Luís de Camões - perfil

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8/7/2019 Luís de Camões - perfil http://slidepdf.com/reader/full/luis-de-camoes-perfil 1/8 Luís de Camões Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Luís Vaz de Camões O retrato de Camões por Fernão Gomes , em cópia de Luís de Resende. Este é considerado o mais autêntico retrato do poeta, cujo original, que se perdeu, foi pintado ainda em sua vida. Nascimento cerca de 1524 Lisboa ? Morte 10 de junho de 1580 Lisboa Nacionalidade portuguesa Ocupação poeta Magnum opus Os Lusíadas Luís Vaz de Camões (Lisboa [?], c. 1524² Lisboa, 10 de junho de 1580 ) foi um célebre poetade Portugal , considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente. Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa , de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a históriaantigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra , mas a sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte de Dom João III , iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, se autoexilou em África , alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas . De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei Dom Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter. Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas , tendo deixado também três obras de teatro cómico . Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países. Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos. Vida Origens e juventude

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Luís de CamõesOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Luís Vaz de Camões

O retrato de Camões por Fernão Gomes, em cópia de Luís de Resende. Este é considerado o mais autênticoretrato do poeta, cujo original, que se perdeu, foi pintado ainda em sua vida.

Nascimento cerca de 1524Lisboa?

Morte 10 de junho de 1580Lisboa

Nacionalidade portuguesaOcupação poetaMagnum opus Os Lusíadas

Luís Vaz de Camões (Lisboa[?], c.1524² Lisboa, 10 de junhode 1580) foi um célebre poetade Portugal, consideradouma das maiores figuras daliteraturaemlíngua portuguesae um dos grandes poetas do Ocidente.

Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu emLisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre asua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando olatim e conhecendo aliteraturae a históriaantigas e modernas. Pode ter estudado naUniversidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte deDom João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico eenvolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, se autoexilou emÁfrica, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente.Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado dasforças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, aepopeianacionalistaOs Lusíadas . De volta à pátria, publicouOs

Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do reiDom Sebastiãopelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter.

Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas , tendo deixado também três obras deteatro cómico.Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomesimportantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciandogerações de poetas em vários países. Camões foi um renovador dalíngua portuguesae fixou-lhe um duradouro cânone;tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófonainternacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradiçãoocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos.

Vida

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Boa par t das i¡

¢

ormações sobre a biograf ia deCamões suscita dúvidas e, provavelmente, muito do que sobre ele circula nãoé mais do que otí pico folclore que se forma emtorno de uma f igura célebre. São documentadas apenas umas poucas datasque bali£ am a suatra jet¤ r ia.[1] A Casa ancestral dosCamõestinha as suas or igens naGali£ a, nãolonge doCabo Finisterra.Por via paterna, Luís deCamões ser ia descendente de Vasco Pires deCamões,trovador galego, guerreiro ef idalgo, que semudou para Por tugal em 1370 e recebeu do rei grandes benef ícios em cargos, honras eterras, e cu jas poesias, deíndolenacionalista, contr i buíram para afastar ainf luência bretã e italiana e conformar um estilo trovadoresco nacional. [2][3]O seuf ilho Antão Vaz deCamões serviu no Mar Vermelho e casou-se com Dona Guiomar da Gama, aparentada comVasco daGama. Deste casamento nasceram Simão Vaz deCamões, que serviu na Mar inhaR eal e fez comércio na Guiné e naÍndia, eoutro irmão, Bento, que seguiu a carreira dasLetras e dosacerdócio, ingressando noMosteiro de Santa Cruz dosAgostinhos,que era uma prestigiada escola para muitos jovens f idalgos por tugueses. Simão casou com Dona Ana de Sá e Macedo,

também de família f idalga, or iunda deSantarém. Seu f ilho único, Luís Vaz deCamões, segundo Jayne, Fernandes e algunsoutros autores,terá nascido emLisboa, em1524. Três anos depois, estando a cidade ameaçada pela peste, a família mudou-se, acompanhando a cor te, paraCoimbra.[2][4]Entretanto, outras cidades reivindicam a honra de ser o seu berço: Coimbra,Santarém eAlenquer . Os argumentos paratirar a sua naturalidade de Lisboa são fracos; mas esta tampouco estácompletamente fora de dúvida,[5][6] e por isso a cr ítica mais recente considera seulocal e data de nascimento incer tos.[7][4]

