MAIO 2016

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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MAIO/2016 - ANO XIX - N o 232 O ESTAFETA Reprodução O Brasil vive uma crise considerada a maior da história. Por trás dela encontra-se um desgastado modelo político facilitador de desvios e de toda sorte de corrupção. Se no passado a política era exercida por cidadãos idôneos, competentes, com reco- nhecida capacidade administrativa e alto espírito público, hoje imperam entre a clas- se política o fisiologismo e as barganhas por cargos e salários. Há muito que parcela significativa de nossos representantes dei- xou de trabalhar pelo bem comum. Uma vez eleitos, empenham-se em se perpetuar no cargo aliando-se a pessoas comprova- damente inescrupulosas no uso dos recur- sos públicos, aspirantes ao poder a qual- quer preço. Nesse vale-tudo, o país assis- tiu, nos últimos anos, a uma sucessão de escândalos de corrupção e de denúncias de malfeitos que levaram à atual crise, que con- juga aspectos políticos, éticos e econômi- cos. Não encontramos em nossa história recente um só momento com características tão marcantes quanto o atual. Todos os dias somos surpreendidos com novos fatos que evidenciam a amplitude da corrupção no seio do poder público. São valores estratosféricos de recursos desvia- dos por meio de contratos superfaturados com grandes empresas envolvendo políti- cos de todos os níveis e pertencentes a um grande número de partidos. O cenário eco- nômico se deteriorou levando a um proces- so de inflação de difícil controle, recessão com forte queda do produto interno bruto e desemprego para parcelas significativas da população. O governo federal está paralisa- do enquanto os brasileiros sofrem as consequências da crise. A população de baixa renda, justamente a mais vulnerável, é a mais penalizada – os recursos desviados dos cofres públicos, se aplicados nas áreas sociais, teriam contribuído para a redução do sofrimento de milhões de brasileiros. O Brasil sempre foi um país com grande desigualdade social, que vinha gradati- vamente se reduzindo após a estabilidade política e econômica conseguida no fim do século passado. Estas conquistas, caracte- rizadas por acesso à saúde, educação, mo- radia, saneamento básico etc., ainda que longe do ideal, estão se perdendo rapida- mente, fruto da crise de agora. O afastamento da Presidente da Repú- blica no último dia 12 de maio poderia ser sinal de bons ventos, como esperado pela população. No entanto, assistindo à pos- se do novo Presidente, vemos que, na fo- tografia oficial, os personagens são todos conhecidos – até há pouco tempo estive- ram no poder ou bem próximo a ele. Essa velhas raposas políticas, muitas delas investigadas pela justiça, oportunistas como sempre foram, deverão ser vigiadas de perto pela sociedade, que deverá conti- nuar mobilizada e cobrar que, o mais rapi- damente possível, se façam as tão impor- tantes reformas, entre elas a política, para que o país saia desse atoleiro em que se encontra. Diante deste cenário, é bom res- saltar que os brasileiros aprovam a Opera- ção Lava Jato, acreditam na justiça e repu- diam a pratica da corrupção em toda e qual- quer instância de poder, confiam nas insti- tuições e condenam qualquer tentativa de obstrução das investigações em curso. Pelo respeito ao dinheiro público Os brasileiros há muito deixaram de acreditar em seus representantes no Congresso Nacional. Para muitos, são todos iguais: perderam o senso de pa- triotismo, legislam em causa própria e dão as costas para o país. Atribui-se ao desgastado modelo político a atual situação do país. O governante, seja ele quem for, fica re- fém do sistema e precisa se sujeitar a todo tipo de aliança para aprovar al- gum projeto de interesse nacional e, em nome da governabilidade, faz acordos dos mais escusos. É constrangedor acompanhar uma sessão do parlamento brasileiro. No úl- timo dia 17 de março, quando da vota- ção da continuidade do processo de impeachment da presidente da Repúbli- ca, o país assistiu a um deprimente es- petáculo, cujos atores atuaram de ma- neira constrangedora exibindo uma teatralidade de causar pena. A repercus- são negativa de nosso Congresso e o trabalho do parlamentar levam-nos a questionar sua importância. Se para um cidadão comum ocupar qualquer cargo de relevância é exigida qualificação, por que, então, o Congresso é ocupado por tantos despreparados? No exterior, essa imagem negativa dos parlamentares brasileiros tem sido motivo de chacota. Recentemente, o New York Times retratou a realidade de nosso Congresso comparando-o a um circo que tem em seu elenco suspeitos de homicídio e de tráfego de drogas, ex- jogador de futebol, astro sertanejo, cam- peão de judô que se aproveitam da po- pularidade para se eleger. Sabe-se que mais da metade dos membros do Con- gresso enfrenta processos na justiça. Segundo a ONG Transparência Brasil, que monitora a corrupção, há casos en- volvendo auditoria de contratos públi- cos e até sequestro e homicídio. Dentre as figuras sob investigação, estão o pre- sidente do Senado, o novo presidente da Câmara e o que foi afastado sob acu- sação de esconder uma fortuna em pro- pinas na Suíça, entre outras. Com 28 partidos ocupando cadeiras, o Congresso brasileiro é o mais dividi- do do mundo. Pesquisas mostram que a maioria dos brasileiros não se recorda de que partido é o candidato em que votou. Especialistas dizem que a maio- ria dos partidos não abraça nenhuma ideologia ou agenda, mas são simples- mente veículos para clientelismo e pro- pina. Para reverter essa situação, somen- te uma profunda reforma política que só ocorrerá se houver pressão da socieda- de. É preciso passar o país a limpo e o momento é propício! Os brasileiros acreditam no Congresso Nacional, pois a instituição é superior aos seus membros. É pelo Congresso que passam, necessariamente, as soluções democráticas para os problemas do Brasil.

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Edição 232, de Maio de 2016, do informativo O ESTAFETA, órgão da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MAIO/2016 - ANO XIX - No 232

O ESTAFETAReprodução

O Brasil vive uma crise considerada amaior da história. Por trás dela encontra-seum desgastado modelo político facilitadorde desvios e de toda sorte de corrupção.

Se no passado a política era exercida porcidadãos idôneos, competentes, com reco-nhecida capacidade administrativa e altoespírito público, hoje imperam entre a clas-se política o fisiologismo e as barganhaspor cargos e salários. Há muito que parcelasignificativa de nossos representantes dei-xou de trabalhar pelo bem comum. Uma vezeleitos, empenham-se em se perpetuar nocargo aliando-se a pessoas comprova-damente inescrupulosas no uso dos recur-sos públicos, aspirantes ao poder a qual-quer preço. Nesse vale-tudo, o país assis-tiu, nos últimos anos, a uma sucessão deescândalos de corrupção e de denúncias demalfeitos que levaram à atual crise, que con-juga aspectos políticos, éticos e econômi-cos. Não encontramos em nossa históriarecente um só momento com característicastão marcantes quanto o atual.

Todos os dias somos surpreendidos comnovos fatos que evidenciam a amplitude dacorrupção no seio do poder público. Sãovalores estratosféricos de recursos desvia-dos por meio de contratos superfaturadoscom grandes empresas envolvendo políti-cos de todos os níveis e pertencentes a umgrande número de partidos. O cenário eco-nômico se deteriorou levando a um proces-so de inflação de difícil controle, recessãocom forte queda do produto interno bruto edesemprego para parcelas significativas dapopulação. O governo federal está paralisa-do enquanto os brasileiros sofrem as

consequências da crise. A população debaixa renda, justamente a mais vulnerável, éa mais penalizada – os recursos desviadosdos cofres públicos, se aplicados nas áreassociais, teriam contribuído para a reduçãodo sofrimento de milhões de brasileiros.

