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MAIRI DALDON DIAS A SOCIEDADE GRÊMIO NITERÓI EM CANOAS: ENTRE A MEMÓRIA E A JURIDICIZAÇÃO (1933-2011) Canoas, 2013

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MAIRI DALDON DIAS

A SOCIEDADE GRMIO NITERI EM CANOAS: ENTRE A MEMRIA E A

JURIDICIZAO (1933-2011)

Canoas, 2013

MAIRI DALDON DIAS

A SOCIEDADE GRMIO NITERI EM CANOAS: ENTRE A MEMRIA E A

JURIDICIZAO (1933-2011)

Dissertao de Mestrado defendida como pr-requisito

para obteno do ttulo de Mestre em Memria Social e

Bens Culturais, apresentado banca examinadora do

Programa de Mestrado em Memria Social e Bens

Culturais do Centro Universitrio La Salle Unilasalle

Canoas. Orientador: Professor Dr. Germano Andr

Doederlein Schwartz e Coorientador: Professor Dr.

Gunter Axt.

Canoas, 2013

A SOCIEDADE GRMIO NITERI EM CANOAS: ENTRE A MEMRIA E A

JURIDICIZAO (1933-2011)

Dissertao de Mestrado defendida como pr-requisito

para obteno do ttulo de Mestre em Memria Social e

Bens Culturais, apresentado banca examinadora do

Programa de Mestrado em Memria Social e Bens

Culturais do Centro Universitrio La Salle Unilasalle

Canoas. Orientador: Professor Dr. Germano Andr

Doederlein Schwartz e Coorientador: Professor Dr.

Gunter Axt.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________

Prof. Dr. Germano Andr Doederlein Schwartz

Unilasalle (Orientador)

___________________________________________________________

Prof. Dr. Gunter Axt

Unilasalle (Coorientador)

___________________________________________________________

Prof. Dr. Lucas Graeff Unilasalle

___________________________________________________________

Prof. Dr. Ricardo Aronne

PUCRS

Aos meus familiares, pela cumplicidade, pacincia, alegria e carinho que recebi

durante esta trajetria.

Em memria ao meu pai Arlindo Daldon, exemplo de pai, de bondade e de

honestidade!

A minha me ngela Daldon, por me ensinar a ser desafiadora e desbravar

caminhos por mais impossveis que podiam parecer.

Ao meu esposo Roberval Galina Dias, presente todos os dias. Por sua luz de todos

os momentos! Somente Deus poder recompensar o que voc faz por mim!

Aos meus filhos, Lucas Daldon Dias e Bruno Daldon Dias, por acreditarem que

tudo seria possvel. Pela tolerncia e pacincia em minha ausncia. Pela luz que

ilumina meu dia a dia.

A Dayse Pacheco Avila, por sua clareza e apoio incondicional!

AGRADECIMENTOS

A Deus! Sem Ele nada disso seria possvel, nem ao menos agradecer.

Obrigada meu Deus por me dar capacidade, inteligncia e perseverana. Pela

oportunidade ao acesso educao. Obrigada por colocar na minha vida

professores, estrutura bsica de todas as profisses. Um privilgio! Enquanto muitos

brasileiros no tm a mnima oportunidade de acesso ao estudo. Obrigada meu

Deus, por me dar fora em sempre buscar desafios e por alcan-los.

Escrava Anastcia presente nas minhas oraes dirias, por me ouvir e

atender diariamente meus pedidos.

A Alvcio Alves de Oliveira, em memria, e sua esposa, Maria Alves de

Oliveira. Ex-Vice-Presidente do Conselho Executivo da Sociedade Grmio Niteri

(SGN). Obrigada por terem guardado informaes preciosas por muito tempo,

acreditando que um dia isso seria utilizado. Obrigada por contar a histria da SGN,

pela forma que nos recebeu e pelo seu carinho.

A Crio Dutra, Ex-Vice-Presidente da Sociedade Grmio Niteri, pelo material

inicial, quando a pesquisa estava em estgio embrionrio. Pelo carinho que sempre

atendeu e incentivo para a realizao do trabalho.

Geselda Daldon Valandro e seu esposo, Jandir Valandro, pelo apoio e

emprstimo do material de pesquisa.

Gesilda Daldon e seu esposo, Renato Munhoz, pela ajuda durante essa

caminhada.

Ilva Telles e seu esposo, Erondy Telles, pela ajuda em conseguir livros os

quais eu no tinha acesso.

Ivani de Oliveira Almeida e seu esposo, Joo Alberto Fagundes

Almeida, Ex-Presidente do Conselho Executivo pelo emprstimo de seu acervo

muito bem guardado e completo.

A Mrio Both, em memria, Ex-Presidente do Conselho Executivo, por

descrever o que era Niteri e como funcionava a estrutura da SGN, pela aula de

histria.

A Moacyr Aires Siqueira, Ex-Vice-Presidente do Conselho Fiscal da

Sociedade Grmio Niteri, por emprestar seu acervo que guardava com tanto

carinho.

Ao Advogado Rafael Teles por indicar os caminhos, entre muitos to

tortuosos.

A Publicitria Renata Duarte Teles pela ajuda e apoio na finalizao da

apresentao da exposio.

A Srgio Eloy Schultz e sua esposa, Ana Menezes Schultz, Ex-Diretor de

Bolo da Sociedade Grmio Niteri, pelo emprstimo de fotografias que guardava

com tanto cuidado.

Sofia Both pela ajuda e emprstimo de seu acervo para a pesquisa.

Ao Professor Valdir Dall'Agnol, pela disponibilidade em atender e falar sobre

a comunidade do Bairro Niteri e da Sociedade Grmio Niteri.

A todos professores do Curso de Memria Social e Bens Culturais pela

contribuio e dedicao em todas as aulas. Esse trabalho o resumo de todas as

disciplinas.

Aos meus colegas de turma do mestrado, pela cumplicidade e trabalho em

equipe, com os quais pude esclarecer muitas dvidas e ter a certeza que eu no

estava sozinha.

Aos mestrandos Anajara Closs, Helenara Ungaretti, Hir Justo, Jacira

Bernardes, Margarete Ross, pelo companheirismo nessa caminhada.

A todos os familiares e amigos que compartilharam dessa etapa da minha

vida, que com maior ou menor intensidade estiveram presentes nessa caminhada.

Alguns no esto mais presentes, foi o tempo suficiente para deixarem a sua marca.

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao professor Orientador Dr. Germano Andr Doederlein Schwartz por

ensinar a gostar do Direito. Pela ateno e pacincia.

Ao professor e Coorientador Professor Dr. Gunter Axt pela incrvel

perseverana de ensinar e passar as mais bsicas informaes sempre com a

mesma pacincia e dedicao.

Ao Professor Dr. Lucas Graeff pelo auxlio e apoio incondicional.

RESUMO

O presente trabalho aborda a histria da Sociedade Grmio Niteri (SGN), um clube

associativo, recreativo e cultural, fundado em 1933 no Bairro Niteri na Cidade de

Canoas. Uma entidade formada por moradores de um bairro operrio que

trabalhavam nas indstrias txteis do Quarto Distrito de Porto Alegre. A pesquisa

registrou sua fundao, os grandes momentos com a construo de sua estrutura

social e esportiva e o seu trgico fim ocorrido com a venda da sede para pagamento

de dvidas trabalhistas. As mudanas culturais e sociais ocorridas nos anos 1980 e

1990, a ausncia de uma gesto mais moderna e adequada s alteraes

econmicas que ocorriam, alm das diversas causas trabalhistas, iniciadas nos anos

1990, acarretaram o fechamento definitivo da entidade. Situao recorrente em

outras sociedades do Rio Grande do Sul e de outros Estados brasileiros. A estrutura

do que era conhecido como Grmio Niteri permaneceu como uma ferida exposta no

corao do bairro. O registro da histria da SGN est relacionado vivncia da

pesquisadora no bairro e, consequentemente, em sua participao como associada,

privilegiando assim a narrativa cultural, social entre a memria e a juridicizao.

Apesar da ausncia de estudos especficos sobre o Bairro Niteri e principalmente

da SGN para embasamento da pesquisa, houve envolvimento dos associados que

disponibilizaram as informaes, tornando possvel a anlise dos fatos ocorridos, a

relevncia da memria cultural do espao e os dados jurdicos, que envolveram a

derrocada de um espao de socializao e lazer.

Palavras-chave: Grmio Niteri. Memria. Direito. Justia do Trabalho. Clube

sociorrecreativo. Clube recreativo. Sociedade. Histria. Canoas.

ABSTRACT

The current study invastigates the history of "Sociedade Grmio Niteri (SGN), an

associative, recreational and cultural clubhouse. It was founded in 1933, in Niteri,

one of the neighborhoods in Canoas city. An institution formed by the residents of a

textile industries workers neighborhood of the fourth district of Porto Alegre city. This

research registered since SGN foundation, the great moments of its social and

sportive structure construction process until its tragic termination, after the clubhouse

had been sold for payment of labor debts. Apart from the cultural and social changes

in the decades of 1980s and 1990s; the lack of a modern management suitable for

economic changes that happened; the variety of labor lawsuits in the years of 1990s,

led to the definitive termination of the clubhouse. Similar situation happened in other

associations in Rio Grande do Sul among other Brazilian states. The structure of the

association known as Grmio Niteri remained as a wound in the neighborhood

heart. The SGN history record is related to the researcher experience in the

neighborhood, consequently, in her participation as a member, yet considering the

social and cultural narrative between the memory and juridicization. Aside from the

lack of specific studies on Niteri neighborhood and, specially, on the SGN for the

theoretical foundation for this research, there was an involvement of the former

members, who made the analysis of the facts possible, giving all the information they

had about the importance of the cultural memory of the clubhouse and judicial data

that involved the downfall of a socialization and leisure association.

Key-words: Grmio Niteri. Memory. Law. Justia do Trabalho. Social-recreational

Clubhouse. Society. History. Canoas.

