Makhno e Lênin

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Makhno e Lênin: um diálogo histórico Por Volin - cópia por Andréa 01/09/2003 às 15:53 No verão de 1918, quando a Ucrânia foi invadida pelos exércitos austríaco e alemão, Makhno teve que marchar à Rússia central e aproveitou sua estadia em Moscou para debater e dialogar com algumas das personalidades mais destacadas e conversar sobre a luta e a revolução que se desenvolviam. Entre elas figurava Lênin. Nestor Makhno em 1919 Vladimir Lênin em 1919 A entrevista foi agendada por Sverdlov, um dos membros mais proeminentes do bolchevismo russo, cujos conselhos Lênin sempre atendia, considerando-o como seu mentor em assuntos referentes aos potenciais aliados políticos internos. Na época do debate, Sverdlov era o presidente do Comitê Executivo Pan-Russo dos Sovietes e, concedendo muita importância à personalidade de Makhno, se ocupou pessoalmente de todo o necessário para que este pudesse encontrar-se com Lênin. A conversa teve lugar no Kremlin, diante de Sverdlov, e durou cerca de duas horas. Aqui está como a descreve o próprio Makhno: ?Lênin, que se interessava muito sobre o que acontecia na Ucrânia, ocupada pelos exércitos invasores, me perguntou várias vezes sobre a atitude dos camponeses ucranianos e, sobretudo, queria saber como haviam recebido localmente os camponeses da Ucrânia o lema ?Todo Poder aos Sovietes?. Expliquei que os camponeses interpretaram este lema à

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Transcript of Makhno e Lênin

Makhno e Lnin: um dilogo histricoPor Volin - cpia por Andra 01/09/2003 s 15:53No vero de 1918, quando a Ucrnia foi invadida pelos exrcitos austraco e alemo, Makhno teve que marchar Rssia central e aproveitou sua estadia em Moscou para debater e dialogar com algumas das personalidades mais destacadas e conversar sobre a luta e a revoluo que se desenvolviam. Entre elas figurava Lnin.

Nestor Makhno em 1919

Vladimir Lnin em 1919A entrevista foi agendada por Sverdlov, um dos membros mais proeminentes do bolchevismo russo, cujos conselhos Lnin sempre atendia, considerando-o como seu mentor em assuntos referentes aos potenciais aliados polticos internos. Na poca do debate, Sverdlov era o presidente do Comit Executivo Pan-Russo dos Sovietes e, concedendo muita importncia personalidade de Makhno, se ocupou pessoalmente de todo o necessrio para que este pudesse encontrar-se com Lnin. A conversa teve lugar no Kremlin, diante de Sverdlov, e durou cerca de duas horas. Aqui est como a descreve o prprio Makhno:

?Lnin, que se interessava muito sobre o que acontecia na Ucrnia, ocupada pelos exrcitos invasores, me perguntou vrias vezes sobre a atitude dos camponeses ucranianos e, sobretudo, queria saber como haviam recebido localmente os camponeses da Ucrnia o lema ?Todo Poder aos Sovietes?. Expliquei que os camponeses interpretaram este lema sua maneira. Segundo eles, ?Todo Poder Aos Sovietes? queria dizer que o poder, em todos seus aspectos, devia se exercer diretamente com o consentimento e vontade dos trabalhadores; que os sovietes dos deputados, operrios e camponeses, locais e regionais, no eram outra coisa que as unidades coordenadoras das foras revolucionrias e da vida econmica, enquanto durasse a luta que os trabalhadores sustentavam contra a burguesia e seus aliados, os social-revolucionrios de direita e seu governo de coalizo.

- Voc cr que esta interpretao adequada? - me perguntou Lnin- Sim - respondi.- Neste caso, o campesinato daquela regio est infestado pelo anarquismo.- Isto mau?- No quero dizer isso, ao contrrio. Isto me causaria regozijo, pois adiantaria a vitria do comunismo sobre o capitalismo e seu poder.- Isto muito lisonjeiro para mim - insinuei.- No, no, volto a afirmar seriamente que um fenmeno desta natureza, na vida dos camponeses adiantaria a vitria do comunismo sobre o capitalismo; mas eu creio que este fenmeno, no campesinato, no natural. Foi introduzido em suas fileiras pelos propagandistas anarquistas e pode ser prontamente esquecido. At estou predisposto a crer que este esprito, no organizado, ao ver-se sob os golpes da contra-revoluo triunfante, j desapareceu.

Adverti a Lnin que um grande lder no podia ser pessimista nem ctico, e depois de conversar sobre vrios temas, me perguntou que pensava fazer em Moscou, ao que respondi que no tinha inteno de ficar naquela capital, mas de regressar Ucrnia.- Voc ir Ucrnia clandestinamente?- me perguntou.- Sim - respondi.Lnin, dirigindo-se ao camarada Sverdlov, disse:- Os anarquistas sempre esto dispostos a toda classe de sacrificios; so abnegados, mas tambm cegos e fanticos. Deixam escapar o presente por umfuturo distante.

Voltando-se para mim, pediu que no me desse por citado nestas palavras.

- A voc, camarada, - afirmou - considero como um homem realista, que est preocupado com os problemas atuais. Se na Rssia tivssemos pelo menos uma tera parte desta classe de anarquistas, ns, os comunistas, estaramos dispostos a colaborar com eles, sob certas condies, em prol da livre organizao da produo.

Adverti que comeava a estimar a Lnin, a quem at fazia pouco tempo havia considerado como o culpado pela destruio de todas as organizaes anarquistas de Moscou, o que foi o sinal para destruir as de outras muitas capitais da Rssia. Em meu interior comeava a envergonhar-me de mim mesmo e buscava rapidamente uma resposta adequada. Disse o seguinte:

- Todos os anarquistas apreciam muito a Revoluo e suas conquistas. Isto demonstra que, neste sentido, todos somos iguais.- No me diga isto - retrucou, rindo, Lnin - Ns conhecemos os anarquistas tanto como voc mesmo os conhece. A maioria deles, ou no pensam nada sobre o presente, ou pensam bem pouco, apesar da gravidade da situao. E para um revolucionrio vergonhoso no tomar resolues positivas sobre o presente. A maioria dos anarquistas pensam e escrevem sobre o porvir, sem entender o presente. Isto o que nos separa a ns, os comunistas, dos anarquistas.

Ao pronunciar esta ltima frase, Lnin se levantou da cadeira, e passeando pelo salo, acrescentou:

- Sim, sim: os anarquistas so fortes nas idias sobre o porvir, mas no presente no pisam terreno firme e so deplorveis, j que no tem nada em comum com este presente.

A tudo isto respondi a Lnin que eu era um campons semi-analfabeto e que sobre aquele abstrato assunto dos anarquistas, tal como ele me expunha, no sabia discutir. Mas disse:

- Suas afirmaes, companheiro Lnin, de que os anarquistas no compreendem o presente e que no tm nenhuma relao com ele, so equivocadas. Os anarco-comunistas da Ucrnia (ou do sul da Rssia, como dizem vocs, bolcheviques) tm dado j demasiadas provas que demonstram sua compenetrao com o presente. Toda a luta revolucionria do povo ucraniano contra a ?Rada? [governo burgus] Central da Ucrnia se tem levado sob a direo das idias anarco-comunistas e tambm, em parte, sob a influncia dos Social-Revolucionrios, os quais - h que dizer a verdade - ao lutar contra a ?Rada? Central, tinham finalidades muito distintas das nossas. Nos vilarejos da Ucrnia quase no existem bolcheviques, e ali onde h alguns, sua influncia nula. Quase todas as Comunas Agrcolas tem sido criadas por iniciativa dos anarco-comunistas. A luta armada do povo da Ucrnia contra a reao e, muito especialmente, contra os exrcitos expedicionrios austracos, alemes e hngaros, foi iniciada e organizada sob a ideologia e direo dos anarco-comunistas. A verdade que vocs, tendo em conta os interesses de vosso partido, encontram inconvenientes para reconhec-lo; mas tudo isto so fatos inegveis. Vocs sabem muito bem a qualidade e a capacidade combativa de todos os destacamentos revolucionrios da Ucrnia. No em vo sublinharam o valor com que aqueles destacamentos tem defendido nossas conquistas revolucionrias. Pois bem: mais da metade deles vo luta sob a bandeira anarquista. Os chefes de destacamento como Makrousov, Nikiforoba, Cheredniak, Garen, Chernyak, Luev (e muitos outros cuja relao seria demasiado prolixo fazer), so anarquistas-comunistas. No falo de mim pessoalmente, como tampouco do grupo ao qual perteno, mas daqueles destacamentos e batalhes, voluntrios para a defesa da Revoluo, os quais tem sido criados por ns e no podem ser desconhecidos por vossos altos comandos do Exrcito e da Guarda Vermelha. Tudo isto demonstra o quo equivocadas so as suas manifestaes, camarada Lnin, de que ns, os anarquistas, somos incorrigveis e dbeis no ?presente?; apesar de que nos agrada muito pensar no porvir. O que foi dito demonstra a todos, e tambm a voc, que ns, os anarco-comunistas, estamos compenetrados com o presente, trabalhamos nele, e precisamente na luta buscamos a aproximao do futuro, sobre o qual pensamos muito e seriamente. Sobre ele no pode caber dvida. Isto , precisamente, todo o contrrio da opinio que tm vocs de ns.

Naquele momento olhei para o presidente do Comit Central Executivo dosSovietes, Sverdlov, que havia corado. Lnin, abrindo os braos, me disse:

- Pode ser que eu esteja equivocado.

- Sim, sim! ? adverti - Neste caso, voc tem estas opinies sobre os anarquistas porque est muito mal-informado da realidade na Ucrnia, e porque tem, todavia, as piores informaes sobre o papel que ns desempenhamos na mesma. Pode ser que gente do seu prprio partido tenha interesse em nos denegrir, para fazer avanar sabe l que espcie de propsitos inconfessveis...

- Pode ser. Eu no nego. Todo homem pode equivocar-se, muito especialmente em uma situao como esta, em que nos encontramos nestes momentos - disse Lnin, terminando a conversa sobre o tema.?

Pelo tom, de certo modo respeitoso, com que Lnin debateu com Makhno, poder-se-ia pensar que o movimento encabeado por este ltimo seria, quando menos, respeitado, ainda que no fomentado; mas o prprio Lnin ordenou, umas vezes, e consentiu, em outras, que o movimento makhnovista e qualquer outra manifestao anarquista fossem implacavelmente combatidos. Este diocontra o anarquismo se manifestou de forma histrica em Len Trotski, que foi o real organizador da implacvel represso que sofreu o movimento anarquista russo. Milhares de anarquistas e simpatizantes foram aniquilados, muito antes da luta que a makhnovistchina sustentou contra as foras cegas dos exrcitos bolcheviques.

Citado da ?Enciclopdia Anarquista?, editada em 1971 em Mxico D.F. pelo grupo Tierra y Libertad.

ANEXO:

?(...) Com certeza, no possvel deixar de ocupar-se do movimento de massas na Ucrnia, sobretudo se estuda-se a Revoluo russa desde o ngulo que eu a encaro. Este movimento desempenhou na Revoluo um papel excepcionalmente importante, mais ainda que o de Kronstadt, em razo de sua extenso, sua persistncia, seu carter essencialmente popular, a clareza de suatendncia ideolgica e, por fim, as tarefas e obras que realizou.Agora bem: as obras sobre a Revoluo Russa, de toda ndole, guardam silncio sobre este movimento ou s falam dele em poucas linhas e com propsito difamatrio. Em suma, a epopia ucraniana permanece, at o presente, pouco menos que desconhecida, apesar de ser, entre os elementos da ?Revoluo desconhecida?, o mais notvel por certo. Mesmo a nutrida obra de Archinov (320 pginas na edio castelhana da Editorial Argonauta, 1926) no seno um resumo. O movimento guerrilheiro anarquista ucraniano, tratado como se merece, deveria ocupar vrios volumes. S os documentos, de grande valor histrico, a ele relativos, requereriam centenas de pginas. Archinov no pode reproduzi-los seno em nfima parte. Naturalmente, uma obra de tal extenso incumbir aos historiadores futuros, que disporo de todas as fontes desejveis. Contudo, este movimento deve ser posto luz o melhor possvel, desde j.Tais consideraes contraditrias me determinaram finalmente a:1.Aconselhar a leitura da obra fundamental de Piotr Archinov.2.Aportar o essencial do movimento, aproveitando sobretudo a documentaode Archinov.3.Completar a exposio com detalhes extrados das obras de Nstor Makhno.(...)