O Brasil sempre foi um país com grandedesigualdade social, que vinha gradati-vamente se reduzindo após a estabilidadepolítica e econômica conseguida no fim doséculo passado. Estas conquistas, caracte-rizadas por acesso à saúde, educação, mo-radia, saneamento básico etc., ainda quelonge do ideal, estão se perdendo rapida-mente, fruto da crise de agora.

O afastamento da Presidente da Repú-blica no último dia 12 de maio poderia sersinal de bons ventos, como esperado pelapopulação. No entanto, assistindo à pos-se do novo Presidente, vemos que, na fo-tografia oficial, os personagens são todosconhecidos – até há pouco tempo estive-ram no poder ou bem próximo a ele. Essavelhas raposas políticas, muitas delasinvestigadas pela justiça, oportunistascomo sempre foram, deverão ser vigiadasde perto pela sociedade, que deverá conti-nuar mobilizada e cobrar que, o mais rapi-damente possível, se façam as tão impor-tantes reformas, entre elas a política, paraque o país saia desse atoleiro em que seencontra. Diante deste cenário, é bom res-saltar que os brasileiros aprovam a Opera-ção Lava Jato, acreditam na justiça e repu-diam a pratica da corrupção em toda e qual-quer instância de poder, confiam nas insti-tuições e condenam qualquer tentativa deobstrução das investigações em curso.

Pelo respeito ao dinheiro público

Os brasileiros há muito deixaram deacreditar em seus representantes noCongresso Nacional. Para muitos, sãotodos iguais: perderam o senso de pa-triotismo, legislam em causa própria edão as costas para o país.

Atribui-se ao desgastado modelopolítico a atual situação do país. Ogovernante, seja ele quem for, fica re-fém do sistema e precisa se sujeitar atodo tipo de aliança para aprovar al-gum projeto de interesse nacional e, emnome da governabilidade, faz acordosdos mais escusos.

É constrangedor acompanhar umasessão do parlamento brasileiro. No úl-timo dia 17 de março, quando da vota-ção da continuidade do processo deimpeachment da presidente da Repúbli-ca, o país assistiu a um deprimente es-petáculo, cujos atores atuaram de ma-neira constrangedora exibindo umateatralidade de causar pena. A repercus-são negativa de nosso Congresso e otrabalho do parlamentar levam-nos aquestionar sua importância. Se para umcidadão comum ocupar qualquer cargode relevância é exigida qualificação, porque, então, o Congresso é ocupado portantos despreparados?

No exterior, essa imagem negativados parlamentares brasileiros tem sidomotivo de chacota. Recentemente, oNew York Times retratou a realidade denosso Congresso comparando-o a umcirco que tem em seu elenco suspeitosde homicídio e de tráfego de drogas, ex-jogador de futebol, astro sertanejo, cam-peão de judô que se aproveitam da po-pularidade para se eleger. Sabe-se quemais da metade dos membros do Con-gresso enfrenta processos na justiça.Segundo a ONG Transparência Brasil,que monitora a corrupção, há casos en-volvendo auditoria de contratos públi-cos e até sequestro e homicídio. Dentreas figuras sob investigação, estão o pre-sidente do Senado, o novo presidenteda Câmara e o que foi afastado sob acu-sação de esconder uma fortuna em pro-pinas na Suíça, entre outras.

Com 28 partidos ocupando cadeiras,o Congresso brasileiro é o mais dividi-do do mundo. Pesquisas mostram que amaioria dos brasileiros não se recordade que partido é o candidato em quevotou. Especialistas dizem que a maio-ria dos partidos não abraça nenhumaideologia ou agenda, mas são simples-mente veículos para clientelismo e pro-pina. Para reverter essa situação, somen-te uma profunda reforma política que sóocorrerá se houver pressão da socieda-de. É preciso passar o país a limpo e omomento é propício!

Os brasileiros acreditam no Congresso Nacional, pois a instituição é superior aos seus membros. Épelo Congresso que passam, necessariamente, as soluções democráticas para os problemas do Brasil.

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Página 2 Piquete, maio de 2016

Foto Arquivo Pró-Memória

O ESTAFETA

Imagem - Memória

A coroação de Nossa Senhora no mês de maioTradicionalmente, o mês de maio é, para

os católicos, um mês dedicado à memóriada Virgem Maria, a Mãe de Deus. Neste mês,particularmente, intensificam-se as oraçõesmarianas, sobretudo a reza do terço ou dorosário, encerrando-se o maio com a coroa-ção de Nossa Senhora.

Essa tradição remete-nos aos primeirostempos da Igreja Católica, quando ela pro-curou cristianizar festas pagãs, ou seja, darum sentido cristão a elas.

Na antiga Grécia, o mês de maio era de-dicado à Artemisa, deusa da fecundidade.Algo semelhante ocorreu na antiga Roma,pois maio era dedicado a Flora Mater, deu-sa da vegetação. Os romanos celebravamos jogos florais no fim do mês de abril epediam sua intercessão. Na Idade Médiaabundaram costumes similares, tudo cen-trado na chegada do bom clima e no afas-tamento do inverno. O 1º de maio era con-siderado como o apogeu da primavera nohemisfério norte e celebrado com festas emvários países europeus com flores em pro-fusão. Foi por volta do século XIII que aIgreja passou a associar o mês de maio àfigura de Maria, comemorado pelos devo-tos com festas que eram finalizadas comuma cerimônia de coroação de Nossa Se-nhora. Essa tradição chegou ao Brasil comos colonizadores portugueses e ainda hojeé celebrada por todo o país. No interior,são as pequenas comunidades as guardiãsdessa tradição. Nelas, o mês de Maria évivido de maneira simples, mas de profun-do fervor.

Em Piquete a devoção mariana é antiga.Seus primeiros povoadores, que aqui che-garam em meados do século XVIII, convivi-

am com peregrinos que, provenientes daregião das minas gerais, desciam a Manti-queira dirigindo-se à capela que abrigava aimagem milagrosa da Imaculada ConceiçãoAparecida, recém-encontrada nas águas doParaíba do Sul. Retornavam falando de pro-dígios... Mais tarde, com a chegada dossalesianos a Lorena, a paroquia de SãoMiguel passou a cultuar – com maior fervorno mês de maio – a Imaculada Conceiçãocom o título de Nossa Senhora Auxiliadora.No entanto, os maiores momentos marianosda paróquia de São Miguel aconteceram apartir da década de 1930, após a criação daPia União das Filhas de Maria e da Congre-gação Mariana, cujos membros se empenha-vam em divulgar o culto a Maria. O mês demaio, a partir de então, era esperado comgrande entusiasmo e comemorado de ma-neira festiva. Na Matriz de São Miguel ha-via, todas as noites, reza do terço e ladai-nha, seguidos de procissão em que a ima-gem de Nossa Senhora visitava a residên-cia de um paroquiano, onde pernoitava.