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 Localizao na cidade de Canoas da implantao do Viva a Vida

Clube Centro ................................................................................................... 32

Figura 2 - Mapa de localizao e situao da implantao do condomnio ..... 32

Figura 3 - Fachada do empreendimento .......................................................... 33

Figura 4 - Plantas baixas dos diversos tipos de apartamentos oferecidos no

condomnio ....................................................................................................... 33

Figura 5 - Espaos de lazer, esportes e sociabilidade oferecidos dentro do

condomnio ....................................................................................................... 34

Fotografia 1 - Fundador da SGN Arthur Jochims e Armando de Franceschi, ex-

presidente e responsvel pela construo da nova sede a partir de 1966 ....... 56

Fotografia 2 - Diretoria no desfile na Semana da Ptria em Canoas, 1954 ..... 58

Fotografia 3 - Desfile na Semana da Ptria em Canoas em 1954 ................... 58

Fotografia 4 - A primeira sede em alvenaria da Sociedade Grmio Niteri ...... 59

Figura 6 - Prospecto de venda de ttulos para novos associados da nova sede

do Grmio Niteri, 1966 ................................................................................... 61

Figura 7 - Prospecto de venda de ttulos para novos associados da nova sede

do Grmio Niteri, 1966 ................................................................................... 62

Figura 8 - Perspectiva da parte interna do restaurante .................................... 62

Fotografia 5 - Fachada da Sociedade Grmio Niteri ...................................... 66

Fotografia 6 - Sede da SGN, 1980 ................................................................... 70

Fotografia 7 - Jogo de bocha na quadra coberta .............................................. 75

Fotografia 8 - Equipe de bocha Campe Municipal, 1983 ................................ 75

Fotografia 9 - Equipe do Grupo de Bolo Unio, dcada de 40 ....................... 77

Fotografia 10 - rea interna da SGN, onde existiam apenas duas pranchas

destinadas ao jogo de bolo............................................................................. 78

Fotografia 11- Equipe do Grupo de Bolo Unio .............................................. 78

Fotografia 12 - Equipe de bolo, 1949 ............................................................. 79

Fotografia 13 - Equipe do Grupo de Bolo Unio, 1951 ................................... 79

Fotografia 14 - rea interna das pranchas de bolo ........................................ 80

Fotografia 15 - Comemorao do Campeonato de Bolo de Canoas - Grmio

Niteri Campeo, 1973 .................................................................................... 81

Fotografia 16 - Entrega da premiao ao Hexa Campeonato Municipal de

Bolo, 1982 ...................................................................................................... 81

Fotografia 17 - Equipe de bolo, seleo masculina da SGN Dcada de 80

......................................................................................................................... 82

Fotografia 18 - Equipe de bolo, seleo feminina Grmio Niteri, dcada de 80

......................................................................................................................... 82

Fotografia 19 - Equipe de bolo Casais, dcada de 90 .................................... 83

Fotografia 20 - Conquista do Tri Campeonato de bolo, seleo masculina,

dcada de 80 .................................................................................................... 83

Fotografia 21 - Conquista do Tri Campeonato de bolo, seleo masculina,

dcada de 80 .................................................................................................... 83

Fotografia 22 - Entrega de prmios, final do campeonato interno,1987 ........... 84

Fotografia 23 - Diretoria do Departamento de Bolo por ocasio da instalao

dos pinos eletrnicos ........................................................................................ 85

Fotografia 24 - Pblico presente ao evento de inaugurao do novo sistema de

controle eletrnico para o jogo de bolo .......................................................... 85

Fotografia 25 - Equipe campe municipal de futebol de campo, 1953 ............. 86

Fotografia 26 - Equipe do futebol de campo SGN, 1950 .................................. 86

Fotografia 27 - Equipe campe municipal de futebol de campo, 1953 ............. 87

Fotografia 28 Futebol de campo, 1962 .......................................................... 87

Fotografia 29 Equipe do futebol de salo da SGN, 1960 .............................. 88

Fotografia 30 - Futebol de salo - Campeonato Estadual, 1980 ...................... 88

Fotografia 31 - Equipe do futebol de salo da SGN, 1983 ............................... 89

Fotografia 32 - Equipe futebol de salo, 1970 .................................................. 89

Fotografia 33 - Equipe de futebol de salo, 1980 ............................................. 89

Fotografia 34 - Ginsio de esportes, dcada de 70 .......................................... 90

Fotografia 35 - Equipe de jud da SGN, 1983.................................................. 90

Fotografia 36 - Show do cantor Wanderlei Cardoso, 1969 ............................... 93

Fotografia 37 - Show de Benito de Paula, 1976 ............................................... 93

Fotografia 38 - Renato e Seus Blue Caps ........................................................ 94

Fotografia 39 - Cantora Silvinha e associadas da SGN ................................... 94

Fotografia 40 - Show de Tony de Angeli, 1970 ................................................ 95

Fotografia 41 - Show dos Brasas, anos 70 ...................................................... 95

Fotografia 42 - Escolha de rainhas nas dcadas de 40 e 50 na SGN .............. 96

Fotografia 43 - Ivani de Oliveira - rainha infantil da SGN, 1956 ..................... ..97

Fotografia 44 - Coroao da Rainha Mirim, 1957 ........................................... 97

Fotografia 45 - Rainha Mirim, Glcia Alves de Oliveira, 1959 ........................ 98

Fotografia 46 - Namorada de Canoas e Glamour Girl, 1962. ......................... 98

Fotografia 47 - Rainha do Bolo Canoense, 1963 ......................................... 99

Fotografia 48 - Cinderela do Calado do RS, 1967 ........................................ 99

Fotografia 49 - Miss Canoas, 1966 ................................................................ 100

Fotografia 50 - Primeira Rainha das Piscinas da SGN, 1972 ......................... 100

Fotografia 51 - Rainha das Piscinas da SGN, 1970 ....................................... 101

Fotografia 52 - Escolha da Miss Canoas, 1976 .............................................. 101

Fotografia 53 - Geovnia B. Rey, 2 Princesa; Rosngela P. da Silva, Rainha; e

Cludia M. da Silva, 1 Princesa .................................................................... 102

Fotografia 54 - Concurso Rainha das Piscinas do RS,1984. ......................... 102

Fotografia 55 - reas das piscinas adulto e infanto-juvenil ............................ 104

Fotografia 56 - rea da piscina infantil ........................................................... 104

Fotografia 57 - Inaugurao da rea de acesso piscina .............................. 105

Fotografia 58 - Alegria dos associados nas festas de carnaval, dcada de 70

....................................................................................................................... 106

Fotografia 59 - Alegria dos associados nas festas de carnaval, dcada de 70

....................................................................................................................... 107

Fotografia 60 - Grupo de folies no baile de carnaval, 1982 .......................... 107

Fotografia 61 - Baile de Carnaval de 1983 ..................................................... 107

Fotografia 62 - Joo e Ivani Almeida junto com o rei Momo de Canoas,1983

....................................................................................................................... 108

Fotografia 63 - Baile infantil no domingo e na tera-feira gorda ..................... 108

Fotografia 64 - Folies no baile de carnaval, 1983 ......................................... 109

Fotografia 65 - Baile de Carnaval de 1983 ..................................................... 109

Fotografia 66 - Baile de Carnaval de 1983 ..................................................... 110

Fotografia 67 Casal do presidente da SGN, 1983 ...................................... 110

Fotografia 68 - Diretoria com o Rei Momo e a Rainha, dcada de 70 ............ 111

Fotografia 69 - Ch beneficente intitulado Jubileu de Ouro ........................ 112

Fotografia 70 - Entrega Trofu Imagem Canoas ............................................ 113

Fotografia 71 - Ecologista Jos Lutzemberg, 1976 ........................................ 113

Fotografia 72 - Lydia Moschetti, fundadora da Associao Gacha de Proteo

aos Animais, 1976 .......................................................................................... 114

Fotografia 73 - Aniversrio de 44 anos da SGN, 1977 ................................... 114

Fotografia 74 - Aniversrio 48 anos ............................................................... 115

Fotografia 75 - Bolo de aniversrio dos 50 anos da SGN .............................. 115

Fotografia 76 - Composio da diretoria da SGN, 1983: jantar de aniversrio de

50 anos da SGN ............................................................................................. 115

Fotografia 77 - Jantar de aniversrio de 50 anos da SGN ............................. 116

Fotografia 78 - Jantar de aniversrio da SGN ................................................ 116

Fotografia 79 - I Jantar organizado das Nitinhas ............................................ 117

Fotografia 80 - Jantar das Nitinhas com homenagem Miss Brasil Deise Nunes

de Souza, 1984 .............................................................................................. 117

Fotografia 81 - Jantar das Nitinhas, 1985 ...................................................... 118

Fotografia 82 - Jantar das Nitinhas, 1986 ...................................................... 118

Fotografia 83 - Baile de deutantes,1961 ........................................................ 121

Fotografia 84 - Baile das debutantes com seus padrinhos ............................. 121

Fotografia 85 - Debutantes com os padrinhos Mrio e Sofia Both ................. 121

Fotografia 86 - Grupo de debutantes em passeio Vincola Peterlongo em

Bento Gonalves ............................................................................................ 122

Fotografia 87 - Baile das debutantes com seus padrinhos ............................. 122

Fotografia 88 - Baile do Chopp - Anos de 1960/70 ........................................ 124

Fotografia 89 - Pista de dana da Boate Bayukas, 1983 ............................... 125

Fotografia 90 - Pista de dana da Boate Bayukas, 1983 ............................... 126

Fotografia 91 - Fachada da SGN em runas .................................................. 133

Tabela1 - Propores da diviso dos lotes entre reclamante e procurador 1

Leilo .............................................................................................................. 209

Tabela 2 - Propores da diviso dos lotes entre reclamante e procurador 1

Leilo ............................................................................................................. 209

Tabela 3 - Propores da diviso dos lotes entre reclamante e procurador 2

Leilo ............................................................................................................. 209

Fotografia 92 - Prtico da Fachada da SGN .................................................. 222

Fotografia 93 - Departamento de bolo sem manuteno em 2011 .............. 229

Fotografia 94 - rea interna das pranchas de bolo em funcionamento ........ 229

Fotografia 95 - Portaria e parte da fachada da SGN em 2011 ....................... 230

Fotografia 96 - A rea pertencente quadra de futebol de areia tomada pela

vegetao em 2011 ........................................................................................ 230

Fotografia 97 - Crio Dutra colhendo assinaturas para a campanha SOS Grmio

Niteri ............................................................................................................. 237