(...) Os numerosos destacamentos de guerrilheiros -os existentes e os que se iam formando- se coligavam aos grupos de Makhno a procura de unidade de ao. A necessidade desta unidade e de uma ao generalizada era reconhecida por todos os guerrilheiros revolucionrios. E todos coincidiam em que ela seria satisfeita melhor sob a direo de Makhno. Esta era tambm a opinio de vrios destacamentos de insurretos, at ento independentes entre si. Entre eles estavam o grande corpo de combatentes dirigido por Kurilenko, que operava na regio de Berdiansk; o de Stchuss, na regio de Debrivka; o de Petrenko-Platonoff, na de Grichino; e outros, que se uniram espontneamente ao destacamento de Makhno. Assim, a unificao das unidades desligadas de guerrilheiros na Ucrnia meridional em um s exrcito insurreto sob o mando supremo de Makhno, se fez de modo natural, por fora das coisas e vontade das massas.(...)?

(Citado do livro "A Revoluo Desconhecida", de Volin)Email::[email protected]::http://>>Denuncie abusos na poltica editorial>>Complemente esta matriaComentrios

opa01/09/2003 20:36

colega, esse texto j foi colocado aqui algumas fezes...

valeu

Toda a verdade sobre a reacionria "rebelio" de KronstadtBolchevique-leninista 02/09/2003 01:17

Qual a diferena do discurso proferido pelos anarquistas acerca de Kronstadt com a dos liberais, mencheviques e reacionrios de todos os matizes? Nenhuma. Faamos outra pergunta: como pode o levantamento de Kronstadt causar tanto desgosto aos anarquistas, mencheviques, liberais e contra-revolucionrios reacionrios ao mesmo tempo? A resposta simples: todos estes grupos esto interessados em comprometer a nica corrente genuinamente revolucionria, fiel aos princpios mais elementares do bolchevismo-leninismo, e que nunca abandonou sua bandeira, o Trotskismo. Os reacionrios utilizaram por muito tempo esse discurso inspido acerca de Kronstadt ora para desviar a ateno da degradao da II Internacional, ora para desviar a ateno da perfdia dos anarquistas espanhois. Contudo, o fato incontestvel que os marinheiros "insurretos" de Kronstadt desejavam abertamente restaurar o capitalismo no Estado operrio sovitico.

S para ter uma idia, o menchevique russo Miliukov entoava loas aos marinheiros de Kronstadt em seu peridico chamado Poslednia Novosti (ltimas Notcias), classificando-os de "heris da democracia". Vejam s que curioso, Miliukov era dirigente dos democratas constitucionais liberais (Cadetes), foi ministro de relaes exteriores no Governo Provisrio menchevique em maro/maio de 1917, e proeminente inimigo da Revoluo Bolchevique, ligou-se ao imperialismo defendendo abertamente a restaurao capitalista no Estado operrio sovitico. Como podemos dar crdito a uma "insurreio" que agrada at mesmo a liberais conservadores pr-imperialistas? Sabemos muito bem a que democracia o sr. Miliukov se refere, a democracia burguesa, que para o proletariado no passa de uma ditadura disfarada.

J os anarquistas escondem, por exemplo, que o movimento de Makhno assaltou e saqueou trens destinados a fbricas, plantas e ao Exrcito vermelho, destruiu trilhos, fusilou comunistas, etc. Certamente, Makhno chamou a isto de luta anarquista contra o "Estado". A insurreio de Kronstadt foi nada mais do que uma reao armada da pequena burguesia furiosa contra as penalidades da revoluo social e a severidade da ditadura do proletariado. Somente uma pessoa completamente superficial pode ver no grupo de Makhno ou na revolta de Kronstadt uma luta entre os princpios abstratos do anarquismo e o "socialismo de Estado". Na realidade, estes movimentos eram convulses da pequena burguesia camponesa que desejava, certamente, libertar-se do capital, porm que, ao mesmo tempo, no aceitava subordinar-se a ditadura do proletariado. A pequena burguesia no sabe concretamente o que quer e em virtude de sua posio no pode sab-lo. Em muitos outros distritos se evidenciou casos similares, em Tambovski sob a bandeira dos "social-revolucionrios", em diversas outras partes da Rssia houveram destacamentos de camponeses chamados "Verdes" que no reconheciam nem os vermelhos nem os brancos e rechaavam os Partidos da cidade. Kronstadt se diferenciou de uma larga srie de outras insurreies e levantamentos pequeno-burgueses somente por seu maior efeito externo.

O significado da consigna de Kronstadt foi "soviets sem comunistas", da qual se apoderaram no somente os social-revolucionrios mas a prpria burguesia liberal. Como representante sagaz do capital, o menchevique Miliukov compreendeu imediatamente que libertar os soviets da direo bolchevique significaria, em pouco tempo, a prpria destruio dos soviets. A experincia dos soviets russos durante o periodo de dominao menchevique e social-revolucionria, e mais claramente, a experincia dos soviets alemo e austraco, sob dominao dos social-democratas, comprovaram este feito. Os soviets social-revolucionrios e anarquistas podiam servir somente como uma ponte entre a ditadura proletria e a restaurao capitalista.

A rebelio de Kronstadt, portanto, tinha um carter contra-revolucionrio. Sobretudo do ponto de vista classista, pois em suas fileiras encontrava-se no s lmpems mas tambm reacionrios filhos de kulaks (camponeses ricos), comerciantes e curas. De um lado estavam os mais "conscientes", ou seja, os elementos de direita que atuavam entre os bastidores, queriam a restaurao do regime burgus. Porm no diziam em voz alta. E do outro a ala "esquerda", queriam a liquidao da disciplina, "soviets livres", e melhores raes.

O mais pueril de todos os argumentos de que no houve levantamento, que os marinheros no fizeram nenhuma ameaa, que "somente" tomaram a fortaleza e os encouraados. Parece ento que os bolcheviques marcharam contra o forte, com os peitos desnudos atravs do gelo, somente por sua inclinao a provocar conflitos artificialmente, por seu mal-caratismo, seu dio aos marinheiros "insurretos" de Kronstadt ou a doutrina anarquista. Sem limite de tempo ou espao, os crticos diletantes tratam de sugerir que tudo haveria terminado para satisfao geral se a revoluo simplesmente houvesse deixado somente os marinheiros insurgentes. Desgraadamente, a contra-revoluo mundial no os haveria deixado em nenhum caso. A lgica da luta haveria dado predominncia aos extremistas no forte, ou seja, aos elementos contra-revolucionrios.

J em relao ao nmero de mortos os anarquistas chegam a ser tragicmicos. Ante Ciliga, por exemplo, afirma que foram (pasmem!) mais de 10.000 marinheiros mortos (incrvel essa cifra), outros j dizem que foram 1.500 marinheiros. Que tragdia!

Como bem disse Trotsky, "Estas boas pessoas no tm a mnima compreenso do critrio e os mtodos de investigao cientfica. Citam os programas dos insurgentes como pregadores devotos citando as sagradas escrituras. Se queixam de que no tomamos em considerao os 'documentos', quer dizer, o evangelho de Makhno e os outros apstolos. 'Considerar' documentos no significa tomar-los ao p da letra. Marx disse que impossvel julgar partidos ou povos pelo que eles dizem de si mesmos. As caractersticas de um partido se determinam consideravelmente mais por sua composio social, seu passado, sua relao com as diferentes classes e estamentos que por suas declaraes orais e escritas, especialmente durante um momento crtico de guerra civil. Se por exemplo, comearmos a tomar como ouro puro os inumerveis programas de Negrn, Companys, Garca Oliver e cia., teriamos que reconhecer a estes cavalheiros como amigos fervorosos do socialismo. Porm, na realidade so seus prfidos inimigos." (Trotsky, 'Muito barulho por Kronstadt')

Essencialmente, os venerveis crticos so inimigos da ditadura do proletariado e portanto da revoluo. Nisto reside todo o segredo. Desejam uma revoluo que no conduza a ditadura, melhor, que instaure uma ditadura sem fazer uso da fora. Certamente seria uma ditadura muito "agradvel". Alguns anarquistas, que na realidade so pedagogos liberais, esperam que em cem ou em mil anos os trabalhadores obtenham um nvel de desenvolvimento to alto que a coero seria desnecessria. Naturalmente se o capitalismo puder conduzir a tal desenvolvimento, no haveria necessidade de destru-lo. Tampouco haveria necessidade de uma revoluo violenta, nem da ditadura que uma conseqncia inevitvel da vitria revolucionria. Contudo, o capitalismo decadente de nossos dias nos deixa pouco espao para iluses humanitrias e pacifistas.

Vimos muito bem, durante a guerra civil espanhola, a (in)capacidade dos anarquistas frente a uma situao revolucionria, integraram criminosamente o governo da "Frente Popular" que sufocou a revoluo socialista, desarmou e reprimiu os operrios e fuzilou revolucionrios preparando o caminho para a vitria da ditadura franquista. Os anarquistas PARTICIPARAM desse governo. Os dirigentes da CNT (Confederao Nacional do Trabalho, federao anarco-sindicalista espanhola) entraram totalmente para a equipe ministerial burguesa. Para justificar sua traio aos princpios do anarquismo invocaram a presso das "circunstncias particulares" (argumento habitual de todos os oportunistas). Porm, acaso os dirigentes social-democratas alemes no invocaram o mesmo pretexto, em seu momento? Logicamente, a guerra civil no uma situao pacfica, nem comum, mas sim uma "circunstncia excepcional". Entretanto, as organizaes revolucionrias srias se preparam para atuar, justamente, em "circunstncias excepcionais". A experincia da Espanha demonstrou mais uma vez que se pode "negar" o Estado em panfletos publicados em "circunstncias normais", com a permisso do Estado burgus, mas que as circunstncias da revoluo no permitem "negar" o Estado; ao contrrio, exigem a conquista do Estado.

E ainda por cima seus advogados e aliados de todos os matizes se ocupam tanto de uma defesa... da "insurreio" de Kronstadt contra os rudes bolcheviques. Uma vergonhosa aberrao!

"Durante o perodo herico da revoluo os bolcheviques lutaram ombro a ombro com os anarquistas autenticamente revolucionrios. Muitos passaram para as fileiras do partido. Mais de uma vez, Lnin e o autor destas linhas discutiram a possibilidade de conceder aos anarquistas determinados territrios onde, com o consentimento da populao local, pudessem realizar a experincia de abolir o Estado. Porm, a guerra civil, o bloqueio e a fome no permitiram dar vazo a tais planos. A insurreio de Kronstadt? Todavia, naturalmente, o governo revolucionrio no podia 'presentear' a fortaleza que defendia a capital aos marinheiros insurretos, simplesmente porque alguns anarquistas vacilantes se uniram rebelio REACIONRIA dos soldados e dos camponeses. A anlise histrica concreta dos acontecimentos reduz a p todas as lendas sobre Kronstadt, Makhno e outros episdios da revoluo, baseadas na ignorncia e no sentimentalismo." (Leon Trotsky, extrado da obra 'Stalinismo e Bolchevismo')

Por fim, as sees reacionrias dos marinheiros desejavam destruir a ditadura do proletariado e o jovem Estado operrio sovitico, conscientes de sua impotncia na arena da poltica revolucionria, a disparatada e ecltica pequena-burguesia, trata de utilizar o velho episdio de Kronstadt em sua luta contra quele que representou a verdadeira essncia e tradio do marxismo, Leon Trotsky ? fundador e chefe do proletrio Exrcito Vermelho ? e seu mais importante trabalho, a IV Internacional. No entanto, como bem disse o velho bolchevique: "Estas ltimas 'pessoas de Kronstadt', tambm sero esmagadas, verdade que sem o uso das armas, posto que, afortunadamente, no tm uma Fortaleza.