Estas festas marianas ainda são presen-tes na memória de antigos paroquianos, quese recordam de seu ponto alto – a coroaçãode Nossa Senhora. Esta era uma solenidadeque visava a saudar, louvar e honrar a Vir-gem Maria, reconhecendo sua Maternidadedivina e sua Maternidade Espiritual da hu-manidade. A solenidade se revestia de gran-de pompa, respeito e profundo fervor espi-ritual e deixava evidente a devoção da co-munidade eclesial demonstrada pela lotaçãoda igreja matriz e o interesse com que parti-cipavam da cerimônia.

A imagem de Nossa Senhora era coloca-da na parte alta de um altar especialmente

montado para a ocasião. De um lado e deoutro se colocavam degraus de acesso queconvergiam para um pequeno patamar atrásda imagem. O altar e os degraus eram enfei-tados com tecidos, papéis coloridos e flo-res. Crianças vestidas de anjos participa-vam da coroação. Com túnicas nas coresbranca ou azul, com asas confeccionadasde papel crepon, tule ou pena de pássaros,portavam todas uma tiara. Entre elas, umaera escolhida para conduzir a coroa e coroarNossa Senhora. Os demais anjos levavampequenas cestas com pétalas de rosa. A festada coroação, no último dia de maio, iniciavacom uma procissão de entrada, alegre e can-tada, com anjos à frente, seguidos peloscoroinhas e o sacerdote. Os anjos se posta-vam no altar preparado. O sacerdote, acom-panhado pelos coroinhas, se dirigia para oaltar de celebração e fazia o cumprimento depraxe. Em seguida, caminhava até a imagemde Nossa Senhora e a cumprimentava comprofunda reverência. Os anjos, postados,iniciavam a cerimônia da coroação: um decada lado, cantavam quadrinhas de louvora Mãe de Deus agradecendo sua atenção ecarinho. Cantavam dois anjos de cada lado.A seguir, o anjo com a coroa, cantando umaquadrinha de coroação, como prova de amore fidelidade da comunidade paroquial à Mãede Deus, fazia a coroação ao mesmo tempoem que os outros anjos derramavam umachuva de pétalas de rosas sobre Nossa Se-nhora. Ressoavam, então, as sinetas doscoroinhas e toda a comunidade aplaudiaefusivamente. Na missa, durante a homilia ocelebrante homenageava Nossa Senhoradescrevendo para a comunidade uma ima-gem possível da coroação d’Ela no céu.

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O ESTAFETA Página 3Piquete, maio de 2016

Mariazinha BrussoloGENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Professoras do Grupo Escolar Antônio JoãoA Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira Netto

Redação:Rua Professor Luiz de Castro Pinto, 22Tels.: (12) 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Depois de ler tantas reações sobre avida privada de Marcela Temer, o que paramim não interessa, me vi forçada a ler ereler algumas vezes a reportagem da Vejaque gerou tanta polêmica. Fui à busca dadita prescrição e receita de como deve seruma mulher e não encontrei. A reportagem,bobinha por sinal, simplesmente descrevecomo Marcela vive o seu dia a dia, nadamais que isso. A reportagem não dita ummodelo ideal. Mostra apenas que ela viveo seu dia a dia como quer. Eu procuro vi-ver o meu como quero e posso afirmar queo meu padrão em nada se identifica com opadrão feminista, fortemente defendidopelos que abominaram a reportagem. Souum monte de coisas, mas acima de tudo,SOU DO LAR e disso não abro mão. Detodos os papéis sociais que exerço, ne-nhum é mais importante do que ser do lar.Essa é a minha escolha!!!

Defendo a ideia de que homens e mu-lheres, acima de tudo, sejam do lar. Só as-sim, a família, bem precioso, terá em nos-sas vidas o valor que merece. A vida no larexige planejamento, investimento, tempoe dedicação, pois, do contrário, a família“vai à falência”. Então, ser do lar, para mim,é algo nobre.

Obviamente, o título da reportagem foiproposital e conseguiu atrair a atenção demuitas pessoas, ou seja, o objetivojornalístico de atingir um grande públicofoi alcançado. Os esquerdistas, feminis-tas e radicais, por sua vez, não perderam aoportunidade. Caíram matando e, essessim, estão se aproveitando para ditar ummodelo ideal de mulher. Mas eu acreditoque qualquer pessoa sensata não leva asério este tipo de polêmica. Neste momen-to, o país tem coisas mais importantes paraa gente se preocupar.

Cada um vive a sua vida do jeito quejulgar melhor para si mesmo. O lugar deuma mulher e de um homem é onde dese-jam estar. E esse lugar não precisa ser úni-co e exclusivo. Por outro lado, homens emulheres corruptos não devem estar à fren-te de um país!

Laura Chaves

Bela, recatada e do lar!Qual é o problema?

O sorriso constante ressalta ainda maisa beleza dos olhos azuis que transmitem aalegria de viver de Maria Etelvina PonteBrussolo, carinhosamente conhecida emPiquete como Mariazinha Brussolo.

Nascida no Rio de Janeiro a 1º de julhode 1958, Mariazinha é filha biológica deCyrilo José da Ponte e Etelvina Maria daPonte. “Somos 11 irmãos: 9 mulheres e 2homens”, conta. “Foi uma infância difícil,família grande... As dificuldades eram mui-tas...”, relembra. Aos sete anos, foi adotadapelo casal Carlos Mário e Jurema Tabert.

Em janeiro de 1972, Tabert, oficial doExército, foi designado para a direção daFábrica Presidente Vargas. Piquete conhe-ceu, então, a jovem e bela Mariazinha. Ten-do cursado o primário e o colegial ainda noRio de Janeiro, ingressou no Ginásio Indus-trial: “Cursei Eletricidade”, conta, aos risos.Mais tarde, cursaria, ainda, dois anos deEducação Física, em Cruzeiro...

Em 1974 chegava a Piquete um capitãorecém-formado do Instituto Militar de En-genharia, Eduardo Roberto Brussolo. Num15 de março, data máxima da FPV, conhece-ram-se. Já em agosto daquele ano ficariamnoivos e a transferência do general Tabertpara Brasília apressaria o casamento, queaconteceu em 11 de janeiro de 1975. Daunião nasceram três filhos.

Herdou da mãe Jurema o gosto por fes-tas, o prazer de organizar uma mesa e bemreceber, “além de cozinhar – minha mãe ado-rava e me ensinou muitos pratos”. O perfilfesteiro, porém, torna-se secundário quan-do se observam suas atividades sociais: “Asdificuldades da infância e as chances quetive nesta vida me moldaram à pratica dacaridade”, afirma, com um quê de emoção.

Nos mais de 44 anos em Piquete,Mariazinha integrou-se à sociedade local,atuando ativamente em diversas institui-ções. “Foram várias as campanhas que or-ganizei e de que participei: do agasalho,de coleta de cestas básicas, SOS Paróquia...Festas de Natal no Elefante Branco foramvárias...”. Ao citar os trabalhos desenvol-vidos, faz questão de destacar que semprecontou com o apoio do círculo de amiza-des: “As doações vinham não somente dePiquete, mas também de outras cidades. Eupedia pros amigos de toda parte...”, com-pleta, com os olhos brilhantes... Na Vila Mi-

litar, fez parte da “Estação das Artes”, que,por um bom tempo, dinamizou o prédio daEstação Ferroviária Estrela do Norte. Foitambém secretária adjunta da PromoçãoSocial, quando pôde agregar a larga expe-riência com o voluntariado às necessida-des da administração municipal. Atualmen-te, participa da Liga Piquetense de Comba-te ao Câncer.