Fotografia 98 - Crio Dutra e o Professor Valdir Dall'Agnol (Presidente da

ABANIT) ......................................................................................................... 237

Fotografia 99 - Fachada frontal e lateral ........................................................ 243

Fotografia 100 - Parte da fachada e do ginsio de esportes .......................... 244

Fotografia 101 - Fachada frontal e lateral da SGN ......................................... 244

Fotografia 102 - Fachada frontal, com parte do revestimento cado e vegetao

crescendo na marquise .................................................................................. 244

Fotografia 103 - Fachada frontal onde se observa paredes com reboco se

desprendendo e vidros quebrados ................................................................. 245

Fotografia 104 - Fachada do ginsio de esportes .......................................... 245

Fotografia 105 - Ginsio foi transformado em escola de futebol de salo ...... 246

Fotografia 106 - Dependncias do ginsio transformadas em escola de futsal

....................................................................................................................... 246

SUMRIO

INTRODUO ............................................................................................. 15 1 CAPITULO I: SOCIEDADE GRMIO NITERI ................................ 44 1.1 As origens da Sociedade Grmio Niteri e sua historicidade ..... 44 1.2 Grmio Niteri sinnimo de diverso e lazer ................................ 55 1.3 A fora do Grmio Niteri e a conquista da comunidade .......... 111 2 Capitulo II: A (RE)APROPRIAO DO DIREITO .......................... 134 2.1 A (re)apropriao do Direito: ressignificao da Sociedade Grmio Niteri em uma reclamatria trabalhista e suas consequncias .................................................................................................................... 134 2.2 A Sociedade Grmio Niteri: a juridicizao da memria e do patrimnio cultural da comunidade do Bairro Niteri ........................... 158 2.3 Uma sociedade que desmancha no ar ......................................... 171 3 Captulo III: O FIM DE UMA SOCIEDADE ..................................... 193 3.1 A atual situao da Sociedade Grmio Niteri ............................ 193 3.2 A questo social: Qual a relao da comunidade com o espao existente?. ................................................................................................. 222 3.3 O que restou de uma sociedade ................................................... 242 CONSIDERAES FINAIS ....................................................................... 250 REFERNCIAS. ......................................................................................... 260 APNDICE A .............................................................................................. 271 ANEXO A. .................................................................................................. 272 ANEXO B ................................................................................................... 274 ANEXO C. .................................................................................................. 276 ANEXO D ................................................................................................... 277 ANEXO E. ................................................................................................... 278 ANEXO F. ................................................................................................... 282 ANEXO G ................................................................................................... 283 ANEXO H. .................................................................................................. 286 ANEXO I ..................................................................................................... 287 ANEXO J. ................................................................................................... 289

15

INTRODUO

Logo ficou claro que nadavam contra a corrente: a sentena de morte da comunidade era irrevogvel e mnimas as chances de que ela pudesse ressurgir dentre os mortos. (BAUMAN, 2004, p. 38).

A temtica deste projeto foi propor uma narrativa sobre a histria do clube e

reconstituir a trajetria da Sociedade Grmio Niteri (SGN), um clube social

recreativo localizado no Bairro Niteri, na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul.

A realizao desse trabalho estava relacionada vivncia da pesquisadora no

bairro e, consequentemente, na sua participao por um perodo nas atividades

esportivas do Grmio Niteri, privilegiando assim a sua experincia cultural e social

da comunidade.

Havia poucos registros ou estudos especficos sobre o Bairro Niteri e a total

ausncia de informaes condensadas sobre a SGN. Essa carncia dificultava o

entendimento e o embasamento da pesquisa, porm foi a mola propulsora para a

compreenso do cenrio social e para a composio da histria do Grmio Niteri.

O maior desafio estava em onde encontrar material que permitisse esclarecer

ou relatar fatos ocorridos. Era necessrio descobrir as peas para fechar o jogo de

quebra-cabea do perodo inicial de 1933 at o ano de 2011.

O espao fsico da sede, ocupado pelo esplio de um reclamante de uma

causa trabalhista, protocolada em 1995, no permitia acesso aos arquivos que

existiram no perodo de uso da sociedade. Outro desafio, ento, foi encontrar ex-

associados que guardavam registros da poca.

A dificuldade no estava na antiguidade da fundao ou no uso da sociedade,

mas o fim do clube e a improbabilidade, na viso dos ex-associados, da

possibilidade do retorno do espao comunidade.

A pesquisadora ousava afirmar que revirar o ba das recordaes nem

sempre podiam ser considerados momentos de prazer e de alegrias, e esse caso foi

um fator desmotivador dos envolvidos que guardavam alguns registros. Nas

informaes verbais, ex-associados afirmavam que era muito triste revisitar pela

memria suas experincias vividas.

16

A ajuda da famlia permitiu o primeiro passo, o caminho. Roberval Galina

Dias, marido da autora, apontou o primeiro nome de contato para a pesquisadora.

Crio Dutra, ex-diretor social, estava presidindo a Comisso SOS Grmio

Niteri no ano de 2009, formado por um grupo de empresrios, comerciantes e

profissionais liberais alm de outros ex-associados. O objetivo era conscientizar a

comunidade e obter apoio do poder pblico municipal, da Cmara de Vereadores e

da Prefeitura Municipal para a retomada da SGN como espao comunitrio.

A pesquisadora procurou Crio Dutra que prontamente demonstrou interesse

e disponibilizou todo material que possua da Comisso SOS Grmio Niteri.

Fotografias, documentos, certido de propriedade da SGN retirada do Registro de

Imveis da Cidade de Canoas dos perodos de maio de 1998, maio de 2000, maio

de 2001, agosto de 2001, maio de 2002, setembro de 2002, dezembro de 2003, abril

de 2006 e janeiro de 2007. Dessa forma, esses registros informavam a situao em

que a sede do clube se encontrava.

Outros documentos cedidos por Dutra foram a cpia de registros das aes

feitas pela Associao SOS Grmio Niteri, como entrevista de Crio Dutra para o

programa Bibo Nunes, em setembro de 2009. A ata 001/2009, de 21 de agosto de

2009, da fundao da Comisso SOS Grmio Niteri, com a relao dos apoiadores

da Comisso, relatrio de atividades apresentado na Cmara de Vereadores de

Canoas, em 01 de outubro de 2009. Os registros realizados durante o jantar de

apoio Comisso SOS realizado em 27 de novembro de 2009. A cpia do ofcio

encaminhado ao Prefeito de Canoas, Jairo Jorge da Silva, pela Comisso SOS

Grmio Niteri solicitando esclarecimentos sobre a desapropriao da rea do ex-

clube Grmio Niteri, alm de material de publicao em jornais e revistas, que

deram partida ao estudo.

A coleta do material inicial permitiu uma viso parcial da situao da SGN,

entretanto faltava a fonte da relao jurdica de como estavam submetidos os bens

do clube. A dvida inicial apontava a necessidade em descobrir quem eram os

proprietrios do qu. Essa dvida poderia ser revelada atravs do processo

trabalhista em andamento na Justia do Trabalho, Tribunal Regional do Trabalho da

4 Regio, Vara do Trabalho 3 Vara do Trabalho de Canoas.1

1 Fonte: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regio. Processo trabalhista 90286.203/95-2; Autor Ismar Machado da Cunha, Adv. Joo Eduardo Viegas da Silva, Ru GRMIO Niteri, Adv.

17

A orientao que partiu do orientador Professor Dr. Germano Andr

Doederlein Schwartz foi para o acesso cpia do processo trabalhista em

andamento. Desta forma, foi possvel colher informaes precisas e concretas alm

de obter o melhor entendimento do processo em epgrafe.

A cpia do processo na ntegra na 3 Vara do Trabalho de Canoas mostrou

alguns caminhos e elucidaram fatos. Porm, outra dificuldade surgiu, o entendimento

do vocabulrio jurdico para uma mestranda com formao em arquitetura e

urbanismo. Esse, com certeza, foi mais um desafio a ser superado.

O processo compreendia de 1738 pginas com oito volumes. Os cinco

primeiros volumes estavam distribudos:

Primeiro volume - pginas 001 at 199

Segundo volume - pginas 200 at 548

Terceiro volume - pginas 549 at 812

Quarto volume - pginas 813 at 1018

Quinto volume - pginas 1019 at 1152

Mais trs volumes apensados ao processo:

Volume I - pginas 001 at 200

Volume II - pginas 201 at 445

Apensado - pginas 446 at 586

Volume total de 1152 mais 586 = 1738 pginas.

Com a leitura do processo, a autora obteve condies de visualizar a situao

da SGN dentro do contexto jurdico; alm de desvelar fatos importantes, como o

entendimento de parte da histria da SGN, anexos s laudas do processo. O relato

da doao2 de parte dos lotes que compreendiam toda a estrutura da sede da SGN

estava apensado ao processo. Em 1953, o fundador do Bairro Niteri, Arthur Oscar

Jochims em escritura pblica registrou, no Terceiro Tabelionato de Porto Alegre, a

doao de diversos lotes para o uso da SGN.

No documento de doao foram registradas ressalvas e condies que

deveriam ser respeitadas por quem administrasse a sociedade em toda a sua

Suzana Trelles Brum. Canoas, 2002. Processo em andamento. 2 Fonte: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regio. Processo trabalhista 90286.203/95-2; Autor Ismar Machado da Cunha, Adv. Joo Eduardo Viegas da Silva, Ru GRMIO Niteri, Adv. Suzana Trelles Brum. Canoas, 2002. Processo em andamento. Volume II do Apensado. p. 254/260.

18

existncia, bem como o destino que deveria ter a rea em caso de desistncia do

uso por parte do Grmio Niteri. Para o melhor entendimento do estudo essa

questo ser tratada no decorrer do registro.

A continuidade da pesquisa ocorreu com a ajuda de amigos e de ex-

associados para localizar outros ex-associados que exerceram cargos na diretoria

da SGN, que trouxeram informaes alm de documentos e que permitiram o

desenho do projeto final.

O processo trabalhista apontava que a SGN contabilizava, em 04 de julho de

2002, 7.238 scios.3 Mesmo nesse universo expressivo, a autora teve dificuldade em

encontrar pessoas que possussem acervo e que estivessem dispostas a

compartilhar informaes. Essa atitude poderia ser o receio no comprometimento

das personagens em uma causa ambgua que se arrastava desde 1995.

