembro e Outubro de 1905, pp. 385-400 (Trinta e seis cartas); Nºs 11 e
12 – Novembro e Dezembro de 1905, pp. 471-480 (Vinte e seis cartas);
VOLUME IV
Nºs 1 e 2 – Janeiro e Fevereiro de 1906, pp. 72-80 (Vinte e uma cartas); Nºs 5 e 6 –
Maio e Junho de 1906, pp. 237-240 (Oito cartas); Nº 7 – Julho de 1906, pp. 282-288
(Catorze cartas); Nºs 8 e 9 – Agosto e Setembro de 1906, pp. 364-368 (Doze cartas);
Nºs 10 e 11 – Outubro e Novembro de 1906, pp. 439-448 (Vinte e quatro cartas); Nº 12
– Dezembro de 1906, pp. 474-480 (Quinze cartas);
VOLUME V
Nºs 1 e 2 – Janeiro e Fevereiro de 1907, pp. 73-80 (vinte cartas); Nºs 3 e 4- Março e
Abril de 1907, pp, 156-160 (oito cartas); Nºs 5 e 6 – Maio e Junho de 1907, pp, 235-240
(dezasseis cartas); Nºs 7 e 8 – Julho e Agosto de 1907, pp, 321-326 (catorze cartas); Nº
9 – Setembro de 1907, pp, 442-446 (seis cartas); Nº 12 – Dezembro de 1907, pp, 472-
480 (vinte e quatro cartas);
VOLUME VI
Nºs 1 e 2 – Janeiro e Fevereiro de 1908, pp, 76-80, (nove cartas); Nº 3 e 4 Março e Abril
de 1908, pp, 155-160 (doze cartas);
VOLUME VIII
Nºs 1 e 2 – Janeiro e Fevereiro de 1910, pp, 76-80, (Índices); Nºs 8, 9, 10 e 11 – Agosto
a Novembro de 1910, pp. 391-414, (sessenta e duas cartas);
VOLUME X
1914, pp, 433-470 (oitenta cartas).
VOLUME XI
1916, pp, 1-17 (vinte e oito cartas).
94
________ “Auto do Conselho havido no Espinheiro em 1477”
Vol. I – Nº 6 – Junho de 1903, pp. 198-199.
Este é um pequeno artigo de suporte à transcrição paleográfica da acta do
conselho que em 28 de Abril de 1477 se reuniu, no Convento do Espinheiro e ante o
qual o Príncipe D. João155 – regente durante a ausência de D. Afonso V que partira, em
1476, para França – indiciou o estado crítico do reino, a que faltava justiça, gente e
dinheiro. Procurando uma resposta, o conselho decidiu convocar as Cortes que
deveriam reunir-se em Santarém, a 8 de Setembro, dando dessa acção conhecimento a D.
Afonso V, pedindo-lhe permissão e opinião. Teria sido Antão de Faria – camareiro do
Príncipe e homem de confiança (que Rui de Pina menciona na Crónica de D. Afonso V)
a levar o auto daquele conselho ao rei, tendo voltado ao reino com as suas cartas de
resposta.
Braamcamp Freire faz saber que o documento não está autenticado, sendo,
talvez, minuta ou cópia do original, merecendo, todavia, confiança e tendo interesse por
dar a conhecer a economia do reino e ser prova do interesse do Príncipe pelos assuntos
do Estado.
Todavia, as Cortes não chegaram a reunir-se; a demora da resposta real terá
condicionado os trabalhos.
Segue-se um documento.
______ “Novas de Veneza em 1508. Comércio e Guerra (Carta do escrivão da nossa feitoria a el Rei D. Manuel)”
Vol. II nº 7, – Julho de 1904, pp. 269-272. O documento em apreço é uma extensa carta, de informação pródiga e diversa,
do escrivão da feitoria de Veneza, Afonso Rodrigues, dirigida ao rei D. Manuel e datada
de 13 de Maio de 1508. O seu teor consiste em informar o rei sobre toda a actividade
económica da feitoria e sobre o ambiente bélico156, de então. Saberemos que, já em
Abril, mês em que tinham zarpado as naus reais, o feitor e ele próprio lhe tinham escrito
e fazendo-o ele acerca de tudo o que aquelas transportavam. O preço do açúcar e o
155 Futuro rei D. João II. D. Afonso V fora à corte de Luís XI, procurando auxílio para a sua causa com Castela que envolvia uma questão sucessória. 156 A guerra que havia entre o imperador Maximiliano I e a Cidade-Estado de Veneza que tomara Gorízia.
95
quanto se vendia era assunto que interessava a D. Manuel e Rodrigues informa-o que,
devido à guerra que o Imperador mantinha com Veneza, a procura era pouca e dele
também havia falta, dois motivos que obstavam à sua venda. Mesmo o que se vendia era
a crédito e a longo prazo, porque com dinheiro à vista não havia quem comprasse. O
feitor, que partira na nau Feros, para ir carregar o salitre que tinha comprado, deixara-
lhe instruções para negociar, mas… E Rodrigues dá detalhes e sugestões que ajudem a
suprir as dificuldades económicas que se vivem: “Parece me, Senhor, sse esta gera nõ
cesar, que Vossa Alteza os deve de mãdar baratar, porque doutra maneira me parece
que nõ sse poderam gastar este ano […”. Lamenta não escrever mais a respeito da
situação de guerra, porque no camiinho as vezes sse tomam as cartas. Contudo, não
deixa de dar pormenores, de citar cidades, nomes, funções e particularidades dos actos
de hostilidade que envolviam os beligerantes. Termina auspiciando que D. Manuel fara
de Lyxboa outra Veneza.
______ “Maria Brandoa, a do Crisfal” Vol. VI, nºs 8 e 9 – Agosto e Setembro; nºs 10 e 11 – Outubro Novembro de 1908, pp. 293-442; Vol. VII, nºs 1 e 2, Janeiro e Fevereiro de 1909; pp. 53-79; Nºs 3 e 4, Março e Abril; pp.123-133; Nºs 5 e 6, Maio e Junho, pp. 196-208; Nºs 8 e 9, Agosto e Setembro, pp. 320-326;
Vol. VIII, nºs 1 e 2, Janeiro e Fevereiro de 1910, pp. 21-33.
Esboceto de investigação histórica, nas palavras do seu autor, este artigo –
riquíssimo, pela profusão de factos e memórias, firmados em 64 documentos 157 –
dividiu-o ele em dois capítulos, a saber: Capítulo I – Os Brandões poetas do
Cancioneiro e Capítulo II – A Feitoria de Flandres. Na sua génese esteve a biografia de
D. Maria Brandão, filha única de João Brandão, fidalgo da casa do rei D. Manuel, que
entre outros cargos foi feitor em Flandres, entre 1509 e 1514, sendo-lhe dada carta de
quitação em 1517. Porém, o motivo que, à época deste trabalho, gerava acesa disputa
intelectual centrava-se em quem teria sido, realmente, o autor da écloga Crisfal e,
157 Neste ponto cumpre-nos esclarecer o motivo por que decidimos – ao contrário do que se passou com
as Cartas de quitação del Rei D. Manuel e se passará com Os cadernos de assentamentos – especificar no Índice dos documentos transcritos a massa documental que complementa este estudo de Braamcamp Freire, Maria Brandoa, a do Crisfal: porque, enquanto nas cartas e nos cadernos se fazem menções sucintas e análogas nos seus assuntos, o teor desta documentação é diversificado, rico de informações e peculiar.
96
consequentemente, quem seria a mulher que figurava como heroína da obra. Mas este
fecundo estudo foi, também, aproveitado para que se conseguissem “[…] notícias muito
mais interessantes […] acerca da feitoria de Antuérpia158 e de uma embaixada a Flandres
no ano de 1517 […].”159
Aqui, Braamcamp Freire explanará como os Portugueses tiveram, desde tempos
remotos, relações com a Flandres. Conhecimento e trato que vinha do século XII, desde
a conquista de Lisboa (1147), ao despontar de relações comerciais e políticas e, até, de
ligações matrimoniais. Esclarece que dividirá o estudo dos acontecimentos da feitoria
em dois intervalos de tempo:
“[…] o primeiro irá desde o segundo quartel do século XV, até ao descobrimento do
caminho marítimo para a Índia; o segundo começará nos princípios do seguinte seculo, quando
pela primeira vez as náus portuguêsas carregadas de especiaria fundearam em portos flamengos,
e terminará, para mim, no meu caso restrcito, em 1526, quando já, na verdade, se acentuava a
decadência do nosso comercio em Flandres”160.
Seguem-se sessenta e quatro documentos, repartidos deste modo:
� Vol. VI – Doc. I a XIV, pp. 416-442;
� Vol. VII – Doc. XV a LVI, pp. 53-326;
� Vol. VIII – Doc. LVII a LXIV, pp. 21-33.
Fazemos notar a importância da Lista das mercadorias permutadas com os estados de Flandres e Barbante no reinado de D. Manuel, inserida no vol. VI, pp. 408-416. ______
“Outro capítulo das finanças manuelinas” “Os Cadernos dos Assentamentos” Vol. VI, nºs 5 e 6 – Maio e Junho de 1908, pp. 233-240; nºs 10 e 11 – Outubro e Novembro de 1908, pp. 443-444; Vol. VII, nºs 5 e 6 – Maio e Junho de 1909, pp. 220-226;
158 Esta feitoria, igualmente referida como Flandres, concorreu para a importância económica da cidade de Antuérpia. Gerindo todo o comércio e distribuição das mercadorias que do Oriente vinham para a Europa, foi fundada após a chegada dos Portugueses à Índia. 159 Archivo Historico Portuguez, vol. VI, Lisboa, 1908, pp. 294-295. 160 Ibidem, p. 347.
97
Idem, nº 7 – Julho de 1909, pp. 291-292; nºs 8 e 9 – Agosto e Setembro de 1909, pp. 376; nº 12 – Dezembro de 1909, pp. 478-480. Vol. VIII, nºs 1 e 2 – Janeiro e Fevereiro de 1910, pp.70-75; Vol. X, 1916, pp. 60-208. Como pode verificar-se, Os Cadernos dos Assentamentos 161 – que
complementam as Cartas de Quitação – eram produzidos na vedoria da fazenda,
assinados pelo rei e subscritos por um dos vedores, após o que eram remetidos aos
almoxarifes e recebedores que tinham a incumbência das finanças públicas.
São sessenta e dois os Cadernos, dos quais Braamcamp Freire trabalhou 212
documentos, repartidos por cinco volumes do Archivo Histórico Portuguez. O mais
antigo – Caderno da sisa da marçarya para 1502 – datado de 18 de Março, foi o
primeiro a ser publicado, autonomamente, no vol. II, pp. 21-26.
Deste modo, temos:
Vol. VI – nºs 5 e 6 – Maio e Junho de 1908, pp, 233-240, (10 doc.);
Idem, nº 7 – Julho de 1908, pp, 443-444 (2 doc.);
Vol. VII – Nºs 5 e 6 – Maio e Junho de 1909, pp, 220-226, (10 doc.);
Idem, nº 7 – Julho de 1909, pp, 291-292 (2 doc.);
Idem , nºs 8 e 9 – Agosto e Setembro de 1909, p. 376, (1 doc.);
Idem , nºs 10 e 11 – Outubro e Novembro de 1909, p. 478-480, (4 doc.);
Vol. VIII – nºs 1 e 2 – Janeiro e Fevereiro de 1910, pp. 70-75, (sete doc.);
Vol. X – 1916, pp, 60-208 (cento e setenta e quatro doc.).
FREITAS, Jordão A. de “Fernão Mendes Pinto, sua última viagem à China (1554-1555)” Vol. III, nºs 11 e 12, Novembro e Dezembro de 1905, pp. 466-470
Pequeno escrito introdutório a uma extensa carta que o padre Luís Froes162
escreveu de Malaca, aos seus confrades da Companhia de Jesus, em Goa.
Jordão de Freitas refere ter conhecimento de duas outras: a datada de 15 de
Dezembro de 1555, enviada para Portugal e a de 7 de Janeiro de 1556, destinada a Goa.
161 Observa Braamcamp Freire que na transcrição de Os Cadernos de Assentamentos procedeu de igual modo que para Cartas de Quitação, ou seja: “[…] desprezarei a rigorosa reprodução grafica do texto, introduzirei nelle a pontuação, e empregarei a numeração moderna.” Ibidem, p 234. 162 Luís Froes – Padre jesuíta que nasceu em Lisboa em 1532 e faleceu em 1597, em Nagasaki. Desenvolveu a sua actividade missionária na Índia e no Japão. Escreveu Contradições dos Costumes entre a Gente da Europa e a Província Japão, importante fonte documental do Japão do século XVI.
98
Ambas já publicadas, ao contrário da que temos em presença, cópia inédita no seu
idioma de origem e que é anterior aquelas, datando de 1 de Dezembro de 1555 e de que
ele apenas conhecia uma cópia em italiano. Freitas alude à sua descoberta na – à data
designada – Biblioteca Real da Ajuda, regozijando-se com o seu conteúdo que, não só
narra a viagem que Fernão Mendes Pinto163 fez partindo de Malaca para o Japão e já por
ele descrita, numa carta de 20 de Novembro de 1555, como por incluir particularidades
que reputava de importantes, para a biografia daquele viajante.
Segue um documento.
______ “Macau. Materiais para a sua história no século XVI”.164 Vol. VIII, nºs 5, 6 e 7, Maio a Julho de 1910, pp. 209-242.
Aturado e extenso trabalho que incorpora valiosíssimos dados para o estudo da
presença dos Portugueses no Oriente. Povoado por inúmeras personagens165 históricas, o
primeiro protagonista é Leonel de Sousa166 a quem ficou a dever-se aquele que foi o
163 Autor da discutida Peregrinação (relatos de extraordinárias viagens, imaginárias ou não, pelos longínquos mares do Oriente), aventureiro que, por si mesmo, se sabe ter saído de Lisboa em 1537, as suas proezas marítimas levaram-no à China e ao Japão. Sabendo-se que os Portugueses ao Japão iam comerciar desde 1544, Fernão Mendes Pinto e os seus companheiros poderão ter sido os primeiros portugueses (e europeus) a fazer arribada naquele território em 1541 – como ele referiu de viva voz – tendo-lhes dado a conhecer as armas de fogo; por outro lado, se a sua chegada se deu em 1546, como pode deduzir-se, pela leitura daquela obra, não teriam sido eles os percursores: outros ter-se-lhe-ião antecipado. Luís de Albuquerque, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. II, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 904-906. 164 O autor refere, ao longo do trabalho, um Apêndice que não chegou a juntar. De facto, tal seria a sua intenção já que, há a indicação continua, na p. 242, onde esta parte do trabalho finaliza. Os documentos em questão, segundo depreendemos do texto em estudo, seriam: Informação da China, enviada de Malaca, pelo padre jesuíta, Gaspar da Cruz, em 1554 e uma carta, de 1555, escrita por Afonso Ramires, um dos trinta portugueses feitos cativos aquando do aprisionamento de dois juncos, em Chincheo e dirigida a compatriotas que, então, comerciavam em Lampacau (informação que o autor colheu em Frei Gaspar da Cruz, Tratado, cap. XXIV); Representação, dirigida pelos moradores da cidade de Macau, em 1629, a Filipe III (Biblioteca da Ajuda, códice 51-VIII-4, fl. 236-229, doc. 23). (Nota: terá havido lapso do autor na indicação da paginação); outra Informação da China, escrita por um ex-cativo, Amaro Pereira, enviada de Goa, a 10 de Dezembro de 1563. (Biblioteca da Ajuda, códice 49-IV-50; No seu Tratado, Frei Gaspar da Cruz referir-se-lhe à no cap. XIX) e Relação dos Capitães de Macau desde 1568 até 1622. 165 Como S. Francisco Xavier, de seu nome Francisco de Jaso y Xavier (1497-1552), nascido em Navarra. Missionário jesuíta que, em todos os domínios portugueses do Oriente, por onde andou e especialmente na Índia e no Japão, converteu à Fé Cristã e baptizou muitas pessoas. Tantas foram as conversões que mereceu o epíteto de Apóstolo do Oriente. Maria Armanda Ramos, “Xavier, S. Francisco”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luis de Albuquerque, vol. II, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 1086-1090. 166 Leonel de Sousa, natural do Algarve foi mercador e capitão-mor. Reinando D. João III, terá tido, em 1547, ordem para fazer duas viagens à China. Jordão de Freitas supõe-o, já no tempo de D. Sebastião, capitão da galé Monserrate que fazia parte de uma expedição a Jafanapatão (1560-1561); (cabo e península de Jafanapatão e que, nos nossos dias voltou ao seu nome original Jaffna) e, mais tarde (1571) no cerco a Chaul. (chegou a ser território português (1521-1740), localizado a sul de Bombaim).
99
primitivo acordo com as autoridades chinesas, em 1554, ratificado em 1557. Tal veio a
permitir a legalização das actividades comerciais portuguesas, até então
contrabandeadas, sem pagamento de impostos. Fazendo referência à Peregrinação e a
outras fontes, o autor refere as hostilidades dos autóctones em relação aos portugueses –
frangues ou facui – como eram designados.
Transcreve o autor uma longa carta 167 de Leonel de Sousa, datada de 1556,
enviada de Cochim ao infante D. Luis168dando conta de como se processou aquele
acordo comercial, das cedências feitas (como o compromisso de pagar 20% de taxas e
de não erguer fortificações), do cessar das agressões; de como os Portugueses
recuperam credibilidade junto dos Chineses, os seus usos e costumes; organização
política; hierarquias e pormenores geográficos; comportamentos e traços de carácter. E,
“Ho mais deixo a Nosso Senhor, e a Vossa Alteza, que se lembra quantos serviços tenho
feito nestas partes à trinta e tanto annos, e os trabalhos que levei, há tres annos nesta Viagem, e
em pacificar a China […] donde venho velho e camsado[…]”169.
Acham-se inseridos pequenos excertos de documentos – todos eles referenciados
– que deixam perceber o quanto as relações dos Portugueses com aquele povo oriental
tinham melhorado, na sequência dos esforços de Leonel de Sousa.
Reforçando a ideia de que em 1555 os Portugueses já tinham aproado a Macau170,
não obstante ter sido, até meados de 1557, pelo menos, o porto de Lampacau o
167 Esta carta – que Jordão de Freitas supôs inédita – descreve, com minúcia, as prolongadas negociações com o Aytao da Cidade e Reyno de Cantão, alta entidade que superintendia nas actividades do mar. É, decerto, um dos mais importantes documentos da história da ligação luso-chinesa. 168 Irmão de D. João III, já falecido em 1555, mas cuja morte ainda não era conhecida no Oriente. 169 Decorridos quase oito anos, em 1563, escreverá à viúva de D. João III, D. Catarina de Áustria (1507-1578), lembrando há quanto tempo trabalhava para a coroa, pedindo mercês e que, se morrer, ela se lembre da sua mulher, para que ali não fique desamparada. Filha de Filipe I de Castela e de Joana, a Louca, teve nove filhos, regente após a morte de D. João (1557) dedicou-se à educação do neto, D. Sebastião. Quando abandonou a regência (1562) o cardeal D. Henrique encarregou-se do governo. Durante o reinado de D. Sebastião teve com ele inúmeras desavenças, acabando por se recolher no Convento de Xabregas, onde faleceu. 170 Macau – à época, porto de escala entre Lampacau e Cantão; reza a Crónica de Hian-xan que, no ano de 1553, os portugueses ali desembarcaram. A opinião de Jordão de Freitas é que só um facto excepcional os teria levado a tal. Citamos a sua nota (1), da p. 222:
“Só com o carácter de um facto excepcional poderá ser recebido como verdadeiro o caso de desembarque de portugueses em Macau em 1553, refrido na “Crónica de Hian-xan, antiga edição, por Li-choo-Coci e Chen-Hu, vol. 8, fl.23 verso, nestes termos: “No ano 32 do reinado Kia-ching da Dinastia Mim (1553) navios estrangeiros chegarão ao porto de Hao-King (Macau) dizendo – que tendo sofrido uma tormenta, e achando-se molhados os artigos de tributo
100
interposto comercial, Jordão de Freitas imbrica material que documenta o trato
comercial com a China, as tentativas das embaixadas ao seu rei, a cessão daquele
território. E muitos outros testemunhos171 de experiências de vida dos Portugueses de
Seiscentos no Oriente.
O documento que mencionamos no Índice está intercalado no corpo do trabalho,
pp. 210-215.
GUERRA, L. de Figueiredo da “Os brios vianenses” Vol. VIII, nºs 5, 6 e 7, Maio a Julho de 1910, pp. 207- 208. Artigo que nos dá a conhecer o sentimento de dignidade, do amor-próprio, das
gentes de Viana,172 face a um acontecimento que buliu com os seus interesses, numa
época, em o povo vivia dos recursos do mar e das terras de cultura de cereais.
“O termo de Viana não ultrapassava […] o rio Lima, ocupando as projecções ocidentais
da serra de Arga, entre os ribeiros Âncora e Podre; […] os seus lugares eram montanhosos,
possuindo […] os limitados vales para veigas”173.
Todavia, não poucas vezes os governantes mandavam buscar o produto da
planície cultivada e fértil para abastecer, não só a capital do reino, como as praças
para o Imperador desejavam que por enquanto se lhes cedessem as praias de Hao-King para enxugá-los; e sendo-lhes permitido por Vam-pó, segundo Inspector das Costas, principiarão a fazer algumas palhoças” (Apud 2Ta-ssi-yang-kuo”- Série I, vol. I, nº3, Dezembro de 1899, p. 152”).
Macau ficou na posse de Portugal em 1554 e até 1999, ano em aquele território foi entregue à República Popular da China. Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, passou este – que era o último território ultramarino – a ter a designação de Território de Macau, ou Território Chinês sob Administração Portuguesa. Fechava-se um ciclo da História de Portugal, o fim do Império Português…
“Só, incessante, um som de flauta chora…”
Camilo Pessanha, “Ao longe os barco de flores”, A poesia de Camilo Pessanha, Macau, Instituto Internacional de Macau, 2004, p. 62. 171 Testemunho como o que refere a aventura vivida pelos capitães Diogo Pereira e Luís de Melo e os seus trezentos homens que, no dia 21 de Novembro de 1563, em auxílio do General das Armas de Cantão enfrentaram e desbarataram, tornando cativos a maior parte, os piratas chineses que aterrorizavam os mares de Cantão e a sua importante praça comercial. 172 O autor refere-se a Viana do Castelo, como se depreende pela leitura do restante texto. Esta é a cidade portuguesa mais a norte, banhada pelo Oceano Atlântico. 173 L. de Figueiredo da Guerra, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa, 1910, p. 207.
101
marroquinas, coisa que acarretava danos e perdas de monta: o pagamento – pouco e
tardio – o passar fome da população e, ainda, o esbulho dos barcos, a fim de
transportarem os cereais. Acresce que este último factor lhes impedia a pesca e a
actividade mercantil. Havendo reclamado de toda esta situação, uma carta régia, de
1456 174 decretava que não lhes tomassem as caravelas para levar as vitualhas a Ceuta,
ou outro lugar e que o pagamento fosse imediato. Já em 1467 e na falta de cereais, outra
carta dispõe que em Viana, os oficiais de justiça não permitam o carregar do pão, sob
pena de multa. Tal, veio a ser confirmado por D. João II e, depois, por D. Manuel.
Porém, este último, alguns anos depois daquele acto de confirmação, ordenou que
fossem carregadas duas embarcações. Não obstante em Viana terem protestado, devido
à míngua de mantimentos de que, também, sofriam, o certo é que, de Lisboa, sem
delongas, os fizeram embarcar, a contragosto do concelho e do povo. Perante o facto
consumado, mas irredutíveis na sua decisão, na noite que antecedia a partida, os
vianenses queimaram as embarcações175, escolhendo arcar com o prejuízo e enfrentar a
cólera do rei. Não obstante terem sido feitas diligências para encontrar os culpados, tal
não foi possível. Consequentemente, D. Manuel mandou cessar os privilégios e
franquias municipais. Tudo o que os seus antecessores e ele próprio tinham concedido e
ratificado. Sobre o desfecho deste assunto, este autor apresenta uma interessante carta
do rei D. Manuel.
Segue um documento.
174 Em 1456 reinava D. Afonso V, O Africano que ocupou o trono entre 1438 e 1481. 175 Duas embarcações designadas por pinaças: “A quantos esta nossa carta uirẽ fazemos saber que por as duas pinaças que foram queimadas no Rio de Viana de foz de Lima que estavam carregadas de paom[…]”. “Carta de D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa, 1910, p. 208. Pinaça – Embarcação que já aparece citada em documentos da 1ª e 2ª dinastias, mas de que não é fácil determinar as característica; há conhecimento de que serviam para a pesca e para o transporte de mercadorias entre Setúbal e Lisboa e outros portos da costa lusa; seriam à vela e a remos, não se sabendo se eram similares às da Biscaia que - sabe-se – “[…] eram de vela e remo, compridas largas e ligeiras, de popa quadrada, e que arvoravam três mastros […] tinham 50 pés de comprimento, por 12 de boca; 5 a 6 de pontal; 10 de altura à popa e 11 a vante”. Humberto Leitão e J. Vicente Lopes, Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos da Junta de Investigação Científica do Ultramar, 1974, p. 414.
102
PESSANHA, D. José “Uma reabilitação histórica. Inventários da Torres do Tombo no século XVI” Vol. III, nºs 7 e 8, Julho e Agosto de 1905, pp. 287-303.
Esta pequena introdução, em cujo título a frase reabilitação histórica nos
remete para a ideia de que se pretende inocentar alguém, inicia-se com uma declaração
de Gomes Eanes de Zurara176 acerca de uma ordem de D. Afonso V, relacionada com os
livros de Registo dos Reis pasados que havia na Torre do Tombo. Por entender que
muitos documentos não tinham interesse e porque muito velhos, “[…] mandou que se
tirasem em este livro aquellas que sustanciaaes fosem pera perpetua memória, e que as
outras ficasem, que a nehuũ aviam razam daproveytar.
Esta declaração abre “[…]o livro de chancelaria de D. Pedro I, e que se repete a
fl. 81 desse registo e a fl. 1 do livro Iº do fundador da dinastia de Avis, [mas dela] não
pode inferir-se qual o destino que tiveram os livros que Gomes Eanes reformou.
Segundo o autor, são poucos os livros originais de chancelaria, anteriores a D. Afonso V,
que se conservam na Torre do Tombo e dos que Zurara extractou, nenhum subsiste; sem
embargo de poderem ter existido até à reforma de D. Manuel, tanto mais que num dos
volumes de leitura nova, foi registado, integralmente, um diploma que no livro I º, da
chancelaria de D. João I, foi lançado apenas o resumo.
O objectivo deste trabalho é ilibar Zurara – ou reduzir-lhe a falta que se lhe
atribui – por terem desaparecido livros originais. Mas, muitos documentos não foram
176 Gomes Eanes de Zurara, cronista, filho do cónego Johanne Gomes de Zurara, supõe-se que nasceu entre 1410 e 1420 (mas há outras opiniões), falecendo entre Dezembro de 1473 e Abril de 1474. São conhecidas três cartas de legitimação que nos dão a saber da existência dos filhos que teve com Inês Gonçalves: Catarina, Gonçalo e Filipa. Em 1454, Zurara substituiu Fernão Lopes (Fernão Lopes [c. 1380-c. 1460], o primeiro cronista oficial do reino, de 1434 a 1454. Autor das Crónicas de D. Fernando e de D. João I) de quem tinha sido ajudante, nos cargos de cronista e Guarda-Mor da Torre do Tombo, cargo que ocupou até ao fim dos seus dias, tendo sido, desde 1451, responsável pela Livraria Real. Dom Afonso V protegeu-o, distinguindo-o ao longo da vida com provas de confiança, estima e distinção régias; foi agraciado com os graus de cavaleiro e comendador da Ordem de Cristo, comendador de Alcains, da Granja do Ulmeiro e do Pinheiro Grande. Ainda, em 1465, foi nomeado procurador do mosteiro de Almoster. Parecem claras as boas relações e a simpatia que unia Dom Afonso V a Zurara; sem dúvida que o tinha em alta consideração tendo em conta que o designou para as funções e cargos, já referidos que implicavam reconhecimento de atributos pessoais e de aptidões de sabedoria e instrução. As suas Crónica da Tomada de Ceuta (1450), Crónica de D. Pedro de Menezes (1463), Crónica de D. Duarte de Menezes (1468) e a Crónica dos feitos da Guiné constituem a essência da história tradicional, a história dos homens – lendários, guerreiros, heróis – elogios dos que então protagonizavam a História, matizando-a com os relatos dos seus feitos, das suas aventuras, das suas vitórias e derrotas; Nesta última, tal faz com o Infante Dom Henrique. Do nosso trabalho para o seminário de “História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses”, dirigido pelo Prof. Doutor António Dias Farinha, Zurara e a Crónica dos Feitos da Guiné a Mando do Infante Dom Henrique – Análise, 2006/07.