PS.: Para obter mais informaes sobre a reacionria "rebelio" de Kronstadt leiam o artigo escrito por Trotsky: "Muito Barulho por Kronstadt".Tambm recomendo essa leitura aos anarquistas se, por ventura, esses sectrios deixarem os seus velhos preconceitos contra o bolchevismo.

SAUDAES TROTSKISTAS!!!

QUE TEM A VER O COMENTRIO?Helena 02/09/2003 02:45

Companheiro "Bolchevique-Leninista" (engraado, achei que era a mesma coisa), o texto fala da tal guerrilha nanarquista ucraniana, que eu no conhecia, e no de Kronstadt. P, sempre me considerei meio trotskista porque odeio a burocracia dos PCs, mas esse troo de disqualificar os compas no t certo. Olha, se a coisa foi como o texto conta, no tem desculpa, t. No tem e pronto! Ou a gente luta pra libertar o Brasil e amanh vocs nos fuzilam como pequeno-burguses? Eu no, vai se catar, maluco. Quero mais liberdade pra todos.

Bolchevistas-leninistas, vocs j perderam essa guerra.Sertani 02/09/2003 07:27

Helena, voc uma ds poucas companheiras que se afirmam trotkista e uma das poucas a usar realmente o crebro. Coisa no muito comum como figuras como esses comdias que se auto-intitulam leninista bolchevista.O texto apresentado mostra um dilogo sobre a situao complicada na Ucrnia e suas polticas de estratgias, mas esses caras no conseguem entender nada e fazem comentrios fora de espao e que no tem nada haver com texto.Se tornam chatos, repetitivos, entediantes e sem contedo.Eu sempre disse que estes caras so a vergonha do socialismo e que at seus chefes e deuses como Lnin e Trtski devem estar se revirando no tmulo ao ler tanta estupidez, falta de bom censo e coerncia.Verdadeiramente, trotkistas no se diferem em muito dos estalinistas, salvo algumas excesses, e cometem grosseiramente, as mesmas mancadas e burrices. Mas pelo menos a companheira salvou o comentrio.Eles preferem somente nos atacar, xingar e tentar desqualiicar nossas lutas. "Vivem" achando que isto aqui a Rssia pr-revolucionria e no compreendem o contexto histrico. Querem importar a revoluo bolchevista pra c. Tem sentido uma coisa dessas?

VergonhosoTyler Durden 02/09/2003 09:32

De que importa se morreram 10.000 ou 1.500. A companheira bolchevista leninista se auto intitula de defensora do verdadeiro socialismo.Me causa medo, este socialismo que despreza a vida das pessoas citando nmeros. Qual a diferena histrica da morte de 10.000 marinheiros ou 1.500?H uma diferena companheira: a sensibilidade.No importa se foram 10 ou 10.000. Pessoas morreram, companheiros morreram. Ento devemos averiguar os fatos.Me sinto at assustado com esta afirmao.Como uma pessoa dessa se auto intitula socialista?Por favor, aos bolchevistas leninistas que no importam os erros da revoluo russa de 1917 peo-lhes que no sigam os passos dessa desletrada, recionria, cheirando ao totalitarismo pseudo-socialista.

Os bolchevistas contam mentiras sobre Kronstadt.02/09/2003 17:27

"O significado da consigna de Kronstadt foi "soviets sem comunistas", da qual se apoderaram no somente os social-revolucionrios mas a prpria burguesia liberal. Como representante sagaz do capital, o menchevique Miliukov compreendeu imediatamente que libertar os soviets da direo bolchevique significaria, em pouco tempo, a prpria destruio dos soviets. A experincia dos soviets russos durante o periodo de dominao menchevique e social-revolucionria, e mais claramente, a experincia dos soviets alemo e austraco, sob dominao dos social-democratas, comprovaram este feito. Os soviets social-revolucionrios e anarquistas podiam servir somente como uma ponte entre a ditadura proletria e a restaurao capitalista."

incrivelmente perfeito, como os que se intitulam bolchevistas-leninistas, tem uma qualidade potencialmente criativa: a de deturpar os fatos histricos e fabricar elementos irreais. OS processos- farsas de Stlin so um grande exemplo.Acontece, que Lnin sabia muito bem que Kronstadt era a ltima barreira de implementao de um modelo comunitrio dos operrios e camponeses, organizados em soviets e que este fato atrapalharia a conquista do projeto bolchevista de estado, anti-revolucionrio, capitalista de estado(em 1 fase e 2, tambm) e autoritrio. Deu no que deu: 45.000 trabalhadores dizimados sem a menor piedade. isso que ser bolchevista-socialista e revolucionrio?Mais tarde, j no exlio, o prprio Lon Trtski, afirmaria em seus escritos que reprimir Kronstadt foi um grande equvoco. lamentvel que os filhotes dessa ditadura anti-socialista e desse pensamento dogmtico/arcaico trotkista, legitimam e assinam embaixo, assassinatos, crueldade e perversidade. lamentvel e decadente.

KronstadtFAQ 18/09/2003 13:24

O que foi a Rebelio de Kronstadt?

A rebelio de Kronstadt ocorreu nas primeiras semanas de maro no ano de 1921. Kronstadt foi (e ) uma fortaleza naval em uma ilha no golfo da Finlndia. Tradicionalmente, tem servido de base frota russa no Bltico e escudo protetor da cidade de So Petersburgo (que durante a primeira grande guerra foi renomeada como Petrogrado, depois Leningrado, e atualmente de So Petersburgo novamente) a trinta e cinco milhas dal.Foram os marinheiros de Kronstadt que tomaram a iniciativa nos eventos revolucionrios de 1905 e 1917. Nas palavras de Trotsky, eles foram "orgulho e glria da Revoluo Russa". Os habitantes de Kronstadt foram os primeiros a apoiar e a praticar o poder soviete, formando uma comuna livre em 1917 que foi relativamente independente das autoridades. No centro da fortaleza um enorme parque publico funcionava como frum popular onde cabia mais de 30.000 pessoas.A Guerra Civil Russa terminou no Oeste da Russia em novembro de 1920 com o rendimento do general Wrangel na Crimia. As manifestaes populares na Rssia eclodiram tanto no campo como em pequenos municpios e grandes cidades. Levantes camponeses irromperam por toda a Rssia contra o confisco de gros ordenado pelo Partido Comunista (a diretriz poltica de Lenin e Trotsky argumentava que foram forados a fazer isso, na verdade essas aes envolveram uma brbara e intensa represso). Nas reas urbanas, ocorreu uma onda de greves espontneas at que finalmente em fevereiro eclodiu uma quase greve geral em Petrogrado.Em 26 de fevereiro, em resposta a esses eventos de Petrogrado, a tripulao dos navios militares Petropavlovsk e Sevastopol convocou uma reunio de emergncia e decidiu enviar uma delegao para a cidade para observar e trazer informaes sobre o movimento grevista. Ao retornar, a delegao informou seus companheiros marinheiros sobre as greves (com as quais foram inteiramente simpticos) e sobre a represso governamental dirigida contra ela. Os presentes neste encontro no interior do Petropavlovsk aprovaram uma resoluo onde apresentavam 15 exigencias que incluiam eleies livres para os sovietes, liberdade de expresso, imprensa, assemblia e organizao pelos trabalhadores, camponeses, anarquistas e socialistas de esquerda. Das 15 exigncias, apenas duas estavam relacionadas com aquilo que os marxistas qualificavam de "pequeno-burguesa" (os camponseses e artesos) onde exigiam "completa liberdade de ao" para todos os camponeses e artesos que no possuissem mo-de-obra contratada . Da mesma forma que os trabalhadores de Petrogrado, os marinheiros de Kronstadt exigiam a equalizao dos salrios e o fim dos destacamentos de bloqueio que restringiam o deslocamento e a possibilidade dos trabalhadores trazerem alimentos para a cidade.Cinqenta a sessenta mil pessoas afluram ao encontro na Praa Anchor em 1o. de maro onde foi constatado como "fato consumado" todo o relato feito pela delegao do Petropavlovsk. Apenas dois oficiais bolshevikes votaram contra o que foi chamado posteriormente de resoluo Petropavlovsk. Neste encontro tambm foi decidido enviar outra delegao at Petrogrado para explicar aos grevistas e s tropas sobre as exigncias de Kronstadt e solicitar a vinda de uma delegao de trabalhadores de Petrogrado para informar de primeira mo o que estava acontecendo l. Esta delegao de trinta membros foi aprisionada pelo governo bolshevike.Como os termos do documento do soviete de Kronstadt no foram atendidos, o encontro decidiu chamar uma "Conferencia de Delegados" para o dia 2 de maro. Nesse encontro se discutiria como seriam efetuadas as eleies. Esta conferncia consistiria de dois delegados da tripulao dos navios, unidades do exrcito, docas, oficinas, sindicatos e instituies de sovietes. Este encontro de 303 delegados endossou a resoluo Petropavlovsk e elegeu cinco pessoas para compor o "Comit Revolucionrio Provisrio" (que foi ampliado para 15 membros dois dias depois em uma outra conferncia de delegados). Este comit ficou encarregado de organizar a defesa de Kronstadt, uma deciso tomada devido s ameaas dos oficiais bolshevikes e aos infundados rumores de que os bolshevikes tinham enviado foras para atacar o encontro. Os vermelhos de Kronstadt se opuseram ao governo comunista sob o slogan da revoluo de 1917 "Todo Poder para os sovietes", acrescentando "e no para os partidos".O Governo Comunista respondeu com um ultimatum no dia 2 de maro. Esse documento dizia que a revolta fra "sem dvida preparada pela contrainteligencia na Frana" e que a resoluo Petropavlovsk no passava de uma resoluo tomada pelas "Centenas Negras-RS" (RS significando "Revolucionrios Sociais", um partido com uma tradicional base camponesa e cuja ala direita havia feito uma composio com os brancos; os reacionrios "Centenas Negras" eram proto-fascistas que j atuavam antes da revoluo atacando judeus, militantes operrios, radicais e da por diante). Eles argumentavam que a revolta havia sido organizada pelos ex-oficiais tzaristas a mando do ex-general Kozlovsky (considerado por Trotsky como um perito militar). Esta foi a verso oficial que prevaleceu com relao revolta.Durante a revolta, Kronstadt comeou a se auto reorganizar a partir da base. Os comits sindicais foram re-eleitos e um Conselho de Associaes Sindicais foi formado. A Conferncia de Delegados encontrava-se regularmente para discutir assuntos ligados ao interesse de Kronstadt e luta contra o governo bolshevike. Fileiras e destacamentos abandonaram o partido aos montes, expressando apoio e auxlio revolta engrossando o coro de "todo o poder para os sovietes, no para os partidos". Cerca de 300 comunistas foram presos e tratados humanamente na priso (para efeito de comparao, pelo menos 780 comunistas deixaram o partido).O governo comunista atacou Kronstadt em 7 de maro. A fortaleza caiu em 17 de maro. Dezesseis dias depois, mesmo com muitas unidades do Exrcito Vermelho passando para o lado dos rebeldes, a revolta de Kronstadt acabou esmagada pelo Exrcito Vermelho. Apesar do carter no violento da revolta de Kronstadt, a atitude das autoridades desde o princpio descartou qualquer seriedade nas negociaes impondo obedincia incondicional ao seu ultimatum. Quem no obedecesse sofreria as conseqncias. Os revoltosos foram cercados e no receberam nenhum apoio externo. Em 17 de maro, as foras bolshevikes finalmente ocuparam a cidade de Kronstadt aps sofrerem mais de 10.000 baixas (existem inmeros documentos confiveis que relatam as perdas no campo rebelde, inclusive demonstrando a quantidade de fuzilados ou enviados aos campos de prisioneiros). Como uma ironia da histria, no dia posterior, os bolshevikes celebraram o quinquagsimo aniversrio da Comuna de Paris.Assim foi, resumidamente, a revolta de Kronstadt. Obviamente impossvel relatar todos os mnimos detalhes, contudo recomendamos aos leitores a consulta de livros e artigos relacionados no final desta seo para um acompanhamento mais completo de tudo que aconteceu. Todavia, estes so os pontos chaves da rebelio. Em seguida iremos nos concentrar numa anlise desta revolta indicando porque ela to importante do ponto de vista poltico na avaliao daquilo que representou o bolshevismo enquanto teoria revolucionria.Nesta seo de nosso FAQ apresentaremos e discutiremos as exigncias de Kronstadt, sua origem radical na rebelio da classe trabalhadora. Relataremos as mentiras que os bolshevikes espalharam sobre a rebelio atravs do tempo e indicaremos suas reais ligaes com os brancos. Tambm discordamos da alegaes trotskistas de que os marinheiros em 1921 eram diferentes dos de 1917 ou de que suas perspectivas polticas haviam fundamentalmente sido alteradas. Discutiremos os argumentos de que o pas estava por demais exaurido para consentir uma democracia sovitica ou que a democracia sovitica resultaria na derrota da revoluo. Neste processo, tambm mostraremos a forma como os defensores do leninismo passaram a defender seus heris.Demonstraremos que Kronstadt foi um levante popular que surgiu de baixo para cima dos mesmos marinheiros, dos mesmos soldados e dos mesmos trabalhadores que fizeram a revoluo de outubro de 1917. A represso bloshevike revolta pode ser justificada somente em termos de defesa do poder do estado bolshevike mas jamais pode ser defendida nos termos da teoria socialista. Na verdade, ela indica que o bolshevismo um monumental engodo enquanto teoria poltica e que jamais poderia desaguar em uma sociedade socialista mas apenas e to somente em um regime capitalista de estado baseado num partido ditatorial. isto que Kronstadt mostra acima de tudo: optar entre o poder dos trabalhadores ou o poder do partido, o bolshevismo destruir o primeiro para implementar o segundo. Nesse aspecto, Kronstadt no um evento isolado.Existem muitas importantes fontes histricas disponveis sobre a revolta. O que existe de melhor para estudos sobre a revolta o trabalho de Paul Avrich e Israel Getzler, Kronstadt 1921. As obras anarquistas incluem Ida Mett em seu livro The Kronstadt Uprising (o melhor trabalho poltico sobre o tema), Alexander Berkman escreveu The Kronstadt Rebellion (tambm consta uma boa introduo na obra A Tragdia Russa), Voline em The Unknown Revolution dedica todo um excelente captulo sobre Kronstadt (onde apresenta uma grande quantidade de citaes retiradas de documentos de Kronstad) o volume dois de No Gods, No Masters de Daniel Guerin apresenta uma excelente seo sobre a rebelio (incluindo um detalhado relato de Emma Goldman extrado de sua autobiografia Living my Life sobre os eventos extrados dos documentos de Kronstadt). Anton Ciliga (um libertrio socialista/marxista) em seu livro Kronstadt Revolt tambm apresenta uma boa introduo aos temas relacionados com o levante.Do ponto de vista da anlise leninista, a antologia Kronstadt contem artigos de Lenin e de Trotsky relacionados revolta, uma espcie de ensaio suplementar refutando a verso anarquista. Este trabalho recomendado para aqueles que querem saber qual foi a verso trotskista dos eventos por conter todos os documentos relevantes emitidos pelos lderes bolshevikes. Emma Goldman em seu trabalho Trotsky Protests Too Much uma grande resposta aos comentrios de Trotsky e de seus seguidores.