Mais uma vez contamos com a ajuda de Crio Dutra que apresentou a autora

o Sr. Moacyr Siqueira, ex-associado que exerceu a funo de vice-presidente de

finanas e compartilhou todo seu acervo. Siqueira colaborou com o emprstimo de

relatrios contbeis, fotografias, revistas, informativos e relatrios; alm de

disponibilizar material para a pesquisa. Apresentou Mrio Both, ex-associado, ex-

vice presidente e ex-presidente da SGN e sua esposa, Sofia Both, que contriburam

relatando suas lembranas sobre a histria do bairro e da SGN e tambm de ceder

seu acervo de fotografias. A famlia Both foi um dos primeiros moradores de Niteri.

Mrio Both faleceu em 11 de setembro de 2012.

Outro ex-associado, que exerceu o cargo de vice-presidente esportivo, com

um acervo delicadamente guardado e conservado, Alvcio Alves de Oliveira e sua

esposa, Maria de Oliveira, emprestaram material para a pesquisa. Essa famlia no

s compartilhou seus registros sobre a histria do bairro e do clube, como tambm

fotografias e a uma listagem original, datada de agosto de 1952, identificando

nominalmente 12 dos 13 integrantes responsveis pela fundao da SGN.

Alvcio citou que nunca foi identificado nem localizado o 13 integrante.

Afirmou ainda, ter participado das reunies por ocasio da fundao, porm seu

nome no estava na listagem. No perodo da fundao Alvcio no possua dinheiro

3 Fonte: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regio. Processo trabalhista 90286.203/95-2; Autor Ismar Machado da Cunha, Adv. Joo Eduardo Viegas da Silva, Ru GRMIO Niteri, Adv. Suzana Trelles Brum. Canoas, 2002. Processo em andamento. Volume 2. p. 487.

19

suficiente para complementar o valor inicial da cota de associado fundador.

Infelizmente, no decorrer da nossa pesquisa, mais precisamente em 24 de novembro

de 2012, Alvcio A. de Oliveira faleceu.

Alm dos ex-associados j citados, outras pessoas da comunidade,

contriburam para a pesquisa: Jandir Antnio Valandro, ex-associado e morador do

Bairro Niteri; Roberval Galina Dias, ex-diretor do departamento de bolo e morador

do Bairro Niteri; Valdir Dall Agnol, ex-associado, presidente da Associao dos

Moradores do Bairro Niteri; Angela Daldon, ex-associada; Joo Almeida ex-

presidente da SGN e sua esposa Ivani de Oliveira Almeida.

Com o agrupamento de todas as informaes foi possvel escrever e

desenhar a dissertao, alm do referencial terico que permitiu o entendimento e a

complementao do trabalho.

A pesquisa teve por finalidade registrar a histria da SGN, fundada em 1933,

que culminou com a venda da sede para pagamentos de dvidas trabalhistas no ano

de 2001.

O perodo de 2001 at 2011 seguiu-se de embates entre os arrematantes do

imvel, o Grmio Niteri e a justia. At setembro de 2011 no havia um desfecho

final, nem previso do destino para o espao que abrigava a SGN. O delinear das

discusses e embates foram tratados no decorrer da pesquisa.

A partir das pesquisas feitas com os ex-associados e os moradores do bairro

que detinham informaes de acervos particulares como fotos, jornais, boletins

informativos, foi possvel desenvolver o projeto de mestrado, tendo como ttulo da

pesquisa A SOCIEDADE GRMIO NITERI EM CANOAS: ENTRE A MEMRIA E

A JURIDICIZAO (1933-2011).

Os resultados apresentados foram desenhados de maneira que pudesse ser

entendido, pelos futuros leitores e principalmente ex-associados, qual era a

importncia do espao social e esportivo para a comunidade do Bairro Niteri, alm

de identificar como essa sociedade serviu a um bairro, onde as possibilidades de

lazer, identidade e sociabilidade faziam parte de um mesmo contexto.

A pesquisa passou por uma breve anlise da formao do Bairro Niteri que

permitiu visualizar a inter-relao que a SGN tinha com a comunidade e seus

moradores.

20

A anlise feita por meio das fontes relacionadas com as sociedades

recreativas, sociedades esportivas e associaes mostrou como esse

entrelaamento permitiu a formao e a organizao das comunidades, permitindo,

tambm, uma anlise pela diversidade de informaes, testemunhando a

fragilidade de uma sociedade recreativa e a importncia de seus membros, quando

responsveis pela sua administrao.

A autora estabeleceu como parmetro o incio do registro da pesquisa em

1933, data da fundao da Sociedade Grmio Niteri - SGN, apenas um ano aps

da fundao do Bairro Niteri em 1932.

Da mesma forma, foi destacada a fundao do bairro, ocorrida sem previso

de espaos de lazer ou reas verdes. Assim, para atrair mais moradores e povoar

essa regio, seus fundadores oportunizaram a criao da fundao da SGN,

doando lotes para a ampliao do espao do clube Grmio Niteri.

O perodo de 1933 at 1995 foi marcado por aes e empenho dos

associados da SGN que contriburam para a construo de uma sede, utilizada

como espao de referncia e sociabilidade. Por volta do incio da dcada de 1990,

iniciou-se um perodo de decadncia, turbulncia e muitos problemas, culminando

com a venda de toda a rea utilizada pelo clube para pagamento de dvidas

trabalhistas.

No ano de 2011, o referido espao estava em decadncia; uma sede sem

manuteno e sem cuidados. O processo que havia iniciado em 1995 ainda

encontrava-se em andamento e sem previso de um desfecho.

Portanto, o perodo de 1995 at 2011 foi marcado pela inquietao por parte

de alguns membros da comunidade de Canoas e pela sinalizao do Prefeito

Municipal, Jairo Jorge, em proceder a retomada da sede com promessa de devolv-

la para a comunidade.

O desenho da pesquisa foi realizado sobre as seguintes documentaes:

primeiro estatuto social, datado de 25 de novembro de 1939; relao dos scios-

fundadores da SGN, documento original, datado em 30 de junho de 1952; carteira

de scios de Moacyr A. da Siqueira, 1955 e 1963, Srgio Eloy Schultz, 1964, Alvcio

Alves de Oliveira, 1981; recibo de quitao do pagamento de mensalidade, 1957,

1965,1990 e 1995; folder do lanamento da nova sede, em 1966, com a venda de

ttulos para novos scios; estatuto social de 03 de maro de 1978; ata 09/82 do

21

conselho deliberativo; relatrio com os principais investimentos e realizaes da

diretoria, no perodo de julho/82 a abril/83; relatrio referente a um ano de atividades

da gesto do ano 1983; duas revistas informativas datadas de maio de 1983 e

dezembro de 1983, nicos exemplares editados pela SGN; inventrio dos

equipamentos existente na copa do ginsio da SGN, datado em 17 de outubro de

1983; carta de esclarecimento do Presidente da SGN para os scios, maio de 1996;

plano de trabalho apresentado por uma chapa da oposio para eleio para nova

diretoria, no perodo 2002/2004. Outrossim, documentos da Comisso SOS Grmio

Niteri, como a entrevista de Crio Dutra para o programa de televiso Bibo Nunes,

de outubro de 2009; ata 001/2009, de agosto de 2009 de fundao; relao dos

apoiadores; relatrio de atividades apresentado na cmara de vereadores de

Canoas; registro do jantar em apoio Comisso; cpia do ofcio encaminhado ao

Prefeito de Canoas Jairo Jorge da Silva, na gesto de 2009, solicitando

esclarecimentos sobre a possvel desapropriao da rea da SGN; estatuto de

alterao do registro da Comisso SOS Grmio Niteri para Associao SOS

Grmio Niteri Comunitrio, de 11 de maro de 2011; boletins informativos da SGN

dos perodos junho/1966, agosto/1980, agosto/setembro/1982, agosto/1984,

outubro/1984, novembro/1984, fevereiro/1985, maro/abril/1985, maio/junho/1985,

setembro/outubro/1985, novembro/dezembro/1985, dezembro/1985, janeiro/1986,

maro de 1986, maio/1986 e junho/1988; reportagens de diversos jornais com

notcias relacionadas a esporte, social e com relao ao trabalhista.

Em julho de 1982, o jornal O Timoneiro divulgou uma reportagem com o

ttulo de Grmio Niteri: Quase meio sculo de sucessos. Em julho de 1982, a

equipe de bolo Vira Tudo e Estrela DAlva vencem Torneio dos 49 anos da SGN.

Para o jornal O Timoneiro, a notcia vinculada recebia o ttulo de Niteri defende

Canoas.

Com relao venda da sede, vrias reportagens trataram do assunto. Em

setembro de 2001, por exemplo, o jornal O Timoneiro publicou Grmio Niteri

Convoca scios ao reerguimento e em julho de 2002, mais uma vez, o mesmo

jornal noticiou: Grmio Niteri perde metade de sua rea. O Dirio de Canoas, de

fevereiro de 2003, havia noticiado Leiloada hoje tarde rea social do Grmio

Niteri. Ainda no mesmo perodo, O Timoneiro comunicava que Dvidas

trabalhistas levam patrimnio a leilo.

22

O assunto Grmio Niteri voltou a ser destaque em agosto de 2011, quando o

Dirio de Canoas comunicou o surgimento da Campanha SOS Grmio Niteri.

O jornal OT Niteri, com circulao no Bairro Niteri, possua um espao

chamado Memria do Bairro, onde eram vinculadas informaes e fotografias

sobre a histria do bairro.

Em junho de 2012, essa seo trazia a informao do Primeiro baile do

chope do Grmio Niteri ocorrido em 1965.

O acervo fotogrfico localizado foi de grande importncia para confirmar

informaes que s eram conhecidas verbalmente. Coube destaque para as

fotografias como a Escolha da Glamour Girl, 1962; Miss Canoas, 1966; Concurso

Cinderela do Calado, 1967 e a escolha da Senhorita Turismo Canoas e Rainha

das piscinas, 1972.