103
trasladados para os novos livros por terem sido considerados escusados e outros foram-
no em resumo; poucos teriam sido passados na íntegra.
No seguimento deste estudo, Pessanha expõe as conclusões a que se chegou a
partir do teor de 3 dos 5 documentos publicados e que são:
� I, de 1526;
� III, de 1532;
� IV, de 1529.
Feito esse levantamento, fica a saber-se que, entre os anos de 1526 a 1529177, ou
seja, muito depois da morte de Zurara e por razões não conhecidas, desaparecerem do
Arquivo, 68 ou 69 livros anteriores a D. Afonso V. Estudados e publicados os
documentos reabilita-se a memória de Zurara.
Seguem-se cinco documentos178. PRESTAGE, Edgar
“Crítica contemporânea da «Crónica de D. Manuel» de Damião de Góis” Vol. IX, 1914, pp. 345-378. De um manuscrito encontrado por Prestage no Museu Britânico 179 tem este
estudo a sua génese; a temática, as críticas coevas à Chronica do feliçissimo rei Dom
Emanuel, como a titulou Góis. A este códice, o autor não lhe confere valor literário, mas
tão-somente interesse pelos factos que contém.
Tendo sido a primeira parte da Crónica impressa em 1566, logo mereceu críticas,
devido a erros e omissões. Recolhida e corrigida foi feita uma segunda edição.
177 Foi neste lapso de tempo em que Tomé Lopes tinha o carguo das cousas da Torre do Tombo e lyvraria que desapareceram os livros originais dos registos. Da p. 302 transcrevemos a nota do autor: “Começou-se este inventário, como no princípio dele se declara, a 8 de Fevereiro de 1529, para dar cumprimento ao alvará régio de 29 do mês antecedente; ultimou-se porém a entrega só a 2º de Dezembro de 1532. Por este motivo não se pode seguramente afirmar, se foi entre os anos de 1526, data da carta-inventário de Tomé Lopes, e 1529, que desapareceram os livros originais dos registos das chancelarias reformadas, ou se o prazo tem de se estender até 1532. Em qualquer dos casos, todavia é certo ter o criminoso destroço tido lugar durante o tempo, em que aquele escrivão do Arquivo estivera confiada a sua guarda”. 178 Este estudo que aparece como sendo da autoria de D. José Pessanha tem na margem superior direita, da p. 287, escrita à mão e parecendo-nos a caligrafia de Braamcamp Freire, a seguinte nota: “Todos os documentos neste artigo citados e transcritos foram encontrados por mim e indicados ao José Pessanha a quem também indiquei as conclusões que deles se deviam tirar”. 179 British Museum, Londres, século XVIII.
104
Em trabalhos de outros autores 180 que Prestage refere, cotejaram-se e
classificaram-se as diferenças, das duas impressões, mas foi na Biblioteca Lusitana181
que, primeiramente se referiram os cortes sofridos pela obra; e na Historia
Genealógica,182 esmiuçaram-se as razões que tinham levado à crítica do seu teor. Mas,
este códice contém não só a crítica feita na época em que o texto da Crónica foi
elaborado, como as respostas de Góis, podendo ver-se que, se ele anuiu a algumas
emendas, outras rejeitou. Esta repreensão levou a pequenas correcções da 1ª parte e à
substituição dos trechos originais dos capítulos 23º e 27º, da 3ª parte, por outros
diferentes e minuciosos, especialmente no que concerne ao Cardeal Infante 183 , que
biografa de forma alargada e lisonjeira.
O autor passa à análise do documento, detendo-se na sua descrição física e
organização interna e reflectindo sobre a identidade do crítico da produção intelectual
de Góis. Pelos indícios que o próprio propicia ao longo do texto, Prestage supõe tratar-
se de D. Francisco de Melo, 2º Conde Tentúgal. Estas notas destinavam-se a D.
Duarte184 e, posteriormente, para o cronista para que, com elas, corrigisse o seu escrito.
Ao longo deste trabalho Prestage, admitindo não ter conhecimentos que lhe
permitam aquilatar da verdade dos factos históricos comentados pelo crítico, adianta
que alguns mereciam ser investigados, não obstante ele se ter baseado em cartas régias,
ou outras e em informações de familiares. Tece algumas considerações acerca da génese
da Crónica e da índole de Góis, audaz nas respostas – por vezes imprudentes, até! – mas
que mostram uma independência louvável e entendendo que o seu dever de cronista não
é só «dizer o bem» mas «repremder o mal».
Explica ao leitor como procedeu para a editar o códice e que tipo de intervenção
sua mereceu, no que respeita à sinalética, a palavras em falta ou pequenas emendas, não
tendo corrigido os muitos erros gramaticais.
Seguem quatro documentos.
180 Visconde de Azevedo, Elencho das variantes e differenças notáveis que se encontram na primeira parte da Chronica d’El-Rei D. Manuel escripta por Damião de Goes e duas vezes impressa no anno de 1566, et cet. Porto 1866. Reimpressa em 2ª edição pelo sr. Eugenio do Canto na Imp. Nac. de Lisboa em 1912. Joaquim de Vasconcelos, Archeologia Artística, nº 10, As Variantes da Chronicas Portuguezas. 181 Barbosa Machado, vol. I, p. 621. 182 D. António Caetano de Sousa, vol. V. 183 Cardeal D. Henrique (1512-1580), filho de D. Manuel e de D. Maria, sua segunda mulher e irmão de D. João III. 184 Supomos tratar-se de D. Duarte (1515-1540), sobrinho de D. Manuel I.
105
VITERBO, Sousa “A pesca do coral no século XV” Vol. I, nº 9, Setembro de 1903, pp. 315-320.
Um trabalho de Baldaque da Silva185 (Estado actual das pescas em Portugal)
originou este estudo de Viterbo, ao constatar que naquele não havia quaisquer
referências à pesca do coral, no país. Tal, levá-lo-á à conclusão que essa ausência se
deveria à inexistência da indústria, ou que moribunda, estaria em vias de desaparecer.
Contudo, repara que, num dos capítulos da obra, é mencionada uma ordem da rainha D.
Maria I, de 1790, para que se iniciasse ou recomeçasse a pesca desta substância calcária,
sob a inspecção da coroa e que se investigassem os motivos que teriam levado ao
enfraquecimento desta indústria que documentos dos arquivos da Sé de Silves e da
comarca de Faro, comprovavam já ter sido próspera; essa arte que datava de 1462, nas
costas algarvias ter-se-ia renovado em 1711, mas decaído até estar extinta naquele ano.
Entretanto, outros documentos, da Torre do Tombo, vieram confirmar que em Portugal
a pesca ao coral se fazia – se não antes – pelo menos desde 1443, já que, nesse ano, D.
Pedro (à data Regente na menoridade de D. Afonso V), autorizou aos estrangeiros
Bartolomeu Florentim e João Forbim que a estabelecessem no reino.
Por esta carta de privilégios, em que figuravam várias clausulas, fica a saber-se
que seria uma actividade, absolutamente, nova ao conhecimento dos portugueses, visto
que da memoria dos viuentes senom acordauam de nehuũ que em tall trabalho se
desposese. Todavia, não sabe se a empresa singrou, ou se a carta de privilégios terá sido,
transferida para outros; o que apurou é que, no ano de 1450, uma outra carta foi passada
a favor do Infante D. Henrique.
O autor, a propósito de um rei Reinel, da Provença, cujo nome figura naquelas
cartas, escreve acerca de um trecho da Crónica do Conde D. Duarte de Menezes, de
Azurara, onde se menciona um episódio passado entre corsários de uma galé provençal
e uma caravela comandada pelo jovem D. Henrique, filho do conde D. Duarte,
governador de Alcácer.
185António Artur Baldaque da Silva (1852-1915), oficial da Marinha, autor de vários estudos de oceanografia,
hidrografia, biologia marítima e investigação das pescas. Publicou Sondas e Marés (1882); Porto de abrigo na costa do Algarve (1885); Roteiro marítimo da costa ocidental e meridional de Portugal (1887, 1º tomo); Uma objecção técnica às obras do porto de Lisboa (1888); Estado actual das pescas em Portugal (1892) e Estudo histórico-hidrográfico sobre a barra e o porto de Lisboa (1895).
http://www.fl.ul.pt/nautica/DIC_HIST_MAR/SILVA_A_Baldaque.htm
106
E, questiona: Os Reinel186 – pai e filho – cartógrafos, houve em Portugal: seria o
seu apelido originário da Provença?
Ainda sobre a pesca do coral, Sousa Viterbo esclarece que corria o ano de 1488,
quando D. João II, por carta de privilégio (de 30 de Setembro), válida por treze anos,
autorizou o conde de Trevento, a vir com doze embarcações e os seus homens, pescar
coral entre o Cabo de S. Vicente e o Cabo de Espartel187.
Seguem três documentos.
______
“Uma expedição portuguesa às Canárias em 1440” Vol. I, nº 10, Outubro de 1903, pp. 340-348.
A Academia Real das Ciências, no ano de 1858, iniciou a publicação da
Colecção de monumentos inéditos para a história das conquistas dos portugueses na
África, Ásia e América com Lendas da Índia,188 de Gaspar Correia189. Este trabalho,
186 Pedro e Jorge Reinel – Viveram dos fins do século XV, até ao terceiro quartel do século XVI, sabendo-se que Jorge Reinel ainda vivia no ano de 1572. No trabalho destes cartógrafos radica a cartografia portuguesa, sendo de Pedro Reinel (pai), a primeira produção portuguesa que se conhece e que é uma carta atlântica, do reinado de D. João II, de cerca de 1483. Alfredo Pinheiro Marques,”Reinel,Pedro e Jorge”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. II, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 940-941. 187 Cabo de Espartel – Situado na costa de Marrocos, chamou-se Ampelusa. Nos Lusíadas (Canto III, Estrofe 77, v.3º, p. 130), Camões faz-lhe referência. 188 Lendas da Índia: obra narrativa ligada à dominação portuguesa no Oriente que compreende o período que medeia entre a descoberta do caminho marítimo para a Índia (1498) até Jorge Cabral (15.º Governador da Índia, entre 1549 e 1550). Na unidade do seu todo corresponde à história de vida de cada um, até ao ano de 1550. A sua estrutura é a seguinte:
� Vol. 1, Tomo I - Contendo as acções de Vasco da Gama; Pedro Álvares Cabral; João da Nova; Francisco de Albuquerque; Vicente Sodré; Duarte Pacheco; Lopo Soares; Manuel Telles; D. Francisco de Almeida. XXX; 492 p.
� Vol. 2, Tomo II - Em que se recontão os famosos feitos de Afonso de Albuquerque; Lopo Soares; Diogo Lopes de Sequeira; D. Duarte de Menezes; D. Vasco da Gama, vice-rei; D. Henrique de Menezes. 1860, 482 p.
� Vol. 3, Tomo III - Que conta dos feitos de Pero Mascarenhas; Lopo Vaz de Sampaio, e Nuno da Cunha. 1862, 438 p.
� Vol. 4, Tomo I - Parte II - Lenda de 13 anos, desde o primeiro descobrimento da Índia até o ano de 1510. 1859, - pp. 493-1013.
� Vol. 5, Tomo II - Parte II - Lenda de 17 anos acabados no ano de 1526. 1861, pp. 483-985. � Vol. 6, Tomo III - Parte II - Que conta dos feitos de Pero Mascarenhas; Lopo Vaz de Sampaio e
Nuno de Cunha. 1863, pp. 439-909. Biblioteca Nacional Digital, http://purl.pt/12121/1 [Consultado em 23 Março de 2011]. Esta obra foi editada, pela primeira vez, pela Academia Real das Ciências, sob a direcção de Rodrigo José de Lima Felner, coadjuvado pelo paleógrafo José Gomes Goes, saindo entre 1858 e 1863. 189 De Gaspar Correia (finais do séc. XV/c. 1563), pouco se sabe; foi Moço da Câmara Real, desde 1506 e embarcou para a Índia em 1512, ano em que, também, iniciou as funções de secretário de Afonso de
107
Viterbo fê-lo com dois propósitos: de crítica àquela, a começar pelo título, porque
incompleto, não tendo em consideração a presença dos portugueses na Austrália e pelo
facto de não se explicar por que razão começava a Academia com a Ásia se a ordem
natural, histórica e geográfica seria com a África. (Nem o rei [D. Manuel]) na época e
sem embargo do êxito da viagem de Vasco da Gama se esquecera dos seus propósito de
conquistar Azamor!190 ). A Academia tinha tido, somente, em conta o aspecto literário
da obra que suscitava curiosidade e da qual se esperava ineditismo, ou uma nova
perspectiva analítica dos acontecimentos e dos seus protagonistas. Afinal, estas
expectativas não se tinham concretizado. Gaspar Correia tinha sido uma testemunha
credível e tinha, em relação ao que não presenciou, procurado apurar a verdade. Mas
não era um erudito e a sua linguagem era incorrecta e prolixa. Todavia, a sua prosa tinha
um tom quente e vigoroso.
Viterbo aponta, ainda, que o índice onomástico deveria ter sido acompanhado de
um glossário e que um estudo comparativo com as crónicas análogas teria sido bem-
vindo. Apesar de tudo podia considerar-se muito razoável.
O outro propósito deste estudioso foi justificar porque é que a Academia
deveria ter dado prioridade aos trabalhos náuticos que tinham antecedido, num século,
os da Índia, sendo que para si, também, era estranho que cronistas como Barros191 ou
Albuquerque, até à morte deste. Ocupou vários cargos públicos. Além das Lendas da Índia, cuja versão definitiva escreveu com mais de 60 anos, deixou Crónicas do Reis de Portugal e Sumários das suas Vidas. João Luís Lisboa, “Correia, Gaspar”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol I, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 296. 190Azamor, cidade da costa atlântica de Marrocos. No reinado de D. João II já os Portugueses aí tinham uma feitoria (desde 1486); mais tarde, com D. Manuel houve, em 1508, a intenção de tomar aquela praça e aí erguer uma fortaleza. Gorada que foi esta tentativa, uma nova expedição, em 1513, logra aquele objectivo. Concretizada a conquista, levantaram-se fortalezas na orla marítima (que ainda hoje subsistem), não só em Azamor, como em Mazagão (1514) e Safim, esta ocupada pelos Portugueses desde 1508, não obstante, estar sob protecção portuguesa desde o reinado de D. João II. Todavia, a oposição que os Mouros sempre fizeram obstou à conquista do território, conseguindo os Portugueses, somente, subjugar cidades isoladas. Tal viria a impossibilitar a total dominação portuguesa e acarretando enormes gastos e perdas de vidas, pelo que, em 1541, D. João III mandou que se abandonasse Azamor e Safim, decidindo ficar, apenas, com Mazagão, de fácil defesa e bem provida de gente de armas e munições. Rui Amendoeira, “Azamor”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol. I, Lisboa, Caminho,1994, pp. 105-106; Mariana Lagarto, “Mazagão” Ibidem, vol. II, 1994, pp. 716-718; Luís Albuquerque, “Safim”, Ibidem, vol. II, 1994, pp. 959-960. Mazagão – cujo abandono marcou o fim da presença portuguesa no norte de África – foi abandonada em 1767, no reinado de D. José. (Em 2009, a Fortaleza de Mazagão foi classificada como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo). 191 João de Barros (c.1496-1570), escudeiro da Casa Real e corregedor de entre o Tejo e Odiana, muito jovem entrou na corte. Em 1525 foi tesoureiro da Casa da Índia e, no mesmo ano, nomeado tesoureiro da Casa da Mina e Ceuta, cargos que ocupou até 1528. Entre 1533 e 1567, feitor da Casa da Índia; em 1535 foi-lhe doada uma capitania, mas a tentativa de exploração falhou. Quanto à sua obra escrita, conhecida,
108
Zurara atribuíssem a D. Henrique a iniciativa dos descobrimentos marítimos se já, no
recuado tempo de D. Afonso IV192 se organizavam em Lisboa expedições para ir ao
descobrimento e conquista das Canárias193.
Ao longo do seu trabalho, Viterbo dá conta de trabalhos de conquista das
Canárias, lamentando que não se procedesse a um fundo documental que permitisse o
estudo das relações entre Portugal e as Canárias, nos séculos XIV e XV.
Seguem três documentos.
______ “As dádivas de Afonso de Albuquerque” Vol. II, nº 1, Janeiro de 1904, pp. 4-7. Pequeno estudo acerca do sentimento – da consciência íntima – que norteava
Afonso de Albuquerque194 quando obsequiava a corte, os amigos, os templos, as casas
religiosas, com presentes e donativos. Seria generosidade genuína, ou a vida ter-lhe-ia
ensinado que dadivas quebratam penhas… E o autor refere um episódio relacionado
com esta gratuitidade. Após a conquista da Malaca, 195 quando Albuquerque decidiu
abarcando vários temas, consagrou-o como um dos mais bem sucedidos intelectuais portugueses da época. Crónica do Imperador Clarimundo, (1522); Ropica Pnefma, (1532); Panegírico do Rei D. João III, (1533), são alguns exemplos do que nos deixou. A partir de 1545, dedicar-se-á a Décadas da Ásia, obra historiográfica, ligada aos Descobrimentos. Luis Filipe Barreto, “Barros, João de”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol. I, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 124-126. 192 D. Afonso IV (1291-1357), cognominado o Bravo; filho de D. Dinis e de D. Isabel, princesa de Aragão (Rainha Santa Isabel), reinou de 1325 a 1357. 193 Diz Viterbo: Ambos aqueles cronistas […] dizem que a primeira expedição portuguesa com destino à conquista das Canárias, fora ordenada pelo infante D. Henrique, no ano de 1424. […]. Não existem pormenores minuciosos dessa expedição […]. Archivo Historico Portuguez, vol. I, Lisboa, 1903, p. 342.
194 Afonso de Albuquerque (1462 ?-1515), governador da Índia (1509-1515), educado na corte de D. Afonso V, participou na batalha de Toro (em 1476, entre as tropas portuguesas e as castelhanas. Em causa os direitos de D. Joana, a Beltraneja), ao lado do príncipe D. João (futuro D. João II). Combateu em Arzila antes de ir para a Índia, onde foi por duas vezes: em 1503 e em 1506. Sucederia a D. Francisco de Almeida (1º vice-rei da Índia) em 1508. Subjugou Calaiate, Curiate, Mascate, Soar, Orfação atingindo Ormuz (1507) que se rendeu. Submeteu Malaca (1511). Maria Clara Junqueiro,”Albuquerque, Afonso de”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol. I, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 34-39.
195 Malaca – cidade da península malaia, as suas origens remontam aos fins do século XIV; Pequena povoação de pescadores e corsários cedo se tornou num importante pólo mercantil e comercial no Sueste asiático. Já tendo dela conhecimento anterior, mas devido a vários factores, só em 1509 uma armada portuguesa aproava a Malaca, mas não atingindo, os Portugueses, os seus objectivos. Por isso, em 1511, com uma nova armada, comandada por Afonso de Albuquerque, os Portugueses tomaram a cidade. Ficaria sob o domínio de Portugal durante 130 anos, mantendo o seu papel de grande empório comercial, sendo com Ormuz, Goa e Diu uma das grandes fontes de receita do Estado Português, na Índia. Perder-se-
109
voltar à Índia “A sua nau vinha abarrotada com o mais precioso do esbulho que elle
recolhera na presa da opulenta cidade oriental”; Todavia, estes ricos tesouros foram
engolidos por uma tremenda procela que fez naufragar a embarcação. Preciosos
objectos de ouro e pedrarias destinavam-se a D. Manuel. Segundo Viterbo, João de
Barros196 descreve este acontecimento, mas acrescenta que, igualmente, se perderam uns
anéis, com pedras magníficas que Albuquerque destinava a Rui de Pina 197 e cuja
intenção da oferta seria a de levar a que este o enaltecesse e aos seus feitos, nas
Crónicas.
Viterbo censura esta atitude de Barros: nem Albuquerque precisava de subornar
quem quer que fosse, para que as suas heróicas façanhas ficassem para a posteridade,
nem Rui de Pina merecia da parte dele expressões de intenção repreensiva. E para que o
leitor aprecie o seu ponto de vista, insere um trecho de João de Barros, sobre o caso dos
ricos objectos para o rei e dos anéis para Rui de Pina. Segue, dando notícia dos
presentes que Albuquerque dá a saber, nas suas Cartas, ter enviado para a corte, porém,
não os encontrando no inventário do espólio de D. Manuel.
O autor menciona, além das casas religiosas que receberam doações de
Albuquerque após a sua morte, que nesse mesmo ano, foi recebido no Convento de
Palmela um presente que este mandou da Índia ao patrono da Ordem de Santiago;198
Conta, ainda – facto relatado por Gaspar Barreiros199 – que no mosteiro espanhol de
ia em 1641. Luís Filipe Thomaz, “Malaca”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. de Luís de Albuquerque, vol. II, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 659-661. 196 João de Barros, Ásia, Década Segunda, 1ª ed. 1553, livro 7º, cap. I, fl. 98 v. ( cf. Sousa Viterbo, “As dádivas de Afonso de Albuquerque”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, 1904, p. 4) 197 Rui de Pina – (c.1440-1522), cronista, filho de um cavaleiro de Aragão que servia D. Afonso V. Ganharia a confiança de D. João II que lhe confiou várias missões diplomáticas e de quem foi testamenteiro. Não sendo cronista mor (o cargo pertencia a Vasco Fernandes de Lucena, nascido em Espanha. Grande orador, desempenhou actividade diplomáticas, foi cronista mor do reino, juiz dos Feitos e guarda mor da Torre do Tombo e Livraria Real, até 1497. Vítor Rodrigues, “Lucena, Vasco Fernandes de”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. de Luís de Albuquerque, vol. II, Lisboa, Caminho,1994, pp. 628-629), D. João II concedeu-lhe uma tença anual, como recompensa, para a redacção da crónica dos reis portugueses. D. Manuel manter-lhe-á as mercês e outorgar-lhe-á outras. Quando Vasco de Lucena abandonou o cargo (1497) o rei nomeou Pina cronista mor e guarda-mor da Torre do Tombo e da Livraria Real, cargos que conservou até à sua morte. São-lhe atribuídas as crónicas de D. Sancho I, de D. Afonso II, de D. Sancho II, de D. Afonso III, de D. Dinis, de D. Afonso IV, de D. Duarte, de D. Afonso V e de D. João II. Cármen Radulet, “Pina, Rui de”, Ibidem, pp. 903-904. 198 Ordem Militar de Santiago – Ordem religiosa e militar castelhana, fundada por Afonso VIII de Castela e ratificada pelo Papa Alexandre III, por bula de 1175. Desde as suas origens em Portugal, todavia só com D. Afonso II (1185-1223) e, depois, com D. Sancho II (1207-1248) tomou maior incremento. Teve sede no Castelo de Palmela. 199 Gaspar Barreiros – nasceu em data incerta, falecendo em 1574. Filho da irmã de João de Barros foi cónego das Sés de Viseu e de Évora e, mais tarde, religioso da ordem de S. Francisco, com o nome de Frei Francisco da Madre de Deus. Estudou na Universidade de Salamanca, cursando Retórica, Teologia e
110
Nossa Senhora de Guadalupe, havia uma lembrança enviada por Albuquerque – uma
bala de pedra – a mesma que lhe foi atirada aquando do cerco de Goa200, considerando
ter sido salvo in extremis por milagre da Senhora de Guadalupe.201
Considera Viterbo a religiosidade de Afonso de Albuquerque, elevada até à
crendice e à superstição, preso aos preconceitos da época. Todavia, não deixando de ser
materialista (e lembra o seu desejo de estar nas boas graças de Rui de Pina) não deixava
de ser espiritual.
Este trabalho de Sousa Viterbo não aduz documentação.
A seguir encontraremos um elenco dos artigos sobre Navegações e
Descobrimentos, publicados no Archivo Historico Portuguez, reservando para o
Apêndice um índice analítico que entendemos útil para quem se debruçar sobre esta
temática e bem revelador da importância de que este tema se revestiu na altura.
Aritmética. Fidalgo da casa do Cardeal D. Henrique. Cultíssimo, deixou uma vasta obra literária de grande qualidade, tendo sido um dos melhores geógrafos da sua época. Luiz de Pina, História de Portugal, dir. Damião Peres, vol. VI, Porto, Liv, Civilização Ed., 1981, Ciência, cap. IV, p.630. 200 Goa – Afonso de Albuquer tomou Goa, em 1510, com o intuito de alargar a o domínio comercial às zonas vitais do Índico; banhada pelo Mar da Arábia, a cerca de 400 km a sul de Bombaim, era o melhor porto comercial da região. A partir de 1530, tornar-se-ia a capital do Estado Português da Índia e um poderoso centro da acção económica, religosa, cultural e social portuguesa. Maria Teresa Amado,”Goa”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. de Luís de Albuquerque, vol. I, Lisboa, Caminho,1994, pp. 463. Em 1961, Goa foi integrada, pela força, na União Indiana. 201 Sobre o impacto nacional desta devoção, vide Isabel Maria Ribeiro Mendes Drumond Braga, O Mosteiro de Guadalupe e Portugal: contribuição para o estudo da religiosidade peninsular dos séculos XIV a XVIII, 2 vols., Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa,1990.
111
ARCHIVO HISTORICO PORTUGUEZ
Índice de Artigos sobre Navegações e Descobrimentos
Autor Artigo Vol Página
AZEVEDO, Pedro A. de O Fidei-commisso de Afonso de Albuquerque. (Na Graça de Lisboa). I 157-162; 188-193
Os Escravos I 289-307 Lembranças num códice do cartório de Palmela I 336-339
Projectos sobra Madagáscar e Cabo da Boa Esperança em 1556 I 385-388
A Companhia da ilha do Corisco I 422-429 As Ilhas perdidas II 53-62 A Marinha mercante do norte de Portugal em 1552 II 241-253
Defesa da navegação de Portugal contra os Franceses em 1552 VI 161-168
BAIÃO, António Fernão de Magalhães e a primeira circumnavegação ao globo II 321-336
Fernão de Magalhães. Dados inéditos para a sua biografia III 304-312 BARATA, A. F. Uma carta inédita de D. Sebastião I 264-266 Últimos cinco anos do viver de D. João II. Apontamentos III 365-371 BETHENCOURT, Cardoso Lettre portugaise du premier ministre de Siam en 1687 I 308-314. BRITO, Gomes de Majestade e grandezas de Lisboa em 1552 XI 9-241.
112
COSTA, José Pedro da
Carta do potentíssimo e invictíssimo D. Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, etc., sobre as vitórias alcançadas na Índia e em Malaca. Ao Santo Padre em Cristo e Senhor Nosso, Leão 10º, Pontífice Máximo III 111-114.
DENUCÉ, J. Privilèges commerciaux accordés par les rois de Portugal aux Flammands et aux Allemands VII 310-319; 377-392.
FREIRE, A. Braamcamp O Almirantado da Ìndia. Data da sua criação I 25-32.
Cartas de quitação del Rei D. Manuel I 94-96; 163-168; 200-208; 240-248, 276-288;328; 356-368;398-408; 447-448.
Auto do conselho havido no Espinheiro em 1477 I 198-199.
Cartas de quitação del Rei D. Manuel II 34-40;74-80; 158-160; 232-240; 349-360; 421-442.
Novas de Veneza em 1508. Carta do escrivão da nossa Feitoria a el Rei D. Manuel II 269-272.
Cartas de quitação del Rei D. Manuel III 75-80; 155-160; 237-240, 313-320, 385-400; 471-480.
Cartas de quitação del Rei D. Manuel IV 72-80; 237-240; 282-288; 364-368; 439-448; 474-480.
Cartas de quitação del Rei D. Manuel V 73-80;156-160;235-246;321-326; 442-446; 472-480.
Cartas de quitação del Rei D. Manuel V 76-80; 155-160. Maria Brandoa, a do Crisfal VI 293-442.
Outro capitulo das finanças manuelinas, os Cadernos dos Assentamentos VI 233-240;443-444.
Maria Brandoa, a do Crisfal VII 53-79;123-133; 196-208;320-326. Os cadernos de Assentamentos VII 220-226; 291-292;376; 478-480. Cartas de quitação del Rei D. Manuel VIII 1-16. Maria Brandoa, a do Crisfal VIII 21-33. Os cadernos de Assentamentos VIII 70-75. Cartas de quitação del Rei D. Manuel VIII 76-80; 391-414.