soviet. 1.conselho, assemblia. 2 soviete: conselho local na Rssia. // adj sovitico. Soviet Russia Rssia sovitica. Soviet Union Unio Sovitica.

1. Qual a importncia da rebelio de Kronstadt?

A rebelio de Kronstadt importante porque, conforme Voline observou, ela foi "a primeira tentativa popular completamente independente de auto-libertao do jugo e da opresso atravs da Revoluo Social, uma tentativa feita direta, resoluta, e corajosamente pelos prprios trabalhadores sem guia poltico, lderes, nem tutores. Foi o primeiro passo em direo terceira revoluo social". [_The Unknown Revolution_, pp. 537-8]Os marinheiros de Kronstadt em 1917 foram um dos primeiros grupos a apoiar o slogan "Todo poder aos Sovietes" e um dos primeiros grupos a colocar isso em prtica. O foco da revolta de 1921 ? os marinheiros dos navios Petropavlovsk e Sevastopol ? representaram, em 1917, o principal suporte dos bolshevikes. Os marinheiros eram considerados, at os fatdicos dias de maro de 1921, o orgulho e a glria da revoluo, e reconhecidos por todos como completamente revolucionrios em esprito e em ao. Eles eram leais defensores do sistema dos sovietes mas, como a revolta mostrou, se opunham ditadura de qualquer partido.Para todos os efeitos, Kronstadt importante para avaliar a honestidade (ou desonestidade) dos leninistas quando se afirmavam favorveis ao poder e democracia dos sovietes. Embora a guerra civil efetivamente tivesse terminado, o regime no mostrava nenhum sinal no sentido de interromper a represso contra as manifestaes e protestos da classe trabalhadora. Opondo-se s reeleies nos sovietes, o regime bolshevike passou a reprimir greves em nome do "poder sovitico" e "do poder poltico do proletariado". No campo, os bolshevikes continuaram sua futil, miservel e contraprodutiva poltica contra os camponeses (um governo assumindo o papel do estado submetendo a seus ps trabalhadores e camponeses).Os eventos de Kronstadt no devem ser observados isoladamente, mas como parte de uma luta geral do povo trabalhador russo contra seu governo. Na verdade, conforme indicaremos na prxima seo, esta represso aps o fim da Guerra Civil seguiu o mesmo modelo da implementada antes dela. Os bolshevikes reprimiram a democracia soviete em Kronstadt em 1921 em favor da ditadura do partido, como vinham fazendo regularmente desde o princpio de 1918.A revolta de Kronstadt foi um movimento popular nascido dos trabalhadores visando restaurar o poder dos sovietes. Conforme Alexander Berkman destacou, o "esprito da Conferencia [dos delegados que elegeram o Comit Revolucionrio Provisrio] eram todos inteiramente sovietistas: Kronstadt exigia sovietes livres da interferncia de qualquer partido poltico; eles desejavam sovietes no partidrios que refletissem verdadeiramente as necessidades e expressassem a vontade dos trabalhadores e camponeses. A atitude dos delegados foi antagonizada pela determinao arbitrria dos comissrios burocrticos, simpatizantes do Partido Comunista. Os delegados eram membros leais ao sistema soviete e procuravam encontrar, amigavel e pacficamente, uma soluo aos problemas prementes" que a revoluo enfrentava. [_The Kronstadt Rebellion_]. A atitude dos bolshevikes indicou que, para eles, o poder soviete s seria til na medida em que confiasse seu poder ao partido e em caso de conflito apenas o partido deveria sobreviver sobre o cadver de seus opositores. Nas palavras de Berkman:"Mas o ?triunfo? dos bolshevikes sobre Kronstadt trouxe consigo a derrota do prprio bolshevismo. Colocou mostra o verdadeiro carter da ditadura comunista. Os comunistas demonstraram por si prprios sua disposio em sacrificar o Comunismo, em troca de aproximaes e compromissos com o capitalismo internacional, ao mesmo tempo que recusavam as justas exigncias de seu prprio povo ? exigncias que ecoaram nos slogans de outubro entre os prprios bolshevikes: sovietes eleitos por voto direto e secreto, de acordo com a Constituio da R.S.F.S.R.; e liberdade de expresso e de imprensa aos partidos revolucionrios". [Op. Cit.]Uma investigao honesta e inteligente das foras revoltosas de Kronstadt coloca em cheque tanto a teoria quanto a prtica bolshevike. Joga por terra o mito bolshevike do Comunismo de Estado sendo o "Governo dos Trabalhadores e Camponeses". Os eventos de Kronstadt provaram que a ditadura do Partido Comunista e a Revoluo Russa so plos opostos, contraditrios e mutuamente exclusivos. Embora procurem justificar a represso dirigida pelos bolshevikes contra o povo trabalhador durante a guerra civil em virtude da guerra, o mesmo no pode ser dito com relao a Kronstadt. Da mesma forma, a justificao leninista para a fora e aes levadas a efeito em Kronstadt teve implicaes diretas nas atividades daquele momento e nas futuras revolues. Conforme demonstraremos na seo, a lgica desse argumento significa simplesmente que em nossos dias os leninistas desejam, dentro dessa mesma posio, destruir a democracia soviete para defender o "poder sovitico" (i.e. o poder de seu partido).Com efeito, Kronstadt foi o choque da realidade do leninismo com sua imgem e retrica. Trouxe tona temas importantes relativos ao bolshevismo e os "argumentos" que produziam para justificar certas aes. "A experincia de Kronstadt", conforme os argumentos de Berkman, "provou mais uma vez que o governo, o Estado ? seja l qual for seu nome ou forma de atuao ? sempre inimigo mortal da liberdade e da auto-determinao popular. O estado no tem alma, nem princpios. E possui apenas um objetivo ? assegurar poder e mant-lo a qualquer custo. Esta foi a lio poltica de Kronstadt." [Op. Cit.]Existe uma outra razo da importancia do estudo de Kronstadt. Desde o esmagamento da revolta, tanto grupos leninistas como trotskistas justificam continuamente os atos dos bolshevikes. Alm disso, permanecem seguindo Lenin e Trotsky em suas calnias sobre a revolta, na verdade, mentem descaradamente sobre ela. Quando o trotskista John Wright afirma que "os defensores de Kronstadt distorcem fatos histricos, exageram monstruosamente cada assunto ou questo irrelevante . . . e obscurecem . . . sobre o real programa e objetivos do motim" ele est, de fato, descrevendo suas atividades e as atividades de seus amigos trotskistas. [Op. Cit., p. 102]. Na verdade, como demonstraremos a seguir, enquanto as consideraes anarquistas so confirmadas por pesquisas posteriores as asseres trotskistas vez aps vez caem por terra. Na verdade, seria de muita utilidade escrever um livro para colocar ao lado da _Escola da Falsificao de Stalin_ sobre as atividades de Trotsky e de seus seguidores em matria de reescrever a histria. necessrio que fique bem claro nessa nossa discusso que os trotskistas se doutoraram na verso acadmica que confirma sua verso ideolgica do levante. A razo para isso clara. Em termos simples, os defensores do bolshevismo no podem fazer outra coisa a no ser mentir sobre a revolta de Kronstadt uma vez que ela expe claramente a real natureza da ideologia bolshevike. Em vez de apoiar o clamor de Kronstadt pela democracia soviete, os bolshevikes esmagaram a revolta, argumentando que fazendo isso estavam defendendo o "poder soviete". Seus seguidores vez aps vez repetem sempre esses mesmos argumentos.Esta expresso do duplo pensar leninista (a habilidade de conhecer dois fatos contraditrios e sustentar ambos como verdadeiros) pode ser explicado. Procuram fazer com que "poder dos trabalhadores" e "poder soviete" na realidade signifique poder do partido para que as contradies desapaream. O poder do partido tem que ser mantido a todo custo, incluindo a destruio daqueles que desejam um verdadeiro poder soviete, um verdadeiro poder dos trabalhadores (portanto uma democracia soviete).Por exemplo, Trotsky argumentou em 1921 que "o proletariado estava com o poder poltico nas mos" enquanto que mais adiante os trotskystas passaram a argumentar que o proletariado estava muito exaurido, atomizado e dizimado. [Lenin e Trotsky, Kronstadt, p. 81]. Da mesma forma o trotskista Pierre Frank afirma que para os bolshevikes, "o dilema estava colocado nos seguintes termos: ou manter os trabalhadores sob controle, ou a contra-revoluo se ergueria, tanto o primeiro quanto o segundo disfarce poltico, teriam ao cabo o contra-revolucionrio reino do terror bem longe da democracia". [Op. Cit., p. 15] Naturalmente que aquela "democracia" sob Lenin no mencionada nem tampouco o reino do terror que se desenvolveu sob Stalin atravs da represso e da ditadura praticada em 1921.A maioria dos leninistas argumentam que a supresso da rebelio deu-se essencialmente para defender as "conquistas da revoluo". Mas quais foram exatamente estas conquistas? No foi a democracia soviete, nem liberdade de expresso, nem tampouco liberdade de reunio e de imprensa, ou mesmo liberdade de organizao sindical. Ora, o povo de Kronstadt foi reprimido exatamente por exigir tais coisas. No, aparentemente as "conquistas" da revoluo foi pura e simplesmente um governo bolshevike. necessrio no esquecer do fato de que se tratava de um partido nico ditatorial, com uma forte e privilegiada mquina burocrtica. Uma situao onde no havia nenhuma liberdade de expresso, imprensa, associao ou assemblia do povo trabalhador. O fato de Lenin e Trotsky estarem no poder era suficiente para seus seguidores justificarem a represso de Kronstadt e subscrever a noo de "estado dos trabalhadores" que exclui os trabalhadores do poder.Este duplo pensar bolshevista claramente visto nos eventos de Kronstadt. Por exemplo, os defensores do bolshevismo argumentam que Kronstadt foi reprimida para defender o poder soviete ao mesmo tempo que argumentam que as exigncias de Kronstadt reivindicando eleies livres no soviete eram "contra-revolucionrias", "retrgradas", "pequeno-burguesas" e da por diante. O que que o poder soviete poderia fazer sem eleies livres nunca foi explicado. Similarmente, eles argumentavam que era necessrio defender o "estado dos trabalhadores" assassinando aqueles que chamavam os trabalhadores porque tinham algo a dizer a eles, como por exemplo como que o estado funciona. O papel dos trabalhadores em um estado de trabalhadores seria simplesmente obedecer ordens sem question-las (na verdade, Trotsky argumentou em 1930 que a classe trabalhadora na Rssia era a classe governante sob Stalin?"Todas as formas de propriedade que foram criadas pela Revoluo de Outubro no foram subvertidas, o proletariado continua sendo a classe governante". [_The Class Nature of the Soviet State_]).De que forma pode-se justificar a represso bolshevike em termos de defender o poder dos trabalhadores suprimindo esse poder? Como que o poder soviete pode ser protegido pelo governo quando os sovietes eram esmagados por esse prprio governo?A lgica dos bolshevikes, seus apologistas e defensores a posteriori tem a mesma caracterstica dos oficiais americanos durante a guerra do Vietn que explicavam que para salvar o vilarejo eles tinham primeiro que destru-lo. Para que pudessem salvar o poder soviete, Lenin e Trotsky tinham que destruir a democracia soviete.Uma ltima observao. A revolta de Kronstadt foi um evento chave na revoluo Russa, inegavelmente significou seu fim. No podemos nos esquecer tambm que foi apenas um de uma longa srie de ataques bolshevikes contra a classe trabalhadora. Conforme indicamos na, o estado bolshevike por si s foi uma prova incontestvel de sua natureza anti-revolucionria desde outubro de 1917. Portanto, Kronstadt importante simplesmente porque contraps a democracia soviete ao "poder soviete" e isso ocorreu aps o fim da guerra civil. Kronstadt se constituiu na p de cal sobre a tumba da Revoluo Russa. Kronstadt deve ser lembrada e relembrada, analisada e discutida por todos os revolucionrios que procuram compreender o passado de forma a no repetir os mesmos erros novamente.