Dentre as fotos de apresentaes e eventos ocorridos na SGN destacam-se:

o Show de Wanderley Cardoso, em 1969; Benito di Paula, Os Brasas, Renato e

Seus Blue Caps, Silvinha Araujo e Tony Angeli em1970; baile das debutantes nos

anos 1960, 1970 e 1980; baile de carnaval das dcadas de 1970 e 1980; escolha do

Rei Momo de Canoas de 1970; baile das Nitinhas na dcada de 1980; as festas de

aniversrio em comemorao aos 44, 48; festa dos 50 anos da sociedade ocorrida

em 30 de junho de 1981; registros das piscinas e fachada da SGN da dcada de

1980; festa de inaugurao, em abril de 1991, da compra do novo equipamento para

o departamento de bolo que permitia o controle eletrnico dos resultados dos jogos

realizados pela equipe de bolo; registro do futebol de salo das dcadas de 1970 e

1980 e do futebol de campo das dcadas de 1950 e 1960.

Destaca-se tambm algumas fotos da situao do clube no ano de 2012, com

destaque para a foto area de toda rea que compreendia a SGN.

De posse de todo esse material, a pesquisa foi dividida em trs etapas. Na

parte introdutria, abordou-se os aspectos de sociabilidade, de identidade e do que

ocorria dentro da sociedade; No primeiro captulo, tratou-se das origens e da

trajetria institucional do Grmio Niteri em sua relao com o entorno comunitrio,

com enfoque para a percepo mnemnica da entidade como espao de diverso e

lazer, aspectos da fundao da SGN, a constituio da sociedade, o perfil dos

frequentadores do clube, a construo da nova sede, no contexto do

desenvolvimento social e urbano do bairro.

23

No segundo captulo, abordou-se os aspectos dentro da (re)apropriao do

Direito; a sociedade Grmio Niteri, a juridicizao da comunidade do Bairro Niteri;

a ressignificao identitria da Sociedade Grmio Niteri em uma reclamatria

Trabalhista e suas consequncias. Tratou-se aqui do abandono e da decadncia do

clube, numa existncia cada vez mais opaca, tragada no torvelinho das disputas

judiciais. No terceiro captulo, focou-se na situao presente da Sociedade Grmio

Niteri, sempre dimensionando-a no contexto sociocultural do bairro e percebendo a

dimenso patrimonial de interesse coletivo que se afirma em torno da propriedade

do clube, tanto como espao de memria quanto como territrio de vivncia e

sociabilidade.

A premissa da autora foi construir a histria da SGN, da fundao em 1933

at 2011, um perodo de 78 anos. Aps a coleta do material e anlise dos

documentos foi possvel a realizao de uma exposio fotogrfica itinerante de

todos os registros.

A exposio foi dividida trs perodos:

primeira fase constituiu o perodo marcado da fundao em

1933 at 1966, quando iniciou a construo da sede nova;

segunda fase, a partir de 1966, incio da construo da nova

sede at o final anos de 1980. Perodo em que ocorreram

eventos, shows e festas, quando a comunidade canoense, do

bairro e entorno, participava com assiduidade;

terceira fase, foram registrados os perodos de decadncia da

sociedade, a partir de 1990, com a venda da sede para

pagamento de dvidas trabalhistas at o ano de 2011. Foi dado

destaque para a sede abandonada e sem cuidados de

manuteno ou recuperao.

Partindo dos questionamentos iniciais, o aprofundamento da pesquisa ocorreu

na medida em que autora cotejou o quadro atual com a percepo ao nvel da

memria, embalada pelos associados e remetendo-se a uma poca de

grandiosidade e apogeu.

24

Os questionamentos iniciais foram desdobrados em:

Por que tratar do tema A Sociedade Grmio Niteri em Canoas:

entre a memria e a juridicizao (1933-2011) relevante?

Por que construir a histria da SGN?

Para qual finalidade era relevante o registro da histria da SGN?

Seria representativo para os moradores do Bairro Niteri, ex-

associados, lderes comunitrios, o registro da histria da SGN?

A juridicizao era a interferncia do Direito na vida das

pessoas. Como esta interferncia poderia ser caracterizada na

histria da SGN?

Para responder aos questionamentos e obter um melhor resultado, o projeto

foi fundamentado na abordagem qualitativa de pesquisa.

A coleta e o registro das informaes permitiu a anlise, bem como a

interpretao do material em epgrafe.

A anlise foi feita embasada em fontes primrias e secundrias. Todo o

material citado e pesquisado era original. Nesse sentido, foram utilizados, tambm,

materiais do acervo da autora, referente ao perodo em que fez parte da SGN, outros

registros das aes e participao na comunidade, alm de leituras pertinentes.

Ainda, foram utilizados documentos como: cpia do processo trabalhista em

andamento no Tribunal Regional do Trabalho da 4 Regio de Canoas, sob o

nmero 90286.203/95-2, tendo como reclamante Ismar Machado da Cunha, e seu

procurador advogado Joo Eduardo Viegas da Silva, como ru Grmio Niteri e

como ltima procuradora advogada Suzana Trelles Brum; Certido do Registro de

Imveis da Cidade de Canoas dos prdios que pertenciam SGN; dissertaes e

teses que tratavam do assunto sobre sociedades recreativas e esportivas, alm da

reviso da literatura pertinente que deram embasamento pesquisa.

Como procedimentos de pesquisa, foram utilizados os processos de campo

e documental. A partir da anlise dos dados coletados, foi possvel delinear as trs

etapas do estudo.

Para dar sustentabilidade pesquisa, a autora fundamentou suas reflexes

amparadas no referencial terico das obras dos socilogos George Simmel e

Norbert Elias, entre outros, com o enfoque e o conceito de sociabilidade e

25

identidade. Dessa forma, esses autores contriburam no conceito do surgimento do

Estado Moderno e a relao entre indivduo e sociedade.

Alm dos autores citados, a pesquisa tambm buscou elementos na teoria do

socilogo polons Zygmunt Bauman, que tratava da volatilidade dos vnculos, uma

das caractersticas da sociedade contempornea. Para Bauman (2003, p.115-122),

impossvel fugir das consequncias da globalizao, pois ondas de informao e

de novas ideias ocorrem com intensa velocidade, refletindo-se nas relaes entre as

pessoas.

De encontro do pensamento de Berman, a modernidade trouxe ao homem a

necessidade de viver em sociedade, a busca de experincia de tempo e espao, de

si mesmo e dos outros que era compartilhada por homens e mulheres em todo o

mundo (BERMAN, 2007, p. 24).

Na pesquisa, a autora destacou a questo da diversidade dos espaos

sociais, bem como suas funes contriburam para alavancar as novas formas de

relacionamento do homem urbano com outros meios, alm da mudana nos grupos

familiares.

Era natural a formao de outros grupos na sociedade como trabalho, futebol,

associaes, igrejas. Entre esses, encontravam-se os condomnios residenciais

fechados, confrarias e at os que pertenciam a clubes recreativos. Para todos esses

grupos, existiam normas e regras de convivncia que estavam relacionadas

conduta, status, esporte, lazer, entre outros. Eram as diretrizes que limitavam e

orientavam os diversos grupos similares.

Um clube recreativo era mais do que um espao de lazer. Seus associados

tinham a oportunidade de conhecer novos amigos, iniciar relacionamentos e at

constituir famlia. Eram as relaes de amizade no interior de um grupo, comunidade

ou classe social.

A busca pela sociabilidade deu forma aos clubes recreativos, associativos e

de lazer. Assim, a integrao do homem contribuiu para o surgimento desses

espaos nas cidades e bairros desde o final do sculo XIX at o incio do sculo XX.

Esses locais estavam consolidados, mais precisamente at incio dos anos de 1970.

Com as mudanas culturais ocorreram transformaes nas sociedades

associativas e recreativas. Conforme afirma Ruiz (2007, p. 5), as estruturas fsicas

dos clubes sociorrecreativos foram concebidas, muitas vezes, antes mesmo da

26

constituio dos bairros em diversos municpios. Essa informao reforava as

caractersticas em que a SGN foi fundada.

Em sua formao, o Bairro Niteri atraa uma populao operria, devido

facilidade na compra dos lotes com pagamento facilitado, inclusive com o

fornecimento de madeira, tambm financiada, para trabalhadores mais pobres

(PENNA, 2004, p. 17).

Os clubes sociais eram a demonstrao da representatividade dos sujeitos

que ali viviam, eles criavam sua estrutura a partir de um sentimento de comunidade,

de um senso de pertena determinada coletividade (BAUMAN, 2003).4

Portanto, a preocupao ia alm do lazer e do entretenimento, a instituio se

propunha a contribuir com a educao de seus associados. Constitua-se, assim, um

local de instruo, informao e leitura a partir da biblioteca que estava disposio

dos associados. Neste contexto, podemos nos certificar que cabia diretoria,

conforme foi descrito no estatuto social, Art. 54: h) ter em boa ordem e sob sua

guarda a BIBLIOTECA do Clube, atribuio que poder confiar ao 2 secretrio.5

A SGN tambm era um espao onde o esporte estava presente como,

realizao de campeonatos de futebol de campo, futebol de salo, bolo e bocha.

Todo associado tinha o livre arbtrio para participar na categoria que mais tivesse

identificao. Porm, sempre como categoria amadora, sem direito a remunerao.

Das disposies gerais do estatuto social no Art. 80: vedado ao clube remunerar

seus atletas e amadores.6

O que chama a ateno nas pesquisas realizadas so o modo de administrar

e as condies para gerenciar os clubes recreativos, que seguem uma linha muito

prxima entre eles. Para Tanno (2011), a forma de administrar um clube em So

Paulo tende a ter as mesmas diretrizes de um clube de Canoas.

A admisso de um novo associado s era concretizada aps anlise e alguns

cuidados feitos pela diretoria, por isso, a aprovao do futuro scio dependia no

somente das condies do candidato de pagar a joia, mas da aprovao

antecipada. Entende-se que esta forma de admisso, nada mais era do que um

controle social [...] o controle na admisso dos associados que oferece

4 Bauman e a impossibilidade da comunidade. Disponvel em: . Acesso em: 12 jan. 2013.

5 Estatuto Social.

6 Estatuto Social. Captulo VIII.

http://www.cchla.ufpb.br/caos/n11/01.pdf

27

importantes indcios de formas de comportamento dos trabalhadores fora das

fbricas e sobre os tipos de controle social no interior do grupo (TANNO, 2011, p.

338).