113
Cartas de quitação del Rei D. Manuel IX 433-470 Os cadernos de Assentamentos X 60-208 FREITAS, Jordão A. de Fernão Mendes Pinto, sua última viagem à China (1554-1555) III 466-470 Macau. Materiais para a sua história no século XVI VIII 209-242 GUERRA, L. de Figueiredo da Os brios vianenses VIII 207-208 PESSANHA, D. José Uma reabilitação histórica. Inventários da Torre do Tombo no século XVI III 287-303
PRESTAGE, Edgar Crítica contemporânea da Crónica de D. Manuel de Damião de Goes III 430-431
VITERBO, Sousa A pesca do coral no século XV I 315-320 Uma expedição portuguesa às Canárias em 1440 I 340-348 As Dádivas de Afonso de Albuquerque II 4-7
114
IX
Considerações acerca das Navegações e Descobrimentos no
Archivo Historico Portuguez
1. Os Descobrimentos Portugueses: viagens e explorações marítimas
O estudo do conteúdo dos trinta artigos que abrangem os onze volumes do Archivo
Historico Portuguez, relacionados com a diáspora dos Portugueses, remetem-nos para a
abertura de Portugal ao mundo, para as explorações marítimas, para a expansão – cujo
útil e proveitoso fruto seriam os Descobrimentos – e para as grandes rotas oceânicas que
levá-los-iam à Índia, ao Brasil, ao mares asiáticos, à circum-navegação…
Decerto que os Portugueses teriam uma vocação marítima; embora, limitados a
Este pela Espanha, mas com uma invejável costa marítima – actividades como a pesca e
a extracção do sal tinham marcado, desde tempos de que não há memória, a vida das
populações costeiras e desde os primeiros reinados que está documentado o interesse
nos diversos modos de ver e viver o mar, sendo que, com D. Dinis 202 e com D.
Fernando 203 foi notável o incremento dado ao comércio marítimo. Aos poucos, os
comerciantes que despontavam, com uma acentuada influência política no reino,
aspiravam a uma relação de contacto e influência com os grandes centros mercantis da
Europa204, adaptados aos usuais itinerários comerciais com a Ásia e a África. Diligenciar
encontrar alternativas às rotas do comércio no Mediterrâneo foi um incentivo ao
desenvolvimento marítimo, arquitectado e conseguido, mediante estudos e acções
sistemáticas.
Todavia, a ciência, na vertente da cosmografia e a religião – expandir o
cristianismo e combater o Islão – foram factores considerados. Deste modo, se conclui
que um conjunto de elementos concorreu para os Descobrimentos: economia; religião e
ciência.
202 D. Dinis incrementou a construção naval. Diz Damião Peres, na sua História dos Descobrimentos Portugueses, 4ª ed., Porto, Vertente, p. 30 que Manuel Pezagno, genovês, veio para Portugal, em 1317, para o oficio de «almirante das galés de el-rei», devendo «sempre ter vinte homens de Génova sabedores de mar». 203 D. Fernando criou a primeira companhia de seguro marítimo mútuo, ficando, também, os navios da Coroa, sujeitos a todos os encargos e obrigações. Tomou relevantes medidas de desenvolvimento comercial-marítimo fazendo sair, em 1377, legislação que contemplava o livre uso da madeira das matas régias, para quem quisesse construir navios de tonelagem superior a 100 tonéis; isenção de impostos pela compra de navios ao estrangeiro, isenção de direitos de exportação na primeira viagem, etc. 204 Veneza, Génova ou Florença.
115
Os descobrimentos resultaram de viagens e explorações marítimas, metódicas,
persistentes:
“Foi a consequência natural d’uma empreza secular, esboçada no reinado de D. Affonso
4.º, impulsionada depois pelo infante D. Henrique […]. O poder real não deixou […] por um só
instante de acompanhar e favorecer este movimento, para o qual propendia […], o espírito
aventuroso do povo portuguez”205.
O marco da arrojada empresa dos Descobrimentos Portugueses foi a conquista
de Ceuta, em 1415. O Infante tinha em mente um projecto de expansão marítima e
desenvolveu-o, promovendo as navegações atlânticas, bordejando e explorando a costa
africana. Ignorando-se em que ano terá dado começo ao seu reconhecimento, aceita-se
que o terá feito a partir do cabo Não206, de acordo com as suas próprias palavras:
“E desdy seendo certo como dês a memoria dos homeẽs se nom auya alhũa noticia na
christindade dos mares, gente e terras que eram alẽ do cabo Nam contra o meio dia, e
esguardando quanto serviço se a deos em ello fazer podia, e bem asi a elRey dõ Afonso, meu
sñor e sobrino que ds mantenha, me fundei de enquerer e saber, parte de muitos annos aca, do
que era dês o dicto cabo de Nam em diante, nom sem grandes meus trabalhos e infiindas
despesas, […] mandando por os dictos annos mujtos naujos e carauelas com meus criados e
seruidores. O quaaes per graça de Deos passando o dito cabo de Nam auante e fazendo grandes
guerras, alguũs recebendo morte e outros postos em grande perigo”207.
205 Sousa Viterbo, Trabalhos Náuticos dos Portugueses, Séculos XVI e VII, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988. p. 37. 206 Cabo Não – Na costa de Marrocos, a 60 léguas do Cabo Bojador e durante muito tempo limite da navegação nas regiões costeiras do norte. 207 Carta do Infante Dom Henrique, datada de 26 de Dezembro de 1457, arquivada no cartório da Ordem de Cristo, em Tomar. Duarte Leite, Àcerca da «Cronica dos Feitos da Guinee», cap. VI, Lisboa, Liv. Bertrand,1941, p.151.
116
O quadro seguinte permite-nos uma rápida leitura das actividades marítimas dos
portugueses e de como progrediram, rumo ao sul, desde 1415:
MAPA208 DAS ACTIVIDADES MARÍTIMAS PROGREDINDO A SUL
Ano Navegador Objectivo concretizado__________
1420 João Gonçalves Zarco
Nuno Tristão Povoamento do arquipélago formado pelas ilhas da Madeira
---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Bartolomeu Perestrelo Porto Santo e Deserta
---------------------------------------------------------------------------------------------------------- ? Gonçalo Velho Cabral Passou o Cabo Não209 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1434 ……. Gil Eanes210 ……. Passou o Cabo Bojador
208 Mapa retirado do nosso trabalho, já referido, para o seminário de “História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses”, dirigido pelo Prof. Doutor António Dias Farinha, Zurara e a Crónica dos Feitos da Guiné a Mando do Infante Dom Henrique – Análise, 2006/07. 209 Embora na Crónica o nome do navegador seja omisso atribui-se-lhe a passagem daquele Cabo. 210 Gil Eanes – a Crónica é a fonte do pouco que sabe sobre este navegador; natural de Lagos, era escudeiro da Casa do Infante, voltando, com Afonso Baldaia, a passar o Cabo Bojador. Tomou parte, também, nas expedições de Lançarote, às ilhas de Tide e Naar, em 1444 e noutra à Guiné. Ao navegador Gil Eanes coube a concretização daquele anseio do Infante, em 1434, acontecimento de que Zurara nos dá notícia no capítulo IX da Crónica, descrevendo “Como Gil Eanes natural de Lagos foe o primeiro que passou o Cabo do Boiador e como la tornou outra vez e cõ elle Affomso Gonçalluez Baldaya”. Resignado, o Infante aceitava o resultado nulo das suas expedições, sem que recriminasse os seus homens, antes ouvindo, com temperança, os acontecimentos que eles relatavam e fazendo-lhes as habituais mercês – recompensas do seu trabalho. Sem desanimar, de novo ordenava que os mesmos, ou outros, aparelhados os navios, voltassem a sair para o mar, fazendo-lhes sentir a responsabilidade da incumbência que levavam, com a promessa de maior recompensa se voltassem com algo de novo que fosse passível de dissipar a incerteza em que andavam, sobre a verdade daquele facto.
«E finalmente despois de doze ãnos fez o Iffãte armar hũa barcha da qual deu a capitanya a huũ Gil Eanes seu escudeiro/ que ao despois fez cavalleiro e agasalhou mui bem/ O qual seguindo a uyagem dos outros. tocado daquelle meesmo temor nom chegou mais que aas Ilhas de canarya, donde trouxe certos catiuos com que se tornou para o Regno E foe no anno de Ihesu christo de mil e quatro centos e trinta e tres».
Gorada mais uma tentativa, no ano seguinte – 1434 – Dom Henrique, persistente, mandou que Gil Eanes diligenciasse passar o cabo, incentivando-o, mas admoestando-o e manifestando admirar-se que todos se deixassem intimidar por coisas de que não havia certezas, censurando-os por se deixarem influenciar por alguns navegantes que abandonando as carreiras a que estavam habituados já não sabiam utilizar os instrumentos de navegação, como a agulha e a carta de marear:
«Vos nom podees disse o Iffante achar tamanho perigoo que a esperança do gallardom nom seia muyto maior E em verdade eu me marauilho que maginaçõm foe aquesta que todos filhaaes de hũa cousa de tã pequena certidom/ ca se aInda estas cousas que se dizem tiuessem algũa autoridade por pouca que fosse nom vos darya tamanha culpa. mas quereesme dizer que por openyom de quatro mareantes. os quaaes como som tirados da carreira de frãdes ou dalguũns
117
---------------------------------------------------------------------------------------------------------- ? ……. Gil Eanes e
Afonso Gonçalves Baldaia Contornando, de novo o, Cabo Bojador atingiram a Angra dos Ruivos
---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1436 ……. Afonso Gonçalves Baldaia Atingiu o Rio do Ouro e a
Pedra da Galé ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1441 ……. Nuno Tristão ........ Atingiu o Cabo Branco ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1443 ……. Nuno Tristão …… Atingiu a Ilha de Gete (depois Arguim) ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1444 ……. Nuno Tristão ……. Chegou à Terra dos Negros (Guiné) ---------------------------------------------------------------------------------------------------------
Dinis Dias ……. Atingiu Cabo Verde --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1445 ……. Gomes Pires ……. Atingiu a Foz do rio Çanaga (Senegal) --------------------------------------------------------------------------------------------------------- ? Gonçalo Velho Cabral Povoamento do arquipélago dos
Açores -------------------------------------------------------------------------------------------------------
outros portos pera que comuũmẽte nauegam. nõ sabẽ mais teer agulha nem carta de marear. Porẽ vos hy todauya e nom temaaes sua openyam. fazendo vossa vyagem ca com a graça de deus om poderees della trazer senom honra e proueito».
De acordo com Zurara, esta repreensão a Gil Eanes sortiria efeito porque ele,
“[…] despois destas pallauras determinou em sua voõtade nom tornar mais ante a presença de seu senhor sem certo recado daquelo por que o ẽuyaua / como de fecto fez. Ca daquella vyagẽ / monos preçando todo perigoo dobrou o Cabo aalem. / onde achou as cousas muyto pello contrairo do que ele e os outros ataally presumyram.
Gomes Eanes de Zurara, Crónica dos feitos notáveis que se passaram na conquista da Guiné por mandado do Infante D. Henrique, vol. I, Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1978, cap. VIII, pp. 48-49; cap. IX, pp.51-52. Vide trabalho para o seminário de História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses, dirigido pelo Prof. Doutor António Dias Farinha, Zurara e a Crónica dos Feitos da Guiné a Mando do Infante Dom Henrique: Análise, 2006/07.
118
2. Homens do Mar e Embarcações no Archivo Historico Portuguez
O facto das viagens marítimas dos Portugueses terem, grandemente, contribuído
para traçar o relevo do planeta, com a descoberta de novas terras e o rasgar de
inexplorados oceanos, originou o desenvolvimento da cartografia – de que o mapa de
Cantino 211 é prova – e da ciência náutica. Mas, as explorações costeiras ou as
navegações em mar oceânico ficaram – são – indestrinçáveis do binómio
homem/embarcação. Disso mesmo, também, os estudos do Archivo Historico Portuguez
nos dão conta. Nomes de reis, de ignotos marinheiros, de intrépidos navegadores –
barcas212, caravelas, naus ou galeões – são parte integrante do conjunto das navegações e
descobrimentos.
Procuraremos corroborar o nosso ponto de vista, com os textos que vamos
analisar.
211 A mais antiga carta náutica portuguesa, conhecida, é o maravilhoso Planisfério de Cantino, de 1502 de que se ignora o autor. Foi executado em pergaminho e as suas dimensões são: alt.: 105 cm; Larg.: 220 cm. Com júbilo e não menos emoção, tivemos ocasião de apreciar este precioso mapa português (que pertence à Biblioteca Estense Universitária, Modana, Itália), em Outubro, de 2001, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, por ocasião das comemorações dos Descobrimentos Portugueses, integrado na exposição Outro Mundo Novo Vimos. O seu nome deve-se ao seu comprador – Alberto Cantino – que o adquiriu em Lisboa para o duque de Ferrara. Assinala as linhas do equador e dos trópicos, representa a África e a América e assinala o meridiano do Tratado de Tordesilhas (de 7 de Junho de 1494; tratado celebrado entre o Reino de Portugal e Reino de Espanha para dividir as terras descobertas e por descobrir). Assinala as rotas das viagens de Vasco da Gama, de Pedro Álvares Cabral, de Cristóvão Colombo e de Gaspar Corte Real. Maria Teresa Amado, “Cantino, Planisfério de”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. I, Lisboa, Caminho,1994, pp. 191-192. 212 Barca – termo que até ao século XV designou embarcações utilizadas na pesca, na navegação fluvial e de cabotagem, mas não sendo de tipo uniforme e de dimensões diversas; as maiores não deviam ultrapassar os 30 tonéis, com uma única coberta. Tinham um mastro, não se sabendo se armavam pano redondo ou latino. Pelo seu pequeno porte eram ideais para as viagens de reconhecimento e exploração por mares ainda não conhecidos. Francisco Contente Domingos, “Barca”, Ibidem, p.119. Foi numa barca que o navegador Gil Eanes passou o Cabo Bojador.
119
2.1 As Embarcações
Um por um para o mar passam os barcos Passam em frente de promontórios e terraços
Cortando as águas lisas como um chão
Sophia de Mello Breyner Andresen 213
AZEVEDO, Pedro de
“Lembranças num códice do cartório de Palmela” Vol. I, nº 10, Outubro de 1903, pp. 336-339.
DOCUMENTO I Era do nacymento de nosso Senhor Jhesu Xº de mjll e cccc lbiijº anos aos xxjij dias do mes de
setembro da dita era partio nosso Senhor Ell rey dom affomso e ho Iffante dom ffernando seu jrmão e
dom Pedro seu primo […] e o marques de ujlla ujçossa e outros mujtos ssenhores e boas gentes que Erã
cõ o dito Senhor Rey e partirõ ẽ hũa quarta feira que foi xxbji dias de diante o lugar pera a de mẽdo e logo
a quinta feira uentou uento contrairo e por que os nauios era todos juntos se tornarõ outra vez pera ante a
uilla e esta […] se partirõ a tarde pera mouguellas e ao sábado que foy derradeiro dia do dito mes como
foi manhaa todos os nauios fezerõ uella e logo naquella maree foro todos de fora da barra e Era antre
grandes e pequenos lxxxxiij uellas E eu lourenço anes prioll de santa maria de sabonha criado do Ifante
dom Iohãa que a este todo fuj de presente e andey dentro nos nauios e os contey e a gente Era muita ẽ
ffinda dentro em elles e o dito Senhor Rey cõ os sobreditos forõ sobre alquaçer çeguell o quall logar ffoy
dado e Emtregue ao dito Rey dja de sã luca euãgelista que foi aos xbiijº dias de Outubro Era suso Esprita
etc. = Laurencius Johanis, prior.
Por este documento, de 18 de Outubro de 1458, sobre a conquista de Alcácer
Ceguer, não ficamos a saber o tipo de embarcações que D. Afonso V levou; somente
que, os navios, entre grande e pequenos, somavam 93 velas.
______ “Projectos sobre Madagáscar e Cabo da Boa Esperança em 1556” Vol. I, nº 11, Novembro de 1903, pp. 385-388. O autor cita Diogo do Couto que alude à expedição a Madagáscar e ao que a
motivou: D. João III determinara-a para:
213 Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar, 3ª ed., Lisboa, Caminho, 2001, p. 34.
120
«ver se achava por elles (portos) algum rasto da gente das naos Burgaleza e Santa Cruz, que
desappareceram , vindo para o Reyno, o ano cinconta e tres, porque se presumia que deram por
aquella costa […]»214 .
Pelo que, Francisco Barreto,
«elegeu para esta jornada Balthazar Lobo de Sousa com huma caravela e duas fustas de
remo215,de que eram capitães João Gallego e Pero Rodrigues Barriga […]».
Este tipo de embarcação era semelhante à galé, mas mais pequena. “Armava
geralmente um bastardo216 e, por vezes, uma vela redonda; tinha também um tenda l 217
à popa”. Nas «Curiosidades de Gonçalo de Sousa», […] lê-se: «Fustas são nauios de
remos ligeiros de trinta e cinquo remos leuão vinte e cinquo ate trinta soldados brancos
de guerra. Tres ou quatro falcoens; trinta remeiros»218 .
Assim, a fusta era uma embarcação com características similares a outras que se
moviam a remos e assistindo às embarcações de grande porte, como as das armadas.
Serviu, também, aos piratas do Mediterrâneo.
FREITAS, Jordão A. de “Fernão Mendes Pinto, sua última viagem à China (1554-1555)” Vol. III, nºs 11 e 12, Novembro e Dezembro de 1905, pp. 466-470.
Excerto da carta do padre Luís Froes, parágrafo 6º:
“O año passado soubemos aqui das naos que uieram da China que auia grandisimas
dissenções E discórdias entre a China e Japão E como de Camgoxima foi hũa grande armada que
tinha destruído muitos lugares da China que estauam junto do mar, E hũa muj populosa çidade
aonde os Japões fizerão grande destruição E catiuaram Senhores muj grandes que estauão em
ella, estas guerras dizem estar tam trauadas que em muitos años não se apaziguarão Esta
214 Diogo do Couto, Década VII, Livro III, cap. VI. 215 No texto, o negrito é da nossa responsabilidade. 216 Bastardo – Vela quadrangular, mas que em um dos lados […] é tão pequena que a vela é aparentemente triangular. Humberto Leitão e J. Vicente Lopes, Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual, Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1974, p. 90. 217 Tendal – Toldo armado na parte de ré das galés e de outras embarcações de remos. Ibidem, p. 502. 218 Francisco Contente Domingos, “Fusta”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. de Luís de Albuquerque, vol. I, 1994, p. 439.
121
discordia de entre os chinas e os Japões he grande meo pera os portugueses que quiserẽ hir a
Japão porque como os chinas não uão laa a tratar cõ sua fazendas tem grande meo os mercadores
portugueses pera tratar seus negocios temporaes. E he tão dificultoso ir Laa padres como não
forẽ portugueses por falta de pasajẽ que em nhũa maneira poderão pasar Laa, como elles não
forem saluo se trouxerẽ da Jndia Galeão219 ou nao deputada pera Japão porque ajnda que a
carauela que aqui derão ao padre Mestre Belchior com lhe parecer que lhe fazião muj grande
charidade E esmola foi necessario gastar o irmão Fernão Mendes E cosmo Rõiz que ia por
capitão della mais de oitocentos cruzados, E senão os gastarão não auia maneira pera poder partir
daqui”.
Neste extracto constatamos que o padre Froes se refere a três tipos de
embarcações: caravela, nau e galeão.
A Caravela
A caravela – cujo termo se supõe ter origem no vocábulo árabe cáravo – foi o
tipo de embarcação mais utilizada pelos Portugueses para as viagens de exploração e
aparece, pela primeira vez, em documentos portugueses, citada no foral de Vila Nova de
Gaia, de 1255.
Tratava-se de uma embarcação ágil mas, simultaneamente forte e de pequeno
calado220, podendo ser deslocada a remos. As de maior porte armavam pano latino221 em
um, dois ou três mastros e tinham à popa222 um pequeno castelo223. As de dois e três
mastros (as das viagens atlânticas), só aparecem no século XV e tinham, a de dois
mastros, entre 40 a 60 tonéis224 de porte e a de três mastros entre 60 e 80.
219 No excerto supra, o negrito é da nossa responsabilidade. 220 Calado – Distância do ponto mais baixo da quilha, à linha de água do navio, medida na vertical. Humberto Leitão e J. Vicente Lopes, Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual, Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1974, p. 125. 221 Pano latino – Diz-se de qualquer navio em que predomine o pano latino; vela triangular ou quadrangular. Qualquer pano que trabalhe no sentido de popa à proa […] ficando muito inclinado para ré. Idem, Ibidem, p. 320. 222 Popa – Parte do navio o oposta à proa. Idem, Ibidem, p. 423. 223 Castelo – Super-estrutura que se ergue acima do convés, e cujo forro exterior é continuação da borda. Idem, Ibidem, p. 148. 224 Tonel – Vasilha […], com as dimensões aproximadas de 1,5 m de altura e 1 m de diâmetro máximo; […] unidade de medida de arqueação dos navios, que se determinava pelo número de tonéis que estes podiam comportar em espaço útil. A altura do tonel é equivalente a um rumo, [cerca de 1,5m] principal medida linear empregue na construção naval dos navios de grande porte nos séculos XV e XVI […]. Francisco Contente Domingues, “Tonel”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol. II, Lisboa, Caminho, 1994, p. 1039.
122
Todavia, as caravelas
incluídas nas armadas do
século XVI eram-no como
navios auxiliares ou navios de
guerra e tinham outra
tipologia; eram a designada
caravela redonda,225 – um dos
navios mais importantes do
século XVI – como nos diz
Contente Domingues – ou de
armada, também de dois ou
três mastros, armando pano lati- Caravela latina226
no e um mastro com pano
redondo227.
Porém, havia diferenças substanciais entre a caravela latina e a designada
redonda, bastando ter em conta as tonelagens; apenas a similitude da designação as
associa.
A caravela “[…]é o navio sobre o qual mais se escreveu até hoje, e que ainda
continua a merecer a melhor das atenções, muito por culpa da embarcação latina de
dois mastros que pontificou na segunda metade do século XV. […]”.228
225 “Caravela redonda é o nome moderno que vingou na historiografia, pela mesma razão que se chamam redondos navios como a nau ou o galeão, ou seja, são navios que armam pano redondo, na realidade velas com formato trapezoidal, ganhando aquela designação pelo aspecto que tomam quando enfunada pelo vento”. Francisco Contente Domingues, Os Navios do Mar Oceano, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa, 2004, p. 259. 226 Caravela de Bartolomeu Dias no Cabo das Tormentas (1987), de Raul de Sousa Machado. Imagem digitalizada da revista OCEANOS – Navios e Navegações, nº 38 – Abril/Junho, 1999, p. 105. 227 Pano redondo – Vela quadrangular que trabalha de bombordo a estibordo. Humberto Leitão e J. Vicente Lopes, Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual, Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1974, p. 531. 228 Francisco Contente Domingues, Os Navios do Mar Oceano, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa, 2004, p. 261.
123
A Nau
A nau sucedeu à caravela, na sequência da viagem de Bartolomeu Dias (1487-
1488). Este navegara junto à costa contornando a extremidade sul de África, entrando
em oceano aberto. Para estes homens do mar, tornou-se óbvio que havia que apropriar
as embarcações às condições de um meio físico, até então desconhecidas, como as
poderosas correntes oceânicas e os ventos e capazes de percorrer grandes distâncias. Por
outro lado, havendo-se criado a perspectiva de chegar, pelo Índico, às importante praças
comerciais do Oriente, desenvolvendo-se o comércio marítimo, imprescindível era
haver uma maior capacidade de transporte de pessoas e mercadorias.
A nau era uma embarcação grande – podia ser imponente, até – tinha velame
redondo, maior espaço interior para carga, logo, adequada às viagens de longo curso.
“Uma nau pode enfim caracterizar-se desta maneira: navio redondo de alto bordo, com
uma relação de 3:1 entre o comprimento e a largura máxima, três ou quatro cobertas, castelos de
popa de três pavimentos (tolda, alcáçova e chapitéu) e proa de dois (guarita e sobreguarita) cuja
arquitectura se integra perfeitamente no casco; arvorava três mastros, o grande e o traquete com
pano redondo, e o da mezena com pano latino. É um navio de carga por excelência, destinado a
percorrer longas distâncias em rotas conhecidas, tirando partido do aparelho pelo conhecimento
prévio dos regimes de ventos, mas andava armado com peças de grande calibre”229.
Naturalmente que, ao longo do século XV, foi sofrendo transformações, não só
no que respeita à volumetria, como à sua capacidade de armamento. Não obstante ser
uma embarcação de carga, as rotinas das viagens, cedo ensinaram aos navegadores
portugueses que o comércio das especiarias não podia fazer-se sem recorrer a
armamento para defesa, pelo que a nau do século XVI era artilhada.
229 Idem, Ibidem, p. 252.
124
Naus do terceiro quartel do século XV
do Livro de Lisuarte de Abreu 230
O Galeão
Esta embarcação era do tipo da nau, quer na configuração, quer na
operacionalidade tendo, todavia, condições que o adequavam melhor à guerra naval,
porque mais baixo, mais longo, menor bojo e calado e maior estabilidade. Todos estes
factores, combinados com o seu aparelho231, tornavam-no menos atreito à mira inimiga
devido a ser mais rápido e ligeiro, de fácil manobra.
“O galeão português do século XVI era um navio redondo de alto bordo, do tipo da nau,
mas com algumas características diferentes: que indiciam ter sido ter sido especificamente
pensado para a guerra no alto mar. As linhas do casco eram mais afiladas e o bordo mais baixo,
tal como os castelos de popa e proa, o que lhe conferia melhores capacidades marinheiras,
reforçadas por um aparelho composto por quatro mastros, os da vante (grande e traquete) com
pano redondo, e os da ré (mezena e contra-mezena) com pano latino, aparelho este que se
distinguia do da nau pelo acrescento do mastro da contra-mezena, junto à popa. Estas
características garantiam-lhe uma superior capacidade de manobra, fundamental para a guerra
230 Imagem retirada do livro de Francisco Contente Domingues, Navios Portugueses dos séculos XV e XVI, C.M. Vila do Conde, 2006, p. 47 e que nos chama a atenção para a grande superfície vélica destas embarcações, um dos traços distintivos dos navios portugueses. 231 Aparelho – Conjunto do massame, poleame e velame. Humberto Leitão e J. Vicente Lopes, Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual, Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1974, p. 48.
125
naval, e as linhas do casco com pequena elevação das superestruturas tornavam-no pior alvo para
a artilharia inimiga, por comparação com o navio redondo típico”232.
Porém, o galeão que pela sua estrutura era mais apropriado para a guerra naval
foi, igualmente, utilizado para fins comerciais.
Tavoa da Aguada do Xeque 233
232 Francisco Contente Domingues, Os Navios do Mar Oceano, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa, 2004, pp. 252-253. 233 Imagem e texto retirado do livro de Francisco Contente Domingues, Navios Portugueses dos séculos XV e XVI, C.M. Vila do Conde, 2006, p. 9: «“Tavoa da Aguada do Xeque”: nas ilustrações preparadas para acompanhar dois dos roteiros de D. João de Castro, datáveis do segundo quartel do século XVI, avulta este desenho aguarelado que é talvez a melhor representação conhecida de navios portugueses da época, nele figurando as principais embarcações em que se baseou o poder naval português no Índico - a nau, o galeão, a caravela redonda, a galé e os bergantins e fustas (Tábuas dos Roteiros da Índia de D. João de Castro)».
126
2.2 Os Homens do Mar
Nus se banharam em grandes praias lisas Outros se perderam no repentino azul dos temporais
Sophia de Mello Breyner Andresen 234
Bartolomeu Dias235
Nome incontornável das expedições marítimas portuguesas, o do navegador
Bartolomeu Dias, sobre quem pouco se sabe, sobrevivendo-lhe a fama do seu grande
feito marítimo, quando dobrou o temido Cabo das Tormentas.
Não se conhece família, nem data de nascimento e o local suscita discórdia entre
os seus estudiosos. Sabe-se que recebeu tenças e mercês o que pressupõe acções
relevantes no meio marítimo, para além de D. João II lhe ter confiado a capitania da
pequena armada com que concretizaria a passagem para o Índico. “É possível que uma
das recompensas que o navegador obteve pela sua façanha fosse a nomeação para o
cargo de almoxarife do Armazém da Guiné de 1494 a 1497”236.