Sobre a suainfância permanece aincógnita. Aos doze outreze anoster ia sido protegido e educado pelo seutio Bento que oencaminhou paraCoimbra para estudar. Diz a tradição que foi um estudante indisci plinado, mas ávido pelo conhecimento,interessando-se pela histór ia, cosmograf ia e literatura clássica e moderna.Contundo, o seu nome não consta dos registos daUniversidade deCoimbra, mas é cer to, a par tir do seu elaborado estilo e da profusão de citações eruditas que aparecem nassuas obras que, de alguma forma, recebeu uma sólida educação. É possível que o própr io tio o tenhainstruído, sendo a estaaltura chanceler da Universidade e pr ior do Mosteiro de Santa Cruz, outenha estudado no colégio do mosteiro. Com cerca devinte anoster-se-ia transfer ido para Lisboa, antes de concluir os estudos. A sua família era pobre, mas sendo f idalga, pôde ser admitido e estabelecer contactos intelectuais frutíferos na cor te de Dom João III, iniciando-se na poesia.[8][9][7]

Foi aventado que ganhava a vida como precetor deFrancisco, f ilho doConde de Linhares, Dom António de Noronha, masho je em dia isso parece pouco plausível.[9] Conta-setambém quelevava uma vida boémia, frequentandotavernas eenvolvendo-se em arruaças e relações amorosastumultuosas. Vár ias damas aparecem citadas pelo nome em biograf ias tardiasdo poeta comotendo sido ob jeto de seus amores, mas embora não se negue que devater amado, e até mais de uma mulher,aquelas identif icações nominais são atualmente consideradas adições apócr ifas à sualenda. Entre elas, por exemplo, falou-sede uma paixão pela Infanta Dona Mar ia, irmã do rei, audácia quelhe ter ia valido umtempo na pr isão, eCatar ina de Ataíde,que, sendo outro amor frustrado, segundo versõester ia causado o seu autoexílio, pr imeiro noRi bate jo, e depois alistando-secomo soldado emCeuta. Os motivos para a viagem são duvidosos, mas a sua estada ali é aceite como facto, permanecendodois anos e perdendo o olho direito em batalha naval no Estreito de Gi braltar . De regresso a Lisboa, nãotardou em retomar avida boémia.[10][11][12]

Data de1550um documento que o dá como alistado para via jar à Índia: "Luí ¥

¦ e C § ¨ õe ¥ , filho ¦ e Si ¨ ão V § z e An §

¦ e Sá,¨ or §

¦ ore ¥ e ¨ Li¥ bo § , n § Mour § ri § ; e ¥ cud eiro, d e 25 § no ¥ , b § rbirr uivo, tro uxe por fi § d or § ¥ eu p § i; v§ i n § n § u d e S. P ed ro

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Burg §

le¥

... entre o¥

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en¥

d e ar ¨

as" . Af inal não embarcou deimediato. Numa procissão deCorpusChr isti altercoucom um cer to Gonçalo Borges, empregado do Paço, e fer iu-o com a espada.Condenado à pr isão, foi perdoado pelo agravadoem car ta de perdão. Foi li ber tado por ordem régia em 7 de março de 1553, que diz: "é um mancebo e pobre e me vai e ste ano servir à Í nd ia" . Manuel de Far ia e Sousaencontrou nos registos daArmada da Índia, para esse ano de 1553, sob otítulo"Gente de guerra", o seguinte assento: "F ern and o C asad o, filho d e M anuel C asad o e d e Br anca Queimada , mor ad ore s em Li sboa , e scud eiro; foi em seu l u g ar Luí s d e C amõe s , filho d e Simão V a z e Ana d e Sá, e scud eiro; e recebe u 2400 como o sd emai s" .[13]

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Camões na prisão de Goa, em pintura anónima de 1556.

Camões na gruta deMacau, em gravura de Desenne, 1817.

Oriente

Viajou na nauSão B©

t o, da frota de Fernão Álvares Cabral, que largou doTejoem 24 de março de 1553. Durante a viagem passou pelas regiões onde Vasco da Gama navegara, enfrentou uma tempestade noCabo daBoa Esperançaonde se perderamas três outras naus da frota, e aportou emGoaem 1554. Logo se alistou no serviço do vice-reiDom Afonso de Noronhaecombateu na expedição contra o rei de Chembé (ou"da Pimenta").[14] Em 1555, sucedendo a NoronhaDom PedroMascarenhas, este ordenou aManuel de Vasconcelos que fosse combater os mouros noMar Vermelho. Camõesacompanhou-o, mas a esquadra não encontrou o inimigo e foi invernar aOrmuz, noGolfo Pérsico.[15]