Assim como em outros clubes, na SGN os futuros scios, para serem

aceitos, precisavam ser apresentados por um scio, e o proponente teria que estar

em dia com as suas mensalidades, sendo atribuio da diretoria a aceitao ou no

do pedido (ibid.).

O compromisso da autora foi destacar os elementos de influncia dentro da

SGN, e os referenciais das representaes sociais ocorridas no perodo de 1933 a

2012.

Identidade a palavra do dia e o jogo mais comum da cidade, deve a ateno que atrai e as paixes que desperta ao fato de que a substituta da comunidade: do lar supostamente natural ou do circulo que permanece aconchegante por mais frios que sejam os ventos l fora. (BAUMAN, 2003, p. 20).

A caracterstica do surgimento e das alteraes dos espaos sociais

recreativos, a alterao da cultura social e do lazer podem ser explicadas pelo

mundo que chamo de lquido, porque, como todos os lquidos, ele jamais se

imobiliza nem conserva sua forma por muito tempo. Tudo ou quase tudo em nosso

mundo est sempre em mudana. (BAUMAN, 2011. p.7).

Desta forma, a escolha do tema do projeto remete ao ano de 1979, quando a

autora migrou da cidade de Encantado, distante 150 quilmetros da capital do

Estado, Porto Alegre, para morar em Canoas. Iniciava sua vida em uma cidade

grande com muitas expectativas, vontade de estudar, vencer e ocupar um lugar no

mercado de trabalho e por que no dizer na comunidade de Canoas. A migrao do

campo para a cidade era a realidade da maioria dos jovens locais. Muitos

moradores faziam o fluxo interior-capital a procura de melhores condies de

sobrevivncia, e a procura de trabalho [...] (PENNA, 2004, p. 15).

A vinda para a capital possibilitava estudar e trabalhar e, no caso, contava

com a facilidade de morar em Canoas, onde alguns familiares j estavam

estabelecidos.

Em Canoas, conheceu seu marido. A renda familiar era baixa e, por isso, as

opes se restringiam ao Bairro Niteri. As alternativas oferecidas no bairro estavam

28

na SGN, que possua espaos de lazer e sociabilidade sem a necessidade de

gastos extras. Nos finais de semana, frequentava a piscina da sede e, na parte

esportiva, mais precisamente o departamento de bolo. Era o local que permitia o

lazer, a convivncia familiar, troca de experincias com novos e velhos amigos;

afinal, os clubes funcionavam como locais de criao de redes de sociabilidade,

espaos de associao, unio e de identidade (TANNO, 2011, p. 345).

Nessa convivncia com os membros da comunidade, obviamente,

evidenciou-se necessidades de preencherem uma lacuna no que concernia ao

convvio social, [...] a diverses e aos esportes (NADALLIN 1972, p. 4).

A pesquisadora passou a ajudar na organizao de festas, bailes de

aniversrio do departamento de bolo, entre outros eventos comemorativos. O

objetivo era a melhoria da infraestrutura que atendia ao departamento de bolo. Foi

um trabalho desenvolvido para atender as expectativas, anseios de um pblico

restrito que dedicava investimentos financeiros e tempo para desfrutar o tempo

disponvel com prticas economicamente no produtivas (CAMARGO, 2008, p. 23).

Assim, a SGN tornou-se um espao onde era possvel expressar emoes,

gestos, ritmos e estabelecer uma diversidade de relaes com o pblico presente,

desta forma [...] lazer, instruo e beneficncia entrelaavam-se entre as

preocupaes da(s) organizao(es) [...] (SIQUEIRA, 2009, p. 177).

O objeto da pesquisa um clube social e recreativo, localizado no Bairro

Niteri, na cidade de Canoas, no Estado do Rio Grande do Sul, que surgiu nos

mesmos moldes de alguns clubes de Porto Alegre, como Gondoleiros, Navegantes

So Joo, Sociedade Polnia, formado por associaes de moradores de bairros

operrios que trabalhavam nas indstrias localizadas no Quarto distrito de Porto

Alegre (FORTES, 2004). O Quarto Distrito

Antes de qualquer outra apreciao, diremos que o Quarto Distrito, administrativamente, no existe. Forma-se, imaginariamente, da reunio de vrios bairros da zona norte, dentre os quais destacamos os seguintes: So Geraldo, Navegantes, Dona Teodora, So Joo, Auxiliadora, Higienpolis, Ftima (Vila IAPI), Anchieta, Boa Vista, Cristo Redentor, Vila Floresta, Vila Progresso e Vila Ipiranga. (FORTES, 2004, p. 46)

No incio da dcada de 1970, ocorreu o chamado milagre econmico,

perodo em que o Governo Federal investiu em grandes obras, principalmente

29

rodovias. Ento, no Estado do Rio Grande do Sul foi construda a BR 101,

conhecida como freeway. Esta autoestrada facilitava a chegada da populao s

praias gachas. Com a facilidade do deslocamento at o litoral, mais o crescimento

do poder aquisitivo da classe mdia, ocorreu a transferncia do interesse nos

clubes sociais para novas alternativas de lazer.

Outro fator relevante foi a construo dos grandes shoppings com atrativos

diversos, como cinemas, salas de jogos, cafs e livrarias. Os shoppings atraam

um pblico que antes usufrua o tempo livre nas piscinas, futebol e outras

atividades disponveis nos clubes recreativos.

Em Porto Alegre, o primeiro shopping surgiu em 1983, o Iguatemi. Com a

modernidade, a populao optou por novas opes de lazer, os lugares de

expresso e sociabilidade passaram a ser lugares de memria.

A percepo do desgaste dentro das sociedades esportivas e culturais era um

assunto recorrente. O jornal O Estado de So Paulo, publicou uma matria

denominada Na era dos condomnios e academias, clubes tradicionais fecham as

portas (CHACRA, 2011).7 Para o jornalista as entidades estavam sem conseguir

novos scios e com dvidas impagveis, citava o reprter que pelo menos dez

agremiaes histricas do Estado de SP faliram nos ltimos anos (Ibid.).

As dificuldades enfrentadas pelas sociedades do Estado de So Paulo eram o

espelho do que estava ocorrendo no Grmio Niteri. Os associados haviam sumido

e o clube estava mergulhando em crise. Deste modo, essa situao era o reflexo,

em boa parte, da disputa de academias e mega condomnios com instituies

centenrias (Ibid.).

O advento da internet tambm marcou e contribuiu para o afastamento do

pblico das sociedades esportivas. Internet, shopping, televiso, a casa na praia

com a facilidade do acesso das famlias s praias do litoral" (Ibid.) foram fatores que

contriburam para o afastamento dos associados dos clubes sociorrecreativos.

Portanto, essa tendncia era percebida no somente dentro da SGN, como

nos outros clubes recreativos do municpio de Canoas. Clubes sociais que possuam

papel agregador foram relegados a segundo plano.

7 O jornalista Gustavo Chacra correspondente do jornal O Estado de S. Paulo e do portal estadao.com.br, em Nova York e nas Naes Unidas desde 2009. mestre em Relaes Internacionais pela Universidade Columbia.

30

No perodo dos anos 1960 e 1970, os clubes eram os espaos que

agregavam uma populao vida por lazer, diverso, sociabilidade. Entretanto, com

a mudana cultural na percepo das novas formas de lazer e a fuga cada vez

maior de scios, grandes clubes que fizeram parte de captulos importantes da

histria ficaram com dvidas praticamente inegociveis e sem outra opo esto

fechando as portas (CHACRA, 2011).

O Estado trazia a informao de que no lendrio Bauru Atltico Clube

(BAC), onde Pel deu seus primeiros chutes hoje existe apenas um supermercado.

Essa situao era recorrente, uma srie de agremiaes havia fechado suas portas

como em Ribeiro Preto, Campinas e So Jos do Rio Preto. Um local crtico era a

cidade de Santos, onde dos quatro clubes que existiam na frente do mar, apenas

um continuava em p (Ibid.).

O rgo responsvel em apoiar as entidades clubsticas em So Paulo, o

Sindicato dos Clubes do Estado de So Paulo (SindiClube), sinalizava que mais

de dez clubes fecharam as portas nos ltimos anos (Ibid.).

O fato no era pontual, essa situao se repetia em diversas cidades do pas.

Um dos fatores que estava provocando o fechamento de tantas entidades em locais

isolados era a construo de prdios com amplas reas de lazer (Ibid.). Isso

contribuiu para a mudana da percepo e entendimento dos locais de lazer e

sociabilidade que teve a contribuio das grandes incorporadoras e construtoras. A

melhora do poder aquisitivo das classes sociais propiciou tambm o acesso

compra da casa prpria em locais que ofereciam rea de lazer e esportes.

Para consolidar o entendimento da falncia dos clubes sociais, a

pesquisadora buscou, no mercado de imveis, informaes dos produtos oferecidos

pelas empresas da construo civil. O propsito era entender como essas

incorporadoras conseguiram conquistar a fatia de mercado deixada pelos clubes

sociais.

Entre as inmeras ofertas, a autora elegeu trs empreendimentos para

anlise. A escolha deveu-se a localizao e o tipo de empreendimento.

O primeiro empreendimento estava localizado em Canoas representava um

produto diferenciado por suas caractersticas. Possua localizao privilegiada o

consumidor desse produto detinha um poder aquisitivo considerado elevado.

31

O segundo empreendimento estava localizado em Porto Alegre, distante 13,9

quilmetros do centro, no estava localizado prximo universidades, grandes redes

de supermercados. Atraa um consumidor com poder aquisitivo menor.

O terceiro empreendimento um projeto desenvolvido pela Construtora Rossi,

denominado Rossi Ideal Jardins do Sul, para a venda por meio do programa do

Governo Federal Minha Casa Minha Vida.8

A autora pode constatar nos trs empreendimentos, que a conotao principal

estava relacionada ao que a pesquisadora resolveu denominar de conceito de

percepo do morar bem. Assim, essa referncia foi estabelecida devido forma

como cada incorporadora vendia o imvel e aguava seus clientes no juzo de valor

nos espaos de lazer e de sociabilidade.