Esta indicação vem expressa numa carta de quitação, de 8 de Julho de 1501:
“Fazemos saber que pela recadaçam da conta que foi tomada a Bertolameu Diaz,
escudeiro da nossa casa, e recebedor que foi do almazem de Guiné os annos 94, 95 e 96 e parte
do anno de 97, se mostra receber de dinheiro 12: 992:002 reaes, e muitas artelharias, pólvora,
234 Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar, 3ª ed., Lisboa, Caminho, 2001, p. 63. 235 Muito se tem escrito sobre este navegador, querendo nós aqui lembrar alguns estudos decisivos para a copreensão do seu papel nas expedições marítimas portuguesas, sem olvidar algumas datas que merecem a atenção da historiografia. Vide, assim: Damião Peres, Uma prioridade portuguesa contestada mas inconstestável: a circum-navegação da África Australpor Bartolomeu Dias, Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1960. A.Teixeira da Mota, Bartolomeu Dias: Descobridor do Cabo de Boa Esperança, Lisboa, Secretaria de Estado das Comunidades, 1988. Luís de Albuquerque, Bartolomeu Dias : corpo documental – bibliografia, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1988. Congresso Internacional Bartolomeu Dias e a Sua Época. Actas, 5 vols., Porto, Universidade do Porto, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1989. Universidade do Porto, Congresso Internacional Bartolomeu Dias e a sua época : actas. 2 vols., Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Porto, Universidade do Porto, 1989. Bartolomeu Dias: no 500 aniversário da dobragem do Cabo da Boa Esperança 1487/88-1988: comemorações em Durban. Ed. Fundação Eng. António de Almeida. Porto, 1990. Ana Paula Avelar, Fernão Lopes de Castanheda: historiador dos portugueses na Índia ou cronista do Governo de Nuno da Cunha?, pref. Joaquim Veríssimo Serrão, Lisboa, Cosmos, 1997. Idem, Visões do Oriente: formas de sentir no Portugal de Quinhentos, Lisboa, Colibri, 2003. 236 João Cosme, “A Aventura, Bartolomeu Dias”, História de Portugal, dir. João Medina, vol. V, Os Descobrimentos (II), Lisboa, Ediclube, 2004, p. 145.
127
navios, cordoalha, enxarcea, vellas,mastros, vergas, e outras muitas cousas necessárias para
despesa e maneo da dita Casa, e armaçam dos ditos navios que se em cada um anno armam na
dita Casa, as quaes se aqui nam declaram por escusar larga leitura. Do qual dinheiro e cousas,
posto que per o ençarramento da dita recadaçam se mostra algumas dellas ficar devendo, a nós
praz por o dito Bertolameu Diaz falecer em nosso serviço na viagem da India, onde o enviamos,
de fazermos dellas quita e merce a sua molher e erdeiros; e por tanto … damos a dita sua molher
e erdeiros por quites e livres de todo dito dinheiro e cousas… Dada em Lixboa, a 8 de julho,
Joham Fernandez, contador, a fez, anno de 1501. – Chancelaria de D. Manuel, livro 6º, fl. 11;
livro 9º da Estremadura, fl. 63”.237
Não havendo consenso sobre as datas, provavelmente Julho ou Agosto de
1486238, partiu Bartolomeu Dias capitaneando duas naus – A S. Cristóvão, onde ele ia,
pilotada por Pêro de Alenquer. A S. Pantaleão, comandada por João Infante, levando
por piloto Álvaro Martins e a naveta239 que transportava os alimentos, comandada por
Pêro (ou Diogo) Dias, seu irmão, sendo o piloto João de Santiago.
Naturalmente que o intento era proceder ao reconhecimento da costa africana, da
sua extensão e avaliar das possibilidades de alcançar o Oriente por via marítima.
Bartolomeu Dias atingiu a Serra Parda240 e continuando para sul, a expedição arribou à
Terra de S. Silvestre. Os ventos de sueste terão levado os navios a afastar-se da sua
derrota costeira, motivo que os obrigou, durante treze dias, a navegar a descoberto241;
Procurando a costa, rumando sempre a sul, assim que atingiu a latitude dos ventos de
oeste (35º a 40º S) - os frios ventos do Atlântico Sul - navegou para leste, para
reencontrar terra. Todavia tal não aconteceu, pelo que o navegador rumou a norte,
avistando-a, então, já para lá da almejada ponta sul africana. Ele tinha passado o Cabo!
Seguiu, pela costa até ao rio Infante (33º e 30’ S), quando inicia a torna-viagem. Sempre
237 Anselmo Braamcamp Freire, “Cartas de Quitação del Rei D. Manuel”, vol. I, Archivo Historico Portuguêz, Lisboa, 1903, p. 360. Esta mesma carta de quitação foi inserida por Sousa Viterbo, no seu livro, Trabalhos Náuticos dos Portugueses (séculos XVI e XVII), p. 186; seguindo-se uma outra, de 15 de Julho de 1501, em que D. Manuel concede ao filho mais velho de Bartolomeu Dias – Simão Dias – a tença de 12 mil reais. 238 Ano de 1486, ou 1487, ano em que, também, Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva fazem viagens por terra, cujo objectivo era avaliar as condições económicas do Próximo Oriente e, particularmente, o comércio das especiarias. Maria Teresa Alvarez Nunes, “Dias, Bartolomeu”, Dicionário de História dos Descobrimento Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol. I, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 352-353. 239 Naveta – Navio pequeno de vela, com armação semelhante às da nau. Humberto Leitão e J. Vicente Lopes, Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual, 2ª ed. Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1974, p. 371. 240 Serra Parda (perto da actual Namíbia) – Limite das viagens de outro grande navegador português, Diogo Cão (séc. XV). 241 Navegar fora da vista da terra. Op. cit., p. 370.
128
com costa à vista, explora o Cabo das Agulhas e o Cabo das Tormentas (depois
conhecido como de Boa Esperança). Chegou a Lisboa em Dezembro de 1488.
Bartolomeu Dias morreu no ano de 1500242, a caminho da Índia, quando, no
Oceano Atlântico, uma tempestade fez, de súbito, naufragar o seu navio.
Esta outra carta de quitação, de 1498, que a seguir transcrevemos e que respeita,
igualmente, a Bartolomeu Dias, menciona a nau São Cristóvão, com que ele passou o
cabo:
“Mandámos ora tomar conta a Bertolameu Diaz, patram que foi da nao Sam Christovam,
de todo o dinheiro e cousas que recebeo e despendeo dos anno de 90 até 95. E mostra-se pela
recadaçam de sua conta elle recebr em dinheiro 4:080:912 reaes e 4 ceitis, destas pessoas que se
seguem, a saber: 2:105:250 rs. de Diego Affonso, recebedor mor da Santa Cruzada, por 19
desembargos; e 370:000 rs. de Fernam Lourenço, thesoureiro e feitor da Casa da Mina; e
254:934 rs. de Ruy da Costa, recebedor que foi do almazem e taracenas de Lixboa; e 600:000 rs.
de Ruy Fernandez, recebedor que foi dos cem mil cruzados da dita cidade; e 451:350 rs de Joam
Lopez Perestrelo, feitor que foi da dita nao; e 40:000 rs. de Fernam de Espanha, recebedor do
dinheiro extraordinario em nossa corte; e 255:478 rs. e 4 ceitis de Gonçalo Coelho, recebedor
que foi do dito almazem e taracenas; e os 3:900 rs per venda de um calabrete que vendeu ao priol
de Emsede de Calez; e assi enxarceas, velas, artilharia, armas, vinho, carnes, pescado, e cousas
outras, segundo mais compridamente é declarado na recadaçam da dita sua conta. E assi se
mostra ele despender do dinheiro de 4:061:043 rs., e dos 19:870 rs. que faleceram pera
comprimnto dos ditos 4:080:912 rs., os entregou a Fernam de Espanha, recebedor do dinheiro
extraoordinario, e assi de todalas outras cousas que assi lhe sam em receita na dita recadaçam de
todo nos deu conta… E por tanto o damos… por quite e livre… Dada em Lixboa, a 27 de
fevereiro, Joam Fialho a fez, anno de 1498”.
([Torre do Tombo], Chancelaria de D. Manuel, liv. 31º, fl. 95 v.; liv. de Extras,
fl. 164) 243.
242 Bartolomeu Dias ia integrado na armada de outro grande nome dos Descobrimento Portugueses, Pedro Álvares Cabral (ou de Gouveia; 1467?-1520?), capitão-mor da segunda expedição à Índia, quando, atravessando o Oceano Atlântico, um forte temporal fez naufragar quatro navios da armada. 243 Anselmo Braamcamp Freire, “Cartas de Quitação del Rei D. Manuel”, vol. I, Archivo Historico Portuguez, Lisboa, 1903, p. 359.
129
Vasco da Gama244
“Dom manuell […]. A quamtos esta nosa carta virem fazemos saber que sendo pollo ynfante
dom anrique meu tio começado o descobrimento da terra de guinee na era de mill iiijºxxxiij […]
com tençam e desejo de polla costa da dita terra de guinee sse aver de descobrir e achar a yndia a
quall atee os tempos daguora nuca por ella foy sabida nom ssoomente com o proposito de a este
Regno sse seguir grande fama e proveito das muitas Riquezas que nella ha / as quaaes sempre
pollos mouros forom pesuidas / mas porque a fee de nosso sõr por mais partes fose espalhada e
seu nome conhecido E despois ElRey dom afonso meu tio e elrei dom joham seu filho queremdo
com os mesmos dessejos prosseguir a dita obra com asaz mortes e despesas em sseu tempo atee
o Rio do ynfante foy descoberto no anno de iiijºlxxxij […] que sam mil e oytcentas e oytemta e
cinquo leguoas domde primeiro sse começou a descobrir / E nos com o mesmo desejo quereendo
comseguir a obra que o dito ynfante e Rex nossos antecesores tinha comecada / confiamdo que
vaasquo da gama fidalguo de nosa casa era tall que pollo que compre a nosso serviço e em
comprimento de nosso mandado pospoeria todo priguo de sua pessoa e arriscamento de sua vida
/ ho emviamos comnosa armada por capitam mor della emviando com ell paullo da gama seu
irmaão e nicollao coeho isso mesmo fidalguo de nosa casa a busquar a dita índia/ […]”245.
O trecho supra é parte de uma carta, do rei D.
Manuel, datada de 10 de Janeiro 1500 e cujo assunto é Dom
Vasco da Gama, fidalgo da sua Casa, o grande navegador
português que se projectou na História universal por ter
levado a cabo a maior das viagem oceânicas – a Descoberta
do caminho marítimo para a Índia (1497-1499).
Selo comemorativo246 do V centenário do nascimento de Vasco da Gama
244 Vasco da Gama (1469-1524), nome maior das navegações portuguesas, bem difícil é assinalar a atenção que lhe tem sido concedida pela historiografia, mas não podemos deixar de mencionar, pelo menos, a produção aquando da passagem de certas datas, a saber: Catálogo sistemático da exposição bibliográfica comemorativa do Quarto Centenário de Vasco da Gama (Biblioteca Nacional de Lisboa, 1925/Jan.27 – Fev. 2) Lisboa, 1925; J.Estêvão Pinto e Maria Alice Reis. Vasco da Gama. Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Vasco da Gama, Lisboa, 1969; Catálogo do [V] Centenaire de la naissance de Vasco da Gama. Exposition bibliographique e iconographique, Estrasburgo, Fundação C. Gulbenkian, 1970; V Centenário do Nascimento de Vasco da Gama. Exposição documental e bibliográfica, Porto, Casa do Infante,1970; Rui Manuel Loureiro, Vasco da Gama e a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997. Em 1998, a Exposição Mundial de Lisboa, subordinada ao tema dos Oceanos, foi inaugurada a 22 de Maio, integrada nas comemorações dos 500 anos da descoberta do caminho marítimo para a Índia, efusivamente celebrados. 245 Anselmo Braamcamp Freire, “O Almirantado da Índia (Data da sua criação)”, Archivo Historico Portuguez, Lisboa, vol. I, doc. I, 1903, pp. 28. 246 http//carreiradaindia.wordpress.com [consultado e retirada a imgam em 1 de Junho de 2011].
130
Após Bartolomeu Dias e as expedições de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva
estavam reunidas as condições para submeter à prova a possibilidade de se abrir e
estabelecer uma rota comercial, pelo Oceano Índico que levaria ás especiarias e a outras
riquezas do Oriente.
D. Manuel delegou em Vasco da Gama tal encargo, pelo que:
“A partida da amada247 verificou-se do Restelo, a 8 de Julho de 1497. A 27 de Julho fez
a primeira paragem na ilha de Santiago, donde uma semana mais tarde sairia rumo à Serra Leoa,
separando-se então de Bartolomeu Dias, que seguia para a Mina. Depois embrenhou-se no
«golfão», descrevendo um vasto arco para oeste, muito ao lago da costa africana, de forma a
contornar os ventos alisados248 e encontrar, já no hemisfério sul os que pudessem conduzi-lo de
novo à costa africana, o que correspondeu a cerca de três meses de navegação longe de terra”249.
Em Novembro, aproou à ilha de Santa Helena e alguns dias depois passou250 o
Cabo, fundeando na angra de S, Brás. Em Janeiro chagou à foz do rio Quelimane;
Março, Moçambique251; Abril, Mombaça, Melinde252.
247 A armada tinha uma tripulação de cerca de 150 e 70 homens, e quatro embarcações, pequenas, com cerca de 100 ou pouco mais, de arqueação:
� Nau São Gabriel, construída especialmente para esta viagem, capitaneada por Vasco da Gama e
pilotada por Pêro de Alenquer; � Nau São Rafael, semelhante à anterior e, igualmente, construída para esta viagem, comandada
por Paulo da Gama, seu irmão e por piloto João de Coimbra (na torna viagem teria sofrido um rombo e foi destruída em Mombaça (ou Melinde?);
� Caravela Bérrio, comandada por Nicolau Coelho e por piloto Pêro Escobar. � Caravela São Miguel, para transporte de mantimentos, sob o comando de Gonçalo Nunes.
João Cosme, “A Aventura, Vasco da Gama”, História de Portugal, dir. João Medina, vol. V, Os Descobrimentos (II), Lisboa, Ediclube, 2004, p. 147. 248 Ventos alisados, ou ventos alísios: os ventos que sopram, regularmente, de leste para oeste, entre os trópicos. 249 Carlos Carrasco, “Gama, Vasco da”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir, Luís de Albuquerque, vol. I, Lisboa, Caminho, 1994, p. 449-451. 250 Após duas tentativas, por volta de 22 de Novembro, Vasco da Gama passa o Cabo da Boa Esperança. 251 Em Moçambique já havia um activo comércio de ouro, prata, e especiarias. 252 Camões, no poema épico que eterniza a epopeia dos Portugueses e os Descobrimentos, dá-nos a sua visão deste episódio histórico, em alguns dos seus mais belos versos. O rei daquela cidade visitando a armada, pede a Vasco da Gama que lhe conte a história do seu reino, coisa que o navegador faz, terminando:
"Eis aqui, quase cume da cabeça De Europa toda, o Reino Lusitano, Onde a terra se acaba e o Mar começa […]. Esta é a ditosa pátria minha amada […]”.
Luís de Camões, Os Lusíadas, 3ª ed., Porto, Porto Editora, 1974, (Canto III, Estrofes 20; 21, p.116).
131
Em 20 de Maio de 1498 – 312 dias após ter deixado Lisboa – chegou Vasco da
Gama chegou à Índia, a Calecute, uma das suas grandes praças comerciais. Dera-se
início à Rota do Cabo253.
Rotas da 1ª viagem à Índia e regresso 254
Vasco da Gama chegou a Lisboa em fins de Agosto, ou princípios de Setembro
de 1499 e, não obstante as vicissitudes inerentes, a expedição tinha sido um êxito e D.
Manuel, entre rendas, doações e títulos, cumulou o navegador de mercês e fê-lo
almirante da Índia:
“Outro sy o fazemos almirante da dita yndia com todalas homrras priminemcias
liberdades poder juridiçam Remdas foros e direitos que com o dito almirantado per direito deve
253 Rota do Cabo – Rota que levava os navios de Portugal à Índia pelo Cabo da Boa Esperança. 254 Mapa que assinala a rota seguida por Vasco da Gama a caminho de Calecute e a de volta a Lisboa e respectivas paragens. http://indiagestao.blogspot.com/2008/07/510-anos-de-vasco-da-gama.html [Retirado em 23 de Março de 2011].
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aver e os teem o nosso almirante destes nosos Regnos ssegundo mais compridamente sse
conthem em seu Regimento / […]”255.
Na mesma carta, o rei concede-lhe e à família, o título e Dom:
“E bem asy o fazemos a elle dito vaasquo da gama de dom e por sseu Respeito iso
mesmo queremos e nos praz que aires da gama e tareiga da gama seus irmãos ssejam de dom e se
posam todos daqui em diante chamar de dom e asy seus filhos e netos e todos aqueles que deles
descemderem […]”256.
Vasco da Gama faria mais duas viagens à Índia, em 1502 e 1524,
respectivamente, vindo a falecer em Goa, em Dezembro deste ano.
Afonso de Albuquerque
Em diversos trabalhos do Archivo Historico Portuguêz é referenciado o nome de
Afonso de Albuquerque, naturalmente, porque a sua figura, a sua vida, a época em que
viveu, os acontecimentos em que participou, as pessoas com quem conviveu – partes
integrantes da História de Portugal – são factos que se conjugam para suscitar um
natural interesse aos estudiosos da História.
O nosso Capitam mor Affonso d’Albuquerque, como se lhe refere D. Manuel, o
segundo governador da Índia, protagonizou acções militares e políticas que foram
determinantes para o estabelecer do Império Português no Índico.
“Em 6 de Abril de 1503 partiu para a Índia chefiando uma capitânia de três naus […]: a
segunda capitânia com outras três naus fez-se ao largo em 14 do dito mês […] sob o comando de
seu primo Francisco de Albuquerque. Juntos combateram o samorim de Calecut que procurava
obstar que a presença portuguesa se consolidasse no reino de Cochim. Como este reino havia
sido evadido pelo soberano de Calecut, os portugueses destroçaram os ocupantes e decidiram
edificar, na cidade aliada, uma fortaleza para protecção dos naturais e garantia do comércio luso.
255 Anselmo Braamcamp Freire, “O Almirantado da Índia (Data da sua criação)”, Archivo Historico Portuguez, vol. I, Lisboa, 1903, p. 29. (Doc. 1). 256 Idem, ibidem.
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Desavenças surgidas com o primo […] fizeram-no deslocar-se a Ceilão, a fim de aqui
carregar especiarias. […]. Daqui dirigiu-se para Cochim e Canacor donde trouxe uma carga de
cravo e canela.
Em 25 de Janeiro de 1504 empreendeu o regresso ao reino […].
Em 1506 […] à frente de uma armada de seis naus, partiu de Belém com destino ao
Oriente” 257.
Nesta segunda viagem e em companhia de Tristão da Cunha258 , foi com as
funções de capitão-mor da costa da Arábia, onde deveria andar em vigilância.
A Afonso de Albuquerque é-lhe reconhecida uma larga visão, com uma
estratégia delineada para a expansão portuguesa afim de tornar possível uma rede
comercial o que passava pelo domínio militar de pontos fulcrais.
“Após muitas victorias na India, alcançadas não sem difficuldade e derramamento de
sangue, o nosso Capitam mor Affonso d’Albuquerque, deixando-a pacificada […] dirige-se para
Chersoneso Áureo, que os habitantes chamam Malaca, situada entre o Golpho Grande e o
Ganges, vasta cidade de vinte e cinco mil ou mais fogos, terra abundantíssima enobre, a mais
rica em mercadorias que a Índia produz, epor isso empório commercial mui afamado, onde
affluem diversos aromas e perfumes de todo o género, bem como o ouro, a prata e as pedras
preciosas. […] Affonso d’Albuquerque resolve atacar a cidade com uma esquadra, bem
aprestada, […] após dosi successivos combates, os nossos […] alcançaram a victoria, e matando
grande numero de inimigos tomam a cidade de assalto, saqueiam-na e incendeiam-na.
Havia […] em Malaca muitos estrangeiros e mercadores […] que com fins commerciaes
frequentavam em grande numero a cidade, trazendo ahi muitas riquezas […] todos este e muitos
habitantes das visinhanças […] pediram amisade e alliança a Albuquerque que os acolheu […] e
pactuaram com elle edificar suas casas de habitação e commercio em roda da forlaleza […]. Os
próprios Chins enviam-nos uma embaixada para tomarmos conhecimento mais perfeito dos seus
257 João Cosme, “Portugal Diaspórico, Afonso de Albuquerque”, História de Portugal, dir. João Medina, vol. V, Os Descobrimentos (II), Lisboa, Ediclube, 2004, pp. 503-504.
258 Tristão da Cunha (1460-1539), cavaleiro do conselho do rei D. Manuel (entre outras benesses), descobridor e navegador e, por conta própria, investidor nas expedições que se dirigiam à Índia. Em 1505, o rei criou o lugar de vice-rei, destinando-o a Tristão da Cunha, cargo que não chegou a ocupar por motivos de repentina cegueira, ocupando-o D. Francisco de Almeida. Quando, alguns meses depois, recupera a visão, não aceita suceder àquele, preferindo que lhe fosse dada a capitania-mor da armada que haveria de sair para a Índia, em 1506. (Afonso de Albuquerque e a sua armada ficarão sob a bandeira de Tristão da Cunha). Comandará, ainda, em 1513, a sumptuosa embaixada de obediência ao Papa Leão X.
134
negócios. E tanto estes, como os demais habitantes da cidade, sujeitam-se ao nosso dominio e
obedecem às nossas leis […]”259.
Já Governador procurou concretizar vários objectivos: obstruir as passagens para
o Golfo Pérsico260, Mar Vermelho261 e Pacífico, pelo que, para levar a cabo este plano
geoestratégico conquistou Goa tornando-a capital comercial dos territórios sob
jurisdição portuguesa. Desta forma opor-se-ia ao poder dos otomanos, dos árabes e dos
seus aliados hindus:
“[…] achando-se agora o nosso Governador no mar Vermelho tractando de occupar a sua
entrada, prohiba e impeça o commercio aos Serracenos d’aquellas partes, e deixando na Índia
forças convenientes, à frente de uma poderosa esquadra […]”262.
Afonso de Albuquerque faleceu em Goa, em 16 de Dezembro de 1515.
Com elevado sentido de honra e sentimento pátrio, o seu nome surge ligado a
combates, conquistas, construção de fortalezas e feitorias. Valente, frontal, polémico, a
sua correspondência, especialmente, com D. Manuel (Cartas) é uma fonte documental
da época, da maior importância, além de que deixa transparecer traços do seu carácter.
Nome da História de Portugal que não pode ignorar-se, ficará, igualmente e para
sempre, ligado à história da Índia.
Fernão de Magalhães
António Baião refere-se-lhe como a um dos grandes génios portugueses do
século XVI dedicando-lhe dois estudos no Archivo Historico Portuguez. Naturalmente,
já tudo se disse sobre este notável navegador português, cujo facto de ter cumprido tão
grande proeza – a circum-navegação (1519-1522) – sob bandeira espanhola, em nada o
deprecia, porque o que conta, para o engrandecer é o feito em si mesmo.
259 José Pedro da Costa, “Carta do poderosissimo e invictissimo D. Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, &c., sobre as vitórias alcançadas na Índia e em Malaca. Ao Santo Padre em Cristo e Senhor nosso, Leão 10º Pontífice Máximo”, Archico, Historico Portuguêz, vol. III, Lisboa, 1905, pp. 111-114. 260 Vide, por todos, António Dias Farinha, Os Portugueses no Golfo Pérsico (1507-1538). Contribuição documental e crítica para a sua História, Sep. de Mare Liberum (3), Lisboa, Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1991. 261 Vide a este propósito, Ana Paula Avelar, Do Mar Vermelho na Cronística da Expansão Portuguesa (séc. XVI), Lisboa, Academia da Marinha, 2003. 262 José Pedro da Costa, Archico, Historico Portuguêz, vol. III, Lisboa, 1905, p.114.
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Não se sabe onde nasceu263 (mas sabemo-lo português e isso basta para que
honremos a sua memória e celebremos o seu tão ousado cometimento), embora se
conheça alguma coisa do seu percurso de vida: quando partiu para o Oriente, expedições
em que participou, confrontos em que tomou parte, com quem casou, causa e dia da sua
morte. As circunstâncias em que ofereceu os seus préstimos a Carlos V e factos da
grande viagem:
“E assim as caravellas que respectivamente se chamaram Trinidad, Santo António,
Concepcion, Victoria e Santiago, eram commandadas, a primeira por Fernão de Magalhães, a
segunda por João de Carthagena, a terceira por Gaspar de Quesada, a quarta por Luiz de
Mendoza e a quinta por João Serrano, indo como piloto da Concepcion Sebastião Elcano.
Constituída e organisada a armada, prestes se fez ao mar. Effectivamente no dia 1
d’agosto de 1519 partiu ella de Sevilla […]”264.
Infelizmente, Fernão de Magalhães não pôde concluir a viagem de circum-
navegação a que se tinha proposto, nem usufruir da glória do seu feito, visto que foi
morto por indígenas, no dia 27 de Abril de 1521. Depois de muitas peripécias, mortes e
doenças, concluiu a viagem Sebastião Delcano que fundeou em Sevilha, a 8 de
Setembro de 1522. Do total da expedição voltaram, apenas, 18 homens e uma nau, mas
Fernão de Magalhães ficou para na História de dois povos e na memória colectiva.
263 Apontam-se vários lugares: Ponte da Barca, no Minho; Tolões, junto de Amarante; Vila de Figueiró, na Estremadura; Aldeia de Sabrosa, em Trás-os-Montes e, ainda, no Porto. 264 António Baião, “Fernão de Magalhães e a primeira circumnavegação ao globo”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, 1904, p. 326.
136
X
Documentos das Navegações e Descobrimentos
As navegações e os descobrimentos portugueses geraram rica documentação de
expressão literária e inúmeras cartas e documentos pessoais, religiosos, de comércio ou
ciência, políticos ou militares, de referência histórica. Há“[…] milhares de cartas
escritas por Portugueses que estiveram na Índia durante o século XVI, guardadas na
Torre do Tombo”265. Igualmente, os cronistas e os viajantes retiveram, para a memória
colectiva, significativas páginas de teor político, militar, ou científico.
“A contribuição que, através dos seus escritos, os Portugueses deram para o
conhecimento dos povos do mundo nunca poerá ser secundarizada. Basta concretizar em quatro
livros: o chamado Livro de Duarte Barbosa […] e a Suma Oriental de Tomé Pires, ambos
escritos na década de 1510-1520 referentes aos povos da Índia – entendendo este topónimo no
sentido mais largo; Verdadeira Informação da Terra de Preste João das Índias, narrativ redigida
pelo Pe. FranciscoÁlvares, depois de seis anos que viveu na Etiópia (1520-1526), e editado pela
primeira vez em 1540 […]; e, por último, Notícias do Brasil […] escrito por Gabriel Soares de
Sousa antes de 1587 […].
Outro exemplo será o da intervenção de autores portugueses no conhecimento da flora
em geral e da flora exótica em realção à Europa […]”266.
Quanto à historiografia dos Descobrimentos, consubstancia o resultado da acção
marítima, arreigada nos roteiros e diários de bordo.
Precisamente, um dos documentos dos Descobrimentos é o Roteiro 267 da
Primeira Viagem de Vasco da Gama, que se supõe de Álvaro Velho que integrava a
guarnição da armada. Outro, de imensurável valor, é a tão conhecida Carta do
Achamento do Brasil268 de Pero Vaz de Caminha269 que traria a D. Manuel a boa nova.
265 Luís de Albuquerque, Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses, 2ª parte, 2ªed., Lisboa, Veja, 1991, p. 8. 266 Idem, ibidem, p. 9. 267 Este documento, de tão grande valor, encontra-se na Biblioteca Pública e Municipal do Porto (cota nº 804). Foi encontrado pelo historiador Alexandre Herculano, em 1834, no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que para ali o trouxe tendo sido publicado, pela primeira vez, em 1838, por Diogo Köpke (1808-1844) que procurou averiguar quem teria sido o seu autor, atribuindo-o, então a Álvaro Velho, tese que tem sido aceite. José Manuel Garcia, “Velho, Álvaro”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. II, dir. Luis Albuquerque, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 1064-1065. 268 A Carta do Achamento do Brasil é dos documentos paradigmáticos dos Descobrimentos. De enorme significado histórico pela importância documental do achamento do Brasil, constituindo – como soi dizer-se – como que a sua de certidão de nascimento, para os Brasileiros ganharia um interesse adicional
137
Os documentos que a seguir apresentamos são, igualmente, resultantes das
navegações e descobrimentos e todos eles escritos narrativos, plenos de informação,
detalhadas fontes históricas.
1. As Cartas de Quitação e os Cadernos de Assentamentos
As cartas de quitação – como as que acima reproduzimos, respeitantes a
Bartolomeu Dias – são preciosos documentos onde, como já vimos, encontramos
numerosas informações. Estas que, agora, transcrevemos têm o aliciante de serem
relacionadas com os homens ligados às navegações e aos descobrimentos, ou às coisas
do mar. Nelas encontramos o nome do destinatário, posição social, cargos que ocupou e
actividades que desempenhou; se era, ou não, vivo à data da mesma; extensos
inventários, onde constam os bens – móveis e imóveis – e mencionando nomes de
familiares, de outros indivíduos e os seus cargos, referindo compras e venda de objectos,
materiais, produtos e matérias-primas; quem a escreveu e onde, dando muitas e
diferentes pistas, a partir das quais podem fazer-se diversos estudos e complementar
outros.