Provavelmente nesta época já iniciara a escrita deOs Lusíadas . Ao retornar a Goa em 1556, encontrou no governoDomFranciscoBarreto, para quem compôs o ut o d © Fil od © mo, o que sugere queBarreto lhe fosse favorável. Os primeiros biógrafos, contudo, divergem sobre as relações de Camões com o governante. Na mesma época teria surgido a público umasátiraanónima criticando a imoralidade e a corrupção reinantes, que foi atribuída a Camões. Sendo as sátiras condenadas pelasO d ©

© s

a u © li as , terá sido preso por isso.Mas colocou-se a hipótese de a prisão ter ocorrido graças a dívidascontraídas. É possível que permanecesse na prisão até 1561, ou antes disso tenha sido novamente condenado, pois,assumindo o governoDom Francisco Coutinho, foi por ele liberto, empregado e protegido. Deve ter sido nomeado para a

função de Provedor-mor dos Defuntos e Ausentes paraMacauem 1562, desempenhando-ad ©

fa t o de 1563 até 1564 ou1565. Nesta época,Macau era um entreposto comercial ainda em formação, sendo um lugar quase deserto.[16][17]Diz atradição que ali teria escrito parte d'Os Lusíadas numa gruta, que mais tarde recebeu o seu nome.[15]

Na viagem de volta a Goa, naufragou, conforme diz a tradição, junto à foz dorio Mekong, salvando-se apenas ele e omanuscrito d'Os Lusíadas , evento que lhe inspirou as célebresredondilhas Sobre o s r io s qu e ão , consideradas por AntónioSérgio a coluna vertebral da lírica camoniana, sendo reiteradamente citadas na literatura crítica. O trauma do naufrágio,conforme disse Leal deMatos, repercutiu mais profundamente numa redefinição do projeto d'Os Lusíadas , sendo perceptívela partir do Canto VII, sendo acusada já por Diogo do Couto, seu amigo, que em parte acompanhou a escrita. Provavelmente oseu resgate demorou meses a ocorrer, e não há registo de como isso ocorreu, mas foi levado aMalaca, onde recebeu novaordem de prisão por apropriação indébita dos bens dos defuntos a ele confiados. Não se sabe a data exata de seu retorno aGoa, onde pode ter continuado preso ainda algum tempo. Couto refere que no naufrágio morreuDinamene, uma donzelachinesa pela qual Camões se terá apaixonado, mas Ribeiro e outros afirmam que a história deve ser rejeitada.[18] O vice-reiseguinte,Dom Antão de Noronha, era um amigo de longa data de Camões, tendo-o encontrado emMarrocos. Certos biógrafos afirmam que lhe foi prometido um posto oficial nafeitoriade Chaul, mas não chegou a tomar posse.Severim deFariadisse que os anos finais passados em Goa foram entretidos com a poesia e com as atividades militares, onde sempredemonstrou bravura, prontidão e lealdade à Coroa.[19]

É difícil determinar como terá sido o seu quotidiano no Oriente, além do que se pode extrapolar a partir de sua condição demilitar. Parece certo que viveu sempre modestamente e pode ter compartilhado casa com amigos," uma d e ssas repúb li asem qu e er a o stum e ass ocia re m-se o s re i óis" , como citou Ramalho. Alguns desses amigos devem ter possuído cultura eassim a companhia ilustrada não devia estar ausente naquelas paragens. Ribeiro, Saraiva eMoura admitem que ele pode ter encontrado, entre outras figuras, comFernãoMendes Pinto, Fernão Vaz Dourado, Fernão Álvares do Oriente, Garcia de Orta e o já citado Diogo do Couto, criando-se oportunidades de debates literários e assuntos afins. Pode ter frequentado também preleções em algum dos colégios ou estabelecimentos religiosos de Goa.[20] Ribeiro acrescenta que

"Esta r a pa iada qu e i ia em Goa l onge da P t r ia e da família no int erval o das cam panh as con t r a o Turco (qu e ocorr iam no verão) e muit o s com pouco qu e fa er ( no inverno), pa r a além das pre l eç

e s a cima m enc ion adas e das

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l eitu r as com pulsi vas (das quais muit o d o s cl ssico s: O vídio, H orác io, ! irg ílio), das mul here s e g uita rr adas , conv ivend o ent re si i nd epen d ent ement e das dif eren ças s ociais , d evia re inar, diver tir -se qua nt o bast e, me smo qua nd o fa" ia poe sia , sobre tud o sá tir as , com f or t e e neg ati vo im pact o social na é poca , suscep tí vel d e pena d e pr isão (Or d enaç # e s