Na Igreja Católica, além de ter sido coor-denadora de eventos da Paróquia, foi presi-dente da Confraria de São Miguel por dezanos: “A reforma de todo o salão paroquialé um dos belos trabalhos de nosso grupo”.Foi Ministra da Eucaristia, atuou por 28 anosno Cursilho de Mulheres e coordenou, portreze anos, juntamente com o marido, o En-contro de Casais da Diocese de Lorena.

Parte do reconhecimento por esse em-penho em prol da cidade veio com o títulode Cidadã Piquetense, outorgado pela Câ-mara Municipal, Casa na qual foi homena-geada pelos seus trabalhos por ocasião doDia das Mulheres, no ano de 2001.

“Em Piquete assentamos raízes eu, meumarido e nossos filhos. Aqui sinto que façoparte de uma imensa família de amigos”, afir-ma, convicta e feliz. Da família biológica,Mariazinha destaca que mantém contato

com todos os irmãos:“Somos muito próxi-mos...”, completa.

“Fazer a felicidadedos outros é a melhormaneira de ser feliz” –A história de vida deMariazinha Brussolo,uma mulher determina-da, que encontra suarealização pessoal nacaridade, pode sersintetizada por essafrase. Os olhos azuisbrilham mais e maisbelos ficam em fun-ção, não há dúvidas,do amor que tem pelavida, pela família epelo próximo.

Mariazinha com parte dos irmãos

consanguíneos: “Somos muito próximos”

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O ESTAFETA Piquete, maio de 2016Página 4

Este é o título da Exortação do PapaFrancisco para, com a sabedoria que lhe éprópria, lançar um enfoque sobre a ques-tão do amor relativamente às organizaçõesfamiliares. A Alegria do Amor refere-se àspropostas sociais mais candentes em nos-so tempo de mudanças vertiginosas: nos-sa sociedade conturbada por tantas divi-sões, pressupostos, ações e tendências,sempre à busca de caminhos e soluçõespara se evitar o constrangimento dos pre-conceitos, das angústias e dos êxtases doscontrários. Afinal, discutir problemas comoo do divórcio, dos anticoncepcionais ehomossexualismo não é nada fácil para umlíder carismático como é visto o atual Papa.Inclusive para manter ou tentar manter umacoesão entre os membros de seu rebanhoà vista das transformações. Ou seja, paranão perder os fiéis invocando o princípioda tolerância, sobre o qual é fácil comen-tar, mas difícil de praticar.

Munido pela proposta bíblica, Francis-co repudia, como o fez Cristo, os que ape-drejam os considerados praticantes de atosilícitos.

Publicada a 8 de abril e divulgada pelasmídias, a Exortação à Alegria do Amor ne-cessita do respaldo do clero e das pessoasmais afeitas à conservação dos costumestradicionais. Uma leitura rápida do docu-mento pode induzir a generalizaçõesfalseadas os que, não devidamente caute-losos, passarem a apregoar rompimentosdogmáticos imediatos. Até porque o textopapal, apesar do caráter revolucionárioevidenciado pela lucidez corajosa do Pon-

tífice, apela mais para a amorosa tolerânciaentre os iguais pela fé e desiguais pelosatributos imputados.

Um texto dessa natureza provoca rea-ções variadas num amplo leque prismático,desde as interpretações mais contex-tualizadas no presente dinâmico social atéos mais radicais fundamentados em concei-tos solidificados através dos tempos, aindaque os costumes exijam visão mais clara eaberta. Os fundamentalistas estão semprepresos ao conservadorismo radicalizado. E,entre estes, não estão apenas os leigos. Aslinhas eclesiásticas terão leituras para o en-tendimento emanado dos conceitos básicosde caráter doutrinário versus o desafio so-cial no qual se espelham.

Para os que veem a homossexualidadecomo imoralidade, a questão da tolerâncialevantada pelo papa Francisco no seio fa-miliar e na sociedade é, no mínimo, provo-cativa. Daí o Pontífice propor a indução doamor familiar como substância sustentativa.Não é outro o motivo por admitir a famíliacomo a base social por excelência. Nessecaso, relevando o papel do casamento, mes-mo entre duas pessoas do mesmo sexo, selevada em consideração a proposta de ado-ção de crianças, o que não é essencialmen-te raro ocorrer.

Nesse caso, como eliminar o opróbriomoral fixado na homofobia?

Outra questão muito discutida frente àexortação sobre a “Alegria do Amor” é aadmissão da união entre pessoas separa-das de casamentos anteriores sem direitode acesso ao sacramento da comunhão e

“Amoris Laetitia”imposibilitados de serem padrinhos do ba-tismo e da comunhão.

Mudar a visão sobre este dispositivo daIgreja Católica é um desafio que Franciscoencara com serenidade e sabedoria.

O divórcio visto como dissensão napluralidade dos fiéis atados aos rigores docatecismo advindo do Concílio de Trento.

A argumentação invoca os dispositivosdo catecismo do Concílio Vaticano II paraampliar o campo das interpretações à luz dasmudanças sociais e seus conflitos.

Nossa sociedade fortemente polariza-da e mesmo multifacetada pelas questõespolíticas e sociais orienta-se pela Bíblia eos livros sagrados. Estes, mesmo não to-talmente entendidos pelos leigos, têm fun-ção coesiva para criar um pensamento dou-trinário.

Pois bem, as questões contundentes le-vantadas pela lucidez do Papa Franciscorequerem tolerância e amor. Fugir às regrase aos dogmas torna-se extremamente com-plexo.

Daí, as autoridades eclesiais enfatizarema função da família como força de apoio e deunião. Como o faz, por exemplo, o CardealDom Odilo P. Scherer em artigo para “O Es-tado” (09/04/2016), em que, considerando odocumento papal, convoca toda a Igrejapara um novo esforço no acompanhamentodas famílias “às pessoas expostas à situa-ção de risco” que necessitam de acolhimen-to e amor.

A função agregativa familiar é enfatizadapara dar solidez à argumentação proposta.Amálgama. Dóli de Castro Ferreira

O jongo no 13 de MaioOs sons do tambu e do candongueiro

ecoaram por entre os vales da Mantiqueira,em terras piquetenses no último 13 de maio.É a presença viva de uma das mais legíti-mas heranças culturais negras no municí-pio – o jongo.

O jongo chegou a Piquete, no séculoXIX, trazido pelos negros que vieram traba-lhar nas inúmeras fazendas de café.

Quando os negros foram trazidos comoescravos para o Brasil, trouxeram como ba-gagem suas práticas sociais, entre elas mú-sica, dança e religião.

Nas fazendas cafeeiras, ao fim da tarde,após o término das tarefas diárias, acendia-se no terreiro uma grande fogueira, em tor-

no da qual, nas noites de sábado e nos diassantos, os escravos se reuniam para dançaro jongo.

Dois tambores eram colocados próximosao fogo. Do outro lado, sentavam-se os ne-gros idosos. Ao tambor maior os escravosdavam o nome de caxambu; ao tambor deacompanhamento, menor e de som mais agu-do, chamavam candongueiro.