A que a seguir se transcreve, de D. Manuel, de 1508, é disso um claro exemplo:
“Mandámos ora tomar conta a André Affonso, nosso escudeiro, cidadão morador na
nossa cidade do Porto, de todo o dinheiro e cousas que recebeo pera o fazimento das promeiras
tres naos Sam Vicente e Sam Graviel e Sam Raphael, que per nosso mandado teve carego de
fazer na dita cidade o anno passado de 1504; e bem assi de todo o dinheiro e cousas que recebeo
pera fazimento da nao Sam Joam, e tres caravelas, Sam Simam, e Sam Bras e o Salvador, e uma
aquando da sua independência (1822). O documento “[…] enche as sete folhas de papel, cada uma das quais de quatro páginas, perfazendo vinte e sete de texto e uma de endereço, de descrição da terra e, principalmente, do Homem”. A riqueza de detalhes e das sensações que Caminha relata acerca do encontro com a terra e os ameríndios, da relação mútua, das emoções do contacto faz da carta um texto humanista, “[…] documento [que] é sem dúvida o mais informartivo e o mais belo de quantos escritos se referem a este acontecimento. Ana Maria Azevedo, “O «significado» da «carta» de Pêro Vaz de Caminha a el-Rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil»”, Carta de Pêro Vaz de Caminha a el-Rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil, Lisboa, Europa-América, 2000, p. 13. Idem, ibidem, p.24. 269 Pêro Vaz de Caminha – É provável que tenha nascido no Porto, em meados do século XV; seria escrivão da armada de Álvares Cabral e a Carta do Achamento do Brasil marcá-lo-ia para a posteridade. Caminha morreu em combate , na Índia, destino da armada de Cabral. João Luís Lisboa, “Caminha, Pêro Vaz de”, Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol. I, dir. Luís de Albuquerque, Lisboa, Caminho,1994, pp.179-180.
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villa de Mdeira, que também per nossso mandado fez na dita cidade o anno de 506; e bem assi de
todo o dinheiro que recebeu pera a compra das carnes em que o dito tempo teve carego de
comprar. E mostrou-se a receber de dinheiro ao todo, pera o que dito é, 5:813:276 rs., a saber:
2:675:866 rs. que pera as tres primeiras naos recebeo de desvairadas pessoas, 2:747:410 rs que
recebu pera o fazimento da não Sam Joam e tres caravella e vlla de madeira que tambem recebeu
de desvairadas pessoas, entrando aqui 180:000 rs que recebeo de Pero Cão que lhe foram
entregues pera Diogo da Fonseca pera compra de certo pam que lhe mandamos que comprasse
na dita cidade, e pelo não comprar os entregou ao dito André Affonso pera despesa das ditas
naos; e os 390:000 rs. que recebeu pera a compra das ditas carnes. Dos quaes 5:813:270 rs., e
naos e caravellas, e vila de madeira, carnes, madeira, tavoado, ferro, breu, pregadura, sevo,
cordoalha, enxarça, armas, artelharia, ancoras, e cousas outras que de si recebeo per compra, e
como das cousas que receu dos armazens desta cidade de Lixboa, que aqui não podem todas
decrarar por serm muitas, e de desvairados dizeres, nos deu mui boa conta… pelo qual o damos
por quite e livre… Dada em Lixboa, a 16 de janeiro, Pero Fernandez a fez, anno de 1508”.
([ Torre do Tombo], Chancelaria de D. Manuel, liv. 5º, fl.18; liv. 6º de Místicos,
fl. 63)270.
Completando estas – e como já referimos – os Cadernos dos Assentamentos, da
vedoria da fazenda, depois de subscritos por vedores e de assinados pelo rei, eram
enviados aos almoxarifes e recebedores que tinham o encargo das finanças públicas.
Ligada ao nosso tema, vamos reproduzir uma interessante passagem de um deles, do
reinado de D. João III que assinala o ouro da Mina e os escravos que vinham da Índia:
“Casa dos escravos, ilhas e tratos de Guiné, 1531
Eu elRey faço saber avós meu almoxarife ou recebedor da casa dos escravos, ilhas e
tratos de Guine, que eu mãdey fazer meu assmtamẽto este anno presẽte de 531 sobre os vymte
quatro comtos seiscẽtos e cimquemtamil reaes, ẽ que este anno presemten de 531 sã levados per
arrẽdamẽto, os tratos e remdas de voso recebimẽnto – 24.650:000 rs – esta guisa, a saber:
Dous comtos de rs., que per orçamẽto pode valer a vimtena do ouro das caravelas da Mina e frete
dos escravos que veẽ da Imdia.
E dez comtos de rs. per que estã arremdadas as ilhas dos Açores.
E cemto e cimquemta mil rs. per que está arremdada a ilha do Primcipe.
E cẽ mil rs. que per orçamẽto podem valer as ilhas Bravas.
E quatro contos de rs. per que estã comtratados os rios da Guiné e quartos e vimtenas da ilha de
Sãtiaguo, que tẽ Afonso de Torres.
270Anselmo Braamcamp Freire, Archivo Historico Portuguêz, vol. I, Lisboa, 1903, p. 277. (Doc. 59).
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E novecemtos mil rs. per que estã aremdados os dizimos, ẽtradas e saidas da ilha do Cabo Verde
e Foguo e Mayo.
E dous comtos e quinhẽntos mil rs. ẽ que per orçamẽnto vay laçado o trato dArgym.
E cimco comtos de rs. ẽ que per orçamẽto hé levado a ilha de Sã Tomé, que feitoriza Afõso
Torres.
E do huũ por cemto destas remdas, duzẽtos quoremta seis mil e quinhẽtos rs. – 246:500 rs.
Que soma, 24.896:500 rs
[…]
Amtónio Paaez o fez, ẽ Alvyto, a 29 dias de Novembro de 1531.- E eu Damiã Diaz o fiz escrever.
Rey dõ Johã
Caderno da casa dos escravos, ilhas e tratos de Guiné”.
([Torre do Tombo] Corpo cronológico, parte I, maço XLVII, doc.115)271.
2. As Cartas dos Feitores para o Rei
A Feitoria era um entreposto comercial, nos domínios coloniais, visando os
interesses do seu país. Era administrada pelo feitor, nomeado pelo rei e englobando
armazéns, mercado, alfândega, tendo em vista o desenvolvimento económico e o
relacionamento político na região.
As cartas que transcrevemos – datando de 8 de Agosto de 1509 e de 10 de
Novembro de 1510, respectivamente – são de João Brandão que foi feitor de D. Manuel,
em Antuérpia, objectivando dirigir o comércio e a distribuição dos produtos vindos do
oriente para a Europa.
“Carta de João Brandão, feitor em Flandres, a D. Manuel”
Senhor – Despois de teer sprito a vosalteza cheguou aquj novas ás companhias dos
alemaees / asy como erã tornados a gram amistancia o emperador com elRey de framça e que
aguora eram mujto mores amjguos do que nũqua foram / e asy se diz que nam foram em
tamanho desconcerto como se dizia / porem que toda via foram hũu pouco de quebra / e que
loguo tudo se apacificara / o por que nam diguo porque ho ouuj per muytas manejras hũa em
comtrayro doutra / elRey de frança se veo a liom honde aguora estaa //
E asy vejo nova certa as ditas companhias em como nam era Rendida outra nem hũa
villa aos venezeanos se nam pádua / honde quando se alevantou mataram hũ capitam com
trezentos homes que ho emperador tinh emviado / quando se lhe Rendeo / pera guarda da villa / e
271 Idem, “Os Cadernos de Assentamentos”, Ibidem, vol. X, 1916, pp. 122-123. (Doc. 123).
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tanto que lhe este Recado vejo se partio de hũa sua villa que esta junto de Carmona / em que ele
tinha toda sua guarnjçam com gram posança de gente sobre o dito padua e diz que teem jurado
de se nam hir dalli ate a nam tomar e metar a foguo / o que eu nam creyo tall cousa fazer /
elRey de frança tanto que soube do neguoçio aquecido / lhe emviou loguo muy gram posança
de gente / afirmase ser ja tomada ou Rendida segundo o gram posança que lla teem e lhe enviou
elRey de frança.
Dizse mais que os venezeannos enviaram hũa gramde embaixada ao papa dizendo que
lhe pediam que sua santidade ouvesse piedade delles e que estavam prestes pera fazer quanto
quiser e a Resposta que lhe enviou foy estta segumdo me spreveram de Roma que mandara
loguo fazer hũa bandejra e pintar nella tres verguas de ferro com letras daRedor que diziam /
com estas vos tenho de castiguar e que quando lho embayxador pidira a Resposta que lhe disera
que se sabia lleer aquellas letras e que nam esperase delle outra nem hũa Resposta e com esta
embaixada se partio ho embaixador.
O nauio escorçes que andaua darmada em canall sobre que per vezes tenho sprito a
vosallteza Roubou hũu naujo purtugues de tavilla nouo da primeira viagem careguado daçuquar
que hia pera Ruam e foy fazer o botim a ana froll / e afirma se que diz que se nam há dir dalli
ate que nam tome hũa meia duzia de purtugueses / elle nam pregunta por outra gemte e segumdo
se vai fazendo forte nam avera duujda a tomar tres meias duzias se lhe nam vam a mãao / elle he
emcavalguado em quatro naujos huũ de centarinta tones outro de setenta e mais o que por aguora
tomou purtugues de setenta tones e mais me disse huũ homem aguora vejo descorcia que vira
fazer duas muj grossas naoos e que lhe diseram em gram segredo que se faziam pera contra os
portugueses e que as fazia huũ parete de ladram escorces que Roubou este nauio / e hũa
bizcainha que com elle se meteo darmada.
A mim me teem deliurado dez peças de tapeçaria qie tinhamos mandado fazer amte que
se aluaro vaaz fose eporque na carta que me vosallteza spreveo disera que a geronjmo
[foscobalde] ficaua a paguar todollos jnmetas […] pera sobre a conta da malagueta eu lhas
emviei a sua casa / e elle a paguou e diz que a quer mãdar e sobre jsto spreve a vosallteza.
Os liuros tenho trlados e muy bem comçertados como compre e mjtidos em huũ cofre e
por nam achar pesoa certa a que os ousasse demtreguar os nam tenho emviados poram daqui a xb
dias ou xx partira daquj huũ purtugues muito homem de bem e per elle lhos emviarej.
Ja per vezes tenho scripto a vosa alteza em como tínhamos vendida pymenta que foy
molhada que nos emviarã da casa da mjna a preço de xb dinheiros a huũ burgees desta villa
damver.
O preço das espciarias sã estes – Primeiramente pimenta a 18 dinheiros – gengivere a 56
dinheiros – canelle a 6 soldos o dinheiro –maças a 1 libra de grosos a x soldos – cravo a 6 soldos
o dinheiro – nos mozcada a 4 soldos ij dinheiros – malagueta a 11 dinheiros a bõoa – brasyll de
santa cruz 28 soldos o ceto – cobre huũ por outr a 24 soldos o dinheiro – açuquares a 3 dinheiros
½ os boõs – azejtes a x libras ½ - triguo a x patacas o mujto boõ novidadaes mujto boõas.
141
Ao presemte nam he mais que scprever se nã nosso senhor seja louvado serem ar as tres
naaos e qu da casa da mjna nos enviarã muita soma de pimenta que foy molhada Scprit ẽ ẽvers a
biij dagosto de 1509 – Yº brandam.
Sobrescito: A el rey nosso Senhor. De Frandes.
([Torre do Tombo] Corpo cronológico, parte I, maço VIII, doc. 30).272
“Carta de João Brandão, feitor em Flandres, a D. Manuel”
Senhor – Oteem que foram IX de nouenbro aRybaram ao porto da jalanda /. A naao
santantonjo e a julioa de vosallteza /. Com os acuquares que estauam hordenados pera me
madarem os quaees se trespasaram a tristam da cunha em que elle fara asaz provejto / e asy com
ellas aRibaram cinquo ou seis naaos asy careguadas dacuquar comoutras mujtas naaos do
alguarue e de lixboa e doutras mujtas partes em os quaees acuquares se se teuer boom Rigimento
se poderaa / bem vender a cinquo dinheiros e meio e mais /. Pollos poucos que há na terra e asy
por virem em poucas mãos lejxo quatro çentas ou qujnhentas cajxas que vam em mãos de
portugueses que pouco podẽm danar /.
Pello mestre da naao santantonjo Reçeby mujtas cartas de uosallteza com hũa jnmenta
[dalguas cousas pera a guardaroupa ] e hũ barete e hũa camisa em a quall se deu todo aviamento
/. E prazendo a deos hiram todas nestas naaos de uosallteza /. Lejxo as camisas que será
neçesario hũu pouco de tempo pera poderẽ ser fejtas como devem / porem farse há todo posyuell
pera poderem hir dous pares dellas nestas naaos.
Os panos djnguaterra prazendo na deos tambem careguarej em hũa naaos destas e na
outra craguarej de trigo / e se polla ventura vir a tampo a pimenta molhada sobre que me Ja teem
sprito que screpueo a casa da jndia que memviassem catguarey ambas porque todo o dinheiro
que Receby de francisco do couto thome lopez e eu ho temos empreguado /. Todavia eu as
podera anbas careguar mas como nam tenho majs comjsam que pera hũa de uosallteza nem
menos da casa ho nam farey /.
Aguora se poderia tirar hũa boõa soma de trigo por na terra aver mujto e de boom
mercado / e nem a ver aguora compra de cinquo dias pera esta parte abateo hũa pataca por
vertell e vall aguora a xb / aguora se acabaram de caregar quatro naos de triguo pera esa cydade
de lixboa / e outras quatro comecã de caregar.
Desta fejra de setembro que aguora passou a esta parte se venderam mys de duas mjll e
oyto çentas ballas de pimenta / a XIX e meio e a XIX e tres quartos e outro tanto vall aguora /
nestas naaos vejo hũa boõa soma della / veremos o despacho que tem nesta fejra e de tudo isto e
do all spreurej loguo largamente a vossallteza nã ha hy outras majs novas que hás que tenho
poucos diasha sprito a vossallteza dẽvees a X de novẽbro de 1510.
Yoam brandam
272 Idem, “Maria Brandoa”, Ibidem, vol. VII, Lisboa, 1909, pp. 63-64. (Doc. XXI).
142
Sobrescrito: a elRey nosso senhor – de frandes
([Torre do Tombo] Gaveta XX,maço 2º, nº 3)273
3. As Cartas de Venda de Escravos e as Cartas de Alforria
Outros expressivos documentos, resultantes das navegações e descobrimentos são
os do comércio – compra/venda – de escravos, ou da sua alforria, que podemos
encontrar, por exemplo, no trabalho Os Escravos, de Pedro de Azevedo. O mais curioso
é o da compra de uma escrava branca, adquirida por uma freira do convento de Chelas:
“Sabhãm todos como eu Juca Abeatar judeu morador nos Cunbres maiors termho de
Seuylha vendo e outorgo a sancha Anes dona do mõesteiro de chelas da par de A Cidade de
lixbõa hũa moura branca per color e per Nome morejma e Natural de Aragam A qual Eu oue per
conpra de Iça mato Judeu de Seuylha. A qual moura lhj vendo por ssãa dos pees e das maãhos e
dos olhos e de demonjnho e doutra door encuberta e por de boa guerra e nõ de paz por certo
preço e Nomeado conuẽ A ssaber po Cento e seseenta libras que della Reçebj em dinheiros
portugeeses e de que eo soo pagado e entregue e por en outorgo que a ditaSancha Anes Aja e
logre a dita moura e ffaça dela todo o que por bem teuer como sseu Auer proprio. E eu obrigo
meus bẽes de uolla deffender A todo o tempo de quen quer que lha demande ou Enbarge ela
mostrando a. E eu deffenderlha Assj come costume do Reino. ffeita ffoj esta carta en ljxboa na
Rua Nova vjnte e dous djas de Março Era de mjl e quatrocntos e seix Anos testemunhas Steuã
martinz mercador e Joham ffrãcisco mercador e gomez pirez scrivã e Martjn mẽedez priol de San
Christovã e Salamã Alel judeu morador ẽ lixbõa e Isaque caluo Judeu morador em Beja e outros.
E eu ffrancisquo martinz tabeljon dElRej En lixboa que esta carta screuj e meu sjnal Aqui ffige
+.= quatro soldos”.
(Arquivo Nacional, [da Torre do Tombo] Mosteiro de Chelas, nº 645)274.
Este outro documento que se segue é uma carta de alforria, dada por D. Manuel
a um escravo – Francisco Lourenço – oriundo do Benim:
“Dom Manuell etc. A quamtos esta Nossa carta virem fazemos saber que avemdo nos
Respeito ao muyto tempo que ha que francisco louremço homem preto da terra de benym nosso
escravo serve E como ficou del Rey meu senhor que deus aja E queremdo lhe fazer graça e
merçee Temos por bem E o forramos ora e avemos por forro e livre pera vsar e fazer de sy todo o
273 Idem, “Maria Brandoa”, Ibidem, vol. VII, 1909, pp.65-66. (Doc. XXIII). 274 Pedro de Azevedo, “Os Escravos”, Ibidem, vol. I, Lisboa, 1903, p. 299. (Doc. I).
143
que prouver daquy em diamte pera em todollos dias de sua vida sem lhe per nos nem por nosso
mandado ser fito nenhũu costramgimento em nenhũu tempo que seja por quamto de noso moto
proprio lembrando nos de seu serviço Nos praz de o asy forrarmos e hysemtarmos como dito he.
E porem mandamos a todollos nosos ofyceaaes corregedores Juizez e Justiças E a quaaesquer
outras pessoas a que pertemcer que lhe nõ vãao contra esto nem comsemtam hyr em parte nem
em todo elhe cumprar e goardem esta carta dalforria como se nella comtem sem duvida nem
outroembarguo algũu que lhe a ello seja posto por que asy he nosa merçee a quall lhe mandamos
dar pera sua guarda asynada per nos E assellada de nosso sello pemdente. Dada em nosa cidade
de lixboa a xxij dias de mayo Francisco dematos a fez anno demill e quinhentos e hũu annos”.
([Torre do Tombo ] Chancelaria de D. Manuel, livro 17, fl. 40 v.) 275
275 Idem, Ibidem, p. 300. (Doc. IV).
144
CONCLUSÃO
As Navegações e Descobrimentos no Archivo Historico Portuguez concretizam-
se no teor dos trinta artigos que sumariámos e nos documentos que os originaram,
pontuados por personagens e acontecimentos da história marítima de Portugal, artigos
concebidos com preocupações científicas de rigor e numa perspectiva da evolução dos
acontecimentos.
Obedecendo a uma escolha, optámos por quatro nomes – de grandes
navegadores portugueses – que nos ajudaram a corporizar esses artigos: Bartolomeu
Dias, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque e Fernão de Magalhães, não esquecendo
as embarcações que os complementam enquanto navegadores. No que respeita aos
documentos, as cartas de quitação, os cadernos de assentamentos, as cartas dos feitores
e as cartas de venda/compra de escravos e de alforria entendemo-los os mais simbólicos
e, como tal, aplicámo-los como exemplos dos escritos resultantes destas mesmas
navegações e descobrimentos.
Quando, em 1903, o Archivo Histórico Portuguez saiu, o historiador – tal como
hoje o entendemos – não existia, pelo que fazer história era uma tarefa de eruditos: não
havia revistas especializadas e os que se debruçavam sobre os acontecimentos da
História, ou as trajectórias de vida de gente ilustre tinham profissões muito diversas – de
médicos a amanuenses – detentores de cursos superiores ou de um limitado percurso
académico, unindo-os o amor ao saber e escrever a História e os seus estudos saíam em
revistas generalistas. O Archivo Historico Portuguez foi, neste aspecto, uma revista
pioneira, reflectida, planeada para tratar convenientemente a História e direccionada
para a especialização; não obstante as matérias diversas notava-se já tal tendência.
O Archivo Historico Portuguez contém dezenas de artigos, tendo sido
privilegiada a publicação de documentos inéditos manuscritos que, após terem sido
analisados, organizados, tratados pelos paleógrafos e impressos, se transformaram em
vivas fontes para o conhecimento da História, recuperando memórias de vivências,
plasmadas no tempo, algures no passado, já que o conhecimento conducente ao
crescimento e desenvolvimento da Humanidade – ao seu passado – está ligado ao tempo
plural, geográfico, social, individual, indissociável da História.
145
Esta revista de História, já o sabemos, teve a sua génese na vontade de Anselmo
Braamcamp Freire e de D. José Pessanha, logrando preencher uma lacuna na área dos
estudos históricos. Todavia, pelo seu conteúdo, entende-se que não foi concebida para
ser acessível a todos, mas, a uma elite cultural, não se destinando ao grande público,
mas, de forma restrita, aos estudiosos desta matéria. O seu elenco de colaboradores era,
na sua formação académica, diversificado e integrando uma única mulher – excepcional
e excepção no panorama académico – numa época em que elas, por educação e
atavismo se alheavam de aplicar o espírito ao estudo, à instrução, à produção intelectual.
Ao Archivo Historico Portuguez, dedicou Braamcamp Freire treze anos da sua
vida e de duro e dedicado trabalho intelectual, como se pode exemplificar com as
Cartas de Quitação del Rei D. Manuel276. Português notável, Anselmo Braamcamp
Freire foi historiador, paleógrafo, genealogista e político, permanecendo a sua obra
historiográfica da maior importância.
A historiografia moderna desenvolveu-se no século XIX, sujeitando-se – como
ciência que é – ao método científico, conducente ao desenvolvimento da pesquisa,
avaliadas e examinadas as fontes históricas julgadas fidedignas e a rigorosa crítica da
massa documental (documentos, moedas, etc.) para comprovação dos factos. Esta busca
das fontes que corroborassem a verdade dos acontecimentos de um tempo passado,
levou a um novo discurso historiográfico, a uma nova maneira de fazer e sentir a
História, porque o carácter científico estabeleceu-lhe normas e um novo contexto
histórico e fê-la actividade profissional. É aqui que se revela o historiador a quem
compete o estudo dos documentos, interpretando-os, ordenando-os, comparando-os.
Esta procura de materiais fez sentir a necessidade de os organizar, levando à criação de
arquivos, academias, museus e à fundação de revistas nas quais davam a conhecer o
resultado dos seus estudos, variados e extensos. Por outro lado, a História passou a
integrar o conjunto de matérias dos cursos escolares, ou universitários, fazendo aparecer
a figura do professor de História e o respectivo livro, específico e de teor de base
documental.
276 Tanto quanto nos foi possível averiguar, ninguém mais, após este esforçado trabalho de Braamcamp Freire, se dedicou a semelhante tarefa relativamente aos reinados seguintes.
146
Se Ranke – um dos maiores historiadores alemães do século XIX – foi
considerado o precursor da história científica, revolucionando o fazê-la sob um método
científico, pesquisando e utilizando as fontes para aceder ao passado e evidenciando a
narrativa histórica, em Portugal, foi Alexandre Herculano o responsável pela sua
introdução e desenvolvimento e fê-lo com igual rigor científico, na sua História de
Portugal até D. Afonso III, produto de um difícil e longo trabalho, de anos de
investigação documental (e, como tal, excluindo a intervenção do sobrenatural na
Batalha de Ourique277), na óptica da evolução dos acontecimentos que conduzem a
transformações sociais, não baseada nos feitos dos homens e contrária às noções
abstractas de lendas e tradições. Objectivamente e com base em critérios científicos, a
preocupação do estudioso da História fixava-se no rigor analítico, procurando a
veracidade e o valor concreto dos documentos.
No século XX modificam-se as tendências de como fazer a História. Em França
– cujas tendências mais influenciavam os estudiosos portugueses – as novas formas de a
pensar e fazer respeitavam a que toda a actividade humana era passível de fazer parte da
História e não apenas a história política, contemplando a colaboração de outras
disciplinas, como a geografia ou a sociologia e o discurso dos acontecimentos deveria
ser substituído por uma história-problema. Nos anos vinte, a renovação historiográfica
que procurava o debate e as diversas correntes desta tentada renovação, levou a que
grupos de historiadores, partilhando metodologias se reunissem no esteio das grandes
revistas de cariz científico como os Annales e a Past and Present, propondo novos
temas e formas para a investigação histórica.
Lucien Febvre e Marc Bloch que preconizaram o fazer a História identificando
um problema e a sua cronologia, o que conduziria às acções dos grupos beligerantes nas
277 A Batalha de Ourique deu-se em 1139 e as forças de D. Afonso Henriques desbaratam as tropas muçulmanas, pelo que a grande vitória alcançada o leva a intitular-se rei. Diz a lenda que D. Afonso Henriques teve uma visão de Jesus Cristo e dos seus anjos, garantindo-lhe a vitória - Com este sinal vencerás! Em 1143, mediante o tratado de Zamora – tratado de paz entre este e Afonso VII de Leão – é reconhecido ao infante do Condado Portucalense o título de rei. Posteriormente, em 1179, o Papa Alexandre III, reconhece-o como tal, através da bula, de 23 de Maio de 1179, Manifestis Probatum. (Tivemos a satisfação de a contemplar, na Torre do Tombo, exposta aquando da passagem do milénio, no ano 2000). História de Portugal em Datas, coord. António Simões Rodrigues, 3ª ed., Lisboa, Temas e Debates, 2000, pp. 27 e 30.
147
mais diversas manifestações – sociais, económicas, geográficas – e, como tal,
enquadrando-o e explicando-o no seu tempo social, económico, geográfico.
Em Portugal – já o referimos – a Herculano se fica a dever a nova dialéctica de
pensar e fazer a História, pensada e fundamentada na selecção e na organização
documental, na reconstrução e interpretação dos factos que o historiador considerasse de
maior importância para o seu quadro conceptual tendo em vista um produto final. A
Braamcamp se fica a dever o periodismo científico da História.
Mas a historiografia não é só a ciência da História, mas, também, o registo das
memórias do passado escrito pelos seus
agentes, logo, historiografias plurais e
diversas. A historiografia dos
Descobrimentos e da Expansão Marítima
Portuguesa constitui um dos mais
importantes temas da História de Portugal,
registando a diáspora portuguesa que
interagiu com a História do Mundo indo ao
encontro de outras civilizações – outras
terras, outros climas e animais, outros povos
e hábitos sociais, línguas e religiões, outros
saberes ligados às culturas de produtos
alimentares e plantas – contribuindo para o
progresso interno e prosperidade do reino CLIO – Musa da História278
e para o desenvolvimento de todas as vertentes da cultura. Homens e embarcações,
percursos teimosamente repetidos, ganhando e vivendo experiências, abrindo novos
caminhos marítimos, protagonizando um processo histórico único.
Os documentos escritos são fontes privilegiadas para o conhecimento da
história, pelo que o conteúdo do Archivo Historico Portuguez muito contribui para a
278 CLIO – Uma das nove musas, filhas de Zeus e Mnemósine – deusa da Memória; neta de Cronos é a musa da História, geralmente representada coroada de louros, segurando um rolo de pergaminho e uma pena, ou, como no quadro de Mignard que reproduzimos, tendo na mão direita um clarim e na esquerda um livro intitulado Tucídides [historiador” grego (460-455 a.C-400 a.C) que escreveu a História da Guerra do Peloponeso contando a guerra entre Esparta e Atenas (século V a.C.)]. Pierre Mignard (1612-1695); CLIO (1689); óleo sobre tela; 143,5 X 115 cm. Magyar Szépmüvészeti Múzeum – Budapeste. www.wga.hu/support/viewer/Z.html [consultado e retirada a imagem em 4 de Abril de 2011].