$

anuelinas , Títul o LXXIX ), e por isso com o piqu e da a ventur a e d o r isco. Exem pl o diss o é a Sátira doTorneio , uma " ombar ia a qu e se re f ere Fa r ia e Sousa e qu e, a o con t rár io da Os Disbarates da Índia , não t emo sno tí cia d e uma con t e staç ão er udita da aut or ia cam on ia na e que pod e e sta r na or i gem d e uma das pr is # e s d o no sso vat e." [ % 1]

É possível ainda que em tais reuniões, onde compareciam homens ao mesmo tempo de armas e de letras, e que buscavam,além do sucesso militar e a fortuna material, também a fama e a glória nascidas da cultura, como era uma das grandes

aspirações doHumanismodo seu tempo, estivesse presente a ideia de umaacademia, reproduzindo no Oriente, dentro daslimitações do contexto local, o modelo das academiasrenascentistascomo a fundada emFlorençapor Marsilio Ficinoe seucírculo, onde eram cultivados os ideaisneoplatónicos.[22]

Regresso a Portugal

A convite, ou aproveitando a oportunidade de vencer parte da distância que o separava da pátria, não se sabe ao certo, emdezembro de 1567 Camões embarcou na nau de PedroBarreto paraSofala, na ilha deMoçambique, onde este havia sidodesignado governador, e lá esperaria por um transporte para Lisboa em data futura. Os primeiros biógrafos dizem que PedroBarreto era traiçoeiro, fazendo promessas vãs a Camões, de tal modo que, passados dois anos, Diogo do Couto o encontrouem precária condição,[23][24]conforme se lê no registo que deixou:

"Em&

oçam biqu e a cham o s aqu el e P r í nci pe d o s P oetas d e seu t em po, meu matal ot e e ami go Luís d e Cam'

e s , t ão pobre que comia d e ami go s , e, par a s e emba rca r pa r a o re ino, l he aju ntam o s t oda a ro u pa qu e houve mist er, e não falt ou qu em l he d e sse d e comer. E aqu el e inverno qu e e st eve em

&

oçam biqu e, aca band o d e a per f eiçoa r as suas Lusíadas pa r a as im pr imir, f oi e screven d o muit o em um li vro, que intitula va Pa rn as o d e Luís d e Cam

'

e s , livro d e muita er udiç ão, d out r ina e fil o so fia , o qual l he junta r am ( rouba r am ). E nunca pud e sa ber, no re ino d el e, por muit o qu e inqui r i. E f oi fur t o no t áve l .[25][26]

Ao tentar seguir de volta com Couto foi embargado em duzentos cruzados por Barreto, por conta dos gastos que tivera com o poeta. Os seus amigos, porém, reuniram a quantia e Camões foi liberado, chegando aCascaisa bordo da nauS anta Cla r a em7 de abril de 1570.[23][24]

Depois de tantas peripécias, finalizouOs Lusíadas , tendo-os apresentado em récita para o reiDom Sebastião. O rei, ainda umadolescente, determinou que o trabalho fosse publicado em 1572, concedendo também uma pequena pensão a"Luís d e Cam

'

e s , ca val eiro fidal go d e minh a Casa" , em paga pelos serviços prestados na Índia. O valor desta pensão não excedeu osquinze mil réis anuais, o que se não era grande coisa, também não era tão pouca como se tem sugerido, considerando que adamas de honra do Paço recebiam cerca de dez mil réis. Para um soldado veterano, a soma deve ter sido consideradasuficiente e honrosa na época.Mas a pensão só deveria se manter por três anos, e embora a outorga fosse renovável, pareceque foi paga de forma irregular, fazendo com que o poeta passasse por dificuldades materiais.[27][28]

Túmulo do poeta noMosteiro dos Jerónimos.

Viveu seus anos finais num quarto de uma casa próxima da Igreja de Santa Ana, num estado, segundo narra a tradição, damais indigna pobreza,"sem um t r a po par a s e cobr ir " . Le Gentil considerou essa visão um exagero romântico, pois ainda podia manter o escravoJau, que trouxera do oriente, e documentos oficiais atestam que dispunha de alguns meios de vida.Depois de ver-se amargurado pela derrota portuguesa naBatalha de Alcácer-Quibir , onde desapareceu Dom Sebastião,levando Portugal a perder sua independência paraEspanha, adoeceu, segundo Le Gentil, de peste. Foi transportado para ohospital, e faleceu em 19 de junho de 1580, sendo enterrado, segundoFaria e Sousa, numa campa rasa na Igreja de SantaAna, ou no cemitério dos pobres do mesmo hospital, segundoTeófiloBraga.[29][30]A sua mãe, tendo-lhe sobrevivido, passoua receber a sua pensão em herança. Os recibos, encontrados naTorre do Tombo, documentam a data da morte do poeta,[4] embora tenha sido preservado umepitáfioescrito por Dom Gonçalo Coutinho, onde consta, erroneamente, como tendofalecido em 1579.[31] Depois doterramoto de 1755, que destruiu a maior parte de Lisboa, foram feitas tentativas para se