Um período de aquecimento precedia ojongo. Os percussionistas davam o ritmobatendo com a palma da mão, ensaiandojunto aos acompanhantes, enquanto osjongueiros cantarolavam os versos para simesmos e também para os percussionistas.O jongo tinha início com a entrada de um

líder na roda formada, que cantava as duaslinhas enigmáticas enquanto os escravosrepetiam o refrão, batiam palmas e entravamna roda. Quando se cansava, o que estavano centro da roda dançava em direção aoutro do mesmo sexo, convidando-o a subs-tituí-lo. Assim, cantando e dançando, viamo dia amanhecer.

Acredita-se que, no 13 de maio de 1888,com a notícia da libertação, cantaram e dan-çaram com muito mais vibração.

Ainda hoje , o jongo é memória em Pi-quete, preservada por moradores da VilaEleotério, que mantém um grupo unido eanimado que se reúne periodicamente, es-pecialmente em datas comemorativas.

Fotos Irerê Camargo

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O ESTAFETA Página 5Piquete, maio de 2016

Nesse 27 de março de 2016, no períodolunar do plenilúnio e na passagem do ve-rão para o outono, comemorou-se o Do-mingo de Páscoa, data magna da Cristan-dade iluminada pela Ressurreição do Re-dentor. Dia da tradicional festa da queimado judas, o discípulo traidor. Invocado pelanegatividade, sua queima representa o apa-gamento da nefasta obra da entrega doMestre aos algozes. Estes, insuflados poruma população sedenta de sangue e martí-rio e por uma sentença ambígua proferidapor Pôncio Pilatos.

Dia de festa do inesquecível seu “Ditoda Estação” e familiares. Hoje, o titular au-sente teve nos descendentes e esposa amemória sempre renovada.

Luiz e Regina, animadores culturais, de-dicados seguidores do pai amado, manti-veram à tradição afetivamente. Distribuírambalas, guloseimas, moedas e entre estasquatro premiadas com ovos de Páscoa deboa medida.

A festa de sempre. O foguetório. A quei-ma. A gritaria. Filas para o algodão doce ,decrianças, adolescentes e adultos. Quem nãogosta de festa e gulodices? Felizes, osorganizadores e mantenedores forneceramo espaço dividido do território urbano, amúsica, o discurso e o testemunho vivo emhonrada herança. Uma história consagra-da como norma e lema. Os mais jovens dafamília bastante empenhados em manterviva a chama do avô e bisavô. A luz emitidapelo “seu Dito” estava nos sorrisos, abra-

ços, regozijo e lágrimas. Saudades e pleito.Em frente à casa de morada e à belamenterestaurada Estação Ferroviária RodriguesAlves circulava o efeito de um patrimônioimaterial marcado no calendário para ser re-petido. A crônica dos idos e vividos de nos-sa cidade tem, nesse evento, marca paranão cair no esquecimento, nem ser ignora-da.

Repito anualmente minhas congratula-ções à família e o reconhecimento do valordesse acontecimento, para marcar indele-velmente nossa trajetória e imaginário.

Enquanto tivermos cidadãos conscien-tes do legado como força motriz, teremosgarantida nossa manifestação como povo.A data da Páscoa é móvel, designada pelocalendário lunar, desde o Carnaval, atraves-sando a Quaresma para, pelo Tríduo Pascal,chegar ao sublime Domingo. Na represen-tação do evento, a memória afetiva entre ohumano e o transitório reforça nas mentali-dades os laços comunitários.

Combinação

Marfim e ébano,

Perfeita combinação

natural,

Dona Maria e “seu Dito”

Combinam-se. Belo casal!

Sintomas de perfeição.

Nos filhos, a herança

Da sequência familial.

Das memórias, o forte laço

Fraterno e referencial.

Dóli de Castro Ferreira

Em seu primeiro pronunciamento comopresidente, Michel Temer anunciou, em meioa acenos a empresários, trabalhadores eagentes do mercado financeiro, que sua pri-meira ação fora diminuir o número de minis-térios de 32, como era no Governo Dilma,para 23. A motivação por detrás do cortenão é mistério. Num contexto de crise eco-nômica, o novo presidente se justificou peloanseio de economizar dinheiro público eaumentar a eficiência governamental. Noentanto, será que de fato essa reforma é útilpara os propósitos que coloca? Qual o pos-sível impacto do fim de determinados minis-térios?

A demanda pela redução de ministériose cargos comissionados não é nova. Dadonosso “presidencialismo de coalizão”, noqual a sobrevivência política de chefes dosexecutivos depende, em grande medida, desua capacidade de ceder ministérios e se-cretarias a partidos em troca de apoios nascasas legislativas, essas instituições sem-pre receberam olhares, no mínimo, descon-fiados. Sem conseguir ver os resultados di-retos do trabalho realizado nessas pastas eatordoados pelas mais diversas denúncias

Pra onde vão as Mulheres e a Cultura?de corrupção envolvendo seus funcionári-os, construiu-se a ideia de que ministériosservem exclusivamente para corrupção, semoferecer retorno útil à sociedade. Essa no-ção, no entanto, é bastante equivocada.

Os ministérios têm como função-primei-ra planejar e orientar a implementação depolíticas públicas nos mais diversos seto-res de um país: saúde, educação, cultura,segurança etc. Dotados de diversos funci-onários de carreira – técnicos capazes deauxiliar a formulação e implementação des-sas políticas – os ministérios são chefiados,em geral, por indicados que os partidos desustentação do governo oferecem ao chefedo Executivo. Há uma lógica democráticapor detrás desse mecanismo: partidos quese juntaram na elaboração de um projeto parao país devem ter, cada um, seu respectivoespaço na implementação dessas ideias. Éverdade que os problemas dessa lógica sãoinúmeros, mas diria eu que eles têm poucarelação com os ministérios em si e mais como sistema partidário e eleitoral – assuntoesse para um outro artigo.

Quando um governo cria ou fecha mi-nistérios, portanto, a sinalização é de que

aquela área para a qual se destina a pastareceberá maior ou menor atenção. Ao esco-lher fechar ministérios como o da Cultura eo de Mulheres, Igualdade Racial e DireitosHumanos, Temer desmonta toda a estruturacriada em cada uma das pastas para a cria-ção e implementação de políticas públicas.Isso significa, na prática, que essas áreasterão menos recursos e maior dificuldadeem avançar. Num país que ainda dá seusprimeiros passos na formulação de políti-cas de proteção a minorias sociais como mu-lheres e negros, e que ainda engatinha navalorização de sua cultura, acabar com mi-nistérios como esse é ato desastroso.

Cabe ainda dizer: tal desastre não se jus-tifica. Como revela recente matéria da Folhade São Paulo, a economia gerada pelo fimdesses ministérios é nada mais que simbóli-ca. Seus funcionários sendo remanejadospara outras pastas, e a economia se reduzi-rá, praticamente, aos salários desses dezministros dispensados. Em suma, sob a jus-tificativa de fazer avançar o país, Temer co-meça por nos fazer retroceder.

Rafael Domingues de Lima

Memória AfetivaDogmar Brasilino,cronista da imagemDogmar Brasilino é responsável por

grande parte da memória fotográfica de Pi-quete. Locais, personalidades e ocasiõeshistóricas foram registrados por ele, forman-do um rico acervo.

Parte desse acervo ele doou, em negati-vos, à Fundação Christiano Rosa. Esse ma-terial vem ilustrando as páginas do Imagem-Memória e outros textos publicados nesteinformativo.