2. O que a rebelio de Kronstadt pretendia?

A revolta de Kronstadt no pode ser compreendida isoladamente. Na verdade, fazer isso significa perder o fio da meada, a real razo que mostra porque Kronstadt to importante. Kronstadt foi o resultado final de quatro anos de revoluo e guerra civil, o produto da debilidade da democracia soviete combinada com bolshevikes e guerra. A atitude dos bolshevikes e a justificao ideolgica para suas aes (justificaes, naturalmente, retiradas de mentiras sobre a revolta) ? onde meramente reproduzem de forma resumida o que ocorreu a partir do momento em que eles tomaram o poder.Diante disso, elaboramos pequeno sumrio das atividades bolshevikes antes dos eventos de Kronstadt. Complementando, apresentamos um quadro de como se desenvolveu o fenmeno da estratificao social sob Lnin e os eventos imediatos antes da revolta e que serviram de estopim (especialmente a onda de greves em Petrogrado). Analisando tudo isso com cuidado veremos que Kronstadt no foi um evento isolado mas uma tentativa de salvar a Revoluo Russa da ditadura e da burocracia comunista.A oposio bolshevike democracia soviete revelada pela revolta de Kronstadt teve uma longa linhagem. Iniciou alguns meses aps a tomada do poder em nome dos sovietes. Aps uma manifestao favorvel Assemblia Constituinte ser reprimida pelos bolshevikes em meados de janeiro de 1918, muitas fbricas foram convocadas para novas eleies no soviete. "A despeito dos esforos dos bolshevikes e dos Comits de Fbrica por eles controlados, o movimento por novas eleies no soviete se espalhou por mais de vinte fbricas no princpio de fevereiro e resultou na eleio de cincoenta delegados: trinta e seis RSs, sete Mensheviks e sete delegados sem partido". No obstante, o bolshevikes, "relutaram reconhecer as eleies e indicaram novos delegados pressionado um grupo de socialistas para . . . articular um frum alternativo de trabalhadores". [Scott Smith, "The Social-Revolutionaries and the Dilemma of Civil War", _The Bolsheviks in Russian Society_, pp. 83-104, Vladimir N. Brovkin (Ed.), pp. 85-86]Em Tula, os bolshevikes locais reportaram ao comit central bolshevike que os "deputados bolshevikes esto sendo substituidos um a um . . . nossa situao torna-se debilitada a cada dia que passa. Fomos forados a impedir novas eleies para o soviete e at mesmo no reconhece-las quando o resultado no nos fosse favorvel". [citado por Smith, Op. Cit., p. 87]. Finalmente, os lderes locais do partido foram forados a abolir o soviete da cidade e investir poder em um Comit Executivo Provincial. A proibio da realizao da plenria do soviete da cidade durante mais de dois meses, demonstrou que os novos delegados eleitos eram no-bolshevikes. [Ibid.]Em Yaroslavl, o soviete reuniu-se em 19 de abril de 1918, e quando o novo soviete elegeu um presidente menshevike, "a delegao bolshevike se retirou e declarou o soviete dissolvido. Em resposta, os trabalhadores da cidade entraram em greve, os bolshevikes reagiram prendendo o comit de greve, ameaando os grevistas de demisso e substituindo-os por trabalhadores desempregados". Nada disso funcionou e os bolshevikes foram forados a convocar novas eleies, nas quais foram novamente derrotados. Aps "dissolveram este soviete os bolshevikes colocaram a cidade sob lei marcial". Um evento semelhante ocorreu em Riazan (novamente em abril) e, mais uma vez, os bolshevikes "prontamente dissolveram o soviete e decretaram uma ditadura sob um Comit Militar Revolucionrio". [Op. Cit., pp. 88-9].Estes so apenas alguns poucos exemplos daquilo que acontecia na Rssia no incio do ano de 1918. importante destacar que a Guerra Civil Russa comeou em maio de 1918. O efeito imediato disto foi, naturalmente, levar muitos trabalhadores dissidentes apoiar os bolshevikes durante a guerra. Por exemplo, os menshevikes "possuiam uma poltica consistente de oposio pacfica ao regime bolshevike, uma poltica conduzida por meios estritamente legtimos" e "menshevikes que se juntassem a organizaes almejando derrotar o Governo Soviete" eram expulsos do Partido Menshevike". [George Leggett, The Cheka: Lenin?s Political Police, pp. 318-9 e p. 332]. Isto, contudo, no estancou a represso bolshevike sobre eles.De forma semelhante, os bolshevikes atacaram os anarquistas em Moscou de 11 a 12 de abril de 1918, fazendo uso de um destacamento armado da Cheka (a polcia poltica). O soviete de Kronstadt votou uma resoluo condenando a ao.Esse fato, incidentalmente, responde questo retrica de Brian Bambery "por que ser que a maioria dos militantes da classe trabalhadora no mundo, detentores de um poderoso coquetel de ideias revolucionrias, tendo j efetuado duas revolues (em 1905 e em fevereiro de 1917), permite a um punhado de pessoas alar ao poder s suas custas em outubro de 1917?" ["Leninism in the 21st Century", [_Socialist Review_, no. 248, January 2001]. Mais uma vez os trabalhadores russos perceberam que um punhado de pessoas tinha tomado o poder e eles passaram a se manifestar contra a usurpao de seu poder e de seus direitos, contra a destruio da democracia sovitica pelos bolshevikes. Os bolshevikes os reprimiram. Com o incio da Guerra Civil, os bolshevikes jogaram sua carta mais alta ? "Ns ou os Brancos". Isto significava que para os bolshevikes o poder dos trabalhadores se restringia em escolher entre um ou outro. Na verdade, isso explica porque os bolshevikes finalmente acabaram eliminando os partidos e grupos de oposio somente aps o fim da Guerra Civil, limitando-se a apenas reprimi-los enquanto ela durou. Com os brancos fora da parada, a oposio passaria a exercer sua influencia novamente.Com a disperso dos sovietes os bolshevikes criaram um poder sobre os sovietes na forma de um Conselho de Comissarios do Povo. Esta corporao se constituia numa elite executiva que atuava representando os sovietes. Em outras palavras, Lenin argumentou em The State and Revolution que, da mesma forma que na Comuna de Paris, os estado dos trabalhadores seria baseado na fuso da funo administrativa, legislativa e executiva representado por delegaes de trabalhadores.No apogeu da guerra civil o Comit Executivo Central do congresso de sovietes da Rssia no se reuniu sequer uma vez em uma sesso completa desde o fim de 1918 e durante todo o ano de 1919. No primeiro ano da revoluo, apenas 68 dos 480 decretos do Conselho do Comissariado do Povo (o governo Comunista) foram realmente submetidos ao Comit Sovietico Executivo Central (alguns elaborados por eles mesmos). As tendncias oligarquicas aumentaram no ps-outubro, com "o poder efetivo dos sovietes locais inflexivelmente gravitando em torno dos comits executivos". Os sovietes locais tinham "pouca influencia na formao da poltica nacional". Eles rpidamente foram esmagados pelo governo comunista quando no eram dispersos pelas foras comunistas ("o partido muitas vezes dispersava os congressistas que se opunham aos aspectos da poltica dominante"). [C. Sirianni, _ Workers? Control and Socialist Democracy_, p. 204 and p. 203]. Na verdade, a Cosnstituio Sovitica de 1918 codificou seu poder centralizado, com os sovietes locais regulamentados no sentido de "assumir todas as rdens do rgo respectivamente superior do poder soviete" (i.e. obedecer ao comando do governo central).Economicamente, o regime bolshevike imps mais tarde uma poltica denominada "Comunismo de Guerra" (com relao a isso, Victor Serge observou, "qualquer um que, como eu, considerasse aquilo como sendo puramente temporrio estava possudo pela arrogancia" [_Memoirs of a Revolutionary_, p. 115]. O regime caracterizou-se por uma tendncia extremamente hierrquica e ditatorial. A direo exercida pelo Partido Comunista expressava-se na natureza do regime "socialista" por eles desenhado. Trotsky, por exemplo, manifestava idias de uma certa "militarizao do trabalho" (conforme exposto em sua infame obra Comunismo e Terrorismo). Por exemplo, ele argumentou;"O princpio verdadeiro do servio do trabalho compulsrio inquestionvel para o comunista. . . . Mas at o momento ele nunca passou de um mero princpio. Sua aplicao sempre teve um carter acidental, parcial, episdico. Apenas agora, quando em toda parte se discute a questo do renascimento econmico em nosso pas, os problemas do trabalho compulsrio vem a tona diante de ns da maneira mais concreta possvel. A nica soluo para as dificuldades econmicas que seja correta tanto do ponto de vista dos princpios como da prtica considerar toda a populao do pas como um reservatrio necessrio de fora de trabalho . . . para introduzir ordens estritas de registro, mobilizao, e utilizao no trabalho"."A introduo do servio de trabalho compulsrio impensvel sem a aplicao, em maior ou menor gru, de mtodos de militarizao do trabalho"."Por que falamos em militarizao? Naturalmente trata-se apenas de uma analogia ? mas uma analogia muito rica em contedo. Nenhuma organizao social exceto o exrcito por si s justifica-se em subordinar cidados para si mesmo, para poder controla-los vontade de todas as formas e grus, como o Estado da ditadura do proletariado justifica-se a si mesmo praticando, e fazendo"."Tanto a compulso econmica quanto a poltica no passam de formas de expresso da ditadura da classe trabalhadora em dois campos interligados . . . sob o socialismo no existem aparatos por si s compulsrios, principalmente, o Estado: para ele haver comoo inteiramente contraria a uma comuna que produz e consome. O caminho do Socialismo passa, precisamente, por um perodo da mais alta intensificao possvel do princpio do Estado . . . Como uma lmpada, atrs de ns, projetando uma luz brilhante, assim o Estado, antes de desaparecer, assumindo a forma de ditadura do proletariado, i.e., a mais cruel forma de Estado, que abraa a vida dos cidados autoritariamente em cada aspecto. . . Nenhuma organizao exceto o exrcito controla o homem com uma coero mais severa tornando possvel a organizao do Estado da classe trabalhadora no perodo mais difcil da transio. exatamente por esta razo que falamos em militarizao do trabalho".Essas consideraes foram escritas como uma poltica a ser seguida agora quando a "guerra civil interna chegava a seu fim". Isto no foi tido como uma poltica temporria imposta pelos bolshevikes em funo da guerra, pelo contrrio, tanto quanto se pode perceber, foi uma expresso de "princpio" (ser que isto tem relao com o que Marx e Engels escreveram