148
historiografia das Navegações e Descobrimentos. Herculano, por razões que aqui não
nos cumpre averiguar, não deu grande destaque aos Descobrimentos, não obstante
alguns estudiosos279 seus contemporâneos o terem, expeditamente, feito. Ao longo do
século XIX muitos foram os eruditos que se lhe dedicaram, alguns dos quais, mais tarde,
colaboraram com Anselmo Braamcamp Freire na feitura do Archivo Historico
Portuguez, cujo último número saiu em 1916. Todavia, a partir dos anos 20, a
historiografia dos Descobrimentos passou a merecer aos historiadores portugueses280 a
atenção que lhe é devida. Não querendo citar os nomes dos grandes historiadores
nacionais que a partir de então se dedicaram a esta temática, porque estamos já na
conclusão do nosso trabalho, nem querendo fazer referências às grandes obras que nos
legaram (o que iria além dos parâmetros do nosso estudo), não desejamos, todavia,
deixar de referenciar um deles que nos acompanhou neste modesto trabalho e que é
Vitorino Magalhães Godinho281 que na década de quarenta incrementou e actualizou a
investigação dos Descobrimentos e da Expansão portuguesas foi, em Portugal, o
precursor das Ciências Sociais, sendo um dos nomes mais relevantes para o
conhecimento da Historiografia portuguesa, integrada numa perspectiva global. Mas,
esta indicação ficaria prejudicada se não invocássemos Luís de Albuquerque que elevou
a temática dos Descobrimentos a reconhecido campo historiográfico. Tantos são hoje os
discípulos de um e de outro. Campo analítico que ocupa o volume I da Historiografia
Portuguesa de Joaquim Veríssimo Serrão. Ao conhecer o Archivo Historico Portuguez,
a análise interpretativa do conteúdo dos seus onze volumes e, particularmente, dos
trabalhos relacionados com os Descobrimentos e Navegações, levou-nos a um
279 Como foi o caso do Visconde Santarém, ou de Costa Quintela já mencionados neste trabalho. 280 A historiografia dos Descobrimentos mereceu, também, o interesse de historiadores estrangeiros como Charles Boxer, Justo Guedes ou Frédéric Mauro. 281 Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho (1918-2011), um dos mais notáveis académicos portugueses, foi historiador, professor catedrádico da Universidade Nova de Lisboa, antigo director da Biblioteca Nacional, ministro da Educação e da Cultura, no segundo e terceiro governos provisórios (1974-1975). Licenciado em História e Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa, (1940), com Diploma de Ciências Pedagógicas, da mesma Faculdade; Diploma de Sciences Économiques et Sociales École des Hautes Études, Paris (1955); Docteur ès-Letres [(Doctorat d´Etat, Sorbonne), 1958]. Par de ilustres nomes da escola dos Annales, como Febvre e Braudel, deixou uma extensíssima bibliografia, de que destacamos por serem de primordial importância para a temática dos Descobrimentos, A Expansão Quatrocentista Portuguesa (2008), [(versão revista e aumentada de A Economia dos Descobrimentos Henriquinos (1962)], Os Descobrimentos e a Economia Mundial (2 vols, 1963 e 1970) e Ensaios, vol. III – Sobre Teoria da História e Historiografia, Lisboa, Sá da Costa, 1971. Magalhães Godinho faleceu a 26 de Abril do corrente ano. Luís Almeida Martins, “O português sem mestre” revista Visão, nº 948, 5 a 11 de Maio de 2011, p. 104; António Mega Ferreira, “Um historiador na China”, revista Notícias Sábado’279, Diário de Notícias nº 51899, 14 de Maio de 2011, p. 16.
149
património cultural e a uma herança de memórias, de testemunhos do inexorável fluir do
tempo que reputamos da maior valia e interesse para os estudiosos da História, como é o
caso das centenas de cartas de quitação, da “Carta do potentíssimo e invictíssimo D.
Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, etc., sobre as vitórias alcançadas na Índia e em
Malaca. Ao Santo Padre em Cristo e Senhor Nosso, Leão 10º, Pontífice Máximo”;
“Majestade e grandezas de Lisboa em 1552”, ou, ainda, “Os Escravos”.
Ao complementar e aprofundar a nossa formação académica, motivou-nos o
trabalho de investigação relacionado com a historiografia da expansão, sobre estudos do
Archivo Historico Portuguez, realizados nos séculos XIX e XX, tendo no horizonte a
contribuição para a sua divulgação e conhecimento e cooperar, ainda que modestamente,
no campo científico, com um trabalho que reunisse as condições e características
apropriadas para tal, suscitando curiosidade, levantando questões, promovendo o estudo
e análise do Archivo Historico Portuguez.
150
ANSELMO BRAAMCAMP FREIRE
Bibliografia Activa
� “Considerações críticas à obra intitulada Arquivo Heráldico, de que é autor o senhor Visconde de Sanches de Baena”, Diário Ilustrado, Lisboa, 20 e 21 de Maio, 1874, nº 612, pp. 1-2; nº 613, pp.1-2.
� “Método da cultura do trigo”, Gazeta dos Lavradores, Lisboa, Lallement Fréres,
Maio, 1880, pp. 65-68. (Este artigo está incompleto).
� “Crítica às Memórias Históricas e Genealógicas dos Duques Portugueses do século XIX, por João Carlos Fêo Cardoso de Castelo Branco e Torres e Visconde de Sanches e Baena”, Diário Ilustrado, Lisboa, 1884, (nºs 4109 a 4112, 8-11 de Outubro). Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire.
� “Brasões da Sala de Sintra”, Diário Ilustrado, Lisboa, 1884-1885. (Dividido em
XXVII partes; não existem na BMS, as partes XIX e XX do artigo).
� “Falsidades Genealógicas”, História do Infante D. Duarte, irmão de El rei D. João V, J. Ramos Coelho, vol. II, Lisboa, 1890, pp. 872-878.
� “A pena; carta a D. José Pessanha”, Arte Portuguesa, dir.lit. PEREIRA, Gabriel,
Lisboa, nºs 1 e 2, Janeiro e Fevereiro, 1895, pp. 38-41.
� O Conde Vila Franca e a Inquisição, Lisboa, Imprensa Nacional,1899, 126 p.
� Livro Primeiro dos Brasões da Sala de Sintra, Lisboa, Tip. Francisco Luís Gonçalves, 1899, 470 p.
� Ìndices do Cancioneiro de Resende e das Obras de Gil Vicente, compil.
Anselmo Braamcamp Freire e Júlio Castilho, Lisboa, Tip. Francisco Luís Gonçalves, 1900, 114 p. (Tem muitas anotações escritas à mão).
� “Os nossos folhetins: [Genealogia dos Infantes da Câmara]”, Jornal de
Santarém, nº 866, 16 de Junho, 1901. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
� “Livro Segundo dos Brasões da Sala de Sintra”, Lisboa, Tip. Francisco Luís
Gonçalves, 1901, 524 p.
� As Sepulturas do Espinheiro, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901, 103 p.
� “O Camareiro”, Jornal do Comércio, Lisboa, 1902, nº 14 463, 8 de Março, p. 1; nº 14 502, 26 de Abril, p. 1; nº 14 521, 20 de Maio, p 1; nº 14 535, 6 de Junho, p. 1; nº 14 555, 3 de Julho, p. 1;nº 14 563, 12 de Julho, p. 1. [A parte X contém planta de parte da área da freguesia de S. Bartolomeu. (Na BMS, faltam a II; III; V e a IX partes deste artigo)]. *
151
� “Farias”, Jornal do Comércio, Lisboa, 1902, nº 14 581, 2 de Agosto, p. 1; nº 14 591, 14 de Agosto, p. 1; nº 14 605, 31 de Agosto, p. 1. (Na BMS, faltam a II; III; e a V partes deste artigo).
� “Genealogistas”, Jornal do Comércio, Lisboa, 1902, 22 de Junho.
� “Representante de Afonso de Albuquerque”, Jornal do Comércio, Lisboa, nº 14
620, 18 de Setembro; nº 14621, 19 de Setembro; nº 14622, 20 de Setembro, 1902. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
� “O Alferes de Toro”, Jornal do Comércio, Lisboa, nº 14 820, 23 de Maio, 1903,
p.1. *
� “O Almirantado da Índia: data da sua criação”, Archivo Historico Portuguez, vol. I, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1903, pp. 25-32.
� “Auto havido no Espinheiro em 1477”, Archivo Historico Portuguez, vol. I,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1903, pp. 198-199.
� “Almirante do mar da Índia: data da sua criação, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1903. (Exemplar encadernado com Emmenta da Casa da Índia).
� “Armadas”, Jornal do Comércio, Lisboa, nº 14 763, 2 de Abril; nº 14 811, 22 de
Abril; nº 14 840, 24 de Abril; 12 de Maio e 18 de Junho, 1903. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
� “Um aventureiro na empresa de Ceuta”, Jornal do Comércio, Lisboa,nº 14 918,
22 de Setembro; nº 14 936, 13 de Outubro; nº 14 978, 1 de Dezembro, 1903. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. I,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1903, pp. 94-96; pp. 163-168; pp. 200-208; pp. 240-248; pp. 276-288; p. 328; pp. 356-368; pp. 398-408; pp. 447-448.
� “O Castelo de Alvito”, Jornal do Comércio, Lisboa, nº 14 882, 9 de
Agosto,1903. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
� “Compromisso da confraria em 1346”, Archivo Historico Portuguez, vol. I, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1903, pp. 349-355.
� “Condado de Borba”, Jornal do Comércio, Lisboa, nº 14 083, 2 de Maio,1903.
(Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire). *
� “As conspirações no reinado de D. João II: documentos”, Archivo Historico Portuguez, vol. I, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1903, pp. 389-397; pp. 442-446.
� “D. Leonor Afonso”, Jornal do Comércio, Lisboa, nº 14 777, 1 de Abril, 1903.
(Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
152
� “Livros: I – O paço de Sintra; II – Livro de Marinharias; III – História de um fogo morto”, Jornal do Comércio, Lisboa, nº 14 999, 27 de Dezembro, 1903; 19 de Janeiro; nº 15 038, 16 de Fevereiro; nº 15 039, 18 de Fevereiro, 1904. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire). *
� “Plagiato”, Jornal do Comércio, Lisboa, nº 14 780, 1 de Abril, 1903. (Maço de
recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
� Introdução a “Regimento da Gente da Ordenança e das Vinte Lanças da Guarda”,trans. BARATA, António Francisco, Archivo Historico Portuguez, vol I, Lisboa, 1903, pp.80-83.
� “San Marcos: a par de Coimbra”, Jornal do Comércio, Lisboa, 1093, nº 14 887,
18 de Agosto; nº 14 892, 26 de Agosto; nº 14 900, 31 de Agosto; nº 14 906, 6 de Setembro. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire). *
� “Bibliografia”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, ed. e prop. do autor,
1904, pp. 361-362.
� “Caderno de sisa de marcaria para 1502”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904, pp. 21-26.
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. II,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904, pp. 34-40; pp. 74-80; pp. 158-160; pp. 232-240; pp. 349-360; pp.421-442.
� “O Cavaleiro de Oliveira e a Inquisição”, Archivo Historico Portuguez, vol. II,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904, pp. 282-320.
� “A Chancelaria de D. Afonso V”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904, pp. 337-343.
� “A Chancelaria de D. João II”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, ed.
e prop. do autor, 1904, pp. 479-487. � “As conspirações no reinado de D. João I: documentos”, Archivo Historico
Portuguez, vol. II, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904, pp. 27-33; pp. 68-73; pp. 228-231; pp. 273-280; pp. 344-348.
� “O inventário do guarda-roupa de D.Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol.
II, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904, pp. 381-417. � “Livro de tenças del Rei”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, ed. e
prop. do autor, 1904, pp. 81-157; pp. 201-227.
� “Novas de Veneza em 1508, comércio e guerra (carta do escrivão da nossa feitoria a el Rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904, pp. 269-272.
153
� “Rol dos papeis entregues põe António Carneiro quando foi preso”, Archivo Historico Portuguez, vol. II, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904, pp. 63-67.
� “Rui de Pina”, Jornal do Comércio, Lisboa, 1904, nº 15 082, 12 de Abril, p. 1;
nº 15 083, 13 de Abril, p.1. (O artigo do exemplar nº 15 082 está cortado). *
� “Rui e Rodrigo”, Jornal do Comércio, Lisboa, 1904, nº 15 018, 21 de Janeiro, p.1. *
� “Introdução ao «Sumário dos livros da Fazenda tirado por Afonso Mexia»”,
separata do Archivo Historico Portuguez, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1904. (Encadernado com outras separatas).
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. III,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1905, pp. 75-80; pp. 155-160; pp. 237-240; pp. 313-320; pp. 385-400; pp.471-478.
� “A Chancelaria de D. Afonso V”, Archivo Historico Portuguez, vol. III, Lisboa,
ed. e prop. do autor, 1905, pp. 62-74; 130-154; 212-235; 401-440.
� “Em volta de uma carta de Garcia de Resende”, Archivo Historico Portuguez, vol. III, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1905, pp. 47-61.
� “Livro Terceiro dos Brasões da Sala de Sintra, Lisboa, Imp. Augusto Lima,
1905. 340 p.
� “Povoação de Entre Douro e Minho no XVI século”, Archivo Historico Portuguez, vol. III, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1905, pp. 241-273.
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. IV,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1906, pp. 72-80; pp. 237-240; pp. 282-288; pp. 364-368; pp. 437-448; pp.474-480.
� “D. João Aboim”, Archivo Historico Portuguez, vol. IV, Lisboa, ed. e prop. do
autor, 1906, pp. 106-194.
� “A honra de Resende”, Archivo Historico Portuguez, vol. IV, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1906, pp. 10-71.
� “O livros dos bens de d. João de Portel: cartolário do século XIII”, pref. e pub.
AZEVEDO, Pedro de; antecede notícia histórica de Anselmo Braamcamp Freire, Lisboa, ed. Archivo Historico Portuguez, 1906, 182 p.
� “Povoação de Entre o Tejo e Guadiana no XVI século”, Archivo Historico
Portuguez, vol. IV, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1906, pp. 93-105; pp. 330-363.
� “Os sessenta milhões outorgados em 1478”, Archivo Historico Portuguez, vol. IV, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1906, pp. 425-438.
154
� “Os sessenta milhões outorgados em 1478”, Archivo Historico Portuguez, vol. IV, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1906, pp. 425-438.
� “Amarrado ao pelourinho”, Lisboa, ed. autor, 1907, 77 p. (Exemplar
encadernado).
� “Bibliografia: as publicações do benemérito Dr. Eugénio do Canto”, Archivo Historico Portuguez, vol. V, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1907, pp. 241-246.
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. V,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1907, pp. 73-80; pp. 156-160; pp. 235-240; pp. 321-326; pp. 472-480.
� “Ementa da Casa da Índia”, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa,
Lisboa, 1907, 72 p. (Exemplar encadernado com Almirante do mar da Índia).
� “Gil Vicente: poeta e ourives”, Jornal do Comércio, nº 15 915, 1 de Fevereiro; nº 15 916, 6 de Fevereiro; nº 15 917, 7 de Fevereiro; nº 15 918, 8 de Fevereiro; nº 15 919, 9 de Fevereiro, Lisboa, 1907. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
� “A guarda de D. João II no ano de 1490”, Archivo Historico Portuguez, vol. V,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1907, pp. 345-336.
� “Sintra Antiga”, Jornal do Comércio, nº 6 072, 20 de Agosto; nº 16 082, 31 de Agosto; nº 16 092, 12 de Setembro, Lisboa, 1907. (Maço de recortes de jornais do espólio de Braamcamp Freire).
� “Armaria Portuguesa” Lisboa, ed. Archivo Historico Portuguez, 1908.
(Exemplar encadernado).
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. VI, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1908, pp. 76-80; pp. 155-160.
� “Dois portuenses poetas do cancionaeiro”, O Tripeiro, nº 5, Porto, 10 de Agosto,
1908, p. 69.
� “A gente do cancioneiro”, Revista Lusitana, vols X e XI, Lisboa, Imprensa Nacional, 1907 e 1908.
� “Maria Brandoa a do Crisfal”, Archivo Historico Portuguez, vol. VI, Lisboa, ed.
e prop. do autor, 1908, pp. 293-442.
� “Outro capítulo das finanças manuelinas: os cadernos de assentamentos”, Archivo Historico Portuguez, vol. VI, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1908, pp. 233-240; pp. 433-444.
� “Povoação da Estremadura no XVI século”, Archivo Historico Portuguez, vol.
VI, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1908, pp. 241-284.
155
� “Os cadernos de assentamentos”, Archivo Historico Portuguez, vol. VII, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1909, pp. 220-226; pp. 291-292; p. 376; pp. 478-480.
� “Governadores da Relação do Porto (1592-1823)”, O Tripeiro, nº 32, Porto, 10
de Maio, 1909, p. 227-228; 20 de Maio, pp. 251-253.
� “Maria Brandoa a do Crisfal”, Archivo Historico Portuguez, vol. VI, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1909, pp. 53-79; pp. 123-133; pp. 196-208; pp. 320-326.
� “Notas”, Notícias da vida de André de Resende, FERREIRA, Francisco Leitão,
Archivo Historico Portuguez, vol. VII, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1909, pp. 393-417.
� “Povoação de Trás-os-Montes no XVI século”, Archivo Historico Portuguez,
vol. VII, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1909, pp. 241-290.
� “A Alexandre Herculano”, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1910, pp. 159-160.
� “Os cadernos de assentamentos”, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa,
ed. e prop. do autor, 1910, pp. 70-75.
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1910, pp. 76-80; pp. 391-314.
� Crítica e História / Estudos, vol. I, Lisboa, Tip. Antiga Casa Bertrand, 1910,
414 p.
� “Inventário da casa de D. João III em 1536”, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1910, pp. 261- 280; pp. 367-390.
� “Maria Brandoa a do Crisfal”, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa,
ed. e prop. do autor, 1910, pp. 53-79; pp. 21-33.
� “Notas”, Notícias da vida de André de Resende, FERREIRA, Francisco Leitão, Archivo Historico Portuguez, vol. VIII, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1910, pp. 62-69; pp. 161-184; pp. 338-366.
� “Relatório da Gerência de 1909”, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, Tip.
Bayard, 1910, 95 p.
� Um aventureiro na empresa de Ceuta, Lisboa, Ferin Baptista Torres, 1913, 30 p. (Encadernado com Nos centenários de Ceuta e Albuquerque).
� “Bibliografia Resendiana, Parte I, Edições de obras suas; Parte II, Catálogo
alfabético”, Archivo Historico Portuguez, vol. IX, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1914, pp. 286-309; pp. 310-322.
156
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. IX, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1914, pp. 433-470.
� “Colégio Real das Artes de Coimbra: Ligeiras notas”, Boletim da Segunda
Classe, Academia das Ciências de Lisboa, vol IX, Lisboa, Academia das Ciências, Novembro-Dezembro, 1914-1915.
� “Palestra da Sessão de 18 de Março de 1915, s/Fernão Lopes, o autor da Crónica
do Condestabre”, Boletim da Segunda Classe, Academia das Ciências de Lisboa, vol. IX, Lisboa, Academia das Ciências, Novembro-Dezembro, 1914-1915, pp. 262-271.
� “Cronologia Resendiana”, Archivo Historico Portuguez, vol. IX, Lisboa, ed. e
prop. do autor, 1914, pp. 323-334.
� “Gil Vicente, poeta e ourives: notas”, Boletim da Segunda Classe, Academia das Ciências de Lisboa, vol. VIII, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1914, fasc. nº1, Outubro-Março, 1913, pp. 53-67.
� “Gil Vicente, poeta e ourives: novas notas”, Boletim da Segunda Classe,
Academia das Ciências de Lisboa, vol. VII, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1914, 19 p. (Encadernado com Maria Brandoa a do Crisfal).
� “Inventário da Infanta D. Beatriz - 1507”, Archivo Historico Portuguez, vol. IX, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1914, pp. 64-110.
� “Opúsculos Resendianos: notas biográficas”, Boletim da Segunda Classe,
Academia das Ciências de Lisboa, vol. VII, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1914, fasc. nº1, Outubro-Março, 1913, pp. 90-94.
� “Parecer acerca da candidatura do Sr. Gomes de Brito a sócio correspondente”,
Boletim da Segunda Classe, Academia das Ciências de Lisboa, vol. IX, Lisboa, Academia das Ciências, 1914-1915, pp. 36-38.
� “Albuquerque no cancioneiro”, Boletim Comemorativo do V Centenário da
Tomada de Ceuta, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1915, pp. 5-13.
� “Introdução”, LOPES, Fernão, Crónica de D. João I, Lisboa, ed. Archivo Historico Portuguez, 1ª parte, LXX, 1915, 388 p.
� “Expedições e Armadas nos anos de 1488 e 1489”, Revista de História /
Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos, 4 vols, Lisboa, nºs 13-16, Liv. Clássica Editora, 1915, 196 p.
� Expedições e Armadas nos nos anos de 1488 e 1489, Lisboa, Liv. Férin Torres,
1915, 112 p. (1 desdobrável).
� “Os cadernos de assentamentos”, Archivo Historico Portuguez, vol. X, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1916, pp. 60-208.
157
� “Cartas de quitação del rei D. Manuel”, Archivo Historico Portuguez, vol. X, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1916, pp. 1-16.
� “Factos e Notas”, Revista de História / Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos, Lisboa, Liv. Clássica Editora, 6º vol., 1916, pp. 280-281.
� “Tombo da Comarca da Beira (1395)”, Archivo Historico Portuguez, vol. X,
Lisboa, ed. e prop. do autor, 1916, pp. 209-366. � “Notícias da vida de André de Resende: À douta Professora Carolina Michaëlis
de Vasconcelos, respeitosa homenagem de A.B.F.”, Archivo Historico Portuguez, vol. X, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1916, pp. 367-378.
� “Inventário e contas da casa de D. Dinis (1278-1282)”, Archivo Historico
Portuguez, vol. X, Lisboa, ed. e prop. do autor, 1916, pp. 41-59.
� Colaboração no Livro de Homenagem a Latino Coelho, em 29 de Agosto de 1916 ( 25º aniversário da sua morte), Sintra, ed. Câmara Municipal de Sintra, 1916, pp. 31-32.
� “Maria Brandoa a do Crisfal”, Atlântida, nº6, Lisboa, 15 de Abril, Pedro
Bordalo Pinheiro, 1916, pp. 518-538.
� Nos centenários de Ceuta e Albuquerque: discursos do Presidente da Grande Comissão Oficial dos Centenários, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1916, 42 p. (Exemplar encadernado com Um aventureiro na empresa de Ceuta).
� Publicação, anotação e edição, FERREIRA Francisco Leitão, Notícias da vida
de André de Resende, pelo beneficiado Francisco Leitão Ferreira, [Lisboa], ed. Archivo Historico Portuguez, 1916, 248 p.
� “Inquisitiones”, Portugaliæ Monumenta Historica, dir. Terceira Alçada das
“Inquisições Gerais de D. Afonso III”, Lisboa, ed. Tip. Nationalis, 1917, pp. 753-912.
� “Gil Vicente trovador, mestre da balança”, Revista de História / Sociedade
Portuguesa de Estudos Históricos, Lisboa, Liv. Clássica Editora, 6º vol., 1917, pp. 1-46; pp. 121-188; pp. 289-346; 7º vol., 1918, pp. 1-46; pp. 109-148.
� “A censura e o Dom Duardos de Gil Vicente”, Boletim da Segunda Classe,
Academia das Ciências de Lisboa, vol. XII, Coimbra, Imprensa da Universidade, fasc.nº 1, Novembro-Abril, 1918, pp. 561-564.
� “Maria Brandoa a do Crisfal: breve investigação histórica”, Lisboa, Imprensa
Libânio da Silva, 1918, 25 p. (Exemplar encadernado com Gil Vicente poeta e ourives).
� “Parecer favorável à publicação por conta da Academia de um obra do Sr.Pedro
de Tovar”, Boletim da Segunda Classe, Academia das Ciências de Lisboa, vol. XII, Coimbra, Imprensa da Universidade, fasc.nº 1, Novembro-Abril, 1918, pp.
158
26-27. (Parecer também dado por José Leite de Vasconcelos; Cândido de Figueiredo; Júlio de Vilhena e Gama Barros).
� “O túmulo da viúva do Infante D. Pedro, o Regente”, Revista de História /
Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos, Lisboa, Liv. Clássica Editora, 7º vol., 1918, nºs 25 a 28, pp. 241-243; 8º vol., 1919, nºs 29 a 32, pp. 153-154.
� Boletim da Segunda Classe das Ciências de Lisboa, Coimbra, Imprensa da
Universidade, 1919.
� Vida e Obra de Gil Vicente, Trovador, Mestre da Balança, Porto, Tip. Empresa Literária e Tipográfica, 1919, 518 p.
� “Documentos” [transcrição e compilação de várias cartas entre individualidades
do séc. XVI], Boletim da Classe de Letras (antigo Boletim da Segunda Classe), Academia das Ciências de Lisboa, vol. XIII, fasc, nº 1, 1920, pp.585-657.
� “Castilho, amigo dos animais”, In Memoriam Júlio Castilho (2º Visconde de
Castilho, Lisboa, Tip. Empresa do Diário de Notícias, 1920, pp.79-82.
� “Ida da Imperatriz D. Isabel para Castela”, separata do Boletim da Classe de Letras, Academia das Ciências de Lisboa, vol. XIII, Coimbra, Imprensa da Universidade, fasc, nº 1, 1920, pp. 561-585.
� “Notícias da feitoria de Flandres: procedidas dos Brandões, poetas do
cancioneiro. Estudos)”, [Lisboa], ed. Archivo Historico Portuguez, 1920, 272 p. � Brasões da Salade Sintra, 2ªed., 3vols., Coimbra, Imprensa da Universidade,
1921-1930, vol. I, 626 p.; vol. II, 512 p.; vol.III, 512 p.
� “Prefácio”, SANTOS, José dos, Catálogo da importante e preciosissíma livraria que pertenceu aos notáveis escritores e bibliófilos Condes de Azevedo e Samodães, 2 vols, Porto, Tip. Empresa Literária e Tipográfica, 1921. (Em duas partes; 1ª parte de A a M, 690 p.; 2ª parte de N a Z, 870 p.).
� “A censura e o cancioneiro geral”, separata do Boletim da Classe de Letras,
Academia das Ciências de Lisboa, vol. XIV, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1921, 70 p. (Encadernado com Condados de Moncorvo e da Feira).
� Obras / Bernardim Ribeiro e Cristóvão Falcão, reparação e revisão, com
prefácio de Carolina Micaëlis de Vasconcelos. Nova ed., conforme ed. de Ferrara, 2 vols, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1923, vol. I, 332 p.; vol II, 334 p.
� Direcção e impressão de, BRANDÃO, João, Tratado da Majestade e Grandeza
e Abastança da Cidade de Lisboa, na Segunda Metade do Século XVI, Lisboa, Liv. Ferin, 1923.
159
� Brasões da Sala de Sintra / Livro Segundo, 2ªed., Coimbra Imprensa da Universidade, 1923.
� Brasões da Sala de Sintra / Livro Segundo, 2ªed., Coimbra Imprensa da
Universidade, 1923.
� Brasões da Sala de Sintra / Livro Terceiro, 2ªed., Coimbra Imprensa da Universidade, 1930.
� Vida e Obra de Gil Vicente, Trovador, Mestre da Balança, 2ª ed., Lisboa,
Revista o Ocidente, 1944, 632 p.
� Crítica e História / Estudos II, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1956.
� Brasões da Sala de Sintra, 3 vols, 3 ªed., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1973, vol. I, 624 p.; vol. II, 512 p.; vol. III, 512 p.
� Armaria Portuguesa, reedição facsimilada, Ed. Cota d'Armas, Lisboa, 1989. � Brasões da Sala de Sintra, apresentação e apêndices de Luís Bívar Guerra, 3ª
ed., 3 vols., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1973, vol. I, 624 p.; vol. II, 512 p.; vol. III, 512 p. Reprodução fac-simile da que foi realizada pela IN-CM, 1996.
� Crítica e História / Estudos. Reedição fac-simile do vol. I e 1ª ed., do vol. II,
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996.
NOTA: Os trabalhos assinalados com (*) correspondem aos que Braamcamp Freire assinou com o pseudónimo de Sílex.
160
Ex-libris de Braamcamp Freire 282
282 Marca de posse (muito ampliada) de Anselmo Braamcamp Freire, digitalizada de um dos volumes de Brasões da Sala de Sintra. Com este ex libris gravado em metal que não se sabe onde, nem quando foi feito, marcava Braamcamp Freire os livros da sua biblioteca. Sobre este assunto, escreveu Ferreira de Lima: “O livro de Aníbal Fernandes Tomaz, Os ex-libris ornamentais portugueses, Porto, 1905, insere a sua descrição heráldica: «Escudo partido em pala. Na 1ª Freire: em campo verde uma banda vermelha coticada de ouro, saindo das bocas de cabeças de serpes, do mesmo metal, armadas de sanguinho. Na 2ª cortada em facha: Braamcamp, no de cima, em campo de ouro, duas palmas de verde em aspa, entre duas estrelas vermelhas, de cinco raios, uma superior, outra inferior; na de baixo, partida em pala, na primeira em campo de prata, três ciprestes de sua cor; na segunda, em campo azul, uma ardra ou lontra de prata, armada de ouro sentada em uma tábua de vermelho e que está sobre um mar de ondas de prata e azul no contra-chefe. Timbre dos Freires: dois pescoços de serpes, de ouro, torcidos um com o outro, voltados em fugida, armados de sanguinho encimadas por uma estrela igual às do escudo. Gravura em metal Divisa: Avé Maria»”. Figurou na exposição efctuada na Imprensa Nacional, mencionada no Catálogo Geral da primeira exposição de ex-libris em Portugal, Lisboa, 1930, p. 38. Henrique de Campos Ferreira de Lima, “Braamcamp Freire ex-librista”, Correio do Ribatejo, Santarém, 29 de Janeiro, 1949, pp. 1 e 10. Sabemos que continuou a ser usado na Biblioteca de Santarém: “Inicialmente gravado em cobre, o ex-libris […] de Anselmo Braamcamp Freire, é ainda usado pela Biblioteca de Santarém, que mandou reproduzi-lo em zincogravura”. “O Ex-Libris da Biblioteca «Braamcamp Freire»”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 6 de Março, 1958, p. 12.
161
ANSELMO BRAAMCAMP FREIRE
Bibliografia Passiva
� Actas das Sessões da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa,
Lisboa, Câmara Municipal, 1908-1913.