Dogmar foi, ao longo de sua vida, umcidadão que embutiu em seu trabalho aconsciência sobre a importância da preser-vação da memória. Obteve sucesso, nãohá dúvidas, pois suas fotografias são dequalidade impecável e cobrem cerca de 75anos da vida de Piquete e dos piquetenses.Ele estará sempre presente em muitos laresde nossa cidade por meio de uma fotogra-fia 3x4 ou em álbuns de casamento. Além, éclaro, de na lembrança do sorriso largo ecarinhoso e da atenção especial com querecebia quem o procurasse.

Todo respeito ao Dogmar Brasilino!

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O ESTAFETAPágina 6 Piquete, maio de 2016

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Um cão embarcado...

Aguardava o ·ônibus para a cidade noponto do bairro, além de outras pessoas,uma família de gente simples, composta damãe e quatro crianças: um menino de unsoito anos, outro de poucos menos, umamenininha de uns três e uma que não deupra notar sexo porque estava no colo damulher, cobertinha. Esse detalhe não vaiafetar nada, pois o bebê não participou ati-vamente dos acontecimentos. Só passiva-mente.

As três crianças ali, vou lhes falar, erampra mandar santo para o inferno! Um corre-corre junto com um vira-lata convicto e or-gulhoso de sua condição, numa algazarradura de aguentar! Mãe, sabem como é, acos-tumada, não tá nem aí ‘com a balbúrdia; sealguém se sentir incomodado, que procureoutro ponto, ora. O ponto é público!

Quando o ônibus apontou, ela deu umberro e, junta, a turminha ficou pulando ale-gre na beira da calçada. Foi o coletivo en-costar, eles entraram espremendo-se na por-ta e afobados, passaram pela roleta, por bai-xo. A mãe e os outros passageiros subiram eo ônibus pôs-se em marcha. Um dos garo-tos gritou lá da frente para a mãe que aindaestava pré-roleta:

– Mãããêêê... O Lobo também entrou!Lobo, o nome do vira-lata!– Não pode... Ele vai se perder na cida-

de... Para o ônibus, moço!Moço era o chofer, que não ouviu, e im-

pelia o carro a correr asfalto. Os dois garo-tos chegaram até ele e com vozes chorosaspediram para parar. Sem atinar com o queacontecia, o homem da direcão deu umafreiada das boas e encostou o monobloco.Ficou sabendo: ali dentro tinha um cachor-ro que não deveria embarcar. Um cãodestino(Desculpem-me!)

Começou a confusão. Quem é que pu-nha o cachorro pra fora? Quando um garotoconseguiu pegá-lo, com o animal ganindo,a menina caiu numa tremenda choradeira.Difícil, mas o menino conseguiu empurrá-loda escada para fora, mas antes do reflexo domotorista entrar em ação para fechar a por-ta, Lobo já estava dentro de novo. Espanoua porca!

O cão passou a arrastar-se por baixo dosbancos. Os dois guris, de quatro, tentavamapanhá-lo, passando entre as pernas dosusuários, mulheres gritavam, palavrões eramouvidos, alguns aos gritos para tocar o car-

ro... Bem uns cinco minutos demorou essacaça de moleque contra cão. A mãe gritan-do, ora com um, ora com outro, que o ca-chorro está ali, agora não está mais, estánaquele outro banco, já saiu, foi por ali... Obebê deve ter acordado, ou tido pesadelocom cachorro perdido na cidade, pois abriuum berreiro pra uma maternidade inteira. Unspassageiros a vociferar pra chutar o cachor-ro fora, palavrões bem aprendidos dos mo-leques a ecoarem contra, a criancinha cho-rava pra valer, a mãe sem saber se olhava ocão e as crianças ou se pagava o cobrador,pois na barafunda ultrapassara a roleta. Ocobrador chiava... Grita geral de “toca o ôni-bus”... Um viajante urbano tentou fechar ocachorro embaixo do banco e quase rece-beu uma dentada. Pegou sua bolsa e fusti-gava o animal que rosnava desesperado le-vando pontapés dos meninos. Quis revidar,entrou gente no meio em empurra-empurra.Uma zorra!

De repente o chofer deu um berro de cimade seu banco lá na frente:

– Vamos calar a boca todo mundo aí, rai-os! Tirem essa porcaria de cachorro logo oueu toco o ônibus!

– Ele não quer sair, moço! – quaseinaudível lamuriava a mulher ante o alaridode “toca, toca, toca!”.

– Desculpe-me, mas não posso esperarmais. Tenho horário!

– Mas seu moço... Ele vai se perder nacidade ou ser atropelado!

– Sinto muito, mas vou ter que ir...– Deixa, mãe, que eu cuido dele – disse

o filho mais velho.– E eu não falei, peste, pra, deixar ele

trancado dentro de casa?O ônibus partiu. Lobo foi conhecer a ci-

dade. A calma voltou ao coletivo, com eledeitado embaixo dum banco. A paz estavaquase restabelecida não fosse o cobradorchamar a mulher, que estava sentada lá nafrente, a vir pagar a passagem. Equilibran-do-se no corredor com o bebê já mais calmono colo, foi cumprir sua obrigação e, na vol-ta, acabou caindo sentada no colo de umamulher gorda que levou o maior susto daparóquia.

Convenhamos que, pelo preço da pas-sagem do ônibus urbano, embora de humorum tanto escurinho, até que a diversão foibarata!

Está quase finalizada a obra do Ginásiode Esportes Duque de Caxias, carinhosa-mente conhecido como Elefante Branco.Internamente, já foi iniciada a pintura dasmarcações da quadra poliesportiva, resga-tando a função original do prédio.

Para relembrar, algumas imagens de even-tos esportivos ou não que tiveram lugarneste que já foi um dos principais pontosde encontro de Piquete:

Ele está de volta...

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“O maior perigo para a maioria de nós não está em definir o nosso

objetivo muito alto e ficarmos aquém. O perigo está na definição

do nosso objetivo muito baixo e alcançarmos a meta.”

Michelângelo

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O ESTAFETAPiquete, maio de 2016 Página 7

Querida, como não sou bom com as pala-vras tomo a liberdade de iniciar esta cartacom as palavras de dois compositores – An-tônio Carlos e Jocafi. Em uma de suas can-ções, diziam “que me perdoem se eu insistoneste tema, mas não sei fazer poema ou can-ção, que fale de outra coisa que não seja oamor”. Você se lembra de quando éramos ain-da mais jovens e você se escondia no meiodas pernas dos manifestantes que pediamdiretas já? Havia certo fogo em nosso peito.Fogo de juventude e de mudança. Recordo-me de cantarmos a plenos pulmões juntamentecom Gonzaguinha, com a força do coração,“a gente quer viver pleno direito, a gente querviver todo respeito, a gente quer viver umanação, a gente quer é ser um cidadão”.

E não foi sem dor e sem luta que um diavocê se tornou mais alta que as cabeças quea oprimiam. Lembra-se? De menina tímida eassustada pela repressão policial tornou-seessa jovem linda. Outro dia outra cançãome fez lembrar de nossa liberdade e alegriaao conquistarmos nosso país, você vindo“toda de branco, toda molhada e des-pente-ada. Que Maravilha! Que coisa linda que éo meu amor”. E foi você, com a força que lhederam, que fez florir a serra e as montanhas.