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reencontrar os despojos de Camões, todas frustradas. A ossada que foi depositada em 1880 numa tumba noMosteiro dosJerónimosé, com toda a probabilidade, de outra pessoa.[32]

Aparência, caráter, amores e iconografia

Os testemunhos dos seus contemporâneos descrevem-no como um homem de porte mediano, com um cabelo loiro arruivadcego do olho direito, hábil em todos os exercícios físicos e com uma disposição temperamental, custando-lhe pouco engajase em brigas. Diz-se que tinha grande valor como soldado, exibindo coragem, combatividade, senso de honra e vontade deservir, bom companheiro nas horas de folga, liberal, alegre e espirituoso quando os golpes da fortuna não lhe abatiam oespírito e entristeciam. Tinha consciência do seu mérito como homem, como soldado e como poeta.[33]

Todos os esforços feitos no sentido de se descobrir a identidade definitiva da suamusaforam vãos e várias propostascontraditórias foram apresentadas sobre supostas mulheres presentes na sua vida. O próprio Camões sugeriu, num dos seus poemas, que houve várias musas a inspirá-lo, ao dizer " em vár ias flamas va r iam ent e a r dia" .[34] Nomes de damas supostascomo suas amadas só constam primitivamente nos seus poemas, e podem pois ser figuras ideais; nenhuma menção aquaisquer damas identificáveis pelo nome é dada nas primeiras biografias do poeta, as dePedro deMarize a de Severim deFaria, que apenas recolheram boatos sobre"un s am ore s no Paç o da Rai nh a" . A citação de Catarina de Ataíde só surgiu naedição das Rimas de Faria e Sousa, em meados do século XVII, e a da Infanta, na de JoséMaria Rodrigues, que só foi publicada no início do século XX. A decantadaDinamenetambém parece ser uma imagem poética antes do que uma pessoareal.[35] Ribeiro propôs várias alternativas para explicá-la: o nome talvez fosse um criptónimo de Dona JoanaMeneses (D.I.na= D.Ioana +Mene), um de seus possíveis amores, que morrera a caminho das Índias e fora sepultada no mar, filha deViolante,condessa de Linhares, a quem também teria amado ainda em Portugal, e apontou a ocorrência do nomeDinamene em poemas escritos provavelmente em torno da chegada à Índia, antes de ter passado à China, onde se diz que teriaencontrado a moça. Também referiu a opinião de pesquisadores que alegam a menção de Couto, a única referência primitivà chinesa fora da própria obra camoniana, ter sido falsificada, sendo introduzidaa po st er ior i, com a possibilidade de que setrate ainda de um erro de ortografia, uma corruptela de"dignamente". Na versão final do manuscrito de Couto, o nome nemteria sido citado, ainda que a comprovação seja difícil com o desaparecimento do manuscrito.[18]

O retrato pintado em Goa, 1581.

Cédula de mil escudos deAngola, com a efígie de Camões.

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Provavelmente executado entre 1573e 1575, o chamado "retrato pintado a vermelho",ilustrado na aber tura do ar tigo, éconsiderado por Vasco Graça Mouracomo" o único e precio so d ocumento fid ed igno d e que d i s pomo s par a conhecer as

fei ( õe s d o é pico, retr at ad o emvida por um pintor profi ssional " [36]. O que se conhece desse retrato é uma cópia, feita a pedidodo 3ºduque de Lafões, executada por Luís José Pereira deR esende entre 1819 e 1844, a par tir do or iginal que foi encontradonum saco de seda verde nos escombros doincêndio do palácio dosCondes da Er iceira, Marqueses de Lour içal, e queentretanto desapareceu. É uma" fid elí ssima c ) pia" que,