O primeiro espao pesquisado estava localizado em Canoas. Um condomnio

de responsabilidade da incorporadora Melnick, uma empresa focada na construo

de empreendimentos de alto padro no Rio Grande do Sul.9

O segundo empreendimento era um condomnio localizado em Porto Alegre,

da construtora Rossi, denominado Rossi Flrida. Um empreendimento destinado s

famlias de classe mdia.10

O empreendimento foi um projeto desenvolvido pela Construtora Rossi,

denominado Rossi Ideal Jardins do Sul, para venda por meio do programa do

Governo Federal Minha Casa Minha Vida.11

O primeiro espao analisado era um condomnio fechado, localizado em

Canoas, batizado como Viva a Vida Clube Centro.12 O empreendimento partia da

denominao de clube centro, uma referncia aos clubes sociais que atraam o

consumidor que buscavam lazer e sociabilidade.

8 Disponvel em: . Acesso em: 10 dez. 2012.

9 Disponvel em: . Acesso em: 10 dez. 2012.

10 Disponvel em: . Acesso em: 10 dez. 2012.

11 Disponvel em: . Acesso em: 10 dez. 2012.

12 Disponvel em:

. Acesso em: 10 dez. 2012.

32

Figura 1 Localizao na cidade de Canoas da implantao do Viva a Vida Clube

Centro 13

Fonte: site da construtora Melnickeven.14

O empreendimento era bem localizado e prximo aos principais acessos de

servios pblicos e privados.

Figura 2 - Mapa de localizao e situao da implantao do condomnio

Fonte: Imagem retirada do site da construtora Melnickeven.15

O condomnio permitia aos seus clientes a personalizao das unidades

adquiridas, onde o comprador tinha a possibilidade de realizar alteraes de

13

Foto retirada do site da empresa Melnickeven, mostrando a localizao do empreendimento. Acesso em: 9 jan. 2013.

14 Disponvel em:

Acesso em: 9 jan. 2013.

15 Disponvel em:

. Acesso em: 9 jan. 2013.

http://www.melnickeven.com.br/site2010/empreendimento.php?id=43&t=1&torre=1&a=1&f=3http://www.melnickeven.com.br/site2010/empreendimento.php?id=43&t=1&torre=1&a=1&f=3

33

acabamento ou mesmo no layout.16 Desta forma, o futuro morador possua o juzo

de morar em um clube com uma residncia construda conforme as suas

necessidades ou muito prximo de seus sonhos.

Figura 3 - Fachada do empreendimento

Fonte: Imagem retirada do site da construtora Melnickeven.

Figura 4 - Plantas baixas dos diversos tipos de apartamentos oferecidos no

condomnio

Fonte: Imagem retirada do site da construtora Melnickeven.17

16

Disponvel em: http://www.melnickeven.com.br/site2010/empreendimento.php?id=43&t=1&torre=1&a=1&f=3>.

Acesso em: 9 jan. 2013.

http://www.melnickeven.com.br/site2010/empreendimento.php?id=43&t=1&torre=1&a=1&f=3

34

O condomnio oferecia como proposta de lazer desde a piscina at o clube,

como era caracterizado o empreendimento.

Figura 5 - Espaos de lazer, esportes e sociabilidade oferecidos dentro do condomnio

Fonte: Imagem retirada do site da construtora Melnickeven.

O segundo empreendimento estava localizado em Porto Alegre. Era de

responsabilidade da construtora Rossi, denominado Rossi Flrida.18 O imvel

oferecia apartamentos de dois ou trs dormitrios com rea de 67 a 79 metros

quadrados de reas privativas restritas. Possua uma infraestrutura social e esportiva

diversificada como salo de jogos, playground, brinquedoteca, piscinas adulto

piscina infantil, salo de festas adulto, salo de festas infantil, prainha, pista de

caminhada, guarita blindada, sala de jogos com lan house, quiosque com

churrasqueira, quadra esportiva, quadra streer Ball, fitness externo, pet play, lareira

externa, salo gourmet e fitness interno.19

Para a terceira proposta, Rossi Jardins do Sul, um empreendimento destinado

s famlias cadastradas no Programa Minha Casa, Minha Vida 2, do Ministrio das

17

Disponvel em: .

Acesso em: 10 jan. 2013. 18

Disponvel em: . Acesso em: 10 jan. 2013. 19

Ibid.

http://www.melnickeven.com.br/site2010/empreendimento.php?id=43&t=1&torre=1&a=1&f=3

35

Cidades.20 Programa oferecido pelo Governo Federal que possibilitava o acesso

moradia s pessoas de baixa renda.

Esse empreendimento oferecia apartamentos de dois dormitrios, com 40

metros quadrados privativos. A integralidade do condomnio era formada por 18 torres

que tambm oferecia uma proposta de lazer, com playground, salo de festas e

quadra esportiva. Todas as reas de lazer eram entregues equipadas e

decoradas.21

Nos trs empreendimentos eram as reas privativas de esportes, lazer e

sociabilidade que possuam muita similaridade. Consequentemente, a multiplicidade

de propostas de espaos de lazer que eram oferecidas por construtoras e

incorporadoras, em condomnios horizontais ou verticais, fizeram a populao

perceber que poderia ter em suas residncias locais com segurana, lazer e

sociabilidade oferecidos nos clubes recreativos.

As reas onde estavam localizados os clubes associativos foram sendo

assediados pelo mercado imobilirio, que sonha construir suas torres nos poucos

terrenos vagos (CHACRA, 2011).

Outro aspecto que se pode constatar a profissionalizao e as grandes

estruturas das academias que tornaram-se mais atraentes ao mercado consumidor.

Muitas pessoas tambm tm optado por fazer musculao ou pilates em

academias, em vez de jogar polo aqutico ou bocha com amigos no clube (Ibid.).

Nos anos de 1980, vrios clubes detinham o privilgio de possuir uma carteira

de associados expressiva, o Juventus, por exemplo, que nos anos 1980 tinha 130

mil scios e por muitos anos se vangloriou de ser o maior da Amrica Latina, perdeu

quase 100 mil scios (Ibid.).

Outro problema identificado foi a questo das atraes, o que era um

problema de todos os clubes: eles no se renovaram, em termos de atraes para

jovens (Ibid).

Alm disso, Chacra fez a observao de um comentrio do empresrio

Angelo Eduardo Agarelli, de 64 anos, conselheiro do Juventus, a brincadeira da

garotada no a mesma que na minha poca",. O autor complementa: "os prdios

20

Ibid. 21

Disponvel em: . Acesso em: 10 jan. 2013.

36

possuem ampla rea de lazer. No tem mais aquilo de famlias irem ao clube nos

fins de semana" (Ibid.).

Poucas so as entidades que no estavam mergulhadas na crise a Hebraica

no est includa entre os clubes em dificuldades. Assim como o Paulistano, o

Pinheiros, o Harmonia e o Monte Lbano, o clube da Rua Hungria continua em boa

situao, sem queda no quadro de associado. (CHACRA, 2011).

Havia um pblico cativo, que tinha interesse em frequentar os clubes em

detrimento s academias. Defendiam sua posio e justificavam que havia nas

instituies mais caras de So Paulo, associados que pagavam a mensalidade do

clube e a academia. (Ibid.).

Chacra (2011) sintetizou a opinio de um associado dos clubes

Paulistano e do Srio, ele tambm frequenta a academia Reebok. "Vou academia mais pelo tcnico. O sonho da academia ser clube e acho que serve apenas como soluo gerao mais jovem. Quase 90% dos meus amigos so do clube. Diferentemente da faculdade, nos encontraremos l at a velhice.

Para outro associado Chacha (2011) registrou

Cesar Roberto Granieri, que dirigiu o Clube Pinheiros e hoje preside o SindiClube, concorda que no existe comparao. "As academias so aparelhos de musculao e lanchonetes. Nos clubes, voc tem isso e ainda pode praticar mais de 30 esportes nas piscinas, quadras e pistas. Isso sem falar nas reas sociais. Se no fossem to bons, no seriam centenrios", afirma.

No foram os clubes que deixaram de ser interessantes, foram as pessoas

que se voltaram para outros interesses (Ibid., 2009). Destacava a autora que a

populao buscava qualidade de vida, novas oportunidades de trabalho e

principalmente lazer e entretenimento.

A sociabilidade em espaos sociais e recreativos,

[...] assim como o poder de carga de uma ponte se mede no pela fora mdia de todos os pilares, mas pela fora de seu pilar mais fraco, a qualidade de uma sociedade tambm no se mede pelo PIB (Produto Interno Bruto), pela renda mdia de sua populao, mas pela qualidade de vida de seus membros mais fracos. (BAUMAN, 2003).

A palavra comunidade era ampla e podia ser empregada para caracterizar

uma aldeia, um clube ou at uma nao. O que quer que comunidade signifique,

37

bom ter uma comunidade, estar numa comunidade (Ibid., p.7). Mesmo vivendo

aparentemente em um lugar clido, um lugar confortvel e aconcegante (Ibid.), o

Grmio Niteri teve seu trgico fim.

A mudana cultural do lazer nas dcadas 1980 e 1990, a falta de viso

estratgia em oferecer aos associados modernizao nas estruturas e servios e a

falta de uma gesto adequada, eficiente e moderna contriburam para o

enfraquecimento e o desaparecimento da SGN.

Isso tudo provocou o afastamento de seus associados e, consequentemente,

comprometeu a parte financeira com a reduo no pagamento das mensalidades.

Deste modo, sem dinheiro em caixa, parte dos encargos sociais no foram

pagos, gerando questionamentos de funcionrios e ex-funcionrios e reclamaes

trabalhistas. Todas essas situaes tornaram o clube vulnervel at desaparecer

das mos de seus associados.

Uma sociedade nos moldes da SGN precisava que houvesse entre seus

associados um entendimento comum que flua naturalmente (BAUMAN, 2003, p.

16) para que a mesma se mantivesse estruturada. Portanto, era necessrio um

entendimento compartilhado que cria a comunidade, (Ibid.), natural e evidente.

(Ibid., p. 19).

Era preciso manter os associados unidos a despeito de todos as questes e

problemas que pudessem ocorrer, evitando divergencias e desacordos, pois dentro

de uma comunidade era necessrio um ambiente de lealdade e de conforto.

Uma sociedade esportiva deveria tambm possuir o apoio de seus membros.

Os associados querem ouvir a sugesto de que a coletividade em que buscam

abrigo e da qual esperam proteo tem um fundamento mais slido do que as

escolhas individuais reconhecidamente caprichosas e volteis (Ibid., p. 91).