sobre o "estabelecimento de exrcitos industriais" no Manifesto Comunista? [Selected Writings, p. 53]).No mesma obra, Trotsky justifica a eliminao do poder soviete e da democracia pelo poder do partido e pela ditadura. Assim, vemos a aplicao da servido pelo estado atravs do bolshevismo (na verdade, Trotsky pretendia aplicar suas idias de militarizao do trabalho na construo de ferrovias).Esta viso de rgida centralizao e estruturas militares topo-base serviu de esqueleto para a construo da poltica bolshevike desde os primeiros meses aps a revoluo de outubro. As tentativas dos trabalhadores de "auto-gesto" organizados atravs dos comits de fbricas foram combatidas em favor de um sistema centralizado de capitalismo de estado. Lenin nomeava administradores com poderes "ditatoriais" (veja The Bolsheviks and Workers? Control de Maurice Brinton para mais detalhes).No Exrcito Vermelho e Marinha, princpios anti-democrticos foram novamente impostos. Dois meses antes da Guerra Civil, Trotsky nomeou elementos para atuarem ao lado de conselhos eleitos de soldados e de oficiais. Nos finais de maro de 1918, Trotsky reportou ao Partido Comunista que o "o princpio da eleio politicamente intil e tecnicamente inadequado, o que significa, na prtica, sua abolio por decreto". Os soldados no tinham o que temer desse sistema piramidal de topo-base pois "o poder poltico est nas mos da mesma classe trabalhadora de onde as tropas do Exrcito foram recrutadas" (i.e. nas mos do partido bolshevike). No poderia haver "nenhum antagonismo entre o governo e as massas de trabalhadores, da mesma forma que no poderia haver nenhum antagonismo entre a administrao de um sindicato e a assemblia geral de seus membros, portanto, no poderia haver nenhum espao para temer as determinaes dos membros da cpula de comando dos rgos do Poder Soviete". [_Work, Discipline, Order_]. Naturalmente, conforme qualquer trabalhador em luta poderia dizer para voc, ele muitas vezes entra em conflito com a burocracia do sindicato.Na Marinha, ocorreu um processo semelhante ? o que provocou o descontentamento e a oposio de muitos marinheiros. Conforme Paul Avrich destacou, "Os esforos bolshevikes para liquidar os comits navais e impor sua autoridade atravs de comissrios nomeados provocou uma tempestade de protestos na Frota Bltica. Para os marinheiros, cuja averso a autoridades externas era proverbial, qualquer tentativa de restaurar disciplina significava supresso da liberdade pela qual tinham lutado em 1917". [_Kronstadt 1921_, p. 66]No campo, o confisco de gros resultou em um levante campons pois o alimento era tomado dos camponeses atravs da fora. Destacamentos armados foram "instruidos a tomar dos camponeses o suficiente para suprir suas necessidades pessoais, era comum o confisco por parte de pequenos pelotes armados que se apropriavam de gros sob a fora das armas visando consumo pessoal ou estabelecendo uma reserva para a prxima colheita". Os trabalhadores nos vilarejos naturalmente faziam uso de tticas evasivas omitindo a quantidade de terras que possuiam ou mesmo praticando a resistencia aberta. [Avrich, Op. Cit., pp. 9-10]Assim, antes do incio da Guerra Civil, o povo russo passou a ser, de fato, paulatinamente eliminado de qualquer processo participativo no que diz respeito ao desenvolvimento da revoluo. Os bolshevikes debilitaram (quando no aboliram) a democracia dos trabalhadores, a liberdade e os direitos onde trabalhavam, nos sovietes, nos sindicatos, no exrcito e na marinha. Previsivelmente, a ausncia de qualquer controle real a partir da base desencadeava os efeitos corruptores oriundos do poder. Desigualdade, privilgios e abusos proliferavam por toda parte onde estava o partido e a burocracia governante.Com o fim da Guerra Civil em novembro de 1920, muitos trabalhadores esperavam uma mudana de poltica. Todavia, os meses se passaram e a poltica continuou a mesma. Finalmente, em meados de fevereiro de 1921, desencadeou-se "uma febre de encontros espontneos dentro das fbricas" em Moscou. Os trabalhadores passaram a ser convocados para uma imediata avaliao do arocho provocado pelo Comunismo de Guerra. Tais encontros foram "sucedidos por greves e manifestaes". Os trabalhadores tomaram as ruas reivindicando "livre comrcio", mais raes e "a abolio do confisco de gros". Alguns exigiam a restaurao dos direitos polticos e das liberdades civs. Foi a que as tropas foram chamadas para restaurar a rdem. [Paul Avrich, Op. Cit., pp. 35-6]As mais srias ondas de greves e manifestaes ocorreram em Petrogrado. A revolta de Kronstadt foi o pavio dos protestos. Como em Moscou, aquelas "manifestaes nas ruas anunciavam a proliferao de encontros e manifestaes em muitas fbricas e lojas em Petrogrado". Como em Moscou, oradores "exigiam o fim do confisco de gros, a remoo dos bloqueios nas estradas, a abolio de raes privilegiadas, e permisso para a troca de possesses de carter pessoal por alimento. Em 24 de fevereiro, um dia aps um encontro no local de trabalho, os trabalhadores da fbrica Trubochny abandonaram as mquinas e saram para fora da fbrica. Outros trabalhadores das fbricas adjacentes se juntaram a eles. Uma aglomerao de 2.000 trabalhadores foi dispersa por cadetes militares armados. No dia seguinte, os trabalhadores da Trubochny novamente tomaram as ruas e visitaram outros pontos de trabalho, conclamando-os para que tambm se juntassem greve. [Avrich, Op. Cit., pp. 37-8]O governo nomeou um Comit de Defesa e Zinoviev composto por trs pessoas que "proclamou lei marcial" em 24 de fevereiro. [Avrich, Op. Cit., p. 39]. Foi proclamado toque de recolher s 23 horas e todos os encontros e reunies (internos e externos) foram proibidos exceto se aprovados pelo Comit de Defesa e todos aqueles que desobedecessem s ordens "seriam punidos de acordo com a leis militares". [Ida Mett, The Kronstadt Uprising, p. 37]Como parte desse processo, o governo bolshevike confiou ao kursanty (escritrio de cadetes comunistas) a funo de polcia local por terem ficado margem das agitaes e pela obedincia s ordens governamentais. Centenas de kursanty foram chamados das academias militares vizinhas para patrulhar a cidade. "Petrogrado tornou-se durante a noite um campo de guerra. Em cada quarteiro os pedestres eram revistados e seus documentos checados . . . o toque de recolher [era] rgidamente controlado". Enquanto isso a Cheka de Petrogrado efetuava inmeras prises. [Avrich, Op. Cit., pp. 46-7]Aos trabalhadores "foi ordenado retornar para suas fbricas, sob a ameaa de que seriam retiradas suas raes. Embora estas ameaas no provocassem nenhum impacto nos trabalhadores, alguns sindicados se dispersaram e seus lderes e grevistas que insistiam em permanecer em greve foram lanados em prises". [Emma Goldman, No Gods, No Masters, vol. 2, p. 168]Os bolshevikes tambm fizeram uso de sua mquina de propaganda. Os grevistas eram alertados para que no cassem nas mos dos contra-revolucionrios. Fazendo uso da imprensa, os membros dos partidos populares passaram a agitar nas ruas, fbricas e oficinas. Houve uma srie de concesses como a distribuio de raes extras. Em primeiro de maro (aps a revolta do Kronstadt haver comeado) o soviete de Petrogrado anunciou a retirada de todos bloqueios e desmobilizou os soldados do Exrcito Vermelho para exercerem funes produtivas em Petrogrado. [Avrich, Op. Cit., pp. 48-9]Dessa forma, utilizou-se uma combinao de fora, propaganda e concesses para enfraquecer as greves (que rapidamente tendiam a se generalizar). Contudo, conforme Paul Arvich destaca, "no havia nenhuma proibio com relao ao uso de foras militares e da proliferao de prises, sem falar da incansvel propaganda implementada pelas autoridades que se tornaram indispensveis para restaurar a ordem'". Nesse aspecto, foi particularmente interessante a disciplina mostrada pelos organismos partidrios locais. "Atuando parte de suas disputas internas, os bolshevikes de Petrogrado rapidamente cerraram fileiras e se apressaram em executar a vergonhosa tarefa de reprimir com eficincia e presteza". [Op. Cit., p. 50]Isto indica o contexto imediato da rebelio de Kronstadt. Por seu turno o trotskista J. G. Wright escreveu sobre o papel de Kronstad, "mentiram desde o primeiro momento . . . e inseriram uma manchete sensacional: ?Insurreio Geral em Petrogrado?" e prossegue afirmando que as pessoas "espalhavam . . . mentiras sobre uma insurreio em Petrogrado". [Lenin e Trotsky, Kronstadt, p. 109]. Sim, normal que a eminncia de uma greve geral seja acompanhada de encontros de massa e manifestaes, e que sejam reprimidas pela fora e por lei marcial, isto uma ocorrncia corriqueira que nada tem a ver com uma "insurreio"! Mas se tais eventos tivessem acontecido em um estado que no fosse dirigido por Lenin e Trotsky improvvel que o Sr. Wright teria alguma dificuldade em reconhecer o significado de Kronstadt (quatro anos antes, protestos semelhantes foram reprimidos pelo Czar).Foram exatamente estes protestos de trabalhadores e sua represso que desencadearam os eventos em Kronstadt. Na medida em que muitos ouviam as reclamaes de seus parentes e amigos pelos vilarejos vizinhos e se juntavam aos prostestos contra as autoridades soviticas, as greves de Petrogrado tornaram-se catalizadoras da revolta. Todavia, eles tinham outras razes polticas para protestar contra a postura do governo. A democracia na Marinha havia sido abolida por decreto e o soviete tinha se transformado em um penduricalho da ditadura do partido.Previsivelmente, a tripulao dos navios de guerra Petropavlovsk e Sevestopol decidiram agir diante das "notcias de greves, locautes, prises em massa e lei marcial" que vinham de Petrogrado. Em "funo daqueles protestos eles convocaram uma reunio de emergncia, repreenderam seus comissrios . . . [e] elegeram uma delegao de trinta e dois marinheiros que, em 27 de fevereiro, dirigiu-se a Petrogrado. Percorrendo as fbricas. . . eles encontraram os trabalhadores que procuravam e fizeram perguntas apesar do temor dos bandos de guardas comunistas nas fbricas, dirigentes de sindicatos oficiais, homens do comit dos partidos e membros da Cheka." [Gelzter, _Kronstadt 1917-1921_, p. 212]A delegao retornou no outro dia e fizeram o relato do que viram na reunio geral dos marinheiros do navio. Nessa reunio foram adotadas as resolues que serviram de base revolta. Comeava a revolta de Kronstadt.