" pel as d imen sõe s re strit as d o d e senho, a te xt ur a da sang uínea , cri and o manch as d e d i strib ui ( ão d o s valore s , o rigor d o s contorno s e a d efini ( ão d o s pl ano s contr ast ad o s , o neutro retic ul ad o que har moniza o f und o e f a z re ssalt ar o busto d o retr at ad o, o tipo da barr a envolvente no s limite s da qual corre embai xo a e scl arece d or aassinat ur a , enfim , o a par ato simb ) lico da ima gem , ca pt ada em po se d e il ustr ação gráfic a d e livro, se d evia d e stinar

à abert ur a d e uma gr avur a a buril sobre cha pa cú pric a , par a il ustr ação d e uma das pri meir as ed içõe s d e Os Lusí adas" . [37]

Sobreviveutambém uma miniatura pintada na Índia em 1581, por encomenda deFernão Teles de Menesese oferecida aovice-rei Dom Luís de Ataíde, que, segundotestemunhos de época, era muito semelhante à sua aparência.[33] Outro retrato foi encontrado nos anos 1970 por Mar ia Antonieta de Azevedo, datado de 1556 e mostrando o poeta na pr isão.[38] A pr imeiramedalha com suaef ígie apareceu em 1782, mandada cunhar pelo Barão de Dillon na Inglaterra, ondeCamões f igura coroadode louros e vestido em cota de armas, com ainscr ição " Apollo P ort u g uez / H onr a d e H e s panha / Nasceo 1524 / Morreo 1579 " . Em 1793, uma reprodução desta medalha foi cunhada em Por tugal, por ordem de Tomás José de Aquino,Bi bliotecár io daR eal MesaCensór ia.[39]

Aolongo dos séculos a imagem deCamões foi representadainúmeras vezes emgravura, pinturae escultura, por ar tistas por tugueses e estrangeiros, e vár ios monumentos foram erguidos em sua honra,[40] destacando-se o grandeMonumento aCamões instalado em 1867 naPraça Luís deCamões, em Lisboa, de autor ia deVictor Bastos, e que é o centro de cer imónias

públicas of iciais e manifestações populares.[41][42]

Também foi homenageado em composições musicais, apareceu com suaef ígie em medalhas,[40] cédulas monetár ias,[43] selos[44] e moedas,[45] e como personagemem romances, poesias e peçasteatrais.[46] O f ilme C amõe s, realizado por José Leitão de Barros, foi a pr imeira película por tuguesa a par tici par doFestival deCannes, em 1946.[47] Entre os ar tistas célebres que otomaram como modelo para suas obras se contam Bordalo Pinheiro,[48] José Simões de Almeida,[49] Francisco Augusto Metrass, António Soares dosR eis, Horace Vernet, José Malhoa, VieiraPor tuense,[40] Domingos Sequeira[50] e Lagoa Henr iques.[51] Uma cratera no planeta Mercúr io e umasteróide da cintura pr inci pal receberam o seu nome.[52][53]

Obra

Contexto

Camões viveu na fase f inal do R enascimento europeu, um per íodo marcado por muitas mudanças na cultura e sociedade, queassinalam o f inal da Idade Média e o início daIdade Modernae a transição dofeudalismopara ocapitalismo. Chamou-se"renascimento" em vir tude da redescober ta e revalor ização das referências culturais da AntiguidadeClássica, que nor tearamas mudanças deste per íodo em direção a umideal humanista e naturalista que af irmava a dignidade do homem, colocando-ono centro do universo,tornando-o oinvestigador por excelência da natureza, e pr ivilegiando arazãoe a ciência como árbitrosda vida manifesta.[54][55][56]Nesse per íodo foraminventados diversosinstrumentos científ icos e foram descober tas diversasleis naturais e entidades f ísicas antes desconhecidas; o própr io conhecimento da face do planeta modif icou-se depois dosdescobr imentos dasgrandes navegações. O espír ito de especulaçãointelectual e pesquisa científ ica estava em alta, fazendocom que aFísica, a Matemática, a Medicina, a Astronomia, a Filosof ia, a Engenhar ia, a Filologia e vár ios outros ramos dosaber atingissem um nível de complexidade, ef iciência e exatidão sem precedentes, o quelevou a uma conceção otimista dahistór ia dahumanidadecomo uma expansão contínua e sempre para melhor.[57][55]De cer ta forma, aR enascença foi umatentativa or iginal e eclética de harmonização do Neoplatonismo pagãocom areligião cr istã, doero s com acharit as, juntocominf luências or ientais, judaicas e árabes, e onde o estudo damagia, da astrologia e doocultismonão estavam ausentes.[58] Foi também a época em que se começaram a cr iar for tes Estados nacionais, o comércio e as cidades se expandiram e a burguesia se tornou uma força de grandeimpor tância social e económica, contrastando com o relativo declínio dainf luênciada religião nos assuntos do mundo.[59]