“Como num romance, um Deus risonho aquipassou derramando cachoeiras pela serra emflor”, dizia Venturini. Podia ele ter trocadoesse verso, tirando esse Deus e colocadovocê, minha deusa. As palavras lhe caberi-am tão bem. E lá se foram tantos anos. Maisde 30 e você ainda é tão jovem e tão bela.Sabíamos, eu e você, que na surdina, nascoxias de um teatro escuro, nos becos e es-quinas ardiam palavras contra nosso suces-so. Tramavam sua derrota. Nossa alegria osincomodava. O que você fez doeu em pou-cos. Mas esses poucos eram poderosos. Ejamais se importaram em jogar um jogo sujo.Um jogo de articulações maquiavélicas.

De certa forma fomos descuidados. Tal-vez embriagados pela nossa alegria e de vertanta liberdade, tanta coisa boa. Logo a gen-te que gostava de ouvir Chico cantando di-zendo que “dormia a nossa pátria mãe tãodistraída sem perceber que era subtraída emtenebrosas transações”. Os arquitetos tra-çaram seus planos. Os estrategistas defini-ram a forma e conquistaram apoio e apoi-adores. Tramaram na deseducação de partede nossos irmãos. Descobriram brechas ain-da que ilegais. E num pandemônio de umcirco triste expuseram suas garras e nova-

mente lhe deram um golpe. Amargo. Dolori-do e muito, muito triste. Cá estamos nósnovamente.

Entristeço-me, querida. Mas, se me en-tristeço, não é ao olhar nossa luta. Não, não!E fazendo alusão novamente a uma cançãode Gonzaguinha, de tudo que fizemos, queeu fiz, não há arrependimento e eu “come-çaria tudo outra vez, se preciso fosse, meuamor. A chama em meu peito ainda queima,saiba! Nada foi em vão”. Sei que o poderquando emana da sujeira e de conspiraçõesé tênue e fraco. Ele se consome de dentropara fora. Seus arquitetos se consomem umao outro, pois a sede de poder é ilimitadanesses senhores e senhoras. Nada solidá-rio. Por isso, minha querida, tenho “fé noque virá e a alegria de poder olhar pra trás. Ever que voltaria com você, de novo, vivernesse imenso salão”.

Minha amada democracia, é claro queestamos tristes. Por você. Por nós.

“Um menino que brincava me falou quehoje é a semente do amanhã. Para não termedo que esse tempo vai passar. Não sedesespere e nem pare de sonhar”. Um bei-jo. Te amo!

Luiz Flávio Rodrigues

Carta a uma jovem senhora

“A propósito: estou esperando, aindasentada, algum pronunciamento da Igrejaa respeito do pós-golpe. Ou será que já tevee eu não vi? Cristãos que celebram o Espí-rito Santo e se mostram omissos desse jei-to, desanimam qualquer pessoa com o mí-nimo de senso crítico”.

Assim escreveu Inês, uma amiga, em suapágina na rede social Facebook.

Tem causado estranheza e, vez ou ou-tra, críticas mais ácidas, certo silêncio daslideranças da Igreja em relação aos últi-mos acontecimentos em nosso país. Nos-so povo se habituou a ver seus pastoresmais ativos e envolvidos nos fatos rele-vantes da vida de nossa nação. Bisposcomo Dom Ivo Lorscheiter, Dom AloísioLorscheider, Dom Luciano Mendes deAlmeida, Dom Helder Câmara, Dom PauloEvaristo Arns, dentre outros, tiveram no-tável participação nos evento políticos doBrasil deixando um importante legado ànossa sociedade. A ausência de uma pala-vra mais clara da Igreja acerca do afasta-mento de uma presidenta eleita democra-ticamente deixa perceptível vazio entre asvozes que tradicionalmente se fizeram ou-vir no cenário político nacional.

A constituição pastoral Gaudium etSpes, um dos mais importantes e conheci-dos documentos produzidos pelo ConcílioVaticano II, que trata da presença da Igrejano mundo, começa de forma muitoinspiradora: “As alegrias e as esperanças,as tristezas e as angústias dos homens dehoje, sobretudo dos pobres e de todos aque-les que sofrem, são também as alegrias e asesperanças, as tristezas e as angústias dosdiscípulos de Cristo”. Provocados peloEspírito do Concílio, os bispos latino-ame-ricanos entenderam que era necessário quea Igreja se envolvesse nas diversas ques-tões que fazem parte da vida das pessoas,dentre elas a política, a fim de promoveruma sociedade em que a justiça seja uma

realidade cada vez mais presente. A cons-trução da cidadania, a consolidação da de-mocracia e a universalização de direitos ne-cessários à dignidade humana sempre fo-ram bandeiras assumidas pela Igreja em nos-so Continente nessa caminhada que já duracinquenta anos, desde o Concílio.

Uma postura menos incisiva no que serefere à sociedade parece ser tendênciaeclesial atual.

Entre os dias 19 e 25 de abril, tive a ale-gria de participar, em Aparecida-SP, do 16ºENP (Encontro Nacional de Presbíteros).Foram dias bastante proveitosos, sobretu-do pela oportunidade de conversar compadres de todo o Brasil, conhecer as diver-sas realidades e ter contato com perspecti-vas variadas. Uma coisa, porém, me impres-sionou: não houve, durante todo o encon-tro, naquela semana em que o impeachmentde Dilma havia sido aprovado pelos depu-tados numa sessão classificada pela mídiainternacional como um verdadeiro circo,sequer uma referência a esse fato tão impor-tante para o nosso povo. Nos grupos dediscussões e plenários, os assuntos gira-vam em torno da vida dos presbíteros. Falá-vamos sobre nossos salários, a importânciade os padres terem plano de saúde, garanti-as previdenciárias, lazer, formação perma-nente do clero. Outros assuntos tambémforam tratados, mas sempre referentes à vidainterna da Igreja. O Brasil pegando fogo eestávamos discutindo nossos problemasinternos. Não que seja errado que tenha-mos falado sobre essas coisas, mas em umasemana como aquela, ao menos a mim, pare-ceu estranho à nossa caminhada latino-ame-ricana que não houvesse nenhuma palavrasobre a grave situação política do país.

Tradicionalmente, ao término do ENP,uma carta de conclusão do encontro é lida.Se aprovada, é enviada aos padres de todoo Brasil. Geralmente essas cartas vinhamcom boa análise da conjuntura vivida no

momento e com palavras de encorajamentoaos padres. Quando a leram, percebi quenão havia qualquer menção à grave crisepolítica pela qual passamos. Encaminheiaos redatores a sugestão de que deveriamdizer uma palavra clara, condenando a que-bra da ordem democrática em curso em nos-so país. Eles acrescentaram apenas uma fra-se evasiva, condenando a corrupção, qua-se dando a entender que o afastamento deDilma nos sanaria desse mal e resolveria oproblema de nossa Nação.

O ENP aconteceu em um hotel bastanteconfortável, cujas caras diárias são inaces-síveis à maioria de nossa gente. Ao acertaras contas, saltou-me aos olhos que a notafiscal emitida trouxesse a informação de queaquele estabelecimento é uma “obra socialcristã”. Lembrei-me das palavras do PapaFrancisco em uma entrevista concedida auma rádio no dia 22 de outubro de 2015. Opontífice disse claramente que conventose monastérios que se tornaram hotéis de-vem pagar impostos como qualquer outraempresa. “Algumas congregações dizem:o nosso convento está vazio, vamos fazerum hotel, um albergue, assim podemosmantê-lo e ganhar dinheiro. Muito bem, masentão devem pagar impostos, senão nãoserá um negócio às limpas”, advertiu, cora-josamente, o Papa na ocasião.