3. Qual era o programa de Kronstadt?

raro em nossos dias ver um trotskysta descrever integralmente as reais reivindicaes de Kronstadt. John Rees, por exemplo, no proporciona nem mesmo um resumo dos 15 pontos do programa. Ele apenas afirma que "os marinheiros expressaram o desespero dos camponeses com o regime Comunista de Guerra" ao mesmo tempo em que apresenta a desculpa esfarrapada de que "nenhuma outra insurreio camponesa reproduziu as reivindicaes de Kronstadt". ["In Defence of October", pp. 3-82, International Socialism, no. 52, p. 63]. Similarmente, elas constam apenas no "Prefcio Editorial" na obra trotskysta Kronstadt que apresenta apenas um resumo das exigncias. Eis o resumo:"A resoluo reivindicava eleies livres nos sovietes com a participao de anarquistas e revolucionrios sociais de esquerda, legalizao dos partidos socialistas e anarquistas, abolio dos Departamentos Polticos [nas frotas] e dos Destacamentos com Propsitos Especiais, remoo do zagraditelnye ottyady [tropas armadas utilizadas para impedir comrcio sem autorizao], restaurao do livre comrcio, e liberdade aos presos polticos". [Lenin e Trotsky, Kronstadt, pp. 5-6]No "Glossrio" declaram que "exigiam mudanas econmicas e polticas, muitas das quais foram logo atendidas com a adoo do NPE." [Op. Cit., p. 148] Isso, ironicamente, contradiz Trotsky quando ele afirma ser "iluso" pensar "que bastaria informar aos marinheiros sobre o decreto do NPE para pacific-los". Alm disso, os "insurgentes no tinham um programa consciente, e nem poderiam te-lo por causa de sua real natureza pequeno burguesa. Eles mesmos no tinham clareza de que seus pais e irmos queriam acima de tudo comercializar livremente". [Op. Cit., p. 91-2]Assim, temos um levante que foi campons em sua natureza, mas cujas exigncias no possuam nada de comum com outras revoltas camponesas. Que aparentemente exigia liberdade de comrcio mas no a reivindicava. Era semelhante ao NPE, mas o decreto do NPE no satisfazia. Produziu uma plataforma de exigncias polticas e econmicas mas, aparentemente, no tinha um "programa consciente". As contradies so abundantes. Essas contradies se tornam ainda mais evidentes quando observamos a relao das 15 exigncias (coisa que os trotskystas nunca revelam).A lista completa dessas reivindicaes so as seguintes:"1. Novas e imediatas eleies para os Sovietes. Os atuais Sovietes no mais expressam a vontade dos trabalhadores e camponeses. As novas eleies devem ser efetuadas pelo voto secreto, e precedidas por propaganda eleitoral livre.2. Liberdade de expresso e de imprensa para trabalhadores e camponeses, para anarquistas e partidos socialistas de esquerda.3. Direito de assemblia, liberdade sindical e liberdade de organizao camponesa.4. Organizao, para o prximo 10 de maro de 1921, da Conferncia dos trabalhadores no-partidrios, soldados e marinheiros de Petrogrado, Kronstadt e Distrito de Petrogrado.5. Libertao de todos os prisioneiros polticos dos partidos socialistas, e de todos os trabalhadores e camponeses, soldados e marinheiros pertencentes classe trabalhadora e organizaes camponesas.6. Eleio de uma comisso para observar os dossis de todos aqueles que esto detidos em prises e campos de concentrao.7. Abolio de todas as sees polticas das foras armadas. Nenhum partido poltico poder ter privilgios para a propagao de suas idias, ou receber subsdios estatais para esse fim. Essas sees polticas sero substitudas por vrios grupos culturais, subsidiados com recursos do estado.8. Imediata abolio dos destacamentos de milcia postados na cidade e no campo.9. Equalizao das raes para todos os trabalhadores, exceto aqueles engajados em trabalho perigoso e insalubre.10. Abolio dos destacamentos de combate do Partido em todos os grupos militares. Abolio da guarda do Partido nas fbricas e empresas. Se a guarda for necessria, ela ser formada, levando em conta o ponto de vista dos trabalhadores.11. Garantia de liberdade de ao aos camponeses em suas prprias terras, e direito ao seu prprio rebanho, desde que eles mesmos se encarreguem disso e no empreguem trabalho assalariado.12. Exigimos que todas as unidades militares e associaes grupos treinados de oficiais acatem essa resoluo.13. Reivindicamos que a Imprensa divulgue apropriadamente esta resoluo.14. Reivindicamos a instituio de grupos mveis de superviso de trabalhadores.15. Exigimos que a produo artesanal seja autorizada desde que no utilize trabalho assalariado". [citado por Ida Mett, _The Kronstadt Revolt_, pp. 37-8]Este foi o programa descrito pelo governo Soviete como sendo uma "resoluo dos Centenas Negras RS"! Este foi o programa que Trotsky sustentou como impregnado por "um punhado de camponeses e soldados reacionrios". [Lenin e Trotsky, Kronstadt, p. 65 e p. 98]. Conforme pode ser visto, no existe nada disso. Na verdade, esta resoluo est integralmente dentro do esprito dos slogans polticos dos bolshevikes antes deles subirem ao poder em nome dos sovietes. Alm do mais, ela reflete os ideais delineados em 1917 e formalizados na Constituio do Estado Soviete em 1918. Nas palavras de Paul Avrich, "Com efeito, a resoluo petropavlovsk foi um apelo ao governo Soviete para que cumprisse sua prpria constituio, uma clara manifestao daqueles justos direitos e liberdade que o prprio Lenin professou em 1917. Em esprito, ela foi uma ressonncia de outubro, evocando o velho lema leninista de 'Todo poder aos sovietes'". [Op. Cit., pp. 75-6]Um triste exemplo de "reacionarismo" poltico, a menos que os slogans da constituio da URSS em 1918 tambm fossem "reacionrios". A questo agora vem tona, tanto quanto as implicaes contidas naquelas exigncias. Na viso dos trotskystas, foram os interesses dos camponeses que as motivaram. Para os anarquistas elas expressam os interesses de todo povo trabalhador (proletariado, campons e arteso) contra aqueles que pretendiam explorar seu trabalho e govern-los (sejam eles capitalistas privados, capitalistas estatais ou estado burocrtico). Discutiremos este assunto na prxima seo.