No século XVI, época em queCamões viveu, ainf luência doR enascimento italiano expandiu-se por toda a Europa. Porém,vár ias das suas caracter ísticas mais tí picas estavam a entrar em declínio, em par ticular por causa de uma sér ie de disputas políticas e guerras que alteraram o mapa político europeu, perdendo aItália o seulugar como potência, e da cisão doCatolicismo, com o surgimento daR eforma Protestante. Na reação católica, lançou-se aContra-R eforma, reativou-se aInquisiçãoe reacendeu-se acensuraeclesiástica. Ao mesmotempo, as doutr inas deMaquiavel se tornavamlargamentedifundidas, dissociando aética da prática do poder. O resultado foi a reaf irmação do poder da religião sobre o mundo profanoe a formação de uma atmosfera espir itual, política, social e intelectual agitada, com for tes doses de pessimismo, repercutind odesfavoravelmente sobre a antiga li berdade de que gozavam os ar tistas. Apesar disso, as aquisiçõesintelectuais e ar tísticas daAlta R enascença que ainda estavam frescas e resplandeciam diante dos olhos não poder iam ser esquecidas de pronto, mesmoque o seu substrato f ilosóf ico já não pudesse permanecer válido diante dos novos factos políticos, religiosos e sociais. A novaar te que se fez, ainda queinspirada na fonte do classicismo,traduziu-o em formasinquietas, ansiosas, distorcidas,

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ambivalentes, apegadas a preciosismosintelectualistas, caracter ísticas que ref letiam os dilemas do século e def inem oestilo geral dessa fase comomaneir ista.[60][61]

Desde meados do século XV que Por tugal se af irmara como uma grande potência naval e comercial, desenvolviam-se as suasar tes e fervia o entusiasmo pelas conquistas mar ítimas. O reinado deDom João IIfoi marcado pela formação de umsentimento de orgulho nacional, e notempo deDom Manuel I, como dizem Spina & Bechara, o orgulho havia cedido aodelír io, à pura eufor ia da dominação do mundo. Noinício do século XVIGarcia deR esende lamentava-se de que nãohouvesse quem pudesse celebrar dignamente tantas façanhas, af irmando que havia mater ial épico super ior ao dosromanosetroianos. Preenchendo esta lacuna,João de Barrosescreveu a suanovela de cavalar ia, A Cr 0 nica d o Im per ad or Cl arimund o (1520), em formato de épico. Pouco depois apareceuAntónio Ferreira, instalando-se como mentor da geração classicista e

desaf iando os seus contemporâneos a cantarem as glór ias de Por tugal em alto estilo. QuandoCamões surgiu, o terreno estava preparado para a apoteose da pátr ia, uma pátr ia que havia lutado encarniçadamente para conquistar a sua soberania, pr imeirodosmourose depois deCastela, havia desenvolvido um espír ito aventureiro que alevara pelos oceanos afora, expandindo asfronteiras conhecidas do mundo e abr indo novas rotas de comércio e exploração, vencendo exércitos inimigos e as forçashostis da natureza.[62] Mas nesta altura, porém, a cr ise política e cultural já se anunciava, mater ializando-selogo após a suamor te, quando o país perdeu a sua soberania paraEspanha.[63]

V i 1 2 o gera l

Andr ies Pauwels: Busto deCamões, século XVII.

A produção deCamões divide-se emtrês géneros: o lír ico, o épico e oteatral. A sua obralír ica foi desdelogo apreciadacomo uma alta conquista. Demonstrou o seu vir tuosismo especialmente nas canções eelegias, mas as suasredondilhasnãolhes f icam atrás. De facto, foi um mestre nesta forma, dando uma nova vida à ar te da glosa, instilando nela espontaneidade esimplicidade, uma delicadaironia e um fraseado vivaz, levando a poesia cor tesã ao seu nível mais elevado, e mostrando quetambém sabia expressar com perfeição a alegr ia e a descontração. A sua produção épica está sintetizada n'Os Lusí adas, umaalentada glor if icação dos feitos por tugueses, não apenas das suas vitór ias militares, mastambém a conquista sobre oselementos e o espaço f ísico, com recorrente uso de alegor ias clássicas. Aideia de um épico nacional existia no seio por tuguêsdesde o século XV, quando seiniciaram as navegações, mas coube aCamões, no século seguinte, mater ializá-la. Nas suasobras dramáticas procurou fundir elementos nacionalistas e clássicos.[34]