� ALBUQUERQUE, Fernanda Mouzinho de Esclarecendo, Lisboa, 1996.
� ALMEIDA, Manuel Lopes de "O centenário de Braamcamp Freire", Correio do Ribatejo, ano 58, nº 3015, Santarém, 5 de Fevereiro, 1949, pp. 1 e 8.
� _______ Anselmo Braamcamp Freire, Um Defensor dos Municípios, Catálogo, Loures, Museu Municipal, 1995.
� "Anselmo Braamcamp Freire", O Ocidente, Revista Ilustrada de Portugal e do Estrangeiro, vol. XXVIII, ano 28, nº 951, Lisboa, 30 de Maio, 1905, p. 1.
� ARRIAGA, Manuel de
Na Primeira Presidência da República Portuguesa / um rápido relatório, Lisboa, Tip. A Editora, 1916.
� ARRUDA, Virgílio
"Braamcamp Freire e a sua casa", Santarém no Tempo, 2ª ed., Santarém, Câmara Municipal de Santarém, 1971, pp. 473-481.
� _______ "Através da casa dos artistas / Anselmo Braamcamp Freire", Ilustração
Portuguesa, vol. 29º, 2ªsérie, 2º semestre, Lisboa, 30 de Agosto,1920, pp. 131 e pp. 413.
� BAIÃO, António
“Anselmo Braamcamp Freire", Revista Lusitana, vol. 27º, dir. Leite de Vasconcelos, nºs 1 a 4, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1928-1929, p. 328-329.
� _______
Elogio de Anselmo Braamcamp Freire, Santarém, ed., da Câmara Municipal de Santarém, 1936, p. 16.
� _______ "Elogio histórico de Anselmo Braamcamp Freire", História e Memória
da Academia das Ciências de Lisboa, Nova Série, tomo XV, nº 2 Coimbra, Imp. Universidade, pp 4-9.
162
� _______
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168
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� _______
“Anselmo Braamcamp Freire”, Correio da Estremadura, ano 45, nº 2 329, Santarém, 21 Dezembro, 1935, pp. 3 e 10.
� _______
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� _______ “No centenário de Braamcamp Freire”, Correio do Ribatejo, ano 58, nº 3014, Santarém, 29 Janeiro, 1949, pp. 4 e 7
� VITERBO, Sousa
Cem artigos do Jornal, Lisboa, Tip. Universal, 1912.
169
ARCHIVO HISTORICO PORTUGUEZ
Navegações e Descobrimentos Índice dos documentos publicados
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
AZEVEDO, Pedro A. de
“O fidei-commisso de Afonso de Albuquerque. (Na Graça de Lisboa)” Vol. I, nº 6, Junho de 1903, pp. 188-193.
I Procuração Lisboa 6 de Maio de 1581 Pero de Goes II a) Libelo
b) Oposição c) Contra oposição d) Continuação c. opos. e) Oposição ao libelo f) Sentença
Lisboa - - - - -
14 de Março de 1586 29 de Janeiro de 1588
- - -
5 de Novembro de1593
António Fernandes da Silva D. Afonso de Noronha António Fernandes da Silva
- Procurador do Convento António Fernandes Nabo
III Sentença da Relação Lisboa 10 de Maio de 1603
170
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
______
“Os Escravos” Vol. I, nº 9, Setembro de 1903, pp. 299-307.
I Carta de venda de uma escrava
Lisboa 22 de Março de 1406 Francisco Martins Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Mosteiro de Chelas nº 645.
II Carta de D. Afonso V
Tanger 7 de Setembro de 1471 Diego Afonso Ibidem, Chancelaria de D. Afonso V, Livro XXII, fl. 19 v.
III Carta de Évora 17 de Março de 1490 Gil Fernandes Ibidem, Chancelaria de D. João II, D. João II Livro XVI, fl. 61. IV Carta de Lisboa 22 de Maio de 1501 Francisco de Matos Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, D. Manuel Livro 17, fl. 40 v. V Carta de Lisboa 6 de Junho de 1501 Luís Correia Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, D. Manuel Livro 17, fl. 64 v. VI Carta de Lisboa 22 de Maio de 1502 Pero Gomes Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, D. Manuel Livro 6, fl. 70. VII Carta de Lisboa 19 de Maio de 1513 Fernão Ruiz Ibidem, Legitimações de D. Manuel D. Manuel, fl. 110. VIII Carta de Almeirim 29 de Janeiro de 1515 André Lopes Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, D. Manuel Livro XI, fl. 75 v. IX Carta de Lisboa 24 de Janeiro de 1517 Simão de Matos Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, D. Manuel Livro IX, fl. 1.
171
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
X
Petição da Marquesa Lopes, filha de Pero
Mosteiro 14 de Agosto de 1517 Tabelião Arquivo Nacional da Torre do Tombo Mosteiro de Chelas, nº 1730
Lopes Pamtelioa de Chelas XI Carta de
D. João III Évora 10 de Novembro de1533 Brás Fernandes Ibidem, Legitimações de D. João III,
Livro IX, fl. 414 v. XII Carta de Lisboa 30 de Janeiro de 1554 Luís Felgueira Ibidem, Privilégios de D. João III, D. João III Livro III, fl. 7 V. XIII Carta de Lisboa 12 de Janeiro de 1555 Ibidem, Legitimações de D. João III, D. João III Livro XXIII, fl. 226 v. XIV Alvará de Lisboa 5 de Fevereiro de 1555 Baltazar da Costa Ibidem, Privilégios de D. João III, D. João III Livro 3, fl.308 v. XV Ordem acerca dos
Escravos Ibidem, Ms. 169,
fl. 143 e fl. 144. XVI Alvará de
D. Sebastião Lisboa 16 de Dezembro de 1563 Diogo Fernandes Ibidem, Legitimações de D. Sebastião,
Livro 38, p. 17 v. XVII
Carta de D. Sebastião
Lisboa 17 de Maio de 1564 Diogo Lopes Ibidem, Privilégios de D. Sebastião, Livro 4, fl. 15.
XVIII
Carta de D. Sebastião
Lisboa 11 de Setembro de1566 Gaspar Velho Ibidem, Legitimações de D. Sebastião, Livro 26, fl. 136 v.
172
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
_____ “Lembranças num códice do cartório de Palmela” Vol. I, nº 10, Outubro de 1903, pp. 236-339.
_______ “Projectos sobre Madagáscar e o Cabo da Boa Esperança em 1556” Vol. I, nº 11, Novembro de 1903, pp. 387 e 388.
I Lembrança Palmela 27 de Setembro de 1458 Lourenço Enes Arquivo Nacional da Torre do Tombo , nº 2011.
II Idem Palmela 13 de Outubro de 1513 Pero Gonçalves Ibidem
III Lembrança Palmela 7 de Agosto de 1515 Gomes Pires Freire Ibidem IV Idem Palmela 25 de Novembro de 1515 João Rodrigues Ibidem V Idem Palmela 7 de Junho de 1419 Afonso Fernando Ibidem
I Carta para a Rainha Goa 10 de Dezembro de 1556 Baltazar Lobo de Sousa Ibidem, Corpo cronológico, Parte I, Dona Catarina Maço 100, doc. 11.
173
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
_______ “A Companhia da ilha do Corisco” Vol. I, nº 12, Dezembro de 1903, pp. 425-429.
283 Os alvarás para ser armado cavaleiro e professor passados a Danssainct, bem como a carta de hábito, todos datados de 15 de Dezembro de 1729, encontram-se no livro 183 da Chancelaria da Ordem de Cristo, a fls. 20 v. Cf. Pedro de Azevedo, vol. I, Archivo Historico Portuguez , Dezembro, 1903, doc. IV, p. 428.
I
Carta de
D. João V
Lisboa 11 de Maio de 1724 Manuel do Rego de Morais Arquivo Nacional da Torre do Tombo Livro 71, do Registo da
da Secretaria de Guerra, fl. 248 II Carta Patente de
D. João V Lisboa 30 de Maio de 1724 António de Cubellos Pereira Ibidem, Chancelaria de D. João V,
Livro 66, fl. 290. III Provisão Lisboa 10 de Agosto de 1725 Joseph da Maia e Faria Ibidem, Chancelaria de D. João V,
Livro 67, p. 215 v. IV Carta para D. João V Lisboa 20 de Outubro de 1729 João Danssainct Idem Lisboa 8 de Dezembro de 1729 Idem Lisboa 18 de Novembro de 1729 Ibidem, Habilitações da Ordem
de Cristo,283 Maço 89, J, nº 63. V Carta de
D. João V Lisboa 21 de Março de 1730 Manuel Duarte de Carrião Ibidem, Livro 74, do Registo da
Secretaria da Guerra, fl. 207 v. VI Carta de
D. João V Lisboa 18 de Setembro de 1731 Ibidem, Chancelaria de D. João V,
Livro 80, fl. 236 v.
174
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
______ “As Ilhas Perdidas” Vol. II, nº 2, Fevereiro de 1904, pp. 53-62
I Carta de doação de D. João I
Santarém 17 de Maio de 1445 João Pires Arquivo Nacional da Torre do Tombo Chancelaria de D. João I,
Livro 3, fl. 99. II Carta de doação de
D. João I Évora 4 de Abril de 1459 Rodrigo Afonso Ibidem, Chancelaria de D. João I,
Livro 4, fl. 46 v. III Carta de perdão de
D. João II Évora 19 de Abril de 1491 Rui Fernandes Ibidem, Chancelaria de D. João II.
IV Carta de perdão de D. João II
Évora 19 de Abril de 1491 Idem
V Carta de perdão de D. João II
Évora 19 de Abril de 1491 Idem
VI Carta de perdão de D. João II
Évora 15 de Abril de 1491 João Afonso
VII Carta de perdão de D. João II
Évora 15 de Abril de 1491 Idem
VIII Carta de perdão de D. João II
Évora 15 de Abril de 1491 Idem Ibidem, Chancelaria de D. João II, Livro X, fl. 46.
175
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
_______ “A marinha mercante do norte de Portugal” Vol. II, nº 7, Julho de 1904, pp. 243-253.
______ “Defesa da navegação de Portugal contra os franceses em 1552”
Vol. VI, nºs 5 e 6, Maio e Junho de 1908, pp. 161-168.
284 Francisco de Lucena Homem. Este documento é um auto de apresentação de uma provisão do rei mandando notificar os armadores que não navegassem para Poente. Esta ordem régia, à marinha mercante, originou o arrolar dos nomes dos armadores, dos capitães dos navios, da sua tonelagem, artilharia, do porto de destino ou o lugar onde, então, se encontravam. No seguimento desta ordem seguem-se os registos de: Porto e São João de Maçarelos; Vila do Conde; Zurara; Maosinhos e Leça. O doc. II é o rol referente a Aveiro.
I Carta de D. João III para o corregedor284 do Porto
Almeirim 10 de Fevereiro de 1552 António Ferraz Arquivo Nacional da Torre do Tombo Corpo Cronológico, parte Iª,
Maço 87, doc. 114. II Juiz de Fora de Aveiro
para D. João III Aveiro 18 de Fevereiro de 1552 Jorge Afonso Ibidem, Corpo Cronológico, parte Iª,
Maço 87, doc. 115.
I Minuta da circular aos corregedores […].
Paris Fevereiro de 1550 Ibidem, Colecção de S. Vicente, Tom. Iº, fl. 389.
II Relação dos navios […] apresados […].
Novembro de 1552 Ibidem, Colecção de S. Vicente, I, 378.
176
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
BAIÃO, António “Fernão de Magalhães e a primeira circum-navegação ao globo” Vol. II, nº 9, Setembro de 1904, pp.321-336.
______ “Fernão de Magalhães. Dados inéditos para a sua biografia” Vol. III, nºs 7 e 8, Julho e Agosto de 1905, pp. 304-312.
285 Auto levantado pelo ouvidor do duque de Bragança, do aviso que fez aos mareantes de Esposende, Darque e Fão, para não navegarem para Ocidente. Este documento inclui o rol de embarcações de Esposende. 286 A data de 8 de Abril é da responsabilidade de A. Baião.Ver Archivo Historico Portuguez, vol. II, nota ( I ), p. 336.
III Auto […] de aviso […] aos mareantes […].285
Esposende 23 de Fevereiro de 1552 Diogo da Costa Ibidem, Corpo Cronológico, Parte II, Maço 143, doc. 10.
I Carta [para o rei D. João III]
23 de Abril de 1524 Doutor Gaspar Vaz Arquivo Nacional da Torre doTombo, Gaveta 15, maço 10, nº 23.
II Carta [para o rei D. João III]
8 de Abril286 de 1524 Diogo Lopes de Sequeira Ibidem, Gaveta 18, Maço 2º, nº 16.
I Recibo de 3000 reais 12 de Janeiro de 1512 Vasco de Pina Ibidem, Maço Iº das Moradias da Casa Real, Livro 2º,fl.17 vº.
II Recibo de 8100 reais 14 de Julho de 1512 Idem Ibidem, Maço Iº das Moradias da Casa Real, Livro 3º,fl.12 vº.
III Recibo de 5066 reais 14 de Novembro de 1525 Bastião Costa Ibidem, Maço Iº das Moradias da Casa Real, Livro 7º,fl.47 vº.
IV Carta de sentença de Lisboa 5 de Junho de 1516 Diogo de Belmonte Ibidem, Corpo Cronológico, Parte 2ª,
177
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
D. Manuel I Maço 65, doc. 19.
V
*Procuração de Fernão de Magalhães a seu
irmão Duarte de Sousa
*Recibo de 80 751 reais
Lisboa
Ponte de Lima
4 de Julho de 1515 24 de Novembro de 1516
Gaspar Gonçalves Diogo Lopes
Arquivo Nacional da Torre doTombo,
Corpo Cronológico, Parte 2ª, Maço 58, doc. 179.
Sumários
I
Pagamento a Fernão de Magalhães de 14 mil e 50 reais e alqueires de cevada
Santarém 15 de Abril de 1516 Biblioteca Nacional de Portugal Lousada, Sumários da Torre do Tombo,
Tomo 3º, fl. 366 vº. II
Pagamento a Joana de Sousa 8 mil reais, por mercê. Indica como os recebeu seu marido
Fernão de Magalhães
Alcochete 18 de Setembro de 1526 Ibidem, fl. 366.
III Indica que Fernão de Magalhães, filho de Pero de Magalhães, receberá uma verba alqueires de cevada
Ibidem, fl. 367.
IV Ordena o rei pagamento a Fernão de Magalhães de 15
mil reais
Lisboa 20 de Maio de 1540 Ibidem, fl. 599 v.
V Pagamento a Joana da Costa, viúva de Fernão de
Magalhães, por procuração passada a Fernão Vaz, seu
sobrinho
Lisboa 13 de Outubro de 1532
Ibidem, fl. 599.
178
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
BARATA, A. F. “Uma carta inédita de D. Sebastião (1576)” Vol. I, nº 8, Agosto de 1903, pp. 264-266.
______ “Últimos cinco anos do viver de D. João II. Apontamentos”
Vol. III, nºs 9 e 10, Setembro e Outubro de 1905, pp. 365-371.
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
I Carta do rei D. Sebastião para Manuel de Melo,
Monteiro-Mor
Setúbal 24 de Abril de 1576 Biblioteca Pública de Évora, Códice CXI – 2 –II.
I Carta de D. João II para a Câmara de Évora
Alcáçovas 9 de Setembro de 1490 António Carneiro Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora, fls. 191.
II Carta de D. João II, para a Câmara de Évora
Santarém 12 de Julho de 1491 Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora, fls. 158.
III
Carta do Conde Abrantes e de Dom Prior, a mando do rei, para Pedro Estaço,
escrivão da Câmara de Évora
Santarém 23 de Julho de 1491
IV
Carta do Conde, de Dom Prior e de D. Martinho, para juízes, vereadores e
homens bons da cidade de Évora
Santarém 9 de Agosto de 1491 João Pais Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora, fls. 163.
179
287 No texto em apreço, A. F. Barata, data esta carta de 19 de Abril.
V Carta de Henrique de Figueiredo
Xabregas 8 de Abril de 1494287
Biblioteca Pública de Évora, Livro 3º dos Originais da Câmara de
Évora, fls. 146. VI Carta para a Câmara de
Évora Alvor 23 de Outubro de 1495 Aires da Silva Ibidem, Livro 3º dos Originais da
Câmara de Évora, fls. 130. VII Carta de D. Manuel I, para
a Câmara de Évora Alcácer do Sal
27 de Outubro de 1495 Francisco de Matos Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora, fls. 133.
VIII Carta de D. Manuel I, para a Câmara de Évora
Alcácer 27 de Outubro de 1495 Pero da Mota Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora, fls. 136.
IX Carta de D, Manuel I, para a Câmara de Évora
Alcácer do Sal
28 de Outubro de 1495 Pero Lopes Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora, fls. 134.
X Alvará de D. Manuel I, para a Câmara de Évora
Alcácer 28 de Outubro de 1495 João da Fonseca Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora, fls. 131.
XI
Alvará de D. Nuno, por ordem de D. Manuel I, para a Câmara de Évora
Évora 29 de Outubro de 1495 Dom Nuno Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora, fls. 131.
Itinerário de D. João II, nos últimos 5 anos de vida
De 5 de Abril de 1490 a 24 de Setembro de 1495
Ibidem, Livro 3º dos Originais da Câmara de Évora.
180
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
CARDOSO DE BETHENCOURT “Lettre portugaise du premier ministre de Siam en 1687” Vol. I, nº 9, Setembro de 1903, pp. 308-314.
BRITO, J.J. Gomes de
“Majestade e Grandezas de Lisboa em 1552” Vol. XI, 1916, pp. 9-241.
COSTA, José Pedro da
“Carta do poderosíssimo e invictíssimo D. Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, &c., sobre as vitórias alcançadas na Índia e em Malaca. Ao Santo Padre em Cristo e Senhor nosso, Leão 10º, Pontífice Máximo”.
Vol. III, nºs 3 e 4, Março e Abril de 1905, pp. 111-114.
I Carta – Nota diplomática Sião 3 de Outubro de 1687 Constance Phaulkon, Primeiro-Ministro do Sião.
Archives Départementales des Deux-Sèvres (França).
I Manuscrito para o rei D. João III
Lisboa 1552 João Brandão (de Buarcos), cavaleiro fidalgo da casa do rei.
Biblioteca Nacional de Portugal Colecção do Fundo Geral, nº 679,
Estatística de Lisboa, de 1552.
I Carta288 de D. Manuel I, para o Papa Leão X
Lisboa 6 de Junho de 1513 Impressa em Roma, na oficina de Jacob Mazochi, em 9 de Agosto do mesmo ano.
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
181
DENUCÈ, J. “Privilèges commerciaux accordés par les róis de Portugal aux Flamands et aux Allemands. (XVe et XVIe Siècles) ”. Vol. VII, nºs 8 e 9, Agosto e Setembro de 1909, pp. 310-319. Idem, nºs 10 e 11, Outubro e Novembro de 1909, pp. 377-392.
FREIRE, Anselmo Braamcamp
“O Almirantado da Índia (Data da sua criação)” Vol. I – Nº 1 – Janeiro de 1903, pp. 25-32.
288 Traslada de um exemplar pertencente à biblioteca de José do Canto, em 1902. 289 J. Denucè trabalhou sobre uma cópia. O original é um manuscrito, relativamente bem conservado, composto por trinta e oito páginas, de escrita muito regular, com capas de pergaminho, sobriamente decoradas com um duplo quadro e cinco flores em ouro, proveniente da Madeira. A cópia foi feita, com o maior cuidado, pelo Sr.Lodewyckx, professor em Stellenbosch (colónia do Cabo) e cedida a Denucè pelo Professor Pirenne, da Universidade de Gand. Traduzido do francês e adaptado do trabalho de Denucè, Archivo Historico Poretuguez, vol. VII, Lisboa, 1909, p. 310.
I
Carta de D. João IV testemunho dos
privilégios concedidos a Duarte
Sonnemans, mercador flamengo
Lisboa 20 de Junho de 1644 Gaspar de Mariz, por João Cristóvão, escrivão da correição do cível de Lisboa
O documento original289 encontra-se na South African Public Library, na Cidade do Cabo, Grey Collection,
Nº I/360.
I
Carta de D. Manuel nomeando Vasco da
Gama Almirante da Índia
Lisboa 10 de Janeiro de 1500 Gaspar Roiz Arquivo Nacional da Torre doTombo, Chancelaria de D. Manuel,
Liv. II, fl. 3.
II Carta de D. Manuel para D. Martinho de Castelbranco
Lisboa 7 de Fevereiro de 1500 Idem Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, Liv. XIII, fl. II v.
182
_______
“Cartas de Quitação del Rei D. Manuel”
_______
“Auto do Conselho havido no Espinheiro em 1477” Vol. I – Nº 6 – Junho de 1903, pp. 198-199.
_______
“Novas de Veneza em 1508. Comércio e Guerra (Carta do escrivão da nossa feitoria a el Rei D. Manuel)” Vol. II – 1904, pp. 269-272.
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
DCCLXXXVI (786 documentos)
Cartas de quitação
Vários Arquivo Nacional da Torre doTombo, Chancelaria de D. Manuel.
I Acta do Conselho presidido pelo príncipe
D. João, em 1477
Convento Stª Maria do Espinheiro
28 de Abril de 1477 Ibidem, Corpo cronológico, parte 2ª, maço Iº, doc. 35
I Carta para o rei D. Manuel
Veneza 13 de Maio de 1508 Afonso Rodrigues, Escrivão da Feitoria de Veneza
Ibidem, Corpo cronológico, parte I, maço 3, doc. 102.
183
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
______
“Maria Brandoa, a do Crisfal” Volume VI, nºs 8 e 9 – Agosto e Setembro; nºs 10 e 11 – Outubro Novembro de 1908, pp. 293-442; Volume VII, nºs 1 e 2, Janeiro e Fevereiro de 1909; pp. 53-79; nºs 3 e 4, Março e Abril; pp.123-133; nºs 5 e 6, Maio e Junho, pp. 196-208; nº s 8 e 9, Agosto e Setembro, pp. 320-326.
Volume VIII, nºs 1 e 2, Janeiro e Fevereiro de 1910, pp. 21-33.
I
Carta régia aprovando a instituição da bolsa de
comércio fundada pelos mercadores portugueses em
Flandres
Lisboa 10 de Maio de 1293 João André Arquivo Nacional da Torre doTombo, gaveta III, mac. 5º, nº 5 – Original
com selo pendente.
II
Instrumento da doação de uma capela pelos frades de S. Domingos de Brujes aos
mercadores da nação portuguesa
Brujes 26 de Março de 1410 Ibidem, Casa da feitoria portuguesa em Antuérpia, liv. F, fls. 70 v.
III
Privilégios concedidos aos Portugueses em
Flandres
Gante 26 de Dezembro de 1411 J. de Sauls Ibidem, Casa da feitoria portuguesa em Antuérpia, caixa III, pergaminho nº15.
Original com selo pendente.
IV
Confirmação dos privilégios concedidos aos
portugueses em Flandres
Gante 20 de Fevereiro de 1421 T. Bouesseau Ibidem, Casa da feitoria portuguesa em Antuérpia, caixa III, pergaminho
nº17. Original com selo.
184
V
Carta do Duque da Borgonha permitindo à nação portuguesa em Flandres eleger cônsules,
etc.
Bruxelas 2 de Novembro de 1438 Duque E. de Lamandre Ibidem, Casa da feitoria portuguesa em Antuérpia, caixa III, pergaminho
nº 21.
VI
Carta do Duque da Borgonha permitindo aos Portugueses venderem nos seus navios a
cortiça que neles traziam
Bruxelas 2 de Novembro de 1438 Duque E. de Lamandre Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Casa da feitoria portuguesa em
Antuérpia, caixa III, pergaminho nº 21.
VII Carta de quitação de Pedr’Eanes, feitor na Flandres
Lisboa 3 de Junho de 1443 Martin Gil Ibidem, D. Afonso V, liv. 27.º fl. 122.
VIII
Carta de quitação de João Rodrigues Carvalho de
dinheiros recebidos em Bruges
Évora 14 de Julho de 1452 Pedro Alvarez Ibidem, D. Afonso V, liv.12.º fl. 62.
IX
Carta régia com as respostas a certos capítulos apresentados pelos Flamengos, Holandeses
e Zelandeses, etc.
Abrantes 8 de Agosto de 1483 Idem Ibidem, Livro 6º da Estremadura, fl.165.
X
Alvará de D. Afonso V ordenando que todos os
estrangeiros que carregaram em navios nossos para a
Flandres, paguem Bruges na bolsa da nossa nação
Évora 23 de Fevereiro de 1459 Henrique Ribeiro Ibidem, Casa da feitoria portuguesa em Antuérpia, caixa IV, maço IV, nº 2.
Original.
XI Carta de quitação de Martin Gonçalves, feitor em Flandres
Porto 17 de Dezembro de 1465 Diego Vaz Ibidem, Chancelaria de D. Afonso V, liv. 8º, fl. 16 v. fl. 16 v.
XII
Carta de privilégios dos mercadores flamengos
Abrantes 13 de Agosto de 1483 Gaspar Luís Ibidem, Chancelaria de D. João II, liv. 25º, fl. 3 v.
XIII
Carta de quitação de João Esteves, feitor em Bruges
Santarém 19 de Fevereiro de 1471 João André Ibidem, Chancelaria de D. João II, liv. 16º, fl. 35.
185
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
XIV Instituição da capela fundada pela Duquesa de Borgonha em Santo António de Lisboa por
alma do seu irmão Infante D. Fernando
Lisboa 18 de Novembro de 1471 Pedro Vasques Ibidem, Casa da feitoria portuguesa em Antuérpia, caixa III,
pergaminho 23.
XV
Carta régia confirmando e aprovando o compromisso da
capela dos mercadores flamengos em Lisboa
Abrantes 8 de Agosto 1483 Pedro Alvares Ibidem, Chancelaria de D. João II, liv.25º, fl. 2.
XVI
Carta permitindo aos mercadores flamengos
venderem por todo o reino depois de pagos certos
tributos, os panos e marcaria que houverem importado
Almeirim 6 de Maio de 1488 Francisco Dias Ibidem, Chancelaria de D. João II, liv. 15º, fl. 26.
XVII
Carta segurando aos mercadores flamengos não responderem pelos delitos
cometidos, senão as pessoas e bens dos criminosos
Évora 10 de Dezembro de 1478 Afonso Garcez Ibidem, Chancelaria de D. João II, liv. 25º, fl. 3.
XVIII
Privilégios concedidos aos mercadores estrangeiros que
se vierem domiciliar em Antuérpia
Antuérpia 30 de Junho de 1488 A. de lla Faille Ibidem, Casa da feitoria portuguesa de Antuérpia,
Caixa IV, maço V., nº 25.
186
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
XIX
Carta de privilégio concedida pela cidade de Bruges à nação
portuguesa
Bruges 1 de Setembro de 1493 Zoegiers Ibidem, Casa da feitoria portuguesa de Antuérpia,
Caixa III, pergaminho nº 4 - Original. XX
Licença para se carregarem com toda a espécie de mercadorias os
navios destinados a Portugal
Malinas 5 de Janeiro de 1502 Ibidem, Casa da feitoria portuguesa de Antuérpia, Caixa III, pergaminho nº 7 –
Original.
XXI
Carta de João Brandão, feitor de Flandres, a
D. Manuel.
Antuérpia 8 de Agosto de 1509 João Brandão Arquivo Nacional da Torre doTombo, Corpo cronológico, parte I,
Maço VIII, doc. 30.
XXII
Carta de João Brandão, feitor de Flandres, a D.
Manuel.
Antuérpia 1 de Novembro de 1510 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte III, Maço 4º, doc. 40.
XXIII
Carta de João Brandão, feitor de Flandres, a D.
Manuel.
Antuérpia 10 de Novembro de 1510 Idem Ibidem, Gaveta XX, maço 2, nº 3.
XXIV
Carta de João Brandão, feitor da Flandres a
D. Manuel
Antuérpia 19 de Fevereiro de 1511 Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 9, nº 131.
XXV
Carta de João Brandão, feitor de Flandres, a
D. Manuel.
Ranna
28 de Fevereiro de 1511 João Brandão Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 9, nº 133.
XXVI
Trelado do alvará del Rey nosso senhor do hũu por
cento a João Brandão feitor.
Lisboa 7 de Maio de 1511 Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 13, doc. 76.
187
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
XXVII
Carta do privilégio dado por os senhores desta vila de
emves aos cônsules da nação de Portugal em que se
declara lhes darem casa e vinho e cerveja e outras
coisas que sendo coisa que
Antuérpia 20 de Novembro de 1511 F. Colibrant Arquivo Nacional da Torre doTombo Casa da feitoria portuguesa de
Antuérpia, Livro G., fl.11.
ao adiante se outorgue a quaes quer outras nações
algũs preuilegios davantaie na por bem que os mesmos
da nação gosen deles.