O que pessoas como a jovem Inês es-peram de nós, pastores da Igreja, é que nosenvolvamos no processo de construção deuma sociedade justa e democrática, que nãosejamos indiferentes, como já nos haviapedido o Concílio, e que sejamos coeren-tes com os princípios evangélicos que anun-ciamos aos outros. Que o Espírito Santo,de quem nos recordamos na festa de Pen-tecostes, esteja sempre sobre nós. Que nosenvie a anunciar os caminhos da justiça,como fez com Jesus!

Pe. Fabrício Beckmann

As tristezas e as angústias dos homens de hoje

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O ESTAFETA Piquete, maio de 2016Página 8

Quando o ano abre suas portas, diantede nós quatro (4) devoradores de saláriosavançam: Imposto de Renda, IPTU, IPVA eSeguros.

E começo o mês de janeiro. Difícil acre-ditar que ele tenha apenas trinta e um (31)dias.

Porque, além dos quatro (4) devo-radores, temos os dez (10) itens do Orça-mento Doméstico Mensal: 1. Saúde. 2.Moradia. 3. Supermercado. 4. Transporte.5. Educação. 6. Esporte. 7. Vestuário. 8. Mó-veis, Utensílios e Guarnições. 9. Compro-missos Laborais, Sociais e Religiosos. 10.Imprevistos.

E assim se arrasta o mês de janeiro. Bem-aventurado quem criou o mês de fevereiro– curtinho, curtinho! Mesmo quando bis-sexto.

Organizar o Orçamento Doméstico é umaarte. Leva, pelo menos, seis (6) meses commudanças nas percentagens de cada item.

Aprendi a elaborá-lo com catorze (14)anos, no Ginásio, na Disciplina EconomiaDoméstica.

À época, as famílias tinham, em média,oito pessoas. Só alimentação e higiene –item Supermercado – exigiam quarenta porcento (40%) do salário de um trabalhador.

No item moradia, não havia despesa degás e telefone. Comprava-se lenha.

No item transporte, pouquíssimas famí-lias possuíam automóveis.

Não havia sindicatos nem centros deaposentados cobrando mensalidades.

Poucas eram as Escolas Técnicas e asUniversidades. Só os filhos dos ricos conti-nuavam os estudos nas grandes cidades ouem internatos.

Os rapazes moravam com os pais parafazer o pé-de-meia e as moças cuidavam depreparar o enxoval para o casamento.

Os estudantes que viviam de mesada oude bolsa de estudo foram os primeiros es-pecialistas em orçamento porque tinham defazer o dinheiro render.

O aluguel era sagrado, pois não podiamser despejados. O restante era religiosamen-te compartilhado.

É por isso que se diz que a única repú-

blica verdadeiramente democrática é a Re-pública de Estudante. Benza-a Deus!

Organizado o orçamento, é só obede-cer.

E não ter a tentação de gastar com umitem o que pertence ao outro.

Por exemplo: não houve doença na fa-mília; não se gastou com médico ou comremédio – o dinheiro fica religiosamenteguardado.

Nas férias, as crianças foram para acasa da avó – não se gastou com lazer.Não se mexe na quota.

Se o montante do imprevisto não é su-ficiente para cobrir uma despesa extra,pode-se pedir emprestado a um itemsuperavitário. Mas, passado o sufoco,paga-se ao item mesmo que parcela-damente.

Salário é suor; não é para ser jogadofora.

Uma pessoa equilibrada não joga foratempo, dinheiro, saúde e oportunidade deaprender.

Abigayl Lea da Silva

Salário e Orçamento

128 anos da abolição da escravaturaNo dia 13 de maio comemoraram-se os

128 anos da abolição da escravatura no Bra-sil, com a promulgação da Lei Áurea. Paraque o país chegasse a esse episódio histó-rico, muitos acontecimentos envolvendo fi-guras históricas foram necessários. A es-cravatura já era questionada desde a As-sembleia Constituinte de 1823, quando JoséBonifácio de Andrada e Silva propôs que oBrasil, como os Estados Unidos, substitu-ísse os escravos por imigrantes europeus.

A pressão internacional e a mobi-lização da sociedade levaram à proibiçãodo tráfico negreiro. Vieram, depois, as leisdo Ventre Livre e do Sexagenário. O movi-mento a favor da abolição foi crescendonas cidades e no campo. O negro tambémreagiu à escravidão buscando vida digna.Foram comuns as revoltas nas fazendasem que grupos de escravos fugiam for-mando os quilombos, comunidadesbem organizadas nas quais os integrantesviviam em liberdade, por meio de uma or-ganização comunitária nos moldes da queexistia na África.

Movimentos de políticos, artistas, es-

tudantes e intelectuais também se desta-caram em favor da causa abolicionista. Em1880, políticos importantes como JoaquimNabuco e José do Patrocínio criaram, noRio de Janeiro, a Sociedade Brasileira Con-tra a Escravidão, que estimulava a forma-ção de dezenas de agremiações semelhan-tes pelo Brasil. Jornais e revistas tambémaderiram à causa.

O fim da escravidão foi decidido no Se-nado, com a liberação incondicional e ime-diata dos cativos. Estimulado pela força domovimento abolicionista e pelo chefe dogabinete ministerial, o então senador JoãoAlfredo Corrêa de Oliveira, o projeto de leida abolição tramitou aceleradamente, sen-do a Lei Áurea assinada pela Princesa Isa-bel em 13 de maio de 1888.

O texto da Lei Áurea é um dos mais sim-ples e diretos de que se tem notícia na his-tória do país. Com apenas dois artigos, es-tabeleceu: Artigo 1º – É decretada extintadesde a data desta Lei a escravidão no Bra-sil. Artigo 2º – Revogam-se as disposiçõesem contrário.

Este texto constituiu-se na Lei de maior

alcance social do Brasil e sua singeleza en-cobre uma complexa e longa luta que divi-diu e ainda divide a sociedade brasileira.

Trata-se da luta contra o racismo e aescravidão, que, de certa forma, sintetizae simboliza o combate a todas as formasde desigualdade e exclusão que marcarama estrutura social brasileira. A escravidãoinfiltrou-se em todos os meandros da vidasocial no Brasil. Não eram apenas os gran-des barões do açúcar e do café que tinhamescravos: comerciantes e burocratas ur-banos também os tinham em quantidade.Padres e igrejas tinham os seus. Há rela-tos de que negros alforriados e mesmoescravos também possuíam seus escra-vos. A escravidão penetrava até na cabe-ça dos escravos.

Essa luta não se encerrou com a LeiÁurea, embora o texto legal seja seu grandemarco. As desigualdades racial, de classe,regionais e de gênero permanecem e preci-sam ser continuamente combatidas.

A luta do negro e de todos os excluídospermanece tão atual como nos tempos dacausa abolicionista e é uma luta de todos.

“Saída para a colheita do café em carroça”.Foto de Marc Ferrez, feita no Vale do Paraíba em 1885.

Reproduções da internet

“Escravos na colheita do café”.Foto de Marc Ferrez, feita no Vale do Paraíba, RJ, em 1882.