Provavelmente setivesse permanecido em Por tugal, como um poeta cor tesão, jamais ter ia atingido a maestr ia da sua ar te. Asexper iências que acumulou como soldado e navegador enr iqueceram sobremaneira a sua visão de mundo e excitaram o seutalento. Através delas conseguiu livrar-se daslimitações formais da poesia cor tesã e as dif iculdades por que passou, a profunda angústia do exílio, a saudade da pátr ia, impregnaramindelevelmente o seu espír ito e comunicaram-se à sua obra, edali inf luenciaram de maneira marcante as gerações seguintes de escr itores por tugueses. Os seus melhores poemas br ilhamexatamente pelo que há de genuíno no sofr imento expresso e na honestidade dessa expressão e este é um dos motivos pr inci pais que colocam a sua poesia em um patamar tão alto.[34]

As suas fontes foraminúmeras. Dominava olatim e o espanhol, e demonstrou possuir um sólido conhecimento damitologiagreco-romana, da histór ia antiga e moderna da Europa e dos cronistas por tugueses, e daliteratura clássica, destacando-seautores comoOvídio, Xenofonte, Lucano, Valér io Flaco, Horácio, mas especialmente Homeroe Virgílio, de quemtomouvár ios elementos estruturais e estilísticos de empréstimo e às vezes até trechos emtranscr ição quaseliteral. De acordo com as

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citações que fez,também pareceter tido um bom conhecimento de obras dePtolomeu, Diógenes Laércio,Plínio, o Velho,Estrabãoe Pompónio, entre outros histor iadores e cientistas antigos. Entre os modernos, estava a par da produçãoitaliana deFrancesco Petrarca, Ludovico Ar iosto, Torquato Tasso, Giovanni Boccaccio e Jacopo Sannazaro, e daliteraturacastelhana.[64][65]

Para aqueles que consideram oR enascimento um per íodo histór ico homogéneo,informado pelos ideais clássicos e que seestende até o f im do século XVI,Camões é pura e simplesmente um renascentista, mas de modo geral reconhece-se que oséculo XVI foi amplamente dominado por uma der ivação estilística chamadaManeir ismo, que em vár ios pontos é umaescola anticlássica e de vár ias formas pref igura oBarroco. Assim, para vár ios autores, é mais adequado descrever o estilocamoniano como maneir ista, distinguindo-o do classicismo renascentista tí pico. Isso se justif ica pela presença de vár ios

recursos delinguagem e de uma abordagem dos seustemas que não estão concordes às doutr inas de equilí br io, economia,tranquilidade, harmonia, unidade einvar iável idealismo que são os eixos fundamentais do classicismo renascentista. Camões,depois de uma faseinicial ti picamente clássica, transitou por outros caminhos e ainquietude e o drama setornaram seuscompanheiros. Por todoOs Lusí adas são visíveis os sinais de uma cr ise política e espir itual, permanece no ar a perspectivado declínio doimpér io e do caráter dos por tugueses, censurados por maus costumes e pela falta de apreço pelas ar tes,alternando-se atrechos em que faz a sua apologia entusiasmada. Também sãotí picos do Maneir ismo, e setornar iam aindamais do Barroco, o gosto pelo contraste, pelo arroubo emocional, pelo conf lito, pelo paradoxo, pela propaganda religiosa, pelo uso def iguras delinguagemcomplexas e preciosismos, até pelo grotesco e pelo monstruoso, muitos deles traçoscomuns na obra camoniana.[63][66][67][61]

O caráter maneir ista da sua obra é assinalado também pelas ambiguidades geradas pela ruptura com o passado e pelaconcomitante adesão a ele, manifesta a pr imeira na visualização de uma nova era e no emprego de novas fórmulas poéticasor iundas de Itália, e a segunda, no uso de arcaísmostí picos daIdade Média. Aolado do uso de modelos formaisrenascentistas e classicistas, cultivou os géneros medievais do vilancete, da cantiga e datrova. Para Joaquim dos Santos, o

caráter contraditór io da sua poesia encontra-se no contraste entre duas premissas opostas: o idealismo e a exper iência prática.Con jugou valorestí picos doracionalismohumanista com outros der ivados dacavalar ia, dascruzadase dofeudalismo,alinhou a constante propaganda da fé católica com a mitologia antiga, responsável no plano estético por toda a ação quemater ializa a realização f inal e descar tou a aurea med iocrit as cara aos clássicos para advogar a pr imazia do exercício dasarmas e da conquista glor iosa.[68]