XXVIII
Termo da entrega da casa doada pela cidade de Antuérpia ao feitor e
cônsules da nação portuguesa.
Antuérpia 1 de Janeiro de 1512 João Fernandes Arquivo Nacional da Torre doTombo Casa da feitoria portuguesa de
Antuérpia, livro F., fl. 333
XXIX
Inventário da capela dos Portugueses em Bruges.
Brujes 20 de Abril de 1512 Ibidem, Casa da feitoria portuguesa de Antuérpia, livro G., fl. 46.
XXX
Regimento que se há-de ter no cantar da capela.
Brujes 22de Abril de 1512 João Fernandes Ibidem, Casa da feitoria portuguesa de Antuérpia, livro G., fl. 47.
XXXI
Alvará ordenado a todos os mercadores, tanto naturais
como vizinhos do reino, que levarem ou enviarem
mercadorias a Flandres e Brabante, que paguem na bolsa da nação portuguesa
um grosso por libra de valor de toda a mercadoria
transportada.
Lisboa 8 de Maio de 1512 Simão Vaz Ibidem, Casa da feitoria portuguesa de Antuérpia, Caixa II,
maço IV, nº 4.
XXXII
Auto de apresentação do precedente alvará.
Antuérpia 21 de Julho e 1512 André da Silveira Ibidem, Casa da feitoria portuguesa de Antuérpia, livro G, nº 49.
188
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
XXXIII
Trelado de outro alvará del Rey nosso [Senhor] do ordenando e
mantimento de feitor João Brandão.
Lisboa 24 de Agosto de 1512 Sebastião Luís Arquivo Nacional da Torre doTombo, Corpo cronológico, parte I,
Maço 13, doc. 76. XXXIV
Decreto ratificando e mandando dar cumprimento,
nos estados de Flandres e Barbante, ao alvará de
D. Manuel de 8 de Setembro de 1512.
Antuérpia 20 de Setembro de 1512 H. de Hane Ibidem, Casa da feitoria portuguesa de Antuérpia, Caixa III, pergaminho
nº 8.
XXXV
Instrumento da entrega feita por João Brandão a Silvestre Nunes, da Casa da Feitoria de Flandres.
Antuérpia 12 Janeiro de 1514 Francisco Barbosa Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 14, doc. 10.
XXXVI
Publica forma de um instrumento de inovação,
ratificação e confirmação de antigos contratos, celebrados
entre o convento de S. Domingos de Lisboa e os mordomos e confrades da
capela e nação dos Flamengos.
Lisboa 7 de Fevereiro de 1514 Tristão de Aguiar Ibidem, Convento de S. Domingos de Lisboa, Livro 16º,fl. 250
XXXVII
Carta de Rui Fernandes a el rei D. Manuel
Bruxelas 6 de Fevereiro de 1517 Rui Fernandes Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 21, doc. 26.
189
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
XXXVIII
Alvará ordenando novamente o pagamento na
bolsa da nação da taxa imposta a todas as
mercadorias levadas aos estados de Flandres e
Brabante.
Lisboa 21 Junho de 1518 André da Silveira Arquivo Nacional da Torre doTombo, Casa da feitoria portuguesa de
Antuérpia, Caixa II, maço IV, nº 5.
XXXIX
Carta de Rui Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a
D. Manuel.
Nurembergue 18 de Setembro de 1519 Rui Fernandes Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 25, doc. 39.
XL
Carta de Rui Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a
D. Manuel.
Augusburgo 9 de Dezembro de 1519 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 25, doc. 75.
XLI Carta de Rui
Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a
D. Manuel.
Augusburgo 9 de Dezembro de 1519 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 25, doc. 76.
XLII
Carta de Rui Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a
D. Manuel.
Augusburgo 10 de Janeiro de 1520 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 25, doc. 97.
XLIII
Carta de Rui Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a
D. Manuel.
Antuérpia 4 de Fevereiro de 1520
Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 26, doc. 122.
190
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
XLIV
Carta de Rui Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a D. Manuel.
Antuérpia 14 de Fevereiro de 1520 Rui Fernandes Arquivo Nacional da Torre doTombo, Corpo cronológico, parte I,
Maço 25, doc. 129. XLV
Alvará régio ordenando ao Recebedor da ilha da Madeira que enviasse
anualmente a Flandres, ao feitor João Brandão, dez
arrobas de confeitos, amêndoas e conservas. (Juntos três recibos do
Feitor).
Évora 18 de Junho de 1520 Fernando Alvares Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 26, doc. 31.
XLVI
Carta de Francisco Pessoa, feitor em Flandres,
a D. Manuel.
Bruxelas 6 de Setembro e 1520 Francisco Pessoa Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 26, doc. 54.
XLVII
Fragmento de uma carta de Rui Fernandes, escrivão da
feitoria de Flandres, a D. Manuel.
Antuérpia 27 de Novembro de 1520 Rui Fernandes Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 26, doc. 98.
XLVIII
Carta de Rui Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a D. Manuel.
Antuérpia 27 de Novembro de 1520 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 26, doc. 129.
XLIX Carta de Rui Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a D. Manuel.
Bergues 25 de Abril de 1521 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 28, doc. 6.
L
Carta de Rui Fernandes, escrivão da feitoria de Flandres a D. Manuel.
Bergues 26 de Abril de 1521 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 27, doc. 3.
191
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
LI
Carta de Carlos V a D. João III, recomendando
lhe João Brandão.
Bruxelas 28 de Janeiro de 1522 Arquivo Nacional da Torre doTombo, Corpo cronológico, parte I,
Maço 38, doc. 114. LII Carta de Lourenço
Lopes ao Secretário António Carneiro.
Antuérpia 29 de Novembro de 1522 Lourenço Lopes Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 28, doc. 131.
LIII
Os herdeiros de João Brandão – quitação.
Lisboa 28 de Agosto de 1555 Pedro de Oliveira Ibidem, Chancelaria de D. João III, Livro 5º de Privilégios, fl. 6 V.
LIV
Segunda via para Silvestre Nunes , feitor de Flandres,
acerca do dinheiro a receber para pagar o cobre.
Lisboa 6 de Outubro de 1515 João Francisco Dellafitate Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 18, doc. 122.
LV
Carta de D. Manuel a Silvestre Nunes, feitor em
Flandres, ordenando-lhe que aplique ao pagamento do cobre os dez a onze mil cruzados de que poderá
dispor.
Almeirim 5 de Fevereiro de 1516 Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 19, doc. 111.
LVI Carta de Lourenço Lopes a
el Rei D. Manuel.
Antuérpia 7 de Julho de 1517 Lourenço Lopes Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 22, doc. 25.
LVII
Carta de Rui Fernandes e Damião de Góis, cônsules
em Antuérpia, a D. João III.
Antuérpia 6 de Janeiro de 1527 Rui Fernandes e Damião de Góis
Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 35, doc. 64.
LVIII
Carta de Rui Fernandes, Feitor em Flandres, a
D. João III.
Bergues Antuérpia
17 e 23 de Janeiro; 4 de Fevereiro de 1527
Rui Fernandes Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 35, doc. 87.
192
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
LIX
Carta de Manuel Cirne, feitor em Flandres, a
D. João III.
Antuérpia 26 de Julho de 1540 Manuel Cirne Arquivo Nacional da Torre doTombo, Corpo cronológico, parte I,
Maço 67, doc. 130. LX
Carta de João Rebelo, feitor em Flandres, a
D. João III.
Antuérpia 16 de Julho de 1544 João Rebelo Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 75, doc. 27.
LXI
Carta de João Rebelo, feitor em Flandres, a
D. João III.
Antuérpia 12 de Fevereiro de 1547 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 78, doc. 131.
LXII
Carta de João Rebelo, feitor em Flandres, a
D. João III.
Antuérpia 1 de Abril de 1547 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 21, doc. 83.
LXIII
Carta de João Rebelo, feitor em Flandres, a
D. João III.
Antuérpia 4 de Maio de 1547 Idem Ibidem, Corpo cronológico, parte I, Maço 79, doc. 25.
193
______
“Outro capítulo das finanças manuelinas”. “Os Cadernos dos Assentamentos”. Vol. VI, nºs 5 e 6 – Maio e Junho de 1908, pp. 233-240; nºs 10 e 11 – Outubro e Novembro de 1908, pp. 443-444; Vol. VII, nºs 5 e 6 – Maio e Junho de 1909, pp. 220-226; Idem, nº 7 – Julho de 1909, pp. 291-292; nºs 8 e 9 – Agosto e Setembro de 1909, pp. 376; nº 12 – Dezembro de 1909, pp. 478-480. Vol. VIII, nºs 1 e 2 – Janeiro e Fevereiro de 1910, pp.70-75; Vol. X, 1916, pp. 60-208.
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
LXIV
Lista de taxação de mercadorias que vem e
costumam vir aos senhores portugueses da
nação de Portugal residentes nestas partes de Flandres e Barbante para por ela se contar o direito do tributo que devem à
dita nação desde primeiro do mês de Novembro do ano de passado de 571,
até outro tal mês do presente ano de 572, feitas pelos senhores cônsules e deputados deste dito ano.
22 de Maio de 1572 João Fernandes Arquivo Nacional da Torre doTombo, Casa da feitoria portuguesa de
Antuérpia, livro B, fl.56 v.
LXIV 211/212 doc.
Cadernos de assentamentos
Ibidem.
194
FREITAS, Jordão A. de “Fernão Mendes Pinto, sua última viagem à China (1554-1555)” Vol. III, nºs 11 e 12, Novembro e Dezembro de 1905, pp. 466-470.
_______ “Macau. Materiais para a sua história no século XVI.” Vol. VIII, nºs 5, 6 e 7, Maio a Julho de 1910, pp. 209-242.
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
I
Cópia de uma carta do irmão Luís Fróis que
escreveu de Malaca 1º de Dezembro de 1555.
aos irmãos da Companhia de Jesus em
Goa.
Malaca
1 de Dezembro de 1555
Luís Frois
Biblioteca da Ajuda, Códice 49-IV-50, fl. 91 v.
I
Carta de Leonel de Sousa, para o
Infante D. Luís.
Cochim 15 de Janeiro de 1556 Leonel de Sousa Arquivo Nacional da Torre do Tombo Gaveta 2, maço 10, nº15, copiado do livro 6º da Reforma, a fl.160-165 v.
195
GUERRA, L. de Figueiredo da “Os brios vianenses” Vol. VIII, nºs 5, 6 e 7, Maio a Julho de 1910, pp. 207-208.
PESSANHA, D. José
“Uma reabilitação histórica. Inventários da Torres do Tombo no século XVI” Vol. III, nºs 7 e 8, Julho e Agosto de 1905, pp. 287-303.
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
I
Diploma de D. Manuel, restituindo aos
vianenses os seus antigos foros.
Abrantes 3 de Agosto de 1507 António Fernandes Arquivo Nacional da Torre do Tombo Chancelaria de D. João III,
Livro 11º a fls. 71.
I
Carta de Tomé Lopes, escrivão servindo e Guarda Mor da Torre do Tombo,
dirigida a D. João III.
2 de Março de 1526 Tomé Lopes Biblioteca Nacional de Portugal Livraria de Alcobaça,
Código 454, fl., 59 v. a 69.
II
Carta de D. João III,
dirigida a Tomé Lopes
Alvito 8 de Fevereiro de 1532 Henrique da Mota Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Manuel,
Livro 18º. fl. 130 v. III
Livros e papeis que recebeu o Guarda Mor Fernão de
Pina
28 de Agosto de 1532 Fernão das Naães
Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, Livro 18º. fl. 126 v.
IV
[Livros e papeis que recebeu o Guarda Mor Fernão de
Pina].
Lisboa 8 de Fevereiro de 1529 Bartolomeu Afonso Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, Livro 18º. fl. 131.
V
[Entrega a Antão Gonçalves, Guarda Mor da Torre do
Tombo, por Tomé Lopes, de livros e papeis].
Lisboa 8 de Julho de 1534 Fernão das Naães
Ibidem, Chancelaria de D. Manuel, Livro 18º. fl. 130 v.
196
PRESTAGE, Edgar
“Crítica contemporânea da «Crónica de D. Manuel» de Damião de Góis” Vol. IX, 1914, pp. 345-378.
VITERBO, Sousa “A pesca do coral no século XV”
Vol. I, nº 9, Setembro de 1903, pp. 315-320.
I
Crítica de um cavalheiro da Casa do Cadaval à
Crónica de Damião de Góis.
Museu Britânico 20, 958 Add.
Papeis / Históricos / Portugueses /1640 / 1700 / Mus-Brit /Jure / Emptionis /
II
Desculpas do cronista. Damião de Góis
/ 20,958 /Plut.
III
Resposta que Damião de Góis deu aos meus
apontamentos.
IV Resposta das emendas da crónica.
I
Carta de privilégio [de D. AfonsoV] a Bartolomeu Florentim e João Forbim
de Marselha .
Sintra 16 de Julho de 1443 Vasco Gil Ibidem, Chancelaria de D. Afonso V, Livro XXIV, fl. 49.
197
_______
“Uma expedição portuguesa ás Canárias em 1440” Vol. I, nº 10, Outubro de 1903, pp. 340-348.
_______ “As dádivas de Afonso de Albuquerque”
Vol. II, nº 1, Janeiro de 1904, pp. 4-7.
Doc. Tipo de documento Local Data Quem o fez Onde se encontra o documento
II
Carta de privilégio ao infante D. Henrique
Évora 15 de Janeiro de 1450 Gonçalo Anes Arquivo Nacional da Torre do Tombo Chancelaria de D. Afonso V,
Livro 34, fl. 202 v. III
Carta de privilégio ao Conde de Trevento
Setúbal 30 de Setembro de 1488 António Carneiro [Torre do Tombo] Chancelaria de D. Afonso V,
Livro 14, fl. 33.
I
Carta de quitação a João Carreiro
Lisboa 2 de Abril de 1441 Álvaro Anes Ibidem, Chancelaria de D. Afonso V, Livro 2º, fl. 102.
II
Carta régia, dando plenos poderes a D. Álvaro de
Castro para ir de Armada contra os corsários
espanhóis.
Estremoz 10 de Agosto de 1446 Gonçalo Anes Ibidem, Chancelaria de D. Afonso V, Livro 5º, fl. 74.
III
Carta régia, nomeando D. Álvaro de Castro
comandante de uma armada contra os corsários
espanhóis.
Lisboa 10 de Agosto de 1446 Álvaro Anes Ibidem, Chancelaria de D. Afonso V, Livro 2º, fl. 102.
Não apresenta documentação complementado o estudo
198
ARCHIVO HITORICO PORTUGUEZ
Índice de Autores
Autor Título do Artigo Vol Página
AZEVEDO, J. Lúcio de A evolução do sebastianismo X 379-473
Missão de Sebastião José de Carvalho e Melo, a Viena XI 276-304
AZEVEDO, Pedro A. de O Testamento da Excelente Senhora I 8-11
Culpas de David Negro I 53-57
O Fidei-commisso de Afonso de Albuquerque. (Na Graça de Lisboa) I 157-162;188-193
Os Escravos I 289-307
Lembranças num códice do cartório de Palmela I 336-339
Sebastião de Macedo, o Moço I 371-380
Projectos sobre Madagáscar e Cabo da Boa Esperança em 1556 I 385-388
A Companhia da ilha do Corisco I 422-429
Gilles Le Hédois du Bocage. (O avô do poeta Bocage) II 8-17
As Ilhas perdidas II 53-62
199
A Chancelaria do ducado de Cadaval II 170-175
A Marinha mercante do norte de Portugal em 1552 II 241-253
Os de Vasconcelos II 363-380
Urraca Machado, dona de Chellas III 1-33.
O antigo casamento português III 107-110
António de Gouveia, alquimista do século XVI III 179-208; 274-286
Os antepassados do Marquês de Pombal III 321-353
A Inquisição e alguns seiscentistas III 460-469
Gavetas da Torre do Tombo, Maço I, da I. Gaveta IV 1-7.
O Livro de D. João de Portel IV 195-204;289-307;369-388
Os Livros da Chancelaria mor da Côrte e Reino IV 449-460
Nota sobre a instrução portuguesa nos séculos XV e XVI V 18-25.
O Livro de D. João de Portel V 60-72;129-137;315-320; 432-441; 462-471
Os antepassados de Camilo V 171-191;327-344;384-410
Uma carta de alforria de 1228 V 447-451
200
Os antepassados de Camilo. Apêndice VI 1-20.
O Livro de D. João de Portel VI 66-75; 150-154; 227-232
Defesa da navegação de Portugal contra os Franceses, em 1552 VI 161-168
Os ciganos em Portugal no séc. XVI e XVII VI 460-468
Os ciganos em Portugal no séc. XVI e XVII VII 42-52; 81-90;169-177
O Livro de D. João de Portel VII 80; 134-139; 212-219; 449-456; 469-477
O Bocarro Francês e os Judeus de Cochim e Hamburgo VIII 15-20;185-198
O primeiro casamento de Silvestre Pinheiro Ferreira VIII 155-158
Cartas de alforria VIII 441-446
Em volta de Bocage IX 31-40
Apontamentos de viagem de Herculano pelo país em 1853 e 1854 IX 402-432
D'Artagnám numa carta de D. Luis da Cunha IX 41-44
Os familiares do Santo Ofício em Vila Rial IX 45-63
Irregularidades da limpeza de sangue dos familiares de Vila Rial X 17-40
BAIÃO, António Duarte Fernandes, iluminador I 383-384
201
Fernão de Magalhães e a primeira circumnavegação ao globo II 321-336
Fernão de Magalhães. Dados inéditos para a sua biografia III 304-312
A Inquisição em Portugal e no Brasil. Subsídios para a sua história IV 205-236; 389-424
A Inquisição em Portugal e no Brasil. Subsídios para a sua história V 1-17; 94-101; 192-215;
272-306; 411-425
A Inquisição em Portugal e no Brasil. Subsídios para a sua história VI 42-56; 81-117; 169-185;
469-480
A Inquisição em Portugal e no Brasil. Subsídios para a sua história VII 1-16; 140-160; 227-240;
441-448
A Inquisição em Portugal e no Brasil. Subsídios para a sua história VIII 47-61; 415-440; 470-480
A Inquisição em Portugal e no Brasil. Subsídios para a sua história IX 471-480
A Inquisição em Portugal e no Brasil. Subsídios para a sua história X 474-480
BARATA, A. F. Regimento da gente da Ordenança e das vinte lanças da Guarda I 80-88
Cartas da Rainha D. Catarina, 1544 I 194-197
Cartas dos Governadores do reino em 1580 I 209-218
Uma carta inédita de D. Sebastião I 264-266
Francisco Xavier de Oliveira, o Cavalleiro de Oliveira I 381-382
202
Rei d'armas Evora II 18-20
André de Resende, e não Lucius André de Resende III 43-46
Vesperas de Alfarrobeira III 209-211
Ultimos cinco anos do viver de D. João II. Apontamentos III 365-371
D. António Prior do Crato VII 121-122
Évora antiga VII 193-195; 308-309
BETHENCOURT, Cardoso Lettre portugaise du premier ministre du Sion en 1687 I 308-314
BREDERODE, Fernando Administração IV V-X
BRITO, Gomes de As tenças testamentárias da Infanta D. Maria V 103-127; 228-234; 307-314;
367-383
As tenças testamentárias da Infanta D. Maria VI 21-41;138-149; 202-224; 285-292
As tenças testamentárias da Infanta D. Maria VIII 1-14.
Uma colecção de cartas de Alexandre Herculano VIII 137-154
Majestade e grandezas de Lisboa em 1552 XI 9-241
203
BRITO, Nogueira de Um Inquisidor mor. D. Jorge de Almeida IX 335-344
CASTILHO, Julio de A extincta irmandade do Espírito Santo do Lumiar. Estudo do seu antigo compromisso I 97-101
COELHO, Ramos O primeiro Marquês de Nisa (Notícias) I 33-44; 68-73; 102-108;
149-156; 229-235; 260-263;
324-327; 329-335
COSTA, José Pedro da Carta do potentíssimo e invictíssimo D. Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, etc. sobre as vitórias alcançadas na Índia
em Malaca. Ao Santo Padre em Cristo e Senhor Nosso, Leão 10º, Pontífice Máximo III 111-114
DENUCÉ, J. Privilèges commerciaux accordés par les rois de Portugal aux Flammands et aux Allemands VII 310-319; 377-392
ERASMUS ROTERDÃO Angelo Andreae Resendo S. D. IX 258-334
FERREIRA, Francisco Leitão Vida de André de Resende. Biografia inédita VII 339-375
Noticias da vida de André de Resende VII 393-417
Notícias da vida de André de Resende VIII 62-69; 161-184; 338-366
Notícias da vida de André de Resende IX 177-248
Efeméride historial. 9 de Dezembro IX 249-257
204
FREIRE, A. Braamcamp O Almirantado da India. Data da sua criação I 25-32
Auto do conselho havido no Espinheiro em 1477 I 198-199
Compromisso de confraria em 1346 I 349-355
As conspirações no reinado de D. João II. Documentos I 389-397; 442-446
Cartas de quitação del Rei D. Manuel I 94-96;163-168; 200-208; 240-248; 276-288; 328;
356-368; 398-408; 447-448
Caderno da sisa da marçaria para 1502 II 21-26
As conspirações no reinado de D. João II. Documentos II 27-33; 68-73; 228-231; 273-280; 344-348
Cartas de quitação del Rei D. Manuel II 34-40; 74-80;158-160;
232-240;349-360; 421-442
Rol dos papeis entregues por António Carneiro quando foi preso II 63-67
Livro da tenças del Rei II 81-120; 201-227
Novas de Veneza em 1508. Carta do escrivão da nossa Feitoria a el-Rei D.Manuel II 269-272
O Cavaleiro de Oliveira e a Inquisição II 281-320
205
A Chancelaria de D. João II II 337-343
Bibliografia II 361-362
Inventário da Guarda-roupa de D. Manuel II 381-402
A Chancelaria de D. Afonso V II 479-487
Em volta de uma carta de Garcia de Resende III 47-61
A Chancelaria de D. Afonso V III 62-74;130-154; 212-236; 401-440
Cartas de quitação del Rei D. Manuel III 75-80; 155-160; 237-240;
313-320; 385-400; 471-480
Povoação de Entre Douro e Minho no seculo XVI III 241-273
A Honra de Resende IV 10-71.
Cartas de quitação del Rei D. Manuel IV 72-80; 237-240; 282-288,
364-368; 439-448; 474-480
Povoação de Entre Tejo e Guadiana no XVI século IV 93-105; 330-363
D. João de Aboim IV 106-194
Os sessenta milhões outorgados em 1478 IV 425-438
Cartas de quitação del Rei D. Manuel V 73-80;156-160;235-246;
206
321-326; 442-446; 472-480
Bibliografia. As publicações do benemérito Dr. Eugénio do Canto V 241-245
A guarda de D. João II em 1490 V 345-366
Amarrado ao Pelourinho V Suplemento
Cartas de quitação del Rei D. Manuel VI 76-80;155-160
Outro capítulo das finanças manuelinas, os Cadernos dos Assentamentos VI 233-240; 443-444
Povoação da Estremadura no XVI seculo VI 241-248
Maria Brandoa, a do Crisfal VI 293-442
Maria Brandoa, a do Crisfal VII 53-79; 123-133; 196-208; 320-326
Os cadernos de Assentamentos VII 220-226; 291-292; 376; 478-480
Povoação de Trás-os-Montes no XVI século VII 241-290
Notas às Notícias da vida de André de Resende de Leitão Ferreira VII 393-417
Maria Brandoa, a do Crisfal VIII 21-33
Notas às Notícias da vida de André de Resende de Leitão Ferreira VIII 62-69;161-184;338-366
Os cadernos de Assentamentos VIII 70-75
207
Cartas de quitação del Rei D. Manuel VIII 76-80;391-414
A Alexandre Herculano VIII 159-160
Inventário da casa de D. João III em 1534 VIII 261-280; 367-390
Inventário da infanta D. Beatriz, 1507 IX 64-110
Notas às Notícias da vida de André de Resende de Leitão Ferreira IX 177-248
Bibliografia Resendiana IX 286-322
Cronologia Resendiana IX 323-334
Cartas de quitação del Rei D. Manuel IX 433-470
Cartas de quitação del Rei D. Manuel X 1-16.
Inventários e contas da casa de D. Denis (1278-1282) X 41-59
Os cadernos de Assentamentos X 60-208
Tombo da comarca da Beira X 209-366
Introdução ás «Noticias da vida de André de Resende de Leitão Ferreira» X 367-378
FREITAS, Jordão A. de Fernão Mendes Pinto, sua ultima viagem à China (1554-1555) III 466-470
A Inquisição em Goa. Subsídios para a sua história V 216-227
208
Macau. Materiais para a sua história no século XVI VIII 209-242 Macau. Materiais para a sua história no século XVI VIII 209-242
GARRETT, Almeida Carta a Herculano I 129-130
GOES, Damião de Desculpas do Cronista [aos Itens do Conde de Tentúgal] IX 364-367
GUERRA, L. de Figueiredo da Fernão Annes de Lima V 266-271
Um diploma secreto VI 225-226
D. Pedro de Meneses VII 209-211
Os brios vianenses VIII 207-208
HENRIQUES, Guilherme J. C. Buchanan na Inquisição IV 241-281
O convento de Nossa Senhora dos Remédios dos Carmelitas Descalços VIII 243-260
HERCULANO, Alexandre A Symmicta Lusitana I 369-370
Apontamentos de viagem IX 403-425
LEMOS, Maximiano Amigos de Ribeiro Sanches VIII 281-295; 447-469
209
Amigos de Ribeiro Sanches IX 111-161
LOBO, A. Costa Infanta D. Maria, Princesa de Castela. Recomendações de seus pais por ocasião do seu casamento I 131-137;177-181
Um Campeão do feminismo no século XV II 1-3.
MENA Junior, Antonio Cesar Um esboceto de Vieira Lusitano. Notícia histórica I 321-323
PESSANHA, D. José A porcelana em Portugal. Primeiras tentativas I 20-24; 58-64; 89-93;
124-128;169-176; 236-239
O pintor Afonso Sanches Coelho e o ourives Diogo Fernandes I 430-431
Uma reabilitação histórica. Inventários da Torre do Tombo no século XVI III 287-303
PRESTAGE, Edgar D. Francisco Manuel de Mello. Documentos biográficos VII 17-28;91-101;327-338; 418-431
D. Francisco Manuel de Mello. Obras autógrafas e inéditas VII 178-192
Crítica contemporânea da Crónica de D. Manuel de Damião de Góis IX 345-378
O Conselho de Estado, D. João IV e D. Luisa de Gusmão XI 242-275
210
REBELLO, Brito Miguel Leitão d'Andrade. Apontamentos biográficos e testamento I 12-19; 47-52;116-123
Cartas de António Ferreira e de Diogo Bernardes a António de Castilho I 138-148;185-187
António Diniz da Cruz e Silva. Um episódio da sua vida I 433-441
Vasco Fernandes (Grão Vasco). Breve apontamento para a sua biografia I 65-67
Fr. Nicolau de Oliveira e a Inquisição II 161-169
Um primo de Francisco Sá de Miranda II 463-478
Um primo de Francisco Sá de Miranda III 34-42; 115-129; 372-384
Em torno de Alexandre Herculano VIII 81-136
RESENDIUS, L. Andreas In Erasmomastigas lambi (Angeli Andreae Resendii - ) IX 259
Silvulae duae. Resendius Luisitanus Henemanno Rhodio IX 261
Translatio Sacrarum Viginum et Martyrum Christi Responsae et Sociae ejus IX 263
Oratio pro rostris pronunciata in Olisiponensi academia, calend. Octobrib. M.D.XXXIIII IX 265-275
Hieronimo Cardoso S. P. D. IX 281-285
Sancti Gundisalvi de Amarantho Officium IX 276-280
211
RHODIUS, Henemannus Vrbindagineus Resendio Lusitano suo IX 262
RIBEIRO, Victor Algumas notícias documentais de Arte e Arqueologia, relativas á Misericórdia de Lisboa e á sua igreja e casa de S. Roque V 26-42;138-155
Os testamentos do Inquisidor Bartolomeu da Fonseca VII 457-468
A vida lisboeta nos séculos XV e XVI. Pequenos quadros documentais, - Peditório e pedintes VIII 308-337
Artes e indústrias em Portugal no século XVIII. Uma escola de bordados. Um tepeceiro portguês IX 1-30.
Ceramistas do séc XVIII (Telha, tijolo e azulejos) XI 1-8. TENTÚGAL, Conde de Itens contra os erros da Crónica. Critíca de um Cavalheiro da Casa de Cadaval á Crónica de Damião de Góis IX 349-364
Reposta à que Damião de Góis deu aos meus apontamentos IX 367-378 VASCONCELLOS, Carolina Michaelis Lucius Andreas Resendius Lusitanus III 161-178
O Marramaque IX 163-176
VITERBO, Sousa O teatro na côrte de D. Filippe II. Duas cartas de D. Bernarda Coutinho I 1-7.