Logo, a SGN precisava enfrentar a nova realizade, os associados estavam

buscando outras formas de lazer, em alguns casos eles procuravam novos clubes

para praticar seus esportes.

A realidade da sociedade social e recreativa tomava novos rumos e

caminhos, optando, em alguns momentos, independente da vontade e ansiedades,

por novas escolhas, tudo numa sociedade de consumo era uma questo de

escolha (Ibid., 2001, p.87).

Uma sociedade precisava de lugares e espaos onde

38

as pessoas que estavam seriamente empenhadas em levar a sociedade a desenvolver condies mais desejveis a fim de ser moderna - ou seja, mais humana e melhor estruturada para promover a felicidade e dignidade humanas, no titubeavam um instante sobre que tipo de conhecimento deveria ser mais urgente adquirido, dominado e colocado em prtica. [...] buscar solues individuais para problemas produzidos socialmente e sofridos coletivamente. (BAUMAN, 2004)

22

Eraldo Reis Pereira, vice-presidente de finanas na gesto 1982 e 1983,

destaca:

Atualmente frequentam o Niteri 5000 scios titulares e aproximadamente 25 mil dependentes. Estabelecemos um controle rigoroso na venda de ttulos. Cada comprador tem uma conta corrente na tesouraria o que possibilita saber exatamente quanto o clube tem a receber [...] o aumento das finanas do GN conseguido graas a averiguao permanente da situao financeira de cada associado. Criamos um sistema de triagem que nos mostra se o scio est em dia, ou no, com suas obrigaes. Em cada promoo h essa verificao, [...] com isso conseguimos manter as finanas do clube sempre atualizadas [...] esse trabalho gera antipatia de alguns, por no abrirmos excees. Todos que comparecem s promoes em caso de no estar em dia com a secretaria/tesouraria participam da festa, mas tem sua carteira cassada, que s ser devolvida aps a atualizao. Alm do trabalho da secretaria nossa portaria tambm funciona, uma vez que o porteiro um excelente fisionomista e no deixa escapar ningum.

23

Para Eraldo, as novas instrues deveriam ser seguidas por todos os

associados, somente assim a entidade estaria segura e todos poderiam usufruir de

bem-estar e segurana. Para isso, as mudanas eram aprovadas pelo conselho e

no dependiam da aprovao dos associados, que deveriam segui-las.

Bauman esclarece que dentro do conceito de modernidade lquida esse

entendimento no o mesmo que consenso. O consenso implica a construo de um acordo alcanado por pessoas com opinies essencialmente diferentes, um produto de negociaes e compromissos difceis, de muita disputa e contrariedade. Para haver um entendimento em uma sociedade, esse entendimento no precisa ser construdo, nem precisa ter o aval dos scios, deve ser comunicado, completo e pronto para ser usado, precede todos os acordos e desacordos. Deve ser um entendimento natural, evidente, confere organicidade a coletividade a despeito de todos os fatores a que as separam. (BAUMAN, 2003,p.15).

22

Tempo Social. Entrevista com Zygmunt Bauman. Disponvel em:

39

Eraldo tambm afirmava que nem todos associados aprovavam o novo

sistema de gesto, alguns no aceitavam o recolhimento da carteira de associado

quando as mensalidades no estavam em dia.

A coeso e a unio de uma sociedade dependiam de uma comunicao entre

os membros da diretoria que realizava a gesto do clube e de seus associados, ou

seja, os de dentro e os de fora. Essa coeso tornava-se sensvel e corria o risco

de no ter sustentao quando o equilbrio entre a comunicao de dentro e de

fora tornava-se resistente unidade entre ns e eles (BAUMAN, 2003, p.18) e at

mesmo antagnica.

A velocidade das informaes nas sociedades contemporneas implicava na

impossibilidade da manuteno de fronteiras rgidas entre os de dentro e os de

fora. Toda unidade deveria ser construda com base em critrios de seleo,

separao e excluso de possibilidades. O acordo artificialmente construdo era a

nica forma disponvel de unidade. O novo cenrio descrito por Bauman, a

individualizao, no que dizia respeito aos valores humanos, envolvia uma troca. Os

bens trocados foram a segurana e a liberdade: a liberdade oferecida em troca da

segurana (Ibid., p. 26).

Uma grande transformao estava iniciando para os associados e

frequentadores da SGN, antes nunca imaginada. Seus associados poderiam supor

que nada ou nunca seus espaos de identidade, sociais e recreativos pudessem

sofrer alteraes to radicais. Porm, a identidade brota entre os tmulos das

comunidades, mas floresce graas promessa da ressurreio dos mortos. Uma

vida dedicada procura da identidade cheia de som e de fria. (Ibid., p. 20-21)

Esse acirramento foi aumentando em janeiro de 2002, era o comeo do fim.

Parte da sede da SGN foi levada a leilo e o bem foi arrematado pelo prprio credor

de uma causa trabalhista, pelo valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).24

Contudo, mesmo obtendo metade da sede, o reclamante ainda permanecia com

valores a receber. No mesmo perodo, ele tomou posse e passou a explorar

comercialmente o espao do que era conhecido como Grmio Niteri.

O mesmo reclamante permanecia com valores a receber e outras causas

foram protocoladas no Tribunal do Trabalho de Canoas. Assim, em 2006, ocorreu

novo leilo com o objetivo de quitar todas as dvidas. Dessa forma, parte da sede 24

2 Volume. Folha 408.

40

que ainda estava em poder da SGN foi levada a um segundo leilo, sendo

arrematada pelo valor de R$ 533.168,22 (quinhentos e trinta e trs mil, cento e

sessenta e oito reais e vinte e dois centavos)25 por quatro novos reclamantes, mais o

reclamante que havia arrematado a primeira parte do clube.

Em janeiro de 2009, o Poder Judicirio Federal Justia do Trabalho da 4

Regio do Rio Grande do Sul emitiu um Termo de Concluso afirmando que havia

sido Anulado o crdito de um dos arrematantes. Com isso, os demais

arrematantes teriam que efetuar o depsito no prazo de 10 dias, com a devida

correo dos valores, sob pena de anulao da arrematao.26Ainda assim, no

prazo estabelecido de 10 dias no ocorreu o depsito solicitado e, dessa forma, o

segundo leilo, ocorrido em 2006 foi anulado.

Foi percebida nesse momento uma oportunidade para retomar o prdio que

abrigava a sede da SGN. Um grupo de empresrios, comerciantes e profissionais

liberais constituiu a Associao SOS Grmio Niteri Comunitrio (ASOSGNC)

(Estatuto da Associao, p. 5). Com o objetivo do

resgate estrutural, patrimonial, cultural da sede. Essa associao possui [...] carter assistencial, educativo, cultural, desportivo e comunitrio, sem fins lucrativos, nem cunho poltico partidrio ou religioso.. , tem por objetivo [...] integrar a comunidade, o poder pblico, a escola e a famlia, buscando o desempenho mais eficiente e autossustentvel do processo da democracia e de outros valores universais, bem como o resgate estrutural, patrimonial, cultural e social do clube Grmio Niteri. (Ibid.).

A ASOSGNC fez um trabalho na comunidade do Bairro Niteri e entorno,

colhendo assinaturas e fazendo aes promocionais, buscando apoio na mdia

escrita e falada. O objetivo era conscientizar a populao da importncia do retorno

deste espao para uso comunitrio. Era a busca da identidade,

as pessoas em busca de identidade se vem invariavelmente diante da tarefa de alcanar o impossvel: essa expresso genrica implica, como se sabe, tarefas que no podem ser realizadas no tempo real, mas que sero presumivelmente realizadas na plenitude do tempo na infinitude... (BAUMAN, 2005, p.16-17)

25

3 Volume. Folha 782. 26

3 Volume. Folha 810.

41

A estrutura que abrigava a SGN estava sendo usada pelos herdeiros do

esplio de um dos reclamantes. Em juzo a esposa de Ismar argumentou que

passou a morar no local como forma de continuar zelando pela conservao do

imvel,27 e que estava conservando e protegendo o imvel, para evitar uma

possvel invaso, j que a sede possua quadras de esportes, piscinas, sales de

festas.28

Esse motivo justificava a permanncia no local. Todavia, mesmo residindo e

conservando o imvel, em 2012 o prdio estava sem cuidados de manuteno

predial, sem pintura, com vidros quebrados, partes da fachada caindo, piscinas com

gua suja e mato crescendo nas caladas.

Desta forma, a ASOSGNC procurava embasar e destacar a importncia dos

clubes recreativos em uma comunidade, com o propsito alm do lazer, do

entretenimento e do esporte. Alicerados que o papel da sociedade no processo de

formao de uma comunidade favorecia os laos de congraamento e de igualdade

entre seus membros, dentro do espao associativo, propiciando o necessrio

convvio (LONER, 2001, p.132). Do mesmo modo que ajudavam a formar laos de

amizade e solidariedade entre seus pares, ao mesmo tempo em que se formava

uma identidade em comum. (Ibid.).

Havia dentro do grupo da ASOSGNC uma procura pela identidade, que

significa aparecer: ser diferente e, por essa diferena, singular e assim a procura

da identidade no pode deixar de dividir e separar (BAUMAN, 2003, p. 21). O

questionamento da identidade s surge [...] porque existe mais de uma ideia para

evocar e manter unida a comunidade fundida por ideias a que as pessoas so

expostas em nosso mundo de diversidades e policulturas (Id., 2005, p. 17).

Os clubes sociorrecreativos eram considerados espao de sociabilidade e de

identidade que permitiam ao associado/usurio reconhecer os demais e, dentro

desse mesmo grupo, ser reconhecido por todo grupo. Conhecer os grupos que

compem cada cenrio e prticas e se fazer pertencer aos mesmos um processo

de socializao no qual corresponde a ser aceito e aceitar os padres de

comportamento e estilo. (SILVA, 2007, p. 9).

27

4 Volume. Folha 816. 28

4 Volume. Folha 816.

42

Ainda que a vida dentro de uma sociedade fosse considerada limitada para o

convvio dos associados, podia ser entendida como uma ampliao da qualidade e

da quantidade de oportunidades de lazer para alm das estruturas pblicas

disponveis na sociedade s pessoas que ingressavam n