4. At que ponto a rebelio de Kronstadt refletiu "o desespero dos camponeses"?

Este um argumento comum entre os trotskystas. Embora nunca tenham atendido as reivindicaes de Kronstadt, sempre declaram que (usando as palavras de John Rees) aqueles marinheiros "representavam o desespero dos camponeses com o regime Comunista de Guerra". ["In Defence of October", International Socialism no. 52, p. 63]Para Trotsky, as idias da rebelio "foram profundamente reacionrias" e "refletiam a hostilidade do campons obtuso para com o trabalhador, a auto-valorizao do soldado e marinheiro em relao aos 'civs' em Petrogrado, a averso do pequeno burgus disciplina revolucionria". A revolta "representou as tendncias dos camponeses proprietrios de terras, o pequeno especulador, o kulak". [Lenin e Trotsky, Kronstadt, p. 80 e p. 81]At que ponto isso verdade? Basta uma anlise ligeira dos eventos ligados revolta e resoluo Petropavlovsk (veja a ltima seo) para desmentir esta afirmao de Trotsky. Primeiramente, de acordo com a definio de "kulak" fornecida pelos prprios trotskystas, descobrimos que Kulak se refere ao "campons abastado dono de terra e que contrata camponeses pobres para trabalhar para ele". [Op. Cit., p. 146]. Ora, o ponto 11 das reivindicaes de Kronstadt explicita claramente sua oposio ao trabalho rural assalariado. Como poderia Kronstadt representar o "kulak" proclamando a abolio do trabalho contratado na terra? Claramente, a revolta no representava "o pequeno especulador, o kulak". Ela representava o campons dono da terra? Retornaremos a esse assunto mais abaixo. Em segundo lugar, os revoltosos do Kronstadt enviaram delegados para investigar a condio dos trabalhadores em greve em Petrogrado. Suas aes foram inspiradas pela solidariedade para com aqueles trabalhadores e civis. Isto mostrava claramente que a afirmao de Trotsky de que ela "refletia a hostilidade do campons obtuso para com o trabalhador, a auto-valorizao do soldado e marinheiro em relao aos 'civs' em Petrogrado" integralmente um total nonsense.Se essa afirmao de Trosky "profundamente reacionria", as idias que motivaram a revolta certamente no o foram. Elas foram a conseqncia da solidariedade com os trabalhadores em greve e uma chamada democracia soviete, liberdade de expresso, de assemblia e de organizao dos trabalhadores e camponeses. Elas expressavam as necessidades da maioria, se no todos, dos partidos marxistas (incluindo o bolshevike em 1917) antes de tomarem o poder. Eles simplesmente repetiram as aspiraes e os fatos do perodo revolucionrio de 1917 e a Constituio Soviete. Conforme Anton Ciliga argumentou, esses desejos estavam "impregnados pelo esprito de outubro; e nenhuma calnia do mundo pode colocar em dvida a ntima conexo existente entre esta resoluo e os sentimentos que guiaram as expropriaes de 1917". ["The Kronstadt Revolt", The Raven, no, 8, pp. 330-7, p. 333]. Considerar as idias da revolta de Kronstadt reacionrias, o mesmo que considerar o slogan "todo poder aos sovietes" reacionrio.At que ponto aquelas aspiraes representavam os interesses dos camponeses? Para responder isso precisamos verificar se elas representavam os interesses dos trabalhadores industriais ou no. Se as exigncias estavam, de fato, em harmonia com as aspiraes dos trabalhadores em greve e outros setores do proletariado ento podemos facilmente descartar essa afirmao. Alm do mais, se as reivindicaes da rebelio de Kronstadt refletiram as aspiraes dos proletrios ento impossvel dizer que elas refletiam simplesmente as necessidades dos camponeses (naturalmente, os trotskystas argumentaro que aqueles proletrios eram tambm "obtusos" mas, com efeito, o que eles queriam dizer mesmo que qualquer trabalhador que no obedecesse cegamente s ordens bolshevikes no passava de "obtuso"!).Basta uma passada de olhos para perceber que aquelas exigncias j vinham ecoando desde Moscou e Petrogrado nas greves que precederam a revolta de Kronstadt. Por exemplo, Paul Avrich destaca que as exigncias apresentadas nas greves de fevereiro incluam "remoo dos bloqueios, permisso para efetuar colheitas no campo e para comercializar livremente nos vilarejos, [e] eliminao das raes privilegiadas para categorias especiais de homens trabalhadores". Os trabalhadores tambm "pediam que a guarda especial armada Bolshevique, restringisse suas atividades funo meramente policial, saindo fora das fbricas" e "apelando pela restaurao dos direitos civis e polticos". Um certo manifesto que surgiu (annimo mas com marcas de origem menshevike) argumentava, "os trabalhadores e camponeses necessitam de liberdade. Eles no querem decretos dos bolshevikes. Querem controlar seus prprios destinos". Coisas assim levaram os grevistas a exigir libertao de todos os presos socialistas e trabalhadores apartidrios, abolio da lei marcial, liberdade de expresso, de imprensa, de assemblia para todos os trabalhadores, eleies livres dos comits de fbricas, sindicatos, sovietes. [Op. Cit., pp. 42-3]Nas greves de 1921, de acordo com Lashevich (um comissrio bolshevike) as "exigncias bsicas so sempre as mesmas: liberdade para comercializar, liberdade para trabalhar, liberdade de ir e vir, e assim por diante". Duas outras exigncias chaves nas greves datam de antes de 1920. Elas pediam "pelo livre comrcio e pelo fim dos privilgios". Em maro de 1919, "Os operrios da fbrica de carroarias de veculos motorizados e vages de trem de Rechkin exigiam raes iguais para todos os trabalhadores", uma das "exigncias mais tpicas dos trabalhadores em greve naquele tempo era a liberdade de providenciar seu prprio alimento". [Mary McAuley, _Bread and Justice_, p. 299 e p. 302]Conforme pode ser visto, a maioria dessas exigncias esto relacionadas diretamente com os pontos 1, 2, 3, 5, 8, 9, 10, 11 e 15 das reivindicaes de Kronstadt. Conforme Paul Avrich argumenta, as exigncias de Kronstadt "ecoam no apenas o descontentamento da Frota Bltica mas tambm o descontentamento das massas russas nas vilas e cidades atravs do pas. Da mesma forma que o povo comum, os marinheiros estavam preocupados com a situao dos seus parentes camponeses e trabalhadores. Na verdade, daqueles 15 pontos da resoluo, apenas um ? a abolio dos departamentos polticos na frota ? tinha uma aplicao especfica sua prpria condio. As demais . . . eram reclamaes visando a poltica de Guerra Comunista, a justificao de que, aos olhos dos marinheiros e da populao como um todo, [todas aquelas restries liberdade] tinham que desaparecer imediatamente". Avrich argumenta que muitos dos marinheiros que retornando para casa e vendo as ms condies dos vilarejos pelos seus prprios olhos resolveram tomar a iniciativa formalizando uma resoluo (particularmente no ponto 11, o nico que menciona especificamente as exigncias dos camponeses) mas "nessa mesma direo, a viagem de inspeo dos marinheiros nas fbricas de Petrogrado resultou na incluso de suas principais exigncias no programa ? a abolio dos bloqueios nas estradas, o fim das raes privilegiadas, e dos esquadres armados dentro das fbricas". [Op. Cit., pp. 74-5]Ida Mett observa que a rebelio de Kronstadt no clamava simplesmente por "livre comrcio" da forma como os trotskystas argumentam:"O levante de Kronstadt em 14 de maro foi marcado pelo seu principal objetivo. Os rebeldes proclamaram que Kronstadt no estava pedindo simplesmente por liberdade de comrcio mas pelo genuno poder dos sovietes. Os grevistas de Petrogrado exigiam a reabertura dos mercados e a abolio dos bloqueios nas estradas implementados pelas milcias armadas. Suas exigncias deixaram claro que a liberdade de comrcio por si s no resolveria seus problemas". [Op. Cit., p. 77]Assim verificamos que os trabalhadores de Petrogrado (e de outros lugares) exigiam "livre comrcio" (procurando, presumivelmente, expressar seus interesses econmicos tanto quanto os de seus pais e irmos) ao passo que os marinheiros de Kronstadt reivindicavam acima de tudo o poder soviete! Seu programa exigia "Garantia de liberdade de ao aos camponeses em suas prprias terras, e direito ao seu prprio rebanho, desde que eles mesmos se encarreguem disso e no empreguem trabalho assalariado". Este foi o ponto 11 das 15 reivindicaes, que mostrava o gru de importancia diante de seus olhos. Esta reivindicao se baseava no comrcio efetuado entre a cidade e os povoados, mas tratava-se de comrcio entre trabalhadores e no entre trabalhadores e kulak.Mencionando "livre comrcio" em sentido abstrato (como os trabalhadores fizeram) o povo de Kronstadt (refletindo as necessidades tanto dos trabalhadores quanto dos camponeses) se referia livre troca de produtos entre trabalhadores, no entre trabalhadores e capitalistas rurais (i.e. camponeses que contratavam escravos assalariados). Isto indica seu alto gru de conscincia poltica, a conscincia do fato de que trabalho assalariado a essncia do capitalismo. Conforme disse Ante Ciliga:"Muitas pessoas acreditaram que foi Kronstadt que forou a introduo da Nova Poltica Econmica (NPE) ? um profundo erro. A resoluo de Kronstadt pronunciou-se em favor da defesa dos trabalhadores, no apenas contra o capitalismo burocrtico do Estado, mas tambm contra a restaurao do capitalismo privado. Esta restaurao foi exigida ? com a oposio de Kronstadt ? pelos sociais democratas, que combinavam esta aspirao com um regime poltico democrtico. Tanto Lenin quanto Trotsky em grande parte realizaram isso (mas sem a poltica democrtica) na forma da NPE. A resoluo de Kronstadt [por sua vez] declarou-se inteiramente oposta ao emprego de trabalho assalariado na agricultura e na pequena indstria. Esta resoluo, e os movimentos subjacentes, procuravam estabelecer uma aliana revolucionria entre os trabalhadores proletrios e os camponeses, os setores mais pobres entre os trabalhadores do pas, de modo que a revoluo pudesse se desenvolver em direo ao socialismo. O NPE, por outro lado, representava a unio dos burocratas com os mandatrios dos povoados contra o proletariado; o NPE representou a aliana do capitalismo de Estado com o capitalismo privado contra o socialismo. O NPE em muito se ope s exigncias de Kronstadt da mesma forma que, por exemplo, o programa socialista de vanguarda dos trabalhadores europeus pela abolio do sistema de Versalhes se opunha anulao do Tratado de Versalhes desenvolvido por Hitler". [Op. Cit., pp. 334-5]Com relao ao ponto 11, Ida Mett destacou, "ele reflete as exigncias dos camponeses com os quais os marinheiros de Kronstadt tinham estreitas ligaes ? da mesma forma que tinham, e isso um fato, com todo o proletariado russo . . . Em sua grande maioria, os trabalhadores russos tiveram uma orgem camponesa. E isso precisa ser levado em considerao. Os marinheiros do Bltico no ano de 1921 estavam, sem sombra de dvida, estreitamente ligados com os camponeses. Eles eram, nada mais nada menos, os mesmos marinheiros de1917". Ignorar os camponeses em um pas onde a vasta maioria veio do campo uma atitude insana (como os bolshevikes provaram). Mett destaca isto quando argumenta que "[o bolshevismo] foi um regime baseado exclusivamente na mentira e no terror e que nunca levou em conta as aspiraes dos trabalhadores e dos camponeses". [Op. Cit., p. 40]Uma vez que a classe trabalhadora industrial russa estava tambm exigindo liberdade de comrcio (e sem as clusulas polticas, anti-capitalistas acrescentados por Kronstadt) sa desonesto afirmar que os marinheiros expressavam puramente os interesse dos camponeses. Talvez isso explique porque os 11 pontos acabaram resumidos em "restaurao do livre comrcio" pelos trotskystas no "Prefcio Editorial" de Lenin e Trotsky. [Kronstadt, p. 6]. John Rees no menciona sequer uma das reivindicaes (o que surpreendente em uma obra que, em parte, tenta analizar a rebelio).A natureza dessa resoluo passou pelo crivo da classe trabalhadora para que pudesse concordar com ela. Passou pelos marinheiros nos navios de guerra, pelos encontros de massa, pelo encontro de delegados de trabalhadores, soldados e marinheiros. Em outras palavras, pelos trabalhadores e pelos camponeses.J.G. Wright, acompanhando seu guru Trotsky (utilizando-o como nica referncia para seus "fatos", como um cego guiado por outro), mencionou "o fato incontestvel" dos "marinheiros engrossando as foras insurgentes" enquanto que "a guarnio e a populao civil permaneciam passivos". [Op. Cit., p. 123]. Dessa forma estaria caracterizada, aparentemente, a natureza camponesa da revolta. Vamos pois contestar esse "fato incontestvel" (i.e. as afirmativas de Trotsky).O primeiro fato que necessrio mencionar que afluram ao encontro de 1o. de maro "entre cinqenta e sessenta mil marinheiros, soldados e civis". [Getzler, Op. Cit., p. 215]. Isto representava mais de 30% da populao total de Kronstadt. O que dificilmente indica uma atitude "passiva" por parte dos civis e soldados.O segundo fato que a conferncia de delegados teve uma "participao em cerca de duas ou trs centenas de marinheiros, soldados, e trabalhadores". Esta composio permaneceu existindo durante toda a revolta da mesma maneira que seu equivalente soviete de 1917, inclusive com delegados sovietes de Kronstadt representando "unidades militares e fabris". Na verdade, tudo aquilo representava, com efeito, um "prottipo dos 'sovietes livres' pelos quais os insurgentes se levantaram em revolta". Alm disso, um novo Conselho Sindical acabara de ser formado, livre da dominao comunista. [Avrich, Op. Cit., p. 159, p. 157 e p. 157]. Ser que Trotsky esperava que acreditassemos que os soldados e civis que elegeram estes delegados fossem "passivos"? O simples ato de eleger tais delegados envolveu discusso, tomada de deciso, alm de uma ativa participao. Como possvel qualificar soldados e civis revoltosos de "apticos e apolticos"?Isto foi confirmado posteriormente pelos historiadores. Baseado em tais fatos, Paul Avrich destaca que a populao da cidade "ofereceu suporte ativo" e que as tropas do Exrcito Vermelho "logo se posicionou em linha". [Op. Cit., p. 159]. Getzler por sua vez, destaca que as eleies foram defendidas tambm pelo Conselho de Sindicatos em 7 e 8 de maro e que "o comit do conselho era formado por representantes de todos os sindicatos". Ele confirmou que a Conferncia de Delegados "havia sido eleita pelos grupos polticos de Kronstadt para que pudesse funcionar em unidades armadas, fbricas, lojas e instituies sovietes". Alm disso, destaca que os revolucionrios troikas (equivalente s comisses do Comit Executivo do Soviete em 1917) foram tambm "eleitos pela base das organizaes". O mesmo aconteceu com, "o secretariado dos sindicatos e o recm fundado Conselho de Sindicatos, ambos eleitos pelo conjunto dos membros dos sindicatos". [Op. Cit., pp. 238-9 e p. 240]. muita atividade para ser implementada po